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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI Francirosa da Silva Rodrigues A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO EM UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA Teresina 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI

Francirosa da Silva Rodrigues

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO

EM UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA

Teresina

2013

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Francirosa da Silva Rodrigues

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIOEM UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA

Monografia apresentada ao Curso deLicenciatura Plena em Pedagogia, doCentro de Ciências de Educação daUniversidade Federal do Piauí, comorequisito parcial para a obtenção dotítulo de Licenciada em Pedagogia, soborientação da Profª. Drª. Ana ValériaMarques Fortes Lustosa.

Teresina

2013

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Francirosa da Silva Rodrigues

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO EM UMAPERSPECTIVA INCLUSIVA

Monografia apresentada ao Curso deLicenciatura Plena em Pedagogia, doCentro de Ciências de Educação daUniversidade Federal do Piauí, comorequisito parcial para a obtenção dotítulo de Licencianda em Pedagogia, soborientação da Profª Ana Valéria MarquesFortes Lustosa.

Aprovada em: ____/____/___

______________________________________________________________

Prof.ª Dra Ana Valéria Marques Fortes Lustosa.

______________________________________________________________

Profxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

______________________________________________________________

Profxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Teresina

2013

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Dedico essa conquista a Deus e à minha família, emespecial, a meu marido, Jaerson, a minha mãe, aDelzuite, e a meu pai, Francisco, por serem meualicerce e por me fazerem acreditar em minhacapacidade.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me guiado pelos caminhos certos, pela força e coragem para enfrentar

todos os desafios;

A meus pais - Delzuite Rosa da Silva e Francisco Pereira Rodrigues - por serem minha

inspiração e pelo apoio nos momentos mais necessários;

A meu esposo - Jaerson - pela companhia em cada momento da elaboração deste

trabalho;

A minha irmã - pelo apoio e ajuda;

A minha orientadora - Ana Valéria Marques Fortes Lustosa - pelos importantes

esclarecimentos;

Em fim, a todos que prestaram auxilio das mais diversas formas durante minha

formação.

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“Respeitar primeiro, educar depois”.

Jussara Hoffmann

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RESUMO

O trabalho do professor do ensino médio com alunos que possuem necessidades

educacionais especiais, visando a inclusão destes, não é um tema muito discutido

atualmente por pesquisadores desse campo de estudo. Investigar esse assunto foi o

objetivo desta pesquisa, pois consideramos que a formação do professor é fundamental

para inclusão daqueles que possuem algum tipo de necessidade educacional. O

referencial teórico adotado contemplou estudiosos como Mantoan (2003; 2005),

Perrenoud (1993; 2002), Glat (1995; 2011), Barreiro (2006), dentre outros. Esta

pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada no período de outubro a novembro de

2012, na cidade de Campo Maior, no Estado do Piauí, e envolveu a participação de

professoras do Ensino Médio que atuam no sistema público de educação. A coleta dos

dados foi feita por meio de uma entrevista realizada na sede da escola. Os resultados da

pesquisa apontam que os professores do ensino médio não se encontram aptos a

trabalhar com esses alunos, o que torna ainda muito mais distante de termos uma

educação inclusiva. Nos relatos desses professores eles apontam a falta de capacitação

eficiente para poderem lidar com esses alunos que possuem alguma necessidade

educacional especial.

PALAVRAS- CHAVE: Inclusão. Formação de Professores. Ensino Médio.

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ABSTRACT

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................

1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA INCLUSÃO......................................

1.1. A Inclusão de Pessoas com Deficiência: Constituição no Âmbito da Escola

Brasileira...............................................................................................................

1.2. Legislação internacional e nacional que ampara a inclusão............................

1.3. Princípios da Inclusão (Escola de Qualidade para Todos)...........................................

2.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da questão da formação dos professores do ensino

médio que lidam com alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) em

escolas do ensino regular, pois se considera que essa questão da inclusão é importante,

uma vez que busca eliminar os obstáculos que existem para muitas pessoas com

necessidades educacionais especiais dentro do ensino regular e incluí-las na forma como

a lei obriga.

Ainda que a legislação nacional (BRASIL, 1996; 2001) determine que a

formação do professor para atuar na Educação Especial pode ser constituída de dois

modos, professores capacitados e especializados, observa-se que, na prática, isso não

está ocorrendo. A única licenciatura que contém conteúdos voltados para a educação

especial é a Pedagogia, o que inviabiliza um trabalho adequado a nível ensino médio.

Em muitos casos, esses docentes encontram dificuldades que os afetam

emocionalmente, fazendo com que eles não tenham chances significativas de

compreender as deficiências desses alunos. Em função disso, surge a necessidade de

maior capacitação que possibilite atuação eficaz desses docentes. Considera-se que é de

fundamental importância que esse professor seja capacitado em processo de formação

adequado para poder identificar e saber lidar positivamente com alunos que possuem

necessidades especiais, a fim de que estes não sofram segregação.

O interesse em realizar este estudo surgiu da observação do fato de que são raras

as pesquisas que tratam da formação dos professores do ensino médio com intuito de

incluir, e não somente integrar, alunos que possuem algum tipo de necessidade

educacional especial.

Buscamos avaliar a formação do professor do ensino médio que trabalha com

alunos com necessidades educacionais, além identificar as dificuldades que esses

profissionais enfrentam para que se tenha um contexto inclusivo, observando se sua

formação contribui para sua prática e como está ocorrendo a inclusão desses alunos no

ensino médio.

Este estudo tem por objetivo geral investigar a formação de professores do

Ensino Médio que trabalham com alunos com necessidades educacionais especiais e,

por objetivos específicos: 1) verificar a capacitação de professores do Ensino Médio em

relação ao trabalho com alunos que possuem necessidades educacionais, observando se

a formação daqueles contribui para o trabalho com estes alunos; 2) analisar como está

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ocorrendo a inclusão de alunos com NEE no ensino médio; 3) identificar as principais

dificuldades que os profissionais da educação enfrentam em relação à inclusão desses

alunos.

No atual contexto social, é imprescindível que os professores estejam preparados

e possuam uma capacitação específica voltada para a inclusão de todos no meio escolar.

Também é necessário condicionar os pais e a comunidade escolar para lidar com os

alunos que possuem NEE, para que aqueles possam participar efetivamente na inclusão

deles. O docente serve como modelo, devendo, pois, compreender as diferenças e

deficiências de seus alunos. Assim, os professores fazem parte do alicerce na construção

do processo de humanização social para a inclusão desses alunos.

Este trabalho foi organizado em três capítulos. O primeiro apresenta os

principais aspectos a respeito da inclusão, seus princípios e principais leis, convenções

que a ampara. No segundo capitulo dissertamos sobre formação inclusiva dos

professores, formação inicial e continuada, bem como aspectos relativos ao ensino

médio. O terceiro capitulo trata da metodologia adotada na pesquisa. Análise e

discussão de dados serão o assunto do quarto capítulo.

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1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA INCLUSÃO

Este capítulo aborda a questão da inclusão de pessoas com deficiência, tanto na

escola quanto nos mais diversos contextos da sociedade. Apresentaremos também a

legislação elaborada no Brasil e aquela decorrente de organismos internacionais que

amparam a inclusão e que constituem marcos na divulgação de novas ideias que

contribuem para a gradativa consolidação da educação inclusiva e de qualidade para

todos.

Em seguida, discutiremos os princípios da inclusão que apontam para uma

escola de qualidade para todos, pregando a sustentabilidade e a reestruturação da escola

a fim de proporcionar as condições necessárias para receber todos os alunos,

independentemente de suas necessidades. Abordaremos ainda o ponto de vista de alguns

autores a respeito de instituições de ensino que fragilizam a aprendizagem e o

desenvolvimento das potencialidades de alunos com Necessidades Educacionais

Especiais (NEE).

1.1. A Inclusão de Pessoas com Deficiência: Constituição no Âmbito da Escola

Brasileira

A inclusão pode ser entendida como aceitação ou acolhimento das pessoas tanto

pela escola quanto pela sociedade, sendo que estas devem se adequar àquelas pessoas, e

não o contrário.

Inclusão é um termo muito amplo que busca trabalhar com as diversidades

individuais dentro da sociedade, ou seja, busca destacar o que cada pessoa pode

contribuir com as demais para sair dos padrões que são estabelecidos pela sociedade.

Segundo Mantoan (2003), a “inclusão implica uma mudança de perspectiva

educacional, pois não atinge apenas alunos com deficiência e os que apresentam

dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente

educativa geral”. Concordamos com a autora, pois consideramos que é a partir da

inclusão que todos podem vir a ter direitos iguais, assim como torna-se possível

desenvolver nas crianças ditas normais, o respeito, a solidariedade em relação às

pessoas que apresentam alguma diferença.

Mantoan (1997, p. 120) afirma também que:

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A inclusão é um motivo para que a escola se modernize e osprofessores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusãoescolar de pessoas deficientes torna-se uma consequência natural detodo um esforço de atualização e de reestruturação das condiçõesatuais do ensino básico.

Nesse sentido, consideramos que os professores têm que adquirir autonomia e

atualizar sua prática a partir da busca permanente de maior qualificação. A escola tem

enorme responsabilidade pela formação não só do professor, mas também dos alunos,

uma vez que se constitui como a principal instituição formativa após a família. É

fundamental, pois, que se prepare para a inclusão reestruturando suas bases.

Já Sassaki (1997, p. 41) vê a inclusão como:

[...] ‘um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir,em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis nasociedade’.

Percebemos que na visão de Sassaki (1997) a inclusão se apresenta de modo

mais amplo, uma vez que abrange não somente a escola, mas a sociedade como um

todo. Sua concepção é de que as pessoas com necessidades educacionais especiais

podem se inserir nos contextos mais diversos da sociedade, como o mercado de

trabalho, de modo a se tornarem autônomas e, assim, demonstrarem suas capacidades.

Quando falamos em inclusão devemos atentar para as diferenças que são

encontradas em sala de aula, onde os alunos com necessidades educacionais especiais

são vistos como incapazes de desenvolver atividades normais. Na verdade,

consideramos que a diversidade é que é o normal, não a homogeneidade. Logo,

considerar como incapazes as pessoas com deficiência é desconsiderar essa premissa

básica.

Para Morinã (2004, apud DÍEZ, 2005, p.16): “A educação inclusiva se concebe

como um processo inacabado que desafia a qualquer situação de exclusão, procurando

mecanismos para eliminar as barreiras que obstaculizam uma educação para todos”.

O autor considera a inclusão necessária, pois possibilita a participação de todos

como cidadãos, considerando suas realidades, suas dificuldades e as limitações de cada

um. Dessa forma, devem ser criados meios de romper esses obstáculos para vencer a

exclusão dentro da sociedade, com vistas a buscar, cada vez mais, melhor convivência e

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aceitação de cada sujeito. Aprender, conhecer e respeitar esses limites individuais

também é importante para termos uma verdadeira inclusão.

Considerando o âmbito acadêmico, Mantoan (2005, p. 13) afirma que dentro das

escolas comuns a aceitação dos alunos com deficiência ainda enfrenta grandes barreiras

e que:

‘Os avanços da escola brasileira nessa direção têm acontecido muitolentamente, e o número crescente de alunos outrora excluídos dasturmas do ensino comum (notadamente os alunos com deficiência) éuma provocação constante nesse sentido’.

Assim, para que tenhamos inclusão nas escolas é preciso uma mudança de

atitude dentro do sistema de ensino das escolas comuns em relação aos alunos com

necessidades especiais, é necessário também começar a se pensar que o que existe de

fato são os limites, e não diferenças. “Uma escola inclusiva é, assim, uma escola onde

toda a criança é respeitada e encorajada a aprender até o limite das suas capacidades.

Mas, como construí-la? [...]” (MARTINS, 2011, apud CORREIA, 2008, p. 7). É fato

que ainda não temos uma escola perfeita para todos em função da elevada

competitividade e do individualismo. Podemos apontar ainda o fato de a escola seguir o

padrão de sociedade cujo interesse está voltado para a quantidade e não para qualidade

no ensino. De fato, há atualmente um maior número de alunos incluídos, mas não são

garantidas as condições mínimas para a permanência.

A inclusão é um tema muito complexo que abrange a escola e a sociedade, mas

o que vem a ser uma escola para todos? Sabemos que ela é possível, contudo árdua.

Para tanto, é necessário que enfrentemos as dificuldades e barreiras que a sociedade

impõe a essa proposta.

Correia (2008, p.7) considera que:

[...] ‘movimento inclusivo tende a prescrever a classe regular de umaescola regular como um local ideal para as aprendizagens do alunocom NEE. Será aí, na companhia de seus pares sem NEE, que eleencontrará o melhor ambiente de aprendizagem e de socialização,capaz de, se todas as variáveis se conjugarem, vir a maximizar o seupotencial’.

O autor vai além quando afirma que essa inclusão deve começar nas classes

regulares, pois é dentro delas que esses alunos com necessidades educacionais especiais

irão construir suas habilidades e capacidades em um contínuo processo de socialização.

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Sabemos, contudo, que na atual sociedade existe discriminação quanto às

diferenças individuais, fato que torna a inclusão mais difícil de ser alcançada.

A respeito da inclusão, Glat (1995, p.17), afirma que:

‘A segregação social e a marginalização dos indivíduos com supostasdeficiências têm raízes históricas profundas, e a sua integração escolarnão pode ser vista apenas como um problema de políticas públicas,pois envolve, sobretudo, ‘o significado ou a representação que aspessoas (no caso, os professores) têm sobre o deficiente, e como essesignificado determina o tipo de relação que se estabelece com ele’.

Verificamos, com essa afirmação, que as dificuldades encontradas para que haja

uma real inclusão não estão somente relacionadas à falta de políticas governamentais,

urge primeiramente conscientizar os professores, os alunos e a sociedade como um todo

de que pessoas com NEE não são diferentes. O professor antes mesmo de ser um

mediador para os alunos é um ser humano que deve criar laços com estes, tanto com os

que possuem algum tipo de necessidade como os que não possuem. Um dos primeiros

passos para a inclusão dentro das classes regulares é a quebra dos paradigmas impostos,

fazendo com que esses educadores busquem uma humanização social com o propósito

de valorizar as diferenças.

Beyer explica (2005, p.13) que:

‘[...] uma escola para todos nunca existiu. A escola inclusiva ou aescola com uma proposta de inclusão escolar tem se proposto (aomenos paradigmaticamente) atender todas as crianças, sem qualquerexceção. Neste sentido, não determina distinções de espécie alguma,no que tange ás características diversificadas de aprendizagem de seusalunos’.

Até aqui, fica evidente que a construção de uma escola para todos nunca foi

desenvolvida. Portanto, a inclusão deve ser estabelecida nas escolas sendo necessário

que as mesmas saiam do essencialismo e modifiquem seus padrões a fim de melhorar

seu modo de ensinar. É ainda importante que as escolas deem mais atenção a alunos

com necessidades educacionais especiais, bem como àqueles que se encontrem em

condições excludentes.

A escola, em geral, deve conhecer e saber lidar com possíveis processos de

exclusão, buscando interesse no desenvolvimento educativo desses alunos. O professor

tem também o papel de reconhecer essas situações, que são observadas em escolas que

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segregam alunos com algum tipo de deficiência. Ele deve ainda trabalhar com vistas a

revertê-las.

O sistema educacional deve atuar com foco na valorização do próximo e no

desenvolvimento de suas habilidades, dando especial atenção àqueles que apresentam

dificuldades na aprendizagem, evitando assim a repetência e a evasão escolar.

É importante ressaltar que para haver uma educação inclusiva não basta apenas

conscientizar professores, alunos e sociedade. Para que ela possa existir são necessários

também recursos, como por exemplo, computadores e canetas adaptados, banheiros

modificados, rampas, dentre outros. Esses recursos proporcionam práticas mais amplas

para alunos com NEE dentro das salas de aulas e também no acesso a elas.

‘No desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos, as ajudastécnicas e a tecnologia assistiva estão inseridas no contexto daeducação brasileira, dirigidas à promoção da inclusão dos alunos nasescolas. Portanto, o espaço escolar deve ser estruturado como aqueleque oferece também os serviços de tecnologia assistiva1 (BRASIL,2006, p.19)’.

A tecnologia assistiva busca superar as dificuldades que essas pessoas podem

enfrentar, auxiliando-as a participar efetivamente no processo de aprendizagem nas

escolas de ensino regular, objetivando também assistir cada aluno independentemente

de suas dificuldades. Saad (2003) aponta que a escola, diante da determinação legal para

receber alunos com necessidades educacionais especiais, não está preparada em termos

de recursos humanos e infraestrutura.

A situação dos professores do ensino médio torna-se ainda mais temerária, pois

na maioria dos cursos de licenciatura, à exceção do curso de Pedagogia, não há na grade

curricular uma disciplina obrigatória que trate da educação especial na sua formação

inicial. Esse fato gera consequências negativas para o desenvolvimento educacional de

alunos com NEE. Para reverter essa conjuntura faz-se necessário que os docentes

adquiram conhecimentos suficientes, por meio de capacitação, a fim de proporcionar

um ensino de qualidade para esses alunos.

A questão da inclusão constitui-se em um assunto que vem a cada dia ganhando

importância na sociedade. Diante dessa realidade foram surgindo uma série de leis,

1 Tecnologia Assistiva significa [...] qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática utilizandopor pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente produzido ou geralmente disponível paraprevenir, compensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar aautonomia e a qualidade de vida dos indivíduos. (UNESCO, 2007, p. 29)

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convenções, dentre outros documentos que tratam dessa questão. Esse será o tema do

próximo tópico.

1.2. Legislação Internacional e Nacional que Ampara a Inclusão

Podemos dizer que a luta das pessoas com necessidades especiais tomou um

novo rumo a partir da Constituição Federal de 1988. Este inovador documento jurídico

tem como principal fundamento a dignidade da pessoa humana e ressaltamos que esse

princípio engloba todas as pessoas, inclusive aquelas que possuem algum tipo

necessidade educacional especial.

Notamos que o movimento pela inclusão teve início “a partir de 1990 quando

então2 foram publicados documentos e leis no sentido de construir uma escola numa

perspectiva inclusiva, ou seja, uma escola aberta para receber todos sem qualquer tipo

de distinção” (MARTINS, 2011, p.52).

A Conferência Mundial sobre a Educação para Todos, realizada na cidade de

Jomtien, na Tailândia, em 1990, defendeu a necessidade de aprendizagem para todas as

pessoas como compromisso mundial na garantia de “instrumentos essenciais para a

aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de

problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos,

habilidades, valores e atitudes)” (BRASIL, 1990, p. 2) tendo em vista uma sociedade

mais justa. Sendo que os países que participaram tiveram que apresentar um Plano

Decenal, de acordo com as metas e diretrizes do plano de Ação. No Brasil, esse Plano

Decenal de Educação para Todos foi contemplado em 1993 e 2003.

A atual lei que ampara a inclusão no Brasil é Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de

1996, conhecida como Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDBEN).

Esse diploma prediz em seu artigo 59 que:

Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organizaçãoespecífica, para atender as suas necessidades;II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir onível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude desuas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo oprograma para os superdotados;

2 Grifo meu

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III – professores com especialização adequada em nível médio ousuperior, para atendimento especializado, bem como professores doensino regular capacitados para a integração desses educandos nasclasses comuns;IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetivaintegração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas paraos que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo,mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como paraaqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas,intelectual ou psicomotora. (BRASIL, 1996, p.).

Nesse artigo podemos encontrar alguns dos avanços propostos pela lei, ou seja,

os sistemas de ensino devem se adequar às necessidades de cada um dos alunos a fim de

possibilitar um ensino efetivo dos conteúdos programáticos. Também podemos

enfatizar a terminalidade, isto é, uma forma de concluir o período de ensino para os

alunos que não tem condições de cursar em tempo regular seus estudos.

A lei ainda assegura a necessidade de qualificação dos professores para que estes

possam atuar adequadamente com alunos que possuem necessidades especiais. É

importante que o docente se sinta preparado e não fique constrangido dentro da sala de

aula ao se deparar com o aluno especial. Assegura também um efetivo espaço para o

trabalho dessas pessoas com alguma necessidade especial, para efetivá-los no meio

social, dando condições necessárias para atuarem junto aos meios competitivos.

A LDBEN, portanto, propõe uma ideia inovadora para a educação, que se

constitui em ações positivas a fim de consolidar a educação inclusiva e a garantia de

direitos aos educandos com NEE. Nesse sentido, é a primeira Lei de Diretrizes e Bases

da Educação a dedicar um capítulo inteiro à educação especial.

No contexto internacional, a Declaração de Salamanca representa um marco na

luta pelos direito à educação das pessoas com deficiência em sistema de ensino regular.

Essa declaração tratou, entre outros assuntos, sobre princípios, política e práticas na área

das necessidades educacionais especiais.

As principais diretrizes proclamadas na Declaração de Salamanca foram, em

resumo, que a educação é um direito fundamental de todas as crianças. Estas possuem

características e necessidades de aprendizagem singulares, devido a isso, os sistemas de

ensino devem implementar programas educacionais sempre considerando a diversidade

dessas características e necessidades.

Ainda, segundo a Declaração, aqueles que possuem NEE devem frequentar o

ensino regular, tendo uma educação voltada para satisfação das suas necessidades. A

citada Declaração preleciona que para o combate à discriminação é necessária a

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implementação de escolas inclusivas, por meio das quais há de se promover uma

educação efetiva, bem como a eficácia de todo o sistema educacional.

A Convenção da Guatemala (1999) foi outro documento que abordou a questão

da inclusão. Nesse sentido, foi:

‘Promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que aspessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdadesfundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminaçãocom base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possaimpedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suasliberdades fundamentais. (BRASIL, 2007, p.11)’.

Esta Convenção foi elaborada a fim de amparar as pessoas com deficiências,

afirmando que as mesmas são titulares dos mesmos direitos e liberdades que as demais.

Além disso, a citada convenção prega a eliminação de barreiras que impeçam os

indivíduos com necessidades de conviverem com outros e define o acesso às escolas

regulares.

A Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, é outro documento que

ampara o atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais. Ela estabelece

que todos os alunos com NEE devem estudar em todas as modalidades do ensino

regular. Além disso, as escolas precisam dispor do apoio de professores especializados

em educação especial para, quando necessário, auxiliar o desenvolvimento desses

alunos na escola.

O Plano Nacional de Educação foi elaborado com o intuito de que as escolas, o

que inclui também o ensino médio, conseguissem incluir as pessoas com necessidades

educacionais especiais, garantindo com isso educação de qualidade para todos.

‘O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, destacaque ‘o grande avanço que a década da educação deveria produzir seriaa construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento àdiversidade humana’. Ao estabelecer objetivos e metas para que ossistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidadeseducacionais especiais dos alunos, aponta um déficit referente à ofertade matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns doensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e aoatendimento educacional especializado. (BRASIL, 2007, p.?)’.

No Brasil, existe a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva, que foi entregue ao Ministro da Educação em 07 de janeiro de

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2008. O objetivo dessa política é garantir a inclusão escolar dos alunos com deficiência

e necessidades educacionais especiais, fazendo com que todos tenham oportunidades

nos diversos níveis educacionais. Outros pontos importantes dessa política são a

participação da família e da comunidade no processo educacional e a acessibilidade no

que diz respeito à estrutura arquitetônica, comunicação na própria escola, além de

acessibilidade no transporte. A formação especializada dos professores também é

abordada nessa política educacional. A esse respeito, Mantoan (2005, p.14) comenta:

‘A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva daEducação Inclusiva traçou seus objetivos tendo em vista reafirmaresse novo lugar da Educação Especial nos sistemas de ensino. Nessesentido, ela é inclusiva e esclarecedora, destacando seu mote decontribuir para a transformação das relações com as diferenças,cultivadas na escola e fora dela, relações estas que são imprescindíveispara que o ensino comum reconheça a necessidade de refazer suaspráticas e de reconstruir-se sob os princípios de valores da inclusão. ’

A Política Nacional de Educação surgiu a fim de confirmar a importância da

educação inclusiva na atual sociedade. Um dos seus objetivos foi dar um novo rumo

para as relações com os alunos, dentro e fora da escola. Glat (2011) assevera que:

‘Os professores que já estão exercendo o magistério devem ter osmesmos direitos assegurados, sendo-lhes oferecidas oportunidadespara uma formação continuada, inclusive em nível de especialização,conforme prevê o Plano Nacional de Educação (Lei nº. 10.172/01)que, dentre os vinte e sete objetivos e metas para a educação daspessoas com necessidades educacionais especiais, dispõe sobre ooferecimento de educação continuada aos professores que estão emexercício. ’

Do exposto, observamos que deve ser oferecido aos professores que atuam com

esses alunos uma formação continuada, com a finalidade de apoiá-los e orientá-los

quanto a seus métodos, objetivando melhorar a qualidade no exercício do magistério.

Ainda temos várias leis, declarações e convenções, tanto no Brasil quanto em

outros lugares do mundo, que trataram sobre a temática da inclusão. Esses documentos

foram muito importantes para a divulgação de uma nova ideia e contribuíram para sua

gradativa consolidação.

Após a discussão sobre esses tratados, leis e convenções que abordam a

inclusão, é muito importante conhecermos um pouco mais a respeito desse assunto.

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Portanto, falaremos agora acerca dos princípios referentes à inclusão, com foco na

consecução de uma escola de qualidade.

1.4. Princípios da Inclusão (Escola de Qualidade para Todos)

Esses princípios referem-se a todas as questões sobre conceitos, valores,

objetivos, temática, bem como condições para efetivação da inclusão, sendo que seu

principal objetivo é uma transformação das escolas a fim de que o ensino transmitido

seja de boa qualidade e se estenda a todos, independentemente das necessidades

individuais de cada um.

A implementação dos princípios da educação inclusiva, embora ainda difíceis de

ser alcançada dentro das atuais escolas, é um desafio que deve ser almejado por todos,

pois eles buscam reformular o ensino para que este se adeque ao modo como a lei o

institui. Uma educação de qualidade é aquela que prima pela igualdade e respeito entre

os alunos, independentemente de suas deficiências.

A luta por uma escola que tenha condições de receber todos os alunos, sem

distinção e preconceito quanto às necessidades especiais destes, vem sendo intensificada

a fim de extinguir escolas segregadoras, isto é, aquelas que isolam os alunos que

possuem necessidades educacionais. Pensamos que esse é um dos caminhos a serem

seguidos para que tenhamos uma sociedade mais inclusiva e humanitária. Martins

(2006, apud MARTINS, 2011, p.52), afirma o seguinte:

‘Mas não basta ser proporcionado o acesso à escola para todos. Urge,principalmente, a oferta de condições para que ocorra a permanênciadesses alunos no ambiente escolar, com qualidade, ou seja,conseguindo interagir bem com seus pares e avançando em suaaprendizagem, de maneira compatível com suas condições. ‘

Deve-se, pois, fomentar as condições necessárias para que os alunos com

necessidades educacionais especiais sejam acolhidos e valorizados, objetivando sempre

a progressão e evitando ao máximo a autoesclusão dos mesmos. É imperativo que esses

alunos sejam estimulados a desenvolverem sua própria autonomia dentro do espaço

escolar, o qual deve propiciar crescimento do aluno nos aspectos cognitivo, afetivo e

cultural.

Os princípios da inclusão propõem que os sistemas educacionais devem

proporcionar oportunidades e educação de qualidade, para que cada um possa atingir

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suas metas na aprendizagem. Além disso, escolas devem estar abertas para a

implantação de programas relacionados à questão da inclusão, buscando também a

participação de todos, escola, família e sociedade, cada um desses entes dando sua

contribuição a fim de construir um ambiente mais inclusivo.

Frente ao que foi abordado, deve-se criar estratégias para a devida estruturação

das escolas que possuem alunos com necessidades educacionais, bem como outros tipos

de deficiência. Há também a necessidade de revisão dos currículos escolares, além da

formação em sentido amplo dos professores do ensino médio, para que os métodos de

ensino sejam repensados e reestabelecidos.

As questões sobre essa formação dos professores do ensino médio serão

esclarecidas em nosso próximo capítulo.

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2. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Esse capítulo trata da formação do professor com foco para a educação

inclusiva. Para efeito de organização, falaremos, primeiramente, sobre a formação em

uma perspectiva geral, seu conceito, e a divisão em formação inicial e continuada. Em

um segundo momento, trataremos da formação voltada especificamente para a educação

especial.

2.1- Conceituação de Formação

A formação objetiva aperfeiçoar conhecimentos e auxiliar os professores na

implantação de novidades, proporcionando um ensino de melhor qualidade para os

alunos. O professor deixa de ser um mero mediador e passa a ser um ponto de referência

para o aluno, pois esse profissional é um dos principais responsáveis pela construção do

conhecimento.

O processo de formação de professores também consiste em uma ação conjunta

para que haja melhorias nas suas práticas, bem como na escola como um todo,

oferecendo conhecimentos importantes à diversidade cultural que há em uma sala de

aula. Piaget destaca (1984, p.62) que:

‘[...] a preparação dos professores constitui questão primordial detodas as reformas pedagógicas em perspectiva, pois, enquanto não forà mesma resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútilorganizar belos programas ou construir belas teorias a respeito do quedeveria ser realizado. ’

Há necessidade de recursos humanos qualificados e, essa qualificação é obtida

por meio de uma formação adequada para os professores. Muitas vezes os próprios

professores não têm responsabilidade em atualizar sua formação, isso também prejudica

a qualidade da educação. A única maneira de proporcionar uma educação adequada para

os alunos é oferecendo uma formação de qualidade para o professor, por isso, não

adianta elaborar programas educativos sem que o alicerce, que é o professor, esteja

devidamente preparado.

É de grande importância à formação do docente, pois ela enriquece sua prática e

acrescenta valores culturais que se farão essenciais no processo educativo. O docente

passar a ter uma visão mais afetiva, ele adquire também maior nível de percepção do

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comportamento e das dificuldades de seus alunos. Conforme Perrenoud (1997, p.93) “A

formação de professores só pode influenciar as suas práticas em determinadas condições

e dentro de determinados limites”. O professor deve ter em mente que, no pensamento

de Paulo Freire (1978) “A educação autêntica, repitamos não se faz de ‘A para B’, ou de

‘A sobre B’, mas de ‘A com B’, mediatizados pelo mundo”.

Muitas vezes, o docente sente-se desmotivado, isso acaba implicando prejuízos

na sua formação e na sua atuação como um professor reflexivo, ou seja, que participe

dos grupos tantos da escola, quanto da sociedade e da comunidade, com um novo

conhecimento.

Nesse contexto, o professor se torna vulnerável, afastando-se da participação

para uma educação democrática. Como estamos num meio muito complexo, que é a

sociedade, esse profissional termina por criar uma visão homogenia, fazendo com que

ele adote o pensamento da classe dominante, a qual se traduz em uma ideologia

excludente. Assim, Imbernón (2002, p.18) afirma que:

‘Em uma sociedade democrática é fundamental formar o professor namudança e para a mudança por meio do desenvolvimento decapacidades reflexivas em grupo, e abrir caminho para uma verdadeiraautonomia profissional compartilhada, já que a profissão docenteprecisa partilhar o conhecimento com o contexto. ’

Para que possa haver mudanças educativas no magistério são necessárias novas

concepções que transformem a educação e, ao mesmo tempo, a sociedade. Talvez, essa

mudança nas condições do trabalho do professor não esteja apenas nele. O professor

acaba por executar o que já está feito por um currículo criado por outros, tornando-o um

mero transmissor. É preciso também que esse profissional tenha autonomia na sua

prática, adequando-a ao contexto no qual está inserido, bem como às necessidades de

cada um de seus alunos.

A LDBEN trata de como deve ser a formação dos professores, trazendo

mudanças em relação à legislações anteriores. A respeito disso, Granville (2007, apud

SANTOS, 2007, p.25) diz que:

‘A LDB 9.394/96, no artigo 62, que representa, sem dúvida, umgrande avanço em relação às leis 5.40/68 e 5.692/71, estabelece que aformação dos profissionais da educação básica deve acontecer emnível superior, em licenciatura plena.’

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Como vimo, a Lei 9.394/96 trouxe inovações e superou leis passadas ao

enfatizar que a formação deve começar nas graduações, em licenciaturas plenas.

Conforme Barreiro (2006, p. 22, 23):

‘A formação [...] é o começo da busca de uma base para o exercício daatividade docente. [...] ocupa lugar ímpar para uma docência dequalidade, pautada numa perspectiva investigativa, tendo a pesquisacomo princípio científico e educativo, como caminho metodológicopara a formação docente. ’

A autora aponta que a formação é o inicio do pensamento do docente sobre o

desenvolvimento de suas práticas, que essencialmente resultam dos conhecimentos

teóricos que são articulados, visando sempre um ensino de melhor qualidade. Ainda

segundo a autora, a formação do professor deve adotar a pesquisa como metodologia

central. Nesse sentido “investigar a realidade pressupõe uma prática orientada também

pela formação em pesquisa, pois ela ‘exerce um papel extraordinário na articulação

entre o conhecimento adquirido ou construído e a prática docente’.” (BARREIRO,

2006, p.23 apud MACIEL, 2004, p.100). Essa afirmação reitera o importante papel da

pesquisa na formação do professor.

O processo de formação do professor envolve conhecimentos adquiridos na

graduação em conjunto com vivências da prática. Melo (2002, p. 53) afirma que:

‘[...] o processo de formação se dá a partir da conjugação dessas duasinstâncias: os saberes acadêmicos e os saberes da prática, sendo queum está contido no outro e ambos pressupõem especificidades que oscaracterizam e os complementam. ’

De acordo com o autor, a ligação entre a teoria e prática é primordial no

desenvolvimento da formação do professor, sendo que estas estão interligadas de modo

intrínseco, não podendo ser estudadas separadamente.

Discutirem nos próximos tópicos sobre a formação inicial, bem como sobre a

necessidade de uma permanente formação continuada que busque respostas para as

variadas situações vivenciadas pelos docentes.

2.2- Formação Inicial e Continuada (Capacitação)

2.2.1- Formação Inicial

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O professor exerce uma função muito complexa, que é a de proporcionar

conhecimento aos sujeitos que estão iniciando sua vida em sociedade, além do mais

esse profissional é responsável pela educação e pelos cuidados básicos que estes

necessitam. Diante disso, o professor necessita de meios adequados para trabalhar no

sentido de que a sua atuação reflita positivamente no meio social em que vive. De

acordo com Ramos (2002, p.47):

‘O usualmente esperado de um curso de formação é que ele forme oacadêmico ou, no mínimo, contribua com a sua formação. Formaçãoesta que vai além da finalidade de conferir uma habilitação legal aoexercício de uma profissão, uma vez que dentre as atribuições doeducador não estão inclusos somente os conhecimentos e habilidadestécnico-mecânicas. ’

Segundo a autora a formação inicial deve dar suporte ao docente a fim de que ele

possa atuar no magistério. Ela também aponta que o papel dessa modalidade de

formação é muito mais amplo do que apenas capacitar legalmente o professor para que

este possa exercer sua profissão, visto que esse profissional possui atribuições muito

abrangentes.

Uma formação inicial de qualidade provoca nesse profissional uma série de

melhorias, que refletem positivamente na sala de aula. Na ótica de González (2002,

apud MARTINS, 2011, p. 53) temos que:

‘No tocante à formação inicial, é necessário que cada profissional emformação seja capaz de: analisar o contexto em que se desenvolve suaatividade e planejá-la, de forma coerente com as mudançascomumente efetivadas na sociedade; empreender um ensino paratodos, na etapa da educação obrigatória, atendendo às diferençasindividuais, de modo que sejam superadas as desigualdades, mas, aomesmo tempo, que seja estimulada a diversidade presente nossujeitos.’

A formação inicial deve condicionar o professor a avaliar o ambiente no qual irá

atuar, sempre considerando que a sociedade é dinâmica, bem como a trabalhar no

sentido de concretizar uma educação inclusiva, visando suplantar as desigualdades que

por ventura possam existir. Relembramos ao leitor que a inclusão é o tema do nosso

primeiro capítulo. Neste contexto, para Demo (2004 apud BARREIRO, 2006, p. 24);

‘ao discorrer sobre o futuro do professor na universidade, reafirma quea formação inicial é determinante para o rompimento das práticas da

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reprodução. Nesse processo, é fundamental o papel dos professores-formadores ao favorecer e oferecer caminhos que levam àreconstrução de conhecimentos. ’

Podemos afirmar que uma adequada formação inicial não vai por fim

definitivamente aos problemas e dificuldades encontrados pelos professores na sua

atuação em sala de aula, porém ela pode proporcionar melhores condições para este

profissional os enfrente de forma satisfatória. O docente deixa de reproduzir

conhecimento para reconstruí-los nas transformações de teorias já existentes.

De acordo com Silvestre (2011, p.169), “No Brasil, somos herdeiros de uma

formação inicial de professores pautada pelos pressupostos da racionalidade técnica,

que percorreu toda a história da educação brasileira, ganhando mais força a partir da

LDB n. 5.692/71”. Assim, no pensamento desse autor, o principal critério adotado no

Brasil para a formação de professores é o da racionalidade técnica, que, como o próprio

nome já diz, preza que o professor tenha atitudes racionais fundadas em uma técnica

apurada.

É importante mencionar que as teorias da educação, lecionadas durante a

graduação, exercem um papel relevante na formação e, posteriormente, na prática do

professor. Nesse sentido, Pimenta e Ghedin (2002, p. 24, apud BARREIRO, 2006, p.35)

afirmam:

‘[...] que o saber docente não é formado apenas da prática, sendotambém nutrido pelas teorias da educação. A teoria tem importânciafundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos devariados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendoperspectivas de analise para que os professores compreendam oscontextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si próprioscomo profissionais. ’

As teorias da educação conjugam-se com a prática, formando o perfil do

professor. Essas teorias ampliam o pensamento dos mesmos, fazendo com que eles

tenham contato com vários tipos de posicionamentos ideológicos. Desse modo, o

professor tem maior capacidade de atuar frente ao contexto no qual ele está inserido.

Deve-se, pois, haver uma formação teórica para o melhor exercício da função do

magistério, essas teorias orientam e contribuem para o desenvolvimento da prática do

professor.

Questionamos-nos o que viria a ser a formação inicial, logo de principio,

poderíamos dizer que é quando o professor através da formação encare sua realidade na

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sala de aula, por outro lado, e a busca para a diminuição dos obstáculos que estão

presentes dentro dessa profissão, e garantir que o mesmo se sinta mais preparado com

sigo mesmo e que retenha essas dificuldades. No ponto de vista de Santos (2008, p.12);

‘Conceitualmente a formação inicial é a fase preambular de um longoe de diferentes trajetos de desenvolvimento profissional, em que osestudantes futuros profissionais docentes devem ter acesso a umprocesso formativo que apresente conhecimentos e teorias quedeverão ser consagrados na prática. Além disso, é nessa fase em queos futuros professores adquirirão um saber pedagógico que lhepossibilitará fazer um trabalho muito eficiente dentro das salas deaula. ’

Essa formação, além de ter suas estratégias de ações ativas do comportamento

emocional do professor, que buscar reequilibrar a autonomia do mesmo, porém, deve

haver a formação teórica para equilibrar o funcionamento dessa profissão, para orientar,

contribuir, desenvolver e ajudar na prática do professor, para que possa interagir e

trabalhar com pessoas.

A formação inicial deve incentivar os profissionais da educação a construir sua

própria identidade, bem como a não se acomodarem com seu nível de atuação. Assim,

os professores devem buscar sempre novidades, a fim de permanecerem sempre

atualizados e motivados para exercer sua atividade fim. Essas novidades com as quais o

professor tem contato constituem a chamada formação continuada, que, como já foi

dito, será o assunto do nosso próximo tópico.

2.2.2 - Formações Continuada

A formação continuada funda-se no fato de que o professor é o responsável pela

sua carreira, por isso, ele deve se adequar e procurar se atualizar quanto às novidades e

mudanças que ocorrem ao longo do tempo no exercício da sua profissão.

Falar sobre formação é discutir também sobre a valorização das metodologias

práticas, bem como sobre a didática ao trabalhar os conteúdos. A graduação básica do

professor não é suficiente para que ele possa atuar com os vários tipos de alunos que por

ele pode ser encontrado, daí a necessidade de sempre buscar capacitações, preparando-

se para as diversas situações que estão sujeitas a ocorrer em sala de aula. Considerando

essas posições colocadas acima, Santos (2008, p. 14) põem que:

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‘[...] a formação de professores deve ser concedida como umcontinuum, ou seja, na condição de um processo de desenvolvimentoao longo e ao largo da vida, com uma variedade de formatos deaprendizagem que possam propiciar aos futuros docentes aoportunidade de refazerem, sempre que necessário, seus percursos deaprendizagem, em especial aqueles que, na opinião, não foramexitosos, no sentido de transformá-los em bons professores.’

A formação continuada é importante, pois visa complementar o trabalho do

professor e aprimorar as eventuais carências da sua formação inicial. Para que aquela se

concretize, o professor deve se autoavaliar com relação à sua prática e o modo como ela

está sendo exercida e fundamentada. A formação contínua também proporciona

inovações que facilitam a pratica do docente na sala de aula. Isso favorece a

compreensão do docente que atua com alunos especiais, auxiliando-o a atuar frente a

dificuldades que por ele podem ser encontradas no trabalho com esses alunos. Barreiro

(2006, p. 27) nos mostrar que:

‘A formação de professores e sua prática não podem mais serexecutoras de modelos, de decisões alheias, e sim capazes de analisar,decidir, confrontar práticas e teorias, e produzir novos conhecimentosreferenciados ao contexto histórico, escolar e educacional. ’

O professor não deve acomodar-se com a formação oferecida na graduação, ele

também não deve pensar que está totalmente preparado para atuar em sala de aula. O

ideal é que o professor sempre busque novos conhecimentos alusivos ao contexto no

qual ele atua.

A formação continuada é, acima de tudo, fazer com que o professor progrida e

acompanhe a contínua evolução do exercício da sua profissão. Faz-se necessário que o

professor crie seus próprios hábitos e formas de atuação para que o mesmo possa

sempre ter novos métodos de ensino na sua prática.

Conforme Pietro (2006) os sistemas de educação devem ter compromisso com a

formação continuada do docente, proporcionando desenvolvimento progressivo de seus

conhecimentos.

Segundo Nóvoa (1992, p. 27) “A mudança educacional depende dos professores

e da sua formação. Depende também da transformação das práticas pedagógicas na sala

de aula e da mudança das organizações escolares e do seu funcionamento”. Os

professores são a parte mais atuante do sistema educacional, por isso a melhoria da

educação depende muito desses profissionais. Os outros fatores que compõem o sistema

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educacional, como por exemplo, as práticas pedagógicas e o funcionamento das escolas,

também devem ser melhorados. Imbernón (2002, p. 14) afirma que o magistério:

‘[...] exerce outras funções: motivação luta contra a exclusão social,participação, animação de grupos, relações com estruturas sociais,com a comunidade... E claro que tudo isso requer uma nova formação:inicial e permanente. ’

O professor está em constante contato com a sociedade, devendo exercer outas

atividades, como por exemplo, buscar evitar a exclusão social. Por fim, o autor reafirma

a necessidade de uma formação inicial e continuada, sendo que a primeira foi discutida

no tópico anterior.

Barreiro (2006, p. 22) argumenta que a juntura entre teoria e prática tende a ser

um processo de qualidade que deve ser alcançada na formação inicial e continuada do

docente. O próprio professor deve ser sujeito da sua construção como profissional,

capaz de transpor os obstáculos que surgem no meio social, colocando como referencia

a sua formação para uma educação inclusiva.

2.3- Formação para a Educação Inclusiva.

Os professores, no geral, se fecham as novidades, sendo a inclusão um ponto que

acaba sendo esquecida ao longo da caminhada desses professores que acabam pensando

numa escola regular para alunos “perfeitos”. E é nas escolas de sistema publico que nos

deparamos uma visão de rejeição dessas inovações e qualificações nas formações dos

mesmos. (SILVESTRE, 2011, p. 165)

‘O professor, em seu processo de formação, inicial ou continuada, éconstituído numa dada realidade social, fruto de um logo processohistórico, traduzido nas relações sociais nas quais ele está envolvido,processo que vai se transformando de acordo com as exigências edemandas econômicas, sociais e políticas. ’

Os próprios docentes acabam resistindo aos cursos de formações, o que acaba

dificultando e abalando suas atuações. Essa reação do docente, e pelo fato que já se

acomodaram a aprender de forma fragmentada e instrumentalmente.

O docente deve ter uma visão universal em relação ao alunado que frequenta a

escola, para atuar nessa perspectiva inclusiva, e tentar criar formas de melhorar seus

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empenhos na sala e começar a atuar com recursos educacionais que suplemente em

alguns casos, para ensinar e ter laços que quebrem essas barreiras que a sociedade acaba

que pregando seus interesses únicos e particulares e que chegar a reprimir os menos

favorecidos. Nas palavras de Rinaldi (2007, p.93):

‘[...] a formação de professores nas licenciaturas segue, ainda, ummodelo tradicional de formação. Além disso, dentre os cursos delicenciatura, poucos são aqueles que oferecem disciplinas ouconteúdos voltados para a educação de portadores de necessidadeseducacionais especiais. Essa situação, de carência na oferta dedisciplinas e conteúdos, vem ocorrendo apesar da exigência dodispositivo legal pelo § 2º do artigo 24 do Decreto nº 3.298, de 20 dedezembro de 1999. Há, ainda, a Portaria nº 1.793/94, que recomenda ainclusão da disciplina Aspectos Ético-politico-Educacionais daNormalização e Integração da Pessoa Portadora de NecessidadesEspeciais, prioritariamente, em todos os cursos de licenciatura. ’

A formação para a educação inclusiva vai ajudar o professor a lutar pelas

melhorias de um ensino para todos e na forma como atuar sem excluir. Além disso,

quebrar esse paradigma que a escola tem que se privatiza dentro da sociedade, onde

todos participam e se equilibram desse domínio. Políticas educacionais para a formação

do docente para a educação especial se faz necessária dentro dos contextos e também

que seja repensado dentro do curso não só de pedagogia, mas todas as licenciaturas

ainda na universidade sobre essa formação e que deve esta integrada nas escolas

regulares dos ditos “normais” e que os alunos com Necessidade educacionais especiais

não sejam anulados, mas sim que os professore ative seus potenciais.

Vivemos hoje numa sociedade excludente, onde cada pessoa vive de acordo a

sua classe e na educação não é diferente, quem tem um maior poder aquisitivo e que

lidera. Portanto, a educação que acaba reproduzindo esse paradigma da sociedade.

Diante disso e que visamos formar professores para buscar princípios da inclusão que

vise à igualdade de direitos dentro da sociedade.

Essa educação, excludente deve ser modificada com relação a sua forma como

esta sendo feita nas escolas regulares de ensino, e que a mesma se transforme e que sua

concepção seja planejada e reformulada para que se criem estratégias e programas

educacionais que busque a igualdade, respeito para todos, um modelo educacional

verdadeiramente que permaneça e que de fato possa educar para a vida.

Outra questão a ser questionada nessa pesquisa, é que esse modelo integrador

seja extinto e venha a ser inclusiva, pois essa e o primeiro fator, para termos uma escola

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que seja para todos aonde os alunos venha a ser aceito como ele é, pela a escola e pela

sociedade. A escola deve ser adequar, se reestruturar para atender a todos e trabalhar

tanto as dificuldades como as potencialidades de cada sujeito.

É muito polêmico quando falamos em inclusão, de incluir algo numa sociedade

que de forma geral é excludente e não se pode ignorar essa questão. Segundo Correia

(1997, p. 24);

‘Quando a criança com NEE é meramente colocada na classe regularsem os serviços de apoio de que necessita e/ou quando se espera que oprofessor do ensino regular responda a todas as necessidades dessamesma criança sem o apoio de especialistas ou terapeutas, isto não éinclusão. Nem é educação especial ou educação regular apropriada éeducação irresponsável. ’

São evidente que para incluir devem-se ter materiais, recursos humanos para que

se tenha um atendimento apropriado e que promova o bem-estar desses alunos. Assim, o

docente não está preparado para acolher esse aluno com necessidade

especial/deficiência.

A formação desse professor se deve logo de inicio com o Instituto Nacional de

Educação de Surdos, INES-RJ e o Instituto Pestalozzi e só mais tarde, esta formação foi

promovida no nível superior, por conta da necessidade de especialistas para essa área.

Hoje a formação de professores para a educação especial, está mais ampla, pois

prever acerca da inclusão de conhecimentos que atua com disposição para esse aluno

com necessidade. Em decorrência disso, Rinaldi (2007) aponta as propostas que

constam no Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001) que visa a integrar os

professores da educação especial com da educação regular para a efetiva educação

inclusiva. E adita;

‘Art, 8º. As escolas da rede regular de ensino devem prever e proverna organização de suas classes:I – professores das classes comuns e da educação especial capacitadose especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidadeseducacionais especiais dos alunos;II – condições para reflexão e elaboração teórica da educaçãoinclusiva, com protagonismo dos professores, articulando experiênciae conhecimento com as necessidades/possibilidades surgidas narelação pedagógica, inclusive por meio de colaboração com instituiçãode ensino superior e de pesquisa. ’

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3. METODOLOGIA

Neste capítulo serão abordas a metodologia adotada no estudo, a caracterização

da pesquisa e dos sujeitos entrevistados, bem como os instrumentos e procedimentos

empregados, o lócus da pesquisa e a forma como foram analisados as informações

obtidas.

3.1. Pesquisa

Esta pesquisa possui caráter qualitativo, segundo Oliveira (2007, p. 117):

‘As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem afacilidade de poder descrever a complexidade de uma determinadahipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis,compreender e classificar processos dinâmicos experimentados porgrupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança,criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, emmaior grau de profundidade, a interpretação das particularidades doscomportamentos ou atitudes dos indivíduos’.

Depreende-se que esse tipo de pesquisa possui um amplo campo de aplicação,

sendo muito útil para proporcionar ao pesquisador uma melhor interpretação e, por

conseguinte, melhores conclusões a respeito do seu objeto de estudo. A escolha desse

tipo de abordagem se deu em razão das características apontadas, pois consideramos

que permitirá obter mais informação, mais entendimento sobre o objeto de estudo

elencado.

Richardson (2008) defende que a pesquisa qualitativa tem a capacidade de nos

levar a compreensão detalhada da expressão apresentada por indivíduos investigados.

Nesse sentido, o estudo se caracteriza como pesquisa qualitativa do tipo pesquisa

de campo, tendo sido realizada por meio de entrevista. Para Lüdke e André (1986) a

entrevista é um instrumento básico de pesquisa muito utilizado na área das ciências

sociais, que cria um clima de interação entre pesquisador e participante. Lüdke e André

(1986, p. 34) afirmam que:

‘A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que elapermite a captação imediata e corrente da informação desejada,praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os maisvariados tópicos. [...] a entrevista permite correções, esclarecimentos e

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adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção dasinformações desejadas. ’

Segundo essa afirmação, o método da entrevista é bastante versátil, pois nos

permite direcionar as perguntas a fim de obtermos as respostas de modo como o

entrevistado realmente pensa. Com esse método também podemos fazer as devidas

modificações objetivando as informações que realmente são importantes para a

discussão dos objetivos da pesquisa.

3.2. Lócus da Pesquisa

A entrevista foi feita em uma escola de Campo maior, situada no Bairro de

Lourdes, atendendo a alunos do ensino fundamental e médio, nos turnos matutino,

vespertino, e também noturno. A escola possui uma sala de coordenação, uma

secretaria, uma sala de professores, uma sala de atendimento ao aluno, um pátio interno

de médias proporções, três banheiros, sendo dois para alunos e um para professores e

funcionários. A escola conta ainda com uma cantina e uma sala de informática.

Optou-se por essas instituições em razão do fato de que ela atende a alunos que

apresentam alguma necessidade educacional especial, e que frequentavam o mesmo

ambiente de aprendizagem dos demais alunos, ou seja, é uma escola tida como não

segregadoras. Além disso, outro critério foi o fato destes alunos estarem frequentando o

Ensino Médio.

3.3. Participantes

Participaram dessa pesquisa duas professoras da cidade de Campo Maior, são

elas: Rubi3, que possui graduação em Licenciatura Plena em Geografia e encontra-se na

faixa etária entre 41 a 50 anos, esta não possui nenhuma capacitação em educação

especial, e também não possui nenhuma pós-graduação. A outra professora, nomeada de

Diamante, possui graduação em Licenciatura plena em Biologia e apresenta-se a faixa

etária entre 31 a 40 anos, a mesma possui capacitação fomentada pelo Governo na área

da educação especial, porém não possui nenhuma pós-graduação.

3 Em razão da garantia de anonimato, os participantes dessa pesquisa foram nomeados como pedraspreciosas.

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3.4. Instrumentos

A entrevista (apêndice A) foi elaborada com oito perguntas que foram feita

diretamente aos docentes. As perguntas abordavam a questão da inclusão em si, a

inclusão de sujeitos que possuem NEE e sua participação no processo de aprendizagem,

a formação dos docentes, dentre outros assuntos. O questionário completo pode ser

consultado no campo referente ao apêndice.

As respostas dos professores foram manualmente anotadas em folha de papel

para posterior análise. Realizou-se a entrevista no turno da noite, antes dos professores

entrarem na sala de aula. A duração mínima de aplicação do instrumento de pesquisa foi

de 30 minutos.

Enfatizamos que a entrevista teve como critério de escolha dos participantes

professores do ensino médio do sistema público de educação, que trabalham com alunos

que possuem algum tipo de necessidade educacional especial, em escolas não

segregadoras.

3.5. Procedimentos

Inicialmente foi feita uma visita à escola, verificou-se então que havia

professores que atuavam com alunos que possuem necessidades educacionais especiais

frequentando o Ensino Médio. Após a confirmação desse fato foi solicitada, junto à

diretoria, autorização para ser feita a entrevista com aqueles professores, esses

concordaram rapidamente em participar dela. Na ocasião foi estabelecido o dia e hora

para a aplicação do citado instrumento de estudo.

3.6. Análise das Informações

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4. ANÁLISE E DISCUSÃO DOS DADOS

Este capítulo discorrerá sobre os resultados do estudo

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