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OS RECLUSOS E O FIM DA PENA DE PRISÃO Universidade Fernando Pessoa Liliana Fonseca Nº 26289

Tecnicas qualitativas novo

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OS RECLUSOS E O FIM DA PENA DE

PRISÃO

Universidade Fernando Pessoa

Liliana Fonseca

Nº 26289

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Índice

Introdução……………………………………………….. 2

Conceitos-chave......……………………………..………. 2

Resumos dos artigos pesquisados…………...…..…..…... 3

Objetivos ……………………………..…...…………..…6

Objecto de trabalho: pergunta de investação………….....7

Metodologia.....................................................………......8

Participantes....................................................…………...9

Descrição das técnicas e dos instrumentos de medida......10

Procedimento a utilizar no levantamento dos dados….....11

Entrevista....................................................……….....…..11

Quais as principais limitações do trabalho....…….....…...12

Conclusão....................................................……….....….13

Bibliografia.......................................................……....….14

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Introdução

Quando o ser humano viola as leis de uma sociedade, esta violação comporta

consequências, sendo o destino mais comum a prisão, isolando assim os indivíduos para

que estes repensem as suas atitudes e corrijam os seus comportamentos.

Após o cumprimento da sua pena, o recluso é novamente reintegrado na

sociedade, mas este processo é realizado de forma cuidada e gradual. É necessário

perceber se o recluso está completamente preparado para a sua reintegração na

sociedade e se não se encontra em risco de reincidir. O que nos leva a questionar, quais

serão as expectativas de um recluso face ao seu retorno à sociedade, quais os seus

sentimentos e receios e quais apoios de que disponibiliza.

Conceitos-Chave

Reinserção Social, Comportamentos, Violação das Leis, Retorno à Sociedade

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Resumos dos artigos pesquisados

A obra Prisão e sociedade - Modalidades de uma conexão de Manuela Ivone

Cunha aborda os limites da prisão e a sua relação com a sociedade. A prisão é

considerada como um espaço que associa o crime e o castigo daqueles que infringiram a

lei. No entanto, apesar de a prisão ser vista como tal, o elo crime/prisão está longe de ser

linear, porque os índices de encarceramento não estão directamente relacionados com os

índices de criminalidade. A prisão acaba por participar directamente no controlo do

mercado de trabalho, enchendo-se para responder ao excesso de mão-de-obra e

esvaziando-se quando ela é escassa, razão pela qual os índices prisionais e de

desemprego variariam no mesmo sentido. Outros autores constataram esta ligação entre

desemprego e encarceramento, mas alegam que ela é indirecta. No que respeita aos

valores que os reclusos adquirem, importam do exterior, estes acabam por se associar

com a “cultura penitenciária” ocorrendo uma espécie de processo de aculturação ou

assimilação segundo o qual quanto mais prolongado e exclusivo for o contacto com os

valores da cadeia, valores esses supostamente criminogéneos, menor será a

conformidade a normas e valores convencionais.

A título de exemplo, podemos referir o caso dos reclusos da Cadeia Central da

Praia (Lucinda Eduarda Carvalho Monteiro, A Reinserção Social dos Reclusos da

Cadeia Central da Praia, Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, Cabo Verde).

Os reclusos da Cadeia Central da Praia têm de aceder a elementos fundamentais

para o processo da sua Reinserção Social, tendo em conta aspectos como actividades

desenvolvidas na cadeia, a relação com a família, com a comunidade, actividade

comunitária fora do espaço prisional, a preparação para a liberdade e a relação entre a

detenção e mudança de comportamento. A Reinserção social implica um processo de

interacção e comunicação entre o recluso e a sociedade e só terá sucesso se houver esta

aproximação. As estratégias de reinserção social não devem ter a intenção de

consciencializar o recluso sobre seus erros, mas sim mostrar que ele pode acertar, o que

ele pode fazer, de suas qualidades, do cidadão e da força construtiva que existem dentro

do recluso. Nas prisões de Portugal, por exemplo, há uma multiplicidade de actividades

sócio – culturais e desportiva que fazem o quotidiano prisional, de forma a aproximar a

vida prisional do meio livre, proporcionando momentos de lazer e de convívio. As

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actividades relacionadas com a Reinserção Social são importantes porque ajudam a

melhorar a própria vida e a ocupar a mente com algo de bom.

No que respeita à preparação para a saída do recluso da prisão e ao seu

acompanhamento para a futura reinserção na sociedade, tal como afirma Inês Gomes

(Inês Raquel Marques Neto Gomes, Da Prisão à Liberdade: Reinserção Social de Ex-

reclusos, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Setembro, 2008),

são várias as estratégias que podem ser utilizadas com os reclusos. No entanto, é

necessário salientar a necessidade de haver uma maior investimento e participação por

parte dos reclusos, bem como a necessidade urgente de se conseguir um emprego para

os reclusos de modo a promover uma maior e mais fácil integração. Cada vez mais as

desigualdades entre os indivíduos são maiores, existindo uma crescente tendência para a

exclusão social. As desigualdades sociais e a marginalização não estão só relacionadas

com as condições económicas a que os indivíduos estão sujeitos, mas também afectam

negativamente as oportunidades educativas e profissionais, o que pode levar

consequentemente à criminalidade. A prisão é assim o destino dos criminosos e a forma

que foi encontrada para punir aqueles que agem contra a sociedade, de forma a corrigir

seus erros e a sancionar seus atos. A reinserção social surge momento em que os

reclusos deixam de estar privados da sua liberdade com o objectivo de promover a

«recuperação» do delinquente, devidamente acompanhado, fomentando neste um

padrão de vida congruente com a lei. Contudo, durante este processo surgem

frequentemente dificuldades: relutância por parte da sociedade, desconfiança face aos

ex-reclusos, resistência das instituições sociais à integração destes ex-reclusos no que se

refere, por exemplo, ao local de trabalho, não sendo por isso um processo rápido e fácil.

Importa ainda referir que para ajudar à reinserção dos reclusos na sociedade, as

saídas precárias funcionam como uma preparação e primeiro contacto com a realidade

exterior, da qual o recluso este afastado durante um certo período de tempo. Segundo

Ana Ferreira (Ana Cristina Oliveira Ferreira, Saídas Precárias: entre o regresso e o não

regresso, Universidade Fernando Pessoa, Porto 2011), estas saídas (saídas jurisdicionais

ou de curta duração) e este contato acaba por ser utilizado como forma de convívio com

os familiares, amigos ou até para trabalhar e é uma forma de preparar os reclusos para a

liberdade. O recluso tem a oportunidade de interagir com a sociedade e saborear a sua

liberdade. As licenças de saída do estabelecimento só são permitidas após serem

verificados alguns requisitos e, no final, o recluso deve voltar ao estabelecimento senão

será recapturado. Contudo, a maioria volta ao estabelecimento prisional denotando uma

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preocupação pelo cumprimento do dever e receio das possíveis consequências jurídicas,

caso não retornem.

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Objetivos

- Conhecer a realidade vivida nas prisões;

- Compreender o processo de reinserção dos reclusos;

- Descrever os mecanismos de reinserção que são accionados;

- Compreender os sentimentos e expectativas dos reclusos face à sua saída.

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Objecto de trabalho: pergunta de investigação

Quais as expectativas dos reclusos aquando da sua saída.

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Metodologia

No que diz respeito à metodologia utilizada esta será naturalista, na medida em

que se baseia nos testemunhos dados pelos entrevistados, e descritiva. A lógica de

trabalho é de natureza indutiva, pois são obtidas conclusões gerais a partir dos dados

disponíveis, que foram observados e registados e, mais tarde, analisados e classificados.

Os dados predominantemente descritivos e não estruturados. Importa ainda salientar que

existe uma preocupação com o processo e não com os resultados, procedendo-se a uma

visão holística do fenómeno. O projecto/plano de investigação qualitativa não se

encontra muito detalhado/pormenorizado.

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Participantes

No que se refere aos participantes deste projeto/plano a minha amostra é

formada por 102 reclusos (sendo a amostra correspondente a dois reclusos de cada

estabelecimento prisional) pertencentes às prisões de Norte a Sul de Portugal, sendo 4

desses reclusos do sexo feminino. Todos os reclusos são de faixas etárias diferentes e

estão a cumprir pena por crimes distintos.

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Descrição das técnicas e dos instrumentos de medida

Antes de iniciar o trabalho no terreno e o meu trabalho de campo, procurei

principiar a minha pesquisa bibliográfica e efetuando uma extensiva pesquisa on-line. A

leitura desses documentos deu-me a possibilidade de estar mais a par dos estudos que

têm sido feitos nessa área. O meu principal objectivo é compreender as expectativas dos

reclusos aquando da sua saída. Tive de pedir algumas autorizações antes de ir para o

terreno à Direcção Geral do Estabelecimento Prisional, marcar as entrevistas e enviar

todo o conteúdo da entrevista para os Estabelecimentos, de modo a que eles a pudessem

analisar e dar permissão e fiz ainda entrevistas a alguns reclusos que estavam em saídas

precárias, pois são eles que, na minha opinião, criam mais expectativas em relação à sua

vida cá fora. As entrevistas que utilizei com os reclusos foram semi-estruturadas, de

modo a que os reclusos sentissem uma maior liberdade de expressão, um maior grau de

veracidade e de profundidade. Além disso, todos os reclusos foram informados do

anonimato das entrevistas e assinaram uma declaração a autorizar a entrevista e o uso do

gravador, de modo a facilitar o registo da informação.

Estas entrevistas possibilitaram-me a oportunidade de registar informações

sobre: quais eram as suas expectativas relativamente ao que os esperava no seu retorno à

sociedade; qual o tipo de apoio que lhes foi prestado ainda dentro do estabelecimento

prisional; quais às suas vivências mais marcantes e quais as medidas de apoio que foram

tomadas no sentido de agilizar a ressocialização após a sua saída da prisão (se é que as

houve). Posso afirmar que estes indivíduos se mostraram muito receptivos ao facto de

poderem partilhar experiências tão marcantes nas suas vidas como é o facto de terem

estado em clausura durante uma série de anos. É verdade que uns se sentiram mais à

vontade do que outros, mas todos contaram episódios marcantes do seu percurso.

Após ter em mão as entrevistas, procedi ao tratamento das mesmas,

seleccionando e registando a informação importante e necessária à elaboração do

projeto (análise de dados). Isto porque, uma pesquisa qualitativa deve ser bem planeada,

de modo fornecer informação útil, verdadeira e essencial.

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Procedimento a utilizar no levantamento dos dados

Para facilitar o registo de dados, foi utilizado como método a entrevista. As

entrevistas foram gravadas de modo a facilitar o levantamento de dados e para que o

entrevistador possa prestar mais atenção ao entrevistado, criar uma certa empatia, não se

limitando no registo rápido de dados. As entrevistas são anónimas de modo a não

prejudicar nenhum dos entrevistados e a salvaguardar a sua reputação.

Entrevista:

Nome:

Idade:

Qual o motivo pelo qual cumpre pena de prisão?

Quais os apoios recebidos de forma a facilitar a reinserção social?

A saída precária facilitou o seu retorno á sociedade?

Quais a s primeiras dificuldades que enfrentou?

O que sentiu no momento em que soube que ia ser libertado?

Após a sua saída, como foi recebido pela sociedade? Sentiu que foi

ajudado ou pelo contrário sofreu descriminação por ser um ex-recluso?

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Quais as principais limitações do trabalho

As dificuldades encontradas ao longo deste trabalho prendem-se com a pesquisa

inicial, devido à pouca informação e tratamento de dados que existe sobre este tema.

Posteriormente, a elaboração das entrevistas também se mostrou difícil, na medida em

que é necessário colocar as questões mais pertinentes de modo a obtermos a informação

que desejamos. E, por último, a fase mais trabalhosa foi a da organização de dados e

comparação dos mesmos, para uma posterior análise e reflexão.

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Conclusão

A prisão é um lugar indesejável, com o seu aspeto cinzento, frio e sisudo, que não

permite acalentar esperanças no coração de milhares de jovens e adultos à espera que a

sua infindável pena acabe.

Ao vivenciarmos estas realidades compreendemos a urgência de pensarmos de

forma mais humana, valorizamos a nossa liberdade e compreendemos a necessidade que

parte dos reclusos sente de ter uma segunda oportunidade. Embora o arrependimento

não habite o espírito de todos aqueles que habitam as inúmeras celas de um

estabelecimento prisional, o certo é que em alguns reclusos o arrependimento

verdadeiro existe e a reinserção social transforma-se numa luz ao fundo do túnel. As

prisões, apesar do seu carácter punitivo, não funcionam hoje com o propósito para o

qual foram criadas e têm-se transformado num local propício à aprendizagem do crime

e ao crescimento do mesmo, pela partilha de conhecimentos entre reclusos, pela

existência de drogas e violência no seu interior e pelo instinto de sobrevivência que cria

no indivíduo, tornando-o frio e calculista. Apesar da intervenção por parte do Instituto

de Reinserção Social, esta também é deficitária na medida em que carece de falta de

apoio e incentivo por parte do Estado e pela falta de formação e preparação de todos os

profissionais envolvidos direta ou indiretamente na realidade de um estabelecimento

prisional. No entanto, não deixa de ser imprescindível no combate e na prevenção do

crime e na reabilitação do acusado. A prisão deve preparar o indivíduo para a sua saída

no momento da liberdade lhe fornecendo a preparação necessária para uma adaptação

mais eficaz. É deste forma que será possível a um recluso readaptar-se com êxito na

sociedade e ser mais facilmente aceite pela comunidade. Para que a reinserção social

funcione é necessário haver interação e comunicação entre o recluso e a sociedade de

modo a facilitar a sua adaptação e a evitar a sua reincidência.

A sociedade deve assim aprender a incluir aqueles que acabou por excluir por seus

comportamentos desviantes, num momento passado, procurando estratégias para os

ajudar e proporcionando-lhes uma participação ativa naquela que deveria ser uma

sociedade igualitária em oportunidades.

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Bibliografia

Cunha, Manuela Ivone, Prisão e sociedade – Modalidades de uma conexão.

Direcção Geral dos Serviços Prisionais. http://www.dgsp.mj.pt

Ferreira, Ana Cristina Oliveira Ferreira, Saídas Precárias: Entra o Regresso e o não

regresso, Universidade Fernando Pessoa, Porto 2011.

Gomes, Inês Raquel Marques Neto, Da Prisão à Liberdade: Reinserção Social de Ex-

reclusos, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Setembro,2008.

Monteiro, Lucinda Eduarda Carvalho, A Reinserção Social dos Reclusos da Cadeia

Central da Praia, Universidade Jean Piaget, Cabo Verde.