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i
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE CABRAS LEITEIRAS
SUPLEMENTADAS COM ÓLEOS VEGETAIS
DARKLÊ LUIZA DE SOUZA
AREIA - PB
FEVEREIRO 2012
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE CABRAS LEITEIRAS
SUPLEMENTADAS COM ÓLEOS VEGETAIS
DARKLÊ LUIZA DE SOUZA
Zootecnista
AREIA - PB
FEVEREIRO 2012
iii
DARKLE LUIZA DE SOUZA
PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE CABRAS LEITEIRAS
SUPLEMENTADAS COM ÓLEOS
Tese apresentada ao Programa de Doutorado
Integrado em Zootecnia da Universidade
Federal da Paraíba, Universidade Federal
Rural de Pernambuco e Universidade Federal
do Ceará como requisito parcial para obtenção
do título de Doutor (a) em Zootecnia.
Área de Concentração: Produção Animal
Comitê de Orientação:
Profª. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga - Orientadora Principal
Profº. Dr. Ariosvaldo Nunes Medeiros – Coorientador
Profº. Dr. Marco Aurélio Delmondes Bomfim – Coorientador
AREIA - PB
FEVEREIRO 2012
i
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB.
S729p Souza, Darklê Luiza de.
Produção e composição do leite de cabras leiteiras suplementadas com óleos vegetais. / Darklê Luiza de Souza. - Areia: UFPB/CCA, 2012.
105 f. : il.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2012.
Bibliografia. Orientadora: Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga.
1. Caprinos Leiteiros 2. Leite de Cabra – Produção 3. Leite de Cabra – Composição 4. Constituintes do leite 5. Cabras Leiteiras – Dieta – Óleos Vegetais I. Queiroga, Rita de Cássia Ramos do Egypto (Orientador) II.Título.
UFPB/CCA CDU: 636.39(043.2)
iv
v
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
Darklê Luiza de Souza, filha de Maria Neuza de Souza, nascida em 13 de julho
de 1977, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte, onde concluiu o ensino médio em
1995. Ingressou no Curso de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte em 1998. Quando acadêmica do Curso de Zootecnia, participou da linha de
pesquisa Métodos para Produção de Pólen Apícola e Mel no Rio Grande do Norte,
durante três meses onde coletou dados para seu trabalho de conclusão. Em 13 de maio
de 2004, formou-se em Zootecnia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Iniciou o curso de Mestrado em Zootecnia, em março de 2005, pelo Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, no qual foi aluna bolsista do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, na área de
concentração de Produção Animal, submetendo-se à defesa da dissertação em 27 de
fevereiro de 2007. Em março de 2008 iniciou o curso de Doutorado em Zootecnia, pelo
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, no qual foi bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, na área de
concentração de Produção Animal, submetendo-se à defesa de Tese em 14 de fevereiro
de 2012.
vi
LEMBRANÇA DA CORAGEM
Maria Dolores/Chico Xavier
Entre as lutas da existência,
Quando a estrada te pareça
Um campo de sombra espessa,
Sob tormenta a rugir
Não temas, segue adiante,
Cumpre os encargos que levas,
Lembra que a luz rompe as trevas,
Descortinando o porvir.
Nesses instantes amargos
Por maior a dor terrena,
Guarda fé que te asserena,
Não te lastimes em vão...
Nasce a rosa no espinheiro,
A estrela é glória noturna.
O ouro emerge da furna,
A fonte serve no chão.
Não pares, nem contes mágoas,
Dor que te fere ou te isola,
É sempre aula na escola
Que o céu te pede transpor.
Prossegue amando e servindo,
Ao término da jornada,
Faz-se a noite madrugada
No dia do eterno amor.
vii
OFEREÇO
Aos amantes e praticantes da Zootecnia.
DEDICO
À minha amada mãe,
Maria Neuza de Souza, meu esteio, minha força e razão para seguir
em frente, sempre.
Ao meu amigo,
Aldivan Rodrigues Alves, exemplo de humildade e gentileza, por ter sido meu
anjo da guarda e meu companheiro nos momentos mais difíceis na
estrada da Pós-Graduação. A ele ofereço a minha
amizade sincera.
Que Deus os abençoe, sempre.
viii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas graças alcançadas, por atender as minhas preces e por me dar forças
para vencer os obstáculos existentes no meu caminho.
Ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba e, em
especial, ao Curso de Pós-Graduação em Zootecnia, pela acolhida e oportunidade de
realização do curso.
Ao Instituto Federal de Alagoas – IFAL, Campus Avançado de Santana do
Ipanema por permitir o meu afastamento sempre que necessário para dar andamento ao
trabalho de Tese.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ,
pelo financiamento do projeto.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão de bolsa durante parte do caminho acadêmico.
A minha orientadora, Profª Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga, pela
orientação, amizade e confiança.
Aos membros do comitê de orientação, Profº Ariosvaldo Nunes de Medeiros e
Marco Aurélio Delmondes Bomfim, pela orientação e considerações para realização
desse Projeto.
A minha família materna, pelo apoio.
Aos amigos considerados como família, pela confiança em mim depositada.
A Marcos Jácome, incentivador de todas as horas, pela paciência, pelo apoio
emocional que sempre me deu durante os momentos mais difíceis que passei durante o
período de adaptação fora de casa.
As minhas companheiras de experimento Mayara Sabedot e Ertha Janine pelo
companheirismo e positividade durante todo processo de execução do experimento. Em
especial, à Mayara, pois sem ela teria sido mais árdua a execução do experimento.
ix
Aos estagiários do Setor de Caprinocultura, por terem vestido a camisa do
experimento e ter nos ajudado a tocá-lo até o final.
Ao corpo docente do PDIZ/CCA pelos conhecimentos repassados, a atenção
dispensada, pela compreensão e incentivo na superação das minhas limitações.
Em especial ao Profº Walter Esfrain Pereira pela colaboração nas análises
estatísticas deste trabalho.
Ao Profº Suedney Lima do Departamento de Veterinária, por estar sempre
disposto a colaborar durante a execução do experimento.
À Profª Fabiana Satake do Departamento de Veterinária, por disponibilizar o seu
laboratório para realizarmos as análises de enzimas do soro do plasma e sua
laboratorista Maria de Lourdes Marques de Souza pela valiosa colaboração durante a
realização das análises sanguíneas.
Ao Profº Humberto Vilar por nos abrir as portas de seu laboratório em Bananeiras
para que fosse possível realizar análises dos derivados purina.
Ao senhor Luiz Leme Medeiros por colaborar para essa pesquisa nos reservando a
produção dos óleos de Faveleira e Gergelim.
Ao coordenador do curso Severino Gonzaga Neto pela receptividade.
A secretária Maria das Graças S. C. Medeiros por atender, sempre que possível, as
minhas solicitações e pelos momentos de descontração.
Aos membros da banca examinadora, professores: Adriana Guim, Francisco
Fernando Ramos de Carvalho, Marcone Geraldo Costa e Marta Suely Madruga pelas
valiosas colaborações.
Aos amigos Verônica Meira, Leila Medeiros, Tiago Araújo, Cristina Chacon,
Cicília Maria (Cicia), Lígia Maria (Ligiazinha), Andrezza França por me estenderem a
mão e me abrigarem quando eu precisei.
Aos amigos da graduação em Zootecnia: Flávio, Juraci Marcos, Alexandre,
Ricardo, Candice, Maurício, Romildo, Jamile, Cristina... pelos momentos de
descontração no Setor de Caprinocultura-CCA/UFPB.
Aos companheiros de Pós-Graduação: Julicelly, Josimar (Magnífico), Tobyas e
Carolyny, Alda, Henrique, Regina e Rinaldo, Jussara Thelma, Sergio (Serjão), Helton
x
(Amigo), Leilson (Lelê), Aurinês, Geovania, Wellington, Raul, Wirton, Marcelo,
Matheus, Thadeu, Rebeca, Karla ... pela amizade e bons momentos.
Ao corpo docente do IFAL por colaborarem comigo todas as vezes que precisei
me afastar da Instituição. Em especial aos professores José Carlos, Samay, Gilberto,
Jailson e Harlisson.
A minha companheira de laboratório e instrutora de autoescola Ana Maria Cabral
o meu “muito obrigada” pelos momentos inesquecíveis de carinho e companheirismo
durante nossa temporada no LAANA.
Ao companheiro de Pós-Graduação Rinaldo pela presteza em que me socorreu
sempre que precisei de sua ajuda.
À Luana Paula e Flávio pela ajuda e companhia durante as análises laboratoriais.
À Andrezza com quem estreitei os laços de amizade, iniciados durante o período
de graduação, a construção desse trabalho, por ter dividido comigo o nervosismo de
uma defesa de qualificação e pelos momentos de descontração.
À Ana Rosa que acompanhou a construção desse material durante a época de
qualificação e para a defesa de Tese.
Aos funcionários do Setor de Caprinocultura: Jorge (Boi), Josenaldo (Índio) e
Paulo; aos funcionários do PPGZ: Jacilene, Da. Carmem e Sr. Damião; aos
Funcionários do Laboratório de Avaliação e Análise de Alimentos: José Alves, Charlys,
José Sales, Sr. Costa, Antônio (Duelo) e Roberto. O meu “muito obrigada” pelas
expressões alegres sempre ao me verem.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para o meu engrandecimento
durante a realização desta empreitada.
Obrigada!
xi
SUMÁRIO
Página
Listas de Tabelas ...................................................................................................... xii
Lista de Figuras ........................................................................................................ xv
Lista de Abreviaturas e Siglas .................................................................................. xvi
Resumo Geral ........................................................................................................... xviii
Abstract .................................................................................................................... xx
Considerações Iniciais .............................................................................................. 1
CAPÍTULO I – Referencial Teórico ...................................................................... 5
Referências Bibliográficas ....................................................................................... 19
CAPÍTULO II – Inclusão de óleos vegetais na dieta sobre o consumo, síntese de
proteína microbiana e utilização de nutrientes do trato total de
cabras em lactação .....................................................................
25
Resumo ..................................................................................................................... 26
Abstract .................................................................................................................... 28
Introdução ................................................................................................................ 29
Material e Métodos .................................................................................................. 31
Resultados e Discussão ............................................................................................ 39
Conclusões ............................................................................................................... 47
Referências Bibliográficas ....................................................................................... 48
CAPÍTULO III – Produção e composição do leite de cabras mestiças
suplementadas com óleo vegetal ..........................................
56
Resumo ..................................................................................................................... 57
Abstract .................................................................................................................... 59
Introdução ................................................................................................................ 60
Material e Métodos .................................................................................................. 62
Resultados e Discussão ............................................................................................ 69
Conclusões ............................................................................................................... 76
Referências Bibliográficas ....................................................................................... 77
Considerações Finais e Implicações ........................................................................ 83
xii
LISTAS DE TABELAS
Capítulo II
Página
Tabela 1. Composição química dos ingredientes das rações experimentais com
base na matéria seca ..............................................................................
32
Tabela 2. Composição percentual e química das rações experimentais ................
33
Tabela 3. Valores médios do perfil de ácidos graxos (% área) dos óleos vegetais
34
Tabela 4. Composição da ração efetivamente consumida por cabras leiteiras
alimentadas com diferentes fontes de óleo vegetal ...............................
40
Tabela 5. Percentual de digestibilidade aparente dos nutrientes em cabras
leiteiras alimentadas com diferentes óleos vegetais na dieta ................
41
Tabela 6. Médias e coeficiente de variação (CV) dos consumos de matéria seca
(CMS), fibra em detergente neutro (CFDN), tempos despendido em
ruminação (RUM), ingestão (ING), ócio, eficiência de alimentação de
matéria seca (EALms) e de fibra em detergente neutro (EALfdn),
eficiência de ruminação na matéria seca (ERUms) e de fibra em
detergente neutro (ERUfdn), número de mastigação merícica/dia
(MMnd) e número de bolos ruminais (NBR), em função da
suplementação lipídica na dieta de cabras leiteiras ...............................
43
Tabela 7. Valores médios dos parâmetros sanguíneos das cabras em função da
suplementação com óleos vegetais ........................................................
44
xiii
Tabela 8. Concentração em mmol/L, de N-uréia plasmático, conforme o horário
de coleta, após fornecimento matinal da alimentação ...........................
46
Tabela 9. Médias e coeficiente de variação (CV) para as excreções estimada de
alantoína (ALA), derivados de purina (DP), quantidades de purinas
absorvidas (PA), expressa em mmol/d, fluxo de nitrogênio
microbiano (NM) e para a eficiência microbiana (EFM) em função da
suplementação lipídica na dieta de cabras leiteiras ...............................
47
LISTAS DE TABELAS
Capítulo III
Página
Tabela 1. Composição química dos ingredientes das rações experimentais com
base na matéria seca ..............................................................................
63
Tabela 2. Composição percentual e química das rações experimentais ................
64
Tabela 3. Médias e coeficiente de variação (CV) para peso corporal inicial
(PCI), peso corporal final (PCF), consumo de matéria seca (MS),
matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente
neutro (FDN), extrato etéreo (EE), carboidratos não fibrosos (CNF) e
consumo de energia por cabras alimentadas com dietas contendo
diferentes formas de suplementação lipídica .........................................
69
xiv
Tabela 4. Produção e composição de leite de cabras leiteiras recebendo
diferentes fontes de óleo vegetal na dieta ..............................................
70
Tabela 5. Consumo e a eficiência de utilização da energia por cabras recebendo
diferentes fontes de óleos vegetais na dieta ...........................................
74
Tabela 6. Balanço e eficiência de utilização do nitrogênio obtidos para cabras
leiteiras alimentadas com dietas apresentando diferentes fontes de
óleo vegetal ............................................................................................
75
xv
LISTAS DE FIGURAS
Capítulo I
Página
Figura 1. Concentração de glicose plasmática em cabras suplementadas com
dietas contendo óleo vegetal ..................................................................
45
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALA Alantoína
ALT Alanina aminotrasferase
AST Aspartato aminotransferase
BEL Balanço de Energia Líquida
CHOT Carboidratos Totais
CNF Carboidrato Não Fibrosos
DP Derivados de Purina
EA Eficiência Alimentar
EALfdn Eficiência de Alimentação de fibra em detergente neutro
EALms Eficiência de Alimentação de matéria seca
EE Extrato Etéreo
EFM Eficiência Microbiana
ELm Energia Líquida de mantença
ELp Energia Líquida de produção
EM Energia Metabolizável
EMm Energia Metabolizável de mantença
EN Eficiência de utilização do Nitrogênio
ERUfdn Eficiência de Ruminação de fibra em detergente neutro
ERUms Eficiência de Ruminação de matéria seca
FDA Fibra em Detergente Ácido
FDN Fibra em Detergente Neutro
ING Ingestão
kl Eficiência líquida de utilização de energia metabolizável
para a produção de leite
km+p
Eficiência bruta de utilização da energia metabolizável
para a produção de leite e consumo de energia
metabolizável
xvii
MM Matéria Mineral
MMnd Número de Mastigação merícica/dia
MO Matéria Orgânica
MS Matéria Seca
N Nitrogênio
NBR Número de Bolos Ruminais
NDT Nutrientes Digestíveis Totais
NM Fluxo de Nitrogênio Microbiano
NUL nitrogênio Uréico no Leite
NUS Nitrogênio Uréico no Sangue
OF Óleo de Faveleira
OG Óleo de Gergelim
OM Óleo de Mamona
PA Purinas Absorvidas
PB Proteína Bruta
PCF Peso Corporal Final
PCI Peso corporal Inicial
PIDA Proteína Insolúvel em Detergente Ácido
PIDN Proteína Insolúvel em Detergente Neutro
PL Produção de Leite
PLCG 4% Produção de Leite Corrigida para 4 % de Gordura
PLCST Produção de Leite Corrigida para Sólidos Totais
RUM Ruminação
SNG Sólidos Não gordurosos
SO Sem óleo
xviii
RESUMO GERAL
O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a influência de três
fontes diferentes de óleo vegetal na dieta de cabras leiteiras. Foram utilizados óleo de
faveleira (OF), óleo de gergelim (OG) e óleo de mamona (OM) e os resultados
comparados a uma dieta controle (SO), isenta de suplementos lipídicos. Foram
utilizadas oito cabras, mestiças, pesando em média 50 ± 5,19 kg e com 50 dias de
lactação distribuídas em quadrado latino (4x4), com quatro tratamentos e quatro
períodos, sendo cada tratamento constituído por duas parcelas. Foi avaliado o efeito da
suplementação lipídica sobre o consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes,
comportamento ingestivo, parâmetros sanguíneos e produção de proteína microbiana.
Também foram determinadas a produção e a composição química do leite, bem como, o
consumo e eficiência energética e o balanço de nitrogênio de cabras mestiças Saanen x
Alpina Americana. As dietas foram formuladas de modo que os suplementos
contribuíssem com 4% de extrato etéreo (EE) adicional ao valor existente na dieta
controle. A suplementação lipídica aumentou o consumo efetivo de nutrientes para
matéria mineral (MM) e EE, deprimindo o consumo efetivo de carboidratos totais
(CHOT), não afetando os demais nutrientes. A inclusão de lipídios na dieta
proporcionou maior consumo de EE por parte dos animais que receberam óleo nas
dietas (P<0,05). O consumo de carboidratos não fibrosos (CNF) foi influenciado pelo
tipo de óleo incluído na dieta, tendo o óleo de mamona apresentado menor consumo de
CNF. O consumo de energia não foi influenciado pela adição de óleo na dieta. O
coeficiente de digestibilidade aparente foi melhorada com a suplementação lipídica para
matéria seca (MS), quando comparada com a dieta controle. O comportamento
ingestivo dos animais não foi influenciado pelos tratamentos experimentais. As
concentrações séricas de nitrogênio uréico, glicose, AST – aspartato aminotransferase,
ALT – alanina aminotrasferase e triglicérides não foram afetados pela suplementação
lipídica nas dietas. O óleo de mamona adicionado na base de 4% da dieta aumentou a
concentração de N-uréia no estado de jejum. A produção de proteína microbiana não foi
xix
influenciada (P>0,05) pelos tipos de óleo vegetal adicionado na ração. A suplementação
lipídica com óleo de mamona reduziu as produções de leite e da produção dos
constituintes do leite, exceto da produção de gordura, além de deprimir o percentual de
proteína do leite e a acidez. A dieta controle (SO) e OM promoveram reduções nos
consumos de energia líquida (EL). A eficiência líquida de utilização de energia
metabolizável foi afetada pela adição de óleo na dieta, entretanto, a eficiência bruta e o
balanço de energia líquida não foram afetados pela suplementação. A excreção de
nitrogênio no leite (g/dia) foi maior nos animais que recebiam a dieta controle, tendo os
resultados apresentados pelos animais que receberam as dietas contendo OF ou OG se
comportado igual à dieta controle enquanto que os resultados obtidos para os animais
que receberam a dieta contendo OM mostrado queda no teor de nitrogênio no leite
(P<0,05). A suplementação com os óleos estudados influi na resposta de consumo de
extrato etéreo e carboidratos não fibrosos da dieta. A adição de 4% dos óleos estudados,
na dieta de cabras em lactação, melhora a digestibilidade da matéria seca, não altera o
comportamento ingestivo e a produção de proteína microbiana. Entre os tipos de óleos
estudados, a adição de 4% de óleo de faveleira ou óleo de gergelim não causa prejuízos
ao desempenho e características do leite produzido. A adição do óleo de mamona na
dieta de cabras no período de lactação deprime a produção de leite e o teor de proteína
do leite. A adição dos óleos estudados não afeta a eficiência alimentar, a eficiência de
utilização do nitrogênio e o consumo de energia tendo, o óleo de faveleira, melhorado o
consumo de energia líquida. A eficiência de utilização da energia metabolizável é
reduzida com a adição de óleo na dieta de cabras em lactação.
Palavras-chave: eficiência alimentar, caprinos leiteiros, constituintes do leite, lipídios,
óleos vegetais
xx
ABSTRACT
The experiment was carried out to evaluate the influence of three different sources of
vegetable oil in dairy goat’s diets. It was used Faveleira oil (FO), Sesame oil (SO) and
Castor oil (CO) and the results compared with a diet control, (oil free ration). It were
used eight dairy goats (50 ± 5.19 kg BW) with 50 days of lactation, allocated in two 4x4 Latin
Squares Design, with four treatments, four experimental periods and four animals. The effect
of oil supplementation on intake and apparent digestibility, ingestive behavior, blood
parameters and microbial protein production were evaluated. It also were determined
the yield and chemical composition of milk, as well as intake and energy efficiency and
nitrogen balance of crossbred Saanen x Alpine American. Diets were formulated so that
the supplements contributed with 4% ether extract (EE) were added to the existing value
in the control diet. The oil addition increased the mineral matter (MM) and EE effective
intake and decreased the total carbohydrates (TCHO) effective intake, but did not affect
the other nutrients intake. The inclusion of oil in the diet promoted higher intake of EE
(P <0.05). The non-fiber carbohydrates (NFC) intake was influenced by the oil type,
being the Castor oil that showed the lowest NFC intake. Energy intake was not
influenced by the addition of oil in the diet. Apparent digestibility of dry matter was
improved by lipid supplementation when compared with the control diet. The ingestive
behavior of animals wasn’t influenced by treatments. Serum urea nitrogen, glucose,
aspartate aminotransferase (AST), alanine aminotrasferase (ALT) and triglycerides were
not affected by lipid supplementation. The CO added in 4% of the diet increased the
concentration of urea-N in the fasting state. The oil types did not affect (P>0.05) the
microbial protein production. On the other hand the CO addition reduced the milk yield
and its constituents, except to fat production, and decreased the percentage of protein
and acidity milk. The control diet and CO decreased the net energy (NE) intake. The net
efficiency of utilization of metabolizable energy was affected by the addition of oil;
however, the gross energy efficiency and net energy balance were not affected by
supplementation. Milk nitrogen excretion (g/day) was higher in animals that received
xxi
the control diet, and the results presented by the animals fed diets containing FO and SO
were similar to those the control diet, while the results obtained for animals fed with
diets containing CO shown decrease in milk nitrogen content (P<0.05). The
supplementation with the oils studied influences the lipid and non-fiber carbohydrates
intakes. The addition of 4% of oil improves the digestibility of dry matter in dairy goat’s
diets, but does not alter ingestive behavior and microbial protein production. Among the
oil types studied, addition of 4% FO or SO does not damage the performance and
characteristics of the milk produced. The addition of CO during lactation depresses the
milk yield and its protein content. The addition of the oils does not influence feed
efficiency, the efficiency of nitrogen utilization or in the energy intake taking the FO
improved net energy intake. The efficiency of metabolizable energy utilization is
reduced with the addition of oil in the diet of lactating dairy goats.
Keywords: dairy goats, fat, feeding efficiency, milk content, vegetable oil.
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A caprinocultura no Nordeste do Brasil ainda apresenta obstáculos que
dificultam sobremaneira a sustentabilidade desse segmento, principalmente aqueles
vinculados à pequena produção. Tal fato decorre, principalmente, da pouca eficiência
dos atuais sistemas de produção praticados, bem como da pouca utilização de
tecnologias de processamento dos produtos derivados, da forma ineficaz de
gerenciamento da atividade, da insuficiente capacitação e da pouca organização dos
produtores.
A precariedade da tecnologia utilizada no Brasil, aliada a não utilização de
padrões de controle higiênico-sanitário para leite de cabra e seus derivados, têm-se
constituído como os principais entraves na agroindústria especializada em produtos
caprinos, estando à expansão deste setor vinculada à melhoria da estrutura de
comercialização e à aplicação de tecnologia adequada aos padrões de qualidade
exigidos.
Dentre as raças leiteiras mais difundidas no mundo a raça Saanen apresenta um
crescimento significativo em nosso país. Além de ser apontada como raça caprina com
maior produção leiteira, também produz excelentes mestiços. A raça Alpina
especializada na produção de leite é utilizada no cruzamento com outras raças leiteiras
por possuir pele escura, solta e flexível e as mucosas escuras o que lhe confere
características de resistência à incidência dos raios solares comuns na região semiárida,
produzindo a partir desses cruzamentos animais mestiços mais resistentes as condições
semiáridas, quando comparadas com animais puros.
A ausência de chuvas regulares na região Nordeste ocasiona estacionalidade na
produção de forragem e, consequentemente, queda de qualidade dessas forrageiras para
alimentação animal. Como alternativa para diminuir o efeito da escassez na quantidade
e qualidade das forragens, faz-se o uso da elevação da concentração energética da dieta
através do aumento do teor de carboidratos não fibrosos ou a utilização de lipídios como
forma de contornar esse problema.
2
Sendo assim, o uso de óleos vegetais na alimentação de animais poderá vir como
agente fortalecedor da caprinocultura familiar, pois contribuirá tanto para a
suplementação alimentar dos animais na época da seca, quanto no reflorestamento da
região com conseqüente valorização do Semiárido nordestino. Além de possibilitar a
produção de leite rico em ácidos graxos insaturados, com aroma e sabor mais agradáveis
ao paladar humano. A utilização de óleos vegetais na alimentação animal vem sendo
realizada no intuito de promover mudanças físico-químicas e organolépticas, dentre
outras, na busca da produção de produtos nutracêuticos que beneficiem a saúde humana.
A valorização dos produtos caprinos através da fixação de um padrão diferenciado
de qualidade e de sua certificação regional, com a utilização de óleos vegetais na
alimentação desses animais visando um perfil lipídico do leite diferenciado do
comumente encontrado no mercado, é uma opção capaz de assegurar a expressão do
potencial dessas alternativas no Semiárido e ao mesmo tempo atuar como uma forma de
preservar os recursos da Caatinga promovendo o bem estar das populações dessa região.
Há tempos, na região semiárida do Nordeste brasileiro, é conhecido o potencial de
várias espécies nativas que são exploradas extrativistamente, sendo destruídas
sistematicamente nos últimos anos. Essa vegetação nativa apresenta importante papel
sócio-econômico para o homem no que está relacionado à alimentação humana e
animal, à medicina alternativa, bem como, o uso de frutos, cascas e raízes, dentre
outros.
A utilização de óleos vegetais de espécies nativas e/ou adaptadas à região
Semiárida, como os óleos de faveleira, gergelim e mamona veio como meio de associar
o melhoramento das características lipídicas do leite caprino e a utilização da vegetação
existente no Semiárido como alternativa para suplementação alimentar do rebanho
caprino na época de escassez de alimentos convencionais. A faveleira (Cnidosculus
quercifolius) é espécie florestal endêmica do Semiárido nordestino, rústica, de rápido
crescimento, podendo ser usada para composição de reflorestamento destinado à
recuperação de áreas degradadas. Sendo uma planta exclusiva da Caatinga onde ocorre
com elevada frequência e irregular dispersão. Suas folhas maduras e a casca da favela
servem de forragem para animais. A grande importância está em suas sementes como
produtoras de óleo alimentício na alimentação animal, além da farinha, rica em sais
minerais e principalmente proteínas. O óleo apresenta alto valor energético para o povo
3
podendo ser um substituto do azeite de oliva, não havendo, segundo pesquisadores,
diferença de gosto.
O interesse pelo gergelim (Sesamum indicum L.) tem sido despertado nos últimos
anos por brasileiros que buscam uma cultura alternativa para alimentação e exploração
agrícola viável, por ser um alimento de alto valor nutricional, rico em óleo e proteínas.
As sementes fornecem óleo muito rico em ácidos graxos insaturados, oléico e linoléico.
A torta é rica em proteínas e baixo teor de fibras com elevados teores de vitaminas do
grupo B e alta concentração de aminoácidos que contém enxofre, especialmente a
metionina, sendo esta concentração de duas a três vezes mais que as encontradas nas
tortas de soja, algodão e amendoim. Sua ampla adaptabilidade às condições
edafoclimáticas dos países de clima quente, bom nível de resistência à seca e facilidade
de cultivo tornam a cultura uma excelente opção para diversificação agrícola e com
amplo potencial econômico, pois suas sementes contêm óleo de elevada qualidade com
aplicações que se encontram em plena ascensão.
A mamona (Ricinus communis L.), pertencente à família Euphorbiaceae, é uma
planta de hábito arbustivo, originária da África de onde foi importada no século XVI. A
mamoneira é importante devido a sua adaptação à região Semiárida, bem como pela sua
vasta aplicação na indústria química. Esta cultura não é exclusiva da região Semiárida
sendo, também, explorada em outras regiões com excelentes resultados.
Pesquisas que avaliem a utilização de fontes de gorduras na alimentação de
animais, em especial de ruminantes, são necessárias pelo interesse que despertam por
parte dos pesquisadores em produzir alimentos de origem animal diferenciados e pela
demanda do mercado consumidor em obter tais produtos, visando a melhoria das
características físico-químicas como o aumento de ácidos graxos insaturados, assim
como as propriedades funcionais dos alimentos tornando-os cada vez mais valorizados.
Neste estudo, foi realizado um experimento de 76 dias com o objetivo de verificar
a viabilidade da inclusão dos óleos em nível de 4% na dieta de cabras leiteiras. Foram
utilizadas oito cabras mestiças Saanen x Alpina Americana lactantes, distribuídas em
um delineamento de quadrado latino (4 x 4) sendo quatro animais, quatro períodos e
quatro tratamentos representados pelos diferentes óleos vegetais na ração, sendo cada
tratamento constituído por duas parcelas. Avaliaram-se a influência da inclusão dos
óleos sobre o consumo, digestibilidade aparente da matéria seca, produção de proteína
4
microbiana, parâmetros sanguíneos e ruminais, produção leite, bem como, alterações na
composição físico-química e no perfil lipídico do leite de cabras leiteiras.
O Capítulo I apresenta uma breve revisão sobre a inclusão de fontes lipídicas e os
efeitos, em quantidades adequadas e em excesso, na dieta de cabras em lactação sobre a
microbiota do rúmen e o reflexo na fermentação ruminal, bem como, sobre o
metabolismo energético animal e o reflexo sobre a quantidade e qualidade do leite
produzido.
No Capítulo II, são abordados resultados da avaliação do efeito da utilização de
óleos vegetais: óleo de faveleira ou óleo de gergelim ou óleo de mamona sobre o
consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes, comportamento ingestivo,
parâmetros sanguíneos bem como sobre a produção de proteína microbiana.
O Capítulo III apresenta resultados do efeito da utilização de diferentes óleos
vegetais sobre a produção, o consumo e eficiência energética, o balanço de nitrogênio,
bem como, a composição química e o perfil lipídico do leite, de cabras mestiças Saanen
x Alpina Americana.
5
CAPÍTULO I
__________________________________________________________________
Referencial Teórico
PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE DE CABRAS
LEITEIRAS SUPLEMENTADAS COM ÓLEOS VEGETAIS
6
RESUMO
O ecossistema ruminal representa um dos melhores exemplos de simbiose da natureza,
onde o animal provê o ambiente e o alimento e, a microbiota hospedada nele permite o
uso de fonte mais abundante de energia que são as fibras das forragens. Fontes de
lipídios têm sido usadas em dietas de ruminantes para aumentar a densidade energética
das dietas, além de fornecerem mais conteúdo energético prontamente disponível para
os animais. Neste contexto, esta revisão objetiva compilar informações a respeito dos
efeitos de lipídeos em quantidades adequadas e em excesso na dieta de cabras em
lactação sobre a microbiota do rúmen e o reflexo na fermentação ruminal, bem como,
sobre o metabolismo energético animal e o reflexo sobre a quantidade e qualidade de
leite produzido. Lipídeos na dieta podem promover efeitos desejáveis e indesejáveis nos
processos de fermentação. Podendo a forma como a gordura é oferecida influenciar nos
efeitos deletérios no rúmen. Porém, a influência provocada por essa interferência
depende tanto da fonte de óleo, como do nível em que é adicionada a ração, podendo,
dessa forma, exercer pouco ou nenhum efeito sobre as atividades da flora microbiana e
a fermentação ruminal, desde que sejam respeitados os limites preconizados de adição
de lipídios na matéria seca da dieta. A hidrólise dos ácidos graxos dietético esterificado,
seguido da biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados, em conjunto com a atividade
de dessaturase intestinal e mamária, assegura suficiente fluidez de gordura do leite e
eficiência de secreção das células mamárias. No entanto, o mecanismo de captura de
ácidos graxos pela célula epitelial mamária não está bem definido.
Palavras-chave – dieta, lipídeos, cabras
7
ABSTRACT
The ruminal ecosystem represents one of the best examples of nature symbiosis where
the animal provides the environment and food to ruminal microbiota allowing the use of
the most abundant source of energy that are the fodder fibers. Sources of lipids have
been used in ruminant diets to increase diet energy density besides to provide more
energy content readily available to the animals. In this context, this review aims to
compile information about the effects of lipids in adequate and in excess amounts in the
diet of lactating dairy goats on ruminal microbiota and its influence on ruminal
fermetation, as well as on the energy metabolism and its effect on the amount and
quality of milk produced. Lipids in the diet may promote desirable and undesirable
effects in fermentation processes. The way how the oil is provided to the animal can
influence the deleterious effects in rumen, however this influence depends on the source
of oil as well as of the oil level which is added to ration, having little or no effect on
activity of microbial flora and ruminal fermentation, subject to compliance with the
limits recommended for oil addition in the diet dry matter. Fatty acids esterified
hydrolysis followed by biohydrogenation of unsaturated fatty acids together with the
intestinal and mammary activity desaturase ensures sufficient fluidity of fat milk and
efficiency of secretion of cells of mammary gland. However, the fatty acids capture
mechanism by the epithelial mammary cell is not well defined.
Keywords: dairy goats, fat, milk yield, vegetable oil
8
INTRODUÇÃO
A dieta consumida por ruminantes contém, frequentemente, apenas 2 a 4% de
lipídeos. No entanto, os lipídeos representam uma parte importante da ração para
animais ruminantes leiteiros porque eles contribuem diretamente para cerca de 50% da
gordura do leite, além de representar a fonte mais concentrada de energia de uma dieta.
Apenas pequenas quantidades de lipídeos são encontradas em forragem e sementes. No
entanto, algumas plantas (algodão, soja) possuem sementes referidas como oleaginosas
que contém mais de 20% de lipídeos (WATTIAUX e GRUMMER, 2011).
Fontes lipídicas têm sido utilizadas para aumentar a densidade energética das
dietas, visto que a gordura fornece 2,25 vezes mais conteúdo energético prontamente
disponível, por serem constituídas de grande proporção de ácidos graxos, que
representam a fonte de reserva energética mais importante para os animais (NRC,
2007). Suplementos lipídicos são usados em dietas para animais lactantes com os
objetivos de aumentar a produção de leite e reduzir a mobilização corpórea (SILVA et
al., 2007).
De acordo com Van Soest (1994), dietas para ruminantes, normalmente, contêm
baixas proporções de lipídeos devido à pequena porção de gordura presente nos
alimentos de origem vegetal. Estas características da dieta têm exigido adaptações
metabólicas e métodos para a conservação de ácidos graxos essenciais. Sendo o rúmen
intolerante a concentrações elevadas de gordura, que podem perturbar a fermentação.
Motivo pelo qual as concentrações de extrato etéreo na matéria seca da dieta de
ruminantes não deve ser superior a 7% (PALMQUIST e JENKINS, 1980; NRC, 2007).
O consumo de dietas com altos níveis de extrato etéreo (EE) pode comprometer
a ingestão de alimentos por reduzir a digestão da fibra e a taxa de passagem da digesta
pelo trato gastrintestinal, como resultado do efeito negativo da presença de gordura no
ambiente ruminal sobre o crescimento microbiano, sobretudo dos microrganismo
celulolíticos (NRC, 2001).
A utilização de gorduras na alimentação de ruminantes pode apresentar efeitos
desejáveis, como inibição da produção de metano no rúmen, inibição de bactérias
9
ruminais gram-positivas produtoras de amônia e, aumento na eficiência da síntese
microbiana. Entretanto, pode apresentar efeitos indesejáveis, como redução na
digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, celulose e proteína bruta (SCHAUFF
1992; PALMQUIST e JENKINS, 1980) e na relação acetato:propianato com
consequente diminuição da gordura do leite e, quando em excesso, pode reduzir a
produção de leite (PALMQUIST, 1991).
Dietas convencionais para a lactação raramente contêm mais de 3,5% de extrato
etéreo. Além disso, até 50% de volumosos e 20% de grãos extraíveis de éter podem ser
materiais ácidos não graxos na natureza. Nas folhas da planta, os principais
componentes lipídicos ácidos não graxos são ceras, cutina, pigmentos (clorofila, etc.) e
outros materiais insaponificáveis (PALMQUIST e JENKINS, 1980).
Os lipídeos utilizados em rações de animais aumentam a capacidade de absorção
de vitaminas lipossolúveis, fornecem ácidos graxos essenciais importantes para as
membranas de tecidos e atuam como precursores da regulação do metabolismo, além de
aumentar a eficiência dos animais que depositam grandes quantidades de gordura em
seus produtos (PALMQUIST e MATTOS, 2011).
Neste contexto, objetiva-se compilar informações a respeito dos efeitos de
lipídeos em quantidades adequadas e em excesso na dieta de cabras em lactação sobre a
microbiota do rúmen e o reflexo na fermentação ruminal, bem como, sobre o
metabolismo energético animal e o reflexo sobre a quantidade e qualidade de leite
produzido.
Metabolismo de lipídeos no rúmen
O ecossistema ruminal representa um dos melhores exemplos de simbiose da
natureza, onde o animal fornece o ambiente e o alimento favorável ao desenvolvimento
dos microrganismos e, estes permitem o uso da fonte mais abundante de energia que são
as fibras das forragens. De acordo com Palmquist e Jenkins (1980) os microrganismos
do rúmen modificam rapidamente e quase que completamente os lipídeos ingeridos na
dieta.
Um complexo consórcio de grupos microbianos diferentes, segundo Kamra
(2005), vive em relação simbiótica com o animal ruminante hospedeiro, agindo
10
sinergicamente para a bioconversão de lignocelulósicos alimentares (compostos de
lignina, polímeros de carboidratos e pequenas partes de outros compostos), em ácidos
graxos voláteis que servem como fonte de energia para os animais. A interação entre si
e com outros grupos microbianos no rúmen também é responsável pelo efeito sinérgico
na produção de ácidos graxos voláteis e proteínas microbianas no rúmen.
No rúmen ocorre extensiva hidrólise dos lipídeos esterificados da dieta, onde
triglicerídeos, galactolipídeos e fosfolipídeos, sobre a ação de enzimas secretadas pelos
microrganismos (lípases) hidrolisam gorduras para liberar ácidos graxos livres,
permitindo que a galactose e o glicerol sejam fermentados a ácidos graxos de cadeia
curta (VALADARES FILHO e PINA, 2011), os quais entram na célula bacteriana e são
fermentados a ácidos graxos voláteis (KOZLOSKI, 2002). Após a hidrólise, os ácidos
graxos insaturados podem ser posteriormente, metabolizados via biohidrogenação e
isomerização pela bactéria ruminal (STAPLES et al., 2001).
A biohidrogenação é uma estratégia desenvolvida pelos microrganismos do
rúmen para reduzir a insaturação dos ácidos graxos obtida através da adição de um íon
hidrogênio no ponto de uma dupla ligação, transformando-as em ligações simples ou
saturadas (MEDEIROS, 2007; PALMQUIST e MATTOS, 2011). O processo de
biohidrogenação é mais bem caracterizado pela biohidrogenação de ácido linoléico pela
bactéria Butyrivibrio fibrisolvens.
A quantidade e a proporção dos produtos finais da fermentação bacteriana
ruminal pode ser amplamente variável e depende principalmente da composição da
dieta e da taxa de saída da digesta do rúmen. Quando as concentrações de substratos
energéticos estão em excesso à capacidade bacteriana de captar energia em reações de
síntese, o metabolismo é dirigido no sentido de diminuir a produção e aumentar o gasto
de ATP em reações denominadas “fúteis” (KOZLOSKI, 2002). Ainda o mesmo autor
ressalta que a quantidade de ATP produzida em rotas metabólicas específicas da
fermentação é relativamente bem conhecida e pode atingir um valor no máximo de
quatro moléculas de ATP, no entanto nas condições ruminais a estimativa de
rendimento de ATP, durante a fermentação, torna-se difícil e pouco precisa.
O pH ruminal apresenta importante papel nas alterações dos lipídeos no rúmen,
onde taxas de lipólise e biohidrogenação são menores em situações de alta concentração
de carboidratos não estruturais na dieta decorrente da queda de pH (VAN NEVEL e
11
DEMEYER, 1996), resultando em maior escape de ácidos graxos insaturados.
Palmquist e Jenkins (1980) ressaltam que as bactérias celulolíticas, por serem as mais
afetadas pela suplementação com gordura e diminuição de pH, são os microrganismos
responsáveis pela biohidrogenação.
Além do pH, os outros fatores que estimulam a absorção dos ácidos graxos
voláteis são a alta concentração dos mesmos no líquido ruminal; a presença de butirato,
que é útil como fonte de energia para o epitélio ruminal; e o comprimento da cadeia
carbônica (o butirato é mais absorvido que o propionato e este em relação ao acetato).
Em contraste, a velocidade de passagem dos ácidos graxos voláteis para o sistema
sanguíneo ocorre em ordem inversa (acético, propiônico e butírico), ou seja, o acetato
passa em maior velocidade (LANA, 2005; TEIXEIRA, 2001).
Lana et al. (2005) verificando os efeitos da adição de óleo de soja (5% MS) e/ou
de extrato etanólico de própolis na alimentação de cabras leiteiras observaram aumento
do pH, redução do percentual de acetato e da relação acetato:propionato e aumento do
percentual de propionato no líquido ruminal para os animais que consumiram óleo de
soja. No mesmo experimento, foi observado que a concentração de amônia ruminal foi
menor e a digestibilidade da proteína bruta foi maior para os animais que receberam
óleo de soja deduzindo que a taxa de fermentação da proteína dietética foi menor,
possibilitando maior escape de proteína dietética para o intestino delgado, onde foi
digerida e seus constituintes absorvidos pelo epitélio intestinal, promovendo acréscimo
de aminoácidos na glândula mamária contribuindo para o aumento da síntese de
proteína no leite.
A energia da ração tem efeito sobre os indicadores do metabolismo protéico,
situação que tem sido bastante estudada. As mudanças na concentração sanguínea de
uréia estão correlacionadas com o conteúdo de amônia ruminal e a utilização da amônia
ruminal depende da atividade metabólica dos microganismos ruminais (CONTRERAS,
2000). O mesmo autor ressalta que os microrganismos ruminais transformam o
nitrogênio em proteína microbiana, processo que requer energia, a qual é retirada do
aporte alimentar quando em quantidade adequada.
Para Medeiros (2007), os efeitos negativos sobre a fermentação ruminal em
dietas com gordura acima do limite crítico ocorreriam devido ao efeito tóxico dos
ácidos graxos aos microrganismos e ao efeito físico pelo recobrimento das partículas
12
alimentares com gorduras reduzindo a superfície de contato do alimento ao ataque dos
microrganismos agentes de digestão. Segundo o autor, o efeito tóxico dos ácidos graxos
aos microrganismos é considerado preponderante. Fontes de gordura mais insaturadas
demandam maior gasto de energia pelos microrganismos do que as fontes saturadas. Em
função disso, óleos vegetais são mais tóxicos no rúmen do que outros tipos de gordura.
No entanto, alguns ácidos graxos são utilizados pelas bactérias para a síntese de
fosfolípedes que são necessários para a construção da parede celular. Os ácidos graxos
que estão livres no rúmen tendem a se aderir aos alimentos e impedem o processo
normal de fermentação, especialmente em carboidratos fibrosos (WATTIAUX e
GRUMMER, 2011).
Entretanto Maia et al. (2006), testando a inclusão de três tipos de óleos na dieta
de cabras leiteiras (5,1% de óleos de canola, arroz e soja na dieta) e LANA et al.
(2007), trabalhando com adição de níveis crescentes de óleo de soja (0; 1,5; 3,0; 4,5;
6,0; e 7,5% da matéria seca), extrato etanólico de própolis e própolis moída na
alimentação de cabras leiteiras não encontraram diferença nas ingestões de matéria seca
e matéria orgânica.
Maia et al. (2010) avaliando os efeitos da inclusão dos óleos de licuri ou
mamona em dois níveis (3% e 5%) na dieta de cabras leiteiras observaram menor
consumo de matéria seca dos animais quando suplementados com óleo de licuri,
provavelmente, segundo os autores, por esse óleo ser composto, em grande parte, por
ácidos graxos de cadeia curta e média.
A forma como a gordura é oferecida pode influir nos efeitos deletérios no
rúmen. Os ácidos graxos do grão de oleaginosas por estarem protegidos pelas estruturas
da semente são lentamente liberados durante a fermentação ruminal o que promove
biohidrogenação quase que completa, o caroço de algodão integral bem como sementes
de soja integrais tostadas podem ser incluídas na ração em uma proporção de até 15%
da matéria seca sem interferir na fermentação ruminal (PALMQUIST e MATTOS,
2011; MEDEIROS, 2007).
Para Ferreira et al. (2009) gordura inerte é uma fonte de ácidos graxos
insaturados que determina sua maior digestibilidade por ser envolvida por uma camada
de proteína (formaldeído tratado), que age como uma capa protetora, esta se mantém
relativamente inerte no rúmen em níveis normais de pH. Ocorrendo sua dissociação
13
completa apenas nas condições ácidas do abomaso, o que aumenta a densidade
energética da dieta sem afetar a utilização da forragem. Os ácidos graxos de gordura
protegida passam intactos pelo rúmen e chegam para serem metabolizados no intestino,
onde tem melhor aproveitamento de suas características particulares (CERVONI, 2006).
Silva et al. (2007), avaliando a inclusão de óleo de soja, sais de cálcio de ácidos
graxos de cadeia longa e grão de soja na dieta de cabras, observaram que a
suplementação lipídica proporcionou consumo de extrato etéreo (EE) superiores a dieta
controle isenta de lipídeos suplementares, o que era esperado pelos pesquisadores, pois
as dietas foram formuladas com contribuição de 4,5% de EE suplementar (6,5% na dieta
total). Neste experimento, segundo os autores, o óleo de soja promoveu menor
concentração de EE no rúmen (4% da MS ruminal), em comparação aos sais de cálcio
(7,4%) e o grão de soja (6,2%), o que sugere diferentes taxas de desaparecimento dos
materiais, decorrentes das variações no tempo de permanência do EE no rúmen. Os
autores concluíram que é possível que o óleo de soja tenha desaparecido do rúmen mais
rapidamente via fase líquida e que a natureza das outras fontes tenha contribuído para o
maior tempo de permanência, refletindo na natureza do lipídeo disponível no intestino
para absorção.
Para Maia et al. (2006) os parâmetros fermentativos do rúmen podem ser
afetados pela adição de fontes de lipídeos à dieta, porém, a influência provocada por
essa interferência vai depender tanto da fonte de óleo como do nível em que é
adicionada à ração. Os mesmos autores destacam que a maioria dos trabalhos confirma
que o uso de lipídeos exerce pouco ou nenhum efeito sobre as atividades da flora
microbiana e as características do ambiente ruminal, desde que se respeite o valor
preconizado de 7% da MS total da dieta.
Metabolismo energético do animal em lactação
Embora em quantidades menos significativas que no rúmen, ácidos graxos
voláteis (AGV) também são produzidos pela atividade fermentativa existente no
intestino grosso e ceco dos ruminantes, principalmente quando alimentados com dietas
ricas em grãos. O padrão de fermentação ruminal e, por conseqüência, a quantidade e a
proporção dos AGV produzidos pelo ruminante varia com o tipo de carboidrato
14
encontrado na dieta, com a forma física da dieta, com o nível de consumo, com a
freqüência de alimentação e com o uso de aditivos químicos na dieta. As proporções
molares, normalmente produzidas, são de 45 a 75% de acetato, 15 a 45% de propionato
e 11 a 13% de butirato (KOZLOSKI, 2002).
Devido ao fato dos ácidos graxos serem insolúveis no sangue, é necessário
algum mecanismo especial de transporte para sua distribuição. Este mecanismo ocorre
pela formação hepática de lipoproteínas séricas ricas em triglicerídeos e fosfolipídeos,
também conhecidas como lipoproteínas de muito baixa densidade ou VLDL. Na síntese
de VLDL, os ácidos graxos são primeiramente esterificados para formar triglicerídeos, e
estes são envolvidos em uma capa de fosfolipídeos, colesterol e proteínas específicas.
Este é essencialmente o mesmo mecanismo pelo qual os ácidos graxos são transportados
para fora dos enterócitos após a absorção pelo intestino. As VLDL do fígado são
menores do que os quilomícrons, mas possuem estrutura e função similares
(CUNNIGHAM, 2004).
Em balanço energético negativo acentuado, como em final de gestação em
ovelhas ou início da lactação em bovinos, a absorção hepática de ácidos graxos excede a
capacidade de síntese e secreção de VLDL. Isso é especialmente crítico em ruminantes,
porque esses animais têm capacidade muito limitada para secretar VLDL. Sob tais
condições, a deposição hepática de triacilgliceróis aumenta, levando à condição de
fígado gorduroso. Além disso, observa-se aumento na oxidação de ácidos graxos,
podendo ocasionar o distúrbio metabólico conhecido como cetose (PALMQUIST e
MATTOS, 2011).
Os precursores do leite entram em cada célula através da membrana basal,
enquanto os componentes do leite são ejetados através da membrana plasmática apical
(PARK e JACOBSON, 2006). Gotículas de gordura acumulam-se primeiramente no
citoplasma basal da célula e então se movem para o ápice, onde são expelidas para o
lúmen alveolar. A membrana celular comprime a base da gotícula de gordura, de forma
que a gordura se disperse no leite em pequenas gotículas, envolvidas por membranas
celulares; a gotícula frequentemente contém porções de citoplasma (CUNNINGHAN,
2004; SHENNAN e PEAKER, 2000).
Em revisão realizada por Kronfeld (1982) lê-se que a glândula mamária usa
vários precursores para os ácidos graxos do leite: acetato, ácido acetoacético e β-
15
hidroxibutirato (BHBA) para síntese de ácidos graxos C4 a C16; os ácidos graxos de
cadeia longa (AGCL) dos quilomícrons, das VLDL e dos ácidos graxos “livres” ligados
a albumina (AGL). Os quilomícrons derivam do trato digestivo, as VLDL do fígado e os
AGL do tecido adiposo. Quando a captura mamária de AGCL aumenta em resposta ao
maior consumo de gordura ou a mobilização, então a síntese dos ácidos graxos C4 para
C16 a partir do acetato declina, possivelmente devido ao aumento na concentração de
Acil-CoA graxo no citosol inibir a acetil-CoA caboxilase. Desta forma, a glândula
mamária (GM) parece mostrar uma preferência para AGCL sobre o acetato para síntese
da gordura do leite. Portanto, o suprimento de AGCL para a glândula determina a
proporção relativa de AGCL e acetato utilizados, assim, à eficiência de síntese de
triglicerídeos no leite.
Cunninghan (2004) afirma que de todos os componentes do leite, a gordura é a
fonte de energia mais importante sendo composta por vários lipídios, incluindo
monossacarídeos, diglicerídios, triglicerídeos, ácidos graxos livres, fosfolipídeos e
esteróides; sendo os triglicerídios os principais componentes da gordura do leite
compostos principalmente de ácidos graxos representando 97% da fração lipídica do
leite.
A biohidrogenação ruminal e a digestão no intestino influencia a eficiência de
transferência de ácidos graxos do alimento para o leite. A gordura fluida do leite é
afetada pela ação da dessaturase da glândula mamária. A enzima estearoil-CoA ou ∆9-
dessaturase (a qual introduz dupla ligação na posição 9 da cadeia de carbono) dessatura
uma grande soma de ácido esteárico (18:0) em ácido oléico (cis-9 18:1), atingindo um
índice ótimo entre o dois ácidos graxos nos traços físico-químicos do leite. A enzima
∆9-dessaturase age sobre outros substratos do mesmo modo, como por exemplo, ácido
mirístico (14:0), palmítico (16:0) e ácido vacênico (VA). Em último caso, os isômeros
cis-9, trans-11 do ácido linoléico conjugado (ácido rumênico, RA) é formado (MELE et
al., 2005). Cerca de 60 a 95% do RA encontrado na gordura do leite origina-se por meio
dessa enzima (PALMQUIST e MATTOS, 2011).
A glândula mamária (GM) possui a enzima glicerol-quinase, podendo produzir
glicerol-3-fosfato a partir de glicerol livre, para a síntese de triglicerídeos. Cerca de 70%
do glicerol necessário para síntese de triglicerídeos na GM provem da glicose
sanguínea. O acetil-CoA utilizado pela GM dos ruminantes para síntese da gordura do
16
leite se forma basicamente a partir do acetato captado da via sanguínea, que por sua vez,
deriva em grande parte do acetato absorvido no rúmen (GONZÁLEZ et al., 2001).
Os ácidos graxos podem ser originados do plasma (60%) ou pela síntese de novo
na GM (40%) a partir do acetato e do BHBA oriundo da fermentação ruminal
(GRUMMER, 1991). A principal via metabólica utilizada envolve duas enzimas: acetil-
CoA carboxilase e ácido graxo sintetase. A primeira é responsável pela formação do
malonil-CoA a partir do acetato e a segunda, catalisa a condensação do malonil-CoA
com acetil-CoA ou butiril-CoA, produzidos a partir do metabolismo do acetato e
BHBA, respectivamente (BARBER et al., 1997).
O propionato também pode ser indiretamente envolvido na síntese de alguns
ácidos graxos de cadeia ramificada através da incorporação de metilmalonil-CoA, seu
produto de carboxilação. Na verdade, a incorporação de metilmalonil-CoA na primeira
etapa da cadeia de alongamento resultaria em ácido graxo ante-iso. Quando
metilmalonil-CoA é incorporado durante as etapas subsequentes da cadeia de
alongamento os ácidos de cadeia ramificada são formados com um substituinte metila
em um dos átomos de carbono entre o antepenúltimo carbono e a carboxila final
(VLAEMINCK et al., 2006).
Para Bernard et al. (2009) a regulação da resposta de secreção de gordura no
leite para óleos vegetais na dieta ocorre por vários mecanismos. Alterações na expressão
mamária de genes lipogênicos importantes ou enzimas não parece ser o único ou o
principal mecanismo de regulação da secreção de ácidos graxos no leite em caprinos,
com a implicação de outros fatores incluindo a disponibilidade de substrato e/ou outras
vias metabólicas ou genes envolvidos. Além disso, resultados atuais confirmam
diferenças nas respostas da gordura do leite caprino, para óleos vegetais na dieta, e para
o a gordura do leite de vaca com evidências de que a ausência de efeitos inibitórios
sobre a lipogênese mamária nos caprinos em contraste com a bovina está relacionada
com menores reduções concomitantes na secreção de ácidos graxos sintetizados na
síntese de novo e maior saída de ácidos graxos de lipídeos circulantes no plasma.
A GM dos ruminantes não é capaz de alongar de C16:0 à C18:0 e, portanto, os
ácidos graxos de cadeia longa são originários da digestão e absorção da gordura da dieta
ou da mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo (CHILLIARD et al., 2001). De
acordo com Kronfeld (1982), o maior determinante da eficiência lactacional mamaria é
17
a captura de ácidos graxos de cadeia longa. Na GM, a síntese de novo é geralmente
limitada a ácidos graxos de cadeias curta sintetizados com participação do acetato e
BHBA; e média, sendo estes, característicos do leite não sendo possível encontrá-los em
outros tecidos (LAWSON et al., 2001; GONZÁLEZ et al., 2001). Embora a capacidade
diária total para transferência de energia para muitas espécies seja constante,
aproximadamente 125 kcal/kg peso corporal70
, as proporções de constituintes nutritivos
do leite diferem entre espécie e varia durante a lactação (JENNESS, 1986).
Schmidely (2011) estudando o efeito de dieta com baixo (45% MS) ou alto (65%
MS) percentual de concentrado combinada com a adição de soja extrusada ou semente
de canola laminada sobre o desempenho de cabras leiteiras e composição de ácidos
graxos do leite observaram que as dietas não afetaram a proporção de ácidos graxos
para C4 a C10 e que a dieta com alto percentual de concentrado aumentou o percentual
de C14:0, cis-9, cis-12, cis-15 C18:3 e o ácido graxo iso e ante-iso. Concluíram que a
alimentação com alto concentrado combinadas com a gordura na dieta pode ser usada
para modificar o perfil de ácidos graxos do leite de cabra, sem qualquer efeito negativo
sobre a produção de leite e o conteúdo de proteína e que o perfil dos isômeros trans em
relação ao total de trans C18:1 parece depender da fonte de gordura na dieta.
Bernard et al. (2005) pesquisando os mecanismos básicos da composição de
gordura do leite em resposta a diferentes fatores dietéticos suplementaram cabras
Alpinas leiteiras com duas fontes de ricas em C18 diferindo no grau de insaturação,
óleo de girassol (rico em ácido graxo oléico desprotegido da biohidrogenação ruminal) e
linhaça tratada com formaldeído (rico em ácido graxo linolênico protegido para escapar,
em parte, da biohidrogênio no rúmen), observaram que o consumo de matéria seca
diminuiu ligeiramente em resposta a ambos os suplementos de lipídeos tendo a linhaça
tratada diminuído significativamente a produção de leite aumentando a gordura contida
no leite (6,6 g/kg), a produção de gordura (6,0 g/d) e a proteína do leite (1,2 g/kg). Já
para o óleo de girassol os pesquisadores observaram que causou aumento da gordura do
leite (7,4 g/kg) e produção (13,0 g/d). Tendo o balanço energético sido positivo não
diferindo entre as diferentes dietas, com um valor médio de 760 kJ/d.
Os ácidos graxos são alongados e dessaturados por sistemas enzimáticos na
membrana do retículo endoplasmático. A dessaturação requer NADH e O2, e é feita por
um complexo constituído de uma flavoproteína, um citocromo e uma ferro-proteína
18
não-hemínica. Os mamíferos não têm enzimas para produzir duplas ligações além do C9
e, portanto, precisam de linoleato e linolenato em suas dietas. O araquidonato, um
precusor importante de prostaglandinas e outras moléculas sinalizadoras, é derivado do
linolenato. Vários ácidos graxos insaturados podem ser formados a partir do oleato, por
uma combinação de alongamento e dessaturação (STRYER, 1992).
Bernard et al. (2005) observaram que o percentual e C6 a C17 de ácidos graxos
saturados da gordura do leite diminuíram com a adição de lipídeos na dieta, no entanto a
percentagem e secreção de C18:0 na gordura do leite aumentou, bem como, levou a
aumento significativo de cis-9, trans-11 C18:2 devido à proteção dos ácidos graxos da
dieta contra a biohidrogenação e a síntese endógena de ácido oléico de ácido esteárico
dentro da GM.
O mecanismo de captura de ácidos graxos pela célula epitelial mamária não está
bem definido, porém, Barber et al. (1997), sugerem que os ácidos graxos ligam-se as
proteínas, localizadas na membrana plasmática, as quais podem executar papel na
captura de ácidos graxos. Segundo revisão realizada por Shennan e Peaker (2000), a
expressão de uma proteína denominada FAT (translocadora de ácido graxo) em
fibroblastos induz a captura/ligação do ácido graxo de cadeia longa. FAT, a qual é
predita para ter dois domínios de membranas envoltória, pode ser um transportador de
ácidos graxos ou um regulador de transporte de ácidos graxos.
Grummer (1991) deixa claro que a habilidade para modificar a gordura do leite
depende da eficiência pela qual os ácidos graxos são transferidos da dieta para o retículo
endoplasmático liso das células secretoras onde são esterificados. A estimativa de
eficiência de transferência é difícil de mensurar e são influenciadas por uma variedade
de fatores tais como dieta, estágio de lactação e nível de ingestão de alimentos. A
composição de ácidos graxos da dieta é muito diferente da composição de gordura do
leite. A síntese de ácidos graxos pelos microrganismos do rúmen, os ácidos graxos de
origem adiposa e os ácidos graxos da síntese de novo no tecido mamário servem para
diluir os ácidos graxos dietéticos para incorporação na gordura do leite.
Adicionalmente, dois eventos metabólicos mudam a característica dos ácidos graxos
consumido: (1) a hidrólise dos ácidos graxos dietéticos esterificados seguidos da
biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados pelos microrganismos ruminais; (2) a
importância da atividade de dessaturase intestinal e mamária que funciona para
19
converter ácidos graxos saturados em ácidos graxos monoinsaturados (estearato para
oleato). Isso ajuda a hidrogenação que ocorre no rúmen e provavelmente assegura
suficiente fluidez de gordura do leite e eficiência de secreção das células mamárias.
CONCLUSÕES
Fontes de gorduras têm sido usadas em dietas de ruminantes para aumentar a
densidade energética dessas dietas, além de fornecerem mais conteúdo energético
prontamente disponível por isso representam a fonte energética de mais importância
para os animais, utilizada com o intuito de aumentar a produção leiteira e reduzir a
mobilização de reservas corpóreas. Lipídeos na dieta podem promover efeitos
desejáveis e indesejáveis nos processos de fermentação. Podendo a forma como a
gordura é oferecida influir nos efeitos deletérios no rúmen. Porém, a influência
provocada por essa interferência vai depender tanto da fonte de óleo como do nível em
que é adicionada a ração podendo exercer pouco ou nenhum efeito sobre as atividades
da flora microbiana e a fermentação ruminal, desde que se respeite o valor preconizado
de 7% da MS total da dieta. A hidrólise dos ácidos graxos dietético esterificado seguido
da biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados em conjunto com a atividade de
dessaturase intestinal e mamária assegura suficiente fluidez de gordura do leite e
eficiência de secreção das células mamárias. No entanto o mecanismo de captura de
ácidos graxos pela célula epitelial mamária não está bem definido.
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25
CAPÍTULO II
__________________________________________________________________
Inclusão de óleos vegetais na dieta sobre o consumo, síntese de proteína
microbiana e utilização de nutrientes do trato total de cabras em lactação
26
Inclusão de óleos vegetais na dieta sobre o consumo, síntese de proteína
microbiana e utilização de nutrientes do trato total de cabras em lactação
RESUMO
O experimento com oito cabras, mestiças, pesando em média 50 ± 5,19 kg e com 50
dias de lactação foi realizado para avaliar a influência de diferentes fontes de óleos
vegetais sobre o consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes, comportamento
ingestivo, parâmetros sanguíneos e produção de proteína microbiana. Os tratamentos
consistiram de um grupo controle (SO), 4% de óleo de faveleira (OF), 4% óleo de
gergelim (OG) e 4% de óleo de mamona (OM), sendo a suplementação com base na
matéria seca (MS). Os dados foram analisados em delineamento quadrado latino (4x4),
com quatro tratamentos e quatro períodos, sendo cada tratamento constituído por duas
parcelas. Cada período teve duração de 19 dias (14 de adaptação dos animais às dietas e
5 para coleta de dados). Houve influência das dietas sobre o consumo efetivo de matéria
mineral (MM), extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CHOT). As fontes de lipídios
aumentaram os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS) e matéria orgânica
(MO), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) (P<0,05), no entanto,
para extrato etéreo (EE), carboidratos totais (CHOT) e carboidratos não fibrosos (CNF)
os resultados não diferiram entre si (P>0,05), quando comparados com os resultados
apresentados pelos animais que consumiram a dieta controle. O comportamento
ingestivo dos animais não foi influenciado pelos tratamentos experimentais. As
concentrações séricas de nitrogênio uréico, glicose, AST – aspartato aminotransferase,
ALT – alanina aminotrasferase e triglicérides não foram afetadas pela suplementação
lipídica nas dietas. A suplementação com óleo de mamona aumentou a concentração de
N-uréia plasmática nos animais quando em estado de jejum. A produção de proteína
microbiana não foi influenciada (P>0,05) pelos tipos de óleo vegetal adicionado na
ração. A adição de 4% dos óleos estudados, na dieta de cabras em lactação, melhora a
digestibilidade da matéria seca, não altera o comportamento ingestivo e a produção de
proteína microbiana. Dentre os quatro tratamentos não se observou diferença
significativa no que se refere a concentração sanguínea de ALT, AST, triglicerídios e
27
glicose. O óleo de mamona adicionado na base de 4% da dieta aumenta a concentração
de N-uréia no estado de jejum.
Palavras-chave: comportamento alimentar, lipídios, óleo vegetal
28
Inclusion of vegetable oil in diet on intake, microbial protein synthesis and
nutrients utilization by whole digestive tract in lactating dairy goats
ABSTRACT
The experiment was carried out to evaluate the influence of three different sources of
vegetable oil in dairy goat’s diets on intake and apparent digestibility of nutrients,
ingestive behavior, blood parameters and microbial protein synthesis. It was used
Faveleira oil (FO), Sesame oil (SO) and Castor oil (CO) and the results compared with a
diet control, oil free ration. It were used eight dairy goats (50 ± 5.19 kg BW) with 50
days of lactation, allocated in two 4x4 Latin Squares Design, with four treatments, four
experimental periods and four animals. Each period had 19 days of duration (14 for
adaptation to diets and 5 for data collection). Treatments influenced intakes of mineral
matter, ether extract and total carbohydrates effective. The lipids sources increased the
dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP) and neutral detergent fiber
(NDF) digestibility (P<0.05), however for ether extract (EE), total carbohydrates
(TCHO) and non-fiber carbohydrates (NFC) the results didn’t differ (P>0.05) when
compared with the results found to the animals that consumed the control diet. The
ingestive behavior of animals wasn’t influenced by the treatments. Serum urea nitrogen,
glucose, aspartate aminotransferase (AST), alanine aminotrasferase (ALT) and
triglycerides contents weren’t affected by the lipid supplementation. The CO added in
the diet increased the blood urea-N in the fasting state. The oil types didn’t affect
(P>0.05) the microbial protein synthesis. The addition of 4% of oil improves the
digestibility of dry matter in dairy goat’s diets, but does not alter ingestive behavior and
microbial protein synthesis. Among the four treatments wasn’t observed difference to
blood concentration of ALT, AST, triglycerides and glucose.
Keywords – fat, feeding behavior, vegetable oil
29
INTRODUÇÃO
A utilização de óleos vegetais na alimentação animal vem sendo realizada no
intuito de promover mudanças físico-químicas e organolépticas em seus produtos,
dentre outras, na busca da produção de produtos nutracêuticos que beneficiem a saúde
humana. Além de proporcionado aumento da densidade energética das dietas, uma vez
que os lipídios fornecem cerca de duas vezes mais conteúdo energético do que
carboidratos e proteínas representam a fonte de reserva energética mais importante para
os animais (NRC, 2007). Palmquist e Jenkins (1980) sugerem a inclusão dos lipídios em
dietas para ruminantes limitadas em até 5% da matéria seca total, visto que os
microrganismos ruminais possuem mecanismos fisiológicos para digeri-los tão
eficientemente como fazem para os carboidratos e as proteínas. Suplementos lipídicos
são usados em dietas para animais lactantes com o objetivo de aumentar a produção de
leite e reduzir a mobilização corpórea (SILVA et al., 2007).
A dieta consumida por ruminantes frequentemente contém cerca de 2% a 4% de
lipídeos. Estes contribuem para aproximadamente 50% da gordura do leite, além de
representar a fonte mais concentrada de energia de uma dieta. Apenas pequenas
quantidades de lipídeos são encontradas em forragem e sementes, no entanto, algumas
plantas como o algodão e a soja possuem em suas sementes mais de 20% de lipídeos
(WATTIAUX e GRUMMER, 2011).
Na região Semiárida do Nordeste brasileiro a vegetação nativa apresenta grande
potencial produtivo de óleos vegetais. Dentre os óleos existentes, o de Faveleira, o de
Gergelim e o de Mamona vem despertando interesse pela aplicabilidade. Essa vegetação
nativa, devido a sua multiplicidade de uso, apresenta grande valor sócio-econômico para
o homem, no tocante a alimentação humana e animal, medicina alternativa, uso de
frutos, casca e raízes, entre outros. Portanto, existe ainda a necessidade de ser mostrado
cientificamente o potencial de muitas espécies para que sejam exploradas de forma
racional, proporcionando sua fixação de maneira ordenada, bem como, a fixação do
homem na região nordestina (SILVA et al., 2000).
30
Ao utilizar alimentos não convencionais, devem-se levar em consideração
possíveis mudanças no comportamento animal, especialmente em relação ao consumo
de alimentos, o que é vital para a nutrição por determinar o nível de nutrientes ingeridos
e, consequentemente, a resposta animal. O estudo do comportamento ingestivo,
constituído pelos tempos de alimentação, ruminação, ócio, eficiência de alimentação e
ruminação, estabelece uma ferramenta de grande importância na avaliação de dietas,
possibilitando ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor
desempenho produtivo (MENDONÇA et al., 2004). Cada um desses processos é
resultado de uma complexa interação do metabolismo do animal com as propriedades
físicas e químicas da dieta (MENDES NETO et al., 2007).
De acordo com Timmermans Jr. et al. (2000), a síntese de proteína microbiana
no rúmen atende de 60 a 85% das exigências para mantença, crescimento, gestação e
lactação em ruminantes, estando diretamente relacionada à quantidade de carboidratos
fermentáveis, de proteína degrável no rúmen e de minerais (NRC, 2001).
Argôlo et al. (2010) enfatizam que a proteína microbiana sintetizada no rúmen é
a maior e mais barata fonte de proteína para os ruminantes. Em áreas onde a
disponibilidade de suplementação é escassa, o aumento da produção de proteína
microbiana por meio de um programa de arraçoamento, baseado em alimentos
concentrados regionalmente disponíveis é uma forma efetiva e sustentável para
melhoria da produtividade dos ruminantes.
A produção animal e a rentabilidade da pecuária também podem ser limitadas
por doenças metabólico-nutricionais, que têm efeitos de difícil percepção. O perfil
metabólico tem sido utilizado na avaliação do balanço nutricional dos rebanhos, uma
vez que alterações neste balanço podem influir nas concentrações de alguns metabólitos
nos fluídos biológicos, como sangue, leite, saliva e urina (GONZÁLEZ, 2000).
Neste estudo, objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de 4% de óleos vegetais
(óleo de faveleira ou óleo de gergelim ou óleo de mamona) na dieta de cabras em
lactação sobre o consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes, comportamento
ingestivo, parâmetros sanguíneos bem como sobre a produção de proteína microbiana.
31
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisas de Pequenos Ruminantes,
pertencente à Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, no
município de Areia, Paraíba, no período de 13 de setembro a 27 de novembro de 2010.
O município de Areia está localizado na microrregião do Brejo Paraibano, com
(latitude 6°58’12”s, longitude 35°45’15”w e uma latitude de 575 m). De acordo com a
classificação climática de Gaussem, o bioclima predominante na área é o 3dth
nordestino sub-seco, com precipitação pluviométrica média anual de 1400 mm. Pela
classificação de Kopper, o clima é o tipo As’ (BRASIL, 1972), o qual se caracteriza
como quente e úmido, com chuvas de outono-inverno. A temperatura média oscila entre
21 e 26 °C, com variações mensais mínimas.
Foram utilizadas oito cabras, mestiças de Saanen x Alpina Americana,
multíparas e primíparas, com peso de 50 ± 5,19 kg e com 50 dias de lactação. Os
animais foram tratados contra endo e ectoparasitas, em seguida permaneceram alojados
em baias individuais, com piso de cimento, providas de comedouro e bebedouro, para
fornecimento da dieta total e água ad libitum.
O experimento teve duração de 76 dias, sendo composto de quatro períodos de
dezenove dias, dos quais os primeiros 14 dias de cada período foram utilizados para
adaptação dos animais às dietas experimentais e os 5 dias seguintes destinados a coleta
de dados para determinação do consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes pela
técnica in vitro, com coleta parcial de fezes e urina, coleta do sangue e para avaliação do
comportamento ingestivo e da quantificação da produção de leite e coleta de amostras
de leite.
Os tratamentos avaliados foram:
Tratamento 1 (SO) = 0% de óleo vegetal
Tratamento 2 (OF) = adição de 4% de óleo de Faveleira na matéria seca da dieta
Tratamento 3 (OG) = adição de 4% de óleo de Gergelim na matéria seca da dieta
Tratamento 4 (OM) = adição de 4% de óleo de Mamona na matéria seca da dieta
A proporção dos ingredientes nas dietas e a composição dos alimentos e das
dietas experimentais encontram-se nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. As dietas foram
formuladas de acordo com o NRC (2007) de modo que a proteína bruta de 0,14 e o teor
32
de EE do suplemento (4% na base da matéria seca) fossem mantidos constantes para
atender as exigências de cabras em lactação com produção de 2 kg/cabra/dia e 4% de
gordura de leite.
Os animais eram alimentados, na forma de mistura completa, duas vezes ao dia
logo após as ordenhas (7h30 e 16h30). Para permitir consumo voluntário trabalhou-se
com sobra de 10% do oferecido, sendo ajustada diariamente.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes das rações experimentais com base na matéria
seca
Item Ingredientes (% MS)
Feno de tifton Milho moído Farelo de soja
Matéria Seca1 85,78 87,67 87,74
Matéria Orgânica 91,49 98,67 98,67
Matéria Mineral 8,51 1,33 1,33
Proteína Bruta 8,16 9,77 56,98
Extrato Etéreo 2,53 4,37 2,51
Fibra em Detergente Neutro2 65,35 15,65 17,33
Fibra em Detergente Ácido2 33,40 4,14 6,43
Lignina 4,79 1,81 0,76
Carboidratos Totais 80,80 84,52 33,29
Carboidratos Não Fibrosos 15,45 68,88 15,96
Proteína Insolúvel em Detergente Neutro 3,08 1,11 9,14
Proteína Insolúvel em Detergente Ácido 0,66 1,14 1,38 1 % com base na matéria natural;
2 Isenta de cinzas e proteínas
As concentrações em fibra das dietas foram mantidas constantes por meio da
oferta de feno de capim tifton (Cynodon spp.) como forrageira exclusiva e
corresponderam a 34,35% (dieta controle) e 34,19% (dietas com óleo) de FDN oriunda
da forragem. O feno de tifton foi moído em máquina tipo “DMP” (desintegrador,
moedor e picador), utilizando peneira de 10 mm, para em seguida ser misturado aos
outros ingredientes da ração experimental. A proporção volumoso:concentrado nas
dietas foi de, aproximadamente, 49:51, em matéria seca, conforme dados apresentados
na Tabela 2.
Os óleos de Faveleira e de Gergelim utilizado na confecção das rações foram
adquiridos na cidade de Várzea no Estado da Paraíba, produzido de forma artesanal e o
de Mamona, foi adquirido na Empresa Bom Brasil Óleo de Mamona Ltda. Os perfis
33
lipídicos dos óleos vegetais que participaram da composição das dietas estão
representados na Tabela 3.
Tabela 2. Composição percentual e química das rações experimentais
Item
Tratamento (dietas)1
SO OF OG OM
Proporções dos Ingredientes (% MS)
Feno Tifton 49,30 49,06 49,06 49,06
Milho moído 37,29 32,99 32,99 32,99
Farelo soja 10,79 11,34 11,34 11,34
Óleo de faveleira 0,00 4,00 0,00 0,00
Óleo de gergelim 0,00 0,00 4,00 0,00
Óleo de mamona 0,00 0,00 0,00 4,00
Núcleo mineral2 1,37 1,47 1,47 1,47
Calcáreo Calcítico 1,25 1,13 1,13 1,13
Composição química (%)
Matéria Seca3 86,99 87,42 87,42 87,42
Matéria Orgânica 91,91 91,96 91,96 91,96
Matéria Mineral 8,09 8,04 8,04 8,04
Proteína Bruta 13,82 13,69 13,69 13,69
Extrato Etéreo 3,15 6,97 6,97 6,97
Fibra em Detergente Neutro4 39,92 39,19 39,19 39,19
Fibra em Detergente Ácido4 18,70 18,48 18,48 18,48
Lignina 3,12 3,03 3,03 3,03
Carboidratos Totais 74,95 71,31 71,31 71,31
Carboidratos Não Fibrosos 35,02 32,12 32,12 32,12
Proteína Insolúvel em Detergente Neutro 2,92 2,91 2,91 2,91
Proteína Insolúvel em Detergente Ácido 0,90 0,86 0,86 0,86
Nutrientes Digestíveis Totais 5 61,61 69,68 69,05 69,19
Energia Metabolizável (Mcal/kg)6 2,36 2,64 2,67 2,60
1 SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de
mamona; 2 Suplemento mineral (nutrientes/kg de suplemento): Ca = 210 g; P = 70 g; Mg = 5 g; F
= 700,00 mg; Zn = 3,010 mg; Cu = 440 mg; Mn = 1,485 mg; Co = 25 mg; Fe = 340 mg; Cr = 6,00
mg; Se = 20 mg; I = 48 mg; S = 10 g; Vit. A = 250.000,00 UI/kg; Vit. D3 = 40.000,00 UI/kg; Vit
E = 350,00 UI/kg; 3 % com base na matéria natural;
4 Isenta de cinzas e proteína;
5 Sniffen et al.,
(1992); 6 EM (Mcal/kg) = ED (Mcal/kg) * 0,86.
34
Tabela 3. Valores médios do perfil de ácidos graxos (% área) dos óleos vegetais
Ácidos Graxos Óleos Vegetais
Faveleira Gergelim Mamona
Saturados 33,32 14,90 6,63
C6:0 (Capróico) - - 0,01
C8:0 (Caprílico) - - 0,01
C10:0 (Cáprico) - - 0,01
C16:0 (Palmítico) 21,70 9,58 2,95
C18:0 (Esteárico) 10,39 4,49 3,18
Insaturados 66,68 85,10 93,37
Monoinsaturados 1,69 36,58 79,71
C18:1 (Oléico) 1,58 36,53 7,89
C18:1 n9 cis, 12-OH (Ricinoléico) - - 71,82
Poliinsaturados 64,99 48,52 13,22
C18:2 (Linoléico) 63,87 48,18 12,38
C18:3 (Linolênico) 1,12 0,34 1,28
Os dados para consumo dos nutrientes de matéria seca (MS), matéria orgânica
(MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos totais (CHOT), extrato etéreo (EE) e
nutrientes digestíveis totais (NDT) foram obtidos através dos registros do alimento
oferecido e sobras e da colheita de amostras da dieta oferecida e sobras, realizada
durante os cinco últimos dias de cada período experimental. As sobras dos alimentos
foram pesadas pela manhã em sua totalidade, sendo 10%. Em cada período
experimental foram coletadas também amostras dos ingredientes das rações e dos
tratamentos. Em seguida, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos com as
devidas identificações dos animais, tratamentos e período de coleta e em seguida
congeladas a –15 oC. Ao final de cada período foram descongeladas, homogeneizadas e
foi retirada uma amostra composta para cada animal de aproximadamente 250 gramas.
As alíquotas foram pré-secas em estufa com ventilação forçada (55 a 60 oC) por 72
horas e moídas em um moinho tipo Wiley com peneiras de malha de um milímetro.
Os ingredientes, as dietas, as sobras e as fezes foram analisados para
determinação dos teores de MS, MO, PB, EE e MM de acordo com as recomendações
descritas por Silva e Queiroz (2002). Para determinação da lignina, foi usada a
metodologia descrita por Van Soest (1967), com a utilização de ácido sulfúrico (H2SO4)
a 72%. Para determinação das frações da parede celular, fibra em detergente neutro
35
(FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se metodologia recomendada pelo
fabricante do aparelho ANKON, da Ankon Technology Corporation de acordo com a
metodologia de Van Soest et al. (1991), com modificações em relação aos sacos, em
que se utilizou sacos de TNT (tecido-não-tecido) gramatura 100 mm confeccionados no
Laboratório de Nutrição Animal e Avaliação de Alimentos – CCA/UFPB. Em todas as
amostras, a FDN e a FDA foram corrigidas para cinza e proteína, os resíduos da
digestão em detergente neutro e detergente ácido foram incinerados em mufla a 600 oC
por quatro horas, e a correção para proteína foi efetuada mediante proteína insolúvel em
detergente neutro (PIDN) e a proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA).
Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT) utilizou-se equação proposta
por Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas). Os carboidratos
não fibrosos (CNF) foram estimados utilizando as equações preconizada por Hall et al.
(1999): CNF = %CHOT - %FDN, sendo a FDN corrigida para cinzas (c) e proteína (p)
(FDNcp). Na determinação da PIDN e PIDA foi empregada metodologia descrita por
Licitra et al. (1996).
O consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT) e percentagem de NDT foi
estimado segundo Sniffen et al. (1992): CNDT = (PB ingerida - PB fecal) + 2,25*(EE
ingerido - EE fecal) + (FDN ingerido - FDN fecal) + (CNF ingerido – CNF fecal),
obtido em ensaio de digestibilidade; %NDT = (Consumo de NDT / Consumo de
MS)*100.
A conversão dos valores de NDT das dietas para energia digestível (ED) e
energia metabolizável (EM) foi realizada através das equações descritas pelo NRC
(2001): ED (Mcal/kg) = 0,04409 * NDT (%); EM (Mcal/kg) = ED (Mcal/kg) * 0,86,
que corresponde a eficiência de utilização da ED, conforme Resende (1989).
As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal
e Avaliação de Alimentos – CCA/UFPB.
Para determinação dos coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB, EE,
FDN, CHOT e CNF foram efetuadas colheitas das fezes dos animais, diretamente na
porção final do reto, a cada 26 horas, sendo em cada período de coleta realizadas no 1o,
2o, 3
o, 4
o e 5
o dia às 6:00; 9:00; 12:00; 15:00 e 18:00 horas, respectivamente. As
amostras de fezes foram armazenadas a -15 oC e posteriormente, da mesma forma que
os alimentos e sobras e foram processadas ao término de cada período experimental.
36
A estimativa da produção fecal foi efetuada utilizando-se a fibra em detergente
neutro indigestível (FDNi) como indicador interno. As amostras de fezes, alimentos e
sobras foram incubadas in vitro em sacos de tecido tipo TNT, por um período de 240
horas (CASALI et al., 2008). A quantidade da amostra incubada foi de 0,8 g para
alimentos, sobras e fezes. O material remanescente da incubação foi submetido à
extração com detergente neutro e o resíduo considerado FDNi. Para estimativa da
produção de fezes foi utilizada a equação: Fezes (g/dia-1
) = FDNi ingerido /
concentração do FDNi nas fezes*100.
O coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) foi calculado como descrito por
Silva e Leão (1979), onde: CDA = {[(Consumo de nutrientes (kg) – Nutriente excretado
nas fezes (kg)]}/ consumo de nutrientes (kg)*100.
As cabras foram ordenhadas manualmente, duas vezes ao dia, tendo sido
realizado o controle leiteiro através da pesagem individual do leite (kg/dia) nos cinco
dias de coleta de cada período experimental. Uma alíquota de leite da ordenha composta
do 18º dia de cada período experimental foi coletada. O leite foi primeiramente
desproteínizado com ácido tricloroacético (10 mL de leite foram misturados com 5 mL
de ácido tricloroacético a 25%), filtrado em papel-filtro, em seguida foi pipetados 1,5
mL do soro em tubos eppendorff e armazenados a -20 °C. Sendo as análises de uréia e
alantoína realizadas no filtrado para determinação de compostos nitrogenados. As
análises foram realizadas utilizando kits enzimáticos comerciais fornecidos pela
LABTEST® Sistemas para diagnóstico e as leituras foram efetuadas em
espectrofotômetro.
As observações referentes ao comportamento ingestivo dos animais foram
realizadas pelo método de varredura instantânea, no décimo quinto dia de cada período
experimental. Os animais foram observados, por observadores treinados,
estrategicamente posicionados de forma a não incomodar os animais, a cada cinco
minutos durante 22 horas para determinação do tempo despendido com alimentação,
ruminação e ócio com a utilização de cronômetro digital, registrados em formulários
previamente elaborados. No mesmo dia, foi realizada a contagem do número de
mastigação merícica MMnb (nº/bolo) e tempo gasto na ruminação de cada bolo MMtb
(seg/bolo). Para essa avaliação foram feitas as observações de três bolos ruminais em
três períodos do dia (10-12; 14-16; 19-21 horas), sendo que para análise foi utilizada a
37
média do número de mastigação merícica e o tempo gasto. Nos horários de ordenha
(manhã e tarde) não foram realizadas observações para avaliação do comportamento
animal.
As variáveis gramas de MS e de FDN/bolo foram obtidas dividindo-se o
consumo médio individual de cada fração pelo número de bolos ruminais por dia (em 22
horas). Para obtenção do tempo do número de bolos diários, procede-se à divisão do
tempo total de ruminação pelo tempo médio gasto na ruminação de cada bolo, descrito
anteriormente. A eficiência de alimentação e ruminação, expressa em g MS/hora e g
FDN/hora, foi obtida pela divisão do consumo médio diário de MS e FDN pelo tempo
total despendido em alimentação e/ou ruminação em 22 horas, respectivamente. As
variáveis do comportamento ingestivo foram obtidas pelas relações: EAL (gMS/h) =
CMS / TAL; ERU (gMS/h) = CMS / TRU; ERU (gFDN/h) = CFDN / TRU; onde
EAL = eficiênciade alimentação; TAL = tempo de alimentação; ERU = eficiência de
ruminação; TRU = tempo de ruminação; CMS = consumo de matéria seca; CFDN =
consumo de fibra em detergente neutro, foram obtidas conforme metodologia descrita
por Bürger et al. (2000) e Polli et al. (1996). Durante a observação noturna dos animais,
o ambiente foi mantido com iluminação artificial.
Uma amostra spot de urina foi coletada no décimo sexto dia do período, quatro
horas após a alimentação matinal. Depois de devidamente homogeneizadas e filtradas
em camadas de gaze, foram obtidas alíquotas de 10 mL das amostras que foram diluídas
em 40 mL de ácido sulfúrico 0,036 N, a fim de evitar destruição dos derivados de purina
e precipitação do ácido úrico, sendo armazenadas a -20 °C para posteriores análises de
creatinina, uréia, alantoína e ácido úrico. Uma amostra de urina pura (30 mL) foi
armazenada para determinação do nitrogênio total segundo Silva e Queiroz (2002).
As análises de alantoína, ácido úrico, xantina e hipoxantina na urina e de
alantoína no leite foram realizadas pelo método colorimétrico, conforme técnica de
Fujihara et al. (1987) descrita por Chen e Gomes (1992). O volume urinário usado para
estimar a excreção diária de derivados de purina (DP) foi obtido para cada animal,
multiplicando-se o respectivo PV pela excreção diária média de creatinina em 26,05
mg/L (FONSECA et al., 2006) e dividindo-se esse produto pela concentração de
creatinina (mg/L) na amostra spot de urina.
38
A excreção total de DP foi calculada pela soma das quantidades de hipoxantina
e xantina, ácido úrico e alantoína excretadas na urina e da quantidade de alantoína
secretada no leite. Foram usadas as equações propostas por Belenguer et al. (2002), para
caprinos, onde a quantidade de purinas absorvidas (X mmol/d) pode ser estimada como
a excreção de derivados de purinas (Y) / taxa de recuperação de purinas (0,76),
X = Y / 0,76.
Considerando que 0,92 é a digestibilidade verdadeira das bases purinas no
duodeno e 1, 97 (mmol de bases purinas/g N) a razão entre bases purinas (164 μmol/g
MS) e o conteúdo de N (83,8 mg/g MS) na população microbiana extraída do rúmen de
cabras, Belenguer et al. (2002) propuseram a seguinte equação: NM (g/d) = X / (0,92 x
1,97). Onde X corresponde às purinas microbianas absorvidas (mmol/d).
As análises das amostras foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal e
Análise Avançada – Campus III/UFPB e no Laboratório de Análise de Alimentos e
Nutrição Animal – CCA/UFPB.
As coletas de sangue dos animais foram realizadas após a ordenha da manhã do
décimo nono dia de cada período experimental, por meio da veia jugular, sangue
suficiente para encher um tubos do tipo à vácuo vacuntainer de nove mL, identificados,
por cada animal. Após a coleta os tubos foram imediatamente colocados em centrífuga
por 15 minutos a 3500 rotações por minuto. Em seguida foram pipetados 1,5 mL do
soro em micro tubos do tipo eppendorff e armazenados a -20 ºC. Com o objetivo de
avaliar as concentrações séricas de nitrogênio uréico, glicose, AST – aspartato
aminotransferase, ALT – alanina aminotrasferase e triglicérides. A primeira coleta de
sangue foi realizada em jejum para glicose, N-uréia, AST, ALT e triglicérides e, as
demais, a cada duas horas (2, 4 e 6 horas) a partir da alimentação, totalizando 4
amostragens para concentrações plasmáticas de nitrogênio uréico e glicose. O teor de
nitrogênio uréico foi determinado considerando que a uréia plasmática contém 46% de
nitrogênio. Para as análises foram utilizados os protocolos dos kits enzimáticos
comerciais fornecidos pela LABTEST® Sistemas para diagnóstico e as leituras tomadas
em espectrofotômetro. As análises foram realizadas no laboratório de Patologia Clínica
Veterinária – CCA/UFPB.
O delineamento experimental utilizado consistiu de um quadrado latino (4x4)
quatro períodos e quatro dietas, sendo cada tratamento constituído por duas parcelas. Os
39
dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o programa PROC GLM do
Statistical Analysis System (SAS, 1996), as médias dos tratamentos foram comparadas
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Utilizando-se o seguinte modelo
matemático:
Yijkl = μ + Qi + Ti + Pk +A(i)l + QTij + εijk
Onde: Yijk = Observação na cabra j, no período k, submetida ao tratamento i,
com i, j, k = 1, 2, 3, 4; μ = efeito geral da média; Qi é o efeito do quadrado latino, com
Q = 1,2; Ti = efeito do tratamento i, sendo i = 1, 2, 3, 4; Pk é o efeito do período k; A é
o efeito da cabra l no quadrado i com l = 1, 2, 3, 4; QT é a interação do efeito com o
quadrado latino i x tratamento j e ξijk = erro aleatório associado a cada observação
Yijkl.
Para os teores de nitrogênio uréico e glicose plasmático adotou-se o esquema de
parcelas subdivididas, no qual as dietas eram as parcelas e o tempo após a alimentação,
as subparcelas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A composição das dietas efetivamente consumida diferiu da composição das
dietas oferecidas para consumo de extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CHOT)
(Tabela 4). Segundo Van Soest (1994) os caprinos são animais seletivos capazes de
selecionar as partes mais nutritivas dos alimentos. No entanto, o consumo efetivo de
matéria seca não foi influenciado pela suplementação lipídica o que já era esperado uma
vez que as dietas eram oferecidas na forma de mistura completa, o que dificulta o
processo de seletividade realizado pelo animal. Tendo a composição da dieta
efetivamente consumida se apresentado superior à composição das dietas oferecidas em
todos os tratamentos.
As cabras submetidas à dieta houve controle apresentaram consumo efetivo de
EE 3,5% inferior que aquelas suplementadas com os óleos em estudo. Comportamento
esperado uma vez que reflete acentuado percentual de EE disponível nas demais dietas
devido à adição de óleo na ração.
40
Tabela 4. Composição da ração efetivamente consumida por cabras leiteiras alimentadas com diferentes
óleos vegetais
Itens (%) Tratamentos (dietas)
1
CV (%) SO OF OG OM
Matéria Seca2 87,69 88,73 88,28 88,19 9,06
Proteína Bruta3 14,24 14,28 14,23 14,11 2,35
Extrato Etéreo3 3,50
b 7,10
a 7,29
a 7,22
a 5,09
Fibra em Detergente Neutro3 36,14 35,16 36,54 34,70 7,30
Carboidratos Totais3 74,48
a 70,59
b 70,47
b 70,72
b 0,72
Carboidratos Não Fibrosos3 38,34 35,16 36,54 34,70 6,99
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (5%). 1SO= Sem óleo (controle); OF = Óleo de faveleira; OG = Óleo de gergelim; OM = Óleo de mamona;
2 % com base na matéria natural;
3 % com base na matéria seca.
O consumo efetivo de FDN foi inferior ao ofertado, provavelmente, devido à
suplementação com lipídios nas dietas. De acordo com Jenkins (1993) elevados teores
de lipídios, principalmente na forma de ácidos graxos insaturados, podem ocasionar
efeitos adversos sobre a fermentação da fibra, reduzindo o aproveitamento de outras
fontes de energia, a síntese de proteína microbiana e a digestão de proteínas. Os
resultados observados nesse estudo sugerem que o teor de ácidos graxos insaturados
presentes nos óleos utilizados: 66,68% no óleo de faveleira, 85,10% no óleo de gergelim
e de 93,37% no óleo de mamona, além de esse último conter a presença do ácido
ricinoléico, pode ter contribuído para a composição da dieta efetivamente consumida
para FDN ter se mostrado inferior a composição da dieta ofertada. No entanto, em
relação a PB, no presente estudo, não foi observado influência da adição lipídica sobre o
consumo efetivo de PB entre os tratamentos, tendo esse se apresentado superior ao
oferecido, indicando que os microrganismos conseguiram manter-se em equilíbrio.
Os animais que consumiram a dieta controle consumiram efetivamente mais
CHOT do que os demais, enquanto que, para os CNF a composição da dieta
efetivamente consumida foi superior a composição das dietas oferecidas em todos os
tratamentos. Para Ribeiro et al. (2009), o comportamento e hábito alimentar dos
caprinos está relacionado às suas características morfológicas e fisiológicas, para o
critério seletividade destaca-se sua maior mobilidade de lábios o que permite sua
utilização, conjuntamente, com os dentes e língua na captura e ingestão do alimento.
Os coeficientes de digestibilidade do EE, CHOT e CNF não diferiram (P>0,05),
entre os tratamentos (Tabela 5). Os resultados observados nesse estudo mostraram que a
41
adição de óleo melhorou o coeficiente de digestibilidade da MS, isto pode ter ocorrido
pelo menor nível energético da dieta controle, pois segundo Alves et al. (2003),
geralmente o incremento dos níveis energéticos de dietas proporciona melhoria da
digestibilidade, apresentando raros efeitos de aumento (JENKINS e JENNY, 1989).
Neste trabalho os valores dos coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes, de
modo geral, foram semelhantes aos encontrados por Silva et al. (2010) que também
utilizaram a FDNi como indicador para estimar a produção de fezes de cabras
alimentadas com diferentes fontes de lipídios.
Tabela 5. Percentual de digestibilidade aparente dos nutrientes em cabras leiteiras alimentadas com
diferentes óleos vegetais na dieta
Item (%) Tratamento (dietas)
1
CV (%) SO OF OG OM
Matéria Seca 62,81b 67,99ª 68,59ª 66,88ª 4,70
Proteína Bruta 68,28b 72,91ª 74,62
ab 71,78
ab 5,74
Extrato Etéreo 74,39 74,51 77,83 73,19 7,80
Fibra em Detergente Neutro2 42,85
b 54,08
ab 51,34
ab 55,03ª 15,43
Carboidratos Totais 62,59 67,53 64,81 66,47 5,54
Carboidratos Não Fibrosos 80,36 79,84 79,27 77,43 9,43
Nutrientes Digestíveis Totais3 61,61 69,05 69,05 69,19 -
Medias com letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05). 1OS= Sem óleo (controle); OF = Óleo de faveleira; OG = Óleo de gergelim; OM = Óleo de mamona;
2 Isenta de cinzas e proteína;
3 Sniffen et al., (1992).
Com relação à PB e FDN, seus coeficientes de digestibilidade entre o OM e as
dietas com adição de OF e OG se mantiveram próximos, o que sugere que a inclusão
dessas fontes de óleo manteve o equilíbrio dos microrganismos ruminais. Um dos
principais efeitos da inclusão de lipídios em dietas para ruminantes é a interferência na
fermentação ruminal, que provoca redução na digestibilidade dos nutrientes,
especialmente da fibra. As dietas foram elaboradas de modo que fosse mantido o
mesmo nível de FDN, alterando apenas o teor de EE.
Os animais que receberam a dieta adicionada de OM apresentaram melhor
digestibilidade da FDN quando comparados com a dieta controle não diferindo dos
demais tratamentos. Resultado esperado devido ao óleo de mamona apresentar 72,82%
de ácido ricinoléico, que apesar de ser um ácido graxo de cadeia longa, é
monoinsaturado. A presença do ácido ricinoléico no óleo de mamona, que possui em
sua cadeia carbônica hidrofóbica uma hidroxila no C10, tornando-a menos hidrofóbica,
e assim, diminuindo sua associação com as partículas de alimento, aumentando a sua
42
digestibilidade. Palmquist e Mattos (2011) afirmam que ácidos graxos associam-se com
as superfícies hidrofóbicas das partículas de alimento, o que explica a baixa toxicidade
das gorduras quando o animal é alimentado com rações mais ricas em fibra. Em todos
os tratamentos deste estudo há participação de 49% de feno na MS da dieta.
Os resultados observados neste estudo corroboram com os obtidos por Schauff
(1992), que avaliaram a inclusão de grão de soja integral e sebo bovino (2,5 e 4% da
MS) na dieta de vacas, os quais constataram que a digestibilidade do FDN não foi
afetada pelas fontes lipídicas. Da mesma forma, apoiam os resultados encontrados por
Villaça et al. (1999), que avaliaram dietas suplementadas com 5% de lipídios e não
notaram alteração na digestibilidade do FDN quando a gordura foi introduzida na forma
de óleo degomado na dieta de bezerros.
Nörnberg et al. (2004), mencionam que a variação da digestibilidade da MS e de
nutrientes depende de diferentes fatores como: nível relativamente baixo de gordura na
dieta basal (3,15% neste estudo); fontes de gordura com ácidos graxos na forma
esterificada; quantidades de ácidos graxos insaturados condizentes com a capacidade de
hidrogenação dos microrganismos no rúmen; níveis adequados de FDN. Um ou mais
desses fatores podem ter contribuído para os resultados observados no presente estudo.
Os resultados observados para digestibilidade do EE corroboram com os obtidos
por Maia et al. (2010) que não verificaram alterações na digestibilidade do EE para os
animais alimentados com dietas contendo EE suplementar de 4,39% para dietas com
óleo de mamona. No entanto, a digestibilidade do EE dos tratamentos contendo 6,97%
de EE suplementar na matéria seca, nesse estudo, não diferiu da dieta controle. Mais
uma vez sugerindo que a suplementação com essas fontes de lipídios manteve o
equilíbrio dos microrganismos ruminais.
Em relação à digestibilidade da PB, para a dieta com OF foi de 72,91%
diferindo, estatisticamente, apenas da dieta controle. Os resultados apresentados nesta
pesquisa foram semelhantes aos observados por Lana et al. (2005) que, em experimento
com cabras em lactação verificaram aumento na digestibilidade da PB para os animais
que receberam óleo de soja na dieta.
Maia et al. (2010), verificaram que as dietas controle (SO) apresentaram
menores valores para digestibilidade da PB em relação aos demais tratamentos com óleo
de licuri ou mamona para digestibilidade da PB. Segundo os mesmos autores é de se
43
esperar que qualquer tratamento que modifique o consumo consequentemente alterará a
taxa de passagem e, por conseguinte, a digestibilidade dos nutrientes.
A adição de óleo na ração não interferiu (P>0,05) em nenhuma das variáveis
analisadas referentes ao comportamento ingestivo (Tabela 6). Os animais apresentaram
consumo médio de 1,95 kg de MS/dia e 1,14 kg de FDN/dia. Ao se computar o tempo
observou-se que os animais utilizaram 4,34 h/dia para atividade de ingestão de alimento,
6,30 h/dia para ruminação e 11,31 h/dia de ócio. O fato da suplementação com
diferentes óleos na dieta não ter afetado (P>0,05) as atividades contínuas pode ser
explicado devido às rações terem sido formuladas para serem isoprotéicas e
isoenergéticas. Os resultados observados indicam que, mesmo com a adição de óleo, o
teor de fibra das dietas foi satisfatório.
Tabela 6. Médias e coeficiente de variação (CV) dos consumos de matéria seca (CMS), fibra em
detergente neutro (CFDN), tempos despendido em ruminação (RUM), ingestão (ING), ócio,
eficiência de alimentação de matéria seca (EALms) e de fibra em detergente neutro
(EALfdn), eficiência de ruminação na matéria seca (ERUms) e de fibra em detergente neutro
(ERUfdn), número de mastigação merícica/dia (MMnd) e número de bolos ruminais (NBR),
em função da suplementação lipídica na dieta de cabras leiteiras
Item Tratamento (dietas)
1
CV2 (%)
OS OF OG OM
CMS3 (kg/dia) 2,13 1,99 1,98 1,70 15,20
CFDN3 (kg/dia) 1,24 1,16 1,18 0,99 21,23
ING (h/dia) 4,51 4,70 4,20 3,95 25,25
RUM (h/dia) 6,60 5,93 6,13 6,57 15,46
ÓCIO (h/dia) 10,89 11,38 11,53 11,48 9,83
EALms (gMS/h) 660,0 582,6 489,4 509,0 39,60
EALfdn (gFDN/h) 388,32 333,82 289,92 283,46 41,99
ERUms (gMS/h) 326,91 341,35 319,55 285,93 16,90
ERUfdn (gFDN/h) 191,92 201,73 197,91 172,95 22,90
MMnd (nº/dia) 27567 23995 25757 27822 19,80
NBR (nº/dia) 490,43 442,57 449,66 478,24 12,46 1SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona;
2CV = Coeficiente de variação;
3CMS = consumo de MS em 22 horas (kg); CFDN = consumo de FDN
em 22 horas (kg).
Estes resultados são similares aos obtidos por Carvalho et al. (2007), em que o
tempo disponibilizado para o alimentação, ruminação e ócio variou de 4 a 5 horas por
dia em cabras lactantes alimentadas com farelo de cacau ou torta de dendê. Os
resultados apresentados para ócio também foram semelhantes aos obtidos por Orr et al.
(2001), que afirmaram que o ócio pode perfazer cerca de 10 horas, com variações entre
9 e 12 horas.
44
Segundo Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza
da dieta e parece ser proporcional ao teor de parede celular dos volumosos. Alimentos
concentrados e fenos finamente triturados reduzem o tempo de ruminação, enquanto
volumosos com alto teor de parede celular tendem a aumentar o tempo de ruminação.
Mesmo os animais que consumiram a dieta contendo OM tendo consumido menos
FDN, a eficiência de ruminação não foi afetada. Provavelmente devido às dietas terem
sido formuladas para ter o mesmo teor de fibra e ter sido finamente moídas.
Os valores médios observados nessa pesquisa para EAL e ERU, corroboram
com os resultados encontrados por Carvalho et al. (2006) , em função de diferentes
níveis de FDN para cabras Alpinas em lactação. Os coeficientes de variação
apresentados pelas variáveis EALms e EALfdn estão de acordo com os de Fischer et al.
(2002), que observaram que o tempo gasto ingerindo foi mais variável, durante o
nictêmero, do que o tempo para ruminação.
Em relação às concentrações de alanina aminotransferase (ALT), aspartato
aminotransferase (AST), triglicerídeos, glicose e uréia no sangue de cabras em lactação
(Tabela 7) não houve diferença entre os tratamentos.
Tabela 7. Valores médios dos parâmetros sanguíneos das cabras em função da suplementação com
óleos vegetais
Item Tratamentos (dietas)
1
CV2 (%)
OS OF OG OM 3ALT (UI/L) 22,82 22,93 24,83 21,34 10,58
3AST (UI/L) 95,81 108,61 113,67 95,81 14,38
Triglicerídeos (mmol/L) 0,29 0,32 0,37 0,29 36,00
Glicose (mmol/L) 3,23 2,99 3,17 3,36 13,31
Uréia (mmol/L) 7,40 6,88 7,20 7,99 24,27 1SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona;
2CV = Coeficiente de variação;
3ALT = alanina aminotrasferase; AST = aspartato aminotransferase.
Os resultados encontrados, no presente trabalho, para as enzimas ALT e AST
estão condizentes com os observados por Mundim et al. (2007) para cabras Saanen e
Kaneco (1989). Para Zambom et al. (2006), o teor de EE da dieta pode influenciar os
níveis de triglicerídios no sangue. O que não foi observado no presente estudo, sendo
menores que aqueles encontrados por esses mesmo autores, estudando níveis de energia
nas rações de cabras Saanen. Os valores obtidos para a concentração de glicose não
foram influenciados (P>0,05) pela suplementação lipídica. A falta de variação
significativa da glicose entre os animais submetidos ao tratamento controle e dos demais
45
tratamentos está de acordo com o relatado por Chilliard et al. (2003), que afirmaram não
haver influência da dieta lipídica sobre este parâmetro sanguíneo. Segundo González
(2000), o nível de glicose plasmático é o indicador menos expressivo do perfil para
avaliar o estado nutricional energético, decorrente da insensibilidade da glicemia a
mudanças nutricionais e a sua sensibilidade ao stress.
Segundo Contreras (2000) a energia da ração tem efeito sobre os indicadores do
metabolismo protéico uma vez que as mudanças na concentração sanguínea de uréia
estão correlacionadas com o conteúdo de amônia ruminal e a utilização da amônia
ruminal depende da atividade metabólica dos microrganismos ruminais. Por isto, se a
ração estiver deficiente, a concentração da uréia aumenta no sangue. Os valores médios
de uréia e glicose sérica desse experimento não foram influenciados pela adição de óleo
na dieta apresentando-se de acordo com os obtidos por Maia et al. (2010).
A inclusão de óleo na dieta não influenciou a glicose plasmática nos quatro
tempos de coleta (0, 2, 4 e 6 horas após a alimentação matinal) (Figura 1). Segundo
Gagliostro e Chilliard (1992) em relação à concentração de glicose sanguínea, há
diversos mecanismos de economia desses metabólitos pelo organismo dos ruminantes
que podem explicar a manutenção da glicemia.
Figura 1. Concentração glicose plasmática de cabras em lactação suplementadas com dietas
contendo óleo vegetal.
Houve influencia da adição de óleo nas dietas sobre as concentrações de N-uréia
plasmático (Tabela 8). Entre os animais tratados com diferentes fontes de óleo vegetal,
aqueles que receberam OM ou OG na ração tiveram as maiores concentrações de N-
uréia no plasma (P<0,05), consideradas intermediárias para dieta controle e mais baixas
46
para OF. Em relação ao tempo de coleta, foram observados maiores concentração de N-
uréia plasmático no tempo 0, consideradas intermediárias para os tempos 4 e 6 e mais
baixas para o tempo 2. Os animais que receberam a dieta adicionada de OM
apresentaram as maiores concentrações de N-uréia no tempo 0 e os que receberam a
dieta adicionada de OF apresentaram as menores concentrações no tempo 6. A interação
tratamento x tempo de coleta não foi significativa (P = 0,76).
Tabela 8. Concentração em mmol/L, de N-uréia plasmático, conforme o horário de coleta, após o
fornecimento matinal da alimentação
Tempo (h)2
Tratamento (dietas)1
Subparcela SO OF OG OM
0 3,41 3,16 3,31 3,68 3,39 a
2 2,86 2,73 3,25 2,90 2,93 b
4 3,14 2,93 3,31 3,30 3,17 ab
6 2,75 2,58 3,25 3,45 3,01 ab
Parcela 3,04 AB 2,85 B 3,28 A 3,33 A 1SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona;
2 Horário de coleta de sangue, após o fornecimento matinal da alimentação; tempo zero, referente à coleta
de sangue antes da alimentação; Letras maiúsculas iguais na coluna não diferem estatisticamente (P >
0,05); Letras minúsculas iguais na linha não diferem estatisticamente (P > 0,05); Letras minúsculas iguais
na linha não diferem estatisticamente (P > 0,05).
Segundo Imaizumi et al. (2006), o N-uréia no plasma e no leite refletem o
conteúdo de PB da dieta, bem como a qualidade dessa proteína, pois o excesso de
amônia no rúmen vai para o fígado, através do sistema porta-hepático, para ser
convertido em uréia. Segundo Kozloski (2009), os fatores dietéticos que resultam em
aumento da absorção da amônia e/ou aminoácidos, ou que resultem em baixo consumo
de energia metabolizável, assim como todos os fatores relacionados ao animal que
determinam alta demanda por energia e/ou baixa demanda por aminoácidos para síntese
protéica, têm, como consequência o aumento da produção de uréia pelo fígado.
Resultados apresentados no Capítulo III desta tese mostram que a adição de OM
diminuiu o consumo EM.
As excreções estimadas de alantoína, derivados de purina, quantidades de
purinas absorvidas, fluxo de nitrogênio microbiano e eficiência microbiana não foram
influenciadas (P>0,05) pela suplementação com óleo vegetal na dieta de cabras em
lactação (Tabela 8). Os valores de derivados de purinas total observados neste estudo
estão condizentes com os relatados por Fonseca et al. (2006), em pesquisa na qual
avaliaram dietas contendo diferentes níveis de proteína bruta para cabras leiteiras.
47
Tabela 9. Médias e coeficiente de variação (CV) para as excreções estimada de alantoína (ALA),
derivados de purina (DP), quantidades de purinas absorvidas (PA), expressa em mmol/d, fluxo
de nitrogênio microbiano (NM) e para a eficiência microbiana (EFM) em função da
suplementação lipídica na dieta de cabras leiteiras
Item Tratamentos (dietas)
1
CV2 (%)
OS OF OG OM
Volume urinário (L/dia) 3,85 2,64 2,83 2,86 28,07
Exc. urinária de N uréia (g/dia) 19,62 17,55 20,08 19,62 23,42
ALA urina (mmol/dia) 29,55 22,87 22,80 20,36 31,69
ALA leite (mmol/dia) 3,08 2,44 2,40 2,73 31,49
DP total (mmol/dia) 33,30 25,85 25,92 23,65 24,62
PA 43,83 34,00 34,10 31,12 27,79
NM 24,18 18,76 18,82 17,17 27,79
EFM 106,98 78,38 79,80 79,02 30,22
Medias com letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05). 1SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona;
2CV = Coeficiente de variação.
Embora não tenha sido observada diferença significativa (P>0,05) para variável
NM e EFM, talvez em virtude da elevada variabilidade entre os dados, os resultados
observados para a dieta com óleo de mamona proporcionou menor NM e menor EFM.
Os resultados de eficiência microbiana (em g PB/kg NDT) observados neste
experimento situaram-se entre 79,02 a 114,59 g PB/kg NDT acima daqueles observados
por Carvalho et al. (2010) e Fonseca et al. (2006) para caprinos obtidos a partir da coleta
spot de urina e, também, os valores de purinas microbianas absorvidas utilizados para
obter as eficiências foram estimados pela equação proposta por Belenguer et al. (2002),
semelhante ao deste estudo.
Andrade-Montemayor et al. (2004) relataram que a estimativa do fluxo de N-
microbiano depende principalmente da digestibilidade de purinas absorvidas no
duodeno e que a razão entre o conteúdo de N-microbiano do rúmen e purinas absorvidas
não é absoluta e pode variar de acordo com a dieta experimental.
CONCLUSÕES
A adição de 4% dos óleos estudados, na dieta de cabras em lactação, melhora a
digestibilidade da matéria seca, não altera o comportamento ingestivo e a produção de
proteína microbiana.
48
As suplementações lipídicas estudadas não alteram as concentrações sanguíneas
de ALT, AST, triglicerídios e glicose.
O óleo de mamona adicionado na base de 4% da dieta aumenta a concentração
de N-uréia no estado de jejum.
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56
CAPÍTULO III
__________________________________________________________________
Produção e composição do leite de cabras mestiças suplementadas com óleo vegetal
57
Produção e composição do leite de cabras mestiças suplementadas com
óleo vegetais
RESUMO
Foi avaliado, em cabras mestiças em lactação, o efeito da utilização de diferentes fontes
de óleos vegetais sobre a produção e composição química do leite. Foram utilizadas oito
cabras multíparas e primíparas com aproximadamente 50 dias de lactação, com peso,
em média, 50 ± 5,19 kg. Os tratamentos consistiram de uma dieta controle sem óleo
(OS), 4% de óleo de faveleira (OF), 4% de óleo de gergelim (OG), 4% de óleo de
mamona (OM), sendo a suplementação com base na matéria seca (MS). Os dados foram
analisados em delineamento quadrado latino (4x4), com quatro tratamentos e quatro
períodos, sendo cada tratamento constituído por duas parcelas. Cada período teve
duração de 19 dias (14 de adaptação dos animais às dietas e 5 para coleta de dados). O
consumo de extrato etéreo (EE) foi melhorado com a suplementação lipídica, todavia, o
consumo de carboidratos não fibrosos (CNF) foi afetado (P<0,05) pelo tipo de óleo
incluído na dieta, tendo o óleo de mamona apresentado menor consumo de CNF. Não
houve influência dos tratamentos sobre o consumo de energia (NDT e EM) pelos
animais. Os animais que consumiram a dieta adicionada de OM reduziram a produção
de leite e a produção dos constituintes do leite, exceto para gordura do leite. A
suplementação lipídica influenciou a composição percentual de proteína bruta (PB) e
acidez do leite. Os animais alimentados com a dieta adicionada de OF tiveram maior
CEL quando comparadas com os demais tratamentos. A adição dos tipos de óleo na
dieta deprimiram a eficiência de uso da energia metabolizável consumida para produção
de leite (kl) em relação à dieta controle, entretanto, a eficiência bruta e o balanço de
energia líquida não foram afetados pela suplementação. A excreção de nitrogênio no
leite (g/dia) foi maior nos animais que recebiam a dieta controle, tendo as dietas
contendo OF ou OG se comportado igual à dieta controle enquanto que a dieta contendo
OM deprimiu o teor de nitrogênio no leite (P<0,05). A suplementação com os óleos
estudados influi na resposta de consumo de extrato etéreo e carboidratos não fibrosos da
dieta. Entre os tipos de óleos estudados, a adição de 4% de óleo de faveleira ou óleo de
gergelim não causa prejuízos ao desempenho e características do leite produzido. A
58
adição do óleo de mamona na dieta de cabras no período da lactação deprime a
produção de leite e o teor de proteína do leite. A adição dos óleos estudados não afeta a
eficiência alimentar, a eficiência de utilização do nitrogênio e o consumo de energia
tendo, o óleo de faveleira, melhorado o consumo de energia líquida. A eficiência de
utilização da energia metabolizável é reduzida com a adição de óleo na dieta de cabras
em lactação.
Palavras-chave: caprinos leiteiros, constituintes do leite, óleos vegetais
59
Milk yield and chemical composition of crossbred dairy goats supplemented with
vegetable oil
ABSTRACT - the experiment was carried out to evaluate the influence of three
different sources of vegetable oil in dairy goat’s diets on milk yield and chemical
composition. It were used eight dairy goats (50 ± 5.19 kg BW) about 50 days of
lactation, allocated in two 4x4 Latin Squares Design, with four treatments, four
experimental periods and four animals. Each period had 19 days of duration (14 for
adaptation to diets and 5 for data collection). It was used 4% of Faveleira oil (FO), 4%
of Sesame oil (SO) and 4% of Castor oil (CO) and the results compared with a diet
control, oil free ration.The inclusion of oil in the diet promoted higher intake of EE (P
<0.05) however the non-fiber carbohydrates (NFC) intake was influenced by the oil
type, being the CO that showed the lowest NFC intake. Energy intake (TND and ME)
was not influenced by the addition of oil in the diet. The CO addition reduced the milk
yield and its constituents, except to fat production, and decreased the percentage of
protein and acidity milk. The supplementation with vegetable oil influenced the crude
protein (CP) content and acidity milk. Animals fed with diet added of FO had higher
CEL content when compared with other treatments. Addition of oil decreased the
efficiency of utilization of metabolizable energy to milk yield (kl) in relation to control
diet, however, the gross energy efficiency and net energy balance were not affected by
supplementation. Milk nitrogen excretion (g/day) was higher in animals that received
the control diet, and the results presented by the animals fed diets containing FO and SO
were similar to those the control diet, while the results obtained for animals fed with
diets containing CO shown decrease in milk nitrogen content (P<0.05). The
supplementation with the oils studied influences the EE and NFC. Among the oil types
studied, addition of 4% FO or SO does not damage the performance and characteristics
of the milk produced. The addition of CO during lactation depresses the milk yield and
its protein content. The addition of the oils does not influence feed efficiency, the
efficiency of nitrogen utilization or in the energy intake taking the FO improved net
energy intake. The efficiency of metabolizable energy utilization is reduced with the
addition of oil in the diet of lactating dairy goats.
Keywords - constituents, dairy goats, milk, vegetable oil
60
INTRODUÇÃO
Na busca de melhor qualidade de vida, o consumidor tem buscado cada vez mais
alimentos saudáveis. Sendo assim, informações sobre a composição e características
físico-químicas do leite caprino são essenciais para o sucesso da indústria láctea (PARK
et al., 2007). Em busca de melhor produtividade, estão sendo utilizados animais com
maior potencial genético para produção. Entretanto, estes animais exigem maior aporte
de nutrientes pela maior exigência nutricional, o que pode, em alguns casos, inviabilizar
economicamente a produção (SANTOS et al., 2011).
A suplementação com lipídios tem sido uma alternativa para aumentar o aporte
energético das dietas uma vez que fornece 2,25 vezes mais energia do que os
carboidratos. Sendo assim, o uso de óleos vegetais de plantas nativas na alimentação de
animais poderá vir como agente fortalecedor da caprinocultura familiar, contribuindo
tanto na suplementação alimentar dos animais durante os períodos de escassez de
alimentos, quanto no reflorestamento da região semiárida nordestina e, assim,
colaborando com a preservação e valorização da vegetação nativa, bem como a
vegetação exótica adaptada.
Para López et al. (2004), os lipídios têm sido utilizados como forma de aumentar
a densidade energética da dieta, sem, no entanto, alterar a relação
volumoso:concentrado. Sendo assim, as gorduras previnem desordens metabólicas e
melhoram o desempenho animal na lactação e na reprodução, e restauram ainda, a
condição corporal.
O leite caprino apresenta composição química constituída de proteínas de alto
valor biológico e ácidos graxos essenciais, além de seu conteúdo mineral e vitamínico,
representando grande importância na alimentação infantil pelas suas características de
hipoalergenicidade e digestibilidade (HAENLEIN, 2004). O consumo deste produto
vem aumentando devido à procura de seus derivados (queijo e iogurte) e aos problemas
de alergia e intolerância ao leite de vaca. Em alguns países, o leite de cabra é utilizado
quase que totalmente para elaboração de queijos.
61
O manejo alimentar tem sido considerado um fator preponderante na
manipulação dos componentes do leite, principalmente, sobre o conteúdo de gordura e
proteína, uma vez que esses são os ingredientes que determinam a qualidade do leite
produzido. Segundo Sanz Sampelayo et al. (2007), a variação na composição do leite é
significativa, apresentando interações importantes entre alimentos volumosos,
concentrado e óleos, em que quase todos, há presença de ácidos graxos de cadeia curta e
de cadeia longa e que a suplementação com silagem de milho ou dietas ricas em
concentrado contendo óleos vegetais aumentam acentuadamente os ácidos graxos trans
e outros ácidos graxos, além de ácidos rumênico e vacênico.
Óleos vegetais representam uma estratégia eficaz para alterar a composição de
ácidos graxos do leite caprino, com provas de que a dieta basal é um determinante
importante do metabolismo dos ácidos graxos insaturados no rúmen (BERNARD et al.,
2008). Para Palmquist e Jenkins (1980), a inclusão dos lipídeos em dietas para
ruminantes limita-se em até 5% da MS total, uma vez que os microrganismos ruminais
não possuem mecanismos fisiológicos para digestão desses nutrientes tão suficientes
como fazem para os carboidratos e as proteínas. Bomfim et al. (2009) afirmam que para
pequenos ruminantes devem ser respeitados níveis de óleo suplementar de 4% na base
da matéria seca, sendo óleos como o do algodão ou da amêndoa do dendê e,
possivelmente de coco devendo ser utilizados em níveis mais modestos de, no máximo
3% de inclusão na dieta dos animais.
O aumento na densidade energética das dietas obtidas com inclusão de lipídios,
pode apresentar vantagens tais como, redução dos efeitos negativos de altas quantidades
de concentrados, ricos em amido, sobre o ambiente ruminal. Porém, o uso de
suplementos de gorduras, pode diminuir a ingestão de alimentos e reduzir a
digestibilidade dos outros ingredientes da dieta, devido às modificações na digestão
ruminal e hidrogenação de ácidos graxos no rúmen (Doreu e Chilliard, 1997).
Dessa maneira, objetivou-se avaliar o efeito da utilização de diferentes óleos
vegetais (faveleira ou gergelim ou mamona) sobre a produção e a composição química
do leite de cabras mestiças Saanen x Alpina Americana.
62
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisas de Pequenos Ruminantes,
pertencente à Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, no
município de Areia, Paraíba, no período de 13 de setembro a 27 de novembro de 2010.
O município de Areia está localizado na microrregião do Brejo Paraibano, com
(latitude 6°58’12”s, longitude 35°45’15”w e uma latitude de 575 m). De acordo com a
classificação climática de Gaussem, o bioclima predominante na área é o 3dth
nordestino sub-seco, com precipitação pluviométrica média anual de 1400 mm. Pela
classificação de Kopper, o clima é o tipo As’ (BRASIL, 1972), o qual se caracteriza
como quente e úmido, com chuvas de outono-inverno. A temperatura média oscila entre
21 e 26 °C, com variações mensais mínimas.
Foram utilizadas oito cabras, mestiças de Saanen x Alpina Americana,
multíparas e primíparas, com peso vivo médio de 50 ± 5,19 kg, com 50 dias de lactação.
Os animais foram tratados contra endo e ectoparasitas; em seguida, permaneceram
alojados em baias individuais, com piso de cimento, providas de comedouro e
bebedouro, para fornecimento da dieta total e água ad libitum.
O experimento teve duração de 76 dias, sendo composto de quatro períodos de
dezenove dias, dos quais os primeiros 14 dias de cada período foram utilizados para
adaptação dos animais às dietas experimentais e os 5 dias seguintes destinados a coleta
de dados para determinação do consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes pela
técnica in vitro, com coleta parcial de fezes e urina, coleta do sangue e para avaliação do
comportamento ingestivo e da quantificação da produção de leite e coleta de amostras
de leite.
Os tratamentos avaliados foram:
Tratamento 1 (SO) = 0% de óleo vegetal
Tratamento 2 (OF) = adição de 4% de óleo de Faveleira na matéria seca da dieta
Tratamento 3 (OG) = adição de 4% de óleo de Gergelim na matéria seca da dieta
Tratamento 4 (OM) = adição de 4% de óleo de Mamona na matéria seca da dieta
A proporção dos ingredientes nas dietas e a composição dos alimentos e das
dietas experimentais encontram-se nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. As dietas foram
formuladas de acordo com o NRC (2007) de modo que a proteína bruta de 0,14 e o teor
63
de EE do suplemento (4% na base da matéria seca) fossem mantidos constantes para
atender as exigências de cabras em lactação com produção de 2 kg/cabra/dia e 4% de
gordura de leite.
Os animais eram alimentados, na forma de mistura completa, duas vezes ao dia
logo após as ordenhas (7h30 e 16h30). Para permitir consumo voluntário trabalhou-se
com sobra de 10% do oferecida, sendo ajustada diariamente.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes das rações experimentação com base na matéria
seca.
Item Ingredientes (% MS)
Feno de tifton Milho moído Farelo de soja
Matéria Seca1 85,78 87,67 87,74
Matéria Orgânica 91,49 98,67 98,67
Matéria Mineral 8,51 1,33 1,33
Proteína Bruta 8,16 9,77 56,98
Extrato Etéreo 2,53 4,37 2,51
Fibra em Detergente Neutro2 65,35 15,65 17,33
Fibra em Detergente Ácido2 33,40 4,14 6,43
Lignina 4,79 1,81 0,76
Carboidratos Totais 80,80 84,52 33,29
Carboidratos Não Fibrosos 15,45 68,88 15,96
Proteína Insolúvel em Detergente Neutro 3,08 1,11 9,14
Proteína Insolúvel em Detergente Ácido 0,66 1,14 1,38 1 % com base na matéria natural;
2 Isenta de cinzas e proteínas
As concentrações em fibra das dietas foram mantidas constantes por meio da
oferta de feno de capim tifton (Cynodon spp.) como forrageira exclusiva e
corresponderam a 34,35% (dieta controle) e 34,19% (dietas com óleo) de FDN oriunda
da forragem. O feno de tifton foi moído em máquina tipo “DMP” (desintegrador,
moedor e picador), utilizando peneira de 10 mm, para em seguida ser misturado aos
outros ingredientes da ração experimental. A relação volumoso:concentrado nas dietas
foi de, aproximadamente, 49:51, em matéria seca, conforme dados apresentados na
Tabela 2.
64
Tabela 2. Composição percentual e química das rações experimentais.
Item
Tratamentos (dietas)1
SO OF OG OM
Proporções dos Ingredientes (% MS)
Feno Tifton 49,30 49,06 49,06 49,06
Milho moído 37,29 32,99 32,99 32,99
Farelo soja 10,79 11,34 11,34 11,34
Óleo de faveleira 0,00 4,00 0,00 0,00
Óleo de gergelim 0,00 0,00 4,00 0,00
Óleo de mamona 0,00 0,00 0,00 4,00
Núcleo mineral2 1,37 1,47 1,47 1,47
Calcáreo Calcítico 1,25 1,13 1,13 1,13
Composição química
Matéria Seca3 86,99 87,42 87,42 87,42
Matéria Orgânica 91,91 91,96 91,96 91,96
Matéria Mineral 8,09 8,04 8,04 8,04
Proteína Bruta 13,82 13,69 13,69 13,69
Extrato Etéreo 3,15 6,97 6,97 6,97
Fibra em Detergente Neutro4 39,92 39,19 39,19 39,19
Fibra em Detergente Ácido4 18,70 18,48 18,48 18,48
Lignina 3,12 3,03 3,03 3,03
Carboidratos Totais 74,95 71,31 71,31 71,31
Carboidratos Não Fibrosos 35,02 32,12 32,12 32,12
Proteína Insolúvel em Detergente Neutro 2,92 2,91 2,91 2,91
Proteína Insolúvel em Detergente Ácido 0,90 0,86 0,86 0,86
Nutrientes Digestíveis Totais 61,61 69,68 69,05 69,19
Energia Metabolizável (Mcal/kg) 2,36 2,64 2,67 2,60 1 SO = Sem óleo (controle); OF = óleo de faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona
2 Suplemento mineral (nutrientes/kg de suplemento): Ca = 210 g; P = 70 g; Mg = 5 g; F = 700,00 mg;
Zn = 3,010 mg; Cu = 440 mg; Mn = 1,485 mg; Co = 25 mg; Fe = 340 mg; Cr = 6,00 mg; Se = 20 mg;
I = 48 mg; S = 10 g; Vit. A = 250.000,00 UI/kg; Vit. D3 = 40.000,00 UI/kg; Vit E = 350,00 UI/kg 3 % com base na matéria natural;
4 Isenta de cinzas e proteína;
5 Sniffen et al., (1992);
6 EM (Mcal/kg)
= ED (Mcal/kg) * 0,86.
Os ingredientes, as dietas e as sobras foram analisados de acordo com Silva e
Queiroz (2002). Para determinação da lignina, foi usada a metodologia descrita por Van
Soest (1967), com a utilização de ácido sulfúrico (H2SO4) a 72%. Para determinação das
frações da parede celular, fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido
(FDA), utilizou-se metodologia recomendada pelo fabricante do aparelho ANKON, da
Ankon Technology Corporation, com modificação em relação aos sacos, onde foram
utilizados sacos de tecido-não-tecido (TNT – 100 g/m2), confeccionados de acordo com
65
a metodologia de Van Soest et al. (1991), com modificações em relação aos sacos, em
que se utilizou sacos de TNT (tecido-não-tecido) gramatura 100 mm confeccionados no
Laboratório de Nutrição Animal e Avaliação de Alimentos – CCA/UFPB. Em todas as
amostras, a FDN e a FDA foram corrigidas para cinza e proteína, os resíduos da
digestão em detergente neutro e detergente ácido foram incinerados em mufla a 600 oC
por 4 horas, e a correção para proteína foi efetuada considerando a proteína insolúvel
em detergente neutro (PIDN) e a proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA).
Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT) utilizou-se equação proposta
por Sniffen et al. (1992): CHOT = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas). Os carboidratos
não fibrosos (CNF) foram estimados utilizando as equações preconizada por Hall et al.
(1999): CNF = %CHOT - %FDN, sendo a FDN corrigida para cinzas (c) e proteína (p)
(FDNcp). Na determinação da PIDN e PIDA foi empregada metodologia descrita por
Licitra et al. (1996).
O consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT) e percentagem de NDT foi
estimado segundo Sniffen et al. (1992): CNDT = (PB ingerida - PB fecal) + 2,25*(EE
ingerido - EE fecal) + (FDN ingerido - FDN fecal) + (CNF ingerido – CNF fecal),
obtido em ensaio de digestibilidade; %NDT = (Consumo de NDT / Consumo de
MS)*100.
A conversão dos valores de NDT das dietas para energia digestível (ED) e
energia metabolizável (EM) foi realizada através das equações descritas pelo NRC
(2001): ED (Mcal/kg) = 0,04409*NDT (%); EM (Mcal/kg) = ED (Mcal/kg) * 0,86,
que corresponde a eficiência de utilização da ED, conforme Resende (1989). Para a
conversão do NDT em energia líquida, adotou-se a equação de Moe et al. (1972), que
corresponde à energia líquida no nível de mantença, EL (Mcal/kg) = 0,0245*NDT(%)
– 0,12. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal
e Avaliação de Alimentos – CCA/UFPB.
Os dados de consumo foram obtidos por meio dos registros do alimento
oferecido, de sobras e da coleta de amostras da dieta e de sobras, realizada durante os
cinco dias últimos de cada período experimental. As sobras dos alimentos foram
pesadas pela manhã em sua totalidade, sendo 10% amostrados.
Ao serem coletadas, as amostras de sobras foram acondicionadas em sacos
plásticos com as devidas identificações dos animais, tratamentos e período de coleta e,
66
em seguida, congeladas a -15 °C. Ao final de cada período, foi retirada uma amostra
composta para cada animal de aproximadamente, 250 g. As amostras foram pré-secas
em estufa com ventilação forçada (55 a 65 °C) por 72 horas e moídas em moinho de
facas tipo Wiley com peneiras de malha de um milímetro.
A variação de peso dos animais foi avaliada por meio de pesagens efetuadas no
início e final de cada período experimental. O controle leiteiro foi realizado diariamente
através da pesagem individual, durante os cinco dias experimentais, após ordenha
manual das cabras duas vezes ao dia (07h00 e 16h00). Antes de se iniciar a ordenha, as
tetas das cabras eram higienizadas e em seguida realizado o teste da caneca de fundo
preto para diagnóstico de mastite clínica. No 1º, 3º e 5º dia do período experimental foi
realizada a colheita do leite para análises físico-químicas. A amostra colhida pela manhã
era acondicionada em ambiente refrigerado, sendo em seguida, misturada com a
amostra da ordenha da tarde, formando uma amostra composta/cabra/dia, respeitando-se
a proporção de leite produzido por turno manhã:tarde (60% e 40%), sendo colhido um
total de 200 mL (120 mL e 80 mL, manhã e trade, respectivamente). Logo após, o leite
era armazenado em recipientes de polietileno, previamente, higienizados com água
destilada e esterilizados em estufa a 105 ºC por 20 minutos, a fim de não haver
contaminação, para, assim, ser congelado a - 20 ºC.
Após cada período de coleta, o leite foi analisado no Laboratório de
Bromatologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. Os
procedimentos de ordenha e manipulação do leite seguiram recomendações do
Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do leite de cabra (Brasil,
2000).
Nas análises físico-químicas do leite foram determinados os teores de proteína,
pelo método Micro-Kjedahl (métodos AOAC, 991.20) (AOAC, 1998); extrato seco
total, por secagem até obtenção de peso constante (método AOAC, 925.23) (AOAC,
1998); lipídios, utilizando-se o lactobutirômetro de Gerber (Instituto Adolfo Lutz,
2005); e lactose (em g/100 g), pela redução de Fehling (Instituto Adolfo Lutz, 2005).
Determinaram-se ainda o índice de densidade por leitura em termolactodensímetro a 15
ºC (Instituto Adolfo Lutz, 2005) e a acidez, expressa em °D (método AOAC 947.05)
(AOAC, 1998).
67
A correção da produção de leite para 4% de gordura foi realizada segundo o
NRC (2001), utilizando-se a seguinte formula: LCG 4% (kg/dia) = 0,4x leite (kg/dia) +
15 x gordura (kg/dia). A correção do leite para sólidos totais foi realizada conforme
Tyrrel e Reid (1965), utilizando-se a equação: LCST = (12,3 x g de gordura) + (6,56 x
g de sólidos não gordurosos) – (0,0752 x kg de leite).
No cálculo do balanço de nitrogênio, consideraram-se as quantidades de
nitrogênio (g/dia) consumidas e excretadas no leite, fezes e urina: BN (g/dia) =
Nconsumido – Nfezes – Nurina - Nleite. A partir desses valores, procedeu-se ao cálculo
para quantificação do nitrogênio retido (NRet), descontando-se do BN o valor estimado
(AFRC, 1993) da exigência para nitrogênio basal (NEB), que considera o N endógeno
tecidual e as perdas dérmicas de N como 0,35 e 0,018 do peso metabólico,
respectivamente: NEB (g/dia) = (0,35 + 0,018) * PV0,75
. Assim, o valor de NRet foi
expresso como: NRet (g/dia) = (Nconsumido – Nfezes – Nurina – Nleite) – NEB.
Enquanto a eficiência de utilização do nitrogênio foi obtida pela divisão entre o
nitrogênio contido no leite e o nitrogênio consumido: EN = Nleite / Nconsumido.
No 16o dia do período de colheita, foram coletadas amostras spot de urina,
aproximadamente 4 horas após a alimentação, durante micção espontânea. Alíquotas de
30 mL da urina pura foram coletadas e armazenadas a -20°C para análise de análise do
N total pelo método N Kjeldahl (AOAC, 1998) e 10 mL das amostras foram diluídas em
40 mL de H2SO4 a 0,036N, estas amostras foram preparadas com pH inferior a 3 para
evitar a destruição bacteriana dos derivados de purinas urinária e a precipitação do ácido
úrico, sendo submetida à análise de creatinina, utilizando-se kit comercial (Labtest) para
estimativa do volume urinário. O volume urinário foi obtido, para cada animal,
multiplicando-se o respectivo PV pela excreção diária média de creatinina de 26,05
mg/L (FONSECA et al., 2006) e dividindo-se esse produto pela concentração de
creatinina (mg/L) na amostra spot de urina.
O consumo de energia foi calculado através da concentração energética contida
na ração e consumido pelos animais. As exigências em energia metabolizável de
mantença (EMm (kcal/dia) = 120*PV0,75
) e a energia líquida de mantença (ELm
(Mcal/dia) = 0,0777*PV0,75
) foram estimadas segundo o NRC (2007) e Cannas et al.
(2007), respectivamente. A exigência de energia líquida de produção (ELp) foi calculada
68
segundo equação proposta por Tyrrell e Reid (1965): ELp = PL* [(0,0929 * %gordura)
+ (0,0547 * %proteína) + (0,0395 * %lactose)].
A estimativa da eficiência líquida de utilização da energia metabolizável para a
produção de leite (kl) foi calculada pela razão entre o valor de energia do leite produzido
e o consumo de energia metabolizável total subtraído do consumo de energia para a
mantença: k l = ELp / CEM - CEMm.
A estimativa da eficiência bruta de utilização da energia metabolizável para a
produção de leite (km+p) foi feita calculando-se a razão entre a exigência líquida para a
produção de leite e o consumo de energia metabolizável total (CEM), segundo Luo et al.
(2004): km+p = (CELm + ELp) / CEM.
O balanço energético correspondeu a consumo de energia líquida (CEL) menos
a exigência de energia líquida para mantença e produção. A variação de peso dos
animais foi acompanhada por meio de pesagens efetuadas no inicio e final de cada
período experimental.
Os animais foram pesados pela manhã, imediatamente antes do fornecimento do
alimento, no início e ao final de cada período de colheita. A eficiência alimentar foi
obtida dividindo-se a PLCG 4% pela ingestão de matéria seca verificada durante o
período de colheita.
O delineamento experimental utilizado consistiu de quadrado latino (4x4),
quatro períodos e quatro dietas, sendo cada tratamento constituído por duas parcelas. Os
dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o programa PROC GLM do
Statistical Analysis System (SAS, 1996), as médias dos tratamentos foram comparadas
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Utilizando-se o seguinte modelo
matemático:
Yijkl = μ Qi + Ti + Pk +A(i)l + QTij + εijk
Onde: Yijk = Observação na cabra j, no período k, submetida ao tratamento i,
com i, j, k = 1, 2, 3, 4; μ = efeito geral da média; Qi é o efeito do quadrado latino, com
Q = 1,2; Ti = efeito do tratamento i, sendo i = 1, 2, 3, 4; Pk é o efeito do período k; A é
o efeito da cabra l no quadrado i com l = 1, 2, 3, 4; QT é a interação do efeito com o
quadrado latino i x tratamento j e ξijk = erro aleatório associado a cada observação
Yijkl.
69
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A inclusão de óleo proporcionou maior consumo de EE pelos animais que
consumiram as dietas adicionadas de óleo, o que já era esperado, pelo alto teor de
lipídios nestas dietas (6,97%) em relação ao tratamento controle (3,15%) (Tabela 3). Os
consumos de CNF foram maiores (P<0,05) para o grupo de animais que receberam a
dieta controle diferindo apenas daqueles que receberam a dieta contendo óleo de
mamona, independente da forma em que foi expresso. Provavelmente estes resultados
estejam associados ao menor CMS entre os animais que receberam a dieta controle e os
que receberam a dieta adicionada de óleo de mamona.
Tabela 3. Médias e coeficiente de variação (CV) para peso corporal inicial (PCI), peso corporal final
(PCF), consumo de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em
detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), carboidratos não fibrosos (CNF) e consumo de
energia por cabras alimentadas com dietas contendo diferentes formas de suplementação
lipídica
Consumo Tratamento (dietas)
1
CV (%) SO OF OG OM
PCI 52,88 54,33 54,53 52,52 3,75
PCF 53,40 54,26 54,65 52,75 3,87
Consumo (kg/animal/dia)
MS 2,24 2,21 2,10 1,98 11,17
MO 2,07 2,03 1,93 1,83 11,13
PB 0,32 0,31 0,30 0,28 10,38
FDN 0,82 0,79 0,71 0,72 14,89
EE 0,08b 0,16ª 0,15ª 0,14ª 13,23
CNF 0,84ª 0,77ab
0,76ab
0,69b 11,70
Consumo (% peso vivo)
MS 4,20 4,08 3,88 3,80 9,64
MO 3,88 3,75 3,58 3,50 9,66
PB 0,60 0,58 0,56 0,54 8,91
FDN 1,54 1,47 1,32 1,37 13,29
EE 0,14b 0,29ª 0,28ª 0,27ª 12,54
CNF 1,59ª 1,41ab
1,42ab
1,32b 10,57
Consumo (g/kg peso metabólico)
MS 113,04 110,59 105,06 101,90 9,38
MO 104,26 101,72 96,65 93,81 9,40
PB 16,09 15,70 14,96 14,37 8,44
FDN 41,48 39,80 35,71 36,80 13,20
EE 3,87b 7,85ª 7,68ª 7,36ª 11,33
CNF 42,82ª 38,38ab
38,30ab
35,27b 10,36
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (5%). 1SO= Sem óleo (controle); OF = Óleo de faveleira; OG = Óleo de gergelim; OM = Óleo de mamona.
70
A suplementação lipídica reduziu o consumo de CNF pelos animais, o que já era
esperado, pois este componente dietético foi substituído pelo EE suplementar. O
consumo de CNF foi maior para o grupo de animais que receberam a dieta controle do
que para os que receberam adicional de OM em suas dietas, tendo o demais grupo não
diferido da dieta controle.
A adição de óleo na dieta não influenciou a produção de leite (kg/dia) quando
comparadas com a dieta controle, com exceção da dieta adicionada de óleo de mamona
a qual apresentou à menor PL (kg/dia). O mesmo comportamento foi observado para
PLCG 4% e PLCST (Tabela 4). Corroborando com os resultados observados para CMS,
refletindo eficiência semelhante de conversão de alimento em leite. A produção dos
constituintes do leite reflete a diferença na PL. Os resultados observados neste estudo
corroboram com aqueles observado por Queiroga et al. (2010), que adicionando 3,0 e
5,0% de óleo de mamona na dieta de cabras leiteiras encontrou a menor produção de
leite para esse tratamento.
Tabela 4. Produção e composição de leite de cabras leiteiras recebendo diferentes fontes de óleo vegetal
na dieta
Item Tratamentos (dietas)
1
CV (%) SO OF OG OM
Produção
PL (kg/dia) 2,75a 2,65
a 2,71
a 2,23
b 8,80
PLCG 4 % (kg/dia)3 2,37
a 2,36
ab 2,34
ab 1,99
b 11,48
PLCST (kg)4 2,62
a 2,53
a 2,55
a 1,98
b 12,05
Produção de constituintes do leite (g/dia)
Sólidos totais 325,60ª 309,90ª 316,29ª 238,81b 12,73
SNG 240,70ª 223,04ª 232,75ª 165,17b 15,33
Proteína 101,79a 96,95
a 101,87
a 76,99
b 10,30
Gordura 84,90 86,86 83,54 73,65 14,54
Lactose 112,57ab
111,21ab
115,86a 93,88
b 10,39
Composição do leite (%)
Sólidos totais 11,84 11,68 11,68 10,76 8,64
SNG 8,64 8,42 8,65 7,50 12,94
Proteína 3,70ab
3,67ab
3,75ª 3,45b 6,00
Gordura 3,14 3,27 3,03 3,26 9,49
Lactose 4,09 4,18 4,27 4,21 3,93
Cinzas 0,76 0,76 0,80 0,77 7,23
Acidez (g/100g) 0,13ab
0,14ª 0,13ab
0,12b 8,59
Eficiência
EA – PL/CMS (kg/kg) 1,10 1,09 1,12 1,01 15,38
Média com letras na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05); 1 SO = sem óleo; OF = óleo de
faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona; PL = produção de leite; PLCG = produção de
leite corrigida para gordura; PLCST = produção de leite corrigida para sólidos totais; SNG = sólidos não
gordurosos; EA = eficiência alimentar.
71
Chilliard et al. (2003) relataram aumento no conteúdo de gordura do leite de
cabras alimentadas com diferentes tipos de óleos insaturados. Para Araújo et al. (2009),
o efeito da dieta sobre o conteúdo de gordura no leite é dependente basicamente da
quantidade e qualidade da fração fibrosa da dieta. No presente não houve influência da
adição de óleo sobre o teor de gordura do leite independente da forma como foi
expresso, provavelmente, de vido as dietas terem sido formuladas para apresentar o
mesmo teor de fibra.
A concentração e a produção diária de gordura, no presente estudo, não foram
influenciadas pelos tratamentos apresentando valores médios de 3,17% e 82,24 (g/d),
respectivamente. Esses valores são semelhantes aos relatados por Soryal et al. (2004),
que ao fornecerem diferentes níveis de concentrado a cabras Alpinas, observaram
variação e 2,38 a 3,72% nos teores de gordura. Segundo Sanz Sampelayo et al. (2007),
o percentual de gordura e proteína no leite pode aumentar se o limite da capacidade
produtiva animal já tenha sido atingida.
Mesmo tendo as dietas sido formuladas de forma a serem isoprotéicas, a
suplementação das dietas com óleo vegetal influenciou a composição de proteína do
leite (g/d), tendo os animais que receberam as dietas contendo OF ou OG apresentado
resultados igual (96,95 g/d e 101,87 g/d, respectivamente) àqueles que receberam a
dieta controle (101,79 g/d) enquanto que os animais que receberam dietas contendo OM
deprimiram a produção de proteína do leite produzido (76,99 g/d). O leite produzido
pelos animais que consumiram a dieta com OG apresentaram maior percentual de
proteína (3,75%), se apresentando diferente em relação ao leite das cabras
suplementadas com a dieta adicionada de OM (3,45 %). Já os animais que receberam as
dietas controle ou OF apresentaram resultados iguais aos leites das cabras alimentadas
com OG ou OM (3,70% e 3,67%, respectivamente). Sugerindo que, apesar da dieta ser
isoprotéica, os animais que receberam a dieta contendo OM não atingiram totalmente a
sua capacidade produtiva.
Segundo Chilliard et al. (2003), o teor de proteína do leite de cabra não se altera
em resposta a suplementação lipídica, já no presente estudo, observa-se que quando
suplementas com 4% de óleo de gergelim na MS da dieta os animais aumentaram os
teores de proteína presente no leite quando comparados com os resultados apresentados
pelos animais que receberam suplementação com óleo de mamona ou faveleira na MS
72
de sua dieta. Para Santos et al. (2001), quando há substituição de carboidratos
disponíveis por lipídios no rúmen, os lipídios têm efeito tóxico sobre os microrganismos
do rúmen, causando redução no crescimento microbiano e efeito sobre o transporte de
aminoácidos para a glândula mamária. Assim, o conteúdo de proteína do leite pode
diminuir com a deficiência de um ou mais aminoácidos.
De acordo com Fagan et al. (2010), o teor de proteína do leite depende do perfil
de aminoácidos absorvidos, sendo estes, reflexo da proteína metabolizável disponível no
intestino delgado. Acredita-se que, mais da metade das proteínas metabolizáveis é
composta pela proteína microbiana considerada a fonte de maior valor biológico
disponível ao ruminante. Sendo assim, a melhoria na produção de proteína microbiana é
primordial para aumentar a síntese de proteínas do leite. Os resultados observados no
presente trabalho são consequência daqueles observados para o consumo de matéria
seca, uma vez que, a produção de leite é uma consequência, dentre outros fatores, do
potencial produtivo do animal e do consumo de nutrientes oriundos da dieta.
Os valores de proteína encontrados nesse estudo foram semelhantes aos
encontrados por Fernandes et al. (2008), que observaram valores médios de 3,23% no
leite de cabras alimentadas com óleo de semente de algodão ou girassol; e por Pereira et
al. (2010), que encontraram valores médios de proteína de 3,18% quando
suplementaram cabras leiteiras com óleo de licuri ou mamona; no entanto, foram
superiores aos encontrados por Queiroga et al. (2007) no leite de cabras Saanen (2,7%).
Soryal et al. (2004) observaram variação de 2,26 a 3,35% de proteína no leite de cabras
Alpinas alimentadas com diferentes níveis de concentrado na dieta.
A produção de sólidos totais neste estudo foi semelhante aos encontrados por
Queiroga et al. (2007), (11,4%) para cabras Saanen e por Silva et al. (2010), (11,09 e
11,43%) para suplementação com sementes de faveleira ou torta de faveleira,
respectivamente, em dietas para cabras Saanen. De acordo com Araújo et al. (2009), a
produção de sólidos não gordurosos está diretamente relacionada com a produção de
sólidos totais, de gordura e de leite. Portanto, os resultados encontrados neste estudo
seguem o mesmo comportamento verificado para essas variáveis por aqueles autores.
De acordo com os limites referidos pela legislação brasileira para o leite de cabra
(BRASIL, 2000), os valores referentes ao SNG estão dentro do estabelecido que é de
8,4%.
73
De acordo com Gozaléz et al. (2001), a lactose é um dos componentes mais
estáveis da composição química do leite e está diretamente relacionada à regulação da
pressão osmótica, de forma que maior produção de lactose determina maior produção de
leite com mesmo teor de lactose. Neste estudo, a dieta contendo óleo de mamona
deprimiu o teor de lactose (g/d) do leite em comparação aos demais tratamentos, o que
não era esperado, uma vez que a lactose é o nutriente mais estável do leite, ou seja,
menos susceptível a alterações.
Em relação à acidez (ºD), houve influência da adição de lipídios na dieta tendo o
leite produzido pelos animais que receberam a dieta com óleo de mamona apresentado-
se menos ácido, entretanto, os valores observados no presente estudo para os demais
tratamentos estão de acordo com os limites estabelecidos pela legislação vigente, que
são de 13 a 18 ºD. Portanto, as variações observadas podem estar relacionadas a
diferenças no teor dos ácidos carboxílicos e no perfil microbiológico do leite. No
entanto, foram inferiores aos encontrados por Queiroga et al. (2007), que apresentaram
valor médio de 15,2 ºD para o leite de cabras Saanen e aos encontrados por Silva et al.
(2010), cujos valores foram de 16,75 ºD e 15,66 ºD para cabras Saanen suplementadas
com semente de faveleira e torta de faveleira, respectivamente.
Os balanços de energia líquida foram positivos com relação à exigência de
mantença e produção (Tabela 5). Os animais alimentados com a dieta adicionada de
óleo de faveleira tiveram maior consumo de energia (EM e EL) quando comparadas
com os demais tratamentos. No entanto, o consumo de NDT não foi alterado pela adição
de óleo na dieta, comportamento já esperado uma vez que as dietas foram formuladas de
acordo com as recomendações do NRC (2007) em que é preconizado 5,13 Mcal/dia de
EM total e 1,419 kg/dia de NDT para cabras em lactação pesando 50 kg com produção
diária de 2 kg de leite. Esta diferença reforça o conceito postulado por Van Soest (1994)
em que os caprinos são animais seletivos capazes de selecionar as partes mais nutritivas
do alimento. Os valores deste trabalho para eficiência líquida da EM (kl) apresentaram
valores médios de 0,60, tendo a dieta controle se mostrado melhor do que as demais. A
eficiência bruta da EM (km+p) para produção de leite na foi afetada pela adição de óleo
na dieta.
74
Tabela 5. Consumo e a eficiência de utilização da energia por cabras recebendo diferentes fontes de
óleos vegetais na dieta
Item Tratamento (dieta)
1
CV (%)2
SO OF OG OM
Exigências3
EMm (Mcal/d) 2,36 2,42 2,41 2,34
ELm (Mcal/d) 1,53 1,57 1,56 1,52
ELp (Mcal/kg leite) 1,79 1,78 1,79 1,48
Consumo4
NDT (kg/d) 1,38 1,54 1,45 1,37 10,53
EM (Mcal/d) 5,24 5,80 5,60 5,18 10,58
EL (Mcal/d) 3,14b 3,50
a 3,37
ab 3,10
b 2,92
Eficiência e Balanço Energético5
K l 0,73a 0,55
b 0,56
b 0,57
b 20,93
K m+p 0,65 0,58 0,60 0,58 11,45
BEL -0,17 0,16 -0,02 0,10 18,98
Média com letras na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05); 1 SO = sem óleo; OF = óleo de
faveleira; OG = óleo de gergelim; OM = óleo de mamona; 2Coeficiente de variação;
3EMm=energia
metabolizável para mantença; ELm=energia líquida para mantença e ELp=energia líquida para produção; 4NDT=Nutrientes digestíveis totais; Energia Metabolizável (EM) = EM (Mcal/d) = ED (Mcal/d) * 0,86;
EL=energia líquida; 5Kl =Eficiência líquida de utilização da energia metabolizável; Km+p = Eficiência
bruta da utilização da energia metabolizável e BEL = balanço de energia líquida.
É possível que os maiores valores encontrados para a eficiência de uso de
energia da dieta controle tenha sido um reflexo do potencial de resposta para a produção
de leite pelas cabras, o que contribuiu para uma ineficiência no uso da energia. Os
animais alimentados com as dietas com adição de OF e OG apresentaram maior
consumo de NDT, sem redução nos valores de digestibilidade das rações (Capítulo II
desta tese). A resposta na produção de leite foi correspondente, o que era esperado,
devido à maior disponibilidade de energia. Os resultados apresentados nesse estudo são
semelhantes aos encontrados por Silva et al. (2007) de 0,54 para kl e 0,64 para km+p.
Os animais alimentados com as dietas SO (controle) ou OG mesmo com os
menores valores de consumo de energia direcionaram a energia para a produção de leite,
comportamento também observado com o balanço de energia líquida (BEL), que
apresentaram valores negativos. O que corresponde a um nível crítico onde o animal
precisa dispor de suas reservas corporais para manter a produção de leite. Short e
Adams, (1988) enfatizam que a utilização da energia pelos animais é um resultado da
complexa interação entre a quantidade e a qualidade da dieta, suas reservas corporais e a
demanda do seu metabolismo e produção.
Na Tabela 6 são mostrados os valores médios obtidos para o balanço de
compostos nitrogenados (N) das dietas experimentais. O consumo de N foi semelhante
(P>0,05) entre as dietas estudadas. Não houve diferenças significativas (P>0,05) entre o
75
N ingerido e o N excretado nas fezes e na urina, valores estes utilizados para o cálculo
do balanço de compostos nitrogenados.
Apesar de não diferirem estatisticamente as dietas com OF e com OM
apresentaram valores positivos, revelando melhor eficiência de utilização do nitrogênio.
A excreção de nitrogênio no leite (g/dia) que foi maior nos animais que recebiam a dieta
controle, tendo as dietas contendo OF ou OG se comportado igual à dieta controle
enquanto que a dieta contendo OM deprimiu o teor de nitrogênio no leite (P<0,05), o
que provavelmente, está relacionado com a menor quantidade de leite produzida pelos
animais que recebiam a dieta com óleo de mamona. Corroborando com os resultados
observados para CMS (Tabela 3) e PL (kg/dia) (Tabela 4), refletindo a diferença na
produção leite.
Tabela 6. Balanço e eficiência de utilização do nitrogênio obtidos para cabras leiteiras alimentadas com
dietas apresentando diferentes fontes de óleo vegetal
Itens Tratamentos (dietas)
1
CV (%) SO OF OG OM
Balanço
Ingestão de N (g/dia) 51,32 50,19 47,72 44,80 9,82
N nas fezes (g/dia) 16,36 13,77 13,22 16,19 45,98
N na urina (g/dia) 17,88 16,93 20,08 19,52 23,08
N no leite (g/dia) 15,96ª 15,20ª 15,72ª 12,07b 11,54
Balanço de N (g/dia) 1,12 4,29 -1,28 -3,08 31,09
N endógeno basal (g/dia) 7,23 7,36 7,38 7,18 2,69
N retido (g/dia) -6,11 -3,07 -8,66 -10,27 30,42
Eficiência
EN – N leite/CN (g/g) 0,31 0,31 0,33 0,27 16,17
Medias com letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05); 1OS= Sem óleo
(controle); OF = Óleo de faveleira; OG = Óleo de gergelim; OM = Óleo de mamona; EN = eficiência de
utilização do nitrogênio; CV = coeficiente de variação.
Não foi detectada diferença no balanço de nitrogênio (BN) em g/dia entre os
diferentes óleos vegetais (P>0,05), sendo o BN negativo para os animais que receberam
as dietas adicionadas de óleo de gergelim ou mamona. No entanto, a EN mostra que os
animais alimentados com OG foram mais eficientes na utilização do nitrogênio quando
comparados com aqueles que receberam as dietas controle ou OF. Os animais que
receberam a dieta adicionada com OM foram menos eficiente na utilização do
nitrogênio para síntese de leite, apesar das dietas terem sido formuladas para serem
isoprotéicas. O que pode estar relacionado com o menor CMS e a menor PL dos animais
alimentados com essa dieta. Para Cordeiro et al. (2007) menor eficiência de utilização
de nitrogênio pode estar associada ao perfil de aminoácidos requeridos para a lactação,
76
pois a partir do momento que não satisfazem as exigências para produção do leite, os
aminoácidos fornecidos pela dieta e/ou pelos microrganismos ruminais são utilizados
em outras rotas metabólicas.
O nitrogênio endógeno basal (NEB) representa a exigência de nitrogênio para
manter as atividades metabólicas basais, como a renovação celular. Os mais altos
consumos de energia foram observados com a dieta adicionada de OF ou OG. Assim, os
maiores valores observados com essas dietas sugerem a possibilidade de haver maior
aproveitamento dos nutrientes para deposição e renovação das proteínas teciduais.
Apesar dos resultados observados para N retido terem sido negativos os resultados
observados para EN foram positivos indicando que eficiência na utilização do
nitrogênio para síntese de leite.
CONCLUSÕES
A suplementação com os óleos estudados influi na resposta de consumo de
extrato etéreo e carboidratos não fibrosos da dieta. Entre os tipos de óleos estudados, a
adição de 4% de óleo de faveleira ou óleo de gergelim não causa prejuízos ao
desempenho e características do leite produzido. A adição do óleo de mamona na dieta
de cabras no período da lactação deprime a produção de leite e o teor de proteína do
leite.
A adição dos óleos estudados não afeta a eficiência alimentar, a eficiência de
utilização do nitrogênio e o consumo de energia tendo, o óleo de faveleira, melhorado o
consumo de energia líquida. A eficiência de utilização da energia metabolizável é
reduzida com a adição de óleo na dieta de cabras em lactação.
77
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CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES
Trabalhos que visam à utilização de fontes nutricionais alternativas para
caprinos são de grande importância para a melhoria do desempenho e da produção do
rebanho, devendo ser conduzidos dentro das condições ambientais onde os animais são
explorados e da exploração racional das espécies nativas e/ou adaptadas da região.
O presente estudo se propôs a avaliar o desempenho e a produção de leite
oriundo de cabras mestiças Saanen x Alpina Americana com importância econômica
para a região Nordeste por suas características adaptativas e produtivas, utilizando
diferentes fontes de óleo vegetal na dieta. Essa alternativa surge como meio de
incentivar os produtores da região a terem alimentos alternativos em energia para os
animais, principalmente, na época de escassez das chuvas e também um meio de
conservação das espécies nativas e adaptadas da Caatinga como forma de promover o
reflorestamento da região.
Este enfoque em se produzir leite de cabra, pode ser uma possibilidade de
melhorar a sustentabilidade dos pequenos agricultores com a exploração racional dos
recursos naturais do Semiárido Nordestino, devido este leite ser conhecidamente
utilizado como alternativa para a alimentação de crianças e adultos sensíveis ou
alérgicos ao leite de vaca. Todos estes aspectos são importantes e relevantes para
regiões semiáridas do Brasil e do mundo.
A utilização do óleo de faveleira ou gergelim pode suplementar a dieta para
cabras mestiças Saanen x Alpina Americana em lactação sem causar alterações no
desempenho dos animais. No entanto, o uso de qualquer uma dessas fontes de óleo fica
a critério do produtor dado a sazonalidade e da característica endêmica da faveleira,
bem como, pelo fato de que a cultura do gergelim na região semiárida do Nordeste
ainda não ter se tornado uma exploração de importância econômica tornando o óleo
oriundo da prensagem de suas sementes um produto de alto custo e de baixa oferta no
mercado. Apesar da mamoeira se ajustar bem com o clima e as condições de solo do
Semiárido, da vasta aplicação do óleo de mamona na indústria química e, da
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propriedade exclusiva desse com a solubilidade em álcool, responsável pela menor
rancidez do óleo tornando-o mais atraente para o consumo animal, os resultados obtidos
pelo presente estudo demonstraram que o óleo de mamona na dieta de cabras em
lactação deprime o desempenho e a produção de leite quando suplementado a um nível
de 4% na matéria seca da dieta.