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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO CRISTIANGREY QUINDERÉ GOMES A FORMAÇÃO CONTINUADA DE ALFABETIZADORAS E AS NECESSIDADES DOS CONTEXTOS ESCOLARES: UM ESTUDO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE HUMAITÁ-AM Porto Velho/RO 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR NÚCLEO DE … · ajudar a cuidar do meu ... Agradeço a todos os meus familiares (tios e tias, primos e primas, sogro e ... que se mostrou

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA UNIR

    NCLEO DE CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM EDUCAO

    MESTRADO EM EDUCAO

    CRISTIANGREY QUINDER GOMES

    A FORMAO CONTINUADA DE ALFABETIZADORAS E AS NECESSIDADES

    DOS CONTEXTOS ESCOLARES: UM ESTUDO NA REDE MUNICIPAL DE

    ENSINO DE HUMAIT-AM

    Porto Velho/RO

    2016

  • CRISTIANGREY QUINDER GOMES

    A FORMAO CONTINUADA DE ALFABETIZADORAS E AS NECESSIDADES

    DOS CONTEXTOS ESCOLARES: UM ESTUDO NA REDE MUNICIPAL DE

    ENSINO DE HUMAIT-AM

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Educao, no Ncleo de Cincias

    Humanas, da Universidade Federal de Rondnia -

    UNIR, como requisito parcial para obteno do

    ttulo de Mestre em Educao, na linha de pesquisa

    Formao Docente, sob a orientao da Prof. Dra.

    Rosngela de Ftima Cavalcante Frana.

    Porto Velho/RO

    2016

  • FICHA CATALOGRFICA

    BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES

    G633f Gomes, Cristiangrey Quinder.

    A Formao continuada de alfabetizadoras e as necessidades dos

    contextos escolares: um estudo na rede municipal de ensino de Humait -

    AM / Cristiangrey Quinder Gomes. -- Porto Velho, Rondnia, 2016.

    124 f.: il.

    Orientadora: Prof. Dr. Rosngela de Ftima Cavalcante Frana

    Dissertao (Mestrado Acadmico em Educao) - Fundao

    Universidade Federal de Rondnia UNIR.

    1.Formao continuada. 2.Professoras alfabetizadoras. 3.Polticas de

    formao de professores. 4.Contextos escolares. I.Frana, Rosngela de

    Ftima Cavalcante. II.Fundao Universidade Federal de Rondnia

    UNIR. III.Ttulo.

    CDU 37

    Bibliotecria Responsvel: Edoneia Sampaio CRB 11/947

  • FOLHA DE APROVAO

    Esta dissertao foi julgada como um dos requisitos para a obteno do Ttulo de Mestre em

    Educao A formao continuada de alfabetizadoras e as necessidades dos contextos

    escolares: um estudo na rede municipal de ensino de Humait-AM e aprovada em sua forma

    final pelo Programa de Ps-Graduao em Educao da Fundao Universidade Federal de

    Rondnia - UNIR.

    Porto Velho, 11/10/2016.

    Prof. Dra. Rosngela de Ftima Cavalcante Frana

    Coordenadora do Programa de Ps-Graduao Mestrado Acadmico em

    Educao.

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________________________

    Prof. Dr. Rosngela de Ftima Cavalcante Frana

    (Presidente e orientadora - PPGE)

    Universidade Federal de Rondnia UNIR

    _____________________________________________________________

    Prof. Dr. Mark Clark Assen de Carvalho

    (Examinador Membro Titular externo ao Programa - PPGE)

    Universidade Federal do Acre UFAC

    ______________________________________________________________

    Prof. Dr Carmen Tereza Velanga

    (Examinadora Membro Titular interno do Programa PPGE)

    Universidade Federal de Rondnia UNIR

    ____________________________________________________________

    Prof. Dr Nair Ferreira Gurgel do Amaral

    (Examinadora Membro Suplente interno do Programa PPGE)

    Universidade Federal de Rondnia - UNIR

    Porto Velho/RO

    2016

  • Dedico este trabalho a Luiz Fernando, meu filho (meu pequeno

    prncipe de um ano e cinco meses), razo da minha vida, que

    mesmo to pequenino me permitiu concluir mais uma etapa

    importante de minha vida profissional.

    A Maria das Graas Quinder Gomes, minha me, pelo

    incentivo e fora, dedico-lhe essa conquista como gratido.

    A Raimundo Gomes da Trindade (in memoriam), meu av e a

    Luiza Ferreira Quinder (in memoriam) minha av e segunda

    me, pois em vida sempre me motivaram em tudo, principalmente

    em meus estudos. Por isso, onde quer que estejam, sei que

    tambm compartilham comigo mais esta conquista.

    A Maramaldo, meu esposo, companheiro e amigo, que sempre

    esteve ao meu lado.

    A todas as professoras alfabetizadoras que, como eu, acreditam

    na melhoria do trabalho docente de nossas escolas.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pela oportunidade de viver, de pensar, pela sabedoria e

    inspirao para trilhar este caminho, em meio aos desafios, s conquistas e

    realizaes, ao longo de minha vida.

    A minha me, pelo carinho e dedicao que hoje me ensina a ser me, ao me

    ajudar a cuidar do meu filho.

    Ao meu esposo Maramaldo, pelo amor e pacincia. Obrigada, por

    constantemente entender a minha ausncia, e minhas angstias nessa trajetria.

    A Prof Dr Rosngela de Ftima Cavalcante Frana, orientadora singular,

    pelo profissionalismo com que conduz seu trabalho na Educao. Tambm pela

    grandiosa compreenso, contribuies e pelos momentos de aprendizado no

    decorrer das orientaes, que muito enriqueceram a construo deste trabalho,

    meus sinceros agradecimentos.

    Aos Professores Doutoranda Eliane Regina Martins Batista e ao gerente do

    Ncleo de Ensino Superior de Humait-AM UEA/NESHUM,

    professor Jos talo da Rocha, pelo emprstimo de alguns acervos

    bibliogrficos que me ajudaram a fundamentar meu trabalho, alm de me

    propiciar conhecimento terico acerca da temtica investigada.

    A Professora Doutoranda Simne de Oliveira Alencar, pelo incentivo e por

    acreditar mais do que eu que seria possvel realizao desta conquista pessoal

    e profissional.

  • Aos gestores das instituies locus da pesquisa e todas as Professoras alfabetizadoras, pela gentileza e dedicao com que responderam aos meus

    questionamentos.

    Fundao Universidade Federal de Rondnia e a todos os professores do

    Programa de Mestrado em Educao da UNIR pela oportunidade de

    tantas aprendizagens, ampliando meus horizontes para a pesquisa, contribuindo

    para a construo de uma postura mais crtica, tica e sensvel na minha

    trajetria de pesquisadora e profissional da educao.

    A todos os colegas do curso, com os quais aprendi bastante e, tambm,

    compartilhei as alegrias, conhecimento, amizade, tristezas, apoio e incentivo no

    decorrer desta trajetria. Agradeo de modo especial colega Lerkiane

    Miranda de Morais, pela amizade construda. Quando meu filho nasceu,

    cursei uma disciplina distncia, e ela foi mais que uma colega, foi uma grande

    amiga, pois me incluiu em seu grupo de trabalho, e me repassava todas as

    orientaes necessrias.

    Tambm ngela Souto e Anglica Ortiz, pois foram duas colegas muito

    prestativas desde o incio do curso at o momento da defesa.

    Agradeo banca examinadora, Dr. Mark Clark Assen de Carvalho e a Dr

    Carmen Tereza Velanga, pelo aceite e relevantes contribuies.

    Secretaria Municipal de Educao de Humait-AM, pela autorizao

    conferida para que eu pudesse ingressar e concluir mais um curso de qualificao

    profissional.

    A Maria Erbnia Pereira, que nos ltimos meses de concluso do curso

    demonstrou-se uma grande amiga, sua interveno junto ao rgo SEMED, o

  • qual sou vinculada foi fundamental para tornar possvel a realizao desta

    conquista.

    Agradeo a todos os meus familiares (tios e tias, primos e primas, sogro e sogra,

    cunhados e cunhadas, sobrinhos e sobrinhas) pelo amor, incentivo e apoio nesta

    trajetria. De modo especial a:

    Raimunda Maria (Dica) e seu esposo Paulo Roberto, por me acolherem em

    sua casa, me proporcionando conforto nas minhas idas e vindas ao Campus UNIR.

    Jeane Tavares (cunhada), por cuidar do meu filho nos seus primeiros meses de

    vida, acompanhando-nos at a Universidade, bem como quando precisei fazer a

    coleta de dados em que me auxiliou bastante.

    Tas Pereira (prima e irm), que se mostrou bastante prestativa cuidando do

    meu filho, nas vezes que precisei deix-lo em casa.

    Esses agradecimentos so a maneira que demonstro minha gratido e carinho s

    pessoas que contriburam de alguma forma e que fizeram parte desta caminhada.

    A todas elas, meu profundo reconhecimento...

    Muito obrigada!

  • Uma mudana administrativa na educao deveria, a nosso ver, dispensar

    muito mais ateno ao propsito do professor. Ela deveria, portanto:

    Dar voz aos propsitos do professor;

    Escutar ativamente e apoiar realmente seus desejos;

    Estabelecer oportunidades para os professores confrontarem as crenas e os pressupostos subjacentes a suas prticas;

    Mostrar uma prontido para escutar e aprender com aquilo que os professores tm a dizer sobre a mudana;

    Evitar a criao de uma cultura de dependncia entre os professores, superestimando a experincia da pesquisa publicada e

    subestimando o conhecimento prtico do professor;

    Evitar modismos sob a forma de uma implementao de cima para baixo, de novas estratgias de ensino cujo valor e adequao so

    administrativamente tratados como acima de qualquer crtica;

    Fortalecer os professor e suas escolas para a reconquista de substancial responsabilidade decisria sobre o currculo (o

    principal lugar do propsito e do valor), bem como do ensino;

    Criar uma oportunidade de professores que discuta e desenvolva em conjunto seus propsitos, ao longo do tempo, de modo a criar um

    senso comum de misso em suas escolas. (FULLAN E

    HARGREAVES, 2000).

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AEE Atendimento Educacional Especializado

    AM Amazonas

    CFORM Centro de Formao Continuada de Professores

    CNE Conselho Nacional de Educao

    CP Conselho Pleno

    FUNDEF Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental

    FUNDEB Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Bsica

    GEEMPA Grupo de Estudos sobre Educao, Metodologia da Pesquisa e Ao.

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IEAA Instituto de Educao, Agriculta e Ambiente.

    IES Instituio de Ensino Superior

    IFAM Instituto Federal do Amazonas

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    NESHUM Ncleo de Ensino Superior de Humait

    PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa

    PNE Plano Nacional de Educao

    PPGE Programa de Ps-graduao em Educao

    PROGESTO Programa de Capacitao distncia para Gestores Escolares

    SEB Secretaria de Educao Bsica

    SEDUC Secretaria de Educao do Estado do Amazonas e Qualidade do Ensino

    SEMED Secretaria Municipal de Educao

    RO - Rondnia

    UNB Universidade de Braslia

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    UNIR Fundao Universidade Federal de Rondnia

    UEA Universidade do Estado do Amazonas

    UFAM Universidade Federal do Amazonas

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1 Perspectivas Tericas .............................................................................. 24

    Quadro 2 Termos empregados para formao continuada de docentes .................. 55

    Figura 1 Procedimento da Anlise de Contedo ................................................... 66

    Quadro 3 Construo de Categorias a partir das questes abertas .......................... 68

    Figura 2 Mapa do Estado do Amazonas, com destaque para o municpio de

    Humait-AM ..........................................................................................

    70

    Tabela 1

    Caractersticas geogrficas do municpio de Humait-AM ....................

    71

    Tabela 2

    Escolas, turmas, turnos e etapas pesquisadas ..........................................

    73

  • GOMES, Cristiangrey Quinder. A formao continuada de alfabetizadoras e as

    necessidades dos contextos escolares: um estudo na rede municipal de ensino de Humait-

    AM. 2016. 124 f. Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Educao, no

    Ncleo de Cincias Humanas, Fundao Universidade Federal de Rondnia, Porto Velho-RO,

    2016.

    RESUMO

    No Brasil, a formao continuada teve suas aes impulsionadas a partir da dcada de 1990

    (sculo XX), perodo no qual se evidenciou vrias propostas visando formao de

    professores em servio, nas diferentes instncias dos Sistemas Pblicos de Ensino. Com a

    aprovao da atual Lei de Diretrizes Bases da Educao Bsica Nacional, n 9.394/96, comea

    a ser institudo um novo quadro legal referente a essa temtica. Nessa perspectiva, as

    responsabilidades e obrigaes dos sistemas de ensino, a respeito da elaborao e da

    implementao de polticas de valorizao e qualificao da profisso docente, esto

    amparadas oficialmente, estabelecendo-se, assim, os direitos dos profissionais da educao de

    aperfeioarem-se por meio de processos formativos contnuos. Partindo dessa

    contextualizao, a questo problematizadora deste estudo foi: de que modo a formao

    continuada de professoras alfabetizadoras, ofertada pela rede pblica municipal de ensino de

    Humait-AM, atende s demandas especficas de cada contexto escolar? Em consonncia com

    tal questionamento, o objetivo geral consistiu em analisar se a formao continuada de

    professoras alfabetizadoras do municpio de Humait-AM atende s demandas especficas de

    cada contexto escolar. Trata-se, portanto, o presente estudo, de uma pesquisa descritiva

    exploratria, de abordagem qualitativa, cuja mesma teve como sujeitos 23 professoras que

    trabalham de 1 ao 3 ano do Ensino Fundamental. Para a obteno dos dados desse estudo foi

    aplicado um questionrio e realizada uma entrevista semiestruturada gravada. A pesquisa em

    pauta foi realizada no primeiro semestre de 2016, tendo como locus cinco escolas da rede

    pblica municipal de Humait-AM. Aps as anlises realizadas, tendo por base as categorias

    construdas e levando em considerao o olhar das alfabetizadoras, os resultados revelaram

    que a formao continuada ofertada no contexto educacional investigado denota atendimento

    parcial quanto suas demandas especficas, pois, encontramos dois grupos de alfabetizadoras

    com percepes divergentes. Um grupo sinalizou ausncia de diagnstico para o

    levantamento das reais necessidades da prtica diria, assim como se ressente da ausncia

    e/ou insuficincia de material didtico-pedaggico, do apoio da gesto escolar, da precria

    condio de trabalho. Outro grupo enunciou momentos reflexivos como espao de

    problematizao e subsdio prtica e aproximaes entre os contedos trabalhados e as

    necessidades pedaggicas cotidianas. Conclui-se, mediante tal resultado, que as polticas

    educacionais voltadas formao continuada de professoras alfabetizadoras, no espao

    escolar, so fundamentais e possuem um potencial significativo para a promoo da melhoria

    da qualidade da aprendizagem dos alunos. Este fato culmina com um impacto relevante na

    prtica social, na medida em que as professoras alfabetizadoras habilitam-se a construir uma

    formao com base slida, adquirindo o domnio terico-prtico necessrio para uma ao

    pedaggica mais eficiente e eficaz. Estas constataes so fundamentais para que as polticas

    de formao continuada sejam pensadas para ocorrerem no espao escolar e estarem

    articuladas a outras polticas, uma vez que a problemtica da aprendizagem e da construo da

    qualidade na educao pblica exige uma multiplicidade de aes e intervenes para alm da

    formao continuada de professores.

    Palavras-chave: Formao continuada. Professoras alfabetizadoras. Polticas de formao de

    professores. Contextos escolares.

  • GOMES, Cristiangrey Quinder. Continued Training of literacy teachers and how Needs

    School Contexts: a Study in the Municipal Network Humait-AM teaching. 2016. 124 f.

    Master's thesis - Program of Graduate Studies in Education at the Center for Human Sciences,

    Federal University of Rondnia, Porto Velho-RO, 2016.

    ABSTRACT

    In Brazil, the continuous formation had their impelled actions, starting from the decade of

    1990 (century XX), period in which was evidenced several proposals seeking to the teachers'

    formation in service, in the different instances of the Public Systems of Teaching. With the

    approval of the current Law of Diretrizes Bases da Educao Bsica, n 9.394/96, moment in

    which, it begins to a new legal picture to be instituted regarding this theme. In this

    perspective, the responsibilities and obligations of the education systems, regarding the

    elaboration and of the implementation of politics of valorization and qualification of the

    educational profession they are aided officially, settling down like this, the professionals' of

    the education rights of they be improved through continuous formative processes. Starting

    from this context, the leading question for this issue was: that it forms the continuous

    formation of literacy tutors teachers, done present by the municipal public school system of

    teaching of Humait-AM, assist to the specific demands of each school context? In

    consequence, with such questioning the general objective consisted of analyzing the

    continuous formation of literacy tutors teachers of the municipal district of Humait-AM

    assists to the specific demands of each school context. It is an exploratory descriptive

    research, of qualitative, approach which had as subjects 23 teachers that work from 1st to the

    3rd year of the Elementary School. For the obtaining of the data of that study a questionnaire

    was applied and accomplished a semi-structured interview recorded. The research on the

    agenda it was accomplished in the first semester of 2016, tends as lcus five schools of the

    municipal school system of Humait-AM. After the accomplished analyses, having for base

    the built categories taking into account the glance of the literacy tutors, the results revealed

    that the continuous formation presented in the investigated education context denotes partial

    service as their specific demands. Because, we found two literacy tutors groups with divergent

    perceptions. A group signaled diagnosis absence for the rising of the real needs of the daily

    practice, as well as they are resented of the absence and/or inadequacy of didactic-pedagogic

    material, of the support of the school administration, finally of the precarious work condition.

    And other group enunciated reflexive moments as questioning space and subsidy to the

    practice and although the worked contents approach their daily pedagogic needs. It is

    concluded by such result that the education politics, returned to the continuous formation of

    literacy tutors teachers in the school space are fundamental and they possess a significant

    potential for the promotion of the improvement of the quality of the students'. This evidence

    learning with a relevant impact in practice social, in the measure in that the literacy tutors

    teachers can build a formation with solid base, acquiring the necessary theoretical-practical

    domain for a more efficient and effective pedagogic action. However, the politics of

    continuous formation need to be thought to happen in the school space and to be articulated to

    other politics, once the problem of the learning and of the construction of the quality in the

    public education demands a multiplicity of actions and interventions for besides the teachers'

    continuous formation.

    keywords: Continuous formation. Literacy tutors teachers. Politics of teachers' formation.

    School contexts.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 13

    2 A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES: PERSPECTIVAS, PRTICA

    REFLEXIVA E SABERES DOCENTES ............................................................................ 24 2.1 Formao continuada: perspectivas tericas ...................................................................... 24

    2.2 Reflexo: eixo norteador da formao continuada ................................................... ......... 37

    2.3 Saberes docentes: uma construo da prtica alfabetizadora ............................................. 42

    3 FORMAO CONTINUADA E ALFABETIZAO: UMA ARTICULAO

    NECESSRIA ....................................................................................................................... 49

    3.1 Alfabetizao: concepes e definies de termos ........................................................... 49

    3.2 A importncia da formao continuada no fazer docente .................................................. 53

    3.3 Gesto escolar e formao continuada: uma articulao possvel .................................... 57

    4 A PESQUISA: CAMINHOS PERCORRIDOS ................................................................ 61 4.1 Aspectos metodolgicos da pesquisa ................................................................................ 61

    4.2 Contexto da pesquisa .......................................................................................................... 70

    5 A FORMAO CONTINUADA E A ESCOLA COMO ESPAO-TEMPO DE

    DESENVOLVIMENTO DOS SABERES DOCENTES ..................................................... 74 5.1 O olhar das alfabetizadoras sobre a formao continuada: um ponto de partida necessrio

    .................................................................................................................................................. 75

    6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 101

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 106

    APNDICES ......................................................................................................................... 113

    ANEXOS ............................................................................................................................... 131

  • 13

    1 INTRODUO

    A partir da dcada de 1990 do sculo XX, a formao continuada teve suas aes

    impulsionadas no Brasil. Nesse perodo, vrias propostas foram evidenciadas nas diferentes

    instncias dos Sistemas Pblicos de Ensino visando formao de professores em servio.

    Com a aprovao da atual Lei de Diretrizes Bases da Educao Bsica Nacional, n

    9.394/96, um novo quadro legal, referente a esta temtica, comeou a ser institudo. Em

    acordo com o que estabelece o inciso III, do Art. 63, as instituies formativas devero

    manter programas de formao continuada para os profissionais de educao dos diversos

    nveis. Alm disso, os incisos II e V do Art. 67, que apresentam esta modalidade formativa

    como parte bsica das aes de valorizao dos profissionais da educao, atribuem aos

    sistemas de ensino a obrigao de assegurarem o aperfeioamento profissional continuado,

    inclusive com licenciamento peridico remunerado para esse fim; perodo reservado a

    estudos, planejamento e avaliao, includo na carga de trabalho (BRASIL, 1996).

    A respeito da elaborao e da implementao de polticas de valorizao e

    qualificao da profisso docente, as responsabilidades e obrigaes dos sistemas de ensino

    esto claramente expressas nestes artigos. Ficam estabelecidos, assim, os direitos dos

    profissionais da educao de aperfeioarem-se por meio de processos formativos contnuos.

    O Ministrio da Educao (MEC), visando o oferecimento de condies de garantia de

    formao continuada aos Sistemas Pblicos de Ensino, reforou as prerrogativas da lei por

    meio da proposta de criao do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino

    Fundamental e de Valorizao do Magistrio - FUNDEF1. Segundo orientaes fornecidas

    aos sistemas pblicos de ensino para a utilizao dos recursos do FUNDEF, o item que tratava

    da remunerao e aperfeioamento do pessoal docente e dos profissionais da educao dizia

    que podiam ser utilizados recursos do FUNDEF (da parcela de 40%) com programas de

    aperfeioamento profissional.

    J no ano de 2006, como forma de aprimoramento e ampliao da distribuio e da

    aplicao dos recursos, o MEC props o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da

    1 Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (FUNDEF) foi institudo pela Emenda Constitucional n 14, de setembro de 1996, e sua

    regulamentao est na Lei 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e no Decreto n 2.264, de junho

    de 1997. O FUNDEF foi implantado, nacionalmente, em 1 de janeiro de 1998, quando, a nova

    sistemtica de redistribuio dos recursos destinados ao Ensino Fundamental passou a vigorar. Os

    recursos do FUNDEF devem ser empregados exclusivamente na manuteno e desenvolvimento do

    ensino fundamental e, particularmente, na valorizao do seu magistrio (BRASIL, 2004).

  • 14

    Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao FUNDEB2, em

    substituio ao FUNDEF. Porm, mantiveram-se em vigor as mesmas formas, j previstas, de

    repasse e utilizao dos recursos para a capacitao e aperfeioamento profissional em

    servio.

    Encontramos tambm na Resoluo n 03, de 08 de outubro de 1997, do Conselho

    Nacional de Educao, em seu artigo 5, que os sistemas de ensino envidaro esforos para

    implementar programas de desenvolvimento profissional dos docentes em exerccio, includa

    a formao em nvel superior em instituies credenciadas, bem como, em programas de

    aperfeioamento em servio (BRASIL, 1997). Desse modo, os planos de carreira devem

    incentivar a progresso, por meio da qualificao inicial e continuada dos profissionais do

    magistrio.

    Outro documento que foi pensado e construdo para dar suporte ao planejamento e

    execuo de cursos na modalidade de formao continuada, intitulado Orientaes Gerais da

    Rede Nacional de Formao Continuada dos Profissionais do Magistrio da Educao Bsica

    Pblica, foi institudo pela Portaria MEC n 1.403 de 09 de junho de 2003, com a finalidade

    de apoiar as aes de formao contnua de profissionais do magistrio da educao bsica

    (BRASIL, 2005).

    Essa rede de ensino conta com a participao dos Centros de Pesquisa e

    Desenvolvimento da Educao, com os sistemas de ensino pblico e a participao e

    coordenao da SEB/MEC. Esses Centros, articulados entre si e com outras IES, produzem

    materiais instrucionais e orientao para cursos distncia e/ou semi-presenciais, atuando em

    rede para atender s necessidades e demandas dos sistemas de ensino. O MEC, oferecendo

    suporte tcnico e financeiro, tem um papel de coordenador do desenvolvimento desses

    programas, implementados por adeso, em regime de colaborao entre estados, municpios e

    Distrito Federal (BRASIL, 2005).

    Nessa discusso, destacam-se ainda a Resoluo n 4, de 13 de julho de 2010, que

    define novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educao Bsica, assegurando

    2 Criado pela Emenda Constitucional n 53/2006 e regulamentado pela Lei 11.494/2007 e Decreto n 6.253/2007, em substituio ao Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e

    de Valorizao do Magistrio (FUNDEF), que vigorou de 1997 a 2006, o Fundo de Manuteno e

    Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao (FUNDEB)

    surgiu com a proposta de redistribuir, de forma mais justa e equitativa, os recursos vinculados

    educao no Pas, bem como de ampliar o patamar de investimentos. Com a reformulao, o Fundo

    passou a atender no apenas o ensino fundamental, mas toda a educao bsica, que vai da educao

    infantil at o ensino mdio e inclui a modalidade de educao de jovens e adultos, os chamados EJAs

    (BRASIL, 2009).

  • 15

    em seu captulo IV, que trata sobre O Professor e a Formao Inicial e Continuada,

    especificamente nos artigos 57 e 58, programas de formao inicial e contnua aos

    profissionais da educao vinculados s orientaes destas Diretrizes.

    Art. 57. 1 A valorizao do profissional da educao escolar vincula-se

    obrigatoriedade de garantia de qualidade e ambas se associam exigncia de

    programas de formao inicial e continuada de docentes e no docentes, no contexto

    do conjunto de mltiplas atribuies definidas para os sistemas educativos, em que

    se inscrevem as funes do professor.

    Art. 58. A formao inicial, nos cursos de licenciatura, no esgota o

    desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e habilidades referidas, razo pela qual

    um programa de formao continuada dos profissionais da educao ser

    contemplado no projeto poltico-pedaggico (BRASIL, 2010).

    E, mais recentemente, a Resoluo n 2, de 1 de julho de 20153 apresenta novas

    definies sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao inicial em nvel

    superior (cursos de licenciatura, cursos de formao pedaggica para graduados e cursos de

    segunda licenciatura) e para a formao continuada. Nessa resoluo, em seu captulo VI, h a

    disposio sobre a Formao Continuada dos Profissionais do Magistrio, de modo particular

    no Art. 16, Pargrafo nico e incisos I, II, III e IV com a seguinte redao:

    Art. 16 A formao continuada compreende dimenses coletivas, organizacionais e

    profissionais, bem como o repensar do processo pedaggico, dos saberes e valores, e

    envolve atividades de extenso, grupos de estudos, reunies pedaggicas, cursos,

    programas e aes para alm da formao mnima exigida ao exerccio do

    magistrio na educao bsica, tendo como principal finalidade a reflexo sobre a

    prtica educacional e a busca de aperfeioamento tcnico, pedaggico, tico e

    poltico do profissional docente.

    Pargrafo nico. A formao continuada decorre de uma concepo de

    desenvolvimento profissional dos profissionais do magistrio que leva em conta:

    I - os sistemas e as redes de ensino, o projeto pedaggico das instituies de

    educao bsica, bem como os problemas e os desafios da escola e do contexto onde

    ela est inserida;

    II - a necessidade de acompanhar a inovao e o desenvolvimento associados ao

    conhecimento, cincia e tecnologia;

    III - o respeito ao protagonismo do professor e a um espao-tempo que lhe permita

    refletir criticamente e aperfeioar sua prtica;

    IV - o dilogo e a parceria com atores e instituies competentes, capazes de

    contribuir para alavancar novos patamares de qualidade ao complexo trabalho de

    gesto da sala de aula e da instituio educativa (BRASIL, 2015).

    3As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao inicial em nvel superior (cursos de

    licenciatura, cursos de formao pedaggica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a

    formao continuada institudas pela Resoluo CNE/CP 2/2015, atualmente encontram-se em

    processo de adaptao no prazo de 2 (dois) anos, a contar da data de sua publicao, conforme o Art.

    22 desta resoluo.

  • 16

    As Diretrizes ratificam o papel dos sistemas de ensino que devero instituir as

    orientaes para os projetos de formao continuada de docentes e demais profissionais da

    educao. Deixa claro que isto deve ser feito de modo que correspondam s demandas do

    prprio contexto escolar, alm de contribuir com a qualidade social que a educao escolar

    deve propiciar aos seus educandos.

    importante salientar que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (Resoluo n

    2/2015) concebem a formao continuada como reflexo sobre a prtica pedaggica, alm de

    considerar os desafios mobilizados por esta atividade em seus contextos escolares. So

    normativas que apontam para a necessidade de se formarem professores que reflitam sobre o

    seu prprio fazer, pois a reflexo ser instrumento de desenvolvimento do pensamento, da

    ao e de desenvolvimento profissional.

    Outro dispositivo de carter legal, que define diretrizes e metas sobre a formao

    continuada do professor, o Plano Nacional de Educao PNE (Lei n.10.172/2001). Esse

    plano estabelece objetivos e estratgias para a formao inicial e continuada dos professores e

    demais servidores da educao, enfatizando a necessidade de programas articulados entre as

    instituies pblicas de ensino superior e as secretarias de educao, de modo a elevar o

    padro mnimo de qualidade de ensino.

    Atualmente, contamos com o novo Plano Nacional de Educao para o decnio 2014-

    20244, aprovado pela Lei n 13.005

    5, de 25 de junho de 2014, que vem suceder o PNE 2001-

    2010. Esse documento permanece dando nfase formao continuada como um dos

    elementos fundamentais para a garantia de uma educao de qualidade. Recebendo destaque

    as estratgias 15.4 e 15.11 da meta 15, bem como a meta 16 com sua estratgia 16.1. Vejamos

    na ntegra o que diz o texto das estratgias citadas:

    Meta 15: [...]

    15.4 consolidar e ampliar plataforma eletrnica para organizar a oferta e as

    matrculas em cursos de formao inicial e continuada de profissionais da educao,

    bem como para divulgar e atualizar seus currculos eletrnicos.

    [...]

    4 O projeto de lei do Executivo, enviado em dezembro de 2010, previa a aprovao do PNE para o decnio 2011-2020 o que era, francamente, muito improvvel, a no ser que a tramitao nas duas

    Casas do Parlamento fosse concluda ainda em 2011. Aps o trmino da tramitao, o texto final fez o

    ajuste, estabelecendo o PNE 2014-2024. Assim, quando a referncia for ao projeto do Executivo, ser

    mantida a data do documento oficial, 2011-2010. Quando for Lei n 13.005/2014, a referncia ser

    2014-2024. 5 Publicada no Dirio Oficial da Unio, Seo 1 (Ed. extra), de 26 de junho de 2014, p. 1-7.

  • 17

    15.11 implantar, no prazo de um ano de vigncia desta lei, poltica nacional de

    formao para os(as) profissionais da educao, de outros segmentos que no os do

    magistrio, construda em regime de colaborao entre os entes federados.

    Meta 16: formar, em nvel de ps-graduao, cinquenta por cento dos professores da

    educao bsica, at o ltimo ano de vigncia deste PNE, e garantir a todos(as)

    os(as) profissionais da educao bsica formao continuada em sua rea de

    atuao, considerando as necessidades, demandas e contextualizaes dos sistemas

    de ensino.

    16.1 realizar, em regime de colaborao, o planejamento estratgico para

    dimensionamento da demanda por formao continuada e fomentar a respectiva

    oferta por parte das instituies pblicas de educao superior, de forma orgnica e

    articulada s polticas de formao dos estados, do Distrito Federal e dos municpios

    (BRASIL/PNE 2014-2024).

    Com base nesse discurso oficial em favor da formao continuada de professores, no

    encontramos respaldo na prtica. O que conseguimos perceber, na verdade, uma funo

    ideolgica, uma vez que as condies reais sobre as quais a atividade docente se efetiva,

    acontece por meio de um processo desqualificador, pois os professores so submetidos, dentre

    outros aspectos, a baixos salrios, precrias condies de trabalho e falta de incentivo s

    possibilidades de acesso aos bens culturais. Esses fatos contradizem todo o discurso em

    defesa da profissionalizao docente e de sua valorizao. Como exemplo, o descumprimento

    do prazo estipulado para a meta 15.11, que j se encontra em atraso.

    Partindo desta contextualizao, o tema de investigao proposto tem sua origem a

    partir dos anos de 2001, quando iniciei6 minha trajetria docente. Durante quinze anos fui

    adquirindo experincia docente, inicialmente trabalhando com alunos de seis a dez anos de

    idade, do 1 ao 5 ano do Ensino Fundamental, em turmas multisseriadas na rea ribeirinha;

    depois na rea urbana, estendendo-se, at a presente data, como coordenadora pedaggica e

    professora multiplicadora de cursos de formao continuada, para professores dos anos

    iniciais, pela rede pblica municipal de ensino do municpio de Humait-AM.

    Vrios desafios tm permeado esta prtica educativa: as condies de trabalho, a

    remunerao do trabalho docente, baixo ndice de qualidade de ensino, desarticulao da

    teoria com a prtica docente. Este ltimo caracteriza-se como objeto de estudo dessa

    investigao, pois, seja inicial ou continuada, tem sido um tema bastante presente nas ltimas

    dcadas, nos debates educacionais, e que vem se mostrando como possibilidade de

    aperfeioamento profissional, propiciando reflexes e conhecimentos pertinentes prtica

    docente.

    Nessa abordagem, vamos acompanhar algumas memrias dessa trajetria enquanto

    professora multiplicadora de programas de formao continuada. Iniciaremos pelo ano de

    6 A 1 pessoa do singular usada no tpico desta subseo se justifica pela referncia que est sendo feita minha experincia profissional, para explicar esta relao com a motivao do objeto de estudo em questo.

  • 18

    2008, quando fui convidada por um coordenador da Secretaria Municipal de Educao-

    SEMED para participar de um curso em Manaus-AM para ser tutora de um programa de

    formao continuada. Mesmo sem entender, de fato, qual seria minha funo naquele

    momento, aceitei, pois enxerguei uma oportunidade de crescimento profissional. E, assim, fui

    participar da formao de tutores em Alfabetizao e Linguagem na capital amazonense, junto

    com mais trs colegas, e l conhecemos o programa denominado Pr-letramento e toda sua

    dinmica. Nossos professores formadores eram do Centro de Formao Continuada de

    Professores da Universidade de Braslia-UnB/CFORM.

    De 2008 a 2009 fui orientadora (tutora) de estudos na rea de Alfabetizao e

    Linguagem do Programa de Formao Continuada de Professores dos Anos/Sries Iniciais do

    Ensino Fundamental-Pr-letramento em Humait-AM. Os cursistas eram professores do 1 ao

    5 Ano do Ensino Fundamental, tanto da rede municipal quanto estadual de ensino. Nos

    encontros locais, realizvamos as formaes com base na proposta metodolgica recebida nos

    eventos formativos em Manaus-AM. De maneira geral, o curso concentrava-se no

    aprendizado da lngua escrita de modo a elevar a qualidade do ensino de Lngua Portuguesa,

    por meio de gneros textuais. Nessa perspectiva, toda a formao procurava articular

    abordagens tericas com situaes prticas. Para tanto, os professores cursistas receberam oito

    fascculos e os orientadores mais quatro vdeos, os quais foram objeto de estudo dos

    professores por meio de atividades individuais, de grupos e de encontros mensais sob a

    coordenao do professor orientador (tutor).

    No incio de 2009, a convite da atual secretria de educao do municpio de Humait-

    AM, passei a trabalhar na Secretaria Municipal de Educao-SEMED, para fazer parte da

    coordenao pedaggica da SEMED. Mesmo como tutora, ainda tinha outras atribuies,

    como, por exemplo, atender comunidade escolar, por meio de visitas in loco; reunies e

    encontros tcnicos para prestar assistncia tcnico-pedaggica de forma direta aos gestores e

    supervisores escolares; coleta documental, de modo geral nossa atribuio principal auxiliar

    as equipes gestoras das escolas a superar dificuldades de gesto administrativa e pedaggica

    do cotidiano escolar, sem retir-los das suas atividades.

    De 2010 at meados de 2012, fui professora multiplicadora do programa Escola Ativa

    que pregava uma estratgia metodolgica voltada para a gesto de turmas multisseriadas7.

    Esse processo combinava uma srie de elementos de carter scio pedaggico e

    administrativo, com intuito de aumentar a qualidade da educao oferecida nessas turmas,

    7Organizao escolar formada por alunos de diferentes sries/anos e idades numa mesma turma.

  • 19

    situadas, notadamente, no campo (nas reas consideradas rurais do municpio). A estrutura

    organizacional deste programa era muito parecida com a do Pr-letramento, pois recebamos

    uma formao com professores formadores, desta vez da Universidade Federal do Amazonas

    (UFAM), tambm na capital Manaus-AM. E, assim que retornvamos, programvamos os

    encontros locais com base nas orientaes recebidas nesses encontros formativos.

    O diferencial deste programa foi alm da preocupao com aspectos pedaggicos.

    Preocupava-se, tambm, com o que era includo no currculo; com a participao da

    comunidade nas aes da escola, concretizada a partir de assembleia geral; o dia da conquista;

    de oficinas; de palestras e de eventos de integrao social, para o fortalecimento da relao

    entre a escola e a comunidade, alm da promoo de uma gesto democrtica. Tambm, como

    professora multiplicadora, teria que realizar visita s escolas, aes denominadas de

    monitoramento, para acompanhar e prestar assistncia tcnico-pedaggica aos professores,

    com relao implantao e execuo do programa, assim como a organizao de

    microcentros8. Essas aes eram realizadas mensalmente, os educadores da rede eram

    reunidos, objetivando constituir um espao para teorizao, estudos, reflexes, construo e

    apropriao de novos conhecimentos, trocas de experincias e vivncias, o que desencadeava

    um processo de avaliao e autoavaliao da prtica pedaggica. Essa prtica metodolgica

    dos microcentros me impulsionou, inicialmente, a pensar numa proposta de formao

    continuada com base nas reais necessidades dos professores a partir do contexto escolar.

    No segundo semestre de 2012 a meados de 2013, passei a orientar outro curso de

    formao continuada, o PROGESTO. Este era um programa de capacitao organizado na

    modalidade a distncia para gestores escolares. Seu objetivo era formar lideranas escolares

    comprometidas com a construo de um projeto de gesto democrtica da escola pblica,

    focada no sucesso escolar dos alunos do Ensino Fundamental e Mdio.

    Para trabalhar este curso, diferente dos demais, ao invs de ir at a capital para o

    recebimento da formao, eu recebia a visita de uma tcnica da Secretaria de Estado de

    Educao e Qualidade do Ensino (SEDUC - Manaus) vinculada ao Centro de Formao

    Profissional Padre Jos Anchieta. As informaes sobre a estrutura metodolgica do curso e a

    formao em si eram repassadas nesses momentos.

    8 uma estratgia do Programa Escola Ativa que proporciona a troca de experincias entre educadores que desenvolvem o programa e entre estes e outros profissionais. Era uma oportunidade para os educadores

    organizarem e construrem novos conhecimentos, bem como, discutirem dificuldades em relao ao processo

    ensino-aprendizagem metodologia adotada (BRASIL, 2010. p. 43).

  • 20

    Paralelamente a esses cursos de formao continuada, coordenei, ainda, o GEEMPA9 e

    o Projeto Trilhas (em 2012) que no eram cursos de formao continuada como os

    apresentados anteriormente, mas eram projetos direcionados alfabetizao. O GEEMPA no

    podia ser multiplicado. Os idealizadores desta proposta de alfabetizao ministravam a

    formao diretamente aos alfabetizadores e ao coordenador(a) local, que acompanharia a

    implementao desse projeto. Alm do curso, prestavam assessorias e forneciam materiais de

    apoio aos professores e alunos (livros para estudo, cadernos de atividades, jogos pedaggicos

    etc.). A proposta geempeana procurava fazer correo de fluxo escolar, configurando-se como

    um projeto para o atendimento a alunos com idade distorcida e que ainda no estavam

    alfabetizados.

    J o Trilhas10

    , um conjunto de materiais elaborados para instrumentalizar e apoiar o

    trabalho docente no campo da leitura, escrita e oralidade, com o objetivo de inserir as crianas

    do primeiro ano do Ensino Fundamental em um universo letrado. So cadernos de orientao

    do professor, jogos educativos, cartelas para atividades, alm de ttulos literrios. Como

    podemos observar um projeto que est alinhado a todos os demais projetos que objetivam a

    alfabetizao de todas as crianas, at no mximo oito anos de idade, e este por meio do

    incentivo leitura na sala de aula.

    Esses foram os cursos de formao continuada nos quais atuei como professora

    multiplicadora. Durante esses anos, atuando como professora tutora, ora multiplicadora, ora

    orientadora de encontros formativos, fui motivada, em 2014, a investigar a formao

    continuada dos professores alfabetizadores, pois a maioria dos cursos preconizava esta

    temtica. Contudo, no decorrer dessas formaes, no consegui verificar de que forma esses

    cursos ofertados tm contribudo efetivamente com a prtica dos professores, de modo

    particular, dos alfabetizadores. Ento, ingressei, precisamente em setembro de 2014, no

    9 Grupo de Estudos sobre Educao, metodologia de Pesquisa e Ao. Uma proposta de alfabetizao

    cientificamente embasada e sua ncora so as bases tericas slidas do ps-construtivismo, definido graas

    herana magnfica a ns legada por Piaget, Vygostski, Wallon, Grard Vergnaud, Sara Pain e todo o conjunto

    convergente de elaboraes na antropologia, na psicanlise, na medicina, na pedagogia e na psicologia da

    inteligncia (GEEMPA, 2010).

    10 O projeto TRILHAS est alinhado com o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao (Decreto

    nmero 6.094, de 24 de abril de 2007, artigo 2, inciso II), que estabelece, entre outros objetivos, a alfabetizao

    de todas as crianas at, no mximo, 8 anos de idade e o incentivo leitura na sala de aula. Por meio de seu

    conjunto de materiais, o TRILHAS prope um contexto favorvel ao processo de alfabetizao e,

    consequentemente, para o alcance da meta de 6,0 pontos estabelecida para o ndice de Desenvolvimento da

    Educao Bsica (IDEB) para 2022 (BRASIL, 2011).

  • 21

    Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Educao - Mestrado Acadmico em

    Educao, da Universidade Federal de Rondnia (UNIR), com intuito de pesquisar o que

    dizem os alfabetizadores acerca desta problemtica.

    Nesta oportunidade esta pesquisa, que traz como foco a reflexo sobre a formao

    continuada, teve seu desenvolvimento no Curso de Mestrado em Educao da Universidade

    Federal de Rondnia (UNIR), na linha de pesquisa: Formao docente, que estuda os

    processos formativos com base em abordagens tericas que tomam como eixo norteador a

    profissionalizao docente. Analisa a construo de saberes e competncias dos professores

    na perspectiva de definir as bases epistemolgicas da formao inicial e continuada.

    Diante dessa caracterizao pessoal e profissional pela qual a pesquisadora demonstra

    sua motivao para realizao desse estudo, com intuito de relacionar a problemtica sua

    experincia docente, a questo problematizadora foi: de que modo a formao continuada de

    professoras alfabetizadoras, ofertada pela rede pblica municipal de ensino de Humait (AM),

    atende s demandas especficas de cada contexto escolar? Considerando o desdobramento

    proposto pela questo norteadora, assim como a complexidade revelada pelo professor

    alfabetizador para responder s necessidades em relao ao fazer pedaggico na

    contemporaneidade, esta pesquisa teve como objetivos:

    Geral:

    Analisar se a formao continuada de professoras alfabetizadoras do municpio

    de Humait-AM atende s demandas especficas de cada contexto escolar.

    Especficos:

    Identificar qual a concepo de formao continuada das professoras

    alfabetizadoras do municpio de Humait (AM).

    Averiguar se para o planejamento e execuo dos cursos de formao

    continuada realizado um diagnstico para o levantamento das reais

    necessidades das professoras.

    Verificar se as formaes continuadas possibilitam um espao de

    problematizao da prtica das professoras.

    Identificar as aproximaes e os distanciamentos entre os conhecimentos

    trabalhados nos cursos de formao continuada e as necessidades da prtica em

    sala de aula.

    Verificar se existem mecanismos utilizados pela escola para desenvolver a

    formao continuada de professores.

  • 22

    Relacionar possveis entraves que impossibilitam colocar em prtica os

    conhecimentos terico-metodolgicos adquiridos nas formaes.

    Na busca em responder problemtica que motivou essa investigao, foi realizada

    uma pesquisa descritiva exploratria (RUDIO, 2008), de abordagem qualitativa (BOGDAN;

    BIKLEN, 1994) que teve como sujeitos 23 professoras alfabetizadoras de escolas da rede

    pblica municipal de Humait-AM. Essas profissionais trabalham em turmas do 1 ao 3 ano

    do Ensino Fundamental. Para a obteno dos dados, um questionrio foi aplicado e uma

    entrevista semiestruturada gravada com questes abertas de cunho subjetivo foi realizada. A

    investigao em pauta foi concretizada no primeiro semestre de 2016 e o campo que serviu de

    locus para realizao da pesquisa foram s escolas municipais de Ensino Fundamental do

    municpio de Humait (AM).

    Dessa maneira, essa dissertao foi estruturada em seis sees, como apresentada a

    seguir: introduo (Seo I), como parte inicial deste estudo, em que pontuamos uma

    contextualizao acerca da temtica investigada, enfatizando seus principais aspectos legais.

    Essa contextualizao surge como um aspecto preponderante neste trabalho, uma vez que

    busca enfatizar a importncia da formao continuada de professores, especificamente no que

    se refere formao de professoras alfabetizadoras como uma articulao necessria tendo

    como locus a escola, por abranger as diversas atividades desenvolvidas pelos professores no

    exerccio de sua profisso. Ademais, apresenta-se, nessa parte, uma sntese sobre a

    organizao estrutural adotada para situar o(a) leitor(a).

    Na seo II - A Formao Continuada de Professores: Perspectivas, Prtica Reflexiva

    e Saberes Docentes so apresentados alguns pressupostos sobre a formao continuada,

    como as perspectivas tericas com base em: Zeichner (1993; 2008); Contreras (2002); Schn

    (1992; 2000); Dewey (1979); Pimenta e Ghedin (2002; 2007; 2008); Alarco (1996; 2008);

    Candau (1996); Imbernn (2010); Fullan e Hargreaves (2000); Giroux (1997); Perrenoud

    (2001; 2002); Day (2001); Libneo, Oliveira e Toschi (2012). Na sequncia, a reflexo como

    eixo norteador da formao continuada, conforme Schn (1992; 2000); Dewey (1979). Ao

    final, discute-se acerca das concepes de saberes docentes em acordo com: Pimenta (2012);

    Tardif (2014); Freire (1996) como uma construo terica da prtica alfabetizadora.

    Na seo III Formao Continuada e Alfabetizao: uma articulao necessria

    aborda-se a alfabetizao com a finalidade de tratar sobre os seguintes aspectos: concepes e

    definies de termos a partir de: Soares (1998; 2003; 2009; 2011); Ferreiro e Teberosky

    (1985; 1999); Tfouni (2010); Kramer (2006); Freire (2008); Frago (1993); Oliveira (1998);

  • 23

    Brasil (2007), buscando pontuar, em um primeiro momento, diferentes abordagens que

    envolvem a alfabetizao. Em seguida, debatida a importncia da formao continuada no

    fazer docente em decorrncia das diversas demandas atuais da prtica, segundo Cavalcante

    (2007); Fusari e Franco (2007); Prada (1997); Almeida (2007); Libneo, Oliveira e Toschi

    (2012); Lima (2007). Por fim, pontua-se a gesto e a formao continuada buscando aportes

    tericos em: Brasil (1996); Abdalla (2000); Libneo, Oliveira e Toschi (2012); Lck (2010)

    como uma possibilidade de organizao escolar promover aes formativas de seus

    professores.

    Na seo IV - A Pesquisa: Caminhos Percorridos apresenta-se os caminhos seguidos

    no decorrer deste trabalho investigativo. Inicialmente, descreve-se a questo norteadora

    (problema) da pesquisa acompanhada de seu desdobramento; os objetivos, geral e especficos.

    Logo aps, apresenta-se os aspectos metodolgicos: tipo de pesquisa (RUDIO, 2008), de

    abordagem (BOGDAN; BIKLEN, 1982, 1994), instrumentos utilizados para obteno dos

    dados (GIL, 2008; BOGDAN; BIKLEN, 1982, 1994), os procedimentos metodolgicos,

    assim como a anlise dos dados (BARDIN, 2011). Finaliza-se, com uma descrio sucinta

    sobre os sujeitos do estudo, bem como sobre a contextualizao histrica (ALMEIDA, 2005)

    e geogrfica do locus da investigao.

    Na seo V - A Formao Continuada e a Escola Como Espao-tempo de

    Desenvolvimento dos Saberes Docentes nos reportamos ao olhar das alfabetizadoras sobre a

    formao continuada: um ponto de partida necessrio. Nesta seo, apresentamos e

    discutimos os dados obtidos considerando o referencial terico que fundamenta esta pesquisa.

    Na seo das Consideraes Finais VI, apresenta-se inferncias observadas, a partir

    dos aportes tericos selecionados, das tcnicas de pesquisa utilizadas, assim como das

    contribuies das professoras alfabetizadoras, sujeitos deste estudo investigativo.

    Diante dos resultados alcanados, considera-se que o estudo em pauta possui grande

    relevncia intelectual e social. Intelectual, medida que apresenta uma produo acerca de

    uma temtica atual e que merece maiores aprofundamentos tendo em vista a importncia que

    as alfabetizadoras atribuem aos cursos de formao continuada. Social, por apresentar

    indicadores reflexivos para um (re)pensar sobre as propostas/polticas de formao continuada

    ao privilegiar o contexto de trabalho escolar.

  • 24

    2 A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES: PERSPECTIVAS, PRTICA

    REFLEXIVA E SABERES DOCENTES

    Nesta seo, apresentamos debates em torno do campo de formao docente, situando

    proposies acerca da formao continuada, assim como as perspectivas tericas e sua

    importncia no fazer docente. Na sequncia, abordamos a reflexo como eixo norteador da

    formao continuada, por reconhecer a importncia que a reflexo crtica exerce no processo

    de formao contnua desse profissional. Por fim, trazemos o conceito de saberes docentes

    como uma articulao necessria para se pensar entre teorias pedaggicas e educacionais e

    prtica docente, com um vis de valorizao do trabalho e experincia docente.

    Para dar incio discusso terica acerca da formao continuada, apresentamos as

    principais perspectivas tericas, com suas diferentes abordagens. Dentre elas, destacam-se as

    perspectivas de formao crtico-reflexiva e a centrada na escola, como verificar-se- a seguir.

    2.1 Formao continuada: perspectivas tericas

    Para discutir as perspectivas tericas, esta pesquisa se fundamenta nos estudos de

    Zeichner (1993); Contreras (2002); Schn (1992; 2000); Dewey (1959); Freire (1996), dentre

    outros, e apresenta perspectivas conceituais que afirmam a importncia da formao

    continuada de professores, conforme a descrio do quadro a seguir:

    Quadro 1 Perspectivas Tericas

    Perspectivas Tericas Referncias

    Professor reflexivo Zeichner (1993); Alarco (1996; 2008);

    Ghedin (2002).

    Prtica reflexiva Dewey (1959; 1979); Schn (1992;

    2000); Libneo (2002).

    Postura docente pesquisadora e/ou

    investigativa

    Contreras (2002); Elliot (1989); Freire

    (1996).

    Intelectual crtico-transformador Giroux (1997).

    Profissional autnomo Contreras (2002).

    Competncia profissional Perrenoud (1999; 2000); Altet (2001).

    Formao centrada na escola Imbernn (2010); Candau (1996);

    Libneo, Oliveira e Toschi (2012) e

    Fullan e Hargreaves (2000).

    Fonte: Arquivo da pesquisadora, Humait-AM, 2016.

  • 25

    Perspectivas estas pautadas na concepo de professor reflexivo a partir das

    contribuies de Zeichner (1993), Alarco (1996, 2008), assim como Schn (1992, 2000),

    principal formulador da prtica reflexiva. Depois, Imbernn (2010) e Day (2001) apresentam

    uma postura docente pesquisadora e/ou investigativa. A seguir, tratar-se- do intelectual

    transformador postulado por Giroux (1997). Na sequncia, Contreras (2002), que acredita na

    transformao de um profissional autnomo de sua prtica docente. H, ainda, alguns

    apontamentos acerca do paradigma da competncia profissional postulado por Perrenoud

    (2000), que o toma como guia um referencial de competncias adotado em Genebra em 1996

    para a formao contnua, de cuja elaborao participou ativamente. Por fim, abordamos o

    atual paradigma da formao centrada na escola, que tem como principal defensor Imbernn

    (2010).

    Diante dos desafios cotidianos do fazer docente, vrios autores vm discutindo e

    pesquisando novos caminhos e/ou perspectivas de formao que visam contribuio para a

    melhoria do trabalho docente. As discusses so iniciadas com alguns apontamentos sobre o

    professor reflexivo como uma tendncia que se expandiu nos discursos dos programas de

    formao docente nos cenrios internacionais e nacionais, como uma necessidade de

    superao acerca do reducionismo propiciado pelo modelo de ensino baseado na

    racionalidade tcnica11

    . Segundo Zeichner (2008, p. 539):

    O conceito do professor como um profissional reflexivo parece reconhecer a

    expertise que existe nas prticas de bons professores, o que Schn denominou de

    conhecimento-na-ao. Da perspectiva do professor, isso significa que o processo

    de compreenso e de melhoria de seu prprio ensino deve comear da reflexo sobre

    sua prpria experincia e que o tipo de saber advindo unicamente da experincia de

    outras pessoas insuficiente.

    O professor que assume a postura reflexiva, tomando como base sua prpria prtica,

    enriquece seu fazer, alm de desenvolver conhecimento e/ou teorias sobre boas prticas de

    ensino sem, contudo, desconsiderar as condies materiais onde acontecem essas prticas.

    Para Pimenta (2002, p. 22):

    O ensino como prtica reflexiva tem se estabelecido como uma tendncia

    significativa nas pesquisas em educao, apontando para a valorizao dos

    processos de produo do saber docente a partir da prtica e situando a pesquisa

    como instrumento de formao de professores, em que o ensino tomado como

    ponto de partida e de chegada da pesquisa.

    11

    Paradigma racionalista-instrumentalista, baseado na concepo positivista de cincia, o ensino se faz a partir

    de ideias e modelos extrados de vrias cincias, tornando quase sempre o professor um aplicador desses

    modelos s situaes concretas encontradas no cotidiano escolar (FELDMANN, 2009, p. 74).

  • 26

    Em concordncia com a autora, compreende-se a importncia da ao reflexiva na

    prtica docente. Essa prtica surge, pois, como um verdadeiro laboratrio que direciona

    pesquisa, uma tarefa imprescindvel j que trabalhamos com a produo do conhecimento,

    isto , com o ensino. Alm disso, essa prtica torna o docente protagonista nos processos de

    desenvolvimento de sua prpria atividade profissional.

    Alarco (1996 apud LIMA; GOMES, 2002, p. 163-164) escreve que, o interesse

    suscitado pela ideia do(a) professor(a) reflexivo(a) vem da atualidade dos temas que ela

    contempla, quais sejam: a necessidade da eficincia, a aproximao entre a teoria e a prtica e

    a proposta de formar para a reflexo.

    Nesse contexto, o termo reflexo na formao de professores foi introduzido pelos

    educadores brasileiros a partir dos estudos de Nvoa, Os professores e a sua formao

    (1992). Essa obra aborda a concepo de autores sobre a temtica, que defendem o enfoque

    reflexivo sobre a prtica do ensino como uma atividade crtica (LIBNEO, 2002).

    Zeichner (1993 apud ALARCO, 1996, p. 176) contribui com a concepo de

    professor reflexivo, o qual destaca entre os vrios representantes desta tendncia: O conceito

    de professor como prtico reflexivo reconhece a riqueza da experincia que reside na prtica

    dos bons profissionais. Isto implica em dizer que o professor reflete com base em sua ao a

    partir de sua atividade docente.

    Nesse mbito, no incio dos anos 1990 do sculo XX, algumas obras do nfase ao

    papel da reflexo na prtica docente tendo em vista a necessidade do trabalho, por exemplo,

    Perrenoud (2002), Carr e Kemmis (1986); Nvoa (1992). Em outros, ainda, verifica-se a

    relao entre a reflexividade e a prtica da pesquisa (ANDR, 1994; LUDKE, 1994;

    ANDERSON, HERR E NIHLEN, 1994; ZEICHNER, 2001; ZEICHNER E NOFKE, 2000).

    J em meados dos anos 1990, surgiram outros estudos com uma amplitude maior no

    que se refere formao docente (PIMENTA, 1996; LUDKE, 1996; GERALDI

    FIORENTINI E PEREIRA, 1998; MARIN, 2000). Dentre esses, Pimenta (2002), em

    consonncia com os estudos de Schn (1992), acrescenta a cultura interna das escolas

    prtica reflexiva entre os professores de modo crtico. Nessa abordagem, aponta ainda a

    pesquisa colaborativa.

    Schn (2000) valoriza a prtica profissional, bem como a reflexo sobre esta prtica,

    como um momento de construo de conhecimento por meio da reflexo, anlise e

    problematizao dessa, destacando, ainda, a importncia desse conhecimento prtico no

    apontamento de solues que os professores podem encontrar a partir dessa ao reflexiva.

    Segundo Schn (2000 p. 32), esse movimento denominado reflexo sobre a reflexo-na-

  • 27

    ao. Observa-se, assim, uma ao que procura buscar novas possibilidades de atuao

    docente diante dos desafios pedaggicos que a profisso mobiliza no seu dia-a-dia, de modo

    contextualizado, por meio da valorizao das experincias. Essa dinmica abre espao para o

    exerccio da pesquisa no fazer docente o que Schn (2000) postula enquanto professor

    pesquisador de sua prtica.

    A respeito disso, Alarco (1996, p. 176) faz uma referncia implcita ao pensamento

    de Schn (1988) ao dizer que:

    Os professores desempenham um importante papel na produo e estruturao do

    conhecimento pedaggico porque reflectem, de uma forma situada, na e sobre a

    interao que se gera entre o conhecimento cientfico (no nosso caso, de natureza

    lingustica) e a sua aquisio pelo aluno, reflectem na e sobre a interaco entre a

    pessoa do professor e a pessoa do aluno, entre a instituio escola e a sociedade em

    geral. Desta forma tm um papel activo na educao e no um papel meramente

    tcnico que se reduza execuo de normas e receitas ou aplicao de teorias

    exteriores sua prpria comunidade profissional.

    Nessa linha de pensamento, observa-se uma relao direta da prtica com a teoria, o

    saber docente aliado prtica reflexiva de modo intencional pode formular teorias que

    auxiliaram no desenvolvimento de novas prticas pautadas no conhecimento cientfico e no

    apenas na prtica. Zeichner (1993 apud LIBNEO, 2002, p. 65) contribui ao dizer que, o

    movimento da prtica reflexiva atribui ao professor um papel ativo na formulao dos

    objetivos e meios do trabalho, entendendo que os professores tambm tm teorias que podem

    contribuir para a construo de conhecimentos sobre o ensino. Podemos pensar, assim, que

    essas aes so formas de desenvolvimento profissional necessria ao fazer docente.

    Libneo (2002, p. 70) acrescenta, ainda, que para o professor desenvolver a habilidade

    reflexiva de sua prtica, este necessita da apropriao simultnea de trs capacidades, nesse

    processo reflexivo, a saber:

    A meu ver, os professores deveriam desenvolver simultaneamente trs capacidades:

    a primeira, de apropriao terico-crtica das realidades em questo considerando os

    contextos concretos da ao docente; a segunda, de apropriao de metodologias de

    ao, de formas de agir, de procedimentos facilitadores do trabalho docente e de

    resoluo de problemas de sala de aula. O que destaco a necessidade da reflexo

    sobre a prtica a partir da apropriao de teorias como marco para as melhorias das

    prticas de ensino, em que o professor ajudado a compreender o seu prprio

    pensamento e a refletir de modo crtico sobre sua prtica e, tambm, a aprimorar seu

    modo de agir, seu saber-fazer, internalizando tambm novos instrumentos de ao.

    A terceira, a considerao dos contextos sociais, polticos, institucionais na

    configurao das prticas escolares.

  • 28

    Esta configurao de Libneo (2002), acerca da prtica reflexiva, sintetiza toda nossa

    discusso sobre a importncia da perspectiva abordada at o momento, pois aprender a pensar

    no uma tarefa simples, exige de quem a realiza algumas habilidades. Por ser uma reflexo

    intencional necessita de uma sistematizao, at porque trata-se de uma ao racional e que,

    portanto, precisa pautar-se sobre teorias educacionais e no apenas com base em prticas.

    Na perspectiva de Libneo (2002, p. 76):

    H que se considerar, sem dvida, a importncia da formao terica, de uma crtica,

    e aqui j se apresenta um dos sentidos da reflexividade. A escola um dos lugares

    especficos do desenvolvimento da razo, portanto, de desenvolvimento da

    reflexividade. Adquirir conhecimentos, aprender a pensar e agir, desenvolver

    capacidades e competncias, implica sempre a reflexividade.

    Esse autor defende o espao escolar como um lugar apropriado para o

    desenvolvimento de capacidades e competncias do saber pensar (razo crtica),

    acompanhado da anlise e do julgamento. Para formar alunos crticos reflexivos faz-se

    necessrio ser um professor, antes de tudo, crtico reflexivo.

    Dessa forma, o paradigma reflexivo em educao, como Ghedin (2002) denomina,

    pressupe, segundo ele, uma reflexo sistemtica sobre a atividade docente, com intuito de

    apontar possveis alternativas metodolgicas facilitadoras s prticas pedaggicas. Essa

    sistematizao aparece nos discursos de Ghedin (2002, p. 135) quando explica como precisa

    ocorrer no contexto da prtica pedaggica:

    A experincia docente espao gerador e produtor de conhecimento, mas isso no

    possvel sem uma sistematizao que passa por uma postura crtica do educador

    sobre as prprias experincias. Refletir sobre os contedos trabalhados, as maneiras

    como se trabalha, a postura frente aos educandos, frente ao sistema social, poltico,

    econmico, cultural fundamental para se chegar produo de um saber fundado

    na experincia.

    Assim, o conhecimento trabalhado com os educandos leva em considerao no

    apenas o que os especialistas produziram, mas tambm o conhecimento dos professores, por

    tornarem-se, nesse processo, tambm, especialistas do prprio fazer.

    Essa talvez seja uma das deficincias do trabalho docente: a falta de embasamento

    terico em sua prtica de ensino. O que se observa, na prtica, geralmente, um trabalho

    realizado tendo foco apenas na experincia pela experincia, sem uma sistematizao do

    como, para qu, por qu e para quem ensinar, relacionando-a a uma teoria de ensino e

    aprendizagem. Assim, tal prtica, provavelmente, contribui para o despreparo profissional, e

    consequentemente, com as deficincias do ensino.

  • 29

    Outra perspectiva de igual relevncia a do professor pesquisador ou investigador de

    sua prtica educativa. Toma-se, aqui, como referncia desse modelo, as contribuies de

    Contreras. Para ele, o professor, como pesquisador de sua prpria prtica, transforma-a em

    objeto de indagao dirigida melhoria de suas qualidades educativas (CONTRERAS, 2002,

    p. 119). Isso implica em dizer que essa uma perspectiva que recomenda o aprendizado

    docente a partir da prpria ao educativa, com intuito de aperfeio-la.

    O autor defende ainda que essa experimentao da prtica proporciona novas

    possibilidades curriculares e certamente novas experincias que podero contribuir com a

    melhoria de qualidade dessa prtica docente. Segundo o autor, isto justifica a pesquisa na

    docncia por conta da necessidade dos professores de pesquisarem e experimentarem sua

    prtica em funo dos objetivos educativos (CONTRERAS, 2002).

    Embora Contreras (2002) defenda essa perspectiva, ele aponta Elliott (1989) como o

    terico que melhor define o que significa a ideia de professor como pesquisador enquanto

    prtica reflexiva. Elliott (1989) compara a prtica educativa prtica da tica, como um dos

    princpios do fazer docente que, portanto, requer reflexo diante da complexidade que a

    atividade de ensino apresenta. A realizao dessa prtica vai direcionar o melhor caminho

    para determinada situao educativa.

    No dizer de Elliott (1989, p. 256 apud CONTRERAS, 2002, p. 122), a prtica

    reflexiva do ensino constitui um processo dialtico de gerao da prtica a partir da teoria e da

    teoria a partir da prtica. Esta afirmativa refora e explica claramente a relao de

    reciprocidade da prtica com a teoria, o que desmistifica o famoso adgio popular de que a

    teoria na prtica outra. Verifica-se que ocorre um processo dialtico entre ambas na relao

    educativa.

    Nessa linha de pensamento Freire (1996) comenta que no h ensino sem pesquisa e

    pesquisa sem ensino, e acrescenta ainda ao afirmar que a pesquisa, a busca e a indagao,

    so tarefas inerentes do fazer docente. O de que precisa que, em sua formao permanente,

    o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador (FREIRE, 1996, p.

    29). Portanto, o fazer docente implica tambm numa atividade pesquisadora, como condio

    necessria uma vez que envolve o ensino e aprendizagem, de modo simultneo. Nesse

    processo, a pesquisa pode ampliar a aprendizagem sobre a prtica.

    A perspectiva apontada por Imbernn (2010, p. 77) apresenta o modelo indagativo ou

    de pesquisa como ferramenta de formao do professor. Segundo o autor, esse modelo

    requer que o professor identifique uma rea de interesse, colete informao e, baseando-se na

    interpretao desses dados, realize as mudanas necessrias no ensino. Como se observa, o

  • 30

    modelo fundamenta-se com base no questionamento da prpria prtica com intuito de apontar

    metas que possam responder tais questes. Verifica-se que as bases desse modelo remontam

    s propostas de Dewey (1979), quando postulou que os professores necessitam de uma ao

    reflexiva, bem como de Zeichner (2001) que escreveu sobre a temtica professores como

    pesquisadores de sua ao.

    um modelo que se destaca em funo do papel que a pesquisa exerce na atividade de

    ensino, pois por meio dessa prtica possvel o desvelamento de problemas e resoluo, alm

    do desenvolvimento profissionalmente. Isso nos indica que o profissional da educao

    deveria entender mais de pesquisa que todos os outros profissionais, mas a prtica formativa,

    muitas vezes, nos revela e demonstra o contrrio (GHEDIN, 2007, p. 73).

    Segundo Imbernn (2010, p. 80), os professores quando atuam como pesquisadores:

    Tm mais condies de decidir quando e como aplicar os resultados da pesquisa que

    esto realizando; sua experincia os ajuda a colaborar mais uns com os outros, e por

    fim, eles aprendem a ser professores melhores, sendo capazes de transcender o

    imediato, o individual e o concreto.

    A esse respeito, Day (2001, p. 47) acrescenta ainda que:

    Num sentido mais lato, os professores que reflectem na, sobre e acerca da

    empenham-se numa investigao com vista no s a uma melhor compreenso de si

    prprios enquanto professores, mas tambm tendo em vista a melhoria do seu

    ensino.

    Esta, portanto, seria uma das principais contribuies desse modelo: aquele em que o

    trabalho coletivo entre os professores faz com que eles aprendam uns com os outros. Essa

    prtica do compartilhamento propicia uma nova postura (pesquisadora) do professorado frente

    aos problemas que os afeta, alm de melhorarias no processo de tomada de decises de modo

    coletivo.

    Em se tratando do trabalho colaborativo apontado por Imbernn (2010) na citao

    acima, Day (2001, p. 70) afirma ser evidente que a anlise e a planificao que ocorrem num

    ambiente colaborativo apresentam maiores possibilidades para uma melhor aprendizagem.

    Para que isso acontea, de acordo com o autor, torna-se necessrio que os envolvidos

    (professores, gestores escolares) confiem uns nos outros e na sua capacidade de dar e receber,

    realimentao. Contudo, ressalta a dificuldade de os professores irem para alm de formas

    confortveis de colaborao (DAY, 2001). Para ele, uma colaborao confortvel

    decorrente de conversas sobre a prtica pedaggica, apenas como um meio de suprir as

  • 31

    deficincias trazidas pelos professores da formao inicial ou resolver os problemas imediatos

    que surgem no cotidiano da sala de aula, ou da escola em geral, no passando, portanto, de

    questes imediatistas. Com efeito, Day (2001) reconhece a necessidade da colaborao entre

    seus pares, desde que inclua a pesquisa sistemtica e crtica.

    Com base nesses postulados podemos afirmar que a pesquisa no processo de formao

    docente importante, pois de acordo com Ghedin (2007, p. 78):

    pela prtica da pesquisa que aprendemos a reelaborar o conhecimento, para

    aprender a reinterpretar a realidade e aprender a reunir as informaes para traduzi-

    las num conhecimento prprio e pessoal, que um modo de interpretar o mundo, a

    realidade e propor novas formas de agir e de ser do/no mundo.

    Nessa direo surge o modelo de professor como intelectual crtico-transformador

    como assinala Giroux (1997, p. 163) que desenvolveu a ideia de os professores como

    intelectuais:

    Os intelectuais transformadores precisam desenvolver um discurso que una a

    linguagem da crtica e a linguagem da possibilidade, de forma que os educadores

    sociais reconheam que podem promover mudanas. Desta maneira, eles devem se

    manifestar contra as injustias econmicas, polticas, e sociais dentro e fora das

    escolas. Ao mesmo tempo, eles devem trabalhar para criar as condies que dem

    aos estudantes oportunidade de tornarem-se cidados que tenham o conhecimento e

    coragem para lutar afim de que o desespero no seja convincente e a esperana seja

    vivel. Apesar de parecer uma tarefa difcil para os educadores, esta uma luta que

    vale a pena travar. Proceder de outra maneira negar aos educadores a chance de

    assumirem o papel de intelectuais transformadores.

    Desse modo, o modelo de professor como intelectual crtico, apontado pelo autor,

    pressupe a compreenso dos condicionantes sociais e institucionais que legitimam sua

    atividade de ensino. Nessa perspectiva, o professor no pode ser encarado como simples

    tarefeiro de sua funo, em vez disso, eles deveriam ser vistos como homens e mulheres

    livres, com uma dedicao especial aos valores do intelecto e ao fomento da capacidade

    crtica dos jovens (GIROUX, 1997, p. 161).

    Na viso de Perrenoud (2002, p. 13):

    A autonomia e a responsabilidade de um profissional dependem de uma grande

    capacidade de refletir em e sobre sua ao. Essa capacidade est no mago do

    desenvolvimento permanente, em funo da experincia de competncias e dos

    saberes profissionais. (grifo do autor)

  • 32

    Dentro desse cenrio, as escolas necessitam se transformar em ambientes de

    aprendizagem e de lutas coletivas na construo de atores sociais para a transformao social.

    Assim sendo, os professores passam a ser vistos como intelectuais transformadores.

    Para Contreras (2002), a ideia que Giroux (1997) faz dos professores a de

    autoridade emancipatria. Portanto, o entendimento sobre esta precisa estar ligado s ideias

    de liberdade, igualdade e democracia. Assim sendo, esse modelo do professor intelectual

    crtico , portanto, de um profissional ativo, na busca de potencializar sua autonomia

    profissional frente a sua prtica cotidiana e as aspiraes sociais e educativas de um ensino

    guiado pelos valores de igualdade, justia e democracia (CONTRERAS, 2002, p. 185).

    Dessa forma, a definio do professor como intelectual transformador vai alm do

    papel pedaggico. Este modelo abrange ainda o papel poltico de seu ofcio, a partir de um

    contedo muito bem definido, a saber: elaborar, tanto a crtica das condies sociais quanto

    histricas, de seu trabalho por meio de uma linguagem de possibilidade que se abra a

    construo de uma sociedade mais democrtica e justa, educando o seu alunado enquanto

    cidados crticos, ativos e comprometidos na construo de uma vida individual e pblica

    digna de ser vivida, guiados pelos princpios de solidariedade e de esperana (CONTRERAS,

    2002).

    Esta proposta est amparada ao pensamento girouxiano, portanto, fundamentado numa

    posio poltica, que no se limita s questes de sala de aula, mas amplia seu alcance

    fazendo com que o docente possa pensar sobre as condies de sua prpria prtica, assim

    como o significado social e poltico que a mesma cumpre. Nesse sentido,

    A reflexo crtica libertadora porque nos emancipa das vises acrticas, dos

    pressupostos, hbitos, tradies e costumes no-questionados e das formas de

    coero e de dominao que tais prticas supem e que muitas vezes ns mesmos

    sustentamos, em um auto-engano (CONTRERAS, 2002, p. 165).

    Sendo assim, este processo de reflexo crtica que transforma a prtica pedaggica

    requer, antes de tudo, uma transformao docente para ento ser concebido enquanto

    intelectual crtico. Como Alarco (1996, p. 187) pondera, educar para a autonomia implica

    fazer um ensino reflexivo que, por sua vez, se baseia numa postura reflexiva do prprio

    professor. Dessa forma, o profissional que reflete na ao necessitar refletir tambm sobre a

    estrutura organizacional, os pressupostos, os valores e as condies de trabalho docente,

    compreendendo como esses fatores interferem na prtica educativa e na sua autonomia

    (CONTRERAS, 2002).

  • 33

    Nessa perspectiva, Ghedin (2002, p. 146) contribui ao dizer que a tarefa primordial

    de um processo reflexivo no ensino a de proporcionar a si e a toda educao um caminho

    metodolgico que possibilite a formao de cidados autnomos. Isto se concretiza por meio

    de um processo crtico-reflexivo. O autor deixa claro que a reflexo fundamental na

    atualidade quando se busca uma transformao social pautada na perspectiva humanitria

    contra qualquer forma de explorao. Contudo, essa possibilidade requer mudana de postura

    diante dos arcaicos modelos de educao que ainda persiste no espao de ensino da

    atualidade.

    Como vimos, a formao do professor reflexivo e autnomo importante porque na

    prtica sempre despontam elementos perturbadores: resistncias, bloqueios, e os mais

    diversos imprevistos (VALADARES, 2002, p. 199).

    Em relao ao paradigma da competncia profissional, que tambm se inclui entre as

    atuais perspectivas tericas, encontramos Perrenoud (1999) como principal defensor. Segundo

    ele, a competncia definida como a capacidade de agir eficazmente em determinado tipo de

    situao, apoiado em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles (PERRENOUD, 1999 p. 7).

    Nessa direo, o agir docente precisa est relacionado ao conhecimento, s habilidades

    cognitivas necessrias para desenvolver sua tarefa profissional.

    Nessa perspectiva, Perrenoud (2000, p. 12-13) em seu livro Dez novas competncias

    para ensinar apresenta um inventrio de dez grandes famlias de competncias necessrias

    aos professores para ensinar com base na sua teoria. Essas competncias foram elaboradas

    tomando como base um referencial adotado em Genebra em 1996 para a formao

    continuada, evento do qual participou ativamente. So elas:

    1. Organizar e dirigir situaes de aprendizagem; 2. Administrar a progresso das

    aprendizagens; 3. Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciao; 4.

    Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5. Trabalhar em

    equipe; 6. Participar da administrao escolar; 7. Informar e envolver os pais; 8.

    Utilizar novas tecnologias; 9. Enfrentar os deveres e os dilemas ticos da profisso;

    10. Administrar a prpria formao contnua.

    Para o autor, esse referencial aponta caminhos terico-metodolgicos aos programas

    de formao continuada. Alm disso, defende, tambm, que este referencial uma tentativa

    de tornar esse modelo de educao o mais prximo possvel das mudanas em andamento no

    sistema educacional, no que diz respeito ao novo papel dos professores, s reformas da

    formao inicial, bem como evoluo da formao contnua.

  • 34

    Retomando a definio de competncias Altet (2001, p. 28) escreve que competncias

    profissionais o conjunto formado por conhecimentos, savoir-faire e posturas, mas tambm

    as aes e as atitudes necessrias ao exerccio da profisso de professor. Assim sendo, as

    competncias no ensino englobam desde os saberes propiciados pela prtica de planejar e

    organizar as aulas, como pela prpria experincia vivenciada no processo de interao no

    espao escolar.

    No que se refere teoria das competncias, Ghedin (2007) faz uma crtica na

    perspectiva emancipatria, apontando limitaes dessa proposta para o processo de formao

    docente, em virtude de seu carter tecnicista. Apresenta-se, portanto, como uma problemtica,

    porque acaba reduzindo todos os problemas da educao falta de formao adequada dos

    professores (Ghedin, 2007, p. 82). Isto , atribui-se a incompetncia ao professor, sendo que

    essa falta de competncia uma questo que necessita de uma anlise mais aprofundada, para

    ento apontar possveis causas. Porm, transferir essa responsabilidade histrica aos

    professores mais cmodo, uma forma de escamotear o problema, de fato, de onde ele se

    encontra, claro que de modo intencional.

    Nesse contexto, o autor defende que a competncia docente ocorre quando se realiza

    um trabalho de qualidade. O que implica em dizer que, se faz um bom trabalho para si, para

    os alunos e para a sociedade, com base nas dimenses: tcnica, esttica, poltica e tica

    (FREIRE, 1996).

    Como afirma Ghedin, (2007, p. 34):

    Assim, vale reafirmar que, para um professor competente, no basta dominar bem os

    conceitos de sua rea preciso pensar criticamente no valor efetivo desses

    conceitos para a insero criativa dos sujeitos na sociedade. No basta ser criativo

    preciso exercer sua criatividade na construo do bem-estar coletivo. No basta se

    comprometer politicamente preciso verificar o alcance desse compromisso,

    verificar se ele efetivamente dirige a ao no sentido de uma vida digna e solidria.

    Portanto, a competncia profissional docente no est simplesmente relacionada ao

    conhecimento intelectual (tcnico) adquirido, mas tambm capacidade reflexiva sobre os

    aspectos que condicionam essa prtica que ultrapassam a experincia de sala de aula.

    Considerando a riqueza das contribuies dos autores citados pode-se compreender a

    ampla disseminao da temtica em questo em virtude do vasto campo de pesquisa e

    experincias realizadas pelos mesmos.

    Por ltimo, com intuito de concluir a discusso acerca das perspectivas tericas ser

    abordado o paradigma da formao centrada na escola. Essa perspectiva de formao

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    continuada, que tem como espao a escola, apresenta atualmente um nmero significativo de

    publicaes, porm ainda uma rea que necessita de maiores aprofundamentos tericos e

    prticos. Dentre os pressupostos dessa perspectiva, considerada relativamente nova, buscamos

    apoio terico de autores como Imbernn (2010), Candau (1996), Libneo, Oliveira e Toschi

    (2012) e Fullan e Hargreaves (2000).

    Nesta abordagem, denominamos formao continuada centrada na escola como uma

    alternativa de formao continuada desenvolvida no ambiente da prpria escola

    (IMBERNN, 2010). Conforme Candau (1996) e Imbernn (2010), dentre outros autores, a

    escola o local privilegiado para a formao continuada de educadores.

    Em relao origem do que tem sido denominada formao centrada na escola,

    encontramos em Imbernn (2010) alguns apontamentos que revelam o contexto poltico em

    que esta proposta de formao continuada se configurou. Segundo o autor, essa proposta

    surgiu no Reino Unido em meados de 1970 do sculo XX, no seio de alguns eventos polticos

    relacionados distribuio dos escassos recursos educativos para a formao permanente dos

    professores.

    Assim, nas palavras de Imbernn (2010, p. 85-87):

    A formao centrada na escola envolve todas as estratgias empregadas

    conjuntamente pelos formadores e pelos professores para dirigir os programas de

    formao de modo a que respondam as necessidades definidas da escola e para

    elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem em sala de aula e nas escolas.

    Quando se fala de formao centrada na escola, entende-se que a instituio

    educacional transforma-se em lugar de formao prioritria diante de outras aes

    formativas. A formao centrada na escola mais que uma simples mudana de

    lugar da formao. [...] A formao centrada na escola pretende desenvolver um

    paradigma colaborativo entre os professores. [...] Esse enfoque baseia-se na reflexo

    deliberativa e na pesquisa-ao, mediante as quais os professores elaboram suas

    prprias solues em relao aos problemas prticos com que se deparam.

    Tomando as consideraes do autor, verifica-se que a formao centrada na escola

    supera a simples mudana fsica para seu desenvolvimento. na verdade uma mudana de

    paradigma em relao formao continuada que busca envolver todos os participantes,

    desde o planejamento sua execuo e avaliao, a partir do dilogo. , portanto, uma

    proposta inovadora que busca a transformao do atual modelo de escola que temos. Essa

    proposta baseada na racionalidade tcnica (concepo utilizada em organizao

    empresarial), que se preocupa apenas com o cumprimento de regras pr-determinadas pelos

    rgos superiores, para o chamado enfoque fenomenolgico e crtico. Em que se busca a

    reconstruo da cultura escolar, se aposta em novos valores, na colaborao, no processo de

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    participao, respeito e reconhecimento do poder e capacidade dos professores, redefinindo e

    ampliando a gesto escolar (IMBERNN, 2010).

    Como se observa, a ideia de que a prpria escola constitui lugar de formao

    continuada traz novas perspectivas de mudanas na cultura escol