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Universidade Federal do Rio de Janeiro ORDENAÇÃO DE CIRCUNSTANCIAIS TEMPORAIS E LOCATIVOS NA ESCRITA JORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA Marcia da Silva Mariano Lessa Rio de Janeiro 2012

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

ORDENAÇÃO DE CIRCUNSTANCIAIS TEMPORAIS E LOCATIVOS NA ESCRITAJORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA

Marcia da Silva Mariano Lessa

Rio de Janeiro2012

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DEFESA DE TESE

Marcia da Silva Mariano Lessa. Ordenação decircunstanciais temporais e locativos na escritacontemporânea. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras,2012. 139fl. Tese de Doutorado em Linguística.Rio de Janeiro, 1° semestre de 2012.

BANCA EXAMINADORA

Professora Doutora Maria da Conceição de Paiva – UFRJ (Orientadora)

Professora Doutora Edair Gorski - UFSC

Professora Doutora Lilian Yacovenco - UFES

Professora Doutora Maria Eugênia Lamoglia Duarte - UFRJ

Professora Doutora Christina Abreu Gomes - UFRJ

Professora Doutora Marli Hermenegilda Pereira - UFRR, suplente

Professora Doutora Sílvia Vieira - UFRJ, suplente

Rio de JaneiroJulho de 2012

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ORDENAÇÃO DE CIRCUNSTANCIAIS TEMPORAIS E LOCATIVOS NA ESCRITAJORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA

Marcia da Silva Mariano Lessa

Tese de Doutorado em Linguística apresentada àCoordenação do Programa de Pós-Graduação emLetras da Universidade Federal do Rio de Janeiro,como parte dos requisitos necessários à obtençãodo título de Doutor em Linguística

Orientador: Profª Drª Maria da Conceição dePaiva.

Rio de JaneiroJulho de 2012

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AGRADECIMENTOS

À Professora Conceição Paiva, pelas brilhantes sugestões, pelo carinho, pela paciência e pelo

contínuo suporte durante a realização desse trabalho.

Ao Mateus, pelo apoio constante.

Aos meus pais.

Aos professores e à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ.

Ao CNPq, pelo apoio financeiro da bolsa de doutorado.

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SINOPSE

Ordenação de SPreps circunstanciais temporais e locativos na escritajornalística do português contemporâneo. Influência de fatores sintáticos,semânticos e discursivos na posição dos circunstanciais de tempo e lugar.Sequenciação relativa dos circunstanciais de tempo, lugar e modo.

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RESUMO

LESSA, Marcia da Silva Mariano. Ordenação de circunstanciais temporais e locativos naescrita jornalística contemporânea. Rio de Janeiro, 2012. Tese (Doutorado em Linguística) –Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.

Esta tese focaliza a ordenação de Spreps circunstanciais temporais e locativos na escritajornalística do português brasileiro contemporâneo. O estudo conjuga duas perspectivas deanálise: a posição dos circunstanciais locativos e temporais nas margens esquerda e direita emorações com um único circunstancial e a sequenciação relativa de dois ou mais circunstanciais demesma categoria semântica e de categoria semântica distinta. Uma questão central diz respeito àexistência de uma ordem não marcada mais geral independentemente da classe semântica de cadacircunstancial. Partimos da hipótese de que esta ordem não marcada, em termos de frequência, épragmaticamente não marcada e de que a variação na ordem de circunstanciais temporais elocativos é um fenômeno multifatorial e analisamos fatores de ordem sintática, semântica ediscursiva, tais como a estrutura argumental do verbo, o tipo de sujeito, o tipo semântico de cadacircunstancial, suas diferentes funções sintáticas, as diversas funções discursivas que estesconstituintes podem desempenhar na organização textual, a extensão do circunstancial, e ogênero textual em que eles ocorrem. Em relação à segunda perspectiva de análise, nosso objetivoé verificar se a ordem não marcada dos locativos e temporais pode ser alterada em contextos deco-ocorrência com outros constituintes circunstanciais, principalmente o de modo. Buscamosdepreender os princípios que atuam sobre uma sequenciação preferencial desses constituintes,em especial o princípio de centralidade semântica, o que envolve as relações de dependênciasintática e o princípio de peso final. Para verificar as hipóteses que norteiam este estudo,analisamos uma amostra, constituída por pesquisadores do grupo Peul, composta por textosrepresentativos dos gêneros notícia/reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica e carta, eextraídos do “Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” e “O Povo”. A análise permitiu identificarregularidades quanto aos dois aspectos considerados. Na ordenação de um único circunstancial,destaca-se, principalmente para os locativos, a função discursiva do circunstancial. A ocorrênciada Spreps locativos na margem esquerda da oração ocorre em contextos bem específicos, em queo locativo assume funções como a de contraste, focalização e segmentação tópica. Outrasmotivações que favorecem circunstancial na margem esquerda da oração são o tipo de sujeito,principalmente o sujeito posposto, o tipo semântico do circunstancial, particularmente para oslocativos, e o gênero textual, distinguindo-se as cartas. Em relação à co-ocorrência de Spreps delugar, tempo e modo, destacamos a importância da extensão dos constituintes na sua ordenaçãorelativa: circunstanciais menos extensos tendem a preceder circunstanciais mais extensos. Em seneutralizando a extensão, princípios como o de centralidade semântica e o de dependênciasintática contribuem para a ordenação relativa de circunstanciais.

Palavras-chave: circunstanciais locativos e temporais, ordem não marcada, ordem relativa

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ABSTRACT

LESSA, Marcia da Silva Mariano. Ordenação de circunstanciais temporais e locativos naescrita jornalística contemporânea. Rio de Janeiro, 2012. Tese (Doutorado em Linguística) –Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.

This thesis focus place and time adverbials word order in written texts of contemporary BrazilianPortuguese. We purpose two perspectives of analysis: the position of place and temporaladverbials in the right and left periphery in sentences which contain only one adverbial, as well asthe relative sequence with two or more adverbials with the same semantic category and withdifferent semantic category. A central issue is about the existence of a more general non-markedorder independent of the semantic class of each adverbial. Our hypothesis is that this non-markedorder, in terms of frequency, is pragmatically non-marked. In order to verify this hypothesis, weidentified textual, discoursive, semantic and syntactic factors that favour the occurrence ofadverbials in one or in the other periphery of the sentence. Assuming that the variation in placeand time adverbials word order is a multifactorial fenomenon, we analysed discoursive, semanticand syntactic factors, such as verb argumental structure, the subject type, the semantic type foreach adverbial and their syntactic functions, the variety of discoursive functions that adverbialshave in textual organization, the adverbial size and the textual genre in which the adverbialsappear. On the second analysis perspective, we want to verify if the place and time adverbialsnon-marked order can be altered in contexts in which adverbials occur with other constituents,mainly with manner prepositional phrases. We want to understand the principles that act on apreferential sequence of those constituents, mainly the semantic hierarchy, which involvessyntactic dependence relations and the final weight principle. To verify the hypoteses weanalysed a sample composed by different genres: news articles, op-ads, editorials, chronicles andletters. That sample was built by researchers from Peul and were taken from the newspapers“Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” and “O Povo”. The analysis allowed us to identifyregularities in both aspects considered. In the order of only one adverbial, we highlight, mainly tothe place ones, their discoursive functions. Prepositional phrases that occur in the left peripheryof a sentence have contrastive, focalized and topic segmentation functions. Other motivations thatfavour the adverbials in the left periphery of a sentence are the subject types, mainly thepostponed ones, the adverbials semantic type, particularly to place adverbials, and the textualgenre, in which we give emphasis to the letters. In relation to in the relative order of place, timeand manner PP that co-occur, we highlight the importance of adverbials size in their relativeorder: short adverbials tend to come before long ones. In neutralizing the size, principles as thesemantic centrality and the syntactic dependence contribute to the adverbials relative order.

Keywords: place and time adverbials, non-marked order, relative order

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ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS

TABELAS

Tabela 1: Distribuição de Spreps argumentais e não argumentais pelas 4 posições 63

Tabela 2: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e estrutura argumentaldo verbo 69

Tabela 3: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e estrutura argumentaldo verbo 70

Tabela 4: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e tipo de sujeito 73

Tabela 5: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e tipo de sujeito 74

Tabela 6: Spreps de lugar na margem esquerda de acordo com o tipo semântico 81

Tabela 7: Spreps de tempo na margem esquerda de acordo com o tipo semântico 82

Tabela 8: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e função discursiva 88

Tabela 9: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e função discursiva 89

Tabela 10: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e gênero 96

Tabela 11: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e gênero 97

Tabela 12: Spreps temporais e cruzamento entre função discursiva e gênero 98

Tabela 13: Spreps locativos e cruzamento entre função discursiva com gênero 100

Tabela 14: Distribuição de circunstanciais da mesma categoria semânticapelas posições na oração 104

Tabela 15: Circunstanciais na margem direita e extensão 107

Tabela 16: Circunstanciais na margem esquerda e extensão 108

Tabela 17: Distribuição de circunstanciais de categoria semântica distintapelas posições na oração 110

Tabela 18: Sequências de tempo e lugar e tipo sintático do verbo 116

Tabela 19: Sequências de tempo e modo e tipo sintático do verbo 117

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Tabela 20: Sequências de lugar e modo e tipo sintático do verbo 117

Tabela 21: Sequências de tempo e lugar e função sintática do circunstancial 118

Tabela 22: Sequências de tempo e lugar em posição pós-verbal e função sintáticado circunstancial 119

Tabela 23: Sequências de tempo e modo e função sintática do circunstancial 120

Tabela 24: Sequências de lugar e modo e função sintática do circunstancial 120

Tabela 25: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de tempo e lugar 122

Tabela 26: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de tempo e lugar 123

Tabela 27: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de modo e tempo 123

Tabela 28: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de modo e lugar 124

GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição de Spreps locativos pelas 4 posições 61

Gráfico 2: Distribuição de Spreps temporais pelas 4 posições 61

Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar 112

Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo 113

Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo 113

Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais 114

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SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO 12

2- ABORDAGEM FUNCIONAL DA LINGUAGEM 17

2.1- Pressupostos básicos 17

2.2- A abordagem da ordem de constituintes 19

2.3- Ordenação, função e variação 25

3- VARIAÇÃO NA ORDEM DE CONSTITUINTES CIRCUNSTANCIAIS 30

4- AMOSTRA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 39

4.1- Amostra 39

4.2- Procedimentos metodológicos 51

5- RESTRIÇÕES À POSIÇÃO VARIÁVEL DE SPREPS TEMPORAIS E

LOCATIVOS 57

5.1- Limitações à flexibilidade na posição dos circunstanciais 57

5.2- Distribuição das posições dos circunstanciais 59

5.3- A variação entre as margens da oração 66

5.3.1- Estrutura argumental do verbo 67

5.3.2- Forma de realização do sujeito 70

5.3.3- Tipo Semântico dos circunstanciais 77

5.3.4- Restrições discursivas 83

5.3.5- A variável gênero textual 91

6- SEQUÊNCIAS DE CIRCUNSTANCIAIS 102

6.1 Ordenação de circunstanciais da mesma categoria semântica 103

6.2- Ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas 109

6.2.1- Ordenação e centralidade semântica 111

6.2.2- Relações de dependência sintática 116

6.2.3- Ordenação e peso do circunstancial 121

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7- CONCLUSÕES 126

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131

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1-INTRODUÇÃO

Questões ligadas tanto à ordem de constituintes nucleares como de constituintes satélites

na oração ocupam um espaço central nos estudos linguísticos de orientação teórica distinta, pois

envolvem duas faces aparentemente contraditórias: variação e tendência à fixação de

determinadas posições. Na maioria dos casos em que constituintes oracionais admitem posição

variável, é possível identificar uma ordem básica, mais frequente, e determinar as condições em

que tal ordem pode ser alternada.

Numa perspectiva funcionalista, fenômenos de variação na ordem de constituintes

oracionais envolvem a interseção entre domínios diferenciados: sintático, semântico, pragmático,

cognitivos e textuais. Como coloca Payne (1992), qualquer explicação de diferentes

possibilidades de ordenação de constituintes tem que levar em conta a convergência entre essas

diferentes dimensões, a forma como elas podem interagir ou conflitar entre si. A variação na

posição de constituintes adverbiais, principalmente os sintagmas preposicionais, constitui um

campo fértil para a verificação desta interação entre diferentes domínios, pois, se, por um lado, se

submetem a restrições sintáticas, por outro, podem ocupar posições motivadas por pressões de

escopo, semânticas e discursivas.

A grande maioria dos trabalhos já realizados focalizaram cada tipo de circunstancial

isoladamente. Neste estudo, buscamos uma visão mais ampla da variação na posição dos

circunstanciais, focalizando a ordenação variável de sintagmas preposicionais que expressam

coordenadas temporais e locativas, na modalidade escrita do português contemporâneo, em duas

perspectivas complementares: a- em orações com um único circunstancial; b- em orações com

dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica ou de categorias semânticas distintas.

A opção por focalizar os Spreps locativos e temporais é justificada pelo fato de que, como já

mostraram outros trabalhos, tanto no português falado como escrito, estes constituintes

circunstanciais gozam de relativa flexibilidade de posição, podendo se situar em diferentes pontos

da oração: podem ocupar tanto as posições marginais da sentença como posições internas,

adjacentes ao verbo (Cf. NEVES, 1992, MARTELOTTA, 1994, VILELA E KOCH, 2001,

CUNHA E CINTRA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, PAIVA, 2002, 2003,

2008a, 2008b, BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007). Resultados de diferentes estudos

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destacam, no entanto, a predominância dos Spreps circunstanciais locativos e temporais nas

periferias da oração, como mostram os exemplos a seguir:

(1) Nas quatro últimas edições da Liga dos Campeões, o vencedor deste confrontoconquistou o título mais importante do futebol europeu. (JB – 10/03/2004 –Notícia)

(2) José Alencar pareceu cair em si quando o presidente Luiz lnácio da Silvaviajou para o Peru. (JB – 03/06/03 – Opinião)

Dada a generalidade desta tendência para os dois tipos de circunstanciais, optamos por

centrar este estudo na possibilidade de alternância entre a margem esquerda (ME) e a margem

direita da oração (MD), sob o prisma do conceito de marcação. Em outros termos, procuramos

responder às seguintes questões:

a- como explicar a recorrência de SPreps locativos e temporais nas margens da oração?

b- as duas categorias semânticas de circunstanciais estão associadas a margens distintas? Há uma

posição não marcada independente da categoria semântica do circunstancial?

c- que fatores explicam de forma mais generalizante a posição dos circunstanciais na margem

esquerda da oração?

As questões acima arroladas dizem respeito sobretudo à primeira perspectiva de análise

ou seja, orações com um único circunstancial. Algumas outras questões se referem às orações em

que co-ocorrem dois circunstanciais da mesma categoria, como em (3), ou de categorias

semânticas distintas como em (4):

(3) Durante a campanha eleitoral, pela primeira vez na história recente do país,assuntos de relações internacionais do Brasil receberam atenção dos candidatos.(O Globo – 29/10/2002 – Opinião)

(4) Em janeiro e fevereiro de 1985, dividi um apartamento com ele, em Havana,integrando a comissão julgadora do Prêmio Casa de las Américas. (JB – 3/6/2003- Opinião)

Sobre exemplos como estes podemos nos questionar:

a- a ordem não marcada de cada classe de circunstancial pode ser alterada em contextos de co-

habitação ou co-ocorrência com outros constituintes circunstanciais, principalmente de outra

categoria semântica?

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b- Quais os padrões de sequenciação relativa de circunstanciais de categoria semântica distinta?

Haveria igualmente uma forma não marcada de sequenciação de circunstanciais de categorias

semânticas distintas?

c- Que princípios podem explicar uma forma de sequenciação preferencial?

As questões colocadas neste estudo decorrem de uma hipótese mais geral segundo a qual

tanto na ordenação de um único circunstancial quanto na ordenação de circunstanciais de

categorias semânticas distintas, é possível identificar uma ordem pragmaticamente não marcada,

como definida em Dryer (1995). Nossa expectativa é de que os circunstanciais de tempo se

situem, preferencialmente, na margem esquerda da oração e os de lugar na margem direita. Em

consequência desta primeira hipótese, acreditamos, ainda, que a forma marcada de ordenação é

motivada muito mais por fatores de natureza discursiva do que por fatores de ordem sintática ou

semântica.

No que se refere mais especificamente à co-ocorrência de Spreps circunstanciais de

categorias semânticas distintas, acompanhando a posição de Hawkins (2000) e de Paiva

(2008c), partimos da hipótese de que um princípio ligado ao peso do constituinte possui poder

explicativo mais geral do que um princípio que envolve a centralidade das categorias semânticas

de tempo, modo e lugar, traduzido no universal tipológico modo-tempo-lugar proposto por Quirk

et alii (1985).

Em função dos nossos objetivos, este trabalho se insere naturalmente em uma perspectiva

que conjuga pressupostos da Sociolinguística Variacionista e pressupostos funcionalistas.

Concebemos a posição de Spreps circunstanciais nas margens da oração como um fenômeno de

variação, portanto, sistemático, susceptível de uma análise multivariacional que mensure o efeito

de diferentes princípios. A ação desses princípios é analisada sob o prisma de grupos de fatores

que procuram dar conta das diferentes dimensões correlacionadas à ordenação de constituintes:

sintática, semântica, discursiva, cognitiva e textual. No nível sintático, são considerados aspectos

como a relação entre verbos e seus argumentos e tipo de sujeito da oração. No nível semântico, é

verificado o efeito de variáveis ligadas à classe semântica do circunstancial. No nível discursivo,

é dispensada atenção especial à função dos circunstanciais na organização textual. A possível

interferência de fatores cognitivos é analisada através do grupo de fatores extensão do

constituinte circunstancial e a dimensão textual através da variável gênero discursivo.

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A formulação dos grupos de fatores acima relacionados é orientada pelo pressuposto de

que as regularidades estruturais refletem as funções que as formas linguísticas realizam (Cf.

GIVÓN, 1984, 2001, CHAFE, 1984, CROFT, 1995, NARO & VOTRE, 1996,

HASPELMATH, 2005). Nesse sentido, o princípio de iconicidade ganha destaque neste trabalho,

pois podemos interpretar o princípio de centralidade semântica MPT (Cf. QUIRK et alii, op. cit)

como um subprincípio icônico, ou seja, a categoria de modo sendo mais central à ação verbal do

que a de tempo, e esta mais central do que a de lugar. Esta centralidade se reflete na linearização

dos constituintes que as codificam com maior proximidade do circunstancial de modo em relação

ao verbo. Entretanto, relações de dependência sintática entre o verbo e o circunstancial assim

como a extensão de cada um dos sintagmas nominais presentes na oração podem motivar outras

formas de ordenação.

As hipóteses colocadas neste estudo são examinadas através da análise de uma amostra da

modalidade escrita contemporânea, composta por textos de diferentes gêneros do domínio

jornalístico: notícia/reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica e carta. Estes textos, que

integram a Amostra do Discurso Midiático, constituída por pesquisadores do grupo Peul, foram

extraídos do “Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” e “O Povo”, no período de 2002 a 2004.

Uma vez que esses gêneros jornalísticos se distinguem quanto aos seus propósitos comunicativos

e quanto a sua organização interna, esta amostra permite verificar hipóteses em relação a um

ponto central do conceito de marcação, qual seja, a correlação entre uma possível oposição

marcado/não marcado e diferenças textuais.

Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2, discorremos sobre a

abordagem funcional na qual está sustentada a maioria das hipóteses que norteiam este estudo.

Discutimos pressupostos funcionalistas centrais, a abordagem funcional da ordenação de

constituintes, assim como questões ligadas à relação entre ordenação, variação e função. No

capítulo 3, tecemos considerações acerca da posição variável dos circunstanciais, a partir da

revisão de diversos estudos que já focalizaram este fenômeno. O capítulo 4 especifica as

características da amostra utilizada e os procedimentos utilizados na condução da análise. Nos

capítulos 5 e 6 desenvolvemos as duas dimensões de análise acima especificadas. No capítulo 5,

discutimos as limitações à flexibilidade dos circunstanciais e a distribuição dos circunstanciais de

acordo com as posições que ocupam na oração. Focalizamos a variação de circunstanciais entre

as margens da oração e a influência dos fatores que se revelaram mais relevantes para a variação

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entre estas duas posições. No capítulo 6, examinamos, primeiro, as sequências de circunstanciais

da mesma categoria semântica e, a seguir, as sequências de circunstanciais de categorias

semânticas distintas. Nesta parte, damos atenção especial às restrições impostas pelos princípios

de centralidade semântica, dependência sintática e peso na sequenciação de circunstanciais. No

capítulo 7, apresentamos nossas conclusões.

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2-ABORDAGEM FUNCIONAL DA LINGUAGEM

2.1- Pressupostos básicos

O termo funcionalista tem sido usado, muitas vezes, para caracterizar a postura do

estudioso em relação a seu trabalho e não para definir um conjunto de pressupostos que norteiam

uma teoria. Ao longo do século XX surgiram diferentes visões rotuladas como funcionalistas que

incluem perspectivas mais ou menos compromissadas com pressupostos formais. Em síntese, há

modelos bem distintos que reivindicam o rótulo funcionalista. (cf. CROFT, 2000, NEVES, 2004).

Apesar das diferenças entre diversos modelos, é possível, no entanto, caracterizar a

abordagem funcionalista em termos de alguns pressupostos compartilhados. De forma geral,

admite-se que o objeto de estudo numa perspectiva funcionalista é a competência comunicativa

dos falantes de uma língua. Essa convergência não descarta as diferenças entre os modelos, mas

serve de alicerce para distinguir uma vertente funcionalista em relação a correntes formais do

estudo da linguagem.

Um eixo central da perspectiva funcionalista é a sua oposição ao pressuposto de

autonomia da língua e, principalmente, da sintaxe. Nos anos 70, os debates acerca da autonomia

estavam centrados no status da sintaxe. Nos anos 80, entretanto, foram observadas mudanças

conceptuais na gramática gerativa e no pensamento funcionalista e o foco da autonomia passou a

ser o status da gramática1 aplicado a um contexto mais amplo, que inclui uso, mudança e

aquisição da língua (CROFT, 1995).

Um dos conceitos estreitamente associados ao de autonomia é o de arbitrariedade. Um

pressuposto central de grande parte dos modelos formais é o de que o componente sintático

encerra regras de combinação não deriváveis de categorias semântico-discursivas, ou seja, a

sintaxe é inteiramente autônoma e não se vincula a outros sistemas. Nesta visão, o significante é

separado do significado, restando apenas o signo e seu referente.

Numa perspectiva funcionalista, no entanto, a noção de arbitrariedade é questionada ou

minimizada. Vista fora do contexto de uso, a língua pode parecer arbitrária, não havendo relação

necessária entre forma e função.2 No entanto, há de se considerar a possibilidade de um certo

1 A palavra gramática aqui é entendida como conhecimento linguístico abstrato interiorizado pelo indivíduo.2 Observa-se, por exemplo, a criação de rótulos através de mecanismos recorrentes. Para tanto, o usuário se serve dematerial já existente na língua, como ao criar a expressão ‘pé da mesa’. A relação de base de sustentação naexpressão exemplificada é icônica e não arbitrária. (cf. Martelotta e Areas, 2003)

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isomorfismo entre a sintaxe e a semântica. Assim, funcionalistas opõem ao princípio de

arbitrariedade o princípio de iconicidade. Retomando Givón (1990), podemos dizer que, se uma

determinada estrutura existe, é para realizar uma função e esta estrutura deve ser passível de

refletir ou sofrer restrições da função que realiza. Neste estudo, o princípio de iconicidade ganha

importância principalmente no que se refere à sequenciação relativa de diferentes classes

semânticas de Spreps circunstanciais. A ligação física do circunstancial ao verbo reproduz sua

ligação semântica.

Uma outra dimensão importante para depreender as diferenças entre Formalismo e

Funcionalismo é a oposição sincronia versus diacronia, instaurada desde o clássico de Saussure

(1996), e assumida nas mais diferentes correntes estruturalistas. O Funcionalismo propõe uma

diluição das fronteiras entre essas duas dimensões, elaborando uma forma de estudo que

considera as conexões inevitáveis entre elas. Segundo Givón (1984, 2001), a mudança linguística

através da história é um ponto fundamental na abordagem funcional-tipológica. O funcionalismo

moderno vê a língua como um sistema dinâmico, em contínua transformação e busca depreender

as motivações para as estruturas linguísticas específicas a uma língua e para os padrões

translinguísticos nos modelos de mudança. Para Noonan (1999, p.8):

(...) a língua, como produto de uma entidade viva, só pode ser entendida como umsistema dinâmico, não simplesmente como um conjunto estático de categorias e suasrelações dentro da estrutura.3

Sendo assim, suas regularidades abarcam a interação de diversos fatores nas diferentes situações

discursivas.

Um ponto comum entre diversas posturas funcionalistas é a tentativa de compreender e

explicar as regularidades da estrutura linguística em termos das funções que elas realizam (Cf.

CROFT, 1995; NARO & VOTRE, 1996; CEZÁRIO et alii, 2004; HASPELMATH, 2005).

Apesar dessa diretriz comum, diferentes formas de funcionalismo coexistem, como destaca Croft

(op. cit.):

1. funcionalistas autonomistas – não rejeitam a autonomia da sintaxe e buscam apenas

determinar as funções discursivas das construções gramaticais. Nas palavras do autor:

3 “language, as a product of a living entity, can only be understood as a dynamic system, not simply as a static set ofcategories and their relations within structures.”

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Nenhuma reivindicação é feita para uma relação motivada (ex. icônica) entre aestrutura sintática da construção em questão, como as clivadas do inglês, e afunção discursiva que ela desempenha. Entretanto, funcionalistas autonomistasargumentam a favor de uma relação convencional entre a estrutura sintática e afunção discursiva e, além disso, argumentam que ‘muitas sentenças julgadasagramaticais podem ser falhas por razões discursivas, sem a necessidade de evocara gramática (autônoma) para relatar sua infelicidade’ (Prince, 1991:80-81). Emoutras palavras, muitas restrições no comportamento e/ou distribuição dassentenças não precisam ser providas pelo componente sintático. (p.497) 4

2. modelos mistos, que incitam a ideia de que a sintaxe é contida em si mesma, mas que pode

assumir outras funções que vão além de si;

3.funcionalismo extremo, que nega inteiramente a arbitrariedade da sintaxe;

4. funcionalismo integrativo, versão mais adequada, já que não nega a existência da sintaxe,

considerando tanto a interação entre as estruturas linguísticas quanto fatores externos, tais como

cognitivos e discursivos.

Esta última perspectiva funcionalista é a que mais se adequa aos objetivos do presente

estudo, dado que se concilia com pressupostos da teoria variacionista: ambas focalizam o uso da

língua e olham para as motivações linguísticas e extra-linguísticas que influenciam a forma da

língua.

2.2- Abordagem funcional da ordem de constituintes

As questões relativas à variação na ordenação de constituintes ocupam um espaço

importante nas abordagens funcionalistas da linguagem. A análise de várias línguas mostra

semelhanças e ressalta o uso de diferentes padrões com o intuito de atender às necessidades

discursivas. Numa proposta funcionalista, as limitações impostas às variações de ordenação de

constituintes refletem, além de pressões discursivas, as limitações e restrições cognitivas que se

impõem nas situações de comunicação (Cf. DOWNING, 1995). De acordo com Downing (op.

cit.), limitações no tempo de sustentação de uma informação restringem, por exemplo, a forma

4 No claim is made for a motivated (e.g. iconic) relationship between the syntactic structure of the construction inquestion, such as English it-clefts, and the discourse function that they perform (...). However, autonomistfunctionalists do argue for a conventional relation between syntactic structure and discourse function, and moreoverargue that ‘many sentences judged ungrammatical can be shown to be flawed for discourse reasons, with no need toinvoke the (autonomous) grammar to account for their infelicity’ (Prince, 1991:80-81). In other words, manyconstraints on the behavior and/or distribution of sentences need not to be provided by the syntactic component.(p.497)

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como referentes são introduzidos ou mantidos no discurso. Isso explica a tendência de que a

introdução de um referente seja feita por um item lexical que pode ser posteriormente retomado

por pronomes ou anáfora zero. Entretanto, se o referente não for mencionado no texto por algum

tempo, ele é comumente retomado pelo item lexical. Nas palavras da autora:

Essa reversão para uma forma de referência mais completa e menos ambígua temsido ligada ao fato de que os seres humanos parecem ser capazes de manter umainformação na consciência sem retomá-la por somente um curto espaço de tempo;se o referente ficar fora de cena por algum tempo, é porque não é mais o foco daconsciência do leitor/ouvinte, necessitando de uma nova menção com uma formasemântica mais plena. (p.12)5

No que se refere à ordem de constituintes, é ressaltada, com frequência, a importância de

sua disposição para a continuidade textual nas suas diferentes dimensões: continuidade temática,

continuidade de ação e continuidade de tópicos/participantes (Cf. GIVÓN, 1983). A primeira se

refere à estrutura discursiva acima do parágrafo temático; a segunda é feita pela sequencialidade

temporal dentro do parágrafo temático (sobre o mesmo tema), ou seja, as ações aparecem na

sequência cronológica de ocorrência e também pela adjacência temporal ao apresentarem

pequenas pausas temporais entre uma ação e outra; a última envolve a conservação do tópico

(tema/assunto) no parágrafo temático, assim como a manutenção dos participantes associados ao

tópico deste mesmo parágrafo.

Diversos outros parâmetros, como a oposição figura/fundo, a transitividade e a categoria

informacional dos constituintes podem operar sobre a ordenação de constituintes, inclusive

circunstanciais (cf. NARO & VOTRE, 1996, BRASIL, 2005, MARTELOTTA, 1994, CEZÁRIO

et alii, 2004, 2005, ILOGTI de SÁ, 2008).

A capacidade cognitiva humana de ativar informações na memória de curto prazo é

restrita. Ativar conceitos que não foram introduzidos no discurso anterior requer grande esforço

por parte do falante de uma língua, o que conduz ao pressuposto de que somos capazes de ativar

apenas um único conceito de cada vez (Cf. DOWNING, op.cit). O caminho para retomar uma

informação compartilhada por falante e ouvinte é o texto, espaço onde se estabelecem as relações

anafóricas, embora, mais frequentemente, os referentes se situem na memória dos falantes e não

5 This revertion to the more complete, less ambiguous form of reference has been linked to the fact that humanbeings seem to be able to keep information in consciousness for only a short time without rehearsing it; if thereferent has been absent from the stage for a while, it is likely that it is no longer in the focus of the reader/hearer’sconsciousness, necessiting remention with the semantically richer form. (p.12)

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no texto propriamente dito. Uma das estratégias para introduzir referentes no discurso é através

da ordenação de constituintes (cf. VILELA e KOCH, 2001). São essas limitações que resultam

em uma configuração do fluxo informacional em termos informações velhas para novas (cf.

PRINCE, 1981, CHAFE, 1984, DOWNING, 1995).

Um conceito diretamente associado às possibilidades de ordenação de constituintes é o de

marcação (Cf. BRASIL, 2005). Mais restrita inicialmente à Fonologia, a noção de marcação foi

estendida à Morfologia e à Semântica e, somente mais tarde, a fenômenos sintáticos, discursivos

e pragmáticos. Este conceito é retomado da Escola de Praga, que já assumia uma assimetria na

fonologia e na gramática, como mostra, por exemplo, o traço de sonoridade. O fonema que possui

o traço distintivo é o marcado e o outro é não marcado. Nesta concepção binária, assume-se, no

que se refere à variação de ordenação de constituintes, que uma ordem é a não marcada ou neutra,

enquanto que a outra, ou as outras são marcadas de alguma forma.

Nas abordagens mais contemporâneas, a importância do conceito de marcação foi

salientada principalmente por Greenberg (1966). Para o autor, o conceito de marcado e não

marcado é uma relação entre traços que se excluem mutuamente, sendo a fonte de contraste

mínimo entre dois fonemas ou dois lexemas. O autor destaca, também, que há estruturas

preferenciais em relação a outras e, por isso, mais frequentes. Adota, portanto, a frequência como

critério central para a marcação, muito embora admita que outros critérios sejam necessários.

Para Givón (1995, 2001), três critérios estão incluídos no conceito de marcação:

frequência, complexidade estrutural e complexidade cognitiva. A frequência constitui um dos

principais critérios para distinguir uma categoria marcada de uma não marcada. Para ele, a

categoria marcada tende a ser menos frequente e, portanto, mais saliente cognitivamente.

Segundo o pressuposto de complexidade estrutural, a estrutura marcada tende a ser mais

complexa do que a correspondente não marcada. Se esse pressuposto se adequa de forma mais

evidente a oposições morfológicas ou fonológicas, por exemplo, ele é mais discutível em relação

à ordem de constituintes. Em que medida pode-se dizer que uma forma de ordenação é

estruturalmente mais complexa do que outra? O autor entende complexidade cognitiva em termos

de esforço mental dispendido para a compreensão de uma dada estrutura e assume que uma

categoria ou estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do que a não marcada

correspondente. No português, por exemplo, a oração relativa requer mais esforço mental do que

a principal para ser processada, sendo, consequentemente, cognitivamente mais complexa.

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Um problema nessa formulação envolve a generalidade e independência de um par

marcado/não marcado. Segundo Givón (op.cit), o estatuto mais ou menos marcado de uma forma

ou de uma estrutura depende do contexto em que ela ocorre: uma mesma estrutura pode ser

marcada num determinado contexto e não marcada em outros. Consequentemente, a explicação

da marcação, por ser de base comunicativa, sócio-cultural, cognitiva e biológica, deve ter um

domínio específico.

Para muitos autores, os vários aspectos que envolvem a noção de marcação devem

convergir para um mesmo resultado, ou seja, os critérios acima estão implicados entre si,

determinando uma tendência geral das línguas humanas. Assim, formas mais frequentes são

também menos complexas estruturalmente e de processamento cognitivo mais fácil. Para

Sobokowiaj (2004), entretanto, é difícil aceitar esse pressuposto porque

As razões pelas quais tipicamente os critérios diagnósticos “terão resultadosconvergentes” (Moravcsik & Wirth, 1986:3) mas não terão atingidonecessariamente o mesmo alvo tem a ver com a natureza probabilística dalinguagem natural e com a não existência de um conjunto de diagnósticoslargamente aceitos, substanciados empiricamente, mínimos e logicamentecoerentes. (p.2)6

Uma discussão dos critérios de marcação é encontrada também em Croft (1990) para

quem, tipologicamente, o conceito de marcação pressupõe propriedades assimétricas relacionadas

a universais implicacionais, hierarquias gramaticais e protótipos. O autor exemplifica a noção

clássica de marcação através da relação binária singular/plural, sendo o singular não marcado

(ausência de morfema) e o plural marcado (presença de morfema)7. Entretanto, nem sempre a

relação é binária e, nesse caso, a noção de marcação será relativa ao número de elementos que

constitui o paradigma da língua em questão e estabelecerá uma hierarquia.

Em relação à mobilidade na ordem de constituintes, a noção de marcação se insere em um

modelo mais abrangente do que o de universal implicacional porque abarca diversos padrões

interlinguísticos. Croft (op. cit.) cita alguns critérios fonológicos e morfossintáticos usados por

Greenberg para a marcação, agrupando-os em:

6 The reasons why tipically the diagnostic criteria “will have converging results” (Moravcsik & Wirth 1986:3) butwill not necessarily hit the same target have to do both with the probabilistic nature of natural language and the non-existence of a logically coherent, minimal, empirically substantiated and widely accepted set of diagnostics. (p.2)7 No entanto, muitas línguas não se restringem à oposição binária descrita, possuindo outros elementos que compõema categoria de número.

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- estrutural, segundo o qual o princípio de marcação se caracteriza pela relação de dois valores.

Os padrões de marcação serão determinados a partir da contagem de morfemas dos dois valores

(marcado/não marcado) e de sua comparação. Não se pode determinar o status da marcação de

um valor sem também examinar o outro;

- comportamental: por um elemento ser gramaticalmente mais flexível, também será não

marcado em comparação ao outro. Este critério se divide em morfológico ou flexional (número

de diferenças morfológicas que uma categoria morfológica possui) e sintático ou distribucional

(número de contextos sintáticos no qual um elemento pode ocorrer). O elemento menos marcado

é o que ocorre em um número maior de construções.

- frequência: subentende-se que, se um valor marcado ocorre um certo número de vezes em

frequência numa dada amostra textual, então o valor não marcado será, pelo menos, tão frequente

quanto o valor marcado, numa amostra comparável de texto. Este critério estabelece uma

conexão direta entre propriedades da estrutura e do uso da língua.

- valor neutro: este critério é análogo ao da neutralização fonológica. “Somente um valor ocorre

em determinados contextos onde ambos os valores são semanticamente e/ou gramaticalmente

possíveis.” (p.91)8. Os critérios tipológicos para a marcação são, na verdade, reduzidos aos três

primeiros, sendo o de comportamento e o de frequência mais amplos e mais fundamentais para o

fenômeno da marcação.9

Entre os critérios brevemente discutidos acima, o mais polêmico é o de frequência. Dryer

(1995) questiona a importância desse critério, argumentando que a noção de ordem não marcada

não significa, necessariamente, que esta ordem seja a mais frequente.10 Para o autor, o papel da

frequência em explicar o porquê de as línguas serem como são vai além do conceito de marcação.

Ainda segundo o autor, ordem marcada ou não marcada tem que ser definida em termos

discursivos, o que ele traduz na oposição ordem pragmaticamente marcada vs ordem

pragmaticamente não marcada. Uma ordem pragmaticamente não marcada é melhor

caracterizada como uma ordem default, ou seja, aquela que é usada em contextos que não exigem

uma ordem pragmaticamente marcada. Assim, é necessário definir, primeiro, as situações em que

8 “only one value occurs in some context, where both values are semantically and/or grammatically possible.”9 Os critérios de comportamento e de frequência se aplicam a uma classe completa de fenômenos morfossintáticos,enquanto que o estrutural se aplica somente a um subgrupo.10 Um exemplo é a passiva no inglês, quando o paciente é mais temático do que o agente. Estes tipos de orações,apesar de serem menos frequentes, não servem de evidência para dizer que são pragmaticamente marcadas.

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outras ordens são usadas (Cf. p.105-106). Acreditamos, acompanhando a perspectiva do autor,

que uma compreensão mais exata de marcação requer a consideração conjunta de frequência e

função discursiva de um constituinte.

O conceito de marcação é duplamente relevante para os aspectos da ordenação de

circunstanciais focalizados nesta tese: a- considerando uma relação binária, ele é aplicado à

análise da posição variável dos Spreps circunstanciais temporais e locativos nas margens da

oração (margem esquerda e margem direita) e b- considerando uma relação não binária, já que

esses constituintes admitem diferentes posições na oração, procuramos verificar se é possível

estabelecer uma hierarquia de marcação. Nessas duas perspectivas, buscamos depreender os

fatores de ordem sintática, semântica e discursiva que influenciam a maior ou menor frequência

de uma determinada forma de ordenação.

Além desses aspectos, é necessário destacar que a frequência de uma forma ou de uma

estrutura linguística é relativa, variando de acordo com o gênero textual e o tipo de texto, como é

destacado por Givón (op.cit.). Dryer (op.cit.) ressalta que a frequência varia de discurso para

discurso, de texto para texto e de subtexto para subtexto. Desta forma, “enquanto a frequência

relativa de ordens diferentes pode ser bem definida para um dado corpus de textos, fica menos

claro o que significa como um traço da própria língua.” (p.119)11

Uma outra discussão diz respeito à universalidade ou relatividade das relações de

marcação. De acordo com Dryer (op. cit), é necessário considerar que:

a marcação em uma língua específica simplesmente envolve um grupo de critériostradicionais ou testes, enquanto a marcação translinguística simplesmente envolvea frequência através das línguas nas quais os critérios para a marcação em umalíngua específica apontam para o mesmo valor como o valor não marcado.”(p.110)12

O autor admite, porém, que nem sempre a distinção entre as duas dimensões é clara. Esta

discussão é o que Sobokowiaj (op. cit.) aponta como origem externa para relativizar a marcação.

Para o autor, os fenômenos gramaticais são sempre relativos a seus componentes ou

propriedades, o que o leva a distinguir entre uma origem interna, específica de cada língua (a

11 “while the relative frequency of different orders may be well-defined for a given corpus of texts, it is less clearwhat it means as a feature of the language itself.”12 “language-specific markedness simply involves a set of traditional criteria or tests, while crosslinguisticmarkedness simply involves the frequency over languages in which the criteria for language-specific markednesspoint to the same value as the unmarked value”.

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marcação relativa ao plural, por exemplo) e a outra externa que envolve restrições ou princípios

universais.13

2.3- Ordenação, função e variação

Como já colocado na introdução, consideramos a ordenação dos circunstanciais locativos

e temporais um fenômeno variável. Esta concepção implica, portanto, que assumimos alguns dos

fundamentos do estudo da variação linguística, o que no caso de fenômenos de ordenação merece

uma discussão mais detalhada.

O pressuposto central da Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista é o de que

os sistemas linguísticos são caracterizados por uma variação inerente e sistemática. Essa teoria se

define como disciplina distinta nos anos 60 e se firmou nos anos 70 com os trabalhos de William

Labov e seus sucessores. Veio de encontro à linguística saussureana, que tinha por base a

sincronia e que pregava a homogeneidade como pré-requisito para a própria definição de sistema

ou língua. Assim como nos modelos funcionalistas, o variacionismo comunga a ligação entre

sincronia e diacronia e expande a análise das línguas através dos tempos.

Trabalhos como os de Weinreich, Labov & Herzog (1968), Labov (1972, 1994) entre

outros, constituiram um marco teórico decisivo, ao partir de uma definição de língua como um

objeto caracterizado pela “heterogeneidade ordenada”. Para explicar a variação e os processos de

mudança linguística, Weinreich, Labov & Herzog (op.cit, p.99) enfatizam que

“(...) um modelo de linguagem que acomode fatos do uso variável e seusdeterminantes sociais e estilísticos, não só levam a descrições mais adequadas dacompetência linguística, mas também conduzem naturalmente a uma teoria demudança linguística que ultrapassa os paradoxos infrutíferos com os quais alinguística histórica tem se debatido por mais de meio século.”14

Um dos conceitos predominantes nas abordagens estruturalistas foi o de variação livre,

segundo o qual dois segmentos alternam aleatoriamente no mesmo ambiente e mantêm o mesmo

significado. Ao admitir que a variação é ordenada e sistemática, a Sociolinguística Variacionista

13 Universais linguísticos de Chomsky e Halle: enquanto que o uso da preposição em who did John give the book to?é uma estrutura universalmente marcada, seu status, específicamente no inglês, é não marcado, pelo menos no quese refere à frequência de ocorrência.14 (...) a model of language which accommodates the facts of variable usages and its social and stylistic determinantsnot only leads to more adequate descriptions of linguistic competence, but also naturally yields a theory of languagechange that bypasses the fruitless paradoxes with which historical linguistics has been struggling for over half acentury.

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se opõe ao conceito de variação livre (que não depende do contexto em que o fenômeno ocorre),

propondo que toda variação é condicionada. Parte do pressuposto de que formas alternativas de

se dizer o mesmo, ou variantes linguísticas, são influenciadas por fatores (ou variáveis

independentes) intra e extra-linguísticos, ou seja, fatores estruturais e sociais, como sexo, idade,

escolaridade, registro de fala (cf.LABOV, 1972. 1994, CHAMBERS, 1995; MOLLICA &

BRAGA, 2004).

O interesse central da Sociolinguística se volta para os processos de mudança em curso

nas línguas, buscando desenvolver procedimentos que permitam identificar a forma como esses

processos se implementam nas comunidades de fala. A teoria de mudança linguística levanta

questões relacionadas à origem, implementação, forma de propagação, restrições estruturais e a

avaliação das mudanças. Essa perspectiva de análise rompe com as fronteiras entre diacronia e

sincronia, ampliando o foco de análise linguística e a variação passa a ser entendida como a face

sincrônica da mudança diacrônica. Em outros termos, qualquer mudança se inicia com variação,

instalando uma concorrência entre duas ou mais formas e, gradualmente, uma forma variante

substitui a outra. Assim, podemos afirmar que, embora nem toda variação implique mudança,

toda mudança se origina de uma variação.

Dado que a variação usa um grande número de dados, o modelo sociolinguístico tem

como suporte ferramentas de análise estatística poderosas. As hipóteses acerca do funcionamento

do fenômeno variável são traduzidas em grupos de fatores que são quantificados com o objetivo

de verificar seu efeito sobre a ocorrência de uma ou outra variante.

Dado seu interesse na identificação de mudanças, muitos trabalhos variacionistas se

voltaram para a análise da fala produzida em situações reais de comunicação (LABOV, 1972,

PAREDES SILVA, 1996), ou representativas de diferentes estilos de fala, uma vez que, as

mudanças aparecem mais naturalmente nesta modalidade. Mais recentemente, a modalidade

escrita também tem sido examinada sob essa perspectiva, com o objetivo, inclusive, de identificar

a forma como mudanças em curso, ou em fase de conclusão na fala, se instalam na modalidade

escrita, mais conservadora pela sua própria natureza (Cf, dentre outros, DUARTE, 2007,

GOMES, 2006, MOLLICA et alii, 2007, ALMEIDA e RONCARATI, 2007, PAREDES SILVA,

2007), que verificaram a aplicabilidade de restrições de variação em ambas as modalidades.

A questão do tratamento variacionista para a ordem de palavras pode acarretar

problemas, conforme posto por Currie (2000). O primeiro problema se deve ao desenvolvimento

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da teoria variacionista para fenômenos fonológicos, em que as formas variantes possuem o

mesmo significado, enquanto nem sempre variações na ordem de constituintes atendem a tal

requisito. Um segundo problema apontado pelo autor é a multiplicidade de fatores (sintáticos,

semânticos, pragmáticos e textuais) que podem influenciar a ordem de palavras. Em terceiro

lugar, modelos formais negligenciaram fatores sociolinguísticos na ordem de palavras.

Uma questão controversa na aplicabilidade da Teoria da Variação a fenômenos

morfológicos e sintáticos está na própria definição de variação como alternância entre duas

formas semanticamente equivalentes (Cf. LAVANDERA, 1978, LABOV, 1978; WINFORD,

1996; CHESHIRE, 2005). Para muitos autores, fora do nível fonológico, formas diferentes teriam

significados diferentes, não havendo, portanto, variação. Há, no entanto, um consenso quanto a

considerar equivalência semântica de forma mais abrangente nas variáveis sintáticas, de modo

que estas possam ser estabelecidas de acordo com a função das variantes no discurso (Cf.

CHESHIRE, op. cit). Weiner e Labov (1983), por exemplo, argumentam que o significado

referencial é o que importa e mostram que é possível dar um tratamento variacionista a

fenômenos como a passiva e ordem de constituintes, por exemplo. Paredes Silva (2004) mostra a

importância dos fatores internos, isto é, dos níveis sintático, semântico e discursivo-pragmático

nos trabalhos empíricos para o avanço da Teoria da Variação para variações que ultrapassam o

nível fonológico. Um exemplo é o estudo da indeterminação, que pode se manifestar em diversos

níveis, apresentando uma escala de possibilidades (flexão do verbo, pronome se, você ou a gente,

as pessoas, etc.) cujo significado referencial ficaria preservado (Cf. p.70-71). A título de

exemplificação, podemos citar diversos trabalhos que já focalizaram fenômenos sintáticos:

OMENA, 1996, PAREDES SILVA, 1998, PAIVA, 2002, 2003, BRASIL, op.cit; GOMES, op.

cit., LESSA, op.cit.).

As questões brevemente discutidas acima se colocam de forma crucial no estudo de

diferentes formas de ordenação de constituintes e, mais especificamente, no da possibilidade de

variação na ordem dos Spreps locativos e temporais. Diversos autores (ILARI et alii, 1989,

MARTELOTTA, 1994, NEVES, 2002, COSTA, 2004, BRASIL, 2005) assumem que, não raro,

há uma relação direta entre a posição de constituintes adverbiais, em especial de advérbios, e o

significado que adquirem. Em outros termos, é a posição que determina o significado15, como no

15Costa (2004) exemplifica com o advérbio “estupidamente” que possui dois significados: 1- modo: de modoestúpido; 2- significado orientado pelo sujeito: foi estúpido de X fazer Y. (p.718)

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seguinte exemplo extraído de nosso corpus: Alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano

são disputados no domingo, em oposição a No domingo são disputados alguns jogos dos

campeonatos Espanhol e Italiano.

Essas colocações se aplicam, a nosso ver, mais frequentemente para advérbios,

principalmente aqueles que não possuem significado inerente (cf. COSTA, 2004), do que para

sintagmas preposicionais. Em princípio, Spreps circunstanciais na margem esquerda ou na

margem direita da oração (‘Na minha cidade há muitas praias’, ou ‘Há muitas praias na minha

cidade) introduzem a mesma coordenada temporal ou locativa, podendo, então, ser considerados

semanticamente equivalentes. Shaer (2004), por exemplo, focalizando apenas as posições

marginais, apresenta vários argumentos para rebater uma alegada diferença semântica entre os

circunstanciais temporais nas periferias da oração.

Ao considerar o modo como a função intervém na maior ou menor possibilidade de

variação na ordem dos Spreps locativos e temporais, este estudo se situa, necessariamente, na

interface entre Teoria da Variação e abordagens funcionalistas, na forma como propõem Naro

(1998), Górski et alii (2003), Górski e Tavares (2012). O casamento entre Variacionismo e

Funcionalismo é controverso, na medida em que, no primeiro, há uma ênfase bastante acentuada

na estrutura, como se vê em Labov (1969). Além disso, há diferenças metodológicas, como a

exclusão de contextos ambíguos na Teoria da Variação. No entanto, há pontos comuns, como por

exemplo, a língua em situações reais de uso, a dinamicidade da língua, a análise de aspectos

fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais/semânticos, a frequência das ocorrências (cf.

Górski e Tavares, op.cit).

Naro (1998) mostrou a natureza funcional de fenômenos variáveis em diversos estudos do

português. Um exemplo é o estudo de Mollica (1996) sobre o uso de em, a e para com o verbo ir

. Seus resultados apontam o uso da preposição em com a função de reforçar o traço definido do

referente locativo (A gente ia no Carrefour).

A ordem dos circunstancias é focalizada, portanto, numa perspectiva sociofuncionalista.

Concebendo a língua como um sistema dinâmico de comunicação, assumimos que os

circunstanciais de tempo e lugar, além de introduzirem referências temporais e locativas,

desempenham determinadas funções comunicativas em determinados contextos. Ao analisar a

variação na ordem dos circunstanciais sob o prisma de fatores estruturais, fatores semânticos,

fatores discursivos e textuais, buscamos alcançar o que Naro (1998, p. 117) denomina “uma

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compreensão correta” de uma mensagem dentro de um determinado contexto. Retomando os

termos de Paiva (1998, p. 91-92), podemos dizer que esta abordagem

(...) permite incorporar na análise de fenômenos gramaticais nuances semânticasdas variantes e o pressuposto de que a forma linguística sofre restrições impostaspela necessidade de adequação discursiva e pragmática. Faz ressaltar, assim, aimportância de aspectos textuais (como distribuição de informação), interacionaise cognitivos (como iconicidade) na distribuição das formas linguísticas.

Um outro ponto de conexão entre estudos variacionistas e estudos funcionalistas é que

uma descrição mais adequada do uso linguístico exige considerar as diferenças entre gêneros

textuais. Neste trabalho, esta questão ganha maior importância, na medida em que, como já

destacado por Givón (2001), um par marcado/não marcado pode ser relativizado em função de

características do texto e do modo de produção. Cada gênero possui características sócio-

comunicativas e de organização que o especificam e essas particularidades podem se refletir não

só em diferenças de frequência de um ou outra forma de ordenação como também na maior ou

menor exploração de uma ou outra função associada a uma determinada posição dos

circunstanciais.

Esta integração entre modelos que partilham o pressuposto de língua como uso tem se

revelado eficaz para ampliar a compreensão das regularidades linguísticas.

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3- VARIAÇÃO NA ORDEM DE CONSTITUINTES CIRCUNSTANCIAIS

Neste capítulo, definimos o que entendemos por circunstanciais e abordamos as diferentes

possibilidades de ordenação desses constituintes. Discutimos que diversos fatores influenciam

essa ordenação, sejam eles de cunho sintático, semântico e discursivo.

A definição de circunstancial neste trabalho remete a Ilari et alii (1989) e a Neves (1992,

2000). Para os autores, circunstanciais não possuem função modificadora, mas indicam

circunstância, ou seja, “ provêm orientação locativa ou temporal por referência ao falante – agora,

que é o complexo modo-temporal que constitui o ponto de referência do evento (NEVES, 2000,

p.264).

No que diz respeito à posição de circunstanciais, duas faces aparentemente contraditórias

convivem: de um lado, a mobilidade posicional destes constituintes e, de outro, tendências à

fixação de determinadas posições. Neste sentido, os circunstanciais se assemelham a outros tipos

de advérbios que, como mostram Austin et alii (2004), apesar de gozarem de certa liberdade de

colocação na sentença, podem fixar posição em relação a outros constituintes ou apresentar

variação. Embora a tendência a uma posição fixa se aplique mais diretamente aos advérbios

propriamente ditos (cf. COSTA, 2004, BRASIL, 2005), mesmo para os sintagmas preposicionais

que codificam as categorias de tempo e espaço podem ser observadas certas limitações de

flexibilidade, uma questão que será retomada no capítulo 5.

Diversos trabalhos sobre a ordenação de circunstanciais temporais e/ou locativos já

mostraram que a classe morfológica do circunstancial é um fator importante na ordenação destes

constituintes. Os advérbios circunstanciais, principalmente os locativos, apresentam

especificidades de ordenação distintas das que se aplicam aos sintagmas preposicionais com

função adverbial (BRASIL, 2005, PAIVA, 2008c, GOMES, 2006). Brasil (op.cit.), comparando

as variedades PE e PB, mostra que advérbios locativos possuem maior flexibilidade, podendo

ocupar posições marginais ou posições internas, do que os Spreps cuja posição na oração se

submete a maiores restrições. Os circunstanciais temporais, por sua vez, possuem um

comportamento mais sistemático: tanto os advérbios como os Spreps, apesar de gozarem de

maior mobilidade na oração, tendem a ser antepostos ao verbo, principalmente na margem

esquerda da oração. Em Lessa (2007), mostrei, porém que, mesmo para a classe dos temporais, é

necessário atestar maior rigidez na ordenação de advérbios e, ainda, diferenças ligadas a cada

item adverbial específico.

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Diversos trabalhos já mostraram que, assim como os advérbios, sintagmas preposicionais

que introduzem coordenadas de tempo e espaço podem ocupar diferentes posições na oração

tanto na modalidade falada como na modalidade escrita (QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1992,

MARTELOTTA, 1994, KATO et alii, 1996, ROCHA, 2001, , MURCIA e FREEMAN, 1999,

BESTGEN & VONK, 2000, HAWKINS, 2000, VILELA e KOCH, 2001, CUNHA e CINTRA,

2001, PAIVA, 2002, 2003, 2008 b, 2008c, AUSTIN et alii, 2004, SHAER, 2004, CEZÁRIO et

alii, 2004, BRASIL, 2005, LESSA, 2007, ILOGTI DE SÁ, 2009). Esses constituintes podem se

situar no interior da oração, em posições de adjacência ao verbo ou nas periferias da oração

(margem direita e margem esquerda), como mostram os exemplos a seguir, extraídos de nossa

amostra:

Margem esquerda da oração:

(5) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. (JB – 02/06/2003 - Opinião)

Posição entre sujeito e verbo:

(6) O frigorífico local, hoje, é usado em apenas 10% de sua capacidade.(JB02/06/2003 - Opinião)

Posição entre verbo e complemento:

(7) O Fluminense apresenta amanhã mais uma novidade para a disputa dacompetição. (JB – 06/03/2004 – Notícia)

Margem direita da oração

(8) Os policiais iniciaram ação às 5h30. (JB – 24/10/2002 – Notícia)

As gramáticas tradicionais pouco dizem a respeito da ordenação de sintagmas

preposicionais circunstanciais, limitando-se, na maioria das vezes, a tecer considerações acerca

das posições possíveis dos advérbios propriamente ditos. Para muitos autores, a possibilidade de

que Spreps circunstanciais ocupem diferentes posições na oração é uma questão estilística,

decorrente, portanto, de preferências individuais (cf., por ex, CUNHA, 1975). No máximo, fazem

referência a uma posição defaut para esses constituintes, destacando que, independentemente da

classe semântica, eles tendem a se situar após os constituintes argumentais (cf. CUNHA &

CINTRA, 2001).

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Quando se referem à variabilidade na colocação de Spreps circunstanciais, as gramáticas

se apóiam mais frequentemente no conceito de “ordem natural” ou ordem lógica e consideram

outras possibilidades como um fenômeno estilístico (Cf. CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1984).

No entanto, diversos estudos sobre o uso da língua já mostraram que fatores sintáticos,

semânticos e discursivos controlam a ordenação desses constituintes (MARTELOTTA, 1994,

COSTA, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004 , CEZÁRIO et alii, 2005 a/b, BRASIL, 2005, PAIVA,

2002, PAIVA et alii, 2007, LESSA, 2007, PAIVA, 2008b, 2012, ILOGTI DE SÁ, 2009).

Focalizando mais especificamente os advérbios no português europeu, Costa (op. cit.)

mostra que a variabilidade na posição desses constituintes decorre do fato de que a adjunção é

parcialmente livre, ou seja, o advérbio é livre para adjungir a uma categoria lexical, como VP, e a

categorias funcionais, como TP ou CP.

A ocorrência de simetria na adjunção é outra questão levantada pelo autor. Pelo fato de

essa categoria lexical ser livre, espera-se que um advérbio que se adjunge à esquerda seja capaz

de se adjungir à direita. Esta mudança de posição, entretanto, pode acarretar mudanças de

significado, o que, numa perspectiva variacionista, acarretaria problemas, uma vez que não

seriam mais variantes semanticamente equivalentes.

O próprio autor destaca, no entanto, que a relação entre significado e posição é mais

complexa e envolve principalmente os advérbios. Alguns advérbios, como ontem, por exemplo,

possuem significado inerente e podem variar sua posição. Advérbios que não possuem

significado inerente, como “estupidamente”16 se caracterizam por menor flexibilidade, visto que

seu significado pode ser alterado em função da posição que ocupam na sentença. Para os

advérbios que admitem maior flexibilidade sintagmática, o autor admite a intervenção de fatores

funcionais como papel do circunstancial na estrutura informacional e extensão do constituinte,

fazendo-se necessário identificar a forma como esses fatores interagem entre si.

No que se refere aos advérbios que localizam espacial e temporalmente estados de

coisas, Neves (1992, p.268) salienta que é necessário considerar a função que eles desempenham:

função nuclear ou não nuclear. Enquanto os primeiros se inserem no sistema de transitividade, os

segundos são periféricos ao SV e essas funções têm reflexo nas diferentes possibilidades de

16 Segundo o autor, este advérbio possui dois significados: 1- modo: de modo estúpido; 2- significado orientado pelosujeito: foi estúpido de X fazer Y. (p.718)

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colocação que eles admitem, controladas por princípios distintos (Cf. também ILARI et alii,

1989).

Apesar das diferentes possibilidades de colocação exemplificadas de (1) a (4), diferentes

estudos já atestaram que os circunstanciais apresentam uma tendência mais geral a ocuparem

posições periféricas na oração, embora de forma distinta, de acordo com a categoria dêitica

codificada: os circunstanciais locativos tendem a se situar na margem direita da oração e os

temporais, embora admitam maior variabilidade, na margem esquerda (cf. MARTELOTTA,

1994, ROCHA, 2002, PAIVA, 2002, 2008a, PAIVA et alii, 2007, KATO et alii, 2002, ROCHA,

2002, OLIVEIRA, 2003, CEZÁRIO et alii, 2004, BRASIL, 2005, LESSA, 2007).

Posições de adjacência ao verbo, tanto entre verbo e sujeito como entre verbo e objeto,

são mais restritas e se distribuem de forma diferenciada de acordo com a modalidade, como

mostram Paiva et alii (2007). Mais frequentemente, essas posições são ocupadas por Spreps de

menor extensão ou que modificam internamente o estado de coisas descrito, como os aspectuais.

Paiva et alii (op.cit) mostram que circunstanciais temporais aos quais se superpõe uma noção

aspectual, como iteratividade, por exemplo, são os que mais tendem a se situar na adjacência

direita ou esquerda do verbo (cf. também KATO et. alii. (op.cit.). Paiva et alii (op.cit) destacam,

porém, restrições ligadas ao tipo morfológico de circunstancial e à modalidade. Na fala, a

ocorrência de advérbios entre sujeito e verbo (PM1) e entre verbo e objeto (PM2) apresenta

frequências aproximadas (21% e 18%, respectivamente) que se igualam aos valores da margem

direita (17%). Para os Spreps, a posição entre sujeito e verbo é pouco produtiva, com apenas 5%

de frequência. As frequências para margem direita e posição entre verbo e complemento são

muito próximas (25% e 22%, respectivamente). Na escrita, a tendência de ocupação da PM1 é

bem restrita para advérbios (7%) e Spreps (5%). A PM2 possui índices de ocupação maiores, com

32% para advérbios e 40% para Spreps.

A preferência pelas posições periféricas pode ser identificada já em estágios anteriores do

português, como mostram estudos de Oliveira (2003) e de Gomes (2007). Oliveira (op.cit.), ao

analisar o comportamento dos advérbios locativos em textos religiosos, mostra que estes

constituintes são mais periféricos em relação ao verbo. Sendo assim, possuem grande mobilidade

na oração, podendo ocorrer antes ou depois do verbo. Gomes analisou Cartas de Comércio do

século XVIII e Documentos de Circulação Privada do século XIX, mostrando que, embora nestes

períodos, Spreps locativos e temporais já tendessem a ocupar posições marginais, as posições

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internas alcançavam índices muito mais expressivos do que no português contemporâneo. Em sua

análise de textos religiosos do português arcaico, Cezário et. alii (2004) mostraram igualmente a

preferência de advérbios locativos por posições adjacentes ao verbo, principalmente a pós-verbal.

Para os temporais, a tendência geral do português arcaico foi a ocupação de posições depois do

verbo.

Essa restrição nas posições internas pode ser explicada pelo princípio de coesão (Cf.

TOMLIN, 1986), segundo o qual o verbo e o objeto formam um todo sintático e semântico.

Assim, evita-se colocar constituintes nas posições internas a fim de não haver rompimento nas

barreiras entre verbo e seu argumento.

Diversos trabalhos já mostraram uma variedade de fatores que influenciam a ordem de

Spreps locativos e temporais, como o significado do circunstancial, sua função sintática e sua

função discursiva, o grau de transitividade da oração em que ele ocorre (MARTELOTTA, 1994,

SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, PAIVA et alii, 2007, PAIVA 2008b), extensão e peso

final (BRASIL, 2005), gêneros textuais (PAIVA et alii, op cit.).

É interessante destacar, já que uma das perspectivas de análise desenvolvidas neste estudo

inclui os sintagmas preposicionais que expressam modo, que estes últimos apresentam um

comportamento mais particular no que se refere a tendência de ordenação. Diferentemente dos

circunstanciais de tempo e lugar, advérbios e Spreps de modo estão mais forte e diretamente

ligados aos estados de coisas, modificando-os. Retomando Cezário et. alii (2004, p. 187) “de

fato, do ponto de vista semântico, o modo está diretamente ligado à essência da ação verbal”. É

essa ligação estreita que permite a constituintes que expressam modo adquirirem frequentemente

uma função quase argumental implicando, inclusive, restrições de seleção.

Uma outra particularidade dos constituintes de modo é que, ao que tudo indica, uma

mudança na sua posição envolve de forma mais evidente uma possível mudança de significado,

em razão de mudanças no seu escopo. Como destacam Givón (2001) e Cezário et alii (op.cit.) os

circunstanciais de modo podem se referir à ação verbal ou ao sujeito, como no exemplo “João

corretamente falou com os professores”17 retomado de Cezário et alii (op. cit, p.189) ou mesmo

modificar a enunciação. Os autores ainda ressaltam que a diversidade de usos desses elementos

está ligada aos seus papéis discursivos e à estrutura oracional em que ocorrem.

17 Há aqui um problema de escopo.Se coordenarmos uma outra oração (“João corretamente falou aos profesores ePedro também. ), o escopo de corretamente é no mínimo ambíguo, podendo entender-se que modifica a ação de falar.

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Qualquer generalização quanto à posição de circunstanciais em termos da categoria

dêitica que codificam pode, no entanto, ser indevida. No que se refere mais especificamente à

ordenação dos circunstanciais temporais, Martelotta (1994) mostra influência de nuances

semânticas, que, na proposta do autor, podem ser classificados em cinco tipos: circunstanciadores

de tempo determinado (ontem, hoje); circunstanciadores de tempo indeterminado (sempre,

atualmente); circunstanciadores iterativos (às vezes, duas vezes por semana); circunstanciadores

de simultaneidade (enquanto isso, ao mesmo tempo) e circunstanciadores delimitativos (até hoje,

há três anos). Para o autor, os constituintes em questão não assumem uma posição básica na

sentença, pois sua colocação depende da “interação de suas características semântico-gramaticais

com fatores de natureza pragmático-discursiva.” (p.60). Por exemplo, o circunstancial de tempo

“tende a ocorrer em posições pré-verbais quando traz informações temporais análogas aos traços

semântico-gramaticais do discurso em que ocorre.” (p.205). Cezário et. alii. (2005) reforçam a

conclusão de que noções semânticas como localização, duração, simultaneidade influenciam a

ordenação de locuções adverbiais temporais (Cf. também, ANDRADE, 2005, LUQUETTI,

2008, ILOGTI de SÁ, 2009).

Como defendem Austin et alii (2003), uma compreensão mais acurada da variação na

posição dos circunstanciais requer considerar a interface entre semântica, sintaxe e pragmática.

Esta interface é ainda mais necessária se considerarmos a predominância dos circunstanciais nas

margens da oração, dadas as especificidades funcionais dessas posições. Shaer (2004), por

exemplo, mostra que, embora nem sempre seja fácil determinar as diferenças semânticas entre os

temporais que ocupam a margem esquerda da oração e os que se posicionam na margem direita,

é possível identificar especificidades funcionais de cada uma dessas configurações.

Circunstanciais de tempo que se localizam na margem esquerda estabelecem ligações entre o

ponto em que ocorrem e o discurso anterior. Já os circunstanciais que se localizam na margem

direita da oração possuem um escopo mais restrito e não estabelecem relações anafóricas. A

função anafórica dos circunstanciais na margem esquerda da oração é destacada igualmente por

Oliveira (2003), para os locativos, Paiva et alii (2007), para locativos e temporais, Paiva

(2008b), Ilogti de Sá (2009), para os temporais.

Paiva (2008 op.cit) mostrou que Spreps circunstanciais na margem esquerda, além de

retomarem informações no discurso precedente, abrem enquadres nos quais se inscrevem

diversos estados de coisas no discurso subsequente.

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Dentro de uma perspectiva funcional, outros trabalhos já mostraram a importância, por

exemplo, da diferença figura/fundo na colocação variável dos circunstanciais (MARTELOTTA,

1994, CEZARIO et alii, 2004, ILOGTI DE SÁ, 2009). Ilogti de Sá (op.cit) atestou que a posição

sintagmática de circunstanciais é motivada pelo grau de transitividade da oração em que o

circunstancial está inserido e mostrou que, em orações com alta transitividade, as locuções

adverbiais tendem a se localizar nas margens da oração.

Um outro aspecto relacionado à disposição dos circunstanciais, destacado por Paiva

(2003), diz respeito a sua ocorrência em sequência. A autora destaca a recorrência, no português

brasileiro, de situações “em que uma proforma adverbial é seguida de um sintagma preposicional

locativo.” (p.131). A autora ressalta o papel desses constituintes na precisão de coordenadas

dêiticas e na organização das relações fóricas textuais. Na interpretação da autora, as proformas

adverbiais organizam as partes do discurso e os Spreps introduzem precisão quanto às

coordenadas temporais dos estados de coisas. Esse encadeamento de circunstanciais é retomado

por Brasil (2005) para circunstanciais locativos e temporais em textos escritos. Segundo a autora,

os circunstanciais variam sua posição na sentença dependendo da sequência em que ocorrem na

oração.18 Seus resultados para advérbios de tempo no português do Brasil mostram que

sequências de advérbios de mesma classe tendem a se colocar em posições antepostas ao verbo.

Já a sequenciação de advérbios de classes distintas desfavorecem a anteposição.

Este ponto conduz a dois aspectos importantes da ordenação de circunstanciais, quais

sejam: a- a co-ocorrência de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica na

mesma oração e b- a forma de sequenciação de categorias semânticas distintas, como

exemplificado a seguir:

(9) No clássico contra o Vasco, no Maracanã, rente à linha lateral do campo, vaiestar o novo técnico do time. (JB – 06/03/2004 - Notícia)

(10) Ontem, Felipe correu na areia da Praia da Barra, (O Globo – 05/03/2004 -Notícia)

(11) A discussão do Orçamento para 2003 começou ontem com uma crise norelacionamento entre o legislativo e o executivo municipal. (JB – 25/10/2002 -Notícia)

18 Sequência de dois circunstanciais da mesma classe semântica; sequência de dois circunstanciais de classessemânticas distintas; sequência de mais de dois circunstanciais. (p.148)

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Para casos como os exemplificados de (9) a (11), além de se colocarem questões relativas

a ordem não marcada, ganham relevância aspectos ligados à própria categoria semântica.

Focalizando as categorias de tempo, modo e lugar, no inglês, Quirk et alii (1985) propõem um

princípio de centralidade semântica das categorias circunstanciais. De acordo com os autores, a

maior ou menor adjacência do circunstancial em relação ao verbo depende da centralidade da

categoria semântica para o estado de coisas descrito na oração: categorias mais centrais tendem a

ficar na proximidade do verbo. Dessa forma, na proposta dos autores, a sequenciação menos

marcada seria modo>lugar>tempo. Em contextos mais restritos, como aqueles em que é possível

uma ambiguidade ou se impõe a necessidade de realce, essa ordenação pode ser alterada.

A sequenciação modo-lugar-tempo pode ser entendida em termos do princípio de

iconicidade, na forma como proposto por Haiman (1985) e Givón, (1990, 2001) que prevê

isomorfismo entre a sintaxe e semântica, ou seja, uma determinada estrutura reflete a função que

realiza. Assim, a proximidade física entre constituintes reflete a proximidade conceptual.

Entretanto, tudo indica que princípios de natureza diferente podem conflitar na ordenação

de diferentes categorias semânticas de circunstanciais. Hawkins (2000) mostra que, em posições

pós-verbais, a pressuposta generalidade da sequenciação modo>lugar>tempo pode ser discutida

e, na verdade, apresenta pouca produtividade. O autor apresenta argumentos contrários à hipótese

de ordenação motivada por um princípio de centralidade semântica, ressaltando que é necessário

controlar outros fatores como a dependência léxico-semântica entre a preposição que encabeça o

Sprep e o verbo, que traduzimos no princípio de coesão19 (Cf. TOMLIN, 1986). Segundo este

princípio a coesão entre verbo e complemento é tão estreita que restringe a ruptura entre esses

dois constituintes. Um outro fator destacado por Hawkins (op.cit), a fim de controlar a ordenação

de circunstanciais, é o peso final dos constituintes adverbiais, segundo o qual constituintes mais

pesados tendem a se localizar após constituintes mais leves. Conclui que a principal motivação

para a ordem relativa dos circunstanciais é a sua extensão.

Evidências para a importância do princípio do peso final na ordenação relativa de

circunstanciais no português são fornecidas por Paiva (2012). Baseada no critério frequência, a

autora atesta, antes de mais nada, a preferência pelo acúmulo de circunstancias na margem direita

da oração. Em orações nas quais co-ocorrem circunstanciais de diferentes classes semânticas,

19 Sob certos aspectos, este princípio equivale ao que Givón (1995, 2001) denomina princípio de integração.

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observa-se acentuada variabilidade de disposição sintagmática, mas as tendências depreendidas

são igualmente favoráveis a uma interpretação mais em termos de peso do constituinte do que de

centralidade semântica.

Neste capítulo, retomamos, resumidamente, estudos que já atestaram as restrições no

posicionamento de circunstanciais na oração e a variação possível na ordem destes constituintes.

Destacamos as motivações sintáticas, semânticas e discursivas que vêm se mostrando mais

regulares na explicação deste fenômeno de ordenação.

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4. AMOSTRA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Downing (1995) apresenta três métodos de investigação para o estudo da ordem de

constituintes: entrevistas com falantes nativos da língua em questão, utilização de uma

abordagem experimental e uma abordagem de distribuição textual, que servem a funções

pragmáticas diversas. O último método se adequa ao nosso trabalho pelo fato de que, na nossa

análise, utilizamos um corpus de escrita jornalística, composto de textos de gêneros

diversificados.

No entanto, nossos objetivos não se limitam a depreender a distribuição dos padrões de

ordenação dos circunstanciais. Procuramos, além disso, identificar os grupos de fatores, e em

última análise, os princípios que operam sobre a ordem dos circunstanciais. Para o cumprimento

desse objetivo, adotamos os procedimentos metodológicos da Teoria Variacionista, que nos

permitem não apenas verificar a distribuição dos dados, mas também o efeito de um determinado

grupo de fatores em relação aos outros que com ele co-atuam.

4.1- Amostra

A escolha da escrita com o objetivo de analisar a ordenação dos circunstanciais no

português contemporâneo é motivada pelo fato de que, como já atestaram outros estudos, a

ordem desses constituintes na modalidade escrita pode variar de forma significativa (Cf.BRASIL,

2005, PAIVA, 2008c, GOMES, 2006, LESSA, 2007).

Como já dissemos, nossa pesquisa engloba os gêneros textuais notícia, artigo de opinião,

editorial, crônica e carta , extraídos de jornais cariocas de grande circulação “O Globo”, “Jornal

do Brasil”, “Extra” e “O Povo”. Os textos fazem parte de uma amostra do discurso jornalístico

constituída por integrantes do projeto PEUL (UFRJ)– Projeto de Estudos Sobre o Uso da Língua,

entre os anos de 2002 e 200420. Escolhemos trabalhar com textos jornalísticos porque

representam um tipo de escrita mais monitorada e sujeita a prescrições e normas. Esses textos são

representativos de diversos gêneros do domínio jornalístico. A variável gênero foi controlada

através de um grupo de fatores a fim de verificar em que medida a variação na ordem de

circunstanciais está sujeita a distribuições textuais distintas.

20 A amostra está disponível em: http://www.letras.ufrj.br/peul/

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No total, essa amostra compreende 432 textos dos gêneros notícia, artigo de opinião,

editorial, crônica e carta, distribuídos da forma mostrada no quadro abaixo:

Quadro 1: Distribuição dos gêneros pelos jornais

Gênerojornalístico

OGlobo

JB Extra O Povo Total

Notícia 24 24 24 24 96Artigo deOpinião

24 24 24 24 96

Editorial 24 24 24 24 96Crônica 24 24 - 24 72Carta 24 24 24 - 72

A amostra não é inteiramente equilibrada como observamos acima, por duas razões: não

há crônicas no jornal “Extra” e o jornal “O Povo” não publica uma seção de cartas do leitor.

Nos quadros seguintes, apresentamos a relação dos textos utilizados em cada um dos

gêneros.

Quadro 2: Notícia

Jornal Data Título AutorO Globo 04/03/04 Aílton vira estrela de aluguel do Qatar Graça MagalhãesO Globo 04/03/04 Brasil enfrenta Paraguai sem ter como

treinarAntonio MariaFilho

O Globo 05/03/04 Fla busca antídoto para aFelipedependência

Ary Cunha

O Globo 05/03/04 Pelé se explica: 'Tínhamos de olhar ofutebol como um todo'

Fernando Duarte

O Globo 05/03/04 Sempre rima fácil com confusão Sem autorO Globo 06/03/04 Fifa vai impedir formação dos times de

aluguelSem autor

O Globo 06/03/04 Levir troca treino por conversa em buscade união para vencer América

Marcos Penido

O Globo 10/03/04 Encontro de líderes na Serra Márcio TavaresO Globo 10/03/04 Juninho põe Lyon entre os oito melhores

na LigaSem autor

O Globo 10/03/04 Líder, Flamengo enfrenta equipe do CasaBranca

Sem autor

O Globo 18/10/02 Rio deve ter Forças Armadas no 2º turno Ana Paula Macedo,Carolina e Brígidoe Evandro Éboli

O Globo 23/10/02 Choque de ordem dura quatro horas Jorge Eduardo

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MachadoO Globo 24/10/02 Barra e Recreio ganham um pacote de

obrasSelma Schmidt

O Globo 24/10/02 Suspeito de ter assaltado ônibus é presopela PM

Sem autor

O Globo 25/09/02 Chuva de um dia quase iguala índice domês

Leticia Matheus

O Globo 25/09/02 Lagoa poderá ter nova mortandade Selma SchmidtO Globo 25/09/02 O mural do tráfico no batalhão da PM Taís Mendes e

Célia CostaO Globo 25/09/02 Polícia suspeita de outro agente

penitenciárioAntônio Werneck eVera Araújo

O Globo 25/10/02

UFRJ aprova 1ª parte de seu plano desegurança

Jorge EduardoMachado

O Globo 26/10/02 Presos tinham plano para fugir Renato GarciaO Globo 28/10/02 Abastecimento de água na cidade vai ser

suspenso por 24 horasEduardo Fradkin

O Globo 28/10/02 Celsinho fica em galeria isolada em BanguI

Sem autor

O Globo 04/03/04 Flu admite esperar Vanderlei, mas querencontrá-lo hoje

Fábio Juppa

O Globo 06/03/04 Time tricolor ainda não terá o dedo donovo técnico amanhã

Sem autor

JB 05/03/04 Flu em regime de concentração Sem autor

JB 06/03/04 Alex Alves volta ao Botafogo para fazergol

Sem autor

JB 06/03/04 Brasil e Portugal: clássico das areias Sem autorJB 06/03/04 O ídolo de volta ao Fluminense Pedro LemosJB 08/03/04 Felipe de volta ao Flamengo Márcio MaráJB 08/03/04 Ricardo ressalta má forma física Sem autorJB 08/03/04 Valdir elogia astros do Vasco Sem autorJB 09/03/04 Fla volta a ter esperanças na Taça Rio Luiz Augusto

NunesJB 05/03/04 Aperitivo para o clássico Pedro LemosJB 09/03/04 Roberto Carlos reclama de punição Sem autorJB 10/03/04 Levir exige respeito ao Cabofriense Sem autorJB 10/03/04 Real e Bayern decidem vaga Sem autorJB 10/03/04 Valdir em estado de graça Sem autorJB 17/09/02 Estudantes protestam em Caxias Sem autorJB 05/03/04 Time já está concentrado para o jogo de

amanhãSem autor

JB 19/03/04 Aumento à vista para os federais Sem autorJB 23/10/03 Fuga pára escola em S. Gonçalo Sem autorJB 23/10/02 Polícia estoura cativeiro Sem autor

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JB 23/10/02 Servidor vai para o fim da fila Sem autorJB 24/10/02 Chuva alaga conselho tutelar Sem autorJB 24/10/02 Operação é criticada Sem autorJB 24/10/02 Polícia ocupa a Rocinha Sem autorJB 24/10/02 Tentativa de fuga e rebelião em Bangu Sem autorJB 25/10/02 Câmara pressiona César Sem autorExtra 04/06/03 Apólices variam por bairros Sem autorExtra 04/06/03 Corretora enterrada em Irajá Sem autorExtra 04/06/03 Explode o roubo de veículos Marcelo ChimentoExtra 04/06/03 Preso acusado de arrastão do fim de

semana na IlhaSem autor

Extra 05/01/04 Alvinegro e Cruzeiro no páreo Sem autorExtra 05/01/04 Mordomia zero no Chile Sem autor

Extra 05/01/04 Um africano na Gávea Sem autorExtra 05/01/04 Uma desacelerada nas multas Marcelo ChimentoExtra 05/06/03 Agentes do Desipe vão depor contra

ChiquinhoSem autor

Extra 05/06/03 Ano letivo em câmera lenta Jorge EduardoMachado

Extra 05/06/03 Atraso põe sonho em xeque Sem autorExtra 05/06/03 Nilópolis surpreende na educação Giampaolo BragaExtra 07/01/04 Concorrência que alivia Sem autorExtra 07/01/04 De olhos nos apressados Elaine DuimExtra 07/01/04 Fla volta com novas caras Maura Ponce de

LeonExtra 07/01/04 Leandrinho dá show no Phoenix Sem autorExtra 07/01/04 Marcelinho anunciado Sem autorExtra 08/01/04 Na quadra, doze valem por um Maura Ponce de

LeonExtra 11/01/04 Ilha e Maré vão ter câmeras nas ruas Sem autorExtra 11/01/04 Irmã de Vitor Belfort está desaparecida Sem autorExtra 13/01/04 De ex-desafeto a anfitrião cordial Sem autorExtra 13/01/01 Espera do Fla pela volta de Edilson dura

maisSem autor

Extra 13/01/04 Guga vence de virada Sem autorExtra 13/01/04 Popó e Éder Jofre um abraço e paz Sem autorO Povo 01/06/03 O vinil ainda resiste Eliane BenicioO Povo 02/06/03 Bom, bonito e barato Sem autorO Povo 02/06/03 O tempo voa e a feira de Ipanema continua

boaSem autor

O Povo 03/06/03 Rocinha respira cultura Adriana DinizO Povo 04/01/04 Sandro vê Botafogo com chances Sem autorO Povo 06/06/03 Por um mundo mais verde Sem autorO Povo 07/01/03 Peritos do INSS vão receber Sem autor

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O Povo 07/01/04 Acidentes ferem 35 Sem autorO Povo 07/01/04 Lei para transporte alternativo dá polêmica Sem autorO Povo 07/01/04 Mãe de Nei Sapo é enterrada Sem autorO Povo 07/01/04 Matou a namorada a facadas por ciúme Sem autorO Povo 07/01/04 Rapaz confessa que matou Adriana DinizO Povo 09/01/04 Bandidos expulsam PM da própria casa Sem autorO Povo 06/03/03 Campanha para reduzir a jornada de

trabalhoSem autor

O Povo 19/12/03 Juliano é o primeiro reforço do flamengo Sem autorO Povo 19/12/03 Ricardo Gomes perde a paciência Sem autorO Povo 19/12/03 Edmundo rompe com o Vasco mais uma

vezSem autor

O Povo 19/12/03 Nenê segue brilhando Sem autorO Povo 29/12/03 Acerto com Castilho é cancelado após

noca confusão na GáveaSem autor

O Povo 29/12/03 Botafogo espera novos parceiros parareforçar o time

Sem autor

O Povo 29/12/03 Euller é confirmado eEspinosa está quaselá

Sem autor

O Povo 29/12/03 Paulistas vencem cariocas e igualam oDesafio na areia

Sem autor

O Povo 29/12/03 Ramon dá sinais de que voltará ao Vasco Sem autorO Povo 31/12/03 Um ano de glórias Sem autor

Quadro 3: Opinião

Jornal Data Título AutorO Globo 01/06/03 Mídia e suicídios Glaucio A. Dillon

SoaresO Globo 01/11/02 Lei de Falências: um enfoque moderno Paulo Cezar AragãoO Globo 01/11/02 Quem paga o ‘gato’? Sérgio MaltaO Globo 02/11/02 Lembrando uma visita D. Eugenio de

Araujo SalesO Globo 02/11/02 Lula e Lulas Olavo de CarvalhoO Globo 03/11/02 Voltando, sem muita convicção João Ubaldo RibeiroO Globo 03/11/03 Cachorros loucos Merval PereiraO Globo 04/10/02 Máscaras, tragédia e política Tite De LamareO Globo 19/02/04 É hora de reforma política Eduardo Eugenio

Gouvêa VieiraO Globo 19/02/04 O difícil ofício de democrata Marcio Moreira

AlvesO Globo 21/10/02 Quem tem medo de Regina Duarte? Lourdes SolaO Globo 21/10/02 Uma Alca sem atropelos Nelson Brasil De

Oliveira

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O Globo 22/01/03 Desordem urbana Gilberto VelhoO Globo 22/01/03 Início de uma amizade histórica Klaus Platz e

Richard BarbeyronO Globo 23/02/04 Bolchevismo tupiniquim Denis Lerrer

RosenfieldO Globo 25/10/02 O fim (de semana) Paulo Gouvêa

VieiraO Globo 26/03/03 A tradição petista é um bom caminho Elio GaspariO Globo 27/10/02 A vida real Merval PereiraO Globo 27/10/02 Ciência e consciência Marco MacielO Globo 28/10/02 A censura e as trevas Ricardo Cravo

AlbinO Globo 28/10/02 Brasil: um novo desafio Francisco Antunes

Maciel MüssnichO Globo 29/03/03 Denúncia assombrosa Olavo de CarvalhoO Globo 29/10/02 Um patrimônio do Estado brasileiro Luiz Felipe

LampreiaO Globo 04/10/02 Um gringo vê as eleições Claus HeckingJB 01/11/02 Depois da Eleição Newton RodriguesJB 01/11/02 Está na hora de viajar Villas Bôas CorrêaJB 01/11/02 O quebra-cabeças Maria Lúcia DahlJB 02/06/03 Como esses primitivos Luís Edgar de

AndradeJB 02/06/03 Controle Externo do Judiciário Hélio BicudoJB 02/06/03 Debandada de cérebros Noel de CarvalhoJB 23/10/02 Falta de dedo não é deficiência para TJ Sem autorJB 02/06/03 Lula e o enigma do dragão celeste Miguel BorgeJB 02/06/03 O empreendedorismo e as prefeituras Celina Amaral

PeixotoJB 02/06/03 Salvem nossas sardinhas! Marcos Barros PintoJB 03/03/03 Bem pior que a encomenda Dora KramerJB 03/06/03 Medo do melhor Nelson HoineffJB 03/06/03 Misterioso vídeo de Fidel para Tancredo Deonísio da SilvaJB 05/03/04 ‘Annus terribilis’ Jose SarneyJB 05/03/04 O esforço fiscal do Estado do Rio Henrique BellúcioJB 05/03/04 Ressonância Schumann Leonardo BoffJB 06/03/04 Para onde mesmo? Newton RodriguesJB 06/03/04 Respeito à vida Dom Eugenio SalesJB 07/03/04 Complicações à vista Antônio Ermírio de

MoraesJB 07/03/04 Dois segundos mandatos em questão Gilberto PaimJB 07/03/04 Ética e/ou política? Emir SaderJB 07/03/04 Hora de mudar o azimute Gaudêncio TorquatoJB 09/03/04 Luma, a pátria de biquíni e blusinha Deonísio da SilvaJB 09/03/04 Por que reforma política Ronaldo Caiado

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Extra 02/01/04 Saindo do buraco João AreosaExtra 02/09/04 Deus e o diabo Cláudio Mello e

SouzaExtra 05/01/04 Batendo com arte João AreosaExtra 07/01/04 De boca aberta João AreosaExtra 10/01/04 Limpando o ninho João AreosaExtra 11/03/04 O time do Abedí Cláudio Mello e

SouzaExtra 15/03/04 Olha a poeira João AreosaExtra 16/01/04 Copa sob suspeita João AreosaExtra 17/01/04 Bravos chilenos João AreosaExtra 17/03/04 Golpe de mestre João AreosaExtra 18/03/04 Fotos não reveladas Cláudio Mello e

SouzaExtra 18/12/03 Profissionalismo Cláudio Mello e

SouzaExtra 19/01/04 Diego neles! João AreosaExtra 19/03/04 Deve ser gozação João AreosaExtra 21/01/04 Soltem os touros! João AreosaExtra 21/12/03 Velho futebol jovem Cláudio Mello e

SouzaExtra 22/03/04 Domingo de peladas João AreosaExtra 23/03/04 O bebê de Rosemary Cláudio Mello e

SouzaExtra 24/03/04 A enquete João AreosaExtra 25/08/04 Sim e não Cláudio Mello e

SouzaExtra 26/08/04 Não deu para convencer Cláudio Mello e

SouzaExtra 29/12/03 O Salvador João AreosaExtra 30/08/04 Azar é o deles João AreosaExtra 31/08/04 No país dos Policarpos Cláudio Mello e

SouzaO Povo 01/05/03 Feriado tem boa programação Hércules BragaO Povo 01/11/03 Clássico Octávio Dupont Hércules BragaO Povo 02/05/03 Temporada hípica definida Hércules BragaO Povo 03/05/03 Potros decidem liderança Hércules BragaO Povo 04/05/03 Equilibrando o criterium Hércules BragaO Povo 05/05/03 Pules boas podem acontecer Hércules BragaO Povo 08/05/03 Semana de ótimos programas Hércules BragaO Povo 08/11/03 Prova Especial e Handicap Hércules BragaO Povo 09/05/03 Bonificações são atraentes Hércules BragaO Povo 10/05/03 Clássico e grande prêmio Hércules BragaO Povo 11/05/03 Gávea tem show de emoções Hércules BragaO Povo 12/05/03 Pesos especiais é atração Hércules Braga

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O Povo 15/11/03 Sabatina bem equilibrada Hércules BragaO Povo 17/05/03 Prova Especial Hércules BragaO Povo 19/05/03 Muitos páreos de claiming Hércules BragaO Povo 23/05/03 Reunião muito eqüilibrada Hércules BragaO Povo 25/05/03 Handicap e pesos especiais Hércules BragaO Povo 26/05/03 Noturna promete boa renda Hércules BragaO Povo 27/01/03 Noturna está equilibrada Hércules BragaO Povo 28/10/03 Movimento surpreendente Hércules BragaO Povo 29/05/03 Campeão segue disparando Hércules BragaO Povo 30/05/03 Quinexata ainda é atração Hércules BragaO Povo 31/01/03 Bonificações ainda atraem Hércules BragaO Povo 31/05/03 GP vai atrair turistas Hércules Braga

Quadro 4: Editorial

Jornal Data Título AutorO Globo 01/10/02 Discurso revisto Sem autorO Globo 01/11/02 Austeridade Sem autorO Globo 02/11/02 Modernização Sem autorO Globo 03/11/03 Sem drama Sem autorO Globo 03/11/03 Sharom sozinho Sem autorO Globo 04/10/02 Contra o medo Sem autorO Globo 04/10/02 Dar exemplo Sem autorO Globo 16/01/03 Clima favorável Sem autorO Globo 16/01/03 Todos iguais Sem autorO Globo 17/01/03 Base legal Sem autorO Globo 18/01/03 Menos pobres Sem autorO Globo 18/10/02 Arma do bem Sem autorO Globo 18/10/02 Celas adequadas Sem autorO Globo 19/10/03 Rápida e eficiente Sem autorO Globo 20/10/02 Além de Saddam Sem autorO Globo 20/10/02 Rombo no casco Sem autorO Globo 21/10/02 Precipitação Sem autorO Globo 22/01/03 Reféns do clima Sem autorO Globo 22/01/03 Sem desculpas Sem autorO Globo 22/10/02 Sem retrocesso Sem autorO Globo 22/10/02 Tudo por fazer Sem autorO Globo 25/10/02 Resposta agrícola Sem autorO Globo 28/10/02 Os desafios Sem autorO Globo 29/03/03 Fim de privilégios Sem autorJB 01/11/02 Boa vontade Sem autorJB 01/11/02 Mercado paralelo Sem autorJB 01/11/02 O Inimigo nº 1 Sem autorJB 02/06/03 Conselho da paz Sem autorJB 02/06/03 Viés do passado Sem autor

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JB 03/06/03 Coragem para mudar Sem autorJB 03/06/03 Função política Sem autorJB 03/06/03 Visão realista Sem autorJB 05/10/02 Os cinco desafios Sem autorJB 07/06/03 Contra o pecado Sem autorJB 07/06/03 Cumplicidade geral Sem autorJB 08/06/03 A segunda onda Sem autorJB 08/06/03 Futuro definido Sem autorJB 17/09/02 À margem da lei Sem autorJB 17/09/02 Paraíso em chamas Sem autorJB 17/09/02 Perdendo a cara Sem autorJB 20/10/02 Corrupção blindada Sem autorJB 20/10/02 Oportunidade histórica Sem autorJB 21/10/02 Choro de derrotado Sem autorJB 21/10/02 Conquista social Sem autorJB 27/10/02 A Rosa do Povo Sem autorJB 29/10/02 Esperança sem medo Sem autorJB 29/10/02 Expectativa e Sensatez Sem autorJB 31/10/02 Sinais positivos Sem autorExtra 01/01/04 Sem título Sem autorExtra 02/01/04 Sem título Sem autorExtra 04/01/04 Sem título Sem autorExtra 05/01/04 Sem título Sem autorExtra 06/01/04 Sem título Sem autorExtra 07/01/04 Sem título Sem autorExtra 08/01/04 Sem título Sem autorExtra 09/01/04 Sem título Sem autorExtra 10/01/04 Sem título Sem autorExtra 11/01/04 Sem título Sem autorExtra 12/01/04 Sem título Sem autorExtra 13/01/04 Sem título Sem autorExtra 15/01/04 Sem título Sem autorExtra 16/01/04 Sem título Sem autorExtra 17/01/04 Sem título Sem autorExtra 17/12/03 Sem título Sem autorExtra 18/01/04 Sem título Sem autorExtra 18/12/03 Sem título Sem autorExtra 19/01/04 Sem título Sem autorExtra 19/12/03 Sem título Sem autorExtra 20/01/04 Sem título Sem autorExtra 21/12/03 Sem título Sem autorExtra 29/12/03 Sem título Sem autorExtra 31/12/03 Sem título Sem autorO Povo 19/12/03 Puxadinhos são vetados Sem autorO Povo 01/12/03 Em pauta novamente Sem autor

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O Povo 02/01/04 Pedidos de Ano novo Sem autorO Povo 03/01/04 Férias reduzidas Sem autorO Povo 04/01/04 Problemas antigos Sem autorO Povo 05/01/04 Enxugando gelo Sem autorO Povo 06/01/04 Feriado prlongadíssimo Sem autorO Povo 08/01/04 Ninguém quer ser professor Sem autorO Povo 09/01/04 Faca de dois gumes Sem autorO Povo 11/01/04 Poder paralelo Sem autorO Povo 12/01/04 O mapa da mina Sem autorO Povo 13/01/04 PMDB e a reforma Sem autorO Povo 14/01/04 Desrespeito continua Sem autorO Povo 15/01/04 Excesso de hospitalidade Sem autorO Povo 16/01/04 Recursos para a Saúde Sem autorO Povo 16/12/03 Novas zonas eleitorais Sem autorO Povo 17/01/04 Reforço de caixa Sem autorO Povo 17/02/04 O projeto afro-ascendente Sem autorO Povo 18/01/04 Vergonha para a família Sem autorO Povo 18/12/03 Verba para saneamento Sem autorO Povo 19/01/04 Policiais de parabéns Sem autorO Povo 22/01/04 Polícia unificada Sem autorO Povo 29/12/03 Dias melhores Sem autorO Povo 30/12/03 O retrato do desemprego Sem autor

Quadro 5: Crônica

Jornal Data Título AutorO Globo 01/06/03 Privilégios da terceira idade João Ubaldo RibeiroO Globo 01/10/02 Dar-se conta VeríssimoO Globo 01/11/02 Depois do banho VeríssimoO Globo 02/11/02 Grande Loredano VeríssimoO Globo 02/11/02 Lula no coração do Brasil Zuenir VenturaO Globo 03/06/03 Bandidos, vítimas e carteiros Luiz GarciaO Globo 03/10/02 Melada VeríssimoO Globo 03/11/03 A russa do Maneco VeríssimoO Globo 04/10/02 O que vem por aí VeríssimoO Globo 05/10/02 Crônica do medo geral Zuenir VenturaO Globo 05/10/02 A reinauguração VeríssimoO Globo 10/09/02 Onze do nove (um) VeríssimoO Globo 11/09/02 Onze do nove (dois) VeríssimoO Globo 12/09/02 Onze do nove (três) VeríssimoO Globo 16/08/02 De Bob Fleming a Joe Bean VeríssimoO Globo 17/01/03 Petróleo solto, arroz grudento Luiz GarciaO Globo 18/01/03 Cacá é brasileiro Zuenir VenturaO Globo 18/10/02 Interação (2) VeríssimoO Globo 19/10/02 Contra o medo, Fernando Henrique Zuenir Ventura

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O Globo 19/10/02 Da ironia VeríssimoO Globo 20/10/02 A mosca no nariz VeríssimoO Globo 20/10/02 Sobre a patrulha ideológica Arthur XexéoO Globo 21/10/02 Amedrontado Mauro RasiO Globo 22/10/02 Falta de prática VeríssimoJB 03/09/02 A língua, acima e abaixo da superfície MillôrJB 04/03/04 Loteria, bingo e lavagem de dinheiro Ives Gandra da

Silva MartinsJB 04/03/04 O Brasil patinou em 2003 Antônio Corrêa de

LacerdaJB 04/03/04 O Ipês e a ideologia do golpe Denise AssisJB 04/09/02 A língua, abaixo e acima da superfície MillôrJB 05/10/02 Sem título MillôrJB 06/03/04 A mentira alimenta o crime Denise FrossardJB 06/03/04 Nações e ludologia Alberto DinesJB 08/03/04 Mulher para sempre Heloneida StudartJB 08/03/04 Perdas e ganhos Lúcia VâniaJB 08/03/04 Umas e outras Maria Clara L.

BingemerJB 09/03/04 Luma, a pátria de biquíni e blusinha Deonísio da SilvaJB 09/03/04 Por que reforma política Ronaldo CaiadoJB 09/03/04 Rodízio de auditores - para que serve Hugo Rocha BragaJB 18/10/02 Sem título MillôrJB 19/10/02 A bíblia fala da sucessão MillôrJB 20/10/02 Por um Brasil sem medo Fritz UtzeriJB 21/10/02 Resposta talvez ambígua MillôrJB 22/10/02 Sem título MillôrJB 23/10/02 William Shakespeare fala sobre a sucessão MillôrJB 25/10/02 Sem título MillôrJB 27/08/02 Sem título MillôrJB 27/10/02 Sem título MillôrJB 29/10/02 Sem título MillôrO Povo 01/11/03 Finados José Carlos NettoO Povo 03/01/04 Samba em busca da rendenção José Carlos NettoO Povo 04/110/3 Sinteco José Carlos NettoO Povo 06/01/04 Império Serrano José Carlos NettoO Povo 06/11/03 Comemoremos José Carlos NettoO Povo 08/01/04 20 anos Banda da Barra José Carlos NettoO Povo 08/11/03 Cidade do Samba José Carlos NettoO Povo 11/03/04 Cabelo em pé José Carlos NettoO Povo 11/11/03 Degraus da felicidade José Carlos NettoO Povo 13/01/04 Império na Avenida José Carlos NettoO Povo 13/04/04 Monarco José Carlos NettoO Povo 13/11/03 Terreirão do Samba José Carlos NettoO Povo 15/01/04 Fiel leitor José Carlos Netto

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O Povo 15/11/03 O samba e o turismo José Carlos NettoO Povo 16/02/04 Boatos José Carlos NettoO Povo 16/03/04 Quesitos José Carlos NettoO Povo 17/01/04 Comunidades José Carlos NettoO Povo 18/03/04 Júri Inédito José Carlos NettoO Povo 18/11/03 O melhor samba José Carlos NettoO Povo 18/12/03 Debutantes José Carlos NettoO Povo 20/01/04 Saravá, Bastião José Carlos NettoO Povo 20/04/04 Seu Juvenal José Carlos NettoO Povo 22/01/04 Carnaval de rua José Carlos NettoO Povo 23/03/04 O desempate José Carlos Netto

As cartas, que tratam de assuntos bastante diversificados, envolvem diversos autores dos

jornais “O Globo”, “ JB” e “Extra”.

Dadas as características inerentes a cada um dos gêneros, um ponto que será melhor

desenvolvido na seção 5.3.5, eles possuem diferente extensão, como mostram os quadros 6 e 7,

em que contabilizamos a frequência type, número de palavras distintas, e a frequência token, que

considera todas as ocorrências de todas as palavras21:Quadro 6: Extensão da amostra jornalística

AmostraNúmero de types 70.715Número de tokens 721.743

Quadro 7: Extensão da amostra jornalística por gênero

Notícia Opinião Editorial Crônica CartaNúmero de types 11.266 16.494 9.606 11.891 13.370Número de tokens 14.274 166.010 12.821 228.050 102.989

Como mostra o quadro 7, há diferenças na extensão da amostra de cada um dos gêneros.

Os textos de crônica, opinião e cartas são mais extensos do que as notícias e editoriais.

Acreditamos, no entanto, que esta diferença não interfira na análise, uma vez que se pode

pressupor que o aspecto mais relevante envolva os objetivos sócio-comunicativos do texto.

21 Para obter tais resultados, foi feita a concordância da Amostra de escrita, através do programa Concordance,versão 3.2, desenvolvido por R.J. C. Watt

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4.2- Procedimentos metodológicos

Como explicitado anteriormente, o objetivo deste trabalho é estudar a ordenação de

circunstanciais de tempo e lugar no português escrito, sob duas perspectivas diferentes: a- a

posição não marcada dos sintagmas preposicionais de tempo e lugar em orações nas quais ocorre

um único circunstancial e b- a ordenação dos Spreps circunstanciais em orações nas quais

ocorrem dois ou mais circunstanciais, sejam da mesma classe semântica, sejam de categorias

semânticas distintas.

A primeira perspectiva de análise, dada a acentuada flexibilidade de posição dos

circunstanciais, exigiu alguns recortes, no que diz respeito às variantes consideradas no estudo.

Ainda que com o risco de ignorar alguns aspectos, optamos, numa primeira etapa da análise, por

focalizar a posição dos circunstanciais de tempo e lugar a partir de quatro posições: margem

esquerda da oração, inserido entre sujeito e verbo, inserido entre verbo e objeto e margem direita

da oração. Essa delimitação nos permite depreender a distribuição mais geral dos padrões

possíveis de ordenação dos constituintes em análise e verificar a convergência entre os resultados

deste estudo e de outros que já atestaram a tendência de constituintes adverbiais nas periferias da

oração e sua restrição em posições que rompem adjacência entre o verbo e seus argumentos (Cf.

PAIVA, 2002, 2003, COSTA, 2004, SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, CEZÁRIO et alii,

2005 a/b, BRASIL, 2005, LESSA, 2007).

Numa segunda etapa, procedemos a análise binária, concentrada na alternância entre as

margens direita e esquerda da oração. Este procedimento permite verificar o efeito dos grupos de

fatores postulados sobre a posição não marcada de cada uma das classes de circunstanciais e os

contextos que permitem a instanciação das formas de ordenação menos frequentes.

Partindo do pressuposto de que a ordenação dos circunstanciais envolve a conjugação de

princípios de níveis distintos (sintáticos, semânticos e discursivos), foram postulados grupos de

fatores que, em geral, procuram dar conta da natureza multifatorial de fenômenos de ordenação

de constituintes. Através desses grupos de fatores, procuramos identificar os contextos

associados a um padrão não marcado de ordenação, partindo do princípio de que a ordem

marcada desses constituintes está associada a contextos discursivamente marcados.

No nível morfossintático são analisados os seguintes grupos de fatores:

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1- Estrutura argumental do verbo

Verbo de um argumento (intransitivo)Verbo inacusativoVerbo com dois ou mais argumentosVerbo com complemento anáfora zeroVerbo de ligação

2- Forma de realização do sujeito

Sujeito preenchido anteposto ao verboSujeito preenchido posposto ao verboSujeito nulo de 1ª e 2ª pessoaSujeito nulo de 3ª pessoaSujeito indeterminado ou oração sem sujeito22

No nível semântico, são consideradas as nuances de significado inerentes aos

circunstanciais, e, ainda, o tipo de processo codificado na oração.

3- Tipo semântico do circunstancial temporal

CalêndricoDelimitativoSegmentativo de posterioridadeSegmentetivo de anterioridadeDurativoPosição fixa numa escala temporal

4- Tipo semântico do circunstancial locativo23

Posição fixaDirecionalEspaço metaforizado

5- Tipos de processo verbal

Processos materiaisProcessos mentaisProcessos relacionaisProcessos comportamentaisProcessos verbaisProcessos existenciais

22 Estou considerando apenas o sujeito indeterminado como descrito nas gramáticas normativas.23 Já havia feito uma classificação mais extensa na iniciação científica, incluindo, por exemplo, origem e destino,mas não houve diferença nos dados.

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Hipóteses centrais desse estudo envolvem a correlação entre a posição do circunstancial,

principalmente nas margens da oração, e a função que eles desempenham. Essa correlação é

analisada através do grupo:

6- Função discursiva do circunstancial

Predicação24

Segmentação tópicaFocalizaçãoContrasteDemarcação de pontos de um continuumRetomada anafórica

Outras hipóteses, que envolvem, inclusive, a importância do princípio peso final, são

verificadas através do controle da extensão dos Spreps circunstanciais.

7- Extensão do circunstancial

Uma ou duas palavrasTrês ou quatro palavrasCinco ou seis palavrasSete, oito ou nove palavrasDez ou mais palavras

Consideramos o gênero textual em que ocorre o circunstancial, a fim de verificar as

possíveis diferenças na distribuição textual de diferentes formas de ordenação. Para tanto,

mantivemos a classificação definida já proposta na própria organização da Amostra de Textos

midiáticos.

8- Gênero textual

NotíciaOpiniãoEditorialCrônicaCarta

Finalmente, consideramos o tipo de jornal em que os circunstanciais ocorrem.

24 A predicação não é uma função discursiva, mas indica que o circunstancial está inserido na predicação verbal enão assume uma função marcada no discurso.

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9- Tipo de Jornal

JBO GloboExtraPovo

Na condução da análise, os sintagmas preposicionais de tempo e de lugar foram tratados

separadamente, sob o prisma de todos os grupos de fatores especificados acima. Tal

procedimento foi adotado com dois objetivos: a- depreender as possíveis especificidades de cada

uma das classes semânticas no que se refere à sua ordem não marcada e b- identificar os grupos

de fatores de efeito mais sistemático e independente das possíveis especificidades na ordem mais

frequente de cada categoria semântica de circunstancial.

A segunda perspectiva de análise, ou seja, a da sequenciação relativa das três categorias

semânticas focalizadas (tempo, modo e lugar)25 exigiu outro recorte para um tratamento

variacionista. A variável dependente, aqui, são diferentes possibilidades de sequenciação: tempo-

modo, modo-tempo, lugar-modo, modo-lugar, tempo-lugar, lugar-tempo, tempo-modo-tempo,

tempo-lugar-tempo, tempo-lugar-modo, tempo-modo-lugar e modo-lugar-tempo. O objetivo

principal é verificar a ação de alguns princípios sobre a sequenciação preferencial desses

constituintes.

Uma questão importante em relação à ordem relativa dos circunstanciais é a extensão.

Partindo do princípio de que constituintes menores tendem a anteceder constituintes com maior

material linguístico, e de que informações velhas tendem a vir primeiro numa oração (Cf.

WASOW, 1997), supomos que Spreps mais pesados e menos previsíveis ocorram após Spreps

mais leves e que tragam informação nova ao contexto em que se inserem.

Para a verificação das hipóteses mais especificamente relacionadas à sequenciação de

circunstanciais de tempo, modo e lugar, são considerados os seguintes grupos de fatores:

1-Posição dos circunstanciais

2 ou mais na margem esquerda (ME)1ou mais em ME e 1 ou mais na margem direita (MD)2 ou mais em MD1entre sujeito e verbo (SV) e 1 em ME

25 Decidimos adicionar a categoria de modo na análise de ordenação relativa, dada sua influência nessa ordenação(Cf. HAWKINS 2000, PAIVA 2008).

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1ou mais entre SV e 1ou mais em MD1ou mais entre verbo e objeto (VO) e 1 ou mais em ME1entre VO e 1 ou mais em MD2 entre VO2 entre SV

2- Estrutura argumental do verbo

Verbo de um lugarVerbo transitivo com 2 argumentos com objeto não realizadoVerbo de ligação com predicativoVerbo transitivo com dois argumentos com objeto realizado

3- Tipos de processo verbal

Processos materiaisProcessos mentaisProcessos relacionaisProcessos comportamentaisProcessos verbaisProcessos existenciais

4- Função sintática26

Circ CircCirc ArgArg CircArg Arg

5- Extensão do circunstancial

T>LL>TM>LL>MT>MM>TMesma extensãoTrês Spreps

6- Gênero textual

Notícia

26 Circ = circunstancial; Arg = argumental

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OpiniãoEditorialCartaCrônica

7- Tipo de jornal

J – JBG- O GloboE- ExtraP- Povo

Na primeira perspectiva de análise, a que considera apenas um circunstancial, adotamos

uma análise multivariacional, cujos resultados estatísticos foram obtidos através do pacote de

programas GOLDVARB (2001) que, além das frequências, fornece os pesos relativos associados

a cada fator, assim como a relevância estatística de cada grupo. Além disso, esse programa

possibilita operacionalizar cruzamentos entre os diversos grupos de fatores, permitindo, assim,

identificar possíveis superposições no efeito de dois grupos de fatores. Esta análise

multivariacional se concentrou na variação dos circunstanciais entre as margens da oração

(margens esquerda e direita), já que, como discutiremos no capítulo seguinte, estas são as

posições preferenciais dos circunstanciais locativos e temporais.

Na segunda perspectiva, a que focaliza as diferentes formas de sequenciação de

circunstanciais de mesma categoria ou de categorias semânticas distintas, a análise foi processada

principalmente através do cruzamento entre grupos de fatores, com o objetivo de verificar a

distribuição dos dados.

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5 – RESTRIÇÕES À POSIÇÃO VARIÁVEL DE SPREPS TEMPORAIS E LOCATIVOS

Neste capítulo, focalizamos as orações em que ocorre apenas um circunstancial, locativo

ou temporal. Como já vimos no capítulo 3, a ordem de circunstanciais envolve duas faces

aparentemente contraditórias: de um lado, contextos em que se verifica uma ordem rígida ou

fortes restrições à mobilidade desses constituintes e, por outro, contextos variáveis. Dessa forma,

em primeiro lugar, tecemos algumas considerações a respeito das restrições que, em alguns casos,

impedem ou limitam fortemente a mudança de ordem de um circunstancial locativo ou temporal.

Esses dados foram, necessariamente, excluídos da análise multivariacional.

A seguir, analisamos mais detidamente os contextos de variação, verificando a

distribuição das diferentes posições possíveis e as configurações sintagmáticas que delas

resultam. Nesta parte da análise, discutimos o efeito dos grupos de fatores mais relevantes,

destacando restrições morfossintáticas, semânticas, discursivas assim como as diferenças ligadas

ao gênero textual. Nesta etapa, consideramos, inicialmente, quatro posições possíveis (margem

esquerda, posição entre sujeito e verbo, posição entre verbo e complemento e margem direita),

embora conscientes de que essa delimitação é simplificadora, na medida em que outras

possibilidades de ordenação são possíveis27. Numa segunda etapa, a análise se concentra nas

posições periféricas da oração, a margem direita e a margem esquerda, já que essas se destacam

como as posições preferenciais para os dois tipos de circunstanciais analisados.

5.1- Limitações à flexibilidade na posição dos circunstanciais

A flexibilidade na posição de sintagmas preposicionais de tempo e lugar, que podem

ocupar diversas posições na sentença, já foi constatada por diversos autores, para diferentes

línguas (Cf. QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1992, MARTELOTTA, 1994, MURCIA &

FREEMAN, 1999, BESTGEN & VONK, 2000, HAWKINS, 2000; VILELA e KOCH, 2001;

CUNHA e CINTRA, 2001; PAIVA, 2002, 2003; 2007, 2008c, AUSTIN et alii, 2004, SHAER,

2004; CEZÁRIO et alii, 2004; BRASIL, 2005; LESSA, 2007). No entanto, há contextos em que,

seja por razões estruturais seja por razões semânticas, não há possibilidade de alteração na ordem

27 Algumas outras possibilidades de ordenação são: S V (X) (X) Circ Comp, S (X) V Circ (X)(X), (X) V Comp ou (X) Circ S, (X) V Comp ou (X) Circ Comp, em que X significa um outroconstituinte adverbial.

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do Sprep circunstancial. Nesta seção, discutimos alguns desses contextos, identificados a partir da

análise do corpus.

Uma primeira situação a considerar diz respeito aos casos em que o Sprep temporal ou

locativo é parte integrante de expressões cristalizadas, ou seja, construções em que o significado

do todo não corresponde ao significado das partes. A expressão como um todo adquire um novo

significado, na maioria dos casos, metafórico.

(12) Foi o suficiente para a especulação ganhar fôlego, fazer barulho, derrubar amoeda para níveis artificializados, e colocar em dúvida a capacidade de o governo,atual ou futuro, manter a economia nos trilhos. (JB 29/10/2001 - Editorial)

No exemplo (12), não podemos interpretar o Sprep nos trilhos como o lugar onde se deve

manter a economia, em razão da sua interdependência com o verbo a que está ligado. É a

expressão como um todo que significa “manter a economia dentro dos padrões estabelecidos”.

Nesse caso, uma alteração na ordem do Sprep locativo acarretaria a perda desse significado.

Além disso, exigiria uma movimentação de toda a unidade constituída por V + SPrep.

Um outro contexto em que a flexibilidade dos Spreps circunstanciais fica comprometida é

aquele em que esses constituintes estão ligados a uma nominalização, como em 13:

(13) É ostensivo o movimento de pinça dos EUA sobre os países da AméricaLatina. O México foi o primeiro alvo com o Nafta, que inclui o Canadá. Maisrecentemente, a Casa Branca aproximou-se de El Salvador e abriu as asas sobre aAmérica Central. Apesar das rusgas em função da Guerra do Iraque, o acordo bila-teral com o Chile avança. Equador e Colômbia são aliados, e o Uruguai está dejoelhos à espera de um aceno americano. (JB – 02/06/2003 - Editorial)

No exemplo 13, o Sprep sobre os países da América Latina está ligado ao nome

movimento, ou seja, o escopo do Sprep fica restrito à nominalização, o que impede alterar sua

posição sintagmática. Qualquer movimento do Sprep implica, necessariamente, um movimento

do SN no qual o Sprep está encaixado (O movimento de pinça dos EUA sobre os países da

América Latina é ostensivo).

Maior fixação de ordem ocorre também em orações nas quais o Sprep circunstancial

constitui o núcleo de uma oração relativa, como em

(14) Faltam alguns detalhes no contrato da Petrobrás, que será renovado, para ossalários se acertarem - disse Szpiro, sobre os meses de novembro e dezembroainda em dívida. (Extra – 08/01/2004 – Notícia)

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No exemplo 14, o Sprep no contrato da Petrobrás introduz um referente que é retomado

através de uma oração relativa. Nesse caso, o movimento do Sprep implicaria um movimento

também da oração relativa, a fim de garantir a proximidade entre o referente e o elemento

relativizador. Além disso, a expansão do núcleo nominal por uma oração relativa resulta em um

constituinte de maior extensão, submetendo-se a restrições impostas pelo princípio de peso final

(Cf. QUIRK et alii, 1985) que, como já mostraram diversos autores (HAWKINS, 2000,

WASOW, 1997, 2002, LOHSE, 2003, PAIVA, 2012), favorece a posição do circunstancial em

posição final.

Uma outra configuração estrutural que limita a mobilidade dos Spreps de tempo e lugar

pode ser exemplificada por (15), ou seja, o constituinte circunstancial ocorre em uma oração

passiva.

(15) Alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano são disputados nodomingo, sendo que um é à noite. ( O Globo – 04/03/2004 – Notícia)

O Sprep no domingo possui escopo na forma participial do verbo principal (disputados).

Uma possível movimentação do Sprep está atrelada ao movimento de todo o sintagma verbal, a

fim de preservar seu significado. Em algumas possibilidades posicionais, como a margem

esquerda da oração (No domingo, alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano são

disputados) o circunstancial se investe de um valor restritivo que não possui em outras

possibilidades (São disputados no domingo alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano).

Dados como os que foram brevemente discutidos nesta seção não entraram na análise

multivariacional, visto que não se enquadram no conceito de variação.

5.2- Distribuição das posições dos circunstanciais

Como já explicitado na introdução deste capítulo, optamos por considerar, inicialmente,

quatro possibilidades de posição dos circunstanciais, a saber: margem esquerda (ME), posição

entre sujeito e verbo (PM1), posição entre verbo e complemento (PM2) e margem direita (MD),

exemplificadas a seguir:

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Margem esquerda:

(16) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. (JB – 02/03/2006 – Opinião)

(17) Depois das 23h, essa praça fica deserta. (O Globo – 23/10/2002 – Notícia)

Posição entre sujeito e verbo:

(18) Todos na secretaria de Corridas colaboram para a confecção de bonsprogramas. ( Povo -05/05/2003 - Opinião)

(19) Bem fez o presidente Lula, que, em seu encontro com o colega americanoGeorge W. Bush, exigiu melhor tratamento para os brasileiros que vão aos EstadosUnidos. (Povo – 15/01/2004 – Editorial)

Posição entre verbo e objeto:

(20) Precisamos retirar da face do Rio esta deformada máscara de ferro. (O Globo– 07/03/2004 – Carta)

(21) (...) e (Abel Braga) terá contra a Portuguesa, quinta-feira, o reforço de Felipe.(JB - 08/03/2004 - Notícia)

Margem direita

(22) Os marginais de bom nível econômico e péssimo nível de controle emocional,denominados pit boys, infelizmente voltaram a ser notícia no consagrado JB(20/3), que registrou o inadmissível comportamento violento desses seresdesumanos em boates da Zona Sul. (JB – 22/03/2004 – Carta)

(23) Rafaela, Gizele, Deucilene, Jéssica, Aliliane e outras 25 meninas possuemquatro coisas em comum: fizeram 15 anos no mês de setembro de 2003; (Povo –18/12/2003 – Crônica)

Os resultados relativos à distribuição dos circunstanciais por essas posições são mostrados

nos gráficos 1 e 2, respectivamente para locativos e temporais.

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A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de

circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já

foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,

1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,

2008b, PAIVA et alii, 2007).

A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em

termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por

exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em

orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que

restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,

Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o

verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,

2008b).

Gráfico 1: Distribuição de Spreps Locativospelas 4 Posições

39%

Gráfico 2: Distribuição de SprepsTemporais pelas 4 Posições

61

A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de

circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já

foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,

1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,

2008b, PAIVA et alii, 2007).

A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em

termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por

exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em

orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que

restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,

Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o

verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,

2008b).

16% 3%4%

77%

Gráfico 1: Distribuição de Spreps Locativospelas 4 Posições

ME

PM1

PM2

MD

45%

6%8%

39%

Gráfico 2: Distribuição de SprepsTemporais pelas 4 Posições

ME

PM1

PM2

MD

61

A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de

circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já

foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,

1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,

2008b, PAIVA et alii, 2007).

A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em

termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por

exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em

orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que

restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,

Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o

verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,

2008b).

PM1

PM2

PM1

PM2

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Em relação à fronteira entre sujeito e verbo, diversos autores destacam, sobretudo, uma

restrição ligada à extensão do constituinte circunstancial. É o que explica que essa posição seja

menos restritiva, por exemplo, para advérbios temporais (BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007,

LESSA, 2007) do que para os Spreps. Paiva et alii (op.cit) mostraram que, entre os temporais,

são os aspectuais (sempre, ainda e logo) os mais susceptíveis de ocorrerem nessa posição. Essas

tendências conduzem, naturalmente, para a importância da extensão do constituinte

circunstancial, já que os advérbios são, necessariamente, mais curtos do que os sintagmas

preposicionais. No entanto, mesmo entre os advérbios, são os de menor extensão os que têm

maior chance de se situarem na adjacência esquerda ou direita do verbo, como mostram, por

exemplo, Costa (2004) e, para os locativos, Brasil (op.cit)

Considerando as posições periféricas da oração (margem esquerda e margem direita), os

gráficos 1 e 2 mostram tendências bastante diferenciadas para os locativos e temporais. Os

primeiros predominam nitidamente (77%) na margem direita da oração, enquanto os temporais

apresentam acentuada variação, com 45%, para margem esquerda e 39%, para margem direita. Se

interpretarmos essas tendências em termos do conceito de marcação (GIVÓN, 1995, 2001), com

base no critério de frequência, podemos generalizar uma ordem não marcada para circunstanciais

de lugar. Para os circunstanciais temporais, uma ordem não marcada é menos transparente,

levando a crer que outros aspectos intervêm na forma como esses dois tipos de circunstanciais

variam de posição.

Embora haja evidências para uma oposição binária na ordem dos constituintes

circunstanciais, a existência de outras posições possíveis para esses constituintes sugere a

proposição de hierarquias de marcação diferenciadas para os Spreps temporais e locativos,

conforme o esquema abaixo:

Locativos: MD>ME>posições internas.

Temporais: MD/ME>posições internas.

Uma outra questão a considerar é que os resultados dos gráficos 1 e 2 não levam em conta

a função sintática do circunstancial. Embora os Spreps circunstanciais sejam considerados mais

frequentemente elementos satélites, ou seja, adjuntos, eles podem, em alguns casos, funcionar

como argumentos28 dos verbos a que se ligam (NEVES, 1992, 2000, ILARI et alii, 1989, ILARI,

2001). Os exemplos a seguir são ilustrativos destas duas possibilidades.

28 Ou quase argumentais, como assume Castilho (2010).

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(24) O maior número, evidentemente, veio do próprio Brasil. (O Globo –02/11/2002 – Opinião)

(25) A outra semifinal do campeonato será às 8h45, entre Espanha e Itália. (JB –06/03/2004 – Notícia)

No exemplo 24, o circunstancial do próprio Brasil é subcategorizado pelo verbo vir que,

necessariamente, requer um complemento locativo de origem. Já no exemplo 25, apesar de não

ser transitivo, o verbo ser se comporta como acontecer, indicando tempo nesse caso e exige um

complemento que especifique o momento em que ocorre o estado de coisas. Esses exemplos

ilustram um contexto em que podem operar restrições impostas por um princípio de coesão entre

o verbo e seus argumentos e, assim, é de se esperar que esses circunstanciais gozem de menor

flexibilidade do que aqueles que possuem função não argumental. Em outros termos, adjuntos

admitem maior variação posicional do que termos argumentais. Uma análise que considera essa

distinção é resumida na tabela 1, que considera a função sintática do circunstancial.

Tabela 1: Distribuição de Spreps argumentais e não argumentaispelas 4 posições

Sprep Argumental Não argumentalME PM1 PM2 MD ME PM1 PM2 MD

Lugar 1/165=

2%

1/165=

0%

2/165=

2%

161/165

= 96%

94/435=21%

17/435=

4%

27/435=6%

297/435=69%

Tempo 1/25=4%

- - 24/25=96%

185/390= 47%

23/390=

6%

30/390=8%

152/390= 39%

Observam-se tendências mais gerais, independentes da classe semântica dos

circunstanciais, principalmente para os argumentais: tanto os Spreps locativos como os temporais

se situam quase categoricamente na margem direita da oração, com índices de 96% para cada um

deles. É de se crer que a colocação de circunstanciais argumentais na margem esquerda da oração

apresente similaridades com a movimentação de outros constituintes argumentais como objeto

direto ou indireto. Os exemplos abaixo são ilustrativos:

(26) Entre sete da manhã e meio-dia, por exemplo, a Globo tem 8 pontos e o SBT,7. Em seguida vem a Record, (...). (JB - 03/06/2003 - Opinião)

(27) O que aconteceu foi que ele (Lula) simplesmente desapareceu, arrebatado dohorizonte visível pelo silêncio da mídia, pela omissão covarde ou cúmplice de seus

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concorrentes e, no fim, pela decisiva intervenção censória do Superior TribunalEleitoral.Em seu lugar entrou um ente de ficção, criado pela artes publicitárias de DudaMendonça, lançado no mercado sob o rótulo de “Lulinha Paz e Amor”(...) (OGlobo - 02/11/2002 - Opinião)

No exemplo 26, o Sprep em seguida estabelece um elo com o discurso anterior ao marcar

a posição da Record na hierarquia do Ibope das emissoras de televisão e se localiza na margem

esquerda da oração. No exemplo 27, o Sprep locativo possui uma função específica anafórica e,

apesar de ser argumento do verbo, ocupa a periferia esquerda.

Os resultados para os locativos e temporais com função [-argumental] confirmam as

tendências já observadas nos gráficos 1 e 2: a preferência dos locativos pela margem direita e a

flexibilidade dos temporais pelas duas margens da oração. É interessante notar que quando não

são argumentais, os locativos aumentam um pouco a possibilidade de ocorrerem nas posições

mediais, com índices de 4% para a posição entre sujeito e verbo e 6% para a posição entre verbo

e objeto. Os temporais também propiciam a ocupação de posições mediais com 6% para PM1 e

8% para PM2, mostrando tendência diferente dos argumentais, que não ocorrem nessas duas

posições.

As tendências mais regulares são, portanto, a de concentração de Spreps de lugar e tempo

nas margens da oração e sua restrição em posições internas, como já atestado por diversos autores

(ROCHA, 2001, CALLOU et alii, 2002, SILVA et alii, 2002, MARTELOTTA, 1994, PAIVA,

2002, 2008b, PAIVA et alii, 2007, OLIVEIRA, 2003, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b,

BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007). Essa restrição parece ser translinguística,

funcionando igualmente em outras línguas, como mostra Lessa (op. cit) para os Spreps temporais

em inglês (Cf. também SHAER, op. cit).

As quatro posições consideradas acima resumem diferentes possibilidades de

configuração estrutural dos circunstanciais e, de certa forma, simplificam uma questão mais

complexa. Na verdade, a variação posicional dos Spreps de tempo e lugar pode derivar uma

diversidade de configurações estruturais bastante ampla. Considerando apenas as configurações

mais recorrentes para cada classe semântica (tempo ou lugar), destacam-se nos dados:

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- Lugar

(S) V Comp ou Pred Circ

(28) Depois de meses de semiparalisia por causa da mais lenta reforma ministerialde que se tem notícias, cujas mudanças não mudaram nada, de fato, servindoapenas para acomodar mais um partido na base governista, agora nenhuma folhase move, desde que o escândalo Waldomiro Diniz estourou. (JB – 06/03/2004 –Opinião)

(S) V Circ

(29) Foi vendedor de cocada, amendoim, tapioca e trabalhou como engraxate eentregador de roupa de tinturaria. Mas conseguiu florescer em terreno inóspito.(JB – 27/10/2002 – Editorial)

Circ S V Comp ou pred

(30) No local do crime, a polícia encontrou a pedra, ainda manchada de sangue,que teria sido usada por Rafael para matar o idoso. (Povo – 07/01/2004 – Notícia)

- Tempo

Circ S V Comp ou pred

(31) Durante a solenidade, César Maia anunciou um pacote de obras. (O Globo –24/10/2002 – Notícia)

(S) V Comp ou Pred Circ

(32) Eu salvei o clube do rebaixamento no Brasileiro de 2002. (JB – 08/03/2004 –Notícia)

As configurações comuns às duas classes de circunstanciais são Circ S V Comp ou Pred

e (S) V Comp ou Pred Circ, em que Spreps de tempo e lugar prevalecem nas margens da

oração, confirmando a generalidade dessa tendência.

Focalizando os locativos, percebemos que duas das configurações mais recorrentes para

esses Spreps confirmam a margem direita como sua posição não marcada, reiterando resultados

de outros estudos (PAIVA, 2002, 2008 c, BRASIL, 2005, OLIVEIRA, 2003). Para os temporais,

as configurações reiteram a flexibilidade desses constituintes nas duas margens da oração.

Dada a tendência quase categórica dos circunstanciais que possuem função argumental em

MD, optamos por excluí-los da análise, a fim de proceder a generalizações sobre a variação

desses constituintes pelas margens da oração.

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Examinando os Spreps não argumentais, os índices confirmam a tendência geral mostrada

nos gráficos 1 e 2. Atestamos que os locativos ocupam preferencialmente a margem direita da

oração, com índice de 69%. Para os temporais, não é possível atestar uma ordem não marcada,

em razão da significativa variação desses constituintes pelas periferias da oração, com 47% de

ocupação da margem esquerda e, 39%, da direita. Essa mobilidade dos temporais também já foi

evidenciada em outros trabalhos, em que se verifica ligeira preferência pela margem esquerda da

oração, como atestado por Brasil (op. cit.) e Paiva (2008c), ou pela margem direita, segundo

Gomes (2006) e Lessa (2007). Paiva et alii (2007) mostraram que essa tendência também ocorre

na fala, com 46% de Spreps temporais em ME, 5% entre sujeito e verbo, 22% entre verbo e

objeto e 25% em MD.

Spreps de tempo e lugar nas margens da oração refletem a questão já discutida de ordem

marcada vs não marcada. O conceito de marcação atua aqui de forma a preservar a adjacência

entre o verbo e seus argumentos e está associado a funções no discurso. Optamos, então, por

focalizar a ordenação dos Spreps nas periferias oracionais. Nas seções seguintes, discutimos os

aspectos sintáticos, semânticos e discursivos associados à variação dos circunstanciais entre as

duas periferias.

5.3- A variação entre as margens da oração

Como destacamos na seção anterior, as margens da oração constituem as posições

preferenciais tanto para os locativos como para os temporais. Esta tendência coloca diversas

questões relativas às condições que controlam a oscilação desses constituintes entre as periferias

e merece, a nosso ver, uma atenção especial. Assim, nesta seção, aprofundamos a análise dos

sintagmas preposicionais locativos e temporais nestas duas posições. Discutimos os resultados

dos grupos de fatores que se mostraram mais relevantes para a ordenação de Spreps temporais e

locativos e procuramos interpretá-los à luz do conceito de marcação (GIVÓN, 1995, 2001),

assumido em 2.2.

Uma questão importante se refere a qual das duas periferias tomar como base, ou, em

termos estatísticos, valor de aplicação, para uma análise multivariacional. Em virtude da ordem

não marcada dos locativos ser a margem direita e de os temporais admitirem ampla variação entre

esta e a margem esquerda da oração, decidimos por colocar em foco a margem esquerda. Tal

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procedimento se justifica ainda pelo fato de que a posição mais à esquerda da oração estar mais

frequentemente associada a funções discursivas mais específicas.

Como já foi visto em 1.2, partimos da hipótese de que a variação na ordem dos Spreps

circunstanciais de tempo e lugar sofre a influência de diversos fatores de cunho sintático,

semântico e discursivo. Ao longo das seções seguintes, discutimos os grupos de fatores apontados

como mais relevantes pela análise multivariacional: estrutura argumental do verbo, forma de

realização do sujeito, tipo semântico dos circunstanciais, função discursiva e gênero textual.

Alguns destes grupos são selecionados apenas para um ou outro tipo de circunstancial e outros

para ambos. No entanto, optei por considerar os resultados não selecionados, a fim de verificar a

possibilidade de generalizar o efeito de determinados princípios.

5.3.1- Estrutura argumental do verbo

Como já foi destacado na seção 5.2, a variabilidade na posição de locativos e temporais

pode resultar em diferentes configurações estruturais. E m parte, essas configurações refletem o

tipo sintático de verbo núcleo da oração, o que justifica, portanto, uma análise em separado dessa

propriedade da oração. Lembramos que estão em análise os circunstanciais considerados como

adjuntos, ou seja, não argumentais. Assim, os verbos foram classificados da seguinte forma:

Verbo de um argumento:

(33) Pelo segundo dia após o empate para o Friburguense, o time não treinou. (OGlobo – 06/03/2004 – Notícia)

Verbo inacusativo:

(34) Nesse endereço, falta pavimentação e as galerias pluviais estãocompletamente entupidas. Extra – 18/01/2004 – Carta)

Verbo com dois ou mais argumentos:

(35) Na véspera da ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso paraentregar os projetos de reformas, a televisão mostrou dragões de fogo no céunoturno do Brasil. (JB – 02/06/2003 - Opinião)

Verbo com complemento anáfora zero:

(36) Se não for possível, aí vou conversar com o presidente para tratarmos deoutra alternativa - disse Celso Barros, no início da noite. (O Globo - 04/03/2004 -Notícia)

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Verbo de ligação:

(37) No atual cenário político brasileiro, o palco está armado. (O Globo –04/10/2002 – Opinião)

A hipótese colocada em relação a esse grupo de fatores considera a atuação de princípios

ligados à dependência entre termos nucleares e não nucleares. Embora Cunha (1975), por

exemplo, proponha a precedência sintagmática de termos nucleares em relação a termos não

nucleares, isto é, adjuntos, podemos presumir que, se o complemento de um verbo transitivo for

realizado foneticamente, há maiores chances de que os circunstanciais se desloquem para a

margem esquerda, a fim de manter um equilíbrio na distribuição de constituintes pela oração. Em

orações com complemento anáfora zero, por outro lado, espera-se que os circunstanciais se

situem na margem direita, ocupando a posição vazia deixada pelo objeto anafórico.

Uma outra hipótese diz respeito aos verbos monoargumentais, mais particularmente, aos

inacusativos. Qual o limite na mobilidade dos circunstanciais quando ocupam posições vazias, ao

ocorrerem com verbos intransitivos? Diversos autores (CORNISH, 2001, SANTOS e DUARTE,

2006, SPANO, 2008, PAIVA, 2012) já atestaram que, em estruturas com verbos intransitivos não

inacusativos (sujeito agente), há uma tendência de ocupação da margem direita por

circunstanciais temporais e locativos. No entanto, em orações com verbos inacusativos, haveria

maior chance de ocupação da margem esquerda pelo circunstancial em razão da posposição do

sujeito. Para alguns autores, inclusive, a presença de um constituinte X em ME, resultando na

configuração XVS, é praticamente obrigatória, devido ao fato de que, nessas estruturas, o verbo

subcategoriza um constituinte com o traço [+ locativo] (Cf.COOPMANS, 1989, COELHO, 2000,

CULICOVER e LEVINE, 2001, KATO, 2003, SANTOS e DUARTE, op.cit, SPANO, 2002,

op.cit). Essa tendência abrange os verbos estativos, que se comportam como os inacusativos,

possuindo um argumento extra e que especificam uma localização no tempo e no espaço (Cf.

CARMINATI, 2001).

Retomamos essa hipótese de que Spreps temporais e locativos se movam para a periferia

esquerda em orações com verbos inacusativos e de ligação, a fim de verificar seu alcance

explicativo na amostra de textos jornalísticos analisada.

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Este grupo de fatores foi selecionado tanto para os sintagmas preposicionais temporais

como para os sintagmas preposicionais locativos. Na tabela 2, encontram-se os resultados para os

temporais, em que este grupo foi selecionado no terceiro nível, com grau de significância 0,034.

Tabela 2: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe estrutura argumental do verbo

Estrutura argumental do verbo Frequência Peso RelativoV intransitivo 8/13 = 61% .54V inacusativos 35/56 = 62% .38V c/ 2 ou mais argumentos 108/205 = 52% .51V de ligação 28/41 = 68% .68V c/ complemento anáfora zero 1/9 = 12% .09Total /Input 180/324 = 55% .56

Fazemos aqui uma ressalva quanto ao desequilíbrio na distribuição dos dados, o que,

numa análise multivariacional, coloca alguns problemas quanto às conclusões possíveis. De certa

forma, esse desequilíbrio reflete a distribuição que se verifica na língua, ou seja, o predomínio de

verbos de dois argumentos e o menor número de verbos de 1 argumento ou de ligação.

A tabela 2 permite constatar que os circunstanciais temporais ocupam, preferencialmente,

a margem esquerda da oração em orações com verbos de ligação (.68). Em orações com verbos

de um, dois ou mais argumentos, os Spreps temporais gozam de grande flexibilidade nas duas

margens da oração, com pesos relativos muito próximos de .50, o que contraria nossas

expectativas. Com verbos transitivos cujo objeto aparece na forma de anáfora zero, a tendência é

que os Spreps de tempo se localizem após o verbo, ocupando a posição que ficou vazia, o que

confirma nossa hipótese em relação a essa estrutura.

Se considerarmos o PR, os verbos inacusativos desfavorecem a margem esquerda da

oração (.38). No entanto, o percentual de 62% confirma nossa hipótese de associação dos

circunstanciais e margem esquerda com verbos inacusativos. A inversão de peso relativo nesses

resultados ocorre devido à superposição entre a estrutura argumental do verbo e o tipo de sujeito,

porque a maioria dos verbos inacusativos ocorrem com sujeito posposto, como veremos na

próxima seção.

A tendência observada para os temporais se reitera apenas em parte na análise dos

locativos, para os quais o grupo estrutura argumental do verbo foi selecionado no nível 4, com

significância 0,040, como mostra a tabela 3:

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Tabela 3: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe estrutura argumental do verbo

Estrutura argumental do verbo Frequência Peso RelativoV intransitivo 3/42 = 7% .20V inacusativos 25/63 = 39% .56V c/ 2 ou mais argumentos 44/179 = 24% .53V de ligação 19/47 = 40% .60V c/ complemento anáfora zero 0/12 = 0% -Total /Input 93/333= = 27% 0.20

Em termos absolutos, como já vimos na seção 5.2, as chances de locativos na margem

esquerda da oração são significativamente menores do que a de temporais. No entanto, essa

posição é favorecida sob condições semelhantes às que destacamos para os temporais: com

verbos de estado, os locativos tendem a ocupar a margem esquerda da oração (.60). Em orações

com verbos de dois ou mais argumentos, há uma ligeira redução (.53) no índice de anteposição,

mas não chega a haver diferença significativa em relação aos verbos inacusativos (.56).

Com os verbos de um argumento, é onde se observa o índice mais baixo de locativos em

ME (.20), indicando que, nesses casos, esses constituintes mantêm sua posição defaut, ou seja, a

margem direita da oração. Confirmando as expectativas, em orações com verbos transitivos com

objeto nulo, os locativos se situam categoricamente na margem direita da oração o que pode ser

consequência de um princípio de equilíbrio, ou seja, de distribuir constituintes pelas diversas

posições na oração.

O comportamento dos verbos inacusativos e dos intransitivos, para os locativos, é bem

diferente, o que confirma as especificidades dos primeiros. No entanto, esperava-se efeito mais

saliente dos verbos inacusativos do que o que se pode constatar na tabela 3 (.56). É possível que a

menor nitidez desse fator, neste caso, possa ser decorrência da superposição inevitável entre os

grupos estrutura argumental e tipo de sujeito, uma questão que é retomada na seção seguinte.

5.3.2- Forma de realização do sujeito

A possibilidade de correlação entre o tipo de sujeito da oração e posição de constituintes

circunstanciais é uma hipótese que já foi levantada em diferentes estudos (Cf. CEZÁRIO et alii,

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2004, BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007, ILOGTI de SÁ 2009, PAIVA 2011).

Espera-se que Spreps de tempo e lugar ocupem mais frequentemente a margem esquerda das

orações nas quais a posição de sujeito encontra-se vazia (nulo de 1ª e 2ª pessoa, nulo de 3ª

pessoa, indeterminado ou oração sem sujeito e sujeito posposto ao verbo) do que naquelas em

que a posição do sujeito está preenchida. Essa hipótese se sustenta em especificidades do PB no

que se refere à posição do sujeito, principalmente na tendência já constatada por diferentes

autores à perda do sujeito nulo (cf. DUARTE , 1993).

Diversos autores defendem a hipótese de que há no português brasileiro uma associação

entre o sujeito nulo e o preenchimento da periferia esquerda por constituintes circunstanciais (Cf.

KATO e NASCIMENTO 2002, CEZÁRIO et alii 2004, GOMES 2006). Kato e Nascimento

(op.cit) por exemplo, assumem que em orações com sujeito nulo, essa posição seja preenchida

por um adjunto, a fim de evitar o verbo em posição inicial.

Essa hipótese é retomada neste estudo de uma forma mais detalhada. A maioria dos

trabalhos que examinam a correlação entre tipo de sujeito e circunstanciais em ME trata

conjuntamente os sujeitos recuperáveis pela desinência verbal (primeira e terceira pessoas) e os

sujeitos de terceira pessoa (anáfora zero) em que o referente do sujeito só pode ser recuperado

nas relações discursivas. Partimos da hipótese de que o fato de o sujeito ser anafórico ou de ser

recuperado na própria desinência verbal pode motivar ordenação diversa dos circunstanciais,

sendo necessário tratar separadamente esses dois tipos de sujeito.

Uma outra hipótese, de certa forma relacionada à anterior, diz respeito à posição do

sujeito em relação ao verbo. Como já destacamos na seção anterior, para muitos autores

(VOTRE e NARO, 1986, COOPMANS, 1989, COELHO, 2000, CULICOVER e LEVINE, 2001,

KATO, 2003, SANTOS e DUARTE, 2006, PAIVA, 2011), há significativa correlação entre

posposição do sujeito, o que ocorre principalmente com os verbos inacusativos, e presença de

circunstanciais na margem esquerda da oração. Para Santos e Duarte (op.cit), essa correlação é

uma consequência da diminuição gradual do sujeito nulo. Kato e Duarte (2003) postulam que a

margem esquerda é preenchida para evitar estruturas do tipo V1. Coelho (op.cit) defende que, por

essa periferia esquerda ser considerada como outro argumento do verbo, ela tem que ser

preenchida, resultando na configuração XVS.

Como mostramos na seção anterior, as propriedades sintáticas do verbo explicam apenas

parcialmente a maior possibilidade de circunstanciais na margem esquerda. Nesta seção,

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mostramos a importância da correlação entre a posição do sujeito e os circunstanciais nessa

posição.

Considerando esses pontos, foram analisadas seguintes possibilidades quanto à forma de

realização do sujeito:

Sujeito preenchido anteposto ao verbo:

(38) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. ( JB – 02/06/2003 – Opinião)

Sujeito preenchido posposto ao verbo:

(39) Caiu de 70% para 55%, em um ano, o número de pessoas que acham queLula trabalha muito. (JB – 07/03/2004 – Opinião)

Sujeito nulo de 1ª e 2ª pessoas:

(40) Não se impressionem com o que vimos lá na porta do hotel. (O Globo –19/02/2004 – Opinião)

Sujeito nulo de 3a pessoa:

(41) No último jogo, (Alex Alves) marcou quatro gols na goleada de 5 a 0 sobre oMaranhão, pela Copa do Brasil (JB – 06/03/2004 – Notícia)

Sujeito indeterminado ou oração sem sujeito:29

(42) Em 12 de março, houve mais um alerta vermelho. (O Globo – 25/09/2002 –Notícia)

Os resultados da tabela 4, relativos aos circunstanciais temporais, confirmam parcialmente

as hipóteses colocadas. O grupo foi selecionado no primeiro nível de análise, com significância

0,000, destacando-se, portanto, como a motivação mais relevante para a ocorrência de

circunstanciais em ME.

29 Estou considerando apenas o sujeito indeterminado como descrito nas gramáticas normativas, ou seja, com verbona 3ª pessoa do plural ou com –se índice de indeterminação do sujeito.

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Tabela 4: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe tipo de sujeito

Forma de realização do sujeito Frequência Peso RelativoSuj. nulo de 1ª ou 2ª pessoa 11/21=52% .49Suj. preenchido posposto 10/14=71% .69Suj. preenchido anteposto 129/199=64% .58Suj. indeterminado ou oração s/ S 20/21=95% .95Suj. nulo de 3ª pessoa 12/56=21% .16Total /Input 180/324 = 55% 0.61

É inevitável o desequilíbrio na distribuição dos dados, considerando a predominância de

sujeitos preenchidos e antepostos. De um lado, como se pode esperar, observamos que o sujeito

ocupa sua posição default, ou seja, anteposto ao verbo. Por outro lado há uma forte tendência ao

preenchimento da posição de sujeito (Cf. DUARTE, 1993).

O primeiro ponto a destacar a partir da tabela 4 é a diferença quantitativa entre os sujeitos

nulos de 3ª pessoa em relação aos sujeitos nulos desinenciais. Ainda que ambos desfavoreçam

circunstanciais em ME, os nulos de terceira pessoa destacam-se pelo mais baixo peso relativo

para margem esquerda (.16), ou seja, são o contexto preferencial para a ocorrência de temporais

em MD. Essa tendência contraria as expectativas, pois esperava-se que, em orações com sujeitos

não realizados foneticamente, houvesse maiores chances de situar o circunstancial na periferia

esquerda da oração. Os resultados para os sujeitos preenchidos antepostos, com maior peso

relativo para circunstanciais em ME contrariam igualmente o esperado e permitem discutir a ação

de um princípio mais geral de ocupação da margem esquerda no português brasileiro.

De acordo com o previsto, destacam-se como favorecedores de temporais na margem

esquerda da oração, os sujeitos pospostos (.69) e, de forma quase categórica, as orações com

sujeito indeterminado e orações sem sujeito (.95), levando a crer que, nesses casos, outras

propriedades que não apenas a posição do sujeito tenham de ser consideradas.

Os resultados para os circunstanciais locativos, selecionados também no primeiro nível de

análise, com grau de significância 0,000, reiteram algumas tendências verificadas para os

temporais, como se pode constatar na tabela 5:

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Tabela 5: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe tipo de sujeito

Forma de realização do sujeito Frequência Peso RelativoSuj nulo de 1ª ou 2ª pessoa 10/38=26% .69Suj posposto 15/32=46% .81Suj anteposto 50/156=32% .61Suj indeterminado ou oração s/ S 12/37=32% .68Suj nulo de 3ª pessoa 4/86=4% .12Total /Input 91/337 = 27% .22

Destaquemos em primeiro lugar que, numa tendência similar à dos temporais, Spreps

locativos tendem a se localizar na margem esquerda em orações com sujeitos pospostos (.81). O

valor mais expressivo para os locativos pode ser consequência de que a maioria dos verbos que

ocorrem nesses tipos de oração indicam deslocamento no espaço, possuindo, portanto, um traço

[+ locativo] inerente. Também de forma semelhante aos temporais, a menor probabilidade de

locativos em ME se verifica em orações com anáfora zero (sujeitos de terceira pessoa), com

apenas .12.

De forma um pouco diferente da verificada para os temporais, observam-se índices

semelhantes de Sprep de lugar em ME nas orações com sujeito nulo de 1ª e 2ª pessoas, nas

orações com sujeito indeterminado ou oração sem sujeito e nas orações com sujeito anteposto,

com .69, .68 e .61, respectivamente.

A maior regularidade é atestada, portanto, nas orações com sujeito posposto e nas orações

com sujeito nulo de terceira pessoa. No caso das primeiras, confirma-se tendência já destacada

em diversos estudos (NARO e VOTRE, 1992, SANTOS e DUARTE, 2006, SPANO, 2002,

2008, PAIVA, 2011). Como mostram esses estudos, as estruturas do tipo VS são muito restritas

no português brasileiro e ocorrem, de forma um pouco mais recorrente, com a classe dos

inacusativos, principalmente com aqueles que possuem o traço [+ locativo], como defende Paiva

(op.cit). Para alguns autores, essa correlação se explica como um subproduto da tendência mais

geral do português brasileiro a preencher a posição de sujeito. A ocupação da posição mais a

esquerda ocorre a fim de evitar estruturas do tipo V1 (Cf. KATO e DUARTE, 2003, SANTOS e

DUARTE, op.cit, SPANO, op.cit). Numa perspectiva mais funcional, Votre e Naro (1986)

defendem que o deslocamento de constituintes para a periferia esquerda da oração leva à

posposição do sujeito com o intuito de obter uma compensação sintagmática. Nossos exemplos

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ilustram perfeitamente essa situação em que há um Sprep temporal na periferia esquerda sempre

em orações com verbos inacusativos, como em 43:

(43) Voltou na mesma tecla para que daqui para a frente aconteça umentendimento real entre a Coordenação dos Desfiles Técnicos e os sofridoscamelôs. (Povo – 15/01/2004 – Crônica)

A oração que se inicia com o Sprep temporal retrata a configuração XVS, em que

aconteça é um verbo inacusativo e o sujeito é posposto. O verbo acontecer possui traço [+

locativo], no caso, de localização temporal, e faz com que o Sprep daqui para a frente ocupe a

periferia esquerda da oração, preenchendo essa posição que ficou vazia. É possível, no entanto,

que outros fatores intervenham, principalmente o que envolve o peso/extensão dos constituintes.

O sujeito do verbo acontecer não só é mais extenso, como também mais complexo do que o

Sprep temporal e, portanto, mais susceptível de ocupar a posição final da oração. No exemplo 41,

teríamos, então, a instanciação de um princípio mais geral segundo o qual constituintes mais

leves/menos extensos precedem constituintes mais extensos/pesados, ou seja, um princípio de

peso final, em que constituintes tendem a se situar na posição final da oração (cf. WASOW 1997,

HAWKINS 2000, GIVÓN 2001, LOHSE et alii 2003, PAIVA, 2012).

Como pudemos atestar, as orações com sujeito indeterminado ou sem sujeito possuem

comportamento similar ao dos sujeitos pospostos. Sistematicamente, altos índices de

circunstanciais locativos (.68) e principalmente temporais (.95) na margem esquerda estão

associados a orações com sujeito indeterminado ou a orações sem sujeito. Em diversos trabalhos

( SPANO 2008, PAIVA 2011) é proposto um tratamento unificado dessas diferentes estruturas

juntamente com as estruturas inacusativas. Segundo Spano (op.cit), assim como as inacusativas,

as orações sem sujeito possuem argumentos internos interpretados como foco e têm a função de

apresentar uma entidade na predicação. De acordo com Paiva (op. cit, p. 4), há um paralelismo

funcional entre essas orações na medida em que todas elas “estão à serviço da apresentação de

uma entidade, um evento ou um estado de coisas novo como uma unidade integral, ou seja,

possuem uma função tética.”

Uma outra regularidade importante diz respeito à baixa ocorrência de circunstanciais,

tanto locativos como temporais, em orações com sujeito de terceira pessoa, o que permite discutir

a hipótese de que, no português contemporâneo, o preenchimento da periferia esquerda por

constituintes circunstanciais resulte da tendência a evitar uma posição vazia na periferia esquerda

da oração. Para estágios anteriores do português, alguns autores atestam evidências favoráveis à

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hipótese de preenchimento da margem esquerda da oração. Cezário et alii (2004), por exemplo,

mostraram que, no português arcaico, há predominância de circunstanciais de tempo na periferia

esquerda em orações com sujeito nulo (1ª, 2ª ou 3ª pessoa). De forma semelhante, Gomes (2006)

atestou a mesma tendência para os locativos em documentos dos séculos XVIII e XIX. É possível

pressupor, então, que mudanças ocorridas no português brasileiro, em especial as mudanças na

marcação do parâmetro do sujeito nulo (DUARTE, 2006) tenham resultado num comportamento

diferenciado das pessoas verbais. Destaquemos que, no seu estudo sobre a perda do sujeito nulo,

Duarte (op.cit) verifica igualmente frequente presença de adjuntos adverbiais em orações com

sujeitos preenchidos.

Além disso, é necessário considerar o comportamento diferenciado das orações com

sujeito nulo de terceira pessoa. Uma hipótese explicativa para essa tendência é colocada por

Brasil (2005). A autora pressupõe, embora não chegue a controlar empiricamente, que uma

pressão discursiva opera no sentido de assegurar a manutenção referencial do sujeito, e

consequentemente, a continuidade tópica, o que limita a interposição de outros constituintes entre

uma anáfora zero e o seu antecedente. Focalizando os temporais, Soares (2012) verifica essa

hipótese em uma análise mais controlada e atesta, efetivamente, a maior ocorrência de

constituintes circunstanciais em posições pós-verbais, sobretudo na margem direita da oração,

nos casos em que sua ocorrência na margem direita pode provocar quebra da coesão referencial,

ou seja, na continuidade tópica.

Observemos os exemplos (44) e (45):

(44) Foi assim com Collor. Distanciou-se do Congresso, abriu feridas imensas nocorpo social (quem não se lembra do confisco?) e fez experiências extravagantesno terreno da economia. (JB – 07/03/2004 – Opinião)

(45) A Cedae recomenda aos cariocas que economizem água até a manhã dequarta. (O Globo – 28/10/2002 – Notícia)

No exemplo 44, os Spreps locativos encontram-se na margem direita, não comprometendo

a acessibilidade do referente (Collor) dos sujeitos vazios nas orações em que ocorrem os

constituintes circunstanciais. O mesmo acontece com o Sprep temporal em 45 que permanece na

margem direita, a fim de garantir a recuperabilidade do referente (os cariocas) da anáfora zero,

sujeito do verbo economizar.

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Do que foi visto aqui, é possível concluir que a correlação entre posição de circunstanciais

locativos e temporais e o tipo de sujeito da oração não pode ser explicada unicamente em termos

sintáticos, pois envolve um componente discursivo bastante nítido.

5.3.3- Tipo Semântico de circunstancial

Diversos autores (MARTELOTTA, 1994, COSTA, 2004, CEZÁRIO et alii, 2005,

BRASIL, 2005, GOMES, 2007, ILOGTI de SÁ, 2009) já observaram que a posição de

constituintes temporais e locativos depende, pelo menos em parte, da nuance semântica que esses

constituintes expressam. Embora os circunstanciais, em geral, introduzam coordenadas de tempo

e espaço, a forma como essas coordenadas são perspectivizadas pode resultar em diferenças na

sua posição na oração.

Embora se admita que os circunstanciais exprimam diferentes formas de localização

temporal ou locativa, não é muito simples especificar e definir as diferentes categorias semânticas

que eles podem realizar e nem sempre há consenso entre as tipologias propostas. Tal dificuldade

decorre do fato de que as dimensões de lugar e tempo constituem um continuum que pode ser

perspectivizado e relativizado de diferentes formas. A determinação de um limite espacial mais

largo ou mais específico, ou de um tempo anterior ou posterior, depende em grande parte das

intenções do falante/escritor (Cf.CASTILHO, 1996, PAIVA e BRAGA, 2003, ILARI, 2001).

Várias são as propostas tipológicas estabelecidas por autores para analisar circunstanciais de

tempo e lugar (Cf. QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1993, MURCIA & FREEMAN, 1999,

CASTILHO, op.cit, ILARI, op.cit, BRASIL, 2005)

Em relação aos locativos, Quirk et alii (op.cit) adotam uma classificação simplificada,

distinguindo três tipos de locativos:

- os que indicam posição, mais frequentemente associados a verbos de estado. Podem ocorrer

também com verbos de movimento;

- os que indicam direção: referem-se ao caminho ou direção com local específico. Abarcam

origem e destino;.

c- os que indicam distância: medem a distância entre dois pontos.

A necessidade de distinguir entre locativos que indicam posição ou locativos de situação,

nos termos de Neves (1993), daqueles que indicam direção (para algum lugar) é admitida por

autores como Murcia & Freeman (op. cit.) que, por sua vez, ainda distinguem direção (para

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algum lugar) e destino (em algum lugar), que constituem sub-categorias de uma categoria mais

ampla. Neves (op cit) distingue três subgrupos (situação, percurso e direção) que se subdividem

em diversos subtipos,30 um detalhamento que, a nosso ver, dificulta uma análise empírica, pela

impossibilidade de determinar a fronteira exata entre eles.

Brasil (2005) toma como base a precisão e a extensão do espaço compreendido pela

referência locativa e distingue três grandes grupos de advérbios e sintagmas preposicionais

locativos:

- locativos com o traço [+ preciso, + limitado] – introduzem uma posição absoluta, identificada

com maior precisão;

- locativos [- preciso, - limitado] – introduzem uma posição espacial menos delimitada e

recobrem um espaço geográfico mais amplo;

- relativo – tomam um ponto espacial como referência a partir da qual se define a coordenada

locativa de um estado de coisas ou de um referente.

Considerando que o espaço é uma dimensão contínua, nem sempre é possível definir

claramente as fronteiras entre um tipo e outro, o que conduziu a autora a considerar um grupo de

ambíguos, em que mesmo as pistas contextuais não permitem precisar a nuance espacial

introduzida.

Além disso, a autora trata separadamente os casos que denomina de metafóricos, ou seja,

aqueles em que, dada a natureza do SN encaixado no SPrep, o valor locativo só pode ser

entendido em termos virtuais.

Neste estudo, buscando uma classificação operacionalizável empiricamente, consideramos

os seguintes tipos de circunstanciais locativos:

- Posição fixa: o circunstancial indica um ponto concreto e fixo no espaço.

(46) Ele estava em Belo Horizonte, assistindo ao embarque, para os EstadosUnidos, do primeiro lote de filés de tilápia fresca produzidos em Santa Maria deItabira, cidade mineira de 10 mil habitantes cuja economia pode mudarcompletamente com este novo negócio.(JB – 02/06/2003 – Opinião)

- Direcional: o circunstancial indica um ponto de origem ou destino (origem ou meta).

30 Os locativos de situação respondem à pergunta onde? e se subdividem em posição absoluta e posição relativa.Estes ainda podem ser de inclução, exterioridade, adjacência, sobreposição, sotoposição, anteposição, circumposição,interposição, proximidade, distância e ultraposição. Os locativos de percurso repondem à pergunta por onde? e os dedireção se subdividem em origem (de onde) e meta (para onde). Neves (1993, p. 274, 275)

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(47) Advogada formada e pós-graduada, dedica-se sobretudo à causa dosmigrantes e refugiados de todo tipo.(...) Trata de conseguir vistos e papéis paraajudá-los a voltar a seu país de origem. (JB – 08/03/2004 – Crônica)

- Espaço metaforizado: O circunstancial não indica um espaço físico concreto, mas sim virtual,

ou seja, metaforizado.

(48) Aqui é que Lula não deve ficar, exposto aos inevitáveis desgastes de doismeses de transição. Por mais que se esconda, que se proteja, que evite repórteres,acabará encontrado, posto diante das dezenas de microfones e câmeras detelevisão e bombardeado por perguntas embaraçosas sobre as futricas e fofocasque brotam como tiririca nos canteiros dos ressentimentos e das picuinhas deBrasília e alhures. (JB – 01/11/2002 – Opinião)

O Sprep destacado em 48 não indica um lugar físico, uma dimensão espacial, mas recebe

o traço [+ locativo] a partir da sua relação com o verbo brotar.

Partimos da hipótese de que, ao indicar um lugar concreto, o circunstancial locativo

possua maior mobilidade na oração, podendo ocupar posições mais marcadas. Em relação aos

direcionais, esperamos que o constituinte locativo se posicione na margem direita, sendo restrito

à própria nuance semântica do verbo que indica origem ou destino. Pressupomos, ainda, que os

circunstanciais que indicam espaço metaforizado se desloquem para ME, em razão do forte

componente subjetivo de que estão investidos.

Assim como para os locativos, há diversas classificações possíveis para os temporais.

Neves (1993) propõe uma divisão em três grupos: situação (respondem à pergunta quando?);

duração (período visto na sua duração) e frequência (repetição/não-repetição de momentos ou

períodos). A proposta de Ilari (2001), por sua vez, toma como base os pontos do continuum

espacial codificado pelos temporais, distinguindo os de anterioridade, simultaneidade e

posterioridade. Martelotta (1994) e Brasil (2005) propõem uma classificação mais detalhada,

separando os circunstanciais temporais nos seguintes grupos:

-os que indicam um espaço de tempo determinado, ou seja, delimitam um ponto preciso

de uma escala temporal;

- os que indicam um momento temporal indeterminado, isto é, não delimitam pontos

específicos numa escala temporal, podendo incluir espaços temporais mais amplos;

-os sequenciais - indicam anterioridade ou posterioridade de um estado de coisas em

relação a um outro;

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-os que indicam simultaneidade, sinalizando a co-extensividade total ou parcial entre dois

estados de coisas;

- os delimitativos, que determinam um ponto inicial e um ponto final do estado de coisas

descrito;

- os iterativos, que indicam a frequência de um determinado estado de coisas, possuindo,

portanto, forte valor aspectual.

As propostas brevemente apresentadas acima foram conjugadas e consideramos

neste estudo os seguintes tipos de temporais:

- Posição fixa: o circunstancial indica um ponto específico na escala temporal.

(49) A partida começa às 10h. (JB – 06/03/2004 – Notícia)

Neste grupo, tratamos separadamente os temporais que indicam uma data

específica, denominados calêndricos, como no exemplo (50).

(50) E no dia 31 de maio sua maior alegria é preparar a missa da coroação deMaria na capela de baixo. (JB – 08/03/2004 – Crônica)

- Delimitativo: o circunstancial determina um ponto inicial e um ponto final de uma

escala temporal.

(51) A Cedae recomenda aos cariocas que economizem água até a manhã dequarta. (O Globo – 28/10/2002 – Notícia)

- Segmentativo de posterioridade: o circunstancial indica a posterioridade de um estado de

coisas em relação a um outro.

(52) Tive alta depois de semanas. (O Globo – 03/11/2002 – Opinião)

- Segmentativo de anterioridade: o circunstancial indica a anterioridade de um estado de

coisas em relação a um outro.

(53) Nos cinco anos anteriores, a média (de crescimento econômico do Brasil) erade 1.280%. ( O Globo – 28/10/2002 – Opinião)

- Durativo: o circunstancial indica duração de um estado de coisas na linha do tempo.

(54) O samba dará o seu grito de total liberdade do Poder Público, pois terá umafonte de renda durante o ano inteiro. (Povo – 11/11/2003 – Crônica)

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Partimos da hipótese de que os circunstanciais que indicam uma posição fixa numa escala

temporal e os calêndricos possuam maior mobilidade na oração. Esperamos que os

circunstanciais delimitativos, segmentativos e durativos, por sua vez, se localizem, mais

frequentemente, na margem esquerda da oração.

Diferenças de significado inerentes do próprio circunstancial se mostraram mais

relevantes principalmente para os locativos, tendo sido selecionadas na análise multivariacional,

no terceiro nível, com grau de significância 0,009. Os resultados, mostrados na tabela 6.

confirmam apenas parcialmente as hipóteses colocadas.

Tabela 6: Spreps de lugar na margem esquerdade acordo com o tipo semântico

Tipo semântico dos locativos Frequência Peso RelativoPosição fixa 78/277=28% .58Direcional 3/37=8% .24Espaço metaforizado 13/78=16% .34Total /Input 94/392 = 23% .20

Como se pode esperar, a grande maioria dos dados (277) se concentra em locativos que

indicam posição fixa, o que impõe cautela na interpretação dos resultados. Uma explicação

possível para essa disparidade é a de uma parte considerável de outros locativos, como os

direcionais, por exemplo, foram desconsiderados nesta análise por serem argumentais, como

vimos na seção 5.1, e apresentarem posição praticamente categórica.

Contrariando as expectativas, locativos que indicam um ponto espacial concreto estão

associados a peso relativo mais alto para margem esquerda da oração (.58). Diferentemente do

esperado, no entanto, as chances de ME diminuem sensivelmente para os locativos metaforizados

(.34). Já os direcionais se comportam como esperado, constituindo o tipo que mais favorece a

margem direita da oração, com peso relativo de .24.

Esses resultados corroboram o que Brasil (2005) encontrou para o português brasileiro. Os

locativos metaforizados são mais pospostos ao verbo e os de posição fixa, ou [+ preciso,

+delimitado]31, favorecem a anteposição. Tendência diferente foi encontrada por Cezário et alii

(2004), que mostraram que o advérbio ali tende a se referir a um espaço concreto e ocupar

posições pós-verbais. O aí , que pode se referir a um espaço metaforizado, possui características

coesivas e tendem a ocorrer em ME.

31 Classificação de Brasil (2005).

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Apesar de este grupo de fatores não ter sido selecionado para os Spreps temporais,

optamos por incluí-los na análise, a fim de destacar a influência de algumas particularidades

semânticas na posição desses constituintes circunstanciais.

Tabela 7: Spreps de tempo na margem esquerdade acordo com o tipo semântico

Tipo semântico dos temporais FreqüênciaPosição fixa 99/159 = 62%Delimitativo 33/53 = 62%Sequenciador de posterioridade 13/20 = 65%Sequenciador de anterioridade 9/16 = 56%Calêndrico 17/29 = 58%Durativo 13/37 = 35%Total 184/314 = 58%

A influência das nuances semânticas dos Spreps temporais é mais limitada do que a dos

locativos e validam apenas parcialmente as hipóteses colocadas. Mesmo considerando o

desequilíbrio na distribuição dos dados, majoritariamente concentrados em temporais que

indicam posição fixa, é possível identificar, sobretudo, a particularidade dos durativos em relação

aos demais tipos de temporais. Temporais durativos são os menos recorrentes na periferia

esquerda da oração (35), o que significa que têm a margem direita como posição preferencial.

Uma explicação para esse fato é que, mais do que introduzir coordenadas temporais para um

estado de coisas, os durativos modificam a constituição interna dos estados de coisas, possuindo

valor aspectual. Esta particularidade justifica sua maior recorrência em MD, uma posição em que

fica mais próximo ao verbo com que se liga. Sob certos aspectos, tal tendência pode ser

interpretada em termos do princípio de iconicidade (GIVÓN, 1984, 2001, Chafe, 1984 ;

HAIMAN, 1985, CROFT, 1995, NARO & VOTRE, 1996, HASPELMATH, 2005): há maior

proximidade conceptual e, consequentemente, maior proximidade física entre o verbo e o Sprep

temporal.

Os resultados da tabela 7 mostram, ainda, que os Spreps temporais que indicam uma

posição fixa tendem a predominar na margem esquerda (.62), contrariando nossa expectativa de

que esse tipo semântico apresentasse maior variação entre as margens. É de se notar, no entanto,

que todos os demais tipos de circunstanciais temporais tendem a ocupar, predominantemente, a

margem esquerda da oração, com valores bastante aproximados. Esta tendência vai ao encontro

do esperado para os delimitativos e segmentativos de posterioridade, mas contradiz nossas

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expectativas no que se refere aos segmentativos de posterioridade que gozam de grande

mobilidade na oração, com frequência de 56%.

As tendências aqui identificadas corroboram o que já foi atestado em outros estudos. Para

os circunstanciais que indicam posição fixa, Martelotta32 (1994) também encontrou

predominância de posições pré-verbais, principalmente na margem esquerda. Para os

circunstanciais durativos, Ilogti de Sá (2009) já verificou a predominância da margem direita.

Tendências semelhantes às encontradas por essa autora são atestadas também para os

delimitativos. Neste estudo, observa-se um comportamento distinto dos circunstanciais que

possuem indicativos de posição fixa que, segundo a análise de Ilogti de Sá (op. cit), variam entre

as margens da oração.

O que parece se destacar, portanto, é que a grande maioria dos circunstanciais temporais

apresentam uma tendência um pouco mais expressiva para a margem esquerda da oração.

Particularizam-se apenas os temporais em que se superpõe uma noção aspectual.

5.3.4- Restrições discursivas

Do ponto de vista da sua função, os constituintes circunstanciais são definidos como

elementos que situam coordenadas temporais ou locativas dos estados de coisas descritos na

predicação. Essas coordenadas temporais podem ser ancoradas deiticamente, ou seja, na situação

de fala, considerando o aqui e o agora do falante. Ilari (2001, p. 21), por exemplo, afirma com

relação à referência introduzida pelos circunstanciais que:

há sempre necessidade de uma ancoragem no real, que pode serdada quer pela situação de fala, quer pela escolha de algum pontode referência ao qual tanto o locutor como o interlocutor têmacesso.

Mais frequentemente, no entanto, a referência introduzida pelos circunstanciais envolve

relações discursivas, isto é, fóricas. Um constituinte circunstancial pode precisar sua referência

locativa ou temporal pela retomada de elementos já introduzidos no discurso antecedente, relação

anafórica, ou em informações que serão introduzidas no discurso subsequente, relação catafórica

(cf, dentre outros, ILARI, 2001, NEVES, 1992, PONTES, 1992).

32 O autor chama essa posição de tempo determinado.

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Uma análise do uso da língua mostra, porém, que essa visão das funções dos

circunstanciais não dá conta de todos os empregos destes constituintes e, principalmente, dos

importantes papéis que eles desempenham na organização das informações no texto, e na

sinalização das intenções do leitor/escritor (cf. MARTELOTTA, 1994, SHAER, 2004, AUSTIN

et alii, 2004, BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2002, 2008a, 2008b, ILOGTI de SÁ,

2009).

A correlação entre função e posição dos circunstanciais tem sido focalizada sob diferentes

perspectivas. Martelotta (op.cit), por exemplo, examina a correlação entre disposição

sintagmática dos temporais e a oposição figura e fundo. Uma das hipóteses levantadas pelo autor

é a de que determinadas posições dos temporais são mais frequentes em orações que integram a

figura do que em orações de fundo (cf. também CEZÁRIO et alii, 2004, 2005, ILOGTI DE SÁ,

op.cit). Na sua análise, tal expectativa se confirma, com 78% de circunstanciais de tempo

determinado em posições pré-verbais nas oração de figura narrativa.

Diversos autores destacam, no entanto, a função coesiva dos circunstanciais que se situam

na margem esquerda da oração, diferentemente daqueles que se colocam no final da oração.

(CHAROLLES, 1997, SHAER, 2004, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2008b). Constituintes

circunstanciais na margem esquerda da oração retomam informações já introduzidas no discurso

anterior, ou seja, funcionam de forma retroativa, ou como backward tie nos termos de Charolles

(op. cit.), para tomá-las como circunstanciadores dos estados de coisas descritos na oração em

que se inserem. Para muitos autores, como Shaer (op. Cit.), por exemplo, essa é a maior

particularidade dos circunstanciais em ME.

Outros estudos discutem a prioridade dessa função coesiva, considerando que

circunstanciais em ME são elementos de indexação do discurso seguinte, isto é, funcionam como

(forward tie), abrindo enquadres temporais ou locativos que podem englobar diversas orações do

discurso subsequente (CHAROLLES, op.cit, Paiva, 2008b), Nessa função, os Spreps temporais

apresentam similaridades com as orações temporais, para as quais Chafe (1984) atribui uma

função de guiding-post. É essa propriedade que resulta na ampliação do escopo de constituintes

circunstanciais em ME.

Essas duas funções (retroativa e projetiva) não se excluem necessariamente. Um mesmo

circunstancial na margem esquerda pode, simultaneamente, acumular duas funções: ao mesmo

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tempo em que remete para o discurso anterior, abre um enquadramento, ou o cenário temporal, de

um novo tópico ou subtópico (Cf. PAIVA, 2008b), como mostra o exemplo 55.

(55) Uma parceria entre a iniciativa privada e a prefeitura permitirá que umprojeto idealizado há um ano e meio saia do papel. O prefeito César Maia assinouontem um convênio com empresários, que financiarão parte das obras de im-plantação de uma alça que interligará as avenidas Ayrton Senna e AbelardoBueno, na Barra da Tijuca. Durante a solenidade, César Maia anunciou um pacotede obras que autorizou para a Barra e o Recreio, já pensando na realização dosJogos Pan-Americanos de 2007. E ainda informou que está estudando aimplantação de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o bondemoderno, ligando o centro da Barra ao Riocentro. (O Globo – 24/10/2002 –Notícia)

No exemplo 55, o Sprep temporal durante a solenidade remete para o discurso anterior,

tomando como ponto de partida para referência a assinatura de um convênio com os empresários

a partir da qual o leitor infere que houve uma solenidade onde a assinatura foi feita. Ao mesmo

tempo, ele abre um enquadre temporal para a informação nova de que César Maia autorizara um

pacote de obras, assim como a de que a implantação de um sistema (VLT) está sendo estudada.

Assim como vimos para os valores semânticos dos circunstanciais, uma tipologização das

funções discursivas que esses constituintes podem desempenhar não é uma tarefa muito simples,

pois, como vimos acima, nem sempre é fácil estabelecer fronteiras nítidas entre uma função e

outra. Neste estudo, adotamos as funções propostas por Paiva et alii (2007) e retomadas em Paiva

(2008a). Distinguimos, em primeiro lugar, os Spreps circunstanciais que se limitam a introduzir

coordenadas relativas a um determinado estado de coisas descrito33 como em:

(56) - Estava parado, o Vasco me contratou e eu salvei o clube do rebaixamento noBrasileiro de 2002. Ano passado, fiz gols que também salvaram o time dorebaixamento e fui campeão carioca. Só tenho de dizer que estou aí - desabafou ojogador. (JB – 08/03/2004 – Notícia)

O Sprep temporal no Brasileiro de 2002 introduz uma coordenada dêitica, situando o

momento em que o jogador salvou o clube do rebaixamento. A informação introduzida pelo

circunstancial é nova, pois não foi mencionada em momento algum do discurso precedente e o

Sprep possui um escopo mais limitado na oração em que se insere. Observemos, inclusive, que,

logo na oração seguinte, há uma mudança de referência temporal assinalada no Sprep sem cabeça

ano passado.

33 Esses Spreps atuam sobre a predicação, mas não fazem parte da estrutura argumental do verbo.

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Em muitos casos, como já dissemos acima, os circunstanciais retomam informações

apresentadas no discurso anterior (backward tie), funcionando como elementos coesivos do

texto.34

(57) O agente penitenciário Marcus Vinicius Tavares Gavião, o Playboy, de 27anos, acusado de facilitar a entrada de três pistolas usadas por traficantes nomotim em Bangu I, há treze dias pode ter sido ajudado por outro guarda doDepartamento do sistema Penitenciário (Desipe). A suspeita é do delegadoRicardo Hallak, titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).Marcus Vinicius, como O GLOBO informou, foi anteontem, em sua casa, emCampo Grande.- Não está totalmente afastada a hipótese de haver uma segunda pessoa no crime.

Não podemos afirmar porque Marcus pode ter entrado com as armas aos poucos.Às vésperas do motim, ele ficou brincando com o detector de metais, a fim detestá-lo – contou o delegado.

No exemplo 57, o Sprep ás vésperas do motim remete para um tempo anterior ao motim

em Bangu 1, já mencionado no discurso precedente (usadas por traficantes no motim em Bangu

1). Assim, a referência temporal introduzida pelo Sprep às vésperas do motim, ou seja, o dia em

que o agente acusado ficou testando o detector de metais, só pode ser definida com base no

conhecimento da data em que ocorreu o próprio motim.

Uma variante dessa função anafórica é a que marca um contraste entre duas unidades

discursivas temporais ou locativas.

(58) A evolução se deu também na área econômica. Entre 1994 e 2000, a taxa deinflação anual foi de 11,4%. Nos cinco anos anteriores, a média era de 1.280%. (OGlobo – 28/10/2002 – Opinião)

No exemplo 58, são colocados em contraste os índices da taxa de inflação em dois

períodos distintos: o período compreendido entre 1994 e 2000 (baixos índices de inflação) e os

anos anteriores (elevados índices de inflação). Apesar de o contraste não ter sido explicitado pelo

autor do artigo, ele é inferível a partir do conhecimento do que ocorreu na área econômica.

Como já mencionamos acima, os circunstanciais podem, ainda, sinalizar uma

segmentação discursiva ao introduzirem coordenadas temporais ou locativas que definem a forma

de interpretação do segmento discursivo que os segue. Nesse caso, o circunstancial não se limita

a introduzir uma coordenada para o estado de coisas descrito na oração em que se encontra; ao

34 Essa função é muito mais saliente nos advérbios, principalmente naqueles que são essencialmente fóricos, comoaqui, lá.

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contrário, possui um escopo muito mais amplo, podendo incluir diversas orações (forward tie),

como no exemplo (59).

(59) A ideia surgiu quando um dos candidatos à Presidência da República acusouo adversário e disse: “Sua máscara caiu.” Alguns dias depois, as chuvas desetembro e um furioso temporal esgarçaram e destruíram os galhardetes, as faixasem que as caras sorridentes dos candidatos invadem o espaço público carioca.Escorregam as faces lavadas pela chuva, como se a maquiagem não resistisse àverdade escondida por trás delas. Encontram-se bocas e narizes sortidos, formandoum caleidoscópio de rostos. Espanta a fragilidade dessas máscaras, diante dassurpresas que a política pode oferecer.(...) No atual cenário político brasileiro, o palco está armado: os atores-candidatos

usam e abusam da imagem para fazer valer suas ideias e debater programas degoverno. Criou-se a persona do político como um poderoso instrumento deconfrontação na liça eleitoral. (O Globo – 04/10/2002 – Opinião)

O exemplo 59 foi retirado de um artigo de opinião em que o autor fala sobre a farsa dos

candidatos à Presidência da República no Brasil. O Sprep No atual cenário político brasileiro

introduz um novo subtópico no discurso, e o escopo do circunstancial alcança as orações que o

seguem, ou seja, funciona como uma espécie de indexador que fornece as instruções da forma de

interpretação das informações que se seguem no texto. Nessa função, o circunstancial locativo

abre um enquadre locativo, ou seja, um cenário, no qual estão englobadas diversas predicações.

Uma outra possibilidade é que os Spreps de tempo e lugar organizem vários estados de

coisas numa sequência temporal ou locativa, como pode ser visto em:

(60) O país cresceu 3,3% ao ano entre 1993 e 2000, dobro da média de 12 anosanteriores. No mesmo período, a indústria cresceu 3,1% ao ano (havia decrescido0,1% entre 1981 e 1992). Entre junho de 1994 e junho de 2001, 1,8 milhão de novosempregos foram criados. Entre 1994 e 2000, a taxa de inflação anual foi de 11,4%.(O Globo – 28/10/2002 – Opinião)

Os circunstanciais destacados do exemplo 60 mostram o crescimento da economia

brasileira a partir de diferentes indicadores do país, situando-os em um continuum temporal,

considerado em termos de anos. Especificam, portanto, diferentes pontos de uma sequência de

coordenadas temporais.

Um outro caso a considerar é aquele em que coordenadas locativas ou temporais são

focalizadas, contribuindo, assim, para a expressão das intenções argumentativas do

falante/escritor. Seguindo procedimento já adotado por Paiva (2008a), restringimos essa função à

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ocorrência de marcas formais como, por exemplo, só, somente, até ou ainda. O exemplo (61)

ilustra uma focalização através do elemento até.

(61) Até no Kuwait - anexado por Saddam e libertado na Guerra do Golfo graças àintervenção comandada pelos EUA – a hostilidade aos americanos deita raízes. (OGlobo – 20/10/2002 – Editorial)

No exemplo 61, o efeito argumentativo do texto, uma crítica do articulista ao

intervencionismo americano, fica assinalada pela justaposição do elemento até ao SPrep locativo

no Kwait.

Como já mostraram outros estudos, pode-se esperar uma distribuição diferenciada das

posições dos Spreps temporais e locativos de acordo com as funções que eles desempenham. De

acordo com o que já foi mostrado em outros estudos, podemos presumir que circunstanciais

sejam favorecidos na margem esquerda da oração em contextos discursivos mais específicos,

como os de segmentação tópica, remissão anafórica, focalização e demarcação de pontos.

Esperamos, ainda, que os que operam sobre a predicação, limitando-se a circunscrever temporal

ou espacialmente um estado de coisas, se situem mais frequentemente na margem direita.

A função do circunstancial no texto é selecionada para os dois tipos de circunstanciais em

análise, apontando regularidades importantes. Consideremos, primeiramente, os temporais, para

os quais este grupo foi selecionado no nível 2, com significância 0,00, cujos resultados são

mostrados na tabela 8:

Tabela 8: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe função discursiva

Função discursiva Frequência Peso RelativoPredicação 61/139=43% .34Segmentação tópica 42/62=67% .58Focalização 2/3=66% .70Retomada anafórica 49/74=66% .54Contraste 6/7=85% .85Demarcação de pontos 24/29=82% .79Total /Input 184/314 = 58% 0.61

Ressaltemos, antes de mais nada, que a distribuição desequilibrada dos dados, de acordo

com as funções consideradas, impõe cautela na interpretação dos resultados. No entanto, algumas

tendências são bastante transparentes e confirmam uma parte das hipóteses colocadas.

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De acordo com nossas expectativas, circunstanciais temporais que introduzem uma

coordenada temporal restrita à predicação se posicionam na margem direita da oração, com peso

relativo de apenas .34 para a margem esquerda da oração.

A função de contraste sobressai como a que mais favorece constituintes temporais na

margem esquerda (.85). Outras funções que também motivam a posição de temporais em ME são

a demarcação de pontos num continuum temporal e a de focalização, com valores,

respectivamente, de .79 e .70. Os resultados para segmentação tópica (.58) e retomada anafórica

(.54) se situam em pontos intermediários: embora ainda favoreçam circunstanciais temporais em

ME, admitem maior variação entre as duas margens da oração.

Os resultados para os circunstanciais locativos reiteram a maioria das tendências

verificadas para os temporais, embora ainda uma vez seja necessário relativizar em função do

desequilíbrio na distribuição dos dados da tabela 9. Para esses circunstanciais, este grupo foi

selecionado igualmente no nível 2, com grau de significância 0,00.

Tabela 9: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe função discursiva

Função discursiva Frequência Peso RelativoPredicação 30/177=16% .36Segmentação tópica 10/27=37% .66Focalização 3 /4=75% .91Retomada anafórica 40/120=33% .59Contraste 8/9=88% .96Demarcação de pontos 3/3=100% -Total / Input 91/337 = 27% .21

De forma semelhante aos temporais, os locativos são mais recorrentes em MD quando

introduzem coordenadas espaciais para o estado de coisas descrito na predicação. Essa tendência

é natural, na medida em que não faz mais do que reproduzir a função inerente dos circunstanciais.

Embora o número de ocorrências seja excessivamente baixo, observa-se que, ao

demarcarem pontos em um continuum espacial, Spreps de lugar infringem sua ordem não

marcada e apresentam resultados categóricos, com 100% de ocorrência na margem esquerda.

Em contextos nos quais estabelecem um contraste com uma outra coordenada locativa já

mencionada no discurso anterior, ou são focalizados, esses constituintes também infringem sua

posição default e ocupam, com frequência mais alta, a margem esquerda da oração, com valores

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respectivos de .96 e .91. A função de segmentação tópica também favorece a ocupação da

periferia esquerda (.66), seguida da função de retomada anafórica, com índice um pouco menor

(.59).

Para as duas classes semânticas, as tendências mais regulares são constatadas, por um

lado, na associação entre margem direita e a função de predicação e, por outro, no efeito

favorecedor das funções de contraste e focalização. Confirma-se, assim, a hipótese de que a

margem esquerda da oração é explorada para funções discursivamente mais marcadas, como já

salientaram outros estudos (BRASIL, 2005, LESSA, 2007, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2008b,

ILOGTI de SÁ, 2009). É interessante destacar, ainda, que a pressão discursiva na posição dos

circunstanciais parece ser independente de particularidades ligadas à modalidade. Como mostra

Paiva (2008a), também na modalidade falada do português brasileiro, a anteposição de

circunstanciais em ME, tanto de locativos35 como de temporais, ocorre, principalmente, em

contextos de focalização e de contraste.

A tendência que, se não chega a contradizer, coloca alguns problemas para a hipótese a

respeito aos circunstanciais que operam a uma retomada anafórica, ao serem associados a pesos

relativos menos expressivos do que o esperado. Neste ponto encontram-se também algumas

similaridades com a fala, pois, como mostra Paiva (op. Cit.), os locativos com função anafórica

tendem a desfavorecer a posição mais à esquerda. A autora explica esta tendência como um

resultado da generalização da margem direita para estes constituintes, o que pudemos constatar

também neste estudo.

De forma geral, as tendências mostradas acima constituem fortes evidências de uma

estreita relação entre posição sintagmática de constituintes circunstanciais em geral e a função

que desempenham no discurso. No entanto, mostramos que as tendências atestadas para os

circunstanciais locativos claramente tendem a uma posição menos marcada e estão de forma mais

clara associados às hipóteses colocadas. Retomando Dryer (1995), podemos dizer que, em

contextos onde o circunstancial locativo desempenha funções mais específicas, pragmaticamente

mais marcadas, tende a se instanciar uma ordem mais marcada. Retomando os termos de Paiva

(2008a, p. 261):

35 Segundo os resultados de Paiva (2008), na modalidade falada, Spreps locativos que introduzem um contrasteespacial são categoricamente situados em ME.

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A tendência ao enrijecimento na ordenação dos locativos parece obscurecer ainfluência de alguns fatores discursivos em favor de restrições sintático-semânticas.Uma questão importante no que se refere a essa classe de circunstanciais é a funçãosintática que eles desempenham na oração: função de satélite adverbial (adjunto)oude argumento de um verbo, em especial de verbos de posição e de deslocamento.

Os circunstanciais temporais, por sua vez, colocam alguns problemas particulares. Para

esses constituintes, observamos grande oscilação entre as duas margens da oração. Além disso,

verificamos que, mesmo temporais que desempenham funções mais marcadas, como a de

proceder a uma segmentação tópica, podem se situar na periferia direita da oração. É possível,

portanto, pressupor que a própria função desempenhada pelo constituinte circunstancial constitua

um critério de definição da sua posição na oração.

Se interpretamos as tendências atestadas em termos da oposição marcado/não marcado,

podemos dizer que, para os locativos, se aplica bastante bem a proposta de Dryer (op.cit) que

prevê que uma ordem marcada está associada a contextos pragmaticamente marcados. Por outro

lado, para os temporais, é mais difícil proceder a uma generalização, visto que, em diferentes

funções, eles tendem a se localizar na margem direita. Neste caso, é possível levantar a hipótese

de que mais do que uma posição não marcada, os temporais possuem funções não marcadas e

suas propriedades sintagmáticas são apenas um reflexo das suas propriedades funcionais.

5.3.5- A variável gênero textual

Um dos objetivos deste estudo é verificar a relativização das tendências de ordenação de

circunstancias de tempo e lugar mostrada no início deste capítulo (cf. gráfico 1) de acordo com

os diferentes objetivos comunicativos dos textos que constituem nossa amostra. Um problema no

conceito mais clássico de marcado/não marcado, ou de uma hierarquia de marcação, é a sua

dependência em relação a outras variáveis, como, por exemplo, modalidade: formas menos

marcadas na fala não o são necessariamente na escrita e podem refletir diferentes distribuições

textuais (CROFT, 1995, DRYER, 1995, GIVÓN, 2001). Como mostra Givón (op. Cit.), por

exemplo, sentenças ativas são a forma não marcada na fala, mas, na escrita, as passivas tendem

a predominar.

No que se refere mais especificamente à ordem de constituintes, alguns autores já

levantaram a hipótese de que a ordem default de um elemento ou de uma forma de ordenação

pode variar de acordo com o gênero textual (Cf. BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007). Uma vez

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que diferentes gêneros atendem a propósitos comunicativos distintos, espera-se que o

posicionamento de circunstanciais de tempo e lugar possa variar de acordo com o gênero em que

ocorrem. Essa hipótese encontra evidências favoráveis no trabalho de Brasil (op.cit), que mostra

que os Spreps temporais tendem a ser antepostos ao verbos nos gêneros anúncio, entrevista e

matéria assinada, mas são pospostos nas notícias. Locativos, por outro lado, tendem a ser menos

sensíveis às diferenças de gênero e preservam sua posição default, localizando-se após o verbo.

As diferenças na posição dos circunstanciais em diferentes gêneros textuais é reiterada no estudo

de Paiva et alii (op.cit), que mostram que, nos editoriais e crônicas, Spreps temporais

predominam na margem esquerda, podendo também explorar a adjacência direita do verbo. Nas

reportagens, esses constituintes prevalecem entre verbo e objeto, e apresentam índices salientes

na margem direita da oração.

Apesar de a variável gênero textual se impor como uma dimensão relevante para a

compreensão de fenômenos ligados à ordem de constituintes, não é muito simples operacionalizar

uma análise dessa variável. Gênero textual é um termo que por si mesmo coloca problemas de

definição e pode ser tratado por diferentes perspectivas. A complexidade que gira em torno do

conceito de gênero é apontada, por exemplo, por Swales (1990), que destaca a utilização desse

termo em diferentes campos do conhecimento, como nos estudos folclóricos, em que a oralidade

predomina, nos estudos literários, que têm por base textos escritos, e, com menor atenção, na

Linguística. Nos últimos anos, no entanto, o conceito de gênero ganha espaço importante nos

estudos linguísticos (BIBER, 1988, BRONCKART, 1999, PAREDES SILVA, 2005,

MARCUSCHI, 2008), embora nem sempre haja consenso quanto aos critérios que permitem

tipologizar diferentes gêneros textuais.

Apesar de diferenças na definição de gênero, parece haver um consenso quanto á

prioridade de critérios sócio-comunicativos para estabelecer a diferença entre eles, o que remete

para a posição de Bakhtin (2003 [1979]), que toma como ponto de partida as diferenças sócio-

interacionais, considerando gêneros como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (p.262).

A compreensão de gêneros textuais como formas de convencionalização do uso

linguístico aparece claramente em Bazerman (2005), para quem um gênero resulta de fatos

sociais que atuam sobre os atos de falas dos interlocutores e como estes o põem em prática no

dia-a-dia.

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A dificuldade mais frequente no tratamento de gêneros textuais é, como destacado por

Bronckart (op. cit.), Bonini (2005), Paredes Silva (op. cit.), Marcuschi, (2005), a necessidade de

distinguir esse conceito do de tipos de textos. Enquanto gêneros podem ser caracterizados em

termos do propósito do falante, tipos textuais são definidos em termos de agrupamentos de

sequências textuais que apresentam propriedades linguísticas semelhantes. É interessante

observar, no entanto, que para Swales (1990), as duas dimensões (forma e objetivo) interagem e o

autor define gênero como um conjunto de eventos comunicativos que compartilham propósitos

comunicativos e que possuem padrões similares na estrutura, no estilo, no conteúdo e na

audiência visada. Embora não esteja excluída, e que seja mesmo frequente, a possibilidade de

ocorrência de diferentes sequências textuais num único gênero, é possível delinear traços mais

marcantes de cada um deles.

Marcuschi (2008) destaca, além da natureza cultural, a natureza cognitiva e o dinamismo

dos gêneros textuais: os gêneros podem se modificar pela ação de mudanças sócio-culturais. Um

aspecto relevante na proposta de Marcuschi (op. cit.) é a de que, uma vez que todas as atividades

discursivas se dão em textos orais e escritos, os gêneros se distribuem ao longo de um continuum

entre as duas modalidades, colocando em causa a dicotomia entre elas.

Tradicionalmente, fala e escrita são vistas numa dicotomia em que a primeira é

contextualizada, dependente, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada e

fragmentada, enquanto que a segunda é descontextualizada, autônoma, explícita, condensada,

planejada, precisa, normatizada e completa (Cf. MARCUSCHI 2007). Essa dicotomia se baseia

no código linguístico e leva à perspectiva de que a fala é “errada” e a escrita representa o bom

uso da língua, o que leva, também, à idéia de que a fala é mais simples e que a escrita é mais

complexa.

Marcuschi e Dionísio (2007), no entanto, afirmam que essas dicotomias não levam em

conta o uso da língua. Para eles não há porque valorizar a escrita em detrimento a fala e nem

tratá-las em termos dicotômicos. Fala e escrita são realizações diferentes do mesmo sistema

linguístico. Na verdade, essas duas modalidades possuem papel importante na sociedade e

cumprem necessidades diferentes. Nas palavras dos autores:

A língua tem um vocabulário, uma gramática e certas normas que devem serobservadas na produção dos gêneros textuais de acordo com as normas sociais enecessidades cognitivas adequadas à situação concreta e aos interlocutores.”(MARCUSCHI, DIONISIO, op.cit., p.16).

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Sendo assim, Marcuschi e Dionísio (op.cit.) propõem que a fala e a escrita devem ser

analisadas num continuum que passa por diferentes gêneros textuais. Essa concepção é

igualmente defendida por autores como Chafe (1982), Biber (1988) e Marcuschi (2007, 2008).

Na proposta defendida por Marcuschi (2008), ganha destaque o conceito de domínio

discursivo. Para o autor, domínio discursivo constitui práticas discursivas que originam vários

gêneros. Dessa forma esses domínios

produzem modelos de ação comunicativa que se estabilizam e se transmitem degeração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros. Além disso,acarretam formas de ação, reflexão e avaliação social que determinam formatostextuais que em última instância desembocam na estabilização de gêneros textuais.(p.194)

Marcuschi (op.cit.) estabelece diversos domínios discursivos, distribuídos nas

modalidades escrita e oral da língua, tais como: instrucional, jornalístico, religioso, saúde,

comercial, etc. Cada domínio é composto por variados gêneros. O domínio jornalístico, no qual

se inclui a nossa amostra, engloba diferentes gêneros, tais como notícias, artigos de opinião,

crônica, editoriais, crônicas, cartas ao leitor que possuem propósitos comunicativos e uma forma

de organização distintos.

As notícias têm como objetivo central informar o leitor sobre uma determinada

ocorrência. Possuem características de uma narrativa técnica, imparcial e os fatos tratados são

condicionados pelo interesse público. São textos claros e objetivos, a fim de evitar ambiguidades.

Linguisticamente há predomínio de sequências textuais narrativas, formas de 3ª pessoa do

singular ou plural e são usados verbos no passado ou no presente (cf. COSTA, 2008).

Os artigos de opinião marcam o posicionamento de um autor diante de algum tema atual e

de interesse de um público mais amplo (cf. GONZÁLES, 1999). Os textos são assinados (cf.

COSTA op.cit.), marcando ideias defendidas pelo autor, que tem por objetivo persuadir o seu

leitor. São, portanto, textos essencialmente dissertativos ou argumentativos. Observa-se uso de

linguagem objetiva, geralmente em 1ª pessoa e o uso de conjunções e elos lógicos.

Os editoriais, fundamentados igualmente em objetivos persuasivos, expressam a opinião

dos diretores do jornal sobre fatos relevantes da atualidade (GRANEZ, 2005), o que os investe de

uma pressuposta impessoalidade. São mais concisos e refutam opiniões diversas às do jornal.

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A carta ao leitor36 é um instrumento comunicativo que traz a opinião dos leitores sobre

assuntos diversos que estão em voga em determinado momento ou sobre matérias já publicadas

no jornal. Segundo Duque (2008), as cartas de leitores podem realizar diversos atos de fala:

solicitar, criticar, elogiar, agradecer, opinar, perguntar, etc. O modelo seguido pelas cartas é

muito diferente de um jornal para outro. Algumas chegam a ser mais narrativas, colocando

problemas que ocorrem no bairro. Outras são mais argumentativas e expressam uma posição

particular do leitor.

A crônica é um gênero híbrido, que contém temas atuais, como política, economia,

esportes, ciência, assim como fatos cotidianos. Geralmente o texto é curto e é escrito a partir de

um ponto de vista mais literário. Articula várias linguagens e incorpora diferentes tipos textuais.

A fim de criar uma aproximação com o leitor, o escritor usa uma linguagem mais simples, bem

próxima da oralidade (Cf. COSTA, 2008).

De acordo com as considerações acima, podemos esperar que a posição do circunstancial

reflita, de alguma forma, os diferentes objetivos sócio-comunicativos de cada gênero. Assim, por

exemplo, pode-se esperar que, nas notícias, os circunstanciais predominem na margem direita,

acompanhando a sequência cronológica das narrativas. Os artigos de opinião e editoriais possuem

características mais persuasivas, fazendo com que o autor lance mão de diversas estruturas

argumentativas, a fim de convencer seu leitor. Partimos da hipótese de que, nesses gêneros, os

circunstanciais ocorram em maior número na margem esquerda para auxiliar maior coesão do

assunto tratado.

Em nossa análise das posições periféricas da oração, houve uma correlação significativa

entre gêneros e a ordenação de constituintes circunstanciais temporais, como mostram os

resultados da tabela 10, selecionados no nível quatro, com grau de significância 0,04:

36 Paredes Silva (1988) ressalta que o gênero carta é composto dos subgêneros carta pessoal, carta pedido, cartaresposta, carta ao leitor, etc, pois sendo de natureza diversa, possuem funções comunicativas diferentes.

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Tabela 10: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe gênero

Gênero Frequência Peso RelativoNotícia 62/119=52% .42Opinião 42/74=56% .43Editorial 32/56=60% .54Carta 23/31=74% .72Crônica 25/37=67% .63Input 184/314 = 58% .61

Segundo os resultados da tabela 10, as cartas de leitores destacam-se como o gênero que

mais favorece circunstanciais de tempo em ME, com peso relativo de .72. Seguem-se as crônicas

com .63. Os editoriais, por sua vez, se particularizam por maior variabilidade dos circunstanciais

temporais entre as duas periferias oracionais, com peso relativo .54.

Destaca-se, ainda, a proximidade nos pesos relativos atribuídos às notícias (.42) e aos

artigos de opinião (.43). Esses dois gêneros são os que mais desfavorecem a ocorrência dos

temporais na margem esquerda da oração, isto é, se caracterizam por maior recorrência de

circunstanciais em MD.

Esses resultados corroboram parcialmente o que outros autores encontraram. Paiva et alii

(2007) já mostraram que, por um lado, as notícias desfavorecem temporais em ME (cf também

ILOGTI de SÁ, 2009) e que, por outro, as crônicas favorecem a ocorrência destes constituintes

nesta posição. No que se refere aos editorais, as tendências identificadas neste estudo se

distinguem da depreendida em outros estudos, como o de Paiva et alii (op cit) e Ilogti de Sá (op

cit), em que, neste gênero, foi encontrado o maior índice de temporais na periferia esquerda da

oração.

A predominância de SPreps temporais em ME nas notícias/reportagens parece se

conformar às particularidades funcionais, ou propósitos comunicativos desse gênero, que se

refletem, inclusive, em muitas das suas características formais. As notícias são textos objetivos

que se caracterizam pelo maior afastamento do locutor, e privilegiam ações, eventos, seus

participantes, coordenadas locativas (onde) e temporais (quando). Caracterizam-se, portanto,

pela predominância de textos narrativos em que a ordem cronológica da narração assegura a

sequenciação temporal e locativa dos fatos no desenvolvimento do texto. Nas notícias, a maior

recorrência de circunstanciais em ME pode ser consequência, por um lado, da maior exigência de

continuidade referencial nesse gênero e, por outro, da ênfase em ações mais pontuais que se

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situam em um ponto específico do tempo ou do espaço. Nesse caso, é natural que os

circunstanciais apresentem escopo mais reduzido à predicação.

Os resultados para os locativos, embora não selecionados na análise multivariacional,

confirmam a tendência observada para os temporais em relação às cartas de leitores, mas

apresentam diferenças para os demais gêneros.

Tabela 11: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe gênero

Gênero Frequência Peso RelativoNotícia 24/107 =22% (.48)Opinião 19/70=27% (.58)Editorial 17/69=24% (.35)Carta 20/39=51% (.68)Crônica 11/52=21% (.46)

De forma semelhante ao atestado para os temporais, as cartas de leitor são um gênero

favorecedor também de locativos na margem esquerda da oração, com peso relativo de .68.

Diferentemente do que foi verificado para temporais, o peso relativo para artigos de opinião se

destacam por serem o segundo mais propício a locativos em ME, com peso relativo de.58. As

notícias e as crônicas, com valores muito próximos tendem a desfavorecer locativos em ME. Os

editorais, por sua vez, se destacam pelo menor índice de favorecimento de locativos na margem

esquerda, com peso relativo de .35.

O comportamento mais regular e independente da categoria semântica do circunstancial é

observado nas cartas de leitores. A maior incidência dos circunstanciais em ME nas cartas

também pode ser explicada em termos de propriedades funcionais desse gênero. Temporais e

locativos nessa posição podem expandir seu escopo de atuação e estabelecer elos com o discurso

anterior, inclusive para opinar, elogiar, criticar matérias já publicadas em outras edições do

jornal.

(62) Passar de carro pela Rua São Francisco Xavier, na altura do número 756,próximo à Mangueira, tornou-se um perigo para os motoristas. Nesse local existeum enorme buraco causado por um vazamento e os motoristas não têm tempo dedesviar, porque o trecho é uma descida em uma curva. As freadas são constantes.(Extra – 01/01/2004 – Carta)

No exemplo 62, retirado de uma carta do jornal “Extra”, o Sprep Nesse local

remete aos locativos já mencionados no discurso anterior e se posiciona em ME, o que facilita

esse elo coesivo.

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Tudo indica que as diferenças de comportamento entre locativos e temporais envolve não

apenas a categoria semântica do circunstancial como também o fato de que os locativos possuem

uma tendência muito mais nítida a uma ordem não marcada. Neste caso, confirma-se que a

oposição ordem marcada/não marcada ultrapassa as diferenças atribuíveis a modalidade,

comprovando a posição de Dryer (1995, p.119) para quem "a frequência, de fato, vai variar de

tipo de discurso para tipo de discurso, de texto para texto e de subtexto para subtexto."37

Não se pode descartar, no entanto, a possibilidade de que a variável função do

circunstancial intervenha na correlação entre posição e gênero textual. Por exemplo, dadas as

próprias características das notícias/reportagens, elas são textos favoráveis à ocorrência da função

de predicação e, portanto, de maior ocorrência de circunstanciais na periferia direita da oração.

Para verificar essa possibilidade, procedemos ao cruzamento dessas duas variáveis, como mostra

a tabela 12, para os Spreps temporais.

Tabela 12: Spreps temporais e cruzamentoentre função discursiva e gênero

Funçãodiscursiva

Notícia Editorial Opinião Crônica Carta

Predicação 50 =42,73%

24 =45,28%

28 =37,83%

16 =43,24%

17 =56,66%

Segmentaçãotópica

25 =21,36%

13 =24,52%

12 =16,21%

5 =13,51%

7 =23,33%

Demarcaçãode pontos

11 =9,40%

2 =3,77%

14 =18,91%

0 = 0% 2 =6,66%

Retomadaanafórica

27 =23,07

11 =20,75%

16 =21,62%

16 =43,24%

4 =13,33

Contraste 4 =3,41%

2 =3,77%

2 =2,70%

0 = 0% 0 = 0%

Focalização 0 = 0% 1 =1,88%

2 =2,70%

0 = 0% 0 = 0%

Total 117 53 74 37 30

Destacamos alguns resultados interessantes da tabela 12. Observa-se que, nas notícias há

o predomínio de circunstanciais temporais com função puramente circunstanciadora (42,73%). A

segunda maior recorrência nas notícias é de circunstanciais que sinalizam uma retomada

anafórica (23,07%) e segmentação tópica (21,36%). O predomínio das notícias em MD,

37 (...) frequency will actually vary from discourse type to discourse type, from text to text, and from subtext tosubtext.

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conforme foi visto na tabela 10 (.42 na margem esquerda), pode ser explicado pelo alto índice de

predicação que, por sua vez, predomina na periferia direita (.34 em ME, conforme tabela 8). As

funções de segmentação tópica e anáfora permitem maior variação dos temporais, com valores de

.58 e .54 para ME (tabela 8), o que também contribui para o aumento de notícias na margem

direita.

A distribuição observada nos editoriais é semelhante à das notícias: a função de

predicação é mais frequente (45,28%). Em segundo vem a segmentação tópica (24,52%) e a

retomada anafórica (20,75%). A maior mobilidade dos editoriais entre as margens da oração (.54

na tabela 11) pode ser explicada pelos altos índices das funções de segmentação tópica e

retomada anafórica nesse gênero. Essas funções permitem grande flexibilidade dos temporais,

como foi visto na tabela 8.

Nos artigos de opinião, por sua vez, embora predomine igualmente a função de predicação

(37,83%) não há diferença entre os índices para retomada anafórica e demarcação de pontos.

Atestamos que os artigos de opinião se particularizam pela maior recorrência da função

demarcação de pontos num continuum. Uma explicação é que os autores desses artigos lançam

mão de promover uma sequência de ideias num continuum temporal a fim de defender seus

argumentos, como mostra o exemplo 63, em que mostra a queda da mortalidade infantil, assim

como a melhora do ensino na década de 90.

(63) A década de 90 registrou vitórias importantes. De acordo com o Censo 2000,realizado pelo IBGE, a mortalidade infantil caiu 38% entre 1991 e 2000. Em 1992,18,2% das crianças entre 7 e 14 anos não frequentavam a escola. Agora, o acessoao ensino fundamental foi universalizado. A taxa de analfabetismo dos maiores de15 anos caiu de 18,3% para 13,8%, e as matrículas no ensino superior tiveramacréscimo de quase 30% entre 1994 e 1998. (O Globo – 28/10/2002 – Opinião)

Nas crônicas, não há diferença entre predicação e retomada anafórica. Ao que tudo

indica, no entanto, o uso de temporais remetem para o discurso precedente, com índice de

43,24% de anáfora nesse gênero, o que explica a maioria de Spreps temporais em ME (.63),

como foi visto na tabela 10.

Nas cartas, predomina a função de predicação com 56,66% dos casos. Embora pareça uma

contradição, já que circunstanciais com a função de predicação tendem a ocorrer na margem

direita, na maioria das cartas os temporais remetem a um tempo até o momento, ou até hoje,

como no exemplo 64, e se localizam, preferencialmente, na margem esquerda.

(64) As ruas do Parque Paulista, em Duque de Caxias, continuam completamente

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esquecidas pelas autoridades do município. Até hoje, os moradores esperam pelaspromessas que sempre são feitas e não suportam mais ser tratados com tantodescaso. Cobramos saneamento básico e a colocação de asfalto. (Extra –01/01/2004)

Os resultados para os locativos apresentam algumas diferenças em relação aos temporais.

Tabela 13: Spreps locativos e cruzamentoentre função discursiva com gênero

Funçãodiscursiva

Notícia Editorial Opinião Crônica Carta

Predicação 53 =49,53%

33 =47,82%

51 =73,91%

31 =59,61%

8 =20,51%

Segmentaçãotópica

5 =4,67%

10 =14,49%

5 =7,24%

5 =9,61%

2 =5,12%

Retomadaanafórica

44 =41,12%

20 =28,98%

12 =17,39%

16 =30,76%

28 =71,79%

Contraste 5 =4,67%

3 =4,34%

1 =1,44%

0 = 0% 0 = 0%

Focalização 0 = 0% 3 =4,34%

0 = 0% 0 = 0% 1 =2,56%

Total 107 69 69 52 39

Para os locativos, nas notícias, editoriais, crônicas e artigos de opinião prevalece a função

de predicação, seguida da de retomada anafórica. A predominância desses quatro gêneros em

MD, notícia (78%), editorial (76%), artigo de opinião (73%) e crônica (79%), conforme a tabela

11, reflete a predominância da função de predicação, que ocorre mais na margem direita.

As cartas possuem comportamento particular e nelas predomina a função de retomada

anafórica. A maior ocorrência das cartas na margem esquerda (51% na tabela 11) se explica em

função da predominância maciça de circunstanciais que funcionam como backward tie. O

exemplo 65 é ilustrativo, em que o Sprep nessa rua retoma a rua Imboassu, mencionada no

contexto anterior.

(65) Mais um verão chegou e a Prefeitura de São Gonçalo não tomou providênciaalguma para proteger os moradores da Rua Imboassu. Nessa rua existe um valãoque está completamente poluído e cheio de lixo e mato. (Extra – 07/01/2004 –Carta)

Nota-se uma regularidade no gênero cartas para os dois tipos de circunstancial. Tanto nos

temporais, como nos locativos, as cartas tendem a ocupar a periferia esquerda da oração.

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Neste capítulo mostramos a influência de fatores sintáticos, semânticos e discursivos na

ordem de Spreps de tempo e de lugar. Entre os fatores sintáticos, mais do que os tipos de verbo

que ocorrem em uma oração, apontamos os tipos de sujeito como o fator mais influente na

ordenação de constituintes circunstanciais. Destacamos a importância de separar sujeitos de 3ª

pessoa de um lado e, de outro, sujeitos de 1ª e 2ª pessoas que operam diferentemente sobre os

padrões de ordenação. Destacamos, ainda, que funções discursivas como focalização, contraste e

segmentação tópica levam os Spreps locativos para ME, o que comprova uma associação entre

ordem marcada e função pragmática mais marcada. Os resultados para os temporais evidenciam

que esses constituintes possuem funções inerentes e que essas funções definem sua posição na

oração.

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6- SEQUÊNCIAS DE CIRCUNSTANCIAIS

Neste capítulo, focalizamos a co-ocorrência de dois ou mais circunstanciais em uma

mesma oração. Procuramos verificar, em primeiro lugar, se a ordem não marcada dos

circunstanciais temporais e locativos varia quando co-habitam entre si ou co-ocorrem com outros

constituintes circunstanciais. Analisamos a co-ocorrência de circunstanciais sob duas

perspectivas: a primeira perspectiva se concentra na co-ocorrência de circunstanciais da mesma

categoria semântica; na segunda, focalizamos a co-ocorrência de circunstanciais de classe

semântica distinta. Para tanto, incluímos os circunstanciais de modo, dada a sua importância para

verificar hipóteses relativas à forma de sequenciação de categorias semânticas distintas, como já

salientado por Hawkins (2000) para a língua inglesa e Paiva (2008c) para o português brasileiro.

Nossos objetivos são: a- identificar e discutir os padrões de sequenciação relativa de

Spreps de tempo, modo e lugar; b- depreender os fatores que motivam a sequenciação relativa de

circunstanciais temporais, locativos e de modo, uma variação que, como já mostraram outros

autores, envolve a ação de princípios distintos. Neste estudo, procuramos verificar, sobretudo, os

princípios de centralidade semântica (princípio MPT), proposto por Quirk et alii (1985), o

princípio de integração ou coesão (TOMLIM, 1986, GIVÓN, 2001) e o princípio peso final,

segundo o qual constituintes menores precedem os constituintes maiores (WASOW, 1997,

HAWKINS, op.cit, GIVÓN, 2001, LOHSE et alii, 2003, PAIVA, 2012). Partimos da hipótese de

que o princípio ligado ao peso dos constituintes é mais relevante para a compreensão da forma

como são sequenciados circunstanciais de categoria semântica distinta.

Antes de passarmos à discussão desses princípios, discutimos a possibilidade e o limite na

posição variável de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica, pelo interesse

que ela coloca para a questão da ordem marcada/não marcada de ordenação dos constituintes

satélite.38

38 Uma questão a considerar é que há possibilidade de que a função discursiva, que é associada ao circunstancial namargem esquerda, interfira na ordenação de constituintes que co-ocorrem. No entanto, como a maioria dos dados deco-ocorrência dos circunstanciais se dá na margem direita da oração, não foi possível abordar esta correlação deforma mais conclusiva..

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6.1 Ordenação de dois circunstanciais da mesma categoria semântica

Em orações nas quais ocorrem dois circunstanciais da mesma categoria semântica,

observam-se diversos padrões de ordenação que envolvem as margens da oração e posições

adjacentes ao verbo, o que resulta nas seguintes configurações possíveis:

Dois em ME:

(66) Enquanto que ali, do outro lado, no Corte do Cantagalo, à sombra dosmanguezais de Sacopenapã, os índios tamoios lambiam os beiços ao comer, commandioca, os miolos de seus (JB – 02/06/2003 – Opinião)

Dois em MD:

(67) Eu de fato estava pretendendo tirar umas férias e ia estrear em grande estilo,com uma ida à França, para buscar um prêmio que (sic) me deram lá. ( O Globo –03/11/2002 – Opinião)

Um em ME e um em MD:

(68) No programa de Lula há três outras propostas originais na área social. (OGlobo - 26/03/2003)

Um entre sujeito e verbo e um em MD:

(69) A rede de esgoto da Rua Tomás, no bairro Nova Aurora, em Belford Roxoestá entupida na altura do número 55. (Extra - 01/01/2004 - Carta)

Um em ME e um entre sujeito e verbo:

(70) Já no final do século XIX o Barão de Mauá, em sua "Exposição aos Credoresde Mauá & Cia." (obra da qual dizia Alberto de Faria que "devia andar por todasas escolas onde houvesse um homem a criar, um compatriota a educar"),testemunhava a impossibilidade de reerguer sua empresa falida,(...). (O Globo –01/11/2002 – Opinião)

Um em ME e um entre verbo e objeto:

(71) Pela primeira vez, o Brasil colherá em 2003 - evidentemente se o clima forfavorável - uma safra superior a 100 milhões de toneladas de grãos. (O Globo –29/10/2002 – Editorial)

Dois entre sujeito e verbo:

(72) Existe na Rua Amaro Cavalcante, perto da entrada da estação de trem doEngenho de Dentro, um buraco enorme causado por um vazamento de águapotável. (Extra – 03/01/2004 – Carta)

Dois entre verbo e objeto:

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(73) O senador Sarney descreveu, de maneira detalhada , sem o menor escrúpulo,o “périplo” feito pela cidade de Nova York. (JB – 23/04/2004 – Carta)

Nesta seção são considerados não só os casos de dois sintagmas preposicionais, como nos

exemplos (71), (72), (73), como também de um advérbio seguido de um Sprep, como em (74):

(74) O guardião dos rios Marcelo Luiz, de 30 anos, morreu ontem, por volta das15h,(...) (O Globo – 25/09/2002)

Partimos do pressuposto de que, em orações com dois ou mais locativos ou temporais, são

privilegiadas as margens da oração, principalmente a margem direita, entre outras razões pelo

aumento do peso do constituinte circunstancial. A distribuição da tabela 14 corrobora esta

hipótese, principalmente para os circunstanciais de lugar e de modo.

Tabela 14: Distribuição de circunstanciais da mesma categoria semânticapelas posições na oração

Configurações L L T T M M2 em ME 25/80 =32% 5/15 = 34% 0 = 0%2 em MD 48/80 =60% 6/15 = 40% 4/6 = 68%1 em ME e 1 em MD 4/80 = 5% 2/15 = 13% 1/6 = 16%1 entre suj. e V e 1 em MD 1/80 = 1% 0 = 0% 0 = 0%1 entre V e O e 1 em ME 0 = 0% 2/15= 13% 0 = 0%2 entre V e O 1/80 = 1% 0 = 0% 1/6 = 16%2 entre suj. e V 1/80 = 1% 0 = 0% 0 = 0%

Antes de mais nada, confirma-se, como já atestado no capítulo 5, a tendência dos

circunstanciais a ocuparem as margens da oração e a forte restrição desses constituintes nas

posições internas à oração, com índices muito baixos. Observa-se, ainda, que essa tendência é

independente da categoria semântica do circunstancial. Mesmo os circunstanciais de modo, para

os quais se poderia esperar maior adjacência em relação ao núcleo verbal, verifica-se a

preferência pelas periferias da oração. Ressalta, porém, a margem direita da oração como posição

mais frequente para o caso de sequências de dois circunstanciais da mesma categoria semântica,

principalmente para os locativos (60%) e os de modo (68%). No que se refere aos locativos,

confirma-se a tendência constatada nas orações com apenas um circunstancial que, como vimos

no capítulo 5, apresentam como ordem não marcada a posição final da oração. Um aspecto a

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destacar também é que a terceira possibilidade de configuração sintagmática distribui os dois

constituintes pelas margens da oração.

Essa distribuição de dois circunstanciais de mesma categoria de tempo, modo e lugar pode

ser vista em termos de traços semânticos dos próprios constituintes adverbiais, seu papel na

organização discursiva e seu peso ou extensão. Consideremos, primeiramente a questão dos

traços semânticos nas sequências de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria dêitica,

uma questão ilustrada em (75):

(75) Lá na polícia ele pode ser deficiente, porque não tem a falange para usar ogatilho. (JB – 23/10/2002 – Notícia)

Em 75, tem-se uma proforma locativa acompanhada de um sintagma preposicional. O

advérbio locativo, por si só, introduz uma referência locativa mais imprecisa, indeterminada que

é especificada pelas coordenadas locativas introduzidas pelo SPrep na polícia. Podemos dizer

que, de certa forma, o locativo, ganha referência, através de uma relação catafórica.

Há outros casos em que o advérbio já possui significado intrínseco, como mostra o

exemplo 76.

(76) O guardião dos rios Marcelo Luiz, de 30 anos, morreu ontem, por volta das15h,(...) (O Globo – 25/09/2002)

No exemplo 76, ocorre uma sequência de advérbio + Sprep temporal em que o advérbio

ontem caracteriza um espaço temporal que pode ser determinado independentemente da presença

do Sprep que o segue (o dia anterior ao de hoje). Observemos, no entanto, que o advérbio ontem

introduz um intervalo temporal mais amplo, que é especificado pelo Sprep por volta das 15h. Em

outros termos, o Sprep delimita um ponto mais preciso no espaço temporal compreendido em

ontem, situando de forma mais precisa a morte do guardião.

Uma forma semelhante de organização da informação dêitica pode ser observada também

no exemplo (77) em que se sequenciam dois Spreps locativos:

(77) Os policias estavam a 200 metros da escola, no cruzamento da AvenidaMaricá com a Estrada do Colubandê. ( JB – 23/10/2002 – Notícia)

Em 77, o Sprep no cruzamento da Avenida Maricá com a Estrada do Columbandê

determina com mais exatidão o ponto em que se encontravam os policiais. Mais uma vez

podemos dizer que o primeiro circunstancial é mais inclusivo e o segundo opera no sentido de

precisar o ponto espacial em que se situa o estado de coisas descrito.

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Discursivamente, os exemplos 75, 76 e 77 mostram a sequência de elementos fóricos, em

que, ora o referente é retomado cataforicamente, ora por coordenandas temporais ou locativas já

inseridas no discurso anterior. Assim, as proformas adverbiais introduzem uma coordenada

dêitica no discurso e os Spreps fornecem especificações temporais ou locativas mais exatas.

A introdução de coordenadas dêiticas mais específicas, ou seja, mais informação nova,

resulta, naturalmente no aumento da extensão do sintagma preposicional. Os dois circunstanciais

em sequência constituem uma espécie de unidade que os torna mais pesados e mais extensos, o

que nos leva a suspeitar que seu posicionamento na margem direita da oração decorra de um

princípio como peso final.

O princípio de peso final (end weight), proposto por Quirk et alii (1985), retomado por

diferentes autores (HAWKINS, 2000, WASOW, 1997, 2002, LOHSE et alii, 2003, PAIVA,

2012) prevê que constituintes mais pesados se situem no final da oração. Como mostram Wasow

(op.cit), Lohse et alii (op.cit), o princípio segundo o qual os constituintes maiores tendem a se

situar na posição final da oração e a ser precedidos por constituintes menores pode explicar fatos

linguísticos diversificados, tais como a posição do complemento dativo no inglês. Dessa forma,

alternam-se as possibilidades I gave my son a book com I gave a book to my son. No caso de o

complemento dativo ser realizado por um pronome, forma monossilábica, o que prevalece é a

ordem dativo-acusativo, como em I gave him a book. Este princípio pode explicar também a

disposição sintagmática de múltiplos Spreps circunstanciais, particularmente os que se localizam

após o verbo.

Um problema é a distinção entre peso de um constituinte e sua complexidade. Embora

haja uma superposição entre extensão e complexidade, na medida em que um constituinte mais

complexo é mais longo, há necessidade de tratá-las separadamente.

É possível estabelecer uma relação entre o princípio de peso final e o subprincípio de

quantidade proposto por Givón (1995, 2001)39. Pelo princípio de quantidade entende-se que uma

informação maior requer material linguístico mais extenso. Dessa forma, é possível que o

princípio de peso final reflita, na verdade, um procedimento de codificação de informação no

discurso: informação nova segue informação velha.

Um problema na análise do princípio peso final se refere à forma de mensuração de

extensão, que pode ser considerada a partir de diferentes parâmetros. Neste estudo, decidimos

39 O subprincípio de quantidade se insere no princípio mais geral de iconicidade.

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controlar a extensão do constituinte circunstancial em termos do número de palavras (método já

usado, por exemplo, por LOHSE et alii, op.cit, ILOGTI de SÁ, 2009, PAIVA, op.cit) de que são

constituídos, considerando a extensão de um em relação a outro. Considerei artigos e preposições

e nomes compostos como uma palavra cada.

a-1 > 2

(78) O evento no céu foi visto de grande parte do território nacional, edocumentado por um cinegrafista amador que filmava uma festa em Camaçari, naBahia. (JB – 02/06/2003 – Opinião)

No exemplo 78, o primeiro Sprep possui seis palavras e é mais extenso do que o segundo,

que possui apenas duas.

b- 1 < 2

(79) A diretoria do Fluminense acertou a contratação de Ricardo Gomes namadrugada de ontem, logo após a vitória do time sobre a Portuguesa.(JB –06/03/2004 – Notícia)

No exemplo 79, o primeiro Sprep temporal é menos extenso (quatro palavras) do que o

segundo (nove palavras).

c- 1 = 2

(80) E se o Botafogo vai assumindo jeito de empresa, com planejamento sério epés no chão, os demais ficam aí a anunciar a vinda de jogadores manjados e detécnicos conhecidos, em atitudes tipo engana-trouxa. (Extra – 02/02/2004 –Opinião)

No exemplo 80, os Spreps de modo possuem a mesma extensão, com duas palavras cada.

Partimos do pressuposto de que na sequenciação de dois Spreps locativos, temporais ou

de modo, os mais extensos seguem os menos extensos. Na tabela 15, encontram-se os resultados

para a sequenciação de circunstanciais na margem direita da oração.

Tabela 15: Circunstanciais na margem direita e extensãoExtensão LL TT MM

1º > 2º 9/40 = 22,5% 1/6 = 16,66% 0/4 = 0%1º < 2º 12/40 = 30% 5/6 = 83,33% 2/4 = 50%1º = 2º 19/40 = 47,5% 0/6 = 0% 2/4 = 50%Total 40 6 4

Observamos que, quando os locativos são de extensão distinta, confirma-se o princípio de

peso final, ou seja, o segundo locativo é mais extenso do que o primeiro (30%). No caso de dois

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temporais, destaca-se a sequência em que o primeiro circunstancial é menos extenso do que o

segundo. Sendo assim, a grande maioria reflete a ação do princípio de peso final. Na

sequenciação de dois locativos, a maioria envolve casos em que os dois possuem a mesma

extensão (47,5%).

A sequência de dois circunstanciais de modo é muito escassa. A inexistência de casos de

sequenciação na forma de circunstancial de modo + extenso seguido de circunstancial de modo –

extenso é favorável a uma interpretação em termos de peso final.

Uma questão a considerar é se no caso em que os dois circunstanciais se posicionam na

margem esquerda da oração, pode-se observar a mesma forma de ordenação, como mostram os

resultados da tabela 16.40

Tabela 16: Circunstanciais na margem esquerda e extensão

Extensão LL TT1º > 2º 12/23 = 52,27% 2/4 = 50%1º < 2º 9/23 = 39,13% 2/4 = 50%1º = 2º 2/13 = 15,38% 0/4 = 0%Total 23 4

Os resultados da tabela 16 mostram tendências diferentes para os circunstanciais situados

na margem esquerda da oração. Atestamos que, nas sequências de dois locativos situados em ME,

os sintagmas preposicionais maiores precedem os menores (52,27%). Para os Spreps temporais, a

grande variabilidade impede a identificação de uma tendência mais clara. Tudo indica que, para a

margem esquerda da oração, o princípio de peso final é menos decisivo, fazendo-nos suspeitar

que, nessa periferia, a questão do papel especificador do segundo circunstancial tenha mais

importância do que seu peso. Confirma-se, então, a importância do princípio de peso final para a

ordenação de constituintes satélites em posição pós-verbal.

Na seção seguinte, retomaremos a questão do princípio final sob a perspectiva da

ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas.

40 Para os circunstanciais que se localizam na margem esquerda, não foram encontrados dados de MM, como mostra

a tabela 17.

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6.2- Ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas

A questão focalizada nesta seção envolve a co-ocorrência de circunstanciais de categoriais

semânticas distintas que, como mostram os exemplos de (81) a (89), podem se ordenar de forma

diferenciada:41

Tempo - lugar

(81) Em janeiro e fevereiro de 1985, dividi um apartamento com ele, em Havana,integrando a comissão julgadora do Prêmio Casa de las Américas. (JB – 3/6/2003- Opinião)

Lugar - tempo

(82) Infelizmente ele não está no país durante o carnaval; (O Globo – 4/10/2002 -Opinião)

Tempo-modo

(83) Ao final(do jogo), com aquele sotaque do Brás, (o ex-jogador Casagrande)concluiu. “O Brasil é o melhor... aliás, já nem sei se o Brasil é o melhor.” (Extra –17/01/2004 – Opinião)

Modo - tempo

(84) Antes, os jogadores se apresentariam sábado e ficariam à disposição deParreira até quarta-feira. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)

Lugar – modo

(85) Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentaistem sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade. (JB –02/06/2003 – Opinião)

Modo - lugar

(86) Acontece que está em jogo a sobrevivência de amplos setores produtivosoperando no Brasil, gerando empregos e renda nacional, os quais não vêm atuandomais agressivamente no mercado internacional ( O Globo – 21/10/2002 – Opinião)

Tempo – lugar - modo

(87) A seleção brasileira enfrentará o Paraguai, no próximo dia 31, em Assunção,praticamente sem treinar. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)

41 Os circunstanciais predicativos entraram como modo na nossa análise.

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Modo – tempo - lugar

(88) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisamcomparecer com urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)

Modo – lugar - tempo

(89) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade noRio, no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)

A variação ilustrada acima tem sido explicado com referência a diferentes princípios: o

princípio de centralidade semântica, o princípio de coesão entre verbo e seus argumentos e o

princípio peso final. Com esta análise, procuramos mostrar que há evidências favoráveis a uma

ação mais ampla do princípio de peso final, embora não possa ser descartada a influência dos

aspectos sintáticos. Nas seções seguintes, discutimos cada um desses princípios e procuramos

verificar seu efeito sobre a variação sintagmática ilustrada de (81) a (89).

Antes de passarmos à discussão desses princípios, é interessante considerar a distribuição

das configurações sintagmáticas possíveis para dois ou mais Spreps de categorias semânticas

distintas.

Tabela 17: Distribuição de circunstanciais de categoria semântica distintapelas posições na oração

Configurações Tempo elugar

Tempo emodo

Lugar emodo

2 em ME 5 /81 =6,17%

1/10 =10%

1/18 =5,55%

2 em MD 31/81 =38,27%

6/10 =60%

14/18=77,77%

1 em ME e 1 em MD 35/81 =43,20%

1/10 =10%

1/18 =5,55%

1 entre suj. e V e 1 emMD

1/81 = 1,23% 0 = 0% 0 = 0%

1 entre V e O e 1 em ME 3/81= 3,70% 1/10 =10%

1/18 =5,55%

1 entre V e O e 1 em MD 4/81 = 4,93% 0 = 0% 1 /18 =5,55%

1 entre suj. e V e 1 emME

1/81 = 1,23% 1/10 =10%

0 = 0%

2 entre V e O 0 = 0% 0 = 0% 0 = 0%2 entre suj. e V 0 = 0% 0 = 0% 0 = 0%TOTAL 81 10 18

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Observamos a predominância de sequências de circunstanciais TM e LM na margem

direita da oração. A sequenciação TL apresenta tendência diferenciada e mostra que os

circunstanciais se distribuem pelas duas margens da oração, embora haja, também, alto índice na

margem direita (38,27%). Se por um lado a tendência de circunstanciais na margem direita é

confirmada, por outro, há grande variabilidade entre as duas margens quando se trata da

sequenciação TL. Olhando para os dados, encontramos que, nessa sequência TL, a maioria dos

temporais estão em ME e a maioria dos locativos, em MD.

6.2.1 Ordenação e centralidade semântica

Nesta seção, é focalizada a sequenciação de Spreps de categoria semântica distinta, quais

sejam, tempo, lugar e modo sob a perspectiva de aspectos semânticos. Analisando dados do

inglês, Quirk et alii (1985) propõem, para as orações com circunstanciais de tempo, modo e lugar

um princípio segundo o qual a sequenciação é feita de acordo com a categoria semântica dos

circunstanciais, ou seja, modo-lugar- tempo (Princípio MPT). Tal proposta é baseada no

princípio de que estas categorias semânticas se distinguem no seu grau de centralidade em

relação ao estado de coisas descrito e se dispõem na forma de uma hierarquia. Segundo os

autores, a categoria de modo pode ser considerada mais central para os estados de coisas

descritos do que lugar, que, por sua vez, é mais central do que tempo.

A primeira objeção possível a esta proposta envolve sua relação com o tipo de língua no

que diz respeito à ordenação dos constituintes nucleares: ela só é válida, e universal na

perspectiva de Boisson (1981, apud Hawkins 2000), para línguas do tipo SV0, já que em línguas

do tipo OVS a ordenação dessas categoria seria tempo-lugar-modo.

Em muitos aspectos, a hipótese de centralidade semântica remete para o princípio de

iconicidade, tal como proposto, por exemplo, por Haiman (1985), Givón (2001) ou Bybee

(2012), como iconicidade diagramática. Em outros termos, essa hipótese pode ser traduzida em

uma hierarquia sintagmática em que categorias mais centrais ou conceptualmente ligadas ao

verbo são colocadas na sua adjacência e categorias menos centrais tendem a se distanciar do

núcleo verbal.

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A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para

o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante

diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.

Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram

encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,

predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.

Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três

circunstanciais.

No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente

reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria

de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a

categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de

modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não

confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-

ocorrência de temporais e locativos.

Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de

acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com

76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.

A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-

ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:

42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%

24%

Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar

112

A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para

o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante

diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.

Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram

encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,

predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.

Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três

circunstanciais.

No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente

reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria

de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a

categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de

modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não

confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-

ocorrência de temporais e locativos.

Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de

acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com

76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.

A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-

ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:

42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%

76%

tempo-lugar

lugar-tempo

Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar

112

A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para

o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante

diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.

Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram

encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,

predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.

Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três

circunstanciais.

No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente

reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria

de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a

categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de

modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não

confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-

ocorrência de temporais e locativos.

Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de

acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com

76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.

A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-

ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:

42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%

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113

Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com

55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma

semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais

uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.

Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a

uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.

De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos

dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.

Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao

verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.

44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%

45%

Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo

30%

Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo

113

Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com

55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma

semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais

uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.

Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a

uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.

De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos

dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.

Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao

verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.

44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%

55% tempo-modo

modo-tempo

Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo

70%

modo-lugar

lugar-modo

Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo

113

Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com

55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma

semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais

uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.

Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a

uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.

De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos

dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.

Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao

verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.

44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%

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114

As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na

amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos

de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo

e de modo.

Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as

posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece

alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da

disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes

argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).

Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser

fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com

verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com

temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do

gráfico 6.

O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação

tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).

Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais

adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.

Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português

escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar

(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se

Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais

114

As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na

amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos

de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo

e de modo.

Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as

posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece

alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da

disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes

argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).

Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser

fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com

verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com

temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do

gráfico 6.

O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação

tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).

Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais

adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.

Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português

escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar

(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se

80%

20%

Tempo-lugar

Lugar-tempo

Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais

114

As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na

amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos

de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo

e de modo.

Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as

posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece

alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da

disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes

argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).

Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser

fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com

verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com

temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do

gráfico 6.

O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação

tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).

Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais

adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.

Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português

escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar

(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se

Tempo-lugar

Lugar-tempo

Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais

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115

considerarmos que Paiva (2012) encontra distribuição similar para dados de fala semi-

espontânea.

É possível, porém, que diferenças intra-linguísticas estejam envolvidas na forma de

ordenação de classes semânticas distintas, se considerarmos que Hawkins (2000) encontrou em

uma amostra de 500 páginas e em uma de 100 páginas de inglês escrito, respectivamente, 64% e

66% da sequência lugar-tempo, 67% e 60% de modo-tempo e 28% e 38% de modo-lugar.

As ocorrências escassas de circunstanciais de tempo e de modo ou de modo e lugar em

posição pós-verbal dificulta uma análise quantitativa. Uma análise das poucas ocorrências

encontradas reforça, no entanto, as tendências já destacadas.

Mais raras ainda são, como já dissemos, as ocorrências das três classes semânticas de

circunstanciais na mesma oração. Uma análise mais detida dos exemplos encontrados mostra,

porém, que também nesses casos é possível encontrar variação na forma de sequenciação.

Embora possam ser encontrados exemplos como (89), aqui retomado como 90, que corresponde à

sequenciação prevista pelo princípio MPT

(90) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade no Rio,no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)

podem ser encontradas também ocorrências na ordem modo-tempo-lugar, como no exemplo (88),

aqui retomado como 91:

(91) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisam comparecercom urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)

Na maioria dos casos observa-se, no entanto, a sequenciação tempo-lugar-modo, como no

exemplo (87) aqui retomado como 92:

(92) A seleção brasileira enfrentará o Paraguai, no próximo dia 31, em Assunção,praticamente sem treinar. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)

As evidências contrárias a uma forma de ordenação de acordo com a centralidade

semântica contradizem, inclusive, o princípio funcionalista de iconicidade. Discutimos, a seguir,

outros princípios funcionais que, a nosso ver, impõem restrições mais claras sobre a sequenciação

de circunstanciais.

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116

6.2.2- Relações de dependência sintática

Como já adiantamos no início deste capítulo, restrições ligadas à dependência entre o

circunstancial e o verbo ao qual se liga podem operar sobre a forma de encadeamento dos

circunstanciais de categoria semântica distinta. Essa dependência pode ser traduzida no que

Tomlin (1986) denomina princípio de coesão e Givón (1995, 2001) propõe como princípio de

integração: simplificadamente podemos dizer que conteúdos mais agregados cognitivamente,

tendem a ser sintaticamente mais ligados e, sintagmaticamente, adjacentes.

Nesta seção, focalizamos este princípio, considerando os resultados para dois grupos de

fatores: o tipo sintático do verbo e a função sintática do circunstancial.

Partimos da hipótese de que, no caso de se seguirem dois ou mais constituintes

circunstanciais na mesma oração, manterá maior proximidade com o verbo aquele que integrar

sua grade argumental.

Os resultados para o tipo sintático do verbo fornecem pouca evidência para um princípio

ligado à dependência semântica, como mostram os resultados da tabela 18 relativos aos dados de

tempo e lugar.

Tabela 18: Sequências de tempo e lugare tipo sintático do verbo

Tipo verbal TL LTVerbo intransitivo 15/17 = 88% 2/17 = 12%Verbo transitivo com objetorealizado

40/50 = 80% 10/50 = 20%

Verbo de ligação 8/11 = 72% 3/11 = 28%Verbo transitivo sem objetorealizado

2/3 = 66% 1/3 = 34%

Independentemente do tipo sintático de verbo, a tendência já verificada na seção anterior

de que os temporais precedem os locativos se mantém. Há, no entanto, uma pequena queda nos

verbos de ligação, o que se explica como consequência do fato de que a maioria dos verbos

incluídos nesta categoria, principalmente o verbo continuar, apresenta o traço [+ locativo].

Nesse caso, a estreita dependência semântica entre o verbo e o locativo cria um contexto

favorável à atuação do princípio de integração.

Mantendo cautela em função do número muito baixo de dados, podemos observar

situação similar quando está envolvida a categoria modo, como se atesta na tabela 19.

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117

Tabela 19: Sequências de tempo e modo e tiposintático do verbo

Tipo verbal TM MTVerbo intransitivo 2/3 = 66% 1/3 = 34%Verbo transitivo comobjeto realizado

1/2 = 50% 1/2 = 50%

Verbo de ligação 0/0 = 0% 1/1 = 100%Verbo transitivo semobjeto realizado

2/3 = 66% 1/3 = 34%

A tendência de que o circunstancial de tempo ocupe a posição mais próxima do verbo se

mantém, independentemente do tipo sintático do verbo com que está ligado. Pode-se notar, no

entanto, que essa tendência é mais expressiva com os verbos transitivos, independentemente de o

objeto direto ser realizado foneticamente ou como categoria vazia (66%).

De acordo com o resultados da tabela 20, também para a combinação lugar e modo, pode-

se constatar uma certa independência entre a forma de sequenciação dos dois circunstanciais e o

tipo sintático de verbo.

Tabela 20: Sequências de lugar e modo e tiposintático do verbo

Tipo verbal ML LMVerbo intransitivo 4/5 = 80% 1/5 = 20%Verbo transitivo comobjeto realizado

6/9 = 66% 3/9 = 34%

Verbo de ligação 2/3 = 66% 1/3 = 34%

Como já foi atestado na seção anterior, observa-se maior proximidade da categoria de

modo em relação ao verbo para todos os tipos sintáticos de verbos considerados.

Um aspecto importante fica obscurecido na análise acima, qual seja, a função sintática do

circunstancial. Em alguns casos, um dos circunstanciais presentes na oração pode ser exigido pela

estrutura argumental do verbo, como no exemplo (93)

(93) A polícia só chegou ao local do crime duas horas depois. (O Globo –06/03/2004 – Carta)

(94) O estrangeiro ouviu falar muito da famosa alegria de viver dos brasileiros.Infelizmente ele não está no país durante o carnaval; mas pode acompanhar acarreata de um candidato conhecido numa vila no interior - e vai ver cidadãos queovacionam o político, que o escoltam com as suas bicicletas, que brigam para

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118

obter os bonés e camisetas que ele joga para todos os lados. (O Globo –04/10/2002 – Opinião)

No exemplo 93, o verbo chegar exige um complemento locativo e o Sprep ao local do

crime na sua adjacência garante maior coesão entre verbo e argumento. No exemplo 94, o Sprep

no país se localiza logo após o verbo estar, indicativo de posição, que possui igualmente o traço

[+locativo] e traz o circunstancial para junto de si.

Em outros casos, os dois circunstanciais presentes na oração possuem função adjunta ou –

argumental , como em (95)

(95) O primeiro teste foi uma a demonstração de força: os partidários da reformada Previdência - tal como defendida pelo presidente Lula - venceram de goleadana Comissão de Constituição e Justiça.(JB – 08/06/2003 – Editorial)

Este aspecto foi analisado considerando a função dos dois constituintes circunstanciais

presentes na oração: ambos [-argumental], ambos [+argumental] o primeiro deles [+argumental]

e o segundo [- argumental]. Podemos esperar que, independentemente da categoria semântica, a

terceira situação seja mais decisiva para a forma de sequenciação de dois ou mais circunstanciais

na mesma oração, com maior adjacência ao verbo do circunstancial [+ argumental].

Considerando, primeiramente, as orações com locativos e temporais, cujos resultados são

mostrados na tabela 21, podemos concluir por uma fraca correlação entre a função do

circunstancial e sua posição.

Tabela 21: Sequências de tempo e lugar e funçãosintática do circunstancial

Função TL LTCirc circ 38/45 = 84,44% 7/45 = 15,55%Circ Arg 12/14 = 85,71% 2/14 = 14, 28%Arg Circ 0/0 = 0% 6/6 = 100%

Em orações nas quais os dois Spreps sejam [-argumental], mantém-se a tendência mais

geral de que os temporais precedam os locativos (84,44%). No entanto, podemos considerar que

essa tendência é, pelo menos em parte, independente da função do circunstancial, pois essa forma

de sequenciação é predominante (85,71%), mesmo quando o locativo é argumental, como é o

caso do exemplo (96):

(96) Um fiel leitor, dizendo-se morador do Estácio e chamar Paulo, me ligou paradizer que eu fui rude com os camelôs de cervejas que estavam, domingo último,

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119

na Marquês de Sapucaí, por ocasião dos ensaios técnicos de Mangueira e ImpérioSerrano. (Povo – 15/01/2004 – Crônica)

A única evidência favorável a um princípio de dependência sintática é fornecida pelo caso

em que o primeiro deles é argumental, situação encontrada apenas para os locativos: observa-se

categoricamente a ordenação relativa lugar-tempo, como no exemplo (97):

(97) Os moradores estão muito preocupados e se sentem inseguros ao chegar emcasa à noite. (Extra – 05/01/2004 – Carta)

A distribuição da tabela 21 confirma a ligação mais estreita entre locativos e o verbo, o

que pode ser explicado com uma consequência do fato de que muitos verbos como os que

indicam posição no espaço possuem um traço [+ locativo] inerente. Neste caso, aplica-se o

mesmo princípio que rege a proximidade entre um verbo e seu complemento, ou seja, o princípio

de integração, mantendo-se o locativo na adjacência do verbo. Entretanto, observa-se que tal

restrição pode ser infringida, resultando em sequenciações que, segundo as indicações, são

reguladas por outros princípios. Portanto, um princípio de integração ou de coesão não consegue

explicar inteiramente a sequenciação variável de circunstanciais locativos e temporais.

Uma análise mais focalizada nas sequências de tempo e lugar em posição pós-verbal,

torna ainda mais evidente a precedência do Sprep temporal em relação ao Sprep locativo, como

mostra a tabela 22.

Tabela 22: Sequências de tempo e lugar em posição pós-verbale função sintática do circunstancial

Função TL LTCirc circ 22/25 = 88% 3/25 = 12%Circ Arg 10/11 = 90% 1/11 = 10%

Em orações nas quais os dois Spreps circunstanciais seguem o núcleo verbal ao qual se

ligam, os índices de anteposição do temporal ao locativo se tornam quase categóricos, com 88%,

quando ambos são [-argumental] e 90%, quando o primeiro é circunstancial e o segundo é [ +

argumental]. Mais uma vez os resultados corroboram a predominância da sequência TL,

independentemente da função dos circunstanciais, sugerindo que outros princípios têm de ser

considerados, pelo menos nos casos em que está envolvida a classe dos temporais. Hawkins

(2000) argumenta que a dependência léxico-semântica entre verbo e complemento só ocorre

quando processamentos como o peso final são mais fracos.

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120

Ao que tudo indica, a tendência de ordenação tempo-lugar é independente da modalidade

considerada. Paiva (2012) atestou a predominância dessa sequenciação também na fala,

mostrando, ainda, que um efeito de dependência sintática é mais visível nos locativos:

circunstanciais locativos [+ argumentais] tendem a anteceder os temporais.

Os resultados para a sequenciação de tempo e modo apontam tendências semelhantes às

depreendidas para tempo e lugar, como mostra a tabela 23.

Tabela 23: Sequências de tempo e modo e funçãosintática do circunstancial

Função TM MTCirc circ 4/7 = 57% 3/7 = 42%Arg Circ 0/0 = 0% 1/1 = 100%

Confirma-se a tendência de os Sprep temporais antecederem os Spreps de modo quando

ambos realizam função circunstancial. A sequência modo-tempo prevalece quando os

constituintes de modo são argumentais, o que é favorável a uma hipótese de dependência

semântica. No entanto, a quase total inexistência de dados na forma de argumental- circunstancial

(apenas 1 ocorrência) dificulta uma conclusão mais definitiva.

Os resultados da tabela 24 indicam que há um efeito mais expressivo das relações de

dependência sintática para a sequenciação de modo e lugar

Tabela 24: Sequências de lugar e modo e funçãosintática do circunstancial

Função ML LMCirc circ 7/9 = 77% 2/9 = 23%Arg Circ 1/2 = 50% 1/2 = 50%Cir Arg 2/2 = 100% 0/0 = 0%Arg Arg 1/2 = 50% 1/2 = 50%

A sequência modo-lugar prevalece quando os dois constituintes são circunstanciais (77%)

e, principalmente quando o Sprep de modo é circunstancial e o de lugar é argumental. Embora a

escassez de dados não autorize uma conclusão, nos casos em que os dois Spreps são argumentais,

ou que o primeiro da sequência é argumental, pode se instanciar uma ou outra forma de

ordenação.

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121

Observamos que prevalecem as ordenações LT e MT somente quando lugar e modo são

argumentos do verbo e o temporal é circunstancial. Além disso, há indicações de que os Spreps

de tempo tendem a se manter na adjacência do verbo, o que permite concluir que a evidência

para a ação de um princípio que envolve relações de dependência sintática é bastante limitado.

6.2.3- Ordenação e peso do circunstancial

Na seção 1 deste capítulo, já pudemos constatar a relevância do denominado princípio

peso final (end weight), na ordenação de circunstanciais de dois ou mais circunstanciais da

mesma classe semântica. Nesta seção, discutimos em que medida a previsão de que os

constituintes maiores tendem a se situar na posição final da oração e a serem precedidos por

constituintes menores (Quirk et alii, 1985, Wasow, 1997, 2002, Lohse et alii 2003) pode explicar

o que já constatamos na seção anterior, ou seja, a precedência do Sprep temporal em relação ao

Sprep locativo.

Como já foi especificado, neste estudo mensuramos extensão em termos do número de

palavras que constitui o circunstancial. Para a análise da sequenciação relativa, no entanto, foi

considerada, no entanto, a extensão de um circunstancial em relação ao outro que com ele co-

ocorre. Dessa forma, foram consideradas as seguintes possibilidades:

a- tempo > lugar

(98)vai estar o novo técnico do time, o ex -zagueiro Ricardo Gomes, que foi ídolonas Laranjeiras na década de 80. (JB – 06/03/2004 – Notícia)

b- lugar > tempo

(99) O sol saiu pela manhã em Juiz de Fora, o Flu treinou coletivo, mas os trêsveteranos ficaram de fora.(Extra – 16/01/2004 – Opinião)

c- tempo = lugar

(100) Relembrar a cena que encontramos na escola, semana passada, étraumatizante. (JB – 17/09/2002 – Notícia)

d- modo > tempo

(101) Antes, os jogadores se apresentariam sábado e ficariam à disposição deParreira até quarta-feira. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)

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e- tempo > modo

(102) Mesmo que o dólar continue em baixa (ele afeta cerca de 25% do total dadívida) o índice não melhorará substancialmente no ano que vem. ( O Globo –03/11/2003 – Editorial)

f- modo = tempo

(103)Mas, o goleiro do Cruzeiro operou milagres, o maior deles num chute queum tal de Encizo desferiu cara a cara no primeiro tempo. (Extra – 19/01/2004 –Opinião)

g- lugar > modo

(104) Vimos o choque do segundo avião, na torre sul, ao vivo. (O Globo –11/09/2002 – Crônica)

h- modo > lugar

(105) Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentaistem sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade,(...). (JB– 02/06/2003 – Opinião)

i- modo = lugar

(106) Com o noticiário sobre a violência no estado, ela desembarcou no Galeãomuito apreensiva. (O Globo – 25/10/2002 – Opinião)

De acordo com a hipótese mais natural, esperamos que a sequenciação se faça no sentido

do menor para o maior, independentemente da categoria semântica, podendo haver maior

variação quando eles possuem a mesma extensão. Os resultados da tabela 25, relativos à co-

ocorrência de Spreps de tempo e lugar, confirmam apenas parcialmente esta hipótese.

Tabela 25: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde tempo e lugarLugar-Tempo Tempo-Lugar

Lugar>Tempo 1/24 = 5% 23/24 = 95%Tempo>Lugar 11/28 = 40% 17/28 = 60%Tempo = Lugar 3/10 = 30% 7/10 = 70%

As evidências da tabela 25 sugerem maior importância do peso dos locativos do que dos

temporais. Os Spreps circunstanciais de lugar tendem a ocorrer após os temporais quando são

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mais extensos (95%), e a sequenciação lugar-tempo se reduz drasticamente. Para os Spreps

temporais, por sua vez, a distribuição das frequências é menos decisiva: contradizendo a hipótese

colocada, mesmo temporais mais extensos tendem a preceder o locativo (60%) e o índice de

lugar-tempo é significativamente mais baixo (40%). Também diferentemente do que se esperava,

se os constituintes forem de igual extensão, predomina a sequenciação tempo-lugar (70%), com

menor chance de lugar-tempo (30%).

Considerando apenas os dados em que os dois Spreps se situam em posição pós-verbal,

confirma-se a tendência verificada acima, como mostra a tabela 26.

Tabela 26: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde tempo e lugarLugar-Tempo Tempo-Lugar

Lugar>Tempo 1/16 = 7% 15/16 = 93%Tempo>Lugar 7/21 = 34% 14/21 = 66%Tempo = Lugar 2/5 = 40% 3/5 = 60%

Os resultados da tabela 26 confirmam a preferência dos locativos mais extensos pela

margem direita da oração, com percentual de 93% da ordenação tempo-lugar, mostrando mais

uma vez a influência do peso na ordenação desses constituintes. Confirma-se que os temporais

precedem os locativos mesmo quando estes são mais extensos (66%).

Os resultados para tempo e modo se ajustam de forma mais clara às expectativas, como

mostra a tabela 27.

Tabela 27: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde modo e tempo

Tempo-Modo Modo-TempoTempo>Modo 2/5 = 40% 3/5 = 60%Modo>Tempo 2/3 = 66% 1/3 = 34%

Constata-se que os circunstanciais de modo mais extensos se colocam após o Sprep

temporal que o acompanha (66%). No caso de o circunstancial de tempo ser o constituinte de

maior extensão, instancia-se, ao contrário, a sequenciação tempo-modo, ou seja, maior

proximidade do circunstancial de modo em relação ao verbo (60%). As tendências observadas

confirmam então a expectativa de que constituintes menos extensos, mais leves, precedem

constituintes maiores e mais pesados. Uma análise mais detida dos dados permite verificar, ainda,

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que a maior parte dos dados de tempo e modo diz respeito à margem direita da oração,

comprovando, assim, o princípio de peso final.

Os resultados para modo e lugar mostram que o constituinte maior fica mais à direita do

que o constituinte com quem co-ocorre, como pode ser visto na tabela 28.

Tabela 28: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde modo e lugar

Lugar-Modo Modo-LugarLugar>Modo 1/10 = 10% 9/10 = 90%Modo>Lugar 2/3 = 66% 1/3 = 34%Modo = Lugar 1/2 = 50% 1/2 = 50%

Se os circunstanciais de modo forem maiores, eles predominam na sequência lugar-modo,

com 66% dos casos. Por outro lado, se o Sprep locativo for mais extenso, há predominância da

ordenação modo-lugar (90%).

Nas orações em que co-ocorrem Spreps das três categorias semânticas, é possível que

outros aspectos intervenham, pois podem ser encontrados exemplos como (89), aqui retomado

como (107)

(107) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade noRio, no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)

No exemplo (106), observa-se uma sequenciação conforme ao previsto pelo princípio

Modo-lugar-tempo (MPT). No entanto, também um princípio ligado a extensão parece atuar: o

circunstancial de modo (com normalidade) possui a mesma extensão que o de lugar (no Rio) e o

de tempo (no primeiro turno), mais extenso do que os outros ocupa a margem direita da oração.

No entanto, em um exemplo como (88), aqui renumerado como (108),

(108) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisamcomparecer com urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)

verifica-se que o circunstancial de tempo, mais extenso, precede o de lugar que é menos extenso.

Dada a escassez de dados de orações com três circunstanciais, fica difícil concluir a respeito da

atuação do princípio de peso final nesta situação.

As correlações identificadas neste estudo diferem em alguns pontos das que foram

depreendidas por Hawkins (2000), para o inglês e, Paiva (2008c, 2012), para o português escrito

e falado. Hawkins (op. Cit.) conclui que a hipótese MTP é fracamente comprovada por

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evidência empírica e que a generalização do peso final é a mais adequada. Para o português,

Paiva (2008c, 2012) mostra que o princípio do peso final é a generalização mais adequada para

explicar a variação na posição de Spreps circunstanciais de categorias semânticas distintas,

particularmente dos que se situam em posição pós-verbal. Dessa forma, constituintes menores e

menos complexas tendem a anteceder constituintes maiores e mais complexas, ou seja,

constituintes circunstanciais mais pesados se localizam preferencialmente na periferia direita da

oração.

Considerando a ação dos três princípios focalizados (centralidade semântica, dependência

sintática e peso final), há sugestão de que há , na sequenciação de dois circunstanciais de

categorias semânticas distintas, uma espécie de hierarquia de restrições. As restrições mais fortes

derivam do princípio que prevê ordenação de acordo com a extensão. Em se neutralizando esse

fator, passa a operar o princípio ligado às relações de dependência sintática. Por fim, operam

restrições ligadas à centralidade da noção circunstancial introduzida pelo Sprep.

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7- CONCLUSÕES

Concluída a análise tal como foi proposta na introdução a este trabalho, fazemos, neste

capítulo, uma síntese das principais tendências depreendidas em relação à ordem dos

circunstanciais temporais e locativos na modalidade escrita do português contemporâneo. Antes

de mais nada, podemos dizer que a conjugação de duas etapas, a variação na posição dos

sintagmas preposicionais circunstanciais e a sequenciação de dois ou mais circunstanciais,

permitiu fornecer uma visão mais integrada de diversos aspectos relacionados à variação na

ordem destes constituintes. Além disso, ao tomar como foco as posições periféricas da oração,

conseguimos depreender, de forma mais controlada, os fatores e princípios que operam sobre as

posições preferenciais destes constituintes satélite.

No que se refere a um único circunstancial, buscamos, principalmente, identificar as

particularidades dos circunstanciais posicionais nas margens da oração e a existência de uma

ordem não marcada independente da categoria semântica do circunstancial. Procuramos, também,

identificar explicações mais gerais para o posicionamento desses constituintes nas periferias. A

análise permitiu obter algumas respostas. Numa análise em termos binários, confirmamos o que

já mostraram diversos outros estudos, ou seja, que a ordem não marcada para os locativos é a

margem direita da oração. No caso dos temporais, atestamos grande variabilidade desses

constituintes entre as duas margens. Considerando as diversas posições possíveis dos SPreps

circunstanciais, depreende-se uma hierarquia diferenciada em relação à categoria semântica do

circunstancial: para os locativos, manifesta-se, claramente uma hierarquia na forma de margem

direita > margem esquerda > posições internas; para os temporais, margem esquerda/margem

direita > posições internas. Esses resultados comprovam a maior restrição a SPreps

circunstanciais em posições internas, principalmente as que envolvem possibilidade de ruptura

entre o verbo e seus argumentos e reforçam a nossa opção de focalizar a análise nas periferias

oracionais.

Uma hipótese central deste estudo era a de que a ordem não marcada dos circunstanciais

corresponde a uma ordem pragmaticamente não marcada. Para verificar a validade desta

hipótese, procuramos dar conta das múltiplas dimensões que influenciam a posição dos SPreps

temporais e locativos. A análise permitiu mostrar o efeito de fatores do nível sintático, semântico,

discursivo-funcional e, ainda, a importância da variável gênero discursivo.

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No nível sintático, atestamos a maior influência na ordenação de Spreps temporais e

locativos refere-se ao tipo de sujeito que ocorre na oração. Ressaltamos a necessidade de analisar,

separadamente, sujeitos nulos de 1ª e 2ª pessoa em relação aos de 3ª pessoa, dada a diferença de

padrões de ordenação entre eles. Apesar de os resultados mostrarem menos ocorrência de Spreps

temporais em ME em ambos os casos, os sujeitos nulos de 3ª pessoa são os que mais

desfavorecem Spreps circunstanciais nessa posição. Os resultados para os locativos mostram

maior ocorrência de constituintes em orações com sujeitos desinenciais em ME, mas seguem a

mesma tendência dos temporais em relação ao sujeito nulo de 3ª pessoa. Uma explicação

funcional para Spreps de tempo e lugar ocuparem preferencialmente a MD em orações com

sujeito nulo de 3ª pessoa pode estar na tendência a manter a continuidade referencial, não

interpondo elementos entre um sujeito anafórico e o seu antecedente. Spreps em MD, nesse caso,

contribuem para garantir a recuperabilidade do referente do sujeito. Nos nossos resultados as

correlações depreendidas entre tipo de sujeito, principalmente sujeitos nulos de 3ª pessoa e

posição dos Spreps temporais e locativos contradizem uma hipótese mais geral em relação a

evitar o verbo em posição inicial, ou seja, não deixar a periferia esquerda da oração vazia. Essa

hipótese se confirma, no entanto, em orações com sujeitos pospostos. Nesse caso, observa-se uma

relação entre VS e um Sprep na margem esquerda da oração. Essas diferenças indicam que a

posição do sujeito parece ser mais relevante do que a variação entre preenchimento ou não

preenchimento da posição de sujeito. Neste sentido, este trabalho traz uma contribuição

importante ao mostrar que a correlação entre a posição do sujeito e dos circunstanciais é mais

complexa, pois requer distinguir sujeitos nulos desinencialmente recuperáveis e aqueles que são

de fato anafóricos. Uma explicação para esta correlação não pode se limitar, portanto, à questão

da tendência do português brasileiro ao preenchimento da posição do sujeito.

No nível semântico, distinções no significado inerente dos circunstanciais se mostraram

mais eficazes para os locativos. Os direcionais são mais ligados ao próprio significado do verbo e

se localizam, predominantemente, na margem direita da oração. Os que indicam posição fixa e

espaço metaforizado contrariam nossas hipóteses e tendem a ocupar a ME e MD,

respectivamente. Para os temporais, particularizam-se os durativos, que ocupam

preferencialmente a periferia direita da oração, o que pode ser explicado pelo fato de que estes

circunstanciais possuem forte valor aspectual e tendem a ficar perto do verbo.

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A hipótese de estreita correlação entre posição e função discursiva dos constituintes

circunstanciais é confirmada na análise do contexto mais amplo em que estes constituintes

ocorrem. A análise evidenciou que essas correlações são relevantes, principalmente para os

locativos. Como vimos, esses Spreps, cuja posição default é a MD, são favorecidos em ME, em

contextos discursivos mais específicos, ou seja, quando possuem funções como contraste,

focalização ou de segmentação tópica. A menor transparência das correlações entre a posição

dos temporais e funções discursivas, por sua vez, parece decorrer do fato de que há uma forte

associação entre este tipo de circunstancial e funções que estão mais diretamente associadas à

margem esquerda da oração. De alguma forma, poderíamos dizer que estas funções são inerentes

aos temporais e que sua posição na oração é definida por essas funções. Para Spreps locativos,

que tendem a infringir sua ordem não marcada, fica evidente que, nesses contextos, esses

constituintes desempenham funções pragmaticamente mais marcadas e tendem a instanciar uma

ordem mais marcada. Para os Spreps temporais, é difícil fazer tal generalização, uma vez que, ao

que tudo indica, algumas dessas funções, como a de introduzir um enquadre no qual podem ser

inseridos diversos estados de coisas, parecem ser inerentes a estes constituintes. Embora

tenhamos usado a frequência como critério independente, o que permite obter algumas

generalizações, principalmente sobre a posição dos SPreps locativos, pudemos mostrar, também,

que há uma estreita correlação entre a posição de um circunstancial e as funções que ele

desempenha predominantemente, como se pôde constatar para os temporais.

As diferenças de distribuição textual das posições periféricas puderam ser observadas nas

correlações encontradas entre a ordem dos circunstanciais locativos e temporais e a variável

gênero. As maiores regularidades encontradas para Spreps de tempo e de lugar e gênero dizem

respeito às cartas de leitores: neste gênero, as duas categorias de circunstanciais se localizam,

preferencialmente, em ME. Esses resultados refletem propriedades funcionais do gênero carta:

circunstanciais nessa posição ampliam seu escopo de atuação e fazem ligações com o discurso

precedente.

Gêneros como as notícias, artigos de opinião e editoriais são os que mais favorecem

temporais e locativos na margem direita da oração, embora com índices diferentes. Além de

propriedades semânticas, mostramos que propriedades funcionais dos Spreps influenciam a

correlação entre gênero e posição. Assim, o elevado número de Spreps na periferia direita da

oração nas notícias reflete a predominância desse gênero de circunstanciais com função

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predicativa, o que, como vimos, tende a favorecer a margem direita da oração. Destacamos,

ainda, a impossibilidade de considerar ordem não marcada no geral, devido à própria categoria do

circunstancial.

Em relação à sequenciação de mais de um circunstancial na mesma oração, buscamos

verificar se a ordem não marcada dos circunstanciais poderia ser alterada em contextos de co-

habitação desses constituintes entre si e com outros de categoria semântica distinta. Para esses

últimos, interessava-nos verificar a ação de diferentes princípios sobre uma forma de

sequenciação preferencial desses constituintes. Pudemos responder algumas dessas questões,

como discutimos a seguir. A análise permitiu, antes de mais nada, comprovar a preferência de

circunstanciais pelas margens da oração em detrimento das posições internas, embora com

magnitude diferente, a depender da categoria semântica do SPrep. A hipótese de ocupação da

margem direita por circunstanciais que co-ocorrem na mesma oração se confirmou,

principalmente, para constituintes locativos e de modo. Para os temporais, confirma-se maior

flexibilidade entre as duas posições marginais.

A análise da sequenciação de circunstanciais de categorias semânticas distintas, com a

inclusão de SPreps de modo, visava a verificar a ação de três princípios: princípio de centralidade

semântica, princípio de dependência sintática e princípio de peso final.

Avaliamos a importância do princípio de centralidade semântica, segundo o qual a

disposição sintagmática de circunstanciais de modo, tempo e lugar é feita em sequência na oração

de acordo com a centralidade dessas categorias para os estados de coisas descritos, resultando,

portanto, na ordenação modo-lugar-tempo. As distribuições encontradas mostraram acentuada

variabilidade e contrariam a hipótese de centralidade, na medida em que a forma de sequenciação

mais produtiva nos nossos dados, envolve a proximidade do SPrep temporal, categoria menos

central, na proximidade do verbo. Em orações com circunstanciais temporais e locativos,

constatamos que os temporais tendem a preceder os locativos, com predominância de sequencias

TL, e menor recorrência de LT. Em orações com circunstanciais de tempo e de modo, apesar de

haver grande variabilidade desses constituintes, predomina a sequenciação TM. Apenas em

orações com lugar e modo, são depreendidas evidências favoráveis a uma hipótese Modo-lugar-

tempo, com predominância da sequenciação ML.

O princípio de dependência sintática, que remonta ao princípio de integração (Cf, GIVÓN

1995, 2001), segundo o qual conteúdos cognitivamente mais ligados, são também sintaticamente

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mais adjacentes, foi confirmado apenas em contextos particulares, como na sequenciação lugar-

tempo, em que os locativos são argumentos do verbo, ou na sequenciação modo-lugar, em que os

circunstanciais de modo possuam função argumental.

O princípio de peso final foi o que se mostrou mais relevante para a forma de

sequenciação de dois ou mais circunstanciais na mesma oração. Constituintes mais extensos

tendem a seguir os menos extensos e a se localizarem na periferia direita da oração. Essa

tendência se verifica para as categorias de tempo e modo: circunstanciais de modo maiores

ocorrem na sequência TM, se o circunstancial de modo é menos extenso prevalece a

sequenciação MT. O mesmo foi verificado para sequências de modo e lugar: em orações nas

quais o locativo é menos extenso, predomina a ordem modo-lugar; em orações nas quais o de

modo é mais extenso, predomina lugar-modo. No entanto, para tempo e lugar, o SPrep locativo

ocorre após o temporal, independentemente da sua extensão e deixa transparecer seu

posicionamento mais natural.

A ação dos princípios de centralidade semântica, de dependência sintática e de peso final

se complementam e atuam sobre a coocorrência de circunstanciais de forma hierárquica: maiores

restrições se devem ao princípio de peso final, seguido do de dependência sintática e, por último,

do princípio de centralidade semântica.

Esperamos que, em nossa análise de ordenação de circunstanciais de tempo e lugar e de

co-habitação desses constituintes com outros circunstanciais, nossos resultados possam contribuir

para os estudos linguísticos, sobretudo os de ordenação de constituintes. Inevitavelmente,

algumas questões ficaram por responder e seria necessário um estudo debruçado em outras

amostras a fim de testar as generalizações apontadas neste estudo.

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