126
i UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDOS FITOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DO GÊNERO Bauhinia (FABACEAE) DA REGIÃO AMAZÔNICA PRISCILA MORAES DOS SANTOS MANAUS 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE …§ão... · identificados, utilizando CCD, CLAE-DAD-UV e espectrometria de massas, os flavonoides rutina e isoquercitrina nas espécies

Embed Size (px)

Citation preview

  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    ESTUDOS FITOQUMICOS DE ESPCIES DO GNERO Bauhinia

    (FABACEAE) DA REGIO AMAZNICA

    PRISCILA MORAES DOS SANTOS

    MANAUS

    2013

  • ii

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    PRISCILA MORAES DOS SANTOS

    ESTUDOS FITOQUMICOS DE ESPCIES DO GNERO Bauhinia

    (FABACEAE) DA REGIO AMAZNICA

    Orientador: Prof. Dr. Valdir Florncio da Veiga Junior

    MANAUS

    2013

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Qumica da Universidade

    Federal do Amazonas como parte dos requisitos

    para obteno do ttulo de Mestre em Qumica,

    com rea de concentrao em Qumica Orgnica.

  • iii

    Ficha Catalogrfica

    (Catalogao realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

    S237e

    Santos, Priscila Moraes dos

    Estudos fitoqumicos de espcies do gnero Bauhinia (Fabaceae)

    da Regio Amaznica / Priscila Moraes dos Santos. - Manaus:

    UFAM, 2013. 124 f.; il. color.

    Dissertao (Mestrado em Qumica) Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.

    Orientadora: Prof. Dr. Valdir Florncio da Veiga Junior

    1. Bauhinia 2. Flavonides 3. Cromatografia 4. Fitoqumica 5. Farmacologia I. Veiga Junior, Valdir Florncio da (Orient.) II.

    Universidade Federal do Amazonas III. Ttulo

    CDU (2007): 852.736(811.3)(043.3)

  • iv

    PRISCILA MORAES DOS SANTOS

    ESTUDOS FITOQUMICOS DE ESPCIES DO GNERO Bauhinia

    (FABACEAE) DA REGIO AMAZNICA

    Aprovada em 10 de julho de 2013.

    BANCA EXAMINADORA

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-graduao em Qumica da Universidade

    Federal do Amazonas como parte dos

    requisitos para obteno do ttulo de Mestre

    em Qumica, com rea de concentrao em

    Qumica orgnica.

  • v

    Dedico este trabalho a toda minha

    famlia, em especial minha av,

    Maria Aparecida in memoriam, e aos

    meus pais, Sandra e Paulo; aos meus

    tesouros na terra, meus amigos; e a

    todos que colaboraram para a

    realizao deste projeto.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Deus, por me conceder sabedoria e sade para conseguir mais esta vitria;

    minha me Maria Sandra e meu pai Paulo Maurcio por todo o apoio, ajuda e

    conselhos nos momentos em que mais precisei, e principalmente por seus

    ensinamentos e educao que acolho com todo respeito e privilgio;

    Aos meus avs paterno e materno, Manuel e Natal, por serem homens exemplares,

    com coraes maravilhosos e sinceros, sempre exemplos de vida para mim. Amo-os

    demais! E minhas avs j no mais presentes em carne, Maria Aparecida e Maria

    Filomena, a falta de vocs algo que nunca ser preenchido, mas o amor, as lies e

    as benos recebidas me confortam frente ausncia. Vocs fizeram jus ao nome e

    foram, para mim, Maria. Amo sempre.

    minha famlia, que a melhor e mais doida de todas, tios Loureno e Daniel, tias

    Gorete, Rita, Ftima e Louise, primas Sahmara, Sahmira e Manuela, primos Joo

    Vincius e Mateus, e minha querida irm Priscielly, obrigada por toda compreenso,

    suporte e incentivo para a concretizao desta dissertao, amo vocs!

    Ao meu orientador, prof. Dr. Valdir Veiga, por ser um pai cientfico e me oferecer

    todo suporte necessrio, acompanhamento e disposio para a realizao deste

    trabalho na nossa rica, admirada e bela regio amaznica. Alm de tambm oferecer

    uma oportunidade nica de conhecer e ampliar novos horizontes durante a realizao

    deste projeto. Obrigada por tudo!

    prof. Dr. Lgia Valente e seus alunos do Laboratrio 627 do Departamento de

    Qumica da UFRJ, Vincius, Bianca, Rodolfo, Adriana e Isabela que me acolheram to

    bem e compartilharam conhecimento e experincia, os quais, sem sombra de dvida

  • vii

    contriburam e muito para o enriquecimento deste trabalho e profissionalmente.

    Eternamente grata a todos vocs pela pacincia e disposio em ajudar!

    Aos meus amigos do Laboratrio de Qumica de Produtos Naturais, em especial a

    todos do sempre B-09, s que me receberam e acolheram em todo momento: Lidiam,

    Klenicy, Priscilla, Paula e Milena, que me orientaram desde o comecinho, l nas ICs

    em 2008. Aos mais recentes, companheiros e aos que j defenderam e aos breves

    doutores e mestres: Carol, Igor, Dayana, Andr, Iuri e Fabiano. Obrigada pelas dicas,

    conselhos e todo o apoio no desenvolvimento da minha pesquisa!

    Ao Victor Augusto por todo apoio e incentivo nesses anos; s grandes amigas desde a

    faculdade, Aline, Allana, Vanessa e Oneide, meninas, vamos conquistar o mundo

    como excelentes e belas qumicas! Aos amigos Rodrigo e Renyer, obrigada por toda

    ajuda durante esses anos. Sem vocs no poderia ter realizado essa conquista!

    Amigas desde o ensino mdio, Patrcia e Giselle, presentes em mais esta conquista,

    tenho o prazer em cultivar a nossa amizade por todos esses anos.

    Aos que vim conhecendo na estrada da vida, Ana Lcia, Jackieline, Lucianna e Filipe,

    suas histrias de superao, garra e conquistas sempre me fascinaro e sero exemplos

    para mim! E aps 15 anos, reencontrei este tesouro na terra, na mesma rea de atuao

    e em instituies prximas: Lorena, querida, Deus devolveu esta amizade to boa no

    momento mais certo de minha vida! Obrigada a todas vocs, meninas, mulheres, que

    enfeitam o meu jardim com tanta alegria, sabedoria, companheirismo e no menos

    importante, obrigada pelos ombros amigos nos momentos mais difceis de minha

    jornada!

    Ao Professor Emerson, por conceder seu laboratrio para realizao dos ensaios

    biolgicos e pelas dicas oferecidas, aos seus alunos Patrcia Danielle, Rayanne e

    Arleilson, obrigada por todo o auxlio, pacincia e explicaes, meus queridos!

  • viii

    E a todos no citados, professores, colegas de outros laboratrios, mas que fazem parte

    de minha vida, meu muito obrigado por tudo! Sou soma de tudo o que vivo e aprendo

    com todos que passam em minha vida!

    AGRADEO

  • ix

    "Porque nada h encoberto que no

    haja de ser manifesto; e nada se faz

    para ficar oculto, mas para ser

    descoberto." (Marcos 4:22)

  • x

    Resumo

    Espcies do gnero Bauhinia so utilizadas em diversas partes do mundo para tratamento de

    diversas doenas, principalmente para o tratamento da diabetes, devido a atividade

    hipoglicemiante j comprovada para a espcie Bauhinia forficata, a qual associada

    presena do flavonoide kaempferitrina. Entretanto, outras espcies tambm apresentam o

    mesmo efeito e a este associada a presena de outros flavonoides glicosilados. Neste

    trabalho buscou-se elaborar o perfil fitoqumico de quatro espcies de Bauhinia da Regio

    Amaznica a partir de seus extratos brutos, fraes flavonodicas e alcalodicas, a fim de

    promover uma varredura inicial para projetos biotecnolgicos mais especficos. Alm disso,

    Bauhinia coronata (Manaus-AM), B. purpurea (Manaus-AM), B. acreana (Manacapuru-

    AM) e B. purpurea (S. Gabriel da Cachoeira) foram analisadas para determinao do

    potencial antioxidante frente os radicais livres DPPH., ABTS

    .+ e O2

    -, assim como a inibio de

    enzimas lipoxigenase, -amilase, lipase, -glicosidase e tirosinase. Dentre estes ensaios

    antioxidantes e biolgicos como tirosinase e -glicosidase, destacaram-se as espcies B.

    coronata e B. purpurea com os valores mais baixos para CI50 (CI50 do extrato bruto de folha

    de B. coronata: 1,910,55 g/mL) . A toxicidade dos extratos brutos tambm foi testada

    frente ao microcrustceo Artemia salina, com valores de DL50 superiores a 250 g/mL,

    indicando a baixa toxicidade dos mesmos. Entretanto, na anlise do seu potencial citotxico e

    antibacteriano nenhuma espcie foi ativa, o que contrrio aos relatos da literatura em que a

    Bauhinia purpurea j foi mencionada com estes potenciais. No perfil de flavonoides foram

    identificados, utilizando CCD, CLAE-DAD-UV e espectrometria de massas, os flavonoides

    rutina e isoquercitrina nas espcies B. coronata e B. purpurea, sendo este ltimo flavonoide j

    relacionado atividade hipoglicemiante de outras espcies de Bauhinia, alm de ao

    antiinflamatria. O flavonoide kaempferitrina no foi encontrado em nenhuma espcie, como

    nenhuma substncia relativa classe alcalodica. Os resultados obtidos a partir da atividade

    antioxidante, baixa toxicidade e a presena de flavonoides com potencial fitoterpico

    estimulam futuras pesquisas especficas para fins biotecnolgicos.

    Palavras chave: Bauhinia, rutina, isoquercitrina, flavonoides, cromatografia.

  • xi

    Abstract

    Species of the genus Bauhinia are used in various parts of the world to treat various diseases,

    especially for the treatment of diabetes due to hypoglycemic activity has proven to Bauhinia

    forficata species, which is associated with the presence of the flavonoid kaempferitrina.

    However, other species also have the same effect and this is associated with the presence of

    other flavonoids glycosides. In this study we sought to prepare the phytochemical profile of

    four species of Bauhinia Amazon region from their crude extracts, alkaloid and flavonoics

    fractions in order to promote an initial scan for more specific biotechnology projects.

    Furthermore, Bauhinia coronata (Manaus-AM), B. purpurea (Manaus-AM), B. acreana

    (Manacapuru-AM) and B. purpurea (S. Gabriel da Cachoeira) were analyzed for antioxidant

    activity front free radicals DPPH., ABTS

    .+ and O2

    -, as well as the inhibition of enzymes

    lipoxygenase, -amylase, lypase, -glycosidase and tyrosinase. Among these assays as

    biological antioxidants and tyrosinase and -glycosidase, stood the species B. coronata and B.

    purpurea with lower values for IC50 (IC50 of B. coronata leafs crude extract: 1.91 0.55 g /

    mL). The toxicity of crude extracts was also tested against Artemia salina, with LD50 values

    of greater than 250 g/mL, indicating the low toxicity of them. However, the analysis of their

    potential cytotoxic and antibacterial no species has been active, which is contrary to reports in

    the literature that Bauhinia purpurea was mentioned with these potentials. The profile of

    flavonoids were identified, using TLC, HPLC-DAD-UV and mass spectrometry, and the rutin

    and isoquercitrin flavonoids in the species B. coronata and B. purpurea, the latter being

    related to the flavonoid has hypoglycemic activity of other species of Bauhinia, and anti-

    inflammatory action. The kaempferitrin flavonoid wasnt found in any species, as no

    substance of the alkaloidal class. The results from the antioxidant activity, low toxicity and

    the presence of flavonoids with potential herbal stimulate future research for specific

    biotechnological purposes.

    Keywords: Bauhinia, rutin, isoquercitrin, flavonoid, chromatography.

  • xii

    LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAES

    Figura 1. Auguste de Saint-Hilaire e um manuscrito de seus trabalhos. Fonte:

    e , ambos acessados em 18/10/12. ........... 27

    Figura 2. Esquema representativo da estrutura geral dos flavonoides, caracterizada pela

    presena de 2 anis aromticos (A e B), ligados por uma ponte de 3 tomos de carbono que

    formam o anel heterocclico oxigenado (C) (PIMPO, 2009; ROSS, 2002). ........................ 30

    Figura 3. Rota biossinttica dos flavonoides. (DEWICK, 2002) .......................................... 31

    Figura 4. Principais classes majoritrios dos flavonoides (COOK E SAMMAN, 1996). ...... 32

    Figura 5. Alguns flavonoides glicosilados: rutina e robinina. ............................................... 33

    Figura 6. Imagem do galho e folhas de Bauhinia sp. ........................................................... 35

    Figura 7. Alcaloides isolados do gnero Bauhinia. Da esquerda para direita: a partir de

    Bauhinia candicans (trigonelina) e Bauhinia ungulata (harmano e eleagnina). ..................... 46

    Figura 8. Estrutura qumica dos flavonoides kaempferitrina e miricetina. ............................ 48

    Figura 9. Substncias com carter antioxidante usadas como padres para avaliao do

    potencial antioxidante. ......................................................................................................... 53

    Figura 10. Reao e esquema representativo da reduo do DPPH. (MOLYNEUX, 2004;

    LEANDRO, 2010) ............................................................................................................... 54

    Figura 11. Formao do ction 2,2-azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-sulfonato), ABTS.+

    (VASCONCELOS et al, 2007). ........................................................................................... 54

    Figura 12. Estrutura do radical NBT+ (Nitro Blue Tetrazolium) (ALVES et al, 2010)......... 55

    Figura 13. Esquema geral da metodologia empregada. ........................................................ 58

    Figura 14. Placa para ensaio qualitativo da atividade antioxidante de DPPH.. ...................... 60

  • xiii

    Figura 15. Placa cromatogrfica dos extratos brutos revelados com NP-PEG, em UV- 365

    nm. 1) CBc; 2) FBp2; 3) FBa2; 4) FBa1; 5) kaempferitrina (padro); 6) FBp1; 7) FBc; 8)

    GBa1; 9) GBa2; 10) GBp1. Eluente: AcOEt / AcOH / COOH / H2O (100:11:11:27). ........... 86

    Figura 16. Placa cromatogrfica dos extratos brutos (1-9), padres (K e R) e respectivas

    fraes flavonicas (1-F a 9-F) revelados com NP-PEG, em UV- 365 nm. 1) CBc; 2) FBc; 3)

    FBp1; 4) GBp1; 5) FBa1; 6) GBa1; 7) GBa2; 8) FBa2; 9) FBp2; K) kaempferitrina; R) rutina;

    1-F) CBc-F; 2-F) FBc-F; 3-F) FBp1-F; 4-F) GBp1-F; 5-F) FBa1-F; 8-F) FBa2-F; 9-F) FBp2-

    F. Eluente: AcOEt / AcOH / COOH / H2O (100:11:11:27). .................................................. 88

    Figura 17. Placa cromatogrfica das fraes flavonodicas: 1-F) CBc-F; 2-F) FBc-F; 3-F)

    FBp1-F; 4-F) GBp1-F; 5-F) FBa1-F; 8-F) FBa2-F; 9-F) FBp2-F) e padro isoquercitrina (Iq).

    Eluente: AcOEt / AcOH / COOH / H2O (100:11:11:27). ...................................................... 89

    Figura 18. Placa cromatogrfica das amostras 1) CBc; 2) FBc; 3) FBp1; 4) GBp1; 5) FBa1;

    6) kaempferitrina; 7) quercetina; 8) GBa1; 9) GBa2; 10) FBa2; 11) FBp2; 12) CBc-Fc.

    Eluente: AcOEt / AcOH / COOH / H2O (100:11:11:27). ...................................................... 90

    Figura 19. Placa cromatogrfica revelada com FeCl3 para verificao da presena do padro

    catequina (P) na amostra GBp1-F (1). Eluente: AcOEt:MeOH:H2O (100:13,5:10) ............... 90

    Figura 20. Placa cromatogrfica para identificao do alcaloide harmano na amostra CBc-A.

    A) 1- presena de mancha azul caracterstica de alcaloide em CBc-A em UV-365 nm; B)

    comparao da eluio do CBc-A (1) e padro harmano (2) em UV- 365 nm, onde

    apresentaram Rfs diferentes; C) CBc-A (1) e padro harmano (2) revelados com Dragendorff,

    apresentando caractersticas divergentes. Eluente: BuOH/C3H6O/H2O (4:1:5) ...................... 91

    Figura 21. Cromatogramas comparativos das amostras CBc-SPE (A) e CBc-F (B) possibilita

    a anlise somente com as amostras obtidas a partir do fracionamento em AcOEt.................. 92

  • xiv

    Figura 22. Espectros UV-VIS dos padres rutina (Tr = 24,987 min) e kaempferitrina (Tr =

    27,167 min), respectivamente, com absoro caracterstica em aproximadamente 280 e 350

    nm. ...................................................................................................................................... 93

    Figura 23. Espectros UV das amostras em intervalos caractersticos de grupos flavonicos: 1)

    CBc-F (Tr= 24,447 min), 2) FBc-F (Tr= 35,578 min), 3) FBp1-F (Tr= 25,854 min), 4) GBp1-F

    (Tr= 15,93 min), 5) GBa2-F (Tr= 29,924 min), 6) FBp2-F (Tr= 36,178 min). ........................ 94

    Figura 24. Cromatogramas das amostras 1)CBc-F, 2) FBc-F, 3) FBp1-F, 4) GBp1-F, 5)

    FBa1-F, 6) GBa1-SPE, 7) GBa2-SPE, 8) Rutina, 9) Kaempferitrina, 10) FBa2-F, 11) FBp2-F.

    ............................................................................................................................................ 96

    Figura 25. Espectro das amostras FBp1-F (A), FBp2-F (B) e GBp1-F (C), respectivamente,

    com a presena do pico m/z 609, relativo ao flavonoide rutina, e m/z 463, relativo ao

    flavonoide isoquercitrina, identificados por CCD e/ou CLAE............................................... 98

    Figura 26. Fragmentao dos ons m/z 609 e m/z 301 do padro rutina. .............................. 99

    Figura 27. Respectivas fragmentaes do on m/z 609 (MS2) e do on m/z 301 (MS

    3) das

    fraes FBp1-F, FBp2-F e GBp1-F referentes rutina e proposta de fragmentao de acordo

    com Dubber et al, (2005). .................................................................................................. 100

    Figura 28. Anlise do padro isoquercitrina (MS) com deteco do pico m/z 463 [M-H]-. . 101

    file:///C:/Users/Marineide/Documents/_UFAM/Mestrado/Dissertao/dissertao_corrigida.docx%23_Toc361672298file:///C:/Users/Marineide/Documents/_UFAM/Mestrado/Dissertao/dissertao_corrigida.docx%23_Toc361672298file:///C:/Users/Marineide/Documents/_UFAM/Mestrado/Dissertao/dissertao_corrigida.docx%23_Toc361672298

  • xv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Terpenos identificados em leos essenciais de Bauhinia sp. (Fonte: Duarte-

    Almeida et al., (2004); Sartorelli e Correa, (2007)) .............................................................. 36

    Tabela 2. Metablitos secundrios isolados do gnero Bauhinia. ......................................... 37

    Tabela 3. Espcies de Bauhinia coletadas no Amazonas e catalogadas no INPA. (Acessado

    em 06/01/12, http://brahms.inpa.gov.br/bol/INPA) ............................................................... 51

    Tabela 4. Espcies de Bauhinia utilizadas no projeto, respectivos locais de coleta e as partes

    da planta estudadas. ............................................................................................................. 73

    Tabela 5. Extratos das amostras de Bauhinia e seus respectivos rendimentos....................... 74

    Tabela 6. Resultado das anlises de DPPH qualitativo. ........................................................ 76

    Tabela 7. Avaliao da atividade antioxidante quantitativa dos extratos metanlicos de

    Bauhinia frente o radical livre DPPH., ABTS

    .+ e O2

    -. ........................................................... 78

    Tabela 8. Resultados das CI50 enzimticas utilizando os extratos metanlicos de Bauhinia. . 80

    Tabela 9. Resultado dos ensaios de toxicidade em Artemia salina a partir das solues de

    extrato bruto de espcies de Bauhinia................................................................................... 81

    Tabela 10. Percentual do potencial de inibio para extratos metanlicos de Bauhinia. ....... 82

    Tabela 11. Linhas bacterianas testadas e inibio do antibitico para cada bactria. ............ 84

    Tabela 12. Relao das fraes flavonodicas obtidas a partir dos extratos brutos de espcies

    de Bauhinia. ......................................................................................................................... 85

    Tabela 13. Relao das fraes alcalodicas obtidas a partir dos extratos brutos de espcies de

    Bauhinia. ............................................................................................................................. 85

  • xvi

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

    Abs amostra = absorbncia da amostra;

    Abs controle = absorbncia do controle;

    Absfinal amostra = absorbncia final da amostra;

    Absinicial da amostra = absorbncia inicial da amostra;

    AbsT0 amostra = absorbncia inicial da amostra (em 0 minuto);

    AbsT20 amostra = absorbncia final da amostra (em 20 minutos);

    AbsT0 controle = absorbncia inicial do controle (em 0 minuto);

    AbsT20 controle = absorbncia final do controle (em 20 minutos);

    ABTS.+ = 2,2-azinobis (3-etilfenil-tiazolina-6-sulfonato);

    ACN = acetonitrila

    AcOEt = acetato de etila;

    BuOH = butanol;

    CCD = cromatografia em camada delgada

    CI50 = concentrao inibitria 50%

    CLAE = cromatografia lquida de alta eficincia

    DCM = diclorometano;

    DL50 = dose letal 50%;

    DMSO = dimetilsufxido;

    DPPH. = 2,2-difenil-1-picrilhidrazil;

    EM = espectrometria de massas

    EtOH = etanol;

    IMP = imipenem;

    L-DOPA = levodopa (dihidroxifenilalanina);

  • xvii

    LOX = lipoxigenase;

    MeOH = metanol;

    NADH = nicotinamida adenina dinucleotdeo;

    NBT = azul de nitrotetrazlio;

    NP-PEG = revelador para flavonoides (soluo de difenilboriloxietilamina com

    polietilenoglicol);

    PMS = fenazina metassulfato;

    RMN 1H = Ressonncia magntica nuclear de 1H

    Tr = tempo de reteno;

    : mdia da triplicata do controle;

  • xviii

    SUMRIO

    1. INTRODUO ........................................................................................................... 22

    2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 25

    3. REVISO BIBLIOGRFICA ..................................................................................... 26

    3.1 Medicina tradicional e seu papel atual ........................................................................ 26

    3.2 Plantas medicinais no Brasil ....................................................................................... 26

    3.3 A famlia Fabaceae ..................................................................................................... 28

    3.4 Flavonoides ................................................................................................................ 29

    3.5 O gnero Bauhinia: utilizao e constituio qumica geral ........................................ 33

    3.5.1 Flavonoides e Alcaloides em Bauhinia ................................................................. 45

    3.5.2 Atividade hipoglicemiante ................................................................................... 46

    3.5.3 Kaempferitrina: um marcador qumico dentro do gnero ..................................... 47

    3.5.4 Aplicaes biotecnolgicas .................................................................................. 49

    3.5.5 O gnero Bauhinia na Amaznia.......................................................................... 49

    3.6 Anlises de atividades antioxidantes ........................................................................... 52

    3.6.1 DPPH. ................................................................................................................. 53

    3.6.2 ABTS.+

    ................................................................................................................ 54

    3.6.3 Superxido .......................................................................................................... 54

    3.7 Ensaios de inibio da atividade enzimtica................................................................ 55

    3.7.1 Tirosinase ............................................................................................................ 55

  • xix

    3.7.2 -amilase ............................................................................................................. 56

    3.7.3 Lipase, lipoxigenase e -glicosidase .................................................................... 56

    4. EXPERIMENTAL ....................................................................................................... 58

    4.1 Coleta e preparo do material ....................................................................................... 58

    4.2 Obteno dos extratos................................................................................................. 59

    4.3 Anlise da atividade antioxidante ............................................................................... 59

    4.3.1 Inibio do radical livre DPPH ............................................................................ 59

    4.3.2 Inibio do radical livre ABTS.+

    .......................................................................... 61

    4.3.3 Inibio do radical livre O2- ................................................................................. 62

    4.4 Atividade de inibio enzimtica ................................................................................ 63

    4.4.1 Inibio da enzima tirosinase ............................................................................... 63

    4.4.2 Inibio da enzima -amilase ............................................................................... 64

    4.4.3 Atividade de inibio da enzima lipase ................................................................ 64

    4.4.4 Atividade de inibio da enzima lipoxigenase ...................................................... 65

    4.4.5 Atividade de inibio da enzima -glicosidase ..................................................... 66

    4.5 Ensaio avaliativo de toxicidade em Artemia salina ..................................................... 67

    4.6 Avaliao do potencial citotxico em clulas tumorais ............................................... 67

    4.7 Anlises antimicrobianas ............................................................................................ 68

    4.8 Fracionamento por extrao mltipla .......................................................................... 69

    4.8.1 Flavonoides ......................................................................................................... 69

    4.8.2 Alcaloides ............................................................................................................ 69

  • xx

    4.9 Perfil Cromatogrfico utilizando Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e

    Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE) ........................................................... 70

    4.9.1 Flavonoides ......................................................................................................... 70

    4.9.2 Alcaloides ............................................................................................................ 71

    4.9.3 Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE) .............................................. 71

    4.10 Identificao por espectrometria de massas (EM) ..................................................... 72

    5. RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................. 73

    5.1 Identificao e rendimento dos extratos ...................................................................... 73

    5.2 Anlise da atividade antioxidante ............................................................................... 74

    5.2.1 Anlise qualitativa da atividade antioxidante frente o radical DPPH. .................. 75

    5.2.2 Anlise quantitativa das atividades antioxidantes frente os radicais DPPH., ABTS

    .+

    e O2- ............................................................................................................................. 77

    5.3 Atividade de inibio enzimtica ................................................................................ 79

    5.4 Ensaio avaliativo de toxicidade em Artemia salina ..................................................... 81

    5.5 Avaliao do potencial citotxico em clulas tumorais ............................................... 82

    5.6 Anlises antibacterianas ............................................................................................. 83

    5.7 Fracionamento por extrao mltipla .......................................................................... 84

    5.7.1 Flavonoides ......................................................................................................... 84

    5.7.2 Alcaloides............................................................................................................ 85

    5.8 Perfil cromatogrfico utilizando Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e

    Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE) ........................................................... 86

    5.8.1 Flavonoides ......................................................................................................... 86

  • xxi

    5.8.2 Alcaloides............................................................................................................ 91

    5.8.3 Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE) .............................................. 92

    5.9 Identificao por espectrometria de massas (EM) ....................................................... 97

    6. CONCLUSO ........................................................................................................... 105

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 108

  • 22

    1. INTRODUO

    A necessidade de estudos vinculados busca dos metablitos responsveis pelas aes

    teraputicas de plantas medicinais nas ltimas dcadas vem sendo um dos principais alvos

    dentro das indstrias farmacuticas, j que a utilizao de plantas medicinais relatada desde

    os povos antigos, sendo o nico recurso teraputico para muitas comunidades e grupos tnicos

    da poca (MACIEL et al, 2002). conhecido que ainda hoje grande parte da populao

    mundial continua utilizando este recurso, sendo que em nosso pas grande influncia na

    disseminao do conhecimento popular descende da unio de diferentes etnias e culturas de

    imigrantes e indgenas, o que expandiu o conhecimento acerca das plantas medicinais

    (LORENZI E MATOS, 2002). Com isso, pesquisas no intuito de conhecer as substncias

    responsveis pelas relatadas aes fitoterpicas aumentam a cada dia e tornam-se alvo de

    muitos pesquisadores no intuito de conhecer os constituintes qumicos responsveis pela

    eficcia frente a certas enfermidades (ENGEL e FERREIRA, 2008).

    No Brasil, o grande impulso para a pesquisa neste mbito foi o lanamento da Portaria

    n. 212 do Ministrio da Sade, publicada em 11 de setembro de 1981, onde o estudo de

    plantas medicinais se tornou prioridade dentro das pesquisas clnicas, sendo criado em 1982 o

    Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos do Ministrio da

    Sade (PPPM/Ceme). Com o Parecer n. 04/92 do Conselho Federal de Medicina, em 1992, a

    fitoterapia foi reconhecida como um mtodo teraputico vlido, sendo somente em 1996,

    atravs do Relatrio final da 10 Conferncia Nacional de Sade, impulsionada a ser

    implementada na rede pblica de sade. Com a Resoluo da Diretoria Colegiada da Anvisa

    (RDC/Anvisa) n 48 em 2004 foi permitido ento o registro de medicamentos fitoterpicos

    (RODRIGUES et al, 2005).

  • 23

    Abrigando uma grande diversidade de plantas, a regio amaznica tornou-se destaque

    para pesquisas com fins de avaliao do potencial farmacolgico de muitas espcies utilizadas

    dentro do costume local, como por exemplo, o uso de mais de 200 espcies como j relatado

    em Barcarena-PA, para fins medicinais (AMOROZO E GELY, 1988).

    A partir da grande quantidade de plantas acessveis e deste conhecimento regional, a

    comercializao de diversas partes de plantas para o preparo de chs e infuses muito

    disseminada por todo o Brasil, sendo grande parte deste material no conhecido

    cientificamente quanto a sua constituio qumica. Tal fato representa perigo para a populao

    consumidora devido a possvel presena de compostos txicos, o que se torna um ponto

    importante para o incentivo de mais pesquisas cientficas (CAPASSO et al, 2000; CALIXTO,

    2000)

    Em 2005, a Organizao Mundial de Sade (OMS), a partir do documento chamado

    Poltica Nacional de Medicina Tradicional e Regulamentao de Medicamentos Fitoterpicos,

    relacionou a medicina tradicional e o uso de fitoterpicos, a fim de que houvesse um controle

    neste contexto. Neste documento foi includo o Brasil, j que o mesmo possui a maior

    diversidade gentica do mundo, com cerca de 55.000 espcies catalogadas de um total

    estimado entre 350.000 e 550.000 espcies alm do fato de ter uma grande tradio no uso

    de plantas medicinais (RODRIGUES et al, 2005).

    Desde o primeiro grupo de plantas medicinais para estudo clnico da Central de

    Medicamentos do Ministrio da Sade, em 1982, a espcie Myrcia uniflora foi includa

    devido ao seu potencial antidiabtico o ch de suas folhas, juntamente com a Bauhinia

    forficata.

    O gnero Bauhinia (Fabaceae) encontra-se neste perfil de medicina tradicional. As

    espcies so conhecidas como pata-de-vaca ou unha-de-boi, e muito utilizada em nossa

    regio, assim como em muitas outras localidades, como frica, sia e Amrica Central e do

  • 24

    Sul (ENGEL e FERREIRA, 2008), para tratamentos de processo inflamatrio, em distrbios

    digestivos, reumatismo e principalmente antidiabtica (ALBUQUERQUE et al, 2005;

    ALMEIDA et al, 2005). Possui grande variedade de espcies, cerca de 300, e em nosso pas

    possvel encontrar aproximadamente 20% desse total (HAVER, 2002; SILVA E CECHINEL

    FILHO, 2002).

    Apesar do gnero ser estudado h dcadas no Brasil, as espcies da regio amaznica

    so pouco estudadas, denotando a necessidade do conhecimento de nossa flora. Tal fato

    contribuiria na verificao de compostos presentes nas espcies do gnero Bauhinia locais,

    tornando-se uma pesquisa indita a fim de constatar a presena de flavonoides como a

    kaempferitrina, que possam ser a causa da ao hipoglicemiante (SILVA, 2002; FUENTES,

    2004; ENGEL e FERREIRA, 2008).

    Estudos j realizados anteriormente no projeto de iniciao cientfica nos anos de 2009

    a 2010 com as espcies locais B. coronata e B. purpurea, a fim de constatar presena de

    substncias fenlicas, revelaram a possibilidade destas espcies conterem tais compostos a

    partir da eluio em placa cromatogrfica usando agente revelador especfico para esta classe

    (WAGNER, 1996). A verificao do potencial antioxidante, inibio enzimtica, potencial

    citotxico e a elaborao de um perfil fitoqumico com os compostos majoritrios so passos

    iniciais para o estudo deste gnero na Amaznia.

  • 25

    2. OBJETIVOS

    OBJETIVO GERAL

    - Estudar a composio qumica e atividades biolgicas de extratos das espcies de

    Bauhinia da Amaznia.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Detectar os compostos majoritrios atravs de anlise dos extratos por CLAE, EM e

    CCD;

    - Verificar a presena de flavonoides considerados marcadores do gnero por CCD;

    - Identificar flavonoides e alcaloides presentes por meio de tcnicas cromatogrficas e

    espectromtricas;

    - Verificar a atividade antioxidante frente aos radicais livres DPPH., ABTS

    .+ e O2

    -.;

    - Analisar a citotoxicidade em modelo de Artemia salina e em clulas tumorais;

    - Determinar o potencial antibacteriano;

    - Calcular a atividade inibitria das enzimas lipoxigenase, -amilase, lipase, -

    glicosidase e tirosinase.

  • 26

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 Medicina tradicional e seu papel atual

    A necessidade da busca por plantas medicinais pelo homem datada desde tempos

    antigos ao redor do mundo, onde essa procura tinha como objetivo sua prpria sobrevivncia

    (RODRIGUES et al, 2005). Ao longo do tempo foram encontradas e evidncias que apontam

    cada vez mais esse costume tradicional por muitos povos, como na medicina chinesa (QIAO

    et al, 2002), indiana (HOWES e HOUGHTON, 2003), e at mesmo como relatado

    recentemente o uso de plantas medicinais por Neandertais - os quais viveram h mais de

    30.000 anos atrs diante de vestgios da presena destas na arca dentria de fsseis desses

    primitivos, indicando uma antiga seleo natural por parte deles para uma automedicao

    (HARDY et al, 2012).

    O uso de medicamentos sintticos em geral, teve aumento e tornou-se mais

    significativo do que o uso da medicina alternativa para os pases considerados desenvolvidos,

    visto a viabilidade e segurana na medicao. Porm, pases que esto em desenvolvimento

    ainda utilizam chs e infuses de plantas, e na maior parte das vezes esses so os principais

    recursos no momento da medicao, j que a obteno destes medicamentos sintticos torna-

    se muitas vezes invivel devido condio econmica existente (SOUZA-MOREIRA, 2010).

    3.2 Plantas medicinais no Brasil

    Aps a ocupao dos portugueses no Brasil, os relatos de plantas utilizadas para fins

    medicinais foi efetivo, principalmente por impressionarem os novos ocupantes das terras com

    a riqueza de espcies e sua utilidade dentre os indgenas, como relatado pelo botnico

    francs Auguste de Saint-Hilaire, o qual foi o primeiro cientista a ter permisso de viajar pelo

    territrio brasileiro com objetivo de pesquisar e relatar as espcies nativas, entre 1816 a 1822.

  • 27

    Cerca de 7.000 amostras de espcies foram depositadas no Musum national dHistoire

    naturelle, em Paris, onde cerca de 4.500 eram desconhecidas naquela poca (BRANDO et

    al, 2012).

    Figura 1. Auguste de Saint-Hilaire e um manuscrito de seus trabalhos. Fonte: e

    , ambos acessados em 18/10/12.

    Documentos acerca das viagens e descobertas sobre a flora brasileira foram escritos

    por Saint-Hilaire, como os livros Plantes usuelles des Brasiliens (SAINT-HILAIRE, 1824a),

    Histoire des plantes les plus remarcables du Brsil et du Paraguay (SAINT-HILAIRE,

    1824b), e Flora Brasiliae Meridionalis (SAINT-HILAIRE et al, 18251833)

    Com toda a riqueza de diversidade de espcies de plantas e com a crescente chegada

    de imigrantes, o conhecimento dos usos populares dos indgenas se associou ao dos

    estrangeiros, sendo este disseminado de gerao em gerao ao longo do tempo, onde o uso

    de plantas medicinais se tornou parte da cultura brasileira (ENGEL e FERREIRA, 2008).

    A necessidade da criao de um controle frente a esse uso incontrolvel de muitas

    espcies levou formao de polticas pblicas atravs do Ministrio da Sade, j que muitas

    espcies no foram estudadas quanto sua composio e veracidade da ao teraputica

    vinculada. A Anvisa um dos principais rgos neste mbito, responsvel pela

    regulamentao e fiscalizao nas pesquisas de plantas medicinais (RODRIGUES et al,

    2005).

  • 28

    Atualmente, os programas e fiscalizaes no so suficientes, principalmente na regio

    amaznica, por conta do uso popular de plantas medicinais ser ainda maior devido o

    isolamento de muitas comunidades ribeirinhas e pela condio econmica e dificuldade de

    deslocamento para um atendimento pblico (AZEVEDO E SILVA, 2006). Indicativos deste

    comportamento so as grandes feiras a cu aberto que vendem diversas partes de plantas para

    chs ou infuses (LIMA et al, 2011).

    Alguns desses locais so em Belm, no mercado Ver o Peso, e na feira da Manaus

    Moderna, em Manaus, locais onde no h controle sobre a qualidade dos produtos vendidos,

    como a adulterao do mesmo, por exemplo, um problema observado no s em nossa regio

    mas em muitos outros lugares no mundo, onde no h fiscalizao ou verificao da

    constituio dos produtos vendidos (CHOI et al, 2002; ABOU-ARAB et al,1999; ELVIN-

    LEWIS, 2001; ZUCCOLOTTO et al, 1999)

    Devido a grande diversidade de flora presente e o uso da medicina tradicional pela

    populao regional, o estudo das espcies com relatos de efeitos teraputicos se tornou no

    mais uma expectativa ou simplesmente um objeto de estudo, mas sim necessidade para

    prevenir e alertar um possvel uso errneo de espcies que possam conter substncias txicas,

    possvel contaminao ou adulterao no preparo do material (LANINI e DUARTE-

    ALMEIDA, 2009).

    3.3 A famlia Fabaceae

    A famlia Fabaceae, tambm conhecida como Leguminosae, uma das maiores

    famlias botnicas de interesse devido aos relatos de seus gneros serem utilizados na

    medicina tradicional. Contempla cerca de 18.000 espcies em 619 gneros, ocupando o lugar

    de terceira maior famlia. dividida em quatro grandes subfamlias: Caesalpinioideae,

    Cercideae, Faboideae, Mimosoideae (WATSON, 1992; GUSSON, 2008),

  • 29

    No relato de Auguste de Saint-Hilaire durante a viagem pelo Brasil permitida pela

    coroa portuguesa para averiguar as espcies nativas entre 1816 a 1822, das 53 famlias

    descritas, Fabaceae representava 20 famlias, sendo considerada a famlia mais abundante

    dentro do territrio explorado (BRANDO et al, 2012).

    Principal famlia dentro dos tipos vegetacionais (LEWIS, 1987), em territrio

    brasileiro possui cerca de 180 gneros e 3.170 espcies (BARROSO et al, 1991), o que

    representa quase 20% do total de espcies do mundo, sendo que na regio amaznica esto

    presentes 148 gneros, relativo a um tero do total da famlia e cerca de 21 gneros

    provavelmente endmicos (SILVA E SOUZA, 2002).

    Sendo alvo de muitos estudos, com raras excees, esta famlia a nica a apresentar

    isoflavonas. Os benefcios como atividades antifngicas e antibacterianas, alm de inseticida,

    apresentados pelas espcies de Fabaceae, so associados a essa classe (SIMES et al, 1999)

    3.4 Flavonoides

    Os flavonoides constituem o maior grupo de compostos fenlicos nas plantas,

    abrangendo cerca de metade dos oito mil compostos fenlicos que ocorrem na natureza

    (BALASUNDRAM, 2006).

    Essas substncias so produzidas em diferentes espcies em prol de sua adaptao e

    sobrevivncia em diferentes ambientes, desempenhando diversas funes, como de defesa

    contra os fatores externos: parasitas, herbvoros ou outras plantas competidoras; de

    sinalizao, para atrair agentes polinizadores ou dispersores de sementes; de proteo contra a

    radiao ultravioleta (UV) ou de oxidantes (DAAYF E LATTANZIO, 2008); promovem o

    crescimento do tubo polnico e a reabsoro de nutrientes minerais das folhas em senescncia

    (ANDERSEN E MARKHAM, 2006).

  • 30

    Possuem extrema utilidade para as plantas, sendo encontradas nas angiospermas, as

    quais investem quantidades significativas de energia metablica para a produo destes

    compostos (ANDERSEN E MARKHAM, 2006). A estrutura qumica geral desta classe

    representada na Figura 2. Diferentes compostos de cada classe podem ser formados a partir

    das substituies nos anis aromticos. Estas substituies podem incluir oxigenao,

    alquilao, glicosilao, acilao e sulfatao (BALASUNDRAM, 2006).

    Figura 2. Esquema representativo da estrutura geral dos flavonoides, caracterizada pela presena de 2 anis

    aromticos (A e B), ligados por uma ponte de 3 tomos de carbono que formam o anel heterocclico oxigenado

    (C) (PIMPO, 2009; ROSS, 2002).

    Os flavonoides so metablitos secundrios produzidos a partir de uma rota

    biossinttica mista constituda das vias do chiquimato e acetato, como visto na figura 3 a

    seguir (DEWICK, 2002).

    A C

    B

  • 31

    E1

    E24-hidroxicinamoil-CoA

    NADPH

    E3

    Claisen

    NADPH

    E3

    E1E2aldol + hidrlise

    ster

    E2

    descarboxilao

    desidratao

    enolizao

    resveratrol

    (estilbeno)

    ..

    naringenina-chalcona

    (chalcona)

    enolizao(E1)

    Ataque nucleoflico tipo-

    Michael da OH na cetona

    , - insaturada

    isoliquiritigenina

    (chalcona)

    desidratao

    enolizao

    E4

    naringenina

    (flavanona)liquiritigenina

    (flavanona)

    E1: chalcona sintase

    (naringenina-chalcona sintase)

    E2: estilbeno sintase (resveratrol sintase)

    E3: chalcona redutase

    E4: chalcona isomerase

    E1 Claisen

    ..

    (E1)

    E4

    Figura 3. Rota biossinttica dos flavonoides. (DEWICK, 2002)

    As classes majoritrias mais comuns deste grupo so apresentadas na figura 4 a seguir.

    Muitas mudanas estruturais destes compostos so obtidas a partir das substituies por

    glicosdeos, o que mais comum na natureza. Dentro dos flavonoides glicosilados,

    geralmente so encontradas a incluso da D-glucose, L-rhamnose, galactose e arabinose,

    sendo os flavonoides mais usuais na alimentao a rutina e robinina (figura 5), as quais so

    absorvidas pelo organismo aps sua hidrlise no intestino (KIJHNAU, 1976; HAVSTEEN,

    1983).

  • 32

    Flavonis Flavonas Flavanonas

    Catequinas Antocianidinas

    A

    B

    6'

    5'

    4'

    3'

    2'

    2

    3

    4

    5

    6

    Isoflavonas Dihidroflavonis Chalconas

    Figura 4. Principais classes majoritrios dos flavonoides (COOK E SAMMAN, 1996).

    Encontrados em plantas e integrantes da dieta humana (COOK e SAMMAN, 1996),

    aps a descoberta dos benefcios dos flavonoides para a sade humana, as pesquisas procura

    de fontes naturais destes compostos se tornaram importantes vertentes do mundo cientfico.

    Alguns dos benefcios vinculados a esta classe so ligados s aes hepatoprotetiva,

    antioxidante, antiinflamatrio e antineoplsicos (NARAYANA et al, 2001; HACKETT, 1986;

    HOPE et al, 1983), alm de outras atividades biolgicas como ao antimicrobiana e antiviral

    (NIJVELDT et al, 2001; HANASAKI et al, 1994).

  • 33

    Figura 5. Alguns flavonoides glicosilados: rutina e robinina.

    Diversos setores da indstria, como a cosmtica e farmacutica, vem apresentando

    maior interesse a cada nova descoberta dos benefcios destes compostos, fazendo com que

    haja um estmulo maior nas pesquisas relacionadas a tais substncias fenlicas. Prova disso

    que somente no perodo que compreende os anos de 2007 a 2009 houve um aumento de mais

    de 30% nos estudos relacionados a este grupo de substncias, tornando esta classe um alto

    interesse dentro dos produtos naturais (VEITCH E GRAYER, 2011).

    3.5 O gnero Bauhinia: utilizao e constituio qumica geral

    O gnero Bauhinia compreende cerca de 300 espcies distribudas no planeta (MAIA

    NETO et al, 2008), sendo uma boa parte deste ndice podendo ser encontrada em nosso pas

    (JOLY, 1993; POLHILL, 1981).

    Sendo esta espcie natural da sia, a sua adaptao em territrio brasileiro foi muito

    bem consolidada, apresentando fcil desenvolvimento em terras com clima tropical (Pepato et

    al, 2002). Recebendo diversos nomes relacionados ao formato das folhas e do cip, a

    Bauhinia conhecida por vrios nomes, como: pata-de-vaca, casco de vaca, unha de

    boi, pata de boi (STASI e HIRUMA-LIMA, 2002), ceroula de homem, capa bobe,

  • 34

    escada de jabuti, moror, cip de escada, escada de macaco (ROSADO E ROSADO,

    1960).

    Alm do uso para fins alimentcios de suas sementes, que so fonte de vitamina A

    (BALOGUN e FETUGA, 1989), so tambm utilizadas para fins ornamentais como

    paisagismo de praas e ruas em alguns estados do Brasil (CARVALHO, 2003).

    Muitos relatos medicinais so apresentados no gnero Bauhinia, como para ao anti-

    infecciosa (SILVA e CECHINEL-FILHO, 2002), diurtica, hipoglicemiante, tnica,

    depurativa, no combate elefantase (MARTINS, 1995), analgsica, antidiabtica,

    antiinflamatria, antimicrobiana, adstrigente (GONZALEZ-MUJICA et al, 1998;

    CARVALHO et al, 1999; WILLAIN FILHO, 1997), para o tratamento de inchaos e tumores

    estomacais, diarria, lcera (KUMAR e CHANDRASHEKAR, 2011).

    Em Juliani (1929, 1931), os estudos fitoqumicos relacionados espcie Bauhinia

    forficata e sua atividade hipoglicemiante ganharam notoriedade e despertaram interesse de

    pesquisadores j que em muitas partes do mundo essa planta administrada para diferentes

    enfermidades. Como por exemplo, na sia e ndia, esse gnero tambm utilizado nas

    chamadas doenas das mulheres, que inclui problemas menstruais e no tratamento de

    leucorria (DAS et al, 2008).

    No Brasil, as espcies do gnero Bauhinia (figura 6) utilizadas principalmente para

    tratamento de diabetes, processos inflamatrios e dolorosos, em forma de ch ou infuso so

    B. manca, B. rufescens, B.forficata, B. cheilantha e B. splendens. J as mais estudadas quanto

    fitoqumica se localizam nas regies sul, sudeste e nordeste do Brasil, com destaque para B.

    manca, B. glabra, B. rufa, B. candicans, B. uruguayensis, B. purpurea, B. forficata e B.

    splendens (MACEDO, 2004; SOUSA, 1998; VIANA et al, 2000; SILVA e SOUSA, 2002).

  • 35

    Figura 6. Imagem do galho e folhas de Bauhinia sp.

    .

    Devido ao fcil reconhecimento da planta pelo formato das folhas e abundncia do

    gnero em diferentes locais, a propagao do uso medicinal dentre as comunidades se tornou

    muito comum, levando a um uso desordenado de muitas espcies sem o conhecimento

    qumico prvio das substncias presentes dentro do material consumido (LANINI E

    DUARTE-ALMEIDA, 2009).

    Apesar de no ser documentado o incio do uso das espcies do gnero por parte dos

    povos antigos, sua utilizao empregada ao longo do tempo por muitas comunidades

    (SOUZA, 2003), seja em forma de ch, infuso ou partes individuais da planta aplicadas ao

    local de enfermidade.

    Destacam-se na constituio qumica de algumas espcies do gnero, compostos de

    diferentes classes de compostos orgnicos com interesse medicinal, como lactonas,

    flavonoides, terpenoides, taninos, quinonas (SILVA E CECHINEL FILHO, 2002) e

    alcalides (MELO E NASCIMENTO, 2004; MAIA NETO et al, 2008).

    Na espcie Bauhinia championii foi isolado o cido glico (CHIEN-CHIN et al,1985).

    Muitos terpenos - classe pouco avaliada dentro da famlia Fabaceae - foram verificados nos

    leos essenciais das espcies a seguir:

  • 36

    Tabela 1. Terpenos identificados em leos essenciais de Bauhinia sp. (Fonte: Duarte-Almeida et al., (2004);

    Sartorelli e Correa, (2007))

    Bauhinia forficata

    -pineno, -copaeno, -elemeno, -cariofileno,

    biciclogermacreno, -humuleno, com traos de -elemeno, -

    pineno, -ocimeno

    Bauhinia aculeata

    -bourboneno, -elemeno, lepidozenol, eremofileno, e traos de

    cis--bergamoteno, -cariofileno, aromadendreno, xido de

    cariofileno, ledeno e valenceno

    Bauhinia brevipes

    -copaeno, -elemeno, germacreno D, -selineno, -elemeno, -

    cadineno, viridifloral, -cadinol, -cadineno, traos de -

    bourboneno, -humuleno

    Bauhinia longiflia

    -cariofileno, germacreno D, biciclogermacreno, -humuleno,

    ismero de copaeno

    Bauhinia pentandra

    -cariofileno, -elemeno, xido de cariofileno, e traos de -

    humuleno, -elemeno e cis--bergamoteno

    Bauhinia rufa

    -pineno, allo-aromadendreno, -amorfeno, germacreno D,

    germacreno B, biciclogermacreno, -cadineno, viridiflorol, -

    cadinol, com traos de -pineno, -fencheno, -gurjuneno

    Bauhinia variegata

    -copaeno, -elemeno, -cariofileno, isocariofileno, allo-

    aromadendrene, germacreno D, -elemeno, -cadineno, ledeno, e

    traos de -bourboneno, aromadendreno e -humuleno

    Outra classe de metablitos de grande interesse que j foi detectada no gnero a dos

    aminocidos, em Bauhinia purpurea, e oxepinas, classe muito rara de ser encontrada na

    natureza, tambm isolada de Bauhinia purpurea, os quais foram vinculados a timas

    atividades inibitrias contra o crescimento de clulas tumorais, atividade biolgica pouco

  • 37

    relatada com compostos isolados do gnero (VIJAYAKUMARI et al, 1997; IRIBARREN E

    POMILIO, 1989; PETTIT et al, 2006).

    Na tabela abaixo so encontrados os principais compostos isolados das espcies de

    Bauhinia.

    Tabela 2. Metablitos secundrios isolados do gnero Bauhinia.

    Classe Composto Estrutura Espcie Referncia

    Oxepinas Bauhinias-

    tatinas1-4

    Bauhinia

    purpurea

    Pettit et al,

    2006; Kumar e

    Chandrashekar,

    2011

    5,6b dihidro-

    1,7-dihidro-1,7-

    dihidroxi-3,4-

    dimetxi-2-

    metildibenzeno

    Bauhinia

    variegata

    Reddy et al,

    2003

    Cromanos Pacharina

    Bauhinia

    racemosa

    Prabhakar et al,

    1994

    Racemosol

    Bauhinia

    racemosa

    Prabhakar et al,

    1994

    Lignanas

    2,6-di(4,5-

    dihidroxifenil)-

    3,7-

    dioxabiciclo[3.

    3.0]octano-1-

    hidroxi-5-O-

    ramnopiranos

    dio

    Bauhinia

    retusa

    Semwal e

    Sharma, 2011

    Estilbenides Obtustireno

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

  • 38

    Esteroides

    Estigmasta-

    3,5-dieno-7-

    ona

    Bauhinia

    candicans

    Irribarren e

    Pomilio, 1983

    Sitosterol 3-

    O--

    glucosdio

    Bauhinia

    candicans; B.

    manca

    Irribarren e

    Pomilio, 1983;

    Cragg et al,

    1997

    Sitosterol -4-O-

    -D-

    xilopiranosdio

    Bauhinia

    uruguayensis;

    Bauhinia manca

    Iribarren e

    Pomilio, 1989;

    Iribarren e

    Pomilio, 1984

    Sitosterol -4-

    O--D-

    glucopiranos

    dio

    Bauhinia

    uruguayensis

    Iribarren e

    Pomilio, 1989

    Dihidrodibenzo

    xepina

    Bauhinoxepina

    J

    Bauhinia

    purpurea

    Boonphong et

    al, 2007

    Triterpenides Lupeol

    Bauhinia

    variegata

    Gupta et al,

    1980

    cido

    betunlico

    Bauhinia

    vahlii

    Sultana et al,

    1985

    Flavonas 4-hidroxi-7-

    metoxiflavona

    Bauhinia

    guianensis

    Viana et al,

    2000

    Apigenina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    Bausplendina

    Bauhinia

    splendens Laux et al, 1985

  • 39

    Agathisflavona

    Bauhinia

    vahlii

    Sultana et al,

    1985

    Chrisoeriol

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-7,4-Di-

    hidroxiflavona

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-7,3-

    Dimetoxi-4-

    hidroxi-

    flavona

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-3,4-

    Dimetoxi-7-

    hidroxi-

    flavona

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-7,4-

    Dimetoxi-3-

    hidroxi-

    flavona

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    Chalconas Isoliquiritigeni

    na

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    Echinatina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    2-metoxi-

    isoliquiritigeni-

    na

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    4-metoxi-

    isoliquiritigeni-

    na

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    2,4-di-hidroxi-

    4-metoxi-di-

    hidrochalcona

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

  • 40

    Flavonoides e

    derivado Kaempferol

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    Ombuina

    Bauhinia

    variegata

    Yadava e

    Reddy, 2003

    5,3-dimetoxi-

    luteolina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (+)-Catequina

    Bauhinia

    racemosa; B.

    aurea; B.

    championii

    Sashidara et al,

    2012; Shang et

    al, 2007; Chen

    et al, 1994

    Flavonides

    glicosilados Astragalina

    Bauhinia

    purpurea

    Vijayakumari et

    al, 1997

    Kaempferitrina

    Bauhinia

    forficata

    Silva e

    Cechinel-Filho,

    2002; Pizzolatti

    et al, 2003;

    Sousa et al,

    2004

    Rutina

    Bauhinia vahlii;

    B. tomentosa;

    B. splendens;

    B. retusa; B.

    tomentosa; B.

    purpurea

    Sultana et al,

    1985;

    Subramanian e

    Nair, 1963;

    Cechinel Filho

    et al, 1995;

    Tiwari et al,

    1978; Row et al,

    1974; Abd-El-

    Wahab et al,

    1987

  • 41

    Isoquercitrina

    Bauhinia

    purpurea; B.

    tomentosa; B.

    retusa; B. vahlii;

    B. racemosa

    Ramachandran

    e Joshi, 1967;

    Subramanian e

    Nair, 1963; Row

    et al, 1954;

    Tiwari et al,

    1978

    Kaempferol 3-

    O--

    rutinosdio

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1983

    Vitexina

    Bauhinia

    microstachya

    Bianco e

    Santos, 2003

    Quercetina -

    3,7-O--L-

    ramnopiranos

    dio

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1989

    Kaempferol -

    5-O--L-

    ramnopiranos

    dio

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1989

  • 42

    Kaempferol-3-

    galactosdio

    Bauhinia

    variegata;

    Bauhinia

    purpurea

    Gupta et al,

    1980; Rahman

    e Begun, 1966;

    Vijayakumari et

    al, 1997

    Kaempferol-

    3,7-ramno-

    glucosdio

    Bauhinia

    variegata

    Gupta et al,

    1980; Rahman

    e Begun, 1966

    Bauhiniasdeo

    A

    Bauhinia

    glauca Wu et al, 2009

    Astilbina

    Bauhinia

    megalandra

    Gonzlez-

    Mujica, 2011

    Quercetina 3-

    O--

    ramnosdeo

    Bauhinia

    megalandra

    Gonzlez-

    Mujica, 2011

    Quercetina 3-

    O--(2-

    galoil)ramnos

    dio

    Bauhinia

    megalandra

    Estrada et al,

    2005;

    Gonzlez-

    Mujica, 2011

  • 43

    Kaempferol 3-

    O--(2-

    galoil)ramnos

    deo

    Bauhinia

    megalandra

    Estrada et al,

    2005;

    Gonzlez-

    Mujica, 2011

    Kaempferol-

    3,7-O--

    Diraminosdio

    Bauhinia

    forficata

    Sousa et al,

    1998

    Hesperidina

    Bauhinia

    variegata

    Yadava e

    Reddy, 2003

    5,6-di-hidroxi-

    7-metoxi-

    flavona-6-O-

    -D-

    xilopiranosdio

    Bauhinia

    variegata

    Yadava e

    Tripathi, 2000

    5,7,5-tri-

    hidroxi-2-O-

    ramnosil-

    flavona

    Bauhinia

    megalandra

    Gonzalez-

    Mujica et al,

    2000

    5,7,2-tri-

    hidroxi-5-O-

    ramnosil-

    flavona

    Bauhinia

    megalandra

    Gonzalez-

    Mujica et al,

    2000

  • 44

    Narigenina-

    5,7-dimetoxi-

    4-

    ramnoglucos

    dio

    Bauhinia

    variegata

    Rahman e

    Begun, 1966

    Flavanona (2S)-

    Narigenina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-

    Eriodictiol

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    (2S)-

    Liquiritigenina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    7-metoxi-(2S)-

    liquiritigenina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    4-metoxi-(2S)-

    liquiritigenina

    Bauhinia

    manca

    Achenbach et

    al, 1988

    lcoois Triacontanol

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1983

    Polilcoois D-pinitol

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1983

    cidos graxos cido

    esterico

    Bauhinia

    splendens Laux et al, 1985

    Isofitol

    Bauhinia

    forficata

    Sartorelli e

    Correa, 2004

    Glicosdios Bauhinina

    Bauhinia

    championii

    Chien-Chin et

    al, 1985

  • 45

    Quinonas Lapachol

    Bauhinia

    guianensis

    Viana et al,

    2000

    Galactolipdeo

    (2S)-1, 2-di-

    O-linolenoil-3-

    O-a-

    galactopirano

    sil-(1/6)-O-b-

    galactopirano

    sil glicerol

    Bauhinia

    racemosa

    Sashidhara et

    al, 2012

    Alcaloides Trigonelina

    Bauhinia

    candicans

    Iribarren e

    Pomilio, 1987

    Harmano

    Bauhinia

    ungulata

    Maia Neto et al,

    2008

    Eleagnina

    Bauhinia

    ungulata

    Maia Neto et al,

    2008

    Lactona Grifonilida

    Bauhinia

    variegata

    Okwute e

    Ndukwe, 1986

    3.5.1 Flavonoides e Alcaloides em Bauhinia

    O gnero Bauhinia apresenta como compostos majoritrios os flavonoides, o que pode

    corresponder sua grande capacidade antioxidante j verificada em muitos estudos e que

    podem contribuir para as aes teraputicas vinculadas ao gnero (GONZLEZ-MUJICA,

    2011; PIZZOLATTI, 2003; ORTIZ, 2009; BRACA, 2001).

    Entretanto, a presena de alcaloides neste gnero rara, visto que somente trs foram

    isolados em duas espcies: na Bauhinia candicans, com o isolamento da trigonelina

    (IRIBARREN E POMILIO, 1987), e em Bauhinia ungulata, os alcaloides harmano e

    eleagnina (MAIA NETO et al, 2008).

  • 46

    Segundo Maia Neto et al (2008), os alcaloides harmano e eleagnina haviam sido

    relatados somentes no gneros Acacia (Acacia baileyana e Acacia complanata) (REPKE et

    al., 1973; JOHNS et al., 1966) e Prosopis (Prosopis nigra) (MORO et al., 1975) da famlia

    Mimosaceae, Burkea (Burkea africana) (FERREIRA, 1973), Caesalpiniaceae; Desmodium

    (Desmodium pulchellum) (GHOSAL et al, 1972), Desmodieae; e Petalostylis (Petalostylis

    labicheoides) (BADGER E BEECHAM, 1951), Detarieae. Tal relato denota a pouca

    frequncia desta classe em Fabaceae.

    Figura 7. Alcaloides isolados do gnero Bauhinia. Da esquerda para direita: a partir de Bauhinia candicans

    (trigonelina) e Bauhinia ungulata (harmano e eleagnina).

    3.5.2 Atividade hipoglicemiante

    A descoberta e insero de medicamentos para o tratamento da diabetes considerada

    recente dentro da indstria farmacutica. Todavia, na medicina popular, a utilizao dos chs

    de folhas das plantas Bauhinia forficata e tambm de Averrhoa carambola (carambola) para o

    tratamento desta doena bastante comum, sendo este costume passado de gerao em

    gerao (ALBUQUERQUE et al, 2005; ALMEIDA et al, 2005; ENGEL e FERREIRA, 2008;

    ACHENBACH et al, 1988; TESKE E TRENTINI, 1995; WILLAIN FILHO et al, 1997;

    GONZALEZ-MUJICA et al, 2003; TEIXEIRA et al, 2000).

    Entre todas as aes teraputicas apresentadas pelo gnero Bauhinia, a que mais

    relatada e investigada comumente na literatura a sua ao hipoglicemiante.

    Porm, resultados contraditrios tambm foram encontrados, por Pepato et al (2010),

    onde extratos etanlicos de Bauhinia forficata no demonstraram atividade hipoglicemiante

  • 47

    em ratos, sendo esta espcie considerada como a pata de vaca verdadeira por ter mais

    estudos comprovando seu efeito hipoglicemiante (SILVA E CECHINEL-FILHO, 2002).

    Assim, com os diferentes resultados apresentados desde os estudos iniciais, ao longo

    do tempo foram sendo estudadas outras espcies de diferentes localidades utilizadas com o

    mesmo propsito hipoglicemiante ou por apresentar relato de outros fins medicinais.

    Como apresenta Gupta et al (1980), o extrato aquoso da espcie Bauhinia divaricata

    mostrou um significativo efeito em ratos referente ao teste de atividade hipoglicmica. Com o

    avano das anlises para verificao deste efeito, recentemente foi divulgada a anlise do

    extrato de Bauhinia variegata, o qual apresentou atividade de secreo de insulina

    (insulinotrpica) em linhagens de clulas testadas (FRANKISH et al, 2010).

    A ao farmacolgica da espcie B. variegata a partir de seus extratos etanlico e

    aquoso tambm foi confirmada a partir da diminuio da taxa glicmica, como tambm do

    colesterol (THIRUVENKATASUBRAMANIAM e JAYAKAR, 2010; WAHAB et al, 1987).

    Outras espcies tambm avaliadas, Bauhinia monandra, Bauhinia megalandra e

    Bauhinia cheilantha apresentaram ao hipoglicemiante em ratos induzidos a diabetes, onde

    foi verificado em alguns casos a reduo da produo heptica da glucose e a sua absoro

    intestinal (GONZALEZ-MUJICA, 2011; MENEZES, 2007; ALMEIDA et al, 1997)

    Alguns estudos exploram ainda mais a razo para tais atividades apresentadas, como

    relatado em Estrada et al (2011): os flavonides isolados da espcie Bauhinia megalandra

    no apresentaram atividade inibitria sobre a glucose-6-fosfatase, enzima responsvel pela

    hidrlise da glucose, e sim sobre o tranportador desta enzima, propondo um novo meio ao

    modo de atividade hipoglicemiante (FERNANDEZ-PENA, 2008).

    3.5.3 Kaempferitrina: um marcador qumico dentro do gnero

    A presena de um marcador facilita a identificao do material exposto no mercado, j

    que h a fcil adulterao do material vegetal processado com outras espcies de Bauhinia ou

  • 48

    outros agentes, principalmente nos comrcios livres e feiras, o que exige uma verificao do

    controle de qualidade. (SILVA et al., 2000; SILVA e CECHINEL-FILHO, 2002;

    PIZZOLATTI et al, 2003; SOUSA et al, 2004; ENGEL e FERREIRA, 2008). Prova disso a

    facilidade de encontrar a venda de produtos a base de Bauhinia at mesmo na Internet, o que

    exige ateno mxima e fiscalizao da rotulagem, composio qumica e outras informaes

    bsicas do produto (BRASIL, 2004).

    A kaempferitrina, figura 8, um flavonoide isolado das folhas de B. forficata, a qual

    foi vinculada a ao hipoglicemiante do extrato, tornando-o um marcador qumico para as

    amostras comercializadas desta espcie e sendo at esse flavonoide considerado como uma

    fonte natural de insulina para o controle de diabetes (SILVA et al, 2000; SILVA E

    CECHINEL FILHO, 2002; PIZZOLATTI et al, 2003; LINO et al, 2004; MIYAKE et al,

    1986; JORGE et al, 2004; DA CUNHA et al, 2010).

    Porm nem todas as espcies possuem este flavonide e ainda assim apresentam a

    mesma ao, o que permite dizer que diferentes compostos existentes em outras espcies do

    gnero podem apresentar o mesmo efeito.

    A procura por marcadores qumicos para espcies deste gnero no s uma

    preocupao brasileira, em Ferreres et al (2012), a presena de miricetina em folhas de

    Bauhinia longifolia serviu como marcador em comparao com amostras comerciais deste

    gnero, j que este flavonoide est presente somente nas folhas desta espcie.

    Figura 8. Estrutura qumica dos flavonoides kaempferitrina e miricetina.

  • 49

    3.5.4 Aplicaes biotecnolgicas

    Diversos estudos a partir de substncias isoladas de espcies do gnero Bauhinia em

    prol de aplicaes biotecnolgicas so cada vez mais comuns.

    Por exemplo, a lectina isolada do extrato de B. monandra nomeada de BmoLL,

    apresentou atividade cupimicida para a espcie Nasutitermes corniger, cupim endmico da

    regio neotropical, que destri construes de madeiras, e tambm exibiu atividade

    antifngica, chegando at a 30% de inibio contra o crescimento de Fusarium solani, F.

    oxysporum, F. moniliforme, F. lateritium e F. decemcellulare (SOUZA et al, 2011).

    Em diversas reas biotecnolgicas, a presena de flavonides como constituintes no

    gnero, os quais possuem como caracterstica a ao antioxidante, desperta muito interesse.

    Como por exemplo, no tratamento da catarata, onde o principal fator reconhecido para o

    surgimento o dano oxidativo na lente ocular. Na catarata, h o deslocamento para o estresse

    oxidativo no equilbrio natural de oxidao-antioxidao. Assim, o flavonide rhamnocitrina,

    isolado da Bauhinia variegata, possui efeitos antioxidantes fortes, podendo ser utilizada com

    grande utilidade para regular a catarata (Bodakhe et al, 2012).

    A rea cosmtica tambm j foi avaliada como grande potencial para o gnero

    Bauhinia. Em Takatori (1997), a verificao de uma quantidade favorvel de vitaminas em

    extratos de Bauhinia variegata dita como um agente promovedor de crescimento e

    fortalecimento dos cabelos, podendo ser utilizado em shampoos, tnicos ou cremes,

    estabelecendo a variedade de aplicaes dos usos bio e tecnolgicos do material obtido a

    partir de espcies do gnero Bauhinia.

    3.5.5 O gnero Bauhinia na Amaznia

    O uso popular mais comumente relatada neste gnero no Brasil a ao

    hipoglicemiante obtida atravs dos chs das folhas de Bauhinia forficata, dita como a

  • 50

    verdadeira pata-de-vaca, sendo esta j comprovada e atribuda presena do flavonoide

    glicosilado kaempferitrina, o qual considerado como um marcador qumico dentro do

    gnero (JULIANI, 1931; SILVA e CECHINEL-FILHO, 2002; SILVA et al., 2000;

    PIZZOLATTI et al., 2003).

    Na regio amaznica o uso de espcies desse gnero no diferente, sendo descrito o

    mesmo uso para o tratamento de diabetes no Acre, Amazonas e Par, e encontrado em muitas

    feiras e comrcios a cu aberto material como folhas de Bauhnia para uso como ch para

    obter a ao medicinal (MING, 2006; BORRS, 2003, BARBOSA et al, 2009). Tal fato

    incentiva a necessidade de estudos acerca da verificao da presena do marcador

    kaempferitrina, j que tal ao poderia estar vinculada a este marcador tambm nas espcies

    locais.

    Na Amaznia poucos estudos acerca da constituio fitoqumica das espcies de

    Bauhinia foram realizados. Aparentemente sendo o nico relato, em Laux et al (1985),

    relatado estudos a partir de Bauhinia splendens, onde isolada a bausplendina 5,6,3,4-

    dimetilenodioxi-7-metoxiflavona, assim como outras substncias desta classe qumica, sem

    apresentar outras caractersticas para tal espcie.

    Em 1993, foi realizado um amplo trabalho de campo da rea de interesse biolgico

    com a presena deste gnero dentro da rea amaznica, onde foram catalogadas as principais

    espcies endmicas e tambm a sua rea de ocupao, expondo o risco das queimadas na

    eliminao destas espcies e o consequente desconhecimento de muitas frente a esta

    devastao e a grande rea abrangente ainda pouco explorada. Este estudo apontou a

    necessidade de pesquisas voltadas para essa regio, a qual visada por muitos pesquisadores

    internacionais, se tornando um alvo fcil de explorao e biopirataria (Vaz, 1993).

  • 51

    Atualmente, no catlogo do Instituto Nacional de Pesquisa da Amaznia INPA,

    possvel consultar as espcies j coletadas e registradas por este rgo federal, sendo relatadas

    21 espcies, apresentadas na tabela 1.

    Tabela 3. Espcies de Bauhinia coletadas no Amazonas e catalogadas no INPA. (Acessado em 06/01/12,

    http://brahms.inpa.gov.br/bol/INPA)

    Espcie Local de coleta*

    Bauhinia acreana Manacapuru

    Bauhinia alata Itapiranga, Manaus, Presidente Figueiredo

    Bauhinia altiscandens Manaus

    Bauhinia cinnamomea Presidente Figueiredo, Itapiranga, Alvares

    Bauhinia coronata Pau Drco

    Bauhinia cupreonitens -

    Bauhinia erythrantba Manaus

    Bauhinia forficata Manaus, So Paulo de Olivena

    Bauhinia glabra Coari, Humait

    Bauhinia grandifolia Manaus

    Bauhinia guianensis Barcelos, Fonte Boa, Novo Airo, Manaus

    Bauhinia kunthiana Manaus

    Bauhinia longicuspis Manaus, Manicor, Coari, Nova Olinda, Careiro-

    Castanho

    Bauhinia longipetala Barcelos, Careiro, Pauini, So Paulo de Olivena,

    Careiro, Maus

    Bauhinia monandra Manaus

    Bauhinia platycalyx Coari, Manaus, Humait, Presidente Figueiredo

    Bauhinia purpurea -

    Bauhinia rutilans Manaus, Presidente Figueiredo, Humait

    Bauhinia splendens Lbrea, Manaus, Barcelos, Itapiranga, Humait,

    Novo Airo

    Bauhinia ungulata Humait

    * : espcies cuja cidade, ou comunidade, no foi mencionada, somente o estado.

  • 52

    Dentre estas, o hbito da populao em comumente fazer a utilizao das espcies B.

    purpurea e B. coronata pde ser comprovado atravs dos relatos das prprias pessoas na

    cidade de Manaus, sendo que no encontrado dentro da literatura o estudo fitoqumico para

    estas espcies de Bauhinia da regio. Assim, a possibilidade da existncia de compostos

    ativos vlida, j que a disseminao do uso ainda hoje repassada para outras pessoas uma

    vez que foram obtidos bons resultados para fins teraputicos.

    3.6 Anlises de atividades antioxidantes

    O objetivo de quantificar a ao antioxidante de extratos e substncias so muito

    comuns dentro da fitoqumica. Estas anlises esto relacionadas ao potencial de captura de

    radicais livres expostos em um meio onde observado se o material apresenta ou no tal

    inibio.

    Radicais livres, ou espcies reativas de oxignio (EROs) e nitrognio (ERNs), so

    gerados a partir de funes metablicas do organismo vivos (DOTAN et al, 2004). O

    desequilbrio nesta taxa de formao com o aumento do nmero de espcies metabolizadas

    implica em uma srie de malefcios, como estresse, cncer, artrite reumatide, doenas

    hepticas, neurodegenerativas e pulmonares (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999).

    O interesse por parte da comunidade cientfica na descoberta de espcies

    antioxidantes, figura 9, provem do crescente nmero das doenas modernas desencadeadas

    atravs da alta produo de radicais livres. A classe de substncias fenlicas vem ganhando

    destaque dentro deste contexto por apresentar preveno de doenas relacionadas ao excesso

    de radicais livres como o Mal de Alzheimer e retardo do envelhecimento, entre outros, devido

    sua elevada capacidade antioxidante (CALABRESE et al, 2007; CHOE E MIN, 2006).

  • 53

    Quercetina cido ascrbico cido glico

    Figura 9. Substncias com carter antioxidante usadas como padres para avaliao do potencial antioxidante.

    Mtodos que se baseiam nas reaes de estabilizao de radicais livres, como 2,2-

    difenil-1-picrilhidrazil (DPPH.) e 2,2-azinobis (3-etilfenil-tiazolina-6-sulfonato) (ABTS

    .+),

    so os mais viveis para uma avaliao inicial do comportamento inibitrio dos extratos, onde

    a partir do clculo da CI50 (concentrao inibitria de 50%) obtida a concentrao da

    amostra que captura 50% da quantidade total de radical existente no meio, demonstrando sua

    capacidade antioxidante (SOUSA et al., 2007).

    3.6.1 DPPH.

    O teste baseado na reao do radical 2,2-difenil-1-picrilhidrazil (DPPH.), figura 10,

    o qual possui colorao prpura, que ao receber um hidrognio de uma espcie doadora

    (carter antioxidante), estabilizado e a molcula gerada, difenil-picril-hidrazil, possui

    colorao amarelada, expressando visualmente o resultado da anlise antioxidante

    (MOLYNEUX, 2004).

    No mtodo quantitativo, a atividade antioxidante medida atravs da diferena na

    absorbncia apresentada entre a absorbncia do prprio DPPH., o qual absorve em 517nm, e

    as amostras aps reagir com o radical por 30 minutos. Esta taxa apresentada utilizada para o

    clculo da ao antioxidante CI50, tendo como referncia um padro com alto carter de

    inibio, como o flavonoide quercetina.

  • 54

    Figura 10. Reao e esquema representativo da reduo do DPPH. (MOLYNEUX, 2004; LEANDRO, 2010)

    3.6.2 ABTS.+

    Tendo o mesmo princpio do DPPH., o teste baseado na utilizao de um radical

    livre, o 2,2-azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-sulfonato) (ABTS.+

    ), figura 11, o qual possui

    colorao azul escuro, e que ao ser estabilizado por uma espcie doadora tem como

    caracterstica a incolor (RE et al, 1999).

    e

    ABTS

    ABTS.+

    Figura 11. Formao do ction 2,2-azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-sulfonato), ABTS.+ (VASCONCELOS et al,

    2007).

    3.6.3 Superxido

    O radical superxido, O2.-, formado em vrios processos metablicos dos organismos

    aerbicos e responsvel por ser fonte potencial de leses, j que pode agir diretamente sobre

    mx. = 342 nm

    mx. = 714 nm

  • 55

    alvos biolgicos ou indiretamente iniciando a produo de espcies altamente reativas de

    oxignio, como por exemplo o radical hidroxila (VARGAS, 2008). Alm disso h relatos da

    participao de superxidos em linhas de clulas relacionadas desordens neurolgicas, como

    Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, cncer, entre outros (NOOR et al, 2002).

    Figura 12. Estrutura do radical NBT+ (Nitro Blue Tetrazolium) (ALVES et al, 2010).

    A atividade avaliada de acordo com a presena de antioxidante no meio, onde h

    uma competio com o substrato NBT+ (colorao amarela), figura 12, pelo nion radical

    superxido gerado. Assim, com a presena de substncias antioxidantes no extrato, a reduo

    do NBT formazana (prpura) atravs do sequestro do radical diminuda, indicando o

    potencial da amostra (ALVES et al, 2010).

    3.7 Ensaios de inibio da atividade enzimtica

    A avaliao inibitria dos extratos frente s enzimas possui como objetivo avaliar o

    potencial dos mesmos para possveis aplicaes industriais, como a farmacutica, as quais

    buscam novas fontes para o tratamento de doenas dermatolgicas, como no clareamento de

    pele (SU, 1999) e digestivas, como a obesidade (PEREIRA et al, 2011).

    3.7.1 Tirosinase

    Essa enzima responsvel pela sntese da melanina, e no sistema nervoso participa da

    sntese da dopamina, sendo implicada em doenas neurodegenerativas como a doena de

    Parkson (SHIMIZU et al, 2003)

  • 56

    A hiperpigmentao da pele um fator bastante comum e que provem da disfuno de

    sntese de melanina, sendo um perigoso problema esttico e necessitando de inibidores desta

    enzima para o tratamento da doena (DE SOUZA, 2011).

    A procura por compostos que inibam a enzima tirosinase visada para muitas

    aplicaes tecnolgicas, principalmente na rea farmacutica, em prol da criao de produtos

    cosmticos para o tratamento de clareamento e desordens dermatolgicas existentes

    atualmente (KARIOTI et al, 2007).

    3.7.2 -amilase

    A inibio desta enzima visada pelas reas da medicina e farmacutica em prol da

    diminuio do nvel de glicose no sangue, muito importante para o controle em pacientes com

    diabetes do tipo 2, que necessitam monitorar tal taxa, uma vez que no possuem a capacidade

    necessria para absoro do acar (ALI et al, 2006).

    A busca de plantas que contenham inibidores desta enzima crescente, e dentro do

    gnero Bauhinia j foram obtidos resultados positivos, como para as espcies

    3.7.3 Lipase, lipoxigenase e -glicosidase

    Dentro do estudo de produtos naturais uma das reas mais visadas a relacionada

    farmacologia, com o intuito de promover novas possibilidades no tratamento de doenas

    como obesidade e diabetes.

    Inicialmente, testes inibitrios frente a enzimas direta ou indiretamente envolvidas no

    processo de obteno destas doenas so avaliadas para determinar o potencial do material

    estudado, como a inibio da lipase. Esta enzima responsvel pela degradao e absoro de

    lipdeos no corpo humano, e novos frmacos que promovam a sua inibio so procurados,

    principalmente para o tratamento da obesidade (PEREIRA et al, 2011).

  • 57

    Atividades inibitrias das enzimas lipoxigenase e -glicosidase esto envolvidas

    diretamente com o processo de diabetes, pois as mesmas so responsveis pelo processamento

    de carboidratos e amido atuando em suas quebras, assim como absoro do amido e

    monossacardeos formados (GUYTON e HALL, 2002). Assim, com sua inibio h reduo

    na taxa glicmica por no haver a absoro de glicose (PEREIRA et al, 2011).

  • 58

    4. EXPERIMENTAL

    4.1 Coleta e preparo do material

    As coletas do material botnico das quatro espcies do gnero Bauhinia foram

    realizadas na Vila Olmpica e na Reserva Ducke, Bauhinia purpurea e Bauhinia coronata

    respectivamente, em Manaus; na rea urbana de So Gabriel da Cachoeira, Bauhinia

    purpurea; e nas comunidades interioranas de Bom Senhor Jesus e Nossa Senhora de Nazar,

    no municpio de Manacapuru, Bauhinia acreana. A identificao das espcies foi realizada no

    Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPA e no Herbrio da Universidade Federal

    do Amazonas UFAM.

    As partes da planta foram separadas em folhas e galhos/cip, limpas para retirada de

    possveis fungos ou microorganismos e secas temperatura ambiente por sete dias, sendo em

    seguida trituradas.

    O procedimento geral exposto na figura 13 abaixo.

    Figura 13. Esquema geral da metodologia empregada.

  • 59

    4.2 Obteno dos extratos

    O mesmo padro para extrao foi adotado para as diferentes partes das espcies.

    Aps o perodo de sete dias da adio de metanol destilado (MeOH) ao material macerado,

    realizou-se a filtrao do material atravs de um papel filtro em funil, onde o material lquido

    obtido foi extrado sob presso reduzida de em um banho com temperatura em torno de 40oC,

    utilizando aparelho rotaevaporador.

    Individualmente, o material concentrado em cada extrao foi armazenado,

    identificado e pesado em balana analtica digital para calcular o rendimento para

    posteriormente ser utilizado nos testes e prospeco. O solvente obtido aps a extrao

    retornou ao recipiente com material vegetal, o qual permaneceu protegido da exposio luz

    e aps 72h foi realizado o mesmo procedimento, pelo perodo de 45 dias.

    4.3 Anlise da atividade antioxidante

    Neste projeto os extratos brutos metanlicos de galhos e folhas de Bauhinia sp foram

    submetidos a trs anlises para avaliao das atividades antioxidantes frente a trs radicais

    livres: DPPH., ABTS

    +. e O2

    -. Tais anlises foram realizadas no Laboratrio de Estresse

    Oxidativo e Aterognese da Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade Federal do

    Amazonas, sob superviso do Prof. Dr. Emerson Silva Lima.

    4.3.1 Inibio do radical livre DPPH

    A verificao da atividade inibidora foi determinada para todos os extratos a partir dos

    testes qualitativos inicialmente (MONTENEGRO, 2006; SOLER-RIVAS, 2000) e de acordo

    com os resultados positivos, realizada a tcnica quantitativa (MOLYNEUX, 2004).

  • 60

    4.3.1.1 Anlise qualitativa da atividade antioxidante

    O teste consiste em aplicar 15L do extrato metanlico de Bauhinia sp com

    concentrao de 10 mg/mL em uma placa de slica com dimenses de 2cm x 2cm para cada

    rea destinada s amostras (figura 14). Alm do extrato tambm so aplicados o padro

    quercetina e o branco (MeOH), para verificao da interferncia do mesmo no procedimento.

    Figura 14. Placa para ensaio qualitativo da atividade antioxidante de DPPH..

    Aps aplicar todas as amostras teste borrifada a soluo de DPPH 3mM em MeOH,

    onde a placa fica com a colorao roxa caracterstica da soluo de DPPH. Foi observada a

    atividade positiva ou negativa para as amostras evidenciadas pela presena de manchas

    amarelas ou brancas decorrentes da reduo do DPPH, contra a colorao prpura de fundo,

    indicando atividade positiva. A ausncia de manchas denota um resultado negativo.

    4.3.1.2 Anlise quantitativa da atividade antioxidante

    A atividade antioxidante de captura do radical DPPH. foi realizada conforme a

    metodologia descrita por Molyneux (2004), com modificaes. Primeiramente foi realizado o

    monitoramento da soluo de DPPH, 0,3 mM/mL, no aparelho leitor de microplaca modelo

    DTX 800, Beckman, em comprimento de 492 nm at obter a absorbncia 1,00(0,1). Na

    microplaca de 96 poos foram aplicados em triplicata, 270 L da soluo hidroalcolica de

    DPPH e 30 L da amostra nas concentraes iniciais de 50, 100, 250, 500 e 1000 g/mL

    (sendo estas minimizadas quando apresentavam alta atividade), sendo realizado o mesmo

    procedimento tambm para o controle negativo, dimetilsufxido (DMSO).

  • 61

    Aps ser incubado por 30 minutos temperatura ambiente e na ausncia de luz, foi

    realizada a leitura em 492 nm.

    A substncia quercetina foi utilizada como padro referncia e o clculo do CI50 foi

    obtido atravs da seguinte frmula utilizando-se o programa Microsoft Excel 2010 e

    OriginPro8:

    (

    )

    Onde abs amostra a absorbncia da amotra e abs controle a absorbncia do

    controle.

    4.3.2 Inibio do radical livre ABTS.+

    A anlise foi realizada segundo Re et al.,(1999), com algumas modificaes. A

    soluo catinica de ABTS (7 mM, 50% de soluo de ABTS, 50% soluo de persulfato de

    potssio 5 mM) foi preparada e mantida em temperatura ambiente e com ausncia de luz.

    Aps 12 horas, obtido o radical ABTS+

    (colorao azul escura).

    Aps a formao do radical foi realizado primeiramente o monitoramento da soluo,

    sendo adicionados na microplaca: 270 L da soluo hidroalcolica de ABTS (diluio 1:7 da

    soluo original) e 30L de etanol (EtOH). A leitura foi efetuada em comprimento de onda de

    417 nm atravs do leitor de microplaca modelo DTX 800, Beckman. Ao obter absorbncia

    aproximadamente 1,00 (0,1) foi realizado o ensaio em triplicata atravs da adio de 270 L

    da soluo hidroalcolica de ABTS com 30 L da amostra em diferentes concentraes,

    concentraes iniciais de 50, 100, 250, 500 e 1000 g/mL. Para o controle negativo foi

    utilizado DMSO em concentrao nica e seguindo todo o procedimento restante. Aps

    incubar por 15 minutos em temperatura ambiente e na ausncia de luz realizou-se a leitura no

    leitor de microplaca em 417 nm.

  • 62

    A substncia trolox foi utilizada como padro referncia e o clculo do CI50 foi obtido

    atravs da seguinte frmula utilizando-se o programa Microsoft Excel 2010 e OriginPro8:

    (

    )

    4.3.3 Inibio do radical livre O2-

    O procedimento foi descrito por Ewing e Janero (1995), baseada na reao entre

    NADH (nicotinamida adenina dinucleotdeo), PMS (fenazina metassulfato) e NBT (azul de

    nitrotetrazlio), onde formado o nion radical superxido. Assim, dois radicais superxido

    doam, cada um, um eltron para o NBT, reduzindo e formando a formazana, a qual

    monitorada em um comprimento de onda de 560 nm, em espectrofotmetro UV-Vis.

    O ensaio foi realizado conforme ztrk (2007), com modificaes. So preparados

    inicialmente os reagentes NBT (250 M), NADH (390 M) e PMS (10 M) em tampo Tris-

    HCl (16 mM, pH=8,0). Em uma placa de 96 poos so adicionados 50 L de soluo dos

    extratos metanlicos de Bauhinia sp nas concentraes de 10 a 1000 g/mL, 100 L de

    NADH e 100 L de NBT. A absorbncia inicial obtida a partir da leitura da microplaca a