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REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA GEPES/UFMA Nº02 ANO 01/2010 http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma A sociedade é sonora! Nosso ambiente é repleto de sons que são parte integrante da Paisagem Sonora que o compõe e se transforma à medida que sons e mais sons são acrescidos e ou suprimidos do ambiente, em boa parte, pela ação do ser humano; hoje, produzimos, cada vez mais e de forma desordenada, sons que vão se tornando parte do ambiente transformando-o dia-a-dia numa “odisséia sonora” que vem deixando, gradualmente, surda nossa sociedade. Assim, com o intuito de estabelecer interface entre Ensino de Música e ambiente, criamos o Grupo de estudos e pesquisa em Ecologia Sonora - Gepes, onde empreendemos, no momento, um mapeamento sonoro do centro histórico do bairro Praia Grande, em São Luis, Maranhão. São Luís tem sua história ligada, diretamente, ao descobrimento do Brasil, por conseguinte, a cidade possui riqueza cultural ímpar, significativa e singular. Seu centro histórico, hoje, convive com uma Paisagem Sonora muito diferente da original e é natural que seja assim, porém, esta nova Paisagem Sonora está em consonância com o ambiente em que interfere? De que forma o ambiente estimula a produção de som e ruído ou ainda, de que forma esta relação contribui para que sejamos induzidos a “aceitar”, a tolerar e assim, permanecer, no ambiente? Estas são questões interessantes e nos levam à reflexão a partir do instante que tomamos consciência do ambiente sonoro ao nosso redor. O Gepes, tem na pesquisa participante o princípio metodológico mais adequado às nossas necessidades de investigação. “A importância na articulação – conhecimento e aplicabilidade visando uma melhoria nas relações do homem com a sociedade – que se faz presente neste tipo de pesquisa social nos é primordial, não havendo lugar para uma forma mais convencional de investigação, pois de nada adiantaria um relato quantitativo e ilustrativo, sem que houvesse um retorno para o seio social, buscando uma interação e uma possível transformação do ambiente social”(SILVA, 2006). O desenvolvimento de tal proposta, inovadoramente ousada, no âmbito da Educação Musical no Brasil, nos faz perceber o belo caminho que temos pela frente. Como nos mostra a pesquisadora Profª Drª Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, maior autoridade no assunto na América Latina e que muito tem nos apoiado: “O professor Marco Aurélio tem se mostrado um pesquisador interessado e atuante com inegáveis benefícios para a Universidade onde atua, para o estado do Maranhão e para todo o Brasil e, em minha opinião tem o perfil acadêmico adequado para desenvolver os estudos a que se propõe(...) Ele tem muito boa formação acadêmica e está investindo em uma área ainda iniciante no Brasil – a da Ecologia Acústica – com aplicações nas áreas de Educação e de Artes(...)” Algumas palavras... Caro Marco Aurélio, parabéns pela iniciativa. Deste lado do atlântico, espero que possamos estreitar relações institucionais, de forma a que possamos ser parceiros em muitos dos projectos que por aí vão sendo realizados. Um abraço transatlântico”. Profº Drº LEVI LEONIDO F. DA SILVA Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/ Escola das Ciências Humanas e Sociais/ Departamento de Educação e Psicologia/Director da Revista Europeia de Estudos Artísticos/ Investigador do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias das Artes. “Que maravilha!!!Somos os pioneiros em uma linha de pesquisa raríssima em nosso País, isto é muito gratificante para nós”! Ingrid Kelly Castro e Silva Integrante do Gepes/aluna do curso de música Bolsista PIBIC/FAPEMA “Sabemos o quanto sua pesquisa é importante para uma tomada de consciência, para uma percepção sonora mais atenta e preocupada com os sons que estão a sua volta” Munique Silva Integrante do Gepes Profª de Dança e pesquisadora EDITORIAL Nº 02 ANO 01 GEPES/UFMA 2º SEMESTRE 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARTES GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA O Gepes Professor e pesquisador Marco Aurélio e a Pesquisadora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, em apresentação do projeto de pesquisa do GEPES no Instituto de Artes da UNESP, Sãõ Paulo, Brasil.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE … · som e ruído ou ainda, ... consciência, para uma percepção sonora ... falta de controle afeta a saúde do indivíduo e

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REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA GEPES/UFMA Nº02 ANO 01/2010 http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma

A sociedade é sonora!Nosso ambiente é repleto de sons que são parte integrante da Paisagem Sonora que o compõe e se transforma à medida que sons e mais sons são acrescidos e ou suprimidos do ambiente, em boa parte, pela ação do ser humano; hoje, produzimos, cada vez mais e de forma desordenada, sons que vão se tornando parte do ambiente transformando-o dia-a-dia numa “ o d i s s é i a s o n o r a ” q u e v e m deixando, gradualmente, surda nossa sociedade. Assim, com o intuito de estabelecer interface entre Ensino de Música e ambiente, criamos o Grupo de estudos e pesquisa em Ecologia Sonora - Gepes, onde empreendemos, no momento, um mapeamento sonoro do centro histórico do bairro Praia Grande, em São Luis, Maranhão.

São Luís tem sua história l i g a d a , d i r e t a m e n t e , a o descobrimento do Brasil, por conseguinte, a cidade possui riqueza cultural ímpar, significativa e singular. Seu centro histórico, hoje, convive com uma Paisagem Sonora muito diferente da original e é natural que seja assim, porém, esta nova Paisagem Sonora está em consonância com o ambiente em que interfere? De que forma o ambiente estimula a produção de som e ruído ou ainda, de que forma esta relação contribui para que sejamos induzidos a “aceitar”, a tolerar e assim, permanecer, no ambiente? Estas são questões interessantes e nos levam à reflexão a partir do instante que tomamos

consciência do ambiente sonoro ao nosso redor. O Gepes, tem na pesquisa p a r t i c i p a n t e o p r i n c í p i o metodológico mais adequado às n o s s a s n e c e s s i d a d e s d e investigação. “A importância na articulação – conhecimento e ap l i cab i l i dade v i s ando uma melhoria nas relações do homem com a sociedade – que se faz presente neste tipo de pesquisa social nos é primordial, não havendo lugar para uma forma mais convencional de investigação, pois de nada adiantaria um relato quantitativo e ilustrativo, sem que houvesse um retorno para o seio social, buscando uma interação e uma possível transformação do ambiente social”(SILVA, 2006). O desenvolvimento de tal proposta, inovadoramente ousada, no âmbito da Educação Musical no Brasil, nos faz perceber o belo caminho que temos pela frente. Como nos mostra a pesquisadora Profª Drª Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, maior autoridade no assunto na América Latina e que muito tem nos apoiado: “O professor Marco Aurélio tem se m o s t r a d o u m p e s q u i s a d o r interessado e atuante com inegáveis benefícios para a Universidade onde atua, para o estado do Maranhão e para todo o Brasil e, em minha opinião tem o perfil acadêmico adequado para desenvolver os estudos a que se propõe(...) Ele tem muito boa formação acadêmica e está investindo em uma área ainda iniciante no Brasil – a da Ecologia Acústica – com aplicações nas áreas de Educação e de Artes(...)”

Algumas palavras...

“Caro Marco Aurélio, parabéns pela iniciativa.Deste lado do atlântico, espero que possamos estreitar relações institucionais, de forma a que possamos ser parceiros em muitos dos projectos que por aí vão sendo realizados. Um abraço transatlântico”. Profº Drº LEVI LEONIDO F. DA SILVAUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/Escola das Ciências Humanas e Sociais/Departamento de Educação e Psicologia/Director da Revista Europeia de Estudos Artísticos/Investigador do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias das Artes.

“Que maravilha!!!Somos os pioneiros em uma linha de pesquisa raríssima em nossoPaís, isto é muito gratificante para nós”!

Ingrid Kelly Castro e SilvaIntegrante do Gepes/aluna do curso de músicaBolsista PIBIC/FAPEMA

“Sabemos o quanto sua pesquisa é i m p o r t a n t e p a r a u m a t o m a d a d e consciência, para uma percepção sonora mais atenta e preocupada com os sons que estão a sua volta”

Munique SilvaIntegrante do GepesProfª de Dança e pesquisadora

BOLETIM INVESTIDOR EDIÇÃO N°3 OUTONO 2009EDITORIAL Nº 02 ANO 01 GEPES/UFMA 2º SEMESTRE 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ARTESGRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA

O Gepes

Professor e pesquisador Marco Aurélio e a Pesquisadora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, em apresentação do projeto de pesquisa do GEPES no Instituto de Artes da UNESP, Sãõ Paulo, Brasil.

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INTRODUÇÃO

O tema trata da importância que o Ensino de Música ocupa na relação entre a poluição sonora e a falta de uma audição cuidadosa do ambiente, buscando assim, o entendimento do vínculo que se estabelece entre Ensino de Música e Paisagem Sonora, através da construção de uma audição seletiva, entendendo o lugar a ser ocupado pelo professor de música. A compreensão desse vínculo e a adoção de medidas necessárias ao desenvolvimento deste tipo de escuta incidem na formação profissional, sendo assim, têm implicações diretas na reflexão acerca dos currículos e ações desenvolvidas nos cursos de Licenciatura em Música. Ainda hoje, é muito comum a associação do termo meio ambiente com espaços rurais ou simplesmente imagens ligadas à fauna e à flora, ou seja, uma visão ainda naturalizada de meio ambiente prevalece. Certamente estas imagens fazem parte do ambiente, porém, não estão sós. Não se pode ignorar o ambiente sonoro e suas implicações auditivas na sociedade e devemos, também, nos preocupar com o que e como ouvimos. O desenvolvimento da sociedade deve ser acompanhado de um pensar sonoro, pois, nosso tempo é sonoro e o ruído faz parte deste universo desenhando nossa Paisagem Sonora; o ruído do ambiente, o ruído da sociedade, o ruído da vida. Esta Paisagem Sonora se torna para nós uma possível ferramenta na construção de uma relação ecológica, onde através da Audição Inteligente – terminologia que está sendo por mim desenvolvida em tese de Doutorado - s e r emos capazes de conv ive r com o desenvolvimento da sociedade sem a perda da qualidade sonora e, conseqüentemente, de vida, seja em questões pontuais ou no ambiente social como um todo.

Há muito sabemos que a escola não é o único lugar em que se aprende e produz conhecimento, assim, buscamos no seio social os elementos necessários à nossa diagnose, procurando estar atentos para a importância do ouvir e da consciência sonora. Pela interface que se estabelece entre Paisagem Sonora, Ensino de Música e Ambiente Social, o projeto tem como finalidade propor um estudo sonoro do bairro Praia Grande, objetivando entender como a nova Paisagem Sonora que se constitui no lugar influi, se influi, no panorama sônico deste bairro que é de estratégica importância histórico-social para a cidade de São Luis. Pensamos que assim possamos contribuir para uma tomada de consciência por parte desta sociedade na construção de um “olhar” sonoro mais atento.

DISCUSSÃO TEÓRICA

Questões relacionadas a preservação ambiental têm, ainda que tardiamente, recebido destaque na comunidade científica. Estudos cada vez mais elaborados suscitam problemas, discutem alternativas e apontam medidas que, se não têm o poder de solucioná-los, ao menos propõem amenizar seus efeitos sobre a sociedade contemporânea. Deste espaço, pouco é reservado às questões ligadas a poluição sonora que, paradoxalmente, se tornou uma “patologia social”, se assim podemos chamar, silenciosa. Nos habituamos ao ruído excessivo com certa dose de resignação como se não fôssemos os atores principais desta história. A questão primordial deste estudo reside em entender o seguinte: Como a interface existente entre o Ensino de Música e a Paisagem Sonora pode contribuir para a construção do conceito de Audição Inteligente, a partir da análise do ambiente

GEPES/UFMA/DEART 2º SEMESTRE DE 2010

A PAISAGEM SONORA E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO DE MÚSICA: BREVE RELATO ACERCA DA PESQUISA

Por: Marco Aurélio A. da Silva UFMA

Doutorando em Ciências da Cultura, Mestre em Ensino de Ciências do Ambiente , Especialista em Ensino Superior, Bacharel em música e licenciado em música. Professor do Departamento de Artes da Universidade Federal do Maranhão.

E-mail: [email protected]

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sonoro do centro histórico da cidade de São Luis, Maranhão? E como corolário desta questão, de que modo construir uma escuta sensível em alunos dos cursos de Licenciatura em Música, durante seu período de formação, de forma a habilitá-los para empreender trabalhos de Educação Musical interligados às questões da Paisagem Sonora? O músico e pesquisador canadense R. Murray Schafer começou a desenvolver, a partir da década de 1970, um projeto - até então inédito - chamado The Soundscape Project, em que realizou um estudo sistematizado sobre a produção sonora em ambientes rurais e urbanos, tendo como objetivo principal chamar a atenção da sociedade para a questão da escuta, apontando soluções práticas e contribuindo para a melhoria da percepção auditiva das pessoas. Paisagem Sonora é, segundo o conceito que norteia nossa reflexão, uma expressão usada nos países latinos, traduzida do inglês "soundscape" - neologismo criado por Schafer -, que tenta descrever - qual uma pintura - os sons de um determinado ambiente. Para Schafer, a Paisagem Sonora é formada por todo e qualquer som que se propaga por um determinado ambiente, sendo assim, a percebemos em constante mudança e a poluição sonora, parte integrante de nossa Paisagem Sonora, está presente no cotidiano da sociedade. A falta de atenção a esta realidade traz sérios problemas para a vida e saúde do ser humano. “A poluição sonora ocorre quando o homem não ouve cuidadosamente. Ruídos são os sons que aprendemos a ignorar”(SCHAFER, 2001, p.18). Hoje, discussões em torno de questões acerca da preservação ambiental ganharam espaço considerável na agenda da comunidade acadêmica e c ien t í f i ca ; na soc iedade contemporânea, porém, o som parece não integrar parte relevante destes temas em reflexão. “Apesar de nos últimos anos ter havido um crescimento vertiginoso do desenvolvimento dos índices de poluição sonora, principalmente nos centros urbanos, as questões tecnológicas para a minimização da poluição sonora estão longe de superar hábitos arraigados e culturalmente ensinados aos jovens”(BASTOS; MATTOS,

2008, p.1). E podemos verificar que “O som em excesso – ou indevido – acarreta conseqüências severas à qualidade de vida da população. Sua falta de controle afeta a saúde do indivíduo e contamina intensamente as relações sociais. À medida que a cidade cresce, queixas públicas relacionadas ao ruído tornam-se cada vez mais numerosas”(EL HAOULI;FONTERRADA; TABORDA, 1998, p. 6). A Educação Musical se configura em relevante ferramenta para reflexão na construção de uma Paisagem Sonora equilibrada, pois, as fontes poluentes então mais perto de nós do que se pode imaginar e o conteúdo construído a partir do entendimento desses fenômenos pode tornar o alunado mais sensível em relação ao universo sonoro. “Esses novos sons, que diferem em qualidade e intensidade daqueles do passado, têm alertado muitos pesquisadores quanto aos perigos de uma difusão indiscriminada e imperialista de sons, em maior quantidade e volume, em cada reduto da vida humana”(SCHAFER, 2001, p.17).A Educação Musical, em suas possibilidades de intervenção no que tange às questões relacionadas à poluição sonora, parece ignorar a Paisagem Sonora como algo a ser observado com critério e cuidado no sentido de buscar entendimento sobre nossa realidade sônica, o que abre uma lacuna na formação de alunos, professores e cidadãos. “Se ainda acreditamos na educação como alavanca para transformação social, concordamos que ela deve ser estendida além dos muros da escola, inserida em todos os ambientes sociais”(CASTRO, 2001, p.6). Galiazzi, em pesquisa empreendida no ambiente de formação de professores de ciências, nos chama a atenção para a lacuna existente entre realidade e preparação docente. Segundo a pesquisadora: “Outro dos dilemas a serem superados pelos cursos de Licenciatura é a falta de integração entre a Licenciatura e a realidade. Há pouca consonância entre quem forma o futuro professor e os sistemas que o absorvem como profissional”(2003, p.23); isto nos faz ver que o Ensino de Música deve se apropriar deste pensar em direção ao ambiente sonoro. Entretanto, “(...) o som ambiental e as questões que o cercam têm,

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ainda, pouco espaço de divulgação. Em alguns países desenvolvidos, existe uma certa preocupação a esse respeito, mas nos países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, a q u e s t ã o é p r a t i c a m e n t e i n e x i s t e n t e(FONTERRADA, 2004, p.43). Percebemos, assim, a importância do lugar que se constitui ao educador musical na discussão e pesquisa de temas relacionados a escuta. Em 1998, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a Pro-Arte, no Rio de Janeiro, um grupo de pesquisadores, dentre eles Marisa Trench de Oliveira Fonterrada e Tato Taborda, publicou uma cartilha chamada “Escuta: a Paisagem Sonora da cidade” onde “O que se constata é que, dentro do perímetro urbano, especialmente nas cidades grandes, a população é submetida a índices de ruído cada vez mais intensos, constituindo-se a poluição sonora uma das principais fones de conflito da vida moderna”(EL HAOULI;FONTERRADA; TABORDA; et al, 1998). Segundo Adorno,“as formas de arte registram a história da humanidade com mais exatidão do que os documentos”(2002, p.42). Assim, para a pesquisa sonora, aqui, para o Ensino de Música e a Paisagem Sonora, o som e o universo sonoro do ambiente devem estar em constante ressonância com seus estudos e práticas educativas, uma vez que, se faz necessário poder discernir sobre que fontes sonoras devem estar presentes em cada momento; o silêncio absoluto talvez não exista. “Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e nenhum silêncio existe que não esteja grávido de sons.”(CAGE apud FUCKS, 1991, p.16.). Paulo Freire nos chama a atenção para a necessidade de se saber escutar: “(...)necessário é saber escutar (...)”(FREIRE, 1996, p.127). O ser humano pouco atento aos sons que houve é como alguém que enxerga mais não vê. Parafraseando Paulo Freire: “Educar é discernir o ouvir”. Nós educadores temos uma tarefa maior do ensinar rudimentos teóricos sobre nossa arte e ou ciências. “Apresentar aos alunos de todas as idades os sons do ambiente; tratar a paisagem

sonora do mundo com uma composição musical, da qual o homem é o principal compositor; e fazer julgamentos críticos que levem à melhoria de sua qualidade”(SCHAFER, 1992, p.284). A chave do estudo de Schafer parece-nos a máxima do trabalho de Educação Musical, onde, “(...)compreender que a educação musical não é apenas uma atividade destinada a divertir e entreter as pessoas, tampouco um conjunto de técnicas, métodos e atividades com o propósito de desenvolver habilidades e criar competências, embora essa seja parte importante de sua tarefa. O mais significativo na educação musical é que ela pode ser o espaço de inserção da arte na vida do ser humano, dando-lhe possibilidade de atingir outras dimensões de si mesmo e de ampliar e aprofundar seus modos de relação consigo próprio, como outro e com o mundo” FONTERRADA, 2008, p. 117). A Paisagem Sonora não é caminho único e muito menos saída redentora, porém, é essencial para o aprendizado e construção de uma consciência sonora, no conceito que chamamos de Audição Inteligente.

A PESQUISA

Buscando um elo entre o saber e a ação através da participação dos atores que, ao nosso olhar, têm elementos para auxiliar na construção de uma consciência ecológica acerca da acuidade auditiva, pensamos ser a pesquisa participante o princípio metodológico mais adequado às nossas necessidades de investigação. A importância na articulação – conhecimento e aplicabilidade visando uma melhoria nas relações do homem com a sociedade – que se faz presente neste tipo de pesquisa social nos é primordial, não havendo lugar para uma forma mais convencional de investigação, pois de nada adiantaria um relato quantitativo e ilustrativo, sem que houvesse um retorno para o seio social, buscando uma interação e uma possível transformação do ambiente social. Nosso processo de investigação tem - apoiado no observar, coletar, interpretar, argumentar e construir - estreita relação com as

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bases da pesquisa participativa e, além disso, este tipo de pesquisa nos dá a flexibilidade que necessitamos para a construção do saber, sem

nos engessarmos em técnicas metodológicas que não resultam em retorno à sociedade do que foi construído e investigado. Este retorno se configura em elemento de atração e talvez por isso, este tipo de pesquisa venha sendo cada vez mais desenvolvido na área educacional. “Numa Pesquisa sempre é preciso pensar, isto é, buscar ou comparar informações, articular conceitos, avaliar ou discutir resultados, elaborar generalizações, etc”(THIOLLENT, 2002, p.27). Assim, nossa proposta está articulada em duas etapas: 1 ª e t a p a : E s t u d o B i b l i o g r á f i c o , reconhecimento, compreensão e análise da Paisagem Sonora do bairro praia grande; 2ª etapa: A elaboração, a partir do que foi colhido e analisado na etapa anterior, em conjunto com a comunidade, de publicação didática que possibilite uma tomada de consciência por parte da sociedade acerca das implicações decorrentes da exposição e produção sonora de forma desordenada e indiscriminada. O aporte metodológico da Pesquisa Participante nos dá flexibilidade e os sons do cotidiano se tornam, também, uma forma atraente de difusão dos resultados conquistados no projeto, pois, através dele propomos um pensar sonoro em que a comunidade envolvida e pesquisada interferirá, diretamente, no andamento do projeto.

ATIVIDADES PROPOSTAS

Propomos: Realizar um reconhecimento da Paisagem Sonora do bairro Praia Grande; conhecer, através de captação de áudio, com gravador digital e aferição de decibéis, com um decibelímetro, a realidade sonora do ambiente da comunidade do bairro; conhecer as competências prévias que o grupo investigado possui sobre os conceitos de som e ruído, mensurando seu nível de conhecimento e preocupação acerca destas ques tões , a t ravés de um ques t ionár io

semiestruturado; coletar dados sobre a legislação sonora ambiental no âmbito municipal, estadual e federal, entendendo se as regras vigentes são claras, e ainda, se são cumpridas; levantar e analisar dados sobre os impactos da Paisagem Sonora do ambiente em questão no cotidiano da comunidade, propondo aos participantes, sempre que possível, uma reflexão sobre a qualidade sonora a partir da exposição do áudio captado; comparar os dados colhidos após a nossa intervenção com dados anteriores a ela, para observar a evolução do panorama sonoro em questão; registrar através de fotografias todo o processo realizado; editar o áudio coletado, se possível junto aos participantes, para que faça parte de Cd que acompanhará a publicação didática.

RESULTADOS ESPERADOS

Considerando os objetivos pretendidos de se construir um mapeamento do panorama sonoro do bairro Praia Grande, em São Luis, a avaliação será processual, respeitando as competências desenvolvidas e as especificidades do grupo participante; ao final do projeto, esperamos entender como se dá a relação entre ambiente sonoro e comunidade, conhecendo assim, seus problemas e buscando soluções exeqüíveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, Theodor Wiesengrund. Filosofia da Nova Música. São Paulo: Ed.Perspectiva, 2002.BASTOS, Patrícia Weishaupt; MATTOS, Cristiano Rodrigues. Física e poluição sonora: uma proposta de dinâmica do perfil conceitual. Curitiba: XI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física, 2008.CASTRO, Luciana. Análise dos padrões de voz no Cinema. A Comunicação oral humana em duas versões de The Nutty Professor. Rio de Janeiro: Dissertação (Mestrado) NUTES/UFRJ, , 2001.EL HAOULI, Janete; FONTERRADA, Marisa: TABORDA, Tato: NEVES, Estela: SANT’ANNA, Elisabeth: COUTO, Natalia L.F. Escuta! A paisagem sonora da cidade. Cartilha da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e Pró-Arte. Rio de Janeiro, 1998.FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios. São Paulo: Editora UNESP, 2008.__________________________. Ecologia Sonora. São Paulo: Irmãos Vitale, 2004.FUCKS, Rosa. O Discurso do Silêncio. Rio de Janeiro: Enelivros Editora e Livraria Ltda, 1991.GALIAZZI, Maria do Carmo. Educar pela pesquisa: ambiente de formação de professores de ciências. Rio Grande do Sul: Editora Unijuí, 2003.SCHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2001. ______________. O Ouvido Pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP,1991.SILVA, Marco Aurélio A. da. Imagens sonoras do ambiente e educação: relato de uma pesquisa participante no ensino superior de licenciatura em música. Dissertação de mestrado, 2006.THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Ed. Cortez, 2002.

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Carioca, é Professor do

D e p a r t a m e n t o d e Artes/curso de Música da Universidade Federal do M a r a n h ã o - U F M A , p e s q u i s a d o r , instrumentista, compositor, arranjador e produtor musical; teve a formação erudita como primeiro contato com a arte musical, iniciando, no Rio de Janeiro seus estudos musicais aos 10 anos de idade.

Formado em teoria musical, solfejo e percepção, Bacharel em Música com habilitação em contrabaixo - onde teve como mestres nomes ilustres como: Maria Luisa de Mattos Priolli, Orlando Silveira, Nelson Faria, Yuri Popoff, Tato Taborda, João Guilherme Ripper, dentre outros -, Licenciado em Música, Especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente e Doutorando em Ciências da Cultura em Universidade Pública européia com pesquisa que faz interface entre música, educação e ambiente.

Gravou e produziu diversos Cds, realizou inúmeros shows e concertos ao lado de artistas da música instrumental e popular em casas e teatros de renome. Como professor há mais de 20 anos, acumulou experiências que estão em seus livros “A improvisação consciente”, editado pela Bruno Quaino Editores RJ -2008 e “A arte e os caminhos do contrabaixo” (em fase de editoração).

Tem se dedicado a educação e, de 2003 a 2004 foi Diretor, Coordenador Pedagógico e Idealizador da Escola Municipal de Música Pixinguinha em São Gonçalo – RJ; em 2005 assumiu a Superintendência de Música da Fundação de Artes de São Gonçalo - RJ até 2006; foi Professor Titular de técnica e prática instrumental, prosódia musical, estética, apreciação musical e história da música no Curso Superior do Conservatório de Música de Niterói, também até 2006. É Produtor musical de trilhas para TV, teatro e cinema, além disso, foi professor titular da

disciplina Oficina de Cordas da Escola Superior de Música da Universidade Candido Mendes – Nova Friburgo - RJ - e professor I – contrabaixo - na Escola de Música do CETEP-FAETEC - RJ -, coordenando o projeto “Orquestra de Música Popular - OMP – uma ação inclusiva”.

Possui larga experiência em coordenação de projetos culturais e sociais, coordenando, durante 10 anos, os projetos culturais das Aldeias Infantis SOS Brasil, no Rio de Janeiro, onde era responsável por projetos musicais sendo estes: Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Jazz Sinfônica Jovem, Coral e Musicalização infantil, tendo, através destes projetos, o ingresso de vários jovens na Universidade de Música . Como pesquisador editou o livro “Música... educação, cultura e integração social” (iEditora: São Paulo, 2001). Dedicou-se a pesquisa de Mestrado, que faz interface entre música, educação e ambiente, obtendo o título de Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente com a dissertação - “Imagens sonoras do ambiente e educação: Relato de uma pesquisa participante no ensino superior de licenciatura em música- em fase de edição pela EDUFMA -. Busca, agora, aprofundamento em programa de Doutorado, através de pesquisa que tem como finalidade propor um estudo sonoro do cotidiano social, contribuindo para uma tomada de consciência por parte da sociedade na construção do que chama “Audição Inteligente”.

Ficha técnica

Produção textual, editoração, revisão, diagramação e criação:Profº Ms Marco Aurélio A. da Silva

Colaboração: Munique Teixeira da Silva

Realização:GEPES/UFMA

Apoio:Gráfica da UFMA

Contato:

e-mails:[email protected]

[email protected]

EDITORIAL Nº 02 ANO 01 GEPES/UFMA 2º SEMESTRE 2010

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Profº Ms Marco Aurélio A. da SilvaIdealizador, fundador e coordenador do Gepes