96
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia Trabalho de Conclusão de Curso Risco de Geada associado à Temperatura na Mesorregião Oeste do Paraná Lucas Alberto Fumagalli Coelho Pelotas, 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Faculdade de Meteorologia

Curso de Meteorologia

Trabalho de Conclusão de Curso

Risco de Geada associado à Temperatura na Mesorregião Oeste do Paraná

Lucas Alberto Fumagalli Coelho

Pelotas, 2018

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

Lucas Alberto Fumagalli Coelho

Risco de Geada associado à Temperatura na Mesorregião Oeste do Paraná

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Meteorologia.

Orientadora: Profª. Drª. Graciela Redies Fischer

Pelotas, 2018

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

1

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

2

Risco de Geada associado à Temperatura na Mesorregião Oeste do Paraná

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, como requisito parcial, para obtenção

do grau de Bacharel em Meteorologia, Faculdade de Meteorologia, Universidade

Federal de Pelotas.

Data da Defesa: 07/12/2018

Banca examinadora:

....................................................................................................................................

Profª. Dra. Graciela Redies Fischer ......................................................(Orientadora)

Doutora em Meteorologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).......

....................................................................................................................................

Prof. Dr. André Becker Nunes ..................................................................................

Doutor em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(INPE)..........................................................................................................................

Prof. Dr. Júlio Renato Quevedo Marques..................................................................

Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS)..........................................................................................................................

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

3

Agradecimentos

Agradeço a meus pais, Carlos Alberto Coelho, Laura Maria Fumagalli Coelho e a

minha irmã Manoela Aparecida Fumagalli Coelho Mello pela oportunidade de estudar,

pelo incentivo e pelo suporte durante os anos de graduação. Agradeço a professora

Graciela Redies Fischer por ter aceito o convite da orientação, pela ajuda e pelo

conhecimento compartilhado. Agradeço as amizades e o companheirismo de Nathália

Helena Teixeira Costa e Giovana Deponte Galetti e agradeço também ao SIMEPAR pela

disponibilidade dos dados.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

4

Resumo

COELHO, Lucas Alberto Fumagalli. Risco de Geada associado à Temperatura na Mesorregião Oeste do Paraná. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Nas últimas décadas a Mesorregião Oeste do Paraná teve sua paisagem transformada por obras de infraestrutura e expansão da agricultura moderna, tendo hoje a soja, o trigo e o milho como principais culturas destinadas ao consumo doméstico e ao mercado de exportação. Dentro desta perspectiva a informação climática de risco de geada é relevante e ganha importância devido as características de transição climática da região. Os prejuízos ocorrem se a geada vier com intensidade ou em fase crítica de crescimento das culturas. Os processos envolvidos na produção destas condições frias estão associados a mecanismos que interagem em diferentes escalas atmosféricas e as assinaturas em escala sinótica destes eventos são conhecidas. Para estudar as o risco de geadas no oeste paranaense dados de temperatura mínima do ar de 10 estações meteorológicas da rede do SIMEPAR foram analisados para o período de 1998 a 2017. Uma climatologia de temperatura crítica menor ou igual a 3°C foi criada. Os casos com temperatura mínima menor ou igual a 0°C em pelo menos 75% das estações foram considerados representativos da ocorrência de geadas generalizadas. Seis casos deste tipo ocorreram e o padrão sinótico para estes eventos mostra um anticiclone continental e uma baixa pressão no sudoeste do Atlântico, que juntos causam advecção de ar frio sobre a América do Sul. Estes centros de pressão em superfície possuem suporte dinâmico nos médios níveis da troposfera. Evidências obtidas através do coeficiente de correlação entre os casos de geadas regionais e a anomalia da temperatura da superfície do mar na região do Niño 3.4 indica que após eventos fortes de El Niño há redução dos casos de geadas e fortes eventos La Niña implicam em geadas mais intensas e frequentes. Palavras-chave: Climatologia, agrometeorologia, agricultura, onda de frio, variabilidade climática.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

5

Abstract

COELHO, Lucas Alberto Fumagalli. Risk of Frost associated with Temperature in the Western Meso-region of Paraná. 2018. Final Monograph (Undergraduate) – Meteorology Undergraduation Course. Federal University of Pelotas, Pelotas, Brazil.

In the last decades the West Meso-region of Paraná had its landscape transformed by the

infrastructure and expansion of modern agriculture, with soy, wheat and corn being the

main crops for domestic consumption and export market. Within this perspective the

climatic information of risk of frost is relevant and gain more importance due to the climatic

transition characteristics of the region. Damage happens if the frost is intense or occurs

at a critical stage of the crop growth. The processes involved in enabling these cold

conditions are associated with mechanisms that interact at different atmospheric scales

and the synoptic scale signatures of these events are known. To study the risk of frost in

western Paraná, minimum air temperature data from 10 meteorological stations of the

SIMEPAR network were analyzed from 1998 to 2017. A critical temperature climatology

of less than or equal to 3 ° C was created. The cases with minimum temperature less than

or equal to 0 ° C in at least 75% of the stations were considered representative of the

occurrence of generalized frost. Six of such cases occurred and the synoptic pattern for

these events shows a continental anticyclone and a low pressure in the southwest of the

Atlantic, which together cause advection of cold air over South America. These surface

pressure centers have dynamic support in the middle levels of the troposphere. Evidence

obtained through correlation coefficients between the regional frost cases and the

anomaly of the sea surface temperature in the Niño 3.4 region shows that after strong El

Niño events there is a reduction in frost cases and strong La Niña events imply in more

intense and frequent frost cases.

Keywords: Climatology, agrometeorology, agriculture, cold wave, climate variability.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

6

Lista de Figuras

Figura 1 - Reservatório de Itaipu. ................................................................................... 19

Figura 2- Localização e altitude do relevo da mesorregião Oeste do Paraná. ............... 20

Figura 3 – Altitudes acima de 2000 metros acima do nível do mar na cordilheira dos Andes

destacadas em cinza escuro. ......................................................................................... 32

Figura 4 - Esboço que explica o deslocamento da Alta migratória para o norte, após cruzar

os Andes. L corresponde a baixa térmica do noroeste da Argentina, localizada ao norte

da linha frontal (curva sobre a AMS) em (a). Os ventos de leste ao sul da frente,

representados pela seta apontando para noroeste, são parados pela cordilheira

(representada pelo traço meridional contínuo) que permite uma anomalia anticiclônica no

lado chileno dos Andes ao mesmo tempo que intensifica L. Após cruzar a cordilheira, em

(b), a alta migratória, representada pela letra H, tem seus ventos no flanco norte parados

pelas montanhas, interrompendo o equilíbrio geostrófico devido a diminuição da força de

Coriolis (Co) que não contrabalança a força do gradiente de pressão (Pr) acelerando o

anticiclone para o norte. A seta em 45°S em b) representa a região de entrada do

anticiclone sobre o lado leste da cordilheira. .................................................................. 33

Figura 5 - Modelo conceitual de ondas de frio sobre a AMS. Os contornos representam

isóbaras de superfície. Setas grossas escuras (claras) representam ventos em baixos

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

7

níveis da troposfera que causam advecção negativa (positiva) de temperatura sobre o

continente. Va representa o vento ageostrófico. Vg representa o vento geostrófico. As

letras H e L representam centros de alta e baixa pressão, respectivamente. Frente fria e

cavado estão representados com símbolos característicos. .......................................... 34

Figura 6 - Regime longitudinal para ondas de frio tipo 1, 2 e 3. ..................................... 35

Figura 7 - Regiões Niño 3, Niño 3.4 (EN), Taiti e Darwin (OS). A região do Niño 3

corresponde a área do retângulo tracejado entre 5°N-5°S, 120°W-170°W. A região do

Niño 3.4 corresponde a área do retângulo de traço contínuo entre 5°N-5°S, 120°W-

170°W. Taiti (17°S, 150°W) e Darwin (12°S, 131° E) estão plotados com um marcador.

....................................................................................................................................... 41

Figura 8 – Mapa de localização das estações meteorológicas na MOPR utilizadas neste

trabalho. ......................................................................................................................... 43

Figura 9 - Casos totais de Tm ≤ 3°C e Tm ≤ 0°C, entre 1998 e 2017. ........................... 48

Figura 10 – Media do número de dias com Tm ≤ 3°C e Tm ≤ 0°C em 20 anos, para as

estações meteorológicas estudadas. ............................................................................. 51

Figura 11 – Distribuição dos eventos de RG generalizadas, parciais e isoladas por ano.

....................................................................................................................................... 54

Figura 12 - Casos de geadas isoladas, parciais e generalizadas por mês. .................... 55

Figura 13 - Campos médios do geopotencial de 500 hPa (contornos coloridos em metro

geopotencial), pressão ao nível do mar (contornos pretos em hPa), vento meridional em

500 hPa (vetor em m/s), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes;

c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após. ...................... 61

Figura 14 - Campos médios de espessura entre 500 hPa e 1000 hPa (contornos

pontilhados em metro geopotencial) e pressão ao nível do mar (contornos pretos em

hPa), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d)

1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após. .................................................... 62

Figura 15 - Campos médios de linha de corrente em 250 hPa (m/s) (área hachurada) e

pressão ao nível do mar (contornos em hPa), para: a) 4 dias antes das geadas

generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência;

f) 1 dia após. ................................................................................................................... 63

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

8

Figura 16 - Campos médios de linha de corrente em 850 hPa (m/s) (área hachurada) e

pressão ao nível do mar (contornos em hPa), para: a) 4 dias antes das geadas

generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência;

f) 1 dia após. ................................................................................................................... 64

Figura 17 - Campos médios de temperatura em 850 hPa (°C) (sombreado), isotermas de

10°C e 0°C (contornos em vermelho) e vento (em nós), para: a) 4 dias antes das geadas

generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência;

f) 1 dia após. ................................................................................................................... 65

Figura 18 - Campos médios de umidade específica em 850 hPa (kg/kg) (área hachurada)

e vento (em nós), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2

dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após. ............................. 66

Figura 19 – Diferença dos campos médios de pressão em superfície (hPa) (contornos

pretos) e temperatura em 850 hPa (°C) (contornos coloridos) entre os casos de RG

generalizadas e parciais, para: a) 4 dias antes dos eventos; b) 3 dias antes; c) 2 dias

antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após. ..................................... 67

Figura 20 - Eventos de EN e LN e anomalia da temperatura da superfície do mar na região

do Niño 3.4. .................................................................................................................... 68

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

9

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Estações meteorológicas utilizadas, com os valores de latitude, longitude,

altitude, comprimento e porcentagem da série de dados. .............................................. 44

Tabela 2 – Hipóteses sobre a influência da região do Niño 3.4 na ocorrência de geadas.

....................................................................................................................................... 46

Tabela 3 - Número de dias com Tm. ≤ 3 °C e Tm ≤ 0 °C e frequência média por ano de

dias com Tm. ≤ 3 °C e Tm ≤ 0 °C entre 1998 e 2017. .................................................... 47

Tabela 4 – Variáveis interpretativas: Período de geadas, desvio padrão do período de

geadas, estação de crescimento, desvio padrão do período da estação de crescimento e

anos sem a ocorrência de geadas para as estações de estudo..................................... 52

Tabela 5 - Características do período de geadas: ocorrência de geada mais precoce, data

média da primeira geada, desvio padrão da primeira geada, data média da última geada,

desvio padrão da última geada e geada mais tardia para as estações de estudo. ........ 53

Tabela 6 - Temperatura mínima nos eventos de RG generalizadas. Valores sublinhados

correspondem ao recorde mínimo da série. ................................................................... 54

Tabela 7 - Primeira geada, última geada, período de geada e estação de crescimento

para as geadas regionais. .............................................................................................. 56

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

10

Tabela 8 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e médias de anomalia

de TSM na região do Niño 3.4 calculada em diferentes períodos, ano, período de MJJAS

e do começo do segundo semestre do ano anterior ao fim do primeiro semestre do ano

das geadas. .................................................................................................................... 70

Tabela 9 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e a) médias de

anomalia de TSM na região do Niño 3.4 calculada durante eventos de EN/LN que

antecedem as geadas; Duração dos eventos que antecedem as geadas; EN/LN que se

desenvolvem no ano das geadas e Duração dos eventos que se desenvolvem no ano

das geadas. .................................................................................................................... 71

Tabela 10 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e as médias de

anomalia de TSM na região do Niño 3.4 calculada durante eventos quentes que

antecedem as geadas; Duração dos eventos quentes que antecedem as geadas; Eventos

quentes que se desenvolvem no ano das geadas e Duração dos eventos quentes que se

desenvolvem no ano das geadas. .................................................................................. 72

Tabela 11 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e as médias de

anomalia de TSM na região do Niño 3.4 calculada durante eventos de LN que antecedem

as geadas; Duração dos eventos frios que antecedem as geadas; Eventos frios que se

desenvolvem no ano das geadas e Duração dos eventos frios que se desenvolvem no

ano das geadas. ............................................................................................................. 73

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

11

Lista de Abreviaturas e Siglas

AMS América do Sul

ARG Argentina

ASAS Alta Subtropical do Atlântico Sul

ASPS Alta Subtropical do Pacífico Sul

AVA Advecção de Vorticidade Anticiclônica

AVC Advecção de Vorticidade Ciclônica

EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

Cfa Clima Subtropical Mesotérmico Úmido com verões quentes

Cfb Clima Subtropical Mesotérmico Úmido com verões brandos

CH Chile

COBR Centro-Oeste do Brasil

CP Componentes Principais

E Última geada da Estação

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

12

ENOS El Niño - Oscilação Sul

EN El Niño

F Frequência de Geada

G Estação de Crescimento

IAPAR Instituto Agronômico do Paraná

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

IOS Índice de Oscilação Sul

JP Jato Polar

JS Jato Subtropical

KS Número de onda estacionário

L Comprimento da Janela de Geada

LN La Niña

mgp Metro Geopotencial

MJJAS Período com risco de geadas

MOPR Mesorregião Oeste do Paraná

NCAR National Center for Atmospheric Research

NCEP National Centers for Environmental Prediction

OS Oscilação Sul

PNM Pressão ao Nível Médio do Mar

PR Paraná

PY Paraguai

RG Risco de geadas

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

13

RS Rio Grande do Sul

S Primeira Geada da Estação

SC Santa Catarina

SBR Sul do Brasil

SIMEPAR Sistema Meteorológico do Paraná

SOAS Sudoeste do Atlântico Sul

Tm Temperatura Mínima ao Nível do Abrigo Meteorológico

TmR Temperatura Mínima de Relva

TSM Temperatura na Superfície do Mar

UY Uruguai

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

14

Lista de Símbolos

�̅� Média

𝑓 Traçador

ρ Correlação

∑ Somatório

≤ Menor igual

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

15

Sumário

1 Introdução ..................................................................................................... 16

2 Revisão da literatura ..................................................................................... 18

2.1 Caracterização da área de estudo ............................................................. 18

2.2 Geadas ....................................................................................................... 21

2.3 Ondas de frio na América do Sul ................................................................ 28

2.4 El Niño/La Niña: Fenômeno e Variabilidade ............................................... 39

3 Material e Métodos ........................................................................................ 43

4. Resultados e discussão................................................................................ 47

4.1 Climatologia de dias com risco de geadas por estação meteorológica. ..... 47

4.2 Risco de Geadas isoladas, parciais e generalizadas ................................. 53

4.3 Padrão sinótico em eventos com risco de geadas generalizadas e parciais56

4.4 Correlação entre o risco de geada e El Niño/La Niña; ............................... 68

5. Conclusões ................................................................................................... 74

Referências ...................................................................................................... 76

Anexos ............................................................................................................. 83

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

16

1 Introdução

O Estado do Paraná se manteve na posição de segundo maior produtor nacional

de cereais, leguminosas e oleaginosas, de acordo com estimativas de 2017 do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para a safra nacional. Nesta perspectiva

econômica, a informação climática é relevante para as atividades agrícolas e ganha um

grau de importância maior no Paraná devido a presença do trópico de Capricórnio

(23°27’S), que confere ao Estado características de transição climática (CAVIGLIONE et

al. 2000).

A geada é um dos fenômenos climáticos que causam prejuízos para a atividade

agrícola, sendo frequente no Estado do Paraná durante o período de outono e inverno,

com sua intensidade determinada em função da latitude e altitude (GRODZKI, 1996;

WREGE et al. 2004). A caracterização do regime de geadas é de grande aplicabilidade

no que se refere a tomada de decisão e planejamento, sendo a data de ocorrência da

primeira geada de outono e da última geada de primavera uma das informações

imprescindíveis, pois nestas épocas as culturas estão em fase crítica de crescimento

(GRODZKI, 1996).

A determinação da climatologia de geada esbarra no conhecido fato da literatura,

de que as séries de dados de temperatura mínima de relva são na maioria das vezes,

curtas, incompletas ou inexistentes. No Brasil, a rede de estações meteorológicas atual

é em sua maioria automática e não ocorre observação de geadas. Frente a este

problema, pesquisadores têm sugerido a utilização de um valor de temperatura mínima

de abrigo que represente o ambiente de ocorrência do fenômeno. Como em noites de

geada ocorre um forte gradiente de temperatura entre a superfície do solo e o abrigo

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

17

meteorológico, este valor pode ser da ordem de 5°C ou mais (HORNSTEIN, 1961;

BOTTSMA, 1976).

Precursoras das geadas, as ondas de frio a Leste da Cordilheira dos Andes

causam forte impacto na temperatura do ar em baixos níveis sobre a América do Sul

(AMS). São resultantes da interação de ondas em diferentes escalas atmosféricas

(MÜLLER et al. 2005), com estrutura bem definida e recorrente (GARREAUD, 2000),

sendo classificadas com base em sua localização meridional e característica sinótica

(LUPO et al. 2001).

O objetivo deste trabalho é investigar a ocorrência de condições que apresentam

risco de geadas na mesorregião oeste do Paraná (MOPR) em função da temperatura

mínima do abrigo meteorológico e determinar a frequência, o período, a variabilidade, e

a resposta aos ciclos El Niño/La Niña. Para casos mais intensos, investigar os padrões

sinóticos e de grande escala através de campos médios derivados de reanálise.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

18

2 Revisão da literatura

2.1 Caracterização da área de estudo

A exploração da madeira e a mercantilização das terras pelas colonizadoras de

capital gaúcho a partir dos anos 1940, junto da necessidade de ampliar a fronteira

agrícola e ocupar o interior do país, caracterizam a fase mais recente de ocupação da

mesorregião Oeste do Paraná (MOPR). A retomada das relações bilaterais entre Brasil e

Paraguai nos anos 1950 implicaram uma série de obras de infraestrutura que dinamizou

a economia e o desenvolvimento da região, transformaram a paisagem de sobremaneira

(REOLON, 2007). Dentre as obras estão a construção da Ponte da Amizade (1965), a

pavimentação da BR-277 (1969), a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu (1974) e o

subsequente represamento de seu reservatório (1982) que ocupou uma área de 1460

km² na calha do Rio Paraná com um volume total de água de 29x109 m3 (Figura 1)

(STIVARI et al., 2005).

A mesorregião Oeste abrange uma área de 2.290.859 hectares no Oeste

Paranaense que corresponde a 11,5% do território do Estado (IPARDES, 2003) dos quais

101.092 hectares foram alagados pelo reservatório de Itaipu (SOUZA, 1998). Stivari et

al. (2005) forneceu evidências que concordam com a hipótese de que o reservatório

causou um impacto na circulação local. Eles indicam para uma circulação de brisa de

lago, com divergência do vento horizontal e contraste térmico negativo sobre o

reservatório durante o dia e o oposto à noite. Do ponto de vista regional teria havido a

redução da amplitude térmica diurna da temperatura do ar, mas sem mudança no regime

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

19

de precipitação, isso porque a circulação da brisa do lago estaria trabalhando na mesma

direção do efeito de circulação vale-montanha existente na área, inibindo a chuva nas

vizinhanças do reservatório.

Figura 1 - Reservatório de Itaipu. Adaptado de STIVARI et al., 2005.

Segundo Santos et al. (2006) a mesorregião Oeste está localizada no terceiro

planalto Paranaense (ou Planalto Arenito-Basáltico), uma unidade geomorfológica

formada devido ao derrame mesozoico de rochas vulcânicas que desenvolveu um

conjunto de relevos planálticos, com inclinação para oeste-noroeste e altitudes médias

entre 220 e 300 metros na calha do rio Paraná (Figura 2).

O clima, de acordo com a classificação de Köppen-Geiger revisada por Kottek et

al. (2006) é Subtropical Mesotérmico Úmido do tipo Cfa. Um detalhamento maior é dado

por Maack (1968), que diferencia as áreas de menor altitude, onde ocorre o clima Cfa,

com temperatura média do mês mais quente superior a 22°C, do mês mais frio inferior a

18°C e precipitação anual de 1300 a 1700mm, das áreas de maior altitude, restritas aos

divisores de água, onde ocorre o clima Subtropical Mesotérmico de verões frescos (Cfb),

com temperatura média do mês mais quente abaixo dos 22°C e precipitação anual de

1700mm a 1800mm. Ainda segundo Maack (1968) não há estação seca e nem deficiência

hídrica na região.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

20

Figura 2- Localização e altitude do relevo da mesorregião Oeste do Paraná. Fonte: ETOPO2v2.

A alteração das rochas basálticas em função do clima úmido originou solos de

elevada fertilidade natural do tipo terra roxa, dentre os quais se destacam o latossolo roxo

e a terra roxa estruturada (IPARDES, 2003). O que permitiu o desenvolvimento de dois

ecossistemas de grande biodiversidade, a Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária)

acima dos 500 metros de altitude e a Floresta Estacional Semidecidual nas demais áreas

(MAACK, 1968), cujo Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, é o principal

remanescente deste último, cobrindo uma área de 185.262 hectares (ICMBIO, 2018).

Com as condições naturais apropriadas e o apoio para a modernização agrícola a

partir dos anos 1960, a mesorregião Oeste integrou rapidamente o movimento de

expansão da agricultura moderna, período marcado por amplas transformações da

paisagem que resultaram em concentração fundiária, forte mecanização e automação

agrícola e elevadas taxas urbanização. A produção agrícola tornou-se diversificada,

sendo que os principais produtos explorados são a soja (27,8% da produção estadual), o

trigo (19,8%) e o milho (18,5%). O desenvolvimento técnico incorporado à produção

destes cultivos consolidou um “complexo soja regional”, que subsidiou o desenvolvimento

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

21

da agropecuária, hoje destinado não somente ao consumo doméstico, mas também ao

mercado de exportação (IPARDES, 2003).

2.2 Geadas

A geada pode causar prejuízo para a agricultura, sobretudo se o evento ocorrer

com intensidade ou quando as culturas estão em fase crítica de crescimento (KIM et al.,

2003). A falta de regularidade cronológica em que ocorrem é um fator de risco a mais

para a agricultura (MOTA, 1979) e o estudo desses eventos do ponto de vista regional é

de grande importância, pois um caso de geada generalizada pode afetar de uma só vez

amplas áreas vitais da economia (MÜLLER; BERRI, 2011).

A geada é favorecida quando o ponto de orvalho do ar está abaixo de 0°C e a

umidade em contato com superfícies sólidas passa diretamente do estado gasoso para

o sólido. Esse processo de sublimação resulta na formação de cristais de gelo. Para que

os cristais de gelo cresçam na superfície ou dentro das células das plantas é necessário

que a superfície sólida seja resfriada abaixo do ponto de orvalho do ar circundante

(CLARK; STURMAN, 2011). Se o ponto de orvalho estiver acima de 0°C a condensação

terá início como orvalho e o calor latente desprendido irá retardar o restante da

condensação e as temperaturas de congelamento serão mais difíceis de ocorrerem do

que quando o ponto de orvalho estiver abaixo de 0°C. No entanto, se a temperatura do

ar descer a 0°C, mas não atingir o ponto de orvalho, ainda poderá haver congelamento,

mas sem nenhum gelo (BLAIR; FITE, 1964).

Dois ambientes distintos dão origem a geadas. O primeiro em noites de céu limpo

e vento calmo que permite a perda de calor do solo para a atmosfera e cria camadas de

inversão térmica próximas da superfície. Nestes casos ocorre a “geada de radiação” ou

“geada branca”. No segundo ocorre a "geada de advecção", ou “geada negra”, quando

uma massa de ar muito fria é advectada pelo vento dentro de um sistema climático mais

amplo (BLAIR; FITE, 1964; MOTA, 1979; SELUCHI, 2009; CLARK; STURMAN, 2011).

Geadas brancas e negras são identificadas pela observação dos efeitos visuais. A

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

22

camada de gelo que se forma sobre as superfícies e reflete a luz solar é chamada de

geada branca. No caso da geada negra a determinação se dá pela cor escura que os

vegetais adquirem após serem destruídos pelo frio (MOTA, 1979).

Um processo combinado de geada de advecção seguido por um evento de geada

de radiação pode ocorrer, pois a advecção é responsável pelo transporte da massa de ar

frio e dos anticiclones migratórios, sendo que quando o efeito da advecção termina e a

temperatura se encontra baixa, na condição de céu limpo a perda radiativa de calor

contribuirá para resfriar ainda mais a madrugada subsequente (SELUCHI, 2009).

Segundo Kim et al. (2003) quanto mais baixa for a temperatura do ar por mais tempo o

efeito radiativo será capaz de provocar geada de radiação.

No entanto as geadas negras parecem causar mais danos a agricultura do que as

geadas brancas. Isso ocorre por dois fatores principais: no caso das geadas brancas nem

sempre se produzem danos pois a presença do gelo sobre a superfície garante que a

temperatura das folhas não seja inferior ao ponto de congelamento (MOTA, 1979) e sem

a presença do gelo as folhas dos vegetais ficam totalmente expostos ao efeito de

advecção na condição de temperatura de 0°C ou menos nas camadas da atmosfera

imediatamente próximas do solo (SELUCHI, 2009). Os prejuízos causados dependem da

espécie e do estado fenológico do vegetal (SELUCHI, 2009), do momento da ocorrência

da geada, da época do plantio e do planejamento para evitar a janela de geada, ou seja,

o período sazonal da ocorrência, bem como das ações de mitigação (CLARK; STURMAN,

2011).

As geadas ocorrem mais facilmente nos locais baixos devido a decantação do ar

frio ao longo das superfícies inclinadas, tendo seu acúmulo em locais baixos e sem saída,

onde o ar torna-se estável e mais frio do que a massa geral circunvizinha, com perfil de

forte inversão de temperatura, motivo pelo qual áreas de fundo de vales devem ser

evitados para o plantio das culturas (BLAIR; FITE, 1964).

A intensidade de uma geada é determinada pela temperatura mínima de relva

menor ou igual a 0ºC. Esta medida é feita com termômetro de mínima instalado próximo

da superfície do solo, a uma altura que varia de acordo com a literatura, entre de 0,05cm

(SILVA; SENTELHAS, 2001) a 5cm do solo (HELDWEIN et al., 1988). A determinação

na prática é prejudicada pela ausência destas leituras. A sugestão de autores como

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

23

Bootsma (1976) ou Grodzki et al. (1996), entre outros, é a utilização de um valor de

temperatura mínima do abrigo meteorológico que represente a ocorrência da geada.

Esta alternativa se justifica pela baixa condutividade térmica e maior densidade do

ar frio, que responde com forte gradiente de temperatura próximo à superfície, conhecido

como “inversão térmica”. Este gradiente vertical de temperatura entre a relva e o abrigo

tem valores típicos de 2º a 5ºC (HORNSTEIN, 1961; BOTTSMA, 1976; SENTELHAS et

al., 1995; GRODZKI et al. 1996), sendo que Tubelis; Nascimento (1983) aproximam um

valor médio de 3ºC.

Para Geiger (1965) o gradiente da inversão térmica é maior nas condições que

favorecem o orvalho e as geadas. O orvalho se forma quando a camada de ar que rodeia

as superfícies sólidas se resfria o suficiente para permitir que a temperatura que envolve

as superfícies se torne inferior ao ponto de orvalho do ar, resultando na condensação do

vapor d’água contido na camada de ar em contato com a superfície sólida. A quantidade

de orvalho é maior se o poder emissível dos corpos expostos a radiação noturna for

maior, como é o caso dos vegetais (MOTA, 1979).

De acordo com Bottsma (1976) o gradiente da inversão térmica é influenciado

primeiramente pela radiação de onda longa e pela transferência turbulenta de calor.

Depois pela cobertura de nuvens no céu da madrugada, pela temperatura do ar, ponto

de orvalho e a velocidade do vento. A temperatura mínima da relva pode ainda ser

afetada pelas propriedades térmicas do solo subjacente, que dependem basicamente do

teor de umidade.

Em um estudo realizado na Ilha do Príncipe Eduardo, no Leste canadense,

Bottsma (1976) identificou através de regressão linear múltipla e técnicas de correlação

os parâmetros que mais influenciaram o gradiente da inversão térmica. A correlação

negativa entre o gradiente da inversão térmica e a opacidade (cobertura de nuvens),

mostrou que a menor cobertura de nuvens do céu aumenta a perda noturna de radiação,

resultando em fortes inversões de temperatura próximo do solo. O autor também estudou

a relação entre a temperatura do abrigo e o gradiente da inversão térmica. Ele encontrou

uma correlação negativa sugerindo que maiores gradientes de inversão ocorrem com

menores temperaturas do abrigo. No entanto o efeito direto da temperatura do abrigo no

gradiente da inversão se dá preferencialmente na condição de céu limpo devido ao efeito

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

24

da radiação de onda longa sobre a temperatura do ar. Os resultados de Bottsma (1976)

indicaram ainda que, naquele caso, não houve contribuição significativa da umidade do

solo adjacente no gradiente da inversão térmica e que a cobertura do céu é o parâmetro

que melhor explica a magnitude do gradiente. É importante ressaltar que no estudo de

Bottsma (1976) não houve a necessidade de satisfazer a ocorrência de geada e que,

segundo o próprio autor, nem sempre é possível extrapolar as relações encontradas para

outras regiões, devido a mudanças no comportamento da temperatura do ar em relação

à topografia, características do solo e de superfície, mas o uso da estatística pode ser

uma ferramenta útil para estimar a temperatura mínima da relva na condição de ausência

destes dados.

No Brasil, Heldwein et al. (1988) abordaram a questão do gradiente da inversão

térmica na condição de solo relvado e desnudo utilizando uma série de 14 anos de

temperatura mínima do ar no abrigo meteorológico da estação do Instituto Nacional de

Meteorologia – INMET em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Eles também concluíram

que a influência do vento, o grau de nebulosidade e a pressão do vapor são parâmetros

que influenciam o gradiente da inversão térmica. Os resultados mostraram que as

diferenças são maiores no semestre frio (abril a setembro), quando há maior frequência

das inversões térmicas devido balanço de radiação mais negativo nesta época. A medida

que a temperatura do abrigo cai abaixo de 6°C ocorre um incremento da magnitude da

inversão, sendo que as diferenças médias foram de 4,5°C para o solo relvado e 3,3°C

para o solo desnudo. Estes resultados mostraram que a relva age no sentido de isolar o

solo e dificultar a transferência de energia de onda longa para a atmosfera.

Sentelhas et al. (1995) também determinaram a diferença média entre a

temperatura mínima do ar obtida no abrigo e junto à relva para dez localidades do estado

de São Paulo. Os valores médios encontrados compreenderam o intervalo de 3,3 a 5,7°C

com média regional de 4,1°C, sendo influenciado pelo efeito da topografia local. Os

autores também abordaram a questão da influência da atmosfera sobre o gradiente da

inversão térmica e concluíram que a ação do vento e da nebulosidade são os que causam

as maiores implicações.

Silva; Sentelhas (2001) determinaram o gradiente da inversão térmica em oito

localidades de Santa Catarina com séries de 9 a 13 anos de estações pertencentes a

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

25

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) na

condição em que a temperatura mínima da relva foi menor ou igual a 0,0°C. Em noites

de geada a magnitude variou de 2,1°C a 4,8°C entre as localidades, com média de 3,3°C.

O valor mínimo (máximo) do gradiente da inversão térmica correspondeu as localidades

com menor (maior) altitude, o que deu indício da existência de uma relação entre a

altitude e a magnitude do gradiente da inversão térmica. Os autores destacam que fatores

como umidade, nebulosidade e velocidade do vento, elementos relacionados ao balanço

de radiação e à formação de inversão térmica em noites de intenso resfriamento,

influenciam na magnitude das diferenças.

No Paraná Grodzki et al. (1996) caracterizaram o regime de geadas utilizando o

gradiente da inversão térmica. Os autores utilizaram regressão linear simples e definiram

a magnitude do gradiente da inversão térmica médio como sendo a temperatura crítica

abaixo do qual podem ocorrer geadas. Oito estações agrometeorológicas do Instituto

Agronômico do Paraná (IAPAR) foram investigadas e a condição de temperatura mínima

menor ou igual a 3°C foi escolhida como representativa. A magnitude do gradiente variou

de 2,9°C a 3,7°C entre as estações. Entre os principais resultados do estudo estão o

decréscimo do número de geadas em função da redução da altitude e da latitude, sendo

mais frequentes em Guarapuava, Clevelândia, Pinhais, Ponta Grossa, Cascavel,

Cambará, Londrina e por fim em Paranavaí. Os três primeiros locais apresentaram

aproximadamente quatro geadas por ano, enquanto que em Londrina e Paranavaí esse

valor não chegou a um evento. Pinhais, Ponta Grossa e Cambará tiveram em junho a

maior frequência de geadas, enquanto que em Guarapuava, Cascavel, Londrina e

Paranavaí esse fenômeno foi observado principalmente em julho. Clevelândia registrou

os mesmos valores em ambos os meses. O período no qual as geadas ocorrem (janela

de geada) vai de abril até novembro em Pinhais, Ponta Grossa e Clevelândia; de abril até

outubro em Guarapuava; de maio a setembro em Cambará, Cascavel e Londrina e de

maio a agosto em Paranavaí.

Guetter; Zaicovski (1999) estudaram a ocorrência de geadas no Paraná durante

os meses de outono e inverno utilizando o valor de temperatura mínima menor ou igual

a 3°C como critério de seleção dos casos e a série de dados das estações do IAPAR.

Eles determinaram o número mensal de ocorrências de geada associado às

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

26

probabilidades de 10%, 25% e 50% através das propriedades amostrais do período de

observação. Os resultados são semelhantes aos encontrados no estudo de 1996, mas

com algumas distinções: as regiões sul e centro-oeste do Estado podem sofrer geadas a

partir de abril, sendo frequente a ocorrência de uma ou mais geadas por mês na região

de Curitiba, central, sul e Oeste do Paraná entre junho e julho. As geadas precoces (em

abril) e tardias (em outubro) têm ocorrência praticamente limitada à região Sul, mas não

somente, pois as outras regiões do Paraná apresentam risco inferior a 10% para geadas

precoces e tardias.

Kim et al. (2003) utilizaram 28 estações da rede do IAPAR e determinaram a

frequência mensal e anual de geadas no Paraná, adotando três critérios para determinar

a ocorrência de geada: a temperatura mínima do ar no abrigo, a temperatura mínima da

relva e geadas observadas visualmente. Para um grupo de cinco localidades (Cascavel,

Londrina, Palmas, Ponta Grossa e Fernandes Pinheiro) os autores discutiram a validade

do critério temperatura do abrigo menor ou igual a 3°C como representativo para

ocorrência de geada e mostraram que para 71% das estações o número de geadas

observadas visualmente foi maior do que as encontradas pelo critério teórico, sendo que

para 25% deste conjunto o número de geada mais que dobrou. Por outro lado, em 18%,

houve maior número de geadas encontradas pelo critério temperatura mínima do abrigo

menor ou igual a 3°C e em 11% (apenas 3 estações) o número de geadas observadas

visualmente e encontradas por meio deste critério foram compatíveis. Para os autores, a

climatologia obtida por meio da temperatura mínima do abrigo fixada em 3°C não tem

boa precisão. Na comparação de geadas precoces e tardias eles mostraram diferenças

de até dois meses. Em Palmas, onde ocorreu o maior período de ocorrência de geada

no Paraná, a janela de geadas vai de janeiro a novembro, para temperatura mínima de

relva menor ou igual a 0°C e de março a outubro para temperatura mínima no abrigo

menor ou igual a 3°C. Em Cascavel, onde ocorreu o menor período, os intervalos foram

maio a agosto para o critério de temperatura mínima de relva menor ou igual a 0°C e

maio a setembro para temperatura mínima no abrigo menor ou igual a 3°C. Um intervalo

móvel de 20 dias foi usado para determinar a maior probabilidade de ocorrência da

primeira e última geada da estação. As diferenças entre os critérios foram de até um mês,

sendo que em Cascavel a maior probabilidade de ocorrência da primeira geada,

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

27

encontra-se entre 22/06 a 11/07 para o critério da temperatura de relva e 25/05 a 13/06

para a temperatura crítica de 3°C. Para a última geada os períodos oscilaram de 07/07 a

26/07 e 30/07 e 18/08.

A probabilidade de ocorrência de geadas nos dias subsequentes à primeira

também foi discutida por Kim et al. (2003) que mostraram uma relação direta da

intensidade do fenômeno com a probabilidade de a geada persistir nos dias seguintes.

Por fim os autores mostraram que a ocorrência de geadas (observadas pela temperatura

da relva menor que 0°C) variam de um caso anual no litoral para até 25 em Palmas, tendo

a maior ocorrência nos meses de julho e junho em todas as regiões do Paraná.

Wrege et al. (2004) determinaram as datas prováveis da primeira e da última geada

do ano no Estado do Paraná, com objetivo de auxiliar no planejamento das épocas de

cultivo. Foram utilizados os dados de temperatura mínima de abrigo de 20 estações

meteorológicas do IAPAR localizadas no Paraná, com séries de 25 a 30 anos de registros

diários. Os autores assumiram que existiu a ocorrência de geada ao nível da superfície

do solo quando a temperatura mínima de abrigo foi inferior a 3ºC e as datas foram

determinadas a um nível de probabilidade de 5%. Palmas, com altitude de 1100 metros,

apresentou o maior período de ocorrência de geada, de 21 de abril a 19 de setembro.

Paranavaí teve o menor período, 10 de junho a 12 de agosto. Em Londrina o período foi

de 30 de maio a 16 de agosto. Segundo os autores os vales da região Oeste, embora

apresentem riscos menores que as áreas de altitudes elevadas do Sul, também

apresentam alto risco devido à latitude elevada, sendo atingidas mais diretamente pela

entrada das frentes frias. Os autores observaram que a temperatura tem alta correlação

com a altitude e a latitude, as regiões de maior latitude e localizadas em altitudes mais

elevadas são as mais frias e apresentam menor período para o desenvolvimento das

culturas e exige maior rigor no planejamento dos cultivos. Nas regiões Oeste, Norte e

Noroeste do Estado, a altitude é menor e a temperatura mais elevada favorece um

período maior sem geadas. Existe uma grande variabilidade da geada em algumas

regiões devido questões orográficas, como é o caso de Palmas, município com a maior

altitude no Paraná.

Oliveira; Borrozzino (2017) avaliaram a frequência de ocorrência de geadas ao

longo um corte transversal de norte a sul no Estado do Paraná utilizando

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

28

aproximadamente 40 anos de registros do IAPAR. Eles escolheram três localidades com

longitudes semelhantes, porém com diferentes latitudes e altitudes: Londrina no norte,

Guarapuava na região centro-sul e Palmas na divisa com Santa Catarina. Os autores

mostraram que as geadas fracas e de baixadas predominam no norte do Paraná,

constituindo 76% do total, enquanto as geadas fortes, que causam maiores prejuízos às

culturas agrícolas, são mais raras, apenas 4%. Já em Guarapuava e Palmas as geadas

fortes constituem 22% e 16% do total, respectivamente. Segundo os autores, o período

de geadas em Londrina vai de maio a setembro, em Guarapuava de abril a outubro e em

Palmas, o período livre de geada é restrito a janeiro e dezembro. As médias anuais foram

de 3,8 em Londrina, 12 geadas por ano em Guarapuava, sendo semelhante aos 13

encontrados por Grodzki et al. (1996) e 23 em Palmas. Para Londrina, o estudo de

Grodzki et al. (1996) obteve média inferior, apenas 1,8 por ano e os autores argumentam

que a diferença pode ser devido aos critérios utilizados para definir a ocorrência, uma vez

que eles utilizaram observação visual, enquanto o estudo mais antigo considerou a

temperatura crítica do abrigo ≤ 3°C. Oliveira; Borrozzino (2017) observaram ainda uma

tendência de redução no número médio de geadas por ano com o passar do tempo,

porém esta tendência foi maior do que o desvio padrão apenas para o caso de

Guarapuava. Por fim, os autores mostraram que as geadas fortes e moderadas

representam 24% do total de eventos no norte do Estado, 52% em Guarapuava e 48%

em Palmas.

2.3 Ondas de frio na América do Sul

Entre os primeiros estudos sobre ondas de frio na AMS estão os de Morize (1922)

apud Marengo; Nobre (1997) e Serra e Ratisbona (1942) apud Myers (1964). Estes

autores descrevem as friagens, como sendo massas de ar frio que penetram nos trópicos

e na Amazônia. Morize (1922) apud Marengo; Nobre (1997) sobre a friagem de junho de

1920, observou a morte de peixes nas imediações de Manaus a uma temperatura de

16°C. Myers (1964) apresenta as cartas sinóticas usadas no estudo de Serra e Ratisbona,

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

29

em que uma friagem avança sobre a bacia amazônica entre julho e agosto de 1928.

Myers (1964) também apresenta um estudo sinótico de uma friagem que atingiu a

Venezuela em julho de 1957. O autor utilizou dados de superfície e concluiu que a friagem

atingiu a latitude de 5°N, acompanhada de chuva forte sem a identificação da Zona de

Convergência Intertropical durante o evento.

Além da friagem, eventos frios podem produzir geadas severas nas regiões

subtropicais da AMS que são de relevante importância agrícola, como observado por

Marengo; Nobre (1997) e outros. Lacativa (1985) fez uma extensa revisão de literatura

sobre geadas em regiões tropicais do Brasil, com publicações em periódicos que datam

de 1877 até a década de 1980. De longe a cultura do café norteou as pesquisas sobre

geadas no país frente aos graves prejuízos causados a cultura ao longo dos anos,

principalmente no estado Paraná e São Paulo, tendo como principal exemplo a geada de

1975. Segundo Müller et al. (2005) os processos envolvidos na produção dessas

condições frias estão associados a mecanismos complexos de interação em diferentes

escalas atmosféricas.

Duas ondas de frio que ocorreram entre junho e julho de 1994, provocaram perdas

importantes na produção de café e causaram friagem na Amazônia, foram investigadas

por Marengo; Nobre (1997) com dados de superfície e de ar superior. Eles constataram

que a duração destes fenômenos variou de 5 a 6 dias, tendo um intervalo de 2 a 3

caracterizado por temperaturas anormalmente baixas. A friagem foi detectada pelas

variações de pressão e umidade e a amplitude destas variações foi menor no leste da

Amazônia, indicando uma friagem mais concentrada na porção sul do que na parte

central e oriental do bioma. Os autores apontaram para queda dos valores de espessura

da camada entre 925 e 500 hPa 24 horas antes do dia mais frio. A magnitude desta queda

foi de 300 metros no sul do brasil, 100 metros no sul da Amazônia e nenhuma redução

observada na parte leste do ecossistema amazônico. As observações de radiossonda

mostraram que no sul da Amazônia a camada limite planetária se tornou mais rasa e

muito mais fria do que nos dias anteriores e posteriores a friagem.

Fortune; Kousky (1983) estudaram outros dois casos de geadas no Brasil

ocorridos em 1979 e em 1981. No primeiro caso as geadas ocorreram cinco dias após a

amplificação de um sistema de crista e cavado em altos níveis, entre 150°W e 90°W. Em

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

30

1981 uma amplificação semelhante ocorreu entre 120°W e 80°W. Em ambos os casos a

amplificação da onda e a relação da fase das ondas longas de nível superior com a

posição geográfica da AMS favoreceu a entrada do ar frio no continente, advectado

posteriormente para as latitudes subtropicais. Segundo os autores a presença em médios

níveis de uma crista sobre o Chile e um cavado nas longitudes do Brasil, com seus eixos

orientados de noroeste para sudeste, favoreceu a canalização do ar frio para o norte.

Durante 3 dias, o escoamento em ar superior guiou o ar polar de baixos níveis ao longo

do flanco leste da Cordilheira dos Andes para as latitudes baixas e após o cavado em

altos níveis ter atingido o seu desenvolvimento máximo e ter começado a se afastar do

Brasil, o céu limpo favoreceu geadas de radiação severas a leste de um anticiclone polar

que avançava para até 20°S. De acordo com os autores, no caso de 1981 as geadas só

ocorreram com maior intensidade devido um ciclone de núcleo frio que se desprendeu e

se deslocou na direção do equador. Os autores afirmam que a observação com

antecedência da amplificação das ondas em escala sinótica, que se propagam pelo

Oceano Pacífico com velocidade de grupo de 35° de longitude por dia, pode servir como

um alerta preliminar da entrada de ar frio no Brasil.

Compagnucci; Salles (1997) estudaram as características dos campos de pressão

ao nível do mar (PNM) sobre a AMS utilizando a análise estatística dos componentes

principais (CP) de um conjunto de dados de pressão ao nível do mar dos mapas sinóticos

de superfície do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina e 81 estações de superfície

entre o Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai, Chile e Argentina. O segundo padrão mais

recorrente encontrado pelos autores exibe as condições típicas de uma onda de frio, com

um centro de alta pressão de núcleo frio pós-frontal localizado entre os 52°S e 44°S com

influência estendida até 20°S, causando advecção de ar seco e frio sobre o continente.

O centro deste sistema tem pressão típica de 1035 -1040 hPa no inverno, diminuindo

para 1020 -1025 hPa no verão. Este padrão, assim como o anterior, também apresenta

uma mudança para latitudes mais altas durante o verão e sua variância apresenta uma

oscilação sazonal com máxima ocorrência em junho (9,4% do total da variância).

As ondas de frio foram investigadas por Garreaud (2000) através de compostos

médios gerados com dados da reanálise do NCEP – NCAR de Kalnay et al. (1996) para

o período de 1979 a 1995. O autor selecionou os episódios em que a pressão ao nível

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

31

do mar em 25°S, 57,5°W foi maior ou igual a 1020 hPa. Ele encontrou 145 casos de

ondas de frio entre maio a setembro. Segundo Garreaud (2000) a circulação nos níveis

médio e superior é caracterizada por uma onda de latitudes médias que apresenta uma

crista a oeste da costa da AMS, sobre o oceano Pacífico e um cavado que vai do sudeste

da AMS ao Atlântico Sul, exibindo amplificação antes e durante o estágio maduro da onda

de frio, com os eixos da crista e do cavado orientados no sentido noroeste – sudeste,

movendo-se para leste com velocidade de 12 m s-1. Esta característica da onda produz

forte advecção de vorticidade anticiclônica (AVA) no leste dos Andes entre 40° e 30°S e

a entrada do jato subtropical em altos níveis sobre a AMS subtropical é apontada pelo

autor como fundamental para ocorrência de ondas de frio fortes e de vida longa, pois o

vento horizontal do jato induz uma circulação transversal que fornece uma força adicional

à parte central do anticiclone de superfície. Esta circulação secundária tem movimento

ascendente ao lado norte do eixo do jato e causa o resfriamento adiabático da média

troposfera em baixas latitudes e no lado sul do eixo do jato ocorre movimento

descendente que fortalece a entrada do ar frio.

De acordo com Seluchi et al. (1998), o fluxo atmosférico no Hemisfério Sul enfrenta

um obstáculo de dimensões consideráveis, a cordilheira dos Andes (Figura 3), que pode

atingir altitudes superiores a 6000 m em regiões de latitudes médias se constituindo em

uma “parede” para os ventos do oeste do Pacífico.

Garreaud (2000) identificou através de campos compostos para eventos de ondas

de frio que um centro de alta pressão migratório cruza a Cordilheira dos Andes em torno

de 40°S onde a altitude não excede 2000 m. Sinclair (1996) encontrou a existência de

um cinturão de anticiclones entre 25° e 45° S onde estes sistemas tendem a se formar e

intensificar no Oeste das bacias oceânicas, depois deslocam-se e vem a enfraquecer,

desacelerar e se dissipar no leste dos oceanos, onde ocorre sua frequência máxima. Os

autores comentam que todas as regiões continentais que atingem esse cinturão

apresentam alguma barreira de relevo disposta de maneira meridional que torna estas

regiões propensas a rápida anticiclogênese.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

32

Figura 3 – Altitudes acima de 2000 metros acima do nível do mar na cordilheira dos Andes destacadas em cinza escuro. Fonte: ETOPO2

Os sistemas migratórios que cruzam os Andes são fortemente afetados por esse

obstáculo, e geralmente são desviados para o norte devido a processos dinâmicos e

termodinâmicos. De acordo com Seluchi et al. (1998) a conservação da vorticidade

potencial absoluta implica em uma mudança compensatória na vorticidade relativa. No

hemisfério sul, onde a vorticidade absoluta é negativa, isso implica uma perturbação

positiva (anticiclônica) da vorticidade relativa e, portanto, um movimento para o norte dos

sistemas migratórios. Nas camadas mais baixas da atmosfera a circulação é interrompida

pela presença das montanhas. Ao sul de 38° S, massas de ar frio podem cruzar as

montanhas sem dificuldade, mas mais ao norte são paradas pelos Andes (Figura 4a),

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

33

aumentando a curvatura anticiclônica dos sistemas migratórios imediatamente a oeste do

continente. Uma vez na parte oriental dos Andes, por volta de 40° S, os anticiclones são

afetados uma segunda vez pela orografia, porque o fluxo para o oeste, do flanco norte

do anticiclone, não pode cruzar a montanha e é desacelerado. De acordo com Garreud

(2000) as condições quasigeostróficas do forte gradiente meridional de pressão implica

um fluxo predominantemente de leste na borda de ataque do anticiclone, que represa o

ar frio contra o lado leste das montanhas. Como resultado, as montanhas agem como

uma represa que acumula o ar frio e aumenta a anticiclogênese. Este enfraquecimento

das correntes para oeste ao norte dos sistemas causa uma ruptura do equilíbrio

geostrófico devido ao enfraquecimento da força de Coriolis, de modo que a força do

gradiente de pressão, direcionada para fora do centro de pressão, empurra o anticiclone

para o norte (Figura 4b) (SELUCHI et al., 1998).

Figura 4 - Esboço que explica o deslocamento da Alta migratória para o norte, após cruzar os Andes. L corresponde a baixa térmica do noroeste da Argentina, localizada ao norte da linha frontal (curva sobre a AMS) em (a). Os ventos de leste ao sul da frente, representados pela seta apontando para noroeste, são parados pela cordilheira (representada pelo traço meridional contínuo) que permite uma anomalia anticiclônica no lado chileno dos Andes ao mesmo tempo que intensifica L. Após cruzar a cordilheira, em (b), a alta migratória, representada pela letra H, tem seus ventos no flanco norte parados pelas montanhas, interrompendo o equilíbrio geostrófico devido a diminuição da força de Coriolis (Co) que não contrabalança a força do gradiente de pressão (Pr) acelerando o anticiclone para o norte. A seta em 45°S em b) representa a região de entrada do anticiclone sobre o lado leste da cordilheira. Fonte: SELUCHI et al., 1998.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

34

Os campos médios de Garreaud (2000) mostram que o núcleo da alta pressão,

inicialmente centrado em 33°S, enfraquece à medida que se desloca para leste e para o

norte. Ao mesmo tempo, um cavado em baixos níveis se estende e se intensifica do

centro da AMS ao sul do Oceano Atlântico, onde se funde a um centro de baixa pressão.

Para o autor, o anticiclone continental de núcleo frio e o ciclone marinho, crescem

principalmente à custa de advecção de vorticidade de nível superior dentro da onda

baroclínica de latitude média. O autor mostrou que o fluxo de baixo nível, entre as células

de alta e baixa pressão, é dominado por um componente sul paralelo ao terreno, que

causa advecção de ar frio desde a superfície até a alta troposfera, com ventos mais fortes

abaixo do nível de 700 hPa e advecção fria média de 5°C dia-1 em 25°S, podendo ser de

até 10°C em 12h em episódios individuais. Esta advecção fria age contra os processos

de dissipação promovidos pelos fluxos de calor em superfície e mantém o forte gradiente

de temperatura ao lado leste dos Andes. A camada de ar frio de superfície tem espessura

de 2000 metros e temperatura média de aproximadamente 7°C. Ainda segundo o autor

a borda dianteira do ar frio é caracterizada por uma zona frontal baroclínica com gradiente

meridional de 4°C a cada 100 km. Como o ar frio se move para latitudes mais baixas o

efeito de bloqueio dos Andes diminui devido a uma orientação mais zonal da cordilheira

ao norte de 18°S e a medida que o anticiclone se move para o Atlântico a advecção de

calor sobre o continente é reestabelecida e o fluxo sul é encerrado cerca de 4 dias após

seu início. A partir destes resultados o autor esboçou um modelo conceitual de ondas de

frio sobre a AMS (Figura 5).

Figura 5 - Modelo conceitual de ondas de frio sobre a AMS. Os contornos representam isóbaras de superfície. Setas grossas escuras (claras) representam ventos em baixos níveis da troposfera que causam advecção negativa (positiva) de temperatura sobre o continente. Va representa o vento ageostrófico. Vg representa o vento geostrófico. As letras H e L representam centros de alta e baixa pressão, respectivamente. Frente fria e cavado estão representados com símbolos característicos. Fonte: GARREAUD, 2000.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

35

Lupo et al. (2001) estudaram os padrões de grande escala e de escala sinótica

das ocorrências de frio na AMS usando dados de reanálises do NCEP-NCAR para o

período de 1992 a 1996. Eles calcularam compostos de anomalia da altura do

geopotencial de 1000 e 500 hPa, anomalia da espessura da camada entre 1000-850 hPa

e vorticidade em 500 hPa e identificaram três tipos de surtos de frio determinados por sua

intensidade e localização longitudinal (Figura 6).

Figura 6 - Regime longitudinal para ondas de frio tipo 1, 2 e 3. Fonte: LUPO ET AL., 2001.

As ondas de frio do tipo 1 (30 casos) e tipo 2 (136 casos), de Lupo et al. (2001),

começam a partir do anticiclone de superfície no sudeste do Oceano Pacífico junto a uma

piscina de ar frio estendida do sul da AMS ao sul do Peru. Um centro de vorticidade

anticiclônica no nível de 500 hPa foi observado nesses compostos em fase ou na direção

do anticiclone de superfície. Ao mesmo tempo um centro de vorticidade ciclônico aparece

nos compostos ao longo da costa do Uruguai sobre o Oceano Atlântico. A AVA entre

esses dois centros de vorticidade e sobre uma área de advecção de ar frio em baixos

níveis, permite que o anticiclone do Pacífico atravesse os Andes onde a cordilheira tem

altitude menor, aumentando o gradiente de pressão sobre a AMS à medida que o ar frio

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

36

chega ao lado leste da barreira, se estendendo posteriormente até aproximadamente

25°S, como já mostrado por Compagnucci; Salles (1997), Marengo; Nobre (1997),

Garreaud (2000). A diferença entre os tipos 1 e 2 se dá pelo fato de que no nível de 500

hPa a presença de uma crista mais amplificada no caso do tipo 2, dá suporte ao

anticiclone de superfície, enquanto que no caso do tipo 1 esta crista é fraca e o fluxo

torna-se mais zonal. No dia do maior resfriamento, para o caso do tipo 2, a propagação

do centro de vorticidade anticiclônico em 500 hPa através dos Andes cria maior AVA

garantindo o desenvolvimento do anticiclone de superfície, impulsionando o surto de frio

para o norte. O eixo da crista do anticiclone de superfície torna-se orientado

paralelamente às montanhas e a área de anomalias positivas da altura do geopotencial

de 1000 hPa sobre o continente aumenta. Segundo os autores, esta anomalia positiva

latitudinalmente extensa é a assinatura clássica do represamento de ar frio a leste dos

Andes e dos surtos de frio tipo 2.

Após o evento de maior resfriamento o anticiclone de superfície enfraquece e se

propaga para leste. Depois descreve trajetória na direção do equador ao longo da costa

leste da AMS, nas proximidades da costa sudeste do Brasil. Em 500 hPa o fluxo torna-

se menos amplificado, mas ainda com uma fraca inclinação no sentido noroeste-sudeste

a leste do sul da AMS, associado ao anticiclone de superfície que se deslocou para a

costa sul brasileira. Novamente, segundo Lupo et al. (2001) esta é a assinatura de um

surto de frio tipo 3 (164 casos), eventos que se desenvolvem a partir do surto do tipo 2 e

se encontram inicialmente localizados sobre o Uruguai, com o eixo da crista direcionado

para o sul do Brasil. Quanto ao fluxo em 500 hPa, uma crista fraca encontra-se sobre a

AMS com fraca AVA dando suporte ao anticiclone de superfície. No dia mais frio o

anticiclone avança para o leste e parece se fundir com o anticiclone subtropical do

Atlântico. O represamento de ar frio ocorre ao longo das montanhas costeiras brasileiras

e empurra o contorno de anomalia negativa da espessura da camada de 1000-850-hPa

e as anomalias positivas da altura do geopotencial de 1000-hPa na direção do equador.

O processo é semelhante com o que ocorre nos Andes. Como este anticiclone de

superfície está relativamente afastado do continente, um cavado a leste dos Andes,

associado a um ar anormalmente quente começa a predominar sobre o continente e após

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

37

o dia mais frio o anticiclone se move para o atlântico sul e o fluxo em 500 hPa se torna

praticamente zonal.

Lupo et al. (2001) mostram que apenas 9% dos surtos de frio são do tipo 2 e destes

60% evoluem ou são seguidos por surtos do tipo 3. Curiosamente, muitos mais surtos

de frio ocorreram na primavera do que no outono devido a uma maior frequência de

eventos do tipo 3 na primavera, 6 eventos tipo 1 ocorrem em média durante o ano,

enquanto eventos tipo 2 tem uma ocorrência anual média de 12 a 13 e o tipo 3 possuem

média de 32,8 eventos anuais com pouca variância interanual.

Três padrões típicos de grande escala e de escala sinótica durante episódios de

geadas generalizadas na AMS também foram encontrados por Müller et al. (2005): o

primeiro corresponde a um sistema de alta pressão ao norte de 40°S que causa

resfriamento radiativo, em vez de causar advecção, por apresentar gradientes fracos que

dão origem a ventos leves ou calmarias. O segundo padrão consiste de um sistema de

alta pressão pós-frontal movendo-se pelo continente a partir de 40°S com ventos de sul

a sudoeste e forte advecção de ar polar frio e seco. O terceiro e último padrão, também

o mais recorrente, é caracterizado por um sistema conjunto de baixa pressão a leste do

continente e uma alta pressão no Pacífico cruzando os Andes e produzindo forte fluxo de

ar frio e seco de sul sendo que uma anomalia positiva do fluxo meridional no sudoeste

argentino em 850 hPa, nestes casos, favorece a canalização do ar frio.

Krishnamurti et al. (1999) mostraram que a amplificação do sistema crista- cavado

no campo de geopotencial de 500 hPa, sobre o Brasil precedendo eventos de geada é

resultado de interações de escala planetária e sinótica promovida por trens de ondas que

chegam a AMS após atravessar o Oceano Pacífico a uma frequência de

aproximadamente uma passagem a cada três semanas no período de inverno. Esse trem

de onda tem velocidade de grupo de aproximadamente 24° de longitude por dia e

velocidade de fase dos sistemas individuais de 5° de longitude por dia. Antes do evento

de geada o trem de ondas exibe amplificação a oeste do continente sul americano devido

a trocas de energia não lineares barotrópicas entre os componentes das ondas

planetárias e transientes. No período imediato a geada, quando o cavado superior

adquire sua maior amplitude, ocorre crescimento baroclínico. que gera energia cinética

turbulenta a partir da energia potencial disponível, favorecendo a amplificação do cavado

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

38

em 500 hPa. Isso não quer dizer que os processos não-lineares barotrópico de troca de

energia das ondas longas para as ondas transientes de escala sinótica (números de onda

zonais de 4 a 10) não sejam significativos, mas são uma ordem de grandeza menor do

que a contribuição baroclínica.

Ambrizzi; Hoskins (1995) investigaram os padrões de teleconexão que exibem

características ondulatórias durante o inverno austral. Eles compararam dados

observacionais com um modelo barotrópico. Segundo os autores os resultados teóricos

e observacionais mostraram que no hemisfério sul o jato subtropical e o jato polar

funcionam como guia de ondas. O duplo guia de ondas interage provocando a

propagação meridional de ondas a partir do jato polar sendo capturadas depois pelo guia

de onda subtropical. Resultados semelhantes desta interação foi encontrado por Berbery;

Vera (1996) para o inverno austral. Este estudo mostrou que as ondas de escala sinótica

e de escala planetária se propagam sobre o Oceano Pacífico Sul ao longo de dois

caminhos principais: as ondas rápidas se propagam ao longo das latitudes do jato

subpolar, ondas mais lentas se propagam ao longo das latitudes do jato subtropical. As

ondas mais lentas têm uma estrutura barotrópica enquanto que as mais rápidas são

baroclínicas (como mencionado anteriormente). Ocasionalmente as duas ondas se

sobrepõem formando um único padrão de escala sinótica com uma longa extensão

meridional, voltando a se separar depois de um tempo devido a diferenças de velocidade

de fase entre elas. Este mecanismo parece ser o vetor das geadas sobre a AMS

subtropical.

Müller; Ambrizzi (2006) analisaram o estado básico atmosférico através de um

campo de número de onda estacionário (ks), que forneceu uma visão dos possíveis

caminhos de propagação das ondas sinóticas e planetárias. Eles descobriram que a

distribuição de KS enfatiza a importância dos jatos atmosféricos como guias de ondas

eficientes e que a extensão zonal de um forte gradiente de Ks no lado polar do jato

subtropical é uma característica dos invernos com geada generalizada. Esta região é

limitada por uma área estendida onde o número de onda apresenta uma descontinuidade

(KS = 0), onde a propagação das ondas de Rossby é inibida. Nos invernos com freqüência

mínima de ocorrência de geadas há uma região de descontinuidade de KS no lado polar

do jato subtropical que cobre uma região particularmente maior e latitudinalmente

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

39

extensa sobre as latitudes médias do Oceano Pacífico. Essa configuração, segundo os

autores, não favorece o aprisionamento das ondas de Rossby, impedindo que elas

atinjam a AMS. Outro núcleo de descontinuidade foi encontrado sobre a AMS a montante

da região do Pampa Úmido e pode ser responsável por afastar as ondas de Rossby. Esta

região coincide com a principal região de entrada dos sistemas sinóticos na AMS e os

autores sugerem que um evento generalizado de geada só ocorre se o ambiente de

circulação atmosférica de larga escala estiver adequado.

Para Müller; Ambrizzi (2006) um distúrbio de onda gerado em algum lugar no

Oceano Índico se propaga para leste preso dentro dos guias de ondas subtropicais e

subpolares. Nos casos em que ocorrem geadas generalizadas na região do Pampa

Úmido, as ondas são retidas até a costa oeste da AMS, onde os dois guias de onda

interagem. Por outro lado, quando não há geadas generalizadas os guias de ondas são

mais curtos e as ondas são livres para se propagar para o norte ou sul do jato antes de

chegar ao continente sul-americano sendo dificultada a interação de ondas e a

amplificação das mesmas em nível superior.

2.4 El Niño/La Niña: Fenômeno e Variabilidade

A importância da interação entre os oceanos e a atmosfera tem sido reconhecida

desde que Bjerknes (1969) postulou a hipótese do fenômeno El Niño – Oscilação Sul

(ENOS), que surge como um ciclo autossustentável no qual as anomalias das

temperaturas da superfície do mar no Pacífico fazem com que os ventos alísios se

fortaleçam e impulsionem as mudanças de circulação oceânica (JIN; NELLI, 1993).

El Niño (EN) é descrito como o aquecimento anômalo da temperatura da superfície

do mar na costa do Peru e do Equador, originalmente aplicado ao período próximo ao

natal (WYRTKI, 1975). Esses eventos ocorrem de forma irregular, com intervalos de 2 a

7 anos, se desenvolvem durante o inverno (hemisfério sul) e atinge seu máximo durante

o verão (RASMUSSON; CARPENTER, 1982). A maioria dos casos começam entre

março e setembro e terminam entre fevereiro-março (TRENBERTH, 1997). Essa

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

40

sazonalidade é uma característica importante e não tem o exato mecanismo definido

(STEIN et al., 2014).

EN é o componente oceânico do ENOS e pode ser denominado de "evento

quente". Os "eventos frios", ou La Niña (LN) ocorrem quando Pacífico equatorial está

mais frio que o normal. Como os fenômenos associados ao ENOS são complexos, as

listas de eventos quentes e frios podem variar de autor para autor (HALL; QUAMME,

1994).

Trenberth (1997) analisou o comportamento das anomalias da temperatura da

superfície do mar (TSM) nas regiões Niño 3 e Niño 3.4 (Figura 7) e sugeriu que um evento

quente acontece se anomalias de TSM forem registradas na região do Nino 3.4 (5°N-5°S,

120°-170°W), excedendo o limiar de 0,4°C, por 6 meses ou mais. Com este critério o

autor descobriu que entre 1950 e 1997, 55% do tempo apresentou algum episódio ENOS

em andamento, sendo 31% EN, 23% LN e 45% situação neutra.

A Oscilação Sul (OS), a componente atmosférica, pode ser entendida como uma

onda estacionária que envolve trocas de massa entre o leste e o oeste do Pacífico,

centrada entre as latitudes tropicais e subtropicais, com centros de ação localizados

sobre a Indonésia e sobre o Pacífico Sul Tropical (TRENBERTH, 1997).

Chen (1982) estudou as características da pressão ao nível do mar em quatro

pontos do Pacífico e mostrou que a forma mais efetiva e recomendada de estudar a

Oscilação Sul é através do Índice de Oscilação Sul (IOS), dado pela diferença de pressão

entre o Taiti e Darwin - Austrália (Figura 7).

A fase negativa do IOS representa pressão abaixo do normal no Taiti e pressão

acima do normal em Darwin. Períodos prolongados de valores de IOS negativos

(positivos) coincidem com as águas oceânicas anormalmente quentes (frias) em todo o

Pacífico tropical oriental, típicos dos episódios de EN (LN) (NOAA, 2018).

As implicações da OS sobre a AMS foram estudadas por Aceituno (1988), estando

relacionadas anomalias nos regimes de precipitação em todo o continente. A bacia do

Rio Paraná é uma das regiões apontadas pelos autores como tendo a OS um importante

fator de variabilidade interanual de precipitação. Nesta região uma fraca tendência

positiva de anomalias de precipitação acompanha a fase negativa da OS.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

41

Figura 7 - Regiões Niño 3, Niño 3.4 (EN), Taiti e Darwin (OS). A região do Niño 3 corresponde a área do retângulo tracejado entre 5°N-5°S, 120°W-170°W. A região do Niño 3.4 corresponde a área do retângulo de traço contínuo entre 5°N-5°S, 120°W-170°W. Taiti (17°S, 150°W) e Darwin (12°S, 131° E) estão plotados com um marcador. Fonte: TRENBERTH, 1997.

A existência de uma relação entre a OS e a temperatura da superfície na região

central da AMS (sul do Brasil, Paraguai, leste da Bolívia e centro-norte da Argentina) foi

mostrada por Halpert; Ropelewski (1992), estando a fase negativa da OS acompanhada

de um período de temperatura acima da média, entre maio e abril, enquanto que a fase

positiva mostrou um período anômalo frio, entre outubro e maio.

Outro resultado interessante de Halpert; Ropelewski (1992) é que dos 17 anos

com fase positiva, 13 registraram temperaturas abaixo do normal, coincidindo os cinco

períodos mais frios com a fase positiva da OS. Do outro lado, 15 dos 20 anos que

apresentaram fase negativa registraram temperatura acima da média, sendo que quatro

dos sete períodos mais quentes estavam associados a fase negativa e nenhum caso de

temperatura abaixo da média foi encontrado durante a fase negativa da OS.

A relação entre os ciclos do ENOS e episódios de geadas foi investigado por Müller

et al. (2000) para a região do Pampa Úmido na Argentina. Os autores mostraram que em

anos EN, a média de geadas na região fica abaixo da climatológica e a data da primeira

geada é atrasada em relação a anos de LN. O impacto é maior nos meses de outono e

inverno enquanto nenhum grau de associação foi encontrado para os meses de

primavera. A fase negativa da OS coincidiu com anos em que o número de geadas ficou

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

42

abaixo da média, tendo apenas um caso como exceção. Na fase positiva observou-se

aumento de casos de geadas em quatro de seis eventos. Os anos em que nenhum evento

de geada ocorreu coincidiram com eventos moderados de EN. Os autores afirmam que

os resultados explicam parte da variabilidade de geadas na região, mas devido a grande

variabilidade interanual, a relação entre as geadas e evento ENOS não pode ser

claramente definida. A ocorrência de geada poderia estar relacionada a mudanças na

frequência e persistência dos padrões sinóticos e em efeitos locais e regionais.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

43

3 Material e Métodos

Para identificar possíveis casos de geadas na mesorregião Oeste do Estado do

Paraná foram estudados um conjunto de dados de temperatura do ar mínima (Tm) em

intervalos diários da rede de estações meteorológicas automáticas, operadas pelo

SIMEPAR, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2017. A localização das

estações meteorológicas está mostrada na figura 8.

Figura 8 – Mapa de localização das estações meteorológicas na MOPR utilizadas neste trabalho. Fonte: Google Maps / SIMEPAR.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

44

Para garantir a qualidade dos resultados, foi certificado de que todas as estações

meteorológicas utilizadas no estudo possuem pelo menos 80% da série completa (Tabela

1).

Tabela 1 - Estações meteorológicas utilizadas, com os valores de latitude, longitude, altitude, comprimento e porcentagem da série de dados.

Nome da estação Latitude (°S)

Longitude (°W)

Altitude (m)

Comprimento da série (anos)

Porcentagem da série com dados

A. Chateaubriand -24.388513 -53.540882 400 98 – 17 (20) 88,7 Cascavel -24.884490 -53.554787 671 98 – 17 (20) 99,4 Foz do Iguaçu -25.406420 -54.617324 233 98 – 17 (20) 100 Guaíra -24.075038 -54.261357 222 98 – 17 (20) 93,7 Palotina -24.278939 -53.827126 294 98 – 17 (20) 99,4 Salto Caxias -25.543676 -53.469671 345 98 – 17 (20) 88,5 Salto Osório -25.522120 -53.030906 514 98 – 17 (20) 88,1 Santa Helena -24.916878 -54.310292 275 98 – 17 (20) 97,6 S. M. Iguaçu -25.352833 -54.254622 285 98 – 17 (20) 99,8 Toledo -24.784298 -53.720404 509 98 – 17 (20) 99,4

Para a climatologia do Risco de Geadas (RG), foi utilizado o critério de temperatura

crítica do abrigo meteorológico encontrado em Grodzki et al. (1996), onde Tm ≤ 3°C

representa um dia com geada. Também foram considerados os casos com Tm ≤ 0°C

como os casos mais intensos. As estatísticas encontradas em Clark; Sturman (2011)

foram usadas como variáveis de interpretação dos casos: Frequência (F) (equação 1)

determina o número de dias em que Tm ≤ 3°C e Tm ≤ 0°C. Primeira geada de outono (S)

e última geada de primavera (E) correspondem ao menor (maior) valor do dia juliano em

Tm ≤ 3°C. A variável comprimento da janela de geada (L) é a diferença entre E e S

(equação 3) e a variável estação de crescimento (G) corresponde ao período livre de

geadas (equação 4).

𝑆𝑒 𝑇𝑚 ≤ 3, 𝑓 = 1, 𝑆𝑒 𝑛ã𝑜 𝑓 = 0, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝐹 =∑ 𝑓𝑖

∑ 𝑛𝑖 (1)

𝑆(𝑖) = 𝑀𝐼𝑁(𝑑𝑎𝑡𝑎(𝑖)), 𝐸(𝑖) = 𝑀𝐴𝑋(𝑑𝑎𝑡𝑎(𝑖)), 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑑𝑎𝑡𝑎 = 𝑑𝑖𝑎 𝑗𝑢𝑙𝑖𝑎𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑔𝑒𝑎𝑑𝑎 (2)

𝐿 = (𝐸 − 𝑆) + 1 (3)

𝐺 = (𝑆𝑖 − 𝐸𝑖−1) (4)

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

45

Onde Tm é a temperatura mínima observada no dia n; f é um traçador que possui

valor 0 para um dia sem geada e 1 para um dia com geada; i é o período (mensal e

anual); L é o comprimento da janela de geada; G corresponde ao período em que não

ocorrem geadas (estação de crescimento), período entre a última geada da estação

anterior (i-1) e a primeira da estação seguinte.

Considerando as evidências de Kim et al. (2003), de que somente o valor de Tm ≤

3°C pode não representar com segurança a ocorrência de geada, usamos o conceito de

geada generalizada de Müller et al. (2000) onde um dia com geada generalizada é aquele

em que Tm ≤ 0°C em pelo menos 75% das estações meteorológicas e da mesma forma

geadas parciais correspondem ao intervalo de 25 a 75% das estações meteorológicas

estudadas e geadas isoladas a pelo menos 25%. A estas geadas regionais (ou espaciais)

as variáveis primeira e última geada, período de geada e estação de crescimento foram

calculadas.

Os dias com geadas generalizadas foram estudados por meio de campos médios

da reanálise de Kalnay et al. (1996), disponível no site do National Center for

Environmental Prediction / National Center for Atmosphere Research (NCEP/NCAR) com

resolução horizontal de 2,5º de latitude por 2,5º de longitude. O objetivo foi identificar

assinaturas em escala sinótica dos eventos de geadas generalizadas. Foram gerados

campos de pressão ao nível médio do mar, altura do geopotencial de 500 hPa, vento

horizontal em 850, 500 hPa e 250 hPa, temperatura e umidade específica em 850 hPa a

partir de quatro dias antes dos casos de geadas generalizadas, identificados como dia 0,

a um dia após os eventos, em intervalos diários.

Sendo o fenômeno ENOS uma perturbação de baixa frequência, grande escala e

certa periodicidade e supondo que as geadas generalizadas ocorrem devido a padrões

sinóticos da circulação da atmosfera que podem ser influenciadas pelos eventos ENOS

(MÜLLER et al., 2000), foram formuladas hipóteses de que os eventos quentes e frios

podem interferir na frequência e intensidade das geadas.

Os eventos EN/LN foram identificados segundo Trenberth (1997), com anomalias

de TSM na região do Niño 3.4 (Figura 7) excedendo 0,4°C por pelo menos 6 meses. As

anomalias da TSM na região do Niño 3.4 para o período de estudo foram obtidas de

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

46

Reynolds et al. (2002) e estão disponíveis online na página NOAA Optimum Interpolation

(OI) Sea Surface Temperature (SST) V2.

Para avaliar as relações entre as variáveis de geadas e médias de anomalias de

TSM na região do Niño 3.4, foram usadas um conjunto simples de estatística que consiste

no cálculo da média (equação 5), e correlação (equação 6).

�̅� = 1

𝑛∑ 𝑥𝑖

𝑛

𝑖=1

(5)

𝜌 = ∑ (𝑥𝑖 − �̅�)(𝑦𝑖 − �̅�)𝑛

𝑖=1

√∑ (𝑥𝑖 − �̅�)𝑛𝑖=1

2 √∑ (𝑦𝑖 − �̅�)𝑛𝑖=1

2

(6)

Onde �̅� é a média e ρ é a correlação entre as variáveis de geada (totais, generalizadas,

parciais e isoladas) e as médias de anomalias da TSM na região do Niño 3.4 calculadas

em períodos arbitrariamente definidos conforme as hipóteses apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 – Hipóteses sobre a influência da região do Niño 3.4 na ocorrência de geadas.

A média da anomalia de TSM na região do Niño 3.4 durante os períodos a seguir são correlacionadas com a ocorrência de geadas.

Ano; Período de ocorrência de geadas (MJJAS); Do início do segundo semestre do ano anterior ao fim do primeiro semestre; Durante eventos de EN e LN (em conjunto) com estado de decaimento no ano das geadas; Durante eventos de EN e LN (em conjunto) com estado de desenvolvimento no ano das geadas; Durante eventos de EN com estado de decaimento no ano das geadas; Durante eventos de EN com estado de desenvolvimento no ano das geadas; Durante eventos de LN com estado de decaimento no ano das geadas; Durante eventos de LN com estado de desenvolvimento no ano das geadas; Durante períodos neutros;

Também foram calculados os coeficientes de correlação entre o número total de

geadas e o tempo de permanência dos eventos de EN e LN. Para diferenciar o

comprimento dos eventos de EN e LN, o número de meses em que eventos frios

persistiram foram multiplicados por -1 e o número de meses em que eventos quentes

persistiram mantiveram-se positivos. As hipóteses foram testadas pelo motivo de que as

geadas ocorrem no período de inverno, quando os fenômenos EN/LN ou estão se

estabelecendo (estado de desenvolvimento) ou estão enfraquecendo (estado de

decaimento), ou em transição de um evento para outro.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

47

4. Resultados e discussão

4.1 Climatologia de dias com risco de geadas por estação meteorológica.

Entre 1998 e 2017 ocorreram na média entre as estações, quatro eventos anuais

com possibilidade de ocorrência de geadas com Tm ≤ 3°C e menos de um evento anual

com Tm ≤ 0°C na MOPR, mas a região apresentou grandes diferenças entre as estações.

A Tabela 3 mostra a frequência (F) destes eventos e o número total de casos com RG.

Tabela 3 - Número de dias com Tm. ≤ 3 °C e Tm ≤ 0 °C e frequência média por ano de dias com Tm. ≤ 3 °C e Tm ≤ 0 °C entre 1998 e 2017.

Estação Tm ≤ 3 °C (dias)

Frequência média de Tm ≤ 3 °C por ano

(dias)

Tm ≤ 0 °C (dias)

Frequência média por de Tm ≤ 0 °C por ano

(dias)

Assis. Chateaubriand 36 2,1 9 0,5 Cascavel 77 3,9 17 0,9 Foz do Iguaçu 54 2,8 8 0,4 Guaíra 40 2,0 5 0,3 Palotina 181 9,1 53 2,7 Salto Caxias 39 2,1 3 0,2 Salto Osório 69 3,8 7 0,4 Santa Helena 66 3,3 11 0,6 São Miguel do Iguaçu 56 2,9 6 0,3 Toledo 148 7,5 38 1,9 Média 77 4,0 15 0,8

Comparando os resultados da tabela 3 com a climatologia de geadas de Tm ≤ 3

°C de Kim et al. (2003), que estudou as geadas no período de 1972 a 2000, o município

de Cascavel manteve os mesmos 3,9 casos anuais, a estação de Palotina teve redução

de 1,5 casos, houve redução de 0,5 casos para a estação de Quedas do Iguaçu (Salto

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

48

Osório) e de 1,9 casos para São Miguel do Iguaçu. Kim et al. (2003) não apresentam de

forma explícita estes valores, mas mostram os casos totais e o comprimento das séries.

Grodzki et al. (1996), que estudou as geadas do Paraná com o método da

temperatura crítica (Tm ≤ 3 °C) no período de 1973 a 1996, encontrou 0,8 casos anuais

a mais para a estação de Cascavel. As diferenças entre os estudos podem ser explicadas

pelo comprimento das séries, a localização das estações meteorológicas, a variabilidade

climática, o período do estudo, entre outros.

As estações meteorológicas localizadas próximas dos rios Paraná, Piquiri e Iguaçu

(Figura 8) apresentaram menor número de casos e Assis Chateaubriand foi estação que

teve o menor número, 36 dias com Tm ≤ 3°C em 20 anos (Figura 9). A estação de

Palotina, vizinha a Assis Chateaubriand, apresentou o maior número de casos, 181 dias

em 20 anos.

Figura 9 - Casos totais de Tm ≤ 3°C e Tm ≤ 0°C, entre 1998 e 2017.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

49

A distância entre as estações de Palotina e Assis Chateaubriand é de 37,5km,

sendo que a estação de Palotina tem altitude de 106 metros inferior a Assis

Chateaubriand. Ambas estão 15 km ao sul do rio Piquiri.

A diferença do número de dias com RG entre as duas estações pode ser explicada

pela localização privilegiada da estação de Palotina em microescala, dentro de um vale

(não mostrado) onde a decantação do ar frio e denso para terrenos baixos ocorre de

forma favorecida em noites de geadas. A estação de Assis Chateaubriand, por sua vez,

está localizada dentro do perímetro urbano do município e no topo de uma vertente (não

mostrado), características de microescala que somado com a menor latitude contribui

para os poucos casos de RG.

As estações Toledo e Cascavel estão localizadas nas terras mais elevadas da

região, acima dos 500 metros e distantes 20,1 km uma da outra. Estas estações também

apresentam grande diferença no número de casos, sendo que a estação de Toledo

obteve quase o dobro de casos do que a estação vizinha.

Novamente as características geográficas de microescala indicam a origem das

diferenças. A estação de Toledo está sobre um pequeno topo entre os meandros do rio

São Francisco (não mostrado). Este rio corre em meio a terrenos com altitude superior a

600 metros. A estação de Cascavel também está nas proximidades do rio São Francisco,

que nasce no perímetro urbano de Cascavel e corre para noroeste, passando por Toledo.

A estação de Cascavel está em um topo de cerca de 680 metros e o vale do rio São

Francisco está imediatamente a sul da estação, com altitude inferior a 500 metros,

favorecendo a drenagem do ar frio para as partes baixas.

Estas diferenças entre as estações de Palotina e Assis Chateaubriand e entre

Toledo e Cascavel também são evidências de que as noites frias com geadas

apresentam uma atmosfera calma e com forte gradiente vertical de temperatura na

camada limite noturna (estável), onde o terreno age no sentido de favorecer a decantação

do ar frio para os vales e baixadas. Estas evidências apontam no sentido de que as

geadas que ocorrem na mesorregião são em sua ampla maioria geadas de radiação. Por

esse motivo as estações de Palotina e Toledo apresentam as maiores frequências de

RG, os maiores períodos de ocorrência e as menores estações de crescimento. Será,

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

50

portanto, necessária maior intensidade da massa de ar frio para que ocorram geadas

tanto nas áreas de vale como nos topos ao mesmo tempo (geadas generalizadas).

A estação de São Miguel do Iguaçu, a exemplo da estação de Assis

Chateaubriand, está localizada no perímetro urbano do município e sobre uma região de

topo. As estações de Guaíra, Santa Helena, Foz do Iguaçu, Salto Caxias e Salto Osório

estão as margens dos grandes rios (Paraná e Iguaçu) e apresentam um comportamento

mais semelhante dos casos de Tm ≤ 3°C (Figura 10).

Julho é o mês com maior frequência de dias com Tm ≤ 3°C na mesorregião Oeste.

Em Palotina foram observados 70 casos, seguido por Toledo com 55 casos. Assis

Chateaubriand teve o menor número de casos, 18 apenas. As demais estações

registraram entre 21 e 34 casos. Agosto apresentou maior número de dias com Tm ≤ 3°C

em Palotina e em Toledo do que no mês de junho (Figura 10). As demais estações têm

o mês de junho como segundo mês em números de casos. Dias com Tm ≤ 3°C foram

mais frequentes em setembro do que em maio e só ocorreram em abril nas estações de

Palotina e Toledo. Em Assis Chateaubriand estes casos só foram encontrados a partir de

junho. Em todas as estações meteorológicas os eventos podem ocorrer até setembro

(Figura 10).

O período em que as temperaturas baixas ocorrem teve um comprimento médio

entre as estações meteorológicas de 35 dias, mas o desvio padrão é tão grande quanto

o próprio período em que ocorrem (Tabela 4) e isso significa que o período favorável em

que as geadas podem ocorrer possui grande variabilidade. As estações de Palotina e

Toledo apresentam os maiores períodos (81 e 68 dias, respectivamente) em função das

características de microescala que facilitam a decantação do ar frio nas noites em que a

perda de radiação de onda longa é favorecida (condição de céu claro).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

51

Figura 10 – Media do número de dias com Tm ≤ 3°C e Tm ≤ 0°C em 20 anos, para as estações

meteorológicas estudadas.

Algumas estações apresentaram períodos médios curtos, como Assis

Chateaubriand, Guaíra e Salto Caxias. Com exceção da primeira, as demais estão as

margens dos rios Paraná (Guaíra) e Iguaçu, onde estão as usinas hidrelétricas de Salto

Caxias e Salto Osório. Nas estações onde o período em que há risco de geada é

pequeno, a estação de crescimento pode superar 400 dias, podendo não ocorrer geadas

em alguns anos. Em Guaíra, por exemplo, em seis anos não foram encontradas

temperaturas que poderiam estar associadas a um caso de geada (Tabela 4).

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

52

Tabela 4 – Variáveis interpretativas: Período de geadas, desvio padrão do período de geadas, estação de crescimento, desvio padrão do período da estação de crescimento e anos sem a ocorrência de geadas para as estações de estudo.

Estação Período médio de geadas

Desvio padrão do período de

geadas

Comprimento médio da Estação

de crescimento

Desvio padrão da estação de

crescimento

Anos sem

geada (T≤ 3°C)

Assis. Chat. 17 dias 21 dias 455 dias 230 dias 2 Cascavel 31 dias 29 dias 349 dias 82 dias 3 Foz do Iguaçu 29 dias 29 dias 379 dias 176 dias 2 Guaíra 17 dias 25 dias 478 dias 350 dias 6 Palotina 81 dias 33 dias 284 dias 40 dias 0 Salto Caxias 18 dias 22 dias 389 dias 174 dias 2 Salto Osório 28 dias 27 dias 402 dias 197 dias 3 Santa Helena 30 dias 32 dias 373 dias 126 dias 3 S. M. Iguaçu 30 dias 27 dias 337 dias 33 dias 2 Toledo 68 dias 35 dias 296 dias 40 dias 0 Média 35 dias 28 dias 374 dias 145 dias 2

A condição para a geada mais precoce ocorreu nas estações de Palotina e Toledo

no dia 17 de abril de 1999. Em Palotina quatro dias com Tm≤ 3°C ocorreram no mês de

abril: em 17 e 18 de abril de 1999, em 30 de abril de 2016 e em 28 de abril 2017. Em

Toledo foram dois dias com Tm≤ 3°C em abril: de 17 e 18 de abril de 1999. Nas demais

estações temperaturas como estas ocorreram entre a segunda quinzena de maio e a

primeira quinzena de junho. A data média para ocorrência da primeira geada da estação,

considerando o limiar de Tm ≤ 3°C, concentram-se entre a segunda quinzena de junho e

a primeira de julho. A data média da ocorrência da primeira geada é 27 de junho e o

desvio padrão da ocorrência da primeira geada é de 27 dias (Tabela 5).

A data mais tardia ocorreu em 25 de setembro de 2013 nas estações de Cascavel,

Palotina e Toledo. Em média as geadas tardias ocorreram entre a primeira quinzena de

setembro (Assis Chateaubriand, Foz do Iguaçu, Guaíra, Salto Caxias, Santa Helena e

São Miguel do Iguaçu) e a segunda quinzena do mês (Cascavel, Palotina, Salto Osório e

Toledo) (Tabela 5). A data média para ocorrência da última geada é 03 de agosto, mas

assim como a primeira da estação, a última tem desvio padrão de 27 dias. Em Toledo

ocorreram mais geadas tardias do que as demais estações, foram 19 dias com Tm≤ 3°C

em setembro, seguido por Palotina com 14 e Cascavel com 8 dias.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

53

Tabela 5 - Características do período de geadas: ocorrência de geada mais precoce, data média da primeira geada, desvio padrão da primeira geada, data média da última geada, desvio padrão da última geada e geada mais tardia para as estações de estudo.

Estação Geada mais

precoce

Data média da primeira geada

Desvio padrão da primeira geada

Data média da última

geada

Desvio padrão da

última geada

Geada mais tardia

Assis. Chat. 03/jun 01/jul 27 dias 23/jul 27 dias 05/set Cascavel 29/mai 01/jul 27 dias 04/ago 34 dias 25/set Foz do Iguaçu 30/mai 30/jun 26 dias 01/ago 29 dias 11/set Guaíra 30/mai 02/jul 24 dias 26/jul 28 dias 07/set Palotina 17/abr 01/jun 27 dias 19/ago 22 dias 25/set Salto Caxias 29/mai 08/jul 26 dias 27/jul 28 dias 05/set Salto Osório 29/mai 05/jul 28 dias 06/ago 25 dias 17/set Santa Helena 01/mai 24/jun 27 dias 28/jul 24 dias 07/set S. M. Iguaçu 20/mai 03/jul 28 dias 04/ago 23 dias 07/set Toledo 17/abr 15/jun 28 dias 21/ago 27 dias 25/set Média 14/mai 27/06 27 dias 03/ago 27 dias 12/set

4.2 Risco de Geadas isoladas, parciais e generalizadas

Seis casos com RG generalizadas ocorreram na MOPR nos últimos 20 anos.

Outros 13 casos apresentaram RG parciais e 42 RG isoladas. Ao todo o critério espacial

identificou 61 casos em 20 anos (Figura 11), média de 3 por ano. Como o critério para

classificar as geadas generalizadas é mais forte do que o utilizado anteriormente no caso

das análises individuais, estes casos são também os de maior intensidade.

Quatro dos seis dias com RG generalizadas ocorreram no ano 2000 e os outros

dois só voltaram a ocorrer em 2013 e 2017 (Figura 11). O caso mais intenso foi o de 17

de julho de 2000, mas os valores mínimos entre as estações estão dispersos entre os

eventos (Tabela 6).

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

54

Figura 11 – Distribuição dos eventos de RG generalizadas, parciais e isoladas por ano.

Tabela 6 - Temperatura mínima nos eventos de RG generalizadas. Valores sublinhados correspondem ao

recorde mínimo da série.

Estação 17/07/00 14/07/00 18/07/17 20/07/00 24/07/13 13/07/00

Assis. Chat. -0,7 °C -1,0 °C -1,1 °C -0,4 °C -0,5 °C -0,3 °C Cascavel -2,9 °C -3,4 °C -2,3 °C -0,9 °C -2,1 °C -2,8 °C Foz do Iguaçu -0,1 °C 0,1 °C -0,9 °C -0,4 °C 0,0 °C -0,6 °C Guaíra 0,3 °C -0,4 °C 0,4 °C 0,5 °C -0,2 °C 0,7 °C Palotina -3,9 °C -3,2 °C -3,2 °C -4,6 °C -1,7 °C -1,9 °C Salto Caxias -1,0 °C 0,6 °C -1,8 °C 1,0 °C 0,4 °C -0,6 °C Salto Osório -1,5 °C -1,1 °C -0,6 °C -0,9 °C -0,4 °C -1,1 °C Santa Helena -0,1 °C -0,3 °C -1,6 °C -0,1 °C -0,6 °C -1,7 °C S. M. Iguaçu --- --- 0,6 °C --- -1,4 °C --- Toledo -4,5 °C -3,0 °C -1,4 °C -2,6 °C -2,8 °C -2,8 °C Média -1,6 °C -1,3 °C -1,2 °C -0,9 °C -0,9 °C -0,9 °C

As condições com RG mais generalizadas ocorreram em 24 de julho de 2013 e 17

de julho de 2000. Muitos destes eventos generalizados foram antecedidos ou sucedidos

por dias com RG parciais. Todos os dias com a possibilidade de ocorrência de geadas

generalizadas ocorreram no mês de julho. Seis casos parciais ocorreram em julho, quatro

em junho, dois em agosto e um em setembro. Um caso de risco de geada isolada ocorreu

em maio, nove em junho, dezenove em julho, nove em agosto e quatro em setembro

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

55

(Figura 12). Dessa forma todos os casos estão concentrados no período de inverno do

hemisfério sul, com possibilidade de ocorrência de algumas geadas parciais e isoladas

ocorrendo entre o fim do outono e começo da primavera (Figura 12), com o caso mais

precoce em 30 de maio de 2007 e o mais tardio em 22 de setembro de 2008 (Tabela 7).

Os casos com RG generalizadas e alguns casos parciais e isolados foram noticiados pela

mídia local e alguns exemplos estão mostrados nos anexos. Nestas notícias foram

abordados os prejuízos causados na agricultura local, principalmente para a cultura do

trigo e leguminosas bem como o impacto causando pelos eventos frios no cotidiano da

população.

Figura 12 - Casos de geadas isoladas, parciais e generalizadas por mês.

O comprimento do período com RG variou bastante ao longo dos anos, foi nulo

em 1998, 2014 e 2015 e chegou a 99 dias em 2008 (tabela 7). No entanto o maior

comprimento do período com RG não significa que há aumento no número de casos. Em

2000, quando ocorreram algumas das possíveis geadas mais fortes, o comprimento foi

de apenas 14 dias.

A estação de crescimento em sete anos superou a marca dos 365 dias. A menor

estação de crescimento (ou período livre de geadas) foi de 2006 para 2007 com 267 dias.

Nos anos em que não há ocorrência de geada a estação de crescimento é contínua, sem

interrupção, como é o caso do período entre a última geada de 2013 e a primeira geada

de 2016, um total de 1018 dias (tabela 7).

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

56

Tabela 7 - Primeira geada, última geada, período de geada e estação de crescimento para as geadas regionais.

Ano Primeira geada Última geada Período de geadas

Estação de crescimento

1998 --- --- 0 dias --- 1999 11 de junho 15 de agosto 66 dias --- 2000 12 de julho 25 de julho 14 dias 332 dias 2001 21 de junho 28 de julho 38 dias 331 dias 2002 02 de setembro 03 de setembro 2 dias 401 dias 2003 12 de julho 27 de agosto 47 dias 312 dias 2004 13 de junho 09 de agosto 58 dias 291 dias 2005 19 de julho 20 de julho 2 dias 344 dias 2006 31 de julho 05 de setembro 37 dias 376 dias 2007 30 de maio 27 de julho 59 dias 267 dias 2008 16 de junho 22 de setembro 99 dias 325 dias 2009 03 de junho 25 de julho 53 dias 254 dias 2010 15 de agosto 15 de agosto 1 dia 386 dias 2011 27 de junho 04 de agosto 39 dias 316 dias 2012 08 de junho 08 de junho 1 dia 309 dias 2013 23 de julho 28 de agosto 37 dias 410 dias 2014 --- --- 0 dias 490 dias 2015 --- --- 0 dias 855 dias 2016 11 de junho 18 de julho 38 dias 1018 dias 2017 17 de julho 20 de julho 4 dias 364 dias

4.3 Padrão sinótico em eventos com risco de geadas generalizadas e parciais

Quatro dias antes das possíveis geadas generalizadas uma região de baixa

pressão em superfície encontrava-se no sudoeste do Atlântico Sul (SOAS) a partir de

onde uma frente fria se estendia até a costa da região Sul do Brasil (SBR) progredindo

em torno do centro de baixa. No leste do oceano pacífico estava presente a Alta

Subtropical do Pacifico Sul (ASPS) com uma crista associada a esta alta

semipermanente, sobre a Argentina (ARG). No SBR o vento em 500 hPa encontrava-se

basicamente zonal, com o componente meridional praticamente ausente (Figura 13a).

Em 500 hPa percebe-se um fraco cavado quase em fase com o centro de baixa pressão

em superfície e um segundo cavado começava a ganhar amplitude na costa do Chile

(CH) (Figura 13a). Em 250 hPa observa-se a entrada do Jato Subtropical (JS) na altura

do PR e o Jato Polar (JP) entre a ARG e o Uruguai (UY) (Figura 15a). No plano do

geopotencial de 850 hPa uma crista se estendia da Alta Subtropical do Atlântico Sul

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

57

(ASAS) até o Centro-Oeste do Brasil (COBR), onde o vento passava a soprar de noroeste

na direção do SBR.

Três dias antes o cavado em 500 hPa ganha amplitude, a inclinação horizontal

positiva do seu eixo está entre a costa do CH e o SOAS (Figura 13b). O vento meridional

no plano de 500 hPa é positivo a sudoeste do eixo do cavado. Em superfície a crista

associada ao ASPS atravessa a cordilheira dos Andes por volta de 45°S e o ciclone no

SOAS enfraquece, mas é observado um cavado zonal na direção do eixo do cavado no

alto (Figura 13b). Os JS e JP se intensificam, tanto em 250 hPa (Figura 15b) como em

850 hPa (Figura 16b) o vento passa soprar de sul sobre a ARG e causa a advecção de

uma massa de ar frio (Figura 17b) e seco (Figura 18b) em baixos níveis.

Dois dias antes das possíveis geadas o cavado em 500 hPa se aprofunda. O

ciclone marinho ganha um aporte dinâmico do cavado superior pelo fato do cavado no

alto permanecer defasado a oeste do sistema de baixa pressão em superfície,

favorecendo uma provável região de AVC a leste. Um centro de alta pressão se forma no

lado oriental da cordilheira e ganha suporte dinâmico da crista acima, em uma região

onde a AVA em 500 hPa pode ocorrer. Assim aumenta o gradiente zonal de pressão

entre os centros de alta e baixa e o vento sul configura um corredor de ar frio em baixos

níveis, desde a Patagônia até o PY (Figura 16c). Nos altos níveis da troposfera o vento

sul sobre a AMS converge na direção do JS e JP que se intensificam (Figura 15c) como

resposta ao forte gradiente meridional de temperatura sobre as regiões subtropicais da

AMS, observado no plano de 850 hPa (Figura 17c). Como resultado, uma 'piscina fria' é

observada no campo de espessura entre as células de alta pressão continental e a região

de baixa pressão no SOAS, com 5300 mgp de espessura (Figura 14c). A isoterma de 0

°C chega a latitude de 30°S.

O cavado de nível superior se deslocou lentamente sobre a AMS e ainda deu

suporte dinâmico a baixa de superfície no dia que antecede as geadas generalizadas

(Figura 13d). Uma frente fria a partir deste centro de baixa pressão é observada sobre o

SOAS na altura da costa do SBR. O centro de Alta Pressão em superfície foi deslocado

para o norte da ARG. A crista deste anticiclone migratório se estende para leste sobre o

SBR. A piscina de ar frio se aproxima do RS, apesar de apresentar redução em área

(Figura 14d). O jato em 250 hPa atinge sua velocidade média máxima a leste do cavado

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

58

de nível superior (Figura 15d) devido forte condição baroclínica. A isoterma de 0 °C chega

a latitude de 25°S (Figura 17d).

No dia dos eventos de geadas generalizadas o eixo do cavado em 500 hPa está a

leste do SBR sobre o SOAS. O cavado perde amplitude e a inclinação para oeste em

relação a baixa de superfície diminui, estando os dois sistemas quase em fase, indicando

que a onda está chegando ao seu estágio final de desenvolvimento sendo que o ciclone

extratropical de superfície continua se intensificando, mas já distante da AMS. O

anticiclone migratório continental tem agora um centro de 1026 hPa sobre o noroeste RS,

oeste de SC e oeste do PR (um valor de 1026 hPa para o anticiclone continental também

foi encontrado por Nolasco Junior (2015) em um estudo de ocorrência de neve no SBR,

porém posicionado um pouco mais a sul). O suporte dinâmico em 500 hPa para o

anticiclone de superfície diminui (Figura 13e). A espessura da camada entre 1000 e 500

hPa aumenta sobre o SBR, mas permanece inferior a 5540 mgp sobre o oeste do PR

(Figura 14e). A saída do JS encontra-se sobre o SBR (Figura 15e). Em 850 hPa a

circulação a leste do centro de alta no norte da ARG atinge o oeste do PR com ventos de

sudoeste (Figura 16e). A isoterma de 0 °C no plano de 850 hPa chega a divisa entre SC

e PR e um caso de friagem ocorre sobre o oeste do Brasil tropical (Figura 17e). Outra

característica da massa de ar frio, a baixa umidade específica em 850 hPa, tem seus

valores mínimos sobre o centro norte da ARG e centro do PY (Figura 18e).

Após entrar em fase com a baixa de superfície, um dia após as geadas

generalizadas, o cavado em 500 hPa praticamente desaparece. O vento meridional em

500 hPa enfraquece e o escoamento na média troposfera torna-se zonal (Figura 13f). O

centro de alta pressão de superfície migrou para leste (Figura 13f). Em 850 hPa o vento

inverte sua direção e passa soprar de norte, sobre o interior da AMS, característica

semelhante a quatro dias antes dos eventos (Figura 16f). A massa de ar frio enfraquece

e a isoterma média de 0 °C desaparece do SBR (Figura 17f). Permanece a baixa umidade

específica da massa de ar (Figura 18f). Em superfície a temperatura a 2 metros continua

abaixo de 0 °C sobre a parte centro-leste do PR, indicando geadas parciais no Estado

(não mostrado).

Os casos com RG generalizadas possuem um padrão sinótico que correspondem

ao segundo padrão mais recorrente encontrado por Compagnucci; Salles (1997), com

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

59

condições típicas de uma onda de frio, com um centro de alta pressão de núcleo frio pós-

frontal que cruza os Andes e contribui para a advecção de ar seco e frio sobre o

continente. Também corresponde ao terceiro padrão encontrado por Müller et al. (2005),

caracterizado por um sistema conjunto de baixa pressão a leste do continente e uma alta

pressão no Pacífico cruzando os Andes e produzindo forte fluxo de ar frio e seco de sul

com forte componente positiva do fluxo meridional em 850 hPa sobre a ARG, favorece a

canalização do ar frio. É ainda o caso tipo 2 de Lupo et al. (2001) pelo fato de que no

nível de 500 hPa a presença de uma crista bastante amplificada dá suporte ao anticiclone

de superfície, criando maior AVA e garantindo o desenvolvimento do anticiclone de

superfície, impulsionando-o para o norte. Ainda segundo Lupo et al. (2001) e como

comentado anteriormente, apenas 9% das ondas de frio são do tipo 2, o que tornam os

casos mais raros. Este padrão encontrado no caso das geadas generalizadas é ainda

análogo ao que foi descrito por Garreaud (2000) para ondas de frio, com a crista a oeste

da costa da AMS, sobre o oceano Pacífico e um cavado entre a AMS ao SOAS, com

amplificação antes e durante o estágio maduro da onda de frio tendo os eixos da crista e

do cavado orientados no sentido noroeste – sudeste, movendo-se para leste. Ainda

segundo este autor a onda produz forte advecção de vorticidade anticiclônica (AVA) no

leste dos Andes e o anticiclone continental de núcleo frio, bem como o ciclone marinho,

crescem principalmente à custa de advecção de vorticidade de nível superior dentro da

onda baroclínica de latitude média. A presença do JS sobre a AMS subtropical induz uma

circulação transversal que fornece força a parte central do anticiclone de superfície,

elementos que são encontrados dos campos médios das geadas generalizadas. Por fim,

Krishnamurti et al. (1999) mostraram que a amplificação do sistema crista- cavado no

campo de geopotencial de 500 hPa, sobre o Brasil precedendo eventos de geada e

encontrado no campo das geadas generalizadas seria resultado de interações de escala

planetária e sinótica promovida por trens de ondas que chegam a AMS. Antes do evento

de geada o trem de ondas exibe amplificação a oeste do continente sul americano devido

a trocas de energia entre ondas planetárias e transientes. No período imediato a geada,

quando o cavado superior adquire sua maior amplitude, ocorre crescimento baroclínico.

Para avaliar a resposta das forçantes quasigeostróficas na pressão em superfície

e na temperatura do ar em 850 hPa, entre os casos de geadas generalizadas e parciais,

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

60

foram obtidas as diferenças entre os campos médios destes eventos (Figura 19). A

pressão em superfície no SOAS é menor nos casos generalizados do que nos eventos

parciais, indicando mais intensa ciclogênese em superfície no SOAS. Diferenças de até

3 °C a menos na temperatura do ar foram encontrados no setor sudoeste do ciclone mais

intenso e na parte oriental, a sudeste, a temperatura era até 3 °C superior. Estes números

são evidências de que nos casos de geadas generalizadas o ciclone marinho na costa

subtropical leste da AMS é mais intenso do que no caso das parciais. No dia dos eventos

os casos generalizados registraram temperatura de até 2 °C a menos do que os casos

parciais no SBR, e em parte da ARG. O ciclone em superfície no SOAS permaneceu mais

intenso do que nos casos parciais (Figura 19e) e no dia após os eventos as diferenças

diminuem, mas um núcleo mais frio ainda é encontrado sobre o PR (Figura 19f). Nota-se

que a alta migratória de superfície não apresentou diferença em magnitude entre os

casos generalizados ou parciais.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

61

Figura 13 - Campos médios do geopotencial de 500 hPa (contornos coloridos em metro geopotencial), pressão ao nível do mar (contornos pretos em hPa), vento meridional em 500 hPa (vetor em m/s), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

62

Figura 14 - Campos médios de espessura entre 500 hPa e 1000 hPa (contornos pontilhados em metro geopotencial) e pressão ao nível do mar (contornos pretos em hPa), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

63

Figura 15 - Campos médios de linha de corrente em 250 hPa (m/s) (área hachurada) e pressão ao nível do mar (contornos em hPa), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

64

Figura 16 - Campos médios de linha de corrente em 850 hPa (m/s) (área hachurada) e pressão ao nível do mar (contornos em hPa), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

65

Figura 17 - Campos médios de temperatura em 850 hPa (°C) (sombreado), isotermas de 10°C e 0°C (contornos em vermelho) e vento (em nós), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

66

Figura 18 - Campos médios de umidade específica em 850 hPa (kg/kg) (área hachurada) e vento (em nós), para: a) 4 dias antes das geadas generalizadas; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

67

Figura 19 – Diferença dos campos médios de pressão em superfície (hPa) (contornos pretos) e temperatura em 850 hPa (°C) (contornos coloridos) entre os casos de RG generalizadas e parciais, para: a) 4 dias antes dos eventos; b) 3 dias antes; c) 2 dias antes; d) 1 dia antes; e) dia 0, dia de ocorrência; f) 1 dia após.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

68

4.4 Correlação entre o risco de geada e El Niño/La Niña;

Entre 1997 a 2018 foram identificados sete episódios de EN: 1997/1998;

2002/2003; 2004/2005; 2006/2007, 2009/2010; 2014/2015; 2015/2016. Oito episódios de

LN, os quais ocorreram em: 1998/1999; 1999/2000; 2000/2001; 2007/2008; 2010/2011;

2011/2012; 2016/2017, 2017/2018. Em outros seis anos a condição foi neutra:

2001/2002; 2003/2004; 2005/2006; 2008/2009; 2012/2013 e 2013/2014 (Figura 20).

Figura 20 - Eventos de EN e LN e anomalia da temperatura da superfície do mar na região do Niño 3.4.

No ano de 1998, após um episódio forte de EN (1997/1998), nenhuma geada

ocorreu na MOPR. Entre 1998 e 2001 três eventos LN seguidos ocorreram e o número

de dias com geadas foi o maior da série. Neste grande período de eventos frios um dia

com geada isolada e outro com geada parcial ocorreram no ano de 1999. Em 2000, seis

dias com RG isoladas, dois com geadas parciais e quatro dias com geadas generalizadas

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

69

ocorreram e em 2001 houve um dia com risco de geada isolada e outros dois dias com

geadas parciais. No total foram 17 geadas em três anos, ou média de 5,7 por ano, valor

acima da média total do período que foi de 3,05 eventos por ano.

Entre 2001 e 2002 houve condições neutras para a TSM, mas ao longo de 2002

um evento quente se desenvolveu no Pacífico equatorial e uma possível geada isolada e

outra parcial ocorreram em condição de EN. Estas duas possíveis geadas foram

registradas no início de setembro daquele ano. De 2002 a 2007 o período apresentou

fracos eventos quentes e o RG foi apenas de casos isolados. Entre 2007 e 2008 houve

um evento frio, e as geadas continuaram sendo isoladas. De 2009 para 2010 um evento

quente se desenvolveu e uma possível geada parcial pode ter ocorrido. Entre 2010 e

2012 dois eventos frios ocorreram e o número de condições com RG parciais aumentou

para dois. O período neutro entre 2012 e 2014 apresentou seis casos de RG,

concentrados em 2013, sendo dois eventos parciais e um generalizado. O mesmo ano

apresentou um pico secundário na ocorrência dos eventos durante a série de dados

analisada. Na sequência nenhum evento de risco de geada foi registrado durante o

desenvolvimento do mais forte episódio de EN da série, entre 2014 e 2015, mas em 2016

no fim do evento o RG voltou a ocorrer, com um caso parcial e três isolados e em 2017,

em meio a fracos episódios frios do Pacífico equatorial, o número de eventos de geada

voltou a subir, apresentando um caso generalizado em julho de 2017.

Esta análise mostra que pode haver uma relação entre os eventos quentes e frios

e o RG da região, principalmente se os eventos no Pacífico equatorial forem intensos e

persistentes. Apesar de nenhuma possível geada generalizada ter ocorrido em anos com

EN, eventos parciais ocorreram em anos onde eventos quentes se estabeleceram.

Os anos em que não se verificaram as condições para o risco de geada foram

1998, 2014 e 2015, anos em que a fase quente da TSM do Pacífico se estabeleceu. Os

anos em que os eventos com RG ocorreram em maior quantidade foram 2000 (12 casos),

2013 (6 casos) e 2011 (5 casos), sendo que em 2000 e em 2011 eventos frios do Pacífico

equatorial ocorreram e em 2013 a condição era de neutralidade.

As correlações estatísticas dos casos totais que apresentam RG com as médias

de anomalias da TSM na região do Niño 3.4 durante o ano em que os eventos com RG

ocorreram, apontam para uma relação inversa entre as funções. A correlação entre o

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

70

número de geadas do ano e a anomalia média anual na região do Niño 3.4 foi de -0,45

(Tabela 8), assim os casos de risco de geada tendem a diminuir em anos de eventos

quentes. O mesmo é válido para correlação com as médias de anomalias de TSM na

região do Niño 3.4 no período de inverno (MJJAS) e também do começo do segundo

semestre do ano anterior ao fim do primeiro semestre do ano das geadas, que é o período

análogo ao desenvolvimento dos eventos de EN/LN, porém estes apresentando

coeficientes mais discretos (Tabela 8).

Tabela 8 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e médias de anomalia de TSM na região

do Niño 3.4 calculada em diferentes períodos, ano, período de MJJAS e do começo do segundo semestre

do ano anterior ao fim do primeiro semestre do ano das geadas.

Variável Ano Período de MJJAS Do começo do segundo semestre do ano anterior ao fim

do primeiro semestre do ano das geadas

Geadas totais -0,45 -0,30 -0,39 Período de geadas -0,39 -0,27 -0,35 Estação de crescimento 0,54 0,28 0,62

A média anual no Niño 3.4 esteve correlacionada negativamente com o período

de geadas, apresentando coeficiente de -0,39 e positivamente com o comprimento da

estação de crescimento, com correlação de 0,54 (Tabela 8). Para a estação de

crescimento a correlação foi maior no período entre o segundo semestre do ano anterior

e o primeiro do ano das geadas.

De forma semelhante, porém considerando apenas a média de anomalia de TSM

na região do Niño 3.4 durante os eventos EN e LN, a correlação também é inversa para

com o número de eventos de geadas, mas os eventos quentes e frios que terminaram

durante o ano das geadas, ou em outras palavras, os eventos que antecederam as

geadas, apresentaram coeficientes mais fortes em relação aos eventos que se

desenvolvem durante o ano das geadas. Para o número de geadas no ano o coeficiente

é de -0,41 para os eventos que as antecederam e de -0,29 para aqueles que se

desenvolveram durante o ano (Tabela 9).

Do mesmo modo o número de meses em que os eventos quentes e frios

permaneceram atuando foram correlacionados de maneira inversa com os casos de

geadas. Neste sentido se um evento quente antecedendo as geadas perdurar por muito

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

71

tempo poderá haver redução do número de casos e se um evento frio perdurar por muito

tempo o número de casos tende a aumentar, tendo o valor numérico do coeficiente de

correlação de -0,45 para esta condição. A relação inversa também foi encontrada para a

duração dos eventos quentes e frios que se desenvolvem no ano das geadas, mas

apresentando coeficientes mais fracos (Tabela 9).

Para o período de geada os eventos quentes parecem ter reduzido o comprimento,

principalmente em eventos EN mais quentes e persistentes antes do período de

ocorrência. A correlação com os eventos que se desenvolvem durante o ano do período

de ocorrência é mais fraca. Já a estação de crescimento parece ser beneficiada por

eventos quentes que começam ou que terminam durante o ano das geadas (Tabela 9).

Para Müller et al. (2000) parte da variabilidade da frequência de geada na região

do Pampa argentino pode ser explicada pelos ciclos EN, com pelo menos um dos dois

anos em que o evento EN ocorre apresentando menos casos de geadas do que a média

climatológica. Os eventos generalizados da Argentina ocorreram com frequência muito

baixa ou não ocorrerem em anos de EN e a data do primeiro evento de geada naquela

região é atrasada em anos de EN e adiantada em anos de LN. Os autores não encontram

relações com a data da última geada do ano e chamam a atenção para que em anos

onde o fluxo básico zonal esteve menos perturbado houve menor número de casos de

geadas, mesmo em condição de LN.

Tabela 9 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e a) médias de anomalia de TSM na

região do Niño 3.4 calculada durante eventos de EN/LN que antecedem as geadas; Duração dos eventos

que antecedem as geadas; EN/LN que se desenvolvem no ano das geadas e Duração dos eventos que se

desenvolvem no ano das geadas.

Variável EN/LN que antecedem as

geadas

Duração dos eventos que

antecedem as geadas

EN/LN que se desenvolvem no ano das

geadas

Duração dos eventos que se

desenvolvem no ano das geadas

Geadas totais -0,41 -0,45 -0,29 -0,22 Período de geadas -0,31 -0,37 -0,14 -0,10 Est. de crescimento 0,56 0,50 0,56 0,13

Se apenas a média da anomalia de TSM na região do Niño 3.4 durante eventos

EN forem consideradas, permitindo uma comparação entre eventos quentes, a

correlação com o número de geadas totais é inversa para quanto maior for a anomalia

positiva do evento e o tempo de permanência, com coeficiente de -0,48 no caso dos

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

72

episódios quentes se desenvolvendo no ano das geadas. A estação de crescimento é

beneficiada, apresentando correlação de 0,80 (Tabela 10).

Tabela 10 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e as médias de anomalia de TSM na

região do Niño 3.4 calculada durante eventos quentes que antecedem as geadas; Duração dos eventos

quentes que antecedem as geadas; Eventos quentes que se desenvolvem no ano das geadas e Duração

dos eventos quentes que se desenvolvem no ano das geadas.

Variável Eventos quentes que antecedem as geadas

Duração dos eventos quentes que antecedem

as geadas

Eventos quentes que se

desenvolvem no ano das geadas

Duração dos eventos quentes que se

desenvolvem no ano das geadas

Geadas totais 0,17 0,03 -0,48 -0,48 Período de geadas 0,09 -0,14 -0,42 -0,31 Est. de crescimento 0,55 0,44 0,80 0,55

A comparação entre eventos LN que terminam no ano das geadas identificou

correlação inversa com o número de casos de geada, indicando que quanto mais frio foi

o evento LN antes das geadas, maior foi o número de casos. O período de geada pode

ser maior se o evento frio for mais intenso, com correlação de -0,57 e a estação de

crescimento aumenta em comprimento se o evento LN for mais fraco, com correlação de

0,63 (Tabela 11).

Considerando o tempo de permanência dos eventos frios, quanto maior for o

comprimento do evento LN que antecedeu as geadas, mais casos totais podem ter

ocorrido, com coeficiente de 0,28. O período de geada após eventos frios é

correlacionado positivamente com eventos LN mais persistentes, com coeficiente de 0,57

e a estação de crescimento é menor se o evento frio persistir por mais tempo, correlação

de -0,47. (Tabela 11).

Durante eventos LN que se desenvolvem no ano das geadas a correlação

encontrada entre o número de casos de geada é positiva, indicando que quanto mais frio

foi o evento LN em desenvolvimento menor foi o número de caso de geadas, sendo o

coeficiente de correlação de 0,61. Os eventos frios em desenvolvimento parecem não ter

influência no período de geada, com coeficiente de apenas -0,04 e a estação de

crescimento parece ter sido maior em eventos LN mais fracos, com coeficiente de 0,60.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

73

Tabela 11 - Coeficientes de correlação entre as variáveis de geada e as médias de anomalia de TSM na

região do Niño 3.4 calculada durante eventos de LN que antecedem as geadas; Duração dos eventos

frios que antecedem as geadas; Eventos frios que se desenvolvem no ano das geadas e Duração dos

eventos frios que se desenvolvem no ano das geadas.

Variável Eventos frios que

antecedem as geadas

Duração dos eventos frios que

antecedem as geadas

Eventos frios que se

desenvolvem no ano das geadas

Duração dos eventos frios que se

desenvolvem no ano das geadas

Geadas totais -0,30 0,28 0,61 -0,76 Período de geadas -0,57 0,57 -0,04 0,06 Est. de crescimento 0,63 -0,47 0,60 -0,45

É necessário cautela para validar estes resultados, pois a própria ocorrência de

geada por si só apresenta grande variabilidade interanual e não são muitos os casos de

geadas que ocorreram a cada ano na área de estudo. Outras questões, como a

perturbação do fluxo zonal, foram apontadas na literatura como tendo possível influência

nos casos de geada na AMS e poderão ser investigados. No estudo da variabilidade o

Índice de Oscilação Sul poderá ser considerado e outras estatísticas utilizadas para

detalhar, confirmar ou refutar os resultados apresentados.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

74

5. Conclusões

O trabalho apresentou o risco de geada associado a temperatura mínima do abrigo

meteorológico para dez estações meteorológicas do SIMEPAR na mesorregião Oeste do

Paraná no período de 1998 a 2017. A média regional destas condições de geadas ao

ano, considerando uma temperatura menor ou igual a 3°C, foi de quatro casos, sendo

que destes, menos de um tem temperatura menor ou igual a 0°C.

O risco de geada é maior nas estações de Palotina e Toledo devido a localização

das estações em fundos de vale. Nestas estações as primeiras geadas anuais ocorreram

no mês de abril, sendo a nível regional geadas isoladas. As geadas parciais ocorreram a

partir de junho e as generalizadas somente em julho, que é o mês com maior número de

casos. Em agosto e em setembro as geadas parciais ainda ocorreram e setembro foi o

último mês com geada na região.

Apenas seis casos de geadas generalizadas foram encontrados no período do

estudo. Os campos médios para estes casos identificaram um padrão sinótico com a

presença de um anticiclone continental de superfície, com pressão de 1026 hPa em seu

centro e um sistema de baixa pressão sobre o sudoeste do Oceano Atlântico, que juntos

causam forte advecção de ar frio sobre a AMS em baixos níveis. Uma piscina de ar frio

entre os centros de alta e baixa pressão foi observada se deslocando para norte. Estes

centros de pressão de superfície possuem suporte dinâmico de altos níveis e as forçantes

quasigeostróficas, de advecção de vorticidade e advecção de temperatura, contribuem

para a ocorrência das geadas generalizadas.

Quanto ao RG em função dos eventos EN/LN é difícil afirmar categoricamente que

existe uma relação, pois as correlações apresentaram valores discretos, porém uma

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

75

relação inversa entre o número de geadas e os episódios quentes do Pacífico equatorial

foi encontrada. É intrigante, pois, em três anos com evento EN não houve registro de

risco de geada isolada, parcial ou generalizada e que no ano 2000, entre dois eventos

LN ocorreram diversos casos. Portanto, se há ocorrência de eventos EN, se estes

eventos quentes forem intensos ou permanecerem por um período maior, tanto antes

quanto após o inverno, as geadas poderão ser desfavorecidas e no caso de um evento

LN intenso e duradouro, antecipando o inverno, as geadas podem ocorrer em maior

quantidade e com intensidade. Esta relação é maior para os eventos EN/LN que

antecedem o inverno e menor para aqueles eventos que se desenvolvem durante o ano

de ocorrência das geadas.

O período em que as geadas ocorrem parece diminuir após um evento EN quando

comparado ao período de geadas após um evento de LN. A estação de crescimento, por

outro lado, aumenta à medida que o EN se desenvolve no Pacífico.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

76

Referências

ACEITUNO, P. On the functioning of the Southern Oscillation in the South American Sector. Part I: Surface climate. Monthly Weather Review. American Meteorological Society. v.116, p.505-524, 1988. AMBRIZZI, T.; HOSKINS, B. J.; Rossby wave propagation and teleconnection patterns in the austral winter. Journal of the Atmosfpheric Sciences. v. 52, n. 21, p. 3661-3672, nov. 1995. BERBERY, E. H.; VERA, C. S. Characteristics of the southern hemisphere winter storm track with filtered and unfiltered data. Journal of the Atmospheric Sciences. v. 53, n. 3, p. 468-481, 1996. BLAIR, A. T., FITE, R. C. Meteorologia. 5.ed. Rio de janeiro: Centro de Publicações Técnicas da Aliança. 1964. 406 p. BOOTSMA, A. Estimating grass minimum temperatures from screen minimum values and other climatological parameters. Agricultural Meteorology, Amsterdam, v. 16, n. 1, p. 103-113, 1976. CHEN, W. Y. Assessment of Southern Oscillation Sea-Level Pressure Indices. Montlhly Weather Review. v. 110, p. 800-807. jul. 1982. CLARK, A.; STURMAN, J. Recent frost trends for New Zealand. National Institute of Water & Atmospheric Research. 2011. 67 p.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

77

COMPAGNUCCI, R. H.; SALLES, M. A. Surface pressure patterns during the year over Southern South America. International Journal of Climatology. v. 17, p. 635-653, 1997. CAVIGLIONE, J. H.; KIIHL, L. R. B.; CARAMORI, P. H.; OLIVEIRA, D. Cartas climáticas do Paraná. CONGRESSO E MOSTRA DE AGROINFORMÁTICA. Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2000. CD-ROM ETOPO2v2: 2-Minute Gridded Global Relief Data. Disponível em <

https://www.ngdc.noaa.gov/mgg/global/etopo2.html>. Acesso em: 29 jun. 2018. FORTUNE, M.A.; KOUSKY, V.E. Two Severe Freezes in Brazil: Precursors and synoptic evolution. Monthly Weather Review, American Meteorological Society. v.111, p.181-196, 1983. GARREAUD, R. Cold Air Incursions over Subtropical South America Mean Structure and Dynamics. Monthly Weather Review. American Meteorological Society. v. 128, n. 7, p.2544-2559, 2000. GEIGER, Rudolf. The Climate Near the Ground. 4.ed. Harvard University. Cambridge, 1965. 567 p. GRODZKI, L.; CARAMORI, P. H.; BOOTSMA, A.; OLIVEIRA, D.; GOMES, J. Riscos de ocorrência de geada no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 4, n. 1, p. 93-99, 1996. GUETTER, Alexandre. ZAICOVSKI, Marcelo; Climatologia de geadas no Paraná. CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA. Florianópolis, 1999. 14 p. HALL, J.W.; QUAMME, H. A. Winter freezes of fruit trees in the Okanagan Valley, British Columbia: Relationship with the Pacific North America. teleconnection and the El Nino southern Oscillation. Canadian Journal of Plant Science. p.841-846. 1994. HALPERT, M. S.; ROPELEWSKI, C. F. Surface Temperature Patterns Associated with the Southern Oscillation. Journal of Climate. v. 5, p.577-593, jun. 1992.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

78

HELDWEIN, B.; ESTEFANEL, V.; MANFRON, P. A.; SACCOL, A. V.; BURIOL, G. A.; SCHNEIDER, F. M. Análise das temperaturas mínimas do ar registradas em Santa Maria, RS. I – Estimativa das temperaturas mínimas do ar a 5cm da superfície do solo relvado e do solo desnudo. Revista Centro de Ciências Rurais, Santa Maria. v. 18, p.3-14, 1988. HORNSTEIN, R. A. Probabilities of freezing temperatures at Fredericton, N.B., Charlottetown, P.E.I., Kentville, N.S. and Nappan, N.S. Canada Department of Agriculture. Ottawa: Information Division, 1961. 13 p. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento Sistemático da produção agrícola. Pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil. Disponível em: <hftp://ftp.ibge.gov.br/Producao Agricola>. Acesso em: 19 jun. 2017. ICMBIO, disponível em <http://www.icmbio.gov.br/parnaiguacu/>. Acesso em 01 jul. 2018. IPARDES; Leituras regionais: Mesorregião Geográfica Oeste Paranaense. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 2003. 143p. JIN, F.; NEELIN, J. D. Modes of interannual tropical ocean – Atmosphere Interaction – a unified view. Part I: Numerical Results. Journal of the Atmospheric Sciences. v. 50, n. 21, p.3477-3503, nov. 1993. JORNAL O PARANÁ. Cascavel/PR. KALNAY, E.; KANAMITSU, M.; KISTLER, R.; COLLINS, W.; DEAVEN, D.; GANDIN, L.; IREDELL, M.; SAHA, S.; WHITE, G.; WOOLLEN, J.; ZHU, Y.; CHELLIAH, M.; EBISUZAKI, W.; HIGGINS, W.; JANOWIAK, J.; MO, K. C.; ROPELEWSKI, C.; WANG, J.; LEETMAAN, A.; REYNOLDS, R.; JENNE, R.; JOSEPH, D. The NCEP/NCAR 40-Year Reanalysis Project. Bulletin of the American Meteorological Society. v. 77, n. 3, p. 437-472, mar. 1996. KIM, I.; GRODZKI, L.; CARAMORI, P. H.; VISSOTTO, S.; Análise da ocorrência de geadas no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia. Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 99-106, 2003.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

79

KOTTEK, M.; GRIESER, J.; BECK, C.; RUDOLF, B.; RUBEL, F. World map of the Köppen-Geiger climate classification updated. Meteorologische Zeitschrift, v. 15, n. 3, p. 259-263, jun. 2006. KRISHNAMURTI, T. N; TEWARI, M.; CHAKRABORTY, D. R.; Downstream Amplification: A Possible Precursor to Major Freeze Events Over Southeastern Brazil. Weather and Forecasting. v. 14, p. 242-270, abr. 1999. LACATIVA, A. Geadas em regiões tropicais – Uma resenha bibliográfica. Bol. de Geografia – UEM. n. 3, p. 69-83, jan. 1985. LUPO, A. R.; NOCERA, J.; BOSART, L. F.; HOFFMAN, E. G.; KNIGHT, D. J. South American cold surges: Types, composites, and case studies. Monthly Weather Review. American Meteorological Society. v.129, n. 5, p.1021-1041, 2001. MAACK, Reinhard. Geografia física do Estado do Paraná. Curitiba, 1968, 350 p. MARENGO, J. A.; NOBRE, C. Climatic impacts of “friagens” in forested and deforested areas of the Amazon Basin. Journal of Applied Meteorology. v. 36, p. 1553-1566, nov. 1997. MOTA, Fernando S. Meteorologia Agrícola. 3.ed. Nobel. São Paulo 1979. 376p. MÜLLER, G. V.; NUÑES, M. N.; SELUCHI, M. E. Relationship between enso cycles and frost events within the pampa húmeda region. International Journal of Climatology. n. 20, p. 1619-1637, 2000. MÜLLER, G. V.; AMBRIZZI, T.; NUÑES, M. N.; Mean atmospheric circulation leading to generalized frosts in central southern America. Theoretical and Applied Climatology. v. 82, p. 95-112, 2005. MÜLLER, Gabriela V.; AMBRIZZI, Tércio; Teleconnection patterns associated with extreme frequency of generalized frosts. Part I: Rossby waves propagation regions in the Austral Hemisphere. INTERNATIONAL CONFERENCE ON SOUTHERN HEMISPHERE METEOROLOGY AND OCEANOGRAPHY (ICSHMO). Foz do Iguaçu, 2006. p. 1555-1561.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

80

MÜLLER, G. V.; BERRI, G. Atmospheric circulation associated with extreme generalized frosts persistence in central-southern South America. Climate Dynamics, 2011. MYERS, Vance A. A cold front invasion of southern Venezuela. Montlhly Weather Review. American Meteorological Society. v. 92, n. 11, p.513 521, 1964. NOAA/OAR/ESRL PSD. NOAA Optimum Interpolation (OI) Sea Surface Temperature (SST) V2USA, disponível em <https://www.esrl.noaa.gov/psd/>. Acesso em 29 jun. 2018. NOLASCO JUNIOR, Luciano Ritter. Eventos de Precipitação de Neve no Brasil no período de 2000 a 2014: Um estudo Sinótico. 2015. 60 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel em Meteorologia) - Faculdade de Meteorologia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2015. OLIVEIRA, D.; BORROZZINO, E. Risco de geada e ocorrência de horas de frio abaixo de 7°C em Londrina, Guarapuava e Palmas, no Estado do Paraná. Revista da Sociedade Brasileira de Agrometeorologia. v. 25, n. 2, p. 333-337, dez. 2017. RASMUSSON, E. M; CARPENTER, T. H. Variations in tropical sea surface temperature and surface wind fields associated with the Southern Oscillation/El Niño. Montlhly Weather Review. American Meteorological Society. v.110, p.354 384. REYNOLDS, R. W.; RAYNER, N. A.; SMITH, T. M.; STOKES, D. C.; WANG, W. An Improved In Situ and Satellite SST Analysis for Climate. Journal of Climate. v. 15, p.1609-1625. 2002 REOLON, C.A. Colonização e urbanização da mesorregião Oeste do Paraná (1940-2000). Raega – O espaço geográfico em análise. Curitiba, n. 13, p. 49-57, 2007. SANTOS, L. J. C.; OKA-FIORI, C.; CANALI, N. E.; FIORI, A. P.; SILVEIRA, C.T.; SILVA, J. M. F.; ROSS, J. L. S. Mapeamento geomorfológico do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Geomorfologia. n. 2, p. 3-12, 2006. SELUCHI, M.; SERAFINI, V.; TREUT, H. Le; The impact of the Andes on transient atmospheric systems: a comparison between observations and GCM results. Montlhly Weather Review. v. 126, p. 895-912, abr. 1998.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

81

SELUCHI, Marcelo E.; Geadas e friagens. Tempo e clima no Brasil. São Paulo. Oficina de textos. 2009. p. 149-167. SENTELHAS, P. C.; ORTOLANI, A. A.; PEZZOPANE, J. R. M. Estimativa da temperatura mínima de relva e da diferença de temperatura entre o abrigo e a relva em noites de geada. Bragantia, Campinas, v. 54, n. 2, p.437-445, 1995. SINCLAIR, M. R. A climatology of anticyclones and blocking for the southern Hemisphere. Montlhly Weather Review. American Meteorological Society. v. 124, p.245-263, fev. 1996. SILVA, J. G.; SENTELHAS, P. C. Diferença da temperatura mínima do ar medida no abrigo e na relva e probabilidade de sua ocorrência em eventos ed geada no Estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 9, n. 1, p. 9-15, 2001. SOUZA, Edson Belo Clemente de. A região do lago de Itaipu: as políticas públicas a partir dos governos militares e a busca da construção de um espaço regional. 1998. 193 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998. STEIN, K.; TIMMERMANN, A.; SCHNEIDER, N.; JIN, Fei-Fei; STUECKER, M. ENSO Seasonal Synchronization Theory. Journal of Climate. v. 27. p. 5285-5310, jul. 2014. STIVARI, S. M. S.; OLIVEIRA, A. P.; SOARES, J. On the climate impact of the local circulation in the Itaipu lake area. Climatic Change. v. 72, p. 103-121, 2005. TRENBERTH, K. The definition of El Niño. Bulletin of the American Meteorological Society. v. 78, n. 12, p.2771-2778, dez. 1997. TUBELIS, A.; NASCIMENTO, F. J. L. Meteorologia Descritiva. Fundamentos e Aplicações Brasileiras. 1.ed. São Paulo. Nobel, 1983. 374 p. WREGE, M. S.; CARAMORI, P. H.; GONÇALVES, A. C. A.; BERTONHA, A.; CAVIGLIONE, J. H.; FARIA, R. T.; FERREIRA, R. C.; FREITAS, P. L.; GONÇALVES, S. L. Ocorrência da primeira geada de outono e a última de primavera no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria. v. 12, n. 1, p. 143-150, 2004.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

82

WYRTKI, K. The Dynamic Response of the Equatorial Pacific Ocean to Atmospheric Forcing. Journal of Physical Oceanography. v. 5, p. 572-584, out. 1975.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

83

Anexos

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

84

Anexo A – Geada generalizada de 13/07/2000

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

85

Anexo B – Geada generalizada de 14/07/2000

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

86

Anexo C – Geada generalizada de 20/07/2000

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

87

Anexo C – Geada generalizada de 24/07/2013

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

88

Anexo D – Geada generalizada de 24/07/2013

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

89

Anexo E – Geada generalizada de 18/07/201

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

90

Anexo F – Geada parcial de 17/08/1999

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

91

Anexo G – Geada parcial de 21/06/2001

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

92

Anexo H – Geada parcial de 28/07/2001

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

93

Anexo I – Geada parcial de 02/09/2002

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Meteorologia Curso de Meteorologia ... · 2019. 4. 29. · 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Meteorologia

94

Anexo J – Geada isolada de 11/06/2016