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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM GEOLOGIA MARINHA, COSTEIRA E SEDIMENTAR ANDREA ALVES DO NASCIMENTO SEDIMENTAÇÃO HOLOCÊNICA NA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE, NORDESTE DO BRASIL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SALVADOR-BA 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE … ALVES DO... · ii ANDREA ALVES DO NASCIMENTO SEDIMENTAÇÃO HOLOCÊNICA NA PLATAFORMA CONTINENTAL DE SERGIPE, NORDESTE DO BRASIL Dissertação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM

GEOLOGIA MARINHA, COSTEIRA E SEDIMENTAR

ANDREA ALVES DO NASCIMENTO

SEDIMENTAÇÃO HOLOCÊNICA NA PLATAFORMA CONTINENTAL DE

SERGIPE, NORDESTE DO BRASIL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

SALVADOR-BA

2011

ii

ANDREA ALVES DO NASCIMENTO

SEDIMENTAÇÃO HOLOCÊNICA NA PLATAFORMA CONTINENTAL DE

SERGIPE, NORDESTE DO BRASIL

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Geologia. Orientador: Prof. Dr. José Maria Landim Dominguez. Co-orientadora: Profa. Dra. Carmen Regina Parisotto Guimarães.

SALVADOR – BA 2011

iii

__________________________________________________ N244 Nascimento, Andrea Alves do,

Sedimentação holocênica na plataforma continental de

Sergipe, Nordeste do Brasil / Andrea Alves do Nascimento. -

Salvador, 2011.

92f. : il.

Orientador: Prof. Dr. José Maria Landim Dominguez.

Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós-Graduação em Geologia,

Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, 2011.

1. Plataforma Continental - Sergipe. 2. Sedimentação e depósitos.

3. Carbonatos. I. Dominguez, José Maria Landim. II. Universidade

Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 551.351.2(813.7)

__________________________________________________ Elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências da UFBA.

iv

v

Dedicatória

Aos meus pais, por serem pessoas felizes e encantadas que desde cedo

cultivaram em mim a curiosidade.

A Carmen, por ter um vulcão na alma, parecido com o meu.

A mim mesma, para continuar me lembrando da alegria que se sente

quando alcançamos um objetivo.

i

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, José Maria Landim Dominguez, por ter acreditado em meu potencial e por todas as correções. Foi uma experiência bastante rica ser sua orientanda; Aos meus professores do mestrado: Abílio Carlos da Silva Pinto Bittencourt, Altair de Jesus Machado, Ruy Kenji Papa de Kikuchi e Facelúcia Barros Cortes Souza; Aos funcionários do IGEO Nilton Silva e Gil (in memorian) por todo apoio e simpatia; A todos os colegas mestrandos, em especial a Erison pela receptividade e a Fabiana pelas palavras sempre incentivadoras; A Carol, Dante, Jaqueline e Cássia por terem dividido o apartamento e experiências enriquecedoras. Em especial a Ivan, meu companheiro de todas as horas que contribuiu enormemente para a realização desse trabalho, sou especialmente grata pelas divertidíssimas caminhadas pela cidade de Salvador; Aos meus pais por todo apoio e carinho. Aos meus irmãos pela amizade. A toda minha família pela união apesar das diferenças; A Bruno Parisotto e a Guilherme Parisotto pelas caronas e prazerosas conversas durante o itinerário Salvador/Aracaju, e vice-versa. A Guilherme sou grata ainda pela confecção dos mapas, pela paciência e atenção que sempre demonstrou; A Ciléia Thieme Kanegusuke por ter ajudado a digitalizar os dados, pelo designer final dos mapas, pela impressão das cópias finais e por tocar violão e me levar para passear nos momentos de maior estresse; A todos os estagiários do laboratório de Bentos da Universidade Federal de Sergipe, especialmente a Juliana pela ajuda nas identificações dos bioclastos e a Maria Aldineide que me ajudou nas primeiras identificações, sempre disposta a dividir seu conhecimento; A Cosme Assis e Damião Assis, e a todos que participaram das campanhas de coleta do sedimento; A Ilma Cordeiro por sempre garantir a ordem no Laboratório de Bentos e por ter auxiliado no processamento das amostras no laboratório; A Carmen Parisotto Guimarães, minha co-orientadora, por ter cedido as amostras para a realização do trabalho, disponibilizado bibliografia, pelas correções, por todas as conversas, por todo carinho, mas principalmente por ser uma pessoa fascinante que me enche de vontade de aprender... e de viver! À CAPES pelo incentivo da concessão da bolsa para realização do mestrado; Sinto-me imensamente feliz por ter concluído esse trabalho, agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a sua realização e para o meu amadurecimento profissional e pessoal. Muito obrigada!!!

ii

RESUMO Esse trabalho representa um dos primeiros levantamentos realizados com um mostrador pontual (tipo van Veen) abrangendo plataforma continental de Sergipe de norte a sul. O objetivo principal é caracterizar a distribuição espacial dos principais componentes bioclásticos e siliciclásticos e suas respectivas contribuições para a formação dos depósitos sedimentares. Foram analisadas um total de 184 amostras de sedimento coletadas nas profundidades de 5 a 100m. A partir da identificação de 300 grãos aleatórios separados nas frações de cascalho a areia fina foram calculadas as frequências relativas, que posteriormente foram ponderadas pelo peso referente a cada fração granulométrica para se obter a contribuição efetiva de cada componente na amostra total. Os resultados demonstram que a contribuição de bioclastos e siliciclastos na plataforma de Sergipe é controlada pela largura da plataforma e pela influência fluvial. Os domínios siliciclásticos atingem profundidades maiores que as normalmente encontradas no restante da região nordeste do Brasil, enquanto os depósitos bioclásticos são mais restritos e descontínuos por conta dos diversos canyons instalados na borda externa da plataforma. Os principais bioclasto são as algas coralinas, os moluscos, os foraminíferos e os briozoários que totalizam 89% do total de grãos bioclásticos analisados. Associações do tipo foramol ou heterozoan predominam na maior parte de plataforma, indicando um ambiente rico em nutrientes e de baixa luminosidade. O percentual de carbonato dos depósitos de Sergipe gira em torno de 70%. A exploração desses depósitos não é viável em um primeiro momento por conta da profundidade (30m) ou pela distância que se encontram da costa. O quartzo foi o principal constituinte dos depósitos siliciclásticos, formando depósitos de areias quartzosas em três áreas específicas, sendo duas no litoral sul, na profundidade aproximada de 30m, e uma no litoral norte, localizada em profundidade menor (20m). O depósito no litoral norte apresenta maior potencial de exploração, principalmente por se encontrar próximo a uma área de intensa erosão costeira, representando uma importante fonte alternativa para a contenção do processo erosivo. Entretanto, estudos mais aprofundados são necessários para avaliar os possíveis impactos associados a essas atividades. Palavras-chave: Plataforma continental, depósitos sedimentares, associações carbonáticas.

iii

ABSTRACT

This search represents one of the first surveys carried out with a van Veen grab covering the continental shelf of Sergipe from north to south. The objective of this research is to characterize the spatial distribution of bioclastic and siliciclastic components and their respective contributions to the formation of sedimentary deposits. A total of 184 sediment samples were analyzed, collected at depths of 5 to 100m. The relative frequencies were calculated from the identification of 300 random grains separated from fractions of gravel to fine sand. The actual contribution of each component in the total sample was obtained by pondering the weight of each fraction. The result shows that this contribution in Sergipe’s shelf is controlled by the width of the platform, rather than their depth, and is associated with fluvial influences. The siliciclastic areas reaches depths greater than those normally found in the rest of northeastern Brazil, while the bioclastic deposits are more restricted and discontinuous due to the various canyon installed on the outer edge of the platform. The most important bioclastic are coralline algae, mollusca, foraminifera and bryozoans, that total amount to 89% of bioclastics grains analyzed. The association foramol or heterozoan predominates in most of the study area, indicating an environment rich in nutrients and low light. The percentage of CO3 in the sedimentary deposits on Sergipe’s shelf is around 70%. At first moment the exploitation of these deposits is not feasible because of the depth (>30m) and the distance from the shore. The quartz was the most important siliciclastic component, forming deposits of quartz sand in three specific areas: two in the south coast at a depth of approximately 30m, and one in the north coast, located in the shallower (20m). The deposit in the north coast has great potential for exploitation, mainly because it is near an area of intensive coast erosion process and could be an alternative to this problem. However, further studies are needed to avoid the possible negative impacts associated with these activities.

Key words: continental shelf, sedimentary deposits, carbonate associations.

iv

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Limites da plataforma interna, média e externa de Sergipe

segundo a divisão de Coutinho (1981) (Modificada de GUIMARÃES,

2010)....................................................................................................................8

FIGURA 2 – Teores de carbonato de cálcio e de cascalho, areia e lama nos

sedimentos superficiais da plataforma continental de Sergipe-Alagoas

(COUTINHO, 1981)...........................................................................................14

FIGURA 3 – Zoneamento das associações de organismos produtores de

sedimento na plataforma do Brasil (CARANNANTE et al., 1988).....................16

FIGURA 4 – As fácies sedimentares que recobrem a plataforma continental de

Sergipe (GUIMARÃES, 2010)............................................................................19

FIGURA 5 -Localização das estações amostrais..............................................21

FIGURA 6 – Frequência relativa dos grãos na porção siliciclástica do

sedimento superficial da plataforma continental de Sergipe.............................26

FIGURA 7 – Frequência relativa dos diferentes componentes sedimentares em

função da profundidade: <20m; de 20-40m; de 40-60m e

>60m..................................................................................................................26

FIGURA 8 – Contribuição de grãos de quartzo para a formação de sedimentos

superficiais na plataforma continental de Sergipe.............................................27

FIGURA 9 – Percentuais médios de cascalho, areia, lama e carbonato de

cálcio por intervalo de profundidade..................................................................29

FIGURA 10 – Distribuição de lama siliciclástica no sedimento superficial de

fundo..................................................................................................................30

FIGURA 11 – Distribuição de grãos vegetais no sedimento superficial da

plataforma continental de Sergipe.....................................................................31

FIGURA 12 – Contribuição efetiva dos grãos vegetais para a formação de

sedimento superficial na plataforma sergipana.................................................32

FIGURA 13 – Frequência relativa dos grãos na porção bioclástica do

sedimento superficial na plataforma continental de Sergipe.............................34

FIGURA 14 - Frequência relativa de bioclastos por intervalo de

profundidade......................................................................................................35

FIGURA 15 – Contribuição efetiva dos bioclastos para a formação do

sedimento superficial na plataforma de Sergipe................................................36

v

FIGURA 16 – Teores médios de cada componente do sedimento superficial de

fundo em função do tamanho do grão...............................................................38

FIGURA 17 – Distribuição e contribuição efetiva dos fragmentos de algas

calcárias na formação do sedimento superficial da plataforma de

Sergipe...............................................................................................................40

FIGURA 18 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de moluscos na

formação do sedimento superficial e os depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe........................................................................................42

FIGURA 19 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de foraminíferos na

formação do sedimento superficial e os depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe........................................................................................44

FIGURA 20 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de briozoário na

formação de sedimento superficial e depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe........................................................................................46

FIGURA 21 – Comparação da contribuição efetiva de bioclastos para a

formação do sedimento superficial e o teor de CaCO3 na plataforma continental

de Sergipe..........................................................................................................50

FIGURA 22 – Comparação entre a distribuição e contribuição efetiva de grãos

vegetais para o sedimento superficial com a distribuição de lama siliciclástica e

matéria orgânica na plataforma de Sergipe.......................................................61

FIGURA 23 - Comparação entre a contribuição efetiva das algas calcárias para

a formação do sedimento superficial com os teores de carbonato de cálcio e as

fácies sedimentares apresentados por Guimarães (2010) para a plataforma

sergipana...........................................................................................................63

Figura 24 - Transparência da água, determinadas por disco de Secci em

campanhas de amostragem da plataforma continental de Sergipe, no verão e

inverno no período 2001 - 2003 (GUIMARÃES, 2010)......................................66

Figura 25 - Comparação entre os locais de maior contribuição de fragmentos

de briozoários e grãos de quartzo para os depósitos sedimentares na

plataforma de Sergipe........................................................................................73

Figura 26 – Comparação entre a contribuição efetiva de grãos de quartzo para

a formação do sedimento superficial e as fácies sedimentares propostas por

Guimarães (2010) para a plataforma de Sergipe..............................................76

vi

Figura 27 – Localização das plataformas fixas de petróleo sobre o mapa de

contribuição dos bioclastos na plataforma continental de

Sergipe...............................................................................................................79

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Intervalos texturais utilizadas para identificação dos

componentes sedimentares...............................................................................22

vii

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................. i

RESUMO ..................................................................................................................... ii

ABSTRACT ................................................................................................................ iii

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. iv

LISTA DE QUADROS ............................................................................................... vi

SUMÁRIO .................................................................................................................. vii

1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

2 – OBJETIVOS ............................................................................................................. 6

3 – DESCRIÇÃO DA ÁREA ......................................................................................... 7

3.1 – Aspectos Morfológicos da Margem Continental de Sergipe ............................... 7

3.2 – Características Climáticas e Oceanográficas ....................................................... 9

3.3 - Evolução Quaternária da Plataforma Continental e Zona Costeira Adjacente .. 10

3.4 – Histórico dos levantamentos sedimentológicos ................................................. 12

3.5 - Distribuição Faciológica da plataforma continental de Sergipe......................... 18

4 – MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 20

4.1 – Procedimento de obtenção das amostras ........................................................... 20

4.2 – Procedimento Laboratorial ................................................................................ 22

4.3 - Análise dos dados ............................................................................................... 24

5- RESULTADOS ......................................................................................................... 25

5.1- Depósitos siliciclásticos na plataforma continental de Sergipe .......................... 25

5.2 – Distribuição da lama siliclástica e dos fragmentos vegetais ............................. 28

5.3 – Descrição geral dos depósitos bioclásticos na plataforma continental de Sergipe

.................................................................................................................................... 33

5.4 - Distribuição dos principais componentes bioclásticos por frações

granulométricas .......................................................................................................... 37

5.5 – Contribuição dos principais bioclastos para a formação do sedimento superficial

.................................................................................................................................... 39

6- DISCUSSÃO ............................................................................................................. 47

6.1 - Os limites dos domínios bioclásticos e siliciclásticos na plataforma continental

de Sergipe ................................................................................................................... 47

6.2 - Contribuição dos bioclastos para a variabilidade granulométrica na plataforma

de Sergipe ................................................................................................................... 52

6.3 - Associações carbonáticas ................................................................................... 54

6.4- Disponibilidade de matéria orgânica e a influência fluvial na plataforma

continental de Sergipe ................................................................................................ 59

viii

6.5- Contribuição dos principais constituintes bioclásticos para os depósitos

sedimentares na plataforma de Sergipe ...................................................................... 62

6.5.1 – Algas calcárias ............................................................................................ 62

6.5.2- Foraminíferos e Moluscos ............................................................................ 67

6.5.3 - Briozoários .................................................................................................. 71

6.6 – Areias Quartzosas .............................................................................................. 74

7 - RESTRIÇÕES AOS USOS DA PLATAFORMA COM BASE NA

COMPOSIÇÃO SEDIMENTAR ................................................................................ 77

8 - CONCLUSÕES ....................................................................................................... 82

9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 84

1

1 - INTRODUÇÃO _______________________________________________________________

A plataforma, juntamente com o talude e a elevação continental, faz

parte da fisiografia da margem continental que corresponde a região

intermediária entre o domínio continental e o oceânico (VITAL et al., 2005).

Os agentes dinâmicos que atuam sobre os sedimentos na plataforma

continental e no talude são diferentes. Na plataforma, a cobertura sedimentar

atual é reflexo da ação da atividade hidrodinâmica das ondas, marés e

correntes; e também dos efeitos das oscilações do nível do mar. A dinâmica de

ressedimentação dos componentes sedimentares, geralmente acumulados na

plataforma continental, é o principal fator atuante no talude (PONZI, 2004).

A depender do tipo de sedimentos acumulados, as plataformas podem

ser subdivididas em autóctones e alóctones. Plataformas autóctones são

aquelas que recebem sedimento principalmente do retrabalhamento in situ de

depósitos pretéritos, e são características da região nordeste do Brasil.

Plataformas alóctones são as aquelas supridas parcialmente por fontes

modernas, principalmente originárias do continente, como o norte do Brasil.

Quanto a composição sedimentar as plataformas podem ser classificadas em

siliciclásticas (Sul do Brasil), se houver predominância de sedimentos silicosos

(terrígenos); carbonáticas (Nordeste do Brasil), quando o predomínio é de

sedimentos carbonáticos (biogênicos); e mistas, com proporção semelhantes

de sedimentos carbonáticos e silicosos (VITAL et al., 2005).

O padrão de distribuição dos sedimentos siliciclásticos e dos bioclásticos

são influenciados por aspectos ambientais distintos. Com relação aos grãos

siliciclásticos, sua dispersão e textura estão diretamente ligadas à forma de

transporte sofrido. Contudo, a granulometria de grãos bioclásticos não se

relaciona exclusivamente com o grau de retrabalhamento. Sendo assim,

apenas parâmetros granulométricos podem não ser suficientes para a

2

compreensão dos processos deposicionais em ambientes predominantemente

carbonáticos ou mistos, requerendo análises mais cuidadosas ao serem

utilizados para inferências ambientais (GINSBURG et al., 1963; SUGUIO,

2003). De outro lado o estudo da composição da fração bioclástica dos

sedimentos pode fornecer informações fundamentais a respeito dos aspectos

físico-químicos (temperatura, salinidade, turbidez, salinidade, pH, Eh, etc) e

biológicos (produtividade, concorrência etc) da plataforma continental

(TINOCO, 1989).

As plataformas continentais correspondem a ambientes dinâmicos e

complexos e de grande importância para a manutenção do equilíbrio ecológico

nos oceanos, pois apesar de constituírem uma porção relativamente pequena

da superfície oceânica, aproximadamente 7,5% da área total dos oceanos,

abrigam a maior parte da diversidade dos organismos marinhos (MANSO et al.,

2004).

Ao longo do século passado estudos sedimentológicos mostraram ser

importantes ferramentas para um maior entendimento da dinâmica das

plataformas continentais. Nestes ambientes a cobertura sedimentar constitui-se

em um importante parâmetro para a compreensão do ecossistema como um

todo, refletindo tanto processos geológicos quanto ecológicos (TINOCO, 1989;

SUGUIO, 2003).

Paralelamente ao crescente aumento das informações sobre as

margens continentais, cresceu também a demanda por seus recursos, de

forma que estudos desta natureza são importantes não só para direcionar as

atividades antrópicas nessas regiões, como também para melhor avaliar seus

impactos.

A partir da década de 70, a publicação dos trabalhos de Lees e Buller

(1972) e Lees (1975) despertaram um maior interesse nos estudos da

composição dos sedimentos nas plataformas continentais em diversas partes

do globo, como por exemplo, na Austrália (WASS, CONOLLY, MACINTYRE,

1970; MALLET; HEEZEN, 1977; COLLINS, 1988; DUNBAR; DICKENS, 2003),

3

na Nova Zelândia (NELSON, 1988; HAYNTON et al., 1995), na costa da

Escócia (FARROW; ALLEN; AKPAR, 1984), em plataformas polares

(ANDRULEIT; FREIWALD; SCHAFER, 1996); nas Bahamas (REIJMER et al.,

2002), em plataformas do Mediterrâneo (KONOERICH; MUTTI, 2003;

BRANDANO et al., 2009), na África (PERRY, 2003) e no Brasil (CARANNANTE

et al., 1988) e demonstraram a complexidade das inferências ambientais que

podem ser feitas a partir do estudo dos componentes bioclásticos destes

sedimentos.

A plataforma tropical brasileira é composta por extensos depósitos de

carbonatos, os quais são especialmente expressivos na região nordeste do

país, mas que se estendem desde o rio Parnaíba (divisa entre Maranhão e

Piauí) até Cabo Frio (RJ), refletindo a relativa homogeneidade de parâmetros

como temperatura, profundidade e salinidade nessa região (COUTINHO,

2000).

A zona costeira brasileira foi subdividida em seis tipologias básicas de

acordo com fatores como a história evolutiva, o suprimento de sedimentos, as

variações do nível do mar, o tectonismo e a ação de ondas e marés. A costa

sergipana, está incluída, segundo este esquema de classificação, na tipologia

costa deltaica do leste do Brasil, devido à presença do delta do Rio São

Francisco em sua extremidade norte e à extensiva progradação da linha de

costa verificada ao longo da costa sergipana (DOMINGUEZ, 2009). Disto

resulta uma nova configuração para a distribuição dos sedimentos superficiais,

diferente do restante da região nordeste (FRANÇA; COUTINHO;

SUMMERHAYES, 1976).

Os estudos faciológicos na plataforma continental brasileira mostram

que a porção referente à plataforma continental de Sergipe representa uma

quebra no padrão de distribuição dos carbonatos na região nordeste por conta

da influência dos aportes terrígenos do rio São Francisco (KEMPF, 1972;

FRANÇA; COUTINHO; SUMMERHAYES, 1976; KOWSMANN; ATAÍDE

COSTA, 1979; COUTINHO, 1981; MANSO et al., 1997; COUTINHO, 2000).

4

Contudo, apesar dessa particularidade da plataforma sergipana, é

notável a escassez de levantamentos amplos e integrados da composição e

distribuição espacial de seus depósitos sedimentares, principalmente no que se

refere a descrição das associações carbonáticas e na quantificação da

contribuição dos diferentes grãos carbonáticos para o sedimento.

Esse trabalho representa um dos primeiros levantamentos realizados

com amostrador pontual (tipo van Veen) obedecendo uma malha de

amostragem regular na plataforma continental de Sergipe. Até então a maior

parte do conhecimento sobre o sedimento superficial era o resultado de

amostragens utilizando dragas (KEMPF, 1972; KOWSMANN; ATAÍDE COSTA,

1979; COUTINHO, 2000), as quais podem promover mistura de material

sedimentar de áreas adjacentes. Além disso, os trabalhos disponíveis, até

então para a plataforma sergipana sempre enfatizaram a região no entorno do

rio São Francisco.

Segundo Milliman (1974), o aporte de terrígenos é o principal fator que

controla a formação dos depósitos carbonáticos. A plataforma do nordeste do

Brasil possui em sua maior parte um relevo plano, condições oceanográficas

estáveis, disponibilidade de substrato consolidado e pouca influência fluvial,

condições que possibilitam o desenvolvimento dos organismos produtores de

carbonatos (COUTINHO, 1981). A região costeira de Sergipe, ao contrário,

apresenta níveis muito altos de sedimento em suspensão por conta da

influência dos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris e Piauí-

Real.

Do ponto de vista ambiental a plataforma sergipana é caracterizada pela

presença de emissários submarinos de empresas de fertilizantes que lançam

no oceano efluentes contendo amônio, uréia, cromo, sólidos em suspensão,

óleos, graxas, zinco e fosfatos. Entre as desembocaduras dos rios Sergipe e

Japaratuba situa-se e indústria de potássio, responsável por lançar através do

emissário submarino cerca de um milhão de toneladas de cloreto de sódio. Em

Aracaju, níveis de cromo total e NH3 na água e no sedimento foram

identificados como altos em algumas situações (NIENCHESKI, 1999). A

5

plataforma continental sergipana ainda acomoda uma grande atividade

relacionada à extração de petróleo e à indústria pesqueira, destacando-se a

pesca do camarão.

Deste modo o conhecimento da distribuição dos componentes

sedimentares na cobertura sedimentar superficial da plataforma é um fator

extremamente importante na avaliação do impacto destas atividades múltiplas.

Além disto, o conhecimento da cobertura sedimentar é fundamental para se

avaliar a distribuição das comunidades bentônicas neste ambiente, e

consequentemente a biodiversidade marinha.

Finalmente os resultados aqui alcançados irão fornecer subsídios

importantes na avaliação de impactos de atividades humanas que venham a

ser licenciadas no futuro, e na possível criação de unidades de conservação

marinha.

6

2 – OBJETIVOS _____________________________________________________________

Objetivo geral:

- Caracterizar a sedimentação holocênica na plataforma continental do Estado

de Sergipe, com ênfase na distribuição espacial dos principais componentes

bioclásticos e siliciclásticos do sedimento, e suas contribuições para a

formação do sedimento superficial.

Objetivos específicos:

- Avaliar a contribuição relativa dos aportes siliciclásticos e bioclásticos na

sedimentação holocênica;

- Avaliar os controles exercidos pela batimetria e pelos processos

oceanográficos no caráter da sedimentação plataformal holocênica;

- Avaliar de que maneira o caráter da sedimentação impõe restrições

ambientais aos diferentes usos da plataforma.

7

3 – DESCRIÇÃO DA ÁREA _______________________________________________________________

3.1 – Aspectos Morfológicos da Margem Continental de Sergipe

Sergipe está inserido na tipologia costa deltaica do leste do Brasil,

proposta por DOMINGUEZ (2009); apresenta uma extensão costeira de 168

km (PERFIL, 1995) caracterizada por sedimentos da formação Barreiras, com o

rio São Francisco delimitando sua extremidade norte e o rio Piauí-Real , ao sul

Coutinho (1981) propôs uma compartimentalização da plataforma

continental da região Nordeste do Brasil levando em consideração

principalmente a profundidade da coluna d’água. Ele dividiu a plataforma em

interna, delimitada pela isóbata de 20 m; média, indo da isóbata de 20 até a

isóbata de 40 m; e externa, indo dos 40 m até a quebra da plataforma, que em

geral nessa região ocorre em torno dos 60 m (Fig. 1). Guimarães (2010),

entretanto, argumenta que essa divisão não se aplica a plataforma continental

estudada, pois em Sergipe as isóbatas de 40 e 60 m praticamente coincidem

entre si, sendo mais coerente referir-se apenas a plataforma interna e externa.

A largura média da plataforma sergipana é de 27 km, variando entre 12

e 35 Km, com profundidade média de quebra de 41 m, possuindo em geral

uma baixa declividade (1:1000). A plataforma na área estudada além da pouca

largura possui ainda uma série de recortes por conta de cinco canyons

instalados em sua borda externa (GUIMARÃES, 2010). De norte para sul é

possível observar os do rio São Francisco, do Sapucaia, do Japaratuba, do

Vaza-Barris e do rio Real (Fig. 1).

8

Figura 1 - Limites da plataforma interna, média e externa de Sergipe segundo a

divisão de Coutinho (1981) (Modificado de GUIMARÃES, 2010).

9

3.2 – Características Climáticas e Oceanográficas

O clima de Sergipe pode ser classificado como tropical úmido. As

temperaturas médias anuais variam entre 29-30°C (máximas) e 20-22°C

mínimas (SUDENE/CONDESE,1976), com temperatura alta o ano inteiro. A

normal de evaporação anual em Aracaju corresponde a 1147,7 mm e

precipitação média anual corresponde a 1556,3 mm, com aridez crescente para

oeste (FRANCO, 1983).

O estado de Sergipe está sob a influência das oscilações da Zona de

Convergência Inter Tropical (ZCIT), das massas Tropical Atlântica (mTa) e

Equatorial Atlântica (mEa). O regime pluviométrico é caracterizado pela

atuação da Frente Polar Atlântica e das Correntes de Leste resultando em

chuvas abundantes no período outono/inverno. Os ventos alísios são atuantes

o ano todo, variando de SE para NE. O regime térmico sazonal mensal é

praticamente uniforme (CARVALHO; FONTES, 2006).

A costa sergipana possui um desenvolvimento retilíneo com direção NE-

SE, e as ondas predominantes são oriundas de leste, produzindo um transporte

litorâneo resultante orientado NE-SW. As marés tem caráter semi-diurno com

alturas máximas de 2,5m nos equinócios de março e setembro (DOMINGUEZ,

1996).

A planície costeira de Sergipe é recortada pelos estuários na porção

centro-sul dos rios Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real . As vazões médias

anuais desses rios é, respectivamente, 14, 16, 20 e 43 m3/s . No litoral norte,

encontra-se o estuário do rio Japaratuba com vazão média anual de 11m3/s .

Estes quatro rios menores apresentam picos de vazão nos meses de inverno, o

qual ocorre entre março e setembro, evidenciando a influência do regime de

chuvas do litoral do Estado (SERGIPE, 2006). Ainda no litoral norte, na divisa

com o estado de Alagoas, está o rio São Francisco que apresenta suas

maiores vazões no período deverão, por ser o período de chuvas na sua

cabeceira, situada na Serra da Canastra (MG) (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004).

A vazão média rio São Francisco foi calculada em 1.849 m3/s, após a

10

regularização promovida pela construção das grandes barragens (MACHADO,

2008).

3.3 - Evolução Quaternária da Plataforma Continental e Zona Costeira

Adjacente

A cobertura sedimentar atual das plataformas continentais resulta

principalmente dos processos de regressão e transgressão do mar ocorridos no

Pleistoceno e no Holoceno. Extensos depósitos terrígenos foram formados no

Pleistoceno por conta da exposição de partes da plataforma continental, que

favoreceu também a incisão de canais fluviais e transferência de material

clástico para regiões de mar profundo. Durante as transgressões marinhas

desembocaduras de rios transformaram-se em estuários, retentores de

sedimentos fluviais e marinhos, inibindo o aporte de terrígenos para as

plataformas continentais.

No que diz respeito à zona costeira emersa Bittencourt et al. (1983)

propuseram para a costa Sergipana e a costa sul do Estado de Alagoas um

modelo evolutivo Quaternário consistindo de 06 estágios evolutivos fortemente

controlados pelas variações do nível do mar:

Estágio I – Associado à Transgressão Mais Antiga de idade

desconhecida ocorreu a erosão da porção mais externa do Grupo Barreiras

esculpindo falésias e afogando o baixo curso dos rios da região, formando

estuários;

Estágio II – A Transgressão Mais Antiga foi sucedida por uma regressão

associada a um clima semi-árido com chuvas esparsas e violentas que

favoreceu a formação de depósitos arenosos que deram origem a unidade dos

Leques Aluviais Pleistocênicos.

11

Estágio III – Corresponde ao máximo da Penúltima Transgressão

(120.000 anos A.P.) Nesse estágio possivelmente os ventos retrabalharam a

superfície dos depósitos arenosos instalados no evento anterior. O mar

retrabalhou ainda a linha de falésias esculpida pela Transgressão Mais Antiga.

Por fim, mais uma vez, o baixo curso dos rios da região foi afogado,

transformando-se em estuários.

Estágio IV - A regressão que sucedeu a Penúltima Transgressão,

promoveu a deposição dos terraços marinhos pleistocênicos. É possível que

tenha sido desenvolvida uma zona de progradação associada a foz do rio São

Francisco, semelhante a que ocorre nos dias atuais.

Estágio V -Última Transgressão atingiu seu máximo em torno de 5 100

anos A.P. e foi caracterizada pela erosão parcial dos terraços marinhos

pleistocênicos, tendo o mar em alguns locais chegado a retrabalhar, mais uma

vez, as falésias da Formação Barreiras.

Estágio VI - O Último evento regressivo deu formas finais ao modelado

da costa. Assim, durante essa fase, foram construídos os terraços marinhos

holocênicos, dispostos externamente aos terraços pleistocênicos. Sedimentos

fluviais desenvolveram-se nas partes superiores dos vales entalhados na

Formação Barreiras e na zona de progradação associada a foz do rio São

Francisco.

12

3.4 – Histórico dos levantamentos sedimentológicos

Os primeiros dados sedimentológicos analisados da plataforma de

Sergipe foram obtidos na expedição do “HMS CHALLENGER” ocorrida em

1873 com a coleta de 19 amostras de sedimento ao longo da costa brasileira,

dessas, 5 foram referentes ao talude de Sergipe. Apesar de representar uma

amostragem bastante restrita é um dos poucos levantamentos na região que

contém uma descrição percentual da contribuição dos diferentes componentes

biogênicos para o sedimento marinho (MURRAY; RENARD, 1891).

O Projeto Akaroa, com a coleta de 115 amostras abrangendo a região

entre as plataformas do Ceará e de Sergipe foi outro importante trabalho que

incluiu levantamentos da composição sedimentar na costa sergipana, contendo

65 estações distribuídas ao longo de toda a PCS até a isóbata de 100m. Kempf

(1972) discute os resultados da análise dessas amostras e sugere a

distribuição dos substratos em zonas a partir do litoral adentrando na

plataforma da seguinte maneira: areias quartzosas, lama, fundos de algas

calcárias e material organogênico, sem maiores especificações. O autor

enfatiza a descontinuidade das sequências sedimentares nas proximidades dos

rios São Francisco e Japaratuba.

O projeto REMAC é responsável pela maior parte das informações

geológicas disponíveis sobre a sedimentação na plataforma continental de

Sergipe. Este projeto teve por objetivo executar principalmente o

reconhecimento global da margem continental, disponibilizando sob forma de

relatórios e trabalhos científicos um grande acervo de informações

(KOWSMANN; ATAÍDE COSTA, 1979).

Coutinho (1967) analisou um total de 72 amostras referente a área de

influência do rio São Francisco, abrangendo porções da plataforma de Sergipe

e de Alagoas. Esse trabalho mapeou a distribuição superficial dos sedimentos

segundo a composição granulométrica e demonstrou que o material fino

13

transportado pelo referido rio constitui a principal fonte de sedimentos da área,

sendo a desagregação dos depósitos de algas calcárias uma fonte secundária.

França et al. (1976) relatam a continuidade do predomínio de algas

coralinas e Halimeda nas plataformas média e externa de Fortaleza a Maceió,

referindo-se a uma contribuição de menos de 10% de moluscos nessas áreas.

Esses autores referem-se ainda a algumas regiões entre Aracaju e Fortaleza

onde os briozoários são dominantes, porém essas localidades não estão

especificadas no trabalho. As porcentagens de carbonato de cálcio se

aproximam dos teores encontrados por Coutinho e Morais (1970), que fizeram

um levantamento na plataforma do Piauí até Pernambuco, variando de 75 a

95% e caindo para valores entre 5 e 25% na plataforma interna, com os

menores valores relacionados a proximidade do rio São Francisco.

Em relação à composição dos sedimentos bioclásticos, Coutinho (1981)

constatou no que diz respeito a região nordeste do Brasil como um todo que a

plataforma interna é constituída principalmente por associações de moluscos

com ou sem foraminíferos bentônicos, uma baixa quantidade de restos de

equinóides e algas coralinas ramificadas e incrustantes. Já nas plataformas

média e externa do nordeste brasileiro predominam as algas coralinas. Esse

autor constatou ainda a redução de Halimeda ao sul do São Francisco, ao

tempo em que chama a atenção para o fato da topografia neste trecho também

ser mais homogênea por conta da maior influência fluvial, com uma grande

quantidade de sedimentos relíquias presentes entre as isóbatas de 50 e 65 m.

Os mapas texturais produzidos por Coutinho (1981) (Fig. 2) evidenciam as

diferenças na composição sedimentar ao norte e ao sul do rio São Francisco,

sendo a lama limitada a uma estreita faixa próximo a costa e a desembocadura

do rio, e o carbonato de cálcio e os sedimentos mais grossos concentrados

principalmente na porção ao norte.

14

Figura 2 –Teores de carbonato de cálcio e de cascalho, areia e lama nos sedimentos

superficiais da plataforma continental de Sergipe-Alagoas (COUTINHO, 1981).

15

Posteriormente, Manso et al. (1997) ampliaram a discussão sobre a

distribuição superficial dos sedimentos na porção de plataforma continental

entre Aracaju e Maceió, analisando 55 amostras disponibilizadas pelo REMAC,

abrangendo uma região de 190 km de extensão correspondendo novamente a

área em torno do rio São Francisco. Os resultados corroboraram as diferenças

na distribuição textural dos grãos ao norte e ao sul desse rio encontradas por

Coutinho (1981). Esses autores ainda apresentaram um mapa de influência

fluvial baseado nos parâmetros sedimentológicos estudados evidenciando a

existência de dois ambientes plataformais distintos ao norte e ao sul do rio São

Francisco.

Carannante et al. (1988) propuseram um zoneamento da plataforma

continental brasileira baseado na distribuição das associações biogênicas

presentes nas fácies carbonáticas (Fig. 3): (i) Zona Tropical (de 0 a 15 º) onde

predominam Halimeda e algas coralinas ramificadas e o foraminífero bentônico

Amphistegina; (ii) Zona de Transição (de 15 a 23º S) com predomínio de algas

coralinas incrustantes, rodólitos, briozoários e quantidades variadas de

Halimeda, Amphistegina e coralinas ramificadas. Briozoários tornam-se

abundantes em direção ao Sul e nas águas mais profundas; e (iii) Zona

temperada (23 a 35º), os sedimentos carbonáticos são compostos de

fragmentos de moluscos, equinóides, crustáceos e foraminíferos arenáceos.

Briozoários, algas coralinas e Halimeda são praticamente ausentes. Contudo, a

plataforma continental de Sergipe parece não se enquadrar nessa

classificação, de modo que as informações que se tem sobre a plataforma

sergipana indicam uma reduzida influência de Halimeda e também de

briozoários em comparação ao restante do nordeste (COUTINHO, 2000).

Porém, o conhecimento que se tem atualmente limita a tentativa de situar

Sergipe em qualquer modelo.

16

Figura 3 - Zoneamento das associações de organismos produtores de sedimento na

plataforma do Brasil (CARANNANTE et al., 1988).

Zona Tropical Alga coralina ramificada,

Halimeda, Amphistegina

Zona de Transição Alga coralina incrustante, briozoário, Amphistegina,

Halimeda e alga coralina ramificada

Zona Temperada Molusco, equinodermas, foraminíferos

arenáceos, crustáceos e briozoários

17

Mais recentemente, o conhecimento gerado pelos trabalhos descritos

anteriormente foi sumarizado e ampliado pelo projeto REVIZEE (COUTINHO,

2000) que apresentou um levantamento da fisiografia da plataforma brasileira

juntamente com mapas faciológicos com objetivo de disponibilizar as

informações existentes sobre a plataforma continental brasileira visando um

maior conhecimento a cerca dos recursos da zona econômica exclusiva da

plataforma brasileira.

Embora as informações levantadas pelos trabalhos que abrangeram

parte da plataforma sergipana sejam de grande importância, é possível notar

que, de forma geral, eles contaram com uma amostragem bastante limitada,

restringindo-se principalmente a área próxima do rio São Francisco.

De forma geral, os estudos sedimentares que englobaram a plataforma

sergipana tiveram como objetivo central a composição textural e

geomorfológica dos diferentes tipos de fundo, gerando principalmente mapas

faciológicos sem descrições detalhadas da contribuição dos grãos biogênicos.

18

3.5 - Distribuição Faciológica da plataforma continental de Sergipe

Guimarães (2010) mapeou as fácies sedimentares da plataforma

continental de Sergipe utilizando como parâmetros básicos a textura e o teor de

carbonato de cálcio (Fig. 4). Dentre as 10 fácies identificadas, as cinco

principais são: (i) fácies de lama terrígena – ocorre ao longo de toda a

plataforma continental apresentando suas maiores larguras nas proximidades

da foz do rio São Francisco e na porção adjacente ao canyon do Japaratuba.

Estas duas ocorrências são separadas por uma faixa perpendicular à linha de

costa com maior concentração de areia silicilástica entre as isóbatas 10-20 m;

(ii) fácies de areia siliciclástica - se concentra próximo as desembocaduras

fluviais, constituindo duas faixas estreitas uma bordejando a linha de costa e

outra acompanhando aproximadamente a isóbata de 30 m, com as duas faixas

separa pela fácies de lama terrígena. Apenas entre a desembocadura do rio

São Francisco e a cabeceira do canyon do Japaratuba esta fácies se alarga

substancialmente, e ocupa toda a região entre as isóbatas de 10-20 m; (iii) a

fácies de areia silicobioclástica - ocorre de forma quase contínua na

plataforma externa sendo interrompida apenas na cabeceira do canyon do

Japaratuba e na foz do Rio São Francisco. (iv) a fácies de lama calcária e (v) a

fácies de areia bioclástica- encontram-se na plataforma externa bordejando o

canyon do rio Japaratuba. As demais fácies identificadas por Guimarães

(2010) tem ocorrência muito localizada e distribuição restrita.

O trabalho de Guimarães (2010) é particularmente importante por

apresentar uma amostragem regular que abrangeu toda a plataforma e o talude

superior, ao longo de toda a extensão da plataforma sergipana. As amostras

foram coletadas com um amostrador do tipo van Veen, produzindo assim

dados mais precisos, ao contrário dos trabalhos anteriores onde as

amostragens foram realizados com draga. Ainda assim, Guimarães (2010) não

discute a contribuição dos diferentes componentes bioclásticos para a

formação dos depósitos sedimentares superficiais.

19

Figura 4 - As fácies sedimentares que recobrem a plataforma continental de

Sergipe (GUIMARÃES, 2010).

20

4 – MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________________________________

4.1 – Procedimento de obtenção das amostras As amostras foram coletadas entre dezembro de 2006 e Janeiro de

2007, com o barco de pesca Oceano I e fazem parte do Projeto Plataforma

Continental de Sergipe, desenvolvido na Universidade Federal de Sergipe sob

a coordenação da Drª Carmen Regina Parisotto Guimarães.

A coleta de sedimento foi feita com um amostrador tipo van Veen de aço

inox em aproximadamente 200 estações distribuídas em 19 transectos (Fig. 5).

A malha amostral foi organizada com os transectos perpendiculares à

linha de costa e separados em aproximadamente 9,8 km. Ao longo de cada

transecto observou-se um espaçamento entre as amostras de 2,8 km. As

estações amostrais foram georeferenciadas com auxílio de GPS e estiveram

delimitadas pelas isóbatas entre 5 e 100 m.

21

...

Figura 5 – Localização das estações amostrais.

22

4.2 – Procedimento Laboratorial

No laboratório de Bentos Costeiro da Universidade Federal de Sergipe

duas porções de sedimentos foram separadas: uma parte para a obtenção de

teores de matéria orgânica (MO) e carbonato de cálcio (CaCO3) que foram

obtidos por combustão em forno mufla durante 1h, a 550ºC e 1000ºC,

respectivamente, de acordo com o método proposto por Dean (1974). A outra

parte do material correspondente a 100g foi destinada a análise

granulométrica, de acordo com os procedimentos estabelecidos por Suguio

(1973), composto por peneiramento de acordo com a escala de Wentworth (1/2

Ф), para frações superiores a 0,062 mm e pipetagem para frações inferiores.

As descrições detalhadas das análises texturais, da distribuição da MO e do

CaCO3 encontram-se em Guimarães (2010).

Para a realização desse trabalho, o intervalo granulométrico das

amostras foi reduzido para 1 Ф, sendo identificados os fragmentos das frações

superiores a areia muito fina . De cada fração um total de 300 grãos escolhidos

aleatoriamente foram analisados. Quando a fração não continha 300 grãos,

analisou-se o total de grãos existentes. Ao todo, 184 amostras foram

identificadas sob lupa binocular Leica MZ12,5.

O quadro 1 apresenta as frações utilizadas neste trabalho (em mm).

Classificação textural Intervalo em mm Cascalho > 4,000 Grânulo 4,000 à 2,000

Areia muito grossa 2,000 à 1,000 Areia grossa 1,000 à 0,500 Areia média 0,500 à 0,250

Areia fina 0,250 à 0,125

Quadro 1 – Intervalos texturais utilizados na identificação dos componentes

sedimentares.

Os principais grupos constituintes dos sedimentos foram classificados

quanto a origem em siliciclásticos e bioclásticos. Os grãos vegetais foram

23

agrupados separadamente por corresponderem a constituintes orgânicos,

embora sejam provenientes do continente.

Os critérios de identificação dos fragmentos biogênicos, são aqueles

descritos em Tinoco (1989). Dez agrupamentos foram considerados na

classificação:

Alga calcária – fragmentos e artículos inteiros de algas calcárias de

forma geral. A Halimeda foi considerada um agrupamento a parte por conta do

seu grande registro na plataforma continental do Nordeste.

Briozoário – fragmentos e colônias de briozoários articuladas e

incrustantes;

Foraminífero – foram contadas testas inteiras e fragmentadas.

Molusco – foram identificados ao nível de bivalve, gastrópode,

pterópodes e escafópodes, quando possível. Os demais grupos e os

fragmentos não possíveis de serem identificados foram classificados como

fragmentos de moluscos;

Crustáceo – os ostrácodes foram identificados quando possível. Os

demais grupos e os fragmentos não possíveis de serem identificados foram

contabilizados como fragmentos de crustáceos;

Equinodermo – foram considerados fragmentos de carapaça e espinhos

de equinodermas;

Fragmento de esponja – representado essencialmente por espículas;

Fragmento de peixe – refere-se a fragmentos de vértebras e ossículos;

Tubo de verme – corresponde a fragmentos de tubos de poliquetas;

Corais – corresponde a fragmentos de corais de uma forma geral;

Os constituintes siliciclásticos foram identificados como quartzo, mica,

fragmento de rocha e outros minerais quando não foi possível sua

identificação.

Os grãos não identificados correspondem a todos os fragmentos cuja

identificação não foi possível, independente de sua origem (siliciclástica ou

bioclástica).

24

4.3 - Análise dos dados

A partir da identificação dos componentes foram calculadas as

frequências relativas dos mesmos nas frações de cascalho a areia fina. Para

avaliar a contribuição dos componentes bioclásticos para a formação do

sedimento as frequências relativas dos componentes foram ponderadas pelos

pesos das respectivas frações granulométricas. Deve-se observar que, como

não é possível a identificação dos componentes nas frações mais finas que

areia fina, os teores reportados para cada componente na amostra total foram

corrigidos para refletir este aspecto. Já para verificar apenas a distribuição

destes componentes, mas não a sua contribuição efetiva para a formação do

sedimento, serão utilizados os dados referentes à frequência de cada grão

considerando apenas as frações identificadas.

Alguns aspectos dos grãos foram descritos como a presença de

incrustações, o aspecto geral de coloração e desgaste, porém essas

características não contabilizadas, contribuindo apenas de forma qualitativa.

Foram confeccionados mapas utilizando o aplicativo ArcView 9.2, de

modo que os dados referentes as frequências relativas demonstram a

distribuição geral dos grãos, enquanto os valores ponderados referem-se a

contribuição efetiva dos mesmos para a formação do sedimento superficial.

Também foi preparado um mapa da distribuição de lama siliciclástica,

para tal considerou-se como siliciclástica as amostras com percentuais totais

de carbonato inferiores a 50%, representando no mapa as variações

percentuais da lama nessas amostras. Amostras com carbonato superior a

50% tiveram os seus percentuais de lama ignorados para que no mapa não

estivesse representada a lama carbonática.

A distribuição do carbonato de cálcio foi feita utilizando-se os mapas de

Guimarães (2010), cujas amostras são as mesmas analisadas por esse

trabalho.

25

5- RESULTADOS _______________________________________________________________

5.1- Depósitos siliciclásticos na plataforma continental de Sergipe

Na plataforma sergipana, os siliciclastos são representados por grãos de

quartzo, fragmentos de rocha, micas e de outros minerais não identificados

(Fig. 6). A média das frequências relativas somadas desses componentes

corresponde a 65% nas amostras situadas em profundidades inferiores a 20m.

No intervalo de profundidade de 20 a 40m, esse percentual médio é reduzido

para 33% e a partir de 40m, não ultrapassa os 7%. O quartzo é o principal

constituinte, representando 78% dos componentes siliciclásticos. A figura 7

apresenta a frequência média dos componentes sedimentares ao longo desses

intervalos de profundidade.

O quartzo contribui efetivamente para a formação do sedimento em três

zonas específicas: entre o canyon do Japaratuba e a foz do rio São Francisco,

limitada pelas isóbatas de 10 e 20 m, e em outras duas áreas localizadas mais

a sul limitadas pelas isóbatas de 20 e 30 m (Fig. 8).

Os grãos de quartzo apresentam-se em sua maioria arredondados e

sub-arredondados, com superfície brilhante, concentrados nas frações mais

finas do sedimento (areia média a fina).

26

Figura 6 - Frequência relativa dos grãos na porção siliciclástica do sedimento

superficial da plataforma continental de Sergipe

Figura 7 – Frequência relativa dos diferentes componentes sedimentares em função

da profundidade: <20m; de 20-40m; de 40-60m e >60m.

27

Figura 8 – Contribuição de grãos de quartzo para a formação de sedimentos

superficiais na plataforma continental de Sergipe.

28

5.2 – Distribuição da lama siliclástica e dos fragmentos vegetais

A fração lama predomina em 33% das amostras estudadas. Na maior

parte dessas amostras o teor de carbonato é inferior a 50%. A figura 9

demonstra os percentuais médios de cascalho, areia, lama e carbonato de

cálcio nos intervalos de profundidade (<20, 20-40, 40-60 e >60m). É possível

observar uma grande contribuição de lama ao longo de toda a plataforma com

percentuais médios variando entre 32 e 47%. A areia predomina em todos os

intervalos e a fração cascalho é a que menos contribui para os depósitos

sedimentares na plataforma de Sergipe. O carbonato de cálcio aumenta com a

profundidade e a partir dos 40m o percentual médio se mantem-se acima de

50%, não ultrapassando (em média) o valor de 70% (Fig. 9).

Neste trabalho, como já mencionado na metodologia, as lamas situadas

em estações que contém menos que 50% de carbonato na amostra total foram

classificadas como lamas siliciclásticas. Os maiores teores de lama siliciclástica

ocorrem na cabeceira do canyon do Japaratuba e na foz do rio São Francisco,

onde alcançam o talude superior. (Fig. 10).

Na porção centro-sul da plataforma, percentuais intermediários de lama

com teores inferiores a 50% de carbonato ocorrem de forma relativamente

contínua entre as isóbatas de 10 e 20m. Próximo às desembocaduras dos rios

Vaza-Barris e Real estas lamas alcançam profundidades superiores a 30 m

com teores de até 80-100%.

Essas amostras com grande contribuição de lama siliciclástica,

apresentam uma elevada frequência de fragmentos vegetais. Esses

fragmentos são mais abundantes nas proximidades das desembocaduras dos

rios São Francisco e Vaza-Barris, onde podem atingir valores percentuais

próximos a 80% (Fig.11). Embora a frequência desses fragmentos seja elevada

nessas estações, a sua contribuição efetiva para a formação do sedimento

superficial na plataforma sergipana é pouco expressiva (Fig. 12).

29

Figura 9 – Percentuais médios de cascalho, areia, lama e carbonato de cálcio por

intervalo de profundidade.

30

Figura 10 - Distribuição de lama siliciclástica no sedimento superficial de fundo

(CaCO3 < 50% - medido na amostra total).

31

Figura 11 - Distribuição de grãos vegetais no sedimento superficial da

plataforma continental de Sergipe.

32

Figura 12- Contribuição efetiva dos grãos vegetais para a formação de

sedimento superficial na plataforma sergipana.

33

5.3 – Descrição geral dos depósitos bioclásticos na plataforma

continental de Sergipe

Na plataforma continental de Sergipe os bioclastos mais comuns são os

fragmentos de algas calcárias, moluscos, foraminíferos e briozoários, que

correspondem em média a 89% dos bioclastos identificados. Equinodermos,

Halimeda, crustáceos, espículas de esponjas, tubos de poliquetas, vértebras de

peixes e fragmentos de corais integram os componentes restantes (Fig. 13).

A figura 14 representa a distribuição dos bioclastos por intervalos de

profundidade. Em geral, abaixo do limite da isóbata de 20m, os sedimentos

bioclásticos analisados são formados predominantemente por moluscos (57%),

com foraminíferos e equinodermos somando 26%. No intervalo delimitado

pelas isóbatas de 20 e 40m, observa-se uma redução dos fragmentos de

moluscos e um aumento de algas calcárias que passam a ser o componente

predominante a partir de então. Foraminíferos apresentam uma tendência a

aumentar com o aumento da profundidade. Os briozoários alcançam a

frequência máxima (11%) entre 20 e 40m. Embora apresentem uma frequência

expressiva ao longo de todos os intervalos de profundidade, os componentes

bioclásticos só contribuem para a formação efetiva dos depósitos sedimentares

acima dos depósitos de lama, que possuem profundidades variáveis na costa

de Sergipe.

Os bioclastos contribuem para a formação de sedimento superficial

principalmente na plataforma externa, onde podem alcançar percentuais

superiores a 80% na amostra total (Fig. 15). Os maiores teores encontram-se

distribuídos de forma pontual ao longo da plataforma. Entretanto, em geral, o

percentual de contribuição de bioclastos para os depósitos sedimentares na

plataforma de Sergipe não ultrapassa em média os 70%.

O limite mais raso de ocorrência dos domínios dos bioclásticos ocorre em

profundidades variáveis ao longo da extensão da plataforma continental de

Sergipe, na região entre os canyons do rio São Francisco e Japaratuba os

depósitos bioclásticos predominam a partir de 20m. No litoral norte, essa

34

profundidade é superior a 30m. A área de influência do rio São Francisco é

bem marcada no extremo norte da plataforma sergipana onde os bioclastos só

são expressivos no talude continental.

A continuidade dos depósitos bioclásticos na plataforma externa é

interrompida pelos diversos canyons instalados na borda externa da

plataforma, destacando-se o canyon submarino do Japaratuba do rio São

Francisco que apresentam recortes bastante acentuados, aproximando o

talude continental da costa.

Figura 13 – Frequência relativa dos grãos na porção bioclástica do sedimento

superficial na plataforma continental de Sergipe.

35

Figura 14 - Frequência relativa de bioclastos por intervalo de profundidade.

36

Figura 15 – Contribuição efetiva dos bioclastos para a formação do sedimento

superficial na plataforma de Sergipe.

37

5.4 - Distribuição dos principais componentes bioclásticos por frações

granulométricas

Nas amostras estudadas observou-se que os teores dos constituintes

bioclásticos variam de acordo com a granulometria da fração estudada. (Fig.

16).

As algas calcárias, dentre os bioclastos, é o mais abundante em

praticamente todas as frações, sendo sempre superior a 16%. Os maiores

teores se concentram, entretanto, nas frações cascalho (>4mm) e grânulo

(2mm), onde constituem em média 78% e 51% de todos os fragmentos

analisados.

Os moluscos apresentam teores relativamente constantes em todas as

classes granulométricas, variando entre 10% e 20%, se concentrando

principalmente na fração areia de uma forma geral.

Os maiores teores de foraminíferos são encontrados nas frações areia

média e fina, onde alcançam em média 11%. Os briozoários se concentram

mais nas frações grânulo (média de 14,3%) e areia grossa (média de 10,5%).

Foi observada uma grande quantidade de fragmentos de colônias lunulitóides.

38

Figura 16 – Teores médios de cada componente do sedimento superficial de fundo em

função do tamanho do grão.

39

5.5 – Contribuição dos principais bioclastos para a formação do

sedimento superficial

Algas Calcárias

As algas calcárias são constituídas quase que inteiramente por algas

coralinas não geniculadas e contribuem com teores em torno de 10% da

amostra total em 33% das amostras.

As algas calcárias são mais freqüentes em estações situadas próximas da

isóbata de 30m, coincidindo com os locais onde a sua contribuição efetiva para

a formação do sedimento superficial é mais expressiva (Fig. 17).

O local de maior contribuição desses grãos para a formação de sedimento

superficial situa-se na região centro-leste da plataforma nas vizinhanças da

cabeceira do canyon do rio Japaratuba, onde podem atingir até 90% da

amostra total.

Na porção sul da área de estudo, as algas calcárias contribuem com teores

um pouco menores, entre 60-80%, ocorrendo de forma mais localizada e em

profundidades superiores a 30 m. Na porção localizada no extremo norte da

área estudada, associada a foz do rio São Francisco, as algas calcárias

contribuem de forma expressiva apenas no talude superior. De forma geral, nas

estações situadas no talude superior a contribuição de algas reduz e os

moluscos e foraminíferos passam a ter uma contribuição maior, em

comparação às estações localizadas em profundidades menores.

Os fragmentos no talude apresentam sinais de retrabalhamento e

desgaste, em muitos casos sendo incrustados por briozoários. Os fragmentos

de Halimeda foram contabilizados separadamente do restante das algas por

conta de sua contribuição geral aos depósitos carbonáticos na plataforma da

região nordeste do Brasil conforme reportado na literatura, contudo, na

40

plataforma continental sergipana esses grãos contribuem apenas com 3% em

média para a composição do sedimento. Apenas em 11% das amostras os

seus teores ultrapassam os 3% dos grãos na amostra total.

Figura 17- Distribuição e contribuição efetiva dos fragmentos de algas calcárias

na formação do sedimento superficial da plataforma de Sergipe.

41

Moluscos

Os grãos de moluscos são formados principalmente por fragmentos de

conchas de bivalves e gastrópodes e por conchas inteiras e secundariamente

de escafópodes e pterópodes. Possuem uma elevada frequência e se

distribuem amplamente ao longo de toda a área de estudo, embora sua

contribuição efetiva para a formação de sedimento superficial seja bastante

restrita (Fig. 18). Correspondem em média a 26% dos bioclastos.

A maior contribuição dos moluscos para a composição dos depósitos

sedimentares na plataforma sergipana ocorre na plataforma externa,

interrompida pelas cabeceiras dos principais canyon. Em profundidades médias

de 68 m os teores de moluscos são superiores a 10% da amostra total. Nessas

estações os grãos de moluscos encontram-se desgastados e com

incrustações, sendo, em geral, mais bem preservados nos sedimentos em área

mais rasas.

42

Figura 18 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de moluscos na

formação do sedimento superficial e os depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe.

43

Foraminíferos

Os foraminíferos são representados principalmente por espécies

bentônicas e macrobentônicas. Em 10% das amostras, a contribuição desses

componentes são superiores a 10% na amostra total. Estas estações de

amostragem estão localizadas em uma profundidade média de 67m,

demonstrando que esses grãos contribuem particularmente para a formação

dos sedimentos no talude superior.

Os grãos de foraminíferos contribuem com percentuais mais expressivos

apenas a partir de 30m, podendo atingir até 30% da amostra total nas amostras

localizadas nas laterais do canyon do Japaratuba. Na região sul da área de

estudo as maiores contribuições ocorrem em duas zonas distintas, próximo aos

canyons do rio Vaza-Barris e Real. Ao norte do canyon do Japaratuba os

foraminíferos pouco contribuem para o sedimento superficial de fundo.

Levando-se em consideração a frequência, esses constituintes

apresentam uma distribuição mais ampla, concentrando-se nos depósitos

lamosos na lateral do canyon do São Francisco e em torno do canyon do

Japaratuba, embora não contribuam de forma expressiva para composição dos

depósitos sedimentares nessas áreas (Fig 19).

44

Figura 19 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de foraminíferos na

formação do sedimento superficial e os depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe.

45

Briozoários

Em apenas 6% das amostras os briozoários contribuem com

aproximadamente 5% da amostra total. Os fragmentos de briozoários são

constituídos por uma alta incidência de colônias lunulitóides. Observou-se uma

expressiva quantidade dessas colônias em diferentes estágios de

desenvolvimento incrustando grãos de quartzos e macroforaminíferos.

Esses organismos possuem uma distribuição localizada. Em geral,

apresentam as maiores frequências ao longo da isóbata de 30m, exceto na

proximidade do canyon do rio Real (porção sul da área de estudo), onde são

expressivos entre as isóbata de 30 e 40 m. São também nesses locais onde

apresentam as maiores contribuições para a formação do sedimento

superficial, a não ser pelo depósito de lama no canyon do Japaratuba onde são

abundantes, embora pouco expressivos para a composição total do sedimento

(Fig. 20).

Na porção norte da área de estudo a contribuição dos briozoários para a

amostra total está restrita a praticamente um único ponto, que também

apresenta elevados teores de moluscos, em frente ao canyon do Sapucaia.

46

Figura 20 – Distribuição, contribuição efetiva de grãos de briozoário na

formação de sedimento superficial e depósitos de lama siliciclástica na

plataforma de Sergipe.

47

6- DISCUSSÃO _______________________________________________________________

6.1 - Os limites dos domínios bioclásticos e siliciclásticos na plataforma

continental de Sergipe

A identificação dos componentes sedimentares permite supor três

principais fontes de origem dos sedimentos na área de estudo: (i) aportes

fluviais siliciclásticos recentes dos rios São Francisco e dos demais rios

distribuídos ao longo da costa, caracterizados principalmente por fragmentos

de vegetais; (ii) depósitos siliciclásticos mais antigos que foram afogados pela

Transgressão Holocênica e depois retrabalhados por ondas e correntes, e (iii)

sedimentos bioclásticos, atuais e relíquias, produzidos no próprio ambiente

marinho a partir da fragmentação das partes duras do esqueleto dos

organismos marinhos e acumulados “in situ”.

As características de desgaste apresentadas por alguns dos sedimentos

bioclásticos e siliciclásticos é que permitem supor a contribuição de material

relíquia. No caso dos siliciclásticos a maior evidência é o arredondamento dos

grãos de quartzos e a disposição geral dos depósitos de areias quartzosas,

sugerindo que foram recobertos por lama. Já nos depósitos bioclásticos,

observa-se uma maior quantidade de conchas de moluscos e fragmentos de

algas coralinas incrustadas por briozoários e tubos de poliqueta nas amostras

coletadas no talude superior, indicando uma maior contribuição de grãos

relíquia nestes locais.

Na plataforma continental de Sergipe, os siliciclastos predominam em

profundidades próximas a isóbata de 20m, enquanto os domínios bioclásticos

ocorrem em geral, a partir de 30m. É possível identificar uma região

intermediária caracterizada por uma zona de mistura de sedimentos

continentais e marinhos entre as profundidades de 20 a 30m, podendo alcançar

a isóbata de 40m em alguns locais. Os diversos canyons instalados na borda

externa da plataforma interrompem a continuidade dessa distribuição, sendo os

48

mais acentuados os canyons do São Francisco e do Japaratuba, onde os

depósitos siliciclásticos atingem o talude superior.

O padrão geral encontrado, com bioclastos aumentando gradativamente

em direção a borda externa da plataforma, se repete nas mais diferentes

plataforma do mundo (PERRY, 2003; VITAL et al., 2005; BROOKS et al., 2003;

EMELYANOV, 2001; MANJUNATHA; SHANKAR, 1997; SHAGHUDE;

WANNAS, 2000), sendo também característico da plataforma brasileira como

um todo (LUNA, 1979; VEIGA et al., 2004; COUTINHO, 2000; SILVA;

FIGUEIREDO JR.; BREHME., 2001; KEMPF, 1972; CAMARGO et al., 2007). O

que difere nesses locais é a largura dos domínios siliciclásticos e bioclásticos,

de acordo com as condições locais.

As características que determinam a largura das fácies terrígenas e

carbonáticas em plataformas ao redor do mundo estão relacionadas ao clima,

aporte fluvial, atuação de agentes hidrodinâmicos da plataforma (ondas,

correntes litorâneas e oceânicas), relevo submarino (ROBERTS, 1987;

ACKER; STEARN, 1990) assim como à histórica das sucessivas transgressões

e regressões marinhas ocorridas no Quaternário (LACERDA; MARTINS, 2006;

MARTINS; URIEN., 2003; MARTINS; BARBOSA, 2005).

As condições abióticas que tornam a plataforma do nordeste uma região

propícia ao desenvolvimento de depósitos carbonáticos é a reduzida

contribuição fluvial e processos erosivos continentais pouco expressivos, de

modo que o suprimento sedimentar do continente para a zona costeira é

bastante restrito (DOMINGUEZ 2009). Dessa forma, extensos depósitos

carbonáticos se desenvolveram desde a profundidade de 20 até 60m de forma

quase contínua nessa região (COUTINHO, 2000). Sergipe, por outro lado,

possui uma maior contribuição fluvial, evidenciada pela quantidade de lama

terrígena que preenche a sua plataforma interna, além isso, a plataforma de

Sergipe corresponde a um dos trechos mais estreitos da plataforma brasileira

(KOWSMANN; ATAÍDE COSTA, 1979; COUTINHO, 2000, GUIMARÃES,

2010), o que restringe a área de desenvolvimento dos depósitos bioclásticos,

49

sendo ainda mais restrita por conta do recorte dos vários canyons instalados

em sua borda externa.

A largura da plataforma continental é uma característica importante na

delimitação dos limites da sedimentação bioclástica na costa sergipana. Na

região entre o canyon do Japaratuba e o do São Francisco, que corresponde a

um dos locais mais largos da plataforma, e consequentemente, mais distante

do aporte de siliciclastos, os bioclastos alcançam as menores profundidades

(próximo a isóbata de 20m). Por outro lado, onde a isóbata de 20m se

aproxima da linha de costa (porção sul), os grãos bioclásticos são mais

expressivos em regiões mais profundas. Assim, verifica-se que de modo geral

a contribuição dos bioclastos parece ser mais controlada pela distância da linha

de costa do que pela profundidade propriamente dita.

A localização dos domínios bioclásticos na plataforma sergipana foi

comparada aos teores de carbonato de cálcio encontrados por Guimarães

(2010). É possível observar a imensa semelhança entre os mapas de

distribuição do carbonato e dos depósitos bioclásticos, confirmando que na

plataforma sergipana a fonte de carbonato é a produção orgânica (Fig. 21).

Guimarães compartimentalizou a plataforma sergipana em 3 domínios a

partir do percentual de carbonato de cálcio: O domínio siliciclástico se distribui

de forma contínua ao longo da plataforma interna, com percentuais de CaCO3

inferiores a 10%; A porção mediana é descrita como uma zona de grande

mistura que pode alcançar a profundidade de até 40 m, com percentuais de

CaCo3 variando entre 20 e 50%; A partir da isóbata de 40 m os depósitos

sedimentares apresentam percentuais médios de carbonato em torno de 60%.

Esses valores coincidem aos percentuais de contribuição dos bioclastos, mas

estão abaixo dos percentuais descritos para o nordeste do brasil. Coutinho

(1981) descreve para a plataforma do nordeste no intervalo de profundidade de

20-40m percentuais médios de carbonato de cálcio de 90%. Esse valor reduz

para 70% na plataforma externa (40-60m). Em Sergipe, percentuais de

carbonatos/bioclastos entre 80 e 90% ocorrem de forma pontual, e em uma

profundidade média de 49m.

50

Figura 21 – Comparação da contribuição efetiva de bioclastos para a formação

do sedimento superficial e o teor de CaCO3 na plataforma continental de

Sergipe.

A maior profundidade dos depósitos bioclásticos na plataforma

sergipana pode está relacionada ainda com a ausência de estruturas positivas

no relevo submarino como os beachrocks e os recifes de corais. Essas

estruturas, características das plataformas do Rio Grande do Norte,

Pernambuco, e Alagoas (ZEMBRUSCKI et al., 1972), proporcionam locais

51

protegidos e substratos propícios ao desenvolvimento e preservação de

constituintes bioclásticos, em regiões mais rasas. Em locais protegidos por

recifes rochosos, os bioclastos podem representar a principal fonte de

sedimentos até mesmo para ambientes de praias como observado por

Rebouças (2006), que identificou na Ilha de Tinharé (BA), percentuais entre 80

e 100% de bioclastos (principalmente moluscos e Halimeda) compondo a areia

de praia em uma área protegida por recifes em franja.

A plataforma de Sergipe ao contrário, em sua porção interna é

caracterizada por expressiva influência fluvial que se reflete em teores mais

elevados de lama em comparação ao restante da região nordeste do Brasil. No

extremo norte da área de estudo, a área de influência do rio São Francisco é

bem marcada, com depósitos de lama cobrindo inteiramente a plataforma,

restringindo a contribuição dos sedimentos bioclásticos ao talude continental.

A lama se distribui de forma quase contínua ao longo da plataforma

sergipana e esse material fino além de não proporcionar substrato adequado a

fixação, ainda é susceptível a eventos de ressuspensão que acarretam

aumento na turbidez afetado o desenvolvimento de importantes grupos de

organismos com esqueletos de carbonato de cálcio. Desse mofo fica evidente

que as condições ambientais da plataforma sergipana diferem expressivamente

do encontrado no restante da região nordeste e de que essas condições

afetam os padrões dos depósitos bioclásticos nessa plataforma.

Sendo assim, os aspectos mais importantes para a determinação das

profundidades a partir das quais os bioclastos começam a contribuir de forma

mais expressiva para a composição dos sedimentos superficiais na plataforma

continental de Sergipe são: a largura da plataforma e a influência fluvial.

52

6.2 - Contribuição dos bioclastos para a variabilidade granulométrica na

plataforma de Sergipe

A análise dos componentes bioclásticos por fração granulométrica

permitiu que se observasse a tendência de cada bioclasto a contribuir para

formação de sedimentos com granulometria específica.

As algas calcárias são responsáveis por uma maior variedade de

tamanhos de grãos, contribuindo para a formação de cascalho a areia fina.

Segundo Kempf (1980), isso se deve a sua estrutura e a forma de desgaste

sofrido por esses grãos. Essa característica é importante para os depósitos

carbonáticos formados principalmente por algas calcárias, como no caso da

plataforma nordeste do Brasil, pois a variedade granulométrica parece estar

associada a maior disponibilidade de habitas para organismos bentônicos em

geral, aumentando a diversidade ecológica nesses depósitos (DIAS, 2004;

NUNES, 2009).

Os briozoários estiveram relacionados a formação de areia média e

grossa. Segundo Barros (1976), a característica desses organismos de formar

colônias é responsável por sua maior contribuição para a formação de

sedimentos mais grossos.

Moluscos não apresentaram uma tendência a formar grãos de uma

granulometria específica, estando amplamente distribuídos nas frações

analisadas. Isso possivelmente deve-se ao fato de ser um grupo bastante

diverso, composto por organismos com diferenças arquitetônicas importantes

em suas conchas, que lhes conferem diferentes graus de resistência. Barros

(1976) observou que gastrópodes apresentam conchas mais resistentes que

bivalves, formando sedimentos mais grossos. Ambos importantes constituintes

do sedimento na plataforma sergipana.

53

Foraminíferos se concentram nas frações mais finas, nesse caso por

conta de seu tamanho já ser naturalmente reduzido, contribuindo

principalmente para a formação de areia fina e muito fina.

Segundo Guimarães (2010), a plataforma sergipana apresenta uma

grande variabilidade textural. As areias são predominantes, sendo, em geral,

pobremente selecionadas. A maior mistura de diferentes populações de grãos

no sedimento ocorre, principalmente, na plataforma continental externa e no

início do talude nos domínios bioclásticos. Os sedimentos com melhor

selecionamento (moderadamente, bem e muito bem selecionados) são as

areias finas que bordejam a linha de costa, além de manchas isoladas de

grânulos que ocorrem na plataforma continental e no talude superior. A

observação dos fragmentos que compõem cada fração granulométrica permite

confirmar que essa mistura de sedimentos na plataforma sergipana está ligada

principalmente aos diferentes componentes bioclásticos, que produzem

sedimentos de granulometria diversa.

Guinsburg et al. (1963) afirma que as diferenças morfológicas de cada

componente bioclástico imprimem a estes fragmentos resistências específicas

ao transporte e, portanto, ao desgaste que irá sofrer no ambiente. Além disso,

as características de desenvolvimento e de tamanho específico de cada grupo

taxonômico propiciam a formação de sedimentos de granulometrias diferentes.

Sendo assim, os bioclastos são responsáveis por uma maior variabilidade

granulométrica no ambiente.

Inferências a respeito das condições ambientais a partir da

granulometria de grãos bioclásticos são mais complexas do que a partir de

grãos siliciclásticos, pois o reduzido tamanho não significa necessariamente

maior desgaste, mas pode demonstrar apenas o estágio de desenvolvimento

ou uma menor resistência (SUGUIO, 2005).

Leão e Bittencourt (1977) estudando os sedimentos da Bahia de Aratu,

na Bahia, tiveram dificuldade em determinar de que forma foi produzida a

fração fina carbonática em uma área de baixa energia. Segundo os autores três

54

mecanismos podiam estar associados a esse processo: abrasão das conchas e

fragmentos por processos mecânicos; desintegração por processos biológicos;

e a formação primária.

Desse modo, estudos sobre as correntes litorâneas e a hidrodinâmica do

local podem contribuir para a compreensão dos padrões texturais dos

fragmentos. Estudos a esse respeito não encontram-se disponíveis para a área

de estudo. Entretanto, a partir da descrição dos componentes por fração

granulométrica e do levantamento bibliográfico, demonstrando o baixo

selecionamento dos depósitos sedimentares na plataforma de Sergipe, é

possível supor que as correntes não sejam eficientes quanto agentes de

selecionamento dos grãos nessa região, principalmente acima da isóbata de

20m.

Netto (2002) encontrou para a plataforma continental norte da Bahia um

padrão de selecionamento semelhante ao descrito por Guimarães (2010). Para

o autor, o melhor selecionamento das amostras sedimentares próximas a linha

de costa é resultante exatamente da ação das correntes costeiras, que são

mais competentes como agentes selecionantes em cotas batimétricas

inferiores a 20m.

6.3 - Associações carbonáticas

Em geral, os mesmos componentes bioclásticos são encontrados em

todos os oceanos. O que varia, essencialmente, entre as diferentes regiões é a

contribuição relativa de cada bioclasto, permitindo assim a identificação de

associações baseadas nos taxa dominantes. Estas associações refletem então

as condições ambientais específicas de uma determinada região

(TRIFFLEMAN et al., 1992).

Lees e Buller (1972) e Lees (1975) foram pioneiros em diferenciar

associações carbonáticas típicas de áreas tropicais e de áreas temperadas.

55

Estudaram a distribuição dos componentes carbonáticos em escala global e

propuseram que os principais fatores controladores desses padrões em

plataforma continentais ao redor do mundo seriam a temperatura da água e a

salinidade. As associações foram agrupadas inicialmente em chlorozoan,

compostas principalmente por algas calcárias (chlorophyta) e corais

hermatípicos (zoantharia), sendo características de águas mornas tropicais; e

em foramol, formadas em sua maioria por foraminíferos e moluscos, que

estariam concentrados no lado leste dos oceanos, onde as águas são mais

frias e sujeitas a mais fenômenos de ressurgência.

Desde a década de 70 muitas outras associações foram identificadas:

chloralgal, formada por algas calcárias verdes e ausência de corais

hermatípicos (LEES, 1975); rhodoalgal, caracterizada pela abundância de

algas coralinas incrustantes; e molechfor, composta por moluscos, equinóides,

foraminíferos bentônicos, briozoários e cracas (CARANNANTE et al., 1988).

Com o aumento do conhecimento da composição dos depósitos bioclásticos

em plataformas continentais diferentes passou-se a perceber, devido a grande

variedade de associações descritas, a importância de condições regionais na

determinação de sua composição. Segundo Scoffin et al. (1980), a

hidrodinâmica e a disponibilidade de substrato são dois fatores importantes na

distribuição das fácies carbonáticas que podem estar ligados a características

locais.

Posteriormente, intensificaram-se as discussões sobre a validade de

utilizar associações baseadas em taxa dominantes. A maior polêmica gira em

torno da associação do tipo foramol, pois se percebeu que apresentam uma

distribuição ampla, podendo ser encontradas tanto em plataformas tropicais

quanto temperadas. Wilson e Vacsei (2004) criticam o fato de que Lees e Buller

(1972) não terem levado em consideração os tipos de foraminíferos na

composição das associações. Esse aspecto poderia ter refinado as

interpretações ambientais uma vez que foraminíferos macrobênticos

apresentam simbiontes fotossintetizantes que os limitam a águas rasas e

mornas. O fato de moluscos e foraminíferos serem um grupo diverso e com

56

uma ampla distribuição dificulta inferências ambientais a partir de associações

foramol.

Neyton (1995) afirma que se basear apenas nos taxa dominantes limita

a interpretação a partir das diferentes proporções entre os demais

componentes. Mais recentemente se começou a usar os termos heterozoan e

photozoan para descreverem as associações compostas por organismos

heterótrofos e autótrofos, especificamente. Esses termos possuem uma

conotação mais ecológica e passa a incluir novos aspectos abióticos como

fatores importantes na determinação da composição dos depósitos

carbonáticos (MUTTI; HALLOCK, 2003).

Carannante et al. (1988) propuseram uma subdivisão da plataforma

brasileira em três zonas de acordo com a latitude a partir das associações de

organismos: zona tropical (0 a 15 ºS), formada por associações chlorozoan

para uma chloroalgal; zona de transição (15 a 23º S) formada por associações

rhodoalgal (características de zonas de transição entre áreas tipicamente

tropicais e temperadas) e zona temperada (23 a 35ºS) com associações do tipo

malechfor. Por essa classificação, a plataforma de Sergipe faria parte da zona

tropical, mas os resultados obtidos nesse trabalho demonstram a pouca

influência de Halimeda e corais.

Os principais grãos bioclásticos encontrados na plataforma continental

de Sergipe são as algas coralinas, os moluscos, os foraminíferos, e os

briozoários, fragmentos de Halimeda e corais são quase inexistentes. Embora,

a plataforma sergipana possuía uma grande quantidade de algas coralinas,

trata-se de uma contribuição principalmente de Lithothamnium e poucos

rodólitos de modo que não se encaixa nem na associação chloroalgal pela

pouca contribuição de algas verdes (Halimeda) e nem na associação rodoalgal.

A contribuição de moluscos e foraminíferos observada indica que a plataforma

estudada pode ser encaixada na associação do tipo foramol, ou heterozoan,

característica de ambiente com disponibilidade de nutientes e baixa

luminosidade. Embora, o restante da região nordeste se enquadra na

associação chloroalgal ou photozoan.

57

Alguns trabalhos mostram que associações heterozoan podem está

associadas a áreas com grande influência fluvial, onde o desenvolvimento de

algas seja prejudicado pelo aumento da turbidez. Na plataforma de Espinho,

em Portugal, sob grande influência fluvial e quantidade de sedimento fino. O

percentual de grãos siliciclástico é de 63%, e os moluscos ocupam

principalmente a plataforma interna e média, já os foraminíferos, a externa,

totalizando 84% do total de bioclastos nessa plataforma (DIAS; MONTEIRO;

GASPAR, 1980).

Coutinho (1981) propõe que a ausência de substratos adequados, mais

que a turbidez, é o principal fator limitante ao desenvolvimento das algas

Halimeda na região de influência do rio São Francisco.

Triffleman et al. (1992) estudando a plataforma continental de Serranilla

Bank, a sudeste do Mar do Caribe, com influência tanto de aporte fluvial quanto

de fortes correntes, também encontraram uma reduzida quantidade de corais e

Halimeda atribuindo este fato à elevada energia do ambiente.

Além de identificar o padrão geral de contribuição dos componentes na

plataforma sergipana, a descrição da composição dos depósitos bioclásticos

permitiu identificar zonas compostas por associações distintas em função de

variações batimétricas. Isso é possível porque os diferentes organismos, cujas

partes duras compõem os sedimentos biogênicos, possuem adaptações

específicas aos parâmetros físico-químicos e biológicos (BARROS, 1976).

Na plataforma de Sergipe, até a profundidade de 20m as amostras

analisadas são compostas principalmente por foraminíferos, moluscos e

equinodermos. Nos demais intervalos batimétricos (20-40m, 40-60m e acima

de 60m) as amostras são compostas predominantemente por algas coralinas,

moluscos os e foraminíferos. A maior frequência de fragmentos de

equinodermos nas porções mais rasa pode ser devida ao próprio habito de vida

dos organismos formados por espécies que colonizam as areias costeiras na

plataforma de Sergipe. Barros (1976) chama atenção também para o fato de

que os equinodermos possuem estruturas frágeis e facilmente desarticuladas e

58

que a maior hidrodinâmica dessa região mais rasa pode contribuir para a maior

desarticulação de seus fragmentos, responsáveis por sua frequência maior. De

fato os fragmentos de equinodermos são compostos em grande parte por

espinhos de ofiuróides.

Gradativamente, com o aumento da profundidade, tem-se uma maior

frequência de algas coralinas, esses fragmentos de algas encontram-se nos

locais onde provavelmente esses organismos viveram, sendo a plataforma

média e externa do nordeste descrita como uma área caracterizada por uma

floresta de algas viventes (COUTINHO, 2000). Foraminíferos e moluscos

encontram-se em todos os intervalos de profundidade, sendo particularmente

importantes nas amostras de talude onde ocorre uma redução nos fragmentos

de algas, possivelmente a profundidade nesses locais limite o desenvolvimento

das algas, que são fotossintetizantes.

No extremo norte da Bahia, a plataforma continental possui largura

máxima de 22 km, profundidade média de quebra de 45 m, e sofre a influência

dos rios Itariri e Itapicuru, além do rio Real, condições estas relativamente

semelhantes às da plataforma sergipana. A distribuição dos sedimentos

superficiais é também parecida, com sedimentos siliciclásticos alcançando

profundidades de até 35 m; a contribuição de teores de moluscos, briozoários e

foraminíferos aumentando a partir da isóbata de 20 m, enquanto os fragmentos

de algas coralinas contribuem efetivamente para a formação do sedimento a

partir de 35 m (NETTO, 2002).

Carannante et al. (1988) afirmam que a variabilidade de associações

carbonáticas encontradas em uma determinada plataforma pode refletir um

elevado número de fatores ambientais atuantes, tais como correntes,

descargas fluviais e disponibilidade de substratos. Segundo Brooks et al.

(2003) no oeste da Flórida, a complexa distribuição de sedimentos superficiais

é devido às múltiplas fontes de sedimentos e a ineficiência dos processos

físicos em sua redistribuição.

59

Em Sergipe, apesar de uma importante contribuição fluvial, o padrão

geral das associações dos constituintes biogênicos é relativamente simples no

sentido de se manter praticamente constante ao longo de toda a extensão da

plataforma. Esse aspecto parece refletir a homogeneidade das condições

ambientais em uma plataforma estreita e pouco extensa.

6.4- Disponibilidade de matéria orgânica e a influência fluvial na

plataforma continental de Sergipe

A distribuição de algas calcárias, moluscos, foraminíferos e briozoários

não apresenta relação com a concentração de matéria orgânica na plataforma

sergipana. Isso se deve possivelmente ao fato de que a matéria orgânica na

plataforma de Sergipe é principalmente de origem terrígena, e a contribuição

da biomassa de organismos marinhos é uma fonte secundária (GUIMARÃES,

2010), diferindo da porção ao sul da desembocadura do rio São Francisco

onde, segundo Coutinho (1979), a matéria orgânica é principalmente de origem

marinha.

O trabalho de Santos et al. (2007) confirma a origem flúvio-continental

da matéria orgânica na foz do rio São Francisco através de análises isotópicas

que demonstram a forte correlação com as espécies vegetais encontradas no

estuário. De fato os resultados apresentados nesta monografia mostram uma

grande abundância de fragmentos vegetais encontrados nas proximidades das

desembocaduras fluviais, na região mais costeira da plataforma sergipana.

A principal fonte de origem desses fragmentos aos depósitos

sedimentares da região nordeste do Brasil é o rio São Francisco, responsável

por diferenças marcantes no padrão de sedimentação na plataforma ao norte e

ao sul de sua foz (COUTINHO, 1967; MANSO et al., 1997;). Os demais rios

da região possuem uma influência restrita, embora possam ter exercido uma

60

maior contribuição em momentos de nível médio do mar mais baixo que o atual

(FRANÇA; COUTINHO; SUMMERHAYES, 1976).

Na plataforma continental de Sergipe, a fácies de lama terrígena se

distribui ao longo de quase toda a sua extensão, onde os percentuais de lama

podem atingir 99% em algumas amostras. Essa fração fina é composta por

diferentes proporções de silte e argila, principalmente em frente a

desembocadura do rio São Francisco e na cabeceira do canyon do Japaratuba.

Diferentemente, a região nordeste do Brasil, de forma geral, apresenta a

plataforma média e externa recoberta por sedimentos grossos, compostos por

uma mistura de cascalho e areia. O conteúdo de lama dos sedimentos da

plataforma interna e em alguns pontos da plataforma média geralmente são

inferiores a 2,5%, variando de 5-15% na plataforma externa (FRANÇA;

COUTINHO; SUMMERHAYES, 1976).

A matéria orgânica tende a se acumular nos sedimentos finos. A figura

22 mostra a relação entre a disponibilidade de lama siliciclástica, matéria

orgânica e a distribuição e contribuição efetiva dos grãos vegetais para os

depósitos na plataforma sergipana. Desse modo, fica claro que os aportes

fluviais influenciam não só a distribuição e composição dos grãos carbonáticos,

como também a disponibilidade e preservação da matéria orgânica, sendo

determinante para a dinâmica sedimentar e ecológica na plataforma sergipana.

Entretanto, embora os grãos vegetais sejam abundantes nas

proximidades das desembocaduras dos rios, ficou claro pelos resultados que

sua contribuição efetiva na formação dos depósitos sedimentares superficiais é

inexpressiva. São poucos os trabalhos, como o de Rebouças (2006), que

deixam claro se os percentuais a que se referem foram ponderados pelos

respectivos pesos das frações granulométricas. A comparação entre a

distribuição e contribuição efetivas dos componentes demonstra que uma

grande abundância não significa necessariamente uma contribuição expressiva

para a composição geral do sedimento, de modo que a contribuição leva em

consideração o peso de cada fração na amostra total. Sendo assim, as

ponderações são necessárias, a fim de evitar super estimativas na importância

61

de um determinado grupo de grãos na composição total do sedimento. Por

outro lado, torna-se complexo tentar explicar o padrão de distribuição espacial

dos grãos baseando-se apenas nos percentuais de contribuição efetiva.

Figura 22 – Comparação entre a distribuição e contribuição efetiva de grãos

vegetais para o sedimento superficial com a distribuição de lama siliciclástica e

matéria orgânica na plataforma de Sergipe.

62

6.5- Contribuição dos principais constituintes bioclásticos para os

depósitos sedimentares na plataforma de Sergipe

6.5.1 – Algas calcárias

Os resultados demonstram que as algas calcárias correspondem a

principal fonte de carbonato para a plataforma continental de Sergipe, e são os

principais constituintes das fácies de lama calcária e areia bioclástica (Fig. 23).

As algas calcárias são constituídas basicamente por carbonato de cálcio

e carbonato de magnésio e possuem de 31 a 34 gêneros e cerca de 300 a 500

espécies, ocupando uma ampla variedade de habitats desde a zona intermarés

até profundidades em torno de 200 m (DIAS, 2000).

Correspondem aos constituintes mais freqüentes do granulado

bioclástico marinho na plataforma continental do Brasil. Os extensos depósitos

carbonáticos da região nordeste são formados principalmente por

Lithothaminium e Halimeda. A composição dos depósitos carbonáticos na

plataforma sergipana é semelhante a encontrada por Netto (2002) no extremo

norte da Bahia, com predomínio de algas coralinas não geniculadas.

Para Carannante et al. (1988) as litofacies chloroalgal e rhodoalgal, ou

seja aquelas que possuem as algas como constituintes principais, são

características de zonas de transição de águas temperadas para tropicais, mas

também estão presentes em águas tropicais-subtropicais nas quais corais

hermatipicos não se desenvolvem por conta de condições ambientais

desfavoráveis, como, por exemplo, aportes fluviais elevados. Sergipe,

entretanto, carece de uma caracterização específica dos gêneros de algas

calcárias que compõem seus depósitos para que se possa inferir com mais

segurança a respeito das condições ambientais que regulam o

desenvolvimento desses depósitos.

63

Figura 23 - Comparação entre a contribuição efetiva das algas calcárias para a

formação do sedimento superficial com os teores de carbonato de cálcio e as

fácies sedimentares apresentados por Guimarães (2010) para a plataforma

sergipana.

A distribuição dos fragmentos de algas calcárias por fração

granulométrica está de acordo com Kempf (1980) segundo o qual as algas são

o principal constituinte da fração cascalho dos sedimentos carbonáticos

64

encontrados na plataforma média e externa da região nordeste do Brasil.

Fragmentos destas algas podem também contribuir com teores variáveis para

as areias e lamas calcárias, resultando da própria desarticulação destas algas.

Aspectos como hidrodinâmica, disponibilidade de substrato e turbidez

tem sido citados como os principais controladores do desenvolvimento das

algas calcárias, embora os diferentes gêneros respondam de forma diversa a

esses parâmetros. Lund et al. (2000) observou em Queesland, leste da

Autrália, que ao longo do gradiente de profundidade, os gêneros que

compunham as associações de algas são variáveis, demonstrando diferenças

adaptativas. Os nódulos de algas calcárias vermelhas estiveram associados a

substrato móvel no intervalo de profundidade de 28 a 117 m. Segundo

Coutinho (1981), as Lithothamnium são menos cosmopolitas que as Halimeda

as quais são mais exigentes quanto ao tipo de substrato. Desse modo, embora

o substrato possa afetar as associações de algas que compõem um depósito

sedimentar, não é um fator determinante ao desenvolvimento dos depósitos de

algas calcárias de uma forma geral.

Farrow et al. (1984) estudaram a disposição dos componentes

biogênicos em torno das ilhas Orkney, na Escócia, e perceberam que as algas

calcárias ocorriam em regiões protegidas em profundidades inferiores a 20m

estando de acordo com o encontrado para as algas em Rockall Bank

(SCOFFIN et al., 1980), porém contrastando com as maiores profundidades

encontradas por Nelson et al. (1982), o que demonstra a influência de

condições ambientais específicas para cada local.

Aspectos relacionados a hidrodinâmica podem limitar o desenvolvimento

de alguns gêneros, embora as formas livres possam crescer sobre o substrato

inconsolidado e ser abundantes em regiões com fortes correntes de fundo ou

com períodos de intensa atividade de ondas e correntes, sendo periodicamente

reviradas. Sendo assim, o principal fator limitante a distribuição das algas

calcárias é a aporte de sedimentos terrígenos (BRAGA, 2009). Em ambientes

com altas taxas de sedimentação siliciclástica ocorre uma redução na camada

65

fótica, que tende a afetar diretamente no desenvolvimento desses organismos

fotossintetizantes (KEMPF, 1980).

Em frente a foz do rio Itariri, na plataforma continental da Bahia, Netto

(2002) observou o desenvolvimento de rodólitos a partir de 6-8 m de

profundidade, o que segundo o autor, só foi possível por conta da pequena

vazão daquele rio.

Na plataforma de Svalbard, Antártica, as algas coralinas marcam o limite

da zona fótica iluminada durante o período de verão (ANDRULEIT; FREIWALD;

SCHAFER, 1996). Collins (1988) relata a presença de algas calcárias restritas

a uma profundidade de 55 m sendo substituídas por briozoários a partir desse

ponto. Segundo ela a penetração de luz e a disponibilidade de substrato seriam

os fatores limitantes da distribuição destas algas.

Na plataforma sergipana as algas calcárias são restritas as áreas mais

profundas afastadas da influência dos aportes fluviais e das fácies de lama e

areias siliciclásticas. As semelhanças entre o mapa de distribuição e o de

contribuição para a formação do sedimento superficial demonstram que na

plataforma de Sergipe as algas contribuem efetivamente para a composição

dos depósitos sedimentares nos locais onde são mais abundantes.

Os domínios das algas na plataforma continental de Sergipe coincidem

com os locais de maior transparência média da água. Os dados de

transparência da área estudada foram encontrados em Guimarães (2010), que

os coletou com disco de Secci. O que é possível observar nos mapas de

Guimarães (2010) é que esse parâmetro não é determinado apenas pela

profundidade, mas principalmente pelo distanciamento da costa (Fig. 24). Estes

dados ajudam a compreender o padrão geral de distribuição dos sedimentos

carbonáticos na plataforma sergipana.

66

Figura 24 - Transparência da água, determinadas por disco de Secci em campanhas

de amostragem da plataforma continental de Sergipe, no verão e inverno no período

2001 - 2003 (GUIMARÃES, 2010).

67

6.5.2- Foraminíferos e Moluscos

Foraminíferos e, principalmente moluscos, apresentam uma distribuição

relativamente ampla na plataforma continental de Sergipe, embora suas

contribuições para os depósitos sedimentares superficiais sejam bastante

limitadas. Isso é particularmente notado nos depósitos de lama nos canyons do

rio São Francisco e Japaratuba, onde embora sejam abundantes não

correspondem a um percentual expressivo da amostra total. Esse resultado

pode refletir dois aspectos: 1- As características específicas das tecas e

conchas das espécies desses componentes encontradas em regiões lamosas e

com pouco carbonato disponível. No caso específico dos foraminíferos

característicos de áreas lamosas possuem as carapaças menores e mais

delicadas (LAÇONE; DULEBA; MAHIQUES, 2005); 2- A elevada taxa de

sedimentação de sedimentos finos siliciclásticos seria responsável pela diluição

da contribuição dos fragmentos bioclásticos (SCOFIN, 1986; DUNBAR;

DICKENS, 2003).

Coutinho (1967) já havia chamado a atenção para o fato que os

depósitos de lama nas proximidades do canyon do São Francisco apresentam

uma rica fauna de moluscos, foraminíferos e briozoários, embora os

percentuais de carbonato de cálcio na amostra total não ultrapassem 5%. Isso

demonstra a diluição provocada pela maior disponibilidade de sedimentos

siliciclásticos nesses locais.

Segundo Barbosa e Seoane (2004), as condições ambientais

selecionam o tipo de testa dos foraminíferos. Testas constituídas de carbonato

dependem da disponibilidade e preservação desse elemento no ambiente. Em

locais com uma redução da temperatura e salinidade as espécies calcárias

podem ser substituídas por espécies aglutinantes, que ocorrem em locais sem

disponibilidade de carbonato de cálcio, ou com baixos teores de oxigênio ou

ainda, com elevados percentuais de matéria orgânica.

68

Os foraminíferos maiores e com carapaças mais robustas

(macroforaminíferos) são mais abundantes em ambientes carbonáticos mais

distante da influência siliciclástica. Segundo Andrade (1997), a ausência de

macroforaminíferos em sedimentos predominantemente finos resulta da

ausência de substratos firmes e da elevada turbidez provocada pelo material

fino em suspensão, pois estes organismos possuem endossimbiontes

fotossintetizantes em suas testas.

Sendo assim, na Plataforma Sergipana, embora os foraminíferos

possam apresentar maiores frequências nos depósitos lamosos, por se

tratarem de foraminíferos com carapaças leves, não possuem uma contribuição

efetiva para a formação do sedimento nesses locais. Por outro lado, mesmo em

abundancia menor nos depósitos carbonáticos, representam uma maior

contribuição, possivelmente por uma maior representatividade de

macroforaminíferos.

Lemos-Júnior (2009) estudando os macroforaminíferos na plataforma

continental de Sergipe observou que os mesmos estão concentrados

principalmente na porção sul da plataforma, em torno da isóbata de 30 m, onde

há uma maior transparência da água. Na porção norte estes

macroforaminíferos são quase ausentes devido provavelmente aos efeitos dos

efluentes fluviais. Lemos-Junior (op cit.) mostrou ainda a relação entre os

principais macroforaminíferos presentes na plataforma sergipana com os tipos

de fundo. Amphistegina sp. ocorre principalmente em fundos mistos de areia e

cascalho, constituídos principalmente por algas calcárias, enquanto Archaias

angulatus ocorre tanto em sedimentos mistos de areia e cascalho carbonático,

como também em sedimentos arenosos siliciclásticos. Hauerinidae indet. São

mais abundantes em fundos lamosos em profundidades inferiores a 30m.

Andrade (1997) estudando a plataforma da Bahia encontrou espécies de

foraminíferos colonizando preferencialmente áreas com predomínio de areia

fina e lama siliciclástica, embora também possam ser importantes constituintes

dos depósitos carbonáticos em áreas recifais. Machado (2006) identificou 4

associações distintas de foraminíferos relacionadas aos seguintes tipos de

69

substrato: (1) sedimento areno-biodetrítico, (2) sedimento areno-quartzoso, (3)

sedimento de granulometria areia fina lamosa biodetrítica e (4)

sedimentoscarbonáticos.

Soares-Gomes e Pires-Vanin (2003), afirmam que diferenças

sedimentológicas também podem sustentar associações malacológicas

distintas. Absalão et al. (1999), encontrou uma ampla distribuição de moluscos

formando assembleias específicas ao longo de um intervalo batimétrico de 11 a

500 m, sendo que os fatores que mais influenciaram na distribuição desses

constituintes correspondem ao diâmetro médio do grão, a curtose e ao

percentual de lama.

Na enseada dos Tainheiros (BA), em um ambiente de águas rasas e

calmas, os moluscos correspondem ao principal componente da facies de areia

argilosa juntamente com fragmentos de Halimeda e equinodermatas

(BARROS, 1976).

Os moluscos representam mais de 50% dos grãos da fração areia,

sendo o restante em grande parte composto por quartzo, na zona de transição

na plataforma interna do Oeste da Flórida (BROOKS et al., 2003).

Faraminíferos e moluscos correspondem a grupos bastante diversos,

com espécies adaptadas a uma grande variedade de condições físico-químicas

e biológicas. Deste modo é muito complexo se fazer inferências ambientais

sobre o padrão de distribuição destes organismos sem considerar

identificações a níveis mais específicos.

Na plataforma continental sul de Sergipe, o padrão de contribuição para

os depósitos sedimentares superficiais de foraminíferos e moluscos é

semelhante. Na sua porção norte entretanto, os foraminíferos possuem uma

contribuição mais restrita que os moluscos.

Associações formadas por esses dois organismos (foramol) são

importantes constituintes do sedimento de plataformas tropicais e temperadas,

70

possuindo uma larga distribuição mundial (LEES; BULLER, 1972). São

organismos heterótrofos que podem ser influenciados por parâmetros como a

disponibilidade de nutrientes (MUTTI; HALLOCK, 2003), temperatura,

salinidade (LEES, 1975), profundidade, tipo de fundo (BOLTOVSKOY et al.,

1980; SOARES-GOMES; PIRES-VANIN, 2003), dentre outros.

Na plataforma sergipana, os moluscos são compostos

predominantemente por conchas de bivalves e gastrópodes, com uma

contribuição secundária de pterópodes e escafópodes. Esses constituintes

contribuem para a formação das frações areia grossa e média, semelhante ao

que foi verificado por Netto (2002).

Os foraminíferos são constituídos em sua maioria por carapaças de

organismos bentônicos. As maiores concentrações de foraminíferos são

verificadas nas menores frações granulométricas (areia média e fina), estando

de acordo com os resultados encontrados por Barros (1976). Ela observou

ainda que os foraminíferos encontram-se em geral inteiros, e que o tamanho

médio das espécies influencia na sua distribuição nas diferentes frações

granulométricas.

Os resultados demonstram que, tanto moluscos quanto foraminíferos,

contribuem principalmente para a formação de sedimentos arenosos e das

fácies mistas na plataforma de Sergipe, contribuindo secundariamente para a

formação da fácies carbonática, onde predominam as algas calcárias.

71

6.5.3 - Briozoários

Tinoco (1989) afirma que esses organismos, podem ser encontrados

desde a zona de intermarés até profundidades de 8.000 m. Contudo a sua

maior abundância se daria em profundidades em torno de 20 a 80 m, atingindo

valores máximos na isóbata de 40 m. No extremo norte da Bahia (NETTO,

2002), os fragmentos de briozoários se concentram em profundidades

próximas a encontrada na plataforma de Sergipe, variando entre 25 m e 45 m.

Os percentuais também são semelhantes entre as duas regiões, inferiores a

5% na maior parte das amostras.

Os briozoários predominam nas frações grânulo e areia grossa, o que

deve-se provavelmente a formação de colônias por estes organismos

(BARROS, 1976).

Segundo Coutinho (2000), próximo as desembocaduras fluviais ao longo

da plataforma brasileira, domina uma lama fluida que não proporciona

substrato estável e dificulta o desenvolvimento dos organismos produtores de

grãos biogênicos. Esses locais abrigam uma fauna pouco diversa. Assim o

aumento dos teores de areia no sentido costa-afora torna possível o

aparecimento de grupos como Hidroida e Bryozoa. Os resultados de Netto

(2002) confirmam essa relação com os fundos compostos por textura areno-

lamosa e arenosa de composição mista e carbonática, estando de acordo

também com os resultados desse trabalho.

Na plataforma continental de Sergipe, os briozoários correspondem em

grande parte a colônias de lunulitóides e estão relacionados principalmente às

fácies de areias mistas com uma certa disponibilidade de grãos de quartzos,

fragmentos de moluscos e testas de macroforaminíferos (principalmente

Amphistegina sp. Nas amostras se observou essas estruturas sendo

freqüentemente utilizadas como substrato inicial para o desenvolvimento das

colônias de lunulitóides. A figura 25 compara os locais de maior contribuição de

72

fragmentos de briozoários para o sedimento com a contribuição efetiva de

quartzo.

Os briozoários podem utilizar uma variedade de grãos como suporte e

cada espécie pode estar relacionada a um tipo de suporte específico

(ALMEIDA, 2006).

Netto (2002) também identificou o predomínio de briozoários lunulitóides

em suas amostras, representados na maior parte pelas espécies Discoporella

umbellata e Cupularia monotrema.

A identificação das formas dos zoécios de briozoários tem mostrado uma

forte correlação com parâmetros como a hidrodinâmica, taxa de sedimentação,

profundidade e tipo de substrato (NELSON, HANCOCK; KAMP, 1982;

CARROZZO, 2001; ALMEIDA, 2006). Os Lunulitóides são próprios de regiões

com mistura de areia e lama síltica. Trata-se de um grupo típico de locais com

correntes fracas e profundidades moderadas, em áreas protegidas onde as

correntes são menos ativas (CAROZZO, 2001), estando de acordo com os

resultados encontrados na plataforma continental de Sergipe.

73

Figura 25 - Comparação entre os locais de maior contribuição de fragmentos

de briozoários e grãos de quartzo para os depósitos sedimentares na

plataforma de Sergipe.

74

6.6 – Areias Quartzosas

As áreas de maior contribuição de grãos de quartzo para os depósitos

sedimentares da plataforma continental de Sergipe coincidem com aquelas

ocupadas pela fácies de areia siliciclástica (Fig. 26).

O quartzo contribui de forma mais expressiva para os depósitos

sedimentares nas desembocaduras fluviais e, principalmente, costa afora da

fácies de lama siliciclástica. As características dos grãos de quartzos são

semelhantes tanto na zona costeira quanto nas regiões mais distais. Tal fato

parece refletir uma origem comum para os sedimentos siliciclásticos ao longo

de toda a plataforma.

Na plataforma sergipana, a contribuição do quartzo na formação dos

depósitos superficiais é localizada, pois a grande quantidade de lama e areia

muito fina recobrem os depósitos de areias quartzosas em áreas de baixa

hidrodinâmica.

Segundo Coutinho (2000) a lama terrígena pode influenciar na largura

das fácies de areia quartzosa, de modo a encobrir parcialmente esses

depósitos, ou mesmo interromper sua distribuição, como praticamente ocorre

na altura da desembocadura do rio São Francisco.

Dias (2004) propõe que a partir da morfoscopia, ou seja, do estudo das

marcas gravadas na superfície dos grãos de quartzos, é possível obter

informações relativas ao tempo transcorrido entre a área fonte e o sítio final de

deposição e os agentes de transporte aos quais esteve submetido. A

classificação de Rougerie (1957, apud Dias, 2004) estabelece que grãos

arredondados e brilhantes foram transportados pela água. O transporte em

meio hídrico resulta em um polimento suave devido à viscosidade da água que

protege os grãos contra choques mais violentos, o que imprime aos grãos um

aspecto brilhante como ocorre com a maioria dos grãos de quartzo

identificados na plataforma sergipana.

75

Segundo Coutinho (2000), as areias litorâneas possuem um caráter

nitidamente litorâneo ou flúvio-marinho, com pouca ou nenhuma fração fina. Os

grãos de quartzo caracterizam-se por variarem de granulometria média a fina,

serem subarredondados e bem brilhantes, estando localizados em

profundidades inferiores a 20 m. Essas características estão de acordo com o

que foi encontrado nesse trabalho.

No extremo norte da plataforma da Bahia, depósitos siliciclásticos

formados principalmente por quartzo alcançam profundidade semelhante às

encontradas na plataforma de Sergipe, em torno dos 35 m e uma distância de

até 13 km da costa. A composição granulométrica dos fragmentos de quartzo

nessas áreas mais profundas difere da composição de áreas mais rasas,

apresentando maior percentual de cascalho. Esse aspecto possivelmente

indica mistura de sedimentos relíquia e recente, relacionados aos processos de

variação do nível relativo do mar e fontes atuais, apesar de não ter sido

identificada as fontes potenciais do material clástico atual (NETTO, 2002).

Esse padrão difere do encontrado na plataforma sergipana, em que a

composição dos depósitos siliciclásticos é semelhante ao logo de toda a

plataforma. A provável origem desse sedimento corresponde a depósitos

relíquias oriundos da sedimentação continental em regime subaério, em nível

eustático abaixo do atual e que foram retrabalhados pelas transgressões

Holocênicas (FONTES,1990; SILVA, FIGUEIREDO-JÚNIOR; BREHME, 2001).

Os bioclastos são praticamente ausentes nos depósitos de areias

quartzosas, onde o quartzo atinge percentuais próximos a 100%. Segundo

Coutinho (2000), um ambiente rico em sílica é pouco favorável ao

desenvolvimento da vida marinha, especialmente para organismos calcários.

Além do alto percentual de sílica, a hidrodinâmica parece limitar o

desenvolvimento de bioclastos principalmente na porção norte, que se encontra

em local raso e adjacente a costa, desfavorável à deposição de lama. Os grãos

biogênicos passam a contribuir de forma mais efetiva para os depósitos

sedimentares, nas regiões mais profundas e onde ocorre uma maior mistura de

lama e areia siliciclásticas.

76

Figura 26 – Comparação entre a contribuição efetiva de grãos de quartzo para

a formação do sedimento superficial e as fácies sedimentares propostas por

Guimarães (2010) para a plataforma de Sergipe.

77

7 - RESTRIÇÕES AOS USOS DA PLATAFORMA COM BASE NA

COMPOSIÇÃO SEDIMENTAR

_______________________________________________________________

Os recursos marinhos têm ganho crescente destaque como fontes

alternativas aos cada vez mais escassos recursos continentais, representando

assim, uma fonte estratégica de energia e de minérios para a manutenção das

atividades humanas (SOUZA, 2010).

As principais atividades mineradoras realizadas no ambiente de

plataforma propriamente dito são a extração de areia e cascalho para utilização

na construção civil, a exploração de algas calcárias e conchas, a mineração de

nódulos polimetálicos em mar profundo e a exploração de hidrocarbonetos de

petróleo. No Brasil, com exceção do petróleo, a exploração de recursos

minerais marinhos tem sido pontual e descontínua, restringindo-se à extração

de areias siliciclásticas para regeneração de praias e extração localizada de

conchas e algas calcárias no Rio de Janeiro e Espírito Santo (GOMES,

PALMA; SILVA, 2000).

Na plataforma continental de Sergipe foram identificados três depósitos

de areias quartzosas com potencial de exploração, sendo dois localizados na

porção sul da plataforma e o terceiro, no litoral norte. A área mais indicada

para essa atividade, possivelmente, corresponde a área situada na porção

norte da plataforma estudada por ser mais extensa e mais rasa, localizando-se

entre 10-20 m de profundidade. Além disso, esta área encontra-se mais

próxima que as demais do trecho com erosão mais severa na costa sergipana,

o que poderia contribuir no caso de uma necessidade de intervenção para

conter esse processo. Segundo Oliveira (2003), a erosão mais marcante da

costa sergipana foi registrada para uma área imediatamente a sul da foz do

São Francisco. Segundo a autora, o intenso processo erosivo que destruiu a

Vila do Cabeço (Brejo Grande-SE), parece decorrer da refração e difração de

ondas em torno da barra de desembocadura do rio São Francisco e pela

78

divergência da deriva litorânea, aspectos determinantes para produzir um

déficit de sedimentos localizado. Bittencourt et al. (2006) destaca ainda a

constante redução na descarga sólida do rio São Francisco, por conta da

construção das barragens das hidrelétricas, como um aspecto que intensifica a

restrita disponibilidade de sedimentos na área. Os depósitos situados na

porção sul, além de possuem uma área menor e com percentuais mais

modestos de contribuição de siliciclastos, encontram-se em profundidades

acima de 20 m.

Os depósitos carbonáticos compostos principalmente por algas calcárias

representam outro recurso natural de crescente interesse. Segundo Dias

(2000), os depósitos de algas calcárias podem ter aplicação na agricultura para

correção de acidez de solos; tratamento de águas, indústria de cosméticos na

fabricação de dentifrícios e sais de banho, indústria de alimentos sendo

utilizado como complemento alimentar e na medicina como implantes de

cirurgia óssea.

Kempf (1980) identificou em frente a cidade de Recife uma área de 1350

Km², limitada pelas isóbatas de 20 e 30 m, como sendo mais propícia a

exploração do carbonato, levando-se em conta a distancia da costa e o local de

desenvolvimento máximo das formas livres de algas calcárias. O autor

recomenda o afastamento do limite inferior dos depósitos siliciclásticos (18-20

m), por ser uma zona de mistura que pode atingir altos percentuais de sílica.

Os principais aspectos limitantes a exploração desses recursos são a

composição química dos depósitos a depender do seu uso final, e a

profundidade e a distância da linha de costa por elevarem o custo da atividade.

Na plataforma continental de Sergipe possivelmente a profundidade dos

depósitos carbonáticos seria um fator limitante, uma vez que os teores de

carbonato superiores a 70% ocorrem em geral em profundidades superiores a

30 m. Apenas na porção norte esses depósitos se aproximam da isóbata de 20

m, em um local com uma distancia superior a 20 km da costa, o que poderia

elevar os custos da exploração. Além disso, os depósitos carbonáticos da

plataforma de Sergipe carecem de trabalhos específicos a respeito de sua

79

composição geoquímica e espessura e de levantamentos detalhados que

possam subsidiar avaliações de prováveis impactos negativos dessa atividade.

A plataforma sergipana abriga grande atividade de exploração de

recursos da indústria do petróleo, gás natural, evaporitos e minerais. A atuação

da Petrobrás está concentrada no complexo de Atalaia, com cinco campos de

produção quase que totalmente situados no litoral Sul (BRASIL, 1996). A figura

27 mostra a distribuição das plataformas de petróleo na costa sergipana

plotadas sobre o mapa de distribuição dos constituintes biogênicos.

Figura 27 – Localização das plataformas fixas de petróleo sobre o mapa

de contribuição dos bioclastos na plataforma continental de Sergipe.

Contribuição de bioclastos (%)

80

Atividades de exploração de petróleo e gás podem causar alterações

físicas e nas concentrações de metais pesados em sedimentos afetando o

desenvolvimento dos biogênicos. Além disso, a distribuição de metais pesados

nos sedimentos superficiais pode ser influenciada pelo aporte continental e

pela precipitação autóctone dos carbonatos. Uma plataforma continental com

importante aportes fluviais e atividade de exploração de petróleo necessita de

uma caracterização detalhada da composição dos depósitos sedimentares e

mesmo da geoquímica desses depósitos a fim de garantir avaliações confiáveis

a respeito de possíveis alterações na dinâmica sedimentar e prevenção de

impactos ambientais.

A dragagem de portos marítimos é outra atividade que tem sido

realizada no ambiente plataformal e que pode causar alterações na dinâmica

ecológica e sedimentar. A resolução do CONAMA nº 344 de 25 de março de

2005, estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a

avaliação do material a ser dragado e dos locais de bota-fora em águas

jurisdicionais brasileiras. Essa resolução determina a importância de

caracterização da composição dos sedimentos e enfatiza os cuidados

com o descarte de material fino e em locais onde haja o risco de

eutrofização (MMA/CONAMA, 2006).

O porto de Sergipe situa-se no litoral norte nas proximidades do rio

Japaratuba, que corresponde a uma área com grande concentração de lama.A

maior preocupação na plataforma sergipana quanto a descartes de resíduos

sólidos deve ser com a mobilização de material fino numa plataforma estreita e

com concentração relativamente elevada de lama terrígena. Estudos quanto ao

comportamento das correntes na plataforma de Sergipe são escassos e seriam

de grande valia para o monitoramento da dinâmica sedimentar em potenciais

áreas de bota-fora.

A maior heterogeneidade textural dos sedimentos abriga biocenoses

diversas por conta de uma maior diversidade de habitats (DIAS, 2000). Nunes

(2009) propôs que na plataforma externa da região da costa do Dendê,

81

características ligadas a composição do sedimento superficial podem ser

fundamentais para a manutenção das comunidades de peixes demersais e

pelágicos costeiros que são explorados na região. A pesca tem um importante

papel econômico para as comunidades litorâneas do Estado de Sergipe, com

destaque para a pesca do camarão (BRASIL, 1998). Assim as atividades

exploratórias podem transformar o ambiente físico, causando danos

expressivos direta ou indiretamente aos organismos vivos.

O mapeamento dos componentes sedimentares permite uma maior

compreensão a respeito da dinâmica ecológica da plataforma de Sergipe.

Identificações dos grupos taxonômicos que compõem os sedimentos a níveis

específicos, comparações entre a distribuição dos bioclastos e a fauna bêntica

viva, como também monitoramento das correntes litorâneas e oceânicas na

plataforma continental de Sergipe são recomendados.

82

8 - CONCLUSÕES _______________________________________________________________

As principais fontes de sedimento para os depósitos sedimentares na

plataforma continental de Sergipe correspondem ao material trazido em

suspensão pelos rios; aos antigos depósitos subaérios de areias; e a produção

in situ dos organismos bioclásticos;

A comparação entre a contribuição dos componentes bioclásticos e suas

frequências nas amostras analisadas demonstra a importância das

ponderações para a compreensão da contribuição efetiva dos grãos para os

depósitos sedimentares. Enquanto as frequências refletem os padrões de

distribuição espacial dos mesmos.

Os componentes siliciclásticos contribuem para a formação do sedimento

superficical principalmente na plataforma interna, e os componentes

bioclásticos contribuem de forma expressiva para os depósitos sedimentares

da plataforma externa e do talude superior de Sergipe. A porção intermediária

da plataforma é caracterizada como uma zona de transição;

A largura dos domínios bioclastos e siliciclastos varia em função da influência

fluvial e da largura da plataforma continental de Sergipe.

As algas coralinas correspondem ao principal constituinte dos depósitos

carbonáticos, seguida dos moluscos, foraminíferos bentônicos e briozoários;

A associação carbonática que melhor descreve a plataforma de Sergipe é do

tipo foramol ou heterozoan, característica de um ambiente com disponiilidade

de nutrientes e pouca luminosidade.

A distribuição superficial dos principais componentes bioclásticos está de

acordo com os hábitos de vida de cada constituinte: moluscos e foraminíferos

apresentam uma distribuição ampla sendo encontrados em todos os intervalos

83

de profundidade; os briozoários concentram-se na profundidade de 30m; as

algas coralinas predominam na plataforma externa acima do limite dos

depósitos siliciclásticos.

Os fragmentos vegetais, as lamas siliciclásticas e a matéria orgânica

apresentam semelhanças em seus padrões de distribuição e na plataforma de

Sergipe sua principal fonte é de origem fluvial;

Os depósitos de areias quartzosas são distribuídos de forma localizada por

conta da grande quantidade de lama existente na plataforma interna que

recobre esses depósitos nos locais de baixa hidrodinâmica.

As areias quartzosas da porção norte da plataforma formam um extenso

depósito, perpendicular à linha de costa com potencial para exploração, sendo

necessários maiores estudos e avaliação de prováveis impactos associado;

A exploração dos depósitos carbonáticos não é viável em um primeiro

momento por conta da profundidade em que se encontram (acima de 30m) e

da distancia da costa (até 20km). São necessários maiores informações sobre

a composição desses depósitos e os riscos que essa atividade pode

representar para a dinâmica ecológica;

A identificação e a distribuição superficial dos constituintes sedimentares

permitiram uma maior compreensão a respeito da contribuição dos

constituintes bioclásticos e siliciclásticos para a formação da cobertura

sedimentar plataformal no estado de Sergipe, assim como um maior

entendimento sobre as contribuições fluviais.

A plataforma sergipana ainda carece de muitos estudos. A identificação das

espécies que contribuem efetivamente para os depósitos bioclásticos e a

comparação entre a fauna viva e os bioclastos podem fornecer informações

bastante relevantes ao entendimento da dinâmica ecológica e sedimentar.

84

9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________________________________

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