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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
COORDENAÇÃO CENTRAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE
MARIANA OLIVEIRA SANTOS CHALHOUB
INFLUÊNCIA DOS ESPAÇOS FÍSICOS NAREABILITAÇÃO DE PACIENTES
Salvador
2010
1
MARIANA OLIVEIRA SANTOS CHALHOUB
A INFLUÊNCIA DOS ESPAÇOS FÍSICOS NAREABILITAÇÃO DE PACIENTES
Monografia apresentada como requisito paraaprovação do curso de Especialização deArquitetura em Sistemas de Saúde daUniversidade Federal da Bahia.
Orientador: Prof. Marcio Oliveira
Salvador
2010
2
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu anjinho, minha sobrinha Maria Clara, que foi a minha
motivação e principal responsável na escolha do meu tema.
A busca por uma qualidade de vida que este tipo de estrutura hospitalar irá proporcionar a
ela foi o meu maior incentivo.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente a Deus por ter me concedido equilíbrio e controle emocional para
realizar este trabalho.
Aos meus amados pais, Ligia e Aloysio, os quais me apoiaram em todos os aspectos:
incentivo, amor e confiança, sendo co-responsáveis por essa trajetória.
Às minhas lindas irmãs Maria Marta e Manuela que em todos os instantes da minha vida
torceram e acreditaram no meu potencial.
Ao meu esposo Ramon, que está presente em todos os momentos, me apoiando, sendo
companheiro e compreensivo.
Aos meus colegas e amigos Fernanda e Darlan, por toda a força e colaboração durante
esse processo de formação.
Ao grande mestre e arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, que revolucionou a arquitetura
hospitalar, traduzindo de maneira singular e efetiva, através da sua obra, a humanização em
seu verdadeiro significado.
Ao professor Antonio Pedro Alves de Carvalho, exemplo de dedicação incondicional e amor
a profissão, que foi um grande estimulo para a turma durante todo o curso.
E ao meu orientador Marcio Oliveira, exímio profissional, que com muita atenção e
empenho, me auxiliou com sua experiência e competência.
4
“Projetar significa harmonizar local e
programa em um todo coeso, integrado e
expressivo”
Flávio de Lemos Carsalade (2001)
5
000:000 Chalhoub, Mariana Oliveira Santos,
0000 A INFLUÊNCIA DOS ESPAÇOS FÍSICOS NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES –Salvador/BA/ Mariana Chalhoub
- Salvador: Mariana Oliveira Chahloub, 2010.
46f.: il.
Monografia (Especialização) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura.
Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura , 2010.
1 Arquitetura Hospitalar2 Arquitetura e Saúde
I. Título II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura III. Monografia.
6
RESUMO
Os hospitais sofreram algumas mudanças ao longo do tempo em função de novastecnologias, políticas e práticas de saúde. O papel da humanização dos ambienteshospitalares para o processo de restabelecimento dos pacientes tem sido discutido emvárias áreas, principalmente pela arquitetura hospitalar. Assim, o objetivo deste trabalhoconsiste em avaliar o impacto da humanização em hospitais na reabilitação de pacientes eassim compreender melhor a importância do projeto, dos espaços físicos dos hospitais esuas correlações funcionais necessárias para uma correta fluidez na atenção dada aospacientes. Foram identificados aspectos da arquitetura hospitalar que auxiliam noreconhecimento das condições ambientais e físicas de um hospital que influenciam nareabilitação do paciente, tendo como objeto de estudo os espaços de reabilitação doshospitais e relacionando essa evolução da arquitetura hospitalar à obra do arquiteto Lelé naRede Sarah, enfatizando a utilização dos recursos naturais, das cores, da arte e dastecnologias disponíveis na busca do bem estar dos pacientes em reabilitação.
Palavras-chave: Arquitetura Hospitalar. Humanização. Rede Sarah. Lelé.
7
ABSTRACT
Hospitals have undergone some changes over time due to new technologies, policies andhealth practices. The role of humanizing the hospital environment for the healing process ofpatients has been discussed in several areas, mainly by hospital architecture. Thus, the aimof assessing the impact of the humanization of hospitals in the rehabilitation of patients andthus better understand the importance of the project, the physical facilities of hospitals andtheir functional correlations required for proper flow in the attention given to patients. Aspectswere identified hospital architecture that help in the recognition of environmental and physicalconditions of a hospital that influence the patient's rehabilitation, with the object of studyspaces for rehabilitation of hospitals and relating this to the development of hospitalarchitecture by architect Lelé Network Sarah, emphasizing the use of natural resources,colors, art and technologies available in pursuit of the welfare of patients in rehabilitation.
Keywords: Hospital Design. Humanization. Sarah Network. Lelé.
8
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................................08
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................................10
2 - UM BREVE HISTÓRICO DA ARQUITETURA HOSPITALAR....................................12
3 - ASPECTOS DA HUMANIZAÇÃO DOS AMBIENTES HOSPITALARES ...................16
3.1 - CONFORTO AMBIENTAL ...........................................................................................18
3.2 - ILUMINAÇÂO................................................................................................................22
3.3 - VENTILAÇÃO................................................................................................................25
3.4 - A COR .............................................................................................................................29
4 - O HOSPITAL SARAH.......................................................................................................35
4.1 - A ARQUITETURA DA REDE SARAH ........................................................................36
5 - CONCLUSÃO ....................................................................................................................42
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................44
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - Interior de uma enfermaria do antigo Hospital da Santa Cruz, de Barcelona, noinício do séc. XX. .....................................................................................................................13
FIGURA 02 - Hospital de Le Corbusier em Veneza ...............................................................14
FIGURA 03 - Hospital Sarah Lago Norte, Brasília, DF ..........................................................16
FIGURA 04 - Enfermaria de hemodiálise (South Orlando PatientCare )................................18
FIGURA 05 - Piscina externa Hospital Sarah Salvador ..........................................................19
FIGURA 06 - Recepção e espera do Hospital Sarah Salvador ................................................21
FIGURA 07 - Croqui Fisioterapia Hospital Sarah Fortaleza – Esquema ................................23
FIGURA 08 - Enfermaria Hospital Sarah Salvador.................................................................24
FIGURA 09 - Sala de fisioterapia do Hospital Sarah Salvador ...............................................25
FIGURA 10 - Tomadas de ar das galerias no arrimo - Hospital Sarah Salvador ....................26
FIGURA 11 - Croqui ventilação Hospital Sarah São Luís ......................................................27
FIGURA 12 - Ventilação controlada através dos sheds, Hospital Sarah Salvador..................27
FIGURA 13 - Hospital Infantil em San Diego – Califórnia. ...................................................31
FIGURA 14 - Espera com divisória de painéis coloridos de Athos Bulcão, no Hospital SarahIlha Pombeba – RJ....................................................................................................................32
FIGURA 15 - Solário da enfermaria do Hospital Sarah Salvador ...........................................38
FIGURA 16 - Ônibus de transporte interno de pacientes do Hospital Sarah...........................38
10
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho, cujo tema é “A influência dos espaços físicos dos hospitais na
reabilitação de pacientes” busca avaliar o impacto da humanização em hospitais na
reabilitação de pacientes e assim compreender melhor a importância do projeto, dos
espaços físicos dos hospitais e suas correlações funcionais necessárias para uma
correta fluidez na atenção dada aos pacientes, podendo assim, reconhecer quais ascondições ambientais e físicas de um hospital que influenciam na reabilitaçãodo paciente.
Algumas pessoas criam certa aversão ao ambiente hospitalar. Além de todo mal
estar sofrido pelo paciente que encontra-se em um quadro de enfermidade, o fato de
encontrar-se hospitalizado caracteriza-se como uma experiência pouco agradável
que impõe ao paciente uma condição de adaptação forçada, em um espaço
estranho, impessoal, frio e monótono, além do desconforto e das limitações
impostas pelo seu quadro de enfermidade ou reabilitação. Geralmente, esse
processo de hospitalização acontece de forma agressiva, dolorosa e altamente
estressante, em que todas as preocupações estão voltadas para a cura da
enfermidade, deixando, muitas vezes, em segundo plano o aspecto humano.
Segundo Bormio et. al (2007), O ambiente hospitalar é composto por um conjunto de
fatores (físicos, biológicos, químicos, psicológicos, cognitivos, organizacionais,
arquiteturais, estéticos) que lhe atribuem um caráter particular. Portanto, é
necessário que haja equilibro entre estes fatores, ou seja, uma relação harmônica,
para que o paciente passe a perceber o hospital como um lugar seguro, eficiente e,
sobretudo humanizado. A humanização desses espaços ainda é considerada um
desafio, mesmo com toda tecnologia que disponibilizamos atualmente, porém Beck
et. al (2007) enfatiza que a importância do ambiente é explicada pelo fato deste
desempenhar um importante papel de suporte para o desenvolvimento de qualquer
atividade humana, assim como os ambientes contribuem na restauração da saúde
dos pacientes, destacando ainda para a importância da cura pela natureza, em que
ambientes arejados e adequadamente iluminados, além de ruídos suavizados
seriam alguns dos fatores de bem estar para o restabelecimento e conforto dos
pacientes.
11
O espaço físico dos hospitais é capaz de interferir positivamente ou negativamente
na recuperação dos pacientes, além de influenciar no cuidado médico, através dos
aspectos ergonômicos que podem facilitar ou dificultar a atividade, o nível de saúde,
fortalecendo ou enfraquecendo o paciente e a própria causa da doença ao proteger
ou expor o paciente à infecção. Esta idéia baseia-se no desenvolvimento e
implementação de novos modelos de cuidado à saúde, buscando cultivar a cura da
mente, corpo e espírito, reconhecendo a importância da incorporação da arquitetura
no processo de cura. (MARTINS, 2004)
A qualidade no processo de atenção, quando inclui a percepção do espaçopelos diferentes usuários, requer um ambiente construído “saudável”preconizado pelo chamado “Healing Environment”, que é uma forma decuidado à saúde que envolve a influência do espaço físico na recuperaçãodo paciente. (MARTINS, 2004, p. 64)
Ainda de acordo com o autor, o objetivo do “Healing Environment” é a criação de
espaços com a redução de fontes externas causadoras de “stress”, proporcionando
paz, esperança, motivação, alegria, reflexão e consolo, auxiliando no tratamento e
na reabilitação dos pacientes. Este conceito propõe a otimização do cuidado com o
paciente, proporcionando a ele um ambiente que disponha de um sistema de
suporte social, tais como o apoio aos familiares, a informação ao paciente e até a
opção pela medicina alternativa. O objetivo é a transformação do hospital, ou edifício
de saúde, num lugar que abrigue o espírito humano e suporte o paciente e sua
família para ajudá-los positivamente, apresentando-se de forma a transcender a
doença.
Os resultados deste tipo de tratamento demonstram que a influência positiva dos
espaços físicos em hospitais de reabilitação é refletida na redução dos custos do
tratamento, diminuindo o tempo de permanência do paciente no hospital, reduzindo
o uso de medicamentos compensatórios, o tempo de enfermagem por paciente,
influenciando também na questão psicológica deles. Pesquisadores apontam que a
mente, o cérebro e o sistema nervoso podem ser diretamente influenciados pelos
elementos sensoriais do meio ambiente, propondo então que o espaço seja
estimulante e não neutro. O ambiente monótono e com luz artificial inalterável, que é
típico de muitos hospitais, pode influenciar negativamente por ser emocionalmente
desgastante, intensificando os efeitos do “stress” (tensão) dos pacientes e usuários.
12
As iniciativas destas instituições de saúde têm mostrado que o conforto físico, e
especialmente conectado ao ambiente natural, ajuda na cura, diminuindo o “stress”.
(GÓES, 2004)
Apesar da evolução dos espaços físicos dos hospitais e do entendimento da sua
influência na reabilitação de pacientes, ainda existem muitos desafios referentes à
evolução dos sistemas e instrumentos de avaliação, de forma a permitir uma
avaliação técnica e funcional, como quanto à percepção do espaço construído do
ponto de vista dos diferentes usuários.
2 UM BREVE HISTÓRICO DA ARQUITETURA HOSPITALAR
Desde a Antigüidade até a Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada
informalmente por leigos que praticavam uma espécie de medicina popular, ou
oficialmente por sacerdotes das ordens religiosas, conhecida como medicina oficial,
que por sua vez, se desenvolvia no interior dos mosteiros ou em anexos, sendo
exercidas sempre como atividade secundária às obrigações de caráter religioso e
assistencial, que constituíam o objetivo principal das ordens religiosas. A principal
missão desses hospitais consistia em proporcionar o mínimo de conforto espiritual e
assistência aos pobres e enfermos ali internados. (SILVA, 2001)
13
A concepção do hospital como local de tratamento é relativamente recente. A partir
do século XVIII, com o Iluminismo e a Revolução Industrial, passou-se a ter uma
nova visão sobre o homem e a natureza. A evolução das ciências e a ampliação dos
conhecimentos neste período favoreceram a melhora das condições sanitárias das
sociedades da época, fato que foi sendo intensificado ao longo do século XIX e por
volta de 1770, quando a doença passa a ser reconhecida como fato patológico, o
hospital se torna um instrumento de cura. (MIQUELIN, 1992)
A partir de 1780 criou-se a consciência de que o hospital pode e deve ser um
instrumento destinado a cura, originando assim o conceito de hospital terapêutico.
A arquitetura hospitalar é um instrumento de cura do mesmo estatuto queum regime alimentar, uma sangria ou um gesto médico. O espaço hospitalaré medicalizado em sua função e em seus efeitos. Esta é a primeiracaracterística da transformação do hospital no final do século XVIII(FOUCAULT, 1979, p. 109)
Nesse contexto, as questões funcionais e espaciais do planejamento de um hospital
tornam-se mais importantes, contribuindo para aperfeiçoar os projetos das
edificações hospitalares. Assim, a partir do século XIX, a arquitetura hospitalar
FIGURA 1: Interior de uma enfermaria do antigo Hospital da Santa Cruz, deBarcelona, no início do séc. XX.Fonte: DANON I BRETOS, 2001, p. 41.
14
assumiu uma postura racionalista, transpondo para o espaço os detalhados
programas funcionais elaborados no final do século XVIII (MIGNOT, 1983).
Segundo Foucault (1979), a arquitetura passa a ser considerada como um elemento
fundamental para a criação de um ambiente hospitalar adequado ao processo de
cura. A partir de então, os grandes hospitais com milhares de leitos, em que
pacientes com todos os tipos de enfermidade e feridos ocupavam o mesmo espaço
de mulheres grávidas, são condenados, dando lugar a novos modelos de hospitais
em que havia a separação dos pacientes segundo suas patologias e um número
menor de leitos, ou ainda dedicados ao tratamento de um único tipo de enfermidade.
Este novo modelo de edifícios hospitalares era chamado de modelo pavilhonar e foi
consolidado na Europa no século XIX, com a construção do Hospital Laribosière de
Paris, projetado por Gauthier em 1839 com capacidade para 905 leitos dispostos em
pavilhões com 32 leitos.
Segundo Gordon (1993), na mesma época em que o sistema pavilhonar se
consolidava na Europa como a forma mais perfeita da arquitetura hospitalar, na
América do Norte o modelo começava a ser substituído por um novo paradigma: o
partido arquitetônico de bloco compacto, com vários pisos, também conhecido como
monobloco vertical. O novo modelo incorporava duas importantes inovações
FIGURA 2: Hospital de Le Corbusier em Veneza.Fonte: DANON I BRETOS, 2001, p. 65
15
tecnológicas na construção de edificações: o uso do concreto armado e de
elevadores.
No Brasil, o primeiro hospital construído foi o Hospital da Santa Cruz da Misericórdia
de Santos, criado por Braz Cubas em 1543. Assim, o país foi o segundo na América
do Sul a construir uma edificação destinada exclusivamente a receber enfermos. O
Brasil também passou por todas as modificações na arquitetura hospitalar e pelas
evoluções dos modelos de hospitais, contando com profissionais portadores de
profundo conhecimento das questões técnico-operacionais das unidades projetadas,
especialmente no que se refere à infra-estrutura e à gestão hospitalar como João
Carlos Bross, Pompeu de Souza, Irineu Breitman, Siegbert Zanettini, entre outros.
Atualmente, no âmbito da arquitetura hospitalar, temos o arquiteto João Filgueiras
Lima – o Lelé, um profissional de grande importância para o desenvolvimento da
arquitetura hospitalar brasileira. Suas obras no campo da arquitetura hospitalar
trouxe uma nova visão, voltada para as necessidades dos pacientes em reabilitação,
tendo como compromisso, projetar hospitais feitos para curar. (COSTA, 2001)
Corbella (2003) defende que para uma pessoa sentir-se confortável em um ambiente
é necessário que se sinta em neutralidade em relação a ele. No caso dos edifícios
hospitalares, a arquitetura pode ser utilizada como um instrumento terapêutico e
contribuir para o bem-estar físico do paciente com a criação de espaços que, além
de acompanharem os avanços da tecnologia, desenvolvam condições de convívio
mais humanas.
Com a idéia de projetar hospitais feitos para curar, Lelé desenvolveu um ambiente
capaz de contribuir para o processo de cura. Ao projetá-los com esta finalidade,
resgata um objetivo que surgiu no final do século XVIII, mas que não vem sendo
enfatizado por boa parte da arquitetura hospitalar contemporânea.
16
Sendo assim, um hospital voltado para as necessidades de pacientes em
reabilitação, além da viabilidade econômico-financeira, deve atender aos requisitos
de expansibilidade, flexibilidade, segurança, eficiência e, sobretudo, humanização.
Esses fatores devem corroborar para a recuperação dos pacientes, buscando
diminuir a exposição dos mesmos, a agressões do meio ambiente, relacionadas a
agentes físicos (ruídos, radiação, vibração, pressão anormal, temperaturas extremas
e outros), químicos (substâncias químicas), biológicos (vírus, bactérias, fungos e
ácaros), ergonômicos e psicológicos.
3 ASPECTOS DA HUMANIZAÇÃO DOS AMBIENTES HOSPITALARES
A partir da década de 80 surgiu um novo direcionamento de projeto arquitetônico de
hospitais que visava a humanização do espaço hospitalar. Dentre outras inovações,
a utilização da iluminação e da ventilação natural tornou-se fundamental,
confrontando o mito de que eram consideradas contaminantes, e introduzindo um
novo conceito de saúde que passa a ter relação com os aspectos sociais, culturais e
psicológicos. (CORBELLA, 2003)
FIGURA 3: Hospital Sarah Lago Norte, Brasília, DF.Fonte: www.sarah.br
17
Podemos entender as tentativas de humanização do atendimento hospitalar como o
primeiro passo para uma reação contra hegemonia do hospital tecnológico, essa
negação do hospital tradicional em prol dos hospitais humanizados, que baseiam-se
no bem estar do paciente como ferramenta para cura de suas enfermidades,
buscam auxiliar no psicológico dos pacientes que encontram-se internados nesses
hospitais. (SANTOS et. al, 2004)
Com a percepção da relevância dos fatores climáticos no psicológico dos pacientes,
a concepção do hospital como um local arejado e iluminado naturalmente, o hospital
passa a ter a visão de curar com a função de prevenir a doença, restaurar a saúde,
exercer funções educativas e promover a pesquisa unida com a melhoria das
condições de saúde dos pacientes. Essas questões foram priorizadas
constantemente devido à preocupação com a higiene nos espaços de saúde. Assim,
os hospitais passam a ser vistos como locais onde a vida pode não somente ser
salva, mas ter sua qualidade melhorada. (MIQUELIN, 1992)
Esta implantação da humanização hospitalar é formada por diversos movimentos
que propõem mudanças nas condições de conforto para pacientes e
acompanhantes, por meio de alojamentos conjuntos, que garantem a presença de
acompanhantes para menores e idosos, de uma maior atenção voltada às áreas de
espera, consultórios e enfermarias, visando o bem estar do paciente e seus
acompanhantes e, principalmente, a adoção de tratamentos arquitetônicos
diferenciados, como por exemplo o uso das cores, especialmente nos hospitais
infantis, maternidades e hospitais geriátricos, nos quais os espaços começam a ser
tratados de forma a reproduzir, sempre que possível, o ambiente familiar.
(MIQUELIN, 1992)
18
De acordo com Santos et. al (2004), a preservação do meio ambiente também é um
dos alicerces da humanização dos ambientes hospitalares, com a utilização da
iluminação e ventilação natural. Os equipamentos também consistem em propostas
que defendem a edificação hospitalar a retomada de um papel mais relevante no
processo de cura dos pacientes, buscando uma maior integração entre as práticas e
procedimentos médicos e os espaços que lhes são reservados.
3.1 CONFORTO AMBIENTAL
A organização do espaço tem grande relevância em todo e qualquer programa
arquitetônico, segundo Carvalho (2002), o tratamento tridimensional do espaço, a
sua fluidez, a facilidade do usuário percorrê-lo, o uso das cores e do efeito de claro e
escuro, a relação entre o interno e o externo, a variação na altura do pé-direito
transformando ambientes e no tratamento adequado dos forros são de extrema
importância na humanização dos ambientes hospitalares, criando uma atmosfera
mais humana no interior de unidades de saúde.
Entende-se aí organização como a disposição, no plano, da corretainterligação entre ambientes que formam o todo na função do edifício. Esse
FIGURA 4: Enfermaria de hemodiálise (South Orlando PatientCare )Fonte: Revista Virtual de Medicina Número 10 - Ano III (Abril/Dez de 2000)
19
ponto é ainda mais importante em clínicas e hospitais. (CARVALHO, 2002,p. 36).
Atualmente as fachadas impressionantes, de espaços físicos superdimensionados,
de monumentalidade dão espaço a ambientes hospitalares que proporcionam
melhores condições para a paz de espírito do paciente, visando um processo de
cura mais eficaz e menos traumatizante. Na arquitetura hospitalar busca propiciar
mais que um atendimento médico, acima de tudo, deseja maior atenção e amparo,
para que assim consiga entender sua doença e o seu processo de cura. Essa nova
forma no tratamento se reflete no ambiente hospitalar que precisa acompanhar essa
evolução conceitual do tratamento. (LOPES, 1996)
Entrar em um hospital, para a maioria das pessoas, é uma experiência angustiante.
Assim, a humanização de hospitais tende a auxiliar, psicologicamente, o doente
através da ampliação do cuidado, ao se projetar uma unidade de saúde.
Saúde é um direito humano fundamental, consecução do mais alto nível devida possível, cuja realização requer a ação de muitos outros setoressociais e econômicos, tais como educação, emprego/salário, alimentação,moradia, segurança física e ambiental. (GÓES 2004, p. 11).
FIGURA 5: Piscina externa Hospital Sarah Salvador.Fonte: LIMA, 1999, p.197
20
Segundo Bross (2002), um dos principais aspectos que envolvem a arquitetura de
edifícios hospitalares consiste na resposta financeira esperada com as demandas
em forma de prestação de serviços e remuneração deles, assim como as questões
ligadas á incorporação de novas tecnologias médicas, que são exigências não só
dos profissionais, como também do mercado. Diante do exposto, os arquitetos
devem compreender primeiramente a natureza do negócio envolvido neste projeto,
para depois compreender o prédio.
A participação do arquiteto na aplicação da estratégia de elaboração do projeto
arquitetônico de um hospital mais moderno e humanizado é de vital importância,
dentre outros aspectos, porque os maiores investimentos são feitos tanto na área de
infraestrutura do prédio como na tecnologia médica. Assim, esta inovação
caracteriza uma mudança significativa na forma de os arquitetos abordarem os
edifícios de saúde.
Saúde é o estado de quem tem suas funções orgânicas, físicas e mentaisem situação normal, equilibrada. Ou seja, saúde é o estado do que é são;estado do indivíduo em que há exercício regular das funções orgânicas. Edoença, por sua vez, é a alteração ou desvio do estado fisiológico em umaou várias partes do corpo, Enfim, doença é um distúrbio de saúde física oumental. (RONSONI, 2007, p.40).
Para Mezomo (2001) é necessário que, ao nos referimos á arquitetura hospitalar,
seja tirado, progressivamente, o foco do hospital como um local de longa
permanência, para que então possamos visualizá-lo, novos tipos de edifícios,
voltados para atender a pacientes submetidos a procedimentos de baixo risco e de
curta permanência.
É necessário organizar as instalações e estruturas do edifício de tal forma que se
adequem com os ambientes internos e as necessidades dos pacientes, com áreas
internas e externas que atuem diretamente no favorecimento do bem estar do
paciente e no seu processo de cura. A questão ambiental também é de grande
importância, pois segundo Mezomo (2001), o espaço físico é um componente
relevante na recuperação dos pacientes.
Para Bormio et. al (2007), a arquitetura hospitalar mostra claramente que há uma
certeza de que o paciente se sente melhor e menos estressado quando observa
uma maior atenção e um ambiente elaborado para colaborar com a sua cura.
21
Com a humanização, o emocional do paciente passa a ser entendido e isso pode ser
percebido através das atitudes dos profissionais e da ambientação. Atualmente
alguns hospitais já estão considerando esse aspecto como muito importante,
visando tirar da cabeça do paciente aquela imagem de edifício cheirando a formol,
cheio de restrições e oferecer a ele um prédio com ambientes aconchegantes.
Uma pessoa está confortável em um ambiente quando se sente emneutralidade em relação a ele. No caso dos edifícios hospitalares, aarquitetura pode ser um instrumento terapêutico se contribuir para o bem-estar físico do paciente com a criação de espaços que, além deacompanharem os avanços da tecnologia, desenvolvam condições deconvívio mais humanas. (CORBELLA, 2003, p. 32)
Alguns estudos quantitativos e qualitativos enfatizam a concepção de que ambientes
mais humanizados e dotados de itens que garantam o conforto ambiental,
favorecem a cura e alta de pacientes em unidades de saúde em um espaço de
tempo menor na maioria das vezes.
Segundo Martins (2004), os principais elementos a serem incorporados aos projetos
que visam estabelecer um ambiente apropriado à dedicação ao paciente e à sua
cura são: o conforto visual e acústico, iluminação e ventilação adequada, a utilização
FIGURA 6: Recepção e espera do Hospital Sarah Salvador.Fonte: LIMA, 1999, p.194
22
de materiais apropriados para absorção de ruídos, uso das cores e uso de obras de
arte para tornar a atmosfera acolhedora e caseira.
Freire (2001), como arquiteto, considera importante delegar aos pacientes o controle
das luzes, temperatura e alguns equipamentos, como televisor, aparelhos sonoros,
entre outros, facilmente comandados a partir do leito, favorecendo uma maior
autonomia ao mesmo.
Para Miquelin (1992), o desconforto ambiental existente nos hospitais torna-se um
problema a mais nesses espaços em que, muitas vezes, é um cenário de situações
estressantes de atendimento a pacientes com risco de vida ou sofrimento profundo.
Dessa forma, a humanização caracteriza-se como o suporte de um ambiente
confortável, ameno e acolhedor é um componente essencial para a dispensa de
cuidados á saúde de alta qualidade.
3.2 ILUMINAÇÂO
Atualmente, a iluminação artificial tornou-se indispensável na maioria dos ambientes
hospitalares, já que, segundo estudos, esta, influencia no equilíbrio fisiológico e
psicológico dos usuários. Porém, apesar da sua importância, geralmente, nos
projetos arquitetônicos são encontrados erros como a definição da iluminação
depois da seleção das cores e dos materiais. A integração da iluminação no projeto
arquitetônico deve ser prioritária, com a definição da iluminância necessária ao
ambiente, antes da escolha das cores. (FLEMMING, 2000)
Para Fonseca (2000), dois parâmetros devem ser considerados nos projetos
arquitetônicos de ambientes hospitalares: a quantidade e a qualidade da iluminação
necessária para cada ambiente. Deve-se lembrar, primeiramente, que a percepção
individual varia de acordo os locais e a atividade a ser desenvolvida neles, se
contínua ou intermitente. Já a qualidade da iluminação dependerá basicamente do
índice de expressões e temperatura da cor.
23
Porém, para Miquelin (1992) além desses aspectos básicos, para uma escolha
acerca da iluminação, visando proporcionar o bem-estar visual, deve-se analisar os
níveis de iluminação de acordo com as exigências do conforto humano, o melhor
uso dos sistemas de iluminação que podem ser direto, indireto ou misto, o tipo de
fonte de luz, sua eficiência luminosa e sua reprodução da cor.
No Brasil, devido ao seu clima tropical, temos condições de um maior
aproveitamento da luz natural no interior das edificações. Segundo Corbella (2003),
a iluminação natural traz benefícios para a saúde, porque traz uma sensação
psicológica do tempo, tanto cronológico quanto climático, no qual se vive. A luz
artificial, necessária à noite e nos dias nublados, deve ser utilizada sempre como
uma complementação e nunca como uma substituição da natural.
FIGURA 7: Croqui Fisioterapia Hospital Sarah Fortaleza – Esquema.Fonte: www.sarah.br
24
Para Lacy (2000), como, geralmente, as enfermarias e quartos possuem um tipo de
lâmpada bem fraca que fica acesa a noite inteira, o uso de uma luz rosa suave ajuda
o paciente a se sentir seguro, protegido e cuidado durante o início da noite; mais
tarde, uma luz quente azul-clara estimula o sono e proporciona ao paciente uma
energia terapêutica e conduzindo-o a um sono mais tranquilo. A luz verde não é
muito indicada para esses ambientes, pois ela é exaustiva para todas as pessoas,
inclusive para médicos e enfermeiros.
A existência de luzes de cores diferentes no hospital dá ao arquiteto a liberdade de
usá-las como e quando achar necessário em seu projeto arquitetônico,
separadamente ou em conjunto, de acordo com as recomendações de um terapeuta
especializado. O uso excessivo de qualquer cor pode ter seu efeito revertido e
acabar exaurindo os pacientes e os profissionais, assim o excesso ou a escassez de
luz num ambiente altera sentimentos e humores nos que aí se encontram.
(FONSECA, 2000)
De acordo com Lacy (2000), as luzes coloridas também contribuem positivamente
na sala de espera. Pensando no fato de que muitas vezes os familiares dos
pacientes recebem notícias desagradáveis, a presença de luzes coloridas
FIG 8: Enfermaria Hospital Sarah SalvadorFonte: LIMA, 1999, p.207
25
favoreceria no sentido de aliviar o choque e libertar as pressões e tensões criadas
na sala de espera. Além de que pode-se utilizar a iluminação natural e utilizar
iluminação artificial apenas quando necessário.
Para Gomes (1999) o uso da iluminação natural, bem como da iluminação do
espectro total possuem grande importância no projeto arquitetônico de hospitais,
uma vez que, quanto mais a luz penetrar no lugar, mas harmonioso será o ambiente.
3.3 VENTILAÇÃO
Uma das ferramentas mais importantes no projeto arquitetônico é a conjugação
entre a iluminação e a ventilação dos ambientes. Para Serra (1999) estas variáveis
devem ser consideradas desde a concepção do edifício, de forma que sejam
garantidas ventilação e iluminação natural eficientes. Outros fatores de grande
importância são a orientação e a forma do edifício, de forma que favoreçam a
ventilação natural. No entanto, esta depende da integração entre seus princípios
básicos; a diferença de pressão e o efeito chaminé.
FIGURA 9: Sala de fisioterapia do Hospital Sarah SalvadorFonte: LIMA, 1999, p.196
26
Lelé, através da sua obra, ilustra com perfeição os fundamentos da ventilação e
também da iluminação naturais, principalmente em cidades de climas quentes.
Segundo Silva (2001), a utilização de ventilação e iluminação naturais, além de
acarretar uma considerável economia de energia, boas condições visuais,
psicológicas, higiênicas, proporciona para os pacientes uma agradável sensibilidade
espacial, garantindo um conforto ambiental.
Uma das obras mais importantes de Lelé, a rede de hospitais Sarah, ilustra
perfeitamente as soluções técnicas e arquitetônicas que enfatizam o favorecimento
da utilização de ventilação e iluminação naturais. Através dos sheds, juntamente
com a utilização dos demais sistemas de ventilação como as galerias subterrâneas,
o piso técnico, os sistemas flexíveis de fechamento, a utilização de forro feito de
painéis de policarbonato com basculantes e arcos retráteis, que adequam-se ao tipo
de ventilação utilizada (natural, mecânica ou artificial), facilitando o controle da
entrada e saída do ar e da iluminação natural independentemente. (LATORRACA,
2000)
FIGURA 10: Tomadas de ar das galerias no arrimo – Hospital Sarah SalvadorFonte: www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/bases/texto079.asp
27
Segundo Serra (1999), outra ferramenta muito importante na elaboração do sistema
de ventilação de um hospital é a utilização de jardins internos e dispositivos de
climatização passivos, como espelhos d´água e nebulizadores.
FIGURA 11: Croqui ventilação, Hospital Sarah São Luís.Fonte: www.sarah.br
FIGURA 12: Ventilação controlada através dos sheds, Hospital SarahSalvadorFonte: LIMA, 1999, p.192
28
O Hospital Sarah tem como base da sua arquitetura, a organização dos seus
ambientes entre especiais e flexíveis. Os ambientes especiais compreendem as
salas de radiologia, farmácias e centros cirúrgicos, neles o uso do ar condicionado é
fundamental, pois exigem um rigoroso controle de temperatura, umidade relativa e
gradiente de pressão de ar. Já nos ambientes flexíveis que são as salas de
fisioterapia, ambulatórios, enfermarias e áreas de espera, onde o controle térmico
não é extremamente necessário, encontram-se dispostos de maneira a captar os
ventos dominantes e, dessa forma, a utilização da ventilação natural garante o
conforto térmico dos pacientes, acompanhantes e equipe médica. (LIMA, 1995)
A ventilação e o conforto térmico dos ambientes devem contar comdispositivos de fechamento (janelas, sheds, muros e aberturas) quepermitam o controle independente da iluminação e da ventilação natural,para que tenha sua eficácia garantida. Além disso, a utilização da ventilaçãonatural, executada por meio de basculantes dos tetos planos ou pelasaberturas dos tetos em arco ou através de dutos visitáveis, que insuflam nosambientes o ar captado por unidades fan-coil no piso técnico e a utilizaçãodo ar refrigerado insuflado pelos mesmos dutos, impulsionado pelasunidades fan-coil, que passam a receber circulação de água geladaproduzida na central localizada no pátio de serviço, favorecem o confortotérmico dos ambientes hospitalares. (LIMA, 1995, p.51)
A sensação de conforto higrotérmico depende da capacidade de adaptação de cada
indivíduo às condições climáticas onde se encontra inserido, desta forma, esta
sensação poderá variar de acordo com os ambientes e com os pacientes, de acordo
com a temperatura, umidade relativa e velocidade do ar de cada ambiente. Para
Corbella (2003), algumas estratégias de projeto baseadas em princípios
bioclimáticos são de grande relevância na discussão do projeto arquitetônico desses
ambientes, como o controle do acúmulo de calor, da umidade do ar e das fontes de
ruído e a dissipação da energia térmica do interior do edifício.
Para Freire (2002), apesar da dificuldade de equacionar todos os fatores relativos
aos condicionantes climáticos nas decisões da arquitetura hospitalar, citando a Rede
Sarah pode ser considerada um exemplo de sucesso de controle ambiental,
utilizando os fatores climáticos e geográficos de cada região para favorecer
ventilação e iluminação naturais de qualidade, como formas energia passiva, com o
objetivo de garantir o conforto ambiental para pacientes, acompanhantes e
profissionais.
29
3.4 A COR
De acordo com Lacy (1996), a sabedoria das cores foi transmitida através dos
tempos, observada e sentida por muitas pessoas. O uso de uma ou várias cores
combinadas em um ambiente pode influenciar na comunicação entre as pessoas
que se encontram ali, em suas atitudes e aparência. A autora ainda afirma que a cor
influencia as atitudes das pessoas, podendo acalmar, reduzir o stress e a violência
ou aumentar a vitalidade e a energia. Atualmente, a cromoterapia vem sendo
difundida em todo mundo e sendo utilizada de várias formas, através da utilização
da cor apropriada, favorecendo o equilíbrio e a harmonia dos pacientes.
Lacy (1996) ressalta ainda que, a área de recepção da cor deve ser “receptiva”.
Como exemplo a autora cita que, apesar da cor azul ser considerada uma cor
terapêutica com poder de acalmar as pessoas, o uso excessivo de tonalidades azul
pode evocar os piores medos de uma pessoa. Assim, podemos concluir que todas
as cores possuem atributos contrários. A autora indica que ao escolher as cores
para um projeto arquitetônico, deve-se lembrar da sabedoria da natureza: o chão
verde, o céu azul e, no espaço intermediário, todas as cores com seus milhares de
tons diferentes.
A luz das cores, quando refletida, penetra no olho humano, e assim, pode afetar
indiretamente o centro das emoções no hipotálamo, que por sua vez, afeta uma
glândula “mestra” controladora do sistema endócrino, incluindo a tiróide e as
glândulas sexuais, atingindo os hormônios e conseqüentemente o humor do ser
humano, portanto, a luz influencia em várias áreas do psicológico humano. (SILVA,
1995).
Esses efeitos psicológicos podem ser diretos, como cores que favorecem a
percepção de um ambiente triste ou alegre, quente ou frio, leve ou pesado etc.;
podem também ser classificados como indiretos ou secundários, neste caso são
compostos de associações subjetivas ou objetivas.
Há uma discussão a respeito da utilização das cores. Alguns arquitetos preferemmanter o tradicional e apostar em paletas neutras, já outros especialistasrecomendam um espectro cheio de cores em cada ambiente. Não existem regras
30
mais apropriadas a respeito desses conceitos, porém a mudança de esquemas de
cores é vista como um meio eficaz de criar variação no ambiente e
consequentemente de aumento à estimulação e ao impulso moral. (SILVA, 1995)
Para Lacy (2000), a cor exerce um tríplice poder sob o observador. Primeiramente o
poder de impressão do pigmento, segundo o poder de expressão, o pigmento
expressa um significado e provoca uma emoção em quem o observa. E por fim, o
poder de construção, que é aquele em que a cor adquire valor simbólico, podendo
construir uma linguagem de comunicação.
Nunes (1995) destaca a importância do uso da cromoterapia, uma ciência que
estuda a cura através da luz e cor e que baseia-se na relação energética entre a
matéria e o espírito. Através da irradiação de uma seqüência de cores sobre o
corpo, por meio de lâmpadas coloridas pode-se afetar as células vivas, que são
sensíveis no ser humano individualmente. Assim, quando os raios luminosos
aplicados sobre a pele do paciente, atingem a camada hipodérmica, a administração
é tópica; quando a luz é aplicada a 30cm da pele, atinge a derme, a administração é
de modo direto; e de modo indireto quando a luz incide nas superfícies coloridas das
paredes, piso, e teto, e é refletida sobre a camada superficial da pele, que absorve
esta energia ao longo do tempo de exposição.
Para Nunes (1995) determinadas combinações cromáticas aplicadas em ambientes
podem estimular estados emotivos e relacionam-se com aspectos de predisposição
dos indivíduos. Assim, quando o paciente encontra-se exposto a uma determinada
cor, esta acaba interferindo no seu estado de ânimo. Como exemplo, o autor cita
uma parede verde que pode resgatar relações com hospitais, com a natureza, com
relaxamento, mas que também pode suscitar sentimentos de tristeza porque
ambientes com aquela cor lembram doentes.
Segundo Costi (2002), da mesma forma como cores vibrantes podem estimular
pessoas deprimidas e agitar pessoas muito ativas. Esses fatos podem ser
explicados pela ocorrência de vibrações eletromagnéticas que influenciam o
31
organismo, porém a saturação, o matiz e a cor são importantes e tem sua
peculiaridade que pode ser diferente de uma pessoa para outra.
Para Nunes (1995), a energia ambiente também é um fator energético, podendo ser
positiva ou não, e esta diferença depende também da cor desse ambiente. Desta
forma, o ambiente hospitalar e a escolha das suas cores devem ser feitas levando
em consideração um desempenho, que proporcione uma melhoria da qualidade de
vida do paciente e da equipe multiprofissional, atualmente pode-se reconhecer as
cores como um dos fatores de desempenho, que bem especificadas nos pisos,
paredes, tetos, fachadas e detalhes, favoreçam o bom desempenho do ambiente
hospitalar.
Para Lacy (1996) a escolha da cor de um ambiente depende de alguns fatores,
assim, para se escolher as cores, deve-se ter uma noção prévia do uso a que esse
ambiente será destinado e sua localização, se ele está voltado para o Norte, o Sul, o
Leste, ou o Oeste. Em ambientes em que a luz natural não consegue penetrar,
deve-se utilizar cores mais claras para torná-los os mais claro possível. A cor é a
energia curativa do presente.
FIGURA 13: Hospital Infantil em San Diego – Califórnia.Fonte: www.mundocor.com.br
32
Para Costi (2002), a cor é muito importante no projeto de um ambiente, devendo
estar de acordo com os elementos que o comporão e utilizada de forma que as
reações que ela venha a provocar nas pessoas seja a desejada, mobilizando seu
inconsciente através de seus arquétipos.
Spalter et.al (1998) afirma que o uso conjugado da cromosofia (estética e psicologia
da cor), cromoterapia e feng shui (ciência chinesa praticada há 4000 anos, que
estuda a relação do ser humano com o meio ambiente, para harmonizá-lo, feng:
vento – shui: água) favorece o projeto de um ambiente aconchegante e terapêutico,
para isso, faz-se necessário analisar alguns efeitos e simbolismos das cores:
Amarelo:
O amarelo é considerado uma cor estimulante, que abre perspectivas e favorece a
lucidez mental, o raciocínio lógico, a reflexão e a intuição. De todas as cores é a
mais luminosa e alegre, relaciona-se com o sol, sendo um elemento fortalecedor,
energético e anti-stress. Porém, se utilizada em excesso tende a aflorar o rancor, a
FIGURA 14: Espera com divisória de painéis coloridos de Athos Bulcão, noHospital Sarah Ilha Pombeba – RJ.Fonte: www.sarah.br
33
inveja e o ressentimento das pessoas, mas a sua escassez desperta a preguiça
(GOMES, 1999).
Azul
O azul é tido como uma cor fria, tranqüila, profunda, infinita, simboliza o universo
celeste, cuja imensidão convida à paciência. De acordo com o Feng Shui, simboliza
o crescimento e a esperança, favorecendo as áreas da saúde e da família. (SILVA,
1995).
Para Gomes (1999), o azul é uma cor benéfica para ambientes de meditação, pois
desperta a sabedoria, a pureza, o amor, o lado bom das pessoas, é considerado
equilibrador, regenerador, calmante e anestésico; fortalecedor do equilíbrio físico e
espiritual. Porém, se utilizado em excesso pode provocar o início de uma depressão
e o cansaço.
Branco:
A cor branca é conhecida universalmente como símbolo da paz, da tranqüilidade,
da pureza e da segurança. É tida como a cor da claridade e da alegria, em parceria
com o azul claro, torna o clima mais celestial e, mesmo utilizada com outras cores,
possui uma influência sempre positiva. Porém, se usada em excesso torna-se fria,
causando sensação de vazio. (SILVA,1995).
Cinza:
O cinza é tido como uma cor neutra, sóbria, de valor intermediário, e de contraste
com cores intensas, é originado da junção entre o preto e o branco, possuindo
características de ambas as cores. Porém, o seu uso em excesso sombreia o
ambiente, mas se utilizado com moderação, tem bons resultados. (SILVA, 1995).
Laranja:
A cor laranja, quando utilizada na área da saúde faz despertar o pensamento
positivo, além de estimular a memória, a concentração, e o aprendizado dos
pacientes, assim, esta cor é considerada a cor da sabedoria. Porém, se utilizada em
34
excesso pode despertar o orgulho, a ambição e o zelo. De acordo com os conceitos
da cromoterapia, o laranja é considerado uma cor restauradora e revitalizadora, por
isso, muito utilizada na recuperação de traumas Se utilizada em conjunto com a cor
azul, favorece a sensação de tranquilidade. (GOMES, 1999)
A utilização do laranja dá uma sensação de que o ambiente é maior devido à sua
característica luminosa, além de poder funcionar também como luz. (SILVA, 1995)
Lilás:
A cor lilás tem um efeito anti-séptico e sedativo, auxiliando no combate à dor, além
disso, purifica o sangue e auxilia no equilíbrio dos níveis físicos e espirituais,
tranquiliza e promove a comunhão com o transcendente. (GOMES, 1999)
Preto:
Os ensinamentos do Feng Shui defendem a cor preta como o símbolo do sucesso,
levando a sentimentos profundos, e a maiores perspectivas de vida. (SPALTER
et.al, 1998).
Para Gomes (1999), o preto é uma cor que protege contra as energias negativas,
que deve ser usado com bastante equilíbrio, nunca sozinho, sempre em combinação
com outras cores, pois se usada em excesso pode reduzir a vitalidade do ser
humano. Utilizada em conjunto com o branco, favorece o equilíbrio das polaridades
do indivíduo, mantendo o ser humano em harmonia.
Rosa:
De acordo com os conceitos da cromoterapia, as vibrações do rosa são ativadores,
aceleradores e cauterizadores das funções do organismo humano e atuam
principalmente na corrente sanguínea, auxiliando também na eliminação da gordura.
Suas vibrações luminosas auxiliam na libertação de emoções reprimidas, sendo
positivas para as energias emocionais do ser humano, principalmente a auto
aceitação. (GOMES, 1999).
Verde:
35
O verde é a cor da natureza, uma cor fresca e úmida, que oferece repouso ao
espírito, trazendo a sensação de que o tempo passa depressa (SILVA, 1995).
Gomes (1999) destaca que o verde desperta, nas pessoas, o estado de otimismo,
confiança, serenidade; e idéia de progresso, esperança, prosperidade e ânimo,
inspirando tranquilidade, esperança e frescor. A cromoterapia tem o verde como
uma cor com ação anti-inflamatória e higienizante, que auxilia no combate da tensão
e da angústia. Porém, se utilizada em excesso pode inspirar a caridade, e sua
ausência dá origem à inveja.
Vermelho:
Considerada a da alegria e do ego, relaciona-se com o desejo, paixão, excitação,
dinamismo, conquista e domínio. Auxilia no fortalecimento da determinação pessoal,
da autoconfiança, da virilidade, do entusiasmo, e do otimismo. Porém, se for usado
em demasia pode provocar irritabilidade e agressividade (GOMES, 1999).
Para a civilização oriental, a cor vermelha evoca o calor, a intensidade, a ação, a
expansividade, no Japão ela simboliza a sinceridade, a felicidade, e no Brasil é tida
como a fusão do gosto de várias etnias. (SILVA, 1995)
Violeta:
De acordo com os ensinamentos do Feng Shui, a cor púrpura é auspiciosa e inspira
respeito. Para a cromoterapia, o violeta é uma cor cauterizadora. (SPALTER et.al,
1998).
O violeta desperta a inspiração de êxito, o misticismo, a liberdade, a amabilidade e a
tolerância. É considerada a cor da criatividade, da sensibilidade para as artes, pois
desperta a expressão da vida interior. Porém, se usada em excesso pode favorecer
a generosidade, e sua carência, a avareza (GOMES, 1999).
36
4 O HOSPITAL SARAH E A INFLUÊNCIA DE LELÉ
Atualmente os hospitais passaram a ser vistos não apenas como locais onde a vida
pode ser salva, mas também onde a sua qualidade pode ser melhorada. Porém,
Miquelin (1999, p. 32) acha importante ressaltar que ainda hoje, devido a sua grande
complexidade e o crescente desenvolvimento tecnológico, a preocupação com a
questão ambiental muitas vezes é desconsiderada na concepção de projetos de
novos edifícios hospitalares. O autor defende que os sistemas mecanizados deram
lugar às soluções de iluminação e ventilação naturais, trazendo como principal
vantagem a preocupação com a humanização dos ambientes e a diminuição do
consumo de energia elétrica.
É possível perceber a crescente preocupação dos arquitetos a respeito das
inovações surgidas contexto. Assim, ao falar de arquitetura hospitalar não podemos
deixar de destacar o grande talento do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé,
importante nome na luta de implantar projetos instituições de caráter abrangente
envolvidas não apenas com o compromisso de curar, mas também com os
problemas sociais, econômicos e culturais do país. Nos hospitais da rede Sarah
Kubitschek, um dos projetos mais conhecidos do arquiteto, a integração entre as
práticas e os espaços concebem ao edifício a capacidade de contribuir para o
processo da cura, o que muitas vezes é esquecido por grande parte dos arquitetos
contemporâneos.
Ao projetar hospitais feitos para curar, Lelé devolve ao edifício hospitalar acapacidade de contribuir para o processo da cura. Ao projetá-los com essafinalidade resgata um objetivo que surge no final no século XVIII e que nãovem sendo enfatizada por boa parte da arquitetura hospitalarcontemporânea. (SANTOS et. al, 2004, p.12)
O Centro de Reabilitação Sarah, projetado pelo arquiteto João Filgueiras Lima
(Lelé), busca alinhar as necessidades dos pacientes em reabilitação, com a natureza
ao redor do hospital: plantas, rios, lagoas, iluminação natural, todos são objetos da
natureza que são integrados ao cotidiano do paciente, auxiliando na sua
recuperação, trazendo conforto psicológico e físico para os enfermos.
37
4.1 A ARQUITETURA DA REDE SARAH
João Filgueiras Lima dedicou-se nos últimos 30 anos à Rede SARAH de hospitais,
esta instituição pública é voltada para a ortopedia e reabilitação do grande
incapacitado físico e para o tratamento de deformidades, traumas, doenças e
infecções do aparelho locomotor. Os pacientes atendidos nas unidades do Sarah
tem em comum a necessidade de cuidados especializados e intensivos, dessa
forma, são formadas equipes multidisciplinares que atuam, conjuntamente, em todas
as fases da reabilitação dos pacientes, visando a melhoria da qualidade de vida dos
pacientes. (PEIXOTO, 1996)
Devido à necessidade dos pacientes atendidos na rede Sarah, a preocupação com a
elaboração do projeto arquitetônico torna imprescindível, pois esta tem o poder de
estimular a recuperação motora do paciente. Essa é uma grande característica dos
hospitais projetados por Lelé, que tem como base extinguir o conceito de edificações
repletas de barreiras arquitetônicas. Podemos perceber esta característica do
arquiteto na interação entre os procedimentos médicos e a arquitetura dos hospitais
da Rede Sarah. (MONTEIRO, 2006)
O autor ainda destaca que a mais interessante destas práticas é a estimulação dos
pacientes a trocarem de enfermaria a cada estágio de recuperação alcançado. Nos
hospitais da Rede Sarah, mesmo os pacientes que apresentam sérias dificuldades
de locomoção são possibilitados a estar sempre em movimento e equipamentos,
deslocando-se pelo hospital, com a ajuda das peças do mobiliário, para o banho de
sol diário, para as seções de fisioterapia e para a troca de enfermaria. A utilização
destes equipamentos, como a cadeira de rodas e as macas especializadas auxiliam
os pacientes na superação de suas dificuldades.
A metodologia utilizada na aplicação da arquitetura hospitalar e da humanização dos
ambientes nos hospitais da Rede Sarah baseia-se na observação de dados
empíricos, ou seja, com a experiência do próprio Sarah no cotidiano da recuperação
dos pacientes. Apesar dessa metodologia não possuir o caráter e o rigor científico
da ABE, as experiências nos serviços desenvolvidos pelo hospital Sarah
demonstraram sua eficácia no processo de cura dos pacientes.
38
FIGURA 15: Solário da enfermaria, Hospital Sarah SalvadorFonte: LIMA, 1999, p.197
FIGURA 16: Ônibus de transporte interno de pacientes do Hospital SarahFonte: LIMA, 1999, p.197
39
Uma questão interessante é que essas peças do mobiliário e equipamentos
utilizados pelos pacientes da Rede Sarah são desenvolvidos pelos funcionários nas
oficinas do próprio hospital, mantendo a sintonia, proposta por Lelé, entre o projeto
da edificação e as práticas médicas desenvolvidas em toda Rede.
De acordo com as idéias de Lelé, as imagens da relação com a natureza e da
integração entre a arquitetura e obras de arte – ambas já presentes na arquitetura
moderna brasileira – são evocadas como possibilidade de humanização dos
hospitais. Segundo esse arquiteto, apesar de os edifícios hospitalares serem
projetos extremamente rigorosos em relação à funcionalidade – sendo, portanto,
muito importante a atenção a sua distribuição espacial e a seus fluxos –, a beleza
não deve ser excluída. A beleza é vista por Lelé como a chave para a humanização,
visto que, em suas próprias palavras, ela “alimenta o espírito”. Deve-se, portanto,
possibilitar no projeto de arquitetura hospitalar a junção destes dois fatores: a
humanização através da beleza e funcionalidade. (LIMA, 2004)
Ninguém se cura somente da dor física, tem de curar a dor espiritualtambém. Acho que os centros de saúde que temos feito provam serpossível existir um hospital mais humano, sem abrir mão da funcionalidade.Passamos a pensar a funcionalidade como uma palavra mais abrangente: éfuncional criar ambientes em que o paciente esteja à vontade, quepossibilitem sua cura psíquica. Porque a beleza pode não alimentar abarriga, mas alimenta o espírito. (LIMA, 2004, p. 50)
Lelé busca trazer aos hospitais, a humanização através dos projetos de espaços
amplos e coletivos no programa da arquitetura hospitalar, com jardins e obras de
arte contribuindo com o processo de reabilitação dos pacientes. Dentro desse
contexto, o arquiteto utiliza ventilação e iluminação naturais nas unidades do
hospital, evitando os frequentes espaços herméticos, buscando proporcionar
ambientes mais humanos, além de contribuir no combate à infecção hospitalar.
Lima (2004) defende iluminação e ventilação naturais não só pelo aspecto da
economia de energia, mas também com o intuito de tornar o ambiente mais natural,
mais humano, e no caso dos hospitais, favorece a proteção contra a infecção
hospitalar.
Em conjunto com o artista plástico Athos Bulcão, Lelé em seus hospitais aproxima o
espaço arquitetônico de elementos artísticos, como: painéis coloridos, muros de
40
argamassa armada, pinturas, murais, entre outros. Busca-se, desta forma, a
concepção de espaços mais alegres, que despertem o interesse dos pacientes.
O acolhimento em um hospital é, muitas vezes, traumatizante pelo fato dese tratar de um rito de passagem, em que o indivíduo sai do domínioprivado (ambiente familiar) e entra no domínio público (hospital). Noambiente familiar, o ser humano está sujeito a um espaço com dimensõesreduzidas – que transmitem sensações de bem-estar e acolhimento –,enquanto que o hospital é um ambiente com grandes dimensões,corredores extensos que transformam o espaço em um local distante,estranho e impessoal, impedindo sua apropriação. Além disso, o problemado paciente é socializado, ou seja, o seu corpo é invadido por ações epensamentos dos profissionais da saúde deixando o indivíduo submetido àsforças e normas desse espaço. (COSTA, 2001, p.1)
A obra de Lelé é considerada como uma das maiores contribuições da arquitetura
brasileira contemporânea. Extremamente diversificada, sua produção arquitetônica
encontra-se espalhada por todo o Brasil, abrangendo desde grandes centros
administrativos, como o da Bahia, até experiências na produção de elementos de
mobiliário urbano projetados não só para a cidade formal, mas também para serem
implantados em nossas favelas. Sua produção, "voltada para a nova tecnologia do
pré-moldado", como lembra Lúcio Costa, reveste-se de enorme conteúdo social e
adquire um nível de excelência ao tratar de programas educacionais (os CIACs e as
escolinhas em argamassa armada) e de assistência à saúde. Ao nos debruçarmos
sobre sua obra, somos atraídos por temas como: arquitetura, pré- fabricação, meio
ambiente, domínio da execução da obra, design de equipamentos, inclusive médico-
hospitalares, incorporação de obras de arte ao projeto, entre muitos outros. (PAZ,
2002)
Nos hospitais da Rede Sarah, Lelé materializou a idéia da humanização através do
contato direto dos pacientes com a natureza e a arte. Os edifícios horizontais são
totalmente envoltos por jardins que aproximam o paciente do ambiente externo. A
forma como esses hospitais foram projetados demonstram uma grande semelhança
com a idéia de humanização defendida por Costa (2001). Podemos observar essas
semelhanças na sua horizontalidade, com o objetivo de aproximar o paciente do
meio ambiente. Cada unidade articula-se ao conjunto do hospital como um elemento
autônomo, o que permite ao paciente a compreensão de sua escala e seus limites
com o espaço exterior.
41
O uso da luz e da ventilação naturais em todos os ambientes tornou-se a questão
fundamental na obra de Lelé, e segundo o arquiteto, a interação entre os pacientes e
a natureza proporciona um bem estar a esses e aos seus familiares que os
acompanham. Lelé utiliza os sheds, permitindo um melhor controle da luz, evitando
a insolação direta, permitindo a entrada de luz natural e favorecendo a ventilação
vertical, por meio da conjugação do efeito de sucção e do efeito chaminé, buscando
proporcionar aos pacientes uma maior integração com o espaço natural, como
também um importante artifício de combate à infecção hospitalar que, ao contrario
da ventilação cruzada, evita a disseminação de vírus por todos os ambientes do
hospital. Para evitar a incidência direta do sol e, consequentemente, um ganho
excessivo de calor nos ambientes internos, os sheds são protegidos por lamelas
para auxiliar na difusão da luz. Lelé, através da utilização dos sheds atribui aos seus
edifícios hospitalares a funcionalidade aliada à humanização deste. Dessa forma, o
hospital torna-se humano não somente pelo contato com o belo, com a natureza e a
arte, mas também pela busca da personalização deste espaço, tendo analogia com
espaço familiar e devido à sua preocupação com as necessidades dos pacientes em
reabilitação.
Segundo Lelé, o cuidado com o ambiente hospitalar é fundamental para a
recuperação do paciente e, sobretudo para aqueles que se encontram mais
fragilizados pela doença.
Eu fiquei internado na unidade coronariana do INCOR, onde todos osequipamentos são de última geração, uma coisa fantástica!Eu imagino que minha estada naquela unidade salvou minha vida,entretanto, depois de 15 dias internado, eu estava precisando de umtratamento psicológico. O ambiente da unidade coronariana eraextremamente deprimente, não havia uma única janela, eu não sabiaquando era dia ou noite, e perdi totalmente a noção do tempo. (LIMA, 1999,p. 27)
Além disso, a rede de hospitais Sarah é um exemplo bem sucedido de utilização de
sistemas modulados em edificações para a saúde, utilizando largamente a pré-
fabricação em argamassa armada e estrutura metálica que fazem com que estas
edificações possuam uma infraestrutura flexível e apta para as mais arrojadas
soluções arquitetônicas, permitindo uma manutenção fácil e econômica. Além disso,
é também um verdadeiro modelo da arquitetura bioclimática, caracterizada por
possuir soluções arquitetônicas que utilizam os recursos naturais da região onde se
42
encontram, garantindo maior conforto térmico por meio de sheds e brises, que
permitem um maior controle dos raios solares e uma ventilação, na maioria das
vezes natural, permanente. Esses recursos tornam a Rede Sarah um símbolo da
nova arquitetura hospitalar no Brasil. (ROGAR, 2002)
Para João Filgueiras Lima, também conhecido por Lelé, “o importante é a
humanização dos hospitais, pois são hospitais que não parecem hospitais”.
(ROGAR, 2002)
De acordo com Carvalho (2002), a preocupação com a reabilitação dos pacientes é
considerada uma necessidade e uma exigência ética. Dessa forma, a saúde deve
ser abordada eticamente, por todos os profissionais, tornando importante a atuação
de profissionais de várias áreas para concepção de ambientes hospitalares, através
de pesquisas que abordem e favoreçam a melhoria da qualidade do ambiente
hospitalar, levando em conta a percepção e as necessidades do paciente. Diante do
exposto, podemos reconhecer que as soluções arquitetônicas da Rede SARAH
buscam favorecer o conforto ambiental valorizando os recursos naturais.
5 CONCLUSÃO
A elaboração de um projeto arquitetônico dos espaços físicos de um edifício
hospitalar requer extrema atenção não apenas aos aspectos técnicos, mas,
principalmente no que diz respeito aos aspectos humanos destes ambientes. É
necessário entender as necessidades dos pacientes para proporcionar-lhe o melhor
tratamento para sua enfermidade aliado com a preocupação com o seu bem estar.
Este trabalho demonstra o estudo sobre a influência da humanização nos ambientes
hospitalares, com o uso de ventilação e iluminação naturais, o uso da cor no seu
ambiente e, do equilíbrio entre a apresentação visual e a função utilitária a que se
destina, no processo de cura dos pacientes.
Podemos observar uma inovação conceitual entre os arquitetos e em seus projetos
arquitetônicos de hospitais, que apostam na recuperação dos pacientes através da
funcionalidade dos ambientes, auxiliando o trabalho da equipe medica e
43
maximizando a relação espaço e tecnologia. Porém, apesar da grande evolução que
vem ocorrendo nos hospitais na área do conforto ambiental, ainda existem muitos
edifícios hospitalares que não utilizam dos aspectos ambientais no tratamento de
seus pacientes, preferindo utilizar soluções mecânicas devido a suas facilidades e
praticidade, tais como: ar condicionado e o uso da luz artificial, sem levar em
consideração a situação psicológica dos enfermos.
A Arquitetura Baseada em Evidências auxiliou muito nessa evolução na
incorporação dos aspectos ambientais nos projetos arquitetônicos dos espaços
físicos hospitalares, possuindo grande influência e importância na humanização de
ambientes hospitalares, melhorando as condições dos usuários desses espaços e
participando ativamente em qualquer tratamento.
Através desse trabalho, podemos concluir que o conceito de humanização do
espaço físico dos hospitais colabora com o processo terapêutico do paciente,
contribuindo para a qualidade dos serviços de saúde prestados pelos profissionais
envolvidos.
Pôde-se também destacar a importância de João Filgueiras Lima, o Lelé, e o seu
trabalho na Rede Sarah de Hospitais, valorizando o bem estar do paciente. O
arquiteto trabalhou no planejamento do projeto arquitetônico dos hospitais com os
recursos naturais do espaço em que os hospitais foram construídos, fazendo da
rede Sarah um centro de referência em todo o país.
Neste contexto, o arquiteto demonstra a importância do projeto arquitetônico dos
espaços físicos dos hospitais e suas correlações funcionais necessárias para uma
correta fluidez na atenção dada aos pacientes, utilizando os recursos físicos e
naturais dos ambientes hospitalares na recuperação e evolução do tratamento do
paciente.
Por fim, João Filgueiras Lima conseguiu expressar em sua obra a necessidade do
ambiente hospitalar se tornar um espaço terapêutico, auxiliando a equipe médica no
processo de cura. Suas soluções são utilizadas auxiliando os pacientes a
locomover-se com a maior autonomia possível, permitindo-lhes a reconquista do
movimento e a melhoria funcional global do paciente.
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REFERÊNCIAS
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