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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH) Departamento de Estudos e Processos Museológicos (DEPM) Escola de Museologia Um outro olhar sobre o subúrbio através do bairro de Marechal Hermes Karina Fatima Gonçalves de Souza Rio de Janeiro 2011.1

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH)

Departamento de Estudos e Processos Museológicos (DEPM)

Escola de Museologia

Um outro olhar sobre o subúrbio

através do bairro de Marechal Hermes

Karina Fatima Gonçalves de Souza

Rio de Janeiro

2011.1

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Karina Fatima Gonçalves de Souza

Um outro olhar sobre o subúrbio

através do bairro de Marechal Hermes

Monografia apresentada à Escola de

Museologia da Universidade Federal

do Estado do Rio de Janeiro-

UNIRIO- como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em

Museologia, desenvolvida sob a

orientação da Profª. Avelina Addor.

Rio de Janeiro

2011.1

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Autora: Karina Fatima Gonçalves de Souza

Título: Um outro olhar sobre o subúrbio através do bairro de Marechal Hermes

Monografia apresentada à Escola de

Museologia da Universidade Federal

do Estado do Rio de Janeiro-

UNIRIO- como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em

Museologia, desenvolvida sob a

orientação da Profª. Avelina Addor.

Comissão Examinadora

____________________________________

Professora Ms. Avelina Addor/UNIRIO

____________________________________

Professor Dr. Antônio Carlos de Carvalho/UNIRIO

____________________________________

Professor Dr. José Mauro Matheus Loureiro/UNIRIO

Rio de Janeiro

2011.1

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Dedico aos admiradores do

subúrbio e do que é suburbano,

em especial aqueles que lutam em

proteção da memória do bairro de

Marechal Hermes e aos que

simplesmente...

respeitam-os (nos).

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AGRADECIMENTOS

A Deus que nos momentos de desânimo me deu forças para continuar na elaboração

deste trabalho, através da minha família, meus professores e amigos.

À minha mãe Maria, que sempre me incentivou em todas as horas.

À minha querida orientadora, Profª. Ms. Avelina Addor, por ser uma pessoa acessível,

pela confiança depositada.

Ao meu simpático amigo Prof. Dr. Sul Brasil, pelas conversas agradáveis e sugestões.

Ao professor Dr. Ivan Coelho de Sá (diretor da Escola de Museologia) e aos seus

estagiários pelo apoio.

Às instituições pelo acesso às documentações, como: Arquivo Geral da Cidade do Rio de

Janeiro; Associação de Moradores de Marechal Hermes; Biblioteca do Ministério de

Guerra (Exército); Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio de

Janeiro; Fundação Biblioteca Nacional; Supervia; Instituto Pereira Passos; Teatro

Armando Gonzaga; Parque IV Centenário de Marechal Hermes, Ponto de Cultura

Memória do Subúrbio da Vila Proletária de Marechal Hermes; Projeto Disco Voador

(responsáveis professores e alunos).

Aos moradores e não-moradores que aceitaram responder o questionário e que muito

contribuíram para o enriquecimento do estudo.

Aos amigos da UNIRIO, em especial: Cintia Figueiredo, Hugo Didier, Letícia França

Machado, Mírian Spitzer, Pedro Vasconcellos e Rodrigo Mattos pelas conversas,

sugestões e amizade.

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Tramas e Trilhos

No tic-tac das horas repasso minha vida

Entre tantas idas e vindas nesse trem da central

Minha mente segue o caminho dos trilhos

Enquanto o corpo acomoda-se no banco azul, lateral.

O caminho já se faz conhecido, nas mesmas horas, tudo igual

Sigo o destino-subúrbio

Corpo cansado, ombro arriado, mais um dia normal.

Nessas horas me toma o Sr. Devaneio

Carcereiro fantástico de uma mente plural

Teço entre as paradas meus contos

Tramas que vejo nos rostos sem nome

Peças viventes no palco do mundo real

Indo das análises críticas ao folguedo

Da construção do personagem ao enredo

Quando me dou conta a estória se finda

Estação Marechal.

Gledson Vinícius

(poeta morador do bairro)

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RESUMO

SOUZA, Karina Fatima Gonçalves de. Um outro olhar sobre o subúrbio através do bairro de

Marechal Hermes. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Museologia). Centro

de Ciências Humanas e Sociais- UNIRIO, Rio de Janeiro, 2011.

Este trabalho de conclusão de curso aborda o bairro de Marechal Hermes, localizado na zona

norte do município do Rio de Janeiro. O ponto inicial para o desenvolvimento tem origem na

discussão acerca do conceito subúrbio e o estigma que o “intoxica” e na tentativa de expurgar

tal ideia, Marechal Hermes é escolhido para provar que é um bairro suburbano, local que tem

importância histórico-cultural na cidade do Rio de Janeiro, até mesmo para o restante do país,

por ter sido um bairro criado por iniciativa do governo com propostas consideradas avançadas

para o início do século XX. Identifica alguns locais e características que o diferenciam de

outros bairros do subúrbio carioca, de onde surge manifestação festiva presente no carnaval

carioca (os bate-bolas) ou idéias criativas para cobrar atenção dos órgãos públicos (boneco

João Buracão) e que despertaram a curiosidade e inspirou produções cinematográficas, como

o filme Chuvas de Verão, de Cacá Diegues. Aponta a relação entre moradores e pessoas que

frequentam a região sob o aspecto de conhecer a história do bairro de Marechal Hermes e

preservação da memória deste, além da existência ou não da identificação desses locais e

manifestações culturais.

Palavras-chave: Marechal Hermes, subúrbio carioca, estigma, Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

Introdução____________________________________________________________10

Capítulo I- Conhecendo Marechal Hermes_______________________________14

1.1. História do bairro de Marechal Hermes _________________________________14

1.2. Presidente Marechal Hermes da Fonseca ________________________________16

1.3. Localização e delimitação geográfica __________________________________19

1.4. Dados do Censo ___________________________________________________21

1.5. Relação subúrbio e suburbano ________________________________________22

Capítulo II- Bens tombados valorizados?Reconhecidos? __________________26

2.1. Estação Ferroviária Marechal Hermes _________________________________27

2.2. Instituições Educacionais ___________________________________________30

2.2.1. Escola Municipal Evangelina Duarte Batista _______________________30

2.2.2. Escola Municipal Santos Dumont ________________________________ 31

2.2.3. Escola Municipal Paraguai ______________________________________34

2.2.4. Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá ________________________37

2.2.5. Colégio Estadual Professor Jose Accioli ___________________________39

2.3. Teatro Armando Gonzaga ___________________________________________40

3. Capítulo III- Diversão, desaparecimento e inspiração _____________________42

3. 1. Bate-bolas de Marechal Hermes ______________________________________42

3.2. Baile Charme-Disco Voador ________________________________________46

3.3. Parque IV Centenário de Marechal Hermes ______________________________49

3.4.O descaso ao patrimônio do bairro: os desaparecidos... ____________________52

3.4.1.Cine Lux _____________________________________________________52

3.4.2.O coreto _____________________________________________________53

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3.4.3.Palacete _____________________________________________________54

3.5. Marechal nas telinhas e telonas do Brasil _______________________________ 56

Considerações Finais _________________________________________________58

Referências _________________________________________________________62

Anexo I- Modelo de questionário _______________________________________68

Anexo II- Resultados do questionário ___________________________________72

Anexo III- Registro de entrevistas presenciais e por meio eletrônico _________ 77

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INTRODUÇÃO

A escolha do tema, a memória do bairro de Marechal Hermes, inicialmente,

deveu-se ao interesse e à curiosidade despertada ainda na infância em saber por que as

residências localizadas na região da Rua João Vicente (próxima à via férrea) e as que

são próximas ao Hospital Estadual Carlos Chagas,na Avenida General Osvaldo

Cordeiro Farias,são parecidas quanto ao aspecto arquitetônico; outros motivos

contribuíram para um entendimento maior acerca do assunto: por ser o bairro onde

nasci (em 1985) na Maternidade Alexander Fleming, sendo este mesmo local onde fiz

tratamento dentário por 14 (quatorze) anos; por ir à casa da minha avó semanalmente,

localizada na rua Sirici; por frequentar na minha infância o Parque IV Centenário

(Parque de diversões), cujo local encontra-se ainda em funcionamento e servir como

referência não só para moradores, mas para alguém que deseja chegar ao bairro,

encontrar alguma rua, como exemplo quando alguém pergunta: Você mora em que

lado de Marechal? Do lado do Hospital (Hospital Estadual Carlos Chagas) ou do lado

do Parque (se referindo ao Parque IV Centenário) porque o bairro é dividido pela

linha férrea, que possui uma linda estação ferroviária, curiosidades que permanecem

até hoje e o estudo buscará respondê-las. Além disso, sou moradora do bairro desde

2001.

Identificar e comprovar que o bairro de Marechal Hermes tem potencial, possui

locais que contribuem para o contexto histórico-cultural da cidade do Rio de Janeiro,

foram fatores que mais motivaram para tal pesquisa.

Descobrir se os moradores percebem/reconhecem ou não a importância do

bairro, tentando retirar o estigma de que as áreas do subúrbio carioca representam

pouco ou nada para a cidade do Rio de Janeiro. Saber melhor se o poder público se

interessa pela região no tocante ao aspecto cultural em relação às instituições que

representam história/memória da localidade, tendo em vista que em estudo prévio,

existem alguns bens tombados como: Escola Municipal Santos Dumont, Teatro

Armando Gonzaga e a Estação Ferroviária de Marechal Hermes.

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O objetivo deste trabalho de conclusão do curso de graduação em Bacharel em

Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) é

entender mais sobre a história do bairro e descobrir porque este apresenta

características diferentes de outros bairros suburbanos, como exemplos: escolas,

residências e principalmente a Estação Ferroviária, por ser a única do ramal Deodoro a

ter aspecto arquitetônico diferenciado das outras estações. Saber também porque o

bairro serviu de cenário para a novela Pecado Capital de Glória Perez (2ª versão-

filmada no bairro em 1998-1999) e até mesmo para o filme premiado, como Chuvas

de Verão (1978), de Cacá Diegues.

Pode parecer pretensão, mas também como objetivo é recuperar a memória do

bairro de Marechal Hermes através dos moradores e das instituições existentes, devido

às modificações que as edificações estão sofrendo (descaracterização), tendo em vista

que muitos moradores desconhecem o próprio bairro em que vivem. Buscar

referências sobre o bairro, pois são poucas e compreender as suas características, por

serem estas consideradas diferentes se comparadas com outros bairros do subúrbio

carioca.

Quanto aos estudos, estes caracterizam- se como interdisciplinares, pois os

aspectos históricos, sociológicos e museológicos se relacionam, porque serão

abordadas: as relações dos moradores com o patrimônio material e imaterial como

exemplos os grupos de bate-bolas que serão abordados em capítulo específico,

posteriormente.

As hipóteses levantadas foram:

Até que ponto os moradores do bairro identificam a existência de um

patrimônio material e imaterial do bairro?

Em que medida há interesse dos moradores pelo bairro no tocante à memória

do bairro?

O bairro representa ou tem importância em suas vidas (moradores)?

De que modo o bairro influencia nas relações humanas dos moradores

aproximando-os ou afastando-os?

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Até que ponto existe alguma preocupação dos moradores em registrar e/ou

preservar a memória em relação ao bairro?

Os procedimentos metodológicos deram-se das seguintes formas: acesso às

fontes de informação na Biblioteca Nacional, Arquivo Geral da Cidade do Rio de

Janeiro, Instituto Pereira Passos, Centro de Referência de Educação Pública da Cidade

do Rio de Janeiro, Biblioteca do Ministério de Guerra. Numa segunda etapa, foram

aplicados questionários (ANEXO I) aos moradores e às pessoas que trabalham ou

frequentam Marechal Hermes. Algumas respostas foram obtidas por intermédio da

Associação de Moradores de Marechal Hermes, dos responsáveis e alunos do Projeto

Disco Voador (local onde são realizadas atividades desportivas voltadas para os

moradores do bairro e arredores), dos frequentadores e funcionários do Parque IV

Centenário de Marechal Hermes, de pessoas que trabalham no Ponto de Cultura Arte e

Memória no Subúrbio: Vila Proletária Marechal Hermes.

Num primeiro momento, ainda nas pesquisas bibliográficas, percebi o quanto é

difícil encontrar livros, documentos referentes ao subúrbio carioca, e mais complicado

encontrar algo sobre o bairro de Marechal, pior foi ouvir de uma funcionária da

biblioteca do Instituto Pereira Passos a seguinte expressão: “Minha filha, tem certeza

que você quer alguma coisa sobre Marechal Hermes? Por que você não escolhe outro

bairro? Não tem nada aqui!” Confesso que essa fala me deu mais ânimo e com pouca

vontade a funcionária foi procurar algum texto, livro e encontrou uma dissertação

(OLIVEIRA1) sobre o bairro que muito contribuiu nesse meu trabalho de conclusão de

curso.

No capítulo 1, o bairro de Marechal Hermes é apresentado através da sua

história e idealização do Presidente Marechal Hermes, sendo sua biografia descrita

brevemente. A localização da região e os dados do Censo serão indicados. Também a

questão de ser um bairro suburbano e pré-conceito e estigma “subúrbio” que envolve

essa região serão explicitados.

Quanto ao capítulo 2, são destacados os bens tombados na localidade, como a

Estação Ferroviária, algumas escolas municipais e estaduais e o Teatro Armando

1 Vila Proletária Marechal Hermes: uma utopia urbana.

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Gonzaga, contendo a história de cada um e alguns trechos de reportagens que citavam

esses bens.

Referente ao terceiro e último capítulo, serão abordados bens que a autora

considera imaterial, mesmo que não sejam reconhecidos por algum órgão oficial, mas

que tem um alto grau de relevância, como o grupo de bate-bolas. Contará ainda sobre os

bailes charme realizado no Disco Voador e que ainda está presente na memória de

muitos; um pouco sobre o Parque IV Centenário de Marechal Hermes e alguns locais

desaparecidos com o Cine Lux, o Coreto e o Palacete, além de apontar filmes e novela

em que Marechal Hermes serviu de cenário nas produções e a justificativa para tal

escolha.

Olhares e idéias de algumas pessoas que são responsáveis por alguns locais no

bairro que se destacam e/ou que tem alguma atuação um pouco mais intensa na região,

estão registrados no ANEXO III, sendo estes entrevistas presenciais e por meio

eletrônico.

Nas considerações finais encontram-se algumas percepções resultantes do

questionário aplicado aos moradores e não-moradores do bairro, além das possíveis

respostas às hipóteses que deram origem a este.

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Capítulo I - Conhecendo Marechal Hermes

1.1. História do bairro de Marechal Hermes

A Vila Marechal Hermes foi construída sob os terrenos desapropriados da Fazenda

Sapopemba, fundada por Gaspar da Costa em 1612, mas a desocupação inicialmente

ocorreu para construção da Vila Militar.

A inspiração do Marechal Hermes da Fonseca em construir vilas operárias surgiram

das viagens à Alemanha em 1908 e à França em 1910 países que há vilas construídas pela

indústria. Segundo Castro (2005) in Oliveira, Hermes “trouxe elaborados dossiês sobre as

modernas organizações sindicais e operárias, de direções corporativas do trabalho e da

providência social desses dois países” (citados anteriormente), além da Inglaterra, Suíça e

Holanda.

Essa idéia se intensifica no final das obras da Vila Militar em 1910. A Comissão

escolhida por Hermes da Fonseca para a construção da vila proletária foi incumbida ao

Tenente engenheiro Palmyro Pulcherio e a idéia é considerada pelo Conselho Municipal

como uma iniciativa avançada na tentativa de resolver o problema da habitação:

“(...) ato altamente patriótico (...) que não só interessa muito vivamente ao bem-estar do

proletário como contribui poderosamente para a definitiva solução do problema de saneamento e

embelezamento desta cidade2”

A criação da vila parecia algo incerto3·, devido às divergências políticas dentro do

próprio governo.

O lançamento da pedra fundamental da construção do bairro de Marechal Hermes

aconteceu no dia 1º de maio de 1911, homenageando a si próprio dando o nome da região

de Vila Operária Marechal Hermes.

2 Apud. Lobo Distrito Federal. Annaes do Conselho Municipal (1914)

3 Almanaque Suburbano, 1941

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“Esses edifícios que rodeiam nesse momento não são mais que o começo de um

programa que há de trazer definitivamente o conforto de que precisa o operário

brasileiro.” 4, discurso do Marechal Hermes da Fonseca na inauguração da Vila Operária

Marechal Hermes, em 1913.

Inicialmente a ocupação a vila destinava-se aos desabrigados do Morro do Castelo,

mas quem ocupou foram os apadrinhados e funcionários públicos.

A partir da citação anterior percebemos que a idéia de programa de habitação popular

é atribuída erroneamente ao Presidente Getúlio Vargas, este sim concluiu as obras

iniciadas no governo Hermes da Fonseca.

Com o término do governo de Hermes da Fonseca, o bairro ficou abandonado, sendo

“olhado” novamente pelo poder público em 1931. As obras foram retomadas por Vargas

e a posse da Vila foi passada ao Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos da

União (IPFPU). As ruas tiveram seus nomes alterados, antes era alusivo às datas

comemorativas e importantes movimentos trabalhistas, depois substituídos por nome de

militares.

4 Apud.Oliveira.in: O País,2 maio de 1913

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1.2. Presidente Marechal Hermes da Fonseca

Figura. 1. Marechal Hermes da Fonseca. Fonte:Jornal Livre

Hermes Rodrigues da Fonseca nasceu em 12 de maio de 1855, na cidade de São

Gabriel, no Rio Grande do Sul.

Em 1889 trabalhou como ajudante de ordens de Marechal Deodoro da Fonseca, seu

tio.

Já era Marechal quando foi convidado pelo Presidente Afonso Pena para ocupar o

cargo Ministro da Guerra. Promoveu a reorganização do Exército, instituiu a Lei do

Serviço Militar Obrigatório.

Foi eleito presidente do Brasil em 1910, por eleição direta, depois de acirrada disputa

com Rui Barbosa, líder da Campanha Civilista, governando até 1914. Sua eleição

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expressou o rompimento da "política do café com leite", devido às desavenças entre as

lideranças paulistas e mineiras e a emergência no cenário político da aliança do Rio

Grande do Sul com os militares.

Logo no início do seu governo eclode a Revolta da Chibata (1910), em que os

marinheiros se revoltaram contra os castigos físicos que recebiam por cometer faltas

graves. Depois outra revolta, a Guerra do Contestado (1912-1916), que não chegou a ser

debelada até o fim de seu governo.

Implantou a chamada “Política das Salvações“, que promovia intervenções federais,

geralmente violentas, nos Estados de Pernambuco, Bahia, Ceará e Alagoas, alegando que para

acabar com a corrupção desses estados, os militares deveriam estar na chefia desses.

Durante o seu governo, foi o único presidente a casar-se durante o mandato, sua

primeira esposa, Orsina Francioni da Fonseca, faleceu em 1912. Em homenagem a ela

nomeou a Vila proletária na Gávea e a escola situada na Vila Proletária Marechal Hermes,

atual Escola Municipal Santos Dumont.

Nair de Tefé, uma feminista, considerada uma pessoa à frente do seu tempo, foi sua

segunda esposa.

Faleceu na cidade de Petrópolis (RJ) em 1923.

No dia 15 de junho de 2011 foi reinstalado, na Praça Montese, o busto de bronze

(figura 1) em homenagem ao Marechal Hermes da Fonseca, sob a responsabilidade da

Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos. O monumento foi inaugurado na

década de 1950 e retirado em 2003. Essa ação demonstra como o bairro está conseguindo aos

poucos a atenção da Prefeitura.

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Figura. 2.Monumento ao Marechal Hermes da Fonseca.

Acervo da autora

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1.3. Localização e delimitação geográfica

Para melhor compreensão e visualização, o mapa abaixo, em destaque refere-se ao bairro

de Marechal Hermes, que se enquadra na XV Região Administrativa composta pelos

seguintes bairros: Campinho, Cavalcante, Quintino Bocaiúva, Engenheiro Leal, Cascadura,

Madureira, Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro, Vaz Lobo, Turiaçu, Rocha Miranda e Honório

Gurgel- zona norte do município do Rio de Janeiro.

Figura. 3.Mapa da cidade do Rio de Janeiro5

5Disponível:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Marechal_Hermes> .Acesso em: 21nov 2009.

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Figura. 4. Zona norte da cidade do Rio de Janeiro6. Destaque inserido pela autora.

6 Coleção Estudos da Cidade-Caderno Zona Norte - Publicado em Rio Estudos nº65 agosto-2002

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1.4. Dados do Censo

As informações contidas na tabela abaixo tem o intuito de apresentar bairro a partir da

sua composição enquanto à população, à sua estrutura de serviços tais como: hospitais,

escolas, até mesmo para dar noção de como o bairro tem um aspecto simples de bairro, porém

o número de serviços pode ser considerado igual ou superior a alguns municípios do estado

do Rio de Janeiro.

Tabela baseada nos dados do Portal Geo Rio7 e informações inseridas pela autora (*)

7 Disponível em :<http://portalgeo.rio.rj.gov.br/bairroscariocas/index_bairro.htm > Acesso em : 21 nov 2009.

Área Territorial (2003) 388,62ha ------------

Total da População (2000) 49.186 ------------

Masculino (2000) 23.110 ------------

Feminino (2000) 26.076 ------------

Total de Domicílios (2000) 14.618 ------------

Áreas Urbanizadas e/ ou Alteradas 98,81% ------------

Total de unidades escolares Municipais (2009) 11 ------------

Unidades escolares Municipais - pré-escola e

ensino fundamental (2009)

9 ------------

Unidades escolares Municipais –

creches (2009)

2 ------------

Unidade de saúde- emergência (*) 1 Hospital Estadual Carlos Chagas

(inaugurado em1936)

Unidade de saúde- emergência (*) 1 UPA (Unidade de Pronto Atendimento)-

Marechal Hermes (inaugurada em 2008)

Maternidade (*) 1 Maternidade Alexander Fleming

(inaugurada em1956)

Unidade de segurança (*) 1 30º Delegacia de Polícia

Unidade de trabalho (*) 1 Delegacia Regional do Trabalho

Unidade eleitoral (*) 2 Seções do Tribunal Regional Eleitoral

Unidade de Lazer (*) 2 Parque IV Centenário de Marechal

Hermes

Teatro Armando Gonzaga

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1.5. Relação subúrbio e suburbano

Os termos “subúrbio” e “suburbano” a tudo ou a quase tudo que são relacionados,seja

em novelas, reportagens (impressos ou não), em redes sociais físicas ou virtuais tem um

caráter pejorativo,são visto como sem cultura tanto as localidades como os seus moradores.

O significado de “subúrbio” tomou essa forma, segundo Nóbrega (1995) como um

conceito que tem um caráter particular na cidade do Rio de Janeiro.

Original do latim suburbiu é o mesmo que cercanias da cidade, o centro e que até o

final do século XIX, no Rio de Janeiro era especificamente voltado para a zona periférica da

cidade.

Durante o Império, o subúrbio era ocupado sem distinção de classe social, onde a

aristocracia frequentava as regiões de Inhaúma, Engenho da Rainha, Irajá, São Cristóvão,

Santa Cruz.

A partir das Reformas do Prefeito Francisco Pereira Passos no anos iniciais do século

XX em que há uma preocupação em dar um aspecto mais moderno e civilizado à capital da

República, o termo passa a ter um novo significado, associado ao valor social e econômico.

A despreocupação com habitação popular, a destruição de bairros populares da área

central, a necessidade das elites de excluir as classes mais pobres do cenário civilizado da

cidade do Rio de Janeiro e tentativa de remoção dessas classes para os subúrbios são alguns

fatores que “contribuem” para a nova concepção do termo subúrbio, “tem por objetivo

atender as necessidades políticas e ideológicas” 8. Remete às regiões onde há trem,

população mais pobre, subordinação à cidade em aspectos: jurídico, político, econômico e

cultural. Outro ponto importante é que além da higienização da cidade,havia um grande

interesse do governo em controlar a população que tinha envolvimento com o movimento

operário.

8 op.cit MARTINS (1982,59,60)

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Segundo Nóbrega9·, aos bairros periféricos da zona sul o conceito “subúrbio” é vetado

devido ao status social de quem habita esses locais.

A abertura do subúrbio ao proletariado nos anos de 1880 e 1890 é expressa por

Abreu10

como:

“... [é] um espaço novo e peculiar, socialmente estratificado e distante do centro, e onde a forma da

habitação (a casa) poderia até nem existir, bastando ao trabalhador a garantia do controle da base

territorial (lote) onde ela poderia ser construída no futuro... a questão [da habitação popular] não foi

resolvida.”

Laura Antunes Maciel11

nos indica outra definição de como é visto o suburbano:

“... não quer dizer apenas morador de subúrbio, mas carrega uma carga histórica de preconceitos e

discriminação social da pobreza na cidade, da ausência de direitos e até um sentido muito particular de

ausência de refinamento de hábitos, falta de bom gosto ou civilidade que seriam próprios,

característicos ou quase inerentes aos moradores desses bairros.”

Tentar desconstruir esse termo estigmatizado é um dos objetivos (citados na

introdução) desse trabalho e mostrar que a região suburbana tem cultura, história e não precisa

ser olhada com “piedade”, como local de carentes ou como em Clara dos Anjos, Lima Barreto

diz ser:“ o refúgio dos infelizes”.

Marechal Hermes, o bairro, será usado como exemplo, mas não deve ser considerado

como uma exceção, porque existem muitos problemas, mesmo tendo bastante serviços

9 In: O rapto ideológico da categoria subúrbio: Rio de Janeiro (1858-1945).

10 In: Da habitação ao habitat: a questão da habitação popular no Rio de Janeiro e sua evolução.

11 In:150 anos do subúrbio carioca,p.193

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(escolas, hospitais, maternidade, teatro), mas consequentemente acarreta a problemática de

conservação, de controle urbano segundo Ignácio Neto12

:

“... é um bairro que apresenta características, infra – estrutura de município. A presença de várias

pessoas de vários lugares exige uma manutenção, há um desgaste nos equipamentos, tem muitos

alunos, requer um olhar dos órgãos públicos, pois produz mais lixo. A questão dos hospitais e

sendo um estadual, a delegacia, atraem muitas pessoas.”

É necessário mostrar que o bairro não é percebido pelo próprio morador, às vezes nem

valorizado por este, como nos aponta Ronaldo Silva13

·, um dos responsáveis pelo Ponto de

Cultura Arte Memória no Subúrbio: Vila Proletária Marechal Hermes da necessidade de tal

valorização e quais são as atividades e parcerias para que p conhecimento seja disseminado.

Além do trabalho do ponto de cultura, o jornal Visão Suburbana, de acordo com

Gledson Vinícius14

, é “o meio de mostrar ao mundo que o subúrbio “se pensa pelos seus

próprios olhos também”.

Há também quem busque de maneira bem humorada de chamar atenção do poder

público para suas reivindicações através de um boneco chamado João Buracão. Criado por

Irandi Pereira da Rocha, borracheiro e morador do bairro que não suportava mais o buraco

enorme que havia na frente da oficina dele e depois de muitas reclamações junto ao poder

público, “nasceu” João Buracão. O boneco foi descoberto pescando em um imenso buraco em

2009.

12

Diretor do Teatro Armando Gonzaga.Ver entrevista na íntegra no anexo III 13

Ver entrevista na íntegra (anexoIII) 14

Ver entrevista na íntegra (anexoIII)

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Figura.5.João Buracão na rua Piraí,onde foi criado.Fonte: Jornal Extra.

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Capítulo II - Bens tombados valorizados?Reconhecidos?

Na região de Marechal Hermes encontra-se um número grande (incomum se

comparado a outros bairros da zona norte) de edifícios e áreas tombadas pela Prefeitura da

Cidade do Rio de Janeiro e em esfera estadual (Rio de Janeiro) pelo Instituto Estadual do

Patrimônio Cultural (INEPAC).

Além de edifícios, algumas áreas de entorno do bem tombado também foram

protegidas e qualquer intervenção nos imóveis e seus entornos são analisados pelo Conselho

Municipal de Proteção do Patrimônio, órgão vinculado à Secretaria Extraordinária de

Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e Memória Histórico-

Cultural da Cidade do Rio de Janeiro (Sedrepahc).

Em âmbito nacional, não existe bem tombado pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional e este define tombamento da seguinte forma:

“Tombamento é o ato administrativo tomado pelo Poder Executivo, através do órgão

legalmente competente, no sentido da seleção e do reconhecimento, em meio ao universo de

bens culturais, aqueles que melhor expressam o sentido contido no conceito de Patrimônio

Cultural.”

A seguir serão apontados alguns locais que de acordo com aplicação do questionário e

entrevistas (ambos encontrados respectivamente nos em ANEXOS II e III) que tem uma

representação bem marcante em suas memórias. No tocante à essa relação entre o

monumento,o local e a memória, CHOAY15

diz:

“A especificidade do monumento deve-se precisamente ao seu modo de atuação sobre a

memória. Não apenas ele a trabalha e a mobiliza pela mediação da afetividade, de forma que

lembre o passado fazendo-o vibrar como se fosse presente. Mas esse passado invocado,

convocado, de certa forma encantado, não é um passado qualquer: ele é localizado e

selecionado para fins vitais (...)”

15

A Alegoria do Patrimônio p.18

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2.1. Estação Ferroviária Marechal Hermes

Figura. 6. Estação Ferroviária Marechal Hermes. Acervo da Autora

Estação pertencente ao ramal Deodoro, cujo deslocamento da Estação Central do

Brasil dura cerca de 37 (trinta e sete) minutos.

O prédio foi construído em 1912 e inaugurado em 1913, estilo influenciado pelos

modelos de ferrovias inglesas, telhas francesas, arcos de ferro fundido, com amplas

coberturas. Originalmente existia um relógio com quatro no topo do edifício, mas não foi

encontrado nenhum registro ou algum motivo justificando a sua retirada.

“Marechal era um lugar chique. No trem,quando as meninas daqui chegavam à Madureira, de

tão bem vestida, eram logo reconhecidas: „Lá vem as moças de Marechal. Era na estação de

trem que as meninas encontravam os melhores partidos.” 16

16

Ruth Hallais Motta, moradora de 92 anos,nascida nos casarões em 1919 em entrevista ao Jornal O Globo,2ª.

Edição. Domingo. 08/05/2011 p. 18

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Para compor a construção imponente do bairro, foram importados elementos da

França, Alemanha e Bélgica. Proporcionando abrigo,leveza,transparência e ventilação.

A Estação Ferroviária foi tombada em 22 de abril de 1996, pela Prefeitura da cidade

do Rio de Janeiro, sob o decreto 14.741 e seu entorno também.

Figura.7. Estrutura metálica. Acervo da Autora

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Figura. 8. Detalhe da estrutura de ferro fundido. Acervo da Autora

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2.2. Instituições Educacionais

Cada indivíduo, independente do tipo de escola que estudou (pública, privada, militar,

religiosa) e seu nível econômico, tem alguma experiência na sua época enquanto estudante,

registrada em sua memória, sendo esta boa ou ruim. Algo marcante que é despertado ao

revirar as fotos antigas, ao reencontrar um antigo colega de classe ou professor ou quando

visita a unidade escolar.

Mesmo não tendo estudado em alguma escola localizada em Marechal Hermes,

sempre notei o grande número de estudantes que circulam pela região, fato ocorrido devido ao

grande número de escolas existentes.

As escolas a seguir, não desmerecendo as outras, foram destacadas porque são

tombadas e/ ou tem uma representatividade um pouco maior. Sendo estas:

2.2.1. Escola Municipal Evangelina Duarte Batista

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Figura. 9.Escola Municipal Evangelina Duarte Batista .Fonte: Guia das Escolas Tombadas

Localizada na Praça XV de Novembro, nº 28, inicialmente foi inaugurada para ser um

quartel, abrigando militares durante a execução da vila operária em 1913. Restaurada em

1934, recebeu este nome em homenagem à esposa do então prefeito do Distrito Federal Pedro

Ernesto Batista (1931-1936). Nesse mesmo ano, no dia 07 de março, foram iniciadas as

atividades como escola.

Sua forma arquitetônica foi inspirada nas tendências neoclássicas, apresentando

fachada simetricamente com uma sequência de três volumes, alternados e modulares, que se

projetam para o plano da fachada. A decoração de todas s janelas (em verga reta e as de arco

pleno) é completada por almofadas, em estuque, com modelos florais, não só em cima como

embaixo dos peitoris.

Em 29 de agosto de 2008, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro decretou o seu

tombamento sob a numeração 29786.

2.2.2. Escola Municipal Santos Dumont

Em conjunto com a Escola Municipal Evangelina Duarte Batista, apresenta uma

harmonia arquitetônica na Praça XV de Novembro nº 29.

Sob a prefeitura de Bento Ribeiro, a escola foi fundada em 1913 e denominado

Colégio Nair da Fonseca, porém seu nome foi modificado para Escola Santos Dumont em

1946, permanecendo até os dias de hoje.

Inicialmente ainda no início dos anos de 1910 funcionou como quartel da Polícia

Militar.

Além do seu estilo eclético, outra característica desta escola são as salas voltadas para

o pátio interno.

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Em 21 de junho de 1990, foi tombada pela prefeitura sob o decreto 9.414.

Figura. 10. Escola Municipal Santos Dumont. Acervo da Autora.

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Figura. 11. Detalhe da Porta (art-decó) de Entrada da Escola Municipal

Santos Dumont. Acervo da Autora.

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2.2.3. Escola Municipal Paraguai

A Escola Municipal Paraguai, dentre as escolas neste trabalho é a única que não é

tombada, mas foi indicada por ter sido construída dentro das políticas de Anísio Teixeira,

educador internacionalmente conhecido, enquanto Diretor da Instrução Pública do Distrito

Federal no período de 1931 a 1935.

Localizada na Praça Lautaro nº 10 em Marechal Hermes, foi fundada em 14 de maio

de 1935 e inaugurada a 06 de setembro do mesmo ano. O atual terreno foi doado pela Cia.

Suburbana de Terrenos e Construções (última proprietária da Fazenda Boa Esperança) em

virtude do termo assinado em 06 de junho de 1929. A antiga escola funcionava até 1934, no

prédio de aluguel à Estrada Rio- São Paulo, nº 177.

Com a instauração da República, a escola passa a ter um caráter civilizatório. Segundo

Anísio Teixeira “a escola [deve] ensinar a criança a viver „melhor‟ proporcionalmente

padrões mais razoáveis de vida familiar e social, promovendo o progresso individual e

criando hábitos de leitura, estudo e meditação.” Isso é possível verificar nas imagens a

seguir:

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Figura. 12. Acervo Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio de Janeiro

Figura. 13. Acervo Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio de Janeiro

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Na administração de Anísio Teixeira, referente às políticas de edificações, as escolas

foram baseadas na racionalidade e funcionalidade, de acordo com a proposta da arquitetura

moderna.

Figura. 14. Escola Municipal Paraguai. Acervo da Autora

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2.2.4. Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá

Figura. 15. Escola Visconde de Mauá. Augusto Malta17

·, Foto s/data.

Popularmente conhecida como a “Mauá”, localiza-se na Rua João Vicente nº 1.775.

A sua arquitetura destaca-se em ter formato triangular e desenho simétrico, que se

mantém preservado até os dias atuais e ofuscado pela UPA inaugurada em 2008 no mesmo

“quintal” da referida escola.

Inicialmente, serviu como oficina na preparação do material destinado à construção da

Vila de Marechal Hermes, nas terras da antiga Fazenda Sapopemba.

Edificação cedida à Prefeitura pelo Ministério da Guerra sendo acordado que ali seria

instalada uma escola profissional, surgindo a Escola Visconde de Mauá em 1914. Mas só em

24 de outubro 1916 foi oficialmente inaugurada como “Escola Profissional Visconde de

Mauá” (escola masculina).

17

Disponível em:< http://www.flickr.com/photos/antolog/47732587/in/photostream/>.Acesso em :21 jan 2011.

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Funcionou em regime de externato com ensino de nível primário e montagem das

oficinas.

Em 1917, enquanto Escola Prática de Ensino Agrícola, de acordo com a produção, os

alunos vendiam os produtos em feiras cuja renda era destinada à compra de equipamentos

para alunos. Mas em 1932, volta a ser somente escola profissional.

Dentre as diversas alterações na tipologia da Escola, em 1988 passou a ter a

denominação atual.

A escola é subordinada à FAETEC (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado

do Rio de Janeiro) e foi tombada em 2008 pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro (prédios

de Ensino Fundamental e dos cursos de Mecânica e Eletrotécnica).

Figura. 16. Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá. Acervo da Autora

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2.2.5. Colégio Estadual Professor José Accioli

Grande referência na região, enquanto instituição escolar voltada para o ensino de

formação de professores de Ensino Fundamental, a escola foi inaugurada em 19 de abril de

1954, quando Getúlio Vargas transferiu a posse da vila proletária ao Instituto de Previdência

dos Funcionários Públicos da União (IPFPU), que depois foi transformada em Instituto da

Previdência e Aposentadoria dos Servidores do Estado (IPASE).

Primeiramente denominado “Ginásio Municipal Marechal Hermes”, em 24 de maio do

mesmo ano, o ginásio teve seu nome alterado pra “Ginásio Municipal Professor José Accioli”,

pois o então prefeito do Distrito Federal, Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, atendeu a uma

sugestão da Congregação do Colégio Pedro II em homenagear o Professor José Cavalcanti de

Barros Accioli, devido enorme contribuição ao Magistério público.

Devido à necessidade de ter mais escolas que ensinassem o 2º ciclo secundário, atual

Ensino Médio,em 30 de setembro de 1966, o estabelecimento passou a ser denominado

Colégio Professor José Accioli, permanecendo até hoje com o mesmo nome.

O Colégio Estadual Professor José Accioli é um exemplar do modernismo no bairro de

Marechal Hermes construído sobre um platô cinco metros acima do nível da rua, possui

pilares e elementos vazados, além do brise-soleil (conjunto de placas horizontais e verticais

que servem para iluminação e ventilação) e da cobertura em shed, conta com expressões

dadas através das linhas retas (Figura 17).

Localiza-se na Rua Costa Filho, 500.

Figura.17.Entrada do Colégio EstadualProfessor José Accioli

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2.3. Teatro Armando Gonzaga

Figura. 18. Fachada do teatro. Acervo da Autora

O nome é em homenagem ao dramaturgo Armando Gonzaga (1884-1953) e sua

inauguração ocorreu em 19 de abril de 1954, segundo dados coletados na Funarj, mas há

divergências quanto ao ano, pois o Inepac indica que foi em 1950. Foi construído dentro da lei

de Paschoal Carlos Magno, cujo objetivo foi levar a cultura ao subúrbio através da instalação

de teatros.

O projeto arquitetônico é de autoria de Affonso Eduardo Reidy, os jardins e o pano de

boca sob concepção de Burle Marx- jardins restaurados em 2006 pela Secretaria Municipal de

Meio Ambiente -e painéis laterais de Paulo Werneck. Autores reconhecidos

internacionalmente, que despertam interesse de muitos em conhecer o teatro.

Situado à Avenida General Oswaldo Cordeiro de Farias, número 511, o teatro é uma

opção de lazer não só em Marechal Hermes como para os bairros vizinhos. Na zona norte

existem os seguintes teatros: Miguel Falabella (Del Castilho-Norte Shopping), Ziembinsk

(Tijuca) e na zona oeste ,o Artur Azevedo,em Campo Grande.Há uma concentração maior

desse equipamento cultural na zona sul carioca.

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Quanto ao perfil do público, o diretor em entrevista (anexoIII) comenta: “É um teatro

estadual. [O lado provinciano] é muito o público local e do entorno e [analisando] pelo lado

cosmopolita, devido à sua criação [se referindo ao Reidy e ao Burle Marx], o teatro atrai

pessoas do Centro e da zona sul. Há presença de diversas faixas etárias.”

Figura. 19. Vista lateral da arquitetura. Acervo da Autora

O estilo moderno do Teatro Armando Gonzaga, de projeto confortável, de formas

simples e retilíneas, destaca-se a laje que é mais elevada na frente (que também serve de

cobertura na entrada) e no fundo, que está em harmonia com outros estilos arquitetônicos

(neoclássico, art-decó) encontrados do bairro.

Curiosamente até este ano (2011) a praça em que se localiza o teatro não tinha nome,

recebendo a denominação de um morador ilustre do bairro, Osmar do Cavaco, que tocava

cavaquinho na Velha Guarda da Portela, falecido em 1999.

O tombamento definitivo ocorreu em 15 de junho de 1989 pelo INEPAC, sob o nº E-

03(38.238)78 e está subordinado à FUNARJ (Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do

Rio de Janeiro).

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Capítulo III- Diversão, desaparecimento e inspiração

3.1. Bate-bolas de Marechal Hermes

Algo que tem forte representação não só no bairro, como tem presença confirmada no

carnaval carioca, são os grupos de bate-bolas de Marechal Hermes, que levam meses

elaborando suas roupas, para se divertir, alegrar os outros e principalmente competir,

concorrendo a prêmios como no próprio bairro assim como na Cinelândia (Praça Floriano

Peixoto- Centro do Rio de Janeiro) na terça-feira de carnaval, onde se encontram diversos

grupos da cidade.

O conceito mais adequado para explicitar o que são esses grupos, PEREIRA18

indica:

“(...) são grupos de indivíduos que partilham, em maior ou menor escala, de identidades coletivas

[...] que se apóia na escolha de referenciais simbólicos, como por exemplo, o nome da turma, um

emblema, os hinos, os lemas e o bandeirão, entre outros elementos. ”

Os conhecidos bate-bolas, também são chamados de clóvis em algumas localidades,

termo clowns de origem inglesa e usada também por alemães, significa palhaço.

A brincadeira desses foliões, segundo PEREIRA, teria começado em Santa Cruz (zona

oeste do município do Rio de Janeiro), por causa do Matadouro ali existente que fabricava

bexigas para complementar a fantasia. Mas na década de 1930, com a construção do Hangar

do Zepelim, por conta da presença de técnicos alemães, estes chamavam as fantasias dos

foliões de clowns.

Ignorar o fato de que os de bate-bolas são considerados por algumas pessoas como

grupos que se aproveitam de estarem fantasiados para encontrar com grupos rivais, para a

prática da violência é o mesmo que esconder a realidade da cidade do Rio de Janeiro,

infelizmente esse fato ainda acontece:

“RIO - Cerca de 15 integrantes de um grupo fantasiado de bate-bolas conhecido como

Massacre foram presos por policiais militares do 9º BPM (Rocha Miranda), na Rua Guiraréia,

em Irajá, Zona Norte do Rio, na madrugada desta terça-feira. De acordo o Serviço Reservado

(P-2) da unidade, duas armas com numeração raspada e uma pequena quantidade de drogas

foram apreendidas com o grupo.”

18

Tramas Simbólicas: A dinâmica das turmas de bate-bolas do Rio de Janeiro

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“A polícia ainda não sabe se os integrantes do Massacre são os mesmos que se envolveram em

uma briga com um outro grupo rival de bate-bolas em Marechal Hermes, por volta das 22h

desta segunda-feira, na Praça Montesi. A confusão assustou moradores que contaram aos

policiais terem ouvido tiros durante o confronto. Na chegada da polícia, os grupos já tinham se

dispersado.” 19

“Uma briga entre bate-bolas acabou com o saldo de dois homens baleados, na noite desta terça-

feira, na Cinelândia, no Centro do Rio. Os feridos também estavam vestidos com a tradicional

fantasia do carnaval carioca. Um deles foi ferido na barriga, e o outro, na perna. O tiroteio

aconteceu na Rua 13 de Maio, nas proximidades de um palco armado em plena praça da

Cinelândia.” 20

Em contrapartida, os grupos de bate-bolas de Marechal Hermes são obrigados a serem

registrados no 9º Batalhão de Polícia Militar indicando nome do grupo e do seu líder (além da

documentação pessoal), de como serão as fantasias, procedimentos que visam maior

segurança na região.

Há uma expectativa muito grande quanto à saída dos grupos, que geralmente saem no

domingo de carnaval, que são anunciados normalmente pelo boca-a-boca.

Durante muitas pesquisas, o nome indicado com precursor dos grupos de bate-bolas é

do Sr. Magalhães, antigo comerciante (falecido), iniciou competições de grupos quanto às

suas fantasias e evolução ainda nos anos de 1980. Esse evento influenciou na criação do

concurso realizado pela RIOTUR (Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A),

na terça-feira de carnaval na Cinelândia, onde grupos de bate-bolas (de diversos bairros)

disputam para saber quem é o melhor do ano.

Uma das pessoas que ainda preserva essa tradição do encontro de bate-bolas é a

comerciante e proprietária do Bazar Princesa da Tia Regina (localizada na Rua Aurélio

Valporto), Regina Celi Neves. Loja que vende aviamentos, adereços especializados para

confecção do figurino do bate-bolas.

19

Disponível em : <http://extra.globo.com/noticias/rio/policia-prende-grupo-de-bate-bolas-com-armas-drogas-

em-iraja-241883.html>.Acesso em: 26 fev 2011.

20Disponível em: <http://extra.globo.com/casos-de-policia/dois-bate-bolas-sao-baleados-na-cinelandia-

379217.html> Acesso em: 19 fev 2010.

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O fato citado anteriormente, que esta manifestação está começando a ter um certo

reconhecimento por parte dos organizadores do carnaval do Rio de Janeiro e até mesmo de

pessoas que só ouviram falar nesses grupos, porém não tiveram oportunidade de ver

pessoalmente as apresentações.

Vale ressaltar que a festa carnavalesca, exibida e comercializada ainda não valoriza o

trabalho de muitos que, como as escolas de samba que desfilam na Marquês de Sapucaí, se

dedicam por muitos meses para apresentar fantasias bem confeccionadas, além de serem

lindas, elaboram hinos, para divertir e que somente os bairros da zona norte e oeste desfrutam

e valorizam essa manifestação.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, em 2009, trouxe na

sua comissão de frente os bate-bolas e a partir disso é possível perceber pequena inserção

desses componentes numa festa que tem visibilidade mundial.

Figura.20.Turma da Praça,grupo de bate bola de Marechal Hermes. Fotógrafo Ratão Diniz21

21

Disponível em:< http://www.flickr.com/photos/rataodiniz/4382085111/in/photostream/>Acesso em :22 abr

2011

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Em 2010, a manifestação da brincadeira dos bate-bolas foi cogitada pela Prefeitura do

Rio de Janeiro a ser tombada como patrimônio imaterial. Acredito ser válido a apresentação

de um projeto aos órgãos de políticas de patrimônio material e imaterial dessa festa popular,

pois a partir daí ,certamente a valorização e o reconhecimento serão maiores.

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3.2. Baile Charme-Disco Voador

E o baile acabou?

Julguei necessário inserir este porque o baile é citado por muitos moradores e ex-

moradores, com certo tom de saudosismo.

O local onde era realizado o evento, já foi considerado o Templo do Baile Charme no

Rio de Janeiro, e que este foi o precursor deste tipo de baile, alguns dizem que foi inspirador

para a criação do Baile Charme do Viaduto (Viaduto Negrão de Lima) de Madureira – Espaço

Cultural Rio Charme.

O nome do espaço é em referência ao disco musical, conta o presidente José Nicolau.22

Baile charme constituiu-se, de acordo com Ester Charmeira, como um movimento

popular cultural que propõe uma reinvenção da identidade cultural negra, expressa através

das danças, da música das, da disseminação de valores de respeito ao próximo, da

cordialidade, da elegância do charmeiro e da charmeira para esses eventos e [pessoalmente

diz] do “clima gostoso” se referindo ao ambiente.

No tocante à infra-estrutura e à organização do local onde eram realizados os bailes,

eram de enorme simplicidade, mas que atendia e que geralmente superava as expectativas de

quem não conhecida ou só tinha ouvido falar no tal baile [grifo da autora, não é em sentido

pejorativo].

Eis um exemplo da atmosfera que “ocupava” o baile charme, segundo Ester

Charmeira:

“Quando cheguei ao Disco Voador, em Marechal Hermes e participei de um momento que hoje

entendo como uma “iniciação ao rito”. Ao chegar à fila de entrada fui apresentada a outros

freqüentadores, que imediatamente nos fizeram companhia. Notei que o baile tem um aspecto de

“cerimônia”. As pessoas muito bem vestidas, com um visual inspirado no movimento negro norte-

americano, se aproximam dos novos freqüentadores e logo comunicavam as regras básicas de

convivência no local. ”

O espaço era uma quadra esportiva (continua sendo hoje em dia), com chão sem piso,

coberta (quase uma exceção comparado a outros lugares de bailes), podendo receber até cerca

22

Ver entrevista na íntegra (AnexoIII)

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de 4 mil pessoas, possuindo três ambientes, com banheiros bem estruturados, cerveja barata e

mulheres tinham entrada gratuita. A quantidade de frequentadores se dava por motivos: por

sua localização geográfica de fácil acesso para a maioria porque atraia não só moradores dos

bairros próximos, mas da zona oeste e baixada fluminense e de acordo com informações de

antigos frequentadores, vinham ao baile pessoas da zona sul também, além do baile ser bem

comentado e indicado.

Quem percorre as regiões de Madureira e Osvaldo Cruz, logo observa que há diversos

pontos em que existe baile charme, mas em Marechal Hermes, que foi o criador deste tipo de

evento nos finais dos anos 70 até os anos 90 atualmente não acontece mais, apenas o espaço

físico e poucos eventos musicais. Durante a semana ocorrem algumas atividades esportivas e

o local agora é denominado Projeto Disco Voador.

É notório que esse evento é mais uma forma de afirmação e manutenção da cultura

negra, buscando visibilidade social, além de destacar que o baile charme no Rio de Janeiro

teve um dos seus pontos de partida no Disco Voador de Marechal Hermes, trazido e iniciado

pelo dono do espaço Sr. Nicolau e DJs conhecidos, dentre eles DJ Corello.

Na tentativa de responder a pergunta inicial, prefiro acreditar que o baile charme do

Disco Voador só parou por um tempo... e espero que “pegue essa onda” de retomada dos

bailes charme na cidade do Rio de Janeiro.

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Figura. 21.Entrada do Disco Voador.Acervo da Autora

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3.3. Parque IV Centenário de Marechal Hermes

Figura. 22.Parque IV Centenário de Marechal Hermes.Acervo da Autora

As terras onde foi construído o Parque IV Centenário de Marechal Hemes funcionava

a Fábrica Nacional de Vagões (FNV), empresa estatal inaugurada em 22 outubro de 1943 e

primeira indústria a se instalar no Brasil para atender ao segmento de transporte ferroviário de

carga e passageiros.

A FNV foi criada a partir da necessidade de fortalecer a indústria nacional e a ferrovia

no Brasil e principalmente para repor equipamentos ferroviários, antes importados dos

Estados Unidos que nesse período estavam impossibilitados de exportar veículos por causa da

Segunda Guerra Mundial.

Com a transferência da Fábrica Nacional de Vagões para cidade de Cruzeiro (SP) no

início dos anos de 1960, o terreno foi utilizado como campo de futebol, circo, até ser ocupado

pelo Parque IV Centenário de Marechal Hermes.

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Segundo Infopédia23

: “Um parque de diversões é um estabelecimento permanente

onde estão montados diversos percursos e atrações (como carrosséis, rodas-gigantes,

montanhas-russas, espetáculos, etc.), destinados a entreter pessoas de todas as idades. Estes

parques são ainda equipados com restaurantes e lojas de recordações.” O Parque IV

Centenário é um parque de diversões particular, permanente e considerado de pequeno porte,

devido à quantidade de brinquedos e seus tipos, não tem montanha-russa nem roda gigante,

alguns anos atrás ainda era possível se divertir nesses brinquedos. O terreno está sob contrato

de comodato com a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

Não foi possível identificar uma data, um ano exato do início das atividades do parque,

porém Márcio Gomes24

diz que o parque completará 50 anos no final de 2012. Segundo

Miguel Santos25

,a instalação do mesmo se deu por volta de 1969 e 1970.

Quanto ao nome, o responsável demonstrou um pouco de insegurança quanto à essa

questão (vide em anexo entrevista na íntegra), mas durante pesquisas constatamos que os

estabelecimentos que tem a mesma denominação foram construídos no IV Centenário da

cidade do Rio de Janeiro, em 1965.

Durante a aplicação do questionário (ANEXO I), Leandro dos Santos, funcionário a

quatorze anos do parque e também é morador do bairro, contou que o IV Centenário fazia

parte de um conjunto de quatro parques localizados na Praça Seca (zona norte do Rio de

Janeiro) e nos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu (ambos na baixada fluminense)

e que por brigas familiares acabou ocorrendo a divisão desse conjunto.

Ainda num bate-papo informal, outro funcionário que trabalha há 22 anos, nunca foi

registrado um acidente e considera este um fator importantíssimo e que faz com que

familiares confiem no parque.

23

parque de diversões. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-06-03].

Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$parque-de-diversoes>.Acesso em :03 jun 2011.

24 Responsável pelo Parque ,em entrevista concedida a autora no dia 02/06/2011.Ver na íntegra no ANEXO III.

25 Presidente da Associação de Moradores de Marechal Hermes entrevista concedida a autora no dia 15/08/2011.

Ver na íntegra no ANEXO III.

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É uma das poucas opções de lazer na região e que certamente está na memória de

muitos que brincaram na infância e que hoje leva a terceira geração da família para se divertir,

assim Marcos Gomes diz:

“Os moradores gostam do parque porque ele é de pequeno porte, não tem aqueles brinquedos de

aventura, todos são baixos (se referindo à inexistência de brinquedos como montanha – russa e roda

gigante), a criança fica ao olhar dos pais. É um parque antigo, a gente recebe agora a terceira

geração de crianças”.

Vale ressaltar que este local foi inserido neste trabalho porque é citado por moradores,

opção de lazer em muitos já se divertiram enquanto crianças e adolescentes, além de servir

como referência para quem deseja chegar ao bairro.

Localiza-se na Rua Carolina Machado s/nº, em funcionamento às sextas de: 18 às

22horas, aos sábados, domingos e feriados das 17 às 23 horas, a preços populares.

Figura. 23.Parque em dia de funcionamento.Acervo da Autora

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3.4. O descaso ao patrimônio do bairro: os desaparecidos...

3.4.1. Cine Lux

O Cine Lux, inaugurado em 11 de dezembro de 1934, dentro do primeiro período do

governo Vargas, que na busca de tentar ficar mais “próximo” da população suburbana,

desenvolveria diversos atrativos como instrumentos de difusão das suas idéias através do

esporte, do rádio e do cinema.

Foi o único cinema da cidade do Rio de Janeiro a ter abóboda.

Não escapou de tornar-se ,assim como muitos cinemas de rua nos bairros da cidade do

Rio de Janeiro igreja evangélica,até mesmo pelo crescimento desta no país e das salas de

cinema levadas para dentro dos shoppings.

Figura.24.Entrado antigo Cine LuxAcervo da Autora

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3.4.2. O Coreto

O coreto é um mobiliário muito mais que um elemento a mais em uma praça, tem uma

função social, agregar pessoas em seu torno, local onde reúnem famílias, os amigos se

reencontram, casais namoram, apresentações de peças teatrais e musicais acontecem.

Tipo de construção que ainda é possível de ser encontrada nos bairros de Quintino,

Méier e Praça Seca, sendo as duas últimas tombadas pela Prefeitura. Mas o coreto de

Marechal Hermes foi demolido sem que houvesse mobilização da população,se ocorreu, foi

imperceptível, durante as obras de “reforma” do bairro, no governo do então prefeito César

Maia.

Milhares de reais foram gastos, mas ao que pareceu foi desperdício de dinheiro, obras

incompletas, postes no meio da pista (por exemplo, na Rua João Vicente), uma passarela que

deveria facilitar o acesso de pedestres passar da rua João Vicente para Rua Carolina Machado

e vice-versa, só foi construída uma rampa do lado da primeira rua e na segunda, ninguém viu

ao menos alguma movimentação no sentido de construção. Depois de muitas reivindicações

populares, a prefeitura optou por demolir a rampa construída.Abaixo (Figura 25) um registro

do antigo coreto localizado na Praça XV de Novembro.

Figura. 25.Coreto da Praça XV de Novembro.Acervo Pessoal Miguel Santos

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Foi extraído um comentário referente à demolição do coreto, que encontrava- se na

praça XV de Novembro: “Que pena, foi a retirada ou melhor a derrubada do coreto que

ficava entre a escola santos dumont e evangelista,caramba não teve nada a ver.” 26

3.4.3. Palacete

Durante diversos bate-papos informais com moradores, muitos sempre tocavam no

assunto Palacete, confesso que só ouvia falar sobre tal, até mesmo porque a área onde existia

foi loteado e transformado em condomínio ainda é citado como palacete.

O Palacete era uma das residências do presidente Marechal Hermes da Fonseca, que

foi vendido por seus descendentes, mas que antes foi abandonado, dito por alguns como local

de viciados em droga e até mesmo como lugar de “desova”. Foi demolido segundo

informações de alguns moradores e como a área foi vendida, logo loteada e transformada em

condomínio.

26

Luzia,comentário no site: http://fotolog.terra.com.br/znorte:125 Em 22/04/2010.Acesso em 31 mai 2011.

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Figura. 26.Palacete.Acervo Pessoal Miguel Santos

Atualmente o nome permanece, mesmo que a suntuosa residência não exista mais, o

mais interessante quando se pergunta alguém mais novo porque aquela região se chama

palacete e ninguém sabe responder.

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3.5. Marechal nas telinhas e telonas do Brasil

O primeiro registro que se tem de Marechal Hermes servindo como cenário em

alguma produção cinematográfica é o famoso e premiado filme de Cacá Diegues, Chuvas de

Verão, de 1978 e uma das justificativas para a escolha do local, Diegues27

comenta:

“Quando procurei onde filmar "Chuvas de Verão", sempre pensei em encontrar um lugar parecido

com o que eram essas duas vizinhanças [em Maceió, onde nasceu] no tempo em que eu vivi nelas

– regiões humanas calmas e tranquilas, moradias de classe média a classe média baixa, onde os

vizinhos se conhecem e se relacionam de uma maneira muito mais íntima e solidária do que nos

bairros agitados de centros urbanos.

Marechal Hermes teve a sua rotina alterada nos anos de 1998 e 1999 porque foi

escolhido como cenário principal do núcleo suburbano da novela Pecado Capital, segunda

versão de autoria de Glória Perez. A primeira (1975), de autoria de Janete Clair, o bairro que

exercia esse papel era o Méier, mas um dos motivos para a mudança na novela de Perez foi

que o bairro sofreu muitas alterações. Muitos moradores alugaram as fachadas das suas

residências para as filmagens e outros atuaram como figurantes, “o cenário dá maior

credibilidade aos personagens na rua”. 28

Lançado em 2010, sob direção de Arnaldo Jabor, o filme A Suprema Felicidade teve

como ambientação a Rua Engenheiro Assis Ribeiro e suas residências de fachadas

preservadas, representando a cidade do Rio de Janeiro no início dos anos de 1950, mas era

para representar o bairro da Tijuca.

Um filme mais recente que teve as ruas de Marechal Hermes servindo como cenário

foi “Billi Pig”, uma comédia dirigida por José Eduardo Belmonte, tendo como protagonistas

Selton Melo e Grazi Massafera. O seu lançamento será em dezembro de 2011.

27

Entrevista na íntegra (ANEXO III) 28

Ator Paulo José in: Memória Globo-Rede Globo

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O diretor considera uma coincidência em gravar as cenas na rua onde sua mãe morava

antes dele nascer. Em sua opinião, é um filme de coração suburbano e comenta:

“... ao mostrar um casal de malandros Wanderley e Marivalda em ação, „Billi Pig‟ tem um arco

dramático [que dialoga] com o espírito das chanchadas. (...) Fui contextualizar esse diálogo num

subúrbio mais colorido e movimentado. Subúrbio onde também está a alma do Rio.” 29

29

José Eduardo Belmonte em entrevista ao Jornal O Globo- Segundo Caderno.11/04/2011 . Pág.2

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A respeito da memória coletiva, mesmo que a lembrança seja algo individual, é

sempre no outro que interagindo com seus grupos, instituições que vem a importância de

reter, esquecer e selecionar fatos sendo estes bons e até mesmo ruins, mas que são instigados

através de uma fotografia, de um bate papo informal entre amigos, quando algum edifício é

destruído ou em grande parte transformado, Kessel30

nos indica: “... [determinados] lugares se

tornam referências na memória, as mudanças empreendidas nesses lugares acarretam

mudanças importantes na vida e memória dos grupos.”

Pessoas específicas foram entrevistadas (ANEXO III) de diferentes locais de onde

trabalham e função que exercem e que mantém relação de vivência em Marechal

Hermes,independente do tempo que mora ou morou,trabalha ou trabalhou. Foi possível

perceber que muitos defendem o local em que vivem e/ou trabalham, por exemplo, o Teatro

Armando Gonzaga, Disco Voador, Parque IV Centenário. Demonstram grande afeto e

explicam da importância do “seu” local no bairro.

Os problemas do bairro foram também citados, situações que se apresentam em toda

cidade grande, na região especificamente reclamações como: falta de infra-estrutura na

questão de manutenção de serviços públicos (limpeza), sistema de escoamento de água na

época de chuvas intensas na cidade. A violência também foi apontada, mas muitos disseram

que mesmo sendo um bairro carioca, não estando livre da violência que assombra o

município, Marechal é visto como um lugar que ainda mantém um ar bucólico e provinciano,

mais calmo, aspectos difíceis de encontrar em outros bairros.

Vale ressaltar que durante as entrevistas individuais foi preciso uma pesquisa prévia

acerca dos locais estudados, até mesmo para não ser influenciada por idéias e histórias, como

Ecléa Bosi aponta em “O tempo vivo da memória”: “Mas não vá alguém pensar que as

testemunhas orais sejam mais „autênticas‟ que a versão oficial...”.

30

KESSEL, Zilda. In: Memória e memória coletiva.

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Para que a parcialidade fosse mantida, por ter um conhecimento prévio, pois alguns

(quase todos) locais apontados fizeram ou fazem parte da vivência da autora e seus familiares,

mas isso foi sendo demonstrado (poucas vezes) ao longo das entrevistas, “A fonte oral sugere

mais que afirma,caminha em curvas e desvios obrigando a uma interpretação sutil e

rigorosa”. (BOSI, 2003 p.20)

Logo foi necessário comparar informações de diferentes entrevistados e encontrar um

ponto em comum nos discursos, mas não significa que um fato menos citado tenha sido

excluído.

Individualmente, os entrevistados sugeriram algumas pessoas para que também fossem

ouvidos devido ao seu grande conhecimento sobre o bairro, situação que ocorreu e que valeu

a pena.

Mesmo com alguns fatos, relatos terem sido esquecidos, omitidos é importante

destacar que muito contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho, discursos que de

certa forma tem uma representação muito forte nas vivências desses indivíduos.

A proposta do questionário (ANEXO I) aplicado era entender um pouco sobre o que

os moradores e frequentadores conhecem o bairro e quais seus pontos representativos no seu

cotidiano e sua memória. Foi possível saber o que pensam a respeito do bairro como

patrimônio.

O questionário foi respondido por 27 (vinte e sete pessoas), muitos num

primeiro momento demonstraram desconfiança, mas houve respondente que não se

contentava simplesmente em responder ao que era perguntado, com entusiasmo fazia questão

em relatar suas experiências, vivências que vinham à tona.

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Foram aplicados 27(vinte e sete) questionários, sendo 15 mulheres e 12 homens nos

seguintes dias e locais:

DATA LOCAL Nº DE RESPONDENTES

19/05/2011 Disco Voador 04-alunos e responsáveis de alunos

que praticam capoeira e professor

(noite)

24/05/2011 Disco Voador 07-alunos da ginástica para a terceira

idade (manhã)

DATA LOCAL Nº DE RESPONDENTES

25/05/2011 Disco Voador 04-alunos da ginástica para a terceira

idade (manhã)

05/06/2011 Ponto de Cultura e

Memória Vila Proletária

Marechal Hermes

03- atores que trabalham no local

05/06/2011 Parque IV Centenário de

Marechal Hermes

06- funcionários e visitantes

24/07/2011 Ruas: Dr.Gonçalves Lima,

Carolina de Assis

03-pessoas que estavam na rua,

portão de casa

Quanto à origem do nome do bairro, ao aplicar o questionário, a maioria dos

respondentes demonstraram certeza em assinalar a opção que indicava ser homenagem do

Exército Brasileiro ao então presidente Marechal Hermes da Fonseca. Alguns diziam que ele

seria incapaz de nomear a região por conta própria, mas a auto- homenagem realmente

aconteceu.

Discutir o assunto tombamento, que é um ato administrativo que busca preservar um

bem, para que este não seja descaracterizado, gerou dúvidas aos respondentes, pois muitos

não sabiam do que se tratava e quando pedia para citar algum, muitos responderam após a

explicação sobre a questão.

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Saber que o ato citado pode ser solicitado por qualquer pessoa física junto aos órgãos

responsáveis pela preservação era algo desconhecido dos respondentes, pois muitos diziam

que isso dependia somente do poder público, assim percebeu-se que não há muito interesse da

população local e que também há pouca articulação entre locais (equipamentos de cultura e

lazer, comércio, escolas) e a comunidade local situação que acontece provavelmente porque

muitos não se identificam com o patrimônio local.

“O conhecimento crítico e apropriação consciente pelas comunidades do seu patrimônio são

fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no

fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidade.” 31

Um instrumento que pode aproximar os moradores desse patrimônio (bairro) e torná-

lo (re) conhecido pela população e que essa se identifique com o bem (material e imaterial),

passe a ter atenção a esses valores (edificações, manifestações populares) e até mesmo ter

uma posição, opinião mais crítica é a educação patrimonial:

“... possibilita a fazer leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo

sociocultural e trajetória histórica- cultural em que está inserido. Este processo leva ao reforço da

auto-estima dos indivíduos e comunidades...” 32

É importante registrar que por ter poucas referências bibliográficas para a elaboração

deste, porém de tamanha riqueza, a história oral teve a mesma relevância, principalmente pela

receptividade e ânimo por parte das pessoas envolvidas.

31

Guia Básico de Educação Patrimonial, p.6, 1999. 32

Idem.p.6

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REFERÊNCIAS

OBRAS GERAIS:

150 ANOS DE SUBÚRBIO CARIOCA. Márcio Piñon de Oliveira,Nélson da

Nóbrega Fernandes (orgs.); Almir Chaiban El Kareh... [ et al.].Rio de Janeiro:

Lamparina:Faperj:Ed UFF,2010.

ALMANAQUE SUBURBANO _ O seu melhor companheiro de viagem-

Subúrbios-Brasil. Distrito Federal, ano I, nº 1, 1941. Org. ;Henrique Dias da Cruz

BARRETO,Lima.Clara dos Anjos.Livraria Garnier,1990.3ª.Edição.

BENCHIMOL, Jaime Larry.Pereira Passos:um Haussmann Tropical.A

renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX.Coleção

Biblioteca Carioca.Rio de janeiro. Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e

Esporte; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1990.

BOSI,Ecléa.O tempo vivo da memória:ensaios de psicologia social.São

Paulo:Ateliê Editorial,2003.2ª.Edição.

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República

que não foi.São Paulo:Cia das Letras.ano,1987.3ª.Edição

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira

Machado. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001. Título original:

L‟allégorie du patrimonie.

GERSON, Brasil.História das ruas do Rio. 5ª.Edição Remodelada e

Definitiva.Rio de Janeiro:Lacerda ED.,2000.

GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras:100 anos de cinema na cidade do Rio

de Janeiro.Record-FUNARTE:1996.

HORTA,Maria de Lourdes P.,GRUNBERG,Evelina,MONTEIRO,Ariadne

Queiroz.Guia Básico de Educação Patrimonial.Brasília:IPHAN,Museu

Imperial,1999.

LOBO,Eulalia Maria Lahmeyer.A Questão Habitacional e o Movimento

Operário.Ed:UFRJ,1989.

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OUTRAS FONTES:

DISSERTAÇÕES

FERNANDES, Nelson da Nóbrega. O rapto ideológico da categoria subúrbio:

Rio de Janeiro (1858-1945). Rio de Janeiro: PPGG-IGEO-UFRJ, 1995.

OLIVEIRA, Alfredo C. Vila Proletária Marechal Hermes: uma utopia urbana.

Monografia do curso de especialização em Sociologia Urbana.1998.

PEREIRA, Aline Valadão Vieira Gualda.Tramas simbólicas: a dinâmica das

turmas de bate-bolas do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Artes.

Instituto de Artes-UERJ,Rio de Janeiro,2008.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS

ABREU, Mauricio A. Da habitação ao habitat: a questão da habitação

popular no Rio de Janeiro e sua evolução. In: Revista Rio de Janeiro. vol 2.

Niterói. EDUFF. 1986. Disponível em:

<http://www.forumrio.uerj.br/documentos/revista10/10MauricioAbreu.pdf.>

Acesso em: 14 abr 2011.

CHARMEIRA, Ester. O Charme do Baile: Identidade, cultura popular e

etnicidade em bailes black no Rio de Janeiro.Disponível em :

<http://www.overmundo.com.br/overblog/o-charme-do-baile>.Acesso em: 19 mai

2011

DÓREA, Célia Rosângela Dantas. Anísio Teixeira e arquitetura escolar:

planejando escolas, construindo sonhos. Disponível em:

<http:www.revistadafaeeba.uneb.br/anteriores/numero13.pdf#page=151.> in:

Revista da FAEEBA, Salvador, nº 13, p.151-160, jan./jun. , 2000.Acesso em 02

jun 2011

ENARA- Executiva Nacional das Associações Regionais de Arquivologia.

Disponível em:

<http://www.enara.org.br/modules.php?name=News&file=article&sid=429>.

Acesso em 03 jun 2010.

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64

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL VISCONDE DE MAUÁ. Disponível em:

<http://etevm.g12.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=110:

joomla-security-strike-team&catid=43:current-users&Itemid=75>.Acesso em: 03

jun 2010.

FUNARJ- FUNDAÇÃO ANITA MANTUANO DE ARTES DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO. Disponível em:< http://www.funarj.rj.gov.br/ >. Acesso em:

04 jun de 2010.

KESSEL,Zilda. Memória e memória coletiva.Disponível em:

<http://www.museudapessoa.net/oquee/biblioteca/zilda_kessel_memoria_e_memor

ia_coletiva.pdf>.Acesso em 14 abr 2011

MAXION RODAS E CHASSIS.Disponível em:

<http://www.maxioncr.com.br/empresa_iochpe.php>. Acesso em: 17 jun 2011.

MEMÓRIA GLOBO - REDE GLOBO. Disponível em:

<http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-

236336,00.html> .Acesso em: 18 abr 2010

PORTAL GEORIO. Bairro Marechal Hermes. Disponível em :

<http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/web/BairrosCariocas/index2_bairro.ht

m>.Acesso em:07 abri 2010

PORTAL PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Conservação reinstala

busto de Marechal Hermes. Disponível em:

<http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?articleid=1853027>.

Acesso em: 21 jun 2011.

SEDREPAHC.Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e

Revitalização do Patrimônio e da Memória Histórico-Cultural da Cidade do Rio de

Janeiro. Disponível em

<http://www0.rio.rj.gov.br/pcrj/destaques/especial/marechal_hermes.shtm.>.

Acesso em: 03 jun 2010

WIKIPÉDIA. Marechal Hermes. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Marechal_Hermes> .Acesso em: 21 nov 2009

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ENTREVISTAS

Ignácio Neto – Diretor do Teatro Armando Gonzaga – Data:10/05/2011

Marcio Costa – Responsável pelo Parque IV Centenário –Data:02/06/2011

Ronaldo Silva- Integrante do Ponto de Cultura Arte e Memória no Subúrbio: Vila

Proletária Marechal Hermes – Data: 05/06/2011

Miguel Santos –Presidente da Associação de Moradores de Marechal Hermes-

Data: 15/08/2011

Antônio Carlos José Silva – Ex-funcionário do Hospital Estadual Carlos Chagas-

Data:20/08/2011

Alfredo César Tavares de Oliveira –Especialista em Sociologia Urbana,Mestre

em Ciências Ambientais,Doutor em Geografia- Data: 01/09/2011 (Entrevista por meio

eletrônico)

Michael Meneses –Jornalista e colaborador do Jornal Visão Suburbana –

Data:01/09/2011 (Entrevista por meio eletrônico)

Gledson Vinícius – Integrante do Jornal Visão Suburbana - Data:01/09/2011

(Entrevista por meio eletrônico)

José Antônio Vieira Nicolau – Responsável pelo Disco Voador – Data:

05/09/2011

Cacá Diegues – Cineasta-Data: 16/09/2011 (Entrevista por meio eletrônico)

FOLDER

TOMBAMENTO.IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

GUIAS

GUIA DAS ESCOLAS TOMBADAS DA PREFEITURA DA CIDADE DO

RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro: E/CREP, 2008.2ª.

edição.Organização:Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio

de Janeiro.

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GUIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL CARIOCA BENS TOMBADOS

2008.4ª.Edição revisada.Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

CZAJKOWSKI,Jorge (org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de

Janeiro.Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro.Rio de

Janeiro:Casa da Palavra:Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro,2000.

________________.Guia da arquitetura moderna no Rio de Janeiro.Centro de

Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro:Casa da

Palavra:Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro,2000.

JORNAIS

Jornal Extra. Comissão de frente da Imperatriz trará os famosos bate-bola.

Disponível em:<http://extra.globo.com/noticias/carnaval/comissao-de-frente-da-

imperatriz-trara-os-famosos-bate-bola-241810.html>.Acesso em 26 fev 2011.

_____________. Disponível em:<http://extra.globo.com/noticias/rio/tristeza-na-

volta-as-origens-em-marechal-hermes-394897.html>.Acesso em: 12 out 2010.

_____________. Disponível em:< http://extra.globo.com/casos-de-policia/dois-

bate-bolas-sao-baleados-na-cinelandia-379217.html> Acesso em: 19 fev 2010.

Jornal Livre. Biografia de Hermes da Fonseca. Disponível

em:<http://www.jornallivre.com.br/144870/biografia-de-hermes-da-

fonseca.html>.Acesso em : 24 mai 2011.

Jornal O Globo, Coluna de Ancelmo Góis. 16 /03/2011 p. 16

_____________. 2ª. Edição. 08 /05/2011 p. 18

_____________. É patrimônio ou não é? .Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/03/18/alem-de-jongo-capoeira-

prefeitura-do-rio-quer-declarar-bens-imateriais-batida-de-coco-vendedor-de-mate-

botequim-916105285.asp>. Acesso em: 20 abr 2011.

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Jornal Visão Suburbana. O subúrbio visto de dentro. Ano 1.Edição 04-abril de

2011.

PASTAS

PASTAS DE DOCUMENTOS DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO ARQUIVO DO

CENTRO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA DA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO.

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ANEXO I - Modelo de questionário

O questionário abaixo foi aplicado aos moradores e não-moradores (estudantes, funcionários,

usuários dos equipamentos culturais e desportistas) do bairro de Marechal Hermes. 30 (trinta)

pessoas responderam.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (CCH)

ESCOLA DE MUSEOLOGIA

Este questionário visa entender os que os moradores e frequentadores pensam a respeito

do bairro de Marechal Hermes (Rio de Janeiro).

1. Nome (opcional):____________________________________________________

2. Data: ____/____/2011

3. Local realizado:________________________________

4. Sexo: ( )F ( )M

5. Idade:

( ) De 15 a 24 anos

( ) De 25 a 40 anos

( ) De 41 a 60 anos

( ) Mais de 61 anos

6. Nível de escolaridade:

( ) Primeiro grau incompleto

( ) Primeiro grau completo

( ) Segundo grau incompleto

( ) Segundo grau completo

( ) Terceiro grau incompleto

( ) Terceiro grau completo

( ) Pós-graduação

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7. Morador de Marechal Hermes?

( )Sim.Em que época?_______________________

( )Não.

8. Qual desses locais vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?(Escolha

duas opções mais significativas).

( )Estação de trem

( )Parque (IV Centenário) de Marechal Hermes

( )Grupos de bate-bolas

( )Baile Charme do Disco Voador

( )Hospital Carlos Chagas

( )Teatro Armando Gonzaga

( )Maternidade Alexander Fleming

( )Outros.Qual?____________________

9. Estuda ou estudou em alguma escola de Marechal Hermes?

( )Sim.Qual?

( )Escola Municipal Santos Dumont

( )Colégio Curso Progressão

( )Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá

( )Colégio Estadual Professor José Accioli

( )Outra._____________________

( )Não.

10. Você gosta do bairro?

( )Sim

( )Não.

( )Já gostei!

( )Se pudesse,moraria em outro lugar.

( )Não sairia do bairro de jeito nenhum.

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11. O que você gosta no bairro? (No máximo duas opções)

( )Vizinhança

( )Moradia

( )Serviços como hospitais,bancos,mercados

( )É bem localizado

( )Transporte para diversos pontos da cidade

( )Opções de lazer

( )Segurança

( )Limpeza

( )Outros.Qual?____________________________

( )Não tenho opinião

12. O que você não gosta no bairro? (No máximo duas opções)

( )Vizinhança

( )Moradia

( )Serviços como hospitais,bancos,mercados

( )Localização

( )Falta de transportes

( )Falta de opções de lazer

( )Insegurança

( )Falta de limpeza

( )Outros.Qual?____________________________

( )Não tenho opinião

13. Para você, os moradores de Marechal Hermes cuidam do bairro? ( )Sim ( )Não

14. Para você, o bairro recebe atenção da Prefeitura? ( )Sim ( )Não

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15. Você sabe por que Marechal Hermes é o nome do bairro?

( )Sim.Por qual motivo?

( )Por causa da Estação de Trem

( ) Idealização do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca

( ) Homenagem do Exército ao Marechal Hermes da Fonseca

( )Não.

16. Você sabe em que mês o bairro faz aniversário?

( )Sim.Quando?

( )Fevereiro

( )Maio

( )Outubro

( )Nenhuma das respostas

( )Não

17. Conhece algum bem tombado no bairro?

( )Sim.Qual?_______________________________

( )Não

18. Sugestão:

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

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ANEXO II- Resultados do questionário

O questionário foi reproduzido, porém com as respostas obtidas e os resultados estão em

negrito e entre parênteses para indicar a quantidade de pessoas e sempre em ordem decrescente, ou

seja, do maior número de pessoas que marcaram a mesma opção para a menor quantidade de

pessoas, por isso a ordem das opções antes no questionário será alterada agora no resultado, para

facilitar a compreensão.

Ressaltando que todos os respondentes colocaram seu nome, sendo 15 mulheres e 12 homens.

Idade:

(11 ) De 41 a 60 anos

( 7) De 25 a 40 anos

( 5 ) Mais de 61 anos

( 4 ) De 15 a 24 anos

Nível de escolaridade:

( 7) Segundo grau completo

( 6 ) Primeiro grau completo

( 5 ) Segundo grau incompleto

( 3 ) Primeiro grau incompleto

( 3 ) Terceiro grau incompleto

( 3 ) Terceiro grau completo

( 0 ) Pós-graduação

Morador de Marechal Hermes?

( 22) Sim.

( 5 ) Não.

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Qual desses locais vem à sua cabeça,quando fala em Marechal Hermes? (Escolha

duas opções mais significativas).Obs: Teve pessoa que marcou mais de duas opções.

(10) Hospital Carlos Chagas

( 8 ) Estação de trem

( 8 ) Parque (IV Centenário) de Marechal Hermes

( 6 ) Teatro Armando Gonzaga

( 5 ) Maternidade Alexander Fleming

( 4 ) Outros.Qual? Foram citados: A Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá,a

Praça Montese,o Campo do Botafogo

( 2 ) Grupos de bate-bolas

( 1 ) Baile Charme do Disco Voador

Estuda ou estudou em alguma escola de Marechal Hermes?

( 16 ) Sim.Qual?

( 4 ) Escola Municipal Santos Dumont

( 2 ) Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá

( 2 ) Colégio Estadual Professor José Accioli

( 1 ) Colégio Curso Progressão

( 7 ) Outra.

( 11) Não.

Você gosta do bairro?

( 24) Sim

( 2 ) Não sairia do bairro de jeito nenhum.

( 1 ) Se pudesse,moraria em outro lugar

( 0 ) Não.

( 0 ) Já gostei!

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O que você gosta no bairro? (No máximo duas opções).Obs: Teve pessoa que marcou

mais de duas opções.

(8) Vizinhança

(7) Transporte para diversos pontos da cidade

(6) Serviços como hospitais, bancos, mercados

(6) É bem localizado

(5) Moradia

(4) Segurança

( 3) Outros. Qual?Foram citados: amigos, Disco Voador

(3 ) Opções de lazer

(2) Limpeza

( 2) Não tenho opinião

O que você não gosta no bairro? (No máximo duas opções).Obs: Teve pessoa que

marcou mais de duas opções.

(11) Falta de opções de lazer

( 7 ) Insegurança

( 6 ) Não tenho opinião

( 5 ) Serviços como hospitais,bancos,mercados

( 4 ) Falta de limpeza

( 3 ) Localização

( 2 ) Falta de transportes

( 1 ) Vizinhança

( 1 ) Outros

( 0 ) Moradia

Para você,os moradores de Marechal Hermes cuidam do bairro? (16 ) Não (11)Sim

Para você,o bairro recebe atenção da Prefeitura? (19) Não (8 ) Sim

Você sabe por que Marechal Hermes é o nome do bairro?

( 21 )Sim.Por qual motivo?

(13) Homenagem do Exército ao Marechal Hermes da Fonseca. Obs:Um respondente

disse q foi homenagem ao Marechal Deodoro da Fonseca

(7) Idealização do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca (É a

resposta correta!)

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(0) Por causa da Estação de Trem

( 6)Não.

Você sabe em que mês o bairro faz aniversário?Obs: Quem respondeu no mês de maio

(que é a resposta correta) se lembrou q teve uma festa de comemoração do aniversário

do bairro no Disco Voador.

(15 ) Não.

( 12) Sim.Quando?

(8) Maio

(2) Nenhuma das respostas, sendo que uma pessoa disse que foi em abril

(1) Outubro

(0) Fevereiro

Conhece algum bem tombado no bairro?

(16) Sim. Foram citados corretamente: Estação de Trem,as escolas municipais Santos

Dumont e Evangelina Duarte Batista.Apontados incorretamente: bancos e mercados;

Disco Voador e parque ,o coreto (demolido,mas que não era tombado).

(11) Não.

No tocante à sugestão ,somente seis pessoas registraram a sua idéia,reclamação,que estão

abaixo:

“Atenção da prefeitura, principalmente nas épocas de chuva, e remoção da antiga

passarela em frente ao túnel de Marechal.”

“Melhorias nos hospitais, incentivo à cultura, centro de lutas.”

“Fazer uma boa divulgação do bairro. Anunciar que nós temos um teatro também!”

“Continuar o projeto de canalização que está paralisada na pça.Marechal Hermes [Praça

Montese],dando continuidade,atravessando a rede ferroviária,ligando diretamente ao rio.”

“Receber mais melhorias no bairro.”

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“Conserto das praças para crianças, mais lazer.”

“Eu acho que a prefeitura tinha que mais atenção ao bairro, e os moradores respeitarem e

cuidarem mais do bairro.”

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ANEXO III-Registro de entrevistas presenciais e por meio eletrônico

Entrevista realizada no dia 10/05/2011

Local: Teatro Armando Gonzaga

Entrevistado: Ignácio Neto-Diretor do Teatro Armando Gonzaga, Bacharel e Licenciado em

História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Especialista em Ensino de

História pela mesma instituição, Pós-graduado em Relações Internacionais pela Universidade

Cândido Mendes. É diretor do Teatro Armando Gonzaga desde 04/06/2008.

IGNÁCIO NETO (IN)

KARINA SOUZA (KS)

KS: Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Teatro Armando Gonzaga?Em caso

afirmativo, através de que/quem?

IN: Sim, sou nascido e criado em Marechal Hermes e morador há 36 anos.

Eu sou suspeito pra falar do bairro. Acho que essas características e não é à toa que salta

aos olhos, a ambiência, as ruas largas e bem arborizadas. Se pensar pelos olhos de uma

criança, [o bairro] é um mundo, „tô‟ falando do lugar como morador.

A divisão física (via férrea que divide o bairro) que existe no bairro-[mesmo que haja essa

rixa do que é lado de lá, ou lado de cá pra cada um], a divisão é física e não social.

O planejamento do bairro tem seu núcleo originário do lado de cá [referindo-se ao lado onde

está localizado o teatro].

Tenho familiares que moram dos dois lados, na Cedesse, na Aurélio Valporto, pelo lado da

Carneiro Felipe.

Tenho uma tia que morava na Igaratá [rua] e é onde eu tenho as melhores memórias. Meu tio

gaúcho fazia churrasco, morava numa casa grande (um terreno com três casas; nos fundos

era a casa mais antiga, a do meio onde moravam os meus tios e a da frente estavam

construindo.). Todo final de semana eu ia pra casa deles.

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Lembro das mulheres na cozinha fazendo o arroz, a maionese; meu tio aquecia o fogo,

preparando a carne que era pra semana toda. Eu e meu primo João, mais ou menos de 78 a

83-dos meus 3 a 8 anos e meu primo dos 7 aos 12, vendo jogo no quarto. Meu tio era da

Marinha e como viajava bastante, sempre trazia produtos de tecnologia mais avançada; pra

mim não era muito novo, porque meu pai trazia de viagem, ele viajava muito e ia muito para

Portugal, porque ele veio morar no Brasil em 1961.

Lembro ainda do meu tio bebendo uísque com água de coco, vendo futebol na Igaratá (rua);

no quintal tinham uns coqueiros.

KS: Quais os pontos positivos do bairro?

IN: O bairro foi planejado, tem uma série de colégios, crianças, professores, médicos, todos

se encontram no mesmo ambiente.

A questão da cultura, por possuir um teatro, 15 escolas. A juventude, a presença dos

militares e da base aérea, contato com a tecnologia [dos aviões], o antigo Campo da União

[time de futebol] que hoje é o Campo do Botafogo. São algumas referências para a garotada.

Alguns locais perderam a sua força, como o Marã [clube] saiu até uma miss, o Disco

Voador, eu ia quando era adolescente, mais ou menos uns 15,16 anos. [Pôô... expressão de

que quase se esquece de citar] tem o Bar do Celso que vem gente da Barra, de Nova Iguaçú,

de todos os lugares.

Eu digo que é um bairro cosmopolita, é um “cadinho do Brasil” tem gente de todo Brasil por

conta dos militares, é mais movimentado, você tem noção de regionalidade, na minha família

mesmo, tem gente da Bahia, do Rio Grande do Sul, há uma integração.

Outro exemplo é o ator Wagner Moura, que morou aqui dos 4 aos 7 anos, seu pai era militar.

O Visconde de Mauá [escola técnica] tinha o maior grêmio estudantil atuante do Rio de

Janeiro. Lembro com 9 anos, via os alunos, na Época das Diretas Já, todos indo para as

manifestações no centro da cidade.

Brinquei muito nessa praça [do Teatro Armando Gonzaga, que não tem nome] e nesses

jardins de Burle Marx, o teatro devido à sua autoria, arquiteto e paisagistas conhecidos

mundialmente, faz com que muitos estrangeiros venham conhecer o Teatro Armando

Gonzaga, atraindo também muitos universitários.

Falo como fui uma criança observadora, sendo um adulto observador, [são fatores] que

imprimiu em mim referências. E para se tornar um adulto que vai buscar entender são as

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oportunidades, as informações, os acessos, os contatos entre as pessoas para dialogar e

Marechal Hermes te proporciona isso.

No José Accioli [colégio de formação de professores], onde estudei, a Base Aérea são coisas

privilegiadas, ter contato com atores, músicos como Cristóvão Bastos, João do Vale, Osmar

do Cavaco, Serginho Procópio (sabe a música do Zeca Pagodinho, Talarico? - entrevistado

cantarola um trechinho.).

KS: Sei... sei...

IN: Então... é de autoria dele. A roda de samba (muito marcante) nos anos 70 e 80 aqui [no

bairro].

É um bairro 24 horas, aprazível, tem uma estrutura de uma cidade, a presença do hospital

[Carlos Chagas], a 30ª. D.P, a UPA, daí você entende porque a barraca de cachorro quente

funciona até às 6 da manhã.

O bairro é uma franja de fronteira (no sentido de muitos falarem se ainda é zona norte ou

zona oeste) e que quase rivaliza com Madureira em termos de transportes, número de

escolas.

KS: Quais pontos negativos do bairro?Como alterar essa questão ou como chamar

atenção do poder público?

IN: O bairro de Marechal Hermes é um bairro que apresenta características, infra –

estrutura de município. A presença de várias pessoas de vários lugares exige uma

manutenção, há um desgaste nos equipamentos, tem muitos alunos, requer um olhar dos

órgãos públicos, pois produz mais lixo. A questão dos hospitais e sendo um estadual, a

delegacia, atraem muitas pessoas.

A obra social que tinha objetivo de dar acolhimento às pessoas que acompanhavam seu

familiar no Hospital Carlos Chagas e que não tinham condições de voltar para casa ou

porque era longe ou não tinha dinheiro. Até hoje funciona, mas atendendo principalmente

moradores de rua, população essa que tem há mais de 30 anos [mas que nos últimos anos

tem aumentado significativamente].

Aqui existem duas zonas eleitorais, um posto de trabalho tem seus prós e contras... é preciso

ter um olhar mais apurado da COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), da

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Light, (Companhia de Energia Elétrica) da CEDAE (Companhia Estadual de Água e Esgoto

do Rio de Janeiro), uma ação mais pontual, pois um exemplo é o bairro de Bento Ribeiro

[bairro vizinho] que tem esses serviços, porém Marechal Hermes deveria receber essa

manutenção pelo menos três vezes a mais que os outros bairros, devido à sua estrutura de

município.

Ahh desse lado [do lado que está localizado o teatro] se concentram os serviços do poder

público, do lado de lá [se referindo ao lado da rua Carolina Machado] é mais comercial, é

muito movimentado também por conta do acesso à Avenida Brasil.

Ah Karina... voltando ainda aos pontos positivos... o bairro tem um “quê” de bucólico, de

provinciano, nos finais de semana você pode ouvir o sino da igreja, estamos a 37 minutos do

Centro [vindo de trem da estação Central do Brasil], parece que está no interior.

O bairro tem dupla opção de transporte público é muito importante, a valorização

imobiliária, diferente de Valqueire [bairro vizinho] que é perto, mas não tem muitas opções

de transporte e é negativo porque atrai mais gente, [devido] à facilidade.

Ainda ponto positivo, esse provincianismo que pode te trazer de memória, a manutenção a

permanência [das atividades], não deixa morrer, se perder, como o samba de raiz, o

chorinho, o diálogo entre diferentes gerações no mesmo local.

Cada tempo é um tempo né Karina, tem suas mazelas, não podemos deixar cair no discurso

“no meu tempo era melhor”, temos que ter cuidado com esse conservadorismo.

KS: Qual local vem a sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

IN: A Estação de trem.

KS: Por quê?

IN: Lembrança da minha vó... (pausa) Minha vó queria morar perto da estação, na João

Vicente [rua], por causa do meu tio que saia às 5:20 da manhã, e ela queria vê-lo indo pra

estação, ele ia pra UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro].

Por ser um lugar de partida e volta. E quando comecei a ultrapassar as fronteiras [a sair do

bairro],quando eu tinha uns 8-9 anos,quando comecei a ter domínio da memória. Já tinha

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ido a vários lugares, mas o que é mais marcante é quando eu ia ao Aterro do Flamengo com

minha mãe e minhas tias. A memória de ir de trem vem mais forte que ônibus.

O que fica perpassa o tempo, mantém a sua juventude.

O que impacta é a visão da estação.

KS: Como é elaborada a programação do teatro?

IN: Eu consulto, procuro ouvir servidores, os alunos dos cursos [realizados no Teatro

Armando Gonzaga], o bairro em torno. É preciso ter sensibilidade de perceber. Estamos

dentro do segundo maior teatro popular do município. Tem que ter sensibilidade de ouvir.

O Teatro Armando Gonzaga é tombado pelo INEPAC [Instituto Estadual do Patrimônio

Cultural] e vem projetos através da Secretaria Municipal de Cultura, prezando sempre a

qualidade técnica, cenográfica e de conteúdo, parcerias que buscam dialogar com a

população, como o Festival das Artes, Panorama, Entrando na Dança, programações com

preços populares.

E um ponto positivo é atual gestão [da Secretaria de Cultura] que dá autonomia aos gestores

[diretores] para pautar.

Muitos me perguntam por que aqui não tem programações como as do Centro, e eu aponto os

seguintes aspectos (pausa)... a adequação do espaço, é um teatro aconchegante de pequeno,

médio porte, com 242 lugares mais 2 para portadores de necessidades especiais, [sendo este]

um espaço vazio para cadeira de rodas ou cão guia.

Muitos [produtores] não demonstram interesse em vir pra cá. Motivos: parece que estamos

correndo atrás deles e os que vem,já vem pago não se preocupando se terá público ou

não.Você podia perguntar isso a eles,Karina...

Aqui [em Marechal Hermes] existem vários grupos atuando no bairro e quero que venha pra

cá,o que vai manter o teatro vivo,atrair aqueles que não estão vindo,os artistas e produtores

que estão batalhando por bilheteria,são os locais e que entendam o público.

O equipamento do Teatro Armando Gonzaga é tombado pelo INEPAC e a questão de obras

nas instalações é mais moroso, antes não tinha banheiro adaptado para deficientes, haviam

cadeiras localizadas nas saídas de emergência.

É preciso pensar no equipamento nos jovens produtores, na formação da platéia , na

diversificação da programação e dar acesso ao público e às produções (peças teatrais ,

danças,cinema).

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É questão de oportunidade, de acesso, de informação para orientar a nossa vida.

O papel das entidades públicas é dar acesso à informação.

KS: Qual o perfil do público?

IN: É um teatro estadual. [O lado provinciano] é muito o público local e do entorno e

[analisando] pelo lado cosmopolita, devido à sua criação [se referindo ao Reidy e ao Burle

Marx], o teatro atrai pessoas do Centro e da zona sul.Há presença de diversas faixas etárias.

KS: Como você percebe a participação, a relação dos moradores com o teatro?

IN: Pra quê tombar, se não preserva? Se não tem comunicação, vínculo, identificação [com

os moradores], é algo que vem de cima para baixo.

Na gestão anterior, quase não tinha espetáculos, estava muito parado.

Sinto que poderia ter sido mais bem aproveitado enquanto teatro,espaço,muitos dizem que

poderia ser um mercado,um estacionamento.

O Teatro Armando Gonzaga é um orgulho dos moradores, mas tem pouca participação em

todos os sentidos – frequentar ,pensar o espaço,cobrar,há muita omissão e dizem “deixa que

a direção resolva”.

Aí eu pergunto ...qual a razão do equipamento ,sobretudo público ,existir?É um tripé: é o

público - as pessoas que vem beber desse equipamento,sobretudo apresentação , é um lugar

múltiplo-musicais, danças, cinema, debates – tudo dentro do espectro da cultura.

As produções (diretor, ator, técnicos, cenógrafos) são eles que vão trazer a alma, vão dar

movimento ao teatro, mas o calor,quem aquece o teatro é o público,e o sopro desse espaço

são as produções.

E são os servidores que mantém a engrenagem [do teatro],mantendo

agradável,limpo,aconchegante ,dando conforto e fazendo com que os produtores sejam

sempre bem atendidos,e também organizando a documentação.

A equipe é formada por 22 pessoas e tentamos proporcionar um ambiente agradável tanto

para os funcionários como para o público.

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Entrevista realizada no dia 02/06/2011

Local: Parque IV Centenário-Marechal Hermes

Entrevistado: Márcio Costa - responsável pelo Parque IV Centenário-Marechal Hermes

KARINA SOUZA (KS)

MÁRCIO COSTA (MC)

KS: Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Parque IV Centenário-Marechal

Hermes? Em caso afirmativo, através de que/quem?

MC: Sim, através da minha esposa que já foi moradora daqui. Mas nunca morei aqui em

Marechal.

KS: Há quanto tempo o senhor e responsável pelo parque? E como isso se deu?

MC: Eu sou responsável aqui tem mais ou menos 20 anos, mas quem criou o parque foi meu

sogro Roberto Gomes (falecido) e minha esposa passou pra mim essa responsabilidade.

KS: Por que o Parque tem esse nome?

MC: Eu não sei bem direito..., mas o meu sogro, acho que queria comemorar alguma coisa

relacionada a um campeonato de futebol, acho que foi isso... não sei dizer direito,não...

KS: O senhor saberia me dizer quando ele foi criado e por quem? E por quê?

MC: Meu sogro vendo que no bairro não tinha nada de lazer criou o parque. No final do ano

que vem [final do ano de 2012] ele faz (o a parque) 50 anos.

KS: Na opinião do senhor, quais os pontos positivos do bairro?

MC: Aqui tem muitas escolas e é um lugar muito tranquilo.

KS: Quais os pontos negativos do bairro?

MC: Mesmo tendo o Hospital Carlos Chagas [estadual], a UPA [Unidade de Pronto

Atendimento], a maternidade [Alexander Fleming] não tem médicos, só isso!

KS: Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

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MC: A estação de trem [localizada em frente ao parque].

KS: Como o senhor percebe a participação, a relação dos moradores com o parque?Por

exemplo, as pessoas aceitam,reclamam da sua existência...

MC: Os moradores gostam do parque porque ele é de pequeno porte, não tem aqueles

brinquedos de aventura, todos são baixos (se referindo à inexistência de brinquedos como

montanha – russa e roda gigante), a criança fica ao olhar dos pais. É um parque antigo, a

gente recebe agora a terceira geração de crianças (se referindo às pessoas que eram crianças

e que brincavam no parque há muitos anos atrás agora trazem seus netos).

KS: Se o senhor pudesse, faria alguma alteração no parque?Em caso afirmativo, qual

seria?

MC: Se pudesse... aumentaria a quantidade de brinquedos, teria um espaço físico maior.

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Entrevista realizada no dia 05/06/2011

Local: Ponto de Cultura Arte e Memória no Subúrbio: Vila Proletária Marechal

Hermes

Entrevistado: Ronaldo Silva é um dos responsáveis pelo Ponto de Cultura Arte e Memória

no Subúrbio: Vila Proletária Marechal Hermes. É ator formado pela Escola Técnica Estadual

de Teatro Martins Pena / FAETEC e Licenciado em Artes Visuais pelo Centro Universitário

Metodista Bennett.

KARINA SOUZA (KS)

RONALDO SILVA (RS)

KS: Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Ponto de Cultura? Em caso afirmativo,

através de que/quem?

RS: Sim .Sou morador desde 1970, cheguei aqui ainda criança.

KS: Há quanto tempo o senhor é responsável pelo Ponto de Cultura?

RS: É uma vertente da ONG Espaço Cultural Cidadania em Movimento fundada em 2004,

mas quanto ao projeto, este foi elaborado em 2008 pelo Odenílson e por mim e foi aprovado

em 225/05/2009.[Desde então o Ronaldo é um dos responsáveis].

KS: Como surgiu a idéia da criação do Ponto de Cultura?

RS: A motivação aconteceu por conta da gestão do Ministro da Cultura Gilberto Gil , em que

as pessoas e sua cultura passaram a ser reconhecidas e valorizadas e não tanto a

arquitetura...Eu trabalhava em outra ONG no Grajaú e como sou ator eu já não tinha mais

tempo para ficar na ONG,Mas foi através do Raul e do Ignácio (ligados à Secretaria de

Cultura) [diretor do Teatro Armando Gonzaga] que fiquei sabendo que o prazo para enviar

propostas para a criação de ponto de cultura.Depois veio o Odenílson.Foram vários

dias,várias madrugadas.Depois de 700 projetos analisados,150 foram aprovados e dentre

eles,o nosso.

KS: Qual a proposta do Ponto de Cultura e quais são as atividades realizadas?

RS: Nós temos muitas parceiros e colaboradores,por exemplo trabalhamos com o CineClube

que acontece toda quinta-feira no Teatro Armando Gonzaga,mas com ele sendo

itinerante,criamos um ambiente parecido ao de uma sala de cinema em escolas,praças e

comunidades,é um viés de socialização.Atendemos cerca de 280 pessoas.Temos outro

trabalho que é o “Passeio fotográfico”,que buscamos deixar o olhar do morador [do

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participante] perceber o bairro.E isso me fez lembrar de uma situação que me aconteceu já

faz um tempinho...eu estava lendo um jornal que tinha uma reportagem sobre um suicídio

numa igreja e tinha a foto da igreja e eu achei que fosse de uma cidade do interior e quando

eu li a reportagem por inteiro ,vi que a igreja aqui de Marechal Hermes, a Nossa Senhora

das Graças e percebi que não tinha olhado direito pro bairro onde vivo.Também trabalhamos

com a prosa (música e poesia) com o objetivo de resgatar a história oral.

KS: Quantas pessoas trabalham no Ponto de Cultura? Quem pode participar?

RS: A equipe é composta pelo Odenílson, pela Sandra e Alexandra (que entrou em janeiro

desse ano e elas “rateiam” o salário),além de mim tem o Wagner que é praticamente o “faz-

tudo” e ainda contamos com ajuda de mais 08 (oito) pessoas.A comunidade toda pode

participar, a partir dos 6 (seis) anos até os 99 (noventa e nove) [o entrevistado ri],além das

parcerias com escolas e comerciantes da região.

KS: Na opinião do senhor, quais os pontos positivos do bairro?

RS: A segurança. Se compararmos com o restante do município do Rio de Janeiro, o bairro é

bastante seguro. É um ambiente bucólico,arborizado e você ainda tem esses serviços

(hospitais,escolas,teatro,ponto de cultura) e os moradores não desfrutam.

KS: Quais os pontos negativos do bairro?

RS: Acredito que seja a falta de comunicação aqui no bairro, [os moradores] não se

unem,há um distanciamento social, falta de interesse em fiscalizar os serviços. O crescimento

demográfico [da região] provocado pelos serviços oferecidos, faz com que o ideal [de

atender a um determinado número de pessoas] fique sobrecarregado. O morador de

Marechal Hermes mora,mas não fica [no sentido de aproveitar as atividades culturais do

bairro].Há uma negligência por parte do governo em relação aos mendigos.

KS: Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

RS: Não te digo um lugar, mas sim a questão da segurança. Nasci no Estácio [bairro do

município do Rio de Janeiro], pagode sempre, ia artista lá em casa, a velha guarda [Grêmio

Recreativo Escola de Samba Estácio de Sá , usando abridor de garrafa pra batucar e senti

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essa diferença quando cheguei em Marechal,mas [percebo] aqui em Marechal que há esses

encontros,mas não iguais no Estácio.

KS: Como o senhor percebe a participação, a relação dos moradores com o Ponto de

Cultura?

RS: Foi e tem sido um trabalho de “formigueiro” nesses três anos, resultado pelo resultado

[conciliando] teoria e prática.Atendemos cerca de 280 pessoas por mês. A gente sabe que

falta muita coisa ainda...

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Entrevista realizada no dia 15/08/2011

Local: Associação de Moradores de Marechal Hermes - Rua Igaratá nº 411

Entrevistado: Miguel Santos -Presidente da Associação de Moradores de Marechal Hermes

MIGUEL SANTOS (MS)

KARINA SOUZA (KS)

KS: É morador do bairro?Em afirmativo, através de quem/que?

MS: Sim . Nascido e criado há 68 anos.

KS:Há quanto tempo existe a Associação?Como é formada a equipe?

MS: Existe desde 10/07/1983 e temos 1.100 associados ,além de 43 fichas de pedidos para

pessoas se associarem.Para se tornar sócio,além de seguir o estatuto,deve colaborar com

R$5,00 todo mês.

KS:Qual é o objetivo da Associação de moradores?

MS: O objetivo é atuar como forma de pressionar o poder público, a favor do bem-estar dos

moradores.Nós criamos um plano estratégico para o bairro de Marechal Hermes quanto à

saúde,educação,transportes e saber o que o morador pensa a respeito desses serviços para

nos dirigirmos às autoridades públicas com respeito e sem temor.

KS: Na sua opinião, quais são os pontos positivos do bairro?

MS:O bairro é considerado o pólo mais importante entre o eixo Madureira –Bangu,porque

conta com19 escolas dentre elas duas técnicas e uma de formação de professores e nos

bairros vizinhos não tem.Temos uns dos maiores hospitais como o Carlos Chagas e a

Maternidade Alexander Fleming que já foi considerada a maior maternidade da América

Latina.Marechal é um bairro e não uma comunidade,berço de personalidades como os

jogadores de futebol Dadá Maravilha, Deivid (do Flamengo),entre outros,além de ser o

bairro de criação dos bate-bolas e vem gente conhecer os grupos de bate-bolas tanto do

Brasil quanto do exterior.[o entrevistado pega o porta-retrato com a foto da estação de trem

de Marechal Hermes] e diz: é a melhor e mais bonita estação que tem no Brasil.

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O bairro é considerado um dos menos violento, tem características residencial,possui o

melhor teatro e de melhor acústica da zona norte.

KS:Você pode indicar os pontos negativos? Como alterar essa questão ou como chamar

atenção do poder público?

MS: As enchentes. Podemos chamar atenção do poder público utilizando telefone, os meios

de comunicação para mostrar a calamidade, enviamos e-mails para as autoridades,a

associação tem o poder de reivindicar,mas de melhorar essa situação é o poder público.

KS:Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

MS: Eu sou muito bairrista e pra mim aqui é o melhor bairro para morar.A Estação de

Marechal com certeza,além dos amigos e vizinhos.

KS:Como você percebe a participação/preocupação dos moradores com bairro?

MS:Há uma participação muito grande,mas acontece a filosofia do urubu,o urubu só faz

casa quando chove,assim é que o morador faz,só procura a associação quando tem

problema,o que mora na Igaratá [rua] não quer saber o que ocorre na Acapú [rua],agora

quando uma rua enche (época das chuvas) inunda outras ruas vizinhas,por exemplo

rapidinho lembram que vivemos no mesmo bairro,quando o problema passa,esquece do que

ocorreu [dizendo que volta a ter individualismo entre os moradores].Poucos se preocupam

para que providências sejam tomadas,essa omissão não é só dos moradores de Marechal,mas

como de todo povo carioca.

KS:Como você analisa a relação do poder público com Marechal Hermes?

MS: Atualmente há uma grande interação entre a associação e o poder público,que

respeitam,acatam ou não as nossas necessidades, mas com muito respeito,tentando sempre

solucionar os problemas dos bairros.

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KS:Quanto à preservação da história e a memória de Marechal Hermes,como você

percebe?

MS:Acredito que deveria ter uma participação das “cabeças pensantes” de Marechal

Hermes,em analisar ,estudar mais sobre os grupos formadores do bairro como os

portugueses,espanhóis,árabes,turcos.Ter uma valorização maior e isso não acontece.

KS:Como é a participação dos moradores com a associação?

MS: Infelizmente, os moradores não têm vontade de participar ativamente.

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Entrevista realizada dia 20/08/2011

Local: Rua Nuaçu-Honório Gurgel-Esta rua faz divisa com o bairro de Marechal

Entrevistado:Antônio Carlos José Silva– Aposentado,75 anos de idade.Morou em Marechal

Hermes cerca de 60 anos e ex-funcionário do Hospital Estadual Carlos Chagas

ANTÔNIO SILVA (AS)

KARINA SOUZA (KS)

KS:É morador do bairro?Em afirmativo, através de que/quem?

AS: Hoje não...moro agora aqui em Honório Gurgel,mas nasci (1936) e morei na Sirici [rua

de Marechal Hermes],mas como a senhoria vendeu o terreno ,o dono do Armarinho da Ponte

[estabelecimento comercial localizado na Rua Carolina Machado,encostado na via férrea.]

pra fazer blocos de apartamentos,aí ...foi ordem de despejo mesmo.Aí moro aqui porque um

amigo morava na Piracaia [rua de Marechal Hermes] e ele tinha um bar e como eu gostava

de jogar sueca e jogos de carta,ele sempre me pedia ajuda porque eu trabalhava no Carlos

Chagas [Hospital Estadual] -ao todo uns 22,23 anos ,um familiar internado,eu ajudava na

enfermaria mesmo como não tinha vaga,arrumava uma caminha...até que um certo dia esse

meu senhorio perguntou se eu estava precisando de alguma coisa,aí eu falei, de uma

casinha,mesmo que desconte em folha...aí foi quando virei “vagabundo remunerado” [se

referindo depois da aposentadoria e da mudança de rua].

KS:Na sua opinião, quais são os pontos positivos do bairro?

AS: Aqui tem hospital, uma delegacia,muitas escolas.É bem servido.

KS:Você pode indicar os pontos negativos? Como alterar essa questão ou como chamar

atenção do poder público?

AS:Agora não...Eu não gostava era daquele rio que passa na estação de trem,era lama

pura...eu até catava rã para vender.Agora aquele canal tá conservado [Atualmente ele

continua transbordando em dias de chuvas intensas].Agora tá melhor ,mudou o aspecto das

ruas.

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KS:Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

AS:É onde eu trabalhei,o Carlos Chagas,mais de 20 anos trabalhando lá como

servente,auxiliar de portaria,escriturário,auxiliar administrativo,aí mandaram eu

“descansar” [aspas da autora].

KS:Como você percebe a participação/preocupação dos moradores com o bairro?

AS:Ah... tem ruas que não dá gosto de passar por causa das calçadas sujas e destruídas,não

custa nada os moradores cuidarem...

KS:Como você analisa a relação do poder público com Marechal Hermes?

AS:Mais ou menos,com serviço de limpeza nas ruas até que é bom.Quando ainda trabalhava

no hospital o problema era quando chovia.As ruas enchiam,era água pela cintura,lá pelo

lado da rua João Vicente,para chegar no trabalho tinha que dar volta por Bento Ribeiro

[bairro vizinho] para escapar da enchente,ainda acontece enchente.

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Entrevista por meio eletrônico

Data: 01/09/2011

Entrevistado: Alfredo César Tavares de Oliveira – Especialista em Sociologia Urbana pela

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),Mestre em Ciências Ambientais e Doutor

em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

ALFREDO OLIVEIRA (AO)

KARINA SOUZA (KS)

KS :É morador do bairro?Em caso positivo, o que levou a morar na região?

AO: Nasci no bairro de Marechal em 1959 e vivi na porção que era conhecida como

Portugal Pequeno até 1973.

KS: O que motivou a escrever /dissertar “Vila Proletária Marechal Hermes: uma utopia

urbana”?

AO: Pela sua originalidade urbana (como ruas e praças largas e casarões antigos) e pelo

apego que tenho por este espaço.

KS :Na sua opinião, quais são os pontos positivos do bairro?

AO: O transporte pelo trem, as ruas e praças bem arborizadas, escolas, teatro, hospital,

delegacia de policia e a igreja.

KS :Você pode indicar os pontos negativos? Como alterar essa questão ou como chamar

atenção do poder público?

AO: O desleixo do poder público, que sequer terminou o Rio Cidade II, a favelização de

casas, o abandono do Cine Lux e das praças. A melhor forma de chamar a atenção da

prefeitura é a mobilização do morador, o que hoje é pífia.

KS :Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

AO: A praça XV e as escolas, sobretudo a Evangelina onde estudei.

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KS :Como você percebe a participação/preocupação dos moradores com o bairro?

AO: Percebo que o morador pouco se manifesta pelo espaço em que mora; o poder público,

por sua vez, não dá ouvidos aos moradores.

KS :Como você analisa a relação do poder público com Marechal Hermes?

AO: Péssima. A relação é puramente clientelista.

KS :Devido à importância do bairro como patrimônio, qual seria a sua sugestão em

termos práticos para a preservação da história e da memória de Marechal.

AO: É necessário que se preserve algumas referências do bairro como a estação do trem e a

reconstituição e ativação do Cine Lux como centro cultural. O busto do Marechal Hermes, na

praça da estação, foi destruído e o coreto na praça XV, inaugurado por Vargas, foi arrasado

em troca de nada.

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Entrevista realizada por meio eletrônico

Data:01/09/2011

Entrevistado: Michael Meneses - Jornalista e pós-graduado em Artes Visuais pela

Universidade Estácio de Sá, professor dos cursos básicos de fotografia e jornalismo na

mesma instituição. É fotógrafo e também colaborador do Jornal Visão Suburbana.

MICHAEL MENESES (MM)

KARINA SOUZA (KS)

KS : Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Jornal Visão Suburbana? Em caso

afirmativo, através de que/quem?

MM:Moro em Marechal Hermes desde 1991, ou seja, 20 anos, apenas entre o início de 2002

e o final de 2003 estive residindo em Campo Grande, contudo sempre estive em Marechal

nesse período. E minha família por parte de pai mora no bairro desde os anos 1960. Meu

contado com o bairro vem desde 1974.

KS :O que é “Visão Suburbana”? E o seu objetivo?

MM:O Jornal segue o estilo “Fanzine” de ser, e promove a cultura e assuntos ofuscados

pela mídia e relacionados no bairro e adjacências, divulgando novos poetas, artistas,

escritores, fotógrafos, cartunistas. Um verdadeiro canal de divulgação cultural da região e

diferente dos chamados “Jornais de Bairros” que em muitos casos copiam textos da internet

e enchem suas páginas com anúncios locais e nenhuma nota sobre o bairro e região!

KS :Como foi criado?Como é composta a equipe?O jornal é semanal? Impresso ou só

virtual?

MM:Ambos, Impresso, virtual e até verbal, pois a equipe faz muitas ações e participa de

saraus poéticos.

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KS :Há alguma relação entre o Visão Suburbana com o CINECLUBE e com o Ponto de

Cultura Ponto de Cultura Arte e Memória no Subúrbio: Vila Proletária Marechal

Hermes ?

MM:Somos todos parceiros, e buscamos promover ações culturais no bairro e região. Já

realizamos por meio do Cineclube Nosso Tempo uma exibição de um filme em parceria com o

Visão Suburbana que incluiu todos esses grupos e ocorreu no Teatro Armando Gonzaga um

importante pólo cultural no Bairro de Marechal Hermes.

KS :Na sua opinião , quais são os pontos positivos do bairro?

MM: Desde sempre o bairro tem muitas histórias culturais, políticas, educacionais (é o

bairro com mais escolas e colégios do Rio). Foi o primeiro bairro operário do Brasil e desde

então muitos fatos aconteceram nele como, Pepeu Gomes e Baby Consuelo gravando clip no

parquinho do bairro, o primeiro show unindo Heavy Metal e Punk no Brasil aconteceu no

bairro em 1984, novelas, filmes, seriados tendo Marechal como cenário, jogadores como

Dadá Maravilha nasceram no bairro e muitas outras coisas a lista é infinita. Até o diretor

dos filmes “Rio” e “A Era do Gelo” saiu de Marechal.

KS :Você pode indicar os pontos negativos?

MM: Prá mim o transporte é a pior parte, acho que nunca foi bom, mas depois que vans e

kombis começaram a circular no bairro e fazendo o mesmo itinerários das linhas de ônibus

da região o transporte convencional só piorou. Cansei de sair de Campo Grande e de muitos

locais do Rio com ônibus circulando a noite toda e hoje isso é quase raro, e não tem vans ou

kombis fazendo esses trajetos de madrugada! Por outro lado também acho a população de

Marechal um tanto acomodada com o bairro, faz do bairro apenas a sua residência e se

mantém alienada para sua história, eventos culturais...

KS : Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

MM: Estação de Trem, escolas, Teatro Armando Gonzaga, Casarões...

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KS :Como você percebe a participação/preocupação dos moradores com o bairro?

MM: É desagradável falar isso, mas na verdade eu não vejo muita participação e/ou

preocupação por parte da maior parte dos moradores. Salve as iniciativas da ONG

Cidadania em Movimento, Cineclube Nosso Tempo, Jornal Visão Suburbana e outras ações

culturais que acontecem no Bairro e adjacências.

KS: Como você analisa a relação do poder público com Marechal Hermes?

MM: Não percebo nada de especial com o bairro em relação ao poder público, acho que é

até pouco aproveitado por eles, pois o bairro é um bairro de passagem e ligação para outros

bairros da zona norte, oeste e baixada fluminense e logo daria ótima visibilidade política.

Mas isso não ocorre! O que acontece são obras rotineiras. Prá se ter uma ideia o bairro tá

completando 100 anos e até agora nenhuma ação em comemoração a isso foi anunciada

pelos órgãos públicos, seja no parâmetro cultural, político, histórico...

KS: Como alterar essa questão ou como chamar atenção do poder público?

MM: Sabendo em quem e em como votar! Ao que percebo nesse sentido as coisas estão

melhorando na região, embora esteja longe do ideal!

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Entrevista realizada por meio eletrônico

Data :06/09/2011

Entrevistado: Gledson Vinícius - Escritor, poeta, cronista e Editor do Jornal Visão

Suburbana - O subúrbio Visto de Dentro.

KARINA SOUZA (KS)

GLEDSON VINÍCIUS (GV)

KS :Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Jornal Visão Suburbana? Em caso

afirmativo, através de que/quem?

GV : Sim, já conhecia. Sou morador da Vila Proletária Marechal Hermes.

KS :O que é “Visão Suburbana”? E o seu objetivo?

GV :Não é um objetivo. É uma conclusão! A cidade é compartimentada e a região que

compõe o “subúrbio” não tem muita relevância midiática. O suburbano é encarado de modo

“romantizado”, estereotipado. Dessa maneira, o Visão Suburbana é o meio de mostrar ao

mundo que o subúrbio “se pensa pelos seus próprios olhos também”.

KS :Como foi criado?Como é composta a equipe?O jornal é semanal? Impresso ou só

virtual?

GV :Nasceu como resposta a uma fase da minha vida que necessitava de afirmação. Eu

precisava mostrar que o local onde moro existia, pensava e tinha muito para falar... O nome

propriamente, veio de uma expressão usada na campanha para prefeito em 2008. O então

candidato Fernando Gabeira disse que uma candidata a vereadora tinha uma visão

suburbana sobre um aterro que ele pretendia construir caso eleito (na ocasião a fala tinha

uma idéia totalmente pejorativa). Essa foi a gota d‟água para eu mobilizar minhas idéias e

energias.

Nascendo como idéia individual o Visão Suburbana, pelo próprio nome, só teria

sustentação na contribuição coletiva. Dessa forma chamei suburbanos que tinham coisas

para falar.

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Hoje as contribuição (principalmente de minha parte) estão menores, por conta das

atividades que assumimos. Mas o coletivo conta com mais de 30 pessoas que publica,

divulga, organiza e discute idéias relacionadas ao subúrbio do Rio de Janeiro.

O Visão é um blog e também um zine impresso. Ambos não tem periodicidade.

KS :Há alguma relação entre o Visão Suburbana com o CINECLUBE e com o Ponto de

Cultura Ponto de Cultura Arte e Memória no Subúrbio: Vila Proletária Marechal

Hermes?

GV : Não. Somos um coletivo informal. Mas o tempo todo estamos em troca com os

responsáveis pelas ações citadas. São nossos parceiros. Foram fundamentais em nossos

encontros no Teatro Armando Gonzaga (lançamento do livro Poesia entre trilhos e versos e

do livro Marginal: Contos de Periferia e do evento Desargumentação a Cultura por trás do

Cristo Redentor).

KS :Na sua opinião , quais são os pontos positivos do bairro?

GV:Sem dúvida a história do bairro. O valor arquitetônico e político que o bairro carrega o

transformam em uma relíquia pouco explorada... Podemos notar pelas ultimas locações

cinematográficas que foram feitas no bairro.

Não posso esquecer-me da quantidade de equipamentos públicos que o bairro comporta.

Praças, Hospitais, Teatro, Escolas...

KS :Você pode indicar os pontos negativos?

GV : A.B.A.N.D.O.N.O

Sem dúvida o bairro vem sofrendo um processo de abandono, principalmente por seus

moradores.

KS :Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

GV : Estação de Trem.

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KS :Como você percebe a participação/preocupação dos moradores com o bairro?

GV: Existem pessoas engajadas, preocupadas. Mas não é comum encontrar, não... E o ponto

mais difícil é articulá-las (nosso grande sonho). O comércio do bairro também é

desarticulado e egoísta. Não se entendem como organismos pertencentes a uma comunidade.

Isso dificulta qualquer proposta de melhorias.

KS :Como você analisa a relação do poder público com Marechal Hermes?

GV : Feudal. Funciona através de vereadores que cooptam lideranças... Essas lideranças

acham que falam por todos e pedem benesses para seus problemas (ruas, casa). Nada é visto

de um ponto mais amplo. Não existe bairro na concepção dos políticos...

KS :Como alterar essa questão ou como chamar atenção do poder público?

GV : Articulação. Precisamos mobilizar os interessados em pensar o bairro. Descobrir essas

pessoas e fomentar discussões para entrosar os envolvidos. Só a partir do dialogo é que

teremos algum tipo de perspectiva positiva para nosso bairro.

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Entrevista realizada no dia 05/09/2011

Local: Disco Voador-R. Aurélio Valporto nº 94

Entrevistado: José Antônio Vieira Nicolau – Presidente do Disco Voador

KARINA SOUZA (KS)

JOSÉ NICOLAU (JN)

KS:Já conhecia o bairro antes de trabalhar no Disco Voador? Em caso afirmativo,

através de que/quem?

JN: Nasci aqui.Nós temos raízes muito profundas aqui.Minha família veio da Síria,do

Líbano„prá‟ cá .Atualmente não moro no bairro,ma o meu dia-a-dia é aqui,convivo aqui a

mais ou menos uns 50 anos.

KS:Há quanto tempo o senhor é responsável pelo Disco Voador? E como isso se deu?

JN: Eu praticamente trouxe o movimento charme junto com grandes DJs e tudo começou

há uns 35 (trinta e cinco) anos atrás. O Disco Voador é marcado pelo movimento charme

e já foi divulgado pelo mundo todo e saiu até uma publicação no The New York Times

como local de maior concentração da raça negra pacificamente.

KS:Por que o Disco Voador tem esse nome?

JN: Não é o disco voador espacial e sim o musical,o LP [long play].

KS:O Disco Voador e dito por muitos, foi considerado como o Templo do Charme.

Como se explica isso?

JN: A veneração que as pessoas tinham pelo espaço.Tive que morar em Goiás e precisei

arrendar o espaço,mas quem arrendou acabou destruindo,isso aconteceu em 2001 e

também misturando os ritmos afastou quem curtia o charme.Aí retornei,tentei colocar

tudo em ordem outra vez,mas a violência é muito grande à noite ,transporte precário

acaba afastando as pessoas de vir „pra‟ cá.

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KS:Atualmente o que é o Disco Voador?

JN: Antes era dividido em duas partes [funções]:a comercial que era o próprio baile e o

social em que cedíamos o espaço à famílias e instituições.Hoje abrigamos atividades

esportivas vinculadas ao governo,o Estado paga ao professor e nós cedemos o espaço.

KS:Na opinião do senhor, quais os pontos positivos do bairro?

JN:Ser um bairro provinciano,onde todo mundo se conhece.

KS:Quais os pontos negativos do bairro?

JN: Falta de transportes, a questão das drogas é universal e pouca segurança, apesar de

nunca o baile ter tido problemas, pois o público charmeiro é seletivo.

KS:Qual local vem à sua cabeça, quando fala em Marechal Hermes?

JN: São as raízes da minha família.

KS:Como o senhor percebe a participação, a relação dos moradores com o Disco

Voador?

JN: São bem integrados por conta dos projetos sociais (capoeira ,judô,dança,ginástica

para terceira idade) tenho idéia de implantar mais atividades e tudo custo zero aos

participantes,o critério é saúde.

KS:Tendo em vista que existem muitos bailes charmes na região e que cada vez

surgem outros (Oswaldo Cruz, Madureira), pretende retomar com o famoso baile

Charme do Disco?

JN: Eu até voltei, mas foram realizados 28 (vinte e oito) bailes ,2 (dois) eu ganhei

dinheiro e tive 26 (vinte e seis) prejuízos.Apesar do Disco ter uma estrutura boa,não tem

embelezamento e é o que as pessoas querem.Roubaram telhas,parte elétrica,o dinheiro

acabou e não deu pra embelezar,gastei o que tinha e o que não tinha para tentar deixar

da melhor forma.Fica difícil...se puder pretendo voltar.

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Entrevista realizada por meio eletrônico

Data:no dia 16/09/2011

Entrevistado: Cacá Diegues- Cineasta

KARINA SOUZA (KS)

CACÁ DIEGUES (CD)

KS: Meu trabalho de conclusão de curso é sobre o bairro de Marechal Hermes e como

foi local que serviu de cenário para o excelente filme Chuvas de Verão, gostaria de saber

o que fez o senhor escolher essa região?

CD: Quando fiz "Chuvas de Verão", pensava muito em algumas experiências e lembranças

de minha infância em Maceió e de minha adolescência, já no Rio de Janeiro, morando no

bairro de Botafogo.

Quando procurei onde filmar "Chuvas de Verão", sempre pensei em encontrar um lugar

parecido com o que eram essas duas vizinhanças no tempo em que eu vivi nelas – regiões

humanas calmas e tranquilas, moradias de classe média a classe média baixa, onde os

vizinhos se conhecem e se relacionam de uma maneira muito mais íntima e solidária do que

nos bairros agitados de centros urbanos.

Eu já conhecia Marechal Hermes, lembrei-me do bairro e fui com minha equipe visitá-lo

mais uma vez. Encontrei lá exatamente o que procurava essa paz superficial que sufoca os

inevitáveis e às vezes inconfessáveis dramas humanos.

Antes mesmo de começarmos a filmar, eu e grande parte de minha equipe mudamo-nos para

lá, alugando uma casa em frente àquela em que filmávamos (a casa do velho Afonso, no

filme).

Durante os meses que morei nessa casa de Marechal Hermes, antes e durante as filmagens de

"Chuvas de Verão", convivi com toda aquela vizinhança, me tornando um deles. Isso me

ajudou muito na realização do filme, além de me dar um grande prazer pessoal.

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