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Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável Luciana Moreira dos Reis Empoderamento de mulheres no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabá (PA) Belém 2018

Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

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Universidade Federal do Paraacute

Instituto Amazocircnico de Agriculturas Familiares

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria ndash Embrapa Amazocircnia Oriental

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Agriculturas Amazocircnicas

Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Luciana Moreira dos Reis

Empoderamento de mulheres no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

de Marabaacute (PA)

Beleacutem

2018

Luciana Moreira dos Reis

Empoderamento de mulheres no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

de Marabaacute (PA)

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Agriculturas Amazocircnicas na

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Interdisciplinar da

Universidade Federal do Paraacute ndash UFPA e

Embrapa Amazocircnia Oriental como parte dos

requisitos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

em Agriculturas Familiares e

Desenvolvimento Sustentaacutevel

Aacuterea de concentraccedilatildeo Agriculturas Familiares

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Gutemberg Armando

Diniz Guerra

Beleacutem

2018

Agrave Raimundinha Solino (em memoacuteria)

Em nome de toda mulher trabalhadora rural

Agrave Beta Moreira (em memoacuteria)

Ao Ademir Martins

Ao Victor Martins

Ao Mauro Silva

DEDICO

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus inteligecircncia suprema causa primaacuteria de todas as coisas

Agradeccedilo a Jesus tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de

modelo

Agradeccedilo agrave Espiritualidade Superior que sempre me acompanhou ao longo da minha vida

intuindo-me e iluminando-me

Agradeccedilo a minha matildee querida Beta Moreira (em memoacuteria) por todos os ensinamentos que

recebi e por ter me incentivado a fazer o mestrado do NEAF em 2004 Um sonho meu antigo

que ficou adormecido por longos anos E que agora finalmente consegui realizar recebendo

os essenciais incentivos espirituais dela de algum lugar de onde agora vive Minha matildee foi

citada em diversas entrevistas que realizei como uma das protagonistas da histoacuteria de luta das

mulheres de Marabaacute bem como aparece na dissertaccedilatildeo atraveacutes da Comenda ldquoBeta Moreirardquo

Agradeccedilo a meu pai Ademir Martins dos Reis importante poliacutetico do sudeste paraense por

todos os ensinamentos que recebi e que tambeacutem foi citado nas entrevistas como militante da

luta por uma sociedade mais justa e igualitaacuteria tendo inclusive participado da reuniatildeo de

fundaccedilatildeo do sindicato pesquisado

Agradeccedilo aos familiares que colaboraram para que a pesquisa fosse realizada irmatilde Rita

irmatildeo Ademirzinho avoacute Deolinda avocirc Edeacutezio (em memoacuteria) avoacute Izabel avocirc Albertino (em

memoacuteria) tias Ana Cleide Isabel Ilce Cida Lurde Maria Claacuteudia Dioacute Conceiccedilatildeo Adeacute

tios Haroldo Albertino Junior Valdez Pedro e Steacutelio prima Juliana e demais familiares

Agradeccedilo agraves trabalhadoras e trabalhadores da Sociedade Espiacuterita Renascer (Marabaacute) e do

Grupo de Pais da Instituiccedilatildeo Assistencial Espiacuterita Lar de Maria (Beleacutem) Em especial agrave

Marluce Guta Cynthia Carlos Patriacutecia Felix Junior Pedro Leite e Gesson

Agradeccedilo agraves(os) amigas(os) queridas(os) Joelma Joseacute da Cruz Matheus Olga Beatriz dona

Maria Nilde Geny Maira Gaia Waldileacuteia Amaral e Manuel Amaral

Agradeccedilo agrave Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute ndash EMATER

PARAacute por me liberar oficialmente para cursar o mestrado bem como agraves(os) seguintes

colegas de trabalho Franceli Genival Leiva Leacutelia Iale Zeacutelia Glauco Nelson Jean

Francisca Cristoacutevatildeo Jonas Damiatildeo Carlos Eduardo William Guimaratildees Franccedila Rosacircngela

Barros Estela Palmeira Paulo Lobato Rosival e Paulo Pedroso

Agradeccedilo ao meu querido orientador Gutemberg Armando Diniz Guerra por sua

competecircncia sabedoria e paciecircncia nesse processo de construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo Obrigada

por compreender e respeitar o meu tempo o que incluiu mergulhar nas minhas memoacuterias

familiares mais profundas Obrigada pelas maravilhosas disciplinas ldquoNatureza agricultura e

artesrdquo e ldquoOrganizaccedilotildees camponesas e patronais no meio rural brasileirordquo Obrigada tambeacutem

pelos momentos em Cuiarana no Alto dos Pinheiros e no Lolicas

Agradeccedilo agrave Universidade Federal do Paraacute agraves(os) servidoras(es) do INEAF ao corpo docente

do PPGAA aos colegas da turma MAFDS 2016 em especial agrave Alciene e ao Hueliton

Agradeccedilo agrave professora Maria Angeacutelica Motta-Maueacutes por me acolher nos Seminaacuterios Angel e

por todo o aprendizado que adquiri com o ldquomiuacutedordquo da Antropologia bem como agradeccedilo agraves

colegas maravilhosas dos Seminaacuterios Angel

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso por tambeacutem me acolher nos Estudos de

Gecircnero disciplina fundamental para ampliar minha mente e colaborar na construccedilatildeo da minha

maturidade acadecircmica

Agradeccedilo agrave professora Maria Luzia Miranda Aacutelvares coordenadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relaccedilotildees de Gecircnero ndash GEPEMUFPA por ser um exemplo

de vida Obrigada por tudo que aprendi em cada evento que participei organizado pelo GEPEM

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso e ao professor William Santos de Assis por

participarem da banca de qualificaccedilatildeo e de defesa final da dissertaccedilatildeo Na banca de

qualificaccedilatildeo forneceram aportes valiosos que colaboraram para definir o rumo a seguir

Agradeccedilo agrave professora Angela May Steward por aceitar participar das bancas (qualificaccedilatildeo e

defesa final) na condiccedilatildeo de suplente

Agradeccedilo agraves integrantes do GT de Gecircnero da ABA (Associaccedilatildeo Brasileira de Agroecologia) pelos

debates que participei no IX CBA (Beleacutem-PA) e no X CBA (Brasiacutelia-DF)

Agradeccedilo agrave professora Emma Siliprandi pelo estiacutemulo que recebi na oportunidade que tive de

conhececirc-la pessoalmente

Agradeccedilo aos familiares de Miriam Chaves em especial agrave Kelvia Chaves e agrave Glaacuteucia Chaves

Agradeccedilo a todas as lideranccedilas (poliacuteticas acadecircmicas e de movimentos sociais) que

gentilmente colaboraram com a pesquisa atraveacutes da disponibilidade de serem entrevistadas

Agradeccedilo agrave diretoria atual do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras

Familiares do Municiacutepio de Marabaacute (PA) bem como agraves(aos) dirigentes de gestotildees anteriores

em especial agraves guerreiras Dijeacute e Marta

Agradeccedilo ao meu filho Victor Martins por ser ldquoum cara altamente concentradordquo e por

colaborar diariamente no meu processo de evoluccedilatildeo Ah tambeacutem agradeccedilo a ele por ter

compreendido que precisariacuteamos nos mudar de Marabaacute para Beleacutem para que eu pudesse

cursar o mestrado Muito obrigada

Para concluir agradeccedilo ao meu marido Luis Mauro Santos Silva por sempre acreditar em

mim por seu amor diaacuterio e por suas preciosas dicas acadecircmicas

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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Justiccedila do Estado do Paraacute ndash Beleacutem 2012

87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 2: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

Luciana Moreira dos Reis

Empoderamento de mulheres no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

de Marabaacute (PA)

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Agriculturas Amazocircnicas na

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Interdisciplinar da

Universidade Federal do Paraacute ndash UFPA e

Embrapa Amazocircnia Oriental como parte dos

requisitos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

em Agriculturas Familiares e

Desenvolvimento Sustentaacutevel

Aacuterea de concentraccedilatildeo Agriculturas Familiares

e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Orientador Prof Dr Gutemberg Armando

Diniz Guerra

Beleacutem

2018

Agrave Raimundinha Solino (em memoacuteria)

Em nome de toda mulher trabalhadora rural

Agrave Beta Moreira (em memoacuteria)

Ao Ademir Martins

Ao Victor Martins

Ao Mauro Silva

DEDICO

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus inteligecircncia suprema causa primaacuteria de todas as coisas

Agradeccedilo a Jesus tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de

modelo

Agradeccedilo agrave Espiritualidade Superior que sempre me acompanhou ao longo da minha vida

intuindo-me e iluminando-me

Agradeccedilo a minha matildee querida Beta Moreira (em memoacuteria) por todos os ensinamentos que

recebi e por ter me incentivado a fazer o mestrado do NEAF em 2004 Um sonho meu antigo

que ficou adormecido por longos anos E que agora finalmente consegui realizar recebendo

os essenciais incentivos espirituais dela de algum lugar de onde agora vive Minha matildee foi

citada em diversas entrevistas que realizei como uma das protagonistas da histoacuteria de luta das

mulheres de Marabaacute bem como aparece na dissertaccedilatildeo atraveacutes da Comenda ldquoBeta Moreirardquo

Agradeccedilo a meu pai Ademir Martins dos Reis importante poliacutetico do sudeste paraense por

todos os ensinamentos que recebi e que tambeacutem foi citado nas entrevistas como militante da

luta por uma sociedade mais justa e igualitaacuteria tendo inclusive participado da reuniatildeo de

fundaccedilatildeo do sindicato pesquisado

Agradeccedilo aos familiares que colaboraram para que a pesquisa fosse realizada irmatilde Rita

irmatildeo Ademirzinho avoacute Deolinda avocirc Edeacutezio (em memoacuteria) avoacute Izabel avocirc Albertino (em

memoacuteria) tias Ana Cleide Isabel Ilce Cida Lurde Maria Claacuteudia Dioacute Conceiccedilatildeo Adeacute

tios Haroldo Albertino Junior Valdez Pedro e Steacutelio prima Juliana e demais familiares

Agradeccedilo agraves trabalhadoras e trabalhadores da Sociedade Espiacuterita Renascer (Marabaacute) e do

Grupo de Pais da Instituiccedilatildeo Assistencial Espiacuterita Lar de Maria (Beleacutem) Em especial agrave

Marluce Guta Cynthia Carlos Patriacutecia Felix Junior Pedro Leite e Gesson

Agradeccedilo agraves(os) amigas(os) queridas(os) Joelma Joseacute da Cruz Matheus Olga Beatriz dona

Maria Nilde Geny Maira Gaia Waldileacuteia Amaral e Manuel Amaral

Agradeccedilo agrave Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute ndash EMATER

PARAacute por me liberar oficialmente para cursar o mestrado bem como agraves(os) seguintes

colegas de trabalho Franceli Genival Leiva Leacutelia Iale Zeacutelia Glauco Nelson Jean

Francisca Cristoacutevatildeo Jonas Damiatildeo Carlos Eduardo William Guimaratildees Franccedila Rosacircngela

Barros Estela Palmeira Paulo Lobato Rosival e Paulo Pedroso

Agradeccedilo ao meu querido orientador Gutemberg Armando Diniz Guerra por sua

competecircncia sabedoria e paciecircncia nesse processo de construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo Obrigada

por compreender e respeitar o meu tempo o que incluiu mergulhar nas minhas memoacuterias

familiares mais profundas Obrigada pelas maravilhosas disciplinas ldquoNatureza agricultura e

artesrdquo e ldquoOrganizaccedilotildees camponesas e patronais no meio rural brasileirordquo Obrigada tambeacutem

pelos momentos em Cuiarana no Alto dos Pinheiros e no Lolicas

Agradeccedilo agrave Universidade Federal do Paraacute agraves(os) servidoras(es) do INEAF ao corpo docente

do PPGAA aos colegas da turma MAFDS 2016 em especial agrave Alciene e ao Hueliton

Agradeccedilo agrave professora Maria Angeacutelica Motta-Maueacutes por me acolher nos Seminaacuterios Angel e

por todo o aprendizado que adquiri com o ldquomiuacutedordquo da Antropologia bem como agradeccedilo agraves

colegas maravilhosas dos Seminaacuterios Angel

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso por tambeacutem me acolher nos Estudos de

Gecircnero disciplina fundamental para ampliar minha mente e colaborar na construccedilatildeo da minha

maturidade acadecircmica

Agradeccedilo agrave professora Maria Luzia Miranda Aacutelvares coordenadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relaccedilotildees de Gecircnero ndash GEPEMUFPA por ser um exemplo

de vida Obrigada por tudo que aprendi em cada evento que participei organizado pelo GEPEM

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso e ao professor William Santos de Assis por

participarem da banca de qualificaccedilatildeo e de defesa final da dissertaccedilatildeo Na banca de

qualificaccedilatildeo forneceram aportes valiosos que colaboraram para definir o rumo a seguir

Agradeccedilo agrave professora Angela May Steward por aceitar participar das bancas (qualificaccedilatildeo e

defesa final) na condiccedilatildeo de suplente

Agradeccedilo agraves integrantes do GT de Gecircnero da ABA (Associaccedilatildeo Brasileira de Agroecologia) pelos

debates que participei no IX CBA (Beleacutem-PA) e no X CBA (Brasiacutelia-DF)

Agradeccedilo agrave professora Emma Siliprandi pelo estiacutemulo que recebi na oportunidade que tive de

conhececirc-la pessoalmente

Agradeccedilo aos familiares de Miriam Chaves em especial agrave Kelvia Chaves e agrave Glaacuteucia Chaves

Agradeccedilo a todas as lideranccedilas (poliacuteticas acadecircmicas e de movimentos sociais) que

gentilmente colaboraram com a pesquisa atraveacutes da disponibilidade de serem entrevistadas

Agradeccedilo agrave diretoria atual do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras

Familiares do Municiacutepio de Marabaacute (PA) bem como agraves(aos) dirigentes de gestotildees anteriores

em especial agraves guerreiras Dijeacute e Marta

Agradeccedilo ao meu filho Victor Martins por ser ldquoum cara altamente concentradordquo e por

colaborar diariamente no meu processo de evoluccedilatildeo Ah tambeacutem agradeccedilo a ele por ter

compreendido que precisariacuteamos nos mudar de Marabaacute para Beleacutem para que eu pudesse

cursar o mestrado Muito obrigada

Para concluir agradeccedilo ao meu marido Luis Mauro Santos Silva por sempre acreditar em

mim por seu amor diaacuterio e por suas preciosas dicas acadecircmicas

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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das Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Domeacutestica e Familiar no acircmbito do Tribunal de

Justiccedila do Estado do Paraacute ndash Beleacutem 2012

87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 3: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

Agrave Raimundinha Solino (em memoacuteria)

Em nome de toda mulher trabalhadora rural

Agrave Beta Moreira (em memoacuteria)

Ao Ademir Martins

Ao Victor Martins

Ao Mauro Silva

DEDICO

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus inteligecircncia suprema causa primaacuteria de todas as coisas

Agradeccedilo a Jesus tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de

modelo

Agradeccedilo agrave Espiritualidade Superior que sempre me acompanhou ao longo da minha vida

intuindo-me e iluminando-me

Agradeccedilo a minha matildee querida Beta Moreira (em memoacuteria) por todos os ensinamentos que

recebi e por ter me incentivado a fazer o mestrado do NEAF em 2004 Um sonho meu antigo

que ficou adormecido por longos anos E que agora finalmente consegui realizar recebendo

os essenciais incentivos espirituais dela de algum lugar de onde agora vive Minha matildee foi

citada em diversas entrevistas que realizei como uma das protagonistas da histoacuteria de luta das

mulheres de Marabaacute bem como aparece na dissertaccedilatildeo atraveacutes da Comenda ldquoBeta Moreirardquo

Agradeccedilo a meu pai Ademir Martins dos Reis importante poliacutetico do sudeste paraense por

todos os ensinamentos que recebi e que tambeacutem foi citado nas entrevistas como militante da

luta por uma sociedade mais justa e igualitaacuteria tendo inclusive participado da reuniatildeo de

fundaccedilatildeo do sindicato pesquisado

Agradeccedilo aos familiares que colaboraram para que a pesquisa fosse realizada irmatilde Rita

irmatildeo Ademirzinho avoacute Deolinda avocirc Edeacutezio (em memoacuteria) avoacute Izabel avocirc Albertino (em

memoacuteria) tias Ana Cleide Isabel Ilce Cida Lurde Maria Claacuteudia Dioacute Conceiccedilatildeo Adeacute

tios Haroldo Albertino Junior Valdez Pedro e Steacutelio prima Juliana e demais familiares

Agradeccedilo agraves trabalhadoras e trabalhadores da Sociedade Espiacuterita Renascer (Marabaacute) e do

Grupo de Pais da Instituiccedilatildeo Assistencial Espiacuterita Lar de Maria (Beleacutem) Em especial agrave

Marluce Guta Cynthia Carlos Patriacutecia Felix Junior Pedro Leite e Gesson

Agradeccedilo agraves(os) amigas(os) queridas(os) Joelma Joseacute da Cruz Matheus Olga Beatriz dona

Maria Nilde Geny Maira Gaia Waldileacuteia Amaral e Manuel Amaral

Agradeccedilo agrave Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute ndash EMATER

PARAacute por me liberar oficialmente para cursar o mestrado bem como agraves(os) seguintes

colegas de trabalho Franceli Genival Leiva Leacutelia Iale Zeacutelia Glauco Nelson Jean

Francisca Cristoacutevatildeo Jonas Damiatildeo Carlos Eduardo William Guimaratildees Franccedila Rosacircngela

Barros Estela Palmeira Paulo Lobato Rosival e Paulo Pedroso

Agradeccedilo ao meu querido orientador Gutemberg Armando Diniz Guerra por sua

competecircncia sabedoria e paciecircncia nesse processo de construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo Obrigada

por compreender e respeitar o meu tempo o que incluiu mergulhar nas minhas memoacuterias

familiares mais profundas Obrigada pelas maravilhosas disciplinas ldquoNatureza agricultura e

artesrdquo e ldquoOrganizaccedilotildees camponesas e patronais no meio rural brasileirordquo Obrigada tambeacutem

pelos momentos em Cuiarana no Alto dos Pinheiros e no Lolicas

Agradeccedilo agrave Universidade Federal do Paraacute agraves(os) servidoras(es) do INEAF ao corpo docente

do PPGAA aos colegas da turma MAFDS 2016 em especial agrave Alciene e ao Hueliton

Agradeccedilo agrave professora Maria Angeacutelica Motta-Maueacutes por me acolher nos Seminaacuterios Angel e

por todo o aprendizado que adquiri com o ldquomiuacutedordquo da Antropologia bem como agradeccedilo agraves

colegas maravilhosas dos Seminaacuterios Angel

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso por tambeacutem me acolher nos Estudos de

Gecircnero disciplina fundamental para ampliar minha mente e colaborar na construccedilatildeo da minha

maturidade acadecircmica

Agradeccedilo agrave professora Maria Luzia Miranda Aacutelvares coordenadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relaccedilotildees de Gecircnero ndash GEPEMUFPA por ser um exemplo

de vida Obrigada por tudo que aprendi em cada evento que participei organizado pelo GEPEM

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso e ao professor William Santos de Assis por

participarem da banca de qualificaccedilatildeo e de defesa final da dissertaccedilatildeo Na banca de

qualificaccedilatildeo forneceram aportes valiosos que colaboraram para definir o rumo a seguir

Agradeccedilo agrave professora Angela May Steward por aceitar participar das bancas (qualificaccedilatildeo e

defesa final) na condiccedilatildeo de suplente

Agradeccedilo agraves integrantes do GT de Gecircnero da ABA (Associaccedilatildeo Brasileira de Agroecologia) pelos

debates que participei no IX CBA (Beleacutem-PA) e no X CBA (Brasiacutelia-DF)

Agradeccedilo agrave professora Emma Siliprandi pelo estiacutemulo que recebi na oportunidade que tive de

conhececirc-la pessoalmente

Agradeccedilo aos familiares de Miriam Chaves em especial agrave Kelvia Chaves e agrave Glaacuteucia Chaves

Agradeccedilo a todas as lideranccedilas (poliacuteticas acadecircmicas e de movimentos sociais) que

gentilmente colaboraram com a pesquisa atraveacutes da disponibilidade de serem entrevistadas

Agradeccedilo agrave diretoria atual do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras

Familiares do Municiacutepio de Marabaacute (PA) bem como agraves(aos) dirigentes de gestotildees anteriores

em especial agraves guerreiras Dijeacute e Marta

Agradeccedilo ao meu filho Victor Martins por ser ldquoum cara altamente concentradordquo e por

colaborar diariamente no meu processo de evoluccedilatildeo Ah tambeacutem agradeccedilo a ele por ter

compreendido que precisariacuteamos nos mudar de Marabaacute para Beleacutem para que eu pudesse

cursar o mestrado Muito obrigada

Para concluir agradeccedilo ao meu marido Luis Mauro Santos Silva por sempre acreditar em

mim por seu amor diaacuterio e por suas preciosas dicas acadecircmicas

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 4: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus inteligecircncia suprema causa primaacuteria de todas as coisas

Agradeccedilo a Jesus tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de

modelo

Agradeccedilo agrave Espiritualidade Superior que sempre me acompanhou ao longo da minha vida

intuindo-me e iluminando-me

Agradeccedilo a minha matildee querida Beta Moreira (em memoacuteria) por todos os ensinamentos que

recebi e por ter me incentivado a fazer o mestrado do NEAF em 2004 Um sonho meu antigo

que ficou adormecido por longos anos E que agora finalmente consegui realizar recebendo

os essenciais incentivos espirituais dela de algum lugar de onde agora vive Minha matildee foi

citada em diversas entrevistas que realizei como uma das protagonistas da histoacuteria de luta das

mulheres de Marabaacute bem como aparece na dissertaccedilatildeo atraveacutes da Comenda ldquoBeta Moreirardquo

Agradeccedilo a meu pai Ademir Martins dos Reis importante poliacutetico do sudeste paraense por

todos os ensinamentos que recebi e que tambeacutem foi citado nas entrevistas como militante da

luta por uma sociedade mais justa e igualitaacuteria tendo inclusive participado da reuniatildeo de

fundaccedilatildeo do sindicato pesquisado

Agradeccedilo aos familiares que colaboraram para que a pesquisa fosse realizada irmatilde Rita

irmatildeo Ademirzinho avoacute Deolinda avocirc Edeacutezio (em memoacuteria) avoacute Izabel avocirc Albertino (em

memoacuteria) tias Ana Cleide Isabel Ilce Cida Lurde Maria Claacuteudia Dioacute Conceiccedilatildeo Adeacute

tios Haroldo Albertino Junior Valdez Pedro e Steacutelio prima Juliana e demais familiares

Agradeccedilo agraves trabalhadoras e trabalhadores da Sociedade Espiacuterita Renascer (Marabaacute) e do

Grupo de Pais da Instituiccedilatildeo Assistencial Espiacuterita Lar de Maria (Beleacutem) Em especial agrave

Marluce Guta Cynthia Carlos Patriacutecia Felix Junior Pedro Leite e Gesson

Agradeccedilo agraves(os) amigas(os) queridas(os) Joelma Joseacute da Cruz Matheus Olga Beatriz dona

Maria Nilde Geny Maira Gaia Waldileacuteia Amaral e Manuel Amaral

Agradeccedilo agrave Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute ndash EMATER

PARAacute por me liberar oficialmente para cursar o mestrado bem como agraves(os) seguintes

colegas de trabalho Franceli Genival Leiva Leacutelia Iale Zeacutelia Glauco Nelson Jean

Francisca Cristoacutevatildeo Jonas Damiatildeo Carlos Eduardo William Guimaratildees Franccedila Rosacircngela

Barros Estela Palmeira Paulo Lobato Rosival e Paulo Pedroso

Agradeccedilo ao meu querido orientador Gutemberg Armando Diniz Guerra por sua

competecircncia sabedoria e paciecircncia nesse processo de construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo Obrigada

por compreender e respeitar o meu tempo o que incluiu mergulhar nas minhas memoacuterias

familiares mais profundas Obrigada pelas maravilhosas disciplinas ldquoNatureza agricultura e

artesrdquo e ldquoOrganizaccedilotildees camponesas e patronais no meio rural brasileirordquo Obrigada tambeacutem

pelos momentos em Cuiarana no Alto dos Pinheiros e no Lolicas

Agradeccedilo agrave Universidade Federal do Paraacute agraves(os) servidoras(es) do INEAF ao corpo docente

do PPGAA aos colegas da turma MAFDS 2016 em especial agrave Alciene e ao Hueliton

Agradeccedilo agrave professora Maria Angeacutelica Motta-Maueacutes por me acolher nos Seminaacuterios Angel e

por todo o aprendizado que adquiri com o ldquomiuacutedordquo da Antropologia bem como agradeccedilo agraves

colegas maravilhosas dos Seminaacuterios Angel

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso por tambeacutem me acolher nos Estudos de

Gecircnero disciplina fundamental para ampliar minha mente e colaborar na construccedilatildeo da minha

maturidade acadecircmica

Agradeccedilo agrave professora Maria Luzia Miranda Aacutelvares coordenadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relaccedilotildees de Gecircnero ndash GEPEMUFPA por ser um exemplo

de vida Obrigada por tudo que aprendi em cada evento que participei organizado pelo GEPEM

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso e ao professor William Santos de Assis por

participarem da banca de qualificaccedilatildeo e de defesa final da dissertaccedilatildeo Na banca de

qualificaccedilatildeo forneceram aportes valiosos que colaboraram para definir o rumo a seguir

Agradeccedilo agrave professora Angela May Steward por aceitar participar das bancas (qualificaccedilatildeo e

defesa final) na condiccedilatildeo de suplente

Agradeccedilo agraves integrantes do GT de Gecircnero da ABA (Associaccedilatildeo Brasileira de Agroecologia) pelos

debates que participei no IX CBA (Beleacutem-PA) e no X CBA (Brasiacutelia-DF)

Agradeccedilo agrave professora Emma Siliprandi pelo estiacutemulo que recebi na oportunidade que tive de

conhececirc-la pessoalmente

Agradeccedilo aos familiares de Miriam Chaves em especial agrave Kelvia Chaves e agrave Glaacuteucia Chaves

Agradeccedilo a todas as lideranccedilas (poliacuteticas acadecircmicas e de movimentos sociais) que

gentilmente colaboraram com a pesquisa atraveacutes da disponibilidade de serem entrevistadas

Agradeccedilo agrave diretoria atual do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras

Familiares do Municiacutepio de Marabaacute (PA) bem como agraves(aos) dirigentes de gestotildees anteriores

em especial agraves guerreiras Dijeacute e Marta

Agradeccedilo ao meu filho Victor Martins por ser ldquoum cara altamente concentradordquo e por

colaborar diariamente no meu processo de evoluccedilatildeo Ah tambeacutem agradeccedilo a ele por ter

compreendido que precisariacuteamos nos mudar de Marabaacute para Beleacutem para que eu pudesse

cursar o mestrado Muito obrigada

Para concluir agradeccedilo ao meu marido Luis Mauro Santos Silva por sempre acreditar em

mim por seu amor diaacuterio e por suas preciosas dicas acadecircmicas

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 5: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

artesrdquo e ldquoOrganizaccedilotildees camponesas e patronais no meio rural brasileirordquo Obrigada tambeacutem

pelos momentos em Cuiarana no Alto dos Pinheiros e no Lolicas

Agradeccedilo agrave Universidade Federal do Paraacute agraves(os) servidoras(es) do INEAF ao corpo docente

do PPGAA aos colegas da turma MAFDS 2016 em especial agrave Alciene e ao Hueliton

Agradeccedilo agrave professora Maria Angeacutelica Motta-Maueacutes por me acolher nos Seminaacuterios Angel e

por todo o aprendizado que adquiri com o ldquomiuacutedordquo da Antropologia bem como agradeccedilo agraves

colegas maravilhosas dos Seminaacuterios Angel

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso por tambeacutem me acolher nos Estudos de

Gecircnero disciplina fundamental para ampliar minha mente e colaborar na construccedilatildeo da minha

maturidade acadecircmica

Agradeccedilo agrave professora Maria Luzia Miranda Aacutelvares coordenadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relaccedilotildees de Gecircnero ndash GEPEMUFPA por ser um exemplo

de vida Obrigada por tudo que aprendi em cada evento que participei organizado pelo GEPEM

Agradeccedilo agrave professora Denise Machado Cardoso e ao professor William Santos de Assis por

participarem da banca de qualificaccedilatildeo e de defesa final da dissertaccedilatildeo Na banca de

qualificaccedilatildeo forneceram aportes valiosos que colaboraram para definir o rumo a seguir

Agradeccedilo agrave professora Angela May Steward por aceitar participar das bancas (qualificaccedilatildeo e

defesa final) na condiccedilatildeo de suplente

Agradeccedilo agraves integrantes do GT de Gecircnero da ABA (Associaccedilatildeo Brasileira de Agroecologia) pelos

debates que participei no IX CBA (Beleacutem-PA) e no X CBA (Brasiacutelia-DF)

Agradeccedilo agrave professora Emma Siliprandi pelo estiacutemulo que recebi na oportunidade que tive de

conhececirc-la pessoalmente

Agradeccedilo aos familiares de Miriam Chaves em especial agrave Kelvia Chaves e agrave Glaacuteucia Chaves

Agradeccedilo a todas as lideranccedilas (poliacuteticas acadecircmicas e de movimentos sociais) que

gentilmente colaboraram com a pesquisa atraveacutes da disponibilidade de serem entrevistadas

Agradeccedilo agrave diretoria atual do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras

Familiares do Municiacutepio de Marabaacute (PA) bem como agraves(aos) dirigentes de gestotildees anteriores

em especial agraves guerreiras Dijeacute e Marta

Agradeccedilo ao meu filho Victor Martins por ser ldquoum cara altamente concentradordquo e por

colaborar diariamente no meu processo de evoluccedilatildeo Ah tambeacutem agradeccedilo a ele por ter

compreendido que precisariacuteamos nos mudar de Marabaacute para Beleacutem para que eu pudesse

cursar o mestrado Muito obrigada

Para concluir agradeccedilo ao meu marido Luis Mauro Santos Silva por sempre acreditar em

mim por seu amor diaacuterio e por suas preciosas dicas acadecircmicas

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 6: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

Sem Medo de Ser Mulher

Zeacute Pinto

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Por que a luta natildeo eacute soacute dos companheiros

Participando sem medo de ser mulher

Pisando firme sem medir nenhum segredo

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metade

Participando sem medo de ser mulher

Fortalecendo os movimentos populares

Participando sem medo de ser mulher

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer

Participando sem medo de ser mulher

Na alianccedila operaacuteria camponesa

Participando sem medo de ser mulher

Pois a vitoacuteria vai ser nossa com certeza

Participando sem medo de ser mulher

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

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87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 7: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

RESUMO

O objetivo da dissertaccedilatildeo foi analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes

do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Para essa pesquisa o

empoderamento foi considerado como ampliaccedilatildeo do poder nas dimensotildees econocircmica

pessoal social e poliacutetica A pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa A metodologia abrangeu

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo A coleta de dados ocorreu

atraveacutes de a) pesquisa documental no acervo do sindicato pesquisado e no acervo da

Comissatildeo Pastoral da Terra b) pesquisa de campo atraveacutes de entrevista natildeo-diretiva com 18

pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens Com o desenvolvimento da pesquisa identificou-se

que as mulheres do STTR de Marabaacute participaram de lutas e embora obtivessem conquistas

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica no acircmbito e decorrer da militacircncia

sindical Isso eacute reflexo do caraacuteter processual do empoderamento sendo esse processo

complexo e marcado por contradiccedilotildees avanccedilos e recuos O combate agrave violecircncia domeacutestica foi

um dos indicadores de empoderamento mais citados nas entrevistas realizadas em todas as

suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral O principal desafio das mulheres

eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda permanente para superar a violecircncia domeacutestica e

a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila um trabalho de parceria e respeito entre as

mulheres e homens do sindicato pesquisado

Palavras-chave Mulheres Empoderamento Relaccedilotildees de gecircnero Sindicalismo de

trabalhadores rurais

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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Justiccedila do Estado do Paraacute ndash Beleacutem 2012

87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 8: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

ABSTRACT

The goal of this paper was to analyze the empowerment process of the leader‟s women of the

rural workers (masculine and female) from Marabaacute For this research the empowerment was

considered as an implication of power on the economic personal social and political

dimensions The methodology covered bibliographic and documental research and camp

research The data collected occurred by a) Documental research on the collection of the

union researched and of the collection of the Pastoral Land Commission (CPT) b) Camp

research through non-directed interview with 18 people 11 women and 07 men With the

development of the research was identified that the women of the STTR from Marabaacute

partipated of struggles and although they achieved achievements were victims of

discrimination and domestic violence in the scope and course of the union militancy This is a

reflex of the processual character of the empowerment being this process complex and

marked by contradictions advances and retries The fight against the domestically violence

was one of the most cited indicators of empowerment on the interviews realized in all its

forms physical psychological sexual patrimonial and moral The principal challenge of the

women is to continue fighting through a permanent agenda for overcome the domestic

violence and the discrimination ensuring that a partnership and respect between the women

and men of the union surveyed

Keywords Women Empowerment Gender relations Union of the rural workers

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

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87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

Page 9: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA) 21

Figura 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar

Marabaacute (PA) 25

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas 39

Figura 04 Esquema da evoluccedilatildeo das entidades de representaccedilatildeo no sudeste do

Paraacute 42

Figura 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019) 17

Quadro 02 Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os) 28

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados

dos dois grupos pesquisados 34

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute 49

LISTA DE SIGLAS

CEB ndash Comunidade Eclesial de Base

CEPASP ndash Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular

CNS ndash Conselho Nacional dos Seringueiros

CNTTR ndash Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOCAT ndash Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

DPMR ndash Diretoria de Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas

EFA ndash Escola Famiacutelia Agriacutecola

EMATER PARAacute ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute

FATA ndash Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins Araguaia

FECAP ndash Federaccedilatildeo das Centrais e Uniotildees de Associaccedilotildees do Estado do Paraacute

FECAT ndash Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins

FETAGRI ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute

FETRAF ndash Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MDA ndash Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio

MEB ndash Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MPA ndash Movimento dos Pequenos Agricultores

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MSTTR ndash Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SOF ndash Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista

SR-27 ndash Superintendecircncia Regional do INCRA Sul do Paraacute

STR ndash Sindicato dos Trabalhadores Rurais

STTR ndash Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS 20

21 O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA 20

22 AS ETAPAS DA PESQUISA 21

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica 21

222 Procedimentos metodoloacutegicos 25

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA

FAMILIAR 31

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO 31

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR 36

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL 41

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS 41

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE

TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS 44

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute 47

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute 54

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO 54

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS

SINDICAIS 60

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO

EMPODERAMENTO 66

6 CONCLUSOtildeES 77

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 80

APEcircNDICE A 87

APEcircNDICE B 88

APEcircNDICE C 90

APEcircNDICE D 91

APEcircNDICE E 92

APEcircNDICE F 93

APEcircNDICE G 95

ANEXO A 96

ANEXO B 100

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

As relaccedilotildees de gecircnero ocorrem socialmente sendo caracterizadas geralmente pela

dominaccedilatildeo masculina Esse debate tem sido feito por diversas (os) autoras(es) dentre as quais

Cardoso (2011) que considera a utilizaccedilatildeo da loacutegica do patriarcado como origem da

dominaccedilatildeo masculina uma vez que a partir da visatildeo dualista de que o homem eacute mais humano

que a mulher ela estaria sujeita a tal dominaccedilatildeo Para Piscitelli (2009) o patriarcado situa e

confina a mulher no mundo privado e domeacutestico uma vez que o espaccedilo puacuteblico eacute considerado

masculino

No meio rural as relaccedilotildees de gecircnero satildeo influenciadas por variaacuteveis diversas dentre

as quais a divisatildeo sexual do trabalho e predominacircncia dos homens nas organizaccedilotildees sociais

como os sindicatos de trabalhadores rurais Cabe agraves mulheres cuidar do espaccedilo domeacutestico e

dos filhos deixando a tomada de decisatildeo para o ldquochefe de famiacuteliardquo Contudo existem no

Brasil movimentos de mulheres lutando em busca de sua autonomia empoderamento e

melhoria de qualidade de vida Em relaccedilatildeo ao empoderamento eacute compreendido de maneiras

diversas sendo apropriado ateacute mesmo por organizaccedilotildees financeiras como o Banco Mundial

(ROMANO ANTUNES 2002)

A temaacutetica geral dessa pesquisa eacute o processo de empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais sendo que o empoderamento eacute

considerado como ampliaccedilatildeo do poder em quatro dimensotildees ndash econocircmica pessoal social e

poliacutetica ndash conforme explicado por Brumer e Anjos (2010)

Na dimensatildeo econocircmica consideram-se as perspectivas de aumento da

renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de

vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados

econocircmicos de seu trabalho A dimensatildeo pessoal compreende o aumento da

auto-estima e da autoconfianccedila Nas dimensotildees social e poliacutetica focaliza-se

a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as

instacircncias em que ela se manifesta assim como a ampliaccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221 grifo

nosso)

Segundo Scott ldquoo gecircnero eacute um elemento constitutivo de relaccedilotildees sociais fundadas

sobre as diferenccedilas percebidas entre os sexos e o gecircnero eacute um primeiro modo de dar

significado agraves relaccedilotildees de poderrdquo (SCOTT 1990 p 14) Rosaldo e Lamphere (1979)

destacam como fato universal na vida social o domiacutenio masculino de alguma forma em todas

as sociedades contemporacircneas aleacutem do que os papeis que as mulheres possuem como esposas

15

e matildees serem considerados inferiores aos dos homens Piscitelli (2009) reforccedila a relaccedilatildeo

desigual de poder entre homens e mulheres esclarecendo ainda sobre o termo gecircnero

Quando as distribuiccedilotildees desiguais de poder entre homens e mulheres satildeo

vistas como resultado das diferenccedilas tidas como naturais que se atribuem a

uns e outras essas desigualdades tambeacutem satildeo ldquonaturalizadasrdquo O termo

gecircnero em suas versotildees mais difundidas remete a um conceito elaborado

por pensadoras feministas precisamente para desmontar esse duplo

procedimento de naturalizaccedilatildeo mediante o qual as diferenccedilas que se

atribuem a homens e mulheres satildeo consideradas inatas derivadas de

distinccedilotildees naturais e as desigualdades entre uns e outras satildeo percebidas

como resultado dessas diferenccedilas Na linguagem do dia a dia e tambeacutem das

ciecircncias a palavra sexo remete a essas distinccedilotildees inatas bioloacutegicas Por esse

motivo as autoras feministas utilizaram o termo gecircnero para referir-se ao

caraacuteter cultural das distinccedilotildees entre homens e mulheres entre ideias sobre

feminilidade e masculinidade (PISCITELLI 2009 p 119)

Na agricultura familiar as relaccedilotildees de gecircnero satildeo caracterizadas por divisatildeo sexual do

trabalho bem definida e naturalizada na qual pode predominar o discurso de que os homens

satildeo responsaacuteveis pelo trabalho produtivo e as mulheres satildeo responsaacuteveis pelo trabalho

reprodutivo O trabalho produtivo refere-se agrave agricultura agrave pecuaacuteria e demais atividades

associadas ao mercado enquanto que o trabalho reprodutivo refere-se ao trabalho domeacutestico o

cuidado da horta e dos pequenos animais aleacutem da reproduccedilatildeo da proacutepria famiacutelia pelo

nascimento e cuidado dos filhos (NOBRE 2005) Ainda que a mulher desenvolva atividades

consideradas produtivas como no roccedilado por exemplo o seu trabalho eacute classificado como

ajuda Contudo no cotidiano as agricultoras familiares tambeacutem trabalham na produccedilatildeo

contribuindo no mesmo patamar que os agricultores tendo inclusive sobrecarga de trabalho

Beauvoir (2009) em sua obra atemporal eacute precisa ao dizer que

Nos campos a camponesa participa de modo consideraacutevel do trabalho rural

eacute tratada como servente frequentemente natildeo come agrave mesa com o marido e

os filhos pena mais duramente do que eles e os encargos da maternidade

acrescentam-se a suas fadigas (BEAUVOIR 2009 p 165)

Dantas (2015) complementa a discussatildeo sobre a divisatildeo sexual do trabalho no campo

El aacuterea de cultivo es el espacio de produccioacuten de gran escala donde se planta

mandioca frijol maiacutez y cereales considerados esenciales para la

supervivencia de la familia y por esto es considerado como lugar de trabajo

Por demandar el uso de herramientas mecaacutenicas de gran porte como la

cavadora el arado y la recolectora es considerado son una obligacioacuten

masculina realizada por los hombres de la familia especialmente el padre

Cuando las mujeres ejecutan atividades en este espacio su trabajo es

considerado uma ldquoayudardquo un complemento al trabajo masculino Por otro

16

lado la casa se presenta como el lugar de la mujer donde las actividades

realizadas son consideradas un no trabajo (DANTAS 2015 p 47)

Em estudo realizado por Mouratildeo (2004) no municiacutepio de Abaetetuba (PA) sobre a

anaacutelise das estrateacutegias de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da agricultura familiar foram identificados

os limites e potencialidades para a implantaccedilatildeo de agroecossistemas Constatou-se que

nenhuma das mulheres entrevistadas participara de treinamentos sobre a implantaccedilatildeo e

manejo dos sistemas agroflorestais como tambeacutem natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres na

escolha das aacutereas e no monitoramento dos consoacutercios e sistemas agroflorestais Essas decisotildees

foram exclusivamente masculinas Esse exemplo corrobora o pensamento de Nobre (2005)

apresentado anteriormente

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de mulheres no movimento sindical de trabalhadores rurais

Guerra (2013) estudando o sudeste paraense enfatiza o esforccedilo realizado pelas organizaccedilotildees

sindicais para o engajamento das mulheres no movimento atraveacutes da sindicalizaccedilatildeo das

mesmas promoccedilatildeo de reuniotildees especiacuteficas de mulheres dentre outras atividades ldquoEmbora

difiacutecil e lenta a manifestaccedilatildeo da mulher nos sindicatos vem se dando efetivamente denotando

mudanccedilas qualitativas importantes no sindicalismo ruralrdquo (GUERRA 2013 p 121)

Amaral (2007) verificou que as mulheres em sua maioria encontram-se em cargos de

menor importacircncia1 na hierarquia das estruturas sindicais como Secretaria de Mulheres e

Jovens Secretaria de Poliacuteticas Sociais e Secretaria de Organizaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Apesar disso

a participaccedilatildeo das mulheres nos sindicatos de trabalhadores rurais proporcionou avanccedilos tais

como a criaccedilatildeo de cotas para mulheres mudanccedila no comportamento dos dirigentes e na

dinacircmica das reuniotildees e o debate de novos temas de interesse feminino direto como violecircncia

contra as mulheres e sauacutede reprodutiva (AMARAL 2007)

Boni (2004) argumenta que a busca pelo poder dentro dos sindicatos ocorre atraveacutes do

discurso da capacidade da mulher e a viabilizaccedilatildeo desse discurso se daacute por meio da ocupaccedilatildeo

de cargos na direccedilatildeo Ainda segundo Boni (2004) as mulheres muitas vezes satildeo admitidas

como companheiras de luta mas natildeo de poder o que se evidencia na dificuldade da discussatildeo

sobre as cotas miacutenimas de participaccedilatildeo de mulheres nas direccedilotildees ldquoHaacute os que sustentam ndash e

entre eles mulheres ndash que a poliacutetica de cotas pode se transformar numa simples formalidade

para conquistar espaccedilos o que natildeo significa poderrdquo (BONI 2004 p78) Sob essa perspectiva

a poliacutetica de cotas pode ser avaliada como uma estrateacutegia eleitoral e natildeo como uma expressatildeo

de poder das mulheres nas organizaccedilotildees Mas tambeacutem pode ser vista como um dispositivo

1 Cargos considerados de menor importacircncia com pouco poder de influenciar nas grandes decisotildees e

sem atribuiccedilatildeo de representaccedilatildeo

17

importante de partilhamento do poder institucional por um vieacutes historicamente

desconsiderado

Em trabalho de campo preliminar desse estudo foram entrevistadas cinco mulheres

militantes na aacuterea poliacutetico-partidaacuteria e na aacuterea de assessoria teacutecnica e sindical agraves mulheres

dirigentes do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute Segundo elas

foram elencadas as seguintes constataccedilotildees as poliacuteticas puacuteblicas (acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo

creacutedito rural) estatildeo distantes das mulheres rurais eacute acentuado o iacutendice de violecircncia contra as

mulheres ndash violecircncia fiacutesica psicoloacutegica sexual dentre outros tipos haacute necessidade de

organizaccedilatildeo social e produtiva das mulheres para o alcance das demandas reprimidas Aleacutem

disso as proacuteprias entrevistadas relataram situaccedilotildees em que foram viacutetimas de machismo seja

em ambientes de trabalho seja em outros espaccedilos

O trabalho de campo preliminar evidenciou que a participaccedilatildeo das mulheres nas

atividades e gestatildeo da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute esteve reduzida em 2016 quando comparada com gestotildees anteriores ndash momentos em

que as mulheres participavam de cursos de formaccedilatildeo encontros e outras atividades em

Marabaacute e outros municiacutepios A atual diretoria empossada em 21 de junho de 2015 (com

mandato ateacute 21 de junho de 2019) eacute composta por dezoito membros sendo doze homens e

seis mulheres de acordo com o Quadro 01 e detalhamento no Anexo A O nuacutemero de

mulheres nas Secretarias eacute significativo entretanto no Conselho Fiscal as mulheres soacute

aparecem como suplentes

Quadro 01 ndash Diretoria do STTR de Marabaacute (quadriecircnio 2015-2019)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE JOSEacute MARIA MARTINS CAJUEIRO

VICE-PRESIDENTE GILBERTO CAVALCANTE DA SILVA

SECRETAacuteRIO GERAL FORMACcedilAtildeO E

ORGANIZACcedilAtildeO SINDICAL

JOSEacuteLIO RODRIGUES DE ALMEIDA

SECRETAacuteRIO DE ADMINISTRACcedilAtildeO

FINANCcedilAS E ASSALARIADOSAS RURAIS

NEWTON FERNANDES DA SILVA

SECRETAacuteRIO DE POLIacuteTICA AGRAacuteRIA

AGRIacuteCOLA E MEIO AMBIENTE

ORLANDO ALVES DA LUZ

SECRETAacuteRIA DE MULHERES

TRABALHADORAS RURAIS

MARIA ALDENIR R DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE POLIacuteTICAS SOCIAIS QUEacuteZIA BRAVARES DE CALDAS

SECRETAacuteRIO DE JOVENS

TRABALHADORESAS RURAIS

LUCIVALDO SANTOS DA SILVA

SECRETAacuteRIA DE TRABALHADORESAS DA

TERCEIRA IDADE

NAZILDA ALVES DA COSTA

18

SUPLENTES DA DIRETORIA

JOCEMIR SILVA DE JESUS

JOAtildeO RIBEIRO DA SILVA

UBIRATAN GOMES DA SILVA

CONSELHO FISCAL

RONILDO CHAVES PEDROZA TIMOTEO

FRANCISCO CESAacuteRIO MOREIRA

GONCcedilALO GOMES DE ARAUacuteJO

SUPLENTES

TATIANA OLIVEIRA SALES

KALINE GOMES DOS SANTOS

CIRLENE DOS SANTOS RIBEIRO FONTE Documentos do STTR

Organizado por Luciana Moreira dos Reis (2018)

Nesse sentido pode-se questionar se tem aumentado a participaccedilatildeo das mulheres

dirigentes do referido sindicato ou se vem ocorrendo no decorrer dos anos um processo de

desempoderamento dessas mulheres Ademais considerando o caraacuteter processual do

empoderamento (AMORIM 2012) sendo esse processo complexo e marcado por

contradiccedilotildees (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES 2012) existe a possibilidade de que

nem todas estejam no mesmo niacutevel de empoderamento

Como base para essa pesquisa em acordo com os argumentos de Cardoso (2011)

Considera-se de extrema importacircncia o combate agrave violecircncia domeacutestica a

defesa pelos direitos sexuais e reprodutivos a inserccedilatildeo das mulheres na vida

poliacutetica parlamentar e a garantia da equidade no mundo do trabalho pois satildeo

exemplos de que as relaccedilotildees sociais de gecircnero natildeo se restringem ao

feminismo militante ou acadecircmico e exigem um trato de fato transversal

interdisciplinar e com articulaccedilatildeo entre ciecircncia movimentos sociais e

organizaccedilotildees de vaacuterios matizes (CARDOSO 2011 p63)

Deste modo trabalhos como este apresentam relevacircncia acadecircmica por produzir

elementos que possam contribuir para o debate teoacuterico sobre empoderamento de mulheres no

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais e apresentam relevacircncia social pois

oferece subsiacutedios para o fortalecimento desse sindicalismo Igualmente esta pesquisa possui

motivaccedilatildeo pessoal e profissional em virtude de eu ser marabaense atuando como

extensionista rural (engenheira agrocircnoma) na regiatildeo de Marabaacute pela Empresa de Assistecircncia

Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado do Paraacute (EMATER PARAacute) desde 2010 e

principalmente pelo meu interesse no estudo de empoderamento de mulheres para melhor

compreensatildeo da sociedade pela perspectiva de gecircnero e possibilidade de melhor intervenccedilatildeo

na realidade Ademais acompanhei atividades do Sindicato dos Trabalhadores e

19

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute no periacuteodo (20052006) em que trabalhei na Copserviccedilos2

na Equipe Marabaacute e coordenei atividades de formaccedilatildeo para mulheres rurais enquanto

extensionista da EMATER PARAacute

Tendo em conta o debate apresentado anteriormente surgiu a seguinte questatildeo de

pesquisa Como ocorre o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar o processo de

empoderamento das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute Portanto tendo como objeto de estudo essa temaacutetica no Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 ateacute 2017

Os objetivos especiacuteficos foram

Descrever e analisar a participaccedilatildeo das mulheres dirigentes na luta do Sindicato de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute-PA

Caracterizar e analisar o processo de empoderamento das mulheres dirigentes do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute ndash PA

considerando a perspectiva das mulheres e dos homens dirigentes do sindicato

Analisar indicadores de empoderamento das mulheres demonstrando como se

expressam no sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Marabaacute

A dissertaccedilatildeo conta com esta introduccedilatildeo um capiacutetulo sobre a metodologia trecircs outros

capiacutetulos e as consideraccedilotildees finais O terceiro capiacutetulo trata sobre o empoderamento da

mulher Nele apresento um breve histoacuterico sobre a histoacuteria das mulheres no Brasil

perpassando pelo empoderamento da mulher ndash temaacutetica central da pesquisa ndash e pelas relaccedilotildees

de gecircnero e agricultura familiar No quarto capiacutetulo apresento um breve histoacuterico do

sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil analiso a participaccedilatildeo da

mulher no referido sindicalismo e reflito sobre a histoacuteria do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Marabaacute No quinto capiacutetulo apresento as mulheres do sindicato

pesquisado analisando-as a partir da participaccedilatildeo delas na estrutura sindical e a partir dos

discursos das lideranccedilas sindicais (mulheres e homens) Ao fim desta dissertaccedilatildeo apresento as

conclusotildees com base nas pistas e reflexotildees de cada capiacutetulo ao longo do processo de escrita

da dissertaccedilatildeo 2 Copserviccedilos Cooperativa de Prestaccedilatildeo de Serviccedilos prestadora de serviccedilo de assistecircncia teacutecnica

criada em 1998 pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) do sudeste paraense

20

2 DELINEAMENTOS METODOLOacuteGICOS

21O MUNICIacutePIO DE MARABAacute E O CONTEXTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no acircmbito do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais do municiacutepio de Marabaacute (Paraacute) pertencente agrave mesorregiatildeo sudeste

paraense (figura 01) com uma populaccedilatildeo de 266932 habitantes e aproximadamente 15200

Km2 mantendo uma densidade populacional de 154 habitantes por Km

2 (IBGE 2016) A sua

populaccedilatildeo eacute predominantemente urbana com cerca de 80 residindo no espaccedilo urbano

Quanto agrave divisatildeo por sexo a populaccedilatildeo marabaense manteacutem uma proporccedilatildeo proacutexima entre

homens e mulheres mas ainda prevalecendo percentual maior para os homens (505) As

atividades agropecuaacuterias ainda se mantecircm estrateacutegicas para a economia municipal sendo que

os setores de serviccedilos e produccedilatildeo industrial reservam maior importacircncia para a economia

local

Marabaacute eacute um dos centros urbanos mais importantes do Paraacute por concentrar boa

infraestrutura e sediar a maioria dos oacutergatildeos da administraccedilatildeo federal e estadual em atividade

na regiatildeo (ASSIS 2007)

Segundo Almeida (2016) durante vaacuterias deacutecadas do seacuteculo XX a histoacuteria da regiatildeo de

Marabaacute referiu-se agrave histoacuteria das lutas que resultaram na constituiccedilatildeo de oligarquias locais

ligadas ao comeacutercio e fortalecidas pelo domiacutenio da terra tendo fornecido para o restante do

paiacutes variados produtos dentre os quais merecem destaque o laacutetex a castanha-do-Paraacute

(Bertholletia excelsa HBK) peles de animais diamantes e cristais de rocha A partir do

ciclo da castanha foi consolidada a oligarquia local e os grandes latifuacutendios surgiram

funcionando mais tarde como pivocirc dos inuacutemeros conflitos ocorridos na regiatildeo (ALMEIDA

2016)

Dentre as oligarquias locais a famiacutelia dos Mutran exerceu relevante influecircncia

econocircmica e poliacutetica no municiacutepio de Marabaacute principalmente a partir da segunda metade da

deacutecada de 1950 do seacuteculo passado e sobretudo entre 1988 e 1991 ndash periacuteodo em que ldquoo entatildeo

chefe da famiacutelia controlava os trecircs poderes no municiacutepio de Marabaacute a Prefeitura a Cacircmara

Municipal e o Judiciaacuteriordquo (PETIT 2003 p186) Cabe ressaltar que a famiacutelia dos Mutran

exerceu notaacutevel influecircncia no comando do sindicato pesquisado em seus anos iniciais

21

FIGURA 01 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica de Marabaacute (PA)

FONTE Guimaratildees (2016)

A delimitaccedilatildeo temporal da pesquisa (BRUMER et al 2008) referiu-se ao periacuteodo de

existecircncia do sindicato em questatildeo ou seja desde a sua fundaccedilatildeo ocorrida em 20 de

dezembro de 1980 (GUERRA 2013) ateacute 2017

22AS ETAPAS DA PESQUISA

221Caminhos da construccedilatildeo empiacuterica

O tiacutetulo inicial do projeto de pesquisa era ldquoEmpoderamento de mulheres camponesas

e agroecologia no municiacutepio de Marabaacute-PArdquo uma vez que eu pretendia estudar grupos

produtivos de mulheres rurais preferencialmente organizados pelo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) relacionando-os agraves dimensotildees da agroecologia

22

Durante o mecircs de junho de 2016 realizei contatos telefocircnicos e por mensagens atraveacutes de

correio eletrocircnico (e-mail) e aplicativo whatsapp com lideranccedilas (um homem e duas

mulheres) do MST com o objetivo de viabilizar visita aos projetos de assentamentos do MST

no municiacutepio de Marabaacute ndash a proposta da visita seria a identificaccedilatildeo dos referidos grupos

produtivos

O primeiro trabalho de campo de caraacuteter exploratoacuterio (Campo I) foi realizado no

periacuteodo de 20 a 28 de setembro de 2016 no municiacutepio de Marabaacute Apesar dos contatos feitos

anteriormente agrave ida ao campo natildeo foi possiacutevel visitar nenhum projeto de assentamento do

MST localizado em Marabaacute

Considerando que ldquoa tarefa de pesquisa precisa ser reduzida ao que eacute possiacutevel ser

realizado pelo pesquisadorrdquo (GOLDENBERG 2004 p75) considerando que os recursos e o

tempo para a realizaccedilatildeo da pesquisa no acircmbito de um curso de mestrado satildeo limitados e

considerando que o objeto de estudo pode adquirir consistecircncia que redimensione a pesquisa

decidi pela mudanccedila do objeto de estudo optando por focalizar na luta das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A mudanccedila do

tema tambeacutem se deu no processo de reflexatildeo e aproximaccedilatildeo agrave temaacutetica trabalhada pelo meu

orientador e aleacutem disso em virtude de reconhecida lacuna sobre essa abordagem no referido

sindicato

Durante o campo exploratoacuterio realizei entrevistas com cinco mulheres que satildeo

lideranccedilas histoacutericas no municiacutepio com o objetivo de se conhecer a trajetoacuteria de vida das

entrevistadas bem como identificar as principais conquistas das mulheres do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute dentre outras questotildees elencadas no roteiro

(APEcircNDICE A) As entrevistas ndash do tipo natildeo diretiva de acordo com a proposiccedilatildeo de

Michelat (1987) ndash foram realizadas em locais escolhidos pelas mulheres variando entre local

de trabalho e residecircncia As entrevistas foram gravadas com permissatildeo das entrevistadas

sendo garantido o anonimato (GOLDENBERG 2004) das mesmas Os recursos utilizados

para registro foram gravador e bloco de anotaccedilotildees

Ainda durante o campo exploratoacuterio realizei pesquisa documental na

Superintendecircncia Regional do INCRA3 do Sul do Paraacute (SR-27) com sede em Marabaacute com o

3 INCRA Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

23

objetivo de obter informaccedilotildees a respeito do nuacutemero de mulheres que constam na Relaccedilatildeo de

Beneficiaacuterios (RB)4 dos projetos de assentamento do municiacutepio de Marabaacute bem como

nuacutemero de mulheres assentadas que acessaram creacuteditos rurais A intenccedilatildeo foi de obter pistas

de indicadores que demonstrassem o niacutevel de empoderamento das mulheres nas dimensotildees

poliacutetica e econocircmica

Realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de Marabaacute no intuito de obter

informaccedilotildees a respeito da Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo e Comenda ldquoBeta Moreirardquo incluindo

a relaccedilatildeo de mulheres que foram homenageadas com as referidas comendas Desde 2007 a

Cacircmara Municipal de Marabaacute realiza Sessatildeo Solene em homenagem ao Dia Internacional da

Mulher concedendo comendas agraves mulheres que contribuem para o desenvolvimento do

municiacutepio Como eu estava no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de pesquisa tinha o interesse

de conhecer as mulheres homenageadas para saber se eram ligadas ao Movimento Sindical

dos Trabalhadores Rurais (MSTR)

A Comenda ldquoMiriam Chavesrdquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 022007

Trata-se de homenagem agrave Miriam Chaves Gomes (1917ndash2007) natural de Imperatriz (MA)

Passou a residir em Marabaacute em 1942 Trabalhou como professora da Escola ldquoJoseacute Mendonccedila

Vergolinordquo Foi a primeira mulher a se eleger e exercer o mandato de vereadora de Marabaacute

pelo Partido Social Progressista (PSP) no periacuteodo de 1951 a 1954 Fontes orais relataram que

Miriam Chaves foi a primeira mulher a usar maiocirc e a andar de bicicleta e de lambreta5 no

municiacutepio de Marabaacute Promovia corridas de bicicleta no bairro Velha Marabaacute reunindo os

jovens da eacutepoca bem como participava das atividades do Clube de Matildees Aleacutem dos projetos

poliacuteticos e sociais nos quais se engajava era considerada a melhor doceira da cidade seus

bolos de casamento e aniversaacuterio eram disputados pelos abastados da eacutepoca e tambeacutem

confeccionava vestidos de noiva considerados belos Foi agraciada com o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense atraveacutes do Decreto Legislativo nordm 461 de 11 de dezembro de 2001

4 Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) do Programa Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) A primeira

atividade do processo de assentamento eacute a seleccedilatildeo realizada simultaneamente agrave obtenccedilatildeo de terras e

aos levantamentos baacutesicos para sua caracterizaccedilatildeo As normas de seleccedilatildeo em vigor desde 1981 vecircm

passando por mudanccedilas e adequaccedilotildees O resultado eacute a Relaccedilatildeo de Beneficiaacuterios (RB) da entidade

familiar assentada (INCRA 2016)

5 Lambreta veiacuteculo de duas rodas semelhante agrave motocicleta muito usada nas deacutecadas de 50 e 60 do

seacuteculo XX (fonte httpwwwdicionarioinformalcombrlambreta)

24

A Comenda ldquoBeta Moreirardquo foi instituiacuteda atraveacutes do Projeto de Resoluccedilatildeo 032007

Trata-se de homenagem agrave Albertina Sandra Moreira dos Reis (1954ndash2006) natural de Beleacutem

(PA) conhecida como professora Beta Passou a residir em Marabaacute em 1980 Trabalhou no

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB) Centro de Educaccedilatildeo Pesquisa e Assessoria Sindical

e Popular (CEPASP) Como educadora popular proferiu palestras sobre o meio ambiente

organizaccedilatildeo sindical educaccedilatildeo produccedilatildeo do Jornal Popular e outros Funcionaacuteria puacuteblica

municipal concursada desde 1995 trabalhou como orientadora pedagoacutegica nas escolas de

Marabaacute de 1995 a 1996 Exerceu o cargo de Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo em 1996 na

gestatildeo do prefeito Haroldo Bezerra voltando a ocupar esse cargo em 1997 na gestatildeo do

prefeito Geraldo Veloso Exerceu ainda a funccedilatildeo de supervisora nas Escolas Municipais de

Ensino Fundamental Salomeacute Carvalho e Pedro Cavalcante Recebeu o tiacutetulo de Cidadatilde

Marabaense na Cacircmara Municipal por indicaccedilatildeo do vereador Miguel Gomes Filho conforme

o Decreto Legislativo nordm 31517 de 17 de dezembro de 1997 A Cacircmara Municipal de Marabaacute

aprovou o Decreto Legislativo nordm 555 de 06 de marccedilo de 2007 denominando de Albertina

Sandra Moreira dos Reis (Professora Beta) a escola na Folha 06 bairro Nova Marabaacute A

autora da proposiccedilatildeo foi a vereadora Vanda Reacutegia Ameacuterico Gomes A escola foi inaugurada

em janeiro de 2008

Retomando agrave descriccedilatildeo do campo exploratoacuterio visitei a sede do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute onde tive a oportunidade de conversar com

dois integrantes (dois homens) da atual diretoria aleacutem de dois integrantes (uma mulher e um

homem) de diretorias anteriores realizando assim a primeira aproximaccedilatildeo com o objeto de

estudo da pesquisa sendo possiacutevel ainda articular as futuras imersotildees no campo Ademais

acompanhei agricultoras familiares durante a comercializaccedilatildeo de seus produtos na Feira da

Agricultura Familiar ndash realizada aos saacutebados em espaccedilo em frente agrave sede do sindicato Dona

Dijeacute (Figura 02) eacute militante no sindicato desde 1992 e uma das lideranccedilas que se envolveu

intensamente na implantaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo dessa feira ndash fundada em 11 de novembro de

2006 Segundo Amador (2017) o perfil dos feirantes eacute diverso com presenccedila ativa das

mulheres Miranda (2008) esclarece que a Feira da Agricultura Familiar de Marabaacute foi criada

atraveacutes da parceria entre a Copserviccedilos e o STTR de Marabaacute

25

FIGURA 02 Dona Dijeacute comercializando produtos na Feira da Agricultura Familiar Marabaacute (PA)

Foto Luciana Moreira dos Reis (2016)

Concordando com Brumer et al (2008) o estudo exploratoacuterio adquire importacircncia

iacutempar para orientar as escolhas acertadas no processo de pesquisa Nesse caso foi

fundamental para a definiccedilatildeo do objeto de estudo e possibilitou a primeira aproximaccedilatildeo com

os sujeitos da pesquisa

222 Procedimentos metodoloacutegicos

Essa pesquisa eacute um estudo de caso do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (PA) com abordagem qualitativa Em relaccedilatildeo agrave natureza das fontes realizei

pesquisa bibliograacutefica pesquisa documental e pesquisa de campo (SEVERINO 2007)

Na pesquisa documental analisei registros impressos tais como documentos

elaborados pelo sindicato (convocatoacuterias e atas de reuniotildees e assembleias do sindicato pautas

de reivindicaccedilotildees listas de frequecircncias dentre outros) textos da imprensa escrita do

municiacutepio de Marabaacute (reportagens sobre o sindicato em questatildeo especialmente no Jornal

Correio do Tocantins) acervo de entidades parceiras na luta sindical rural (especificamente o

acervo da Comissatildeo Pastoral da Terra) A pesquisa documental objetivou resgatar fatos

histoacutericos relacionados ao sindicato O atual presidente do sindicato esclareceu que o arquivo

seria organizado melhor posteriormente visto que muitos documentos estavam encaixotados

em virtude de que as diretorias anteriores natildeo tiveram a preocupaccedilatildeo em organizar o arquivo

26

Foi durante essa etapa da pesquisa que ocorreu a Chacina de Pau D‟Arco no dia 24 de

maio de 20176 sendo que dos dez mortos sete eram da mesma famiacutelia o casal Jane Julia de

Oliveira e Antonio Pereira Milhomem seus trecircs filhos e dois sobrinhos No dia seguinte agrave

chacina enquanto eu realizava a pesquisa documental na sede da CPT quatros integrantes da

CPT estavam organizando a homenagem que seria prestada aos trabalhadores assassinados

em protestopasseata7 com saiacuteda do Campus I da Unifesspa ateacute a sede do Instituto Meacutedico

Legal (IML) de Marabaacute Aleacutem disso realizei pesquisa documental na Cacircmara Municipal de

Marabaacute a fim de complementar as informaccedilotildees a respeito das Comendas ldquoBeta Moreirardquo e

ldquoMiriam Chavesrdquo citadas anteriormente Pelo que pesquisei nenhuma mulher dirigente do

STTR de Marabaacute (das direccedilotildees de 1994 ateacute a atual) recebeu essa homenagem Apenas duas

diretoras foram homenageadas pela Cacircmara Municipal de Marabaacute com a concessatildeo do tiacutetulo

de Cidadatilde Marabaense Francisca Marta Alves Moreira8 e Maria de Jesus Lopes Noleto (dona

Dijeacute)9

Embora os sujeitos da pesquisa (APPOLINAacuteRIO 2006) sejam especialmente as

mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute

(gestatildeo atual e gestotildees anteriores) para que o processo de empoderamento dessas mulheres

fosse analisado detalhadamente foi necessaacuterio ter contato com demais sujeitos mulheres (e

homens) que trabalharam eou trabalham prestando assessoria teacutecnica social e sindical ao

sindicato homens dirigentes do sindicato (gestatildeo atual e gestotildees anteriores)

6 No dia 24 de maio de 2017 dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram

mortos em uma accedilatildeo da Poliacutecia Militar (PM) e da Poliacutecia Civil do estado do Paraacute supostamente

organizada para cumprir mandados de prisatildeo contra ocupantes da Fazenda Santa Luacutecia

Acampamento Nova Vida A operaccedilatildeo foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agraacuterios (DECA)

com apoio de contingente policial de Redenccedilatildeo Conceiccedilatildeo do Araguaia e Xinguara (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrnoticiasacervomassacres-no-campo110-para3982-pau-d-arco-2017)

7 Cerca de 250 pessoas entre estudantes professores e militantes de movimentos e organizaccedilotildees

sociais saiacuteram agraves ruas de Marabaacute no Paraacute no dia 25 de maio ao final da tarde para denunciar e

protestar contra as autoridades policiais responsaacuteveis pelo Massacre de Pau D‟arco a 350 km dali que

vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24 (Fonte

httpswwwcptnacionalorgbrpublicacoesnoticiasconflitos-no-campo3800-ato-publico-em-

maraba-pa-denuncia-massacre-de-pau-d-arco)

8 Projeto de Decreto Legislativo 202011 apresentado pelo vereador Aleacutecio Stringari (Aleacutecio da

Palmiteira) 9 Projeto de Decreto Legislativo 932011 apresentado pelo vereador Gerson Augusto dos Santos

Varela (Geacuterson do Badeco)

27

Aleacutem da pesquisa documental parte da coleta de dados ndash comumente citada em

termos gerais como ldquotrabalho de campordquo (MANN 1970) ndash foi realizada atraveacutes de entrevista

natildeo diretiva (MICHELAT 1987) com a utilizaccedilatildeo de roteiro de entrevista papel caneta e

gravador sendo que as (os) entrevistadas (os) assinaram o termo de autorizaccedilatildeo de uso de

imagem e depoimentos (APEcircNDICE G) O segundo campo foi realizado no periacuteodo de 16 a

26 de maio de 2017 Os roteiros estatildeo detalhados nos APEcircNDICES (B C D E e F)

Considerei como terceiro campo o periacuteodo de uma semana (10 a 16 de julho) que passei em

Marabaacute em julho de 2017 no qual consegui realizar duas entrevistas ndash com um homem que

foi assessor do sindicato e com uma mulher (vice-presidente de gestatildeo anterior) com duraccedilatildeo

de 1h44m e 2h04m respectivamente Apesar de terem sido somente duas entrevistas foram

essenciais para minha compreensatildeo sobre o contexto histoacuterico e sobre a participaccedilatildeo das

mulheres nas lutas diaacuterias do sindicato Para entrevistar a vice-presidente de gestatildeo anterior

tive que me deslocar ao seu lote em projeto de assentamento que dista aproximadamente 140

km da sede de Marabaacute Considerei como quarto campo a entrevista que realizei no mecircs de

setembro de 2017 com a primeira mulher presidente da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e

Trabalhadoras na Agricultura do Paraacute (FETAGRI PARAacute) eleita em marccedilo de 2017 em

Beleacutem do Paraacute Os roteiros serviram de base para as entrevistas sendo que as mesmas

variaram de 24 minutos a 02h04minutos conforme a disponibilidade de cada entrevistada (o)

No total foram entrevistadas 18 pessoas sendo 11 mulheres e 07 homens de acordo

com o Quadro 02 Atribuiacute nomes fictiacutecios agraves(aos) entrevistadas(os) para preservaccedilatildeo de suas

identidades conforme orientaccedilatildeo de Oliveira (2014) ldquoEacute preciso garantir-lhe que seraacute

guardado sigilo quanto agraves informaccedilotildees e que natildeo haveraacute identificaccedilatildeo do informante na

redaccedilatildeo final do relatoacuterio da pesquisardquo (OLIVEIRA 2014 p87)

28

Quadro 02 ndash Relaccedilatildeo das (os) entrevistadas (os)

Nordm DATA NOME LOCAL DA ENTREVISTA DURACcedilAtildeO

01 200916 MADALENA Folha 27 Bairro Nova Marabaacute 01h09min

02 210916 JOANA ANGEacuteLICA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h20min

03 220916 SANDRA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 01h12min

04 260916 LINDA Bairro Liberdade 01h18min

05 270916 NINA Bairro Velha Marabaacute 44min

06 180517 CLAacuteUDIO Bairro Velha Marabaacute 24min

07 180517 FRIDA Bairro Velha Marabaacute 01h52min

08 190517 TEREZA Folha 31 Bairro Nova Marabaacute 50min

09 190517 LUIacuteS Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 39min

10 220517 ITAMAR BairroVelha Marabaacute 41min

11 220517 VANA Bairro Nova Marabaacute 01h33min

12 230517 MILTON Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 55min

13 230517 VALDIR Agroacutepolis INCRA Bairro Amapaacute 29min

14 230517 SIMONE Bairro Velha Marabaacute 01h33min

15 240517 SAULO Bairro Velha Marabaacute 56min

16 110717 JOAtildeO Folha 31 Nova Marabaacute 01h44min

17 140717 MARIA Zona rural de Marabaacute 02h04min

18 010917 DANDARA Bairro Umarizal Beleacutem 34min

Fonte Luciana Moreira dos Reis (2016 2017)

Das onze mulheres entrevistadas quatro foramsatildeo dirigentes do Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute duas foram vice-presidentes de gestotildees

anteriores dentre outros cargos uma foi Secretaacuteria de Juventude Rural e uma eacute a

atualreeleita Secretaacuteria de Poliacuteticas Sociais Tentei marcar entrevista com outras mulheres ex-

29

dirigentes poreacutem devido dificuldade de deslocamento10

natildeo foi possiacutevel entrevistaacute-las em

virtude de natildeo coincidir com o periacuteodo em que estive em Marabaacute As outras mulheres

entrevistadas satildeo duas satildeo lideranccedilas poliacuteticas (uma eacute filiada ao Partido dos Trabalhadores e

a outra eacute filiada ao Partido Socialista Brasileiro) uma era a presidente do Conselho Municipal

de Defesa dos Direitos da Mulher de Marabaacute (COMDIM) ndash no periacuteodo em que foi

entrevistada uma era a titular da Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a

Mulher11

ndash no periacuteodo em que foi entrevistada uma eacute agente da Comissatildeo Pastoral da Terra

uma eacute professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute (Unifesspa) e uma eacute a

primeira mulher presidente da FetagriPA eleita em 2017 Optei por entrevistar tambeacutem

outras mulheres que natildeo satildeo dirigentes do sindicato uma vez que algumas delas foram

assessoras do sindicato tendo acompanhado de perto a luta das referidas mulheres A

entrevista com a presidente da FetagriPA teve como objetivo conhecer o panorama estadual

no qual o STTR de Marabaacute estaacute inserido Ademais no iniacutecio da construccedilatildeo do projeto de

pesquisa interessava-me em compreender a participaccedilatildeo das mulheres em Marabaacute em vaacuterias

categorias Posteriormente em conjunto com meu orientador afunilei para o sindicalismo de

trabalhadores e trabalhadoras rurais principalmente por manifestaccedilotildees do senso comum de

que as mulheres natildeo tinham ingerecircncia nem representaccedilatildeo alguma nessa entidade

Dos sete homens entrevistados um foi assessor do sindicato (trabalhando na Comissatildeo

Pastoral da TerraCPT Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins AraguaiaFATA e Copserviccedilos) e seis

dirigentes o atualreeleito presidente dois dirigentes da atual gestatildeo (Tesoureiro e Secretaacuterio

Geral) um dirigente de gestatildeo anterior (Secretaacuterio de Poliacutetica Agraacuteria e Agriacutecola) e dois

presidentes de gestotildees anteriores (dentre outros cargos) Dois homens entrevistados estavam

presentes no dia em que o sindicato foi fundado no mecircs de dezembro de 1980 no Bairro

Morada Nova constituindo-se portanto em personagens histoacutericos ndash o que seraacute detalhado no

item 43 da dissertaccedilatildeo

As entrevistas foram analisadas qualitativamente destacando que devido agrave

singularidade de cada uma realizei o cruzamento das mesmas entre si atraveacutes das leituras

verticais e horizontais conforme proposiccedilatildeo de Michelat (1987) Aleacutem disso durante a

10

Uma delas mora em assentamento que dista mais de 200 km da sede de Marabaacute entrei em contato

com o filho que explicou que dificilmente a matildee se desloca para a sede 11

A Coordenadoria Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para a Mulher eacute um oacutergatildeo vinculado diretamente agrave

Secretaria de Assistecircncia Social da Prefeitura Municipal de Marabaacute

30

pesquisa empiacuterica estive baseada na recomendaccedilatildeo de Oliveira (2000) olhar ouvir e

escrever

Nesse sentido a anaacutelise dos dados coletados permitiu identificar se a participaccedilatildeo das

mulheres no sindicato especificado representa formas de empoderamento nas dimensotildees

econocircmica pessoal social e poliacutetica (BRUMER ANJOS 2010) bem como nas esferas

puacuteblica e privada

31

3 EMPODERAMENTO RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

31 MULHERES HISTOacuteRIA E EMPODERAMENTO

Emma Siliprandi (2015) analisando os movimentos de mulheres na atualidade

comenta sobre o conjunto das lutas feministas ao longo da histoacuteria que proporcionaram no

final do seacuteculo XX o comeccedilo da assimilaccedilatildeo do feminismo em instituiccedilotildees como

universidades igrejas governos e partidos poliacuteticos Aleacutem disso legislaccedilotildees foram

modificadas oportunidades foram abertas para que as questotildees das mulheres se tornassem

puacuteblicas A seguir as principais conquistas apontadas por Siliprandi (2015)

Instituiccedilotildees internacionais comeccedilam a ter que dar respostas agraves reivindicaccedilotildees

das mulheres em 1975 a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) instituiu a

Deacutecada da Mulher na primeira Conferecircncia Mundial da Mulher no Meacutexico

e estabeleceu em seu Plano de Accedilatildeo que as mulheres fossem tratadas

legalmente em situaccedilatildeo de igualdade com os homens em todos os paiacuteses do

mundo Em 1979 com a aprovaccedilatildeo da Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher (Convention on the

Elimination of All Form of Discrimination Agaisnt Women (Cedaw) criou-

se um clima poliacutetico internacional que estimulava os paiacuteses a reverem as

suas constituiccedilotildees e aparatos legais removendo dispositivos que

representassem empecilhos agrave igualdade formal entre homens e mulheres

Muitos paiacuteses modificaram suas legislaccedilotildees apoacutes esse periacuteodo e criaram

estruturas puacuteblicas para a promoccedilatildeo dos direitos das mulheres

(SILIPRANDI 2015 p 41)

Em relaccedilatildeo agrave luta da mulher por sua emancipaccedilatildeo Toledo (2001) descreve as trecircs

grandes ondas ocorridas nos tempos modernos

A primeira foi no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX com o movimento

sufragista e a luta por outros direitos democraacuteticos A segunda foi no final

dos anos 60 e iniacutecio dos 70 com os movimentos feministas que visavam

basicamente a liberaccedilatildeo sexual E a terceira no final dos anos 70 e iniacutecio dos

80 de caraacuteter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher

trabalhadora latino-americana (TOLEDO 2001 p 75)

Remontando o debate ao fim do seacuteculo XIX com o advento da Repuacuteblica Soihet

(2013) comenta sobre a mudanccedila significativa nas aspiraccedilotildees das mulheres brasileiras

principalmente em relaccedilatildeo ao trabalho remunerado Mulheres dos segmentos meacutedios e

elevados da sociedade passaram a busca-lo sendo um dos motivos o processo de

industrializaccedilatildeo ndash os produtos consumidos pelas famiacutelias passaram a ser adquiridos no

mercado dando lugar a crescente necessidade de contribuiccedilatildeo financeira por parte das

32

mulheres Aleacutem disso Soihet (2013) aponta que as mulheres buscavam a realizaccedilatildeo

profissional e autossuficiecircncia econocircmica

Para Matos e Borelli (2013) uma das maiores transformaccedilotildees dos uacuteltimos cem anos

foi a presenccedila marcante e evidente das mulheres no mundo do trabalho Segundo as autoras

alguns confundem ldquotrabalho femininordquo com as funccedilotildees domeacutesticas os cuidados com a famiacutelia

e a casa jaacute outros entendem que ele envolve as atividades remuneradas realizadas no proacuteprio

domiciacutelio e mesmo a participaccedilatildeo das mulheres no mercado de trabalho

Siliprandi (2015) frisa que apesar da situaccedilatildeo das mulheres ter melhorado em termos

de direitos civis em comparaccedilatildeo ao iniacutecio do seacuteculo XX ainda persistem desigualdades

flagrantes quando se compara com a situaccedilatildeo dos homens ldquoTanto no que diz respeito agraves

condiccedilotildees estruturais e econocircmicas de acesso aos meios fiacutesicos para a sua sobrevivecircncia

como com relaccedilatildeo agrave possibilidade de realizaccedilatildeo de projetos autocircnomos de vida por conta da

manutenccedilatildeo de padrotildees de gecircnero fortemente excludentesrdquo (SILIPRANDI 2015 p 47)

Os movimentos das mulheres rurais trazem contribuiccedilotildees significativas ao debate uma

vez que as mobilizaccedilotildees das trabalhadoras rurais elucidam a capacidade das mulheres de

vincular as reflexotildees sobre a vida domeacutestica agraves demandas dos movimentos populares Giulani

(2015) esclarece que durante muito tempo se pensou que seria difiacutecil mobilizar as mulheres

trabalhadoras porque se considerava irregular e provisoacuteria sua inserccedilatildeo no mercado de

trabalho Poreacutem estudos acadecircmicos e de militantes apontam para as seguintes constataccedilotildees

() a participaccedilatildeo produtiva das mulheres rurais eacute massiva e marcada por

uma longa jornada de trabalho mal remunerado () as mobilizaccedilotildees das

mulheres rurais tecircm ganhado visibilidade atraveacutes de manifestaccedilotildees

protestos e abaixo-assinados que reclamam o respeito agrave legislaccedilatildeo o acesso

agrave previdecircncia social e tambeacutem o direito de participar ativamente de seus

sindicatos (GIULANI 2015 p 645)

As mulheres tecircm contribuiacutedo para a efetivaccedilatildeo de algumas transformaccedilotildees

importantes como por exemplo a politizaccedilatildeo do cotidiano domeacutestico o fim do isolamento

das mulheres no seio da famiacutelia e a definitiva integraccedilatildeo das mulheres nas lutas sociais

(GIULANI 2015)

No Brasil a noccedilatildeo de empoderamento eacute utilizada inicialmente na deacutecada de 70 do

seacuteculo XX com os movimentos sociais e posteriormente passa a ser utilizada pelas

organizaccedilotildees natildeo-governamentais Desde o final da deacutecada de 90 do seacuteculo XX ocorreu uma

apropriaccedilatildeo gradual da abordagem de empoderamento por organizaccedilotildees financeiras

multilaterais (como o Banco Mundial) e agecircncias de cooperaccedilatildeo poreacutem ocasionando um

processo de despolitizaccedilatildeo dessa noccedilatildeo (ROMANO ANTUNES 2002)

33

Para Romano (2002) o empoderamento eacute visto como estrateacutegia de combate agrave pobreza

uma vez que a pobreza eacute considerada um estado de desempoderamento principalmente

quando se analisa grupos mais desempoderados e vulneraacuteveis como as mulheres idosos e

crianccedilas Dessa forma o empoderamento dos pobres e das comunidades viria a ocorrer pela

conquista plena dos direitos de cidadania

De acordo com reflexotildees de Gohn (2004) a categoria ldquoempowermentrdquo ou

empoderamento (traduzida no Brasil) natildeo tem caraacuteter universal podendo referir-se a accedilotildees de

impulso a grupos e comunidades na qual se busque a efetiva melhora de suas existecircncias e

tambeacutem pode referir-se a praacuteticas de assistecircncia a populaccedilotildees carentes e excluiacutedas ndash

conduzidas por organizaccedilotildees natildeo-governamentais do terceiro setor

Aprofundando a discussatildeo para o empoderamento da mulher as autoras Deere e Leoacuten

(2002) consideram-no precondiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo da igualdade entre homens e mulheres

uma vez que o empoderamento da mulher transforma as relaccedilotildees de gecircnero O termo

ldquoempoderamentordquo chama a atenccedilatildeo para a palavra ldquopoderrdquo e o conceito de poder enquanto

relaccedilatildeo social Rowlands (1997 apud DEERE LEOacuteN 2002) diferencia quatro tipos de poder

(poder sobre poder para poder com e poder de dentro)

[] ldquopoder sobrerdquo representa a estaca zero de um jogo o aumento no poder

de algueacutem significa uma perda de poder para outra pessoa Por outro lado as

outras 3 formas ndash poder para poder com e poder de dentro ndash satildeo todas

aditivas um aumento no poder de uma pessoa aumenta o poder total

disponiacutevel ou o poder de todos (ROWLANDS 1997 apud DEERE LEOacuteN

2002 p53)

Deere e Leoacuten (2002) enfatizam que o empoderamento da mulher desafia relaccedilotildees

familiares patriarcais pois pode levar ao desempoderamento do homem e consequentemente

leva agrave perda da posiccedilatildeo privilegiada que ele possui

Estudo conduzido por Amorim (2012) analisou se a participaccedilatildeo das mulheres em

sindicatos de trabalhadores rurais gera empoderamento para as mesmas no acircmbito puacuteblico e

privado Para tanto a autora adotou uma perspectiva comparativa analisando mulheres

sindicalizadas e natildeo sindicalizadas As variaacuteveis que se destacaram encontram-se no quadro

03

34

Quadro 03 Comparativo entre as variaacuteveis que se destacaram na anaacutelise dos dados dos dois grupos

pesquisados

Acircmbito Natildeo sindicalizadas Sindicalizadas

Privado

1 Maior niacutevel de escolaridade

2 Liberdade para tomar decisotildees

3 Liberdade para sair de casa

4 Administra a renda

5 Renda pessoal

6 Renda familiar

7 Propriedade de bens imoacuteveis

1 Maior uso de meacutetodo contraceptivo e de

planejamento familiar

2 Propriedade de bens moacuteveis

Puacuteblico 1 Maior acesso a benefiacutecios

previdenciaacuterios

1 Maior niacutevel de participaccedilatildeo em outras

organizaccedilotildees associativas

2 Maior niacutevel de envolvimento nas

instituiccedilotildees de que participam

3 Acesso a poliacuteticas puacuteblicas FONTE Amorim (2012)

Os resultados obtidos pela pesquisa identificaram que as mulheres sindicalizadas e natildeo

sindicalizadas alcanccedilam empoderamento em esferas diferentes As primeiras apresentaram

indicadores de empoderamento na esfera puacuteblica enquanto as segundas evidenciaram

indicadores relacionados ao empoderamento em acircmbito privado (AMORIM 2012)

Em estudo sobre as caracteriacutesticas gerais das atividades de mulheres na pesca em

diferentes contextos Maneschy Siqueira e Aacutelvares (2012) identificaram as seguintes frentes

nas quais podem ser contabilizados niacuteveis de empoderamento assumidos por essas mulheres

Incluem o direito de associaccedilatildeo o acesso a espaccedilos de direccedilatildeo em

organizaccedilotildees de pescadores a busca e as possibilidades de se capacitarem

para lidar com a modernizaccedilatildeo pesqueira e ao mesmo tempo contribuir com

as lutas locais contra poliacuteticas de ocupaccedilatildeo de seus territoacuterios e a favor de

garantia de acesso aos recursos (MANESCHY SIQUEIRA AacuteLVARES

2012 p 731)

Na aacuterea da pesca interpretada genericamente como masculina haacute atuaccedilatildeo de mulheres

como demonstram as autoras citadas anteriormente No campo de sindicalismo de

trabalhadores rurais a efetiva participaccedilatildeo da mulher eacute minimizada pouco visiacutevel ou negada

nas interpretaccedilotildees generalizadas

Analisando o empoderamento numa perspectiva de gecircnero Colling (2004) considera-o

como o processo pelo qual as mulheres incrementam sua capacidade de configurar suas

proacuteprias vidas

Eacute uma evoluccedilatildeo na conscientizaccedilatildeo das mulheres sobre si mesmas sobre sua

posiccedilatildeo na sociedade As cotas partidaacuterias reconhecidas como discriminaccedilatildeo

35

positiva para corrigir seacuteculos de desigualdade satildeo reconhecidas como

tentativas de empoderamento das mulheres O empoderamento deve

capacitar as mulheres para assumir o poder levando em conta as relaccedilotildees de

poder entre homem e mulher hierarquicamente construiacutedas (COOLING

2004 p 06)

Para a entrevistada Maria (2017) as mulheres precisam se empoderar cada vez mais

ocupando o seu verdadeiro lugar ldquoEu toda vida fui assim empoderadiacutessima Sempre fui

aquela pessoa decididardquo (Entrevista com Maria em 14072017) E de acordo com a

entrevistada Dandara (2017)

Uma mulher natildeo pode de forma nenhuma deixar algueacutem decidir por ela

Qual o caminho que ela quer seguir seja ele profissional seja ele no ramo da

educaccedilatildeo ou no seu proacuteprio empoderamento mesmo Algueacutem dizer ldquoTu tem

que ir para alirdquo Natildeo eu acho que natildeo tem que ser assim E na vida

domeacutestica tambeacutem Vocecirc natildeo pode deixar uma pessoa lhe proibir de usar

determinada roupa ou cortar o cabelo ou decidir o rumo daquilo que vocecirc

tem vontade de fazer Acho que a gente tem que ter decisatildeo proacutepria

(Entrevista com Dandara em 01092017)

Essas duas falas demonstram a importacircncia das mulheres assumirem o controle de

suas proacuteprias vidas libertando-se das amarras que as impedem de evoluir social profissional

intelectual emocional e espiritualmente

Em estudo sobre a socializaccedilatildeo de agricultoras no Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense (MMNEPA) Silva (2008) elenca o empoderamento da mulher como um

dos objetivos do referido movimento

Para as mulheres inseridas no MMNEPA o empoderamento refere-se ao

desenvolvimento de potencialidades ao aumento de informaccedilatildeo e ao

aprimoramento de percepccedilotildees pela troca de ideias com o objetivo de

fortalecer as capacidades as habilidades e as disposiccedilotildees das mulheres para

exerciacutecio do poder compreendido por elas como crescimento intelectual

ldquoempoderamentordquo que lhes daacute condiccedilotildees de atuar em diferentes espaccedilos em

casa na comunidade religiosa no sindicato nos conselhos (SILVA 2008

p73)

Segundo Silva (2008) o IV Congresso do MMNEPA realizado em Nova Timboteua

(PA) no periacuteodo de 20 a 23 de abril de 2006 teve como um dos encaminhamentos escolher

como linhas de accedilatildeo do movimento Sauacutede sexualidade e direitos reprodutivos A

organizaccedilatildeo e o empoderamento das mulheres Desenvolvimento econocircmico popular e

solidaacuterio Mulheres e Meio Ambiente Mulheres e direitos humanos As referidas linhas de

accedilatildeo orientam os processos de capacitaccedilatildeo e demais atividades do movimento O MMNEPA eacute

uma experiecircncia exitosa sendo considerada referecircncia na articulaccedilatildeo e protagonismo das

mulheres do nordeste paraense

36

32 RELACcedilOtildeES DE GEcircNERO E AGRICULTURA FAMILIAR

A existecircncia de uma relaccedilatildeo de hierarquia entre os gecircneros explica a valorizaccedilatildeo

diferente do trabalho de mulheres e homens sendo que a base dessa relaccedilatildeo estaacute na divisatildeo

sexual do trabalho Nobre (2005) aponta para a necessidade de se entender a dinacircmica que

envolve a complexidade das relaccedilotildees de gecircnero no intuito da superaccedilatildeo das desigualdades

produzidas e reproduzidas Deve ser levado em consideraccedilatildeo por exemplo o seguinte

aspecto ldquoo processo de socializaccedilatildeo de gecircnero desenvolvendo habilidades e capacidades

diferentes nos homens e nas mulheresrdquo (NOBRE 2005 p44)

Segundo essa autora na aacuterea rural os meninos e meninas estatildeo sempre juntos ateacute por

volta dos cinco anos Apoacutes essa idade as meninas passam a seguir as matildees acompanhando-as

nas atividades domeacutesticas e ajudando-as enquanto isso os meninos passam a seguir o pai

aprendendo com ele e tendo mais tempo para brincar nas horas de lazer (as meninas tecircm

menos tempo de lazer) Aleacutem disso os rapazes podem sair mais satildeo mais independentes

enquanto que as moccedilas ficam mais em casa monitoradas pela famiacutelia

Motta-Maueacutes (1993) investigou as mulheres (e homens implicitamente) de uma

comunidade de pescadores ndash povoaccedilatildeo de Itapuaacute localizada no municiacutepio de Vigia (PA) ndash

ldquoexaminando as atribuiccedilotildees reconhecidas como proacuteprias a cada uma dessas categorias de

pessoas com base nas diferenccedilas entre os dois sexosrdquo (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 02) De

acordo com a autora a organizaccedilatildeo do sistema social da comunidade estaacute estruturada no

sentido de opor um papel masculino ativo e dominante a outro passivo e dependente das

mulheres

A atuaccedilatildeo principal da mulher em Itapuaacute se resume ao seu desempenho nas

tarefas domeacutesticas e agriacutecolas (seu trabalho nas roccedilas) Nestas pela proacutepria

natureza do trabalho que executa os cuidados com sua casa sua famiacutelia e a

produccedilatildeo de alimentos voltada sempre para o acircmbito interno da

comunidade a mulher se enquadra perfeitamente no esquema de atribuiccedilotildees

do seu sexo natildeo surgindo portanto oposiccedilotildees a sua atuaccedilatildeo Nas outras

esferas se ela se conforma ao modelo e natildeo tenta ultrapassar os limites que

lhe satildeo impostos a situaccedilatildeo permanece a mesma Se entretanto se aventura

a ir aleacutem desses limites a pressatildeo gerada pelo sistema social surge logo para

mostrar-lhe o lugar que lhe compete (MOTTA-MAUEacuteS 1993 p 208)

Estudo realizado com base nas experiecircncias dos quintais produtivos de quatro

agricultoras da regiatildeo do Sertatildeo do Pajeuacute (PE) aponta para dificuldades enfrentadas por elas

37

no iniacutecio de suas experiecircncias com os quintais dentre as quais a forte carga de trabalho

como explicado pelos autores (ALEXANDRE et al 2015)

A sobrecarga de trabalho das mulheres foi uma questatildeo levantada por todas

Elas tinham que assumir sozinhas o trabalho reprodutivo ndash cuidado da casa e

dos filhasos ndash e o trabalho solitaacuterio em seus quintais e vivenciar os conflitos

com os maridos no que se refere agrave falta de autonomia para decidirem suas

vidas Para elas a situaccedilatildeo eacute causada pela cultura machista existente na

sociedade (ALEXANDRE et al 2015 p 133)

Em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das mulheres na tomada de decisatildeo na agricultura familiar

Melo Cappelin e Castro (2010) avaliam que em assentamentos rurais o poder de decisatildeo das

mulheres eacute bem menor do que sua participaccedilatildeo efetiva na produccedilatildeo em relaccedilatildeo ao poder do

homem sobre a gestatildeo do lote Com o intuito de superar barreiras como essa Dantas e Gomes

(2014) demonstram que as mulheres rurais protagonizaram fortes processos de mobilizaccedilatildeo e

construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das desigualdades de gecircnero principalmente

atraveacutes da realizaccedilatildeo de projetos no periacuteodo de 2003-2013 em parceria com a Diretoria de

Poliacuteticas para as Mulheres Rurais e Quilombolas do extinto Ministeacuterio do Desenvolvimento

Agraacuterio (DPMRMDA) Os referidos projetos proporcionaram agraves mulheres resultados como

o despertar das mulheres para sua participaccedilatildeo poliacutetica no acircmbito do Programa Territoacuterios da

Cidadania melhoria nos rendimentos e qualificaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

Jancz et al (2018) descrevem pesquisa realizada no acircmbito de um projeto de

sistematizaccedilatildeo da produccedilatildeo de mulheres rurais no Vale do Ribeira A pesquisa acompanhou a

implementaccedilatildeo do uso da caderneta agroecoloacutegica por parte de um grupo de 27 mulheres

Segundo as autoras

A caderneta agroecoloacutegica eacute um instrumento que daacute visibilidade ao trabalho

feito pelas mulheres nos quintais e roccedilas e ajuda a promover sua autonomia

Trata-se de um caderno simples com quatro colunas que organizam as

informaccedilotildees sobre o destino da produccedilatildeo o que foi vendido o que foi

doado o que foi trocado e o que foi consumido (JANCZ et al 2018 p 61)

As mulheres participantes do projeto relataram que num primeiro momento tiveram

duacutevidas sobre o que anotar na caderneta agroecoloacutegica bem como passaram por situaccedilotildees

constrangedoras no inicio da sistematizaccedilatildeo devido seus maridos e filhos darem pouca ou

nenhuma importacircncia agraves referidas anotaccedilotildees Todavia as mulheres tambeacutem relataram que o

haacutebito de organizar a caderneta agroecoloacutegica as aproximou da realidade em que vivem como

38

tambeacutem proporcionou a elas maior visibilidade e autonomia dentro da identidade da famiacutelia

(JANCZ et al 2018)

A Marcha das Margaridas merece destaque nesse debate Trata-se de uma accedilatildeo

estrateacutegica das mulheres do campo da floresta e das aacuteguas que integra a agenda permanente

do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos

feministas e de mulheres do Brasil A Mobilizaccedilatildeo eacute realizada sempre no mecircs de agosto em

referecircncia agrave Margarida Maria Alves trabalhadora rural e liacuteder sindical na Paraiacuteba que foi

brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da

regiatildeo Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Alagoa Grande Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiccedila

a garantia de seus direitos protegidos pela legislaccedilatildeo trabalhista (ASA 2015)

Desde 2000 campesinas quilombolas indiacutegenas cirandeiras quebradeiras de coco

pescadoras ribeirinhas e extrativistas do Brasil todo se dirigem agrave Brasiacutelia em agosto com suas

camisetas lilaacutes e chapeacuteu de palha para marchar por igualdade autonomia e melhores

condiccedilotildees de vida e trabalho para as mulheres no campo e na floresta A marcha eacute considerada

a maior mobilizaccedilatildeo de trabalhadoras rurais do paiacutes Para Barbosa e Melo (2015) a marcha eacute

um dos maiores siacutembolos de mobilizaccedilatildeo e conclamaccedilatildeo pelo fim da violecircncia contra a

mulher e pela paz no campo ldquoMargaridas Marias Rosas Joanas Teresas Antonias Vitoacuterias

Joaquinas Franciscas ou quaisquer que sejam seus nomes elas carregam consigo a esperanccedila

e a aposta em um futuro melhorrdquo (BARBOSA MELO 2015 p 10) As margaridas

marcharam em 2000 com 20 mil mulheres 2003 com 40 mil mulheres 2007 com 70 mil

mulheres 2011 com recorde de participaccedilatildeo de 100 mil mulheres e 2015 com 70 mil

mulheres em Brasiacutelia (LOURENCcedilO 2015)

De acordo com as mulheres entrevistadas para essa pesquisa elas participaram das

ediccedilotildees da Marcha das Margaridas em Brasiacutelia Natildeo consegui precisar a quantidade Poreacutem

as entrevistadas relataram a importacircncia de vivenciar eventos dessa magnitude Aleacutem disso

os diretores entrevistados tambeacutem relataram que as mulheres participaram O entrevistado

Claacuteudio (2017) esclarece que havia no sindicato em gestotildees anteriores um grupo que

organizava a participaccedilatildeo das mesmas Na I Marcha das Margaridas em 1997 segundo o

entrevistado Luiacutes (2017) participaram trinta e cinco delegadas sindicais aproximadamente

Conforme depoimento do entrevistado Milton (2017) houve momentos em que ele articulou a

participaccedilatildeo das mulheres solicitando ajuda de custo para a tesouraria do sindicato

39

A Marcha das Margaridas quem fazia articulaccedilatildeo para levar as mulheres era

eu Quando desistia eu ia nos acampamentos fazia a articulaccedilatildeo e agraves vezes

ateacute eu pedia para o diretortesoureiro do sindicato para aquelas que queria ir

mas natildeo tinha o dinheiro para ir para gastar com alguma coisa eu fazia a

articulaccedilatildeo para o cara gastar pelo menos uma ajuda para cada uma delas

para elas participarem para elas verem A minha vontade eacute que as mulheres

vissem como as coisas funcionavam Aiacute elas participavam muito (Entrevista

com Milton em 23052017)

A entrevistada Maria (2017) enfatiza que o apoio do sindicato para que as mulheres

viajassem era ldquopraticamente zerordquo

Como era a Federaccedilatildeo [FetagriPA] que articulava o papel do sindicato era

soacute chamar as mulheres ldquoVocecircs vai ou natildeo vairdquo porque a Federaccedilatildeo

pressionava os sindicatos que tinha que ter as mulheres tinha que ter tantas

mulheres E tinha vez que eles natildeo davam conta Por exemplo bem aqui [no

assentamento em que Maria mora onde eu a entrevistei] aiacute essas mulheres

natildeo tinham condiccedilatildeo de pagar a passagem aiacute eles natildeo pagavam natildeo queriam

pagar nem a passagem da pobre da mulher para ir (Entrevista com Maria em

14072017)

Aleacutem dos entraves relacionados ao apoio financeiro da diretoria do sindicato as

mulheres que queriam participar da Marcha das Margaridas enfrentavam problemas de outra

natureza como por exemplo serem impedidas pelos maridos de acordo com relato da

entrevistada Tereza (2017) ldquoEu cheguei a me inscrever para ir mas eu tava graacutevida Aiacute teve

uma crise com esse meu ex marido que ele natildeo queria que eu fosse e tudo mais E eu acabei

natildeo indo Foi a uacutenica [marcha] que eu cheguei a querer irrdquo (Entrevista com Tereza em

19052017)

A figura 03 representa o cartaz da quinta ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas

Figura 03 Cartaz da 5ordf Marcha das Margaridas

Fonte httpcaritasorgbrmargaridas-seguem-em-marcha29435

40

A 6ordf ediccedilatildeo da Marcha das Margaridas estaacute sendo planejada para agosto de 2019

tendo como reivindicaccedilotildees centrais quatro eixos ldquoEm defesa da previdecircncia social puacuteblica

universal e solidaacuteria Pela democracia e protagonismo das mulheres na poliacutetica Pela vida das

mulheres e contra todas as formas de violecircncia Pela defesa do meio ambiente e bens comunsrdquo

(CONTAG 2018 p 03)

Em relaccedilatildeo agrave luta pela terra considerando a perspectiva do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Schwendler (2009) destaca que na fase do

acampamento a luta cotidiana assume a forma coletiva com a participaccedilatildeo de toda a famiacutelia e

com a composiccedilatildeo da coordenaccedilatildeo de cada instacircncia criada sendo formada por um homem e

uma mulher Segundo essa autora

A ldquomulher sem-terrardquo quando acampada comeccedila a romper com a sua

invisibilidade puacuteblica por meio de fatores como a socializaccedilatildeo da vida

privada pela criaccedilatildeo de espaccedilos onde comeccedila a ter voz a divisatildeo de tarefas

do espaccedilo puacuteblico e privado entre homens e mulheres as novas experiecircncias

organizativas que a condiccedilatildeo da luta exige () ao mesmo tempo que a

inserccedilatildeo das acampadas e assentadas no movimento social de luta pela terra

e em organizaccedilotildees ou movimentos especiacuteficos de mulheres tem permitido

que encontrem canais para repensar a sua condiccedilatildeo e o seu papel na

sociedade e acima de tudo para a ruptura com o isolamento da vida

construiacuteda no espaccedilo privado e sua inserccedilatildeo no espaccedilo puacuteblico elas ainda

encontram enormes obstaacuteculos na praacutetica social para a conquista da

igualdade seja nos espaccedilos da luta social do trabalho da vida familiar

(SCHWENDLER 2009 p219)

Portanto percebe-se que mesmo com os esforccedilos do MST em se promover a igualdade

de gecircnero ainda assim as mulheres necessitam lutar e batalhar para a conquista dessa

igualdade

41

4 REFLEXOtildeES SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL

41 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE O SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

A expressatildeo ldquonovo sindicalismordquo foi utilizada no Brasil para nomear o vigoroso

movimento de retomada das lutas e da mobilizaccedilatildeo social no contexto de ditadura12

a

emergecircncia de lideranccedilas fortes e de experiecircncias inovadoras que questionaram a tradiccedilatildeo

sindical anterior e ainda a explosatildeo no nuacutemero de trabalhadores filiados (FAVARETO

2006) Favareto (2006) situa o novo sindicalismo entre constrangimentos derivados de duas

ordens a evoluccedilatildeo na qualidade do conflito social agraacuterio de um lado e os arranjos e tensotildees

internos ao campo sindical de outro A reforma agraacuteria e a defesa dos direitos trabalhistas

passaram a ser as principais bandeiras do sindicalismo rural

No estado do Paraacute as organizaccedilotildees camponesas satildeo resultado de um longo processo

de construccedilatildeo em que inicialmente se confundem e disputam fazendeiros agricultores e

operaacuterios agriacutecolas A definiccedilatildeo de identidades demarcadas pelas diferenccedilas de interesses de

classe comeccedilou a ocorrer depois da deacutecada de 1950 por condiccedilotildees poliacuteticas e contradiccedilotildees

que vatildeo se definindo ao longo da histoacuteria que remonta ao iniacutecio do seacuteculo XX e no caso do

Paraacute continua inacabada13

(GUERRA 2009)

Afunilando o debate para o sudeste paraense estudo feito por Assis (2007) sobre as

transformaccedilotildees das entidades de representaccedilatildeo14

dos agricultores familiares (figura 04) e de

suas accedilotildees no sudeste paraense ndash no contexto dos anos noventa do seacuteculo XX ndash mostrou a

capacidade das referidas entidades em ldquose fazer ouvir e respeitar pelo Estado gerando

impactos significativos no espaccedilo socioeconocircmico regionalrdquo (ASSIS 2007 p 207)

12

Segundo Codato (2005) ldquoNo Brasil o regime ditatorial-militar durou 25 anos de 1964 a 1989 teve

seis governos e sua histoacuteria pode ser dividida em cinco grandes fases Uma primeira fase de

constituiccedilatildeo do regime poliacutetico ditatorial-militar corresponde aos governos Castello Branco e Costa e

Silva (de marccedilo de 1964 a dezembro de 1968) uma segunda fase de consolidaccedilatildeo do regime (que

coincide com o governo Medici 1969-1974) uma terceira fase de transformaccedilatildeo do regime (o

governo Geisel 1974-1979) uma quarta fase de desagregaccedilatildeo do regime (o governo Figueiredo

1979-1985) e por uacuteltimo a fase de transiccedilatildeo do regime ditatorial-militar para um regime liberal-

democraacutetico (o governo Sarney 1985-1989)rdquo (CODATO 2005 p83) 13

Ainda segundo Guerra (2009) a polarizaccedilatildeo entre fazendeiros e posseiros continua principalmente

no que se refere ao discurso das lideranccedilas mais expressivas das entidades patronais e trabalhistas 14

Entidades de representaccedilatildeo segundo Assis (2007) ldquoinstituiccedilotildees de caraacuteter poliacutetico eou econocircmico

reconhecidas juridicamente em atuaccedilatildeo na regiatildeo sudeste do Paraacute a partir dos anos 90 e deacutecadas

anteriores cujo puacuteblico alvo de sua accedilatildeo eram os agricultores familiares com ou sem terra

proprietaacuterios posseiros ou assentados de reforma agraacuteriardquo (ASSIS 2007 p10)

42

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43

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense

Assis (2007) ressalta

A formaccedilatildeo do sindicalismo de trabalhadores rurais no sudeste paraense foi

um processo complexo resultante da articulaccedilatildeo de diferentes atores sociais

principalmente da accedilatildeo de milhares de agricultores e posseiros que

organizaram lutas de resistecircncia e pelo acesso agrave terra Militantes poliacuteticos e

de direitos humanos organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) com

diferentes inspiraccedilotildees e principalmente a Igreja Catoacutelica tiveram um papel

importante e decisivo nessa construccedilatildeo As entidades de representaccedilatildeo

(associaccedilotildees sindicatos e outras formas de organizaccedilatildeo) assumiram um

lugar de destaque em funccedilatildeo de sua importacircncia no processo de construccedilatildeo e

inserccedilatildeo dos agricultores como um ator poliacutetico no cenaacuterio regional Essas

entidades se constituiacuteram marcadas pelos complexos processos

socioeconocircmicos regionais mas estreitamente relacionados a macro-

processos que lhes atribuiacuteram caracteriacutesticas proacuteprias (ASSIS 2007 p 77)

De acordo com a figura 04 eacute possiacutevel perceber que durante a deacutecada de 90 do seacuteculo

XX houve um aumento nas formas de entidades de representaccedilatildeo comparando-se agraves deacutecadas

anteriores Nos anos 70 estavam presentes na regiatildeo sudeste paraense as delegacias

sindicais15

associaccedilotildees e sindicatos de trabalhadores rurais sendo que os sindicatos

estabeleciam relaccedilatildeo com a Federaccedilatildeo dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do

Paraacute (FETAGRI PARAacute) Nos anos 80 a complexidade aumentou uma vez que surgiram na

regiatildeo as seguintes entidades Caixa Agriacutecola Fundaccedilatildeo Agraacuteria do Tocantins-Araguaia

(FATA) Cooperativa Camponesa do Araguaia Tocantins (COOCAT) e Conselho Nacional

dos Seringueiros (CNS) O CNS estabelecia relaccedilotildees com os sindicatos (STRs) e a FETAGRI

A FATA Caixa Agriacutecola e as associaccedilotildees estabeleciam relaccedilotildees de produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo com a COOCAT Ademais a FATA articulava os sindicatos na perspectiva

de construccedilatildeo de referecircncias teacutecnicas que lhes permitissem resistir produzindo na terra

ocupada A partir dos anos 90 surge na regiatildeo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) a Escola Famiacutelia Agriacutecola

(vinculada agrave FETAGRI) a Federaccedilatildeo de Cooperativas do Araguaia-Tocantins (FECAT) a

Central de Associaccedilotildees ndash vinculada agrave Federaccedilatildeo de Associaccedilotildees (FECAP) ndash e a Federaccedilatildeo

dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF) Segundo Assis

(2007) o surgimento dessas novas entidades se deu em virtude de um processo complexo de

15

Pereira (2015) explica o que eram as delegacias sindicais ldquoAs delegacias sindicais eram

prolongamentos das estruturas de poder internas aos STRs numa determinada aacuterea ou comunidade

quase sempre ocupadas por lideranccedilas dos trabalhadores rurais daquelas localidades que

encaminhavam as reivindicaccedilotildees dos posseiros em luta pela terrardquo (PEREIRA 2015 p 283)

44

deslegitimaccedilatildeolegitimaccedilatildeo dos aparelhos sindicais tradicionais sendo que as referidas

entidades apresentam interesses diferenciados

Eacute nesse contexto complexo marcado por tensotildees e conflitos rurais em que o Sindicato

dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute estaacute inserido Guerra (2013) enfatiza o

apoio da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) no processo de fundaccedilatildeo do sindicato sendo que

houve varias reuniotildees em que se discutiu a necessidade da organizaccedilatildeo para que se

conseguissem conquistas frente ao latifuacutendio e ao grande capital

Havia receio dos trabalhadores em assumir cargos no sindicato temendo

represaacutelias Conseguir doze pessoas para formar a comissatildeo inicial foi uma

dificuldade A Assembleia de Fundaccedilatildeo contou com pouco mais de

cinquenta pessoas no dia 20121980 (GUERRA 2013 p 95)

O primeiro presidente do sindicato foi Joatildeo Honorato de Paula conhecido como Joatildeo

do Cupu que exerceu mandato no periacuteodo de 1980 ateacute 1983 (GUERRA 2013) Com o

assassinato do advogado Gabriel Pimenta Joatildeo do Cupu abandonou o cargo e apenas a

famiacutelia sabe onde ele se encontra desde essa eacutepoca O mandato do atual presidente finda em

2019 Ele foi eleito em 2011 ndash para mandato de quatro anos ndash e reeleito em 2015 Desde a sua

fundaccedilatildeo o sindicato foi presidido exclusivamente por homens num total de oito presidentes

De acordo com as entrevistadas Vana (2017) e Frida (2017) e os entrevistados Saulo (2017) e

Itamar (2017) eacute real a possibilidade de que em 2019 seja eleita a primeira mulher presidente

do STTR de Marabaacute

42 A PARTICIPACcedilAtildeO DA MULHER NO SINDICALISMO DE TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS

As Comunidades Eclesiais de Base e grupos de mulheres organizados pela Comissatildeo

Pastoral da Terra ndash na deacutecada de 1970 do seacuteculo XX ndash contribuiacuteram significativamente na

historia do movimento de mulheres trabalhadoras rurais Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014)

descrevem a origem do movimento de mulheres trabalhadoras rurais no Brasil ocorrida na

deacutecada de 1980 do seacuteculo XX momento em que ocorria a abertura democraacutetica e a

consolidaccedilatildeo do movimento de mulheres e feminista no Brasil Segundo essas autoras

surgiram agrave eacutepoca vaacuterios conselhos de direitos como os conselhos de educaccedilatildeo da mulher os

foacuteruns e os conselhos de promoccedilatildeo da igualdade racial

Conforme Esmeraldo (2013) o movimento sindical de trabalhadores rurais tem a

funccedilatildeo poliacutetica de instrumentalizar ndash com informaccedilotildees e lutas ndash a formaccedilatildeo da consciecircncia

45

dessa categoria profissional para acessar direitos De acordo com discussatildeo anterior referente

agrave divisatildeo sexual do trabalho presente na agricultura familiar percebe-se que ldquoa praacutetica e o

discurso poliacutetico no movimento sindical natildeo fogem agrave regra pois a entidade apoia-se na

reproduccedilatildeo e defesa do gecircnero masculino como representaccedilatildeo da categoria profissional de

trabalhador ruralrdquo (ESMERALDO 2013 p245)

Eacute interessante apresentar a discussatildeo sobre participaccedilatildeo proposta por Bordenave

(2013) ldquoAs pessoas participam em sua famiacutelia em sua comunidade no trabalho na luta

poliacutetica Os paiacuteses participam nos foros internacionais onde se tomam decisotildees que afetam os

destinos do mundordquo (BORDENAVE 2013 p11) Esse autor aponta duas bases

complementares da participaccedilatildeo base afetiva e base instrumental sendo que nem sempre

ocorre o equiliacutebrio entre essas bases

Poreacutem agraves vezes elas entram em conflito e uma delas passa a sobrepor-se agrave

outra Ou a participaccedilatildeo torna-se puramente ldquoconsumatoacuteriardquo e as pessoas se

despreocupam de obter resultados praacuteticos ndash como numa roda de amigos

bebendo num bar ndash ou ela eacute usada apenas como instrumento para atingir

objetivos como num ldquocomandordquo infiltrado em campo inimigo

(BORDENAVE 2013 p 16)

Existem questotildees-chave na participaccedilatildeo de um grupo ou organizaccedilatildeo qual eacute o grau de

controle dos membros sobre as decisotildees e quatildeo importantes satildeo as decisotildees de que se pode

participar (BORDENAVE 2013) Quando se trata da participaccedilatildeo das mulheres em

associaccedilotildees e sindicatos rurais geralmente elas natildeo participam de cargos de lideranccedila natildeo

aparecem nos espaccedilos puacuteblicos predominantemente masculinos todavia as mulheres

conseguem exercer outro tipo de poder ldquoElas podem ser excluiacutedas da autoridade embora

exerccedilam todos os tipos de poder informal Seu status pode ser derivado de suas relaccedilotildees com

os homens embora elas sobrevivam a seus maridos e paisrdquo (ROSALDO 1979 p48) Como

por exemplo nas conversas dessas mulheres com seus respectivos companheiros que satildeo

lideranccedilas e consequentemente na maneira que esses diaacutelogos impactam nas decisotildees deles

Agraves vezes as mulheres mandam mais do que os homens entretanto isso natildeo aparece

publicamente

Moreira Maneschy e Aacutelvares (2014) comentam os principais entraves agrave participaccedilatildeo

das mulheres nas associaccedilotildees e sindicatos rurais reconhecimento da atividade de trabalhadora

rural natildeo discriminaccedilatildeo do trabalho dificuldade de conciliaccedilatildeo das tarefas domeacutesticas com a

presenccedila nos espaccedilos puacuteblicos coletivos de decisatildeo violecircncia domeacutestica sofrida pelas

46

mulheres e ausecircncia de atendimento agraves vitimas nas aacutereas rurais Eacute comum os maridos

elencarem obstaacuteculos como por exemplo permitir que as mulheres participem das reuniotildees

apenas depois de concluir as tarefas domeacutesticas ou cuidar dos filhos aleacutem disso haacute situaccedilotildees

de retaliaccedilotildees sofridas por essas mulheres ao retornarem das reuniotildees (satildeo viacutetimas de

violecircncia fiacutesica satildeo discriminadas publicamente dentre outras situaccedilotildees) Pesquisa realizada

por Paulilo (2009) corrobora essa questatildeo sendo a repressatildeo sexual e a exposiccedilatildeo ao ridiacuteculo

apontadas como instrumentos eficazes de controle dos homens em relaccedilatildeo agraves mulheres

Estudo feito por Guerra (2013) sobre sindicalismo rural aponta para destaque especial

na participaccedilatildeo das mulheres nas decisotildees que dizem respeito agrave famiacutelia e na realizaccedilatildeo de

atividades produtivas inclusive com o reconhecimento pelos homens da habilidade maior das

mulheres em muitas operaccedilotildees como a colheita do arroz e o fabrico de farinha Para Marin

(1998) apesar da existecircncia de formas mais ou menos veladas de discriminaccedilatildeo que as

mulheres satildeo vitimas no interior de organizaccedilotildees sindicais eacute possiacutevel constatar que haacute uma

atualizaccedilatildeo dos seus programas de atividades incluindo plataformas de lutas das sindicalistas

e das camponesas

Pesquisa realizada por Farias et al (2017) sobre a participaccedilatildeo de cinco mulheres

camponesas que se constituiacuteram lideranccedilas e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Rondon do Paraacute apontou para o rompimento com a cultura dos

papeis cristalizados como femininos possibilitando reformulaccedilotildees das relaccedilotildees e

representaccedilotildees de gecircnero

Sob a direccedilatildeo de mulheres o STTR de Rondon do Paraacute tem mantido seu

caraacuteter combativo no enfrentamento do trabalho escravo e no apoio agraves

ocupaccedilotildees de terra e luta pela reforma agraacuteria Em decorrecircncia de suas

accedilotildees tem sido alvo de ameaccedilas contra suas vidas cotidianamente sob

muitas tensotildees (FARIAS et al 2017 p 82-83)

Farias et al (2017) destacam que desde 2002 com a eleiccedilatildeo de Joelma para o cargo de

presidecircncia as mulheres tecircm se mantido dirigentes do STTR de Rondon do Paraacute Joelma eacute

viuacuteva do sindicalista Dezinho ldquoassassinado pelo latifuacutendio em Rondon do Paraacute no ano de

2000rdquo (FARIAS et al 2017 p 79) De acordo com as narrativas das cinco mulheres a palavra

ldquoempoderamentordquo tem sido recorrente evidenciando categoria operacional e estrateacutegica nos

seus discursos de identidade

47

43 O SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE

MARABAacute

Conforme apresentado anteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Marabaacute foi fundado em 20 de dezembro de 1980 segundo Guerra (2013) Poreacutem essa data eacute

contestada uma vez que em conversa informal16

com Ademir Martins dos Reis17

presente na

reuniatildeo de fundaccedilatildeo a data vaacutelida eacute 10 de dezembro de 1980 Aleacutem disso a data de 10 de

dezembro tambeacutem eacute citada na mateacuteria publicada na paacutegina 08 do Jornal Correio do Tocantins

de 03 a 09 de junho de 1994 sobre o processo eleitoral do ano de 1994 Intitulada ldquoOposiccedilatildeo

desbanca situaccedilatildeo no Sindicato dos Trabalhadoresrdquo a mateacuteria informa sobre a vitoacuteria da

Chapa 02 presidida por Francisco Ferreira de Carvalho derrotando a Chapa 01 que tinha

como titular o entatildeo presidente Francisco Barbosa da Silva (Chicoacute)

O presidente eleito garantiu que jamais tomaraacute alguma decisatildeo em seu

mandato de 3 anos sem antes consultar a sua categoria O STR-Marabaacute

fundado em 10 de dezembro de 1980 possui em seus quadros cerca de 8

mil associados dos quais apenas 50 desse nuacutemero estatildeo quites com suas

obrigaccedilotildees estatutaacuterias (Correio do Tocantins 1994 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo ao processo de fundaccedilatildeo do sindicato o entrevistado Milton (2017)

destaca elementos importantes

Naquela eacutepoca a gente ia fazer uma reuniatildeo era no quintal de algueacutem laacute em

Morada Nova ateacute chamava Juacutelio Ele cedia o quintal dele para noacutes Era

debaixo de uns peacutes de manga Aiacute o pessoal conversava a discussatildeo da

criaccedilatildeo do sindicato e da ocupaccedilatildeo que ia ter A primeira ocupaccedilatildeo que teve

hoje ela taacute no municiacutepio de Ipixuna conhecida antigamente como Pau Seco

e hoje eacute o Assentamento Fortaleza

() Aiacute fizemos aqui a discussatildeo naquela eacutepoca quem participava das

discussotildees ndash eu era um rapazinho novo mas eu lembro ndash era o Padre

Humberto (da Igreja) o Ademir Martins aiacute foi a eacutepoca que chegou o Mano

na regiatildeo o Wambergue Quando para criar o sindicato marcava aquela

reuniatildeo a gente ia laacute para o quintal do seu Juacutelio Ele ateacute morreu jaacute tambeacutem

Aiacute conversava as conversas eram baixinhas porque para os vizinhos do lado

natildeo escutar porque ningueacutem sabia se tinha inimigo (Entrevista com Milton

em 23052017)

A extremada concentraccedilatildeo da propriedade da terra existente no sudeste paraense

obrigou centenas de famiacutelias camponesas chegadas agrave referida regiatildeo a ocupar como

16

Conversa informal realizada em 18 de marccedilo de 2017 em minha residecircncia em BeleacutemPA 17

Ademir Martins dos Reis trabalhava na coordenaccedilatildeo do Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

em 1980 Ele lembra com precisatildeo por ter associado o dia 10 de dezembro ao dia em que a

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotou a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ndash em

1948

48

posseiros aacutereas formalmente reservadas agrave coleta de castanha eou fazendas agropecuaacuterias

(PETIT 2003) Eacute nesse contexto que ocorre o conflito do ldquoPau-Secordquo ndash Castanhal Cametauacute

destacando-se pela violecircncia com que se deu e que teve como desfecho a morte do advogado

dos posseiros Gabriel Pimenta (EMMI 1999) Pereira (2015) descreve os desdobramentos

juriacutedicos aos acusados do assassinato o fazendeiro Nelito seu empregado Marinheiro e o

pistoleiro conhecido por ldquoOuriccediladordquo (EMMI 1999) Convergindo com o depoimento do

entrevistado Milton (2017) o autor Assis (2007) enfatiza que foram os posseiros envolvidos

no conflito do Castanhal Pau-SecoCametauacute que forccedilaram a criaccedilatildeo do STR de Marabaacute agrave

revelia da FetagriPA que natildeo demonstrava interesse em criaacute-lo

A eleiccedilatildeo reuniu 40018

agricultores de vaacuterias localidades em clima tenso A

pressatildeo do regime militar e da oligarquia local ainda era tatildeo forte que o local

escolhido para a Assembleia foi o distrito de Morada Nova a 12 km da

cidade de Marabaacute onde apoacutes a sua fundaccedilatildeo permaneceu como sede por

algum tempo (ASSIS 2007 p88)

Os coordenadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tambeacutem contribuiacuteram

nesse processo de criaccedilatildeo conforme depoimento do entrevistado Joatildeo (2017)

A partir das Comunidades Eclesiais de Base com todos esses coordenadores

e coordenadoras que tinha foi muito faacutecil A dona Ana de Itainoacutepolis do

Rato era animadora laacute da Matrinchatilde participou O Chicatildeo do Murumuru

participou o Higino do Murumuru participou () Entatildeo conseguimos criar

o sindicato na Igreja de Morada Nova () E o primeiro presidente foi o Joatildeo

do Cupu O segundo foi o Antocircnio Chico (Entrevista com Joatildeo em

11072017)

Segundo Emmi (1999) os conflitos em aacutereas de castanhais situam-se como

componentes decisivos da crise do poder oligaacuterquico sendo que alguns conflitos merecem

destaques por se tratar ldquoda reaccedilatildeo articulada da oligarquia contra o inimigo comum os

trabalhadores que se organizam passando a questionar os direitos dos latifundiaacuterios da

castanhardquo (EMMI 1999 p128) Para essa mesma autora o ano de 1985 do seacuteculo passado foi

marcado por ldquochacinasrdquo em aacutereas de castanhais ou seja conflitos em que devido agrave violecircncia

praticada ocorreram muitas mortes ndash conflitos nos castanhais Pau Ferrado Surubim Ubaacute

Fortaleza e Princesa

O quadro 04 organizado por Guerra (2013) apresenta as principais ocorrecircncias do

STR de Marabaacute ateacute o ano de 1991 enquanto que o Anexo B apresenta a Carta Sindical do

18

Haacute contradiccedilatildeo no nuacutemero de participantes na reuniatildeo de fundaccedilatildeo do STR de Marabaacute Para Assis

(2007) participaram 400 agricultores enquanto que para Guerra (2013) participaram cinquenta De

acordo com o entrevistado Joatildeo (2017) presente na ocasiatildeo participaram aproximadamente 200

pessoas

49

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabaacute datada em 10 de dezembro de 1984 A Carta

Sindical aprova os seus Estatutos sociais e reconhece-o como oacutergatildeo representativo da

categoria profissional ldquotrabalhadores ruraisrdquo integrante do Plano da Confederaccedilatildeo Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura Esse documento soacute era emitido para os STRs que

passassem pela triagem do INCRA e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) agecircncias

governamentais que cuidavam da organizaccedilatildeo da parte legal dos STRs (ASSIS 2007)

Quadro 04 Principais ocorrecircncias do STR de Marabaacute

DATA OCORREcircNCIA FONTE

1965 Fundaccedilatildeo de uma cooperativa de pequenos produtores

COPEMA frustrada pela maacute administraccedilatildeo

VELHO 1972122 e

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

1969 Abertura da PA 150

061979 Ocupaccedilatildeo das Fazendas Fortaleza I e II Francisco Barbosa

10121980 Fundaccedilatildeo do STR Assume Joatildeo Honorato de Paula (Joatildeo do

Cupu) como primeiro presidente

Francisco Barbosa

18021982 Assassinato do advogado Gabriel Pimenta Comissatildeo Pastoral da

Terra

1983 Com a renuacutencia de Joatildeo Honorato de Paula intimidado pela

morte do advogado Gabriel eacute eleito Antonio Francisco da

Silva para assumir a presidecircncia da entidade

Francisco Barbosa

(Chicoacute)

10121984 Outorga da Carta Sindical pelo Ministeacuterio do Trabalho e

Previdecircncia Social

Carta Sindical

120585 Eleiccedilatildeo de Antonio Francisco da Silva para cumprir mandato

de 3 anos

Ata do STR

200588 Eleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer mandato

ateacute 1991

Ata do STR

01061991 Reeleiccedilatildeo de Francisco Barbosa da Silva para exercer

mandato ateacute 1994

Ata do STR

FONTE Documentos do STR

Organizado por GUERRA (2013) e atualizado por Luciana Moreira dos Reis (2017)

A primeira deacutecada do sindicato foi caracterizada pela luta por sua democratizaccedilatildeo

uma vez que as diretorias natildeo estavam do lado dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

considerando a influecircncia da famiacutelia dos Mutran citada anteriormente Os processos eleitorais

foram acirrados conforme detalhamento do entrevistado Luiacutes (2017)

Aiacute trabalhamos outra histoacuteria a oposiccedilatildeo sindical Porque no sindicato tinha

a Adelina era a chefona e Haroldo Bezerra natildeo sei quem mais O sindicato

era desses poliacuteticos natildeo era dos trabalhadores E noacutes tava naquela ideia do

Avelino Ganzer de ldquosindicato combativordquo Fomos em 85 [1985] perdemos a

eleiccedilatildeo Foi com o Pedro Leite Em 88 [1988] noacutes perdemos com o Arnaldo

Em 91[1991] noacutes natildeo botamos diretoria porque noacutes tava tudo desgastado

Porque em 88 [1988] noacutes ganhava mas o Luiacutes Carlos entrou com uma chapa

contra a nossa aiacute duas chapas do mesmo lado da oposiccedilatildeo aiacute sabia que

perdia neacute

50

() Eram trecircs chapas A chapa da situaccedilatildeo e duas da oposiccedilatildeo Noacutes

conversamos com o Luiacutes Carlos ldquovamos fazer uma alianccedila entre noacutes porque

vocecircs natildeo tem voto tanto nossordquo Noacutes fizemos 559 eles [a outra chapa de

oposiccedilatildeo] fizeram 192 e o pessoal [a situaccedilatildeo] fizeram 680 Noacutes dava de

chicotadas neles Aiacute noacutes perdemos Aiacute em 91 [1991] noacutes fizemos alianccedila

ldquoVocecirc vai para laacute como secretaacuterio [geral] para organizar para em 94 [1994]

noacutes ganharrdquo Como de fato eu ganhei [em 1994] Fizemos alianccedila e eu saiacute de

Secretaacuterio Geral Isso o Mano intermediando o Gatatildeo todo mundo

intermediando a alianccedila eu queria ser vice eles [a situaccedilatildeo] natildeo deixaram

Soacute deixaram ser o secretaacuterio geral [em 1991] Em 94 [1994] fiquei como

presidente a chapa deles tiveram 458 votos () e noacutes demos uma lavagem

neles de 715 (Entrevista com Luiacutes em 19052017)

Portanto a partir de 1994 com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo sindical a diretoria iniciou um

processo de formaccedilatildeo poliacutetica para os trabalhadores e trabalhadoras rurais bem como se

intensificou a criaccedilatildeo das delegacias sindicais A figura 05 representa a sede do sindicato que

funciona nesse local desde o ano de 1984

FIGURA 05 Sede do Sindicato Marabaacute (PA) Foto Luciana Moreira dos Reis (2017)

A questatildeo da luta pela terra estava diretamente ligada agrave Igreja Catoacutelica19

A

entrevistada Simone (2017) esclarece que havia a presenccedila da Igreja Catoacutelica em cada local

19

ldquoApoacutes o Conciacutelio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Catoacutelica sobretudo na Ameacuterica Latina por

meio da accedilatildeo de vaacuterios padres freiras leigos(as) os jovens da accedilatildeo catoacutelica foram inseridos em

atividades pastorais sociais e poliacuteticas em defesa dos empobrecidos com vistas agrave construccedilatildeo de uma

sociedade justa e igualitaacuteriardquo (LIMA 2015 p41)

51

onde os posseiros estavam organizados ldquoo pessoal sempre estava ali animando Era em

Itupiranga Marabaacute (vaacuterias regiotildees) Jacundaacute Nova Ipixunardquo (Entrevista com Simone em

23052017) Prefaciando o livro ldquoA Igreja dos Oprimidosrdquo Paulo Freire (1981) destaca a

caminhada da Igreja em selar seu compromisso com os pobres

Falar desta caminhada eacute falar da Igreja profeacutetica eacute falar do processo mesmo

em que ela assumindo profundamente a mensagem dos evangelhos eacute tatildeo

velha quanto esta mensagem sem ser tradicional e eacute tatildeo nova quanto ela

sem ser modernista A Igreja profeacutetica eacute a igreja da esperanccedila esperanccedila que

soacute existe no futuro futuro que soacute as classes oprimidas tecircm pois que o futuro

das classes dominantes eacute a pura repeticcedilatildeo de seu presente de opressores

(FREIRE 1981 p 10)

Pereira (2015) considera a Igreja Catoacutelica como talvez a uacutenica instituiccedilatildeo da sociedade

civil com projeccedilatildeo poliacutetica nacional que naquele momento estava envolvida nas questotildees de

terra apoiando os posseiros A contribuiccedilatildeo da Igreja Catoacutelica trata-se de interessante

contradiccedilatildeo por ser uma instituiccedilatildeo extremamente conservadora de modo geral mas que

naquele periacuteodo foi fundamental na luta dos trabalhadores rurais e tambeacutem no estiacutemulo ao

protagonismo das mulheres

Em relaccedilatildeo agraves conquistas do sindicato a luta pela terra eacute a principal Marabaacute tem 77

projetos de assentamento (INCRA 2017) e em todos eles excetuando-se o PA 26 de Marccedilo o

sindicato esteve na frente no processo da luta para que as famiacutelias pudessem ser assentadas A

lista dos principais assentamentos estaacute descrita pelo entrevistado Itamar (2017)

Tivemos inuacutemeras desapropriaccedilotildees no municiacutepio Nesse periacuteodo foi

importante a desapropriaccedilatildeo da Trecircs Poderes da Joseacute Pinheiro e Pouso

Alegre Na Trecircs Poderes satildeo trecircs nuacutecleos ou um nuacutecleo com trecircs

assentamentos A Boa Sorte laacute em Parauapebas que teve conflito e tudo

mais () O Talismatilde tambeacutem O Belo Vale o Boa Esperanccedila do Burgo

Tudo jaacute do meu tempo para caacute Desse periacuteodo para caacute () entatildeo satildeo

conquistas grandes E daiacute as conquistas dos creacuteditos Grandes

acampamentos O Sindicato de Marabaacute era protagonista desse negoacutecio

porque era o maior que tinha Acampamento de oito dez mil pessoas no

INCRA que levava meses e tudo mais Foi muita conquista Em 9798

[19971998] teve um acampamento grande Depois teve outro muito grande

mas natildeo me lembro bem o tempo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O acampamento na sede da SR-27 do INCRA em novembro de 1997 foi um marco

porque em nenhum momento da histoacuteria da regiatildeo um contingente tatildeo grande de

trabalhadores e trabalhadoras rurais havia conseguido se organizar para permanecer tantos

52

dias acampados (vinte dias) sendo que a repercussatildeo foi imediata e o INCRA Nacional

precisou intervir nas negociaccedilotildees com o movimento social (INTINI 2004)

O entrevistado Milton (2017) reforccedila o depoimento do entrevistado Itamar (2017)

enfatizando o acampamento de 1997

A verdadeira conquista foi em 97 [1997] uma ocupaccedilatildeo que noacutes fizemos

aqui com 12 mil15mil trabalhadores aqui nesse INCRA que soacute de Marabaacute

naquela eacutepoca ndash foi de 97 [1997] para 98 [1998] ndash uma ocupaccedilatildeo grande que

a gente prendeu o Victor Hugo que era o Superintendente na eacutepoca De uma

canetada soacute foram criados no municiacutepio de Marabaacute doze projetos de

assentamento (Entrevista com Milton em 23052017)

Interessante frisar que nesses processos de ocupaccedilatildeo agrave sede do INCRA em Marabaacute as

mulheres participavam apenas ldquoservindo de massa para aumentar o bolordquo (Entrevista com

Simone em 23052017) uma vez que o protagonismo era dos homens

() as mulheres vinham tambeacutem as mulheres vinham Mas era muito difiacutecil

vocecirc ver uma mulher na linha de frente no microfone falando para

reivindicar alguma coisa () Ainda predominava o machismo muito grande

() na hora aqui para poder firmar tudo isso junto ao INCRA junto aos

oacutergatildeos o protagonismo era dos homens (Entrevista com Simone em

23052017)

Outras conquistas importantes do sindicato relacionam-se a organizaccedilatildeo dos

trabalhadores criaccedilatildeo da Feira da Agricultura Familiar ndash citada no item 221 da dissertaccedilatildeo

desenvolvimento e infraestrutura dos assentamentos tais como creacuteditos rurais Habitaccedilatildeo

Fomento PRONAF Programa Luz para Todos estradas encaminhamento dos benefiacutecios

previdenciaacuterios ndash aposentadoria salaacuterio-maternidade pensatildeo por morte salaacuterio-reclusatildeo

conquistas especiacuteficas para as mulheres (seratildeo detalhadas no capiacutetulo cinco) e criaccedilatildeo da

Escola Famiacutelia AgriacutecolaEFA

No decorrer dos anos mudanccedilas importantes foram implementadas no Estatuto do

STTR de Marabaacute sendo que as referidas mudanccedilas ocorreram de ldquocima para baixordquo A

Assembleia de 27 de novembro de 2009 estabeleceu o acreacutescimo do termo trabalhadoras

rurais ao nome do mesmo uma vez que o sindicato foi criado Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Aleacutem disso estabeleceu o respeito agraves cotas de mulheres jovens e idosos Em 02 de

junho de 2015 houve nova alteraccedilatildeo estatutaacuteria A Assembleia aprovou que o Sindicato dos

53

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute passaria a ser denominado Sindicato dos

Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute

Atualmente o sindicato eacute responsaacutevel pela homologaccedilatildeo das rescisotildees de contrato dos

assalariados rurais ndash pessoas que trabalham em fazendas em regime celetista O movimento

sindical tem discutido a criaccedilatildeo do Sindicato dos Empregados Rurais de Marabaacute Quando essa

criaccedilatildeo for efetivada haveraacute uma separaccedilatildeo e o futuro sindicato seraacute o responsaacutevel pelas

homologaccedilotildees citadas anteriormente conforme explicaccedilatildeo do entrevistado Saulo (2017)

Era Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais O que estaacute

acontecendo hoje noacutes fizemos uma assembleia fazendo uma mudanccedila no

estatuto Hoje o nosso sindicato estaacute Sindicato dos Trabalhadores

Agricultores e Agricultoras Familiares do Municiacutepio de Marabaacute Noacutes jaacute

fizemos essa separaccedilatildeo Hoje noacutes estamos representando o Sindicato dos

Agricultores e Agricultoras Familiares e a gente estaacute concluindo hoje daqui

uns trinta quarenta sessenta dias o Sindicato dos Empregados Rurais do

Municiacutepio de Marabaacute () O sindicato dentro da programaccedilatildeo que a gente

estaacute fazendo ele ser concretizado por noacutes vai ser uma coisa ligada agrave gente

Entatildeo talvez eu possa ser presidente talvez possa ser outro mas pessoa

ligada ao sindicato ligada agrave Fetagri porque natildeo pode correr o risco de cair na

matildeo de patronal Porque natildeo tem como dar certo Entatildeo tem que ficar na

matildeo de pessoas que jaacute faz a luta que defende o trabalhador () Vai ser o

Sindicato dos Agricultores e vai ser o Sindicato dos Empregados Rurais

com diretorias completamente diferentes (Entrevista com Saulo em

24052017)

A entrevistada Frida (2017) complementa as informaccedilotildees a respeito da criaccedilatildeo do

sindicato dos empregados rurais ldquoOs sindicatos do sudeste ligados agrave Fetagri jaacute tem essa

conversa () aqui tem essa historia tambeacutem mas ainda natildeo estaacute decidido () mas eacute preciso

fazer logo porque natildeo podemos continuar homologando se noacutes natildeo somos mais representantes

delesrdquo (Entrevista com Frida em 18052017)

A atual diretoria do sindicato eacute alvo de vaacuterias criacuteticas O entrevistado Milton (2017)

discorda da forma de gestatildeo Segundo ele haacute uma seacuterie de lideranccedilas igualmente insatisfeitas

ldquoNa verdade a bandeira do movimento foi desasteada enrolada e engavetada que natildeo aparece

mais E para levantar essa bandeira vai dar trabalho Vai dar um trabalho grande natildeo eacute faacutecil

natildeordquo (Entrevista com Milton em 23052017)

54

5 AS MULHERES DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E

TRABALHADORAS RURAIS DE MARABAacute

51 A PARTICIPACcedilAtildeO DAS MULHERES NA ESTRUTURA DO SINDICATO

Num sindicato como eacute o de Marabaacute ele eacute um sindicato que tem que ter uma

pessoa realmente de garra para poder comandar porque eacute um sindicato

grande e a pessoa que tem que estar na frente precisa ter muito pulso para

comandar todas as questotildees Porque natildeo eacute faacutecil Mas as mulheres ainda natildeo

se encorajaram (Entrevista com Simone em 23052017)

Historicamente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute eacute

conduzido por homens Haacute mulheres que se destacaram ou se destacam principalmente na

organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de assentamentos Todavia na

gestatildeo do sindicato em si as mulheres natildeo satildeo protagonistas oficiais conforme constatei na

pesquisa de campo A entrevistada Frida (2017) elenca algumas das mulheres que coordenam

ou coordenaram acampamentos e associaccedilotildees de assentamentos

Tem a Marta que eacute do Joseacute Pinheiro tem a Iacuteris que eacute do Maravilha que

tambeacutem era diretora tem a dona Neusa que eacute do Padre Josino tem a dona

Ana que eacute do Igarapeacute do Rato tem a dona Dalva que eacute coordenadora do

acampamento Estrela da Manhatilde tem a Elza que eacute coordenadora da Nossa

Senhora Aparecida que fica na Fazenda Itacaiuacutenas () tem sim muitas

mulheres no movimento Mas na cabeccedila eacute os homens (Entrevista com Frida

em 18052017)

Conforme explicaccedilotildees de alguns homens dirigentes a ausecircncia de mulheres na linha

de frente do sindicato se refere a uma estrateacutegia para protegecirc-las dos conflitos e embates

geralmente violentos e que as mulheres natildeo teriam condiccedilotildees de resolver

As mulheres apareciam pouco ateacute para ser preservada porque natildeo era faacutecil

Eu natildeo acho um pecado elas natildeo despontarem na frente porque aqui a coisa

era muito perigosa Ainda eacute Entatildeo aqui muita gente pode interpretar ldquoabafa

as mulheresrdquo mas eacute tambeacutem um pouco a questatildeo da preservaccedilatildeo Eacute mais

faacutecil para o homem lidar com essas coisas do que as mulheres Agraves vezes satildeo

casadas tem que responder isso tem que responder aquilo aiacute essas coisas a

gente sempre evitou Mas muito por respeito mesmo Porque a gente natildeo

pode perder as companheiras As companheiras ajudaram muito Vocecirc jaacute

pensou uma mulher casada jovem e todo dia estaacute na delegacia Natildeo eacute

muito faacutecil para a famiacutelia dela a estrutura familiar quebra mais do que a do

homem (Entrevista com Itamar em 22052017)

Nesse sentido os cargos ocupados pelas mulheres no STTR de Marabaacute no decorrer

das gestotildees ndash basicamente a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX ndash referem-se agrave Secretaria

de Mulheres Secretaria de Formaccedilatildeo Secretaria de Juventude Rural Secretaria de Poliacuteticas

55

Sociais Vice-presidecircncia suplecircncia da diretoria e conselho fiscal Como destacado

anteriormente todos os presidentes do sindicato desde a sua fundaccedilatildeo em 1980 satildeo homens

Sobre essa questatildeo satildeo vaacuterias as possibilidades de anaacutelise sendo que o entrevistado Saulo

(2017) apresenta a seguinte

Eu avalio assim que talvez pode ser que alguma mulher natildeo se colocou agrave

disposiccedilatildeo para presidente ou talvez pela conjuntura pelo processo de

construccedilatildeo da diretoria talvez tambeacutem natildeo teve essa oportunidade Entatildeo eu

avalio por esse motivo Mas natildeo assim por discriminaccedilatildeo ou por ver que natildeo

tem capacidade de dirigir de gerar [gerir] por ser um sindicato que tem

grande enfrentamento eu natildeo avalio por esse lado (Entrevista com Saulo em

24052017)

O entrevistado Itamar (2017) defende o ponto de vista a seguir

Mas as mulheres aqui nunca se propuseram a ser presidente Tambeacutem

porque a gente sabe que natildeo eacute faacutecil O que aconteceu com o Pipira20

o que

aconteceu com outros companheiros aqui () Os confrontos todos neacute Ter

que levantar de madrugada em acampamento tem que enfrentar os despejos

O Pipira acompanhou isso muito mais de perto Tem que perder o dia sair

de casa de manhatilde e natildeo sabe a hora que chega Entatildeo nessa conjuntura natildeo eacute

faacutecil para uma mulher Principalmente uma mulher que tem marido O

marido nunca vai compreender isso () De madrugada o telefone toca

chamando a mulher para ir daqui a 200 quilocircmetros como aconteceu isso

Natildeo eacute faacutecil natildeo (Entrevista com Itamar em 22052017)

O entrevistado Joatildeo (2017) compreende a origem da ausecircncia de mulheres na linha de

frente do sindicato diferentemente dos entrevistados anteriores

A Presidecircncia que daacute prestiacutegio eacute muito raro que eacute mulher porque daacute

prestiacutegio Agora eacute muito frequente ver secretaacuteria natildeo eacute frequente ver

tesoureira questatildeo social [secretaacuteria de poliacuteticas sociais] Na secretaria

agraacuteria e secretaria agriacutecola eacute muito raro que eacute mulher () Eu acho que

aonde tem prestiacutegio aonde tem dinheiro () eacute muito difiacutecil que tenha

mulher (Entrevista com Joatildeo em 11072017 grifo nosso)

Aprofundando esse debate vale destacar o posicionamento da entrevistada Maria

(2017)

Porque ali no sindicato noacutes temos ali noacutes somos uma turma assim ldquoAh eu

defendo a categoria da mulher e talrdquo mas a mulher natildeo pode assumir cargos

para comandar cargos de cabeccedila Entatildeo assim ali eacute complicado

principalmente no Sindicato de Marabaacute Noacutes somos companheiros

ldquoCompanheiros e companheirasrdquo mas soacute nas aspinhas A mulher tem que ser

sempre laacute coordenadas por eles e natildeo eles serem coordenados por elas

Jamais jamais (Entrevista com Maria em 14072017)

20

Pipira Antonio Gomes presidente do STTR de Marabaacute nos periacuteodos de 2003-2007 e 2007-2011

56

Esses depoimentos antagocircnicos corroboram o pensamento de Pimenta (2013) sobre o

processo dinacircmico da accedilatildeo poliacutetica das mulheres no sindicalismo rural resultando na

emergecircncia de identidades coletivas e poliacutetica num campo de instabilidades e tensotildees

negando as mulheres como sujeito poliacutetico insistindo em silenciaacute-las

Em relaccedilatildeo agrave poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres eacute cumprida em virtude da

cobranccedila exercida por elas todavia houve gestotildees em que as mulheres estavam presentes

apenas no papel sendo isoladas das discussotildees e decisotildees A entrevistada Tereza (2017)

esclarece que

As coisas que eu criticava os 30 que eles colocavam laacute na diretoria era soacute

para compor porque era obrigado Porque as mulheres de fato natildeo

participavam () porque o marido natildeo deixava com certeza vir laacute da zona

rural As mulheres que faziam parte da diretoria eacute porque algueacutem mandava

ldquoOlha a gente precisa preencher aqui Bota teu nome aquirdquo Entatildeo natildeo tinha

o menor interesse Era desse jeito (Entrevista com Tereza em 19052017)

Complementado a discussatildeo sobre cotas a entrevistada Maria (2017) afirma que

As mulheres soacute satildeo bem vindas laacute no sindicato na hora da luta na hora de

fazer a composiccedilatildeo para manter a cota ou entatildeo para fazer o papel de ser

secretaacuteria da Previdecircncia Social () Apesar de tantos avanccedilos de tantas

lutas de tantas batalhas Noacutes continuamos na mesmice (Entrevista com

Maria em 14072017)

O STTR de Marabaacute eacute mantido financeiramente pelas mensalidades dos(as) soacutecios(as)

em especial os(as) aposentados(os) uma vez que o desconto da contribuiccedilatildeo sindical

(correspondente a 2 do salaacuterio miacutenimo) eacute automaacutetico O sindicato adota o repasse mensal de

ajuda de custo para os membros da Diretoria Executiva Na gestatildeo 2015-2019 a Diretoria

Executiva eacute composta por nove dirigentes todavia na praacutetica somente cinco21

dirigentes

trabalham efetivamente ou seja recebem a referida ajuda de custo Essa medida foi

necessaacuteria com objetivo de reduccedilatildeo de gastos tendo atingido a Secretaria de Mulheres dentre

outras secretarias Portanto eacute um dos motivos que explica a diminuiccedilatildeo da participaccedilatildeo das

mulheres na luta do sindicato Sem recursos financeiros eacute impossiacutevel articular as mulheres

rurais principalmente considerando a dificuldade de deslocamento geograacutefico (distacircncia

condiccedilotildees das estradas) conflitos domeacutesticos dentre outros entraves

21 A ajuda de custo eacute repassada ao Presidente Vice-presidente Secretaacuterio Geral de Formaccedilatildeo e

Organizaccedilatildeo Sindical Secretaacuterio de Administraccedilatildeo Financcedilas e Assalariadosas Rurais Secretaacuteria de

Poliacuteticas Sociais

57

Poreacutem a realidade aponta para ocasiotildees em que havia recursos financeiros mas que

natildeo eram priorizados pelos dirigentes para atividades com mulheres conforme depoimento da

entrevistada Vana (2017)

Quando eu precisava de uma reuniatildeo ali no INCRA Dia da Mulher dia de

alguma coisa assim que pertencia a noacutes mulheres o povo brigava comigo

Eu tirava dinheiro do meu bolso porque eu vendia muita coisa da roccedila Eu

sempre tinha o meu dinheirinho Mandava fazer aquelas faixas pedia a nota

ldquoNatildeo natildeo tem dinheiro natildeordquo [imitando voz fina] O tesoureiro dizia assim

ldquoNatildeo Noacutes estamos tudo lisordquo () Aiacute eu botava era quente ldquoSe vocecircs natildeo

tiver oacuteleo para isso eu trabalho na roccedila Eu tenho dinheiro do meu milho

disso e disso Eu boto gasolina e arrumo motoristardquo () Aiacute depois que noacutes

saiacutemos acabou Natildeo se vecirc reuniatildeo em canto nenhum Soacute vecirc soacute os machos a

gente natildeo vecirc assim as mulheres que trabalham laacute (Entrevista com Vana em

22052017)

Retomando a discussatildeo sobre a ajuda de custo duas mulheres ex-dirigentes relatam

que eram excluiacutedas desse repasse sendo que os dirigentes homens recebiam normalmente o

recurso

Eu nunca recebi ajuda do sindicato () Aiacute sempre assim tinha aquela

alegaccedilatildeo de que natildeo tinha recurso que natildeo tinha nada natildeo tinha fundo e

que tinha aquelas prioridades que era o presidente que tinha prioridade o

secretaacuterio financeiro que tinha prioridade o outro secretaacuterio que trabalhava

com a questatildeo da previdecircncia social eacute que tinha ainda a prioridade Mas eu

que era simplesmente vice secretaacuteria de gecircnero secretaacuteria de mulher Natildeo

tem recurso para isso () agraves vezes eu tirava do bolso para ir trabalhar para o

sindicato para fazer o trabalho do sindicato (Entrevista com Maria em

14072017)

Na diretoria pelo menos eu trabalhei muitos tempos () pelo menos eu

trabalhei um ano e meio fiado Aiacute que a Marta fez uma reuniatildeo com todo

mundo laacute e disse que era para mim procurar meus direitos (Entrevista com

Vana em 22052017)

Segundo a entrevistada Joana Angeacutelica (2016) eacute possiacutevel comparar a participaccedilatildeo das

mulheres nos STTRs em alguns municiacutepios do sudeste paraense enfatizando que a dinacircmica

de Marabaacute difere dos demais municiacutepios

E aqui jaacute tinha tambeacutem digamos que uma certa construccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo

das mulheres No Sindicato de Satildeo Domingos do Araguaia elas jaacute

disputavam o espaccedilo na Diretoria mesmo ainda tendo um modelo de

sindicato que era altamente machista Quem participava do sindicato eram os

homens quem ia para a Assembleia do sindicato eram os homens quem

decidia as coisas do sindicato eram os homens

Em Satildeo Joatildeo e Satildeo Domingos as mulheres comeccedilam a dizer ldquoNatildeo noacutes

tambeacutem precisamos devemos participarrdquo Em Satildeo Domingos

particularmente elas eram 50 na diretoria do sindicato 50 eram mulheres

58

e 50 eram homens Entatildeo provocado por elas comeccedila todo um debate de

ocupaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico pelas mulheres Isso para mim eacute fundamental

No Sindicato de Marabaacute era muito difiacutecil Tinha mulheres tem mulheres

por exemplo a Raimundinha Solino era uma referecircncia no Sindicato de

Marabaacute Ela junto com outras mulheres propunha uma discussatildeo de

participaccedilatildeo efetiva das mulheres

() e morreu no anonimato bem aqui em Marabaacute foi atropelada Ningueacutem

ningueacutem fez uma nota Natildeo saiu nada A Raimundinha era uma lideranccedila

muito importante na luta das mulheres na regiatildeo Foi discriminada porque

ficou separada do marido era uma pessoa que participava ativamente da luta

sindical e era muito importante na famiacutelia dela ela era muito importante

talvez mais do que o Orlando que era o marido dela E morreu aiacute no

anonimato o movimento sindical natildeo fez uma nota

() Uma mulher poliacutetica ajudou a construir o PT aqui ajudou no debate da

reforma agraacuteria foi a primeira secretaacuteria de gecircnero do sindicato Entatildeo era

uma mulher articulada politicamente aleacutem de ser uma pessoa muito

simpaacutetica e tal Mas foi altamente discriminada dentro do movimento Entatildeo

a estrutura sindical eacute marcada por isso (Entrevista com Joana Angeacutelica em

21092016)

Guerra (2013) corrobora o depoimento da entrevistada Joana Angeacutelica (2016) ao

afirmar que a participaccedilatildeo das mulheres eacute relevante no movimento sindical de trabalhadores

rurais e nas organizaccedilotildees populares em especial nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do Araguaia e

Jacundaacute Guerra (2013) demonstra que mesmo natildeo assumindo posiccedilotildees de direccedilatildeo as

mulheres podem ter influecircncia expressiva na militacircncia sindical o que demonstra quando

analisa o discurso dos homens em que as mulheres satildeo sistematicamente evocadas

Para Bezerra e Alves (2017) eacute forte a participaccedilatildeo e incidecircncia poliacutetica das mulheres

no movimento sindical e na organizaccedilatildeo das mulheres nos municiacutepios de Satildeo Joatildeo do

Araguaia Satildeo Domingos do Araguaia e Itupiranga sendo que a atuaccedilatildeo das mulheres na luta

pela terra deu-se de diversas formas e em diferentes espaccedilos

Como lideranccedilas nas ocupaccedilotildees de terra dirigentes ou delegadas sindicais

animadoras de comunidades ligadas agrave Igreja em casa como arrimo de

famiacutelia quando seus maridos precisavam se ausentar por conta de

mobilizaccedilotildees acampamentos dos trabalhadores ou por serem viuacutevas A

atuaccedilatildeo dessas mulheres se dava articulando a luta pelo acesso agrave terra

concomitantemente a pleito para a maior inserccedilatildeo das mulheres nas

instancias organizativas como diretoras do sindicato delegadas sindicais

dirigentes de associaccedilotildees caixas agriacutecolas bem como pela construccedilatildeo de

novas relaccedilotildees de gecircnero na famiacutelia e nos espaccedilos organizativos

(BEZERRA ALVES 2017 p67)

Rosa Elizabeth Acevedo Marin publicou em 1998 um artigo intitulado ldquoPerfil de

mulher camponesa no sudeste do Paraacuterdquo sobre a sindicalista Raimundinha Solino citada pela

entrevistada Joana Angeacutelica (2016) Marin (1998) descreve

59

A iniciaccedilatildeo de Raimundinha em organizaccedilotildees ocorreu por volta dos anos 80

quando trabalhou no Movimento de Educaccedilatildeo de Base e ela ldquoficou na aacuterea

ruralrdquo O seu marido tambeacutem participava dos movimentos dos posseiros

Insistiu em dizer que durante a guerrilha do Araguaia foi um dos torturados

pelo Exeacutercito Dessa longa experiecircncia apenas fragmentada nasce a

Raimundinha camponesa com projetos alternativos para permanecer e

trabalhar na terra e igualmente a sindicalista dirigindo uma seacuterie de accedilotildees

no lugar onde mora (MARIN 1998 p6)

Raimundinha Solino tambeacutem foi citada por outros(as) entrevistados(as) dessa

pesquisa o entrevistado Luiacutes (2017) se refere a ela como uma das mulheres participantes de

curso de formaccedilatildeo ldquoEra sobre poliacutetica autonomia da mulher a mulher na poliacutetica da mulher

se ingressar na poliacutetica Nesse tempo ateacute a Raimundinha se entusiasmou e foi candidata

[sorrindo] a vereadorardquo (entrevista com Luiacutes em 19052017) A entrevistada Vana (2017)

relembra de Raimundinha com emoccedilatildeo ldquoAh foi ela que me ensinou muitas coisas Ela era

delegada do sindicato foi presidente da associaccedilatildeo ela foi da Secretaria de Mulher () A

Raimundinha me ensinou muita coisardquo (entrevista com Vana em 22052017) Segundo o

entrevistado Valdir (2017) Raimundinha teve um papel fundamental na orientaccedilatildeo agraves

mulheres do sindicato

Na poliacutetica da mulher nessa questatildeo aiacute a Raimundinha conseguiu ()

orientar as mulheres Porque tu sabe como eacute aquela poliacutetica da mulher neacute

Orientaccedilatildeo fazer aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem

qual eacute o direito que elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute

achavam que soacute tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e

ficar calada Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram

Quando noacutes terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam

falando mais forte Entatildeo a Raimundinha fez um bom trabalho fez um

trabalho muito bom naquele periacuteodo laacute () a Raimundinha foi muito fiel

com as mulheres (Entrevista com Valdir em 23052017)

Completando o ciclo de menccedilotildees agrave Raimundinha Solino a entrevistada Simone (2017)

destaca que ela era uma das mulheres que organizava os Encontros de Mulheres em conjunto

com dona Dijeacute (citada na paacutegina 20)

Tinha a Raimundinha Solino tinha a Maria de Jesus que a gente chamava

ela soacute de Dijeacute Elas duas eacute que faziam mais frente dentro do sindicato Por

exemplo vai ter um Encontro de Mulheres elas eacute que tratavam dessa

questatildeo de articular de fazer tudo que era possiacutevel para as mulheres poder

participarem Elas ficaram elas conseguiram se manter dentro dessa questatildeo

da articulaccedilatildeo do sindicato muitos anos muitos anos () Elas

permaneceram nesse processo de fazer a articulaccedilatildeo das mulheres do

sindicato nesse periacuteodo Com elas a gente pode bem dizer que a gente teve

um grande avanccedilo (Entrevista com Simone em 23052017)

60

O legado de Raimundinha Solino deve permanecer vivo sua trajetoacuteria de vida eacute um

exemplo de superaccedilatildeo determinaccedilatildeo e empoderamento servindo de exemplo agrave sociedade em

geral

52 AS MULHERES NA PERSPECTIVA DAS LIDERANCcedilAS SINDICAIS

Eu acho que a gente tem um trunfo na matildeo que eacute o seguinte agricultura

familiar o que eacute Famiacutelia Famiacutelia o que eacute Famiacutelia sem mulher famiacutelia sem

homem existe () Entatildeo essa eacute uma carta na manga que noacutes temos

portanto se eacute familiar por que teria mais homem do que mulher (Entrevista

com Joatildeo em 11072017)

Ainda tem aqueles maridos que eacute meio carrasco natildeo quer que a mulher vaacute

participar desse negoacutecio Mas eacute a questatildeo de ciuacuteme tambeacutem Eu vejo dois

pontos um eacute esse e o segundo ponto eacute que talvez ainda existe homem que

por exemplo eu jaacute vi um amigo meu dizer ldquoRapaz eu natildeo vou para um

sindicato ser diretor de um sindicato para a mulher ser presidente para eu

ser mandado por mulherrdquo Duas coisas que eu vejo de dificuldade eacute isso aiacute

(Entrevista com Milton em 23052017 grifo nosso)

Metodologicamente a entrevista eacute um excelente instrumento de pesquisa por permitir

a interaccedilatildeo entre pesquisador(a) e entrevistado(a) e a obtenccedilatildeo de descriccedilotildees detalhadas sobre

o que se estaacute pesquisando (OLIVEIRA 2014) Na praacutetica ao longo da entrevista o(a)

entrevistado(a) emite opiniotildees diversas e muitas vezes contraditoacuterias sobre o mesmo tema

(ROSA ARNOLDI 2008) ou sobre datas e eventos histoacutericos Ademais das onze mulheres e

sete homens que eu entrevistei abordei perguntas sobre discriminaccedilatildeo eou violecircncia sofridas

pelas mulheres Em momentos pontuais das entrevistas com trecircs homens tive a impressatildeo de

que os mesmos estavam respondendo o que eles consideravam que eu gostaria de ouvir

Tambeacutem ocorreu de algumas das mulheres entrevistadas descreverem situaccedilotildees em que foram

viacutetimas de agressotildees verbais nas dependecircncias do sindicato sendo que ao perguntar a

respeito do tema22 para o dirigente em questatildeo respondeu que as mulheres sempre foram

respeitadas natildeo tendo presenciado nenhum tipo de discriminaccedilatildeo ndash prevalecendo a ideia de

que quem agride esquece quem eacute agredido natildeo

Conforme abordado no item 51 da dissertaccedilatildeo as mulheres passaram a participar

efetivamente da luta do STTR de Marabaacute a partir da deacutecada de 1990 do seacuteculo XX Os

trechos dos depoimentos dos entrevistados Joatildeo (2017) e Milton (2017) no iniacutecio desta seccedilatildeo

22

Pergunta ldquoMas aqui dentro do sindicato o tempo que vocecirc estaacute aqui vocecirc chegou a perceber

alguma dificuldade que as mulheres enfrentaram aqui no sindicato Algum tipo de entraverdquo

61

simbolizam as diferentes visotildees que as lideranccedilas masculinas possuem sobre a participaccedilatildeo

das mulheres na luta sindical sendo que os elementos do segundo depoimento predominam

entre as lideranccedilas sindicais

Para a entrevistada Frida (2017) no movimento sindical de trabalhadores rurais eacute feito

o debate sobre a importacircncia das mulheres estarem agrave frente dos espaccedilos e discussotildees mas isso

natildeo tem ocorrido na praacutetica pelo menos nos uacuteltimos dez anos nem no espaccedilo do sindicato e

nem no espaccedilo domeacutestico das lideranccedilas masculinas (ou seja os homens discursam a respeito

mas natildeo tratam bem as ldquocompanheirasrdquo do sindicato nem suas esposas e demais familiares) O

entrevistado Luiacutes (2017) traz elementos importantes para o debate

Eacute porque muitas vezes as oportunidades para a mulher elas natildeo enxergaram

e os homens natildeo deram essa oportunidade delas participarem Politicamente

eacute isso Porque na hora aparece quatro mulheres e aparecem cinquenta

homens para disputar o mesmo espaccedilo Como os homens sempre tem o

caminho mais livre e tem algumas que natildeo tem coragem de ir para o embate

mesmo () Na verdade sempre os homens acham que o lugar da mulher eacute na

cozinha que a luta sindical tem que ser para homem Enquanto eu vejo o

contraacuterio a luta sindical tem que ser para todo mundo Que eacute aquela historia

do discurso o cabra diz ldquoNatildeo mas a mulher tem vez comigo tem vezrdquo Mas

seraacute que tem mesmo Seraacute que tem vez mesmo () Eu acho que tem que

ter vez Porque muitas vezes o cara diz no discurso mas na praacutetica natildeo tem

(Entrevista com Luiacutes em 19052017)

De acordo com as mulheres entrevistadas o medo eacute um fator preponderante que as

impede de ascender tanto nos espaccedilos puacuteblicos quanto privados Medo de falar medo de

defender suas ideias medo de denunciar agressotildees sofridas medo de se libertar do passado

medo de evoluir Aleacutem disso haacute o medo de ser julgada por sua condiccedilatildeo de ser mulher como

esclarece a entrevistada Simone (2017) ldquoAh se eu assumir um sindicato como eacute que eu vou

fazer e tal E se eu natildeo der conta os fulanos vatildeo dizer que natildeo dei conta porque sou mulherrdquo

(entrevista com Simone em 23052017) Diante desse contexto encontrar alternativas para

vencer os diversos tipos de medo eacute essencial para a conquista do empoderamento nas

dimensotildees pessoal social poliacutetica e econocircmica

A entrevistada Tereza (2017) relata a dificuldade em conviver com diretores mais

velhos no sindicato uma vez que era alvo de discriminaccedilatildeo e descrenccedila devido sua pouca

idade agrave eacutepoca em que foi diretora do STTR de Marabaacute o que caracteriza um conflito entre

geraccedilotildees

Eu via que eu tinha algum problema porque eu era jovem na eacutepoca eu tinha

meus vinte anos Jovem e mulher Entatildeo quem tava ali satildeo pessoas muito

antigas que estaacute no sindicato haacute muito tempo Entatildeo os homens de certa

62

forma viam a gente ali com aquele serviccedilo mesmo de escritoacuterio Que a gente

tinha que fazer aquele papel do jeito que eles mandaram e tudo mais Eles

natildeo viam a gente a nossa participaccedilatildeo de maneira como se fosse para ajudar

tambeacutem na organizaccedilatildeo dos trabalhadores (Entrevista com Tereza em

19052017)

A entrevistada Tereza (2017) conta ainda que conversava sobre essa situaccedilatildeo com

amigos de entidades parceiras e que recebia deles as seguintes orientaccedilotildees ldquoTaca a matildeo na

mesa e comeccedila a xingar () Tem que mostrar que tu tambeacutem tem poder laacute dentro tem poder

de falar tu tambeacutem eacute diretorardquo (Entrevista com Tereza em 19052017) Poreacutem ela preferia

evitar confrontos e buscava desenvolver suas atividades atraveacutes de parcerias por fora do

sindicato Ademais a entrevistada Tereza (2017) destaca que sempre era designada para

integrar conselhos municipais ou participar de reuniotildees que natildeo eram prioritaacuterias para os

dirigentes homens ldquoEntatildeo me botavam para ficar em reuniotildees o tempo todo reuniatildeo que natildeo

era de interesse deles porque sauacutede e desenvolvimento rural natildeo era interesse deles entatildeo me

botavam para depois eu soacute dizer o que aconteceurdquo (Entrevista com Tereza em 19052017)

Essa postura demonstra um limite de compreensatildeo poliacutetica sobre questotildees fundamentais e que

deveriam ser bandeiras relevantes do sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais

Sauacutede e desenvolvimento rural atribuiacutedos a temas que poderiam ser tratados por mulheres

induzem a uma reflexatildeo sobre o grau de politizaccedilatildeo dos dirigentes do sindicato Por outro

lado esses satildeo temas que se aproveitados pelo engajamento feminino poderiam tecirc-las

projetado no campo sindical de forma mais efetiva de que se tivessem assumido outras aacutereas

Pesquisando o lugar social das mulheres jovens do assentamento Nova Canaatilde no

municiacutepio de Quixeramobim sertatildeo cearense no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra (MST) e nas poliacuteticas puacuteblicas Sales (2010) fornece elementos que sintetizam o

desabafo da entrevistada Tereza

Nos movimentos sociais em que predominam homens haacute dificuldades de

participaccedilatildeo das mulheres e isso se agrava quando elas satildeo jovens A

diferenccedila de gecircnero e geraccedilatildeo no interior dos movimentos define padrotildees de

comportamento reforccedila as relaccedilotildees de poder e cristaliza os valores e as

hierarquias sociais (SALES 2010 p 437)

De forma geral as mulheres convivem com diversas dificuldades23

(MOREIRA

MANESCHY E AacuteLVARES 2014) para participar das reuniotildees encontros e demais

atividades como por exemplo natildeo ter a permissatildeo do marido ou natildeo ter com quem deixar os

filhos ndash para sair do lote e se deslocar agrave sede do municiacutepio ou viajar para outros municiacutepios

23

Dificuldades problematizadas no item 42 da dissertaccedilatildeo

63

Quando ocorre do marido autorizar apenas depois do teacutermino das atividades domeacutesticas o

que eacute um indicador do grau de dominaccedilatildeo ao qual a mulher trabalhadora rural estaacute submetida

no plano da poliacutetica De acordo com a entrevistada Simone (2017) trata-se de um retrocesso

Tem mulher que diz assim ldquoeu natildeo vou porque o meu marido natildeo deixardquo Aiacute

eu fico olhando ldquomeu Deus noacutes estamos no seacuteculo XXI quase no seacuteculo

XXII e eu escuto isso aindardquo Mas infelizmente eacute isso Vocecirc olha menina

nova jovem mas estaacute na zona rural aquele niacutevel de cultura ainda de que ldquoeu

soacute vou se meu marido deixarrdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Contudo eacute possiacutevel encontrar mulheres casadas que conseguiram convencer os

maridos da importacircncia de sua militacircncia poliacutetica e sindical

Tem delas que satildeo casadas e que jaacute conseguiram [politizar o marido] ()

Elas vatildeo conseguindo fazer isso Por quecirc Porque tambeacutem elas se lanccedilam

Elas fazem tipo aquela ldquoAh tu natildeo deixa natildeo mas eu jaacute to indordquo E aiacute se

lanccedila mesmo E aiacute ele vai ficando ali tendo que ceder Aiacute eles vatildeo

percebendo que de repente porque na cabeccedila deles se a mulher sair vai trair

ele vai fazer isso vai fazer aquilo Quando eles vatildeo chegando e percebe que

natildeo eacute justamente aquilo aiacute vatildeo aceitando Agora tem outros que natildeo aceitam

de jeito nenhum Por mais que vaacute natildeo sei quem dizer para ele ldquoMoccedilo natildeo eacute

assim Venha participar tambeacutem com a sua mulher para vocecirc saber como eacute

que eacuterdquo (Entrevista com Simone em 23052017)

Ademais para participar da militacircncia haacute situaccedilotildees em que as mulheres tiram proveito

dos arranjos familiares deixando os filhos com determinados grupos de mulheres ou ateacute

mesmo com os homens mais abertos agrave participaccedilatildeo das esposas

Estudo realizado por Antunes (2015) sobre o processo de organizaccedilatildeo para a gestatildeo do

territoacuterio quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas no sertatildeo pernambucano abordou a forma

como a violecircncia adentra as narrativas de luta e conquista das mulheres da comunidade A

violecircncia contra a mulher assume centralidade nos discursos Vale destacar descriccedilatildeo de um

episoacutedio vivenciado pela autora durante evento que tratava das mulheres na luta quilombola

Cinco lideranccedilas mulheres (de diferentes quilombos) foram chamadas para a mesa e

explanaram suas ideias

Ficou claro nas falas que foram as mulheres quem primeiro se envolveram

na luta e tambeacutem foi notoacuteria a importacircncia das lideranccedilas mulheres nos

cinco quilombos Quando foi aberto o espaccedilo para a discussatildeo a questatildeo da

dificuldade de participar do movimento porque o marido natildeo deixa foi

abordada em algumas falas assim como a importacircncia de intercacircmbio com

outras comunidades para ldquotomar coragemrdquo de participar () Durante a fala

de uma lideranccedila mulher mais jovem de um dos quilombos as lideranccedilas

homens mais jovens que estavam sentadas perto de mim comeccedilaram a falar

() ldquoessa eacute fala de militante discurso pronto natildeo tem a ver com nossa

realidaderdquo () ldquotem mulher aiacute falando sobre violecircncia e apanhando em casa

64

como pode falar agraves outras sobre esse tema se natildeo resolveu o problema na

casa delardquo (ANTUNES 2015 p 88-89)

A desqualificaccedilatildeo feita pelos homens em relaccedilatildeo agraves lideranccedilas mulheres que satildeo alvos

de violecircncia se confunde com a contradiccedilatildeo vivida por essas mesmas mulheres que oscilam

entre ajudar publicamente a discutir e superar a violecircncia domeacutestica mas que optam em

ocultar suas proacuteprias dores guiadas talvez por medo ou por vergonha

Retomando o debate sobre o STTR de Marabaacute em relaccedilatildeo ao processo de organizaccedilatildeo

das reuniotildees e atividades encabeccediladas pela Secretaria de Mulheres em gestotildees passadas ndash

uma vez que na gestatildeo atual as atividades da Secretaria de Mulheres estatildeo paradas ndash a

presenccedila era majoritariamente feminina Os homens participavam dos encontros basicamente

no momento da abertura depois se retiravam para outros compromissos conforme explicaccedilatildeo

da entrevistada Maria (2017)

Quando eles faziam reuniatildeo no sindicato que era eles [que coordenavam] aiacute

tava todo mundo em peso Mas quando eram as mulheres que iam fazer

porque dificilmente as mulheres iam fazer a natildeo ser quando era alguma

reuniatildeo das mulheres eles natildeo davam muita importacircncia ldquoAh isso eacute soacute

besteirardquo Entatildeo eles natildeo davam importacircncia e natildeo participavam Agraves vezes

muito quando a gente fazia um encontrozinho agraves vezes eles iam para

aparecer laacute soacute na hora da abertura e escapuliam () Mesmo com a gente

batendo falando com a CPT (porque a CPT foi uma das entidades que nos

ajudou muito a defender essa questatildeo de gecircnero da igualdade) mesmo a

gente discutindo essa questatildeo da igualdade que temos que estar aqui ombro

a ombro o respeito pela luta da mulher a definiccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da mulher

do papel (Entrevista com Maria em 14072017)

No periacuteodo de 1997 a 2003 a Secretaria de Mulheres24

do sindicato promoveu diversos

cursos de capacitaccedilatildeo sobre autonomia da mulher participaccedilatildeo da mulher na poliacutetica dentre

outros temas Foram momentos importantes que fortaleceram a autoestima dessas mulheres

elevando o niacutevel de empoderamento das mesmas O entrevistado Valdir (2017) esclarece

Aqueles cursos de capacitaccedilatildeo para as mulheres saberem qual eacute o direito que

elas tecircm porque ateacute naquele periacuteodo ali as mulheres soacute achavam que soacute

tinham o direito de cozinhar e pronto E atender o marido e ficar calada

Entatildeo a partir dali eu entendi que muitas coisas mudaram Quando noacutes

terminamos de tirar o nosso mandato as mulheres jaacute estavam falando mais

forte (Entrevista com Valdir em 23052017)

O fortalecimento da auto-estima das mulheres motivou-as a retomar os estudos seja

atraveacutes de cursos do ensino superior ou cursos referentes ao ensino meacutedio conforme

elucidaccedilatildeo da entrevistada Simone (2017)

24

A Secretaria de Mulheres recebeu o apoio da CPT CEPASP Fetagri ndash Regional Sudeste para

desenvolver suas atividades

65

Dessas mulheres que a gente tem trabalhado com elas muitas delas tem

procurado a se informar mais A estudar a voltar a estudar ter um niacutevel

mais tem delas que jaacute foi para faculdade estudar mesmo Outras por

exemplo que estavam ali e natildeo sabiam nem ler e escrever hoje estatildeo em um

niacutevel de escolaridade melhor Elas falam assim ldquonaquele tempo eu era cega

eu natildeo compreendia nada Apesar de ter dois olhos mas eu natildeo enxergava

nadardquo () Eu fico muito feliz quando vejo as mulheres falando isso hoje que

hoje elas jaacute tem um outro niacutevel de consciecircncia e que elas conseguem se

defender e buscar os direitos delas Isso para mim eacute muito significativo

(Entrevista com Simone em 23052017)

A formaccedilatildeo na Educaccedilatildeo do Campo25 eacute um elemento importante que traz

determinados subsiacutedios que tambeacutem colaboram no empoderamento dessas mulheres

Como grande parte delas [mulheres sindicalistas rurais] satildeo professoras e a

Educaccedilatildeo do Campo trabalha com professores trabalha com os povos do

campo acho que esse acesso ao conhecimento eacute muito importante Entatildeo

hoje elas podem elas se sentem mais a vontade ou com mais condiccedilotildees de

disputar o sindicato de disputar a cooperativa de disputar a associaccedilatildeo

porque de certa maneira ela se empodera com o conhecimento e isso eacute muito

importante para elas (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Para Sen (2000) a educaccedilatildeo e a alfabetizaccedilatildeo das mulheres tendem a diminuir as taxas

de mortalidade das crianccedilas em virtude ldquoda importacircncia que normalmente as matildees datildeo ao

bem-estar dos filhos e da oportunidade que tecircm ndash quando sua condiccedilatildeo de agente eacute respeitada

e fortalecida ndash de influenciar as decisotildees familiares nessa direccedilatildeordquo (SEN 2000 p 227)

Ademais Sen (2000) considera que ldquoa instruccedilatildeo da mulher reforccedila sua condiccedilatildeo de agente e

tende a tornaacute-la mais bem informada e qualificadardquo (SEN 2000 p 223)

Resgatando a fala inicial do entrevistado Milton (2017) nessa seccedilatildeo a respeito dos

homens que natildeo admitem serem mandados por mulheres trata-se de postura recorrente em

demais sindicatos ndash inclusive de outras categorias ndash ou seja natildeo eacute uma atitude isolada do

STTR de Marabaacute conforme eacute possiacutevel comprovar atraveacutes do depoimento da entrevistada

Dandara (2017)

No movimento sindical hoje eu avalio numa dimensatildeo mais macro porque

hoje eu estou no Estado mas noacutes ainda temos muitos problemas tanto de

discriminaccedilatildeo dessa questatildeo do homem achar que ele eacute mandado por

mulher Outro dia o companheiro falou aqui na Fetagri ldquoEu vou vender essa

mulher ela manda muito fala muitordquo Sabe Os homens ainda resistem ao

comando da mulher Eles se sentem diminuiacutedos quando uma mulher

determina algumas coisas E eu te garanto uma coisa para a gente ocupar

determinados espaccedilos vocecirc tem que estar munida de conhecimento se natildeo

vocecirc eacute engolida (Entrevista com Dandara em 01092017)

25

O Campus de Marabaacute da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute oferta o curso de

Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

66

A expressatildeo ldquoser mandado por mulherrdquo vem com toda a carga de machismo que um

posicionamento dessa natureza encerra podendo talvez materializar um comportamento

generalizado um espelho da sociedade Nesse sentido novos investimentos satildeo indicados

para se compreender como o STTR de Marabaacute consegue se sustentar com a hegemonia

masculina se reproduzindo haacute deacutecadas em suas diretorias

Ainda de acordo com a entrevistada Dandara (2017) as mulheres devem ser tratadas

com respeito pelos homens prevalecendo um trabalho de parceria na luta sindical

Eu sou uma grande defensora e aiacute eu falo muito isso aqui nas reuniotildees nas

palestras que noacutes temos que ter o equiliacutebrio com os nossos parceiros E

quando eu falo parceiro natildeo eacute parceiro de cama eu falo parceiros de

trabalho de luta noacutes temos que ter esse equiliacutebrio Sabe eu tenho o

entendimento que noacutes natildeo temos que ser maiores e nem menores noacutes temos

que nos dar as matildeos Agora com respeito Respeitando que noacutes temos

diferenccedilas noacutes somos diferentes Noacutes temos as nossas especificidades

enquanto mulheres noacutes temos que ter um olhar diferente (Entrevista com

Dandara em 01092017)

O posicionamento da entrevistada Dandara (2017) representa o esperado a ser

defendido por todos e todas as militantes de movimentos sociais seja do campo seja da

cidade

53 AS MULHERES DO SINDICATO CONSTRUINDO EMPODERAMENTO

Eu sempre acreditei que com luta a gente realmente muda essa realidade A

gente vai para uma sociedade quebrando essa cultura desse sistema que noacutes

vivemos que exclui que discrimina a mulher Eu sempre acreditei nisso Eacute

tanto se hoje noacutes estamos aqui falando se noacutes temos jaacute vaacuterios instrumentos

aiacute organizados nessa questatildeo da mulher no Brasil no nosso Estado e aqui no

municiacutepio eacute fruto da nossa organizaccedilatildeo de todas noacutes mulheres (Entrevista

com Sandra em 22092016)

A primeira conquista das mulheres do sindicato foi o direito de poder se sindicalizar

Quando o sindicato foi criado ndash e nos anos seguintes ndash elas eram dependentes dos maridos

Na regiatildeo sudeste paraense essa discussatildeo aconteceu em quatro municiacutepios Marabaacute Satildeo

Joatildeo do Araguaia Itupiranga e Jacundaacute de acordo com o depoimento do entrevistado Joatildeo

(2017)

Eacute bom saber uma coisa interessante que no sindicato pelego a mulher

recebia uma carteirinha de dependente Eu me lembro disso aqui todo

mundo feliz da vida porque tinha uma carteirinha de dependente natildeo sei o

que natildeo sei o que Aiacute a gente comeccedilou a discutir nas comunidades com os

delegados ldquoMas como entatildeo uma mulher natildeo pode ser delegada sindical

Mas ela natildeo trabalha na roccedila tambeacutemrdquo Aiacute comeccedilou principalmente as

67

mulheres que eram donas da terra que natildeo tinham marido () ldquoE aiacute natildeo

pode receber a carteirinhardquo (Entrevista com Joatildeo em 11072017)

O depoimento do entrevistado Joatildeo (2017) deixa subentendido que foram os homens

que permitiram a sindicalizaccedilatildeo das mulheres desqualificando o protagonismo das mesmas

no processo dessa conquista Muitas mulheres se tornaram delegadas sindicais

desenvolvendo papel fundamental na organizaccedilatildeo das ocupaccedilotildees e tambeacutem dos

acampamentos realizados na sede da SR-27 do INCRA em Marabaacute O entrevistado Saulo

(2017) detalha esse papel

Entatildeo nessas conquistas do processo da luta pela terra do processo de

infraestrutura do processo da luta da questatildeo previdenciaacuteria da educaccedilatildeo de

toda a estrutura do movimento a mulher foi muito importante Dentro desse

processo dentro dessa luta a gente reconhece e defende que foi um trabalho

de luta e de garra que a gente tem que respeitar e cada vez mais ceder espaccedilo

para que [a mulher] possa se engajar e possa ser reconhecida (Entrevista com

Saulo em 24052017)

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede da mulher as mulheres apresentavam suas reivindicaccedilotildees em

reuniotildees com a Secretaria Municipal de Sauacutede nas marchas de Oito de Marccedilo dentre outros

espaccedilos As principais conquistas referem-se agrave prioridade de atendimento das mulheres da

zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas

rurais26

e a criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher

Segundo a entrevistada Simone (2017) o CRISMU foi criado em virtude das reivindicaccedilotildees

do movimento de mulheres que contou com o apoio de vereadores e outras lideranccedilas

poliacuteticas Considerei o envolvimento das mulheres nessas conquistas como indicador de

empoderamento social27

no acircmbito puacuteblico

De forma geral a entrevistada Maria (2017) sintetiza que ldquo() apesar dos avanccedilos

apesar das lutas que jaacute tivemos dos embates nacionais de Marcha de Grito a gente evoluiu

Evoluiu A gente conseguiu grandes conquistas mas natildeo foi tudo ainda aquilordquo (entrevista

com Maria em 14072017) Para a entrevistada Dandara (2017) a eleiccedilatildeo da primeira mulher

presidente da FetagriPA serve de motivaccedilatildeo para que mais mulheres disputem a presidecircncia

dos sindicatos na base resistindo e ocupando espaccedilos cada vez maiores nos sindicatos

26

As unidades de sauacutede moacuteveis satildeo ocircnibus adaptados com consultoacuterios meacutedicos e odontoloacutegicos para

atender os moradores da zona rural da cidade

27 ldquoA capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissatildeo em todas as instacircncias em que ela

se manifestardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

68

A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave paridade de gecircnero implementada

no 12ordm Congresso Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da CONTAG

(CNTTR) em Brasiacutelia em marccedilo de 2017 A paridade de gecircnero garante que a CONTAG teraacute

em sua direccedilatildeo 50 de homens e 50 de mulheres Portanto a partir das proacuteximas eleiccedilotildees

sindicais (no caso do STTR de Marabaacute seraacute em junho de 2019) a paridade de gecircnero seraacute

cumprida O entrevistado Saulo (2017) e a entrevistada Dandara (2017) comentam a respeito

dessa resoluccedilatildeo aprovada

Se vocecirc pegar o estatuto do sindicato hoje o estatuto atual o estatuto da

Fetagri da Federaccedilatildeo dos Trabalhadores eacute paridade eacute 50 homem 50

mulher As proacuteximas diretorias jaacute vecircm com 50 de homem e 50 de

mulher (Entrevista com Saulo em 24052017)

Hoje eu tenho uma avaliaccedilatildeo assim noacutes ateacute avanccedilamos Noacutes avanccedilamos

porque noacutes aqui no estado do Paraacute e em todo Brasil em niacutevel de movimento

sindical noacutes tivemos que implementar cotas de 30 da nossa participaccedilatildeo

porque o movimento sindical eacute muito masculino Em outras deacutecadas era um

sindicato de homens Apesar das mulheres serem filiadas E se tu me

perguntares assim ldquoAh isso mudou hojerdquo ldquoMudourdquo Hoje noacutes temos a

paridade Noacutes saiacutemos da cota de 30 para a paridade Noacutes implementamos

agora no 9ordm Congresso da Contag (Entrevista com Dandara em 01092017)

A paridade de gecircnero eacute um passo importante para construir poliacuteticas que alterem as

condiccedilotildees de participaccedilatildeo poliacutetica e sindical das mulheres consolidando um sindicalismo com

liberdade e autonomia

Retomando o debate sobre as dimensotildees do empoderamento eacute necessaacuterio

problematizar sobre discriminaccedilatildeo e violecircncia domeacutestica questotildees recorrentes entre as

mulheres entrevistadas Considerei como indicador do empoderamento pessoal28

no acircmbito

puacuteblico a existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo e no acircmbito privado a existecircncia ou natildeo de

violecircncia domeacutestica A discriminaccedilatildeo foi vivenciada por todas as mulheres entrevistadas ndash

dirigentes do sindicato bem como as demais mulheres natildeo dirigentes ndash enquanto que algumas

foram viacutetimas de violecircncia domeacutestica Apoacutes terem sido submetidas a constrangimentos de

toda ordem conseguiram superaacute-los

A entrevistada Sandra (2017) discorre sobre o seu engajamento na luta feminista

revelando a causa que a fez participar do movimento de mulheres ao longo de sua trajetoacuteria de

vida

28

ldquoCompreende o aumento da auto-estima e da autoconfianccedilardquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

69

Para te dizer que o nosso motivo para que a gente viesse a se engajar na luta

feminista esse sentimento feminista da nossa parte foi exatamente essa

indignaccedilatildeo pela discriminaccedilatildeo Noacutes percebemos o quanto antes justamente

porque eu como mulher como negra certo Eu jaacute sofri muito e sofro todo

dia se vocecirc quer saber Entendeu A gente sofre todo dia Isso na frente dos

movimentos nos lugares aonde a gente estaacute a gente sofre essa

discriminaccedilatildeo E aiacute a gente percebe que como mulher como negra como

mulher de poder aquisitivo baixo e como agora caminhando jaacute para a idade

tambeacutem Tudo isso a gente percebe () Geralmente a pessoa soacute passa a te

respeitar mais eacute a partir da tua accedilatildeo das tuas atitudes (Entrevista com

Sandra em 22092016)

Segundo a entrevistada Nina (2017) a discriminaccedilatildeo contra as mulheres eacute causada

porque os homens ldquonatildeo aceitam que as mulheres pensam que as mulheres tem ideias mulher

eacute para ser fogatildeo para ser dona de casa domeacutestica e os homens e a estrutura machista para

comandar tudo isso Eacute difiacutecil demais rdquo (Entrevista com Nina em 27092016) Para a

entrevistada Vana (2017) a impressatildeo eacute de que as pessoas natildeo confiam nas mulheres de

maneira geral

ldquo() quando vocecirc natildeo confia natildeo tem seguranccedila quem ajude tudo que vai

falar bdquoAh esse negoacutecio de mulher‟ Eu acho que a maioria eacute discriminaccedilatildeo

Ali [no sindicato] todas [mulheres] que entrar eacute [discriminada] Natildeo adianta

Primeiro ponto vocecirc natildeo tem vez Eu natildeo fui muito [discriminada] porque

eu sou dura Eu era laacute de dentro Soacute queriam que eu trabalhasse trabalhasse

trabalhasse eu natildeo tinha uma sala eu natildeo tinha uma cadeira para sentarrdquo (Entrevista com Vana em 22052017)

Dando continuidade aos exemplos de discriminaccedilatildeo vivenciados a entrevistada Tereza

(2017) cita a visatildeo deturpada dos homens dirigentes de que a mulher tem capacidade limitada

de exercer determinada funccedilatildeo Concordando com essa ideia as entrevistadas Frida (2017) e

Simone (2017) enfatizam a questatildeo da barreira e do machismo

Eacute a barreira Vocecirc soacute pode ir ateacute aqui daqui para caacute natildeo Pronto Eacute isso ()

Quando tem alguma coisa que a gente acha que natildeo eacute assim a gente chama

os companheiros ldquoCompanheiro eu acho que estaacute erradordquo Mas aiacute a gente

natildeo tem forccedila entatildeo natildeo adianta Natildeo adianta (Entrevista com Frida em

18052017)

Eu ainda hoje percebo as dificuldades dentro do sindicato com relaccedilatildeo a

estar acessando espaccedilo O machismo eacute muito muito muito grande ainda

Isso eacute uma coisa que ainda deixa elas muito retraiacutedas Porque eu percebo que

hoje noacutes temos duas lideranccedilas [mulheres] que a gente acompanhou o

processo delas nesses encontros nos movimentos e tudo enquanto e hoje

elas satildeo coordenaccedilatildeo dos seus grupos de assentamento e acampamento Mas

nunca tiveram oportunidade dentro do Sindicato de Marabaacute () O que a

gente olha a dificuldade para elas conseguirem alguma coisa dentro do

sindicato ainda eacute a discriminaccedilatildeo O pessoal discrimina muito que a mulher

70

natildeo eacute capaz de estar assumindo [cargos de direccedilatildeo] (Entrevista com Simone

em 23052017)

A resistecircncia agraves mulheres assumirem cargos formais manifestada nos diversos

depoimentos pode ser indicador de um bloqueio no qual satildeo submetidas poreacutem aponta uma

fragilidade nas estrateacutegias adotadas pelas mulheres no sentido de furar este cerco

Aprofundando o debate sobre violecircncia domeacutestica para Arauacutejo e Rodrigues (2015)

trata-se de um fenocircmeno trazido agrave luz pelos movimentos sociais de mulheres A Lei nordm

11340 criada em 07 de agosto de 2006 conhecida como Lei Maria da Penha define a

violecircncia domeacutestica e familiar em seu Art 5ordm (TRIBUNAL 2012)

Art 5ordm Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe cause

morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou patrimonial

I ndash no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II ndash no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos naturais por afinidade ou por vontade expressa

III ndash em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

O Art 7ordm (TRIBUNAL 2012) apresenta as formas de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher entre outras

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaccedilatildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada mediante

intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a comercializar

ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a impeccedila de usar

qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao matrimocircnio agrave gravidez ao

aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo chantagem suborno ou

manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de seus direitos sexuais e

reprodutivos

71

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que

configure retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria

Em seguida trechos das falas que exemplificam a violecircncia domeacutestica sofrida pelas

mulheres entrevistadas

Porque naquela eacutepoca vocecirc saiacutea do cativeiro do pai e passava para o

cativeiro do marido Entatildeo era subordinaccedilatildeo total e daiacute entatildeo natildeo deu mais

para noacutes viver meu pai separou noacutes ele [marido] tentou me esfaquear

chegaram bem na hora e foi Deus quem me deu o livramento (Entrevista

com Maria em 14072017)

Eu nunca sofri violecircncia domeacutestica Eu sofri violecircncia digamos assim

moral verbal porque depois que noacutes separamos ele fez isso mas fiacutesica eu

nunca sofri violecircncia (Entrevista com Dandara em 01092017)

Eu lembro que nessa eacutepoca que eu tava no sindicato numa relaccedilatildeo

extremamente turbulenta da pessoa machista () e eu tava sofrendo de certa

forma violecircncia dentro de casa Comeccedilou com agressatildeo verbal e ateacute entatildeo eu

natildeo sabia aquilo Aiacute laacute num dia numa formaccedilatildeo no sindicato acho que era o

sindicato com a CPT aiacute foram falar sobre a Lei Maria da Penha Como

comeccedilava tudo isso tinha uma psicoacuteloga falando sobre isso Como

comeccedilava [a violecircncia] essa questatildeo da agressatildeo e tudo Eu me vi naquilo

Passou a me despertar que eu tava vivenciando aquilo dentro de casa Entatildeo

eu era uma pessoa coagida eu era uma pessoa que deixava de fazer

determinadas coisas porque o marido natildeo deixava Entatildeo foi quando eu

decidi separar () No dia que eu separei ele chegou a me agredir registrei

Boletim de Ocorrecircncia () A agressatildeo foi o estopim nesse sentido que eacute

uma coisa que eu jaacute vinha vivenciando haacute muito tempo e natildeo tinha

percebido natildeo tinha despertado ainda () Eu deixei a queixa dei entrada e

tudo Soacute que no dia da audiecircncia comeccedilou as ameaccedilas contra a minha famiacutelia

e tudo e eu acabei natildeo indo no dia da audiecircncia por ameaccedilas Fiquei com

medo de acontecer alguma coisa com a minha matildee Ele ameaccedilava todo

mundo laacute em casa Entatildeo eu acabei deixando quieto Um dos

arrependimentos que eu tenho Fiquei com medo neacute (Entrevista com

Tereza em 19052017)

De acordo com o segundo depoimento eacute possiacutevel perceber que a violecircncia domeacutestica

eacute confundida agraves vezes com a violecircncia fiacutesica todavia a Lei Maria da Penha eacute clara e direta ao

classificar as formas de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A entrevistada Joana

Angeacutelica (2017) exemplifica caso de violecircncia sexual

Eu me lembro que teve uma senhora do Sindicato de Marabaacute ela veio uma

vez falar comigo ldquoEi tudo que vocecirc falou aiacute eu me vi naquela sua falardquo Ela

era estuprada pelo marido quase todos os dias Entatildeo porque o sexo no

72

casamento eacute uma obrigaccedilatildeo natildeo eacute algo que faz parte do casal de vivenciar a

sexualidade (Entrevista com Joana Angeacutelica em 21092016)

Aprofundando o debate sobre o estupro a entrevistada Sandra (2017) considera-o

alarmante bem como os casos de assassinatos de mulheres

A maior violecircncia que a mulher estaacute sofrendo eacute a violecircncia fiacutesica Ainda

existe muito assassinato de mulher satildeo muitas mulheres assassinadas Isso

se na zona urbana que eacute o maior centro de maior populaccedilatildeo porque na zona

urbana eacute mais visiacutevel esses assassinatos e na zona rural eacute pior Muitas vezes

nem chega a saber quando sabe satildeo informaccedilotildees muito vagas E acontece

todo tipo de violecircncia o estupro o assassinato que eles falam que satildeo

atraveacutes do casamento E mesmo assim hoje por exemplo a mulher estaacute

sofrendo eacute uma modalidade que estaacute muito presente estaacute horriacutevel que eacute

alarmante essa questatildeo do estupro da mulher A mulher sendo estuprada

porque a mulher hoje natildeo pode andar ainda tem mais uma coisa porque a

proacutepria miacutedia sustenta isso mulheres que usam roupas curtas provocantes

estatildeo sendo estupradas Entatildeo eacute um desrespeito com a proacutepria mulher que

ainda na minha opiniatildeo no seacuteculo que estamos vivendo a mulher estaacute

sendo violentada pelos seus direitos ela natildeo estaacute tendo liberdade de ir e vir

por conta dessa questatildeo (Entrevista com Sandra em 22092016)

Apesar de serem repetitivos considero essencial publicizar todos esses depoimentos

pela pertinecircncia e gravidade do tema tratando-se ainda de empecilhos para a conquista do

empoderamento feminino Assim sendo cito mais trechos coletados das entrevistas sobre

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

A violecircncia domeacutestica natildeo eacute soacute aquela questatildeo da violecircncia fiacutesica A

psicoloacutegica eacute praticamente atuante todos os dias Porque ainda da forma que

os companheiros tratam as mulheres e agraves vezes ateacute mesmo na proacutepria

famiacutelia Os homens sempre procuram formas das mulheres se acharem com

pouca capacidade (Entrevista com Linda em 26092016)

A questatildeo da violecircncia contra a mulher eacute uma coisa que estaacute assim

escandalosa na nossa regiatildeo Eu sempre fico observando essa questatildeo das

pesquisas e sempre tenho percebido que o nosso estado eacute um dos estados

campeatildeo em violecircncia contra a mulher Para mim parece que noacutes estamos

ainda laacute no seacuteculo XIX Eu olho do tanto que a gente jaacute tem feito formaccedilotildees

encontros a gente jaacute tem politizado pessoas com certeza mas a gente

observa que parece que noacutes ainda estamos a anos-luz para poder chegar a ter

uma sociedade que compreenda que essa questatildeo do machismo jaacute eacute coisa do

passado Mas infelizmente a gente tem que conviver com esse tipo de

situaccedilatildeo (Entrevista com Simone em 23052017)

Eu acho que a violecircncia aquela violecircncia camuflada da discriminaccedilatildeo do

preconceito a discriminaccedilatildeo e principalmente a repressatildeo psicoloacutegica que a

mulher vive dentro de casa Assim um mandonismo haacute muitas situaccedilotildees

que o homem se permite e que ele proiacutebe a mulher de sair de fazer a sua

agenda de ter liberdade Assim a mulher natildeo conquistou ainda a liberdade

73

cidadatilde que ela tem direito entatildeo eu acho que eacute uma das situaccedilotildees muito

difiacuteceis ainda para a mulher () E depois a questatildeo mesmo dos direitos eu

diria ateacute baacutesicos Por exemplo noacutes natildeo temos o acesso ainda ao cuidado

baacutesico da sauacutede isso para mim eacute uma das grandes violecircncias Por exemplo a

maioria das mulheres natildeo ter acesso agrave mamografia isso para mim eacute uma

violecircncia enorme agrave mulher Porque noacutes temos a morte de mulheres com

cacircncer de mama ainda muito forte o Paraacute infelizmente eacute campeatildeo

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A violecircncia eacute desde a ausecircncia da poliacutetica puacuteblica voltada agrave mulher na

questatildeo da sauacutede da educaccedilatildeo do lazer da cultura enfim Mas tem a

violecircncia fiacutesica mesmo dentro dessa questatildeo machista que o homem entende

que eacute dono fez o casamento ateacute namorada jaacute namorou a mulher jaacute tem

direito jaacute eacute dele jaacute eacute propriedade Por conta disso ele por exemplo acha

que pode violentar a mulher se ela natildeo tiver cumprindo com aquele

compromisso que ela assumiu com ele Independente de ela querer ainda ser

feliz com ele ou natildeo quando ela entende que o relacionamento seja namoro

seja casamento natildeo daacute mais certo que ela quer separar aiacute ela sofre esse tipo

de violecircncia e o pior de tudo eacute que o Estado fecha os olhos (Entrevista com

Nina em 27092016)

Corroborando os depoimentos anteriores Prado e Sanematsu (2017) alertam sobre as

elevadas estatiacutesticas de violecircncias cotidianas praticadas contra as mulheres no Brasil

ocupante do quinto lugar ndash destaque desumano no cenaacuterio mundial ndash entre os paiacuteses com

maior taxa de homiciacutedios de mulheres ldquoApesar de graves esses dados podem ainda

representar apenas uma parte da realidade jaacute que uma parcela consideraacutevel dos crimes natildeo

chega a ser denunciada ou registradardquo (PRADO SANEMATSU 2017 p33) Quando se trata

da violecircncia contra as mulheres rurais a tendecircncia eacute que elas sofram em silecircncio uma vez que

o isolamento geograacutefico dificulta a denuacutencia formal ou a busca de outras formas de auxiacutelio

Ao se pensar a violecircncia contra as mulheres rurais pode-se refletir sobre a

sua sobreposiccedilatildeo e potencializaccedilatildeo em contextos adversos e de exclusatildeo O

distanciamento dos recursos coletivos de atenccedilatildeo social e de proteccedilatildeo soma-

se agraves grandes distacircncias geograacuteficas dos centros urbanos onde se encontram

tais recursos favorecem a invisibilidade e o natildeo enfrentamento dessas

situaccedilotildees (COSTA LOPES 2012 p1089)

Em 2017 a CONTAG reeditou a Cartilha ldquoMulheres em luta por uma vida sem

violecircnciardquo construiacuteda e lanccedilada pela Sempreviva Organizaccedilatildeo Feminista (SOF) em 2015

Para acabar de vez com a violecircncia contra a mulher as autoras da cartilha propotildeem

Para superar a violecircncia precisamos ter poliacuteticas que alterem as

desigualdades de gecircnero e raccedila e ajudem a construir uma sociedade com

igualdade Tudo isso precisa ser feito em um soacute movimento ou seja ao

mesmo tempo em que fazemos poliacuteticas para que a violecircncia natildeo mais

74

aconteccedila eacute preciso tambeacutem apoiar e proteger aquelas mulheres que estatildeo

sofrendo violecircncia Isto significa ter poliacuteticas puacuteblicas que atendam as

mulheres de forma integral que atuem para construccedilatildeo e promoccedilatildeo da

autonomia econocircmica e pessoal que tenham assistecircncia direta como

aluguel social moradia atendimento psicoloacutegico e social e acesso agrave justiccedila e

a accedilotildees da justiccedila que penalizem o agressor bem como que garantam o

acesso agrave renda Enquanto isto na sociedade os movimentos tecircm que

continuar denunciando a violecircncia e estimular para que a populaccedilatildeo e as

mulheres sejam solidaacuterias umas com as outras Eacute preciso tambeacutem estar

atentas agrave forma como as poliacuteticas estatildeo sendo implementadas e estar alertas

para o fato de que natildeo haacute conquistas definitivas a luta eacute cotidiana

(CONTAG 2017 p 43 grifo nosso)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo econocircmica29

do empoderamento a importacircncia da renda eacute um

dos indicadores Metodologicamente a coleta de dados desse indicador natildeo foi precisa em

virtude das perguntas do roteiro natildeo o terem abordado com profundidade Poreacutem apesar dessa

limitaccedilatildeo eacute possiacutevel problematizar a partir dos dados coletados e da literatura mobilizada

Para Sen (2000) ldquotrabalhar fora de casa e auferir uma renda independente tende a

produzir um impacto claro sobre a melhora da posiccedilatildeo social da mulher em sua casa e na

sociedaderdquo (SEN 2000 p 223) Ainda segundo esse autor

A liberdade para procurar e ter emprego fora de casa pode contribuir para

reduzir a privaccedilatildeo relativa ndash e absoluta ndash das mulheres A liberdade em uma

aacuterea (de poder trabalhar fora de casa) parece contribuir para aumentar a

liberdade em outras (mais liberdade para natildeo sofrer fome doenccedila e privaccedilatildeo

relativa) (SEN 2000 p 226)

No caso das mulheres participantes dessa pesquisa trabalhadoras rurais dirigentes do

sindicato a renda rural eacute estabelecida pelas atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas Sendo que no

periacuteodo em que elas estavam ocupando cargos de direccedilatildeo havia (ou natildeo) o repasse da ajuda

de custo Conforme o que foi possiacutevel extrair da coleta dos dados as mulheres entrevistadas

constituem suas rendas atraveacutes das atividades agriacutecolas (criaccedilatildeo de gado de peixe aves roccedila

fruticultura horticultura) e natildeo-agriacutecolas (aposentadoria trabalhos temporaacuterios na cidade e

como ACS ndash Agente Comunitaacuterio de Sauacutede)

De uma maneira geral considerando as mulheres do campo e da cidade as

entrevistadas Madalena (2016) e Nina (2016) esclarecem

29 ldquoPerspectivas de aumento da renda da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da

qualidade de vida da famiacutelia assim como o controle das mulheres sobre os resultados econocircmicos de

seu trabalhordquo (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

75

A mulher nunca vai ter liberdade se ela natildeo tiver autonomia financeira

Enquanto ela depender do dinheiro que ela tem que pedir do marido ela

nunca vai ter autonomia ela nunca vai poder fazer aquilo que ela entende

que eacute importante para ela Enquanto ela tiver dependecircncia financeira

(Entrevista com Madalena em 20092016)

A pessoa para ser independente tem que ter um trabalho Ficar dependendo

do marido que bate aiacute ela vai laacute e retira a queixa porque ele taacute botando

comida dentro de casa para sustentar os filhos Como eacute que vai sobreviver

(Entrevista com Nina em 27092016)

Para a entrevistada Vana (2017) eacute fundamental que as mulheres dependentes

financeiramente dos maridos se informem a respeito da violecircncia domeacutestica para se

defenderem de alguma situaccedilatildeo ameaccediladora

Porque ela fica informada neacute E natildeo fica dependendo soacute do marido Porque

quando a gente natildeo eacute informada toda coisinha ldquoMarido me daacute um dinheirordquo

e ela fica sabendo porque na hora que ele sentar a matildeo nela ela jaacute sabe para

onde vai correr Soacute se ela for muito covarda apanhar quebrar os dentes de

noite e natildeo dizer nada (Entrevista com Vana em 22052017)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo poliacutetica30

do empoderamento o indicador de ampliaccedilatildeo de

participaccedilatildeo das mulheres em instacircncias de poder pode ser considerado negativo Apesar de

que como citado na problemaacutetica o empoderamento apresenta caraacuteter processual (AMORIM

2012) sendo esse processo complexo e marcado por contradiccedilotildees (MANESCHY

SIQUEIRA AacuteLVARES 2012)

As dirigentes e ex-dirigentes do sindicato consideram que houve uma mudanccedila de

vida apoacutes a filiaccedilatildeo conforme detalhado nos depoimentos seguintes

Mudou para mim Ateacute o marido dizer assim ldquoEacute depois que ela taacute

trabalhando no sindicato ela jaacute se mandardquo ldquoEu me mando mesmo porque

agora eu conheccedilo os meus direitos Natildeo faz mais graccedila comigo natildeordquo

(Entrevista com Vana em 22052017)

A minha experiecircncia foi boa Isso amadureceu demais fez com que eu

fizesse outros cursos me interessasse tanto que ateacute hoje eu to ligada agrave zona

rural por causa disso Eu conheci diretamente fez despertar a minha vida

porque mudou praticamente a minha vida os cursos do sindicato a partir das

palestras junto com a CPT Jaacute pensou se eu natildeo despertasse essa consciecircncia

ateacute hoje natildeo taria com o risco de estar com esse homem Ele jaacute teria me

matado eu acho Jaacute teria me matado com certeza porque ele soacute falava nisso

() Entatildeo de certa forma influenciou diretamente na minha vida para

melhor Estar no sindicato foi uma grande experiecircncia de vida (entrevista

com Tereza em 19052017)

30

Ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo em instacircncias de poder (BRUMER ANJOS 2010 p 221)

76

Mudou sim Com certeza sim eu avalio assim que mudou por conta da

bagagem de conhecimento porque quando eu entrei no movimento social eu

era urbanista totalmente urbanista eu natildeo entendia nada de ruralista Entatildeo

foi aonde que eu fui aprender a conhecer a minha categoria que hoje eu sou

qualificada () Entatildeo para mim foi muito bom foi muito rico participar do

sindicato (Entrevista com Maria em 14072017)

O depoimento da entrevistada Tereza (2017) revela a eficaacutecia das praacuteticas sindicais de

formaccedilatildeo informaccedilatildeo e empoderamento pois conhecer as leis e receber orientaccedilotildees para um

comportamento combativo eacute fundamental para mudar esse quadro de violecircncia apresentado

nos depoimentos

Os principais indicadores de empoderamento analisados foram envolvimento das

mulheres nas conquistas do sindicato (dimensatildeo social acircmbito puacuteblico) renda (dimensatildeo

econocircmica acircmbito privado) ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo das mulheres nas instancias de poder

(dimensatildeo poliacutetica acircmbito puacuteblico) existecircncia ou natildeo de discriminaccedilatildeo (dimensatildeo pessoal

acircmbito puacuteblico) e existecircncia ou natildeo de violecircncia domeacutestica (dimensatildeo pessoal acircmbito

privado)

Para finalizar essa seccedilatildeo segue depoimento do entrevistado Luiacutes (2017)

Eu acho que as mulheres quando assumem o cargo delas satildeo muito

guerreiras elas satildeo competentes elas tentam dar o maacuteximo de si para dar

certo Elas satildeo menos concentradoras de que os homens Eu acho que o que

falta para a mulher eacute oportunidade Mas elas sempre criaram coragem e

buscaram a oportunidade delas sem ter medo de ser feliz (Entrevista com

Luiacutes em 19052017)

O entrevistado Luiacutes eacute um dos dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das mulheres como

protagonistas do sindicato

77

6 CONCLUSOtildeES

Objetivei com essa dissertaccedilatildeo analisar o processo de empoderamento das mulheres

dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Marabaacute A pesquisa

exigiu de mim aleacutem do preparo teoacuterico-metodoloacutegico coragem e maturidade emocional por

se tratar de imersatildeo em campo polecircmico marcado por conflitos diversos e com o qual eu

tinha relativa afinidade e contato desde longo tempo embora dele natildeo fizesse parte Analisar

esse processo por dentro do sindicato tornou-se uma experiecircncia enriquecedora pessoal e

academicamente

Com o desenvolvimento da pesquisa identifiquei que as mulheres do STTR de

Marabaacute participaram de lutas variadas e obtiveram determinadas conquistas mas tambeacutem

foram viacutetimas de discriminaccedilatildeomachismo e violecircncia domeacutestica no decorrer da militacircncia

sindical As conquistas ndash classificadas como indicadores de empoderamento nas dimensotildees

poliacutetica e social ndash se referem ao acesso agrave sindicalizaccedilatildeo agraves mulheres que se destacaram como

lideranccedilas na organizaccedilatildeo dos acampamentos e das associaccedilotildees dos projetos de

assentamentos conquistas especiacuteficas relacionadas agrave sauacutede da mulher como prioridade de

atendimento das mulheres da zona rural nos postos municipais de sauacutede utilizaccedilatildeo das

unidades de sauacutede moacuteveis nas vilas rurais e apoio agrave criaccedilatildeo do CRISMU ndash Centro de

Referecircncia Integrado agrave Sauacutede da Mulher A conquista mais recente das mulheres refere-se agrave

paridade de gecircnero ou seja a partir da proacutexima eleiccedilatildeo da diretoria do sindicato a

porcentagem de dirigentes seraacute de 50 mulheres e 50 homens Esse indicador de

empoderamento na dimensatildeo poliacutetica provavelmente influenciaraacute nas outras dimensotildees

considerando que com mais mulheres nas instacircncias de poder do sindicato as demandas

feministas geralmente reprimidas estaratildeo em pauta com mais frequecircncia e visibilidade

A partir das entrevistas realizadas com as mulheres concluiacute que as relaccedilotildees de poder

satildeo caracterizadas por conflitos e tensotildees em virtude da dominaccedilatildeo masculina nas instacircncias

de decisatildeo do sindicato Todavia as mulheres conseguem construir o empoderamento nas

dimensotildees analisadas numa mescla de avanccedilos e recuos atraveacutes de enfrentamentos com os

dirigentes homens Esses enfrentamentos satildeo agravados quando se acrescenta a questatildeo

geracional por definir padrotildees de comportamento cristalizando as hierarquias sociais Na

visatildeo das mulheres o empoderamento ocorre atraveacutes de vaacuterias formas como quando as

mulheres possuem autonomia financeira (renda proacutepria) poder de decisatildeo pessoal autoestima

elevada poder de decisatildeo enquanto dirigente do sindicato quando as mulheres conseguem

78

vencer a discriminaccedilatildeomachismo quando participam ativamente da poliacutetica de cursos de

formaccedilatildeo e eventos como marchas passeatas entre outros

A partir das entrevistas realizadas com os homens concluiacute que predomina o discurso

de que os homens estatildeo na linha de frente como forma de ldquoprotegerrdquo as mulheres dos

embates Entretanto foi possiacutevel identificar homens dirigentes sensiacuteveis agrave participaccedilatildeo das

mulheres como protagonistas Na visatildeo dos homens do sindicato as mulheres constroem o

empoderamento atraveacutes da participaccedilatildeo delas no processo de luta pela terra (organizaccedilatildeo dos

acampamentos e assentamentos) da participaccedilatildeo em cursos de formaccedilatildeo que permitem

conhecer os seus direitos na implantaccedilatildeo da poliacutetica de cotas de 30 para as mulheres e

posteriormente na conquista da paridade de gecircnero cuja demonstraccedilatildeo maior foi a eleiccedilatildeo da

primeira mulher para presidecircncia da FETAGRI

O sindicalismo de trabalhadores e trabalhadoras rurais eacute uma praacutetica poliacutetica que

favorece o avanccedilo da consciecircncia profissional mas igualmente de posicionamentos

existenciais coerentes com a cidadania nas formas e conteuacutedos da modernidade A pressatildeo

externa seja no acircmbito da militacircncia sindical no niacutevel nacional seja na propagaccedilatildeo dos

direitos das mulheres nas miacutedias satildeo fatores que influem positivamente na ampliaccedilatildeo das

conquistas das mulheres no STTR em que pese a permanecircncia significativa de

posicionamentos conservadores e anacrocircnicos

A pesquisa apresentou limitaccedilotildees metodoloacutegicas referentes agrave coleta de dados do

indicador de empoderamento na dimensatildeo econocircmica (renda) contudo a problematizaccedilatildeo

ocorreu a partir dos dados possiacuteveis de serem coletados e da literatura mobilizada

A violecircncia domeacutestica foi um dos indicadores mais citados nas entrevistas realizadas

em todas as suas formas fiacutesica psicoloacutegica sexual patrimonial e moral tornando-se um

indicador de desempoderamento O aumento da denuacutencia e o combate agrave violecircncia contra a

mulher materializado em particular na Lei Maria da Penha eacute revelador da importacircncia do

debate e da promoccedilatildeo de eventos que trabalhem com essa temaacutetica

No espaccedilo da militacircncia sindical em que pesem todos os seus limites e condicionantes

em ambientes dominados por homens como o do STTR de Marabaacute haacute um favorecimento ao

debate sobre a igualdade de gecircneros e circulam informaccedilotildees e estiacutemulos nas atividades de

formaccedilatildeo que levam a um reposicionamento das mulheres no campo da poliacutetica profissional

Resta saber se esse reposicionamento surge da proacutepria base ou se eacute fruto de encaminhamentos

79

de reuniotildees de acircmbito federal eou estadual em que esses temas satildeo tratados para serem

trabalhados na base

O principal desafio das mulheres eacute continuar lutando atraveacutes de uma agenda

permanente para superar a violecircncia domeacutestica e a discriminaccedilatildeo garantindo que prevaleccedila

um trabalho de parceria e respeito entre as mulheres e homens do sindicato pesquisado

80

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Justiccedila do Estado do Paraacute ndash Beleacutem 2012

87

APEcircNDICE A ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA (CAMPO EXPLORATOacuteRIO)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE __________________________________

ENTIDADES QUE TRABALHOU ____________________________________________

FORMACcedilAtildeO ______________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL DA ENTREVISTA __________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a luta pelas mulheres Em que local e em que movimento O

que a motivou

3 Quais pontos importantes que destaca

4 Quais pontos importantes que destaca na luta das mulheres em Marabaacute

Acontecimentos e lideranccedilas importantes

5 Principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu cotidiano

e em particular as mulheres rurais (se tiver experiecircncia)

6 Conquistas das mulheres

7 Desafios das mulheres

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

88

APEcircNDICE B ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES DIRIGENTES DO

STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

DIRIGENTE DO STTR ___________________ RELIGIAtildeO ______________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO _________ FIM ____________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo Qual

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no sindicato Houve alguma

mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no

sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

89

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do STTR de Marabaacute Vocecirc se sentiu discriminada

por ser mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por quecirc

17 Quais os desafios das mulheres do STTR de Marabaacute

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

90

APEcircNDICE C ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MULHERES ASSESSORAS

TEacuteCNICAS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que a motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute) Em que gestatildeo

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Nos lugares onde trabalhou vocecirc se sentiu discriminada por ser mulher Como

reagiu

9 Quais os desafios das mulheres do sindicato

10 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

91

APEcircNDICE D ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS DIRIGENTES

(ATUAIS E EX DIRIGENTES) DO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ____________________________________________________________________

IDADE ____________________ NATURALIDADE ____________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ________________________ TEM FILHOS _____________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ______________ INIacuteCIO _________ FIM ______________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Qual funccedilatildeocargo que exerce (exerceu) no STTR de Marabaacute

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de

Marabaacute (STTR de Marabaacute) Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do STTR de Marabaacute As

mulheres participaram desses eventos

4 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo das mulheres na gestatildeo do STTR de Marabaacute eacute

importante Como vocecirc avalia essa participaccedilatildeo

5 Fale sobre a poliacutetica de cotas ou outras referentes agraves mulheres que tem sido

adotada pela organizaccedilatildeo Quais os cargos que as mulheres tecircm ocupado na

organizaccedilatildeo

6 Vocecirc percebe alguma dificuldade enfrentada pelas mulheres no seu cotidiano e

nas atividades do STTR de Marabaacute Quais

7 Existe alguma conquista especiacutefica das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

Qual

8 Quais os desafios das mulheres filiadas ao STTR de Marabaacute

92

APEcircNDICE E ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA HOMENS ASSESSORES

TEacuteCNICOS AO STTR DE MARABAacute

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ________________________

ENDERECcedilO ______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE _______________________________________________

ESTADO CIVIL ___________________ TEM FILHOS ________________________

RELIGIAtildeO ______________________________________________________________

ENTIDADES EM QUE ATUOU ______________________________________________

___________________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ________________ INIacuteCIO __________ FIM ___________

LOCAL__________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Como iniciou a assessorialuta pelas mulheres Em que local e em que

movimento O que o motivou

3 Quando passou a assessorar o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Marabaacute (STTR de Marabaacute)

4 Em sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no

sindicato Como assim

5 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta do sindicato As mulheres

participaram desses eventos

6 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas ao sindicato

7 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades do sindicato

8 Quais os desafios das mulheres do sindicato

9 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

93

APEcircNDICE F ndash ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PRESIDENTE ESTADUAL DA

FETAGRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

NOME ___________________________________________________________________

IDADE _______________ NATURALIDADE ___________________________

ENDERECcedilO _______________________________________________________________

NIVEL DE ESCOLARIDADE ________________________________________________

ESTADO CIVIL ______________________ TEM FILHOS _______________________

RELIGIAtildeO ________________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA ____________ INIacuteCIO________ FIM _________________

LOCAL___________________________________________________________________

IMPRESSOtildeES______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

1 Falar da trajetoacuteria de vida

2 Quando se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Como ou atraveacutes de quem se filiou ao STTR

3 Participa de alguma outra forma de organizaccedilatildeo social ou oacutergatildeo de

representaccedilatildeo poliacutetica Que tipo

4 Vocecirc considera que houve alguma mudanccedila em sua vida apoacutes a filiaccedilatildeo ao

sindicato Qual E apoacutes assumir cargo na FETAGRI

5 O que o seu maridofilho acha da sua participaccedilatildeo no movimento sindical

Houve alguma mudanccedila na sua relaccedilatildeo com seu cocircnjuge apoacutes sua

filiaccedilatildeoparticipaccedilatildeo no sindicato

6 Na sua opiniatildeo a participaccedilatildeo dos homens e das mulheres eacute igual no sindicato

Como assim

7 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens nas reuniotildees que contam com muitas

mulheres presentes

8 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo dos homens durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

9 Como vocecirc vecirc a participaccedilatildeo das mulheres durante as reuniotildees conduzidas por

mulheres

10 Como vocecirc vecirc a sua contribuiccedilatildeo para a sua famiacutelia ter uma vida melhor

11 Quem administra a renda na sua famiacutelia Qual sua renda pessoalfamiliar

12 Na sua opiniatildeo o que eacute mais importante para uma mulher poder decidir sobre

sua proacutepria vida

13 Quais pontos importantes que vocecirc destaca na luta dos sindicatos e da

FETAGRI As mulheres participaram desses eventos

14 Quais as conquistas especiacuteficas das mulheres filiadas aos sindicatos e agrave

FETAGRI

94

15 Quais os principais entraves e dificuldades enfrentados pelas mulheres no seu

cotidiano e nas atividades da FETAGRI Vocecirc se sentiu discriminada por ser

mulher

16 Caso seja mencionado algum tipo de violecircncia domeacutestica jaacute fez alguma

denuacutencia das agressotildees Se natildeo fez por que

17 Quais os desafios das mulheres da FETAGRI

18 Quais as perspectivas para o futuro em relaccedilatildeo agrave luta das mulheres

95

APEcircNDICE G ndash TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

EMBRAPA AMAZOcircNIA ORIENTAL

NUacuteCLEO DE CIEcircNCIAS AGRAacuteRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM AGRICULTURAS AMAZOcircNICAS

Curso de Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash MAFDS

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu________________________________________________________________________

CPF____________________ RG_______________________ depois de conhecer e entender

os objetivos procedimentos metodoloacutegicos riscos e benefiacutecios da pesquisa bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem eou depoimento especificados no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) AUTORIZO atraveacutes do presente

termo os pesquisadores (Pesquisadora LUCIANA MOREIRA DOS REIS Orientador Prof

Dr GUTEMBERG ARMANDO DINIZ GUERRA) da dissertaccedilatildeo de mestrado intitulada

ldquoEmpoderamento de mulheres no sindicalismo rural de Marabaacute-PArdquo a realizar as fotos que se

faccedilam necessaacuterias eou a colher meu depoimento sem quaisquer ocircnus financeiros a nenhuma

das partes Ao mesmo tempo libero a utilizaccedilatildeo destas fotos eou depoimentos para fins

cientiacuteficos e de estudos (livros artigos slides) em favor dos pesquisadores da pesquisa

acima especificados obedecendo ao que estaacute previsto nas Leis que resguardam os direitos das

crianccedilas e adolescentes (Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA Lei Nordm 8069 1990)

dos idosos (Estatuto do Idoso Lei Ndeg107412003) e das pessoas com deficiecircncia (Decreto

Nordm 32981999 alterado pelo Decreto Nordm 52962004)

Marabaacute ndash PA ______ de _________ de 2017

_______________________________

Pesquisadora responsaacutevel

_______________________________

Sujeito da Pesquisa

96

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 01)

97

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 02)

98

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 03)

99

ANEXO A ndash ATA DE ELEICcedilAtildeO E POSSE DA ATUAL DIRETORIA DO STTR DE

MARABAacute (PAacuteGINA 04)

100

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (FRENTE)

101

ANEXO B ndash CARTA SINDICAL DO STTR DE MARABAacute (VERSO)

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Page 12: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,
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Page 22: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,
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Page 29: Universidade Federal do Pará Instituto Amazônico de ...repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/10230/1/...Pesquisas Eneida de Moraes sobre Mulher e Relações de Gênero – GEPEM/UFPA,
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