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Universidade Federal de Santa Maria Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Santa Maria RS, 25 e 26 abril 2011 CURSO CURSO Metodologias Qualitativas: Conceitos das Ciências Humanas Aplicados à Pesquisa na Área da Saúde Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa Faculdade de Ciências Médicas / UNICA Faculdade de Ciências Médicas / UNICA MP MP

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Universidade Federal de Santa MariaPrograma de Pós-Graduação em Enfermagem

Santa Maria RS, 25 e 26 abril 2011

CURSOCURSOMetodologias Qualitativas:

Conceitos das Ciências Humanas Aplicados à Pesquisa na Área da Saúde

Laboratório de Pesquisa Clínico-QualitativaLaboratório de Pesquisa Clínico-QualitativaFaculdade de Ciências Médicas / UNICAFaculdade de Ciências Médicas / UNICAMPMP

email: email: [email protected]

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Bibliografia básica:Bibliografia básica:

Turato, E. R.Turato, E. R.

Tratado da metodologia da pesquisa clínico-Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa:qualitativa:construção teórico-epistemológica, construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas.áreas da saúde e humanas.44aa ed., Editora Vozes, 2010. ed., Editora Vozes, 2010.

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Diversos Tipos do Conhecimento HumanoDiversos Tipos do Conhecimento Humano

• Empírico:Empírico: construído na experiência de vidaconstruído na experiência de vida

• Mítico:Mítico: crença lendária explicativacrença lendária explicativa

• Religioso:Religioso: verdade revelada por divindadeverdade revelada por divindade

• Filosófico:Filosófico: especulação sistemáticaespeculação sistemática

• Científico:Científico: hipóteses submetidas à verificaçãohipóteses submetidas à verificação

• Tecnológico:Tecnológico: conhecimento científico aplicadoconhecimento científico aplicado

• Senso comum:Senso comum: conhecimento compartilhadoconhecimento compartilhado

• ‘‘Mágico’:Mágico’: crendice, um não-conhecimentocrendice, um não-conhecimento

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4Escola de Atenas Escola de Atenas (Raphael)(Raphael)

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Concepções Históricas de CiênciaConcepções Históricas de Ciência

Contribuições gregas:Contribuições gregas:

1) 1) o o logoslogos é o falar sobre a coisa. é o falar sobre a coisa. Se Se nãonão sou a coisa, então para conhecê-la sou a coisa, então para conhecê-la só me resta só me resta falarfalar sobre ela. sobre ela. Portanto, cientistas Portanto, cientistas tecem suas teorias com palavrastecem suas teorias com palavras..

2) Noção de causalidade 2) Noção de causalidade Aristóteles Aristóteles (384-322 a.C.)(384-322 a.C.)::

“ “Arbitramos possuir a ciência de algo quandoArbitramos possuir a ciência de algo quando- julgamos que conhecemos a causa pela qual esse algo é,- julgamos que conhecemos a causa pela qual esse algo é,- sabemos que essa causa é a causa desse algo,- sabemos que essa causa é a causa desse algo,- não é possível que esse algo seja outro que não este.”- não é possível que esse algo seja outro que não este.” (Organon IV: Analíticos Posteriores)(Organon IV: Analíticos Posteriores)

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Nascimento da Ciência:Nascimento da Ciência: Ruptura com a Filosofia e a Religião Ruptura com a Filosofia e a Religião

Pilares da Ciência Moderna ou Galileana Pilares da Ciência Moderna ou Galileana (1623):(1623):- observação:- observação: a explicação está na Natureza.a explicação está na Natureza.- experimento: experimento: controle de variáveis para relação causa-efeito.controle de variáveis para relação causa-efeito.- indução: indução: raciocínio partindo do particular aplicado ao geral.raciocínio partindo do particular aplicado ao geral.

- Exemplo científico clássico de nexos causais entre variáveis:- Exemplo científico clássico de nexos causais entre variáveis: Lei de Boyle-Mariotte (lei dos gases ideais) Lei de Boyle-Mariotte (lei dos gases ideais) Sob temperatura constante, aumentando a pressão, diminui oSob temperatura constante, aumentando a pressão, diminui o volume; aumentando volume, diminui a pressão. volume; aumentando volume, diminui a pressão.

Estruturação da Ciência (Newton, Estruturação da Ciência (Newton, 16891689):): Leis científicas na formulação da Mecânica:Leis científicas na formulação da Mecânica: 1) Inércia; 2) Aceleração dos corpos; 3) Ação-e-reação.1) Inércia; 2) Aceleração dos corpos; 3) Ação-e-reação.

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O Nascimento da Ciência ModernaNascimento da Ciência Moderna

A filosofia encontra-se escrita neste grande livroA filosofia encontra-se escrita neste grande livroque continuamente se abre perante nossos olhosque continuamente se abre perante nossos olhos(isto é, o universo),(isto é, o universo),

que não se pode compreender antes de entender a línguaque não se pode compreender antes de entender a línguae conhecer os caracteres com os quais está escrito.e conhecer os caracteres com os quais está escrito.

Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras;palavras;

sem ele nós vagamos perdidos dentro de um obscuro sem ele nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirintolabirinto.. (Galileu, “O Ensaiador”, 1623)(Galileu, “O Ensaiador”, 1623)

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Ciências do Homem (parafraseando Galileu)

As Ciências do Homem encontram-se escritas neste As Ciências do Homem encontram-se escritas neste grande livro que, continuamente, se abre perante grande livro que, continuamente, se abre perante nossos olhos (isto é, nossos olhos (isto é, as pessoasas pessoas, , a sociedadea sociedade),),o qual não se pode compreender antes de entendero qual não se pode compreender antes de entendera a língualíngua com a qual está escrito. com a qual está escrito.O livro está escrito na língua dos O livro está escrito na língua dos significadossignificados,,das das simbolizaçõessimbolizações, das , das representaçõesrepresentações,,sem cujas sem cujas interpretaçõesinterpretações é impossível entender é impossível entender cientificamente os fenômenos humanos.cientificamente os fenômenos humanos.Quando o objeto de estudo é o ser humano,Quando o objeto de estudo é o ser humano,sem os instrumentos da sem os instrumentos da observaçãoobservação e da e da escutaescutavoltadas para os indivíduos ou os grupos,voltadas para os indivíduos ou os grupos,vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.

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Ciências Humanas não são Ciências Matematizadas

A vida humana se processa somente uma vez e, portanto,não poderemos jamais verificar quais decisõesteriam sido boas e quais teriam sido ruins.

Em dada situação, podemos decidir apenas uma vez.Não nos são dadas uma segunda, terceira ou quarta vidaspara que se possa comparar decisões diferentes.[...]

Se a História pudesse se repetir, seria indicado experimentar, a cada vez, outra eventualidade e, em seguida,comparar os dois resultados.

Sem experimentos semelhantes, toda discussão sobree grupos não passa de um jogo de hipóteses. (Milan Kundera, em “A Insustentável Leveza do Ser”)9

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A apresentação da teoria define a ciênciaA apresentação da teoria define a ciência

• Teoria:Teoria:

theorostheoros é quem joga um olhar, é o espectadoré quem joga um olhar, é o espectador..

theatrontheatron é lugar onde se vê, onde se assiste.é lugar onde se vê, onde se assiste.

teoria e teatroteoria e teatro posições de contemplação / observação.posições de contemplação / observação.

A construção de um A construção de um modelo teóricomodelo teóricodeve ser o alvo final de todo pesquisador.deve ser o alvo final de todo pesquisador.

Assim, tanto um astrônomo, quanto um psicanalista,Assim, tanto um astrônomo, quanto um psicanalista,são são cientistascientistas ao proporem teorias para ao proporem teorias parao entendimento de seus respectivos objetos de estudo.o entendimento de seus respectivos objetos de estudo.

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Conceitos de CiênciaConceitos de Ciência

• Ciência constrói teorias:Ciência constrói teorias:Atividade na qual os empreendedoresAtividade na qual os empreendedores

apresentam suas hipóteses e, partindo daapresentam suas hipóteses e, partindo daorganização dos elementos que apreendem,organização dos elementos que apreendem,

propõem teorias de como estes se relacionam.propõem teorias de como estes se relacionam.• Ciência fala da ordem do invisível:Ciência fala da ordem do invisível:

Fazer ciência é criar teorias, é uma falaFazer ciência é criar teorias, é uma falasobre as relações não visíveis ao olhar comum.sobre as relações não visíveis ao olhar comum.

• Ciência está na mente:Ciência está na mente:Jogo de palavras que espelham na mente doJogo de palavras que espelham na mente docientista as coisas que estão do lado de fora.cientista as coisas que estão do lado de fora.

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Conceitos de Ciência (cont.)Conceitos de Ciência (cont.)

• Aparência Aparência versusversus Realidade: Realidade:Toda ciência seria supérflua seToda ciência seria supérflua sea forma de manifestação e a essência das coisasa forma de manifestação e a essência das coisascoincidissem imediatamente.coincidissem imediatamente. (Marx, 1890) (Marx, 1890)

• Ciência forma um quadro:Ciência forma um quadro:A ciência não é somente uma coletânea de leis,A ciência não é somente uma coletânea de leis,um catálogo de fatos não relacionados.um catálogo de fatos não relacionados.É a criação da mente humana, com suas idéiasÉ a criação da mente humana, com suas idéiase conceitos livremente inventados.e conceitos livremente inventados. (Einstein & Infeld, 1938)(Einstein & Infeld, 1938)

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Conceitos de Ciência (cont.)Conceitos de Ciência (cont.)

• Mais que descrição dos acontecimentos:Mais que descrição dos acontecimentos:É uma tentativa de descobrir ordem,É uma tentativa de descobrir ordem,de mostrar que certos acontecimentos estão de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com outros.ordenadamente relacionados com outros. (Skinner, 1950)(Skinner, 1950)

• Ciência busca as ligações:Ciência busca as ligações:Os fatos históricos não constituem a ciência Os fatos históricos não constituem a ciência histórica, não passam de simples fatos, pertencem histórica, não passam de simples fatos, pertencem ao empirismo e, em si, são ininteligíveis.ao empirismo e, em si, são ininteligíveis.É preciso entre eles colocar argamassa; somente É preciso entre eles colocar argamassa; somente assim se tornam ciência.assim se tornam ciência. (Perestrello, 1973)(Perestrello, 1973)

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Atividades afins diferenciadas com a Pesquisa CientíficaAtividades afins diferenciadas com a Pesquisa Científica

• Pesquisa Informal do Tipo de MercadoPesquisa Informal do Tipo de MercadoLevantamento de informações econômicas visando o Levantamento de informações econômicas visando o consumo.consumo.Planejamento espontâneo; tem um caráter a-científico.Planejamento espontâneo; tem um caráter a-científico.

• Pesquisa sobre uma Realidade EmpíricaPesquisa sobre uma Realidade EmpíricaDelimitação de fatos/ocorrências comportamentais, sociais Delimitação de fatos/ocorrências comportamentais, sociais e históricos. Levantamento em biblioteca, na internet ou e históricos. Levantamento em biblioteca, na internet ou observando diretamente os fenômenos em campo.observando diretamente os fenômenos em campo.Planejamento sistematizado, mas de caráter pré-científico Planejamento sistematizado, mas de caráter pré-científico se parar na fase de coleta e arranjo dos achados.se parar na fase de coleta e arranjo dos achados.

• Pesquisa de Opinião PúblicaPesquisa de Opinião PúblicaLevantamento do modo de pensar, partilhado num grupo, Levantamento do modo de pensar, partilhado num grupo, acerca de certo assunto. Também de caráter pré-científico,acerca de certo assunto. Também de caráter pré-científico,se estacionar no objetivo de obter resultados descritivos.se estacionar no objetivo de obter resultados descritivos.

• Pesquisa Científica em Sentido AcadêmicoPesquisa Científica em Sentido AcadêmicoFormulação de hipóteses e coleta de dados. Formulação de hipóteses e coleta de dados. Estabelecimento de leis explicativas, geração de novos Estabelecimento de leis explicativas, geração de novos conhecimentos.conhecimentos.Elaboração de teoria a ser aceita pelos pares.Elaboração de teoria a ser aceita pelos pares.

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Tipos de Tipos de InvestigaçãoInvestigação Científica Científica

- Pesquisas de Campo- Pesquisas de Campo::Objeto:Objeto: seres em seu ambiente natural. seres em seu ambiente natural.Pesquisador:Pesquisador: adaptado a ver fenômenos na livre ocorrência. adaptado a ver fenômenos na livre ocorrência.Dificuldade grande:Dificuldade grande: campo está organizado autonomamente. campo está organizado autonomamente.

- Pesquisas Laboratoriais Experimentais:- Pesquisas Laboratoriais Experimentais:Objeto:Objeto: materiais são dispostos visando o experimento. materiais são dispostos visando o experimento. Pesquisador:Pesquisador: manipula variáveis para coletar dados. manipula variáveis para coletar dados. Dificuldade média:Dificuldade média: ambiente organizado pelo pesquisador. ambiente organizado pelo pesquisador.

- Pesquisas Teóricas:- Pesquisas Teóricas:Objeto:Objeto: registros em bibliotecas (reais ou virtuais). registros em bibliotecas (reais ou virtuais).Pesquisador:Pesquisador: após problemas de acesso, dispõe do material. após problemas de acesso, dispõe do material.Dificuldade pequena:Dificuldade pequena: dados à mesa, no ritmo do pesquisador. dados à mesa, no ritmo do pesquisador.

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Tipos de Pesquisa na Área da PsicanáliseTipos de Pesquisa na Área da Psicanálise

TIPO Local Recorte do Material p/da coleta objeto de estudo interpretação

CLÍNICA: Consultório. Representações. O dito.

TEÓRICA: Biblioteca. Escritos. A literatura.

CULTURAL: Sociedade. Vivências. A Cultura.

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Características apontadas para oCaracterísticas apontadas para o Conhecimento Científico Convencional Conhecimento Científico Convencional

Factual:Factual: trabalha empiricamente com as ocorrências trabalha empiricamente com as ocorrências da natureza (os fatos).da natureza (os fatos).

Analítico:Analítico: lida com componentes de um objeto, lida com componentes de um objeto, separando-os e reorganizando-os.separando-os e reorganizando-os.

Geral:Geral: busca generalizações dos resultados busca generalizações dos resultados encontrados válidos para outros enquadres.encontrados válidos para outros enquadres.

Sistemático:Sistemático: usa referenciais metodológicos usa referenciais metodológicos reconhecidas e estabelece quadros teóricos.reconhecidas e estabelece quadros teóricos.

Acumulativo:Acumulativo: soma-se com a obtenção de novos soma-se com a obtenção de novos resultados (novos tijolos no muro da ciência).resultados (novos tijolos no muro da ciência).

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Características apontadas (cont.)Características apontadas (cont.)

Falível: Falível: teorias não gozam de terminalidade, teorias não gozam de terminalidade, contém erros e são completadas ou substituídas.contém erros e são completadas ou substituídas.

Verificável:Verificável: hipóteses testadas em experimentos hipóteses testadas em experimentos para serem confirmadas ou refutadas.para serem confirmadas ou refutadas.

Explicativo:Explicativo: variáveis são correlacionadas dentro variáveis são correlacionadas dentro do modelo da relação causa-efeito.do modelo da relação causa-efeito.

Preditivo:Preditivo: resultados servem para prognosticar resultados servem para prognosticar ocorrências em novas situações.ocorrências em novas situações.

Útil:Útil: resultados podem ser empregados resultados podem ser empregados tecnologicamente para benefícios das pessoas.tecnologicamente para benefícios das pessoas.

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A Questão da Generalização em CiênciaA Questão da Generalização em Ciência

Einstein e Infeld (1938):Einstein e Infeld (1938):Pela aplicação do método estatístico não podemos Pela aplicação do método estatístico não podemos

predizer o comportamento de um indivíduo na multidão.predizer o comportamento de um indivíduo na multidão.Podemos somente predizer a chance, Podemos somente predizer a chance, a probabilidadea probabilidade, de , de

que se comportará de uma maneira em particular.que se comportará de uma maneira em particular.

CONCLUSÃO:CONCLUSÃO: se nossas leis estatísticas nos dizem um se nossas leis estatísticas nos dizem um resultado numérico sobre um fenômeno de certa resultado numérico sobre um fenômeno de certa observação, significa que, pela repetição de nossas observação, significa que, pela repetição de nossas observações com muitos elementos, realmente obteremos observações com muitos elementos, realmente obteremos esta média.esta média.

Ou seja: a Ou seja: a probabilidadeprobabilidade de encontrarmos o fenômeno de encontrarmos o fenômeno no meio observado equivale àquele valor numérico.no meio observado equivale àquele valor numérico.

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A Questão da Generalização (cont.)A Questão da Generalização (cont.)Exemplos de Einstein e Infeld (1938):Exemplos de Einstein e Infeld (1938):1) Conhecer a taxa de nascimento de uma grande 1) Conhecer a taxa de nascimento de uma grande

comunidade não significa conhecer se uma família em comunidade não significa conhecer se uma família em particular é abençoada com um filho.particular é abençoada com um filho.

Significa um conhecimento de resultados estatísticos nos Significa um conhecimento de resultados estatísticos nos quais as pessoas participantes não representam nenhum quais as pessoas participantes não representam nenhum papel.papel.

2) Pela observação das chapas de muitos carros, podemos 2) Pela observação das chapas de muitos carros, podemos logo descobrir que um terço de seus números são divisíveis logo descobrir que um terço de seus números são divisíveis por três.por três.

Mas não podemos predizer que o carro que passará no Mas não podemos predizer que o carro que passará no momento seguinte terá essa propriedade.momento seguinte terá essa propriedade.

CONCLUSÃO:CONCLUSÃO: As leis estatísticas podem ser aplicadas As leis estatísticas podem ser aplicadas somente a grandes agregados, mas não para seus indivíduos.somente a grandes agregados, mas não para seus indivíduos.

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O Projeto e o Relatório de Pesquisa:O Projeto e o Relatório de Pesquisa: uma lógica interna perpassando suas secções uma lógica interna perpassando suas secções

ProjetoProjeto PesquisaPesquisa:: Objeto, contextualização, justificativasObjeto, contextualização, justificativas Hipóteses iniciais formuladasHipóteses iniciais formuladas Objetivos da pesquisa estabelecidosObjetivos da pesquisa estabelecidos Método e técnicas sugeridosMétodo e técnicas sugeridos Instrumentos de coleta de dadosInstrumentos de coleta de dados ..

RelatórioRelatório FinalFinal:: Discussão de resultados sob quadro teóricoDiscussão de resultados sob quadro teórico ConclusõesConclusões

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Um Modelo de Projeto de PesquisaUm Modelo de Projeto de Pesquisa

CAPÍTULO I - Questões Introdutórias:CAPÍTULO I - Questões Introdutórias:1.1. Delimitação do objeto-problema de estudo.Delimitação do objeto-problema de estudo.2.2. Justificativas para a investigação proposta.Justificativas para a investigação proposta.3.3. Aspectos epidemiológicos e clínicos do tema.Aspectos epidemiológicos e clínicos do tema.4.4. Aspectos psicológicos e socioculturais do tema.Aspectos psicológicos e socioculturais do tema.

CAPÍTULO II - Hipóteses e Objetivos:CAPÍTULO II - Hipóteses e Objetivos:1.1. Pressupostos iniciais.Pressupostos iniciais.2.2. Objetivo geral (ou principal, inicial).Objetivo geral (ou principal, inicial).3.3. Objetivos específicos (ou secundários, decorrentes).Objetivos específicos (ou secundários, decorrentes).

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Projeto de Pesquisa (cont.)Projeto de Pesquisa (cont.)

CAPÍTULO III - Recursos Metodológicos:CAPÍTULO III - Recursos Metodológicos:

1.1. Critérios de inclusão/exclusão dos sujeitos e Critérios de inclusão/exclusão dos sujeitos e fechamento da amostrafechamento da amostra

2.2. Características do campo de pesquisaCaracterísticas do campo de pesquisa

3.3. Método, técnicas de coleta de dados e procedimentosMétodo, técnicas de coleta de dados e procedimentos

4.4. Técnicas para tratamento dos dadosTécnicas para tratamento dos dados

5.5. Manejo de possíveis vieses da pesquisaManejo de possíveis vieses da pesquisa

6.6. Quadro de referenciais teóricosQuadro de referenciais teóricos

7.7. Cuidados éticos da pesquisaCuidados éticos da pesquisa

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Projeto de Pesquisa (cont.)Projeto de Pesquisa (cont.)

ReferênciasReferências(no Estilo Vancouver - publicado 1979, revisado 2005)

Anexos:Anexos:I.I.Orçamento da pesquisa e recursos disponíveis Orçamento da pesquisa e recursos disponíveis II.II.Cronograma das etapas da pesquisaCronograma das etapas da pesquisaIII.III.Cópia dos instrumentos de coleta de dadosCópia dos instrumentos de coleta de dadosIV.IV.Termo de Consentimento Livre e InformadoTermo de Consentimento Livre e InformadoV.V.Cópia da aprovação do Comitê de Ética em PesquisaCópia da aprovação do Comitê de Ética em PesquisaVI.VI.Autorização de serviços para coleta de dadosAutorização de serviços para coleta de dadosVII.VII.Quadro das diferenças e ponto em comum entre Quadro das diferenças e ponto em comum entre métodos ‘quanti’ e ‘quali’métodos ‘quanti’ e ‘quali’

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Relações entre pesquisa e literaturaRelações entre pesquisa e literatura

LIVROSLIVROS ARTIGOSARTIGOSComo literaturaComo literatura De ancoragemDe ancoragem De cotejamentoDe cotejamentoNo que constituiNo que constitui Quadro primordialQuadro primordial Quadro atualizadoQuadro atualizadoRelaçãoRelação Filiação a escolasFiliação a escolas Diálogo com paresDiálogo com paresLocalizaçãoLocalização Em área acadêmicaEm área acadêmica Na produção atualNa produção atualÁrea mais usualÁrea mais usual Ciências HumanasCiências Humanas C. Naturais e SaúdeC. Naturais e SaúdeUtilizaçãoUtilização Fonte primáriaFonte primária Debate correnteDebate correnteAlvoAlvo SustentaçãoSustentação ContextualizaçãoContextualizaçãoGanho obtidoGanho obtido Definições geraisDefinições gerais Resultados atuaisResultados atuaisNão-usoNão-uso Pesquisa ingênuaPesquisa ingênua Pesquisa inútilPesquisa inútilCuidadosCuidados Evitar compilaçõesEvitar compilações Evitar dispersõesEvitar dispersões

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Tema-ProblemaTema-Problema: : Justificativas de EscolhaJustificativas de Escolha

1.1. PrioridadePrioridade científica (uma necessidade objetiva): científica (uma necessidade objetiva):

relevância epidemiológica, clínica e social.relevância epidemiológica, clínica e social.

2.2. NovidadeNovidade (idealmente posta): (idealmente posta):

contribuições originais ao conhecimento.contribuições originais ao conhecimento.

3.3. ComprometimentoComprometimento pessoal (um norteador): pessoal (um norteador):

engajamento na assistência e no ensino.engajamento na assistência e no ensino.

4.4. OportunidadeOportunidade (uma propiciadora): (uma propiciadora):

favoráveis condições pessoais e institucionais.favoráveis condições pessoais e institucionais.

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Hipóteses e concepções próximas:Hipóteses e concepções próximas: Definições Metodológico-Etimológicas Definições Metodológico-Etimológicas

• Pergunta:Pergunta: idéia que pede outra.idéia que pede outra.• Problema:Problema: idéia que remete a outra.idéia que remete a outra.• Hipótese:Hipótese: idéia que sustenta outra.idéia que sustenta outra.• Pressuposto:Pressuposto: idéia que pensa outra. idéia que pensa outra. • Premissa:Premissa: idéia que faz caminho a outra.idéia que faz caminho a outra.• Quase-hipótese:Quase-hipótese: idéia que nos informa outra.idéia que nos informa outra.• Postulado:Postulado: idéia que pede ser verdadeira.idéia que pede ser verdadeira.• Conjectura:Conjectura: idéia que atira a outra.idéia que atira a outra.• Palpite:Palpite: idéia que suspeita outra.idéia que suspeita outra.• Suspeita:Suspeita: iidéia que nos intui a outra.déia que nos intui a outra.• Sugestão:Sugestão: idéia que alude a outra.idéia que alude a outra.• Chute:Chute: idéia que arremessa a outra.idéia que arremessa a outra.

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Concepção einsteiniana sobre o lugar doConcepção einsteiniana sobre o lugar do problema na ciência (atitude galileana) problema na ciência (atitude galileana)

The formulation of a problem is oftenThe formulation of a problem is oftenmore essential than its solution,more essential than its solution,which may be merely a matter ofwhich may be merely a matter ofmathematical or experimental skill.mathematical or experimental skill.

To raise new questions, new possibilities,To raise new questions, new possibilities,to regard old problems from a new angle,to regard old problems from a new angle,

requires creative imagination andrequires creative imagination andmarks real advance in science.marks real advance in science.

The importance of seeing known facts in a new lightThe importance of seeing known facts in a new lightwill be stressed and new theories described.will be stressed and new theories described.

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Objeto de estudo: visões conceituais de Objeto de estudo: visões conceituais de doençadoença

• DiseaseDisease: : é o próprio processo patológico, é um desvioé o próprio processo patológico, é um desvioda norma biológica. Na objetividade sobre a doença, da norma biológica. Na objetividade sobre a doença, os médicos podem ver, auscultar, palpar, cheirar e os médicos podem ver, auscultar, palpar, cheirar e degustar as manifestações, medindo-as e levando ao degustar as manifestações, medindo-as e levando ao diagnóstico médico-científico.diagnóstico médico-científico.

• IllnessIllness: : é o sentimento pessoal e a experiência é o sentimento pessoal e a experiência psicológica de uma “saúde ruim”, tal como percebida psicológica de uma “saúde ruim”, tal como percebida pelo indivíduo (ou quando ainda nenhuma pelo indivíduo (ou quando ainda nenhuma diseasedisease foi foi encontrada e diagnosticada).encontrada e diagnosticada).

• SicknessSickness: : é o papel ou a posição organizada é o papel ou a posição organizada sociologicamente, consistindo de uma manifestação sociologicamente, consistindo de uma manifestação externa e de um modo cultural de uma não-saúde.externa e de um modo cultural de uma não-saúde.

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O movimento do Pesquisador:O movimento do Pesquisador: da Hipótese à Teoria da Hipótese à Teoria

Percurso tem um caminho ‘familiar’:intuição elaborações teóricas submissão ao empírico avaliação da suspeita.

Pesquisa tem de ir além do papel passivo de confirmar ou refutar hipóteses.Desempenha papel ativo em 4 funções: inicia, reformula, corrige e clarifica a teoria.

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Movimento na discussão de umMovimento na discussão de um Trabalho Científico nas Ciências do Homem Trabalho Científico nas Ciências do Homem

Fenômeno:Fenômeno:passível de observação, representando-se na passível de observação, representando-se na consciência consciência do sujeito do sujeito a partir de suas experiências, percepções.a partir de suas experiências, percepções.

Significado:Significado:

é o é o querer-dizer para o sujeitoquerer-dizer para o sujeito sobre os fenômenos, em sobre os fenômenos, em sua visão e entendimento psicológicos e socioculturais.sua visão e entendimento psicológicos e socioculturais.

Interpretação:Interpretação:é o é o discutido/compreendido pelo pesquisadordiscutido/compreendido pelo pesquisador acerca dos acerca dos significados que foram trazidos/relatados pelos sujeitos.significados que foram trazidos/relatados pelos sujeitos.

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Padrão serendipidade numa pesquisa:Padrão serendipidade numa pesquisa: a observação de um dado a observação de um dado

“diferente”“diferente” Descoberta por acaso e por sagacidade do autor,de resultados válidos, mas que não eram procurados:

Dado imprevisto: fortuito no exame de uma hipótese;relacionável a teoria nova não considerada inicialmente.Dado anômalo: inconsistente com dados estabelecidos;relacionável à teoria que então se torna ampliada.Dado estratégico: inesperado mas relacionável com a teoria geral. Confirma o universal naquele particular.

Exemplos de serendipidade:Penicilina com Fleming; Atos Falhos com Freud.

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Processo de validação deProcesso de validação de dados / resultados em pesquisas dados / resultados em pesquisas

Validação interna ou “intrapessoal”:• Background do pesquisador na prática da realização de

entrevistas e de observações clínicas;• Planejamento adequado dos métodos, técnicas e procedimentos,

segundo a literatura e o senso crítico do pesquisador;• Estabelecimento de reação transferencial positiva com o

informante no transcorrer da entrevista.

Validação externa ou “interpessoal”:• Supervisão com o orientador e pesquisadores sêniores;• Discussão com os pares em reuniões de sua linha de pesquisa;• Discussão de dados preliminares em eventos científicos;• Aceite de resultados para publicação em periódico arbitrado.

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Princípios da Bioética Aplicados àsPrincípios da Bioética Aplicados às Pesquisas Clínicas e Psicológicas Pesquisas Clínicas e Psicológicas

• Autonomia:Autonomia:participação voluntária, sem coerção institucional ou participação voluntária, sem coerção institucional ou psicológica; instruída com termo de consentimento.psicológica; instruída com termo de consentimento.

• Beneficência:Beneficência:maior consciência sobre a situação de vida;maior consciência sobre a situação de vida;aumento da auto-estima pela colaboração; catarseaumento da auto-estima pela colaboração; catarse..

• Não-Maleficência:Não-Maleficência:não invasão da privacidade; não mobilização não invasão da privacidade; não mobilização emocional de traumas; não quebra do anonimato.emocional de traumas; não quebra do anonimato.

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O que é a EpistemologiaO que é a Epistemologia

((epistemeepisteme)) conhecimento. conhecimento. ( (lógoslógos)) palavra, discurso, estudo. palavra, discurso, estudo.

- É um ramo da filosofiaÉ um ramo da filosofia::Estuda e teoriza sobre o conhecimento humano.Estuda e teoriza sobre o conhecimento humano.

- Estudo crítico dos princípios, das hipóteses eEstudo crítico dos princípios, das hipóteses edos resultados das diversas ciências,dos resultados das diversas ciências,destinado a determinar a sua origem lógica,destinado a determinar a sua origem lógica,o seu valor e sua importância. o seu valor e sua importância. (Vocabulário Lalande)(Vocabulário Lalande)

- EpistemólogoEpistemólogo::estuda como o cientista faz sua prática e osestuda como o cientista faz sua prática e osfatores influentes na construção do conhecimento.fatores influentes na construção do conhecimento.

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Parafraseando MarxParafraseando Marx

Importância da epistemologia:Importância da epistemologia: Toda epistemologia seria supérflua se a forma de Toda epistemologia seria supérflua se a forma de manifestação da produção científica e a essência das manifestação da produção científica e a essência das leis das ciências coincidissem imediatamente.leis das ciências coincidissem imediatamente.

Em outras palavras:Em outras palavras: Todo debate epistemológico seria desnecessário Todo debate epistemológico seria desnecessário somente se os pesquisadores fossem conscientes de somente se os pesquisadores fossem conscientes de todos os fatores psicológicos, socioculturais, todos os fatores psicológicos, socioculturais, filosófico-ideológicos e político-econômicos que filosófico-ideológicos e político-econômicos que constituem vieses nas conclusões que tiram de suas constituem vieses nas conclusões que tiram de suas investigações científicas.investigações científicas.

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Bacon: precedente da ciênciaBacon: precedente da ciência

Valorização da busca da experiência.Uma simples experiência é um acidente, um acaso.Se buscada é um experimento.

O verdadeiro método da experiência começa por acender uma tocha e, depois, com a luz, mostrar o caminho.Deve-se buscar uma experiência ordenada para deduzir axiomas e depois estabelecer novos experimentos.

(Nova Organum, Aforismo LXXXII, 1620)37

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Debates Históricos da EpistemologiaDebates Históricos da Epistemologia

David Hume (1748):David Hume (1748):

• Problema da teorização sobre o real Problema da teorização sobre o real versusversusproblema de nossa imersão no mundo dos sentidos do problema de nossa imersão no mundo dos sentidos do qual advêm nossos conhecimentosqual advêm nossos conhecimentos(como fica a (como fica a neutralidade da observaçãoneutralidade da observação?)?)

• Problema da assertiva sobre certa causalidade Problema da assertiva sobre certa causalidade versusversusproblema de que mesmas causas nem sempre são problema de que mesmas causas nem sempre são relacionadas com mesmos efeitosrelacionadas com mesmos efeitos(como fica a (como fica a correlação causa-feitocorrelação causa-feito?).?).

• Questão do raciocínio Questão do raciocínio versusversusa experiência pelo hábitoa experiência pelo hábito(como fica a (como fica a induçãoindução?)?)

• Conclusão:Conclusão: trocar a trocar a certezacerteza pela pela probabilidadeprobabilidade..

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Debates Históricos da EpistemologiaDebates Históricos da Epistemologia

Karl Popper (1934):Karl Popper (1934):• Como estabelecer a verdade da teoria apoiando-se Como estabelecer a verdade da teoria apoiando-se

apenas na observação? (é um problema psicológico):apenas na observação? (é um problema psicológico):- dos enunciados singulares (observação e experimento) - dos enunciados singulares (observação e experimento) aos enunciados universais (teoria) aos enunciados universais (teoria) versusversusa questão da subjetividade humana.a questão da subjetividade humana.

• Como fazer teorias a partir de observações em número Como fazer teorias a partir de observações em número limitado e no presente? (é um problema lógico):limitado e no presente? (é um problema lógico):- questionamento humiano do método indutivo.- questionamento humiano do método indutivo.

• Proposta: Proposta: Falseabilidade Falseabilidade ao invés da ao invés da VerificabilidadeVerificabilidade ((quantos cisnes brancos preciso registrar para teorizar?quantos cisnes brancos preciso registrar para teorizar?))

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Em suma, há limitação nos métodos?Em suma, há limitação nos métodos?

A limitação não está propriamente nos métodos de pesquisa, A limitação não está propriamente nos métodos de pesquisa, mas nas possibilidades humanas do pesquisador.mas nas possibilidades humanas do pesquisador.

•Todo conhecimento advém da experiência humana,Todo conhecimento advém da experiência humana,passando pelos órgãos dos sentidos do pesquisador.passando pelos órgãos dos sentidos do pesquisador.(toda elaboração intelectual das teorias é subjetiva)(toda elaboração intelectual das teorias é subjetiva)

•O pesquisador não consegue ver a causa e o efeito,O pesquisador não consegue ver a causa e o efeito,mas apenas pensá-los.mas apenas pensá-los.(toda relação causal ocorre na ordem do invisível)(toda relação causal ocorre na ordem do invisível)

•A sensorialidade do pesquisador só é capaz de visarA sensorialidade do pesquisador só é capaz de visaro particular; nunca alcança o universal.o particular; nunca alcança o universal.(todo pensamento totalmente indutivo é ilusório)(todo pensamento totalmente indutivo é ilusório)

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Visão popperiana do avanço da ciênciaVisão popperiana do avanço da ciência

O avanço da ciência não se deve ao fato de se acumularem ao O avanço da ciência não se deve ao fato de se acumularem ao longo do tempo mais e mais experiências perceptuais.longo do tempo mais e mais experiências perceptuais.

Nem se deve ao fato de estarmos fazendoNem se deve ao fato de estarmos fazendouso cada vez melhor de nossos sentidos.uso cada vez melhor de nossos sentidos.

A ciência não pode ser destilada de experiênciasA ciência não pode ser destilada de experiênciassensoriais não interpretadas, independentementesensoriais não interpretadas, independentementede todo o engenho usado para recolhê-las e ordená-las.de todo o engenho usado para recolhê-las e ordená-las.

Idéias arriscadas, antecipações injustificadas, pensamento Idéias arriscadas, antecipações injustificadas, pensamento especulativo são os únicos meios de que podemos lançarespeculativo são os únicos meios de que podemos lançar

mão para interpretar a natureza: nosso único “organon”,mão para interpretar a natureza: nosso único “organon”,nosso único instrumento para apreendê-la.nosso único instrumento para apreendê-la.

E devemos arriscar-nos, com esses meios,E devemos arriscar-nos, com esses meios,para alcançar o prêmio. Os que não se disponhampara alcançar o prêmio. Os que não se disponhama expor suas idéias à eventualidade da refutaçãoa expor suas idéias à eventualidade da refutaçãonão participarão do jogo científico.não participarão do jogo científico.

Popper, 1934Popper, 1934

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Debates Históricos da EpistemologiaDebates Históricos da Epistemologia

Gaston Bachelard (1934)Gaston Bachelard (1934)

• Há ruptura entre o conhecimento comum e o Há ruptura entre o conhecimento comum e o conhecimento científico.conhecimento científico.

• A ciência não é o aprofundamento do saber já presente A ciência não é o aprofundamento do saber já presente ou da ilusão do saber, mas uma perpétua recusa.ou da ilusão do saber, mas uma perpétua recusa.

• Todo conhecimento é resposta a uma questão:Todo conhecimento é resposta a uma questão:nada é dado, tudo é construído.nada é dado, tudo é construído.

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Debates Históricos da EpistemologiaDebates Históricos da Epistemologia

Thomas Kuhn (1962):Thomas Kuhn (1962):• ParadigmaParadigma::

São as realizações científicas universalmente São as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.uma comunidade de praticantes de uma ciência.

• Ciência normalCiência normal versusversus C Ciência revolucionária.iência revolucionária.

• Quebra-cabeçaQuebra-cabeça: as pesquisas científicas têm : as pesquisas científicas têm resultados já previsíveis resultados já previsíveis (tijolinhos no muro já existente)(tijolinhos no muro já existente)..

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Debates Históricos da EpistemologiaDebates Históricos da Epistemologia

Paul Feyerabend (1975):Paul Feyerabend (1975):•Contra o método: anarquista.Contra o método: anarquista.•Operações da ciência não têm estrutura em comum.Operações da ciência não têm estrutura em comum.

Escreveu o PoetaEscreveu o Poeta

““Caminante no hay camino,Caminante no hay camino,se hace camino al andar...se hace camino al andar...”” Cantares..., Antonio MachadoCantares..., Antonio Machado

Pesquisador: não há um método (único),Pesquisador: não há um método (único),mas se constrói o método desenvolvendo a pesquisa.mas se constrói o método desenvolvendo a pesquisa.

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Estatuto das Grandes Áreas das CiênciasEstatuto das Grandes Áreas das Ciências

• Formais:Formais:Objeto:Objeto: Entes ideaisEntes ideais Modelo: Modelo: MatemáticaMatemáticaValidade:Validade: Coerência demonstrada dos enunciadosCoerência demonstrada dos enunciados

• Ciências da Natureza ou Empírico-Formais:Ciências da Natureza ou Empírico-Formais: Objeto:Objeto: Fatos naturaisFatos naturais Modelo: Modelo: FísicaFísica

Validade:Validade: Observação, experimento e reprodução:Observação, experimento e reprodução: nexos causais para entendimento da natureza nexos causais para entendimento da natureza

• Ciências do Homem, da Cultura ou Simbólicas:Ciências do Homem, da Cultura ou Simbólicas:Objeto:Objeto: Fenômeno humanoFenômeno humano Modelo: Modelo: AntropologiaAntropologiaValidade:Validade: Apreensão na intersubjetividades e consenso:Apreensão na intersubjetividades e consenso: plausibilidade para entendimento do humano. plausibilidade para entendimento do humano.

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Escolas Teóricas em Convergência e DivergênciaEscolas Teóricas em Convergência e Divergência com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos

• Ciência ModernaCiência Moderna Galileu, 1623Galileu, 1623

• CartesianismoCartesianismo Descartes, 1637Descartes, 1637

• PositivismoPositivismo Comte, 1844Comte, 1844

• ExistencialismoExistencialismo Kierkegaard, 1844Kierkegaard, 1844

• Materialismo HistóricoMaterialismo Histórico Marx, 1844Marx, 1844

• Medicina ExperimentalMedicina Experimental Bernard, 1865Bernard, 1865

• HistoricismoHistoricismo Dilthey, 1883Dilthey, 1883

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Escolas Teóricas em Convergência e DivergênciaEscolas Teóricas em Convergência e Divergência com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos com Ciências Humanas e Métodos Qualitativos

• PerspectivismoPerspectivismo Nietzsche, 1886Nietzsche, 1886• PsicanálisePsicanálise Freud, 1896Freud, 1896• Sociologia científicaSociologia científica Durkheim, 1897Durkheim, 1897• FenomenologiaFenomenologia Husserl, 1900Husserl, 1900• Sociologia CompreensivaSociologia Compreensiva Weber, 1913Weber, 1913• EstruturalismoEstruturalismo Saussure, 1916Saussure, 1916• AntropologiaAntropologia Malinowski, 1922Malinowski, 1922• Sociol. do ConhecimentoSociol. do Conhecimento Mannheim, 1929Mannheim, 1929

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Contribuições à realidade constitucional humanaContribuições à realidade constitucional humana(em porcentagens, por brincadeira)

Evolução Big-Bang Darwiniana 15%

Genética Mendeliana 15%

Angústias Kierkegaardianas 15%

Inconsciente Freudiano 10%

Ideologia Hegeliana Marxista 10%

Mecanismos Fisiológicos Claude-Bernardianos 10%

Formação Hebraico-Cristã 5%

Significados Antropológicos Lévi-Straussianos 5%

Lingüística Saussureana 5%

Sentidos Sociológicos Weberianos 5%

Respostas Pavlovianas / Skinnerianas 5%

Decisões da Razão Cartesiana 0%

Jornais Impressos, Televisivos e Radiofônicos 0%48

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Discurso do PositivismoDiscurso do Positivismo

Reconhece de agora em diante, como regra Reconhece de agora em diante, como regra fundamental, que toda proposição que não seja fundamental, que toda proposição que não seja estritamente redutível ao simples estritamente redutível ao simples enunciado de enunciado de um fatoum fato, particular ou geral, não pode oferecer , particular ou geral, não pode oferecer nenhum sentido real e inteligível.nenhum sentido real e inteligível.

A A pura imaginaçãopura imaginação perde assim, perde assim, irrevogavelmente sua antiga supremacia mental, e irrevogavelmente sua antiga supremacia mental, e se subordina necessariamente à observação, de se subordina necessariamente à observação, de maneira a constituir um estado lógico plenamente maneira a constituir um estado lógico plenamente normal ... normal ...

Assim, o verdadeiro espírito positivo consiste Assim, o verdadeiro espírito positivo consiste sobretudo em sobretudo em ver para crerver para crer, em estudar o que é, a , em estudar o que é, a fim de concluir disso o que será, segundo o dogma fim de concluir disso o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais.geral da invariabilidade das leis naturais. (Comte, 1844)(Comte, 1844)

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Epistemologia NietzschianaEpistemologia Nietzschiana

Contra o positivismo,Contra o positivismo,que pára frente aos fenômenos: “há apenas fatos”, eu que pára frente aos fenômenos: “há apenas fatos”, eu diria: não, propriamente fatos não há, ao contrário, só diria: não, propriamente fatos não há, ao contrário, só interpretações.interpretações.Nós não podemos constatar nenhum fato “em si”, é Nós não podemos constatar nenhum fato “em si”, é talvez um absurdo querer qualquer coisa do gênero.talvez um absurdo querer qualquer coisa do gênero.

Perspectivismo:Perspectivismo:Enquanto a palavra “conhecimento” tenha sentido, o Enquanto a palavra “conhecimento” tenha sentido, o

mundo é cognoscível; mas ele é interpretável em mundo é cognoscível; mas ele é interpretável em modos diferentes, não tem atrás de si um sentido, mas modos diferentes, não tem atrás de si um sentido, mas inumeráveis sentidos.inumeráveis sentidos.

São as nossas necessidades que interpretam o São as nossas necessidades que interpretam o mundo: os nossos instintos e os seus prós e contra. mundo: os nossos instintos e os seus prós e contra. Cada instinto é uma espécie de sede de domínio, cada Cada instinto é uma espécie de sede de domínio, cada um tem a sua perspectiva, que ele gostaria de impor um tem a sua perspectiva, que ele gostaria de impor como norma a todos os outros instintos. como norma a todos os outros instintos. (Nietzsche, (Nietzsche, 1886)1886)

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Quádrupla Paternidade para o EntendimentoQuádrupla Paternidade para o Entendimento Científico Autônomo e Complexo dos Fenômenos Humanos Científico Autônomo e Complexo dos Fenômenos Humanos

1846 - “1846 - “A Ideologia AlemãA Ideologia Alemã” ” Contribuição filosófico-política em Marx/Engels – ação da Ideologia significados das relações entre grupos humanos na História.

1895 - “1895 - “Estudos sobre a HisteriaEstudos sobre a Histeria””Contribuição psicanalítica em Freud – ação do Inconsciente significados dos atos humanos na Vida Pessoal.

1913 - “1913 - “Conceitos Básicos de SociologiaConceitos Básicos de Sociologia””Contribuição sociológica em Weber – ação dos Significados Sociais significados dos atos humanas na relação com os outros na Sociedade.

1922 - “1922 - “Argonautas do Pacífico OcidentalArgonautas do Pacífico Ocidental””Contribuição antropológica em Malinowski – ação do Funcional significados de representações humanas partilhadas na Cultura.

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Semelhanças entreSemelhanças entre a Ideologia em Marx e o Inconsciente em Freud a Ideologia em Marx e o Inconsciente em Freud

• Ideologia e Inconsciente contém idéias cujasidentidades, relações e influências desconhecemos:

Adotamos crenças e atitudes sem saber sua origem, sem pensar em suas causas, sem avaliar se são coerentes.

• Ideologia e Inconsciente operam através do imaginário, com representações vindas da experiência imediata, realizando-se indiretamente em nossa consciência:

Pensamos, falamos, agimos de modos que parecem naturais, porque a sociedade os incute em nós através da família, escola, mídia, relações na sociedade.

Um véu de imagens interpõe-se entre nossa consciência e a realidade.

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Semelhanças entre Semelhanças entre IdeologiaIdeologia e e InconscienteInconsciente

• Inconsciente e Ideologia não são voluntários:Inconsciente e Ideologia não são voluntários: O Inconsciente precisa de imagens, substitutos,

sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimaçãopara manifestar seus desejos e, ao mesmo tempo,escondê-los do consciente.

A Ideologia precisa de idéias-imagens, da inversão entre causas e efeitos, do silêncio para manifestar as vontades de grupos sociais dominantes e, ao mesmo tempo, escondê-las como se fossem de uma sociedade única.

• Portanto, para bem conhecer o Homem é preciso:desvelar os mecanismos da ideologia.desmascarar os mecanismos do inconsciente. (M. Chauí)

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Da Astrofísica à Medicina e às Ciências da SaúdeDa Astrofísica à Medicina e às Ciências da Saúde

Galileu -Galileu - O ensaiador, 1623O ensaiador, 1623- universo escrito em língua matemática;- universo escrito em língua matemática;- observação, experimento, indução;- observação, experimento, indução;- física como primeira ciência.- física como primeira ciência.

Descartes -Descartes - Discurso do método, 1637Discurso do método, 1637- roupagem filosófica para a moderna ciência galileana;- roupagem filosófica para a moderna ciência galileana;- regras precisas para ciências experimentais.- regras precisas para ciências experimentais.

Comte -Comte - Discurso sobre o espírito positivo, 1844Discurso sobre o espírito positivo, 1844- delimitação dos fatos em si; valorização da relação causa-efeito;- delimitação dos fatos em si; valorização da relação causa-efeito;- ciências experimentais como modelo das demais.- ciências experimentais como modelo das demais.

Bernard -Bernard - Medicina experimental, 1865Medicina experimental, 1865- direcionamento da medicina científica moderna;- direcionamento da medicina científica moderna;- visão mecanicista do corpo humano;- visão mecanicista do corpo humano;- fisiologia como paradigmática das ciências médicas e da saúde.- fisiologia como paradigmática das ciências médicas e da saúde.

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A Verdade para o PoetaA Verdade para o Poeta

Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro.que se haviam zangado um com o outro.

Cada um me contou a narrativa de porque se haviam Cada um me contou a narrativa de porque se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão.razão.

Não era que um via uma coisa e o outro outra, ou que um Não era que um via uma coisa e o outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão.via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão.

Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.Fiquei confuso desta dupla existência da verdade. (Livro do desassossego, Bernardo Soares / Fernando Pessoa)(Livro do desassossego, Bernardo Soares / Fernando Pessoa)

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Dúvidas sobre a CientificidadeDúvidas sobre a Cientificidade da Pesquisa em Ciências do Homem da Pesquisa em Ciências do Homem

1.1. Conclusões da pesquisa qualitativa são generalizáveis?Conclusões da pesquisa qualitativa são generalizáveis?2.2. E os vieses das pesquisas qualitativas: quais seus E os vieses das pesquisas qualitativas: quais seus

efeitos sobre a apreensão dos dados?efeitos sobre a apreensão dos dados?3.3. A ação/interação do pesquisador influi na fala e no A ação/interação do pesquisador influi na fala e no

comportamento dos sujeitos de seu estudo?comportamento dos sujeitos de seu estudo?4.4. Dois pesquisadores estudando em separado os Dois pesquisadores estudando em separado os

mesmos sujeitos, no mesmo mesmos sujeitos, no mesmo settingsetting e empregando os e empregando os mesmos meios chegarão aos mesmos resultados?mesmos meios chegarão aos mesmos resultados?

5.5. Quais as diferenças entre a pesquisa qualitativa e Quais as diferenças entre a pesquisa qualitativa e outras atividades não-científicas mas que geram outras atividades não-científicas mas que geram discurso ou representações sobre os seres humanos?discurso ou representações sobre os seres humanos?

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Dúvidas sobre Pesquisa em Ciências do HomemDúvidas sobre Pesquisa em Ciências do Homem

6.6. Abordagens qualitativa e quantitativa podemAbordagens qualitativa e quantitativa podemser usadas juntas num único projeto de pesquisa?ser usadas juntas num único projeto de pesquisa?

7.7. A pesquisa qualitativa tem estatuto de ciência?A pesquisa qualitativa tem estatuto de ciência?Como nasceram os métodos qualitativos?Como nasceram os métodos qualitativos?

8.8. Qual é o objetivo da pesquisa qualitativa? Como Qual é o objetivo da pesquisa qualitativa? Como interpretar significados relatados pelas pessoas?interpretar significados relatados pelas pessoas?

9. Quais as diferenças paradigmáticas, de recursos as diferenças paradigmáticas, de recursos técnicos, de apresentação e discussão de resultados técnicos, de apresentação e discussão de resultados entre a pesquisa quantitativa e qualitativa?entre a pesquisa quantitativa e qualitativa?

10.10. Faz sentido perguntar qual tipo de pesquisa é melhor: Faz sentido perguntar qual tipo de pesquisa é melhor: qualitativa ou quantitativa? Contradizem-se? Que qualitativa ou quantitativa? Contradizem-se? Que entender sobre complementaridade entre métodos?entender sobre complementaridade entre métodos?

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Definições de Métodos QualitativosDefinições de Métodos Qualitativos No Campo das Ciências do Homem No Campo das Ciências do Homem

... os pesquisadores qualitativistas estudam as ... os pesquisadores qualitativistas estudam as coisas em seu setting natural, tentando dar sentido coisas em seu setting natural, tentando dar sentido ou interpretar fenômenos nos termos das ou interpretar fenômenos nos termos das significações que as pessoas trazem para eles.significações que as pessoas trazem para eles. (Denzin & Lincoln)(Denzin & Lincoln)

... procuram entender o processo pelo qual... procuram entender o processo pelo qualas pessoas constroem significados e descrevemas pessoas constroem significados e descrevemo que são aqueles significados.o que são aqueles significados. (Bogdan e Biklen)(Bogdan e Biklen)

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Definições de Métodos QualitativosDefinições de Métodos Qualitativos

... indutivos, holísticos, êmicos, subjetivos e ... indutivos, holísticos, êmicos, subjetivos e orientados para o processo, usados para orientados para o processo, usados para compreender, interpretar, descrever e desenvolver compreender, interpretar, descrever e desenvolver teorias relativas a fenômenos ou a settings.teorias relativas a fenômenos ou a settings. ((Morse & Field)Morse & Field)

... aquelas capazes de incorporar a questão do ... aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas transformação, como construções humanas significativas. significativas. (Minayo)(Minayo)

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O Método Clínico-Qualitativo:O Método Clínico-Qualitativo:Recorte Conceitual da Pesquisa nas Ciências HumanasRecorte Conceitual da Pesquisa nas Ciências Humanas

Utilizada em Settings da Assistência em Saúde Utilizada em Settings da Assistência em Saúde

Método para interpretar as significações simbólicasMétodo para interpretar as significações simbólicas(psicodinâmicas, bem como socioculturais),(psicodinâmicas, bem como socioculturais),que indivíduos (pacientes, familiares, profissionais)que indivíduos (pacientes, familiares, profissionais)dão a fenômenos vivenciados/observados no adoecer.dão a fenômenos vivenciados/observados no adoecer.

Trabalha no paradigma fenomenológico, na grande área Trabalha no paradigma fenomenológico, na grande área das Ciências do Homem, valorizando:das Ciências do Homem, valorizando:- as angústias existenciais dos sujeitos;- as angústias existenciais dos sujeitos;- a atitude clínica de escuta e acolhida;- a atitude clínica de escuta e acolhida;- um quadro interdisciplinar de referências teóricas,- um quadro interdisciplinar de referências teóricas, enfocando concepções psicanalíticas básicas. enfocando concepções psicanalíticas básicas. (LPCQ / Unicamp)(LPCQ / Unicamp)

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Atitudes enquanto pilares definidoresAtitudes enquanto pilares definidores do Método Clínico-Qualitativo do Método Clínico-Qualitativo

• Atitude Existencialista (kierkegaardiana):Atitude Existencialista (kierkegaardiana):VValorização consciente das angústias e ansiedades alorização consciente das angústias e ansiedades humanas como força motriz para a pesquisahumanas como força motriz para a pesquisa(como deveria ser tida em todos os ramos da ciência).(como deveria ser tida em todos os ramos da ciência).

• Atitude Clínica (hipocrática):Atitude Clínica (hipocrática):Inclinação da escuta e do olhar para oInclinação da escuta e do olhar para o sofrimento do sofrimento do indivíduo sob estudo, movido pelo hábito da ajuda indivíduo sob estudo, movido pelo hábito da ajuda terapêutica.terapêutica.

• Atitude Psicanalítica (freudiana):Atitude Psicanalítica (freudiana):Consideração da interação afetiva entrevistador-Consideração da interação afetiva entrevistador-entrevistado e de teorias psicodinâmicas para as entrevistado e de teorias psicodinâmicas para as interpretações no estudo.interpretações no estudo.

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Diferenças entre MetodologiasDiferenças entre Metodologias ‘Quanti’ e ‘Quali’ na Pesquisa em Saúde ‘Quanti’ e ‘Quali’ na Pesquisa em Saúde

Método:Método: QuantitativoQuantitativo QualitativoQualitativo

Paradigma:Paradigma: PositivismoPositivismo FenomenologiaFenomenologia

Atitude:Atitude: ExplicaçãoExplicação CompreensãoCompreensão

Objeto:Objeto: Fato (descrição)Fato (descrição) Fenômeno (apreensão)Fenômeno (apreensão)

Disciplinas:Disciplinas: Ciências Médicas,Ciências Médicas, Psicanálise,Psicanálise, Antropol.,Antropol.,Psicol. Comport.Psicol. Comport. Psicol. CompreensivaPsicol. Compreensiva Sociol. PositivistaSociol. Positivista Sociol. CompreensivaSociol. Compreensiva

Temas:Temas: Ocorrências geraisOcorrências gerais Ocorrência específicaOcorrência específica

Comparação:Comparação: Confronto gruposConfronto grupos DesnecessáriaDesnecessária

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Método:Método: QuantiQuanti QualiQuali

Busca:Busca: Nexo causalNexo causal Nexo de sentidoNexo de sentidoObjetivo:Objetivo: Relação causa-efeitoRelação causa-efeito Rel. de significadosRel. de significadosDesenho:Desenho: PreestabelecidoPreestabelecido FlexívelFlexívelAndamento:Andamento: PrefixadoPrefixado EvolutivoEvolutivoForça:Força: ReprodutibilidadeReprodutibilidade ValidadeValidadeAbordagem:Abordagem: Por experimentosPor experimentos ObservadorObservadorInstrumentos:Instrumentos: Classificações,Classificações, Próprio pesquisadorPróprio pesquisador

Escalas,Escalas, Entrev. semidirigida,Entrev. semidirigida,Observação dirigida,Observação dirigida, Observação livre,Observação livre,Inform. randômicasInform. randômicas Levant. intencionalLevant. intencional

Amostra:Amostra: RandomizadaRandomizada IntencionalIntencional

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Método:Método: QuantiQuanti QualiQuali

Perfil da amostra:Perfil da amostra: Maior númeroMaior número Poucos sujeitosPoucos sujeitosTamanho amostral:Tamanho amostral: ‘N’ predefinido‘N’ predefinido Não busca um ‘N'Não busca um ‘N'Variáveis:Variáveis: ControladasControladas LivresLivresTratamento dados:Tratamento dados: EstatísticaEstatística Análise conteúdoAnálise conteúdoApresentação:Apresentação: Em linguagemEm linguagem Citações literaisCitações literais

matemáticamatemática do campodo campoDiscussão:Discussão: Confirma ouConfirma ou Revisão deRevisão de

refuta hipótesesrefuta hipóteses pressupostospressupostosGeneralização:Generalização: De resultadosDe resultados De conceitosDe conceitosQuem generaliza:Quem generaliza: Autor/PesquisadorAutor/Pesquisador Leitor/ConsumidorLeitor/Consumidor

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Escolha de técnicas de coleta de dadosEscolha de técnicas de coleta de dados

Coletar dados é como pescar peixesColetar dados é como pescar peixesnum lago, num rio ou no mar:num lago, num rio ou no mar:

• Há redes de diversos tipos (os instrumentos de Há redes de diversos tipos (os instrumentos de pesquisa) para peixes de diferentes tamanhos e pesquisa) para peixes de diferentes tamanhos e de diferentes hábitats (os objetos de estudo).de diferentes hábitats (os objetos de estudo).

• Há técnicas distintas para se pegarHá técnicas distintas para se pegar“peixes quantitativos” e “peixes qualitativos”.“peixes quantitativos” e “peixes qualitativos”.

(só um desavisado caçaria baleias com anzol ou pescaria lambaris com arpão)(só um desavisado caçaria baleias com anzol ou pescaria lambaris com arpão)

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Como seria sem a angústia...Como seria sem a angústia...

O Mundo não se fez para pensarmos neleO Mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos)(Pensar é estar doente dos olhos)Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.Quem está ao pé dele está só ao pé dele.Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Acho tão natural que não se pense.Acho tão natural que não se pense.

Alberto Caieiro / Fernando Pessoa, 1911-1912.Alberto Caieiro / Fernando Pessoa, 1911-1912.

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Passos do Trabalho de CampoPassos do Trabalho de Campo

• Idas de ambientação às regras do dampoIdas de ambientação às regras do dampo• Imersão e entrevistas de aculturaçãoImersão e entrevistas de aculturação• Seleção dos sujeitos, conviteSeleção dos sujeitos, convite• Leitura do termo de consentimentoLeitura do termo de consentimento• Marcação da entrevistaMarcação da entrevista• Uso de recinto reservadoUso de recinto reservado• Estabelecimento do Estabelecimento do rapportrapport

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Passos do Trabalho de Campo (cont.)Passos do Trabalho de Campo (cont.)

• Coleta dos dados de identificação pessoalColeta dos dados de identificação pessoal

• Colocação da questão disparadoraColocação da questão disparadora

• Andamento semidirigidoAndamento semidirigido

• Paulatina colocação das questões esclarecedorasPaulatina colocação das questões esclarecedoras

• Observação e auto-observaçãoObservação e auto-observaçãono todo da entrevistano todo da entrevista

• Disponibilidade do pesquisador pós-entrevistaDisponibilidade do pesquisador pós-entrevista

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Tipos de Construção da AmostraTipos de Construção da Amostra Em Pesquisas Qualitativas Em Pesquisas Qualitativas

Por Saturação:Por Saturação:inclusão de sujeitos de ampla homogeneidadeinclusão de sujeitos de ampla homogeneidade

interna; amostra é fechada por repetições dos dados. interna; amostra é fechada por repetições dos dados. Por Bola-de-Neve:Por Bola-de-Neve:

modo de captação de sujeitos por inclusão demodo de captação de sujeitos por inclusão de indivíduos sucessivos, indicados, levando a teoria indivíduos sucessivos, indicados, levando a teoria de ‘frouxa’ a ‘organizada’ (há também de ‘frouxa’ a ‘organizada’ (há também saturaçãosaturação).).Por Variedade de Tipos:Por Variedade de Tipos:

critério de uma homogeneidade fundamental;critério de uma homogeneidade fundamental; inclusão de tipos complementares, amostra de inclusão de tipos complementares, amostra de sujeitos é fechada com outros eventuais informantes sujeitos é fechada com outros eventuais informantes por inclusão deliberada pelo pesquisador. por inclusão deliberada pelo pesquisador.

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Sobre as técnicas de Análise de ConteúdoSobre as técnicas de Análise de Conteúdo

Técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e Técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação.quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação.

Quem diz o quê, para quem, e com qual efeitoQuem diz o quê, para quem, e com qual efeito.. (Berelson, 1952) (Berelson, 1952)

Estratégia de selecionar e reorganizar o material transcrito, Estratégia de selecionar e reorganizar o material transcrito, segundo tópicos / categorias que são identificados em várias segundo tópicos / categorias que são identificados em várias leituras flutuantes do leituras flutuantes do corpuscorpus, respondendo às hipóteses., respondendo às hipóteses.

Leituras flutuantes:Leituras flutuantes:Modo de ler, surfando, não privilegiando a priori qualquer Modo de ler, surfando, não privilegiando a priori qualquer elemento da fala: deixar funcionar livremente a própria elemento da fala: deixar funcionar livremente a própria atividade inconsciente e suspender motivações que dirigem a atividade inconsciente e suspender motivações que dirigem a atenção.atenção.

Sem memória, sem desejo Sem memória, sem desejo (Bion).(Bion).

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Freud aos médicos que exerciam Psicanálise, em “A Dinâmica da Transferência”

(1912)

Pois assim que alguém deliberadamente concentra bastante a atenção, começa a selecionar o material que lhe é apresentado; um ponto fixar-se-á em sua mente com clareza particular e algum outro será, correspondentemente, negligenciado, e, ao fazer essa seleção, estará seguindo suas expectativas ou inclinações.

Isto, contudo, é exatamente o que não deve ser feito. Ao efetuar a seleção, se seguir suas expectativas, estará arriscado a nunca descobrir nada além do que já sabe; e, se seguir as inclinações, certamente falsificará o que possa perceber.

Não se deve esquecer que o que se escuta, na maioria, são coisas cujo significado só é identificado posteriormente.

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Lembrando a experiência sobre a falaLembrando a experiência sobre a fala segundo Montaigne, 1533-1592 segundo Montaigne, 1533-1592

• A palavra é metade de quem fala, metade de quem escuta.A palavra é metade de quem fala, metade de quem escuta.• Quem ouve deve preparar-se para recebê-la como os que Quem ouve deve preparar-se para recebê-la como os que

se preparam para receber a bola de tênis, de acordo com a se preparam para receber a bola de tênis, de acordo com a direção e a força do lance.direção e a força do lance.

• Damos o tom à nossa voz, buscando-o nos ouvidos Damos o tom à nossa voz, buscando-o nos ouvidos daquele a quem nos dirigimos.daquele a quem nos dirigimos.

• Falamos o que temos a tratar a quem nos ouve sobre tal.Falamos o que temos a tratar a quem nos ouve sobre tal.• O tom de voz encerra uma parte da expressão, cumpre O tom de voz encerra uma parte da expressão, cumpre

graduá-lo portanto.graduá-lo portanto.• Há tom para ensinar, para adular e outro para advertir.Há tom para ensinar, para adular e outro para advertir.• Que a voz, além de alcançar o ouvinte, que o fira, e por Que a voz, além de alcançar o ouvinte, que o fira, e por

vezes o transpasse.vezes o transpasse.

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Cuidado com a sedução das palavrasCuidado com a sedução das palavras

Todas as palavras, tomadas literalmente, são falsas.Todas as palavras, tomadas literalmente, são falsas.A verdade habita o silêncio que está entre elas.A verdade habita o silêncio que está entre elas.É preciso investir no que não foi dito, deixando a É preciso investir no que não foi dito, deixando a atenção nas entrelinhas.atenção nas entrelinhas.É sábio fazer a atenção flutuar, apenas tangenciar as É sábio fazer a atenção flutuar, apenas tangenciar as palavras sem cair em suas ciladas.palavras sem cair em suas ciladas.É preciso resistir a seu poder enfeitiçante que tanto É preciso resistir a seu poder enfeitiçante que tanto arrasta os ingênuos.arrasta os ingênuos.Cuidado com sedução da clareza!Cuidado com sedução da clareza!Cuidado com o engano do óbvio!Cuidado com o engano do óbvio! (Rubem Alves) (Rubem Alves)