Upload
ngonguyet
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Engenharia
Curso de Especialização em Construção Civil
Kézia Cristina do Nascimento Gomes de Melo Salgueiro
ANÁLISE COMPARATIVA NORMA DE DESEMPENHO NBR 15575
(ABNT, 2013) E NBR 9050 (ABNT, 2015) – FUNCIONALIDADE,
ACESSIBILIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO
Belo Horizonte, 2016.
KÉZIA CRISTINA DO NASCIMENTO GOMES DE MELO SALGUEIRO
ANÁLISE COMPARATIVA NORMA DE DESEMPENHO NBR 15575
(ABNT, 2013) E NBR 9050 (ABNT, 2015) – FUNCIONALIDADE,
ACESSIBILIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído, área: Tecnologia e Gestão do Ambiente Construído, do departamento de Engenharia de Materiais e Construção, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Dr. White José dos Santos
Belo Horizonte, 2016.
Salgueiro, Kézia Cristina do Nascimento Gomes de Melo.
S164a Análise comparativa norma de desempenho NBR 15575 (ABNT,
2013) e NBR 9050 (ABNT, 2015) - funcionalidade, acessibilidade e
conforto antropodinâmico [manuscrito] / Kézia Cristina do Nascimento
Gomes de Melo Salgueiro. - 2016.
55 f., enc.: il.
Orientador: White José dos Santos.
“Monografia apresentada ao Curso de Especialização em
Produção e Gestão do Ambiente Construído da Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais”
Bibliografia: f. 51-55.
1. Construção civil. 2. Desempenho 3. Normas técnicas
(Engenharia). I. Santos, White José dos. II. Universidade Federal de
Minas Gerais. Escola de Engenharia. III. Título.
CDU: 691
DEDICATÓRIA
Ao meu esposo Heliomar Junior, companheiro exemplar, que apesar de todas
as dificuldades, não hesitou um só momento em me apoiar, para que eu pudesse
concluir esta etapa tão importante da minha vida. Jamais me esquecerei das vezes
que você abriu mão de muitas das suas vontades, para que as minhas fossem
realizadas. Sempre estarei ao seu lado, certa de que juntos, alcançaremos todos os
nossos ideais. Você é o segredo do meu sucesso!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por me direcionar a todo tempo durante os
meus estudos.
Aos professores do curso de especialização da UFMG, por dedicarem parte
do seu tempo transmitindo conhecimentos, que foram essenciais para o
aperfeiçoamento da minha vida acadêmica e profissional.
De modo especial, ao meu orientador White José dos Santos, por me
acompanhar durante a construção deste trabalho e por dispensar a sua atenção
sempre que solicitado.
Aos meus pais Jorge e Ana, que de maneira incondicional estiveram ao meu
lado me incentivando e provendo meios para que eu pudesse concluir meus
estudos, toda a minha gratidão a vocês. Não há palavras que possam expressar o
quanto vocês são importantes na minha vida. Espero poder um dia, recompensá-los
por tudo o que já fizeram e fazem por mim.
A todos os meus familiares e amigos que torceram pelo meu sucesso e que
acreditaram mais uma vez, que eu seria capaz!
“E porque a casa, podendo ser “o castelo” de
uma pessoa não se deve transformar na sua
“ilha deserta.”
Simões et al. (2010).
RESUMO
Este estudo tem como objetivo a análise comparativa das exigências da NBR 15575 (ABNT, 2013)
Edificações Habitacionais-Desempenho parte 1, e da NBR 9050 (ABNT, 2015) Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Em ambas as normativas, foram
analisados e confrontados os requisitos e critérios que se referem à funcionalidade, acessibilidade e
conforto antropodinâmico, exigidos para as edificações habitacionais e a relação desses com o
desempenho das edificações, além de esclarecer como tais, impactam os diversos aspectos da vida
dos usuários. Nessa perspectiva, o desenvolvimento deste estudo se fez relevante, pois uma
habitação deve atender as necessidades do usuário em todos os seus aspectos e ao longo de sua
permanência na mesma, seja em áreas comuns ou privativas, considerando que as necessidades
individuais de cada pessoa mudam ao longo do tempo, seja com a chegada da fase idosa, ou por
algum tipo de deficiência permanente ou temporária, ou até mesmo, pelo fato de estar com a
mobilidade reduzida. Adotou-se como metodologia para este estudo, a pesquisa bibliográfica e
exploratória, feita através de leituras e análises de Leis, das normas técnicas brasileiras, literaturas,
artigos, dissertações e teses que tratam do assunto em questão. Diante das análises feitas percebeu-
se que embora exigidas por Leis e prescritas em normativas, as questões que envolvem a
funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinâmico são vistas de maneira ainda limitada no
Brasil, de modo geral, são exigidas em edificações públicas e somente em áreas comuns das
edificações habitacionais. Observou-se, portanto, a necessidade de repensar os conceitos e práticas
para a concepção das edificações habitacionais brasileiras, visando a possibilidade de adaptações
futuras em suas áreas privativas, de modo a evitar desconforto dos usuários e diminuir gastos
exorbitantes com reformas para adaptá-las a possíveis necessidades que surgirem ao longo de suas
vidas.
Palavras-chave: NBR 15575 (ABNT, 2013). NBR 9050 (ANBT, 2015). Desempenho. Funcionalidade e Acessibilidade. Conforto Antropodinâmico.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Matriz Norma de Desempenho. ................................................................ 15
Figura 2: Sistemas de habitação NBR 15575 (ABNT, 2013). ................................... 17
Figura 3: Desempenho ao longo do tempo considerando ações de manutenção. ... 19
Figura 4: Sete princípios do Desenho Universal. ..................................................... 41
Figura 5: Desing inclusivo organização e características do interior da habitação. . 41
Figura 6: Dormitório acessível área de circulação mínima. ...................................... 43
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Porcentagem dos tipos de deficiência da população do Brasil................25
Gráfico 2: Número de pessoas com pelo menos um tipo de deficiência investigadas
por grupos de idade....................................................................................................26
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Responsabilidades dos agentes ............................................................ 21
Quadro 2 – Acessibilidade na NBR 15575 (ABNT, 2013) ........................................ 34
Quadro 3 – Requisitos e critérios de funcionalidade e acessibilidade na NBR 15575
(ABNT, 2013) ............................................................................................................ 35
Quadro 4 – Móveis e equipamentos-padrão ............................................................ 36
Quadro 5 – Requisitos e critérios da avaliação do conforto tátil e antropodinâmico na
NBR 15575 (ABNT, 2013) ......................................................................................... 38
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Resumo dos requisitos básicos da Norma de Desempenho.................. 18
Tabela 2 – Variação dos tipos de deficiência com relação à idade das pessoas ..... 26
Tabela 3 – Dimensões mínimas de mobiliários e circulação .................................... 37
LISTA DE ANOTAÇÕES E ABREVIATURAS
ABNT = Associação Brasileira de Normas Técnicas
NBR = Norma Brasileira
CBIC = Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CDC = Código de Defesa do Consumidor
CAU = Conselho de Arquitetura e Urbanismo
IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBDA = Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................8
CAPÍTULO 1: DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS ............................................. 11
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 11
1.2. ESTRUTURA DA NBR 15575 (ABNT, 2013) ...................................................................... 14
1.3. A NORMA DE DESEMPENHO X DESAFIOS ....................................................................... 21
CAPÍTULO 2: A IMPORTÂNCIA DA FUNCIONALIDADE, ACESSIBILIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO PARA AS EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS NO BRASIL ............................ 25
2.1. OS DIFERENTES TIPOS DE DEFICIÊNCIAS DAS PESSOAS QUE COMPÕEM A POPULAÇÃO DO
BRASIL .................................................................................................................................... 25
2.2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA ............................................................................ 27
2.3. ACESSIBILIDADE, PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E PESSOA COM MOBILIDADE REDUZIDA .... 28
2.4. ABRANGÊNCIA DA NBR 9050 (ABNT, 2015) ....................................................................... 28
2.5. AS EXIGÊNCIAS DAS NORMATIVAS BRASILEIRAS NBR 9050 (ANBT, 2015) E NBR 15575
(ANBT, 2013) QUANTO: ACESSIBILIDADE, FUNCIONALIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO31
CAPÍTULO 3: ........................................................................................................................................ 34
HABITABILIDADE: FUNCIONALIDADE E ACESSIBILIDADE, CONFORTO ANTROPODINÂMICO 34
3.1. ACESSIBILIDADE E FUNCIONALIDADE ............................................................................... 34
3.2. CONFORTO ANTROPODINÂMICO ....................................................................................... 38
3.3. DESENHO UNIVERSAL ...................................................................................................... 39
3.4. ARRANJOS FÍSICOS DE HABITAÇÕES ACESSÍVEIS ............................................................. 42
CAPÍTULO 4: ANÁLISES E PROPOSTAS ......................................................................................... 46
CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................... 51
8
INTRODUÇÃO
Mediante as mudanças causadas no setor da construção civil, após a
publicação da NBR 15575 (ABNT, 2013), os projetistas, incorporadores e
construtores que se viam envolvidos em um processo acelerado de construções
habitacionais, visando basicamente o lucro e deixando de lado a qualidade das
construções, receberam “um alerta”, de que seria necessário ir além do corriqueiro,
para permanecerem no mercado que se tornou cada vez mais competitivo, (CBIC,
2013).
Kern, Silva e Kazmierczak (2014), afirmam que o desempenho das
edificações é uma tendência mundial e por isso, tem desafiado o setor da construção
civil como um todo, estendendo-se aos projetistas, construtores e fornecedores,
considerando, a complexidade das questões que envolvem o conceito de
desempenho.
Segundo Andrade (2013 apud CBIC, 2013) é necessário somar esforços para
melhorar a qualidade das habitações brasileiras, otimizar o uso dos recursos,
compatibilizar e, por conseguinte, valorizar o projeto.
Com a referida Norma em vigor, todos os sistemas constituintes do edifício,
tais como as instalações hidrossanitárias, as estruturas, os pisos, fachadas,
coberturas e outros, obrigatoriamente terão que estar de acordo, com um nível de
desempenho mínimo ao longo de sua vida útil. (BORGES, 2010).
Andrade (2013 apud CBIC, 2013) ainda afirma que, a avaliação do
desempenho dos sistemas construtivos é tida como um avanço para o setor e abre
caminho para a evolução de todos que compõem a cadeia da construção civil.
Neste contexto, a NBR 15575 (ABNT, 2013) define alguns critérios que
permitem avaliar o desempenho das edificações, os quais, dizem respeito às
exigências dos usuários, sendo eles: estanqueidade, desempenhos térmico,
acústico, lumínico, além da saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e
acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico. Tais exigências tratam de uma
questão que a Norma em estudo conceitua de habitabilidade, que busca expressar
as condições com as quais, o indivíduo interage com uma edificação.
9
Parmerggiani (2014), considera a habitabilidade importante, pois a mesma
concede à edificação a qualidade de ser habitável, de maneira que para ser
estudada torna-se necessário ponderar o desempenho das edificações e o conforto
dos usuários.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento deste estudo se faz relevante, pela
necessidade de melhorias na concepção dos projetos das edificações habitacionais
e pela criação de um novo olhar dos profissionais envolvidos na construção civil pela
criação de edificações que atendam as necessidades dos usuários não só por um
período de tempo, mas ao longo de sua permanência em uma edificação no que se
refere aos requisitos de habitabilidade: funcionalidade, acessibilidade e conforto
antropodinâmico.
Suscita-se também, que os aprofundamentos nos estudos voltados para a
adaptação das edificações habitacionais, para as diversas necessidades e
habilidades do seu público-alvo, possam minimizar a segregação das pessoas que
possuem algum tipo de deficiência ou que vierem por algum motivo, ter a sua
mobilidade reduzida, bem como garantir a satisfação e o conforto desses usuários
em todas as partes da edificação, inclusive dentro de sua habitação.
Diante deste contexto, esta pesquisa tem como objetivo geral: analisar e
comparar os requisitos de funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinâmico
estabelecidos pela NBR 15575 (ABNT, 2013) e pela na NBR 9050 (ABNT, 2015).
Para alcançar este objetivo geral têm-se os seguintes objetivos específicos:
realizar revisão para embasamento teórico;
confrontar as exigências de ambas normativas e verificar no que se diferem e em
que se assemelham;
fazer considerações acerca da acessibilidade em edificações residências;
analisar as exigências das normativas em estudo, no que diz respeito a
funcionalidade, acessibilidade e conforto antropodinâmico;
propor ações para melhorias das edificações habitações brasileiras, no que diz
respeito aos requisitos de habitabilidade: funcionalidade, acessibilidade e conforto
antropodinâmico;
sugerir temas para estudos futuros.
10
A metodologia desenvolvida para execução deste trabalho consistiu de
revisão bibliográfica das legislações, artigos técnicos e trabalhos acadêmicos.
Realizou-se análise da avaliação do desempenho nas edificações
habitacionais sob a holística da NBR 15575 (ABNT, 2013) no que tange a sua
estrutura, algumas definições relevantes para este estudo, seus requisitos básicos,
as responsabilidades dos agentes envolvidos na cadeia construtiva e os desafios
encontrados para implantação dessa normativa.
Foram avaliados os tipos de deficiências das pessoas que compõem a
população do Brasil, com a colocação de um breve comentário da Constituição
Federal do Brasil acerca da acessibilidade no setor da construção civil. Também foi
feita uma abordagem de acessibilidade, das pessoas com deficiência e das pessoas
com mobilidade reduzida, seguido de ponderações acerca da abrangência e
definições da NBR 9050 (ABNT, 2015). Ressaltou-se a inserção de um breve relato
sobre as exigências das duas normativas em estudo, no que diz respeito à
acessibilidade.
Os temas Habitabilidade: funcionalidade e acessibilidade, conforto
antropodinâmico foram confrontados em a relação à avaliação da funcionalidade,
acessibilidade e conforto antropodinâmico de acordo com a NBR 15575 (ABNT,
2013) e NBR 9050 (ABNT, 2015).
Por conseguinte, foram inseridas abordagens sobre o desenho universal e o
arranjo físico necessário às habitações acessíveis e acessíveis de modo a atender
os preceitos normativos, também foram apresentadas análises e propostas para
melhorias nas habitações brasileiras concernentes aos requisitos de habitabilidade
seguidas da conclusão e propostas para estudos futuros.
11
CAPÍTULO 1: DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS
1.1. Considerações iniciais
De acordo com Borges (2008), o conceito de desempenho de edifícios e seus
sistemas vêm sendo estudado em todo o mundo durante muitos anos e o mesmo já
foi difundido no meio acadêmico, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O Brasil alcançou pleno desenvolvimento no mercado da construção civil
entre os anos de 2004 a 2013 segundo estudos do Sindicato da Indústria da
Construção de Minas Gerais (AMORIM, 2014). Promoveu-se com isto a inserção de
novas técnicas construtivas visando construir em grande escala de modo a atender
as exigências de mercado da época. Surgiu então, a necessidade de um
instrumento normativo, capaz de dispor de metodologias para avaliar o desempenho
das edificações, com o objetivo de garantir a qualidade das mesmas, desde a sua
concepção até o seu uso e operação (CBIC, 2013).
No ano de 2008, surge a primeira versão da Norma de desempenho ABNT
NBR 15575 que impactou os profissionais da indústria da construção brasileira como
os incorporadores e construtores, os projetistas e até mesmo, a indústria de
materiais. Diante das exigências para se adequarem aos requisitos trazidos pelo
documento, e valendo-se de que muitos destes requisitos eram inéditos, ou seja,
ainda não tinham sido expostos ao público, os profissionais citados conseguiram
estender o prazo de exigibilidade da Norma de Desempenho, a qual passou por uma
revisão feita pelos comitês responsáveis. Foram levantadas falhas e reavaliadas as
metodologias de avaliação do desempenho, as quais foram atualizadas. Nesse
período, os fabricantes de materiais puderam adequar seus produtos e processos às
exigências desta da Norma (CORTÉS, 2016).
Para Borges (2008), embora o crescimento no setor da construção civil no
Brasil estivesse naquela época, direcionado às habitações populares, toda a
sociedade técnica, governo, instituições financeiras e entidades representativas do
setor precisavam considerar o nível de desempenho mínimo das construções
brasileiras e quais padrões mínimos técnicos, deveriam ser adotados para cada tipo
de empreendimento, os quais precisavam obrigatoriamente, ser atendidos pelas
construtoras.
12
O autor indica que se fazia necessário discutir e responder: Qual era a vida
útil adequada para as edificações? Qual o nível de patologias e quantidade de
defeitos nos imóveis os usuários poderiam aceitar? Quais eram as dimensões
mínimas aceitáveis dos ambientes construídos? Quais custos de manutenção
poderiam ser absorvidos pelos usuários pós-obra? Qual desempenho acústico
mínimo de um ambiente? Quais seriam os requisitos para uma construção
sustentável? Dentre outros.
Mediante este cenário, aproximadamente cinco anos depois em 19 de
fevereiro de 2013 entrou em vigor a nova versão da NBR 15575 (ABNT, 2013),
tratando não apenas dos edifícios de até cinco pavimentos como era limitado na
versão 2008, mas agora com a abrangência de todos os novos edifícios residenciais,
independente do seu número de pavimentos e dos seus materiais constituintes.
Desde então, ficaram estabelecidos requisitos mínimos e critérios de desempenho
para às edificações habitacionais. O desempenho dos materiais e sistemas
construtivos são determinados e baseados na vida útil da construção, deixando claro
o compartilhamento das responsabilidades da edificação ao longo do tempo.
Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de
São Paulo, Thomaz (2013 apud BEZERRA, 2013) qualquer pessoa que adquirir um
imóvel a Norma de Desempenho parametrizará as caraterísticas da edificação,
possibilitando confrontar de forma mais precisa a qualidade prometida com a
qualidade fornecida. Portanto, todos os envolvidos na cadeia construtiva como
construtoras, incorporadoras, diretores de marketing e corretores de imóveis,
deverão ser muito mais prudentes ao anunciarem um produto que será
disponibilizado no mercado, pois todos são passíveis de serem qualificados e
quantificados.
As demais normas técnicas brasileiras já traziam consigo os parâmetros
prescritivos para a construção de uma habitação com o uso de sistema
convencional, mas é importante ponderar que estes parâmetros, atendiam as
exigências dos usuários de forma indireta, pois não existia no país nenhuma norma
técnica para exprimir essas exigências em requisitos (qualitativos) e critérios
(quantitativos), (BORGES; SABBATINI, 2008).
O guia orientativo para atendimento à Norma NBR 15575 (ABNT, 2013), diz
que o oposto das normas tradicionais, que prescrevem características do produto
13
com base na consagração de uso, normas de desempenho estabelecem as
propriedades necessárias dos diversos elementos da construção
independentemente dos materiais constituintes. Para as normas tradicionais deve-se
utilizar o produto em atendimento a suas características, para as normas de
desempenho, deve-se desenvolver e aplicar o produto para que atenda às
necessidades da construção.
No que diz respeito ao usuário, a Norma se torna um balizador para a
avaliação do desempenho, pois a mesma fornece parâmetros técnicos que permitem
avaliar o comportamento em uso das edificações de acordo com os requisitos
relacionados à segurança, habitabilidade e à sustentabilidade, requisitos estes, que
não eram definidos anteriormente, nem tão pouco, possíveis de ser mensurados e
confrontados com um padrão.
Para Del Mar (2013), juridicamente as Normas Técnicas não são tidas como
leis, a menos que estejam vinculadas a elas, como é o caso da NBR 15575 (ABNT,
2013) que de certa forma está atrelada ao Código de Defesa do Consumidor (CDC),
desta maneira fica sob a responsabilidade do consumidor examinar o que lhe é
oferecido e exigir aquilo que é seu direito.
Visto que não existe nenhum órgão fiscalizador que garanta o cumprimento
dessa normativa, o consumidor insatisfeito poderá exigir o cumprimento da Norma
de Desempenho embasado no Código de Defesa do Consumidor que estabelece em
seu artigo 39, inciso VIII que é proibido pôr, no mercado de consumo, qualquer
produto ou serviço que não atendam as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, no caso de inexistência de normas específicas, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro). (BRASIL,
1990).
Além disso, a Norma trás outra vantagem para o consumidor, que é a de
poder escolher entre os produtos que são disponibilizados no mercado, os de
desempenho mínimo(M), intermediário (I) ou superior (S), pois todos estes níveis de
qualidade estão nela definidos, enfim, a Norma de Desempenho servirá para o
usuário comparar os desempenhos das edificações oferecidas pelo mercado
imobiliário.
14
Para todos os critérios incluídos na norma NBR 15575 (ABNT, 2013), foi
determinado um patamar mínimo (M) de desempenho, que deve ser
obrigatoriamente atingido pelos diferentes elementos e sistemas da construção. Para
alguns critérios são indicados outros dois níveis de desempenho, intermediário (I) e
superior (S), sem caráter obrigatório (CBIC, 2013).
No entanto, a NBR 15575 (ABNT, 2013) chama a atenção sobre a sua
aplicabilidade nos empreendimentos onde deixa claro que não é aplicável a obras
que estavam em andamento, bem como as edificações concluídas, retrofit ou
reformas que ocorreram antes de sua vigência.
Outro fator relevante, o qual vale a pena ressaltar é que as exigências dos
usuários, segundo a (CBIC, 2013) envolvem diversos outros elementos e sistemas
tais como: condicionamento de ar, gás, combustível, telecomunicações, elevadores,
segurança e automação predial, e outros, os quais, não foram contemplados na
atual publicação.
Para as fundações, foram consideradas suficientes as exigências registradas
ABNT NBR 6122 - “Projeto e execução de fundações” da mesma maneira, os
sistemas elétricos das edificações não são elucidados nem exigidos por esta Norma,
e sim pela ABNT NBR 5410 - “Instalações elétricas de baixa tensão.”
Desta maneira, a NBR 15575 (ABNT, 2013) define pela primeira vez, como
um edifício deve se comportar ao longo do tempo para atender as exigências dos
usuários, tais conceitos já haviam sido aplicados nos países desenvolvidos e só
então, passaram a ser adotados no Brasil.
1.2. Estrutura da NBR 15575 (ABNT, 2013)
Para Martins e Klavdianos (2013 apud CBIC, 2015), a NBR 15575 (ABNT,
2013) “Edificações Habitacionais – Desempenho – Partes 1 a 6” se firma como um
marco divisório na construção habitacional brasileira, por estabelecer conceitos, e
explicitar responsabilidades além de definir paradigmas da qualidade como nenhum
outro setor produtivo, até então, ousara propor.
A nova norma (ABNT NBR 15575-1, 2013, p. 11) enumera os pontos que
devem ser atendidos visando garantir o desempenho das edificações habitacionais.
A figura 1, embasada na normativa citada, traz a matriz da norma de desempenho. A
15
mesma, é estruturada em seis partes e sobre cada parte, são descritos parâmetros
os quais devem ser atendidos, segundo os requisitos dos usuários: segurança,
habitabilidade e sustentabilidade.
Figura 1: Matriz Norma de Desempenho. Fonte: Adaptado ASBEA, 2015.
A Norma de Desempenho de acordo com cada uma de suas partes traz
consigo uma gama de conceitos, definições e incumbências dos intervenientes para
o processo de edificações.
Neste viés, o Manual Norma de Desempenho, um Marco Regulatório na
Construção Civil (p.16-20), traz algumas dessas definições, as quais são relevantes,
para o entendimento deste trabalho:
Desempenho: corresponde ao comportamento em uso de uma edificação e seus
sistemas, que varia em função do local e ocupante, pois depende das
considerações de exposição, que é o conjunto de ações atuantes sobre a
edificação habitacional, incluindo cargas, ações externas e também aquelas
resultantes da própria ocupação do imóvel.
SE
GU
RA
NÇ
A
HA
BIT
AB
ILID
AD
E
SU
ST
EN
TA
BIL
IDA
DE
16
Durabilidade: é a capacidade da edificação ou de seus sistemas de
desempenhar suas funções ao longo do tempo, sob condições de uso e
manutenção especificadas no Manual de Uso, Operação e Manutenção.
O termo “durabilidade” exprime o período esperado de tempo em que um
produto tem a capacidade de cumprir as funções a que foi destinado, num patamar
de desempenho igual ou superior àquele predefinido (THOMAZ, 2013).
O mesmo autor enfatiza que é imprescindível fazer a correta utilização do
produto, bem como realizar manutenções periódicas segundo as recomendações do
fornecedor do mesmo, sendo que as manutenções devem recuperar parcialmente a
perda de desempenho resultante da degradação.
Especificações de desempenho: consiste no conjunto de requisitos e critérios
de desempenho estabelecido para a edificação ou seus sistemas. As
especificações de desempenho são expressões das funções requeridas da
edificação ou de seus sistemas e que correspondem a um uso claramente
definido, no caso desta norma, referem-se ao uso habitacional de edificações.
Na tabela 1, Tamaki (2010 apud TÉCHNE, 2010) apresenta o resumo dos
requisitos básicos de desempenho elencados pela NBR 15575-1 (ABNT, 2013).
Manutenabilidade: é o grau de facilidade de um sistema, elemento ou
componente de ser mantido ou recolocado no estado no qual possa executar
suas funções requeridas sob condições de uso especificadas, quando a
manutenção é executada sob condições determinadas, procedimentos e meios
prescritos.
A NBR 15575 (ABNT, 2013) também aborda novos conceitos tais como:
Vida Útil – VU: que é período de tempo em que um edifício e/ou seus sistemas
se prestam às atividades para as quais foram projetados e construídos, com
atendimento dos níveis de desempenho previstos nesta Norma, considerando a
periodicidade e a correta execução dos processos de manutenção especificados
no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção (a vida útil não pode ser
confundida com prazo de garantia legal ou contratual).
A Norma de Desempenho divide a edificação, (casa) em cinco sistemas
distintos conforme Figura 2.
17
Figura 2: Sistemas de habitação NBR 15575 (ABNT, 2013). Fonte: CAU/BR, 2016.
Vida Útil de Projeto – VUP: que corresponde ao período estimado de tempo para
o qual um sistema é projetado a fim de atender aos requisitos de desempenho
estabelecidos nesta norma. Considera-se o atendimento aos requisitos das normas
aplicáveis, o estágio do conhecimento no momento do projeto e supondo o
atendimento da periodicidade e correta execução dos processos de manutenção
especificados no respectivo manual de Uso, Operação e Manutenção (a VUP não
pode ser confundida com tempo de vida útil, durabilidade, prazo de garantia legal ou
contratual).
Primando pelo alcance da VUP (Vida útil de Projeto) a norma atribui deveres
aos usuários, como por exemplo, o de gerir a sua edificação com base no manual de
uso e operações e do procedimento para manutenções em edificações.
18
Tabela 1 – Resumo dos requisitos básicos da Norma de Desempenho
Desempenho Estrutural
O projeto deve prever que os estados limites de serviço não causem prejuízo a outros elementos de construção. O manual do proprietário deve conter informações acerca da sobrecarga.
Segurança Contra Incêndio
Os conceitos se dirigem para a baixa probabilidade de incêndio, alta probabilidade de os usuários sobreviverem sem sofrer qualquer tipo de injúria e reduzida extensão de danos à propriedade e à vizinhança imediata ao local de origem do incêndio. A maior parte dos critérios seguem normas prescritivas já existentes, e os métodos de avaliação, em sua maioria, baseiam-se em análise de projetos.
Segurança no Uso e na operação
Os sistemas não devem apresentar rupturas, instabilizações, partes cortantes ou perfurantes, deformações ou defeitos acima dos limites especificados nas demais partes da Norma. Sobre segurança nas instalações, deve se evitar a ocorrência de ferimentos aos usuários, atendendo-se às normas prescritivas pertinentes.
Estanqueidade
Os requisitos e métodos de avaliação estão especificados em cada parte pertinente da Norma. Fonte de umidade externa, por exemplo, aparecem nas Partes de Pisos Internos, Vedações e Coberturas. Sobre fontes de umidades internas à edificação a Norma determina que devem ser verificados em projeto os detalhes pertinentes que assegurem a estanqueidade, como as vinculações entre as instalações de água, esgoto e caixas d’água com estrutura, pisos e paredes.
Desempenho Térmico
Ambientes de permanência prolongada, (sala, dormitório) devem apresentar condições melhores que a externa, ou seja, temperatura igual ou inferior à externa, no verão.
Desempenho Acústico
Os limites sonoros e os métodos de avaliação, de fontes externas de ruído são apontados em norma correspondente, (NBR 10.152). Sobre isolação acústica em ambientes internos, cada parte da norma especifica os critérios e métodos de avaliação para cada sistema.
Desempenho Lumínico
A Norma trata tanto da iluminação artificial quanto da natural. O iluminamento mínimo para a luz para a luz natural deve ser no mínimo 60lux, e, para a luz artificial pelo menos 100lux ou 50lux para corredores, escadarias e garagens.
Durabilidade e Manutenabilidade
A Norma indica o prazo de Vida Útil de Projeto (VUP) e orienta para os prazos de garantia. Um mesmo sistema (ou elemento, componente, instalação) tem prazos de garantia variados quanto a ocorrências diferentes. Para revestimentos de paredes, por exemplo, a garantia indicada é de três anos para a estanqueidade das fachadas e dois anos para a ocorrência de fissuras.
Saúde, Higiene e Qualidade do Ar
As exigências de salubridade são estabelecidas por regulamento da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No geral deve-se evitar proliferação de microrganismos e limitar os poluentes na atmosfera interna de acordo com as normas e resoluções da Anvisa.
Funcionalidade e Acessibilidade
A Norma define as medidas mínimas de mobiliário e espaço de circulação. Sobre adequação a portadores de deficiência, a Norma enuncia que deve seguir os critérios da ABNT NBR 9.050. No caso de ampliação da unidade habitacional, o incorporador ou o construtor deve incluir no manual de Uso e Manutenção do usuário os detalhes construtivos necessários, de forma que a construção ampliada mantenha pelo menos os mesmos níveis de desempenho que a construção original.
Conforto Tátil e Antropodinâmico
As partes da edificação não devem apresentar rugosidades, contundências ou outras irregularidades que possam prejudicar o caminhar, o apoiar, limpar, brincar e demais atividades normais. Quanto a dispositivos de manobra, como portas, janelas, torneiras, a força necessária para seu acionamento não deve exceder a 10N e seu torque não deve exceder 20Nm.
Adequação Ambiental
De forma geral, os empreendimentos devem ser projetados e construídos visando ao mínimo de interferência no meio. Devem ser considerados riscos de desconfinamento do solo, enchentes, erosão, entre outros. Deve-se privilegiar a utilização de materiais que causem menor impacto ambiental, madeiras certificadas, implementar sistema de gestão de resíduos, possibilitar o reuso da água, minimizar o consumo de energia, entre outras recomendações.
Fonte: TAMAKI, (2010 apud TÉCHNE, 2010).
.
19
Em nota referenciada no item 3.42 na NBR 15575-1 (ABNT, 2013) está
descrito que o correto uso e operação da edificação bem como de suas partes, a
execução habitual das operações de limpeza e manutenção, alterações climáticas e
níveis de poluição no local da obra, mudanças no entorno da obra ao longo do
tempo (trânsito de veículos, obras de infraestrutura, expansão urbana), interferem na
vida útil, além da vida útil projetada, das características dos materiais e da qualidade
da construção como um todo.
Desta maneira, o valor real de tempo de vida útil será uma composição do
valor teórico de Vida Útil Projetada devidamente influenciado pelas ações da
manutenção, da utilização, da natureza e da sua vizinhança.
Assim, a Norma de Desempenho rege que no manual de operação, uso e
manutenção da edificação deve estar estabelecida a maneira como devem ser feitos
e registrados os serviços de manutenção e operação do edifício, para que o mesmo,
não perca o desempenho mínimo requerido e para que a vida útil de projeto
estabelecida pelo fornecedor seja alcançada, figura 3.
Figura 3: Desempenho ao longo do tempo considerando ações de manutenção. Fonte: ANEXO C,
ABNT NBR 15575-1, 2013.
Assim, os manuais de uso, operação e manutenção das edificações devem
ser vistos como um instrumento indutor de boas práticas que auxiliam no
20
desempenho e consequentemente no alcance da vida útil de projeto de uma
edificação.
A mesma nota referenciada no item 3.42 da NBR 15575-1 (ABNT, 2013)
complementa que a falta de cuidado no cumprimento integral dos programas
definidos no manual de operação, uso e manutenção da edificação, bem como
ações irregulares do meio ambiente, contribuirão para reduzir o tempo de Vida Útil,
podendo este tornar-se menor que o prazo teórico calculado como Vida Útil
Projetada.
A Cartilha Manual de Uso, Operação e Manutenção das Edificações
Orientações para Construtoras e Incorporadoras CBIC (2013), também ressalva que
a entrega dos manuais de uso e operação das edificações – Proprietário e Áreas
Comuns - tem como objetivo destacar que a durabilidade de uma edificação não
está ligada, apenas aos fatores relacionados ao projeto e execução da obra, mas
também uso e manutenção de maneira corretas, principalmente a manutenção
preventiva.
Portanto, é extremamente necessário realizar esforços conjuntos no sentido
de mudar a cultura da falta de cuidados e atenção rotineiros com a edificação.
A Norma também poderá ser utilizada a favor do construtor para isentá-lo de
responsabilidades quando se verificar que determinada patologia está ligada ao
comportamento do próprio consumidor.
Para Cruz et al. (2013), a norma de desempenho foi elaborada no intuito de
diminuir os problemas referentes a padronização e qualidade dos empreendimentos
bem como aprimorar o desempenho na execução das obras além de apoiar
legalmente as autoridades para que as mesmas possam se valer da equidade para
responsabilizar os causadores de eventuais problemas, não apenas na fase
construtiva bem como no pós-obra.
Ficam, portanto, estabelecidas as responsabilidades de cada um dos
envolvidos em uma edificação, construtores, incorporadores projetistas, fabricantes
de materiais, administradores de condomínio e os próprios usuários, conforme
dispõe quadro 1.
21
Quadro 1 – Responsabilidades dos agentes
Incorporadores e Construtores
− Salvo convenção escrita, cabe ao incorporador, junto com os projetistas envolvidos, a identificação dos riscos previsíveis na época do projeto, devendo o incorporador, neste caso, providenciar os estudos técnicos requeridos e alimentar os diferentes projetistas com tais informações; − Ao construtor ou incorporador cabe elaborar o manual de operação, uso e manutenção da edificação, ou documento similar, que deve ser entregue ao proprietário da unidade quando da entrega do edifício para uso, incluindo o manual de áreas comuns, a ser entregue ao condomínio.
Projetistas
− Especificar materiais, produtos e processos que atendam aos desempenhos mínimos estabelecidos na ABNT NBR 15575:2013 com base em normas prescritivas disponíveis e no desempenho declarado pelos fabricantes dos produtos a serem empregados; − Solicitar informações ao fabricante para balizar as decisões de especificação quando as normas específicas de produtos não caracterizem desempenho ou quando não existirem normas específicas; − Estabelecer a vida útil projetada de cada sistema que compõe a edificação habitacional e apresentar seus valores em projeto quando estes forem maiores que os mínimos estabelecidos na ABNT NBR 15575:2013.
Fornecedores de Insumos, Materiais, Componentes e Sistemas
− Caracterizar o desempenho dos produtos que fornece de acordo com os critérios definidos na ABNT NBR 15575:2013; − Convém que fabricantes de produtos sem normas brasileiras específicas ou que não tenham seu desempenho caracterizado forneçam resultados comprobatórios do desempenho de seus produtos.
Usuários
− Realizar a manutenção do edifício, conforme a norma ABNT NBR 5674 – Manutenção de edificações – Procedimentos e operação, uso e manutenção apresentado pelo incorporador ou construtor.
Fonte: OTERO; SPOSTO, (2014, p. 1250).
1.3. A Norma de Desempenho X Desafios
Embora a Norma de Desempenho esteja em vigor desde o ano de 2013,
“ainda há um longo caminho a percorrer para se determinar o desempenho de
materiais e sistemas construtivos no Brasil, seja no desenvolvimento de normas
sistemáticas específicas, seja na organização de alguns segmentos construtivos.”
(CAU, 2013 p.10).
De acordo com Bacchereti (2014 apud SANTOS, 2014), um desafio a ser
vencido para a implantação e cumprimento da Norma é o de cunho cultural, para ela
22
o meio técnico, terá que trabalhar para fazer com que o consumidor entenda o que a
norma de desempenho significa para a qualidade do imóvel adquirido, além da
cadeia produtiva da construção civil, promover campanhas de esclarecimento ao
consumidor sobre o que é Norma de Desempenho.
Bacchereti (2014), ainda ressalta a importância de os consumidores serem
ensinados a revisar seus imóveis e exemplifica: hoje, isso já funciona para os
elevadores, muitos edifícios adotam como regra a revisão mensal do sistema e em
algumas cidades, isso já é lei. Por que não, isso se estender a toda edificação.
Borges, Monteiro e Thomaz (2012, apud TÉCHNE, 2012), fazem algumas
considerações a cerca dos custos para implantação da Norma de Desempenho, o
primeiro autor afirma que para aqueles que já atendem todas as normas vigentes da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o impacto de custo para
atendimento à Norma de Desempenho será pequeno, mas deve existir. Porém, para
atingir o nível superior de desempenho, o acréscimo no custo final da obra sofreria
uma variação de 5% a 7%. A segunda autora considera que o impacto em curto
prazo, com relação aos custos advindos da implantação da Norma de Desempenho
dar-se-á sobre as obras de cunho social, de padrão econômico, visto que para os
construtores que trabalham com este tipo de edificação, o custo é o elemento de
seleção de sistemas e materiais, assim, as mudanças necessárias para o
atendimento à norma, mesmo em seus requisitos mínimos, poderão aumentar o
custo elevando o valor final das unidades. O terceiro autor complementa dizendo
que: ao levar em consideração todo o ciclo de vida da obra, incluindo o investimento
inicial, os custos de operação e de manutenção, a adequação dos projetos à NBR
15575 (ABNT, 2013) torna-se um fator de barateamento da construção.
Nota-se, portanto, que de maneira generalizada, os incorporadores,
construtores e projetistas são os responsáveis por garantir que os empreendimentos
atendam aos requisitos mínimos de desempenho exigidos pela Norma, mas para
tanto, é necessário que haja uma sintonia entre todos os envolvidos no
empreendimento.
Sendo assim, o empenho para adequação à NBR 15575 (ABNT, 2013) deve
partir das empresas incorporadoras e construtoras as quais devem primar por novas
práticas de projeto, como por exemplo, definir as especificações dos materiais e
sistemas construtivos a serem adotados em determinado empreendimento. Estes
23
profissionais também devem exigir de seus fornecedores o cumprimento dos
requisitos dos materiais e serviços a serem fornecidos, de modo que tais
fornecedores, também assumam as suas responsabilidades mediante o que está
sendo fornecido se assim for obter-se-á qualidade nos empreendimentos.
Almeida (1990), diz que está comprovado que, em qualquer projeto, as etapas
de concepção e planejamento pesam decisivamente no desenvolvimento de fases
sequentes bem como no resultado final.
São as decisões tomadas na fase de concepção do projeto que trazem maior
repercussão nos custos, velocidade e qualidade dos empreendimentos (FRANCO;
AGOPYAN, 1993).
Para obter um bom desempenho nas edificações, faz-se necessário um
estudo preliminar minucioso do empreendimento a ser concebido, mas na maioria
das vezes, não é isso que ocorre, e decisões que eram pra ser tomadas de maneira
prévia, até mesmo na fase de projetos, vão sendo tomadas no decorrer da obra, o
que incide em edificações mal executadas com acentuado número de retrabalhos e
insatisfação do cliente.
Para Okamoto e Melhado (2014), o desempenho é atendido por completo
quando há contribuição e uma elaboração interdisciplinar entre os agentes da cadeia
produtiva, desde a aquisição do terreno até tomadas de decisões em projeto,
incluindo a escolha de fornecedores, materiais e até mesmo do sistema construtivo a
ser adotado e se estende até as orientações aos usuários finais e a assistência
técnica.
Outro desafio no que diz respeito ao desempenho é a carência de
infraestrutura tecnológica voltada às necessidades da construção civil brasileira, de
maneira peculiar quando se trata de laboratórios de ensaios e testes tecnológicos
para atendimento às exigências da referida Norma, além das dificuldades de
interação entre as comunidades acadêmicas com empresas da construção civil para
o custeio de estudos e pesquisas referentes a novos materiais e sistemas
construtivos.
Okamoto e Melhado (2014) ainda afirmam que é necessário constituir mais
laboratórios credenciados para realizar ensaios de caracterização dos produtos
fornecidos pelas empresas, isso em função da alta demanda e levando em
24
consideração que há poucos laboratórios homologados no Brasil que dispõem desse
tipo de serviço.
Atrelado a este fator constitui-se também como desafio relacionado ao
atendimento à Norma de Desempenho, a necessidade da certificação dos produtos,
os quais serão especificados nos projetos, desta maneira o setor da construção civil
carece de laboratórios credenciados que possam ensaiar tais produtos e que
possam garantir aspectos referentes à confiabilidade, confidencialidade dos
resultados, rastreabilidade dos padrões utilizados, além de profissionais qualificados
e equipamentos adequados, visto que no país, muitas cidades brasileiras não há
disponibilidades desses laboratórios, tendo que enviar suas demandas às cidades
mais próximas (COVA, 2001).
Na maioria das vezes, esses materiais e produtos são mal transportados,
afetando diretamente no resultado esperado o que impacta negativamente o custo
do empreendimento.
Em meio a tantos desafios a serem vencidos pela cadeia construtiva, cabe ao
incorporador e construtor exigir que os materiais empregados nas construções sejam
de qualidade e atendam aos requisitos de conformidade, além de assegurar o
controle desses materiais dentro do canteiro de obras.
Enfim, são inúmeras as barreiras a serem ponderadas e superadas para
atender o que é proposto pela Norma de Desempenho, portanto, cada profissional
deve posicionar-se em busca de adequação a legislação, visto que a permanência
de cada um no mercado está de certa forma condicionada a tal, esse será um fator
diferencial das empresas no mercado que se torna cada vez mais competitivo,
tornar-se-ão preferenciais as empresas que comprovarem seu atendimento às
normas.
25
CAPÍTULO 2: A IMPORTÂNCIA DA FUNCIONALIDADE,
ACESSIBILIDADE E CONFORTO ANTROPODINÂMICO PARA AS
EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS NO BRASIL
2.1. Os diferentes tipos de deficiências das pessoas que compõem a população do Brasil
Para apresentar a qualidade de ser habitável, a NBR 15575-1 (ABNT, 2013),
considera que a habitação deve apresentar espaços mínimos dos ambientes da
habitação compatíveis com as necessidades humanas.
Dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no
Censo Demográfico de 2010, demonstram a porcentagem dos diferentes tipos de
deficiência das pessoas que compõem a população do Brasil.
Gráfico 1: Porcentagem dos tipos de deficiência da população do Brasil
Fonte: BRASIL, 2012.
Segundo a Cartilha do Censo 2010, Pessoas com Deficiência (BRASIL,
2012), pessoas com diferentes idades, são atingidas por deficiências, algumas
nascem com ela, outras a adquirem ao longo da vida. Os mesmos dados
23,90%
18,60%
5,10%
7%
1,40%
Pelo menos um tipode deficiência
Visual Auditiva Motora Mental ouIntelectual
26
demonstram que os tipos de deficiência variam com relação às idades das pessoas,
conforme demonstrado na tabela 2 e gráfico 2.
Tabela 2 – Variação dos tipos de deficiência com relação à idade das pessoas
Deficiência Visual
Deficiência Auditiva
Deficiência Motora
Deficiência Intelectual
0 a 4 anos 5,3% 1,3% 1,0% 0,9%
15 a 64 anos 20,1% 4,2% 5,7% 1,4%
Acima de 65 anos 49,8% 25,6% 38,3% 2,9%
Fonte: BRASIL, (2012, p. 8).
Gráfico 2: Número de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas por grupos de idade
Fonte: BRASIL, 2012.
A porção das pessoas com deficiência é composta por pessoas mais velhas,
o que não ocorre com a das pessoas sem deficiência, a primeira porção tende ser
assim, porque o reflete o processo de envelhecimento da população brasileira, cujo
índice passou de 19,8 em 2000 para 30,7 em 2010. Tal índice é definido pela razão
entre o número de pessoas com mais de 65 anos de idade e o número de pessoas
com menos de 15 anos. Portanto, equivale a dizer que, na população brasileira
3 459 401
32 609 022
9 540 624
0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 ou mais
27
como um todo, para cada grupo de 100 pessoas com idade abaixo de 15 anos,
havia 30 pessoas com 65 ou mais anos de idade. Na população com deficiência
essa relação foi de 100 para 275 (BRASIL, 2012).
Diante destes dados, nota-se que a parcela da população no Brasil afetada
com algum tipo de deficiência é expressiva.
Neste contexto, a engenharia e a arquitetura desempenham papel
fundamental no cumprimento e na execução de projetos de edificações, segundo os
requisitos das normativas existentes não só para atender as pessoas que possuem
algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida, mas também àquelas que por
algum motivo vier adquiri-las ao longo de suas vidas (CALDAS; MOREIRA;
SPOSTO, 2015).
2.2. A Constituição Federal Brasileira
A Constituição Federal Brasileira de 1988, afirma que é dever do Estado
garantir o exercício de todos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Nos seus artigos 1, 3, 23, 24
e 203 aborda sobre os direitos básicos de igualdade do cidadão, independente das
suas condições físicas, sociais, raciais dentre outros (BRASIL, 1988).
A Constituição Federal ainda em seus artigos 227, § 2º e 244 no que tange as
edificações e o setor da construção civil, discorre sobre a necessidade de
construção e de adaptação de logradouros, edificações públicas e transporte
coletivo a fim de garantir acesso adequado as pessoas com necessidades especiais
(BRASIL, 1988).
Embora a Constituição Federal apresente a necessidade da acessibilidade
para promover o bem estar de todos, não faz relação específica com as edificações
habitacionais, deixando em aberto esta lacuna em seu próprio texto.
Esta preocupação nos projetos arquitetônicos só passou a ser incorporada a
partir de estudos de ergonomia e num segundo momento com o surgimento da
primeira versão da NBR 9050 (ABNT, 1994) e dos Códigos de Edificações das
cidades brasileiras.
28
2.3. Acessibilidade, pessoas com deficiência e pessoa com mobilidade reduzida
A lei 13.146 de 6 de julho de 2015, define pessoa com deficiência,
acessibilidade e pessoa com mobilidade reduzida respetivamente como:
Art. 2o - Considera-se pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Art. 3o I- acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;
Art. 3o IX- pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer
motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso. (grifo nosso).
Os indivíduos que possuem deficiência física ou têm sua mobilidade reduzida
deparam-se constantemente com limitações em sua vida cotidiana.
Caldas, Moreira e Sposto (2015), afirmam que as barreiras que as pessoas
com dificuldade de locomoção precisam enfrentar diariamente não se restringem ao
aspecto físico, como à ausência de rampas e de elevadores. Elas envolvem também
questões sociais indispensáveis para o exercício de seus direitos que, embora
garantidos por lei, ainda são pouco observados.
Tais limitações estão estreitamente associadas à acessibilidade,
funcionalidade e ao conforto e antropodinâmico, ou seja, às condições que permitam
o exercício da autonomia e a participação social desses indivíduos, podendo estas
limitações influírem sobre seu desenvolvimento ocupacional, cognitivo e psicológico,
ou até mesmo prejudicá-lo, contribuindo para o processo de exclusão social.
2.4. Abrangência da NBR 9050 (ABNT, 2015)
29
Publicada pela primeira vez no ano de 1994 e recentemente atualizada em
2015, a NBR 9050 (ABNT, 2015) contempla as edificações habitacionais
unifamiliares e multifamiliares e equipamentos urbanos, bem como, as partes
internas ou externas de uso comum das edificações de uso privado multifamiliar,
também estão sujeitas as suas prescrições, no que diz respeito à acessibilidade aos
acessos: piscinas, andares, recreação, salão de festas e reuniões, saunas e
banheiros, quadras esportivas, estacionamentos e garagens.
A Normativa visa a utilização de maneira autônoma, independente e segura
do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos à maior
quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação
de mobilidade ou percepção.
A NBR 9050 (ABNT, 2015) está assim dividida:
Primeira parte – aborda a aplicação da norma e definição de termos usados no
documento como acessibilidade, deficiência e desenho universal;
Segunda parte – apresenta os parâmetros antropométricos, como área de cadeira
de rodas, medidas de alcance máximo e mínimo, área de transferência e
aproximação e outros, necessários para formulação dos parâmetros técnicos.
Terceira parte – apresenta os parâmetros técnicos e as determinações para os
elementos espaciais.
Nesse sentido, de acordo com a NBR 9050 (ABNT, 2015), os parâmetros
básicos para a concepção de uma edificação acessível deverão ser trabalhados em
conjunto, garantindo a plena acessibilidade das edificações através de rotas
acessíveis.
NBR 9050 (ABNT, 2015. p. 2-3) trás as seguintes definições as quais são
consideradas importantes para o entendimento deste estudo:
acessibilidade - possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento
para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários,
equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação,
inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona
urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.
30
acessível - espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento
que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa.
desenho universal – concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a
serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva. Em nota, a norma
esclarece que o conceito de desenho universal tem como pressupostos:
equiparação das possibilidades de uso, flexibilidade no uso, uso simples e
intuitivo, captação da informação, tolerância ao erro, mínimo esforço físico,
dimensionamento de espaços para acesso, uso e interação de todos os usuários.
É composto por sete princípios, descritos no (Anexo A) da NBR 9050 (ABNT,
2015).
adaptável - espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento
cujas características possam ser alteradas para que se torne acessível.
adaptado - espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento cujas
características originais foram alteradas posteriormente para serem acessíveis.
adequado - espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento
cujas características foram originalmente planejadas para serem acessíveis.
ajuda técnica - produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade,
relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou mobilidade
reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social.
A mesma normativa define que as edificações residenciais multifamiliares,
condomínios e conjuntos habitacionais necessitam ser acessíveis em suas áreas de
uso comum e ainda ressalta que as unidades autônomas acessíveis devem estar
conectadas às rotas acessíveis. Já as áreas de uso restrito, como casa de
máquinas, barriletes, passagem de uso técnico e outros com funções similares, não
necessitam atender ás condições de acessibilidade, por motivos que são óbvios.
Antes das primeiras publicações das normas NBR 9050 (ABNT, 2015) no ano
de 1994 e da NBR 15575 (ABNT, 2013) não havia preocupação em especificar em
projetos espaços adaptados ou adequados para atender as pessoas com deficiência
31
ou mobilidade reduzida, no entanto, à medida que as legislações evoluíram e com
elas as suas exigências, incluindo o código de defesa do consumidor, constatou-se a
necessidade de modificação do ambiente construído para atendimento das
necessidades destes usuários (CALDAS; MOREIRA; SPOSTO, 2015).
2.5. As exigências das normativas brasileiras NBR 9050 (ANBT, 2015) e NBR 15575 (ANBT, 2013) quanto: acessibilidade, funcionalidade e conforto antropodinâmico
Atualmente as normativas que regem as construções habitacionais no Brasil,
exigem que sejam acessíveis somente as áreas de comum acesso às edificações e
não levam em consideração a possibilidade das pessoas adquirir ao longo dos anos,
ou em qualquer fase de suas vidas, algum tipo de deficiência ou ter sua mobilidade
reduzida.
Para Ramidoff (2013), as limitações incapacitantes podem advir de diversas
formas sejam expressas pelas condições físicas, psicológicas e sociais, por isso,
não só as pessoas portadoras de deficiência possuem limitações que as
incapacitam para o exercício pleno de seus direitos individuais e garantias
fundamentais, mas, de igual maneira, todas as pessoas que, por circunstâncias
pessoais ou sociais, que também se encontrem em situação de vulnerabilidade.
A colocação de Ramidoff também nos reporta às normativas brasileiras como
é o caso da NBR 9050 (ABNT, 2015) que está mais voltada para a adaptação de
áreas públicas, já a NBR 15575 (ABNT, 2013), no que tange a acessibilidade,
funcionalidade e conforto antropodinâmico, refere-se às prescrições da NBR 9050
(ABNT, 2015).
Neste sentido, o indivíduo que adquire um apartamento (imóvel) o qual não
está conectado às rotas acessíveis e que não possui elevador, por exemplo, e que
quando o adquiriu não possuía nenhum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida,
ou até mesmo era mais jovem, não tendo atingido a fase idosa “torna-se vítima das
barreiras arquitetônicas que segregam estes usuários restringindo o exercício de sua
cidadania e de uma vida mais participativa” (CALDAS; MOREIRA; SPOSTO, 2015,
P. 24).
SIMÕES et al. (2010), afirmam que desfrutar de uma habitação com
dimensões adequadas, a qual proporciona conforto, autonomia e privacidade é uma
32
necessidade básica e um direito essencial do indivíduo. Além disso, assegurar esse
direito pode se dar de duas formas: construindo de raiz, ou adaptando edifícios de
habitação que sejam capazes de atender as variadas necessidades existentes no
conjunto da população e que estejam preparados para acomodar as diferentes
necessidades que surjam ao longo da vida de cada morador.
Desta maneira, assegurar a igualdade de oportunidades no acesso à
Habitação é um processo desafiador que envolve a todos, desde o promotor
imobiliário e a sua visão de mercado, ao consumidor e à sua escolha informada,
passando por todos os técnicos que intervêm no projeto, licenciamento e construção
e à sua abertura às boas práticas (CALDAS; MOREIRA; SPOSTO, 2015).
Outro fator relevante é a redução das dimensões da habitação que tem
comprometido a qualidade espacial, pois os ambientes são projetados com
dimensões desvinculadas das exigências espaciais para a adequada execução das
tarefas cotidianas, comprometendo os requisitos de funcionalidade e acessibilidade.
A necessidade da melhoria da qualidade espacial dos projetos torna prioritária a
concepção de unidades habitacionais com dimensões voltadas para a
funcionalidade e conforto dos usuários (DAMÉ, 2008).
SIMÕES et al. (2010) ainda afirmam que a identidade de cada indivíduo está
relacionada às características biológicas, psicológicas e sociais. A junção dessas
características forma a identidade de cada um e os distingue dos demais. Desta
maneira, pode-se dizer que esta identidade está relacionada com o local onde
nascemos e vivemos, a maneira como fomos educados, a nossa idade, incluindo o
grupo social e o círculo de amigos ao qual fazemos parte.
Para Caldas; Moreira; Sposto, (2015) a autonomia que é tida como a
realização plena do indivíduo enquanto pessoa é resultado de um processo que
depende dele mesmo, e da interação que o mesmo, mantém com seus contextos de
vida, portanto, a autonomia está condicionada a acessibilidade.
Os mesmos autores ainda afirmam que, a autonomia sempre será um grande
desafio, em qualquer etapa da vida visto que as caraterísticas, atividades e
necessidades vão se alterando ao longo do tempo.
Desta maneira, deve-se levar em conta a diversidade, pondo-se em questão
o conjunto de todas as pessoas e os aspectos práticos e dinâmicos que lhes são
impostos pela vida, nesse conjunto incluem: crianças, grávidas, pessoas com
33
criança de colo, idosos, pessoas com incapacidades temporárias ou permanentes,
todas elas apresentam necessidades específicas em cada fase da vida no que diz
respeito à mobilidade, orientação, comunicação e manipulação entre outras.
Sendo assim, quando os ambientes são planejados só para “alguns” um
número significativo de pessoas sentirão a hostilidade dos espaços ou mesmo a
impossibilidade de os utilizar, isso implica em impedir a pessoa de agir com
liberdade de acordo com suas motivações, escolhas e ações. Planejar desta
maneira é agir em desacordo com o princípio do respeito pelo outro, pela vida
individual e pela vida social. (CALDAS; MOREIRA; SPOSTO, 2015).
34
CAPÍTULO 3:
HABITABILIDADE: FUNCIONALIDADE E ACESSIBILIDADE,
CONFORTO ANTROPODINÂMICO
3.1. Acessibilidade e funcionalidade
Ao examinar a Norma de Desempenho, é possível observar que em relação à
acessibilidade, o método de avaliação está entrelaçado à NBR 9050 (ABNT, 2004),
Quadro 2.
Quadro 2 – Acessibilidade na NBR 15575 (ABNT, 2013)
Parte da
Norma
Identificação Nº da Descrição
Requisitos Critérios Descrição
1
Requisitos Gerais
16.3
Adequação para Pessoas com Deficiências Físicas ou Pessoas com Mobilidade Reduzida
16.2.3 Adaptações de área comuns e privativas
As áreas privativas devem ser acessíveis para as pessoas com deficiência física e com mobilidade reduzida. As áreas comuns devem prever acesso a pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida. Método de avaliação: Análise do projeto e atendimento à ABNT NBR 9050.
3 Requisitos para os sistemas de pisos
16.1 Sistemas de Pisos de Pessoas com Deficiência Física ou Pessoa com Mobilidade Reduzida
16.1.1 Sistemas de Pisos para Áreas Privativas
O sistema de piso deve estar adaptado à moradia de pessoas portadoras de deficiência física ou pessoas com mobilidade reduzida. Método de avaliação: Análise do projeto e atendimento à ABNT NBR 9050.
Fonte: Caldas; Moreira; Sposto, (2015, p.26).
Ainda no que diz respeito à funcionalidade e a acessibilidade a NBR 15575
(ABNT, 2013) relata sobre a altura mínima do pé direito, disponibilidade mínima de
espaços para uso e operação da habitação, possibilidade de ampliação da unidade
habitacional e Ampliação de unidades habitacionais evolutivas1, quadro 3.
1 Edificações de caráter evolutivo são aquelas comercializadas já com previsão de ampliações.
35
Quadro 3 – Requisitos e critérios de funcionalidade e acessibilidade na NBR 15575 (ABNT, 2013)
Requisitos Critérios Descrição
Apresentar altura mínima de pé-direito dos ambientes da habitação compatíveis com as necessidades humanas.
16.1.1 Altura Mínima de Pé Direito
A altura mínima de pé-direito não pode ser inferior a 2,50 m. Em vestíbulos, halls, corredores, instalações sanitárias e despensas admite-se que o pé-direito se reduza ao mínimo de 2,30m. Nos tetos com vigas, inclinados, abobadados ou, em geral, contendo superfícies salientes altura piso a piso e ou o pé-direito mínimo, devem ser mantidos, pelo menos, em 80 % da superfície do teto, admitindo-se na superfície restante que o pé-direito livre possa descer até ao mínimo de 2,30m. Método de avaliação: Análise do projeto.
Apresentar espaços mínimos dos ambientes da habitação compatíveis com as necessidades humanas.
16.2.1 Disponibilidade mínima de espaços para uso e operação da habitação
Para os projetos de arquitetura de unidades habitacionais, sugere-se prever no mínimo a disponibilidade de espaço nos cômodos do edifício habitacional para colocação e utilização dos móveis e equipamentos-padrão (listados no Anexo X de caráter informativo). Método de avaliação: Análise do projeto.
Possibilidade de ampliação da unidade habitacional
16.3.1 Ampliação de unidades habitacionais evolutivas
O incorporador ou construtor deve anexar ao manual de operação, uso e manutenção as especificações e detalhes construtivos necessários para ampliação do corpo da edificação, do piso, do telhado e das instalações prediais, considerando a coordenação dimensional e as compatibilidades físicas e químicas com os materiais disponíveis regionalmente sempre que possível.
Para unidades habitacionais térreas e assobradadas de caráter evolutivo já comercializadas com previsão de ampliação, a incorporadora ou construtora deverá fornecer ao usuário projeto arquitetônico e complementares juntamente com o manual de uso, operação e manutenção com instruções para ampliação da edificação
No projeto e na execução das edificações térreas e assobradadas de caráter evolutivo, deve ser prevista pelo incorporador ou construtor a possibilidade de ampliação, especificando-se os detalhes construtivos necessários para ligação ou a continuidade de paredes, pisos, coberturas e instalações.
No projeto e na execução das edificações térreas e assobradadas de caráter evolutivo, deve ser prevista pelo incorporador ou construtor a possibilidade de ampliação, especificando-se os detalhes construtivos necessários para ligação ou a continuidade de paredes, pisos, coberturas e instalações. Método de avaliação: Análise do projeto.
Fonte: O próprio autor – Adaptado NBR 15575 (ABNT, 2013).
36
No item 16.2.5 da NBR 15575-1 (ABNT, 2013) Requisito – Premissas de
Projeto a norma prescreve que o projeto deve prever para as áreas comuns e,
quando contratado, também para as áreas privativas, as adaptações que
normalmente referem-se a: acessos e instalações; substituição de escadas por
rampas; limitação de declividades e de espaços a percorrer; largura de corredores e
portas; alturas de peças sanitárias; disponibilidade de alças e barras de apoio.
O anexo G (informativo) da NBR 15575-1 (ABNT, 2013) visa apresentar como
sugestão algumas das possíveis formas de organização dos cômodos e dimensões
compatíveis com as necessidades humanas, quadro 4.
Quadro 4 – Móveis e equipamentos-padrão
Atividades Essenciais/Cômodo Móveis e equipamentos-padrão
Dormir/ Dormitório Casal Cama de casal + guarda-roupa + criado mudo (mínimo1)
Dormir/Dormitório para duas pessoas (2º Dormitório)
Duas camas de solteiro + guarda-roupa + criado mudo ou mesa de estudo
Dormir/Dormitório para uma pessoa (3º Dormitório)
Cama de solteiro + guarda-roupa + criado mudo
Estar Sofá de dois ou três lugares + armário/estante + poltrona
Cozinhar Fogão + geladeira + pia de cozinha + armário sobre a pia + gabinete + apoio para refeição (2 pessoas)
Alimentar/tomar refeições Mesa + quatro cadeiras
Fazer higiene pessoal Lavatório + chuveiro (box) + vaso sanitário Nota: No aso de lavado não é necessário o chuveiro
Lavar, secar e passar roupas Tanque (externo para unidades habitacionais térreas) + Máquina de lavar roupa
Estudar, ler, escrever, costurar, reparar e guardar objetos diversos
Escrivaninha ou mesa + cadeira
Fonte: Anexo G NBR 15575 -1 (ANBT, 2013).
A normativa NBR 15575 (ABNT, 2013) recomenda-se que os projetos de
arquitetura de edifícios habitacionais prevejam no mínimo a disponibilidade de
espaço nos cômodos do edifício habitacional para colocação e utilização dos móveis
e equipamentos-padrão quadro 4, dimensões mínimas de mobiliário e circulação
tabela 3. É importante ressaltar que a Norma não estabelece dimensões mínimas de
cômodos, deixando aos projetistas a competência de formatar os ambientes da
habitação segundo o mobiliário previsto, evitando conflitos com legislações
estaduais ou municipais que versam sobre dimensões mínimas dos ambientes.
37
Outro fator para o qual a Norma chama a atenção é que em caso de adoção em
projeto de móveis opcionais, as dimensões mínimas devem ser obedecidas.
Tabela 3 – Dimensões mínimas de mobiliários e circulação
Ambiente
Mobiliário
Circulação m
Observações Móvel ou equipamento
Dimensões
m I p
Sala de Estar
Sofá de 3 lugares com braço 1,70 0,70 Prever espaço de 0,50 m na frente Do assento, para Sentar, levantar e circular
Largura mínima da sala de estar deve ser 2,40 m Número mínimo de assentos Determinado pela quantidade de habitantes da unidade, considerando o número de leitos
Sofá de 2 lugares com braço 1,20 0,70
Poltrona com braço 0,80 0,70
Sofá de 3 lugares sem braço 1,50 0,70
Sofá de 2 lugares sem braço 1,00 0,70
Poltrona sem braço 0,50 0,70
Estante/Armário para TV 0,80 0,50 0,50
Espaço para o móvel obrigatório
Mesinha de centro ou cadeira - - - Espaço para o móvel opcional
Sala de Estar/Jantar Sala de Jantar/copa Copa/cozinha
Mesa redonda para 4 lugares D= 0,95
- Circulação Mínima de 0,75 m À partir da borda da mesa (espaço Para afastar a cadeira e levantar
Largura mínima da sala de Estar/jantar e da sala de jantar (isolada) deve ser 2,40m Mínimo: 1 mesa para 4 pessoas. Admite-se layout com o lado menor da mesa encostado na parede, desde haja espaço para seu afastamento, quando da utilização
Mesa redonda para 6 lugares D= 1,20
-
Mesa quadrada para 4 lugares 1,00 1,00
Mesa quadrada para 6 lugares 1,20 1,20
Mesa retangular para 4 lugares 1,20 0,80
Mesa retangular para 6 lugares 1,50 0,80
Cozinha Pia 1,20 0,50 Circulação Mínima 0,85 m Frontal à pia, Fogão e geladeira
Largura mínima da cozinha: 1,50 m Mínimo: pia, fogão e geladeira e armário.
Fogão 0,55 0,60
Geladeira 0,70 0,70
Armário sob a pia e gabinete - - - Espaço obrigatório para móvel
Apoio refeição (2 pessoas) - - - Espaço opcional para móvel
Dormitório casal Dormitório (principal)
Cama de casal 1,40 1,90 Circulação Mínima entre o mobiliário e/ou Paredes de 0,50 m
Mínimo: 1 cama, 2 criados-mudos e 1 guarda-roupa Admite-se apenas 1 criado-mudo, quando o 2º interferir na abertura de portas do guarda-roupa
Criado-mudo 0,50 0,50
Guarda-roupa
1,60 0,50
Dormitório para 2 pessoas (2º dormitório)
Camas de solteiro 0,80 1,90 Circulação mínima entre as camas 0,60 m Demais circulações mínimo de 0,50 m
Mínimo: 2 camas, 1 criado-mudo e 1 guarda-roupa Criado-mudo 0,50 0,50
Guarda-roupa
1,50 0,50
Mesa de estudo 0,80 0,60 - Espaço para o móvel opcional
Dormitório para 1 pessoa (3º dormitório)
Cama de solteiro 0,80 1,90 Circulação mínima Entre o mobiliário e/ou Paredes de 0,50 m
Criado-mudo 0,50 0,50
Armário 1,20 0,50
Mesa de estudo 0,80 0,60 - Espaço para o móvel opcional
Banheiro Lavatório 0,39 0,29 Circulação mínima de 0,4 m frontal ao Lavatório, vaso e bidê
Largura mínima do banheiro: 1,10m, exceto no box Mínimo: 1 lavatório, 1 vaso e 1 box
Lavatório com bancada 0,80 0,55
Vaso sanitário (caixa acoplada) 0,60 0,70
Vaso sanitário 0,60 0,60
Box quadrado 0,80 0,80
Box retangular 0,70 0,90
Bidê 0,60 0,60 - Peça opcional
Área de serviço
Tanque 0,52 0,53 Circulação mínima de 0,50m frontal ao tanque e máquina de lavar
Mínimo: 1 tanque e 1 máquina (tanque de no mínimo 20 L)
Máquina de lavar roupa 0,60 0,65
Fonte: Anexo G NBR 15575 -1 (ABNT 2013).
38
3.2. Conforto antropodinâmico
NBR 15575 (ABNT, 2013) descreve que as diretrizes para verificação das
exigências dos usuários com relação a conforto tátil e antropodinâmico são
normalmente estabelecidas nas respectivas Normas prescritivas dos componentes,
bem como nas NBR 15575-2 (ABNT, 2013) a NBR 15575-6 (ABNT, 2013).
Quando a questão são os edifícios habitacionais destinados aos usuários com
deficiências físicas e pessoas com mobilidade reduzida (PMR), a normativa
esclarece que os dispositivos de manobra, apoios, alças e outros equipamentos
devem obedecer às prescrições da NBR 9050 (ABNT, 2015).
Quadro 5 – Requisitos e critérios da avaliação do conforto tátil e antropodinâmico na
NBR 15575 (ABNT, 2013)
Requisitos Critérios Descrição
17.2 Conforto tátil e adaptação ergonômica Não prejudicar as atividades normais dos usuários, dos edifícios habitacionais, quanto ao caminhar, apoiar, limpar, brincar e semelhantes. Não apresentar rugosidades, contundências, depressões ou outras irregularidades nos elementos, componentes, equipamentos e quaisquer acessórios ou partes da edificação.
17.2.1 Adequação ergonômica de dispositivos de manobra
Os elementos e componentes da habitação (trincos, puxadores, cremonas, guilhotinas etc.) devem ser projetados, construídos e montados de forma a não provocar ferimentos nos usuários. Relativamente às instalações hidrossanitárias, devem ser atendidas as disposições da ABNT NBR 15575-6. Os elementos e componentes que contam com Normalização específica (portas, janelas, torneiras e outros) devem ainda atender às exigências das respectivas Normas.
Método de avaliação: Análise de projetos, métodos especificados nas Normas Brasileiras de cada componente.
17.3 Adequação antropodinâmica de dispositivos de manobra Apresentar formato compatível com a anatomia humana. Não requerer excessivos esforços para a manobra e movimentação.
17.3.1 Força necessária para o acionamento de dispositivos de manobra Os componentes, equipamentos e dispositivos de manobra devem ser projetados, construídos e montados de forma a evitar que a força necessária para o acionamento não exceda 10 N nem o torque ultrapasse 20 Nm.
Método de avaliação: Análise de projetos, métodos de ensaio relacionados às Normas Brasileiras específicas dos componentes.
Fonte: O próprio autor – Adaptado NBR 15575 (ABNT, 2013).
39
3.3. Desenho Universal
A NBR 9050 (ABNT 2015), em seu anexo A (informativo) explana sobre o
Desenho Universal, que possui sua definição conforme as legislações vigentes2 e
pelas normas técnicas.
O conceito de desenho Universal propõe uma arquitetura e um design
voltados para o ser humano e para sua diversidade, além de estabelecer critérios
para que as edificações, ambientes internos, urbanos e produtos atendam o maior
número de usuários, independentemente de suas características físicas, habilidades
e faixa etária, buscando favorecer a biodiversidade humana e proporcionando uma
melhor ergonomia para todos.
A fim de cumprir os objetivos propostos para este conceito, foram definidos
para o Desenho Universal sete princípios, que passaram a ser mundialmente
adotados em planejamentos em obras de acessibilidade, são eles:
1 - Uso equitativo: é a característica do ambiente ou elemento espacial que faz com
que ele possa ser usado por diversas pessoas, independentemente de idade ou
habilidade. Para ter o uso equitativo deve-se: propiciar o mesmo significado de
uso para todos; eliminar uma possível segregação e estigmatização; promover o
uso com privacidade, segurança e conforto, sem deixar de ser um ambiente
atraente ao usuário;
2 - Uso flexível: é a característica que faz com que o ambiente ou elemento
espacial atenda a uma grande parte das preferências e habilidades das pessoas.
Para tal, devem-se oferecer diferentes maneiras de uso, possibilitar o uso para
destros e canhotos, facilitar a precisão e destreza do usuário e possibilitar o uso
de pessoas com diferentes tempos de reação a estímulos;
3 - Uso simples e intuitivo: é a característica do ambiente ou elemento espacial
que possibilita que seu uso seja de fácil compreensão, dispensando, para tal,
experiência, conhecimento, habilidades linguísticas ou grande nível de
concentração por parte das pessoas;
2 Lei Federal n° 13.146/15, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa Com Deficiência). Lei Federal 10.098/00 (Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade).
40
4 - Informação de fácil percepção: essa característica do ambiente ou elemento
espacial faz com que seja redundante e legível quanto a apresentações de
informações vitais. Essas informações devem se apresentar em diferentes modos
(visuais, verbais, táteis), fazendo com que a legibilidade da informação seja
maximizada, sendo percebida por pessoas com diferentes habilidades (cegos,
surdos, analfabetos, entre outros);
5 - Tolerância ao erro: é uma característica que possibilita que se minimizem os
riscos e consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais na
utilização do ambiente ou elemento espacial. Para tal, devem-se agrupar os
elementos que apresentam risco, isolando-os ou eliminando-os, empregar avisos
de risco ou erro, fornecer opções de minimizar as falhas e evitar ações
inconscientes em tarefas que requeiram vigilância;
6 - Baixo esforço físico: nesse princípio, o ambiente ou elemento espacial deve
oferecer condições de ser usado de maneira eficiente e confortável, com o
mínimo de fadiga muscular do usuário. Para alcançar esse princípio deve-se:
possibilitar que os usuários mantenham o corpo em posição neutra, usar força de
operação razoável, minimizar ações repetidas e minimizar a sustentação do
esforço físico;
7 - Dimensão e espaço para aproximação e uso: essa característica diz que o
ambiente ou elemento espacial deve ter dimensão e espaço apropriado para
aproximação, alcance, manipulação e uso, independentemente de tamanho de
corpo, postura e mobilidade do usuário. Desta forma, deve-se: implantar
sinalização em elementos importantes e tornar confortavelmente alcançáveis
todos os componentes para usuários sentados ou em pé, acomodar variações de
mãos e empunhadura e, por último, implantar espaços adequados para uso de
tecnologias assistivas ou assistentes pessoais.
É importante ressaltar que indivíduos muito altos ou de baixa estatura, idosos,
gestantes, crianças, obesos e pessoas que possuem limitações de mobilidade
também se beneficiam do design para todos “Design Universal” (LIVINGDESIGN,
2016).
41
Figura 4: Sete princípios do Desenho Universal. Fonte: LIVINGDESIGN, 2016.
Figura 5: Desing inclusivo organização e características do interior da habitação.
Fonte: SIMÕES et al. (2010, p.40).
SIMÕES et al. (2010) afirmam que até algumas décadas atrás, a
acessibilidade às habitações não era levada em consideração pelo fato de não haver
42
consciência dos constrangimentos que a inacessibilidade impunha a muitas
pessoas. Se havia quem não as pudesse usar determinado ambiente era porque
sofria de alguma incapacidade. Sendo assim, a razão da inacessibilidade residia nas
incapacidades das pessoas, não se punham em causa as “incapacidades” e
constrangimentos do meio construído.
No entanto, a acessibilidade é um dos temas mais atuais e importantes no
setor da construção civil e tem sido cada vez mais discutido e deve ser tratado com
seriedade considerando que o perfil da população brasileira tem modificado ao longo
dos anos, como é o caso do aumento do número das pessoas idosas no país dentre
outros fatores os quais devem ser ponderados (IBDA/SP, 2013).
O IBDA/SP (2013), também afirma que preocupar-se com habitações
acessíveis trata-se de permitir às pessoas com deficiência, definitiva ou temporária,
participarem de atividades que incluem o uso de edifícios, produtos, serviços e
informação.
No Brasil, construções adaptadas e equipadas para garantir o máximo
conforto e segurança aos moradores da terceira idade, por exemplo, têm tido
estudos recentes, mas tais construções já permitem referências suficientes para a
concepção de espaços adequados à dinâmica de vida doméstica de todos. Desta
maneira, incentivar a sociabilização familiar, proteger a saúde e a integridade física
promovendo o seu bem-estar são alguns dos objetivos alcançados quando se leva
em consideração a questão de acessibilidade nos projetos (IBDA/SP, 2013).
3.4. Arranjos físicos de habitações acessíveis
Para Martins et al. (2007), levando em consideração os arranjos físicos de
habitações acessíveis é de extrema relevância que as habitações sejam projetadas
obedecendo a critérios mínimos para o mobiliário e equipamentos, bem como o seu
arranjo para circulação e utilização, visando obter uma boa aceitação por parte dos
usuários. As transformações obtidas através do arranjo físico das habitações
acessíveis geram benefícios que refletem tanto na satisfação do usuário como na
própria habitação, especialmente quando se propõe a implementação do Desenho
Universal. Uma habitação com Desenho Universal pode ser utilizada por todas as
pessoas, incluindo os indivíduos que possuem deficiência ou mobilidade reduzida, e
ainda permite adequações.
43
De acordo com CDHU/SP (2010) apud por Santos; Oliveira; Sposto, (2016) a
habitação, na qual é utilizado o Desenho universal, prevê vedações verticais
preparadas para suportar uma eventual instalação de barras, caso necessário;
possibilita o reposicionamento de divisórias, promovendo a ampliação de um
dormitório, sem implicações ou comprometimentos estruturais, entre outros itens.
É interessante ressaltar que a NBR 9050 (ABNT, 2015) não prevê critérios e
requisitos para habitações, mas para locais de hospedagem ela descreve que as
dimensões do mobiliário dos dormitórios acessíveis devem atender às condições de
alcance manual e visual e ser dispostos de forma a não obstruírem uma faixa livre
mínima de circulação interna de 0,90 m de largura, prevendo área de manobras para
o acesso ao banheiro, camas e armários.
A normativa define que deve haver pelo menos uma área, com diâmetro de
no mínimo 1,50 m, que possibilite um giro de 360°, figura 6. No entanto, esta norma
não prevê qualquer exigência quanto à circulação do cadeirante em sua própria
moradia após a disposição dos móveis mínimos.
Figura 6: Dormitório acessível área de circulação mínima. Fonte: NBR 9050 (ABNT, 2015).
A título de exemplo, em Portugal, as normas técnicas de acessibilidade
definidas pelo Decreto-Lei n.º 163/2006 não se aplicam por igual a todos os edifícios
de habitação, nem a todas as partes de cada edifício.
44
O decreto estabelece uma diferença bem definida entre os edifícios novos e
os edifícios existentes e também entre os espaços comuns e a área privativa do fogo
de habitação.
Algumas das principais disposições trazidas no decreto são citadas por
Simões et al. (2010),
Não tem de adaptar, mas não pode piorar – os edifícios de habitação já existentes
na data de entrada em vigor do decreto não precisam ser adaptados, mas não
estão dispensados de respeitar as normas, logo se houver obras de alteração ou
reconstrução, estas não poderão agravar a desconformidade e, se realizarem
obras de ampliação, estas terão de cumprir as normas aplicáveis à parte
ampliada.
Novo só se cumprir – os novos arruamentos e os novos edifícios só poderão ser
construídos se cumprirem, integralmente, as normas. Caso não cumpram, as
câmaras municipais estão obrigadas a indeferir os respectivos pedidos de
loteamento ou de construção.
Transição gradual – nos primeiros oito anos de vigência do decreto, as normas
não são aplicáveis a todos os fogos dos novos edifícios, mas, apenas a uma
parte, segundo uma percentagem calculada edifício a edifício, com, pelo menos,
um fogo por edifício.
Acessibilidade nos espaços comuns – nas áreas destinadas ao uso comum dos
condóminos é exigível um grau de acessibilidade equivalente ao exigido nos
edifícios abertos ao público, com exceção, em certos casos, de edifícios com
poucos pisos onde a instalação de meios mecânicos para circulação vertical
poder ficar, apenas, prevista.
Estacionamento acessível – os edifícios que tiverem mais de 12 lugares de
estacionamento pelo menos um, terá de ser acessível, não podendo estar
vinculado a nenhuma fração, embora o seu uso seja, naturalmente, de uso
exclusivo do condomínio.
Casa Adaptável – em cumprimento às normas definidas para a área privativa
resultará uma casa adaptável, ou seja, uma casa que o morador poderá, no
futuro, adaptar às suas necessidades sem grandes custos nem complexidade
técnica. Os círculos de área livre com 1,50 m de diâmetro no interior das
45
instalações sanitárias e da cozinha são exigidos de raiz pois, se assim , não for,
mais tarde será muito difícil ou mesmo impossível cria-los. (grifo nosso)
O que chama muita atenção, no decreto de Portugal é esta última disposição
“casa adaptável” apresentada por Simões et al. (2010), no que se refere aos círculos
de área livre das instalações sanitárias e da cozinha os quais são obrigatórios, ou
como diz os autores, exigidos “de raiz” pelas normativas portuguesas.
Contemplar estes itens, e torná-los exigíveis, seria de muita valia, no caso das
edificações brasileiras, visto que as áreas de circulação exigidas para o interior dos
ambientes pelas normativas, como por exemplo, as dimensões mínimas de
mobiliário e circulação trazidos no anexo G, da NBR 15575-1 (ABNT, 2013) tabela 3
deste trabalho, são insuficientes para garantir um giro de 360° para uma cadeira de
rodas que exige uma área livre de no mínimo 1,50m.
46
CAPÍTULO 4: ANÁLISES E PROPOSTAS
No Brasil, mais de 45 milhões de pessoas possuem alguma deficiência e há
mais de 19 milhões de idosos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Esses números, de 2010 publicados em 2012,
representam quase 30% da população brasileira que depara todos os dias com
dificuldades de locomoção, integração no mercado de trabalho e de inserção social.
Calcula-se que, aproximadamente dentro de dez anos, a população com mais de 60
anos de idade chegará a 30 milhões, o que implicará na necessidade de criar novos
requisitos para a cidade e seus espaços, incluindo as edificações habitacionais.
Mediante os dados apresentados percebe-se a necessidade de buscar
melhorias para edificações habitacionais brasileiras, mas para tanto, faz-se
necessário:
repensar as exigibilidades das normativas brasileiras no que se refere aos
requisitos de habitabilidade: funcionalidade, acessibilidade e conforto
antropodinâmico não só para as áreas comuns das edificações. Tomar esta
postura certamente valorizaria as moradias e proporcionaria ao usuário uma
habitação em conformidade com os requisitos mínimos de habitabilidade, conforto
e segurança, não só por um período de tempo, mas ao longo de toda a sua
estadia no imóvel;
elaborar referência normativa que estabeleça dimensões mínimas de ambientes e
áreas de circulação para ambientes privativos, visando a funcionalidade a
acessibilidade e o conforto antropodinâmico nos projetos de edificações não só
para pessoas com deficiência mas também para aquelas que se enquadram
como PMR (Pessoas com Mobilidade Reduzida), baseados no conceito do
desenho universal presente no anexo A da NBR 9050 (ABNT, 2015),
possibilitando ao usuário autonomia em sua habitação;
aprofundar nos estudos voltados para a adaptação das edificações habitacionais
para as diversas necessidades e habilidades do seu público-alvo, uma vez que as
habitações de um modo geral não são previstas da possibilidade de adaptação,
em suas áreas privativas;
47
neste sentido e diante de tais realidades, também se faz necessário que os
profissionais envolvidos repensarem seus conceitos acerca das edificações na
hora de projetá-las, visando a possibilidade de adaptações futuras evitando
assim, o desconforto dos usuários e a diminuição de gastos exorbitantes com
reformas em suas moradias;
nos projetos, prever acesso e circulação compatíveis com as necessidades dos
usuários, livres de barreiras e obstáculos, espaços capazes de comportar o
mobiliário proposto de maneira que a distribuição espacial dos equipamentos não
afetem circulações, acessos ou mesmo o uso destes, além de prever soluções
mais plausíveis de conexão interior e exterior de ambientes, uma vez que elas
contribuem significativamente para a qualidade ambiental e psicológica do
espaço. No caso das pessoas que possuem algum tipo de deficiência ou
possuem sua mobilidade reduzida, esses fatores são de grande importância.
Sendo assim, começar por alterar as dimensões mínimas de área livre das
instalações sanitárias, da cozinha e de pelo menos um dos dormitórios das áreas
privativas, construindo-as de raiz bem como seus acessos, tornar-se-ia esses
ambientes adaptáveis às pessoas que por algum motivo viesse adquirir algum tipo
de deficiência ou vierem a ter sua mobilidade reduzida, seja permanentemente ou
temporariamente.
Isso seria dar um grande passo no sentido de que o morador poderá, no
futuro, adaptar sua habitação às suas necessidades sem grandes custos e com o
mínimo de complexidade técnica.
Nesse sentido, propõem-se alguns cuidados necessários, no
dimensionamento dos espaços de áreas privativas de unidades habitacionais, que
não são destinadas especificamente, para pessoas que se enquadram como
deficientes físicos, mas para o atendimento de qualquer tipo de pessoa tais como:
crianças, adultos altos e baixos, idosos, gestantes, pessoas com deficiência e
mobilidade reduzida:
especificar todas as portas com no mínimo 0,80 m de vão livre;
prever espaço circular livre, com 1,50 m de diâmetro nos sanitários, cozinhas e
quartos;
projetar circulações com, no mínimo 0,90 m de largura ou mais;
48
evitar o uso de degraus que separem os ambientes, como salas e outros;
projetar pelo menos um banheiro na residência, com medidas compatíveis para
usuário de cadeira de rodas;
posicionar sanitários, chuveiros, lavatórios e demais aparelhos, de modo que
permita a instalação de barras de apoio caso venha ser necessário, conforme
prescrições das Normas Técnicas;
prever pontos de chumbadores no sanitário e cozinha para futura instalação de
barras de apoio, para tanto, prever no projeto, o afastamento de barreiras
arquitetônicas, como por exemplo, o desvio de tubulações;
nas bancadas de cozinhas e banheiros, deixar aberta a posição da pia e do
lavatório, numa extensão de 0,90 m, possibilitando a utilização destes
equipamentos por pessoas sentadas;
no caso de instalação de armários elevados, estabelecer o limite máximo de
alcance manual de uma pessoa sentada 1,62 m;
posicionar tomadas, interruptores, alavancas e outros comandos dentro da faixa
de alcance manual de uma pessoa sentada em uma cadeira de rodas. (entre 0,40
e 1,00 m de altura em relação ao piso acabado).
Em edificações com mais de um pavimento, prever o espaço para futura
instalação de um elevador ou de uma plataforma de percurso vertical para
pessoas portadoras de deficiências.
Outras soluções e medidas que não foram propostas neste trabalho podem ser
estudadas visto que o assunto é vasto e de extrema relevância, considerando o
novo retrato da população brasileira, para os próximos anos.
Outros benefícios que essas transformações podem propiciar é a
possibilidade de o dono do imóvel poder recepcionar pessoas com tais
necessidades em suas moradias sem constrangimentos, além de minimizar a
segregação daqueles que se enquadram como deficientes físicos, dando-lhes a
oportunidade de escolher o pavimento em que desejam morar, sem estar limitado ou
“obrigado” a optar na hora da aquisição de seu imóvel por um que esteja situado no
térreo, ligado às rotas acessíveis, pelo fato de algumas edificações estarem isentas
por norma, de instalarem o elevador.
49
CONCLUSÃO
Após a realização desse estudo foi constatado, que embora exigidas por Leis
e prescritas em normativas as questões que envolvem a funcionalidade,
acessibilidade e conforto antropodinâmico são vistas de maneira ainda limitada no
Brasil, de modo geral são exigidas em edificações públicas e somente em áreas
comuns das edificações habitacionais, nesse sentido, é deixado de lado a questão
de que uma habitação deve atender as necessidade do usuário em todos os seus
aspectos e ao longo de sua permanência na mesma, seja em áreas comuns ou
privativas, portanto, não é considerado que as necessidades individuais de cada
pessoa mudam ao longo do tempo, seja com a chegada fase idosa, ou por algum
tipo de deficiência permanente ou temporária, ou até mesmo, pelo fato de estar com
a mobilidade reduzida.
Ao confrontar a NBR 15575 (ABNT, 2013), com a NBR 9050 (ABNT, 2015),
notou-se uma incompatibilidade entre a Norma de Desempenho e as
recomendações definidas na NBR 9050 (ABNT, 2015), já que esta última está mais
voltada para a adaptação de áreas públicas.
De uma maneira geral, e de acordo com os estudos e literaturas existentes o
que temos hoje no Brasil, são adequações e acessibilidades pontuais, sem integrar
ações cotidianas como moradia, passeios, transporte, edificações, serviços.
Sendo assim, pode-se inferir que o conjunto de requisitos e critérios
abordados nas normas estudadas, devem envolver o conforto e segurança aos
usuários, não apenas por um período de tempo em ou em partes de um imóvel por
ele habitado, mas ao longo de toda a sua permanência em uma edificação, visto que
não é comum, um indivíduo adquirir um imóvel e trocá-lo em curto período de tempo,
em busca de espaços que atendam as suas necessidades.
Portanto, urge melhorias na concepção das habitações residenciais
brasileiras, no que diz respeito a funcionalidade, acessibilidade e conforto
antropodinâmico, não só nas áreas comuns mas também nas áreas privativas, pois
é sabido que quando a edificação descumpre os objetivos e funções para os quais
foi projetada ocasionará, vários problemas aos usuários não só no que se refere as
50
exigências de habitabilidade, mas também em custos durante toda a vida útil da
edificação seja em manutenções, adaptações reformas dentre outros.
Diante da complexidade do assunto e levando em consideração que os
requisitos de habitabilidade: funcionalidade, acessibilidade e conforto
antropodinâmico serão fatores diferenciais para os empreendimentos residenciais,
os quais passarão a ser exigidos pelos usuários em um futuro próximo, faz-se as
seguintes sugestões para estudos futuros:
pesquisa, para o levantamento de como os projetistas, incorporadores e
construtores, veem e aplicam os requisitos que envolvem a acessibilidade em
seus empreendimentos residências e de que maneira esses profissionais podem
usar esses diferenciais a favor da lucratividade em seus empreendimentos;
elaboração de estudo de viabilidade econômica para a implantação de uma
habitação acessível ou adaptável, com base nos princípios do Desenho Universal;
análise de custos para adaptação de residências já existentes, para que as
mesmas possam se tornar acessíveis ou adaptáveis.
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, C.A. Construções em alvenaria estrutural de blocos cerâmicos: um breve panorama do empreendimento: aspectos do mercado, importância do planejamento e ações para prevenir falhas freqüentes. In: Alvenaria estrutural: novas tendências técnicas e de mercado. [S. l.]: Interciência, 1990. AMARAL, Kelly. Construção civil cresceu 74,25% nos últimos 20 anos, revela estudo do SindusCon-MG. Revista Construção e Mercado, São Paulo, n. 41, p. 8-9, ago. 2014. ANDRADE, Robson Braga. O Caminho da Evolução apud CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Desempenho de edificações habitacionais: guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013. Fortaleza: Gadioli Cipolla Comunicação, 2013, 308p. ASBEA – Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura. Guia para Arquitetos na Aplicação da Norma de Desempenho ABNT NBR 15.575. São Paulo, 2015. Disponível em:< http://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2015/09/2_guia_normas_final.pdf>. Acesso em: 12 set 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas – SVVIE. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 15575: Edifícios Habitacionais – Desempenho – Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro, 2013. ______. NBR 9050: Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaço e Equipamentos Urbanos. Rio de Janeiro, 2015.
52
BORGES, Carlos Alberto de Moraes. O significado de desempenho nas edificações. 2010. Disponível em: <http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/103/artigo282364-1.aspx>. Acesso em: 16 set. 2016. ______. O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o setor da construção civil no Brasil. 263 f. Tese (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008. BORGES, Carlos Alberto de Moraes; MONTEIRO, Bárbara Kelch; THOMAZ, Ercio. Desempenho revisado apud Revista Téchne, São Paulo, n.192, p. 15-16, març. 2013. BORGES, Carlos Alberto de Moraes; SABBATINI, Fernando Henrique. O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o setor da construção civil no Brasil. - São Paulo: EPUSP, 2008. 19 p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/515). BRASIL. Cartilha do Censo 2010, Pessoas com Deficiência. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SNPD. Coordenação Geral do Sistema de Informações Sobre a Pessoa com Deficiência. Brasília, DF: SDH-PR/SNPD, 2012.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. ______. Lei nº 10.098 (2000). Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da república Federativa do Brasil. Brasília, DF, 19 nov 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm. Acesso em: 12 out. 2016. ______. Lei nº 13.146 (2015). Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da república Federativa do Brasil. Brasília, DF, 06 jul 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 12 out. 2016. ______. Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispões sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 7 ago. 2016.
BACCHERETI, Sueli Bueno apud SANTOS, Altair. Norma de Desempenho também exige mudança cultural. São Paulo, SP, 19 nov 2014. CALDAS, Lucas Rosse; MOREIRA, Mirellen Mara; SPOSTO, Rosa Maria. Acessibilidade para Pessoas com Mobilidade Reduzida Segundo os Requisitos
53
da Norma de Desempenho - Um Estudo de Caso para as Áreas Comuns de Edificações Habitacionais de Brasília – DF. Revista Eletrônica de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, V.10, nº 2, p.23-38, jul. 2015/dez.2015. CAU/BR – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Norma de Desempenho da ABNT traz grandes mudanças para a construção de residências. Disponível em < http://www.caubr.gov.br/mudancasnormadesempenho/>. Acesso em: 2 de jul de 2016. CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Cartilha Manual de Uso, Operação e Manutenção das Edificações Orientações para Construtoras e Incorporadoras. Brasília, 2013.
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Desempenho de edificações habitacionais: guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013. Fortaleza: Gadioli Cipolla Comunicação, 2013, 308p. CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Banco de dados: PIB 2015. 2016. Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/home/pib-2015>. Acesso em: 15 out. 2016. CRUZ, Stella Cristina Pereira et al. “DESEMPENHO EM EDIFICAÇÕES: ESTUDO DA NORMA NBR 15575-5: REQUISITOS PARA SISTEMAS DE COBERTURAS”. In: Anais Eletrônico VIII EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar UNICESUMAR – Centro Universitário Cesumar Editora CESUMAR Maringá – Paraná – Brasil.
Maringá. Centro Universitário Cesumar, 2013. Disponível em: < http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2013/oit_mostra/Stella_Cristina_Pereira_Cruz.pdf>. Acesso em: 10 de out. 2016. CORTÉS, Luísa. Norma de Desempenho completa três anos de vigência. Revista Construção e Mercado, São Paulo, n. 180, p. 12-13, jul. 2016. COVA, Wilma Cristina Regis Mascarenhas. Credenciamento de Laboratórios de Ensaio de Construção Civil Segundo a NBR ISO – IEC 17025: Avaliação das Dificuldades e não Conformidades Envolvidas no Processo. 106 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, porto Alegre, 2001. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/2617/000323461.pdf?...1 >. Acesso em: 6 de ago. 2016. DAMÉ, L. M. Habitação PAR, Desempenho Ímpar? Uma Avaliação Funcional de Unidades Multifamiliares em Pelotas/RS. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, 2008. DEL MAR ASSOCIADOS ADVOGADOS. ABNT NBR 15575 – Norma de Desempenho (panorama jurídico). São Paulo, 2013. 96p. ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, XV, 2014, Maceió. Universidade de Brasília, 2014.
54
FRANCO, L. S.; AGOPYAN, V. Implantação da racionalização construtiva na fase de projeto. São Paulo: Escola Politécnica/USP, 1993. (BT/PCC/94). INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA. IBDA. Acessibilidade e sua Importância nos Projetos de Hoje e do Futuro. São Paulo: IBDA, 2013. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO: IPT. Avaliação de alternativas tecnológicas em habitação. São Paulo: IPT, 1985. KERN, A. P.; SILVA, A.; KAZMIERCZAK, C. S. O processo de implantação de normas de desempenho na construção: um comparativo entre a Espanha (CTE) e BRASIL (NBR 15575/2013). Gestão e Tecnologia de Projetos, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 89-101, jan./jun. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v9i1.89989>. Acesso em: 12 out. 2016. LIVINGDESIGN. Desenho universal: Um Design de Conceito Simples, mas que é vital. Disponível em: < http://livingdesign.com.br/2015/08/desenho-universal-um-design-de-conceito-simples-mas-que-e-vital/#.WEcIXLIrLIU >. Acesso em: 10 de out. 2016. MARTINS, José Carlos; KLAVDIANOS, Dionyzio apud CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Dúvidas sobre a norma de desempenho: especialistas respondem. Brasília, 2015. MARTINS, D.N.; OLIVO, A.A.; MARTINS, A.R.I. Avaliação da qualidade da solução de arranjos físicos de habitações com áreas mínimas, a partir de variáveis geométricas de projeto. Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil.2007.
OKAMOTO, P. S.; SALERNO, M. S.; MELHADO, S. A coordenação de projetos subcontratados na construção civil. Gestão e Tecnologia de Projetos. São Paulo, v. 9, n. 1, p. 123-142, jan./jun. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/gtp. v9i1.68149.>. Acesso em: 11 nov.2016. OTERO, Juliano Araújo; SPOSTO, Rosa Maria. “IMPLANTAÇÃO DA ABNT NBR 15575:2013 EM EMPRESAS INCORPORADORAS E CONSTRUTORAS A PARTIR DE PROCESSOS DE SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE.” p. 1247-1256. In: Anais do XV ENTAC – Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Maceió: 2014. Disponível em: < http://www.infohab.org.br/entac2014/artigos/paper_382.pdf. > Acesso em: 11 nov.2016. PARMERGGIANI, Luca Brochier. Habitabilidade em Edificação Segundo a NBR 15575-1: Funcionalidade, Acessibilidade e Conforto Antropodinânmico. 65 f. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
55
RAMIDOFF, Mário Luiz. Acessibilidade Direito de Todos. 2013. Disponível em: < http://marioluizramidoff.jusbrasil.com.br/artigos/121935025/acessibilidade-direito-de-todos#comments >. Acesso em 30 de out. 2016.
SANTOS, Mayara Jordana Barros Oliveira; OLIVEIRA, Valéria Costa de; SPOSTO, Rosa Maria; "APLICABILIDADE DA NBR 15575 À HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL QUANTO À FUNCIONALIDADE E ACESSIBILIDADE DAS ÁREAS PRIVATIVAS HABITACIONAIS – ESTUDO DE CASO: PORTO VELHO, RO", p. 181-192. In: Anais do VI Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído & VII Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral [=Blucher Design Proceedings, v.2 n.7]. São Paulo: Blucher, 2016.
SIMÕES, Jorge Falcato et al. Uma casa para a vida: aplicação do design inclusivo à habitação. INR Instituto Nacional de Reabilitação. Portugal, 2010. SOUZA, Roberto. O Conceito de Desempenho Aplicado às Edificações. São Paulo: Tula Melo, 2015. TAMAKI, L. Vale o desempenho. Revista Téchne. Edição 158. 44-51. Maio de 2010. Disponível em: http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/158/artigo174101-1.asp http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/158/artigo174101-2.asp http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/158/artigo174101-3.asp . Acesso em: 24 de out. 2016.
THOMAZ, Ercio; apud BEZERRA, Sandra. ABNT publica Norma de Desempenho 15.575 – Desempenho de Edificações Habitacionais. 2013. Disponível em: < http://www.cbic.org.br/sala-de-imprensa/noticia/abnt-publica-norma-de-desempenho-15-575-desempenho-de-edificacoes-habitacio>. Acesso em 15 out. 2016. ______. Ercio. (2013, Agosto). Guia orientativo para aplicação e atendimento à norma NBR 15575. In: Palestra conduzida pelo SindusCon-Rio, em Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.sinduscon-rio.com.br/palestras/ercio.pdf >. Acesso em: 14 de jun. 2016.