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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE MATERIAIS ÓXIDO DE GÁLIO AMORFO SÍNTESE, CARACTERIZAÇÕES, ENSAIOS IN VITRO DE CITOTOXIDADE E ATIVIDADE ANTIMICROBIANA RECIFE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE MATERIAIS

ÓXIDO DE GÁLIO AMORFO – SÍNTESE, CARACTERIZAÇÕES, ENSAIOS

IN VITRO DE CITOTOXIDADE E ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

RECIFE

2017

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ALESSANDRA FLÁVIA DIAS RAMALHO

ÓXIDO DE GÁLIO AMORFO – SÍNTESE, CARACTERIZAÇÕES, ENSAIOS

IN VITRO DE CITOTOXIDADE E ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Sacilotti

Co-orientador: Prof. Dr. Severino Alves Júnior

RECIFE

2017

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

em Ciência de Materiais do Centro de Ciências

Exatas e da Natureza da Universidade Federal

de Pernambuco, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Ciência de

Materiais.

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Bibliotecária Joana D’Arc Leão Salvador CRB 4-572

R165o Ramalho, Alessandra Flávia Dias.

Óxido de gálio amorfo - síntese, caracterizações, ensaios in vitro de citotoxidade e atividade antimicrobiana / Alessandra Flávia Dias Ramalho. – 2017.

87 f.: fig., tab. Orientador: Marco Antônio Sacilotti. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCEN. Ciência de Materiais, Recife,

2017. Inclui referências e anexo.

1. Nanotecnologia. 2. Óxidos. 3. Aplicações odontológicas. 4. Nanomateriais. I. Sacilotti, Marco Antônio (Orientador). II. Titulo.

620.5 CDD (22. ed.) UFPE-FQ 2017-17

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13 02 2017

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Dedico esta dissertação a um grande amigo, Vital Epiphani Lemos (seu Vital) (in memorian),

que não pôde estar presente fisicamente comigo nesta trajetória do mestrado, mas, ao lado de

Deus, tenho certeza de que emitiu muitas energias positivas que me protegeram, iluminaram

e continuam abrindo os meus caminhos na direção certa. Um Mestre na colocação das

palavras certas, nos momentos pertinentes. Um dia nos reencontraremos e eu poderei fazer

meu agradecimento especial a você. Fique na luz, meu amigo!

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente e sempre a DEUS, meu Grande Amigo, por ter colocado em minha

vida tantas oportunidades desafiadoras e, ao mesmo tempo, guiado meus passos no caminho

certo, ao lado das pessoas do BEM, impulsionando a vontade imensa de vencer os obstáculos

da vida com muita sabedoria.

Aos meus pais, Severino Dias Ramalho e Maria José da Silva Ramalho, por terem

conduzido minha educação de maneira ímpar, pela qual, não mediram esforços em prol de

minhas realizações pessoais e profissionais, enfim, de minha Felicidade! À minha

personalidade batalhadora e determinada, eu dedico especialmente a vocês dois!

Aos meus irmãos, Clóvis Fernandes Dias Ramalho e Ana Cláudia Dias Ramalho,

meus grandes incentivadores, exemplo de pessoas íntegras, vitoriosas na sua essência, os

quais mostraram que, para as grandes conquistas, a lealdade, dignidade e dedicação são

primordiais.

À luz da minha vida, minha cadelinha Poodle, Malu, um presente lindo de Papai do

Céu, que está comigo há doze anos e me faz feliz todos os dias. Ao seu lado, os momentos

mais difíceis foram superados com mais tranquilidade! Te amo, Lulu! Para sempre!

À minha querida amiga, Ana Tereza de Albuquerque Lemos (Tetê). Você é uma das

pessoas do Bem que Deus colocou nessa trajetória que venho seguindo e que me levou a

tantas vitórias. Em dez anos de sua amizade, eu tenho muito a agradecer, principalmente pela

oportunidade da convivência com um ser humano de um coração tão lindo, nas suas principais

virtudes e infinita bondade, e que me faz acreditar nos meus sonhos e ajuda a realizá-los.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marco Antônio Sacilloti, do Departamento de Física

(DF), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pelo entusiasmo fascinante pela

Ciência, em especial, aplicada ao avanço no campo da Saúde. Sua humildade em acreditar que

ainda há muito o que se aprender foi um dos motivos que me fez optar por sua orientação

nesta pesquisa. Meus sinceros agradecimentos pela aceitação desse convite e ter feito parte

desta etapa vitoriosa, tão importante para mim.

Ao meu co-orientador e Vice-Coordenador do Programa de Pós Graduação em

Ciência de Materiais (PPGMT) da UFPE, Prof. Dr. Severino Alves Júnior, um grande

conhecedor da área de Biomateriais, que sempre esteve disponível, esclarecendo e opinando

nas dúvidas que foram surgindo, durante o desenvolvimento desta dissertação, além do

incentivo constante, com palavras positivas e seu sorriso amigável. Meu muito obrigada,

Professor Júnior!

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À minha orientadora externa Profª. Drª. Renata Cimões Jovino Silveira, do

Departamento de Prótese e Cirurgia Buco Maxilo Facial da UFPE, por ter me encorajado a

seguir no rumo certo desta pesquisa que, de fato, proporcionou a coleta de frutos promissores

para novos estudos posteriores. Imensamente grata!

Ao Professor Dr. Eduardo Henrique Lago Falcão, ex Coordenador do Programa de

Pós Graduação em Ciência de Materiais UFPE, pelas palavras gentis e incentivadoras, quando

das primeiras dúvidas ainda sobre o desconhecido, exatamente na fase inicial deste Curso e

durante as diversas vezes que precisei me reportar para esclarecimentos diversos.

A todos os professores do PPGMT da UFPE, com os quais tive a grata oportunidade

de aprender e aplicar novos e importantes conhecimentos, complemento importante para meu

Curso de formação, a Odontologia.

Aos meus companheiros, alunos do Mestrado e Doutorado em Ciência de Materiais da

UFPE, pela agradável convivência diária, aprendizados nas longas maratonas de estudo, e, em

especial às amigas Sueli, Evanise e Sônia. A Carol, Felipe, Leonardo, Stterferson, Rudson

e Talita, agradeço também pela imensa colaboração e orientações pertinentes com o

desenvolvimento desta pesquisa. Vocês fizeram a diferença! Minha eterna gratidão!

À Profª. Drª. Teresinha Gonçalves da Silva, do Departamento de Antibióticos da

UFPE, pela indicação das professoras Drª. Isla Vanessa Bastos e Drª Jaciana dos Santos

Aguiar, do Departamento de Antibióticos da UFPE, na orientação e execução dos Ensaios de

Citotoxidade, presentes nesta pesquisa; e da Profª. Drª. Thaysa Christina Montenegro

Stamford, do Departamento de Medicina Tropical, do Centro de Ciências da Saúde da UFPE,

por sua contribuição ímpar, tão importante durante os Testes de Atividade Antimicrobiana.

Muito obrigada pela gentileza da participação imprescindível das Senhoras!

Aos pesquisadores Sérgio dos Santos Silva, do laboratório de microscopia eletrônica,

do Departamento de Física da UFPE; Gian Silva Duarte, do Centro de Tecnologias

Estratégicas do Nordeste (CETENE) e Miguel Angel Pelagio Flores, do laboratório de

microscopia do CETENE, pelo apoio incondicional com a execução e análise das diversas

técnicas de caracterização, que elevaram significativamente o teor científico desta pesquisa.

Muito Obrigada a todos vocês!

Às secretárias do PPGMT da UFPE, Heloisa Henrique da Silva e Ingrid Vanessa

Almeida da Silva, além de todos os estagiários deste setor, que, com suas informações e

prestações precisas das diversas solicitações, somaram positivamente no prosseguimento

desta minha jornada acadêmica! Aos demais funcionários do Centro de Ciências Exatas e da

Natureza (CCEN), também externo aqui meus sinceros agradecimentos!

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Por fim, porém não menos importante, minha gratidão a todos os demais amigos e

amigas do meu convívio profissional e pessoal, que diretamente ou indiretamente,

acreditaram, cooperaram e torceram pela concretização deste sonho! A Vitória é nossa!!!

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“O homem jamais teria

conseguido o possível, se por

diversas vezes não tentasse o

impossível”

.

(Max Huber)

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RESUMO

O gálio é um metal do grupo III A, número atómico 31 da tabela periódica, descoberto pela

primeira vez em 1875 por Paul-Émile Lecoq de Boisbaudran, na França. Por sua baixa

temperatura de fusão de 28,7 °C; é um dos poucos metais que é quase líquido à temperatura

ambiente e pode derreter quando segurado na mão. Algumas das características do gálio lhes

permitem interagir com processos celulares e proteínas biologicamente importantes,

especialmente aquelas do metabolismo do ferro. Isso levou ao desenvolvimento de certos

compostos de gálio como agentes de diagnóstico e terapêutica em medicina, inclusive para

doenças infecciosas. Neste estudo, foi sintetizado um óxido à base de gálio, de composição

não estequiométrica, por pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio e, posteriormente,

oxidado a três temperaturas distintas, pelo sistema CVD (Chemical Vapor Deposition). As

amostras do pó de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy), obtidas, foram caracterizadas por

Difração de Raios X (DRX), comprovando a existência de fase amorfa e início de

cristalinidade; Espectroscopia por Dispersão em Energia (EDS), determinando o percentual

atômico de gálio, oxigênio e carbono; Microscopia eletrônica de varredura (MEV), com

avaliação morfológica estrutural externa das amostras, e Espectroscopia Raman. Visando, em

estudos posteriores, o uso do referido óxido na composição de materiais odontológicos

diversos, com finalidade antimicrobiana, o objetivo desta dissertação foi avaliar, inicialmente,

sua citotoxidade, in vitro, pelo método do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-

difeniltetrazólio), utilizando dois tipos de linhagem celular (RAW 264.7 e VERO).

Posteriormente, foi avaliada sua atividade antimicrobiana, através da determinação da

Concentração Inibitória Mínima (CIM) e da Concentração Bactericida Miníma (CBM), pela

técnica da microdiluição, na presença de cepa bacteriana de Streptococcus mutans (S. mutans)

AU 159, potentes bactérias iniciadoras da doença cárie dentária. Das amostras avaliadas, a

que teve melhor resultado, quanto à citotoxidade, foi a amostra de a-GaxOy oxidada a 500 °C,

com indícios de proliferação celular, sugestivo de biocompatibilidade, enquanto pelo ensaio

de atividade antimicrobiana, verificou-se que a amostra de a-GaxOy, oxidada à temperatura de

300 ºC foi a que teve melhor resultado para inibição da multiplicação (bacteriostática) e

crescimento bacteriano (bactericida).

Palavras-chave: Óxido de gálio amorfo. Citotoxidade. Atividade Antimicrobiana.

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ABSTRACT

Gallium, atomic number 31, is a metal that belongs to the group III A. It was discovered in

1875 by Paul-Emile Lecoq from Boisbaudran, in France. Due to its low melting temperature

of 28.7 °C, it is one of the few metals that is almost liquid at room temperature and can melt if

held by hand. A few of Gallium’s characteristics allow it to interact with cellular processes

and biologically important proteins, especially those of iron’s metabolism. It led to the

development of specific Gallium compounds as medical diagnostic and therapeutic agents,

including infectious diseases. In this study a Gallium-based oxide of a non-stethymometric

composition was synthetized by pyrolysis of spontaneous combustion of Triethyl gallium and

then oxidized at three different temperatures by the system CVD (Chemical Vapor

Deposition). The samples of amorphous gallium oxide powder were characterized by X Ray

Diffraction, proving the existence of an amorphous phase and a crystallinity initiation;

spectroscopy by dispersion in energy, determining Gallium, Oxygen and Carbon atomic

percentage; Scanning electron microscopy with sample structural external morphology

evaluation and Raman spectroscopy. Looking forward to studying in the future the usage of

the above mentioned oxide in different odonatological material composition with an

antimicrobial goal, this thesis’ goal is to initially evaluate its cytotoxicity in vitro by MTT

method (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio), utilizing two types of cell

line (RAW 264.7 and VERO). Posteriorly its antimicrobial activity was evaluated by

determining its Minimal Inhibitory Concentration and its Minimum Bactericidal

Concentration using the microdilution technique in the presence of Streptococcus mutans (S.

mutans) bacterial strain AU 159, potent bacteria that initiates dental cavity disease. Among all

evaluated samples, the one that had best cytotoxicity results was the a-GaxOy oxidized at 500

°C with signs of cell proliferation, suggesting biocompatibility. Through antimicrobial

activity assay it was possible to verify that the a-GaxOy sample oxidized at 300 °C was the

one with best result for inhibition of multiplication (bacteriostatic) and bacterial growth

(bactericidal).

Key-words: Amorphous gallium oxide. Cytotoxicity. Antimicrobial Activity.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura do óxido de gálio cristalino, fase beta, (β-Ga2O3), estrutura do

tipo monoclínica. As esferas marrons e vermelhas representam os átomos

de gálio e oxigênio, respectivamente............................................................. 24

Figura 2 - Resumo dos mecanismos associados ao comportamento antimicrobiano de

nanopartículas metálicas: (1) "efeito Cavalo de Tróia" devido a processos

de endocitose; (2) anexo à superfície da membrana; (3) formação de

radicais livres; e (4) libertação de íons

metálicos........................................................................................................ 27

Figura 3 - Forno de oxidação do Sistema CVD, Chemical Vapor Deposition, (vista

frontal), localizado na Universidade Federal de Pernambuco

(Departamento de Física)............................................................................... 35

Figura 4 - Forno de oxidação do Sistema CVD, Chemical Vapor Deposition, (vista

lateral)............................................................................................................ 35

Figura 5 - Desenho esquemático do forno de Oxidação do Sistema CVD, Chemical

Vapor Deposition, e o fluxo de oxigênio do cilindro do gás até o

forno.............................................................................................................. 36

Figura 6 - Aparelho de Microscopia Eletrônica de Varredura, localizado na

Universidade Federal de Pernambuco (Departamento de

Física)............................................................................................................ 41

Figura 7 - Aparelho de EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, localizado na

Universidade Federal de Pernambuco (Departamento de

Física)............................................................................................................ 42

Figura 8 - Pó de óxido de gálio amorfo sendo macerado..............................................

52

Figura 9 - Pó de óxido de gálio amorfo macerado........................................................

52

Figura 10 - Microplaca de 96 orifícios, contendo o caldo Brain Heat Infusion (BHI),

substância teste em diferentes concentrações e inóculo bacteriano.............

55

Figura 11 - Determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) de uma

substância teste pela resazurina.....................................................................

57

Figura 12 -

Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de

100.000X que mostra a morfologia do óxido de gálio amorfo obtido por

pirólise em combustão espontânea de Trietil Gálio.......................................

58

Figura 13 - Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de

50.000X que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio

amorfo oxidado a 300 °C.............................................................................

59

Figura 14 - Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de

100.000X que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio

amorfo oxidado a 500 °C............................................................................. 59

Figura 15 - Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de

50.000X que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio

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amorfo oxidado a 700 °C............................................................................... 60

Figura 16 - EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de

óxido de gálio amorfo, obtido por pirólise em combustão espontânea de

Trietil Gálio...................................................................................................

61

Figura 17 - EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de

óxido de gálio amorfo, oxidado a 300 °C...................................................... 61

Figura 18 - EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de

óxido de gálio amorfo, oxidado a 500 °C......................................................

62

Figura 19 - EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de

óxido de gálio amorfo oxidado a 700 °C ...................................................... 62

Figura 20 - Gráficos comparativos dos percentuais atômicos de Gax, Oy e Cz das

amostras de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy) versus suas temperaturas de

pirólise em combustão espontânea e de oxidação por Chemical Vapor

Deposition, em relação ao Ga2 e O3 do óxido de gálio cristalino (β-

Ga2O3)............................................................................................................ 63

Figura 21 - Difratograma das amostras de óxido de gálio amorfo obtidas por pirólise

em combustão espontânea de Trietil Gálio, à temperatura de pirólise (T.P.)

e por oxidação por Chemical Vapor Deposition a 300, 500 e 700 ºC, com

picos característicos de óxido de gálio cristalino (β-

Ga2O3)........................................................................................................... 64

Figur 22 - (A) Espectros Raman do pó de óxido de gálio amorfo oxidado por

Chemical Vapor Deposition a 300, 500 e 700 °C. (B) Referência para os

picos Raman da Figura 3 de Sun Z., Yang L. H., Shen X. et al.

Anisotropic Raman Spectroscopy of a single β-Ga2O3 nanobelt. Chin Sci

Bull, 2012, 57: 565-568, doi: 10.1007/s11434-011-4920-2.......................... 66

Figura 20 -

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LISTA DE TABELAS

Tabela1 - Distribuição das substâncias testes nas colunas 1, 2 e 3, em diferentes

concentrações nas linhas A-H, volume do meio de cultura liquido e

inóculo dos microrganismos......................................................................... 56

Tabela 2 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, obtido por

pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio frente às linhagens

RAW 264.7 e VERO..................................................................................... 67

Tabela 3 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a

300 ºC por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW

264.7 e VERO............................................................................................... 67

Tabela 4 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a

500 ºC por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW

264.7 e VERO............................................................................................... 68

Tabela 5 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a

700 ºC por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW

264.7 e VERO............................................................................................... 68

Tabela 6 - Atividade antimicrobiana, determinação da CIM e CBM, do pó de óxido

de gálio amorfo, disperso em água deionizada e tween 80, submetido

apenas à pirólise em combustão espontânea TEGa (a-GaxOy/ PIRÓLISE

EM COMBUSTÃO ESPONTÂNEA); e do pó de óxido de gálio amorfo

submetido também à oxidação por CVD a 300 ºC (a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 300 °C), a 500 °C (a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 500 °C) e a

700 ºC (a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 700

°C)................................................................................................................. 70

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADN

ASTM

BHI

CBM

CCEN

CETENE

CIM

CVD

DF

DMEM

DMSO

DQF

DRX

ED

EDS

EGM

FDA

h

HAp

INPI

ISO

Kv

LD

MEV

mA

mg

Min

mL

mM

mW

nm

Ácido Desoxirribonucleico

Sociedade Americana para Testes e Materiais

Brain Heat Infusion

Concentração Bactericida Mínima

Centro de Ciências Exatas e da Natureza

Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste

Concentração Inibitória Mínima

Chemical Vapor Deposition (Deposição Química na Fase Vapor)

Departamento de Física

Dubelcos Minimum Essential Medium

Dimetilsulfóxido

Departamento de Química Fundamental

Difração de Raios X

Dose Efetiva

Energy Dispersive Spectroscopy (Espectroscopia por Dispersão em Energia)

Estreptococos do Grupo Mutans

Food and Drug Administration

hora

Hidroxiapatita

Institut National de Propriété Intelectuelle

International Standard Organization

Quilovolt

Dose Letal

Microscopia Eletrônica de Varredura

miliampere

miligrama

Minuto

mililitro

milimol

miliWatt

nanômetro

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NPs

NPs-ZnO

OECD

pH

PPGMT

RDR

ROS

s

slm

S. mutans

SEM

T.P.

TEGa

Tf

UFC

UFPE

Nanopartículas

Nanopartículas de óxido de Zinco

Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento

Potencial Hidrogeniônico

Programa de Pós Graduação em Ciência de Materiais

Ribonucleosídeo Difosfato Redutase

Espécies Oxidativas de Oxigênio

segundo

standard litre per minute

Streptococcus mutans

Microscópio Eletrônico de Varredura por Emissão de Campo

Temperatura de Pirólise

Trietil Gálio

Ferro-transferrina

Unidade Formadora de Colônias

Universidade Federal de Pernambuco

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LISTA DE SÍMBOLOS

a-GaxOy

β-Ga2O3

Ag

Å

Al

Ga-DFOB

C

Cu

CuO

(C2H5)3 Ga

° C

Fe

Ga

Ga-Cit

[Ga(H2O)5(OH)]2+

[Ga(OH)4]–

HNO3

H2O2

W

O2

O2• -

OH

OH-

pi

SnO2

TiO2

ZnO

%

Óxido de gálio amorfo

Óxido de gálio cristalino (fase beta)

Prata

Angstrom

Alumínio

Gálio desferrioxamina

Carbono

Cobre

Óxido de Cobre

Trietil Gálio

Grau Celsius

Ferro

Gálio

Citrato de gálio

Íon pentaaquahidroxigálio

Tetrahidroxigallato

Ácido Nítrico

Peróxido de Hidrogênio

Tungstênio

Oxigênio Molecular

Superóxido

Hidróxido

Hidroxila

Picômetro

Óxido de Estanho

Óxido de Titânio

Óxido de Zinco

Por cento

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SUMÁRIO

1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS .......................................................................................... 19

1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 20

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 21

2.3 SÓLIDOS AMORFOS ....................................................................................................... 23

2.3.1 Óxido de Gálio Amorfo ................................................................................................... 23

2.4 USO DA NANOTECNOLOGIA - PROPRIEDADE ANTIBACTERIANA ..................... 26

2.4.1 Gálio: ação antibacteriana ............................................................................................. 29

2.5 PIRÓLISE ........................................................................................................................... 33

2.6 SISTEMA CVD (CHEMICAL VAPOR DEPOSITION) ..................................................... 34

2.7 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ............................................................................. 36

2.7.1 Difração de Raios X (DRX) ............................................................................................. 37

2.7.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) (Scanning Electron Microscopy – SEM) 39

2.7.3 Espectroscopia por Dispersão em Energia (Energy Dispersive Spectroscopy - EDS) ... 41

2.7.4 Espectroscopia Raman .................................................................................................... 42

2.8 BIOCOMPATIBILIDADE ................................................................................................. 42

2.9 ENSAIOS IN VITRO ........................................................................................................... 43

2.9.1 Teste de Citotoxidade ...................................................................................................... 43

2.9.1.1 Células VERO ............................................................................................................. 46

2.9.1.2 Células RAW 264.7 ..................................................................................................... 47

3.0 TESTE DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA ............................................................... 48

3.0.1 Streptococcus mutans ...................................................................................................... 48

3 EXPERIMENTAL .............................................................................................................. 50

3.1 MATERIAIS ....................................................................................................................... 50

3.2 MÉTODOS ......................................................................................................................... 50

3.3 SÍNTESE DE A-GAXOY POR PIRÓLISE À COMBUSTÃO ESPONTÂNEA DE

ORGANOMETÁLICO, TRIETIL GÁLIO (TEGA) ................................................................. 51

3.4 OXIDAÇÕES DAS AMOSTRAS DE A-GAXOY PELO SISTEMA CVD ......................... 52

3.5 CARACTERIZAÇÕES DAS AMOSTRAS DE A-GAXOY ............................................... 53

3.6 PREPARO DE DISPERSÕES DE A-GAXOY (1MG/ML) ................................................. 54

3.7 TESTE DE CITOTOXIDADE ........................................................................................... 54

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1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS

1.1 MOTIVAÇÃO

O rumo pelo qual vem seguindo a Odontologia terá repercussão no futuro dos

materiais dentários, apesar da prática odontológica ser definida pelo desenvolvimento atual e

futuro da Ciência de materiais dentários. Sendo assim, a profissão em questão continuará

focando na prevenção e melhora da saúde bucal, pela redução de propagação da doença cárie,

periodontal, bem como, possibilitando, pelo desenvolvimento de novos biomateriais, o

favorecimento de reabilitações de tecidos duros e moles perdidos e/ ou danificados. Uma cura

para a cárie dentária terá um grande impacto no uso de materiais restauradores, utilizados para

desenvolver a forma e a função de dentes com lesões cavitárias. Para o sucesso clínico da

implantodontia, por exemplo, é necessário que ocorra o fenômeno da osseointegração,

caracterizado pela união física entre o implante dentário e o osso receptor. O tratamento

reabilitador oral, pelo uso de implantes osseointegrados, apresenta um alto índice de sucesso,

apesar do relato de estudos que apontam grandes perdas, após procedimentos cirúrgicos de

instalação de tais biomateriais, devido a infecções peri-implantares, cujo principal fator

etiológico associado é o biofilme bacteriano.

Tem sido reportada, para fins terapêuticos na medicina, com resultados animadores, a

aplicação de compostos contendo o elemento químico gálio, com foco para processos

inflamatórios, infecciosos, neoplásicos e doenças ósseas (OLIVEIRA, N., 2016).

Diante do exposto, a principal motivação para o desenvolvimento desta dissertação

está correlacionada com a verificação, a princípio, in vitro, ou seja, laboratorial, da

citotoxidade do pó de óxido de gálio amorfo e sua atividade antimicrobiana na presença de

Streptococcus mutans, para que, mediante resultados promissores, num segundo momento,

em novos estudos, seja possível a obtenção de novos biomateriais de uso odontológico,

testados, in vivo, contendo a-GaxOy, visando a sua ação antibacteriana para diversas doenças

da cavidade oral, inclusive a cárie dentária, sem causar reações adversas locais, nem

sistêmicas, após sua aplicação. Dessa maneira, será possível contribuir com tratamentos

dentários promissores, de maior longevidade, um marco evolutivo para a Ciência

Odontológica.

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1.1 OBJETIVO GERAL

Sintetizar, oxidar, caracterizar o pó de óxido de gálio amorfo e, posteriormente, obter

dispersões com este óxido, utilizando tween 80 e água deionizada, para aplicação em ensaios

de citotoxidade em duas linhagens celulares e atividade antimicrobiana na presença de

bactérias indicadoras de cárie dentária.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Sintetizar o pó de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy), por pirólise à combustão

espontânea de organometálico – Trietil Gálio, (TEGa), (C2H5)3 Ga;

Oxidar as amostras obtidas de a-GaxOy, através do sistema CVD (Chemical Vapor

Deposition) - Deposição Química na Fase Vapor - a 300 °C (Grau Celsius), 500 °C e 700 °C

Caracterizar todas as amostras de a-GaxOy, por Difração de Raios X (DRX);

Espectroscopia por Dispersão em Energia (EDS), Microscopia Eletrônica de Varredura

(MEV) e Espectroscopia Raman;

Avaliar a atividade citotóxica em células normais (VERO e RAW 264.7), pelo

método do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio);

Avaliar a atividade antimicrobiana frente a cepa de Streptococcus mutans AU 159,

pela determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e da Concentração Bactericida

Mínima (CBM) – Técnica da Microdiluição.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 INTRODUÇÃO

Toda matéria é um material em potencial. A linha divisória para que algo possa ser

tratado como um material corresponde ao momento em que alguma de suas propriedades

(óticas, magnéticas, mecânicas, catalíticas, elétricas etc.) lhe confira uma função específica.

Materiais podem ser definidos como "substâncias (ou mistura de substâncias) que possuem

propriedades que as tornam úteis em produtos, dispositivos, estruturas e máquinas"

(INTERRANTE; HAMPDEN-SMITH, 1998).

A sistemática relacionada à Química de Materiais envolve quatro componentes

essenciais: (I) síntese/preparação - que se caracteriza pela compreensão das reações

químicas e metodologias que levam à produção de determinados materiais, estudo de

diferentes reagentes e precursores, desenvolvimento de novas rotas de preparação e

modificação e aprimoramento de rotas já existentes, otimização e planejamento de processos

que levem à produção de diferentes materiais. Um controle sintético permite a obtenção de

materiais com diferentes graus de pureza, cristalinidades e estruturas cristalinas, tamanhos de

partículas, reatividades superficiais, além da produção de novos materiais, com composições e

estruturas inéditas; (II) caracterização - que lança mão da utilização de técnicas químicas e

físicas para compreensão de diferentes aspectos relacionados à composição (relação

estequiométrica, presença de defeitos, estados de oxidação, etc) e estrutura (amorfa ou

cristalina) de materiais, além de interações específicas entre fases (para materiais

multifásicos), tamanhos e formas de partículas, etc; (III) estudo de propriedades e relação

estrutura-propriedade, que visa à determinação das diferentes propriedades dos materiais

(elétricas, óticas, magnéticas, catalíticas, mecânicas, etc.), o mecanismo pelo qual estas

propriedades se manifestam, e as relações existentes entre uma propriedade específica e a

estrutura/composição do material; (IV) aplicações - que aproveita uma propriedade específica

de um material para sua utilização como componente ativo em dispositivos, máquinas,

sistemas, etc. A combinação destas quatro linhas de trabalho leva a respostas para as questões

básicas relacionadas a qualquer material: Como são preparados? Como estão estruturados?

Como se comportam? Qual sua utilidade? Onde podem ser empregados? (ZARBIN, 2007).

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Alguns óxidos têm potencial como agentes anti-infeciosos, antineoplásicos e de

reabsorção óssea (VINARDELL; MITJANS, 2015; KIM et al., 2014). Segundo OLIVEIRA

(2016), materiais podem ser preparados com a intenção de aperfeiçoar sua aplicabilidade em

odontologia, na prevenção de infecção em próteses dentárias e na medicina para tratamento de

células cancerígenas, tratamento ósseo e doenças de pele. Vários artigos já relataram a

funcionalidade terapêutica de compostos contendo metais zinco e gálio individualmente

(BERNSTEIN, 1998; MELNIKOV et al., 2008; RAMUSSEN et al., 2010; VINARDELL;

MITJANS, 2015). A preparação de compostos (Zn, Ga)x Oy surge como uma alternativa de

unir propriedades dos dois óxidos para otimizar esta funcionalidade, visto que apresentarão

dois metais responsáveis pela ação deletéria de micro-organismos e tratamento de doenças

Com o controle cada vez mais rigoroso em relação ao uso de animais de laboratório,

há a necessidade de desenvolver e padronizar testes in vitro que possam detectar a toxicidade

de materiais para uso em seres humanos, principalmente aqueles de aplicação clínica, como os

biomateriais, que não devem causar reações adversas e nem lesar o organismo do paciente

(ROGERO et al., 2003).

Pouco é relatado na literatura sobre a aplicação terapêutica do óxido de gálio na fase

amorfa. Propusemos com este estudo, preparar amostras do pó de óxido de gálio amorfo (a-

GaxOy), por pirólise à combustão espontânea de um organometálico, o Trietil Gálio (TEGa),

(C2H5)3Ga, e subsequentes oxidações pela técnica CVD (Chemical Vapor Deposition -

Deposição Química na Fase Vapor); caracterizá-las, para que posteriormente, dispersas em

água deionizada e tween 80, pudessem ser utilizadas em ensaios de citotoxidade, na presença

de células RAW 264.7 e VERO, bem como, ser avaliada sua atividade antimicrobiana frente a

cepa de Streptococcus mutans (S. mutans), principais patógenos da cárie dentária.

Vale salientar que este trabalho é inédito, não havendo estudos sobre o tema estudado,

analisando-se o comportamento do S. mutans na presença de óxido de gálio amorfo, assim

como, sua citotoxidade. Basicamente quase não há relato da síntese e aplicação médica-

odontológica do a-GaxOy.

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2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS SÓLIDOS

Os materiais sólidos foram agrupados convenientemente em três categorias básicas:

metais, cerâmicas e polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na composição

química e na estrutura atômica, e na maioria dos materiais, enquadra-se em um outro grupo

distinto. Adicionalmente, existem os compósitos que são combinações "engenheiradas" de

dois ou mais materiais diferentes. Outra categoria é a dos materiais avançados - aqueles que

são usados em aplicações de alta tecnologia, como, por exemplo, os semicondutores, os

biomateriais, os materiais inteligentes e os materiais "nano-engenheirados" (CALLISTER;

RETHWISCH, 2012).

2.3 SÓLIDOS AMORFOS

Enquanto os cristais caracterizam-se pela repetição espacial - tridimensional - dos

átomos ou moléculas que os constituem, as formas amorfas apresentam átomos ou moléculas

distribuídas aleatoriamente tal como em um líquido (ARAÚJO, et al., 2012). Sólidos não-

cristalinos carecem de um arranjo atômico regular e sistemático ao longo das distâncias

atômicas e relativamente grandes. Algumas vezes esses materiais também são chamados de

amorfos (significando, literalmente, "sem forma"), ou de líquidos super-resfriados, visto que

suas estruturas atômicas lembram as de um líquido.

O fato do sólido que se forma ser cristalino ou amorfo depende da facilidade pela qual

uma estrutura atômica aleatória no estado líquido pode se transformar em um estado ordenado

durante a solidificação. Portanto, os materiais amorfos são caracterizados por estruturas

atômicas ou moleculares relativamente complexas. Os metais formam normalmente sólidos

cristalinos, mas alguns materiais cerâmicos são cristalinos enquanto outros, os vidros

inorgânicos, são amorfos (CALLISTER; RETHWISCH, 2012). Já os polímeros podem ser

semi-cristalinos ou baixo grau de cristalinidade, praticamente amorfos.

2.3.1 Óxido de Gálio Amorfo

O óxido de gálio é um material inorgânico que apresenta cinco polimorfos (α, β, γ, δ e

ε). A fase termodinamicamente mais estável é a fase β-Ga2O3. As outras fases apresentam

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estado meta-estável em condições ambientes e transformam-se em β-Ga2O3 a temperaturas

acima de 600 °C (KUMAR et al., 2014). O β-Ga2O3 apresenta estrutura cristalina monoclínica

(GELLER, 1960) (Figura 1).

Figura 1: Estrutura do óxido de gálio cristalino, fase beta, (β-Ga2O3), estrutura do tipo

monoclínica. As esferas marrons e vermelhas representam os átomos de gálio e oxigênio,

respectivamente.

Fonte: Yinnu and Jinliang, 2015.

Os óxidos amorfos são materiais que apresentam composições indefinidas ou não

estequiométricas, e, por isso, são representados por AxOy, no qual “A” é um átomo de um

cátion metálico e “O” representa o ânion oxigênio. As icógnitas x e y são valores

desconhecidos que representam a quantidade dos respectivos átomos para formação do

material. A identificação de óxido de gálio amorfo se dá, principalmente, através da análise de

Difração de Raios X, que apresentam bandas largas (característicos de material amorfo) ao

invés de picos finos (característicos de material cristalino). Os óxidos amorfos podem ser

considerados mais lábeis em relação aos óxidos cristalinos, com isso podem ser utilizados em

fármacos com a intenção de aumentar a velocidade de entrega do medicamento e acelerar o

processo de cura de doenças (OLIVEIRA, 2016).

O gálio é um metal do grupo III A, número atómico 31 da tabela periódica.

Descoberto pela primeira vez em 1875 por Paul-Émile Lecoq de Boisbaudran na França, o

nome deste metal parece ser derivado de "Gallia", a palavra latina para a França. Ele tem uma

cor brilhante, branco-prateado com uma temperatura de fusão de 28,7 °C; é um dos poucos

metais que é quase líquido à temperatura ambiente e pode derreter quando segurado na mão.

Apesar do gálio não ter função fisiológica no corpo humano, algumas das suas características

lhes permitem interagir com processos celulares e proteínas biologicamente importantes,

especialmente aquelas do metabolismo do ferro. Isso levou ao desenvolvimento de certos

compostos de gálio como agentes de diagnóstico e terapêutica em medicina, especialmente,

nas áreas de doenças ósseas metabólicas, câncer e doenças infecciosas (MELNIKOV et al.,

2008).

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.

O gálio é um elemento de traço metálico que é quase líquido à temperatura ambiente,

expande-se em estado sólido, e é encontrado como elemento traço no carvão, bauxita e outros

minerais. É usado em tecnologia de semicondutores e como componente de várias ligas de

baixo ponto de fusão. Principalmente trivalente em seus compostos, o íon Ga3+

é um ácido

forte, assim, liga-se fortemente às bases de Lewis fortes, particularmente a hidroxila OH–. O

cátion [Ga(H2O)6]3+

pode atuar como doador de próton, dando [Ga(H2O)5(OH)]2+

,

[Ga(H2O)4(OH)]+, etc. Com o aumento gradual do pH (potencial hidrogeniônico), esta

desprotonação das espécies mononucleares leva à precipitação do hidróxido e maior aumento

do pH permitindo a formação de [Ga(OH)4]–. Assim, há dois íons contendo gálio, adequados

para os processos bioquímicos metabólicos: [Ga(H2O)5(OH)]2+

no meio ácido fraco e

[Ga(OH)4]– em soluções alcalinas de neutro a fraca. O primeiro pode ser encontrado e

provavelmente absorvido no estômago, enquanto que o último é absorvido no duodeno devido

ao bicarbonato presente. O raio iônico do Ga (III) em coordenação tetraédrica é 61 picômetros

(pm) e 76 pm em coordenação octaédrica, então é esperado ser um análogo do Fe (III) (69.0

pm) e Al (III) (67.5 pm), particularmente em combinação com fósforo. A afinidade do gálio

para esse elemento é tão alta que fosfatos de gálio estão entre os mais estáveis compostos

(MELNIKOV et al., 2008).

Segundo ainda Melnikov et al. (2008), o principal interesse clínico deriva da

observação que propriedades metabólicas do gálio são similares aquelas do ferro. Junto com

raios iônicos comparáveis, ambos os elementos mostram quase a mesma capacidade de

ligação com quelato e proteína. Os mais importantes carreadores do ferro, transferrina e

lactoferrina, não distinguem gálio do ferro, portanto, todo gálio no sangue está presente no

plasma na forma de complexos com estas proteínas.

De acordo com Bernstein (1998), o gálio (III) partilha certas propriedades com ferro

(III) com respeito ao seu raio iônico. O raio iônico octaédrico é 0,620 Angstrom (Å) para Ga3+

e 0,645 Å em alta rotação para o Fe3+

, respectivamente; enquanto o raio iônico tetraédrico é

0,47 Å para Ga3+

e 0,49 Å para Fe3+

, respectivamente.

Até agora, o gálio foi adicionado a um material bioativo somente na forma iônica, por

exemplo, em vidro bioativo (VALAPPIL, 2009; POURSHAHRESTANI et al., 2016) ou em

fosfatos de cálcio (MELLIER et al., 2011; MELLIER et al., 2015). No entanto, Kurtjak et al.

(2016) encontraram na literatura sobre o desenvolvimento de um compósito de nanopartículas

(Nps) de Ga com um biomaterial.

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2.4 USO DA NANOTECNOLOGIA - PROPRIEDADE ANTIBACTERIANA

A nanotecnologia é a ciência que compreende o desenvolvimento tecnológico dentro

da escala nanométrica (entre 1 a 100 nm - nanômetro), aplicadas em várias áreas do

conhecimento humano. Nanopartículas possuem características físico-químicas únicas, tais

como alta proporção de área de superfície para massa e alta reatividade, o que muitas vezes

proporciona efeitos maiores e mais duradouros. Nanopartículas têm sido bem sucedidas em

seu uso na área médica e farmacêutica, como carreadoras de agentes terapêuticos e no

diagnóstico de doenças crônicas (MARTINEZ-GUTIERREZ et al., 2010).

Durante os últimos anos, a nanotecnologia tem produzido uma nova rota para

aplicação antimicrobiana de metais nanoestruturados ativos (GRASS; RENSING; SOLIOZ,

2011). Nanopartículas de metais biocidas podem ser imobilizadas ou revestidas sobre

superfícies para aplicação em vários campos, tais como instrumentos e dispositivos médicos,

tratamento de água e processamento de alimentos, entre outros (RUPARELIA;

CHATTERJEE; DUTTAGUPTA; MUKHERJI, 2008).

As nanopartículas podem dissolver-se mais rapidamente num dado volume de solução

em comparação com partículas maiores, liberando assim uma maior quantidade de íons

metálicos (KARLSSON et al., 2013). Portanto, com base na presença de íons metálicos, as

nanopartículas devem apresentar propriedades antimicrobianas mais fortes do que

micropartículas ou superfícies metálicas. O melhor exemplo de mecanismo, tóxico por

partículas de nano-escala, relaciona-se com a incorporação direta de nanopartículas na célula,

via mecanismos endocitóticos. Posteriormente, a captação celular de íons aumenta à medida

que as espécies iónicas são subsequentemente libertadas dentro das células por dissolução de

nanopartículas, um processo muitas vezes referido como "o mecanismo de cavalo de Tróia".

Esta concentração intracelular elevada, obtida após a dissolução de nanopartículas dentro da

célula, provavelmente, resulta em estresse oxidativo maciço. Um resumo dos possíveis

mecanismos associados ao comportamento antimicrobiano das nanopartículas de metais é

apresentado na Figura 2.

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Figura 2: (1) "efeito Cavalo de Tróia" devido a processos de endocitose; (2) anexo à

superfície da membrana; (3) formação de radicais livres; e (4) libertação de íons metálicos.

Fonte: Humberto Palza, 2015.

Uma característica importante dos metais é a sua capacidade de participar de reações

redox que determinam a tendência de adquirir elétrons de um doador (LEMIRE; HARRISON;

TURNER, 2013). Os metais essenciais redox ativos podem atuar como cofatores catalíticos

numa vasta gama de enzimas celulares que geram ou catalisam espécies reativas de oxigênio

(ROS). Essas espécies podem induzir um estresse oxidativo, se excederem a capacidade

antioxidante celular, danificando proteínas celulares, lípidos e DNA (SHLEEVA et al., 2005;

PRABHU; POULOSE, 2012). Além destes efeitos, um nível crescente de ROS desencadeia

ainda processos inflamatórios no interior celular capaz de induzir a sua morte programada

(SINTUBIN et al., 2009). Portanto, a toxicidade com o processo de respiração aeróbia produz

formas parcialmente reduzidas de oxigênio molecular (O2), tais como peróxido de hidrogénio

(H2O2) e superóxido (O2•-). Com a presença de alguns metais, a reação de Fenton, citada a

seguir, ocorre intensificando a toxicidade do oxigênio, catalisando a transferência de elétrons

a partir de uma biomolécula doadora para H2O2, produzindo hidróxido (OH) e radical

hidroxila (OH-) altamente reativa. A maioria dos mecanismos que explicam a atividade

biocida dos metais se baseia na presença de ROS.

Fe2+

+ H2O2 → Fe3+

+ OH− + OH

• (reação de Fenton)

A presença de metais externos pode, portanto, aumentar a reação previamente citada,

produzindo um excesso de derivados de ROS e, como consequência, um estresse oxidativo na

célula.

3

4

2

1

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A atividade antimicrobiana da prata foi primariamente identificada no século 19, e a

prata coloidal foi aceita em 1920 pela US Food and Drug Administration (FDA) como sendo

efetiva na manutenção de feridas. Entretanto, após a introdução da penicilina em 1940, os

antibióticos se tornaram o tratamento padrão para infecções bacterianas e a prata praticamente

caiu em desuso. Seu retorno, em 1960, como agente terapêutico no tratamento de feridas em

pacientes queimados, foi consagrado, desta vez, na forma de solução de nitrato de prata a

0,5% (CHOPRA, 2007).

A prata é conhecida, há muito tempo, por exibir forte toxicidade a grande número de

espécies de microrganismos e, por tal razão, compostos à base de prata têm sido amplamente

utilizados com aplicação bactericida. É positiva a referência de alguns exemplos de

compostos inorgânicos com lenta liberação de percentuais de prata correntemente usados

como conservantes de uma série de produtos, outra aplicação inclui novos feitos de

microesferas de sílica gel que contêm complexo de prata tiossulfato misturado a plástico

como proteção antibacteriana de longa duração; compostos de prata são também usados no

campo médico para tratamento de feridas e uma variedade de infecções (MORONES JR. et

al., 2007).

O desenvolvimento de novas espécies bacterianas resistentes às medicações de uso

corrente tem trazido sérios problemas em saúde pública, todavia, isto é um forte incentivo

para o desenvolvimento de novos bactericidas. Recentes pesquisas com nanomateriais

bactericidas apresentam-se particularmente oportunas.

Em comparação a outros íons de metais pesados, a prata é provavelmente a mais

utilizável por combinar alta atividade antimicrobiana com considerável baixa toxidade

humana (SCHIERHOLZ et al., 1998).

As inovações proporcionadas pela redução do tamanho de partículas tornam o estudo

de materiais nanométricos de enorme importância. Entre essas propriedades, a ação

antimicrobiana de nanopartículas de óxido de zinco (NPs-ZnO) vem se destacando.

Nanometais antibacterianos (como Ag, Cu / CuO, ZnO) são conhecidos por uma dupla

ação antimicrobiana e os íons liberados (SIRELKHATIM et al., 2015; DIZAJ et al., 2014).

Esta dupla ação esperada de NPs (nanopartículas) de Ga, também como potencial redox

negativo de gálio (GREENWOOD; EARNSHAW, 1997) deverá permitir a libertação de íons

Ga3+

antibacterianos. Seguindo a idéia de "nanobiotics" (HUH; KWON, 2011), a utilização de

nanopartículas de gálio em vez de íons pode levar a uma avançada, controlada, prolongada

ação antibacteriana local.

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2.4.1 Gálio: ação antibacteriana

O gálio no estado iónico (3+) tem encontrado muitas aplicações na medicina:

diagnóstico de tumores, tratamento da hipercalcemia, inibição da reabsorção óssea,

propriedade anticarcinogênica e agente antimicrobiano (BERNSTEIN, 1998; CHITAMBAR,

2010). Entre os outros mecanismos, a ação antibacteriana de íons de gálio é geralmente

explicada pela semelhança entre os íons Ga (III) e Fe (III). Assim, foi observado o maior

efeito em bactérias ferro-dependentes, como Pseudomonas aeruginosa, que podem causar

infecções protéticas articulares agudas e criar biofilmes em biomateriais.

Em geral, pode-se dizer que o amplo espectro de ação farmacológica do gálio se deve

à capacidade de Ga3+

em mimetizar Fe3+

, principalmente pelo fato de que a razão carga/raio

dos dois íons é quase idêntica. Assim, muitos sistemas biológicos são incapazes de distinguir

entre Fe3+

e Ga3+

. Ga3+

apresenta a habilidade de perturbar processos biológicos dependentes

de Fe3+

, porque, ao contrário de Fe3+

, Ga3+

não sofre redução em condições fisiológicas, o que

o impede de participar de processos cruciais dependentes de ferro. O íon Fe3+

é essencial para

o crescimento da maioria dos micro-organismos, uma vez que é necessário em vários

caminhos metabólicos e na síntese do ADN (Ácido Desoxirribonucleico). Ga3+

se liga a sítios

de Fe3+

da transferrina, é adquirido a partir da transferrina por certas bactérias, e é

incorporado por fagócitos mononucleares em sítios de inflamação (KANEKO et al., 2007). .

O íon ferro (Fe3+

) é crucial para a sobrevivência e replicação da maioria dos

patógenos, proporcionando, desse modo, um alvo potencial para as estratégias preventivas e

terapêuticas. A capacidade do gálio para inibir o crescimento de bactérias intracelulares, por

interferir com o metabolismo do ferro, foi estabelecida, in vitro, por incorporação de nitrato

de gálio em meios de cultura com Mycobacterium spp. (OLAKANMI et al., 2000).

Uma abordagem alternativa usa o metal de transição Ga como um "cavalo de Tróia"

para interromper o metabolismo de Ferro bacteriano. (CHITAMBAR; NARASIMHAN et al.,

1991). Ga podem interromper processos Fe-dependentes porque, ao contrário do Fe3+

; Ga3+

não pode ser reduzida; e oxidação sequencial e redução são fundamentais para muitas das

funções biológicas do Ferro.

Gálio inibe a síntese do ADN e provoca modificação em sua estrutura tridimensional,

exerce efeito modulador na síntese de proteínas e inibe a atividade de enzimas tais como DNA

polimerases e ribonucleotídeo redutase. Gálio altera a permeabilidade da membrana e funções

mitocondriais. Foi demonstrada que a atividade antiproliferativa do gálio ocorre

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principalmente através da inibição da ribonucleosídeo difosfato redutase (RDR), uma enzima

que está envolvida na catálise da conversão de ribonucleotídeos em desoxirribonucleotídeos

durante a síntese do ADN. A enzima contém, em sua estrutura, duas sub-unidades, R1 e R2.

Na sub-unidade R1, encontram-se os sítios de ligação com o substrato e em R2 há dois íons

Fe3+

ligados entre si por uma ponte de oxigênio e um radical livre tirosila, todos essenciais à

atividade da enzima. Ga3+

bloqueia a ação enzimática substituindo Fe3+

na estrutura da RDR e

provocando, assim, uma mudança de conformação (CHITAMBAR; NARASIMHAN et al.,

1991).

Gálio trivalente também é conhecido por ter propriedades antimicrobianas para

bactérias dependentes de ferro. Mais recentemente, Harrington, Jr. et al. (2006) relataram que

o gálio (III) mata Rhodococcus equi, uma bactéria intracelular, que provoca a pneumonia em

potros. A extensa revisão de Bernstein (1998) mostrou que o gálio foi eficaz no tratamento da

sífilis experimental em coelhos, matou Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium avium e

foi eficaz contra parasitas da malária. Esse autor sugeriu que é provável que a atividade deriva

da capacidade do gálio em entrar nos micróbios através dos seus mecanismos de transporte de

ferro, por interromper o seu metabolismo do ferro e por interferir com a síntese de proteína. A

capacidade da transferrina ligada a gálio para entrar nas células infectadas através do receptor

da transferrina pode ser uma vantagem no tratamento de algumas infecções intracelulares.

Outras infecções bacterianas são tratáveis com nitrato de gálio. Eby Ga (2005) relatou que

uma única aplicação tópica de uma solução de nitrato de gálio foi imediatamente eficaz para

tratamento de acne, furúnculos, carbúnculo e foliculite e outras infecções bacterianas da pele.

O autor também reportou que uma solução salina ocular isotônica de nitrato de gálio a 1%,

sendo utilizada durante algumas horas todos os dias, exterminou durante a noite duas

infecções bacterianas oculares resistentes a tratamento em humanos. Kaneko et al. (2007)

descobriram que o gálio inibe o crescimento de Pseudomonas aeruginosa e a formação de

biofilme, além de matar as bactérias planctônicas e biofilmes in vitro. Os efeitos

antibacterianos do gálio não têm sido explorados sistematicamente ainda, mas eles parecem

amplos, seguros e úteis.

A importância do gálio (III) como agente anti-infecção se dá na sua similaridade com

o Fe (III), sendo que este último, por sua vez, é um importante elemento químico para a

metabolização das células dos patógenos (LESSA et al., 2012; MELNIKOV et al., 2008). O

Ga (III) pode substituir o Fe (III) em enzimas que contém ferro, porém o gálio, diferentemente

do ferro, não sofre os ciclos redox necessários para a metabolização da célula, o que dificulta

sua atividade celular.

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Levando em consideração que muitas enzimas que apresentam ferro em sua

composição estão envolvidas no metabolismo microbiano de patógenos, o gálio pode atuar

como agente deletério nesses organismos, agindo como inibidor ou destruidor dessas células a

partir da inserção do gálio na composição dessas redes proteicas.

Sabe-se também que o gálio se concentra em focos de inflamação e infecção,

particularmente em leucócitos polimorfonucleares (MELNIKOV et al., 2008). O complexo de

ferro gálio-transferrina é internalizado por receptor-mediador da endocitose (MELNIKOV et

al., 2008). A membrana plasmática oxidoredutase reduz a transferrina ao redor do ferro do

estado para Fe²+, facilitando a remoção do ferro da proteína. Como o gálio não existe na

valência 2+, ele não pode seguir a trilha do ferro mais além na célula. A única explicação

sugerida é a formação do íon pentaaquahidroxigálio [Ga(H2O)5(OH)]2+

que formalmente tem

a mesma carga 2+ como ferro bivalente, leucócitos polimorfonucleares, assim, seriam aptos

para imitar a maneira de condução do íon Fe²+ (MELNIKOV et al., 2008).

Os mais importantes transportadores de ferro, a transferrina e a lactoferrina, não

conseguem distinguir o gálio do ferro; todo gálio no sangue está presente no plasma na forma

de complexos com essas proteínas. Sob circunstâncias normais, mais ou menos um terço de

transferrina é preenchido por ferro (III) e grande número de sítios não ocupados estão

disponíveis para gálio (III); eles alcançam 2.7 mg/ml Ga²+,

que é um valor considerável de

acordo com Brittenham (1991).

Uma vez dentro do citoplasma celular, o gálio parece estar ligado pelas ferritinas,

grandes proteínas que apresenta uma variação específica em respeito aos tecidos, dependendo

da combinação de suas subunidades. A maior parte da ferritina está concentrada nas células de

Kupfer no fígado. Os agregados das moléculas de ferritina com o tempo formam clusters, os

quais são degradados após terem sido fagocitados pelos lisossomos. O produto final deste

processo, a hemosiderina, é um aglomerado amorfo de proteína desnaturada e lipídeos com

intercalações do hidróxido de gálio e seus polímeros. Pouco é conhecido como o gálio é

liberado da ferritina para ser usado. Em todo caso, elemento metabolicamente inativo

armazenado em ferritina e hemosiderina está em equilíbrio com o gálio intercambiável,

circulando no plasma e ligado a moléculas carreadoras de baixo peso molecular (MELNIKOV

et al., 2008).

A capacidade do gálio para interferir com a utilização de ferro por certos micro-

organismos levou algumas investigações interessantes dirigidas a explorar o potencial de gálio

como uma droga antimicrobiana. Nitrato de gálio e transferrina-gálio foram mostrados para

bloquear o crescimento dependente de ferro de Mycobacterium tuberculosis e M. avium, no

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complexo extracelular, bem como no interior de macrófagos humanos. O gálio interfere na

aquisição de ferro pelo M. tuberculosis dentro do fagossoma dos macrófagos, resultando

numa ação bactericida e que poderia ser impedida por excesso de ferro (OLAKANMI, O. et

al., 2000).

Tem sido previamente demonstrado que íons de gálio apresentam propriedades

antibacterianas e antibiofilme. Rzhepishevska et al. (2011) noticiaram as atividades

bactericidas diferenciais de dois complexos de gálio, gálio desferrioxamina B (Ga-DFOB) e

citrato de gálio (Ga-Cit). Várias linhagens de células humanas testadas; e nenhuma atividade

pró-inflamatória foi detectada nas células epiteliais do pulmão humano após a exposição in

vitro. Análise metabolômica foi utilizada para delinear os efeitos de Ga-Cit na célula

bacteriana. A exposição a gálio resultou em baixas concentrações de glutamato, um

metabólito essencial para P. aeruginosa e de muitos aminoácidos, indicando que Ga afeta

várias vias de biossíntese. Foi demonstrado o efeito antibacteriano do Ga pode variar

dependendo da fonte de carbono, que possui importância no contexto de aplicações médicas

de gálio.

Segundo Harrison et al. (2008); Jonsson et al. (2005), apud Rzhepishevska et al.

(2011), resistência de bactérias patogênicas aos antibióticos é um problema a nível mundial, e,

por conseguinte, o desenvolvimento de drogas antibacterianas alternativas é de grande

relevância. Ao contrário de antibióticos clássicos, que têm como alvo uma reação ou processo

específico, metais e compostos organometálicos, muitas vezes afetam vários grupos diferentes

de biomoléculas, e, por conseguinte, o desenvolvimento de resistência é improvável, o que

torna estes compostos atrativos como agentes antibacterianos.

De acordo ainda com Rzhepishevska et al. (2011), o gálio foi identificado como uma

droga de potencial antibacteriano tanto para gram-positivas e gram-negativas.

Tem sido demonstrado que Ga e outro mimético de Fe, Al, têm toxicidade grave para

Pseudomonas fluorescens, impedindo a funcionalidade da cadeia de transporte de elétrons e

enzimas contendo aglomerados de Fe-S (RZHEPISHEVSKA et al., 2011). Elucidação dos

efeitos metabólicos do Ga em patógenos é uma chave para a compreensão da toxicidade

diferencial de Ga para uma variedade de espécies de bactérias. Tal entendimento pode

permitir o uso mais eficiente de Ga no tratamento de doenças infecciosas.

Segundo Kaneko et al. (2007), casos de infecção hospitalar têm sido relacionados à

presença de bactérias da espécie Pseudomonas aeruginosa. A resistência bacteriana aos

antimicrobianos tem levado à procura por novos fármacos. Nitrato de gálio é usado na clínica

para tratamento de hipercalcemia e, estudos in vitro com este sal demonstram sua atividade

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antibacteriana e contra a formação de biofilme em P. aeruginosa. Ga3+

interfere com o

metabolismo de Fe3+

da bactéria.

Com base nos últimos estudos, Kurtjak et al. (2016) estão interessados na introdução

de nano-gálio como um novo componente antibacteriano a um material bioativo, isto é, a

hidroxiapatita (HAp), que é amplamente utilizada no implante ósseo/ dentário e engenharia de

tecido (DOROZHKIN, 2012; WANG et al., 2014). Isto iria resultar num compósito que

poderia prevenir a infecção e permitir a cicatrização de feridas, crescimento de tecidos e

reparação em torno dele.

Os resultados apresentados a partir do teste qualitativo realizado na pesquisa de

Oliveira (2016) comprovaram a ação antimicrobiana do elemento químico gálio a partir da

utilização do pó de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy) e utilização de solução do óxido de gálio

amorfo (processo conhecido por difusão em disco). A ação antimicrobiana do a-GaxOy em pó

e em solução, frente às Pseudomonas aeuruginosa e Staphylococus aureus, foi identificada a

partir da formação de halos de inibição bacteriana. Esses resultados comprovam as

informações reportadas na literatura a respeito da ação anti-infecção e anti-inflamação deste

elemento químico, tornando-o um elemento promissor para aplicações em fármacos,

cosméticos, e outros.

2.5 PIRÓLISE

A pirólise é um processo de conversão térmica que implica na ruptura de ligações

carbono-carbono e na formação de ligações carbono-oxigênio (ROCHA et al., 2004).

A microestrutura do material é desenvolvida durante a etapa de pirólise, portanto,

deve-se ter acesso às faixas de temperatura nas quais ocorrem evaporação do solvente,

pirólise dos precursores e avaliar sua volatilidade, além de verificar a influência da velocidade

de aquecimento no processo de decomposição térmica (ALVES et al., 2001).

Em sentido estrito, pirólise é uma reação de análise ou decomposição que ocorre pela

ação de altas temperaturas. Ocorre uma ruptura da estrutura molecular original de um

determinado composto pela ação do calor em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio.

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2.6 SISTEMA CVD (CHEMICAL VAPOR DEPOSITION)

Este método, que consiste na deposição química a partir da fase vapor, realiza-se pela

reação de compostos metálicos sobre um substrato aquecido (CHOPRA, 1983;

MANIFACIER, 1982; VOSSEN, 1977). Baseia-se essencialmente em crescer o filme por

meio de algum tipo de reação química que toma lugar na fase vapor, na superfície do

substrato.

As técnicas baseadas em CVD, sem dúvida, alcançaram grande sucesso devido ao

êxito de sua aplicação na obtenção de filmes semicondutores, constituindo-se atualmente na

mais importante técnica utilizada na indústria de microeletrônica. Além disso, o

desenvolvimento de novos tipos de precursores e a modelagem computacional contribuiu

decisivamente para este crescimento.

Todavia, no caso da obtenção de sistemas óxidos contendo mais de um metal, o

sistema CVD mostra-se sensível às diferenças de volatilidade dos diferentes precursores, o

que dificulta a obtenção de materiais constituídos de uma única fase (ALVES et al., 2002).

Na deposição de materiais pelo processo CVD, ocorrem numerosos e complexos

processos químicos. A cinética das reações envolve as fases condensadas e gasosas das

substâncias do processo (GONÇALVES, 2002)

De um sistema CVD para deposição de materiais, devem fazer parte os equipamentos

necessários para executar as seguintes funções: a - transportar e medir os gases diluentes e

reagentes que entram no reator; b - aquecer e controlar a temperatura da região da reação onde

se encontra o substrato; c - remover os produtos da reação que saem do reator, comumente

tóxicos, tratando-os adequadamente.

O sistema CVD utilizado para oxidação das amostras do pó de a-GaxOy, utilizadas

nesta pesquisa e que foram obtidas por pirólise em combustão espontânea, em ambiente

aberto, está disponível no laboratório de preparação de materiais, localizado no Departamento

de Física (DF) da UFPE (Figuras 3 e 4).

O forno de oxidação é constituído por um cilindro cerâmico horizontal com dois

orifícios nas duas extremidades laterais, onde são inseridas as amostras a serem oxidadas. As

amostras são inseridas num tubo de quartzo que é acoplado de um orifício ao outro. Em um

dos orifícios, tem-se uma mangueira que leva o fluxo de oxigênio do cilindro do gás até o

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forno. A outra extremidade permanece aberta para saída do fluxo e retirada do material após

oxidação (OLIVEIRA, 2016), semelhante desenho esquemático da Figura 5.

Figura 3: Forno de oxidação do Sistema CVD, Chemical Vapor Deposition, (vista frontal),

localizado na Universidade Federal de Pernambuco (Departamento de Física).

Fonte: Este trabalho.

Figura 4: Forno de oxidação do Sistema CVD, Chemical Vapor Deposition, (vista lateral).

Fonte: Este trabalho.

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Figura 5: Desenho esquemático do forno de Oxidação do Sistema CVD, Chemical Vapor

Deposition, e o fluxo de oxigênio do cilindro do gás até o forno.

Fonte: Este trabalho.

2.7 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO

As técnicas de caracterização possibilitaram o entendimento dos efeitos dos

tratamentos pelos quais as amostras do pó de óxido de gálio amorfo foram submetidas antes e

após os processos de oxidação.

A “caracterização do material” é uma área da ciência responsável por prever o

comportamento ou elucidar fenômenos físicos, químicos ou biológicos característicos de cada

material, seja de natureza orgânica ou inorgânica (QUEIROZ et al., 2012).

A caracterização de materiais utiliza de técnicas instrumentais de análise visando à

compreensão de diferentes aspectos relacionados à composição (massa molecular, número de

oxidação, etc.) e estrutura (ligações químicas, fase cristalina, etc.) de materiais que estão

diretamente ligadas às propriedades químicas e físicas dos mesmos, sendo que, as

propriedades físicas e químicas estão vinculadas a propriedades mecânicas, ópticas,

catalíticas, entre outras. Desta forma, a caracterização auxilia a determinação da possível

aplicabilidade dos compostos estudados (ZARBIN, 2007).

Os instrumentos de análise química convertem informações sobre características

químicas e/ou físicas em informações que possam ser manipuladas e interpretadas. Os

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princípios de funcionamento destes instrumentos são baseados em estimular a amostra, por

diferentes meios, como incidência de energia eletromagnética, calor, entre outras, de forma a

produzir uma resposta do sistema em estudo, e que corresponde a fenômenos, cuja natureza e

magnitudes são regidas pelas leis fundamentais da química e da física. Atualmente, existem

variados instrumentos capazes de fornecer informações qualitativas e quantitativas sobre a

composição e estrutura da matéria, sendo essencial a familiarização e compreensão dos

princípios fundamentais de operação da instrumentação analítica moderna de modo a realizar

escolhas apropriadas e empregar de forma eficiente essas ferramentas de análise (SKOOG et

al., 2009).

2.7.1 Difração de Raios X (DRX)

A difração de Raios X tem por finalidade detectar, em forma qualitativa, os

componentes químicos contidos em uma determinada amostra, e tem sido utilizada em

diversos estudos com esta finalidade (CAMILLERI et al., 2005; PARK et al., 2010).

Dentre as várias técnicas de caracterização de materiais, a técnica de difração de Raios

X é a mais indicada na determinação das fases cristalinas presentes em materiais cerâmicos.

Isto é possível, porque na maior parte dos sólidos (cristais), os átomos se ordenam em planos

cristalinos separados entre si por distâncias da mesma ordem de grandeza dos comprimentos

de onda dos Raios X.

Dentre as vantagens da técnica de difração de Raios X para a caracterização de fases,

destacam-se a simplicidade e rapidez do método, a confiabilidade dos resultados alcançados,

pois o perfil de difração obtido é característico para cada fase cristalina, a possibilidade de

análise de materiais compostos por uma mistura de fases e uma análise quantitativa destas

fases (ALBERS et al., 2002).

A difração de Raios X fornece informações sobre o arranjo estrutural dos átomos que

constituem um sólido, indicando, a princípio, se a amostra possui características de um sólido

cristalino ou amorfo a partir da presença ou ausência de picos no difratograma. Sólidos

cristalinos apresentam picos relativos ao espaçamento interplanar, sendo possível determinar a

distância interplanar, enquanto sólidos amorfos não apresentam tais picos, devido à ausência

de planos característicos, ocasionada pela desordem estrutural dos mesmos. Porém, não é

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possível identificar diretamente qual plano é responsável pela difração em um sólido

cristalino. A identificação dos planos é feita, quando possível, por meio da correlação

empírica dos difratogramas obtidos com outros difratogramas contidos em um banco de

dados, com auxilio de um software específico. Entretanto, se a amostra contém diferentes

componentes cristalinos, a identificação torna-se complexa (SKOOG et al., 2009; SMART;

MOORE, 2005)

A difração é uma diferença de fase entre as ondas eletromagnéticas, as quais são

causadas por interferências. Para observar uma interferência em ondas de luz visível, é preciso

passar dois ou mais feixes através de fendas bem próximas umas das outras, para que a

interferência apareça. Neste sentido, a distância entre essas fendas não pode ser muito maior

que o comprimento de onda da luz. Visto que os cristais possuem planos bem regulares e bem

próximos uns dos outros, permitem a possível difração de um feixe de Raios X. Ao incidir um

feixe de Raios X em um cristal, o mesmo interage com os átomos presentes, originando o

fenômeno de difração. A difração de Raios X ocorre segundo a Lei de Bragg (N l= 2d sem q),

onde n representa número inteiro, l comprimento de onda dos Raios X incidentes, d distância

interplanar, q ângulo de difração; a qual estabelece a relação entre o ângulo de difração e a

distância entre os planos que a originaram (característicos para cada fase cristalina). Desta

forma, sempre que a diferença de fase entre duas ondas for zero, seus comprimentos se

interferem construtivamente e suas amplitudes se somam. Mas se a diferença de fase for de

meio comprimento de onda, elas interferem destrutivamente e suas amplitudes se subtraem

(os raios se anularão). Portanto, a difração acontece quando se tem uma interferência

construtiva. A maioria dos compostos cristalinos apresenta um pouco de fase amorfa, isso

significa que não houve tempo de cristalizar os átomos ou moléculas em arranjos ordenados

no espaço (estes arranjos são interpretados como picos característicos para cada composto),

então uma parte fica com as moléculas ou átomos sem entrar nestes arranjos, por isso, o sinal

na difração é tipo uma montanha ou um ruído mais forte expressados no difratograma

(GARCIA et al., 2011).

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2.7.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) (Scanning Electron Microscopy – SEM)

A principal função de qualquer microscópio é tornar visível ao olho humano o que for

muito pequeno para tal. A máxima resolução dos microscópios ópticos fica limitada a um

aumento máximo de 2000 vezes, porque acima deste valor, detalhes menores são

imperceptíveis. Um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) utiliza um feixe de elétrons

no lugar de fótons utilizados em um Microscópio Óptico, o que permite solucionar o

problema de resolução relacionado com a fonte de luz branca. O MEV é um aparelho que

pode fornecer rapidamente informações sobre a morfologia de uma amostra sólida (PEREIRA

et al., 2013).

O MEV é um dos mais versáteis instrumentos disponíveis para a observação e análise

de características microestruturais de objetos sólidos. A principal razão de sua utilidade é a

alta resolução que pode ser obtida quando as amostras são observadas; valores da ordem de 2

a 5 nanômetros são geralmente utilizados (NAGATANI et al., 1987, apud DEDAVID et al.,

2007).

Outra característica importante é a aparência tridimensional da imagem das amostras,

resultado direto da grande profundidade de campo. Permite, também, o exame em pequenos

aumentos e com grande profundidade de foco, o que é extremamente útil, pois a imagem

eletrônica complementa a informação dada pela imagem óptica.

Essa técnica é utilizada para obtenção de imagens tanto de superfícies polidas, como

rugosas, com grande profundidade de campos e alta resolução (MANNHEIMER, 1992).

O princípio de um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) consiste em utilizar

um feixe de elétrons de pequeno diâmetro para explorar a superfície da amostra, ponto a

ponto, por linhas sucessivas e transmitir o sinal do detector a uma tela catódica, cuja varredura

está perfeitamente sincronizada com aquela do feixe incidente. Por um sistema de bobinas de

deflexão, o feixe pode ser guiado de modo a varrer a superfície da amostra, segundo uma

malha retangular. O sinal de imagem resulta da interação do feixe incidente com a superfície

da amostra. O sinal recolhido pelo detector é utilizado para modular o brilho do monitor,

permitindo a observação. A maioria dos instrumentos usa como fonte de elétrons um

filamento de tungstênio (W) aquecido, operando numa faixa de tensões de aceleração de 1 a

50 quilovolts (kV). O feixe é acelerado pela alta tensão criada entre o filamento e o ânodo. Ele

é, em seguida, focalizado sobre a amostra por uma série de três lentes eletromagnéticas com

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um spot menor que 4 nm. O feixe interagindo com a amostra produz elétrons e fótons que

podem ser coletadas por detectores adequados e convertidas em um sinal de vídeo.

Para serem detectadas, as partículas e/ou os raios eletromagnéticos, resultantes da

interação do feixe eletrônico com a amostra, devem retornar à superfície da amostra e daí

atingirem o detector. A profundidade máxima de detecção, portanto, a resolução espacial,

depende da energia com que essas partículas ou raios atingem o detector, ou são capturadas

pelo mesmo. Por exemplo, elétrons retroespalhados possuem maior energia do que os elétrons

secundários, assim, o detector de elétrons retroespalhados irá operar na faixa de energia maior

e o de elétrons secundários na faixa menor. A imagem formada a partir do sinal captado na

varredura eletrônica de uma superfície pode apresentar diferentes características, uma vez que

a imagem resulta da amplificação de um sinal obtido de uma interação entre o feixe eletrônico

e o material da amostra. Diferentes sinais podem ser emitidos pela amostra. Dentre os sinais

emitidos, os mais utilizados para obtenção da imagem são originários dos elétrons

secundários e/ou dos elétrons retroespalhados. (DEDAVID et al., 2007).

Preparação de amostra. As amostras precisam ser resistentes ao vácuo. Amostras

condutoras não exigem nenhuma preparação especial. Todavia, amostras isolantes devem ser

cobertos com uma camada de material condutivo, exceto quando observados com ambiente de

vácuo variável. Uma cobertura ultrafina de material eletricamente condutiva é depositada

tanto por evaporação de alto vácuo quanto por sputter de baixo vácuo na amostra. Isto é feito

para prevenir a acumulação de campos elétricos estáticos na espécime, devido à irradiação

elétrica durante a produção da imagem. Tais coberturas incluem ouro, ouro/paládio, platina,

tungstênio, grafite, etc. Outra razão para a metalização, mesmo quando há condução mais do

que suficiente, é para melhorar o contraste, esta situação é mais comum na operação de

Microscópios Eletrônicos de Varredura por Emissão de Campo (field emission SEM)

(ZANIN, 2012).

Para a análise morfológica e estrutural das amostras de óxido de gálio amorfo

estudadas nesta pesquisa, foi utilizado o aparelho de Microscopia Eletrônica de Varredura do

Departamento de Física, da UFPE (Figura 6).

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Figura 6: Aparelho de Microscopia Eletrônica de Varredura, localizado na Universidade

Federal de Pernambuco (Departamento de Física).

Fonte: Este trabalho.

2.7.3 Espectroscopia por Dispersão em Energia (Energy Dispersive Spectroscopy - EDS)

EDS é um aparelho acoplado a outros instrumentos que detecta e processa Raios X,

convertendo-os em dados expressos em um histograma. Este espectro (gráfico de Raios X)

consiste numa série de picos que representam o tipo e a quantidade de cada elemento presente

na amostra (BONACCORSO et al., 2008). As amostras podem ser tanto sólidas quanto

líquidas, pós e compósitos também podem ser avaliados e as amostras dependerão do

aparelho ao qual o EDS está acoplado (microscópio eletrônico de varredura ou transmissão,

aparelho de fluorescência de Raios X ou sonda eletrônica para microanálise Raios X).

Dependendo do programa de computador para leitura e interpretação dos dados, pode fornecer

análises pontuais, em linha (técnica scanline) ou, ainda, imagens do mapeamento químico

elementar para quase todos os aparelhos em que estiver acoplado (BRUNDLE et al., 1992).

Para análise da composição química presente nas amostras estudadas de a-GaxOy

deste trabalho, foi utilizado o aparelho de EDS localizado do Departamento de Física, da

UFPE (Figura 7).

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Figura 7: Aparelho de EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, localizado na Universidade

Federal de Pernambuco (Departamento de Física).

Fonte: Este trabalho.

2.7.4 Espectroscopia Raman

Se uma onda eletromagnética atinge a superfície de um meio, uma fração da luz é

refletida, enquanto que o resto é transmitido para dentro do material. Da parcela da radiação

transmitida através da superfície, uma fração desta é absorvida na forma de calor e outra é

retransmitida na forma de luz espalhada. A luz emergente apresenta em seu bojo uma pequena

parcela composta de frequências diferentes daquela incidente; o processo que rege este

fenômeno recebe o nome de espalhamento Raman, ou seja, técnica de espectroscopia que é

governada por processos de espalhamento de luz pela matéria. (RODRIGUES; GALZERANI,

2012).

2.8 BIOCOMPATIBILIDADE

Biocompatibilidade é um assunto que tem sido discutido e analisado por mais de 50

anos. A maioria da comunidade de biomateriais falhou surpreendentemente em entender o

paradigma da biocompatibilidade. Isso é evidenciado pelo uso frequente do adjetivo

"biocompatível" para descrever ou categorizar um biomaterial (WILLIAMS, 2014).

A avaliação biológica ou biocompatibilidade de biomateriais e dispositivos médicos é

realizada por meio de ensaios efetuados de acordo com normas internacionais designadas

mundialmente como “guidelines”. As normas são publicações técnicas internacionais de

protocolos e métodos, in vitro e in vivo, desenvolvidos e padronizados a partir de um

consenso envolvendo revisões literárias, pesquisas científicas, entre outros. A adoção dessas

normas na pesquisa pré-clinica e de biocompatibilidade visa a práticas mais consistentes,

eficazes e eficientes, assim como, aprimoram e uniformizam a avaliação da eficácia e

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segurança dos produtos para a saúde e possibilitam um melhor gerenciamento do risco destes

produtos pelas agências reguladoras. A Organização de Cooperação Econômica e

Desenvolvimento (OECD) e a International Organization for Standardization (ISO) têm

desenvolvido as normas para estes testes e ensaios, assim como, outras farmacopéias

especificas tal como da Sociedade Americana para Testes e Materiais (ASTM) (ASTM, 2010;

ISO, 2010; OECD, 2010).

Essa avaliação da biocompatibilidade é realizada através de um conjunto de testes, in

vitro e in vivo, que sejam complementares, de maneira a oferecer um resultado com os mais

criteriosos níveis científicos e de informação, e que sejam validados e reconhecidos pelos

meios científicos e pelos órgãos regulamentadores, para utilização nas áreas de aplicações

médicas (SILVA, 2011).

2.9 ENSAIOS IN VITRO

No intuito de se refinar e diminuir a utilização de animais de laboratório na pesquisa

biomédica, iniciou, na década de 80, o desenvolvimento de modelos experimentais in vitro

para a avaliação da eficácia e segurança de produtos. Estes modelos foram utilizados com

sucesso para a demonstração de mecanismos de ações específicas, mostrando-se úteis e

preditivos no que se referem aos sistemas biológicos realizados em microrganismos, células,

tecidos e órgãos, animais ou humanos. Assim, vêm sendo desenvolvidos, validados e

integrados nas normas internacionais, tais como a ISO e OECD (SILVA, 2011).

Os métodos in vitro apresentam vantagens em relação aos, in vivo, tais como poder

limitar o número de variáveis experimentais, obter dados significativos mais facilmente, além

do período de teste ser, em muitos casos, mais curto. O problema da extrapolação dos dados

obtidos in vitro para a aplicação clínica dos biomateriais pode ser superado pelo uso de

materiais de referência apropriados, atualmente em uso em clínicas (ROGERO et al., 2003).

2.9.1 Teste de Citotoxidade

A toxidade corresponde à capacidade de determinadas substâncias causarem danos aos

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seres vivos. Os sistemas de cultura celular assumem grande importância nos testes de

toxidade devido à sensibilidade e reprodutibilidade, que facilitam o gerenciamento dos testes,

diminuindo os custos. Sistemas de células de mamíferos são utilizados para avaliar o

potencial citotóxico de componentes cosméticos, materiais médico-hospitalares, produtos

farmacêuticos, químicos e poluentes ambientais (PINTO; KANEKO; PINTO, 2010).

Sempre que um novo material é desenvolvido, seu potencial para interações nocivas e

toxicológicas com os seres humanos e animais deve ser considerado. As pequenas

nanopartículas possuem razões de área superficial - por volume, que são extremamente

grandes, o que pode levar a altas reatividades químicas. Embora a segurança dos

nanomateriais seja uma área relativamente inexplorada, existem preocupações de que eles

possam ser absorvidos para o interior do corpo através da pele, dos pulmões e do trato

digestório em taxas relativamente elevadas, e, de que alguns, se presentes em concentrações

suficientes, venham a apresentar riscos à saúde - tais como danos ao DNA ou

desenvolvimento de câncer de pulmão (CALLISTER; RETHWISCH, 2012).

Os testes de citotoxidade medem a proporção de células viáveis. A maioria desses

testes se baseia na ruptura da integridade da membrana que é determinada pela entrada de um

corante, ao qual a célula é geralmente impermeável como, por exemplo, o azul de tripan, ou a

liberação de um corante normalmente adquirido e retido por células viáveis, por exemplo,

vermelho neutro. Esses efeitos, no entanto, são imediatos e não preveem a sobrevivência

posterior das células testadas (FRESHNEY, 2005).

De acordo com o Órgão Internacional de Padronização (International Standard

Organization), ISO 10993, o ensaio de citotoxicidade in vitro é o primeiro teste para avaliar a

biocompatibilidade de qualquer material para uso em dispositivos biomédicos e, depois de

comprovada a sua não toxicidade, é que o estudo da biocompatibilidade do produto pode ter

continuidade realizando-se os ensaios necessários em animais de laboratório. Os testes de

citotoxidade são utilizados em uma pré-seleção para detectar se o material em questão

provoca morte das células ou outros efeitos negativos nas funções celulares (WILLIAMS,

2014).

Vários métodos in vitro, para avaliar a toxicidade de biomateriais, foram padronizados

utilizando-se culturas celulares. Esses testes de citotoxicidade consistem em colocar o

material direta ou indiretamente em contato com uma cultura de células de mamíferos,

verificando-se as alterações celulares por diferentes mecanismos, entre os quais, a

incorporação de corantes vitais ou a inibição da formação de colônias celulares (CRUZ et al.,

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1987; ROGERO et al., 2000). O parâmetro mais utilizado para avaliar a toxicidade é a

viabilidade celular, que pode ser evidenciada com auxilio de corantes vitais, como o vermelho

neutro, solúvel em água e que passa através da membrana celular, concentrando-se nos

lisossomos, fixando-se por ligações eletrostáticas hidrofóbicas em sítios aniônicos na matriz

lisossomal. Muitas substâncias danificam as membranas resultando no decréscimo de captura

e ligação do vermelho neutro. Portanto, é possível distinguir entre células vivas e danificadas

ou mortas, pela medida de intensidade de cor da cultura celular (CIAPETTI et al., 1996).

A citotoxicidade basal é definida como “os efeitos adversos resultantes da

interferência com estrutura e/ou processos celulares essenciais para a sobrevida, proliferação

e/ou função comum a todas as células do organismo” (EKWALL, 1999).

A avaliação da citotoxicidade basal é importante, uma vez que as funções celulares

basais suportam as funções celulares órgãos-específicas. A citotoxicidade basal é expressa

como IC50 (concentração que inibe 50% das células quando comparado às células controle

não-tratadas), a qual pode ser matematicamente calculada à partir da curva de dose-efeito.

Vários métodos aplicados para testar a toxicidade geral são úteis na toxicologia in vitro.

Como regra geral, as células são expostas a diferentes concentrações de um produto químico

por um dado período de tempo, sendo posteriormente, a função celular mensurada utilizando

diferentes alvos (SU et al., 2009).

Conforme a ISO 10993-5 (2009), os inúmeros métodos utilizados para a determinação

da citotoxidade podem ser agrupados em quatro categorias: as avaliações da morfologia

celular; as determinações dos danos celulares; a avaliação do crescimento celular; e a

avaliação de aspectos referentes ao metabolismo celular. Os testes validados para este fim

são: 3T3 NRU, teste de citotoxidade para formação de colônias, MTT/MTS XTT (2,3-bis (2-

methoxy-4-nitro-5-sulfophenyl)-5-[(phenylamino)carbonyl]-2H-tetrazolium hidroxide) de

citotoxidade (NIH, 2001; ICCVAM, 2006).

Os sais de tetrazolium, componentes ativos dos corantes vitais MTT, XTT e MTS, são

utilizados para distinguir as células vivas das células mortas. Eles são reduzidos à formazana

pelo sistema de citocromo das células viáveis e a cor resultante é uma medida direta da

viabilidade celular. As formazanas são excessivamente insolúveis em água e na tentativa de

driblar este inconveniente, foram desenvolvidos os derivados do MTT, os corantes XTT e

MTS, que produzem formazanas mais intensamente coloridas e solúveis em água, facilitando

desta forma a leitura em espectrofotômetro (BARLTROP; OWEN, 1991).

Gálio metálico é considerado um produto químico seguro, que não é problemático

para a saúde humana e para o ambiente (GRAY et al., 1998; YU; LIAO, 2011), mas não há

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muitas investigações sobre sua citotoxicidade. Um relatório advertiu sobre a toxicidade, após

a implantação subcutânea (REPETTO; PESO, 2012) e há várias investigações sobre

amálgamas à base de gálio, cuja citotoxicidade foi ligada à corrosão e liberação de íons Ga3+

(WATAHA, 1991; KUBÁSEK, 2013). Embora os valores tóxicos (para a sobrevivência de

50%) dos íons Ga3+

lançado no estudo de KURTJAK et al. (2016) variaram de 40 a 2000 mM,

Ga nunca foi menos tóxico do que Ag+ e geralmente menos tóxico do que o Zn

2+ (WATAHA,

1991; MILHEIRO, 2016). Um estudo revelou também que os fibroblastos L-929 e células de

osteossarcoma MG63 foram capazes de proliferar e aderir sobre a liga de Ti-Ga contendo

10% em peso de Ga (QIU et al., 2014). Além disso, um estudo recente da liga eutética de

nanopartículas GaIn mostrou a sua baixa citotoxidade in vitro em células HeLa, na

concentração de 21 mg / L (0,2 Ga), e a sua injeção in vivo em ratos não causou danos nos

tecidos, nenhuma reação alérgica, exibiu muito baixa toxicidade aguda (dose máxima tolerada

de 700 mg / kg), e Ga e In foram excretados nas fezes e urina (LU; HU; LIN et al., 2015).

2.9.1.1 Células VERO

O cultivo de células se iniciou no princípio do século XX com Harrison, em 1907, e

Carrel, em 1912. Essa técnica foi desenvolvida como um método para estudar o

comportamento de células animais fora do organismo, em um meio ambiente controlado. Essa

técnica ainda é uma importante ferramenta de pesquisa nos laboratórios do mundo inteiro.

Em 1962, Nakamura e colaboradores, no Japão, estabeleceram a linhagem VERO,

oriunda de rim de macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops).

Segundo França, 2008, a linhagem celular VERO (macaco) é recomendada para

avaliar toxicidade de substâncias químicas in vitro (ISO - International Standardization

Organization, 1999), como a provocada pelo inseticida pentaclorofenol (FERNÁNDEZ

FREIRE et al., 2005) e pelo medicamento Carbamazepina (PÉREZ MARTÍN et al., 2008).

Outros autores já demonstram a utilização dessas células para avaliar nefrotoxicidade

provocada por micotoxinas (HASSEN et al., 2007). São células muito empregadas para

produzir grande quantidade de vírus para caracterização e desenvolvimento de vacinas, pelo

fato dessas células apresentarem um rápido crescimento (TIWARI et al., 2006). Foram

utilizadas para avaliar um método que quantifica a replicação dos vírus da dengue em cultura

de células (LUDERT et al., 2008). A referida linhagem tem sido utilizada também em alguns

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estudos de toxicologia de metais (ROMERO et al., 2004a; ROMERO et al., 2004b), devido,

principalmente, ao baixo custo (SWANSON et al., 1988).

2.9.1.2 Células RAW 264.7

Os macrófagos são células relativamente grandes, que medem entre 25-50 μm de

diâmetro, apresentam núcleo irregular, possuem um ou mais nucléolos, cromatina pouco

condensada, citoesqueleto bem desenvolvido, inúmeras projeções citoplasmáticas, grande

número de lisossomos, complexo de Golgi e mitocôndrias (AUGER et al., 1992). Eles são,

sem dúvida, um dos mais importantes tipos de células do sistema imune inato e podem

assumir formas morfológicas diferentes, conforme sua localização (HALLIWELL et al.,

1999).

A fagocitose desenvolvida pelos macrófagos compõe o início do conjunto das

atividades biológicas de toda a resposta imunológica e da resposta inata, e é constituída pelas

etapas: aderência ao substrato, quimiotaxia, ingestão de células e partículas inertes e produção

de radicais livres (SPORN et al., 1990; DE LA FUENTE et al., 1991; HOLGATE et al., 1996;

ADEREM et al., 1999; ZAPOLSKA-DONAR et al., 2000). Há "espraiamento" do macrófago,

com alteração da forma (arredondada para achatada), e consequente aumento da área de

contato da membrana plasmática com o substrato a ser fagocitado, e redistribuição das

organelas citoplasmáticas.

Dentre as linhagens imortalizadas de macrófagos disponíveis, destacam-se as RAW

264.7, oriundas de células tumorais peritoneais induzidas por vírus (Abelson Leukemia Virus)

em ratos (RASCHKE et al., 1978, apud RAELE, R., 2013). Estas células são aderentes,

apresentam alta taxa de fagocitose e de multiplicação. São resistentes e relativamente fáceis

de cultivar. São interessantes para testes de toxicidade, pois apresentam metabolismo, que

mimetiza macrófagos de culturas primárias, porém, não sofrem fase de declínio no seu

crescimento, por serem imortalizadas.

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3.0 TESTE DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

Mediante relatos da literatura de que o gálio apresenta propriedade antibacteriana, este

estudo tem como propósito verificar a eficácia da atividade antimicrobiana, in vitro, do óxido

de gálio amorfo sobre Streptococcus mutans, pela determinação da Concentração Inibitória

Mínima (CIM), bacteriostática, e pela Concentração Bactericida Mínima (CBM), bactericida,

ou seja, inibindo a multiplicação, e provocando a destruição celular bacteriana,

respectivamente, utilizando a técnica da microdiluição.

A técnica da microdiluição é uma adaptação da macrodiluição em caldo. É

denominada dessa maneira, porque envolve o uso de pequenos volumes de caldo colocados

em placas estéreis de 80, 96 ou mais poços de fundo redondo ou chato, próprias para

microdiluição (ALVES et al., 2008).

3.0.1 Streptococcus mutans

A cárie dentária pode ser definida como uma perda localizada dos tecidos calcificados

dos dentes, decorrentes da fermentação de carboidratos da dieta por micro-organismos do

biofilme dentário. O termo cárie deriva do latim cariosus, que significa destruição ou

putrefação. As lesões de cárie caracterizam-se pela destruição localizada de tecidos dentários

mineralizados. Para que a cárie dentária ocorra, é necessária a presença dos fatores

predisponentes, interagindo em condições críticas, por determinado período de tempo: o

hospedeiro com dentes suscetíveis, colonizados por micro-organismos cariogênicos e dieta

rica em carboidratos (principalmente a sacarose), consumida frequentemente (JORGE, 2012).

A presença da placa bacteriana sobre a superfície do dente, para a doença cárie

dentária se desenvolver, é fundamental na sua fase inicial (AZEVEDO; HENRIQUES, 2008).

Ao metabolizar os carboidratos que vão permanecer na cavidade oral por algum tempo,

alguns dos grupos de bactérias presentes na placa, como Streptococcus mutans (que incluem

as espécies S. mutans e S. Sobrinus) e os Lactobacilos, que são acidófilos e acidogênicos, vão

fermentar a glicose, sacarose e frutose, hidratos de carbono (AZEVEDO; HENRIQUES,

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2008). Este processo provoca uma descida sustentada de pH na cavidade oral, durante cerca

de quarenta e cinco minutos, pois origina ácidos como o láctico, acético, propiônico e

fórmico. Consequentemente, ocorre a diminuição do pH na interface placa-esmalte.

Buscando determinar qual o tipo de estreptococos presente na placa estava mais

envolvido com o processo de cárie, em 1924, Clarke isolou um tipo específico de

estreptococos das lesões, o qual denominou Streptococcus mutans, pois sua morfologia

celular e da colônia em meio de cultura contendo sacarose apresentava grande variabilidade

em relação às demais espécies de estreptococos então conhecidos. Demonstrou que o

isolamento de S. mutans de lesões iniciais de cárie ocorria com mais frequência do que o de

espécies de lactobacilos (LEITES et al., 2005).

Após a descoberta por Clarke em 1924, S. mutans permaneceu por aproximadamente

35 anos praticamente ignorado, até que em 1960 foi “redescoberto” por Fitzgerald e Keyes. A

partir daí, a sua correlação com a doença cárie tem sido extensivamente estudada, indicando

ser essa bactéria o principal agente etiológico da cárie. São cocos gram positivos, anaeróbios

facultativos, microaerófilos, acidogênicos e acidúricos, e capazes de formar polissacarídeos

extracelulares.

A situação taxonômica dos estreptococos cariogênicos está bem definida no

“Estreptococos do Grupo Mutans” (EGM). Existem sete espécies que estão incluídas no

EGM: S. mutans, S. sobrinus, S. cricetus, S. rattus, S. ferus, S. macacae, S. downei. Porém

Zhu et al. (2000) sugeriram uma nova espécie de Streptococcus oral, para qual propuseram o

nome de Streptococcus oristatti sp. nov., espécie esta isolada da boca de ratos Sprague-

Dawley. Os autores relatam também ser necessário cuidado, quando ratos Sprague-Dawley

forem usados como modelo para estudar os efeitos desta bactéria oral em cáries dentais, pois

esta nova espécie é morfologicamente similar aos membros do EGM. Das espécies acima, o S.

mutans e S. sobrinus apresentam potencial cariogênico em humanos. As outras espécies são

encontradas em animais e, se estão presentes em humanos, não parecem ser altamente

cariogênicas (LEITES et al., 2005).

A importância deste estudo, verificando-se bons resultados de citotoxidade e

comprovada atividade antimicrobiana frente a S mutans, pelo uso do pó de óxido de gálio

amorfo, obtido por pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio e oxidado pelo sistema

CVD, após novas pesquisas, biomateriais de uso odontológico poderão ser testados, in vivo,

contendo a-GaxOy, visando a sua ação antibacteriana para cárie dentária.

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50

3 EXPERIMENTAL

3.1 MATERIAIS

Cilindro do sistema MOCVD, contendo Trietil Gálio

Óxido amorfo à base de gálio;

Tween 80, exemplo de surfactante não iônico e emulsionante derivado do sorbitol;

Água deionizada;

Culturas de células VERO (macaco verde africano - Cercopithecus aethiops), e RAW

264.7 (macrófago murino), obtidas do banco de células do Rio de Janeiro e mantidas

no laboratório de cultura de células no Departamento de antibióticos da UFPE, em

meio de cultura DMEM (Dubelcos Minimum Essential Medium), suplementado com

10 % de soro fetal bovino e 1 % de solução de antibiótico (penicilina e

estreptomicina), permanecendo em estufa a 37 ºC em atmosfera úmida, enriquecida

com 5 % de CO2.

Cepa de S. mutans AU 159, gentilmente cedido pelo laboratório de microbiologia da

UNICAMP , São Paulo – Brasil.

3.2 MÉTODOS

Para obtenção e aplicação das amostras de óxido de gálio amorfo utilizadas nesta

pesquisa, foram seguidas, respectivamente, as seguintes etapas:

1. Síntese de óxido de gálio amorfo, por processo químico de pirólise à combustão

espontânea, em ambiente aberto, de organometálico, Trietil Gálio (TEGa);

2. Oxidações por Chemical Vapor Deposition (CVD) - Deposição Química na Fase

Vapor, a três diferentes temperaturas (300, 500 e 700 °C) das amostras de a-

GaxOy, obtidas por pirólise à combustão espontânea;

3. Caracterizações das amostras de a-GaxOy, por MEV, EDS, DRX e

Espectroscopia Raman;

4. Preparo de dispersões de a-GaxOy (1mg/mL);

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5. Aplicação das dispersões de a-GaxOy (1mg/mL) em ensaios, in vitro, de

citotoxidade, através do método do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-

2,5-difeniltetrazólio), e de atividade antimicrobiana, feita pela determinação da

Concentração Inibitória Mínima (CIM) e da Concentração Bactericida Mínima

(CBM) – Técnica da Microdiluição.

3.3 SÍNTESE DE A-GAXOY POR PIRÓLISE À COMBUSTÃO ESPONTÂNEA DE

ORGANOMETÁLICO, TRIETIL GÁLIO (TEGa)

O processo de obtenção do pó de cor acinzentada de a-GaxOy foi realizado no

Departamento de Física (DF) da UFPE, por meio da pirólise à combustão espontânea de

organometálico, Trietil Gálio (TEGa). Por ser altamente pirofórico, essa substância, ao entrar

em contato com o oxigênio atmosférico, sofreu uma forte combustão. Por medida de

segurança, o experimento foi realizado em ambiente externo (aberto). Durante o experimento,

não foi possível medir a temperatura final do Béquer, onde ficou inicialmente acondicionado

o pó de óxido de gálio amorfo, logo após sua obtenção. Segundo a literatura especializada em

organometálicos, não existe uma temperatura definida de combustão para os mesmos, como,

diferentemente, há, por exemplo, para o metano, etano e demais gases combustíveis.

O pó do óxido de gálio obtido foi, posteriormente, submetido a um processo de

maceração, adquirindo uma consistência mais uniforme, e, seguidamente, acondicionado em

eppendorfs (Figuras 8 e 9).

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3.4 OXIDAÇÕES DAS AMOSTRAS DE A-GAXOY PELO SISTEMA CVD

As amostras de a-GaxOy, obtidas por pirólise à combustão espontânea de TEGa, foram

submetidas à oxidação em atmosfera de oxigênio com um fluxo de O2 de 1slm (standard litre

per minute), por 1,0 hora a 300 °C, 500 °C e 700 ºC, utilizando o forno de oxidação do

Sistema Chemical Vapor Deposition (CVD), do laboratório de preparação de materiais do DF

da UFPE.

O procedimento foi realizado com intuito de observar se haveria alteração no

desempenho, entre si, das amostras oxidadas às três diferentes temperaturas, e em relação ao

material obtido exclusivamente por pirólise à combustão espontânea, quando realizados os

ensaios de citotoxidade e de atividade antimicrobiana.

Figura 9: Pó de óxido de gálio amorfo

macerado.

Figura 8: Pó de óxido de gálio amorfo

sendo macerado.

Fonte: Ramalho, A. (2016)

Fonte: Ramalho, A. 2016

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3.5 CARACTERIZAÇÕES DAS AMOSTRAS DE A-GAXOY

A análise morfológica e estrutural das amostras de a-GaxOy por Microscopia

Eletrônica de Varredura (MEV) foi feita no laboratório de microscopia eletrônica do

Departamento de Física da UFPE, através do equipamento de marca TESCAN, modelo MIRA

3. A técnica de análise foi por elétron secundário.

Não foi feita a metalização da amostra, pois o equipamento permitia o subsídio de

visualização para a obtenção de micrografias, sem necessidade desse procedimento.

A análise por Espectroscopia por Dispersão em Energia (EDS) das amostras de a-

GaxOy foi feita no laboratório de microscopia eletrônica do Departamento de Física da UFPE,

através do equipamento de marca OXFORD INSTRUMENTS, modelo X-MaxN .

Foi feito o mapa de Raios X ou mapa EDS e EDS qualitativo e semiquantitativo

(discriminação e percentual atômico, respectivamente, dos elementos presentes nas amostras),

conforme resultados (Figuras 16, 17, 18 e 19). Dos valores obtidos por essa técnica de

caracterização, foram construídos alguns gráficos, comparando o percentual atômico de Gax,

Oy e Cz das amostras de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy) versus suas temperaturas de pirólise

e de oxidação por CVD, em relação ao Ga2 e O3, do óxido de gálio cristalino (β-Ga2O3),

(Figura 20).

Para fixar as amostras, foi utilizada tinta de prata, cujo elemento químico ficou

evidenciado no mapa EDS das amostras de a-GaxOy, oxidadas a 300 °C e 500 °C (Figuras 17

e 18, respectivamente).

A análise via MEV/EDS permite a determinação da composição química na superfície

da amostra. As quantidades indicadas nas tabelas de microanálise por EDS são apenas

semiquantitativas, servindo como um indicador da quantidade de cada elemento presente e

não podem ser tomadas como análises quantitativas.

A técnica de caracterização por Difração de Raios X (DRX) das amostras de a-GaxOy

foi feita no CETENE. Foi utilizado Difratômetro de Raios X da marca Bruker e modelo D8

Advance Davinci. Radiação: Tubo de Cu K(alfa). Voltagem: 40 Kv. Corrente: 40 mA. Filtro:

Níquel. Os Parâmetros utilizados foram: intervalo angular de 3° - 80°; Passo de 0,03° e

Tempo de 1,0 segundo.

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A análise por Espectroscopia Raman das amostras de a-GaxOy foi feita no laboratório

de microscopia do CETENE. O equipamento usado foi o microscópio Raman confocal Alpha

300 AR da WITEC. Para as análises, foi usado um laser de 532 nm, com potência de 100

mW, um tempo de integração de 5,0 segundos e 10 acumulações. Para a preparação das

amostras, simplesmente, foi colocado um pouco das mesmas sobre a lâmina de microscopia e,

posteriormente, feita a sua medida.

3.6 PREPARO DE DISPERSÕES DE A-GAXOY (1MG/ML)

Para os ensaios de citotoxidade e teste de atividade antimicrobiana, precisou-se

descobrir, inicialmente, o meio que melhor dispersar-se o pó de a-GaxOy. Após testar em água

destilada, soro fisiológico e DMSO (Dimetilsulfóxido), percebeu-se que o referido composto

dispersou-se mais adequadamente em ácido nítrico (HNO3) a 5%, porém, por sua alta

toxicidade, não seria indicada sua aplicação nos testes in vitro em questão. Diante disso,

optou-se pela água deionizada e tween 80 no preparo da dispersão de a-GaxOy (1mg/mL),

obtendo-se quatro amostras distintas, seguindo as seguintes etapas, respectivamente:

1. Pesou-se 1,0 mg da amostra do pó de a-GaxOy;

2. Pipetou-se 1,0 microlilitro (µL) de tween 80 sobre a amostra de a-GaxOy e adicionou-se 1,0

mL de água deionizada;

3. Para melhorar a dispersão, utilizou-se um ultrasson de alta potência (modelo Ultrasonic

Processor), com pulso ligado por 5s (segundos), desligado por 1s, durante 30min (minutos),

com amplitude de 40%.

A atividade citotóxica foi realizada através do método do MTT (brometo de 3-(4,5-

dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio) (ALLEY et al., 1988; MOSMANN, 1983).

As células VERO e RAW 264.7 (105 células/mL) foram plaqueadas em placas de 96

poços e incubadas por 24h (horas). Em seguida, 10 µL das amostras dissolvidas em tween 80

3.7 TESTE DE CITOTOXIDADE

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foram adicionadas aos poços em concentração final de 5 a 0,625 µg/mL. Após 72 horas de

reincubação, foram adicionados 25 µL de MTT (5 mg/mL), e depois de 3h de incubação, o

meio de cultura com o MTT foi aspirado e 100 µL de DMSO foram adicionados a cada poço.

A absorbância foi medida em um leitor de microplacas no comprimento de onda de 560 nm

(nanômetro).

Os experimentos foram realizados em triplicata e a média da percentagem de inibição

e desvio padrão foram calculados. A diferença entre os valores das médias de viabilidade

celular foram avaliadas pela Anova one way e pós teste Turkey´s (p< 0,05) no programa

GraphPad Prism 7.0. demo.

3.8 TESTE DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM) E DA

CONCENTRAÇÃO BACTERICIDA MINIMA (CBM) – TÉCNICA DA

MICRODILUIÇÃO.

Foram utilizadas microplacas contendo 96 orifícios com fundo chato, distribuídos em

colunas enumeradas de 1 a 12 e linhas em letras de “A” a “H” (Figura 10).

Figura 10 - Microplaca de 96 orifícios contendo o caldo Brain Heat Infusion (BHI),

substância teste em diferentes concentrações e inóculo bacteriano.

Fonte: Este trabalho.

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Conforme diluições das substâncias testes foram realizadas em triplicata, sendo as

linhas A até H correspondentes a diferentes concentrações da substância teste, começando da

mais concentrada (A) para menos concentrada (H). As diluições das substâncias testes foram

realizadas, conforme Tabela 1. As microplacas foram preparadas e em cada compartimento

teve um volume final de 100 μL, com proporções variadas do Meio Caldo Brain Heat

Infusion (BHI) para bactérias e da substância teste, atingindo, ao final, diferentes

concentrações do produto.

Tabela 1 - Distribuição das substâncias testes nas colunas 1, 2 e 3, em diferentes

concentrações nas linhas A-H, volume do meio de cultura liquido, e inóculo dos micro-

organismos.

POÇOS CALDO BHI

(µL)

Substância

teste (µL)

INÓCULO

(µL)

Volume final

do poço (µL)

Concentração

final da

substância teste

(mg/mL)

A1 A2 A3 20 60 20 100 0,6

B1 B2 B3 30 50 20 100 0,5

C1 C2 C3 40 40 20 100 0,4

D1 D2 D3 50 30 20 100 0,3

E1 E2 E3 60 20 20 100 0,2

F1 F2 F3 65 15 20 100 0,15

G1 G2 G3 70 10 20 100 0,10

H1 H2 H3 75 05 20 100 0,05

Fonte: Este trabalho

A todos os poços, foram adicionados 20 μL do inóculo microbiano, previamente

padronizado para concentração final 0,5 na escala de Mc Farland (1,5 x 108

UFC/mL). O

micro-organismo (S. mutans) foi incubado a 37ºC por 24 horas.

Terminado o período de incubação, foram adicionados 30 µL de resazurina em cada

orifício. A microplaca foi então recolocada na estufa a 37ºC. A resazurina (7-hidroxi-3H-

fenoxazina-3-ona-10-óxido) é um composto indicador de óxido-redução de cor azul que, na

presença de células viáveis, é oxidado a resofurina, substância de coloração vermelha

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(PALOMINO et al., 2002). Logo, a coloração azul indica ausência de crescimento

microbiano; enquanto que as variações de rosa e roxo são indicadoras da presença de células

viáveis para crescimento. Após 1 hora, foi feita a análise da mudança de cor.

Após determinação da CIM, semelhante à representação da Figura 11, a primeira

concentração que houve crescimento visível e todas as que não houve crescimento visível,

foram cultivadas em placas de Petri contendo ágar BHI. Foram transferidos 10 µL das

cavidades da microplaca para as placas de Petri e estas foram incubadas a 37 ºC/ 28 ºC, em

condições de microaerofilia, por 24 horas. A CBM foi determinada através da análise do

crescimento microbiano na placa de Petri com meio de cultura na ausência da substância teste.

Foi considerada CBM, o inóculo transferido com a menor concentração da substância teste, na

qual não houve crescimento microbiano.

Figura 11: Determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) de uma substância teste

pela resazurina.

Fonte: Máximo, F. (2012).

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58

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ANÁLISE MORFOLÓGICA E ESTRUTURAL

A microscopia eletrônica de varredura permitiu observar com mais detalhes a

morfologia formada antes e após o processo oxidativo por CVD das amostras de a-GaxOy.

Foram obtidas imagens com magnificações de 2.000X; 5.0000X; 10.000X; 20.000X; 50.000X

e 100.000X.

Quando alguns parâmetros (temperatura, pressão, tempo, fluxo) são modificados,

diferentes morfologias podem ser obtidas. Ao modificar a temperatura (de combustão

espontânea e de oxidação), percebeu-se que não houve muita mudança na morfologia

estrutural externa de todas as amostras de a-GaxOy obtidas nesta pesquisa, quando comparadas

entre si. Conforme Figuras 12, 13, 14 e 15, são visualizados aglomerados de carbono, gálio e

oxigênio na forma de esferas, pela maceração a frio, na forma de partículas de tamanho

variando do nanométrico ao micrométrico.

Figura 12: Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de 100.000X

que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio amorfo, obtido por pirólise em

combustão espontânea de Trietil Gálio.

Fonte: Este trabalho

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59

Figura 13: Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de 50.000X

que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio amorfo oxidado a 300 °C.

Fonte: Este trabalho

Figura 14: Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de 100.000X

que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio amorfo oxidado a 500 °C.

Fonte: Este trabalho

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60

Figura 15: Imagem de microscopia eletrônica de varredura, com magnificação de 50.000X

que mostra a morfologia estrutural externa do óxido de gálio amorfo oxidado a 700 °C.

Fonte: Este trabalho

4.2 ESPECTROSCOPIA POR DISPERSÃO EM ENERGIA (EDS)

Observou-se, no EDS, a presença do elemento químico gálio, como observado nas

Figuras 16, 17, 18 e 19, obtido pela pirólise à combustão espontânea do organometálico

Trietil Gálio. A presença do elemento químico prata, visto nas Figuras 17 e 18, é justificada

pela tinta de prata utilizada para fixar as amostras e facilitar a análise por esta técnica de

caracterização. A presença do elemento químico oxigênio é proveniente da combustão em

ambiente aberto, no processo de pirólise à combustão espontânea do TEGa, assim como, por

oxidação em atmosfera de oxigênio com um fluxo de O2 de 1slm, por 01 hora a 300, 500 e

700 ºC, pela técnica de CVD. O carbono residual presente é advindo do processo de

conversão térmica, que implicou na ruptura de ligações carbono-gálio do Trietil Gálio,

(C2H5)3 Ga.

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Figura 16: EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de óxido

de gálio amorfo, obtido por pirólise em combustão espontânea de Trietil Gálio

Fonte: Este trabalho

Figura 17: EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de óxido

de gálio amorfo, oxidado a 300 °C.

Fonte: Este trabalho

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62

Figura 18: EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de óxido

de gálio amorfo, oxidado a 500 °C.

Fonte: Este trabalho

Figura 19: EDS, Energy Dispersive Spectroscopy, mostrando a composição do pó de óxido

de gálio amorfo oxidado a 700 °C.

Fonte: Este trabalho

De acordo com a Figura 20, a seguir, observa-se que, com o aumento da temperatura

de oxidação pelo Sistema CVD, o percentual atômico de gálio e oxigênio do a-GaxOy

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aumentou, enquanto que o percentual atômico do carbono diminuiu, alterando o aspecto

visual do pó de a-GaxOy, quando oxidado a 700 °C, passou de cinza claro para a cor branca

Quando há uma combustão natural ao ar livre, é esperado que permaneçam ligações do

gálio ao C2H5 (etil) sem serem desfeitas, levando à cor cinza clara do pó, no entanto, nos casos

de uma queima total (por exemplo a 700 °C), há uma quebra total das ligações do gálio ao

C2H5, fazendo com que o pó fique branco, pela diminuição do número de átomos de carbono.

Na temperatura de recozimento a 300 ºC, há uma diminuição no número de compostos C2H5,

presentes no pó de óxido de gálio amorfo.

Figura 20: Gráficos comparativos dos percentuais atômicos de Gax, Oy e Cz das amostras de

óxido de gálio amorfo (a-GaxOy) versus suas temperaturas de pirólise em combustão

espontânea e de oxidação por CVD, Chemical Vapor Deposition, em relação ao Ga2 e O3 do

óxido de gálio cristalino (β-Ga2O3).

150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

% a

tôm

ico

(a

.u.)

Temperatura °C

Gax

Oy

Cz

Ga2

O3

Fonte: Este trabalho

4.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X (DRX)

A Figura 21 mostra o Difratograma típico do pó de óxido de gálio, quando obtido a

partir da pirólise à combustão espontânea do TEGa e pela oxidação por Chemical Vapor

Deposition (CVD) a 300, 500 e 700 °C, com presença de bandas características de fase

amorfa, significando que não houve tempo para cristalização dos átomos ou moléculas em

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arranjos ordenados no espaço; então, uma parte fica com as moléculas ou átomos sem entrar

nestes arranjos, por isso, o sinal na difração é tipo uma montanha (pico largo). Ainda pela

Figura 30, percebe-se que o DRX do pó de óxido de gálio oxidado à temperatura de

recozimento de 700 °C apresentou, além da fase amorfa, uma quantidade de material

cristalino, típico de um material policristalino, com presença de picos característicos finos,

cuja intensidade corresponde aos planos cristalinos do óxido de gálio cristalino (β-Ga2O3.

Geralmente em artigos científicos que reportam à síntese e caracterização de óxidos diversos,

os autores desconsideram backgrounds ou presença de ruídos que são evidentes em

difratogramas, desconsiderando também, nesses casos, a possível presença de material amorfo

existente no material cristalino (HUANG et al., 2009, HU et al., 2002).

Figura 30: Difratograma das amostras de óxido de gálio amorfo, obtidas por pirólise em

combustão espontânea de Trietil Gálio, à temperatura de pirólise (T.P.) e por oxidação por

Chemical Vapor Deposition a 300, 500 e 700 ºC, com picos característicos de óxido de gálio

cristalino (β-Ga2O3).

10 20 30 40 50 60 70 80

150

300

450

600

750

1 0

-2

-3 1

3

2 0

0

6 0

0

3 1

2

3 1

01

1 1

4 0

-1 0 0

2

2 0

1

Ga2O

3

a-GaxO

y

T.P.

300°C

500°C

Inte

nsid

ad

e u

.a.

2

700°C

Fonte: Este trabalho

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4.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN

A Figura 22 (A) representa Espectros Raman do pó de a-GaxOy oxidado por Chemical

Vapor Deposition a 300, 500 e 700 ° C. Durante a análise, o a-GaxOy obtido por pirólise à

combustão ambiente de TEGa apresentou muita fluorescência e, quando o laser interagiu com

a amostra, queimou a região que estava sendo observada; impossibilitando a obtenção do

espectro. Talvez utilizando outro comprimento de laser de menor energia, seja possível a

obtenção do espectro, antes não obtido.

Ainda pela Figura 22 (A), observa-se que o pó de óxido de gálio amorfo oxidado a

700 °C apresentou bandas características da fase β-Ga2O3, conforme referência para os picos

Raman da Figura 3 de Sun Z., Yang L. H., Shen X. C. et al. Anisotropic Raman spectroscopy

of a single β-Ga2O3 nanobelt. Chin Sci Bull, 2012, 57: 565-568, doi: 10.1007/s11434-011-

4920-2, Figura 22 (B).

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Figura 22: (A) Espectros Raman do pó de óxido de gálio amorfo oxidado por Chemical

Vapor Deposition a 300, 500 e 700 °C. (B) Referência para os picos Raman da Figura 3 de

Sun Z., Yang L. H., Shen X. et al. Anisotropic Raman Spectroscopy of a single β-Ga2O3

nanobelt. Chin Sci Bull, 2012, 57: 565-568, doi: 10.1007/s11434-011-4920-2.

Fonte: Este trabalho

4.5 TESTE DE CITOTOXIDADE

O pó de óxido de gálio amorfo, disperso em água deionizada e tween 80, obtido por

pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio e oxidado a 300º, 500º e 700 °C pelo

sistema CVD (Chemical Vapor Deposition), testado nas concentrações de 5,0; 2,5; 1,25 e

0,625 µg/mL, apresentou viabilidade celular frente às linhagens RAW 264.7 e VERO,

conforme Tabela 2, Tabela 3, Tabela 4 e Tabela 5, respectivamente, a seguir.

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Tabela 2 – Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, obtido por pirólise

à combustão espontânea de Trietil Gálio frente às linhagens RAW 264.7 e VERO.

Linhagem RAW 264.7 Linhagem VERO

Concentrações Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio padrão

(%)

Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio

padrão

(%)

Controle 100,0a

7,40 100,00a 7,25

0,625 µg/ml 88,73ª,b 3,94 77,03

b,c 4,31

1,25 µg/mL 78,98b,c

13,38 77,62b,c

8,03

2,5 µg/mL 62,46c 7,83 94,37

a,c 11,90

5,0 µg/mL 12,16d 1,6 75,56

b 1,93

Médias seguidas de letras iguais não apresentaram diferença significativas para o teste de

análise de variância (ANOVA) de uma via seguida pelo teste Tukey, considerando p < 0,05. Fonte: Este trabalho.

Tabela 3 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a 300 ºC

por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW 264.7 e VERO.

Linhagem RAW 264.7 Linhagem VERO

Concentrações Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio

padrão

(%)

Média da

viabilidade celular

(%)

Desvio padrão

(%)

Controle 100,03a 7,40 100,00

a 7,25

0,625 µg/mL 116,37a 18,32 87,71

a 4,01

1,25 µg/mL 101,61a 6,30 105,44ª

,c 14,61

2,5 µg/mL 108,67a 8,53 125,19

b,c 14,21

5,0 µg/mL 66,33b 4,97 128,21

b 0,59

Médias seguidas de letras iguais não apresentaram diferença significativas para o teste de

análise de variância (ANOVA) de uma via seguida pelo teste Tukey, considerando p < 0,05. Fonte: Este trabalho.

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Tabela 4 - Valores de viabilidade celular do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a 500 ºC

por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW 264.7 e VERO.

Linhagem RAW 264.7 Linhagem VERO

Concentrações Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio

padrão

(%)

Média da

viabilidade celular

(%)

Desvio padrão

(%)

Controle 100,00a 7,40 100,00

a 7,25

0,625 µg/mL 138,72b 4,00 94,79

a 4,76

1,25 µg/mL 129,77b 8,74 90,16

a 18,18

2,5 µg/mL 119,56b 18,07 123,37

a 22,54

5,0 µg/mL 123,37b 5,45 123,58

a 26,06

Médias seguidas de letras iguais não apresentaram diferença significativas para o teste de

análise de variância (ANOVA) de uma via seguida pelo teste Tukey, considerando p < 0,05. Fonte: Este trabalho.

Tabela 5 - Valores de viabilidade celular frente do pó de óxido de gálio amorfo, oxidado a

700 ºC por CVD (Chemical Vapor Deposition), frente às linhagens RAW 264.7 e VERO;

Linhagem RAW 264.7 Linhagem VERO

Concentrações Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio padrão

(%)

Média da

viabilidade

celular (%)

Desvio

padrão

(%)

Controle 100,00a 7,40 100,00

a 7,25

0,625 µg/mL 89,76a,b

0,92 128,10b 1,93

1,25 µg/mL 78,37b 6,16 118,47

b 12,77

2,5 µg/mL 24,47c 1,73 120,22

b 14,37

5,0 µg/mL 15,82c 2,19 22,14

c 3,16

Médias seguidas de letras iguais não apresentaram diferença significativas para o teste de

análise de variância (ANOVA) de uma via seguida pelo teste Tukey, considerando p < 0,05. Fonte: Este trabalho.

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69

Das substâncias analisadas, a que proporcionou, quando presente, a menor

citotoxidade, ou seja, a maior viabilidade celular frente à linhagem RAW 264.7 e VERO, foi a

amostra de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy) oxidada à temperatura de 500 ºC pela sistema

CVD (Chemical Vapor Deposition), nas concentrações 0,625 a 5 µg/mL, para ambas células.

Isso seria interessante, pois nessas concentrações, a linhagem RAW 264.7 e VERO mantêm a

viabilidade celular, conforme dados da Tabela 4. Tais produtos induziram, quando de sua

aplicação, uma resposta adequada, com a proliferação celular de forma significativa,

característica de biocompatibilidade (células RAW 264.7, em todas as concentrações),

caracterizando um bom indício para regeneração tecidual, por exemplo em processos de

cicatrização (a cicatrização de feridas consiste em perfeita e coordenada cascata de eventos

celulares, moleculares e bioquímicos que interagem para que ocorra a reconstituição tecidual.

Os mecanismos da cicatrização em sequência ordenada de eventos foram descritos por Carrel

em 1910, e divididos posteriormente em cinco elementos principais: inflamação, proliferação

celular, formação do tecido de granulação, contração e remodelamento da ferida, segundo

ORGILL, D.; DEMLING, R.H., 1988).

Em contrapartida, a amostra de a-GaxOy oxidada à temperatura de 700 ºC pelo

sistema CVD (Chemical Vapor Deposition), células RAW 264.7 – na concentração 2,5 e 5,0

µg/mL e VERO – na concentração 5,0 µg/mL, foi a que proporcionou menor viabilidade para

ambas as células, conforme dados da Tabela 5.

4.6 TESTE DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

Atividade antimicrobiana, determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e

Concentração Bactericida Mínima (CBM), do pó de óxido de gálio amorfo, disperso em água

deionizada e tween 80, submetido apenas à pirólise em combustão espontânea de

organometálico, Trietilgálio - TEGa (a-GaxOy/ PIRÓLISE EM COMBUSTÃO

ESPONTÂNEA); e do pó de óxido de gálio amorfo submetido também à oxidação por

Chemical Vapor Deposition (CVD) - Deposição Química na Fase Vapor a 300 ºC (a-

GaxOy/ OXIDAÇÃO a 300 °C), a 500 °C (a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 500 °C) e a 700 ºC (a-

GaxOy/ OXIDAÇÃO a 700 °C), conforme Tabela 6, abaixo.

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Tabela 6 - Atividade antimicrobiana, determinação da CIM e CBM do pó de óxido de

gálio amorfo, disperso em água deionizada e tween 80, submetido apenas à pirólise em

combustão espontânea de TEGa (a-GaxOy/ PIRÓLISE EM COMBUSTÃO ESPONTÂNEA);

e do pó de óxido de gálio amorfo submetido também à oxidação por CVD a 300 ºC (a-GaxOy/

OXIDAÇÃO a 300 °C), a 500 °C (a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 500 °C) e a 700 ºC (a-GaxOy/

OXIDAÇÃO a 700 °C).

SUBSTÂNCIAS CIM CBM

a-GaxOy/ PIRÓLISE EM

COMBUSTÃO ESPONTÂNEA 0,2 mg/mL 0,4 mg/mL

a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 300 °C 0,05 mg/mL 0,4 mg/mL

a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 500 °C 0,15 mg/ mL 0,5 mg/mL

a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 700 °C 0,15 mg/mL 0,6 mg/mL

Fonte: Este trabalho.

Das substâncias analisadas, a que melhor apresentou atividade antimicrobiana foi a

amostra de óxido de gálio amorfo oxidada à temperatura de 300 ºC, pela técnica de CVD, por

sua ação inibitória da multiplicação celular, numa concentração menor (0,05 mg/mL), além de

que, sua concentração para morte celular bacteriana foi similar a do a-GaxOy/ PIRÓLISE (0,4

mg/mL); e inferior ao comparado das amostras de a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 500 °C (0,5

mg/mL) e a-GaxOy/ OXIDAÇÃO a 700 °C (0,6 mg/mL), conforme dados da Tabela 6.

À temperatura de recozimento de 300 °C, o pó de a-GaxOy, apresenta, conforme

resultados apresentados pela atividade antimicrobiana desta pesquisa, uma redução no número

de ligações de oxigênio ao gálio, que, por sua vez, terá um maior número de ligações

pendentes, favorecendo sua absorção pelas bactérias. Levando em consideração que muitas

enzimas que apresentam ferro em sua composição estão envolvidas no metabolismo

microbiano de patógenos, o gálio pode atuar como agente deletério nestes organismos, agindo

como inibidor ou destruidor dessas células, a partir de sua inserção na composição dessas

redes proteicas. Esses resultados comprovam as informações reportadas na literatura a

respeito da ação antibacteriana desse metal, por sua interferência na utilização de ferro por

certos micro-organismos, e consequentemente, na síntese do Ácido Desoxirribonucleico, no

transporte de elétrons e na defesa contra o stress oxidativo.

É de conhecimento também que na temperatura de oxidação de 700 °C, há uma quebra

total das ligações do gálio ao C2H5, de forma que às ligações pendentes do gálio, haja maior

número de oxigênio, reduzindo consideravelmente sua interação com Streptococcus mutans,

conforme ficou evidenciado nos resultados deste experimento, como a amostra que

apresentou menor atividade antimicrobiana.

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5 INPI FRANÇA

De acordo com a importância dos resultados iniciais e inéditos obtidos nesta pesquisa,

referentes à baixa citotoxidade do a-GaxOy e a sua atividade antibacteriana favorável para S.

mutans, e, em virtude também do baixo conhecimento na literatura sobre sua aplicação

terapêutica médica-odontológica, foi solicitada a inscrição no enveloppe Soleau, no INPI

(Institut National de Propriété Intelectuelle) da França, para atividade antimicrobiana e de

cicatrização do óxido de gálio amorfo, conforme ANEXO A.

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6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

6.1 CONCLUSÕES

A pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio (TEGa) produziu um pó de cor

cinza claro de óxido de gálio amorfo (a-GaxOy), comprovado por Difração de Raios X (DRX).

O pó obtido por queima do referido organometálico, em ambiente aberto, foi submetido à

oxidações pelo sistema CVD - a 300, 500 e 700 °C. Nessa última temperatura, houve uma

mudança na cor do pó, passando de cinza claro para branco, que pôde ser explicada, pela

diminuição do percentual atômico de carbono na amostra, evidenciado pela Espectroscopia

por Dispersão em Energia (EDS), que, também, confirmou, em todas as amostras de pó

obtidas, a presença do elemento químico gálio, oxigênio. Foi confirmado que com o aumento

da temperatura desse processo oxidativo, o percentual atômico de gálio e oxigênio do a-GaxOy

aumentou.

De acordo com as análises feitas pela Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV),

percebeu-se que, ao modificar a temperatura (de combustão e oxidação), não houve muita

mudança na morfologia estrutural externa das amostras de a-GaxOy, visualizando-se

aglomerados de carbono, gálio e oxigênio na forma de esferas em magnificações de 50.000X

e 100.000X.

A partir do DRX, obteve-se o difratograma típico do pó de óxido de gálio, obtido a

partir da pirólise à combustão espontânea do TEGa e pela oxidação por CVD a 300, 500 e 700

°C, com presença de bandas características de fase amorfa (pico largo). Notou-se também que

o DRX do pó de óxido de gálio oxidado à temperatura de recozimento de 700 °C apresentou,

além da fase amorfa, uma quantidade de material cristalino, típico de um material

policristalino (presença de fase amorfa e cristalina), com picos característicos finos, cuja

intensidade corresponde aos planos cristalinos do óxido de gálio cristalino (β-Ga2O3).

Das análises feitas pela Espectroscopia Raman, observou-se que o pó de óxido de

gálio amorfo oxidado a 700 °C apresentou bandas características da fase β-Ga2O3

Todas as quatro amostras de a-GaxOy obtidas foram utilizadas no preparo de

dispersões, por meio de tween 80, tipo de dispersante, e água deionizada, que foram utilizadas

nos testes laboratoriais de citotoxidade em linhagem de célula VERO e RAW 264.7, e de

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atividade antimicrobiana sobre S. mutans AU 159, potente bactéria iniciadora da doença cárie

dentária.

Pelo ensaio de citotoxidade, concluiu-se que a amostra de óxido de gálio amorfo (a-

GaxOy), obtida por pirólise à combustão espontânea de Trietil Gálio e oxidada à temperatura

de 500 ºC pela sistema CVD, foi a que apresentou menor citotoxidade, independente da

concentração, frente à linhagem de células RAW 264.7 e VERO, quando comparada à

amostra de óxido de gálio amorfo submetida à temperatura de recozimento de 700 ºC, que na

presença de células RAW 264.7 – na concentração 2,5 e 5,0 µg/mL e VERO – na

concentração 5,0 µg/mL, foi a que proporcionou menor viabilidade para as ambas células.

Nessa temperatura, os resultados observados nas células RAW 264.7, em todas as

concentrações, mostraram uma possível proliferação celular; sendo um bom indício para

regeneração tecidual, o que viria beneficiar também os pacientes diabéticos, já que, entre as

principais complicações do diabetes, está a maior dificuldade de cicatrização de ferimentos.

Uma vez comprovados os resultados satisfatórios da sua não toxicidade inicial,

estudos de biocompatibilidade do produto a-GaxOy, obtido por pirólise à combustão

espontânea de Trietil Gálio e oxidado a 500 °C, podem ter continuidade, realizando-se os

ensaios necessários em animais de laboratório, ou seja, in vivo.

De acordo com os resultados da atividade antimicrobiana, percebeu-se que a amostra

de a-GaxOy oxidada a 300 °C por CVD foi a que teve melhor desempenho por sua ação

inibitória da multiplicação celular (bacteriostática) e para morte celular bacteriana

(bactericida) sobre cepa de Streptococcus mutans; quando comparada às demais amostras,

especialmente, aquela submetida à temperatura de recozimento de 700 °C, que teve o pior

resultado para esse tipo de ensaio laboratorial.

6.1.1 PERSPECTIVAS

A toxicidade dos compostos contendo gálio foi, até o presente momento, insuficiente

para provar uma razão de abandono desta via terapêutica. A amostra de a-GaxOy,

quando oxidada a 500 °C por CVD, apresentou-se pouco tóxica.

Estudos de biocompatibilidade deverão, posteriormente, ser complementados, para

que o a-GaxOy possa ser definitivamente utilizado em pacientes humanos.

Apesar do efeito de divisão celular, teste de específico para proliferação celular deverá

ser realizado, já que teste de citotoxidade não indicativo para essa finalidade.

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Amostras de a-GaxOy, oxidadas à temperatura 300° C por CVD resultaram em

atividade antimicrobiana favorável sobre S. mutans, agentes causadores da cárie

dentária, favorecendo o desenvolvimento de novos estudos na área de biomateriais

odontológicos, com finalidade preventiva para esse tipo de doença de origem

polimicrobiana

Pelos resultados iniciais inéditos e importantes, foi solicitada a inscrição no enveloppe

Soleau, no INPI (Institut National de Propriété Intelectuelle) da França, para atividade

antimicrobiana e de cicatrização do óxido de gálio amorfo. Até o presente momento,

não se têm noticias de que o gálio, na sua forma elementar (gálio metálico) ou na

forma de nanoestruturas de GaxOy (óxido de gálio, amorfo ou cristalino) tenha sido

utilizado na medicina ou odontologia, para tratamento terapêutico e/ ou preventivo.

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ANEXO - APPLICATIONS DE L'OXYDE DE GALLIUM AMORPHE COMME AGENT

ANTI-MICROBES ET AGENT CICATRISANT.

DATA: 05/01/2017, COMMANDE N° P000316802