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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UFBA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS IGEO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO VARIAÇÕES CLIMATOLÓGICAS LOCAIS A PARTIR DE UMA ANÁLISE PLUVIOMÉTRICA DE SALVADOR - BA VINÍCIUS MIRANDA DA RÓS JUNIA KACENELENBOGEN GUIMARÃES (Orientadora) FRANCISCO JAIRAN DIONIZIO PEDRO (Co-Orientador) SALVADOR 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UFBA INSTITUTO DE ... MIRANDA DA ROS - MONOGRAFIA.p… · foram catalogadas, posteriormente, por Meteorologia. De acordo com Mendonça & Danni-Oliveira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IGEO

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

VARIAÇÕES CLIMATOLÓGICAS LOCAIS A PARTIR DE UMA ANÁLISE

PLUVIOMÉTRICA DE SALVADOR - BA

VINÍCIUS MIRANDA DA RÓS

JUNIA KACENELENBOGEN GUIMARÃES (Orientadora)

FRANCISCO JAIRAN DIONIZIO PEDRO (Co-Orientador)

SALVADOR

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IGEO

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

VINÍCIUS MIRANDA DA RÓS

VARIAÇÕES CLIMATOLÓGICAS LOCAIS A PARTIR DE UMA ANÁLISE

PLUVIOMÉTRICA DE SALVADOR - BA

Monografia apresentada ao

departamento de Geografia da

Universidade Federal da Bahia,

orientada pela Prof.ª Dr.ª Junia

Kacenelenbogen Guimarães, como

requisito para obtenção do grau de

Bacharel em Geografia.

SALVADOR

2017

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AGRADECIMENTOS

Devo agradecimentos a muitas pessoas que direta ou indiretamente

contribuíram para a concretização deste trabalho. A minha família, que soube

compreender (nem sempre) as ausências em importantes momentos e pelo apoio.

Meus pais Helmo e Gel, minha madrasta Rose, minhas tias e tios Luziana, Fabiana,

Alexandre e Manoel, minhas avós Gessy e Conceição (muito obrigado pelos

almoços), meu primo Felipe (agora podemos ir pro CS) meus irmãos Vitor, Julia e

Arthur que amo enlouquecidamente.

A minha companheira de vida e, sobretudo, melhor amiga, onde habita a

metade que me falta, Liz, dona dos esporros, incentivos, abraços, risos e amor que

me motivam a continuar almejando sempre melhorar como profissional e como

humano.

Meus amigos, que com toda certeza são os melhores que alguém pode ter,

são irmãos e irmãs que a vida me deu e que independente dos bolos que dei neles,

permanecem irredutíveis na qualidade de parceiros. Ricardo, que mesmo de longe

sempre me deu total suporte de informática e Aline (por aguentar o Rick); Neto,

Saulo, Kari, Arthur, Camila Jatobá, Deco e aos queridos que a UFBA me deu

Évelen, Geiza, Mateus e meu herói Shanti, pelas conversas que amadureceram

muito meus olhares geográficos.

Agradeço especialmente aos componentes da banca. A professora Junia

Kacenelenbogen Guimarães, muito obrigado pela autonomia que me conferiu. A

liberdade que tive para produzir esse trabalho me fez refletir muito sobre a relação

orientador X orientando e acredito que fizemos uma excelente parceria. Ao

professor Emanuel Fernando Reis de Jesus que despertou meu encantamento pela

Climatologia. Ao professor Marco Antônio Tomasoni pelo exemplo como professor

principalmente pela atuação em atividades de campo e como cidadão.

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Ao professor Francisco Jairan Dionizio Pedro pelas incontáveis horas me

orientando para que eu conseguisse compreender a Estatística por trás dos

números que eu tanto necessitava.

A um anjo que o colegiado de Geografia nos deu (sim, ele é todo nosso).

Nilton.

Aos colegas do IBGE, um agradecimento mais do que especial a José

Henrique Villas Boas, primeiro grande Geógrafo que tive contato e Francisco

Fortunato que infelizmente não permaneceram entre nós para ver esse momento,

Helge, Fernando, Tânia, Ronaldo, Gatto, Bernardo, Glailson e Nelson. Aos colegas

da CPRM, Erisson e Karla e da Casa dos Ventos.

Ter excelentes orientadora e co-orientador já uma honra, ter vários

orientadores é um luxo. Um agradecimento imenso aos colegas da Meteorologia

do INEMA: Heráclio, Mary, Aldirio, Diva e Alisson, que terão um altar em minha

casa onde irei rezar por eles todos os dias, de tanto que me ajudaram.

Agradeço especialmente ao professor Fabricio Daniel dos Santos Silva,

pelo auxilio com os dados faltantes da série temporal do INMET.

Aos meus credos.

MUITO OBRIGADO.

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LISTA DE SIGLAS

AB - Alta da Bolívia;

DOL - Distúrbios Ondulatórios de Leste;

ENOS - El Niño Oscilação Sul;

FUCEME – Fundação Cearense de Meteorologia

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia;

ICAT – Instituto de Ciências Atmosféricas;

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change;

mEa - Massa Equatorial Atlântica;

mEc - Massa Equatorial Continental;

mPa - Massa Polar Atlântica;

mTa - Massa Tropical Atlântica;

mTc - Massa Tropical Continental;

NOAA – National Centers for Environmental Information;

OMM - Organização Meteorológica Mundial;

OAN – Oscilação do Atlântico Norte;

ODP - Oscilação Decadal do Pacífico;

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente;

ROC - Radiação de Ondas Curtas;

UFAL – Universidade Federal de Alagoas;

UFBA - Universidade Federal da Bahia;

VCAN - Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis;

ZCAS - Zona de Convergência do Atlântico Sul;

ZCEN - Zona de Convergência do Leste Nordeste;

ZCIT - Zona de Convergência Intertropical.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Massas de ar atuantes sobre o Brasil..................................................26

Figura 2 - Avanço de frente fria sobre Nordeste...................................................28

Figura 3 - Posicionamento da ZCIT......................................................................29

Figura 4 - Formação do VCAN.............................................................................30

Figura 5 - Linhas de Instabilidade.........................................................................31

Figura 6 – DOLs....................................................................................................32

Figura 7 – Nuvens provenientes de brisa marítima..............................................33

Figura 8 - Esquema de ilha de calor.....................................................................35

Figura 9 – Mapa de Localização da Área de Estudos..........................................45

Figura 10 – Remanescentes de Vegetação..........................................................46

Figura 11 – Mapa Hipsométrico............................................................................47

Figura 12 – Classificação Climática de Köppen....................................................48

Figura 13 - Classificação Climática de Thornthwait & Matter................................49

Figura 14 - Script para processamento de dados pelo R......................................56

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................ 9

ABSTRACT ........................................................................................................................................ 10

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 11

1.1 Objetivo Geral ........................................................................................................................... 15

1.1.1 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 15

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 16

2.1 As Oscilações Climáticas ............................................................................................................ 16

2.1.1 Variabilidade e Ritmo Climático ............................................................................................. 17

2.1.2 Mudança Climática ................................................................................................................. 21

2.2 Climatologia Regional ................................................................................................................ 23

2.2.1 Massas de Ar .......................................................................................................................... 24

2.2.2 Sistemas Atmosféricos ........................................................................................................... 26

2.2.2.1 Frente .................................................................................................................................. 27

2.2.2.2 Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) .......................................................................... 28

2.2.2.3 Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) .......................................................................... 29

2.2.2.4 Linhas de Instabilidade ........................................................................................................ 31

2.2.2.5 Distúrbios Ondulatórios de Leste - DOL ............................................................................... 32

2.2.2.6 Brisas Marítimas e Continentais .......................................................................................... 33

2.3 Climatologia Local ..................................................................................................................... 34

2.4 Tendência Climática .................................................................................................................. 36

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 40

4. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 49

4.1 Pensamento Estatístico ............................................................................................................. 49

4.1.1 Geografia Quantitativa ........................................................................................................... 50

4.1.2 Série Temporal ....................................................................................................................... 51

4.2 Metodologia de Análise de Tendência ...................................................................................... 53

4.3 Dados dos fenômenos climáticos .............................................................................................. 56

5. RESULTADOS .............................................................................................................................. 58

6. DISCUSSÕES ............................................................................................................................... 76

7. CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 81

8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 83

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RESUMO

Tragédias resultantes de eventos pluviométricos frequentemente assolam

a cidade de Salvador (BA) e influenciam severamente em sua dinâmica social.

Desde 1903, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mede os índices de

pluviosidade em uma estação meteorológica convencional em Ondina e detém um

intervalo de dados que proporciona a possibilidade de análises climáticas de escala

local. Este trabalho preocupou-se em investigar através de técnicas estatísticas o

comportamento climatológico dos registros de chuva na cidade e relacionar tais

ocorrências com mecanismos atmosféricos, que influenciam na realidade

meteorológica de Salvador. A partir da análise de tendência utilizando o teste de

Mann-Kendall, pode ser observado que houve modificação no padrão climático nos

55 anos de dados pluviométricos utilizados neste trabalho e que essas

modificações parecem apresentar relações com temperaturas de superfície do mar,

ciclos da atividade solar e efeitos da urbanização em desarmonia com o meio

ambiente.

Palavras chave: Tendência climática; Precipitação; Fenômenos atmosféricos;

Climatologia Dinâmica; Mudanças Climáticas.

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ABSTRACT

Tragedies resulting from pluviometric events frequently devastate the city of

Salvador (BA) and severely influence its social dynamics. Since 1903, the Instituto

Nacional de Meteorologia (INMET) has measured the rainfall indexes at a

conventional meteorological station in Ondina and has a range of data that provides

the possibility of climate analyzis on a local scale. This thesis is concerned with

investigating by statistical techniques the climatological behavior of rainfall records

in the city and relating such occurrences with atmospheric mechanisms, which

influence the meteorological reality of Salvador. From a trend analysis that uses the

Mann-Kendall test, it can be observed that there was a change in the climatic pattern

in the 55 years of rainfall data used in this study and that this change apparently has

relations with the sea surface temperatures, sun’s cycles activity and effects of

urbanization in disharmony with the environment.

Keywords: Climate trend; Precipitation; Atmospherics Phenomena; Dynamic

Climatology; Climate Change.

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1. INTRODUÇÃO

Historicamente, o homem observou o tempo para desenvolver suas

culturas, principalmente em relação as atividades agrícolas; essas observações

foram catalogadas, posteriormente, por Meteorologia.

De acordo com Mendonça & Danni-Oliveira (2007), a Meteorologia passou

a pertencer ao ramo da Física, sendo de sua competência o estudo dos fenômenos

isolados da atmosfera. Por sua vez, o tempo atmosférico é o estado momentâneo

da atmosfera em um dado instante e local. Dessa forma pode ser entendido que

compreende à Meteorologia, o estudo do conjunto de elementos que caracterizam

a atmosfera em determinado momento.

A Climatologia surgiu posteriormente à consolidação e sistematização da

Meteorologia. Segundo Mendonça & Danni-Oliveira (2007), este ramo desenvolve-

se voltado para o estudo da espacialização dos elementos e fenômenos

atmosféricos e de sua evolução.

Com o amadurecimento desta ciência, surgiu a preocupação em

compreender, baseado em estudos de tempos pretéritos, as características

atmosféricas das localidades em longos períodos de tempo. Essa forma de estudo

desenvolveu a ciência nomeada por Climatologia, a qual se preocupa em estudar

o clima.

A Climatologia constitui o estudo científico do Clima. Ela trata dos

padrões de comportamento da atmosfera em suas interações com

as atividades humanas e com a superfície do Planeta durante um

longo período de tempo (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, p. 15,

2007)

Este longo período de tempo é citado por Cavalcanti et al. (2009) como

sendo um período de no mínimo 30 anos. Os autores afirmam que “Clima é aquilo

que esperamos; tempo é o que sentimos”. De fato, o Clima abrange uma sucessão

de eventos em uma escala de tempo que pode ultrapassar tanto a percepção

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humana quanto os registros de medições do tempo atmosférico; como ocorre com

os estudos paleoclimáticos que utilizam diferentes meios para estimar os climas do

passado, como os registros geológicos por exemplo.

Eventos atmosféricos do passado geológico deixaram registrados de

maneira natural no modelado do relevo, nas formações rochosas, na vegetação, ou

nas características do gelo em locais propícios para sua manutenção; estes

registros possibilitam a reconstrução de cenários pretéritos do paleoclima e

favorece o levantamento de hipóteses quanto às modificações nos padrões

climáticos que teriam ocasionado as mudanças climáticas.

De acordo com Nunes (1998), a ordem de grandeza proposta para

abordagem do clima pode ser complexa, dividida nas seguintes 5 divisões: Clima

Zonal, Clima Regional, Clima Local (ou Mesoclima), Topoclima e Microclima. Para

concepção deste trabalho, embora este seja produto de uma análise do Clima Local

da cidade de Salvador (BA), faz-se necessário compreender escalas hierárquicas

maiores como o Clima Zonal e o Regional, pois estes permitem a observação de

fenômenos que influenciam diretamente na realidade meteoroclimática da área.

Em modos gerais, o estado da Bahia localiza-se em uma Zona Climática

Tropical, porém, não há uma homogeneidade na distribuição de chuvas em todo

seu território, variando de 300 à 2.000 mm ao ano de acordo com Cavalcanti et. al.

(2009).

A faixa leste do estado da Bahia é banhada pelo Oceano Atlântico, que

influencia no conforto térmico observado no litoral e confere o Clima Litorâneo

Úmido a essa região. Os efeitos da maritmidade proveniente das águas quentes da

corrente do Brasil, que banha o litoral baiano, conferem um Clima ameno durante

todo ano para a cidade. São observadas duas estações bem definidas, uma

chuvosa (no outono e início do inverno) e outra menos úmida (na primavera e

verão).

Na faixa central do estado, concentra-se uma grande área de semiárido do

Brasil, localizado em depressões interplanálticas, que favorecem os baixos índices

de precipitação e altos níveis de evapotranspiração; planaltos impedem a

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passagem da maior quantidade de umidade tanto de leste, quanto de oeste, o que

confere a esta área a tipologia climática de Semiárido Tropical.

Ao oeste do estado, persiste a influência da Massa Equatorial Continental,

oriunda da região amazônica, o que atribui à toda borda ocidental do estado um

Clima Tropical, também com dois períodos bem definidos, chuvoso no verão e seco

nas demais estações.

Além dos sistemas atmosféricos regionais atuantes, existem alguns

fenômenos globais, com alta variabilidade que influenciam no clima, como por

exemplo as fases positiva e negativa do El Niño Oscilação Sul (ENOS), originados

das modificações de temperatura da superfície do mar (TSM) do Oceano Pacífico,

e o Dipólo do Atlântico, fenômenos relacionado as anomalias da TSM no Oceano

Atlântico, que serão abordados especificamente na revisão bibliográfica.

Em produto aos processos de uso inadequado do solo, principalmente em

ambiente urbano, os efeitos catastróficos dos elementos meteorológicos mostram-

se cada vez mais frequentes. Atualmente, a academia confere grande atenção às

origens dos eventos extremos meteorológicos e muitos trabalhos atribuem ao

homem a responsabilidade por alterar o sistema atmosférico, como pode ser

observado em Cavalcanti et al. (2009). De acordo com esta linha de raciocínio, os

processos de desmatamento, queimadas, modificações em formas de relevo,

construções de barramentos artificiais das correntes de ar como os corredores de

prédios, represamento de água em grandes áreas antes vegetadas,

impermeabilização do solo, entre outros, são fatores levados em consideração na

modelagem de evolução do clima.

Salvador é uma das maiores concentrações urbanas do Brasil. Durante

todo ano a cidade tem registros de chuva, sendo frequentemente úmida. O

desenvolvimento do presente trabalho expõe uma ocorrência concreto perceptível

à atualidade da população soteropolitana, o fato de que em quase todos os anos,

no período entre os meses de abril a junho, a cidade é atingida por chuvas

torrenciais, o que poderá ser confirmado através da análise de dados

pluviométricos.

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De acordo com Molion & Bernardo (2002) frentes frias, perturbações

ondulatórias, complexos convectivos, brisas marítimas e terrestres influenciam na

caracterização climática da cidade e na formação de outros fenômenos em escala

local. Os autores ainda afirmaram existir uma zona de convergência que se forma

sobre o Atlântico, em direção à costa leste do Nordeste brasileiro, entre os meses

de abril a junho, juntamente com um cavado raso em níveis médios. Tal zona de

convergência, trata-se do mesmo mecanismo de formação da Zona de

Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), nomeada pelos autores por Zona de

Convergência do Leste Nordeste (ZCEN) impulsionada por frentes frias em razão

do deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) em direção ao

Hemisfério Norte. A ZCEN deslocada ao norte, aliada a frentes frias e as massas

de ar úmidas do Oceano Atlântico, resulta em um período de chuvas torrenciais na

costa leste do Nordeste, em latitudes de até 12º, o que contempla a cidade de

Salvador (BA).

Em outros períodos do ano são comuns as brisas marítimas transportarem

umidade para o continente que resulta na formação de nebulosidade e

consequentemente em chuvas espaças que conferem um ambiente úmido no

decorrer das estações na cidade.

No ano de 2015, Salvador apresentou um dos maiores valores de chuva

acumulada que se tem registro para os meses de abril e maio. Os elevados valores

dos totais pluviométricos ocorridos naquela época resultaram em catástrofes no

meio social que repercutiram massivamente nos meios midiáticos em todo país.

Naquele ano, ocorreu o mês de maio mais chuvoso observado pela estação

meteorológica de Ondina (INMET), que registrou 639 mm, superando o maior

resultado anterior, em 1973, de 599,9 mm.

Assim como em outros anos, em 2015 ocorreram catástrofes como

resultados das fortes chuvas; dessas tragédias resultaram-se perdas estruturais de

habitações que desabaram em deslizamentos de encostas e, nos casos mais

graves, perdas de vidas humanas. Entretanto, embora seja o mais recente

acontecimento, ocorreram em momentos pretéritos outros acontecimentos, em

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diferentes meses, tão ou mais intensas que o registrado em 2015, com severo

impacto sobre o contexto social.

1.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo principal a análise do comportamento das

chuvas que atingiram a cidade de Salvador no período de 55 anos, entre 1961 e

2015, a partir de mensurações efetuadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia

(INMET), através da estação meteorológica de Ondina.

1.1.1 Objetivos Específicos

A partir da análise do comportamento das chuvas, utilizando-se de métodos

e técnicas estatísticas espera-se identificar anos e meses com maiores e menores

concentrações e totais de chuvas.

Após análise do comportamento pluviométrico no período de estudo será

possível efetuar os testes para avaliação de tendência estatística dos dados. Os

resultados desta etapa permitirão afirmar a ocorrência de uma modificação no

padrão climático ao qual a cidade está exposta, poder afirmar se houve aumento

ou diminuição dos totais pluviométricos e relacionar com fenômenos climáticos a

fim de encontrar causas para as mudanças que venham a ser detectadas nos

padrões climáticos.

Para tal, será imprescindível compreender e expor as relações do sistema

atmosférico atuantes sobre a área de estudo, pois só a partir da conexão entre os

elementos e fatores climáticos que será possível afirmar quais os motivos de

modificações do clima

A partir dos resultados espera-se chamar atenção para a seriedade do

estudo e compreensão do clima, busca-se a conscientização da população e

chama atenção do meio acadêmico para maior aproximação ao tema a fim de

difundir os assuntos relacionados à Climatologia para que a sociedade possa

conviver de forma harmoniosa com os eventos naturais.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O clima é uma construção dinâmica, mutável, móvel. Embora os alicerces

estruturais deste trabalho sejam pautados em análises estatísticas de dados

pluviométricos, o clima não pode (e não deve) ser caracterizado por números que

engessam a compreensão da sua dinâmica. Mais importante que as análises

estatísticas, deve ser a interpretação dos dados para não cair em vícios da

Climatologia Clássica, onde as médias, máximas e mínimas eram os elementos

fundamentais para a caracterização climática.

Dessa forma, será adotado para analisar e refletir sobre o clima de

Salvador, a proposta da Climatologia Dinâmica de Monteiro (1991), onde entende-

se o Clima como um sistema aberto, quando há interferência de agentes externos,

adição e subtração de elementos, com inúmeros processos que se relacionam e

resultam no tempo atmosférico. Segundo Monteiro (1991) o clima é o

comportamento atmosférico sobre um dado lugar, o que se contrapõe a conceitos

como o de Ayoade (1996), clássico da Climatologia introdutória, onde clima é a

síntese dos estados médios da atmosfera em dado lugar em um período entre 30

e 35 anos.

Antes de se aprofundar na construção de um cenário climático influente

sobre a cidade de Salvador, vale ressaltar a diferença entre dois conceitos de

fundamental importância para a discussão da dinâmica atmosférica inseridas nas

oscilações climáticas. Tratam-se da variabilidade e mudança do clima.

2.1 As Oscilações Climáticas

Em razão deste trabalho entender o clima como dinâmico, é necessário que

se tenha em mente que existem oscilações que podem ser consideradas naturais,

em razão das forças da natureza de origem cósmica até atividades bióticas; e em

razão das atividades antrópicas em escalas locais, como o estabelecimento de

grandes centros urbanos.

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2.1.1 Variabilidade Climática

Como já dito anteriormente, o clima embora estável, é variável. Em razão

de apresentar estados múltiplos no decorrer do tempo, exibe desvios positivos e

negativos em relação a uma média estatística. Tais desvios são resultados de

alguns processos, inclusive cósmicos, que interferem no sistema atmosférico.

Entre os elementos que interferem no comportamento do clima, podem ser

citados pelo menos quatro mais importantes.

O primeiro deles é a radiação solar. A incidência solar sobre a superfície

obedece aos ciclos que ele atravessa, com maior ou menor atividade, impactando

principalmente nas temperaturas dos oceanos e pressão atmosférica, que resultam

em diversos elementos capazes de causar variações climáticas.

O segundo elemento é o albedo terrestre. O Sol emite radiação

eletromagnética em comprimento de ondas curtas. O albedo é a o percentual de

Radiação de Ondas Curtas (ROC) que é refletida pelo Planeta. De acordo com

Molion (2008), cerca de 90% do ROC que atinge superfícies congeladas é refletido,

em florestas este valor cai para 12% e em lagos e oceanos para 10%, em média,

visto que esses valores variam em razão do ângulo de incidência solar.

O terceiro elemento que contribui para as variações climáticas são os

oceanos que têm fundamental importância para a caracterização dos climas. Por

exemplo, em ciclos que perduram entre 20 a 30 anos pode ser observado a

Oscilação Decadal do Pacífico (ODP) e eventos com persistência mais curtas como

o ENOS em fases positiva e negativa que perduram entre 6 à 18 meses e

contribuem para flutuações tanto nas temperaturas, como em precipitações

(Molion, 2005).

Por fim, mas não menos importante, o quarto elemento trata-se dos

vulcões. Estes são responsáveis pela maior quantidade de emissão de aerossóis

na atmosfera, provenientes de suas erupções (Molion, 2005). Estes eventos

resultam em resfriamentos planetários em razão do maior adensamento de

partículas na atmosfera, que faz diminuir a incidência solar sobre a superfície

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terrestre. Entretanto, a radiação que ultrapassa a atmosfera enfrenta a mesma

dificuldade para retornar ao espaço extraterrestre, resultando em intensificação do

efeito estufa (Ribeiro, 1996).

O clima, assim como as músicas, possui ritmos. Uma linha do tempo

meteorológico, pode ser entendida como uma partitura musical, onde símbolos

representam, em intervalos de tempo, os acordes. Assim como na música, o clima

demonstra seus diferentes ritmos, com períodos mais intensos, outros mais

monótonos, de forma natural, regido pela força da energia de entrada no sistema

atmosférico, o Sol (Monteiro, 2001).

A atmosfera apresenta comportamentos constantemente oscilantes e

mutantes, exprimindo seu comportamento em estados “momentâneos”, o que de

acordo com Monteiro (2001) a torna a esfera mais dinâmica entre as esferas

terrestres.

Em suma, em sua mutabilidade constante as condições

atmosféricas são o movente por excelência, podendo associar-se

ao próprio fluir do tempo que escoa, que flui initerruptamente

(MONTEIRO, p. 140, 2001).

Natural então, por assim dizer, que cada momento atmosférico seja único.

Não são repetidas as condições exatamente iguais de temperatura, pressão,

direção e intensidade de vento, radiação solar, nebulosidade, emissão de gases

provenientes de atividades antrópicas, enfim, as condições podem ser

semelhantes, mas cada tempo atmosférico é único em um ritmo do clima

Se houver a compreensão do clima como um sistema, podemos aceitar que

toda e qualquer modificação que ocorra em seus elementos e fatores, resultará em

alterações em seus efeitos, um sistema de processos-resposta com elevado

número de componentes e controles responsáveis por tais variabilidades, a

depender da escala temporal e espacial da interferência.

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...à medida que se percebem as correlações complexas e uma

concepção mais comportamental e complexa do clima é que nos

damos conta de como os estados de tempo oscilam, admitem

desvios e produzem ‘acidentes’, que não podem ser considerados

excepcionais. Mesmo os mais graves, por vezes catastróficos, se

estatisticamente poderiam ser tomados como ‘ruídos’, seu impacto

local ou regional e a reação em cadeia que se lhes segue, fazem

com que eles não possam ser descartados. E sobretudo por suas

repercussões socioeconômicas, tanto por injúrias imediatas como

pelo efeito de ‘desregularização’ da produção agrícola, do sistema

hidroenergético, da rede de transportes, etc. ... (MONTEIRO, p. 19

1991).

O Homem, como elemento do sistema, está diretamente sujeito ao ritmo

climático em razão da sociedade ser dependente dos estados momentâneos

atmosféricos e consequentemente, do clima:

Há que considerar-se que o Homem, quer como ser vivo biológico,

quer como executor de trabalhos, sobretudo no cultivo da terra, está

sujeito a ritmos e ciclos bióticos que não podem ignorar o que as

oscilações climáticas oferecem em situações extremas (Excessos

ou carências), acidentais e catastróficas, que por não serem tão

habituais causam impactos e significam riscos que não podem ser

ignorados (MONTEIRO, p, 147, 2001).

De fato, o Homem é estritamente dependente das oscilações. Todo meio

de produção agrícola é vinculado aos regimes de chuva e incidência solar. Mesmo

havendo, atualmente, técnicas suficientes para reproduzir climas artificiais através

de irrigações ou salas com simulação de temperatura, os produtos desenvolvem-

se em áreas propícias a eles.

Além das necessidades relacionadas à produção e, consequentemente, à

economia, o Homem é fortemente afetado quando as oscilações se revelam por

meio de extremos que resultam em catástrofes.

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Dada a fragilidade dos meios geográficos submetidos a longos

processos de ocupação humana, sobretudo aqueles marcados pela

pobreza, as consequências e os efeitos é que estão se agravando

cada vez mais (RIBEIRO, p. 76, 1996).

De fato, em ambiente urbano, os deslizamentos de encostas e

soterramentos atingem principalmente a população menos favorecida das cidades;

em Salvador, em razão dos processos históricos de ocupação, a população se

destaca pela pobreza.

As variações do clima, embora atualmente divulgadas com grande

preocupação pela mídia, tratam-se de fenômenos naturais que não significam

necessariamente mudanças climáticas (Ribeiro, 1996).

A variabilidade é uma característica inerente aos fenômenos

meteorológicos. Nenhum deles atua isoladamente. Eles resultam

de múltiplas interações entre si e de interações com o meio

geográfico. Qualquer modificação inicial em um deles desencadeia

modificações nos demais, que acabam por repercutir no meio físico

e biológico (RIBEIRO, p. 72, 1996).

É comum observar a mídia, principalmente televisiva, divulgar notas como:

“Volume de chuvas em Salvador é o maior registrado em maio desde 1995” (G1,

2015); o que causa grande alarde na população. Porém, na escala de tempo

apropriada para análise do clima, em 10 anos não é possível afirmar se houve uma

modificação significativa no reconhecido “padrão”. Tais variações climáticas

(padrões), sugerem a flutuação dos dados, uma ligeira variação do tempo, que

passam dos limites médios mensurados, por vezes ultrapassam os valores

máximos ou mínimos. Porém essas variações podem ocorrer no ritmo climático

perdurando por períodos muito maiores em decorrência natural.

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2.1.2 Mudança Climática

De acordo com Ribeiro (1996), mudanças climáticas significam alterações

persistentes que apontam para modificações das condições atmosféricas a longo

prazo em uma determinada direção. Porém, essa persistência a qual o autor se

refere pode se tornar incoerente a depender da escala de tempo adotada para

análise. Mudanças climáticas em escala de tempo geológico, por exemplo,

apresentam-se aparentemente como variabilidades, não sendo persistentes.

Segundo Molion (2008), entre cerca de 800 e 1200 d.C., existem evidências

que o clima era mais quente do que o de hoje. O autor afirma que naquela época,

os nórdicos (Vikings) colonizaram as regiões do norte do Canadá e a ilha chamada

Groenlândia (Terra Verde) e que hoje a maior parte da sua superfície é coberta por

gelo.

O clima manteve-se 2ºC inferiores a temperatura de hoje entre 1350 e

1850, quando a Europa Ocidental presenciou o que é descrito pela literatura como

“Pequena Era Glacial” e em uma parte deste intervalo de tempo a História periodiza

como Idade das Trevas, em razão das condições climáticas que estimularam a

deterioração da cultura e da economia. Entre 1815 e 2000, é possível afirmar que

houve lento aumento das temperaturas globais, embora até 1912 a frequência de

erupções vulcânicas tenha sido alta e de grandes proporções, como as erupções

do Monte Tamborá (1815), Krakatoa (1883), Pelée (1902) e Katmai (1912), após

este período houveram ocorrências menos intensas como Bezymynanny (1956),

Agung (1963), El Chichón (1982) e Monte Pinatubo (1991). Essas erupções

resultaram em aumento do albedo em razão da alta concentração de aerossóis na

atmosfera e consequentemente, diminuição das temperaturas globais (Marengo,

2001; Molion, 2008).

A partir de 1988, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA) e a OMM criaram uma rede de cientistas dedicados a analisar e produzir

conhecimento acerca das mudanças climáticas, o Intergovernmental Panel on

Climate Change (IPCC). Os esforços do IPCC com seus relatórios de avaliação

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resultaram em incentivos para desenvolvimento de pesquisas que atribuem ao

homem as responsabilidades por mudanças no clima em razão das altas taxas de

emissão de gases que potencializam o efeito estufa, principalmente Dióxido de

Carbono, Metano e Óxido Nitroso (Marengo, 2001).

O 4º relatório do IPCC (2007) sugere um aumento de temperatura entre 4

e 6ºC em partes do Brasil até o final do século; em razão disso, o IPCC ainda projeta

para até a segunda metade do século XXI diminuição considerável dos padrões de

chuvas, especificamente para o Nordeste brasileiro.

De acordo com Nobre (2001) em razão dessas modificações sugeridas pelo

IPCC poderão ocorrer modificações nos padrões de chuvas com alterações nas

distribuições e frequências de eventos extremos climáticos. Segundo o autor, o

aumento nas concentrações de gases de efeito estufa tende a reduzir a eficiência

com que a Terra se resfria.

Entretanto quando os vulcões expelem toneladas desses gases por

erupção, a capacidade de incidência solar sobre a superfície diminui, sendo

acompanhada pelas temperaturas.

Além dos vulcões, o Sol apresenta ciclos em suas atividades que interferem

nos padrões climáticos. O Ciclo de de Gleissberg ocorre em um período de cerca

de 90 anos e registra significativos aumentos ou diminuições dos registros das

manchas solares. De acordo com Molion (2008), em 2000 ocorreu o período de

mínima atividade, sendo que existe a possibilidade que haja menores registros até

2018, o que leva a crer que esse ciclo se iniciou entre o final da década de 1950

até o final da década de 1960.

Mesmo com tanto alarde acerca das mudanças climáticas, Nobre (2001)

afirma não haver estudos detalhados à nível regional, que assegurem

conclusivamente que há mudanças ou tendência no clima.

Natural, visto que a grande concentração de estações de medição dos

elementos atmosféricos e consequentemente os dados por elas produzidos,

localizam-se no hemisfério norte, em áreas com influência dos fatores de

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urbanização que resultam em aumento da temperatura local e tendem a enviesar

os dados regionais.

O autor ainda afirma: no concernente às precipitações pluviométricas, não

há indicação de mudanças, sendo possível afirmar apenas a ocorrência de

variações em escalas interanuais e interdecadais. Ao fim, embora defenda a

responsabilidade do homem nas supostas mudanças no clima, conclui que o

fenômeno carece de estudos e atribui isso a dois fatos: o primeiro de ser o Brasil

um país tropical e os efeitos de aumento de temperaturas serem pouco

perceptíveis; o segundo, de haverem problemas supostamente mais graves na

estrutura social do país que recebem maiores atenções, como equidade e justiça

social, visando a eliminação da pobreza.

2.2 Climatologia Regional

Embora não seja objetivo deste trabalho avaliar as condições do clima

regional, faz-se necessário abordar os seus aspectos a fim de, posteriormente,

encontrar relações com os parâmetros locais.

A sucessão local das condições atmosféricas, observadas em vários

pontos de uma região, forma um conjunto com características climáticas que se

assemelham. Esta seria uma síntese do que se entende por clima regional.

Entretanto, para avaliar condições climáticas a tal nível é necessário que haja uma

vasta rede de monitoramento, de modo que se possa abranger tanto a dimensão

espacial para observar as diferenças no decorrer da extensão da Terra; como a

dimensão temporal, a fim de respeitar o conceito de clima (Andrade & Lins, 1970).

Entretanto, para abordar o Clima Regional, faz-se necessário compreender

mecanismos atmosféricos que influenciam na caracterização.

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2.2.1 Massas de Ar

Em decorrência das características físicas atmosféricas de uma

determinada área, tais como temperatura da superfície e umidade, são formadas

as massas de ar predominantes. As massas de ar são grandes porções bem

individualizadas, formadas entre 0 e 3.000 m de altitude, área conceituada como

camada geográfica da atmosfera (Andrade & Lins, 1970), em razão da grande

influência dos fatores geográficos.

A formação das massas de ar ocorre a partir da incorporação pelo ar das

propriedades físicas particulares, relativamente uniformes, de extensões terrestres

ou marinhas. Dessa forma, o ar superior ajusta-se às condições de temperatura e

umidade adquiridas da região de origem, ajustando-se em razão das variações

dimensionais do espaço geográfico com as características as quais a massa de ar

se desenvolve, aquecendo-se ou resfriando-se a partir da base.

Sendo deslocadas na circulação geral, a tendência é que as massas de ar

percam gradativamente as propriedades adquiridas em suas origens, embora

transportem as características originais, impondo às regiões suas propriedades.

Existem cinco massas de ar atuantes sobre o Brasil, duas com origem

continental e três com origem marítima e exercem grande influência sobre

diferentes localidades (figura 1).

A Massa Equatorial Continental (mEc) tem origem sobre a região

amazônica cujo ar movimenta-se por convergência e advecção. A mEc é

alimentada pela área de maior umidade relativa da América do Sul, a região

amazônica, que embora seja continental, as médias térmicas anuais mantem-se

entre 24 e 25ºC enquanto a umidade relativa oscila entre 85 e 95%, características

de massas de ar marítimas (Andrade & Lins, 1970).

Ainda com origem equatorial, a Massa Equatorial Atlântica (mEa)

apresenta propriedades semelhantes a mEc, porém a origem, o comportamento

anual e sua área de expansão são diferentes. A mEa é gerada principalmente a

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partir da convergência dos alísios boreais em área de baixa pressão responsável

por maior parte das chuvas no setor norte do Nordeste.

A Massa Tropical Atlântica (mTa) é uma das mais importantes em relação

aos impactos causados em território brasileiro. A partir dessa massa de ar que a

umidade proveniente do Oceano Atlântico é transportada para o continente,

conferindo a cidade de Salvador, ambientes amenos em relação a temperatura e

umidade que de acordo com o INMET apresentam médias de 25,4ºC e 81,2%

respectivamente, no período de estudo referente a este trabalho.

Sobre o continente, na Baixa do Chaco, forma-se a Massa Tropical

Continental (mTc), com propriedades quente e seca. Esta, influencia principalmente

as regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil, lhes conferindo momentos de calor

excessivo e ar seco.

Por fim, oriunda da região polar do hemisfério sul, a Massa Polar Atlântica

(mPa), tem por característica ser fria. Essa massa de ar se expande durante todo

ano, porém no inverno quando as temperaturas declinam no hemisfério sul tem

maior deslocamento ao norte, o que possibilita duas vertentes de evolução. A

primeira, pelo continente, sobre a fronteira brasileira com os países do sul da

América do Sul, podendo atingir até as baixas latitudes amazônicas. A segunda

enfrenta menores fatores, expande-se através da costa brasileira e sobre o Oceano

Atlântico, também atingindo o litoral oriental nordestino.

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FIGURA 1 – MASSAS DE AR ATUANTES SOBRE O BRASIL

2.2.2 Sistemas Atmosféricos

As relações entre as massas de ar são expostas pelos sistemas

atmosféricos. Por não ser o objetivo deste trabalho, não serão expostos os sistemas

atmosféricos atuantes sobre o Brasil, serão descritos apenas os sistemas que

exercem influência sobre a região Nordeste, onde se localiza a cidade de Salvador,

a fim de servir como base para as discussões.

Figura 1 – Massa equatorial atlântica (mEa); Massa equatorial continental (mEc); Massa tropical continental (mTc); Massa tropical atlântica (mTa); Massa polar atlântica (mPa). Fonte: Figura adaptada a partir de Mendonça e Danni-Oliveira (2007). Originalmente os autores sugerem divisão da mTa e mEa em norte e sul, o que é generalizado neste trabalho por entender que as condições regionais para formação das supracitadas massas são similares. Adaptação: Vinícius M. Da Rós, 2017.

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2.2.2.1 Frente

Quando duas massas de ar de diferentes propriedades entram em contato,

geram-se zonas descontínuas ou “frentes”, onde de maneira brusca ocorrem

variações das propriedades de cada massa.

As frentes frias são bandas de nuvens organizadas que se formam

na região de confluência entre uma massa de ar frio (mais densa)

com uma massa de ar quente (menos densa). A massa de ar frio

penetra por baixo da quente, como uma cunha, e faz com que o ar

quente e úmido suba, forme as nuvens e, consequentemente, as

chuvas (FERREIRA & MELLO, p, 20, 2005)

Comumente ocorrem avanços de frentes frias, oriundas da mPa (frio) sobre

o oceano Atlântico em contato com a mTa (quente), durante todo ano, porém

ocorrem em dois períodos característicos. O máximo de eventos ocorre no inverno,

quando as frentes atingem até o litoral oriental do Nordeste (Andrade & Lins, 1970;

Cavalcanti et al, 2009). Porém, o avanço das frentes frias até latitudes tropicais

ocorre também com intensidade entre os meses de novembro a março (Ferreira e

Mello, 2005; Molion & Bernardo, 2002)

De acordo com Hounsou-Gbo et. al (2015) entre os meses de novembro e

março as frentes podem se associar com o mecanismo da ZCAS. Entre abril e junho

ocorre favorecimento ao avanço das frentes em sentido nordeste em razão das

temperaturas mais baixas, em relação ao verão do hemisfério sul, tanto do oceano

como do continente, impulsionando o mecanismo de formação da ZCAS no mesmo

sentido. Porém, ao estabelecer-se sobre a costa leste da região nordeste,

geralmente no mesmo período, esta zona é nomeada como ZCEN de acordo com

Molion & Bernardo (2002).

A formação deste sistema intensifica o escoamento de sul na média

troposfera. Um exemplo de frente fria pode ser observado pela figura 2, em avanço

sobre o sul do Nordeste onde claramente observa-se o alinhamento de nuvens em

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sentido noroeste sudeste (linha em cor azul) avançando, forçando a entrada sob a

massa de ar quente. Deste contato resulta a ascendência da massa de ar quente

sobre a massa de ar frio e na área de contato a formação de chuvas frontais.

Figura 2 - Avanço de Frente Fria sobre o sul do Nordeste. Fonte: CPTEC-INPE.

2.2.2.2 Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)

O contato com duas massas de ar não garante a formação de uma frente.

Originada da confluência entre os alísios de sudeste (no Hemisfério Sul) e nordeste

(no Hemisfério Norte) em baixos níveis, a ZCIT é resultado da ascendência do ar

úmido na faixa equatorial ao redor do globo terrestre, formando uma espessa

cadeia de nuvens de grande desenvolvimento vertical (figura 3).

Essa faixa migra sazonalmente de sua posição, atraída pelas temperaturas

mais altas sobre os oceanos, o que faz com que seja atuante nos verões no

hemisfério sul e hemisfério norte respectivamente, sendo o principal gerador de

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precipitações sobre a região equatorial dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico,

assim como em áreas continentais e muito atuante sobre o norte do Nordeste

brasileiro (Ferreira & Mello, 2005; Hounsou-Gbo et. al., 2015).

Figura 3 - Posicionamento da ZCIT sobre o Norte e Nordeste do Brasil. Fonte: CPTEC – INPE. Data: 04/03/2017.

2.2.2.3 Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN)

Os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) são sistemas de baixa

pressão, que atuam entre os meses de dezembro a fevereiro, e registram alta

subsidência no centro, onde tornam a pressão em baixos níveis alta, e

convergência nas periferias. Este sistema origina-se no oceano Atlântico,

geralmente na direção da costa leste do Nordeste, e podem deslocar-se tanto em

sentido oeste como leste.

O mecanismo de formação dos VCANs é associado a ocorrência de um

núcleo de alta pressão (Alta da Bolívia), sobre a faixa centro oeste do continente

sul americano em razão da grande quantidade de calor liberado pela convecção

das frentes frias (Cavalcanti et al, 2009). Os ventos deslocam-se da Alta da Bolívia

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por advecção em direção ao VCAN uma área de baixa pressão, ambos em altos

níveis. Ao acumular no centro do VCAN, o ar sofre subsidência em razão do

gradiente térmico e impedem a formação de nebulosidade.

É possível observar os VCANs a partir da sua forma ciclônica (giro no

sentido horário), do acúmulo de nuvens em sua periferia, onde ocorrem chuvas, e

a inibição da formação nebulosa ao centro impedindo ocorrência de precipitações

(Ferreira & Mello, 2005). Dependendo da posição do centro de ação, poderá ser

intensificado o fenômeno da seca em razão da estiagem neste setor.

A figura 4 mostra esta configuração, localizada sobre o litoral no Nordeste,

associada ao avanço de uma frente fria (linha em cor azul) e a uma área de alta

pressão (A).

Figura 4 - Formação do VCAN sobre litoral do Nordeste, associado ao avanço de Frente Fria e a Alta da Bolivia. Fonte: CPTEC – INPE.

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2.2.2.4 Linhas de Instabilidade

De acordo com Gamache & Houze (1982) uma linha de instabilidade

tropical é a porção frontal de um distúrbio em mesoescala. Ela consiste

basicamente de nuvens que em geral possuem bastante umidade.

Estes sistemas formam-se ao longo da costa das regiões Norte e Nordeste

como resultado de convecção induzida pela brisa marítima. Ocasionalmente esses

sistemas propagam-se continente adentro, alcançando a cidade de Manaus e até

a encosta dos Andes, cerca de 48 horas após sua formação (Garstang et al, 1994).

Figura 5 - Linhas de instabilidade no litoral norte da região Nordeste. Fonte: CPTEC - INPE.

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2.2.2.5 Distúrbios Ondulatórios de Leste - DOL

Os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) são resultado de interferências

de outros sistemas, como as Frentes sobre o Oceano Atlântico, que desorganizam

a estrutura dos Alísios e geram perturbações principalmente entre os meses de

junho e agosto.

Em razão do posicionamento do Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul, pode

ocorrer intensificação turbulenta dos ventos alísios de sudeste. Como

consequência formam-se ondulações na retilineidade desses ventos que se

propagam sobre o oceano em direção ao continente sul americano transportando

umidade que resultam em significativos totais pluviométricos na costa leste do

Nordeste (Molion & Bernardo, 2002).

Os DOLs (figura 6) originam-se na costa ocidental africana e atravessam o

oceano Atlântico em baixa e média troposfera, a aproximadamente 10m/s

(Cavalcanti et al, 2009).

Figura 6 – Nebulosidade associada aos DOLs, em direção a Salvador. Fonte: CPTEC - INPE.

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2.2.2.6 Brisas Marítimas e Continentais

Durante o dia o continente é aquecido mais rápido do que o oceano,

transformando o primeiro em uma área com baixa pressão em relação ao segundo.

Em razão da circulação atmosférica ocorrer das áreas de alta pressão para as

áreas de baixa pressão, produz-se um gradiente que proporciona a circulação

superficial de ar do oceano para o continente, sendo considerado como brisa

marítima.

A figura 7 exemplifica a formação de aglomerado de nuvens na faixa norte

e leste da região Nordeste, sobre o continente, associada à umidade trazida pelas

brisas marítimas (nuvens delimitadas pelo polígono amarelo). A imagem foi

registrada às 18:30h, período aproximado quando se inicia o processo contrário e

os ventos continentais fluem em direção ao oceano.

Figura 7 – Brisas Marítimas: Formação de nuvens no setor norte da região Nordeste, sobre o continente. Fonte:CPTEC – INPE.

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Dessa forma as brisas transportam umidade, proporcionando a formação

de nuvens que podem resultar em precipitações, geralmente de curto impacto,

passageiras.

Ao entardecer, o movimento muda a origem e a direção. O continente,

aquecido durante o dia, perde calor mais rapidamente do que o oceano, o que

resulta na circulação de ar do continente para o oceano, em movimento ascendente

que proporciona chuvas sobre o mar, próximo ao litoral continental (Molion &

Bernardo, 2002).

2.3 Climatologia Local

Dentro da compartimentação do clima regional, existem significativas

variações das características em razão das formas e usos da superfície. O clima

local tem as características do clima regional, embora com severas

particularidades. Alguns fatores como proximidade do oceano, abundância de

vegetação, relevo, impermeabilização do solo, influenciam em temperaturas,

distribuição de chuvas e circulação de ventos.

Os centros urbanos são os locais mais afetados pelas modificações na

paisagem e apresentam a superfície terrestre mais intensamente transformadas. A

atividade antrópica produz, quase sempre, inadequada artificialização, altera a

superfície local e produz vulnerabilidades em relação aos eventos naturais, cujos

impactos são potencializados (Gonçalves, 2013).

Entre os impactos causados pelo processo de urbanização em grandes

cidades, faz-se necessário abordar o fenômeno das ilhas de calor. Tal fenômeno é

resultado primeiramente da impermeabilização do solo, impedindo a infiltração de

água; em segundo, o adensamento de materiais aplicados na construção civil que

se apresentam favoráveis ao acúmulo de calor; e o terceiro trata-se da substituição

de elementos naturais, como as árvores e os rios, por praças sem arborização e

canalizações, que impedem a superfície em dissipar calor (Gartland, 2010).

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Em ilhas de calor, a superfície e as estruturas urbanas são aquecidas

durante o dia, quando acumulam calor proveniente do Sol. A noite a energia

acumulada é liberada, tornando possível observar o fenômeno com maior facilidade

(figura 8).

Figura 8 - Esquema de Ilha de Calor onde os ambientes apresentam diferentes temperaturas do solo. Fonte: Adaptada de Head Island Group)

A formação das ilhas de calor pode interferir nos registros pluviométricos

feitos em ambiente urbano. De acordo com Freitas & Dias (2000) com o aumento

da temperatura durante a noite, em relação as áreas não urbanizadas, minimiza-se

a saturação de vapores d’água no ar. Com a adição da poluição emitida pelas

cidades, aumentam-se os núcleos de condensação, porém a massa de água

contida nesses núcleos é menor, o que resulta em menor probabilidade de

precipitar.

As edificações também interferem na dinâmica atmosférica em superfície,

além de acumularem calor, dificultam a circulação dos ventos em ambiente urbano.

Consequentemente há modificações no frescor das cidades em razão do aumento

da temperatura local e minimização da continuidade das correntes internas de

ventos.

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2.4 Tendência Climática

A análise da tendência climática, a fim de encontrar variações do clima,

seja local, regional ou zonal, tem sido vastamente difundida na sociedade

acadêmica. Os resultados destes estudos têm atingido largamente a população

através dos meios midiáticos que alimentam os noticiários com os alarmismos dos

efeitos trágicos das mudanças climáticas.

Entre os pesquisadores que se debruçaram sobre as análises estatísticas

que envolvem a tendência, devem ser discutidas as ideias de alguns que atingiram

notável reconhecimento.

Em Coalkey (1979) foi empregada a análise de tendência em séries

temporais de pluviometria e de temperatura. O objetivo da autora foi justificar um

aumento dos focos da praga Wheat stripe rust (Puccina striiformis West.), uma

doença que infecta as plantações de trigo, em razão de variações no clima regional

que apresentou entre 1961 e 1974 diminuição de 50% das nevascas e aumento

das temperaturas médias em 1,2ºC. A autora utilizou dados provenientes de sete

estações meteorológicas localizadas na costa do noroeste dos Estados Unidos.

No ano seguinte, Jones & Jiusto (1980) efetuaram um estudo comparativo

de tendência climática entre quatro cidades do estado de New York, também

utilizando dados históricos de precipitação. Neste trabalho, os autores dão ênfase

ao período de inverno de uma série de dados pluviométricos e sugerem no decorrer

do texto que o aumento significativo das nevascas poderiam ter se dado em razão

dos intensos processos de urbanização e industrialização na cidade de New York,

resultantes de atividades antrópicas. Entretanto, os autores concluíram que as

relações encontradas foram meramente coincidentes e concluíram que o aumento

nas nevascas estava dentro da normalidade (Jones & Jiusto, 1980).

A partir de Katsoulis & Kambetzidis (1989) é possível observar a aplicação

da análise da tendência climática em uma série pluviométrica de longo prazo. Os

autores utilizaram dados entre 1858 e 1985; seu objetivo foi observar as variações

ocorridas neste período para generalizá-las e compreender os mecanismos

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atmosféricos que proporcionariam flutuações climáticas, além de desenvolver um

modelo de climas pretéritos. Os dados utilizados neste trabalho foram coletados de

uma única estação meteorológica em Atenas (Grécia), em operação desde 1839.

Para Smol & Cumming (2000), não há como ter absoluta certeza se as

modificações climáticas, levantadas em hipóteses acadêmicas são ou não

causadas em resultado as ações antrópicas em razão da enorme gama de variáveis

que podem influenciar tal fenômeno, entretanto, podem ser utilizados métodos de

modelagem do clima no passado para compreender o que acontece no presente.

Foi em cima de uma suposição pretérita, baseada em análise estratigráfica de

rochas sedimentares marinhas, que os autores aplicaram análises de tendência

para interpretar as variações de temperatura registradas em depósitos

sedimentares. Entretanto, este trabalho utiliza-se da escala de tempo geológico,

onde os registros são inexatos, estimados, locais e a partir deles são concebidos

modelos genéricos zonais.

Porém, o início do século XXI é marcado por palavras como “aquecimento

global” e “efeito estufa”. Seguindo esta linha, Groisman et. al. (2004) analisaram

dados de diversas estações meteorológicas localizadas em diferentes países, entre

eles o Brasil e atribuíram a tendência positiva dos eventos extremos detectados ao

aumento da emissão de gases que, segundo os autores, potencializam o efeito

estufa. Entretanto, os autores utilizaram intervalos diferentes de dados para os

países da pesquisa. Para os Estados Unidos da América determinaram que o

intervalo de dados seria entre 1961 e 1990, enquanto que para as estações do

nordeste do Brasil, utilizaram o intervalo entre 1951 e 1980.

Utilizando dados das estações meteorológicas disponíveis no Canadá,

Zhang et. al. (2010) analisaram dados de temperaturas mínimas, máximas, médias

e precipitações totais. As principais constatações dos autores foram as seguintes.

Entre 1900 e 1998 as temperaturas aumentaram entre 0,5 e 1,5ºC no sul do país.

O maior aumento foi observado nas temperaturas mínimas enquanto as máximas

tiveram diminuição na primeira metade do século. Ao oeste do Canadá, os autores

afirmam que houve aumento entre 5 e 35% das precipitações, enquanto, ao norte

do país registrou-se diminuição considerável nas temperaturas. Entretanto, trata-se

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de um trabalho puramente descritivo onde os autores não arriscaram justificar tais

oscilações nos elementos climáticos.

Neste trabalho, será utilizado, especificamente o método de análise de

tendência de Mann-Kendall, um teste não paramétrico, indicado pela Organização

Meteorológica Mundial (OMM) para análises de séries temporais.

O teste de Mann-Kendall tem sido largamente utilizado em pesquisas que

envolvem séries temporais de chuvas ou temperaturas onde são identificadas

modificações negativas ou positivas nos padrões conhecidos. Nesse contexto

podem ser citados Gemmer et. al. (2004) na China, Partal & Kahya (2005) na

Turquia, Krishnakumar et al (2009) na Índia, Río et. al. (2011) na Espanha e Tabari

et. al. (2011) no Iran.

Em Rana et. al. (2012) é possível observar uma maior proximidade com a

proposta desta monografia. Os autores propõem a análise de tendência das séries

de dados pluviométricos, a fim de identificar aumento ou diminuição das

tempestades e impactos nos densos sistemas urbanos de Deli e Mumbai, na Índia.

Os autores detectaram diminuição das chuvas de monções à longo prazo sobre

Nova Deli e Bombaim.

O trabalho mais recente com significativa importância para estudos de

tendência climática utilizando o teste de Mann-Kendall foi o de Yang et. al. (2017),

que utilizou dados de chuvas entre 1960 e 2013 de 96 estações meteorológicas,

apenas na região noroeste da China. Estes autores observaram um significativo

aumento de 0,55mm ao ano e relacionaram os efeitos de fatores climáticos, como

o relevo, nas modificações observadas além de fenômenos zonais como o ENOS.

No Brasil, Blain (2010), produziu uma análise de série temporal de estações

meteorológicas no estado de São Paulo com o exclusivo intuito de buscar

tendências climáticas. Em séries de quatro estações, o autor encontrou tendência

negativa em meses diferentes, enquanto em uma estação houve tendência

negativa dos totais anuais. Apenas em uma estação não houve tendência positiva

na série de dados.

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Em seguida, Blain (2011) desenvolveu um importante estudo de tendência

utilizando o teste de Mann-Kendall, a partir de descrição de séries mensais do

Índice Padronizado de Precipitações, obtidos de quatro estações meteorológicas

no Estado de São Paulo, entre os anos de 1951 e 2010. Entretanto, o autor concluiu

não ter observado tendência significativa na série de dados, porém verificou-se uma

variabilidade temporal dos índices, observada precisamente no mês de outubro,

não se tratando de eventos aleatórios.

Em uma análise de tendência em séries temporais de algumas estações

pluviométricas na Região Metropolitana de São Paulo, utilizando o teste de Mann-

Kendall, Raimundo, Sansigolo & Molion (2014) detectaram uma grande

heterogeneidade entre as mensurações. Em 9 estações observou-se tendência

positiva significativa, 4 delas no verão. Em outras 4 houve leve tendência de forma

negativa, enquanto em 5 estações a tendência negativa foi significativa.

A região Nordeste foi estudada através do trabalho de Nóbrega & Santiago

(2016) que abordou a influência do oceano na variabilidade temporal da

precipitação. A aplicação do teste de tendência foi feita sobre os dados de

temperatura da superfície do mar (TSM) e posteriormente, comparado com os

registros pluviométricos. De acordo com este estudo, foi detectado que houve

mudança nos padrões de pluviometria, com tendência de aumento dos volumes de

chuva. A análise estatística das TSMs permitiu observar que há tendência de

aquecimento sobre o oceano Atlântico sul e encontrou relação entre os índices

negativos da TSM do Dipólo do Atlântico com os fenômenos mais severos da seca.

Sobre a cidade de Salvador, recentemente Santos et. al. (2016) publicaram

o estudo que utiliza a série de dados semelhante a utilizada nesta monografia, entre

1951 e 2011, registrada pela mesma estação meteorológica do INMET. Os autores

utilizaram o teste de Mann-Kendall para efetuar análises da tendência e

identificaram redução no volume de chuvas em escala anual, embora com pouca

significância.

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3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade de Salvador (Figura 9), capital do estado da Bahia é uma das mais

antigas cidades do Brasil. Fundada em 1549, apresentava os mais importantes

elementos para instalação de um centro urbano. A cidade fora instalada em uma

península, no extremo leste do estado. Em seu litoral oriental é margeada pelo

oceano Atlântico e em seu litoral ocidental, por uma vasta baía de origem tectônica

com 200 km de circuito e 1.052 km² de área, a Baía de Todos os Santos (Ab’Sáber,

1952).

O maciço granítico-gnáissico de Salvador, com a escarpa voltada para

oeste, que lhe conferia uma estrutura de fortaleza natural, apresentou-se como o

mais importante dos elementos para estabelecimento da cidade, voltada para o

porto protegido pela Baía de Todos os Santos, por onde eram recebidos os

provimentos vindos de Portugal e demais capitanias (Ab’Sáber, 1952).

De acordo com o último Censo populacional (IBGE, 2010) haviam

2.675.656 habitantes distribuídos sobre os 692,8 km² de área do município, o que

resulta em uma densidade demográfica de 3.859,44 hab/km². A título de

comparação, em 1940 a população da cidade era de 290.000 habitantes (Andrade

e Brandão, 2009), em 1970 o censo indicou 1.007.195 habitantes. O dado

populacional de 2010 representa 922,6% do registrado em 1940, um acréscimo de

2.385.656 habitantes em 70 anos.

De acordo com Gonçalves (2013), relatos acerca dos deslizamentos de

terra resultantes das chuvas em Salvador são observados em inúmeros estudos

relacionados ao crescimento urbano da cidade. Grandes acúmulos pluviométricos

associadas a ocupações inapropriadas em encostas e a eliminação de cobertura

vegetal resultam em desabamentos de habitações da população pobre, tais

ocorrências geram processos de desabitações e vítimas fatais.

Para melhor compreensão da estrutura da cidade e dos impactos causados

pelas chuvas à cidade, faz-se necessário explanar os quatro principais elementos

topográficos presentes em seu relevo de acordo com Ab’Sáber (1952). O primeiro

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elemento, é a planície da Cidade Baixa, em contato com a escarpa da falha; o

segundo é a própria escarpa de linha de falha, com plano exposto e pouco erodido,

que apresenta entre 60 a 80m de altura; o terceiro são as estreitas esplanadas do

topo da escarpa, na cidade alta; e, por fim, os morros mamelonares (colinas),

outeiros e vales, bem marcados do reverso da escarpa.

O terceiro e quarto elementos indicados por Ab’Sáber (1952) representam

importantes detalhes para confecção deste trabalho. Em razão da estrutura

geomorfológica da cidade, mais precisamente da área massivamente ocupada do

miolo de Salvador, ser caracterizada pelas colinas e vales, as principais vias de

transito implementadas entre as décadas de 1960 e 1970 foram feitas aproveitando

as áreas de vale. Este procedimento, embora tenha favorecido um rápido

escoamento de trânsito nos primórdios deste planejamento, também favoreceu a

ocupação em encostas, locais que não são propícios para estabelecimento de

aglomerações e consequentemente, expõe uma significativa parcela da população

aos riscos decorrentes de eventos extremos meteorológicos, além de resultar em

constantes alagamentos nas vias principais, formando, em períodos chuvosos,

intensos congestionamentos que, literalmente, param a cidade (Gonçalves, 2013).

Os dados utilizados para confecção deste trabalho foram extraídos da

estação meteorológica convencional de Ondina, operada pelo INMET Localizada

em uma área de intenso conflito entre o meio natural e o urbano em Salvador, a

estação encontra-se ao centro de uma das poucas reminiscências de área verde

existentes no centro da cidade, onde também estão instalados o zoológico, o

campus da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a residência oficial do

Governador do Estado, envoltos por áreas de grande densidade populacional

(Mapa 2).

A cidade de Salvador localiza-se, em termos vegetacionais, em área

originalmente ocupada pela Mata Atlântica. Segundo Alves et. al. (2015), mais de

46% dos remanescentes de Mata Atlântica mapeados no Nordeste estão na Bahia.

Entre este percentual, grande parte localiza-se no sul do estado enquanto

pequenas porções isoladas, guardam a riqueza desta unidade em solo

soteropolitano.

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Ao entorno desse remanescente de Mata Atlântica em Ondina, instalou-se

um complexo sistema urbano, dividindo-se em bairros1 densamente povoados e

importantes vias de tráfego (Figura 10).

Tais fatores podem influenciar nas medições efetuadas na estação

meteorológica, uma vez que a provável umidade presente no interior da área de

Mata Atlântica não represente a realidade a qual a maior parte da cidade está

exposta, assim como as edificações próximas e o intenso fluxo de veículos emitindo

gases que podem acentuar o efeito estufa, em pequena escala, que podem causar

ruídos tanto nas medições como nos próprios elementos do clima.

Embora esteja a aproximadamente 680 m da área de praia, a estação

meteorológica localiza-se a 51,4 m de altitude, no topo de uma colina (Figura 11),

ponto que pode representar bem as características atmosféricas pontuais, mas

torna-se arriscado eleger como referência para análises regionais. Entretanto, em

razão de ser a única estação local2 com longa série histórica de dados

pluviométricos acessíveis, torna-se a única opção para produção de trabalhos que

abordem temas climatológicos nesta localidade.

O Estado da Bahia localiza-se ao sul da região nordeste do Brasil, em uma

área de transição entre climas com múltiplas influências atmosféricas. De acordo

com a classificação climática de Koppën (Figura 12), é possível identificar no

território baiano três tipos de climas principais.

O primeiro trata-se da classe que representa os climas tropicais chuvosos

de floresta. Esta classe ocorre em duas parcelas do estado. A primeira ocorre a

leste, próximo ao litoral por se tratar de uma área com forte influência dos ventos

úmidos do oceano Atlântico, onde é propícia ao desenvolvimento de vegetação

ombrófila e de fato, onde ocorre a Mata Atlântica. A segunda parcela ocorre ao

1Até a presente data não há uma convenção para determinar os limites oficiais dos bairros de Salvador. Neste texto, a compreensão de bairro parte do conhecimento do cotidiano popular. 2 Existem em Salvador várias estações pluviométricas em atividade, porém nenhuma delas dispõe do intervalo de dados a qual a estação de Ondina disponibiliza.

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oeste do estado, onde há forte influência da massa equatorial continental,

provenientes da floresta amazônica.

A segunda classe trata-se da zona de clima seco, predominante na faixa

central em direção N-S do estado, onde ocorrem as áreas de semiárido.

Por fim, a terceira classe representa os climas tropicais de altitude,

ocorrendo principalmente na Chapada Diamantina onde podem ser observados

locais como o Pico dos Barbados (2.033 m de altitude) e o Pico das Almas (1.958

m de altitude).

Segundo a classificação climática de Thornthwait & Matter (Figura 13), é

possível observar uma maior diversidade de climas no estado da Bahia. Nesta

classificação, são observados 5 tipos climáticos:

O primeiro, o clima úmido é registrado principalmente ao leste do estado,

em grande parte do litoral, mas também é identificado no extremo oeste, nos limites

estaduais com Goiás e Tocantins;

O segundo é o clima Úmido a Subúmido, uma tipologia de transição que

acompanha os setores úmidos mas expressa um índice hídrico menor;

O terceiro clima, o Subúmido a Seco, é observado na faixa central do

estado, em áreas consideradas de semiárido;

O quarto tipo pode ser observado, também, na faixa central do estado,

trata-se do Semiárido, clima que abrange maior área no estado;

Por fim, o clima Árido, observado no extremo norte da Bahia, onde os

índices hídricos mantem-se abaixo dos -40%.

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Figura 9 - Mapa de Localização

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Figura 10 - Remanescente de vegetação no entorno da estação meteorológica.

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Figura 11 - Mapa Hipsométrico da área de localização da Estação Meteorológica de Ondina.

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Figura 12 - Classificação climática de Köppen para o estado da Bahia.

Modificado de SEI, 1998

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Figura 13 - Classificação climática de Thornthwait & Matther para o estado da Bahia.

Modificado de SEI, 1998.

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4. METODOLOGIA

As análises quantitativas propostas por este trabalho serão possíveis a

partir da manipulação de dados referentes aos índices pluviométricos registrados

pela estação meteorológica e aplicação de métodos estatísticos. Enquanto as

análises qualitativas dirão respeito as relações entre os registros pluviométricos e

fenômenos climáticos em diferentes escalas espaciais.

Os dados pluviométricos utilizados por este trabalho representam

acumulados de chuvas mensais do período de 55 anos, entre 1961 e 2015 e

encontram-se disponíveis para acesso através do portal do INMET

(www.inmet.gov.br) juntamente com dados desde o ano de 1911, embora a estação

tenha iniciado suas operações em 1903.

4.1 Pensamento Estatístico

Um dos principais meios para obter os resultados aos quais este trabalho

se propõe é através de métodos estatísticos. Porém, muito além do produto final

de um procedimento exato, é importante para o fomento do conhecimento do

pesquisador que se apropria deste meio, a compreensão de como alcançar o

produto final pretendido. Isto é, faz-se necessário entender o pensamento

estatístico por trás técnicas que são essenciais para alcançar determinados

objetivos.

A Estatística detém métodos para quantificação de variáveis e ferramentas

que revelam as relações entre elas (Krishnamoorthi, 2010; Snee, 1990). A

Geografia se apropria desta ferramenta para quantificações em diversas subáreas,

o que nos remete aos pensamentos positivistas da Geografia Clássica.

Para este trabalho, é necessário pensar a Estatística como uma ferramenta

para compreensão de processos, que parte do pensamento de onde o método

específico irá se basear, para enfim, apropriar-se de forma crítica, de uma técnica

que possibilite o alcance dos objetivos.

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Basicamente, pensar a estatística antes de aplicar um método auxilia em

uma melhor absorção do conhecimento e resolução dos problemas

(Krishnamoorthi, 2010). Este procedimento evita erros, minimiza as variações dos

resultados e se enquadra em um nível de abordagem, classificado por Snee (1990),

como de total qualidade.

Dentro da estatística, pensada como uma filosofia de aprendizado, é

possível afirmar que todos os processos de um objeto de análise estão

interconectados, neles existem variações e a compreensão das variações são a

chave para o sucesso da implementação de uma análise estatística.

Implementar o pensamento estatístico para abordagem de temas

relacionados ao quesito ambiental reflete reconhecer que todo fenômeno ocorrente

no meio ambiente é resultado de um processo e em todos os processos existem

variabilidades; a partir de uma análise destes fenômenos torna-se possível

desenvolver conhecimento sobre suas origens e seus efeitos e assim implementar

modelos para descrevê-los e propor asserções em relação aos seus efeitos.

4.1.1 Geografia Quantitativa

A partir do final da segunda guerra mundial, as ciências sociais iniciam uma

intensa utilização de métodos estatísticos para análise dos seus objetos de estudo.

O objetivo era formular uma renovação da forma em que as ciências desenvolviam

seus trabalhos e promover a tentativa de prever e planejar as realidades sócio

estruturais após os períodos de guerra, evitando assim novos embates e

proporcionando melhoria nas condições de vida (Camargo & Reis Júnior, 2004).

No Brasil, os métodos neo positivistas de quantificação surgiram a partir da

década de 1960, sob forte influência do pensamento científico oriundo

principalmente dos Estados Unidos da América. A Geografia acompanhou essa

tendência e incorporou os métodos exatos a fim de analisar o espaço e,

principalmente, estudar o conceito de região (Christofoletti, 1985).

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Juntamente com a abordagem sistêmica, a Geografia Quantitativa é

introduzida nos estudos desenvolvidos no Brasil, principalmente em áreas como a

Geomorfologia, Climatologia, Hidrografia, Demografia e Cartografia. A partir das

atividades do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), que até hoje

desenvolve estudos nos formatos clássicos quantitativos, as técnicas passaram a

ser difundidas na academia e ganharam destaque na produção científica (Camargo

& Reis Júnior, 2004).

4.1.2 Série Temporal

As experimentações relacionadas à análise climatológica utilizada neste

trabalho baseiam-se em uma série de dados temporais. Uma série temporal é

qualquer conjunto de observações ordenadas no tempo (Morettin & Toloi, 2006), o

que nos remete a uma organização cronológica dos dados, podendo ser contínuas,

quando as observações são feitas continuamente no tempo; e discretas, quando o

período de observação ocorre em intervalos específicos.

O objetivo da utilização de séries de dados temporais é basicamente para

construir modelos com propósitos determinados, proporcionando investigações do

mecanismo gerador das séries, fazer previsões de valores futuros, descrever

comportamentos e procurar periodicidades nos dados (Morettin & Toloi, 2006), a

fim de proporcionar o planejamento a curto, médio e longo prazos e auxiliar nas

tomadas de decisões.

O presente estudo concentra-se em, primeiramente, descrever o

comportamento dos dados pluviométricos e em seguida investigar os mecanismos

geradores que influenciam este comportamento. Para tal, foi necessário adotar um

modelo não paramétrico3 de análise das séries de dados discreta, em razão da

limitação temporal da amostra, visto que esta é um recorte de uma serie maior.

3 A Estatística não paramétrica representa um conjunto de ferramentas de uso mais apropriado em pesquisas onde não se conhece bem a distribuição da população e seus parâmetros (Viali, 2008). As análises não paramétricas indicam utilização de dados provenientes de uma amostragem, onde não há parâmetros da população. Ver mais em Morettin e Toloi (2006).

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Os modelos utilizados para descrição de séries temporais são processos

estocásticos4 controlados por leis probabilísticas (Morettin e Toloi, 2006). De fato,

o levantamento de hipóteses para resolução de questionamentos acerca de

fenômenos atmosféricos, baseadas em análises de tendências, será a partir de um

modelo que apresenta uma probabilidade da asserção, que dependerá do

comportamento dos fenômenos dinâmicos e do conhecimento a priori da natureza

do objeto da análise.

Os dados utilizados para as análises deste trabalho foram mensurados

diariamente por técnicos do INMET às 09h local (12 UTC), uma convenção

metodológica utilizada para padronizar a coleta.

Séries temporais que envolvem os elementos climáticos como chuva,

temperatura e ventos, apresentam variações sazonais que embora distanciem-se

dos padrões, não persistem. A tendência de uma série indica modificação dos

padrões conhecidos, se o comportamento aumenta ou diminui e informa a

velocidade das mudanças em razão do ângulo da linha de tendência em um gráfico.

Como método para observação da existência de tendência climática, será

necessário empregar o teste de Mann-Kendall, aplicado por diversos

pesquisadores, a exemplo no Brasil, Rodrigues &Santos (2007) e Sansigolo (2008).

Proposto inicialmente por Sneyer (1975) este teste considera que, na ocorrência de

uma série temporal estável, os valores sucedem-se de forma independente, não

havendo modificações na distribuição de probabilidade. Back (2001), ao discorrer

sobre a importância do teste de Mann-Kendall, afirma que se trata do método mais

apropriado para analisar mudanças climáticas em séries climatológicas, além de

determinar a localização do ponto inicial de determinada tendência em razão da

linha não se apresentar de forma linear mas acompanhar as diferentes tendências

que possam ocorrer em uma série.

4 Considera-se processo estocástico um ponto amostral associado a uma função real de um parâmetro pertencente a um conjunto, representando o comportamento de uma amostra (Albuquerque et. al. 2008).

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O teste de Mann-Kendall é o método mais apropriado para análise de

dados a qual este trabalho se propõe a fazer pois ele filtra os valores extremos da

série. Porém, o teste será empregado neste trabalho, não apenas pelo fato da

recomendação da OMM, mas a fim de proporcionar um meio comparativo para as

demais inúmeras publicações que utilizaram o método.

4.2 Metodologia de Análise de Tendência

O teste de Mann-Kendall é baseado em um teste de hipótese estatística

onde a hipótese submetida ao teste é designada por Hipótese nula (𝐻0), porém

caso esta seja rejeitada conclui-se a aceitação pela Hipótese Alternativa (𝐻1)

(Câmara, 2001). Aceitar 𝐻0 significa afirmar, em relação a série, que os parâmetros

populacionais são tais como especificado. Enquanto 𝐻1 nega a primeira e afirma

que os parâmetros são diferentes do alegado inicialmente.

No teste de Mann-Kendall, 𝐻0 afirma que não há tendência na série de

dados, enquanto 𝐻1 nega a primeira hipótese, sendo dessa forma, observado

tendência climática.

A probabilidade em obter um resultado distante do valor real da mostra, da-

se o nome de probabilidade de significância, ou valor p. Este valor é definido como

a probabilidade da estatística do teste acusar um resultado tão ou mais distante do

esperado, supondo 𝐻0 uma hipótese verdadeira (Barbetta et. al., 2010).

Entretanto, a definição de um critério de decisão em aceitar 𝐻0 ou rejeitar

𝐻0 em favor de 𝐻1 é passível de erro. A decisão por uma hipótese pode ou não ser

verdadeira, mas não será possível saber com certeza absoluta a realidade da

população, visto que a série se trata de uma amostra. De acordo com Barbetta et.

al. (2010) o valor p pode ser interpretado como o risco de rejeitar incorretamente

uma hipótese verdadeira, porém existem dois tipos de erros que podem ser

cometidos neste processo (Quadro 1).

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Realidade

(desconhecida)

Decisão do teste

Aceita 𝑯𝟎 Rejeita 𝑯𝟎

𝐻0 verdadeira Decisão correta Erro tipo I

𝐻0 falsa Erro tipo II Decisão correta

Quadro 1: Tipos de erros nos testes de decisão – Fonte: Barbetta et. al. (2010)

Entretanto, ainda em fase de planejamento, faz-se necessário estabelecer

a probabilidade tolerável de cometer um erro do tipo I ou II. O valor definido para o

limiar dessa probabilidade é o nível de significância (𝛼). Geralmente adota-se

o 𝛼=0,05 (5%), porém, caso seja necessário maior segurança em rejeitar 𝐻0 pode

ser adotado níveis menores, como 𝛼=0,01 (1%). Dessa forma, o nível de

significância limita tomar a decisão em adotar a hipótese errada.

Ao estabelecer o 𝛼, tem-se a seguinte regra: SE p > 𝛼, aceita-se 𝐻0. Porém

SE p ≤ 𝛼, rejeita-se 𝐻0 (Câmara, 2001).

Porém, de acordo com a bibliografia, faz-se necessário cumprir duas

etapas anteriores à avaliação da tendência pelo teste de Mann-Kendall para

avaliação da existência de sazonalidade e normalidade na série de dados:

• Avaliação de Sazonalidade (SeasonalMannKendall5);

A sazonalidade é relacionada ao comportamento no decorrer da série,

trata-se da identificação de variabilidade constante no período de estudo,

onde pode ser identificado padrões de atuação dos acumulados

pluviométricos.

• Teste de Normalidade (Shapiro.test6);

Através do teste de normalidade é possível verificar se a distribuição dos

dados na série temporal é normal ou existe anormalidade nas observações

que possam comprometer a análise de tendência.

A ferramenta utilizada para as análises estatísticas relacionadas à

tendência da série de dados pluviométricos, foi o software R, que se trata de uma

linguagem e um ambiente para desenvolvimento de estatística computacional e

5 Comando para desenvolver a avaliação de sazonalidade, conferir Figura 14. 6 Comando para desenvolver a avaliação de normalidade, conferir Figura 14.

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gráfica. O programa é uma iniciativa de código aberto, livre, baseado em plataforma

Unix e compatível com ambiente Microsoft e MacOS, desenvolvido em conjunto

pela comunidade científica a partir de metodologias estatísticas (R Core Team,

2016).

Através do R, o usuário tem acesso a manipulação de dados, cálculos e

visualização de gráficos. Mas o ponto positivo do programa trata-se da vasta

coleção de módulos possíveis de serem adicionados para desenvolver uma rotina

específica, o que se trata do caso do Mann-Kendall que tem uma rotina de cálculos

prontos para execução, cabendo ao usuário organizar os dados de forma que o

programa os compreenda e inserir os comandos necessários para execução do

teste (Figura 14).

Figura 14 - Script para processamento dos dados pelo Mann-Kendall através do R.

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Em razão dos objetivos deste trabalho não contemplarem linguagem de

programação e aprofundamento das técnicas estatísticas, tais como a

decomposição dos cálculos, não serão detalhados os códigos apresentados assim

como as fórmulas efetuados pelo módulo

4.3 Dados das Temperaturas de Superfície do Mar (TSM)

A fim de relacionar os totais pluviométricos com fenômenos em

macroescala, foram adquiridos médias anuais dos indicadores referentes às TSMs

dos oceanos Pacíficos e Atlânticos.

Em referência ao Oceano Pacífico foram relacionados os anos com

ocorrência do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS), baseados em estimativas

dos padrões de magnitude das anomalias da TSM. Os indicadores para essa

variável foram mensurados na região Niño 3.4, localizada no quadrante 5ºS;5ºN e

170ºO;120ºO.

Os indicadores da Oscilação Decadal do Pacífico (ODP) generalizam

dados regionais para interpretação da situação do Oceano Pacífico como um todo.

Os dados foram extraídos da região nordeste tropical do Oceano Pacífico e

representam a relação entre as TSMs no centro do oceano e na costa oeste da

América do Norte e pressão do ar ao nível do mar na mesma área da costa.

Quando no interior do oceano a TSM é fria e na costa oeste do continente

norte americano é quente e a pressão está abaixo do normal, os indicadores do

ODP tornam-se positivos, revelando aquecimento do oceano. Quando no centro do

oceano pacífico a TSM é quente, na costa oeste é fria e a pressão é acima do

normal os indicadores do ODP tornam-se negativos, revelando resfriamento do

oceano.

Com relação ao Oceano Atlântico, buscou-se os dados da Oscilação do

Atlântico Norte (OAN) que representa os parâmetros das anomalias positiva ou

negativa da TSM no setor norte deste oceano. Este índice baseia-se na diferença

da pressão à nível do mar entre as faixas tropical e polar do Oceano Atlântico Norte.

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Quando a OAN está positiva revela aquecimento, enquanto negativa revela

resfriamento do setor norte do Oceano Atlântico.

O método para determinar os parâmetros do Dipólo do Atlântico parte da

diferença das médias entre as anomalias de TSM das bacias do norte e do sul do

Oceano Atlântico tropical. A FUCEME considera o limiar entre as duas bacias a

latitude de 5ºN por apresentar a melhor representatividade do equador

meteorológico. A bacia do norte limita-se à latitude 28ºN, enquanto a bacia do sul

alcança latitude de 20ºS. Quantos os valores do Dipólo do Atlântico apresentam-se

positivos, revela-se aquecimento do Oceano Atlântico norte e resfriamento da

porção meridional. Quando os mesmos valores apresentam-se negativos, revelam-

se aspectos de TSM invertidos (resfriamento da porção norte e aquecimento do

sul).

Os dados do Dipólo do Atlântico foram disponibilizados a partir do ano de

1964, a série será apresentada com dados faltantes nos anos de 1961, 1962 e

1963.

Os valores de ENOS, ODP e OAN foram disponibilizados pelo National

Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Os valores do Dipólo do Atlântico

foram adquiridos junto a Fundação Cearense de Meteorologia (FUCEME).

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5. RESULTADOS

Os dados pluviométricos foram organizados em um quadro a fim de

possibilitar a extração de novos indicadores que nortearão as conclusões. Através

do quadro 2, é possível verificar a série temporal, com anos em linhas e meses em

colunas.

Neste quadro, foram adicionadas as colunas referentes aos totais anuais e

suas respectivas médias. Em linha, ao fim do quadro foram expostas as médias

referentes a cada mês, a média climatológica fornecida pelo INMET calculada a

partir da série de 1961 e 1990 e o desvio padrão com intuito de verificar a

variabilidade das chuvas observadas em cada mês, bem como os meses que

apresentam maior variabilidade.

Através do Quadro 2, é possível apontar alguns dados relevantes às

discussões que irão seguir. O registro mínimo da série, 3,2 mm, foi registrado no

mês de novembro em 2015, mês que alcançou máximo de chuvas de 319,2 mm

em 2011. O maior valor da série foi observado em abril de 1996, 757,8 mm,

enquanto o menor registro nesse mês foi 48,9 mm em 2012.

Em 9 meses as médias climatológicas mantêm-se acima da média

estatística da série (1.975,7 mm), sendo contrário apenas nos meses de julho,

agosto e setembro. As maiores diferenças entre os dois indicadores são

observadas em dezembro (43,8 mm), janeiro (42,4 mm) e maio (41,9 mm). Os

demais meses mantêm a diferença entre 2 e 27 mm.

Entre os totais anuais, destaca-se como ano mais chuvoso 1964, com

registro de 3.223,2 mm, enquanto o mais seco 1961, com 1.163,6 mm. Há de se

observar que em 1964 houveram volumes expressivos de chuvas em todos os

meses, embora não tenham sido registrados dados extremos como os supracitados

meses mais chuvosos e curiosamente, o mês mais úmido foi janeiro, um dos meses

mais secos da série, apontado 6 vezes como mês mais seco em anos distintos.

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QUADRO 2: SÉRIE DE DADOS DE PRECIPITAÇÃO ACUMULADA (mm)

SALVADOR (BA): 1961 – 2015

Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total anual

Média anual

1961 93,5 7,8 76,4 91,0 273,5 223,0 134,1 77,4 5,8 41,1 8,0 132,0 1.163,6 97,0

1962 6,1 61,7 164,9 268,3 222,1 234,1 334,7 121,9 114,0 76,1 135,5 54,5 1.793,9 149,5

1963 33,0 293,3 36,7 275,5 435,8 136,9 240,8 97,9 37,9 24,3 74,2 305,3 1.991,6 166,0

1964 481,2 140,3 361,4 376,5 424,5 259,3 225,1 255,6 110,4 176,8 222,2 189,9 3.223,2 268,6

1965 85,9 47,9 56,5 473,7 299,9 258,0 128,1 101,2 39,3 99,5 206,2 46,5 1.842,7 153,6

1966 45,0 203,0 92,0 207,3 516,1 196,8 178,7 148,9 93,5 138,2 103,7 97,2 2.020,4 168,4

1967 9,6 62,0 173,6 392,3 363,9 162,3 139,4 117,5 95,4 54,4 97,7 267,5 1.935,6 161,3

1968 200,2 294,8 288,1 193,4 467,9 364,1 127,4 102,5 119,3 83,2 159,2 96,2 2.496,3 208,0

1969 100,7 133,4 287,5 234,1 592,2 361,8 163,4 122,3 83,9 46,1 39,5 308,5 2.473,4 206,1

1970 192,1 164,5 73,0 205,1 244,6 242,0 238,1 139,4 69,4 102,3 221,2 24,2 1.915,9 159,7

1971 119,5 55,3 83,4 323,1 476,1 331,7 477,1 288,5 230,9 159,9 105,1 64,5 2.715,1 226,3

1972 61,8 220,5 51,5 272,4 369,7 244,4 71,7 213,1 212,0 180,4 26,7 89,8 2.014,0 167,8

1973 66,0 18,5 59,0 165,6 599,9 479,3 225,4 151,2 177,8 260,6 170,9 48,8 2.423,0 201,9

1974 163,2 292,2 137,9 458,3 429,6 202,0 135,6 92,1 80,7 112,2 155,2 189,6 2.448,6 204,1

1975 118,1 114,5 169,2 737,9 560,4 168,9 222,3 134,4 142,0 83,2 103,2 118,8 2.672,9 222,7

1976 48,2 174,3 120,3 179,2 196,3 67,5 153,9 142,4 54,3 185,1 93,3 15,0 1.429,8 119,2

1977 153,7 178,5 64,3 233,7 431,6 274,2 131,2 20,3 231,0 238,5 8,9 321,7 2.287,6 190,6

1978 53,7 41,2 240,3 261,3 357,0 259,6 240,2 114,5 129,1 143,7 78,4 163,2 2.082,2 173,5

1979 126,4 199,9 60,6 299,1 125,1 284,1 187,3 73,3 27,0 23,2 109,0 47,8 1.562,8 130,2

1980 186,1 364,2 70,2 79,9 197,4 146,7 128,3 168,9 157,3 89,0 306,8 55,2 1.950,0 162,5

1981 79,5 181,4 195,0 248,8 207,8 259,9 192,9 132,8 7,1 108,9 95,3 87,9 1.797,3 149,8

1982 125,7 129,6 38,0 263,8 122,2 217,3 191,5 67,1 154,0 111,8 41,2 130,9 1.593,1 132,8

1983 180,7 187,3 138,6 136,5 146,2 216,6 150,0 162,6 74,0 120,8 75,6 67,4 1.656,3 138,0

1984 53,7 38,9 129,6 476,4 151,7 94,9 307,9 232,7 148,4 95,3 37,5 18,5 1.785,5 148,8

1985 70,6 50,1 190,5 685,5 286,1 88,1 291,9 225,8 101,3 178,5 168,5 177,7 2.514,6 209,6

1986 94,1 30,8 274,4 428,5 249,0 219,7 140,4 153,8 122,0 272,3 138,9 90,9 2.214,8 184,6

1987 21,0 61,9 130,0 147,2 218,9 227,5 240,7 70,7 102,3 20,6 181,6 44,7 1.467,1 122,3

1988 169,8 95,1 330,6 272,0 183,6 236,6 289,4 143,3 60,2 77,3 133,1 155,0 2.146,0 178,8

1989 190,3 44,8 153,0 479,0 432,6 258,6 204,7 175,6 105,3 84,2 99,1 293,5 2.520,7 210,1

1990 51,0 33,8 70,8 51,0 324,5 211,7 267,1 275,5 177,8 215,7 77,0 202,9 1.958,8 163,2

1991 188,4 86,1 115,9 304,5 290,9 316,5 98,0 129,1 73,9 30,9 96,6 31,0 1.761,8 146,8

1992 76,7 217,5 92,7 128,5 107,0 197,0 196,1 102,5 93,3 23,8 207,7 132,7 1.575,5 131,3

1993 12,7 7,1 12,3 107,9 386,8 180,8 117,4 164,6 72,7 110,0 48,9 13,6 1.234,8 102,9

1994 30,0 65,2 240,3 424,9 197,6 477,8 336,5 198,5 101,0 120,9 49,2 44,9 2.286,8 190,6

1995 18,9 35,0 81,8 286,2 473,5 245,3 178,0 78,3 67,3 16,5 156,4 41,9 1.679,1 139,9

1996 55,9 101,9 59,9 757,8 187,5 178,5 202,4 124,0 206,4 111,1 228,6 73,8 2.287,8 190,7

1997 38,3 225,6 277,6 346,9 165,4 172,7 183,1 52,0 30,0 130,1 26,8 24,9 1.673,4 139,5

1998 63,6 55,6 117,2 206,0 250,9 358,3 306,5 155,4 63,9 111,8 65,3 34,5 1.789,0 149,1

1999 99,3 102,9 313,9 376,6 376,9 185,0 225,0 323,5 141,2 163,9 275,5 94,2 2.677,9 223,2

2000 29,5 85,3 191,9 365,4 248,5 310,5 201,1 136,2 161,6 15,9 74,3 88,0 1.908,2 159,0

2001 95,2 28,6 264,1 103,5 199,2 195,9 220,3 149,7 190,8 202,3 30,3 97,4 1.777,3 148,1

2002 252,4 102,8 98,7 69,3 351,6 209,2 254,8 162,8 258,8 16,0 25,2 22,7 1.824,3 152,0

2003 26,7 97,3 206,3 186,8 550,5 237,5 186,5 136,7 168,7 69,2 132,8 15,2 2.014,2 167,9

2004 319,4 165,3 121,9 278,4 159,5 326,3 218,4 129,5 40,5 82,0 167,6 10,9 2.019,7 168,3

2005 42,9 349,4 349,4 415,0 198,2 421,1 204,1 117,1 50,6 32,9 72,8 75,5 2.329,0 194,1

2006 40,1 7,1 35,9 587,4 396,5 401,6 91,7 122,7 126,9 258,9 220,0 30,3 2.319,1 193,3

2007 20,0 282,6 86,8 143,2 211,4 134,0 130,4 109,0 85,8 80,3 19,1 18,8 1.321,4 110,1

2008 17,8 183,8 149,3 154,3 203,6 178,2 149,1 58,7 37,8 31,7 78,4 103,5 1.346,2 112,2

2009 30,3 122,1 25,6 506,6 549,3 155,1 158,9 93,8 56,1 162,4 48,1 5,8 1.914,1 159,5

2010 78,3 19,2 122,8 448,8 243,8 96,6 492,5 176,3 55,8 56,7 27,2 102,2 1.920,2 160,0

2011 170,3 46,2 200,7 331,0 304,2 277,7 57,6 91,3 62,0 208,9 319,2 100,7 2.169,8 180,8

2012 35,7 70,9 74,7 48,9 411,5 170,2 162,5 137,4 30,7 73,6 35,5 10,7 1.262,3 105,2

2013 36,2 28,6 38,4 230,8 231,1 308,4 198,0 211,2 109,4 208,6 208,2 158,2 1.967,1 163,9

2014 48,3 142,7 128,8 107,1 247,2 240,6 198,9 60,2 92,7 27,7 58,0 194,2 1.546,4 128,9

2015 51,3 89,6 31,3 394,2 639,0 352,4 184,0 87,5 27,6 87,5 3,2 15,7 1.963,3 163,6

Média 95,6 120,7 141,0 295,0 318,0 241,0 202,0 138,7 103,1 109,8 111,8 99,0 1.975,7 -

Média Climatológica

138,0 142,0 151,6 309,7 359,9 243,7 175,0 127,4 102,0 114,9 137,1 142,8 - -

Desvio Padrão 86,4 92,1 92,2 167,3 140,1 90,8 83,4 60,9 60,4 70,0 78,7 83,9 - -

Quadro 2 - Fonte: INMET – BDMEP. Elaboração: Vinícius Da Rós, 2017

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Com intuito de subsidiar as discussões em relação a distribuição das

chuvas durante os meses dos anos de estudo, foi desenvolvido o Gráfico 1. Em

colunas são indicados os meses enquanto em linhas organizam-se os anos de

forma cronológica. Os valores nas células são as porcentagens em relação ao total

pluviométrico anual; a escala de cor representa as seguintes classes conforme a

legenda: >30%; entre 20% e 30%; entre 10% e 20; entre 5% e 10%; entre 0% e

5%; 0%.

Através deste gráfico é possível compreender o comportamento das

chuvas e observar os períodos chuvoso e seco. A concentração de chuvas dá-se

entre os meses de abril à julho, com poucas exceções que ultrapassam esse limiar,

como 1973, 1990 e 2013, que alcançam significativas concentrações de chuvas em

meses como outubro, novembro e dezembro, quando normalmente as chuvas não

tem destaque em relação ao período chuvoso (AMJ). Em contrapartida, em 1980,

2002 e 2012 observa-se no mês de abril os valores 4,1; 3,8 e 3,9% dos totais

anuais, concentrações incomuns para o mês que se apresenta entre os maiores

acumulados de chuva da série temporal.

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GRÁFICO 1: CHUVAS MENSAIS (%) EM RELAÇÃO AOS TOTAIS ANUAIS

SALVADOR (BA): 1961 – 2015

*Mês mais seco do ano. Gráfico 1 –Fonte: Quadro 2. Adaptação do Pluviograma de Schröder. Elaboração: Vinícius M. Da

Rós, 2017.

ANO J F M A M J J A S O N D *

1961 8,0 0,7 6,6 7,8 23,5 19,2 11,5 6,7 0,5 3,5 0,7 11,3 IX

1962 0,3 3,4 9,2 15,0 12,4 13,0 18,7 6,8 6,4 4,2 7,6 3,0 X

1963 1,7 14,7 1,8 13,8 21,9 6,9 12,1 4,9 1,9 1,2 3,7 15,3 X

1964 14,9 4,4 11,2 11,7 13,2 8,0 7,0 7,9 3,4 5,5 6,9 5,9 IX

1965 4,7 2,6 3,1 25,7 16,3 14,0 7,0 5,5 2,1 5,4 11,2 2,5 IX

1966 2,2 10,0 4,6 10,3 25,5 9,7 8,8 7,4 4,6 6,8 5,1 4,8 I

1967 0,5 3,2 9,0 20,3 18,8 8,4 7,2 6,1 4,9 2,8 5,0 13,8 I

1968 8,0 11,8 11,5 7,7 18,7 14,6 5,1 4,1 4,8 3,3 6,4 3,9 X

1969 4,1 5,4 11,6 9,5 23,9 14,6 6,6 4,9 3,4 1,9 1,6 12,5 XI

1970 10,0 8,6 3,8 10,7 12,8 12,6 12,4 7,3 3,6 5,3 11,5 1,3 XII

1971 4,4 2,0 3,1 11,9 17,5 12,2 17,6 10,6 8,5 5,9 3,9 2,4 II

1972 3,1 10,9 2,6 13,5 18,4 12,1 3,6 10,6 10,5 9,0 1,3 4,5 XI

1973 2,7 0,8 2,4 6,8 24,8 19,8 9,3 6,2 7,3 10,8 7,1 2,0 II

1974 6,7 11,9 5,6 18,7 17,5 8,2 5,5 3,8 3,3 4,6 6,3 7,7 IX

1975 4,4 4,3 6,3 27,6 21,0 6,3 8,3 5,0 5,3 3,1 3,9 4,4 X

1976 3,4 12,2 8,4 12,5 13,7 4,7 10,8 10,0 3,8 12,9 6,5 1,0 XII

1977 6,7 7,8 2,8 10,2 18,9 12,0 5,7 0,9 10,1 10,4 0,4 14,1 XI

1978 2,6 2,0 11,5 12,5 17,1 12,5 11,5 5,5 6,2 6,9 3,8 7,8 II

1979 8,1 12,8 3,9 19,1 8,0 18,2 12,0 4,7 1,7 1,5 7,0 3,1 X

1980 9,5 18,7 3,6 4,1 10,1 7,5 6,6 8,7 8,1 4,6 15,7 2,8 XII

1981 4,4 10,1 10,8 13,8 11,6 14,5 10,7 7,4 0,4 6,1 5,3 4,9 IX

1982 7,9 8,1 2,4 16,6 7,7 13,6 12,0 4,2 9,7 7,0 2,6 8,2 III

1983 10,9 11,3 8,4 8,2 8,8 13,1 9,1 9,8 4,5 7,3 4,6 4,1 XII

1984 3,0 2,2 7,3 26,7 8,5 5,3 17,2 13,0 8,3 5,3 2,1 1,0 XII

1985 2,8 2,0 7,6 27,3 11,4 3,5 11,6 9,0 4,0 7,1 6,7 7,1 II

1986 4,2 1,4 12,4 19,3 11,2 9,9 6,3 6,9 5,5 12,3 6,3 4,1 II

1987 1,4 4,2 8,9 10,0 14,9 15,5 16,4 4,8 7,0 1,4 12,4 3,0 XI

1988 7,9 4,4 15,4 12,7 8,6 11,0 13,5 6,7 2,8 3,6 6,2 7,2 IX

1989 7,5 1,8 6,1 19,0 17,2 10,3 8,1 7,0 4,2 3,3 3,9 11,6 II

1990 2,6 1,7 3,6 2,6 16,6 10,8 13,6 14,1 9,1 11,0 3,9 10,4 II

1991 10,7 4,9 6,6 17,3 16,5 18,0 5,6 7,3 4,2 1,8 5,5 1,8 XI

1992 4,9 13,8 5,9 8,2 6,8 12,5 12,4 6,5 5,9 1,5 13,2 8,4 XI

1993 1,0 0,6 1,0 8,7 31,3 14,6 9,5 13,3 5,9 8,9 4,0 1,1 II

1994 1,3 2,9 10,5 18,6 8,6 20,9 14,7 8,7 4,4 5,3 2,2 2,0 I

1995 1,1 2,1 4,9 17,0 28,2 14,6 10,6 4,7 4,0 1,0 9,3 2,5 X

1996 2,4 4,5 2,6 33,1 8,2 7,8 8,8 5,4 9,0 4,9 10,0 3,2 I

1997 2,3 13,5 16,6 20,7 9,9 10,3 10,9 3,1 1,8 7,8 1,6 1,5 XII

1998 3,6 3,1 6,6 11,5 14,0 20,0 17,1 8,7 3,6 6,2 3,7 1,9 XII

1999 3,7 3,8 11,7 14,1 14,1 6,9 8,4 12,1 5,3 6,1 10,3 3,5 XII

2000 1,5 4,5 10,1 19,1 13,0 16,3 10,5 7,1 8,5 0,8 3,9 4,6 X

2001 5,4 1,6 14,9 5,8 11,2 11,0 12,4 8,4 10,7 11,4 1,7 5,5 II

2002 13,8 5,6 5,4 3,8 19,3 11,5 14,0 8,9 14,2 0,9 1,4 1,2 X

2003 1,3 4,8 10,2 9,3 27,3 11,8 9,3 6,8 8,4 3,4 6,6 0,8 XII

2004 15,8 8,2 6,0 13,8 7,9 16,2 10,8 6,4 2,0 4,1 8,3 0,5 XII

2005 1,8 15,0 15,0 17,8 8,5 18,1 8,8 5,0 2,2 1,4 3,1 3,2 X

2006 1,7 0,3 1,5 25,3 17,1 17,3 4,0 5,3 5,5 11,2 9,5 1,3 II

2007 1,5 21,4 6,6 10,8 16,0 10,1 9,9 8,2 6,5 6,1 1,4 1,4 XII

2008 1,3 13,7 11,1 11,5 15,1 13,2 11,1 4,4 2,8 2,4 5,8 7,7 I

2009 1,6 6,4 1,3 26,5 28,7 8,1 8,3 4,9 2,9 8,5 2,5 0,3 XII

2010 4,1 1,0 6,4 23,4 12,7 5,0 25,6 9,2 2,9 3,0 1,4 5,3 II

2011 7,8 2,1 9,2 15,3 14,0 12,8 2,7 4,2 2,9 9,6 14,7 4,6 II

2012 2,8 5,6 5,9 3,9 32,6 13,5 12,9 10,9 2,4 5,8 2,8 0,8 XII

2013 1,8 1,5 2,0 11,7 11,7 15,7 10,1 10,7 5,6 10,6 10,6 8,0 II

2014 3,1 9,2 8,3 6,9 16,0 15,6 12,9 3,9 6,0 1,8 3,8 12,6 X

2015 2,6 4,6 1,6 20,1 32,5 17,9 9,4 4,5 1,4 4,5 0,2 0,8 XI

ANO J F M A M J J A S O N D

∑ P(mm)

0 1.000 2.000 3.000

% Pmm>30

>20 - <30

>10 - <20

>5 - <10

>0 - <5

0,0

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De acordo com o Gráfico 1, utilizando-se da informação da coluna com mês

mais seco dos anos observa-se que entre os 55 anos da série os meses de

dezembro e fevereiro foram apontados 13 vezes cada um, como os mais secos dos

anos. Enquanto maio constou como o mais chuvoso mês em 22 anos, seguido por

abril que assumiu a primeira posição em 15 anos.

Utilizando-se do Gráfico 2, é possível observar a comparação entre médias

mensais da série, médias climatológicas mensais e desvio padrão. A linha do

desvio padrão expõe a variabilidade das chuvas no decorrer dos anos, quanto

maior for o índice do desvio padrão, maior é a variabilidade das chuvas.

GRÁFICO 2 – MÉDIAS MENSAIS DO PERÍODO DE ESTUDO, MÉDIA

CLIMATOLÓGICA E RELAÇÃO COM O DESVIO PADRÃO

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

Gráfico 2 – Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

Dessa forma é possível constatar que janeiro é o mês onde registra-se a

menor média pluviométrica e maio o mês que ocorre os maiores índices médios.

Em relação à variabilidade, o outono é onde se concentra sua maior ocorrência,

abril é o mês onde há maior variabilidade (167,3 mm) frente a setembro, mês com

menor índice de variabilidade dos índices (60,4 mm). Isso não significa que nos

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63

demais meses não há variabilidade, mas que ela ocorre de forma mais impactante

no período supracitado.

O Gráfico 3 representa a diferença entre os totais pluviométricos e as

médias anuais. Através dele é possível afirmar que houve períodos em que os

registros pluviométricos mantiveram-se por mais tempo acima do normal estipulado

pela média aritmética - como entre 1968 e 1975 - e abaixo – como de 1979 à 1984

e 2007 à 2015, com exceção de 2011. Aparentemente, há variabilidade com

sucessão de períodos chuvosos e secos.

GRÁFICO 3 – DIFERÊNÇA ENTRE TOTAIS PLUVIOMÉTRICOS ANUAIS E

MÉDIA ARITMÉTICA DO PERÍODO.

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

Gráfico 3 - Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

O Gráfico 4 expõe a diferença entre totais pluviométricos e médias

mensais. Através dele é possível observar a ocorrência de meses onde as

ocorrências de excesso ou redução de chuvas persistiram repetidamente em

sucessivos anos. Em meses como janeiro, fevereiro, maio, setembro e dezembro

ocorreram repetidamente anos em que os totais pluviométricos mantiveram-se

abaixo das suas médias para o período. Em maio, desde 1979 ocorreram

sucessivos anos com chuvas abaixo da média, entretanto, os anos em que as

chuvas foram acima da média observaram-se grandes acumulados, como em 2015

(639,0 mm). Em dezembro os valores mantêm-se abaixo da média desde 1991.

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GRÁFICO 4 – DIFERÊNÇA DO TOTAL PLUVIOMÉTRICO E MÉDIA MENSAL

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

-300

-200

-100

0

100

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iaJaneiro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

-200,0

-100,0

0,0

100,0

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ia

Fevereiro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

-200,0

-100,0

0,0

100,0

200,0

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m) e

a M

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ia

Março

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

-200,0

-100,0

0,0

100,0

200,0

300,0

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500,0

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tre

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Abril

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

(a)

(b)

(c)

(d)

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3

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m) e

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ia

Maio

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

-200,0

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0,0

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300,0

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Junho

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

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Julho

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

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0,0

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Agosto

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

(a)

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(c)

(d)

(e)

(f)

(g)

(h)

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Gráfico 4 - Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

-300,0

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Setembro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

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Outubro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

-300,0

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Novembro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

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Dezembro

Chuvas Acima da Média Chuvas abaixo da média

(i)

(j)

(k)

(l)

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Utilizando-se do Quadro 2, os dados foram submetidos para alguns testes

no software estatístico R. Primeiramente a série temporal foi submetida ao teste de

variabilidade do comportamento dos dados históricos. O resultado deste teste

indicou, com segurança, haver indícios de sazonalidade no comportamento

temporal. Como este, trata-se de um teste de hipótese, seu valor p foi 0.009, abaixo

do nível de significância (𝛼 = 0,01), revelando grande segurança na aferição da

hipótese alternativa.

Em seguida foi efetuado o teste de normalidade para verificar se existem

valores que possam comprometer a análise de tendência. O resultado indicou um

valor p extremamente baixo em relação ao nível de significância (𝛼 = 0,01).

Por fim, a série temporal foi submetida ao teste de Mann-Kendall. O valor

p, resultante deste teste, atingiu 0,021, abaixo do nível de significância (𝛼 = 0,05)

indicando dessa forma haver tendência na série.

De acordo com o Gráfico 5, é possível observar o comportamento da série

temporal, assim como da linha de tendência (linha vermelha) com um sutil declínio.

A partir desse gráfico é possível afirmar que a tendência observada pelo teste de

Mann-Kendall comporta-se de forma negativa, ou seja, há diminuição dos totais

pluviométricos no decorrer da série temporal em Salvador.

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GRÁFICO 5 – TENDÊNCIA CLIMÁTICA DA SÉRIE TEMPORAL

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

O Gráfico 6 apresenta de recortes temporais da série de dados. Através

desta figura é possível identificar os períodos onde a tendência foi mais ou menos

acentuada. É possível observar, por exemplo, que na primeira década do estudo

(entre 1961 e 1970, gráfico 3a) a tendência foi positiva, houve aumento dos totais

mensais, enquanto posteriormente houve declínio progressivo da tendência.

GRÁFICO 6 – COMPORTAMENTO DA LINHA DE TENDÊNCIA EM PERÍODOS

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

P-valor = 0,021

(a) (b)

Gráfico 5 - Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

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A fim de observar se a modificação identificada pela tendência da série

ocorre em um período específico do ano, a mesma técnica foi empregada nas

séries de dados dos meses separados (Gráfico 7).

É possível identificar ao menos três padrões de comportamento da linha de

tendência:

O primeiro padrão é representado pelos meses de novembro, dezembro,

janeiro e fevereiro, onde aparentemente há uma persistência da linha de tendência

em manter-se negativa.

O segundo padrão é observado nos meses de julho, agosto e setembro,

quando há aumento dos totais pluviométricos até 1990 e posteriormente

diminuição.

O terceiro padrão é representado unicamente pelo mês de maio, que se

comporta contrário ao segundo padrão; a linha de tendência mantém-se negativa

até 1990 quando atinge o mínimo; posteriormente inicia-se uma nova fase positiva.

O comportamento da linha de tendência no mês de abril é o único onde

aparentemente não apresenta tendência.

(c) (d)

(e) (f)

Gráfico 6 - Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

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Dessa forma é possível afirmar que as mudanças detectadas nesta série

de dados têm ocorrido principalmente no fim da primavera e no verão de forma

persistente. No fim do inverno e início da primavera mostrou declínio, porém em um

período menor.

De acordo com o teste de Mann-Kendall o único mês que se detectou

tendência foi dezembro com valor p 0,01 o que leva a crer que as modificações

detectadas pelo teste para a série completa têm maior ação neste mês.

GRÁFICO 7: COMPORTAMENTO DA LINHA DE TENDÊNCIA DA

PLUVIOSIDADE POR MÊS

(a)

(c)

(b)

(d)

(f) (e)

p = 0,008

p = 0,85 p = 0,94

p = 0,28

p = 0,34 p = 0,94

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Gráfico 7 - Fonte: Quadro 2. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

Em razão de buscar relações de influências aos registros pluviométricos

mais ou menos intensos, foi confeccionado o Quadro 3 onde os registros de

precipitação acumulada no ano foram ordenados de forma crescente, seguidos

pelos respectivos anos e índices TSM, relacionados as anomalias da temperatura

de superfície dos oceanos Atlântico e Pacífico.

Porém, para melhor compreensão das relações dos acumulados

pluviométricos com os índices de TSM, faz-se necessário analisar conjuntamente

o Quadro 3 e o Gráfico 8.

(l)

(g) (h)

(k)

(j) (i)

p = 0,94 p = 0,74

p = 0,30 p = 0,72

p = 0,18 p = 0,01

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Com referência ao ENOS, não é possível observar através do Quadro 3,

relação com os totais pluviométricos e as fases positivas ou negativas, ocorrem as

duas fases em períodos mais ou menos chuvosos. Entretanto, ao observar o

Gráfico 8a, onde a chuvas são organizadas de forma crescente, é possível

identificar que o aumento das chuvas ocorre em paralelo com os índices negativos

do fenômeno, favoráveis a formação do La Niña.

Os índices ODP aparentam não ter relação através do Quadro 3; ocorrem

situações de resfriamento do oceano Pacífico tanto em anos que apresentaram

expressivos totais pluviométricos quanto nos anos que foram observadas

estiagens. Através do Gráfico 8b é possível observar que quanto menor os índices

do ODP (resfriamento), maiores foram os totais pluviométricos registrados pela

estação meteorológica de Ondina, o que também sugere alguma relação.

Através do índice OAN (Quadro 3) observa-se que há maior concentração

de valores negativos junto aos totais pluviométricos mais expressivos da série. O

Gráfico 8c não possibilita avaliação conclusiva da relação com os índices do OAN,

apenas que o Oceano Atlântico norte apresenta índices de TSM estáveis sem

tendências.

Porém, os índices do Dipólo do Atlântico revelaram maior relação das fases

positivas e negativas com os totais pluviométricos. Através do Quadro 3 é possível

observar que as ocorrências das maiores concentrações de chuvas relacionam-se

com índices do Dipólo do Atlântico negativos, enquanto nos anos menos chuvosos

são observadas mais ocorrências de valores positivos desse índice. Através do

Gráfico 8d é possível observa que quanto maior os índices de chuva, menores são

os valores do Dipólo do Atlântico (aquecimento do Oceano Atlântico Sul).

Salienta-se que o clima é resultado de um sistema onde as influências das

diferentes fontes interferem nos registros. Dessa forma é possível que um único

fenômeno cause influência sobre os totais pluviométricos, porém se os oceanos

Pacífico e Atlântico apresentarem situação favoráveis, certamente o efeito será

mais significativo.

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QUADRO 3: RELAÇÃO DOS REGISTROS PLUVIOMÉTRICOS EM ÓRDEM

CRESCENTE COM FENÔMENOS DE MESOESCALA

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

Frequência Acumulada Ano ENOS (NOAA) ODP (NOAA) OAN (NOAA) Dipólo do Atlântico

1 1163,6 1961 -0,07 -0,54 0,04

2 1234,8 1993 0,35 0,97 0,18 -0,66

3 1262,3 2012 -0,12 -1,66 -0,46 1,12

4 1321,4 2007 -0,40 -0,78 0,17 0,32

5 1346,2 2008 -0,68 -1,75 -0,38 -0,29

6 1429,8 1976 -0,08 -0,17 0,19 0,67

7 1467,1 1987 1,23 1,12 -0,12 0,11

8 1546,4 2014 0,01 0,47 0,19 0,01

9 1562,8 1979 0,27 0,07 0,14 0,35

10 1575,5 1992 0,67 0,70 0,58 1,02

11 1593,1 1982 0,96 -0,25 0,43 0,49

12 1656,3 1983 0,51 1,19 0,31 0,35

13 1673,4 1997 1,04 1,22 -0,16 1,12

14 1679,1 1995 -0,13 0,32 -0,08 0,14

15 1761,8 1991 0,63 -0,93 0,27 -0,24

16 1777,3 2001 -0,28 -1,13 -0,18 0,50

17 1785,5 1984 -0,48 0,59 0,25 -1,79

18 1789,0 1998 -0,01 -0,45 -0,48 -0,07

19 1793,9 1962 -0,24 -1,14 -0,34

20 1797,3 1981 -0,23 0,79 -0,21 0,90

21 1824,3 2002 0,62 -0,49 0,04 -0,15

22 1842,7 1965 0,77 -0,17 -0,13 -0,04

23 1908,2 2000 -0,87 -1,13 0,21 -0,46

24 1914,1 2009 0,33 -1,08 -0,24 -0,56

25 1915,9 1970 -0,30 -0,42 -0,25 0,93

26 1920,2 2010 -0,33 -1,15 -1,15 0,54

27 1935,6 1967 -0,33 -0,79 0,37 0,29

28 1950,0 1980 0,29 0,25 -0,41 1,13

29 1958,8 1990 0,28 -0,86 0,59 0,26

30 1963,3 2015 1,26 0,90 0,43 0,11

31 1967,1 2013 -0,26 -1,22 0,21 0,57

32 1991,6 1963 0,55 -0,28 -0,42

33 2014,0 1972 0,85 -1,17 0,51 -1,42

34 2014,2 2003 0,28 0,32 0,10 -0,30

35 2019,7 2004 0,43 -0,35 0,24 0,79

36 2020,4 1966 0,34 -0,50 -0,33 0,26

37 2082,2 1978 -0,10 0,01 0,32 1,05

38 2146,0 1988 -0,78 -0,08 -0,01 -0,79

39 2169,8 2011 -0,70 -1,91 0,29 0,28

40 2214,8 1986 0,24 0,96 0,50 -0,99

41 2286,8 1994 0,43 -0,53 0,58 -0,69

42 2287,6 1977 0,52 0,02 -0,34 0,08

43 2287,8 1996 -0,43 0,61 -0,21 -0,32

44 2319,1 2006 0,16 -0,46 -0,21 0,28

45 2329,0 2005 0,14 -0,28 -0,27 1,25

46 2423,0 1973 -0,57 -1,18 -0,09 -2,15

47 2448,6 1974 -0,87 -0,38 0,18 -2,02

48 2473,4 1969 0,72 -0,39 -0,06 0,77

49 2496,3 1968 0,03 -0,19 -0,94 -0,14

50 2514,6 1985 -0,53 0,00 -0,18 -0,91

51 2520,7 1989 -0,63 -0,55 0,70 -0,64

52 2672,9 1975 -0,97 -1,46 -0,07 -0,57

53 2677,9 1999 -1,14 -1,78 0,39 -0,31

54 2715,1 1971 -0,91 -1,34 0,01 -0,42

55 3223,2 1964 -0,37 -0,85 -0,04 0,27

Quadro 3- Fonte: Quadro 1; NOAA; FUCEME. Elaboração: Vinícius Da Rós, 2017.

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Frequência Acumulada ENOS (NOAA) Tendência do ENOS

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1986

1996

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Frequência Acumulada ODP (NOAA) Tendência da ODP

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1961

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Frequência Acumulada OAN (NOAA) Tendência da OAN

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1997

2001

1962

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1970

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2013

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Frequência Acumulada Dipólo do Atlântico Tendência do Dipólo

GRÁFICO 8 – RELAÇÃO ENTRE REGISTROS PLUVIOMÉTRICOS EM ÓRDEM

CRESCENTE COM ÍNDICES TSM

SALVADOR (BA): 1961 – 2015

Gráfico 8 – Relação entre frequência acumulada pluviométrica e (a) registros de ENOS; (b) registros da ODP; (c) registros da OAN; (d) registros do Dipólo do Atlântico. - Fonte: Quadro 3.

O Gráfico 9 relaciona a tendência negativa identificada em dezembro, que

possivelmente seja uma das principais influências na tendência observada na série,

com as anomalias da TSM nos oceanos Pacífico e Atlântico.

Foi detectada relação do período em que as chuvas persistem, na maior

parte dos anos, abaixo da média (entre 1991 e 2015) com período negativo do

Dipólo do Atlântico, ou seja, com o aquecimento da bacia do Oceano Atlântico sul.

Entretanto no mesmo período a ODP mostra-se com tendência de aumento,

consequentemente os índices de TSM do Oceano Pacífico tem aumentado no

mesmo período em que as chuvas tem diminuído em Salvador.

(a) (b)

(d) (c)

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GRÁFICO 9 – RELAÇÃO ENTRE DIMINUIÇÃO DAS CHUVAS EM DEZEMBRO

COM O DIPÓLO DO ATLÂNTICO E ODP

SALVADOR (BA): 1961 - 2015

Gráfico 9 - Fonte: Quadro 2; NOAA. Elaboração: Vinícius M. Da Rós, 2017.

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Chuvas acima da média Chuvas abaixo da média Dipólo do Atlântico Tendência do Dipólo do Atlântico

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Média

Chuvas acima da média Chuvas abaixo da média ODP (NOAA) Tendência da ODP

(b)

(a)

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6. DISCUSSÕES

O dinamismo atmosférico frente as escalas temporais utilizadas para

análise climática, exige a compreensão de inúmeros elementos que podem

interferir nos padrões do clima.

Analisando o Quadro 2, é possível perceber que não há ocorrência de

meses que não apresentaram chuvas. O menor valor da série foi o mês de

novembro de 2015 que registrou 3,2 mm, o que leva a crer que os índices de

umidade atuantes sobre a cidade são frequentemente significativos7.

Curiosamente o mesmo ano que apresentou menor índice pluviométrico da

série, também registrou o mês de maio com maior concentração de chuvas do

intervalo de dados, 639,0 mm, que revela uma grande concentração de chuvas em

um curto período.

É interessante observar a reação das pessoas ao verem que 2015 foi um

dos anos em que os totais pluviométricos mantiveram-se abaixo da média anual,

mesmo causando desastres em razão do grande acumulado de chuvas que foram

veiculados pela mídia a nível nacional.

A média aritmética pode induzir a pensar que as ocorrências acima e

abaixo desse parâmetro são anormais. A média observada do período de estudo a

qual esse trabalho se propôs a analisar foi 1.975,7 mm. Em apenas 10 anos são

observados totais pluviométricos entre 1.900,0 mm e 2.000,0 mm, em 23 anos os

acumulados foram superiores aos 2.000,0 mm e em 22 anos os totais foram

inferiores aos 1.900.0 mm.

É comum que hajam momentos que sejam favoráveis a maiores ou

menores índices em relação às médias, em razão dos diversos elementos que

influenciam neles. Esse dinamismo diz respeito a pulsação do ritmo climático, onde

7 De acordo com o INMET, a média da Umidade Relativa do Ar para o período de 1961 à 2015 é de 81,2%. O índice mínimo é 57,5% em 07/02/1979 e o máximo 99,8% em 30/11/2007. Dados disponíveis no BDMEP.

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frequentemente ocorrem variações dos registros e impactam severamente sobre a

organização social.

A partir dos resultados alcançados por este trabalho, é possível afirmar que

as chuvas que atingiram Salvador entre 1961 e 2015 obedeceram a uma ciclicidade

que contemplou diferentes estados atmosféricos. A sazonalidade observada,

principalmente através do Quadro 3, revela que ocorrem períodos mais ou menos

chuvosos na cidade, os meses de AMJ são caracterizados pelos grandes volumes

de chuvas, porém existem ocasiões em que no mês de abril, por exemplo, foi

registrado 2,6% do total anual (1990), o que não significa uma modificação no

padrão, visto que em 1989 esse total era 19% e em 1991, 17%.

O mês menos úmido identificado na série foi janeiro. A média climatológica

é 138,0 mm, a média aritmética foi 95,6 mm, a precipitação mínima foi 6,1 mm em

1962, a máxima foi 481,2 mm em 1964 (14,9% das chuvas deste ano). Entretanto

os meses de fevereiro e dezembro constaram 13 vezes cada um como os meses

menos úmidos de determinados anos.

A melhor relação entre as TSMs e extremos de chuva em Salvador foi

encontrada com os índices do Dipólo do Atlântico. O maior aquecimento das águas

do Atlântico Sul gera maior evaporação sobre o oceano, consequentemente maior

quantidade de umidade transportada em direção ao continente pelos ventos Alísios

de Sudeste, o que foi constatado também por Hounsou-gbo et al (2015).

Porém também é possível relacionar as chuvas com os índices de TSM do

Oceano Pacífico. O ODP e o ENOS, fenômenos que se correlacionam e

apresentam-se com indicadores contrários em relação as chuvas. Geralmente

quanto maior são os índices pluviométricos observados na área de estudo,

menores são os índices TSM do Oceano Pacifico e vice-versa.

Estes exemplos demonstram e comprovam que o clima não é engessado

e o fato de em determinado mês ter chovido acima ou abaixo do esperado não

significa mudança no clima. São variabilidades em decorrência das influências

sobre o sistema atmosférico.

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Entretanto a partir do momento em que uma determinada modificação no

padrão torna-se persistente diante da série de dados, expondo um aumento ou

diminuição dos índices de uma variável, a modificação torna-se uma tendência.

Este trabalho identificou a existência de tendência decrescente dos valores

de chuva (Gráfico 2), o que significa que no período analisado, houve diminuição

dos totais pluviométricos mensais. No contexto deste trabalho, onde a escala

temporal é limitada em razão das dificuldades em reunir dados meteorológicos

históricos de Salvador, é possível afirmar que houve uma modificação no clima

dentro dos 55 anos analisados, visto que o intervalo respeita o conceito para

abordagem de clima (entre 30 e 35 anos) e nele observa-se a modificação.

Essa conclusão corrobora com Santos et. al. (2016); em uma série de

dados semelhante (1961-2011) os autores detectaram tendência negativa e

afirmaram haver diminuição de 3,8 mm/ano, totalizando 193,8 mm nos 51 anos.

O início do declínio da linha de tendência é observado a partir da década

de 1970 (gráfico 3b) que coincide com o início do período de diminuição dos

registros de mancha solares do ciclo de Gleissberg, que pode ter sido o motor para

tal modificação. O início deste ciclo marcou o período de diminuição da atividade

solar entre o final das décadas de 1950 e 1960, com período de mínima atividade

entre 2000 e 2018, e fim dessa fase previsto para até 2045 quando se inicia o novo

ciclo com o aumento das atividades solares.

Além do Sol, sabe-se que a estação está posicionada em meio ao ambiente

urbano, em área de intensa ocupação e com significativas modificações na

paisagem ao longo das últimas décadas. Entre 1970 e 2010 (último censo) a

população da cidade quase triplicou, aumentando até 2007, quando houve um

pequeno declínio. Dessa forma, entende-se que juntamente com a população foram

acrescidos os equipamentos urbanos, tais como sistema viário, parques, prédios,

muita impermeabilização, consequente aquecimento do solo e maior emissão de

gases poluentes.

Embora não seja conclusivo, na escala espacial de uma cidade os efeitos

antrópicos interferem significativamente no bem-estar, incluindo assim as

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temperaturas, correntes de vento e, provavelmente, na precipitação pluviométrica

como indicou Freitas & Dias (2000). Há de se avaliar de forma comparativa, os

resultados deste trabalho com produções semelhantes em estações fora do

ambiente urbano de Salvador, apenas dessa forma será possível afirmar se

fenômenos, como a Ilha de Calor urbana, poderiam ser responsáveis pela

modificação apontada por este estudo.

Através da análise de tendência por mês, foi possível identificar ocorrência

de tendência estatística significativa apenas em dezembro (Gráfico 7l). Através da

análise visual do comportamento da tendência é possível identificar declínio da

linha no final da primavera e durante todo verão (Gráficos 7k, l, a, b).

A diminuição observada pela análise de tendência no mês de dezembro

(Gráfico 7l) confirma o que já havia sido verificado pelo Gráfico 4l que expõe

claramente concentração de anos consecutivos (a partir de 1991) em que os

registros pluviométricos de dezembro mantem-se, em maior parte, abaixo da

média.

As chuvas que ocorrem no período do verão em Salvador são geralmente

originadas por processos convectivos originados do Oceano Atlântico e

transportados pelos ventos Alísios de Sudeste. Eventualmente nos verões ocorre

avanço de frentes frias em razão do gradiente térmico que podem se associar aos

processos convectivos, o que proporciona maior penetração da frente ao

continente.

A ODP se correlaciona com o fenômeno ENOS, dessa forma o

aquecimento da ODP favorece a formação da fase positiva do ENOS, nesses casos

ocorre bloqueio do avanço dos sistemas de frente sobre as regiões Sul e Sudeste

do Brasil (Jesus, 2003) em razão da formação da ZCAS. As frentes que deveriam

alcançar até os 12º de latitude nesse período são bloqueadas o que pode favorecer

o aumento das temperaturas continentais ao norte da ZCAS formando massas de

ar quente e seco que impedem a entrada de umidade proveniente do Oceano

Atlântico.

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Essa conclusão corrobora com Hounsou-gbo et. al. (2015) quando

afirmaram que os eventos ENOS positivos ou negativos tem pico no mês de

dezembro e impactos direto nas precipitações pluviométricas na região Nordeste.

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7. CONCLUSÕES

Frente aos resultados alcançados, é coerente afirmar que dentro da série

de dados foi detectada tendência decrescente dos totais pluviométricos da série.

As maiores mudanças verificadas foram observadas no mês de dezembro quando

os totais pluviométricos têm decréscimo constante, com poucas exceções, desde o

início da década de 1990.

A tendência negativa da série foi atribuída ao aumento dos índices de TSM

da ODP que se relaciona com o ENOS positivo, nesta fase é favorecida a formação

da ZCAS sobre as regiões Sul e Sudeste do Brasil que bloqueia o avanço à

nordeste dos sistemas frontais, proporciona a formação de uma massa de ar quente

e seco sobre o Nordeste que impede a entrada para o continente de umidade

oriunda do Oceano Atlântico.

Foi encontrada relação das chuvas com os índices de TSM dos oceanos

Pacífico e Atlântico. A superfície do Oceano Atlântico sul, quando aquecido, confere

ao continente maior quantidade de umidade transportada pelos ventos Alísios de

Sudeste e ao se resfriar essa quantidade diminui. A superfície do Oceano Pacífico

ao se aquecer resulta em diminuição dos totais pluviométricos no Nordeste

enquanto ao se resfriar favorece maior avanço das frentes que frequentemente

alcançam a região de Salvador.

Vale ressaltar que este trabalho, embora tenha alcançado os resultados

esperados, apresenta deficiências que carecem maior atenção por parte da

academia. Embora tenha sido identificada tendência na série, período em que

ocorre e as suas prováveis causas, infelizmente não foi possível identificar um valor

que represente o quanto modificou em milímetros em razão das limitações de

manipulação do software R. Falar em variabilidade no clima, sem dizer o quanto o

clima variou é uma forma desinteressante para aproximar a ciência da sociedade.

Embora os resultados apontem para modificações no padrão do clima, há

de se levar em consideração que um intervalo de 55 anos, em relação aos ciclos

climáticos regidos principalmente pelas atividades solares, modificações no eixo de

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movimento da Terra, dinâmica oceânica e erupções vulcânicas, são insignificantes

e apresentam-se apenas como uma variabilidade perante a escala geológica.

Porém, dentro do intervalo abordado por este trabalho, evidencia-se que o clima

não se mantém constante, ocorrem modificações entre o início e o fim da série que

resulta em diminuição pluviométrica.

Este trabalho é um incentivo ao aprofundamento nos estudos para

compreensão das causas relacionadas aos eventos pluviométricos que atingem

Salvador. Apresenta limitações, desde a série temporal utilizada, até o

conhecimento quanto a aplicação das técnicas estatísticas, entretanto seus

resultados são de extrema relevância.

Contudo, espera-se que os objetivos alcançados auxiliem na tomada de

decisão dos órgãos relacionados ao planejamento urbano ambiental, que desperte

a atenção em relação as possibilidades de ocorrência de catástrofes relacionadas

as chuvas em razão de fenômenos distantes da realidade local e fomente o

aprofundamento dos estudos tanto dos impactos das chuvas na cidade, quanto das

suas causas.

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