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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES TERESINA PI JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE

CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO

PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL

VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES

TERESINA PI

JANEIRO 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES

ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE

CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO

PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL

Trabalho apresentado ao Programa Regional de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito parcial

à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e

Meio Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização

Sustentável dos Recursos Naturais.

Orientadora: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros

Co-orientador: Prof. Dr. Ulysses Paulino de

Albuquerque.

TERESINA

2012

VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES

ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE

CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO

PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa Regional de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente da Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito parcial

à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e

Meio Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização

Sustentável dos Recursos Naturais.

Aprovado em _____ de janeiro de 2012.

_________________________________________________

Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

Orientadora

__________________________________________________

Prof. Dr. José Luis Lopes de Araújo

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

Membro-Interno

__________________________________________________

Prof. Dr. Francisco Soares Filho

Universidade Estadual do Piauí (UESPI)

Membro-Externo

OFEREÇO

Primeiramente a Deus, à minha esposa Melise, meus pais, Heitor e Amparo, irmãos, Dhwliany e Heitor Filho; À minha guia nessa jornada Dra. Roseli Barros, e aos amigos que me estenderam a mão e

compartilharam conhecimento: Rosimary, Benedito, Simone, Reurison, Alexandre e Cruzinha; E a todos que me ajudaram nessa conquista e que não foram citados.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder o dom da vida, abrir meus caminhos e me permitir mais um

passo nesta caminhada.

Ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA/UFPI), na pessoa do coordenador Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo, pela

oportunidade. Aos professores e pessoal de apoio do mesmo pela amizade e colaboração,

em especial aos amigos Sra. Maridete Alcobaça, Sr. Batista Araújo e Sr. Raimundo Lemos,

pelas boas conversas e a disposição à ajudar.

À Ilma Srª diretora da UESPI, MSc. Rosineide Candeia de Araújo, pela amizade e apoio na

liberação para que pudesse cursar o mestrado, bem como ao professor Luiz Gonzaga

Medeiros Figueredo pela ajuda na seleção e apoio após a aprovação.

Ao Sistema de Biodiversidade e Conservação (SISBIO) do Instituto Chico Mendes

(ICMBio) e ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI, pela aprovação do projeto.

À minha orientadora, Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros, pela paciência, carinho e

compreensão nas orientações não apenas científicas.

A meu co-orientador, Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, pela atenção e valiosas

contribuições concedidas.

Aos pescadores da Comunidade Canárias, em especial a família da Sra. Maria Nilza

Aureliano Oliveira, pela hospitalidade. Ao Sr. Juvenal de Carvalho Gaspar pelas boas

conversas e ensinamentos sobre o conhecimento local. Ao Sr. Luiz Zeferino Lima e

família, pelas contribuições e recepção calorosa. A Alexandre Aureliano de Oliveira

(Lilio), pelas horas de ajuda em campo. Ao Sr. Pedro da Costa Silva (Pedro holandês) e

Geilson Faustino da Rocha (Cara-errada), pelas ajudas no transporte, campo, pela amizade

e momentos de descontração. À Sra. Lina Márcia, enfermeira do Programa de Saúde da

Família, pelas contribuições, que não foram poucas e por todas as informações concedidas.

Ao Sr. Francisco de Assis de Sousa, presidente da Colônia de pescadores Z-07 pela

autorização e demais contribuições de grande valia para o desenvolvimento da pesquisa.

Aos especialistas das diversas instituições, pelo auxílio nas identificações da flora e fauna.

À MSc. Maura Rejane Mendes, pela amizade, incentivo, por me conceder a oportunidade

de trabalhar, conhecer melhor e aprender a gostar de botânica.

Aos amigos do TROPEN, turma 2008-2010, Rosimary da Silva Souza (Rose), Maria

Pessoa da Silva (Cruzinha) e Alexandre Nojoza Amorim, bem como, aos amigos da turma

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2010-2011, Ethyênne Moraes Bastos e Maurício Eduardo Chaves e Silva pela amizade,

ajuda, apoio e incentivo e em especial, a Benedito Gledson de Oliveira (Bené) pela

amizade, incentivo, apoio e ajuda científica.

Aos colegas do Mestrado, turma 2009-2011, Reurison, Charlene, Elaine, Roberth,

Joaquim, Leonardo e Daniel Gomes pelos momentos juntos e de muita descontração. Em

especial à amiga Simoni Tupinambá, por sua amizade e ajuda grandiosa no trabalho de

campo.

Ao amigo Fábio José Vieira (Fabão) pela amizade, conversas e contribuições científicas.

Aos estagiários do Herbário Graziela Barroso (TEPB), pela amizade, e pelo auxílio na

herborização do material botânico.

À minha esposa, Melise Pessoa Araújo, pelo amor, compreensão, dedicação,

companheirismo, pela parceria na vida e na pesquisa, pelas horas de campo, pela

indispensável e imensurável ajuda no desenvolvimento deste trabalho.

À minha família, em especial aos meus pais Heitor Viana Meireles e Maria do Amparo

Silva Meireles, pela dedicação, amor, incentivo e orações, indispensáveis para realização

desta conquista. Aos irmãos Heitor Viana Meireles Filho e Dhwliany Silva Meireles, meu

avô José Rosa Pereira da Silva, meus sobrinhos Heitor Viana Meireles Neto e Maria

Cecília de Abreu Ibiapina Meireles. Aos cunhados Júlio Cesar Mendes Bezerra Filho e

Francisca Civana de Abreu Ibiapina Meireles, minhas madrinhas Maria de Fátima Silva

Ribeiro e Maria Gorethe Pereira Silva, minhas tias Rosa, Luíza, Teresa, Iraneide, aos tios

João Raimundo, João Fontinele, Jaime, e aos demais membros da família que não foram

aqui citados, pelo amor e compreensão dispensados a mim a todo e qualquer momento.

À minha nova família, minha sogra Sra. Marluce Pessoa Araújo, minhas cunhadas Marilda,

Antônia, Renata, Marluse (mana) e esposo Sergio Madeira. Em especial, a minha cunhada

Marlinda Pessoa Araújo, pelas contribuições científicas que me ajudaram a entrar no

presente programa de mestrado. Aos compadres Arlindo Candeira Araújo e Lidiane

Ramos, pelo apoio, incentivo e a sempre disposição a ajudar nas viagens, que não foram

poucas. Aos sobrinhos Sergio Madeira Ribeiro Júnior e Antônio Felipe, pelas

contribuições nas coletas de campo.

Aos primos Robson Wagner e Evaneide, por me receberem de braços abertos em sua casa

durante o programa, bem como, pela amizade e momentos de descontração.

A todos que direta ou indiretamente ajudaram no cumprimento deste trabalho.

Obrigado!!!

RESUMO

A RESEX Delta do Parnaíba, localizada no único delta em mar aberto nas Américas, é

uma região rica em diversidade biológica, espécies endêmicas e cultura. As comunidades

de pescadores artesanais da região possuem uma relação histórica com os recursos do

ambiente insular. Diante deste fato, bem como ciente da íntima ligação existente entre

conhecimento local e biodiversidade, investigou-se o conhecimento etnobotânico, os

instrumentos e técnicas de pesca e a construção artesanal de embarcações na comunidade

Canárias, com o intuito de colaborar com a preservação e conservação da biodiversidade

ali existente, bem como, contribuir com o resgate, a valorização e a manutenção da cultura

tradicional local. Foram aplicadas 100 entrevistas para coleta de dados etnobotânicos e a

técnica “turnê-guiada” para as coletas botânicas. Os indivíduos coletados foram

identificados e as informações sobre eles foram, juntamente com os dados das entrevistas,

submetidas às análises qualitativa e quantitativa. Registrou-se 108 espécies, distribuídas

em 49 famílias botânicas. As famílias com maior número de espécies foram:

Euphorbiaceae, Anacardiaceae e Poaceae. As categorias de uso medicinal, construção e

alimentícia, apresentaram um maior percentual de citações. A categoria forrageira se

mostrou pouco expressiva e a categoria “outros” abrigou alguns usos que foram

mencionados em menores proporções (artesanato, artefato de pesca e místico-religiosa). Os

sistemas corporais com o maior número de espécies de uso medicinal e com os maiores

valores de Fator de Consenso dos Informantes (FCI) foram: sintomas gerais, transtornos

gastrointestinais e transtornos respiratórios. De acordo com o índice de importância

relativa (IR) as espécies mais versáteis da comunidade foram: mangue vermelho

(Rhizophora mangle L.), munguba (Pachyra aquática Aubl.), boldo-miúdo (Vernonia

condensata Bamer), hortelã (Mentha x villosa Huds.), Capim-limão (Cymbopogon citratus

(Dc.) Stapf) e Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.). A comunidade faz uso da

vegetação nativa e exótica. Foi citado pelos pescadores a utilização de dez artefatos:

caçoeira, tarrafa, linha/anzol, landoá, puçá, curral , rabadela, manzuá, grosseira, jiquí e

curralzinho. Os pescadores entrevistados produzem os instrumentos de pesca: caçoeira,

tarrafa, alguns citaram “rede” não especificando o tipo que fabricavam, groseira, landoá,

puçá, curral, curralzinho e jiquí. Apenas 4% se autodenominam carpinteiros navais, sendo

a madeira utilizada: o pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), pau-d’arco (Handroanthus

impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, cedro (Cedrella odorata L.), jatobá (Hymenaea

courbaril L.) e massaramduba (Manilkara dardanoi Ducme). Não houve diferença

significativa entre o conhecimento por gênero; no conhecimento por faixa-etária, houve

diferença significativa entre jovens, idosos e adultos, apresentando os jovens maior

conhecimento que adultos e idosos. Na relação entre adultos e idosos não houve diferença

significativa. O conhecimento local acerca da biodiversidade pode contribuir grandemente

no processo de conservação de uma área, deste modo, destaca-se a importância da inserção

do mesmo em todas as ações que se destinem a este fim ou que envolvam de algum modo a

área em que este está inserido, sendo uma forma de conciliar a manutenção da

biodiversidade e da cultura local, principalmente quando se tratar de áreas protegidas,

como a RESEX, criadas para atender este propósito.

Palavras-chave: RESEX Delta do Parnaíba. Pescadores Artesanais. Etnobotânica.

Etnozoologia. Conservação.

8

ABSTRACT

The Extractive Reserve Parnaiba Delta, located in the only open sea delta in the Americas,

is a region with a wide biological diversity, endemic species and culture. The fishing

communities in the area keep a historical relationship with the resources of the island

environment. That being stated, as well as the fact that there is a close relation between

biodiversity and local knowledge, there was an investigation of the ethnobotanical

knowledge, the tools and the fishing strategies and the handmade manufacture of vessels in

Canárias Community, in order to collaborate with the preservation and conservation of

biodiversity in that place, as well as to contribute to the rescue, recovery and conservation

of local culture. For ethnobotanical data collection, 100 interviews were applied and the

technique ‘guided-tour’ for botanical collections. All the information was identified and

analyzed under a quantitative and qualitative perspective. 108 species were registered and

distributed in 49 botanical families. The families with the largest number of species were

Euphorbiaceae, Anacardiaceae and Poaceae. The categories for medical use, construction

and food showed a higher percentage of citations. The forrageira category was a little

relevant and the "others" category showed some uses that were mentioned in smaller

proportions (crafts, fishing artifact and mystic-religious). The body systems with the

largest number of species for medical use and with the highest values of the Informant

Consensus Factor (ICF) were: general symptoms, gastrointestinal and breathing disorders.

According to the relative importance rate (RI), the most versatile species from the

community were: red mangrove (Rhizophora mangle L.), Guiana chestnut (Pachyra

aquática Aubl.), boldo (Vernonia condensata Bamer), peppermint (Mentha x villosa

Huds.), lemongrass (Cymbopogon citratus (Dc.) Stapf) and Mexican tea (Chenopodium

ambrosioides L.). The community uses the local and exotic vegetation. The fishermen

mentioned the use of ten artifacts: caçoeira, flue, line/hook, landoá, puca, curral, rabadela,

manzuá, grosseira, jiqui, and curralzinho. The interviewed fishermen produce some fishing

tools: caçoeira, flue, some of them mentioned "net" but did not specified the kind they

manufactured. Only 4% name themselves as naval carpenters, and the wood they use is

pequi, (Caryocar coriaceum Wittm.), purple ipe (Handroanthus impetiginosus (Mart. ex

DC. Mattos), cedar, (Cedrella odorata L.), jatobá, (Hymenaea courbaril L.) and

massaramduba (Manilkara dardanoi Ducme). There was no significant difference between

knowledge by gender. In the knowledge by age rate, there were significant differences

among young people and elderly and adults, but the young people showed greater

knowledge. Between the elderly and adults there was no significant difference. The local

knowledge about biodiversity may greatly contribute in the conservation process of an

area, thus, it is necessary to state the importance of inserting such knowledge in all the

measures that are intended for this purpose, with this being a way to reconcile biodiversity

continuation and the local culture, especially when it deals with protected areas such as

extractive reserves, created to serve that purpose.

KEYWORDS: Extractive Reserve Parnaiba Delta, Fishermen, Ethnobotany,

Ethnozoology, Conservation.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Página

Figura 1- Mapa de localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista

Marinha do Delta do Parnaíba......................................................................................

Figura 2- Gráfico de distribuição por gênero e faixas etárias da população de

pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.........................

Figura 3- Gráfico da distribuição da população de pescadores artesanais da

comunidade Canárias, Araioses /MA, Brasil, com relação ao gênero e escolaridade..

Figura 4- Fotografias de criação de animais na comunidade Canárias/MA..............

Figura 5 - Fotografias de embarcações que fazem o transporte de pessoas entre a

comunidade Canárias/MA e o porto dos Tatus/PI........................................................

Figura 6 – Fotografias de locais de coleta de água para consumo na comunidade

Canárias/MA....................................................................................................

Figura 7 – Fotografias de buracos utilizados pelos moradores da comunidade

Canárias para depositar e posteriormente enterrar o lixo....................................

Figura 8 – Fotografias de embarcações utilizadas na atividade pesqueira na

comunidade Canárias/MA................................................................................

Figura 9 – Ilustração das estruturas de canoas fabricadas artesanalmente na

comunidade Canárias.......................................................................................

Figura 10- Gráfico com a distribuição percentual das citações dos pescadores

artesanais sobre os instrumentos de pesca mais utilizados na comunidade Canárias,

Araioses/MA, Brasil.............................................................................................

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10

Página

Figura 11- Gráfico com a distribuição em percentuais dos instrumentos de pesca

produzidos pelos pescadores artesanais na comunidade Canárias, Araioses /MA,

Brasil.............................................................................................................................

Figura 12- Fotografia de instrumento de pesca de anzol ou linha utilizado por

pescadora da comunidade Canárias/MA...............................................................

Figura 13- Ilustração do instrumento de pesca puçá utilizado na comunidade

Canárias/MA....................................................................................................

Figura 14- Fotografia do instrumento de pesca jiquí utilizado na comunidade

Canárias/MA.....................................................................................................

Figura 15- Fotografia do instrumento de pesca landuá utilizado na comunidade

Canárias/MA.....................................................................................................

Figura 16- Fotografia do instrumento de pesca rabadela utilizado na comunidade

Canárias/MA....................................................................................................

Figura 17- Ilustração do instrumento de pesca groseira utilizado na comunidade

Canárias/MA...................................................................................................

Figura 18- Fotografias do instrumento de pesca tarrafa utilizado na comunidade

Canárias/MA...................................................................................................

Figura 19: Fotografias do instrumento de pesca caçoeira utilizado na comunidade

Canárias/MA...................................................................................................

Figura 20- Fotografia do instrumento de pesca curral utilizado na comunidade

Canárias/MA...................................................................................................

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Figura 21- Fotografia do instrumento de pesca curralzinho utilizado na

comunidade Canárias/MA.................................................................................

Figura 22- Ilustração do instrumento de pesca manzuá utilizado na comunidade

Canárias/MA......................................................................................................

Figura 23- Fotografia do uso da técnica de pesca batedeira na comunidade

Canárias/MA....................................................................................................

Figura 24- Fotografias dos peixes mais capturados pelos pescadores na

comunidade Canárias/MA.................................................................................

Figura 25- Gráfico da frequência dos peixes citados pelos pescadores artesanais na

comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil em 2010.........................................

Figura 26- Fotografia com os procedimentos de despesca e tratamento dado aos

instrumentos após a pescaria, comunidade Canárias, Araioses/MA,

Brasil..............................................................................................................

Figura 27- Fotografias da Pousada Casa de Cabloco na comunidade

Canárias/MA...................................................................................................

Figura 28- Fotografia do lixo as margens do rio Parnaíba na comunidade

Canárias/MA.....................................................................................................

Figura 29- Fotografias do modo de produção e armazenamento de carvão na

comunidade Canárias/MA.................................................................................

Figura 30- Fotografias da utilização da madeira do mangue vermelho na

construção de residências na comunidade Canárias/MA......................................

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 19

2.1 Os Povos Tradicionais do Brasil ............................................................................. 19

2.2 O Conhecimento Tradicional .................................................................................. 20

2.3 Etnobiologia: Investigando o Conhecimento Biológico Tradicional ...................... 23

2.3.1 Etnobotânica ......................................................................................................... 24

2.3.2 Etnozoologia .......................................................................................................... 25

2.4 A Pesca e o Pescador Artesanal como Fontes de Conhecimentos .......................... 25

2.5 Pesquisas Etnobiológicas com Pescadores Artesanais ........................................... 27

2.5.1 Pesquisas Etnobotânicas ....................................................................................... 27

2.5.2 Pesquisas Etnozoológicas ...................................................................................... 31

3.HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE

CANÁRIAS ................................................................................................................... 36

3.1 Localização .............................................................................................................. 36

3.2 Aspectos Físicos ....................................................................................................... 36

3.3 Histórico de Colonização da Ilha ............................................................................ 38

3.4 Perfil Socioeconômico .............................................................................................. 39

3.5 Aspectos Religiosos, Culturais e Superstições ........................................................ 47

3.6 Aspectos Tecnológicos, Produtivos e Organizacionais ........................................... 49

3.7 O Turismo na Comunidade ..................................................................................... 64

3.8 Problemas que atingem a Comunidade .................................................................. 65

3.9 Pesca e Meio Ambiente: Visão dos Pescadores ....................................................... 67

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 69

5 ARTIGOS ................................................................................................................... 76

13

5.1 Etnobotânica de Pescadores Tradicionais na Reserva Extrativista Marinha do

Delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil ......................................................................... 77

5.2 Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do

delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil ........................................................................ 113

6 CONCLUSÕES GERAIS ......................................................................................... 141

APÊNDICES ............................................................................................................... 144

Apêndice A – Formulário de entrevista semiestruturada .......................................... 145

Apêndice B - Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias ........ 151

Apêndice C - Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias ........ 152

Apêndice D - Técnicas e instrumentos de pesca utilizados e/ou fabricados na

comunidade Canárias ................................................................................................. 153

Apêndice E - Espécies mais citadas, com maior valor de uso e de importância na

Comunidade Canárias ................................................................................................. 154

Apêndice F - Utilização de produtos da floresta pelos pescadores da Comunidade

Canárias ....................................................................................................................... 155

Apêndice G – Construção naval artesanal por pescadores da Comunidade Canárias

...................................................................................................................................... 156

ANEXOS ..................................................................................................................... 157

Anexo A – Normas para Publicação REVISTA INTERCIÊNCIA .......................... 158

Anexo B – Normas para Publicação REVISTA BRASILEIRA DE PLANTAS

MEDICINAIS ............................................................................................................. 160

14

1 INTRODUÇÃO

A biodiversidade, ou diversidade biológica é a junção de todas as espécies de seres

vivos existentes no planeta (ARBIERI, 1998). O Brasil, em termos mundiais, é um dos

maiores representantes em diversidade de espécies em seu território, abrigando de 15% a

20% do número total existente no planeta, distribuídas em seis grandes biomas: Amazônia,

Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Pampa (FAPESP, 2008), podendo ser

denominado então de megadiverso (HERINGER, 2007).

Garay e Becker (2006) comentam que segundo estimativas, o número de espécies

de plantas, animais e microorganismos presentes no território brasileiro supera a marca de

dois milhões, representando assim cerca de 10 a 30% das espécies de seres vivos existentes

em todo mundo. Segundo Brasil (2010, p. 35), “[...] considerando as possíveis

necessidades de revisão taxonômica, pelo menos 103.870 espécies animais e 43.020

espécies vegetais, ocorrem no Brasil [...] Em média, 700 novas espécies animais são

reconhecidas por ano no Brasil”.

Diante dessa variedade de espécies surgiram discussões e ações em torno da

proteção da biodiversidade, onde se destaca o importante papel da Convenção sobre a

Diversidade Biológica (CDB), “instrumento de direito internacional, acordado e aberto a

adesões durante a reunião das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em junho de

1992” (CUNHA, 1999, p.147) sendo “o primeiro acordo multilateral a regular a

conservação e o acesso aos recursos genéticos e a reconhecer o papel das comunidades

tradicionais nas áreas protegidas” (ZANIRATO; RIBEIRO, 2007, p. 41). Deste modo, a

CBD “previu que os conhecimentos oriundos das populações indígenas, ribeirinhas,

seringueiros, quilombolas, dentre outros, e que possam ser úteis para o desenvolvimento de

biotecnologias, sejam protegidos” (HERINGER, 2007, p. 134) e em seu artigo 8 (j),

convoca os Estados-membros para o compromisso de:

Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter

o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações

indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à

utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla

aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a repartição equitativa dos

benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas

(BRASIL, 2000, p. 12).

15

As áreas protegidas por sua vez têm grande importância dentro do processo de

proteção da biodiversidade. As Unidades de Conservação (UC’s), modelo de área

protegida vigente no Brasil, começaram a ser implantadas a partir da década de 1930,

quando especificamente em 1937 foi implantado o primeiro parque nacional brasileiro, o

de Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro (FREITAS et al. 2007). Hoje, no Brasil, o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) compartimenta as áreas protegidas em dois

grupos: de Proteção Integral, que tem como principal objetivo a conservação da

biodiversidade, não permitindo a permanência de grupos humanos, e as Áreas de Uso

Sustentável, que permitem algumas formas de utilização dos recursos naturais e presença

de populações humanas. Estas áreas são definidas e regulamentadas nas instâncias federal,

estadual e municipal (RYLANDS; BRANDON, 2005).

O Código Florestal (Decreto n° 23.739, de 1934) foi de suma importância nesse

processo, uma vez que introduziu na legislação brasileira, a figura da unidade de

conservação, porém tinha a restrita ideia de conservar a natureza em si, sem se preocupar

com a interação sociedade x natureza, gerando discussões sobre o impacto positivo ou não

da presença de populações humanas nestas áreas (BENSUSAN, 2006).

No SNUC o grupo formado pelas Unidades de Proteção Integral está composto

pelas seguintes categorias: Estação Ecológica (EE), Reserva Biológica (RB), Parque

Nacional (PARNA), Monumento Natural (MN) e Refúgio da Vida Silvestre (RVS).

Compõem o grupo das Unidades de Uso Sustentável, as seguintes categorias: Área de

Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Floresta

Nacional (FLONA), Reserva Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (RF), Reserva de

Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN)

(BRASIL, 2011).

Sobre a presença legal de populações humanas no interior de UCs, Dourojeanni e

Padua (2001) destacam que é necessário considerar a dificuldade de manejá-las e o que

isso irá implicar. Segundo esses autores, é muito maior o grau de dificuldade em se

manejar uma RESEX repleta de usuários, que uma FLONA, onde existem apenas poucos

usuários. Porém, esclarece que é importante que as atitudes em relação a isso não sejam

extremadas, uma vez que “as populações tradicionais têm muito que aportar à humanidade

em termos de conhecimento, mas seus conhecimentos não substituem nem competem com

os gerados pela ciência moderna, sendo complementares” (DOUROJEANNI; PADUA,

2001, p. 154).

16

Portanto, a valorização do conhecimento das populações tradicionais nas discussões

sobre o processo de conservação da natureza permite a existência de uma diversidade

cultural e esta é essencial para a manutenção da diversidade biológica (MOURÃO;

MONTENEGRO, 2006).

Ciente do grande desconhecimento sobre a biodiversidade brasileira (GARAY;

BECKER, 2006, p. 124) e sabendo-se da estreita relação existente entre o conhecimento

das populações tradicionais com a biodiversidade local é que se reconhece a necessidade

da realização de estudos etnobiológicos no país, envolvendo estas comunidades e que

objetivem não só mensurar a diversidade biológica, mas também entender a relação

histórica entre pessoas e natureza que levaram a conservação das áreas onde residem.

A importância dessas populações tem sido demonstrada nos numerosos trabalhos

desenvolvidos na área e que é objeto de estudo da ciência denominada Etnobiologia, que

em sua composição e estruturação multidisciplinar busca, de um modo geral, conhecer e

compreender as relações entre pessoas e natureza desenvolvida dentro de um processo

histórico que envolve respeito ao uso da natureza e que foi responsável pela manutenção

do ambiente ao seu entorno, levando-nos a crer que tais formas de interação tenham muito

a nos ensinar no quesito sustentabilidade.

Os trabalhos etnobiológicos já se fazem expressivos no Brasil, mas se levado em

consideração a grande diversidade biológica do mesmo, somado aos grupos culturais que

este possui, isto gera possibilidades diversas para realização de novos trabalhos que

contribuirão para o aumento do banco de dados sobre o tema. No Maranhão, os trabalhos

nessa área são ainda insipientes, podendo ser destacados trabalhos com quilombolas

(MONTELES; PINHEIRO, 2007), com comunidades indígenas (BALEÉ, 1986;

COUTINHO; TRAVASSOS; AMARAL, 2002) com populações rurais (OLIVEIRA

JÚNIOR; CONCEIÇÃO, 2010) e com pescadores artesanais (MONTELES; CASTRO;

VIANA; CONCEIÇÃO; FRANÇA, 2009), dentre outros.

Cabe ressaltar a importância de se realizar esses estudos em áreas de grande

diversidade biológica e que possuem uma fragilidade acentuada como os ambientes

costeiros. Para Cavalcanti (1997), devido às atividades humanas no continente e na costa,

os ecossistemas e os recursos costeiros e marinhos estão se exaurindo rapidamente,

proveniente principalmente do desenvolvimento urbano, industrial, agrícola e do turístico,

fato gerado principalmente a partir das deficiências no planejamento e controle.

17

Na busca desse conhecimento, o presente estudo é focalizado numa população de

pescadores artesanais, localizada na região do Delta do rio Parnaíba no município de

Araioses/MA.

O Delta do Parnaíba “posiciona-se na foz do rio Parnaíba entre as cidades de Luis

Correia (PI) e a extremidade ocidental da IIha das Canárias (MA) [...] caracteriza-se por

apresentar extensas planícies fluviomarinhas cortadas por uma rede de canais

distributários, formadores das ilhas do Delta” (IBGE, 1996, p. 76). Estas formam um

complexo de cerca de 80 ilhas (SILVA, 2004, p. 74), “que se estende por uma extensa área

de aproximadamente 2.700km² localizada no extremo norte de seis municípios situados na

divisa do Maranhão e Piauí” (SARAIVA, 2009, p. 7), formando um labirinto de rios,

igarapés e dunas, que compõem o único Delta em mar aberto presente nas Américas e um

dos três únicos no mundo, juntamente com o Delta do rio Mekong, o maior do planeta e

que desemboca no mar da China e o Delta do rio Nilo, o segundo maior (SILVA, 2004)

que desemboca no mar Mediterrâneo. A região pertence à APA Delta do Parnaíba,

Unidade de Conservação de Uso Direto, criada pelo Decreto s/n° de 28.08.1996 (BRASIL,

2011). Segundo Silva (2004, p. 68) “a produção pesqueira é uma das principais atividades

e potencialidade econômica da APA”. A comunidade Canárias situa-se na RESEX

Marinha do Delta do Parnaíba, criada em 16.11.2000 (COSTA, 2007), que “tem por

objetivo garantir a exploração auto-sustentável e a conservação dos recursos naturais

renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista da área” (BRASIL,

2011). A comunidade situa-se em localização privilegiada para a atividade pesqueira, e de

acordo com Silva (2004, p. 66) “é também de suma importância para aquela região do

Delta, pois, de lá, partem embarcações que [...] abastecem grande parte do comércio de

pescado, embora seja uma Comunidade de pequeno porte”.

Definiu-se como objetivo geral para este trabalho: investigar o conhecimento

botânico tradicional e a atividade pesqueira artesanal na comunidade Canárias, situada na

RESEX Marinha do Delta do Parnaíba, com o intuito de contribuir com a conservação e

valorização da biodiversidade, bem como, do conhecimento acerca desta, presente na

cultura tradicional local. Como objetivos específicos: (I) caracterizar a atividade pesqueira,

demonstrando os diferentes tipos de instrumentos e estratégias de pesca encontradas na

comunidade; (II) identificar a flora útil à comunidade, classificando-as em categorias

separadas por utilidade; (III) determinar o valor de usos das espécies úteis citadas pelos

18

pescadores da comunidade; (IV) compreender o modo como está distribuído o saber

tradicional por gênero e faixa etária dentro da comunidade.

No sentido de discutir a relação sociedade x natureza existente na comunidade, no

que tange ao conhecimento e uso dos recursos biológicos, organizou-se este trabalho do

seguinte modo: numa introdução geral, seguida pelos tópicos de revisão de literatura,

histórico da comunidade e referências, segundo as normas da ABNT vigentes em 2011.

Logo após, apresentou-se os artigos científicos intitulados “Etnobotânica de comunidade

pesqueira na Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil” e

“Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do delta do

Parnaíba, Nordeste do Brasil”.

19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Os Povos Tradicionais do Brasil

Em se tratando de diversidade, o Brasil não possui apenas uma das maiores taxas

em números de espécies do planeta, 15% a 20% segundo a FAPESP (2008), mas

representa também um dos países de maior diversidade cultural. Dentro desse contexto,

estão as populações tradicionais que são formadas por várias etnias e divididas, segundo

Diegues et al. (1999, p. 2), em duas categorias: indígenas e não-indígenas. Esses autores

consideram como integrantes das populações não-indígenas os grupos: caiçara, açoriano,

caipira, babaçueiro, jangadeiro, pantaneiro, pastoreio, quilombola, ribeirinho/caboclo

amazônico, ribeirinho/caboclo não-amazônico (varjeiro), sertanejo/vaqueiro e pescador

artesanal, lembrando ainda, que os grupos não-indígenas receberam forte influência dos

índios, tais como, no preparo de alimentos, na produção de cerâmica e nas técnicas de

construção de instrumentos para caça e pesca, dentre outros.

Para Almeida, Proença, Sano e Ribeiro (1998) estas comunidades sejam indígenas,

rurais ou urbanas, trazem consigo uma grande diversidade cultural representando o

etnoconhecimento sobre o manejo das espécies nativas de sua região.

No Brasil não há legislação que trate especificamente das populações tradicionais,

no entanto, a Lei Nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, faz referência a estas em seu Art.

3º, inciso II, e as define como “população vivendo em estreita relação com o ambiente

natural, dependendo de seus recursos naturais para a sua reprodução sociocultural, por

meio de atividades de baixo impacto ambiental”. Esta definição, porém é questionável uma

vez que, nem todas as populações que levam o status de tradicional possuem relações

sustentáveis com o meio.

Segundo Santilli (2002, p. 54) observando-se juridicamente, “a primeira lei

nacional a empregar a expressão ‘populações tradicionais’ foi a Lei 9.985/2000, que

instituiu [...] o (SNUC)”. Sobre a referida lei, essa autora comenta:

Embora não conceitue, de forma direta, o que são “populações tradicionais”,

a referida lei cria a chamada “reserva de desenvolvimento sustentável”,

definida como uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja

existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos

naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições

20

ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da

natureza e na manutenção da diversidade biológica (SANTILLI, 2002, p. 54).

Deste modo, percebe-se que a dependência do meio ambiente ao seu entorno fez

com que estas populações criassem uma forte relação com o mesmo, conhecendo-o,

utilizando-o e transmitindo um modo de vida que manteve seus recursos por gerações e

que os fazem ainda disponíveis às presentes gerações, e uma vez mantida esta cultura, estes

também servirão a seus descendentes. O conhecimento que envolve esta relação, embora

não científico, pode, em muitos casos, fornecer sua contribuição na busca do homem por

relações mais sustentáveis.

2.2 O Conhecimento Tradicional

Segundo Diegues e Arruda (2001, p. 31) “conhecimento tradicional é definido

como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural,

transmitido oralmente de geração em geração”. O conhecimento local, como também é

chamado, é gerado a partir da relação histórica existente entre as comunidades locais e o

meio ambiente em que vivem, e estando intimamente relacionado ao meio onde foi

produzido e que, em prática, permitiu, em muitos casos, a utilização de seus recursos sem

levá-los à exaustão. Sobre o referido conhecimento Albuquerque, Alves e Araújo (2007, p.

107) afirmam que:

[...] ao longo do tempo temos percebido que a discussão sobre

etnoconhecimento fundamenta-se essencialmente naquilo que provavelmente

o ser humano tem de mais valoroso: um saber que é experimentado na prática

cotidiana dos afazeres e na pluralidade cultural das populações humanas que

habitam e se adaptam à ambientes mais diversificados.

Observando a legislação nacional vigente, encontra-se a definição de conhecimento

tradicional no Art. 3º do Decreto 118 de 2002, como sendo:

[...] todos os elementos intangíveis associados à utilização comercial ou

industrial das variedades locais e restante material autóctone desenvolvido pelas populações locais, em coletividade ou individualmente, de maneira não

sistemática e que se insiram nas tradições culturais e espirituais dessas

populações, compreendendo, mas não se limitando a conhecimentos relativos

a métodos, processos, produtos e denominações com aplicação na agricultura,

alimentação e atividades industriais em geral, incluindo o artesanato, o

comércio e os serviços, informalmente associados à utilização e preservação

das variedades locais e restante material autóctone espontâneo abrangidos

pelo disposto no presente diploma (BRASIL, 2011).

21

Uma questão intrigante é o fato que por muito tempo acreditou-se na existência de

uma mentalidade dita “pré-lógica” acerca dos conhecimentos não científicos. Dentro desse

contexto, estavam os grupos humanos tradicionais e o conhecimento originado por eles.

Sobre o tema Arruda (1999, p. 88) descreve que:

Há quase um século de reflexão antropológica sobre um crescente volume de

dados etnográficos e culturais comprovando a falácia da existência de uma

mentalidade “pré-lógica” dos povos culturalmente diferenciados [...] percebe-

se hoje a existência de racionalidades diferenciadas, relativas a formas

socioculturais específicas [...] com semelhante grau de pensamento abstrato,

raciocínio científico e também mítico, equivalentes, com todas as suas

diferenças, ao da racionalidade de nossa sociedade.

Deste modo, percebe-se que o conhecimento não científico apresentado pelos povos

tradicionais, trata-se de um conhecimento com racionalidade diferenciada, mas não menos

importante e até mais funcional se considerado a utilidade do mesmo para as comunidades

onde o mesmo foi gerado, sendo muitas vezes indispensáveis para garantia de alimentos ou

renda.

O senso comum, no qual se fundamenta o conhecimento tradicional, e o científico

não podem em momento algum sequer ser comparados, por se tratarem de formas distintas

de conhecimento. Para Alves e Souto (2010, p. 40) eles “nos apresentam visões de ordens

muito diferentes uma da outra”, porém o autor defende a existência de uma continuidade

entre pensamento científico e senso comum, considerando-os como expressões de uma

mesma necessidade básica de se compreender o mundo na busca pela sobrevivência e

melhoria na qualidade de vida. Desse modo, percebe-se que, ambos possuem seu espaço e

importância devendo o senso comum e a ciência, serem somados na busca por uma

racionalidade ambiental.

Diegues e Arruda (2001, p. 32) por sua vez colocam que “o conhecimento

tradicional somente pode ser interpretado dentro do contexto da cultura em que ele é

gerado”.

Para Albuquerque (2005a, p. 21), em se tratando de conhecimento tradicional, este

é compreendido pelas “experiências e saberes acumulados por um grupo humano sobre

seus recursos naturais”, e como estas comunidades dependem desses recursos no seu dia a

dia, demonstra que este surge das práticas cotidianas.

Sobre a capacidade de organização e reprodução do conhecimento local, as diversas

sociedades de culturas diferenciadas possuem a habilidade de reconhecer o ambiente ao

seu redor, tendo a sensibilidade de perceber as diferenças e semelhanças entre as suas

estruturas, nomeando em categorias e unidades os frutos dessa observação. Segundo

22

Albuquerque (2005b) estas classificações chamadas de pré-científicas ou taxonomias de

folk, compõem os denominados sistemas vernaculares. Para esse autor “em todas as

culturas os homens desenvolvem estratégias que lhes asseguram a organização e

classificação do mundo vegetal, nomeando de forma inclusiva dentro de uma hierarquia”

(ALBUQUERQUE, 2005b, p. 41). Essa organização e classificação biológica não estão

restritas ao conhecimento sobre a flora, mas desenvolve-se também no que tange a fauna,

onde tais populações também são detentoras de um vasto conhecimento.

A oralidade e a observação têm também um papel fundamental nesse processo,

sendo os mecanismos pelo qual essa gama de conhecimento é repassado. É na observação

diária das atividades que o aprendiz familiariza-se com a atividade assimilando-a. A

oralidade por sua vez preenche todas as lacunas deixadas pela observação, onde é

repassado de forma direta o conhecimento dos mais experientes aos mais jovens. Para

Toledo e Barrera-Bassols (2010, p. 19) “o saber tradicional é compartilhado e produzido

mediante o diálogo direto entre o indivíduo, seus pais e avós (em direção ao passado) e/o

entre o indivíduo, seus filhos e netos (em direção ao futuro) com a natureza”. Sobre o tema

Amorozo (1996, p. 11) comenta que:

Em sociedades tradicionais, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o

conhecimento é perpetuado. O conhecimento é transmitido em situações, o

que faz que a transmissão entre gerações requeira contato prolongado dos

membros mais velhos com os mais novos.

O produto final desse processo é a materialização, expressa em práticas, de um

conhecimento que, embora sem um registro escrito, está guardado na memória destes

povos por gerações e que compõe a sua própria identidade étnica. Ao referir-se a

identidade étnica de povos tradicionais indígenas, Muños (2003, p. 283) afirma que esta é

“expressa em diversas recreações de mundo e ethos1 comunitário através de símbolos e

rituais reconhecidos em sistemas referenciais da memória oral”. Este autor comenta, ainda,

que nesse espaço de memória e reconstrução de saberes destaca-se a importante

participação dos saberes tradicionais na acumulação de conhecimentos sobre o meio.

1 “O ethos de um povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua vida. seu estilo moral e estético; a disposição do seu ânimo;

trata-se da atitude subjacente que um povo tem ante si mesmo e ante o mundo que a vida reflete. A sua cosmovisão é o seu retrato [...] é a sua concepção da natureza, da pessoa, da sociedade” (GEERTZ apud MUÑOS, 2003, p. 286).

23

2.3 Etnobiologia: Investigando o Conhecimento Biológico Tradicional

Durante muito tempo, era praticamente impensável o estabelecimento de relações

possíveis entre as Etnociências e a ciência moderna, bem como, a própria existência dessas

ciências, inexistindo também a possibilidade de juntar o prefixo «éthnos-» a «scientiae»

(DIAS; JANEIRA, 2005). Contrariando tais afirmações as Etnociências firmaram-se como

ciências e contribuem para o acúmulo de conhecimento sobre as relações entre pessoas e as

diversas áreas de conhecimento. De acordo com Diegues et al. (1999, p. 37):

[...] entre os enfoques que mais têm contribuído para se estudar o

conhecimento das populações ‘tradicionais’ está a etnociência que parte da

linguística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os

processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento

humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras.

Dentro da Etnociência temos a Etnobiologia que “classicamente tem sido definida

como o estudo das interações das pessoas com o seu ambiente” (ALBUQUERQUE, 2005a,

p. 19). Para Posey (1986, p. 15) ela representa “o estudo do conhecimento e das

conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal e

animal”.

De acordo com Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 100) “valendo-se dos

paradigmas e da epistemologia da ciência moderna, da qual faz parte, a Etnobiologia

fornece um arcabouço teórico para interligar diferentes áreas das ciências sociais e naturais

com outros sistemas de conhecimentos não-acadêmicos”.

É importante destacar que existe uma íntima relação entre o conhecimento

tradicional sobre a diversidade biológica local, seus usos e a própria diversidade em si. As

populações tradicionais são conhecedoras dessa biodiversidade, uma vez que convivem

com a mesma e utilizam benefícios que esta os proporciona. A diversidade de espécies

conhecidas passa então a ser uma fonte para se determinar a diversidade de espécies locais.

Para Hanazaki, Mazzeo e Souza (2006, p. 203) a relação entre a biodiversidade e a

diversidade de conhecimento e uso de espécies pode ser investigada também “mensurando

a diversidade cultural através do conhecimento sobre espécies biológicas”.

As populações tradicionais além de conviver com a biodiversidade, nomeiam e

classificam as espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. Então, para as

comunidades tradicionais a diversidade de espécies não é completamente selvagem e dessa

24

forma pode ser domesticado e manipulado. Outra diferença seria que essa diversidade da

vida encontrada não é tida como um ‘recurso natural’, mas como um conjunto de seres

vivos que possuem um valor de uso e um valor simbólico (DIEGUES et al., 1999).

Posey (1987) destaca que o conhecimento das comunidades tradicionais, sejam

estas indígenas ou não-indígenas, não se encaixam nas categorias e subdivisões

organizadas artificialmente pela Biologia. Contudo, o desenvolvimento dos estudos na área

demonstra cada vez mais que este conhecimento não deixa de apresentar lógica em sua

classificação hierárquica.

No que se referem à estruturação multidisciplinar da Etnobiologia, Diegues e

Arruda (2001, p. 37) afirmam que:

[...] a partir da década de 1970, tornaram-se mais frequentes os trabalhos de

etnociência em suas diversas subdivisões, como a etnobiologia, a

etnobotânica, a etnofarmacologia e a etnomedicina. Esses últimos apresentam

também etnoclassificações da flora e da fauna pelas populações tradicionais.

Dentro desse contexto, destacam-se as ciências Etnobotânica e Etnozoologia, como

sendo as vertentes mais desenvolvidas e estudadas no Brasil.

2.3.1 Etnobotânica

Um dos campos mais desenvolvidos dentro da Etnobiologia é a Etnobotânica que

“[...] tem como interesse central captar as diferentes dimensões e aspectos da inter-relação

de grupos humanos e o ambiente vegetal, bem como os processos que levam a mudanças

nesta relação ao longo do tempo” (ALBUQUERQUE; LUCENA; ARAÚJO, 2008, p. 81).

Por intermédio das investigações etnobotânicas chega-se ao acúmulo de

conhecimentos que segundo Albuquerque (2005 b, p. 63) permitem:

1) A descoberta de substâncias de origem vegetal com aplicações médicas e industriais; 2) Conhecimento de novas aplicações para substâncias já

conhecidas; 3) O estudo das drogas vegetais e seu efeito no comportamento

individual e coletivo dos usuários frente a determinados estímulos culturais e

ambientais; 4) O reconhecimento e preservação de plantas potencialmente

importantes em seus respectivos ecossistemas; 5) Documentação do

conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação

dos recursos naturais dos povos tradicionais; 6) O descobrimento de

importantes cultivares manipulados tradicionalmente e por nossa ciência

desconhecidos.

25

Diante do exposto, observa-se que o conhecimento botânico tradicional embora

não-científico contribui com a ciência ao abrir um leque de opções no que tange a novos

objetos de estudos que podem ser desenvolvidos em diversas vertentes sejam na medicina,

indústria ou na busca de modelos conservacionista de relacionamento com a natureza.

Muitas espécies com valor medicinal ou industrial foram descobertas após a observação de

seus usos por estas comunidades e seus benefícios passaram então ser indispensável à

sociedade como um todo.

2.3.2 Etnozoologia

Com relação à Etnozoologia, esta emerge do campo das Etnociências e “busca

compreender como os mais variados povos percebem e interagem com os recursos

faunísticos ao longo da história humana” (ALVES; SOUTO 2010, p. 25), investigando

seus significados, conhecimento e uso, bem como visa perceber a influência que estes

exercem sobre aquela cultura.

Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 100) descrevem que o termo Etnozoologia teve

sua origem nos Estados Unidos ao final do século XIX, mas apenas aparecendo em um

artigo no ano de 1914, cujo título era: Ethnozoology of the Tewa Indians, publicados por

Henderson e Harrington.

A relação entre pessoas e animais é antiga e remonta aos primórdios da existência

humana. De acordo com Alves e Souto (2010, p. 23), as “culturas de todo mundo tem

desenvolvido diferentes formas de interação com a fauna através da história cuja [...]

variedade de interações (passadas e atuais) [...] é abordada pela perspectiva da

Etnozoologia”. Dentro desse contexto, a importância de compreendê-las mostra-se na

necessidade que o homem moderno tem na busca de relações mais sustentáveis com a

natureza como forma de garantir sua existência futura.

2.4 A Pesca e o Pescador Artesanal como Fontes de Conhecimentos

Houve um aumento significativo do interesse pela Etnobiologia das comunidades

de pescadores tradicionais. O fato deve-se a atual percepção por parte dos pesquisadores da

26

grande quantidade de conhecimento que estas populações possuem sobre a biologia e

ecologia dos espécimes com quem se relacionam em suas atividades diárias. Para Pezzuti

et al. (2010, p. 450) “[...] o detalhado conhecimento que pescadores e caçadores

adquiriram, por sua própria experiência e pelo aprendizado oralmente transmitido ao longo

das gerações, tem vasta aplicabilidade”.

No Brasil a pesca artesanal “representa mais da metade da produção pesqueira

nacional” (BEGOSSI et al., 2009, p. 39), o que demonstra sua importância para economia

nacional. Não menos importante é o conhecimento gerado a partir desta atividade,

percebido nos costumes daqueles que sobrevivem dela. Sobre a categoria de pescadores,

Diegues, Arruda, Silva e Figols (1999, p. 59) afirmam que os pescadores artesanais “[...]

praticam a pequena pesca, cuja produção em parte é consumida pela família e em parte é

comercializada. A unidade de produção é, em geral, a familiar, incluindo na tripulação

conhecidos e parentes mais longínquos”.

Deste modo, além de fonte de renda a atividade compõe a base alimentar local,

promovendo um ambiente de convívio familiar onde se desenvolvem práticas e

aprendizagem.

Dentre as comunidades de pescadores reconhecidos, Diegues e Arruda (2001, p. 49)

citam sobre os grupos denominados praieiros (habitantes da faixa litorânea entre Piauí e

Amapá) como possuidores de características socioculturais diferenciadas das demais

comunidades litorâneas e destacam a grande influência que estes sofrem diante da

diversidade de ecossistemas e habitats da região. Segundo estes autores, o Maranhão

encontra-se dentro desse contexto e detém uma grande variedade de embarcações “a vela”,

sendo mais recentemente, introduzidas as embarcações motorizadas, ambas utilizadas na

pesca e no transporte entre as comunidades. Por fim, destacam a pesca como principal

atividade destas comunidades, sendo a renda, muitas vezes, complementada com a

agricultura em pequena escala, extrativismo e o turismo.

O conhecimento destas comunidades não se restringe apenas à atividade pesqueira.

Muitas destas populações têm certo grau de isolamento e aprenderam a sobreviver apenas

dispondo dos recursos que ali se encontram. Deste modo, utilizam, por exemplo, de sua

flora: para extrair madeira para suas moradias, construções de embarcações e produção de

carvão para preparar seus alimentos; palha para coberturas das casas; folhas raízes e súber

para composição de medicamentos naturais e frutos para alimentação diária. Fazem uso

também da fauna local, como: a cata do caranguejo (Ucides cordatus Linnaeus, 1763),

27

pesca do siri (Callinectes bocourti A. Milne-Edwards, 1879), diversas caças para

alimentação, dentre outros.

2.5 Pesquisas Etnobiológicas com Pescadores Artesanais

Segundo Diegues (1999, p. 15) “os estudos de sociedades de pescadores se

iniciaram já nos inícios (sic) da Etnologia2, quando os pesquisadores ingleses começaram a

fazer ciência com base em trabalhos de campo”. Na atualidade são inúmeros os trabalhos

realizados com populações tradicionais no Brasil e no exterior que visam descrever o modo

de vida dessas populações, bem como, a maneira com que percebem e se relacionam com a

natureza.

Dentre estes estudos tem-se destacado o crescimento do número dos trabalhos

realizados com comunidades pesqueiras, tais como Rossato et al. (1999), Hanazaki et al.

(2000), Moreira et al. (2002), Roman e Santos (2006), Oliveira et al. (2006), Souto (2008),

Melo et al. (2008), Sousa (2010), dentre outros. Estas comundades, por sua vez, vêm

chamando atenção dos etnobiólogos por apresentarem grande conhecimento sobre a

atividade pesqueira artesanal, fauna/flora e relações ecológicas.

Dentro da estrutura multidisciplinar da Etnobiologia observa-se o desenvolvimento

de estudos nos seus diversos enfoques dos quais a presente pesquisa abrangerá

especificamente as subáreas Etnobotânica e Etnozoologia, fazendo deste modo uma análise

em torno dos principais estudos desenvolvidos nessas áreas.

2.5.1 Pesquisas Etnobotânicas

Rasolofo (1997) desenvolveu trabalho com pescadores na África, especificamente

em vilas da região noroeste e oeste da costa de Madagascar, visando analisar

quantitativamente o uso dos recursos naturais advindos do manguezal, bem como, realizar

comparação deste com a sua disponibilidade e capacidade de renovação. Dentre os

diversos usos encontrados, esse autor descreve a madeira do mangue como sendo usada na

2 “Parte da antropologia, que procura generalizar e sistematizar os conhecimentos a respeito dos diferentes povos e suas

culturas”. (FERREIRA, 2001, p. 301)

28

construção de casas, combustível para cozimento de alimentos, para fabricação de

embarcações pesqueiras, armadilhas para pesca, e para tratar o pescado. Observou na

degradação do ecossistema a já presente escassez de espécies no mangue local o que

representa um uso superior a capacidade de renovação natural.

Rossato, Leitão-Filho e Begossi (1999) desenvolveram estudo em cinco

comunidades caiçaras da costa sudeste do Brasil, sobre o uso de plantas. Compararam as

citações de plantas medicinais entre informantes de comunidades da costa e de ilhas.

Encontraram uma alta diversidade de plantas (276) usadas na costa da mata atlântica,

usadas para alimento, medicina e construção. A similaridade entre as espécies de plantas

mencionadas foi relativamente baixa e o valor de uso das plantas indicadas tem

importância específica para cada comunidade. Concluíram que os caiçaras são dependentes

da medicina tradicional, e as plantas utilizadas para esta finalidade foram especialmente

citadas nas entrevistas.

Hanazaki et al. (2000) realizaram trabalho com pescadores, habitantes nativos da

costa do Atlântico no estado de São Paulo, nas comunidades Ponta do Almada e Praia de

Camburí sobre o conhecimento tradicional destes, sobre o ambiente e sua relação com

conservação da Mata Atlântica. Levantaram 227 etnoespécies, correspondendo a 214

espécies científicas e 74 famílias botânicas. Observaram que não houve diferença entre a

diversidade de plantas citadas nas duas comunidades para o conhecimento geral das plantas

e seu uso. Concluíram que os pescadores estudados conhecem e utilizam mais da metade

das espécies nativas.

Rondon (2003) desenvolveu trabalho com indígenas no Peru, sobre a construção de

balsas, utilizando para isso, a técnica de observação participante3. Estes autores

observaram o uso do Schoenoplectus californicus (C.A. Mey.) Soják: Cyperaceae na

construção do corpo da embarcação; da Furcraea andina Trel. (Agavaceae) cujas folhas

serviam para confeccionar uma espécie de corda que amarravam os feixes, e o caule de

Guadua angustiolia Kunth (Poaceae), para fabricação do remo. Concluíram que houve

uma diminuição no uso das plantas devido à proporcional diminuição destas no local.

Quanto a confecção das embarcações, observaram que o processo se mantem quase que

3Técnica que busca a interação entre o pesquisador e os membros da comunidade estudada na busca da

compreensão do modo como opera a cultura em questão e a visão de mundo dos atores sociais estudados

(Amorozo, 1996).

29

inalterado ao longo do tempo, demonstrando o importante papel que os pescadores da

região possuem na conservação do conhecimento tradicional acerca da confecção dessas

embarcações.

Melo, Lacerda e Hanazaki (2008) objetivaram efetuar um estudo etnobotânico com

espécies de restinga, na localidade da Praia do Pântano do Sul da Ilha de Santa Catarina.

Foram aplicadas entrevistas através de “check list” e entrevistas com informantes-chave

em turnês-guiadas, com 43 moradores selecionados ao acaso (20,00%), onde pesquisaram

o conhecimento sobre 10 espécies previamente selecionadas e com listagem livre de

espécies. Foram listados 69 nomes populares, 47 gêneros e 39 espécies, distribuídas em 31

famílias. As três categorias de uso mais citadas nas duas metodologias foram: medicinal,

seguida por alimentar e artesanal. Verificaram que a comunidade tem conhecimento sobre

a utilização das plantas de restinga e que este conhecimento está concentrado

principalmente entre as pessoas mais idosas.

Roman e Santos (2006) realizaram trabalho com pescadores na ilha de Algodoal,

Praia da Princesa em Maracanã/PA. Objetivaram determinar a importância das espécies

medicinais da restinga na cultura local, aplicando entrevistas estruturadas e

semiestruturadas com 30 casais residentes nas três principais ruas da vila. As espécies

medicinais foram determinadas por um inventário etnobotânico auxiliado por dois

colaboradores locais de maior experiência no uso da flora nativa. Identificaram na restinga

da Princesa 24 espécies medicinais, distribuídas em 19 famílias. A população de Algodoal

utiliza, contudo, plantas vindas de outros ambientes, totalizando 80 espécies para fins

terapêuticos.

Oliveira, Potiguara e Lobato (2006) conduziram estudo com pescadores na

microrregião do Salgado/PA para identificar as fibras vegetais utilizadas na pesca

artesanal. Aplicaram 150 entrevistas semiestruturadas a artesãos e pescadores artesanais,

registrando 17 espécies, distribuídas em 8 famílias e 17 gêneros. Observaram o uso das

talas da haste caulinar de uma Marantaceae e o estipe de Arecaceae; os cipós são raízes de

Araceae e Cyclanthaceae e os caules de Bignoniaceae e Dilleniaceae, enquanto que as

palhas são folhas e pinas de Arecaceae. A família mais representativa em número de

espécies e no fornecimento de matéria prima foi Arecaceae (8), seguida de Dilleniaceae e

Araceae (2), Bignoniaceae, Bombacaceae, Cyclanthaceae, Marantaceae e Poaceae (1). As

fibras vegetais são usadas em cestaria, trançados, fixadoras em substituição ao prego,

adornos e vestuário.

30

Souto (2008), levantou dados etnobotânicos no Distrito de Acupe, Santo

Amaro/BA, sobre os bosques de mangues e a pesca artesanal realizada por pescadores e

marisqueiras. Para tal fim, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas. Os dados obtidos

revelaram um conhecimento possuído pelos entrevistados sobre a vegetação do manguezal,

incluindo classificação, ecologia trófica, fenologia e ecozoneamento e percepção

ecossistêmica, por vezes compatíveis com os conhecimentos acadêmicos. Interações da

comunidade pesqueira com o componente vegetal revelaram formas de percepção e de

utilização de recursos fortemente associadas à cultura local e com implicações

etnoconservacionistas.

Morais, Morais e Silva (2009) abordaram o conhecimento ecológico tradicional

sobre plantas cultivadas na comunidade de Estirão Comprido, Barão de Melgaço/MT. Na

coleta dos dados foram entrevistados 22 pescadores para a elaboração de uma lista livre de

plantas. Foram identificadas rupturas no domínio cultural sobre plantas cultivadas,

concentrando-se em 116 etnoespécies. A análise de consenso cultural demonstrou um

consenso, concentrando-se em 18 etnoespécies. A análise de empilhamento evidenciou que

o conhecimento sobre plantas está relacionado aos diferentes tipos de uso. Para os autores,

as possibilidades de uso e manejo podem contribuir para a elaboração de políticas públicas

destinadas à conservação da biodiversidade ecológica e cultural.

Moreira et al. (2002) conduziram pesquisa na comunidade de Vila Cachoeira,

Ilhéus/BA com o objetivo de resgatar o conhecimento da comunidade sobre o uso de

plantas medicinais. Foram entrevistados cinco informantes-chave, através de entrevista

informal e formulários semiestruturados. A análise final mostrou a ocorrência de 85

espécies de plantas medicinais, sendo usadas na forma de chá (48,00%), xarope (19,00%),

banho (16,00%), outras administrações (9,00%). A parte mais utilizada das plantas foi

folha (64,00%), planta inteira (13,00%), fruto (8,00%), casca (7,00%) e outras partes

(8,00%) como látex.

Sousa (2010) investigou a etnobotânica das comunidades pesqueiras, Barra Grande

e Morro da Mariana na APA do Delta do Parnaíba/PI, como modo de contribuir na

valorização e preservação da biodiversidade e da cultural local. Aplicou 161 entrevistas a

pescadores artesanais através de “bola-de-neve”, e adotou “turnê-guiada” para coleta

botânica. Foram referidas 263 espécies vegetais, distribuídas em 93 famílias. As categorias

de uso medicinal e alimentícia foram as mais referidas. A Copernicia prunifera (Mill.)

H.E. Moore apresentou maior potencial de uso. Não houve diferença significativa no

31

conhecimento por gênero e quanto à faixa etária, idosos têm maior conhecimento acerca

das espécies úteis. Segundo a autora o conhecimento etnobotânico deve ser considerado na

conservação e preservação biológica, e como parte na cultura local, no sentido de

incentivar atividades sustentáveis.

Amorim (2010) realizou estudo etnobotânico em quintais urbanos na comunidade

de pescadores artesanais do bairro Poti Velho em Teresina/PI, buscando conhecer o

potencial da flora dos quintais e suas formas alternativas de uso e manejo. Aplicou

entrevistas semiestruturadas a 30 mulheres e 30 homens, com idades entre 18 e 76 anos. O

autor constatou que as aquisições das plantas existente nos quintais se deram pelo

recebimento de mudas ou trocas com os vizinhos. As espécies exóticas cultivadas

predominam, fato que se deve a maior vivência em meio urbano. A categoria com maior

número de citações de espécies foi a medicinal (69,3%). Segundo esse autor, o

conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas. Os quintais apresentaram

grande similaridade entre si, e são espaços de convívio e de cultivo de várias espécies, em

sua maioria, plantas medicinais.

Carneiro, Barbosa e Menezes (2010) estudaram as plantas nativas úteis na vila de

pescadores da RESEX Marinha Caeté-Taperaçú/PA. Foram aplicadas 30 entrevistas semi-

estruturadas. Os pescadores citaram 23 espécies úteis em sua maioria pertencentes aos

ecossistemas manguezal ou restinga. A categoria alimentos foi destaque entre as espécies

da restinga, já as categorias “construção” e “tecnologia” se destacaram sobre as espécies do

manguezal. O índice de diversidade de Shannon encontrado foi alto (H’=2,3), que segundo

os autores, se deu ao fato da grande citação de uso das espécies do mangue. Esses autores

destacam que devido a grande utilidade apresentada pelas espécies nativas, as políticas de

uso e preservação das RESEX marinhas devem voltar mais atenção no que tange a

exploração dos recursos vegetais.

2.5.2 Pesquisas Etnozoológicas

A Etnozoologia, como ciência, vem tentando descrever essa relação expressa

muitas vezes pelo valor de utilidade que os animais possuem para uma dada comunidade,

seja econômico ou de subsistência, e em sua diversidade de usos como alimento, medicina

alternativa, e outros mais. Dentre estes trabalhos destacamos os realizados em

comunidades pesqueiras e que envolvem principalmente o conhecimento sobre a

32

ictiofauna, sendo esse conhecimento desenvolvido ao longo de uma relação de

dependência e tradição.

Mourão e Nordi (1999) desenvolveram trabalho com as comunidades de pescadores

artesanais Barra de Mamanguape e Tramataia, estuário do rio Mamanguape/PB, com o

objetivo de resgatar conhecimentos acerca do comportamento reprodutivo, migratório, de

defesa e alimentar de peixes estuarinos. Aplicaram entrevistas livres e questionários a

pescadores experientes. Os resultados mostraram a existência de categorias tróficas e

categorias baseadas em comportamento dos peixes. Para esses autores, os dados obtidos no

trabalho geram informações sobre o estado atual da cultura pesqueira das comunidades

estudadas e sugerem a importância da preservação das mesmas.

Costa-Neto, Dias e Melo (2002) realizaram trabalho com pescadores artesanais na

cidade de Barra/BA. Aplicaram entrevistas livres e semiestruturadas a 15 informantes (10

homens e 5 mulheres) com o objetivo de registrar os aspectos cognitivos e culturais

relacionados com as espécies de peixes locais. Dezoito espécies foram coletadas e

identificadas. Os resultados revelam que os pescadores ainda possuem conhecimentos

teóricos e práticos importantes que devem ser considerados em estudos de manejo,

conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros.

Souza e Barrela (2001) estudaram o conhecimento popular sobre peixes na

comunidade Vila Barra do Uma, na Estação Ecológica de Juréia-Itatins (EEJI), Peruíde/SP.

Entrevistaram 13 pescadores com idades entre 37 e 77 anos. Caracterizaram a pesca

artesanal desenvolvida como familiar e elaboraram uma listagem com 38 etnoespécies

citadas; 10 foram coletadas, fixadas e identificadas de bibliografia especializada. O

Centropomus undecimalis Bloch, 1792 e a (Mugil sp) foram apontados por 100% dos

pescadores como os peixes mais comuns. Os pescadores demonstraram um extenso

conhecimento acerca da ictiofauna local e das características morfológicas e

comportamentais dos peixes.

Costa-Neto e Marques (2001) tratam das atividades de pesca desenvolvidas por

pescadores artesanais de Siribinha, Conde/BA. Por meio de entrevistas abertas e

observações de campo, registraram informações culturais sobre apetrechos de pesca, ciclo

lua-maré, pesqueiros, sistemas de posse, segredos de pesca, conflitos entre grupos sociais,

mudanças sócio-ambientais oriundas do processo de urbanização e do turismo. A pesca

artesanal é familiar e todos estão envolvidos na atividade e no beneficiamento. O

entendimento das atividades de pesca e o conhecimento dos pescadores sobre o

33

comportamento, ecologia e distribuição espacial e temporal das espécies de peixes

implicam o uso correto dos apetrechos de pesca e a devida apropriação dos recursos

pesqueiros. Sugerem a inclusão da cultura pesqueira local nos planos de desenvolvimento,

a fim de levar a um desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Alarcon e Schiavetti (2002) realizaram estudo com pescadores do município de

Itacaré/BA, objetivando resgatar o conhecimento tradicional da comunidade sobre a fauna

de vertebrados (não peixes) associada à pesca. Entrevistaram 35 pescadores, selecionados

ao acaso e seus conteúdos foram analisados de acordo com o modelo de união de

competências individuais. Identificaram uma espécie de ofídeo, cinco espécies de

tartarugas marinhas, 13 gêneros e cinco espécies de aves litorâneas e cinco espécies de

cetáceos. Os autores concluíram que os pescadores artesanais de Itacaré possuem um

amplo e detalhado conhecimento sobre as espécies de vertebrados (não peixes), associados

às atividades pesqueiras, sendo este coerente com o encontrado por pesquisadores e que

deve ser considerado na elaboração do plano de manejo da RESEX.

Alves, Nishida e Hernandez (2005) estudaram sobre a percepção ambiental dos

catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus Linnaeus, 1763) nas florestas de mangue do

rio Mamanguape/PB. Observaram que os coletores de caranguejo-uçá desenvolveram um

conhecimento íntimo da história natural desta espécie e habilidades que tornaram a colheita

mais eficiente. Os autores comentam que a natureza ímpar deste conhecimento

local demonstra a necessidade de considerar esses fatores na implementação de planos de

manejo de ecossistemas de mangue do litoral e defendem que o conhecimento dos

coletores pode fornecer uma base útil para compreensão dos estoques de caranguejo locais

e sua população. Esses autores ressaltam ainda que este tipo de informação pode ser

utilizada para criação de reservas extrativistas, bem como para delimitar a época de

colheita e para a criação de áreas protegidas.

Nishida, Nordi e Alves (2006) pesquisaram os moluscos capturados e os coletores

de moluscos no estuário do rio Paraíba do Norte/PB, objetivando encontrar uma possível

relação entre as informações científicas e a condição de moluscos a partir das declarações

empírica desses coletores. Observaram que os coletores associam as variações de marés

com o ciclo de vida dos diferentes moluscos e com a distribuição dessas espécies animais

em habitats de manguezais e estuários. Segundo os autores o conhecimento dos coletores

de moluscos pode fornecer uma base útil para entendimento local das populações de

34

moluscos e sua dinâmica populacional e ressaltam a importância dos estudos

Etnoecológicos na promoção do diálogo e cooperação entre pescadores e cientistas.

Moura, Marques e Nogueira (2008) realizaram trabalho sobre o conhecimento

ictiológico tradicional de uma população de pescadores na APA de Marimbus-

Iraquara/BA. Os dados foram obtidos por intermédio de entrevistas livres e

semiestruturadas, observações diretas, turnês-guiadas e coletas de material zoológico. O

conhecimento sobre o comportamento de 21 espécies de peixes foi apresentado. Os

fenômenos etológicos percebidos e descritos pelos pescadores foram agrupados em 17

etnocategorias, as quais se relacionam com: reprodução, comportamento de fuga, predação,

comportamento social, ou ainda a respostas a estímulos artificiais. Os resultados revelaram

a existência de um amplo conhecimento ecológico tradicional sobre as espécies e os

ecossistemas locais, particularmente no que se refere à ictiofauna.

Lopes, Francisco e Begossi (2009), desenvolveram estudo com caiçaras no litoral

de São Paulo, acerca dos métodos de pesca utilizados. Observaram a substituição da pesca

tradicional por arrastões de camarão. Descreveram os dois sistemas de pesca e suas

características sócio-econômicas. Concluíram que a pesca não se mostra tão diferente do

sistema realizado no passado, são capturadas apenas 17 espécies, sendo duas, espécies de

camarão. As famílias são as principais unidades de produção para os arrastões e em geral

trabalham por conta própria. As atividades de processamento de camarão dominam a

economia local. A migração dos arrastões da região Sul para o Norte do Brasil é

consequência de uma mudança do camarão do seu local de origem. Os autores ressaltam

que medidas de gestão são necessárias a fim de evitar consequências negativas sociais e

ambientais provocadas pela atividade.

Caló, Shiavetti e Cetra (2009) analisaram o conhecimento ecológico local e

taxonômico de pescadores especialistas do município de Ilhéus/BA sobre os peixes

conhecidos como vermelhos. Utilizaram entrevistas semiestruturadas e testes projetivos.

Foram citadas 19 espécies, sendo 16 identificadas cientificamente. Analisando o

conhecimento ecológico referente à alimentação, constataram que a maioria é carnívora e

detectaram duas categorizações de distribuição espacial: ambientes de ocorrência (rio/mar,

costeiro e alto mar) e profundidade (raso, meia-água, meia-água/fundo, fundo). Os

principais critérios utilizados para identificar, nomear e classificar as espécies estão

relacionados com a coloração e morfologia. Os autores constataram que muitas

informações citadas neste estudo estão de acordo com a literatura especializada,

35

fortalecendo a importância e inclusão do conhecimento ecológico local nos planos de

manejo e na tomada de decisões.

Sousa (2010) realizou estudo etnozoológico nas comunidades pesqueiras, Barra

Grande e Morro da Mariana, situadas na APA do Delta do Parnaíba/PI, como forma de

preservar e valorizar a biodiversidade e a cultura tradicional. Foram aplicadas 161

entrevistas, seguidas de coleta e identificação das espécies. Registrou-se 141 espécies,

distribuídas em 10 Taxa. Em Barra Grande, Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828 e em

Morro da Mariana, Caiman crocodilus Linnaeus, 1758 foram as espécies mais versáteis.

Segundo essa autora o conhecimento etnozoológico deve ser considerado na conservação e

preservação da biodiversidade e da cultura local, valorizando a participação das populações

nos planos de manejo.

Amorim (2010) registrou o conhecimento tradicional relativo às artes de pesca e à

construção de embarcações de pesca (canoas) na comunidade Poti Velho, Teresina/PI. O

autor relata a participação de apenas duas famílias na construção e reparo de canoas.

Foram descritas quatro espécies vegetais como utilizadas para a carpintaria naval local:

pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella

odorata L.) e a embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin), tendo

cada madeira uma função na construção da canoa. Segundo o autor, o conhecimento deve

ser registrado para que não seja perdido diante da falta de interesse dos mais novos e da

comunidade e da vida urbana e do avanço tecnológico.

Diante do exposto, pode-se perceber o crescimento de estudos etnobiológicos

realizados com comunidades de pescadores artesanais. O aumento no número destes

trabalhos está relacionado com um maior reconhecimento da gama de conhecimento

presente na cultura destes povos. Percebe-se, também, que nesse tipo de pesquisa, o que

prevalecia até pouco tempo era apenas o estudo qualitativo, hoje adota-se com maior

frequência a proposta quantitativa de pesquisa, criando-se um elo entre os dois métodos de

trabalho, qualitativo e quantitativo, o que enriquece consideravelmente a pesquisa. Em

suma, os esforços aumentam a cada dia na tentativa de se compreender da melhor forma

possível as relações entre as populações tradicionais e o meio ambiente, expresso em seus

conhecimentos sobre flora, fauna e relações ecológicas, o que contribui na busca do

resgate, reconhecimento e valorização desse patrimônio inestimável que é o conhecimento

tradicional.

36

3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE

CANÁRIAS

3.1 Localização

A comunidade Canárias (Figura 1) situa-se na Ilha de mesmo nome, nas

coordenadas 02°45’55” S; 041°50’41” W, no Norte do estado do Maranhão e pertence ao

município de Araioses. A região faz parte do Delta do rio Parnaíba, um complexo com

cerca de 80 ilhas, distribuídas em uma área de 2.700 Km² (SILVA, 2004).

3.2 Aspectos Físicos

A Ilha das Canárias é a segunda maior ilha em extensão do Delta do rio Parnaíba e

está situada junto à barra das Canárias, que serve de limite entre os estados do Maranhão e

Piauí. Na ilha encontram-se as comunidades de Canárias, Passarinho, Torto e Morro do

Meio, sendo que Canárias representa a maior entre elas e de mais fácil acesso.

O ambiente geomorfológico da área é flúvio deltaico, os solos são formados e

sofrem a ação de intensos processos erosivos. Então, a superfície deltaica é composta por

sedimentos arenosos e argilosos, recortada por canais distributários, que, em seu interior,

contêm acumulação de sedimentos migrantes e inundáveis que se deve ao fluxo e refluxo

das marés e do maior ou menor poder de transporte do canal fluvial principal do rio

Parnaíba. A posição geográfica bem como a distribuição das chuvas ao longo do ano

determinam as características climáticas mais marcantes da área. Então, a área apresenta

clima tropical chuvoso, de acordo com a classificação de Köppen, sendo este quente e

úmido e com chuvas no verão e outono. A média anual da umidade relativa do ar alcança

uma marca de 75,5%. A vegetação predominantemente é a perenifólia de mangue, sendo

uma cobertura vegetal bastante significativa e apresentando espécies halomórficas

características deste tipo de ambiente e que em geral são frenquentes nas faixas externas

das formações sedimentares, estando em contato ou não com a água (CAVALCANTI,

2011).

Segundo Deus et al (2003, p. 56), as áreas de mangue mais preservadas, apresentam

bosques com “vegetação tipicamente arbórea, com alturas máximas [...] variando de 12 a

37

Figura 1 – Mapa de localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba..

Fonte: Software TrackMaker/Google Maps (2011), modificado por Victor de Jesus Silva Meireles (2011).

CANÁRIAS *

38

28 m e com altura média de 11,2 m, o que segundo esse autor apresenta-se superior

aos mangues nordestinos já medidos em outros trabalhos (APÊNDICE E).

3.3 Histórico de Colonização da Ilha

De acordo com Chagas (1987), a comunidade Canárias surgiu em 14 de novembro

de 1806, com a chegada do marinheiro e pescador cearense Francisco Bezerra, mais

conhecido como Chico Bezerra. O pescador, natural de Acaraú, desembarca com mais três

companheiros na Barra das Canárias, conhecida na época por Barra dos Mergulhões

(denominação dada inicialmente ao local pela presença de grande quantidade de pássaros

mergulhões, um hábil pescador, que habitavam as margens do rio Parnaíba). Chico Bezerra

e seus companheiros armaram barracas onde hoje é o porto de Canárias, e juntos

construíram à beira do rio dois grandes currais-de-pesca, dando início a atividade

tradicional de pesca da comunidade. Alguns anos mais tarde, por volta de 1815, chega à

Barra das Canárias um pescador conterrâneo de Francisco Bezerra de nome João Branco

de Souza. As contribuições de João Branco e Francisco Bezerra foram além da atividade

pesqueira, sendo eles responsáveis pelo desbravamento das terras que compunham a

grande Ilha de mais de 40 quilômetros de extensão. Exerceram as atividades de criação

gado (bovino e ovino) em fazendas que se situavam nas comunidades Canárias e

Passarinho, respectivamente. Este autor relata ainda duas versões à origem do nome da

Comunidade: uma defende que seria uma homenagem de Chico Bezerra aos avós,

espanhóis das Ilhas Canárias. Outra versão é que na época das grandes enchentes do rio

Parnaíba descia pelo mesmo uma grande quantidade de um capim denominado canaranas,

chamada pelos pescadores de “canaras”.

Segundo relato da moradora “Srª 101”4, ocorreram mudanças significativas ao

longo dos anos. Onde outrora prevalecia lavouras e criações de animais como fortes

atividades, casas de taipa em sua grande maioria e ausência de energia elétrica, aos poucos

foram ocorrendo avanços e melhorias como a chegada de energia permanente a motor, que

posteriormente, foi substituída pelo fornecimento por uma companhia elétrica. As casas

também passaram a ser em grande parte de alvenaria, a lavoura perdeu força e hoje se

resume em sua maioria a agricultura de subsistência. A atividade pesqueira, presente desde

4 Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.

39

os tempos da colonização local e que representa a atividade econômica principal, também

se modificou, para “Sr. 18”5 onde outrora se utilizava embarcações à vela ou remo, hoje

em sua maioria foram substituídas por embarcações motorizadas; O número de

embarcações na atividade também aumentou bem como modificou-se o modo de

armazenamento do pescado, que anteriormente eram vendidos de imediato ou salgados, a

única forma encontrada para dar maior durabilidade, uma vez que não havia eletricidade no

local. Hoje, são armazenados em conservadoras (freezers) garantindo a durabilidade do

pescado e sua qualidade até chegar aos atravessadores e consumidores. Também, foram

relatados fatos desagradáveis como a redução do número de peixes na região.

3.4 Perfil Socioeconômico

A partir da abordagem sócio-econômica, buscou-se estudar a dinâmica em que a

comunidade Canárias esta inserida, a fim de oferecer subsídios para a compreensão da

relação desta com o meio ambiente.

De acordo com informações fornecidas pelo presidente da Colônia de Pesca Z-07,

estão cadastrados aproximadamente 150 pescadores artesanais que residem na comunidade

Canárias. O presidente descreveu a impossibilidade de precisão ao ceder o número de

pescadores cadastrados, uma vez que a maioria se cadastrou com endereços de Ilha Grande

e o processo de recadastramento ainda não havia sido realizado no ano de 2010. Deste

modo, foram entrevistados 100 pescadores conforme a metodologia proposta por Begossi e

Silva (2004), em que define como amostra representativa o percentual de 25,00% a 75,00%

para o caso de comunidades com mais de 100 residências.

Na atividade pesqueira prevalece a participação de homens (83,00% dos

entrevistados) e apenas 17,00% de mulheres, ficando, portanto a maioria delas restritas aos

serviços domésticos. Cerca de 45,00% dos entrevistados são casados, seguidos pelos

solteiros com 29,00%, a união estável ou juntos com 22,00%, viúvos 4,00% e não há

divorciados no grupo.

As faixas etárias estudadas foram: jovens 14,00% (entre 18 e 24), adultos 72,00%

(entre 25 e 59) e idosos 14,00% (a partir dos 60), de acordo com a divisão adotada pelo

5 Entrevista concedida ao autor em 27 de setembro de 2009.

40

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009). Havendo deste modo, dentro

da atividade pesqueira local, o predomínio de adultos sobre jovens e idosos (Figura 2).

Figura 2- Gráfico de distribuição por gênero e faixas etárias da população de pescadores artesanais da

comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

A grande participação dos adultos deve-se a falta de oportunidade na região que

apenas ofereceu esta atividade como forma de sobrevivência. A pequena participação de

jovens na atividade deve-se segundo os próprios moradores, as novas oportunidades que

tem surgido para esta geração, tanto pelo apoio do próprio Estado em oferecer transporte

para o acesso as escolas em níveis que a comunidade não oferece, facilitando a

continuidade aos estudos, como o crescimento de novas oportunidades em ascensão na

região, como o turismo, que oferece novas formas de emprego. Já em relação aos idosos,

quando já não possuem energia suficiente exigida pela atividade, continuam a dar sua

contribuição nesta por meio muitas vezes da confecção de instrumentos de pesca como a

tarrafa e a caçoeira, sendo comum encontrar idosos tecendo suas redes na porta de suas

casas naquela comunidade. Nota-se que o conhecimento sobre a confecção de

instrumentos de pesca está sendo transmitido, pois observou-se que a maior parte dos

pescadores entrevistados, sejam eles idosos, adultos ou jovens, confeccionam seus próprios

instrumentos ou possuem alguém na família que o faz.

A maioria dos pescadores entrevistados são habitantes nativos (81,00%), sendo os

demais (19,00%) oriundos de outras localidades, como da comunidade vizinha Torto, das

comunidades Cal e Marco (5,26% cada) e dos municípios de Araioses, Tutóia, João Peres,

Barro Duro (5,26% cada) no Maranhão e municípios de Parnaíba (57,92%) e Piripirí

0

20

40

60

80

100

JOVENS ( 18 a 24 anos)

ADULTOS(25 a 59 anos)

IDOSOS (> 60 anos)

Val

ore

s e

m %

Faixas Etárias

HOMENS

MULHERES

41

(5,26%) no Piauí. O tempo de moradia na comunidade variou de 5 a 77 anos, sendo a

média de 37,87 anos.

Em se tratando do ensino, a comunidade possui duas escolas, sendo a Unidade

Escolar Silvio Freitas Diniz, com turmas de Ensino Infantil e a Unidade Escolar Francisco

Cardoso Leite com turmas de Ensino Fundamental e Ensino Médio. Dos pescadores

entrevistados, 61,00% possuem o Ensino Fundamental, muitos cursados nas duas escolas

locais, 12,00% iniciaram o Ensino Médio e 27,00% não frequentaram a escola, não

dominando deste modo a leitura ou escrita, mas em alguns casos aprendem apenas a

escrever o próprio nome. Os dados citados anteriormente podem ser melhor observados na

Figura 3.

Figura 3- Gráfico da distribuição da população de pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses

/MA, Brasil, com relação ao gênero e escolaridade.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

Segundo relatos (“Sr 37” e “Srª 101”)6 uma grande parte dos jovens prefere realizar

a travessia do rio e estudar nas escolas dos municípios de Ilha Grande ou Parnaíba, devido

a falta de estrutura das escolas locais. A prefeitura oferece então transporte diário e gratuito

para que os alunos possam prosseguir os estudos nas escolas do Piauí. A maioria dos

moradores mais velhos não teve acesso ao estudo ou tiveram pouco contato com a escola.

Muitos adultos e jovens abandonaram à escola para exercer a atividade pesqueira.

6 Entrevistas concedidas ao autor respectivamente em 23 de janeiro e 30 de março de 2010.

0

20

40

60

80

100

NÃO ESCOLARIZADOS

ENSINO FUNDAMENTAL

ENSINO MÉDIO

Val

ore

s em

%

Nível de Escolaridade

HOMENS

MULHERES

42

A principal atividade econômica da comunidade Canárias é a pesca artesanal,

existindo outras atividades, mas não sendo tão significativas quanto à pesca, dentre elas a

lavoura do arroz (Oryza sativa L.), comércio e a criação de animais como Coelho

(Sylvilagus sp), gado bovino (Bos taurus Linnaeus, 1758) e gado ovino (Ovis aries

Linnaeus, 1758) (Figura 4). A cata do caranguejo, muito conhecida na região do Delta e

forte em outras comunidades da ilha como o Torto e Passarinho, não se apresenta

expressiva nesta comunidade.

Figura 4- Fotografias de criação de animais na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009). A e B: criação coelhos (Sylvilagus SP); C: gado bovino (Bos taurus); D: gado ovino (Ovis aries).

A renda da família é variável, conforme a produção pesqueira e em alguns casos do

auxílio das atividades secundárias. Em média, a renda das famílias gira entre 0.19 a 2

salários mínimos, baseado no salário referente ao ano de 2010 (R$ 510,00), sendo que

cerca de 29,00% dos entrevistados exercem uma atividade extra para complementar a

renda familiar, destes 51,72% possuem como segunda atividade a agricultura e 10,34%, a

marcenaria. Sobre o plantio, 82,00% possuem culturas permanentes, sendo todas elas

localizadas em quintais e servindo para consumo próprio; 46,00% realizam o plantio de

A B

C D

43

culturas temporárias, dentre elas arroz (Oryza sativa L.), milho (Zea mays L.) e feijão

(Phaseolus vulgaris L.). Dentre estes moradores, 80,43% a utilizam apenas para consumo

próprio e 19,56% utilizam para consumo e venda, sendo que 97,82% são realizadas em

quintais e apenas 2,17% em outro terreno.

Embora a Ilha das Canárias pertença ao município de Araioses/MA, grande parte da

economia e dos serviços utilizados pela comunidade são ofertados no estado do Piauí,

principalmente no município de Parnaíba, por sua maior proximidade.

O acesso à Ilha se faz por um barco coletivo a motor (Figura 5A), que parte do

porto dos Tatus, em Ilha Grande, no estado do Piauí. A embarcação realiza o percurso nos

dias úteis, ao meio-dia, saindo do Porto dos Tatus para Canárias e às cinco horas da manhã

faz a viagem no sentido oposto, sendo o custo da passagem de R$ 2,50 por pessoa. Uma

forma alternativa de transporte é o barco que conduz os estudantes das Canárias que

frequentam as escolas em Ilha Grande (Figura 5B). A embarcação parte das Canárias as

cinco horas e cinquenta minutos da manhã e retorna a tardinha, por volta das dezoito horas,

em dias letivos, sendo gratuito para os estudantes, pago neste caso com os recursos da

prefeitura de Araioses/MA (APÊNDICE B). A mesma embarcação pode ser utilizada por

outros passageiros ao custo de R$ 2,50 por pessoa, no ano de 2010.

O acesso pode se feito também pela contratação de embarcações particulares com

barqueiro. O preço cobrado varia dependendo da embarcação: por volta de R$ 150,00 (ida

e volta) em lanchas denominadas voadeiras (Figura 5C); cerca de R$ 75,00 em canoas com

motor de popa (Figura 5D), sendo R$ 15,00 pelo aluguel da canoa; R$ 25,00 pelo aluguel

do motor de popa, conhecido localmente como rabeta; R$ 25,00 pela diária do condutor e o

combustível fica por conta do contratante, por volta de R$ 10,00, ida e volta, no período de

2010 e 2011. Para presente pesquisa foi contratado um guia turístico residente no porto

dos Tatus que também trabalha como barqueiro, em um barco de madeira com motor de

popa. O tempo gasto partindo do Porto dos Tatus varia entre 30 a 50 minutos, dependendo

da maré (de cheia ou vazante).

44

Figura 5 – Fotografias de embarcações que fazem o transporte de pessoas entre a comunidade Canárias/MA

e o porto dos Tatus/PI.

Autoria: Própria (2009). A: barco coletivo; B: barco dos estudantes; C: voadeiras; D: canoa e motor de popa.

Do ponto de vista do desenvolvimento local pode-se observar alguns dados

preocupantes. A comunidade não dispõe de água tratada e o consumo é feito com água não

tratada oriunda em maior parte (85,00%) de poços e do rio (15,00%) (Figura 6).

Figuras 6 – Fotografias de locais de coleta de água para consumo na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

A B

C D

45

Com relação ao destino do lixo, 54,00% dos entrevistados informaram que

enterram (Figura 7), 35,00% disseram que queimam, 5,00% enterram e queimam, 2,00%

afirmam que deixam a céu aberto e 4,00% afirmam fazer uso da coleta pública, pois em

2010 a prefeitura de Araioses/MA disponibilizou dois funcionários para trabalharem nesta

atividade na Ilha, embora o fato seja do agrado dos moradores, os mesmos consideram o

número de funcionários insuficiente para atender a demanda de lixo local.

Figura 7– Fotografias de buracos utilizados pelos moradores da comunidade Canárias para depositar e

posteriormente enterrar o lixo.

Autoria: Própria (2009).

Quanto ao destino de dejetos humanos, 58,00% dos moradores entrevistados

informaram dispor de fossa séptica e 42,00% afirmaram fazer uso de fossa negra (banheiro

de palha), onde os dejetos são depositados em um buraco no chão.

Observou-se que 66,00% das casas da comunidade são construídas de alvenaria,

31,00% de taipa e 3,00% de madeira; 73,00% possuem piso em cimento, 26,00% em

cerâmica e 1% em barro. Quanto à cobertura das casas, cerca de 99,00% são cobertas por

telhas e 1,00% coberta por palha de carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore).

Observou-se também que algumas casas possuem em sua estrutura madeira do mangue-

vermelho (Rhizophora mangle L.), sendo usada como taipa, ripa e/ou linha (estrutura de

sustentação do teto).

Existe apenas um posto de saúde na comunidade pertencente ao Programa de Saúde

da Família (PSF) que conta com uma equipe de cinco agentes de saúde, uma técnica de

enfermagem, um enfermeiro e um médico. Os agentes e a enfermeira residem na

comunidade, e o médico, segundo moradores, reside na cidade de Araioses/MA e presta

46

atendimento uma vez por semana. O posto oferece atendimento local e domiciliar e está

em funcionamento desde 2001, porém a assistência a saúde na comunidade ainda é

deficiente e segundo a “Sr ª 101”7 “a unidade de saúde não atende às exigências mínimas

preconizadas pelo Ministério da Saúde, quanto ao cumprimento dos Programas, espaço

físico e carga horária dos profissionais que deveria ser de no mínimo 30 h/semanais”.

Os moradores da comunidade entrevistados comentam sobre os benefícios oriundos

da chegada da energia elétrica no local. O fato se deve as várias dificuldades enfrentadas

pelos moradores antes da chegada da mesma. Os moradores descrevem a evolução que vai

das lamparinas, passando pelo gerador a diesel que era ligado das 18h às 22h, até a

chegada da rede elétrica do estado do Piauí, que permitiu que se pudessem abrir comércios

com refrigeradores para venda de bebidas geladas, leite e seus derivados, dentre outros

produtos, que necessitem de refrigeração para sua conservação. A contribuição da chegada

da energia elétrica foi acima de tudo fato fundamental na melhoria da própria atividade

pesqueira local, pois a partir desse momento o pescado passou a ser armazenado, não

havendo a necessidade de ter que despachá-lo rapidamente para não estragar, permitindo

deste modo que os pescadores tivessem mais tempo para negociar preços melhores.

A chegada da eletricidade não trouxe consigo apenas benefícios. De acordo com a

Srª 101 “a partir do momento em que a comunidade passou a ter acesso aos meios de

comunicação, aumentou o acesso às informações, as necessidades pelos bens de consumo

[...] muita coisa mudou mas não para melhor: antes a base da alimentação era o pescado,

agora se come salsichas, presuntadas, e danoninho”. Além disso, acrescenta que “as risadas

e piadas despretensiosas foram substituídas pelos fones de ouvido que todos carregam com

seus celulares” (“Srª 101”)8, cujas principais operadores que dão cobertura para região são

Claro, TIM e Amazônia celular.

7 Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.

8 Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.

47

3.5 Aspectos Religiosos, Culturais e Superstições

No quesito religião, a população local é em grande maioria Católica Apostólica

Romana (88,00% dos entrevistados), seguido de evangélicos (6,00%), indefinidos (4,00%)

e 2,00% sem religião.

O Templo (prédio) católico recebeu o nome de São João Batista devido à forte

presença de religiosos, devotos do santo, no período de colonização da Ilha, que fizeram

esforços para sua construção e o homenagearam com seu nome (CHAGAS, 1987). Sobre

ela, observou-se que os eventos religiosos, grupos de orações e canto são organizados e

realizados pelos próprios moradores na maior parte do tempo. A visita de um religioso,

representante da paróquia, é feita apenas no último domingo de cada mês, não havendo

deste modo um dirigente religioso da referida igreja domiciliado na comunidade.

Uma curiosidade sobre a forte participação da religião católica na colonização do

local é demonstrada em um termo localmente muito utilizado ao se referir a quem é o dono

das terras na Ilha. Os moradores descrevem as terras como “Terra do Santo” e isso se deve

ao fato de que depois de instalada a Igreja Católica no local, esta recebeu inúmeras doações

de terras dos moradores locais, e passou a possuir grande quantidade de terras sobre seus

domínios. Estas terras ficaram então conhecidas como a Terra de São José ou Terra do

Santo. Segundo relatos, ali não se comprava terrenos para se construir uma casa, apenas se

comunicava à igreja, que faria o reconhecimento e registro do local escolhido e autorizava

a construção. Fato que, segundo os moradores, vem mudando ao longo dos anos com a

chegada da especulação imobiliária. Sobre o assunto o “Sr. 16”9 enfatiza que “[...] antes a

terra era do santo e todo mundo respeitava. Era só pedir a igreja e construía sua casa [...]”.

Dentre os grupos religiosos evangélicos encontrados na comunidade, temos a Igreja

Batista MEAP (Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores) e as Testemunhas de

Jeová. A Igreja Batista possui um maior número de frequentadores, pois segundo a “Srª

101”10

“uma grande estrutura física, com salas de aula, quadra de esportes, desenvolve

curso de artesanato, música, estudos religiosos, assistência a saúde, festas comemorativas,

e com isso conquistou uma boa parte da população principalmente os jovens”, além de

possuir representante religioso permanente na comunidade.

9 Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.

10 Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.

48

De um modo geral, 74,00% dos moradores dizem participar frequentemente dos

cultos religiosos, 24,00% não frequentam e 2,00% responderam frequentar as vezes. Sobre

o uso de plantas nos rituais e festividades, 57,00% dos moradores afirmam existir esse uso

principalmente para ornamentação e 43,00% não lembram ou desconhecem esse uso. Das

plantas utilizadas ou partes delas foram citadas flores para ornamentação do altar, porém os

entrevistados afirmam não haver plantas específicas para este fim, sendo utilizadas aquelas

que estiverem floridas na ocasião. Também foi observado o uso das folhas, dando destaque

para a do coqueiro (Cocos nucifera L.) muito utilizada nos festejos religiosos.

Sobre as festividades na comunidade (APÊNDICE B), destacam-se as religiosas,

sendo que as principais, segundo os moradores, ocorrem duas vezes por ano, em

comemoração ao padroeiro São João Batista, no dia 24 de junho e em comemoração a

Nossa Senhora das Dores, no dia 18 de dezembro. Estes dias são marcados por celebrações

de missas, procissões, orações, cânticos e peças teatrais com temas religiosos que são

apresentados por membros da comunidade e contam com a participação de padres

advindos da cidade de Araioses para a condução das celebrações. Para a “Srª 101”11

:

[...] depois que outras práticas religiosas foram se introduzindo, o catolicismo

foi perdendo adeptos e os festejos religiosos se enfraqueceram; os leilões e

novenas perderam espaço para as novelas. E a grande festa no ‘clube’ que

antes era concorridíssima, hoje está desprezada já que os que se converteram

às religiões evangélicas não podem dançar [...].

Outra festividade importante na comunidade é a comemoração do seu aniversário

(APÊNDICE B), sendo realizado no dia 14 do mês de novembro. A organização é feita

pela Associação de Moradores e Associação de Pescadores locais, e envolve atividades

como celebração religiosa, campeonatos esportivos, festa no clube, gincanas, terminando

com a regata de canoas à vela, muito conhecida na região por sua beleza e que atrai grande

público, oriundo de comunidades vizinhas e turistas de muitos lugares. A escolha da

comemoração baseia-se na data de chegada do Chico Bezerra na Comunidade, relatada na

publicação de Chagas no ano de 1987.

11 Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.

49

Detectou-se na comunidade a crença nas lendas do cabeça-de-cuia, lobisomem,

mulher chorona e gritador:

Cabeça-de-cuia: a lenda descreve a história de um garoto que após uma má

pescaria chega a sua casa com fome e se irrita ao encontrar uma comida que não lhe

agradava. Agride sua mãe que logo o amaldiçoa. O menino vira então uma criatura feia,

deformada, cuja cabeça grande parece uma cuia. A partir desse momento ele passa a vagar

sem descanso, virando canoas, assustando lavadeiras tentando encontrar sete Marias

virgens, o único modo de quebrar a maldição.

Lobisomem: segundo os pescadores, não era raro o aparecimento de pessoas que

em noite de lua cheia se transformam em lobo na comunidade. Uma particularidade com

relação à história descrita em outras regiões é o fato de que na comunidade a denominação

“lobisomem” é usada para se referir também a transformações de pessoas em outras

espécies como o porco, por exemplo.

Mulher chorona: os moradores comentam que após a meia-noite, surge nas ruas

da comunidade uma mulher em prantos e que leva consigo uma criança de colo.

Gritador: a comunidade descreve o aparecimento de um homem no meio do rio,

guiando uma canoa e gritando muito. Quando observado por alguém o referido homem

cresce até atingir a altura aproximada de um poste e cai por cima de quem o observa.

3.6 Aspectos Tecnológicos, Produtivos e Organizacionais

Dentre os meios de transporte utilizados pela comunidade Canárias em suas

pescarias pode-se destacar: a canoa movida a motor de popa, também chamada de “rabeta”

(Figura 8A) (APÊNDICE C); embarcações movidas à vela (Figura 8B) (APÊNDICE C) e

barco de um porte um pouco maior, movido a motor (Figura 8C) (APÊNDICE B). Estas

embarcações são produzidas localmente, desprovidas de equipamentos de auxílio à pesca e

à navegação, e voltadas a pescarias próximas a costa e não em alto mar.

50

Figura 8– Fotografias de embarcações utilizadas na atividade pesqueira na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009). A: rabeta; B: embarcação a vela; C: embarcação a motor.

A confecção das embarcações ocorre de modo artesanal (APÊNDICE G) e é

realizado por pescadores locais que possuem como segunda atividade a carpintaria. Dos

pescadores entrevistados, apenas 4,00% se autodenominam carpinteiros navais. As

embarcações são construídas em barracões de palha, três no total. A média de preço para

construção de uma embarcação de tamanho médio é de R$500,00 pela mão-de-obra e mais

R$700,00 de materiais e projeto (valores em 2010). O tempo gasto em média para

construção é de 10 a 20 dias. Segundo “Sr. 37”12

quando o barco é construído pelo Projeto

“Ajuda Inicial”13

do INCRA, demora em média seis meses para sua conclusão, uma vez

que, segundo seu relato, envolve toda uma burocracia para preparação da documentação

necessária, como registro na prefeitura, elaboração de projeto e por fim a aprovação junto a

12 Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.

13 Projeto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária que está contribuindo com o desenvolvimento da atividade pesqueira na região. Fornece aos pescadores matérias para confecção de instrumentos de pesca bem como financia a construção de embarcações.

A B

C

51

este órgão. Uma vez aprova toda documentação, o dinheiro é liberado pelo INCRA, sendo

padronizada a construção de cinco canoas por vez. Os pescadores entrevistados afirmam

que a madeira utilizada para a construção das embarcações vem do Pará, sendo elas pequi

(Caryocar coriaceum Wittm.), pau-d’arco (Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.)

Mattos, cedro (Cedrella odorata L.), jatobá (Hymenaea courbaril L.) e massaramduba

(Manilkara dardanoi Ducme). Porém, citaram plantas locais anteriormente utilizadas:

jatobá (Hymenaea courbaril L.) para o pé ou quilha, andiroba (Carapa guianensis Aubl.)

para o assento de taboa e o mangue-vermelho (Rhizophora mangle L.) para caverna e

quilha (Figura 9). Lembram, também, que atualmente a produção aumentou devido ao

projeto Ajuda Inicial do INCRA desenvolvido junto à comunidade. Observou-se que dois

dos quatro carpinteiros navais locais são irmãos e trabalham no mesmo local o que resume

a prática da atividade a apenas três famílias. Um dos artesãos entrevistados afirma estar

sempre aberto a ensinar o ofício aos mais jovens que se interessarem pela atividade.

52

Figura 9 – Ilustração das estruturas de canoas fabricadas artesanalmente na comunidade Canárias.

Elaboração: Própria (2011).

CAVERNA

ACENTO DE TÁBUA

TÁBOA DO CASCO

PÉ OU QUILHA

PILOTO

POPA

53

No que tange as técnicas de pesca, os pescadores da comunidade Canárias fazem

uso, em sua maioria, de onze artefatos manufaturados (APÊNDICE D): caçoeira (32,18%),

tarrafa (27,34%), linha/anzol (26,30%), landoá (5,88%), puçá (2,77%), curral e rabadela

(1,73%), manzuá e grosseira (0,69%), jiquí e curralzinho (0,35%); (Figura 10). Embora

denominada de artesanal, a pesca local está sempre assimilando novos conhecimentos e

técnicas, não estando alheia a evolução dos instrumentos industriais como anzóis variados,

linhas de nylon e motor de popa (rabeta), que substituiu ao longo dos anos o remo e as

velas, embora estas ainda sejam utilizadas na região.

Figura 10- Gráfico com a distribuição percentual das citações dos pescadores artesanais sobre os

instrumentos de pesca mais utilizados na comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

Sobre a confecção de instrumentos de pesca (APÊNDICE D) cerca de 43,00% dos

pescadores afirmam produzirem seu próprio instrumento de pesca. Os principais

instrumentos citados como produzidos por eles foram: caçoeira (38,46%), tarrafa

(36,26%), alguns citaram “rede” não especificando o tipo que fabricavam (14,28%),

groseira (3,30%), landoá e puçá (2,20% cada), curral, curralzinho e jiquí (1,10% cada)

(Figura 11).

0 5 10 15 20 25 30 35

caçoeira

tarrafa

linha/anzol

landoá

puçá

curral

rabadela

manzuá

groseira

jiquí

curralzinho

Citações em percentual

Inst

rum

ento

s

54

Figura 11- Gráfico com a distribuição em percentuais dos instrumentos de pesca produzidos pelos

pescadores artesanais na comunidade Canárias, Araioses /MA, Brasil.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

Foram observadas na comunidade: anzol e rede caçoeira na pescaria em alto mar e

anzol, puçá, jiquí, landuá, grosseira, rabadela, tarrafa e curral, na pesca no rio. A técnica de

pesca denominada de batedeira14

não foi citada pelos pescadores durante as entrevistas,

mas pôde ser presenciada durante o desenvolvimento da pesquisa.

Segue a descrição dos principais instrumentos e técnicas encontradas na

comunidade:

Anzol ou linha: o anzol é amarrado a uma linha nylon, própria para pescaria, e é

utilizada em grande maioria nas margens do rio ou em embarcações no mar ou no rio

(Figura 12).

14 Técnica utilizada geralmente em pequenas lagoas onde uma rede de malha é posta de uma margem a outra da mesma e o(s) pescador(s) batem com madeira na água assustando os peixes que caem atordoados na armadilha.

0 10 20 30 40 50

caçoeira

tarrafa

rede

grosseira

lamdoá

puça

curral

curralzinho

jiquí

% citações de fabricação

Inst

rum

en

tos

55

Figura 12- Fotografia de instrumento de pesca de anzol ou linha utilizado por pescadora da comunidade

Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Puçá: um talo de planta ou arame é curvado até unir suas pontas e formar uma

espécie de elipse. A este talo prende-se uma malha, que passa a formar uma espécie de

sacola. Prendem-se as pontas do talo a um cabo de madeira que será o local de apoio para o

pescador segurar o instrumento (Figura 13).

Figura 13- Ilustração do instrumento de pesca puçá utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Jiquí: instrumento feito a partir de talos de coqueiro, formando uma espécie de

cesto comprido, mais largo na parte central e estreito em suas extremidades de onde partem

suas duas aberturas (Figura 14). O pescador utiliza para captura do camarão;

56

Figura 14- Fotografia do instrumento de pesca jiquí utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Landuá: o instrumento assemelha-se a uma peneira de modo que de três pontos da

circunferência partem cordões de aproximadamente 20 cm que se unem a um cordão

principal, cuja extremidade prense-se um pedaço de isopor (Figura 15). Utilizado para

captura de crustáceos como o camarão (Litopenaeus schmitti Burkenroad, 1936) e o siri

(Callinectes bocourti A. Milne-Edwards, 1879).

Figura 15- Fotografia do instrumento de pesca landuá utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

57

Rabadela: composto por uma linha central, de onde partem linhas secundárias que

em menor tamanho possuem anzóis na ponta para a captura dos peixes (Figura 16).

Figura 16- Fotografia do instrumento de pesca rabadela utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Groseira: O instrumento é igualmente composto por uma linha central, que neste

caso é longa, de onde partem diversas linhas secundárias com anzóis na ponta e que podem

chegar ao número de 200 (Figura 17). Nesta técnica os pescadores também ficam

embarcados e após a colocação das iscas lançam todos os anzóis ao mar.

Figura 17- Ilustração do instrumento de pesca groseira utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

58

Tarrafa: o instrumento é composto por uma rede tecida de nylon ligada a uma

corda central, sendo que nas bordas da rede encontram-se pedaços de chumbo para facilitar

sua submersão na água (Figura 18). Possui tamanho variável e malha de diversas

espessuras e é utilizado para pescaria em águas rasas, nas margens do rio neste caso.

Utilizado na pesca de diversos tipos de peixes, bem como, na pesca do camarão. A técnica

consiste no lançamento da rede que tem formato circular de modo que esta caia aberta

sobre a água, podendo neste caso jogar ou não iscas anteriormente na água.

Figura 18- Fotografias do instrumento de pesca tarrafa utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Caçoeira: rede tecida de nylon, geralmente extensa, possuindo malha de tamanho

variável, sendo utilizada em pescarias no mar e no rio para captura de diversos tipos de

peixes. A técnica é utilizada em geral por pescadores embarcados, algumas vezes com

mais de uma embarcação. Em alguns casos a rede fica estendida de uma margem a outra

do rio, outras vezes em apenas um trecho, sendo que em ambos os casos bloqueiam

integralmente ou parcialmente a passagem dos peixes no local, capturando-os deste modo

(Figura 19).

59

Figura 19- Fotografias do instrumento de pesca caçoeira utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Curral: o instrumento é composto por uma espécie de cercado feito com madeira,

muitas vezes do mangue próximo ao local onde é inserido (Rhizophora mangle L.). A

técnica utiliza a maré como auxiliar no ato de pescar. O curral fica totalmente recoberto

por água durante a maré cheia permitindo a entrada de peixes. Com a maré baixa os peixes

não conseguem mais sair, ficando presos (Figura 20).

Figura 20- Fotografia do instrumento de pesca curral utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Curralzinho: Instrumento feito com talos de mangue-manso (Laguncularia racemosa (L.)

C.F. Gaertn. Fedde), presos por cordões de plástico, utilizados para captura de peixes de

pequeno e médio porte (Figura 21).

60

Figura 21- Fotografia do instrumento de pesca curralzinho utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Manzuá: espécie de caixa de madeira recoberto por malha de nylon, que fica

submersa na água em contato com o substrato e que serve para captura de peixes (Figura

22). Podem ser utilizados vários ao mesmo tempo ligados por uma corda central, no caso

de pescadores embarcados.

Figura 22- Ilustração do instrumento de pesca manzuá utilizado na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Batedeira: esta técnica é realizada dispondo de uma rede de nylon e pedaços de

madeira; é usada geralmente em lagoas e os pescadores bloqueiam um trecho do lago com

a rede de modo que impeça a fuga dos peixes. Do lado oposto ao da localização da rede os

pescadores começam a bater com a madeira na água, que logo assusta os peixes que fogem

em direção à rede (Figura 23).

61

Figura 23- Fotografia do uso da técnica de pesca batedeira na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Os principais produtos pescados na comunidade são peixes (91,14%), crustáceos

(8,38%) e moluscos (0,48%). Os percentuais dos peixes considerados por eles mais

frequentes foram: bagre-uritinga (11,61%), pescada branca (9,24%), saúna (8,17%),

pescada amarela (7,96%), camurim/robalo (7,96%), sardião (6,88%) e o bagre-surubim

(6,45%). Os considerados menos frequentes de serem capturados foram: cação (0,21%),

ariacó e piranha ambos com 0,42%, traíra (0,64%), cará e pacamão com 0,86%.

Figura 24- Fotografias dos peixes mais capturados pelos pescadores na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

A: Centropomus undecimalis; B: Cynoscion leiarchus; C: Bagre bagre.

A

B C

B

C

A

62

Foram ao todo 465 citações sobre 26 espécies15

de peixes, na Figura 25 são

apresentadas as citações em porcentagem.

Figura 25- Gráfico da frequência dos peixes citados pelos pescadores artesanais na comunidade Canárias,

Araioses/MA, Brasil em 2010.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

Quanto à disponibilidade de embarcações para prática da pesca, observou-se que

nem todos os pescadores possuem barco próprio, e passam a trabalhar para algum

15 A identificação das espécies de peixes teve como base o estudo de Sousa (2010) no qual a

classificação das espécies da comunidade Morro da Mariana, município de Ilha Grande/PI foi realizada pela metodologia de Auricchio e Salomão (2002) onde as espécies foram coletadas, acondicionadas e identificadas com a colaboração de especialistas. A escolha dessa pesquisa como baseamento para a identificação das espécies através do nome vernacular se deu pela proximidade (Figura 1) e interação econômica e social das duas comunidades.

63

pescador, ou ex-pescador dono de embarcações e redes de pesca. Geralmente saem para

pescar cedo da manhã retornando à tardinha. O local de desembarque dos peixes é na

própria comunidade, as margens do rio que eles costumam chamar de praia (Figura 26A).

O pescado é então levado a residência do dono dos barcos. As redes são postas para secar

(Figura 26B) e posteriormente são observados possíveis danos sofridos pelas mesmas para

que possam ser reparados (Figura 26C). Os peixes são pesados muitas vezes em balanças

improvisadas de madeira (Figura 26D) e (APÊNDICE C), onde são utilizadas pedras com

pesos já conhecidos substituindo os pesos feitos industrialmente. Após pesados estes são

beneficiados e acondicionados em conservadoras. Alguns peixes são tratados e vendidos na

própria comunidade, sendo a maior parte transportado em caixas de isopor até o Porto dos

Tatus no município de Ilha Grande ou seguem diretamente até a cidade de Parnaíba. Foi

observado caso em que o pescador, dono de barcos, vende diretamente aos feirantes de

Parnaíba, não passando por atravessadores.

Figura 26- Fotografia com os procedimentos de despesca e tratamento dado aos instrumentos após a

pescaria, comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.

Autoria: Própria (2009). A: despesca as margens do rio; B: secagem da rede; C: reparos de danos; D: balança de madeira.

A B

C D

64

Os instrumentos de pesca são armazenados em barracas nos quintais das

residências, geralmente construídas de madeira e cobertas por palha de carnaúba.

Sobre a organização formal na comunidade, existem duas associações em

funcionamento: a de moradores e a de pescadores locais. Estas estão atuando de forma

efetiva, com a realização de reuniões regulares, onde são mensalmente discutidos os

problemas e as possíveis soluções com relação às questões locais.

Devido à distância com relação ao município do qual a comunidade pertence, os

moradores que exercem a atividade pesqueira realizam cadastro na colônia de pescadores

mais próxima da comunidade, na cidade de Ilha Grande no estado do Piauí.

3.7 O Turismo na Comunidade

O turismo vem se desenvolvendo na região e os moradores se mostram receptivos à

atividade; alguns jovens já se beneficiam trabalhando como guia turístico de grupos de

visitantes. Mas existe a necessidade do auxílio por parte das autoridades para oferecer a

estes jovens cursos na área, como de guia e línguas, tendo em vista essa atividade em

crescimento na região, podendo gerar tanto uma nova oportunidade de renda em um local

de opções reduzidas, bem como a oferta de um serviço de qualidade aos turistas.

Na comunidade já são oferecidos serviços de pousadas, como o da Casa de Cabloco

(Figura 27), onde também funciona um restaurante que oferece produtos típicos do local.

Figura 27- Fotografias da Pousada Casa de Cabloco na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

65

3.8 Problemas que atingem a Comunidade

Sobre os problemas que afligem os moradores, pode-se destacar a questão do lixo

(Figura 28), que embora tenha recebido o serviço de coleta oferecido pela prefeitura de

Araioses/MA, ainda se mostra insuficiente. Outro fato que vem agravar esta situação é o

fato de que muitos dos moradores continuam jogando lixo em lugares inapropriados como

nas margens do rio. Mas para outros moradores, a situação já esteve pior e consideram que

a coleta já é o primeiro passo, um sinal de melhoria. Quanto a coleta de lixo implantada

pela prefeitura de Araioses/MA o “Sr.18”16

afirma que: “[...] tão tratando, tão limpando

[...] a prefeita manda limpar tudo”.

Figura 28- Fotografia do lixo as margens do rio Parnaíba na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Outra queixa frequente refere-se à falta de água encanada na comunidade. Nesse

caso as instalações dos encanamentos já estão adiantadas, mas a obra encontra-se

16 Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.

66

paralisada. Os moradores desconhecem o porquê da situação e continuam sem acesso a

água tratada.

Outra séria reclamação, diz respeito, segundo relatos, a ocupação irregular e venda

de terras no local por parte de pessoas de outras regiões. Segundo o relato de um morador,

com relação ao referido tema: “[...] todo mundo chega e faz o que quer” (“Sr.53”)17

.

Durante o desenvolvimento da presente pesquisa foi detectada a presença de

Caieiras18

próximas ao manguezal (Figura 29 A e B), que demonstra a utilização da

madeira deste para a produção de carvão vegetal (Figura 29 C e D).

Figura 29- Fotografias do modo de produção e armazenamento de carvão na comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

A e B: Caieiras próximas ao manguezal utilizadas para produção de carvão vegetal; C e D: armazenagem do

carvãol.

17 Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.

18 Caieiras são buracos feitos no chão onde são colocadas madeiras para queimar, cobertas por uma camada de folhas e

outra de areia e que são destinadas a produção de carvão vegetal.

A B

C D

67

Outra utilização constante da madeira do manguezal refere-se às construções locais

(Figura 30). A madeira é utilizada na confecção de ripas, linhas, portões, dentre outras.

Segundo relato o aumento do desmatamento está crescendo junto com o número de

habitantes da comunidade, uma vez que a cada família formada utiliza a madeira para a

construção de mais uma residência.

Figura 30- Fotografias da utilização da madeira do mangue vermelho na construção de residências na

comunidade Canárias/MA.

Autoria: Própria (2009).

Apesar dos problemas apresentados a maior parte dos moradores entrevistados está

satisfeitos em residir na comunidade e exercer a atividade da pesca. Afirmam sentir-se bem

como o contato direto com a natureza, o ar puro e tranquilidade local. Alguns moradores

chegaram a afirmar que “adoecem quando vão à cidade” (“Sr.1”)19

, isto referindo-se a

problemas respiratórios gerados pelo ar das cidades.

3.9 Pesca e Meio Ambiente: visão dos pescadores

Todos os entrevistados mostraram reconhecer a importância de se conservar o

meio ambiente, citando para isto vários motivos, que vão desde a beleza da natureza

conservada (a), à necessidade da manutenção dos recursos dos quais dependem sua

19 Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.

68

sobrevivência e de seus descendentes (b) e até mesmo ao reconhecimento de ser

pertencente ao conjunto formado pela natureza (c). As idéias mencionadas anteriormente

podem ser reconhecidas nas falas que se seguem, respostas dadas ao serem questionados

sobre a importância de se conservar o meio ambiente:

a) “[...] eles são importantes para manter o ambiente

bonito” (“Sr. 30”)20

.

b) “[...] pra que fiquem também para os filhos” (“Sr. 16”)21

.

c) “[...] porque a natureza também fez a gente” (“Sr. 80”)22

.

Os moradores reconhecem as ações danosas que são realizadas na comunidade

por uma parcela dos moradores, como quando se referem ao problema do lixo, não sendo

rara a resposta “[...] botam lixo na beira da praia” (“Sr.7”)23

deixando explícita a

preocupação com determinadas atitudes presentes na comunidade, que colaboram com a

destruição da própria natureza onde vivem.

Quando perguntados sobre que ações realizam para colaborar na conservação do

meio ambiente as respostas são animadoras. Condenam o desmatamento, pesca e caça

predatória e defendem o uso sustentado dos recursos que lhes garantem o sustento. Ao

questionado sobre que ações devem ser tomadas para a conservação da Ilha, o senhor 10

respondeu: “[...] só pegar o que lhe serve” (Sr. 9)24

.

Respostas como esta, tão simplória em número de palavras, porém consegue

expressar de forma grandiosa sentimentos nobres que nenhum estudo muitas vezes pode

trazer, além de demonstrar que uma semente de conscientização já plantada nos

moradores está florescendo e se deve em parte ao trabalho de implantação da RESEX

pelo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade bem como, de

moradores dedicados e bem informados como o ex-presidente da associação de

pescadores local.

20 Entrevista concedida ao autor em 28 de setembro de 2009.

21Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.

22 Entrevista concedida ao autor em 26 de setembro de 2009.

23 Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.

24 Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.

69

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76

5. ARTIGOS

5.1 Etnobotânica de comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do delta

do Parnaíba, Nordeste do Brasil.

Artigo a ser enviado a Revista Interciência

5.2 Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do

delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil.

Artigo a ser enviado a Revista Brasileira de Plantas Medicinais

77

Etnobotânica de Comunidade Pesqueira na Reserva Extrativista Marinha do Delta

do Parnaíba, Nordeste do Brasil.

VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES25*

,

ULYSSES PAULINO DE ALBUQUERQUE26

,

ROSELI FARIAS MELO DE BARROS27

25 Universidade Federal do Piauí, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Av. Universitária,1310, Campus

Ininga, CEP: 64.049-550, Teresina-Brasil *[email protected]; 26 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Laboratório de Etnobotânica Aplicada, CEP

52171-900, Recife, PE, Brasil. 27 Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da Natureza, Departamento de Biologia, Mestrado e Doutorado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente, Campus Ministro Petrônio Portela, Ininga, CEP: 64049-550, Teresina-Brasil;

78

RESUMO

Este estudo investiga a Etnobotânica da comunidade pesqueira Canárias, por gênero e

faixa-etária, gerando informações para a valorização e a manutenção da cultura local

associada à conservação da biodiversidade. Foram aplicadas 100 entrevistas

semiestruturadas; as plantas foram coletadas pela técnica “turnê-guiada” e incorporadas ao

herbário Graziela Barroso da UFPI; as informações foram submetidas às análises

qualitativa e quantitativa. Na análise do conhecimento por gênero não houve diferença

significativa na riqueza e diversidade citada pelos grupos; quanto ao conhecimento por

faixa-etária, baseado na riqueza e diversidade, houve diferença significativa entre

conhecimento de jovens em relação a idosos e adultos, sendo que os jovens possuem maior

conhecimento que os adultos e idosos. O conhecimento botânico tradicional é de suma

importância, uma vez que as informações geradas podem ser consideradas no processo de

conservação local, seja no que tange a biodiversidade como da própria cultura de onde foi

gerado, sendo fator indispensável nas etapas do processo de elaboração, criação e gestão de

uma área protegida, como uma RESEX.

Palavras-chave: Espécies botânicas úteis, categorias de uso, comunidade pesqueira,

conhecimento tradicional e biodiversidade.

Introdução

A Etnobotânica é ciência que se ocupa de estudar o relacionamento entre planta e

homem, que integrados passam a formar um todo com significado e passível de análise

histórica, espacial e temporal, dentro de um contexto cultural (Albuquerque, 2005).

Os pescadores artesanais integram o grupo de populações tradicionais não

indígenas (Diegues et al., 1999) e demonstram um conhecimento sobre os recursos

vegetais úteis, ou com potencial para uso, que são de grande importância, e que não se

restringe apenas ao uso de plantas relacionadas diretamente com a atividade pesqueira,

como para confecção de instrumentos de pesca, canoas, iscas, cestos, dentre outros, mas

também incluem amplo conhecimento sobre uso medicinal e recurso alimentar (Begossi,

2004). Pessoas jovens e idosas, sejam homens ou mulheres, participam da atividade

79

pesqueira e conhecem bem o ambiente que circunda tal atividade. De um modo geral os

homens tendem a conhecer mais o ambiente que as mulheres (Borges, Peixoto, 2009;

Miranda et al., 2011), uma vez que, como chefe da família, os homens saem de casa para

trabalhar na atividade pesqueira, roça ou coleta de recursos de modo a garantir a

subsistência da mesma. Já para as mulheres, cabem os afazeres domésticos e os cuidados

com a família, conhecendo no geral mais sobre as plantas encontradas em seus quintais

e/ou próximas as suas residências (Borges; Peixoto, 2009; Miranda et al., 2011). Os idosos

têm maior tempo na atividade, o que lhes garantem uma maior experiência e conhecimento

que os mais jovens (Figueiredo, et al.,1993; Rossato, et al., 1999; Begossi, et al., 2002;

Fonseca-Kruel; Peixoto, 2004; Merétika et al., 2010).

Uma vez que no Brasil o principal instrumento de proteção da biodiversidade são as

Unidades de Conservação (UCs) que envolvem 10,52% da superfície do país (Bensusan,

2006), muitas populações de pescadores encontram-se residindo no interior destas

unidades. Dentre as unidades de uso sustentável temos a Reserva Extrativista (RESEX),

cuja criação foi “[...] motivada por demanda de populações tradicionais, envolvendo o

reconhecimento das comunidades tradicionais, de seus territórios e da importância do

conhecimento das práticas locais para sua conservação [...]” (Saraiva, 2009: p.67).

Dentro desse contexto encontra-se a comunidade de pescadores artesanais Canárias,

pertencente a Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, que vive basicamente da

exploração da pesca, cata do caranguejo e coleta de mariscos.

Portanto, é de suma importância que o conhecimento botânico tradicional seja

distribuído de forma equitativa dentro da comunidade no qual está inserido, uma vez que

traz consigo práticas que podem colaborar com a conservação da flora local. Portanto este

trabalho objetiva investigar se o conhecimento botânico tradicional dos pescadores

artesanais da comunidade Canárias está distribuído por gênero e faixa-etária de modo

uniforme, buscando também associa-lo a conservação da biodiversidade local.

80

Métodos

Este estudo foi realizado na comunidade Canárias (02°45'33.1"S; 41°51'01.7"O)

(Figura 1) que juntamente com as comunidades Passarinho, Torto e Morro do Meio fazem

parte da Ilha das Canárias, localizada no município de Araioses (Maranhão). A mesma faz

parte de um complexo de 80 ilhas, distribuídas em uma área de 2.700 km² (Silva, 2004),

dando origem ao único Delta em mar aberto das Américas. A Ilha faz parte da Reserva

Extrativista (RESEX) Marinha Delta do Parnaíba, que por sua vez encontra-se no interior

Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba.

Para as coletas Etnobotânicas foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas sobre

conhecimento e uso das espécies botânicas. A amostra seguiu a metodologia sugerida por

Begossi e Silva (2004), que define como amostra representativa o percentual entre 25,00%

a 75,00% para o caso de comunidades com mais de 100 residências.

Os critérios de seleção para a participação nas entrevistas foram: morador com

registro de (a) pescador (a) na Colônia de Pescadores Z-7, atuante na atividade pesqueira

(exceto para as pessoas idosas) e que possuísse notório conhecimento sobre pesca, flora e

fauna locais.

Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009): jovens (entre 18 e 24 anos),

adultos (entre 25 e 59) e idosos (a partir dos 60).

Aplicou-se a técnica da “Turnê-Guiada” (Bernard, 1988), também referida por

alguns autores como método informante de campo e “walk-in-the-woods” (Albuquerque et

al, 2010), onde as caminhadas em campo foram guiadas por moradores (mateiros) que

possuíam maior conhecimento sobre a área em estudo e as plantas locais, tornando-se

informantes-chave da pesquisa (Bayley, 1982). Assim, pode-se identificar os nomes

vernaculares das plantas citando seus respectivos atributos e posteriormente relacioná-las a

categorias de uso, com o objetivo de validar e fundamentar os nomes das plantas citados

nas entrevistas (Albuquerque et al, 2010).

81

Figura 2- Localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Brasil.

A. do Sul - Brasil

Figura 1- Localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Brasil.

82

Quanto à coleta de material botânico foram coletados exemplares preferencialmente

férteis (IBGE, 1992). Os procedimentos utilizados nas coletas foram os usuais para os estudos

da taxonomia vegetal (Mori et al, 1989). Em laboratório, foram seguidas técnicas rotineiras de

herborização: prensagem, secagem, montagem, para a composição de exsicatas e duplicatas,

conforme procedimento usual (Fidalgo e Bononi, 1989) e posteriormente o material foi

incorporado ao Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Adotaram-se os seguintes sistemas de classificação: Dahlgren e Clifford (1982) para

as monocotiledôneas, Cronquist (1981) para as dicotiledôneas, com exceção para a família

Leguminosae, que seguiu Judd et al. (1999). Com o auxílio da base de dados do Missouri

Botanical Garden (MOBOT, 2011) foram feitas as correções dos nomes dos taxa, bem como,

foram adquiridas as abreviaturas dos nomes dos autores.

Calculou-se o Valor de Uso (VU = ∑U/n, onde, VU = Valor de Uso, U = número de

citações da etnoespécie por informante, n = número de informantes que citaram a etnoespécie)

das espécies, empregando a técnica sugerida por Phillips e Gentry (1993 a,b) e Phillips et.al.

(1994), modificada por Rossato (1996), onde a importância de uma espécie vegetal é dada

pelo número de usos representado por ela o que indica então a importância local da espécie

diante da concordância das informações sobre ela citadas nas entrevistas.

Com o auxílio do software Biodiversity-Pro foi calculado o índice de diversidade de

Shannon-Wiener (Magurran, 1989) para a determinação da riqueza de espécies botânicas

citadas na comunidade, considerando para isso o total de espécies citadas.

O conhecimento acerca das plantas indicadas nas entrevistas foi analisado comparando

o número de citações, riqueza e diversidade e das espécies citadas por gênero e faixa-etária,

utilizando para o cálculo da diversidade o índice de Shannon-Wiener (Magurran, 1989).

Foram calculadas riqueza e diversidade para cada subgrupo integrante dos grupos gênero e

faixa. Para correção das diferenças encontradas nos tamanhos das amostras, foi utilizado o

método da rarefação (Gotelli e Colwell, 2001) para o calculo da diversidade (Shannon-Wiener

índex na base e) e riqueza de espécies (S) utilizando para isto o software EcoSim (Gotelli e

Entsminger, 2001).

Para saber se as amostras eram significativamente diferentes foi adotado o teste

proposto por Gotelli e Colwell (2001), que compara o valor da amostra menor aos intervalos

de segurança amostra maior rarefeita, quando fora desse intervalo as amostras demonstram

83

diferenças significativas. Foram construídos gráficos de curva de rarefação para diversidade e

riqueza de espécies, com base no número de citações.

Resultados e Discussões

Levantamento Florístico

Em relação ao levantamento florístico foram citadas 108 espécies (Tabela 1),

pertencentes a 49 famílias botânicas (Figura 2). Apresentaram maior citação de espécies:

Euphorbiaceae, Poaceae, Anacardiaceae, Lamiaceae, Solanaceae. Podendo-se observar certa

semelhança aos resultados obtidos por Silva e Andrade (2005), ao realizar o levantamento das

espécies úteis em duas comunidades localizadas na Zona do Litoral-Mata/PE onde, das cinco

famílias destacadas pelo autor, três também obtiveram destaque na comunidade Canárias

(Lamiaceae, Euphorbiaceae e Poaceae).

Foram encontradas dentre as plantas citadas diferentes hábitos de crescimento, arbóreo

(n=38; 35,19%), arbustivo (n=32; 29,63%), herbáceo (n=21; 19,44%), subarbustivo (n=16;

14,82%) e liana (n=1; 0,92%).

53.7

7.4

5.5

4.6

4.6

4.6

4.6

3.7

3.7

3.7

3.7

0 10 20 30 40 50 60

OUTROS

EUPHORBIACEAE

POACEAE

ANACARDIACEAE

LAMIACEAE

LEGUMINOSAE-CAESALPINIOIDEAE

SOLANACEAE

ARECACEAE

LEGUMINOSAE-MIMOSOIDEAE

LILIACEAE

MYRTACEAE

Valores em %

Figura 2- Gráfico com o percentual das famílias mais representativas em número de espécies na

comunidade de pescadores artesanais. Canárias, Araioses, Maranhão, Brasil.

Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

84

Conhecimento e Uso da Vegetação

Foram entrevistados 100 (66,66%) pescadores artesanais, sendo 83 homens (83,00%)

e 17 (17,00%) mulheres, resultando em um total de 832citações de uso.

As espécies com maior número de citações foram Rhizophora mangle - 19,47% (162),

Copernicia prunifera - 7,93% (66), Anacardium occidentale - 5,52% (46), Vernonia

condensata - 3,36% (28) e Cymbopogon citratus - 3,24% (27).

A planta mais citada pelos pescadores da comunidade Canárias, mangue-vermelho (R.

mangle), é nativa e faz parte do ecossistema manguezal e que compõe grande faixa da ilha

onde está localizada à comunidade. Sua utilização principal está relacionada com extração de

madeira para construção civil, seguido do uso medicinal, obtendo também indicação de uso

para confecção de artefato de pesca (curral) e segundo relatos, em tempos atrás, já foi também

utilizado para construção artesanal de barcos. O uso desta espécie para confecção de curral e

na construção de casas também foi observado por Furtado et al. (2006) ao estudarem a

utilização do manguezal nas comunidades pesqueiras de Marapanim e São Caetano de

Odivelas no litoral do estado do Pará. Rasolofo (1997) ao estudar pescadores tradicionais na

costa de Madagascar/África também descreve a madeira do mangue com sendo amplamente

utilizada para fazer armadilha de pesca e canoas.

A utilização do manguezal também é referida por Carneiro et al (2010), ao estudarem

as plantas nativas na vila dos pescadores da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu/PA,

onde encontram de forma semelhante a espécie Rhizophora mangle como a espécie mais

citada e destacam que os usos principais das espécies do manguezal se concentraram nas

categorias “construção” e “tecnologia”. Deus et al. (2003) ao estudar a estrutura da vegetação

lenhosa de três áreas de manguezal do Piauí também afirmam o uso dos bosques de mangue

para extração da madeira; por Ravindran et al. (2005) ao realizarem estudo etnobotânico em

Tamil Nadu na costa leste da Índia, também encontraram uso da madeira do manguezal para

lenha, derivados de madeira e matérias-primas para uso na medicina; Souto (2008) ao realizar

estudo no Distrito de Acupe, Santo Amaro/BA sobre o bosque de mangues e a pesca artesanal

sobre a abordagem etnoecológica também registra uso da madeira ou galhos para confecção

de artefatos de pesca, uso direto da lenha ou após a conversão em carvão; Carneiro et al

(2008) ao estudarem os pescadores artesanais do Canal de Santa Cruz/PE encontram o uso de

85

mangue para produção carvão vegetal e para fins medicinais; Dessa forma, pode-se observar

que o uso de espécies do manguezal apresenta-se disseminado em diferentes localidades no

país e no exterior. Para Diegues (2000) o uso da madeira do mangue para fins de construção

de casas foi e ainda é de suma importância para pequenas comunidades pesqueiras da costa

brasileira.

Com relação à Ilha das Canárias, Saraiva (2009) comenta que a extração do mangue

não é citada em nenhum dos documentos analisados por ele como atividade extrativista

vegetal e isso se deve ao fato de se tratar de atividade ilegal prevista no Código Florestal

Brasileiro, Lei Nº 4.771 de 1965, bem como em outros documentos legais com Resoluções do

CONAMA. Esse autor comenta ainda que “[...] entretanto, a atividade é muito presente dentro

da RESEX, da APA e em todo Delta, utilizando, sobretudo, para aproveitamento da madeira

para construção civil ou carvoaria de subsistência pela população de menor poder aquisitivo.

Ressalta, também, que toda região é possível perceber casas e cercas onde o madeiramento

principal é proveniente do mangue. Porém apesar da disseminação desta prática, os

manguezais ainda se encontram em relativo bom estado de conservação e a impressão que se

tem é que não é este seu principal foco de pressão”

Categorias de Uso

Das cinco categorias de uso encontradas (alimentícia, medicinal, forrageira,

construção e outros usos), as que tiveram maior percentual de citações foram: medicinal

(44,83%), alimentícia (25,12%) e construção (25,36%). Resultado similar foi encontrado por

Melo et al (2008) ao estudarem a comunidade da praia do Pântano Sul/SC, onde as categorias

mais cotadas foram medicinal, seguida de alimentar, artesanal/manufatura, outros e

ornamental. Semelhante também aos resultados de Miranda e Hanazaki (2008) ao estudarem

as comunidades insulares de Pereirinha, Náufrago e Foles/SP, onde na primeira a categoria

mais cotada foi medicinal, seguida de manufatura; na segunda as categorias com mais

citações foram alimentar e medicinal e na terceira a mais cotada foi alimentar, seguida de

medicinal e manufatura. Outros resultados semelhantes foram os encontrados por Rossato et

al (1999) ao estudarem os caiçaras habitantes da costa do sudoeste do Brasil onde de 276

plantas citadas as categorias com mais cotações foram medicinais, construção ou artesanato e

86

alimentação. Chazdon e Coe (1999) estudando a etnobotânica de espécies lenhosas no

nordeste da Costa Rica, também referiram as categorias medicinal, construção, lenha,

artesanato e comida como as mais citadas, e aos resultados de Torres et al. (2009) ao

estudarem o uso da biodiversidade na APA de Genipabu/RN, onde de 50 espécies vegetais

encontradas com valor utilitário, as modalidades mais frequentes foram medicinal e

alimentar.

Os resultados encontrados neste trabalho bem como os observados nos estudos

mencionados acima demonstram uma tendência das populações de pescadores de

apresentarem um maior conhecimento da flora que está diretamente ligada as suas

necessidades básicas. As plantas medicinais, por exemplo, apesar de haver atualmente um

maior acesso aos medicamentos industrializados, elas se mostram bastante utilizadas por

serem gratuitas e de fácil acesso. As plantas alimentícias são parte integrante da dieta local e

representam fonte de fibras e vitaminas também de acesso gratuito. Já as plantas utilizadas

para fins de construção representam a alternativa para o desgastante transporte desses

materiais quando adquiridos em regiões vizinhas.

A categoria forrageira se mostrou pouco expressiva com apenas 1,68% das citações,

embora na ilha seja encontrada a criação de animais (gado bovino e ovino, coelhos, etc.),

apesar de não ser muito desenvolvida. Os demais usos citados, que ficaram inferiores a este

percentual passaram a formar o grupo “outros usos” com 3,00% das citações e englobou

artesanato, mágico-religiosa, artefato de pesca, dentre outros. Destacam-se neste grupo,

espécies que possuíram usos exclusivos, Momordica charantia utilizado para matar carrapato,

e Copernicia prunifera, neste caso, utilizada como fonte de matéria-prima para construção do

instrumento de pesca chamado jiquí.

No que tange as plantas medicinais foram registrados variados usos como, por

exemplo, para tratamento de doenças digestivas (Ximenia americana), renais (Phyllanthus

niruri), do fígado (Vernonia condensata), inflamações (Anacardium occidentale), infecções

virais e/ou bacterianas (Eucalyptus globulus e Vachellia farnesiana), lesões (Rhizophora

mangle), doenças de pele (Pachyra aquatica), doenças do aparelho geniturinário (Terminalia

catappa), do aparelho respiratório (Commiphora leptophoeos), do sistema endócrino

(Syzygium jambolanum), neoplasias (Himatanthus drasticus), dentre outras enfermidades. As

formas de utilização das plantas foram pasta (tópico), chá (oral), xarope (oral) e infusão

87

(tópico, inalação, oral). Resultados se assemelham aos encontrados por Fonseca-Kruel e

Peixoto (2004) na RESEX Marinha Arraial do Cabo/ RJ, onde foram detectadas plantas para

tratar problemas pulmonares, digestivos, problemas de fígado, diabetes, de cicatrização e

inflamações.

Na comunidade Canárias, a categoria medicinal foi onde se concentrou o maior

número de citações, assim como o encontrado por Rossato et al (1999) ao estudarem caiçaras

da costa Sudoeste do Brasil, Torres et al. (2009) ao estudarem o uso da biodiversidade na

APA de Genipabu/RN e por Chazdon e Coe (1999) ao estudarem a etnobotânica de espécies

lenhosas no nordeste da Costa Rica e Coe e Anderson (1997) ao realizarem estudo

etnobotânico junto à comunidade Miskitu na costa leste de Nicarágua.

Com relação às plantas alimentícias, foram citadas plantas encontradas na vegetação

nativa, como Byrsonima crassifolia e cultivadas em quintais, como Solanum tuberosum ou em

roças, como Oryza sativa, que são utilizadas em maior parte para subsistência. Há descrições

(Feydit e Costa, 2006) da prática do extrativismo de B. crassifolia e da castanha da

Anacardium occidentale na comunidade, mas ficando restrito ao consumo local.

Com relação às plantas utilizadas para construção, foram citadas com diversos usos,

como para confecção de caibro, linha, ripa, portão, construção de pontes, cercas e cobertura

de casas. Begossi et al (1993) também encontram o uso da madeira para construção em

cobertura de casas na comunidade pesqueira da Ilha de Búzios, sudoeste do Brasil. Coe e

Anderson (1997) relatam o uso da madeira para suporte para casas, paredes laterais, palha

para telhado, dentre outros ao estudarem a etnobotânica da comunidade Miskitu na costa leste

de Nicarágua. Fato observado também por Rossato et al (1999), ao estudarem e Etnobotânica

de caiçaras da Mata Atlântica, onde a categoria “construção” englobou o uso de plantas para

erguer habitações, construção de canoas, fabricação de colheres e vassouras, artesanato

(cestas); Fonseca-Kruel e Peixoto (2004) na RESEX Marinha Arraial do Cabo, onde

descrevem o uso de plantas para construção de casas em fundações, tábuas para o chão e teto,

além de peças para escorar paredes; Silva e Andrade (2005) ao estudar duas comunidades

localizadas no Litoral de Pernambuco também relataram o uso de plantas em construções

como linhas, caibros, ripas, tábuas, materiais como palha de coqueiro e capim seco usados

para cobertura de telhados.

88

No que se refere à construção de canoas na comunidade Canárias, observa-se que no

passado já foram utilizadas madeiras como Hymenaea courbaril para o pé ou quilha, Carapa

guianensis para o assento de taboa e Rhizophora mangle para caverna e quilha. Hoje estas

foram substituídas por madeiras comercializadas vindas de outras regiões como do estado do

Pará, sendo elas: Caryocar coriaceum, Handroanthus impetiginosus, Cedrella odorata,

Hymenaea courbaril e Manilkara dardanoi. Begossi et al (1993) também descrevem a

construção artesanal de canoas, só que na própria floresta, a partir de um único tronco de

árvore de grande porte e relatam ser difícil encontrar árvores próximas da comunidade que

sirvam para esse fim; Coe e Anderson (1996) relataram a construção de embarcações a partir

de toras de àrvores, descrevendo o uso de cedro macho (Cedrela odorata L.), samaúma

(Ceiba pentandra (L.) Gaertn.), mogno (Swietenia macrophylla King), dentre outras espécies;

Rasolofo (1997) registrou em comunidade na costa de Madagascar a construção de canoas

com o uso do manguezal em diferentes partes da mesma. A construção artesanal de

embarcações por comunidades litorâneas já foi descrita por Hanazaki et al. (2000) nas

comunidades caiçaras de Ponta Almada e Praia do Camburí, onde destacam o uso das

espécies nativas para este fim e ainda Fonseca-Kruel e Peixoto (2004) registraram o uso de

plantas para confecção e consertos de canoas;

Na categoria outros, encontram-se espécies como Astrocaryum vulgare utilizado na

fabricação de rede da fibra e cestos e Byrsonima crassifolia que foi citado para produção de

carvão vegetal. O número reduzido de citações referentes à atividade de carvoaria está

relacionado ao fato dos moradores entenderem que há restrições no uso dos recursos naturais

por se tratar de uma área protegida. Durante as incursões de campo, as Caieiras foram

encontradas já um pouco afastadas das residências, ou seja, está ocorrendo uma inversão,

pois, geralmente a maior pressão sobre os recursos naturais é próxima as residências. Isso

também poderia ser explicado através da restrição de uso, o que promoveu o deslocamento

para áreas de difícil fiscalização. De um modo geral os manguezais mais próximos a

Comunidade encontram-se consideravelmente conservados, pelo menos nas áreas visitadas.

Sobre o tema, Rasolofo (1997) descreve a produção de carvão vegetal na costa de Madagascar

como uma das atividades que exerceram pressão sobre as florestas de mangues e que

ultrapassaram a capacidade de regeneração da floresta.

89

Tabela 1: Espécies úteis citadas pelos pescadores artesanais da comunidade Canárias, Ilha

das Canárias/MA, Brasil. NV = Nome Vulgar; H=Hábito: her=herbáceo, sub=subarbusto;

arb=arbusto, arv=árvore, lia=liana; S=Status: n=nativa, e=exótica; VU = Valor de Uso;

Cat.U=Categorias de Uso: a=alimentícia, b=medicinal, c=construção, d=madeira com outros

uso, e=forrageira e f=outros usos (artesanato, artefato de pesca e místico-religiosa);

NC=Número de Coletor; il=identificada no local.

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Acanthaceae

Justicia pectoralis Jacq. anador a,b sub n 1,25

Amaranthaceae

Alternantera dentata (Moench) Stuchlik ex R.

E. Fries.

cibalena b arb n 1,00

Anacardiaceae

Anacardium occidentale L. cajueiro a,b arv n 1,48

Mangifera indica L. mangueira a,b arv e 1,07

Myracrodruon urundeuva Allemão aroeira b arb n 1,00

Spondias purpurea L. siriguela a arv e 1,00

Spondias mombin L. Cajá a arv n 1,00

Annonaceae

Annona muricata L. graviola a arv e 1,00

Annona squamosa L. Ata a arv e 1,00

Apiaceae

Coriandrum sativum L. coentro a her e 1,00

Pimpinella anisum L. erva-doce b her e 1,00

Apocynaceae

Cryptostegia grandiflora R. Br. cipó-de-leite/unha-de-leite/

unha-de-gato

e,f arb e 2,00

Hancornia speciosa Gomes mangaba b arv n 1,00

Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel janaguba b arv n 1,17

Araceae

Montrichardia linifera (Arruda) Schott aninga b arb n 1,00

Continua

90

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Arecaceae

Astrocaryum vulgare Mart. tucum f arv n 1,00

Cocos nucifera L. coqueiro/coco a,b arv e 1,13

Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore carnaúba b,c,d,f arv n 1,35

Attalea speciosa (Mart. ex Spreng.) Barb.

Rodr.

babaçu b arv n 1,00

Asclepiadaceae

Calothropis procera (Aiton) W.T. Aiton ciúme b arb e 1,00

Asteraceae

Artemisia vulgaris L. dipirona b her e 1,00

Emilia sonchifolia (L.) DC. serralhinha e her e 1,00

Vernonia condensata Bamer Boldo-miúdo b her e 1,00

Aviceniaceae

Avicennia germinans (L.) L. mangue-siriba/mangue-

canoé

b,c,d arv n 1,33

Bignoniaceae

Crescentia cujete L. cujubeira b arv e 1,00

Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.)

Mattos

pau-d’arco/angelca a,d arb n 2,00

Bixaceae

Bixa orellana L. urucu b arb n 1,00

Bombacaceae

Pachyra aquatica Aubl. munguba/manguba b arv n 1,06

Burseraceae

Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett imburana-de-espinho b,c,d arb n 4,00

Cannabaceae

Cannabis sativa L. maconha b her e 1,00

Continua

91

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Capparaceae

Cleome spinosa Jacq. muçambê/muçambé b,e arb n 1,00

Caricaceae

Carica papaia L. mamão a,b arv e 1,00

Caryocaracea

Caryocar coriaceum Wittm. pequi c arv n 1,00

Chenopodiaceae

Chenopodium ambrosioides L. mastruz b sub e 1,00

Chrysobalanaceae

Chrysobalanus icaco L. guajiru a,b,d arb n 1,33

Combretaceae

Conocarpus erectus L. mangue-de-botão b,c,d arv n 1,33

Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn. mangue-manso/mangue-

branco

a,b,c,d,e arv n 1,62

Terminalia catappa L. amendoa/almenda a,b arv e 1,14

Convolvulaceae

Convolvulus macrocarpus (L.) Urb. jalapa/jalapa-do-Brasil b arb n 1,00

Ipomoea batatas (L.) Lam. batata-doce a sub e 1,00

Cucurbitaceae

Momordica charantia L. melão-são-caetano a,b sbe e 2,00

Cyperaceae

Cyperus esculentus L. junco e,f her n 3,00

Euphorbiaceae

Cnidoscolus urens (L.) Arthur cansansão/cansansão-

branco

b arb n 2,00

Euphorbia tirucalli L. cahorro-pelado/cachorro-

pelado-de-cerca

b arb e 1,25

Jatropha gossypiifolia L. pião-roxo c,f arb e 1,33

Continua

92

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Euphorbiaceae

Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. pião-branco/pião-manso b arb n 4,00

Manihot esculenta Crantz macaxeira a arb n 1,00

Manihot sp¹ mandioca a arb n 1,00

Phyllanthus niruri L. quebra-pedra b her n 1,00

Ricinus communis L. mamona b arb e 1,00

Lamiaceae

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. capim-cidreira/erva-

cidreira/cidreira

a,b her e 1,04

Mentha arvensis L. Vick b,e her e 2,00

Mentha x villosa Huds. hortelã b her e 1,00

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. malva/malva-do-reino b her e 1,00

Rosmarinus officinalis L. alecrim b sub e 1,00

Leguminosae-Caesalpinioideae

Caesalpinia ferrea Mart. jucá/pau-ferro b arv n 1,14

Copaifera langsdorffii Desf. podoi b,c arv n 1,50

Hymenaea courbaril L. jatobá a,b arv n 1,67

Pterogyne nitens Tul. amendoin-do-mato e arv n 1,00

Senna alata (L.) Roxb. mata-pastão b arb n 1,25

Leguminosae-Mimosoideae

Mimosa caesalpiniifolia Benth. sabiá b,d arv n 1,00

Mimosa verrucosa Benth. jurema a,c arv n 2,00

Pithecellobium dulce (Roxb.) Benth. mata-fome a arv n 1,00

Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn. coronha b arv n 1,00

Leguminosae-Papilionoideae

Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. mucunã e,a,b lia n 2,00

Phaseolus vulgaris L. feijão a sub e 1,00

Continua

93

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Liliaceae

Allium cepa L. cebola a her e 1,00

Allium schoenoprasum L. cheiro-verde/cebolinha a her e 1,00

Aloe vera (L.) Burm. f. babosa a,b her e 1,33

Trimezia sp. orquídea-palmeira b her n 2,00

Loranthaceae

Psitacanthus SP carrascão/carrasco e sub n 1,00

Malpighiaceae

Byrsonima crassifolia (L.) Munth murici-da-praia a,b,c,d arb n 1,50

Byrsonima ligustrifolia Saint-Hilaire muricí-pitanga a,d arb n 2,00

Malpighia glabra L acerola a arb e 1,00

Melastomataceae

Mouriri elliptica Mart. puçá a,b,d arv n 1,33

Meliaceae

Cedrella odorata L. c arv n 1,00

Menyanthaceae

Nymphoides indica (L.) Muntze aguapé e her n 1,00

Moraceae

Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng. gameleira a,e arv n 2,00

Musaceae

Musa paradisiaca L. bananeira a arb e 1,00

Myrtaceae

Eucalyptus globulus Labill. eucalipto b arv e 1,00

Eugenia uniflora L. pitanga a arb n 1,00

Psidium guajava L. goiaba a,b arv n 1,22

Syzygium jambolanum (Lam.) DC. azeitona a,b arv e 1,00

Continua

94

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Ochnaceae

Ouratea hexasperma (A. St.-Hil.) Baill. batiputá a arb n 1,00

Olacaceae

Ximenia americana L. ameixa-do-mato a,b arv n 1,17

Passifloraceae

Passiflora subrotunda Mast. maracujá-do-mato a sbe n 1,00

Passiflora SP maracujá-vermelho a sbe n 1,00

Poaceae

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf capim-limão/capim- santo a,b her e 1,17

Digitaria insularis (L.) Fedde capim-açu e sub n 1,00

Oryza sativa L. arroz a her e 1,00

Poaceae

Paspalum SP bredo e her n 1,00

Saccharum officinarum L. cana-de-açúcar a,b arb e 2,00

Zea mays L. milho a arb e 1,00

Punicaceae

Punica granatum L. romã a,b arb e 2,00

Rhizophoraceae

Rhizophora mangle L. mangue vermelho b,e,c,d,e arv n 2,05

Rubiaceae

Spermacoce verticillata L. vassourinha b sub n 1,00

Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) M.

Schum.

jenipapim/jenipapinho e arv n 1,00

Rutaceae

Citrus aurantium L. laranjeira a,b arb e 1,50

Citrus limonum Risso limão a,b arb e 1,23

Sapotaceae

Manilkara dardanoi Ducme massaranduba d arv n 1,00

Continua

95

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV Cat.U H S VU

Sapotaceae

Manilkara zapota (L.) P. Royen sapoti a arv e 1,00

Solanaceae

Capsicum frutescens L. pimenta-malagueta a sub e 1,00

Solanum lycopersicum L. tomate a sub e 1,00

Solanum paniculatum L. jurubeba a,c arb n 2,00

Solanum tuberosum L. batata- inglesa a her e 1,00

Solanum viarum Dunal melancia-de-praia a sub n 1,00

Verbenaceae

Amasonia campestris (Aubl.) Moldenke flor-de-alma e sub n 1,00

Lantana camara L. chumbinho a,e arb n 2,00

Zingiberaceae

Zingiber officinale Roscoe gengibre b,e sub e 1,00

Não identificadas

Pustameira pustameira b,c,d arv n 1,29

96

Valor de Uso das Espécies Botânicas

Os maiores Valores de Uso foram encontrados para as espécies Commiphora

leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00), seguidas de Cyperus esculentus (VU=3) e

Rhizophora mangle (VU=2,05). O resultado demonstra as espécies com maior potencial de

utilização citadas pelos pescadores. Os valores de uso de todas as espécies citadas foram

distribuídos em quatro classes (Figura 6), destas, duas tiveram maior número de espécies: a

primeira, onde estavam contidos Valores de Uso igual a 1,00 (58,33%) e a segunda com

valores compreendidos no intervalo 1,01 e 2,00 (37,6%). A partir das informações de uso

obtidas pode-se dizer que as espécies mais citadas foram aquelas cujo conhecimento ao seu

respeito é mais equitativamente distribuído dentro do grupo de pescadores artesanais

pesquisado.

Figura 6- Gráfico de distribuição do Valor de Uso das etnoespécies dispostos em classes de VU na

comunidade de pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta

(2009-2010).

Diversidade de citações de Espécies Botânicas

A diversidade de espécies botânicas encontradas na comunidade Canárias,

considerando o número geral de espécies citadas (nativas e exóticas) através do índice de

Shannon-Wienner na base 10, foi de H’(10)=1,58. Resultado inferior ao encontrado em

estudo realizado por Borges e Peixoto (2009) em uma comunidade caiçara/RJ, onde

H’(10)=1,81, bem como o estudo de Hanazaki, et al. (2000) nas comunidades caiçaras de

58.33

37.96

1.85 1.85

0

10

20

30

40

50

60

70

1 1,01 a 2,00 2,01 a 3,00 3,01 a 4,00

Po

rcen

tage

m d

e V

U

97

Almada e Camburí, que obtiveram H’(10)=1,99 e H’(10)=1,98, respectivamente. Inferior

também ao encontrado por Miranda e Hanazaki (2008) para as comunidades insulares de

Pereirinha, H’(10)=2,04, Cambriú-Foles, H’(10)=1,83 e Naufragos, H’(10)=1,90, e bem

abaixo ao encontrado por Carneiro, Barboza e Menezes (2010) em estudo realizado na vila

de pescadores que também pertencente a uma RESEX, neste caso, à Reserva Extrativista

Marinha Caeté-Taperaçu/PA, em que o índice de Shannon foi de H’=2,3. O resultado

mostra-se superior apenas ao resultado encontrado por Figueredo et al (1997) na

comunidade de Calhaus, ilha de Jaguanum (H’=1,53). Embora índices elevados de

diversidade sugiram áreas bem conservadas em comunhão com considerável conhecimento

etnobotânico (Lima et al, 2000) e a diversidade encontrada para Canárias tenha sido

inferior a maioria dos trabalhos realizados no litoral que foram analisados, a comunidade

ainda apresenta uma rica diversidade e um apreciável conhecimento etnobotânico.

Distribuição Conhecimento Botânico tradicional por Gênero

Os homens (n=83; 83%) citaram 102 espécies botânicas, das quais 63 (61,76%)

foram espécies exclusivas do grupo, destas 44 (69,85%) são de espécies nativas e 19

(30,15%) de espécies exóticas. Já as mulheres (n=17; 17%) citaram 45 espécies botânicas,

sendo 6 (13,33%) de espécies exclusivas deste grupo, destas 4 (66,67%) são espécies

exóticas e apenas 2 (33,33%) são espécies nativas.

Sobre as citações de uso, homens referiram 70628

usos sendo 446 (63,17%) para

espécies nativas e 260 (36,83%) para espécies exóticas. O grupo das mulheres atribuiu 126

citações de uso, sendo 69 (54,76%) para plantas nativas e 57 (45,24%) para exóticas.

No que se refere às categorias de Valor de Uso (VU) e sua relação com os gêneros

e origem das plantas (Figuras 7ª e 7B), observou-se que, os maiores valores de uso das

espécies nativas se concentraram na categoria que vai de 3,01 a 4,00, sendo esta formada

exclusivamente por plantas citadas por homens. Nas demais categorias de VU de plantas

nativas, houve o predomínio de espécies citadas pelo gênero masculino.

28 Baseado no somatório dos usos, considerando deste modo, usos repetidos.

98

As plantas exóticas se concentraram integralmente nas categorias VU=1 e VU

encontrado no intervalo de 1,01 e 2,00. Os maiores valores de uso pertencem à segunda

categoria descrita, com 60% das citações feitas por homens e 40% por mulheres.

Figura 7- Categorias de Valor de Uso (VU) das espécies nativas (A) e exóticas (B) e o percentual de citações

separados por gênero na Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

A participação, em número de citações, do grupo feminino foi menor que do

masculino, tanto com espécies nativas quanto exóticas, percebe-se que as contribuições

destas estão mais representadas no grupo das plantas exóticas. O fato pode ser explicado

uma vez que elas geralmente ficam em casa responsáveis pelas atividades domésticas e

cuidados com a família, o que leva a ter um maior contato com as espécies medicinais,

cultivadas geralmente em quintas (muitas de origem exótica) e pouco contato com as

plantas nativas da mata local.

Deste modo, cabe ressaltar que na comunidade Canárias, a maior parte das citações

feitas pelas mulheres foi de plantas presentes em seus quintais ou próximas as suas

moradias, sendo 55,55% formada por espécies exóticas. Já em relação aos homens, o maior

conhecimento foi sobre as plantas nativas (60,78% das citações), e que não se restringe

apenas as espécies encontradas na ilha em que moram, mas da vegetação que os cercam no

caminho formado por rios e igarapés percorridos até os locais de pesca e em alguns casos,

cata do caranguejo. Deste modo embora não havendo diferenças significativas no

conhecimento de homens e mulheres sobre a biodiversidade, há um domínio acerca de

diferentes tipos de usos destas espécies por cada gênero.

Com relação às citações de espécies exclusivas, os homens demonstraram conhecer

mais sobre espécies nativas que as mulheres. No que tange as citações de uso, homens e

A B

99

mulheres demonstraram ter um maior conhecimento com relação às plantas nativas,

embora se considerado o número de citações as contribuições masculinas foram mais

expressivas. De um modo geral, o uso dos recursos se mostrou heterogêneo entre os

gêneros, assim como no estudo realizado por Borges e Peixoto (2009) numa comunidade

caiçara da APA de Cairuçu/RJ, onde as espécies cujo uso estavam ligadas a

construção/tecnologia foram de domínio masculino e ligadas a alimentação, medicina e

lenha foram de domínio feminino; Miranda et al. (2011) também observaram que os

homens demonstraram conhecer mais espécies manufatureiras, enquanto as mulheres mais

plantas medicinais no estudo desenvolvido sobre o uso dos recursos vegetais junto a

comunidades caiçaras da Ilha do Cardoso/SP.

Diversidade e Riqueza de Espécies Citadas por Gênero

Por possuírem tamanhos amostrais diferenciados, foi necessária a padronização das

amostras, como forma de controlar as diferenças apresentadas nos valores absolutos da

mesma, para poder relacioná-las corretamente. Para tal fim, foi utilizado como ferramenta

o mecanismo da rarefação (Figura 8).

Figura 8- A: Curva de rarefação para diversidade média (Shannon-Wienner Index); B: riqueza de espécies

citadas por gênero na comunidade de pescadores artesanais Canárias, Araioses/MA, Brasil, destacando os

intervalos de segurança da amostra maior rarefeita. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

A diversidade média esperada (Shannon-Wiener) e a riqueza de espécies com a

amostra das citações de homens de 706 rarefeita para 126 citações, foi de H’(e)=3,38 e

S=49,59, respectivamente. Para saber se a amostra apresentava diferença significativa em

A B

100

relação à feminina, foram observados seus intervalos de confiança superior e inferior que

foram de 3,15 e 3,60 para diversidade (Shannon) e 43 e 57 para riqueza de espécies,

respectivamente. O Shannon calculado para o grupo de mulheres, ou diversidade

observada, com 126 citações, foi de 3,21, em média, e a riqueza observada para o grupo foi

de 45, em média. Nota-se que os mesmos estão contidos nos intervalos de confiança da

amostra maior rarefeita para 126 citações, tanto para a diversidade, quanto para riqueza de

espécies (figuras 8A e 8B). Deste modo, percebe-se que a diversidade citada pelo gênero

masculino é pouco maior, porém não apresenta diferenças significativas, demonstrando

que o conhecimento está distribuído de forma equilibrada entre eles.

Outro trabalho similar, em que esta diferença foi pequena, porém, neste caso, a

diversidade tenha sido pouco maior para mulheres, foi o realizado por Figueredo et al

(1997) ao estudarem a etnobotânica de plantas medicinais na comunidade da praia de

Calhaus (Ilha de Jaguanum), Costa da Mata Atlântica, onde o índice de Shannon

encontrado para mulheres e homens foi de H’=1,34 e H’=1,33, respectivamente, e a

riqueza foi de S=29 para homens e S=35 para mulheres. Resultado semelhante foi

encontrado por Begossi et al (2002), onde a diversidade (Shannon-Wiener) encontrada

para homens H’(e)=4.38 foi pouco maior que para mulheres H’(e)=4.19, ocorrendo

também pouca diferença em relação a riqueza de espécies entre mulheres (S=191) e

homens (S=176).

Observam-se também semelhanças aos resultados encontrados por Sousa (2010), ao

estudar as comunidades pesqueiras de Barra Grande e Morro da Mariana na APA no Delta

do Parnaíba, litoral do Piauí, onde as diferenças entre gêneros também não foram

significativas, sendo encontrado em Barra Grande H’=4,42 para homens e H’=4,22 para

mulheres e em Morro da Mariana, H’=4,48 para homens e H’=4,42 para mulheres.

De um modo geral, os resultados demonstraram uma distribuição equitativa por

gênero do conhecimento sobre as plantas, assim como o encontrado por Merétika et al

(2010), no estudo feito com pescadores artesanais em Itapoá/SC cujos resultados não

demonstraram diferenças entre a riqueza citada por homens e mulheres bem como se

assemelham ao estudo feito por Figueredo et al. (1997) na comunidade Calhaus na ilha de

Jaguanum, em que homens e mulheres não apresentaram diferenças no grau de

familiaridade com o uso de plantas medicinais. Divergindo dessa direção foram os

101

resultados do estudo de Hanazaki et al. (2000) em Ponta Almada e Praia do Camburí em

que de três categorias estudadas (artesanato, medicinal e alimentícia) em ambas as

comunidades, apenas uma (alimentícia) e apenas em Camburí, não apresentou diferença

significativa entre os gêneros. A diferença no conhecimento por gênero também foi

descrita por Begossi et al. (2002) ao estudar caiçaras na costa da Mata Atlântica em que,

considerando a abundância relativa de citações por espécie (Shannon), observaram que os

homens apresentaram uma maior diversidade em relação às mulheres. Coe e Anderson

(1996) também observaram esta diferença em Miskitu, costa leste de Nicarágua, onde

relatam que no geral os homens são mais conhecedores do que as mulheres no que diz

respeito ao uso de espécies silvestres.

Distribuição do Conhecimento Botânico Tradicional por Faixa-Etária

O grupo dos adultos (n=72; 72,00%) teve maior número de citações de uso (547),

seguido de jovens (n=14; 14%), com 150 citações e idosos (n=14; 14%), com 135 citações,

sendo 65,74%, 18,04% e 16,22% respectivamente, em valores percentuais. Os adultos

citaram 78 espécies botânicas sendo 39 (50,00%) nativas e 39 (50,00%) exóticas. O

número de espécies citadas exclusivamente por este grupo foi 28 (35,89%) sendo 9

(32,15%) nativas e 19 (67,85%) exóticas; os jovens citaram 64 espécies, sendo 49

(76,56%) espécies nativas e 15 (23,44%) exóticas. O grupo dos jovens apresentou 26

(40,62%) espécies exclusivas, destas 23 (88,47%) foram nativas e 3 (11,53%) exóticas; os

idosos citaram 46 espécies, sendo 25 (54,35%) nativas e 21 (45,65%) exóticas,

apresentando duas espécies exclusivas, uma nativa e uma exótica.

Sobre as categorias de Valor de Uso (VU) e sua relação com a faixa-etária e origem

das plantas, observou-se que, os maiores valores de uso das plantas nativas se

concentraram na categoria que vai de 3,01 a 4,00, sendo esta categoria formada

exclusivamente por plantas citadas pelos jovens (Figura 9).

102

Diversidade e Riqueza de Espécies Citadas por Faixa-Etária

Comparando-se o conhecimento de jovens e idosos observa-se que a diversidade

(Shannon-Wiener) e a riqueza de espécies observadas para a amostra de idosos com 135

citações, foram de H’(e)=3,38 e S= 46, em média. Já a diversidade e riqueza esperada para

amostra de jovens, considerando 135, como número de citações, foram de H’=3,64 e

S=60,96 em média, com intervalos de confiança, inferior e superior, de: 3,57 e 3,71 para

diversidade e 58 e 64 para riqueza. Observa-se que tanto a diversidade (H’), quanto à

riqueza (S) encontrada para o grupo dos idosos não estão contidas nos intervalos da

amostra de jovens rarefeita para 135 citações, em ambos os índices (Figuras 10B e 11B), o

que demonstra diferença significativa entre a diversidade/riqueza citadas por jovens e por

idosos. Apresentando, neste caso, os jovens, um maior conhecimento sobre a riqueza e

diversidade de espécies local.

Ao comparar o conhecimento de jovens e adultos observou-se que, a diversidade

esperada para adultos, considerando 150 citações, foi de H’(e)=3,26, com intervalos de

confiança inferior e superior de 3,07 e 3,44, respectivamente. O índice de Shannon

encontrado para jovens foi de H’(e)=3,68, por isso, fora do intervalo de confiança da

amostra maior rarefeita (Figura 10C). O mesmo ocorre com a riqueza de espécies (S), onde

a riqueza esperada para os adultos, considerando 150 citações, foi de S=46,58, e seus

intervalos de confiança, inferior e superior, foram respectivamente de 40 e 53. A riqueza

Figura 9- Categorias de Valor de Uso (VU) das espécies nativas (A) e exóticas (B) e o percentual de citações

separados por faixa-etária na comunidade Canárias, Araioses,/MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

A B

103

observada para amostra jovens com 150 citações foi de S=64, estando da mesma forma que

a diversidade, fora do intervalo de confiança da amostra maior rarefeita (Figura 11C), o

que vem demonstrar a existência de diferenças significativas entre ambos. Neste caso, o

conhecimento dos jovens mostrou-se maior que o de adultos.

Comparando o conhecimento de adultos e idosos percebe-se que a diversidade

esperada (índice de Shannon-Wiener) e a riqueza esperada para adultos considerando o

tamanho amostral de 135 citações, foram respectivamente de H’(e)=3,23 e S=44,08, em

média, com intervalos de confiança inferior e superior de 3,03 e 3,41, para diversidade e

38 e 50 para riqueza de espécies. Ao relacionar estes números com a diversidade e riqueza

observadas para o grupo formado pelos idosos (H’=3,38 e S=46), nota-se que os mesmos

estão contidos nos intervalos de segurança da maior amostra rarefeita, tanto para

diversidade, como para riqueza de espécies (Figuras 10D e 11D), demonstrando que não há

diferenças significativas entre ambos, embora o conhecimento apresentado pelos idosos se

mostre pouco maior do que o apresentado pelos adultos.

104

Figura 10- Curva de rarefação para diversidade de espécies (Shannon-Wienner Index) citadas por faixa

etária na comunidade de pescadores artesanais Canárias, Araioses,/MA, Brasil. A) Diversidade por Faixa; B) Relação entre jovens e idosos, com os intervalos de segurança da amostra maior rarefeita; C) Relação entre

adultos e jovens, com os intervalos de segurança da amostra maior; D) Relação entre adultos e idosos, com os

intervalos de segurança da amostra maior. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

A

)

B

)

C

)

D

)

A

)

B

)

C

)

D

) Figura 11– Curva de rarefação para riqueza de espécies citadas por faixa etária na comunidade de pescadores Canárias/MA, Brasil. A) Riqueza de gênero; B) Relação entre jovens e idosos, com

intervalos de segurança da amostra maior rarefeita; C) Relação entre adultos e idosos, com os intervalos

de segurança da amostra maior. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

105

Uma vez colocados em mesmo nível amostral, foi observado que, com relação ao

conhecimento acerca da flora local, a faixa-etária representada pelos jovens apresenta-se

superior aos grupos formados por adultos e idosos, e os idosos em relação aos adultos

(Figuras 10A e 11A), de modo que, as diferenças são significativas entre jovens e idosos,

bem como entre jovens e adultos, e não significativas entre adultos e idosos.

Os resultados apresentados neste trabalho mostraram-se divergentes aos

encontrados por outros trabalhos, onde a idade mais elevada está geralmente relacionada a

um maior conhecimento oriundo de uma maior experiência de vida, assim como o

apresentado no trabalho de Merétika et al. (2010), ao estudarem pescadores artesanais em

Itapoá/ SC; No estudo etnobotânico de Figueiredo et al. (1997) em Calhaus, ilha de

Jaguanum/RJ, em que os entrevistados mais velhos conhecem mais sobre plantas

medicinais do que os mais jovens, e ao estudo de Rossato et al. (1999) com caiçaras na

costa no sudoeste do Brasil, onde os idosos também apresentaram um maior conhecimento

sobre as espécies. Divergem também dos encontrados por Begossi et al. (2002) com os

caiçaras da costa da Mata Atlântica, em que os mais velhos apresentaram uma maior

diversidade de citações de plantas em comparação aos jovens; ao trabalho de Sousa (2010)

nas comunidades de pescadores de Barra Grande e Morro da Mariana, onde o

conhecimento dos idosos foi superior ao dos jovens e similar (Riqueza e Shannon) ou

maior (números de citações) em relação aos adultos; dos resultados de Fonseca-Kruel e

Peixoto (2004) ao realizar estudo Etnobotânico na RESEX Arraial do Cabo/ RJ, onde

observaram que o saber tradicional encontra-se mantido especialmente entre os pescadores

mais idosos. Coe e Anderson (1996) observaram também os indivíduos mais velhos como

sendo mais conhecedores que os jovens a respeito do uso de plantas medicinais, porém

neste caso, os indivíduos mais jovens estavam mais bem informados sobre plantas usadas

como alimentos.

O fato dos idosos terem apresentado durante as entrevistas menor número de

citações do que os jovens pode ser compreendido uma vez que os representantes deste

grupo geralmente não se dispuseram a participar de turnês-guiadas, técnica que facilita a

lembrança das espécies conhecidas. Esta recusa aparece muitas vezes, por apresentarem

estado de saúde delicado, ou não suportarem o esforço físico exigido nas caminhadas. Uma

106

característica deste grupo também seria certa timidez ao serem entrevistados, bem como

geralmente não se recordam de muitas plantas que conhecem e usam.

Os jovens e adultos se mostraram mais abertos as entrevistas e dispostos a se

deslocaram de suas casas para mostrar alguma planta que citaram durante as mesmas.

Hanazaki et al. (2000) também relataram o fato dos jovens estarem mais abertos e por

conseqüência citarem uma diversidade maior de citações, bem como descrevem a

possibilidade dos mais velhos estarem interagindo menos com a vegetação.

Observa-se, porém, que a eficiência do método “turnê guiada” pode ser o motivo da

superioridade em número de citações de espécies no grupo dos jovens. O método que

expõe o indivíduo ao contato direto com a mata faz com que o mesmo lembre de inúmeras

espécies que não citaria se recorresse apenas à memória.

O maior conhecimento apontado para o grupo composto pelos jovens sugere que

estes estão tendo acesso a um número maior de informações oriundas tanto do ensino

formal, mas também da facilidade informativa que a tecnologia pode proporcionar como,

por exemplo, com a televisão e internet. Todo esse conhecimento é então agregado aos

conhecimentos transmitidos pelos mais velhos, uma vez que todo processo de aprendizado

é dinâmico e está aberto a renovações. Essa transmissão ocorre de modo natural,

utilizando-se dos mecanismos da oralidade e observação dentro do convívio diário com

atividade pesqueira, que se inicia já quando criança, mas cuja inserção efetiva na atividade

só ocorre por volta dos 16 anos, em média, para moradores da ilha.

Conclusão

De modo geral, os pescadores artesanais da comunidade Canárias possuem um bom

conhecimento em relação das plantas nativas e exóticas presentes na ilha, bem como

muitos de seus usos, demonstrando assim a existência do conhecimento botânico

tradicional na comunidade.

As categorias que tiveram maior número de citações foram medicinal, alimentícia e

construção. O valor de uso das espécies citadas pouco variou, não apresentando valores

elevados, o que traduz a utilidade de diversas plantas apenas para um número reduzido de

107

pessoas. A espécie com maior valor de uso foi Rhizophora mangle, com citações para os

usos construção e medicinal.

O conhecimento sobre o uso das plantas na comunidade encontra-se distribuído

regularmente entre os gêneros e irregularmente entre faixa-etária, havendo neste caso

diferença significativa no conhecimento apresentado na relação jovens x idosos e jovens x

adultos, e diferenças não significativas na relação idosos x adultos. Os jovens apresentaram

maior conhecimento que pode estar relacionado com o fato de que estes, além do

conhecimento passado pelos mais velhos, possuem acesso a outros conhecimentos, como

por exemplo, o formal, uma vez que este grupo apresentou o maior percentual de

indivíduos que frequentaram a escola; outras características desse grupo é a de possuírem

maior facilidade de acesso a novas tecnologias, e por serem também mais desinibidos

estando assim, mais abertos aos diálogos. Já os idosos demonstram maior receio ao serem

entrevistados, além de não lembrarem os nomes das plantas e não estarem dispostos a

realizarem turnês-guiadas, fato que aumenta consideravelmente os números de citações de

um entrevistado.

O fato é que, apesar de apresentar problemas ambientais, a comunidade possui uma

considerável porção de área verde conservada, que juntamente com os dados adquiridos na

pesquisa demonstram ainda uma presente e dinâmica transmissão do conhecimento dos

mais velhos aos mais jovens. Essa transmissão ocorre de modo natural no convívio e na

execução das práticas diárias. Já a dinâmica no processo de aprendizagem explica a

incorporação de novos conhecimentos aos já existentes sobre das plantas locais, onde

houve incorporação de espécies exóticas e aprendizado a seus respeitos. O aumento de

informações com a chegada da energia elétrica, que trouxe consigo rádio, TV e internet,

pode ser uma explicação para o maior conhecimento por parte dos jovens.

O conhecimento em relação aos recursos vegetais da ilha demonstra que ainda

ocorre a manutenção e transmissão desse conhecimento dentro desta cultura. A própria

condição insular da comunidade, com acesso apenas por barco, pode ser um fator que

colaborou grandemente com a manutenção de suas características culturais.

Diante da forte influência da cultura sobre a biodiversidade local e estando ciente

da manutenção do ainda presente conhecimento tradicional na comunidade, é que se

destaca a importância de se considerá-los nas ações que envolvam a conservação desta

108

área, principalmente por se tratar de uma reserva extrativista, que se destina não apenas

conservação da área, mas também da cultura e modo de vida dos povos que dependem do

extrativismo local para sobreviver.

Agradecimentos

Aos pescadores da comunidade Canárias, sem os quais não seria possível a realização desta

pesquisa e a todos que contribuíram para conclusão deste trabalho. Ao ICMBio e Colônia

de Pesca Z-7, pelas autorizações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.

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113

Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do

delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil.

MEIRELES, V. J. S.1*

; ALBUQUERQUE, U. P.2; BARROS, R. F. M.

3

¹ Universidade Federal do Piauí, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Av.

Universitária,1310, Campus Ininga, CEP: 64.049-550, Teresina-Brasil

*[email protected]; ² Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da

Natureza, Departamento de Biologia, Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, Campus Ministro Petrônio Portela, Ininga, CEP: 64049-550, Teresina-Brasil;

³Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Laboratório de

Etnobotânica Aplicada, CEP 52171-900, Recife, PE, Brasil.

RESUMO: Este estudo investiga os pescadores artesanais da comunidade Canárias/MA,

Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sobre o conhecimento e uso da flora

utilizada como medicinal, para compreender a relação destes com estes recursos ao mesmo

tempo que promove o registro desses saberes como forma de valorizar tal conhecimento e

própria cultura que o gerou. Foram aplicadas 100 entrevistas semiestruturadas e as plantas

citadas foram coletadas por metodologia usual, seguindo-se a técnica “turnê-guiada”; todo

o material encontra-se incorporado no herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. Foram

determinados o Valor de Uso, Fator do Consenso do Informante (FCI) e Importância

Relativa (IR) das espécies. A comunidade estudada conhece uma variedade de plantas com

propriedades medicinais, utilizando-as sobre diversas formas de manipulação e para o

tratamento de diferentes enfermidades. A maior parte das plantas medicinais conhecidas e

utilizadas é de origem nativa. Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett, Jatropha

ribifolia (Pohl) Baill., Cyperus esculentus L. e Rhizophora mangle L. apresentaram os

maiores valores de uso. Os sistemas corporais com a maior concentração de espécies estão

relacionados a enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais (febre, inflamação,

cicatrização, etc.), transtornos gastrointestinais e respiratórios. As espécies Rhizophora

mangle L., Pachyra aquatica Aubl., Vernonia condensata Baker, Mentha x villosa Huds.,

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf e Chenopodium ambrosioides L. se apresentaram como

as mais versáteis na comunidade. O conhecimento botânico tradicional pode ser utilizado

como forma de mensurar a diversidade da flora local útil, seu potencial de uso, bem como

a pressão que algumas espécies sofrem com possível uso excessivo. Deste modo, as

informações geradas na comunidade são indispensáveis no processo de conservação local,

e devem ser respeitadas assim como também deve ser a cultura geradora deste

conhecimento.

Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, Canárias/MA.

ABSTRACT: Medicinal plants in a fishing community in the marine extractive

reserve of the Parnaiba Delta, in the Brazilian Northeast. This study investigates the

fishermen from Canárias community, in Maranhão, Marine Extractive Reserve of the

Parnaíba Delta, about the knowledge and use of plants for medical purposes, to understand

the relation between those ones and such resources and at the same time, stimulate the

114

registration of that understanding as a way to strengthen such knowledge and the very

culture that created it. 100 semi-structured interviews were applied, and the indicated

plants were collected through the usual methodology, according to the ‘guided-tour’

technique, all material is incorporated into Graziela Barroso herbarium in the Federal

University of Piauí - UFPI. It was determined the Value of Use (VU), the Informant

Consensus Factor (ICF) and the Relative Importance (RI) of the species. The community in

the focus of this study knows a variety of plants with medical attributes, using them under

different forms of manipulation and to treat distinct diseases. Most of the medicinal plants

which are known and used are originally from the community. Commiphora leptophoeos

(Mart.) J.B. Gillett, Jatropha ribifolia (Pohl) Baill., Cyperus esculentus L. and Rhizophora

mangle L. They had the highest values of use. The body systems with a larger

concentration of species are related to current diseases with general symptoms

(temperature, inflammation, healing, etc.), gastrointestinal and breathing disorders. The

species Rhizophora mangle L., Pachyra aquatica Aubl., Vernonia condensata Bamer,

Mentha x villosa Huds., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf e Chenopodium ambrosioides

L., were seen as the most versatile in the community. The traditional botanical

understanding can be used as a way to measure the diversity of the local useful plants, its

usage potential, as well as the pressure some species may suffer due to excessive use.

Therefore, the information produced in the community is essential to the local conservation

process and must be respected, as well as the culture which afforded such knowledge.

KEYWORDS: Ethnobotany, Medicinal plants, Canárias.

INTRODUÇÃO

Toda sociedade humana possui informações acumuladas acerca do ambiente ao seu

entorno, que são ferramentas fundamentais para interação com o mesmo e que lhes permite

garantir o provimento de suas necessidades de sobrevivência. Compondo este acervo

informativo está o conhecimento sobre as plantas com quem estas sociedades estão em

contato (Amorozo, 1996).

Dentro desse contexto, insere-se a Etnobotânica que “compreende o estudo das

sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas,

evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas” (Fonseca-Kruel & Peixoto, 2004: p.177).

Deste modo, na investigação etnobotânica, “o pesquisador procura conhecer a cultura e o

dia-a-dia da comunidade pesquisada, os conceitos locais de doença/saúde, o modo como a

comunidade se vale dos recursos naturais para a ‘cura’ de seus males, atrair ou afastar

115

animais, construir habitações mais adequadas ao local e outros” (Patzlaff & Peixoto, 2009:

p.238).

As investigações etnobotânicas têm reservado cada vez mais sua atenção ao

conhecimento dos pescadores artesanais sobre a biodiversidade vegetal. Segundo Begossi

(2004) os laços existentes entre pescadores e plantas demonstram um conhecimento acerca

dos recursos vegetais úteis ou com potencial para uso de grande importância. Para esta

autora, este saber vai além do conhecimento de uso de plantas relacionadas diretamente

com a atividade pesqueira (instrumentos de pesca, canoas, iscas, cestos, etc.), mas abrange

outros usos, como a alimentação e a medicina popular.

Deste modo, a Etnobotânica busca desvendar toda complexidade que envolve o

conhecimento, vivências, formação, transmissão e relação das comunidades tradicionais

com os recursos da flora, abrangendo deste modo questões ecológicas, histórico-culturais e

éticas, dentre outras.

Um dos focos da Etnobotânica é levantar o conhecimento acerca das plantas

medicinais utilizadas corriqueiramente por comunidades tradicionais. Para Alvim et al.

(2006) o uso terapêutico de plantas na saúde humana trata-se de uma prática milenar,

formada historicamente com base no senso comum, que articula cultura e saúde, pois tais

aspectos não se apresentam isoladamente, mas de forma concomitante dentro de um dado

contexto histórico. No Brasil, estes trabalhos têm se desenvolvido consideravelmente e se

concentram principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste, onde se destacam importantes

estudos como os de Rossato et al. (1999), Amorozo (2002), Begossi et al. (2002), Moreira

et al. (2002), Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), Roman & Santos (2006), Hanazaki et al.

(2007), Coelho-Ferreira (2009), Merétika et al. (2010), dentre outros.

Nos estados do Maranhão e Piauí, destacam-se os trabalhos envolvendo plantas

medicinais realizados por Coutinho et al. (2002), na terra indígena Araribóia/MA; Franco

& Barros (2006), na comunidade Quilombola Olho D’água dos Pires, em Esperantina/PI;

Monteles & Pinheiro (2007) no Quilombo Sangrador/MA; Santos et al. (2007), em

Monsenhor Gil/PI; Vieira et al. (2008) na comunidade quilombola dos Macacos, São

Miguel do Tapuio/Piauí; Chaves & Barros (2008) no município de Cocal/PI; Santos et al.

em Monsenhor Gil/PI; Pessoa & Cartágenes (2010) em São Luís/MA; Oliveira et al.

(2010), em comunidades rurais do município de Oeiras/PI e por Amorim (2010), na

116

comunidade de pescadores do Poti Velho, em Teresina/PI. Especificamente na RESEX do

Delta do Parnaíba/PI, destaca-se o trabalho realizado por Sousa (2010) em comunidades

pesqueiras de Barra Grande e Morro da Mariana, onde dentre outros aspectos, evidenciou

os usos medicinais das espécies da região.

Tendo conhecimento da riqueza da região, em seus aspectos biológico, ecológico e

cultural, assim como a importante contribuição dos pescadores artesanais locais no

desenvolvimento dessa cultura que permitiu a conservação de sua própria história, o

presente trabalho objetivou investigar os pescadores artesanais da comunidade Canárias,

Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sobre o conhecimento e uso da flora

local, tidas como medicinais, determinando as espécies de maior valor de uso, as categorias

de doenças com maior importância relativa local e as espécies com maior versatilidade

para tratamento de doenças.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido em uma comunidade insular do Delta do Parnaíba,

denominada Canárias (02°45'33.1"S; 41°51'01.7"O) (Figura 1) que junto com mais três

comunidades (Passarinho, Torto e Morro do Meio) encontram-se na Ilha de mesmo nome

(Canárias) pertencente ao município de Araioses/MA. A Ilha encontra-se em meio a um

complexo de 80 ilhas, formando o único Delta em mar aberto das Américas e ocupa uma

área de 2.700 km² (Silva, 2004). Toda sua área pertence a Reserva Extrativista (RESEX)

Marinha Delta do Parnaíba, criada em sobreposição a já anteriormente estabelecida Área

de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba.

A pesca artesanal é a base da economia local. Grande parte dos pescadores adotou a

Colônia Z29

-7 (PI) para realização do cadastro de categoria por ter uma maior proximidade

da comunidade, embora a colônia do município de Araioses/MA, da qual a comunidade

pertence seja a Z-20. De 150 pescadores cadastrados na colônia, entrevistaram-se 100

(66,66% do total), conforme a metodologia proposta por Begossi & Silva (2004), em que

define como amostra representativa o percentual de 25,00% a 75,00% para o caso de

29 O “Z” das colônias de pescadores deriva do termo “Zonas de Pesca”.

117

comunidades com mais de 100 residências. Foram entrevistados 83 homens (83,00%) e 17

(17,00%) mulheres, e os critérios de seleção para a participação nas entrevistas foram:

morador (a) com registro de pescador (a) na Colônia de Pescadores Z-7, atuante na

atividade pesqueira (exceto para as pessoas idosas) e que possuísse notório conhecimento

sobre pesca e flora locais.

Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), em que divide: jovens (entre

18 e 24 anos), adultos (entre 25 e 59 anos) e idosos (a partir dos 60 anos).

118

FIGURA 1 - Localização da comunidade Canárias, Delta do Parnaíba.

Fonte: Software TrackerMaker.

Elaboração: Própria (2011).

119

Utilizou-se da observação participante que consiste na interação entre o pesquisador e

os membros da comunidade estudada na busca da compreensão do modo como opera a

cultura em questão e a visão de mundo dos atores sociais estudados (Amorozo, 1996).

Para as coletas aplicou-se a técnica sugerida por Bernard (1988), denominada “Turnê-

Guiada”, onde foram realizadas caminhadas em campo guiadas por moradores que possuíam

notório conhecimento sobre a área em questão e as plantas locais (mateiros), que passaram a

ser os informantes-chave desta pesquisa (Bayley, 1982). Assim, foram identificados os nomes

vernaculares das plantas e seus respectivos atributos, de modo a validar e fundamentar os

nomes mencionados durante as entrevistas (Albuquerque et al., 2010).

Para coleta botânica foram selecionados preferencialmente exemplares férteis (IBGE,

1992). Os procedimentos adotados seguiram as técnicas usuais para estudos de taxonomia

vegetal (Mori et al, 1989). Posteriormente, foram seguidas técnicas rotineiras de herborização

em laboratório conforme procedimento usual (Fidalgo & Bononi, 1989). Depois de

herborizado o material foi incorporado ao TEPB (Herbário Graziela Barroso) da Universidade

Federal do Piauí (UFPI).

Adotaram-se os sistemas de classificação de Dahlgren & Clifford (1982) para as

monocotiledôneas, Cronquist (1981) para as dicotiledôneas, com exceção para as

Leguminosae, que seguiu Judd et al. (1999). Utilizou-se a base de dados do Missouri

Botanical Garden (MOBOT, 2011) para as correções dos nomes dos taxa, bem como, para

adquirir as abreviaturas dos nomes dos autores.

Calculou-se o Valor de Uso (VU), através da fórmula VU = ∑U/n, onde, U = número

de citações da etnoespécie por informante e n = número de informantes que citaram a

etnoespécie (Phillips & Gentry, 1993 a,b e Phillips et.al., 1994, modificada por Rossato,

1996), onde a importância de uma espécie vegetal é dada pelo número de usos representado

por ela o que indica então a importância local da espécie diante da concordância das

informações sobre ela citadas nas entrevistas.

Para determinação dos sistemas corporais ou categorias de doenças com maior

importância relativa local, utilizou-se o Fator de Consenso dos Informantes (FCI). Na análise

foi adotado o método proposto por Trotter & Logan (1986) pela fórmula:

FCI = nur – nt / nur – 1

120

onde:

nur = número de citações de uso em cada categoria;

nt = número de espécies usadas

Determinou-se o índice de Importância Relativa (IR) utilizando-se do método proposto

por Bennett & Prance (2000), onde o pesquisador assume que um espécime é mais

importante, quanto mais versátil se apresentar (maior número de indicações) e o valor

máximo obtido é “2”. O cálculo foi efetuado pela fórmula IR = NSC + NP, onde o NSC =

número de sistemas corporais é dado pelo número de sistemas corporais tratados por

determinada espécie (NSCE) sobre o número total de sistemas corporais tratados pela espécie

versátil (NSCEV).

NSC = NSCE

NSCEV

NP = número de propriedades atribuídas para uma determinada espécie (NPE) sobre o

número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV). Assim,

NP = NPE

NPEV

RESULTADO E DISCUSSÃO

O universo amostral foi composto por pescadores artesanais de ambos os sexos

(homens 83,00% e mulheres 17,00%), a maioria nativo da comunidade (81,00%). As faixas

etárias estudadas foram: jovens 14,00%, adultos 72,00% e idosos 14,00%. O tempo médio de

moradia foi de 37,87 anos. Do total, 61,00% possuem o Ensino Fundamental, 12,00%

iniciaram o Ensino Médio e 27,00% não frequentaram a escola.

A pesca artesanal apresenta-se como principal atividade econômica da comunidade,

embora haja o exercício de outras atividades, não muito significativas, como a agricultura de

subsistência (lavoura do arroz - Oryza sativa L.), comércio e a criação de animais (coelho -

Sylvilagus sp e gado bovino - Bos taurus Linnaeus, 1758 e ovino - Ovis aries Linnaeus,

1758).

Com base nas citações feitas durante as entrevistas, foram encontradas 63 espécies

medicinais, pertencentes a 39 famílias botânicas (Tabela 1). As famílias que apresentaram

maior número de espécies foram: Lamiaceae (n=5; 8,06%), Leguminosae-Caesalpinioideae

121

(n=4; 6,45%), Anacardiaceae (n=3; 4,84), Arecaceae (n=3; 4,84%), Combretaceae (n=3;

4,84%) e Myrtaceae (n=3; 4,84%). Os resultados corroboram com o trabalho de Sousa et al.

(2007) desenvolvido na comunidade Machadinho no litoral norte da Bahia onde as famílias

mais representadas foram Lamiaceae, Leguminosae, Asteraceae, Anacardiaceae e Myrtaceae.

Albertasse et al. (2010) também descrevem a família Lamiaceae como a mais cotada em

estudo com pescadores na Barra do Jucu/ES. Cinco das famílias referidas na comunidade

Canárias também estão entre as mais citadas no estudo feito por Coelho-Ferreira (2009) sobre

conhecimento e uso de plantas medicinais na costa da Amazônia. Begossi et al. (2002)

também encontraram Lamiaceae e Myrtaceae como sendo as mais citadas pelos pescadores da

Mata Atlântica. Segundo Gazzaneo et al. (2005) o fato das Lamiaceae se destacarem em

estudos deve-se ao fato de que a maioria de suas espécies possui hábito herbáceo, sendo

facilmente cultivadas ou presentes como ervas daninhas.

Foram encontradas dentre as plantas citadas diferentes hábitos de crescimento, arbóreo

(n=26; 41,26%), arbustivo (n=18; 28,57%), herbáceo (n=12; 19,04%), subarbustivo (n=5;

07,93%) e liana (n=1; 1,58%). Em semelhante estudo, realizado com pescadores da Barra do

Jucu, Vila Velha/ES, Albertasse et al. (2010) encontraram resultados diferentes deste, onde a

maior parte das citações se referiu as plantas de hábito herbáceo. Amorim (2010) ao estudar a

comunidade de pescadores artesanais do Poti Velho, em Teresina/PI, observou equilíbrio

entre os hábitos herbáceo, arbustivo e arbóreo e referiu os quintais como a principal fonte de

plantas medicinais, principalmente pelo fato da comunidade encontrar-se em zona urbana.

Sousa (2010) observou o uso de plantas cultivadas nos quintais e de matas próximas pela

comunidades de pescadores artesanais de Barra Grande e Ilha Grande de Santa Isabel/PI.

Parte das plantas medicinais utilizadas pela comunidade Canárias é cultivada nos

quintais ou coletadas por eles em suas proximidades, porém os pescadores da comunidade

possuem em seu entorno uma área verde ainda bastante conservada, como por exemplo, a

floresta de mangue e a restinga, o que explica a grande quantidade de árvores e arbustos

nativos utilizados.

No que tange a origem das espécies citadas, 57,14% (n=36) são nativas e 42,85%

(n=27) são exóticas. O resultado diverge de outros trabalhos com pescadores como o

realizado por Roman & Santos (2006) na Zona do Salgado na Ilha de Algodoal/PA, onde

85,00% das espécies utilizadas eram exóticas e do encontrado por Begossi et al. (2002) onde

122

das 227 espécies identificadas, 44,00% eram introduzidas, 18,00% invasoras com categorias

não definidas e apenas 38,00% eram nativas. O resultado também difere do encontrado em

outros trabalhos envolvendo plantas medicinais realizados com pescadores como o

apresentado por Figueiredo et al. (1993), Hanazaki et al. (2000), Begossi et al. (2002a),

Begossi et al. (2002b), Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), Sousa (2010) e Amorim (2010),

onde as plantas citadas foram em sua maioria exóticas. O maior número de citações de

espécies nativas na comunidade Canárias pode ser explicado uma vez que esta se encontra em

uma região ímpar, compondo o único delta em mar aberto das Américas, rico em diversidade

biológica e que está protegido duplamente pela sobreposição de duas Unidades de

Conservação (UC’s), o que lhe garante a manutenção de suas inúmeras espécies nativas.

No que se refere ao número de citações, as espécies mais cotadas foram Rhizophora

mangle – 10,98% (46), Vernonia condensata – 6,68% (28), Lippia alba- 6,44% (27) e

Cymbopogon citratus - 6,44% (27). R. mangle possivelmente foi mais referida devido ao fato

de ser nativa e encontrar-se em abundância na região, fazendo parte da paisagem que os

cercam no caminho até os locais de pesca.

Os valores de uso (VU) foram distribuídos em categorias (Figura 2), sendo que a

maioria das plantas obteve VU compreendido entre 1,01 e 2,00. Os maiores Valores foram

encontrados para as espécies Commiphora leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00),

seguidas de Cyperus esculentus (VU=3,00) e R. mangle (VU=2,05) (Tabela 1). O resultado

demonstrou a importância cultural destas espécies para a comunidade uma vez que representa

o quão difundido está o conhecimento de uso das mesmas uma vez que foram baseados nos

potenciais de utilização citados pelos pescadores.

FIGURA 2- Classes de Valor de Uso das espécies utilizadas como medicinais na comunidade

Canárias, Ilha das Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).

123

TABELA 1: Espécies usadas como medicinais pelos pescadores artesanais da comunidade

Canárias, Ilha das Canárias/ Araioses/ MA, Brasil. NV = Nome Vulgar; Hb=Hábito: her=herbáceo, sub=subarbusto; arb=arbusto, arv=árvore, lia=liana; S=Status: n=nativa, e=exótica; VU = Valor de Uso; IR=Importância Relativa.

FAMILIA/ESPÉCIE NV IR Hb S VU

Acanthaceae

Justicia pectoralis Jacq. anador 1,07 erv n 1,25

Amaranthaceae

Alternantera dentata (Moench) Stuchlik ex R.

E. Fries.

cibalena 0,23 arb n 1,00

Anacardiaceae

Anacardium occidentale L. cajueiro 0,76 arv n 1,05

Mangifera indica L. mangueira 0,23 arv e 1,00

Myracrodruon urundeuva Allemão aroeira 0,23 arb n 1,00

Apiaceae

Pimpinella anisum L. erva-doce 0,23 her e 1,00

Apocynaceae

Hancornia speciosa Gomes mangaba 0,31 arv n 1,00

Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel janaguba 0,62 arv n 1,17

Araceae

Montrichardia linifera (Arruda) Schott aninga 0,23 arb n 1,00

Arecaceae

Cocos nucifera L. coqueiro/coco 0,62 arv e 1,00

Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore carnaúba 0,76 arv n 1,50

Attalea speciosa (Mart. ex Spreng.) Barb.

Rodr.

babaçu 0,23 arv n 1,00

Asclepiadaceae

Calothropis procera (Aiton) W.T. Aiton ciúme 0,23 arb e 1,00

Asteraceae

Artemisia vulgaris L. dipirona 0,23 her e 1,00

Vernonia condensata Baker boldo-miúdo 1,24 arb e 1,29

Aviceniaceae

Avicennia germinans (L.) L. mangue-siriba/mangue-

canoé

0,23 arv n 1,00

124

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV IR H S VU

Bignoniaceae

Crescentia cujete L. cujubeira 0,23 arb e 1,00

Bixaceae

Bixa orellana L. urucum 0,45 arb n 2,00

Bombacaceae

Pachyra aquatica Aubl. munguba/manguba 1,24 arv n 1,75

Burseraceae

Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett imburana-de-espinho 0,45 arb n 2,00

Cannabaceae

Cannabis sativa L. maconha 0,54 arb e 3,00

Capparaceae

Cleome spinosa Jacq. muçambê/muçambé 0,54 arb n 1,20

Caricaceae

Carica papaia L. mamão 0,23 arv e 1,00

Chenopodiaceae

Chenopodium ambrosioides L. mastruz 1,86 sub e 1,14

Chrysobalanaceae

Chrysobalanus icaco L. guajiru 0,23 arb n 1,00

Combretaceae

Conocarpus erectus L. mangue-de-botão 0,23 arv n 1,00

Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn. mangue-manso/mangue-

branco

0,45 arv n 1,00

Terminalia catappa L. amendoa/almenda 0,90 arv e 2,00

Convolvulaceae

Convolvulus macrocarpus (L.) Urb. jalapa/jalapa-do-Brasil 0,45 arb n 2,00

Euphorbiaceae

Cnidoscolus urens (L.) Arthur cansansão/cansansão-

branco

0,45 arb n 2,00

Euphorbia tirucalli L. cahorro-pelado/cachorro-

pelado-de-cerca

0,54 arb e 1,33

Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. Pião branco 0,76 arb n 4,00

125

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV IR H S VU

Euphorbiaceae

Phyllanthus niruri L. quebra-pedra 0,54 her n 1,20

Ricinus communis L. mamona 0,23 arb e 1,00

Lamiaceae

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. capim-cidreira/erva-

cidreira/cidreira

1,07 her e 1,08

Mentha arvensis L. vick 0,45 her e 2,00

Mentha x villosa Huds. hortelã 1,46 her e 1,22

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. malva/malva-do-reino 0,68 her e 1,00

Rosmarinus officinalis L. alecrim 0,45 sub e 1,00

Leguminosae-Caesalpinioideae

Caesalpinia ferrea Mart. jucá/pau-ferro 0,85 arv n 1,14

Copaifera langsdorffii Desf. podoi 0,23 arv n 1,00

Hymenaea courbaril L. jatobá 0,76 arv n 1,33

Senna alata (L.) Roxb. mata-pastão 0,23 arb n 1,00

Leguminosae-Mimosoideae

Mimosa caesalpiniifolia Benth. sabiá 0,31 arv n 1,00

Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn. coronha 0,85 arv n 1,00

Leguminosae-Papilionoideae

Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. mucunã 0,45 lia n 1,00

Liliaceae

Aloe vera (L.) Burm. f. babosa 0,76 her e 1,00

Trimezia sp orquídea-palmeira 0,31 her n 2,00

Malpighiaceae

Byrsonima crassifolia (L.) Kunth murici-da-praia 0,23 arb n 1,00

Melastomataceae

Mouriri elliptica Mart. puçá 0,23 arv n 1,00

Myrtaceae

Eucalyptus globulus Labill. eucalipto 0,54 arv e 1,25

Psidium guajava L. goiaba 0,45 arv n 1,00

Syzygium jambolanum (Lam.) DC. azeitona 0,99 arv e 1,11

126

Tabela 1. Continuação

FAMILIA/ESPÉCIE NV IR H S VU

Olacaceae

Ximenia americana L. ameixa-do-mato 1,07 arb n 1,08

Poaceae

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf capim-limão/capim- santo 1,24 her e 1,17

Poaceae

Saccharum officinarum L. cana-de-açúcar 0,45 arb e 2,00

Punicaceae

Punica granatum L. romã 0,23 arb e 1,00

Rhizophoraceae

Rhizophora mangle L. mangue-vermelho 2,00 arv n 1,24

Rubiaceae

Spermacoce verticillata L. vassourinha 0,99 sub n 1,25

Rutaceae

Citrus aurantium L. laranjeira 0,45 arb e 1,00

Citrus limonum Risso limão 0,45 arb e 1,14

Zingiberaceae

Zingiber officinale Roscoe gengibre 0,23 sub e 1,00

Não identificadas

Pustameira pustameira 0,62 arv n 1,00

127

Os pescadores mencionaram variados usos medicinais (Tabela 2) como para

tratamento de doenças digestivas, renais, do fígado, inflamações, infecções virais e/ou

bacterianas, lesões, doenças de pele, doenças do aparelho geniturinário, do aparelho

respiratório, do sistema endócrino, neoplasias, dentre outras enfermidades. Fonseca-Kruel

& Peixoto (2004) obtiveram resultados semelhantes na RESEX Marinha Arraial do Cabo/

RJ, onde foram detectadas plantas para tratar problemas pulmonares, digestivos, problemas

de fígado, diabetes, de cicatrização e inflamações. Scudeller et al. (2009) também

observaram o uso de plantas para tratamento de inflamações, dores, doenças

gastrintestinais, de fígado e rins nas comunidades de São João do Tupé e Central/AM. Os

resultados também corroboram com os obtidos por Amorim (2010), em Teresina/PI, onde

foram encontradas plantas utilizadas para tratar sintomas gerais, doenças respiratórias,

infecções, doenças do aparelho geniturinário, doenças de pele, do sistema endócrino,

dentre outras. O trabalho de Sousa (2010), realizado no interior da APA Delta do Parnaíba,

nas comunidades de Barra Grande e Ilha Grande/PI, também demonstra o uso de plantas

medicinais para o tratamento de má digestão, asma, gripe, inflamações internas, calmantes,

dentre outras.

Os locais de coleta mencionados foram os quintais, proximidade das residências e

nas áreas verdes da Ilha como na restinga e floresta de mangue. As partes das plantas mais

utilizadas foram: folhas (49,17%), seguida de cascas (27,35%), raízes (10,77%), frutos

(9,12%) e látex/seiva (3,59%). Os resultados de Coelho-Ferreira (2009) corroboram estes

resultados, onde as partes mais utilizadas em ordem de citações foram: folhas, raízes,

cascas, frutos, plantas inteiras, ramos, látex, flores, sementes, etc. Os resultados de

Scudeller et al. (2009) e Albertasse et al. (2010) também apontam a folha como a parte

mais utilizada no preparo de remédios com 61,9% e 39,00% das citações respectivamente.

Gazzaneo et al. (2005) afirmam serem as partes mais utilizadas um reflexo dos

recursos mais facilmente disponíveis para uma comunidade. Deste modo, o maior uso de

folhas na comunidade Canárias pode estar ligado ao fato da abundante disponibilidade

desse órgão durante todo ano, ao contrário do que ocorrem, segundo os autores citados

anteriormente, em áreas que são expostas a longos períodos de seca e perdem suas folhas,

onde prevalece a utilização de cascas. Deste modo, o uso de partes da planta não sofre

grande influência da hipótese de disponibilidade sazonal de plantas, diferentemente de

algumas áreas como a estudada por Albuquerque (2006) em Alagoinha/PE.

128

Algumas espécies apresentaram mais de uma parte da planta citada na produção de

remédios, como Rhizophora mangle e Anacardium occidentale, o que vem colaborar com a

afirmativa de Rigat et al. (2007) que destaca a existência de muitos casos onde há a

utilização de mais de um órgão da mesma espécie na elaboração de remédios diferentes.

As formas de preparo para utilização das plantas medicinais informadas pelos

pescadores da comunidade foram, em sua maioria, chá decocção (37,65%) e chá infusão

(21,76%), seguidas por descanso em água (18,82%), lambedor/garrafada (7,94%),

maceração (6,47%), pasta (5,59%), suco/vitamina (1,77%). Resultados semelhantes foram

referidos por Dorigoni et al. (2001), Sousa et al. (2007), Scudeller et al. (2009), Albertasse

et al. (2010) e Merética et al. (2010) ao levantarem dados sobre plantas medicinais em São

João do Polêsine/RS, Machadinho/BA, São João do Tupé e Central/AM, Barra do Jucu/ES

e Itapoá/SC, respectivamente. Já os modos de aplicação encontrados na comunidade

Canárias foram: oral (79,32%), tópico (20,40%), e inalação (0,28%).

129

TABELA 2: Espécies medicinais utilizadas por pescadores artesanais da Comunidade

Canárias, Araioses/MA/Brasil, seguindo a classificação da Organização Mundial da Saúde, que se baseia em sistemas corporais.

Código / Sistema/FCI Espécies Medicinais Indicação

(B95-B97) FCI=0,29

Agentes de infecções bacterianas, virais e outros agentes infecciosos

Euphorbia tirucalli verruga, impingem (micose de pele)

Psidium guajava disenteria Caesalpinia ferrea infecção Chenopodium ambrosioides

infecção

Jatropha ribifolia pira Mouriri elliptica tratar sapinho em criança

(C00-C97) FCI=0,00

Neoplasias, leucemia linfoma

Euphorbia tirucalli câncer Himatanthus drasticus câncer

(E00-E90) FCI=0,00

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

Terminalia catappa colesterol Syzygium jambolanum colesterol Rhizophora mangle diabetes Byrsonima crassifolia diabetes Chrysobalanus icaco diabetes

(F40-F48) FCI=0,11

Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes

Lippia alba calmante Cymbopogon citratus dor de cabeça, calmante Mentha x villosa dor de cabeça Ricinus communis dor de cabeça Rhizophora mangle dor de cabeça Rosmarinus officinalis calmante Vernonia condensata dor de cabeça Pimpinella anisum calmante Jatropha ribifolia dor de cabeça

(H00-H95) FCI=0,00 Transtornos dos olhos e ouvidos

Pachyra aquatica dor de ouvido

(I00-I99) FCI=0,11

Doenças do aparelho circulatório

Aloe vera pressão alta Terminalia catappa pressão alta Justicia pectoralis pressão alta Lippia alba pressão alta Cymbopogon citratus pressão alta Mentha x villosa pressão baixa Rhizophora mangle criar sangue Spermacoce verticillata limpa e afina o sangue Saccharum officinarum pressão alta

(J00-J99) FCI=0,28

Doenças do aparelho respiratório, gripe

(J00-J99) FCI=0,28

Doenças do aparelho

Mentha x villosa gripe, dor de garganta Zingiber officinale gripe Vachellia farnesiana gripe, puxada (catarro) Eucalyptus globulus gripe Citrus aurantium gripe Citrus limonum gripe Plectranthus amboinicus gripe Chenopodium ambrosioides

gripe, catarro

Cleome spinosa gripe Punica granatum dor de garganta Spermacoce verticillata gripe Cnidoscolus urens sinusite

130

respiratório, gripe

Commiphora leptophoeos sinusite Chenopodium ambrosioides

pneumonia, gripe, catarro,

(K00-K93) FCI=0,39

Doenças do aparelho digestivo

Syzygium jambolanum dor de barriga, diarréia Vernonia condensata dor de estômago, diarréia,

Indigestão Anacardium occidentale dor de estômago Lippia alba dor de estômago, dor de barriga

(diarréia) Cymbopogon citratus dor de estômago, dor de barriga

(diarréia), indigestão Cocos nucifera dor de barriga, diarréia Vachellia farnesiana dor de estômago Crescentia cujete dor de estômago Psidium guajava dor de barriga (diarréia) Mentha x villosa dor de barriga (diarréia),

intestino, cólica infantil Cannabis sativa dor de barriga Plectranthus amboinicus dor de estômago Carica papaia indigestão Avicennia germinans gastrite Rhizophora mangle verminose, gastrite, mau hálito,

dor de estômago, dor de barriga (diarréia)

Laguncularia racemosa gastrite Mangifera indica dor de barriga (diarréia) Chenopodium ambrosioides

dor de estômago, problemas intestinais

Senna alata dor de barriga (diarréia) Dioclea grandiflora gastrite Trimezia sp. gastrite, úlcera Jatropha ribifolia laxante Bixa orellana prisão de ventre Mentha arvensis dor de barriga (diarréia Spermacoce verticillata diarréia Convolvulus macrocarpus dor de estômago Hancornia speciosa gastrite, dor de estômago Não identificada gastrite, hérnia Ximenia americana dor de estômago, gastrite

(K00-K14) FCI=0,00

Doenças da cavidade oral, das glândulas salivares e dos maxilares

Anacardium occidentale dor de dente Cnidoscolus urens dor de dente

(K70-K77) FCI=0,00 Doenças do fígado (K70-K77) FCI=0,00 Doenças do fígado

Ximenia americana problemas do fígado Vernonia condensata problemas do fígado Copernicia prunifera problemas do fígado Hymenaea courbaril problemas do fígado Phyllanthus niruri problemas do fígado

(L00-L99) FCI=0,00

Doenças de pele e do tecido subcutâneo: dermatite, unhas, etc.

Aloe vera vermelha (vermelhidão) Pachyra aquatica vermelha (vermelhidão) Bixa orellana manchas Jatropha ribifolia frieira

(M00-M99)FCI=0,00 Rhizophora mangle fraturas

131

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo

Chenopodium ambrosioides

fraturas

(N00-N99) FCI=0,18

Doenças do aparelho geniturinário

Rhizophora mangle problemas renais Phyllanthus niruri dor nos rins Mimosa caesalpiniifolia dor nos rins Terminalia catappa problemas renais Ximenia americana problemas renais Rosmarinus officinalis dor nos rins Syzygium jambolanum problemas renais Copernicia prunifera problemas renais Hymenaea courbaril problemas renais Caesalpinia ferrea dor nos rins

(N20-N23) FCI=0,00

Calculose renal

Phyllanthus niruri pedra nos rins Mimosa caesalpiniifolia pedra nos rins

(R50-R69) FCI=0,35

Sintomas e sinais gerais

(R50-R69) FCI=0,35

Sintomas e sinais gerais

Terminalia catappa inflamação Ximenia americana inflamação Justicia pectoralis dor Montrichardia linifera cicatrizante Myracrodruon urundeuva inflamação Syzygium jambolanum inflamação Saccharum officinarum fortificante Aloe vera inflamação, tratamento de

cabelo Vernonia condensata inflamação, dor no peito, vômito Anacardium occidentale inflamação, cicatrizante Lippia alba desmaio, dor Cymbopogon citratus vômito, febre Copernicia prunifera febre, inflamação Alternantera dentata dor Vachellia farnesiana febre, inflamação Cocos nucifera hidratação, fraqueza Artemisia vulgaris dor Eucalyptus globulus dor no corpo, febre Mentha x villosa lambedor (fortificante), febre Commiphora leptophoeos cicatrizante Himatanthus drasticus fortificante para grávidas, dores

nas costas, inflamação Convolvulus macrocarpus febre Hymenaea courbaril fortificante, inflamação Caesalpinia ferrea inflamação, febre, dor no corpo Citrus aurantium febre Citrus limonum febre Cannabis sativa dor, inflamação Rhizophora mangle cicatrizante, inflamação, Laguncularia racemosa inflamação Chenopodium ambrosioides

dor, cicatrizante, inflamação, indisposição

Cleome spinosa inflamação, fraqueza Copaifera langsdorffii inflamação Dioclea grandiflora inflamação Não identificada Inflamação, cicatrizante

132

Spermacoce verticillata febre Mentha arvensis mal de criança Ximenia americana inflamação Calothropis procera inchaço Plectranthus amboinicus pancadas Conocarpus erectus inflamação Chenopodium ambrosioides

pancadas

Pachyra aquatica cicatrizante, analgésico (dor) Ximenia americana cicatrizante ferida Orbignia speciosa desinflamação de feridas

(S00-T98) FCI=0,75

Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas

Chenopodium ambrosioides

pancadas

Pachyra aquatica pancada (inchaço), arranhão, corte, queimadura

133

Nota-se que apesar de os pescadores fazerem uso de medicamentos

industrializados, obtidos gratuitamente no posto do Programa de Saúde da Família (PSF)

da comunidade ou comprados em cidades próximas, os recursos da flora também se

mostram bastante utilizados por já fazerem parte da cultura local, bem como por serem de

fácil acesso.

Assim como o apresentado por Merétika et al. (2010), a maior parte das plantas

utilizadas está associada ao tratamento de doenças que afligem mais frequentemente as

pessoas da comunidade. Observa-se também que a utilização das plantas medicinais está

mais voltada ao tratamento de doenças consideradas mais corriqueiras assim como o

observado nos trabalhos de Freitas & Fernandes (2006) realizado na comunidade de

Enfarrusca/PA e Roman (2001) na Restinga da Princesa na Ilha de Algodoal/PA. Deste

modo, os sistemas corporais ou categorias de doenças que receberam maior número de

espécies foram: (R50-R69) com 29,53%, (K00-K93) com 19,46% e (J00-J99) com 9,39%.

O uso de plantas para tratamento de problemas respiratórios e digestivos também foram

evidenciados nos trabalhos de Santos et al. (2008), Amorozo & Gély (1988), Amorozo

(2002), Viu et al. (2007), Amorim (2010) e Sousa (2010) ao estudarem respectivamente

Monsenhor Gil/PI, Barcarena/PA, Santo António do Leverger/MT, Jataí/GO, Teresina/PI e

Ilha Grande e Barra Grande/PI. Plantas medicinais utilizadas para tratamento de distúrbios

digestivos e sintomas gerais com propriedades analgésicas e antiflamatórias também foram

as mais cotadas em estudo realizado por Rigat et al. (2007) em comunidades do vale do

rio Ter, na Catalunha/Península Ibérica.

Considerando o índice Fator de Consenso dos Informantes (FCI), as categorias que

apresentaram maior importância relativa local foram: (S00-T98), FCI=0,75, seguida de

(K00-K93), FCI=0,39; (R50-R69), FCI=0,35; (B95-B97), FCI=0,29; (J00-J99), FCI=0,28;

(N00-N99), FCI=0,18; (F40-F48) e (I00-I99) com FCI=0,11 (Figura 2). As demais

categorias obtiveram FCI=0,00. Os resultados se assemelham aos apresentados por Begossi

et al. (2002) onde as espécies mais referidas estavam associadas ao tratamento de sintomas

gerais como febre e dores, doenças respiratórias e distúrbios gastrointestinais. No caso da

comunidade Canárias, na categoria “sintomas gerais” prevaleceram os usos das

propriedades antinflamatória (40,74%), cicatrizante (14,81%), analgésica (14,81%) e

antitérmica (14,81%) das plantas.

Com base no Índice de Importância Relativa (IR) determinou-se a espécie mais

versátil da comunidade, Rhizophora mangle, que obteve o valor máximo de Importância

134

Relativa (IR=2,00), seguida por Pachyra aquatica (IR=1,75), Vernonia condensata

(IR=1,29), Mentha x villosa (IR=1,22), Cymbopogon citratus (IR=1,17) e Chenopodium

ambrosioides (IR=1,14).

As propriedades medicinais de representantes da família Rhizophoraceae também

foram registradas por Ravindran et al. (2005) ao realizarem estudo etnomedicinal de

manguezais e halófitas usadas pelos habitantes locais da vila Pichavaram na costa

leste de Tamil Nadu, Índia.

O conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade Canárias é adquirido

predominantemente no aprendizado com os antepassados (pais e avós), embora outros

veículos como televisão, internet, turismo, exerçam influência sobre o mesmo. Dados que

estão em conformidade com o observado por Albertasse et al. (2010) ao estudar o

conhecimento sobre plantas medicinais na comunidade Barra do Jucu/ES.

Por tratar-se de uma área protegida, é de suma importância conhecer o valor de uso

(VU) das espécies vegetais, bem como conhecer a forma como estas estão sendo utilizadas,

com o intuído de detectar possíveis pressões sobre aquelas com maior potencial de uso. É

preciso destacar o fato de que o uso excessivo de algumas espécies medicinais, como por

exemplo, o caso de plantas onde a parte utilizada é a raiz e cuja retirada pode levar a morte

da mesma, possivelmente levará a uma pressão sobre aquela espécie em especial. Deve-se

então, valorizar o conhecimento tradicional sobre uso medicinal de plantas, porém em

busca de uma conscientização neste uso para que estas possam estar sempre disponíveis.

Em suma, conhecer o potencial de espécies é indispensável no processo de conservação

local, como refere Alcorn (1995), quando afirma que as decisões políticas precisam de

informações sobre o valor dos recursos naturais e a forma como estes são utilizados.

CONCLUSÃO

A comunidade estudada conhece uma variedade de plantas com propriedades

medicinais, utilizando-as sobre diversas formas de manipulação para o tratamento de

diferentes enfermidades.

A maior parte das plantas medicinais conhecidas e utilizadas pelos pescadores é de

origem nativa. As espécies que tiveram maior número de citações foram Rhizophora

mangle, Vernonia condensata, Lippia alba e Cymbopogon citratus. As famílias mais

135

representativas foram Lamiaceae, Leguminosae-Caesalpinioideae, Anacardiaceae,

Arecaceae, Combretaceae e Myrtaceae.

De um modo geral os Valores de Uso (VU) não tiveram muita variação, sendo as

espécies Commiphora leptophoeos, Jatropha ribifolia, Cyperus esculentus e Rhizophora

mangle as que apresentaram os maiores valores. Algumas espécies mostraram mais de uma

utilidade, porém o conhecimento a respeito de seu uso não era do domínio de muitos

pescadores.

Os sistemas corporais com a maior concentração de espécies estão relacionados a

enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais (febre, inflamação, cicatrização,

etc.), transtornos gastrointestinais e transtornos respiratórios.

As espécies que obtiveram maior importância relativa (IR) e por consequência

sendo consideradas as plantas mais versáteis encontradas foram: Rhizophora mangle,

Pachyra aquatica, Vernonia condensata, Mentha x villosa, Cymbopogon citratus e

Chenopodium ambrosioides.

De um modo geral, o uso de diversas plantas para fins medicinais demonstra que

mesmo com a disponibilidade de medicamentos industrializados, os pescadores de

Canárias conhecem e fazem uso das propriedades curativas das plantas existentes na

comunidade.

Levando-se em consideração que o conhecimento sobre a flora local da

comunidade é fruto de uma íntima relação desta com os recursos naturais locais, é que se

sugere a proteção do mesmo bem como da cultura local uma vez que estes podem conter

informações de grande relevância no processo de conservação da área.

AGRADECIMENTO

Aos pescadores da comunidade Canárias, sem os quais não seria possível a realização desta

pesquisa e a todos que contribuíram para conclusão deste trabalho. Ao ICMBio e Colônia

de Pesca Z-7, pelas autorizações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.

136

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141

6. CONCLUSÕES GERAIS

Os dados adquiridos na presente pesquisa possibilitaram uma caracterização da

comunidade estudada para uma melhor compreensão de sua relação com a natureza onde a

mesma está inserida, principalmente no que tange ao conhecimento e uso dos recursos

biológicos.

Os pescadores conhecem e usam os recursos da flora e de fauna local, sendo que o

conhecimento e uso da fauna estão restritos a animais como aves, gado bovino/suíno e

ovino, e principalmente quanto aos recursos pesqueiros.

A atividade econômica principal é a pesca, porém há o desenvolvimento de outras

atividades complementares como a agricultura e a carpintaria, mas que se mostram menos

expressivas que a atividade pesqueira.

Foram citadas 108 espécies vegetais, pertencentes a 49 famílias botânicas. As

famílias que tiveram espécies com um maior número de citações foram: Euphorbiaceae,

Poaceae, Anacardiaceae, Lamiaceae e Solanaceae.

Os maiores Valores de Uso foram encontrados para as espécies Commiphora

leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00), seguidas de Cyperus esculentus (VU=3) e

Rhizophora mangle (VU=2,05) que representaram as mais conhecidas e utilizadas pela

comunidade.

Os recursos naturais são utilizados para diversos fins: alimentares, medicinais, para

produção de artefatos, construção, etc. Das categorias de uso encontradas as mais cotadas

foram medicinal, seguida da alimentar e construção.

Na categoria construção destaca-se o uso das espécies vegetais do ecossistema

manguezal, mas que em sua maioria se destina apenas a obtenção de madeira para suprir as

necessidades essenciais como erguer moradias.

As plantas com propriedades medicinais são manipuladas de diversas formas e são

utilizadas para o tratamento de diferentes enfermidades, sendo a maior delas de origem

nativa.

Os sistemas corporais que obtiveram maior número de espécies são os relacionados

a enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais, transtornos gastrointestinais e

transtornos respiratórios.

142

O índice de importância relativa (IR) revelou as espécies mais versáteis da

comunidade, sendo elas: Rhizophora mangle, Pachyra aquática, Vernonia condensata,

Mentha x villosa, Cymbopogon citratus e Chenopodium ambrosioides.

Sobre o conhecimento acerca dos recursos naturais locais, nota-se que o mesmo

está distribuído regularmente entre os gêneros, porém, os homens conhecem mais sobre

plantas nativas, devido ao contato com a vegetação nos caminhos percorridos até os locais

de pesca e estão ligadas em sua maioria a espécies utilizadas para construção. As maiores

contribuições das mulheres foram relacionadas às espécies exóticas, e a maioria referiu

plantas ocorrentes em seus quintais ou próximas as suas moradias, relacionadas a categoria

medicinal.

O conhecimento encontra-se distribuído de forma irregular entre as faixas-etárias.

Compreende-se que o conhecimento não se apresenta homogêneo entre gêneros e faixas,

fato que pode estar ligado à divisão do trabalho dentro da comunidade. A faixa-etária

representada pelos jovens apresenta maior conhecimento quando comparada aos grupos

formados por adultos e idosos, e os idosos apresentam maior conhecimento se comparado

aos adultos. Os jovens e adultos se mostraram mais abertos as entrevistas e dispostos a se

deslocaram de suas casas para realização das turnês-guiadas. Os jovens estão tendo um

maior acesso as informações devido a facilidade informativa oriunda da tecnologia.

A eficiência do método turnê-guiada pode ser o motivo do conhecimento do grupo

dos jovens ter sido superior aos demais grupos, tendo, seu uso, influenciado diretamente no

número de espécies citadas por tal grupo.

A pesca desenvolvida na comunidade é artesanal e destina-se ao consumo e venda.

Os locais de pesca são o mar, a praia, o rio e as lagoas na ilha, sendo que a maior parte do

pescado local capturado na região da Barra das Canárias.

Os pescadores da comunidade conhecem e utilizam localmente diferentes

instrumentos e técnicas de pesca e dominam quais peixes são capturados por cada um

deles; os instrumentos de pesca utilizados são em sua maioria produzidos na própria

comunidade.

O conhecimento da atividade de confecção artesanal de barcos na comunidade não é

muito difundido, estando restrito a poucos indivíduos. Um dos artesãos entrevistados

demonstra interesse em ensinar o ofício, mas comenta certo desinteresse por parte dos

jovens pela atividade.

143

Os pescadores apresentam certo grau de consciência ambiental desde que suas

necessidade estejam supridas.

Uma vez que os pescadores da comunidade Canárias apresentam conhecimento

acerca da flora e fauna da região e se levando em conta o fato da área estudada pertencer a

uma área protegida (Resex), sugere-se que em todas as ações que envolvam a conservação

da biodiversidade local seja considerada a participação de seus membros, bem como que

seja respeitada a cultura tradicional que tem muito a contribuir na busca por relações

sustentáveis.

144

APÊNDICES

145

Apêndice A: Formulário de entrevista semiestruturada

I. IDENTIFICAÇÃO

Entrevista Nº

Gravação Nº

Data da Entrevista:

Etnia:

Nome do Entrevistado:

Apelido:

Idade:

Estado Civil: Ο Solteiro Ο Casado Ο Divorciado Ο Viúvo Ο Junto

Quantidade de filhos: Escolaridade: Ο AN Ο EF Ο EM

Ο ESI Ο ESC Ο PG

Endereço:

Ο Canárias

Naturalidade Ο Canárias

Ο Outro____________

Tempo de Moradia

na Comunidade

(anos)

II. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS

PROFISSIONAL

Profissão:

Renda mensal (R$):

Atividade secundária:

Renda secundária (R$):

Pesca há quanto tempo? Recebe benefícios do

governo?

Ο Sim

Ο Não

(Ligado à Pesca) Qual?

Quanto? (R$)

(NÃO ligado) Qual?

Quanto? (R$)

Participa de alguma associação

ou cooperativa?

Ο Sim

Ο Não Qual?

Recolhe INSS?

Ο Sim

Ο Não Quanto? (R$)

Satisfeito em ser pescador?

Ο Sim

Ο Não

Porquê?

SANEAMENTO

Destino do lixo:

Ο Enterra Ο Deixa a céu aberto Ο Coleta Pública Ο Queima Ο Outros

Abastecimento de água:

Ο Encanada Ο Poço Ο Rio Ο Outros

Energia elétrica: Ο Sim Ο Não Fossa séptica: Ο Sim Ο Não Ο Banheiro de

palha

MORADIA

Cobertura da casa:

Ο Telha Ο Palha Ο Outros

Paredes:

Ο Taipa Ο Tijolo Ο Madeira Ο Outros

Piso:

Ο Barro Ο Cimento Ο Cerâmica Ο Outros

PLANTAÇÃO DE CULTURA

PE

RM

.

Tipo:

Área de cultivo:

Técnica de cultivo:

Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda

TE

MP

.

Tipo:

Área de cultivo:

Técnica de cultivo:

Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda

146

ATIVIDADE PESQUEIRA

Período de Pesca:

Ο Manhã Ο Tarde Ο Noite Ο Madrugada Ο Depende da Maré

Mses do ano mais

produtivos

Ο JAN Ο FEV Ο MAR Ο ABR Ο MAI Ο JUN

Ο JUL Ο AGO Ο SET Ο OUT Ο NOV Ο DEZ

Pesca no Período da

Piracema?

Influência da maré/lua sobre

quantidade de peixes?

Ο Sim

Ο Não

INSTRUMENTOS DE PESCA

Instrumento Tipo de pescado: Técnica:

Ο Caçoeira

Rio:

Mar:

Ο Tarrafa

Rio:

Mar:

Ο Anzol

Rio:

Mar:

Ο Curral

Rio:

Mar:

Ο Outro

__________

Rio:

Mar:

FREQUÊNCIA DE PEIXES

Peixes

mais comuns:

Mar

Rio

Peixes Mar

147

mais raros:

Rio

Outros Pescados:

Mar

Rio

III. DADOS CULTURAIS

ARTESANATO

Há produção

artesanal?

Ο Sim Ο Não Qual matéria prima?

Origem da matéria-prima?

RELIGIÃO

Qual a sua religião?

Ο Católico Ο Protestante Ο Culto Afro Ο Ateu Ο Outro

Participa com frequência das atividades religiosas?

Ο Sim Ο Não

Utiliza planta ou animal nos rituais? Ο Sim

Ο Não Qual(is)?

FESTAS/FESTEJOS

Qu

al(i

s)?

Ο São João Batista

Ο Nossa Senhora das Dores

Ο Aniversário da Ilha das Canárias

Ο Outro

_________________________________________________

D

ata:

LENDAS

TIPOLOGIA DO QUINTAL

Uso Principal:

Outros usos:

Disposição das

plantas: ( ) herbáceas ( ) Arbustivas ( ) Arbóreas

Separa plantas por uso?

( ) Sim ( ) Não

Disposição dos animais:

O Quintal é organizado?

( ) Sim ( ) Não Dimensões (LxC):

Plantas na frente da casa?

( ) Sim ( ) Não

148

RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

Você acha importante cuidar das plantas e animais que representam o meio ambiente?

Porquê?

O que você entende por RESEX? Que mudanças ocorreram com a implantação da mesma?

Na sua opinião, na forma como as pessoas da sua comunidade vem tratando a natureza permitirá que seus filhos tenham

fartura de pescados?

Utiliza a Carnaúba? Que parte? Finalidade?

Ο Sim

Ο Não

Ο Madeira Ο Folhagem Ο Raiz Ο Outro__________ Ο___________

Utiliza Mangue? Com que finalidade

Ο Sim

Ο Não

Ο Vermelho

Ο Manso

Ο de Botão

Ο Madeira Ο Folhagem Ο Raiz Ο Outro__________ Ο___________

149

IV. DADOS ETNOBIOLÓGICOS

FLORA

Planta Uso Parte usada Modo de usar Contra-indicação Ainda

Utiliza?

150

FAUNA

Animal Categorias de Uso Parte usada Modo de usar Contra-indicação Ainda

Utiliza?

151

Apêndice B: Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias - A: Porto

dos Tatus (onde partem as embarcações com destino a Canárias); B: Embarcação para

transporte de pessoas; C: Pequeno porto em Canárias; D: Rua típica sem pavimentação; E:

Praça da comunidade; F: Templo Católico; G: Celebração de missa durante os festejos; H e

I: Comemoração do aniversário da comunidade e disputa de regatas; J: Reunião da

associação de pescadores locais; K e L: Produtos artesanais feitos por pescador.

A

D

C B

E F

G H I

J K L

152

Apêndice C: Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias – A: Local

de desembarque do pescado (“praia”) na comunidade; B: Embarcação a vela; C:

Embarcação a motor de polpa (rabeta); D: Desembarque de pescado; E: Pescador tratando

pescado; F: Pescador após pescaria; G: Pesagem do pescado em balança improvisada; H:

Pescador selecionando os pescados após pescaria; I e J: Pescados- Manjuba (Anchoviella

lepidentostole Fowler, 1911) à esquerda e robalo (Centropomus undecimalis Bloch, 1792) a

direita; K: Aplicação de entrevista a um pescador.

A B C

D E

F G H

I J K

153

Apêndice D: Técnicas e instrumentos de pesca utilizados e/ou fabricados na

comunidade Canárias - A: Anzol ou linha; B: Tarrafa; C: Caçoeira; D: Curral; E: Jiquí; F:

Groseira; G: Curralzinho; H: Pesca Batedeira; I: Barraca encontrada em quitais utilizadas

para armazenar instrumentos de pesca; J: Puçá; K: Lamdoá; L: Costura de falhas na malha

após pescaria; M e N: Pescadores confeccionando redes de pesca.

A B C

D E F

G H

I J

K

L M N

154

A B

E

C D

F G H

I J K I

Apêndice E: Espécies mais citadas, com maior valor de uso e de importância na

Comunidade Canárias – A e B: Mangue Vermelho (Rhizophora mangle L.); C: Mangue

Manso (Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.); D: Carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.)

H.E. Moore); E: Mangue de Botão (Conocarpus erectus L.); F: Imburana de espinho

(Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett); G: Pião Branco (Cyperus articulatus L.); H:

Muricí-da-praia (Byrsonima crassifolia (L.) Munth); I: Boldo (Vernonia condensata Bamer);

J: Jatobá (Hymenaea courbaril L.); K: Capim Limão (Cymbopogon citratus (DC.)).

155

Apêndice F: Utilização de produtos da floresta pelos pescadores da Comunidade

Canárias – A, B e C: Madeira do mangue vermelho (Rhizophora mangle L.); Uso da

madeira do mangue vermelho em construções de casas (D, E, F e G) e portão (K);

Utilização da madeira da carnaúba para teto (H), talo para cerca (J), palha para cobertura

de construções (H) e para cobrir calçadas para fixar a terra fina do terreno arenoso da

região e amenizar a ação dos ventos fortes sobre ele (I); L: Cerca feita com madeira de

mangue manso (Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.) e do cajueiro (Anacardium

occidentale L.).

A B C

D E F

G H I

J K L

156

Apêndice G: Construção naval artesanal por pescadores da Comunidade Canárias –

A, B e C: Locais de fabricação das embarcações; D: Madeira para produção da caverna

(base da canoa); E: Pescador e construtor naval; F: Ferramentas para produção de

embarcações; G: Entrevista com pescador e construtor naval; H: Embarcação concluída

utilizada na pesca e no transporte de pessoas;

A B C

D E

F G H

157

ANEXOS

158

Anexo A – Normas para Publicação

REVISTA INTERCIÊNCIA

GUIA PARA AUTORES

Interciência é uma revista multidisciplinar cuja chave foco Agronomia e Florestas

Tropicais, Alimentação e Nutrição, Ciências e Ensino de Ciências da Terra, Ecologia e

Questões Ambientais, Estudo de Energia e Sociologia da Ciência, Política, Ciência e

recursos não-renováveis Saúde renováveis e Demografia, Terras Secas Transferência de

Tecnologia.

Interciência publica artigos, ensaios e comunicações originais, preferencialmente em áreas

prioritárias da revista, escrito em Espanhol, Inglês ou Português, desde que eles se

relacionam com o desenvolvimento regional e sua qualidade é certificada através de

revisão por pares pelos pares. Também ser publicado Cartas ao Editor, que abordará temas

de interesse ou comentando sobre o trabalho já publicados números.

O conteúdo das contribuições são da exclusiva responsabilidade dos autores e de nenhuma

maneira a revista ou a entidades que trabalham para os autores. Entende-se que o material

enviado para a Interciência não foi publicado ou enviado para outros órgãos em qualquer

tipo de mídia.

Artigos são de pesquisa original, experimental ou teórica, revisões de um tema prioritário

da revista, não publicados anteriormente e destinadas a um público educado, mas não

especializado, e sua extensão tem um máximo de 25 páginas. Isto deve incluir um resumo

de até uma página em espaço duplo (250 palavras) e um breve curriculum vitae de até 8

linhas de cada um dos autores.

Ensaios são melhor tratados em um tema prioritário da revista. Podem ter uma extensão de

até 25 páginas. Isto deve incluir um resumo e vitarum currículos dos autores, com

características semelhantes às dos artigos.

Comunicações são relatos de resultados de pesquisa original em qualquer campo da

ciência básica ou aplicada, destinada a um público especializado. Pode ser até 20 páginas e

escrito em Inglês, Espanhol ou Português, mas recomendamos o uso do antigo para

facilitar a divulgação dos resultados. Isto deve incluir um resumo de cerca de metade de

um litro (150 palavras). Em todos os casos, tanto o título do trabalho eo resumo deverão

ser enviados em três línguas da revista, se possível, e irá incluir até cinco palavras-

159

chave. Todas as páginas, tamanho carta, deve ser em espaço duplo, com fonte 11 ou 12, e

numeradas consecutivamente.

Tabelas e figuras: Devem ser numeradas em romano e árabe, respectivamente, ser legível,

concisa e clara, e enviados em folhas separadas. Os textos relevantes são incluídos no final

do trabalho.

Citações: As nomeações devem ser feitas no texto indicando o nome do primeiro autor

seguido do segundo autor ou por et al. se mais de dois autores, e ano de publicação. Por

exemplo: (Joe, 1992), Perez (1992), (Da Silva e Gonzalez, 1993) (Smith et al, 1994).

Referências serão listadas no final do artigo, em ordem alfabética e incluem autores (como

esta: Rojas ER, Davis B, Gomez JC), ano de publicação entre parênteses, título da obra ou

trabalho citado em itálico o nome e o volume publicação e páginas. Comunicações

pessoais serão somente texto, nenhuma outra indicação de que o nome completo do

comunicador. As notas ao texto, se houver, vai depois do trabalho, antes das referências.

Contribuição por página: Devido à alta produção custos Interciência pedido de

solicitação aos autores por meio de doações a sua investigação ou para as instituições onde

eles servem, uma contribuição por página publicada. Tal contribuição não prejudique de

alguma forma a aceitação e publicação do trabalho, que é dada pelos méritos dele. Em

casos de duração excessiva textos, figuras ou tabelas de tamanho excepcional ou

reproduções a cores, irá estabelecer um valor de pagamento.

Todos os artigos e avisos serão enviados para árbitros externos para a avaliação. Para

facilitar a arbitragem, os autores deverão enviar uma lista de seis árbitros potenciais com

seus endereços e, se possível, endereço de e-mail.

Os manuscritos devem ser preparados em Word for Windows e enviado para:

Interciência PO Box 51842, Caracas 1050-A, Venezuela e-mails ou e-mail:

[email protected] [email protected]; www.interciencia.org

160

Anexo B – Normas para Publicação

ISSN 1516-0572 versão impressa ISSN 1983-084X versão on-line

REVISTA BRASILEIRA DE PLANTAS

MEDICINAIS

INSTRUÇÕES AOS AUTORES

Escopo e política

Trabalhos científicos originais, revisões bibliográficas e notas prévias, que deverão

ser inéditos e contemplar as grandes áreas relativas ao estudo de plantas medicinais, tais

como, Anatomia e Morfologia Vegetal; Bioensaios; Biotecnologia; Conservação de

Recursos Genéticos; Ecofisiologia; Etnobotânica; Etnofarmacologia; Farmacognosia;

Farmacologia; Fisiologia Vegetal; Fitoquímica; Fitotecnia; Fitoterapia, Tecnologia de

Alimentos e uso de plantas medicinais na Medicina Veterinária.

Os manuscritos são analisados por pelo menos dois pareceristas, segundo roteiro de

análise, baseado principalmente no conteúdo científico. Os pareceristas recomendarão a

aceitação, com ou sem necessidade de retornar; recusa ou sugerir reformulações, que neste

caso, o artigo reformulado retornará aos pareceristas para avaliação final. Quando no

mínimo 2 pareceristas aprovarem, sem necessidade de retornar, o artigo estará pronto para

ser publicado. Os nomes dos pareceristas permanecerão em sigilo, omitindo-se também

perante estes os nomes dos autores.

Manuscritos que envolvam ensaios clínicos deverão vir acompanhados de

autorização de Comissão de Ética constituída, para realização dos experimentos.

Observação: São de exclusiva responsabilidade dos autores as opiniões e conceitos

emitidos nos trabalhos. Contudo, reserva-se ao Conselho Editorial, o direito de sugerir ou

solicitar modificações que julgarem necessárias.

Forma e preparação de manuscritos

Ensaios clínicos

Os artigos podem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, sendo sempre

obrigatória a apresentação do resumo em português e em inglês, independente do idioma

utilizado. Utilizar letra Arial 12, espaço duplo, margens de 2 cm, em Word for Windows.

161

Artigos muito extensos, fotografias e gráficos coloridos podem ser publicados, a critério do

Corpo Editorial, se o autor se comprometer, mediante entendimentos prévios, a cobrir parte

das despesas de publicação. No e-mail, enviar telefone para contatos mais urgentes.

REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS PRÉVIAS

Revisões e Notas prévias deverão ser organizadas basicamente em: Título, Autores,

Resumo, Palavras-chave, Abstract, Key words, Texto, Agradecimento (se houver) e

Referência.

ARTIGO CIENTÍFICO

Os artigos deverão ser organizados em:

TÍTULO: Deverá ser claro e conciso, escrito apenas com a inicial maiúscula, negrito,

centralizado, na parte superior da página. Se houver subtítulo, deverá ser em seguida ao

título, em minúscula, podendo ser precedido de um número de ordem em algarismo

romano. Os nomes comuns das plantas medicinais devem ser seguidos pelo nome

científico entre parênteses, verificado em www.tropicos.org e www.ipni.org.

AUTORES: Começar pelo último sobrenome dos autores por extenso (nomes

intermediários somente iniciais, sem espaço entre elas) em letras maiúsculas, negrito e 2

linhas abaixo do título. Após o nome de cada autor deverá ser colocado um número

sobrescrito que deverá corresponder instituição e endereço (CEP: cidade-país). Indicar o

autor que deverá receber a correspondência, com e-mail. Os autores devem ser separados

com ponto e vírgula.

RESUMO: Deverá constar da mesma página onde estão o título e os autores, duas linhas

abaixo dos autores. O resumo deverá ser escrito em um único parágrafo, contendo objetivo,

resumo do material e método, principais resultados e conclusão. Não deverá apresentar

citação bibliográfica.

Palavras-chave: Deverão ser colocadas uma linha abaixo do resumo, na margem

esquerda, podendo constar até cinco palavras, separadas com vírgula.

162

ABSTRACT: Apresentar o título e resumo em inglês, no mesmo formato do redigido em

português, com exceção do título, em negrito, apenas com a inicial em maiúscula, que virá

após a palavra ABSTRACT.

Keywords: Abaixo do abstract deverão ser colocadas as palavras-chave em inglês,

podendo constar até cinco palavras, separadas com vírgula.

INTRODUÇÃO: Na introdução deverá constar breve revisão de literatura e os objetivos

do trabalho. As citações de autores no texto deverão ser feitas de acordo com os seguintes

exemplos: Silva (1996); Pereira & Antunes (1985); (Souza & Silva, 1986) ou quando

houver mais de dois autores Santos et al. (1996).

MATERIAL E MÉTODO: Deverá ser feita apresentação completa das técnicas originais

empregadas ou com referências de trabalhos anteriores que as descrevam. As análises

estatísticas deverão ser igualmente referenciadas. Na metodologia deverão constar os

seguintes dados da espécie estudada: nome científico com autor; nome do herbário onde a

excicata está depositada e o respectivo número (Voucher Number).

RESULTADO E DISCUSSÃO: Poderão ser apresentados separados ou como um só

capítulo, podendo conter no final conclusão sumarizada.

AGRADECIMENTO: deverá ser colocado neste capítulo (quando houver).

REFERÊNCIA: As referências devem seguir os exemplos:

Periódicos:

AUTOR(ES) separados por ponto e vírgula, sem espaço entre as iniciais. Título do

artigo. Nome da Revista, por extenso, volume, número, página inicial-página final, ano.

KAWAGISHI, H. et al. Fractionation and antitumor activity of the water-insoluble residue

of Agaricus blazei fruiting bodies. Carbohydrate Research, v.186, n.2, p.267-73, 1989.

Livros :

AUTOR. Título do livro. Edição. Local de publicação: Editora, Ano. Total de páginas.

MURRIA, R.D.H.; MÉNDEZ, J.; BROWN, S.A. The natural coumarins: occurrence,

chemistry and biochemistry. 3.ed. Chinchester: John Wiley & Sons, 1982. 702p

163

Capítulos de livros: AUTOR(ES) DO CAPÍTULO. Título do Capítulo. In: AUTOR (ES)

do LIVRO. Título do livro: subtítulo. Edição. Local de Publicação: Editora, ano, página

inicial-página final. HUFFAKER, R.C. Protein metabolism. In: STEWARD, F.C. (Ed.).

Plant physiology: a treatise. Orlando: Academic Press, 1983. p.267-33.

Tese ou Dissertação: AUTOR. Título em destaque: subtítulo. Ano. Total de páginas.

Categoria (grau e área de concentração) - Instituição, Universidade, Local.

OLIVEIRA, A.F.M. Caracterização de Acanthaceae medicinais conhecidas como

anador no nordeste do Brasil. 1995. 125p. Dissertação (Mestrado - Área de

Concentração em Botânica) - Departamento de Botânica, Universidade Federal de

Pernambuco, Recife.

Trabalho de Evento:

AUTOR(ES). Título do trabalho. In: Nome do evento em caixa alta, número, ano,

local. Tipo de publicação em destaque... Local: Editora, ano. Página inicial-página final.

VIEIRA, R.F.; MARTINS, M.V.M. Estudos etnobotânicos de espécies medicinais de uso

popular no Cerrado. In: INTERNATIONAL SAVANNA SYMPOSIUM, 3., 1996,

Brasília. Proceedings… Brasília: Embrapa, 1996. p.169-71.

Publicação Eletrônica:

AUTOR(ES). Título do artigo. Título do periódico em destaque, volume, número, página

inicial-página final, ano. Local: editora, ano. Páginas. Disponível em: <http:// www........>.

Acesso em: dia mês (abreviado) ano.

PEREIRA, R.S. et al. Atividade antibacteriana de óleos essenciais em cepas isoladas de

infecção urinária. Revista de Saúde Pública, v.38, n.2, p.326-8, 2004. Disponível em:

<http://www.scielo.br>. Acesso em: 18 abr. 2005.

Não citar resumos e relatórios de pesquisa a não ser que a informação seja muito

importante e não tenha sido publicada de outra forma. Comunicações pessoais devem ser

colocadas no rodapé da página onde aparecem no texto e evitadas se possível. Devem ser,

também, evitadas citações do tipo Almeida (1994) citado por Souza (1997).

TABELAS: Devem ser inseridas no texto, com letra do tipo Arial 10, espaço simples. A

palavra TABELA (Arial 12) deve ser em letras maiúsculas, seguidas por algarismo

164

arábico, quando citadas no texto devem ser em letras minúsculas (Tabela). O título da

Tabela em Arial 12 e os dados em Arial 10.

FIGURAS: As ilustrações (gráficas, fotográficas, desenhos, mapas) devem ser em letras

maiúsculas seguidas por algarismo arábico, Arial 12, inseridas no texto. Quando citadas no

texto devem ser em letras minúsculas (Figura). As legendas e eixos devem ser em Arial 10,

enviadas em arquivos separados, com resolução 300 DPI, 800 x 600, com extensão JPEG,

para impressão de publicação.

Envio de manuscritos

Os artigos devem ser enviados por e-mail: [email protected]