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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS REGIONAL JATAÍ Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde HÉLIO RANES DE MENEZES FILHO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA HANTAVIROSE NO ESTADO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2007 - 2013 Jataí GO Janeiro / 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS REGIONAL JATAͧão...Material e Métodos: Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo com dados do Estado de Goiás, no período de 2007 a 2013,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

REGIONAL JATAÍ

Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde

HÉLIO RANES DE MENEZES FILHO

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA HANTAVIROSE NO

ESTADO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2007 - 2013

Jataí – GO

Janeiro / 2015

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HÉLIO RANES DE MENEZES FILHO

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA HANTAVIROSE NO

ESTADO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 2007 - 2013

Dissertação apresentada como quesito para

obtenção do grau de Mestre pelo Programa de

Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde

da Regional Jataí da Universidade Federal de

Goiás, sob orientação do Prof. Dr. Marcos

Lázaro Moreli.

Jataí – GO

Janeiro / 2015

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“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.

Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas

tranquilas.

Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do

seu nome.”

Salmo 23: 1- 3.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, fonte inesgotável de conhecimento e sabedoria.

Aos meus pais, Hélio e Maria Lúcia, e à minha irmã Ludmilla, que são essenciais na

minha vida.

A todos os docentes do PPGCAS, em especial ao meu orientador, Prof. Dr. Marcos

Moreli, pelo incentivo e contribuições neste trabalho.

À professora Ana Luiza Lima Sousa, da FEN - UFG, Regional Goiânia, cuja

contribuição foi imprescindível para a realização deste estudo.

A todos os colegas do Mestrado, em especial Rosane Machado, Fausto Costa e Elton

Lima, por compartilharem angústias e apreensões durante nossos grupos de estudo.

Enfim, a todos familiares e amigos que sempre incentivam o meu crescimento

profissional.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CPAP – do inglês – Continuous Positive Airway Pressure – “Pressão Positiva nas Vias

Aéreas”

DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

ELISA – do inglês - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay – “Ensaio de Anticorpos Ligados

a Enzima”

EUA – Estados Unidos da América do Norte

FHSR – Febre hemorrágica com síndrome renal

HCPS – do inglês: Hantavírus cardiopulmonar syndrome – “Síndrome Cardiopulmonar por

Hantavírus”

HFRS – do inglês – Haemorrhagic fever with renal syndrome – “Febre Hemorrágica com

Síndrome Renal”

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IgG – Imunoglobulina G

IgM – Imunoglobulina M

IRA – Insuficiência Respiratória Aguda

NE – do inglês – Nephropatia epidemic – “Nefopatia Epidêmica”

Nm – nanômetros

OPAS – Organização Panamericana de Saúde

PCR – Proteína C-Reativa

PVC – Pressão Venosa Central

RNA – do inglês – Ribonucleic Acid – “Ácido Ribonucleico”

RNAc – RNA complementar

RT-PCR – Reação em cadeia de polimerase em tempo real

SCPH – Síndrome cardiopulmonar por Hantavírus

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1

Distribuição geográfica dos Hantavírus patogênicos e as principais

formas de apresentação clínica ................................................................................................

08

Figura 2 Distribuição do número de casos de hantavirose nas Américas (1993-

2004) ........................................................................................................................................

09

Figura 3 Representação geográfica da incidência de hantavirose por país de

acordo com a forma clínica ......................................................................................................

11

Figura 4 Ciclo biológico de transmissão dos Hantavírus ....................................................................... 12

Figura 5 Espécies de roedores que podem ser reservatórios dos Hantavírus ......................................... 14

Figura 6 Rato do rabo peludo presente no bioma cerrado. .................................................................... 15

Figura 7 Distribuição dos casos confirmados de hantavirose no Estado de Goiás,

no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014 .................................................................................

27

Figura 8 Distribuição da taxa de letalidade por hantavirose no Estado de Goiás,

no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014..................................................

28

Figura 9 Diagrama de controle da hantavirose no Estado de Goiás e distribuição

do número de casos no ano de 2009. Goiás, 2014. ..................................................................

31

Figura 10 Distribuição do número de casos de hantavirose notificados no período

e número de casos confirmados. Goiás, 2014. .........................................................................

32

Figura 11 Distribuição do número de casos de hantavirose confirmados e taxa de

letalidade segundo o ano da notificação. Goiás, 2014 .............................................................

36

Figura 12 Proporção das manifestações clínicas da hantavirose no período de

2007 a 2013. Goiás, 2014. .......................................................................................................

38

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LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 01 Distribuição do número e proporção de casos de hantavirose notificados

e confirmados segundo o ano, no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014. ................................

26

Tabela 02 Caracterização sócio-demográfica dos casos de hantavirose confirmados

no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014. .................................................................................

29

Tabela 03 Caracterização epidemiológica dos casos de hantavirose confirmados no

período de 2007 a 2013. Goiás, 2014. ......................................................................................

30

Tabela 04 Distribuição do número de casos de hantavirose notificados,

confirmados, óbitos pela doença e taxa de letalidade segundo os

municípios no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014. ..............................................................

33

Tabela 05 Caracterização clínica dos casos de hantavirose confirmados no período

de 2007 a 2013. Goiás, 2014. ...................................................................................................

34

Tabela 06 Distribuição do número e porcentagem de óbitos e hospitalizações

segundo o ano. Goiás, 2014. ....................................................................................................

35

Tabela 07 Distribuição do número de casos e porcentagens de óbitos por

hantavirose segundo o período. Goiás, 2014. ...........................................................................

35

Tabela 08 Distribuição do número e proporção dos resultados dos exames

laboratoriais entre os casos confirmados e investigados de hantavirose no

período de 2007 a 2013. Goiás, 2014 .......................................................................................

37

Tabela 09 Descrição do tratamento realizado entre os casos confirmados de

Hantavirose no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014...................................

39

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RESUMO

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA HANTAVIROSE NO ESTADO DE

GOIÁS NO PERÍODO DE 2007 – 2013

Introdução: as hantaviroses são zoonoses virais agudas, causadas por vírus da família

Bunyaviridae, gênero Hantavirus, tendo os roedores como reservatórios. É considerada uma

doença emergente em várias regiões do mundo. Podem apresentar duas formas clínicas: a

Febre Hemorrágica com Síndrome Renal – FHSR, conhecida desde 1930 e endêmica na

Europa e Ásia e a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus – SCPH, descrita pela primeira

vez nos EUA em 1993, que associa choque cardiogênico e acometimento vascular que

acompanham a pneumopatia grave, e que é restrita às Américas. Apesar de a doença ser

registrada em todas as regiões brasileiras, o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste concentram

maior percentual de casos confirmados. São poucos os estudos feitos no Brasil em regiões do

bioma cerrado e mais escassos ainda estudos direcionados a compreender como se comporta o

agravo nos municípios goianos. Objetivo: Descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos

dos pacientes com diagnóstico de hantavirose no Estado de Goiás no período de 2007 a 2013.

Material e Métodos: Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo com dados do

Estado de Goiás, no período de 2007 a 2013, obtidos da ficha de investigação de hantavirose

constante do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN- NET). Os dados

analisados foram sócio-demográficos, clínicos e epidemiológicos, além da taxa de letalidade.

Todos os dados foram analisados no conjunto do período de sete anos e também qual o

comportamento da doença em cada ano. Resultados: foram notificados 1171 casos suspeitos

de hantavirose no Estado de Goiás, e confirmados 73 casos (6,2%), sendo a média de 10,4

casos confirmados por ano. A idade média dos casos confirmados da doença foi 35,4 anos (

13,2 anos), com a mínima de 12 anos e máxima de 71 anos (Mediana 33,5 anos); e maior

frequência entre o sexo masculino, com 68,5% dos casos (p<0,05). Com relação à

escolaridade, a maior frequência foi de casos com ensino fundamental ou médio. A raça parda

(auto referida) teve maior frequência, seguida da raça branca. A taxa de letalidade total no

período foi de 57,5%. Não houve associação entre a frequência de casos confirmados da

doença e a sazonalidade do clima da região. Do total de 73 casos confirmados, 93,2% (68)

foram hospitalizados e entre os primeiros, 82,2% (60) com diagnóstico de forma clínica

SCPH. A quase totalidade dos casos teve confirmação diagnóstica por meio laboratorial. Em

relação aos sinais e sintomas clínicos a febre foi o mais frequente, estando presente em 95,9%

dos casos, seguida por dispneia (86,3%) e tosse seca (71,2%). Discussão: houve maior

concentração de casos na região centro sul do Estado, destacando-se Anápolis e Jataí como os

municípios com maior frequência da doença, depois da capital. A região sudoeste do Estado

caracteriza-se por produção econômica voltada para a agricultura e pecuária, com avanços na

produção de grãos e exploração do solo, colocando o homem em contato frequente com

roedores, possibilitando a transmissão da doença. A frequência da hantavirose encontrada

neste estudo foi inferior a outros estudos realizados em regiões do Bioma Cerrado. A taxa de

letalidade foi superior a de outras regiões do país. O quadro clínico apresenta características

similares para a doença. Conclusão: a hantavirose é uma infecção emergente no Estado de

Goiás, apresentando frequência com tendência à elevação e com altas taxas de letalidade. O

número de casos notificados tem aumentado, mas sem refletir no aumento do número de casos

confirmados. A quase totalidade dos casos confirmados é hospitalizada e o quadro clínico

identificado é semelhante ao relatado para a forma clínica mais frequente, que foi a SCPH.

Descritores: Hantavirose, Epidemiologia, Hantavírus.

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ABSTRACT

EPIDEMILOGIC-CLINIC PROFILE OF HANTAVÍRUS INFECTION IN THE

STATE OF GOIAS BETWEEN 2007 – 2013

Introduction: the Hantaviruses are acute viral zoonosis, caused by a virus from the

Bunyaviridae family, genus Hantavirus, having the rodents as reservoir. It is considered an

emergent disease in several regions of the world. There are few studies in Brazil in areas of

cerrado biome and even fewer studies directed to understand how behaves the aggravation in

municipalities in Goias. They can present two clinical instances: the Hemorrhagic Fever with

Renal Syndrome – HFRS, known since 1930 and endemic in Europe and Asia and Hantavirus

Cardiopulmonary Syndrome – HCPS, described for the first time in the USA in 1933, that

associates cardiogenic shock and vascular involvement that follow serious pneumopathy, and

that is restrict to Americas. Although the disease is registered in all regions of Brazil, the

South, the Southeast and the Middle-West concentrate major percentage of confirmed cases.

Objective: To describe the clinic and epidemiologic aspects of patients with diagnosis of

Hantavirus infection in the state of Goias from 2007 to 2013. Material and Methods: It was

made a descriptive epidemiologic study with data from the State of Goias between 2007 and

2013. The data were obtained from Hantavirus infection investigation file contained in the

System of Information of Aggravation and Notification (SINAN-NET) between 2007 and

2013. The analyzed data were social-demographic, clinical and epidemiological, besides

mortality rate. All the data were analyzed in the set period of seven years and also what is the

behavior of the disease each year. Results: 1171 suspect cases of Hantavirus infection were

notified in the State of Goias, and 73 cases were confirmed (6,2%), being the average of 10,4

confirmed cases a year. The average age of the confirmed cases of the disease was 35,4 years

old ( 13,2 years old) , with the minimum of 12 and the maximum of 71 years old (Median

33,5 years old); and more frequently among males, with 68,5% of the cases (p<0,05). Related

to education, the highest frequency was cases with elementary or high school. The brown race

(self-reported) had higher frequency, followed by the white race. The total mortality rate in

the period was 57,5%. There was no association between the frequency of confirmed cases of

the disease and the seasonality of the regional climate. From the total of 73 confirmed cases,

93,2% (68) were hospitalized and among the first ones, 82,2% (60) with diagnose of clinical

form CSBH. The majority of cases had confirmation diagnosed through laboratory. Related to

the symptoms and clinical signs, the fever was the most frequent, being present in 95,9% of

the cases, followed by dyspnea (86,3%) and dry cough (71,2%). Discussion: There was a

higher concentration of cases in the center-south region of the state, highlighting Anapolis and

Jatai as the municipalities with higher frequency of the disease, after the capital of the state.

The southwest region of the state is characterized by the economic production directed to

agriculture and livestock, with advances in the production of grains and soil exploitation,

putting the man in frequent contact with rodents, enabling the transmission of the disease. The

frequency of Hantavirus infection found in this study was lower than other studies taken in

regions of Cerrado Biome. The mortality rate was higher than in other regions of the country.

The clinical status shows similar characteristics for the disease. Conclusion: the Hantavirus

infection is an emergent infection in the state of Goias, showing frequency with tendency to

elevation and with high rates of mortality. The number of notified cases has increased, but it

is not reflecting in the increase of the number of confirmed cases. The majority of confirmed

cases are hospitalized and the clinical condition identified is similar to the related for the most

frequent clinical form, which was the HCPS.

Key words: Hantavirus Infection, epidemiology, Hantavirus.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 01

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 03

2.1 HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DA HANTAVIROSE ....................................... 03

2.2 OS HANTAVÍRUS E PATOGENIA DA SCPH ........................................................... 05

2.3 HANTAVIROSE NAS AMÉRICAS ............................................................................. 06

2.4 EPIDEMIOLOGIA DA HANTAVIROSE ..................................................................... 07

2.5 TRANSMISSÃO DO HANTAVÍRUS ........................................................................... 12

2.6 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO ...................................................................... 16

2.7 TRATAMENTO ............................................................................................................. 18

2.8 CONTROLE E PREVENÇÃO ....................................................................................... 19

3 OBJETIVOS .................................................................................................................. 22

3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 22

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................................... 22

4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 23

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ................................................................................. 23

4.2 LOCAL DE ESTUDO .................................................................................................... 23

4.3 COLETA DOS DADOS ................................................................................................. 24

4.4 ASPECTOS ÉTICOS ...................................................................................................... 25

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................. 25

5 RESULTADOS ............................................................................................................. 26

6 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 40

7 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 47

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 50

ANEXOS ........................................................................................................................ 57

1 Ficha epidemiológica ...................................................................................................... 58

2 Parecer Comitê de Ética em Pesquisa........................................................................... 61

3

Artigo .............................................................................................................................. 66

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1 INTRODUÇÃO

As hantaviroses são zoonoses virais agudas, causadas por vírus da família

Bunyaviridae, gênero Hantavírus, tendo como reservatórios algumas espécies de roedores. O

período de incubação varia de 3 a 60 dias e o vírus é transmitido aos seres humanos quando

estes entram em contato com as excretas (fezes, urina, saliva) de hospedeiros contaminados.

São consideradas doenças graves e com distribuição universal. Podem apresentar duas formas

clínicas: a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal – FHSR, conhecida desde 1930 e

endêmica na Europa e Ásia e a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus – SCPH, descrita

pela primeira vez nos EUA em 1993, que associa choque cardiogênico e acometimento

vascular que acompanham a pneumopatia grave, e que é restrita às Américas (NUNES et al.,

2011).

Hantavírus foram isolados ou tiveram seus genomas detectados em materiais

provenientes tanto de pacientes como de roedores. Os Hantavírus americanos têm sua

evolução em íntimo relacionamento com os animais reservatórios, como o Rodentia, Muridae

da subfamília Sigmodontinae. Os roedores mantêm infecção inaparente, persistente e os vírus

podem ser detectados em diversos órgãos do animal, mesmo após meses do contágio

(KRUGER et al., 2001).

A hantavirose é considerada uma doença emergente em várias regiões do mundo. São

poucos os estudos feitos no Brasil em regiões do bioma cerrado e mais escassos ainda estudos

direcionados a compreender como se comporta o agravo nos municípios goianos.

O primeiro caso confirmado de hantavirose no Estado de Goiás ocorreu no ano 2000

(BRASIL, 2009). O Estado pertence ao bioma Cerrado, que é considerado endêmico para a

doença. Grande parte dos casos descritos em Goiás está localizada nos municípios de Goiânia,

Anápolis e Jataí (JATAÍ, 2013).

Embora o número de estudos relacionados à hantavirose no Brasil tenha crescido nos

últimos três anos, ainda são poucos os estudos epidemiológicos desenvolvidos na região do

Bioma Cerrado (BADRA et al., 2012; DE ARAUJO et al., 2012; LAMAS CDA et al., 2013;

SANTOS et al., 2013; TERCAS et al., 2013; DE OLIVEIRA; CORDEIRO-SANTOS; et al.,

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2014; DE OLIVEIRA; GUTERRES; et al., 2014; GUTERRES et al., 2014; TEIXEIRA et al.,

2014).

Dois estudos recentes realizados no Estado de Santa Catarina pesquisaram a

distribuição do genótipo do Hantavírus na população e também a presença das diversas

espécies de roedores, sem, no entanto, descreverem o perfil epidemiológico e clínico da

doença (CORDOVA; FIGUEIREDO, 2014; OLIVEIRA et al., 2014).

Há somente um estudo que procurou apresentar uma descrição da doença, do ponto de

vista epidemiológico, em todas as regiões do país. Foi identificado neste estudo que um dos

principais problemas para o controle desse agravo, inicia-se com a dificuldade de realizar o

diagnóstico diferencial com outras doenças prevalentes no país, como a dengue e a

leptospirose. Além disso, os autores apontam também para a necessidade urgente de respostas

para as questões relativas ao aumento da incidência da doença e também sua alta letalidade,

sob o ônus de não se definir medidas claras de controle e prevenção (PINTO JUNIOR et al.,

2014).

Diante disso, o conhecimento da distribuição da doença ao longo dos anos pode ser

fundamental para identificar o seu comportamento epidemiológico no Estado de Goiás e qual

tem sido o impacto das medidas de vigilância epidemiológica.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DA HANTAVIROSE

A hantavirose tem sido reconhecida na maioria dos países europeus por vários nomes,

de acordo com sua localização geográfica, o que sugere uma presença clínica de longa data

naquele continente. Durante a I Guerra Mundial, uma epidemia conhecida como "nefrite

trincheira" pode ter sido, de fato uma doença causada por Hantavírus. Uma forma da doença

com acometimento renal típico de hantavirose foi descrito na Suécia em 1934, e a partir daí

também foi descrita em outros países escandinavos, onde a doença passou a ser chamada de

nefropatia epidêmica a partir de 1945 (OLIVEIRA et al., 2014).

Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, muitos casos de hantavirose foram

confundidos inicialmente com leptospirose. No entanto, os sintomas clínicos característicos

de leptospirose, confrontados com resultados sorológicos repetidamente negativos para esta

doença, levaram os pesquisadores a concluírem que estavam diante de uma nova doença.

Aproximadamente três mil soldados das forças armadas dos Estados Unidos que lutavam na

Guerra da Coréia foram contaminados com uma nova febre hemorrágica aguda, com cerca de

400 mortes (JOHNSON, 2004; JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010; PINTO

JUNIOR et al., 2014).

Inicialmente acreditava-se que a hantavirose ocorresse somente na zona rural,

especificamente da China, Coréia do Sul, leste da Rússia e nordeste da Europa. O sistema de

vigilância europeu demonstrou que a doença pode ocorrer também em regiões urbanizadas em

muitas partes do mundo. A distribuição geográfica e epidemiológica do Hantavírus é

considerada como consequência da distribuição e da história natural dos roedores que

funcionam como seus reservatórios (JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010).

A primeira evidência sorológica da doença em seres humanos nas Américas foi

relatada durante um surto de lepstospirose em 1990, na cidade de Recife, no Brasil (PINTO

JUNIOR et al., 2014).

No Brasil, áreas de desflorestamento e com mudanças impactantes sobre o meio

ambiente, como resultado do crescimento econômico e aumento da produção agrícola nos

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últimos vinte anos, tem refletido no aumento do número de casos de hantavirose (TERCAS et

al., 2013).

Apesar do conhecimento sobre a infecção pelos Hantavírus ter aumentado nos últimos

anos em todo o mundo, isso não tem impedido a elevada frequência de surtos da doença.

Novos Hantavírus com potencial patogênico e também hospedeiros insetívoros têm sido

identificados. Novos hospedeiros, novas espécies e nova distribuição geográfica do

Hantavírus já tem sido identificadas também na África (AVSIC-ZUPANC; SAKSIDA;

KORVA, 2013)

A hantavirose foi descrita pela primeira vez no Brasil em novembro de 1993, no

município de Juquitiba, São Paulo, com o primeiro caso da síndrome pulmonar. No entanto, a

primeira evidência sorológica do vírus foi em 1990, em Recife, na ocasião de um surto de

leptospirose. Desde que o primeiro caso foi descrito, a doença tem sido identificada em novas

áreas e variantes do Hantavírus e outras espécies de roedores silvestres têm sido reconhecidos

na transmissão do vírus. O primeiro caso relatado da doença no Bioma Cerrado, aconteceu em

1996 (NUNES, M.L. et al., 2011).

A partir de 1993, foram isolados os Hantavírus Sin Nombre, New York e Bayou nos

EUA, os vírus Los Andes na Argentina, Rio Mamoré na Bolívia e Laguna Negra no Paraguai

(XIAO et al., 1994).

A SCPH ocorre desde o Canadá até o sul da Argentina. É possível observar um padrão

de sazonalidade em algumas regiões, que pode estar relacionado à biologia e ao

comportamento dos roedores identificados como reservatórios do vírus.

No Brasil, a doença corre em todas as regiões, porém o maior número de casos

confirmados concentra-se nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. A síndrome SCPH foi

relatada em 15 Unidades da Federação até o ano de 2013: Pará, Rondônia, Amazonas, Bahia,

São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso,

Maranhão, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. Os casos registrados estão

distribuídos em três dos seis grandes biomas do país: Cerrado, Mata Atlântica e Floresta

Amazônica, e também em áreas de transição desses biomas. Os reservatórios mudam de

acordo com a região, e podem albergar diferentes variantes do vírus, estabelecendo uma

associação específica, responsável pela circulação do vírus em cada bioma (JATAÍ, 2013).

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A distribuição do agravo se dá principalmente em áreas rurais, em situações

relacionadas às atividades da agricultura, sendo que o grupo de homens na faixa etária de 20 a

39 anos é o mais acometido. A taxa de letalidade média registrada é de 46,5% e a assistência

hospitalar é necessária para a maioria dos pacientes (SUZUKI; MUTINELLI, 2009).

A descrição desse agravo no Brasil ainda tem sido pouco relatada, restringindo-se aos

boletins e publicações da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde ou a

alguns casos observados em estudos realizados nas regiões sudeste e sul do país. Mais

recentemente, alguns outros estudos começaram a analisar este agravo em outras regiões,

como o nordeste brasileiro (VASCONCELOS et al., 1997; FIGUEIREDO et al., 1999;

CAMPOS, GELSE MAZZONI, 2002; MENDES et al., 2004; NUNES, MARÍLIA

LAVOCAT et al., 2011).

2.2 OS HANTAVÍRUS E PATOGENIA DA SCPH

Os Hantavírus pertencem à família Bunyaviridae, a qual inclui mais de 300 tipos

diferentes de vírus, compreendidos em 4 gêneros que infectam plantas, animais, humanos e

artrópodes. São os únicos dessa família que não são arbovírus (LEDUC et al., 1985; MERTZ;

HJELLE; BRYAN, 1997; JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010).

Os Bunyaviridae são vírus esféricos e envelopados de dupla camada de lipídios,

medindo de 80 a 120 nm, com RNA de hélice simples e polaridade negativa (RNAc),

trisegmentado como de pequeno, médio e grande porte, sendo que os tamanhos variam

conforme o gênero na mesma família. As extremidades dos segmentos de RNA servem como

sítios de reconhecimento para a polimerase viral (ELLIOTT et al., 1994; SCHMALJOHN;

HJELLE, 1997; KUKKONEN; VAHERI; PLYUSNIN, 2005).

Pela sua morfologia, os Hantavírus são suscetíveis a muitos desinfetantes, formulados

com base em compostos fenólicos, solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, lisofórmio,

detergentes e álcool etílico a 70%. Sua sobrevida fora do vetor, no meio ambiente, ainda não é

totalmente conhecida. Pressupõe-se que o vírus sobreviva por até 6 horas em ambiente sob a

ação da luz solar, mas que, por outro lado, em ambientes fechados e que não recebem luz do

sol e ação de ventos, o vírus pode permanecer ativo por até 3 dias (HUKIC et al., 2011).

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A patogenicidade dos Hantavírus tem sido estudada através da genotipagem das

diferentes linhagens. Os vírus Dobrava e Puumala são endêmicos na região dos Balcãs e

responsáveis por causarem a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal. No Brasil, os mais

frequentes são o Araraquara e Juquitiba (EBIHARA et al., 2000; HUKIC et al., 2011;

GUTERRES et al., 2014).

Os Hantavírus americanos utilizam β3 integrinas como receptores para infectar as

células. Estas proteínas compõem as tight-junctions que unem células endoteliais e fecham a

barreira alvéolo-capilar. A infecção, provavelmente, desencadeia intensa resposta imune

humoral e celular, no endotélio vascular, principalmente em localização pulmonar. Em

consequência da infecção do endotélio capilar e desta agressão imune, ocorre extravasamento

de líquidos e edema pulmonar, levando à insuficiência respiratória. O edema pulmonar

coincide com queda rápida da viremia. As plaquetas, que também possuem β3 integrinas, são

infectadas pelos Hantavírus, ocorrendo trombocitopenia e redução da adesividade plaquetária,

o que explica fenômenos hemorrágicos nesses pacientes (GRAVILOVSKAYA et al., 1998).

2.3 HANTAVIROSE NAS AMÉRICAS

São duas as linhagens de Hantavírus nas Américas: uma patogênica, que está

associada à ocorrência de casos de SCPH e que foi identificada em roedores e em pacientes, e

a outra, ainda sem evidências de ser patogênica em seres humanos, pois, até o momento, só

foi detectada em roedores silvestres (BRASIL., 2009)

Em 1993 ocorreu um surto de hantavirose, caracterizada pela forma clínica de

síndrome cardiopulmonar nos Estados Unidos da América (EUA), mais especificamente nas

regiões do Colorado, Novo México, Arizona e Utah. Os Hantavírus americanos foram

descritos pela primeira vez, durante este surto, como sendo o vírus Sin Nombre; nos anos

posteriores, foram isolados, através da técnica de biologia molecular, outros membros desse

grupo em diversos países latino-americanos (GOLDSMITH et al., 1995).

O grupo dos Hantavírus possui vários membros, sendo que dentre eles quatro causam

FHSR e cerca de duas dezenas causam SCPH e cada um infecta roedores de espécies

diferentes (XIAO et al., 1994; PLYUSNIN; VAPALAHTI; VAHERI, 1996).

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Nas Américas, o Hantavírus possui 16 variantes que estão associadas à transmissão da

SCPH. Alguns já descritos são: os vírus Sin Nombre (Estados Unidos), Choclo (Panamá) e

Andes (Argentina e Chile). No Brasil, foram identificadas sete variantes, sendo cinco

associadas com a doença (Araraquara, Juquitiba, Castelo dos Sonhos, Anajatuba e Laguna

Negra) e duas (Rio Mearim e Rio Mamoré), até o momento, só foram detectadas entre os

vetores (TRAVASSOS DA ROSA et al., 2012).

Embora o primeiro caso de hantavirose tenha ocorrido no Brasil somente em 1993, a

primeira vez que o vírus foi isolado na América do Sul ocorreu já na década de 80, no Estado

do Pará, em um roedor da espécie Rattus norvegicus. Na mesma época foi demonstrada a

presença de anticorpos para o vírus Hantaan em ratos nas cidades de Recife-PE e São Paulo-

SP.

Dentre os três indivíduos moradores da área rural de Juquitiba - SP, que tiveram

enfermidade aguda caracterizada por febre, cefaleia, prostração, náuseas e vômitos, dois

evoluíram para insuficiência respiratória aguda e foram a óbito. O diagnóstico desses casos

foi confirmado por exames sorológicos, evidenciando o primeiro surto conhecido de SCPH no

Brasil (VASCONCELOS et al., 1997; FIGUEIREDO et al., 1999).

2.4 EPIDEMIOLOGIA DA HANTAVIROSE

Na Europa a hantavirose tem sido causada pelo vírus Puumula, com mais de 3 mil

casos relatados no ano de 2006, sendo que quase a totalidade dos casos ocorreu depois de

1990. A maioria desses casos era proveniente da Finlândia, com 24.672 casos antes de 2007.

Outros países onde tem sido registradas mais de uma centena de casos são: Suécia, Bélgica,

França, Alemanha e Noruega. No norte da Europa o período típico para o surgimento de

epidemias é durante os meses de novembro e dezembro, quando há uma alta densidade de

roedores, aumentando as possibilidades de contato com os humanos, e outro pico no mês de

agosto, que coincide com as férias de verão e o deslocamento das pessoas para o campo. Em

média a doença prevalece entre indivíduos do sexo masculino, em uma razão de 2:1, na faixa

etária de 30 a 45 anos (HEYMAN; VAHERI; MEMBERS, 2008; JONSSON; FIGUEIREDO;

VAPALAHTI, 2010)

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Apesar dessa ampla distribuição do Hantavírus na Europa, ele ainda não foi detectado

no extremo norte daquele continente e nem nas regiões mediterrânicas. E também não foi

detectado ainda na Grã Bretanha. Alguns casos fatais por doença infecciosa aguda, chamada

de “English sweating disease”, ocorridos em 1485, 1508, 1517, 1528 e 1551, podem ter sido

causados por Hantavírus; no entanto, não foi devidamente confirmada. A causa para a não

presença do Hantavírus nestas regiões tem sido discutido à luz de aspectos ecológicos

associados às culturas agrícolas destas regiões (HEYMAN; VAHERI; MEMBERS, 2008;

JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010) (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição geográfica dos Hantavírus patogênicos e as principais formas de

apresentação clínica. SCPH = Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus; SRFH = Síndrome

renal com febre hemorrágica; NE = nefropatia epidêmica.

Fonte: MANIGOLD & VIAL, 2014.

Até maio de 1993 a hantavirose ainda não tinha sido identificada nos Estados Unidos.

Desde então, e até março de 2007, foram relatados 465 casos da doença naquele país, dos

quais 35% resultaram em morte. O maior número de casos foi registrado no Novo México,

mesma região da notificação do primeiro caso. Casos de hantavirose têm sido relatados em 30

Estados nos EUA, sendo a maioria na região oeste do país e entre moradores de zona rural. O

risco de exposição ao Hantavírus tem sido correlacionado com a exposição ocupacional, em

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situações onde as pessoas podem entrar em contato com roedores, em situações de trabalho

(KHAN et al., 1996; TAPPERO et al., 1996; ZEITZ et al., 1997; LEVINE; FRITZ; NOVAK,

2008; JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010).

Nas Américas, um dos primeiros países a registrar casos após 1993, foi o Paraguai,

entre os meses de julho de 1995 a janeiro de 1996, sendo que até 1997 já haviam sido

confirmados 125 casos naquele país. No entanto, o vírus causador da infecção ainda não havia

sido identificado. Na Argentina o primeiro surto da doença foi relatado no ano de 1996, na

região montanhosa dos Andes. O Ministério da Saúde da Argentina relatou 324 casos de

hantavirose no período de 1996 até 2001, sendo que 138 destes eram provenientes da região

norte do país e a taxa de mortalidade foi de 30% (WELLS et al., 1997; JONSSON;

FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010) (Figura 2).

Na América do Sul os países onde a hantavirose está mais presente são: Brasil,

Argentina, Chile e Paraguai (PINTO JUNIOR et al., 2014).

Figura 2 – Distribuição do número de casos de hantavirose nas Américas (1993-2004).

Fonte: (OPAS, 1999)

Pouco tempo depois desse surto na Argentina, foram registrados 25 casos no Chile,

entre os meses de julho de 1997 e janeiro de 1998. Até 2006 foram relatados 485 casos no

Chile, com taxa de mortalidade de 37% (JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010).

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No Uruguai, os três primeiros casos foram relatados em 2004 na região da fronteira

com o Brasil (DELFRARO et al., 2008)

No Brasil, os primeiros casos ocorreram em novembro do ano de 1993, no município

de Juquitiba, no sudeste do país e tendo o vírus Juquitiba como responsável pelas infecções,

com letalidade de 66%. Desde então até abril de 2009, foram relatados 1.145 casos de

hantavirose no país, com uma taxa de letalidade de 39,5% e não houve confirmação de

contágio direto entre pacientes (VASCONCELOS et al., 1997).

Apesar da doença ser registrada em todas as regiões brasileiras, o Sul, o Sudeste e o

Centro-Oeste concentram maior percentual de casos confirmados. As taxas de letalidade

foram diferentes entre as regiões do país e o tipo de Hantavírus. Na região central e parte da

região sudeste, esta taxa foi de 44,5% (149 de 335 casos) e o vírus identificado foi o

Araraquara, já no restante da região sudeste a taxa foi de 32,5% (126 de 387 casos) e o vírus

responsável foi o Juquitiba (FIGUEIREDO et al., 2009).

Embora possa haver diferenças regionais a serem consideradas nestes estudos, o vírus

Araraquara pode ter maior virulência que o vírus Juquitiba ou outros Hantavírus no Brasil

(FIGUEIREDO et al., 2009).

Baseado nos dados de 70 brasileiros residentes na região do bioma cerrado e que

tiveram hantavirose causada pelo Hantavírus Araraquara, a doença foi mais prevalente entre

os homens (75,7%) com 36 anos, sendo que a taxa de letalidade foi de 54,3% (MENDES et

al., 2001).

Casos de hantavirose, com confirmação sorológica têm sido relatados em outras

regiões do país como o nordeste e noroeste e provavelmente estão relacionadas com outros

genótipos de vírus (MENDES et al., 2001; FIGUEIREDO et al., 2003).

A presença da hantavirose, forma clínica SCPH foi relatada em 15 Unidades da

Federação: Pará, Rondônia, Amazonas, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,

Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Maranhão, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e

Goiás, até o ano de 2013. As infecções ocorrem principalmente em situações ocupacionais

relacionadas à agricultura, portanto, em áreas rurais, sendo o sexo masculino, na faixa etária

de 20 a 39 anos o grupo mais acometido. A taxa de letalidade média é de 46,5% e a maioria

dos pacientes necessita de assistência hospitalar. Foram notificados 174 casos entre 1998 e

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fevereiro de 2002, sendo que 95 ocorreram na Região Sul e 50 na Região Sudeste, os demais

em outras regiões. O Estado do Paraná apresenta o quarto maior número de casos acumulados

de síndrome pulmonar por Hantavírus no Brasil (TRAVASSOS DA ROSA et al., 2010;

RABONI et al., 2012).

A letalidade média por hantavirose no Brasil por SPCVH é de 46%, similar à

observada nos EUA em 1993, que foi de 58%, e na Argentina em 1996, com 50%. Estudo

mais recente realizado na região sudeste do país, identificou uma taxa de letalidade de 39%

(SCHMALJOHN; HJELLE, 1997; PADULA et al., 2000; CASTILLO et al., 2007;

LIMONGI et al., 2007).

A América do Sul superou a do Norte em número de casos da SCPH, principalmente

pelas ocorrências na Argentina, Brasil e Chile (FIGUEIREDO; CAMPOS; RODRIGUES,

2001) (Figura 3).

Figura 3 - Representação geográfica da incidência de hantavirose por país, de acordo com a

forma clínica (adaptado). (Cortesia de Douglas Goodin, Kansas State University;

reproduzido com permissão) (JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010)

HPS – Hantavírus Pulmonar Syndrome (HPS é o mesmo que SCPH); HFRS –

Haemorrhagic Fever with Renal Syndrome; NE – Nephropatia Epidemic

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2.5 TRANSMISSÃO DO HANTAVÍRUS

Os Hantavírus infectam roedores, que eliminam o vírus na urina, nas fezes e na saliva,

transmitindo ao homem através de inalação de minúsculos aerossóis contendo os patógenos

(SCHMALJOHN; HJELLE, 1997; LEVIS et al., 1998) (Figura 4).

Figura 4 – Ciclo biológico de transmissão dos Hantavírus. Fonte: Adaptado de BIOBIO, 2014

No Brasil, a transmissão de Hantavírus ocorre principalmente nas áreas rurais. A

transmissão pode ocorrer em qualquer local que esteja infEstado por roedores como, paióis de

fazenda, galpões para armazenamento de grãos, porões ou sótãos de casas velhas ou

abandonadas e também, domicílios construídos ao lado de matas ou ambientes silvestres.

Locais que armazenam grãos e outros alimentos para consumo humano, frequentemente,

atraem os roedores para o ambiente peri-domicílio ou intra-domicílio. Os roedores podem

invadir as casas à procura de alimento, particularmente em períodos de seca ou mesmo

fugindo de queimadas realizadas no campo. Nesses ambientes os roedores silvestres são

atraídos pelo alimento estocado em silos durante estação seca, quando também é comum a

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prática de queimadas, a fim de limpá-los. O fogo expele os roedores causando sua migração

para edifícios onde atividades humanas acontecem. E deve ser considerado também que a

grande expansão das áreas urbanas tem permitido maior contato do homem com os

reservatórios naturais dos Hantavírus (FIGUEIREDO; CAMPOS; RODRIGUES, 2001;

WATSON et al., 2014).

Outro problema ambiental que deve ser considerado é a expansão urbana não

planejada, avançando em áreas de mata nativa ou fazendas. Os dois biomas que têm sido mais

afetados no Brasil são a Mata Atlântica, na região sudeste, e o Cerrado, na região central;

estas duas regiões são responsáveis por mais de 80% dos casos notificados no país

(FIGUEIREDO et al., 2009; PINTO JUNIOR et al., 2014).

A infecção costuma ocorrer durante procedimentos que permitem a aerosolização de

partículas virais, presentes no ambiente, seja através de atividades de lazer, esporte, turismo,

visitas esporádicas ou mesmo em situações de trabalho tais como limpeza de pisos contendo

excretas de roedores, demolições de construções rurais com alto índice de infestação por esses

mamíferos, ou durante a remoção de grãos de cereais armazenados em silos e paióis. Outra

maneira de aquisição desses agentes patogênicos ocorre quando o homem se abriga

temporariamente em construções fechadas há semanas ou meses, em áreas rurais, margens

dos rios ou em ambientes silvestres, para atividades como caça ou pesca; durante o período

em que permanecem fechadas, pode ocorrer invasão e reprodução dos roedores nesses locais,

permitindo o acúmulo de excretas desses animais no assoalho e a inalação de grandes

inóculos virais, em especial quando da remoção desse material. Estudos têm demonstrado que

animais domésticos não são portadores desse vírus e, portanto, não oferecem riscos ao

homem; mesmo hamsters, camundongos ou pequenos ratos brancos, utilizados como animais

de estimação, não são portadores desse agente e podem ser manuseados com segurança

(PINTO JUNIOR et al., 2014).

As hantaviroses têm sido também consideradas doenças de caráter profissional.

Determinados grupos são acometidos por essas enfermidades, tais como fazendeiros,

engenheiros agrônomos, veterinários, geólogos, trabalhadores da construção civil (que fazem

obras em zonas rurais), biólogos que se dedicam ao estudo de pequenos mamíferos e militares

em treinamento. Esses profissionais expõem-se a esses vírus e muitos apresentam anticorpos

circulantes, sem jamais terem tido sinais de doença. No Brasil, mais de 50% das infecções

ocorreram em indivíduos ligados às atividades agropecuárias (WATSON et al., 2014).

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Desde o reconhecimento da síndrome pulmonar por Hantavírus nas Américas, o

gênero Hantavírus tem sido continuamente descrito em todo o mundo em uma variedade de

animais selvagens (Figura 5). Os reservatórios conhecidos são mais de 80, pertencentes a 51

espécies de roedores, 7 de morcegos (Chiroptera ordem) e 20 de musaranhos e toupeiras

(ordem Soricomorpha). Mais de 80 vírus geneticamente relacionados foram classificados no

gênero Hantavírus (SUZUKI et al., 2004; DE OLIVEIRA; GUTERRES; et al., 2014;

WATSON et al., 2014).

Figura 5 – Espécies de roedores que podem ser reservatórios dos Hantavírus. Fonte: Center

for Disease Control and Prevention (CDC), 2014

No roedor, a infecção pelo Hantavírus é transmitida de forma horizontal e não é letal,

o que o torna um reservatório por longo período, provavelmente por toda vida. Os Hantavírus

evoluíram com os respectivos hospedeiros, o que determinou um certo tropismo entre cada

tipo de vírus e a espécie de roedor reservatório. No Hemisfério Sul os Hantavírus conhecidos

têm como reservatórios roedores da subfamília Sigmodontinae, e no Hemisfério Norte, as

subfamílias envolvidas na transmissão são as Sigmodontinae e a Arvicolinae (BRASIL,

2009).

No Brasil, onde a diversidade de mamíferos e especialmente de roedores é considerada

um dos maiores do mundo, 9 genótipos de Hantavírus foram identificados em 7 diferentes

espécies de roedores que são consideradas como prováveis reservatórios: (1) Necromys

lasiurus (Figura 6), conhecido como pixuna ou também como “rato do rabo peludo” cujo

Hantavírus associado é o Araraquara e está presente nos biomas Cerrado e Caatinga; (2)

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Oligoryzomys nigripes, “ratinho do arroz”, hospedeiro do vírus Juquitiba e Araucária,

presente no bioma da Mata Atlântica; (3) Oligoryzomys aff. moojeni, identificada

recentemente como reservatório da variante Castelo dos Sonhos, e (4) Calomys aff. callosus,

que está associada a variante Laguna Negra, ambas detectadas em área de transição entre os

biomas de Cerrado e Floresta Amazônica; e (5) Oligoryzomys fornesi e (6) Holochilus sciurus

que albergam os Hantavírus Anajatuba e Rio Mearim, também detectadas em uma área de

transição entre Floresta Amazônica e Alagados; (7) outro reservatório de Hantavírus é o

Oligoryzomys microtis, cuja variante associada é o Rio Mamoré. Estudo realizado em São

Paulo mostrou também locais com alta densidade populacional de roedores silvestres

infectados com o vírus (Akodon paranaenses sp.), associado à cepa Araucária. Estas

complexas relações entre vírus e reservatórios no Brasil, indicam o impacto na dinâmica de

transmissão de Hantavírus na natureza e epidemiologia humana. (DE OLIVEIRA;

GUTERRES; et al., 2014)

Figura 6 – Rato do rabo peludo presente no bioma cerrado. Fonte: arquivo pessoal.

Têm sido identificados diferentes roedores de acordo com a região. Os roedores da

subfamília Arvicolinae e Neotominae estão presentes na América do Norte e os da subfamília

Sigmodontinae na América do Norte, Central e do Sul. Na região central do Brasil no bioma

Cerrado, foram identificados o reservatório Necromys lasiurus associado ao vírus variante

Araraquara (ENRIA; LEVIS, 2004; LEVIS et al., 2004; MILLS; AMMAN; GLASS, 2010).

A diversidade de roedores no Brasil é considerada uma das maiores do mundo,

tornando-se importante entender a presença dessa diversidade de roedores, pois, isso implica

no aumento do número de animais como possíveis reservatórios de diferentes Hantavírus (DE

OLIVEIRA; GUTERRES; et al., 2014).

Necromys lasiurus

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A transmissão pessoa a pessoa foi relatada a primeira vez na Argentina. No primeiro

surto naquele país foram registrados 18 casos, sendo que três deles eram casos de médicos

que estavam tratando pacientes com hantavirose e que ficaram doentes. A contaminação

destes médicos sugeriu fortemente a possibilidade de transmissão direta, de pessoa para

pessoa. Este tipo de transmissão não tinha sido observado antes com nenhum tipo de

Hantavírus, fosse nas Américas ou mesmo na Europa e Ásia (TALMON et al., 2014).

O risco de transmissão pessoa a pessoa foi demonstrado em um estudo prospectivo no

Chile que identificou maior risco entre contatos domiciliares de pacientes infectados. Neste

estudo o risco global de casos secundários no domicílio foi de 3,4%, e entre parceiros sexuais

foi de 17,6%. Em estudo recente, realizado no mesmo país, também foi confirmada a

transmissão pessoa a pessoa (FERRES et al., 2007; MARTINEZ-VALDEBENITO et al.,

2014).

2.6 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

Os diferentes tipos de Hantavírus estão associados a diferentes manifestações clínicas

e severidade da doença. As duas formas clínicas mais reconhecidas são: Febre Hemorrágica

com Síndrome Renal (FHSR), reconhecida primariamente na Europa, e a Síndrome

Cardiopulmonar por Hantavírus – SCPH.

A SCPH associa choque cardiogênico e acometimento vascular, acompanhados por

pneumopatia grave, porém o seu mecanismo fisiopatológico ainda é pouco conhecido. As

manifestações clínicas nesta síndrome dependem do genótipo viral envolvido e podem variar

de uma forma assintomática a quadros clínicos clássicos de alta letalidade. O período de

incubação médio é de 15 dias, variando de 3 a 60 dias. Após esse período o paciente

desenvolve um quadro semelhante à influenza com febre e comprometimento pulmonar, que

pode evoluir rapidamente para forma respiratória grave (MCCAUGHEY; HART, 2000;

SAÚDE, 2009; WATSON et al., 2014).

A SCPH apresenta um quadro clínico com duração menor do que Pneumonia Aguda

Intersticial, um dos diagnósticos diferenciais, e também as mudanças histopatológicas são

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mais agudas. Na síndrome pulmonar é possível distinguir a presença de leucócitos imaturos

na vasculatura pulmonar. (COLBY et al., 2000).

Esta Síndrome geralmente apresenta três fases clínicas distintas: a fase inicial

prodrômica, a fase cardiopulmonar e a fase convalescente. A fase inicial é caracterizada por

sintomas semelhantes aos da gripe, dura geralmente de três a seis dias, e é caracterizada por

febre, mialgia, mal-estar geral, cefaléia, calafrios, dores nas costas, náusea, vômito ou outra

manifestação gastrintestinal, como dor abdominal e diarréia, no entanto não há observação de

queixas respiratórias (McCAUGHEY e HART, 2000).

Na fase cardiopulmonar, inicialmente 4-12 horas após a instalação da tosse sem

expectoração (tosse seca) se caracteriza por taquipnéia, dispnéia e hipoxemia. Nas formas

graves há evolução em pouco tempo para insuficiência respiratória aguda associada com

hipotensão, edema pulmonar não-cardiogênico, hipovolemia, distensão abdominal e possível

manifestação hemorrágica. Nesta fase há alterações na permeabilidade do endotélio,

resultando na saída de fluídos e proteínas para o parênquima pulmonar, consequentemente

ocorrendo dispneia e taquicardia, o que exige a imediata hospitalização do paciente com

assistência ventilatória mecânica. Os pacientes que sobrevivem evoluem para uma fase

diurética na qual há reabsorção do líquido previamente retido no interstício, e em seguida,

sobrevém a fase de convalescença (FIGUEIREDO; CAMPOS; RODRIGUES, 2001;

MURANYI et al., 2005).

O avanço dos conhecimentos médicos sobre as duas formas clínicas de hantavíroses,

FHSR e SCPH, leva a concluir que ambas as síndromes são parcialmente sobrepostas. O

número de registros de casos de FHSR com comprometimento dos pulmões e casos de SCPH

com comprometimento renal está continuamente crescendo, concebendo-se que a descrição

dos cursos de ambas as síndromes convergirá em um futuro próximo (MURANYI et al.,

2005).

O diagnóstico da hantavirose é feito com base nos achados clínicos e sorológicos. O

diagnóstico diferencial deve ser feito considerando as doenças de origem infecciosa como

leptospirose, influenza e parainfluenza, dengue, febre amarela e febre do Valle Rift, doenças

por vírus Coxsackies, Adenovirus e Arenavirus (febre de Lassa), triquinelose, malária,

pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias, rickettsioses,

histoplasmose, pneumocistose. E também doenças não infecciosas como: abdômen agudo de

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etiologia variada, síndrome da angústia respiratória (SARA), edema agudo de pulmão

(cardiogênico), pneumonia intersticial por colagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite

reumatóide); doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). (BRASIL., 2009).

A trombocitopenia pode ser detectada no curso inicial da doença e o exame de

Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA) pode detectar anticorpos IgM específicos. Os

títulos mais elevados são demonstráveis entre 8 e 25 dias após o início da doença.

O diagnóstico sorológico específico de hantavirose no Brasil, consiste na detecção de

anticorpos imunoglobulina M (IgM) e imunoglobulina G (IgG), contra a nucleoproteína viral,

que é a proteína mais conservada e altamente imunogênica dos Hantavírus, sendo realizado

pelo teste imunoenzimático ELISA. Trata-se de teste sorológico com boa sensibilidade e

especificidade para o antígeno do Hantavírus (SANTOS et al., 2013; MATTAR et al., 2014).

O diagnóstico laboratorial para a identificação das espécies de roedores hospedeiros de

Hantavírus nos estudos ecoepidemiológicos é baseado no teste de ELISA para a detecção de

anticorpos da classe IgG (PADULA et al., 2000).

O método ELISA-IgM é efetivo para o diagnóstico da hantavirose, haja vista que cerca

de 95% dos pacientes com SCPH têm IgM detectável em amostra de soro coletada no início

dos sintomas. Além dele pode ser lançado mão também da imunohistoquímica para o

diagnóstico nos casos de óbitos, quando não foi possível a realização do diagnóstico

sorológico in vivo. Esta técnica identifica antígenos específicos para Hantavírus em

fragmentos de órgãos. O método de diagnóstico molecular - RT-PCR é considerado o exame

complementar para fins de pesquisa, e útil para identificar o vírus e seu genótipo (BRASIL.,

2009).

2.7 TRATAMENTO

Até o presente momento não há drogas antivirais que sejam aplicáveis para o

tratamento da infecção por Hantavírus na SCPH. A terapêutica baseia-se em medidas de

manutenção do Estado geral e no atento acompanhamento dos sinais vitais dos doentes. O

conhecimento da fisiopatologia da doença é essencial para orientar a manutenção da adequada

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19

oxigenação e monitoramento da função hemodinâmica, devendo ser evitadas a hipóxia grave

e a superidratação. Utilizam-se vasopressores e cardiotônicos para manter perfusão sem haver

administração excessiva de fluidos (HARTLINE et al., 2013).

O tratamento na fase inicial e sem complicações é somente sintomático. Deve ser feita

hidratação, sempre que necessária, mas com rigoroso controle dos dados vitais e dos

parâmetros hemodinâmicos e ventilatórios para evitar o agravamento do quadro

cardiorrespiratório. Nas fases mais avançadas da doença pode ser feita infusão endovenosa de

líquidos, com atenção rigorosa para não precipitar o edema pulmonar. O manejo adequado do

aporte líquido é o principal elemento terapêutico. O volume de líquidos administrados deve

ser suficiente para manter a pré-carga e assegurar um fluxo plasmático renal adequado,

mantendo o balanço hídrico negativo ou, pelo menos, igual a zero para não aumentar o edema

pulmonar. Recomenda-se a instalação de pressão venosa central (PVC) para avaliação e

monitoramento da pré-carga em pacientes graves, além de suporte e monitorização

hemodinâmica e ventilatória contínua. Precocemente, drogas cardiotônicas vasoativas devem

ser introduzidas para manter as condições hemodinâmicas e prevenir o choque (SAÚDE,

2009).

A imunização passiva tem sido objeto de estudos, mas ensaios clínicos futuros com

maior número de pacientes são necessários para confirmar se essa metodologia representa um

instrumento terapêutico essencial para o tratamento das hantaviroses humanas em fase aguda

(MURANYI et al., 2005).

2.8 CONTROLE E PREVENÇÃO

As medidas de controle devem sempre ter como foco os roedores silvestres, os

portadores de Hantavírus e responsáveis pela contaminação através da excreção das fezes,

urina ou saliva, e devem estar voltadas para evitar que pessoas entrem em contato com esses

roedores e suas excretas. Estudos em diferentes regiões das Américas têm apontado para a

possível associação do clima e estação com o aumento da população de roedores e,

consequentemente maior risco de transmissão do Hantavírus para os seres humanos

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(KRUGER; ULRICH; LUNDKVIST, 2001; MONTGOMERY et al., 2012; RICHARDSON

et al., 2013; MCCONNELL, 2014; OLIVEIRA et al., 2014; WATSON et al., 2014).

A melhor forma de prevenir a infecção pelo Hantavírus e a hantavirose ainda é a

profilaxia para evitar a exposição aos agentes e seus reservatórios, e isso significa evitar a

exposição aos roedores e suas excretas. Para isso são necessárias medidas de controle da

infestação de roedores dentro e fora dos domicílios humanos, como procurar usar

equipamentos de proteção como luvas e máscaras quando for realizar atividades de limpeza

em locais onde seja possível a presença de ratos, como paióis, galpões de armazenamento de

alimentos, casas fechadas por longo tempo (KRUGER; SCHONRICH; KLEMPA, 2011;

OLIVEIRA et al., 2014; WATSON et al., 2014).

Outras medidas de orientação e proteção individual são fundamentais para prevenção

da hantavirose como a construção de edificações adequadas e acondicionamento adequado de

alimentos para uso animal e humano para evitar o acesso do roedor; promover ventilação de

locais fechados por longo tempo antes de fazer limpeza ou utilizá-los e também orientar a

população que habita áreas rurais quanto à gravidade da doença, os meios de adquiri-la e as

medidas de prevenções (SAÚDE, 2009; DE OLIVEIRA; GUTERRES; et al., 2014).

Os trabalhos ecoepidemiológicos são de suma importância para proporcionar o

conhecimento da espécie transmissora e prevalência da infecção em roedores hospedeiros,

contribuindo para o desenvolvimento de medidas de intervenção para um efetivo controle da

SCPH (AMIRPOUR HAREDASHT et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2014).

A identificação precoce dos casos de SCPH pode melhorar as possibilidades de

sobrevivência dos pacientes, onde os profissionais de saúde desempenham um papel

importante nessa identificação. Por essa razão, devem ser realizados programas educativos

para a orientação desses profissionais para o melhor conhecimento dessa doença,

procedimentos para o diagnóstico laboratorial, manejo e tratamento dos pacientes, e

recomendações preventivas (OPAS, 1999).

Até o presente momento, não há uma vacina licenciada contra os Hantavírus

causadores da SCPH, porém trabalhos envolvendo a engenharia genética já têm sido

desenvolvidos (HOOPER et al., 2006; MAES; CLEMENT; VAN RANST, 2009).

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21

Conhecer como a doença se comporta do ponto de vista clínico e epidemiológico é um

importante passo para identificar onde têm ocorrido as falhas no controle do sistema de

vigilância nacional, que tem permitido as crescentes taxas de incidência e de letalidade.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Descrever o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de

hantavirose no Estado de Goiás, em um período de 7 anos (2007 a 2013).

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever o perfil epidemiológico da hantavirose em Goiás;

Correlacionar o número de casos notificados com o número de casos confirmados;

Identificar a taxa de letalidade por hantavirose;

Descrever o quadro clínico dos casos de hantavirose confirmados no Estado.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Foi realizado estudo epidemiológico descritivo sobre a hantavirose no Estado de Goiás

em uma série histórica de sete anos, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos

de Notificação (SINAN).

A opção pelo período de 2007 a 2013 foi baseada na necessidade de obter dados

padronizados pelo máximo de tempo possível. As fichas de notificação da hantavirose têm

recebido alterações ao longo da implantação do sistema de vigilância no Brasil e isso altera a

composição do banco de dados que poderia ser usado para análises de séries temporais.

4.2 LOCAL DO ESTUDO

O estudo considerou dados de todo os municípios do Estado de Goiás no período entre

2007 e 2013.

O Estado de Goiás faz parte das 27 unidades federativas do Brasil e está situado na

região Centro-Oeste, no Planalto Central, com um território de 340.086 Km² e 246

municípios. É o Estado mais populoso da região, com 6.004.045 habitantes, com uma

densidade demográfica de 17,87 habitantes/km2; tem como principais atividades econômicas

a agricultura, pecuária e indústria (IBGE, 2010).

O clima é predominantemente tropical semi-úmido, com duas estações distintas,

caracterizadas em uma estação seca, de maio a setembro e outra, chuvosa, de outubro a abril.

O bioma cerrado, um dos 7 biomas terrestres identificados no Brasil é o segundo maior bioma

brasileiro, ocupa 97% o território do Estado de Goiás. E com uma área restrita de floreta

tropical, com vestígios de floresta atlântica nas proximidades da capital e ao sul do Estado.

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O cerrado é reconhecido como a savana brasileira e um dos biomas mais ricos do

mundo, abrigando mais de onze mil espécies de plantas nativas já catalogadas e cerca de 199

espécies de mamíferos conhecidos. Além do aspecto ambiental este bioma tem grande

importância social, pois muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, tais como

etnias indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

O cerrado brasileiro vem sofrendo grandes alterações para atender as ocupações

humanas, visando aumentar a produção de grãos, carne, o que tem levado ao esgotamento dos

recursos naturais e transformado o cenário da região, levando o homem a se transferir para as

margens das cidades ou fixando-o no campo em moradias inapropriadas.

4.3 COLETA DOS DADOS

Os dados foram obtidos diretamente do SINAN que disponibilizou banco de dados em

planilha eletrônica. Foram solicitados dados referentes à hantavirose que tivessem sido

notificados, com uso da Ficha de Notificação desse sistema, no Estado de Goiás, durante os

anos de 2007 a 2013.

O banco de dados foi primeiramente organizado manualmente, verificando

inconsistências e retiradas as duplicidades. Para a análise, dados em branco ou registrados

como ignorados na planilha, foram descartados e desconsiderados.

Os dados utilizados foram os mesmos da ficha epidemiológica do SINAN (Anexo 1) e

classificados como variáveis sócio-demográficas, epidemiológicas, clínicas, e de tratamento.

As variáveis foram coletadas no formato como são registradas na ficha do SINAN, como por

exemplo, a variável Raça/cor é categorizada em branca, preta, amarela, indígena e ignorado.

A variável ocupação é registrada na ficha conforme informado e, posteriormente, é codificado

de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). Para estes casos foi utilizada a tabela de códigos para identificação da

ocupação dos casos confirmados (IBGE, 2014).

Foi utilizado o indicador Taxa de Letalidade e o número absoluto de casos e não a taxa

de incidência, por se tratar de agravo de baixa frequência.

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4.4 ASPECTOS ÉTICOS

Este estudo não teve participação direta das pessoas envolvidas e não houve utilização

de dados pessoais ou que as pudessem identificar. Foram utilizados dados secundários para

análise que tiveram sua origem em sistema de informação instituído para notificação de casos

e agravos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Goiás e aprovado sob Parecer 713.807 de 09 de julho de 2014 (Anexo 2).

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram recolhidos diretamente do Sinan-NET versões 2007, 2008 e atual e de

acordo com o preenchimento das fichas de notificação referentes ao Estado de Goiás para o

período de 2007 até 2013, considerando os dados informados anualmente. As fichas de

investigação têm passado por alterações, com inclusão de variáveis e exclusão e isso levou a

exclusão de algumas variáveis do período analisado. A análise estatística foi realizada com

auxílio do programa SPSS versão 20.0. As variáveis categóricas foram apresentadas em

números absolutos e proporções e as variáveis quantitativas em valores médios, medianas e

desvio padrão. Os testes estatísticos foram realizados para avaliar possíveis associações entre

variáveis, através da aplicação do teste qui-quadrado (2) ou teste exato de Fischer quando

aplicável.

O intervalo de confiança considerado foi de 95% e o nível de significância de 0,05.

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5 RESULTADOS

No período de 2007 a 2013 foram notificados 1171 casos suspeitos de hantavirose no

Estado de Goiás, com uma média anual no período de 167,3 notificações/ano, sendo o ano de

2010 com maior frequência de notificações com 290 (24,8%) casos notificados, seguido por

2013 com 260 (22,2%) notificações. Do total de casos notificados, foram confirmados 73

casos (6,2%), sendo a média de 10,4 casos por ano. A proporção de casos confirmados, sobre

o número de casos notificados como suspeitos, foi maior no ano de 2008, com 11 casos

confirmados (20,0%) sobre o total de 55 notificados naquele ano (Tabela 01).

Tabela 01 – Distribuição do número e proporção de casos de hantavirose notificados e

confirmados segundo o ano, no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

Notificados Confirmados Razão casos/ano

Ano n %1 n %

2 1:1

2007 35 3,0 6 17,1 5,8:1

2008 55 4,7 11 20,0 5,0:1

2009 153 13,1 14 9,2 11,0:1

2010 290 24,8 10 3,4 29,0:1

2011 194 16,6 15 7,7 13,0:1

2012 184 15,7 9 4,9 20,4:1

2013 260 22,2 8 3,1 32,5:1

Total 1171 100,0 73 6,2 16,0:1

1 – Proporção de casos notificados calculada sobre o total do período de 7 anos.

2 – Proporção de casos confirmados calculada sobre o total de casos notificados como

suspeitos naquele ano.

A distribuição dos casos de hantavirose confirmados no Estado de Goiás no período

do estudo (2007 a 2013) mostra uma concentração na região central e sudoeste do Estado,

com o maior número de casos na capital Goiânia, com 32 casos e letalidade de 56,3%, seguida

por Anápolis, com 14 casos e letalidade de 50,0% e Jataí com 8 casos e 62,5% de letalidade

(Figuras 7 e 8).

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Figura 7 – Distribuição dos casos confirmados de hantavirose no Estado de Goiás, no período

de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

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Figura 8 – Distribuição da taxa de letalidade por hantavirose no Estado de Goiás, no período

de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

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Os municípios com maior número de notificações de casos suspeitos de hantavirose no

período analisado foram, pela ordem, Goiânia (795 notificações), Anápolis (173 notificações),

Jataí (58 notificações) e Aparecida de Goiânia (21 notificações) (Tabela 04).

A idade média dos casos confirmados da doença foi 35,4 anos ( 13,2 anos), com a

mínima de 12 anos e máxima de 71 anos; a faixa etária com maior número de casos foi de 20

a 49 anos e maior frequência entre o sexo masculino, com 68,5% dos casos (p<0,05). Com

relação à escolaridade, a maior frequência foi de casos de hantavirose em indivíduos com

ensino fundamental ou médio. A raça parda teve maior frequência, seguida da raça branca

(Tabela 02).

Tabela 02 – Caracterização sócio-demográfica dos casos de hantavirose confirmados no

período de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

Média / Mediana Desvio Padrão

Intervalo de Confiança

Idade 35,4 / 33,5 13,9( 12 ----- 71)

n %

Sexo

Masculino 50 68,5

Feminino 23 31,5

Escolaridade

E. Fundamental 19 26,0

E. Médio 15 20,5

E. Superior 3 4,1

Sem registro 36 49,3

Faixa etária

≥ 1 ano 1 1,4

2 a 19 anos 7 9,6

20 a 49 anos 54 74,0

50 a 69 anos 10 13,7

≥ 70 anos 1 1,4

Raça/Cor

Branca 26 35,6

Preta 1 1,4

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Amarela 1 1,4

Parda 37 50,7

Ignorado 6 8,2

Sem registro 2 2,7

Cerca de um terço dos casos informaram contato com roedores e os demais negaram

ou não sabiam informar, e praticamente a metade não foi caracterizada como doença do

trabalho (p>0,05). O tipo de ocupação não esteve associado com a frequência dos casos. As

principais ocupações identificadas, dentre outras, foram: trabalhador rural ou agropecuarista

(7), trabalhador da construção civil (6), motorista de caminhão ou operador de máquinas

agrícolas (3), e comerciante atacadista (3) (Tabela 03).

Tabela 03 - Caracterização epidemiológica dos casos de hantavirose confirmados no

período de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

Fatores de risco para exposição n %

Contato com roedores 24 32,9

Doença do trabalho 24 32,9

Exposição em limpeza de casa 29 39,7

Atividade de pesca, turismo rural 19 26,0

Desmatamento 16 21,9

Trabalho em ambiente interno (farmácia, costureira, doméstica) 12 16,4

Dormiu em barraca 11 15,1

Trabalho em moagem de grãos 10 13,7

Transporte de carga 9 12,3

Trabalho no Setor Agropecuário 7 9,6

Trabalho em atividades externas (corretor, agente de saúde, construção

civil)

6 8,2

Outras ocupações laborais (mecânicos, marceneiros, pedreiros,

ambulantes, feirantes)

5 6,8

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Não houve associação entre a frequência de casos confirmados da doença e a

sazonalidade climática da região. Não foi identificado nenhum padrão de distribuição dos

casos de hantavirose com as estações no Bioma Cerrado (seca e chuvosa) (Figura 9).

Figura 9 – Diagrama de controle da hantavirose no Estado de Goiás, 2014. Fonte: Sistema de

Informação de Notificação de Agravos (SINAN – SVS/MS)

O número de casos de hantavirose notificados no Estado de Goiás, no período de 2007

a 2013 mostrou tendência de crescimento. E o número de casos confirmados não apresentou

crescimento proporcional aos casos informados. Os anos com maior número de casos

notificados foram 2010 e 2013. E os anos com maior número de casos confirmados foram

2009 e 2011, com 14 e 15 casos, respectivamente (Figura 10).

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

média 0,7 0,9 0,7 0,6 0,3 0,6 0,6 0,7 0,4 0,6 0,6 0,6

valor máximo esperado 1,7 2,1 1,7 1,4 1,3 1,4 1,4 1,7 1,3 1,2 1,2 1,2

ano 2009 0 0 1 0 1 0 1 6 1 3 1 0

ano2011 0 0 2 4 2 2 1 1 1 1 1 0

0

1

2

3

4

5

6

7

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Figura 10 – Distribuição do número de casos de hantavirose notificados no período e número

de casos confirmados. Goiás, 2014. Fonte: Sistema de Informação de Notificação de Agravos

(SINAN – SVS/MS)

A taxa de letalidade em todo o Estado, no período de 2003 a 2013 foi de 57,5% sobre

total de casos confirmados como hantavirose. Esta taxa foi semelhante entre homens (56,0

(50/28) e mulheres 60,9% (23/14) e entre as faixas etárias analisadas, com 53,0% (54/29) de

letalidade na faixa de 20 a 49 anos (Tabela 04).

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

casos notificados 35 55 153 290 189 190 259

casos confirmados 6 11 14 10 15 9 8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

50

100

150

200

250

300

350

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Tabela 04 – Distribuição do número de casos de hantavirose notificados, confirmados,

óbitos pela doença e taxa de letalidade segundo os municípios no período de 2007 a 2013.

Goiás, 2014.

Classificação final

Casos

Notificados

Confirmados

Óbitos

Taxa de

letalidade

Municípios n % N % n % %

Americano do Brasil 1 0,1 - - - - -

Anápolis 173 14,8 14 19,2 7 16,7 50,0

Aparecida de Goiânia 21 1,8 2 2,7 2 4,8 100,0

Bela Vista de Goiás 3 0,3 - - - - -

Bonfinópolis 1 0,1 1 1,4 - - -

Cachoeira de Goiás 1 0,1 - - - - -

Caiapônia 1 0,3 - - - - -

Caldas Novas 4 0,1 - - - - -

Campestre de Goiás 1 0,1 - - - - -

Campo Alegre de Goiás 1 0,1 1 1,4 1 2,4 100,0

Catalão 12 1,0 3 4,1 2 4,8 66,7

Caturaí 1 0,1 - - - - -

Cidade Ocidental 1 0,1 1 1,4 1 2,4 100,0

Cocalzinho de Goiás 1 0,1 - - - - -

Corumbá de Goiás 1 0,1 1 1,4 1 2,4 100,0

Cristalina 5 0,4 1 1,4 - - -

Cumari 2 0,2 - - - - -

Estrela do Norte 1 0,1 - - - - -

Formosa 2 0,2 - - - - -

Gameleira de Goiás 1 0,1 - - - - -

Goiânia 795 67,9 32 43,8 18 42,9 56,3

Goiatuba 2 0,2 - - - - -

Indiara 1 0,1 - - - - -

Itaberaí 1 0,1 - - - - -

Itapaci 1 0,1 - - - - -

Itumbiara 2 0,2 - - - - -

Jataí 58 5,0 8 11,0 5 11,9 62,5

Luziânia 10 0,9 - - - - -

Mineiros 12 1,0 1 1,4 1 1,4 100,0

Montividiu do Norte 1 0,1 - - - - -

Nerópolis 3 0,3 1 1,4 1 1,4 100,0

Nova Veneza 1 0,1 - - - - -

Novo Gama 1 0,1 - - - - -

Ouro Verde de Goiás 1 0,1 - - - - -

Palminópolis 1 0,1 - - - - -

Petrolina de Goiás 1 0,1 - - - - -

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Rialma 2 0,2 - - - - -

Rianápolis 1 0,1 - - - - -

Rio Verde 11 0,9 1 1,4 1 1,4 100,0

Santa Bárbara de Goiás 1 0,1 - - - - -

Santa Helena de Goiás 1 0,1 1 1,4 - - -

Santa Rosa de Goiás 2 0,2 1 1,4 - - -

São Miguel do Passa

Quatro

1 0,1 - -

- -

-

Senador Canedo 3 0,3 - - - - -

Silvânia 1 0,1 - - - - -

Taquaral de Goiás 2 0,2 - - - - -

Trindade 1 0,1 - - - - -

Turvelândia 1 0,1 - - - - -

Vianópolis 1 0,1 - - - - -

Vicentinópolis 1 0,1 - - - - -

Brasília 17 1,5 4 5,5 2 2,4 50,0

Total 1171 100,0 73 6,2 42 100,0 57,5

Do total de casos confirmados, 93,2% (68) foram hospitalizados e 82,2% (60) com

diagnóstico de forma clínica SCPH. A quase totalidade dos casos teve confirmação

diagnóstica por meio laboratorial (Tabela 05).

Tabela 05 - Caracterização clínica dos casos de hantavirose confirmados no período de

2007 a 2013. Goiás, 2014.

Variáveis n %

Hospitalizações 68 93,2

Evolução para cura 28 38,4

Óbito por hantavirose 42 57,5

Óbito por outra causa 2 2,7

Forma Clínica Prodrômica 13 17,8

Forma Clínica SCPH 60 82,2

Critério diagnóstico Laboratorial 71 97,3

Critério Clínico-epidemiológico 2 2,7

Sintomas neurológicos 13 17,8

Insuficiência cardíaca 7 9,6

Choque 13 17,8

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Dentre as 68 hospitalizações, 61,8% (42) foram à óbito. Em 2011 foram registrados os

maiores números de hospitalizações e óbitos, entre o total de casos confirmados no Estado

(73) (Tabela 06).

Tabela 06 – Distribuição do número e porcentagem de óbitos e hospitalizações segundo o

ano. Goiás, 2014.

Casos confirmados Óbitos Hospitalizações

N % N % n %

2007 6 8,2 - - 6 8,8

2008 11 15,1 4 9,5 11 16,2

2009 14 19,2 8 19,4 11 16,2

2010 10 13,7 7 16,7 9 13,2

2011 15 20,5 10 23,8 15 22,1

2012 9 12,3 6 14,3 8 11,8

2013 8 11,0 7 16,7 8 11,8

Total 73 100,0 42 57,5 68 93,2

Ao dividir o período analisado em duas fases, a primeira até o ano de 2010 e a segunda

de 2011 a 2013, foi identificado que a proporção de óbitos foi maior no segundo período. E a

forma clínica SCPH foi mais diagnosticada em ambos os períodos (p< 0,05) (Tabela 07).

A taxa de letalidade foi de 46,3% no primeiro período e passou para 71,9% no

segundo período.

Tabela 07 – Distribuição do número de casos e porcentagens de óbitos por hantavirose

no período. Goiás, 2014.

* Qui-quadrado ** Exato de Fisher; SCPH – Síndrome Cardiopulmonar

Ano caso

2007 até 2010 2011 até 2013 P

n % n %

Óbitos 19 48,8 23 71,9 0,003*

Forma Clínica Prodrômica 4 9,8 9 28,1 0,042**

Forma Clínica SCPH 37 90,2 23 71,9

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36

Os casos de óbitos foram mais frequentes entre aqueles que foram diagnosticados já na

forma clínica SCPH do que entre aqueles em fase prodrômica. Do total de 42 óbitos, 36

(85,7%) ocorreram entre aqueles com SCPH.

Em relação à taxa de letalidade por hantavirose houve uma tendência de crescimento

em todo o período analisado, exceto por um pequeno recrudescimento no ano de 2012,

voltando a crescer em 2013, alcançando taxa superior a 80,0% (Figura 11).

Figura 11 – Distribuição do número de casos de hantavirose confirmados e taxa de letalidade

segundo o ano da notificação. Goiás, 2014. Fonte: Sistema de Informação de Notificação de

Agravos (SINAN – SVS/MS)

Os achados laboratoriais identificaram 5 (10,0%) casos de leucopenia, 21 (42,0) com

leucócitos aumentados (desvio à esquerda), linfócitos atípicos em 7 (43,8%) casos avaliados e

trombocitopenia em 25 (49,0%). Foram identificadas ureia e creatinina aumentados em 25 dos

casos avaliados. O exame imunohistoquímico foi positivo em 12 (50,0) e a sorologia foi

reagente (IgM) para 57 (90,5%) dentre aqueles que realizaram o exame. O PCR só foi

realizado em 60 casos, e com resultado positivo em 4 (6,7%) (Tabela 08).

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

casos 6 11 14 10 14 10 8

taxa de letalidade 36,4 57,1 70 71,4 60 87,5

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

2

4

6

8

10

12

14

16

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37

Tabela 08 – Distribuição do número e proporção dos resultados dos exames

laboratoriais entre os casos confirmados e investigados de Hantavirose no período de

2007 a 2013. Goiás, 2014.

Exames n %

Leucopenia (n=50) 5 10,0

Leucócitos aumentados – desvio E (n=50) 21 42,0

Linfócitos atípicos (n=16) 7 43,8

IgM reagente (n=63) 57 90,5

PCR (n=60) 4 6,7

Trombocitopenia (n=51) 25 49,0

Uréia e creatinina aumentados (=50) 25 50,0

Imunohistoquímico positivo (n=18) 12 66,7

Infiltrado difuso presente (n=50) 40 80,0

Infiltrado localizado (n=50) 10 20,0

Em relação aos sinais e sintomas a febre foi o mais frequente, com 95,9% dos casos

apresentando, seguida por tosse seca (71,2%) e mialgia (69,9%) (Figura 12).

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38

Figura 12 – Proporção das manifestações clínicas da hantavirose no período de 2007 a 2013.

Goiás, 2014.

Em relação ao tratamento oferecido para os casos confirmados, foi identificado que 36

(49,3%) tiveram assistência com respirador mecânico; 10 (13,7%) foram assistidos com

CPAP; 6 (8,2%) casos fizeram tratamento com antivirais, 23 (31,5%) com corticosteroides e

43 (58,9%) com antibióticos (Tabela 09).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Diarréia

Dor lombar

Tontura

Dor abdominal

Astenia

Dor torácica/Infiltrado

Náuseas/vômitos

Cefaléia

Mialgia

Insuficiência respiratória

Tosse seca

Dispnéia

Febre

%

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Tabela 09 – Descrição do tratamento realizado entre os casos confirmados de

Hantavirose no período de 2007 a 2013. Goiás, 2014.

Tratamento (n=73) n %

Ventilação mecânica 36 49,3

CPAP 10 13,7

Antivirais 6 8,2

Corticosteróides 23 31,5

Antibióticos 43 58,9

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40

6 DISCUSSÃO

Os primeiros casos de hantavirose conhecidos em Goiás foram registrados no ano

2000. No entanto, no bioma cerrado este agravo está presente desde 1996, ou seja, três anos

após o primeiro caso nacional ter sido identificado na região sudeste do país, mais

especificamente no Estado de São Paulo. Em estudo realizado em 2011 por Nunes et al., com

abrangência de todos os Estados brasileiros que estão localizados no bioma cerrado, incluindo

Goiás, e considerando um período de análise de 16 anos (1996 a 2008), a frequência média de

casos da doença foi de 26,6 casos/ano, o que foi superior ao número relatado em nosso estudo

(10,4 casos/ano).

No presente trabalho a distribuição de casos ao longo dos sete anos do período

analisado representou 6,2% do total de casos notificados como suspeitos. Foram necessárias

16 notificações para a confirmação de um caso de hantavirose no período. Foi também

identificado que há uma tendência de crescimento no número de casos confirmados, apesar de

não ser mantida uma proporcionalidade entre os casos notificados como suspeitos e os casos

com hantavirose. No primeiro ano analisado, em 2007, foram notificados 35 casos e

confirmados 6, o que representou a necessidade de notificar mais de 5 casos para a

confirmação de um único caso. Já no último ano da série analisada foram confirmados 8 casos

e notificados 260; foram necessárias mais de trinta notificações de casos suspeitos para a

confirmação de um caso de hantavirose. Portanto, o número de notificações aumentou ao

longo do período, mas isso não refletiu no número de casos confirmados.

Estes dados refletem o esforço da vigilância epidemiológica para que a doença possa

ser controlada e melhora no sistema de vigilância epidemiológica da hantavirose no Estado,

com o evidente Estado de alerta demonstrado pelos profissionais ao notificarem os casos. Por

outro lado, traduz também a dificuldade de diagnóstico diferencial da hantavirose com outras

doenças de origem infecciosa presentes na região, como lepstospirose, influenza, dengue,

febre amarela, malária e pneumonias, além de doenças não infecciosas, também comuns no

Estado, como doença pulmonar obstrutiva crônica, lúpus eritematoso sistêmico e artrite

reumatoide (BRASIL, MS, 2009; NUNES, et al. 2011; FIGUEIREDO, et al. 2009;

PEREIRA, et al. 2007).

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O total de casos confirmados no período ficou concentrado na região centro sul do

Estado, destacando-se Anápolis e Jataí como os municípios com maior frequência da doença,

depois da capital. Esta região do Estado é caracterizada por sua intensa produção agrícola e

pecuária, além de um recente desenvolvimento agroindustrial na produção de grãos. Goiás é o

principal produtor de sorgo no país, sendo responsável por 33% da produção nacional; além

disso, produz também arroz, café, feijão, trigo e alho. O Estado possui o terceiro maior

rebanho do país. Estas atividades têm sido responsabilizadas pela destruição do Bioma

Cerrado, pois há constantes desmatamentos e degradação do solo (GOIÁS, 2014).

O perfil dos pacientes no presente estudo foi semelhante ao encontrado em outros

estudos brasileiros e em países das Américas, com predominância de homens jovens, em fase

produtiva. Por outro lado, não foi identificada associação com a ocupação ou que pudesse

relacionar a doença às atividades laborais dos pacientes. Ressalta-se que o nível de

escolaridade identificada entre os casos confirmados foi predominantemente do ensino

fundamental, o que caracteriza, além de população jovem, indivíduos com baixa escolaridade

e voltados para ocupações relacionadas com atividades no campo ou mesmo na cidade, mas

que não exijam qualificação, como construção civil e motoristas. Estas ocupações favorecem

a exposição aos roedores e aumentam a possibilidade de contaminação pelo Hantavírus

(JONSSON; FIGUEIREDO; VAPALAHTI, 2010; TRAVASSOS DA ROSA et al., 2012;

TEIXEIRA et al., 2014; WATSON et al., 2014).

A etnia, que neste estudo foi considerada no formato como se apresenta na ficha de

investigação do SINAN, onde aparece como raça, não mostrou nenhuma associação com a

frequência da hantavirose, em nenhuma forma clínica. A maioria dos estudos relaciona a

presença do Hantavírus associado com questões sociais, econômicas e ambientais e não

isoladamente com a etnia. Estudo realizado nos Estados Unidos da América identificou a

presença do Hantavírus pulmonar e com distribuição de 63% entre caucasianos, 35%

americanos nativos e 2% americanos afrodescendentes, porém sem nenhuma associação com

a incidência da doença (SIMPSON et al., 1995; KHAN et al., 1996; SUZUKI; MUTINELLI,

2009).

A quase totalidade dos casos notificados foi confirmada por meio de critérios

diagnósticos laboratoriais (97,3%). No entanto, este foi um dado que, apesar de registrado na

ficha epidemiológica do SINAN, não foi possível confirmar através dos resultados

laboratoriais, pois muitos exames constam como não realizados.

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42

O contato com roedores ou mesmo a exposição em situações de risco como dormir em

barraca, limpeza de casa, moagem de grãos, transporte de carga, desmatamento e turismo

rural foram relatados por pouco mais de um terço dos casos confirmados. Tais situações são

comprovadamente associadas ao aumento da probabilidade de contaminação pelo Hantavírus

e não estão relacionadas somente a zona rural, mas também têm sido demonstradas nas

periferias das cidades dos países de baixa e média renda, onde o crescimento desordenado da

população e baixa cobertura de saneamento, promovem a proliferação dos roedores que

invadem os domicílios (NUNES, M.L. et al., 2011; PINTO JUNIOR et al., 2014; PINTO; AI;

ER, 2014).

A distribuição dos casos ao longo dos meses que compõem os anos não evidenciou

sazonalidade da infecção, pois o número de casos não se alterou de modo expressivo em

nenhum período. Mesmo durante os anos quando houve maior número de casos confirmados,

como foram 2009 e 2011, a distribuição temporal não esteve associada ao fator climático da

região. Esse resultado é diferente de outros estudos que identificaram uma maior concentração

de casos entre os meses de abril e agosto, associando ao período de seca, com maior

população de roedores, no bioma Cerrado; ou ainda no bioma Mata Atlântica onde a maior

frequência de registros foi entre os meses de setembro e dezembro (DONALISIO et al., 2008;

NUNES, M.L. et al., 2011).

A taxa de letalidade encontrada neste estudo, 57,5%, foi superior àquela encontrada

em estudo brasileiro realizado no bioma cerrado (32,5% e 44,5%, dependendo da região) e

também superior à taxa média de letalidade por hantavirose no Brasil, que é em torno de 46%

(FIGUEIREDO et al., 2009; GUTERRES et al., 2014).

A hantavirose é um agravo importante não só por sua magnitude, com frequência

distribuída em todo o território nacional, mas também por sua gravidade, diante das altas

taxas de letalidade que têm sido identificadas. Daí a necessidade de notificação imediata e um

sistema de vigilância epidemiológica eficaz que permita a identificação precoce dos casos,

ainda em fase inicial (Prodrômica), bem como a intervenção e tratamento eficaz. A taxa de

letalidade encontrada em nosso estudo foi maior entre aqueles diagnosticados já na forma

clinica SCPH. E quase a totalidade dos pacientes necessitou de assistência hospitalar, tendo

sido internados.

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43

A alta letalidade pode estar associada, segundo Figueiredo et al. (2014), às variantes

do Hantavírus que apresentam diferentes virulências. A letalidade no Planalto Central e no

bioma cerrado tem se apresentado maior do que em todo o país ou em outro bioma como a

Mata Atlântica (FIGUEIREDO, et al. 2009).

Ressalta-se também que a hantavirose no Estado de Goiás tem sido diagnosticada já

em seu estágio avançado (SCPH), quando o comprometimento, principalmente respiratório, é

muito frequente. Isso, associado à alta virulência do Hantavírus, pode explicar, em parte, as

altas taxas de letalidade encontradas. Estudo realizado por Figueiredo et al. em 2009, com a

realização da genotipagem do Hantavírus presente em amostras de soro humano, indicou que

as duas linhagens presentes nas regiões sudeste, sul e planalto central brasileiro eram

Araraquara e Juquitiba e que, os casos fatais de SCPH foram mais frequentes com o vírus

Araraquara (FIGUEIREDO et al., 2009; KAYA, 2014; PINTO JUNIOR et al., 2014).

A taxa de letalidade foi superior a 50% em todos os municípios onde foram

identificados óbitos por hantavirose. A capital, Goiânia, apresentou uma taxa de letalidade de

56,3%, superior somente a de Anápolis que foi de 50,0%. No município de Jataí, que

apresentou uma das maiores frequências de hantavirose no Estado de Goiás, no período

analisado, a taxa de letalidade foi superior a 60%. Outros municípios que tiveram baixa

frequência da doença tiveram alta letalidade (100,0%).

Outro ponto a ressaltar com relação à taxa de letalidade é que ela vem aumentando de

modo progressivo e constante nos últimos anos. A análise dos primeiros quatro anos (2007 a

2010) da série deste estudo encontrou uma taxa de 46,3% e já no segundo período (2011 a

2013) esta taxa salta para 71,9%, o que significou um aumento de aproximadamente 26%. O

número de casos suspeitos tem aumentado em cada ano no Estado, sem refletir no aumento do

número de casos confirmados, porém com aumento importante na letalidade.

Além da virulência do Hantavírus e do diagnóstico tardio da hantavirose, que podem

ser responsabilizados por estas taxas de letalidade elevadas, cabe relacionar também com as

condições de assistência à saúde ineficaz em muitos municípios, principalmente aqueles de

menor porte e mais afastados dos grandes centros e que não dispõem de unidades para

tratamento intensivo naqueles casos de agravamento da doença com comprometimento

respiratório (CHANG et al., 2007).

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A quase totalidade dos casos confirmados foi hospitalizada e no ano de 2011, quando

houve maior número de óbitos, houve também maior número de hospitalizações. Neste estudo

não foi possível identificar qual a associação da assistência à saúde oferecida e a taxa de

letalidade. É importante ressaltar que a forma clínica mais presente foi a SCPH e que

caracteriza estágio avançado da doença e falha no diagnóstico precoce.

As principais manifestações clínicas da hantavirose nas Américas estão relacionadas

com comprometimento respiratório, como tosse e dispneia. No presente estudo foram

identificadas como manifestações mais frequentes a febre, tosse seca e dispneia. O que se

assemelha a outros estudos que também relatam a febre com frequência entre 78,0% até

100,0% dos casos no Bioma Mata Atlântica (HENKES; BARCELLOS, 2004; CHANG et al.,

2007; LIMONGI et al., 2007).

Ainda em relação aos aspectos clínicos, pode-se utilizar para comparação os dados

obtidos por Campos (2002), que analisou e acompanhou prontuários de 14 pacientes com

SCPH, observando febre em todos os casos, estertores pulmonares, dispneia e tosse (64,2%),

taquicardia acompanhada de hipotensão (64,2%), cefaleia e sintomas digestivos (57,0%),

adinamia e indisposição geral (50,0%), fenômenos hemorrágicos (28,5%), mialgia (21,4%) e

convulsão (7,5%). No perfil laboratorial, observou-se plaquetopenia < 130000/mm3 (100%),

hematócrito > 55% (78,6%); leucocitose > 15000/mm³ (64,2%), neutrofilia > 7000/mm3 e

bastonetes > 600 cels/mm3 (64,2%), creatinina sérica > 1,5mg/100ml (63,6%) e PO2, 70

mmHg (54,5%) (CAMPOS, G. M. , 2002; SANTANA RDE et al., 2006).

Além da febre, destacam-se ainda a dispneia, tosse seca e mialgia, sintomas estes que

são bastante comuns nos casos de hantavirose, assim como em várias outras doenças febris

agudas. Estes dados, mais uma vez, demonstram a dificuldade em se realizar um diagnóstico

precoce da morbidade em questão, justificando a necessidade de treinamento dos profissionais

de saúde sobre este tema, principalmente nas regiões com maior número de casos. Isto se

torna ainda mais relevante ao se detectar que a letalidade é maior entre os casos com

diagnóstico tardio, pois quando o paciente evolui para a fase cardiopulmonar torna-se mais

difícil o manejo clínico, piorando, consequentemente, o prognóstico.

Sobre as alterações laboratoriais é necessário salientar que, na maioria dos casos, estes

dados não são registrados na ficha de notificação, impossibilitando, assim, uma análise

criteriosa das informações. Mas considerando as informações obtidas, pode-se observar que o

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estudo em questão encontrou uma baixa ocorrência de leucopenia ou leucocitose, alterações

estas que são frequentemente descritas na literatura entre os casos avaliados. Dessa forma,

deve-se salientar a grande importância do preenchimento correto das fichas de notificação.

O aumento da frequência da hantavirose no Estado de Goiás, associada a sua alta

letalidade e ampla distribuição geográfica, faz com que esta infecção emergente em nosso

país deva ser encarada como um problema de saúde pública com vários desafios clínicos a

serem vencidos; a sua abordagem passa pela dificuldade do diagnóstico diferencial com

outras doenças que também apresentam quadro febril, fatores sociais e também

epidemiológicos (PINTO JUNIOR et al., 2014).

Existem questões a serem consideradas neste cenário, como conseguir controlar a

urbanização desenfreada em nosso Estado, identificar a proporção de casos da doença na

forma clínica SCPH e se há ocorrência de outras formas clínicas do Hantavírus, além de

conseguir identificar qual é o melhor marcador epidemiológico e clínico para monitorar a

doença.

Não foi possível analisar adequadamente o suporte terapêutico, pois os dados do

Sinan-NET acessados estavam incompletos. Tais informações seriam úteis para verificar

quais as medidas apresentaram maior eficácia no desfecho clínico dos pacientes. Sabe-se que

algumas situações como hiperidratação pode piorar o prognóstico, visto que o líquido

infundido tende a se concentrar no pulmão, agravando ainda mais a insuficiência respiratória

(PETERS et al., 2002).

Por outro lado, alguns clínicos preconizam o uso de corticosteroides em altas doses

como algo benéfico para o tratamento do extravasamento capilar em casos de SCPH com

grave insuficiência respiratória. Entretanto, trata-se de conduta sem estudo científico

comprobatório (AMOURA et al., 1997; PETERS et al., 2002). Outra possibilidade

terapêutica é o uso da droga antiviral Ribavirina, muito empregada no tratamento da hepatite

C crônica, e que demonstrou certa eficácia nos casos de FHSR (HUGGINS et al., 1991;

MORRISON et al., 1995), porém, não foi efetiva na SCPH (CHAPMAN et al., 2002;

HALLIN et al., 1996; PETERS et al., 2002). Tais informações não puderam ser obtidas

integralmente no presente estudo devido ao mau preenchimento dos formulários de

notificação.

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46

Assim, as limitações desse estudo prendem-se a algumas fragilidades do banco de

dados disponibilizado pelo SINAN, que, mesmo sendo um sistema de notificação

compulsória, ainda padece de inconsistências no preenchimento das fichas clínicas, limitando

a análise de dados como inicio dos sintomas e data da notificação/investigação.

Embora tenham sido detectadas estas dificuldades, nos últimos anos se observou uma

melhora gradativa e tênue no sistema de vigilância epidemiológica da hantavirose no Estado.

É importante adotar várias medidas visando à melhoria dos componentes e características

desse sistema, entre eles: fluxo de informação da notificação compulsória imediata, dos

serviços assistenciais para o serviço local de vigilância epidemiológica; qualidade da

investigação; disponibilidade de metodologias diagnósticas que permitam identificar as

variantes associadas à doença; comunicação em saúde; capacitação de profissionais das áreas

de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental; e monitoramento da qualidade das

informações coletadas e disponibilizadas (NUNES et al., 2011).

Outra limitação é a ausência de informação sobre a genotipagem do Hantavírus

envolvido nos casos confirmados, o que pode, inclusive, ser alvo de estudos futuros,

permitindo que se conheça a linhagem mais comum do vírus no Estado de Goiás.

Apesar disso, os dados analisados permitiram que fosse traçado um perfil

epidemiológico e clínico da hantavirose em Goiás, durante os últimos sete anos e, dessa

forma, alertar as autoridades sanitárias para que ações de vigilância sejam priorizadas,

principalmente em regiões do Estado onde a frequência tem se mostrado mais elevada.

Portanto, sabendo-se que a hantavirose é comum na região e apresenta uma elevada

taxa de letalidade, este estudo permite conhecer melhor o comportamento da doença, desde

suas características epidemiológicas até as manifestações clínicas mais comuns. Tais

informações são úteis na formulação do raciocínio clínico, fazendo com que os profissionais

de saúde sejam capazes de pensar precocemente nesta hipótese diagnóstica, fato este que pode

favorecer o prognóstico do paciente.

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7 CONCLUSÃO

A hantavirose apresentou frequência de 73 casos no Estado de Goiás no período

analisado, com predomínio entre os homens e na faixa etária adulto jovem. O número de

notificações ao longo de sete anos foi de 1171 casos suspeitos.

A doença está distribuída na região central e sudoeste do Estado, sem identificação de

casos confirmados no norte de Goiás. Os municípios com maior número de casos confirmados

foram Goiânia (32), Anápolis (14) e Jataí (8).

As ocupações laborais identificadas, apesar de não se mostrarem associadas aos casos

diagnosticados, apontam para a possibilidade de convívio do homem com roedores silvestres,

seja em ambiente externo ou interno de trabalho.

O aumento do número de notificações e da proporção de casos confirmados sugere

que o os profissionais de saúde têm se mostrado atentos e vigilantes para a possibilidade da

presença da hantavirose no Estado. Apesar da crescente notificação de casos suspeitos, o

número de casos confirmados não tem acompanhado este esforço de vigilância dos

profissionais.

No entanto, quando comparados estes dados com as elevadas taxas de letalidade e de

diagnóstico tardio, já na forma clínica SCPH, questiona-se sobre a capacitação e habilidades

técnicas das equipes de assistência, além dos serviços de saúde e as tecnologias

disponibilizadas para assistência à população.

A taxa de letalidade identificada foi de 57,5% em todo o período e superior a taxa

relatada para o país e para outras regiões já estudadas, além disso, esta taxa mostrou tendência

de elevação nos últimos anos, alcançando valores de 71,9%.

O quadro clínico descrito entre os casos confirmados refletiu a presença da forma

clínica SCPH, com sintomas como febre, dispneia, tosse seca e insuficiência respiratória. Este

quadro, associado às altas taxas de letalidade parecem apontar para as deficiências tanto no

serviço de Vigilância Epidemiológica, quanto na atenção terciária, com a ausência de

equipamentos e tecnologias necessários para o cuidado com pacientes graves.

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48

Alguns exames laboratoriais não foram realizados em todos os casos confirmados,

caracterizando uma fragilidade do sistema de vigilância, porém se observa que o critério

diagnóstico foi predominantemente laboratorial.

.

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49

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve o propósito de analisar os dados relativos a um agravo considerado

emergente em nosso país e utilizou dados sistematizados pela Vigilância Epidemiológica, que

tem abrangência e padronização nacional. O SINAN oferece a possibilidade de

acompanhamento e controle de diversos agravos de notificação compulsória e, dentre eles a

hantavirose. Estudos epidemiológicos com dados secundários obtidos a partir de fichas de

notificação estão sujeitos à fragilidade das informações e as mudanças do sistema de

vigilância.

O crescente número de notificações da doença sem reflexo no número de casos

confirmados aponta para a necessidade de capacitação técnica dos profissionais e maior

agilidade para as ações de investigação, haja vista que foram identificados casos ignorados na

classificação final.

O preenchimento da ficha de notificação deve ser realizado de forma completa e com

rigor das informações, pois este é o instrumento básico para qualquer sistema de vigilância.

Sugere-se que a ficha de investigação abra espaço para o registro de informações sobre

a genotipagem dos Hantavírus envolvidos, uma vez que este é um elemento importante no

diagnóstico e tratamento da hantavirose, além de permitir a identificação da virulência de

diferentes cepas e formas clínicas que podem estar surgindo no bioma Cerrado.

Estes são alguns pontos que devem merecer abordagens com métodos científicos

adequados para que o sistema de vigilância torne-se mais eficaz e consiga medidas de impacto

efetivas sobre o agravo.

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ANEXOS

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Anexo 1

Ficha de investigação de Hantavirose

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Anexo 2

Parecer Comitê de Ética

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Anexo 3

Artigo

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ESTUDO TRANSVERSAL SOBRE A HANTAVIROSE NO ESTADO DE GOIÁS NO

PERÍODO DE 2007 A 2013

Hélio Ranes de Menezes Filho1, Marcos Lázaro Moreli

2, Vivaldo Gomes da Costa³

1 – Universidade Federal de Goiás. Regional Jataí. Curso de Graduação em Medicina.

2, 3 – Universidade Federal de Goiás. Regional Jataí. Curso de Graduação em Biomedicina.

Resumo

Objetivo: Descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos dos pacientes com diagnóstico de

hantavirose no Estado de Goiás no período de 2007 a 2013. Métodos: Foi realizado um

estudo transversal com dados do Estado de Goiás, no período de 2007 a 2013, obtidos a partir

da ficha de investigação de hantavirose constante do Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN- NET). Os dados analisados foram sócio-demográficos, clínicos e

epidemiológicos, além da taxa de letalidade. Utilizou-se o programa SPSS (v.20) para análise

descritiva dos dados. Resultados: foram notificados 1171 casos suspeitos de hantavirose no

Estado de Goiás, e confirmados 73 casos (6,2%), sendo a média de 10,4 casos confirmados

por ano. A idade média dos casos confirmados da doença foi 35,4 anos ( 13,2 anos), com a

mínima de 12 anos e máxima de 71 anos; e maior frequência entre o sexo masculino, com

68,5% dos casos (p<0,05). A taxa de letalidade total no período foi de 57,5%. Não houve

associação entre a frequência de casos confirmados da doença e a sazonalidade climática. Do

total de 73 casos confirmados, 93,2% (68) foram hospitalizados e desses, 82,2% (60) com

diagnóstico de forma clínica Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH). A quase

totalidade dos casos teve confirmação diagnóstica por meio laboratorial. Em relação aos sinais

e sintomas clínicos a febre foi o mais frequente, presente em 95,9% dos casos, seguida por

dispneia (86,3%) e tosse seca (71,2%). Conclusão: a hantavirose é uma infecção emergente

no estado de Goiás, apresentando frequência com tendência à elevação e com altas taxas de

letalidade. O número de casos notificados tem aumentado, mas sem refletir no aumento do

número de casos confirmados. A quase totalidade dos casos confirmados é hospitalizada e o

quadro clínico identificado é semelhante ao relatado para a forma clínica mais frequente, que

foi a SCPH.

Descritores: Hantavirose, epidemiologia, Hantavírus.

Abstract

Objective: To describe the clinical and epidemiological aspects of patients with diagnose of

Hantavirus in the State of Goias from 2007 to 2013. Methods: It was made a transversal

study with data from the State of Goias from 2007 to 2013. The data were obtained from

Hantavirus investigation file contained in the System of Information of Aggravation and

Notification (SINAN-NET). The analyzed data were social-demographic, clinical and

epidemiological, despite from the mortality rate. It was used the software SPSS (v. 20) for

descriptive analyses of the data. Results: 1171 suspect cases of Hantavirus were notified in

Goias, and 73 were confirmed (6,2%), being the average of 10,4 confirmed cases a year. The

average age of the confirmed cases of the disease was 35,4 years old (± 13,2 years old), with

minimum of 12 and maximum of 71 years old; and more frequently among males, with 68,5%

of cases (p<0,05). The total mortality rate in the period was 57,5%. There was no association

between the frequency of confirmed cases of the disease and the seasonality of the regional

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climate. From 73 confirmed cases, 93,2% (68) went to hospital and, from these, 82,2% (60)

with diagnose of clinical form CSBH. The majority of cases were confirmed through

laboratorial test. Related to clinical signs and symptoms, fever was the most frequent, in

95,9% of the cases, followed by dyspnea (86,3%) and dry cough (71,2%). Conclusion: The

Hntavirus is na emergent infection in Goias, showing frequency with tendency to elevation

and with high rates of mortality. The number of notified cases has increased, but it is not

reflecting in the increase of the number of confirmed cases. The majority of confirmed cases

are hospitalized and the clinical condition identified is similar to the related for the most

frequent clinical form, which was the CSBH.

Key words: Hantavirus Infection, epidemiology, Hantavirus.

Introdução

A hantavirose é considerada uma doença emergente em várias regiões do mundo. São

zoonoses virais agudas, causadas por vírus da família Bunyaviridine, gênero Hantavirus,

tendo como reservatórios algumas espécies de roedores. O vírus é transmitido por roedores

aos seres humanos, quando estes entram em contato com as excretas (fezes, urina, saliva)

desses hospedeiros contaminados. Podem apresentar duas formas clínicas: a Febre

Hemorrágica com Síndrome Renal – FHSR, conhecida desde 1930 e endêmica na Europa e

Ásia e a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus – SCPH, descrita pela primeira vez nos

EUA em 1993, que associa choque cardiogênico e acometimento vascular que acompanham a

pneumopatia grave, e que é restrita às Américas.17,35

A hantavirose foi descrita pela primeira vez no Brasil em novembro de 1993, no

município de Juquitiba, São Paulo, com o primeiro caso da síndrome cardiopulmonar. No

entanto, a primeira evidência sorológica do vírus foi em 1990, em Recife, na ocasião de um

surto de leptospirose. O primeiro caso relatado da doença no Bioma Cerrado aconteceu em

1996 e o primeiro caso confirmado no Estado de Goiás ocorreu no ano 2000. Embora o

número de estudos relacionados à hantavirose no Brasil tenha crescido nos últimos três anos,

ainda são poucos os estudos epidemiológicos desenvolvidos na região do Bioma Cerrado.1, 2, 7,

8, 9, 13, 20, 24 29, 32,33

O aumento da incidência da doença no Brasil e sua alta letalidade têm sido

apresentados como desafios para o sistema de vigilância epidemiológica, tornando necessário

que sejam alcançadas respostas que auxiliem a entender este cenário e contribuam para que

sejam definidas medidas eficazes de prevenção e controle.27

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Este estudo objetiva descrever a distribuição da hantavirose em um período de sete

anos no Estado de Goiás, para identificar o seu comportamento epidemiológico e clínico,

considerando a frequência das notificações e casos confirmados, bem como a taxa de

letalidade nesta região.

Métodos

Trata-se de estudo epidemiológico descritivo sobre a hantavirose no Estado de Goiás

em uma série histórica de sete anos, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos

de Notificação (SINAN). A opção pelo período de 2007 a 2013 foi baseada na necessidade de

obter dados padronizados pelo máximo de tempo possível. As fichas de notificação da

hantavirose têm recebido alterações ao longo da implantação do sistema de vigilância no

Brasil e isso altera a composição do banco de dados que poderia ser usado para análises de

séries temporais.

O estado de Goiás está situado na região Centro-Oeste, no Planalto Central, com 246

municípios e densidade demográfica de 17,87 habitantes/km2. Suas principais atividades

econômicas são a agricultura, pecuária e incipiente industrialização.12

O bioma cerrado é um dos sete biomas terrestres identificados no Brasil e ocupa 97%

do território de Goiás. O clima é predominantemente tropical semi-úmido, com duas estações

distintas, caracterizadas em uma estação seca, de maio a setembro e outra, chuvosa, de

outubro a abril.12

Os dados foram obtidos diretamente do SINAN que disponibilizou banco de dados em

planilha eletrônica. Foram solicitados dados referentes à hantavirose que tivessem sido

notificados, com uso da Ficha de Notificação desse sistema, no Estado de Goiás, durante os

anos de 2007 a 2013.

O banco de dados foi primeiramente organizado manualmente, verificando

inconsistências e retiradas duplicidades. Para a análise, dados em branco ou registrados como

ignorados na planilha, foram descartados e desconsiderados.

Os dados foram classificados como variáveis sócio-demográficas, epidemiológicas,

clínicas, e de tratamento. A variável ocupação é registrada na ficha conforme informado e,

posteriormente, é codificado de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações do

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para estes casos foi utilizada a tabela de

códigos para identificação da ocupação dos casos confirmados.16

Foi utilizado o indicador Taxa de Letalidade e o número absoluto de casos e não a taxa

de incidência, por se tratar de agravo de baixa frequência.

Este estudo não teve participação direta das pessoas envolvidas e não houve utilização

de dados pessoais ou que as pudessem identificar. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás e aprovado sob Parecer 713.807 de 09 de julho

de 2014.

A análise estatística foi realizada com auxílio do programa SPSS versão 20. As

variáveis categóricas foram apresentadas em números absolutos e proporções e as variáveis

quantitativas em valores médios, medianas e desvio padrão. Os testes estatísticos foram

realizados para avaliar possíveis associações entre variáveis, através da aplicação do teste qui-

quadrado (2) ou teste exato de Fischer quando aplicável. O intervalo de confiança

considerado foi de 95% e o nível de significância de 0,05.

Resultados

No período de 2007 a 2013 foram notificados 1171 casos suspeitos de hantavirose no

Estado de Goiás, com uma média anual no período de 167,3 notificações/ano, sendo o ano de

2010 com maior frequência de notificações com 290 (24,8%) casos notificados, seguido por

2013 com 260 (22,2%) notificações. Do total de casos notificados, foram confirmados 73

casos (6,2%), sendo a média de 10,4 casos por ano. A proporção de casos confirmados, sobre

o número de casos notificados como suspeitos, foi maior no ano de 2008, com 11 casos

confirmados (20,0%) sobre o total de 55 notificados naquele ano.

A distribuição dos casos de hantavirose confirmados no estado mostrou uma

concentração na região central e sudoeste do estado, com o maior número de casos na capital

Goiânia, com 32 casos e letalidade de 56,3%, seguida por Anápolis, com 14 casos e letalidade

de 50,0% e Jataí com 8 casos e 62,5% de letalidade.

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Os municípios com maior número de notificações de casos suspeitos de hantavirose no

período analisado foram, pela ordem, Goiânia (795 notificações), Anápolis (173 notificações),

Jataí (58 notificações) e Aparecida de Goiânia (21 notificações).

A idade média dos casos confirmados da doença foi 35,4 anos ( 13,2 anos), com a

mínima de 12 anos e máxima de 71 anos; a faixa etária com maior número de casos foi de 20

a 49 anos e maior frequência entre o sexo masculino, com 68,5% dos casos (p<0,05). Com

relação à escolaridade, a maior frequência foi de casos de hantavirose em indivíduos com

ensino fundamental ou médio. A raça parda teve maior frequência, seguida da raça branca.

Cerca de um terço dos casos informaram contato com roedores e os demais negaram ou não

sabiam informar, e praticamente a metade não foi caracterizada como doença do trabalho

(p>0,05). As principais ocupações identificadas, dentre outras, foram: trabalhador rural ou

agropecuarista (7), trabalhador da construção civil (6), motorista de caminhão ou operador de

máquinas agrícolas (3), e comerciante atacadista (3). O tipo de ocupação não esteve

associado com a frequência dos casos. E não houve associação entre a frequência de casos

confirmados da doença e a sazonalidade do clima da região ou as estações no Bioma Cerrado

(seca e chuvosa).

O número de casos de hantavirose notificados no estado de Goiás, no período de 2007

a 2013 mostrou tendência de crescimento. No entanto, o número de casos confirmados não

apresentou crescimento proporcional aos casos informados. Os anos com maior número de

casos notificados foram 2010 e 2013. E os anos com maior número de casos confirmados

foram 2009 e 2011, com 14 e 15 casos respectivamente (Figura 1).

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Figura 1 – Distribuição do número de casos de hantavirose notificados no período e proporção

de casos confirmados. Goiás, 2014.

Fonte: Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN – SVS/MS)

Do total de casos confirmados, 93,2% (68) foram hospitalizados e 82,2% (60) com

diagnóstico de forma clínica SCPH. A quase totalidade dos casos teve confirmação

diagnóstica por meio laboratorial. Dentre as hospitalizações, 61,8% (42) foram a óbito. Em

2011 foram registrados os maiores números de hospitalizações e óbitos, entre o total de casos

confirmados no estado (73) (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição do número e porcentagem de óbitos e hospitalizações segundo o

ano. Goiás, 2014.

Casos confirmados Óbitos Hospitalizações

n % N % n %

2007 6 8,2 - - 6 8,8

2008 11 15,1 4 9,5 11 16,2

2009 14 19,2 8 19,4 11 16,2

2010 10 13,7 7 16,7 9 13,2

2011 15 20,5 10 23,8 15 22,1

2012 9 12,3 6 14,3 8 11,8

2013 8 11,0 7 16,7 8 11,8

Total 73 100,0 42 57,5 68 93,2

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

casos notificados 35 55 153 290 189 190 259

casos confirmados 8,2 15,1 19,2 13,7 20,6 12,3 11

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

50

100

150

200

250

300

350

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Ao dividir o período analisado em duas fases, a primeira até o ano de 2010 e a segunda

de 2011 a 2013, foi identificado que a proporção de óbitos foi maior no segundo período, com

48,8% e 71,9% respectivamente. E a forma clínica Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus

(SCPH) foi mais diagnosticada em todos os anos. A taxa de letalidade foi de 46,3% no

primeiro período e passou para 71,9% no segundo período (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição do número de casos e porcentagens de óbitos por hantavirose no

período. Goiás, 2014.

* Qui-quadrado ** Exato de Fisher; SCPH – Síndrome Cardiopulmonar

Os casos de óbitos foram mais frequentes entre aqueles que foram diagnosticados já na

forma clínica SCPH do que entre aqueles em fase prodrômica (p< 0,05). Em relação à taxa de

letalidade por hantavirose, houve uma tendência de crescimento em todo o período analisado,

exceto por um pequeno recrudescimento no ano de 2012, voltando a crescer em 2013,

alcançando taxa superior a 80,0% (Figura 2).

Ano caso

2007 até 2010 2011 até 2013 P

n % n %

Óbitos 19 48,8 23 71,9 0,003*

Forma Clínica Prodrômica 4 9,8 9 28,1 0,042**

Forma Clínica SCPH 37 90,2 23 71,9

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Figura 2 – Distribuição do número de casos de hantavirose confirmados e taxa de letalidade

segundo o ano da notificação. Goiás, 2014.

Fonte: Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN – SVS/MS)

Os achados laboratoriais identificaram 5 (10,0%) casos de leucopenia, 21 (42,0) com

leucócitos aumentados (desvio à esquerda), linfócitos atípicos em 7 (43,8%) casos avaliados,

trombocitopenia em 25 (49,0%). Foram identificadas ureia e creatinina elevadas em 25 dos

casos avaliados. O exame imuno-histoquímico foi positivo em 12 (50,0%) e a sorologia foi

reagente (IgM) para 57 (90,5%) dentre aqueles que realizaram o exame. O PCR só foi

realizado em 60 casos, e com resultado positivo em 4 (6,7%).

Em relação aos sinais e sintomas a febre foi o mais frequente, estando presente em

95,9% dos casos, seguida por tosse seca (71,2%) e mialgia (69,9%). E 36 (62,1% - 36/58)

tiveram assistência com respirador mecânico; 10 foram assistidos com CPAP; 6 casos fizeram

tratamento com antivirais, 23 com corticosteroides e 43 com antibióticos, entre os casos

confirmados.

Discussão

No presente estudo a distribuição de casos ao longo dos sete anos do período analisado

representou 6,2% do total de casos notificados como suspeitos. Foram necessárias 16

notificações para a confirmação de um caso de hantavirose no período. Foi também

identificado que há uma tendência de crescimento no número de casos confirmados, apesar de

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

casos 6 11 14 10 14 10 8

taxa de letalidade 36,4 57,1 70 71,4 60 87,5

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0

2

4

6

8

10

12

14

16

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não ser mantida uma proporcionalidade entre os casos notificados como suspeitos e os casos

com hantavirose. No primeiro ano analisado, em 2007, foram notificados 35 casos e

confirmados 6, o que representou a necessidade de notificar mais de 5 casos para a

confirmação de um único caso. Já no último ano da série analisada foram confirmados 8 casos

e notificados 260; foram necessárias mais de trinta notificações de casos suspeitos para a

confirmação de um caso de hantavirose. Portanto, o número de notificações aumentou ao

longo do período, mas isso não refletiu no número de casos confirmados.

No entanto, no bioma cerrado este agravo está presente desde 1996, ou seja, três anos

após o primeiro caso nacional ter sido identificado na região sudeste do país, mais

especificamente no estado de São Paulo. Em estudo realizado em 2011, com abrangência de

todos os estados brasileiros que estão localizados no bioma cerrado, incluindo Goiás, e

considerando um período de análise de 16 anos (1996 a 2008), a frequência média de casos da

doença foi de 26,6 casos/ano, o que foi superior ao número relatado neste estudo.24

Estes dados refletem o esforço da vigilância epidemiológica para que a doença possa

ser controlada e melhora no sistema de vigilância epidemiológica da hantavirose no estado,

com o evidente estado de alerta demonstrado pelos profissionais ao notificarem os casos. Por

outro lado, traduz também a dificuldade de diagnóstico diferencial da hantavirose com outras

doenças de origem infecciosa também presentes na região, como lepstospirose, influenza,

dengue, febre amarela, malária e pneumonias, além de doenças não infecciosas, também

comuns no estado, como doença pulmonar obstrutiva crônica, lúpus eritematoso sistêmico e

artrite reumatoide.2, 11, 24

O total de casos confirmados no período ficou concentrado na região centro sul do

estado, destacando-se Anápolis e Jataí como os municípios com maior frequência da doença,

depois da capital. Esta região do estado é caracterizada por sua intensa produção agrícola e

pecuária, além de um recente desenvolvimento agroindustrial na produção de grãos. Goiás é o

principal produtor de sorgo no país, sendo responsável por 33% da produção nacional; além

disso, produz também arroz, café, feijão, trigo e alho. O estado possui o terceiro maior

rebanho do país. Estas atividades têm sido responsabilizadas pela destruição do Bioma

Cerrado, pois há constantes desmatamentos e degradação do solo.12

O perfil dos pacientes no presente estudo foi semelhante ao encontrado em outros

estudos brasileiros e em países das Américas, com predominância de homens jovens, em fase

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produtiva. Por outro lado, não foi identificada associação com a ocupação ou que pudesse

relacionar a doença às atividades laborais dos pacientes. Ressalta-se que o nível de

escolaridade identificada entre os casos confirmados foi predominantemente do ensino

fundamental, o que caracteriza, além de população jovem, indivíduos com baixa escolaridade

e voltados para ocupações relacionadas com atividades no campo ou mesmo na cidade, mas

que não exijam qualificação, como construção civil, motoristas. Estas ocupações favorecem a

exposição aos roedores e aumentam a possibilidade de contaminação pelo hantavírus.17, 32, 34,

35

A etnia, que neste estudo foi considerada no formato como se apresenta na ficha de

investigação do SINAN, que é raça, não mostrou nenhuma associação com a frequência da

hantavirose, em nenhuma forma clínica. A maioria dos estudos relaciona a presença do

hantavírus associado com questões sociais, econômicas e ambientais e não isoladamente com

a etnia. Estudo realizado nos Estados Unidos da América identificou a presença do hantavírus

pulmonar e com distribuição de 63% entre caucasianos, 35% americanos nativos e 2%

americanos afrodescendentes, porém sem nenhuma associação com a incidência da doença.19,

30, 31

A quase totalidade dos casos notificados foi confirmada por meio de critérios

diagnósticos laboratoriais (97,3%). No entanto, este foi um dado que, apesar de registrado na

ficha epidemiológica do SINAN, não foi possível confirmar através dos resultados

laboratoriais, pois muitos exames constam como não realizados.

O contato com roedores ou mesmo a exposição em situações de risco como dormir em

barraca, limpeza de casa, moagem de grãos, transporte de carga, desmatamento e turismo

rural foram relatados por pouco mais de um terço dos casos confirmados. Tais situações são

comprovadamente associadas ao aumento da probabilidade de contaminação pelo hantavírus e

não estão relacionadas somente a zona rural, mas também têm sido demonstradas nas

periferias das cidades dos países de baixa e média renda, onde o crescimento desordenado da

população e baixa cobertura de saneamento, promovem a proliferação dos roedores que

invadem os domicílios.24, 26, 27

A distribuição dos casos ao longo dos meses que compõem os anos não evidenciou

sazonalidade da infecção, pois o número de casos não se alterou de modo expressivo em

nenhum período. Mesmo durante os anos quando houve maior número de casos confirmados,

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como foram 2009 e 2011, a distribuição temporal não esteve associada ao fator climático da

região. Esse resultado é diferente de outros estudos que identificaram uma maior concentração

de casos entre os meses de abril e agosto, associando ao período de seca, com maior

população de roedores, no bioma Cerrado; ou ainda no bioma Mata Atlântica onde a maior

frequência de registros foi entre os meses de setembro e dezembro.10, 24

A taxa de letalidade foi superior àquela encontrada em estudo brasileiro realizado no

bioma cerrado e também superior a taxa de letalidade por hantavirose no Brasil no último

ano.11, 13

A hantavirose é um agravo importante não só por sua magnitude, com frequência

distribuída em todo o território nacional, mas também por sua gravidade, diante das altas

taxas de letalidade que têm sido identificadas. Daí a necessidade de notificação imediata e um

sistema de vigilância epidemiológica eficaz que permita a identificação precoce dos casos,

ainda em fase inicial (Prodrômica), bem como a intervenção e tratamento eficaz. A taxa de

letalidade encontrada em nosso estudo foi maior entre aqueles diagnosticados já na forma

clinica SCPH. E quase a totalidade dos pacientes necessitou de assistência hospitalar.

A alta letalidade pode estar associada, segundo Figueiredo, et al11

(2009), às variantes

do hantavírus que apresentam diferentes virulências. A letalidade no Planalto Central e no

bioma cerrado tem se apresentado maior do que em todo o país ou em outro bioma como a

Mata Atlântica.11, 26

Ressalta-se também que a hantavirose no estado de Goiás tem sido diagnosticada já

em seu estágio avançado (SCPH), quando o comprometimento, principalmente respiratório, é

muito frequente. Isso, associado à alta virulência do hantavírus, pode explicar, em parte, as

altas taxas de letalidade encontradas. Estudo realizado por Figueiredo em 2009, com a

realização da genotipagem do hantavírus presente em amostras de soro humano, indicou que

as duas linhagens presentes nas regiões sudeste, sul e planalto central brasileiro eram

Araraquara e Juquitiba e que, os casos fatais de SCPH foram mais frequentes com o vírus

Araraquara.11, 18, 27

A taxa de letalidade foi superior a 50% em todos os municípios onde foram

identificados óbitos por hantavirose. A capital, Goiânia, apresentou uma taxa de letalidade de

56,3%, superior somente a de Anápolis que foi de 50,0%. No município de Jataí, que

apresentou uma das maiores frequências de hantavirose no estado de Goiás, no período

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analisado, a taxa de letalidade foi superior a 60%. Outros municípios que tiveram baixa

frequência da doença tiveram alta letalidade (100,0%).

Outro ponto a ressaltar com relação à taxa de letalidade é que ela vem aumentando de

modo progressivo e constante nos últimos anos. A análise dos primeiros quatro anos (2007 a

2010) da série deste estudo encontrou uma taxa de 46,3% e já no segundo período (2011 a

2013) esta taxa salta para 71,9%, o que significou um aumento de aproximadamente 26%. O

número de casos suspeitos tem aumentado em cada ano no estado, sem refletir no aumento do

número de casos confirmados, porém com aumento importante na letalidade.

Além da virulência do hantavírus e do diagnóstico tardio da hantavirose, que podem

ser responsabilizados por estas taxas de letalidade elevadas, cabe relacionar também com as

condições de assistência à saúde ineficaz em muitos municípios, principalmente aqueles de

menor porte e mais afastados dos grandes centros e que não dispõem de unidades para

tratamento intensivo naqueles casos de agravamento da doença com comprometimento

respiratório.4, 5

A quase totalidade dos casos confirmados foi hospitalizada e no ano de 2011, quando

houve maior número de óbitos, houve também maior número de hospitalizações. Neste estudo

não foi possível identificar qual a associação da assistência à saúde oferecida e a taxa de

letalidade. É importante ressaltar que a forma clínica mais presente foi a SCPH e que

caracteriza estágio avançado da doença e falha no diagnóstico precoce.

As principais manifestações clínicas da hantavirose nas Américas estão relacionadas

com comprometimento respiratório, como tosse e dispneia. No presente estudo foram

identificadas como manifestações mais frequentes a febre, tosse seca e dispneia. O que se

assemelha a outros estudos que também relatam frequência de febre entre 78,0% até 100,0%

dos casos no Bioma Mata Atlântica.4, 14, 22

Ainda em relação aos aspectos clínicos, pode-se utilizar para comparação os dados

obtidos por Campos3 (2002), que analisou e acompanhou prontuários de 14 pacientes com

SCPH, observando febre em todos os casos, estertores pulmonares, dispneia e tosse (64,2%),

taquicardia acompanhada de hipotensão (64,2%), cefaleia e sintomas digestivos (57,0%),

adinamia e indisposição geral (50,0%), fenômenos hemorrágicos (28,5%), mialgia (21,4%) e

convulsão (7,5%). No perfil laboratorial, observou-se plaquetopenia < 130000/mm3 (100%),

hematócrito > 55% (78,6%); leucocitose > 15000/mm3 (64,2%), neutrofilia > 7000/mm

3 e

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bastonetes > 600 cels/mm3 (64,2%), creatinina sérica > 1,5mg/100ml (63,6%) e PO2 < 70

mmHg (54,5%).3, 28

Além da febre, destaca-se ainda a dispneia, tosse seca e mialgia, sintomas estes que

são bastante comuns nos casos de hantavirose, assim como em várias outras doenças febris

agudas. Estes dados, mais uma vez, demonstram a dificuldade em se realizar um diagnóstico

precoce da morbidade em questão, justificando a necessidade de treinamento dos profissionais

de saúde sobre este tema, principalmente nas regiões com maior número de casos. Isto se

torna ainda mais relevante ao se detectar que a letalidade é maior entre os casos com

diagnóstico tardio, pois quando o paciente evolui para a fase cardiopulmonar torna-se mais

difícil o manejo clínico, piorando, consequentemente, o prognóstico.

Sobre as alterações laboratoriais é necessário salientar que, na maioria dos casos, estes

dados não são registrados na ficha de notificação, impossibilitando, assim, uma análise

criteriosa das informações. Mas considerando as informações obtidas, pode-se observar que

nosso estudo encontrou uma baixa ocorrência de leucopenia ou leucocitose, alterações estas

que são frequentemente descritas na literatura entre os casos avaliados. Dessa forma, deve-se

salientar a grande importância do preenchimento correto das fichas de notificação.

O aumento da frequência da hantavirose no estado de Goiás, associada a sua alta

letalidade e ampla distribuição geográfica, faz com que esta infecção emergente em nosso

país deva ser encarada como um problema de saúde pública com vários desafios clínicos a

serem vencidos; a sua abordagem passa pela dificuldade do diagnóstico diferencial com

outras doenças que também apresentam quadro febril, fatores sociais e também

epidemiológicos.27

Existem questões a serem consideradas neste cenário, como conseguir controlar a

urbanização desenfreada no estado, identificar a proporção de casos da doença na forma

clínica SCPH e se há ocorrência de outras formas clínicas do hantavírus, além de conseguir

identificar qual é o melhor marcador epidemiológico e clínico para monitorar a doença.

Não foi possível analisar criteriosamente o suporte terapêutico, pois os dados do

Sinan-NET acessados estavam incompletos. Tais informações seriam úteis para verificar

quais medidas apresentaram maior eficácia no desfecho clínico dos pacientes. Sabe-se que

algumas situações como hiperidratação pode piorar o prognóstico, visto que o líquido

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infundido tende a se concentrar no pulmão, agravando ainda mais a insuficiência

respiratória.25

Por outro lado, alguns clínicos preconizam o uso de corticosteroides em altas doses

como algo benéfico para o tratamento do extravasamento capilar em casos de SCPH com

grave insuficiência respiratória. Entretanto, trata-se de conduta sem estudo científico

comprobatório.18, 21, 25

Outra possibilidade terapêutica é o uso da droga antiviral Ribavirina,

muito empregada no tratamento da hepatite C crônica, e que demonstrou certa eficácia nos

casos de FHSR15,23

, porém, não foi efetiva na SCPH.6, 25

As limitações desse estudo prendem-se a algumas fragilidades do banco de dados

disponibilizado pelo SINAN, que, mesmo sendo um sistema de notificação compulsória,

ainda padece de inconsistências no preenchimento das fichas clínicas, limitando a análise de

dados como inicio dos sintomas, data da notificação/investigação e tratamento instituído.

Outra limitação foi a ausência de informação sobre a genotipagem do hantavírus

envolvido nos casos confirmados, o que pode, inclusive, ser alvo de estudos futuros,

permitindo que se conheça a linhagem mais comum do vírus no estado de Goiás.

Por outro lado, existem pontos fortes que devem ser considerados, tais como a

ampliação do conhecimento sobre uma doença emergente, em uma região onde este agravo

tem recebido pouca atenção das autoridades sanitárias e também a identificação de

fragilidades no sistema de vigilância epidemiológica, demonstrada pela desproporção

crescente entre número de casos suspeitos notificados e número de casos confirmados e o

diagnóstico na forma clínica tardia da doença.

Os dados analisados permitiram que fosse traçado um perfil epidemiológico e clínico

da hantavirose em Goiás, durante os últimos sete anos e, dessa forma, alertar as autoridades

sanitárias para que ações de vigilância sejam priorizadas, principalmente em regiões do estado

onde a frequência tem se mostrado mais elevada e com altas taxas de letalidade. Tais

informações são úteis na formulação do raciocínio clínico, fazendo com que os profissionais

de saúde sejam capazes de pensar precocemente nesta hipótese diagnóstica, fato este que pode

favorecer o prognóstico do paciente.

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Conclusão

A hantavirose apresentou frequência de 73 casos no estado de Goiás no período

analisado, com predomínio entre os homens e na faixa etária adulto jovem. O número de

notificações ao longo de sete anos foi de 1171 casos suspeitos.

A doença está distribuída na região central e sudoeste do estado, sem identificação de

casos confirmados no norte de Goiás. Os municípios com maior número de casos confirmados

foram Goiânia (32), Anápolis (14) e Jataí (8).

As ocupações laborais identificadas, apesar de não se mostrarem associadas aos casos

diagnosticados, apontam para a possibilidade de convívio do homem com roedores silvestres,

seja em ambiente externo ou interno de trabalho.

O aumento do número de notificações e da proporção de casos confirmados sugere

que o os profissionais de saúde têm se mostrado atentos e vigilantes para a possibilidade da

presença da hantavirose no estado. Apesar da crescente notificação de casos suspeitos, o

número de casos confirmados não tem acompanhado este esforço de vigilância dos

profissionais.

No entanto, quando comparados estes dados com as elevadas taxas de letalidade e de

diagnóstico tardio, já na forma clínica SCPH, questiona-se sobre a capacitação e habilidades

técnicas das equipes de assistência, além dos serviços de saúde e as tecnologias

disponibilizadas para assistência à população.

A taxa de letalidade identificada foi de 57,5% em todo o período e superior a taxa

relatada para o país e para outras regiões já estudadas, além disso, esta taxa mostrou tendência

de elevação nos últimos anos, alcançando valores de 71,9%.

O quadro clínico descrito entre os casos confirmados refletiu a presença da forma

clínica SCPH, com sintomas como febre, dispneia, tosse seca e insuficiência respiratória. Este

quadro, associado às altas taxas de letalidade parecem apontar para as deficiências tanto no

serviço de Vigilância Epidemiológica, quanto na atenção terciária, com a ausência de

equipamentos e tecnologias necessários para o cuidado com pacientes graves.

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Alguns exames laboratoriais não foram realizados em todos os casos confirmados,

caracterizando uma fragilidade do sistema de vigilância, porém se observa que o critério

diagnóstico foi predominantemente laboratorial.

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