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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA Fernanda Monteiro Dias O ESTRESSE OCUPACIONAL E A SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL (BURNOUT) EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA RIO DE JANEIRO 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

Fernanda Monteiro Dias

O ESTRESSE OCUPACIONAL E A SÍNDROME DO ESGOTAMENTO

PROFISSIONAL (BURNOUT) EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO

PETRÓLEO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

RIO DE JANEIRO

2015

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Fernanda Monteiro Dias

O ESTRESSE OCUPACIONAL E A SÍNDROME DO ESGOTAMENTO

PROFISSIONAL (BURNOUT) EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO

PETRÓLEO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.

Linha de Pesquisa: Saúde Mental e Violências

Orientador: Prof Dr Giovanni Marcos Lovisi

RIO DE JANEIRO

2015

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Fernanda Monteiro Dias

O ESTRESSE OCUPACIONAL E A SÍNDROME DO ESGOTAMENTO

PROFISSIONAL (BURNOUT) EM TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DO

PETRÓLEO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.

Aprovada em:

________________________________________________

Prof. Dr. Giovanni Marcos Lovisi, IESC/UFRJ.

________________________________________________

Prof. Dra. Lúcia Abelha Lima, IESC/UFRJ.

________________________________________________

Prof. Dr. Jose Ramón Rodriguez Arras López, UNIRIO.

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Dedico este trabalho a todos os profissionais da

indústria do Petróleo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelas grandes oportunidades e por colocar em meu caminho pessoas tão preciosas que me ajudam, me motivam e me fazem seguir em

frente.

A minha família, pelo apoio em todos os momentos. A minha mãe, Marli, pela educação, valores, dedicação e amor. Por nunca ter

deixado me faltar nada; As minhas irmãs, Claudia, Ana Cristina e Simone, pela amizade, companheirismo e

ensinamentos. Por serem meus grandes exemplos de força;

Ao meu amado noivo, Gustavo, por ser tão importante na minha vida, sempre ao meu lado, me colocando para cima e me fazendo acreditar que posso mais que

imagino; A família do Gustavo, que agora também é minha, pelo acolhimento e amor que

sempre tiveram comigo; Aos meus sobrinhos do coração, Davi e Julia, pelos beijos, abraços e sorrisos. Por

tornarem minha vida mais leve e feliz;

Aos meus queridos amigos que sempre estão torcendo por mim;

Ao meu orientador, Giovanni Lovisi, pela orientação, disponibilidade, incentivo e atenção. Por sempre acreditar no meu potencial;

A querida Jaqueline Cintra pelas grandes trocas ao longo do mestrado e pelas

generosas contribuições ao meu trabalho;

Ao corpo docente e aos funcionários do IESC, pelos espaços de aprendizados e reflexões;

As minhas colegas do mestrado, Luiza, Mariana, Raquel, Michele e Mária, pelo

companheirismo, amizade, almoços e muitas conversas nesses dois longos anos. Pela oportunidade de compartilhar conhecimentos, anseios e dúvidas. Agradeço em

especial à Tania e Keli, minhas colegas da área de Saúde Mental e Violências, pelos grandes momentos de partilha;

Aos membros da minha banca de qualificação e defesa, Ramon López e Lúcia

Abelha, pelas contribuições e cuidado com o meu trabalho;

Ao CENPES pelo apoio financeiro para o desenvolvimento das minhas atividades acadêmicas;

A todos, que de alguma forma, contribuíram para a minha formação e para a

concretização desta etapa importante na minha vida. Muito Obrigada!

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Principais tipos de plataformas petrolíferas............................................................................17

Figura 2. Vias causais do burnout em trabalhadores da indústria de petróleo......................................27

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorização de estressores por principais fontes de estresse ........................................19

Quadro 2 Critérios metodológicos (checklist) do PRISMA (Liberati et al, 2009) ...................................30

Quadro 3 Sintaxes empregadas da busca nas bases de dados. ..........................................................32

Quadro 4 Itens do “Checklist for Measuring Quality” (Downs e Black, 1998) utilizados para a avaliação

qualitativa dos artigos.............................................................................................................................33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Características dos estudos incluídos na revisão sistemática acerca do estresse ocupacional

e síndrome de burnout nos trabalhadores da indústria do petróleo. ............Erro! Indicador não definido.

Tabela 2 Características dos estudos incluídos na revisão sistemática acerca do estresse ocupacional

e síndrome de burnout nos trabalhadores da indústria do petróleo (continuação). ................................. 37

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CENPES Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello

CID-10 Classificação Internacional das Doenças e Problemas Relacionados à

Saúde

COMPERJ Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro

CNPq Conselho Nacional de Pesquisa

CSQ Coping with Shiftwork Questionnaire

DeCS Descritores em Ciências da Saúde

EUA Estados Unidos

EACOS Escala para Avaliação de Estressores Ambientais no Contexto Offshore

FPSO Floating production storage and offhsoring

GHQ General Health Questionnaire

HSCL5 Hopkins symptom checklist

MBI Maslach Burnout Inventory

MESH Medical Subject Headings

OSS Occupational Stress scale

OMS Organização Mundial de Saúde

PETROBRAS Petróleo Brasil SA

PRISMA Statement for Reporting Systematic Reviews and Meta-Analyses of Studies

REDUC Refinaria de Duque de Caxias

REFAP Refinaria Alberto Paqualini

REGAP Refinaria Gabriel Passos

SSFPU Semi-submersible floating production unit

SFP Sistema Flexível de Produção

SRP Sistema Rígido de Produção

SPF Sistema de produção flutuante

IESC Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNIRIO Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro

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RESUMO

DIAS, Fernanda Monteiro. O estresse ocupacional e a síndrome do esgotamento profissional ( burnout ) em trabalhadores da indústria do petróleo: uma re visão sistemática. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva). Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Introdução : Na indústria do petróleo há uma rede extensa e diferenciada de trabalhadores atuando em diversas áreas, como refinarias e plataformas, e nas mais adversas condições. A peculiaridade do trabalho nesta indústria aponta o estresse ocupacional e o burnout como problemas de saúde que podem atingir esta classe de trabalhadores. Apesar disso, as investigações sobre esta temática ainda são escassas na literatura científica. O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o estresse ocupacional e a Síndrome do Esgotamento Profissional (burnout) em trabalhadores da indústria de petróleo. Métodos : Busca de artigos publicados nas bases de dados BVS, Scielo, PubMed/MEDLINE, Scopus, CAPES Periódicos e Web of Science entre 1994 e 2014. Foram considerados critérios de inclusão: artigos científicos; estudos epidemiológicos observacionais; publicados em inglês, espanhol ou português; e que obtiveram pontuação acima de 13 pontos conforme critérios metodológicos do Checklist for Measuring Quality. Resultados : Os estudos identificaram que essa indústria está relacionada a inúmeras fontes de estresse ocupacionais que podem levar ao burnout, como: regime de turnos, sobrecarga de trabalho, confinamento e regime de embarque nas plataformas, vibração, barulho e ruído; associadas a alguns fatores psicossociais, tais como: uso de álcool e drogas, distúrbios de sono, dificuldade de memória, depressão, falta de apoio social e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Conclusão : Esses profissionais estão submetidos a condições peculiares de trabalho, que influenciam sua saúde nos aspectos físicos, psíquicos e sociais. Com o conhecimento dessa temática, espera-se estimular o desenvolvimento e implementação de estratégias que promovam melhor qualidade de vida e condições de trabalho a esses profissionais, visando à saúde, satisfação e realização profissional.

Palavras-chave : esgotamento profissional, transtornos mentais, indústria petroquímica e estresse ocupacional.

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ABSTRACT

DIAS, Fernanda Monteiro. The occupational stress and the burnout in petroleu m industry workers: a systematic review . Dissertation (Master in Public Health) - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Federal University of Rio de Janeiro, 2015.

Abstract

Introduction : The petroleum industry has a large and differentiated network of people working in several fields, as refineries and platforms, and under hazardous conditions. The particularity of this job can cause health problems, including occupational stress and burnout among this class of workers. In despite of it, the studies on burnout syndrome and occupational stress among those workers are yet scarce. The goal of this study is to conduct a systematic review of about the occupational stress and the Burnout syndrome among workers of the oil and gas industry. Methods : Search of papers published in the BVS data base, Scielo, PubMed/MEDLINE, Scopus, CAPES Periódicos and Web of Science data between 1994 and 2014. It was considered inclusion criteria: scientific papers, epidemiological observational studies published in English, Spanish or Portuguese that obtained a score above 13 points as methodological criteria of the Checklist for Measuring Quality. Results : The studies have pointed out that oil and gas industry is related to innumerous sources of occupational stress that may lead to the Burnout Syndrome, as: onshore and offshore shift schedules, overwhelming work, confinement, vibration, noise, associated with some psychosocial factors, such as: alcohol and drugs use, sleep disorders, memory loss, depression, lack of social support and interpersonal relationship difficulties. Conclusion : These professionals are submitted to particular conditions of work, which influences their health in physical, psychological and social aspects. Considering this thematic, it is expected to stimulate the development and the implementation of the interventions that will promote a better quality of life and work conditions to these professionals, aiming at health, satisfaction and better professional performance. Keywords : burnout, mental disorders, petroleum industry, offshore workers.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 13

2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................................................... 15

2.1 OS CAMINHOS DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO .....................................15

2.2 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E OS FATORES DE RISCO AO ESTRESSE OCUPACIONAL.............................18

2.3 A SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL (BURNOUT)..........................................................................21

2.4 MECANISMOS DE PROTEÇÃO FRENTE AO ESTRESSE: AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

(COPING) E O APOIO SOCIAL ..........................................................................................................................................................24

3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................................................... 28

4. OBJETIVOS ............................................................................................................................................................... 29

4.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................................................................................29

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................................................................................................29

5. MÉTODO ................................................................................................................................................................... 30

5.1 ESTRATÉGIA DE BUSCA .................................................................................................................................................32

5.2 SELEÇÃO DOS ESTUDOS...............................................................................................................................................33

5.3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS ESTUDOS ............................................................................................................33

5.4 EXTRAÇÃO DOS DADOS.................................................................................................................................................34

6. ARTIGO...................................................................................................................................................................... 38

7. FINANCIAMENTO ................................................................................................................................................... 60

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................................... 63

APÊNDICE A - SÍNTESE DA ANÁLISE DE QUALIDADE DOS ARTIGOS.............................................................. 68

ANEXO A - VERSÃO COMPLETA DO “CHECKLIST FOR MEASURING STUDY QUALITY”............................ 69

ANEXO B - VERSÃO COMPLETA DO STATEMENT FOR REPORTING SYSTEMATIC REVIEWS AND

META-ANALYSES OF STUDIES - PRISMA.................................................................................................................. 74

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1. INTRODUÇÃO

O petróleo é a principal fonte de energia da atualidade, possuindo grande

relevância na economia mundial e enfaticamente nos países produtores (Sutherland

e Cooper, 1996; Parkes e Clark, 1997). Este combustível foi responsável por

grandes mudanças geopolíticas e socioeconômicas em todo o mundo, com uma

crescente demanda por produtividade, eficiência e tecnologia.

A indústria do petróleo é um complexo sistema que compreende várias

etapas: exploração (descobrir onde existe petróleo em condições favoráveis para

perfuração de poços), perfuração (campo de produção), produção (o petróleo

começa a ser retirado dos poços para ser explorado comercialmente), refino (o

petróleo bruto é submetido a processos industriais para dar origem a produtos

consumíveis), transporte e armazenagem (dutos em terra e mar que liga os campos

de produção às refinarias e terminais marítimos de importação e exportação), e

distribuição (postos revendedores de combustíveis e lubrificantes). Neste sistema,

há uma rede extensa e diferenciada de pessoas, atuando em diversas áreas, como

refinarias e plataformas, e nas mais adversas condições de trabalho (Ferreira e Iguti,

2003).

São atividades que envolvem alguns riscos ao trabalhador, como: condições

de confinamento nas plataformas marítimas por um período de 14 dias e falta de

iluminação e calor nas refinarias, além de riscos de explosões e incêndio em ambos

os locais (Leite, 2006). Esta categoria profissional passou a despertar atenção pelas

peculiaridades desse trabalho apontando o estresse ocupacional como um problema

de saúde que atinge diferentes grupos de trabalhadores em seus diversos tipos de

atuação (Sutherland e Cooper, 1996; Parkes e Clark, 1997; Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein, 2000).

O conceito de estresse foi primeiramente descrito por Selye, em 1936, para

denominar “um conjunto de reações que o organismo desenvolve a ser submetido a

uma situação que exige esforço para adaptação” (apud Rodrigues e Gasparini,

1992). Lazarus e Folkamn (1984) definiram o estresse como uma reação particular

entre a pessoa e o ambiente, percebida como algo que excede seus recursos e

ameaça seu bem estar.

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Neste sentido, de acordo com Dejours (1987 apud Costa Silva, 2010), pode-

se entender o estresse ocupacional como um sofrimento psíquico associado às

experiências no ambiente de trabalho, que ocorre quando o trabalhador não

consegue atender às demandas solicitadas, causando uma série de transtornos a

sua saúde física e mental.

O termo burnout foi utilizado pela primeira vez por Freudenberger em 1974

como uma resposta ao estresse ocupacional crônico, afetando profissionais que se

ocupam em prestar assistência a outras pessoas, como professores e profissionais

de saúde (Trigo et al, 2007; Vieira, 2010). O burnout ou a Síndrome do

Esgotamento Profissional como é definido pela Classificação dos Transtornos

Mentais e do Comportamento - CID 10 (OMS, 2013), foi identificado entre

trabalhadores de plataformas (Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000) da indústria

do Petróleo devido às condições adversas do trabalho, tais como confinamento,

imprevisibilidade e regime de turnos. Estudos iniciais começaram a ser

desenvolvidos no Mar do Norte e Mar da Noruega e posteriormente no Mar da China

(Wong et al, 2002; Ljosa e Lau, 2009).

Apesar disso, as investigações direcionadas a estes trabalhadores ainda são

escassas, sendo de fundamental importância o desenvolvimento e aperfeiçoamento

de pesquisas sobre essa temática. Portanto, o presente estudo tem como objetivo

realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o estresse ocupacional e a

síndrome do esgotamento profissional (burnout) em trabalhadores da indústria do

petróleo, a fim de sintetizar toda a informação existente sobre o assunto e dar

suporte a pesquisas futuras.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Os caminhos da Indústria do Petróleo: uma breve contextualização

No Brasil, a Petróleo Brasil S/A (Petrobras) é a empresa responsável pela

indústria do Petróleo e opera em todas as suas etapas. A Petrobras foi criada em

1953, pelo então presidente Getúlio Vargas, tendo como principal objetivo a

exploração petrolífera no país, impulsionado pela campanha popular cujo slogan era

“o petróleo é nosso”. Consiste numa empresa estatal de economia mista, ou seja, é

uma empresa de capital aberto, sendo o Governo do Brasil o acionista majoritário

(Leite, 2006). Em 1968, a Petrobras criou o seu Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento (CENPES), cujo objetivo era proporcionar aparato tecnológico para

a expansão da empresa no cenário petrolífero global. O CENPES se tornou o maior

centro de pesquisa da América Latina, recebendo vários prêmios no setor petrolífero

mundial (Petrobras, 2013).

A liderança dos Estados Unidos (EUA) no desenvolvimento tecnológico da

indústria do petróleo é fortemente reconhecida, principalmente pelo aperfeiçoamento

de várias tecnologias necessárias para o uso e exploração do petróleo no solo

(Freeman e Soete, 1997). Com o uso dessa tecnologia, a Petrobras criou as duas

primeiras refinarias de grande porte no Brasil, a Refinaria de Cubatão e a Refinaria

de Duque de Caxias - Reduc. De 1955 a 1968 foram criadas mais duas refinarias, no

Rio Grande do Sul (Refap) e em Minas Gerais (Regap). Com a geração de recursos

financeiros das novas refinarias o país conseguiu direcionar investimentos para a

exploração do petróleo no solo brasileiro (Petrobras, 1993).

Como os EUA desenvolveram inicialmente tecnologias para bacias territoriais,

a chamada tecnologia onshore ou in land, houve a necessidade de adaptação

destas tecnologias para atuação no mar (offshore), estas que atendem melhor as

necessidades brasileiras por haver predominantemente reservas localizadas no mar

(Furtado, 1996). Em 1974, o campo de Garoupa, na Bacia de Campos, marca o

início da exploração dos primeiros campos de petróleo em alto mar no Brasil. Após a

segunda crise mundial de petróleo, em 1979, a produção offshore no cenário

internacional dava seus primeiros passos com a implantação de plataformas no Mar

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do Norte (Noruega e Reino Unido), na Venezuela e no Golfo do México (Petrobras,

2013).

Diante das condições encontradas na Bacia de Campos, a Petrobras

desenvolveu novas tecnologias a fim de viabilizar a extração de petróleo em águas

cada vez mais profundas. Com aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados, a

bacia se tornou a maior província petrolífera do Brasil, responsável por mais de 80%

da produção nacional de petróleo (Petrobras, 2013), transformando essa região

numa gigantesca e poderosa área industrial, onde são utilizadas as mais novas

tecnologias em produção de petróleo em águas ultra profundas (mais de 1.500

metros), que servem de referencial para a indústria petrolífera mundial (Leite, 2009).

A plataforma é uma grande estrutura usada no mar, com duas funções

principais: perfuração - para encontrar o petróleo em poços ainda não explorados, e

produção - são as que efetivamente extraem o petróleo localizado no fundo do mar,

levando-o à superfície. Ortiz Neto e Shima (2008) sistematizaram três tecnologias

adotadas pela indústria do petróleo e equipamentos offshore no mundo: o sistema

rígido (ou fixo) de produção (SRP), quando há uma estrutura sólida ligando a

plataforma até o leito marinho sem estrutura de flutuação; o sistema flexível (ou

híbrido) de produção (SFP), quando uma estrutura flexível está ligada a uma

plataforma flutuante até o leito; e finalmente o sistema de produção flutuante (SPF),

quando não existe uma estrutura de ligação entre a plataforma e o leito marinho, e

sim uma estrutura de ancoragem, podendo ser subdividida em semi-submersíveis

(SSFPU - Semi-submersible floating production unit) e com barcos do tipo FPSO

(Floating production storage and offhsoring).

De acordo com os autores, esta última categoria é a mais amplamente

utilizada na Bacia de Campos. Tais tecnologias estão representadas na figura 1:

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Figura 1- Principais tipos de plataformas petrolíferas

(Fonte: http://www.coopetroleo.com.br/ptp.htm

No Brasil difundiu-se rapidamente a utilização das plataformas do tipo FPSO,

por serem mais adequada às demandas de localização das bacias de petróleo,

principalmente as do pré-sal. Tais reservas, descobertas em 2007, são encontradas

a sete mil metros de profundidade e apresentam imensos poços de petróleo em

excelente estado de conservação. Se as estimativas estiverem corretas, essa nova

frente de exploração será capaz de dobrar o volume de produção de óleo e gás

combustível do Brasil (Jadjiski, 2013).

No segmento de abastecimento, envolvendo refino, transporte e

comercialização, o Brasil conta com 15 refinarias, e 48 terminais e oleodutos.

Atualmente, os principais projetos em implantação são a Refinaria Abreu e Lima

(PE) e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ. As grandes

refinarias brasileiras possibilitaram o abastecimento do nosso mercado a custos

baixos e permitiram ao país ter produtos abaixo dos importados, por terem se

desenvolvido a partir das necessidades do próprio país1.

Atualmente, os dez maiores produtores de petróleo do mundo são: Rússia,

Estados Unidos, Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos,

Venezuela, México e Inglaterra.

1 Dados fornecidos pelo site da Petrobras. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/

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2.2 A indústria do petróleo e os fatores de risco a o estresse ocupacional

O estresse pode ser definido como um esforço de adaptação do organismo

para enfrentar situações que ameaçam seu equilíbrio. Certo nível de estresse é

necessário e saudável para que possamos desempenhar nossas atividades, porém,

é para a sobrecarga de estresse que se chama a atenção, pois é quando este pode

vir a ser prejudicial (Rossi 2004 apud Gomes e Azambuja da Silva).

Como dito anteriormente, os estudos iniciais de estresse ocupacional e

burnout na indústria do petróleo se deram a partir da estrutura do trabalho offshore,

devido a alguns pontos peculiares deste contexto. O trabalho em plataformas

petrolíferas é reconhecido pelas condições adversas do local, percebidas como

estressores ocupacionais, o que inclui: confinamento, mares agitados, riscos nas

viagens de helicóptero, exposição a barulho e acidentes, sobrecarga de trabalho,

vida monótona dentro de um espaço limitado, isolamento social e familiar, e regime

de turnos (Leite, 2009).

O regime de trabalho por turnos é considerado por vários autores como um

dos principais fatores que podem produzir efeitos negativos na qualidade de vida

dos trabalhadores da indústria do Petróleo (Ferreira e Iguti, 2003; Leite, 2009;

Rodrigues, 2009; Ross, 2009). O trabalho por turnos é um regime onde o

trabalhador realiza revezamentos de turnos. Segundo Parkes e Clark (1997) o

regime de turnos pode alterar os padrões de sono levando ao cansaço, sonolência e

a diminuição da vigilância, afetando o desempenho de segurança no trabalho e

desencadeando sinais e sintomas físicos e emocionais.

Pesquisas nacionais (Freitas et al, 2001; Ferreira e Iguti, 2003; Leite, 2006)

apontam o confinamento como um dos principais geradores de insatisfação no

trabalho nas plataformas, devido ao fato de permanecerem 14 dias, ou mais, longe

da família e do convívio social. O embarque por helicópteros também têm se

mostrado um agente estressor comum a todos os trabalhadores, não apenas pela

sensação de insegurança na viagem, mas também pelo demorado retorno do

helicóptero em casos de urgência. A viagem foi identificada como uma das dez

principais fontes de estresse no setor britânico do Mar do Norte associada a

problemas de saúde mental entre esses funcionários em um documento de auditoria

elaborado por Sutherland e Cooper, 1996. Neste estudo, as demandas físicas e do

meio ambiente são identificadas como agentes estressores, desde as condições

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físicas de trabalho (estrutura e condições climáticas) até de vida social e lazer. Os

autores categorizam os principais estressores identificados no estudo, a partir das

fontes de estresse descritas por Cooper e Marshal (1978) que observaram que as

mesmas fontes de estresse tendem a surgir em uma ampla gama de ocupações.

Tais pontos estão demonstrados no quadro abaixo:

Quadro 1 - Categorização de estressores por principais fontes de estresse

Fatores de estresse (Cooper e Marshal, 1978)

Principais fontes de estresse (Sutherland e Cooper, 1996)

Estresse inerente ao serviço

Subutilização e insatisfação no trabalho.

Condições físicas de trabalho e vida; Bem estar físico no mar; Sobrecarga de trabalho;

Transporte.

Esfera de ação do estresse

Segurança / insegurança no mar;

Imprevisibilidade do regime de turnos; Clima e trabalho.

Estresse da carreira

Falta de perspectiva na carreira

Estrutura organizacional e clima

Estrutura organizacional e clima

Interface entre casa e trabalho

Interface entre casa e trabalho

Adaptado de Sutherland e Cooper, 1996.

Sutherland e Cooper (1996) destacam o fato de que o avanço na

produtividade da indústria do petróleo é de importância vital para as economias

destes países produtores, porém, os benefícios econômicos podem ser seriamente

comprometidos devido aos prejuízos oriundos da submissão destes trabalhadores a

eventos estressantes graves que podem ocasionar:

• doenças físicas e / ou psicológicas;

• morte precoce;

• licenças médicas;

• aposentadoria por invalidez;

• absenteísmo do trabalho;

• alta rotatividade de trabalho;

• pouca produtividade no trabalho;

• problemas de relacionamento dentro das equipes,

• insatisfação com o trabalho;

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• aumento de acidentes de trabalho;

• os problemas com o álcool;

• abuso de drogas;

• desarmonia conjugal e divórcio;

• aumento dos prémios de seguro;

• litígios trabalhistas

O mesmo estudo destaca 12 fatores de risco ocupacionais que contribuem

para o aumento do estresse em trabalhadores de plataformas, levando ao

deterioramento de suas atividades laborais. Esses fatores são apresentados abaixo

com alguns exemplos citados pelos autores:

a) Fator 1: Perspectivas de carreira, como, por exemplo os fatores relacionados

a: falta de segurança no trabalho, baixa remuneração, falta de oportunidades

de formação, falta de oportunidade de promoção, baixa sensação de

pertencimento, não reconhecimento de um bom trabalho entre outros;

b) Fator 2: Segurança no trabalho, quando o trabalho está submetido, por

exemplo, a sensação de incapacidade de ajudar quando alguém se acidenta,

longos períodos de intensa concentração e confinamento, carga de trabalho

inconsistente / imprevisível, e receio sobre a segurança de outras pessoas;

c) Fator 3: Interface casa / trabalho quando o trabalhador sente que algumas

situações no trabalho interferem com o relacionamento social e vice-versa

como por exemplo, não participar das decisões familiares diárias, percepção

de ruptura da vida social, longos períodos de afastamento de familiares e

amigos, tomar conhecimento da insatisfação da companheira/esposa sobre o

tipo de trabalho, podendo levar a separação;

d) Fator 4: Baixa demanda, representado pelo enfado ou desgosto e falta de

desafio no trabalho;

e) Fator 5: Condições físicas de trabalho e vida caracterizados, por exemplo, por

local de trabalho barulhento, frio e com vibrações, e local de descanso

barulhento, frio e com vibrações tanto dos equipamentos como da

movimentação da tripulação;

f) Fator 6: Imprevisibilidade do regime de turnos, por estar condicionado as

mudanças inesperadas na tripulação embarcada, gerando problemas de

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convivência entre os trabalhadores, atraso na troca da tripulação por mau

tempo ou ainda a alternância entre turnos;

g) Fator 7: As condições de vida offshore, quando o trabalhador identifica como

dificuldade por exemplo o compartilhamento do local de repouso com outros

trabalhadores de outros turnos, assim como execução de atividades físicas e

de lazer;

h) Fator 8: Aspectos climáticos e de trabalho, por estarem sujeitos a sentimento

de insegurança com mau tempo ou ainda não saber o quanto realmente a

plataforma é segura, por exemplo;

i) Fator 9: A estrutura organizacional que pode interferir na satisfação com a

gestão em terra ou nas equipes terceirizadas, por exemplo;

j) Fator 10: Bem-estar físico do trabalhador como, por exemplo, uma dieta não

saudável a bordo, ou ainda a falta de um ambiente tranquilo nos horários fora

do turno;

k) Fator 11: A sobrecarga de trabalho gerada por longas jornadas embarcadas,

seguidas de curtas folgas em terra e as responsabilidades extras em caso de

falta de outro funcionário;

l) Fator 12: Transporte para a plataforma gerando insegurança no transporte de

helicóptero.

2.3 A Síndrome do esgotamento profissional ( burnout )

Estudos realizados pelo International Stress Management Association - ISMA

em nove países apontou os trabalhadores brasileiros entre os mais estressados do

mundo no quesito Esgotamento Profissional, onde esta síndrome é mais relatada,

ficando abaixo apenas do Japão (Teodoro, 2012).

Como já referido, o burnout é caracterizado no CID10 - Classificação dos

transtornos mentais e do comportamento (OMS, 2013) como a síndrome do

esgotamento profissional, com o código Z 73.0, descrito como resultante da vivência

profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a

representação que a pessoa tem de si e dos outros (Brasil, 2001). O termo burnout é

uma palavra em inglês definida como “aquilo que deixou de funcionar por absoluta

falta de energia” (Trigo et al, 2007). No caso da síndrome, é aquele que chegou ao

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22

seu limite, com grande prejuízo de seu desempenho físico ou mental, sendo um

processo iniciado através de prolongados níveis de estresse no trabalho. León e

Iguti (apud Abreu et al, 2002) consideram o burnout como um quadro clínico mental

extremo do estresse ocupacional.

De acordo com Maslach (1993), entende-se o burnout como uma reação

negativa ao estresse laboral crônico, descrita pela presença de três dimensões: a)

exaustão emocional, que é a manifestação mais evidente da síndrome,

caracterizada por falta de energia e esgotamento de recursos, abrangendo

sentimentos de desesperança, tristeza, irritabilidade, diminuição de empatia e

sintomas físicos como fraqueza, cefaleias, náuseas, distúrbios do sono e choro

compulsivo; (b) despersonalização, caracterizada por atitudes de distanciamento,

desinteresse, e alienação em relação aos grupos sociais e de trabalho; (c)

diminuição da realização pessoal no trabalho, caracterizada por sensação de baixa

produtividade, tornando o trabalhador infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento

profissional.

Em uma revisão bibliográfica sobre a síndrome de burnout conduzida por

Trigo et al (2007), os autores demonstraram que a prevalência da síndrome ainda é

incerta, mas dados sugerem que acomete um número significativo de indivíduos,

variando de aproximadamente 4% a 85,7%, conforme a população estudada. Ainda

de acordo com os resultados desta revisão, o burnout pode apresentar comorbidade

com alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão e transtornos de ansiedade,

com o abuso/dependência ao álcool e outras substâncias psicoativas, e com alguns

transtornos psicossomáticos, como a síndrome da fadiga crônica e fibromialgia.

Pode também estar associada ao risco de suicídio (Brasil, 2001) e a uma

preponderância do transtorno nas mulheres (Teodoro, 2012).

Alguns fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, foram

enumerados pelo estudo de Trigo et al (2007) em:

a) Fatores organizacionais: burocracia, falta de autonomia, comunicação

ineficiente, mudanças organizacionais frequentes, falta de perspectiva de

ascensão na carreira;

b) Fatores individuais: associados a um índice menor de burnout - tipo de

personalidade e auto estima, e a um índice maior - perfeccionismo,

pessimismo, pessoas controladoras, passivas e com grande expectativa e

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idealização em relação a profissão, gênero e estado civil - maior risco em

solteiros, viúvos ou divorciados;

c) Fatores relacionados ao trabalho: sobrecarga, sentimentos de injustiça e

de iniquidade nas relações laborais, precário suporte organizacional e

relacionamento conflituoso entre colegas, trabalho por turnos;

d) Fatores sociais: falta de suporte social e familiar, e valores e normas

culturais.

Esta síndrome tem sido considerada um problema social de grande relevância

e investigada em diversos países, uma vez que se encontra vinculada a grandes

custos organizacionais. Alguns destes custos devem-se a rotatividade de pessoal,

absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade, além de vários tipos de

disfunções pessoais, como o surgimento de graves problemas psicológicos e físicos

podendo levar o trabalhador a incapacidade total para o trabalho (Carlotto e Câmara,

2008). O estudo de Carlotto e Câmara (2008) buscou verificar, considerando a

produção científica nacional de publicações em periódicos, qual o estágio de

conhecimento desta síndrome no Brasil e destacou que embora pesquisas sobre o

burnout tenham uma longa tradição na América do Norte e Europa, no Brasil ainda

encontramos poucos estudos sobre essa temática.

A síndrome de burnout ainda é pouco conhecida por parte dos profissionais, e

muitas vezes a pessoa que apresenta tal síndrome é tratada como portadora de

estresse ou depressão, sendo as dificuldades atribuídas a componentes pessoais, o

que pode levar ao não tratamento adequado e ao difícil diagnóstico (Teodoro, 2012).

É importante também diferenciar o burnout, que seria uma resposta ao

estresse ocupacional crônico, de outras formas de resposta ao estresse. A síndrome

envolve condutas e atitudes negativas, e distanciamento afetivo em relação às

pessoas e ao trabalho, sendo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos

práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. O quadro tradicional de

estresse não envolve tais atitudes e condutas, sendo um esgotamento pessoal que

interfere na vida do indivíduo, mas não de modo direto na sua relação com o

trabalho (Brasil, 2001).

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2.4 Mecanismos de proteção frente ao estresse: as e stratégias de

enfrentamento ( coping ) e o apoio social

A resposta ao estresse é resultado da interação entre as características

individuais e as demandas do meio. Esta resposta compreende aspectos cognitivos,

comportamentais e fisiológicos, possibilitando uma busca de soluções, selecionando

atitudes e comportamentos adequados para preparar o organismo para agir de

maneira rápida e potente (Margis et al, 2003). É importante observar que é a

percepção que o indivíduo tem acerca de um evento, e não o evento em si, que

determina seu potencial como estressor (Verardi et al, 2012).

Neste sentido, quando se fala sobre a forma como as pessoas respondem ao

estresse, normalmente é utilizado o conceito de enfrentamento (Starub, 2005). O

enfrentamento (coping) é definido por Savoia (1999), como uma resposta ao

estresse com a finalidade de reduzir o impacto negativo de eventos de vida

percebidos como estressantes, aumentando, criando ou mantendo a percepção de

controle pessoal. Para Straub (2005), o enfrentamento é um processo dinâmico e

não uma reação única, ou seja, pode ser entendido como uma série de repostas que

envolvem a interação do individuo com seu ambiente.

De acordo com Chamon (2006), a teoria atual do enfrentamento teve suas

origens na década de setenta a partir de vários estudos, sendo que o principal é

considerado o de Lazarus e Folkman de 1984, que propõem um modelo de caráter

cognitivo. Para este modelo, as estratégias de enfrentamento são um conjunto de

esforços, cognitivos, emocionais e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com

o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que surgem em

situações de estresse e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus

recursos pessoais (Antoniazzi et al, 1998 apud Lazarus e Folkman, 1984).

As estratégias de enfrentamento são agrupadas em dois grupos: as centradas

no problema e as centradas na emoção. Ao centrar-se no problema, o indivíduo

engaja-se no manejo ou na modificação da situação causadora de estresse, visando

controlar ou lidar com a ameaça, dano ou desafio. São em geral estratégias ativas

de aproximação em relação ao estressor, tais como solução de problemas e manejo

dos mesmos. Já as respostas centradas na emoção, visam reduzir a sensação física

desagradável de um estado de estresse. Estes esforços são dirigidos a um nível

somático e/ou a um nível de sentimentos, como por exemplo, buscar pessoas que

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ofereçam um apoio social, fumar um cigarro, tomar um calmante ou manter-se

ocupado para desviar a atenção do problema (Antoniazzi et al, 1998; Straub, 2005).

Antoniazzi et al (1998) destaca que o uso de qualquer uma das estratégias

depende diretamente da avaliação da situação estressora feita pelo indivíduo.

Straub (2005) ressalta que um importante fator para a escolha da estratégia a ser

utilizada é a natureza do evento estressante. Para o autor qualquer situação que

seja possível uma ação construtiva favorece a escolha das estratégias centradas no

problema, assim como, em outras situações, como morte de pessoas queridas ou

outros problemas que simplesmente devem ser aceitos, tem uma maior

probabilidade de escolha pelas estratégias centradas na emoção.

É importante ressaltar que estratégias de enfrentamento com foco na emoção

ou com foco no problema podem ser utilizadas ao mesmo tempo dependendo dos

estressores envolvidos (Bardagi e Hutz, 2011). A tendência a escolher uma

determinada estratégia de enfrentamento depende do repertório individual, de

experiências tipicamente reforçadas e do próprio estressor (Savoia, 1999).

Outro recurso também considerado pela literatura como um importante fator

para o equilíbrio do processo saúde-doença é o apoio social. Para Rodrigues e

Madeira (2009), o apoio social contribui para a manutenção da saúde exercendo

uma função mediadora diante de eventos de vida estressantes, promovendo

mudanças de comportamento, aumento na capacidade de enfrentamento de

determinadas situações, elevação da auto-estima e diminuição do risco de

adoecimento. Aquele indivíduo caracterizado pela presença de apoio social tenderia

a reagir de forma mais positiva face às situações estressantes quando comparados

aos indivíduos com pouco ou nenhum suporte social (Thiengo, et al, 2011).

Mesmo desconhecendo quais os mecanismos exatos do apoio social

envolvidos neste processo, sabe-se que o mesmo exerce um papel fundamental,

podendo prevenir transtornos mentais e físicos, reduzir o impacto do agente

estressor, influenciar na percepção do quanto essa experiência é ameaçadora, além

de influenciar o curso de um transtorno desenvolvido como resposta ao evento

estressor (Lovisi, et al, 1996).

De acordo com a literatura (Barrón, 1996; Bowling, 1997; Rodrigues e

Madeira, 2009) três atributos podem definir o apoio social: apoio emocional, através

de cuidados e sentimentos referentes à empatia, ao amor e à confiança; apoio

instrumental, pela existência de recursos concretos que um indivíduo pode receber

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através de bens materiais, serviços, assistência financeira etc.; e, por último, apoio

informacional, através da informação prestada a um indivíduo durante um período de

estresse, com o intuito de auxiliá-lo a solucionar determinado problema.

Straub (2005) conclui que a maneira como as pessoas lidam com os eventos

estressantes é tão importante quanto os próprios estressores na determinação da

saúde ou da doença.

A partir desta discussão, a figura 2 foi elaborada com a finalidade de

demonstrar uma melhor compreensão da associação dos fatores de risco ao

estresse ocupacional e ao burnout com os fatores de proteção, os quais já são

conhecidos pela literatura científica da área (Lovisi et al, 1996; Antoniazzi et al,

1998; Straub, 2005; Trigo et al, 2007; Thiengo et al, 2011). Cabe destacar que os

fatores protetivos ilustrados, tais como o apoio social familiar, de equipe e as

estratégias de enfrentamento individuais e grupais só podem ser elaborados quando

reconhecidos os fatores de risco a que a equipe está sujeita, e deste modo, sendo

possível desenvolver estratégias protetivas para esse grupo de trabalhadores. Isso

se reflete em uma série de projetos de melhoria da organização que englobam

desde o desenvolvimento de programas de saúde a estratégias psicossociais, já que

a indústria petrolífera possui características estressoras inerentes que certamente se

beneficiará destes programas obtendo resultados melhores de desempenho,

ampliação da produtividade, diminuição na ocorrência de incidentes e custos

oriundos do afastamento de trabalhadores do setor petrolífero (Sutherland e Cooper,

1996; Parkes e Clark, 1997; Trigo et al, 2007).

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Figura 2. Vias causais do burnout em trabalhadores da indústria de petróleo

ESTRESSE

FATORES PROTETIVOS:

Apoio social familiar

Apoio social da equipe

Estratégias de coping individuais

Estratégias de coping grupais

FATORES DE RISCO:

Insegurança no trabalho

Interface casa / trabalho desarmônica

Condições físicas de trabalho e vida

inadequadas

Imprevisibilidade do padrão de trabalho

Aspectos meteorológicos

Estrutura organizacional

Ausência de bem-estar físico

Sobrecarga física/emocional

Transporte até a plataforma

BURNOUT

Exaustão emocional

Despersonalização

Redução da realização profissional.

Organização

(Instituição)

Indivíduo

(auto percepção)

Trabalho

(qualidade, quantidade)

Socie dade

(afastamento, perdas)

RESILIÊNCIA

(equilíbrio)

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3. JUSTIFICATIVA

Apesar da importância dos estudos sobre a avaliação do estresse

ocupacional e burnout em trabalhadores da indústria do petróleo, estes ainda são

escassos na literatura científica. Portanto, é de fundamental importância o

desenvolvimento e aperfeiçoamento de pesquisas sobre essa temática. Para isto,

revisões sistemáticas são muito úteis, já que reúnem as informações de um conjunto

de estudos que podem apresentar resultados contrários e/ou coincidentes. São

desenhadas para serem metódicas e passíveis de reprodução, para nortear o

desenvolvimento de pesquisas, identificando quais métodos foram utilizados em

uma determinada área e indicando novos rumos para futuras investigações

(Sampaio e Mancini, 2007).

Além disso, o estudo permitirá reconhecer a presença do estresse

ocupacional e a síndrome do esgotamento profissional nesta população, e as

estratégias utilizadas de prevenção e enfrentamento das situações de estresse, em

níveis individual, organizacional e profissional, que podem minimizar os problemas

decorrentes do estresse no trabalho. Será possível também a identificação de riscos,

no trabalhador e na equipe, estressores físicos e individuais, especificidades do

trabalho que trazem prejuízos pessoais e afetam na produtividade da empresa.

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4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o estresse ocupacional e

a síndrome do esgotamento profissional (burnout) em trabalhadores da indústria de

petróleo.

4.2 Objetivos específicos

Avaliar as similaridades e diferenças entre os estudos, segundo as seguintes

características:

a) País e ano de publicação do estudo;

b) Desenho do estudo;

c) Local da realização do estudo;

d) Tamanho da amostra;

e) Objetivos do estudo;

f) Escore da análise qualitativa dos dados;

g) Instrumentos utilizados;

h) Fontes de estresse ocupacionais;

i) Fatores psicossociais e sintomas físicos associados;

j) Principais resultados.

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5. MÉTODO

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre o estresse

ocupacional e a síndrome do esgotamento profissional (burnout) em trabalhadores

da indústria do petróleo. O presente estudo seguiu a metodologia do Statement for

Reporting Systematic Reviews and Meta-Analyses of Studies - PRISMA (Liberati et

al, 2009), que inclui uma lista de verificação de 27 itens (Quadro 3), sendo excluídos

os itens referentes a meta-análise, e um fluxuograma de 4 fases (Figura 1 - artigo).

Quadro 2 Critérios metodológicos (checklist) do PRISMA (Liberati et al, 2009) Tópico Item do Checklist TÍTULO

Título 1. Identifique o artigo como uma revisão sistemática, meta-analise, ou ambos.

RESUMO Resumo

estruturado 2. Apresente um sumário estruturado incluindo, se aplicável:

referencial teórico; objetivos; fonte de dados; critério de elegibilidade, participantes e intervenções; avaliação do estudo e síntese dos métodos; resultados; limitações; conclusões e implicações dos achados principais; número de registro da revisão sistemática.

INTRODUÇÃO Justificativa 3. Descreva a justificativa da revisão no contexto daquilo que já é

conhecido. Objetivos 4. Apresente uma afirmação explicita sobre as questões

abordadas com referencia a participantes, intervenções, comparações, resultados e desenho de estudo.

MÉTODOS Protocolo e Registros

5. Indique se existe um protocolo da revisão, se e onde pode ser acessado (ex. endereço eletrônico), e, se disponível, forneça informações sobre o registro da revisão, incluindo o numero de registro.

Critérios de elegibilidade

6. Especifique características do estudo e relate características (ex. anos considerados, idioma, se é publicado) usados como critérios de elegibilidade, apresentando justificativa.

Fontes de informação

7. Descreva todas as fontes de informação na busca e data da ultima busca.

Busca 8. Apresente a estratégia completa de busca eletrônica para pelo menos uma base de dados, incluindo os limites utilizados, de forma a que possa ser repetida.

Seleção dos estudos

9. Apresente o processo de seleção dos estudos (i.e. busca, eligibilidade, incluídos na revisão sistemática, e, se aplicável, incluído na meta-analise).

Processo de coleta de dados

10. Descreva o método de extração de dados dos artigos e todos os processos para obtenção e confirmação de dados dos pesquisadores.

Itens de dados 11. Liste e defina todas as variáveis obtidas dos e qualquer referências ou simplificação realizada.

Risco de viés entre estudos

12. Descreva os métodos usados para avaliar risco de vieses em cada estudo (incluindo a especificação se foi feito durante o estudo ou no nível de resultados), e como esta informação foi usada na analise dos dados.

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Tópico Item do Checklist Medidas de sumarização

13. Apresente as principais medidas de sumarização dos resultados ( e.x. risco relativo, diferença entre medias).

Síntese de resultados

14. Descreva os métodos de manipulação dos dados e combinação de resultados dos estudos, se realizados, incluindo medidas de consistência (e.x. I2) para cada meta-analise.

Risco de viés entre estudos

15. Especifique qualquer avaliação do risco de vieses que podem influenciar a evidência cumulativa (e.x. publicação de viés, relato seletivo entre estudos).

Análise adicional 16. Descreva métodos de analise adicional (e.x. analise de sensibilidade ou analise de subgrupos, meta-regressão), se feito, indicando quais foram pré-especificados.

RESULTADOS Seleção de

estudos 17. Apresente números dos estudos selecionados, avaliados para

elegibilidade e incluídos na revisão, razoes para exclusão em cada estagio, idealmente por meio de diagrama.

Características dos estudos

18. Para cada estudo, apresente características para extração dos dados (e.x. tamanho do estudo, PICOS, período de acompanhamento) e apresente citações.

Risco de viés entre os estudos

19. Apresente dados sobre o risco de viés em cada estudo e, se disponível, qualquer avaliação em resultados (item 12).

Resultados dos estudos

individuais

20. Para todos os resultados considerados (benefícios e riscos), apresente para cada estudo: a) sumario simples de dados para cada grupo de intervenção e b) efeitos estimados e intervalos de confiança, idealmente por meio de gráficos.

Síntese de resultados

21. Apresente resultados para cada meta-analise feita, incluindo intervalos de confiança e medidas de consistência.

Risco de viés através dos

estudos

22. Apresente resultados de qualquer avaliação de risco de viés através de estudos (item 15)

Análise adicional 23. Apresente resultados de analises adicionais, se feitas

DISCUSSÃO Sumário de evidência

24. Sumarize os resultados principais incluindo a força de evidência para cada resultado; considere sua relevância para grupos chave (e.x. provedores de cuidados em saúde, usuários e formuladores de políticas).

Limitações 25. Discuta limitações no nível do estudo e dos resultados (e.x. risco de viés) e no nível da revisão (e.x. obtenção incompleta de pesquisas identificadas, relato de vieses)

Conclusões 26. Apresente a interpretação geral dos resultados no contexto de outras evidências e implicações para futuras pesquisas.

FINANCIAMENTO Financiamento 27. Descreva fontes de financiamento para a revisão sistemática e

outros suportes, papel dos financiadores na revisão sistemática.

Este tipo de metodologia disponibiliza um resumo das evidências

relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de

métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da

informação selecionada, permitindo agregar evidências de pesquisa na área

estudada (Sampaio e Mancini, 2007).

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5.1 Estratégia de Busca

Primeiramente foram selecionados os descritores para posterior consulta nas

bases de dados. Foram utilizados os seguintes descritores, definidos nos

Descritores em Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH):

“esgotamento profissional”, “burnout”, “agotamiento profesional”, “mental disorders”,

“transtornos mentales”, “transtornos mentais”, “petroleum industry”; “industria del

petróleo” e “indústria petroquímica”, e as seguintes palavras-chave: “offshore

workers”, “trabalho em plataformas de petróleo”, “refinery workers” e “indústria de

petróleo”. As bases de dados utilizadas foram: BVS, Scielo, PubMed/MEDLINE,

Scopus, CAPES Periódicos e Web of Science (Quadro 4).

A triagem ocorreu de forma igualitária em todas as bases de dados

mencionadas. O rastreamento inicial dos artigos foi baseado na revisão do título e

abstract, para determinar o preenchimento dos critérios de inclusão, descartando os

estudos que não são relevantes, e, em seguida, pela leitura na íntegra dos artigos

pré-selecionados.

Após essa etapa, foi realizada busca ativa entre as referências bibliográficas

para identificar artigos de relevância que possam não aparecer no primeiro

levantamento. A busca bibliográfica foi realizada entre 06/2013 e 10/2013 e

atualizada em 06/2014.

Quadro 3 Sintaxes empregadas da busca nas bases de dados. Base de Dados

Descritores/Palavras-chave Resultados

BVS

Scielo

(“esgotamento profissional” AND “industria petroquímica” OR “trabalho offshore” OR “indústria de petróleo”)

11 0

PubMed

Periódico Capes

Web of Science

(“esgotamento profissional” AND “industria petroquímica” OR “trabalho offshore” OR “indústria de petróleo”) OR ("burnout" AND “petroleum industry” OR "mental disorders” OR "offshore workers" OR "refinery workers").

52

16 0

Scopus ("burnout" AND “petroleum industry” OR "mental disorders” OR "offshore workers" OR "refinery workers").

90

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33

5.2 Seleção dos Estudos

Para inclusão na revisão os trabalhos selecionados deveriam preencher os

seguintes critérios: (1) tratar-se de artigo científico; (2) desenho de estudo

epidemiológico observacional (seccional, caso controle e coorte); (3) publicações

nos últimos 20 anos; e (4) artigos em português, inglês e espanhol. Os trabalhos

selecionados foram excluídos da revisão quando estiveram presentes ao menos um

dos critérios a seguir: (1) artigos em duplicata, (2) pesquisas qualitativas e (3) artigos

não disponíveis em sua versão completa.

5.3 Avaliação da Qualidade dos Estudos

Os artigos selecionados foram avaliados e pontuados conforme os critérios

metodológicos do Checklist for Measuring Quality, proposto por Downs e Black

(1998), aplicáveis para avaliação da qualidade dos artigos. Tais critérios avaliam a

qualidade da informação, a validade interna (vieses e confundimentos), a validade

externa, e a capacidade de detecção de efeito significativo do estudo. Foi utilizada a

versão composta por 27 itens, sendo excluídos os itens relacionados a estudos

experimentais (10 questões) (Quadro 4). Ao final, foram avaliados 17 itens, onde os

artigos poderão obter até 18 pontos. Os que obtiverem pelo menos 70% (acima de

12 pontos) da pontuação máxima foram incluídos no estudo por serem considerados

pelos pesquisadores de maior qualidade metodológica. Os mesmos critérios foram

utilizados por outros autores em artigos de revisão nacional (Araujo, 2010; Rossi e

Vasconcelos, 2010, Silva et al, 2012; Thiengo et al, 2011).

Quadro 4 Itens do “Checklist for Measuring Quality” (Downs e Black, 1998) utilizados para a avaliação

qualitativa dos artigos.

�Os objetivos foram claramente descritos?

�Desfecho claramente descrito na introdução ou metodologia?

�O estudo apresentou as características dos participantes incluídos?

�Houve distribuição das principais variáveis de confusão?

�Principais resultados claramente descritos?

�Foi oferecida informação sobre estimativas de variabilidade aleatória nos

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dados?

�Características das perdas foram apresentadas?

� Os valores reais de probabilidade foram reportados para os resultados

principais?

�Houve representatividade dos indivíduos incluídos nos estudos?

�Foi deixado de forma clara pelos autores algum resultado que não tenha sido

baseado em hipótese estabelecida anteriormente pela pesquisa?

�Se em estudos de coorte, a análise foi ajustada para diferentes durações de

acompanhamento ou se em estudo de casos e controles o tempo de

intervenção foi o mesmo para casos e controles?

�Adequação dos testes estatísticos?

�As medidas utilizadas foram acuradas?

�Os participantes dos diferentes grupos foram recrutados na mesma

população?

�Os participantes dos diferentes grupos foram recrutados no mesmo período

de tempo?

�A análise incluiu ajuste adequado para as variáveis de confusão?

�Foram consideradas as perdas de participantes durante o estudo?

5.4 Extração dos Dados

Desse modo, os estudos que obtiveram a pontuação proposta foram

utilizados na presente revisão e suas informações extraídas para comparação.

Foram selecionados os seguintes dados: autor, país e ano de publicação, desenho

de estudo, local de realização do estudo, tamanho da amostra, objetivo do estudo e

escore de análise da qualidade dos estudos (Tabela 1), instrumentos utilizados,

fontes de estresse ocupacionais, fatores psicossociais e sintomas físicos

associados, e principais resultados (Tabela 2).

As etapas de busca, seleção dos artigos, avaliação da qualidade e extração

dos dados foram realizadas de forma independente por dois pesquisadores e as

discordâncias entre esses foram resolvidas mediante discussão e consenso.

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Tabela 1 Características dos estudos incluídos na revisão s istemática acerca do estresse ocupacional e síndrom e de burnout nos trabalhadores da

indústria do petróleo.

Autores

País de Publicação/

Ano

Desenho de Estudo

Local

de realização do Estudo

Tamanho da Amostra

Objetivo do estudo

Escore de análise da qualidade dos

estudos

Sutherland e Copper

Reino Unido/1996

seccional

plataforma

310

Identificar fontes de estresse que possam ser diminuídas ou eliminadas por uma mudança

organizacional

16

Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein

Noruega-Mar do Norte

2000

seccional

plataforma

2061

Estimar a frequência do burnout no ambiente offshore e analisar as suas dimensões para este

contexto

17

Wong et al China/2002

seccional

plataforma

561

Explorar fontes de estresse ocupacionais percebidas entre

os trabalhadores.

16

Chen, Wong e Yu

China/2009

seccional

plataforma

561

Explorar a associação entre saúde mental e estresse

ocupacional e identificar estilos de enfrentamento relacionados

às doenças

16

Ljosa e Lau

Noruega/2009

seccional

plataforma e refinaria

1697

Associação entre o regime de turnos onshore e offshore, e problemas na vida social e

doméstica dos trabalhadores.

17

Ljosa, Tyssen e Lau

Noruega, 2011

seccional

plataforma

1336

Investigar a associação entre fatores individuais e

psicossociais com o sofrimento mental entre os trabalhadores.

18

Menezes et al

Bacia de Campos, Rio de

Janeiro, Brasil/2004

seccional

plataforma

179

Avaliar parâmetros do sono entre trabalhadores e investigar

associação

15

Silva Jr e Ferreira

Brasil/2009

seccional

plataforma

355

Investigar o poder preditivo de estressores ambientais nas três

dimensões do burnout

15

Oenning, Carvalho e

Lima

Brasil/2014

Coorte retrospectivo

refinaria

782

Identificar fatores de risco para o absenteísmo por licença

médica entre os trabalhadores de empresa de petróleo.

16

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36

Autores

Instrumentos utilizados

Fontes de estresse ocupacionais

Fatores psicossociais e sintomas

físicos associados

Principais Resultados

Sutherland e Copper.

�Relatório técnico, contendo três questionários elaborados pelos autores.

� Falta de perspectiva de carreira; � Insegurança nas condições de trabalho; � Falta de estímulo, � Condições físicas e climáticas do trabalho; � Imprevisibilidade e sobrecarga do trabalho; � Transporte aéreo para a plataforma; � Necessidade de se adaptar a novas tecnologias.

�Preocupação com os problemas familiares/casa enquanto está no trabalho; �34% da amostra são tabagistas e 16% relataram alto consumo de álcool.

�Um programa de controle de estresse se torna eficaz quando é direcionado aos problemas específicos e fontes de estresse identificadas em certos grupos de pessoas; �O gerenciamento do estresse deve ser feito em paralelo a gestão da empresa; �As fontes de estresse mais associadas à insatisfação no trabalho foram: falta de perspectiva na carreira (25,3%), subutilização e baixa demanda (27%) e regime de turnos (8%).

Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein

�Questionário adaptado do MBI (Maslach burnout inventory) para o contexto offshore.

� Condições perigosas; � Regime de turnos; � Transporte aéreo para plataforma � Riscos de incêndio e explosão.

� Sensação de não ter um relacionamento próximo com os colegas, � Preocupação com a família durante o trabalho � Alienação � Falta de foco e motivação � Problemas de sono

� Frequência de burnout menor em indivíduos casados e frequência maior de burnout em jovens; � Baixa frequência de burnout se comparado a outras profissões (“Helping professions”); � Associação de emoções negativas com o enfrentamento focalizado na emoção.

Wong et al �OSS (escala de estresse) adaptado a partir de questionários desenvolvidos por Cooper.

� Ruído; � Vibração; � Segurança; � Sentimento de colocar a si e aos outros em risco ao cometer algum erro.

� Não poder exercer seu papel na família enquanto está na plataforma; � Falta de perspectiva na carreira.

�Os resultados encontrados nos trabalhadores chineses foram diferentes dos encontrados no estudo anterior, no Reino Unido: o único fator de estresse amplamente relatado foi a interface casa/família; poucos relatos de problemas em relação a estrutura e clima organizacionais.

Chen, Wong e Yu

�General Health Questionnaire (GHQ); � Occupational Stress Scale.

� Ruído � Vibração � Falta de iluminação e ventilação � Regime de turnos � Condições climáticas adversas � Confinamento

� Interface casa-trabalho; � Falta de apoio social

�Estresse ocupacional significativamente associado a uma piora na saúde mental do trabalhador; � O enfrentamento focado no problema foi associado positivamente a uma melhor saúde mental e o focado na emoção associado a problemas na saúde mental.

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37

Autores

Instrumentos utilizados

Fontes de estresse ocupacionais

Fatores psicossociais e sintomas

físicos associados

Principais Resultados

Ljosa e Lau

�Coping with Shiftwork Questionnaire (CSQ).

� Regime de turnos; � Separação familiar;

� Problemas na vida social e doméstica; � Apoio social como estratégia de enfrentamento.

�Enfrentamento focado no problema e apoio social associado a poucos relatos de problemas na vida social e familiar; autocrítica associada a um maior relato de problemas. � Ambiguidade em relação aos aspectos positivos e negativos do trabalho por turnos comparados entre refinarias e plataformas.

Ljosa, Tyssen e Lau

�Hopkins symptom checklist (HSLC5); �The General Nordic Questionnaire for Psychological and Social Factors at Work (QPS Nordic).

� Regime de trabalho por turnos; � Isolamento; � Condições meteorológicas extremas; � Riscos de acidentes; � Regime de turnos, principalmente o noturno.

� Interferência dos problemas de casa no trabalho; � Falta de apoio social;

� Sofrimento mental identificado pelo HSLC maior entre os homens; e associado a baixo nível de apoio e elevado nível de interferência dos problemas familiares.

Menezes et al

�Questionário elaborado pelos autores.

� Horário de dormir irregulares, � Trabalho por turnos

�Dificuldades de sono: sono de má qualidade, dificuldades para dormir, sono fragmentado, sensação de cansaço ao acordar; � Pesadelos e sonamubulismo.

� Problemas de sono e sentimentos de tristeza são mais relatados pelos trabalhadores do turno da noite em comparação aos trabalhadores do turno diurno.

Silva Jr e Ferreira

�Escala para Avaliação de Estressores Ambientais no Contexto offshore (EACOS) adaptado do MIB (especificamente para profissionais sem contatos com clientes e validado para trabalhadores brasileiros do contexto offshore por Silva Jr).

� Submissão a regras e disciplinas; � Regime de turnos; � Condições de trabalho adversas � Sensação de insegurança (condições de atendimento médico na plataforma são precárias).

� Longos períodos longe da família; � Problemas de relacionamento e desempenho

� Identificação dos preditores das três dimensões do burnout. � Trabalhadores mais jovens são mais propensos ao burnout. � Sugestões de medidas capazes de contribuir para a redução do burnout entre os trabalhadores.

Oenning, Carvalho e Lima

�Dados secundários obtidos em prontuários eletrônicos no serviço de saúde ocupacional.

� Carga de trabalho físico pesado

� Desconforto nas “posições” do trabalho.

� Hipertensão � Doenças osteomusculares

� Sexo feminino, ser fumante ou ex-fumante, estar insatisfeito com o trabalho e relato de sono anormal foram associados significativamente ao absenteísmo do trabalho por doença; � Indivíduos com problemas de sono são mais propensos à falta no trabalho.

Tabela 2 Características dos estudos incluídos na revisão sistemática acerca do estresse ocupacional e síndrome de burnout nos trabalhadores da indústria do petróleo (continuação).

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38

6. ARTIGO

O Estresse Ocupacional e a Síndrome do Esgotamento Profissional ( burnout )

em Trabalhadores da Indústria do Petróleo: uma Revi são Sistemática.

The occupational stress and the burnout in petroleum in dustry workers: a

systematic review

Resumo

Introdução: Na indústria do petróleo há uma rede extensa e diferenciada de trabalhadores atuando em diversas áreas, como refinarias e plataformas, e nas mais adversas condições. A peculiaridade do trabalho nesta indústria aponta o estresse ocupacional e o burnout como problemas de saúde que podem atingir esta classe de trabalhadores. Apesar disso, as investigações sobre esta temática ainda são escassas na literatura científica. O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o estresse ocupacional e a Síndrome do Esgotamento Profissional (burnout) em trabalhadores da indústria de petróleo. Métodos: Busca de artigos publicados nas bases de dados BVS, Scielo, PubMed/MEDLINE, Scopus, CAPES Periódicos e Web of Science entre 1994 e 2014. Foram considerados critérios de inclusão: artigos científicos; estudos epidemiológicos observacionais; publicados em inglês, espanhol ou português; e que obtiveram pontuação acima de 13 pontos conforme critérios metodológicos do Checklist for Measuring Quality. Resultados: Os estudos identificaram que essa indústria está relacionada a inúmeras fontes de estresse ocupacionais que podem levar ao burnout, como: regime de turnos, sobrecarga de trabalho, confinamento e regime de embarque nas plataformas, vibração, barulho e ruído; associadas a alguns fatores psicossociais, tais como: uso de álcool e drogas, distúrbios de sono, dificuldade de memória, depressão, falta de apoio social e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Conclusão: Esses profissionais estão submetidos a condições peculiares de trabalho, que influenciam sua saúde nos aspectos físicos, psíquicos e sociais. Com o conhecimento dessa temática, espera-se estimular o desenvolvimento e implementação de estratégias que promovam melhor qualidade de vida e condições de trabalho a esses profissionais, visando à saúde, satisfação e realização profissional.

Palavras-chave: esgotamento profissional, transtornos mentais, indústria petroquímica, estresse ocupacional.

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Abstract

Introduction: The petroleum industry has a large and differentiated network of people working in several fields, as refineries and platforms, and under hazardous conditions. The particularity of this job can cause health problems, including occupational stress and burnout among this class of workers. In despite of it, the studies on burnout syndrome and occupational stress among those workers are yet scarce. The goal of this study is to conduct a systematic review of about the occupational stress and the Burnout syndrome among workers of the oil and gas industry. Methods: Search of papers published in the BVS data base, Scielo, PubMed/MEDLINE, Scopus, CAPES Periódicos and Web of Science data between 1994 and 2014. It was considered inclusion criteria: scientific papers, epidemiological observational studies published in English, Spanish or Portuguese that obtained a score above 13 points as methodological criteria of the Checklist for Measuring Quality. Results: The studies have pointed out that oil and gas industry is related to innumerous sources of occupational stress that may lead to the Burnout Syndrome, as: onshore and offshore shift schedules, overwhelming work, confinement, vibration, noise, associated with some psychosocial factors, such as: alcohol and drugs use, sleep disorders, memory loss, depression, lack of social support and interpersonal relationship difficulties. Conclusion: These professionals are submitted to particular conditions of work, which influences their health in physical, psychological and social aspects. Considering this thematic, it is expected to stimulate the development and the implementation of the interventions that will promote a better quality of life and work conditions to these professionals, aiming at health, satisfaction and better professional performance. Keywords: burnout, mental disorders, petroleum industry, offshore workers.

INTRODUÇÃO

A categoria profissional da indústria do petróleo passou a despertar atenção

pelas peculiaridades do trabalho apontando o estresse ocupacional e a síndrome do

esgotamento profissional (burnout) como problemas de saúde que atingem os

diferentes grupos de trabalhadores em seus diversos tipos de atuação (Sutherland e

Cooper, 1996; Parkes e Clark, 1997; Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000).

O estresse ocupacional ocorre quando o individuo não consegue atender às

demandas solicitadas pelo seu trabalho, causando sofrimento psíquico, mal estar,

mudanças de comportamento, distúrbios do sono e sentimentos negativos (Dejours,

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40

1987). Já o burnout ou a síndrome do esgotamento profissional, como é definido

pela Classificação dos transtornos mentais e do comportamento - CID 10 (OMS,

2013), aparece como uma reação negativa ao estresse ocupacional crônico, descrita

pela presença de três dimensões: a) exaustão emocional, caracterizada por falta de

energia e esgotamento de recursos, abrangendo sentimentos de desesperança,

tristeza, irritabilidade, diminuição de empatia e sintomas físicos como fraqueza,

cefaleias, náuseas, distúrbios do sono e choro compulsivo; (b) despersonalização,

caracterizada por atitudes de distanciamento, desinteresse, e alienação em relação

aos grupos sociais e de trabalho; e (c) diminuição da realização pessoal no trabalho,

caracterizada por sensação de baixa produtividade, tornando-se infeliz e insatisfeito

com seu desenvolvimento profissional (Maslach, 1993).

Usualmente estudado entre trabalhadores que prestam serviços diretamente

ao público, como professores e profissionais de saúde (Trigo et al, 2007; Vieira,

2010), o burnout foi identificado entre trabalhadores de plataformas de petróleo

(offshore) (Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000) devido a condições adversas do

trabalho, tais como: regime de embarque, confinamento, imprevisibilidade e regime

de turnos. Estudos iniciais começaram a ser desenvolvidos no Mar do Norte e Mar

da Noruega e posteriormente no Mar da China (Wong et al, 2002; Ljosa e Lau,

2009).

Em uma revisão da literatura sobre a síndrome, Trigo et al (2007) reúne as

consequências mais comuns do burnout para os profissionais e para as empresas.

Nos profissionais é percebido: diminuição da qualidade no trabalho, execução de

procedimentos equivocados, negligência e imprudência, distanciamento dos

familiares e isolamento social; enquanto nas empresas: aumento nos gastos com o

afastamento e tratamento do trabalhador, tanto por sintomas físicos quanto por

sintomas mentais, e a necessidade de recrutamento e treinamento de novos

funcionários para reposição das perdas nas equipes.

Apesar da importância constatada, estes estudos ainda são escassos na

literatura, sendo de fundamental importância o desenvolvimento e aperfeiçoamento

das pesquisas sobre essa temática. Para isto, revisões sistemáticas são muito úteis,

já que são desenhadas para serem metódicas e passíveis de reprodução, para

nortear o desenvolvimento de pesquisas, identificar quais métodos foram utilizados

em uma determinada área e indicar novos rumos para futuras investigações

(Sampaio e Mancini, 2007). Além disso, permitirá reconhecer a presença do

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41

estresse ocupacional e a síndrome do esgotamento profissional nesta população, e

estabelecer estratégias de prevenção e enfrentamento das situações de estresse,

em níveis individual, organizacional e profissional, minimizando os problemas

decorrentes do estresse no trabalho, como o absenteísmo e o adoecimento.

Portanto, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da

literatura sobre o estresse ocupacional e a Síndrome do Esgotamento Profissional

(burnout) em trabalhadores da indústria de petróleo.

MÉTODO

O método utilizado constituiu-se de uma revisão sistemática da literatura

acerca dos estudos que investigaram o estresse ocupacional e a síndrome do

esgotamento profissional (burnout) em trabalhadores da indústria de petróleo. Para

tal, foram utilizadas as seguintes bases de dados: BVS, Scielo, PubMed/MEDLINE,

Scopus, CAPES Periódicos e Web of Science, com publicações nos últimos 20

anos, em português, inglês e espanhol. Outra estratégia utilizada foi a busca manual

em listas de referências dos artigos identificados e selecionados na busca eletrônica.

As seleções foram tomadas com base na busca dos descritores, consultados, a

priori, nos Descritores de Ciências em Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings

(MeSH), assim como palavras-chave, no título ou resumo do artigo; na

impossibilidade de clareza, os artigos foram lidos na íntegra. Todas as etapas

(busca, seleção e avaliação dos artigos) foram realizadas de forma independente

por dois pesquisadores e as discordâncias entre eles foram resolvidas mediante

discussão e consenso.

A revisão seguiu a metodologia do Statement for Reporting Systematic

Reviews and Meta-Analyses of Studies - PRISMA (Liberati et al, 2009).

Estratégia de Busca

Os descritores utilizados para a busca nas bases de dados foram:

“esgotamento profissional”, “burnout”, “agotamiento profesional”, “mental disorders”,

“transtornos mentales”, “transtornos mentais”, “petroleum industry”; “industria del

petróleo” e “indústria petroquímica”, e as seguintes palavras-chave: “estresse

ocupacional”, “offshore workers”, “trabalho em plataformas de petróleo”, “refinery

workers” e “indústria de petróleo” (Quadro 1).

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42

Após a busca, foi realizada uma segunda etapa para a seleção dos artigos,

que deveriam preencher os seguintes critérios de inclusão: tratar-se de artigo

científico e desenho de estudo epidemiológico observacional (seccional caso

controle e coorte).

Quadro 1 . Sintaxes empregadas da busca nas bases de dados Base de Dados

Descritores/Palavras-chave Resultados

BVS

Scielo

(“esgotamento profissional” AND “industria petroquímica” OR “trabalho em plataformas de petróleo” OR “indústria de petróleo”)

11 0

PubMed

Periódico Capes

Web of Science

(“esgotamento profissional” AND “industria petroquímica” OR “trabalho em plataformas de petróleo” OR “indústria de petróleo”) OR ("burnout" AND “petroleum industry” OR "mental disorders” OR "offshore workers" OR "refinery workers").

52

16 0

Scopus

("burnout" AND “petroleum industry” OR "mental disorders” OR "offshore workers" OR "refinery workers").

90

.

Avaliação da qualidade dos estudos

Para análise da qualidade dos estudos, foi utilizado o Checklist for Measuring

Quality proposto por Downs e Black (1998), instrumento aplicável ao delineamento

dos artigos para avaliação de sua qualidade, o qual permite avaliar a informação, a

validade interna (vieses e confundimentos) e externa, e a capacidade de detecção

de efeito significativo do estudo. O presente artigo utilizou a versão composta por 27

itens, sendo excluídos os itens relacionados a estudos experimentais. Desse modo,

ao final, foram avaliados 17 itens (Quadro 2), fase em que os artigos poderiam obter

até 18 pontos. Os que apresentaram classificação acima de 70% (acima de 12

pontos) foram incluídos no estudo por serem considerados pelos autores de maior

rigor metodológico. Os mesmos critérios foram utilizados por outros autores em

artigos de revisão nacional (Araujo et al, 2010; Rossi e Vasconcelos, 2010, Silva et

al, 2012; Thiengo et al, 2011).

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43

Quadro 2 . Itens do “Checklist for Measuring Quality” (Downs e Black, 1998) utilizados para a

avaliação qualitativa dos artigos.

�Os Objetivos foram claramente descritos? �Desfecho claramente descrito na introdução ou metodologia? �O estudo apresentou as características dos participantes incluídos? �Houve distribuição das principais variáveis de confusão? �Principais resultados claramente descritos? �Foi oferecida informação sobre estimativas de variabilidade aleatória nos dados? �Características das perdas foram apresentadas? � Os valores reais de probabilidade foram reportados para os resultados principais? �Houve representatividade dos indivíduos incluídos nos estudos? �Foi deixado de forma clara pelos autores algum resultado que não tenha sido baseado em hipótese estabelecida anteriormente pela pesquisa? �Se em estudos de coorte, a análise foi ajustada para diferentes durações de acompanhamento ou se em estudo de casos e controles o tempo de intervenção foi o mesmo para casos e controles? �Adequação dos testes estatísticos? �As medidas utilizadas foram acuradas? �Os participantes dos diferentes grupos foram recrutados na mesma população? �Os participantes dos diferentes grupos foram recrutados no mesmo período de tempo? �A análise incluiu ajuste adequado para as variáveis de confusão? �Foram consideradas as perdas de participantes durante o estudo?

Extração dos Dados

Desse modo, os estudos que obtiveram a pontuação proposta foram

utilizados na presente revisão e suas informações extraídas para comparação.

Foram selecionados os seguintes dados: autor, país e ano de publicação, desenho

do estudo, local de realização do estudo, tamanho da amostra, objetivo do estudo e

escore de análise da qualidade dos estudos (Tabela 1), instrumentos utilizados,

fontes de estresse ocupacional, fatores psicossociais e sintomas físicos associados,

e principais resultados (Tabela 2). Os dados foram digitados em planilha Excel.

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Tabela 1 Características dos estudos incluídos na revisão sistemática acerca do estresse ocupacional e síndrome de burnout nos trabalhadores da indústria do petróleo.

Autores

País de Publicação/

Ano

Desenho de Estudo

Local

de realização do Estudo

Tamanho da Amostra

Objetivo do estudo

Escore de análise da qualidade dos

estudos

Sutherland e Copper

Reino Unido/1996

seccional

plataforma

310

Identificar fontes de estresse que possam ser diminuídas ou eliminadas por uma mudança

organizacional

16

Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein

Noruega-Mar do Norte

2000

seccional

plataforma

2061

Estimar a frequência do burnout no ambiente offshore e analisar as suas dimensões para este

contexto

17

Wong et al China/2002

seccional

plataforma

561

Explorar fontes de estresse ocupacionais percebidas entre

os trabalhadores.

16

Chen, Wong e Yu

China/2009

seccional

plataforma

561

Explorar a associação entre saúde mental e estresse

ocupacional e identificar estilos de enfrentamento relacionados

às doenças

16

Ljosa e Lau

Noruega/2009

seccional

plataforma e refinaria

1697

Associação entre o regime de turnos onshore e offshore, e problemas na vida social e

doméstica dos trabalhadores.

17

Ljosa, Tyssen e Lau

Noruega, 2011

seccional

plataforma

1336

Investigar a associação entre fatores individuais e

psicossociais com o sofrimento mental entre os trabalhadores.

18

Menezes et al

Bacia de Campos, Rio de

Janeiro, Brasil/2004

seccional

plataforma

179

Avaliar parâmetros do sono entre trabalhadores e investigar

associação

15

Silva Jr e Ferreira

Brasil/2009

seccional

plataforma

355

Investigar o poder preditivo de estressores ambientais nas três

dimensões do burnout

15

Oenning, Carvalho e

Lima

Brasil/2014

Coorte retrospectivo

refinaria

782

Identificar fatores de risco para o absenteísmo por licença

médica entre os trabalhadores de empresa de petróleo.

16

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Autores

Instrumentos utilizados

Fontes de estresse ocupacionais

Fatores psicossociais e sintomas

físicos associados

Principais Resultados

Sutherland e Copper.

�Relatório técnico, contendo três questionários elaborados pelos autores.

� Falta de perspectiva de carreira; � Insegurança nas condições de trabalho; � Falta de estímulo, � Condições físicas e climáticas do trabalho; � Imprevisibilidade e sobrecarga do trabalho; � Transporte aéreo para a plataforma; � Necessidade de se adaptar a novas tecnologias.

�Preocupação com os problemas familiares/casa enquanto está no trabalho; �34% da amostra são tabagistas e 16% relataram alto consumo de álcool.

�Um programa de controle de estresse se torna eficaz quando é direcionado aos problemas específicos e fontes de estresse identificadas em certos grupos de pessoas; �O gerenciamento do estresse deve ser feito em paralelo a gestão da empresa; �As fontes de estresse mais associadas à insatisfação no trabalho foram: falta de perspectiva na carreira (25,3%), subutilização e baixa demanda (27%) e regime de turnos (8%).

Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein

�Questionário adaptado do MBI (Maslach burnout inventory) para o contexto offshore.

� Condições perigosas; � Regime de turnos; � Transporte aéreo para plataforma � Riscos de incêndio e explosão.

� Sensação de não ter um relacionamento próximo com os colegas, � Preocupação com a família durante o trabalho � Alienação � Falta de foco e motivação � Problemas de sono

� Frequência de burnout menor em indivíduos casados e frequência maior de burnout em jovens; � Baixa frequência de burnout se comparado a outras profissões (“Helping professions”); � Associação de emoções negativas com o enfrentamento focalizado na emoção.

Wong et al �OSS (escala de estresse) adaptado a partir de questionários desenvolvidos por Cooper.

� Ruído; � Vibração; � Segurança; � Sentimento de colocar a si e aos outros em risco ao cometer algum erro.

� Não poder exercer seu papel na família enquanto está na plataforma; � Falta de perspectiva na carreira.

�Os resultados encontrados nos trabalhadores chineses foram diferentes dos encontrados no estudo anterior, no Reino Unido: o único fator de estresse amplamente relatado foi a interface casa/família; poucos relatos de problemas em relação a estrutura e clima organizacionais.

Chen, Wong e Yu

�General Health Questionnaire (GHQ); � Occupational Stress Scale.

� Ruído � Vibração � Falta de iluminação e ventilação � Regime de turnos � Condições climáticas adversas � Confinamento

� Interface casa-trabalho; � Falta de apoio social

�Estresse ocupacional significativamente associado a uma piora na saúde mental do trabalhador; � O enfrentamento focado no problema foi associado positivamente a uma melhor saúde mental e o focado na emoção associado a problemas na saúde mental.

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46

Autores

Instrumentos utilizados

Fontes de estresse ocupacionais

Fatores psicossociais e sintomas

físicos associados

Principais Resultados

Ljosa e Lau

�Coping with Shiftwork Questionnaire (CSQ).

� Regime de turnos; � Separação familiar;

� Problemas na vida social e doméstica; � Apoio social como estratégia de enfrentamento.

�Enfrentamento focado no problema e apoio social associado a poucos relatos de problemas na vida social e familiar; autocrítica associada a um maior relato de problemas. � Ambiguidade em relação aos aspectos positivos e negativos do trabalho por turnos comparados entre refinarias e plataformas.

Ljosa, Tyssen e Lau

�Hopkins symptom checklist (HSLC5); �The General Nordic Questionnaire for Psychological and Social Factors at Work (QPS Nordic).

� Regime de trabalho por turnos; � Isolamento; � Condições meteorológicas extremas; � Riscos de acidentes; � Regime de turnos, principalmente o noturno.

� Interferência dos problemas de casa no trabalho; � Falta de apoio social;

� Sofrimento mental identificado pelo HSLC maior entre os homens; e associado a baixo nível de apoio e elevado nível de interferência dos problemas familiares.

Menezes et al

�Questionário elaborado pelos autores.

� Horário de dormir irregulares, � Trabalho por turnos

�Dificuldades de sono: sono de má qualidade, dificuldades para dormir, sono fragmentado, sensação de cansaço ao acordar; � Pesadelos e sonamubulismo.

� Problemas de sono e sentimentos de tristeza são mais relatados pelos trabalhadores do turno da noite em comparação aos trabalhadores do turno diurno.

Silva Jr e Ferreira

�Escala para Avaliação de Estressores Ambientais no Contexto offshore (EACOS) adaptado do MIB (especificamente para profissionais sem contatos com clientes e validado para trabalhadores brasileiros do contexto offshore por Silva Jr).

� Submissão a regras e disciplinas; � Regime de turnos; � Condições de trabalho adversas � Sensação de insegurança (condições de atendimento médico na plataforma são precárias).

� Longos períodos longe da família; � Problemas de relacionamento e desempenho

� Identificação dos preditores das três dimensões do burnout. � Trabalhadores mais jovens são mais propensos ao burnout. � Sugestões de medidas capazes de contribuir para a redução do burnout entre os trabalhadores.

Oenning, Carvalho e Lima

�Dados secundários obtidos em prontuários eletrônicos no serviço de saúde ocupacional.

� Carga de trabalho físico pesado

� Desconforto nas “posições” do trabalho.

� Hipertensão � Doenças osteomusculares

� Sexo feminino, ser fumante ou ex-fumante, estar insatisfeito com o trabalho e relato de sono anormal foram associados significativamente ao absenteísmo do trabalho por doença; � Indivíduos com problemas de sono são mais propensos à falta no trabalho.

Tabela 2 Características dos estudos incluídos na revisão sistemática acerca do estresse ocupacional e síndrome de burnout nos trabalhadores da

indústria do petróleo (continuação)

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47

RESULTADOS

Resultados da Busca e Seleção

Na Figura 1 é apresentado o fluxograma do processo de seleção dos artigos.

Do total de estudos identificados (N=169), 128 artigos foram descartados por

duplicidade e por não atenderem estritamente a temática estudada. 28 foram

selecionados por leitura do resumo ou texto e 13 identificados por busca manual das

referencias dos artigos, totalizando 41 artigos triados. Do total dos artigos triados

(N=41), 32 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão da pesquisa,

a saber: 20 eram relacionados a revisões de literatura ou pesquisas qualitativas, 5

artigos sem a versão completa disponível (sem acesso livre), 5 artigos que referiam-

se a acidentes nas plataformas e 2 artigos com baixa pontuação na avaliação de sua

qualidade. Com isso, 9 artigos foram analisados na presente revisão.

Figura 1 . Fluxuograma para o resultado da busca nas fontes de informações, seleção e inclusão dos artigos na revisão sistemática, de acordo com as recomendações do PRISMA (Liberati et al, 2009)

Estudos identificados através da

busca bibliográfica nas bases de dados

N=169

Estudos selecionados através da

leitura do resumo ou abstract, e/ou

corpo do texto

N=28

Estudos selecionados para

verificação de critérios de inclusão

N=41

Estudos excluídos

(N=32)

20 pesquisa qualitativas e revisões

5 sem acesso livre ao texto

completo

5 específicos sobre acidentes de

trabalho

2 com baixa pontuação na avaliação

de qualidade Estudos incluídos para a presente

revisão

N=09

IDE

NT

IFIC

AD

OT

RIA

GE

M

ELE

GIB

ILID

AIN

CLU

ÍDO

S

Estudos identificados através de

busca manual na seção de

referências dos artigos

N=13

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48

Características dos Estudos

Os estudos selecionados variaram a respeito do objetivo, incluindo:

identificação de fontes de estresse ocupacional, frequência do burnout, indicadores

de absenteísmo, risco a saúde no trabalho por turnos, avaliação de parâmetros de

sono, e saúde mental associada a estressores ocupacionais ou

demandas/exigências do trabalho. Entretanto, todos se referiam a relação entre o

espaço de trabalho na indústria de petróleo e as consequências do estresse

ocupacional na saúde do trabalhador.

Observa-se que a maioria foram estudos seccionais (N=8) e um estudo de

coorte retrospectiva. Dentre eles, cinco estudos internacionais e quatro estudos

nacionais. Dos internacionais, todos foram desenvolvidos no Mar do Norte e dos

nacionais a maioria foi realizado na Bacia de Campos, Rio de Janeiro. A plataforma

foi o principal local de realização dos estudos (N=7), sendo um estudo realizado em

ambos os locais (plataformas e refinarias) e somente um realizado em refinarias.

O tamanho da amostra variou bastante de 179 a 2061 participantes com

idade entre 20 e 65 anos e predominantemente do sexo masculino.

Os instrumentos utilizados foram os mais diversos sendo os mais frequentes:

o Occupational Stress Scale - OSS (N=2), para avaliação do estresse ocupacional, e

escalas adaptadas do Maslach Burnout Inventory (N=2), com uma delas já validada

(Escala para Avaliação de Estressores Ambientais no Contexto Offshore - EACOS).

Para a avaliação das estratégias de enfrentamento foi utilizada o Coping with

Shiftwork Questionnaire - CSQ (N=1) e para avaliação de ansiedade e depressão, o

Hopkins symptom checklist - HSLC5 (N=1). Um estudo utilizou o General Health

Questionnaire - GHQ (N=1), para avaliação de morbidade psicológica e em outro

estudo foi utilizado o General Nordic Questionnaire for Psychological and Social

Factors at Work - QPS Nordic (N=1), para avaliar a associação de fatores

psicológicos e sociais relacionados ao bem estar no trabalho. Em quatro estudos

foram utilizados questionários elaborados pelos próprios autores. Além dos já

citados, que foram adaptados do MBI, temos: um relatório técnico (N=1), contendo

aspectos do trabalho, envolvimento em acidentes, apoio social e estilos de vida; um

questionário (N=1) para identificar os padrões de sonos nos regimes de turnos; e

dados secundários de registro de prontuários eletrônicos (N=1) para coleta de dados

associados às dificuldades de sono, aos eventos de vida estressante e fatores

psicossociais.

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Dois estudos utilizaram mais de uma escala psicométrica: Chen, Wong e Yu,

2009, que utilizaram os instrumentos GHQ e OSS; e Ljosa, Lau e Tyssen, 2011, que

utilizaram o QPS Nordic e o HSCLC5.

Em relação à qualidade metodológica dos artigos o escore médio atribuído

aos artigos foi 16,2, sendo 18 pontos o valor máximo atingido e 15 o mínimo. O

estudo de Ljosa, Tyssen e Lau (2011) obteve a pontuação máxima. Neste estudo, os

vieses de seleção ou erros sistemáticos foram controlados, assim como as variáveis

de confusão, as perdas foram levadas em conta e as etapas metodológicas foram

bem descritas. Os estudos que obtiveram menores pontuações não reportaram os

valores reais de probabilidade (valor p ou seu nível de significância) e os principais

fatores confundidores.

Resultados Propriamente Ditos

Os estudos realizados nas plataformas enfatizaram os fatores que estão

associados ao estresse ocupacional, tais como: o regime de embarque e trabalho

por turnos, isolamento, ruído e vibração na plataforma, dificuldades para dormir,

distância familiar e social, pouca privacidade e problemas de relacionamento entre

trabalhadores. Já nas refinarias, os estudos enfatizaram as consequências do

ambiente na vida do trabalhador, evidenciando uma população mais propensa a

doenças respiratórias, cardiovasculares e osteomusculares assim como a presença

de sintomas psicológicos, como tristeza, ansiedade e estresse ocupacional.

No que diz respeito especificamente ao burnout nos trabalhadores da

indústria de petróleo, foi encontrado na literatura somente dois artigos, um

internacional (Noruega) de Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein (2000), e outro nacional

conduzido por Silva Jr e Ferreira (2009).

Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein (2000) adaptaram o MBI (Maslach Burnout

Inventory) ao ambiente de trabalho nas plataformas e identificaram as três

dimensões do burnout descritas por Maslach (1993), embora em frequência

modesta, apontando ainda uma quarta e nova dimensão definida por “preocupação

com a casa enquanto está no trabalho”. Os autores também encontraram frequência

de burnout mais baixo em indivíduos casados e frequência mais elevada em jovens,

o que para eles é explicado pelo fato de que os trabalhadores antigos, aqueles que

não deixaram o emprego, são menos propensos ao burnout, portanto tendem a ser

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mais velhos. O estudo apresentou uma baixa frequência da síndrome se comparada

a outras profissões em estudos clássicos (“Helping professions”), o que pode ser

explicado pelo estudo ser pioneiro no tema e ainda necessitar de um maior

aprimoramento no desenho do estudo e na escala de avaliação do burnout, assim

como outros estudos para comparações.

Silva Jr e Ferreira (2009) avaliaram o poder preditivo de seis estressores

ambientais (problemas de relacionamento e desempenho no trabalho, estrutura

organizacional, interface trabalho/família, segurança, carreira e supervisão e fatores

intrínsecos ao trabalho) nas três dimensões do burnout (exaustão emocional,

despersonalização e falta de realização profissional), através de uma escala de

avaliação de estressores ambientais no contexto offshore (EACOS), desenvolvida e

validada pelos próprios autores, a partir de dois instrumentos de avaliação de fontes

de estresse no trabalho, de Chen e cols (2001) e Sutherland e Cooper (1996); e o

Inventário de Burnout de Maslach, validado por Silva Jr para os trabalhadores

brasileiros do contexto offshore. Os dados obtidos apontaram para os seguintes

resultados: os estressores identificados como “interface trabalho/família”, “estrutura

organizacional” e “problemas de relacionamento e desempenho”, constituíram-se em

preditores da exaustão emocional; já os estressores “estrutura organizacional” e

“fatores intrínsecos ao trabalho” apareceram associados à despersonalização,

enquanto que o estressor “segurança” caracterizou-se como o único preditor da

ineficácia profissional.

Alguns estudos apresentaram resultados relacionados às estratégias de

enfrentamento ao estresse (coping) e apoio social. O coping focado no problema foi

associado a uma melhor saúde mental enquanto o coping focado na emoção foi

associado a problemas na saúde mental (Chen, Wong e Yu, 2009). Já o apoio social

foi identificado como estratégia adequada de enfrentamento aos estressores

ocupacionais em dois estudos (Ljosa e Lau, 2009; Ljosa, Tyssen e Lau, 2011).

Os problemas decorrentes do uso de álcool e outras substâncias psicoativas,

assim como sentimentos de sofrimento, tristeza, frustração e insegurança

apareceram relacionados com as características do ambiente, em ambos os locais

de trabalho (plataformas e refinarias). Outros resultados importantes também foram

identificados, tais como: problemas de sono e sentimentos de tristeza são mais

relatados pelos trabalhadores do turno da noite em comparação aos trabalhadores

do turno diurno e; ser do sexo feminino, fumante ou ex-fumante, estar insatisfeito

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com o trabalho e relatos de problemas de sono são preditores do absenteísmo ao

trabalho por doença (Oenning, Carvalho e Lima, 2014).

A revisão de literatura sobre o tema proposto evidencia que os estudos nessa

área são eminentemente descritivos, com foco no trabalho nas plataformas e tem se

dedicado, sobretudo, a identificar os diferentes estressores ocupacionais nesse

contexto de trabalho, com poucos estudos específicos sobre a ocorrência da

síndrome de burnout nos trabalhadores da indústria do petróleo.

DISCUSSÃO

Na presente revisão, os estudos identificaram que a indústria de Petróleo está

relacionada a inúmeras fontes de estresse ocupacionais (regime de turnos,

sobrecarga de trabalho, confinamento e regime de embarque nas plataformas, ruído,

vibração, barulho, etc.) associadas a alguns fatores psicossociais, tais como: uso de

álcool e drogas, distúrbios de sono, dificuldade de memória, depressão, falta de

apoio social e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Os achados estão de

acordo com a literatura científica sobre o tema (Parkes, 1993; Rodrigues, 1998;

Ferreira e Iguti, 2003; Leite, 2009; Ross, 2009), denotando a peculiaridade deste

ambiente de trabalho.

A descrição das atividades desta indústria, conhecida através dos estudos,

sugere uma complexidade que exige de seus trabalhadores atenção constante,

assim como um trabalho de equipe e cooperação. As atividades nas refinarias são

diferentes daquelas das plataformas, mas as características de um “trabalho

complexo, contínuo, perigoso e coletivo” (Ferreira e Iguti, 2003, p.83) são

identificadas nos dois processos. De acordo com as autoras, todo trabalho com

petróleo é perigoso e insalubre, pois existem riscos decorrentes do próprio processo

de trabalho e da toxicidade dos produtos utilizados, além dos riscos encontrados nos

espaços físicos, como calor, ruído, vibração e acidentes.

Ferreira e Iguti (2003) abordam que o perigo no trabalho da indústria de

petróleo resulta em sentimentos de insegurança entre os trabalhadores. Dos nove

estudos levantados, cinco relataram sentimentos de insegurança relacionados a

possibilidades de incêndios, explosões e acidentes. Sutherland e Cooper (1996)

relacionam essa sensação de insegurança à falta de motivação, insatisfação

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profissional e sentimentos de tristeza e frustração. Outros fatores, como: condições

físicas e climáticas adversas, transporte aéreo para a plataforma, vibração e ruído

nas plataformas, falta de ventilação e iluminação; também são entendidos como

características de um trabalho perigoso.

Outra característica importante é o caráter complexo pela imprevisibilidade

dos acontecimentos e grandes responsabilidades do trabalho, percebido na maioria

dos estudos. Segundo Chen, Wong e Cooper (2002) os trabalhadores sofrem com a

sensação de colocar a si e aos outros em perigo com a possibilidade de cometerem

algum tipo de erro. Outros estudos (Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000; Oenning,

Carvalho e Lima, 2012) apontam o desgaste físico pela sobrecarga, trabalho pesado

e posturas desconfortáveis.

Leite (2009) ressalta que como a produção dessa indústria não pode parar,

são os trabalhadores que tem que se revezar para acompanhá-la, resultando em um

trabalho contínuo. O regime de turnos foi uma das fontes de estresse mais citadas

entre os estudos (Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000; Chen, Wong e Yu, 2009;

Ljosa, Tyssen e Lau, 2011; Menezes et al, 2004). Segundo os autores, as principais

dificuldades advindas do trabalho em turnos são: perturbações do sono,

comprometimento da vida social e familiar e mudanças de comportamento

(tabagismo, dieta inapropriada e uso de substâncias psicoativas, por exemplo).

De acordo com a literatura (Pena, 2002; Ferreira e Iguti, 2003; Leite, 2009)

uma das características mais marcantes da indústria de petróleo é a

interdependência dos serviços, conferindo ao sistema um caráter coletivo, exigindo

sentimentos de união e trabalho em equipe, podendo gerar problemas de

desempenho e relacionamento. Nos estudos, um dos possíveis motivos que

levariam a tais problemas é o desgaste das relações interpessoais, consequência do

confinamento e regime de trabalho intenso (Silva Jr e Ferreira, 2009), ou mesmo nas

mudanças de companheiros de turnos que leva a uma constante necessidade de

adaptação (Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein, 2000).

Com relação às características do trabalho nessa indústria, identificamos

vários fatores psicossociais associados ao estresse ocupacional. Além dos já citados

anteriormente, identificamos: sensação de não ter um relacionamento próximo com

os colegas de trabalho, sentimentos de isolamento e tristeza, e problemas de

desempenho. Os fatores psicossociais do trabalho referem-se às interações entre

meio ambiente e condições de trabalho, condições organizacionais, funções e

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conteúdo do trabalho, esforços e, características individuais e familiares dos

trabalhadores (Fischer, 2012). Assim, as condições de trabalho exercem influência

relevante na saúde do trabalhador, podendo ser consideradas favoráveis ou

desfavoráveis para a saúde.

Conforme as publicações pesquisadas, os principais sintomas físicos que o

trabalhador sob o estresse ocupacional pode apresentar são: distúrbios

osteomusculares, sensação de desgaste físico, síndrome da fadiga e hipertensão.

Já com relação a sintomas psicológicos, a irritabilidade, insônia, tensão, angústia e

depressão são sintomas citados. Cabe destacar que o estudo de Sutherland e

Cooper (1996) aponta que a remuneração relativamente elevada, tanto nas

plataformas quanto nas refinarias, mantem os trabalhadores em tal atividade,

mesmo com tais efeitos negativos na saúde. De acordo com estatísticas da

Organização Internacional do Trabalho (apud Ferreira e Iguti, 2009), os

trabalhadores da indústria do Petróleo estão entre os que recebem os mais altos

salários deste segmento da indústria.

Um fato constatado durante a busca nas bases de dados foi que os

descritores definidos para estresse ocupacional aparecem como burnout, em inglês;

e esgotamento profissional, em português. No entanto, na literatura, burnout não é o

mesmo que estresse ocupacional (Maslach, 1993; Abreu et al, 2002; Silva Jr e

Ferreira, 2009). Entende-se o estresse ocupacional como um sofrimento psíquico

associado às experiências no ambiente de trabalho (Dejours, 1987 apud Costa Silva,

2010) e o burnout como uma reação negativa ao estresse ocupacional crônico

(Maslach, 1993). Logo, o burnout é o resultado de um prolongado processo de

tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman e

Kaplan, 1999 apud Abreu et al, 2002 ). No estudo de Silva Jr e Ferreira (2009), esse

tipo de estresse pode ser visto como um determinante para o burnout, mas não

coincide com o mesmo. Neste sentido, de acordo com Maslach (1993), o burnout

não é um evento, mas sim um processo que envolve três dimensões: exaustão

emocional, despersonalização e redução da realização profissional. Apesar de

compartilharem duas características, exaustão emocional e diminuição da realização

pessoal, não foi achado na literatura o fator despersonalização como característica

do estresse ocupacional, o que também diferencia esses dois conceitos.

O estudo de Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein (2000) trouxe uma importante

discussão sobre as investigações a cerca do burnout serem limitados a certas

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profissões. O estudo demonstrou que a prevalência desta síndrome nos

trabalhadores de plataformas de petróleo tende a ser menor que aquelas dos

estudos clássicos (professores e profissionais da área da saúde), sugerindo uma

facilidade maior na “troca de emprego” entre os trabalhadores de plataformas. No

estudo de Silva Jr e Ferreira (2003), os trabalhadores mais jovens também foram

associados a uma maior tendência ao burnout.

É importante destacar que a ocorrência da síndrome de burnout ou problemas

relacionados ao estresse ocupacional dependem também de estratégias que o

individuo utiliza para enfrentar os eventos estressantes na sua vida. Podemos

identificar nos estudos algumas ferramentas capazes de promover e proteger a

saúde do indivíduo diante de estressores do ambiente, como o coping e apoio social.

O coping focado no problema foi associado positivamente a uma melhor saúde

mental no estudo de Chen, Wong e Yu, 2009 e Hellesoy, Gronhaug e Kvitastein,

2000. De acordo com Straub (2005), são em geral estratégias ativas de aproximação

em relação ao estressor, tais como solução de problemas e manejo dos mesmos. Ao

centrar-se no problema, o indivíduo engaja-se no manejo ou na modificação da

situação causadora de estresse, visando controlar ou lidar com a ameaça, dano ou

desafio. Diferente do coping focado na emoção, que visa a regulação da resposta

emocional causada pela situação estressante com o qual a pessoa se defronta,

podendo representar atitudes de afastamento ou, simplesmente, atitudes paliativas

em relação à fonte de estresse, como negação ou esquiva (Straub, 2005).

O apoio social foi identificado como estratégia adequada de enfrentamento

aos estressores ocupacionais em dois estudos da revisão: Ljosa e Lau, 2009; Ljosa,

Tyssen e Lau, 2011. Ressalta-se ainda que a falta de apoio social e a interferência

de problemas da vida familiar no trabalho estão associadas ao contexto

organizacional e às relações interpessoais conflituosas (Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein, 2000; Chen, Wong e Yu, 2009; Ljosa e Lau, 2009; Silva Jr e Ferreira,

2009; Oenning, Carvalho e Lima, 2012). O estudo de Hellesoy, Gronhaug e

Kvitastein (2000) encontrou uma frequência mais baixa de burnout em indivíduos

casados, podendo ser interpretado como a presença do apoio social do cônjuge. A

literatura (Siqueira, 2008; Rodrigues e Madeira, 2009; Thiengo, et al, 2011) indica

que indivíduos sujeitos a um ambiente pouco acolhedor, com pouco ou nenhum

apoio social, e que estejam sujeitos a uma determinada situação estressante seriam

mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde relacionados ao estrese. Ainda,

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ao encontro com a literatura científica da área (Thiengo et al, 2011), aquele indivíduo

com apoio social adequado tenderia a reagir de forma mais positiva face às

situações estressantes quando comparados aos indivíduos com pouco ou nenhum

apoio social.

É importante enfatizar que o estudo de Wong et al (2002) aponta que os

resultados encontrados sobre fontes de estresse ocupacionais nos trabalhadores

chineses foram diferentes dos resultados encontrados no estudo realizado no Reino

Unido (Sutherland e Cooper, 1996), descrevendo que o único fator de estresse

amplamente relatado foi a interface casa/família, com poucos relatos de insatisfação

em relação a estrutura e clima organizacionais. Os autores, levando em

consideração os fatores culturais do país, explicam que é uma norma tradicional

entre os chineses enfatizar a importância do "espírito de equipe" e das

responsabilidades do indivíduo para a comunidade, desencorajando conflitos

interpessoais. Entre os estudos internacionais e nacionais, não foram identificadas

diferenças nos achados de estresse ocupacional e burnout entre os trabalhadores,

sendo necessárias mais investigações sobre este tema.

A partir dos resultados da revisão, constatou-se que a indústria do Petróleo

configura-se como um ambiente de trabalho que pode apresentar condições

desfavoráveis e potencializadoras do esgotamento profissional e do estresse

ocupacional nos profissionais. Entretanto, ao avaliar os fatores psicossociais do

trabalho e sua relação com a saúde mental, precisamos levar em consideração a

influência de aspectos intrínsecos ao indivíduo na produção do estresse,

considerando que, nessa relação, também intervêm as atitudes, o estilo de vida, as

estratégias de enfrentamento ao estresse e o apoio social, que vão influenciar o

modo como os indivíduos experimentam e interpretam suas vivências. Na revisão,

somente dois estudos levaram todos esses fatores em consideração (Wong et al,

2002; Chen, Wong e Yu, 2009).

Observamos um alto número proporcional de trabalhos adicionais

identificados nas listas de referências dos artigos obtidos diretamente nas bases

bibliográficas - 31,7% do total de artigos incluídos na revisão eram referências dos

artigos inicialmente incluídos. Apesar de nossos esforços em incluir um grande

número de bases bibliográficas na revisão, alguns estudos podem não ter sido

incluídos em nosso trabalho.

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Para dar maior confiabilidade aos estudos, o pesquisador deve estar sempre

atento para que não ocorram erros, que também são definidos como vieses,

podendo levar a distorções nas conclusões de uma revisão sistemática (Medronho,

2009). Porém, segundo o autor, por mais criterioso que seja o estudo, é necessário

reconhecer as possibilidade de vieses. Para Medronho et al (2009), o viés de

publicação representa a maior ameaça metodológica à validade dos resultados de

uma revisão, correspondendo àqueles estudos que não foram publicados em função

dos resultados obtidos (ausência de resultados estatisticamente significativos, por

exemplo). Torna-se necessário também reconhecer a possibilidade de viés de

interpretação já que a revisão sistemática configura-se como um trabalho de

interpretação de dados.

Outro fator a ser considerado é que possivelmente, em alguns estudos, os

trabalhadores tenham ficado relutantes em fazer críticas ou reclamações dos

serviços dos quais fazem parte. Desse modo, cuidados metodológicos devem ser

tomados para diminuir a probabilidade desses vieses e ter uma maior segurança dos

dados obtidos, como por exemplo, o uso de instruções detalhadas e a garantia do

anonimato (Mercier e Corten, 1994 apud Thiengo et al, 2014).

Uma última consideração a ser feita é quanto à escassez de estudos

encontrados. É possível que muitos estudos não tenham sido encontrados por não

estarem publicados em periódicos indexados nas bases investigadas. Não foi

encontrada nenhuma revisão sistemática na literatura nacional ou internacional

sobre este assunto para fins comparativos.

Os resultados deste estudo revelam a necessidade de construção de novas

propostas de pesquisas, conferindo maior relevância ao tema, já que este é um

campo pouco explorado.

CONCLUSÃO

Conclui-se, através da revisão sistemática da literatura, que os profissionais

da indústria de petróleo, no atual cenário, estão submetidos a inúmeros estressores

ocupacionais, que podem influenciar sua saúde nos aspectos físicos, psíquicos e

sociais, podendo resultar no esgotamento profissional.

Através dessa pesquisa, acredita-se contribuir para ampliar o olhar sobre os

profissionais atuantes na indústria do Petróleo, elucidando alguns pontos

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importantes para a discussão sobre o tema. Com isso, espera-se estimular o

desenvolvimento e implementação de estratégias de promoção da saúde, a partir

das necessidades desta classe de trabalhadores, para identificação, prevenção e

gestão de riscos psicossociais e estresse relacionado ao trabalho, resultando em

uma melhoria da qualidade de vida dessa população e em inúmeros benefícios para

as empresas.

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7. FINANCIAMENTO

Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello

(CENPES/Petrobras) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) (302175/2014-8).

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, através da revisão sistemática da literatura científica sobre o

tema, que os profissionais da indústria de petróleo, no atual cenário, estão

submetidos a inúmeros estressores ocupacionais, que podem influenciar sua saúde

nos aspectos físicos, psíquicos e sociais, podendo resultar no esgotamento

profissional.

Como foi discutido, as fontes externas e internas de estresse se somam na

determinação do nível de estresse que será experimentado. Frente a isto, foi

demonstrado que a adoção de boas estratégias de enfrentamento ao estresse e a

presença de apoio social podem minimizar o impacto negativo das condições e

organização do trabalho, diminuindo o risco de adoecimento. Outras estratégias

focadas no trabalhador também podem ser estimuladas para garantir uma boa

saúde mental no trabalho, como: empatia, incentivo e valorização de seu trabalho.

Além disso, os problemas decorrentes ao estresse ocupacional podem ter apoio

através de treinamento ou capacitação de supervisores ou da equipe de saúde para

a identificação precoce de problemas de cunho pessoal que interfiram na qualidade

do trabalho ou na segurança da equipe, a fim de que haja um encaminhamento

profissional adequado desses trabalhadores.

No nível profissional, o apoio e a participação de todos os trabalhadores nas

decisões de equipe podem fortalecer o sentimento de pertencimento e criar laços

mais fortes, podendo levar a uma mediação de conflitos, em especial com a inserção

de funcionários facilitadores para essas situações. Em nível organizacional, será

possível formular programas de treinamento e aconselhamento sobre situações de

riscos psicossociais e o manejo do estresse, reconhecendo os fatores estressores e

os meios de enfrentá-los. O objetivo chave neste nível é evitar quadros de

afastamento, absenteísmo, insegurança da equipe e até acidentes, trazendo

prejuízos para a empresa e o trabalhador.

Através desta pesquisa, acredita-se contribuir para ampliar o olhar sobre os

profissionais atuantes na indústria do Petróleo, elucidando alguns pontos

importantes relacionados à saúde destes trabalhadores e sugerindo objetivos para

investigações futuras, já que este é um campo pouco explorado. Com isso, espera-

se estimular o desenvolvimento e implementação de estratégias de promoção da

saúde, a partir das necessidades específicas desta classe de trabalhadores, para

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identificação, prevenção e gestão de riscos psicossociais e estresse relacionado ao

trabalho, resultando em uma melhoria da qualidade de vida dessa população e em

inúmeros benefícios para as empresas.

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APÊNDICE A - SÍNTESE DA ANÁLISE DE QUALIDADE DOS ARTIGOS CHECKLIST FOR MEASURING STUDY QUALITY (Downs e Black, 1998)

01

02

03

05

06

07

09

10

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12

16

17

18

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21

22

25

26

Sutherland e Copper

Hellesoy, Gronhaug

e Kvitastein

Wong et al.

Chen, Wong e

Yu

Ljosa e Lau

Ljosa, Tyssen e

Lau

Menezes et al

Silva Jr e Ferreira

Oenning, Carvalho e

Lima

LEGENDA: S= SIM N= NÃO P= PARCIALMENTE ?= INCAPAZ DE DETERMINAR

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ANEXO A - VERSÃO COMPLETA DO “CHECKLIST FOR MEASURI NG STUDY QUALITY”

(Downs e Black, 1998) 1. Os objetivos do estudo estão claramente descritos? Sim = 1 Não = 0 2. Os resultados principais a serem medidos estão claramente descritos em Material e Métodos? Se os resultados principais forem mencionados pela primeira vez em Resultados, a resposta deve ser não. Sim = 1 Não = 0 3. As características dos pacientes incluídos no estudo estão claramente descritas? Em estudos de coorte e ensaios clínicos, critérios de inclusão/exclusão devem ser informados. Em estudos de caso-controle, a definição de casos e a fonte dos controles devem ser informadas. Sim = 1 Não = 0 4. As intervenções de interesse estão claramente descritas? Tratamento e placebo devem ser comparados e claramente descritos. Sim = 1 Não = 0 5. A distribuição dos principais fatores confundidores em cada grupo de sujeitos está claramente descrita? Uma lista dos principais confundidores é fornecida. Sim = 2 Parcialmente = 1 Não = 0 6. Os principais achados do estudo estão claramente descritos? Dados de desfecho para os principais achados devem ser fornecidos para que o leitor possa conferir os principais resultados e conclusões. Sim = 1 Não = 0 7. O estudo fornece estimativas de variabilidade randômica nos dados para os resultados principais? Em dados de distribuição não normal a variação interquartil dos resultados deve ser relatada. Em dados de distribuição normal o erro padrão, o desvio padrão ou o intervalo de confiança devem ser reportados. Se a distribuição dos dados não é descrita, deve-se assumir que a estimativa usada foi apropriada e a pergunta deve ser respondida como sim. Sim = 1 Não = 0 8. Todos os eventos importantes adversos que possam ser uma consequência da intervenção foram relatados?

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Deverá ser respondido sim caso o estudo demonstre que houve tentativa de medir eventos adversos. (Uma lista de eventos adversos deve ser provida). Sim = 1 Não = 0 9. As características dos pacientes que perderam o acompanhamento foram descritas? A resposta deve ser sim quando não há perdas ou quando as perdas foram tão pequenas que sua inclusão não afetaria o resultado final. A resposta deve ser não se o estudo não reporta o número de pacientes que perderam acompanhamento. Sim = 1 Não = 0 10. Os valores reais de probabilidade foram reportados para os resultados principais? Por exemplo, 0,035 ao invés de p < 0,05, a não ser quando os valores de probabilidade são inferiores a 0,00. Sim = 1 Não = 0 11. Os sujeitos da pesquisa eram representativos de toda a população de onde foram recrutados? O estudo deve identificar a população de origem dos pacientes e descrever como foram selecionados. Pacientes serão representativos se: consistirem toda a população fonte, procederem de amostra não selecionada de pacientes consecutivos, ou de amostragem por sorteio. Amostragem por sorteio só é possível quando existe uma lista de todos os membros da população relevante para o estudo. Quando um estudo não reporta a proporção da população fonte da qual os pacientes provém, a questão deve ser respondida como incapaz de determinar. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 12. Os indivíduos que estavam dispostos a participar representavam toda a população a partir do qual eles foram recrutados? A proporção dos entrevistados que concordaram deve ser indicada. Validação que o amostra foi representativa deverá incluir demonstração que a distribuição dos principais fatores de confusão foi a mesma na amostra do estudo e da população fonte. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 13. Os funcionários, locais e instalações onde os pacientes foram tratados, representam o tratamento que a maioria dos pacientes recebe? Para a questão ser respondida sim o estudo deve demonstrar que a intervenção representa a população fonte. A questão deve ser respondida não se, por exemplo, a intervenção foi realizada em um centro especialista que não representa os hospitais onde a maioria da população tem acesso. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0

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14. Foi feita alguma tentativa de “cegar” os sujeitos estudados para a intervenção que elas receberam? Para estudos que os pacientes não teriam a possibilidade de descobrir a intervenção que eles receberam, a pergunta deverá ser respondida sim. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 15. Foi feita alguma tentativa de “cegar” as medições dos principais resultados da intervenção? Para estudos nos quais os resultados medidos estão claramente descritos, a pergunta deve ser respondida sim. Para estudos que referenciam outros trabalhos ou que demonstre que o resultado é preciso, a questão deve ser respondida sim. 16. Caso algum dos resultados do estudo tenha sido baseado em “data dredging”, houve descrição clara no texto desta situação? Qualquer análise que não tenha sido planejada no projeto do estudo deve ser claramente indicada. Se nenhuma análise de subgrupo retrospectiva não planejada foi reportada, então responda sim. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 17. Em ensaios clínicos e coortes, a análise foi ajustada para diferentes tempos de seguimento ou, em estudos de caso-controle, o período de intervenção e desfecho foi o mesmo para casos e controles? Quando o seguimento foi o mesmo para todos os sujeitos do estudo, a resposta deve ser sim. Se diferenças no tempo de seguimento foram ajustadas por, por exemplo, análise de sobrevida, a resposta deve ser sim. Estudos onde as diferenças no tempo de acompanhamento foram ignoradas, a resposta deve ser não. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 18. Os testes estatísticos usados foram apropriados? As técnicas estatísticas utilizadas devem ser apropriadas para os dados. Por exemplo, métodos não-paramétricos devem ser usados para amostras pequenas. Quando pouca análise estatística foi feita, mas não há evidência de viés, a questão deve ser respondida sim. Se a distribuição dos dados (normal ou não) não foi descrita, assume-se que as técnicas estatísticas foram apropriadas e a resposta deve ser sim. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 19 A conformidade com as intervenções foi confiável? Onde não haja conformidade com o tratamento aplicado ou onde haja contaminação de algum grupo, a questão deve ser respondida não. Para estudos que o efeito de alguma classificação errônea for improvável, a questão deve ser respondida sim. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0

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20. As medidas dos principais desfechos têm acurácia (são válidas e confiáveis)? Para estudos onde as medidas dos desfechos são claramente descritas, a resposta deve ser sim. Para estudos que se referem a outro trabalho ou que demonstram que as medidas dos desfechos são acuradas, a resposta deve ser sim. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 21. Os pacientes de diferentes grupos de intervenção (em ensaios clínicos e coortes) ou os casos e controles (em estudos de caso-controle) foram recrutados a partir da mesma população? Por exemplo, pacientes para todos os grupos de comparação devem ser selecionados do mesmo hospital. A questão deve ser respondida como incapaz de determinar em coortes e caso controle onde não há informação sobre a fonte dos pacientes incluídos no estudo. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 22. Os pacientes de diferentes grupos de intervenção (em ensaios clínicos e coortes) ou os casos e controles (em estudos de caso-controle) foram recrutados no mesmo período de tempo? Para estudos que não descrevem o período de tempo em que os pacientes foram recrutados, a resposta deve ser incapaz de determinar. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 23. Os sujeitos estudados foram randomizados para grupos de intervenção? Estudos que determinam que sujeitos foram randomizados devem ser respondidos sim, a não ser que o método de randomização não garantam a alocação randômica. Por exemplo, alocação alternada seria uma resposta “não” visto que é um método previsível. 24. A intervenção oculta foi oculta dos pacientes e do staff de serviço de saúde até que o recrutamento estivesse completo e irrevogável? Todos os estudos não randômicos devem ser respondido não. Se a intervenção foi oculta para os pacientes e não o staff deverá ser respondido não. Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 25. Houve ajuste adequado para fatores de confusão na análise da qual os principais achados foram retirados? Esta pergunta deve ser respondida não para ensaios clínicos se: as conclusões principais do estudo foram baseadas em análise de tratamento ao invés de intenção de tratar; a distribuição dos confundidores conhecidos nos diferentes grupos de tratamento não foi descrita; ou a distribuição de confundidores conhecidos diferiu entre os grupos de tratamento, mas não foi levado em consideração na análise. Em estudos não randomizados, se o efeito dos principais confundidores não foi investigado ou fatores de confusão foram demonstrados, mas não houve ajuste na análise final, a resposta deve ser não.

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Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 26. As perdas dos pacientes em acompanhamento foram levadas em conta? Se o número de pacientes perdidos para follow-up não foi relatado, a questão deve ser respondida como incapaz de determinar. Se a proporção de perdas para follow-up foi muito pequena para afetar as principais conclusões, a questão deve ser respondida que sim. (Às vezes os estudos relatam que houve perda, mas não incluem o ajuste para as perdas nas análises estatísticas). Sim = 1 Não = 0 Incapaz de determinar = 0 27. O estudo teve força suficiente para detectar um efeito clínico importante onde o valor da probabilidade para uma diferença devido ao acaso seja menor que 5%? Tamanho das amostras foi calculado para detectar uma diferença de x% e y%.

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ANEXO B - VERSÃO COMPLETA DO STATEMENT FOR REPORTIN G SYSTEMATIC REVIEWS AND META-ANALYSES OF STUDIES - PRISMA

(Liberati et al, 2009)

1. Identifique o artigo como uma revisão sistemática, meta-analise, ou ambos. 2. Apresente um sumário estruturado incluindo, se aplicável: referencial teórico; objetivos;

fonte de dados; critério de elegibilidade, participantes e intervenções; avaliação do estudo e síntese dos métodos; resultados; limitações; conclusões e implicações dos achados principais; numero de registro da revisão sistemática.

3. Descreva a justificativa da revisão no contexto daquilo que já é conhecido. 4. Apresente uma afirmação explícita sobre as questões abordadas com referência a

participantes, intervenções, comparações, resultados e desenho de estudo. 5. Indique se existe um protocolo da revisão, se e onde pode ser acessado. 6. Especifique características do estudo e relate características usadas como critérios de

elegibilidade, apresentando justificativa. 7. Descreva todas as fontes de informação na busca e data da última busca. 8. Apresente a estratégia completa de busca eletrônica para pelo menos uma base de

dados. 9. Apresente o processo de seleção dos estudos. 10. Descreva o método de extração de dados dos artigos e todos os processos para

obtenção e confirmação de dados dos pesquisadores. 11. Liste e defina todas as variáveis obtidas dos dados. 12. Descreva os métodos usados para avaliar risco de vieses em cada estudo e como esta

informação foi usada na análise dos dados. 13. Apresente as principais medidas de sumarização dos resultados. 14. Descreva os métodos de manipulação dos dados e combinação de resultados dos

estudos, se realizados para cada meta-análise. 15. Especifique qualquer avaliação do risco de vieses que podem influenciar a evidência

cumulativa. 16. Descreva métodos de analise adicional (e.x. analise de sensibilidade ou analise de

subgrupos, meta-regressão), se feito, indicando quais foram pré-especificados. 17. Apresente números dos estudos selecionados, avaliados para elegibilidade e incluídos

na revisão, razoes para exclusão em cada estágio, idealmente por meio de diagrama. 18. Para cada estudo, apresente características para extração dos dados. 19. Apresente dados sobre o risco de viés em cada estudo e, se disponível, qualquer

avaliação em resultados (item 12). 20. Para todos os resultados considerados (benefícios e riscos), apresente para cada

estudo: a) sumario simples de dados para cada grupo de intervenção e b) efeitos estimados e intervalos de confiança, idealmente por meio de gráficos.

21. Apresente resultados para cada meta-analise feita, incluindo intervalos de confiança e medidas de consistência.

22. Apresente resultados de qualquer avaliação de risco de viés através de estudos (item 15).

23. Apresente resultados de analises adicionais, se feitas (e.x. analise de sensibilidade ou subgrupos, meta-regressão (item 16).

24. Sumarize os resultados principais incluindo a força de evidência para cada resultado; considere sua relevância para grupos chave

25. Discuta limitações no nível do estudo e dos resultados (e.x. risco de viés) e no nível da revisão.

26. Apresente a interpretação geral dos resultados no contexto de outras evidências e implicações para futuras pesquisas.

27. Descreva fontes de financiamento para a revisão sistemática e outros suporte, papel dos financiadores na revisão sistemática.