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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA RESTRIÇÃO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS AO CRESCIMENTO: Um modelo multissetorial aberto ANA CRISTINA REIF DE PAULA matrícula n° 101602571 ORIENTADOR: Prof. Dr. Mario Luiz Possas RIO DE JANEIRO 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO … · Sua argumentação contrapunha-se à teoria tradicional do comércio internacional que, baseada no princípio das vantagens

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

RESTRIÇÃO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS AO CRESCIMENTO: Um modelo multissetorial aberto

ANA CRISTINA REIF DE PAULA matrícula n° 101602571

ORIENTADOR: Prof. Dr. Mario Luiz Possas

RIO DE JANEIRO 2006

ANA CRISTINA REIF DE PAULA

RESTRIÇÃO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS AO CRESCIMENTO: Um modelo multissetorial aberto

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Economia.

Orientador:

Prof. Dr. Mario Luiz Possas

Rio de Janeiro 2006

ANA CRISTINA REIF DE PAULA

RESTRIÇÃO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS AO CRESCIMENTO: Um modelo multissetorial aberto

Rio de Janeiro, de de .

_______________________________________

Presidente, Prof. Dr. Mario Luiz Possas (IE/UFRJ)

_______________________________________

Prof. Dr. Antonio Luis Licha (IE/UFRJ)

_______________________________________

Prof. Dr. Franklin Serrano (IE/UFRJ)

_______________________________________

Prof. Dr. Antonio Carlos Macedo e Silva (IE/UNICAMP)

_______________________________________

Prof. Dr. Gilberto Tadeu Lima (FEA/USP)

AGRADECIMENTOS

À minha família: meu pai, minha mãe, minha avó e meus irmãos, agradeço o enorme

apoio que me foi dado ao longo de todos esses anos de estudo, o carinho de sempre e a

atenção especial nos momentos mais difíceis, a força para eu continuar buscando aquilo que

para mim era tão importante e a compreensão por minha ausência nos momentos de maior

dedicação à tese.

Ao longo deste caminho, três professores em especial marcaram minha formação.

Franklin Serrano, meu professor desde os primeiros períodos da faculdade, foi quem me

apresentou às questões da economia que são até hoje meu objeto de interesse, incentivou meu

envolvimento com a pesquisa e com a visão crítica da heterodoxia. Agradeço-o por toda a sua

enorme colaboração neste meu percurso.

Sobre desenvolvimento e economia da América Latina, tive a oportunidade de

aprender muito com o professor Carlos Medeiros. Sou grata por todas as tardes

agradabilíssimas que passamos conversando em meio a trabalho, estudo ou simples

discussões com as quais ganhei tanto conhecimento, principalmente através da exposição de

suas análises e de seu ponto de vista sobre teorias e fatos históricos e presentes.

Agradeço, em especial, ao meu orientador, Mario Luiz Possas, que vem me

acompanhando desde o início do doutorado. Sua aula de Macroeconomia na graduação, que é

até hoje pilar fundamental do ensino da economia heterodoxa, propiciou-me o contato com as

idéias daqueles autores que vieram a ser minhas referências teóricas. Assistindo suas aulas no

mestrado e doutorado tive a chance de aprofundar meu conhecimento e definir a linha de

pesquisa para o desenvolvimento de minha tese. Expresso minha gratidão por tudo que pude

aprender com meu orientador, por sua disposição para discutir todas as questões que se

mostraram necessárias, por sua prontidão em analisar e rapidamente apresentar uma resposta

sobre cada etapa concluída do trabalho e por me ajudar a acreditar que eu seria capaz de

alcançar o meu objetivo.

Agradeço a todos os funcionários do Instituto de Economia da UFRJ que viabilizaram

meus anos de estudo de graduação, mestrado e doutorado nesta faculdade. Agradeço à Anna

Elizabeth, em particular, por sua atenção nas épocas de matrícula, por sua paciência com as

repetidas perguntas sobre as notas e os prazos, além de estar sempre disposta a ajudar em

outros problemas que porventura aparecessem. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro prestado, que viabilizou anos de

dedicação exclusiva ao estudo, extremamente importantes para a realização deste trabalho.

Agradeço aos queridos amigos de “pizzada”: Maria Malta, Rodrigo Pedrosa, Pedro

Maranhão, Pati Moura, Maurício Metri, Esther e Clarice, por nossos divertidos, polêmicos,

alegres e construtivos encontros. Agradeço à Esther, com quem tive a oportunidade de

trabalhar meses a fio no aprimoramento do nosso instrumental, e ao Arthur, companheiros do

Grupo de Pesquisa sobre Dinâmica Econômica Evolucionária, cujas contribuições foram o

ponto de partida para este trabalho. Agradeço à Clarice, amiga com quem pude partilhar todos

os sentimentos de alegria, tristeza, conquista, frustração, luta, cansaço e recompensa

envolvidos neste árduo trajeto que seguimos com grande cumplicidade. Agradeço, finalmente,

às minhas amigas da graduação e à querida amiga de infância Lucille, que sempre estiveram

ao meu lado, acreditando e torcendo pelo meu sucesso.

Este é um caminho que concluo com muita alegria e com a certeza de que é apenas o

início de outra fase, na qual espero poder estar contribuindo academicamente com todos

aqueles que tanto me ajudaram e ensinaram, e retribuindo e cultivando o carinho de todos os

amigos.

“Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o desejo

imenso de amor, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da

humanidade. Essas paixões, como os fortes ventos, levaram-me de um lado para outro, em

caminhos caprichosos, para além de um profundo oceano de angústias, chegando à beira do

verdadeiro desespero.

Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase – êxtase tão grande que sacrificaria o resto

de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o, também, porque abranda a

solidão – aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observa, da margem do

mundo, o insondável e frio abismo sem vida. Procurei-o, finalmente, porque na união do

amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram.

Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi o que

encontrei.

Com igual paixão busquei o conhecimento. Desejei compreender os corações dos

homens. Desejei saber por que as estrelas brilham. E tentei apreender a força pitagórica pela

qual o número se mantém acima do fluxo. Um pouco disso, não muito, encontrei.

Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos caminhos do

paraíso. Mas a compaixão sempre me trouxe de volta à Terra. Ecos de gritos de dor

reverberam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos

desprotegidos – odiosa carga para seus filhos – e o mundo inteiro de solidão, pobreza e dor

transformam em arremedo o que a vida humana poderia ser. Anseio ardente de aliviar o mal,

mas não posso, e também sofro.

Isso foi minha vida. Achei-a digna de ser vivida e vivê-la-ia de novo com a maior

alegria se oportunidade me fosse oferecida.”

Bertrand Russel

Resumo Este trabalho estuda a questão da restrição estrutural do balanço de pagamentos ao crescimento continuado dos países em desenvolvimento. Apoiado nos autores Keynes, Kalecki, Schumpeter e em seus seguidores, são apresentados os fundamentos teóricos que permitem explicar a dinâmica de crescimento e desenvolvimento a partir do princípio da demanda efetiva e das mudanças na estrutura produtiva geradas pelo processo de concorrência. São analisadas certas condições específicas dos países em desenvolvimento, que, por características estruturais, tendem a produzir desequilíbrios na balança comercial, compensado pela conta de capitais; e como estes resultados influenciam sua dinâmica. O objetivo desta tese, partindo do modelo multissetorial apresentado no artigo Possas, Dweck e Reif (2004), é detalhar os blocos do setor externo, do setor financeiro e de políticas econômicas de forma a construir um instrumental que possa ser utilizado no estudo das trajetórias de uma economia aberta. Abstract This thesis studies the structural constraint of the balance of payments to the continued growth of developing countries. Based on Keynes, Kalecki, Schumpeter and their followers, herein are presented theoretical foundations that allows one to explain the dynamics of growth and development supported by the principle of effective demand and the changes in the productive structure generated by the competition process. Some specific conditions of developing countries are analyzed which, due to structural characteristics, tend to lead to a balance of trade deficits, compensated by capital account inflows; and how these results influence their dynamics. The purpose of this thesis, starting from the multisectoral model presented in Possas, Dweck and Reif (2004), is to detail the blocks concerning the external sector, the financial sector and economic policies in order to develop an analytical tool that can be used in the study of the trajectories of an open economy.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................9

1. Fundamentos Teóricos para Análise do Crescimento e do Desenvolvimento....................17

1.1 Pressupostos ........................................................................................................................17

1.2 Keynes e Kalecki: Demanda Efetiva, Ciclo e Tendência ....................................................18

1.2.1 Teoria da produção e o princípio da demanda efetiva..................................................19

1.2.1.1 Expectativas de curto prazo...................................................................................21

1.2.2 Componentes da demanda agregada ............................................................................22

1.2.2.1 Investimento - Teoria da aplicação de capital de Keynes .....................................22

1.2.2.2 Consumo e o Multiplicador do Investimento ........................................................28

1.2.3 Análise de algumas variáveis relevantes e controversas ..............................................30

1.2.3.1 Preço e distribuição de renda.................................................................................30

1.2.3.2 Poupança................................................................................................................32

1.2.3.3 Nível de emprego ..................................................................................................35

1.2.4 Acelerador - Ciclo e tendência .....................................................................................37

1.2.4.1 A função investimento de Kalecki ........................................................................37

1.2.4.2 Ciclo e Tendência ..................................................................................................40

1.3 Tendência, desenvolvimento e inovação .............................................................................42

1.3.1 Schumpeter – concorrência e inovação ........................................................................43

1.3.2 Neo-Schumpeterianos – enfoque evolucionário...........................................................45

1.3.2.1 Estratégia competitiva sob concorrência ...............................................................46

1.3.2.2 Seleção no mercado...............................................................................................50

1.3.2.3 Trajetória da indústria – interação estrutura e estratégia.......................................52

1.3.2.4 Trajetória tecnológica – demand-pull vs technology-push....................................53

1.3.3 Concorrência e Competitividade ..................................................................................55

2. Restrição de Balanço de Pagamentos e Crescimento Limitado ..........................................56

2.1 Balanço de pagamentos e Restrição Externa......................................................................57

2.1.1 Déficit na Balança Comercial e as condições estruturais .............................................57

2.1.1.1 Necessidade de Industrialização............................................................................58

2.1.1.2 Necessidade de Modernização ..............................................................................62

2.1.2 Compensação pela conta de capitais ............................................................................67

2.1.2.1 Nota sobre o Investimento Direto Estrangeiro ......................................................69

2.1.2.2 Vulnerabilidade externa financeira........................................................................71

2.2 Trajetória stop-and-go ........................................................................................................73

2.2.1 Os países em desenvolvimento e a globalização..........................................................74

2.2.2 Transmissão dos desequilíbrios externos ao crescimento ............................................77

2.2.3 Perda de autonomia sobre a política econômica...........................................................80

2.3 Restrição estrutural de balanço de pagamentos e o círculo vicioso...................................81

2.3.1 A restrição externa inserida em um círculo vicioso .....................................................81

2.3.2 Políticas de estímulo e ameaça .....................................................................................84

3. Um Modelo Multissetorial Aberto .........................................................................................88

3.1 O modelo original e as alterações propostas......................................................................88

3.2 O modelo .............................................................................................................................93

3.2.1 Produção programada...................................................................................................93

3.2.2 Demanda por bens intermediários ................................................................................94

3.2.3 Demanda por bens de consumo....................................................................................97

3.2.4 Investimento .................................................................................................................99

3.2.5 Produção efetiva, vendas observadas e demanda atendida.........................................102

3.2.6 Preço e Renda .............................................................................................................105

3.2.6.1 Restrição financeira dos setores ..........................................................................107

3.2.6.2 Renda das classes ................................................................................................112

3.2.7 Setor Público ..............................................................................................................115

3.2.8 Setor Externo ..............................................................................................................117

3.3. Simulações ........................................................................................................................126

3.3.1 Simulação com Crescimento ......................................................................................128

3.3.2 Simulação com Recessão ...........................................................................................133

CONCLUSÃO............................................................................................................................139

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................143

APÊNDICE ................................................................................................................................153

Crescimento.............................................................................................................................153

Recessão ..................................................................................................................................189

INTRODUÇÃO

O tema a ser tratado nesta tese é a questão da restrição de balanço de pagamentos ao

crescimento continuado. Este é um tema que vem ganhando progressiva importância no atual

quadro de globalização produtiva e financeira. Fluxos comerciais e financeiros internacionais

sempre estiveram presentes, porém a diferença nos dias de hoje é sua intensidade, que tem

afetado a dinâmica econômica dos países, inseridos em um conjunto crescentemente

integrado.

Raúl Prebisch, economista responsável por conduzir, no final da década de 1940, os

estudos realizados pela Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) sobre os

problemas do desenvolvimento latino-americano e propor possíveis soluções, foi um dos

primeiros a chamar atenção para o fato de que o comércio poderia não ser favorável a todas as

partes envolvidas1. Sua argumentação contrapunha-se à teoria tradicional do comércio

internacional que, baseada no princípio das vantagens comparativas, sustentava a divisão

internacional do trabalho como sendo a forma de se alcançar o maior incremento de renda

possível com distribuição igualitária. De acordo com esta teoria, os frutos do progresso

repartir-se-iam entre os países via baixa de preços ou pela alta equivalente das remunerações,

supondo preços flexíveis e perfeita mobilidade dos fatores. Prebisch mostrou, no entanto,

que, ao contrário do que se pregava, a renda dos países primário-exportadores, denominados

“países periféricos”, tendia progressivamente a divergir da renda dos países industrializados.

O motivo para esta divergência seria primordialmente estrutural. Os países

periféricos, com estrutura produtiva heterogênea e especializada, tinham elevado coeficiente e

elevada elasticidade-renda de importação de bens industrializados. Já os países centrais, em

função de suas estruturas produtivas mais homogêneas e diversificadas e da contínua

tendência à redução na demanda por bens primários, devido ao progresso técnico e à elevação

da renda, impunham baixo coeficiente e baixa elasticidade-renda às exportações da periferia.

Seriam estas disparidades que gerariam graves limitações aos países periféricos. A diferença

entre os coeficientes tornava imperativo que suas rendas fossem menores que as rendas dos

países industrializados para não incorrerem em déficit na balança comercial. E a diferença

entre as elasticidades obrigava-os a crescer a um ritmo mais lento para não terem seu déficit

continuamente acentuado. Assim, de acordo com esta argumentação, as assimetrias entre as

1 Prebisch (1949, 2000).

estruturas produtivas tornavam inevitável uma trajetória divergente da renda entre os países

periféricos e centrais. Na visão de Prebisch, estes problemas ainda eram agravados pela

tendência à deterioração dos termos de troca ao longo dos ciclos econômicos, em função do

elevado nível de desemprego na periferia e dos fortes sindicatos dos centros que forçavam a

acomodação da queda nos preços via queda nos salários dos países periféricos.

A solução, segundo Prebisch, seria a industrialização por substituição de importações,

para impulsionar a diversificação e homogeneização da estrutura produtiva na periferia. A

industrialização elevaria a produtividade da agricultura e das indústrias atrasadas, absorvendo

a mão-de-obra dispensada e promovendo aumento da produtividade geral e da renda nesses

países, além de elevar as exportações, tornando-as mais compatíveis com as importações.

Cabe observar que Prebisch já tratava da necessidade do capital estrangeiro para ajudar no

processo de industrialização, fazendo, no entanto, a ressalva sobre a importância de este ser

utilizado em atividades voltadas para elevar a produtividade e as exportações, e de ser captado

através de organismos públicos internacionais a custo baixo e prazo longo, para não

comprometer o próprio processo com os serviços da dívida.

A referência a Prebisch é feita por sua relevância para o tema, mas também porque o

cerne de suas preocupações continua válido, recolocadas, entretanto, em um novo contexto.

Prebisch via o problema da relação entre países primário-exportadores e países

industrializados apontando para a necessidade de industrialização. No presente, a questão da

restrição ao crescimento imposta por disparidades entre coeficientes e elasticidades-renda de

importação se recoloca, mas na relação entre países industrializados atrasados e países

industrializados desenvolvidos, mostrando-se necessário um processo de modernização dos

primeiros. A questão dos intensos fluxos de capitais, não presentes à sua época, muda os

meandros do problema, mas não a sua origem essencial ou conseqüência.

A visão atual do mainstream econômico explica a diferença nas taxas de crescimento

entre os países com base no lado da oferta, usando uma função de produção especificada de

forma que o crescimento do produto seja determinado pelo crescimento do capital, do

trabalho e da produtividade total dos fatores. As propostas de política que seguem desta

corrente são de austeridade fiscal e monetária e de abertura comercial e financeira. A

austeridade seria importante para conferir estabilidade à economia. Uma economia estável e

aberta atrairia o capital estrangeiro e ampliaria as margens para o comércio exterior,

aumentando a disponibilidade de capital, a pressão competitiva e o acesso a novas

tecnologias, logo, impulsionando o crescimento.

O momento econômico contemporâneo reflete em grande parte as proposições da

doutrina ortodoxa com o fenômeno da globalização. Porém, em muitos casos, os resultados

não se conformam aos esperados e a divergência entre o nível e as taxas de crescimento das

rendas dos países é progressiva. Dentro deste quadro, justifica-se a importância do estudo do

desenvolvimento e das restrições impostas pelo desequilíbrio do balanço de pagamentos com

base em fundamentos teóricos adequados, que permitam uma melhor compreensão da

dinâmica corrente. Neste sentido, seguindo a linha sugerida por Possas em seu artigo

“Antecedentes e perspectivas teóricas da economia do desenvolvimento numa abordagem

evolucionária” de 1999, as bases teóricas desta tese estarão pautadas centralmente nos

economistas Keynes, Kalecki e Schumpeter.

A partir desses autores é possível alcançar os determinantes da dinâmica envolvida nos

processos de crescimento e desenvolvimento. A diferença entre esses dois processos está no

fato de o primeiro ser um fenômeno caracteristicamente de curto prazo e vinculado a

variações na renda com estruturas dadas. As teorias de Keynes e Kalecki fornecem,

justamente, fundamentos para análise da trajetória de crescimento com estrutura estável a

partir do princípio da demanda efetiva. O segundo é um fenômeno de mais longo prazo,

associado a variações na renda (e não apenas nesta) respaldadas em alterações estruturais. É a

teoria de Schumpeter que fornece as bases para explicação das mudanças estruturais.

De acordo com este arcabouço teórico, como é a demanda que determina o nível de

renda e impulsiona o crescimento, então, supondo países operando abaixo da plena utilização

de sua capacidade produtiva, a questão da divergência nas taxas de crescimento está

relacionada à divergência no ritmo de elevação da demanda. O problema do desequilíbrio

estrutural do balanço de pagamentos é inserido neste contexto como sendo um fator crucial

que gera restrição sobre a demanda nos países atrasados. O vínculo com a questão do

desenvolvimento será feito apontando para o fato, observado por Thirlwall2, de os

coeficientes e as elasticidades de importação e exportação, cujas disparidades são uma causa

primeira do desequilíbrio externo, refletirem fundamentalmente características de oferta, em

função da estrutura produtiva existente.

O objetivo desta tese é construir um modelo macroeconômico multissetorial de

2 Thirlwall e McCombie (1994, p.356).

simulação que sirva como instrumento para analisar a dinâmica de uma economia aberta. O

ponto de partida é o modelo apresentado no artigo “Um modelo macrodinâmico

multissetorial” de 2004, desenvolvido por Possas, Dweck e Reif com base na versão original

elaborada por Possas em sua tese de doutorado (1983) e descrito de forma simplificada em

artigo de 1984. Serão incorporadas de forma mais detalhada as variáveis relativas ao setor

externo, ao setor financeiro e ao governo, com o intuito de retratar o funcionamento de uma

economia com características estruturais de um país em desenvolvimento e hipóteses

específicas de política econômica. Os fundamentos teóricos que suportam a determinação das

equações expressas no modelo e a dinâmica resultante serão apresentados nos dois primeiros

capítulos e, no terceiro, será feita a descrição do modelo e de algumas simulações.

No primeiro capítulo serão apresentadas as bases teóricas para o estudo do

crescimento e do desenvolvimento, pautadas em Keynes, Kalecki e Schumpeter, e nas

contribuições pós-keynesianas e neo-schumpeterianas, seguindo a linha proposta por Possas

(1999b).

A primeira parte do capítulo trata dos pressupostos empregados, buscando: i) mostrar

o conceito de racionalidade limitada (ou processual), proposto por Simon3, segundo o qual a

estratégia de comportamento dos agentes, coerente com um mundo de alta complexidade e

incerteza, é a adoção de rotinas; e ii) apresentar a noção de trajetória4 – conceito temporal e

dinâmico, que pode ou não englobar pontos de equilíbrio.

Na segunda parte deste capítulo, serão expostos os fundamentos teóricos do enfoque

adotado na tese, apoiados em Keynes5 e Kalecki6. Inicialmente apresenta-se a teoria da

produção de Keynes, segundo a qual o empresário busca realizar o retorno esperado de seus

ativos de capital por meio da atividade produtiva, subordinada às condições da demanda.

Mostra-se, também, a influência da demanda sobre as expectativas de curto prazo dos

empresários e a conseqüente determinação do nível de produção e emprego da economia.

Kalecki foi introduzido, neste ponto, enfatizando o princípio da demanda efetiva. Os

principais componentes da demanda explicados são o consumo e o investimento. A análise

do investimento centra-se na teoria de aplicação de capital de Keynes e na formação das

expectativas de longo prazo. No caso do consumo, os aspectos tratados foram seus

3 Simon (1979, 1987). 4 Nelson e Winter (1982, cap.1). 5 Keynes (1988)[1936]. 6 Kalecki (1983)[1954].

determinantes, a diferenciação entre o trabalhador e o capitalista (Kalecki) e o multiplicador

do investimento. Em seguida é reservado um espaço para discussão de algumas variáveis

controversas (distribuição de renda, poupança e nível de emprego), mas importantes no

contexto da discussão sobre crescimento e desenvolvimento.

Por último é feita uma descrição do “acelerador” de Kalecki, estruturado em sua

função investimento com defasagens, e de suas conclusões sobre os movimentos de ciclo e

tendência da dinâmica capitalista. Apesar de o próprio Kalecki não ter explorado

suficientemente a questão da tendência gerada pelos componentes autônomos da demanda, ele

fornece elementos para que seja explicada economicamente. A tendência estaria relacionada

com fatores de desenvolvimento, em especial com o investimento em inovação. Esta

colocação permite que seja feita a ponte para a teoria de Schumpeter em sua versão final7 e de

seus seguidores, segundo os quais a dinâmica no capitalismo é estabelecida pela concorrência,

que impulsiona um processo contínuo de geração e difusão de inovações – principal

instrumento de competição.

Esta parte tem início com uma exposição das idéias originais de Schumpeter sobre a

questão da concorrência e a importância das inovações na busca pelo lucro extraordinário e

por poder de mercado. Posteriormente, é apresentado o enfoque evolucionário desenvolvido

pelos neo-schumpeterianos. Em primeiro lugar, analisa-se a formulação das estratégias

inovativas das empresas e a interação entre estas estratégias e as políticas de preços. Em

segundo lugar, é descrito o processo de seleção tanto das empresas8, que se reflete em seu

market-share e lucro, como das inovações, que irão se difundir dentro da própria firma e entre

as firmas. Em terceiro lugar, é feita uma breve digressão sobre a relação entre as estratégias

das empresas e a estrutura de mercado9. Por último, trata-se da evolução das tecnologias, que

se desenrolam dentro de um paradigma tecnológico através de inovações incrementais10,

influenciadas pelas possibilidades tecnológicas presentes e por aspectos de demanda.

Este primeiro capítulo fornece base para considerações sobre o crescimento, induzido

pela demanda efetiva, a partir dos fundamentos keynesianos e kaleckianos, e sobre o

desenvolvimento, impulsionado pelas mudanças estruturais promovidas pelas inovações, a

partir dos fundamentos schumpeterianos, bem como sobre a interação destes dois processos,

7 Schumpeter (1943). 8 Nelson e Winter (1982, cap.1). 9 Dosi (1984, cap. 3.1 e 3.2). 10 Dosi (1982,1984, cap.2) e Rosenberg (1982, cap. 5 a 7).

podendo caracterizar um círculo virtuoso.

O segundo capítulo procura mostrar como a restrição de balanço de pagamentos pode

levar ao constrangimento da demanda e, portanto, do crescimento de uma economia em

desenvolvimento, antes da plena utilização de sua capacidade produtiva. A análise será

realizada utilizando-se a contribuição de autores de referência como o próprio Kalecki, além

de Prebisch, Harrod, Domar, Hirschman, Kregel e Thirlwall, entre outros.

Será discutido, inicialmente, o caráter estrutural da restrição de balanço de

pagamentos, conseqüência de disparidades entre os coeficientes e as elasticidades-renda de

importação e exportação dos países envolvidos nas transações, que, por sua vez, são

determinadas em função da estrutura produtiva existente. Neste contexto, é abordada a

proposição de Prebisch em defesa da industrialização voltada para substituição de

importações nos países periféricos com base em sua análise sobre a situação da América

Latina em meados do século XX. Em seguida, usando como referência McCombie e

Thirlwall, é apresentada a defesa da necessidade de modernização, nos tempos atuais, das

economias em desenvolvimento que contam com uma estrutura produtiva atrasada, como

forma de superar a tendência ao desequilíbrio do setor externo.

Ainda na primeira parte deste capítulo, será mostrado como uma situação de déficit em

transações correntes leva à necessidade de entrada de capitais para equilibrar o balanço de

pagamentos, o que acaba gerando uma posição de crescente vulnerabilidade externa. Neste

ponto, são destacadas algumas questões específicas, vantagens e desvantagens, do

investimento direto estrangeiro (IDE), que, em geral, é visto como importante instrumento de

dinâmica e modernização para os países estruturalmente atrasados. A vulnerabilidade externa

é tratada através da análise do comportamento dos passivos externos dos países com restrição

de balanço de pagamentos, sua influência sobre os riscos de insolvência e iliquidez e as

conseqüências em termos dos custos de captação no mercado financeiro internacional e da

ameaça de crise cambial.

Na segunda parte do capítulo, após uma avaliação das implicações da globalização

produtiva e financeira para os países em desenvolvimento, é apresentada a dinâmica de

evolução stop-and-go de um país com restrição estrutural de balanço de pagamentos e que

opera com regras de política econômica específicas. Ao longo desta dinâmica, são ativados

mecanismos de transmissão, via juros e câmbio, que acabam forçando a contração da taxa de

crescimento, além de gerar perda de autonomia da política econômica. Será argumentado que

esta trajetória está inserida em uma dinâmica mais abrangente, caracterizada por um círculo

vicioso, típico dos países subdesenvolvidos e coerente com o cenário de divergência entre as

economias mundiais. Por último, são apresentadas algumas alternativas de políticas

necessárias para poder romper o círculo vicioso.

No terceiro capítulo, então, é feita a descrição do modelo multissetorial, que

representa de maneira formal a discussão teórica apresentada nos dois primeiros capítulos.

Seguindo o princípio da demanda efetiva, a produção é definida com base nas vendas

previstas, em função do crescimento recente ou de encomendas, podendo ou não haver erro de

expectativa. A demanda por bens de consumo é determinada em função da renda das classes

e de suas propensões marginais a consumir, além de ser considerado um componente

autônomo de consumo. Quanto ao investimento, apesar de envolver expectativas de prazo

mais longo e maior incerteza, seguindo a linha de Keynes, este não está inserido, neste

modelo, dentro de uma teoria geral da aplicação de capital. O tratamento é mais próximo ao

dispensado por Kalecki, que define o investimento em capacidade produtiva como função da

demanda esperada, considerando a capacidade existente, o nível de utilização atual e uma

restrição financeira. O investimento autônomo é introduzido de maneira muito simplificada,

como investimento em modernização. Não inclui a lógica de geração endógena de inovação

através da análise da concorrência, uma vez que o nível mais desagregado do modelo são os

setores e não as firmas. A falta de competitividade e a estrutura produtiva atrasada estão

refletidos nas condições iniciais, em termos dos coeficientes de importação e exportação, que

são afetados pelos investimentos em modernização. Considera-se que a maioria dos setores

atua em mercados fix price, com preços formados por mark-up sobre custo direto unitário. A

renda é calculada pela soma dos lucros e salários.

Como contribuições específicas deste trabalho, são incluídas com maior detalhe

subconjuntos do modelo referentes ao setor externo, ao setor financeiro e às políticas

econômicas do governo, necessários para analisar a dinâmica de uma economia aberta, com

foco em um país em desenvolvimento com restrições estruturais. Neste sentido, os

determinantes da balança comercial recebem um tratamento mais pormenorizado; é incluída a

parte da conta de capitais, considerando-se a entrada de investimento direto estrangeiro,

capital de curto prazo e financiamento externo; conseqüentemente, também é incorporada a

conta de serviço de fatores. A parte do setor financeiro é introduzida ainda de maneira

incipiente, viabilizando apenas o gerenciamento das dívidas e aplicações financeiras dos

setores, das classes e do governo, o pagamento de juros sobre a dívida e o recebimento do

retorno sobre as aplicações. A interação com o setor financeiro internacional permite que os

setores e o governo captem recursos no exterior e que o capital estrangeiro possa ser aplicado

no sistema financeiro nacional. A disponibilidade de recursos e o grau de endividamento

geram conseqüências sobre as decisões de gastos de todos os agentes da economia. Com estes

aprimoramentos, é possível estudar o comportamento dinâmico da vulnerabilidade externa da

economia A partir da consideração das regras de política econômica – política monetária

(metas de inflação), fiscal (metas de superávit primário), cambial (flutuação suja), comercial

(livre comércio) e financeira (livre fluxo de capitais) –, são explicitadas uma série de

interações fundamentais condicionantes da dinâmica desta economia estilizada no modelo.

1. Fundamentos Teóricos para Análise do Crescimento e do Desenvolvimento

Este trabalho segue a linha teórica de três autores clássicos: Keynes, Kalecki,

Schumpeter e de alguns de seus seguidores, que buscam compreender as leis de movimento

da economia capitalista – intrinsecamente dinâmica. A apresentação de suas teorias apóia-se,

fundamentalmente, na interpretação proposta por Possas11.

Este capítulo terá início com uma breve apresentação dos pressupostos metodológicos

empregados; a segunda parte discorrerá sobre os fundamentos teóricos de Keynes e Kalecki; e

a última parte tratará da teoria de Schumpeter e dos neo-schumpeterianos.

1.1 Pressupostos

De acordo com os dois primeiros autores de referência, o sistema econômico

capitalista movimenta-se puxado pela demanda dos agentes, e em particular pelo investimento

produtivo, que busca a valorização da riqueza através da obtenção de lucro. Seu principal

instrumento, de acordo com o último autor, em contexto de concorrência, é a geração

permanente de inovações. Em tal ambiente econômico, há a presença de elevada

complexidade e incerteza – conceitos inter-relacionados e vinculados às questões da

instabilidade estrutural e da imprevisibilidade, produzidas pela própria dinâmica.

Em um mundo complexo e incerto, os agentes não conseguem apreender e processar

todas as informações disponíveis. Esta restrição está relacionada a sua capacidade

computacional para transformar informação em conhecimento que será usado para interpretar

a realidade. Como sugere Simon, os agentes têm racionalidade limitada: “The term ‘bounded

rationality’ is used to designate rational choice that takes in account the cognitive limitations

of the decision-maker – limitations of both knowledge and computational capacity”12.

O pressuposto de racionalidade limitada implica que os agentes adotam rotinas, regras

práticas de decisão, para definir seus procedimentos, uma vez que não se pode obter

objetivamente um conjunto de probabilidades para os eventos. Estas rotinas são pautadas em

conjecturas, expectativas elaboradas com base na experiência passada, e definem margens

para os resultados dentro das quais estes são considerados satisfatórios e, portanto, as rotinas

11 Ver Possas, M. (1987,1999b). 12 Simon (1987, p.15). Dosi e Egidi trataram de forma similar a questão das estratégias e decisões sob incerteza forte, diferenciando a falta de informação da falta de conhecimento e apontando, desta forma, para o cerne da questão cognitiva, que não se resolve com o simples passar do tempo. Ver Dosi e Egidi (1991).

são mantidas inalteradas. Fora destas margens, as rotinas serão revistas, isto é, existem regras

de saída. Faz parte da rotina dos agentes, neste ambiente, a busca por situações flexíveis de

forma a permitir a reversão com custo mínimo de uma posição comprometida, o que se

reflete, por exemplo, na preferência pela posse de ativos mais líquidos e pela diversificação.

A diversidade dos agentes quanto à experiência passada, percepção e avaliação gera

uma multiplicidade de estratégias. A trajetória resultante nos diversos âmbitos (agente, firma,

mercado e economia) é conseqüência direta da complexa interação entre suas decisões, o que

torna o sistema potencialmente instável. A adoção de rotinas, embora produza uma dinâmica

aparentemente estável, não torna a trajetória futura conhecida ou pré-determinada.

Este arcabouço teórico busca explicar o capitalismo a partir de sua dinâmica, e o

recorte de seu objeto, portanto, passa a ser feito de forma a descrever sua trajetória ao longo

do tempo e não seu estado “representativo”. A noção de equilíbrio – conceito atemporal e

estático, que caracteriza situação na qual não existe movimento endógeno no sistema – é tida

como dispensável para se estabelecer as relações de causalidade essenciais13. Se,

eventualmente, a trajetória passar por um ponto de equilíbrio, este será considerado apenas

como um dos pontos possíveis, casual, mas não, em princípio, como uma tendência. Segundo

a visão de concorrência schumpeteriana, o capitalismo é caracteristicamente dinâmico, auto-

transformador e se encontra em constante desenvolvimento, impulsionado pela concorrência,

que, através da inovação, “altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente

existente.”14

1.2 Keynes e Kalecki: Demanda Efetiva, Ciclo e Tendência

Nesta seção, serão apresentados, a partir das teorias de Keynes e Kalecki, o princípio da

demanda efetiva, os principais componentes da demanda agregada, consumo e investimento, e

a dinâmica de ciclo e tendência gerada com base no mecanismo multiplicador-acelerador.

Vale reiterar que a apresentação destas teorias está baseada não só nas obras originais, mas,

particularmente, na interpretação proposta por Possas (1987, 1999b) e seguida por Macedo e

Silva (1995).

13 Ver Vercelli (1991, cap. 2). 14 Nelson e Winter (1982, p.47).

1.2.1 Teoria da produção e o princípio da demanda efetiva

Numa economia mercantil, a produção, pautada na divisão social do trabalho, é

voltada para a troca. O objetivo é converter produto em dinheiro - equivalente geral e que

tem as propriedades de ser unidade de conta, meio de pagamento e reserva de valor. O

produtor tem controle sobre as decisões de produção, porém não tem controle sobre a

realização das vendas, que depende da demanda por parte dos agentes detentores do poder de

compra. “Há então uma assimetria entre demandante e ofertante, que resulta da assimetria

entre a riqueza em sua forma geral – dinheiro, poder de compra imediato – e a riqueza em

uma de suas inúmeras expressões particulares.”15 Esta digressão é suficiente para tornar claro

que, numa economia mercantil, a única decisão autônoma é a de gasto, e esta “primazia” do

gasto sobre a renda é precisamente a essência do princípio da demanda efetiva.

Numa economia capitalista, o objetivo da produção não é apenas a troca das

mercadorias pelo dinheiro, mas também a realização de um lucro sobre seu valor. E, devido a

sua característica mercantil e monetária, a valorização do capital através da atividade

produtiva está igualmente subordinada à demanda: serão as decisões de compra que

permitirão aos capitalistas realizarem suas vendas e conseqüentemente seus lucros.

Para definir a produção, os agentes formam expectativas de curto prazo sobre a

demanda por bens de consumo e investimento, ou seja, sobre as quantidades que poderão

vender de suas mercadorias e sobre o preço no mercado. Com base nessas expectativas, é

possível construir as curvas de demanda e receita esperadas. A função de oferta representa as

combinações de preço e quantidade que seriam suficientes para induzir o capitalista a realizar

sua produção, pois cobrem os custos totais da produção e embutem uma taxa de lucro de

longo prazo desejada sobre o capital investido16. A função de oferta em termos de receita é

representada pela curva de receita desejada. Então, tendo conhecimento das condições de

oferta e a partir da expectativa de demanda, o produtor determina seu ponto de operação na

interseção entre a curva de receita esperada e a curva de receita desejada17. Este é considerado

15 Macedo e Silva (1995, p.168). Também expresso por Possas, M. (1999a, p.21): “Logo, existe uma assimetria entre dinheiro e mercadoria, e portanto entre o gasto (compra) e a receita (venda), segundo a qual só o gasto, que pressupõe a posse de poder de compra universal – a finalidade de todo o processo de troca -, pode resultar de uma decisão efetivamente autônoma, na medida em que dispõe livremente desse poder de compra”. Ainda, ver Possas, M. (1987, p.51). 16 A valorização do capital através da atividade produtiva significa realizar a expectativa de rentabilidade que induziu o investimento ao longo de vários períodos de produção, por isso o empresário, buscando evitar a atração de novos concorrentes, não adota uma postura imediatista de maximização de lucro a curto prazo.Ver Keynes (1988, p.33)[1936] e Macedo e Silva (1999, p.99). 17 “Essas funções, numa interpretação livre (baseada em Possas, 1986), são o correspondente microeconômico das curvas de oferta e de demanda agregadas apresentadas por Keynes no capítulo 3 da Teoria Geral.” Macedo e Silva (1999, p.105).

por Keynes o ponto de demanda efetiva, que determina o nível de produção e emprego na

economia. Cabe ressaltar, contudo, que este é apenas o ponto de decisão da produção: a

demanda do mercado ainda é esperada.

Ao fim do período de produção, o empresário leva seus produtos ao mercado,

confrontando, então, suas expectativas à realidade. O formato da curva de oferta da empresa

no mercado é determinado de acordo com sua estratégia de ajuste frente às frustrações de

expectativas: variando preço, quantidade ou ambos. Quando há necessidade de ajustes,

caracteriza-se uma situação de desequilíbrio irreversível, que só não ocorreria no caso

específico em que a demanda do mercado cruzasse a curva de oferta no ponto de operação,

confirmando quantidades, preços e lucros esperados e desejados.

Se o mercado no qual o capitalista opera for “fix price”, então o preço será fixado ao

nível do preço esperado, a curva de oferta no mercado será horizontal, e o ajuste será feito via

variação no estoque de mercadorias. Para tanto, pressupõe-se a existência de estoques, que,

em última instância, determinarão o limite do quanto poderá ser vendido ao preço

estabelecido. Se o mercado for “flex price puro”, a quantidade vendida pelo capitalista será a

quantidade produzida, a curva de oferta de mercado será vertical, e ele ajustará seu preço

conforme a demanda. Finalmente, a empresa pode adotar uma estratégia de ajuste tanto via

variação no preço como na quantidade, se operar em mercados “flex price”. Neste caso, a

curva de oferta será positivamente inclinada. Os diferentes tipos de ajustamento que podem

ocorrer no período de mercado não têm efeitos sobre o nível de produção e emprego do

período corrente. Sobre o período seguinte, contudo, independentemente do tipo de ajuste

que tenha ocorrido, uma frustração negativa deverá afetar as expectativas dos capitalistas em

relação à demanda de forma a reduzir o nível de produção e emprego, e uma frustração

positiva terá o efeito oposto18.

O ponto de operação determina a quantidade que será produzida e, logo, os custos

totais da produção, por exemplo: salários, insumos, despesas de depreciação, impostos e

rendas de propriedade (aluguéis, juros e royalties). Partes destes custos representam

componentes da renda efetivamente apropriada por alguns agentes econômicos, como

assalariados, proprietários de edifícios alugados e credores. Porém, o lucro efetivo do

capitalista só é determinado com a realização das vendas no período de mercado. Esta análise

18 “Os resultados efetivamente realizados da fabricação e da venda da produção só terão influência sobre o emprego à medida que contribuam para modificar as expectativas subseqüentes.”. Keynes (1988, p.47)[1936].

geral do processo de produção e vendas ilustra o princípio da demanda efetiva, enunciado

acima, segundo o qual será a demanda, em última instância, que determinará os lucros e a

renda da economia, confirmando ou não as expectativas dos agentes.

Kalecki, contemporâneo a Keynes, também enunciou o princípio da demanda efetiva,

porém, a partir da equação da renda, igual à soma dos salários e lucros e determinada pelos

gastos em investimento e em consumo dos capitalistas e trabalhadores (no caso de uma

economia fechada e sem governo). Sua justificativa para o sentido de causalidade pautava-se

no fato de que se pode decidir o quanto gastar, mas não o quanto receber19.

1.2.1.1 Expectativas de curto prazo

As expectativas de curto prazo dizem respeito às decisões de produção: ao preço e à

quantidade aos quais o capitalista espera conseguir vender seus produtos no período de

mercado (futuro relativamente próximo). O capitalista desconhece o comportamento de seus

concorrentes e dos demandantes, não podendo, portanto, saber qual será a receita que obterá

de suas vendas. Estas expectativas, no entanto, podem ser rapidamente revistas em função

dos resultados realizados e, desta forma, em circunstâncias que se mantêm substancialmente

invariáveis entre períodos de produção, são guiadas pelo comportamento projetivo

convencional, tendendo a estar aproximadamente corretas. Apesar de o estado de confiança

relativo a estas expectativas ser “relativamente robusto”20, não se pode inferir que haja

equilíbrio, pois, devido à presença de incerteza, acontecerão, em geral, erros de previsão,

mesmo que normalmente pequenos21.

Neste contexto, a suposição de Keynes de que os capitalistas acertam suas expectativas

de curto prazo sobre a demanda parece uma simplificação razoável, utilizada para demonstrar

que pode haver equilíbrio abaixo do pleno emprego por falta de demanda e não por erros de

expectativas. A diferença, neste caso, é que a incerteza é abstraída. A ausência de incerteza,

contudo, não confere ao produtor nenhum grau de liberdade em relação à demanda: se a

demanda variar, o produtor terá que alterar seu ponto de operação, e conseqüentemente o

nível de emprego da economia, em acordo com a variação da demanda para continuar

19 Kalecki afirma: “Ora, é claro que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais num dado período que no procedente, mas não podem decidir ganhar mais. Portanto, são suas decisões quanto a investimento e consumo que determinam os lucros e não vice-versa”. Kalecki (1983, p.36)[1954]. 20 Ver Macedo e Silva (1999, p. 277). 21 “Entrepreneurs have to endeavour to forecast demand. They do not, as a rule, make wildly wrong forecasts of the equilibrium position. But, as the matter is very complex, they do not get it just right (…)”. Keynes (1973, p.182)[1937].

maximizando seus lucros (sujeito à restrição de maximização de longo prazo). O fato de

conhecer aproximadamente a demanda não permite ao produtor decidir o quanto irá vender,

permite apenas que ele evite incorrer em sérios erros de previsão. O princípio da demanda

efetiva continua válido – os gastos continuam determinando a renda22.

1.2.2 Componentes da demanda agregada

Como foi visto, em acordo com o princípio da demanda efetiva, os capitalistas tomam

suas decisões de produção e emprego, a cada período, com base nos custos, nas expectativas

de curto prazo sobre a demanda e de longo prazo sobre a valorização do capital; mas são os

gastos efetivos dos agentes econômicos em consumo e investimento, correspondendo ou não a

estas expectativas, que definem o nível de lucro e renda da economia. Vejamos agora, então,

como se determinam esses componentes essenciais da demanda efetiva23.

1.2.2.1 Investimento - Teoria da aplicação de capital de Keynes

De acordo com a teoria geral da aplicação de capital proposta por Keynes, da qual o

investimento em capacidade produtiva é um caso particular24, os capitalistas buscam compor

seu portfólio, em termos de ativos e passivos, seguindo a lógica de “preservação e ampliação

do estoque particular de riqueza”25 ao longo do tempo. Como a aplicação de capital envolve a

comparação entre vários ativos que serão valorizados no horizonte de longo prazo e em

condições de concorrência, os capitalistas tomam suas decisões sob incerteza, com base em

suas expectativas subjetivas sobre o retorno futuro dos diferentes ativos.

O retorno esperado de cada ativo pode ser determinado segundo sua capacidade de

prover certo fluxo monetário de receita, seu custo de manutenção em carteira e sua liquidez26.

O fluxo monetário, chamado de “quase-renda”, pode ser decorrente de lucros, juros,

dividendos, aluguéis, ou ganhos de capital, a depender do ativo em questão. Os custos de

manutenção estão associados ao custo de estoque e administração, à necessidade de proteger

22 “For the theory of effective demand is substantially the same if we assume that short-period expectations are always fulfilled”. Keynes (1973, p.181)[1937]. 23 Cabe notar que a separação entre consumo e investimento de Keynes é uma separação convencional. Segundo Possas e Baltar: “(O) que é específico do investimento e o distingue qualitativamente dos outros itens de gasto não é sua maior autonomia, mas o fato de, ao realizar-se, criar nova capacidade produtiva, ao invés de apenas ocupar a capacidade existente.” Possas e Baltar (1981, p.128). 24 Ver Keynes (1988, p.64-65)[1936]. Convém notar, contudo, a importante diferença existente entre o investimento produtivo e a “aplicação financeira”. Enquanto o primeiro, em termos gerais, cria capacidade produtiva e estimula a demanda e a produção, o segundo representa apenas uma transferência de riqueza, sem geração de renda. 25 Macedo e Silva (1999, p.45). 26 Os atributos dos ativos serão descritos com base em Macedo e Silva (1999).

os ativos dos vários tipos de depreciação, aos custos de seguros e aos custos de transação

(como sugere Minsky, também incluem os custos financeiros de manutenção do ativo em

carteira). Quanto à liquidez, esta será determinada em função da possibilidade de realização

do ativo “com maior certeza a curto prazo sem perdas”27, isto é, está relacionada à

flexibilidade por ele conferida à reestruturação do portfólio em ambiente de incerteza.

Keynes especifica quatro motivos pelos quais os agentes podem desejar reter ativos

líquidos em seu patrimônio. O motivo-transação resulta da necessidade dos agentes de

disporem de meios para realizar seus gastos correntes de aquisição de bens e serviços. O

motivo-precaução se refere à incerteza quanto a prazo, montante e natureza das despesas que

deverão ser realizadas, e sua influência depende do grau de confiança que os agentes têm em

suas expectativas. O motivo-especulação diz respeito às possibilidades alternativas de

aplicação de capital sem data especificada, ou seja, a gastos que o agente decide realizar desde

que certas expectativas se cumpram. E o motivo-financiamento está relacionado aos gastos

planejados e que envolvem elevados volumes de recursos, como os investimentos28.

Assim, a preferência pela liquidez, isto é, o quanto cada agente valoriza a posse de

ativos líquidos, será influenciada pelo nível de renda, pelo grau de incerteza e pela taxa de

juros corrente29. O prêmio de liquidez atribuído ao ativo será tanto maior quanto maiores

forem a flexibilidade conferida pelo ativo e a preferência pela liquidez do agente30. A quase-

renda e os custos de manutenção são fluxos monetários, enquanto o prêmio de liquidez é “um

fluxo implícito que não se materializa numa receita monetária, mas ao qual pode ser imputado

um valor em moeda”31, atribuído pelo agente em função da segurança que o ativo lhe rende.

Uma observação especial deve ser feita neste ponto a respeito do dinheiro. Considerando-o

como um ativo ideal que cumpre as funções de numerário, meio de pagamento e reserva de

valor32, e que, por conseguinte, é o mais líquido ativo da economia, segue que o dinheiro tem

27 Keynes apud Macedo e Silva (1999, p.238). Keynes chama atenção para o fato de que a liquidez não é intrínseca a um bem: é uma característica institucional que depende da criação deliberada de mercados secundários organizados, permanentes, com elevado grau de substituibilidade entre os ativos e grande número de compradores. Keynes (1988, p. 67 e 122)[1936]. 28 Os três primeiros motivos citados podem ser encontrados em Keynes (1988, p.122)[1936]. O motivo financiamento foi apresentado no artigo “Teorias Alternativas da Taxa de Juros” Literatura Econômica, 9(2), (1987b, p.152)[1937]: “O investimento planejado – isto é, o investimento ex-ante – pode precisar garantir sua ‘provisão financeira’ antes que ocorra o investimento, quer dizer, antes que a poupança correspondente se processe.” 29 Digressões sobre a preferência pela liquidez podem ser encontradas em Keynes (1988, p.120)[1936]. 30 O problema da diferença na duração da vida útil dos ativos para comparação entre suas rentabilidades é resolvido por Keynes supondo uma análise para um único horizonte de tempo e incorporando o comprometimento com ativos de diferentes durações no prêmio de liquidez. 31 Macedo e Silva (1999, p. 243). 32 As funções da moeda estão atreladas a algumas características institucionais contexto-específicas, como a presença de contratos que a utilizem como numerário, a presença de instrumentos que a tornem meio legal de pagamento das obrigações e

prêmio de liquidez máximo e quase-renda e custo de manutenção nulos. A taxa de liquidez

refletirá a importância atribuída pelo agente à posse de dinheiro e é medida pela razão entre

seu prêmio de liquidez e o valor em moeda a que este se refere.

Os agentes definirão subjetivamente o preço de demanda para cada ativo com base na

expectativa de retorno ao longo de sua vida útil, descontada pela taxa de retorno de uma

aplicação alternativa. Após ter selecionado um conjunto de ativos para serem analisados, o

capitalista avalia as diversas opções comparando os preços de demanda estabelecidos com os

preços de mercado. Esta mesma avaliação sobre as possíveis aplicações pode ser feita a partir

da comparação entre as eficiências marginais dos diferentes ativos, ou seja, as taxas de

desconto que tornam o retorno esperado de cada ativo ao longo de sua existência igual ao

preço de mercado.

No caso em que a taxa de liquidez é utilizada como taxa de desconto para o cálculo do

preço de demanda, então este preço representa o valor da aplicação em dinheiro que

possibilitaria rendimentos equivalentes aos prometidos pelo ativo. Por isso, se o preço de

demanda é maior do que o preço de mercado, o rendimento esperado do ativo é maior do que

o rendimento resultante da posse de moeda. No caso da comparação com a eficiência

marginal do capital, a taxa de liquidez estabelece o retorno mínimo que os agentes desejam

receber para abrir mão de seu dinheiro, abaixo do qual o agente preferirá reter moeda. Em

resumo, haverá vantagens em dispor do dinheiro para adquirir o ativo avaliado se seu preço de

demanda for maior do que seu preço de mercado ou, igualmente, se sua eficiência marginal

for maior do que a taxa de liquidez. Contudo, uma vez que a decisão de aplicação pressupõe

a comparação entre a rentabilidade de diversos ativos, estas são condições necessárias, mas

não suficientes.

Como já comentado, a rentabilidade efetiva das aplicações depende de eventos futuros

incertos e arriscados. O grau de confiança nas previsões de retorno, que exprime inversamente

o grau de incerteza, varia em função de uma série de fatores, como o período de realização do

ativo e a natureza dos mercados e dos fluxos monetários envolvidos. Por outro lado, o risco

atribuído ao ativo, relacionado ao “ônus decorrente de uma eventual frustração das

expectativas”33, é influenciado por fatores tais como o peso relativo do ativo no portfólio e a

a ausência de inflação que corrompa sua função de reserva de valor. Quanto aos contratos, estes são realizados, em uma economia atomizada, numa tentativa de se coordenar as atividades produtivas, buscando diminuir a incerteza e o risco envolvidos na decisão de produção. 33 Macedo e Silva (1999, p.257).

forma de financiamento da aplicação34. Portanto, o agente desconta o valor dos retornos

futuros do ativo também pelas taxas de risco e incerteza que lhe atribui, reduzindo seu preço

de demanda e sua eficiência marginal. Para compor seu portfólio, o agente seleciona um

conjunto de ativos cuja rentabilidade acha conveniente avaliar em função de questões como o

volume mínimo de aplicação requerido, as informações disponíveis, o custo de informações

adicionais, os mercados envolvidos e o período de realização, e então calcula seus preços de

demanda ou suas eficiências marginais.

Porém, devido ao princípio da rentabilidade esperada decrescente, o agente não

aplicará todo seu capital no ativo com maior eficiência marginal ou maior relação entre preço

de demanda e preço de mercado. Este princípio se deve principalmente à limitação imposta

pelo mercado ao crescimento da oferta e à falta de diversificação. No que diz respeito aos

ativos produtivos, o agente deverá esperar uma liquidez menor de unidades adicionais e

quase-rendas decrescentes em função do aumento de capacidade ociosa que surge quando a

capacidade produtiva cresce a taxas superiores às da demanda. No caso dos ativos

financeiros, que têm mercado secundário associado a juros e apreciação esperada, a posse de

uma quantidade excessiva em relação ao mercado conforma para o agente uma situação de

baixa liquidez, já que pode impor a ele a necessidade de venda paulatina para evitar grandes

perdas. Ainda, o peso crescente de um ativo na carteira, como visto, implica taxa de risco e

incerteza elevada (elevação esta acentuada se houver o emprego de recursos externos à

unidade)35. A relação entre a quantidade e a eficiência marginal do ativo em posse do agente é

retratada pela escala de eficiência marginal.

34 A contribuição e ênfase de Minsky estão na importância de se considerar os passivos que são criados em contrapartida aos ativos por influenciarem e restringirem as escolhas dos agentes, incluindo a questão do custo do financiamento e do risco crescente (tratada também por Kalecki). Em seu trabalho, Minsky redefine as variáveis que caracterizam os ativos, apresentadas originalmente por Keynes no capítulo 17 da “Teoria Geral”, mudando o centro da análise dos ativos individuais para o balanço: “Thus each firm has a balance sheet, a collection of assets and liabilities, which yields a cash flow, q, from operations and contract fulfillment and which entails a cash flow, c, owing to the liabilities the firm has outstanding. There is a subset of assets in the balance sheet which have a good secondary market, so that the firm can expect to dispose of them at a fairly firm price. Furthermore, these assets can be disposed of without seriously affecting the q from plant and equipment. An operating firm therefore has to speculate on q-c, and on the assets to be owned which are valued for their disposal properties, i.e., assets which yield implicit returns in the form of l. A firm can acquire additional assets, which yield q, by increasing its liabilities, thus raising c, and by decreasing its liquid assets, thus lowering l. It can also increase its l by increasing its c; firms and households often have debts and own liquid assets” Minsky (1975, p. 88). 35 Cabe ressaltar que os rendimentos dos ativos não são decrescentes por produtividade marginal física decrescente, mas por expectativa de escassez relativa decrescente no mercado e por elevação da taxa de risco e incerteza. Essa afirmação é confirmada por Keynes: “À medida que o capital se torna menos escasso o excedente de rendimento diminuirá sem que ele se torne por isso menos produtivo – pelo menos no sentido físico”. Keynes (1988, p.148)[1936]. Ou, nas palavras de Kalecki: “(...) poderemos supor que no início desse período as firmas tenham elevado seus planos de investimento a um ponto tal em que deixam de ser lucrativas, quer por motivos das limitações do mercado para os produtos da firma, quer devido ao risco crescente e à limitação do mercado de capitais”. Kalecki (1983, p.79)[1954].

“Se todas as aplicações existentes estivessem igualmente sujeitas ao princípio da

rentabilidade esperada decrescente, o piso da eficiência marginal do capital, para cada agente,

tenderia a zero (desde que o agente dispusesse de uma quantidade de capital suficientemente

grande)”36. O dinheiro, no entanto, não está sujeito a esse princípio, pois “possui um prêmio

de liquidez que, além de ser elevado comparativamente a seu custo de manutenção,

independe, por sua natureza (elasticidades de produção e substituição nulas), da quantidade

possuída pelo agente”37. Numa primeira aproximação, pode-se dizer, então, que, para cada

agente, a quantidade de cada um dos ativos mantidos em carteira será determinada de tal

forma que as eficiências marginais dos ativos se igualem entre si e à sua taxa de liquidez, piso

da eficiência marginal do capital38.

Numa proposição mais geral, as eficiências marginais dos ativos de cada agente se

igualam entre si e à taxa de juros da economia39. Para Keynes, a taxa de juros seria a

recompensa pela renúncia à liquidez, determinada pela oferta monetária, definida por parte

das autoridades responsáveis, e pela preferência pela liquidez dos agentes, que estabelece a

quantidade de moeda que as pessoas desejam reter em função de motivos tais como

precaução, especulação e transação40. Nesse contexto, é importante notar que a

interdependência entre os ativos, expressa na comparação entre os rendimentos esperados e os

preços, torna-os, até certo ponto, substituíveis; portanto, a preferência pela liquidez não

coincide com a demanda por moeda, que pode ser atendida por outros ativos líquidos. Assim,

dadas a oferta de moeda, as preferências pela liquidez e as expectativas de retorno, os agentes

compõem seus portfólios desejados e detonam processos de ajuste nos preços de oferta e

demanda dos diferentes ativos e de reavaliação dos portfólios, numa espécie de tatônnement,

que prossegue até que as eficiências marginais se igualam entre si e à taxa de juros41.

36 Macedo e Silva (1999, p. 264). 37 Macedo e Silva (1999, p. 264). 38 “A única razão, pois, pela qual um bem permite uma expectativa de render, durante sua existência, serviços com um valor agregado superior ao seu preço de oferta inicial deve-se ao fato de que é escasso; e continua sendo escasso pela concorrência da taxa de juros do dinheiro”. Keynes (1988, p.148)[1936]. 39 “A conclusão importante é que o fluxo de investimento se estende até que a eficiência marginal do capital caia ao nível da taxa de juros (...)”. Keynes (1988, p.130)[1936]. 40 “Desse modo, sendo a taxa de juros, a qualquer momento, a recompensa da renúncia à liquidez, é uma medida de relutância dos que possuem dinheiro alienar o seu direito de dispor do mesmo. A taxa de juros não é o ‘preço’ que equilibra a demanda de recursos para investir e a propensão de abster-se do consumo imediato. É o ‘preço’ mediante o qual o desejo de manter a riqueza em forma líquida se concilia com a quantidade de moeda disponível.”. Keynes (1988, p.120)[1936]. 41 “A demanda total de liquidez, frente a uma ‘dada’ disponibilidade (estoque) de dinheiro, determina a ‘taxa de juros’ através do ajuste simultâneo dos preços e quantidades dos diferentes ativos, financeiros e produtivos, que cada investidor pretende manter em sua carteira de aplicações de capital.”. Possas, M. (1987, p.139-140).

É o fato de a moeda ser um ativo concorrente com os demais que faz com que a

demanda possa não ser suficiente para justificar o pleno emprego. A riqueza da economia

pode estar na forma de ativos reprodutíveis, que geram empregos, e irreprodutíveis, que não

geram empregos. A moeda é o ativo irreprodutível mais importante, enquanto os bens de

capital são os principais ativos reprodutíveis. Quão maior a participação dos ativos

irreprodutíveis na composição geral do portfólio dos agentes, para um dado nível de renda,

menor será a demanda e o nível de emprego na economia. Conclui-se que “o estímulo à

produção depende do aumento da eficiência marginal de certo volume de capital

relativamente à taxa de juros”42.

11..22..22..11..11 EExxppeeccttaattiivvaass ddee lloonnggoo pprraazzoo

De acordo com a teoria de Keynes apresentada, as decisões de portfólio serão tomadas

pelos capitalistas com base em suas expectativas subjetivas de longo prazo sobre o retorno

futuro dos diferentes ativos considerados. Como coloca Keynes: “(o) fator das expectativas

correntes a longo prazo não pode, sequer aproximadamente, ser eliminado ou substituído

pelos resultados realizados”, pois se refere a um período de tempo no qual as mudanças se

tornam imprevisíveis – no longo prazo, as mudanças de curto termo se acumulam e aumenta a

possibilidade de rupturas mais significativas43. Ainda assim, é natural, num contexto de

relativa estabilidade, quando se acredita que a situação existente não deverá mudar

repentinamente nem de maneira radical, que os agentes formulem suas expectativas de longo

prazo seguindo padrão convencional44, com caráter projetivo e em acordo com a média do

mercado45. “A adoção de comportamentos de tipo projetivo impõe certa regularidade às

variáveis econômicas, uma vez que os resultados recentes passam a condicionar fortemente as

expectativas e as decisões – e, por conseguinte, essas decisões tendem a produzir resultados

semelhantes”46. Tal regularidade e o próprio desenvolvimento das bolsas de valores, que

permite converter ativos produtivos em ativos financeiros de maior liquidez, tornam as

42 Keynes (1988, p.105)[1936]. 43 Keynes (1988, p. 49)[1936]. 44 É importante notar que o padrão convencional de formação das expectativas não significa que haja consenso. 45 “É, portanto, razoável que nos deixemos guiar, em grande parte, pelos fatos que merecem nossa confiança, mesmo se sua relevância for menos decisiva para os resultados esperados do que outros fatos a respeito dos quais o nosso conhecimento é vago e limitado. Por essa razão, os fatos atuais desempenham um papel que, em certo sentido, podemos julgar desproporcional na formação de nossas expectativas a longo prazo sendo que o nosso método habitual consiste em considerar a situação atual e depois projetá-la no futuro, modificando-a apenas à medida que tenhamos razões mais ou menos definidas para esperarmos uma mudança”. Keynes (1988, p.108-9)[1936]. Ver também Keynes (1978b, p.171-2)[1937]. 46 Macedo e Silva (1999, p.273).

decisões, quando podem ser revistas entre períodos de investimento, relativamente seguras

para os capitalistas.

Assim, os agentes buscam construir suas expectativas de longo prazo sobre as

conjecturas mais prováveis e sobre as quais tenham maior confiança. Porém, o estado de

confiança tende a ser extremamente inconsistente, devido à complexidade dos fatores que

determinarão a rentabilidade do ativo durante seu período de realização (relacionados

principalmente aos custos, à demanda e à concorrência)47. A presença de incerteza torna

frágil a “teoria prática do futuro” – não é possível determinar as conseqüências futuras das

decisões tomadas no presente, nem mesmo probabilisticamente. Por conseguinte, nem

sempre as expectativas de longo prazo são formuladas com base nos resultados recentes e na

opinião média do mercado48. Esta instabilidade, no entanto, é apenas potencial, pois na

maioria das vezes as expectativas tendem a permanecer relativamente estáveis.

A frustração de expectativas, positiva ou negativa, é recorrente quando se trata do

longo prazo: os resultados, em geral, diferem dos resultados esperados. É neste sentido que

Keynes evoca a noção de animal spirits dos capitalistas, segundo a qual a decisão de investir

depende de um impulso subjetivo, pois, se dependesse de fatores puramente objetivos, não

seria tomada49.

1.2.2.2 Consumo e o Multiplicador do Investimento

O segundo componente mais importante da demanda agregada na economia é o

consumo. Para Keynes, seria possível estabelecer uma relação estável entre os gastos dos

agentes em consumo e sua renda. De acordo com uma lei psicológica fundamental apontada

pelo autor, as elevações da renda não seriam acompanhadas de elevações equivalentes dos

47 Cabe ressaltar que as expectativas de longo prazo aqui referidas são aquelas formuladas a respeito de um investimento produtivo. Quanto às expectativas dos “investidores profissionais e especuladores”, como denomina Keynes, que estão preocupados apenas com a composição dos ativos financeiros de seus portfólios, estas são formuladas de maneira diferente, buscando “prever mudanças de curto prazo com certa antecedência em relação ao público em geral”. Keynes (1988, p.112)[1936]. A presença destes agentes na bolsa de valores, como destaca Keynes, ao mesmo tempo que pode conferir certa instabilidade ao mercado, tem importante papel de estímulo ao investimento produtivo, pois, como já foi destacado, aumenta sua liquidez. 48 “Past experience in the case of investment do not safely indicate the direction of the future” Carvalho (1988, p.198). “Em períodos anormais em particular, quando a hipótese de uma continuação indefinida do estado atual dos negócios é menos plausível do que usualmente, mesmo que não existam motivos concretos para prever determinada mudança, o mercado estará sujeito a ondas de sentimentos otimistas ou pessimistas, que são pouco razoáveis e ainda assim legítimos na ausência de uma base sólida para cálculos satisfatórios”. Keynes (1988, p.112)[1936]. 49 “Se a natureza humana não sentisse a tentação de arriscar a sorte, nem de sentir a satisfação (excluindo-se o lucro) de construir uma fábrica, uma estrada de ferro, de explorar uma mina ou uma fazenda, provavelmente não haveria muitos investimentos como mero resultado de cálculos frios”. Keynes (1988, p.110)[1936].

gastos em consumo50; e a propensão marginal a consumir dos indivíduos seria tão mais baixa

quão mais elevado fosse seu nível de renda, pois, uma vez satisfeitas as necessidades básicas e

estabelecido um padrão de vida, os indivíduos tenderiam a adequar suas despesas em

consumo às variações na renda apenas parcialmente.

Keynes não está sugerindo, entretanto, que os agentes consomem parte de sua renda

corrente. Para Keynes, cada indivíduo, período após período, decide como alocar seu estoque

de riqueza, que pode ser aplicado ou consumido. O consumo é, portanto, efetivado através do

gasto de poder de compra e não de renda do período presente. Todavia, em condições de

estabilidade macroeconômica, quando as expectativas dos agentes quanto ao seu emprego, ao

seu salário e à trajetória dos preços dos ativos tendem a se manter estáveis, estes costumam

adotar comportamentos de rotina para tomar suas decisões entre aplicação e consumo a partir

de acréscimos de riqueza gerados pela renda dos últimos períodos. É desta relação estável

entre a renda e o consumo, num contexto no qual a renda não sofre alterações abruptas, que

segue a simplificação de Keynes de que o consumo é igual a uma fração da renda corrente. O

princípio da demanda efetiva, contudo, continua válido: não é a renda que está determinando

o consumo; a propensão marginal a consumir multiplicada pela renda corrente serve apenas

como uma aproximação para o valor do consumo no período.

Porém, devido ao fato de a propensão marginal a consumir ser menor do que a

unidade, apenas o consumo isolado não seria suficiente para justificar a produção – existiria

um gap entre o nível de produção e o dispêndio dos consumidores. O investimento, neste

sentido, cumpre importante papel por ser um gasto autônomo em relação à renda corrente e

adicional aos gastos em consumo, que permite justificar a produção51. Para Keynes, o

investimento seria a principal fonte de impulso da economia, e o consumo, seu principal

mecanismo de propagação. O investimento gera renda e a renda estimula o consumo, que,

por sua vez, gera nova renda e consumo. Assim, quão maior a propensão a consumir dos

agentes, maior o efeito do investimento sobre o nível de renda da economia via efeito

multiplicador52.

50 “Mas, no geral, a lei psicológica predominante parece ser que, quando aumenta a renda agregada, a despesa do consumo também aumentará, mas em menor grau”. Keynes (1978b, p.176)[1937]. 51 O investimento, no entanto, por gerar capacidade produtiva, só será realizado se houver expectativas de aumentos futuros dos gastos em consumo. “Cada vez que garantimos o equilíbrio de hoje aumentando o investimento, estamos agravando a dificuldade de assegurar o equilíbrio de amanhã”. Keynes (1988, p. 82-3)[1936]. 52 “(...) é pelo princípio geral do multiplicador que se deve explicar como as flutuações no montante do investimento, comparativamente pequenas em proporção à renda nacional, podem gerar alterações no emprego e na renda agregada de amplitude muito maior que elas próprias”. Keynes (1988, p.92)[1936].

Kalecki desenvolve uma formalização para as funções de consumo do capitalista e do

trabalhador, explicitando as diferentes influências das rendas defasadas enquanto estoque de

riqueza sobre cada classe e destacando a existência de uma parte autônoma dos gastos em

consumo, que contribui para cobrir o gap entre a produção e as vendas resultantes do

consumo induzido. O gasto dos trabalhadores seria mais fortemente condicionado pela renda

corrente do que o gasto dos capitalistas, pois se supõe que o trabalhador não poupa nem tem

acesso a crédito, sendo a renda do último período seu único poder de compra. O gasto dos

capitalistas, ao contrário, seria em parte induzido, igual a uma fração dos lucros obtidos em

algum momento no passado (retratando o tempo de decisão dos capitalistas, que não

consomem tudo que recebem), e em parte autônomo, realizado a partir do estoque de riqueza

disponível e do acesso a crédito.

Kalecki também aborda, através de seu esquema departamental53, o efeito

multiplicador, mostrando que uma elevação do investimento gera uma elevação ainda maior

na renda, devido a seus efeitos sobre os lucros e salários e, portanto, sobre o consumo dos

capitalistas e dos trabalhadores, que, por sua vez, geram nova elevação dos lucros e salários,

dando continuidade ao processo. A partir da análise de Kalecki, é possível evidenciar a

influência da distribuição sobre o resultado final do mecanismo de propagação do

investimento sobre a renda via consumo: tal resultado será tão maior quão maior for a

participação dos trabalhadores na renda, cuja propensão marginal a consumir é mais elevada.

1.2.3 Análise de algumas variáveis relevantes e controversas

Este espaço foi reservado à análise das variáveis preço, distribuição de renda,

poupança e nível de emprego devido a sua importância nas discussões relativas à dinâmica

capitalista de crescimento e desenvolvimento, procurando esclarecer suas propriedades e

influências sobre o funcionamento do sistema econômico.

1.2.3.1 Preço e distribuição de renda

Conforme explicação anterior, a distribuição de renda influencia a propensão marginal

a consumir da economia, e logo o resultado do efeito multiplicador. De acordo com Kalecki,

53 Kalecki reproduz a economia através de três setores verticalmente integrados que produzem, respectivamente, bens de investimento, bens de consumo capitalista e bens de consumo do trabalhador, e cujas rendas se distribuem entre lucro e salário. Ver Kalecki (1983, p.36-7)[1954].

a distribuição de renda é prescrita junto ao preço em função da capacidade de se fazerem valer

os mecanismos de apropriação.

Kalecki argumenta que o tipo de formação de preços que prevalece em cada mercado

depende, fundamentalmente, do poder de mercado das empresas presentes. Nos setores

primários, os mercados são, tipicamente, “flex price”, com preços influenciados pela

demanda. Nos setores industriais e comerciais, que têm elevada elasticidade de produção, os

mercados são “fix price” – o preço é uma variável estratégica, relativamente estável e definido

em função do poder de mercado das empresas a partir de um mark-up sobre os custos

variáveis unitários, com o objetivo de cobrir os custos diretos e indiretos e de gerar lucros54.

Kalecki supõe que esses últimos são os setores mais importantes da economia, onde as

empresas são price-makers e se coordenam55.

A participação dos salários na renda é determinada pela razão dos salários sobre a

soma dos salários aos lucros; e os lucros brutos (incluindo ordenados) são iguais ao resultado

do mark-up aplicado sobre os custos variáveis (salários e matéria-prima), menos estes custos.

Portanto, a participação dos salários na renda é tão maior quão menor o mark-up médio das

empresas e quão menor a participação das matérias-primas nos custos variáveis totais56.

Kalecki considera, em termos gerais, que o parâmetro distributivo não apresenta variações

relevantes em um contexto econômico relativamente estável57. Como o lucro realizado é

constatado apenas no período de mercado, a distribuição de renda efetiva só é determinada

simultaneamente ao lucro. A distribuição calculada com base no mark-up, entretanto, tende a

ser uma boa aproximação, uma vez que, como já foi visto, os capitalistas não costumam

cometer grandes erros de expectativa sobre suas decisões de produção. Ainda assim, uma

variação imprevista na demanda terá efeito direto, instantâneo e irreversível sobre o lucro, que

é residual, e, logo, sobre a distribuição. O empresário tem uma margem de lucro variável,

pois fixa o mark-up para o nível programado de produção.

Kalecki utiliza a discussão sobre as questões distributivas para argumentar que o efeito

de uma alteração no salário sobre o lucro dependerá não só de seu impacto sobre os custos, 54 Ver Kalecki (1983, cap.1)[1954]. 55 Importante observar, como ressaltam Possas e Baltar, que “o ponto de partida da teoria da distribuição de Kalecki é a construção de uma base microeconômica para essa teoria. (...) Dizemos base e não teoria microeconômica porque acreditamos que Kalecki não teve a pretensão de formular uma teoria microeconômica completa, limitando-se aos aspectos essenciais à determinação dos preços em condições de oligopólio, necessários para sustentar suas proposições relativas à distribuição e, por meio desta, à demanda efetiva e à análise dinâmica”. Possas e Baltar (1981, p.122). 56 É importante considerar também a composição industrial da economia, que tem influência sobre o mark-up e sobre a relação entre o custo da matéria-prima e dos salários. 57 Kalecki (1983, p. 23 e 30)[1954]. Ver, também, Macedo e Silva (1999, p.209-210).

como, crucialmente, de seu impacto sobre a demanda58. Usando seu esquema departamental,

é possível mostrar que, em caso de uma elevação generalizada dos salários, se os

trabalhadores gastarem tudo o que ganham, caso haja capacidade produtiva ociosa e sendo as

propensões a consumir dos capitalistas iguais em todos os setores, as perdas de lucro nos

setores de bens de investimento e de bens de consumo capitalista, geradas pela elevação dos

custos, se convertem em elevação de lucro no setor de bens salário. Conseqüentemente, o

lucro da economia não se altera, havendo apenas redistribuição a favor dos trabalhadores de

uma renda mais elevada, devido ao aumento do multiplicador. A elevação do consumo dos

trabalhadores, em função da elevação dos salários, poderia mesmo, decorrido o tempo

necessário, estimular o investimento, impulsionando o crescimento da economia. Se, no

entanto, o trabalhador tiver uma propensão marginal a consumir positiva menor do que a

unidade, a variação do lucro será negativa; mas, ainda assim, a renda da economia aumentará,

em função do efeito redistribuição sobre o multiplicador. Esta análise permite esclarecer que

um componente de renda (no caso, o salário) não pode influenciar diretamente outro

componente (o lucro) na mesma direção e magnitude – a influência é indireta e se concretiza

através dos gastos.

1.2.3.2 Poupança

O princípio da demanda efetiva está centrado no fato de que, num ato de compra e

venda, a única decisão autônoma é a de gasto. Em termos agregados, Keynes estabelece que a

renda é determinada pela soma dos gastos em consumo e investimento. A poupança é

definida como a diferença entre a renda disponível e o consumo, sendo, portanto, apenas

residual, “igual e determinada pelo investimento”59. É o investimento que estabelece, para

uma dada propensão marginal a consumir, os níveis de renda e de poupança da economia.

Em termos individuais, segue do fato anteriormente apresentado de que os agentes, em

condições de estabilidade macroeconômica, costumam adotar comportamentos de rotina para

tomarem suas decisões entre aplicar e consumir o acréscimo de riqueza gerado pela renda dos

períodos passados, que também existe uma relação estável entre a proporção que não é

consumida, poupança, e a renda corrente. É importante notar, contudo, que a decisão do

agente diz respeito apenas ao seu gasto em consumo. A poupança resultante dependerá da

renda realizada ao final do período, ou seja, não se pode decidir poupar, pois, como já foi dito, 58 Para maiores detalhes sobre os efeitos na distribuição derivados de variações nos salários, ver Macedo e Silva (1999, p. 219-231). 59 Possas, M. (1999a, p.29).

ninguém decide o quanto recebe, apenas o quanto gasta. A tentativa de “poupar mais” por

parte dos indivíduos, consumindo menos, não altera o nível de poupança agregado, que

continua sendo igual ao investimento. O efeito de uma redução na propensão marginal a

consumir é a diminuição do efeito multiplicador, e, logo, do nível de produção, emprego e

renda da economia60. A igualdade entre investimento e poupança, porém, não é resultado do

efeito multiplicador, que se processa impulsionado pela busca dos indivíduos em alcançar a

proporção desejada entre o consumo e a renda61. Mesmo que tal efeito seja interrompido ou

não ocorra, os agentes estarão em desequilíbrio, poupando mais ou menos do que o desejado,

mas em momento algum a poupança agregada pode diferir do investimento.

Ao mesmo tempo, a igualdade entre poupança e investimento não é resultado de um

equilíbrio alcançado através de variações na taxa de juros62. A elevação da taxa de juros,

apesar de ter um pequeno efeito de queda sobre a propensão marginal a consumir, o que

poderia induzir ao erro de se pensar que a poupança seria acrescida, na verdade implica que a

quantia poupada e a renda serão reduzidas, devido ao efeito da elevação dos juros sobre o

investimento e à diminuição do efeito multiplicador63. Nas palavras de Keynes:

A novidade, no tratamento que dou à poupança e ao investimento, não consiste em minha defesa de sua necessária igualdade agregada, mas na proposição de que não é a taxa de juros, mas sim o nível de renda que (em conjunção com outros fatores) assegura essa igualdade. 64

A poupança não é, e nem poderia ser, um pré-requisito para o investimento, não

financia o investimento: é um fluxo criado simultaneamente a este gasto. O financiamento do

investimento é feito através de finance e funding. A etapa de finance é aquela na qual o

investidor busca os meios para efetivar sua aplicação, seja recorrendo ao seu estoque de

riqueza, seja recorrendo ao crédito65, caso em que algum outro agente deve aceitar tornar-se

menos líquido. No caso de se recorrer ao crédito, quão menor o prazo, menor o custo da

dívida, porém poderá surgir o problema do descasamento, uma vez que o investimento gerará

60 “A dificuldade surge de fato de que o ato de poupar supõe não uma substituição do consumo presente por algum consumo adicional específico, cuja preparação exija tanta atividade econômica quanto a que se necessitaria para o consumo equivalente à soma poupada, mas antes um desejo de ‘riqueza’ como tal, isto é, a possibilidade de consumir um artigo indeterminado em uma data indeterminada”. Keynes (1988, p.147)[1936]. 61 Ver Macedo e Silva (1999, p.313). 62 Como afirma Kalecki, referindo-se à igualdade entre poupança e investimento: “Particularmente, ela será independente do nível da taxa de juros, que a teoria econômica costumava considerar como fator de equilíbrio entre a procura e a oferta de capital novo. (...) Se o investimento aumenta em um certo valor, a poupança a partir dos lucros é pro tanto maior”. Kalecki (1983, p. 39)[1954]. 63 Ver Keynes (1988, p. 86)[1936]. 64 Keynes (1987b, p.154)[1937]. 65 “(...) quem financia o investimento é o crédito, este sim, um estoque – de poder de compra, criado ex nihil pelo sistema bancário – que precede lógica e temporalmente o investimento”. Possas, M. (1999a, p.26).

retorno a longo prazo. A tentativa de compatibilizar os prazos dos ativos e passivos constitui,

assim, a segunda fase do processo de financiamento, chamada de funding, na qual o agente

busca refinanciar seu passivo, convertendo o crédito de curto em crédito de longo prazo66.

Percebe-se, portanto, que, para o investimento ser realizado, ele depende apenas do finance.

Mesmo que as aplicações se concentrem em títulos de curto prazo ou em moeda, isto não

impede o investimento e a simultânea criação de poupança, apesar de elevar a fragilidade

financeira dos investidores67. O problema de alongamento dos prazos das dívidas é atributo

do sistema financeiro e não da poupança68. O próprio investimento, ao gerar renda e

crescimento na economia, tende a influenciar positivamente as expectativas dos agentes,

aumentando a disposição do público em adquirir títulos de longo prazo e facilitando, desta

forma, a realização das operações de funding.

Neste ponto é importante fazer um adendo a respeito da economia aberta e com

governo para elucidar uma questão extremamente controversa relativa ao efeito da poupança

pública e do setor externo sobre o investimento69. De acordo com Kalecki, a renda da

economia aberta e com governo, distribuída entre lucros e salários, pode ser determinada pela

soma do investimento com o consumo dos capitalistas e dos trabalhadores mais o déficit do

setor público (gastos do governo menos arrecadação de impostos) e mais o saldo da balança

comercial (exportações menos importações). Tendo em vista o princípio da demanda efetiva,

é possível perceber que uma elevação do investimento provocará uma elevação da renda, ao

passo que uma diminuição do déficit do governo e/ou do saldo da balança comercial deverá

reduzi-la. A equação da renda pode ser rearrumada de forma a retratar a igualdade entre a

poupança privada (poupança dos capitalistas mais a poupança dos trabalhadores) e o

investimento menos as poupanças dos setores público e externo. Neste caso, da mesma

forma, uma elevação do investimento eleva a poupança do setor privado, ao passo que a

elevação da poupança pública e/ou externa deverá reduzi-la.

66 Segundo Keynes: “The entrepreneur when he decides to invest has to be satisfied on two points: firstly that he can obtain sufficient short-term finance during the period of producing the investment; and secondly, that he can eventually fund his short-term obligations by a long-term issue on satisfactory conditions” Keynes (1937, p.664). 67 “One of the most difficult aspects of monetary theory is to distinguish between the necessary (short-term) financing of an investment project while it is being constructed and the (long-term) funding of an investment project after it is completed. In a monetary economy, real investments flows are not usually undertaken until short-term bank financing arrangements have been made. Once undertaken, the real savings come into existence pari passu with the real investment flow. Once built, the investment goods exist whether the long-term funding process is successful or not”. Davidson (1986, p.101-110). 68 Como coloca Carvalho: “An efficient financial system in a monetary economy must be able to provide finance to allow entrepreneurs to make investment expenditures and to channel savings so as to, directly or indirectly, fund their debts later”. Carvalho (1995, p. 25). 69 Ver Kalecki (1983, cap.3)[1954].

É comum, no entanto, que esta equação seja reescrita para retratar a igualdade entre a

soma das poupanças e o investimento. Deduz-se, erroneamente, então, que a poupança

privada pode ser “complementada” pela poupança pública e/ou externa no esforço de ampliar

o investimento70. Por um lado, dado o princípio da demanda efetiva, sabe-se que a poupança

não influencia o investimento; ao contrário, é por este determinada. Por outro lado, apesar de

a última equação obscurecer o sentido de determinação entre as variáveis, foi visto acima que

a elevação da poupança pública e/ou externa provoca uma redução compensatória da

poupança privada, permanecendo a soma das poupanças inalterada e igual ao investimento.

1.2.3.3 Nível de emprego

O nível de emprego na economia, em acordo com a teoria de Keynes, é determinado

pelos empresários ao tomarem suas decisões de produção baseadas em suas expectativas

sobre a demanda71. Como já foi visto, as expectativas tendem a estar aproximadamente

corretas, logo se pode dizer de maneira simplificada que a demanda por consumo e

investimento determina o nível de produção e emprego agregado. Keynes tinha como um de

seus principais objetivos demonstrar que era possível a uma economia estar em equilíbrio

abaixo do pleno emprego por falta de demanda. A análise dos determinantes da demanda

agregada esclarece o fato, enfatizado por Keynes, de que não há nenhuma razão para que o

investimento, dadas as expectativas dos agentes, mais o consumo, dada a propensão marginal

a consumir, gerem uma demanda que leve a produção ao nível do pleno emprego72. Pelo

contrário, a demanda, em geral, estaria associada a algum nível de desemprego73. Diante

disto, Keynes conclama a necessidade de se estimular o investimento, inclusive com a

intervenção do Estado74.

70 “(...) essa equação é um convite – geralmente aceito pelos economistas das mais variadas extrações teóricas – à interpretação errônea de que do lado esquerdo, a ‘poupança total’, mediante a contribuição de cada um dos seus ‘componentes’, financia o lado direito, o investimento. Mais ainda, quase sempre se argumenta como se os ‘esforços’ (sic) de poupança dos setores privado, público e externo fossem complementares”. Possas, M. (1999a, p.28). 71 “A importância de meus raciocínios atuais e anteriores reside na sua tentativa de mostrar como o volume de emprego é determinado pelas estimativas da demanda efetiva feitas pelos empresários”. Keynes (1988, p.66)[1936]. 72 “A demanda efetiva associada ao pleno emprego é um caso especial que só se verifica quando a propensão a consumir e o incentivo para investir se encontram associados entre si numa determinada forma”. Keynes (1988, p.35)[1936]. 73 Kalecki também chama atenção para normalidade da situação de desemprego na economia: “A reserva de equipamentos e o exército industrial de reserva são características típicas da economia capitalista durante uma parte considerável do ciclo”. Kalecki (1983, p.107-8)[1954]. 74 Keynes ressalta que o caminho para elevar o investimento via aumento da oferta de moeda e redução dos juros pode não ser tão direto. “Embora seja de se esperar que, ceteris paribus, um aumento na quantidade de moeda reduza a taxa de juros, isto não ocorrerá se a preferência do público pela liquidez aumentar mais que a quantidade de moeda; e, conquanto se possa esperar que, ceteris paribus, uma baixa na taxa de juros estimule o fluxo de investimento, isto não acontecerá se a escala da eficiência marginal do capital cair mais rapidamente que a taxa de juros”. Keynes (1978b)[1937]. Esses dois exemplos de possíveis “percalços” ficaram conhecidos na literatura econômica como os problemas da “armadilha da liquidez” e

A hipótese de salários nominais dados foi apenas uma simplificação adotada por

Keynes e que não influenciava suas conclusões quanto ao desemprego. Para Keynes, o que os

trabalhadores procuram evitar são reduções nos salários relativos. Os salários reais podem ser

alterados por razões comuns a todos, como é o caso da inflação, e a isso não reagiriam,

excluindo situações extremas75. Keynes nega a possibilidade de o nível de emprego e o

salário real serem determinados pela interseção entre curvas de oferta e de demanda por

trabalho no ponto onde a utilidade do produto marginal do trabalhador se iguala à desutilidade

do emprego marginal, e que, dada a lei de Say76, seria o nível de pleno emprego. Sua

argumentação se baseia no fato de que os trabalhadores não definem os preços dos seus bens

de consumo, não podendo determinar a oferta em função dos salários reais – a oferta é

estabelecida em função de suas expectativas sobre os preços e os salários.

Ademais, Keynes mostra que, mesmo se os salários fossem flexíveis, existiria uma

série de fatores incertos que não garantiriam o pleno emprego. Entre estes fatores, pode-se

destacar77: i) uma redistribuição de renda contra os trabalhadores, caso a redução nos preços

seja menor do que a redução nos salários, causando uma diminuição do consumo na

economia; ii) expectativas de subseqüentes reduções, frente à baixa nos salários nominais,

provocando o adiamento de gastos em consumo e investimento; ou ainda, iii) elevação do

custo da dívida, causada pela redução dos preços decorrente da redução dos salários,

desestimulando ou mesmo impedindo alguns empresários de darem prosseguimento a seus

projetos de investimento. Portanto, o resultado da redução dos salários poderia até mesmo ser

de redução da demanda agregada e, logo, da produção e do emprego na economia78.

Então, para Keynes, poderia existir equilíbrio abaixo do pleno emprego por escassez

de demanda, mesmo com os salários flexíveis. Não seria o mercado de trabalho que

“inelasticidade-juros do investimento”. Para Keynes, as políticas fiscais que afetam diretamente os gastos seriam mais efetivas sobre o nível de produção, emprego e renda da economia. 75 Uma redução dos salários reais, devida a uma alta de preços não acompanhada da elevação dos salários nominais, não determina, via de regra, uma diminuição da oferta de mão-de-obra disponível, ao nível do salário corrente, abaixo do volume de emprego anterior à alta de preços. Keynes (1988, p.27-8)[1936]. 76 De acordo com a lei de Say: “a oferta cria sua própria demanda” Keynes (1988, p.34)[1936]. Esta lei é válida em economias sem troca ou em uma economia de escambo, onde “qualquer ato individual de abstenção de consumir necessariamente leva e equivale a um investimento na produção de riqueza sob a forma de capital, resultante do trabalho e das mercadorias assim liberadas da necessidade de consumo”. Keynes (1988, p.30-1)[1936]. Mas, como pondera Keynes, em uma economia monetária e com incerteza: “Julgaram, erradamente, que existe um nexo unindo as decisões de abster-se de um consumo imediato às de prover a um consumo futuro, quando não há nenhuma relação simples entre os motivos que determinam as primeiras e os que determinam as segundas”. Keynes (1988, p.32)[1936]. 77 Para análise mais detalhada, ver Keynes (1988, cap.19)[1936]. 78 Os possíveis efeitos negativos de uma redução dos salários sobre a demanda contrabalançariam os eventuais impactos do “efeito Keynes” ou do “efeito Pigou” sobre o nível de produção e emprego, mesmo sem a presença das “falhas de mercado” (rigidez dos salários, rigidez da taxa de juros ou baixa elasticidade-juros da função investimento) que, segundo os críticos, seriam responsáveis pelos resultados de Keynes.

determinaria o nível de emprego, mas, sim, o mercado de produto e, por conseguinte, para

aumentá-lo, seria necessário o deslocamento da demanda. O mercado de trabalho apontaria

apenas o nível de produto potencial.

1.2.4 Acelerador - Ciclo e tendência

1.2.4.1 A função investimento de Kalecki

A função de investimento sugerida por Keynes descreve-o como um gasto autônomo

em relação à renda da economia e função das expectativas exógenas de longo prazo dos

agentes. Esta visão pode ser complementada a partir da teoria do acelerador, desenvolvida

por outros autores79, cuja hipótese básica é a de que o investimento, na medida em que visa

ampliar a capacidade produtiva e compor estoques, deve responder a variações ocorridas e

previstas no nível de atividade econômica80.

Kalecki aponta como primeiro fator determinante do investimento a capacidade de

autofinanciamento da empresa. Este elemento é especificado em seu modelo a partir de uma

fração, menor do que a unidade e estável, da poupança privada, proxy da poupança das

empresas e ao mesmo tempo proxy dos lucros retidos. Os lucros retidos, além de poderem ser

usados como fonte de financiamento, fortalecem a posição da empresa em termos de capital

próprio, facilitando a obtenção de fundos externos81.

A importância do capital próprio está relacionada ao princípio do risco crescente. Em

primeiro lugar, o endividamento crescente das firmas aumenta o risco do emprestador, que se

preocupa com a capacidade dos empresários de saldarem suas dívidas antigas e novas. Logo,

o volume de capital que a firma pode esperar obter de investidores externos e/ou credores é 79 Ver Kalecki (1983, cap.8)[1954], para uma versão aperfeiçoada do acelerador. 80 A defasagem presente na função investimento de Kalecki representa tanto o tempo decorrido entre a avaliação dos capitalistas das alterações na economia e suas decisões, como o tempo médio decorrido entre a tomada das decisões e a maturação do investimento. Estas defasagens apresentam grande dispersão setorial e mudam com a estrutura da economia. 81 Kalecki considera incerto o valor do coeficiente que multiplica a poupança na equação do investimento, devendo situar-se em torno da unidade. Esta incerteza deve-se aos fatores contraditórios que influenciam sua determinação: por um lado, há a facilidade conferida pela poupança interna à obtenção de recursos externos; por outro, a poupança interna das firmas é apenas parte da poupança total; e há o limite imposto pelo próprio mercado à expansão continuada das empresas. Neste ponto, Kalecki mistura questões teóricas e estatísticas, postulando alguma compulsão automática ao reinvestimento dos lucros retidos sem considerar as condições competitivas do mercado. A motivação para o investimento está nos fatores autônomos e induzidos, à frente apresentados. Assim, a poupança, na função investimento, deveria ser multiplicada por uma variável (e não por um coeficiente) que seria acionada com o intuito de manter um grau de endividamento máximo considerado adequado, tendo em vista a aversão ao risco do empresário, e seria preciso incluir uma equação de restrição financeira efetiva. Como coloca Possas, M. (1999a, p.44, nota de rodapé 36): “O problema neste termo está mais na especificação inadequada dessa influência, que a meu ver deveria ser expressa não em termos de uma função linear de uma variável contínua, mas de uma restrição, portanto não-linear. Do contrário resulta que, estranhamente, haveria uma tendência ao reinvestimento automático, mesmo na ausência de motivos para investir ligados às condições de mercado – ou seja, mesmo que os demais termos fossem nulos”. Ver, também, Possas, M. (1987, p.127-8).

determinado, fundamentalmente, pelo volume de capital próprio, cujo aumento reduz o risco

de insolvência. Em segundo lugar, o próprio empresário se impõe um limite de

endividamento ou emissão de ações (no caso de sociedades anônimas), que varia de acordo

com a aversão do empresário a ficar inadimplente e a correr o risco de se descapitalizar, ou

até de perder o controle de seus negócios, em caso de fracasso no mercado. Assim, o

endividamento pode estabelecer um limite ao investimento, em função dos riscos crescentes

do emprestador e do tomador – “a expansão de uma firma depende de sua acumulação de

capital a partir dos lucros correntes”82.

Os componentes induzidos do investimento são função das elevações no lucro, que

ampliam o leque de oportunidades consideradas atrativas, e do incremento líquido de

capacidade produtiva resultante, que reduz a taxa de lucro esperada caso os lucros se

mantenham constantes83. Estas considerações refletem a “necessidade de ajustar a capacidade

produtiva das empresas ao crescimento esperado das vendas, projetado com base no

crescimento recém-verificado”84, observando, porém, a capacidade ociosa existente, em

conseqüência, por exemplo, de erros de expectativas passadas85.

O componente autônomo do investimento, para Kalecki, está relacionado aos

chamados “fatores de desenvolvimento”, como os gastos em inovação, em infra-estrutura,

gastos públicos anti-cíclicos e em ampliação da capacidade produtiva à frente da demanda nos

setores com longo período de maturação, ou seja, aos gastos que estão desvinculados do nível

e da variação da renda corrente. O investimento autônomo é uma variável exógena (e não

parâmetro), constante a curto prazo e variável a longo prazo, responsável pela tendência da

economia.

82 Kalecki (1983, p.76)[1954]. A questão do risco crescente é apresentada por Kalecki no capítulo 8 deste livro. Keynes também ressalta esta questão tanto do ponto de vista do tomador como do emprestador. Ver Keynes (1988, p.106)[1936]. Na teoria de Keynes, este risco é incorporado e afeta o investimento, como foi visto, via taxa de risco e incerteza, que diminui o preço de demanda e a eficiência marginal do capital. 83 Na função investimento de Kalecki, o coeficiente que multiplica a variação do lucro na equação reflete o comportamento otimista do empresário: quão maior este coeficiente, mais o empresário está suscetível a ser influenciado por variações positivas no lucro. O coeficiente que multiplica a variação de capital reflete o comportamento pessimista: quão maior este coeficiente, menos o empresário irá investir por receio de operar com capacidade ociosa. 84 Possas, M. (1987, p.129). 85 Quanto ao acelerador desenvolvido por Harrod e aprimorado por A. Sen, Possas ressalva: “(o) acelerador usado na função investimento é fortemente irrealista, na medida em que se limita a projetar o crescimento esperado da renda (demanda agregada), sem levar em conta a possibilidade de que a utilização da capacidade produtiva anterior esteja fora (abaixo ou acima) do nível desejado, o que obviamente deve afetar as decisões de investir”. Possas, M. (1987, p.117). No mesmo sentido, Kalecki observa que: “Com respeito ao problema teórico, pareceria mais realista fundar o ‘princípio de aceleração’ nas bases sugeridas acima do que deduzi-lo a partir da necessidade de capacidade de expansão para aumentar a produção. É bem sabido que existe capacidade ociosa em elevado grau, pelo menos durante boa parte do ciclo, e que a produção, portanto, pode aumentar sem um aumento real da capacidade existente”. Kalecki (1983, p.82)[1954].

O investimento em estoque é incorporado supondo-o proporcional à variação no nível

de produção ou de vendas e com aproximadamente o mesmo retardo do investimento em

capital fixo. A hipótese de proporcionalidade defasada é justificada da seguinte maneira:

(O) hiato temporal significativo entre causa e efeito (...) se explica pelo fato de que uma elevação na produção e nas vendas não cria qualquer necessidade imediata de uma elevação dos estoques. É só depois de algum tempo que os estoques se ajustam ao novo nível – mais elevado – da produção.86

Kalecki resume sua teoria do investimento na passagem reproduzida a seguir:

De acordo com essa teoria, o investimento em capital fixo por unidade de tempo é determinado (com um hiato temporal) por três fatores: (1) pela poupança bruta ‘interna’ corrente das firmas; (2) pela taxa de elevação dos lucros; e (3) pela taxa de elevação do volume de capital em equipamentos. As duas primeiras influências são positivas e a terceira é negativa. Entende-se que o investimento em estoques é determinado pela taxa de elevação da produção. 87

Para chegar à equação final do investimento, Kalecki reescreve cada um dos fatores de

sua função em termos do próprio investimento. Neste sentido, a poupança é substituída pelo

investimento, a variação de capital pelo investimento bruto menos a depreciação88, e a

variação no lucro e na renda por seus respectivos multiplicadores do investimento. O

multiplicador do investimento defasado para a renda é definido a partir da equação de

determinação dos salários e ordenados como uma fração da renda mais uma constante,

substituindo os salários e ordenados pela diferença entre a renda e os lucros e a reordenando

para estabelecer a renda em função dos lucros89. O multiplicador do investimento com hiato

temporal para o lucro, por sua vez, é determinado a partir da igualdade entre a soma dos

lucros e salários, por um lado, e a soma do investimento e consumo, por outro, considerando

que os trabalhadores consomem toda sua renda e que o consumo do capitalista depende do

lucro passado90.

Como resultado, o investimento futuro fica determinado pelo investimento corrente e

pela variação do investimento num passado recente91. Nesta equação, o parâmetro que

multiplica o termo relativo ao investimento corrente é suposto menor do que a unidade e

“representa a influência sobre as decisões de investir exercida pela poupança corrente e 86 Kalecki (1983, p.87)[1954]. 87 Kalecki (1983, p.133)[1954]. 88 Kalecki (1983, p.85)[1954]. 89 Kalecki (1983, p.47-49)[1954]. 90 Ver Kalecki (1983, p.41-44)[1954]. 91 “Conclui-se que o investimento a um dado tempo é determinado pelo nível e pela taxa de modificação do nível de investimento numa ocasião anterior”. Kalecki (1983, p.99)[1954].

também o efeito negativo do aumento dos equipamentos”92; o parâmetro que multiplica o

segundo termo, relativo à variação do investimento num passado recente, “representa a

influência da taxa de modificação dos lucros e da produção”93. A equação final engloba,

portanto, o investimento fixo bruto (líquido mais depreciação) e o investimento em estoque,

considerando os determinantes induzidos, autônomos e financeiros; e, como será visto a

seguir, permite tirar conclusões dinâmicas que complementam a teoria de Keynes.

1.2.4.2 Ciclo e Tendência

Com o intuito de analisar as flutuações cíclicas da economia, Kalecki re-escreve a

equação do investimento em termos do investimento líquido, supondo que o componente

autônomo assume o valor necessário para manter o investimento flutuando apenas em torno

do nível de depreciação, sem tendência. A explicação apresentada por Kalecki para a

presença de flutuações cíclicas na economia é intuitiva. O movimento resultante depende, na

verdade, do valor dos coeficientes. Sob determinadas condições não demonstradas pelo autor,

o investimento flutuará em torno do nível de depreciação, seguido por “flutuações da renda,

da produção e do nível de emprego”94, 95.

De acordo com Kalecki, os ciclos poderiam estar presentes mesmo se os parâmetros

determinassem uma trajetória exponencial. Neste caso, a taxa de crescimento pode ser maior,

menor ou igual à taxa de crescimento do produto potencial. Se for maior, a economia é detida

pela escassez de equipamentos e de mão-de-obra e reverte sua trajetória, seguindo, então, o

mecanismo cíclico. No caso de uma depressão, se não houver uma reversão “automática”, a

economia se deterá num nível mínimo de atividade, pelo fato de o investimento bruto em

capital fixo não poder cair abaixo de zero e pelo limite de desinvestimento de estoques

existentes, iniciando, adiante, a recuperação, também nos moldes descritos para o ciclo. A

presença de “tetos” e “pisos” faz com que a possibilidade de flutuação seja grande. Seus

92 Este parâmetro é suposto por Kalecki menor do que a unidade a partir, basicamente, de dados empíricos. Ver Kalecki (1983, p.86)[1954]. 93 Kalecki (1983, p.101)[1954]. 94 Kalecki (1983, p.103)[1954]. 95 Tendo em vista a equação final do acelerador em termos de investimento líquido: it+ θ = [a/(1+c)].it + μ.Δit/Δt, Kalecki afirma: “As considerações acima baseavam-se na suposição de que os coeficientes de a/(1+c) e μ são de molde a provocar a detenção automática da elevação do investimento na fase de prosperidade e a detenção da queda do investimento na fase de depressão”. Kalecki (1983, p.104)[1954]. Como pode ser visto a partir da interpretação proposta por Possas, M. (1987, p.146-154), é possível chegar às conclusões de Kalecki de forma rigorosa. Tomando como unidade de tempo do modelo “o intervalo normal entre duas decisões consecutivas de investir” Possas, M. (1999a, p.36) (despreza defasagem do consumo), então a equação do investimento de Kalecki pode ser reescrita em termos de uma equação a diferenças finitas de segunda ordem. As flutuações serão cíclicas quando a solução da equação característica apresentar raízes complexas conjugadas. Segundo Possas, aplicando valores realistas dos parâmetros, chega-se a um ciclo com flutuação regular e com média caracterizando um Juglar. Ver Possas, M. (1989b).

efeitos influenciarão da mesma forma trajetórias marcadas por flutuações explosivas. Ainda

que as flutuações sejam amortecidas, os ciclos serão mantidos pela presença de perturbações

aleatórias inerentes à relação entre investimento, lucro e produção, conforme retratada por

Kalecki96.

O que explica o fato de a economia seguir uma trajetória cíclica “no caso normal em

que os parâmetros assumam os valores adequados, dispensando hipóteses exógenas às

equações”97 é o efeito dual e defasado do investimento. Segundo Possas e Baltar:

A idéia central de Kalecki sobre o movimento cíclico de uma economia capitalista pode ser sintetizada pela bem conhecida referência ao papel contraditório do processo de investimento ao gerar de um lado, estímulos dinâmicos através da demanda efetiva e, de outro, na criação de nova capacidade produtiva que este mesmo processo simultaneamente engendra, e que terá de ser de algum modo ocupada a seguir, sob pena de dificultar o prosseguimento daquele mesmo impulso inicial. A conjunção de ambos os efeitos num padrão temporal necessariamente assimétrico dá lugar a um mecanismo que tende a gerar, endogenamente, flutuações no nível da atividade econômica.98 ,99

As decisões de investimento são tomadas pautadas nos acontecimentos recentes e nas

expectativas sobre as condições de demanda para o período em que a nova capacidade

produtiva estiver em operação – a lógica da dinâmica está baseada no desequilíbrio: os

agentes erram suas previsões.

Quanto à tendência da economia, esta seria gerada, de acordo com Kalecki, pelos

“fatores de desenvolvimento”, elemento autêntico da demanda agregada autônoma100. O

principal exemplo desses fatores são os gastos em inovações, que não estão atrelados ao nível

corrente de renda, mas que são determinados pela tentativa da empresa de se manter 96 “O resultado é que se gera uma espécie de movimento cíclico semi-regular, cuja amplitude é determinada pela magnitude e pelo padrão dos choques, ε, e pelos parâmetros da equação”. Kalecki (1983, p.106 )[1954]. 97 Possas, M. (1987, p.119). 98 Possas e Baltar (1981, p.131). 99 Os comentários de Keynes sobre o ciclo econômico podem ser identificados com a teoria apresentada por Kalecki. De acordo com Keynes, o movimento cíclico da economia industrial estaria relacionado à interação entre disponibilidade de capital existente e expectativa sobre rendimento futuro. A crise seria iniciada devido a uma queda na eficiência marginal do capital em função de uma piora nas expectativas após o fim de uma etapa de expansão, quando há um clima demasiado otimista e a crescente disponibilidade de bens de capital começa a gerar capacidade ociosa. Neste momento passa a vigorar o pessimismo e a incerteza que aumentam a preferência pela liquidez e a taxa de juros, acentuando ainda mais a queda do investimento. A simples tentativa de manipulação da taxa de juros por parte das autoridades monetárias no sentido de queda pode não ser eficaz frente à acentuada falta de confiança. Ainda, a depressão pode ser acentuada pela diminuição da propensão a consumir devida à baixa no valor de mercado dos títulos dos agentes que aplicam sua riqueza na bolsa de valores. A duração desta fase descendente do ciclo dependerá em grande parte do ritmo de depreciação do capital existente, que irá refazer gradualmente a escassez do capital elevando sua eficiência marginal e iniciando a fase de recuperação. Mais detalhes, ver Keynes (1988, cap.22)[1936]. 100 Kalecki comete o equívoco, dado seu foco apenas na equação, de considerar poupança de longo prazo como componente autônomo de tendência – considera o efeito depressivo da poupança daqueles que vivem de renda, diminuindo a poupança interna das firmas, sobre o investimento e desenvolvimento. Ver Kalecki (1983, p.134-5) [1954]. A poupança já foi corretamente considerada na equação do investimento refletindo a acumulação interna das empresas e, na versão final do investimento, no parâmetro que amplifica o investimento induzido.

competitiva em seu mercado, repondo o capital necessário para conservar-se atualizada em

termos tecnológicos. Como explica Kalecki:

A influência das inovações é análoga à de um acréscimo do montante dos lucros que, no decorrer de um dado período, torna os projetos de investimento em geral mais atraentes do que eram no princípio desse mesmo período. Cada nova invenção, da mesma forma que cada acréscimo de lucro, provoca certas decisões adicionais de investimento. Um fluxo constante de inovações – no que diz respeito ao efeito sobre o investimento – é comparável a uma taxa constante de acréscimo dos lucros. Assim, esse fluxo faz subir o nível de investimento por unidade de tempo que se teria sem ele. (...) Agora está claro que um fluxo constante de invenções provoca acréscimos de investimento a um ponto acima do nível resultante de nossos determinantes básicos. As invenções, portanto, transformam o sistema estático em outro, sujeito a uma tendência ascendente.101

Em geral, as flutuações na economia se dão em torno de uma tendência positiva gerada,

precisamente, por fatores como as inovações.

O ponto central de Kalecki é sugerir que a economia é cíclica e que se explica pelo

mecanismo multiplicador-acelerador, vinculado à atuação da demanda efetiva. Embora não

tenha recebido o devido destaque, a teoria de Kalecki permite concluir também que o

desenvolvimento econômico no capitalismo, ou seja, crescimento de longo prazo com

mudança estrutural, depende essencialmente de inovações e de progresso técnico102, foco de

análise da próxima seção.

1.3 Tendência, desenvolvimento e inovação

A teoria de Kalecki, apresentada na seção anterior, permite compreender o papel dos

investimentos em inovação e modernização sobre a tendência da economia. É possível,

portanto, seguindo a interpretação de Possas (1987), relacionar sua abordagem à teoria de

Schumpeter e dos neo-schumpeterianos, que se concentra em analisar o comportamento das

firmas em ambiente de concorrência e em explicar a dinâmica endógena de geração de

inovações e de mudança estrutural103.

101 Kalecki (1983, p.134)[1954]. 102 “Como já apontamos, nossa análise demonstra que o desenvolvimento a longo prazo não é inerente à economia capitalista. Dessa forma, torna-se necessária a presença de ‘fatores de desenvolvimento’ específicos para sustentar um movimento ascendente a longo prazo. Entre esses fatores apontamos as inovações em seu sentido mais amplo como o fator mais importante para promover o desenvolvimento”. Kalecki (1983, p.135-6)[1954]. 103 É interessante observar que Schumpeter apresentou sua teoria como uma teoria do ciclo econômico, porém, como avalia Possas: “A conclusão inevitável é que a teoria do ciclo de Schumpeter não se mantém de pé: ela não oferece uma explicação suficiente para a ocorrência do ciclo, e não é possível consertá-la. Dela emerge, no entanto, uma teoria da expansão a longo prazo, ou da tendência – não necessariamente cíclica –, embora falte ainda uma peça extremamente importante: uma explicação minimamente sistemática e convincente da

1.3.1 Schumpeter – concorrência e inovação

De acordo com Schumpeter, a concorrência é um processo ativo de interação entre os

empresários, que os induz a introduzir inovações capazes de lhes gerar novas oportunidades

potenciais de lucros extraordinários104. As inovações seriam o instrumento de competição

mais poderoso, mais até do que o preço105, que permitiria aos empresários conquistarem,

eventualmente, o mercado de forma contundente e duradoura, seja via novos processos, que

reduzem custo, ou via novas mercadorias, que deslocam e criam demanda.

Uma vez tendo sido introduzida uma inovação bem sucedida e, portanto, criado o

lucro extraordinário, entra-se na fase de difusão, quando outros empresários, que não se

aventuraram ou não foram bem sucedidos na busca pela inovação, procuram desfrutar da

oportunidade através da imitação106. Este movimento diminui gradativamente o lucro,

detonando o processo relevante da concorrência, que traz consigo a inquietação e instiga a

busca por mais inovações, impulsionando um outro período de obtenção de lucros

extraordinários, e assim sucessivamente.

Estas inovações costumam ser de tal grau que alteram a estrutura do mercado, através

de um “processo de mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura

econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando

uma nova”107. Assim, para Schumpeter, o centro da análise econômica deveria estar,

introdução de inovações”. Possas, M. (1987, p.198-9). A endogeneização da geração de inovações à economia capitalista concorrencial foi feita pelos seguidores de Schumpeter, especialmente pela corrente neo-schumpeteriana. 104 Schumpeter, em apenas alguns capítulos de seu livro “Capitalismo, Socialismo e Democracia” de 1943, apresenta de maneira original uma teoria dinâmica da concorrência, identificada como processo de transformação centrada na inovação. O único precedente significativo, reconhecido pelo próprio Schumpeter, é Marx. Este, contudo, tinha várias visões sobre a concorrência, inclusive contraditórias, e entre elas a que Schumpeter prioriza: a visão dinâmica da concorrência - processo de interação entre agentes que dá lugar à introdução de novas técnicas, novos produtos, na tentativa de obter lucro diferenciado. Para uma análise da visão de Marx sobre a concorrência, ver Possas, M. (1989b, cap.2). 105 Schumpeter propõe a noção de concorrência dinâmica como referência crítica à noção de concorrência perfeita clássica. De maneira geral, para os clássicos valeria a lei da tendência à formação da taxa de lucro uniforme, cujo cumprimento é garantido pela existência do processo de concorrência (plena mobilidade de capital e trabalho e livre entrada e saída entre as diferentes linhas de produção). A concorrência moveria os capitais dos setores menos rentáveis para os setores mais rentáveis, provocando variações na oferta e no preço em direções opostas entre setores, até que as taxas de lucros se igualassem. A estrutura de preços relativos coerente com a taxa de lucro uniforme é considerada centro de gravitação, em torno do qual a economia pode flutuar no curto prazo, mas para o qual tende no longo. Se a concorrência é um processo ativo de mudança, em que os agentes não se limitam a buscar lucros já existentes, e sim procuram lucros novos usando como principal instrumento a inovação, então a concorrência não é um processo de ajustamento que implica a equalização das taxas de lucro – é pelo contrário um processo que as retira do equilíbrio. Ver Possas, M. (1989b, cap.4) e Schumpeter (1943, cap.7). 106 Nas palavras de Schumpeter: “Eles realizaram novas combinações. São empresários. E o seu lucro, o excedente, ao qual não corresponde nenhuma obrigação, é um lucro empresarial. (...) Mas também triunfou para os outros, abriu caminho e criou um modelo para os que podem copiar.” Schumpeter (1988, p.90)[1964]. 107 Schumpeter (1943, p. 112-3).

precisamente, não na reprodução, mas nesta que é a essência do sistema capitalista: a

“destruição criativa”108.

Se a inovação for bem sucedida, ela implicará aumento de poder de mercado da

empresa inovadora, o que, em geral, facilita seu financiamento e traz benefícios cumulativos

ligados, por exemplo, à economia de escala. As vantagens competitivas criadas permitem a

adoção de medidas por parte das firmas inovadoras para expulsar as concorrentes mais fracas

e para dificultar o processo de difusão, na tentativa de prorrogar os ganhos pelo maior tempo

possível109. As práticas restritivas que as empresas adotam têm um papel a cumprir neste

sistema: a ofensiva é custosa e arriscada, e só faz sentido se for possível desfrutar das

vantagens resultantes pelo menos por um certo período de tempo.

A presença simultânea de atomismo de mercado e concorrência é compatível apenas

com a noção clássica de concorrência perfeita, na qual esta se processa via ajuste de preços e

quantidades, pois, por um lado, se houver inovação, surgem assimetrias competitivas; e, por

outro, havendo atomismo, dificulta-se o processo de inovação (custoso e incerto). O

capitalismo com concorrência perfeita seria, portanto, um sistema paralisado, incapaz de

produzir progresso tecnológico.

Na visão de Schumpeter, numa economia capitalista co-existem competição via

inovações e concentração de mercado. Até mesmo em situação de monopólio, a concorrência

assume grande importância. Segundo Schumpeter: “Uma posição de monopólio não é, em

geral, uma almofada sobre a qual se durma”110, pois tanto a concorrência efetiva como a

potencial seriam disciplinadoras e geradoras de eficiência dinâmica. As empresas estão

expostas à ameaça tanto daquelas que tentam imitá-las e que, se bem sucedidas, irão reduzir

sua margem de lucro; quanto de outras que buscam introduzir inovações, podendo,

eventualmente, torná-las obsoletas (processo de destruição criativa)111. Assim, todas as

108 “(...) normalmente se vê o problema de como o capitalismo administra as estruturas existentes, enquanto o problema relevante é saber como ele as cria e destrói”. Schumpeter (1943, p.114). 109 Como coloca Possas, referindo-se à idéia de Marx (coerente com a teoria schumpeteriana de concorrência): “Nesta leitura é possível afirmar que a tendência à concentração/centralização descrita por Marx não é só o ‘desfecho’ da concorrência - embora o seja também – nem, simetricamente, esta se limita a ser o seu móvel ou mecanismo de ‘indução prática’. Ela constitui de certo modo a própria lógica interna da concorrência entre capitais, como um processo de formação e dissolução/consolidação de vantagens comparativas e posições monopolísticas (...) Essa postura teórica permite repensar a tradicional oposição entre ‘concorrência’ e ‘monopólio’, passando este último a ser visto não como o ‘contrário’, mas como o próprio motivo fundamental da concorrência.” Possas, M. (1989b, p.71). 110 Schumpeter (1943, p.135). 111 O “empresário sente-se em situação competitiva mesmo quando está só em seu campo...” Schumpeter (1943, p.115).

empresas, mesmo as que assumem papel de monopolista, têm que estar constantemente

preocupadas em inovar112.

Quando Schumpeter se refere à interação entre introdução de inovações e estrutura de

mercado, chama a atenção para o fato de que:

(...) estamos tratando de um processo em que todos os elementos levam um tempo considerável para revelar suas características verdadeiras e seus efeitos finais, não tem sentido avaliar o desempenho de tal processo ex-visu de um dado ponto no tempo; devemos julgar seu desempenho no tempo, na medida em que ele se desdobra através das décadas ou dos séculos. 113

Não é correto, desta forma, vincular indiscriminadamente preços elevados e menores

quantidades ofertadas à estrutura de mercado concentrada, pois as inovações e o progresso

técnico viabilizam melhorias do produto e queda nos preços, e, com a entrada de novos

concorrentes, há elevação de oferta e acentuação da queda de preços.

A simples proposição de que os lucros extraordinários significam perdas sociais, o que

não aconteceria em concorrência perfeita, não se sustenta. É justamente a possibilidade de se

obter lucros extraordinários através da introdução de inovação que impulsiona o capitalismo.

Em contexto de concorrência, dada a busca individual por diferenciação, a dinâmica

capitalista de inovação, difusão e transformação estrutural (de mercado e produtiva), numa

seqüência permanente de situações de ruptura e ajustamento, é endógena114.

1.3.2 Neo-Schumpeterianos – enfoque evolucionário

A abordagem neo-schumpeteriana, seguindo a teoria de Schumpeter, analisa a

dinâmica do processo de evolução do sistema econômico focando-se no movimento gerado

pela força da concorrência, que, através da busca das empresas por inovações e da seleção no

mercado, tem como conseqüência as contínuas mudanças estruturais e tecnológicas.

112 “A primeira coisa que faz uma empresa moderna, logo que sente poder sustentá-lo, é estabelecer um departamento de pesquisa no qual todos os membros sabem que seu pão de cada dia depende de seu êxito em inventar melhorias.” Schumpeter (1943, p.129). Há uma grande controvérsia teórica a respeito da relação entre processo inovativo, tamanho das empresas e estrutura de mercado, e os estudos empíricos são contraditórios. Para um resumo das contribuições teóricas e empíricas sobre esse debate ver Scherer (1992). 113 Schumpeter (1943, p.113). 114 “Certamente, nenhum autor mais do que Schumpeter empenhou-se em fortalecer, definindo contornos mais precisos e buscando aplicação concreta, essa visão da concorrência como um processo de ruptura e transformação situado no âmago do dinamismo capitalista”. Possas (1989a, p.69).

A corrente neo-schumpeteriana tenta construir uma teoria econômica evolucionária,

em analogia à biologia115, cujos principais conceitos adaptados são: 1) o processo de mutação,

estimulado pela concorrência e empreendido ativamente pela firma através da busca

deliberada por inovações de produto e/ou de processo116; 2) a transmissão de caracteres,

realizada ao longo do tempo dentro da própria empresa por meio de suas rotinas ou por

imitação de outras firmas – processo de difusão; e 3) o ambiente seletivo, caracterizado pelo

mercado117, no qual as inovações (mutações) são filtradas, determinando as condições de

sobrevivência das empresas.

De acordo com esses autores, a qualquer momento do tempo, os processos de busca e

seleção se conformam dentro de um paradigma tecnológico. Este último conceito, criado a

partir de outra analogia, neste caso ao conceito de paradigmas científicos, se refere a um

conjunto de princípios específicos que orientam a prática dos engenheiros, cientistas e

pesquisadores em seus trabalhos cotidianos. Os paradigmas tecnológicos são resultado de

inovações radicais e têm uma dinâmica própria gerada através do exercício da “ciência

normal”, que determina a trajetória tecnológica118. Esta trajetória descreve a evolução ao

longo do tempo da tecnologia a partir de inovações incrementais, que são introduzidas, em

geral, na tentativa de superar gargalos.

1.3.2.1 Estratégia competitiva sob concorrência

Como já visto, de acordo com o princípio da racionalidade limitada, a empresa age, em

geral, através do uso de rotinas e definindo limites dentro dos quais seus resultados são

considerados satisfatórios. Estas rotinas determinam as possibilidades de comportamento

115 Para uma discussão pormenorizada da analogia evolucionária, ver Nelson e Winter (1982, cap.1). 116 Diferentemente da biologia, o processo de mutação não é aleatório, apesar de envolver elementos estocásticos relacionados à incerteza presente no processo de inovação, mas sim conseqüência de um esforço das firmas (neste sentido, mais próximo à teoria Lamarckiana). 117 O mercado não é o único ator no processo de seleção, como será visto mais adiante, mas pode ser considerado como o principal. 118 A definição de paradigma e trajetória apresentada por Dosi (1984, cap.2, p.14-5), onde o autor explica a analogia com os termos do campo da filosofia da ciência é a seguinte: “In broad analogy with the Kuhnian definition of a scientific paradigm, we shall define a technological paradigm as a model and a pattern of solution of selected technological problems, based on selected principles derived from natural sciences and on selected material technologies. (…) We will define a technological trajectory as the pattern of normal problem solving activity (i.e. of progress) on the grounds of a technological paradigm (…) In other words, a technological paradigm (or research programme) embodies strong prescriptions on the directions of technical change to persue and those to neglect”. Nelson e Winter se referem aos mesmos conceitos com a terminologia de “regime tecnológico” e “trajetória natural”. Mais detalhes sobre uso destes conceitos pelos diferentes autores, ver Possas, M. (1989a).

frente a diferentes situações em função de variáveis externas e internas119. As três principais

rotinas são: a operacional, a de investimento e uma meta-rotina, que revê as rotinas em função

do feedback obtido no mercado, alterando-as caso os resultados obtidos estejam fora das

metas estipuladas120. O sucesso da “estratégia inovativa rotineira” adotada determinará o

êxito na busca por oportunidades de inovação e/ou imitação e as firmas com rotinas mais

competitivas tenderão a “crescer e proliferar-se”.

Entre os fatores considerados pelas empresas ao formularem suas estratégias

inovativas estão os paradigmas vigentes e os atributos das inovações subjacentes

(oportunidades tecnológicas, cumulatividade e apropriabilidade)121. A oportunidade

tecnológica é uma característica específica da tecnologia e diz respeito ao escopo e à

facilidade para se alcançar inovações e aprimoramentos. As empresas devem estar atentas a

estas oportunidades, procurando aproveitá-las para atingir performance superior à de suas

concorrentes. A cumulatividade reflete o grau com que aumenta a probabilidade de sucesso e

retorno em função de um mesmo esforço inovativo conforme avança o aprendizado

(experiência adquirida através de P&D e da produção). Quão mais cumulativo for o

progresso técnico, a firma que tiver maior grau de inovatividade terá maior probabilidade de

se manter inovativa ou mesmo aumentar seu ritmo de inovação, tornando-se mais

competitiva. Por último, a apropriabilidade está relacionada à possibilidade de a empresa

conseguir apoderar-se dos lucros decorrentes do processo inovativo. A forma legal de

apropriação mais empregada é a patente, que restringe a imitação. Mas existem alternativas,

como a manutenção do segredo industrial ou mesmo as economias de custo derivadas da

curva de aprendizado – quão mais tácitas as informações relativas à inovação, maior o tempo

necessário para a imitação e maior o diferencial de custo que pode ser criado. Como já

sugerido, a apropriação dos ganhos é justamente o incentivo e a recompensa pelo esforço e

pelo risco envolvidos no processo inovativo.

Pavitt122 elaborou uma taxonomia setorial com o objetivo de identificar padrões de

regularidade relativos à inovação. Partindo da taxonomia proposta por Pavitt, Dosi123

119 “Routines govern choices as well as describe methods, and reflect the facts of management practice and organizational sociology as well as those of technology” Winter (1984, p. 291). 120 “A heurística e as regras de rotina que caracterizam o processo de busca na abordagem evolucionista se traduzem concretamente na definição de metas e conjuntos de procedimentos para identificar e incorporar meios de chegar próximo dos objetivos – sempre caracterizados por regras práticas de conduta – mas sem que um bom resultado possa ser assegurado” Possas, M. (1989a, pg.161). A explicação do papel das rotinas na teoria evolucionária é explorada ainda por Nelson e Winter (1982, p.14-18). 121 Dosi, (1988, p.233). Para descrição dos atributos, ver Dosi (1984, pg. 87-8). 122 Pavitt (1984).

complementa sua análise vinculando as características dos setores aos atributos das inovações

presentes. As características do setor em termos dos atributos das inovações, condicionantes

das dimensões de concorrência potenciais, influenciam as estratégias adotadas pelas empresas

e, ao mesmo tempo, a proporção de empresas utilizando cada estratégia. A tipologia de

Freeman124, que classifica as empresas como ofensivas, defensivas, imitativas, dependentes,

tradicionais e oportunistas, é uma das mais conhecidas.

São as estratégias inovativas adotadas pelas empresas que determinam os parâmetros

para seus esforços de P&D125, como o percentual do valor do faturamento direcionado à

pesquisa, o percentual gasto em pesquisa básica ou aplicada, a alocação entre P&D voltado

para inovação de processo ou de produto. Ainda, quanto à própria organização da atividade

de pesquisa e desenvolvimento, a firma deve decidir se estrutura o P&D in house ou adquire

de terceiros. Como destaca Teece126, as vantagens do P&D próprio são as economias de

escala, escopo e especialização, a minimização de custos de transação (especialmente

contratuais) e a facilidade de adequação do P&D às necessidades da empresa e do mercado

(permitindo tirar proveito do importante caráter cumulativo do aprendizado). Cabe à empresa

manter um monitoramento contínuo para avaliar os esforços empreendidos em termos de

custo-benefício.

As estratégias inovativas das empresas também são fortemente influenciadas por suas

competências. A competência da empresa é função, principalmente, de sua base de

conhecimento, dos ativos físicos de que dispõe e das rotinas adotadas ao longo de sua história,

fatores que permitiram desenvolver sua capacitação mercadológica e tecnológica e, portanto,

definir as áreas de especialização e diversificação em torno das quais tem vantagem

competitiva. Contudo, num mundo repleto de inovações, a competência relevante é a

competência dinâmica, isto é, capacidade da empresa em compreender o ambiente em

contínua transformação, aproveitando as oportunidades e superando as ameaças, e de estar

constantemente adequando sua capacitação, procurando reforçar seus pontos fortes e eliminar

seus pontos fracos. A firma deve sempre saber tirar proveito de suas competências e

123 Dosi (1988, p.231-2). 124 Freeman (1974). 125 Para um estudo detalhado sobre as decisões relacionadas aos gastos com P&D, ver Combs, Saviotti e Waltch (1987). 126 Teece (1988). Ver também, Nelson (1990).

desenvolver novas, através da adoção de rotinas de adaptação competitiva e, até mesmo,

alterando suas rotinas127.

Num contexto concorrencial, onde o principal instrumento é a inovação, a estratégia

de preço das empresas, também definida a partir de rotinas de ajuste, assume importância

complementar. Na verdade, como será explicado a seguir, a estratégia inovativa passa a

interagir com a determinação das políticas de preço, influenciando seus condicionantes.

De maneira geral, como visto em Kalecki, os preços seriam estipulados em cada setor

a partir da aplicação de um mark-up sobre os custos. Este mark-up é determinado em função

das barreiras à entrada existentes e respeitando o postulado de Sylos-Labini, segundo o qual o

preço estabelecido pelas firmas incumbentes (ou em conluio) impede a entrada das potenciais

concorrentes, preservando a estrutura de mercado existente (teoria do preço-limite)128. As

barreiras à entrada, todavia, podem ser relativizadas se houver uma conjugação da estratégia

de preços e da estratégia inovativa, buscando-se tirar proveito dos atributos das inovações.

Suponha-se, como exemplo, que uma firma introduza um novo produto elaborado a partir de

uma tecnologia que tenha forte caráter cumulativo e elevada apropriabilidade; neste contexto,

a firma incumbente pode optar por cobrar um preço baixo, menor do que o preço-limite, para

elevar a produção e as vendas, percorrendo um caminho maior na curva de aprendizado e

ampliando suas vantagens de custo em relação às potenciais entrantes. Ao mesmo tempo, o

menor preço permite à firma ampliar seu mercado e se aproveitar de economias de escala.

Assim, a estratégia adotada pode influenciar o nível de barreira à entrada existente no período

em que o produto for passível de ser imitado, dificultando a entrada de concorrentes e

influenciando o preço-limite vigente deste momento em diante129. Como coloca Dosi:

An existing firm cannot prevent other firms from innovating: what it can do is to prevent, as much as possible, the others from entering its own market, and it is likely to do so by erecting cost-based entry barriers and by pre-empting as much as it can the potential market opportunity on that commodity. 130

Como já foi discutido na apresentação inicial da visão de Schumpeter, práticas

restritivas visam proteger o que foi objeto de inovação bem sucedida. Porém, a inovação não

127 “Its survival and growth depend upon its capacity to adapt to this rapidly changing external environment and to change it” Freeman (1974, p. 256). 128 Considera-se que as firmas existentes fazem conluio para impedir a entrada, que as competidoras potenciais podem ser reduzidas a uma firma mais capacitada e que esta almeja lucros imediatamente após a entrada. 129 “To repeat, the source of oligopolistic margins lies in structural discontinuities between firms (of both the static and dynamic kinds, such as economies of scale and learning economies).” Dosi (1984, pg.130). 130 Dosi (1984, p.125).

apenas cria, como também destrói, barreiras à entrada131, e a empresa responsável pela

destruição estará imediatamente buscando construir novas. Este ponto reforça a

argumentação de que as empresas têm que estar incessantemente lutando para não perder

capacidade competitiva frente às concorrentes, e o principal instrumento nesta luta é a

inovação: competição potencial é elemento disciplinador do mercado.

1.3.2.2 Seleção no mercado

Em um ambiente concorrencial, no qual as estratégias das empresas estão focadas na

busca por inovação como principal instrumento para criar vantagens competitivas, a

diversidade tecnológica, produtiva e organizacional é continuamente gerada e o mercado é o

principal seletor dessa diversidade, determinando quais as empresas e as tecnologias que

“sobreviverão”.

Indeed, given that its rivals are induced by this context to invest in R&D, a firm may have no choice but to do likewise. The result is significant corporate investment in R&D, generating a bountiful flow of new products and processes. It is left to the market to select ex-post on the innovations offered by different firms, and on the firms themselves. 132

No que diz respeito à empresa, os mecanismos de seleção, de maneira geral, envolvem

indivíduos e organizações que são demandantes ou beneficiários dos bens e serviços

produzidos. Os resultados que a firma apresentou em função das rotinas adotadas serão

avaliados pelos atores do processo, em comparação com os resultados das demais firmas,

determinando seu sucesso ou fracasso133. A empresa é considerada competitiva quando adota

estratégia coerente com os padrões de concorrência do setor em que atua134 e que lhe permita

manter ou ampliar seu market-share135 – o que condecora a competitividade da firma é sua

131 “However, existing entry barriers at each point in time are ineffective with respect to new commodities (i.e. forthcoming innovations)”. Dosi, (1984, p.138). 132 Nelson (1990, p.193). 133 Cabe notar que o peso da seleção sobre a firma varia sensivelmente se a inovação é de produto ou de processo. No caso da inovação de produto, o sucesso da firma depende crucialmente da aceitação por parte dos demandantes. Já no caso de uma inovação de processo que não altere a natureza do produto, o sucesso está mais relacionado ao efeito desta inovação sobre os custos do que à reação dos consumidores. Nelson e Winter (1982, p.266). 134 O padrão de concorrência é um subconjunto de formas de competição eficazes em uma estrutura de mercado, setor específico e mutável no tempo em função de mudança estrutural provocada por inovação. Em cada setor, varia a dimensão da concorrência relevante: preço, marketing, tecnologia. Como coloca Possas, S. (1999, p.139): “O espaço relevante para a análise da concorrência não está, por conseguinte, dado a priori, mas é permanentemente redelimitado a partir do próprio funcionamento do processo concorrencial. Este implica a modificação dos processos produtivos e dos próprios produtos, o que significa redefinir as dimensões e vantagens competitivas relevantes, e por conseguinte também os concorrentes, as metas táticas e estratégicas; em síntese, as variáveis a tomar em conta no processo decisório da concorrência”. 135 Nem sempre a lucratividade é um bom indicador, pois depende da estratégia da empresa, que pode ser, por exemplo, diminuir o preço para ganhar mercado. O market-share, avaliado em termos de valor absoluto e taxa de variação, é um indicador melhor por incorporar a questão intertemporal.

seleção no mercado. Por outro lado, aquelas que ficarem defasadas perderão market-share e

deverão esforçar-se para rever suas rotinas e redefinir suas estratégias, incorporando o

feedback obtido no mercado, procurando aumentar sua competitividade. A seleção funciona,

portanto, como uma espécie de incentivo por ameaça e de recompensa à inovação.

De certa forma, pode-se considerar que o mercado está funcionando bem como

mecanismo de seleção se a lucratividade e o market-share das empresas estão variando de

acordo com sua capacidade de atender à demanda dos consumidores de maneira melhor ou

pior do que suas concorrentes136. Porém, não há garantias de que o mercado será sempre um

ambiente seletivo eficiente. Muitas estratégias podem conduzir ao sucesso: há forte incerteza

tanto no êxito da busca por inovação e/ou imitação, como na seleção do mercado.

Quanto às inovações, existe um primeiro mecanismo de seleção dentro da própria

firma, aplicado sobre os projetos que podem ser desenvolvidos, e que segue critérios de

viabilidade técnica, econômica e retorno esperado. A difusão de uma inovação bem sucedida

se dá normalmente pelo crescimento de seu uso por parte da própria firma inovadora e/ou por

parte de outras firmas (por exemplo, através da imitação)137 – a mutação é filtrada e aquela

escolhida aumenta sua participação relativa138. É importante considerar também o papel das

instituições extra-mercado no processo de seleção, como é o caso de órgãos públicos que

realizam ou financiam a pesquisa, filtrando os projetos que serão ou não desenvolvidos, mas

sem seguir a lógica de mercado139.

136 Alguns critérios que podem ser considerados no quesito de avaliação de atendimento à demanda são o preço, a qualidade e o prazo oferecidos pela empresa, que são resultado de suas estratégias e tecnologias. Nelson e Winter (1982, p.268). 137 Uma primeira aproximação comumente aceita sobre o processo de difusão no que diz respeito ao número de adotantes no tempo é que ele pode ser descrito por uma curva em forma de S (S-shaped curve). Inicialmente, as informações disponíveis sobre a inovação são poucas, os riscos são elevados e o número de adotantes é pequeno. Conforme o tempo passa e as informações vão sendo difundidas, a inovação é testada no mercado e os riscos diminuem, o número de adotantes cresce exponencialmente. Finalmente, quando a maioria da população interessada já adotou a inovação, então o ritmo de difusão decresce até cessar. Para explicação e crítica a esse modelo ver Combs, Saviotti e Waltch (1987, p.121). As inovações incrementais realizadas e as expectativas das empresas sobre as inovações incrementais que ainda serão desenvolvidas afetam o processo de difusão. Para uma análise detalhada de como as expectativas sobre o ritmo das mudanças tecnológicas afetam a difusão das inovações entre as empresas, ver Rosenberg (1982, cap.5, p.107): “As soon as we accept the perspective of the ongoing nature of much technological change, the optimal timing of an innovation becomes heavily influenced by expectations concerning the timing and the significance of future improvements”. 138 É interessante perceber que a eliminação de uma empresa no processo de seleção não significa necessariamente a eliminação da tecnologia desenvolvida, que pode ter se difundido para outras empresas. 139 Vale ressaltar que não se poderia ter um processo seletivo cujo critério fosse exclusivamente público, pois diminuiria o incentivo à busca de inovações, usada como meio para obter lucro, e, portanto, a dinâmica do sistema.

1.3.2.3 Trajetória da indústria – interação estrutura e estratégia

Dosi140 procura mostrar como a estrutura do mercado é gerada endogenamente pelos

processos de introdução e difusão de inovações, característicos da dinâmica concorrencial.

Para Dosi, os atributos econômicos das inovações e os elementos de diversidade entre as

empresas condicionam o processo de difusão da inovação, que pode se dar por seleção ou

aprendizado, e determinam a conformação da estrutura resultante.

No que diz respeito aos atributos das inovações, o grau de concentração parece ser

positivamente relacionado141, pois uma firma inovadora bem sucedida, aproveitando-se das

oportunidades tecnológicas, da cumulatividade e da apropriabilidade, pode crescer e

promover a concentração142.

Porém, a estrutura do mercado também será fortemente influenciada pelas diferenças

existentes entre as empresas da indústria. A assimetria técnica está relacionada aos distintos

desempenhos inovativos e, neste sentido, as firmas podem ser classificadas como melhores ou

piores em função de sua posição frente à fronteira tecnológica143. Essa assimetria se reflete

em custos, produtividade, capacidade de inovação e imitação, rentabilidade, entre outros. Já a

variedade tecnológica diz respeito às diferenças qualitativas entre as tecnologias utilizadas

pelas firmas e, portanto, não pode ser comparada como melhor ou pior. E a diversidade

comportamental se refere às distintas estratégias adotadas pelas empresas no tocante, por

exemplo, ao preço, à linha de produto ou ao investimento em P&D.

Quão maiores as assimetrias tecnológicas, mais fortemente a difusão tenderá a ser

realizada por seleção, provocando a eliminação das firmas mais atrasadas e a conseqüente

concentração do mercado144. No caso de uma situação inicial mais uniforme, com menores

assimetrias, são maiores as chances de ocorrer difusão por imitação e aprendizado,

dificultando a concentração acentuada. A variedade tecnológica tenderia a facilitar a

140 A referência básica desta análise é Dosi (1984, cap.3 e 1988a). 141 Ver Dosi (1988b, p.1160). 142 “Market structure (including in this instance firm’s size and concentration) cannot be considered as an independent variable, since it is as much a function of past innovativeness, past technological opportunities and past degrees of appropriability of the innovations.” Dosi (1984, p.93). 143A fronteira tecnológica é “definida como o nível mais elevado da trajetória quanto às dimensões tecnológica e econômica”. Possas, M. (1989a, p.168). 144 Nas palavras de Dosi: “To begin, note that each successful innovation – whether related to process technology, products or organizational arrangements – entails ceteris paribus, an asymmetry-creating effect, which allows one or some firms to enjoy some improvement in its competitive position (...). In turn, the higher the asymmetries among firms, the higher also is the possibility for the technological leaders to modify the industrial structure in their favor, and also improve aggregate industrial performance, by eliminating the laggard producers.” Dosi (1988b).

aceitação de uma nova tecnologia, levando a um processo de difusão, provavelmente via

imitação; a menos que a variedade seja tão grande que torne os conhecimentos desconexos.

Finalmente, quanto à diversidade comportamental, se as empresas adotam uma postura mais

agressiva com relação à inovação, a taxa de difusão se eleva e predomina a difusão por

seleção, em que “a inovação bem-sucedida torna-se de imediato forte arma competitiva,

aumentando a rentabilidade das firmas inovadoras e concentrando suas parcelas de

mercado.”145 O objetivo da empresa é impedir a rápida difusão por imitação de forma a

manter seu poder de mercado146.

Em resumo, a qualquer momento no tempo, existe uma determinada distribuição dos

atributos econômicos das inovações e uma determinada configuração de diversidade entre as

empresas existentes no mercado, no que tange à capacitação tecnológica e ao comportamento

estratégico, que condicionam o processo de difusão e determinam a estrutura de mercado

resultante, caracterizando uma dinâmica industrial endógena147.

1.3.2.4 Trajetória tecnológica – demand-pull vs technology-push

As inovações podem ser classificadas quanto a seu foco (processo ou produto) e

quanto a seu efeito (radical ou incremental). Uma inovação radical é aquela que produz uma

transformação abrupta no método de produzir ou no produto – rompe um padrão estabelecido,

dando origem a um novo paradigma tecnológico. Já a inovação incremental representa um

aporte de conteúdo de conhecimento na margem do padrão existente. Os aperfeiçoamentos

das inovações incrementais ao longo da trajetória tecnológica são resultados da tentativa de

superar gargalos (sucessão de pontos de estrangulamento que vão se deslocando ao longo do

tempo)148 e do próprio acúmulo de experiência a partir do processo produtivo e do uso de

novos equipamentos (learning by doing e learning by using149).

145 Possas, M. (1989a, pg.172). 146 Como coloca Dosi: “Different behaviours and different patterns of interaction may lead to quite diverse trends in economic structure...” Dosi (1984, p.106). 147 “Putting another way, industrial performance and industrial structures are endogenous to the process of innovation, imitation, and competition”.Dosi, (1988a, p.1158). 148 “Finally, an important common denominator running through these historical examples is the persistence with which firms attack what, at any given time, they regard as the most restrictive constraint on their operations. This suggests that it may be possible to formulate a microeconomic approach to technical change in terms of a bottleneck analysis. If we would like to understand the kinds of problems to which technically competent personnel are likely to devote their attention, we must come to grips with their inevitable preoccupation with day-to-day problems posed by the existing technology”. Rosenberg (1976, p.125). 149 Para uma análise mais detalhada da questão do “learning by using”, ver Rosenberg (1982, cap.6).

O paradigma tecnológico evolui através das trajetórias das inovações subjacentes,

perpetuando-se até que venha a ser superado. Em geral, co-existem nos setores da economia

vários paradigmas, e circunscritas a cada um deles podem existir várias trajetórias, que podem

começar e terminar sem coincidir com o início e o fim do paradigma. Contudo, grande parte

das mudanças tem razoável estabilidade, pois há predominância de inovações incrementais150.

As trajetórias são path-dependent, isto é, as possibilidades tecnológicas que se colocam a cada

momento são determinadas por escolhas passadas e irreversíveis151; e podem estar sujeitas a

lock-in, que ocorre em função da cumulatividade, ou seja, situação na qual quanto maior o

esforço de P&D no âmbito de uma certa tecnologia, maior será o custo para adotar uma

alternativa152.

Pode-se dizer que a evolução da trajetória tecnológica é conduzida pela estratégia

inovativa das empresas e condicionada pelo desenvolvimento tecnológico presente. As

empresas, ao decidirem sua estratégia inovativa, consideram fundamentalmente as condições

de mercado existente. Neste sentido, o crescimento do mercado influencia a orientação dos

gastos em inovação. Entretanto, o potencial dos esforços inovativos depende do patamar

alcançado pelo desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico.

Conforme as tecnologias se tornam cada vez mais intensivas em ciência, cresce a

interação através da qual seus usuários financiam e direcionam as pesquisas científicas, que,

por sua vez, podem gerar tanto respostas como resultados inesperados, ambos levando a

novos avanços tecnológicos e novas demandas para ciência153. O próprio processo de

pesquisa e desenvolvimento realizado pelas empresas, conduzido em função de suas

expectativas sobre a rentabilidade dos diferentes projetos, é responsável pela descoberta de

novas tecnologias e influencia fortemente projetos de pesquisa e desenvolvimento

subseqüentes. As empresas, no entanto, não têm como superar o fato de que nem tudo o que é

rentável pode ser produzido, dependendo a cada momento da fronteira tecnológica

150 Como no caso dos paradigmas científicos, o que predomina é a prática da “ciência normal”. 151 “In all these examples, the result of today’s searches is both a successful new technology and a natural starting place for the searches of tomorrow” Nelson e Winter (1982, p.257). 152 “In many economic systems, lock-in happens dynamically, as sequential decisions ‘groove’ out an advantage that the system finds it hard to escape from” Arthur (1987, p.5). 153 “It appears that there are two different ways in which academic research feeds into technical advance in industry. In some cases academic research provides the original “inventions” or pilot versions of designs that industry subsequently develops and commercializes. (…) But in most fields what academic research provides is not pilot inventions but understanging and techniques that industry can later employ for a variety of different purposes” Nelson, (1990, p. 208). Rosenberg, em seu capítulo 7, argumenta que existe uma importante relação bidimensional entre a tecnologia e a ciência, e não aceita a idéia de que a ciência venha antes e a tecnologia depois: “The growth of knowledge is much more cumulative and interactive than is realized, especially when it is thought of as a one-shot, once-and-for-all affair, with new scientific knowledge supposedly leading to technological applications-period”. Rosenberg (1982, p. 153).

existente154. Vale notar ainda que, nestas circunstâncias, o progresso técnico retratado pela

trajetória representa uma seqüência de deslocamentos de trade-offs entre variáveis técnico-

econômicas no sentido da superação tecnológica com aplicações mais rentáveis155.

Esta colocação acaba com a dicotomia existente entre as visões demand-pull, segundo

a qual é o crescimento do mercado que faz com que as inovações se viabilizem, e technology-

push, segundo a qual a dinâmica tecnológica tem dimensão própria e regularidade, sendo o

mercado apenas seletivo ex-post156. Para a corrente neo-schumpeteriana, o conjunto de

tecnologias disponíveis não deve ser considerado como um dado exógeno, mas como

conseqüência de um processo cumulativo gerado tanto por fatores técnicos, como por fatores

econômicos.

1.3.3 Concorrência e Competitividade

O estudo das teorias de Schumpeter e neo-schumpeterianas permite compreender a

relação existente entre a estrutura de mercado, a estrutura tecnológica e a estrutura

concorrencial como resultado de um processo cumulativo e path-dependent que define a

competitividade não só das firmas e setores como do país como um todo. Apesar de o

enfoque da presente tese e, particularmente, do modelo de simulação, não estar centrado na

análise das interações microeconômicas ao nível das firmas, a análise precedente é pertinente

pelo fato de a conformação da estrutura produtiva e da competitividade serem determinantes

primários da existência de desequilíbrios estruturais externos, que acabam levando à

constrição do crescimento.

154 “Although economic forces and motives have inevitably played a major role in shaping the direction of scientific progress, they have not acted within a vacuum, but within the changing limits and constraints of a body of scientific knowledge growing at uneven rates among its component subdisciplines” Rosenberg (1976, p. 270). 155 Um exemplo típico de um trade-off que vem sendo alterado com a evolução das trajetórias tecnológicas é a capacidade de processamento x miniaturização. 156 “One realizes that, in actual fact, there is a complex structure of feedbacks between the economic environment and the directions of technological changes”. Dosi (1984, p.11).

2. Restrição de Balanço de Pagamentos e Crescimento Limitado

De acordo com a análise elaborada no primeiro capítulo, as contribuições

fundamentais de Keynes são: o princípio da demanda efetiva, sua teoria de aplicação do

capital e o tratamento dispensado às expectativas. Kalecki reforça o princípio da demanda

efetiva e fornece bases para uma análise do ciclo e da tendência na dinâmica econômica. A

teoria de Schumpeter, que diz respeito às questões da concorrência e da inovação, bem como

seus efeitos cíclicos, pode, fundamentalmente – com algumas adaptações -, ser inserida na

teoria das decisões de portfólio de Keynes com vista à valorização do capital e permite a

compreensão dos mecanismos de geração de uma tendência a longo prazo na economia, em

acordo com a própria teoria de Kalecki. Em síntese, as teorias de Keynes e Kalecki fornecem

fundamentos para a análise da trajetória de crescimento com estrutura estável a partir do

princípio da demanda efetiva, enquanto a teoria de Schumpeter fornece as bases para a

explicação das mudanças estruturais e seus efeitos dinâmicos de longo prazo.

A partir desses autores, portanto, é possível obter os determinantes da dinâmica dos

processos de crescimento e desenvolvimento. O crescimento pode ser visto como um

fenômeno caracteristicamente de curto prazo, vinculado a variações na renda com estruturas

dadas. Neste trabalho, o termo “desenvolvimento” será utilizado para caracterizar uma

dinâmica de longo prazo com alteração estrutural endógena, no sentido de incorporar as

condições de demanda, concorrência e financiamento necessárias para a manutenção de um

processo de crescimento, diversificação e elevação da produtividade. Serão considerados

países desenvolvidos aqueles que conseguiram construir as bases para que esta dinâmica

evolua de forma sustentada, isto é, sem ser interrompida sistematicamente por gargalos

internos ou restrições externas; países em desenvolvimento serão aqueles em vias de

construção de tais bases; os demais serão denominados subdesenvolvidos.

A divergência nas taxas de crescimento entre os países, de acordo com este arcabouço

teórico, passa a estar vinculada à restrição de demanda. O problema do balanço de

pagamentos é o fator predominante de constrição sobre a demanda nos países atrasados,

limitando seu crescimento. O desequilíbrio externo, como será visto, é causado por

disparidades entre os coeficientes e as elasticidades de importação e exportação, parâmetros

que refletem características da estrutura produtiva, isto é, do grau de desenvolvimento157.

157 Como colocam Dosi e Soete: “(…) the micro-economic and sectoral levels and changes in international competitiveness, determined under conditions of continuous technological learning and limited short-term substitution in both production and

Em resumo, neste capítulo, será visto, segundo este arcabouço, por que há a restrição

do balanço de pagamentos; por que se transforma em restrição sobre demanda; e como insere

um país em um círculo vicioso.

2.1 Balanço de pagamentos e Restrição Externa

Uma razão central para as taxas de crescimento diferirem entre países reside nas

características dos bens produzidos, que determinam as elasticidades-renda da demanda por

exportações e as propensões a importar. A solução para melhorar a situação daqueles países

com taxas de crescimento relativamente inferiores passa pela mudança na cesta de bens e

serviços produzidos. Enquanto persistir o desequilíbrio comercial nestes países, há

necessidade de atrair capitais estrangeiros para equilibrar o balanço de pagamentos, deixando-

os em situação de elevada vulnerabilidade externa.

2.1.1 Déficit na Balança Comercial e as condições estruturais

Uma restrição de balanço de pagamentos pode ser considerada estrutural quando a

trajetória de crescimento de um país é marcada por um agravamento contínuo e/ou recorrente

do déficit da balança comercial. A maioria dos países atrasados poderia aumentar o uso de

seus recursos (diminuir os recursos ociosos) se tivesse melhores condições no comércio

internacional (mais divisas) – este é o significado fundamental da restrição estrutural do

balanço de pagamentos: implica um constrangimento ao crescimento antes de se atingir a

plena utilização da capacidade produtiva.

A relevância das exportações, seu caráter específico que a diferencia dos demais

componentes da demanda, deve-se ao fato de gerar, ao mesmo tempo, elevação da demanda

(e, logo, da renda – efeito que depende de seu peso relativo nos gastos totais), e

disponibilidade de divisas, que podem ser usadas para pagar pelo conteúdo de importação das

outras fontes de demanda (consumo, investimento e gastos do governo)158. Sua importância,

no caso de países cujo crescimento é constrangido pelo balanço de pagamentos, está em geral

(dependendo do grau de abertura comercial do país) associada ao segundo fator, ou seja, as

consumption, appear also to represent the microfoundations of many macro-economic analyses, in particular those with some Keynesian ascendancy whereby economic systems seldom hit any powerful scarcity constraint, but are limited in their growth by aggregate demand and foreign balance requirements”. Dosi e Soete (1988, p.421-2). 158 Thirlwall (1997, p.380).

exportações podem ser fundamentais para viabilizar o crescimento, sem, no entanto, serem as

principais responsáveis por promovê-lo159.

Uma redução do coeficiente de importação teria efeito similar ao de um aumento das

exportações, por reduzir a restrição externa ao crescimento: para um menor coeficiente de

importação, a demanda e o nível de renda podem ser mais elevados sem gerar desequilíbrio.

As importações diminuem o valor do multiplicador por constituírem um “vazamento” para o

exterior, isto é, para um mesmo fluxo de renda é menor a despesa interna. As exportações

têm efeito contrário. Logo, quão menores o coeficiente e a elasticidade-renda de importação,

maiores o dinamismo interno e o crescimento potencial, até atingir a restrição externa.

Kalecki demonstra como o problema da restrição externa é resultante da inadequação

da estrutura produtiva. O que determina o nível, composição e competitividade do fluxo de

comércio internacional de um país é sua estrutura de oferta e demanda. O problema surge

quando o país não é capaz de gerar produtos de forma a compatibilizar as exportações com as

importações:

Dada uma estrutura econômica inicial, podemos construir, com base em uma suposta distribuição de renda e uma taxa de crescimento desejada, um plano que antecipe a tendência da demanda de bens essenciais, bens supérfluos, bens de capital e bens intermediários necessários à produção de bens finais. Estas demandas serão parcialmente atendidas pela produção interna, e o restante terá de ser importado. Em princípio, as importações necessárias sempre podem ser cobertas pela produção de produtos exportáveis. Mas a estrutura provável dessa produção pode não preencher as condições predominantes nos mercados externos. Assim, o país se vê às voltas com um déficit no comércio exterior e com a não-utilização, na mesma proporção, de sua capacidade produtiva.160

2.1.1.1 Necessidade de Industrialização

Prebisch161, analisando a situação dos países "periféricos" em meados do século XX,

já havia destacado o problema da disparidade entre os coeficientes de importação e as

159 Como colocam Medeiros e Serrano: “Pretende-se argumentar aqui que as exportações podem ser mais ou menos importantes para a expansão da economia – de acordo com uma série de características estruturais de cada país; entretanto, seu papel no financiamento e relaxamento da restrição externa ao crescimento é absolutamente central e estratégico para todos os países, com a exceção daquele que emite a moeda de circulação internacional. É importante distinguir o papel da taxa de crescimento das exportações como componente da tendência da demanda efetiva a longo prazo e sua função no equacionamento do financiamento externo do desenvolvimento econômico”. Medeiros e Serrano (2001, p.106). 160 Kalecki (1972, p.70). 161 Prebisch foi encarregado, ao final da década de 1940, de assumir a responsabilidade de conduzir o estudo que seria realizado pela Comissão Econômica para América Latina (CEPAL), órgão da ONU que havia acabado de ser criado, sobre os problemas envolvidos na questão do desenvolvimento latino-americano e as possíveis alternativas para contorná-los e colocar o continente em vias de crescimento.

elasticidades-renda das importações de produtos industrializados, por um lado, e os das

exportações dos produtos primários, por outro, resultado de suas estruturas produtivas e que

implicava crescente desequilíbrio no balanço de pagamentos conforme as economias

avançavam.

Para Prebisch, a conformação da estrutura produtiva sofreu forte influência do papel

que cada país assumiu na divisão internacional do trabalho e da interação entre os países

através do comércio internacional. Prebisch denominou “países centrais” aqueles onde

primeiro surgiam os progressos técnicos, que rapidamente se difundiam por toda sua

estrutura, caracteristicamente homogênea e diversificada, com alta produtividade e com uma

ampla cadeia de grande complementaridade inter-setorial. Já os países denominados

“periféricos” eram normalmente primário-exportadores com uma estrutura produtiva

especializada e heterogênea: especializada por ter a atividade econômica concentrada no setor

primário, em alguns bens demandados pelo centro e em bens de subsistência, sem uma cadeia

produtiva desenvolvida; e heterogênea em função da disparidade na produtividade das

atividades primárias voltadas para o mercado interno vis-à-vis as primário-exportadoras, que

recebiam investimento externo e produziam para servir ao centro.

A discussão de Prebisch estava direcionada a questionar a teoria tradicional do

comércio internacional baseada no princípio das vantagens comparativas, segundo a qual a

configuração econômica mundial tal como havia se delineado, com alguns países

especializados na produção industrial e outros na produção primária, era a maneira mais

eficiente de se obter o máximo de renda e a distribuição mais igualitária. Prebisch aceitava

que o meio mais direto para se obter a elevação do ritmo de crescimento da renda era através

da elevação da produtividade, que seria lograda principalmente pela introdução do progresso

técnico. Mas, com base em evidências empíricas, contesta a idéia de que, por meio de

mudanças nos preços relativos, haveria difusão dos frutos do progresso técnico dos países

centrais gerando uma tendência à homogeneização do nível de renda. A variação nos preços

não estava vinculada à redução nos custos advinda da elevação da produtividade e não se

movia no sentido de homogeneizar a renda. Pelo contrário, os termos de troca moviam-se

constantemente contra os bens primários162, implicando transferência de parte dos frutos do

progresso técnico da periferia e concentração da renda nos países centrais.

162 De acordo com os dados apresentados por Prebisch (1949, p.94), tomando a relação entre os preços dos produtos primários e os preços dos produtos industriais do ano de 1880 como base, em 1911-13 esta relação

A estrutura produtiva dos países periféricos, centrada no setor primário, não criou um

mecanismo interno capaz de impulsionar a expansão da economia e a absorção do excedente

de mão-de-obra, tornando-os dependentes da dinâmica das exportações. Ao mesmo tempo, a

dinâmica da economia mundial não gerava uma demanda pelos bens primários da periferia

suficientemente elevada para manter um alto nível de emprego com alta produtividade. O

desemprego, combinado com as flutuações cíclicas da economia mundial, abria margem para

a deterioração dos termos de troca em função das pressões exercidas pelos centros sobre os

preços dos produtos primários.

Prebisch mostrou, ainda, como o crescimento da periferia era limitado em função da

tendência ao desequilíbrio externo. Esta tendência surgia pela diferença na elasticidade-renda

de demanda entre os produtos exportados pela periferia e pelo centro, uma vez que a primeira

é inferior à segunda e menor que a unidade. A baixa elasticidade-renda da demanda por bens

primários era conseqüência: i) dos progressos introduzidos na produção, que permitiam um

melhor aproveitamento da matéria-prima, diminuindo sua proporção no valor do produto

final; ii) do fato de os bens primários terem sido gradualmente substituídos por produtos

sintéticos, plásticos, fibras artificiais, e outros levando, da mesma forma, à diminuição da

proporção utilizada de produtos primários nos produtos finais; e, finalmente, iii) da elevação

da renda, que gera tendência à diversificação do consumo, normalmente em direção a serviços

ou produtos mais sofisticados e que utilizam baixíssima proporção de matéria-prima163.

Para não haver desequilíbrio no balanço de pagamentos, o ritmo de crescimento da

renda da periferia deveria estar limitado superiormente pelo ritmo de crescimento de suas

exportações, que, por sua vez, era determinado pelo ritmo de crescimento das importações do

centro, que crescem a um ritmo inferior ao de sua renda. Então, havia uma tendência ao

distanciamento entre as rendas do centro e da periferia, intrínseca à existência da disparidade

nas elasticidades-renda das demandas por importação164. Inviabilizava-se, dessa forma, um

processo de desenvolvimento nos países periféricos, uma vez que implicaria elevado ritmo de

havia caído para 85,8, e em 1931-35 para 62, voltando a se recuperar ligeiramente em 1946-47, passando para 68,7. 163 “Es una característica universal del desarrollo económico que conforme el ingreso por habitante se eleva por encima de ciertos mínimos la demanda de productos primarios crece con menos intensidad que la de artículos industriales y servicios”. Prebisch in Gurrieri (1982, p.366). 164 As questões da disparidade dos coeficientes e elasticidades e da deterioração dos termos de troca são complementares. Mesmo se os termos de troca permanecessem constantes, a disparidade das elasticidades-renda de importação e exportação seria suficiente para limitar o crescimento; a piora nos termos de troca apenas agravaria ainda mais a situação.

crescimento da renda e conseqüentemente um ritmo de crescimento ainda maior das

importações, incompatível com a capacidade de importar gerada pelas exportações.

A solução para Prebisch passava por um processo de modernização da agricultura

acompanhado por expansão da indústria, que permitiria aos países periféricos transformarem

sua estrutura produtiva, no sentido da diversificação e homogeneização, dotando-os de uma

dinâmica interna autônoma e com menor necessidade de importações, isto é, diminuindo sua

vulnerabilidade e alterando sua inserção internacional. O processo de industrialização

refletiria a transição da fase de "desenvolvimento para fora" para a fase de "desenvolvimento

para dentro", quando o fator dinâmico passaria a ser interno, e não mais as exportações. Para

que o processo de industrialização se realizasse, porém, eram necessários incentivos aos

investimentos. A expansão da indústria, portanto, deveria estar voltada para substituição das

importações, servindo de estímulo o desvio de parte da demanda por importações para a

produção interna.

O crescimento assim gerado elevaria as importações, mas este aumento seria

eventualmente compensado pela diminuição alcançada com a atividade substitutiva. A

industrialização, dessa forma, além de diminuir o coeficiente de importações, também

diminuiria a pressão sobre as importações ao possibilitar a produção interna de bens que têm

altíssima elasticidade-renda de demanda. A diminuição concomitante da elasticidade-renda da

demanda por importação e do coeficiente permitiria aos países periféricos não estarem mais

limitados a um ritmo de crescimento inferior ao de suas exportações ou ao do centro, podendo

iniciar um movimento de convergência, desde que conseguissem alcançar um elevado ritmo

de crescimento de suas produtividades.

Ainda, o processo de industrialização, ao completar o papel da demanda externa,

estimulando a dinâmica interna, aumentaria a capacidade de absorção da população ativa com

alta produtividade e diminuiria a margem para redução dos salários e preços (logo para a

deterioração dos termos de troca). Ou seja, reduziria os riscos de que parte dos frutos do

progresso técnico da periferia fosse transferida para o centro ao invés de se converter

integralmente em elevação da renda.

No entanto, existiam alguns obstáculos à realização do processo de industrialização.

Um primeiro problema apontado por Prebisch dizia respeito à escassez de capital para se

efetuar os investimentos necessários à elevação da produtividade média, através da interação

entre os processos de modernização da agricultura e de industrialização. Um problema

correlato era a escassez de divisas para sustentar o nível de importação associado ao início do

processo, quando aumenta a demanda de bens industriais, especificamente de bens de capital

dos quais depende a montagem inicial das indústrias. Quando o processo de industrialização

estivesse em fase mais adiantada, a produção resultante colaboraria para reduzir a pressão

sobre o balanço de pagamentos, mas na fase inicial é grande e inelástica a demanda por bens

importados.

Outro sério problema com o qual se defrontava a periferia em seu processo de

industrialização eram as tecnologias embutidas nos equipamentos importados do centro, que

elevavam a produtividade do trabalho, economizando mão-de-obra em países onde o capital

era escasso e caro e a mão-de-obra, abundante e barata. Esta economia não era capaz de

compensar o custo do capital e a introdução destas técnicas agravava o problema do

desemprego, dada a escassez de capital para expandir atividades que pudessem reabsorver

todos os trabalhadores dispensados. Ainda, a periferia não possuía uma demanda interna

suficiente para esgotar toda a produção compatível com a escala mínima eficiente definida de

acordo com os padrões de consumo dos centros, o que dificultava a obtenção dos ganhos de

economias de escala e implicava menor produtividade.

Frente a estas dificuldades, o sucesso do processo de industrialização voltado para

substituição de importações dependia de políticas eficazes para orientar as divisas para a

importação de bens de capital e matéria-prima indispensáveis. Segue daí a conclusão sobre a

necessidade de planejamento e orientação por parte do Estado.

2.1.1.2 Necessidade de Modernização

Nos tempos atuais, no entanto, apesar de a estrutura produtiva ter sido desenvolvida,

as exportações agrícolas foram complementadas por exportações industriais com baixo

conteúdo tecnológico. A incompletude e o atraso da estrutura existente perpetuam o

problema da restrição externa. A restrição estrutural de balanço de pagamentos é, no

presente, uma característica típica de países exportadores de commodities agrícolas e

industriais, sujeitas a elevada concorrência internacional e pequeno coeficiente e elasticidade-

renda de exportação, e importadores de produtos industrializados especializados e

tecnologicamente sofisticados. O problema atual, portanto, não é mais apenas a composição

em termos de produtos primários e industrializados: ele foi deslocado para a questão do nível

de sofisticação dos produtos comercializados e a capacidade de modernização das estruturas

produtivas. Um país que dependa das exportações para crescer, seja por sua geração de

divisas ou por seu papel como componente da demanda, precisa estar sempre inovando para

se manter competitivo e manter ou mesmo aumentar sua fatia no mercado mundial.

McCombie e Thirlwall elaboraram um modelo de crescimento com restrição pelo

balanço de pagamentos e orientado pela demanda que se pretende capaz de explicar as

diferenças entre as taxas de crescimento de longo prazo dos diferentes países. As hipóteses

do modelo são que: i) a oferta de fatores e o progresso técnico são endógenos, dependentes do

crescimento; ii) o câmbio real é constante (os termos de troca permanecem fixos)165; iii) as

exportações são o único componente autônomo da demanda; e iv) o balanço de pagamentos,

inclusive a balança comercial, está em equilíbrio no longo prazo. Sua conclusão é que a taxa

de crescimento dos diferentes países com balanço de pagamento equilibrado será determinada

pela razão entre a taxa de crescimento das exportações e a elasticidade-renda das

importações166. De acordo com este resultado, o cerne da questão para alterar processos de

convergência ou divergência estaria em ampliar o crescimento das exportações e diminuir a

elasticidade-renda das importações, ambos determinados primordialmente pelo que os autores

chamam de “non-price competitiveness”, isto é, por fatores de competitividade não

relacionados ao preço.

A argumentação dos autores, que se baseia fortemente nas análises de Kaldor, segue a

linha dos modelos de crescimento dinamizado pelas exportações (export-led growth)167, que

trabalham com a noção de causação cumulativa e circular. O círculo virtuoso seria iniciado

pela venda das exportações, que impulsiona o crescimento interno, estimula a elevação da

oferta de trabalho (via imigração e transferência intra-setorial) e aumenta o investimento. O

crescimento e o investimento, através do progresso técnico incorporado no capital, do

learning by doing e das economias de escala, elevam a produtividade e a competitividade dos

165 Para defender esta hipótese os autores argumentam que, embora flutuem no curto prazo, os termos de troca são estáveis no longo; e que, mesmo se não houvesse essa estabilidade, as elasticidades-preço de exportação e importação teriam que ser significativamente maiores do que a unidade para que o crescimento fosse independente da posição do balanço de pagamentos. 166 Segundo Thirlwall, esta conclusão representa a versão dinâmica do multiplicador de comércio internacional de Harrod, que estabelece que o nível de renda é determinado pela razão entre o nível das exportações e a propensão marginal a importar. 167 Nas palavras de Thirlwall: “Thus, the explanation of growth rate differences must lie primarily in differences in the rate of growth of demand, and the major constraint on the rate of growth of demand in most countries is the balance-of-payments. The model and the empirical evidence lends strong support to the advocates of export-led growth”. Thirlwall e McCombie (1994, p.245). Para uma análise crítica do modelo kaldoriano de crescimento liderado pelas exportações, ver Freitas (2003).

produtos nacionais, aumentando as exportações e dando continuidade ao processo. O

aumento da produtividade e a disponibilidade de produtos de alta tecnologia elevam a non-

price competitiveness do país, que passa a exportar produtos cuja demanda mundial cresce

mais rapidamente e a importar produtos de menor elasticidade-renda. Muitos países, no

entanto, ficam presos no círculo vicioso, ou seja, pouca exportação, levando a baixo

crescimento e investimento restrito, logo há pequena elevação da produtividade e pouca

competitividade, que se refletem em pouca exportação, e assim por diante, mantendo a

restrição de balanço de pagamentos à demanda e ao crescimento. A cumulatividade associada

aos círculos virtuosos e viciosos acaba acentuando a trajetória de divergência entre as

economias dos diferentes grupos de países168.

A questão apresentada no modelo de McCombie e Thirlwall sobre a influência dos

fatores non-price na determinação da participação dos países no fluxo internacional de

comércio é de extrema importância. A competição na atualidade quase não se dá via preço

(exceto em commodities); os mercados são oligopolizados e os fatores non-price, como

aqueles relacionados a marketing, design, qualidade, performance, confiança, facilidade de

manutenção, rapidez de entrega, extensão e eficácia na rede de distribuição, disponibilidade

de crédito, assistência técnica e garantias são fundamentais. Já foi comentado que a demanda

por produtos de baixa qualidade e menor sofisticação, coerentes com preços baixos, cresce

mais lentamente conforme a renda aumenta. A diferença em preço reflete diferença em

qualidade: é pequena a competição via preço para produtos de qualidade semelhante. A

variação dos preços relativos e a elasticidade-preço perderam importância na determinação

dos padrões de troca, pois os produtos são diferenciados, e a non-price competition é que

determina o sucesso dos países nos mercados externos169. A maior parte do comércio

internacional passou a se desenvolver intra-indústria entre países similares com base em

diferenciação de produto.

O caminho para a superação do problema da restrição do balanço de pagamentos na

visão de McCombie e Thirlwall é claro e compatível com a visão de autores apresentados

anteriormente, como Prebisch e Kalecki: é preciso alterar a estrutura produtiva para reduzir a

168 “Clearly, not all countries in the world can be balance-of-payments-constrained in their growth, but it only requires one country or group of countries not to be so constrained for all the rest to be so (…)” Thirlwall (1997, p.383). 169 “In models of cumulative causation in which some economies produce goods which are expanding fast in demand while other economies produce goods which are sluggish in demand, it is the difference between the income elasticity characteristics of exports and imports which is the essence of the theory of divergence between center and periphery and between industrial and agricultural economies”. Thirlwall e McCombie (1994, p.431).

restrição de balanço de pagamentos sobre a demanda e lograr um crescimento mais acelerado.

Neste sentido, é importante implementar políticas que realoquem os recursos entre os setores

primário, industrial e de serviços, atentando para a diferença entre “tradeables” e “non-

tradeables” e para as características específicas dos bens, de forma a ampliar a

competitividade e a inserção do país no comércio internacional170.

Entretanto, podem-se tecer algumas críticas ao modelo de McCombie e Thirlwall. Os

autores adotam como referência de análise do crescimento dos países a situação de equilíbrio

de longo prazo do balanço de pagamentos, determinado pela relação entre o crescimento das

exportações e a elasticidade-renda das importações. No curto prazo, os países poderiam ter

desequilíbrios na balança comercial compensados por entrada de capital estrangeiro, o que

não seria sustentável a longo prazo. Porém, em primeiro lugar, é patente, como ressalta

Freitas (2003), a possibilidade de existirem países sem problema de balanço de pagamentos e

incorrendo em superávit crônico, situando-se abaixo da restrição externa171. Em segundo

lugar, mesmo uma situação de passivo externo crescente e continuamente refinanciado pode

ser sustentável, a depender da relação entre a taxa de retorno do capital externo e a taxa de

crescimento das exportações e da situação de liquidez do país172.

Vale destacar que as decisões dos agentes econômicos em cada situação de

desequilíbrio têm uma série de implicações dinâmicas que não devem ser desconsideradas. O

enfoque teórico adotado nesta tese, conforme apresentado no primeiro capítulo, usa, no lugar

de análises de equilíbrio, simulações sobre o comportamento das variáveis relevantes nas

condições existentes (que só serão de equilíbrio por raro acaso) e que geram trajetórias em

aberto. Ainda, é importante evitar que as relações causais fiquem obscurecidas pela referência

de equilíbrio proposta: é a demanda que determina o crescimento do produto e da capacidade

produtiva e o crescimento é que está sujeito à restrição do balanço de pagamentos – o

crescimento não é determinado pelo balanço de pagamentos, mas sim pela demanda efetiva,

que sofre a influência desta restrição.

Também, ao supor que a exportação é o único componente autônomo de demanda, os

autores desconsideram o investimento em inovação, gasto autônomo extremamente relevante 170 A questão das políticas necessárias será tratada de maneira mais detalhada na última seção deste capítulo. 171 “Mas a situação oposta – superávits crônicos no balanço de pagamentos – poderia ser mantida por períodos prolongados, acarretando um acúmulo crescente de reservas internacionais. (...) Isto significa que o resultado do balanço de pagamentos deveria ser, em princípio, considerado como uma restrição e não como uma condição de equilíbrio em relação ao nível de produto. Neste caso, entretanto, não seria possível exlcuir a possibilidade de que alguns países poderiam estar sistematicamente abaixo da restrição externa”. Freitas (2003, p.12). 172 Ver Medeiros e Serrano (2001).

para a competitividade do país e tão importante na teoria de Schumpeter, além de ser fator

crucial para a geração de tendência na economia de acordo com Kalecki. McCombie e

Thirlwall tratam todo o investimento como induzido; o progresso técnico viria embutido nas

novas máquinas e equipamentos ou seria conseqüência do learning by doing, que permite

aprimoramentos com base na experiência passada. Assim, embora ressaltem o grande

impacto da “non-price competitiveness” sobre as condições do balanço de pagamentos, não

elaboram uma análise mais detalhada a respeito do processo de geração do progresso técnico,

vinculado a um contexto de concorrência e que explique a sua lógica de geração endógena.

De fato, há grande dependência dos países atrasados em relação à importação de

tecnologia e ao aproveitamento de tecnologia incorporada; estes países têm mais incentivo a

imitar tecnologias já disponíveis do que a inovar, têm dificuldade de acesso a know-how e

precisam de invenções adaptadas às suas condições específicas173. Mas é parte fundamental

da busca pela superação da condição de atraso destas economias o desenvolvimento de

mecanismos endógenos de inovação similares àqueles existentes nos países mais avançados.

Um círculo virtuoso que caracterize uma dinâmica de crescimento sustentada não pode

considerar que o progresso técnico virá apenas da importação e do aprendizado174.

Os processos envolvidos na transformação da estrutura produtiva dos países atrasados,

para superar o círculo vicioso e entrar em um caminho de convergência com os países

desenvolvidos, passam por questões como a dinâmica de geração e difusão das inovações, os

incentivos necessários aos atores envolvidos, as estratégias e competências das

organizações175. O desenvolvimento pressupõe em uma economia moderna com produção

diversificada, alta tecnologia e nível de renda elevado, produzido a partir de fatores de

produção, como capital físico e humano, que envolvem conhecimento científico e técnicas 173 Como já exposto na argumentação de Prebisch, as tecnologias são geradas e moldadas em acordo com as condições onde têm origem e existe uma série de dificuldades para se aplicar a tecnologia produzida em países desenvolvidos nos países subdesenvolvidos, por fatores como os insumos utilizados e o tamanho do mercado, dentre outros. 174 Como coloca Fagerberg: “It was concluded that ‘to catch up with the developed countries (…) semi-industrialized countries cannot rely only on a combination of technology imports and investments, but have to increase their national technological activities as well”. Fagerberg (1994, p.1161). 175 “The first is that a model of technical change based simply on the adoption of new vintages of machinery, accompanied by blueprints and operating instructions, and followed by productivity improvements resulting automatically from experience in production is inadequate. Apart from failing to explain how new vintages of machinery emerge in the first place, it does not even square with the empirical evidence about technology-borrowing late industrializing countries: it completely ignores the investment in intangible capital that is necessary not just to operate machines, but to choose them in the first place, to improve their performance once acquired, to replicate them and further develop both them and the products they produce, and to lay the basis for related and higher value-added activities in future. In other words, such a model ignores the central importance of the stock of resources for generating and managing change that we have described as technological capabilities, and it ignores the conscious and deliberate learning required to accumulate those resources”. Bell e Pavitt (1993, p.201-2).

sofisticadas. O processo de catch-up não é fácil e requer uma série de condições apropriadas,

econômicas e institucionais, para ter sucesso. É longo o caminho que têm os países atrasados

a percorrer para capacitarem-se a competir com os países desenvolvidos.

2.1.2 Compensação pela conta de capitais

Um país que esteja incorrendo recorrentemente em déficits na balança comercial, dado

que suas reservas de divisas são limitadas, dependerá da entrada de fluxos de capitais

estrangeiros para equilibrar seu balanço de pagamentos. Um aumento da entrada de capitais

estrangeiros permite a elevação das importações e, portanto, viabiliza um maior nível de

demanda efetiva e crescimento. A entrada destes capitais, no entanto, ao contrário de uma

elevação das exportações ou de uma redução das importações, compromete no futuro as

divisas (por repatriação, lucro, juros ou amortização). Portanto, um país que incorre de forma

recorrente em déficit na balança comercial e depende da entrada de capitais está aumentando

progressivamente seu estoque de passivos e, conseqüentemente, o fluxo de saída de capital

vinculado a este estoque. Nesse caso, para frear uma elevação contínua dos passivos,

supondo que as dívidas possam ser continuamente renegociadas, as exportações teriam de

cobrir não só as importações, como também a renda líquida enviada ao exterior, de forma a

manter equilibrada a conta de transações correntes. A entrada de capitais terá efeito positivo

se estiver contribuindo, direta ou indiretamente, para a elevação das exportações em

proporção maior do que compromete as divisas com remessas futuras ao exterior. Em

resumo, a falta de capital estrangeiro pode ser impeditiva do crescimento em situação de

desequilíbrio na balança comercial, mas sua disponibilidade pode causar impedimento futuro,

pelos custo e risco envolvidos em sua atração.

Em termos gerais, a entrada de capitais, seja via empréstimo, financiamento,

investimento direto estrangeiro (IDE) ou investimento em ativos ou instrumentos financeiros

(como ações, bônus, debêntures e títulos, dentre outros), está inserida em uma estratégia de

diversificação de portfólio, por meio da combinação de taxas de retorno e risco, também

influenciada pela disponibilidade de informações sobre o país e o mercado. Qualquer fluxo

de capital privado ocorrerá na expectativa de se obter um retorno que cubra simultaneamente

a taxa de juros internacional, a expectativa de depreciação do câmbio e o risco envolvido na

operação, que determinam em conjunto o nível mínimo necessário para a taxa de juros local

e/ou rentabilidade capaz de atrair sua entrada.

Kalecki, em um artigo de 1972, avalia diferentes possibilidades de ajuda externa para

contornar o problema de escassez de divisas, ressaltando a importância de se considerar o

ônus associado a cada tipo de ajuda. Particularmente, são destacados neste contexto o caráter

essencial das exportações, as vantagens dos recursos públicos (apesar das exigências

normalmente vinculadas176) e as desvantagens do IDE, cujo lucro repatriado tende a superar o

custo do serviço da dívida. Segundo Kalecki, para caracterizar uma ajuda externa de fato, o

capital estrangeiro deveria permitir a elevação das importações acima da capacidade gerada

pelas exportações, sem necessidade de pagamento imediato e a um custo inferior aos vigentes

no mercado, devendo ser usado para aprimorar a estrutura produtiva e gerar crescimento177. A

melhor forma de ajuda, porém, ainda seria a elevação dos termos de troca, “comparável a uma

entrada contínua de subvenções incondicionais”178.

Para Kalecki, a possibilidade de a ajuda externa ser um instrumento de elevação da

taxa de crescimento e de superação de obstáculos no comércio exterior depende de que seja

orientada para superar gargalos e não para aumentar o consumo de bens supérfluos. Mesmo

que o país utilizasse adequadamente o fluxo de capital recebido, direcionando-o para

aumentar a capacidade produtiva de recursos essenciais, permanece o problema trazido pelo

serviço da dívida, que será tão menor quão melhores as condições de crédito (carência, prazo

de pagamento e taxa de juros), mas que fatalmente se avolumará com o passar do tempo,

exigindo novos mercados para exportações. Com uma entrada contínua de empréstimos, uma

parcela crescente das divisas geradas pelas exportações estará comprometida com o

pagamento do serviço da dívida:

Isto dará início a um processo de bola de neve, o que apenas mostra que mesmo a assistência externa permanente não solucionará os problemas dos países em desenvolvimento enquanto persistirem dificuldades no comércio exterior. Não devemos jamais perder de vista o fato de os créditos serem uma forma de adiar o pagamento de uma remessa de bens; em última análise, esse pagamento terá de tomar a forma normal de uma exportação. 179

Desta forma, a principal função da ajuda externa é aumentar a capacidade de importar

do país receptor, mas este deve aproveitá-la para desenvolver sua estrutura produtiva e

176 Como coloca Gonçalves (1998, p.121): “No caso de capitais não-privados, os empréstimos e financiamentos por organismos internacionais tendem a depender de considerações de ordem não-econômica, em geral, e a transcender a lógica do retorno financeiro, em particular. Na realidade, o comportamento dos organismos internacionais parece ser mais adequadamente explicado pela política internacional do que pela economia internacional.”. 177 Para a definição de ajuda externa, ver Kalecki (1972, p.65). 178 Kalecki (1972, p.86). 179 Kalecki (1972, p.73).

promover suas exportações, de forma que, no longo prazo, seja capaz de pagar o serviço da

dívida sem comprometer seu crescimento e sem ter necessidade de ajuda continuada.

2.1.2.1 Nota sobre o Investimento Direto Estrangeiro

O IDE, em geral, é visto como uma boa alternativa para entrada de capital estrangeiro

em um país, por não implicar “serviço da dívida”, por trazer aporte tecnológico e por haver,

em princípio, um comprometimento de longo prazo do capital. Kalecki questiona esta noção

e mesmo a inclusão do IDE na classificação de ajuda externa. Para Kalecki, o IDE não é

necessariamente mais barato do que um empréstimo por não precisar ser pago. O custo

efetivo em divisas do financiamento via IDE seria até superior ao de financiamento via dívida

externa de longo prazo, na medida em que: i) as taxas de lucro tendem a ser maiores do que as

taxas de juros, pois devem cobrir, além destas, o prêmio de risco associado às incertezas da

operação no exterior; isto é, os lucros remetidos ao exterior podem exceder o custo do serviço

de um empréstimo externo; ii) o reinvestimento dos lucros das empresas transnacionais (ET)

representa um novo fluxo bruto de capital (implicando em novos direitos a remessas futuras)

e, portanto, é somado ao valor do investimento estrangeiro sem nova entrada efetiva de

capitais180. Ainda, este reinvestimento, contabilizado como entrada de capital estrangeiro,

pode incluir importações ou mesmo investimento não-produtivo, o que dificulta avaliar as

condição reais do balanço de pagamentos de um país; iii) existe, finalmente, o conhecido

problema derivado da prática comum no comércio intra-firma de as empresas que realizam

IDE subfaturarem as exportações e superfaturarem as importações, o que contribui para

agravar a já débil situação do balanço de pagamentos dos países em desenvolvimento e para

tornar o IDE ainda mais custoso181. Assim, apesar de o IDE não acarretar um impacto direto

sobre as reservas no curto prazo, em função da ausência do compromisso de pagamento de

juros, acarreta um impacto severo sobre estas a longo prazo.

180 Usando novamente a analogia da “bola de neve”, Kalecki afirma: “Estamos, portanto, na presença de um interminável processo de bola de neve, em contraste com um empréstimo que cria obrigações por um número definido de anos. Pode-se mostrar facilmente que, no longo prazo, o impacto do investimento direto estrangeiro sobre o balanço de pagamentos do país receptor deve ser negativo (não discutimos aqui as conseqüências indiretas na forma de exportações adicionais ou de substituição de importações, que seriam as mesmas qualquer fosse a forma de financiamento da nova planta), a menos que o fluxo de investimento estrangeiro aumente substancialmente de ano para ano”. Kalecki (1972, p.84). 181 “Thus, foreign direct investment can no longer be looked at as the acquisition of foreign productive capital; in a global market it is increasingly the transfer of capital to set up a foreign operating unit which then achieves the “real transfer” by importing the capital equipment, intermediate and semi-finished goods for domestic sale and exports”. Kregel (1994, p.29).

Um papel geralmente atribuído ao IDE seria o de sua contribuição para difusão de

novas tecnologias e transferência de know-how, podendo ajudar na reestruturação produtiva e

elevação da produtividade do país receptor. Este argumento, no entanto, é questionável, visto

ser, muitas vezes, mais barato adquirir as tecnologias e o know-how comercialmente do que

arcar com os custos dos lucros enviados ao exterior e do comércio intra-firma. Ademais,

existe a questão da inadequação das tecnologias usadas nos países avançados às

características dos países em desenvolvimento.

O caso mais representativo de efeitos adversos gerados por entrada de IED em um país

é aquele em que o capital estrangeiro compra uma empresa de serviço non-tradeable por meio

de privatização:

A venda do controle das empresas para o exterior é, de fato, capaz de acarretar vultoso ingresso de recursos no país. Logo, porém, começam a ser pagos os juros e remetidos os lucros e dividendos gerados pelas atividades privatizadas – que anteriormente já existiam e não geravam pagamentos externos. À expansão do gasto de divisas, daí derivado, acrescenta-se ainda um aumento das despesas decorrente da aquisição no exterior de insumos, equipamentos e serviços, numa proporção muito superior à praticada pelas antigas empresas públicas, cujos laços com provedores domésticos encontravam-se historicamente sedimentados. Por fim, decorrido algum tempo, a possível melhora dos serviços privatizados contribuiria para a elevação da eficiência sistêmica, o que beneficiaria, genericamente, a capacidade de competir das atividades domésticas. Este tipo de efeito, no entanto, pode demorar a tornar-se significativo.182

Sobre o caráter de longo prazo do IDE, Kregel mostra que, na verdade, “(a)s recentes

inovações nos mercados financeiros têm contribuído para eliminar o conceito de investimento

permanente, ou de ‘vencimento’ de um investimento”183. Os contratos de opções e futuros

permitem uma grande mobilidade dos capitais e a diluição dos riscos frente a mudanças em

taxas de juros ou de câmbio, tornando relativo o conceito de IDE como um investimento

permanente. Os mecanismos de hedge adotados pelos investidores acabam provocando

operações cambiais e transações no mercado de capitais quando aumenta a incerteza sobre a

taxa de câmbio ou sobre as condições financeiras internas. “Portanto, simplesmente não é

verdade que, por ser difícil encontrar de imediato um comprador para um IDE em tijolos e

argamassa, esse investimento não produzirá os mesmos tipos de fluxos financeiros que os

investimentos de portfólio”184.

As experiências conhecidas e os problemas referidos acima salientam que a existência

182 Castro (1998, p.158). 183 Kregel (1996, p.35). 184 Kregel (1996, p.36-7).

de elevado fluxo de investimento direto não constitui solução estável para os problemas de sustentabilidade, a menos que tal fluxo seja acompanhado de dinâmica capacidade exportadora, de forma a financiar o crescimento das importações e os demais fluxos de saída associados ao investimento externo.185

Para que isso ocorresse, porém, o governo deveria estabelecer critérios de desempenho para o

IDE relacionados à criação de emprego, ao nível mínimo de exportação e máximo de

importação, à obrigatoriedade de transferência de tecnologia e ao compromisso de

investimentos futuros.

2.1.2.2 Vulnerabilidade externa financeira

De modo geral, os países que recorreram ao capital estrangeiro para compensar os

desequilíbrios da balança comercial acentuaram sua vulnerabilidade externa financeira, ou

seja, diminuíram a capacidade de resistência de suas economias a fatores desestabilizadores

ou choques externos e aumentaram o custo de adaptação. Tal vulnerabilidade é influenciada

pelos riscos de insolvência e de liquidez, e repercute sobre as principais variáveis da

economia.

Um indicador do risco de insolvência de um país é a razão entre o passivo externo

líquido e as exportações. Tendo em vista que o incremento do passivo externo líquido é

determinado pelo déficit em conta corrente, é interessante notar a relação existente entre a

taxa de crescimento das exportações e a taxa de juros. Como esta última determina o

crescimento “natural” do passivo externo líquido, supondo capacidade de rolar a dívida, é a

diferença entre a taxa de crescimento das exportações e a taxa de juros que define a

sustentabilidade da trajetória de crescimento com endividamento externo.

Conforme demonstrado originalmente por Domar, se a taxa de crescimento das exportações fica sistematicamente abaixo da taxa de juros, mesmo para um déficit comercial primário pequeno e constante, a razão passivo externo/exportações cresce sem limite e em algum momento será necessária a geração de superávit comercial para estabilizar o crescimento do passivo externo186.

Este risco está ligado à disposição dos credores internacionais de continuarem refinanciando

as dívidas do país, na medida em que a interrupção do refinanciamento comprometeria todas

185 Medeiros e Serrano (2001, p.124). 186 Ver Medeiros e Serrano (2001, p.119). Ver ainda Domar (1950, p.805).

as exportações, fonte de divisas que permitem o pagamento do serviço financeiro do passivo

externo, e inviabilizaria as importações.

Quanto ao risco de iliquidez, um bom indicador é a razão entre o passivo externo de

curto prazo e as reservas. Os países em desenvolvimento, tipicamente, têm um grande

volume de capital estrangeiro de curto prazo, atraído pelo diferencial de juros e especulando

com a volatilidade do câmbio. O risco de iliquidez está ligado ao movimento dos capitais de

curto prazo, caracteristicamente voláteis, cuja saída abrupta e volumosa pode comprometer o

nível de reservas. Mas, como já visto, mesmo o investimento direto estrangeiro, considerado

de longo prazo, muitas vezes pode ser liquidado em períodos curtos. “Assim, uma massa

extraordinária de ativos de propriedade não-residentes pode ser mobilizada em um curtíssimo

período e, como resultado, criar uma pressão enorme sobre o mercado cambial e as reservas

internacionais do país”187.

A volatilidade do capital estrangeiro é sentida nas economias nacionais em função de

alterações no volume de entrada e saída de capital, na composição dos recursos em termos de

fonte de origem e o destino, no custo da captação dos recursos externos e no prazo188. Em

geral, o governo busca amenizar os impactos da volatilidade dos capitais sobre a economia

usando políticas macroeconômicas, como as políticas monetária, fiscal ou cambial.

Eventualmente, contudo, pode ser necessário recorrer a controles diretos sobre os fluxos de

capital ou à política comercial.

Em uma trajetória de crescimento como a apresentada nas seções anteriores, há

crescentes riscos de insolvência e iliquidez, uma vez que o equilíbrio externo depende de

grande aporte de capital estrangeiro e que é o capital de curto prazo, volátil e especulativo que

responde mais prontamente às possibilidades de ganhos por elevação dos juros. Estes riscos

elevam o custo de atração do capital estrangeiro, isto é, o prêmio de risco associado ao país.

O investidor requer convertibilidade e disponibilidade de divisas em moeda forte para

repatriação, cuja previsibilidade é reduzida e depende da capacidade esperada de geração de

divisas pelo país no futuro, que é, por sua vez, função da balança comercial, da entrada de

capital e da remuneração do passivo externo. O país prestamista considera os riscos

envolvidos, como o de que o governo do país tomador prejudique o pagamento do serviço da 187 Gonçalves (1998, p.125). 188 “While the portfolio investments of the 19th century were virtually permanent, the portfolio investments of the global banks and portfolio managers are highly volatile and can represent an independent source of instability; investment decisions may be taken for reasons quite independent of a country’s internal economic conditions. This, of course, is just as true of the developed as of developing country capital markets”. Kregel (1994, p.38).

dívida, impondo controle cambial, limitando as remessas ou mesmo deixando de pagar. O

país devedor, então, se vê forçado a manter elevados níveis de taxa de juros e de reservas. O

benefício de reter reservas deve-se à margem disponível para estabilizar câmbio e preços,

além de aumentar a confiança do investidor estrangeiro; mas, por outro lado, quando o

governo é forçado a esterilizar a oferta monetária, perde com a diferença entre a taxa de juros

interna, que remunera os títulos públicos, e a taxa de juros externa, que remunera as reservas.

Os riscos associados a estes indicadores variam em função da liquidez internacional e

das expectativas dos agentes. De qualquer forma, uma trajetória de crescente acúmulo de

passivos externos, mesmo de curto prazo, não implica necessariamente uma crise de liquidez

ou cambial, que só se coloca quando os credores repentinamente decidem não refinanciar os

compromissos externos vincendos, que, então, se transformam em saída de capital e

comprometem as reservas existentes189. De modo geral, quão maior a proporção do passivo

externo de curto prazo em relação às reservas, mais vulnerável será o país a uma crise,

possibilitando que qualquer interrupção nos fluxos de capital detone um processo

especulativo, acentuado pelas expectativas de depreciação ou default. Por outro lado, quão

maior a liquidez internacional, menores o custo de atração de capital e o risco da crise.

Quando a estrutura produtiva do país impõe uma condição de crescimento associado a

déficit em balança comercial, a escassez de liquidez internacional pode ser impeditiva à

continuidade desta trajetória, mas sua abundância permite apenas o crescimento circunscrito a

um quadro de elevada vulnerabilidade ou mesmo limitado pelo custo e pelo risco do

financiamento externo. A entrada de capitais para compensar o desequilíbrio na balança

comercial não é capaz de manter um crescimento sustentado, e, por isso, é preciso haver uma

transformação estrutural.

2.2 Trajetória stop-and-go

A forma de lidar com o problema do desequilíbrio externo dos países em

desenvolvimento, tanto no âmbito do governo como no âmbito das instituições privadas,

passou a depender cada vez mais das orientações político-econômicas vigentes no contexto

internacional. Serão exploradas, nesta seção, algumas implicações da aplicação da

“globalização” sobre a economia dos países atrasados e, em especial, como a dinâmica de

crescimento destes países fica restrita a uma trajetória stop-and-go.

189 Ver Medeiros e Serrano (2001, p.120).

2.2.1 Os países em desenvolvimento e a globalização

Muitos países subdesenvolvidos seguiram as orientações desenvolvimentistas

predominantes em meados do século XX e conduziram suas economias orientados por

políticas de Estado, envolvido diretamente na realização de investimentos. Esta etapa, apesar

de não ter sido capaz de criar uma estrutura endógena de inovação naquelas economias, foi

fundamental para a construção de sua estrutura produtiva. A partir do final do século XX, no

entanto, iniciou-se uma reversão associada ao que veio a ser chamado de globalização190.

A globalização produtiva, segundo Gonçalves191, envolve a interação de três processos

distintos. O processo de internacionalização da produção está relacionado ao maior fluxo de

comércio mundial e ao movimento do IDE e das empresas transnacionais, com impactos

sobre a estrutura produtiva dos diversos países. O próprio IDE e a operação das ETs

provocam o segundo processo: a maior integração entre as economias nacionais. E, neste

contexto, há o acirramento da concorrência internacional, ganhando crescente importância a

competitividade internacional dos países.

Segundo o mesmo autor192, a globalização financeira também envolveu a interação de

três processos. O primeiro processo está relacionado à ampliação dos fluxos de capitais nos

mercados do sistema financeiro internacional, direcionados a todos os tipos de instrumentos

financeiros, desde empréstimos e financiamentos até negociação de títulos, ações, moedas e

derivativos. O segundo processo diz respeito à concorrência entre bancos e instituições

financeiras não-bancárias, com forte atuação de investidores institucionais diversificando

portfólio em bases geográficas, e ao avanço dos mercados de capitais nos países em

desenvolvimento. Finalmente, muitos dos ativos emitidos por residentes encontram-se sob

posse de não-residentes, e vice-versa, o que reflete o processo de integração dos sistemas

financeiros nacionais.

Os países em desenvolvimento foram encorajados a abrir seus mercados internos, para

alcançar os supostos benefícios crescentes da globalização, que viriam justamente da

190 Esta idéia é expressa por Stiglitz (2002, p.43), nas seguintes palavras: “A orientação de Keynes sobre o FMI, que enfatizava os fracassos do mercado e o papel do governo na criação de empregos, foi substituída pelo mantra do livre mercado da década de 1980, parte de um novo “Consenso de Washington” – um consenso entre o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em relação às políticas ‘certas’ para os países em desenvolvimento –, que demonstrava uma abordagem radicalmente diferente para o desenvolvimento econômico e a estabilização”. 191 Gonçalves (1998, p.155). 192 Gonçalves (1998, p.150).

construção de mercados cada vez mais livres e competitivos. O discurso para os países

emergentes, associado ao Consenso de Washington, era o de que existiria um enorme

potencial para promoverem o ambicionado catch-up em relação às economias avançadas, que

se efetivaria através da adoção das políticas neoliberais. Em termos gerais, estas políticas

eram: austeridade fiscal e monetária; desregulamentação e liberalização dos mercados

produtivos e financeiros; e privatização193.

A austeridade monetária e fiscal seria importante por conferir estabilidade às

economias, permitindo condições favoráveis aos cálculos de longo prazo e, logo, estimulando

o investimento. Uma economia estável e aberta atrairia IDE, capital externo e ampliaria a

margem para importação e exportação, importantes fontes de tecnologia e pressão

competitiva. O crescimento das importações permitiria o acesso a bens tecnologicamente

superiores com menor preço e acirraria a concorrência com produtores nacionais,

contribuindo para elevar a eficiência e a produtividade interna dos países. O IDE, além de

representar investimento no país, o que por si só colaboraria para o crescimento, permitiria

incorporar novas e modernas tecnologias ao processo produtivo, elevando sua produtividade,

e seria um capital supostamente comprometido com o desenvolvimento de longo prazo194. A

entrada de capital externo permitiria alavancar o mercado financeiro interno, ampliando a

possibilidade de obtenção de financiamentos a custos menores para realizar os investimentos

necessários ao desenvolvimento. E a privatização aumentaria a concorrência, a eficiência e

reduziria o custo dos serviços, a partir da pressão dos interesses privados nos negócios. Todos

estes fatores levariam à elevação da produtividade, que permitiria elevar os salários, reduzir

os preços e ampliar o investimento, levando ao aumento da competitividade dos produtos e,

logo, ao aumento das exportações. Em outras palavras, estas medidas permitiriam que os

países emergentes entrassem em um caminho virtuoso de crescimento sustentado195.

No entanto, as políticas de abertura comercial e financeira e de privatização adotadas

por alguns países os tornaram ainda mais vulneráveis; e as políticas fiscal, monetária e

cambial conduzidas de maneira austera, combinadas à necessidade de equilibrar o balanço de

193 Como coloca Fiori: “No campo econômico, a restauração neoclássica se transforma na política da supply side economics e da deflação competitiva transformando em políticas de valor universal o equilíbrio fiscal, a desregulação dos mercados, a abertura das economias nacionais e a privatização dos serviços públicos.” Fiori (1997, pg.116). 194 Ver as considerações sobre o IDE feitas na seção “Compensação pela conta de capital” em “Notas sobre o Investimento Direto Estrangeiro”. 195 No caso do Brasil, o texto de Franco (1998), que recebeu a chancela do presidente do Brasil à época como documento oficial de conduta para o desenvolvimento do país, pode ser tomado como referência sobre os benefícios esperados das políticas liberais.

pagamentos, mantiveram os países em uma trajetória stop-and-go, com baixa taxa média de

crescimento196.

No caso da abertura comercial, seu impacto sobre a economia de um país depende do

nível de concorrência gerado e das condições do país e das firmas de enfrentar a concorrência

internacional. A abertura comercial pode trazer mais pressão competitiva e acesso a produtos

de alta tecnologia, no entanto, pode provocar igualmente o comprometimento da capacidade

de crescimento dos países em desenvolvimento, principalmente pelo lado da balança

comercial e devido a um possível desmantelamento da estrutura produtiva, dependendo da

solidez da estrutura pré-existente. A simples exposição a competidores internacionais não

garante isoladamente um movimento em direção ao avanço tecnológico197.

Quanto à desregulação financeira, muitas vezes os países em desenvolvimento que

passaram por este processo ficaram sujeitos a fluxos de capitais voláteis e especulativos, que

geraram séria instabilidade sobre as variáveis-chave da economia e acentuaram ainda mais

sua vulnerabilidade. Dadas as diferentes oportunidades de aplicação de capital existentes nas

economias ricas, que oferecem uma combinação de taxa de risco e retorno mais atrativa, e o

fim dos controles diretos sobre os fluxos de capitais, os países em desenvolvimento foram

obrigados a manter elevadas taxas de juros para atrair o capital externo com vistas a

compensar os déficits na balança comercial e a compor um nível de reservas suficiente para

minimizar a possibilidade de ocorrência de uma crise cambial. A elevação dos juros, contudo,

aumenta ainda mais os serviços da dívida e piora as condições de financiamento do

investimento, resultado contrário à redução dos custos esperada com a desregulação

financeira.

Os impactos do processo de globalização sobre os países em desenvolvimento podem

ser resumidos nas palavras de Kregel:

As globalization continues, international capital flows will tend to emphasize those factors which developing countries have felt prolonged their underdevelopment, such as dependence

196 Como coloca Stiglitz (2002, p.35): “Não só na liberação do comércio, mas também em todos os outros aspectos da globalização, mesmo os esforços aparentemente bem-intencionados quase sempre têm um resultado contrário ao desejado”. Para uma análise da evolução da América Latina inserida neste contexto de globalização ver: Cano (1999, 2000) e Tavares e Melin (1997). 197 Como coloca Dodaro, ressaltando a importância de se alcançar um patamar mínimo de desenvolvimento até que se esteja apto a participar do livre comércio: “The fact that it is the better-off countries that are generally classified as outward oriented suggests that some degree of economic development and efficiency is necessary before a country can make any significant inroads in the world market, particularly in manufactures”. Dodaro (1991, p.1154).

on primary material exports and low wages. It will also make both direct and portfolio investment more volatile, making domestic stabilization policy more difficult.198

2.2.2 Transmissão dos desequilíbrios externos ao crescimento

De acordo com a teoria de Keynes, o crescimento de um país só pode ser restringido

(exceto a curto prazo) pela demanda agregada da economia. Esta seção procurará apresentar

os mecanismos de transmissão199 através dos quais uma restrição de balanço de pagamentos

pode levar ao constrangimento da demanda e, portanto, do crescimento de uma economia em

desenvolvimento antes da plena utilização de sua capacidade produtiva. A situação de

crescente déficit em transações correntes e de permanente necessidade de entrada de capitais

ativa mecanismos, via juros e câmbio, que forçam a contração da taxa de crescimento do país.

Considerar-se-á que a economia opera com abertura comercial e financeira, regime de

flutuação suja do câmbio, política monetária regida por metas de inflação e política fiscal, por

alvos de superávit primário. Como já visto, o principal resultado da abertura dos mercados

produtivos e de capitais é o aumento da vulnerabilidade externa. As políticas monetária,

fiscal e cambial são utilizadas para combinar a austeridade com o equilíbrio externo. O

resultado é a evolução da economia seguindo uma trajetória stop-and-go com baixa taxa

média de crescimento.

Nesta trajetória, quando surge uma folga no balanço de pagamentos, seja pelo

crescimento da economia mundial e aumento das exportações nacionais ou pela elevação da

liquidez nos mercados financeiros internacionais, o país consegue imprimir certo ritmo de

crescimento. Porém, frente a um crescimento continuado, para as mesmas condições

internacionais, um país com problema estrutural crônico de balanço de pagamentos

rapidamente irá se deparar, como visto, com um desequilíbrio no setor externo de sua

economia. A deterioração do balanço de pagamentos, com a ameaça de fuga de capitais,

impele à depreciação e à elevação dos juros, provocando retração da economia até que o

desequilíbrio seja sanado.

A elevação da taxa de juros atua para equilibrar o balanço de pagamentos, tanto por

sua influência direta sobre a conta de capital, como por sua influência indireta sobre a balança

comercial. No que diz respeito ao efeito sobre a conta de capital, a elevação dos juros, se for

em magnitude tal que crie um diferencial entre a taxa de juros doméstica e externa suficiente 198 Kregel (1994, p.38). 199 Este tema também foi tratado por Bruno Galvão dos Santos (2003) em sua dissertação de mestrado.

para compensar a depreciação esperada na taxa de câmbio e o prêmio de risco associado ao

país, tende a conter saída e a estimular a entrada de capitais estrangeiros. A magnitude da

elevação necessária depende das condições de liquidez internacional. Neste caso, como já

visto, em geral, o capital atraído pela elevação dos juros é de curto prazo. Finalmente, a

elevação do custo dos empréstimos internos estimula as empresas locais a buscarem

financiamento no exterior, o que também gera impactos positivos sobre a conta de capital.

Por outro lado, a elevação dos juros provoca indiretamente um forte efeito sobre a

balança comercial, resultado de sua influência sobre os componentes de gasto da economia

nacional. Em primeiro lugar, os juros elevados desestimulam os gastos em consumo e

investimento, seja pelo efeito desfavorável sobre o endividamento, existente ou futuro, seja

pelo desvio dos gastos para aplicação em títulos públicos, dada sua maior rentabilidade; e no

caso específico do investimento, o desestímulo surge também pelo aumento da incerteza e

diminuição das perspectivas de crescimento futuro. Os menores consumo e investimento

acabam se refletindo em menor demanda por importações, contribuindo para aliviar o

desequilíbrio na balança comercial. Em segundo lugar, a elevação da taxa de juros tende a

gerar uma deterioração das contas do governo, principalmente: pela redução na renda, que

diminui a arrecadação; pelo aumento do custo da dívida pública vinculada aos títulos públicos

pós-fixados; e pelo aumento do volume da dívida, dada a necessidade de colocação de novos

títulos para esterilizar o efeito da entrada de capital estrangeiro sobre a base monetária. O

governo, então, se vê forçado a reduzir seus gastos em busca de superávit primário. A

redução dos gastos do governo, por sua vez, reduz a dinâmica econômica, contribuindo para

superar o desequilíbrio externo. Estes fatores em conjunto contribuem para melhorar a

balança comercial, em função da redução do nível de atividade, em grau que depende da

elasticidade-renda das importações. Ainda, em vista do contexto econômico interno de

retração, as exportações são estimuladas, uma vez que as empresas começam a orientar suas

vendas para o mercado externo.

Num contexto de crescimento com problema estrutural crônico de balanço de

pagamentos, enquanto a taxa de juros é forçada a se elevar, a taxa de câmbio tende a flutuar.

Se a elevação dos juros provocar uma entrada de capitais capaz de impor uma apreciação do

câmbio, o efeito desfavorável sobre a balança comercial deverá ser suficiente para reafirmar a

necessidade de elevação dos juros, mantendo o resultado final de restrição ao crescimento.

Neste caso, contudo, surge a possibilidade de realimentação do movimento de apreciação, que

pode exigir intervenção direta do governo no mercado de divisas para contê-lo (através das

ações paralelas de compra de ativos estrangeiros e esterilização, que prejudicam sua situação

fiscal).

Por outro lado, numa situação de escassez de divisas, há uma pressão pela

depreciação, que tende a provocar uma melhora na balança comercial, dependendo da

elasticidade-preço das importações e exportações200. Em geral, no entanto, a depreciação não

costuma movimentar as importações e exportações suficientemente para reverter a situação e

gerar superávit na conta de transações correntes: as exportações são pouco elásticas e as

importações ficam encarecidas. Portanto, o país continua tendo necessidade de juros altos

para equilibrar o balanço de pagamentos e manter as reservas elevadas. A depreciação pode

ainda afetar a demanda negativamente via déficit público, através dos títulos indexados ao

câmbio, reiterando a necessidade de ajuste fiscal; e via investimento, por elevar o custo das

empresas que buscaram financiamento no exterior para contornar os juros internos elevados.

Cabe destacar que o efeito altista do câmbio sobre o preço dos produtos importados

pressiona os preços internos dos bens que utilizam materiais e produtos intermediários

importados ou que estejam indexados, além de abrir margem para a elevação dos preços das

exportações e dos substitutos das importações, podendo aumentar a taxa de inflação201. Uma

depreciação excessiva que comprometa as metas inflacionárias do governo é contida com a

própria elevação dos juros202 ou por intervenção direta através da venda de reservas

internacionais. A inflação pode, portanto, não apenas comprometer as metas do governo

como anular o efeito da depreciação sobre a balança comercial.

Então, por meio de variações nos juros e no câmbio, o desequilíbrio externo tende a

ser corrigido, porém à custa de um crescimento limitado. Quando a situação externa se alivia,

seja pela própria diminuição da atividade interna, pela elevação da liquidez internacional ou

do ritmo de crescimento das demais economias, o país pode retomar uma trajetória de

crescimento. Entretanto, este crescimento, sendo a restrição do balanço de pagamentos

estrutural, significa uma expansão com déficit em balança comercial e superávit em conta de

200 De acordo com a chamada “condição de Marshall-Lerner”, a depreciação real do câmbio só será capaz de gerar um impacto positivo sobre o saldo comercial se a soma absoluta das elasticidades-preço das demandas por importação e exportação for maior do que a unidade. 201 Interessante notar a possibilidade de haver o chamado “efeito catraca”, segundo o qual embora uma depreciação tenha impacto altista sobre os preços, a apreciação não gera redução proporcional, em função de sua “rigidez para baixo”, de modo que o resultado final de uma variação líquida nula do câmbio é uma inflação acumulada. 202 Cabe destacar, contudo, que a própria política monetária de juros elevados também pode acabar pressionando a inflação em função do custo do endividamento ou do custo de oportunidade que representa para o capital produtivo.

capital, levando ao acúmulo de passivos externos e a serviços da dívida externa crescentes,

logo ao agravamento da vulnerabilidade externa, que acaba recolocando a necessidade de

elevação dos juros e provoca instabilidade do câmbio e contração da demanda, culminando

em interrupção do crescimento e geração de superávit na balança comercial, até o próximo

surto de expansão. Os países em desenvolvimento seguem, assim, a conhecida trajetória de

stop-and-go.

2.2.3 Perda de autonomia sobre a política econômica

Supondo, como feito, um país que adota abertura comercial e financeira, regime de

câmbio flutuante administrado, metas de inflação e de superávit-primário, convivendo com

uma situação de déficit estrutural na balança comercial e preso à necessidade de rolar a dívida

interna e externa em mercado de capital volátil, são poucas as alternativas de políticas

econômicas. A definição das políticas por parte do governo acaba funcionando passivamente,

sem autonomia para influenciar as variáveis fundamentais e sem possibilidade de promover a

reestruturação produtiva necessária. Em geral, a política monetária tem viés restritivo, para

manter os juros elevados, equilibrar o balanço de pagamentos e conter os preços. A política

fiscal também é austera, para alcançar um superávit fiscal primário e contribuir para o

equilíbrio comercial. E a política cambial é conduzida reativamente de forma a tentar manter

o câmbio relativamente estável. Neste quadro, a tendência é de o câmbio apresentar certa

volatilidade e de as taxas de juros se manterem elevadas e a renda contraída, em situação de

alta vulnerabilidade externa.

Cabe notar que, devido ao contexto internacional de globalização produtiva e

financeira, como visto, além de manterem rigor fiscal e monetário, os países em

desenvolvimento em geral não utilizam sistematicamente políticas comerciais ou de controle

de fluxos de capitais, seguindo o alinhamento imposto pelos países desenvolvidos e

organizações internacionais que concedem financiamentos emergenciais. Este ambiente e a

postura passiva (seja ou não por opção) dos países atrasados reforçam o problema de balanço

de pagamento e sua influência sobre o crescimento. Para ingressar no caminho do

desenvolvimento, seria necessário que os países tivessem condição de manter sua prioridade

política interna, mesmo frente a mudanças temporárias negativas em suas posições comerciais

ou em seus fluxos financeiros. Medeiros e Serrano apresentam esta noção com o seguinte

contra-exemplo:

Dentro desse quadro, e a despeito da grande instabilidade, se observa claramente que têm melhor performance em termos de crescimento os países em desenvolvimento que conseguiram (em vários casos, enquanto conseguiram) resistir à tentação da (e às pressões para) abertura financeira descontrolada, mantendo algum tipo de controle, principalmente sobre a entrada de capitais, e que preservaram políticas cambiais e industriais de promoção de exportações; em outras palavras, os países nos quais o advento da chamada globalização financeira não conduziu (ou enquanto não conduziu) ao abandono da estratégia do desenvolvimentismo.203

2.3 Restrição estrutural de balanço de pagamentos e o círculo vicioso

A terceira parte deste capítulo tentará fazer a ligação entre o problema do balanço de

pagamentos como restrição ao crescimento com a questão do desenvolvimento; e, por fim,

levantar algumas sugestões de políticas que poderiam auxiliar os países atrasados a superarem

o círculo vicioso no qual estão inseridos.

2.3.1 A restrição externa inserida em um círculo vicioso

Como visto no primeiro capítulo, o crescimento depende fundamentalmente da

demanda efetiva, considerando a estrutura e a capacidade produtiva existentes. A produção,

neste contexto, é realizada buscando valorizar o capital, o que será efetivado com a realização

das vendas. A demanda é função do consumo, que depende do nível de atividade econômica,

e do investimento tanto em capacidade produtiva, induzido pela renda, como em inovações,

autônomo em relação ao nível de renda, mas induzido pela concorrência. Tanto o consumo

como o investimento são influenciados pelas condições de financiamento existentes. O

desenvolvimento, por outro lado, é resultado da transformação estrutural resultante da

maturação dos investimentos produtivos. No longo prazo, o desenvolvimento caracteriza-se

pelo crescimento acompanhado de diversificação da estrutura produtiva e aumento da

produtividade.

No caso dos países desenvolvidos, há uma conjugação de fatores favoráveis tanto ao

crescimento, nos termos de Keynes, quanto ao desenvolvimento, nos termos de Schumpeter.

As economias são dinamizadas pela interação de fatores presentes, como a elevada demanda

agregada em ambiente de alta concorrência e com condições favoráveis de financiamento.

Estas economias dispõem de mercado financeiro desenvolvido e operam com taxa de juros

relativamente baixa. Neste contexto, as empresas buscam inovação (P&D) e estão sujeitas à

seleção imposta tanto no âmbito nacional como no internacional, gerando aumento de 203 Medeiros e Serrano (1999, p.141-2).

produtividade. Então, há uma tendência à constante geração e desenvolvimento de novas

tecnologias, que rapidamente se difundem pelo aparelho produtivo, em função da própria

concorrência e da menor assimetria técnica. Com uma estrutura produtiva diversificada e

competitiva a restrição de balanço de pagamentos tem caráter conjuntural, que pode ser mais

ou menos rapidamente superada em função da maior ou menor vulnerabilidade externa e da

inserção político-econômica internacional. O processo de crescimento e desenvolvimento é

contínuo e estas economias não perdem seu espaço no seleto grupo dos países desenvolvidos.

Este quadro caracteriza o que pode ser chamado de um círculo virtuoso.

Os países em desenvolvimento, por outro lado, como visto, têm menores dinamismo e

crescimento, dadas as condições adversas para consumo e investimento, principalmente a

partir do baixo nível de renda, das condições desfavoráveis de acesso a crédito e

financiamento e da pouca concorrência. Não há um núcleo endógeno de inovação e, como

resultado de todos estes fatores, a transformação estrutural é mais lenta. A estrutura produtiva

é mais heterogênea e menos diversificada do que a dos países desenvolvidos, menos moderna

e menos competitiva. Sob essas condições, os países em desenvolvimento se vêem

permanentemente sujeitos à restrição de balanço de pagamentos, que, de fato, tem caráter

estrutural. A evolução stop-and-go mantém o equilíbrio externo no curto prazo, mas as

mudanças de juros e câmbio não são suficientes para produzir uma redistribuição da demanda

agregada mundial de maneira a tornar sustentável o caminho do crescimento, para o qual seria

preciso uma reestruturação e uma modernização do aparato produtivo.

A trajetória stop-and-go está inserida em uma dinâmica mais abrangente, típica dos

países atrasados, caracterizada por um círculo vicioso. O mecanismo de retroalimentação

inicia-se com as características da estrutura produtiva existentes no país e o desequilíbrio

externo, e passa pela inconstante evolução do crescimento, com instabilidade da política

econômica e volatilidade das variáveis relevantes, que reduzem o horizonte de tempo para a

tomada de decisões sobre investimento e aumentam a proporção da riqueza alocada em ativos

líquidos, comprometendo os investimentos em expansão da capacidade produtiva, em

inovações e em aumento de produtividade. Assim, inviabiliza-se a transformação estrutural e

a endogeneização de um processo de modernização, que se refletiria na competitividade do

país, permanecendo os avanços produtivos em sua maioria calcados sobre inovações exógenas

ao sistema econômico. Finalmente, perpetua-se a trajetória stop-and-go com baixa taxa média

de crescimento.

Países evoluindo por meio de círculos virtuosos e viciosos de inovatividade,

competitividade e crescimento condicionam-se e sua coexistência explica os processos de

convergência e divergência globais204. Os padrões de mudança tecnológica e a composição

da demanda entre setores e entre países determinam os ajustes e os níveis de atividades

setoriais e macroeconômicas das nações. Assim, os países em desenvolvimento precisam

capacitar-se para acompanhar as novas tecnologias e os novos produtos, promovendo uma

alteração na sua estrutura produtiva e na cesta de produtos e serviços oferecidos, para

conquistar maior fatia do mercado internacional205.

Para que os países com restrição externa estrutural alterem sua condição, é importante

que não dependam inteiramente da importação de bens de capital mais modernos para

aumentar sua produtividade. Seria fundamental que tornassem endógenos os processos de

geração e difusão de inovações, desenvolvendo capacitação tecnológica e competência em

ciência básica, além de realizar esforços de aprendizado e qualificação, aproveitando o caráter

tácito e cumulativo deste processo como instrumento competitivo206. É importante

desenvolver a capacitação que torne as empresas domésticas competitivas frente a seus

concorrentes internacionais. Os processos diferenciados e path-dependent dos países

desenvolvidos e em desenvolvimento em termos de geração de tecnologia e aprendizado são a

base para alterar o padrão das vantagens comparativas conforme se dá o curso do

desenvolvimento e reverter o quadro de divergência. Vale notar que cada setor está associado

a diferentes níveis de oportunidades tecnológicas, apropriabilidade e cumulatividade, além de

contar com diferentes elasticidades-renda da demanda; portanto, a trajetória seguida por cada

país em termos tecnológicos e de especialização da produção tem fortes conseqüências sobre

204 Por exemplo, os retornos de escala estáticos e dinâmicos resultantes do próprio processo inovativo geram grandes impactos na interação entre os países por meio de uma competição imperfeita. 205 Perez e Soete (1988) procuram mostrar, pela análise do processo de introdução e difusão das tecnologias, como se tem presente em alguns momentos ao longo da evolução de um paradigma tecnológico um conjunto de fatores que configuram uma janela de oportunidade para os países em desenvolvimento realizarem o catch-up tecnológico. Esta é uma visão otimista, pois supõe que apesar de a economia de determinados países se comportarem de acordo com um círculo vicioso, tornando-se cada vez mais distanciados das economias avançadas, é possível, com esforços deliberados das firmas e dos governos por meio de políticas, romper este círculo e torná-lo virtuoso. Ao mesmo tempo é coerente com a idéia de que a especialização dos países não decorre apenas de suas vantagens comparativas estáticas, mas também de vantagens competitivas que são construídas ao longo do tempo e que geram benefícios cumulativos. Porém, a analogia direta entre a possibilidade de um país em desenvolvimento realizar catch-up e a situação de uma firma que é late comer é uma simplificação exagerada e com viés excessivamente tecnológico, que acaba descontextualizando a problemática. Especialmente no caso de países com problema estrutural de balanço de pagamentos, a relação entre crescimento e inovatividade não pode ser vista isoladamente a partir da dinâmica de inovação, mas deve ser compreendida a partir da interação entre esta dinâmica e seus impactos sobre a restrição externa. 206 “Successful latecomers have combined heavy imports of technology with strong expansion of indigenous efforts devoted to technical change. Imports of technology and autonomous innovative efforts are not alternative but complementary activities”. Dosi, Freeman e Fabiani (1994, p.22).

seu dinamismo econômico no longo prazo207.

Assim, as vantagens comparativas são obtidas como resultado da dinâmica inovativa e

de aprendizado, que se refletem na competitividade das firmas (e respectivos países) que

logram conquistar maiores fatias dos mercados mundiais. Condições microeconômicas

evolucionárias determinam a competitividade, que explica como é distribuída a demanda e,

logo, a partir de condições macro de tipo keynesiano, a renda de cada país, ceteris paribus.

Há importante ligação entre a competitividade, a parcela das exportações mundiais e a

determinação da demanda agregada doméstica. A competitividade internacional é necessária

para não haver restrição externa à demanda, que é necessária para sustentar os investimentos

necessários para manter a competitividade.

Over time, capital accumulation and technological accumulation are inter-linked so that irreversible improvements in input efficiencies and search/learning processes feed back on each other. In some respects, our analysis overlaps with the question concerning why growth rates differ. However, our interpretation is the polar opposite to the traditional one: instead of explaining differences between countries in terms of differential endowments, we argue that the fundamental inter-national differences relate to the country-specific conditions of technological learning and accumulation. (…) Moreover, country-wide changes in innovativeness and input efficiencies are a significant part of the explanation of the long term changes in national export share in the world markets.208

2.3.2 Políticas de estímulo e ameaça

Foram expostos uma série de problemas com os quais se deparam os países atrasados e

que dificultam a superação do círculo vicioso no qual se envolvem. Um primeiro conjunto

está relacionado às condições microeconômicas estruturantes, como a questão do aparato

produtivo, da necessidade de se endogeneizar a dinâmica inovativa e de ampliar as condições

competitivas. Um segundo conjunto está ligado às condições macroeconômicas vigentes,

como o desequilíbrio do balanço de pagamentos, as altas taxas de juros e a instabilidade

cambial, que inviabilizam uma dinâmica de crescimento que engendre a transformação

necessária para colocar o país em uma trajetória de desenvolvimento sustentado.

Até o advento da globalização, as discussões de política nos países atrasados estava

em grande medida centrada sobre a questão da política de investimento do governo e sobre

207 “What we have just recounted is the basic skeleton of a comparative story, whereby the strategies of different actors – e.g. states, domestic and multinational firms, etc. – determined quite diverse collective outcomes, in terms of institutional set-ups, technological capabilities and growth performances”. Dosi, Freeman e Fabiani, (1994, p. 34). 208 Dosi e Soete (1988, p.419-420).

suas políticas comerciais e de protecionismo209. No contexto atual, porém, não cabe aos

países em desenvolvimento montar um parque industrial: o fundamental é mantê-lo moderno

e competitivo. O comércio internacional movimenta produtos intensivos em tecnologia e,

portanto, são de importância fundamental as políticas que promovam a reestruturação

produtiva, o desenvolvimento e a endogeneização da dinâmica inovativa, viabilizando e

estimulando a competitividade, condição para o aumento das exportações. As políticas de

proteção, por si sós, não são suficientes para que o país alcance e se mantenha na fronteira

tecnológica, num ambiente em que as atividades de produção e as de geração de inovações

estão cada vez mais separadas.

Possas210 apresenta algumas condições essenciais para que um país gere capacidade

inovativa endógena e se mantenha competitivo sistemicamente. Segundo o autor, o

desenvolvimento do potencial competitivo das empresas, e logo do país em seu conjunto,

depende das condições tecnológicas, produtivas e de mercado, das indústrias e das

externalidades físicas, sociais, técnico-científicas, das condições institucionais e do aparato

regulatório existente no ambiente econômico211. O essencial para esse desenvolvimento seria

a adoção de políticas que garantissem os condicionantes sistêmicos da competitividade e a

contínua pressão competitiva sobre as empresas, num misto de estímulo e ameaça, para que

estas, com suas características específicas e setor-específicas, gerassem uma dinâmica de

desenvolvimento com transformação estrutural e crescimento. Estas políticas deveriam

influenciar as decisões das empresas, tanto pelo ambiente competitivo gerado através da

concorrência interna e externa, como pelo incentivo à capacitação tecnológica.

Possas classifica as políticas que influenciam os fatores sistêmicos da competitividade

em três grandes grupos212. O primeiro destina-se a garantir a vigência de um ambiente

competitivo e a exercer pressão sobre as empresas, induzindo a busca permanente por

inovações e ganhos de competitividade. Estas políticas estão relacionadas ao estabelecimento

209 A discussão da indústria nascente e protecionismo ganhou importância especialmente a partir de List, que destaca, na mesma linha da argumentação apresentada na seção sobre Prebisch, a importância de se desenvolver tanto o setor agrícola como o setor manufatureiro, complementares na dinâmica de desenvolvimento econômico. List apresenta neste contexto a fragilidade de um país concentrado no setor agrícola, dependendo da importação manufatureira, e defende que os países que têm condições mínimas necessárias para desenvolver sua manufatura devem proteger temporariamente sua economia nacional da concorrência internacional, até que suas forças produtivas sejam capazes de competir.Ver List (1989, p.110-125)[1855]. 210 Possas, M. (1996). 211 “Again, the findings of empirical research in this field are unequivocal: innovation depends on a combination of in-house experience, learning and development with a wide variety of external sources of information and advice, i.e. formal or informal networking, hence, the importance of national infrastructure and national systems of innovation” Dosi, Freeman e Fabiani (1994, p. 31) 212 Ver Possas, M. (1996, p. 99-100).

de um aparato regulatório, ditando regras sobre a defesa da concorrência e do meio ambiente,

sobre o comércio exterior e sobre os fluxos de capital. O segundo conjunto diz respeito à

geração de externalidades positivas sobre a competitividade empresarial, como é o caso dos

investimentos realizados em infra-estrutura de transporte, energia e comunicação, em

educação e qualificação e em infra-estrutura de ciência e tecnologia. Um último grupo diz

respeito às políticas que influenciam o ambiente econômico geral no qual operam as

empresas, como é o caso das políticas tipicamente macroeconômicas (fiscal, monetária,

cambial, creditícia, comercial) e das políticas de incentivo à C&T, aos gastos em P&D,

estímulos à reestruturação e modernização, entre outros.

Além das políticas sistêmicas, pode ser necessária a adoção de políticas industriais

específicas para a promoção de setores particulares e de grande importância para a economia

em geral. As condições privilegiadas dos setores alvo da política industrial, porém, devem ser

temporárias e associadas à cobrança de desempenho. O objetivo principal destas políticas é

permitir a superação de gargalos e viabilizar o crescimento econômico mais elevado e ao

mesmo tempo continuado.

As políticas acima descritas devem ser implementadas em fases seqüenciais e

progressivas, e devem ser reformuladas de acordo com a evolução da situação do país. Nos

países que se encontram em um círculo vicioso atravessando uma trajetória stop-and-go,

primeiramente deve ser adotada uma política de estímulo às exportações alinhada a uma

política industrial que utilize a folga de divisas gerada para promover a alteração da estrutura

produtiva e aumento de sua competitividade213. Quanto às regras sobre concorrência,

comércio exterior e entrada de fluxos de capitais inicialmente estabelecidas, estas devem ser

compatíveis com as condições presentes da economia nacional, eventualmente direcionando-

se para uma maior liberalização conforme as empresas capacitem-se para enfrentar maior

nível de competição (interna e externa) e conforme o país seja capaz de tirar proveito da

entrada de capital estrangeiro, sem ficar vulnerável frente a sua volatilidade.

A realização dos investimentos em infra-estrutura e educação, classificados sob as

políticas que geram externalidades, é fundamental para os países em desenvolvimento e,

geralmente, exigem elevadas somas de recursos, além de terem longo prazo de maturação e, 213 “Contudo, é improvável que a elasticidade de crescimento das importações se reduza a valores próximos de um por meio destes esforços, exceto em prazo mais longo. No ínterim, as importações continuarão a crescer a taxas (significativamente) superiores ao PIB. Neste sentido, resta o foco de política nas exportações, na medida em que o imperativo exportador é incontestável, ao passo que os resultados do esforço exportador são ainda insuficientes”. Cavalcanti e Frischtak (2001, p.49-50).

às vezes, baixo retorno, precisando, portanto, contar com o apoio do setor público para sua

efetivação. O governo deve, então, elaborar um planejamento de dispêndio de acordo com as

prioridades e com sua disponibilidade de recursos. Também é de extrema importância o

incentivo por parte do governo à inovação tecnológica, que deve contar com o

desenvolvimento de um sistema nacional de inovação (SNI) que permita obter sinergia entre

os esforços científicos e tecnológicos e no campo da pesquisa e desenvolvimento, além de

reduzir os riscos do investimento em tecnologias de ponta ou altamente dinâmicas.

À medida que o país promova a transformação estrutural e gradativamente adquira

graus de liberdade em relação à restrição de balanço de pagamentos, as políticas

macroeconômicas recobram sua autonomia, e podem evoluir para o estabelecimento de uma

taxa de juros relativamente baixa e de uma taxa de câmbio estável, de forma a melhorar as

condições de financiamento e estimular os investimentos, especialmente aqueles que gerem

externalidades ou estejam ligados à inovação.

O papel do Estado como condutor destas políticas não significa que esteja assumindo

o lugar da iniciativa privada. Pelo contrário, ao Estado cabe elaborar uma programação que

sirva de base às suas políticas para criar condições necessárias, estímulos, e procurar orientar

a iniciativa privada para que esta esteja em acordo com o objetivo de desenvolvimento. Não

se pode abstrair o contexto da globalização no qual os países estão inseridos, mas o governo

pode manter seu espaço para influenciar o curso dos acontecimentos na economia se houver

algum planejamento214.

214 “(...) deve-se ressaltar que a preservação de todo o conjunto mencionado de instrumentos de política macroeconômica e industrial (destinados ao fomento da capacitação e da competitividade) continua conferindo ao Estado não só o espaço institucional como os meios para interferir fortemente na direção e ritmo em que as estratégias empresariais reagem e se ajustam a um determinado quadro competitivo global. O que muda de forma significativa é a autonomia para a definição de rumos e metas para as políticas, que se reduz drasticamente diante da globalização (...)” Possas, M. (1996, p.108).

3. Um Modelo Multissetorial Aberto

3.1 O modelo original e as alterações propostas

Este capítulo apresenta a estrutura de um modelo multissetorial que representa uma

economia aberta e que permite retratar a dinâmica resultante da interação das decisões dos

agentes econômicos por meio de simulações. O uso de um modelo de simulação, por

possibilitar a adoção de hipóteses menos simplificadoras na determinação das variáveis, é

adequado para a análise de trajetórias geradas em um ambiente de incerteza, onde não há

tendência ao equilíbrio e no qual os agentes têm racionalidade limitada e adotam rotinas. Esta

versão está baseada no modelo apresentado no artigo “Um modelo macrodinâmico

multissetorial” de 2004, desenvolvido por Possas, Dweck e Reif a partir da versão original

elaborada por Possas em sua tese de doutorado (1983) e descrito de forma simplificada no

artigo de 1984. Este modelo incorpora os fundamentos Keynesianos e Kaleckianos

apresentados no primeiro capítulo e tem sua dinâmica pautada no princípio da demanda

efetiva e nos efeitos multiplicador e acelerador. A presente tese procurará incorporar um

maior detalhamento à parte do setor externo, do setor financeiro e das políticas econômicas,

de forma a permitir o estudo da dinâmica de crescimento limitado dos países em

desenvolvimento com problema estrutural de balanço de pagamentos, exposta no capítulo

anterior.

O modelo, em seu estágio atual, sem a inserção das alterações propostas nesta tese,

inclui os setores de bens de consumo (duráveis215 e não-duráveis216), bens intermediários

(metalúrgicos217, químicos218 e outros219), bens de capital220, agricultura221 e serviços222. O

215 Utilizando-se a classificação industrial do IBGE para o Brasil, seriam: fabricação de aparelhos e equipamentos de material eletrônico; fabricação de automóveis, caminhões e ônibus; fabricação de outros veículos, peças e acessórios. 216 Fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria; indústria têxtil; fabricação de artigos do vestuário e acessórios; fabricação de calçados e de artigos de couro e peles; indústria do café; beneficiamento de produtos de origem vegetal, inclusive fumo; abate e preparação de carnes; resfriamento e preparação do leite e laticínios; indústria do açúcar; fabricação e refino de óleos vegetais e de gorduras para alimentação; outras indústrias alimentares e de bebidas; indústrias diversas. 217 Extrativa mineral (exceto combustíveis); siderurgia; metalurgia dos não-ferrosos e fabricação de outros produtos metalúrgicos. 218 Extração de petróleo e gás natural, carvão e outros combustíveis; fabricação de elementos químicos não-petroquímicos; refino de petróleo e indústria petroquímica; fabricação de produtos químicos diversos; indústria de transformação de material plástico. 219 Fabricação de minerais não metálicos; serrarias e fabricação de artigos de madeira e mobiliário; indústria de papel e gráfica; indústria da borracha. 220 Fabricação e manutenção de máquinas e tratores; fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico; construção civil.

setor agrícola é modelado como um setor que atende à demanda por insumos e, em menor

proporção, por bens de consumo não-duráveis; e o setor de serviços, da mesma forma, segue,

em parte, a lógica de um setor de bens intermediários e, em parte, a lógica de um setor de

consumo.

A produção de cada setor é programada a partir das expectativas de venda e restringida

pela capacidade instalada e pelos insumos disponíveis. O período de referência no modelo é o

período de produção. Um ano é composto por quatro períodos de produção e o período de

investimento, tempo necessário para construção das máquinas e equipamentos, tem a duração

de um ano e meio. A demanda de bens intermediários deriva da produção prevista,

considerada a matriz insumo-produto como referência. A demanda por bens de consumo é

função linear da renda das classes e dos gastos do governo. A demanda por bens de capital é

derivada das decisões de investimento, que contemplam: i) o ajuste da capacidade produtiva

com base nas vendas previstas; ii) a reposição de capacidade produtiva depreciada; e, iii) o

investimento autônomo em modernização. A conversão de capacidade produtiva para bens de

capital é feita utilizando-se a relação incremental capital-produto de cada setor. O

investimento está sujeito a uma restrição financeira, considerando-se seu grau de

endividamento. Dentre estes elementos de demanda, os gastos do governo com investimento

e consumo, assim como as exportações, são exógenos; os demais são determinados

endogenamente.

A partir da demanda interna é possível definir as encomendas efetivas que recebem os

setores, descontando a parcela direcionada à importação e adicionando a demanda por

exportação. As vendas observadas são determinadas pelas encomendas e limitadas pela

oferta, igual à produção mais o estoque disponível, confirmando ou não as expectativas dos

ofertantes. Uma vez realizadas as vendas, ficam definidos os estoques de produtos, a

quantidade de insumos e a capacidade produtiva que detém cada setor, assim como a

quantidade de bens de consumo adquirida.

Os preços de venda são estipulados a partir de mark-ups sobre os custos variáveis

unitários. O mark-up, por sua vez, determina a apropriação funcional da renda em cada setor,

ao definir a divisão entre o excedente bruto (reduzido ao lucro, por simplicidade) e os salários,

221 Agropecuária. 222 Serviços industriais de utilidade pública; comércio; transporte; comunicação; instituições financeiras; serviços prestados às famílias; serviços prestados às empresas; aluguel de imóveis; administração pública; serviços privados não- mercantis.

dada a divisão entre estes e as matérias-primas nos custos variáveis. O lucro bruto total é

calculado pela soma dos lucros dos setores, obtidos pela diferença entre a receita de venda e

as despesas com insumos e salários; e o salário total é igual ao salário unitário multiplicado

pela produção efetiva, mais o salário do setor público. A partir da renda funcional é possível

definir a renda pessoal disponível de cada classe, resultante dos lucros distribuídos e dos

salários, descontados os impostos diretos. Finalmente, o produto interno bruto da economia é

igual à soma do lucro total mais os salários mais os impostos indiretos pagos ao governo.

O governo é tratado de maneira simplificada na versão do modelo apresentada no

artigo de 2004: as receitas advêm dos impostos diretos e indiretos, que têm uma estrutura fixa

pré-determinada, e os gastos são definidos de forma a se alcançar a meta de superávit,

seguindo uma distribuição proporcional fixa entre salário, consumo e investimento. O setor

externo também é tratado de maneira simplificada, reduzido às transações que envolvem a

balança comercial. As exportações são calculadas com base na renda externa, no coeficiente

e nas elasticidades-renda e -preço das exportações. As importações são determinadas de

maneira análoga à demanda direcionada aos setores nacionais. As taxas de juros e câmbio são

mantidas constantes.

A principal alteração em relação à estrutura básica do modelo foi feita sobre o

funcionamento do setor agrícola. Sua produção não era limitada pela capacidade produtiva e

o setor não realizava demanda por bens de capitais, considerando-se simplificadamente como

um setor trabalho-intensivo e a possibilidade do uso extensivo de terras. No mercado interno,

este setor destinava certa proporção de sua produção para venda de bens de consumo e atendia

à demanda por insumos. Todo o excedente da produção que não era demandado na economia

do país era exportado. Neste contexto, o setor não previa formação de estoques na decisão de

produção, sendo considerada a disponibilidade de um estoque regulatório arbitrário no início

de cada período. O preço de venda para consumo era flexível e o preço de venda de insumos,

determinado pelo preço internacional das mercadorias, assim como o preço para exportação.

Na presente versão, o setor agrícola passa a ter sua produção restringida pela

capacidade produtiva e passa a demandar bens de capital no período de investimento, da

mesma forma que os demais setores, representando a aquisição de máquinas e equipamentos

utilizados em sua atividade. O setor continua produzindo para atender à demanda interna por

consumo e insumos e às exportações. Uma mudança importante está no fato de que as

exportações deixam de ser residuais e passam a depender de um coeficiente de exportação.

As hipóteses de que este setor não teria restrição de capacidade produtiva e que venderia todo

seu excedente no mercado externo poderiam levar, no limite, à eliminação da restrição de

balanço de pagamentos. Sua produção agora passa a prever a formação de estoque e a

eventual restrição, caso o setor não seja capaz de atender toda sua demanda, que terá o mesmo

impacto sobre seus três mercados. O preço de venda no mercado interno, tanto para consumo

como para insumo, dependerá da demanda atendida, podendo gerar inflação se houver

escassez de produto; e o preço de exportação continua sendo o preço internacional.

As alterações mais importantes, no entanto, introduzidas para permitir captar a

dinâmica de crescimento dos países em desenvolvimento, estão relacionadas ao detalhamento

do setor externo e do setor financeiro.

O aprimoramento do sistema financeiro, contido dentro do setor de serviços, permite o

gerenciamento das dívidas e das aplicações financeiras dos setores, das classes e do governo,

que passam a receber o retorno por suas aplicações, porém passam a pagar os juros sobre a

dívida, tendo os spreads e seus gastos influenciados pelo grau de endividamento existente.

No caso do setor externo, quanto ao comércio exterior, foram feitas pequenas alterações,

incluindo a hipótese de uma taxa de crescimento constante da economia mundial e uma taxa

de inflação para os preços internacionais diferenciada entre os setores. Ainda, passou a ser

considerada a influência dos preços relativos e do investimento autônomo sobre o coeficiente

de exportação. Este último busca refletir algum impacto do investimento em modernização

sobre a competitividade, apesar de o efeito ser muito pequeno, suficiente apenas para evitar

grande perda relativa de posição competitiva internacional. Outras alterações dizem respeito

à incorporação da entrada de IDE, direcionado ao investimento produtivo; do capital

estrangeiro de curto prazo, orientado por avaliação de rentabilidade; e da contração de

empréstimos pelos setores e pelo governo, utilizados pelos primeiros para financiar o

investimento e pelo governo para controlar o estoque de reservas. As contrapartidas destes

capitais são: o lucro reinvestido, os lucros, dividendos e juros remetidos ao exterior e as

amortizações. Neste sentido, foi introduzida toda a parte da conta de serviço de fatores e

detalhada a conta de capital. As relações resultantes entre a composição do passivo externo

líquido, passivo externo de curto prazo, as exportações e as reservas determinam o “risco-

país”, isto é, o spread pago sobre a dívida externa.

Vejamos a seguir as principais conseqüências dessas modificações sobre os agentes da

economia.

No caso dos setores, a restrição financeira influenciará a possibilidade de uso de

recursos próprios, IDE ou endividamento para demandar bens de capital. Os recursos

próprios do setor, acumulados para financiar o investimento, permanecem aplicados no

sistema financeiro nacional, sendo remunerados à taxa de juros de referência da economia. A

entrada de IDE contribui para aquisição de bens de capital do setor e o capital estrangeiro

passa a ter direito sobre parte dos lucros e dividendos. No caso do endividamento, este

poderá ser realizado em parte no país e em parte no exterior, sendo a proporção determinada

em função do potencial exportador do setor. A compra de insumos, por parte dos setores,

também é financiada com capital de giro, que é somado à dívida e gera obrigação de

pagamento de juros. Para cada setor existe um grau de endividamento aceitável que, em

comparação com o endividamento presente, condiciona a possibilidade de contração de novas

dívidas e a necessidade de direcionamento de recursos líquidos para amortização, além de

determinar o spread do setor.

As classes, assim como os setores, também recebem um retorno por suas aplicações e

pagam juros sobre as dívidas. Com a entrada de IDE na economia, os lucros dos setores

distribuídos às famílias passam a descontar os dividendos pagos ao capital estrangeiro e que

serão enviados ao exterior. O grau de endividamento das classes, comparado a um nível

mínimo considerado “normal” e ao nível máximo aceitável, condicionará a necessidade de

pagamento de parte da dívida, a imposição de cortes no consumo autônomo e o spread

adicional à taxa de juros de referência.

No caso do governo, com o detalhamento do setor externo, além de buscar uma meta

de superávit fiscal, este passa a exercer o controle da taxa de câmbio e da taxa de juros. O

controle de câmbio é feito através da intervenção no mercado de divisas, quando necessário,

buscando-se a manutenção da taxa efetiva dentro de uma banda cambial. Quanto à taxa de

juros, esta é definida com o objetivo de manter a inflação dentro das metas estabelecidas e

procurando sustentar as reservas em níveis considerados seguros segundo padrões

internacionais, dado o passivo externo de curto prazo existente no país.

Na próxima seção será feito um detalhamento do modelo para em seguida serem

apontados alguns resultados obtidos com as simulações.

3.2 O modelo

3.2.1 Produção programada

A produção programada223 dos setores, tippx , , é determinada em função das vendas

previstas para o período, tivpx , , considerando a proporção sobre as vendas que se deseja

manter em estoque, iσ , para fazer frente a mudanças imprevistas na demanda, e descontando

o estoque acumulado do período anterior, 1, −tisx . Este valor estará sujeito à restrição imposta

pela capacidade produtiva existente, 1, −tix , tendo em vista a margem de sobreutilização224, iβ .

Assim, a produção programada para o período é dada por:

( ) 1,,, 1 −−+×= tis

itivp

tipp xxx σ ,

sujeito a ititipp xx β×≤≤ −1,,0 .

As vendas previstas dos setores são calculadas a partir da extrapolação das

encomendas efetivas recentes, ztiex −, :

( ) ( )( ) ⎥

⎤⎢⎣

⎡+

+−+×+×

+=

−−

−−−−−−

4,3,

4,3,2,1,2,1,, 1

2 tie

tie

tie

tie

tie

tie

iti

eti

e

tivp

xxxxxxxxx γ ,

onde iγ é o fator de extrapolação das encomendas usado pelo setor e que representa o grau de

confiança em suas expectativas.

O setor de bens de capital produz sob encomenda: sua produção programada é

definida em função da demanda observada no período, tikex , , estando sujeita à restrição

imposta pela capacidade produtiva existente, dada a margem de sobreutilização:

tike

tikpp xx ,, = ,

sujeito a iktikpp

tik xx β×≤≤ −1,,0 .

Como será visto adiante, os diversos setores da economia formulam sua demanda por

bens de capital no início de seus períodos de investimento, gerando encomendas que serão

atendidas pelo setor produtor de máquinas e equipamentos ao longo dos períodos de

223 A decisão de produção segue Metzler (1941); ver Gandolfo (1985, p.90), também usada em Possas, M. (1983) e Possas, Koblitz et al. (2001). 224 Esta sobreutilização é possibilitada pelo uso de hora-extra de trabalho e de equipamentos.

produção. Neste sentido, as encomendas que orientam a produção deste setor resultam de

decisões de investimento tomadas em períodos passados.

Já no caso dos setores intermediários, estes também produzirão sob encomenda, que

será, no entanto, gerada no próprio período de produção a partir da demanda de todos os

setores por insumos para serem usados na produção do período seguinte. Estes setores

definem sua produção programada com base nas vendas previstas apenas para servir como

referência à demanda-extra por insumos, que será explicada na próxima seção, e para o

cálculo de sua própria demanda por insumos para serem usados na produção do próximo

período.

3.2.2 Demanda por bens intermediários

A quantidade de insumos necessários para realizar a produção programada de cada

setor é dada por:

( )tjim

tjitipp

tjiin aaxx ,,,,,,, +×= ,

onde ( )tjim

tjim

tjitji aaaa ,,1,,1,,,, −+= −− é o coeficiente técnico de insumos nacionais, definido em

função de seu valor no último período e da variação no valor do coeficiente de insumos

importados, tjima ,,

225.

Uma vez definida a produção programada do período, considera-se a possibilidade de

haver uma demanda extra por insumos (que poderá ser atendida no início do período pela

venda de estoques dos setores intermediários), dando margem a algum ajuste em relação às

expectativas que originaram a demanda por insumos no período anterior. A demanda-extra

por insumos, deitjix ,, , é definida pela diferença entre a quantidade necessária de insumos para

realizar a produção programada e os insumos de que dispõe o setor em estoque, 1,, −tjisix :

1,,,,,, −−= tjisi

tjiindei

tji xxx .

225 A determinação do coeficiente técnico de produtos importados será apresentada na seção sobre o setor externo.

A proporção, deitii ,φ , que o setor intermediário consegue atender vendendo os produtos

que tem em estoque, tiivsx , , é função do total de demanda-extra que recebe:

∑=

i

deitiii

tiivs

tiidei

xx

,,

,,φ ,

sujeito a 1,,0 −≤≤ tiis

tiivs xx . Com estas vendas, o estoque de produtos dos setores

intermediários restante no início do período, tiisrx , , é calculado pela diferença entre o estoque

do período anterior, 1, −tiisx , e as vendas realizadas para atender à demanda-extra por insumos,

tiivsx , ; para os demais setores, seus estoques permanecem inalterados: 1,, −= ti

sti

sr xx .

A compra extra de insumos realizada por cada setor é determinada multiplicando-se a

demanda-extra pela proporção da demanda atendida pelos setores intermediários:

tiideidei

tiiitiiicei xx ,,,,, φ×= .

Logo, após ter sido realizada esta rodada extra, a quantidade de insumos de que dispõe cada

setor para a realização de sua produção programada é dada pela soma de seus estoques com o

total de insumos comprados no início do período:

tjicei

tjisi

tjiid xxx ,,1,,,, += − .

A quantidade de insumos que será gasta no período é determinada pelo produto dos

insumos necessários à produção programada pela proporção de insumos disponíveis, ti,ρ . Tal

proporção é igual ao valor da menor razão, considerando-se cada um dos bens intermediários,

entre os insumos disponíveis e os insumos necessários à produção do setor:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

tjiin

tjiid

jti xx

,,

,,, minρ .

O estoque restante de insumos que não serão utilizados na produção corrente, tjisrix ,, , é

definido pela diferença entre os insumos disponíveis e os insumos que serão gastos:

( )titjiin

tjiid

tjisri xxx ,,,,,,, ρ×−= .

Cada setor calcula sua demanda por insumos que deverão ser produzidos no período

corrente para serem usados na produção do período seguinte com base na extrapolação da

produção programada e descontando o estoque restante de insumos:

( ) ( )( ) tji

sritji

tie

tie

tie

tie

tie

tie

ipptitji

di xaxx

xxxxxx ,,,,4,3,

4,3,2,1,,,, 1 −×⎥

⎤⎢⎣

⎡+

+−+×+×=

−−

−−−−γ .

Os setores de bens intermediários demandam exatamente a quantidade de insumos

que acreditam precisar para produzir no período seguinte, sem descontar o estoque restante,

ainda desconhecido uma vez que sua produção no período presente será função das

encomendas de insumos feitas por todos os setores e não de sua produção programada. O

setor agrícola, entretanto, não produz sob encomenda, seguindo a mesma regra que os demais

setores.

A encomenda que recebe cada setor intermediário em função da demanda interna

pelos insumos que produz é dada por:

∑=i

tiiidi

tiiei xx ,,, ,

A encomenda total de insumos recebida por cada setor de bens intermediários, que deverá ser

atendida com a produção do período corrente, é definida pela soma da demanda interna com

as exportações, tiiexx , .

tiiex

tiieie

tii xxx ,,, += .

Como os setores de bens intermediários produzem sob encomenda, então a produção

de insumos desejada será diferente da produção programada inicialmente, sendo determinada,

dentro dos limites da capacidade produtiva existente e da margem de sobreutilização, pela

soma das encomendas efetivas recebidas no período mais a proporção de estoque planejado

menos o estoque de produtos restante no início do período:

( ) tiisr

iie

tiitiipid xxx ,,, 1 −+×= σ ,

sujeito a iitiitiipid xx β×≤≤ −1,,0 .

No caso do setor agrícola, que é um setor intermediário que não produz sob

encomenda, sua produção desejada continua sendo função das vendas previstas. No entanto,

como o setor também realiza venda de estoques no início do período para atender à demanda

extra de insumos, o estoque existente passa a ser tiasrx , e não mais 1, −tia

sx :

( ) tiasr

iatiavp

tiapid xxx ,,, 1 −+×= σ

A restrição imposta pela disponibilidade de insumos, ti,ρ , à produção desejada dos

setores acima (intermediários e agrícola) será calculada da mesma forma que a restrição

considerada sobre a produção programada inicial. Também, o cálculo do estoque de insumos

que não serão utilizados na sua produção corrente, tjisrix ,, , é resultado da diferença entre os

insumos disponíveis e a multiplicação dos insumos necessários à sua produção desejada pela

proporção de insumos disponíveis.

3.2.3 Demanda por bens de consumo

A demanda interna por bens de consumo é realizada pelas famílias, distribuídas entre

quatro classes de renda, e pelo governo. A demanda das diferentes classes por bens de

consumo de cada setor é calculada multiplicando-se a renda real média, determinada em

função da defasagem considerada226, pela respectiva propensão a consumir (decrescente com

a faixa de renda) e somando o consumo autônomo:

⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜

+×=∑=

−X

ticca

ticX

n

zzt

X

Xtic

c xcn

xx ,,

1, ,

onde X , Xtic

ca x , , ztXx − e tic

Xc . representam, respectivamente, as classes de renda A, B, C e D,

a demanda autônoma por consumo, as rendas reais e as propensões a consumir. Estas últimas

são determinadas da seguinte forma:

( )Xtic

mXtic

mtic

Xtic

X cccc ,1,1,, −+= −− ,

onde 1, −ticXc é o valor do último período da propensão a consumir bens nacionais de cada

setor por cada classe de renda e ( )Xtic

mXtic

m cc ,1, −− representa a variação do valor da propensão a

consumir bens importados.

O montante de recursos destinados ao consumo autônomo por cada classe de renda é

determinado em função dos juros, buscando refletir seu impacto sobre o custo do

financiamento, e do grau de endividamento da classe, que pode impor restrições a este gasto:

226 Para a classe A, a defasagem é de 4 períodos; para classe B, é de 3; para classe C, é de 2; e, para classe D, é de 1.

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −×−×=

−−−

2

211 1

t

ttjcaX

t

caX

t

ca

jjjyy ξ ,

Xt

caX

t

caXt

ca yy 1−∂×= ,

onde { }1,5.0,01 ∈∂ −Xt

ca 227 representa a proporção efetivamente destinada ao consumo

autônomo em função da restrição imposta pelo grau de endividamento e jcaξ , o impacto da

variação dos juros sobre o montante destinado ao consumo autônomo. Conseqüentemente, a

demanda autônoma de cada classe por bens de consumo de cada setor é dada por:

Xtic

tX

Xt

caX

ticca cayx ,

1, ×=

−π,

onde Xticca , é a proporção do montante do consumo autônomo direcionada a cada setor

nacional produtor de bens de consumo228, definida de maneira análoga à propensão a

consumir, e 1−tXπ é o índice de preços ao consumidor calculado de acordo com a cesta de

consumo de cada classe de renda.

A demanda por bens de consumo do governo é obtida multiplicando-se o total de seus

gastos, tGg y , pela proporção de bens consumidos de cada setor, ic

Gc . Para determinar a

demanda do governo em termos de unidades de produto, este valor é dividido pelo preço dos

bens de consumo praticado no último período, 1, −ticp :

icG

tic

tGg

Gtic

c cp

yx ×=−1,

, .

Assim, a demanda interna para cada setor de consumo é dada por:

Gtic

cD

AX

Xtic

ctic

ei xxx ,,, += ∑=

,

227 A determinação do valor que assume este parâmetro será apresentada adiante. 228 ( )∑ =+

i

Xtic

mXtic caca 1,, , onde X

ticmca , é a proporção do montante do consumo autônomo de cada classe

direcionada a cada setor externo produtor de bens de consumo.

A encomenda total para os setores de bens de consumo é determinada pela demanda

interna mais as exportações do setor:

ticex

ticei

tice xxx ,,, += .

3.2.4 Investimento

O investimento em capital fixo para repor e ampliar a capacidade produtiva é realizado

considerando-se as expectativas de venda e as limitações impostas pela situação financeira do

setor. Os setores atualizam sua capacidade produtiva uma vez a cada um ano e meio –

período de investimento (equivalente a seis períodos de produção) –, intervalo de tempo

necessário para que os bens de capital demandados sejam produzidos e estejam disponíveis

para uso. A avaliação de investimento dos diversos setores é distribuída ao longo desse

período de forma que a demanda para o setor produtor e a entrada em operação das novas

instalações não fiquem concentradas num ponto no tempo.

O cálculo da necessidade de ampliação da capacidade produtiva é feito em função das

encomendas esperadas para os seis períodos de produção seguintes à entrega dos bens de

capital. Estas encomendas são calculadas a partir da média das encomendas efetivas dos

últimos seis períodos e de sua projeção de crescimento:

2

11

6,

11

6,

5

0,

5

0,

, 16

⎪⎪⎭

⎪⎪⎬

⎪⎪⎩

⎪⎪⎨

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

⎟⎠

⎞⎜⎝

⎟⎠

⎞⎜⎝

⎛−⎟

⎞⎜⎝

×+×=

∑∑∑

=

=

=

=

zzti

e

zzti

e

zzti

e

iz

ztie

tiee

x

xxxx γ .

O cálculo do investimento leva em conta as vendas previstas, a reposição da

capacidade desgastada e a necessidade de ajuste frente a erros passados de previsão. Portanto,

a variação de capacidade produtiva desejada é determinada pela diferença entre as

encomendas esperadas e a capacidade produtiva existente, descontada a depreciação que

ocorrerá no intervalo e considerando a margem de estoque pretendida, iσ , e o grau de

utilização da capacidade produtiva desejado, iα .

( )⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−×−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ +×=Δ iti

i

iti

eeti

dxxx δ

ασ 11

,,, ,

onde iδ é a taxa de depreciação da capacidade produtiva ao longo do período de

investimento.

Além dos investimentos induzidos, os setores realizam a cada seis períodos um

volume de investimento autônomo definido como uma proporção, ika , de sua capacidade

produtiva. Como explicado na introdução, apesar de este modelo não endogeneizar a

dinâmica concorrencial-inovativa, supõe-se que o investimento autônomo é direcionado à

modernização dos setores, pela substituição das máquinas e equipamentos mais antigos por

outros mais novos, sem alteração quantitativa na capacidade produtiva, mas permitindo a

geração de produtos qualitativamente superiores e, logo, mais competitivos

internacionalmente. Portanto, o investimento autônomo desejado será definido como:

tiitikad xkax ,, ×= .

A demanda efetiva por capacidade produtiva depende do investimento induzido pela

expectativa de vendas futuras, do investimento autônomo e da restrição financeira do setor. A

ordem de prioridade para os investimentos, caso se imponha a restrição financeira, é a

reposição da capacidade produtiva depreciada, seguida pela expansão da capacidade produtiva

e por último é realizado o investimento autônomo em modernização. O custo do investimento

desejado é calculado com base em uma estimativa do valor dos bens de capital nacionais e

importados a partir dos preços correntes e supondo que toda demanda será atendida. Para

garantir que a capacidade produtiva demandada equivale a um número inteiro de unidades de

bens de capital, toma-se o inteiro de sua multiplicação pelo coeficiente de capital, ib , que

transforma capacidade produtiva em unidades de bem de capital, e depois se divide pelo

mesmo coeficiente.

Caso o setor não disponha de recursos, então não haverá investimento. Na situação

oposta, se o setor dispuser de recursos suficientes para cobrir o valor dos bens de capital que

serão encomendados, todo investimento desejado poderá ser demandado. Neste caso, a

demanda por capacidade produtiva será igual a:

( )[ ]i

itid

tikad

tikd

bbxxx ×Δ+

= ,,,

int .

Se os recursos disponíveis não forem suficientes para financiar todo o investimento

desejado, então a demanda será determinada em função dos recursos existentes, tiFy ,

229:

( )

i

tf

tik

tk

tiF

tik

tk

tiF

tikd

bepmy

pmy

x ⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

××

+−×

= −1,

,

,

,

,

1int,

onde tk m é o coeficiente de importação de bens de capital; tikp , e f

tikp , são, respectivamente,

os preços cobrados pelos setores de bens de capital nacional e estrangeiro; e, 1−te é a taxa de

câmbio da economia, determinada no final do período anterior.

O investimento induzido que gerará demanda por bens de capital, tikix , , será igual ao

mínimo entre aquele determinado a partir das expectativas de vendas futuras, tid

x ,Δ , e a

demanda realizada por capacidade produtiva, tikdx , , tendo em vista a restrição financeira do

setor. O impacto da restrição financeira sobre o investimento induzido pode ser auferido pela

razão entre o realizado e o desejado. A demanda de cada setor resultante do investimento

autônomo, tikax , , é igual à diferença entre o total da demanda efetiva, ti

kdx , , e aquela

originada pelo investimento induzido (prioritário), tikix , .

O governo também realiza investimentos, que são calculados em termos de demanda

por unidades de bens de capital tomando-se o inteiro da multiplicação de seu coeficiente de

investimento, Gk , pelos gastos do período divididos pelo preço cobrado pelo setor de capital,

tikp , :

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛×= G

tik

tGg

tGk k

pyx

,

int .

A demanda interna que recebe o setor de bens de capital é determinada pela soma da

demanda resultante do investimento de cada um dos setores, descontada a proporção que será

direcionada à importação, com a demanda do governo. Não só a avaliação de investimento

dos diversos setores é distribuída no tempo, conforme já colocado, como também a demanda

resultante desta avaliação é distribuída uniformemente ao longo dos seis períodos de produção

contidos no período de investimento. Desta forma, o cálculo da demanda por bens de capital

229 Esta variável, recursos existentes, será determinada adiante, na seção “Restrição financeira dos setores”.

recebida pelo setor produtor a cada período de produção considera a defasagem

correspondente do setor demandante e apenas 1/6 do valor de seu pedido total. A

multiplicação pelo coeficiente de capital é necessária para transformar a demanda por

capacidade produtiva em unidades de bens de capital:

( ) ( ) tGk

tk

iti

KDt

Gkt

k

ii

ztikd

tikei xmxxmbxx i +−×=+−×⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛×= ∑∑ − 11

6,

,, ,

onde izt − representa a defasagem correspondente ao início do atual período de investimento

de cada setor.

As encomendas totais para o setor de bens de capital são determinadas em função da

demanda interna por seus produtos mais as exportações:

tikex

tikei

tike xxx ,,, += .

3.2.5 Produção efetiva, vendas observadas e demanda atendida

A produção efetiva de cada setor no período será determinada em função da restrição

imposta pela disponibilidade de insumos à realização da produção programada:

titipp

tip xx ,,, ρ×= .

No caso dos setores intermediários, conforme já explicado, a restrição é imposta sobre a

produção de insumos desejada, tiipidx , , e não sobre a produção programada.

As encomendas efetivas recebidas por cada setor, tiex , , são determinadas a partir do

total da demanda por seus produtos, incluindo as exportações. As vendas observadas são

definidas pelo mínimo entre as encomendas e a produção efetiva mais o estoque restante de

cada setor, ou seja:

tiev

ti xx ,, = ,

sujeito a srtiti

pvti xxx ,,,0 +≤≤ .

No caso dos setores intermediários, deve ser somada a venda de insumos a partir dos estoques

para atender à demanda extraordinária no início do período, tiivsx , . O resultado da

confrontação entre oferta e demanda irá confirmar ou não as expectativas dos agentes

consideradas na decisão de produção e influenciará o comportamento das expectativas

futuras, com importantes conseqüências sobre a dinâmica da economia.

O percentual da demanda que cada setor consegue atender é definido a partir da razão

entre as vendas e as encomendas efetivas: ti

eti

veti x

x,

,, =φ , onde [ ]1,0, ∈

etiφ .

A parcela da demanda interna não atendida pelos setores nacionais gera uma demanda

extra por importações, que complementa a produção local:

( ) ( )etiti

exti

emeti xxx ,,,, 1 φ−×−= .

Considerando que toda a demanda extra por importações será atendida – logo, 1, =metiφ –,

então a proporção da demanda interna satisfeita por produção interna ou externa também será

igual à unidade:

1,,, =+= mti

etiti φφφ ,

onde ( ) meti

eti

mti ,,, 1 φφφ ×−= .

O estoque de produtos acabados no final do período será calculado somando-se o

estoque restante de produtos no início do período à variação de estoques, igual à diferença

entre o que foi produzido e a quantidade vendida:

tiv

tip

tisr

tis xxxx ,,,, −+= .

O estoque de insumos de que dispõe cada setor no final do período para ser utilizado

na produção do período seguinte é calculado pela soma dos estoques de insumos que não

foram utilizados na produção corrente com a demanda por insumos nacionais, tjidix ,, , e

importados, tjix ,,dim , atendida no período:

tjitjidi

tjisri

tjisi xxxx ,,

dim,,,,,, ++= .

A compra de produtos de cada setor de bens de consumo efetivada pelas classes de

renda é determinada em função da demanda e da proporção que foi atendida internamente ou

por importação:

ticmc

ticei

ticc xxx ,,, += .

A capacidade produtiva de cada setor é calculada a partir da soma da capacidade

produtiva existente com a aquisição de bens de capital no final do período e descontada a

depreciação. A capacidade do setor só estará variando nos períodos que coincidirem com o

final de seu período de investimento. O acréscimo de capacidade produtiva é determinado em

função da demanda gerada pelo investimento induzido e da parcela que foi atendida pela

produção interna ou pela importação ao longo dos últimos seis períodos:

( ) kiti

zzt

k

zztikzt

kkiti

ti xmmx

x 6,

5

0

5

0,

6,, 1

6 −=

−=

−−− =⎥

⎤⎢⎣

⎡+×−×=Δ ∑∑ φ ,

onde 1, =−ztikφ é a proporção da demanda interna por bens de capital atendida via produção

nacional ou importação extra.

A depreciação do estoque de bens de capital de cada setor é calculada multiplicando-se

a capacidade produtiva pela taxa de depreciação ao longo de seu período de investimento.

Para garantir que a depreciação será expressa em termos de um número inteiro de bens de

capital, multiplica-se a depreciação pelo coeficiente de capital e toma-se o inteiro, que é então

dividido pelo coeficiente.

( )i

iititi

bbxx ××

=δδ ,

,int .

Assim, a capacidade produtiva disponível no final do período de investimento do setor é:

6,,1,, −− −Δ+= titititi xxxxδ

.

A capacidade produtiva substituída em função do investimento autônomo também será

calculada considerando-se a demanda e a proporção atendida pelos setores nacionais e

estrangeiros produtores de bens de capital ao longo dos últimos seis períodos:

( ) kati

zzt

k

zztikzt

kkati

tika

xmmx

x 6,

5

0

5

0,

6,, 1

6 −=

−=

−−− =⎥

⎤⎢⎣

⎡+×−×= ∑∑ φ .

3.2.6 Preço e Renda

O preço de cada setor é formado pela aplicação de um mark-up sobre os custos

variáveis unitários, isto é, sobre a soma dos custos salariais unitários com o custo unitário dos

insumos nacionais e importados:

( )⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡××+×+×= ∑ −−−

jttj

ftji

mtjtjiiiti epapawp 11,,,1,,,, κ ,

onde iκ é o mark-up e iw é o salário por unidade de produção.

No caso do setor agrícola, o preço cobrado pelos produtos exportados é determinado

pelo preço internacional e o preço dos produtos vendidos no mercado nacional é calculado

seguindo o mark-up, porém sofrendo a influência da proporção da demanda que o setor não

consegue atender:

( )[ ]etiaia

ptiatia

i e

pp ,,, 11 φξ φ −×+×= ,

onde iap eφξ reflete a sensibilidade do preço à proporção da demanda não-atendida.

O preço dos produtos no mercado internacional apresenta alguma inflação, definida

como um parâmetro constante e diferenciado entre os setores, ifπ .

( )if

tif

tif pp π+×= − 11,, .

A receita dos setores é função do preço cobrado no período e das vendas realizadas,

descontados os impostos indiretos pagos ao governo:

( ) ( )ii

tirb

ii

titiv

tir ypxy ττ −×=−××= 11 ,,,, ,

onde iiτ é a alíquota de imposto indireto e ti

rby , é a receita bruta antes dos impostos. A receita

do setor agrícola é calculada considerando a especificidade dos diferentes preços praticados

pelo setor no mercado interno e internacional.

O custo unitário da matéria-prima utilizada na produção de cada setor é determinado a

partir da soma do custo dos insumos nacionais com o custo dos insumos importados. O

primeiro é calculado multiplicando o coeficiente técnico pela proporção da demanda atendida

e pelo preço do insumo nacional; o segundo é resultado do produto da importação extra mais

o coeficiente técnico de importação pelo preço dos insumos importados e pela taxa de câmbio.

Por suas características de imprevisibilidade e urgência, é cobrado um ágio de 10% sobre a

importação extra, igual à parte dos insumos que são importados para complementar a parcela

que os setores nacionais não foram capazes de atender.

( ) ( ) ( )[ ]∑ −−−−− ××+××+××=j

ttjf

tjimm

tjtjitje

tjtjiticu epaapay 11,,,1,,,1,1,,,, 1.1 φφ .

As despesas totais de produção do setor são calculadas pela soma dos custos dos

insumos com os gastos com salários. O salário por unidade de produção é um parâmetro pré-

determinado para cada setor e os gastos do setor com salário são calculados multiplicando-se

este salário unitário pelo nível de produção efetivo – supõe-se contrato de trabalho flexível,

em que a contratação é realizada apenas depois que se constata o quanto se tem de insumos

disponíveis para poder produzir:

( ) tip

ticu

itic xywy ,,, ×+= .

O capital de giro é usado para financiar os insumos adquiridos no período, isto é, os

insumos extra demandados e a compra de insumos nacionais e importados que serão

utilizados na produção do período seguinte. O estoque de capital de giro financiado por

terceiros será acrescido a cada período da diferença entre os gastos com a compra de insumos

e o pagamento realizado pelo setor dos insumos usados na produção do período corrente:

( ) ( )[ ] ( )tip

ticu

jttj

ftji

mitj

mtji

ditj

etjtji

ditji

ceiti

kgti

kg xyepxxpxxyy ,,1,,,,,,,,,,,,1,, 1,1 ×−××+××+××++= ∑ −− φφ .

O lucro, tily , , é calculado pela diferença entre as receitas e as despesas de cada setor:

tic

tir

til yyy ,,, −= . O lucro total da economia, ti

Ly , , é definido a partir da soma do lucro de

todos os setores. O salário total é calculado pela soma dos salários pagos pelos setores com

os salários pagos pelo governo. Quanto ao governo, uma proporção Gω de seus gastos é

direcionada para o pagamento de pessoal:

( ) tGgG

iiti

pt

W ywxy ×+×=∑ ω, .

O PIB pela ótica dos rendimentos é calculado somando-se o lucro total com os salários

totais mais os impostos indiretos arrecadados pelo governo:

itt

Wt

Lt yyyY τ++= .

O índice geral de preço230, tπ , é calculado com base no índice de Paasche, a partir das

vendas para o mercado interno e dos preços correntes e do período inicial, °ip . O valor

agregado real (ou renda agregada real) é obtido pela razão entre o valor agregado nominal e o

índice de preço da economia. O valor agregado em moeda estrangeira é obtido dividindo-se o

valor agregado em moeda nacional pela taxa de câmbio. A taxa de crescimento anual da

economia é calculada com base no valor agregado dos últimos quatro períodos e dos quatro

períodos anteriores a estes. A taxa de crescimento acumulada é calculada no final do ano em

relação aos quatro primeiros períodos.

3.2.6.1 Restrição financeira dos setores

A avaliação da situação financeira do setor é feita a cada período de investimento e é a

restrição financeira que delimitará a possibilidade de o setor efetivar sua demanda desejada

por bens de capital231. Os recursos disponíveis são compostos pelos recursos próprios,

recursos do investimento direto estrangeiro e recursos de terceiros obtidos através do

endividamento. Os primeiros são formados pelos lucros retidos e pelo fundo para reposição

dos bens depreciados. A entrada de investimento direto estrangeiro é função da participação

do capital estrangeiro nos setores. Quanto ao acesso a recursos de terceiros, este dependerá da

comparação entre o grau de endividamento e o grau de endividamento aceitável.

O lucro retido a cada período é igual ao total do lucro do setor, somado o retorno das

aplicações financeiras, Sti

rj y , , e descontados o pagamento de juros sobre a dívida, Sti

pj y , , o

230 No modelo, a inflação pode resultar primariamente da variação dos preços agrícolas, por choques de preços dos produtos importados ou por alteração na taxa de câmbio. 231 Conforme nota em Possas, Dweck, Reif (2004, p.8): “É importante ressaltar que restrição financeira, em geral, refere-se às firmas. Entretanto, dada sua importância para o crescimento dos setores, essa restrição é incorporada no modelo de forma a restringir as encomendas de bens de capital”. É uma adaptação da restrição financeira adotada em Possas, Koblitz et al. (2001), inspirada em Wood (1975).

gasto em depreciação, δtiy , , o pagamento de impostos diretos ao governo e a parcela

distribuída como dividendo:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1,,1,,,,,, 111111 −− ×−×−×−×=×−×−×−×−−+= tiiiditi

lrtiii

diti

Sti

pjSti

rjti

llrti yyyyyy ελϕτελϕτδ ,

onde diτ é a alíquota de imposto direto cobrado pelo governo sobre cada setor da economia,

iϕ é proporção do lucro distribuído aos acionistas, iλ é a parte do lucro retido relativa à

participação do investidor estrangeiro, 1, −tiε , que será remetida ao exterior ao invés de ser

reinvestida e tilr

y , representa o lucro retido antes do pagamento de impostos, dividendos e de

lucro ao capital estrangeiro.

A provisão para o gasto em depreciação, descontada do lucro a cada período, é

calculada a partir da capacidade produtiva existente, da taxa de depreciação ao longo do

período de investimento, do coeficiente de capital e do preço dos bens de capital:

tikii

titi pbxy ,1,, 6×××= −

δδ .

Assim, o total do lucro retido mais a provisão para depreciação compõem a variação

da capacidade de financiamento interno do setor, fitiy , , que será somada ao saldo de aplicações

financeiras. Se o setor tiver prejuízo, este será incorporado à dívida existente. As aplicações

financeiras são usadas para cobrir os gastos por período de produção em investimento, gpktiy , , e

para abater parte da dívida, pdtiy , . Portanto:

pdti

gpkti

fiti

afetiti

afti

af yyyyyy 1,,,,1,, −− −−++= ,

onde afetiy , é o montante de aplicações extras, cuja lógica de formação será explicada adiante.

O retorno que os setores recebem sobre suas aplicações, Sti

rj y , , é função da taxa de retorno

paga pelo setor financeiro, que é igual à taxa de juros básica da economia determinada no

final do último período, 1−tj . Logo:

11,, −− ×= tafti

Sti

rj jyy .

As aplicações são somadas ao valor do capital físico do setor, tiky , , para compor seu capital

total:

tiaf

tik

tiK yyy ,,, += ,

onde tikititik pbxy ,,, ××= refere-se ao capital do setor associado a sua capacidade produtiva,

determinado pelo valor dos bens de capital que possui.

Para definir o montante de recursos disponíveis de terceiros, compara-se a dívida

existente, tidy , , à dívida aceitável, i

Ktiti

d yy ∂×= ,, , em que i∂ é seu grau de endividamento

máximo. Se o setor estiver sobreendividado, não contará com recursos de terceiros e deverá

amortizar o excesso de dívidas, sdtiy , . O pagamento de parte da dívida, pd

tiy , , é definido em

função do sobreendividamento e da possibilidade de este ser coberto com as aplicações

financeiras. Se o setor estiver abaixo de seu limite de endividamento, então a disponibilidade

de recursos de terceiros será dada pela diferença entre a dívida aceitável e a dívida

existente: dti

dti

Rtti yyy ,,, −= .

O montante de recursos próprios que podem ser usados para a compra de bens de

capital é determinado descontando-se das aplicações financeiras a parcela que deve ser

mantida aplicada, tilqy , , prezando o grau de liquidez desejado, iι , e os recursos que deverão

ser direcionados ao pagamento do excesso de dívida, pdtiy , :

pdtiti

lqti

afFiti yyyy ,,,, −−= .

Os setores contam ainda com os recursos advindos do investimento direto estrangeiro

para poder financiar a aquisição de bens de capital. O montante disponível para investimento

dependerá do valor do investimento desejado e do valor de referência da participação do

capital estrangeiro no setor, iε :

( )[ ] ( )[ ]1,,,,, 1 −××+×−××Δ+×= tf

tiktk

tiktk

itid

tikad

idti epmpmbxxy εε .

Portanto, o total de recursos líquidos de que dispõe o setor para financiar o

investimento e que pautarão sua decisão de encomenda de bens de capital é igual à soma dos

recursos internos com os recursos de terceiros, mais o investimento direto estrangeiro

disponível:

dti

Rtti

Fiti

Fti yyyy ε

,,,, ++= .

Uma vez definidos os recursos líquidos disponíveis e, logo, a demanda efetiva por

bens de capital realizada pelo setor, que poderá ser igual ou menor que a demanda desejada, é

possível determinar os gastos esperados com investimento:

( )[ ]1,,,, 1 −××+×−×= tf

tiktk

tiktk

tikdgek

ti epmpmxy .

O pagamento dos gastos em investimento realizado com recursos próprios a cada

período de produção é 6,

,

Fiztigpk

tii

yy −= , sujeito a:

6,

,

gekztigpk

tii

yy −≤ .

A entrada efetiva de IDE será complementar ao financiamento interno do

setor, Fiti

gektiti yyy ,,, −=ε , e distribuída uniformemente ao longo dos seis períodos de produção

seguintes ao início do período de investimento, de maneira que a entrada a cada período seja

6,

,

εε iztip

ti

yy −= . Quanto aos recursos de terceiros, caso seja necessário contratá-los para cobrir a

diferença entre o gasto previsto e a soma dos recursos internos disponíveis mais o IDE, os

setores terão o prazo de carência igual ao período de investimento para iniciar o pagamento de

juros sobre a dívida adicional.

O custo efetivo dos bens de capital produzidos a cada período ao longo do período de

investimento é igual a:

( ) [ ]{ }1,1,,,,,, 1.11 −− ××+×××+××−×= tf

tiktk

tf

tikmtitik

etit

kti

KDti

ck epmeppmxy φφ .

No final do período de investimento, quando termina o prazo da carência das novas dívidas, o

setor compara o custo efetivo dos bens adquiridos ao total pago com recursos internos mais o

investimento direto estrangeiro, e a diferença representará o endividamento efetivo, que será

somado à divida existente:

⎟⎠

⎞⎜⎝

⎛+−= −

=−

=

− ∑∑ εzti

z

gpkzti

zzti

ckndti yyyy ,

5

0,

5

0,, .

Se este valor for negativo, significa que a previsão dos gastos com investimento foi

sobreestimada e que o setor dispõe de um valor que será revertido como aplicação financeira

extra, afetiy , .

A dívida interna acumulada pelo setor é determinada pela dívida pré-existente mais o

endividamento extra gerado no caso de o setor incorrer em prejuízo, 0, ≤lrtiy , mais a parcela

do endividamento efetivo contabilizada ao final do período de investimento financiada pelo

sistema financeiro nacional, menos a proporção relativa à divida interna paga para reduzir o

sobreendividamento. Tem-se, portanto:

( ) ( )ei

pdti

ndti

lrtiti

diti

di yyyyy ∂−×−+−= − 1,,,1,, ,

onde ei∂ é a proporção da dívida que é contraída no sistema financeiro internacional232.

A dívida externa é determinada pela soma do estoque existente mais a parcela do

endividamento efetivo financiada no exterior, menos a proporção paga para reduzir o

sobreendividamento. Seu valor é contabilizado em moeda estrangeira e convertido para

moeda nacional multiplicando-se pela taxa de câmbio.

( )

1,$

11

,,1,

$, −−

− ×=×⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡ ∂×−+= tti

det

t

ei

pdti

ndti

tide

tide eye

eyy

yy .

O capital de giro financiado por terceiros, tikgy , , é somado à dívida total do setor no

período, igual a:

kgti

detiti

diti

d yyyy ,,,, ++= .

O grau de endividamento é determinado pela razão entre a dívida total e o capital total

do setor: ti

Kti

d

ti yy

,

,, =∂ .

A taxa de juros que o setor paga sobre sua dívida interna: tittii jj ,1, ς×= − , é definida a

partir da taxa de juros básica da economia, tj , e do spread, calculado em função de seu grau

de endividamento: 232 O valor deste parâmetro dependerá do potencial exportador do setor.

1,, 1 −∂ ∂×+= tiiti ξς ς

onde i∂ξς representa a sensibilidade do spread ao grau de endividamento do setor. A taxa de

juros cobrada sobre o capital de giro financiado por terceiros, tikgj , , tem um pequeno

acréscimo, kgij , em relação à taxa de juros paga sobre a dívida interna. A taxa de juros que o

setor paga sobre sua dívida externa, tiej , , é definida em função da taxa de juros de referência

internacional estabelecida no final do último período, *1

* jj t =− , do risco país, também

calculado no final do período passado, e do spread do setor:

( ) titttie rjj ,11

*, ς×+= −− .

O pagamento total de juros realizado pelo setor a cada período é definido pela soma

dos gastos com os juros sobre sua dívida externa, sobre a dívida interna e sobre o capital de

giro:

Sti

pjEti

pjkgti

kgti

iti

diti

eti

deti

Jti yyjyjyjyy ,,,1,,1,,1,, +=×+×+×= −−− ,

onde kgti

kgti

iti

diti

Sti

pj jyjyy ,1,,1,, ×+×= −− .

3.2.6.2 Renda das classes

Para determinar a renda de cada uma das classes é preciso converter a apropriação

funcional da renda, distribuída entre lucros e salários, em rendimento pessoal233. A renda

nominal de cada classe é determinada em função da proporção que lhe é destinada do lucro

distribuído e do salário total, Xl e Xω respectivamente. Ainda, deve ser deduzido o imposto

direto pago ao governo, exceto sobre a participação nos lucros, cujos impostos foram pagos

antes da distribuição.

Os dividendos destinados às famílias são a contrapartida do lucro retido por um setor

para financiar o investimento:

( ) iditi

lrldti yy ϕτ ×−×= 1,, .

233 Como visto, são consideradas quatro classes de renda.

O total dos lucros distribuídos na economia, LDty , é igual à soma dos lucros distribuídos por

cada setor, descontada a parcela dos dividendos relativa ao capital estrangeiro e que é

remetida ao exterior:

( )[ ]∑ −×=i

tildti

LDt yy ,, 1 ε .

Portanto, a renda nominal de cada classe é dada por:

( ) ( )dXXt

WXLDtt

X yyy τω −××+×= 1l ,

onde dXτ é a alíquota de imposto direto de cada classe. A renda real de cada classe é

determinada pela razão entre a renda nominal e o índice de preço ao consumidor da classe em

questão: t

Xt

X

tX yx

π= .

O índice de preço para cada classe de renda também é calculado com base no índice de

Paasche, isto é, são considerados o consumo total da classe a preços correntes e a preços

iniciais: Xt

C

Xt

C

tX

yy

0

=π .

O consumo total de cada classe, por sua vez, é calculado pela soma do valor gasto no

mercado interno mais o valor gasto com importação. O valor efetivamente gasto dependerá

então da demanda atendida e do preço destes bens:

[ ]{ } ( )∑∑ −− ××+×××+××=i

tf

ticticXm

ict

ftictic

mtictic

etic

Xct

XC epxeppxy 1,,1,,,,, 1.1 φφ ,

onde ticXm x , é a demanda de cada classe por bens de consumo dos setores estrangeiros.

O total das aplicações financeiras de cada classe é igual ao montante acumulado mais

a proporção da renda do período que não foi gasta com consumo e que será aplicada, Xt

s y ,

mais a parte do retorno sobre as aplicações financeiras que excede o pagamento de juros sobre

a dívida, descontado o imposto direto, e menos os recursos destinados a pagar a amortização, Xt

pd y .

( )[ ] Xt

pdXt

pjdXXt

rjXt

sXt

afXt

af yyyyyy 11 1 −− −−−×++= τ .

Estas aplicações são remuneradas à taxa de retorno paga pelo setor financeiro, que é igual à

taxa de juros da economia:

11,, −− ×= tXti

afXti

rj jyy .

As dívidas, por outro lado, são compostas pela dívida acumulada mais o

endividamento presente, caso os gastos correntes tenham sido superiores à renda, 0≤Xt

s y ,

mais o pagamento de juros sobre a dívida, caso este exceda o retorno sobre as aplicações,

( )[ ]01 ≤−−× Xt

pjdXXt

rj yy τ , menos a parcela da dívida que foi amortizada:

( )[ ] Xt

pdXt

pjdXXt

rjt

XsXt

dXt

d yyyyyy 11 1 −− −−−×−−= τ .

O grau de endividamento de cada classe é calculado pela razão entre suas dívidas e suas

aplicações financeiras, Xt

af

Xt

dXt y

y=∂ .

A situação financeira da classe no período determinará o montante de dívida que

deverá ser amortizado no período seguinte e a eventual necessidade de cortes no consumo

autônomo. Se o grau de endividamento da classe estiver abaixo de um nível mínimo de

referência, então a classe não precisará abater parte de sua dívida, 0=Xt

pd y , e seu consumo

autônomo não será afetado, 1=∂ Xt

ca . Tanto no caso de o grau de endividamento estar entre o

nível de referência, X∂ , e o limite máximo, X

∂ , como no caso de este grau estar muito

elevado, a classe usará suas aplicações para quitar toda a parte da dívida que excede o grau

mínimo aceitável.

Xt

afXXt

dXt

pd yyy ×∂−= ,

sujeito a Xt

afXt

pd yy ≤ .

No primeiro caso, no entanto, ainda haverá consumo autônomo no período seguinte,

apesar de este ser reduzido à metade dos recursos destinados a este fim, 5,0=∂ Xt

ca . No caso

de o endividamento estar acima do limite máximo, então o consumo autônomo do próximo

período será totalmente restringido, 0=∂ Xt

ca , de forma a conter a necessidade de contração

de novas dívidas e aumentar os recursos líquidos disponíveis para o pagamento das dívidas

existentes.

O montante de juros pagos pela classe a cada período dependerá da dívida acumulada

e da taxa de juros da classe: Xt

Xt

dXt

pj jyy ×= −1 ; esta é determinada com base na taxa de juros da

economia234 e no spread calculado em função de seu grau de endividamento:

Xtt

Xt jj ς×= −1 ,

onde 11 −∂ ∂×+= t

Xt

X X

ξς ς e X∂ξς retrata a sensibilidade do spread ao sobreendividamento

da classe.

3.2.7 Setor Público

As principais características do governo, neste modelo, são: i) a realização do gasto

público para o pagamento de pessoal, consumo e investimento; ii) a arrecadação de impostos

diretos e indiretos; e iii) o controle da política econômica, por meio da meta de superávit, da

determinação da taxa de juros e da influência sobre a taxa de câmbio.

Os gastos do governo a cada período são balizados em função da meta de superávit-

primário estipulada para o ano. Esta meta é recalculada a cada quatro períodos, respeitando o

piso e o teto estabelecidos e tendo em vista a relação entre a dívida pública e o PIB da

economia e a relação entre a taxa de crescimento de ambos. Se a razão dívida/PIB for menor

que 30%, a meta de superávit passada será reduzida num percentual pré-estabelecido, Ω ; o

mesmo ocorrendo se esta razão estiver entre 30% e 40%, mas a taxa de crescimento da dívida

for menor que a do PIB no último ano: Ω−= −1tt μμ . Se o crescimento da dívida for maior

que o do PIB, a meta do último ano permanece inalterada: 1−= tt μμ . No entanto, se a relação

dívida/PIB for superior a 40%, a meta de superávit será acrescida: Ω+= −1tt μμ .

O total que o governo dispõe para gastar é atualizado a cada período pela diferença

entre os impostos esperados (diretos e indiretos) e o superávit alvo. Os impostos esperados

são calculados a partir dos impostos do período passado sobre os quais se aplica uma projeção

de crescimento baseada na variação do PIB. E o superávit alvo do governo é dado pelo

234 Como a taxa de juros básica só é estabelecida ao final de cada período, então o cálculo dos juros pagos no período corrente usa como referência a taxa de juros defasada.

produto da meta de superávit definida no final do último período pela projeção do PIB da

economia para o período seguinte. Portanto, o montante disponível para os gastos do governo

é:

( ) ( ) ( )( ) ⎥

⎤⎢⎣

⎡+

+−+×+××−=

−−

−−−−−−−

43

4321111 1

tt

tttttt

Gt

Gt

g

YYYYYYYyy γμτ ,

onde Gty 1−

τ é o total de impostos arrecadados no último período e γ representa o grau de

confiança do governo em suas expectativas.

Os impostos diretos são calculados a partir da soma do produto da alíquota de imposto

direto aplicada sobre a proporção recebida dos salários e sobre o retorno financeiro de cada

uma das classes, mais o imposto direto pago por cada um dos setores sobre o lucro. Os

impostos indiretos são calculados a partir da aplicação de uma alíquota sobre o valor da

receita bruta de cada setor. A receita total de impostos do governo é resultado da soma dos

impostos diretos e indiretos:

( )[ ] ( ) ( )∑∑∑ ×+×+×+×== i

iirb

tii

diti

lrD

AX

dXXt

rjXt

Wt

G yyyyy τττωτ,,

O superávit primário do governo é determinado pela diferença entre o total de

impostos arrecadados e os seus gastos efetivos no período, Gt

geGt

Gt

sp yyy −=τ . Como já foi

notado, a distribuição dos gastos do governo entre consumo, investimento e pagamento de

pessoal é fixa, nas proporções GGG kc ω,, respectivamente, aplicadas ao montante de recursos

de que o governo dispõe para gastar, Gt

g y . Os gastos efetivos, no entanto, poderão variar em

função dos preços correntes e da demanda atendida por cada setor:

[ ] [ ]{ } Gt

gG

ict

ftictic

mtictic

eGtic

ct

ftiktik

mtiktik

et

GkGt

ge yeppxeppxy ×+×××+××+×××+××= ∑ −− ωφφφφ 1,,,,,1,,,, 1.11.1

O governo deve ainda pagar os juros sobre as dívidas interna e externa, que dependem dos

estoques de dívidas e das taxas de juros:

Gt

pjGt

pjet

Gt

diet

Gt

deGt

J yyjyjyy +=×+×= −−− 111 ,

onde 1*

1 −− += ttet rjj .

O déficit público, então, é calculado pela diferença entre o pagamento de juros e o

superávit primário: Gt

spGt

Jt

Gdp yyy −= .

Pelo lado da economia nacional, a dívida pública interna , Gt

DPi y , é igual ao estoque

existente mais o déficit público corrente. Pelo lado do setor externo, como o governo não

emite ou esteriliza moeda, o saldo do balanço de pagamentos, a amortização da dívida externa

e os empréstimos contraídos no exterior implicam variação da dívida pública interna como

contrapartida da troca por divisas:

Gt

ndeGDPet

BPt

Gt

dpGt

DPiGt

DPi yyyyyy −×+++= −− υ11 ,

onde Gυ é a proporção da dívida pública externa amortizada a cada período.

A dívida total do governo é determinada pela soma da dívida pública interna com a

dívida pública externa, Gt

DPeGt

DPiGt

DP yyy += .

3.2.8 Setor Externo

A renda externa da economia mundial apresenta uma taxa constante de crescimento,

x& , é expressa em moeda estrangeira e convertida para moeda nacional multiplicando-se pela

taxa de câmbio:

( ) 11$ 1 −− ×+×= tt

Et

E exYY & .

A demanda por exportações que recebem os setores nacionais é definida a partir da

aplicação de um coeficiente de exportação, ti ,χ , sobre a renda externa, dividida pelo preço

dos bens nacionais no período para transformar o valor em unidades de

produto:ti

Etti

tix

pY

x,

,,

×=χ

.

O coeficiente de exportação varia em função do crescimento da renda externa, dos

preços relativos dos bens nacionais e internacionais e do impacto do investimento autônomo

sobre a competitividade dos bens produzidos no país. Cabe ressaltar que este último fator será

relativamente pequeno, refletindo algum ganho de competitividade ou, talvez, apenas menor

perda de posição competitiva:

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡×+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛×

−×+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −×+×= −

−−

ti

tika

kai

x

ttif

tipi

xE

t

Et

EtY

ix

titi xx

epp

YYY

,

1,

,

,

1

11,, 11 ξξξχχ ,

onde Yi

xξ , pi

xξ e kai

xξ captam a sensibilidade do coeficiente de exportações ao crescimento da

renda externa, aos preços relativos e ao efeito aleatório da modernização produtiva. A

exportação do setor agrícola não sofre influência dos preços relativos uma vez que seus

produtos são exportados aos preços internacionais.

O valor das exportações totais da economia é definido a partir da soma da demanda

por exportações de todos os setores, multiplicada pela proporção da demanda atendida e pelo

preço cobrado no período:

( ) 1,,,,,, −≠

×××+××=∑ ttif

tie

tiax

iaititi

eti

xt

X epxpxy φφ .

Os níveis de importação são definidos de forma análoga à determinação da demanda

interna. A importação de insumos, portanto, é função do coeficiente-técnico de importação e

da extrapolação para o período seguinte da produção programada do setor:

( ) ( )( )∑ ⎥

⎤⎢⎣

⎡+

+−+×+××=

−−

−−−−

i tie

tie

tie

tie

tie

tie

itippm

tiiim

tii xxxxxxxax

4,3,

4,3,2,1,,,,, 1 γ .

O coeficiente técnico de importação é determinado a partir de seu valor no último

período, da variação nas encomendas efetivas recebidas pelo setor e da relação entre os preços

dos insumos nacionais e importados:

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ ×−×+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ −×+×= −

−−−

ti

ttif

pi

m

tie

tie

tie

Yi

mmtiii

mtiii p

epx

xxaa,

1,

2,

2,1,1,,,, 11 ξξ ,

onde Yi

mξ e pi

mξ captam, respectivamente, a sensibilidade dos coeficientes técnicos de

insumos importados ao crescimento das encomendas efetivas e aos preços relativos dos bens

produzidos no país e no exterior.

A importação de bens de consumo dependerá da propensão a importar de cada classe

multiplicada pela média da renda real defasada e do consumo autônomo de importados:

∑∑

= −

=

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

×⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+×

⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜

=D

AX

Xtic

m

tX

Xt

ca

ticXm

n

zzt

X

mtic ca

IPCyc

n

xx ,

1,

1, ,

onde ticXmc , é a propensão da classe de renda a importar de cada setor de bens de consumo e

Xtic

mca , é a proporção dos recursos destinados ao consumo autônomo pela classe que será

direcionada para cada setor de bens de consumo importados.

Os valores destes coeficientes são definidos em função dos valores do último período,

das rendas e dos preços da seguinte forma:

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ ×−×+

⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜

−×+×= −

−=

−=

=

∑∑

ti

ttif

pi

mn

nzzt

X

n

nzzt

Xn

zzt

X

Yi

mtic

Xmtic

Xm

pep

n

x

n

x

n

x

cc,

1,2

1

2

11

1,, 11 ξξ

e

⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ ×−×+

⎟⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜⎜

⎛−

×+×=

−−

ti

ttif

pi

m

tX

X

t

cat

X

X

t

ca

tX

X

t

ca

Yi

mXtic

mXtic

m

pep

IPCy

IPCy

IPCy

caca,

,

2

1

2

1

11,, 11 ξξ ,

onde Yi

mξ e pi

mξ captam, respectivamente, a sensibilidade dos coeficientes de importações ao

crescimento da renda da classe e ao montante destinado ao consumo autônomo, e aos preços

relativos dos bens importados e produzidos internamente.

A importação de bens de capital é definida pelo produto da demanda por bens de

capital pelo coeficiente de importação:

tk

iti

KDtik

m mxx ×=∑ ,, ,

onde tk m é o coeficiente de importação calculado a partir do valor assumido no período

passado, do crescimento da demanda por bens de capital e da relação entre os preços destes

bens no país e no exterior:

⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ ×−×+

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛ −×+×= −

− ∑∑∑

ti

ttif

pi

m

iti

KDi

tiKD

iti

KD

Yi

mt

kt

k

pep

x

xxmm

,

1,

1,

1,,

1 11 ξξ .

O valor das importações totais da economia é obtido somando-se o produto da

quantidade importada de insumos, bens de consumo e bens de capital pelos respectivos preços

internacionais com as importações extras destes mesmos bens, sobre as quais se paga um ágio

de 10%:

( )[ ]∑ −×××+=i

ttim

time

tim

tM epxxy 1,,, 1,1 .

O saldo da balança comercial235 é obtido pela diferença entre o valor total das

exportações e das importações: tM

tX

tBC yyy −= .

A conta de serviço de fatores236 é composta pela entrada de lucros reinvestidos, Et

lk y ,

e pela saída de lucros, Et

le y , dividendos, Et

de y , e juros, Et

je y , enviados ao exterior.

Et

jeEt

deEt

leEt

lkt

SF yyyyy −−−=

O total dos lucros reinvestidos na economia, Et

lk y , é igual à soma dos lucros

reinvestidos por cada setor:

( ) ( ) ( )[ ]{ }∑ −×−×−×−×=i

tiiiditi

lrEt

lk yy 1,, 111 ελϕτ .

O total dos lucros remetidos ao exterior no período é igual à soma dos lucros

remetidos por cada um dos setores:

( ) ( ) ( )[ ]∑ −××−×−×=i

tiiiditi

lrEt

le yy 1,, 11 ελϕτ .

235 Por simplificação, não está sendo considerada a balança comercial de serviços não-fatores. 236 Por simplificação, está sendo considerado que o país não tem capital no exterior que gere entrada de juros, lucro ou dividendos.

O total dos dividendos remetidos ao exterior é igual à soma dos dividendos pagos

pelos setores ao capital estrangeiro:

∑ −×=i

tild

tiEt

de yy 1,, ε .

Os juros remetidos ao exterior são resultado da remuneração do estoque de

investimento estrangeiro de curto prazo aplicado no país, Et

rj y , e dos empréstimos e

financiamentos contraídos pelo governo, Gt

pje y , e pelos setores, Eti

pj y , :

∑++×=i

Eti

pjGt

pjeEt

rjEt

je yyyy ,θ ,

onde θ é a proporção do retorno sobre o estoque de capital estrangeiro de curto prazo

aplicado no país que é remetido ao exterior a cada período.

O saldo da conta de transações correntes é então calculado como a soma do saldo da

balança comercial com o saldo da conta de serviço relativo a fatores237, tSF

tBC

tTC yyy += .

O saldo da conta de capitais, tCCy , será composto pela entrada de investimento direto

estrangeiro, de capitais de curto prazo e de empréstimos e financiamentos, contraídos pelo

governo e pelos setores, assim como pelo pagamento de amortizações: Et

AEt

ndGt

ndeEt

cptt

CC yyyyyy −+++= ε .

O total do investimento direto estrangeiro recebido pela economia no período é

resultado da soma dos investimentos externos direcionados a cada setor: ∑=i

ptit yy εε

, .

O total do financiamento ao investimento contratado no exterior pelos setores

nacionais é igual à soma da proporção das dívidas adquiridas no período que foram contraídas

no sistema financeiro internacional: ∑ ∂×=i

ei

ndti

Et

nd yy , .

A amortização é resultado do pagamento de parte da dívida externa pública e parte da

dívida privada. A divida pública é amortizada segundo uma proporção fixa a cada período,

237 Por simplificação, não será considerada a conta de transações unilaterais.

Gυ . O segundo componente é igual ao pagamento realizado pelos setores para diminuírem

seu excesso de dívidas:

∑ ∂×+×= −i

ei

pdti

GDPet

Et

A yyy ,1 υ ,

O movimento do capital de curto prazo é determinado a partir de um valor de

referência e motivado por diferencial de rentabilidade, sendo, portanto, influenciado pela

diferença entre a taxa de juros nacional e internacional, pelo risco país e pela desvalorização

esperada do câmbio:

( ) ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−−−××= −− 11

*1

t

te

tttrcpEcpE

tcp

eerjjyy ξ ,

onde rcpξ reflete a sensibilidade do investimento estrangeiro de curto prazo à variação na

rentabilidade esperada e tee é a taxa de câmbio esperada, calculada com base em expectativas

extrapolativas: ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −×+×=

−−−

2

211 1

t

tttt

e

eeeee γ .

Com taxa de câmbio flexível dentro das bandas estipuladas pelo governo,

implicitamente, a dinâmica retratada é o movimento de apreciação/depreciação, quando o

saldo inicial do balanço de pagamentos (desconsiderando a entrada de capital de curto prazo)

é positivo/negativo, que, dado o diferencial entre o juros internacionais e o juros nacional

mais o risco país, cria uma expectativa de depreciação/apreciação que induz à saída/entrada

do capital estrangeiro especulativo. A cada período, este processo continua até que a variação

do câmbio tenha sido capaz de gerar um movimento de capitais de curto prazo suficiente para

equilibrar o balanço de pagamentos e acabar com a pressão sobre o mercado de divisas. Neste

sentido:

( )Et

AEt

ndt

TCt

E

t

cpyyyyy −++−= ε .

Portanto:

( ) 11*

1 +×

−−−

=

−− rcpEcp

E

t

cp

ttt

et

t

yy

rjj

ee

ξ

.

Se a taxa de câmbio resultante estiver dentro da margem de apreciação/depreciação

aceitável, então o governo não precisará intervir. Caso contrário, o governo irá comprar ou

vender reservas buscando manter o câmbio dentro dos limites da banda, eet = . Neste caso, o

movimento do capital estrangeiro de curto prazo será determinado por:

( ) ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−−−××= −− 11

*1 e

erjjyy te

tttrcpEcpE

tcp ξ ,

sendo E

t

cpEt

cp yy > se mineeet =< e E

t

cpEt

cp yy < se maxeeet => .

A partir deste resultado é possível determinar o saldo do balanço de pagamentos, CCt

TCt

BPt yyy += , que determinará a variação do estoque de reservas no final do período, tR ,

remunerado à taxa de juros internacional. Se, num caso extremo, a necessidade de venda de

reservas for maior do que a disponibilidade existente, então o governo irá recorrer a

empréstimos no exterior para poder cobrir a diferença, Gt

nde y . Vale destacar que está sendo

considerado que, no caso de as reservas estarem acima da meta, o governo realizará o

pagamento de juros e da amortização da dívida pública externa diretamente com as reservas

disponíveis, sem comprar divisas no mercado interno de câmbio.

O passivo externo total do país, PEty , é determinado pela soma dos seguintes estoques:

i) investimento direto estrangeiro:

εεεt

st

st yyy += −1 ,

ii) capital de curto prazo:

( ) Et

rjEt

cpEt

scpEt

scp yyyy ×−++= − θ11 ,

iii) empréstimos contratados pelo governo:

1$

11

1$

−−−

− ×=×⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ ×−+= tt

DPet

t

Gt

DPeGt

nde

tDPe

tDPe eye

eyyyy υ ,

iv) financiamentos contraídos pelos setores:

∑=i

tideD

t yy ,Pr .

O passivo externo líquido é igual ao resultado desta soma descontadas as reservas,

tPEt

PELt Ryy −= ; e o passivo externo de curto prazo considera apenas o estoque de capital

estrangeiro aplicado no setor financeiro nacional, Et

scpPEt

cp yy = . O governo tem uma meta de

reservas, tR* , objetivada para aumentar o nível de confiança dos investidores estrangeiros no

país. Esta meta é calculada visando uma razão “segura”, Θ , entre o total das reservas e os

passivos externos de curto prazo, tPEcp

t yR ×Θ=* . Como será visto adiante, a relação entre a

meta e a reserva efetiva influencia a determinação da taxa de juros.

A partir destes resultados é possível calcular alguns indicadores importantes para o

acompanhamento do desempenho externo do país e que influenciam os movimentos de

entrada e saída de capitais estrangeiros. O primeiro é o indicador de risco de insolvência, trs ,

calculado pela razão entre o passivo externo líquido e as exportações totais. Conforme

discutido no segundo capítulo, este indicador permite avaliar a capacidade de as exportações

saldarem os compromissos externos que não estão cobertos pelas reservas: Xt

PELt

t yyrs = .

Um outro indicador importante é o de risco de iliquidez, trl , determinado pela relação

entre o passivo externo de curto prazo e as reservas, que revela a capacidade de o país cobrir

uma saída abrupta de capitais estrangeiros: t

PEt

cp

t Ryrl = .

O risco-país, tr , é determinado em função do comportamento destes dois indicadores e

em função da liquidez internacional:

( ) kerttt rlrsr ξ×+= ,

onde kerξ indica a sensibilidade ao risco do capital estrangeiro.

A determinação da taxa de juros passa a ser feita levando em consideração as metas de

inflação e as metas de reserva do governo. A expectativa de inflação para o próximo período

é determinada da seguinte maneira:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −×+×=

1

11t

ttt

et π

ππγππ .

Se a taxa de inflação estiver abaixo da meta e as reservas acima, a taxa de juros

referencial será igual a um piso, j , somado à inflação esperada para o período seguinte:

ett jj π+= .

Se tanto a inflação como as reservas estiverem fora de suas metas, o efeito combinado

será:

( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−×+−×++= *,

*, 1

t

tRtj

jtttj

jett R

Rjj ξππξπ π .

onde πξ jj reflete a sensibilidade dos juros a um desvio da meta de inflação, *π , e R

jjξ capta o

impacto do desvio da meta de reservas sobre os juros.

3.3. Simulações

O principal objetivo desta tese, conforme exposto na introdução, é o desenvolvimento

de um modelo de simulação que sirva como instrumental para a análise de questões

relacionadas à dinâmica econômica de países em desenvolvimento com base na teoria

apresentada nos primeiros capítulos. O modelo multissetorial aberto descrito neste capítulo

foi transcrito para linguagem de programação e seus resultados foram analisados utilizando-se

o programa LSD (Laboratory for Simulation Development238). Uma rodada de simulação

descreve o resultado seqüencial no tempo dos valores que assumem as variáveis usando as

equações definidas no modelo teórico-computacional para o cálculo de sua atualização.

Nesta seção, será apresentado o comportamento das principais variáveis da economia

ao longo de uma rodada de simulação na qual a economia está inicialmente crescendo e em

uma rodada na qual há inicialmente recessão. É determinante para o resultado das trajetórias a

definição das equações e dos valores iniciais assumidos pelos parâmetros e pelas variáveis

que apresentam defasagens.

Na simulação que parte de “crescimento”, este é gerado a partir de condições iniciais

nas quais os valores defasados das encomendas são crescentes e influenciam as expectativas

de vendas e, logo, a decisão de produção. Como conseqüência do aumento da produção,

eleva-se a demanda por bens intermediários. Os valores defasados das rendas das classes

também são crescentes, gerando aumento da demanda por bens de consumo, numa tendência

que é propagada conforme aumentam o nível de atividade econômica, os lucros e salários, e

que não é compensada pela redução do consumo autônomo em função da elevação dos juros.

As encomendas por bens de capital, dada a condição inicial de capacidade produtiva dos

setores suficiente para atender à demanda, começam reduzindo-se, com inexistência de

investimento induzido e a presença de um investimento autônomo, função da capacidade

produtiva, decrescente com a depreciação. Mas, conforme a economia cresce, a necessidade

de investimento induzido e o aumento do investimento autônomo contribuem para reforçar o

movimento de elevação do nível de atividade. Os gastos do governo aumentam nos primeiros

períodos, dada a meta de superávit, influenciados pelos valores defasados crescentes do PIB.

Apesar de o peso das exportações ser pequeno, seu crescimento, resultante da elevação da

renda externa, também contribui para o crescimento da economia.

238 Ver: http://www.business.aau.dk/~mv/Lsd/lsd.html

Analogamente, na simulação que parte de “recessão”, esta é gerada a partir de

condições iniciais que incorporam níveis de encomenda efetiva decrescente, cuja tendência é

propagada através das expectativas extrapolativas usadas no cálculo das vendas previstas, que

condicionam a produção, ou diretamente no caso dos setores que produzem sob encomenda, e

logo geram tendência à redução da demanda por bens intermediários. A capacidade produtiva

inicial é suficiente para atender à demanda; portanto, com a diminuição do nível de produção,

não há investimento induzido, e o investimento autônomo, que é função da capacidade

produtiva, segue reduzindo-se com o efeito da depreciação. Também, os níveis de renda

defasados decrescentes geram a diminuição da demanda inicial por bens de consumo e,

enquanto o consumo induzido torna-se cada vez menor com a redução dos lucros e salários na

recessão, a queda não é compensada pelo pequeno aumento do consumo autônomo em função

da redução dos juros. Os gastos do governo, definidos pela expectativa de arrecadação de

impostos e pela meta de superávit, dados os valores defasados decrescentes do PIB, reforçam

a queda nos primeiros períodos. O crescimento contínuo das exportações não é suficiente

para contrabalançar a contração inicial da economia, mas contribui para reversão.

Para que o presente modelo possa ser aplicado ao estudo das diversas questões tratadas

nos capítulos anteriores, examinando-se as diferentes trajetórias originadas a partir de

mudanças nas condições iniciais, ainda é preciso realizar um processo de ajuste no conjunto

destes valores, que devem ser melhor calibrados a partir de uma pesquisa mais detalhada de

dados empíricos239 e da análise dos resultados obtidos nas simulações. O objetivo desta

apresentação é apenas explicitar alguns resultados gerados pelos mecanismos descritos no

modelo e seu potencial como instrumento de análise de questões relacionadas à dinâmica

econômica de um país em desenvolvimento. É importante ressaltar que, em função da

necessidade de maiores ajustes nas condições iniciais, todo exame subseqüente estará voltado

para avaliar a direção dos movimentos resultantes das interações entre as variáveis e não tanto

as magnitudes envolvidas.

Os gráficos e parâmetros estão no apêndice; as referências serão feitas por seus

números, sendo a letra C referente ao cenário de crescimento e R ao de recessão.

239 Parte dos valores iniciais utilizados, por exemplo: os coeficientes técnicos dos setores e as propensões a consumir das classes de renda, foi definida com base nos dados empíricos do Brasil; outra parte foi determinada a partir de educated guess, buscando-se manter a pertinência em relação a valores de referência que retratassem um país em desenvolvimento.

3.3.1 Simulação com Crescimento

Ao longo da trajetória de crescimento da economia retratada na primeira simulação, a

produção programada dos setores é crescente (2C), acompanhando o movimento das vendas

previstas (1C), que, por sua vez, reflete com alguma defasagem o movimento das encomendas

efetivas (26C).

O crescimento da produção programada, suficiente para compensar a redução do

coeficiente técnico de insumos nacionais240 (3C), induz à elevação das encomendas efetivas

de insumos (6C). O crescimento da renda das classes (69C) impulsiona as encomendas por

bens de consumo (16C), gerando um efeito superior à redução do consumo autônomo (11C)

conseqüente da elevação da taxa de juros da economia (105C). Também há aumento das

encomendas recebidas pelo setor de bens de capital (23C) em função da variação desejada de

capacidade produtiva induzida pelo crescimento (17C) e do investimento autônomo desejado

(18C), definido como proporção da capacidade produtiva, que apresenta queda inicial

conforme a depreciação reduz a capacidade produtiva existente (24C), mas se recupera com a

recuperação do nível de atividade e do investimento induzido. A demanda efetiva por bens de

capital realizada por cada setor (19C) difere da soma da demanda induzida e autônoma

desejadas devido à restrição financeira imposta pelos recursos disponíveis do setor sobre a

previsão de gasto com investimento (46C a 53C). Como a restrição financeira impacta

inicialmente o investimento autônomo (18C vs 22C), o investimento induzido dos todos os

setores é realizado no nível desejado (21C e 17C vs 20C).

A produção efetiva (25C) é igual à produção programada (2C); não há restrição por

falta de insumos necessários à produção (4C e 5C). Quando, dada a aceleração do ritmo de

crescimento da economia (34C), alguns setores começam a apresentar dificuldade para

atender à demanda com a venda da produção e dos estoques (28C), há necessidade de

importação extra de produtos para compensar escassez de oferta nacional (29C).

Os preços seguem relativamente estáveis no início da trajetória, apresentando

significativa elevação nos últimos períodos (30C). A pressão sobre os preços é conseqüência

da elevação dos preços internacionais e, principalmente, da depreciação do câmbio (95C), que

encarece os insumos importados. A elevação dos preços acima da meta de inflação (104C)

240 A explicação do movimento do coeficiente técnico nacional será vista adiante junto à análise do comportamento do coeficiente técnico de insumos importados.

induz à elevação constante da taxa de juros (105C), que não está sendo influenciada pelo

comportamento das reservas (98C).

Com os preços definidos a partir de um mark-up fixo sobre os custos variáveis

unitários, os lucros dos setores aumentam conforme a economia se recupera (32C). O PIB

reflete o movimento ascendente do lucro total, dos salários, fixos por unidade de produção, e

dos impostos indiretos arrecadados sobre a receita de venda dos setores (33C e 34C).

De modo geral, no que diz respeito à parte financeira, a trajetória ascendente dos

lucros é acompanhada pela trajetória dos lucros retidos (35C). As aplicações financeiras

também aumentam (36C), refletindo uma elevação maior da soma dos lucros retidos com a

provisão para depreciação do que o aumento dos gastos com investimento (54C), que são

retomados na fase de recuperação, e com a amortização das dívidas (55C). O capital total dos

setores (37C), calculado pela soma do valor de sua capacidade produtiva com suas aplicações

financeiras, depois de um período de ligeira queda em razão da ausência de investimento

induzido e do efeito da depreciação, começa a apresentar elevação, devido à retomada dos

investimentos em capacidade produtiva (20C) e ao aumento das aplicações financeiras (36C).

As dívidas (59C), que foram sendo amortizadas (55C) antes do período de aceleração do

crescimento, aumentam novamente no final da trajetória com a retomada dos investimentos

(19C) e o uso de recursos de terceiros, retratado no endividamento efetivo (56C). Ainda

assim, após o período de diminuição do capital total, seu crescimento é mais rápido do que o

aumento da contração de novas dívidas, fazendo com que o grau de endividamento dos

setores diminua (60C), assim como o spread pago sobre o juros básicos da economia (61C).

A taxa de juros paga sobre a dívida interna dos setores (62C) é crescente, refletindo a

elevação da taxa de juros básica (105C) superior à pequena redução dos spreads dos setores.

A elevação da taxa de juros sobre a dívida externa dos setores (63C), dada a taxa de juros

internacional constante, é resultado da elevação do risco país (103C). O pagamento crescente

de juros sobre a dívida dos setores, em particular nos períodos finais da simulação (64C a

66C), é resultado da composição entre a pequena redução inicial das dívidas, que voltam a

crescer no final da trajetória, e da contínua elevação dos juros.

Neste movimento, os recursos disponíveis para cada setor financiar seus investimentos

são crescentes com a retomada do crescimento econômico (38C a 45C). Em regra, os

recursos de terceiros passam a estar disponíveis quando há elevação do capital total dos

setores (37C) e redução de seu grau de endividamento (60C). Os recursos internos

disponíveis também aumentam com o aumento das aplicações financeiras (36C) e diminuição

da necessidade de amortizar a dívida excedente ao grau de endividamento desejado (55C). O

recurso proveniente do investimento direto estrangeiro, por outro lado, na forma como foi

definido, está sempre disponível na proporção do valor do investimento desejado relativa à

sua participação no setor. Conforme colocação anterior, a comparação entre os recursos totais

disponíveis e a soma dos gastos desejados com investimento (46C a 53C) reflete o grau de

restrição financeira do setor, limitando a demanda efetiva em relação à demanda desejada por

bens de capital. Na fase de crescimento, há elevação do investimento desejado assim como há

aumento dos recursos disponíveis, porém a restrição financeira é permanente, em maior ou

menor grau, para a maioria dos setores.

O movimento ascendente dos lucros e salários é acompanhado pela elevação da renda

das classes A, B, C e D (67C). Como há inflação, o nível de renda real destas classes é um

pouco menor (68C e 69C). As aplicações financeiras das classes A, B e C são crescentes

(70C) com o acúmulo da renda que não é gasta no período e com o retorno que as próprias

aplicações geram excedentes ao pagamento de juros sobre a dívida. Este último componente

é positivo e crescente pelo fato de a taxa de juros estar se elevando e de o montante de

aplicações financeiras ser suficientemente maior que o montante de dívidas (70C vs 71C),

compensando o pagamento do spread sobre a dívida. A classe D, no entanto, não acumula

recursos (70C), estando ao longo de quase todo o período considerado sobreendividada (73C)

e tendo que usar seus recursos correntes para amortizar dívida (72C). A classe C sofre

alguma restrição ao consumo autônomo (74C) em função da elevação eventual de seu grau de

endividamento; a classe D, por outro lado, só consegue superar a restrição ao consumo

autônomo no final da trajetória, com a elevação de sua renda e melhora de sua condição

financeira. Com a redução do grau de endividamento das classes, resultado: i) da

estabilização das dívidas (71C) em função do aumento da renda, e ii) do aumento da aplicação

financeira das classes (70C), há redução do spread pago sobre os juros básicos (75C). Apesar

de as dívidas das classes ficarem aproximadamente estáveis e de o spread diminuir, o

pagamento de juros se eleva por conta da elevação da taxa básica de juros (105C, 76C e 77C).

Quanto ao comportamento do setor público nesta simulação, a trajetória dos gastos do

governo é ascendente (78C), refletindo um aumento da arrecadação de impostos com o

crescimento da economia maior que o aumento do superávit alvo resultante da elevação do

PIB e da variação na meta de superávit. O governo consegue obter um resultado primário

positivo e crescente (79C), dada a crescente arrecadação de impostos e um aumento a um

ritmo mais lento dos gastos do governo em função da elevação da meta de superávit como

resposta ao aumento do estoque de dívida pública. Porém, o superávit primário não é

suficiente para cobrir o pagamento de juros (80C), gerando um déficit público permanente e

crescente (81C) com o aumento do estoque de dívida pública (82C) e da taxa de juros (105C).

Quanto ao setor externo, os coeficientes de exportação apresentam uma redução muito

pequena no final da trajetória (84C), resultado da combinação entre o efeito negativo da

elasticidade-renda frente ao crescimento da economia mundial, do efeito do preço, dado o

aumento dos preços nacionais, dos preços internacionais e a depreciação da taxa de câmbio, e

do efeito positivo, mas também muito pequeno, do investimento autônomo sobre a

competitividade. As exportações, de maneira geral, apresentam uma tendência ascendente

(83C), em função do crescimento da renda mundial, porém a aceleração no final da trajetória

é explicada pela depreciação do câmbio, que tem um efeito direto no valor da renda externa

em moeda nacional sobre o qual é aplicado o coeficiente de exportação.

As importações também aceleram com a retomada do crescimento econômico (85C).

As importações de insumos aumentam com a elevação da produção dos setores, as

importações de bens de consumo aumentam com a elevação da renda das classes e as

importações de bens de capital aumentam com a elevação do investimento. Os coeficientes

de importação de todos os setores sofrem elevação (86C a 89C) fundamentalmente por conta

do crescimento da economia, que tem um impacto maior do que o efeito advindo do

encarecimento dos produtos importados como resultado da elevação dos preços internacionais

e da desvalorização do câmbio a um ritmo mais acelerado que a elevação dos preços

nacionais. Em contrapartida à elevação dos coeficientes de importação, os coeficientes

técnicos de insumos nacionais (3C), a propensão marginal a consumir produtos nacionais (7C

a 10C) e a proporção do consumo autônomo de bens nacionais (12C a 15C) diminuem. No

caso do coeficiente de importação de bens de capital (89C), a partir de um determinado ponto

da trajetória este atinge seu máximo, permanecendo constante deste momento em diante.

O resultado do saldo da balança comercial torna-se crescentemente negativo conforme

aumenta o ritmo de crescimento da economia (90C). Quanto à conta de serviço de fatores

(91C), a remessa de lucros, que por hipótese é igual ao lucro reinvestido, e de dividendos é

crescente com a melhora do desempenho da economia. Estes valores, no entanto, são baixos

comparados aos valores das remessas de juros, cujo principal componente é a remessa do

retorno sobre o investimento estrangeiro de curto prazo em função do grande estoque

acumulado (99C) e da elevação da taxa de juros nacional (105C). O saldo em transações

correntes, então, torna-se cada vez mais negativo (92C).

O saldo da conta de capital, sem considerar a entrada de capital de curto prazo, é

crescentemente positivo (93C), principalmente em função do aumento do investimento e,

logo, da crescente entrada de investimento direto estrangeiro. Também como resultado da

recuperação do investimento, há uma pequena entrada de capital relativa ao financiamento

externo dos setores nos últimos períodos da simulação. Ao longo de todos os períodos há o

pagamento de amortização da dívida externa pública e dos setores.

Nos primeiros períodos, mesmo com a pressão pela depreciação do câmbio em função

do resultado negativo da soma da conta de transações correntes com o saldo inicial da conta

de capitais241, acaba havendo um movimento de apreciação (95C) em função da contra-

pressão exercida pela entrada de capital de curto prazo estimulada pela combinação do

diferencial entre a taxa de juros nacional e internacional, descontado o risco país, e

considerando-se a variação esperada no câmbio. A partir de um determinado momento, no

entanto, o crescente déficit gerado na soma da conta de transações correntes com o saldo

inicial da conta de capitais acaba levando à contínua depreciação do câmbio que, dada a taxa

de câmbio esperada e o diferencial entre os juros internacionais e os juros nacionais mais o

risco país, faz com que a expectativa de apreciação seja suficiente para induzir um volume de

entrada de capital de curto prazo que equilibre o balanço de pagamentos. Assim, a entrada de

capital de curto prazo é crescente (94C), a taxa de câmbio deprecia-se (95C) e o saldo do

balanço de pagamentos apresenta um resultado ligeiramente negativo (96C), refletindo apenas

o pagamento da amortização e dos juros da dívida pública externa que o governo efetiva

recorrendo diretamente às reservas. Como a variação do câmbio está dentro dos limites da

banda cambial, não há intervenção do governo no mercado de câmbio.

Os principais componentes do estoque de passivo externo são o investimento direto

estrangeiro e o investimento estrangeiro de curto prazo (99C). Apesar da elevação do passivo

externo de curto prazo, no entanto, as reservas permanecem acima das metas (98C), sem

pressionar os juros, que se elevam devido à inflação (104C e 105C). O estoque de

financiamento aos setores diminui no período em que os setores não realizam investimento e

amortizam suas dívidas, voltando a crescer com a retomada do crescimento da economia, dos

investimentos e do endividamento (100C). A dívida pública externa é progressivamente 241 O saldo inicial da conta de capital desconsidera a entrada de capital de curto prazo – especulativo.

amortizada (100C). Com o crescimento do passivo externo e a piora dos indicadores de

insolvência e iliquidez, há uma elevação contínua do risco país com a recuperação da

economia (103C).

3.3.2 Simulação com Recessão

Numa trajetória de recessão, as encomendas efetivas que recebem os setores (26R)

estão se contraindo, impactando as vendas previstas (1R) e a produção programada (2R), que

seguem a mesma tendência. Num processo de interação seqüencial, a queda na decisão de

produção leva à queda na demanda por bens intermediários (6R). As encomendas de bens de

consumo diminuem progressivamente na fase de queda da trajetória (16R), acompanhando o

movimento do nível de atividade da economia (33R), que se reflete em redução dos lucros e

salários, logo da renda das classes (67R). Os recursos destinados ao consumo autônomo,

função da variação da taxa de juros, aumentam continuamente, conforme os juros de

referência são reduzidos (11R). As encomendas de bens de capital seguem o mesmo caminho

de redução ao longo da maior parte da trajetória, com início de uma recuperação nos últimos

períodos (23R). A variação da capacidade produtiva desejada começa a se recuperar nos

últimos períodos (17R), depois de um longo período sem investimento e que implica grande

redução da capacidade produtiva como resultado da depreciação (24R). O investimento

autônomo desejado (18R), que segue o movimento da capacidade produtiva, reduz-se

progressivamente ao longo da trajetória. A demanda efetiva por bens de capital resulta do

confronto entre os bens desejados em função do investimento induzido mais o investimento

autônomo e a disponibilidade de financiamento do setor (46R a 53R). Em geral, a queda no

nível de atividade piora a restrição financeira, que começa a ser suavizada com o início da

recuperação. Cabe ressaltar, contudo, que a restrição é aplicada primeiramente ao

investimento autônomo, sendo o investimento induzido considerado prioritário. Neste

sentido, pode ser observado que este último não sofreu limitações ao longo da trajetória (21R

e 17R vs 20R).

A produção efetiva (25R) é exatamente igual à produção programada (2R), não

havendo restrição de insumos ao longo de toda a trajetória (4R e 5R). O total vendido (27R),

que inclui parte da produção corrente e estoques, é suficiente para atender às encomendas

(26R) e, portanto, não há necessidade de importação extra de insumos (28R e 29R).

A evolução dos preços nacionais (30R) é fundamentalmente influenciada pelo

comportamento da taxa de câmbio (95R). Os preços internacionais apresentam uma pequena

inflação, porém a apreciação do câmbio é suficiente para baratear o custo dos insumos

importados resultando em uma inflação em queda que chega a se transformar em uma

deflação (104R). Como taxa de juros é determinada em função de metas de inflação, sua

trajetória é descendente (105R), apesar da pressão inicial exercida pela necessidade de

aumentar o nível de reservas (98R).

Com os lucros definidos por mark-up, o montante de lucros dos setores reduz-se ao

longo do movimento de contração da economia, voltando a se recuperar ligeiramente com o

início da retomada do crescimento (32R). O lucro total da economia segue o mesmo

movimento do lucro dos setores, assim como os salários, que são fixos por unidade de

produção, variando em função do nível de atividade, e os impostos indiretos cobrados sobre

as vendas; a soma destes três componentes retrata o comportamento do PIB (33R).

O lucro retido dos setores, que é função do lucro e do saldo entre o retorno sobre as

aplicações financeiras e o pagamento de juros sobre a dívida, também apresenta uma queda

inicial até começar a se recuperar no final da trajetória (35R). Esta tendência resulta do

próprio movimento do lucro (32R) e da redução tanto das aplicações financeiras (36R) como

das dívidas (59R), em um contexto no qual a taxa de juros é decrescente. As aplicações

financeiras são reduzidas (36R) devido à diminuição dos lucros retidos e da provisão para

gasto com depreciação e à realização de pagamentos dos gastos com investimento e da

amortização da dívida. Os gastos com investimento (54R), referentes aos recursos internos

usados para financiar a aquisição de bens de capital, refletem as despesas iniciais com

investimento autônomo decrescente (22R) e, no final da trajetória, tanto o pagamento do

investimento autônomo como o início da retomada do investimento induzido (20R). A

amortização da dívida (55R) e conseqüente redução do estoque de dívida total dos setores

(59R), por outro lado, está sendo forçada pela redução do estoque de capital total dos setores

(37R), resultado da redução da capacidade produtiva (24R) e das aplicações financeiras

(36R), que acaba elevando o grau de endividamento dos setores acima do limite máximo

aceitável (60R).

Com a redução do estoque de capital total a um ritmo mais rápido que a redução da

dívida e com a conseqüente elevação do grau de endividamento, os setores acabam deixando

de poder contar com os recursos de terceiros, portanto não há endividamento efetivo ao longo

da maior parte da trajetória (56R e 38R a 45R). Os recursos do IDE, por hipótese, estão

sempre disponíveis, iguais a 30% do valor do investimento desejado (38R a 45R). A

disponibilidade de recursos internos diminui nos primeiros períodos conforme diminui o

estoque de aplicações financeiras dos setores (36R), mas começa a se recuperar com a

redução da necessidade de amortização das dívidas (55R e 38R a 45R). Neste contexto,

aumenta a participação do investimento estrangeiro nos setores (100R).

Apesar da elevação inicial do spread dos setores com a elevação do grau de

endividamento (61R), que depois se estabiliza, a taxa de juros paga sobre a dívida interna

reduz-se progressivamente (62R) acompanhando o movimento da taxa de juros básica (105R).

A taxa paga sobre a dívida externa segue o movimento apresentado pela taxa de risco (103R),

cobrada adicionalmente à taxa de juros internacional (que é mantida constante), e, portanto,

apresenta uma elevação inicial seguida por uma queda (63R). O pagamento de juros dos

setores reduz-se continuamente (66R) com a redução dos juros e do volume de dívida (59R).

A renda recebida pelas classes A, B, C e D é decrescente (67R), acompanhando o

movimento dos lucros e dos salários. Como há uma deflação na maior parte da trajetória

(68R), então a renda real das classes acaba sendo um pouco superior à renda nominal (69R).

A aplicação financeira das classes é crescente principalmente em função do saldo da diferença

entre o recebimento do retorno sobre as aplicações e o pagamento de juros sobre a dívida.

Apesar de os juros declinarem, o montante de aplicações financeiras (70R) é muito superior

ao de dívida (71R), justificando o saldo entre o retorno e o pagamento de juros das classes. O

grau de endividamento das classes, à exceção da classe D, é declinante (73R) com a

progressiva estabilização do nível das dívidas (71R) e aumento do total das aplicações

financeiras (70R). A classe D, que alterna entre o limite do endividamento e o

sobreendividamento (73R), é obrigada a amortizar parte de sua dívida intermitentemente ao

longo de toda a trajetória (72R) e tem seu consumo autônomo restringido, porém não

totalmente (74R). O spread, dada sua determinação, segue o mesmo padrão que o grau de

endividamento das classes (75R). A taxa de juros paga pela classe sobre sua dívida reflete o

comportamento da taxa de juros de referência mais o spread (76R). O montante de juros pago

(77R) é resultante do movimento do acúmulo de dívidas e da taxa de juros paga pelo setor.

Quanto ao comportamento do setor público neste movimento de contração econômica,

os gastos do governo seguem a mesma tendência (78R), refletindo uma redução da

arrecadação de impostos maior que a redução do superávit alvo. A meta de superávit é

crescente devido à elevação da relação entre a dívida pública e o PIB. Como resultado de

uma contração dos gastos maior que a redução dos impostos, há geração crescente de

superávit (79R). Apesar do resultado primário, no entanto, o governo acaba incorrendo em

um déficit público (81R), que segue uma trajetória decrescente em função do superávit

primário crescente (79R) e de um pagamento de juros inicialmente decrescente e que passa a

crescer a um ritmo mais lento que o da geração de superávit até voltar a cair (80R). A

redução inicial do pagamento de juros se deve ao crescimento da dívida pública (82R) a um

ritmo mais lento que a redução da taxa de juros (105R); já o crescimento posterior resulta da

diminuição do ritmo de queda da taxa de juros e do crescimento contínuo da dívida pública

em função do acúmulo dos déficits ao longo dos períodos. Com a dívida externa quase toda

amortizada, a dívida pública interna é igual à dívida pública total (82R).

No que diz respeito ao setor externo, as exportações são crescentes (83R),

acompanhando o movimento da renda externa mundial, apesar da pequena redução do

coeficiente de exportação (84R) como resultado da combinação dos efeitos negativos

vinculados à elasticidade-renda das exportações, do efeito do preço relativo resultante da

apreciação do câmbio, da queda dos preços nacionais e da subida dos preços internacionais e

do pequeno efeito da competitividade vinculado ao investimento autônomo. As importações

(85R) acompanham o movimento do PIB. As importações de bens intermediários são

contraídas na fase de recessão, quando há redução do nível de produção, e se elevam com a

recuperação. As importações de bens de consumo diminuem com a contração da renda das

classes e a importação de bens de capital também tem uma queda inicial e só se recupera com

a retomada dos investimentos. Os coeficientes de importação aumentam (86R a 89R)

principalmente em função do efeito da apreciação do câmbio (95R), que torna as importações

mais baratas mesmo com a elevação dos preços internacionais e redução dos preços internos.

O coeficiente de importação de bens de capital, especificamente, aumenta até atingir seu teto,

quando então passa a permanecer constante. Neste contexto de aumento das exportações e

redução das importações, que começam a se recuperar no final da trajetória, o saldo da

balança comercial segue uma tendência crescente a taxa decrescente (90R).

O resultado do saldo de serviços de fatores (91R) acompanha o movimento do

dividendo remetido, que segue a mesma trajetória do lucro, reduzindo-se inicialmente e

depois voltando a se recuperar nos últimos períodos, e dos juros remetidos, cujo principal

componente é a remessa de juros recebidos sobre o estoque de capital estrangeiro de curto

prazo, que segue reduzindo-se (99R). O impacto do pagamento de juros do governo é

mínimo, devido à amortização da dívida externa pública, e o pagamento de juros dos setores

também é muito pequeno, tendo em vista a redução da dívida externa privada (100R). O lucro

remetido é igual, por hipótese, ao lucro reinvestido, e, portanto, a soma destes dois fatores não

exerce nenhuma influência (91R).

O saldo em transações correntes, como resultado do balanço comercial

progressivamente positivo e do saldo de serviço de fatores cada vez menos negativo, é

crescente (92R). O saldo inicial da conta de capital (93R), antes de ser considerada a entrada

de investimento externo de curto prazo, tem como principal componente a entrada de

investimento direto estrangeiro, que acompanha o movimento do investimento dos setores,

sendo decrescente ao longo da maior parte dos períodos e começando a apresentar uma

melhora apenas nos últimos anos. O financiamento externo dos setores tem um peso muito

pequeno e também segue esta mesma trajetória. A amortização da dívida externa é igual à

soma do pagamento da dívida externa pública e da amortização da dívida externa dos setores.

O resultado do saldo de transações correntes, que se torna positivo e segue uma

tendência crescente a taxa decrescente, mais o saldo inicial da conta de capital, continuamente

positivo e decrescente, exerce uma pressão pela apreciação do câmbio (95R). A cada período,

a tendência à apreciação (95R), dadas a taxa de juros internacional, a taxa de juros nacional, o

risco país e a taxa de câmbio esperada e a expectativa de desvalorização resultante, acaba

induzindo à saída de capital de curto prazo (94R) até o nível de equilíbrio do balanço de

pagamentos (96R), quando cessa a pressão no mercado de divisas. O saldo final da conta de

capital, considerando o investimento externo em carteira (especulativo), contrabalança o saldo

da conta de transações correntes (97R).

O estoque de investimento direto estrangeiro é o principal componente do estoque de

passivo externo e segue uma trajetória crescente, dada a entrada constante, proporcional a sua

participação em cada setor, associada ao investimento autônomo (ao longo de toda a

trajetória) e induzido (nos últimos períodos); o estoque de investimento externo de curto prazo

apresenta um aumento inicial e depois se torna declinante com a saída contínua deste capital

(99R). As participações do estoque de empréstimos contraídos pelos setores e da dívida

pública externa são decrescentes em função da amortização (100R). As reservas em moeda

estrangeira aumentam com a remuneração recebida no exterior à taxa de juros internacional.

As reservas em moeda nacional, no entanto, dada a apreciação do câmbio, permanecem

relativamente estáveis. O passivo externo líquido, tendo em vista o comportamento das

reservas, acompanha o movimento do passivo total numa trajetória crescente a taxa

decrescente (102R). O risco país (103R), neste contexto, apresenta uma elevação inicial,

reflexo do crescimento do passivo externo, mas começa a ser reduzido, principalmente como

conseqüência da diminuição do estoque de capital estrangeiro de curto prazo.

CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho, o crescimento foi tratado como um fenômeno de curto prazo,

vinculado à variação da renda sem alteração da estrutura produtiva. O desenvolvimento, por

outro lado, foi visto como um fenômeno de longo prazo, conduzido por alteração estrutural

endógena e impulsionado por condições de demanda e concorrência que suportam um

processo de crescimento, diversificação e elevação da produtividade. Os países

desenvolvidos seriam aqueles cuja dinâmica de crescimento da renda e alteração estrutural

evolui de forma sustentada, sem ser interrompida sistematicamente por gargalos internos ou

restrições externas. Já os países em desenvolvimento seriam aqueles em vias de construção

de tais bases, isto é, aqueles cuja trajetória não é sustentada, porém os períodos de

crescimento podem ser orientados para engendrar uma transformação estrutural de forma que

ao longo do tempo sejam capazes de superar seus gargalos. Os países subdesenvolvidos não

têm uma dinâmica interna capaz de sustentar nem mesmo períodos representativos de

crescimento da renda.

Como foi visto, no caso dos países em desenvolvimento, um dos principais problemas

que acaba tornando insustentável sua trajetória de crescimento é o desequilíbrio estrutural do

balanço de pagamentos. A balança comercial deficitária, como foi reiteradamente

argumentado, reflete a disparidade entre coeficientes e entre elasticidades-renda e -preço de

importação e exportação – parâmetros que revelam características da estrutura produtiva e o

grau de desenvolvimento do país (nível de industrialização, taxa de modernização, nível de

competitividade das exportações). A conta de capital é usada, então, para compensar a

balança comercial negativa, com a desvantagem de que seus componentes, diferentemente de

uma elevação das exportações ou de uma redução das importações, geram compromisso

futuro de remessa de divisas em função do estoque de passivo externo que vai sendo

acumulado.

A vulnerabilidade externa dos países que apresentam dinâmicas como acima descritas

reflete-se em indicadores como risco de insolvência, ligado à disposição dos credores

internacionais continuarem refinanciando suas dívidas, e risco de iliquidez, ligado ao

movimento dos capitais de curto prazo, cuja saída abrupta poderia comprometer o nível de

reservas. A elevação dos riscos de insolvência e iliquidez aumenta o custo de atração do

capital estrangeiro, fazendo com que o governo tenha que manter elevada taxa de juros e alto

nível de reservas para evitar instabilidades. Neste contexto, é forte a influência da liquidez

internacional e das expectativas dos agentes sobre as condições propícias ao crescimento com

estabilidade.

O crescimento de um país com restrição estrutural do balanço de pagamentos não tem,

por si mesmo, como se auto-sustentar. As políticas adotadas estão voltadas para controlar os

efeitos desfavoráveis gerados pelo crescimento com restrição estrutural externa, mas não são

direcionadas para viabilizar a superação das causas deste tipo de trajetória, originadas

fundamentalmente em uma estrutura produtiva desatualizada e pouco competitiva. O

desenvolvimento é construído por uma dinâmica de longo prazo, porém não é um processo

inexorável; ao contrário, são necessários grandes esforços de política. Para que países em

desenvolvimento de fato se insiram no rumo da construção das bases de uma trajetória

virtuosa sustentada é preciso adotar políticas macroeconômicas que alonguem os períodos de

crescimento e políticas industriais e de investimento em infra-estrutura que contribuam para

acelerar a transformação estrutural na direção da superação dos gargalos existentes e do

fortalecimento da dinâmica de concorrência e modernização.

A incorporação mais detalhada do setor externo, do setor financeiro e das políticas

econômicas no modelo de simulação apresentado no terceiro capítulo teve, justamente, como

objetivo permitir o estudo das interações entre o desequilíbrio comercial, a fragilidade

financeira em uma economia com abertura comercial e financeira e a trajetória de

crescimento. Este trabalho faz parte de um programa de pesquisa que tem sua linha teórica,

conforme definida no primeiro capítulo, baseada em Keynes, Kalecki e Schumpeter, e que

utiliza como principal instrumento de análise os modelos de simulação. A relevância do

modelo apresentado nesta tese está no fato de ser um instrumental que permite captar a

interação no tempo entre diversas variáveis que determinam a evolução da demanda, do

crescimento, do resultado do balanço de pagamentos e das regras de política econômica, que,

por sua vez, afetam a própria demanda. Apesar de a dinâmica de transformação estrutural não

ter sido endogeneizada nesta versão do modelo com base em processos de concorrência das

firmas, ela está sendo retratada de maneira simplificada através do investimento autônomo em

modernização. Assim, também é possível tirar conclusões sobre as interações entre a

evolução da demanda, do crescimento, de alterações na capacidade produtiva e a

transformação estrutural associada; e sobre a importância de políticas que contribuem para

viabilizar a construção de um caminho de mudança estrutural.

A condução da política econômica suposta no modelo apresentado, seguindo, grosso

modo, as orientações do Consenso de Washington, é de abertura comercial e financeira,

regime de câmbio com flutuação suja, política monetária regida por metas de inflação e

política fiscal, por alvos de superávit primário. Dadas estas regras, quando um país com

restrição estrutural do balanço de pagamentos está crescendo, como pôde ser visto nas

simulações, o câmbio tende a desvalorizar, a inflação aumenta, levando a uma política

monetária restritiva, com elevação dos juros, também impulsionada pela necessidade de atrair

capital estrangeiro e compor reservas; e os gastos do governo são controlados para aumentar o

superávit primário em função do aumento da relação dívida/PIB, agravada pela elevação do

pagamento de juros sobre a dívida. A elevação dos juros e a desvalorização do câmbio

acabam influenciando a demanda.

Contudo, ainda são necessários ajustes no modelo que o permitam captar de forma

mais adequada particularmente o impacto da variação da taxa de juros sobre a demanda,

evitando, por exemplo, que uma trajetória de crescimento com deterioração dos resultados do

setor externo permaneça sustentada. Neste sentido, em primeiro lugar, deve ser aprimorada a

calibragem das condições iniciais, especialmente a composição entre os ativos e os passivos

dos diversos agentes da economia (setores, classes e governo). Em segundo lugar, deve ser

avaliada a possibilidade de introdução de um mecanismo de análise de portfólio por parte dos

agentes, de forma que a taxa de juros figure como custo de oportunidade para o investimento

produtivo. Por último, é preciso reestruturar as condições de endividamento do governo,

incluindo alguma restrição sobre sua possibilidade de contração de empréstimos no exterior.

Apesar da necessidade de desenvolvimentos futuros, já em seu estágio atual, o modelo

permite a realização de algumas simulações, sugeridas a seguir, que, a meu ver, podem

contribuir de forma relevante para o estudo da dinâmica de um país em desenvolvimento.

Uma primeira possibilidade é a variação dos parâmetros que refletem a condição de

um país em desenvolvimento com desequilíbrio na balança comercial. As principais

alterações seriam nos valores iniciais dos coeficientes de importação e exportação e nos

parâmetros relacionados à sensibilidade dos coeficientes frente a mudanças no nível de

atividade, nos preços relativos e na influência do investimento autônomo sobre a

produtividade dos setores e, logo, sobre a competitividade.

Da mesma forma, sobre o setor externo, poderiam ser avaliadas diferentes situações

em termos de ritmo de crescimento da economia mundial e, logo, das exportações e de

evolução dos termos de troca.

Outra alternativa a ser testada diz respeito à condição de liquidez internacional,

parâmetro conjuntural que influencia a restrição externa ao crescimento de um país em

desenvolvimento pelo lado financeiro e que é captada no valor da sensibilidade do risco-país à

variação nos indicadores de insolvência e iliquidez.

Alterações nas condições iniciais também podem gerar resultados relevantes focando,

por exemplo, diferentes níveis e composições de endividamento (interno e externo) do setor

público e do setor privado, maior ou menor participação do IDE na economia, disponibilidade

de reservas.

Ainda, seria importante considerar mudanças nos parâmetros relacionados à política

econômica, vinculados, principalmente, às regras de política monetária, fiscal e cambial.

Neste sentido, seria interessante gerar diferentes simulações variando, por exemplo, a meta de

inflação, a sensibilidade dos juros à inflação, o piso da taxa de juros, a meta de superávit

fiscal, a banda cambial e a meta de reservas.

Todas essas são possibilidades que deverão ser exploradas nos trabalhos futuros do

grupo de pesquisa no qual esta tese foi desenvolvida.

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APÊNDICE

Setor 1: Bens de Consumo Duráveis Setor 2: Bens de Consumo Não-Duráveis Setor 3: Bens Intermediários (Metalúrgicos) Setor 4: Bens Intermediários (Químicos) Setor 5: Bens de Capital Setor 6: Bens Intermediários (Outros) Setor 7: Bens Agrícolas Setor 8: Serviços

Crescimento

Produção Programada

1.C Gráfico

Vendas Previstas

0

20

40

60

80

100

120

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

2.C Gráfico

Produção Programada

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Demanda por bens intermediários

3.C Gráfico

Coeficiente Técnico de Insumos Nacionais(ex. setor 1)

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Set 1 Ins 1

Set 1 Ins 2

Set 1 Ins 3

Set 1 Ins 4

Set 1 Ins 5

Set 1 Ins 6

Set 1 Ins 7

Set 1 Ins 8

4.C Gráfico

Proporção mínima de insumos necessários disponíveis

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1Setor 2Setor 3Setor 4Setor 5Setor 6Setor 7Setor 8

5.C Gráfico

Proporção mínima de insumos necessários disponíveis (prod insumos)

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

6.C Gráfico

Encomendas Efetivas de Insumos

0

10

20

30

40

50

60

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Demanda por bens de consumo

7.C Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Set 1 Classe A Set 2 Classe A Set 7 Classe A Set 8

8.C Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse B Set 1 Classe B Set 2 Classe B Set 7 Classe B Set 8

9.C Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse C Set 1 Classe C Set 2 Classe C Set 7 Classe C Set 8

10.C Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse D Set 1 Classe D Set 2 Classe D Set 7 Classe D Set 8

11.C Gráfico

Recursos para Consumo Autônomo

0

1

2

3

4

5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

12.C Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Set 1 Classe A Set 2 Classe A Set 3 Classe A Set 8

13.C Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.350.4

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse B Set 1 Classe B Set 2 Classe B Set 7 Classe B Set 8

14.C Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.350.4

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse C Set 1 Classe C Set 2 Classe C Set 7 Classe C Set 8

15.C Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse D Set 1 Classe D Set 2 Classe D Set 7 Classe D Set 8

16.C Gráfico

Encomenda Efetiva por Bens de Consumo

0

10

20

30

40

50

60

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 7

Setor 8

Investimento

17.C Gráfico

Variação de Capacidade Produtiva Desejada

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

18.C Gráfico

Investimento Autônomo Desejado

05

1015202530354045

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

19.C Gráfico

Demanda por Bens de Capital

0

10

20

30

40

50

60

70

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

20.C Gráfico

Demanda Induzida por Bens de Capital

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1Setor 2Setor 3Setor 4Setor 5Setor 6Setor 7Setor 8

21.C Gráfico

Restrição Financeira ao Investimento Induzido

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

22.C Gráfico

Investimento Autônomo

0

5

10

15

20

25

30

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

23.C Gráfico

Encomenda Efetiva de Bens de Capital

05

10152025303540

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

24.C Gráfico

Capacidade Produtiva

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Produção Efetiva, Vendas Observadas e Demanda Atendida

25.C Gráfico

Produção Efetiva

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

26.C Gráfico

Encomendas Efetivas

0

20

40

60

80

100

120

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

27.C Gráfico

Vendas Observadas

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

28.C Gráfico

Proporção da Demanda Atendida

0.88

0.9

0.92

0.94

0.96

0.98

1

1.02

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

29.C Gráfico

Importação Extra

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Preço e Renda

30.C Gráfico

Preços

0.950.970.991.011.031.051.071.091.111.131.15

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

31.C Gráfico

Capital de Giro

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

32.C Gráfico

Lucro

0

5

10

15

20

25

30

35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

33.C Gráfico

PIB

0

50

100

150

200

250

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoLucro Total Salário Total Impostos Indireto PIB

34.C Gráfico

Taxa de Crescimento

-0.05

0

0.05

0.1

0.15

0.2

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Restrição Financeira dos Setores

35.C Gráfico

Lucro Retido

0

1

2

3

4

5

6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

36.C Gráfico

Aplicação Financeira

05

101520253035404550

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

37.C Gráfico

Capital Total

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

38.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 1)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

Período

Recursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

39.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 2)

0

5

10

15

20

25

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

40.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 3)

0123456789

10

3 9 15 21 27 33 39 45 51 57 63 69 75

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

41.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 4)

02468

10121416

4 10 16 22 28 34 40 46 52 58 64 70

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

42.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 5)

0

10

20

30

40

50

60

5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

43.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 6)

0

2

4

6

8

10

12

6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

44.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 7)

02468

1012141618

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

45.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 8)

0102030405060708090

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

46.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 1)

0

5

10

15

20

25

30

35

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

47.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 2)

0

5

1015

20

25

3035

40

45

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

48.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 3)

0

2

46

8

10

1214

16

18

3 9 15 21 27 33 39 45 51 57 63 69 75

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

49.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 4)

0

2

4

6

810

12

14

16

18

4 10 16 22 28 34 40 46 52 58 64 70

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

50.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 5)

0

10

20

30

40

50

60

5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71

PeríodoRecurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

51.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 6)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

52.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 7)

02468

101214161820

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

53.C Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 8)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

Período

Recurso Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

54.C Gráfico

Pagamento dos Gastos em Investimento

0

1

2

3

4

5

6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

55.C Gráfico

Amortização de Dívida

0

1

2

3

4

5

6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

56.C Gráfico

Endividamento Efetivo

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

57.C Gráfico

Divida Interna (inclui capital de giro)

0102030405060708090

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

58.C Gráfico

Divida Externa (moeda nacional)

0

0.5

1

1.5

2

2.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Períodos

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

59.C Gráfico

Divida Total

0102030405060708090

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

60.C Gráfico

Grau de Endividamento dos Setores

00.10.20.30.40.50.60.70.80.9

1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

61.C Gráfico

"Spread"

1.25

1.35

1.45

1.55

1.65

1.75

1.85

1.95

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

62.C Gráfico

Taxa de Juros Interna

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

0.14

0.16

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

63.C Gráfico

Taxa de Juros Externa

00.01

0.020.030.04

0.050.06

0.070.08

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

64.C Gráfico

Pagamento de Juros Internos

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

65.C Gráfico

Pagamento de Juros Externos

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

66.C Gráfico

Pagamento Total de Juros

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Renda das Classes

67.C Gráfico

Renda Nominal

0

10

20

30

40

50

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

68.C Gráfico

Índice de Preço ao Consumidor

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

69.C Gráfico

Renda Real

0

10

20

30

40

50

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

70.C Gráfico

Aplicação Financeira

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

71.C Gráfico

Dívida

0

50

100

150

200

250

300

350

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

72.C Gráfico

Amortização da Dívida

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.350.4

0.45

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

73.C Gráfico

Grau de Endividamento

00.10.20.30.40.50.6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

74.C Gráfico

Restrição Financeira ao Consumo Autônomo

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

75.C Gráfico

"Spread"

1

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

1.6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

76.C Gráfico

Taxa de Juros Interna

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

77.C Gráfico

Pagamento de Juros

0

5

10

15

20

25

30

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

Setor Público

78.C Gráfico

Gastos do Governo

0

20

40

60

80

100

120

140

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

79.C Gráfico

Superávit Primário

0

10

20

30

40

50

60

70

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

80.C Gráfico

Pagamento de Juros Internos (Governo)

0100200300400500600700800900

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

81.C Gráfico

Déficit Público

0100200300400500600700800

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Períodos

82.C Gráfico

Dívida Pública

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoDiv Pub interna Div Pub total

Setor Externo

83.C Gráfico

Exportação

00.20.40.60.8

11.21.41.61.8

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

84.C Gráfico

Coeficiente de Exportação

0

0.002

0.004

0.006

0.008

0.01

0.012

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

85.C Gráfico

Importação

0

1

2

3

4

5

6

7

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

86.C Gráfico

Coeficiente Técnico de Insumos Importados(ex. setor 1)

00.010.020.030.040.050.060.070.080.09

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1 Ins 1

Setor 1 Ins 2

Setor 1 Ins 3

Setor 1 Ins 4

Setor 1 Ins 5

Setor 1 Ins 6

Setor 1 Ins 7

87.C Gráfico

Propensão marginal a consumir bens importados

00.010.020.030.040.050.060.070.080.09

0.1

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Classe A Set 1

Classe A Set 2

Classe B Set 1

Classe B Set 2

Classe C Set 1

Classe C Set 2

Classe D Set 1

Classe D Set 2

88.C Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo Importado

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

0.14

0.16

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Classe A Set 1

Classe A Set 2

Classe B Set 1

Classe B Set 2

Classe C Set 1

Classe C Set 2

Classe D Set 1

Classe D Set 2

89.C Gráfico

Coeficiente de Importação de Bens de Capital

0.0930.0940.095

0.0960.0970.0980.099

0.10.101

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

90.C Gráfico

Saldo da Balança Comercial

-40-30

-20-10

010

2030

40

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo BC Importação Total Exportação Total

91.C Gráfico

Serviço de Fatores

0

10

20

30

40

50

60

70

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Lucro Reinvestido Lucro Remetido Dividendo Remetido Juros Remetido

92.C Gráfico

Saldo Transações Correntes

-90-80-70-60-50-40-30-20-10

01 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo TC Saldo BC Saldo SF

93.C Gráfico

Saldo Conta de Capital (inicial)

012345678

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo CK pre IDE Fin Ext Setores Amortização

94.C Gráfico

Investimento Externo em Carteira

01020304050607080

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoIECarteira efetivo IECarteira pre

95.C Gráfico

Taxa de Câmbio

0.6

0.65

0.7

0.75

0.8

0.85

0.9

0.95

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Cambio esperado Taxa Cambio efetiva Taxa de Cambio pre

96.C Gráfico

Saldo do Balanço de Pagamentos

-0.1

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

01 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Saldo BP pre Saldo BP

97.C Gráfico

Saldo do Balanço de Pagamentos

-100

-50

0

50

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Saldo CK Saldo TC

98.C Gráfico

Reservas

0200400600800

1000120014001600

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoReservas me Reservas mn Meta_Reserva

99.C Gráfico

Estoque de Passivo Externo

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

IDE estoque IECarteira estoque

100.C Gráfico

Estoque de Passivo Externo

012345678

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Fin Est estoque Fin Est estoque me DivPub Ext DivPub Ext me

101.C Gráfico

Participação IDE

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

102.C Gráfico

Passivo Externo

0

500

1000

1500

2000

2500

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoPassivo Ext PassivoExt CP PassivoExt Liq

103.C Gráfico

Risco país

0

0.005

0.01

0.015

0.02

0.025

0.03

0.035

0.04

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

104.C Gráfico

Inflação

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0.08

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

105.C Gráfico

Taxa de Juros

00.010.020.030.040.050.060.070.080.09

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Recessão

Produção Programada

1.R Gráfico

Vendas Previstas

0102030405060708090

100

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

2.R Gráfico

Produção Programada

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Demanda por bens intermediários

3.R Gráfico

Coeficiente Técnico de Insumos Nacionais(ex. setor 1)

-0.01

0.01

0.03

0.05

0.07

0.09

0.11

0.13

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Set 1 Ins 3

Set 1 Ins 4

Set 1 Ins 6

Set 1 Ins 7

Set 1 Ins 8

4.R Gráfico

Proporção mínima de insumos necessários disponíveis

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

5.R Gráfico

Proporção mínima de insumos necessários disponíveis (prod insumos)

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

6.R Gráfico

Encomenda Efetiva de Insumos

0

10

20

30

40

50

60

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Demanda por bens de consumo

7.R Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Set 1 Classe A Set 2 Classe A Set 7 Classe A Set 8

8.R Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse B Set 1 Classe B Set 2 Classe B Set 7 Classe B Set 8

9.R Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse C Set 1 Classe C Set 2 Classe C Set 7 Classe C Set 8

10.R Gráfico

Propensão Marginal a Consumir Bens Nacionais

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse D Set 1 Classe D Set 2 Classe D Set 7 Classe D Set 8

11.R Gráfico

Recursos para Consumo Autônomo

0

1

2

3

4

5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

12.R Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

0

0.050.1

0.150.2

0.250.3

0.35

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Set 1 Classe A Set 2 Classe A Set 7 Classe A Set 8

13.R Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.350.4

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse B Set 1 Classe B Set 2 Classe B Set 7 Classe B Set 8

14.R Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

00.050.1

0.150.2

0.250.3

0.350.4

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse C Set 1 Classe C Set 2 Classe C Set 7 Classe C Set 8

15.R Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse D Set 1 Classe D Set 2 Classe D Set 7 Classe D Set 8

16.R Gráfico

Encomenda Efetiva por Bens de Consumo

05

10152025303540

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1Setor 2Setor 7Setor 8

Investimento

17.R Gráfico

Variação de Capacidade Produtiva Desejada

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

18.R Gráfico

Investimento Autônomo Desejado

0

20

40

60

80

100

120

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

19.R Gráfico

Demanda por Bens de Capital

05

101520253035404550

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

20.R Gráfico

Demanda Induzida por Bens de Capital

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

21.R Gráfico

Restrição Financeira ao Investimento Induzido

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

22.R Gráfico

Investimento Autônomo

05

101520253035404550

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

23.R Gráfico

Encomenda Efetiva de Bens de Capital

05

101520253035404550

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

24.R Gráfico

Capacidade Produtiva

0

50

100

150

200

250

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Produção Efetiva, Vendas Observadas e Demanda Atendida

25.R Gráfico

Produção Efetiva

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

26.R Gráfico

Encomendas Efetivas

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

27.R Gráfico

Vendas Observadas

0102030405060708090

100

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Períodos

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

28.R Gráfico

Proporção da Demanda Atendida

0.9

0.95

1

1.05

1.1

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

29.R Gráfico

Importação Extra

-0.1-0.08-0.06-0.04-0.02

00.020.040.060.080.1

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Preço e Renda

30.R Gráfico

Preços

0.9

0.92

0.94

0.96

0.98

1

1.02

1.04

1.06

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

31.R Gráfico

Capital de Giro

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

32.R Gráfico

Lucro

0

5

10

15

20

25

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

33.R Gráfico

PIB

0

50

100

150

200

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoLucro Total Salário Total Impostos Indiretos PIB

34.R Gráfico

Taxa de Crescimento

-0.12

-0.1

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0

0.02

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Restrição Financeira dos Setores

35.R Gráfico

Lucro Retido

0

1

2

3

4

5

6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

36.R Gráfico

Aplicação Financeira

0102030405060708090

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

37.R Gráfico

Capital Total

0

50

100

150

200

250

300

350

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

38.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 1)

0

5

10

15

20

25

30

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

39.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 2)

05

1015202530354045

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

40.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 3)

0

2

4

6

8

10

12

3 9 15 21 27 33 39 45 51 57 63 69 75

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

41.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 4)

0

2

4

6

8

10

12

14

4 10 16 22 28 34 40 46 52 58 64 70

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

42.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 5)

01020304050607080

5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

43.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 6)

0123456789

6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

44.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 7)

0

5

10

15

20

25

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

45.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 8)

0

10

20

30

40

50

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

PeríodoRecursos Internos Recursos de Terceiros Recursos IDE

46.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 1)

0

5

10

15

20

25

30

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

47.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 2)

05

1015202530354045

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

48.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 3)

0

5

10

15

20

25

3 9 15 21 27 33 39 45 51 57 63 69 75

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

49.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 4)

0

5

10

15

20

25

30

4 10 16 22 28 34 40 46 52 58 64 70

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

50.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 5)

01020304050607080

5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

51.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 6)

02468

101214161820

6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

52.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 7)

0

5

10

15

20

25

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

53.R Gráfico

Recursos Disponíveis (Setor 8)

0

20

40

60

80

100

2 8 14 20 26 32 38 44 50 56 62 68 74

PeríodoRecursos Disponíveis do Setor Recursos Necessários para Investimento Desejado

54.R Gráfico

Pagamento dos Gastos em Investimento

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

55.R Gráfico

Amortização de Dívida

0

5

10

15

20

25

30

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

56.R Gráfico

Endividamento Efetivo

00.5

11.5

22.5

33.5

44.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

57.R Gráfico

Dívida Interna (inclui capital de giro)

0

50

100

150

200

250

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

58.R Gráfico

Dívida Externa (moeda nacional)

0123456789

10

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

59.R Gráfico

Dívida Total

0

50

100

150

200

250

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

60.R Gráfico

Grau de Endividamento

0.40.450.5

0.550.6

0.650.7

0.750.8

0.850.9

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

61.R Gráfico

"Spread"

1.41.451.5

1.551.6

1.651.7

1.751.8

1.851.9

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

62.R Gráfico

Taxa de Juros Interna

0.0150.02

0.0250.03

0.0350.04

0.0450.05

0.0550.06

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

63.R Gráfico

Taxa de Juros Externa

0.02

0.022

0.024

0.026

0.028

0.03

0.032

0.034

0.036

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

64.R Gráfico

Pagamento de Juros Internos

0

2

4

6

8

10

12

14

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

65.R Gráfico

Pagamento de Juros Externos

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

66.R Gráfico

Pagamento Total de Juros

0

2

4

6

8

10

12

14

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

Renda das Classes

67.R Gráfico

Renda Nominal das Classes

05

10152025303540

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

68.R Gráfico

Índice de Preço ao Consumidor

0.9

0.92

0.94

0.96

0.98

1

1.02

1.04

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

69.R Gráfico

Renda Real das Classes

05

10152025303540

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

70.R Gráfico

Aplicação Financeira

0200400600800

10001200140016001800

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

71.R Gráfico

Dívida

0102030405060708090

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoClasse A Classe B Classe C Classe D

72.R Gráfico

Amortização da Dívida

00.10.20.30.40.50.60.70.8

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

73.R Gráfico

Grau de Endividamento

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A

Classe B

Classe C

Classe D

74.R Gráfico

Restrição Financeira ao Consumo Autônomo

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

75.R Gráfico

"Spread"

1

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

1.6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

76.R Gráfico

Taxa de Juros Interna

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

77.R Gráfico

Pagamento de Juros

0

0.51

1.5

2

2.53

3.5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Classe A Classe B Classe C Classe D

Setor Público

78.R Gráfico

Gastos do Governo

0

10

20

30

40

50

60

70

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

79.R Gráfico

Superávit Primário

-6-4-202468

101214

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

80.R Gráfico

Pagamento de Juros Internos (Governo)

02468

101214161820

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

81.R Gráfico

Déficit Público

0

5

10

15

20

25

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

82.R Gráfico

Dívida Pública

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoDívida Pública Interna Dívida Pública Total

Setor Externo

83.R Gráfico

Exportação

0123456789

10

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

84.R Gráfico

Coeficiente de Exportação

0

0.002

0.004

0.006

0.008

0.01

0.012

0.014

0.016

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

85.R Gráfico

Importação

00.5

11.5

22.5

33.5

44.5

5

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

86.R Gráfico

Coeficiente Técnico de Insumos Importados (ex. Setor 1)

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0.08

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Setor 1 Ins 1

Setor 1 Ins 2

Setor 1 Ins 3

Setor 1 Ins 4

Setor 1 Ins 5

Setor 1 Ins 6

Setor 1 Ins 7

Setor 1 Ins 8

87.R Gráfico

Propensão marginal a consumir bens importados

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Classe A Set 1

Classe A Set 2

Classe B Set 1

Classe B Set 2

Classe C Set 1

Classe C Set 2

Classe D Set 1

Classe D Set 2

88.R Gráfico

Proporção do Consumo Autônomo Importado

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71Período

Classe A Set 1

Classe A Set 2

Classe B Set 1

Classe B Set 2

Classe C Set 1

Classe C Set 2

Classe D Set 1

Classe D Set 2

89.R Gráfico

Coeficiente de Importação de Bens de Capital

0.0960.09650.097

0.09750.098

0.09850.099

0.09950.1

0.1005

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

90.R Gráfico

Saldo da Balança Comercial

-10

-5

0

5

10

15

20

25

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo BC Importação Total Exportação Total

91.R Gráfico

Serviço de Fatores

0

1

2

3

4

5

6

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoLucro Reinvestido Lucro Remetido Dividendo Remetido Juros Remetido

92.R Gráfico

Saldo de Transações Correntes

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Saldo TC Saldo BC Saldo SF

93.R Gráfico

Saldo Conta de Capital (inicial)

0

2

4

6

8

10

12

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Saldo CK pre IDE Fin Ext Setores Amortizacao

94.R Gráfico

Investimento Externo em Carteira

-10-8-6-4-202468

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

IECarteira efetivo IECarteira pre

95.R Gráfico

Taxa de Câmbio

0.55

0.6

0.65

0.7

0.75

0.8

0.85

0.9

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoCâmbio esperado Taxa Câmbio efetiva Taxa Câmbio pre

96.R Gráfico

Saldo do Balanço de Pagamentos

-0.01

-0.01

0.00

0.01

0.01

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo BP pre Saldo BP

97.R Gráfico

Saldo do Balanço de Pagamentos

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

PeríodoSaldo CK Saldo TC

98.R Gráfico

Reservas

0102030405060708090

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Reservas me Reservas mn Meta Reserva

99.R Gráfico

Estoque de Passivo Externo

0100200300400500600700800

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

IDE estoque IECarteira estoque

100.R Gráfico

Estoque de Passivo Externo

0

10

20

30

40

50

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Fin Est estoque Fin Est estoque DivPub Ext DivPub Ext me

101.R Gráfico

Participação IDE

0.180.190.2

0.210.220.230.240.250.260.270.28

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

Setor 1

Setor 2

Setor 3

Setor 4

Setor 5

Setor 6

Setor 7

Setor 8

102.R Gráfico

Passivo Externo

0

200

400

600

800

1000

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Passivo Ext PassivoExt CP PassivoExt Liq

103.R Gráfico

Risco país

0.0095

0.0105

0.0115

0.0125

0.0135

0.0145

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73Período

104.R Gráfico

Inflação

-0.01

-0.005

0

0.005

0.01

0.015

0.02

0.025

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

105.R Gráfico

Taxa de Juros

0

0.005

0.01

0.015

0.02

0.025

0.03

0.035

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73

Período

Parâmetros Produção Programada

5,0=iγ 1,0=iσ

1=iβ

Demanda por bens de consumo

1,0=jcaξ

1,01 =Gc ; 1,02 =Gc ; 07 =Gc ; 2,08 =Gc Investimento

85,01 =α ; 85,02 =α ; 8,03 =α ; 8,04 =α ; 75,05 =α ; 8,06 =α ; 85,07 =α ; 8,08 =α 1,0=iδ

45,0=ika 1=ib

1,0=Gk Preço e Renda

4085,11 =κ ; 4493,12 =κ ; 4085,13 =κ ; 4286,14 =κ ; 7857,15 =κ ; 333,16 =κ ; 8868,17 =κ ; 4925,18 =κ 1,01 =w ; 1,02 =w ; 11,03 =w ; 08,04 =w ; 1,05 =w ; 15,06 =w ; 13,07 =w ; 33,08 =w

1,07 =ep φξ

001,01 =fπ ; 001,02 =fπ ; 0025,03 =fπ ; 0025,04 =fπ ; 001,05 =fπ ; 0025,06 =fπ ; 0025,07 =fπ ; 0025,01 =fπ 1,01 =iτ ; 1,02 =iτ ; 08,03 =iτ ; 07,04 =iτ ; 1,05 =iτ ; 07,06 =iτ ; 1,07 =iτ ; 1,08 =iτ 5,0=Gω

1=°ip Restrição Financeira dos Setores

2,0=diτ

53,01 =ϕ ; 53,02 =ϕ ; 53,03 =ϕ ; 53,04 =ϕ ; 52,05 =ϕ ; 54,06 =ϕ ; 7,07 =ϕ ; 53,08 =ϕ 5,0=iλ

7,0=∂ i 1,0=iι 2,0=iε 1,01 =∂ e ; 15,02 =∂ e ; 1,03 =∂ e ; 1,04 =∂ e ; 1,05 =∂ e ; 1,06 =∂ e ; 2,07 =∂ e ; 08 =∂ e

1=∂iξς

0025,0=kgij

005,0* =j Renda das Classes

6,0=Al ; 25,0=Bl ; 1,0=Cl ; 05,0=Dl 45.0=Aω ; 25.0=Aω ; 2.0=Aω ; 1.0=Aω 25,0=dAτ ; 15,0=dBτ ; 0=dCτ ; 0=dDτ

2,0=∂ A ; 3,0=∂B ; 4,0=∂C ; 5,0=∂D

3,0=∂A

; 4,0=∂B ; 5,0=∂C ; 7,0=∂D

1=∂X

ξς Setor Público

005,0=Ω 5,0=γ

025,0=Gυ Setor Externo

005,0=x& (crescimento); 01,0=x& (recessão)

001,0−=Yi

xξ 001,0=p

ixξ

0001,0=kai

xξ 1,0=Y

imξ (crescimento); 05,0=Y

imξ (recessão)

01,0=pi

mξ 5,0=θ

50=Ecp y 25=rcpξ

5,0min =e 2max =e 25,0=Θ

00025,0=kerξ

01,0=j 01,0* =π

01,0=πξ jj

01,0=Rj