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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
FACULDADE DE MECIDINA DE SOBRAL
CURSO DE PS-GRADUAO EM BIOTECNOLOGIA
JEDSON ANTONIO DE SOUZA ARAGO
ANLISE E APLICAES BIOTECNOLOGIAS DE PROTENAS LIGANTES
QUITINA DE SEMENTES DE CAJUEIRO ANO-PRECOCE (Anacardium
occidentale var. nanum)
Sobral CE
2015
2
JEDSON ANTONIO DE SOUZA ARAGO
ANLISE E APLICAES BIOTECNOLOGIAS DE PROTENAS LIGANTES
QUITINA DE SEMENTES DE CAJUEIRO ANO-PRECOCE (Anacardium
occidentale var. nanum)
Dissertao submetida coordenao do curso
de ps-graduao em Biotecnologia da
Universidade Federal do Cear, como requisito
parcial para obteno do grau de Mestre em
biotecnologia.rea de Concentrao:
Macromolculas
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Maranguape
Silva da Cunha.
.
Sobral
2015
3
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
Universidade Federal do Cear
Biblioteca do Curso de Medicina Campus de Sobral
A671a Arago, Jedson Antonio de Souza.
Anlise e aplicaes biotecnolgicas de protenas ogantes quitina de sementes de cajueiro ano-
precoce (Anacardium occidentale var. nanum). / Jedson Antonio de Souza Arago. 2015.
79 f. : il. color., enc. ; 30 cm.
Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Cear, Curso de Medicina, Programa de Ps-
Graduao em Biotecnologia, Sobral, 2015.
rea de Concentrao: Macromolculas.
Orientao: Prof. Dr. Rodrigo Maranguape Silva da Cunha.
1. Quitinase. 2. Patgeno. 3. Anacardium. I. Ttulo.
CDD 660.6
4
JEDSON ANTONIO DE SOUZA ARAGO
ANLISE E APLICAES BIOTECNOLOGIAS DE PROTENAS LIGANTES
QUITINA DE SEMENTES DE CAJUEIRO ANO-PRECOCE (Anacardium
occidentale var. nanum)
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Biotecnologia,
da Universidade Federal do Cear, como
requisito parcial para obteno do Ttulo de
Mestre em Biotecnologia rea de
Concentrao: Macromolculas.
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Maranguape Silva
da Cunha
Aprovada em ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Maranguape Silva da Cunha (Orientador)
Universidade Estadual Vale do Acara UVA.
______________________________________________________
Prof. Dr. Joo Garcia Alves Filho (Examinador)
Universidade Estadual Vale do Acara UVA.
_____________________________________________________
Prof. Dr. Victor Alves Carneiro (Examinador)
Instituto de Teologia Aplicada INTA.
5
minha me, Clia de Sousa, por ser
meu exemplo e minha sustentao,
dedico.
6
AGRADECIMENTOS
Finalizada essa etapa da minha vida, no poderia deixar de expressar o mais
profundo agradecimento a todos queles que me apoiaram nesta caminhada e
contriburam para a realizao deste trabalho.
Em primeiro lugar agradeo a Deus, Aquele que tornou tudo possvel, me deu
foras e fortaleceu minha f em todos os momentos da minha vida.
minha famlia, principalmente aos meus pais, Clia e Jos Felipe, ao meu
irmo Jefferson Sousa e minha av materna,Laide Lima, por serem minha base e quem
com todo carinho, dedicao, amor e compreenso me deram foras e incentivo para
realizar meus sonhos.
Ao meu orientador professor Dr. Rodrigo Maranguape Silva da Cunha, pela
oportunidade que me deu desde a graduao, pela contribuio em minha formao
acadmica, orientao e confiana durante a realizao desde trabalho.
Ao professor Thales Granjeiro, pela grande ateno e colaborao nesse trabalho
orientando parte dos estudos.
Aos amigos do laboratrio de Gentica Molecular, do Ncleo de Biotecnologia
de Sobral (NUBIS) que me ajudaram direta e indiretamente na realizao desse
trabalho. No tenho palavras para agradecer por tanta ajuda e carinho, alm da amizade
e dos momentos de descontrao durante o trabalho. As companheiras de longa data,
das quais compartilhei muitos momentos, alegrias e tristezas antes e durante o mestrado:
Aurilene Gomes e Vitoria Virginia. As grandes amigas Nayanne Hardy e Mnica
Valria pela amizade e por todos os momentos que passamos, seja na faculdade ou no
laboratrio. Aos grandes amigos Raulzito Moreira e Daniel de Brito que mesmo estando
longe sempre mostraram-se disponveis quando precisei. Aos companheiros de trabalho
Carlos Franciney, Pedro Cunha, Tatiana Farias, Paulo de Tarso, Rafael Bastos, Erivan
Alves e Flvia Muniz, que sempre se mostraram disponveis quando a ajuda era
necessria. tcnica do NUBIS, Maria Auxiliadora que estava sempre disposta a
ajudar.
amiga Simone Torres, que sem sua ajuda no seria possvel a realizao de
parte desse trabalho, e ao novos colegas do LABGEN: Suellen, Juscelino e Ednsio que
foram de grande ajuda no trabalho.
Aos colegas e professores do mestrado em Biotecnologia, pelo convvio e troca
de conhecimentos.
7
EMBRAPA Agroindstria Tropical, pela disponibilidade das amostras de folha de
cajueiro.
Aos membros da banca examinadora, professores Joo Garcia Alves Filho e
Victor Carneiro pelas contribuies ao trabalho.
CAPES pela bolsa concedida.
Universidade Federal do Cear, por contribuir na minha formao
profissional.
todos aqueles que de alguma forma contriburam para a realizao deste
trabalho.
Obrigado!
8
Esse s o comeo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
que a gente vai passar. - Marcelo Camelo
9
RESUMO
O cajueiro (Anacardium occidentale L.) uma planta nativa do Brasil com grande valor
comercial. Isso contribui com a gerao de milhares de empregos diretos e indiretos,
especialmente na Regio Nordeste, em poca de estiagem. Programas de melhoramento
gentico vem selecionando cultivares de cajueiro melhores adaptados ao ambiente
semirido a fim de coloc-lo em um mercado cada vez mais competitivo. Entre os tipos
de protenas de sementes vrias tm funo de reserva, estrutural ou metablica. Alm
disso, as plantas so dispostas de uma variedade de mecanismos de defesa contra o
ataque de patgenos. Uma das respostas de defesa mais estudada diz respeito
expresso de protenas relacionadas com a patognese nas quais se inclui o grupo das
quitinases. A enzima quitinase (EC 3.2.1.14) hidrolisa o polmero de quitina para a N-
acetil glucosamina por qualquer uma das endo ou exo clivagens da ligao (1-4). As
respostas moleculares nos perfis das plantas a nvel transcricional tm demonstrado
serem cruciais para o estabelecimento de um conjunto de mecanismos de defesa contra
patgenos invasores. Usando ferramentas de bioinformtica foram identificados, no
transcriptoma de cajueiro CCP076, dez contigs apresentando alto grau de semelhana
com quitinases, endoquitinases, e quitinases-like das famlias GH18 e GH 19 de Ricinus
communis, Cicer arietinum, Mangifera indica, Citrus sinensis, Euonymus europaeus,
Vitis vinifera, Aegilops tauschii e Hevea brasiliensis. Os ensaios enzimticos das
protenas da castanha confirmaram a presena quitinases em seu proteoma. Ainda
revelaram uma atividade cataltica tima em pH 5. Um perfil de protenas com sitio de
ligao quitina tambm foi encontrado. Dessa forma, demonstrado um grande
potencial biotecnolgico nas quitinases provenientes da castanha de cajueiro CCP76.
Palavras-Chave: cajueiro, patgeno, quitinase.
10
ABSTRACT
The cashew (Anacardium occidentale L.) is a plant native to Brazil with high market
value. This contributes to the generation of thousands of direct and indirect jobs,
especially in the Northeast, in the dry season. Breeding program has been selecting the
best cashew cultivars adapted to semi-arid environment in order to put it in an
increasingly competitive market. Among the types of seed proteins have several
reservation function, structural or metabolic. Furthermore, plants are arranged in an
array of defense mechanisms against pathogen attack. One of the most studied defense
response with respect to the expression of pathogenesis related proteins which are
included in the group of chitinases. The enzyme chitinase (EC 3.2.1.14) hydrolyse the
polymer chitin to N-acetyl glucosamine by either endo or exo cleavage of connection
(1-4). The molecular profiles of responses in plants transcriptional level have been
shown to be crucial for the establishment of a set of defense mechanisms against
invading pathogens. Using bioinformatics tools were identified in the transcriptome
cashew CCP076 ten contigs having high degree of similarity with chitinases,
endoquitinases and chitinase-like the GH18 family and GH 19 of Ricinus communis,
Cicer arietinum, Mangifera indica, Citrus sinensis, Euonymus europaeus , Vitis
vinifera, Aegilops tauschii and Hevea brasiliensis. The enzyme assays of chestnut
chitinase protein confirmed the presence in their proteome. Also revealed a great
catalytic activity at pH 5. A protein profile with chitin-binding site was also found. Of
these, it is demonstrated great potential in biotechnological chitinase from CCP76
cashew nuts.
Keywords: cashew, pathogen, chitinase.
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Fruto e pseudofruto do cajueiro 20
Figura 2 Estrutura qumica de quitina 25
Figura 3 Estrutura tridimensional de quitinases GH18 e GH19 de plantas
definidas por cristalografia disponveis no Protein Data Bank
(PDB)
25
Figura 4 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como quitinase de Ricinus communis (XP_002515664.1) 33
Figura 5 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como endoquitinase PR4-like de Cicer arietinum
(XP_012570981.1)
34
Figura 6 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como quitinase de Mangifera indica (ACD69683.1) 34
Figura 7 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como uma quitinase-like de Citrus sinensis (XP_006488866.1) 35
Figura 8 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como quitinase de Euonymus europaeus (AAP35272.1) 35
Figura 9 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como endoquitinase PR4-like de Vitis vinifera (XP_010650683.1) 36
Figura 10 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como endochitinase de Aegilops tauschii (EMT27212.1) 36
Figura 11 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como quitinase de Hevea brasiliensis (CAA09110.1) 37
Figura 12 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como endoquitinase PR4 de Vitis vinifera (XP_002274537.1) 37
Figura 13 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como quitinase de Vitis vinifera (ABD64687.1) 37
Figura14 Representao dos domnios conservados no contig identificado
como albumina 2S de Anacardium occidentale (AAL91665.1).
38
Figura 15 Alinhamento de nucleotdeos realizado pelo programa Clustal
verso 2.0.10, comparando Cajueiro ano-precoce e gigante na 40
12
procura de SNPs.
Figura 16 Alinhamento de aminocidos realizado pelo programa Clustal
verso 2.0.10, comparando Cajueiro ano-precoce e gigante na
procura de SNPs.
41
Figura 17 Estrutura Tridimensional das sequncias de quitinases GH19 de
cajueiros ano-precoce CCP76 e Gigante mostrando posio da
substituio do resduo de aminocido.
41
Figura 18 Estrutura tridimensional obtida por RMN de albumina 2S isolada
de Brassica napus (PDB 1PNB). 45
Figura 19 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) a 15 % de
protenas de amndoas de cajueiro extradas e fracionadas em pH5
e coradas com de Azul Brilhante de Coomassie R-250
58
Figura 20 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) a 15 % de
protenas de amndoas de cajueiro extradas e fracionadas em pH2
e coradas com de Azul Brilhante de Coomassie R-250.
60
13
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Concentrao de protenas solveis em mg/ml em diferentes
tampes de extrao 52
Grfico 2 Atividade quitinsica total dos extratos proteicos em diferentes pH 53
Grfico 3 Atividade quitinsica em unidades em cada 1mL (U/mL) dos
extratos proteicos em diferentes pH 53
Grfico 4 Atividade quitinsica total dos extratos proteicos em diferentes pH
antes e depois da dilise 55
Grfico 5 Atividade quitinsica em unidades em cada 1mL (U/mL) dos
extratos proteicos em diferentes pH antes e depois da dialise 55
Grfico 6 Cromatografia de afinidade realizada com matriz de quitina do
extrato proteico em tampo acetato de sdio pH5 56
Grfico 7 Atividade quitinsica total dos picos cromatogrficos do extrato
em tampo acetato de sdio pH 5,0 57
Grfico 8 Atividade quitinsica (U/mL) dos picos cromatogrficos do extrato
em tampo acetato de sdio pH 5,0 57
Grfico 9 Concentrao de protenas solveis em mg/ml do extrato proteico e
fraes dialisadas em tampo Glicina-HCl pH 2,0. 60
Grfico 10 Teste de concentrao inibitria mnima realizada com a frao
60-90% contra C. albicans 61
Grfico 11 Ensaio de atividade antibiofilme de albumina 2S contra C.
albicans 61
Grfico 12 Teste de concentrao inibitria mnima realizada com a frao
60-90% contra C. tropicalis. 62
Grfico 13 Ensaio de atividade antibiofilme de albumina 2S contra C.
tropicalis 62
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Principais caractersticas dos cajueiros dos tipos comuns e anos
precoce.
20
Tabela 2 Estatsticas de montagem do transcriptoma de cajueiro CCP 76 usando o
programa Velvet/Oases.
32
Tabela 3 Quitinases identificadas manualmente pelo Blastx no
transcriptoma de semente de Cajueiro ano-precoce CCP76.
39
15
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS
% Porcentagem
C Grau Celsius
L Microlitro
A260 Absorbncia a 260 nm
A260/280 Relao entre absorbncia 260 e 280
ACC Amndoa da Castanha do Caju
BLAST Ferramenta Bsica de Alinhamento Local (Basic Local Alignment Search
Tool)
CCP
DMAB
Clone de Cajueiro de Pacajus
P- dimetil amino benzaldedo
DNA cido Desoxirribonucleico
EDTA cido etilenodiamino tetra-actico (Ethylene diaminetetra acetic acid)
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
g
GH
Grama
Glicosil Hidrolases
GO Ontologia Gnica (Gene Ontology)
h Hora
HCl cido Clordrico
KEGG Enciclopdia de genes e genomas de Kyoto (Kyoto Encyclopedia of Genes
and Genomes)
Kg Quilograma
LCC Lquido da Castanha de Caju
m Metro
M
mRNA,
Molar
RNA mensageiro
m/v Massa/volume
mA Mili ampere
min Minutos
mL Mililitro
mM Milimolar
NGS Nova Gerao de Sequenciamento (Next Generation Sequencing)
16
PDB Protein Data Bank
pH
PR
Potencial hidrogeninico
Relacionado a patgeno (pathogenesis-related)
Rpm Rotaes por minuto
TBE Tampo contendo Tris, cido brico e EDTA
TE Tampo contendo Tris e EDTA
W Wats
17
SUMRIO
INTRODUO..........................................................................................................................18
1.REVISO DE LITERATURA...............................................................................................19
1.1 Aspectos Gerais do Caju...................................................................................................19
1.2 Importncia econmica.....................................................................................................21
1.3 Protenas de Semente ........................................................................................................22
1.4 Protenas PR (Pathogenesis-Related)................................................................................22
1.5 Quitinases..........................................................................................................................23
2. ANLISE IN SILICO DE PROTENAS LIGANTES QUITINA PRESENTES NOS
TRANSCRIPTOMA DE CAJUEIRO ANO PRECOCE CCP76.......................................27
2.1 Transcriptoma....................................................................................................................27
2.2 SNP-Single Nucleotide Polymorphism.............................................................................28
2.2 OBJETIVOS.........................................................................................................................29
2.2.1 Objetivo Geral................................................................................................................29
2.2.2 Objetivos Especficos.....................................................................................................29
2.3 MATERIAIS E MTODOS................................................................................................30
2.3.1. Obteno das sequncias do transcriptoma do cajueiro................................................30
2.3.2 Montagem do transcriptoma ..........................................................................................30
2.3.3 Identificao in silico de quitinases e triagem das sequncias com CDS completo......30
2.3.4 Anlise de SNPs.............................................................................................................31
2.4 RESULTADOS E DISCUSSES.......................................................................................32
2. 4.1 Montagem do transcriptoma utilizando o Velvet e Oases.............................................32
2.4.1. Identificao e classificao dos transcritos..................................................................33
2.4.1.2 Identificao de SNP nos contigs identificados .........................................................40
2.5 CONCLUSO.......................................................................................................................42
3. AVALIAO DO EFEITO INIBITRIO DO CRESCIMENTO MICROBIANO DE
ALBUMINA 2S DE CASTANHA DE CAJU (Anacardium Occidentale var. nanum).........44
3.1 Albumina 2s......................................................................................................................44
3.2 OBJETIVOS.........................................................................................................................46
3.2.1 Objetivo Geral................................................................................................................46
3.2.2 Objetivos Especficos.....................................................................................................46
3.3 MATERIAIS E MTODOS................................................................................................47
3.3.1 Extrao de protenas das Castanhas de CCP076..........................................................47
3.3.2 Determinao da concentrao de protenas..................................................................47
3.3.3 Atividade Quitinsica.....................................................................................................47
18
3.3.4 Eletroforese em gel de poliacrilamida em presena de SDS (PAGE-SDS)...................48
3.3.5 Cromatografia de afinidade em matriz de quitina..........................................................49
3.3.6 Precipitao com Sulfato de Amnio.............................................................................49
3.3.7 Ensaio de atividade antimicrobiana (CIM)....................................................................49
3.3.8 Ensaio de atividade antibiofilme....................................................................................50
3.3.9. Quantificao da biomassa..........................................................................................50
3.4 RESULTADOS E DISCUSSES......................................................................................51
3.4.1 Extrao de protenas solveis.......................................................................................51
3.4.2 Ensaio da atividade quitinsica......................................................................................51
3.4.3 Cromatografia de afinidade em matriz de quitina..........................................................54
3.4.2 Avaliao de albuminas 2S presentes na castanha de CCP076......................................59
3.4.3 Atividade antimicrobiana...............................................................................................59
3.5 CONCLUSES.....................................................................................................................64
4. BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................65
19
1. INTRODUO
O cajueiro (Anacardium occidentale L.) uma espcie de origem brasileira,
encontrada principalmente em climas tropicais e subtropicais, e a nica espcie
cultivada comercialmente do seu gnero (PAIVA; CRISSTOMO; BARROS, 2003). A
variedade ano-precoce vem substituindo o cajueiro comum por proporcionar maior
produtividade, facilitar a colheita e a conduo dos pomares em razo do seu baixo
porte. Alm disso, o cajueiro ano-precoce apresenta maior uniformidade da castanha,
do pednculo e da produo, permitindo uma explorao comercial mais rentvel
(BARROS; CRISSTOMO, 1995; OLIVEIRA et al., 2002). O uso de clones representa
uma forma de manejo econmico, ecolgico e seguro, impedindo a invaso de pragas e
doenas, alm de proporcionar uma melhor utilizao da variabilidade gentica da
espcie (PAIVA; BARROS, 2004).
Entre os tipos de protenas de sementes, vrias tm funo protetora, ou
estrutural ou metablica. Embora as protenas PR (Pathogenesis-Related) estejam
envolvidas na defesa de plantas, elas no so necessariamente identificadas por sua ao
antipatognica, mas sim por seu simples acmulo em plantas submetidas situao de
patognese (VAN LOON, 1997). Entre as PR encontram-se as quitinases que parecem
ter um papel direto na defesa do vegetal ao hidrolisar os polmeros de quitina , o
principal componente da parede celular da maioria dos fungos (COLLINGE et al.,
1993).Quitinases so enzimas capazes de hidrolisar as ligaes covalentes -1,4 entre os
resduos de GlcNAc que constituem as cadeias de quitina. Essas enzimas podem ocorrer
em vrios organismos, desde animais, plantas, insetos at vrus e bactrias. (DAHIYA
et al., 2006;).
O desenvolvimento de novas tcnicas de sequenciamento tem proporcionado
uma maneira mais rpida e eficiente de mapear e quantificar o transcriptoma em um
mtodo conhecido como RNA-Seq (WANG et al. 2010). A utilizao da tecnologia do
RNA-Seq oferece uma grande quantidade de informao sobre o transcriptoma como a
avaliao dos nveis de expresso, mapeamento de genes expressos e descoberta de
novos genes, sem haver a necessidade de um genoma previamente sequenciado (WANG
et al. 2009).
20
1. REVISO DE LITERATURA
1.1 Aspectos Gerais do Caju
Pertencente a famlia Anacardiaceae, o cajueiro possui distribuio tropical e
subtropical, incluindo cerca de 70 gneros e 700 espcies, sendo que no Brasil ocorrem
13 gneros e cerca de 60 espcies. Diversas Anacardiaceae apresentam frutos ou
pseudofrutos comestveis, este o caso do cajueiro (Anacardium occidentale), cujo
fruto a castanha de caju, mundialmente conhecida, sendo o seu pseudofruto originado
do desenvolvimento do pednculo, e tem sido comercializado in natura ou na forma de
doces, sucos ou sorvetes (SOUZA; LORENZI, 2008).
Existem dois tipos bem definidos, em relao ao porte da planta, o tipo comum e
ano-precoce. O cajueiro comum apresenta porte grande, variao na distribuio dos
ramos e formatos da copa, a castanha e o pednculo podem apresentar uma grande
variabilidade. Em sua maioria, produz menos de 5 kg de castanha por safra podendo
haver plantas com produo prxima a 200 kg. Sua produo estabilizada apenas aps
8 anos. O tipo ano-precoce tem como caractersticas um porte baixo, copa homognea,
dimetro do caule e envergadura da copa bem inferior ao tipo comum. A propagao da
maioria das plantas feita por sementes ou por enxertia, com florao tendo inicio j no
primeiro ano e apresentando caractersticas com menor variabilidade em relao ao tipo
comum (BARROS, 2002).
O cajueiro uma planta perene, de ramificao baixa e porte mdio, cuja copa
atinge altura mdia de 5 a 8 metros e dimetro mdio entre 12 e 14 metros no tipo
comum. Podendo atingir at 15 m de altura e dimetro da copa superior a 20 m,
dependendo do gentipo e das condies de clima e solo. No caso do cajueiro ano-
precoce, a altura mdia no ultrapassa 4 metros e a envergadura varia entre 6 e 8 metros.
Suas folhas so simples, inteiras, alternas, de aspecto subcoriceo, glabras e curto-
pecioladas, medindo de 10 a 20 cm de comprimento por 6 a 12 cm de largura
(BARROS, 2002) (Tabela 1).
O fruto (Figura 1) um aqunio, conhecido popularmente como castanha,
consiste de epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amndoa. O peso varivel, encontrando-
se castanhas de 3 a 12 g, e o aumento deste limite superior um dos principais objetivos
do melhoramento. Tem colorao esverdeada, de incio, tornando-se avermelhada e por
ltimo apresenta cor acinzentada. Sua superfcie cerosa, brilhante e resistente,
21
ornamentada de inmeras pontuaes escuras. O pseudofruto (Figura 1) tem alto teor de
gua e normalmente rico em vitamina C e em acares, quando maduro. O
pseudofruto apresenta uma epiderme muito fina e brilhante, de colorao varivel do
amarelo ao vermelho, podendo ter pontuaes (BARROS et al., 1993; FERRO, 1995).
Figura 1: Fruto e pseudofruto do cajueiro.
Fonte: Google imagens.
Tabela 1: Principais caractersticas dos cajueiros dos tipos comum e ano-precoce.
Caractersticas Comum Ano-precoce
Porte Alto (8 - 15) Baixo (
22
O sistema reprodutivo da espcie predominantemente alogmico, ou seja, a
fecundao preferencialmente cruzada, sendo que a viabilidade do plen do cajueiro
normalmente alta. Existe a possibilidade de ocorrer polinizao entre flores de uma
mesma planta. Por causa disto, o plantio por sementes resulta em grande variao entre
plantas, o que afeta no s o seu formato como tambm sua produo. A flor tem odor
bastante ativo, indicando ser atrativa para os insetos (BARROS, 2013).
1.2 Importncia Econmica
A cajucultura ocupa no mundo, uma rea estimada de 3,39 milhes de hectares,
com uma produo mundial estimada em 3,1 milhes de toneladas. O Vietn o maior
produtor mundial de castanha de caju. O Brasil o dcimo produtor mundial de
castanha de caju, e possui uma rea cultivada de 740.000 ha, com uma produo de 250
mil toneladas da castanha de caju e dois milhes de toneladas de caju, gerando em
mdia divisas da ordem de U$ 225 milhes anuais (OLIVEIRA, 2008; FAO, 2012).
O Brasil apontado pelas mais renomadas instituies internacionais como um
dos principais supridores de alimentos, fibras e biomassa para um mundo em crescente
demanda e aumento populacional. O agronegcio nacional ganhou outra magnitude e
mais complexidade. As exportaes brasileiras ligadas ao agronegcio foram de US$ 20
bilhes em 2000. Em 2010, passou de US$ 76 bilhes. (LOVATELLI, 2011).
A cajucultura no Brasil distribuda em vrias regies do Pas, tendo como
principal produtor a regio Nordeste, respondendo por 94% da produo nacional, onde
os maiores plantios localizam-se principalmente nas faixas litorneas e de transio dos
estados do Cear, Piau e Rio Grande do Norte. A castanha como matria-prima
alimenta um parque industrial formado por uma dezena de fbricas de grande porte e
cerca de 80 pequenas fbricas, responsveis pela obteno da amndoa de castanha de
caju, destinada em sua maioria exportao, gerando em mdia divisas da ordem de
US$ 225 milhes anuais. Atualmente, as sucessivas estiagens vm prejudicando a
produo de castanha de caju nos principais estados produtores. Em 2014 a produo
foi de apenas 17.023 toneladas gerando US$ 110 milhes (OLIVEIRA, 2008; SECEX,
2015).
23
1.3 Protenas de Semente
Um dos primeiros trabalhos sobre protenas de sementes foi publicado em 1891
por Osborne (apud Vickery, 1945) onde essas foram isoladas de acordo com a
solubilidade em diversos solventes e as classificaram de acordo com as fraes extradas
em gua pura (albuminas), solues salinas diludas (globulinas), solues alcolicas
(prolaminas) e solues alcalinas ou cidas diludas (glutelinas) (HELDT, 2005).
Ainda no existe um sistema de classificao universalmente, mas Shewry
(2000) considera mais vlido dividir as protenas primeiro em relao sua funo e,
para as protenas de reserva, utilizar a classificao de Osborne modificada. Essa
classificao divide as protenas de reserva em quatro grupos, definidos pelas fraes de
Osborne e por seus coeficientes de sedimentao, que representam a medida de seu
tamanho molecular, a saber: prolaminas, albuminas 2S e globulinas 7S e 11S.
Entre os outros tipos de protenas de sementes, vrias tm funo protetora,
estrutural ou metablica. Dentre os protetores, os inibidores de proteinases so,
provavelmente, os mais abundantes e amplamente distribudos, sendo particularmente
comuns em sementes de leguminosas, proporcionando resistncia contra herbivoria.
Existem tambm endo-hidrolases, como as -1,3-glucanases e endoquitinases, que
parecem ter propriedades antifngicas; lectinas, que se ligam glicoprotenas do
intestino e interferem na absoro dos nutrientes; protenas inativadoras de ribossomo;
protenas inibidoras de poligalacturonase, entre outras. Outras protenas estruturais ou
metablicas incluem componentes estruturais da parede celular, transportadores e
protenas estruturais associadas a membranas de clulas e organelas, e enzimas
(SHEWRY; LUCAS, 1997).
1.4 Protenas PR (Pathogenesis-Related)
As plantas so dispostas de uma variedade de mecanismos de defesa contra o
ataque de patgenos (SHARMA et al., 2011). Apesar da ausncia de sistema imunitrio,
que as torna susceptveis a organismos patognicos (HUYNH et al., 1992), as plantas
esto envolvidas numa variedade de mecanismos potentes de defesa que incluem a
sntese de compostos de baixo peso molecular (SELITRENNIKOFF, 2001). Estas
respondem induzindo a expresso de um vasto nmero de genes codificadores de
protenas que assumem um papel importante na defesa (COLLINGE et al., 1993).
24
Uma das respostas de defesa mais estudada diz respeito expresso de protenas
relacionadas com a patognese nas quais se inclui o grupo das quitinases (HUYNH et
al., 1992). Descrita pela primeira vez em 1911 por Bernard em orqudeas, o mesmo
autor observou atividade antifngica sensvel e termo resistente. Desde ento, essa
enzima considerada como parte de mecanismos de defesa que as plantas possuem
contra uma variedade de patgenos. O aumento significativo nos nveis de quitinase por
numerosos agentes abiticos (etileno, cido saliclico, solues salinas, oznio, luz UV)
e por fatores biticos (fungos, bactrias, vrus, virides componentes da parede celular
de fungos e oligossacardeos) embasam a afirmao anterior (GUPTA et al., 2010.).
O termo pathogenesis-related (PR) foi mais tarde introduzido, em 1980, pelo
grupo de trabalho de Antoniw e colaboradores (1980) tendo sido este definido como o
conjunto completo de protenas que so codificadas por uma planta hospedeira,
induzidas em condies de patogenicidade ou relacionadas com a mesma (DATTA;
MUTHUKRISHNAN, 1999). De acordo com a definio, qualquer protena produzida
pelo hospedeiro induzida por qualquer tipo de agente infeccioso, ou condio
comparvel, agrupada neste grupo; ainda assim, as caractersticas de incluso
implicam critrios de identificao como as propriedades qumicas ou a localizao
celular. Foi tambm introduzida a terminologia PR-like proteins de modo a designar as
protenas homlogas a PRs deduzidas a partir de sequncias de aminocidos ou
previstas pela sequncia nucleotdica de seu cDNA correspondente ou gene, mas cujo
desenvolvimento da induo feito controladamente, especificamente em determinados
tecidos (EDREVA, 2005).
O desenvolvimento da pesquisa em mecanismos de defesa das plantas conduziu
a um rpido e contnuo interesse nas quitinases, uma vez que foram as primeiras
protenas induzidas por patgenos cuja funo foi identificada (DATTA;
MUTHUKRISHNAN, 1999).
1.5 Quitinases: Definio e Classificao
A enzima quitinase (EC 3.2.1.14) hidrolisa o polmero de quitina para a N-acetil
glucosamina por qualquer uma das endo ou exo clivagens da ligao (1-4) (VAN
AALTEN et al., 2000). Essa classificada em vrias categorias com base no seu
isolamento, caractersticas funcionais e estruturais. Ela pertence as famlias 18 e 19 de
glicosil hidrolases (GH) (HENRISSAT; DAVIES, 1997), que so enzimas fundamentais
25
para o metabolismo de carboidratos (HENRISSAT, 1991). Estas duas famlias contm
endo e exo quitinases. Endoquitinases clivam aleatoriamente na cadeia de quitina
gerando polimeros ou oligomeros de NacGlc, como a quitotetraose, quitotriose e a
diacetilquitobiose. Enquanto as exoquitinases clivam a partir da extremidade redutora
ou no redutor da cadeia de quitina liberando monomeros de NacGlc. (DAHIYA et al.,
2006; SUZUKI et al., 1999).
A quitina (Figura 2) um biopolmero insolvel, linear e no ramificado de N-
acetil--D-glucosamina (2-acetamido-2-desoxi--D-glucopiranose; GlcNAc), com os
resduos de GlcNAc unidos por ligaes O-glicosdicas -(1,4) [nomenclatura IUPAC:
(14)-2- acetamido-2-desoxi--D-glucano], principal componente estrutural da parede
celular dos fungos e exoesqueleto dos artrpodes. considerado um dos polimeros
naturais mais importantes no mundo (RINAUDO et al., 2006).
Com base em similaridade de sequncias as quitinases podem ser classificadas
em 6 classes (KESARI et al., 2015). Como mencionado anteriormente, as mesmas so
agrupadas em duas grandes famlias: GH 18 (classes III e V, contm TIM barrel
domain) e GH19 (I, II, IV e VI). Segundo Kesari e colaboradoras (2015) as classes
pertencentes a GH18 possuem baixa similaridade de sequncia com as agrupadas em
GH19. GH18 amplamente distribuda entre os seres vivos, j GH19 parece ocorrer
principalmente em plantas e algumas bactrias (OHNUMA et al., 2011).
provvel que as quitinases das famlias GH18 e GH19 tenham evoludo de
ancestrais diferentes, pois alm de no compartilharem similaridade em suas seqncias
de aminocidos, possuem estruturas tridimensionais e mecanismos enzimticos
completamente diferentes. Assim, os domnios catalticos de quitinases da famlia
GH18 (Figura 3A) possuem uma estrutura tridimensional caracterizada por um barril
(/), ou barril TIM (triose fosfato isomerase) (BANNER et al., 1975), enquanto que
aqueles de quitinases da famlia GH19 (Figura 3B) tm um elevado contedo de -
hlices devido presena de resduos no polares na regio do ncleo e uma estrutura
semelhante aquelas encontradas em quitosanases e lisozimas (CHUANG et al., 2008).
26
Figura 2. Estrutura qumica de quitina.
(A) Estrutura em cadeira monomero de quitina: -(1-4)-N-acetil-D-glicosamina. (B)
Organizao espacial do polimero de quitina. Fonte: Rinaudo (2006).
Figura 3: Estrutura tridimensional de quitinases GH18 e GH19 de plantas definidas por
cristalografia disponveis noProtein Data Bank(PDB).
(A) quitinaseGH18 de Crocus vernuse cadeia A (PDB: 3SIM) ,(B) quitinase GH19 IV de
Norway spruce (PDB: 3HBD). Fonte:Protein Data Bank.
A B
A B
27
CAPTULO I
ANLISE IN SILICO DE PROTENAS LIGANTES QUITINA
PRESENTES NOS TRANSCRIPTOMA DE CAJUEIRO ANO
PRECOCE CCP76
28
2. ANLISE IN SILICO DE PROTENAS LIGANTES QUITINA
PRESENTES NOS TRANSCRIPTOMA DE CAJUEIRO ANO
PRECOCE CCP76
2.1 Transcriptoma
O transcriptoma o conjunto completo de transcritos (mRNAs, RNAs no
codificados e micro RNAs) em um tecido, e sua quantificao especfica para um
estgio de desenvolvimento ou condio fisiolgica (WANG et al., 2009). O processo
de evoluo das plantas envolve alteraes celulares, moleculares, fisiolgicas e
bioqumicas para se adaptar e sobreviver a condies adversas, como estresse bitico
causado por patgenos. As respostas moleculares nos perfis das plantas a nvel
transcricional tm demonstrado serem cruciais para o estabelecimento de um conjunto
de mecanismos de defesa contra patgenos invasores (FU et al., 2012).
Para estudar o transcriptoma de um organismo o mtodo que tem sido utilizado
atualmente a nova gerao de sequenciamento de DNA, denominada RNA-seq. O
mRNA utilizado para a sntese de cDNA, que ento sequenciado em equipamento de
altssima produtividade. A principal vantagem de RNA-seq a capacidade de
sequenciar uma grande proporo de transcritos presentes em uma amostra, incluindo os
de baixa expresso. Outra vantagem a de no necessitar de conhecimento prvio da
sequncia, como no caso de microarranjo onde se utiliza sequncias conhecidas para
mensurar a expresso gnica. Entretanto, o genoma de referncia de extrema
importncia para estudos de transcriptoma porque permite que seja feita a identificao
dos genes que esto sendo expressos em uma dada condio (CHEN et al., 2007).
A anlise de transcriptoma permite detectar quais tipos de transcritos esto sendo
expressos, incluindo RNA mensageiro (mRNA), variantes alternativos (derivado do
processo de splicing alternativo), RNA no codificador e pequenos RNAs(WANG; et
al., 2009).
Alves Filho (2013) utilizou a abordagem De novo para a montagem do primeiro
esboo do transcriptoma de sementes de cajueiro (A. occidentale L.), utilizando dados
sequenciados pela plataforma Illumina, que descrita na literatura como eficiente para a
verificao da expresso de genes, metilao do DNA, re-sequenciamento, bem como
29
para o sequenciamento de transcriptoma De novo (PARCHMAN et al., 2010; WANG et
al., 2010).
Sequenciamento do transcriptoma usando tecnologias Next Generation
Sequencing - NGS permite rpida e barata descoberta SNP dentro dos genes e evita
regies altamente repetitivas do genoma (MOROZOVA at al., 2008)
2.2 SNP-Single Nucleotide Polymorphism
As variaes allicas dentro de um genoma de uma mesma espcie podem ser
classificados em trs grandes grupos que incluem diferenas no nmero de repeties
em srie num local especfico (microssatlites, ou simples repetio de seqncia -
SSRS ) (WEBER et al. 1987), inseres/delees segmentares (indels) (OPHIR el al.
1997), e polimorfismos de nucleotdeo nico (SNPs) (WANG et al., 1998).
Single Nucleotide Polymorphism (SNP) so marcadores do tipo Polimorfismo de
nica Base que se baseiam em alteraes mais elementares da molcula de DNA, isto ,
mutaes em apenas uma das bases nitrogenadas da cadeia (Adenina, Citosina, Timina e
Guanina). As mutaes mais recorrentes so as do tipo transio, quando h troca de
purina por outra purina (A - G) ou de uma pirimidina por outra pirimidina (C - T), e
transverses, quando h a troca de uma purina por pirimidina e vice-versa (A/C, A/T,
G/C, G/T) (BROOKES, 1999).
Assim, na prtica, SNPs so marcadores bi-allicos, podendo ocorrer tri-allicos
em uma proporo menor, de forma que o contedo informativo em um nico SNP
limitado, em comparao com os marcadores microssatlites (SSR) que so poliallicos
(GRIFFIN; SMITH, 2000; GUPTA et al., 2001; ORAGUZIE et al., 2007).
Em primeiro lugar descobriu no genoma humano, os SNPs provou ser universal,
bem como as formas mais abundantes de variao gentica entre indivduos da mesma
espcie (GHOSH et al.,2002). Os SNPs ocorrem tanto em regies codificadoras como
em no codificadoras dos genomas. Em regies codificadoras, quando resultam em uma
substituio de aminocido na sequncia proteica, so denominados no sinnimos,
podendo a substituio ser conservativa ou no conservativa em funo das
caractersticas dos aminocidos envolvidos na troca. Nesses casos, pode haver
modificaes estruturais e funcionais na protena (GUIMARES; COSTA, 2002).
30
2.2. OBJETIVOS
2.2.1 Objetivo Geral
Identificar e descrever sequncias de proteinas ligantes quitina e identificar
SNPS no transcriptoma de A. occidentale var. nanum CCP76
2.2.2 Objetivos Especficos
Realizar uma nova montagem do transcriptoma usado por Garcia Filho (2013)
Identificar protenas ligantes quitina no transcriptoma de castanha de caju;;
Descrever sequncias de proteinas ligantes quitina no transcriptoma de
castanha de caju;
Realizar anlise de polimorfismo de nica base nos genes identificados
31
2.3 MATERIAIS E MTODO
2.3.1. Obteno das sequncias do transcriptoma do cajueiro
As sequncias do transcriptoma do cajueiro foram previamente obtidas de
trabalhos realizados por Alves-Filho (2013). Amostras de sementes De ano-precoce
CCP 76 foram coletadas em Itapipoca-CE. O RNA das sementes (ALVES-FILHO,
2013) foi extrado a partir das amostras congeladas em nitrognio lquido, no Ncleo de
Biotecnologia de Sobral e encaminhadas para sequenciamento no Laboratrio de
Biotecnologia Animal - Esalq-USP utilizando a plataforma Illumina HiSeq2000. O
sequenciamento das bibliotecas de cDNA foi do tipo paired-end e produziu reads de 50
pb.
2.3.2 Montagem do transcriptoma
Os dados foram processados em um computador HP proliant com 8 ncleos de
processamento e 16,7 Gb de memria RAM. Inicialmente as bibliotecas de reads brutos
(arquivos em formato fastq) foram avaliadas pelo programa FastQCa fim de determinar
a qualidade do sequenciamento. Os reads que apresentaram baixa qualidade foram,
ento,trimados (removidos) utilizando a ferramenta FastX Toolkit. A montagem De
novo foi realizada atravs do programa Velvetseguido por Oases. Os parmetros
utilizados foram: k-mer 31, valor de cobertura de 30, corte de cobertura de 30 e
tamanho mnimo do transcrito (arquivo de sada do Oases) de 300.
2.3.3 Identificao in silico de quitinases e triagem das sequncias com CDS
completo.
A identificao dos genes que codificam enzimas quitinases do cajueiro foi feita
pelo algoritmo Basic Local AlignmentSearch Tool (Com o programa BLASTx)
utilizando as sequncias do transcriptoma de sementes dos cajueiros ano-precoce
CCP76 contra os bancos de dados do Swiss-ProteTrEMBL. Os parmetros foram
ajustados para conter apenas sequncias com o E-value inferior ou igual a 1x10-5.
32
As sequncias dos bancos de dados foram obtidas pelo servidor UniProt e
filtradas por pesquisa booleana para exibir apenas sequncias de quitinases.
Posteriormente foi feita uma busca por genes com a regio CDS completa, atravs de
BLAST manual, alinhando os contigs do cajueiro contra os genes depositados no
Genbank do NCBI. Os genes de quitinases que apresentaram maior percentual de
identidade com os genes depositados no banco de dados, que possuam CDS completo,
foram selecionados e tiveram suas sequncias traduzidas, nos 6 frames de leitura,
utilizando a ferramenta translate tool do ExPASy (http://web.expasy.org/translate/), e as
sequncias traduzidas foram novamente alinhadas, por alinhamento global, utilizando o
software online ClustalW2 (http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/), a fim de
determinar seu grau de similaridade e verificar se alinhavam completamente.
2.3.4 Anlise de SNPs
Os contigs de CCP76 e Cajueiro comum foram alinhados no software do
MUMmer usando a ferramenta Nucmer. O arquivo de sada foi filtrado e utilizado a
ferramenta show-SNPs para obter as alteraes nucleotdicas. A partir do resultado
obtido, uma triagem foi feita pelas sequncias encontradas anteriormente da qual
somente uma apresentou SNP entre os gentipos. Em seguida, foi feito um alinhamento
global utilizando o Clustalw2 com as sequncias de nucleotdeos e aminocidos a fim
de ver a posio da substituio. Tambm foi feita uma modelagem por homologia
utilizando o SWISS-MODEL para analisar possveis modificaes na estrutura protica.
http://web.expasy.org/translate/http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/
33
2.4 RESULTADOS E DISCUSSES
2. 4.1 Montagem do transcriptoma utilizando o Velvet e Oases
Os parmetros utilizados para montagem para as bibliotecas de cajueiro ano
CCP 76 foi de 31 para o valor de k-mer, a cobertura esperada (Exp_cov) foi 30 e o valor
de corte de cobertura (Cov_cutoff) foi de 2.
Para a montagem do cajueiro ano CCP 76, foi utilizado um total de 42.786.272
reads e a montagem revelaram a presena de 2.243 contigs sendo que o maior deles
possui 5.382 nucleotdeos de tamanho. O valor de N50 460 com a montagem feita
utilizando 17,205 % dos reads. O programa Oases utilizou os dados processados pelo
Velvet adicionando como parmetro o menor transcrito possuindo 100 pb resultando em
68.811 transcritos (Tabela 2).
O resultado da montagem do Velvet foi otimizada aps a utilizao do programa
Oases, o qual reduziu o nmero de contigs. O programa Oases foi desenvolvido
especificamente para a montagem de transcriptomasDe novo usando reads curtos e leva
em considerao a montagem feita pelo Velvet.Garg e colaboradores (2011) sugerem
que a montagem no Velvet seguido pelo Oases produz os melhores contigs/transcritos.
Ashrafi e colaboradores (2012) obtiveram 68.737 contigs na montagem De novo
do transcriptoma de pimento (Capsicumannuum), utilizando o programa Velvet com
valor de k-mer de 31. No presente estudo, foram obtidos 68.811 contigs no cajueiro,
utilizando parmetros de montagem semelhantes aos utilizados por Ashrafi e
colaboradores.
Tabela 2 Estatsticas de montagem do transcriptoma de cajueiro CCP 76 usando o programa
Velvet/Oases.
Dados de Montagem - CCP76
Tamanho do k-mer 31
Cobertura esperada 30
Corte de cobrtura 2
Tamanho mnimo de contig 300
N de reads 42.786.272
N de ns 8.568
34
N50 460
Tamanho do maior contig 5.382
Porcentagem de reads usados 7.361.509 (17,205 %)
N de contigs 2.243
N de transcritos 68.811
Fonte: O Autor
2.4.2. Identificao e classificao dos transcritos
Na busca de genes pelo transcriptoma foram identificados dez sequncias que
obtiveram alguma similaridade com quitinases vegetais (Tabela 2). O primeiro contig
(Figura 4) identificado com de 1457 bases, obteve 86% de similaridade com a sequncia
de uma possvel quitinase de Ricinus communis (XP_002515664.1). Apresentando
regies conservadas que o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e
da famlia quitinase GH19 indo do resduo 428 ao 1136. Ainda apresenta outras duas
regies conservadas. A primeira de um possvel stio de ligao a acar que esto nos
resduos de nmero 518521(GGGA), 554557 (ATAA), 782788 (GTTGAAG),
800--803 (AGGA), 893896 (TTCC), 959962 (CTGG) e a segunda regio com
resduos catalticos de 794797 (GTAA), 893896 (TTCC), 959962 (CTGG).
Figura 4: Representao dos domnios conservados no contig identificado como quitinase de
Ricinus communis (XP_002515664.1).
Fonte: NCBI
O segundo contig (Figura 5), com 1325 bases, obteve 57% de similaridade com
uma endoquitinase PR4-like de Cicer arietinum (XP_012570981.1). Apresentando
regies conservadas que o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e
da famlia quitinase GH19 indo do resduo 494 ao 1084. Ainda apresenta outras duas
35
regies conservadas. A primeira de um stio de ligao a carboidrato de resduos 386
388 (AGT), 392400 (TACGGTTAT), 404406 (GGC), 419421 (TAT) e a
segunda regio com resduos catalticos 674676 (GAA).
Figura 5: Representao dos domnios conservados no contig identificado como endoquitinase
PR4-like de Cicer arietinum (XP_012570981.1).
Fonte: NCBI
Tambm foi identificado um contig (Figura 6) com 1071 bases e 88% de
similaridade com uma quitinase de Mangifera indica (ACD69683.1). Apresentando
regies conservadas que o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e
da famlia quitinase GH 19 indo do resduo 290877. Ainda apresenta outras trs
regies conservadas. A primeira de um stio de ligao a carboidrato nos resduos 173
175 (AGT), 179187 (TTTGGTTAC), 191193 (GGC), 206208 (TAC); a segunda
regio com resduos catalticos no residuos 467469 (GAA), 530532 (AAC), 590
592 (ACC) e um possvel stio de ligao a acar de resduos 467469 (GAA), 530
532 (AAC), 594596 (CAG), 599604 (TACAAC), 564566 (AAT), 800802
(AAG).
Figura 6: Representao dos domnios conservados no contig identificado como quitinase de
Mangifera indica (ACD69683.1).
Fonte: NCBI
36
O terceiro identificado com 1157 bases, esse contig (Figura 7) obteve 84% de
similaridade com uma quitinase-like de Citrus sinensis (XP_006488866.1).
Apresentando regies conservadas que o caracteriza como pertencente superfamlia
lisozima-like e da famlia quitinase GH19 indo do resduo 228938. Ainda apresenta
outras duas regies conservadas. A primeira de um possvel sitio de ligao a acar nos
resduos 402404 (AAA), 468470 (GAA), 561563 (CCT), 576581 (TACAAC),
807809 (TAT), 846848 (TCC); e a segunda regio com resduos catalticos no
resduos 402404 (AAA), 468470 (GAA), 567569 (TAC).
Figura 7: Representao dos domnios conservados no contig identificado como uma quitinase-
like de Citrus sinensis (XP_006488866.1).
Fonte: NCBI
Um contig (Figura 8), com 433 bases, obteve 78% de similaridade com uma
quitinase de Euonymus europaeus (AAP35272.1). Apresentando regies conservadas
que o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e da famlia quitinase
GH19. Ainda apresenta outra regio conservada com resduos catalticos na posio
104106 (GAA), 170172 (GAA), 551553 (TCT).
Figura 8: Representao dos domnios conservados no contig identificado como quitinase de
Euonymus europaeus (AAP35272.1).
Fonte: NCBI
37
Com 210 bases, um quinto contig (Figura 9) obteve 73% de similaridade com
uma endoquitinase PR4-like de Vitis vinifera (XP_010650683.1). Apresentando regies
conservadas com um stio de ligao a carboidrato nos resduos 811 (GCCA), 1423
(ATAGCCAAAT), 2629 (ACTG).
Figura 9: Representao dos domnios conservados no contig identificado como endoquitinase
PR4-like de Vitis vinifera (XP_010650683.1).
Fonte:NCBI
Tambm foi identificado um contig (Figura 10) com 297 bases que obteve 77%
de similaridade com uma endoquitinase de Aegilops tauschii (EMT27212.1).
Apresentando regies conservadas do resduo 104 ao 297 que o caracteriza como
pertencente superfamlia lisozima-like e da famlia quitinase GH19.
Figura 10: Representao dos domnios conservados no contig identificado como endoquitinase
Aegilops tauschii (EMT27212.1).
Fonte: NCBI
Com 306 bases, outro contig (Figura 11) obteve 83% de similaridade com uma
quitinase de Hevea brasiliensis (CAA09110.1). Apresentando regies conservadas que
o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e da famlia quitinase
GH18.
38
Figura 11: Representao dos domnios conservados no contig identificado como quitinase
Hevea brasiliensis (CAA09110.1).
Fonte: NCBI
Com 522 bases, esse contig (Figura 12) obteve 66% de similaridade com uma
endoquitinase PR4 de Vitis vinifera (XP_002274537.1). Apresentando regies
conservadas nos residuos 56 ao 476 que o caracteriza como pertencente superfamlia
lisozima-like e da famlia quitinase GH19. Ainda apresenta outra regio conservada
com resduos catalticos na posio 231233 (GAA).
Figura 12: Representao dos domnios conservados no contig identificado como endoquitinase
PR4 de Vitis vinifera (XP_002274537.1).
Fonte: NCBI
Com 115 bases, esse contig (Figura 13) obteve 76% de similaridade com uma
quitinase de Vitis vinifera (ABD64687.1). Apresentando regies conservadas nos
residuos 2 ao 109 que o caracteriza como pertencente superfamlia lisozima-like e da
famlia quitinase GH18.
Figura 13: Representao dos domnios conservados no contig identificado como quitinase de
Vitis vinifera (ABD64687.1).
Fonte: NCBI
39
Tambm foi identificado um sequncia que obteve similaridade com albumina
vegetal. O contig identificado (Figura 14) com de 490 bases, obteve 100% de
similaridade com uma sequncia de uma albumina 2S de Anacardium occidentale
(AAL91665.1). Este apresenta regies conservadas que o caracteriza como pertencente
subfamilia de inibidores de alfa-amilase (AAIs) e protenas de armazenamento de
sementes (SS) indo do resduo 128--311. Ainda apresenta outras duas regies
conservadas. A primeira de um possvel stio de ligao alfa-amilase que esto nos
resduos de nmero 128131(AAAC), 251254 (CTCT), 272281 (CCTTCTGTCT)
e a segunda regio de interface de dmeros de 128131 (AAAC), 251254 (CTCT),
272281 (CCTTCTGTCT), 137140 (GCCC), 155158 (ACTG), 163166
(TTCA), 185188 (TTCA)
Figura14: Representao dos domnios conservados no contig identificado como albumina 2S
de Anacardium occidentale (AAL91665.1).
Fonte: NCBI
A subfamlia AAI_SS composta por protenas que so simultaneamente
inibidoras da alfa-amilase (AAI) tem funo de armazenamento em sementes (SS). So
encontradas principalmente nas sementes de plantas superiores. AAI desempenham um
papel importante nas defesas naturais das plantas contra insetos e organismos
patognicos tais como fungos, bactrias e vrus. AAI impedem a digesto de amido e
protenas de plantas por inibio alfa-amilases e proteases digestivas. Tambm esto
includos nesta subfamlia so protenas SS tais como albumina 2S, gama-gliadina,
napina, e prolaminas. Estas protenas aais e SS so tambm conhecidos alergnios em
humanos. (STROBL et al., 1998; KUMARI; HOORN, 2011)
40
Tabela 3: Protenas ligantes quitina identificadas manualmente pelo Blastx no transcriptoma de semente de Cajueiro ano-precoce CCP76.
N de acesso Protena Organismo Tamanho Similaridade Famlia Sitio Locus F L
XP_002515664.1 Quitinase Ricinus communis 1457 86% GH19 Acar, cataltico 410 -2
XP_012570981.1 Endoquitinase
PR4-like
Cicer arietinum 1325 57% GH19 Carboidrato,
cataltico
1421 +2
ACD69683.1 Quitinase Mangifera indica 1071 88% GH19 Acar, cataltico,
carboidrato
4849 +2
XP_006488866.1 Quitinase-like Citrus sinensis 1157 84% GH19 Acar, cataltico 5472 +3
AAP35272.1 Quitinase Euonymus europaeus 433 78% GH19 Cataltico 8370 +2
XP_010650683.1 Endoquitinase
PR4-like
Vitis vinifera 210 73% ChtB Carboidrato 8715 -3
EMT27212.1 Endoquitinase Aegilops tauschii 297 77% GH19 11904 -2
CAA09110.1 Quitinase Hevea brasiliensis 306 83% GH18 17280 +3
XP_002274537.1 Endoquitinase PR4 Vitis vinifera 522 66% GH19 17811 +3
ABD64687.1 Quitinase Vitis vinifera 115 76% GH18 56367 +2
AAL91665.1 Albumina 2S Anacardium occidentale
490 100% AAI_SS Ligao alfa-
amilase
-1
Fonte: NCBI
41
2.4.3 Identificao de SNP nos contigs identificados
Na busca por SNPs nos contigs identificados como quitinases foi observado a
presena de uma alterao nucleotdica em apenas um dos genes identificados. Essa
mutao foi observada no primeiro contig de cajueiro ano-precoce CC76 (Figura 4) de
1457 bases e 86% de similaridade com uma sequncia de uma possvel quitinase de
Ricinus communis quando comparado com o mesmo gene de cajueiro gigante. Na
posio 1113 do contig de CCP76 h uma citosina, enquanto no contig correspondente
de cajueiro comum h uma adenina na posio 1032 (Figura 15) em uma regio
codificante. H uma predominncia de SNPs em regies codificantes, o que observado
no trabalho de Klheim et al, (2009). Segundo Gonzales Martinez e colaboradores
(2006), SNPs localizados em regies codificantes tm grande importncia por ser mais
provvel que estas variaes nucleotdicas tenham algum tipo de significado funcional,
em nvel fenotpico, nos organismos.
Figura 15: Alinhamento de nucleotdeos realizado pelo programa Clustal verso 2.0.10,
comparando Cajueiro ano-precoce e gigante na procura de SNPs.
A regio destacada em vermelho mostra a localizao dos SNP. Fonte: autor.
Essa alternncia de nucleotdeo caracteriza uma transverso, quando a
substituio do nucleotdeo de uma purina para uma pirimidina nesse caso. A mutao
observada nesse estudo no acorre com maior frequncia, as substituies por transio
tem com maior ocorrncia no genoma de diversos organismos (LEWIN, 2008). Embora
as variaes de transio ocorram numa frequncia mais alta que as transverses em
genomas eucariotos, possivelmente como resultado de mecanismos moleculares pelos
quais so geradas, existem evidencias que isso no universal (KELLER et al., 2007).
Em trabalhos realizados com cafeeiros, foram encontrados 80% de mutaes causadas
42
por transverses e 20% decorrentes de transies (ZARATE et al., 2010), o que embasa
ocorrncia de uma transverso nesses contigs.
Essa mutao ocasionou uma mudana no cdon codificante que resultou em
uma alterao no aminocido codificado de uma arginina (R), carregado positivamente,
no CCP76 para uma leucina (L), apolar, no cajueiro gigante na posio 75 da protena
(Figura 16). Esse um caso de mutao no sinnima, isto , a mudana no cdon
gerou alterao do aminocido. Essa alternncia no ocorreu em uma estrutura
funcional (Figura 17), dessa forma, presume-se que sua funo no foi afetada.
Figura 16: Alinhamento de aminocidos realizado pelo programa Clustal verso 2.0.10,
comparando Cajueiro ano-precoce e gigante na procura de SNPs.
A regio destacada em vermelho mostra a localizao dos SNP. Fonte:autor
Figura 17 Estrutura Tridimensional das sequncias de quitinases GH19 de cajueiros ano-
precoce CCP76 e Gigante mostrando posio da substituio do resduo de aminocido.
(A) quitinase GH19 de CCP76 ,(B) quitinase GH19 Cajueiro Gigante. Fonte:Protein Data Bank.
43
2.5 CONCLUSO
Foram detectados 10 contigs com sequncias semelhantes quitinases de
diversos organismos. Ainda foram identificados domnios conservados de stios
catalticos e de ligao a carboidratos e acares. No contig identificado como quitinase
de Ricinus communis observou-se a presena de um SNP havendo uma substituio de
nucleotideo do tipo transverso no qual resultou um mutao no sinnima. Foi
identificado um contig com 100% de similaridade com uma albumina 2S de
Anacardium occidentale apresentando regies conservadas que o caracteriza
pertencente subfamlia AAI_SS e dominios conservados de stio de ligaco alfa-
amilase e regio de interface de dmeros.
44
CAPTULO II
CARACTERIZAO DE PROTEINAS DE CASTANHA DE
CAJU (Anacardium occidentale var. nanum) LIGANTES QUITINA
E AVALIAO DO SEU EFEITO INIBITRIO NO
CRESCIMENTO MICROBIANO
45
3 CARACTERIZAO DE PROTEINAS DE CASTANHA DE CAJU
(Anacardium occidentale var. nanum) LIGANTES QUITINA E AVALIAO
DO SEU EFEITO INIBITRIO NO CRESCIMENTO MICROBIANO
3.1 Albumina 2S
A primeira albumina 2S foi isolada a partir de soja corresponde a uma cadeia
polipeptdica rica em cido asprtico com massa molecular aparente 4.4 kDa (ODANI,
KOIDE; ONO, 1987). As albuminas 2S podem ser consideradas um dos maiores grupos
de protenas presentes nos tecido de reserva da semente, juntamente com as globulinas
(BERROCAL-LOBO et al., 2002).So protenas solveis em gua, amplamente
distribudas por sementes de dicotiledneas e monocotiledneas, so ricas em cistena,
arginina, glutamina e asparagina (MONSALVE et al., 2007).Seu nome devido ao
coeficiente de sedimentao prximo a 2S(DA SILVA et al., 1996), e est foi relatada
em sementes de importncia comercial, como a soja (LIN et al., 2006) e amendoim
(LEHMANN et al., 2006 ).
Estas protenas podem ser classificadas de acordo com a distribuio conservada
das cistenas ao longo da cadeia polipeptdica (KREIS et al., 1985) como pertencentes
superfamlia das prolaminas, que incluem tambm inibidores de tripsina e -amilase do
tipo cereal, puroindolinas e protenas de transferncias de lipdeos no especficos. Elas
so produzidas no retculo endoplasmtico rugoso e depositadas em vacolos
especficos, onde atuam principalmente como reserva proteica para o desenvolvimento
do embrio at a formao da radcula (LEE et al., 2003). Contudo, estudos comprovam
que as albuminas 2S tambm esto associadas processos regulatrios durante o
desenvolvimento do embrio, por apresentarem atividade antimittica(GALVEZ; DE
LUMEN, 1999)
As albuminas 2S podem ser compostas por duas cadeias polipeptdicas unidas
por duas pontes dissulfeto, sendo que a cadeia curta apresenta aproximadamente 3 a
5kDa e a cadeia longa apresenta aproximadamente 8 a 10 kDa (Figura 1), sendo ambas
codificadas por um mesmo gene (KOPPELMAN et al., 2004).
46
Figura18 - Estrutura tridimensional obtida por RMN de albumina 2S isolada de Brassica napus
(PDB 1PNB).
A estrutura em verde indica a cadeia curta - com duas - hlices, enquanto a estrutura em azul
indica a cadeia longa, com trs -hlices. As ligaes em vermelho indicam as pontes dissulfeto.
Fonte: Protein Data Bank - PDB
Alm da 2S apresentar atividade contra tripsina, como j citado anteriormente
muito destas protenas apresentam potencial biotecnolgico, podendo atuar como
agentes emulsificantes (BURNETT et al., 2002) , fungicidas (RIBEIRO, 2010),
bactericidas (NETO, 2009), Ribonuclease RNAse (FANG; WONG; LIN; NG, 2010)
atividade alergnica em humanos (NASCIMENTO et al., 2011).
As albuminas 2S podem estar associadas tambm reaes alrgicas. Embora o
mecanismo ligado ao potencial alergnico das albuminas, estudo indicam que essa
caracterstica pode estar relacionado regio denominada regio hiper varivel, que
corresponde aos aminocidos 30 -50, sendo possvel que este loop seja responsvel por
desencadear a produo de anticorpos do tipo IgG (Imunoglobulina do tipo G) e IgE
(Imunoglobulina do tipo E), o que desencadeia a produo de histamina, causando a
reao alrgica (MONSALVE et al., 2007).
47
3.2 OBJETIVOS
3.2.1 Objetivo Geral
Avaliar o perfil de protenas ligante quitina presentes em castanha de caju e o
efeito inibidor microbiano de albumina 2S ligante a quitina.
3.2.2 Objetivos Especficos
Extrair protenas das castanhas de caju;
Fazer uma cromatografia de afinidade em matriz de quitina;
Fazer eletroforese em gel de poliacrilamida com presena de SDS das pores
retidas na matriz cromatogrfica;
Precipitar protenas em sulfato de amnio;
Fazer eletroforese em gel de poliacrilamida com presena de SDS das fraes;
Fazer um teste de concentrao mnima inibitria contra microrganismos;
Realizar ensaio de atividade antibiofilme.
Quantificao da biomassa do biofilme
48
3.3 MATERIAIS E MTODOS
3.3.1 Extrao de protenas das Castanhas de CCP076
A fim de obter o melhor rendimento protico para uma posterior anlise da
atividade quitinsica foram preparados nove tampes de extrao com diferentes nveis
de pH . Os tampes utilizados foram:tampo glicina-HClpH2 e pH3; tampo acetato de
sdio pH4 e pH5; tampo fosfato de sdio pH6 e pH7, tampo tris-HClpH8;tampo
glicina-NaOH pH9 e pH10, todos em uma concentrao de 50mM.
A castanha do caju foi macerada com nitrognio liquido. A farinha obtida, ento,
foi de lipidada em acetona e misturada em tampo de extrao na proporo de 1:14
(M/V) e deixada sob agitao por 2 horas a 25 C. Em seguida a soluo foi
centrifugada a 12.000 x g por 20 minutos a 4 C e coletado o sobrenadante.Os extratos
obtidos foram imediatamente utilizados para as anlises ou armazenados a -20 C.
3.3.2 Determinao da concentrao de protenas
A concentrao de protenas solveis foi determinada usando a metodologia
descrita por Bradford (1976). A cada 100 L de amostra (diluda ou no) foram
adicionados 2,5 mL do reagente de Bradford, e a mistura agitada e deixada em repouso.
As leituras de absorbncia a 595 nm foram realizadas a seguir, em espectrofotmetro
Genesys 10UV Scanning (Thermo Fischer Scientific - Waltham, MA, USA). A
concentrao proteica foi estimada utilizando uma curva obtida a partir de
concentraes conhecidas de albumina srica bovina (BSA).
3.3.3 Atividade Quitinsica
A atividade quitinoltica foi determinada segundo o mtodo colorimtrico
descrito por Boller (1985), tendo como parmetro a liberao de N-acetil-D-
glucosamina a partir da ao hidroltica da protena sobre a quitina coloidal, obtida a
partir de quitosana (MOLANO et al., 1977), pela metodologia descrita por Boller
(1992).
As amostras (250 L) foram incubadas com quitina coloidal 1% (m/v) (250 L)
a 37 C, por 1 h, com agitao constante A reao foi interrompida por aquecimento a
49
100 C, em banho-maria, por 5 min. Aps resfriamento, as amostras foram
centrifugadas (13.000 x g, 10 min, a 25 C) e o sobrenadante (300 L) foi transferido
para novo tubo, contendo - glucuronidase (10 L). A mistura foi incubada a 37 C por
1 h e a reao interrompida por aquecimento (100 oC, 5 min). Em seguida, tampo
acetato de sdio 0,05 M pH 5,2 (100 L) e tetraborato de potssio 0,6 M (190 L)
foram adicionados mistura, que foi novamente aquecida (100 C, por exatos 5 min).
Aps resfriamento em banho de gelo, foi adicionada soluo de p- dimetil amino
benzaldedo [DMAB 10% (m/v) preparado em cido actico contendo 12,5% de HCl
11,5 M] diluda 1x em cido actico PA. A mistura foi incubada a 37 C por 20 min e, a
leitura da absorbncia a 585 nm foi realizada.
Para o clculo da quantidade de acar liberado na reao, foi utilizada uma
curva padro construda a partir de concentraes conhecidas de N-acetil-D-
glucosamina, variando de 100 a 1.000 M (REISSIG et al., 1955). Uma unidade de
atividade enzimtica (U) foi definida por 1nmol de GlcNAc.
3.3.4 Eletroforese em gel de poliacrilamida em presena de SDS (PAGE-SDS)
A eletroforese de protenas (SDS-PAGE) foi realizada segundo protocolo de
Laemmli (1970), com modificaes para montagem dos gis (espessura de 2 mm) entre
placas de vidro. O gel de concentrao continha acrilamida 4% e SDS 1%, e foi
montado em tampo Tris-HCl 0,5 M pH 6,8, enquanto que o gel de separao possua
acrilamida 15% e SDS 1%, montado em tampo Tris-HCl 3 M pH 8,8. As amostras a
serem analisadas foram diludas em tampo de amostra [Tris-HCl0,0625 M, pH 6,8;
SDS 2% (m/v) e azul de bromofenol 0,001%(m/v)], aquecidas a 100 C por 7 min,
resfriadas a temperatura ambiente. A corrida eletrofortica foi realizada a voltagem
constante de 120 V em tampo decorrida Tris-HCl 0,025 M pH 8,3, contendo glicina
0,192 M e SDS 0,1% (m/v). Aps acorrida, os gis foram corados com soluo de Azul
Brilhante de Coomassie R-250 0,2%(m/v), preparado em metanol 50% (v/v), cido
actico 10% (v/v). Para deteco das bandas de protenas, e descorados com uma
soluo deisopropanol 12,5% (v/v), cido actico 10% (v/v).
50
3.3.5 Cromatografia de afinidade em matriz de quitina
A cromatografia foi realizada utilizando uma matriz de quitina bruta lavada com
HCl 0,1 M, NaOH 0,1 M e gua. Aps a montagem a coluna foi equilibrada em tampo
acetato de sdio no mesmo pH de extrao da amostra. Os picos retidos foram eludos
com cido actico 0,1 M e 0,5M e logo em seguida foram dialisados contra tampo
acetato de sdio 50 mM no mesmo pH do equilbrio.
No processo cromatogrfico, o fluxo de eluio foi de 1mL/min,cada alquota
com 3 mL. Todas elas foram analisadas por medida da absorbncia a 280 nm (A280) em
espectrofotmetro Genesys 10UV Scanning (Thermo Fischer Scientific - Waltham, MA,
USA).
3.3.6 Precipitao com Sulfato de Amnio
O extrato proteico foi submetido precipitao com sulfato de amnio
(NH4)2SO4, empregando trs intervalos de saturao: 0-30% (m/m), 30-60% (m/m), 60-
90% (m/m). A cada saturao com sulfato de amnio a soluo foi deixada em descanso
por uma noite (overnight), centrifugada a 12.000 x g por 20 minutos e coletado o
precipitado.
3.3.7 Ensaio de atividade antimicrobiana (CIM)
A atividade antibacteriana do extrato dever ser verificada segundo o teste
de microdiluio em placas de poliestireno de 96 poos, padronizada segundo a diretriz
M07 A 9 edio, Metodologia para Testes de Sensibilidade aos Antimicrobianos por
Diluio para Bactrias de Crescimento Aerbico (CLINICAL AND LABORATORY
STANDARDS INSTITUTE, 2012).
Para o teste com a albumina, cada poo da placa ser preenchido com 100
L de meio de cultura SDB caldo estril com exceo da primeira linha, a qual vai ser
preenchida com 200 L da frao proteica na concentrao de 1.640 g.mL. Sero
feitas diluies seriadas na base dois para obteno de diferentes concentraes
proteicas. Em seguida 100 L de bactria 2 x 106 UFC.mL-1sero adicionados aos poos
da placa obtendo um volume final de 200 L com concentrao bacteriana de 1 x 106
UFC.mL-1. Os poos que contiver apenas inculo e meio de cultura SDB caldo estril
51
devero ser utilizados como controle de crescimento da bactria e poos que tiverem os
tratamentos antimicrobianos sem a presena de inoculo sero utilizados como controle
de turbidez. Para determinao da Concentrao Inibitria Mnima (CIM), ser
considerada a menor concentrao de capaz de inibir visualmente o crescimento
bacteriano aps 24 h de incubao.
3.3.8 Ensaio de atividade antibiofilme
As placas de poliestireno de fundo chato sero montadas como descrito
anteriormente. Entretanto, aps 24 h de incubao aerbica em estufa a 37 C a
biomassa do biofilme formado ser quantificada atravs da colorao com Cristal
Violeta (CV) como descrito a seguir.
3.3.9 Quantificao da biomassa
Para a quantificao da biomassa com CV, as clulas planctnicas sero
removidas e os poos lavados trs vezes com gua destilada. Aps secagem da placa a
temperatura ambiente, 200 L de lcool metlico P.A. sero adicionados e deixados em
contato por 15 minutos para fixao das clulas aderidas. Aps a remoo do metanol,
200 L de CV 0,1% sero ainda adicionados por 10 minutos para permitir uma
quantificao indireta da biomassa do biofilme atravs da colorao. Em seguida o CV
ser removido e repetir-se- o processo de lavagem e secagem da placa onde sero
adicionados 200 L de cido actico 33% por 10 minutos para dissoluo do corante
preso ao biofilme. A suspenso obtida em cada poo ser transferida para uma nova
placa de 96 poos e ser realizada a medio da absorbncia com o auxlio de um leitor
de microplacas a 590 nm.
52
3.4 RESULTADOS E DISCUSSES
A partir de evidencias da presena de quitinases no transcriptoma do Cajueiro
ano-precoce CCP76 resolveu-se avaliar as condies nas quais as proteinas ligantes
quitina atuam. Os estudos sobre quitinases em Anacardium occidentale so escassos. O
nico trabalho envolvendo essa enzima foi publicado em 1991 por Marques e Xavier
Filho. Esse trabalho avalia a atividade enzimtica e inibitria do exsudato do cajueiro
mostrando a presena de quitinase.
Devido a essa escassez de dados referentes presena de quitinases e sua
atividade cataltica em Anacardium occidentale foi iniciada uma investigao para
determinar as condies ideais de funcionamento dessas protenas nas sementes desse
organismo.
3.4.1 Extrao de protenas solveis
A fim de obter o melhor rendimento proteico para uma posterior anlise da
atividade quitinsica foram preparados nove tampes de extrao com diferentes nveis
de pH. Os extratos proteicos apresentaram as seguintes concentraes: 0,38 mg/ml em
tampo glicina-HCl pH2;1,62 mg/ml em tampo glicina-HCl pH3;1,17 mg/ml em
tampo acetato de sdio pH4;3,89 mg/ml em tampo acetato de sdio pH5;5,79 mg/ml
em tampo fosfato de sdio pH6;12,65 mg/ml em tampo fosfato de sdio pH7, 15,24
mg/ml em tampo tris-HCl pH8; 15,17 mg/ml em tampo glicina-NaOH pH9; 16,18
mg/ml em tampo glicina-NaOH pH10 (Grfico 1).
Silva e coladoradores (2012) observaram uma maior concentrao de protenas
totais de Eichhornia crassipes utilizando tampes de extrao com nveis de pH mais
elevados corroborando com os resultados obtidos nesse trabalho. Tonelli e
colaboradores (2015) tambm conseguiram um maior rendimento proteico usando um
tampo mais alcalino para extrao proteica de sementes de Albizianio poides.
3.4.2 Ensaio da atividade quitinsica
As condies para que uma quitinase seja ativa so bastante variveis de acordo
com o organismo em que atua ou produzida de maneira heterloga. A quitinase da
classe III de Bambusa oldhamii tem sua atividade quitinsica estvel em pH 3,0 e 4,0
53
(KUO et al., 2008). J a endoquitinase de Limonium bicolor, produzida em Pichia
pastoris, que tem sua atividade quitinsica mantida estvel em uma faixa de pH 3,0
pH 10,0 (LIU et al., 2010).
Desse modo, para chegar condio tima de atividade das quitinases presentes
na amndoa do caju CCP076 foi realizado um ensaio quitinoltico de todos os extratos
proteicos brutos em seus respectivos valores de pH. Os extratos proteicos apresentaram
as seguintes atividades totais: 580,50 U em tampo glicina-HClpH2; 580,50 U em
tampo glicina-HCl pH3; 446,55 U em tampo acetato de sdio pH4; 626,35 U em
tampo acetato de sdio pH5; 548,64 U em tampo fosfato de sdio pH6; 473,09 U em
tampo fosfato de sdio pH7, 252,59 U em tampo tris-HCl pH8; 208,38 U em tampo
glicina-NaOH pH9; em tampo glicina-NaOH pH10 no houve atividade (Grfico 1).
Aps observaros extratos com pH 4, 5 e 6 com os resultados mais promissores, na
atividade quitinoltica total (Grfico 2) e da atividade por ml obtido (Grfico 3), as
anlises seguiram como descritas posteriormente. Antes de dar continuidade com a
investigao, as amostras foram submetidas a uma dilise para certificar-se do pH
presente na amostra, visto que foi observada uma mudana desse nos extratos proteicos
(dados no mostrados).
Grfico 1 Concentrao de protenas solveis em mg/ml em diferentes tampes de extrao.
pH
2
pH
3
pH
4
pH
5
pH
6
pH
7
pH
8
pH
9
pH
10
0
5
1 0
1 5
2 0
Pro
ten
as
so
lv
eis
mg
/mL
pH2 (tampo glicina-HCl), pH3 (tampo glicina-HCl), pH4 (tampo acetato de sdio), pH5
(tampo acetato de sdio), pH6 (tampo fosfato de sdio), pH7 (tampo fosfato de sdio), pH8
(tampo tris-HCl) pH9 (tampo glicina-NaOH) pH10 (tampo glicina-NaOH). Fonte:autor.
54
Grfico 2 Atividade quitinsica total dos extratos proteicos em diferentes pH.
pH
2
pH
3
pH
4
pH
5
pH
6
pH
7
pH
8
pH
9
pH
10
0
2 0 0
4 0 0
6 0 0
8 0 0
Ati
vid
ad
e T
ota
l (U
)
Valores de pH em que ocorreram a atividade quitinsica: pH2(tampo glicina-HCl), pH3
(tampo glicina-HCl), pH4 (tampo acetato de sdio), pH5 (tampo acetato de sdio), pH6
(tampo fosfato de sdio), pH7 (tampo fosfato de sdio), pH8 (tampo tris-HCl) pH9 (tampo
glicina-NaOH) pH10 (tampo glicina-NaOH). Fonte: autor
Grfico 3 Atividade quitinsica em unidades em cada 1mL (U/mL) dos extratos proteicos em
diferentes pH
pH
2
pH
3
pH
4
pH
5
pH
6
pH
7
pH
8
pH
9
pH
10
0
5 0
1 0 0
1 5 0
Ati
vid
ad
e (
U/m
L)
Valores de pH dos tampes em que ocorreram a atividade quitinsica: pH2(tampo glicina-
HCl), pH3 (tampo glicina-HCl), pH4 (tampo acetato de sdio), pH5 (tampo acetato de
sdio), pH6 (tampo fosfato de sdio), pH7 (tampo fosfato de sdio), pH8 (tampo tris-HCl)
pH9 (tampo glicina-NaOH) pH10 (tampo glicina-NaOH). Fonte: autor
55
Novos ensaios quitinolticos foram realizados com os extratos dialisados e uma
alterao no padro dos resultados foi observada (Grfico 4). Houve uma significante
reduo da atividade quitinoltica no pH 4 aps a dilise de 3117 U para 1339U -
reduzindo o potencial de uso das enzimas nessa faixa de pH. O extrato no pH 5 manteve
a mesma faixa de atividade de antes da dilise e no pH 6 houve um aumento da
atividade enzimtica indo de 1623 U para 2403 U. Quando feita uma proporo das
unidades enzimticas pelo volume do extrato (Grfico 5), tambm se observou o extrato
com pH 5 com a maior atividade quitinoltica. As protenas relacionadas patognese,
como as quitinases, apresentam propriedades fsico-qumicas tpicas como estabilidade
em pH baixo, corroborando com os resultados obtidos. Essas protenas ainda so
resistentes a ao de enzimas proteolticas e possuem estabilidade trmica
(CAVALCANTI; BRUNELLI; STANGARLIN, 2005).
Quitinases extradas de sementes de Cucumis melo e Tamarindus indica
apresentaram atividade em pH 5 (WELBAUM et al., 2003; KUMAR et al.,2009).
Endoquitinases de Zea mays e Coix lachryma-jobi mostratam pH timo no mesmo valor
e mesmo tampo desse estudo (ZHE-FU, 1992). Assim como, Chang e colaboradores
(2014) que isolaram uma endoquitinase da famlia GH19 de Glycine max nas mesmas
condies corroborando com os resultados obtidos nesse estudo. Quitinases de sementes
de lentilha vermelha (Lens culinaris) demonstraram atividade enzimtica e inibitria em
pH 5 (WANG , 2007).
3.4.3 Cromatografia de afinidade em matriz de quitina
Aps a eleio do pH 5 como o ideal para a atividade das quitinases presentes no
proteoma da castanha, o extrato proteico sob essas condies foi submetido a uma
cromatografia com matriz de quitina a fim de selecionar as protenas com domnio de
ligao quitina das demais. A cromatografia apresentou um perfil com dois picos
principais. O primeiro pico eludo com acido actico a 0,1 M apresentou uma
absorbncia de 2,372 nm na frao 55, enquanto o segundo, eludo com acido actico
0,5 M , apresentou absorbncia de 218 nm na frao 85.
56
Grfico 4 Atividade quitinsica total dos extratos proteicos em diferentes pH antes e depois da
dilise.
Valores de pH dos extratos proteicos em que ocorreram a atividade quitinsica: pH4:(tampo
acetato de sdio), pH5 (tampo acetato de sdio), pH6 (tampo fosfato de sdio); pH4D extrato
dialisado, pH5D extrato dialisado, pH6D:extrato dialisado. Fonte: autor
Grfico 5 Atividade quitinsica em unidades em cada 1mL (U/mL) dos extratos proteicos em
diferentes pH antes e depois da dilise.
Valores de pH dos extratos proteicos em que ocorreram a atividade quitinsica: pH4:(tampo
acetato de sdio), pH5 (tampo acetato de sdio), pH6 (tampo fosfato de sdio); pH4D extrato
dialisado, pH5D extrato dialisado, pH6D:extrato dialisado. Fonte: autor.
pH
4
pH
5
pH
6
pH
4 D
pH
5 D
pH
6 D
0
1 0 0 0
2 0 0 0
3 0 0 0
4 0 0 0
5 0 0 0
Ati
vid
ad
e T
ota
l (U
)
pH
4
pH
5
pH
6
pH
4 D
pH
5 D
pH
6 D
0
2 0
4 0
6 0
8 0
Ati
vid
ad
e (
U/m
L)
57
Grfico 6: Cromatografia de afinidade realizada com matriz de quitina do extrato proteico em
tampo acetato de sdio pH5.
Equilbrio: tampo acetato de sdio50mM a pH 5; Eluio: acido actico 0,1 M (a) e 0,5 M (b)
em fluxo constante de 1 mL/min. Fonte:autor.
Esse perfil cromatogrfico (Grfico 6) evidencia a presena de dois tipos de
protenas ligantes a quitina com interaes diferentes no stio de ligao. A primeira
frao proteica com uma ligao mais fraca e a segunda frao com uma interao mais
forte. A fim de avaliar a atividade quitinoltica das protenas retinas na matriz, alm de
sua afinidade quitina, foi realizado um ensaio quitinsico nas fraes cromatograficas.
Foram submetidas atividade o pico no retido e as fraes eludas com acido actico
0,1M e 0,5M (Grficos 7 e 8).
A frao no retida apresentou atividade cataltica, assim como, a primeira
frao, eluda com cido actico 0,1M, apresentou atividade quitinsica. A concentrao
protica submetida cromatografia pode ter sido superior a quantidade mxima de
ligao da matriz deixando-a saturada, dessa forma, quitinases podem ter passado pela
matriz sem ligar-se quitina dando frao no retida um perfil cataltico. A primeira
frao apresentou atividade cataltica assim como afinidade ao substrato, evidenciando
quitinases com dois domnios em sua estrutura. O perfil proteico da frao no retida e
dos picos retidos mostrado no SDS-PAGE (Figura 19).
58
Grfico 7 - Atividade quitinsica total dos picos cromatogrficos do extrato em tampo acetato
de sdio pH 5,0.
PNR: Pico no retido na matriz de quitina; PR0,11: Pico retido na matriz de quitina e eludo
com cido actico 0,1M ; PR0,5: Pico retido na matriz de quitina e eludo com cido actico
0,5M. Fonte: autor
Grfico 8 - Atividade quitinsica (U/mL) dos picos cromatogrficos do extrato em tampo
acetato de sdio pH 5,0.
PNR: Pico no retido na matriz de quitina; PR0,11: Pico retido na matriz de quitina e eludo
com cido actico 0,1M ; PR 0,12: Pico retido na matriz de quitina e eludo com cido actico
0,1M; PR0,5: Pico retido na matriz de quitina e eludo com cido actico 0,5M. Fonte: autor
PN
R
PR
0,1
.1
PR
0,1
.2
PR
0,5
0
5 0
1 0 0
1 5 0
Ati
vid
ad
e (
U/m
L)
59
O segundo pico, retido na matriz de quitina e eludo com cido actico 0,5M,
no apresentou atividade quitinsica. Esse resultado uma evidncia da presena de
quitinase-like (QTL) que corrobora com os resultados adquiridos in silico. No
transcriptoma analisado foi identificado contigs com alto grau de similaridade com
quitinases-like de Cicer arietinum, Citrus sinensis e Vitis vinifera embasando a
afirmao anterior. Essas proteinas compartilham alta similaridade na estrutura e
sequncia com quitinases das famlias GH18 e 19, podendo no ter a ligao ou
atividade cataltica devido presena de substituies no domnio de ligao quitina.
(KESARI et al., 2015) A anlise gentica molecular revela que os acontecimentos da
duplicao de genes, seguido de mutao no gene da quitinase existente resultaram na
perda dessa atividade (BUSSINK et al., 2007).
As QTLs tm um grande potencial biotecnolgico, elas so conhecidas por inibir
o crescimento dos fungos pela inibio de xilanases fngicas (PAYAN et al., 2003;
KUMAR et al., 2010). Em outras protenas tais DLQ evoluiram para reconhecer
molculas de quitina desempenhando assim um papel importante nos processos de
crescimento e desenvolvimento (KESARI et al., 2015)
Figura 19: Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) a 15% de protenas de amndoas
de cajueiro extradas e fracionadas em pH5 e coradas com de Azul Brilhante de Coomassie R-
250.
MW/KDa: marcador de baixo peso molecular com bandas variando de 14,4 a 97 KDa. Ext:
extrato proteico extrado em tampo acetato de sdio com pH5. ExtD: Extrato proteico
dialisado. NR: pico no retido na matriz cromatogrfica; P1: Pico eludo com acido actico
0,1M; P2: pico eludo com cido actico 0,1M; P3: Pico retido com cido actico 0,5M. Fonte:
autor.
60
3.4.4 Avaliao de albuminas 2S presentes na castanha de CCP076
As protenas foram extradas em tampo glicina pH 2 e logo em seguida
submetidas a um fracionamentos por sulfato de amnio. Aps o fracionamento, a
concentrao proteica foi mesurada e os precipitados foram submetidos a uma
eletroforese SDS-PAGE (Figura 20). O extrato proteico bruto apresentou uma
concentrao de 0,3 mg/mL, a frao 0-30% apresentou uma concentrao de 0,17
mg/mL; a frao 30-60% obteve uma concentrao 2,5 mg/mL; e a frao 60-90%
apresentou concentrao de 1,64 mg/mL (Grfico 9). Na raia com do gel SDS-PAGE
com a frao 60-90%