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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA - PROLING LUANA ANASTÁCIA SANTOS DE LIMA EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2) João Pessoa PB 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA - PROLING

LUANA ANASTÁCIA SANTOS DE LIMA

EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA

INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2)

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação

em Linguística da Universidade Federal da Paraíba, na

área de concentração Teoria e Análise Linguística e linha

de pesquisa Diversidade e Mudança Linguística , como

requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Linguística.

Orientador: Prof. Dr. Rubens Marques de Lucena

João Pessoa – PB

2012

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L732e Lima, Luana Anastácia Santos de.

Epêntese vocálica medial: uma análise variacionista da influência da língua materna (L1) na aquisição de inglês (L2) / Luana Anastácia Santos de Lima.--João Pessoa, 2012.

128f. : il. Orientador: Rubens Marques de Lucena Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCHLA

1. Linguística. 2. Epêntese vocálica medial. 3. Aquisição de L2. 4. Variação linguística.

UFPB/BC CDU: 801(043)

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EPÊNTESE VOCÁLICA MEDIAL: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DA

INFLUÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA (L1) NA AQUISIÇÃO DE INGLÊS (L2)

Luana Anastácia Santos de Lima

Dissertação aprovada em 02 de abril de 2012.

João Pessoa

2012

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Dedico primeiramente a Deus, que é o motivo maior da minha

existência, e a minha família, em especial aos meus pais,

Gonçalo Alves de Lima (in memoriam) e Gidalva Santos de

Lima.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela força que me impulsionou nestes dois anos, por ser a

motivação nas horas de desânimo e a fonte de inspiração para construção de cada linha deste

trabalho e por sua constante presença em minha vida, fazendo-me acreditar que a realização

de mais este sonho seria possível. Eu te agradeço por tudo, meu Senhor!

Aos meus pais, Gonçalo (in memoriam) e Gidalva, pelo incentivo aos estudos, mesmo em

meio às dificuldades, pelo carinho e apoio incondicional e pela dedicação, sem medir

esforços, para que eu concluísse mais esta importante etapa da minha vida. Vocês são os meus

exemplos de superação e os seus ensinamentos são o maior tesouro que tenho!

Aos meus irmãos Flávio e Verônica, pelo apoio e “força” durante os longos momentos de

estudo. Desculpa a ausência de alguns momentos!

Aos meus tios, Ducarmo, França, Salete e Luiz, que me apoiaram, em todos os sentidos,

durante todo o meu curso, contribuindo para que eu concluísse com sucesso mais essa etapa

da minha vida. Vocês fazem parte da minha história!

À Seu Manoel (in memoriam), Dona Zefinha, Maria José e família, por me assistirem desde

os meus primeiros passos e se congratularem a cada vitória alcançada. Jamais os esquecerei e

serei eternamente grata pelo o que já fizeram por mim e minha família!

Ao meu querido orientador, Professor Rubens Marques de Lucena, por me mostrar o gosto

pela pesquisa (sócio) linguística ainda na época da graduação e por ter me aceitado como

orientanda no mestrado, acreditando no trabalho que eu poderia desenvolver. Agradeço,

também, pela dedicação, paciência, ética e profissionalismo em meio às orientações desses

dois anos. O senhor é a minha referência de um profissional brilhante! Obrigada por tudo, de

coração!

Aos componentes da banca examinadora, por terem aceitado o convite para participar da

apresentação da qualificação e acrescentar as valiosas contribuições para enriquecer meu

trabalho.

Aos meus queridos amigos Professora Fátima Aquino, Seu Boaz, João Neto, Pedro, Maria e

Margarida, pelo acolhimento desde a época da graduação, carinho, compreensão e amizade ao

longo desses últimos anos. Agradeço a essa grande família, também, pelos valiosos conselhos

e experiências de vida os quais ficarão comigo eternamente. A realização deste sonho não

seria possível sem o apoio de vocês!

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A Karol, amiga que conheci no Mestrado, com a qual compartilhei conhecimentos

acadêmicos e diálogos de conforto e confiança para a conclusão deste trabalho. Obrigada pela

afetuosa amizade e por sempre me ouvir nos momentos de dúvidas angustiantes!

A Dona Luzia, pela simpatia e alegria com que sempre me acolheu em seu estabelecimento

durante os intervalos das aulas. A hora passava rápido entre uma conversa e outra!

A todos os meus amigos da UEPB, em especial Jailto, Suênio, Monaliza, Luciana, Luana,

André Pedro, Euda, Marci, Neni que, em meio a divertidas conversas e partilhas, aliviavam a

tensão e a ansiedade da construção deste trabalho. Sem vocês, este momento não poderia ter

sido mais divertido!

A todas as minhas amigas, em especial, Aninha e Jaqueline, pela sincera e fiel amizade,

mesmo apesar da distância. Obrigada por compreenderem minha ausência em tantos

momentos!

A todos os motoristas, em especial Seu Paulo e Seu Guedes, que, sempre que possível,

forneciam transporte e não hesitavam em me levar à universidade para que eu pudesse, a cada

dia, ampliar meus conhecimentos e concluir com êxito essa pós.

A todos os participantes da pesquisa que, gentilmente, cederam parte de seu tempo para que

eu pudesse realizar desde a aplicação dos questionários às gravações e, assim, concluir a

coleta dos dados e a montagem do corpus.

À UFPB, especialmente ao Programa de Pós Graduação em Linguística (PROLING), que me

acolheu como aluna do Curso de Mestrado, no ano de 2010, e onde descobri um universo

fantástico que ajudou a ampliar os meus conhecimentos sobre as variadas faces da

Linguística.

A todos os professores do Mestrado que tive oportunidade de conhecer e que, a cada

disciplina, me proporcionaram um novo olhar para a Linguística, além de contribuições

valiosíssimas para este trabalho.

A Vera, Dona Cida, Ronil, Valberto e todos os funcionários, que, com prontidão e eficiência,

sempre me auxiliaram no PROLING e VALPB.

Finalmente, agradeço a todos que contribuíram direta e indiretamente para a construção desse

trabalho, participando de um momento muito importante e inesquecível da minha vida, de

modo que jamais os esquecerei. Enfim, a todos, meu simples e sincero muito obrigada!

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO............................... .....................................................................15

Objetivo geral............................................................................................................................17

Objetivos específicos................................................................................................................17

CAPÍTULO I – Objeto de estudo: epêntese vocálica medial – revisão da literatura.......19

1.1 Epêntese vocálica................................................................................................................19

1.2 Alguns estudos sobre epêntese vocálica.............................................................................27

CAPÍTULO II – Pressupostos teóricos.................................................................................37

2.1 Sociolinguística variacionista.............................................................................................37

2.2 Aquisição de L2..................................................................................................................41

2.3 Consciência fonológica.......................................................................................................46

CAPÍTULO III – Metodologia...............................................................................................50

3.1 Coleta de dados...................................................................................................................50

3.2 Caracterização das variáveis...............................................................................................54

3.2.1 Variável dependente.........................................................................................................54

3.2.2 Variáveis independentes..................................................................................................55

3.2.2.1 Variáveis independentes linguísticas............................................................................55

3.2.2.1.1 Contexto fonológico precedente................................................................................55

3.2.2.1.2 Contexto fonológico seguinte....................................................................................56

3.2.2.1.3 Tonicidade..................................................................................................................58

3.2.2.1.4 Tipo de instrumento...................................................................................................58

3.2.2.2 Variáveis independentes extralinguísticas....................................................................59

3.2.2.2.1 Sexo............................................................................................................................59

3.2.2.2.2 Nível de proficiência na língua..................................................................................59

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3.2.2.2.3 Idioma........................................................................................................................60

3.3 Instrumento de análise dos dados........................................................................................60

CAPÍTULO IV – Análise e discussão dos dados..................................................................63

4.1 Frequência geral da epêntese vocálica em L1 e L2.............................................................63

4.1.1 Proficiência na língua.......................................................................................................67

4.1.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................69

4.1.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................71

4.1.4 Tonicidade........................................................................................................................73

4.2 Frequência geral da epêntese vocálica em L1.....................................................................75

4.2.1 Proficiência na língua.......................................................................................................78

4.2.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................81

4.2.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................83

4.2.4 Tonicidade........................................................................................................................85

4.3 Frequência geral da epêntese vocálica em L2.....................................................................86

4.3.1 Proficiência na língua.......................................................................................................89

4.3.2 Contexto fonológico seguinte..........................................................................................90

4.3.3 Contexto fonológico precedente......................................................................................92

4.4 Comparação das rodadas realizadas....................................................................................93

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................104

APÊNDICE 1 – Formulário de Consentimento

APÊNDICE 2 – Questionário

APÊNDICE 3 – Corpus de Língua Portuguesa / Corpus de Língua Inglesa

APÊNDICE 4 – Lista de textos em Inglês / Lista de textos em Português

ANEXO 1 – Oxford Placement Test (ALLAN, 2004)

ANEXO 2 – Folha de aprovação do Comitê de Ética

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LISTA DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS

QUADROS

Quadro 1 – Padrão canônico CCVC.........................................................................................22

Quadro 2 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese no português.................................23

Quadro 3 – Extravio do elemento flutuante..............................................................................24

Quadro 4 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese em língua inglesa.........................26

Quadro 5 – Esquema da consciência fonológica......................................................................47

Quadro 6 – Distribuição das células.........................................................................................53

Quadro 7 – Contextos fonológicos precedentes analisados......................................................55

Quadro 8 – Contextos fonológicos seguintes analisados..........................................................57

Quadro 9 – Sequência de execução de tarefas do GoldVarb X.................................................61

Quadro 10 – Grupos selecionados na 1ª rodada........................................................................66

Quadro 11 – Grupos selecionados na 2ª rodada........................................................................78

Quadro 12 – Matriz de traços distintivos proposta por Guy (2007).........................................84

Quadro 13 – Grupos selecionados na 3ª rodada........................................................................88

Quadro 14 – Grupos selecionados em todas as rodadas...........................................................95

TABELAS

Tabela 1 – Proficiência na língua (L1 + L2).............................................................................67

Tabela 2 – Contexto fonológico seguinte (L1 + L2).................................................................69

Tabela 3 – Contexto fonológico precedente (L1 + L2).............................................................72

Tabela 4 – Tonicidade (L1 + L2)..............................................................................................73

Tabela 5 – Proficiência na língua (L2) nos dados de L1..........................................................79

Tabela 6 – Contexto fonológico seguinte (L1).........................................................................81

Tabela 7 – Contexto fonológico precedente (L1).....................................................................83

Tabela 8 – Tonicidade (L1).......................................................................................................85

Tabela 9 – Proficiência na língua (L2)......................................................................................89

Tabela 10 – Contexto fonológico seguinte (L2).......................................................................91

Tabela 11 – Contexto fonológico precedente (L2)...................................................................92

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GRÁFICOS

Gráfico 1 – Frequência geral do fenômeno da epêntese vocálica medial.................................64

Gráfico 2 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L1...............................76

Gráfico 3 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L2...............................87

Gráfico 4 – Comparação da ocorrência da epêntese vocálica em todas as rodadas..................94

Gráfico 5 – Comparação da variável proficiência na língua em todas as rodadas....................96

Gráfico 6 – Comparação da variável contexto fonológico seguinte em todas as rodadas........97

Gráfico 7 – Comparação da variável contexto fonológico precedente em todas as rodadas....98

Gráfico 8 – Comparação da variável tonicidade em todas as rodadas......................................99

FIGURAS

Figura 1 – Processo de transferência linguística.......................................................................80

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

PROLING – Programa de Pós Graduação em Linguística

VALPB – Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba

PB – Português do Brasil

L1 – Língua 1

L2 – Língua 2

RS – Rio Grande do Sul

R – Rhyme (rima)

Nu – Nucleus (núcleo)

O – Onset (ataque)

C – Consoante

V – vogal

AEE – Apagamento do Elemento Extraviado

ACC – Afrouxamento da Condição de Coda

SLA – Second Language Acquisition (Aquisição de Segunda Língua)

GU – Gramática Universal

GA – Generalized Alignment (Alinhamento Generalizado)

σ – Sílaba

ᴓ – Vazio

/ / – Representação fonológica

[ ] – Representação fonética

> – X torna-se Y

– X torna-se Y

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RESUMO

O presente trabalho busca investigar a ocorrência da epêntese vocálica medial na produção do

português brasileiro (como em cognato > cog[i]nato) e de inglês como L2 (object > ob[i]ject). Este

fenômeno fonológico tem sido atestado em vários trabalhos que dão conta de explicar sua aplicação

tanto em L1 quanto em L2 (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008;

SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010), cujos resultados originaram as hipóteses

lançadas para cada variável controlada em nossa análise. Para tanto, utilizamos uma metodologia

sociolinguisticamente orientada (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), a qual

contou com a produção de 18 aprendizes da região do Brejo Paraibano que foram submetidos à

leituras de frases e textos em português e inglês. Os dados de produção foram gravados e as

ocorrências do fenômeno foram quantificadas, sendo, em seguida, codificadas para receber um

tratamento estatístico pelo programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005), a

partir dos quais foram realizadas três rodadas distintas (L1 + L2; L1; L2). Os resultados das análises

estatísticas mostraram que, de forma geral, o fenômeno da epêntese vocálica exibiu baixos índices de

aplicação do fenômeno. A partir dos resultados obtidos, constatamos que as variáveis selecionadas

como relevantes para a ocorrência do fenômeno foram as mesmas, em todas as rodadas, na mesma

sequência (proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e

tonicidade), com exceção da 3ª rodada que refutou a última variável. Concluímos, pois, que os dados

confirmaram a influência dessas variáveis na ocorrência da epêntese, ratificando a forte ligação entre a

L1 e a L2.

Palavras-chave: Epêntese vocálica medial; aquisição de L2; variação linguística.

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ABSTRACT

This work aims at investigating the occurrence of the epenthetic vowel in word medial clusters in the

speech of Brazilian Portuguese (as in cognato > cog[i]nato) and in English as L2 (as in object >

ob[i]ject). This phonological phenomenon has been attested in several works that explain the

phenomenon in L1 and L2 (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008;

SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010), whose results helped us to formulate the

hypothesis in our research. For this, we used a variationist methodology (LABOV, 1975; LABOV et

al., 2006 [1968] and 2008 [1972]), based on 18 informants from Brejo Paraibano, who were asked to

read sentences and texts in Portuguese and English. The speech data were recorded and the

phenomenon occurrence were quantified and coded in order to be statistically analyzed using

GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005). Then three different analyses were

carried out (L1 + L2; L1; L2). The analyses results revealed that the epenthetic vowel showed low

frequency in all runs. From the results, we assumed that the significant variables to vowel epenthesis

occurred equally and in the same sequence, in all runs (proficiency level, following phonological

context, preceding phonological context, stress), except on the 3rd

run. We conclude that the

production data confirmed the relation between the variables frequency in all runs, confirming the

strong connection between L1 and L2.

Keywords: Epenthetic vowel in word medial clusters; second language acquisition; linguistic

variation.

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“Most knowledge and learning in variation theory

has been acquired like this, passed on through

word of mouth, from one research to the next.”

(Tagliamonte)

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INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos de 1960 e 1970 verificou-se um significativo desenvolvimento de

dois ramos da Linguística, sendo eles o estudo quantitativo da variação linguística e a

investigação sistemática da aquisição de L2.

Conforme afirma Bayley (2005), a motivação para a convergência dessas duas áreas

de estudo encontra-se no objetivo comum entre ambas de entender o comportamento das

variáveis linguísticas, bem como entender o sistema que é construído pelo aprendiz de uma

L2.

Os estudos de L2 que combinam, entre outros métodos, métodos variacionistas podem

fornecer um melhor entendimento a respeito de como os aprendizes adquirem recursos

necessários para manipular efetivamente a estrutura da L2, destacando, sobretudo, o possível

contato entre L1 e L2.

Uma das observações mais constantes durante o processo de aquisição1 de uma língua

estrangeira é esse contato entre as duas línguas, o qual ocorre sob a forma de transferência

linguística e que parte da L1 em direção à L2. Esse processo geralmente é mediado por

fenômenos fonológicos ocorridos em um dos sistemas linguísticos envolvidos.

Em se tratando do português brasileiro, temos, entre outros fenômenos que ilustram

esse processo de transferência, a epêntese vocálica, responsável por estabilizar a produção

acústico-articulatória de encontros consonantais constituídos por codas complexas, os quais,

para serem melhor produzidos, precisam estar apoiados em uma vogal.

De acordo com esse processo, os aprendizes tendem a repetir o que é aplicado na L1,

evidenciando a influência que um sistema linguístico exerce sobre a produção do outro.

Tendo em vista essa constatação, o presente trabalho irá analisar o fenômeno da

epêntese vocálica medial nas produções de aprendizes de inglês como L2. Pretende-se, nesta

perspectiva, investigar em que medida esses aprendizes inserem vogais entre encontros

consonantais tanto no português quanto no inglês, de forma a produzir construções do tipo

advérbio > ad[i]vérbio e object > ob[i]ject.

Diversos estudos tratam da investigação deste fenômeno (COLLISCHONN, 2002,

2003; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010;

CAGLIARI, 2010). No entanto, a maior parte destes trabalhos está concentrada no Sul do

1 Krashen (1982) coloca a distinção entre os termos aquisição e aprendizagem. De acordo com o referido autor,

a aquisição ocorre quando a L2 é adquirida subconscientemente, de forma que o falante se ocupa da

comunicação e compreensão das mensagens. O aprendizado, por outro lado, ocorre quando a língua é adquirida

conscientemente, de forma que a aprendemos em contextos monitorados, como na escola, por exemplo.

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Brasil, com exceção da pesquisa realizada por Lucena & Alves (2009, 2010) que abrange

corpora do Rio Grande do Sul e da Paraíba, o que despertou o interesse de desenvolver um

estudo analítico do comportamento da epêntese vocálica medial no Nordeste brasileiro, em

específico, na região do Brejo Paraibano, tendo em vista o fato de esta ser a região onde a

pesquisadora reside.

Consideramos pertinente ressaltar que esses trabalhos realizados no Rio Grande do Sul

(RS) embasarão nossa pesquisa, uma vez que iremos compará-los ao nosso durante a análise e

discussão dos dados. Além disso, os resultados encontrados em tais trabalhos serviram de

base para a construção das hipóteses formuladas para nortear esta pesquisa, as quais serão

bem mais detalhadas na metodologia2.

Para respaldar teoricamente nossa análise, ecoamos a Teoria da Variação Linguística3

(LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), também conhecida como

Sociolinguística Variacionista, a qual admite o aspecto social e variável da língua, indo de

encontro ao postulado de correntes anteriores, como o Estruturalismo (SAUSSURE, 2006

[1916]) e o Gerativismo (CHOMSKY, 1957) que abstraíram a variação linguística de seu foco

de estudo e pregavam a homogeneidade linguística.

Proposta pelo estudioso William Labov (op. cit.), a Sociolinguística Variacionista se

desenvolveu, significativamente, a partir da década de 1960, caracterizando-se como uma

revolução dentro do panorama geral da linguística. Desta forma, ao criar este novo paradigma,

Labov (op. cit.) comprova o indissociável diálogo entre língua/sociedade e o dinamismo do

sistema linguístico (LABOV, 2008 [1976], p. 216).

A Sociolinguística, em consonância com a Fonologia, tem se mostrado uma área de

grande relevância para os estudos de caráter aquisicionista. Além de guiar estudos que dizem

respeito à avaliação do enunciado socialmente apropriado, a Sociolinguística se mostra

fundamental na consideração de aspectos socioculturais no aprendizado e aquisição de uma

língua estrangeira4.

Partindo desta vertente variacionista, empreendemos uma análise fonético-fonológica

do fenômeno da epêntese vocálica, de forma a verificar a variação que ocorre na produção de

2 Deve-se ressaltar que as hipóteses para esta pesquisa foram formuladas a partir de cada variável controlada e

dos resultados encontrados em trabalhos anteriores (COLLISCHONN, 2002, 2003; PEREYRON, 2008;

SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010; CAGLIARI, 2010) para essas mesmas variáveis.

3 Consideraremos neste trabalho os termos Teoria da Variação Linguística e Sociolinguística Variacionista como

sinônimos.

4 Vale salientar que, neste trabalho, trataremos os termos Língua Materna e Língua Estrangeira como sinônimos

de L1 e L2, respectivamente.

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falantes brasileiros aprendizes de inglês como L2 diante de encontros consonantais, através de

uma análise empírica.

Para tanto, utilizamos uma amostra constituída de informantes paraibanos aprendizes

de inglês como L2, com nível básico, intermediário e avançado, sendo a maioria do curso de

Licenciatura Plena em Letras, conforme veremos na metodologia (Capítulo III).

Pretendemos, com este trabalho, responder às seguintes questões norteadoras:

1. A frequência da epêntese vocálica é mais recorrente nos dados de L1 ou L2?

2. Que variáveis linguísticas / extralinguísticas favorecem a aplicação do fenômeno em L1 e

L2?

Frente a estas indagações, estabelecemos alguns objetivos gerais e específicos, os

quais serão apresentados a seguir:

Objetivo Geral

a) Descrever como ocorre o fenômeno da epêntese vocálica medial em L1 e L2 na região do

Brejo Paraibano.

Objetivos Específicos

a) Verificar a ocorrência/frequência da epêntese vocálica medial em L1 e L2.

b) Investigar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam a

ocorrência/frequência da epêntese em aprendizes de inglês do brejo paraibano.

Estruturamos a presente dissertação em quatro capítulos. No primeiro capítulo,

traçamos um panorama geral do fenômeno da epêntese vocálica medial, buscando apresentar

dados que comprovem que o referido fenômeno constitui uma estratégia de reparo silábico

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utilizado pelos falantes desde o português arcaico (CUNHA, 1972; ROACH, 2002;

CRYSTAL, 2006; BECHARA, 2009). Elencamos, ainda, encontros consonantais passíveis de

aceitar ocorrências de epêntese em L1 e L2. Por fim, mencionamos os estudos realizados com

a epêntese vocálica.

O segundo capítulo trata das abordagens teóricas utilizadas na fundamentação deste

trabalho. Inicialmente, tratamos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1975; LABOV et

al., 2006 [1968] e 2008 [1972]). Em seguida, ecoamos os pressupostos relacionados à

aquisição de L2 (ELLIS, 1997; TARONE, 2007). Discutimos, além disso, aspectos

relacionados à consciência fonológica (ALVES, 2009).

O terceiro capítulo apresenta a metodologia que adotamos no desenvolvimento desse

estudo. Nesse ponto, explicitamos os procedimentos utilizados na coleta de dados e

caracterizamos as variáveis linguísticas e extralinguísticas que foram controladas, buscando

mostrar os resultados de estudos anteriores para cada variável, a partir dos quais

estabelecemos nossas hipóteses. Versamos, ainda, sobre o instrumento de análise dos dados,

no qual apresentamos o programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH,

2005) utilizado nas análises quantitativas.

O quarto capítulo contempla a análise e a discussão dos resultados obtidos, de forma a

explicitar a frequência geral da epêntese vocálica tanto em L1 quanto em L2 e mostrar a

dinâmica de cada rodada empreendida. Apresentamos, portanto, as variáveis estatisticamente

selecionadas pelo programa, a fim de verificarmos se os resultados corroboram as hipóteses

estabelecidas a princípio. Promovemos, ainda, a comparação das rodadas realizadas.

Por fim, apresentamos as considerações finais acerca da presente pesquisa, seguindo-

se as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.

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20

CAPÍTULO I – Objeto de Estudo: Epêntese Vocálica Medial – revisão da literatura

Neste capítulo, focamos, predominantemente, no fenômeno da epêntese vocálica

medial – objeto de estudo deste trabalho. Desta forma, apresentamos definições acerca do

referido fenômeno, de forma a situá-lo historicamente, pontuando brevemente desde seus

registros mais antigos até estudos atuais. Além disso, pretendemos listar alguns dos trabalhos

empreendidos a respeito da epêntese vocálica em L1 e L2 (BISOL, 1999; COLLISCHONN,

2003; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), justificando, portanto, o interesse de

investigar o comportamento do fenômeno supracitado na região Nordeste do Brasil.

1.1 Epêntese vocálica

O fenômeno linguístico analisado neste trabalho trata da inserção de uma vogal

epentética em posição medial em encontros consonantais, como em objeto > ob/i/jeto, apto >

ap/i/to, conectar > conec/i/tar.

De acordo com Roach (2002, p. 25), a epêntese é caracterizada como um fenômeno

redundante, haja vista que nesse processo o falante tende a inserir um elemento fonológico

desnecessário e que não acrescenta informação alguma aos outros sons. O referido autor ainda

admite que tal fenômeno, geralmente, ocorre quando há a adaptação de vocábulos de uma

língua para a outra, cujas regras fonotáticas não permitem uma determinada sequência de

sons, ou mesmo quando um falante está lidando com uma outra língua fonotaticamente

diferente da sua língua nativa.

Já Crystal (2008, p. 171) apresenta uma definição mais direta, afirmando que a

epêntese se refere a um tipo de inserção de um som extra na palavra.

Dentre os fatores que levam à ocorrência da epêntese vocálica, temos, no PB, a busca

pelo padrão CV da nossa língua, como uma forma de manter seu molde silábico e desfazer as

codas complexas, a fim de respeitar a boa-formação de sua estrutura.

A epêntese pode se aplicar em diferentes posições na sílaba, dependendo do local que

o falante sinta necessidade de inserir o elemento vocálico, recebendo, assim, diferentes

denominações, as quais Coutinho (1976, p. 146-147) discrimina como sendo:

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prótese ou próstese, quando a inserção vocálica ocorre no início do vocábulo (state >

/i/state);

anaptixe ou suarabácti, quando o elemento vocálico é adicionado entre os elementos

consonantais, a fim de desfazer o grupo de consoantes (objeto > ob/i/jeto);

paragoge ou epítese, quando a inserção vocálica ocorre no fim do vocábulo (MEC >

MEC/i/).

Tais ocorrências elencadas anteriormente, sejam em posições iniciais, mediais ou

finais, têm sido atestadas em determinadas palavras ao longo do processo de evolução da

língua, mostrando que a epêntese não é um fenômeno recente, mas o qual já fora evidenciado

em épocas antigas nos sons produzidos na fala dos indivíduos e até em suas produções

escritas.

De acordo com Coutinho (op. cit.), esses tipos de construção remontam a estrutura do

latim, perpassando, sobretudo, o português arcaico, até chegar ao português atual, como

percebe-se em gruppa > garupa; bratta > barata; fevrairo > fevereiro, nos quais a epêntese

desfaz o grupo de consoantes através da intercalação de uma vogal.

Camara Jr. (2007, p. 56) corrobora esta perspectiva e afirma que, de acordo com a

literatura, os primeiros indícios de epêntese no português vieram mesmo a partir da escrita,

através da influência do latim clássico sob forma de empréstimo, por volta do século XV.

Bisol (1999, p. 735) também advoga esta perspectiva, afirmando que a epêntese é um

processo vivo que se estende do latim vulgar a nossos dias, tendo alguns exemplos nítidos da

consagração desta vogal na escrita, tais como estrela e eslavo. Neste contexto, percebia-se em

alguns vocábulos uma grafia com encontros consonantais compostos de elementos de traços

complexos, isto é, palavras que possuíam consoantes que geralmente não eram aceitas em

posições de coda. Nesses casos, a única solução fonologicamente sugerida, aceita e mais bem

sucedida é a intercalação da vogal, que, de acordo com a referida autora, não pode, de forma

alguma, ser fonemicamente desprezada, haja vista que em alguns casos é quase que

pronunciado conscientemente, passando a ser suprimida apenas no registro formal da língua

culta.

Neste processo, cria-se outra sílaba que é formada a partir da primeira consoante em

conjunto com a vogal introduzida. Camara Jr. (1973, p. 28) descreve este processo mostrando

que, “o elemento vocálico intermédio, entre as duas consonantes, excepcionalmente reduzido

em sua emissão ou não, assinala com a primeira consoante uma sílaba de per si”.

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Algumas gramáticas conhecidas, desde a Gramática do Português Contemporâneo –

Celso Cunha (1972) até as mais recentes, como a Moderna Gramática Portuguesa – Evanildo

Bechara (2009), já registravam de forma superficial a ocorrência do referido fenômeno em

encontros consonantais, o que só vem a ratificar que essa tendência de inserir uma vogal em

encontros consonantais já vem sendo observada e descrita há algum tempo.

Cunha (1972, p. 34) já admitia que encontros consonantais mediais, quando

carregados de uma pronúncia tensa, poderiam ser articulados em uma só sílaba, ou em sílabas

diferentes, como em a-pto ou ap-to, di-gno ou dig-no e ri-tmo ou rit-mo. Percebe-se que há,

porém, na linguagem coloquial, uma acentuada tendência de destruir estes encontros de difícil

pronúncia, justamente pela intercalação de uma vogal epentética /i/, como em di-gi-no e ri-ti-

mo, por exemplo.

Celso Cunha (op. cit.) ainda acrescenta que a existência dessa vogal epentética já era

bem frequente no campo da literatura, auxiliando poetas a conservarem a regularidade e a

métrica de seus versos, mantendo, dessa forma, determinadas medidas.

Bechara (2009, p. 72), portanto, atenta ao fato de que muitos desses encontros

consonantais propícios à ocorrência de vogais epentéticas são passíveis de ser encontrados em

vocábulos eruditos, conforme observa-se nos exemplos a seguir, absoluto – ab-so-lu-to,

psicologia – psi-co-lo-gi-a. Além disso, Bechara (op. cit.) também adverte, em sua gramática,

que tais encontros merecem “especial cuidado” porque, exatamente na pronúncia

despreocupada, tendem a construir-se duas sílabas pela intercalação de uma vogal, a qual é a

vogal epentética.

Esta intercalação de uma vogal epentética entre consoantes é proveniente da típica

estrutura do sistema do português brasileiro, o qual possui um inventário de coda limitado,

onde poucos fonemas consonantais são fonologicamente aceitos em posição final das sílabas.

Nesses casos, temos o fenômeno da epêntese como uma espécie de estratégia utilizada pelo

falante para suprir tal carência durante sua produção.

Segundo Collischonn (2003), essa tendência de dirimir encontros consonantais a partir

de uma vogal é resultado do processo de silabação, que ocorrera a partir do componente

lexical da fonologia do português brasileiro (Cf. COLLISCHONN, 2003). De acordo com a

referida autora, o que ocorre é que

Durante a silabação, uma consoante não apta a ocupar uma posição silábica de ataque

ou coda permaneceria não ligada a nenhum nó silábico (chamamos essa consoante de

consoante perdida). A existência de uma dessas consoantes perdidas na representação

fonológica desencadearia a criação de uma sílaba estrutura, desprovida ainda de

núcleo vocálico, mas a qual permite a associação da consoante perdida em posição de

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ataque. Mais tarde, no pós-léxico, essa sílaba seria preenchida com uma vogal e a

mora correspondente (COLLISCHONN, 2003, p. 286).

Bisol (1999, p. 729), da mesma forma, entende a epêntese como parte do mecanismo

desse processo de silabação, compondo os níveis lexicais e pós-lexicais, e que se faz

responsável, motivada pelo princípio do licenciamento prosódico, pelo preenchimento dos nós

vocálicos por meio do que a mesma determina como “default” ou assimilação, de forma a

configurar a sílaba para não violar os princípios universais ou convenções de determinadas

línguas.

Para a referida autora, esse processo visa a um ajuste ao padrão CV, que consiste em

mapear o elemento extraviado com um V vazio, salvando, desta forma, segmentos flutuantes

que podem ser silabados como ataque de uma rima com V, não associado a material fonético.

Para melhor visualizarmos este processo de silabação iterativa, tomemos a seguinte

demonstração do padrão canônico CCVC como exemplo:

Quadro 1 – Padrão canônico CCVC

σ σ σ

| | |

R R R

| | |

O Nu O Nu O Nu

| | | | | |

C C V C C C V C C C V C

| | | | | |

r a p‟ t o p [ ᴓ ]

CV CV CV

ra pi to

Adaptado do modelo exibido por Bisol (1999, p. 714)

Com base nas iterações propostas acima, temos a consonante [p] como um elemento

extraviado, o qual, devido à ausência da vogal (V vazio), foi incapaz de constituir um nó

silábico. Nesse contexto, o fenômeno da epêntese atua no sentido de recuperar esse segmento

flutuante [p], de forma que tal segmento possa ser silabado como ataque de uma vogal

Resultado

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epentética, onde antes havia uma posição vazia [ᴓ]. Assim, tem-se que esta estrutura remonta

o padrão canônico CV da sílaba, através da regra geral da epêntese. Nesse âmbito, Bisol

(1999, p. 730) enfatiza que “a regra geral da epêntese coloca um V do padrão canônico,

formando a sílaba CV, cujo núcleo, sem traços, será mais adiante preenchido por regra da

redundância, denominada também como „default‟”.

A seguir, apresentamos o grupo de encontros consonantais (clusters) passíveis de

aceitar ocorrências do fenômeno da epêntese na língua portuguesa.

Quadro 2 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese no português

b

+ p, t

d

k

m

n

s

z

x

ʒ

v

l

subproduto, obter

abdicar

subconsciente

submarino

abnegado

absoluto

obséquio

sub-reptício

objeto

óbvio

sublocação

p + t, s captou, psicose

d + m, v

ʒ

admirar, advogado

adjetivo

t + m ritmo

k + t, s

n

compacto, fixe

técnica

g + m, n pigmeu, ignorância

m + n amnésia

f + t afta

Citado por Pereyron (apud COLLISCHONN, 2002, p. 206)

No entanto, essa regra geral pode ser atingida, em alguns casos, pelo que Bisol (op.

cit., p. 714) define como sendo Apagamento do Elemento Extraviado (AEE) que ocorre,

justamente, pelo fato de o elemento situado na posição de coda não estar associado a nenhum

outro elemento e, por este motivo, ser apagado. A referida autora segue explicando que o

processo, neste contexto, é motivado pela não proteção de extraprosodicidade em relação ao

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elemento flutuante e que figura como exceção à silabação vazia, por não ser contemplado pelo

Afrouxamento da Condição de Coda (ACC) 5.

No exemplo a seguir, pode-se ver como procede tal extravio do elemento flutuante

presente na sílaba.

Quadro 3 – Extravio do elemento flutuante6

σ σ σ σ

| | | |

R R R R

| | | |

O Nu O Nu O Nu O Nu

| | | | | | | |

C C V C C C V C C C V C C C V C

| | | | | | | |

r a p‟ t o r a [ ᴓ ] t o

elemento flutuante

Itô (1986) reconhece este processo como sendo baseado no Princípio do

Licenciamento Prosódico, o qual faz-se responsável por excluir elementos não silabados,

eliminando, por conseguinte, qualquer possibilidade de ocorrência do fenômeno da epêntese.

É oportuno ressaltar que o AEE é um processo que ocorre raramente em língua

portuguesa, já que o mais comum é manter o elemento flutuante por meio do ACC ou da

epêntese. Ainda assim, não se deve desconsiderar a possibilidade de que o mesmo falante

possa usar variantes como rapto ~ rap[i]to ~ ra[ᴓ]to.

A literatura da área, portanto, tem mostrado que a epêntese vocálica é uma estratégia

bastante usada no português brasileiro, a qual acaba, também, sendo adotada por aprendizes

de inglês como L2 que realizam produções do tipo empty > emp/i/ty, object > ob/i/ject, advise

> ad/i/vise, mesmo esse tipo de produção sendo evitado em língua inglesa, caracterizando-se

5 O ACC é um fenômeno que ocorre quando segmentos plosivos ocorrem variavelmente no final da sílaba, isto

é, em posição de coda, conforme verifica-se nas palavras as.pec.to e ap.to. De acordo com Bisol (1999, p. 731)

“essa obstruinte na coda parece reflexo de uma gramática antiga [...]”, já que, atualmente, existe uma forte

tendência no PB de salvar este elemento perdido em coda por meio da inserção de uma vogal.

6 O exemplo tomado para iteração segue o mesmo modelo exposto por Bisol (1999).

extravio do elemento flutuante

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como o processo de transferência, conforme algumas das teorias postuladas no presente

trabalho (ALVES, 2008; LAMPRECHET [et al.], 2009; LUCENA & ALVES, 2009, 2010).

A epêntese, portanto, funciona justamente como um dos fenômenos fonológicos

variáveis que bem representa este processo de transferência da L1 para L2, a qual evidencia-

se na produção de falantes aprendizes sob forma de interlíngua. Vale salientar que esta

interlíngua emerge, principalmente, nos anos iniciais de aquisição da L2, caracterizando-se

como uma estratégia para adequar a estrutura silábica do português brasileiro à do inglês, haja

vista que o molde silábico de ambas as línguas são diferentes.

De acordo com as pesquisas realizadas por Schneider (2009, p. 38) “a realização da

epêntese na interlíngua parece indicar, portanto, que o processo de aquisição do inglês como

L2 faz uso das mesmas condições de boa-formação para sílaba presentes na L1 (PB)”, uma

vez que a língua inglesa, em si, aceita determinados elementos que não são bem aceitos no PB

em posição de coda.

Todavia, à medida que o aprendiz segue aprimorando seu grau de maturidade

linguística em relação à L2, este falante-aprendiz passa a desenvolver uma certa consciência

de que fenômenos como esses distanciam, em algum ponto, sua produção de um falar nativo.

Assim, essa consciência adquirida pelo aprendiz o fará construir, cognitivamente, meios de

internalizar traços os mais semelhantes possíveis do nativo e processá-los não como o fariam

na L1.

Nesse sentido, ecoando Alves (2009, p. 210) tem-se que, a noção de consciência

fonológica se faz importante porque envolve o reconhecimento não somente do sistema alvo

em si, mas também de processos de transferência da L1 para a L2, que distanciam a produção

daquela tida como semelhante ao falar nativo7. Dessa forma, segundo o autor, a manipulação

de certas habilidades estratégicas, como evidenciar o número de sílabas das palavras da L2,

por exemplo, auxilia a impedir a produção de epênteses vocálicas indevidas.

Em seguida, será apresentado um quadro com os segmentos consonantais possíveis de

aceitar a ocorrência da epêntese em língua inglesa8.

7 Devemos destacar que, neste trabalho, a utilização do termo nativo não implica desconsiderar a variação

linguística inerente a LM.

8 É importante salientar que o referido quadro foi construído por Pereyron (2008) com base em Hammond (1999)

e apresenta, portanto, encontros consonantais da língua inglesa que podem condicionar a epêntese vocálica para

os falantes brasileiros de língua inglesa como LE.

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Quadro 4 – Encontros consonantais favoráveis à epêntese em língua inglesa

p + t, k, θ, s,

ʃ, ʧ, m

n

neptune, napkin, naphtha, capsule,

option, capture, chipmunk,

grapnel

t + k, s, ʧ,

m, n

catkin, flotsam, chitchat,

atmosphere, chutney

k + t, θ, s,

ʃ, ʧ, m,

n

cactus, ichthyology, accent,

auction, picture, acme,

acne

b + d, f, s, v

z, ʤ, m,

n, t,

k, p, l

abdomem, obfuscate, absent, obvious,

absolve, object, submerse,

obnoxious, obtain,

babka, subpopulation, sublicence

d + b, s, v,

m, n, l

tidbit, adsorb, advantage,

admire, kidney, bedlam

g + p, b, d,

z, ʒ, ʤ, m

n

magpie, rugby, magdalen,

eczema, luxury, suggest, enigma,

magnet

f + t, θ, n nifty, diphthong, hafnium

ʤ + p, l hodgepodge, fledgling

m + n amnesia

n + m enmity

θ + m, n, l arithmetic, ethnic, athlete

ʃ + m, l marshmallow, ashlar

ð + m rhythmic

ʒ + m cashmere

Pereyron (2008, p. 53)

Pelo fato de apresentar um caráter variável9, o fenômeno da epêntese viabiliza, através

de estudos e pesquisas, a avaliação, por parte do sociolinguista, de quais fatores linguísticos e

extralinguísticos influenciam na inserção de vogais epentéticas na produção dos falantes-

aprendizes.

Em se tratando da análise desse fenômeno, pode-se citar, conforme mencionado

anteriormente, vários estudos, tais como o de Collischonn (2003), Cardoso (2005), Alves

(2008), Pereyron (2008), Schneider (2009), Lucena & Alves (2009, 2010), Cagliari (2010),

entre tantos outros, que se propõem a mostrar a ocorrência do fenômeno em alguns estados

9 Vale salientar que, na produção dos indivíduos em L2, a inserção vocálica não exibe um caráter variável da

mesma forma que exibe no PB, haja vista que, neste contexto, esse processo se apresenta como um reflexo da

variação do referido fenômeno na L1 desses indivíduos.

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brasileiros, bem como de outros autores, que já levantavam questionamentos generalizados a

respeito do mesmo.

Tais estudos divergem na análise do contexto de localização da vogal epentética

(inicial, medial ou final), e do idioma do falante (L1 e/ou L2, enfatizando, em alguns

aspectos, o contexto da transferência).

Contudo, vale ressaltar que a maior parte desses trabalhos se dedicou a estudar o

comportamento da vogal epentética na região Sul do Brasil, à exceção de Lucena & Alves

(2009, 2010) que analisa a epêntese vocálica no estado da Paraíba.

Nessa perspectiva, faz-se necessário conhecer a conjuntura de alguns dos referidos

trabalhos, para se ter uma ideia geral do que a literatura apresenta acerca das pesquisas que se

têm realizado a partir da análise do referido fenômeno e os resultados aos quais têm se

chegado.

1.2 Alguns estudos sobre epêntese vocálica

Discutiremos doravante sobre algumas das pesquisas que nortearam nosso estudo

acerca do fenômeno da epêntese vocálica, o qual tem sido atestado amplamente na literatura

da área, sobretudo em trabalhos desenvolvidos na região sul do Brasil. Dentre tais trabalhos,

destacamos os de Pereyron (2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009; 2010)10

, sendo

este último, o único que fornece uma análise do fenômeno com dados do Rio Grande do Sul e

da Paraíba.

Na pesquisa de Pereyron (2008) tem-se uma análise do fenômeno da epêntese

vocálica em posição medial a partir da produção de aprendizes brasileiros de inglês como L2.

Sua análise é amparada basicamente pelos pressupostos teórico-metodológicos da

sociolinguística quantitativa proposta por Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968]

e 2008 [1972]).

A autora buscou uma metodologia que contou com a participação de 16 informantes

porto-alegrenses, os quais foram solicitados a ler uma lista de palavras e frases em inglês. As

produções dos informantes foram gravadas em arquivos de áudio e analisadas acústica (com

auxílio do software Praat – BOERSMA & WEENINK, 2009) e perceptualmente. Os dados

receberam tratamento estatístico pelo pacote computacional VARBRUL 2S.

10

Utilizamos outras bibliografias acerca do fenômeno analisado, no entanto, detalharemos apenas Pereyron

(2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009; 2010), que refletem o teor das demais.

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Em sua pesquisa, Pereyron (op. cit., p. 81, 82) controla as seguintes variáveis:

Variável dependente: presença ou não da vogal epentética.

Variáveis independentes linguísticas:

Qualidade da vogal epentética: [i], [ə], [o] e a não inserção da vogal.

Tipo de consoante perdida ou contexto precedente:

- Oclusiva bilabial [b], como em absent;

- Oclusiva bilabial [p], como em aptitude;

- Oclusiva alveolar [d], como em admire;

- Oclusiva alveolar [t], como em atmospheric;

- Oclusiva velar [g], como em magnet;

- Oclusiva velar [k], como em acne;

- Fricativa labiodental [f], como em fifty;

- Fricativa alveopalatal [ʃ], como em pashmina;

- Nasal bilabial [m], como em gymnastics;

- Nasal alveolar [n], como em enmity.

Além desses fatores, a referida autora considerou outros fatores decorrentes da

produção dos falantes:

- Fricativa alveolar [z], como em fuzby (ocorrência única por motivo de alteração da

palavra de origem, fubsy);

- Africada alveopalatal [dʒ], quando a consoante alveolar [d] e palatalizada pelo

falante, como em [adʒ‘mair]11

(admire);

- Africada alveopalatal [tʃ], quando a consoante alveolar [t] e palatalizada pelo falante,

como em [atʃmos‘ferik] (atmospheric);

- Apagamento da consoante perdida, como em [‘asident] (accident) ou [‘emiti]

(enmity).

11

É necessário deixar claro que, nesta seção, todas as transcrições fonéticas utilizadas para exemplificar os

fatores em questão, estão de acordo com os trabalhos originais.

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Vozeamento da consoante perdida: vozeada, como em [‘babka]; ou desvozeada, como

em [‘akni].

Contexto seguinte à consoante perdida ou à vogal epentética:

- Oclusiva bilabial [b], como em goodbye;

- Oclusiva bilabial [p], como em webpage;

- Oclusiva alveolar [d], como em abdominal;

- Oclusiva alveolar [t], como em aptitude;

- Oclusiva velar [k], como em babka;

- Africada alveopalatal [dʒ], como em object;

- Africada alveopalatal [tʃ], como em picture;

- Fricativa labiodental [v], como em advantage;

- Fricativa alveolar [z], como em fubsy;

- Fricativa alveolar [s], como em adsorb;

- Fricativa alveopalatal [ʃ], como em functionality;

- Nasal bilabial [m], como em chipmunk;

- Nasal alveolar [n], como em obnoxious;

- Lateral alveolar [l], como em sublicense.

Além dos fatores mostrados, foram realizadas outras produções que constituem os

seguintes fatores:

- Fricativa alveopalatal [ʒ], como em object, ao invés de [dʒ];

- Apagamento do contexto seguinte, como em [viatə‘mi:z] ao invés de [viatnə‘mi:z]

(Vietnamese).

Vozeamento do contexto seguinte: vozeado, como em [‘tʃipmΛnk], ou desvozeado,

como em [ik‘sentrik].

Acento: pretônico, como em [ᴂbsə‘lu:tli] e postônico, como em [‘pa:tnər].

Tipo de cluster: encontros consonantais comumente encontrados no português e no

inglês, como em [mn] gymnastic e amnésia, ou encontros consonantais encontrados apenas

no inglês, como no caso de [kʃ] functionality.

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Alteração na produção do falante:

- Cluster modificado – quando há mudança na consoante perdida ou no contexto

seguinte, como em obversion ao invés de [ɒbsʒr’veiʃən].

- Acento modificado – quando o falante produz uma palavra pretônica como postônica

ou vice-versa, como em [pa:rt’nər] ao invés de [‘pa:rtnər].

- Duas modificações – quando ocorrem simultaneamente o cluster modificado e o

acento modificado, como em [kap‘tur] (capture), onde o acento é transferido para a última

sílaba e o cluster alvo [tʃ] e produzido como [t].

Variáveis independentes sociais:

Nível de proficiência:

- básico – alunos com até quatro anos de estudo de inglês em escolas de idiomas,

- avançado – alunos que possuem mais de quatro anos de estudo.

Idade: informantes de 15 a 34 anos e de 35 a 57 anos.

Sexo: masculino e feminino.

Tipo de instrumento: lista de palavras e lista de frases.

Informantes: 16 informantes nascidos em Porto Alegre.

De acordo com Pereyron (2008), na análise perceptual, as variáveis linguísticas

selecionadas como relevantes para este estudo foram: consoante perdida, vozeamento da

consoante perdida, contexto seguinte, vozeamento do contexto seguinte e tipo de cluster. As

variáveis extralinguísticas selecionadas foram: idade e nível de proficiência.

Para a variável consoante perdida, os resultados mostraram que a dorsal [g] (como em

magnet) foi a que mais se sobressaiu, confirmando que as consoantes pertencentes à classe

das velares mostram-se estatisticamente relevantes para a aplicação da epêntese.

Já em relação a variável contexto seguinte, a referida autora encontrou o fator [n],

seguido do fator [s] como os que mais condicionam a aplicação do fenômeno. As variáveis

vozeamento da consoante perdida e vozeamento do contexto seguinte apresentaram, no estudo

de Pereyron (op. cit.), o fator vozeado como o mais influente em termos de inserção vocálica.

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32

Com relação à variável tipo de cluster, os resultados mostraram, segundo a autora, que

os aprendizes têm um maior cuidado ao produzir encontros consonantais ausentes no

português. Para a variável idade, o estudo de Pereyron (2008) mostrou que falantes

pertencentes à faixa etária de 35 a 57 anos aplicam a regra em maior proporção.

E, por fim, no que concerne a variável nível de proficiência, os dados revelaram que

os informantes inseridos no grupo que estudou inglês por menos de 4 anos foram os que mais

aplicaram a regra. Todavia, ambos os grupos de informantes – básico e avançado

apresentaram valores próximos ao ponto neutro – 0,50.

O trabalho de Schneider (2009) também analisou o fenômeno da epêntese vocálica

medial na produção de falantes de inglês como L2, o qual buscou investigar, especificamente,

a relação entre vocábulos que continham prefixos como sub-, por exemplo, e a produção de

epêntese. Portanto, além de constituir uma pesquisa sociolinguisticamente orientada, na qual

procedeu-se a uma análise quantitativa, o autor destacou aspectos morfofonológicos em seu

trabalho.

A metodologia utilizada por Schneider (op. cit.) partiu da aplicação de quatro

instrumentos de coleta de dados – testes de verificação de transparência de prefixos e listas de

frases, tanto em português quanto em inglês, a 16 informantes de Porto-Alegre – RS,

aprendizes de inglês como L2. A produção desses informantes foi gravada com equipamento

de áudio e interpretadas com o auxílio do programa Praat (BOERSMA & WEENINK, 2009)

e GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).

As variáveis controladas por Schneider (op. cit.) foram:

Variável dependente: inserção ou não inserção de vogal epentética entre encontros

consonantais situados em posição medial.

Variáveis independentes linguísticas:

Contexto morfológico:

- vogal inserida no interior da base, como em am[ə]nésias,

- vogal inserida entre o prefixo e sua base, como em arch[I]bishops.

Tipo de consoante perdida:

- oclusiva bilabial desvozeada [p], como em optou, napkin;

- oclusiva bilabial vozeada [b], como em subchefe, objects;

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- oclusiva alveolar desvozeada [t], como em ritmo, portfólio;

- oclusiva alveolar vozeada [d], como em vodca, adze;

- oclusiva velar desvozeada [k], como em auction;

- oclusiva velar vozeada [g], como em pigmeus, rugby;

- nasal bilabial [m], como em amnésias, amnesia;

- nasal alveolar [n], como em enmity;

- fricativa labiodental desvozeada [f], como em aftas, hafnium;

- fricativa alveopalatal desvozeada [ʃ], como em marshmallows;

- fricativa alveopalatal vozeada [ʒ], como em cashmere;

- africada alveopalatal desvozeada [tʃ], como em archfiend;

- africada alveopalatal vozeada [dʒ], como em fledglings;

- fricativa interdental desvozeada [θ], como em ethnic;

- fricativa interdental vozeada [ð], como em rhythmic.

Vozeamento da consoante perdida: vozeada, como em pigmeus; desvozeada, como

em napkin.

Tipo de contexto seguinte:

- oclusiva bilabial [p]; como em sobpõem, archpriests;

- oclusiva bilabial [b]; como em magbás, rugby;

- oclusiva alveolar [t]; como em aftas, posttest;

- oclusiva alveolar [d]; como em lambda, postdate;

- oclusiva velar [k]; como em vodca, napkin;

- oclusiva velar [g]; como em sobgraves, dodgasted;

- nasal [m]; como em pigmeus, enmity;

- nasal [n]; como em hidnáceas, amnésia;

- fricativa labiodental [f]; como em estagflação, archfiend;

- fricativa labiodental [v]; como em obversão, postvocalic;

- fricativa alveolar [s]; como em absorveu, archsee;

- fricativa alveolar [z]; como em eczemas; sabzi;

- fricativa alveopalatal [ʃ]; como em subchefe; outshone;

- fricativa alveopalatal [ʒ]; como em Djalma; luxurious [gʒ];

- africada alveopalatal [tʃ]; como em éctipo, subchief;

- africada alveopalatal [dʒ]; como em écdico, outjockey;

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- fricativa interdental desvozeada [θ]; como em diphthongs;

- lateral alveolar vozeada [l]; como em adligação, ashlar;

- retroflexa alveolar vozeada [ɽ]; como em postrecord;

- vibrante alveolar vozeada [ř]; como em sub-raças;

- tepe alveolar vozeado [ſ]; como em outrun;

- fricativa velar desvozeada [x]; como em ad-rogar;

- fricativa glotal desvozeada [h]; como em ad-rogar.

Vozeamento do contexto seguinte: desvozeado, desvozeado.

Acento: pretônica e postônica.

Tipo de cluster:

- Clusters relacionados à epêntese vocálica em PB inexistentes em inglês;

- Clusters relacionados à epêntese vocálica em inglês inexistentes em PB;

- Clusters relacionados à epêntese vocálica existentes em PB e em inglês.

Variáveis independentes sociais:

Sexo: feminino e masculino.

Idade: informantes de 16 a 30 anos e de 38 a 61.

Informante: análise individual da produção de cada um dos dezesseis participantes da

pesquisa.

Proficiência em inglês: informantes com até dois anos de aprendizagem da língua

inglesa e participantes com quatro anos ou mais de instrução na língua estrangeira.

De acordo com os dados de Schneider (2009), os fatores linguísticos que

influenciaram a aplicação do fenômeno da epêntese em língua portuguesa foram: vozeamento

da consoante perdida, tipo de consoante perdida, vozeamento do contexto seguinte, tipo de

contexto seguinte, contexto morfológico, tipo de cluster e acento. Em relação às variáveis

sociais, a variável informante foi a única selecionada como relevante nas rodadas estatísticas.

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Para a variável vozeamento da consoante perdida, os resultados mostram que o fator

“vozeado” foi o que mais se sobressaiu em termos de aplicação do fenômeno. Em relação à

variável tipo de consoante perdida, os dados revelaram a velar [g] como o fator mais

propenso à inserção vocálica. No grupo vozeamento do contexto seguinte, o contexto

“vozeado” foi o mais relevante para a ocorrência da epêntese.

Já o grupo tipo de contexto seguinte, apresentou os fatores [x, h, ř] e [m, n] como os

que exibiram a maior frequência de ocorrência do fenômeno. Com relação à variável contexto

morfológico, os índices percentuais revelaram que o ambiente mais favorável para a inserção

da vogal epentética encontra-se no contexto “prefixo + base”. Para a variável tipo de cluster,

os dados evidenciaram que a epêntese é mais recorrente em clusters que só ocorrem em PB.

Os resultados para a variável acento mostraram que o contexto pretônico se sobressaiu em

termos de maior ocorrência de inserção vocálica. No que diz respeito à variável informante,

os dados de Schneider (op. cit.) deixam claro que a aplicação da epêntese varia muito entre os

indivíduos participantes da pesquisa.

Os fatores linguísticos que influenciaram na aplicação do fenômeno da epêntese em

língua inglesa, segundo Schneider (op. cit.), foram: vozeamento da consoante perdida, tipo de

consoante perdida, acento e informante.

Para o grupo vozeamento da consoante perdida, os resultados mostraram que o fator

“vozeado” exibe frequências elevadas favoráveis à epêntese vocálica. Em relação à variável

tipo de consoante perdida, o fator [g] foi o que apresentou, de acordo com os dados de

Schneider (2009), índice de frequência mais alto para inserção vocálica medial. Considerando

a variável acento, o contexto “pretônico” se destacou, apresentando valores percentuais mais

favoráveis à epêntese. Por fim, para a variável informante, o referido autor percebeu que a

aplicação do fenômeno da epêntese se apresenta de forma instável, variando de acordo com

cada informante.

A pesquisa de Lucena & Alves (2009; 2010) traz uma perspectiva de estudo diferente

das anteriores, já que analisa as implicações do Afrouxamento da Condição de Coda (ACC)

em um dado dialeto da L1 (variação intra-dialetal), bem como os efeitos de diferentes dialetos

da L1 (paraibano vs. gaúcho) em direção ao sistema da L2 (variação inter-dialetal). Desta

forma, os referidos autores centraram suas análises no fenômeno da epêntese vocálica como

estratégia utilizada pelos falantes para reparar a produção de codas com obstruintes.

A metodologia utilizada por Lucena & Alves (op. cit.) é de caráter variacionista e

contou com os dados de 22 aprendizes elementares de língua inglesa, dos quais 12 eram

gaúchos, naturais da região de Pelotas (RS), e 10 eram paraibanos, da região do Brejo da

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Paraíba. Os informantes foram submetidos a leituras de palavras e frases, tanto em português

quanto em inglês. Esses dados foram coletados com o auxílio do software Audacity – Version

1.2.6 (MAZZONI, 2011), analisados acusticamente, através do software Praat (BOERSMA

& WEENINK, 2009) e receberam tratamento variacionista pelo software GoldVarb X

(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).

As variáveis controladas neste trabalho foram:

Variável dependente: realização da vogal ou não realização da vogal.

Variáveis independentes:

Sexo: masculino e feminino;

Dialeto: gaúcho e paraibano;

Tipo de segmento perdido em coda:

- /p/, como em chap[i]ter;

- /k/, como em doc[i]tor;

- /f/, como em af[i]ter.

Tonicidade:

- tonicidade antes do segmento em análise, como em “aspecto” [as.‘pε.ki.tu];

- tonicidade depois do segmento em análise, como em “detector” [de.te.ki.’tor].

Lucena & Alves (op. cit.) decidiram trabalhar com três rodadas, a fim de analisar o

funcionamento da epêntese em L1 e L2, nos dois dialetos analisados. Na primeira rodada, na

qual foram considerados apenas os dados de L1 dos dialetos gaúcho e paraibano, a frequência

geral do fenômeno foi de 60,9 % de não aplicação da epêntese vocálica. Nesta rodada, a

variável dialeto foi a única selecionada como relevante para a inserção da vogal epentética.

De acordo com os resultados encontrados pelos autores para esta variável, o dialeto

paraibano é o que exibe os valores mais altos de ocorrência da epêntese, mostrando, portanto,

que o dialeto gaúcho fica mais à vontade com sílabas travadas em coda.

Na segunda rodada, foram considerados apenas os dados de L2 de ambos os dialetos e

os valores percentuais encontrados para a epêntese foram de 21,2 % de aplicação contra

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78,8% de não aplicação do fenômeno. Nesta rodada, a única variável estatisticamente

selecionada como relevante foi o tipo de segmento perdido em coda. Para esta variável, os

dados mostraram que a dorsal /k/ é a que mais influencia na aplicação da epêntese,

mostrando-se, portanto, como a mais difícil de ser adquirida.

Na terceira e última rodada foram incluídos os dados de L1 e L2 dos dialetos em

questão, na qual encontrou-se uma frequência global de 46 % para epêntese e 54 % para não

aplicação do fenômeno. Nesta rodada, as variáveis selecionadas como as mais relevantes

foram o dialeto e a tonicidade. Novamente, para a variável dialeto, os dados mostraram que o

dialeto paraibano é o que mais influencia na ocorrência de epêntese vocálica. Em relação à

variável tonicidade, os resultados revelaram que o ambiente favorecedor da epêntese é quando

o segmento se encontra após a sílaba tônica.

Conforme vimos, os estudos apresentados focam na análise do fenômeno da epêntese

vocálica medial sob diferentes perspectivas, porém todos guiados por uma abordagem

quantitativa, proposta pela Sociolinguística Variacionista.

Faz-se necessário ressaltar, todavia, que não pretendemos neste trabalho

comprovar/ratificar os resultados obtidos em tais trabalhos. No entanto, buscamos ampliar a

nossa discussão e utilizamos os referidos resultados no propósito de compará-los aos nossos.

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CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

O presente capítulo apresenta as principais abordagens teóricas utilizadas para

subsidiar a análise do processo de variação da epêntese vocálica medial em língua portuguesa

(L1) e língua inglesa (L2). Para tanto, ecoamos, inicialmente, os princípios gerais da

Sociolinguística Variacionista proposta por Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006

[1968] e 2008 [1972]). Em seguida, empreendemos uma breve discussão acerca da aquisição

de L2, apresentando importantes aspectos da consciência fonológica para o processo de

aquisição.

2.1 Sociolinguística variacionista

Neste panorama inicial, pretendemos discutir os preceitos da Sociolinguística

Variacionista como um dos principais aparatos teórico-metodológico norteadores desta

pesquisa.

Em se tratando de estudos voltados para a questão da linguagem, é imprescindível

atentar para o fato de que, até o século XX, a dimensão social das formas linguísticas não era

tida como um fator relevante nos estudos linguísticos. Isso se deve ao fato de correntes

anteriores, como o estruturalismo (SAUSSURE, 2006 [1916]) e o gerativismo (CHOMSKY,

1957), por exemplo, abstraírem a variação linguística de seu foco de estudo.

Pode-se dizer que foi a partir da década de 1960 que a ideia de heterogeneidade passou

a ser considerada e trabalhada em estudos de caráter linguístico, os quais buscavam incorporar

o aspecto social, que até então era desconsiderado. Essa nova abordagem teórica ficou

conhecida como Sociolinguística Variacionista.

Foi especificamente a partir de 1964 que a Sociolinguística teve um desenvolvimento

significativo, pois caracterizou-se como uma revolução dentro do panorama geral da

Linguística, criando um paradigma completamente novo para os estudos que se seguiram. A

partir do desenvolvimento da Sociolinguística pode-se trabalhar, de fato, com a relação

língua/sociedade, uma vez que os trabalhos anteriores – estruturalismo e gerativismo,

consideravam a língua como um sistema de signos bem definido, sistematizado e que não

levava em conta nenhum aspecto variável da língua, desconsiderando totalmente a influência

do social sobre a mesma.

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Yule (2006, p. 205) afirma que “o termo sociolinguística é geralmente usado para o

estudo entre língua e sociedade”. O referido autor ainda acrescenta que tais estudos são

realizados “quando tentamos analisar a língua a partir de uma perspectiva social”.

A Sociolinguística, em sua abordagem variacionista, passa também a ser conhecida

como Teoria da Variação Linguística, Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística

Quantitativa, ou ainda como Sociolinguística Laboviana, tendo como principal estudioso, o

americano William Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), o

qual desenvolveu essa teoria como uma espécie de reação à ausência do componente social no

modelo gerativo. De fato, uma reação ao falante ouvinte ideal proposto pela escola gerativista

e que foi de grande impacto para a Linguística contemporânea. Labov (op. cit.) insistia na

relação entre língua e sociedade e revelava, através de seus estudos, outras dimensões da

realidade heterogênea da língua, que até então não tinham sido levadas em consideração nos

estudos linguísticos (TARALLO, 1990, p. 7).

Essa condição heterogênea do sistema linguístico é mediada por fatores atuantes na

variação linguística, podendo ser classificados como variantes internas ou linguísticas em que

estão envolvidos os elementos fono-morfo-sintáticos, os semânticos e os discursivos e em

variáveis externas ou extralinguísticas, que se referem aos fatores inerentes ao indivíduo

(sexo, idade, etnia), ao espaço sócio-geográfico (região, profissão, classe social) e ao contexto

(grau de formalidade e tensão discursiva).

Essas diferentes realizações variáveis são perceptíveis no ato da interação verbal, de

tal forma que, quando um falante utiliza determinada variante, identificamos de imediato sua

região de origem, classe social, idade, escolaridade, sexo, se é nativo ou não de um

determinado país, o grau de fluência em uma determinada língua e diferenciamos se a

interação se trata de uma situação formal ou informal, quase que de forma inconsciente.

Tarallo (1990, p. 14) reforça essa tese afirmando que “a língua pode ser um fator

extremamente importante na identificação de grupos, em sua configuração, como também

uma possível maneira de demarcar diferenças sociais no seio de uma comunidade”.

Labov, Weinreich e Herzog (2006 [1968]), assumem como coordenada básica dessa

reflexão sociolinguística a heterogeneidade normal da língua e, ao mesmo tempo,

argumentam contra a ideia, tradicional entre os linguistas, de que sistematicidade e

variabilidade se excluem. De acordo com esses linguistas, havia uma correlação sistemática

entre as variantes linguísticas realizadas por determinado falante e as características sociais

deste falante, tais como, nível social, grau de escolaridade, idade, sexo, entre outros.

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Este modelo teórico-metodológico variacionista tem como objetivo principal

comprovar a sistematização da heterogeneidade e considera a variação como um fenômeno

regular e ordenado, além de explicá-lo, descrevê-lo e relacioná-lo ao contexto social/

linguístico. Por esse motivo, o referido modelo relaciona todo e qualquer fenômeno de

variação ou mudança linguística a fatores linguísticos e a fatores sociais.

Conforme Guy (2007, p. 6) afirma, “a observação fundamental da pesquisa em

variação linguística é a que manifesta, nas palavras de Labov, Weinreich e Herzog (op. cit.), a

ordenação da heterogeneidade”, a qual busca demonstrar que as variações ocorridas são

guiadas por padrões que seguem uma certa sistematicidade, não se dando ao mero acaso.

Por ser a Sociolinguística uma área de estudo que relaciona constantemente a variação

linguística com o social, deve-se realizar a pesquisa sociolinguística através do levantamento

e análise dos registros de língua falada, a qual possibilita a descrição de determinado

fenômeno variável que esteja sendo estudado.

Vale salientar que esse momento se mostra o mais delicado da pesquisa, pois como

nos reforça Tagliamonte (2006, p. 17), “o desafio fundamental para a pesquisa

sociolinguística é como obter dados linguísticos apropriados para analisar”. Esse

levantamento, realizado pelo pesquisador, permite que o mesmo analise os fatores linguísticos

e sociais que influenciam a realização do fenômeno em questão e apresente uma explicação

sociolinguisticamente orientada para o mesmo.

A sociolinguística variacionista também se utiliza de um modelo matemático capaz de

associar pesos relativos ou probabilidades aos diversos fatores de cada variável independente.

Por operar com números e tratamentos estatísticos dos dados, denomina-se tal modelo teórico-

metodológico de Sociolinguística Quantitativa, o qual será usado, predominantemente, nesta

pesquisa.

Labov (2008 [1972]) foi o responsável por atribuir às regras opcionais, já existentes no

modelo gerativo, o status de regra variável, incorporando a variação sistemática à descrição

linguística. Para ele, essa regra variável deve ter frequência de uso expressiva e estar sujeita à

interferência tanto de fatores linguísticos quanto de fatores extralinguísticos. É através desse

modelo teórico criado por Labov, que o pesquisador poderá coletar dados empíricos e

proceder à análise dos fatores condicionantes no processo de variação de determinado

fenômeno linguístico.

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Desde a década de 1960, quando ocorreu o primeiro estudo de Labov12

, o modelo da

Sociolinguística vem sendo utilizado pela maior parte dos linguistas que trabalham na área da

variação, e tem comprovado até hoje sua eficiência, enquanto método, no que diz respeito à

questão de levantamento de dados que busquem detectar e explicar a variação e/ou a mudança

em curso, ganhando, assim, muitos adeptos na linguística pós 1960.

No Brasil, observa-se que a Sociolinguística Variacionista tem se expandido

significativamente, empenhando-se no estudo dos fenômenos linguísticos do português

brasileiro e, recentemente, na variação que ocorre na interlíngua do indivíduo durante o

processo de aquisição.

Uma vertente, entre tantas outras, muito propícia a dialogar com a Sociolinguística,

nesse contexto de variação, é a área de Aquisição da Linguagem, a qual tem buscado

compreender os processos aquisicionistas dos indivíduos, sobretudo aqueles relacionados à

L2. A esse respeito, Tarone (2007, p. 838) esclarece que a abordagem sociolinguística nos

permite estudar o impacto de fatores sociais em processos de aquisição de um novo sistema

linguístico. Dessa forma, a abordagem sociolinguística aplicada à aquisição de L2 (SLA)

busca explicar a relação entre as variáveis sociais e as características de produção da língua ou

interlíngua do aprendiz.

Neste sentido, a Sociolinguística tem contribuído cada vez mais na orientação de

estudos sobre questões de uso, aquisição/aprendizado de língua estrangeira em determinados

contextos específicos, enfatizando, sobretudo, processos de aquisição fonológica, apesar de

haver, relativamente, poucos trabalhos nessa área (COLLISCHONN, 2003; PEREYRON,

2008; SCHNEIDER, 2009; LUCENA & ALVES, 2009; 2010).

Bayley & Lucas (2007, p. 1) afirma que abordagens variacionistas têm estabelecido

parcerias teóricas bem sucedidas com estudos de aquisição de L2, onde fatores sociais e

linguísticos são detalhadamente analisados, o que mostra que o entrosamento de ambas as

áreas tem se mostrado bem produtivo para os estudos que as têm como teorias norteadoras.

Esse entrosamento teórico entre Sociolinguística/Variação e Aquisição de L2

demonstra ter em comum o fator social interligando-as, de forma a buscar compreender, com

maior rigor, que teor social há em processos de aquisição da linguagem.

12

O primeiro estudo de Labov (2008 [1972]) foi realizado no Estado de Massachusetts (EUA), na comunidade

da Ilha de Martha‟s Vineyard que, por muito tempo, viveu isolada da costa de Nova Inglaterra, sendo,

posteriormente, invadida por veranistas vindos do continente. Tal fato ocasionou mudanças linguísticas no inglês

falado por esta comunidade, mudanças estas que foram investigadas por Labov (op. cit.) através da Teoria da

Variação, no intuito de comprovar o papel dos fatores sociais na explicação da variação linguística. Para maiores

detalhes da realização desta pesquisa, consultar Labov (op. cit., p. 19-62).

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Ré (2006, p. 88) corrobora essa perspectiva, ao afirmar que a língua do aprendiz não

é em si observável. Ela é observada através de sua palavra viva, suas produções, cujas

características são essencialmente a variabilidade e a instabilidade, estando esta última

característica ligada em parte ao movimento de adaptação-aquisição, ratificando, portanto, o

fato de que o fator social exerce uma importante função em estudos de caráter fonológico-

aquisicionista.

Assim, tais subsídios teóricos em parceria podem, provavelmente, encontrar

explicações sobre algumas construções realizadas pelos aprendizes ao produzirem

determinados segmentos de outra língua, motivadas, sobretudo, por fatores sociais.

Ré (op. cit., p. 119) advoga que não há como desconsiderar a abordagem

sociolinguística aplicada à análise do processo de aquisição de língua estrangeira, uma vez

que esta abordagem reflete mais uma perspectiva no desenvolvimento de estudos que buscam

entender os processos que envolvem a aquisição de uma L2.

Vejamos no tópico a seguir os empreendimentos da área da Aquisição da Linguagem

e seu desenvolvimento a partir da percepção do social em situações de aquisição, sobretudo de

L2.

2.2 Aquisição de L2

Pode-se afirmar que os estudos envolvendo aquisição de linguagem, sobretudo

aquisição de uma L2, é algo relativamente novo no âmbito dos estudos linguísticos.

De acordo com Ellis (1997, p. 3), o “estudo sistemático de como as pessoas adquirem

uma segunda língua (geralmente referido como L2) é um fenômeno recente, pertencendo à

segunda metade do século XX”, e que pode ser definido como a forma como as pessoas

aprendem uma língua, que não sua língua materna, dentro ou fora da sala de aula.

Vale salientar que o interesse acerca da aquisição de L2 se deu, inicialmente, através

da contribuição de psicolinguistas, sendo mais tarde expandido para áreas como a

Sociolinguística, entre tantas outras. Porém, inicialmente, os estudos13

desenvolvidos neste

sentido eram voltados para a área das Linguísticas Aplicadas dos anos 1950 e das Psicologias,

influenciados, a priori, pelas teorias Behavioristas e Vygotskianas, respectivamente (RÉ,

2006, p. 101).

13

Destacamos, neste sentido, os estudos de Skinner (1957) e Vygotsky (1988).

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Nesse sentido, a Sociolinguística passou a se mostrar uma forte aliada a esses estudos,

motivada, a princípio, pela convergência de psicólogos e linguistas, com o intuito de

empreender um modelo psicológico de aprendizagem de L2.

Todavia, não se pode deixar de atentar para o fato de que a aquisição de uma L2

sempre foi considerada um processo complexo, o qual envolve vários fatores. De acordo com

Cook (1993, p.2), durante este processo, a pessoa está lidando com duas línguas, onde o

conhecimento de duas gramáticas, i. e., de dois sistemas linguísticos, está presente na mesma

mente tornando-se mais difícil de ser manipulado pelo aprendiz e facilitando, portanto, a

influência de um sistema no outro.

Essa influência é caracterizada, na área da Aquisição da Linguagem, como

interferência, processo este concebido também por alguns estudiosos como a transferência14

de traços de um sistema linguístico para o outro. No caso da aquisição de L2, ocorre a

transferência de traços fonológicos da L1 para a L2 que o indivíduo está adquirindo.

Selinker (1992, p. 207) aponta que essa transferência de elementos da língua materna

na aquisição de uma L2 é um dos fenômenos mais estudados no campo de aquisição. De

acordo com o referido autor, o papel da L1 do falante, neste contexto, é de extrema

importância para a estrutura da interlíngua que o falante constrói. Na verdade, ele funciona

como um processo cognitivo de seleção onde algumas estruturas são mais passíveis de ser

transferidas que outras.

Para Ré (2006, p. 87) longe de poderem ser evitadas, essas transferências constituem

um fenômeno normal e natural na aprendizagem das línguas, logo, qualquer falante que esteja

em contato com outro sistema linguístico que não o materno, está sujeito a sofrer, em algum

momento da fase de aquisição, influência de elementos constituintes da língua materna.

Essas alterações ocorrem devido à necessidade do falante de adequar para sua língua

materna os elementos que nela não ocorrem. Nas palavras de Selinker (1992), o que ocorre é

que, nesse processo, o aprendiz reverte o código da língua alvo para um código mais simples

e básico, de forma a reelaborá-lo de acordo com a língua materna.

É importante ressaltar que essa influência é quase que inevitável, pois a L1

caracteriza-se como um sistema constitutivo de um indivíduo falante, o qual se configura

14

Para Ré (2006, p. 86), a relação entre ambas as modalidades decorre do fato de a transferência ser uma espécie

de fundamento do fenômeno chamado de interferência, ou seja, o primeiro processo gera o segundo e, por isso,

são considerados sinônimos. Por outro lado, Littlewood (1984, p. 17) distingue bem essa relação mostrando que

a transferência ocorre quando, de fato, há a transferência direta dos elementos linguísticos, sendo esta positiva.

Já a interferência, por sua vez, ocorre quando não há a transferência direta dos elementos linguísticos, devido à

significante diferença entre as duas línguas em questão, sendo considerada, portanto, negativa. Neste trabalho,

ambos os termos serão interpretados como sinônimos.

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como base da estruturação psíquica deste indivíduo. Este sistema, por sua vez, é evocado pelo

aprendiz durante o processo de aprendizagem de uma L2, já que, ao longo do

desenvolvimento de uma segunda língua, são essas bases que solicitamos, e nelas que se

encontram os indícios de nossa língua materna.

Tais bases cognitivas são solicitadas consciente ou inconscientemente, quando o

aprendiz percebe que alguma coisa na língua materna é semelhante ou idêntica à língua alvo,

ocorrendo, então, a transferência de um sistema fonológico para o outro. Em palavras mais

simples, consiste na ampla projeção do sistema da L1 na L2 (COOK, 1993, p. 11).

De forma geral, a transferência da L1 na aquisição fonológica da L2 é um fenômeno

que ocorre sistematicamente e, no qual a L1 do indivíduo emerge inevitavelmente, seja de

forma clara ou atenuada, na interação do falante, o que evidencia que é quase impossível

ignorar a presença de vestígios da L1 na produção em L2 desse aprendiz.

Assim, pode-se afirmar que esta é uma tendência inerente ao falante e exibe graus de

dificuldade para o mesmo – mais fácil ou mais difícil, dependendo da semelhança ou não que

a estrutura de ambos os sistemas linguísticos possam apresentar.

Ecoando Selinker (op. cit., p. 18-19) a este respeito, pode-se afirmar que:

O aprendiz [...] tende a transferir hábitos da estrutura de sua língua nativa para a

língua alvo, a qual é a fonte principal de facilidade ou dificuldade no aprendizado de

uma língua estrangeira. [...] As estruturas que são „similares‟ serão fáceis de aprender

porque são transferidas e podem funcionar satisfatoriamente na língua estrangeira. [...]

As estruturas que são „diferentes‟ serão difíceis porque quando transferidas não

funcionarão satisfatoriamente na língua estrangeira e, portanto, terão que ser

mudadas. (grifos do autor)

Corroborando essa perspectiva apresentada por Selinker (op. cit.), Yule (2006, p. 167)

argumenta, também, que o fenômeno da transferência se dá através do uso de sons, expressões

ou estruturas da L1, as quais podem ser positiva, quando a L1 e a L2 têm características

semelhantes, ou negativa, quando ambas têm características diferentes, dificultando, portanto,

o entendimento do que está sendo dito.

É justamente esta transferência o fator responsável pela produção da interlíngua, sendo

responsável, portanto, por alguns “erros”15

que os aprendizes cometem ao tentar se comunicar

na L2. Além disso, a transferência representa, também, uma espécie de estratégia

15

Estamos utilizando a terminologia “erro”, porque nos trabalhos pesquisados este foi o termo mais aplicado.

Não queremos dar nenhuma conotação negativa ao mesmo, já que neste trabalho “erro” será tratado como

sinônimo de desvio.

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desenvolvida pelo próprio aprendiz para sanar dificuldades ligadas a deficiências linguísticas

encontradas na L2, relacionadas, sobretudo, a estruturas não reconhecidas na L1.

Ré (2006, p. 87) enfatiza, a esse respeito, que a importância da L1 e sua influência sob

forma de transferência foi considerada, por muito tempo, como a última explicação das

dificuldades encontradas pelo aprendiz. Nessa perspectiva, a língua de origem do falante era

apenas um dos fatores explicativos de certos tipos de erros produzidos pelo aprendiz.

A referida autora argumenta, ainda, a respeito da característica sistemática desses

erros, os quais têm uma espécie de estrutura própria, não tendo, portanto, relação nem com a

L1 nem com a L2 do indivíduo.

Assim, da mesma forma que a transferência constitui um fenômeno normal e natural

no âmbito da aprendizagem de línguas, o mesmo ocorre com o fenômeno do “erro”, que por

vezes acaba sofrendo estigma, sendo, portanto, considerado como negativo. No entanto, tem-

se chegado a um consenso, no qual o “erro” é significantemente positivo, não devendo o

falante-aprendiz sofrer penalizações ou punições. A falha ou erro caracteriza-se como uma

espécie de vestígio de um processo cognitivo que nos orienta em direção às hipóteses do

aprendizado, e, portanto, para seu trabalho ativo de apropriação.

É importante ressaltar que, nem sempre, é estabelecida a diferença entre erro e falha.

No entanto, para aqueles como Rod Ellis (1997, p. 17), erro reflete lacunas no conhecimento

de um aprendiz, ocorrendo porque o aprendiz não sabe o que é correto. Por outro lado, a falha

reflete lapsos ocasionais no desempenho deste aprendiz, ocorrendo porque, em uma instância

particular, o mesmo não se encontra apto a realizar o que sabe. Já Corder (apud COOK, 1993,

p. 21) vai mais além, associando erro e falha à dicotomia gerativista competência e

desempenho. De acordo com referido autor, as falhas referem-se a desvios de desempenho,

enquanto que os erros em si referem-se a desvios sistemáticos na produção do aprendiz, que

são, portanto, erros de competência16

.

Ellis (1997, p. 19) também atesta que os erros não são apenas sistemáticos, sendo,

muitos deles, porém não todos, universais em alguns aspectos.

É inegável que as produções dos aprendizes, as quais apresentam indícios de

transferência da L1 na L2, seguem uma sistematicidade, não podendo, portanto, ser

considerada totalmente “erro”. Em outras palavras, as produções do aprendiz não devem ser

consideradas como uma sequência de formas enganadas e incoerentes, mas como uma

16

No decorrer do presente trabalho, não adotaremos tal distinção, usando ambos os termos como sinônimos.

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produção que apresenta uma sistemática subjacente, mesmo quando não apresenta erros (RÉ,

2006, p. 87, 88).

Alguns “erros” podem representar, de modo geral, o “fracasso” do aprendiz na

aprendizagem de uma segunda língua, pela forma diferente com que se apresentam em

relação à produção nativa.

Corder (apud SELINKER, 1992, p. 166) coloca essa questão quando afirma que estes

itens e características que são emprestados de outro sistema linguístico, por não serem,

geralmente, semelhantes à língua alvo, acabam por ser incorporados erroneamente ao sistema

de interlíngua, emergindo o erro, o qual pode, às vezes, ser bastante persistente17

.

Todavia, deve-se considerar que esse teor negativo escamoteado nesses deslizes

cometidos pelos aprendizes, apresenta fatores positivos, entre eles a capacidade do indivíduo

de ativar conhecimentos prévios que os fazem associar os elementos de ambos os sistemas

linguísticos em jogo, tanto o da L1 quanto da L2 (RÉ, 2006, p. 131). Corroborando essa

perspectiva, Littlewood (1984, p. 22) advoga que “os erros dos aprendizes não precisam ser

vistos como sinais de falha. Pelo contrário, eles são a evidência mais clara para o

desenvolvimento dos sistemas do aprendiz e podem nos oferecer percepções de como eles

processam dados da língua”.

Ellis (1986, p. 9) segue neste raciocínio, afirmando que:

[...] erros são uma fonte importante de informação sobre SLA, porque demonstram,

decisivamente, que os aprendizes não memorizam simplesmente as regras da língua

alvo e então as reproduz em suas próprias sentenças. Eles indicam que os aprendizes

constroem suas próprias regras nas bases de dados de produção, e que em algumas

instâncias, pelo menos, estas regras diferem daquelas da língua alvo.

Estes “erros” acabam por dar origem a um “fenômeno” conhecido no campo da

aquisição, como interlíngua, a qual se caracteriza como uma espécie de língua intermediária

usada pelo indivíduo para estabelecer a comunicação em uma língua diferente da sua língua

materna.

Este termo foi introduzido por Larry Selinker (1972) para “referir-se ao conhecimento

sistemático da língua, o qual é independente de ambos os sistemas de L1 e L2 que o falante

está tentando aprender” (ELLIS, 1986, p. 42). Portanto, interlíngua representa uma produção

que não se assemelhará com nenhum dos sistemas supracitados, desenvolvendo-se como uma

espécie de fala criativa.

17

Geralmente, os “erros” que persistem nas produções de L2 do aprendiz são tratados como uma construção

internalizada pelo próprio falante devido à semelhança com sua L1. Nesses casos, costuma-se denominar tais

construções como fossilização. Para mais explicações a respeito, cf. Ellis, 1986.

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47

Esta produção criativa compõe um processo que pode ser descrito como uma espécie

de terceiro sistema linguístico, criado estrategicamente pelo próprio aprendiz, a fim de fazer

com que os dados da L2 façam sentido para ele.

Como mostra Tarone (2007), esse fenômeno funciona, na realidade, como um sistema

linguístico evidenciado quando um aprendiz de L2, sobretudo adulto, procura expressar

sentido nessa língua que está sendo aprendida.

Na grande maioria das vezes, os aprendizes não têm consciência de que todo esse

processo ocorre durante o aprendizado de um novo sistema linguístico. Vejamos, portanto, no

ponto a seguir, a importância e as implicações da consciência fonológica no processo de

aquisição de L2.

2.3 Consciência fonológica

Cada vez mais, tem sido atestada a importância da consciência fonológica no processo

de aquisição, sobretudo de L2. Isso porque tem-se comprovado que adquirir um novo sistema

linguístico se torna mais simples quando se demonstra uma certa consciência do processo

fonético-fonológico que ocorre, da estrutura do código que se está aprendendo e dos

fenômenos que podem estar envoltos neste processo.

Contudo, pode-se afirmar que ainda é escasso o interesse por trabalhos que se

debrucem sobre a consciência fonológica relacionados ao processo de aquisição de L2.

Nessa perspectiva, os estudos existentes neste sentido revelam que a consciência

fonético-fonológica e o processo de aquisição de L2 devem ser considerados como dois

processos indissociáveis e que, unidos, atuam em favor do aprendiz que esteja adquirindo uma

nova língua (ALVES, 2009).

Porém, para que esse processo ocorra satisfatoriamente, é necessário levar o falante-

aprendiz a uma reflexão sobre o sistema alvo, sobretudo do sistema sonoro que o compõe,

reflexão esta a qual é denominada consciência fonológica. De acordo com Alves (2009, p.

33), “o termo consciência fonológica remete a uma capacidade de reflexão, caracterizando

uma habilidade de análise e julgamento consciente do estímulo auditivo”.

O desenvolvimento desta capacidade em L2 confere ao aprendiz a habilidade em lidar

com elementos do novo sistema que está aprendendo, diminuindo consideravelmente a

ocorrência de erros/desvios que, por ventura, prejudiquem o desempenho do aprendiz em L2.

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Além disso, esta capacidade permite que o aprendiz realize produções o mais próximo

possível do nativo.

Todavia, não se pode perder de vista que os erros são importantes nesta caminhada,

haja vista que são eles os responsáveis por levar o aprendiz a criar estratégias e empregá-las

durante o processo de aquisição da L2, buscando maturar e internalizar sistematicamente o

novo código.

Nessa perspectiva, aconselha-se instigar o aprendiz a perceber o que há de semelhante

e, principalmente, o que há de diferente nos sistemas sonoros da L1 e da L2, para que assim

possa dar conta de estratégias criativas para lidar com as formas que lhes representem

problemas. Estes problemas decorrem, sobretudo, da transferência da L1 para a L2 fazendo

com que o aprendiz processe oralmente elementos da L2 como pertencentes à L1.

Esta percepção dos elementos sonoros da L1 e da L2, bem como de suas semelhanças

e diferenças, constitui um pré-requisito para a produção do falante-aprendiz. Alves (2009, p.

204) advoga que “é preciso um estranhamento por parte do aprendiz frente a tais diferenças.

Em outras palavras, as diferenças entre ambos os sistemas sonoros precisam ser notadas pelo

aprendiz, para que elas então possam ser manipuladas”.

Esboçando visualmente tal processo, temos no quadro a seguir:

Quadro 5 – Esquema da consciência fonológica

Input

Reflexão

Estranhamento

Criação de mecanismos internos para o aprendizado

Consciência Fonético-fonológica dos sons da L1 e L2

Manipulação

Output

Sons da

L1

L2

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De acordo com o referido quadro18

, entendemos que para que tal processo ocorra, é

necessário que o aprendiz receba inputs a respeito da diferença entre os sons da L1 e da L2,

isto é, o aprendiz de L2 deve ser exposto a particularidades do sistema sonoro de ambas as

línguas. O input recebido funciona como um dispositivo para ativar a reflexão e todos os

outros processos que levam à manipulação, que, por conseguinte, levam à consciência

fonológica da estrutura de ambos os sistemas – L1 e L2. Dessa forma, espera-se que o

aprendiz possa ser capaz de produzir outputs que poderão ser, ou não, mais próximos de uma

produção nativa, dependendo do nível e da dificuldade que o mesmo apresente.

Para a manipulação do sistema da língua alvo, parte-se do pressuposto de que o

aprendiz dispõe de um modelo de construção criativa já existente a partir da sua L1, através

do qual processa mecanismos internos em direção ao aprendizado da L2. Geralmente, esse

modelo pré-existente ocasiona alguns problemas, sobretudo de pronúncia, decorrentes do

processamento dos sons da L2 como se fossem os mesmos da L1.

Estes mecanismos, por sua vez, permeiam o processo de construção criativo

desenvolvido pelo aprendiz que, como bem mostra Littlewood (1984, p. 21), recai sobre a

transferência das regras da língua mãe (L1), funcionando como estratégia ativa para construir

sentido na comunicação na língua alvo (L2).

Vale salientar que tais mecanismos e estratégias remontam dois termos-chave no

campo da consciência / aquisição fonológica de L2, sendo esses reflexão e manipulação.

Segundo Alves (op. cit., p. 205), “reflexão implica notar o inventário de sons da língua-alvo,

e, por conseguinte, as diferenças entre os sistemas de sons da L1 e da L2 [...]. Já o termo

manipulação das unidades sonoras da L2 significa operar sobre os sons da língua a ser

adquirida [...]” (grifo do autor).

Para o referido autor, é nesse momento que o aprendiz cria e estabelece diferenças

fonético-fonológicas existentes entre a L1 e a L2, podendo interpretá-las como um fator de

dificuldade em apreender o novo código e tomando consciência de que, como consequência

disso, sua produção pode afastar-se, em algum momento, da nativa.

Todavia, chegando a esse grau de consciência dos sons da língua, o aprendiz constrói

uma ponte, na qual ele parte de um primeiro estágio – produção com resquícios da L1, até um

segundo estágio – produção semelhante à nativa, isto é, onde há o acréscimo de novas

categorias perceptuais às categorias prototipicamente estabelecidas.

18

É necessário deixar claro que o quadro 5 foi construído pela autora do presente trabalho, com base nas leituras

de Alves (2009).

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A explicação de Alves (2009, p. 239) para essa tendência do aprendiz é que “[...] à

medida que os sons da L1 começam a ser adquiridos tem-se a formação de novas categorias

prototípicas. Na aquisição da L2, deve-se considerar que os padrões de sons da língua materna

já se mostram bastante arraigados”. Daí decorre a dificuldade do aprendiz em criar novas

categorias prototípicas para os sons da L2 e em separar funcionalmente as categorias de sons

das duas línguas, haja vista que a tendência mais forte e fácil, nesse caso, é transferir os

padrões da L1 na aquisição de L2.

Em suma, esse é o processo que ocorre ao se obter a consciência dos aspectos

fonético-fonológicos de um novo sistema linguístico que se está adquirindo. A importância,

portanto, de ter a consciência da existência desses aspectos para o indivíduo que está

adquirindo um novo código, caracteriza-se como um artifício primordial no aprendizado de

L2, já que esse seria um dos requisitos mínimos para que, de fato, ocorra a aquisição.

Não obstante, para chegar a este estágio, é imprescindível a participação do professor

na sistematização desse processo, evidenciando para os aprendizes o papel da consciência

fonético-fonológica do sistema da língua alvo como um aspecto inerente à aquisição de um

novo código.

A este respeito, como mostra Alves (2009), além da importância da consciência

fonológica, a participação do professor em despertar o aprendiz, de modo que ele perceba

determinadas particularidades da língua e reconheça os obstáculos existentes neste processo, é

fundamental para a aprendizagem de uma L2.

Ellis (apud ALVES, 2009, p. 258) corrobora esta perspectiva afirmando que:

[...] a intervenção pedagógica constitui um meio de levar o aluno a notar os detalhes

da forma a serem adquiridos, o que possibilita a formação de um conhecimento

explícito acerca de tal detalhe. A formação desse conhecimento de caráter explícito

pode exercer efeitos benéficos na aquisição [...].

Para tanto, é necessário que o professor tenha recursos diferenciados para a

implementação de determinados inputs acústicos, para que o aprendiz amadureça o

processamento dos sons da L2.19

19

Geralmente, os inputs de que os professores se utilizam são figuras, como uma espécie de recurso visual, com

diferentes fonemas para ilustrar a pronúncia. Assim, facilita-se o processo de identificação por parte do

educando. No entanto, apenas mencionamos este processo a título de informação e não entraremos em detalhes a

esse respeito. Para mais informações, cf. Alves (2009).

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De forma geral, a consciência do aspecto fonológico configura-se como um dos

fatores primordiais para a aquisição, e que poderá acontecer, dentre outros níveis, no nível

silábico.

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CAPÍTULO III – METODOLOGIA

O presente capítulo visa traçar todo um panorama do caminho percorrido para a

construção deste trabalho, tais como os instrumentos utilizados para a coleta dos dados que

compõem o corpus a ser analisado, caracterização das variáveis (dependentes e

independentes), critérios de delimitação dos informantes e modalidades de análise dos dados

coletados.

Tais elementos metodológicos nos permitiram fazer a análise do fenômeno da

epêntese medial com certo rigor, de forma que nos foi possível, através da amostra de L1 e

L2, investigar quais elementos – linguísticos e/ou extralinguísticos, influenciam na inserção

ou não da vogal epentética na produção dos informantes.

É importante ressaltar que a metodologia tem um papel primordial dentro do modelo

teórico da sociolinguística quantitativa. Ela é composta de vários estágios, dentre os quais

destacam-se:

(i) seleção de informantes;

(ii) identificação das variáveis linguísticas, extralinguísticas e suas variantes;

(iii) processamento dos números, visto que se trata de uma análise estatística;

(iv) interpretação dos resultados, analisando os possíveis fatores

condicionadores (linguísticos e extralinguísticos) que favorecem o uso de uma variante

sobre outra.

Neste trabalho, utilizamos o método pautado pela Teoria da Variação, proposta por

Labov (LABOV, 1975; LABOV et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), baseado, sobretudo, nos

preceitos do aparato teórico metodológico da Sociolinguística Quantitativa.

3.1 Coleta dos dados

Para realizar a coleta de dados que nos forneceu o material para analisar o

comportamento da epêntese medial entre os falantes do Brejo Paraibano, contamos com a

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participação de 18 informantes. Os participantes da pesquisa20

eram alunos de instituições

superiores públicas – UEPB/UFPB, sendo 12 do curso de Letras, 2 do curso de

Administração, 1 do curso de Psicologia, 1 do curso de Biologia, 1 do curso de Direito e 1 do

curso de Odontologia. No entanto, todos são/já foram estudantes de inglês como L2.

Inicialmente, foi apresentado aos informantes um formulário de consentimento (Cf.

Apêndice 1), que ofereceu informações a respeito da pesquisa a qual os mesmos estavam se

propondo a participar21

, deixando claro que, mesmo se comprometendo a participar da

pesquisa, eles poderiam, a qualquer momento, cancelar sua participação na mesma, tendo em

vista seu caráter voluntário.

Em seguida, já consciente do teor geral da pesquisa, os informantes são requisitados a

preencher um questionário (Cf. Apêndice 2) com seus dados pessoais e responder a algumas

perguntas a respeito do seu nível e frequência de prática da L2, a fim de melhor conhecermos

o perfil deste informante e o seu domínio em relação à manipulação da L2.

Neste momento, o informante toma conhecimento de que empreenderá a realização de

um teste de proficiência em inglês e de leituras de uma lista de frases e textos, os quais serão

gravados para fins de análise e cujas gravações serão examinadas somente pelo pesquisador e

orientador, permanecendo confidencial a identidade do aluno participante.

O teste realizado pelo informante é o Oxford Placement Test (ALLAN, 2004), que é

validado em mais de 30 países e o qual certificará o nível de proficiência dos informantes

participantes da pesquisa.

O referido teste (Cf. Anexo 1) é composto de 100 questões relativas ao conhecimento

auditivo do informante (Listening test) e mais 100 questões relativas ao conhecimento

gramatical do mesmo em relação à língua inglesa (Grammar test), totalizando 200 questões,

cujo resultado nos forneceu informações sobre o nível de cada informante – básico,

intermediário ou avançado.

Após ser agrupado em seu devido nível, cada um dos informantes participantes da

pesquisa foi submetido à leitura de um material em L1 e L2, que contemplava construções nas

quais era possível ocorrer o fenômeno da epêntese.

20

A presente pesquisa – protocolo CEP/HULW no 309/11 foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Universitário Lauro Wanderley – CEP/HULW da Universidade Federal da Paraíba (Cf. Anexo 2).

21 Deve-se deixar claro que quando nos referimos às informações da pesquisa, queremos dizer que situamos o

participante em relação à instituição e linha de pesquisa a qual o trabalho está vinculado, os envolvidos e as

etapas desenvolvidas durante a sua participação na pesquisa. Não foi dada nenhuma informação a respeito do

propósito para o qual está sendo desenvolvida tal pesquisa, haja vista que o conhecimento destas informações

prejudicaria a “naturalidade” da produção dos dados.

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Foram elaboradas frases com palavras que continham contextos favoráveis para a

ocorrência do fenômeno da epêntese vocálica em posição medial, tanto na L1 (português)

quanto na L2 (inglês). As palavras foram inseridas em frases-veículo em L1 (A palavra é...) e

em L2 (The Word is...) e apresentadas aos informantes através de slides exibidos no aplicativo

PowerPoint.

Estas palavras eram constituídas por codas com obstruintes labiais /p/, /b/, coronais /t/,

/d/ e dorsais /k/, /g/, em contextos pretônicos e postônicos (Cf. Apêndice 3). Para cada

segmento, foram escolhidas 4 palavras, totalizando 24 vocábulos. Com o intuito de despistar

os informantes quanto ao fenômeno analisado em nosso estudo, inserimos 6 palavras

distratoras.

Foram elaborados, também, pequenos textos (Cf. Apêndice 4) envolvendo tais

palavras, em ambas as línguas, para que pudéssemos investigar a influência de contextos

maiores e menores na produção de epêntese, tanto em L1 quanto em L2.

Desse modo, considerando as 24 palavras constituintes do corpus, fizemos a

distribuição de 8 palavras em três textos, desconsiderando, nesse momento, as 6 palavras

distratoras.

No total, nosso corpus foi composto da leitura de 180 frases e 6 textos entre L1 e L2,

por falante. Assim, em virtude da grande quantidade de material que foi lido pelos falantes22

,

dividimos a coleta de cada instrumento em 4 etapas, entre as quais cada falante realizava

pausas de cerca de cinco minutos para descanso. Dessa forma, os informantes realizavam

primeiro a leitura das frases em L1, em seguida, a leitura das frases em L2, logo após, a

leitura dos textos em L1 e, finalmente, a leitura dos textos em L2.

Nessa amostra, seguiu-se a técnica da seleção aleatória estratificada com base no sexo

dos informantes (feminino e masculino) e no nível de proficiência na L2 dos mesmos (básico,

intermediário e avançado), o que deu origem às células sociais, como apresenta-se no quadro

a seguir:

22

É pertinente ressaltar que, tanto as frases quantos os textos, não foram previamente apresentados aos

participantes, de forma que não lhes foi fornecida nenhuma informação acerca de significado e/ou pronúncia

dessas palavras. Assim, toda a coleta aconteceu a partir do conhecimento do próprio informante a respeito da

estrutura da L2.

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Quadro 6 – Distribuição das células

Cada uma das células acima foi preenchida por três informantes, totalizando 18

participantes que atenderam aos requisitos das variáveis estratificadas.

As leituras das frases e textos elaborados com ênfase no fenômeno linguístico

analisado neste trabalho foram coletadas/gravadas com o auxílio do software Audacity 1.3

Beta (MAZZONI, 2011), recebendo, em seguida, tratamento estatístico pelo software

GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).

Ouvidas as gravações, procedeu-se o levantamento e decodificação das ocorrências do

fenômeno. Cada ocorrência, depois de transcrita, recebeu uma codificação que varia de

acordo com os fatores estudados. Essa codificação obedece a uma sequência de símbolos, que

representa uma opção dentro de um conjunto de possibilidades.

Na sequência, esse material recebeu um tratamento estatístico pelo software GoldVarb

X (op. cit.), o qual nos forneceu dados para quantificar a ocorrência do fenômeno. O

tratamento estatístico é considerado, dentro dos estudos quantitativos, um dos passos mais

importantes por fornecer dados acerca do comportamento de cada variável. A este respeito,

Tarallo (1990, p. 49) advoga que o tratamento estatístico se faz responsável por indicar quais

grupos de fatores influenciam ou não na implementação de determinada variante.

Essa análise quantitativa realizada com base nos dados estatísticos foi correlacionada

às variáveis linguísticas e extralinguísticas, de modo a verificar em que proporção o referido

fenômeno se propagou.

CÉLULA 6

Sexo masculino

Nível avançado

CÉLULA 5

Sexo masculino

Nível intermediário

CÉLULA 2

Sexo feminino

Nível intermediário

CÉLULA 4

Sexo masculino

Nível básico

CÉLULA 3

Sexo feminino

Nível avançado

CÉLULA 1

Sexo feminino

Nível básico

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Os resultados fornecidos através destes dados foram confrontados com as hipóteses

levantadas, analisando se realmente as hipóteses foram pertinentes, e a partir de então

buscaram-se as possíveis explicações para a influência de determinados fatores em detrimento

de outros.

3.2 Caracterização das variáveis

Um dos passos fundamentais, em se tratando de uma pesquisa de cunho quantitativo

sociolinguisticamente orientada, é a caracterização das variáveis que darão conta de explicar o

comportamento de um dado fenômeno linguístico.

Definiremos, pois, a seguir, a variável dependente responsável pelo contexto de

variação do fenômeno em questão. Em seguida, as variáveis independentes, que podem ser

linguísticas ou extralinguísticas, atuando diretamente sobre o fenômeno, de forma a favorecer

ou inibir a sua ocorrência.

Vale salientar que nossas hipóteses foram formuladas a partir de trabalhos realizados

nessa perspectiva em outros estados brasileiros, bem como o de Pereyron (2008) e o de

Schneider (2009).

3.2.1 Variável dependente

Temos como variável dependente o embate de duas formas linguísticas que se

sobrepõe uma a outra pela influência de determinados fatores em um mesmo contexto

linguístico (TARALLO, 1990). Nesta perspectiva, temos que, no presente estudo, será

considerada como variável dependente o fenômeno da epêntese vocálica medial que se

caracteriza, sobretudo, pela inserção de uma vogal entre elementos consonantais, implicando

duas possibilidades de classificação: a aplicação da regra (ob/i/ject – inserção da vogal) ou a

não aplicação da regra (object – não inserção da vogal).

O tipo de análise procedida em relação à variável dependente foi a análise de oitiva,

isto é, uma análise perceptual com base na audição dos dados, onde codificamos a variável

para a ocorrência da manutenção ou do apagamento da vogal.

Procuramos, neste momento, proceder apenas a uma análise que enfoque a fala a partir

do ponto de vista mais voltado para o ouvinte.

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3.2.2 Variáveis independentes

As variáveis independentes são caracterizadas como um grupo de fatores linguísticos

e/ou extralinguísticos que podem condicionar ou não a ocorrência da variável dependente – o

fenômeno da epêntese vocálica em PB e inglês como L2.

3.2.2.1 Variáveis independentes linguísticas

As variáveis linguísticas foram especificadas a partir de trabalhos realizados

anteriormente – Pereyron (2008), Schneider (2009) e Lucena & Alves (2009, 2010),

verificando se as mesmas se fazem relevantes para a manutenção ou inibição do fenômeno e

em que medida isto se aplica, corroborando ou refutando os resultados dos trabalhos

supracitados.

3.2.2.1.1 Contexto fonológico precedente

O contexto fonológico precedente, também denominado de consoante perdida, refere-

se ao segmento consonantal que se encontra em posição de coda travando a sílaba,

antecedendo a vogal epentética, quando esta ocorre. Para tanto, dentre os contextos de codas,

analisamos os contextos labiais /p/, /b/, coronais /t/, /d/ e dorsais /k/, /g/, tanto no português

como L1, quanto no inglês como L2:

Quadro 7 – Contextos fonológicos precedentes analisados

Descrição dos contextos fonológicos

precedentes

Exemplos em

português e inglês

LABIAIS

Oclusiva bilabial

desvozeada

/p/ ap.to

emp.ty

Oclusiva bilabial

vozeada

/b/ ób.vio

ob.ject

CORONAIS

Oclusiva coronal

desvozeada

/t/ ét.ni.co

com.part.ment

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Oclusiva coronal

vozeada

/d/

vod.ca

kid.nap

DORSAIS

Oclusiva dorsal

desvozeada

/k/ as.pec.to

vic.tim

Oclusiva dorsal

vozeada

/g/ sig.no

cog.ni.tive

Além desses contextos, os aprendizes realizaram outras produções perdidas em coda,

envolvendo apagamentos e mudanças na estrutura dos vocábulos, ora preservando, ora

desfazendo os clusters. Preferimos excluir essas produções da análise, como veremos adiante

na análise dos dados.

Trabalhos anteriores como os de Pereyron (2008) e Schneider (2009), por exemplo,

mostram, de forma semelhante, que o contexto dorsal, especificamente a oclusiva dorsal /g/, é

o que mais propicia a ocorrência de epêntese, apresentando altas taxas de produções de

inserção vocálica diante deste contexto.

Assim, com base nesses estudos e em seus resultados, temos como hipótese que os

dados produzidos neste trabalho indicarão que as oclusivas dorsais perdidas em coda também

se mostrarão como contextos mais propícios para receber a ocorrência da epêntese vocálica.

3.2.2.1.2 Contexto fonológico seguinte

O contexto fonológico seguinte refere-se ao segmento consonantal que se posiciona

logo após a consoante perdida em coda, quando não ocorre o fenômeno da epêntese, ou após a

vogal epentética, quando o fenômeno é aplicado. Assim, os segmentos analisados no contexto

seguinte23

foram, igualmente ao contexto precedente, labiais /v/, /m/, coronais /t/, /d/, /s/, /ʒ/,

/ʃ/, /n/ e dorsais /k/, tanto no português como L1, quanto no inglês como L2, como segue no

quadro24

a seguir.

23

Vale salientar que os contextos fonológicos seguinte e precedente se diferenciam nos segmentos das variáveis,

pelo fato de no contexto precedente controlarmos os segmentos presentes em coda, sendo os elementos do

contexto seguinte resultantes da própria estrutura da palavra escolhida para dar conta das características do

contexto fonológico precedente, estabelecidas a priori.

24

Neste quadro são exibidos os subfatores encontrados a partir dos contextos fonológicos precedentes que foram

controlados, conforme pode-se perceber no item 3.2.2.1.1. Assim, na análise dos resultados relacionados a esta

variável, serão apenas considerados os fatores gerais labial, coronal e dorsal.

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Quadro 8 – Contextos fonológicos seguintes analisados

Descrição dos contextos

fonológicos seguinte

Exemplos em

português e inglês

LABIAL

Fricativa labiodental

vozeada

/v/ ad.vér.bio

ad.vise

Nasal bilabial

vozeada

/m/ rít.mi.co

bom.bard.ment

CORONAL

Oclusiva coronal

desvozeada

/t/ ob.ter

re.luc.tant

Oclusiva coronal

vozeada

/d/ lamb.da

-25

Fricativa coronal

desvozeada

/s/ con.fec.ção

ab.sent

Fricativa palato-coronal

vozeada

/ʒ/ ob.je.to

ob.ject

Fricativa palato-coronal

desvozeada

/ʃ/ -

out.shine

Nasal coronal

vozeada

/n/ et.nó.gra.fo

mag.net

DORSAL

Oclusiva dorsal

desvozeada

/k/

vod.ca

-

Os aprendizes ainda realizaram algumas alterações durante suas produções

modificando a produção do contexto seguinte, todavia, pelo que observamos, em menor

índice do que o observado no item anterior (3.2.2.1.1).

Os estudos empreendidos nesta perspectiva – Pereyron (op. cit.) e Schneider (op. cit.)

mostram que os contextos coronais, em ambos, lideraram os índices de inserção vocálica,

como em [n], [s], [ʒ], [k], sendo seguidos das labiais [f], [v], [m].

25

O traço (-) indica a ausência de uma palavra em língua inglesa que exiba o contexto /d/ e /k/, e de uma palavra

em língua portuguesa que exiba o /ʃ/ como contexto fonológico seguinte.

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60

A partir dos resultados destes estudos, formulamos nossa hipótese no sentido de que

os contextos que mais influenciarão a inserção vocálica serão os coronais e labiais.

3.2.2.1.3 Tonicidade

A variável tonicidade foi segmentada, a partir de seu contexto prosódico, em posição

pretônica ou postônica.

Tem-se um contexto pretônico, quando a consoante perdida encontra-se antes da

sílaba tônica, como em interceptar, adaptation. Já no contexto postônico, ocorre o contrário,

pois a sílaba tônica precede a consoante perdida, como nos exemplos signo > sig[i]no, kidnap

> kid[i]nap.

Embora esta variável não tenha sido selecionada como significante pelo programa

GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) em nenhuma das rodadas do

trabalho de Pereyron (2008), no trabalho de Schneider (2009) ela se mostrou relevante em

uma das rodadas de L1. Segundo o autor, isso pode ser indício de uma tendência de se evitar a

realização de epêntese em contextos postônicos.

Portanto, com base nos resultados encontrados por Schneider, nossa hipótese é a de

que o contexto pretônico seja o mais influente para a inserção da vogal epentética, tanto no

PB como na L2 dos aprendizes.

3.2.2.1.4 Tipo de instrumento

Quanto ao tipo de instrumento, foram utilizados leitura de frases e leitura de textos a

fim de coletar dados para análise.

Na análise empreendida por Pereyron (2008), controlou-se a variável tipo de

instrumento, embora a mesma não tenha sido selecionada em nenhuma rodada da análise

perceptual. Sua hipótese para esta variável era a de que a aplicação da epêntese fosse menor

em dados provenientes da lista de palavras, já que esta acarreta uma produção mais elaborada,

na qual o falante-aprendiz encontra-se atento ao que está lendo (LABOV, 2008 [1972], p.

247).

Assim, com base nos dados de Pereyron (2008), lançamos a hipótese de que os

maiores índices de epêntese serão encontrados na leitura dos textos, haja vista que os mesmos

são mais extensos e, por isso, demandam menos monitoramento dos aprendizes.

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61

Nesse sentido, trabalhamos aqui tanto com frases como com textos em português e em

inglês, com o intuito de representar a L1 e a L2 desses aprendizes. Desta forma, foi possível

verificar qual instrumento oferece um ambiente mais propício para manipulação ou inibição

de ocorrências da vogal epentética, e em que medida ocorre a transferência de elementos da

L1 para a L2 em ambos os contextos.

3.2.2.2 Variáveis independentes extralinguísticas

3.2.2.2.1 Sexo

A variável social sexo subdivide-se em feminino e masculino, e nos fornecerá

subsídios empíricos acerca de quais informantes, homens ou mulheres, produzem índices

mais altos e mais baixos do fenômeno da epêntese.

Há uma série de trabalhos consistentes de caráter variacionista que associam a variável

sexo a questões linguísticas (PAIVA, 2003; CAMARA JR., 2007; LABOV, 2008 [1972]) e

que trabalham com essa variável na perspectiva de que as mulheres lideram o uso da forma

padrão, mostrando-se sensíveis às formas de prestígio. Já os homens, por outro lado,

mostram-se propensos a liderarem o uso de formas desprestigiadas.

Labov (2008 [1972], p. 281) advoga, neste sentido, que “na fala monitorada, as

mulheres usam menos formas estigmatizadas do que os homens e são mais sensíveis do que

os homens ao padrão de prestígio”.

Deste modo, formulamos nossa hipótese acreditando que em nossos dados ficará

explícito o domínio da aplicação de produções padrão da língua, isto é, de não inserção

vocálica por parte das mulheres, corroborando, portanto, os resultados dos trabalhos

anteriormente elencados.

3.2.2.2.2 Nível de proficiência na língua

Esta variável contempla três níveis de proficiência do informante, sendo eles, básico,

intermediário e avançado, com o objetivo de verificar em quais desses níveis o aprendiz

aplicará mais a regra da epêntese.

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62

É preciso enfatizar que tais níveis foram selecionados de acordo com o teste de

proficiência (Cf. Anexo 1) realizado com os informantes e que os categorizou em diferentes

níveis.

Os dados de análise dos trabalhos de Lucena & Alves (2009; 2010) revelam que o

nível de proficiência dos informantes foi selecionado como uma das variáveis relevantes nas

rodadas realizadas. Seus resultados mostram que quanto mais básico o nível de proficiência

do aprendiz, mais próximas as suas produções serão do sistema da L1.

A partir dos dados obtidos no estudo de Lucena & Alves (op. cit.) e Pereyron (2008),

nossa hipótese é a de que aprendizes que exibam um nível avançado na L2 aplique um baixo

índice da inserção vocálica.

3.2.2.2.3 Idioma

Nesta variável, será verificado qual idioma é mais favorável à inserção vocálica – L1

(português) ou L2 (inglês), de forma a verificar como ambas atuam no sentido de fornecer um

ambiente propício para a propagação ou inibição do fenômeno da epêntese.

A escolha desta variável foi controlada com o escopo de verificarmos mais

acuradamente a estrutura linguística de cada idioma – língua portuguesa e língua inglesa.

Schneider (2009) mostra que os índices de aplicação do fenômeno da epêntese

vocálica medial em PB e em inglês divergem. Em seus resultados, a maior incidência do

fenômeno foi na língua portuguesa, com 39,4 % das ocorrências. Em contrapartida, este

percentual diminui para a 1íngua inglesa.

Portanto, com base nos resultados de Schneider, nossa hipótese é a de que a maior

incidência de aplicação da epêntese medial seja no português (PB).

3.3 Instrumento de análise dos dados

Como citado anteriormente, nossos dados foram analisados com o auxílio do

programa computacional GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005).

Este aplicativo computacional é uma das ferramentas mais versáteis para proceder a

análises quantitativas de dados linguísticos, sendo capaz de realizar análises multivariacionais

desses dados, e pode ser baixado gratuitamente em vários sites na internet.

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63

O GoldVarb X é uma versão recente do conhecido programa VARBRUL 2S, que tem

todos os seus programas executados em um único arquivo.

De início, utilizam-se todos os dados devidamente codificados para a criação de um

arquivo de ocorrências, no qual é gerado um fator de especificação. Em seguida, o programa

procede a uma checagem das ocorrências, a fim de identificar possíveis erros de codificação.

No próximo passo, é criado um arquivo chamado “arquivo de condição” o qual exibe

todos os grupos de fatores com os quais trabalhamos em nossa pesquisa.

A partir de então, é criado o arquivo de células, o qual fornece o valor dos pesos

relativos a partir das porcentagens de aplicação para cada grupo de fatores.

Para finalizar, o programa cria o arquivo de resultado que fornece os percentuais de

aplicação e não aplicação da regra variável em análise para cada fator condicionador do

fenômeno. Ainda no arquivo de resultado, realiza-se a rodada binomial stepup e stepdown

que, através de comparações, mostra quais são as variáveis mais e menos relevantes para a

aplicação do fenômeno em estudo.

De acordo com Freire (2011, p. 70), temos a seguinte sequência de execução de

tarefas:

Quadro 9 – Sequência de execução de tarefas do GoldVarb X

Arquivo de ocorrências

Arquivo de especificação de fatores

Comando Check tokens

Comando No recode

Arquivo de condições

Arquivo de células

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Arquivo de resultados

Rodada binomial Stepup e Stepdown

A seguir, vejamos o que os dados revelam com base na estatística fornecida pelo

programa a respeito da epêntese vocálica medial.

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65

CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nesta seção serão apresentados e discutidos os dados obtidos em cada rodada

realizada. Para tanto, procedemos a três rodadas distintas, analisando o comportamento do

fenômeno em um contexto geral (L1 + L2) e em contextos isolados, L1 e L2.

Inicialmente, apresentamos o resultado da frequência geral do fenômeno da epêntese

vocálica, discriminando, posteriormente, sua ocorrência isolada tanto em português quanto em

inglês.

Posteriormente, explicitamos a dinâmica de cada rodada, de forma a mostrar as

variáveis analisadas e selecionadas pelo programa como as mais relevantes para a aplicação

do fenômeno e o valor percentual de cada variável selecionada, buscando interpretar os dados

e explicar sua ocorrência.

Em seguida, detalhamos cada variável selecionada estatisticamente pelo programa,

demonstrando através de tabelas e gráficos sua frequência e peso relativo.

Para finalizar, verificamos se os resultados obtidos corroboram ou não as hipóteses

inicialmente estabelecidas e os resultados encontrados em outros trabalhos da mesma

natureza.

4.1 Frequência geral da epêntese vocálica em L1 e L2

A primeira rodada dos dados realizada neste estudo pelo programa GoldVarb X

(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) considerou a frequência geral do fenômeno

da epêntese vocálica medial em português e inglês concomitantemente, de forma a controlar

as variáveis que influenciam a aplicação ou não aplicação do referido fenômeno.

Nesta primeira rodada, foram controladas todas as variáveis, a seguir:

vogal epentética;

sexo;

proficiência na língua;

tipo de instrumento;

contexto fonológico seguinte;

contexto fonológico precedente;

tonicidade.

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De forma geral, foi levantado nesta rodada um total de 3325 ocorrências, sendo 719 de

aplicações do fenômeno, exibindo um percentual de 21,6 % de inserção vocálica nos dados, e

2606 referentes a não aplicação do fenômeno, com um percentual de 78,4 % de não inserção

vocálica.

Ao observar o gráfico a seguir, visualizamos melhor o percentual de aplicação do

fenômeno:

Gráfico 1 – Frequência geral do fenômeno da epêntese vocálica medial

O resultado apresentado no gráfico acima exibe o valor total de ocorrências analisadas

perceptualmente em L1 e L2.

Nesta rodada, como veremos mais detalhadamente a seguir, não houve ocorrências de

knockout26

em nenhuma variável trabalhada, não sendo, portanto, necessária a amalgamação

ou anulação de nenhuma das variáveis ou de suas variantes.

A princípio, os dados revelam categoricamente o baixo índice de aplicação de

epêntese por falantes paraibanos de inglês como L2 (21,6 %). Isto, de certa forma, demonstra

26

O knockout representa a ocorrência de 0 % ou 100 % de aplicação de um dado fenômeno para um determinado

fator. Em casos de knockout, deve-se corrigi-los através da eliminação ou amalgamação dos dados. Para mais

explicações, sugerimos a leitura de Tagliamonte (2006) e Guy & Zilles (2007).

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a maturidade das estruturas apreendidas em inglês, contrariando nossas expectativas acerca

dos resultados. De fato, esperávamos um forte indício de transferência de elementos da L1

para a L2 ou percentuais equiparados de aplicação e não aplicação, onde o aprendiz

apresentaria um sistema de interlíngua mais próximo da L1.

Cabe aqui comparar estes resultados aos encontrados por Lucena & Alves (2009, p. 8)

em uma análise comparativa do mesmo fenômeno na Paraíba e no Rio Grande do Sul, onde os

autores obtiveram em seus dados uma frequência global de 46 % referente à aplicação e 54 %

de não aplicação do fenômeno por falantes paraibanos de inglês como L2, ou seja, um

percentual de aplicação inferior ao percentual de não-aplicação, porém em uma proporção

mais equilibrada.

No entanto, o estudo de Lucena e Alves (op. cit.) foi realizado com a produção de

aprendizes apenas do nível básico, o que explica, provavelmente, a ocorrência de resultados

tão equiparados de manutenção de epêntese e de coda (46% e 54%, respectivamente),

indicando que estes aprendizes possuem um sistema de interlíngua ainda em

desenvolvimento, motivando, uma maior incidência da influência da L1 na L2. Outro fator

atuante neste resultado pode ser encontrado no próprio corpus, que contou com a produção de

10 participantes, caracterizando assim uma produção de dados mais restrita, tendo em vista o

número de participantes de um único nível.

Em relação aos nossos resultados, temos a produção de aprendizes de três níveis:

básico, intermediário e avançado, o que pode ter influenciado resultados relativamente

distantes (21, 6 % em nosso trabalho e 78, 4 % no trabalho de LUCENA & ALVES, 2009),

indicando que os aprendizes que analisamos exibem, a nosso ver, um sistema de aquisição de

codas maturado, de forma a não produzir valores muito altos de inserção vocálica.

Nosso corpus contou com a produção de 18 informantes – seis para cada nível, o que

nos auxilia a ter dados mais abrangentes. O número de informantes de diferentes níveis dá a

garantia de dados mais consistentes para serem manipulados em nossa investigação, além de

fornecer subsídios mais sólidos para confirmação ou contestação de nossas hipóteses.

Ambas as pesquisas tiveram como participantes alunos de Graduação (em andamento

ou concluído), sendo a maioria do curso de Licenciatura Plena em Letras. A formação dos

participantes nos faz acreditar que tais informantes possuem determinado conhecimento da

estrutura da L2, diferenciando apenas o nível no qual se encontram. Estes alunos exibem um

estágio avançado de aquisição, o qual dispensa inserção vocálica nas produções de codas

silábicas e evita, de certa forma, a transferência dos elementos da L1 em direção a L2, o que

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68

explica o baixo índice de ocorrência de epêntese nas produções dos aprendizes de nossa

pesquisa.

No quadro a seguir será apresentada a relação das variáveis independentes analisadas e

selecionadas nesta primeira rodada, considerando como variável dependente a inserção

vocálica.

Quadro 10 – Grupos selecionados na 1ª rodada

1ª R O D A D A – L1 + L2

Grupos Analisados Grupos Selecionados

sexo proficiência na língua

proficiência na língua contexto fonológico seguinte

tipo de instrumento contexto fonológico precedente

contexto fonológico seguinte tonicidade

contexto fonológico precedente –

tonicidade –

Nesta rodada, todos os grupos de fatores controlados foram analisados, dentre os quais

foram selecionados pelo programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH,

2005) os seguintes: proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico

precedente e tonicidade, respectivamente. Todos eles mostraram-se propensos à aplicação do

fenômeno, sendo excluídas as demais variáveis, como pode-se perceber no quadro acima.

Na análise a seguir, contemplamos a discussão do papel de cada variável selecionada

pelo programa na aplicação do fenômeno. As variáveis descartadas que foram excluídas não

serão consideradas nesta análise.

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4.1.1 Proficiência na língua

Ao procedermos às rodadas estatísticas dos dados de L1 e L2 conjuntamente,

constatamos que a variável proficiência na língua foi a selecionada pelo programa como a

mais favorável para a aplicação do fenômeno da epêntese vocálica.

Como visto anteriormente, esta variável foi inserida em nosso estudo no ímpeto de

analisarmos em que medida o nível de proficiência do aprendiz na L2 influencia na

manipulação de suas produções. Para a análise desta variável, nossa hipótese inicial foi a de

que quanto maior o nível de proficiência do aprendiz na L2, menores os índices de epêntese

vocálica.

Na tabela a seguir, veremos o comportamento das variantes categorizadas nesta

variável e os resultados para as mesmas:

Tabela 1 – Proficiência na língua (L1 + L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

básico 300/1090 27,5 0,59

intermediário 283/1106 25,6 0,57

avançado 136/1129 12 0,34

Total 719/3325 21,6 –

Input: .19

Significância: .000

Os resultados revelam que a aplicação do fenômeno estudado é mais recorrente entre

os falantes de inglês como L2 de nível básico, exibindo um peso relativo de 0,59, seguido do

nível intermediário, com peso relativo de 0,57, e avançado, com 0,34.

A frequência percentual dos fatores exibida na tabela confirma nossa hipótese

estabelecida inicialmente. Temos, neste sentido, que quanto mais avançado na L2, mais o

aprendiz se mostra capaz de produzir estruturas complexas da língua alvo. Nossas

especulações acerca da referida variável, portanto, foram comprovadas a partir dos dados

obtidos.

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70

É imprescindível destacar que, como citado anteriormente, esses informantes foram

nivelados por proficiência, a partir da realização do Oxford Placement Test (ALLAN, 2004),

de forma a distribuí-los como pertencentes aos níveis básico, intermediário e avançado.

Ao analisarmos detalhadamente a tabela, constatamos de imediato que os informantes

de nível básico e intermediário aplicam mais a regra da epêntese. Acreditamos que estes

informantes podem ainda estar em um período de abstração de determinados elementos da

língua alvo, e não possuem ainda capacidade para manipular tais elementos. Neste estágio

inicial de aprendizado da L2, o aprendiz tem mais facilidade de operar construções mais

próximas à L1, a qual constitui a base estrutural evocada neste processo.

A este respeito, Ré (2006, p. 122) afirma que “a LM já constitutiva do sujeito falante é

evocada no início da aprendizagem de uma L2” e que durante o desenvolvimento inicial de

uma L2, são essas as bases de estruturação solicitadas pelo falante e de onde surgem,

portanto, os indícios da primeira língua.

Em relação aos informantes de nível avançado, conforme o esperado, houve um

percentual de aplicação de inserção vocálica inferior ao dos informantes de nível básico e

intermediário. Isto se deve ao fato de o nível avançado exigir do aprendiz um tempo de

contato relativamente maior com a língua alvo, reforçando mais a nossa hipótese de que

quanto maior este contato, maior o domínio linguístico da L2 e, por conseguinte, maior a

proficiência e habilidade com a L2. Nossos resultados, portanto, se somam aos encontrados

em outros trabalhos, tais como o de Cardoso (2005) e Pereyron (2008).

No estudo empreendido por Pereyron (op. cit.), o nível de proficiência foi uma das

variáveis controladas e que, na análise perceptual, foi selecionada como estatisticamente

relevante. Em seus dados, a frequência dos índices de epêntese demonstra que os informantes

com menos de 4 anos de estudo e que se encontram em um nível básico obtiveram um peso

relativo maior (0,53) em relação aos informantes com mais de 4 anos de estudo e que se

encontram em um nível avançado de uso da L2, com peso relativo de 0,47.

No trabalho desenvolvido por Cardoso (op. cit., p. 41), temos a variável nível de

proficiência como a primeira selecionada, levando em consideração a análise de ocorrências

de codas. Seus dados revelaram que quanto maior o nível de proficiência do aprendiz, maior a

produção de codas (0,61), o que indica a ausência de inserção vocálica, ou seja, epêntese.

Cardoso27

(op. cit.) afirma que em estágios avançados da L2, há um aumento da

27

Vale salientar que o estudo relatado contempla a análise da epêntese vocálica em posição final. No entanto,

por se tratar do mesmo fenômeno fomentado em nossa pesquisa, tomamos parte de seus resultados para guiar

algumas diretrizes do nosso trabalho. Para maiores detalhes desta pesquisa, cf. Cardoso (2005).

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71

produção de codas, sendo evitada a inserção vocálica como auxílio para determinadas

construções complexas. Assim, seus dados indicam que todos os aprendizes de níveis mais

elevados são capazes de lidar com estruturas mais elaboradas da L2, aproximando-se ao

máximo, nesses casos, de produções nativas.

4.1.2 Contexto fonológico seguinte

A variável contexto fonológico seguinte foi a segunda mais relevante para o nosso

estudo nesta primeira rodada. Com esta variável, buscamos investigar qual contexto

fonológico seguinte influencia a manutenção ou não aplicação da vogal epentética nos dados

obtidos. Os contextos seguintes controlados foram segmentados em labiais, coronais, dorsais.

Nossa hipótese inicial para esta variável foi a de que os contextos coronais e labiais

seriam os mais influentes na manutenção do fenômeno da epêntese vocálica, tomando como

base os resultados dos estudos realizados por Pereyron (2008) e Schneider (2009) no Sul do

Brasil.

Na tabela28

a seguir, apresentamos os resultados estatísticos desta variável, com base

nos nossos dados:

Tabela 2 – Contexto fonológico seguinte (L1 + L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

Labial 292/921 31,7 0,60

coronal 410/2328 17,6 0,46

dorsal 17/76 22,4 0,49

Total 719/3325 21,6 –

Input: .19

Significância: .000

28

Na referida tabela serão apresentados os valores percentuais gerais para cada grupo de fator controlado –

labial, coronal e dorsal, não sendo especificados os valores de cada subfator exibido na apresentação das

variáveis no item 2.2.2.1.2.

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A partir dos pesos relativos e percentuais apresentados na tabela acima, podemos

observar que o fator de maior condicionamento para a aplicação do fenômeno foi o contexto

labial, apresentando o maior peso relativo de 0,60, seguido do contexto dorsal, com peso

relativo 0,49, e o contexto coronal, com o menor peso relativo de 0,46.

Em parte, nossos resultados corroboram as hipóteses estabelecidas, já que

acreditávamos estarem entre os grupos de fatores mais influentes para a manutenção da

inserção vocálica os contextos coronais ou labiais.

No entanto, como mencionado anteriormente, nossas hipóteses foram confirmadas em

parte, pelo fato de o contexto coronal se mostrar, em nossos resultados, como o menos

relevante nesta variável. Na verdade, o outro fator mais relevante foi o dorsal, o qual,

surpreendentemente, apresentou um índice maior do que o esperado.

A fim de melhor entendermos os resultados obtidos, revisitamos o quadro

demonstrativo das palavras que compõe o nosso corpus (Cf. Apêndice 3), e constatamos que,

dentre as quarenta e oito palavras integrantes do corpus, treze possuem um elemento labial na

posição seguinte ao elemento flutuante ou a vogal epentética. Apenas quatro não possuem um

elemento coronal precedente (sendo, nestes casos, duas dorsais /g/ como em segmento,

dogma, e duas labiais /b/ como em óbvio e submit), ou seja, a maioria dos elementos

fonológicos antecedentes destas palavras possui o traço [+ coronal].

O referido fato se mostrou um tanto interessante para nós, levando-nos a crer que o

traço [+ coronal] dos contextos fonológicos antecedentes motivou a manutenção do fenômeno

da epêntese vocálica, desenvolvendo uma variante sob forma de glide coronal, o qual assume

o lugar da vogal epentética.

Assim, entendemos que, neste caso, houve um espraiamento do traço [+ coronal] dos

contextos antecedentes em direção aos contextos seguintes, criando um ambiente favorável

para a manutenção do contexto epentético, o que pode explicar a ocorrência natural do

fenômeno.

Recorremos aos estudos de Clements & Hume (1995, p. 295) que propõe a Geometria

de Traços, que trabalha com a estrutura dos sons da fala, a fim de explicarmos os dados

obtidos. De acordo com a referida teoria, determinados traços dos sons da fala dispõem de

uma organização hierárquica, sendo, portanto, representados por nós organizados

hierarquicamente. Dentre esses nós, temos o que os autores chamam de Nó de Ponto de

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73

Consoante (PC)29

, o qual representa o ponto de articulação na produção dos sons e que são

[labial], [coronal] e [dorsal], compartilhando traços entre si.

Esse compartilhamento de traços decorre da regra de espraiamento de nós, dando

origem à formação de um elemento intrusivo.

Assim, em uma palavra como advérbio, por exemplo, o elemento flutuante [d] adquire

um vocóide intrusivo [i], resultando, portanto, em uma construção do tipo ad[i]vérbio, pois

ambas compartilham do mesmo traço [+ coronal]. Em suma, há um espraiamento do traço do

[d] em relação ao [v], culminando na formação de um vocóide intrusivo, processo que

caracteriza o fenômeno da epêntese vocálica, como dito anteriormente.

Esse processo explica os resultados que encontramos, e justifica o fato de termos a

grande maioria dos elementos flutuantes com o traço [coronal] como favoráveis à aplicação

da epêntese vocálica. Conforme mostramos, isto ocorre devido ao processo de espraiamento

da coronalidade que acontece mesmo quando o contexto seguinte apresenta elementos que

não possuem o traço [+ coronal]. O espraiamento, nesses casos, advém do traço [+ coronal]

do contexto fonológico precedente.

Bisol (1999, p. 733) corrobora a perspectiva dessa teoria proposta por Clements &

Hume (op. cit.), afirmando que o fenômeno da epêntese caracteriza-se, naturalmente, como

um processo de expansão da coronalidade, onde o traço coronal do elemento situado na

posição de coda é espraiado para o elemento seguinte, a fim de preencher o núcleo silábico

vazio.

4.1.3 Contexto fonológico precedente

O contexto fonológico precedente foi a terceira variável mais relevante nesta rodada,

mostrando-se uma das mais favoráveis para a inserção da vogal epentética.

Esta variável refere-se à consoante perdida e buscou investigar qual o fator (labial,

coronal ou dorsal), segmentados conforme 3.2.2.1.1, mais influencia na aplicação da

epêntese. Vale salientar que tais segmentações foram intencionalmente pré-definidas, sendo o

corpus configurado com base nas mesmas.

Cada segmento deste contempla quatro palavras, onde os mesmos aparecem em

posições pretônicas e postônicas (Cf. Apêndice 3).

29

Além de nós consonantais que compartilham traços entre contóides, a teoria contempla nós vocálicos que

compartilham traços entre vocóides. Para maior detalhamento da teoria dos referidos autores, bem como da

representação geométrica por eles proposta, cf. Clements & Hume (1995).

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74

A princípio, conforme apontamos na caracterização das variáveis, baseado nos

resultados encontrados em outros estudos (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), nossa

hipótese era de que o contexto que mais favoreceria a ocorrência da regra de epêntese

vocálica seria o contexto dorsal seguido do contexto labial.

No entanto, conforme os resultados apresentados na tabela a seguir, nossa hipótese

não foi confirmada:

Tabela 3 – Contexto fonológico precedente (L1 + L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

labial 194/1138 17% 0, 45

coronal 349/1126 31% 0, 59

dorsal 176/1061 16,6% 0,45

Total 719/3325 21,6% –

Input: .19

Significância: .000

De acordo com os valores encontrados na tabela acima, temos que o contexto coronal,

quando em posição precedente, mostra-se mais favorável à aplicação da vogal epentética,

exibindo um percentual de aplicação de 31 %. Assim, os contextos menos propensos à

epêntese vocálica são dorsal e labial, apresentando, respectivamente, um percentual de 16,6 %

e 17 %, os quais demonstram valores, relativamente, próximos, no que concerne à inibição do

fenômeno.

Inicialmente, nossas hipóteses foram refutadas, haja vista que esperávamos encontrar

o contexto dorsal como o mais relevante para esta variável. Ao invés dele, encontramos no

contexto coronal o maior percentual de incidência do fenômeno, embora, observando

atentamente a tabela, verifica-se que temos valores próximos. No entanto, o dorsal é o único

contexto que apresenta o valor do índice de peso relativo acima do ponto de referência de

0,50.

Vale salientar que outros estudos empreendidos nesta perspectiva como os de

Collischonn (2002), por exemplo, corroboram os resultados encontrados em nossa pesquisa,

haja vista que apontam as coronais como as consoantes que formam as codas mais complexas

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75

e difíceis de serem produzidas pelos aprendizes, tornando viável, nesse sentido, o ambiente de

produção da epêntese vocálica.

Assim, percebe-se claramente nos resultados obtidos que, pelo fato de as coronais

constituírem codas complexas, o processo de epentetização se torna mais marcado na

interlíngua destes aprendizes o que, portanto, explica o índice percentual mais elevado que

obtivemos para este fator.

É imprescindível destacar que estes resultados remontam os encontrados na variável

analisada anteriormente – contexto fonológico seguinte, em que quase todas as ocorrências do

fator selecionado (labial) apresentavam uma coronal em posição precedente.

4.1.4 Tonicidade

Esta foi a quarta e última variável selecionada pelo programa como relevante na

primeira rodada dos dados. Nesta variável, controlamos dois fatores: contexto prosódico

pretônico e postônico.

Lançamos a hipótese, inicialmente, de que a frequência maior de aplicação da

epêntese vocálica se manifestaria em contextos pretônicos, já que dados de outros trabalhos,

tais como o de Collischonn (2002) e Schneider (2009), indicam esta tendência.

A tabela a seguir mostra detalhadamente os resultados percentuais, bem como o peso

relativo para cada fator do referido contexto.

Tabela 4 – Tonicidade (L1 + L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

pretônico 426/1652 25,8 0,56

postônico 293/1673 17,5 0,43

Total 719/3325 21,6 –

Input: .19

Significância: .000

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76

De acordo com os valores expostos na tabela, temos que nossa hipótese foi

confirmada, pois, encontramos, de fato, o fator pretônico como favorável para a ocorrência do

fenômeno de inserção vocálica em posição medial, com um valor percentual de 25,8 %,

exibindo um peso relativo de 0,56, contra o percentual menor do fator postônico de 17, 5 %,

com peso relativo de 0,43.

Tais resultados ratificam os dados encontrados por Schneider (2009, p. 120), onde o

mesmo afirma parecer haver uma forte tendência de se evitar a realização do fenômeno da

epêntese, quando a vogal epentética é produzida em um contexto postônico. Segundo o

referido autor, nesses casos o processo de epentetização destes vocábulos implica

deslocamento do acento principal da palavra na direção esquerda direita.

Vale salientar que os nossos resultados, somados aos encontrados por Schneider

(2009) ecoam a pesquisa desenvolvida por Collischonn (2002), que chega aos mesmos

resultados.

Nossos resultados, bem como os encontrados nos trabalhos supracitados, remontam os

aspectos explicitados no Alinhamento Generalizado, proposto por McCarthy & Prince (1993)

que dá conta de determinadas restrições que explicam as propriedades do acento. O GA

(Generalized Alignment, como é chamado no inglês) corresponde a uma família de restrições

de boa formação do constituinte prosódico, operando no sentido de que a sílaba mais

proeminente esteja localizada na margem esquerda do pé, demandando, neste caso, uma

configuração trocaica30

(MAGALHÃES, 2010, p. 106-107).

Esse processo de boa formação do constituinte admite determinadas estruturas

silábicas estabelecidas através de restrições, sobretudo, de acento. Estas restrições, por sua

vez, determinam os segmentos aceitos em determinados posicionamentos da sílaba (coda,

ataque, núcleo) que se diferenciam de língua para língua. Isto explica o porquê de

determinados fatores relacionados a um dado fenômeno se propagarem de formas diferentes

em cada língua e em cada contexto.

Desta forma, recorremos a tais restrições de acento a fim de justificar a aplicação do

contexto prosódico postônico de forma não favorável ao fenômeno da epêntese. Encontramos,

com base nesta teoria, que a inserção vocálica pode indicar afastamento do acento em relação

ao final da palavra, como podemos ver na segmentação da palavra apto.

30

Termo relacionado à troqueu, o qual designa pé métrico que consiste de uma sílaba acentuada seguida de uma

sílaba não acentuada. Nestes casos, o padrão métrico é dito trocaico (SILVA, 2011).

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77

Elemento extraviado, metricamente fraco,

acrescido ao pé mais próximo à sua esquerda.

Inserção da vogal epentética que representa

afastamento do elemento que concentra o

acento (ap), do final da palavra, o que

provoca mudança no acento do vocábulo.

Apto a.pi.to ap.to = esses contextos tendem a rejeitar o recurso da vogal epentética.

Bisol (1999, p. 713) denomina tal processo de adjunção da sílaba extraviada, através

do qual o elemento constituinte não-contado pela regra de acento é acrescido ao pé mais

próximo à sua esquerda, respeitando os limites da palavra. Por isso, em qualquer nível da

estrutura métrica, todo material perdido (da borda) pode ser incorporado ao pé adjacente

como membro metricamente fraco, não podendo, portanto, comportar elementos epentéticos

em sua estrutura. Vejamos os exemplos de étnico:

étnico é.t.ni.co ét.ni.co

Desta forma, entendemos, em linhas gerais, que as teorias de boa formação das sílabas

(McCARTHY, op. cit.; BISOL, op. cit.) dão conta de explicar nossos resultados para a

variável tonicidade, justificando, portanto, a manifestação do fenômeno da epêntese vocálica,

em maior proporção, no fator pretônico.

4.2 Frequência geral da epêntese vocálica em L1

Após a realização da primeira rodada com todos os dados coletados, tanto de L1

quanto de L2 simultaneamente, julgamos necessário proceder a rodadas isoladas apenas com

dados de L1, a fim de investigar mais detalhadamente o comportamento do fenômeno em

cada língua.

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78

Assim, nesse segundo momento, o programa GoldVarb X (SANKOFF,

TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) considerou a frequência do fenômeno da epêntese

vocálica apenas em língua portuguesa.

Novamente, incluímos nesta rodada estatística todas as variáveis com as quais

trabalhamos na primeira etapa (Cf. em 3.1 a descrição das variáveis na primeira rodada), não

sendo necessária a amalgamação de nenhum fator ou eliminação devido a ocorrências de

knockout.

Considerando os dados de L1, foi atestado um total de 1711 ocorrências em português.

Dentre estas ocorrências, 482 foram de aplicação do fenômeno, com um percentual de 28,2%,

e 1229 de não aplicação, com um percentual de 71,8 %, como segue no gráfico a seguir.

Gráfico 2 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L1

Os dados comprovam a frequência da epêntese vocálica medial em L1, em uma

porcentagem inferior (28,2 %) ao índice de não aplicação do referido fenômeno.

Este resultado não corresponde a nossas expectativas, haja vista que nossa hipótese era

de que a frequência da epêntese nesta rodada excedesse, significativamente, o número de não

aplicação do fenômeno, tendo em vista que os aprendizes tendem a evitar a presença de uma

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79

obstruinte em coda silábica, exigindo que o aprendiz recorra a fenômenos como a inserção da

vogal epentética para desfazer esses tipos de clusters.

No entanto, se compararmos os nossos resultados com os encontrados em outros

trabalhos realizados com os dados de L1, teremos percentuais semelhantes de aplicação do

fenômeno, entre os quais destacamos o de Pereyron (2008, p. 99-100) e de Schneider (2009,

p. 102), por exemplo, que investigaram a epêntese no RS e obtiveram um percentual de 33 %

e 39,4 % de aplicação e 67 % e 60,6 % de não aplicação, respectivamente.

Observando atentamente os nossos resultados e os de Pereyron (2008) e Schneider

(2009), surpreendemo-nos, visto que a maior parte dos trabalhos que buscamos, demonstra

que o dialeto gaúcho fica mais à vontade com sílabas travadas com coda, diferentemente do

dialeto paraibano que fica mais à vontade com as sílabas abertas (LUCENA & ALVES,

2010).

No entanto, acreditamos que o motivo para essa diferença nos resultados possa

encontrar-se nos procedimentos metodológicos entre nossa pesquisa e as pesquisas

supracitadas.

Se atentarmos à pesquisa de Pereyron (2008), veremos que seu corpus foi organizado

com base em uma lista de 69 palavras que apresentam encontros consonantais existentes tanto

em português quanto em inglês, além de incluir uma lista de 34 frases pertencentes ao inglês

coloquial. Já o trabalho de Schneider (2009) conta com um corpus formado por 39 palavras

em inglês inseridas em 13 frases, incluindo também 61 palavras em inglês, as quais compõem

4 parágrafos.

Diferente das pesquisas desenvolvidas no RS, nosso trabalho possui um corpus

formando por 60 palavras tanto em português quanto em inglês, dentre as quais 48

apresentam, intencionalmente, encontros consonantais favoráveis à ocorrência de epêntese

vocálica medial e 12 são distratoras. Estas palavras foram distribuídas entre frases veículos

em ordem aleatória e entre 6 textos, para que pudéssemos proceder a análise das palavras

isoladas e das palavras em um contexto maior de produção.

No quadro a seguir será apresentada a relação das variáveis independentes analisadas e

selecionadas nesta segunda rodada, considerando como variável dependente a inserção

vocálica.

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Quadro 11 – Grupos selecionados na 2ª rodada

2ª R O D A D A – L1

Grupos Analisados Grupos Selecionados

sexo proficiência na língua

proficiência na língua contexto fonológico seguinte

tipo de instrumento contexto fonológico precedente

contexto fonológico seguinte tonicidade

contexto fonológico precedente –

tonicidade –

Nesta segunda rodada, assim como na primeira, todos os grupos de fatores controlados

na pesquisa foram analisados. Foram selecionados pelo GoldVarb X (SANKOFF,

TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) como significantes para o fenômeno em questão, os

seguintes fatores: proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico

precedente e tonicidade. Os fatores sexo e tipo de instrumento não foram selecionados e não

serão considerados. Assim sendo, nossa análise irá contemplar a discussão apenas dos fatores

selecionados pelo programa nesta rodada.

Mais uma vez, percebe-se a forte relação que o fator nível de proficiência exerce sobre

a aplicação do fenômeno nesta rodada, ratificando nossas hipóteses iniciais para esta variável.

Partiremos, agora, para a análise dos fatores selecionados, discutindo o papel de cada

variável na desenvoltura do fenômeno da epêntese medial em língua portuguesa, a fim de

verificar a aplicabilidade das hipóteses estabelecidas.

4.2.1 Proficiência na língua

Na rodada estatística dos dados de L1, temos que a variável proficiência na língua foi,

surpreendentemente, considerada a mais relevante na manifestação da epêntese vocálica em

posição medial, uma vez que não esperávamos a influência dessa variável relacionada à L2 na

produção dos dados de L1.

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Esta variável conta com os fatores básico, intermediário e avançado, os quais

analisamos a fim de investigar a influência dos mesmos na aplicação da epêntese. Com base

nessa variável, sustentamos, de forma geral, a hipótese de que quanto mais elevado o nível de

proficiência na L2 que o aprendiz apresenta, menor a inserção vocálica em suas produções.

Apresentamos os valores referentes aos fatores dessa variável na tabela a seguir:

Tabela 5 – Proficiência na língua (L2) nos dados de L1

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

básico 196/569 34,4 0,58

intermediário 184/569 32,3 0,56

avançado 102/573 17,8 0,35

Total 482/1711 28,2 –

Input: .25

Significância: .008

A tabela mostra dados que confirmam que os aprendizes que exibem um nível mais

elevado de proficiência na L2 aplicam em menor proporção a regra da epêntese vocálica,

diferentemente dos aprendizes que exibem níveis menores de proficiência.

Assim, em termos percentuais, temos que apenas 17,8 % dos aprendizes em níveis

avançados inserem a vogal epentética em suas produções, com um peso relativo de 0,35,

enquanto que 32,3% (0,56) de aprendizes de nível intermediário e 34,4% (0,58) do nível

básico lideram os índices de aplicação do fenômeno.

A partir dos resultados encontrados para esta variável, temos, portanto, a impressão de

que os dados ratificam a estreita relação entre L1 e L2, dado o fato de que, entre outras

variáveis, a variável proficiência na língua foi selecionada como relevante, não apenas nas

rodadas de L1, mas também em L2, como veremos a seguir. A este respeito, Ré (2006, p. 122)

pontua que realmente há uma forte ligação entre a aprendizagem de língua estrangeira e a

relação inconsciente que mantemos com a “língua fundadora”, já que a L1 é a base da

estrutura que construímos para manipular a língua-alvo.

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82

Assim, acreditamos que essa relação seja responsável por fazer com que os fatores que

operam na L1 possam também operar na interlíngua e/ou na L2 e vice-versa, motivado,

sobretudo, pelo princípio da transferência linguística. A nosso ver, tal fato configura-se como

uma possível explicação para os resultados obtidos, pois mesmo se tratando de língua materna

na qual o aprendiz é naturalmente proficiente, cremos que a variável foi selecionada devido à

relação de biunivocidade estabelecida entre ambas as línguas L1 e L2, que atua na direção L1

interlíngua L2 (SCHNEIDER, 2009, p. 140).

Desta forma, acreditamos que tal discussão relacionada a esta variável possa ser

demonstrada através da figura a seguir:

Figura 1 – Processo de transferência linguística

Neste sentido, em se tratando de língua materna, ecoamos Geva (2006, p. 1) 31

a fim

de corroborar o resultado obtido em L1, pois, segundo a referida autora, o que ocorre é que

determinados processamentos aplicados em L1 e L2 são responsáveis pela transferência de

habilidades (linguísticas) não só da L1 para a L2, mas também da L2 para L1, de forma a

mostrar a relação mútua existente entre ambas.

31

Vale salientar que a proposta de Geva (2006) não está vinculada propriamente à pesquisa de caráter

variacionista, mas, à atividade de leitura em inglês por crianças, em específico. Todavia, fizemos uso de sua fala

por achar pertinente sua discussão no que concerne à questão da influência recíproca que existe entre L1 e L2.

Para mais detalhes, aconselhamos visitar o material da autora na íntegra.

L2 L1

1º momento

2º momento

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4.2.2 Contexto fonológico seguinte

Esta variável foi a segunda selecionada como relevante na segunda rodada dos dados,

tendo por finalidade analisar que tipo de contexto – labial, coronal ou dorsal, influencia a

inserção da vogal epentética.

De forma geral, lançamos a hipótese de que contextos coronais e labiais exibiriam os

mais altos índices de frequência do fenômeno epentético, conforme mostram as literaturas que

temos nesta área (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009).

Na tabela que segue, serão discriminados os valores percentuais e relativos para a

referida variável:

Tabela 6 – Contexto fonológico seguinte (L1)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

labial 177/502 35,3 0,57

coronal 288/1137 25,3 0,46

dorsal 17/72 23,6 0,46

Total 482/1711 28,2 –

Input: .25

Significância: .008

Os resultados da tabela mostram que os fatores labiais são os que têm percentuais e

pesos relativos mais elevados, seguidos do contexto coronal e dorsal, que apresentam os

números mais baixos. O fator labial foi aplicado 177 vezes em um total de 502 ocorrências,

apresentando uma margem percentual de 35,3 % e peso relativo de 0,57. No fator coronal,

ocorreram 288 aplicações do fenômeno, totalizando um percentual de 25,3 % e peso relativo

de 0,46. Finalmente, no fator dorsal, de 72 ocorrências totais do fenômeno, 17 foram relativas

a inserção vocálica, distribuídas em um percentual de 23,6 % e também exibindo um peso

relativo de 0,46.

Tais resultados mostram, mais uma vez, que o fator labial liderou o índice de

aplicabilidade do fenômeno da epêntese. Todavia, coincidentemente, este resultado foi

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praticamente similar aos encontrados com os dados de L1 + L2, em que o fator labial também

se mostrou como fator mais propenso para a inserção vocálica. Assim, julgamos necessário

retomar parte dessa discussão (Cf. tópico 4.1.2).

No tópico em que abordamos esta variável a partir dos dados de L1 + L2, fizemos um

apanhado geral das palavras que continham uma lateral em um contexto seguinte e

identificamos que a maior parte dessas palavras exibia uma coronal como contexto

precedente.

Assim, procedemos da mesma forma, a fim de comprovar se os dados encontrados na

análise anterior correspondiam aos encontrados na presente análise e, ao investigar o corpus

de L1 constatamos que das vinte e quatro palavras, sete apresentam o contexto lateral em

posição seguinte, das quais quatro têm uma coronal como elemento precedente a esta lateral.

Percebe-se que o número de ocorrências é relativamente pequeno para afirmar que um

dado fenômeno é recorrente ou não. Entretanto, tendo em vista que tais dados corroboram os

resultados encontrados anteriormente, acreditamos que esses dados podem dar um leve

indício de que características presentes em determinados contextos são relevantes para a

aplicação do fenômeno fomentado.

Deste modo, tendo encontrado o mesmo resultado entre os dados de L1 e comparando-

os com os nossos resultados anteriores de L1 + L2, bem como os resultados de outros

trabalhos, entendemos que isso só vem a acrescer e fortalecer a proposta inicial de que a

coronalidade presente em elementos fonológicos espraia o traço [+ coronal] para outros

elementos. Este processo de espraiamento, sobretudo da coronalidade, favorece a criação de

elementos que compartilham desse mesmo traço, os quais geralmente são vocóides intrusivos,

processo esse que traduz o fenômeno da epêntese e explica os nossos resultados.

Mais uma vez, ecoamos a teoria de Clements & Hume (1995), que propõe a

Geometria de Traços, através da qual conseguimos justificar este processo. Segundo esta

teoria, os sons da fala são hierarquicamente representados por nós, os quais configuram em

seu interior uma base fonética vinculada a aspectos articulatórios, auditivos e/ou perceptivos

de produção dos segmentos. Os aspectos articulatórios, por sua vez, são responsáveis pela

interação entre consoantes e vogais que compartilham traços entre si, originando, portanto,

elementos intrusivos. Vale ressaltar que, neste contexto, a epêntese vocálica assume o papel

de elemento intrusivo, utilizado pelo aprendiz no intuito de preencher o núcleo vazio e que se

mostra complexo.

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4.2.3 Contexto fonológico precedente

O fator Contexto Fonológico Precedente foi a terceira variável selecionada como

relevante para a ocorrência da epêntese vocálica medial em L1. Nesta variável, buscamos

investigar qual o contexto em posição de coda que oferece um ambiente favorável para

inserção vocálica. Para tanto, categorizamos os seguintes subfatores: labiais [p] e [b], coronais

[t] e [d] e dorsais [k] e [g].

Estes subfatores foram estabelecidos anteriormente, dado o fato de que todo o corpus

foi constituído com base nesta divisão, totalizando um quadro composto por 24 palavras nas

quais ocorrem os contextos supracitados em posição pretônica e postônica (Cf. Apêndice 3).

Lançamos, portanto, a hipótese de que o contexto dorsal seria mais receptivo no que se

refere à inserção vocálica em posição medial, pois em estudos realizados em outros estados

(PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), esse foi o resultado a que se chegou.

Os resultados referentes a esta variável são observados na tabela que segue:

Tabela 7 – Contexto fonológico precedente (L1)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

labial 145/576 25,2 % 0, 48

coronal 224/566 39,6 % 0, 62

dorsal 113/569 19,9 % 0,39

Total 482/1711 28,2 –

Input: .25

Significância: .008

De acordo com os dados da tabela, percebe-se que as nossas hipóteses não foram

confirmadas, visto que o contexto coronal foi o que se sobressaiu em termos de aplicação do

fenômeno, com um percentual de 39,6 % e peso relativo de 0,62. Os contextos que se

encontram abaixo do ponto neutro (0,50) e, portanto, não se mostram relevantes para o

processo são o labial e o dorsal, respectivamente. O contexto labial se mostra com

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aplicabilidade de 25,2% e peso relativo de 0,48, seguido do contexto dorsal com frequência

percentual de 19, 9 % e peso relativo de 0,39.

Este resultado confirma as estimativas apresentadas em parte da literatura

empreendida na área, relacionada a esta variável (COLLISCHONN, 2002; CARDOSO,

2005), sustentando a ideia de que as coronais caracterizam-se como elementos responsáveis

pela formação das codas mais complexas.

Por analogia ao fator fonológico seguinte analisado nesta rodada (Cf. item 4.2.2), bem

como na rodada de L1 + L2 (Cf. item 4.1.2), deve-se ressaltar que o comportamento do

contexto coronal também se mostrou mais favorável à aplicação do fenômeno em relação aos

demais contextos. Deve-se destacar, ainda, que a maior parte das palavras analisadas no fator

fonológico seguinte destas rodadas tinha a presença de coronais em posição precedente, o que

novamente ratifica a estreita relação do fator coronal com o fenômeno epentético, já

enfatizada em discussões anteriores em nosso trabalho.

Observamos que mesmo as variantes labial e dorsal apresentando pontos de referência

pouco favorecedores, 0,48 e 0,39, respectivamente, o fator labial é o que mais se aproxima do

ponto neutro e, por conseguinte, da variante coronal que excede este valor, ilustrada na matriz

abaixo, proposta por Guy (2007, p. 10):

Quadro 12 – Matriz de traços distintivos proposta por Guy (2007)

[coronal] [posterior]

labial – –

coronal + –

dorsal – +

Adaptado de Guy (2007)

Na discussão empreendida por Guy (2007) a partir do quadro de traços demonstrado

acima, o mesmo propõe que o contexto coronal compartilha uma característica com o

contexto labial, mas nenhuma característica com o contexto dorsal. Guy (op. cit.) ainda

acrescenta que esse compartilhamento é responsável pelo fato de as coronais serem

parcialmente semelhantes as labiais ([p], [b], [m]) no que concerne ao local de articulação, e

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87

mais diferentes das dorsais ([k], [g]), o que dá conta de explicar, ao nosso ver, a aproximação

dos valores de ambos os contextos.

4.2.4 Tonicidade

A variável tonicidade foi a última variável da segunda rodada selecionada como

relevante para o processo. Com esta variável, buscamos investigar quais os contextos

prosódicos que influenciam a ocorrência do fenômeno da epêntese – pretônico ou

postônico.

A partir da literatura empreendida na área (COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER,

2009), levantamos a hipótese de que o contexto mais influente para o processo seria o

pretônico, haja vista que estudos revelavam esta mesma tendência para a referida variável.

Os nossos resultados para a variável tonicidade são os seguintes:

Tabela 8 – Tonicidade (L1)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

pretônico 322/860 37,4 0,62

postônico 160/851 18,8 0,37

Total 482/1711 28,2 –

Input: .25

Significância: .008

De acordo com os dados observados na tabela acima, percebe-se que os resultados

corroboram nossas expectativas, tendo em vista que já esperávamos o fator pretônico entre o

grupo de fatores que mais tendem a favorecer o processo.

O fator pretônico exibe um percentual de aplicação de 37, 4 %, com peso relativo de

0,62, mostrando-se favorável à aplicação da inserção vocálica, enquanto que o fator postônico

mostra um percentual de 18, 8 %, com peso relativo de 0,37, o qual estando abaixo do ponto

neutro, mostra-se desfavorável à aplicação da regra da epêntese vocálica em posição medial

em L1.

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Como proposto em discussões anteriores (4.1.4), tais resultados convergem para os

resultados encontrados em outros trabalhos realizados por Schneider (2009) e Collischonn

(2002) que também chegaram a esta mesma estimativa.

Os resultados, mais uma vez, solidificam a tese de que contextos situados em uma

posição pretônica são mais passíveis de aceitar vogais epentéticas, pelo fato de estas não

representarem o afastamento da sílaba receptora do acento em relação à sílaba final da

palavra, como, geralmente, ocorre com contextos em posição postônica (BISOL, 1999).

McCarthy & Prince (1993, apud MAGALHÃES, 2010) também dão conta de explicar

a motivação do elemento prosódico postônico em refutar a ocorrência de inserção vocálica em

segmentos mediais. Segundo estes autores, é na teoria do Alinhamento Generalizado que se

encontram as propriedades da tonicidade que versam sobre a boa formação da sílaba. Os

autores afirmam que as sílabas que se mostram mais salientes devem posicionar-se à margem

esquerda do pé silábico, evitando, desta forma, o deslocamento de acento.

Bisol (1999) compartilha desta teoria proposta por McCarthy & Prince (1993), mas

postula a teoria de adjunção da sílaba extraviada. De acordo com a autora, esta teoria deve

incorporar elementos ao pé mais próximo situado à esquerda, para que assim, considerado

como elemento metricamente fraco, fique impossibilitado de transcender acento ou receber

elementos epentéticos.

4.3 Frequência geral da epêntese vocálica em L2

Depois de termos verificado o comportamento da epêntese vocálica nos dados de L1 +

L2 e de L1 apenas, decidimos empreender uma terceira rodada com o programa GoldVarb X

(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005), considerando somente os dados de L2

correspondentes às produções de língua inglesa por aprendizes brasileiros.

Nesta rodada, trabalhamos novamente com todos os dados que foram analisados nas

duas rodadas anteriores, e procedemos à eliminação do fator dorsal do contexto fonológico

seguinte, como veremos mais detalhadamente adiante, devido a um caso de ocorrência de

knockout, tendo em vista que o referido fator apresentou taxa de aplicação nula – 0 %.

O percentual geral do fenômeno da epêntese vocálica em inglês como L2 apresenta

um total de 1610 ocorrências, entre as quais 237 são de aplicações do fenômeno, apresentando

um índice percentual de 14, 7 %, e 1373 de não aplicação com um percentual de 85, 3 %.

Estes valores podem ser conferidos no gráfico a seguir:

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Gráfico 3 – Frequência do fenômeno da epêntese vocálica medial em L2

Os dados do gráfico acima revelam que a frequência do fenômeno da epêntese em

inglês se mostra significantemente menor do que o índice de não aplicação – 14,7 % contra

85, 3 %, respectivamente.

No geral, já esperávamos que esse percentual fosse atingido, uma vez que temos a

maioria dos informantes do curso de Licenciatura Plena em Letras, o que pode resultar em um

conhecimento mais detalhado a respeito da estrutura silábica da língua inglesa, noção essa

advinda das aulas da disciplina Fonética e Fonologia de Língua Inglesa.

Alves (2008, p. 123) corrobora esta perspectiva, afirmando que mesmo alguns

informantes de sua pesquisa tendo sido apontados pelo teste como pertencentes a um nível

elementar de proficiência na L2, tais aprendizes não poderiam ser completamente vistos como

iniciantes em seus estudos de L2. De acordo com o referido autor, isso se deve ao fato de

estes aprendizes serem/terem sido acadêmicos do curso de Letras – Habilitação Língua

Inglesa e receberem, semanalmente, uma grande exposição à língua estrangeira, o que

constitui, segundo Alves (op. cit.), uma possível explicação para os altos índices de produção

semelhante ao falar nativo, em seus dados.

Tomando como base outros trabalhos, como o de Schneider (2009) realizado no Sul

do Brasil, encontramos valores próximos aos nossos. Em sua análise, o referido autor também

constatou um pequeno índice de aplicação do fenômeno (15,5 %), sendo levemente maior que

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o nosso. Este resultado não nos surpreende, já que grande parte dos estudos desenvolvidos no

Sul do país revela que falantes gaúchos sentem-se mais à vontade com a produção de codas,

devido a um fenômeno conhecido como Afrouxamento da Condição de Coda (ACC), muito

marcado no dialeto porto alegrense (LUCENA & ALVES, 2009; 2010).

Abaixo, são discriminadas as variáveis independentes submetidas à análise e

selecionadas, nesta última rodada:

Quadro 13 – Grupos selecionados na 3ª rodada

3ª R O D A D A – L2

Grupos Analisados Grupos Selecionados

sexo proficiência na língua

proficiência na língua contexto fonológico seguinte

tipo de instrumento contexto fonológico precedente

contexto fonológico seguinte –

contexto fonológico precedente –

tonicidade –

Novamente, todas as variáveis foram controladas, dentre as quais apenas três foram

selecionadas como relevante para os dados de L2 – proficiência na língua, contexto

fonológico seguinte e contexto fonológico precedente, sendo essas o foco da discussão que

levantamos a seguir.

4.3.1 Proficiência na língua

A variável proficiência na língua foi a primeira selecionada como estatisticamente

relevante na rodada dos dados de L2.

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Nossa hipótese inicial para esta variável era de que quanto mais avançado o nível de

proficiência do aprendiz na língua, menor o índice de aplicação de inserção vocálica nas

produções desses falantes.

A tabela a seguir mostra os valores percentuais encontradas para os dados dessa

variável:

Tabela 9 – Proficiência na língua (L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

básico 104/521 20 0,62

intermediário 99/533 18,6 0,60

avançado 34/556 6,1 0,29

Total 237/1610 14,7 –

Input: .11

Significância: .004

Os resultados expostos na tabela acima demonstram que, entre os dados de L2, temos

um índice de aplicação de 20 % e peso relativo de 0,62 para o nível básico, e um percentual

de 18,6 % e peso relativo de 0,60 para o nível intermediário, ao passo que aprendizes de nível

avançado exibem um valor acentuadamente menor no percentual de manutenção do fenômeno

que é de 6,1 % e peso relativo de 0,29.

A partir dos dados expostos, percebe-se que os índices de aplicação do fenômeno são

mais recorrentes entre aprendizes de nível básico e intermediário, apresentando percentuais de

20 % e 18,6 % e pesos relativos de 0,62 e 0,60, respectivamente.

Note-se que tais resultados são bem próximos, confirmando, portanto, que a

ocorrência da epêntese vocálica está diretamente ligada ao nível de proficiência, conforme já

esperávamos. Os resultados de outros trabalhos, tais como os de Alves (2009, p. 224),

também confirmam o que presumimos a partir de nossos dados, dado o fato de que o referido

autor evidencia que processos como a epêntese vocálica são características dos níveis mais

elementares de aquisição de L2.

Estes resultados ratificam a perspectiva de que em estágios iniciais os aprendizes

ainda estão recebendo os inputs necessários para maturar cognitivamente as informações que

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estão recebendo sobre a L2. Assim, enquanto as informações não estiverem maturadas, a

tendência natural é de que estes aprendizes se apóiem em construções advindas da L1,

principalmente quando se encontram diante daquelas representadas por segmentos complexos

de serem produzidos. Desta forma, temos que o fenômeno da epêntese vocálica ilustra

adequadamente este processo a partir do qual, clusters passíveis de serem encontrados apenas

no inventário silábico do inglês e não do português apresentam uma estrutura que viola sua

fonotática e tornam-se, por isso, difíceis de serem produzidos.

De acordo com Ré (2006, p. 102), essa é uma situação inevitável, sobretudo quando

considera-se os primeiros momentos de aprendizagem de uma L2, em que a língua de origem

tende a aparecer de forma clara nas produções dos aprendizes, deixando vestígios de sua

estrutura. No entanto, em se tratando de níveis mais avançados, temos aprendizes proficientes

que geralmente exibem um nível de competência mais elevado na L2 e refutam construções

mais próximas à L1 em suas produções. Logo, presume-se que o tempo de contato destes

aprendizes com a L2 pressupõe competência para lidar com estruturas mais elaboradas,

evitando ao máximo a transferência de elementos de L1 para L2.

Nossa discussão a respeito do comportamento desta variável vem, mais uma vez, a

corroborar os dados de trabalhos como os de Cardoso (2005), Pereyron (2008), Schneider

(2009), entre outros encontrados na literatura da área, confirmando o indício de que o nível de

proficiência se mostra um importante fator estreitamente ligado à aplicação do fenômeno da

epêntese vocálica nos dados de língua inglesa.

4.3.2 Contexto fonológico seguinte

O fator contexto fonológico seguinte foi o segundo selecionado pelo software

GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) como relevante para a

aplicação do fenômeno da epêntese vocálica.

Com base nas pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul por Pereyron (2008) e

Schneider (2009), levantamos a hipótese de que os contextos coronais e/ou labiais

favoreceriam a manutenção da vogal epentética, mostrando-se como os mais propícios para o

fenômeno.

Em seguida, serão expostos os resultados para cada variante considerada nesta

variável:

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Tabela 10 – Contexto fonológico seguinte (L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

labial 115/419 27,4 0,70

coronal 122/1191 10,2 0,42

Total 237/1610 14,7 –

Input: .11

Significância: .004

Desse modo, como pode-se observar na tabela, temos, mais uma vez, que o contexto

labial sobrepõe-se ao coronal, exibindo um percentual de 27, 4 % e um peso relativo de 0,70

de aplicação da epêntese vocálica, ao passo que o coronal exibe um percentual de 10, 2 % e

um peso relativo de 0, 42.

O subfator dorsal foi excluído desta terceira rodada dos dados de L2 pela detecção de

ocorrência de knockout, em que obtivemos 0 % de aplicação de epêntese vocálica em quatro

ocorrências do contexto dorsal [k] e [g]. Assim, pareceu-nos mais sensato, neste caso,

proceder à eliminação desse fator, trabalhando apenas com os fatores labiais e dorsais.

Analisando os dados do quadro acima, procedemos à constatação imediata de que os

fatores labiais são os mais influentes para manutenção da inserção vocálica. Como

mencionamos nessas últimas rodadas, apesar de o contexto labial ter sido selecionado como o

mais relevante, não se pode perder de vista que a maior parte dos contextos anteriores

apresenta uma coronal em posição precedente, o que fortalece mais ainda a tese de que

elementos que possuem traços [+ coronal] oferecem um ambiente favorável para a ocorrência

do fenômeno da epêntese vocálica.

Ecoando Bisol (1999, p. 733), partimos do pressuposto de que o fenômeno da epêntese

vocálica caracteriza-se, em determinados contextos, pelo processo de expansão da

coronalidade, no qual há o espraiamento do elemento da coda silábica, que preenche o núcleo

vazio. Assim, o que ocorre é a incorporação de um novo elemento através da expansão da

coronalidade, mecanismo esse que é o responsável pela criação da nova sílaba. De acordo

com a referida autora, esse é o recurso preferido pelos usuários da língua portuguesa para

desfazer os encontros consonantais complexos. Neste caso, a partir dos resultados que

encontramos em nossos dados, podemos afirmar que os aprendizes utilizaram tal recurso para

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modificar os clusters encontrados na língua inglesa, a fim de facilitar a produção dos mesmos

em L2.

Estes pontos elencados por Bisol (op. cit.) retratam, em parte, os dados que obtivemos

e a hipótese que levantamos, já que mesmo não sendo formalmente selecionado, o contexto

coronal se fez presente nos dados do contexto labial, o qual foi estatisticamente selecionado.

4.3.3 Contexto fonológico precedente

O fator contexto fonológico precedente foi a terceira e última variável estatisticamente

selecionada pelo GoldVarb X (op. cit.) como relevante para a aplicação do fenômeno da

epêntese vocálica em L2. Para procedermos a sua análise, conforme estabelecido

anteriormente, trabalhamos com os mesmos fatores – labial, coronal e dorsal, analisados em

posição de coda.

Tendo em vista os resultados encontrados na literatura da área a partir da qual nos

pautamos (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009), formulamos nossa hipótese no sentido

de que o fator dorsal seria o mais propício para a ocorrência da epêntese vocálica medial.

A tabela a seguir apresenta os resultados encontrados para os fatores controlados a

partir desta variante:

Tabela 11 – Contexto fonológico precedente (L2)

Fatores Apl./Total % Peso Relativo

labial 49/562 8,7 0, 40

coronal 125/556 22,5 0, 53

dorsal 63/492 12,8 0,56

Total 237/1610 14,7 –

Input: .11

Significância: .004

Ao observar a tabela acima, percebemos que os dados obtidos nesta variável

corresponderam a nossa expectativa, visto que já esperávamos encontrar o fator dorsal como o

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mais favorável para a aplicação do processo de inserção vocálica, com um percentual de

12,8% de aplicação e peso relativo de 0,56.

O fator labial, todavia, se mostrou menos propenso à ocorrência da epêntese,

revelando um percentual de aplicação de 8,7 % e peso relativo de 0,40. O fator coronal, por

sua vez, exibiu um percentual de 22, 5 % e peso relativo de 0,53.

Nossos resultados confirmam nossa hipótese de que o contexto dorsal mostra-se com

um ambiente mais favorável à epêntese vocálica medial, corroborando as constatações das

pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul, também envolvendo a epêntese medial. Em

Schneider (2009), as dorsais do tipo [g], na posição precedente em língua inglesa, mostram-se

intimamente relacionadas à epêntese medial.

No entanto, não se pode perder de vista que, mesmo não sendo selecionada como

relevante, a coronal também se mostrou relativamente equiparada a dorsal em termos de

aplicação do fenômeno, exibindo um peso relativo acima do ponto neutro, e ratificando a

estreita relação que este fator estabelece com o fenômeno.

Isso mostra que mesmo o fator dorsal parecendo ser bem mais aceito pelos aprendizes

em suas interlínguas, a coronal também se manifesta da mesma forma, tendo esse fato

ocorrido em todas as rodadas empreendidas.

Assim, podemos afirmar que, em língua inglesa, as dorsais em posição de coda se

mostram mais complexas de serem produzidas, passando a ser um dos últimos segmentos a

serem adquiridos pelo aprendiz e o mais passível de ocasionar a ocorrência de vogal

epentética. Huf & Alves (2010, p. 20) chegaram a resultados semelhantes aos nossos em sua

pesquisa e afirmam que ocorrências de epêntese após dorsal parecem sugerir que a sequência

/dorsal + coronal/ se mostra mais dificultosa para o aprendiz do que o encontro /labial +

coronal/.

4.4 Comparações das rodadas realizadas

Apresentaremos, a seguir, os resultados das três rodadas que empreendemos, de forma

a verificar o comportamento do fenômeno da epêntese vocálica medial nas mesmas.

Cabe antecipar que os resultados de todas as rodadas foram bem próximos, levando-

nos a crer que mesmo tratando de diferentes enfoques, cada rodada ratificou os resultados

mutuamente.

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Para início de análise, procedemos à comparação dos percentuais de aplicação e não

aplicação do fenômeno da epêntese vocálica, a partir dos gráficos a seguir:

Gráfico 4 – Comparação da ocorrência da epêntese vocálica em todas as rodadas

No geral, observamos que o maior índice de aplicação da epêntese se mostrou nos

dados de L1, o que, de certa forma, já esperávamos. Tomamos como base de explicação para

este resultado, o fato de que a epêntese caracteriza-se como um recurso natural, usado e

preferido pelos falantes do PB desde muito tempo, em específico desde o latim vulgar, para

atingir o padrão CV da nossa língua. Esta estratégia é utilizada pelo falante como uma forma

de manter o molde silábico da língua e desfazer as codas complexas, a fim de respeitar a boa-

formação de sua estrutura. Respeitar essas condições de boa-formação implica na recuperação

de elementos flutuantes que formam codas complexas, de forma que estes sejam silabados a

partir da inserção de uma vogal epentética (BISOL, 1999).

No que concerne a não aplicação do fenômeno, observamos que o maior índice

ocorreu nos dados de L2, o que permite concluir que o nível de proficiência dos aprendizes

atuou diretamente na obtenção deste resultado, já que tais aprendizes parecem mostrar uma

consciência da estrutura do inglês, aplicando minimamente o fenômeno da epêntese para

desfazer clusters complexos. Este fato comprova, mais uma vez, que quanto mais proficiente

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um aprendiz se mostra na L2, menor a probabilidade de haver transferências de sua L1 em

direção a L2, tendo em vista que o sistema da L2 já está cognitivamente maturado. Assim,

acreditamos que as estruturas da L2 já se mostram internamente estruturadas, implicando em

produções mais próximas às nativas, com menor indício de evidências de L1 em suas

produções.

Em se tratando dos grupos selecionados como favoráveis à aplicação da epêntese

medial, percebemos que as mesmas variáveis foram selecionadas em todas as rodadas, com

exceção da variável tonicidade, que foi excluída na 3ª rodada, conforme mostra o seguinte

quadro.

Quadro 14 – Grupos selecionados em todas as rodadas

G R U P O S S E L E C I O N A D O S

1ª rodada (L1 + L2) 2ª rodada (L1) 3ª rodada (L2)

proficiência na língua proficiência na língua proficiência na língua

contexto fonológico

seguinte

contexto fonológico

seguinte

contexto fonológico

seguinte

contexto fonológico

precedente

contexto fonológico

precedente

contexto fonológico

precedente

tonicidade tonicidade –

De forma análoga, percebe-se claramente que os dados foram similares, mostrando

que as variáveis favoráveis ao processo de inserção vocálica se aplicam em todas as rodadas,

na mesma sequência, exceto a 3ª rodada que dispensa a variável tonicidade.

Iniciaremos as comparações dessas variáveis por rodada, elucidando os dados da

variável proficiência na língua a partir dos pesos relativos apresentados no seguinte gráfico:

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Gráfico 5 – Comparação da variável proficiência na língua em todas as rodadas

Os dados expostos no gráfico acima revelam que, em todas as rodadas, a ocorrência da

epêntese vocálica medial foi menos recorrente entre aprendizes de nível avançado, conforme

já presumíamos. De acordo com o que apontam diversos trabalhos na área (COLLISCHONN,

2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008), esses aprendizes pertencentes ao nível

avançado são os que se encontram em estágio mais avançado de aquisição da segunda língua

e que, no caso da análise da epêntese medial, produzem mais codas, o que indica ausência de

epêntese.

Em relação aos níveis menos avançados como o básico e o intermediário, os dados

mostram que esses são mais passíveis de receber a vogal epentética, pois aprendizes que se

encontram nesses estágios talvez não sejam, ainda, capazes de lidar com construções

complexas, principalmente quando se trata de consoantes plosivas presentes em coda silábica.

Assim, o recurso utilizado por tais aprendizes é a inserção vocálica para dirimir estes

encontros consonantais, o que explica, portanto, os resultados mais acentuados nesses níveis.

Passemos adiante para a comparação dos dados do contexto fonológico seguinte, de

modo a verificar o comportamento da vogal epentética em meio às três rodadas empreendidas.

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Gráfico 6 – Comparação da variável contexto fonológico seguinte em todas as rodadas

Os dados dos gráficos acima revelam que vocábulos que apresentam fatores labiais em

posição seguinte lideram os indícios de aplicação do fenômeno da epêntese vocálica medial.

No entanto, vale ressaltar novamente que estes vocábulos apresentam coronais em posição de

coda, fatores estes que, no histórico da literatura da área, apresentam-se como favoravelmente

receptivos à inserção vocálica (CLEMENTS & HUME, 1995; BISOL, 1999;

COLLISCHONN, 2002; CARDOSO, 2005; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009).

Conforme pontuamos em análises anteriores, estes trabalhos vêm a ratificar o ideal de

espraiamento da coronalidade de determinados contextos, motivando, desta forma, a

manutenção de aplicação da epêntese. Neste contexto, o elemento flutuante condicionado pelo

traço [+ coronal] fica passível de adquirir um vocóide intrusivo marcado geralmente pelo [i],

com o propósito de preencher o núcleo silábico vazio.

É oportuno enfatizar que obtivemos valores próximos em cada rodada, à exceção do

fator dorsal que foi eliminado da rodada de L2 devido à ocorrência de knockout. Por este

motivo, não lhe foi atribuído nenhum valor.

A seguir, apresentamos o gráfico exibindo os valores de peso relativo da variável

contexto fonológico precedente:

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Gráfico 7 – Comparação da variável contexto fonológico precedente em todas as rodadas

Ao analisar cada rodada da variável contexto fonológico precedente, percebe-se um

comportamento semelhante em relação aos fatores controlados, sobretudo nas rodadas 1 e 2.

Conforme presumimos, o contexto coronal excedeu o número de aplicações do

fenômeno da epêntese medial em todas as rodadas, à exceção do contexto dorsal na última

rodada realizada com os dados de L2.

Não obstante, mesmo tendo a dorsal se sobressaído às demais variantes em L2, cabe

ressaltar que o valor do peso relativo da coronal apresentou-se equiparado à dorsal, ao passo

que ambas se mostraram acima do valor do ponto neutro, o que reforça ainda mais essa

influente característica de espraiamento dos elementos coronais. Além disso, trabalhos

realizados nessa perspectiva (HUF & ALVES, 2010) reforçam a tese de que a aplicação do

fenômeno epentético após contextos dorsais indicam que sequências do tipo /dorsal + coronal/

se mostram mais complexas de serem apreendidas pelos aprendizes, exigindo dos mesmos

algum tipo de mecanismo para viabilizar estes tipos de produção, o que não ocorre com

sequências do tipo /labial + coronal/. Isto explica, portanto, os resultados gerais obtidos para

esta variável.

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Para finalizar as comparações dos resultados obtidos em cada rodada realizada,

elencamos os dados do contexto tonicidade que foi o último fator selecionado, a partir do

gráfico que segue:

Gráfico 8 – Comparação da variável tonicidade em todas as rodadas

Inicialmente, faz-se oportuno destacar que, diferentemente das outras variáveis, a

variável tonicidade possui apenas resultados referentes a duas rodadas, isto por que na última

rodada com dados de L2, o fator tonicidade não foi selecionado como relevante para a

aplicação da epêntese vocálica, sendo, portanto, excluído da mesma.

Outro aspecto interessante observado na comparação dos dados é que os valores do

peso relativo de ambas as variantes – tanto postônica quanto pretônica, se mostram

equilibrados, dando indícios de que nas rodadas em que foram selecionadas, estas variantes

mostraram comportamento semelhante no que diz respeito à aplicação do fenômeno.

Segundo a literatura encontrada na área (COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER,

2009; MAGALHÃES, 2010), os aspectos prosódicos exibidos pelas variantes pretônicas e

postônicas determinam os requisitos para a boa formação da sílaba. De acordo com esse

padrão de boa-formação, entende-se que a sílaba mais saliente deve localizar-se na margem

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102

esquerda do pé, onde a inserção de qualquer elemento intruso implica no deslocamento de

acento (ver discussão no tópico 4.1.4 deste trabalho).

Desse modo, justificamos a presença reduzida dos contextos postônicos na aplicação

da epêntese vocálica, enfatizando que elementos não pertencentes à regra de acento devem ser

incorporados ao pé mais próximo situado à esquerda, para que seja considerado, então, como

elemento metricamente fraco. Isso implica dizer que, nesse contexto, fatores pretônicos ficam

mais propensos a inserção vocálica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve por objetivo descrever como ocorre o fenômeno da epêntese

vocálica medial em L1 (língua portuguesa) e L2 (língua inglesa) na região do Brejo

Paraibano, de forma a investigar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam a

ocorrência da epêntese em aprendizes paraibanos de inglês como L2.

Por se tratar de um trabalho sociolinguisticamente orientado (LABOV, 1975; LABOV

et al., 2006 [1968] e 2008 [1972]), utilizamos uma metodologia de caráter quantitativo, a

partir da qual coletamos dados de produção de 18 informantes, tanto em português quanto em

inglês. Nestes dados foram quantificadas as ocorrências do fenômeno, as quais foram

codificadas e submetidas à análise por um programa de análise estatística – GoldVarb X

(SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005). Este processo nos possibilitou fazer três

rodadas, sendo a primeira com os dados de L1 e L2, a segunda com os dados de L1 apenas e a

terceira e última somente com os dados de L2.

Os grupos de variáveis que analisamos em cada rodada foram: contexto fonológico

precedente, contexto fonológico seguinte, tonicidade, tipo de instrumento, sexo, nível de

proficiência na língua, e idioma. Dentre estas, foram selecionadas em todas as rodadas as

variáveis proficiência na língua, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente

e tonicidade, sendo esta última excluída da última rodada envolvendo os dados de L2.

A partir dos resultados obtidos, pode-se perceber que o fenômeno da epêntese medial

não se sobressaiu em nossos dados, levando-nos a crer que a produção dos nossos informantes

se mostrou em um estágio de desenvolvimento avançado, dispensando o uso da epêntese para

desfazer as codas complexas.

De acordo com os dados obtidos, a variável nível de proficiência na língua foi a

primeira selecionada, em todas as rodadas realizadas. Este fato confirmou nossas hipóteses de

que o nível de proficiência do aprendiz é um importante fator que influencia no

comportamento do fenômeno da epêntese, visto que quanto mais avançado o nível de

proficiência apresentado pelo aprendiz, menor a incidência de aplicação de inserção vocálica

(PEREYRON, 2008; LUCENA & ALVES, 2009; 2010).

Em relação à variável contexto fonológico seguinte, o fator labial se sobressaiu em

relação aos demais em todas as rodadas, exibindo sempre os maiores valores, em termos

probabilísticos. Nossa hipótese foi confirmada parcialmente, já que esperávamos os fatores

coronais e labiais como os contextos que exerceriam maior influência na ocorrência da

epêntese vocálica (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009). Através dos resultados

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encontrados, percebemos que, na maioria dos vocábulos em que tínhamos uma labial no

contexto seguinte, presenciamos uma coronal na posição de coda, levando-nos a concluir que

os traços coronais revelam traços favoráveis à aplicação do fenômeno.

Para a variável contexto fonológico precedente, os resultados encontrados refutaram a

hipótese estabelecida, na qual esperava-se que o fator labial favorecesse a aplicação do

fenômeno (PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009). No entanto, o fator coronal foi o que se

manifestou favoravelmente em torno da aplicação do fenômeno em todas as rodadas

empreendidas, com exceção da última rodada, em que o fator dorsal exibiu um índice maior

de aplicação da vogal epentética. Este resultado ratificou o que encontramos na rodada

anterior, salientando que o compartilhamento do traço coronal com os demais elementos

vizinhos culmina na aplicação da epêntese vocálica. Fica evidente, portanto, que elementos

formados por esses traços formam codas mais complexas e difíceis de serem produzidas pelos

aprendizes (COLLISCHONN, 2002).

Por fim, a análise do fator tonicidade revela que a variante pretônica oferece um

ambiente prosódico mais favorável à aplicação do fenômeno, apontando que, segundo as

propriedades de boa formação do constituinte silábico, sílabas tônicas devem constituir-se à

margem esquerda do pé silábico. O resultado confirma, pois, a hipótese lançada acerca da

maior frequência de ocorrência do fenômeno diante de contextos pretônicos

(COLLISCHONN, 2002; SCHNEIDER, 2009), corroborando o fato de que os fatores

postônicos constituem os contextos que se mostram mais prováveis de refutar o fenômeno da

epêntese vocálica.

Ao contrastarmos os resultados obtidos em cada rodada empreendida, verificamos que

os índices relativos ao comportamento do fenômeno da epêntese se mostraram bem próximos,

apresentando sutis diferenças que variam de acordo com a variável das rodadas analisadas

(Cf. item 4.4).

De forma geral, também observamos algumas divergências entre o comportamento de

algumas variáveis selecionadas como menos favoráveis ao processo em relação aos trabalhos

citados, sobretudo aos desenvolvidos no Rio Grande do Sul que concentram a maior gama de

trabalhos nesta área (COLLISCHONN, 2002; PEREYRON, 2008; SCHNEIDER, 2009;

LUCENA & ALVES, 2009; 2010). A este fato, atribuímos explicações de ordem

metodológica para dar conta dessas divergências.

Esperamos, pois, que nosso estudo tenha somado aos outros já existentes, podendo, de

alguma forma, contribuir para um mapeamento mais amplo não apenas do fenômeno da

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epêntese vocálica, mas do processo de transferência que ocorre durante o processo de

aquisição de L2.

É certo que são necessárias mais pesquisas neste sentido, embora os estudos já

existentes nos tenham fornecido resultados consistentes o bastante para verificar, dentre

outras coisas, que a interlíngua produzida pelos aprendizes configura-se como um processo

variacionista.

Faz-se importante, pois, apontar algumas sugestões que podem aprofundar as

conclusões as quais se chegou neste trabalho. Em primeiro lugar, seria interessante observar o

comportamento de outros dialetos do PB, a fim de investigar a influência dos mesmos com

relação à epêntese vocálica na interlíngua e para se chegar a um melhor entendimento do

papel da L1 na aquisição de L2.

Também acreditamos que seria oportuno pesquisar sobre o elemento produzido como

vogal epentética ([i], [ə] e [o], por exemplo, conforme PEREYRON, 2008), de forma a

verificar se há a recorrência de outras vogais além da vogal [i], nos dados analisados.

Sugerimos, também, a análise da epêntese vocálica em um contexto de produção espontâneo,

para analisar a aplicação do fenômeno em comparação a um contexto monitorado. Por fim,

propomos uma análise qualitativa dos dados que, somada à análise quantitativa, poderia

colaborar no empreendimento de uma análise etnográfica dos mesmos.

Desta forma, procuramos, ao longo deste trabalho, ilustrar a colaboração das pesquisas

realizadas, bem como elucidar a recíproca contribuição entre a área da Sociolinguística e a

área de Aquisição da Linguagem.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO

Prezado participante,

O presente formulário traz informações importantes acerca do estudo o qual você

participará, e, portanto, deve ser lido cuidadosamente.

Esta pesquisa contribuirá para a elaboração da dissertação da mestranda Luana

Anastácia Santos de Lima, sob orientação do Profº. Dr. Rubens Marques de Lucena, e tem

como objetivo fortalecer o desenvolvimento de estudos linguísticos no estado da Paraíba, de

modo a contribuir com a linha de pesquisa Diversidade e Mudança Linguística, vinculada ao

programa de Pós Graduação em Linguística, da Universidade Federal da Paraíba, em João

Pessoa (UFPB – Campus I).

Os alunos que se comprometerem a participar da pesquisa podem, a qualquer

momento, mudar de ideia e cancelar sua integração à mesma, visto que a sua participação é de

caráter voluntário.

A tarefa a ser desempenhada pelo participante da pesquisa constitui o preenchimento

de um questionário de informações pessoais e a realização de leituras de uma lista de palavras

e uma lista de textos, as quais serão gravadas para fins de análise. As gravações serão

examinadas somente pelo pesquisador e orientador, permanecendo confidencial a identidade

do aluno participante.

Assim sendo, após a leitura deste documento, por favor, assine-o, indicando que você

está de acordo em fazer parte desta pesquisa.

DECLARAÇÃO

Declaro que li e compreendi as informações acima e que consinto em participar desta

pesquisa.

_____________________________________________

Nome

_____________________________________________

Assinatura Data:_____/_____/____

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APÊNDICE 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

QUESTIONÁRIO

O presente questionário registrará os dados pessoais dos informantes que se

propuserem a participar da pesquisa e será parte da elaboração da Dissertação da mestranda

Luana Anastácia Santos de Lima, sob orientação do Profº. Dr. Rubens Marques de Lucena, no

programa de Pós-Graduação em Linguística, na UFPB. Sua participação é muito importante

para o nosso trabalho. Muito obrigada!

PARTE I – Informações pessoais

1. Nome:________________________________________________________________

2. E-mail:_______________________________________________________________

3. Data de Nascimento:____________________________________________________

4. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

5. Lugar de origem (Cidade e Estado):________________________________________

Reside no mesmo lugar de origem?_________________________________________

Caso não resida, onde mora atualmente, e há quanto tempo mora neste

local?________________________________________________________________

6. Escolaridade:__________________________________________________________

PARTE II – Nível de inglês

7. Nível de proficiência em Língua Inglesa:

( ) nível básico ( ) nível intermediário ( ) nível

avançado

8. Por quantos anos você estudou

inglês?_______________________________________________________________

Ainda estuda? ( ) Sim ( ) Não

9. Você já teve oportunidade de morar em país/países de língua inglesa?

( ) Sim ( ) Não

Se a resposta anterior foi positiva, por quanto

tempo?_______________________________________________________________

Em qual (quais)

país(es)?______________________________________________________________

Estudou inglês nesse(s) país(es) estrangeiro(s)? Por quanto

tempo?_______________________________________________________________

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10. Você tem contatos com a língua inglesa fora da sala de aula? Caso tenha, especifique

se pessoalmente, virtualmente, por meio de telefone, ou outros, e com que

frequência.____________________________________________________________

Caso não tenha, com que frequência pratica a língua inglesa fora da sala de aula? Ou

apenas pratica na sala de

aula?_________________________________________________________________

11. Assiste a canais de TV em língua inglesa?

Quais?________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

12. Você fala alguma outra língua?

Qual?________________________________________________________________

Data:_____/_____/______ Informante nº.:_______________

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APÊNDICE 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

CORPUS DE LÍNGUA PORTUGUESA

LABIAIS

/p/ /b/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

interceptar apto objeto óbvio

concepção corrupto obter lambda

CORONAIS

/t/ /d/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

etnógrafo étnico advérbio cádmio

aritmética rítmico adjunto vodca

DORSAIS

/k/ /g/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

confecção aspecto segmento signo

conectar impacto cognato dogma

DISTRATORAS

pulverizador

escrupuloso

vitória

temperamental

aspirador surpreender

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117

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

CORPUS DE LÍNGUA INGLESA

LABIAIS

/p/ /b/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

adaptation empty object (v.) absent

September aptitude submit object (n.)

CORONAIS

/t/ /d/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

outshine (v.) atmosphere admire kidnap

outnumber compartment advise bombardment

DORSAIS

/k/ /g/

Pretônicas Postônicas Pretônicas Postônicas

accept (v.) reluctant recognize cognitive

pictorial victim resignation magnet

DISTRATORAS

grumble

formidable

unharmed

hotel

engagement license

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APÊNDICE 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

LISTA DE TEXTOS EM PORTUGUÊS

Por favor, leia os textos a seguir:

1. É óbvio que quem consome bebida alcoólica perde, em parte, seu sentido rítmico. A

vodca, atualmente, tem sido uma das bebidas mais consumidas e, na concepção dos

brasileiros, considerada a preferida. Sua confecção se dá a partir da mistura de cereais

e aguardente, de modo a obter uma concentração forte da bebida, deixando o

indivíduo não apto a realizar algumas atividades como dirigir ou andar por certos

segmentos de intensa movimentação, o que pode ser bem perigoso.

2. Durante um bom tempo, houve um enorme preconceito no que diz respeito à questão

étnica no Brasil. Os negros eram objetos de escravidão, além de sofrerem severas

punições de seus senhores que chegavam até a vendê-los, além de interceptar outros

escravos. Nesta época, a sociedade era ditada por dogmas bem violentos. Porém,

havia pessoas como a temperamental Princesa Isabel e seu companheiro adjunto

Rodrigo da Silva que decidiram instaurar a lei áurea para extinguir de vez a

escravidão. Esta lei causou enorme impacto na sociedade brasileira, tanto quanto o

desenvolvimento da aritmética na matemática ou a descoberta do cádmio como

elemento químico.

3. O papel do etnógrafo tem se concentrado no aspecto descritivo de determinados

povos, costumes, língua, entre outros, a fim de poder conectar todos esses elementos

e poder chegar a um denominador comum dessas comunidades. Seu trabalho tem

permitido estudar a estrutura da língua de determinados povos, como descobrir, por

exemplo, que o lambda (λ) faz parte do alfabeto grego, ou que determinado signo

linguístico pode ser substantivo, advérbio e, dependendo do contexto, pode ser

cognato de outra. No entanto, alguns etnógrafos corruptos, no entanto, corrompem

seus dados por falta de compromisso com o trabalho que desempenham.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

LISTA DE TEXTOS EM INGLÊS

Por favor, leia os textos a seguir:

1. On September 11th

, one of the biggest terrorist attacks of the world happened in the

US: the bombardment of the World Trade Center, in New York. This attack was

conducted by the Islamic terrorists from Al-Qaeda, who got planes in order to chock

them against the towers. One of the main reasons for this attempt was because the

United States did not accept the dogmas of the Koran and did not recognize it as a

holy book. So, they did not agree to submit themselves to the Koran rules. But,

according to the Islam, this was a grumble against the Koran and against the Islamic

people. On this tragic day, all the compartments of the building were not empty and

many people that were there did not have time to absent themselves from the building

and because of this, a lot of people died and were hurt or unharmed.

2. Last month, security adaptations were needed in some hotels of our region because of

the violence and frequent attempts of kidnaps. The police have been formidable in the

rescues and have gotten some components of the gangs through a magnet

identification card system installed in these hotels, in order to avoid the bandits action

and calm the atmosphere that was rather tense and frightening the clients. According

to the news, the numbers of kidnaps outnumber the consumption of drugs in Brazil

and authorities advise the people not to react or object to do something the bandits

ask for, because it can be too dangerous to the victim.

3. Nowadays, the aptitude of painting has been important for the mind, especially the

most pictorial portraits that outshine the look of who admire them. According to

some researches, creating art objects like paintings helps cognitive development,

working as a therapy to the individuals. Although some people feel reluctant to deal

with art, others see it like a resignation moment that can be externalized.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – Oxford Placement Test (ALLAN, 2004)

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE … · Agradeço primeiramente a Deus, pela força que me impulsionou nestes dois anos, por ser a motivação nas horas de desânimo e a

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ANEXO 2 – Folha de aprovação do Comitê de Ética