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Universidade Federal do Rio de Janeiro
ORDENAÇÃO DE CIRCUNSTANCIAIS TEMPORAIS E LOCATIVOS NA ESCRITAJORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA
Marcia da Silva Mariano Lessa
Rio de Janeiro2012
DEFESA DE TESE
Marcia da Silva Mariano Lessa. Ordenação decircunstanciais temporais e locativos na escritacontemporânea. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras,2012. 139fl. Tese de Doutorado em Linguística.Rio de Janeiro, 1° semestre de 2012.
BANCA EXAMINADORA
Professora Doutora Maria da Conceição de Paiva – UFRJ (Orientadora)
Professora Doutora Edair Gorski - UFSC
Professora Doutora Lilian Yacovenco - UFES
Professora Doutora Maria Eugênia Lamoglia Duarte - UFRJ
Professora Doutora Christina Abreu Gomes - UFRJ
Professora Doutora Marli Hermenegilda Pereira - UFRR, suplente
Professora Doutora Sílvia Vieira - UFRJ, suplente
Rio de JaneiroJulho de 2012
ORDENAÇÃO DE CIRCUNSTANCIAIS TEMPORAIS E LOCATIVOS NA ESCRITAJORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA
Marcia da Silva Mariano Lessa
Tese de Doutorado em Linguística apresentada àCoordenação do Programa de Pós-Graduação emLetras da Universidade Federal do Rio de Janeiro,como parte dos requisitos necessários à obtençãodo título de Doutor em Linguística
Orientador: Profª Drª Maria da Conceição dePaiva.
Rio de JaneiroJulho de 2012
AGRADECIMENTOS
À Professora Conceição Paiva, pelas brilhantes sugestões, pelo carinho, pela paciência e pelo
contínuo suporte durante a realização desse trabalho.
Ao Mateus, pelo apoio constante.
Aos meus pais.
Aos professores e à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro da bolsa de doutorado.
SINOPSE
Ordenação de SPreps circunstanciais temporais e locativos na escritajornalística do português contemporâneo. Influência de fatores sintáticos,semânticos e discursivos na posição dos circunstanciais de tempo e lugar.Sequenciação relativa dos circunstanciais de tempo, lugar e modo.
RESUMO
LESSA, Marcia da Silva Mariano. Ordenação de circunstanciais temporais e locativos naescrita jornalística contemporânea. Rio de Janeiro, 2012. Tese (Doutorado em Linguística) –Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.
Esta tese focaliza a ordenação de Spreps circunstanciais temporais e locativos na escritajornalística do português brasileiro contemporâneo. O estudo conjuga duas perspectivas deanálise: a posição dos circunstanciais locativos e temporais nas margens esquerda e direita emorações com um único circunstancial e a sequenciação relativa de dois ou mais circunstanciais demesma categoria semântica e de categoria semântica distinta. Uma questão central diz respeito àexistência de uma ordem não marcada mais geral independentemente da classe semântica de cadacircunstancial. Partimos da hipótese de que esta ordem não marcada, em termos de frequência, épragmaticamente não marcada e de que a variação na ordem de circunstanciais temporais elocativos é um fenômeno multifatorial e analisamos fatores de ordem sintática, semântica ediscursiva, tais como a estrutura argumental do verbo, o tipo de sujeito, o tipo semântico de cadacircunstancial, suas diferentes funções sintáticas, as diversas funções discursivas que estesconstituintes podem desempenhar na organização textual, a extensão do circunstancial, e ogênero textual em que eles ocorrem. Em relação à segunda perspectiva de análise, nosso objetivoé verificar se a ordem não marcada dos locativos e temporais pode ser alterada em contextos deco-ocorrência com outros constituintes circunstanciais, principalmente o de modo. Buscamosdepreender os princípios que atuam sobre uma sequenciação preferencial desses constituintes,em especial o princípio de centralidade semântica, o que envolve as relações de dependênciasintática e o princípio de peso final. Para verificar as hipóteses que norteiam este estudo,analisamos uma amostra, constituída por pesquisadores do grupo Peul, composta por textosrepresentativos dos gêneros notícia/reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica e carta, eextraídos do “Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” e “O Povo”. A análise permitiu identificarregularidades quanto aos dois aspectos considerados. Na ordenação de um único circunstancial,destaca-se, principalmente para os locativos, a função discursiva do circunstancial. A ocorrênciada Spreps locativos na margem esquerda da oração ocorre em contextos bem específicos, em queo locativo assume funções como a de contraste, focalização e segmentação tópica. Outrasmotivações que favorecem circunstancial na margem esquerda da oração são o tipo de sujeito,principalmente o sujeito posposto, o tipo semântico do circunstancial, particularmente para oslocativos, e o gênero textual, distinguindo-se as cartas. Em relação à co-ocorrência de Spreps delugar, tempo e modo, destacamos a importância da extensão dos constituintes na sua ordenaçãorelativa: circunstanciais menos extensos tendem a preceder circunstanciais mais extensos. Em seneutralizando a extensão, princípios como o de centralidade semântica e o de dependênciasintática contribuem para a ordenação relativa de circunstanciais.
Palavras-chave: circunstanciais locativos e temporais, ordem não marcada, ordem relativa
ABSTRACT
LESSA, Marcia da Silva Mariano. Ordenação de circunstanciais temporais e locativos naescrita jornalística contemporânea. Rio de Janeiro, 2012. Tese (Doutorado em Linguística) –Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.
This thesis focus place and time adverbials word order in written texts of contemporary BrazilianPortuguese. We purpose two perspectives of analysis: the position of place and temporaladverbials in the right and left periphery in sentences which contain only one adverbial, as well asthe relative sequence with two or more adverbials with the same semantic category and withdifferent semantic category. A central issue is about the existence of a more general non-markedorder independent of the semantic class of each adverbial. Our hypothesis is that this non-markedorder, in terms of frequency, is pragmatically non-marked. In order to verify this hypothesis, weidentified textual, discoursive, semantic and syntactic factors that favour the occurrence ofadverbials in one or in the other periphery of the sentence. Assuming that the variation in placeand time adverbials word order is a multifactorial fenomenon, we analysed discoursive, semanticand syntactic factors, such as verb argumental structure, the subject type, the semantic type foreach adverbial and their syntactic functions, the variety of discoursive functions that adverbialshave in textual organization, the adverbial size and the textual genre in which the adverbialsappear. On the second analysis perspective, we want to verify if the place and time adverbialsnon-marked order can be altered in contexts in which adverbials occur with other constituents,mainly with manner prepositional phrases. We want to understand the principles that act on apreferential sequence of those constituents, mainly the semantic hierarchy, which involvessyntactic dependence relations and the final weight principle. To verify the hypoteses weanalysed a sample composed by different genres: news articles, op-ads, editorials, chronicles andletters. That sample was built by researchers from Peul and were taken from the newspapers“Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” and “O Povo”. The analysis allowed us to identifyregularities in both aspects considered. In the order of only one adverbial, we highlight, mainly tothe place ones, their discoursive functions. Prepositional phrases that occur in the left peripheryof a sentence have contrastive, focalized and topic segmentation functions. Other motivations thatfavour the adverbials in the left periphery of a sentence are the subject types, mainly thepostponed ones, the adverbials semantic type, particularly to place adverbials, and the textualgenre, in which we give emphasis to the letters. In relation to in the relative order of place, timeand manner PP that co-occur, we highlight the importance of adverbials size in their relativeorder: short adverbials tend to come before long ones. In neutralizing the size, principles as thesemantic centrality and the syntactic dependence contribute to the adverbials relative order.
Keywords: place and time adverbials, non-marked order, relative order
ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELAS
Tabela 1: Distribuição de Spreps argumentais e não argumentais pelas 4 posições 63
Tabela 2: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e estrutura argumentaldo verbo 69
Tabela 3: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e estrutura argumentaldo verbo 70
Tabela 4: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e tipo de sujeito 73
Tabela 5: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e tipo de sujeito 74
Tabela 6: Spreps de lugar na margem esquerda de acordo com o tipo semântico 81
Tabela 7: Spreps de tempo na margem esquerda de acordo com o tipo semântico 82
Tabela 8: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e função discursiva 88
Tabela 9: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e função discursiva 89
Tabela 10: Spreps de tempo na margem esquerda da oração e gênero 96
Tabela 11: Spreps de lugar na margem esquerda da oração e gênero 97
Tabela 12: Spreps temporais e cruzamento entre função discursiva e gênero 98
Tabela 13: Spreps locativos e cruzamento entre função discursiva com gênero 100
Tabela 14: Distribuição de circunstanciais da mesma categoria semânticapelas posições na oração 104
Tabela 15: Circunstanciais na margem direita e extensão 107
Tabela 16: Circunstanciais na margem esquerda e extensão 108
Tabela 17: Distribuição de circunstanciais de categoria semântica distintapelas posições na oração 110
Tabela 18: Sequências de tempo e lugar e tipo sintático do verbo 116
Tabela 19: Sequências de tempo e modo e tipo sintático do verbo 117
Tabela 20: Sequências de lugar e modo e tipo sintático do verbo 117
Tabela 21: Sequências de tempo e lugar e função sintática do circunstancial 118
Tabela 22: Sequências de tempo e lugar em posição pós-verbal e função sintáticado circunstancial 119
Tabela 23: Sequências de tempo e modo e função sintática do circunstancial 120
Tabela 24: Sequências de lugar e modo e função sintática do circunstancial 120
Tabela 25: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de tempo e lugar 122
Tabela 26: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de tempo e lugar 123
Tabela 27: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de modo e tempo 123
Tabela 28: Extensão e co-ocorrência de circunstanciais de modo e lugar 124
GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição de Spreps locativos pelas 4 posições 61
Gráfico 2: Distribuição de Spreps temporais pelas 4 posições 61
Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar 112
Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo 113
Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo 113
Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais 114
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO 12
2- ABORDAGEM FUNCIONAL DA LINGUAGEM 17
2.1- Pressupostos básicos 17
2.2- A abordagem da ordem de constituintes 19
2.3- Ordenação, função e variação 25
3- VARIAÇÃO NA ORDEM DE CONSTITUINTES CIRCUNSTANCIAIS 30
4- AMOSTRA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 39
4.1- Amostra 39
4.2- Procedimentos metodológicos 51
5- RESTRIÇÕES À POSIÇÃO VARIÁVEL DE SPREPS TEMPORAIS E
LOCATIVOS 57
5.1- Limitações à flexibilidade na posição dos circunstanciais 57
5.2- Distribuição das posições dos circunstanciais 59
5.3- A variação entre as margens da oração 66
5.3.1- Estrutura argumental do verbo 67
5.3.2- Forma de realização do sujeito 70
5.3.3- Tipo Semântico dos circunstanciais 77
5.3.4- Restrições discursivas 83
5.3.5- A variável gênero textual 91
6- SEQUÊNCIAS DE CIRCUNSTANCIAIS 102
6.1 Ordenação de circunstanciais da mesma categoria semântica 103
6.2- Ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas 109
6.2.1- Ordenação e centralidade semântica 111
6.2.2- Relações de dependência sintática 116
6.2.3- Ordenação e peso do circunstancial 121
7- CONCLUSÕES 126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131
12
1-INTRODUÇÃO
Questões ligadas tanto à ordem de constituintes nucleares como de constituintes satélites
na oração ocupam um espaço central nos estudos linguísticos de orientação teórica distinta, pois
envolvem duas faces aparentemente contraditórias: variação e tendência à fixação de
determinadas posições. Na maioria dos casos em que constituintes oracionais admitem posição
variável, é possível identificar uma ordem básica, mais frequente, e determinar as condições em
que tal ordem pode ser alternada.
Numa perspectiva funcionalista, fenômenos de variação na ordem de constituintes
oracionais envolvem a interseção entre domínios diferenciados: sintático, semântico, pragmático,
cognitivos e textuais. Como coloca Payne (1992), qualquer explicação de diferentes
possibilidades de ordenação de constituintes tem que levar em conta a convergência entre essas
diferentes dimensões, a forma como elas podem interagir ou conflitar entre si. A variação na
posição de constituintes adverbiais, principalmente os sintagmas preposicionais, constitui um
campo fértil para a verificação desta interação entre diferentes domínios, pois, se, por um lado, se
submetem a restrições sintáticas, por outro, podem ocupar posições motivadas por pressões de
escopo, semânticas e discursivas.
A grande maioria dos trabalhos já realizados focalizaram cada tipo de circunstancial
isoladamente. Neste estudo, buscamos uma visão mais ampla da variação na posição dos
circunstanciais, focalizando a ordenação variável de sintagmas preposicionais que expressam
coordenadas temporais e locativas, na modalidade escrita do português contemporâneo, em duas
perspectivas complementares: a- em orações com um único circunstancial; b- em orações com
dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica ou de categorias semânticas distintas.
A opção por focalizar os Spreps locativos e temporais é justificada pelo fato de que, como já
mostraram outros trabalhos, tanto no português falado como escrito, estes constituintes
circunstanciais gozam de relativa flexibilidade de posição, podendo se situar em diferentes pontos
da oração: podem ocupar tanto as posições marginais da sentença como posições internas,
adjacentes ao verbo (Cf. NEVES, 1992, MARTELOTTA, 1994, VILELA E KOCH, 2001,
CUNHA E CINTRA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, PAIVA, 2002, 2003,
2008a, 2008b, BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007). Resultados de diferentes estudos
13
destacam, no entanto, a predominância dos Spreps circunstanciais locativos e temporais nas
periferias da oração, como mostram os exemplos a seguir:
(1) Nas quatro últimas edições da Liga dos Campeões, o vencedor deste confrontoconquistou o título mais importante do futebol europeu. (JB – 10/03/2004 –Notícia)
(2) José Alencar pareceu cair em si quando o presidente Luiz lnácio da Silvaviajou para o Peru. (JB – 03/06/03 – Opinião)
Dada a generalidade desta tendência para os dois tipos de circunstanciais, optamos por
centrar este estudo na possibilidade de alternância entre a margem esquerda (ME) e a margem
direita da oração (MD), sob o prisma do conceito de marcação. Em outros termos, procuramos
responder às seguintes questões:
a- como explicar a recorrência de SPreps locativos e temporais nas margens da oração?
b- as duas categorias semânticas de circunstanciais estão associadas a margens distintas? Há uma
posição não marcada independente da categoria semântica do circunstancial?
c- que fatores explicam de forma mais generalizante a posição dos circunstanciais na margem
esquerda da oração?
As questões acima arroladas dizem respeito sobretudo à primeira perspectiva de análise
ou seja, orações com um único circunstancial. Algumas outras questões se referem às orações em
que co-ocorrem dois circunstanciais da mesma categoria, como em (3), ou de categorias
semânticas distintas como em (4):
(3) Durante a campanha eleitoral, pela primeira vez na história recente do país,assuntos de relações internacionais do Brasil receberam atenção dos candidatos.(O Globo – 29/10/2002 – Opinião)
(4) Em janeiro e fevereiro de 1985, dividi um apartamento com ele, em Havana,integrando a comissão julgadora do Prêmio Casa de las Américas. (JB – 3/6/2003- Opinião)
Sobre exemplos como estes podemos nos questionar:
a- a ordem não marcada de cada classe de circunstancial pode ser alterada em contextos de co-
habitação ou co-ocorrência com outros constituintes circunstanciais, principalmente de outra
categoria semântica?
14
b- Quais os padrões de sequenciação relativa de circunstanciais de categoria semântica distinta?
Haveria igualmente uma forma não marcada de sequenciação de circunstanciais de categorias
semânticas distintas?
c- Que princípios podem explicar uma forma de sequenciação preferencial?
As questões colocadas neste estudo decorrem de uma hipótese mais geral segundo a qual
tanto na ordenação de um único circunstancial quanto na ordenação de circunstanciais de
categorias semânticas distintas, é possível identificar uma ordem pragmaticamente não marcada,
como definida em Dryer (1995). Nossa expectativa é de que os circunstanciais de tempo se
situem, preferencialmente, na margem esquerda da oração e os de lugar na margem direita. Em
consequência desta primeira hipótese, acreditamos, ainda, que a forma marcada de ordenação é
motivada muito mais por fatores de natureza discursiva do que por fatores de ordem sintática ou
semântica.
No que se refere mais especificamente à co-ocorrência de Spreps circunstanciais de
categorias semânticas distintas, acompanhando a posição de Hawkins (2000) e de Paiva
(2008c), partimos da hipótese de que um princípio ligado ao peso do constituinte possui poder
explicativo mais geral do que um princípio que envolve a centralidade das categorias semânticas
de tempo, modo e lugar, traduzido no universal tipológico modo-tempo-lugar proposto por Quirk
et alii (1985).
Em função dos nossos objetivos, este trabalho se insere naturalmente em uma perspectiva
que conjuga pressupostos da Sociolinguística Variacionista e pressupostos funcionalistas.
Concebemos a posição de Spreps circunstanciais nas margens da oração como um fenômeno de
variação, portanto, sistemático, susceptível de uma análise multivariacional que mensure o efeito
de diferentes princípios. A ação desses princípios é analisada sob o prisma de grupos de fatores
que procuram dar conta das diferentes dimensões correlacionadas à ordenação de constituintes:
sintática, semântica, discursiva, cognitiva e textual. No nível sintático, são considerados aspectos
como a relação entre verbos e seus argumentos e tipo de sujeito da oração. No nível semântico, é
verificado o efeito de variáveis ligadas à classe semântica do circunstancial. No nível discursivo,
é dispensada atenção especial à função dos circunstanciais na organização textual. A possível
interferência de fatores cognitivos é analisada através do grupo de fatores extensão do
constituinte circunstancial e a dimensão textual através da variável gênero discursivo.
15
A formulação dos grupos de fatores acima relacionados é orientada pelo pressuposto de
que as regularidades estruturais refletem as funções que as formas linguísticas realizam (Cf.
GIVÓN, 1984, 2001, CHAFE, 1984, CROFT, 1995, NARO & VOTRE, 1996,
HASPELMATH, 2005). Nesse sentido, o princípio de iconicidade ganha destaque neste trabalho,
pois podemos interpretar o princípio de centralidade semântica MPT (Cf. QUIRK et alii, op. cit)
como um subprincípio icônico, ou seja, a categoria de modo sendo mais central à ação verbal do
que a de tempo, e esta mais central do que a de lugar. Esta centralidade se reflete na linearização
dos constituintes que as codificam com maior proximidade do circunstancial de modo em relação
ao verbo. Entretanto, relações de dependência sintática entre o verbo e o circunstancial assim
como a extensão de cada um dos sintagmas nominais presentes na oração podem motivar outras
formas de ordenação.
As hipóteses colocadas neste estudo são examinadas através da análise de uma amostra da
modalidade escrita contemporânea, composta por textos de diferentes gêneros do domínio
jornalístico: notícia/reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica e carta. Estes textos, que
integram a Amostra do Discurso Midiático, constituída por pesquisadores do grupo Peul, foram
extraídos do “Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Extra” e “O Povo”, no período de 2002 a 2004.
Uma vez que esses gêneros jornalísticos se distinguem quanto aos seus propósitos comunicativos
e quanto a sua organização interna, esta amostra permite verificar hipóteses em relação a um
ponto central do conceito de marcação, qual seja, a correlação entre uma possível oposição
marcado/não marcado e diferenças textuais.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2, discorremos sobre a
abordagem funcional na qual está sustentada a maioria das hipóteses que norteiam este estudo.
Discutimos pressupostos funcionalistas centrais, a abordagem funcional da ordenação de
constituintes, assim como questões ligadas à relação entre ordenação, variação e função. No
capítulo 3, tecemos considerações acerca da posição variável dos circunstanciais, a partir da
revisão de diversos estudos que já focalizaram este fenômeno. O capítulo 4 especifica as
características da amostra utilizada e os procedimentos utilizados na condução da análise. Nos
capítulos 5 e 6 desenvolvemos as duas dimensões de análise acima especificadas. No capítulo 5,
discutimos as limitações à flexibilidade dos circunstanciais e a distribuição dos circunstanciais de
acordo com as posições que ocupam na oração. Focalizamos a variação de circunstanciais entre
as margens da oração e a influência dos fatores que se revelaram mais relevantes para a variação
16
entre estas duas posições. No capítulo 6, examinamos, primeiro, as sequências de circunstanciais
da mesma categoria semântica e, a seguir, as sequências de circunstanciais de categorias
semânticas distintas. Nesta parte, damos atenção especial às restrições impostas pelos princípios
de centralidade semântica, dependência sintática e peso na sequenciação de circunstanciais. No
capítulo 7, apresentamos nossas conclusões.
17
2-ABORDAGEM FUNCIONAL DA LINGUAGEM
2.1- Pressupostos básicos
O termo funcionalista tem sido usado, muitas vezes, para caracterizar a postura do
estudioso em relação a seu trabalho e não para definir um conjunto de pressupostos que norteiam
uma teoria. Ao longo do século XX surgiram diferentes visões rotuladas como funcionalistas que
incluem perspectivas mais ou menos compromissadas com pressupostos formais. Em síntese, há
modelos bem distintos que reivindicam o rótulo funcionalista. (cf. CROFT, 2000, NEVES, 2004).
Apesar das diferenças entre diversos modelos, é possível, no entanto, caracterizar a
abordagem funcionalista em termos de alguns pressupostos compartilhados. De forma geral,
admite-se que o objeto de estudo numa perspectiva funcionalista é a competência comunicativa
dos falantes de uma língua. Essa convergência não descarta as diferenças entre os modelos, mas
serve de alicerce para distinguir uma vertente funcionalista em relação a correntes formais do
estudo da linguagem.
Um eixo central da perspectiva funcionalista é a sua oposição ao pressuposto de
autonomia da língua e, principalmente, da sintaxe. Nos anos 70, os debates acerca da autonomia
estavam centrados no status da sintaxe. Nos anos 80, entretanto, foram observadas mudanças
conceptuais na gramática gerativa e no pensamento funcionalista e o foco da autonomia passou a
ser o status da gramática1 aplicado a um contexto mais amplo, que inclui uso, mudança e
aquisição da língua (CROFT, 1995).
Um dos conceitos estreitamente associados ao de autonomia é o de arbitrariedade. Um
pressuposto central de grande parte dos modelos formais é o de que o componente sintático
encerra regras de combinação não deriváveis de categorias semântico-discursivas, ou seja, a
sintaxe é inteiramente autônoma e não se vincula a outros sistemas. Nesta visão, o significante é
separado do significado, restando apenas o signo e seu referente.
Numa perspectiva funcionalista, no entanto, a noção de arbitrariedade é questionada ou
minimizada. Vista fora do contexto de uso, a língua pode parecer arbitrária, não havendo relação
necessária entre forma e função.2 No entanto, há de se considerar a possibilidade de um certo
1 A palavra gramática aqui é entendida como conhecimento linguístico abstrato interiorizado pelo indivíduo.2 Observa-se, por exemplo, a criação de rótulos através de mecanismos recorrentes. Para tanto, o usuário se serve dematerial já existente na língua, como ao criar a expressão ‘pé da mesa’. A relação de base de sustentação naexpressão exemplificada é icônica e não arbitrária. (cf. Martelotta e Areas, 2003)
18
isomorfismo entre a sintaxe e a semântica. Assim, funcionalistas opõem ao princípio de
arbitrariedade o princípio de iconicidade. Retomando Givón (1990), podemos dizer que, se uma
determinada estrutura existe, é para realizar uma função e esta estrutura deve ser passível de
refletir ou sofrer restrições da função que realiza. Neste estudo, o princípio de iconicidade ganha
importância principalmente no que se refere à sequenciação relativa de diferentes classes
semânticas de Spreps circunstanciais. A ligação física do circunstancial ao verbo reproduz sua
ligação semântica.
Uma outra dimensão importante para depreender as diferenças entre Formalismo e
Funcionalismo é a oposição sincronia versus diacronia, instaurada desde o clássico de Saussure
(1996), e assumida nas mais diferentes correntes estruturalistas. O Funcionalismo propõe uma
diluição das fronteiras entre essas duas dimensões, elaborando uma forma de estudo que
considera as conexões inevitáveis entre elas. Segundo Givón (1984, 2001), a mudança linguística
através da história é um ponto fundamental na abordagem funcional-tipológica. O funcionalismo
moderno vê a língua como um sistema dinâmico, em contínua transformação e busca depreender
as motivações para as estruturas linguísticas específicas a uma língua e para os padrões
translinguísticos nos modelos de mudança. Para Noonan (1999, p.8):
(...) a língua, como produto de uma entidade viva, só pode ser entendida como umsistema dinâmico, não simplesmente como um conjunto estático de categorias e suasrelações dentro da estrutura.3
Sendo assim, suas regularidades abarcam a interação de diversos fatores nas diferentes situações
discursivas.
Um ponto comum entre diversas posturas funcionalistas é a tentativa de compreender e
explicar as regularidades da estrutura linguística em termos das funções que elas realizam (Cf.
CROFT, 1995; NARO & VOTRE, 1996; CEZÁRIO et alii, 2004; HASPELMATH, 2005).
Apesar dessa diretriz comum, diferentes formas de funcionalismo coexistem, como destaca Croft
(op. cit.):
1. funcionalistas autonomistas – não rejeitam a autonomia da sintaxe e buscam apenas
determinar as funções discursivas das construções gramaticais. Nas palavras do autor:
3 “language, as a product of a living entity, can only be understood as a dynamic system, not simply as a static set ofcategories and their relations within structures.”
19
Nenhuma reivindicação é feita para uma relação motivada (ex. icônica) entre aestrutura sintática da construção em questão, como as clivadas do inglês, e afunção discursiva que ela desempenha. Entretanto, funcionalistas autonomistasargumentam a favor de uma relação convencional entre a estrutura sintática e afunção discursiva e, além disso, argumentam que ‘muitas sentenças julgadasagramaticais podem ser falhas por razões discursivas, sem a necessidade de evocara gramática (autônoma) para relatar sua infelicidade’ (Prince, 1991:80-81). Emoutras palavras, muitas restrições no comportamento e/ou distribuição dassentenças não precisam ser providas pelo componente sintático. (p.497) 4
2. modelos mistos, que incitam a ideia de que a sintaxe é contida em si mesma, mas que pode
assumir outras funções que vão além de si;
3.funcionalismo extremo, que nega inteiramente a arbitrariedade da sintaxe;
4. funcionalismo integrativo, versão mais adequada, já que não nega a existência da sintaxe,
considerando tanto a interação entre as estruturas linguísticas quanto fatores externos, tais como
cognitivos e discursivos.
Esta última perspectiva funcionalista é a que mais se adequa aos objetivos do presente
estudo, dado que se concilia com pressupostos da teoria variacionista: ambas focalizam o uso da
língua e olham para as motivações linguísticas e extra-linguísticas que influenciam a forma da
língua.
2.2- Abordagem funcional da ordem de constituintes
As questões relativas à variação na ordenação de constituintes ocupam um espaço
importante nas abordagens funcionalistas da linguagem. A análise de várias línguas mostra
semelhanças e ressalta o uso de diferentes padrões com o intuito de atender às necessidades
discursivas. Numa proposta funcionalista, as limitações impostas às variações de ordenação de
constituintes refletem, além de pressões discursivas, as limitações e restrições cognitivas que se
impõem nas situações de comunicação (Cf. DOWNING, 1995). De acordo com Downing (op.
cit.), limitações no tempo de sustentação de uma informação restringem, por exemplo, a forma
4 No claim is made for a motivated (e.g. iconic) relationship between the syntactic structure of the construction inquestion, such as English it-clefts, and the discourse function that they perform (...). However, autonomistfunctionalists do argue for a conventional relation between syntactic structure and discourse function, and moreoverargue that ‘many sentences judged ungrammatical can be shown to be flawed for discourse reasons, with no need toinvoke the (autonomous) grammar to account for their infelicity’ (Prince, 1991:80-81). In other words, manyconstraints on the behavior and/or distribution of sentences need not to be provided by the syntactic component.(p.497)
20
como referentes são introduzidos ou mantidos no discurso. Isso explica a tendência de que a
introdução de um referente seja feita por um item lexical que pode ser posteriormente retomado
por pronomes ou anáfora zero. Entretanto, se o referente não for mencionado no texto por algum
tempo, ele é comumente retomado pelo item lexical. Nas palavras da autora:
Essa reversão para uma forma de referência mais completa e menos ambígua temsido ligada ao fato de que os seres humanos parecem ser capazes de manter umainformação na consciência sem retomá-la por somente um curto espaço de tempo;se o referente ficar fora de cena por algum tempo, é porque não é mais o foco daconsciência do leitor/ouvinte, necessitando de uma nova menção com uma formasemântica mais plena. (p.12)5
No que se refere à ordem de constituintes, é ressaltada, com frequência, a importância de
sua disposição para a continuidade textual nas suas diferentes dimensões: continuidade temática,
continuidade de ação e continuidade de tópicos/participantes (Cf. GIVÓN, 1983). A primeira se
refere à estrutura discursiva acima do parágrafo temático; a segunda é feita pela sequencialidade
temporal dentro do parágrafo temático (sobre o mesmo tema), ou seja, as ações aparecem na
sequência cronológica de ocorrência e também pela adjacência temporal ao apresentarem
pequenas pausas temporais entre uma ação e outra; a última envolve a conservação do tópico
(tema/assunto) no parágrafo temático, assim como a manutenção dos participantes associados ao
tópico deste mesmo parágrafo.
Diversos outros parâmetros, como a oposição figura/fundo, a transitividade e a categoria
informacional dos constituintes podem operar sobre a ordenação de constituintes, inclusive
circunstanciais (cf. NARO & VOTRE, 1996, BRASIL, 2005, MARTELOTTA, 1994, CEZÁRIO
et alii, 2004, 2005, ILOGTI de SÁ, 2008).
A capacidade cognitiva humana de ativar informações na memória de curto prazo é
restrita. Ativar conceitos que não foram introduzidos no discurso anterior requer grande esforço
por parte do falante de uma língua, o que conduz ao pressuposto de que somos capazes de ativar
apenas um único conceito de cada vez (Cf. DOWNING, op.cit). O caminho para retomar uma
informação compartilhada por falante e ouvinte é o texto, espaço onde se estabelecem as relações
anafóricas, embora, mais frequentemente, os referentes se situem na memória dos falantes e não
5 This revertion to the more complete, less ambiguous form of reference has been linked to the fact that humanbeings seem to be able to keep information in consciousness for only a short time without rehearsing it; if thereferent has been absent from the stage for a while, it is likely that it is no longer in the focus of the reader/hearer’sconsciousness, necessiting remention with the semantically richer form. (p.12)
21
no texto propriamente dito. Uma das estratégias para introduzir referentes no discurso é através
da ordenação de constituintes (cf. VILELA e KOCH, 2001). São essas limitações que resultam
em uma configuração do fluxo informacional em termos informações velhas para novas (cf.
PRINCE, 1981, CHAFE, 1984, DOWNING, 1995).
Um conceito diretamente associado às possibilidades de ordenação de constituintes é o de
marcação (Cf. BRASIL, 2005). Mais restrita inicialmente à Fonologia, a noção de marcação foi
estendida à Morfologia e à Semântica e, somente mais tarde, a fenômenos sintáticos, discursivos
e pragmáticos. Este conceito é retomado da Escola de Praga, que já assumia uma assimetria na
fonologia e na gramática, como mostra, por exemplo, o traço de sonoridade. O fonema que possui
o traço distintivo é o marcado e o outro é não marcado. Nesta concepção binária, assume-se, no
que se refere à variação de ordenação de constituintes, que uma ordem é a não marcada ou neutra,
enquanto que a outra, ou as outras são marcadas de alguma forma.
Nas abordagens mais contemporâneas, a importância do conceito de marcação foi
salientada principalmente por Greenberg (1966). Para o autor, o conceito de marcado e não
marcado é uma relação entre traços que se excluem mutuamente, sendo a fonte de contraste
mínimo entre dois fonemas ou dois lexemas. O autor destaca, também, que há estruturas
preferenciais em relação a outras e, por isso, mais frequentes. Adota, portanto, a frequência como
critério central para a marcação, muito embora admita que outros critérios sejam necessários.
Para Givón (1995, 2001), três critérios estão incluídos no conceito de marcação:
frequência, complexidade estrutural e complexidade cognitiva. A frequência constitui um dos
principais critérios para distinguir uma categoria marcada de uma não marcada. Para ele, a
categoria marcada tende a ser menos frequente e, portanto, mais saliente cognitivamente.
Segundo o pressuposto de complexidade estrutural, a estrutura marcada tende a ser mais
complexa do que a correspondente não marcada. Se esse pressuposto se adequa de forma mais
evidente a oposições morfológicas ou fonológicas, por exemplo, ele é mais discutível em relação
à ordem de constituintes. Em que medida pode-se dizer que uma forma de ordenação é
estruturalmente mais complexa do que outra? O autor entende complexidade cognitiva em termos
de esforço mental dispendido para a compreensão de uma dada estrutura e assume que uma
categoria ou estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do que a não marcada
correspondente. No português, por exemplo, a oração relativa requer mais esforço mental do que
a principal para ser processada, sendo, consequentemente, cognitivamente mais complexa.
22
Um problema nessa formulação envolve a generalidade e independência de um par
marcado/não marcado. Segundo Givón (op.cit), o estatuto mais ou menos marcado de uma forma
ou de uma estrutura depende do contexto em que ela ocorre: uma mesma estrutura pode ser
marcada num determinado contexto e não marcada em outros. Consequentemente, a explicação
da marcação, por ser de base comunicativa, sócio-cultural, cognitiva e biológica, deve ter um
domínio específico.
Para muitos autores, os vários aspectos que envolvem a noção de marcação devem
convergir para um mesmo resultado, ou seja, os critérios acima estão implicados entre si,
determinando uma tendência geral das línguas humanas. Assim, formas mais frequentes são
também menos complexas estruturalmente e de processamento cognitivo mais fácil. Para
Sobokowiaj (2004), entretanto, é difícil aceitar esse pressuposto porque
As razões pelas quais tipicamente os critérios diagnósticos “terão resultadosconvergentes” (Moravcsik & Wirth, 1986:3) mas não terão atingidonecessariamente o mesmo alvo tem a ver com a natureza probabilística dalinguagem natural e com a não existência de um conjunto de diagnósticoslargamente aceitos, substanciados empiricamente, mínimos e logicamentecoerentes. (p.2)6
Uma discussão dos critérios de marcação é encontrada também em Croft (1990) para
quem, tipologicamente, o conceito de marcação pressupõe propriedades assimétricas relacionadas
a universais implicacionais, hierarquias gramaticais e protótipos. O autor exemplifica a noção
clássica de marcação através da relação binária singular/plural, sendo o singular não marcado
(ausência de morfema) e o plural marcado (presença de morfema)7. Entretanto, nem sempre a
relação é binária e, nesse caso, a noção de marcação será relativa ao número de elementos que
constitui o paradigma da língua em questão e estabelecerá uma hierarquia.
Em relação à mobilidade na ordem de constituintes, a noção de marcação se insere em um
modelo mais abrangente do que o de universal implicacional porque abarca diversos padrões
interlinguísticos. Croft (op. cit.) cita alguns critérios fonológicos e morfossintáticos usados por
Greenberg para a marcação, agrupando-os em:
6 The reasons why tipically the diagnostic criteria “will have converging results” (Moravcsik & Wirth 1986:3) butwill not necessarily hit the same target have to do both with the probabilistic nature of natural language and the non-existence of a logically coherent, minimal, empirically substantiated and widely accepted set of diagnostics. (p.2)7 No entanto, muitas línguas não se restringem à oposição binária descrita, possuindo outros elementos que compõema categoria de número.
23
- estrutural, segundo o qual o princípio de marcação se caracteriza pela relação de dois valores.
Os padrões de marcação serão determinados a partir da contagem de morfemas dos dois valores
(marcado/não marcado) e de sua comparação. Não se pode determinar o status da marcação de
um valor sem também examinar o outro;
- comportamental: por um elemento ser gramaticalmente mais flexível, também será não
marcado em comparação ao outro. Este critério se divide em morfológico ou flexional (número
de diferenças morfológicas que uma categoria morfológica possui) e sintático ou distribucional
(número de contextos sintáticos no qual um elemento pode ocorrer). O elemento menos marcado
é o que ocorre em um número maior de construções.
- frequência: subentende-se que, se um valor marcado ocorre um certo número de vezes em
frequência numa dada amostra textual, então o valor não marcado será, pelo menos, tão frequente
quanto o valor marcado, numa amostra comparável de texto. Este critério estabelece uma
conexão direta entre propriedades da estrutura e do uso da língua.
- valor neutro: este critério é análogo ao da neutralização fonológica. “Somente um valor ocorre
em determinados contextos onde ambos os valores são semanticamente e/ou gramaticalmente
possíveis.” (p.91)8. Os critérios tipológicos para a marcação são, na verdade, reduzidos aos três
primeiros, sendo o de comportamento e o de frequência mais amplos e mais fundamentais para o
fenômeno da marcação.9
Entre os critérios brevemente discutidos acima, o mais polêmico é o de frequência. Dryer
(1995) questiona a importância desse critério, argumentando que a noção de ordem não marcada
não significa, necessariamente, que esta ordem seja a mais frequente.10 Para o autor, o papel da
frequência em explicar o porquê de as línguas serem como são vai além do conceito de marcação.
Ainda segundo o autor, ordem marcada ou não marcada tem que ser definida em termos
discursivos, o que ele traduz na oposição ordem pragmaticamente marcada vs ordem
pragmaticamente não marcada. Uma ordem pragmaticamente não marcada é melhor
caracterizada como uma ordem default, ou seja, aquela que é usada em contextos que não exigem
uma ordem pragmaticamente marcada. Assim, é necessário definir, primeiro, as situações em que
8 “only one value occurs in some context, where both values are semantically and/or grammatically possible.”9 Os critérios de comportamento e de frequência se aplicam a uma classe completa de fenômenos morfossintáticos,enquanto que o estrutural se aplica somente a um subgrupo.10 Um exemplo é a passiva no inglês, quando o paciente é mais temático do que o agente. Estes tipos de orações,apesar de serem menos frequentes, não servem de evidência para dizer que são pragmaticamente marcadas.
24
outras ordens são usadas (Cf. p.105-106). Acreditamos, acompanhando a perspectiva do autor,
que uma compreensão mais exata de marcação requer a consideração conjunta de frequência e
função discursiva de um constituinte.
O conceito de marcação é duplamente relevante para os aspectos da ordenação de
circunstanciais focalizados nesta tese: a- considerando uma relação binária, ele é aplicado à
análise da posição variável dos Spreps circunstanciais temporais e locativos nas margens da
oração (margem esquerda e margem direita) e b- considerando uma relação não binária, já que
esses constituintes admitem diferentes posições na oração, procuramos verificar se é possível
estabelecer uma hierarquia de marcação. Nessas duas perspectivas, buscamos depreender os
fatores de ordem sintática, semântica e discursiva que influenciam a maior ou menor frequência
de uma determinada forma de ordenação.
Além desses aspectos, é necessário destacar que a frequência de uma forma ou de uma
estrutura linguística é relativa, variando de acordo com o gênero textual e o tipo de texto, como é
destacado por Givón (op.cit.). Dryer (op.cit.) ressalta que a frequência varia de discurso para
discurso, de texto para texto e de subtexto para subtexto. Desta forma, “enquanto a frequência
relativa de ordens diferentes pode ser bem definida para um dado corpus de textos, fica menos
claro o que significa como um traço da própria língua.” (p.119)11
Uma outra discussão diz respeito à universalidade ou relatividade das relações de
marcação. De acordo com Dryer (op. cit), é necessário considerar que:
a marcação em uma língua específica simplesmente envolve um grupo de critériostradicionais ou testes, enquanto a marcação translinguística simplesmente envolvea frequência através das línguas nas quais os critérios para a marcação em umalíngua específica apontam para o mesmo valor como o valor não marcado.”(p.110)12
O autor admite, porém, que nem sempre a distinção entre as duas dimensões é clara. Esta
discussão é o que Sobokowiaj (op. cit.) aponta como origem externa para relativizar a marcação.
Para o autor, os fenômenos gramaticais são sempre relativos a seus componentes ou
propriedades, o que o leva a distinguir entre uma origem interna, específica de cada língua (a
11 “while the relative frequency of different orders may be well-defined for a given corpus of texts, it is less clearwhat it means as a feature of the language itself.”12 “language-specific markedness simply involves a set of traditional criteria or tests, while crosslinguisticmarkedness simply involves the frequency over languages in which the criteria for language-specific markednesspoint to the same value as the unmarked value”.
25
marcação relativa ao plural, por exemplo) e a outra externa que envolve restrições ou princípios
universais.13
2.3- Ordenação, função e variação
Como já colocado na introdução, consideramos a ordenação dos circunstanciais locativos
e temporais um fenômeno variável. Esta concepção implica, portanto, que assumimos alguns dos
fundamentos do estudo da variação linguística, o que no caso de fenômenos de ordenação merece
uma discussão mais detalhada.
O pressuposto central da Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista é o de que
os sistemas linguísticos são caracterizados por uma variação inerente e sistemática. Essa teoria se
define como disciplina distinta nos anos 60 e se firmou nos anos 70 com os trabalhos de William
Labov e seus sucessores. Veio de encontro à linguística saussureana, que tinha por base a
sincronia e que pregava a homogeneidade como pré-requisito para a própria definição de sistema
ou língua. Assim como nos modelos funcionalistas, o variacionismo comunga a ligação entre
sincronia e diacronia e expande a análise das línguas através dos tempos.
Trabalhos como os de Weinreich, Labov & Herzog (1968), Labov (1972, 1994) entre
outros, constituiram um marco teórico decisivo, ao partir de uma definição de língua como um
objeto caracterizado pela “heterogeneidade ordenada”. Para explicar a variação e os processos de
mudança linguística, Weinreich, Labov & Herzog (op.cit, p.99) enfatizam que
“(...) um modelo de linguagem que acomode fatos do uso variável e seusdeterminantes sociais e estilísticos, não só levam a descrições mais adequadas dacompetência linguística, mas também conduzem naturalmente a uma teoria demudança linguística que ultrapassa os paradoxos infrutíferos com os quais alinguística histórica tem se debatido por mais de meio século.”14
Um dos conceitos predominantes nas abordagens estruturalistas foi o de variação livre,
segundo o qual dois segmentos alternam aleatoriamente no mesmo ambiente e mantêm o mesmo
significado. Ao admitir que a variação é ordenada e sistemática, a Sociolinguística Variacionista
13 Universais linguísticos de Chomsky e Halle: enquanto que o uso da preposição em who did John give the book to?é uma estrutura universalmente marcada, seu status, específicamente no inglês, é não marcado, pelo menos no quese refere à frequência de ocorrência.14 (...) a model of language which accommodates the facts of variable usages and its social and stylistic determinantsnot only leads to more adequate descriptions of linguistic competence, but also naturally yields a theory of languagechange that bypasses the fruitless paradoxes with which historical linguistics has been struggling for over half acentury.
26
se opõe ao conceito de variação livre (que não depende do contexto em que o fenômeno ocorre),
propondo que toda variação é condicionada. Parte do pressuposto de que formas alternativas de
se dizer o mesmo, ou variantes linguísticas, são influenciadas por fatores (ou variáveis
independentes) intra e extra-linguísticos, ou seja, fatores estruturais e sociais, como sexo, idade,
escolaridade, registro de fala (cf.LABOV, 1972. 1994, CHAMBERS, 1995; MOLLICA &
BRAGA, 2004).
O interesse central da Sociolinguística se volta para os processos de mudança em curso
nas línguas, buscando desenvolver procedimentos que permitam identificar a forma como esses
processos se implementam nas comunidades de fala. A teoria de mudança linguística levanta
questões relacionadas à origem, implementação, forma de propagação, restrições estruturais e a
avaliação das mudanças. Essa perspectiva de análise rompe com as fronteiras entre diacronia e
sincronia, ampliando o foco de análise linguística e a variação passa a ser entendida como a face
sincrônica da mudança diacrônica. Em outros termos, qualquer mudança se inicia com variação,
instalando uma concorrência entre duas ou mais formas e, gradualmente, uma forma variante
substitui a outra. Assim, podemos afirmar que, embora nem toda variação implique mudança,
toda mudança se origina de uma variação.
Dado que a variação usa um grande número de dados, o modelo sociolinguístico tem
como suporte ferramentas de análise estatística poderosas. As hipóteses acerca do funcionamento
do fenômeno variável são traduzidas em grupos de fatores que são quantificados com o objetivo
de verificar seu efeito sobre a ocorrência de uma ou outra variante.
Dado seu interesse na identificação de mudanças, muitos trabalhos variacionistas se
voltaram para a análise da fala produzida em situações reais de comunicação (LABOV, 1972,
PAREDES SILVA, 1996), ou representativas de diferentes estilos de fala, uma vez que, as
mudanças aparecem mais naturalmente nesta modalidade. Mais recentemente, a modalidade
escrita também tem sido examinada sob essa perspectiva, com o objetivo, inclusive, de identificar
a forma como mudanças em curso, ou em fase de conclusão na fala, se instalam na modalidade
escrita, mais conservadora pela sua própria natureza (Cf, dentre outros, DUARTE, 2007,
GOMES, 2006, MOLLICA et alii, 2007, ALMEIDA e RONCARATI, 2007, PAREDES SILVA,
2007), que verificaram a aplicabilidade de restrições de variação em ambas as modalidades.
A questão do tratamento variacionista para a ordem de palavras pode acarretar
problemas, conforme posto por Currie (2000). O primeiro problema se deve ao desenvolvimento
27
da teoria variacionista para fenômenos fonológicos, em que as formas variantes possuem o
mesmo significado, enquanto nem sempre variações na ordem de constituintes atendem a tal
requisito. Um segundo problema apontado pelo autor é a multiplicidade de fatores (sintáticos,
semânticos, pragmáticos e textuais) que podem influenciar a ordem de palavras. Em terceiro
lugar, modelos formais negligenciaram fatores sociolinguísticos na ordem de palavras.
Uma questão controversa na aplicabilidade da Teoria da Variação a fenômenos
morfológicos e sintáticos está na própria definição de variação como alternância entre duas
formas semanticamente equivalentes (Cf. LAVANDERA, 1978, LABOV, 1978; WINFORD,
1996; CHESHIRE, 2005). Para muitos autores, fora do nível fonológico, formas diferentes teriam
significados diferentes, não havendo, portanto, variação. Há, no entanto, um consenso quanto a
considerar equivalência semântica de forma mais abrangente nas variáveis sintáticas, de modo
que estas possam ser estabelecidas de acordo com a função das variantes no discurso (Cf.
CHESHIRE, op. cit). Weiner e Labov (1983), por exemplo, argumentam que o significado
referencial é o que importa e mostram que é possível dar um tratamento variacionista a
fenômenos como a passiva e ordem de constituintes, por exemplo. Paredes Silva (2004) mostra a
importância dos fatores internos, isto é, dos níveis sintático, semântico e discursivo-pragmático
nos trabalhos empíricos para o avanço da Teoria da Variação para variações que ultrapassam o
nível fonológico. Um exemplo é o estudo da indeterminação, que pode se manifestar em diversos
níveis, apresentando uma escala de possibilidades (flexão do verbo, pronome se, você ou a gente,
as pessoas, etc.) cujo significado referencial ficaria preservado (Cf. p.70-71). A título de
exemplificação, podemos citar diversos trabalhos que já focalizaram fenômenos sintáticos:
OMENA, 1996, PAREDES SILVA, 1998, PAIVA, 2002, 2003, BRASIL, op.cit; GOMES, op.
cit., LESSA, op.cit.).
As questões brevemente discutidas acima se colocam de forma crucial no estudo de
diferentes formas de ordenação de constituintes e, mais especificamente, no da possibilidade de
variação na ordem dos Spreps locativos e temporais. Diversos autores (ILARI et alii, 1989,
MARTELOTTA, 1994, NEVES, 2002, COSTA, 2004, BRASIL, 2005) assumem que, não raro,
há uma relação direta entre a posição de constituintes adverbiais, em especial de advérbios, e o
significado que adquirem. Em outros termos, é a posição que determina o significado15, como no
15Costa (2004) exemplifica com o advérbio “estupidamente” que possui dois significados: 1- modo: de modoestúpido; 2- significado orientado pelo sujeito: foi estúpido de X fazer Y. (p.718)
28
seguinte exemplo extraído de nosso corpus: Alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano
são disputados no domingo, em oposição a No domingo são disputados alguns jogos dos
campeonatos Espanhol e Italiano.
Essas colocações se aplicam, a nosso ver, mais frequentemente para advérbios,
principalmente aqueles que não possuem significado inerente (cf. COSTA, 2004), do que para
sintagmas preposicionais. Em princípio, Spreps circunstanciais na margem esquerda ou na
margem direita da oração (‘Na minha cidade há muitas praias’, ou ‘Há muitas praias na minha
cidade) introduzem a mesma coordenada temporal ou locativa, podendo, então, ser considerados
semanticamente equivalentes. Shaer (2004), por exemplo, focalizando apenas as posições
marginais, apresenta vários argumentos para rebater uma alegada diferença semântica entre os
circunstanciais temporais nas periferias da oração.
Ao considerar o modo como a função intervém na maior ou menor possibilidade de
variação na ordem dos Spreps locativos e temporais, este estudo se situa, necessariamente, na
interface entre Teoria da Variação e abordagens funcionalistas, na forma como propõem Naro
(1998), Górski et alii (2003), Górski e Tavares (2012). O casamento entre Variacionismo e
Funcionalismo é controverso, na medida em que, no primeiro, há uma ênfase bastante acentuada
na estrutura, como se vê em Labov (1969). Além disso, há diferenças metodológicas, como a
exclusão de contextos ambíguos na Teoria da Variação. No entanto, há pontos comuns, como por
exemplo, a língua em situações reais de uso, a dinamicidade da língua, a análise de aspectos
fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais/semânticos, a frequência das ocorrências (cf.
Górski e Tavares, op.cit).
Naro (1998) mostrou a natureza funcional de fenômenos variáveis em diversos estudos do
português. Um exemplo é o estudo de Mollica (1996) sobre o uso de em, a e para com o verbo ir
. Seus resultados apontam o uso da preposição em com a função de reforçar o traço definido do
referente locativo (A gente ia no Carrefour).
A ordem dos circunstancias é focalizada, portanto, numa perspectiva sociofuncionalista.
Concebendo a língua como um sistema dinâmico de comunicação, assumimos que os
circunstanciais de tempo e lugar, além de introduzirem referências temporais e locativas,
desempenham determinadas funções comunicativas em determinados contextos. Ao analisar a
variação na ordem dos circunstanciais sob o prisma de fatores estruturais, fatores semânticos,
fatores discursivos e textuais, buscamos alcançar o que Naro (1998, p. 117) denomina “uma
29
compreensão correta” de uma mensagem dentro de um determinado contexto. Retomando os
termos de Paiva (1998, p. 91-92), podemos dizer que esta abordagem
(...) permite incorporar na análise de fenômenos gramaticais nuances semânticasdas variantes e o pressuposto de que a forma linguística sofre restrições impostaspela necessidade de adequação discursiva e pragmática. Faz ressaltar, assim, aimportância de aspectos textuais (como distribuição de informação), interacionaise cognitivos (como iconicidade) na distribuição das formas linguísticas.
Um outro ponto de conexão entre estudos variacionistas e estudos funcionalistas é que
uma descrição mais adequada do uso linguístico exige considerar as diferenças entre gêneros
textuais. Neste trabalho, esta questão ganha maior importância, na medida em que, como já
destacado por Givón (2001), um par marcado/não marcado pode ser relativizado em função de
características do texto e do modo de produção. Cada gênero possui características sócio-
comunicativas e de organização que o especificam e essas particularidades podem se refletir não
só em diferenças de frequência de um ou outra forma de ordenação como também na maior ou
menor exploração de uma ou outra função associada a uma determinada posição dos
circunstanciais.
Esta integração entre modelos que partilham o pressuposto de língua como uso tem se
revelado eficaz para ampliar a compreensão das regularidades linguísticas.
30
3- VARIAÇÃO NA ORDEM DE CONSTITUINTES CIRCUNSTANCIAIS
Neste capítulo, definimos o que entendemos por circunstanciais e abordamos as diferentes
possibilidades de ordenação desses constituintes. Discutimos que diversos fatores influenciam
essa ordenação, sejam eles de cunho sintático, semântico e discursivo.
A definição de circunstancial neste trabalho remete a Ilari et alii (1989) e a Neves (1992,
2000). Para os autores, circunstanciais não possuem função modificadora, mas indicam
circunstância, ou seja, “ provêm orientação locativa ou temporal por referência ao falante – agora,
que é o complexo modo-temporal que constitui o ponto de referência do evento (NEVES, 2000,
p.264).
No que diz respeito à posição de circunstanciais, duas faces aparentemente contraditórias
convivem: de um lado, a mobilidade posicional destes constituintes e, de outro, tendências à
fixação de determinadas posições. Neste sentido, os circunstanciais se assemelham a outros tipos
de advérbios que, como mostram Austin et alii (2004), apesar de gozarem de certa liberdade de
colocação na sentença, podem fixar posição em relação a outros constituintes ou apresentar
variação. Embora a tendência a uma posição fixa se aplique mais diretamente aos advérbios
propriamente ditos (cf. COSTA, 2004, BRASIL, 2005), mesmo para os sintagmas preposicionais
que codificam as categorias de tempo e espaço podem ser observadas certas limitações de
flexibilidade, uma questão que será retomada no capítulo 5.
Diversos trabalhos sobre a ordenação de circunstanciais temporais e/ou locativos já
mostraram que a classe morfológica do circunstancial é um fator importante na ordenação destes
constituintes. Os advérbios circunstanciais, principalmente os locativos, apresentam
especificidades de ordenação distintas das que se aplicam aos sintagmas preposicionais com
função adverbial (BRASIL, 2005, PAIVA, 2008c, GOMES, 2006). Brasil (op.cit.), comparando
as variedades PE e PB, mostra que advérbios locativos possuem maior flexibilidade, podendo
ocupar posições marginais ou posições internas, do que os Spreps cuja posição na oração se
submete a maiores restrições. Os circunstanciais temporais, por sua vez, possuem um
comportamento mais sistemático: tanto os advérbios como os Spreps, apesar de gozarem de
maior mobilidade na oração, tendem a ser antepostos ao verbo, principalmente na margem
esquerda da oração. Em Lessa (2007), mostrei, porém que, mesmo para a classe dos temporais, é
necessário atestar maior rigidez na ordenação de advérbios e, ainda, diferenças ligadas a cada
item adverbial específico.
31
Diversos trabalhos já mostraram que, assim como os advérbios, sintagmas preposicionais
que introduzem coordenadas de tempo e espaço podem ocupar diferentes posições na oração
tanto na modalidade falada como na modalidade escrita (QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1992,
MARTELOTTA, 1994, KATO et alii, 1996, ROCHA, 2001, , MURCIA e FREEMAN, 1999,
BESTGEN & VONK, 2000, HAWKINS, 2000, VILELA e KOCH, 2001, CUNHA e CINTRA,
2001, PAIVA, 2002, 2003, 2008 b, 2008c, AUSTIN et alii, 2004, SHAER, 2004, CEZÁRIO et
alii, 2004, BRASIL, 2005, LESSA, 2007, ILOGTI DE SÁ, 2009). Esses constituintes podem se
situar no interior da oração, em posições de adjacência ao verbo ou nas periferias da oração
(margem direita e margem esquerda), como mostram os exemplos a seguir, extraídos de nossa
amostra:
Margem esquerda da oração:
(5) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. (JB – 02/06/2003 - Opinião)
Posição entre sujeito e verbo:
(6) O frigorífico local, hoje, é usado em apenas 10% de sua capacidade.(JB02/06/2003 - Opinião)
Posição entre verbo e complemento:
(7) O Fluminense apresenta amanhã mais uma novidade para a disputa dacompetição. (JB – 06/03/2004 – Notícia)
Margem direita da oração
(8) Os policiais iniciaram ação às 5h30. (JB – 24/10/2002 – Notícia)
As gramáticas tradicionais pouco dizem a respeito da ordenação de sintagmas
preposicionais circunstanciais, limitando-se, na maioria das vezes, a tecer considerações acerca
das posições possíveis dos advérbios propriamente ditos. Para muitos autores, a possibilidade de
que Spreps circunstanciais ocupem diferentes posições na oração é uma questão estilística,
decorrente, portanto, de preferências individuais (cf., por ex, CUNHA, 1975). No máximo, fazem
referência a uma posição defaut para esses constituintes, destacando que, independentemente da
classe semântica, eles tendem a se situar após os constituintes argumentais (cf. CUNHA &
CINTRA, 2001).
32
Quando se referem à variabilidade na colocação de Spreps circunstanciais, as gramáticas
se apóiam mais frequentemente no conceito de “ordem natural” ou ordem lógica e consideram
outras possibilidades como um fenômeno estilístico (Cf. CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1984).
No entanto, diversos estudos sobre o uso da língua já mostraram que fatores sintáticos,
semânticos e discursivos controlam a ordenação desses constituintes (MARTELOTTA, 1994,
COSTA, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004 , CEZÁRIO et alii, 2005 a/b, BRASIL, 2005, PAIVA,
2002, PAIVA et alii, 2007, LESSA, 2007, PAIVA, 2008b, 2012, ILOGTI DE SÁ, 2009).
Focalizando mais especificamente os advérbios no português europeu, Costa (op. cit.)
mostra que a variabilidade na posição desses constituintes decorre do fato de que a adjunção é
parcialmente livre, ou seja, o advérbio é livre para adjungir a uma categoria lexical, como VP, e a
categorias funcionais, como TP ou CP.
A ocorrência de simetria na adjunção é outra questão levantada pelo autor. Pelo fato de
essa categoria lexical ser livre, espera-se que um advérbio que se adjunge à esquerda seja capaz
de se adjungir à direita. Esta mudança de posição, entretanto, pode acarretar mudanças de
significado, o que, numa perspectiva variacionista, acarretaria problemas, uma vez que não
seriam mais variantes semanticamente equivalentes.
O próprio autor destaca, no entanto, que a relação entre significado e posição é mais
complexa e envolve principalmente os advérbios. Alguns advérbios, como ontem, por exemplo,
possuem significado inerente e podem variar sua posição. Advérbios que não possuem
significado inerente, como “estupidamente”16 se caracterizam por menor flexibilidade, visto que
seu significado pode ser alterado em função da posição que ocupam na sentença. Para os
advérbios que admitem maior flexibilidade sintagmática, o autor admite a intervenção de fatores
funcionais como papel do circunstancial na estrutura informacional e extensão do constituinte,
fazendo-se necessário identificar a forma como esses fatores interagem entre si.
No que se refere aos advérbios que localizam espacial e temporalmente estados de
coisas, Neves (1992, p.268) salienta que é necessário considerar a função que eles desempenham:
função nuclear ou não nuclear. Enquanto os primeiros se inserem no sistema de transitividade, os
segundos são periféricos ao SV e essas funções têm reflexo nas diferentes possibilidades de
16 Segundo o autor, este advérbio possui dois significados: 1- modo: de modo estúpido; 2- significado orientado pelosujeito: foi estúpido de X fazer Y. (p.718)
33
colocação que eles admitem, controladas por princípios distintos (Cf. também ILARI et alii,
1989).
Apesar das diferentes possibilidades de colocação exemplificadas de (1) a (4), diferentes
estudos já atestaram que os circunstanciais apresentam uma tendência mais geral a ocuparem
posições periféricas na oração, embora de forma distinta, de acordo com a categoria dêitica
codificada: os circunstanciais locativos tendem a se situar na margem direita da oração e os
temporais, embora admitam maior variabilidade, na margem esquerda (cf. MARTELOTTA,
1994, ROCHA, 2002, PAIVA, 2002, 2008a, PAIVA et alii, 2007, KATO et alii, 2002, ROCHA,
2002, OLIVEIRA, 2003, CEZÁRIO et alii, 2004, BRASIL, 2005, LESSA, 2007).
Posições de adjacência ao verbo, tanto entre verbo e sujeito como entre verbo e objeto,
são mais restritas e se distribuem de forma diferenciada de acordo com a modalidade, como
mostram Paiva et alii (2007). Mais frequentemente, essas posições são ocupadas por Spreps de
menor extensão ou que modificam internamente o estado de coisas descrito, como os aspectuais.
Paiva et alii (op.cit) mostram que circunstanciais temporais aos quais se superpõe uma noção
aspectual, como iteratividade, por exemplo, são os que mais tendem a se situar na adjacência
direita ou esquerda do verbo (cf. também KATO et. alii. (op.cit.). Paiva et alii (op.cit) destacam,
porém, restrições ligadas ao tipo morfológico de circunstancial e à modalidade. Na fala, a
ocorrência de advérbios entre sujeito e verbo (PM1) e entre verbo e objeto (PM2) apresenta
frequências aproximadas (21% e 18%, respectivamente) que se igualam aos valores da margem
direita (17%). Para os Spreps, a posição entre sujeito e verbo é pouco produtiva, com apenas 5%
de frequência. As frequências para margem direita e posição entre verbo e complemento são
muito próximas (25% e 22%, respectivamente). Na escrita, a tendência de ocupação da PM1 é
bem restrita para advérbios (7%) e Spreps (5%). A PM2 possui índices de ocupação maiores, com
32% para advérbios e 40% para Spreps.
A preferência pelas posições periféricas pode ser identificada já em estágios anteriores do
português, como mostram estudos de Oliveira (2003) e de Gomes (2007). Oliveira (op.cit.), ao
analisar o comportamento dos advérbios locativos em textos religiosos, mostra que estes
constituintes são mais periféricos em relação ao verbo. Sendo assim, possuem grande mobilidade
na oração, podendo ocorrer antes ou depois do verbo. Gomes analisou Cartas de Comércio do
século XVIII e Documentos de Circulação Privada do século XIX, mostrando que, embora nestes
períodos, Spreps locativos e temporais já tendessem a ocupar posições marginais, as posições
34
internas alcançavam índices muito mais expressivos do que no português contemporâneo. Em sua
análise de textos religiosos do português arcaico, Cezário et. alii (2004) mostraram igualmente a
preferência de advérbios locativos por posições adjacentes ao verbo, principalmente a pós-verbal.
Para os temporais, a tendência geral do português arcaico foi a ocupação de posições depois do
verbo.
Essa restrição nas posições internas pode ser explicada pelo princípio de coesão (Cf.
TOMLIN, 1986), segundo o qual o verbo e o objeto formam um todo sintático e semântico.
Assim, evita-se colocar constituintes nas posições internas a fim de não haver rompimento nas
barreiras entre verbo e seu argumento.
Diversos trabalhos já mostraram uma variedade de fatores que influenciam a ordem de
Spreps locativos e temporais, como o significado do circunstancial, sua função sintática e sua
função discursiva, o grau de transitividade da oração em que ele ocorre (MARTELOTTA, 1994,
SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, PAIVA et alii, 2007, PAIVA 2008b), extensão e peso
final (BRASIL, 2005), gêneros textuais (PAIVA et alii, op cit.).
É interessante destacar, já que uma das perspectivas de análise desenvolvidas neste estudo
inclui os sintagmas preposicionais que expressam modo, que estes últimos apresentam um
comportamento mais particular no que se refere a tendência de ordenação. Diferentemente dos
circunstanciais de tempo e lugar, advérbios e Spreps de modo estão mais forte e diretamente
ligados aos estados de coisas, modificando-os. Retomando Cezário et. alii (2004, p. 187) “de
fato, do ponto de vista semântico, o modo está diretamente ligado à essência da ação verbal”. É
essa ligação estreita que permite a constituintes que expressam modo adquirirem frequentemente
uma função quase argumental implicando, inclusive, restrições de seleção.
Uma outra particularidade dos constituintes de modo é que, ao que tudo indica, uma
mudança na sua posição envolve de forma mais evidente uma possível mudança de significado,
em razão de mudanças no seu escopo. Como destacam Givón (2001) e Cezário et alii (op.cit.) os
circunstanciais de modo podem se referir à ação verbal ou ao sujeito, como no exemplo “João
corretamente falou com os professores”17 retomado de Cezário et alii (op. cit, p.189) ou mesmo
modificar a enunciação. Os autores ainda ressaltam que a diversidade de usos desses elementos
está ligada aos seus papéis discursivos e à estrutura oracional em que ocorrem.
17 Há aqui um problema de escopo.Se coordenarmos uma outra oração (“João corretamente falou aos profesores ePedro também. ), o escopo de corretamente é no mínimo ambíguo, podendo entender-se que modifica a ação de falar.
35
Qualquer generalização quanto à posição de circunstanciais em termos da categoria
dêitica que codificam pode, no entanto, ser indevida. No que se refere mais especificamente à
ordenação dos circunstanciais temporais, Martelotta (1994) mostra influência de nuances
semânticas, que, na proposta do autor, podem ser classificados em cinco tipos: circunstanciadores
de tempo determinado (ontem, hoje); circunstanciadores de tempo indeterminado (sempre,
atualmente); circunstanciadores iterativos (às vezes, duas vezes por semana); circunstanciadores
de simultaneidade (enquanto isso, ao mesmo tempo) e circunstanciadores delimitativos (até hoje,
há três anos). Para o autor, os constituintes em questão não assumem uma posição básica na
sentença, pois sua colocação depende da “interação de suas características semântico-gramaticais
com fatores de natureza pragmático-discursiva.” (p.60). Por exemplo, o circunstancial de tempo
“tende a ocorrer em posições pré-verbais quando traz informações temporais análogas aos traços
semântico-gramaticais do discurso em que ocorre.” (p.205). Cezário et. alii. (2005) reforçam a
conclusão de que noções semânticas como localização, duração, simultaneidade influenciam a
ordenação de locuções adverbiais temporais (Cf. também, ANDRADE, 2005, LUQUETTI,
2008, ILOGTI de SÁ, 2009).
Como defendem Austin et alii (2003), uma compreensão mais acurada da variação na
posição dos circunstanciais requer considerar a interface entre semântica, sintaxe e pragmática.
Esta interface é ainda mais necessária se considerarmos a predominância dos circunstanciais nas
margens da oração, dadas as especificidades funcionais dessas posições. Shaer (2004), por
exemplo, mostra que, embora nem sempre seja fácil determinar as diferenças semânticas entre os
temporais que ocupam a margem esquerda da oração e os que se posicionam na margem direita,
é possível identificar especificidades funcionais de cada uma dessas configurações.
Circunstanciais de tempo que se localizam na margem esquerda estabelecem ligações entre o
ponto em que ocorrem e o discurso anterior. Já os circunstanciais que se localizam na margem
direita da oração possuem um escopo mais restrito e não estabelecem relações anafóricas. A
função anafórica dos circunstanciais na margem esquerda da oração é destacada igualmente por
Oliveira (2003), para os locativos, Paiva et alii (2007), para locativos e temporais, Paiva
(2008b), Ilogti de Sá (2009), para os temporais.
Paiva (2008 op.cit) mostrou que Spreps circunstanciais na margem esquerda, além de
retomarem informações no discurso precedente, abrem enquadres nos quais se inscrevem
diversos estados de coisas no discurso subsequente.
36
Dentro de uma perspectiva funcional, outros trabalhos já mostraram a importância, por
exemplo, da diferença figura/fundo na colocação variável dos circunstanciais (MARTELOTTA,
1994, CEZARIO et alii, 2004, ILOGTI DE SÁ, 2009). Ilogti de Sá (op.cit) atestou que a posição
sintagmática de circunstanciais é motivada pelo grau de transitividade da oração em que o
circunstancial está inserido e mostrou que, em orações com alta transitividade, as locuções
adverbiais tendem a se localizar nas margens da oração.
Um outro aspecto relacionado à disposição dos circunstanciais, destacado por Paiva
(2003), diz respeito a sua ocorrência em sequência. A autora destaca a recorrência, no português
brasileiro, de situações “em que uma proforma adverbial é seguida de um sintagma preposicional
locativo.” (p.131). A autora ressalta o papel desses constituintes na precisão de coordenadas
dêiticas e na organização das relações fóricas textuais. Na interpretação da autora, as proformas
adverbiais organizam as partes do discurso e os Spreps introduzem precisão quanto às
coordenadas temporais dos estados de coisas. Esse encadeamento de circunstanciais é retomado
por Brasil (2005) para circunstanciais locativos e temporais em textos escritos. Segundo a autora,
os circunstanciais variam sua posição na sentença dependendo da sequência em que ocorrem na
oração.18 Seus resultados para advérbios de tempo no português do Brasil mostram que
sequências de advérbios de mesma classe tendem a se colocar em posições antepostas ao verbo.
Já a sequenciação de advérbios de classes distintas desfavorecem a anteposição.
Este ponto conduz a dois aspectos importantes da ordenação de circunstanciais, quais
sejam: a- a co-ocorrência de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica na
mesma oração e b- a forma de sequenciação de categorias semânticas distintas, como
exemplificado a seguir:
(9) No clássico contra o Vasco, no Maracanã, rente à linha lateral do campo, vaiestar o novo técnico do time. (JB – 06/03/2004 - Notícia)
(10) Ontem, Felipe correu na areia da Praia da Barra, (O Globo – 05/03/2004 -Notícia)
(11) A discussão do Orçamento para 2003 começou ontem com uma crise norelacionamento entre o legislativo e o executivo municipal. (JB – 25/10/2002 -Notícia)
18 Sequência de dois circunstanciais da mesma classe semântica; sequência de dois circunstanciais de classessemânticas distintas; sequência de mais de dois circunstanciais. (p.148)
37
Para casos como os exemplificados de (9) a (11), além de se colocarem questões relativas
a ordem não marcada, ganham relevância aspectos ligados à própria categoria semântica.
Focalizando as categorias de tempo, modo e lugar, no inglês, Quirk et alii (1985) propõem um
princípio de centralidade semântica das categorias circunstanciais. De acordo com os autores, a
maior ou menor adjacência do circunstancial em relação ao verbo depende da centralidade da
categoria semântica para o estado de coisas descrito na oração: categorias mais centrais tendem a
ficar na proximidade do verbo. Dessa forma, na proposta dos autores, a sequenciação menos
marcada seria modo>lugar>tempo. Em contextos mais restritos, como aqueles em que é possível
uma ambiguidade ou se impõe a necessidade de realce, essa ordenação pode ser alterada.
A sequenciação modo-lugar-tempo pode ser entendida em termos do princípio de
iconicidade, na forma como proposto por Haiman (1985) e Givón, (1990, 2001) que prevê
isomorfismo entre a sintaxe e semântica, ou seja, uma determinada estrutura reflete a função que
realiza. Assim, a proximidade física entre constituintes reflete a proximidade conceptual.
Entretanto, tudo indica que princípios de natureza diferente podem conflitar na ordenação
de diferentes categorias semânticas de circunstanciais. Hawkins (2000) mostra que, em posições
pós-verbais, a pressuposta generalidade da sequenciação modo>lugar>tempo pode ser discutida
e, na verdade, apresenta pouca produtividade. O autor apresenta argumentos contrários à hipótese
de ordenação motivada por um princípio de centralidade semântica, ressaltando que é necessário
controlar outros fatores como a dependência léxico-semântica entre a preposição que encabeça o
Sprep e o verbo, que traduzimos no princípio de coesão19 (Cf. TOMLIN, 1986). Segundo este
princípio a coesão entre verbo e complemento é tão estreita que restringe a ruptura entre esses
dois constituintes. Um outro fator destacado por Hawkins (op.cit), a fim de controlar a ordenação
de circunstanciais, é o peso final dos constituintes adverbiais, segundo o qual constituintes mais
pesados tendem a se localizar após constituintes mais leves. Conclui que a principal motivação
para a ordem relativa dos circunstanciais é a sua extensão.
Evidências para a importância do princípio do peso final na ordenação relativa de
circunstanciais no português são fornecidas por Paiva (2012). Baseada no critério frequência, a
autora atesta, antes de mais nada, a preferência pelo acúmulo de circunstancias na margem direita
da oração. Em orações nas quais co-ocorrem circunstanciais de diferentes classes semânticas,
19 Sob certos aspectos, este princípio equivale ao que Givón (1995, 2001) denomina princípio de integração.
38
observa-se acentuada variabilidade de disposição sintagmática, mas as tendências depreendidas
são igualmente favoráveis a uma interpretação mais em termos de peso do constituinte do que de
centralidade semântica.
Neste capítulo, retomamos, resumidamente, estudos que já atestaram as restrições no
posicionamento de circunstanciais na oração e a variação possível na ordem destes constituintes.
Destacamos as motivações sintáticas, semânticas e discursivas que vêm se mostrando mais
regulares na explicação deste fenômeno de ordenação.
39
4. AMOSTRA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Downing (1995) apresenta três métodos de investigação para o estudo da ordem de
constituintes: entrevistas com falantes nativos da língua em questão, utilização de uma
abordagem experimental e uma abordagem de distribuição textual, que servem a funções
pragmáticas diversas. O último método se adequa ao nosso trabalho pelo fato de que, na nossa
análise, utilizamos um corpus de escrita jornalística, composto de textos de gêneros
diversificados.
No entanto, nossos objetivos não se limitam a depreender a distribuição dos padrões de
ordenação dos circunstanciais. Procuramos, além disso, identificar os grupos de fatores, e em
última análise, os princípios que operam sobre a ordem dos circunstanciais. Para o cumprimento
desse objetivo, adotamos os procedimentos metodológicos da Teoria Variacionista, que nos
permitem não apenas verificar a distribuição dos dados, mas também o efeito de um determinado
grupo de fatores em relação aos outros que com ele co-atuam.
4.1- Amostra
A escolha da escrita com o objetivo de analisar a ordenação dos circunstanciais no
português contemporâneo é motivada pelo fato de que, como já atestaram outros estudos, a
ordem desses constituintes na modalidade escrita pode variar de forma significativa (Cf.BRASIL,
2005, PAIVA, 2008c, GOMES, 2006, LESSA, 2007).
Como já dissemos, nossa pesquisa engloba os gêneros textuais notícia, artigo de opinião,
editorial, crônica e carta , extraídos de jornais cariocas de grande circulação “O Globo”, “Jornal
do Brasil”, “Extra” e “O Povo”. Os textos fazem parte de uma amostra do discurso jornalístico
constituída por integrantes do projeto PEUL (UFRJ)– Projeto de Estudos Sobre o Uso da Língua,
entre os anos de 2002 e 200420. Escolhemos trabalhar com textos jornalísticos porque
representam um tipo de escrita mais monitorada e sujeita a prescrições e normas. Esses textos são
representativos de diversos gêneros do domínio jornalístico. A variável gênero foi controlada
através de um grupo de fatores a fim de verificar em que medida a variação na ordem de
circunstanciais está sujeita a distribuições textuais distintas.
20 A amostra está disponível em: http://www.letras.ufrj.br/peul/
40
No total, essa amostra compreende 432 textos dos gêneros notícia, artigo de opinião,
editorial, crônica e carta, distribuídos da forma mostrada no quadro abaixo:
Quadro 1: Distribuição dos gêneros pelos jornais
Gênerojornalístico
OGlobo
JB Extra O Povo Total
Notícia 24 24 24 24 96Artigo deOpinião
24 24 24 24 96
Editorial 24 24 24 24 96Crônica 24 24 - 24 72Carta 24 24 24 - 72
A amostra não é inteiramente equilibrada como observamos acima, por duas razões: não
há crônicas no jornal “Extra” e o jornal “O Povo” não publica uma seção de cartas do leitor.
Nos quadros seguintes, apresentamos a relação dos textos utilizados em cada um dos
gêneros.
Quadro 2: Notícia
Jornal Data Título AutorO Globo 04/03/04 Aílton vira estrela de aluguel do Qatar Graça MagalhãesO Globo 04/03/04 Brasil enfrenta Paraguai sem ter como
treinarAntonio MariaFilho
O Globo 05/03/04 Fla busca antídoto para aFelipedependência
Ary Cunha
O Globo 05/03/04 Pelé se explica: 'Tínhamos de olhar ofutebol como um todo'
Fernando Duarte
O Globo 05/03/04 Sempre rima fácil com confusão Sem autorO Globo 06/03/04 Fifa vai impedir formação dos times de
aluguelSem autor
O Globo 06/03/04 Levir troca treino por conversa em buscade união para vencer América
Marcos Penido
O Globo 10/03/04 Encontro de líderes na Serra Márcio TavaresO Globo 10/03/04 Juninho põe Lyon entre os oito melhores
na LigaSem autor
O Globo 10/03/04 Líder, Flamengo enfrenta equipe do CasaBranca
Sem autor
O Globo 18/10/02 Rio deve ter Forças Armadas no 2º turno Ana Paula Macedo,Carolina e Brígidoe Evandro Éboli
O Globo 23/10/02 Choque de ordem dura quatro horas Jorge Eduardo
41
MachadoO Globo 24/10/02 Barra e Recreio ganham um pacote de
obrasSelma Schmidt
O Globo 24/10/02 Suspeito de ter assaltado ônibus é presopela PM
Sem autor
O Globo 25/09/02 Chuva de um dia quase iguala índice domês
Leticia Matheus
O Globo 25/09/02 Lagoa poderá ter nova mortandade Selma SchmidtO Globo 25/09/02 O mural do tráfico no batalhão da PM Taís Mendes e
Célia CostaO Globo 25/09/02 Polícia suspeita de outro agente
penitenciárioAntônio Werneck eVera Araújo
O Globo 25/10/02
UFRJ aprova 1ª parte de seu plano desegurança
Jorge EduardoMachado
O Globo 26/10/02 Presos tinham plano para fugir Renato GarciaO Globo 28/10/02 Abastecimento de água na cidade vai ser
suspenso por 24 horasEduardo Fradkin
O Globo 28/10/02 Celsinho fica em galeria isolada em BanguI
Sem autor
O Globo 04/03/04 Flu admite esperar Vanderlei, mas querencontrá-lo hoje
Fábio Juppa
O Globo 06/03/04 Time tricolor ainda não terá o dedo donovo técnico amanhã
Sem autor
JB 05/03/04 Flu em regime de concentração Sem autor
JB 06/03/04 Alex Alves volta ao Botafogo para fazergol
Sem autor
JB 06/03/04 Brasil e Portugal: clássico das areias Sem autorJB 06/03/04 O ídolo de volta ao Fluminense Pedro LemosJB 08/03/04 Felipe de volta ao Flamengo Márcio MaráJB 08/03/04 Ricardo ressalta má forma física Sem autorJB 08/03/04 Valdir elogia astros do Vasco Sem autorJB 09/03/04 Fla volta a ter esperanças na Taça Rio Luiz Augusto
NunesJB 05/03/04 Aperitivo para o clássico Pedro LemosJB 09/03/04 Roberto Carlos reclama de punição Sem autorJB 10/03/04 Levir exige respeito ao Cabofriense Sem autorJB 10/03/04 Real e Bayern decidem vaga Sem autorJB 10/03/04 Valdir em estado de graça Sem autorJB 17/09/02 Estudantes protestam em Caxias Sem autorJB 05/03/04 Time já está concentrado para o jogo de
amanhãSem autor
JB 19/03/04 Aumento à vista para os federais Sem autorJB 23/10/03 Fuga pára escola em S. Gonçalo Sem autorJB 23/10/02 Polícia estoura cativeiro Sem autor
42
JB 23/10/02 Servidor vai para o fim da fila Sem autorJB 24/10/02 Chuva alaga conselho tutelar Sem autorJB 24/10/02 Operação é criticada Sem autorJB 24/10/02 Polícia ocupa a Rocinha Sem autorJB 24/10/02 Tentativa de fuga e rebelião em Bangu Sem autorJB 25/10/02 Câmara pressiona César Sem autorExtra 04/06/03 Apólices variam por bairros Sem autorExtra 04/06/03 Corretora enterrada em Irajá Sem autorExtra 04/06/03 Explode o roubo de veículos Marcelo ChimentoExtra 04/06/03 Preso acusado de arrastão do fim de
semana na IlhaSem autor
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Extra 05/06/03 Ano letivo em câmera lenta Jorge EduardoMachado
Extra 05/06/03 Atraso põe sonho em xeque Sem autorExtra 05/06/03 Nilópolis surpreende na educação Giampaolo BragaExtra 07/01/04 Concorrência que alivia Sem autorExtra 07/01/04 De olhos nos apressados Elaine DuimExtra 07/01/04 Fla volta com novas caras Maura Ponce de
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noca confusão na GáveaSem autor
O Povo 29/12/03 Botafogo espera novos parceiros parareforçar o time
Sem autor
O Povo 29/12/03 Euller é confirmado eEspinosa está quaselá
Sem autor
O Povo 29/12/03 Paulistas vencem cariocas e igualam oDesafio na areia
Sem autor
O Povo 29/12/03 Ramon dá sinais de que voltará ao Vasco Sem autorO Povo 31/12/03 Um ano de glórias Sem autor
Quadro 3: Opinião
Jornal Data Título AutorO Globo 01/06/03 Mídia e suicídios Glaucio A. Dillon
SoaresO Globo 01/11/02 Lei de Falências: um enfoque moderno Paulo Cezar AragãoO Globo 01/11/02 Quem paga o ‘gato’? Sérgio MaltaO Globo 02/11/02 Lembrando uma visita D. Eugenio de
Araujo SalesO Globo 02/11/02 Lula e Lulas Olavo de CarvalhoO Globo 03/11/02 Voltando, sem muita convicção João Ubaldo RibeiroO Globo 03/11/03 Cachorros loucos Merval PereiraO Globo 04/10/02 Máscaras, tragédia e política Tite De LamareO Globo 19/02/04 É hora de reforma política Eduardo Eugenio
Gouvêa VieiraO Globo 19/02/04 O difícil ofício de democrata Marcio Moreira
AlvesO Globo 21/10/02 Quem tem medo de Regina Duarte? Lourdes SolaO Globo 21/10/02 Uma Alca sem atropelos Nelson Brasil De
Oliveira
44
O Globo 22/01/03 Desordem urbana Gilberto VelhoO Globo 22/01/03 Início de uma amizade histórica Klaus Platz e
Richard BarbeyronO Globo 23/02/04 Bolchevismo tupiniquim Denis Lerrer
RosenfieldO Globo 25/10/02 O fim (de semana) Paulo Gouvêa
VieiraO Globo 26/03/03 A tradição petista é um bom caminho Elio GaspariO Globo 27/10/02 A vida real Merval PereiraO Globo 27/10/02 Ciência e consciência Marco MacielO Globo 28/10/02 A censura e as trevas Ricardo Cravo
AlbinO Globo 28/10/02 Brasil: um novo desafio Francisco Antunes
Maciel MüssnichO Globo 29/03/03 Denúncia assombrosa Olavo de CarvalhoO Globo 29/10/02 Um patrimônio do Estado brasileiro Luiz Felipe
LampreiaO Globo 04/10/02 Um gringo vê as eleições Claus HeckingJB 01/11/02 Depois da Eleição Newton RodriguesJB 01/11/02 Está na hora de viajar Villas Bôas CorrêaJB 01/11/02 O quebra-cabeças Maria Lúcia DahlJB 02/06/03 Como esses primitivos Luís Edgar de
AndradeJB 02/06/03 Controle Externo do Judiciário Hélio BicudoJB 02/06/03 Debandada de cérebros Noel de CarvalhoJB 23/10/02 Falta de dedo não é deficiência para TJ Sem autorJB 02/06/03 Lula e o enigma do dragão celeste Miguel BorgeJB 02/06/03 O empreendedorismo e as prefeituras Celina Amaral
PeixotoJB 02/06/03 Salvem nossas sardinhas! Marcos Barros PintoJB 03/03/03 Bem pior que a encomenda Dora KramerJB 03/06/03 Medo do melhor Nelson HoineffJB 03/06/03 Misterioso vídeo de Fidel para Tancredo Deonísio da SilvaJB 05/03/04 ‘Annus terribilis’ Jose SarneyJB 05/03/04 O esforço fiscal do Estado do Rio Henrique BellúcioJB 05/03/04 Ressonância Schumann Leonardo BoffJB 06/03/04 Para onde mesmo? Newton RodriguesJB 06/03/04 Respeito à vida Dom Eugenio SalesJB 07/03/04 Complicações à vista Antônio Ermírio de
MoraesJB 07/03/04 Dois segundos mandatos em questão Gilberto PaimJB 07/03/04 Ética e/ou política? Emir SaderJB 07/03/04 Hora de mudar o azimute Gaudêncio TorquatoJB 09/03/04 Luma, a pátria de biquíni e blusinha Deonísio da SilvaJB 09/03/04 Por que reforma política Ronaldo Caiado
45
Extra 02/01/04 Saindo do buraco João AreosaExtra 02/09/04 Deus e o diabo Cláudio Mello e
SouzaExtra 05/01/04 Batendo com arte João AreosaExtra 07/01/04 De boca aberta João AreosaExtra 10/01/04 Limpando o ninho João AreosaExtra 11/03/04 O time do Abedí Cláudio Mello e
SouzaExtra 15/03/04 Olha a poeira João AreosaExtra 16/01/04 Copa sob suspeita João AreosaExtra 17/01/04 Bravos chilenos João AreosaExtra 17/03/04 Golpe de mestre João AreosaExtra 18/03/04 Fotos não reveladas Cláudio Mello e
SouzaExtra 18/12/03 Profissionalismo Cláudio Mello e
SouzaExtra 19/01/04 Diego neles! João AreosaExtra 19/03/04 Deve ser gozação João AreosaExtra 21/01/04 Soltem os touros! João AreosaExtra 21/12/03 Velho futebol jovem Cláudio Mello e
SouzaExtra 22/03/04 Domingo de peladas João AreosaExtra 23/03/04 O bebê de Rosemary Cláudio Mello e
SouzaExtra 24/03/04 A enquete João AreosaExtra 25/08/04 Sim e não Cláudio Mello e
SouzaExtra 26/08/04 Não deu para convencer Cláudio Mello e
SouzaExtra 29/12/03 O Salvador João AreosaExtra 30/08/04 Azar é o deles João AreosaExtra 31/08/04 No país dos Policarpos Cláudio Mello e
SouzaO Povo 01/05/03 Feriado tem boa programação Hércules BragaO Povo 01/11/03 Clássico Octávio Dupont Hércules BragaO Povo 02/05/03 Temporada hípica definida Hércules BragaO Povo 03/05/03 Potros decidem liderança Hércules BragaO Povo 04/05/03 Equilibrando o criterium Hércules BragaO Povo 05/05/03 Pules boas podem acontecer Hércules BragaO Povo 08/05/03 Semana de ótimos programas Hércules BragaO Povo 08/11/03 Prova Especial e Handicap Hércules BragaO Povo 09/05/03 Bonificações são atraentes Hércules BragaO Povo 10/05/03 Clássico e grande prêmio Hércules BragaO Povo 11/05/03 Gávea tem show de emoções Hércules BragaO Povo 12/05/03 Pesos especiais é atração Hércules Braga
46
O Povo 15/11/03 Sabatina bem equilibrada Hércules BragaO Povo 17/05/03 Prova Especial Hércules BragaO Povo 19/05/03 Muitos páreos de claiming Hércules BragaO Povo 23/05/03 Reunião muito eqüilibrada Hércules BragaO Povo 25/05/03 Handicap e pesos especiais Hércules BragaO Povo 26/05/03 Noturna promete boa renda Hércules BragaO Povo 27/01/03 Noturna está equilibrada Hércules BragaO Povo 28/10/03 Movimento surpreendente Hércules BragaO Povo 29/05/03 Campeão segue disparando Hércules BragaO Povo 30/05/03 Quinexata ainda é atração Hércules BragaO Povo 31/01/03 Bonificações ainda atraem Hércules BragaO Povo 31/05/03 GP vai atrair turistas Hércules Braga
Quadro 4: Editorial
Jornal Data Título AutorO Globo 01/10/02 Discurso revisto Sem autorO Globo 01/11/02 Austeridade Sem autorO Globo 02/11/02 Modernização Sem autorO Globo 03/11/03 Sem drama Sem autorO Globo 03/11/03 Sharom sozinho Sem autorO Globo 04/10/02 Contra o medo Sem autorO Globo 04/10/02 Dar exemplo Sem autorO Globo 16/01/03 Clima favorável Sem autorO Globo 16/01/03 Todos iguais Sem autorO Globo 17/01/03 Base legal Sem autorO Globo 18/01/03 Menos pobres Sem autorO Globo 18/10/02 Arma do bem Sem autorO Globo 18/10/02 Celas adequadas Sem autorO Globo 19/10/03 Rápida e eficiente Sem autorO Globo 20/10/02 Além de Saddam Sem autorO Globo 20/10/02 Rombo no casco Sem autorO Globo 21/10/02 Precipitação Sem autorO Globo 22/01/03 Reféns do clima Sem autorO Globo 22/01/03 Sem desculpas Sem autorO Globo 22/10/02 Sem retrocesso Sem autorO Globo 22/10/02 Tudo por fazer Sem autorO Globo 25/10/02 Resposta agrícola Sem autorO Globo 28/10/02 Os desafios Sem autorO Globo 29/03/03 Fim de privilégios Sem autorJB 01/11/02 Boa vontade Sem autorJB 01/11/02 Mercado paralelo Sem autorJB 01/11/02 O Inimigo nº 1 Sem autorJB 02/06/03 Conselho da paz Sem autorJB 02/06/03 Viés do passado Sem autor
47
JB 03/06/03 Coragem para mudar Sem autorJB 03/06/03 Função política Sem autorJB 03/06/03 Visão realista Sem autorJB 05/10/02 Os cinco desafios Sem autorJB 07/06/03 Contra o pecado Sem autorJB 07/06/03 Cumplicidade geral Sem autorJB 08/06/03 A segunda onda Sem autorJB 08/06/03 Futuro definido Sem autorJB 17/09/02 À margem da lei Sem autorJB 17/09/02 Paraíso em chamas Sem autorJB 17/09/02 Perdendo a cara Sem autorJB 20/10/02 Corrupção blindada Sem autorJB 20/10/02 Oportunidade histórica Sem autorJB 21/10/02 Choro de derrotado Sem autorJB 21/10/02 Conquista social Sem autorJB 27/10/02 A Rosa do Povo Sem autorJB 29/10/02 Esperança sem medo Sem autorJB 29/10/02 Expectativa e Sensatez Sem autorJB 31/10/02 Sinais positivos Sem autorExtra 01/01/04 Sem título Sem autorExtra 02/01/04 Sem título Sem autorExtra 04/01/04 Sem título Sem autorExtra 05/01/04 Sem título Sem autorExtra 06/01/04 Sem título Sem autorExtra 07/01/04 Sem título Sem autorExtra 08/01/04 Sem título Sem autorExtra 09/01/04 Sem título Sem autorExtra 10/01/04 Sem título Sem autorExtra 11/01/04 Sem título Sem autorExtra 12/01/04 Sem título Sem autorExtra 13/01/04 Sem título Sem autorExtra 15/01/04 Sem título Sem autorExtra 16/01/04 Sem título Sem autorExtra 17/01/04 Sem título Sem autorExtra 17/12/03 Sem título Sem autorExtra 18/01/04 Sem título Sem autorExtra 18/12/03 Sem título Sem autorExtra 19/01/04 Sem título Sem autorExtra 19/12/03 Sem título Sem autorExtra 20/01/04 Sem título Sem autorExtra 21/12/03 Sem título Sem autorExtra 29/12/03 Sem título Sem autorExtra 31/12/03 Sem título Sem autorO Povo 19/12/03 Puxadinhos são vetados Sem autorO Povo 01/12/03 Em pauta novamente Sem autor
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O Povo 02/01/04 Pedidos de Ano novo Sem autorO Povo 03/01/04 Férias reduzidas Sem autorO Povo 04/01/04 Problemas antigos Sem autorO Povo 05/01/04 Enxugando gelo Sem autorO Povo 06/01/04 Feriado prlongadíssimo Sem autorO Povo 08/01/04 Ninguém quer ser professor Sem autorO Povo 09/01/04 Faca de dois gumes Sem autorO Povo 11/01/04 Poder paralelo Sem autorO Povo 12/01/04 O mapa da mina Sem autorO Povo 13/01/04 PMDB e a reforma Sem autorO Povo 14/01/04 Desrespeito continua Sem autorO Povo 15/01/04 Excesso de hospitalidade Sem autorO Povo 16/01/04 Recursos para a Saúde Sem autorO Povo 16/12/03 Novas zonas eleitorais Sem autorO Povo 17/01/04 Reforço de caixa Sem autorO Povo 17/02/04 O projeto afro-ascendente Sem autorO Povo 18/01/04 Vergonha para a família Sem autorO Povo 18/12/03 Verba para saneamento Sem autorO Povo 19/01/04 Policiais de parabéns Sem autorO Povo 22/01/04 Polícia unificada Sem autorO Povo 29/12/03 Dias melhores Sem autorO Povo 30/12/03 O retrato do desemprego Sem autor
Quadro 5: Crônica
Jornal Data Título AutorO Globo 01/06/03 Privilégios da terceira idade João Ubaldo RibeiroO Globo 01/10/02 Dar-se conta VeríssimoO Globo 01/11/02 Depois do banho VeríssimoO Globo 02/11/02 Grande Loredano VeríssimoO Globo 02/11/02 Lula no coração do Brasil Zuenir VenturaO Globo 03/06/03 Bandidos, vítimas e carteiros Luiz GarciaO Globo 03/10/02 Melada VeríssimoO Globo 03/11/03 A russa do Maneco VeríssimoO Globo 04/10/02 O que vem por aí VeríssimoO Globo 05/10/02 Crônica do medo geral Zuenir VenturaO Globo 05/10/02 A reinauguração VeríssimoO Globo 10/09/02 Onze do nove (um) VeríssimoO Globo 11/09/02 Onze do nove (dois) VeríssimoO Globo 12/09/02 Onze do nove (três) VeríssimoO Globo 16/08/02 De Bob Fleming a Joe Bean VeríssimoO Globo 17/01/03 Petróleo solto, arroz grudento Luiz GarciaO Globo 18/01/03 Cacá é brasileiro Zuenir VenturaO Globo 18/10/02 Interação (2) VeríssimoO Globo 19/10/02 Contra o medo, Fernando Henrique Zuenir Ventura
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O Globo 19/10/02 Da ironia VeríssimoO Globo 20/10/02 A mosca no nariz VeríssimoO Globo 20/10/02 Sobre a patrulha ideológica Arthur XexéoO Globo 21/10/02 Amedrontado Mauro RasiO Globo 22/10/02 Falta de prática VeríssimoJB 03/09/02 A língua, acima e abaixo da superfície MillôrJB 04/03/04 Loteria, bingo e lavagem de dinheiro Ives Gandra da
Silva MartinsJB 04/03/04 O Brasil patinou em 2003 Antônio Corrêa de
LacerdaJB 04/03/04 O Ipês e a ideologia do golpe Denise AssisJB 04/09/02 A língua, abaixo e acima da superfície MillôrJB 05/10/02 Sem título MillôrJB 06/03/04 A mentira alimenta o crime Denise FrossardJB 06/03/04 Nações e ludologia Alberto DinesJB 08/03/04 Mulher para sempre Heloneida StudartJB 08/03/04 Perdas e ganhos Lúcia VâniaJB 08/03/04 Umas e outras Maria Clara L.
BingemerJB 09/03/04 Luma, a pátria de biquíni e blusinha Deonísio da SilvaJB 09/03/04 Por que reforma política Ronaldo CaiadoJB 09/03/04 Rodízio de auditores - para que serve Hugo Rocha BragaJB 18/10/02 Sem título MillôrJB 19/10/02 A bíblia fala da sucessão MillôrJB 20/10/02 Por um Brasil sem medo Fritz UtzeriJB 21/10/02 Resposta talvez ambígua MillôrJB 22/10/02 Sem título MillôrJB 23/10/02 William Shakespeare fala sobre a sucessão MillôrJB 25/10/02 Sem título MillôrJB 27/08/02 Sem título MillôrJB 27/10/02 Sem título MillôrJB 29/10/02 Sem título MillôrO Povo 01/11/03 Finados José Carlos NettoO Povo 03/01/04 Samba em busca da rendenção José Carlos NettoO Povo 04/110/3 Sinteco José Carlos NettoO Povo 06/01/04 Império Serrano José Carlos NettoO Povo 06/11/03 Comemoremos José Carlos NettoO Povo 08/01/04 20 anos Banda da Barra José Carlos NettoO Povo 08/11/03 Cidade do Samba José Carlos NettoO Povo 11/03/04 Cabelo em pé José Carlos NettoO Povo 11/11/03 Degraus da felicidade José Carlos NettoO Povo 13/01/04 Império na Avenida José Carlos NettoO Povo 13/04/04 Monarco José Carlos NettoO Povo 13/11/03 Terreirão do Samba José Carlos NettoO Povo 15/01/04 Fiel leitor José Carlos Netto
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O Povo 15/11/03 O samba e o turismo José Carlos NettoO Povo 16/02/04 Boatos José Carlos NettoO Povo 16/03/04 Quesitos José Carlos NettoO Povo 17/01/04 Comunidades José Carlos NettoO Povo 18/03/04 Júri Inédito José Carlos NettoO Povo 18/11/03 O melhor samba José Carlos NettoO Povo 18/12/03 Debutantes José Carlos NettoO Povo 20/01/04 Saravá, Bastião José Carlos NettoO Povo 20/04/04 Seu Juvenal José Carlos NettoO Povo 22/01/04 Carnaval de rua José Carlos NettoO Povo 23/03/04 O desempate José Carlos Netto
As cartas, que tratam de assuntos bastante diversificados, envolvem diversos autores dos
jornais “O Globo”, “ JB” e “Extra”.
Dadas as características inerentes a cada um dos gêneros, um ponto que será melhor
desenvolvido na seção 5.3.5, eles possuem diferente extensão, como mostram os quadros 6 e 7,
em que contabilizamos a frequência type, número de palavras distintas, e a frequência token, que
considera todas as ocorrências de todas as palavras21:Quadro 6: Extensão da amostra jornalística
AmostraNúmero de types 70.715Número de tokens 721.743
Quadro 7: Extensão da amostra jornalística por gênero
Notícia Opinião Editorial Crônica CartaNúmero de types 11.266 16.494 9.606 11.891 13.370Número de tokens 14.274 166.010 12.821 228.050 102.989
Como mostra o quadro 7, há diferenças na extensão da amostra de cada um dos gêneros.
Os textos de crônica, opinião e cartas são mais extensos do que as notícias e editoriais.
Acreditamos, no entanto, que esta diferença não interfira na análise, uma vez que se pode
pressupor que o aspecto mais relevante envolva os objetivos sócio-comunicativos do texto.
21 Para obter tais resultados, foi feita a concordância da Amostra de escrita, através do programa Concordance,versão 3.2, desenvolvido por R.J. C. Watt
51
4.2- Procedimentos metodológicos
Como explicitado anteriormente, o objetivo deste trabalho é estudar a ordenação de
circunstanciais de tempo e lugar no português escrito, sob duas perspectivas diferentes: a- a
posição não marcada dos sintagmas preposicionais de tempo e lugar em orações nas quais ocorre
um único circunstancial e b- a ordenação dos Spreps circunstanciais em orações nas quais
ocorrem dois ou mais circunstanciais, sejam da mesma classe semântica, sejam de categorias
semânticas distintas.
A primeira perspectiva de análise, dada a acentuada flexibilidade de posição dos
circunstanciais, exigiu alguns recortes, no que diz respeito às variantes consideradas no estudo.
Ainda que com o risco de ignorar alguns aspectos, optamos, numa primeira etapa da análise, por
focalizar a posição dos circunstanciais de tempo e lugar a partir de quatro posições: margem
esquerda da oração, inserido entre sujeito e verbo, inserido entre verbo e objeto e margem direita
da oração. Essa delimitação nos permite depreender a distribuição mais geral dos padrões
possíveis de ordenação dos constituintes em análise e verificar a convergência entre os resultados
deste estudo e de outros que já atestaram a tendência de constituintes adverbiais nas periferias da
oração e sua restrição em posições que rompem adjacência entre o verbo e seus argumentos (Cf.
PAIVA, 2002, 2003, COSTA, 2004, SHAER, 2004, CEZÁRIO et alii, 2004, CEZÁRIO et alii,
2005 a/b, BRASIL, 2005, LESSA, 2007).
Numa segunda etapa, procedemos a análise binária, concentrada na alternância entre as
margens direita e esquerda da oração. Este procedimento permite verificar o efeito dos grupos de
fatores postulados sobre a posição não marcada de cada uma das classes de circunstanciais e os
contextos que permitem a instanciação das formas de ordenação menos frequentes.
Partindo do pressuposto de que a ordenação dos circunstanciais envolve a conjugação de
princípios de níveis distintos (sintáticos, semânticos e discursivos), foram postulados grupos de
fatores que, em geral, procuram dar conta da natureza multifatorial de fenômenos de ordenação
de constituintes. Através desses grupos de fatores, procuramos identificar os contextos
associados a um padrão não marcado de ordenação, partindo do princípio de que a ordem
marcada desses constituintes está associada a contextos discursivamente marcados.
No nível morfossintático são analisados os seguintes grupos de fatores:
52
1- Estrutura argumental do verbo
Verbo de um argumento (intransitivo)Verbo inacusativoVerbo com dois ou mais argumentosVerbo com complemento anáfora zeroVerbo de ligação
2- Forma de realização do sujeito
Sujeito preenchido anteposto ao verboSujeito preenchido posposto ao verboSujeito nulo de 1ª e 2ª pessoaSujeito nulo de 3ª pessoaSujeito indeterminado ou oração sem sujeito22
No nível semântico, são consideradas as nuances de significado inerentes aos
circunstanciais, e, ainda, o tipo de processo codificado na oração.
3- Tipo semântico do circunstancial temporal
CalêndricoDelimitativoSegmentativo de posterioridadeSegmentetivo de anterioridadeDurativoPosição fixa numa escala temporal
4- Tipo semântico do circunstancial locativo23
Posição fixaDirecionalEspaço metaforizado
5- Tipos de processo verbal
Processos materiaisProcessos mentaisProcessos relacionaisProcessos comportamentaisProcessos verbaisProcessos existenciais
22 Estou considerando apenas o sujeito indeterminado como descrito nas gramáticas normativas.23 Já havia feito uma classificação mais extensa na iniciação científica, incluindo, por exemplo, origem e destino,mas não houve diferença nos dados.
53
Hipóteses centrais desse estudo envolvem a correlação entre a posição do circunstancial,
principalmente nas margens da oração, e a função que eles desempenham. Essa correlação é
analisada através do grupo:
6- Função discursiva do circunstancial
Predicação24
Segmentação tópicaFocalizaçãoContrasteDemarcação de pontos de um continuumRetomada anafórica
Outras hipóteses, que envolvem, inclusive, a importância do princípio peso final, são
verificadas através do controle da extensão dos Spreps circunstanciais.
7- Extensão do circunstancial
Uma ou duas palavrasTrês ou quatro palavrasCinco ou seis palavrasSete, oito ou nove palavrasDez ou mais palavras
Consideramos o gênero textual em que ocorre o circunstancial, a fim de verificar as
possíveis diferenças na distribuição textual de diferentes formas de ordenação. Para tanto,
mantivemos a classificação definida já proposta na própria organização da Amostra de Textos
midiáticos.
8- Gênero textual
NotíciaOpiniãoEditorialCrônicaCarta
Finalmente, consideramos o tipo de jornal em que os circunstanciais ocorrem.
24 A predicação não é uma função discursiva, mas indica que o circunstancial está inserido na predicação verbal enão assume uma função marcada no discurso.
54
9- Tipo de Jornal
JBO GloboExtraPovo
Na condução da análise, os sintagmas preposicionais de tempo e de lugar foram tratados
separadamente, sob o prisma de todos os grupos de fatores especificados acima. Tal
procedimento foi adotado com dois objetivos: a- depreender as possíveis especificidades de cada
uma das classes semânticas no que se refere à sua ordem não marcada e b- identificar os grupos
de fatores de efeito mais sistemático e independente das possíveis especificidades na ordem mais
frequente de cada categoria semântica de circunstancial.
A segunda perspectiva de análise, ou seja, a da sequenciação relativa das três categorias
semânticas focalizadas (tempo, modo e lugar)25 exigiu outro recorte para um tratamento
variacionista. A variável dependente, aqui, são diferentes possibilidades de sequenciação: tempo-
modo, modo-tempo, lugar-modo, modo-lugar, tempo-lugar, lugar-tempo, tempo-modo-tempo,
tempo-lugar-tempo, tempo-lugar-modo, tempo-modo-lugar e modo-lugar-tempo. O objetivo
principal é verificar a ação de alguns princípios sobre a sequenciação preferencial desses
constituintes.
Uma questão importante em relação à ordem relativa dos circunstanciais é a extensão.
Partindo do princípio de que constituintes menores tendem a anteceder constituintes com maior
material linguístico, e de que informações velhas tendem a vir primeiro numa oração (Cf.
WASOW, 1997), supomos que Spreps mais pesados e menos previsíveis ocorram após Spreps
mais leves e que tragam informação nova ao contexto em que se inserem.
Para a verificação das hipóteses mais especificamente relacionadas à sequenciação de
circunstanciais de tempo, modo e lugar, são considerados os seguintes grupos de fatores:
1-Posição dos circunstanciais
2 ou mais na margem esquerda (ME)1ou mais em ME e 1 ou mais na margem direita (MD)2 ou mais em MD1entre sujeito e verbo (SV) e 1 em ME
25 Decidimos adicionar a categoria de modo na análise de ordenação relativa, dada sua influência nessa ordenação(Cf. HAWKINS 2000, PAIVA 2008).
55
1ou mais entre SV e 1ou mais em MD1ou mais entre verbo e objeto (VO) e 1 ou mais em ME1entre VO e 1 ou mais em MD2 entre VO2 entre SV
2- Estrutura argumental do verbo
Verbo de um lugarVerbo transitivo com 2 argumentos com objeto não realizadoVerbo de ligação com predicativoVerbo transitivo com dois argumentos com objeto realizado
3- Tipos de processo verbal
Processos materiaisProcessos mentaisProcessos relacionaisProcessos comportamentaisProcessos verbaisProcessos existenciais
4- Função sintática26
Circ CircCirc ArgArg CircArg Arg
5- Extensão do circunstancial
T>LL>TM>LL>MT>MM>TMesma extensãoTrês Spreps
6- Gênero textual
Notícia
26 Circ = circunstancial; Arg = argumental
56
OpiniãoEditorialCartaCrônica
7- Tipo de jornal
J – JBG- O GloboE- ExtraP- Povo
Na primeira perspectiva de análise, a que considera apenas um circunstancial, adotamos
uma análise multivariacional, cujos resultados estatísticos foram obtidos através do pacote de
programas GOLDVARB (2001) que, além das frequências, fornece os pesos relativos associados
a cada fator, assim como a relevância estatística de cada grupo. Além disso, esse programa
possibilita operacionalizar cruzamentos entre os diversos grupos de fatores, permitindo, assim,
identificar possíveis superposições no efeito de dois grupos de fatores. Esta análise
multivariacional se concentrou na variação dos circunstanciais entre as margens da oração
(margens esquerda e direita), já que, como discutiremos no capítulo seguinte, estas são as
posições preferenciais dos circunstanciais locativos e temporais.
Na segunda perspectiva, a que focaliza as diferentes formas de sequenciação de
circunstanciais de mesma categoria ou de categorias semânticas distintas, a análise foi processada
principalmente através do cruzamento entre grupos de fatores, com o objetivo de verificar a
distribuição dos dados.
57
5 – RESTRIÇÕES À POSIÇÃO VARIÁVEL DE SPREPS TEMPORAIS E LOCATIVOS
Neste capítulo, focalizamos as orações em que ocorre apenas um circunstancial, locativo
ou temporal. Como já vimos no capítulo 3, a ordem de circunstanciais envolve duas faces
aparentemente contraditórias: de um lado, contextos em que se verifica uma ordem rígida ou
fortes restrições à mobilidade desses constituintes e, por outro, contextos variáveis. Dessa forma,
em primeiro lugar, tecemos algumas considerações a respeito das restrições que, em alguns casos,
impedem ou limitam fortemente a mudança de ordem de um circunstancial locativo ou temporal.
Esses dados foram, necessariamente, excluídos da análise multivariacional.
A seguir, analisamos mais detidamente os contextos de variação, verificando a
distribuição das diferentes posições possíveis e as configurações sintagmáticas que delas
resultam. Nesta parte da análise, discutimos o efeito dos grupos de fatores mais relevantes,
destacando restrições morfossintáticas, semânticas, discursivas assim como as diferenças ligadas
ao gênero textual. Nesta etapa, consideramos, inicialmente, quatro posições possíveis (margem
esquerda, posição entre sujeito e verbo, posição entre verbo e complemento e margem direita),
embora conscientes de que essa delimitação é simplificadora, na medida em que outras
possibilidades de ordenação são possíveis27. Numa segunda etapa, a análise se concentra nas
posições periféricas da oração, a margem direita e a margem esquerda, já que essas se destacam
como as posições preferenciais para os dois tipos de circunstanciais analisados.
5.1- Limitações à flexibilidade na posição dos circunstanciais
A flexibilidade na posição de sintagmas preposicionais de tempo e lugar, que podem
ocupar diversas posições na sentença, já foi constatada por diversos autores, para diferentes
línguas (Cf. QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1992, MARTELOTTA, 1994, MURCIA &
FREEMAN, 1999, BESTGEN & VONK, 2000, HAWKINS, 2000; VILELA e KOCH, 2001;
CUNHA e CINTRA, 2001; PAIVA, 2002, 2003; 2007, 2008c, AUSTIN et alii, 2004, SHAER,
2004; CEZÁRIO et alii, 2004; BRASIL, 2005; LESSA, 2007). No entanto, há contextos em que,
seja por razões estruturais seja por razões semânticas, não há possibilidade de alteração na ordem
27 Algumas outras possibilidades de ordenação são: S V (X) (X) Circ Comp, S (X) V Circ (X)(X), (X) V Comp ou (X) Circ S, (X) V Comp ou (X) Circ Comp, em que X significa um outroconstituinte adverbial.
58
do Sprep circunstancial. Nesta seção, discutimos alguns desses contextos, identificados a partir da
análise do corpus.
Uma primeira situação a considerar diz respeito aos casos em que o Sprep temporal ou
locativo é parte integrante de expressões cristalizadas, ou seja, construções em que o significado
do todo não corresponde ao significado das partes. A expressão como um todo adquire um novo
significado, na maioria dos casos, metafórico.
(12) Foi o suficiente para a especulação ganhar fôlego, fazer barulho, derrubar amoeda para níveis artificializados, e colocar em dúvida a capacidade de o governo,atual ou futuro, manter a economia nos trilhos. (JB 29/10/2001 - Editorial)
No exemplo (12), não podemos interpretar o Sprep nos trilhos como o lugar onde se deve
manter a economia, em razão da sua interdependência com o verbo a que está ligado. É a
expressão como um todo que significa “manter a economia dentro dos padrões estabelecidos”.
Nesse caso, uma alteração na ordem do Sprep locativo acarretaria a perda desse significado.
Além disso, exigiria uma movimentação de toda a unidade constituída por V + SPrep.
Um outro contexto em que a flexibilidade dos Spreps circunstanciais fica comprometida é
aquele em que esses constituintes estão ligados a uma nominalização, como em 13:
(13) É ostensivo o movimento de pinça dos EUA sobre os países da AméricaLatina. O México foi o primeiro alvo com o Nafta, que inclui o Canadá. Maisrecentemente, a Casa Branca aproximou-se de El Salvador e abriu as asas sobre aAmérica Central. Apesar das rusgas em função da Guerra do Iraque, o acordo bila-teral com o Chile avança. Equador e Colômbia são aliados, e o Uruguai está dejoelhos à espera de um aceno americano. (JB – 02/06/2003 - Editorial)
No exemplo 13, o Sprep sobre os países da América Latina está ligado ao nome
movimento, ou seja, o escopo do Sprep fica restrito à nominalização, o que impede alterar sua
posição sintagmática. Qualquer movimento do Sprep implica, necessariamente, um movimento
do SN no qual o Sprep está encaixado (O movimento de pinça dos EUA sobre os países da
América Latina é ostensivo).
Maior fixação de ordem ocorre também em orações nas quais o Sprep circunstancial
constitui o núcleo de uma oração relativa, como em
(14) Faltam alguns detalhes no contrato da Petrobrás, que será renovado, para ossalários se acertarem - disse Szpiro, sobre os meses de novembro e dezembroainda em dívida. (Extra – 08/01/2004 – Notícia)
59
No exemplo 14, o Sprep no contrato da Petrobrás introduz um referente que é retomado
através de uma oração relativa. Nesse caso, o movimento do Sprep implicaria um movimento
também da oração relativa, a fim de garantir a proximidade entre o referente e o elemento
relativizador. Além disso, a expansão do núcleo nominal por uma oração relativa resulta em um
constituinte de maior extensão, submetendo-se a restrições impostas pelo princípio de peso final
(Cf. QUIRK et alii, 1985) que, como já mostraram diversos autores (HAWKINS, 2000,
WASOW, 1997, 2002, LOHSE, 2003, PAIVA, 2012), favorece a posição do circunstancial em
posição final.
Uma outra configuração estrutural que limita a mobilidade dos Spreps de tempo e lugar
pode ser exemplificada por (15), ou seja, o constituinte circunstancial ocorre em uma oração
passiva.
(15) Alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano são disputados nodomingo, sendo que um é à noite. ( O Globo – 04/03/2004 – Notícia)
O Sprep no domingo possui escopo na forma participial do verbo principal (disputados).
Uma possível movimentação do Sprep está atrelada ao movimento de todo o sintagma verbal, a
fim de preservar seu significado. Em algumas possibilidades posicionais, como a margem
esquerda da oração (No domingo, alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano são
disputados) o circunstancial se investe de um valor restritivo que não possui em outras
possibilidades (São disputados no domingo alguns jogos dos campeonatos Espanhol e Italiano).
Dados como os que foram brevemente discutidos nesta seção não entraram na análise
multivariacional, visto que não se enquadram no conceito de variação.
5.2- Distribuição das posições dos circunstanciais
Como já explicitado na introdução deste capítulo, optamos por considerar, inicialmente,
quatro possibilidades de posição dos circunstanciais, a saber: margem esquerda (ME), posição
entre sujeito e verbo (PM1), posição entre verbo e complemento (PM2) e margem direita (MD),
exemplificadas a seguir:
60
Margem esquerda:
(16) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. (JB – 02/03/2006 – Opinião)
(17) Depois das 23h, essa praça fica deserta. (O Globo – 23/10/2002 – Notícia)
Posição entre sujeito e verbo:
(18) Todos na secretaria de Corridas colaboram para a confecção de bonsprogramas. ( Povo -05/05/2003 - Opinião)
(19) Bem fez o presidente Lula, que, em seu encontro com o colega americanoGeorge W. Bush, exigiu melhor tratamento para os brasileiros que vão aos EstadosUnidos. (Povo – 15/01/2004 – Editorial)
Posição entre verbo e objeto:
(20) Precisamos retirar da face do Rio esta deformada máscara de ferro. (O Globo– 07/03/2004 – Carta)
(21) (...) e (Abel Braga) terá contra a Portuguesa, quinta-feira, o reforço de Felipe.(JB - 08/03/2004 - Notícia)
Margem direita
(22) Os marginais de bom nível econômico e péssimo nível de controle emocional,denominados pit boys, infelizmente voltaram a ser notícia no consagrado JB(20/3), que registrou o inadmissível comportamento violento desses seresdesumanos em boates da Zona Sul. (JB – 22/03/2004 – Carta)
(23) Rafaela, Gizele, Deucilene, Jéssica, Aliliane e outras 25 meninas possuemquatro coisas em comum: fizeram 15 anos no mês de setembro de 2003; (Povo –18/12/2003 – Crônica)
Os resultados relativos à distribuição dos circunstanciais por essas posições são mostrados
nos gráficos 1 e 2, respectivamente para locativos e temporais.
61
A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de
circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já
foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,
1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,
2008b, PAIVA et alii, 2007).
A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em
termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por
exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em
orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que
restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,
Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o
verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,
2008b).
Gráfico 1: Distribuição de Spreps Locativospelas 4 Posições
39%
Gráfico 2: Distribuição de SprepsTemporais pelas 4 Posições
61
A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de
circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já
foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,
1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,
2008b, PAIVA et alii, 2007).
A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em
termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por
exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em
orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que
restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,
Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o
verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,
2008b).
16% 3%4%
77%
Gráfico 1: Distribuição de Spreps Locativospelas 4 Posições
ME
PM1
PM2
MD
45%
6%8%
39%
Gráfico 2: Distribuição de SprepsTemporais pelas 4 Posições
ME
PM1
PM2
MD
61
A primeira constatação autorizada dos gráficos 1 e 2 é a baixa incidência de
circunstanciais temporais e locativos nas posições mediais. Esses resultados confirmam o que já
foi encontrado em muitos estudos sobre a ordem desses constituintes (Cf. TARALLO et alii,
1993, ROCHA, 2001, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b, BRASIL, 2005, PAIVA, 2002,
2008b, PAIVA et alii, 2007).
A baixa ocorrência de circunstanciais nas posições mediais podem ser explicadas em
termos de um princípio que restringe ruptura entre o verbo e seus argumentos, proposto, por
exemplo, por Tomlin (1986). Ao analisar diversas línguas, Tomlin (op. cit.) afirma que, em
orações com verbos transitivos, a coesão entre o verbo e seu complemento é tão forte que
restringe ou muitas vezes impede a inserção de constituintes nessa posição. Para o português,
Tarallo et alii (1993) também destacam a baixa frequência de constituintes na fronteira entre o
verbo e seu argumento interno. (cf. também FREITAS, 2001, PAIVA et alii, 2007, PAIVA,
2008b).
PM1
PM2
PM1
PM2
62
Em relação à fronteira entre sujeito e verbo, diversos autores destacam, sobretudo, uma
restrição ligada à extensão do constituinte circunstancial. É o que explica que essa posição seja
menos restritiva, por exemplo, para advérbios temporais (BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007,
LESSA, 2007) do que para os Spreps. Paiva et alii (op.cit) mostraram que, entre os temporais,
são os aspectuais (sempre, ainda e logo) os mais susceptíveis de ocorrerem nessa posição. Essas
tendências conduzem, naturalmente, para a importância da extensão do constituinte
circunstancial, já que os advérbios são, necessariamente, mais curtos do que os sintagmas
preposicionais. No entanto, mesmo entre os advérbios, são os de menor extensão os que têm
maior chance de se situarem na adjacência esquerda ou direita do verbo, como mostram, por
exemplo, Costa (2004) e, para os locativos, Brasil (op.cit)
Considerando as posições periféricas da oração (margem esquerda e margem direita), os
gráficos 1 e 2 mostram tendências bastante diferenciadas para os locativos e temporais. Os
primeiros predominam nitidamente (77%) na margem direita da oração, enquanto os temporais
apresentam acentuada variação, com 45%, para margem esquerda e 39%, para margem direita. Se
interpretarmos essas tendências em termos do conceito de marcação (GIVÓN, 1995, 2001), com
base no critério de frequência, podemos generalizar uma ordem não marcada para circunstanciais
de lugar. Para os circunstanciais temporais, uma ordem não marcada é menos transparente,
levando a crer que outros aspectos intervêm na forma como esses dois tipos de circunstanciais
variam de posição.
Embora haja evidências para uma oposição binária na ordem dos constituintes
circunstanciais, a existência de outras posições possíveis para esses constituintes sugere a
proposição de hierarquias de marcação diferenciadas para os Spreps temporais e locativos,
conforme o esquema abaixo:
Locativos: MD>ME>posições internas.
Temporais: MD/ME>posições internas.
Uma outra questão a considerar é que os resultados dos gráficos 1 e 2 não levam em conta
a função sintática do circunstancial. Embora os Spreps circunstanciais sejam considerados mais
frequentemente elementos satélites, ou seja, adjuntos, eles podem, em alguns casos, funcionar
como argumentos28 dos verbos a que se ligam (NEVES, 1992, 2000, ILARI et alii, 1989, ILARI,
2001). Os exemplos a seguir são ilustrativos destas duas possibilidades.
28 Ou quase argumentais, como assume Castilho (2010).
63
(24) O maior número, evidentemente, veio do próprio Brasil. (O Globo –02/11/2002 – Opinião)
(25) A outra semifinal do campeonato será às 8h45, entre Espanha e Itália. (JB –06/03/2004 – Notícia)
No exemplo 24, o circunstancial do próprio Brasil é subcategorizado pelo verbo vir que,
necessariamente, requer um complemento locativo de origem. Já no exemplo 25, apesar de não
ser transitivo, o verbo ser se comporta como acontecer, indicando tempo nesse caso e exige um
complemento que especifique o momento em que ocorre o estado de coisas. Esses exemplos
ilustram um contexto em que podem operar restrições impostas por um princípio de coesão entre
o verbo e seus argumentos e, assim, é de se esperar que esses circunstanciais gozem de menor
flexibilidade do que aqueles que possuem função não argumental. Em outros termos, adjuntos
admitem maior variação posicional do que termos argumentais. Uma análise que considera essa
distinção é resumida na tabela 1, que considera a função sintática do circunstancial.
Tabela 1: Distribuição de Spreps argumentais e não argumentaispelas 4 posições
Sprep Argumental Não argumentalME PM1 PM2 MD ME PM1 PM2 MD
Lugar 1/165=
2%
1/165=
0%
2/165=
2%
161/165
= 96%
94/435=21%
17/435=
4%
27/435=6%
297/435=69%
Tempo 1/25=4%
- - 24/25=96%
185/390= 47%
23/390=
6%
30/390=8%
152/390= 39%
Observam-se tendências mais gerais, independentes da classe semântica dos
circunstanciais, principalmente para os argumentais: tanto os Spreps locativos como os temporais
se situam quase categoricamente na margem direita da oração, com índices de 96% para cada um
deles. É de se crer que a colocação de circunstanciais argumentais na margem esquerda da oração
apresente similaridades com a movimentação de outros constituintes argumentais como objeto
direto ou indireto. Os exemplos abaixo são ilustrativos:
(26) Entre sete da manhã e meio-dia, por exemplo, a Globo tem 8 pontos e o SBT,7. Em seguida vem a Record, (...). (JB - 03/06/2003 - Opinião)
(27) O que aconteceu foi que ele (Lula) simplesmente desapareceu, arrebatado dohorizonte visível pelo silêncio da mídia, pela omissão covarde ou cúmplice de seus
64
concorrentes e, no fim, pela decisiva intervenção censória do Superior TribunalEleitoral.Em seu lugar entrou um ente de ficção, criado pela artes publicitárias de DudaMendonça, lançado no mercado sob o rótulo de “Lulinha Paz e Amor”(...) (OGlobo - 02/11/2002 - Opinião)
No exemplo 26, o Sprep em seguida estabelece um elo com o discurso anterior ao marcar
a posição da Record na hierarquia do Ibope das emissoras de televisão e se localiza na margem
esquerda da oração. No exemplo 27, o Sprep locativo possui uma função específica anafórica e,
apesar de ser argumento do verbo, ocupa a periferia esquerda.
Os resultados para os locativos e temporais com função [-argumental] confirmam as
tendências já observadas nos gráficos 1 e 2: a preferência dos locativos pela margem direita e a
flexibilidade dos temporais pelas duas margens da oração. É interessante notar que quando não
são argumentais, os locativos aumentam um pouco a possibilidade de ocorrerem nas posições
mediais, com índices de 4% para a posição entre sujeito e verbo e 6% para a posição entre verbo
e objeto. Os temporais também propiciam a ocupação de posições mediais com 6% para PM1 e
8% para PM2, mostrando tendência diferente dos argumentais, que não ocorrem nessas duas
posições.
As tendências mais regulares são, portanto, a de concentração de Spreps de lugar e tempo
nas margens da oração e sua restrição em posições internas, como já atestado por diversos autores
(ROCHA, 2001, CALLOU et alii, 2002, SILVA et alii, 2002, MARTELOTTA, 1994, PAIVA,
2002, 2008b, PAIVA et alii, 2007, OLIVEIRA, 2003, SHAER, 2004, CEZÁRIO, 2005a, 2005b,
BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007). Essa restrição parece ser translinguística,
funcionando igualmente em outras línguas, como mostra Lessa (op. cit) para os Spreps temporais
em inglês (Cf. também SHAER, op. cit).
As quatro posições consideradas acima resumem diferentes possibilidades de
configuração estrutural dos circunstanciais e, de certa forma, simplificam uma questão mais
complexa. Na verdade, a variação posicional dos Spreps de tempo e lugar pode derivar uma
diversidade de configurações estruturais bastante ampla. Considerando apenas as configurações
mais recorrentes para cada classe semântica (tempo ou lugar), destacam-se nos dados:
65
- Lugar
(S) V Comp ou Pred Circ
(28) Depois de meses de semiparalisia por causa da mais lenta reforma ministerialde que se tem notícias, cujas mudanças não mudaram nada, de fato, servindoapenas para acomodar mais um partido na base governista, agora nenhuma folhase move, desde que o escândalo Waldomiro Diniz estourou. (JB – 06/03/2004 –Opinião)
(S) V Circ
(29) Foi vendedor de cocada, amendoim, tapioca e trabalhou como engraxate eentregador de roupa de tinturaria. Mas conseguiu florescer em terreno inóspito.(JB – 27/10/2002 – Editorial)
Circ S V Comp ou pred
(30) No local do crime, a polícia encontrou a pedra, ainda manchada de sangue,que teria sido usada por Rafael para matar o idoso. (Povo – 07/01/2004 – Notícia)
- Tempo
Circ S V Comp ou pred
(31) Durante a solenidade, César Maia anunciou um pacote de obras. (O Globo –24/10/2002 – Notícia)
(S) V Comp ou Pred Circ
(32) Eu salvei o clube do rebaixamento no Brasileiro de 2002. (JB – 08/03/2004 –Notícia)
As configurações comuns às duas classes de circunstanciais são Circ S V Comp ou Pred
e (S) V Comp ou Pred Circ, em que Spreps de tempo e lugar prevalecem nas margens da
oração, confirmando a generalidade dessa tendência.
Focalizando os locativos, percebemos que duas das configurações mais recorrentes para
esses Spreps confirmam a margem direita como sua posição não marcada, reiterando resultados
de outros estudos (PAIVA, 2002, 2008 c, BRASIL, 2005, OLIVEIRA, 2003). Para os temporais,
as configurações reiteram a flexibilidade desses constituintes nas duas margens da oração.
Dada a tendência quase categórica dos circunstanciais que possuem função argumental em
MD, optamos por excluí-los da análise, a fim de proceder a generalizações sobre a variação
desses constituintes pelas margens da oração.
66
Examinando os Spreps não argumentais, os índices confirmam a tendência geral mostrada
nos gráficos 1 e 2. Atestamos que os locativos ocupam preferencialmente a margem direita da
oração, com índice de 69%. Para os temporais, não é possível atestar uma ordem não marcada,
em razão da significativa variação desses constituintes pelas periferias da oração, com 47% de
ocupação da margem esquerda e, 39%, da direita. Essa mobilidade dos temporais também já foi
evidenciada em outros trabalhos, em que se verifica ligeira preferência pela margem esquerda da
oração, como atestado por Brasil (op. cit.) e Paiva (2008c), ou pela margem direita, segundo
Gomes (2006) e Lessa (2007). Paiva et alii (2007) mostraram que essa tendência também ocorre
na fala, com 46% de Spreps temporais em ME, 5% entre sujeito e verbo, 22% entre verbo e
objeto e 25% em MD.
Spreps de tempo e lugar nas margens da oração refletem a questão já discutida de ordem
marcada vs não marcada. O conceito de marcação atua aqui de forma a preservar a adjacência
entre o verbo e seus argumentos e está associado a funções no discurso. Optamos, então, por
focalizar a ordenação dos Spreps nas periferias oracionais. Nas seções seguintes, discutimos os
aspectos sintáticos, semânticos e discursivos associados à variação dos circunstanciais entre as
duas periferias.
5.3- A variação entre as margens da oração
Como destacamos na seção anterior, as margens da oração constituem as posições
preferenciais tanto para os locativos como para os temporais. Esta tendência coloca diversas
questões relativas às condições que controlam a oscilação desses constituintes entre as periferias
e merece, a nosso ver, uma atenção especial. Assim, nesta seção, aprofundamos a análise dos
sintagmas preposicionais locativos e temporais nestas duas posições. Discutimos os resultados
dos grupos de fatores que se mostraram mais relevantes para a ordenação de Spreps temporais e
locativos e procuramos interpretá-los à luz do conceito de marcação (GIVÓN, 1995, 2001),
assumido em 2.2.
Uma questão importante se refere a qual das duas periferias tomar como base, ou, em
termos estatísticos, valor de aplicação, para uma análise multivariacional. Em virtude da ordem
não marcada dos locativos ser a margem direita e de os temporais admitirem ampla variação entre
esta e a margem esquerda da oração, decidimos por colocar em foco a margem esquerda. Tal
67
procedimento se justifica ainda pelo fato de que a posição mais à esquerda da oração estar mais
frequentemente associada a funções discursivas mais específicas.
Como já foi visto em 1.2, partimos da hipótese de que a variação na ordem dos Spreps
circunstanciais de tempo e lugar sofre a influência de diversos fatores de cunho sintático,
semântico e discursivo. Ao longo das seções seguintes, discutimos os grupos de fatores apontados
como mais relevantes pela análise multivariacional: estrutura argumental do verbo, forma de
realização do sujeito, tipo semântico dos circunstanciais, função discursiva e gênero textual.
Alguns destes grupos são selecionados apenas para um ou outro tipo de circunstancial e outros
para ambos. No entanto, optei por considerar os resultados não selecionados, a fim de verificar a
possibilidade de generalizar o efeito de determinados princípios.
5.3.1- Estrutura argumental do verbo
Como já foi destacado na seção 5.2, a variabilidade na posição de locativos e temporais
pode resultar em diferentes configurações estruturais. E m parte, essas configurações refletem o
tipo sintático de verbo núcleo da oração, o que justifica, portanto, uma análise em separado dessa
propriedade da oração. Lembramos que estão em análise os circunstanciais considerados como
adjuntos, ou seja, não argumentais. Assim, os verbos foram classificados da seguinte forma:
Verbo de um argumento:
(33) Pelo segundo dia após o empate para o Friburguense, o time não treinou. (OGlobo – 06/03/2004 – Notícia)
Verbo inacusativo:
(34) Nesse endereço, falta pavimentação e as galerias pluviais estãocompletamente entupidas. Extra – 18/01/2004 – Carta)
Verbo com dois ou mais argumentos:
(35) Na véspera da ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso paraentregar os projetos de reformas, a televisão mostrou dragões de fogo no céunoturno do Brasil. (JB – 02/06/2003 - Opinião)
Verbo com complemento anáfora zero:
(36) Se não for possível, aí vou conversar com o presidente para tratarmos deoutra alternativa - disse Celso Barros, no início da noite. (O Globo - 04/03/2004 -Notícia)
68
Verbo de ligação:
(37) No atual cenário político brasileiro, o palco está armado. (O Globo –04/10/2002 – Opinião)
A hipótese colocada em relação a esse grupo de fatores considera a atuação de princípios
ligados à dependência entre termos nucleares e não nucleares. Embora Cunha (1975), por
exemplo, proponha a precedência sintagmática de termos nucleares em relação a termos não
nucleares, isto é, adjuntos, podemos presumir que, se o complemento de um verbo transitivo for
realizado foneticamente, há maiores chances de que os circunstanciais se desloquem para a
margem esquerda, a fim de manter um equilíbrio na distribuição de constituintes pela oração. Em
orações com complemento anáfora zero, por outro lado, espera-se que os circunstanciais se
situem na margem direita, ocupando a posição vazia deixada pelo objeto anafórico.
Uma outra hipótese diz respeito aos verbos monoargumentais, mais particularmente, aos
inacusativos. Qual o limite na mobilidade dos circunstanciais quando ocupam posições vazias, ao
ocorrerem com verbos intransitivos? Diversos autores (CORNISH, 2001, SANTOS e DUARTE,
2006, SPANO, 2008, PAIVA, 2012) já atestaram que, em estruturas com verbos intransitivos não
inacusativos (sujeito agente), há uma tendência de ocupação da margem direita por
circunstanciais temporais e locativos. No entanto, em orações com verbos inacusativos, haveria
maior chance de ocupação da margem esquerda pelo circunstancial em razão da posposição do
sujeito. Para alguns autores, inclusive, a presença de um constituinte X em ME, resultando na
configuração XVS, é praticamente obrigatória, devido ao fato de que, nessas estruturas, o verbo
subcategoriza um constituinte com o traço [+ locativo] (Cf.COOPMANS, 1989, COELHO, 2000,
CULICOVER e LEVINE, 2001, KATO, 2003, SANTOS e DUARTE, op.cit, SPANO, 2002,
op.cit). Essa tendência abrange os verbos estativos, que se comportam como os inacusativos,
possuindo um argumento extra e que especificam uma localização no tempo e no espaço (Cf.
CARMINATI, 2001).
Retomamos essa hipótese de que Spreps temporais e locativos se movam para a periferia
esquerda em orações com verbos inacusativos e de ligação, a fim de verificar seu alcance
explicativo na amostra de textos jornalísticos analisada.
69
Este grupo de fatores foi selecionado tanto para os sintagmas preposicionais temporais
como para os sintagmas preposicionais locativos. Na tabela 2, encontram-se os resultados para os
temporais, em que este grupo foi selecionado no terceiro nível, com grau de significância 0,034.
Tabela 2: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe estrutura argumental do verbo
Estrutura argumental do verbo Frequência Peso RelativoV intransitivo 8/13 = 61% .54V inacusativos 35/56 = 62% .38V c/ 2 ou mais argumentos 108/205 = 52% .51V de ligação 28/41 = 68% .68V c/ complemento anáfora zero 1/9 = 12% .09Total /Input 180/324 = 55% .56
Fazemos aqui uma ressalva quanto ao desequilíbrio na distribuição dos dados, o que,
numa análise multivariacional, coloca alguns problemas quanto às conclusões possíveis. De certa
forma, esse desequilíbrio reflete a distribuição que se verifica na língua, ou seja, o predomínio de
verbos de dois argumentos e o menor número de verbos de 1 argumento ou de ligação.
A tabela 2 permite constatar que os circunstanciais temporais ocupam, preferencialmente,
a margem esquerda da oração em orações com verbos de ligação (.68). Em orações com verbos
de um, dois ou mais argumentos, os Spreps temporais gozam de grande flexibilidade nas duas
margens da oração, com pesos relativos muito próximos de .50, o que contraria nossas
expectativas. Com verbos transitivos cujo objeto aparece na forma de anáfora zero, a tendência é
que os Spreps de tempo se localizem após o verbo, ocupando a posição que ficou vazia, o que
confirma nossa hipótese em relação a essa estrutura.
Se considerarmos o PR, os verbos inacusativos desfavorecem a margem esquerda da
oração (.38). No entanto, o percentual de 62% confirma nossa hipótese de associação dos
circunstanciais e margem esquerda com verbos inacusativos. A inversão de peso relativo nesses
resultados ocorre devido à superposição entre a estrutura argumental do verbo e o tipo de sujeito,
porque a maioria dos verbos inacusativos ocorrem com sujeito posposto, como veremos na
próxima seção.
A tendência observada para os temporais se reitera apenas em parte na análise dos
locativos, para os quais o grupo estrutura argumental do verbo foi selecionado no nível 4, com
significância 0,040, como mostra a tabela 3:
70
Tabela 3: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe estrutura argumental do verbo
Estrutura argumental do verbo Frequência Peso RelativoV intransitivo 3/42 = 7% .20V inacusativos 25/63 = 39% .56V c/ 2 ou mais argumentos 44/179 = 24% .53V de ligação 19/47 = 40% .60V c/ complemento anáfora zero 0/12 = 0% -Total /Input 93/333= = 27% 0.20
Em termos absolutos, como já vimos na seção 5.2, as chances de locativos na margem
esquerda da oração são significativamente menores do que a de temporais. No entanto, essa
posição é favorecida sob condições semelhantes às que destacamos para os temporais: com
verbos de estado, os locativos tendem a ocupar a margem esquerda da oração (.60). Em orações
com verbos de dois ou mais argumentos, há uma ligeira redução (.53) no índice de anteposição,
mas não chega a haver diferença significativa em relação aos verbos inacusativos (.56).
Com os verbos de um argumento, é onde se observa o índice mais baixo de locativos em
ME (.20), indicando que, nesses casos, esses constituintes mantêm sua posição defaut, ou seja, a
margem direita da oração. Confirmando as expectativas, em orações com verbos transitivos com
objeto nulo, os locativos se situam categoricamente na margem direita da oração o que pode ser
consequência de um princípio de equilíbrio, ou seja, de distribuir constituintes pelas diversas
posições na oração.
O comportamento dos verbos inacusativos e dos intransitivos, para os locativos, é bem
diferente, o que confirma as especificidades dos primeiros. No entanto, esperava-se efeito mais
saliente dos verbos inacusativos do que o que se pode constatar na tabela 3 (.56). É possível que a
menor nitidez desse fator, neste caso, possa ser decorrência da superposição inevitável entre os
grupos estrutura argumental e tipo de sujeito, uma questão que é retomada na seção seguinte.
5.3.2- Forma de realização do sujeito
A possibilidade de correlação entre o tipo de sujeito da oração e posição de constituintes
circunstanciais é uma hipótese que já foi levantada em diferentes estudos (Cf. CEZÁRIO et alii,
71
2004, BRASIL, 2005, GOMES, 2006, LESSA, 2007, ILOGTI de SÁ 2009, PAIVA 2011).
Espera-se que Spreps de tempo e lugar ocupem mais frequentemente a margem esquerda das
orações nas quais a posição de sujeito encontra-se vazia (nulo de 1ª e 2ª pessoa, nulo de 3ª
pessoa, indeterminado ou oração sem sujeito e sujeito posposto ao verbo) do que naquelas em
que a posição do sujeito está preenchida. Essa hipótese se sustenta em especificidades do PB no
que se refere à posição do sujeito, principalmente na tendência já constatada por diferentes
autores à perda do sujeito nulo (cf. DUARTE , 1993).
Diversos autores defendem a hipótese de que há no português brasileiro uma associação
entre o sujeito nulo e o preenchimento da periferia esquerda por constituintes circunstanciais (Cf.
KATO e NASCIMENTO 2002, CEZÁRIO et alii 2004, GOMES 2006). Kato e Nascimento
(op.cit) por exemplo, assumem que em orações com sujeito nulo, essa posição seja preenchida
por um adjunto, a fim de evitar o verbo em posição inicial.
Essa hipótese é retomada neste estudo de uma forma mais detalhada. A maioria dos
trabalhos que examinam a correlação entre tipo de sujeito e circunstanciais em ME trata
conjuntamente os sujeitos recuperáveis pela desinência verbal (primeira e terceira pessoas) e os
sujeitos de terceira pessoa (anáfora zero) em que o referente do sujeito só pode ser recuperado
nas relações discursivas. Partimos da hipótese de que o fato de o sujeito ser anafórico ou de ser
recuperado na própria desinência verbal pode motivar ordenação diversa dos circunstanciais,
sendo necessário tratar separadamente esses dois tipos de sujeito.
Uma outra hipótese, de certa forma relacionada à anterior, diz respeito à posição do
sujeito em relação ao verbo. Como já destacamos na seção anterior, para muitos autores
(VOTRE e NARO, 1986, COOPMANS, 1989, COELHO, 2000, CULICOVER e LEVINE, 2001,
KATO, 2003, SANTOS e DUARTE, 2006, PAIVA, 2011), há significativa correlação entre
posposição do sujeito, o que ocorre principalmente com os verbos inacusativos, e presença de
circunstanciais na margem esquerda da oração. Para Santos e Duarte (op.cit), essa correlação é
uma consequência da diminuição gradual do sujeito nulo. Kato e Duarte (2003) postulam que a
margem esquerda é preenchida para evitar estruturas do tipo V1. Coelho (op.cit) defende que, por
essa periferia esquerda ser considerada como outro argumento do verbo, ela tem que ser
preenchida, resultando na configuração XVS.
Como mostramos na seção anterior, as propriedades sintáticas do verbo explicam apenas
parcialmente a maior possibilidade de circunstanciais na margem esquerda. Nesta seção,
72
mostramos a importância da correlação entre a posição do sujeito e os circunstanciais nessa
posição.
Considerando esses pontos, foram analisadas seguintes possibilidades quanto à forma de
realização do sujeito:
Sujeito preenchido anteposto ao verbo:
(38) No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, RubensBomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios queconcorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. ( JB – 02/06/2003 – Opinião)
Sujeito preenchido posposto ao verbo:
(39) Caiu de 70% para 55%, em um ano, o número de pessoas que acham queLula trabalha muito. (JB – 07/03/2004 – Opinião)
Sujeito nulo de 1ª e 2ª pessoas:
(40) Não se impressionem com o que vimos lá na porta do hotel. (O Globo –19/02/2004 – Opinião)
Sujeito nulo de 3a pessoa:
(41) No último jogo, (Alex Alves) marcou quatro gols na goleada de 5 a 0 sobre oMaranhão, pela Copa do Brasil (JB – 06/03/2004 – Notícia)
Sujeito indeterminado ou oração sem sujeito:29
(42) Em 12 de março, houve mais um alerta vermelho. (O Globo – 25/09/2002 –Notícia)
Os resultados da tabela 4, relativos aos circunstanciais temporais, confirmam parcialmente
as hipóteses colocadas. O grupo foi selecionado no primeiro nível de análise, com significância
0,000, destacando-se, portanto, como a motivação mais relevante para a ocorrência de
circunstanciais em ME.
29 Estou considerando apenas o sujeito indeterminado como descrito nas gramáticas normativas, ou seja, com verbona 3ª pessoa do plural ou com –se índice de indeterminação do sujeito.
73
Tabela 4: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe tipo de sujeito
Forma de realização do sujeito Frequência Peso RelativoSuj. nulo de 1ª ou 2ª pessoa 11/21=52% .49Suj. preenchido posposto 10/14=71% .69Suj. preenchido anteposto 129/199=64% .58Suj. indeterminado ou oração s/ S 20/21=95% .95Suj. nulo de 3ª pessoa 12/56=21% .16Total /Input 180/324 = 55% 0.61
É inevitável o desequilíbrio na distribuição dos dados, considerando a predominância de
sujeitos preenchidos e antepostos. De um lado, como se pode esperar, observamos que o sujeito
ocupa sua posição default, ou seja, anteposto ao verbo. Por outro lado há uma forte tendência ao
preenchimento da posição de sujeito (Cf. DUARTE, 1993).
O primeiro ponto a destacar a partir da tabela 4 é a diferença quantitativa entre os sujeitos
nulos de 3ª pessoa em relação aos sujeitos nulos desinenciais. Ainda que ambos desfavoreçam
circunstanciais em ME, os nulos de terceira pessoa destacam-se pelo mais baixo peso relativo
para margem esquerda (.16), ou seja, são o contexto preferencial para a ocorrência de temporais
em MD. Essa tendência contraria as expectativas, pois esperava-se que, em orações com sujeitos
não realizados foneticamente, houvesse maiores chances de situar o circunstancial na periferia
esquerda da oração. Os resultados para os sujeitos preenchidos antepostos, com maior peso
relativo para circunstanciais em ME contrariam igualmente o esperado e permitem discutir a ação
de um princípio mais geral de ocupação da margem esquerda no português brasileiro.
De acordo com o previsto, destacam-se como favorecedores de temporais na margem
esquerda da oração, os sujeitos pospostos (.69) e, de forma quase categórica, as orações com
sujeito indeterminado e orações sem sujeito (.95), levando a crer que, nesses casos, outras
propriedades que não apenas a posição do sujeito tenham de ser consideradas.
Os resultados para os circunstanciais locativos, selecionados também no primeiro nível de
análise, com grau de significância 0,000, reiteram algumas tendências verificadas para os
temporais, como se pode constatar na tabela 5:
74
Tabela 5: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe tipo de sujeito
Forma de realização do sujeito Frequência Peso RelativoSuj nulo de 1ª ou 2ª pessoa 10/38=26% .69Suj posposto 15/32=46% .81Suj anteposto 50/156=32% .61Suj indeterminado ou oração s/ S 12/37=32% .68Suj nulo de 3ª pessoa 4/86=4% .12Total /Input 91/337 = 27% .22
Destaquemos em primeiro lugar que, numa tendência similar à dos temporais, Spreps
locativos tendem a se localizar na margem esquerda em orações com sujeitos pospostos (.81). O
valor mais expressivo para os locativos pode ser consequência de que a maioria dos verbos que
ocorrem nesses tipos de oração indicam deslocamento no espaço, possuindo, portanto, um traço
[+ locativo] inerente. Também de forma semelhante aos temporais, a menor probabilidade de
locativos em ME se verifica em orações com anáfora zero (sujeitos de terceira pessoa), com
apenas .12.
De forma um pouco diferente da verificada para os temporais, observam-se índices
semelhantes de Sprep de lugar em ME nas orações com sujeito nulo de 1ª e 2ª pessoas, nas
orações com sujeito indeterminado ou oração sem sujeito e nas orações com sujeito anteposto,
com .69, .68 e .61, respectivamente.
A maior regularidade é atestada, portanto, nas orações com sujeito posposto e nas orações
com sujeito nulo de terceira pessoa. No caso das primeiras, confirma-se tendência já destacada
em diversos estudos (NARO e VOTRE, 1992, SANTOS e DUARTE, 2006, SPANO, 2002,
2008, PAIVA, 2011). Como mostram esses estudos, as estruturas do tipo VS são muito restritas
no português brasileiro e ocorrem, de forma um pouco mais recorrente, com a classe dos
inacusativos, principalmente com aqueles que possuem o traço [+ locativo], como defende Paiva
(op.cit). Para alguns autores, essa correlação se explica como um subproduto da tendência mais
geral do português brasileiro a preencher a posição de sujeito. A ocupação da posição mais a
esquerda ocorre a fim de evitar estruturas do tipo V1 (Cf. KATO e DUARTE, 2003, SANTOS e
DUARTE, op.cit, SPANO, op.cit). Numa perspectiva mais funcional, Votre e Naro (1986)
defendem que o deslocamento de constituintes para a periferia esquerda da oração leva à
posposição do sujeito com o intuito de obter uma compensação sintagmática. Nossos exemplos
75
ilustram perfeitamente essa situação em que há um Sprep temporal na periferia esquerda sempre
em orações com verbos inacusativos, como em 43:
(43) Voltou na mesma tecla para que daqui para a frente aconteça umentendimento real entre a Coordenação dos Desfiles Técnicos e os sofridoscamelôs. (Povo – 15/01/2004 – Crônica)
A oração que se inicia com o Sprep temporal retrata a configuração XVS, em que
aconteça é um verbo inacusativo e o sujeito é posposto. O verbo acontecer possui traço [+
locativo], no caso, de localização temporal, e faz com que o Sprep daqui para a frente ocupe a
periferia esquerda da oração, preenchendo essa posição que ficou vazia. É possível, no entanto,
que outros fatores intervenham, principalmente o que envolve o peso/extensão dos constituintes.
O sujeito do verbo acontecer não só é mais extenso, como também mais complexo do que o
Sprep temporal e, portanto, mais susceptível de ocupar a posição final da oração. No exemplo 41,
teríamos, então, a instanciação de um princípio mais geral segundo o qual constituintes mais
leves/menos extensos precedem constituintes mais extensos/pesados, ou seja, um princípio de
peso final, em que constituintes tendem a se situar na posição final da oração (cf. WASOW 1997,
HAWKINS 2000, GIVÓN 2001, LOHSE et alii 2003, PAIVA, 2012).
Como pudemos atestar, as orações com sujeito indeterminado ou sem sujeito possuem
comportamento similar ao dos sujeitos pospostos. Sistematicamente, altos índices de
circunstanciais locativos (.68) e principalmente temporais (.95) na margem esquerda estão
associados a orações com sujeito indeterminado ou a orações sem sujeito. Em diversos trabalhos
( SPANO 2008, PAIVA 2011) é proposto um tratamento unificado dessas diferentes estruturas
juntamente com as estruturas inacusativas. Segundo Spano (op.cit), assim como as inacusativas,
as orações sem sujeito possuem argumentos internos interpretados como foco e têm a função de
apresentar uma entidade na predicação. De acordo com Paiva (op. cit, p. 4), há um paralelismo
funcional entre essas orações na medida em que todas elas “estão à serviço da apresentação de
uma entidade, um evento ou um estado de coisas novo como uma unidade integral, ou seja,
possuem uma função tética.”
Uma outra regularidade importante diz respeito à baixa ocorrência de circunstanciais,
tanto locativos como temporais, em orações com sujeito de terceira pessoa, o que permite discutir
a hipótese de que, no português contemporâneo, o preenchimento da periferia esquerda por
constituintes circunstanciais resulte da tendência a evitar uma posição vazia na periferia esquerda
da oração. Para estágios anteriores do português, alguns autores atestam evidências favoráveis à
76
hipótese de preenchimento da margem esquerda da oração. Cezário et alii (2004), por exemplo,
mostraram que, no português arcaico, há predominância de circunstanciais de tempo na periferia
esquerda em orações com sujeito nulo (1ª, 2ª ou 3ª pessoa). De forma semelhante, Gomes (2006)
atestou a mesma tendência para os locativos em documentos dos séculos XVIII e XIX. É possível
pressupor, então, que mudanças ocorridas no português brasileiro, em especial as mudanças na
marcação do parâmetro do sujeito nulo (DUARTE, 2006) tenham resultado num comportamento
diferenciado das pessoas verbais. Destaquemos que, no seu estudo sobre a perda do sujeito nulo,
Duarte (op.cit) verifica igualmente frequente presença de adjuntos adverbiais em orações com
sujeitos preenchidos.
Além disso, é necessário considerar o comportamento diferenciado das orações com
sujeito nulo de terceira pessoa. Uma hipótese explicativa para essa tendência é colocada por
Brasil (2005). A autora pressupõe, embora não chegue a controlar empiricamente, que uma
pressão discursiva opera no sentido de assegurar a manutenção referencial do sujeito, e
consequentemente, a continuidade tópica, o que limita a interposição de outros constituintes entre
uma anáfora zero e o seu antecedente. Focalizando os temporais, Soares (2012) verifica essa
hipótese em uma análise mais controlada e atesta, efetivamente, a maior ocorrência de
constituintes circunstanciais em posições pós-verbais, sobretudo na margem direita da oração,
nos casos em que sua ocorrência na margem direita pode provocar quebra da coesão referencial,
ou seja, na continuidade tópica.
Observemos os exemplos (44) e (45):
(44) Foi assim com Collor. Distanciou-se do Congresso, abriu feridas imensas nocorpo social (quem não se lembra do confisco?) e fez experiências extravagantesno terreno da economia. (JB – 07/03/2004 – Opinião)
(45) A Cedae recomenda aos cariocas que economizem água até a manhã dequarta. (O Globo – 28/10/2002 – Notícia)
No exemplo 44, os Spreps locativos encontram-se na margem direita, não comprometendo
a acessibilidade do referente (Collor) dos sujeitos vazios nas orações em que ocorrem os
constituintes circunstanciais. O mesmo acontece com o Sprep temporal em 45 que permanece na
margem direita, a fim de garantir a recuperabilidade do referente (os cariocas) da anáfora zero,
sujeito do verbo economizar.
77
Do que foi visto aqui, é possível concluir que a correlação entre posição de circunstanciais
locativos e temporais e o tipo de sujeito da oração não pode ser explicada unicamente em termos
sintáticos, pois envolve um componente discursivo bastante nítido.
5.3.3- Tipo Semântico de circunstancial
Diversos autores (MARTELOTTA, 1994, COSTA, 2004, CEZÁRIO et alii, 2005,
BRASIL, 2005, GOMES, 2007, ILOGTI de SÁ, 2009) já observaram que a posição de
constituintes temporais e locativos depende, pelo menos em parte, da nuance semântica que esses
constituintes expressam. Embora os circunstanciais, em geral, introduzam coordenadas de tempo
e espaço, a forma como essas coordenadas são perspectivizadas pode resultar em diferenças na
sua posição na oração.
Embora se admita que os circunstanciais exprimam diferentes formas de localização
temporal ou locativa, não é muito simples especificar e definir as diferentes categorias semânticas
que eles podem realizar e nem sempre há consenso entre as tipologias propostas. Tal dificuldade
decorre do fato de que as dimensões de lugar e tempo constituem um continuum que pode ser
perspectivizado e relativizado de diferentes formas. A determinação de um limite espacial mais
largo ou mais específico, ou de um tempo anterior ou posterior, depende em grande parte das
intenções do falante/escritor (Cf.CASTILHO, 1996, PAIVA e BRAGA, 2003, ILARI, 2001).
Várias são as propostas tipológicas estabelecidas por autores para analisar circunstanciais de
tempo e lugar (Cf. QUIRK et alii, 1985, NEVES, 1993, MURCIA & FREEMAN, 1999,
CASTILHO, op.cit, ILARI, op.cit, BRASIL, 2005)
Em relação aos locativos, Quirk et alii (op.cit) adotam uma classificação simplificada,
distinguindo três tipos de locativos:
- os que indicam posição, mais frequentemente associados a verbos de estado. Podem ocorrer
também com verbos de movimento;
- os que indicam direção: referem-se ao caminho ou direção com local específico. Abarcam
origem e destino;.
c- os que indicam distância: medem a distância entre dois pontos.
A necessidade de distinguir entre locativos que indicam posição ou locativos de situação,
nos termos de Neves (1993), daqueles que indicam direção (para algum lugar) é admitida por
autores como Murcia & Freeman (op. cit.) que, por sua vez, ainda distinguem direção (para
78
algum lugar) e destino (em algum lugar), que constituem sub-categorias de uma categoria mais
ampla. Neves (op cit) distingue três subgrupos (situação, percurso e direção) que se subdividem
em diversos subtipos,30 um detalhamento que, a nosso ver, dificulta uma análise empírica, pela
impossibilidade de determinar a fronteira exata entre eles.
Brasil (2005) toma como base a precisão e a extensão do espaço compreendido pela
referência locativa e distingue três grandes grupos de advérbios e sintagmas preposicionais
locativos:
- locativos com o traço [+ preciso, + limitado] – introduzem uma posição absoluta, identificada
com maior precisão;
- locativos [- preciso, - limitado] – introduzem uma posição espacial menos delimitada e
recobrem um espaço geográfico mais amplo;
- relativo – tomam um ponto espacial como referência a partir da qual se define a coordenada
locativa de um estado de coisas ou de um referente.
Considerando que o espaço é uma dimensão contínua, nem sempre é possível definir
claramente as fronteiras entre um tipo e outro, o que conduziu a autora a considerar um grupo de
ambíguos, em que mesmo as pistas contextuais não permitem precisar a nuance espacial
introduzida.
Além disso, a autora trata separadamente os casos que denomina de metafóricos, ou seja,
aqueles em que, dada a natureza do SN encaixado no SPrep, o valor locativo só pode ser
entendido em termos virtuais.
Neste estudo, buscando uma classificação operacionalizável empiricamente, consideramos
os seguintes tipos de circunstanciais locativos:
- Posição fixa: o circunstancial indica um ponto concreto e fixo no espaço.
(46) Ele estava em Belo Horizonte, assistindo ao embarque, para os EstadosUnidos, do primeiro lote de filés de tilápia fresca produzidos em Santa Maria deItabira, cidade mineira de 10 mil habitantes cuja economia pode mudarcompletamente com este novo negócio.(JB – 02/06/2003 – Opinião)
- Direcional: o circunstancial indica um ponto de origem ou destino (origem ou meta).
30 Os locativos de situação respondem à pergunta onde? e se subdividem em posição absoluta e posição relativa.Estes ainda podem ser de inclução, exterioridade, adjacência, sobreposição, sotoposição, anteposição, circumposição,interposição, proximidade, distância e ultraposição. Os locativos de percurso repondem à pergunta por onde? e os dedireção se subdividem em origem (de onde) e meta (para onde). Neves (1993, p. 274, 275)
79
(47) Advogada formada e pós-graduada, dedica-se sobretudo à causa dosmigrantes e refugiados de todo tipo.(...) Trata de conseguir vistos e papéis paraajudá-los a voltar a seu país de origem. (JB – 08/03/2004 – Crônica)
- Espaço metaforizado: O circunstancial não indica um espaço físico concreto, mas sim virtual,
ou seja, metaforizado.
(48) Aqui é que Lula não deve ficar, exposto aos inevitáveis desgastes de doismeses de transição. Por mais que se esconda, que se proteja, que evite repórteres,acabará encontrado, posto diante das dezenas de microfones e câmeras detelevisão e bombardeado por perguntas embaraçosas sobre as futricas e fofocasque brotam como tiririca nos canteiros dos ressentimentos e das picuinhas deBrasília e alhures. (JB – 01/11/2002 – Opinião)
O Sprep destacado em 48 não indica um lugar físico, uma dimensão espacial, mas recebe
o traço [+ locativo] a partir da sua relação com o verbo brotar.
Partimos da hipótese de que, ao indicar um lugar concreto, o circunstancial locativo
possua maior mobilidade na oração, podendo ocupar posições mais marcadas. Em relação aos
direcionais, esperamos que o constituinte locativo se posicione na margem direita, sendo restrito
à própria nuance semântica do verbo que indica origem ou destino. Pressupomos, ainda, que os
circunstanciais que indicam espaço metaforizado se desloquem para ME, em razão do forte
componente subjetivo de que estão investidos.
Assim como para os locativos, há diversas classificações possíveis para os temporais.
Neves (1993) propõe uma divisão em três grupos: situação (respondem à pergunta quando?);
duração (período visto na sua duração) e frequência (repetição/não-repetição de momentos ou
períodos). A proposta de Ilari (2001), por sua vez, toma como base os pontos do continuum
espacial codificado pelos temporais, distinguindo os de anterioridade, simultaneidade e
posterioridade. Martelotta (1994) e Brasil (2005) propõem uma classificação mais detalhada,
separando os circunstanciais temporais nos seguintes grupos:
-os que indicam um espaço de tempo determinado, ou seja, delimitam um ponto preciso
de uma escala temporal;
- os que indicam um momento temporal indeterminado, isto é, não delimitam pontos
específicos numa escala temporal, podendo incluir espaços temporais mais amplos;
-os sequenciais - indicam anterioridade ou posterioridade de um estado de coisas em
relação a um outro;
80
-os que indicam simultaneidade, sinalizando a co-extensividade total ou parcial entre dois
estados de coisas;
- os delimitativos, que determinam um ponto inicial e um ponto final do estado de coisas
descrito;
- os iterativos, que indicam a frequência de um determinado estado de coisas, possuindo,
portanto, forte valor aspectual.
As propostas brevemente apresentadas acima foram conjugadas e consideramos
neste estudo os seguintes tipos de temporais:
- Posição fixa: o circunstancial indica um ponto específico na escala temporal.
(49) A partida começa às 10h. (JB – 06/03/2004 – Notícia)
Neste grupo, tratamos separadamente os temporais que indicam uma data
específica, denominados calêndricos, como no exemplo (50).
(50) E no dia 31 de maio sua maior alegria é preparar a missa da coroação deMaria na capela de baixo. (JB – 08/03/2004 – Crônica)
- Delimitativo: o circunstancial determina um ponto inicial e um ponto final de uma
escala temporal.
(51) A Cedae recomenda aos cariocas que economizem água até a manhã dequarta. (O Globo – 28/10/2002 – Notícia)
- Segmentativo de posterioridade: o circunstancial indica a posterioridade de um estado de
coisas em relação a um outro.
(52) Tive alta depois de semanas. (O Globo – 03/11/2002 – Opinião)
- Segmentativo de anterioridade: o circunstancial indica a anterioridade de um estado de
coisas em relação a um outro.
(53) Nos cinco anos anteriores, a média (de crescimento econômico do Brasil) erade 1.280%. ( O Globo – 28/10/2002 – Opinião)
- Durativo: o circunstancial indica duração de um estado de coisas na linha do tempo.
(54) O samba dará o seu grito de total liberdade do Poder Público, pois terá umafonte de renda durante o ano inteiro. (Povo – 11/11/2003 – Crônica)
81
Partimos da hipótese de que os circunstanciais que indicam uma posição fixa numa escala
temporal e os calêndricos possuam maior mobilidade na oração. Esperamos que os
circunstanciais delimitativos, segmentativos e durativos, por sua vez, se localizem, mais
frequentemente, na margem esquerda da oração.
Diferenças de significado inerentes do próprio circunstancial se mostraram mais
relevantes principalmente para os locativos, tendo sido selecionadas na análise multivariacional,
no terceiro nível, com grau de significância 0,009. Os resultados, mostrados na tabela 6.
confirmam apenas parcialmente as hipóteses colocadas.
Tabela 6: Spreps de lugar na margem esquerdade acordo com o tipo semântico
Tipo semântico dos locativos Frequência Peso RelativoPosição fixa 78/277=28% .58Direcional 3/37=8% .24Espaço metaforizado 13/78=16% .34Total /Input 94/392 = 23% .20
Como se pode esperar, a grande maioria dos dados (277) se concentra em locativos que
indicam posição fixa, o que impõe cautela na interpretação dos resultados. Uma explicação
possível para essa disparidade é a de uma parte considerável de outros locativos, como os
direcionais, por exemplo, foram desconsiderados nesta análise por serem argumentais, como
vimos na seção 5.1, e apresentarem posição praticamente categórica.
Contrariando as expectativas, locativos que indicam um ponto espacial concreto estão
associados a peso relativo mais alto para margem esquerda da oração (.58). Diferentemente do
esperado, no entanto, as chances de ME diminuem sensivelmente para os locativos metaforizados
(.34). Já os direcionais se comportam como esperado, constituindo o tipo que mais favorece a
margem direita da oração, com peso relativo de .24.
Esses resultados corroboram o que Brasil (2005) encontrou para o português brasileiro. Os
locativos metaforizados são mais pospostos ao verbo e os de posição fixa, ou [+ preciso,
+delimitado]31, favorecem a anteposição. Tendência diferente foi encontrada por Cezário et alii
(2004), que mostraram que o advérbio ali tende a se referir a um espaço concreto e ocupar
posições pós-verbais. O aí , que pode se referir a um espaço metaforizado, possui características
coesivas e tendem a ocorrer em ME.
31 Classificação de Brasil (2005).
82
Apesar de este grupo de fatores não ter sido selecionado para os Spreps temporais,
optamos por incluí-los na análise, a fim de destacar a influência de algumas particularidades
semânticas na posição desses constituintes circunstanciais.
Tabela 7: Spreps de tempo na margem esquerdade acordo com o tipo semântico
Tipo semântico dos temporais FreqüênciaPosição fixa 99/159 = 62%Delimitativo 33/53 = 62%Sequenciador de posterioridade 13/20 = 65%Sequenciador de anterioridade 9/16 = 56%Calêndrico 17/29 = 58%Durativo 13/37 = 35%Total 184/314 = 58%
A influência das nuances semânticas dos Spreps temporais é mais limitada do que a dos
locativos e validam apenas parcialmente as hipóteses colocadas. Mesmo considerando o
desequilíbrio na distribuição dos dados, majoritariamente concentrados em temporais que
indicam posição fixa, é possível identificar, sobretudo, a particularidade dos durativos em relação
aos demais tipos de temporais. Temporais durativos são os menos recorrentes na periferia
esquerda da oração (35), o que significa que têm a margem direita como posição preferencial.
Uma explicação para esse fato é que, mais do que introduzir coordenadas temporais para um
estado de coisas, os durativos modificam a constituição interna dos estados de coisas, possuindo
valor aspectual. Esta particularidade justifica sua maior recorrência em MD, uma posição em que
fica mais próximo ao verbo com que se liga. Sob certos aspectos, tal tendência pode ser
interpretada em termos do princípio de iconicidade (GIVÓN, 1984, 2001, Chafe, 1984 ;
HAIMAN, 1985, CROFT, 1995, NARO & VOTRE, 1996, HASPELMATH, 2005): há maior
proximidade conceptual e, consequentemente, maior proximidade física entre o verbo e o Sprep
temporal.
Os resultados da tabela 7 mostram, ainda, que os Spreps temporais que indicam uma
posição fixa tendem a predominar na margem esquerda (.62), contrariando nossa expectativa de
que esse tipo semântico apresentasse maior variação entre as margens. É de se notar, no entanto,
que todos os demais tipos de circunstanciais temporais tendem a ocupar, predominantemente, a
margem esquerda da oração, com valores bastante aproximados. Esta tendência vai ao encontro
do esperado para os delimitativos e segmentativos de posterioridade, mas contradiz nossas
83
expectativas no que se refere aos segmentativos de posterioridade que gozam de grande
mobilidade na oração, com frequência de 56%.
As tendências aqui identificadas corroboram o que já foi atestado em outros estudos. Para
os circunstanciais que indicam posição fixa, Martelotta32 (1994) também encontrou
predominância de posições pré-verbais, principalmente na margem esquerda. Para os
circunstanciais durativos, Ilogti de Sá (2009) já verificou a predominância da margem direita.
Tendências semelhantes às encontradas por essa autora são atestadas também para os
delimitativos. Neste estudo, observa-se um comportamento distinto dos circunstanciais que
possuem indicativos de posição fixa que, segundo a análise de Ilogti de Sá (op. cit), variam entre
as margens da oração.
O que parece se destacar, portanto, é que a grande maioria dos circunstanciais temporais
apresentam uma tendência um pouco mais expressiva para a margem esquerda da oração.
Particularizam-se apenas os temporais em que se superpõe uma noção aspectual.
5.3.4- Restrições discursivas
Do ponto de vista da sua função, os constituintes circunstanciais são definidos como
elementos que situam coordenadas temporais ou locativas dos estados de coisas descritos na
predicação. Essas coordenadas temporais podem ser ancoradas deiticamente, ou seja, na situação
de fala, considerando o aqui e o agora do falante. Ilari (2001, p. 21), por exemplo, afirma com
relação à referência introduzida pelos circunstanciais que:
há sempre necessidade de uma ancoragem no real, que pode serdada quer pela situação de fala, quer pela escolha de algum pontode referência ao qual tanto o locutor como o interlocutor têmacesso.
Mais frequentemente, no entanto, a referência introduzida pelos circunstanciais envolve
relações discursivas, isto é, fóricas. Um constituinte circunstancial pode precisar sua referência
locativa ou temporal pela retomada de elementos já introduzidos no discurso antecedente, relação
anafórica, ou em informações que serão introduzidas no discurso subsequente, relação catafórica
(cf, dentre outros, ILARI, 2001, NEVES, 1992, PONTES, 1992).
32 O autor chama essa posição de tempo determinado.
84
Uma análise do uso da língua mostra, porém, que essa visão das funções dos
circunstanciais não dá conta de todos os empregos destes constituintes e, principalmente, dos
importantes papéis que eles desempenham na organização das informações no texto, e na
sinalização das intenções do leitor/escritor (cf. MARTELOTTA, 1994, SHAER, 2004, AUSTIN
et alii, 2004, BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2002, 2008a, 2008b, ILOGTI de SÁ,
2009).
A correlação entre função e posição dos circunstanciais tem sido focalizada sob diferentes
perspectivas. Martelotta (op.cit), por exemplo, examina a correlação entre disposição
sintagmática dos temporais e a oposição figura e fundo. Uma das hipóteses levantadas pelo autor
é a de que determinadas posições dos temporais são mais frequentes em orações que integram a
figura do que em orações de fundo (cf. também CEZÁRIO et alii, 2004, 2005, ILOGTI DE SÁ,
op.cit). Na sua análise, tal expectativa se confirma, com 78% de circunstanciais de tempo
determinado em posições pré-verbais nas oração de figura narrativa.
Diversos autores destacam, no entanto, a função coesiva dos circunstanciais que se situam
na margem esquerda da oração, diferentemente daqueles que se colocam no final da oração.
(CHAROLLES, 1997, SHAER, 2004, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2008b). Constituintes
circunstanciais na margem esquerda da oração retomam informações já introduzidas no discurso
anterior, ou seja, funcionam de forma retroativa, ou como backward tie nos termos de Charolles
(op. cit.), para tomá-las como circunstanciadores dos estados de coisas descritos na oração em
que se inserem. Para muitos autores, como Shaer (op. Cit.), por exemplo, essa é a maior
particularidade dos circunstanciais em ME.
Outros estudos discutem a prioridade dessa função coesiva, considerando que
circunstanciais em ME são elementos de indexação do discurso seguinte, isto é, funcionam como
(forward tie), abrindo enquadres temporais ou locativos que podem englobar diversas orações do
discurso subsequente (CHAROLLES, op.cit, Paiva, 2008b), Nessa função, os Spreps temporais
apresentam similaridades com as orações temporais, para as quais Chafe (1984) atribui uma
função de guiding-post. É essa propriedade que resulta na ampliação do escopo de constituintes
circunstanciais em ME.
Essas duas funções (retroativa e projetiva) não se excluem necessariamente. Um mesmo
circunstancial na margem esquerda pode, simultaneamente, acumular duas funções: ao mesmo
85
tempo em que remete para o discurso anterior, abre um enquadramento, ou o cenário temporal, de
um novo tópico ou subtópico (Cf. PAIVA, 2008b), como mostra o exemplo 55.
(55) Uma parceria entre a iniciativa privada e a prefeitura permitirá que umprojeto idealizado há um ano e meio saia do papel. O prefeito César Maia assinouontem um convênio com empresários, que financiarão parte das obras de im-plantação de uma alça que interligará as avenidas Ayrton Senna e AbelardoBueno, na Barra da Tijuca. Durante a solenidade, César Maia anunciou um pacotede obras que autorizou para a Barra e o Recreio, já pensando na realização dosJogos Pan-Americanos de 2007. E ainda informou que está estudando aimplantação de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o bondemoderno, ligando o centro da Barra ao Riocentro. (O Globo – 24/10/2002 –Notícia)
No exemplo 55, o Sprep temporal durante a solenidade remete para o discurso anterior,
tomando como ponto de partida para referência a assinatura de um convênio com os empresários
a partir da qual o leitor infere que houve uma solenidade onde a assinatura foi feita. Ao mesmo
tempo, ele abre um enquadre temporal para a informação nova de que César Maia autorizara um
pacote de obras, assim como a de que a implantação de um sistema (VLT) está sendo estudada.
Assim como vimos para os valores semânticos dos circunstanciais, uma tipologização das
funções discursivas que esses constituintes podem desempenhar não é uma tarefa muito simples,
pois, como vimos acima, nem sempre é fácil estabelecer fronteiras nítidas entre uma função e
outra. Neste estudo, adotamos as funções propostas por Paiva et alii (2007) e retomadas em Paiva
(2008a). Distinguimos, em primeiro lugar, os Spreps circunstanciais que se limitam a introduzir
coordenadas relativas a um determinado estado de coisas descrito33 como em:
(56) - Estava parado, o Vasco me contratou e eu salvei o clube do rebaixamento noBrasileiro de 2002. Ano passado, fiz gols que também salvaram o time dorebaixamento e fui campeão carioca. Só tenho de dizer que estou aí - desabafou ojogador. (JB – 08/03/2004 – Notícia)
O Sprep temporal no Brasileiro de 2002 introduz uma coordenada dêitica, situando o
momento em que o jogador salvou o clube do rebaixamento. A informação introduzida pelo
circunstancial é nova, pois não foi mencionada em momento algum do discurso precedente e o
Sprep possui um escopo mais limitado na oração em que se insere. Observemos, inclusive, que,
logo na oração seguinte, há uma mudança de referência temporal assinalada no Sprep sem cabeça
ano passado.
33 Esses Spreps atuam sobre a predicação, mas não fazem parte da estrutura argumental do verbo.
86
Em muitos casos, como já dissemos acima, os circunstanciais retomam informações
apresentadas no discurso anterior (backward tie), funcionando como elementos coesivos do
texto.34
(57) O agente penitenciário Marcus Vinicius Tavares Gavião, o Playboy, de 27anos, acusado de facilitar a entrada de três pistolas usadas por traficantes nomotim em Bangu I, há treze dias pode ter sido ajudado por outro guarda doDepartamento do sistema Penitenciário (Desipe). A suspeita é do delegadoRicardo Hallak, titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).Marcus Vinicius, como O GLOBO informou, foi anteontem, em sua casa, emCampo Grande.- Não está totalmente afastada a hipótese de haver uma segunda pessoa no crime.
Não podemos afirmar porque Marcus pode ter entrado com as armas aos poucos.Às vésperas do motim, ele ficou brincando com o detector de metais, a fim detestá-lo – contou o delegado.
No exemplo 57, o Sprep ás vésperas do motim remete para um tempo anterior ao motim
em Bangu 1, já mencionado no discurso precedente (usadas por traficantes no motim em Bangu
1). Assim, a referência temporal introduzida pelo Sprep às vésperas do motim, ou seja, o dia em
que o agente acusado ficou testando o detector de metais, só pode ser definida com base no
conhecimento da data em que ocorreu o próprio motim.
Uma variante dessa função anafórica é a que marca um contraste entre duas unidades
discursivas temporais ou locativas.
(58) A evolução se deu também na área econômica. Entre 1994 e 2000, a taxa deinflação anual foi de 11,4%. Nos cinco anos anteriores, a média era de 1.280%. (OGlobo – 28/10/2002 – Opinião)
No exemplo 58, são colocados em contraste os índices da taxa de inflação em dois
períodos distintos: o período compreendido entre 1994 e 2000 (baixos índices de inflação) e os
anos anteriores (elevados índices de inflação). Apesar de o contraste não ter sido explicitado pelo
autor do artigo, ele é inferível a partir do conhecimento do que ocorreu na área econômica.
Como já mencionamos acima, os circunstanciais podem, ainda, sinalizar uma
segmentação discursiva ao introduzirem coordenadas temporais ou locativas que definem a forma
de interpretação do segmento discursivo que os segue. Nesse caso, o circunstancial não se limita
a introduzir uma coordenada para o estado de coisas descrito na oração em que se encontra; ao
34 Essa função é muito mais saliente nos advérbios, principalmente naqueles que são essencialmente fóricos, comoaqui, lá.
87
contrário, possui um escopo muito mais amplo, podendo incluir diversas orações (forward tie),
como no exemplo (59).
(59) A ideia surgiu quando um dos candidatos à Presidência da República acusouo adversário e disse: “Sua máscara caiu.” Alguns dias depois, as chuvas desetembro e um furioso temporal esgarçaram e destruíram os galhardetes, as faixasem que as caras sorridentes dos candidatos invadem o espaço público carioca.Escorregam as faces lavadas pela chuva, como se a maquiagem não resistisse àverdade escondida por trás delas. Encontram-se bocas e narizes sortidos, formandoum caleidoscópio de rostos. Espanta a fragilidade dessas máscaras, diante dassurpresas que a política pode oferecer.(...) No atual cenário político brasileiro, o palco está armado: os atores-candidatos
usam e abusam da imagem para fazer valer suas ideias e debater programas degoverno. Criou-se a persona do político como um poderoso instrumento deconfrontação na liça eleitoral. (O Globo – 04/10/2002 – Opinião)
O exemplo 59 foi retirado de um artigo de opinião em que o autor fala sobre a farsa dos
candidatos à Presidência da República no Brasil. O Sprep No atual cenário político brasileiro
introduz um novo subtópico no discurso, e o escopo do circunstancial alcança as orações que o
seguem, ou seja, funciona como uma espécie de indexador que fornece as instruções da forma de
interpretação das informações que se seguem no texto. Nessa função, o circunstancial locativo
abre um enquadre locativo, ou seja, um cenário, no qual estão englobadas diversas predicações.
Uma outra possibilidade é que os Spreps de tempo e lugar organizem vários estados de
coisas numa sequência temporal ou locativa, como pode ser visto em:
(60) O país cresceu 3,3% ao ano entre 1993 e 2000, dobro da média de 12 anosanteriores. No mesmo período, a indústria cresceu 3,1% ao ano (havia decrescido0,1% entre 1981 e 1992). Entre junho de 1994 e junho de 2001, 1,8 milhão de novosempregos foram criados. Entre 1994 e 2000, a taxa de inflação anual foi de 11,4%.(O Globo – 28/10/2002 – Opinião)
Os circunstanciais destacados do exemplo 60 mostram o crescimento da economia
brasileira a partir de diferentes indicadores do país, situando-os em um continuum temporal,
considerado em termos de anos. Especificam, portanto, diferentes pontos de uma sequência de
coordenadas temporais.
Um outro caso a considerar é aquele em que coordenadas locativas ou temporais são
focalizadas, contribuindo, assim, para a expressão das intenções argumentativas do
falante/escritor. Seguindo procedimento já adotado por Paiva (2008a), restringimos essa função à
88
ocorrência de marcas formais como, por exemplo, só, somente, até ou ainda. O exemplo (61)
ilustra uma focalização através do elemento até.
(61) Até no Kuwait - anexado por Saddam e libertado na Guerra do Golfo graças àintervenção comandada pelos EUA – a hostilidade aos americanos deita raízes. (OGlobo – 20/10/2002 – Editorial)
No exemplo 61, o efeito argumentativo do texto, uma crítica do articulista ao
intervencionismo americano, fica assinalada pela justaposição do elemento até ao SPrep locativo
no Kwait.
Como já mostraram outros estudos, pode-se esperar uma distribuição diferenciada das
posições dos Spreps temporais e locativos de acordo com as funções que eles desempenham. De
acordo com o que já foi mostrado em outros estudos, podemos presumir que circunstanciais
sejam favorecidos na margem esquerda da oração em contextos discursivos mais específicos,
como os de segmentação tópica, remissão anafórica, focalização e demarcação de pontos.
Esperamos, ainda, que os que operam sobre a predicação, limitando-se a circunscrever temporal
ou espacialmente um estado de coisas, se situem mais frequentemente na margem direita.
A função do circunstancial no texto é selecionada para os dois tipos de circunstanciais em
análise, apontando regularidades importantes. Consideremos, primeiramente, os temporais, para
os quais este grupo foi selecionado no nível 2, com significância 0,00, cujos resultados são
mostrados na tabela 8:
Tabela 8: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe função discursiva
Função discursiva Frequência Peso RelativoPredicação 61/139=43% .34Segmentação tópica 42/62=67% .58Focalização 2/3=66% .70Retomada anafórica 49/74=66% .54Contraste 6/7=85% .85Demarcação de pontos 24/29=82% .79Total /Input 184/314 = 58% 0.61
Ressaltemos, antes de mais nada, que a distribuição desequilibrada dos dados, de acordo
com as funções consideradas, impõe cautela na interpretação dos resultados. No entanto, algumas
tendências são bastante transparentes e confirmam uma parte das hipóteses colocadas.
89
De acordo com nossas expectativas, circunstanciais temporais que introduzem uma
coordenada temporal restrita à predicação se posicionam na margem direita da oração, com peso
relativo de apenas .34 para a margem esquerda da oração.
A função de contraste sobressai como a que mais favorece constituintes temporais na
margem esquerda (.85). Outras funções que também motivam a posição de temporais em ME são
a demarcação de pontos num continuum temporal e a de focalização, com valores,
respectivamente, de .79 e .70. Os resultados para segmentação tópica (.58) e retomada anafórica
(.54) se situam em pontos intermediários: embora ainda favoreçam circunstanciais temporais em
ME, admitem maior variação entre as duas margens da oração.
Os resultados para os circunstanciais locativos reiteram a maioria das tendências
verificadas para os temporais, embora ainda uma vez seja necessário relativizar em função do
desequilíbrio na distribuição dos dados da tabela 9. Para esses circunstanciais, este grupo foi
selecionado igualmente no nível 2, com grau de significância 0,00.
Tabela 9: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe função discursiva
Função discursiva Frequência Peso RelativoPredicação 30/177=16% .36Segmentação tópica 10/27=37% .66Focalização 3 /4=75% .91Retomada anafórica 40/120=33% .59Contraste 8/9=88% .96Demarcação de pontos 3/3=100% -Total / Input 91/337 = 27% .21
De forma semelhante aos temporais, os locativos são mais recorrentes em MD quando
introduzem coordenadas espaciais para o estado de coisas descrito na predicação. Essa tendência
é natural, na medida em que não faz mais do que reproduzir a função inerente dos circunstanciais.
Embora o número de ocorrências seja excessivamente baixo, observa-se que, ao
demarcarem pontos em um continuum espacial, Spreps de lugar infringem sua ordem não
marcada e apresentam resultados categóricos, com 100% de ocorrência na margem esquerda.
Em contextos nos quais estabelecem um contraste com uma outra coordenada locativa já
mencionada no discurso anterior, ou são focalizados, esses constituintes também infringem sua
posição default e ocupam, com frequência mais alta, a margem esquerda da oração, com valores
90
respectivos de .96 e .91. A função de segmentação tópica também favorece a ocupação da
periferia esquerda (.66), seguida da função de retomada anafórica, com índice um pouco menor
(.59).
Para as duas classes semânticas, as tendências mais regulares são constatadas, por um
lado, na associação entre margem direita e a função de predicação e, por outro, no efeito
favorecedor das funções de contraste e focalização. Confirma-se, assim, a hipótese de que a
margem esquerda da oração é explorada para funções discursivamente mais marcadas, como já
salientaram outros estudos (BRASIL, 2005, LESSA, 2007, PAIVA et alii, 2007, PAIVA, 2008b,
ILOGTI de SÁ, 2009). É interessante destacar, ainda, que a pressão discursiva na posição dos
circunstanciais parece ser independente de particularidades ligadas à modalidade. Como mostra
Paiva (2008a), também na modalidade falada do português brasileiro, a anteposição de
circunstanciais em ME, tanto de locativos35 como de temporais, ocorre, principalmente, em
contextos de focalização e de contraste.
A tendência que, se não chega a contradizer, coloca alguns problemas para a hipótese a
respeito aos circunstanciais que operam a uma retomada anafórica, ao serem associados a pesos
relativos menos expressivos do que o esperado. Neste ponto encontram-se também algumas
similaridades com a fala, pois, como mostra Paiva (op. Cit.), os locativos com função anafórica
tendem a desfavorecer a posição mais à esquerda. A autora explica esta tendência como um
resultado da generalização da margem direita para estes constituintes, o que pudemos constatar
também neste estudo.
De forma geral, as tendências mostradas acima constituem fortes evidências de uma
estreita relação entre posição sintagmática de constituintes circunstanciais em geral e a função
que desempenham no discurso. No entanto, mostramos que as tendências atestadas para os
circunstanciais locativos claramente tendem a uma posição menos marcada e estão de forma mais
clara associados às hipóteses colocadas. Retomando Dryer (1995), podemos dizer que, em
contextos onde o circunstancial locativo desempenha funções mais específicas, pragmaticamente
mais marcadas, tende a se instanciar uma ordem mais marcada. Retomando os termos de Paiva
(2008a, p. 261):
35 Segundo os resultados de Paiva (2008), na modalidade falada, Spreps locativos que introduzem um contrasteespacial são categoricamente situados em ME.
91
A tendência ao enrijecimento na ordenação dos locativos parece obscurecer ainfluência de alguns fatores discursivos em favor de restrições sintático-semânticas.Uma questão importante no que se refere a essa classe de circunstanciais é a funçãosintática que eles desempenham na oração: função de satélite adverbial (adjunto)oude argumento de um verbo, em especial de verbos de posição e de deslocamento.
Os circunstanciais temporais, por sua vez, colocam alguns problemas particulares. Para
esses constituintes, observamos grande oscilação entre as duas margens da oração. Além disso,
verificamos que, mesmo temporais que desempenham funções mais marcadas, como a de
proceder a uma segmentação tópica, podem se situar na periferia direita da oração. É possível,
portanto, pressupor que a própria função desempenhada pelo constituinte circunstancial constitua
um critério de definição da sua posição na oração.
Se interpretamos as tendências atestadas em termos da oposição marcado/não marcado,
podemos dizer que, para os locativos, se aplica bastante bem a proposta de Dryer (op.cit) que
prevê que uma ordem marcada está associada a contextos pragmaticamente marcados. Por outro
lado, para os temporais, é mais difícil proceder a uma generalização, visto que, em diferentes
funções, eles tendem a se localizar na margem direita. Neste caso, é possível levantar a hipótese
de que mais do que uma posição não marcada, os temporais possuem funções não marcadas e
suas propriedades sintagmáticas são apenas um reflexo das suas propriedades funcionais.
5.3.5- A variável gênero textual
Um dos objetivos deste estudo é verificar a relativização das tendências de ordenação de
circunstancias de tempo e lugar mostrada no início deste capítulo (cf. gráfico 1) de acordo com
os diferentes objetivos comunicativos dos textos que constituem nossa amostra. Um problema no
conceito mais clássico de marcado/não marcado, ou de uma hierarquia de marcação, é a sua
dependência em relação a outras variáveis, como, por exemplo, modalidade: formas menos
marcadas na fala não o são necessariamente na escrita e podem refletir diferentes distribuições
textuais (CROFT, 1995, DRYER, 1995, GIVÓN, 2001). Como mostra Givón (op. Cit.), por
exemplo, sentenças ativas são a forma não marcada na fala, mas, na escrita, as passivas tendem
a predominar.
No que se refere mais especificamente à ordem de constituintes, alguns autores já
levantaram a hipótese de que a ordem default de um elemento ou de uma forma de ordenação
pode variar de acordo com o gênero textual (Cf. BRASIL, 2005, PAIVA et alii, 2007). Uma vez
92
que diferentes gêneros atendem a propósitos comunicativos distintos, espera-se que o
posicionamento de circunstanciais de tempo e lugar possa variar de acordo com o gênero em que
ocorrem. Essa hipótese encontra evidências favoráveis no trabalho de Brasil (op.cit), que mostra
que os Spreps temporais tendem a ser antepostos ao verbos nos gêneros anúncio, entrevista e
matéria assinada, mas são pospostos nas notícias. Locativos, por outro lado, tendem a ser menos
sensíveis às diferenças de gênero e preservam sua posição default, localizando-se após o verbo.
As diferenças na posição dos circunstanciais em diferentes gêneros textuais é reiterada no estudo
de Paiva et alii (op.cit), que mostram que, nos editoriais e crônicas, Spreps temporais
predominam na margem esquerda, podendo também explorar a adjacência direita do verbo. Nas
reportagens, esses constituintes prevalecem entre verbo e objeto, e apresentam índices salientes
na margem direita da oração.
Apesar de a variável gênero textual se impor como uma dimensão relevante para a
compreensão de fenômenos ligados à ordem de constituintes, não é muito simples operacionalizar
uma análise dessa variável. Gênero textual é um termo que por si mesmo coloca problemas de
definição e pode ser tratado por diferentes perspectivas. A complexidade que gira em torno do
conceito de gênero é apontada, por exemplo, por Swales (1990), que destaca a utilização desse
termo em diferentes campos do conhecimento, como nos estudos folclóricos, em que a oralidade
predomina, nos estudos literários, que têm por base textos escritos, e, com menor atenção, na
Linguística. Nos últimos anos, no entanto, o conceito de gênero ganha espaço importante nos
estudos linguísticos (BIBER, 1988, BRONCKART, 1999, PAREDES SILVA, 2005,
MARCUSCHI, 2008), embora nem sempre haja consenso quanto aos critérios que permitem
tipologizar diferentes gêneros textuais.
Apesar de diferenças na definição de gênero, parece haver um consenso quanto á
prioridade de critérios sócio-comunicativos para estabelecer a diferença entre eles, o que remete
para a posição de Bakhtin (2003 [1979]), que toma como ponto de partida as diferenças sócio-
interacionais, considerando gêneros como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (p.262).
A compreensão de gêneros textuais como formas de convencionalização do uso
linguístico aparece claramente em Bazerman (2005), para quem um gênero resulta de fatos
sociais que atuam sobre os atos de falas dos interlocutores e como estes o põem em prática no
dia-a-dia.
93
A dificuldade mais frequente no tratamento de gêneros textuais é, como destacado por
Bronckart (op. cit.), Bonini (2005), Paredes Silva (op. cit.), Marcuschi, (2005), a necessidade de
distinguir esse conceito do de tipos de textos. Enquanto gêneros podem ser caracterizados em
termos do propósito do falante, tipos textuais são definidos em termos de agrupamentos de
sequências textuais que apresentam propriedades linguísticas semelhantes. É interessante
observar, no entanto, que para Swales (1990), as duas dimensões (forma e objetivo) interagem e o
autor define gênero como um conjunto de eventos comunicativos que compartilham propósitos
comunicativos e que possuem padrões similares na estrutura, no estilo, no conteúdo e na
audiência visada. Embora não esteja excluída, e que seja mesmo frequente, a possibilidade de
ocorrência de diferentes sequências textuais num único gênero, é possível delinear traços mais
marcantes de cada um deles.
Marcuschi (2008) destaca, além da natureza cultural, a natureza cognitiva e o dinamismo
dos gêneros textuais: os gêneros podem se modificar pela ação de mudanças sócio-culturais. Um
aspecto relevante na proposta de Marcuschi (op. cit.) é a de que, uma vez que todas as atividades
discursivas se dão em textos orais e escritos, os gêneros se distribuem ao longo de um continuum
entre as duas modalidades, colocando em causa a dicotomia entre elas.
Tradicionalmente, fala e escrita são vistas numa dicotomia em que a primeira é
contextualizada, dependente, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada e
fragmentada, enquanto que a segunda é descontextualizada, autônoma, explícita, condensada,
planejada, precisa, normatizada e completa (Cf. MARCUSCHI 2007). Essa dicotomia se baseia
no código linguístico e leva à perspectiva de que a fala é “errada” e a escrita representa o bom
uso da língua, o que leva, também, à idéia de que a fala é mais simples e que a escrita é mais
complexa.
Marcuschi e Dionísio (2007), no entanto, afirmam que essas dicotomias não levam em
conta o uso da língua. Para eles não há porque valorizar a escrita em detrimento a fala e nem
tratá-las em termos dicotômicos. Fala e escrita são realizações diferentes do mesmo sistema
linguístico. Na verdade, essas duas modalidades possuem papel importante na sociedade e
cumprem necessidades diferentes. Nas palavras dos autores:
A língua tem um vocabulário, uma gramática e certas normas que devem serobservadas na produção dos gêneros textuais de acordo com as normas sociais enecessidades cognitivas adequadas à situação concreta e aos interlocutores.”(MARCUSCHI, DIONISIO, op.cit., p.16).
94
Sendo assim, Marcuschi e Dionísio (op.cit.) propõem que a fala e a escrita devem ser
analisadas num continuum que passa por diferentes gêneros textuais. Essa concepção é
igualmente defendida por autores como Chafe (1982), Biber (1988) e Marcuschi (2007, 2008).
Na proposta defendida por Marcuschi (2008), ganha destaque o conceito de domínio
discursivo. Para o autor, domínio discursivo constitui práticas discursivas que originam vários
gêneros. Dessa forma esses domínios
produzem modelos de ação comunicativa que se estabilizam e se transmitem degeração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros. Além disso,acarretam formas de ação, reflexão e avaliação social que determinam formatostextuais que em última instância desembocam na estabilização de gêneros textuais.(p.194)
Marcuschi (op.cit.) estabelece diversos domínios discursivos, distribuídos nas
modalidades escrita e oral da língua, tais como: instrucional, jornalístico, religioso, saúde,
comercial, etc. Cada domínio é composto por variados gêneros. O domínio jornalístico, no qual
se inclui a nossa amostra, engloba diferentes gêneros, tais como notícias, artigos de opinião,
crônica, editoriais, crônicas, cartas ao leitor que possuem propósitos comunicativos e uma forma
de organização distintos.
As notícias têm como objetivo central informar o leitor sobre uma determinada
ocorrência. Possuem características de uma narrativa técnica, imparcial e os fatos tratados são
condicionados pelo interesse público. São textos claros e objetivos, a fim de evitar ambiguidades.
Linguisticamente há predomínio de sequências textuais narrativas, formas de 3ª pessoa do
singular ou plural e são usados verbos no passado ou no presente (cf. COSTA, 2008).
Os artigos de opinião marcam o posicionamento de um autor diante de algum tema atual e
de interesse de um público mais amplo (cf. GONZÁLES, 1999). Os textos são assinados (cf.
COSTA op.cit.), marcando ideias defendidas pelo autor, que tem por objetivo persuadir o seu
leitor. São, portanto, textos essencialmente dissertativos ou argumentativos. Observa-se uso de
linguagem objetiva, geralmente em 1ª pessoa e o uso de conjunções e elos lógicos.
Os editoriais, fundamentados igualmente em objetivos persuasivos, expressam a opinião
dos diretores do jornal sobre fatos relevantes da atualidade (GRANEZ, 2005), o que os investe de
uma pressuposta impessoalidade. São mais concisos e refutam opiniões diversas às do jornal.
95
A carta ao leitor36 é um instrumento comunicativo que traz a opinião dos leitores sobre
assuntos diversos que estão em voga em determinado momento ou sobre matérias já publicadas
no jornal. Segundo Duque (2008), as cartas de leitores podem realizar diversos atos de fala:
solicitar, criticar, elogiar, agradecer, opinar, perguntar, etc. O modelo seguido pelas cartas é
muito diferente de um jornal para outro. Algumas chegam a ser mais narrativas, colocando
problemas que ocorrem no bairro. Outras são mais argumentativas e expressam uma posição
particular do leitor.
A crônica é um gênero híbrido, que contém temas atuais, como política, economia,
esportes, ciência, assim como fatos cotidianos. Geralmente o texto é curto e é escrito a partir de
um ponto de vista mais literário. Articula várias linguagens e incorpora diferentes tipos textuais.
A fim de criar uma aproximação com o leitor, o escritor usa uma linguagem mais simples, bem
próxima da oralidade (Cf. COSTA, 2008).
De acordo com as considerações acima, podemos esperar que a posição do circunstancial
reflita, de alguma forma, os diferentes objetivos sócio-comunicativos de cada gênero. Assim, por
exemplo, pode-se esperar que, nas notícias, os circunstanciais predominem na margem direita,
acompanhando a sequência cronológica das narrativas. Os artigos de opinião e editoriais possuem
características mais persuasivas, fazendo com que o autor lance mão de diversas estruturas
argumentativas, a fim de convencer seu leitor. Partimos da hipótese de que, nesses gêneros, os
circunstanciais ocorram em maior número na margem esquerda para auxiliar maior coesão do
assunto tratado.
Em nossa análise das posições periféricas da oração, houve uma correlação significativa
entre gêneros e a ordenação de constituintes circunstanciais temporais, como mostram os
resultados da tabela 10, selecionados no nível quatro, com grau de significância 0,04:
36 Paredes Silva (1988) ressalta que o gênero carta é composto dos subgêneros carta pessoal, carta pedido, cartaresposta, carta ao leitor, etc, pois sendo de natureza diversa, possuem funções comunicativas diferentes.
96
Tabela 10: Spreps de tempo na margem esquerda da oraçãoe gênero
Gênero Frequência Peso RelativoNotícia 62/119=52% .42Opinião 42/74=56% .43Editorial 32/56=60% .54Carta 23/31=74% .72Crônica 25/37=67% .63Input 184/314 = 58% .61
Segundo os resultados da tabela 10, as cartas de leitores destacam-se como o gênero que
mais favorece circunstanciais de tempo em ME, com peso relativo de .72. Seguem-se as crônicas
com .63. Os editoriais, por sua vez, se particularizam por maior variabilidade dos circunstanciais
temporais entre as duas periferias oracionais, com peso relativo .54.
Destaca-se, ainda, a proximidade nos pesos relativos atribuídos às notícias (.42) e aos
artigos de opinião (.43). Esses dois gêneros são os que mais desfavorecem a ocorrência dos
temporais na margem esquerda da oração, isto é, se caracterizam por maior recorrência de
circunstanciais em MD.
Esses resultados corroboram parcialmente o que outros autores encontraram. Paiva et alii
(2007) já mostraram que, por um lado, as notícias desfavorecem temporais em ME (cf também
ILOGTI de SÁ, 2009) e que, por outro, as crônicas favorecem a ocorrência destes constituintes
nesta posição. No que se refere aos editorais, as tendências identificadas neste estudo se
distinguem da depreendida em outros estudos, como o de Paiva et alii (op cit) e Ilogti de Sá (op
cit), em que, neste gênero, foi encontrado o maior índice de temporais na periferia esquerda da
oração.
A predominância de SPreps temporais em ME nas notícias/reportagens parece se
conformar às particularidades funcionais, ou propósitos comunicativos desse gênero, que se
refletem, inclusive, em muitas das suas características formais. As notícias são textos objetivos
que se caracterizam pelo maior afastamento do locutor, e privilegiam ações, eventos, seus
participantes, coordenadas locativas (onde) e temporais (quando). Caracterizam-se, portanto,
pela predominância de textos narrativos em que a ordem cronológica da narração assegura a
sequenciação temporal e locativa dos fatos no desenvolvimento do texto. Nas notícias, a maior
recorrência de circunstanciais em ME pode ser consequência, por um lado, da maior exigência de
continuidade referencial nesse gênero e, por outro, da ênfase em ações mais pontuais que se
97
situam em um ponto específico do tempo ou do espaço. Nesse caso, é natural que os
circunstanciais apresentem escopo mais reduzido à predicação.
Os resultados para os locativos, embora não selecionados na análise multivariacional,
confirmam a tendência observada para os temporais em relação às cartas de leitores, mas
apresentam diferenças para os demais gêneros.
Tabela 11: Spreps de lugar na margem esquerda da oraçãoe gênero
Gênero Frequência Peso RelativoNotícia 24/107 =22% (.48)Opinião 19/70=27% (.58)Editorial 17/69=24% (.35)Carta 20/39=51% (.68)Crônica 11/52=21% (.46)
De forma semelhante ao atestado para os temporais, as cartas de leitor são um gênero
favorecedor também de locativos na margem esquerda da oração, com peso relativo de .68.
Diferentemente do que foi verificado para temporais, o peso relativo para artigos de opinião se
destacam por serem o segundo mais propício a locativos em ME, com peso relativo de.58. As
notícias e as crônicas, com valores muito próximos tendem a desfavorecer locativos em ME. Os
editorais, por sua vez, se destacam pelo menor índice de favorecimento de locativos na margem
esquerda, com peso relativo de .35.
O comportamento mais regular e independente da categoria semântica do circunstancial é
observado nas cartas de leitores. A maior incidência dos circunstanciais em ME nas cartas
também pode ser explicada em termos de propriedades funcionais desse gênero. Temporais e
locativos nessa posição podem expandir seu escopo de atuação e estabelecer elos com o discurso
anterior, inclusive para opinar, elogiar, criticar matérias já publicadas em outras edições do
jornal.
(62) Passar de carro pela Rua São Francisco Xavier, na altura do número 756,próximo à Mangueira, tornou-se um perigo para os motoristas. Nesse local existeum enorme buraco causado por um vazamento e os motoristas não têm tempo dedesviar, porque o trecho é uma descida em uma curva. As freadas são constantes.(Extra – 01/01/2004 – Carta)
No exemplo 62, retirado de uma carta do jornal “Extra”, o Sprep Nesse local
remete aos locativos já mencionados no discurso anterior e se posiciona em ME, o que facilita
esse elo coesivo.
98
Tudo indica que as diferenças de comportamento entre locativos e temporais envolve não
apenas a categoria semântica do circunstancial como também o fato de que os locativos possuem
uma tendência muito mais nítida a uma ordem não marcada. Neste caso, confirma-se que a
oposição ordem marcada/não marcada ultrapassa as diferenças atribuíveis a modalidade,
comprovando a posição de Dryer (1995, p.119) para quem "a frequência, de fato, vai variar de
tipo de discurso para tipo de discurso, de texto para texto e de subtexto para subtexto."37
Não se pode descartar, no entanto, a possibilidade de que a variável função do
circunstancial intervenha na correlação entre posição e gênero textual. Por exemplo, dadas as
próprias características das notícias/reportagens, elas são textos favoráveis à ocorrência da função
de predicação e, portanto, de maior ocorrência de circunstanciais na periferia direita da oração.
Para verificar essa possibilidade, procedemos ao cruzamento dessas duas variáveis, como mostra
a tabela 12, para os Spreps temporais.
Tabela 12: Spreps temporais e cruzamentoentre função discursiva e gênero
Funçãodiscursiva
Notícia Editorial Opinião Crônica Carta
Predicação 50 =42,73%
24 =45,28%
28 =37,83%
16 =43,24%
17 =56,66%
Segmentaçãotópica
25 =21,36%
13 =24,52%
12 =16,21%
5 =13,51%
7 =23,33%
Demarcaçãode pontos
11 =9,40%
2 =3,77%
14 =18,91%
0 = 0% 2 =6,66%
Retomadaanafórica
27 =23,07
11 =20,75%
16 =21,62%
16 =43,24%
4 =13,33
Contraste 4 =3,41%
2 =3,77%
2 =2,70%
0 = 0% 0 = 0%
Focalização 0 = 0% 1 =1,88%
2 =2,70%
0 = 0% 0 = 0%
Total 117 53 74 37 30
Destacamos alguns resultados interessantes da tabela 12. Observa-se que, nas notícias há
o predomínio de circunstanciais temporais com função puramente circunstanciadora (42,73%). A
segunda maior recorrência nas notícias é de circunstanciais que sinalizam uma retomada
anafórica (23,07%) e segmentação tópica (21,36%). O predomínio das notícias em MD,
37 (...) frequency will actually vary from discourse type to discourse type, from text to text, and from subtext tosubtext.
99
conforme foi visto na tabela 10 (.42 na margem esquerda), pode ser explicado pelo alto índice de
predicação que, por sua vez, predomina na periferia direita (.34 em ME, conforme tabela 8). As
funções de segmentação tópica e anáfora permitem maior variação dos temporais, com valores de
.58 e .54 para ME (tabela 8), o que também contribui para o aumento de notícias na margem
direita.
A distribuição observada nos editoriais é semelhante à das notícias: a função de
predicação é mais frequente (45,28%). Em segundo vem a segmentação tópica (24,52%) e a
retomada anafórica (20,75%). A maior mobilidade dos editoriais entre as margens da oração (.54
na tabela 11) pode ser explicada pelos altos índices das funções de segmentação tópica e
retomada anafórica nesse gênero. Essas funções permitem grande flexibilidade dos temporais,
como foi visto na tabela 8.
Nos artigos de opinião, por sua vez, embora predomine igualmente a função de predicação
(37,83%) não há diferença entre os índices para retomada anafórica e demarcação de pontos.
Atestamos que os artigos de opinião se particularizam pela maior recorrência da função
demarcação de pontos num continuum. Uma explicação é que os autores desses artigos lançam
mão de promover uma sequência de ideias num continuum temporal a fim de defender seus
argumentos, como mostra o exemplo 63, em que mostra a queda da mortalidade infantil, assim
como a melhora do ensino na década de 90.
(63) A década de 90 registrou vitórias importantes. De acordo com o Censo 2000,realizado pelo IBGE, a mortalidade infantil caiu 38% entre 1991 e 2000. Em 1992,18,2% das crianças entre 7 e 14 anos não frequentavam a escola. Agora, o acessoao ensino fundamental foi universalizado. A taxa de analfabetismo dos maiores de15 anos caiu de 18,3% para 13,8%, e as matrículas no ensino superior tiveramacréscimo de quase 30% entre 1994 e 1998. (O Globo – 28/10/2002 – Opinião)
Nas crônicas, não há diferença entre predicação e retomada anafórica. Ao que tudo
indica, no entanto, o uso de temporais remetem para o discurso precedente, com índice de
43,24% de anáfora nesse gênero, o que explica a maioria de Spreps temporais em ME (.63),
como foi visto na tabela 10.
Nas cartas, predomina a função de predicação com 56,66% dos casos. Embora pareça uma
contradição, já que circunstanciais com a função de predicação tendem a ocorrer na margem
direita, na maioria das cartas os temporais remetem a um tempo até o momento, ou até hoje,
como no exemplo 64, e se localizam, preferencialmente, na margem esquerda.
(64) As ruas do Parque Paulista, em Duque de Caxias, continuam completamente
100
esquecidas pelas autoridades do município. Até hoje, os moradores esperam pelaspromessas que sempre são feitas e não suportam mais ser tratados com tantodescaso. Cobramos saneamento básico e a colocação de asfalto. (Extra –01/01/2004)
Os resultados para os locativos apresentam algumas diferenças em relação aos temporais.
Tabela 13: Spreps locativos e cruzamentoentre função discursiva com gênero
Funçãodiscursiva
Notícia Editorial Opinião Crônica Carta
Predicação 53 =49,53%
33 =47,82%
51 =73,91%
31 =59,61%
8 =20,51%
Segmentaçãotópica
5 =4,67%
10 =14,49%
5 =7,24%
5 =9,61%
2 =5,12%
Retomadaanafórica
44 =41,12%
20 =28,98%
12 =17,39%
16 =30,76%
28 =71,79%
Contraste 5 =4,67%
3 =4,34%
1 =1,44%
0 = 0% 0 = 0%
Focalização 0 = 0% 3 =4,34%
0 = 0% 0 = 0% 1 =2,56%
Total 107 69 69 52 39
Para os locativos, nas notícias, editoriais, crônicas e artigos de opinião prevalece a função
de predicação, seguida da de retomada anafórica. A predominância desses quatro gêneros em
MD, notícia (78%), editorial (76%), artigo de opinião (73%) e crônica (79%), conforme a tabela
11, reflete a predominância da função de predicação, que ocorre mais na margem direita.
As cartas possuem comportamento particular e nelas predomina a função de retomada
anafórica. A maior ocorrência das cartas na margem esquerda (51% na tabela 11) se explica em
função da predominância maciça de circunstanciais que funcionam como backward tie. O
exemplo 65 é ilustrativo, em que o Sprep nessa rua retoma a rua Imboassu, mencionada no
contexto anterior.
(65) Mais um verão chegou e a Prefeitura de São Gonçalo não tomou providênciaalguma para proteger os moradores da Rua Imboassu. Nessa rua existe um valãoque está completamente poluído e cheio de lixo e mato. (Extra – 07/01/2004 –Carta)
Nota-se uma regularidade no gênero cartas para os dois tipos de circunstancial. Tanto nos
temporais, como nos locativos, as cartas tendem a ocupar a periferia esquerda da oração.
101
Neste capítulo mostramos a influência de fatores sintáticos, semânticos e discursivos na
ordem de Spreps de tempo e de lugar. Entre os fatores sintáticos, mais do que os tipos de verbo
que ocorrem em uma oração, apontamos os tipos de sujeito como o fator mais influente na
ordenação de constituintes circunstanciais. Destacamos a importância de separar sujeitos de 3ª
pessoa de um lado e, de outro, sujeitos de 1ª e 2ª pessoas que operam diferentemente sobre os
padrões de ordenação. Destacamos, ainda, que funções discursivas como focalização, contraste e
segmentação tópica levam os Spreps locativos para ME, o que comprova uma associação entre
ordem marcada e função pragmática mais marcada. Os resultados para os temporais evidenciam
que esses constituintes possuem funções inerentes e que essas funções definem sua posição na
oração.
102
6- SEQUÊNCIAS DE CIRCUNSTANCIAIS
Neste capítulo, focalizamos a co-ocorrência de dois ou mais circunstanciais em uma
mesma oração. Procuramos verificar, em primeiro lugar, se a ordem não marcada dos
circunstanciais temporais e locativos varia quando co-habitam entre si ou co-ocorrem com outros
constituintes circunstanciais. Analisamos a co-ocorrência de circunstanciais sob duas
perspectivas: a primeira perspectiva se concentra na co-ocorrência de circunstanciais da mesma
categoria semântica; na segunda, focalizamos a co-ocorrência de circunstanciais de classe
semântica distinta. Para tanto, incluímos os circunstanciais de modo, dada a sua importância para
verificar hipóteses relativas à forma de sequenciação de categorias semânticas distintas, como já
salientado por Hawkins (2000) para a língua inglesa e Paiva (2008c) para o português brasileiro.
Nossos objetivos são: a- identificar e discutir os padrões de sequenciação relativa de
Spreps de tempo, modo e lugar; b- depreender os fatores que motivam a sequenciação relativa de
circunstanciais temporais, locativos e de modo, uma variação que, como já mostraram outros
autores, envolve a ação de princípios distintos. Neste estudo, procuramos verificar, sobretudo, os
princípios de centralidade semântica (princípio MPT), proposto por Quirk et alii (1985), o
princípio de integração ou coesão (TOMLIM, 1986, GIVÓN, 2001) e o princípio peso final,
segundo o qual constituintes menores precedem os constituintes maiores (WASOW, 1997,
HAWKINS, op.cit, GIVÓN, 2001, LOHSE et alii, 2003, PAIVA, 2012). Partimos da hipótese de
que o princípio ligado ao peso dos constituintes é mais relevante para a compreensão da forma
como são sequenciados circunstanciais de categoria semântica distinta.
Antes de passarmos à discussão desses princípios, discutimos a possibilidade e o limite na
posição variável de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria semântica, pelo interesse
que ela coloca para a questão da ordem marcada/não marcada de ordenação dos constituintes
satélite.38
38 Uma questão a considerar é que há possibilidade de que a função discursiva, que é associada ao circunstancial namargem esquerda, interfira na ordenação de constituintes que co-ocorrem. No entanto, como a maioria dos dados deco-ocorrência dos circunstanciais se dá na margem direita da oração, não foi possível abordar esta correlação deforma mais conclusiva..
103
6.1 Ordenação de dois circunstanciais da mesma categoria semântica
Em orações nas quais ocorrem dois circunstanciais da mesma categoria semântica,
observam-se diversos padrões de ordenação que envolvem as margens da oração e posições
adjacentes ao verbo, o que resulta nas seguintes configurações possíveis:
Dois em ME:
(66) Enquanto que ali, do outro lado, no Corte do Cantagalo, à sombra dosmanguezais de Sacopenapã, os índios tamoios lambiam os beiços ao comer, commandioca, os miolos de seus (JB – 02/06/2003 – Opinião)
Dois em MD:
(67) Eu de fato estava pretendendo tirar umas férias e ia estrear em grande estilo,com uma ida à França, para buscar um prêmio que (sic) me deram lá. ( O Globo –03/11/2002 – Opinião)
Um em ME e um em MD:
(68) No programa de Lula há três outras propostas originais na área social. (OGlobo - 26/03/2003)
Um entre sujeito e verbo e um em MD:
(69) A rede de esgoto da Rua Tomás, no bairro Nova Aurora, em Belford Roxoestá entupida na altura do número 55. (Extra - 01/01/2004 - Carta)
Um em ME e um entre sujeito e verbo:
(70) Já no final do século XIX o Barão de Mauá, em sua "Exposição aos Credoresde Mauá & Cia." (obra da qual dizia Alberto de Faria que "devia andar por todasas escolas onde houvesse um homem a criar, um compatriota a educar"),testemunhava a impossibilidade de reerguer sua empresa falida,(...). (O Globo –01/11/2002 – Opinião)
Um em ME e um entre verbo e objeto:
(71) Pela primeira vez, o Brasil colherá em 2003 - evidentemente se o clima forfavorável - uma safra superior a 100 milhões de toneladas de grãos. (O Globo –29/10/2002 – Editorial)
Dois entre sujeito e verbo:
(72) Existe na Rua Amaro Cavalcante, perto da entrada da estação de trem doEngenho de Dentro, um buraco enorme causado por um vazamento de águapotável. (Extra – 03/01/2004 – Carta)
Dois entre verbo e objeto:
104
(73) O senador Sarney descreveu, de maneira detalhada , sem o menor escrúpulo,o “périplo” feito pela cidade de Nova York. (JB – 23/04/2004 – Carta)
Nesta seção são considerados não só os casos de dois sintagmas preposicionais, como nos
exemplos (71), (72), (73), como também de um advérbio seguido de um Sprep, como em (74):
(74) O guardião dos rios Marcelo Luiz, de 30 anos, morreu ontem, por volta das15h,(...) (O Globo – 25/09/2002)
Partimos do pressuposto de que, em orações com dois ou mais locativos ou temporais, são
privilegiadas as margens da oração, principalmente a margem direita, entre outras razões pelo
aumento do peso do constituinte circunstancial. A distribuição da tabela 14 corrobora esta
hipótese, principalmente para os circunstanciais de lugar e de modo.
Tabela 14: Distribuição de circunstanciais da mesma categoria semânticapelas posições na oração
Configurações L L T T M M2 em ME 25/80 =32% 5/15 = 34% 0 = 0%2 em MD 48/80 =60% 6/15 = 40% 4/6 = 68%1 em ME e 1 em MD 4/80 = 5% 2/15 = 13% 1/6 = 16%1 entre suj. e V e 1 em MD 1/80 = 1% 0 = 0% 0 = 0%1 entre V e O e 1 em ME 0 = 0% 2/15= 13% 0 = 0%2 entre V e O 1/80 = 1% 0 = 0% 1/6 = 16%2 entre suj. e V 1/80 = 1% 0 = 0% 0 = 0%
Antes de mais nada, confirma-se, como já atestado no capítulo 5, a tendência dos
circunstanciais a ocuparem as margens da oração e a forte restrição desses constituintes nas
posições internas à oração, com índices muito baixos. Observa-se, ainda, que essa tendência é
independente da categoria semântica do circunstancial. Mesmo os circunstanciais de modo, para
os quais se poderia esperar maior adjacência em relação ao núcleo verbal, verifica-se a
preferência pelas periferias da oração. Ressalta, porém, a margem direita da oração como posição
mais frequente para o caso de sequências de dois circunstanciais da mesma categoria semântica,
principalmente para os locativos (60%) e os de modo (68%). No que se refere aos locativos,
confirma-se a tendência constatada nas orações com apenas um circunstancial que, como vimos
no capítulo 5, apresentam como ordem não marcada a posição final da oração. Um aspecto a
105
destacar também é que a terceira possibilidade de configuração sintagmática distribui os dois
constituintes pelas margens da oração.
Essa distribuição de dois circunstanciais de mesma categoria de tempo, modo e lugar pode
ser vista em termos de traços semânticos dos próprios constituintes adverbiais, seu papel na
organização discursiva e seu peso ou extensão. Consideremos, primeiramente a questão dos
traços semânticos nas sequências de dois ou mais circunstanciais da mesma categoria dêitica,
uma questão ilustrada em (75):
(75) Lá na polícia ele pode ser deficiente, porque não tem a falange para usar ogatilho. (JB – 23/10/2002 – Notícia)
Em 75, tem-se uma proforma locativa acompanhada de um sintagma preposicional. O
advérbio locativo, por si só, introduz uma referência locativa mais imprecisa, indeterminada que
é especificada pelas coordenadas locativas introduzidas pelo SPrep na polícia. Podemos dizer
que, de certa forma, o locativo, ganha referência, através de uma relação catafórica.
Há outros casos em que o advérbio já possui significado intrínseco, como mostra o
exemplo 76.
(76) O guardião dos rios Marcelo Luiz, de 30 anos, morreu ontem, por volta das15h,(...) (O Globo – 25/09/2002)
No exemplo 76, ocorre uma sequência de advérbio + Sprep temporal em que o advérbio
ontem caracteriza um espaço temporal que pode ser determinado independentemente da presença
do Sprep que o segue (o dia anterior ao de hoje). Observemos, no entanto, que o advérbio ontem
introduz um intervalo temporal mais amplo, que é especificado pelo Sprep por volta das 15h. Em
outros termos, o Sprep delimita um ponto mais preciso no espaço temporal compreendido em
ontem, situando de forma mais precisa a morte do guardião.
Uma forma semelhante de organização da informação dêitica pode ser observada também
no exemplo (77) em que se sequenciam dois Spreps locativos:
(77) Os policias estavam a 200 metros da escola, no cruzamento da AvenidaMaricá com a Estrada do Colubandê. ( JB – 23/10/2002 – Notícia)
Em 77, o Sprep no cruzamento da Avenida Maricá com a Estrada do Columbandê
determina com mais exatidão o ponto em que se encontravam os policiais. Mais uma vez
podemos dizer que o primeiro circunstancial é mais inclusivo e o segundo opera no sentido de
precisar o ponto espacial em que se situa o estado de coisas descrito.
106
Discursivamente, os exemplos 75, 76 e 77 mostram a sequência de elementos fóricos, em
que, ora o referente é retomado cataforicamente, ora por coordenandas temporais ou locativas já
inseridas no discurso anterior. Assim, as proformas adverbiais introduzem uma coordenada
dêitica no discurso e os Spreps fornecem especificações temporais ou locativas mais exatas.
A introdução de coordenadas dêiticas mais específicas, ou seja, mais informação nova,
resulta, naturalmente no aumento da extensão do sintagma preposicional. Os dois circunstanciais
em sequência constituem uma espécie de unidade que os torna mais pesados e mais extensos, o
que nos leva a suspeitar que seu posicionamento na margem direita da oração decorra de um
princípio como peso final.
O princípio de peso final (end weight), proposto por Quirk et alii (1985), retomado por
diferentes autores (HAWKINS, 2000, WASOW, 1997, 2002, LOHSE et alii, 2003, PAIVA,
2012) prevê que constituintes mais pesados se situem no final da oração. Como mostram Wasow
(op.cit), Lohse et alii (op.cit), o princípio segundo o qual os constituintes maiores tendem a se
situar na posição final da oração e a ser precedidos por constituintes menores pode explicar fatos
linguísticos diversificados, tais como a posição do complemento dativo no inglês. Dessa forma,
alternam-se as possibilidades I gave my son a book com I gave a book to my son. No caso de o
complemento dativo ser realizado por um pronome, forma monossilábica, o que prevalece é a
ordem dativo-acusativo, como em I gave him a book. Este princípio pode explicar também a
disposição sintagmática de múltiplos Spreps circunstanciais, particularmente os que se localizam
após o verbo.
Um problema é a distinção entre peso de um constituinte e sua complexidade. Embora
haja uma superposição entre extensão e complexidade, na medida em que um constituinte mais
complexo é mais longo, há necessidade de tratá-las separadamente.
É possível estabelecer uma relação entre o princípio de peso final e o subprincípio de
quantidade proposto por Givón (1995, 2001)39. Pelo princípio de quantidade entende-se que uma
informação maior requer material linguístico mais extenso. Dessa forma, é possível que o
princípio de peso final reflita, na verdade, um procedimento de codificação de informação no
discurso: informação nova segue informação velha.
Um problema na análise do princípio peso final se refere à forma de mensuração de
extensão, que pode ser considerada a partir de diferentes parâmetros. Neste estudo, decidimos
39 O subprincípio de quantidade se insere no princípio mais geral de iconicidade.
107
controlar a extensão do constituinte circunstancial em termos do número de palavras (método já
usado, por exemplo, por LOHSE et alii, op.cit, ILOGTI de SÁ, 2009, PAIVA, op.cit) de que são
constituídos, considerando a extensão de um em relação a outro. Considerei artigos e preposições
e nomes compostos como uma palavra cada.
a-1 > 2
(78) O evento no céu foi visto de grande parte do território nacional, edocumentado por um cinegrafista amador que filmava uma festa em Camaçari, naBahia. (JB – 02/06/2003 – Opinião)
No exemplo 78, o primeiro Sprep possui seis palavras e é mais extenso do que o segundo,
que possui apenas duas.
b- 1 < 2
(79) A diretoria do Fluminense acertou a contratação de Ricardo Gomes namadrugada de ontem, logo após a vitória do time sobre a Portuguesa.(JB –06/03/2004 – Notícia)
No exemplo 79, o primeiro Sprep temporal é menos extenso (quatro palavras) do que o
segundo (nove palavras).
c- 1 = 2
(80) E se o Botafogo vai assumindo jeito de empresa, com planejamento sério epés no chão, os demais ficam aí a anunciar a vinda de jogadores manjados e detécnicos conhecidos, em atitudes tipo engana-trouxa. (Extra – 02/02/2004 –Opinião)
No exemplo 80, os Spreps de modo possuem a mesma extensão, com duas palavras cada.
Partimos do pressuposto de que na sequenciação de dois Spreps locativos, temporais ou
de modo, os mais extensos seguem os menos extensos. Na tabela 15, encontram-se os resultados
para a sequenciação de circunstanciais na margem direita da oração.
Tabela 15: Circunstanciais na margem direita e extensãoExtensão LL TT MM
1º > 2º 9/40 = 22,5% 1/6 = 16,66% 0/4 = 0%1º < 2º 12/40 = 30% 5/6 = 83,33% 2/4 = 50%1º = 2º 19/40 = 47,5% 0/6 = 0% 2/4 = 50%Total 40 6 4
Observamos que, quando os locativos são de extensão distinta, confirma-se o princípio de
peso final, ou seja, o segundo locativo é mais extenso do que o primeiro (30%). No caso de dois
108
temporais, destaca-se a sequência em que o primeiro circunstancial é menos extenso do que o
segundo. Sendo assim, a grande maioria reflete a ação do princípio de peso final. Na
sequenciação de dois locativos, a maioria envolve casos em que os dois possuem a mesma
extensão (47,5%).
A sequência de dois circunstanciais de modo é muito escassa. A inexistência de casos de
sequenciação na forma de circunstancial de modo + extenso seguido de circunstancial de modo –
extenso é favorável a uma interpretação em termos de peso final.
Uma questão a considerar é se no caso em que os dois circunstanciais se posicionam na
margem esquerda da oração, pode-se observar a mesma forma de ordenação, como mostram os
resultados da tabela 16.40
Tabela 16: Circunstanciais na margem esquerda e extensão
Extensão LL TT1º > 2º 12/23 = 52,27% 2/4 = 50%1º < 2º 9/23 = 39,13% 2/4 = 50%1º = 2º 2/13 = 15,38% 0/4 = 0%Total 23 4
Os resultados da tabela 16 mostram tendências diferentes para os circunstanciais situados
na margem esquerda da oração. Atestamos que, nas sequências de dois locativos situados em ME,
os sintagmas preposicionais maiores precedem os menores (52,27%). Para os Spreps temporais, a
grande variabilidade impede a identificação de uma tendência mais clara. Tudo indica que, para a
margem esquerda da oração, o princípio de peso final é menos decisivo, fazendo-nos suspeitar
que, nessa periferia, a questão do papel especificador do segundo circunstancial tenha mais
importância do que seu peso. Confirma-se, então, a importância do princípio de peso final para a
ordenação de constituintes satélites em posição pós-verbal.
Na seção seguinte, retomaremos a questão do princípio final sob a perspectiva da
ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas.
40 Para os circunstanciais que se localizam na margem esquerda, não foram encontrados dados de MM, como mostra
a tabela 17.
109
6.2- Ordenação de circunstanciais de categorias semânticas distintas
A questão focalizada nesta seção envolve a co-ocorrência de circunstanciais de categoriais
semânticas distintas que, como mostram os exemplos de (81) a (89), podem se ordenar de forma
diferenciada:41
Tempo - lugar
(81) Em janeiro e fevereiro de 1985, dividi um apartamento com ele, em Havana,integrando a comissão julgadora do Prêmio Casa de las Américas. (JB – 3/6/2003- Opinião)
Lugar - tempo
(82) Infelizmente ele não está no país durante o carnaval; (O Globo – 4/10/2002 -Opinião)
Tempo-modo
(83) Ao final(do jogo), com aquele sotaque do Brás, (o ex-jogador Casagrande)concluiu. “O Brasil é o melhor... aliás, já nem sei se o Brasil é o melhor.” (Extra –17/01/2004 – Opinião)
Modo - tempo
(84) Antes, os jogadores se apresentariam sábado e ficariam à disposição deParreira até quarta-feira. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)
Lugar – modo
(85) Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentaistem sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade. (JB –02/06/2003 – Opinião)
Modo - lugar
(86) Acontece que está em jogo a sobrevivência de amplos setores produtivosoperando no Brasil, gerando empregos e renda nacional, os quais não vêm atuandomais agressivamente no mercado internacional ( O Globo – 21/10/2002 – Opinião)
Tempo – lugar - modo
(87) A seleção brasileira enfrentará o Paraguai, no próximo dia 31, em Assunção,praticamente sem treinar. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)
41 Os circunstanciais predicativos entraram como modo na nossa análise.
110
Modo – tempo - lugar
(88) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisamcomparecer com urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)
Modo – lugar - tempo
(89) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade noRio, no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)
A variação ilustrada acima tem sido explicado com referência a diferentes princípios: o
princípio de centralidade semântica, o princípio de coesão entre verbo e seus argumentos e o
princípio peso final. Com esta análise, procuramos mostrar que há evidências favoráveis a uma
ação mais ampla do princípio de peso final, embora não possa ser descartada a influência dos
aspectos sintáticos. Nas seções seguintes, discutimos cada um desses princípios e procuramos
verificar seu efeito sobre a variação sintagmática ilustrada de (81) a (89).
Antes de passarmos à discussão desses princípios, é interessante considerar a distribuição
das configurações sintagmáticas possíveis para dois ou mais Spreps de categorias semânticas
distintas.
Tabela 17: Distribuição de circunstanciais de categoria semântica distintapelas posições na oração
Configurações Tempo elugar
Tempo emodo
Lugar emodo
2 em ME 5 /81 =6,17%
1/10 =10%
1/18 =5,55%
2 em MD 31/81 =38,27%
6/10 =60%
14/18=77,77%
1 em ME e 1 em MD 35/81 =43,20%
1/10 =10%
1/18 =5,55%
1 entre suj. e V e 1 emMD
1/81 = 1,23% 0 = 0% 0 = 0%
1 entre V e O e 1 em ME 3/81= 3,70% 1/10 =10%
1/18 =5,55%
1 entre V e O e 1 em MD 4/81 = 4,93% 0 = 0% 1 /18 =5,55%
1 entre suj. e V e 1 emME
1/81 = 1,23% 1/10 =10%
0 = 0%
2 entre V e O 0 = 0% 0 = 0% 0 = 0%2 entre suj. e V 0 = 0% 0 = 0% 0 = 0%TOTAL 81 10 18
111
Observamos a predominância de sequências de circunstanciais TM e LM na margem
direita da oração. A sequenciação TL apresenta tendência diferenciada e mostra que os
circunstanciais se distribuem pelas duas margens da oração, embora haja, também, alto índice na
margem direita (38,27%). Se por um lado a tendência de circunstanciais na margem direita é
confirmada, por outro, há grande variabilidade entre as duas margens quando se trata da
sequenciação TL. Olhando para os dados, encontramos que, nessa sequência TL, a maioria dos
temporais estão em ME e a maioria dos locativos, em MD.
6.2.1 Ordenação e centralidade semântica
Nesta seção, é focalizada a sequenciação de Spreps de categoria semântica distinta, quais
sejam, tempo, lugar e modo sob a perspectiva de aspectos semânticos. Analisando dados do
inglês, Quirk et alii (1985) propõem, para as orações com circunstanciais de tempo, modo e lugar
um princípio segundo o qual a sequenciação é feita de acordo com a categoria semântica dos
circunstanciais, ou seja, modo-lugar- tempo (Princípio MPT). Tal proposta é baseada no
princípio de que estas categorias semânticas se distinguem no seu grau de centralidade em
relação ao estado de coisas descrito e se dispõem na forma de uma hierarquia. Segundo os
autores, a categoria de modo pode ser considerada mais central para os estados de coisas
descritos do que lugar, que, por sua vez, é mais central do que tempo.
A primeira objeção possível a esta proposta envolve sua relação com o tipo de língua no
que diz respeito à ordenação dos constituintes nucleares: ela só é válida, e universal na
perspectiva de Boisson (1981, apud Hawkins 2000), para línguas do tipo SV0, já que em línguas
do tipo OVS a ordenação dessas categoria seria tempo-lugar-modo.
Em muitos aspectos, a hipótese de centralidade semântica remete para o princípio de
iconicidade, tal como proposto, por exemplo, por Haiman (1985), Givón (2001) ou Bybee
(2012), como iconicidade diagramática. Em outros termos, essa hipótese pode ser traduzida em
uma hierarquia sintagmática em que categorias mais centrais ou conceptualmente ligadas ao
verbo são colocadas na sua adjacência e categorias menos centrais tendem a se distanciar do
núcleo verbal.
112
A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para
o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante
diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.
Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram
encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,
predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.
Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três
circunstanciais.
No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente
reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria
de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a
categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de
modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não
confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-
ocorrência de temporais e locativos.
Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de
acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com
76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.
A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-
ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:
42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%
24%
Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar
112
A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para
o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante
diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.
Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram
encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,
predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.
Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três
circunstanciais.
No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente
reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria
de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a
categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de
modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não
confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-
ocorrência de temporais e locativos.
Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de
acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com
76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.
A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-
ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:
42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%
76%
tempo-lugar
lugar-tempo
Gráfico 3: Sequência nas orações com tempo e lugar
112
A validade da hipótese de centralidade semântica já foi discutida por Hawkins (2000), para
o inglês e, Paiva (2012), para o português falado, a partir da identificação de tendências bastante
diferenciadas daquelas que são previstas pelo princípio MPT.
Antes de passar ao exame dos resultados encontrados, é necessário destacar que foram
encontradas apenas cinco orações em que os três tipos de circunstanciais co-ocorrem,
predominando orações em que se combinam circunstanciais de duas categorias semânticas.
Decidimos, então, partir da análise dessas orações, para, em seguida, considerar os casos de três
circunstanciais.
No que se refere às orações com dois circunstanciais, a hipótese foi ligeiramente
reformulada, nos seguintes termos: no caso de co-ocorrência de locativos e temporais, a categoria
de lugar precede a de tempo, no caso de co-ocorrência de circunstanciais de modo-tempo, a
categoria modo precede a de tempo e, no caso de ocorrência de modo e lugar, a categoria de
modo precede a de lugar (cf. PAIVA, 2008c, 2012). Nossos resultados, no entanto, não
confirmam inteiramente essas generalizações, como se pode ver no gráfico 3, relativo a co-
ocorrência de temporais e locativos.
Os resultados do gráfico 342 mostram que, diferentemente do que se poderia esperar de
acordo com uma hipótese de centralidade semântica, a ordenação tempo-lugar predomina com
76% de ocorrência sobre os 24% da sequência lugar-tempo.
A distribuição das formas de sequenciação se altera um pouco quando consideramos a co-
ocorrência entre tempo e modo, como mostra o gráfico 443:
42 Tempo-lugar: 47/62 = 76%; lugar-tempo: 15/62 = 24%43 Tempo-modo: 5/9 = 55%; modo-tempo: 4/9 = 45%
113
Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com
55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma
semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais
uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.
Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a
uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.
De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos
dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.
Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao
verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.
44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%
45%
Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo
30%
Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo
113
Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com
55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma
semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais
uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.
Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a
uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.
De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos
dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.
Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao
verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.
44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%
55% tempo-modo
modo-tempo
Gráfico 4: Sequência nas orações com tempo e modo
70%
modo-lugar
lugar-modo
Gráfico 5: Sequência nas orações com lugar e modo
113
Podemos atestar grande variabilidade na sequenciação das categorias tempo e modo, com
55% para tempo-modo e 45% para modo-tempo. Apesar dessa flexibilidade, observa-se, de forma
semelhante ao que se verifica no gráfico 3, a precedência da categoria tempo, contrariando mais
uma vez o pressuposto de ordenação de acordo com a centralidade semântica do circunstancial.
Apenas para a co-ocorrência entre lugar e modo, há evidências estatísticas favoráveis a
uma sequenciação icônica, como mostra o gráfico 5.
De acordo com a distribuição do gráfico 544, a ordenação modo-lugar, com 70% dos
dados, predomina sobre a sequenciação lugar-modo que corresponde a apenas 30% dos dados.
Quando entram em jogo duas categorias semânticas consideradas mais estreitamente ligadas ao
verbo, a que é considerada mais central precede aquela que é considerada menos central.
44 Modo-lugar: 12/17 = 70%; lugar-modo: 5/17 = 30%
114
As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na
amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos
de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo
e de modo.
Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as
posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece
alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da
disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes
argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).
Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser
fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com
verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com
temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do
gráfico 6.
O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação
tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).
Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais
adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.
Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português
escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar
(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se
Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais
114
As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na
amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos
de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo
e de modo.
Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as
posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece
alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da
disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes
argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).
Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser
fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com
verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com
temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do
gráfico 6.
O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação
tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).
Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais
adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.
Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português
escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar
(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se
80%
20%
Tempo-lugar
Lugar-tempo
Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais
114
As hipóteses colocadas não se confirmam inteiramente para o português, pelo menos na
amostra de textos jornalísticos analisada. A categoria de tempo tende a preceder os outros tipos
de circunstanciais. Ao contrário, os locativos ocorrem preferencialmente após os Spreps de tempo
e de modo.
Uma questão a considerar é que os resultados dos gráficos 3, 4 e 5 envolvem todas as
posições analisadas em 6.1 (as duas margens da oração e as posições internas), o que obscurece
alguns aspectos, visto que a hipótese MPT está relacionada a um outro pressuposto acerca da
disposição sintagmática dos constituintes na frase: o pressuposto de que constituintes
argumentais precedem constituintes não argumentais (CUNHA, 1975, QUIRK et alii, 1985).
Evidências mais seguras acerca da importância do princípio de centralidade semântica podem ser
fornecidas principalmente pelos circunstanciais em posição pós-verbal, tanto em orações com
verbos transitivos como em orações com verbos intransitivos. Concentrando-nos nas orações com
temporais e locativos, que correspondem à maioria dos dados, consideremos os resultados do
gráfico 6.
O gráfico 6 reproduz a distribuição já atestada no gráfico 3, ou seja, a sequenciação
tempo-lugar é significativamente mais frequente (80%) do que a ordenação lugar-tempo (20%).
Esses resultados reforçam as evidências de que o princípio MPT não é a explicação mais
adequada para a forma de sequenciação de categorias circunstanciais distintas.
Os resultados acima confirmam a tendência verificada por Paiva (2008c) para o português
escrito, inclusive com índices muito próximos aos encontrados neste estudo: tempo-lugar
(74,44%).Há evidências, ainda, de que essa tendência é independente da modalidade, se
Tempo-lugar
Lugar-tempo
Gráfico 6: Sequência de tempo e lugar nas posições pós-verbais
115
considerarmos que Paiva (2012) encontra distribuição similar para dados de fala semi-
espontânea.
É possível, porém, que diferenças intra-linguísticas estejam envolvidas na forma de
ordenação de classes semânticas distintas, se considerarmos que Hawkins (2000) encontrou em
uma amostra de 500 páginas e em uma de 100 páginas de inglês escrito, respectivamente, 64% e
66% da sequência lugar-tempo, 67% e 60% de modo-tempo e 28% e 38% de modo-lugar.
As ocorrências escassas de circunstanciais de tempo e de modo ou de modo e lugar em
posição pós-verbal dificulta uma análise quantitativa. Uma análise das poucas ocorrências
encontradas reforça, no entanto, as tendências já destacadas.
Mais raras ainda são, como já dissemos, as ocorrências das três classes semânticas de
circunstanciais na mesma oração. Uma análise mais detida dos exemplos encontrados mostra,
porém, que também nesses casos é possível encontrar variação na forma de sequenciação.
Embora possam ser encontrados exemplos como (89), aqui retomado como 90, que corresponde à
sequenciação prevista pelo princípio MPT
(90) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade no Rio,no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)
podem ser encontradas também ocorrências na ordem modo-tempo-lugar, como no exemplo (88),
aqui retomado como 91:
(91) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisam comparecercom urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)
Na maioria dos casos observa-se, no entanto, a sequenciação tempo-lugar-modo, como no
exemplo (87) aqui retomado como 92:
(92) A seleção brasileira enfrentará o Paraguai, no próximo dia 31, em Assunção,praticamente sem treinar. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)
As evidências contrárias a uma forma de ordenação de acordo com a centralidade
semântica contradizem, inclusive, o princípio funcionalista de iconicidade. Discutimos, a seguir,
outros princípios funcionais que, a nosso ver, impõem restrições mais claras sobre a sequenciação
de circunstanciais.
116
6.2.2- Relações de dependência sintática
Como já adiantamos no início deste capítulo, restrições ligadas à dependência entre o
circunstancial e o verbo ao qual se liga podem operar sobre a forma de encadeamento dos
circunstanciais de categoria semântica distinta. Essa dependência pode ser traduzida no que
Tomlin (1986) denomina princípio de coesão e Givón (1995, 2001) propõe como princípio de
integração: simplificadamente podemos dizer que conteúdos mais agregados cognitivamente,
tendem a ser sintaticamente mais ligados e, sintagmaticamente, adjacentes.
Nesta seção, focalizamos este princípio, considerando os resultados para dois grupos de
fatores: o tipo sintático do verbo e a função sintática do circunstancial.
Partimos da hipótese de que, no caso de se seguirem dois ou mais constituintes
circunstanciais na mesma oração, manterá maior proximidade com o verbo aquele que integrar
sua grade argumental.
Os resultados para o tipo sintático do verbo fornecem pouca evidência para um princípio
ligado à dependência semântica, como mostram os resultados da tabela 18 relativos aos dados de
tempo e lugar.
Tabela 18: Sequências de tempo e lugare tipo sintático do verbo
Tipo verbal TL LTVerbo intransitivo 15/17 = 88% 2/17 = 12%Verbo transitivo com objetorealizado
40/50 = 80% 10/50 = 20%
Verbo de ligação 8/11 = 72% 3/11 = 28%Verbo transitivo sem objetorealizado
2/3 = 66% 1/3 = 34%
Independentemente do tipo sintático de verbo, a tendência já verificada na seção anterior
de que os temporais precedem os locativos se mantém. Há, no entanto, uma pequena queda nos
verbos de ligação, o que se explica como consequência do fato de que a maioria dos verbos
incluídos nesta categoria, principalmente o verbo continuar, apresenta o traço [+ locativo].
Nesse caso, a estreita dependência semântica entre o verbo e o locativo cria um contexto
favorável à atuação do princípio de integração.
Mantendo cautela em função do número muito baixo de dados, podemos observar
situação similar quando está envolvida a categoria modo, como se atesta na tabela 19.
117
Tabela 19: Sequências de tempo e modo e tiposintático do verbo
Tipo verbal TM MTVerbo intransitivo 2/3 = 66% 1/3 = 34%Verbo transitivo comobjeto realizado
1/2 = 50% 1/2 = 50%
Verbo de ligação 0/0 = 0% 1/1 = 100%Verbo transitivo semobjeto realizado
2/3 = 66% 1/3 = 34%
A tendência de que o circunstancial de tempo ocupe a posição mais próxima do verbo se
mantém, independentemente do tipo sintático do verbo com que está ligado. Pode-se notar, no
entanto, que essa tendência é mais expressiva com os verbos transitivos, independentemente de o
objeto direto ser realizado foneticamente ou como categoria vazia (66%).
De acordo com o resultados da tabela 20, também para a combinação lugar e modo, pode-
se constatar uma certa independência entre a forma de sequenciação dos dois circunstanciais e o
tipo sintático de verbo.
Tabela 20: Sequências de lugar e modo e tiposintático do verbo
Tipo verbal ML LMVerbo intransitivo 4/5 = 80% 1/5 = 20%Verbo transitivo comobjeto realizado
6/9 = 66% 3/9 = 34%
Verbo de ligação 2/3 = 66% 1/3 = 34%
Como já foi atestado na seção anterior, observa-se maior proximidade da categoria de
modo em relação ao verbo para todos os tipos sintáticos de verbos considerados.
Um aspecto importante fica obscurecido na análise acima, qual seja, a função sintática do
circunstancial. Em alguns casos, um dos circunstanciais presentes na oração pode ser exigido pela
estrutura argumental do verbo, como no exemplo (93)
(93) A polícia só chegou ao local do crime duas horas depois. (O Globo –06/03/2004 – Carta)
(94) O estrangeiro ouviu falar muito da famosa alegria de viver dos brasileiros.Infelizmente ele não está no país durante o carnaval; mas pode acompanhar acarreata de um candidato conhecido numa vila no interior - e vai ver cidadãos queovacionam o político, que o escoltam com as suas bicicletas, que brigam para
118
obter os bonés e camisetas que ele joga para todos os lados. (O Globo –04/10/2002 – Opinião)
No exemplo 93, o verbo chegar exige um complemento locativo e o Sprep ao local do
crime na sua adjacência garante maior coesão entre verbo e argumento. No exemplo 94, o Sprep
no país se localiza logo após o verbo estar, indicativo de posição, que possui igualmente o traço
[+locativo] e traz o circunstancial para junto de si.
Em outros casos, os dois circunstanciais presentes na oração possuem função adjunta ou –
argumental , como em (95)
(95) O primeiro teste foi uma a demonstração de força: os partidários da reformada Previdência - tal como defendida pelo presidente Lula - venceram de goleadana Comissão de Constituição e Justiça.(JB – 08/06/2003 – Editorial)
Este aspecto foi analisado considerando a função dos dois constituintes circunstanciais
presentes na oração: ambos [-argumental], ambos [+argumental] o primeiro deles [+argumental]
e o segundo [- argumental]. Podemos esperar que, independentemente da categoria semântica, a
terceira situação seja mais decisiva para a forma de sequenciação de dois ou mais circunstanciais
na mesma oração, com maior adjacência ao verbo do circunstancial [+ argumental].
Considerando, primeiramente, as orações com locativos e temporais, cujos resultados são
mostrados na tabela 21, podemos concluir por uma fraca correlação entre a função do
circunstancial e sua posição.
Tabela 21: Sequências de tempo e lugar e funçãosintática do circunstancial
Função TL LTCirc circ 38/45 = 84,44% 7/45 = 15,55%Circ Arg 12/14 = 85,71% 2/14 = 14, 28%Arg Circ 0/0 = 0% 6/6 = 100%
Em orações nas quais os dois Spreps sejam [-argumental], mantém-se a tendência mais
geral de que os temporais precedam os locativos (84,44%). No entanto, podemos considerar que
essa tendência é, pelo menos em parte, independente da função do circunstancial, pois essa forma
de sequenciação é predominante (85,71%), mesmo quando o locativo é argumental, como é o
caso do exemplo (96):
(96) Um fiel leitor, dizendo-se morador do Estácio e chamar Paulo, me ligou paradizer que eu fui rude com os camelôs de cervejas que estavam, domingo último,
119
na Marquês de Sapucaí, por ocasião dos ensaios técnicos de Mangueira e ImpérioSerrano. (Povo – 15/01/2004 – Crônica)
A única evidência favorável a um princípio de dependência sintática é fornecida pelo caso
em que o primeiro deles é argumental, situação encontrada apenas para os locativos: observa-se
categoricamente a ordenação relativa lugar-tempo, como no exemplo (97):
(97) Os moradores estão muito preocupados e se sentem inseguros ao chegar emcasa à noite. (Extra – 05/01/2004 – Carta)
A distribuição da tabela 21 confirma a ligação mais estreita entre locativos e o verbo, o
que pode ser explicado com uma consequência do fato de que muitos verbos como os que
indicam posição no espaço possuem um traço [+ locativo] inerente. Neste caso, aplica-se o
mesmo princípio que rege a proximidade entre um verbo e seu complemento, ou seja, o princípio
de integração, mantendo-se o locativo na adjacência do verbo. Entretanto, observa-se que tal
restrição pode ser infringida, resultando em sequenciações que, segundo as indicações, são
reguladas por outros princípios. Portanto, um princípio de integração ou de coesão não consegue
explicar inteiramente a sequenciação variável de circunstanciais locativos e temporais.
Uma análise mais focalizada nas sequências de tempo e lugar em posição pós-verbal,
torna ainda mais evidente a precedência do Sprep temporal em relação ao Sprep locativo, como
mostra a tabela 22.
Tabela 22: Sequências de tempo e lugar em posição pós-verbale função sintática do circunstancial
Função TL LTCirc circ 22/25 = 88% 3/25 = 12%Circ Arg 10/11 = 90% 1/11 = 10%
Em orações nas quais os dois Spreps circunstanciais seguem o núcleo verbal ao qual se
ligam, os índices de anteposição do temporal ao locativo se tornam quase categóricos, com 88%,
quando ambos são [-argumental] e 90%, quando o primeiro é circunstancial e o segundo é [ +
argumental]. Mais uma vez os resultados corroboram a predominância da sequência TL,
independentemente da função dos circunstanciais, sugerindo que outros princípios têm de ser
considerados, pelo menos nos casos em que está envolvida a classe dos temporais. Hawkins
(2000) argumenta que a dependência léxico-semântica entre verbo e complemento só ocorre
quando processamentos como o peso final são mais fracos.
120
Ao que tudo indica, a tendência de ordenação tempo-lugar é independente da modalidade
considerada. Paiva (2012) atestou a predominância dessa sequenciação também na fala,
mostrando, ainda, que um efeito de dependência sintática é mais visível nos locativos:
circunstanciais locativos [+ argumentais] tendem a anteceder os temporais.
Os resultados para a sequenciação de tempo e modo apontam tendências semelhantes às
depreendidas para tempo e lugar, como mostra a tabela 23.
Tabela 23: Sequências de tempo e modo e funçãosintática do circunstancial
Função TM MTCirc circ 4/7 = 57% 3/7 = 42%Arg Circ 0/0 = 0% 1/1 = 100%
Confirma-se a tendência de os Sprep temporais antecederem os Spreps de modo quando
ambos realizam função circunstancial. A sequência modo-tempo prevalece quando os
constituintes de modo são argumentais, o que é favorável a uma hipótese de dependência
semântica. No entanto, a quase total inexistência de dados na forma de argumental- circunstancial
(apenas 1 ocorrência) dificulta uma conclusão mais definitiva.
Os resultados da tabela 24 indicam que há um efeito mais expressivo das relações de
dependência sintática para a sequenciação de modo e lugar
Tabela 24: Sequências de lugar e modo e funçãosintática do circunstancial
Função ML LMCirc circ 7/9 = 77% 2/9 = 23%Arg Circ 1/2 = 50% 1/2 = 50%Cir Arg 2/2 = 100% 0/0 = 0%Arg Arg 1/2 = 50% 1/2 = 50%
A sequência modo-lugar prevalece quando os dois constituintes são circunstanciais (77%)
e, principalmente quando o Sprep de modo é circunstancial e o de lugar é argumental. Embora a
escassez de dados não autorize uma conclusão, nos casos em que os dois Spreps são argumentais,
ou que o primeiro da sequência é argumental, pode se instanciar uma ou outra forma de
ordenação.
121
Observamos que prevalecem as ordenações LT e MT somente quando lugar e modo são
argumentos do verbo e o temporal é circunstancial. Além disso, há indicações de que os Spreps
de tempo tendem a se manter na adjacência do verbo, o que permite concluir que a evidência
para a ação de um princípio que envolve relações de dependência sintática é bastante limitado.
6.2.3- Ordenação e peso do circunstancial
Na seção 1 deste capítulo, já pudemos constatar a relevância do denominado princípio
peso final (end weight), na ordenação de circunstanciais de dois ou mais circunstanciais da
mesma classe semântica. Nesta seção, discutimos em que medida a previsão de que os
constituintes maiores tendem a se situar na posição final da oração e a serem precedidos por
constituintes menores (Quirk et alii, 1985, Wasow, 1997, 2002, Lohse et alii 2003) pode explicar
o que já constatamos na seção anterior, ou seja, a precedência do Sprep temporal em relação ao
Sprep locativo.
Como já foi especificado, neste estudo mensuramos extensão em termos do número de
palavras que constitui o circunstancial. Para a análise da sequenciação relativa, no entanto, foi
considerada, no entanto, a extensão de um circunstancial em relação ao outro que com ele co-
ocorre. Dessa forma, foram consideradas as seguintes possibilidades:
a- tempo > lugar
(98)vai estar o novo técnico do time, o ex -zagueiro Ricardo Gomes, que foi ídolonas Laranjeiras na década de 80. (JB – 06/03/2004 – Notícia)
b- lugar > tempo
(99) O sol saiu pela manhã em Juiz de Fora, o Flu treinou coletivo, mas os trêsveteranos ficaram de fora.(Extra – 16/01/2004 – Opinião)
c- tempo = lugar
(100) Relembrar a cena que encontramos na escola, semana passada, étraumatizante. (JB – 17/09/2002 – Notícia)
d- modo > tempo
(101) Antes, os jogadores se apresentariam sábado e ficariam à disposição deParreira até quarta-feira. (O Globo – 04/03/2004 – Notícia)
122
e- tempo > modo
(102) Mesmo que o dólar continue em baixa (ele afeta cerca de 25% do total dadívida) o índice não melhorará substancialmente no ano que vem. ( O Globo –03/11/2003 – Editorial)
f- modo = tempo
(103)Mas, o goleiro do Cruzeiro operou milagres, o maior deles num chute queum tal de Encizo desferiu cara a cara no primeiro tempo. (Extra – 19/01/2004 –Opinião)
g- lugar > modo
(104) Vimos o choque do segundo avião, na torre sul, ao vivo. (O Globo –11/09/2002 – Crônica)
h- modo > lugar
(105) Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentaistem sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade,(...). (JB– 02/06/2003 – Opinião)
i- modo = lugar
(106) Com o noticiário sobre a violência no estado, ela desembarcou no Galeãomuito apreensiva. (O Globo – 25/10/2002 – Opinião)
De acordo com a hipótese mais natural, esperamos que a sequenciação se faça no sentido
do menor para o maior, independentemente da categoria semântica, podendo haver maior
variação quando eles possuem a mesma extensão. Os resultados da tabela 25, relativos à co-
ocorrência de Spreps de tempo e lugar, confirmam apenas parcialmente esta hipótese.
Tabela 25: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde tempo e lugarLugar-Tempo Tempo-Lugar
Lugar>Tempo 1/24 = 5% 23/24 = 95%Tempo>Lugar 11/28 = 40% 17/28 = 60%Tempo = Lugar 3/10 = 30% 7/10 = 70%
As evidências da tabela 25 sugerem maior importância do peso dos locativos do que dos
temporais. Os Spreps circunstanciais de lugar tendem a ocorrer após os temporais quando são
123
mais extensos (95%), e a sequenciação lugar-tempo se reduz drasticamente. Para os Spreps
temporais, por sua vez, a distribuição das frequências é menos decisiva: contradizendo a hipótese
colocada, mesmo temporais mais extensos tendem a preceder o locativo (60%) e o índice de
lugar-tempo é significativamente mais baixo (40%). Também diferentemente do que se esperava,
se os constituintes forem de igual extensão, predomina a sequenciação tempo-lugar (70%), com
menor chance de lugar-tempo (30%).
Considerando apenas os dados em que os dois Spreps se situam em posição pós-verbal,
confirma-se a tendência verificada acima, como mostra a tabela 26.
Tabela 26: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde tempo e lugarLugar-Tempo Tempo-Lugar
Lugar>Tempo 1/16 = 7% 15/16 = 93%Tempo>Lugar 7/21 = 34% 14/21 = 66%Tempo = Lugar 2/5 = 40% 3/5 = 60%
Os resultados da tabela 26 confirmam a preferência dos locativos mais extensos pela
margem direita da oração, com percentual de 93% da ordenação tempo-lugar, mostrando mais
uma vez a influência do peso na ordenação desses constituintes. Confirma-se que os temporais
precedem os locativos mesmo quando estes são mais extensos (66%).
Os resultados para tempo e modo se ajustam de forma mais clara às expectativas, como
mostra a tabela 27.
Tabela 27: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde modo e tempo
Tempo-Modo Modo-TempoTempo>Modo 2/5 = 40% 3/5 = 60%Modo>Tempo 2/3 = 66% 1/3 = 34%
Constata-se que os circunstanciais de modo mais extensos se colocam após o Sprep
temporal que o acompanha (66%). No caso de o circunstancial de tempo ser o constituinte de
maior extensão, instancia-se, ao contrário, a sequenciação tempo-modo, ou seja, maior
proximidade do circunstancial de modo em relação ao verbo (60%). As tendências observadas
confirmam então a expectativa de que constituintes menos extensos, mais leves, precedem
constituintes maiores e mais pesados. Uma análise mais detida dos dados permite verificar, ainda,
124
que a maior parte dos dados de tempo e modo diz respeito à margem direita da oração,
comprovando, assim, o princípio de peso final.
Os resultados para modo e lugar mostram que o constituinte maior fica mais à direita do
que o constituinte com quem co-ocorre, como pode ser visto na tabela 28.
Tabela 28: Extensão e co-ocorrência de circunstanciaisde modo e lugar
Lugar-Modo Modo-LugarLugar>Modo 1/10 = 10% 9/10 = 90%Modo>Lugar 2/3 = 66% 1/3 = 34%Modo = Lugar 1/2 = 50% 1/2 = 50%
Se os circunstanciais de modo forem maiores, eles predominam na sequência lugar-modo,
com 66% dos casos. Por outro lado, se o Sprep locativo for mais extenso, há predominância da
ordenação modo-lugar (90%).
Nas orações em que co-ocorrem Spreps das três categorias semânticas, é possível que
outros aspectos intervenham, pois podem ser encontrados exemplos como (89), aqui retomado
como (107)
(107) Soraya reconheceu que o processo eleitoral transcorreu com normalidade noRio, no primeiro turno. (O Globo – 18/10/2002 – Notícia)
No exemplo (106), observa-se uma sequenciação conforme ao previsto pelo princípio
Modo-lugar-tempo (MPT). No entanto, também um princípio ligado a extensão parece atuar: o
circunstancial de modo (com normalidade) possui a mesma extensão que o de lugar (no Rio) e o
de tempo (no primeiro turno), mais extenso do que os outros ocupa a margem direita da oração.
No entanto, em um exemplo como (88), aqui renumerado como (108),
(108) Convite, aliás, dirigido aos torcedores do Flamengo, que precisamcomparecer com urgência hoje de manhã à Gávea.(Extra – 10/01/2004 – Opinião)
verifica-se que o circunstancial de tempo, mais extenso, precede o de lugar que é menos extenso.
Dada a escassez de dados de orações com três circunstanciais, fica difícil concluir a respeito da
atuação do princípio de peso final nesta situação.
As correlações identificadas neste estudo diferem em alguns pontos das que foram
depreendidas por Hawkins (2000), para o inglês e, Paiva (2008c, 2012), para o português escrito
e falado. Hawkins (op. Cit.) conclui que a hipótese MTP é fracamente comprovada por
125
evidência empírica e que a generalização do peso final é a mais adequada. Para o português,
Paiva (2008c, 2012) mostra que o princípio do peso final é a generalização mais adequada para
explicar a variação na posição de Spreps circunstanciais de categorias semânticas distintas,
particularmente dos que se situam em posição pós-verbal. Dessa forma, constituintes menores e
menos complexas tendem a anteceder constituintes maiores e mais complexas, ou seja,
constituintes circunstanciais mais pesados se localizam preferencialmente na periferia direita da
oração.
Considerando a ação dos três princípios focalizados (centralidade semântica, dependência
sintática e peso final), há sugestão de que há , na sequenciação de dois circunstanciais de
categorias semânticas distintas, uma espécie de hierarquia de restrições. As restrições mais fortes
derivam do princípio que prevê ordenação de acordo com a extensão. Em se neutralizando esse
fator, passa a operar o princípio ligado às relações de dependência sintática. Por fim, operam
restrições ligadas à centralidade da noção circunstancial introduzida pelo Sprep.
126
7- CONCLUSÕES
Concluída a análise tal como foi proposta na introdução a este trabalho, fazemos, neste
capítulo, uma síntese das principais tendências depreendidas em relação à ordem dos
circunstanciais temporais e locativos na modalidade escrita do português contemporâneo. Antes
de mais nada, podemos dizer que a conjugação de duas etapas, a variação na posição dos
sintagmas preposicionais circunstanciais e a sequenciação de dois ou mais circunstanciais,
permitiu fornecer uma visão mais integrada de diversos aspectos relacionados à variação na
ordem destes constituintes. Além disso, ao tomar como foco as posições periféricas da oração,
conseguimos depreender, de forma mais controlada, os fatores e princípios que operam sobre as
posições preferenciais destes constituintes satélite.
No que se refere a um único circunstancial, buscamos, principalmente, identificar as
particularidades dos circunstanciais posicionais nas margens da oração e a existência de uma
ordem não marcada independente da categoria semântica do circunstancial. Procuramos, também,
identificar explicações mais gerais para o posicionamento desses constituintes nas periferias. A
análise permitiu obter algumas respostas. Numa análise em termos binários, confirmamos o que
já mostraram diversos outros estudos, ou seja, que a ordem não marcada para os locativos é a
margem direita da oração. No caso dos temporais, atestamos grande variabilidade desses
constituintes entre as duas margens. Considerando as diversas posições possíveis dos SPreps
circunstanciais, depreende-se uma hierarquia diferenciada em relação à categoria semântica do
circunstancial: para os locativos, manifesta-se, claramente uma hierarquia na forma de margem
direita > margem esquerda > posições internas; para os temporais, margem esquerda/margem
direita > posições internas. Esses resultados comprovam a maior restrição a SPreps
circunstanciais em posições internas, principalmente as que envolvem possibilidade de ruptura
entre o verbo e seus argumentos e reforçam a nossa opção de focalizar a análise nas periferias
oracionais.
Uma hipótese central deste estudo era a de que a ordem não marcada dos circunstanciais
corresponde a uma ordem pragmaticamente não marcada. Para verificar a validade desta
hipótese, procuramos dar conta das múltiplas dimensões que influenciam a posição dos SPreps
temporais e locativos. A análise permitiu mostrar o efeito de fatores do nível sintático, semântico,
discursivo-funcional e, ainda, a importância da variável gênero discursivo.
127
No nível sintático, atestamos a maior influência na ordenação de Spreps temporais e
locativos refere-se ao tipo de sujeito que ocorre na oração. Ressaltamos a necessidade de analisar,
separadamente, sujeitos nulos de 1ª e 2ª pessoa em relação aos de 3ª pessoa, dada a diferença de
padrões de ordenação entre eles. Apesar de os resultados mostrarem menos ocorrência de Spreps
temporais em ME em ambos os casos, os sujeitos nulos de 3ª pessoa são os que mais
desfavorecem Spreps circunstanciais nessa posição. Os resultados para os locativos mostram
maior ocorrência de constituintes em orações com sujeitos desinenciais em ME, mas seguem a
mesma tendência dos temporais em relação ao sujeito nulo de 3ª pessoa. Uma explicação
funcional para Spreps de tempo e lugar ocuparem preferencialmente a MD em orações com
sujeito nulo de 3ª pessoa pode estar na tendência a manter a continuidade referencial, não
interpondo elementos entre um sujeito anafórico e o seu antecedente. Spreps em MD, nesse caso,
contribuem para garantir a recuperabilidade do referente do sujeito. Nos nossos resultados as
correlações depreendidas entre tipo de sujeito, principalmente sujeitos nulos de 3ª pessoa e
posição dos Spreps temporais e locativos contradizem uma hipótese mais geral em relação a
evitar o verbo em posição inicial, ou seja, não deixar a periferia esquerda da oração vazia. Essa
hipótese se confirma, no entanto, em orações com sujeitos pospostos. Nesse caso, observa-se uma
relação entre VS e um Sprep na margem esquerda da oração. Essas diferenças indicam que a
posição do sujeito parece ser mais relevante do que a variação entre preenchimento ou não
preenchimento da posição de sujeito. Neste sentido, este trabalho traz uma contribuição
importante ao mostrar que a correlação entre a posição do sujeito e dos circunstanciais é mais
complexa, pois requer distinguir sujeitos nulos desinencialmente recuperáveis e aqueles que são
de fato anafóricos. Uma explicação para esta correlação não pode se limitar, portanto, à questão
da tendência do português brasileiro ao preenchimento da posição do sujeito.
No nível semântico, distinções no significado inerente dos circunstanciais se mostraram
mais eficazes para os locativos. Os direcionais são mais ligados ao próprio significado do verbo e
se localizam, predominantemente, na margem direita da oração. Os que indicam posição fixa e
espaço metaforizado contrariam nossas hipóteses e tendem a ocupar a ME e MD,
respectivamente. Para os temporais, particularizam-se os durativos, que ocupam
preferencialmente a periferia direita da oração, o que pode ser explicado pelo fato de que estes
circunstanciais possuem forte valor aspectual e tendem a ficar perto do verbo.
128
A hipótese de estreita correlação entre posição e função discursiva dos constituintes
circunstanciais é confirmada na análise do contexto mais amplo em que estes constituintes
ocorrem. A análise evidenciou que essas correlações são relevantes, principalmente para os
locativos. Como vimos, esses Spreps, cuja posição default é a MD, são favorecidos em ME, em
contextos discursivos mais específicos, ou seja, quando possuem funções como contraste,
focalização ou de segmentação tópica. A menor transparência das correlações entre a posição
dos temporais e funções discursivas, por sua vez, parece decorrer do fato de que há uma forte
associação entre este tipo de circunstancial e funções que estão mais diretamente associadas à
margem esquerda da oração. De alguma forma, poderíamos dizer que estas funções são inerentes
aos temporais e que sua posição na oração é definida por essas funções. Para Spreps locativos,
que tendem a infringir sua ordem não marcada, fica evidente que, nesses contextos, esses
constituintes desempenham funções pragmaticamente mais marcadas e tendem a instanciar uma
ordem mais marcada. Para os Spreps temporais, é difícil fazer tal generalização, uma vez que, ao
que tudo indica, algumas dessas funções, como a de introduzir um enquadre no qual podem ser
inseridos diversos estados de coisas, parecem ser inerentes a estes constituintes. Embora
tenhamos usado a frequência como critério independente, o que permite obter algumas
generalizações, principalmente sobre a posição dos SPreps locativos, pudemos mostrar, também,
que há uma estreita correlação entre a posição de um circunstancial e as funções que ele
desempenha predominantemente, como se pôde constatar para os temporais.
As diferenças de distribuição textual das posições periféricas puderam ser observadas nas
correlações encontradas entre a ordem dos circunstanciais locativos e temporais e a variável
gênero. As maiores regularidades encontradas para Spreps de tempo e de lugar e gênero dizem
respeito às cartas de leitores: neste gênero, as duas categorias de circunstanciais se localizam,
preferencialmente, em ME. Esses resultados refletem propriedades funcionais do gênero carta:
circunstanciais nessa posição ampliam seu escopo de atuação e fazem ligações com o discurso
precedente.
Gêneros como as notícias, artigos de opinião e editoriais são os que mais favorecem
temporais e locativos na margem direita da oração, embora com índices diferentes. Além de
propriedades semânticas, mostramos que propriedades funcionais dos Spreps influenciam a
correlação entre gênero e posição. Assim, o elevado número de Spreps na periferia direita da
oração nas notícias reflete a predominância desse gênero de circunstanciais com função
129
predicativa, o que, como vimos, tende a favorecer a margem direita da oração. Destacamos,
ainda, a impossibilidade de considerar ordem não marcada no geral, devido à própria categoria do
circunstancial.
Em relação à sequenciação de mais de um circunstancial na mesma oração, buscamos
verificar se a ordem não marcada dos circunstanciais poderia ser alterada em contextos de co-
habitação desses constituintes entre si e com outros de categoria semântica distinta. Para esses
últimos, interessava-nos verificar a ação de diferentes princípios sobre uma forma de
sequenciação preferencial desses constituintes. Pudemos responder algumas dessas questões,
como discutimos a seguir. A análise permitiu, antes de mais nada, comprovar a preferência de
circunstanciais pelas margens da oração em detrimento das posições internas, embora com
magnitude diferente, a depender da categoria semântica do SPrep. A hipótese de ocupação da
margem direita por circunstanciais que co-ocorrem na mesma oração se confirmou,
principalmente, para constituintes locativos e de modo. Para os temporais, confirma-se maior
flexibilidade entre as duas posições marginais.
A análise da sequenciação de circunstanciais de categorias semânticas distintas, com a
inclusão de SPreps de modo, visava a verificar a ação de três princípios: princípio de centralidade
semântica, princípio de dependência sintática e princípio de peso final.
Avaliamos a importância do princípio de centralidade semântica, segundo o qual a
disposição sintagmática de circunstanciais de modo, tempo e lugar é feita em sequência na oração
de acordo com a centralidade dessas categorias para os estados de coisas descritos, resultando,
portanto, na ordenação modo-lugar-tempo. As distribuições encontradas mostraram acentuada
variabilidade e contrariam a hipótese de centralidade, na medida em que a forma de sequenciação
mais produtiva nos nossos dados, envolve a proximidade do SPrep temporal, categoria menos
central, na proximidade do verbo. Em orações com circunstanciais temporais e locativos,
constatamos que os temporais tendem a preceder os locativos, com predominância de sequencias
TL, e menor recorrência de LT. Em orações com circunstanciais de tempo e de modo, apesar de
haver grande variabilidade desses constituintes, predomina a sequenciação TM. Apenas em
orações com lugar e modo, são depreendidas evidências favoráveis a uma hipótese Modo-lugar-
tempo, com predominância da sequenciação ML.
O princípio de dependência sintática, que remonta ao princípio de integração (Cf, GIVÓN
1995, 2001), segundo o qual conteúdos cognitivamente mais ligados, são também sintaticamente
130
mais adjacentes, foi confirmado apenas em contextos particulares, como na sequenciação lugar-
tempo, em que os locativos são argumentos do verbo, ou na sequenciação modo-lugar, em que os
circunstanciais de modo possuam função argumental.
O princípio de peso final foi o que se mostrou mais relevante para a forma de
sequenciação de dois ou mais circunstanciais na mesma oração. Constituintes mais extensos
tendem a seguir os menos extensos e a se localizarem na periferia direita da oração. Essa
tendência se verifica para as categorias de tempo e modo: circunstanciais de modo maiores
ocorrem na sequência TM, se o circunstancial de modo é menos extenso prevalece a
sequenciação MT. O mesmo foi verificado para sequências de modo e lugar: em orações nas
quais o locativo é menos extenso, predomina a ordem modo-lugar; em orações nas quais o de
modo é mais extenso, predomina lugar-modo. No entanto, para tempo e lugar, o SPrep locativo
ocorre após o temporal, independentemente da sua extensão e deixa transparecer seu
posicionamento mais natural.
A ação dos princípios de centralidade semântica, de dependência sintática e de peso final
se complementam e atuam sobre a coocorrência de circunstanciais de forma hierárquica: maiores
restrições se devem ao princípio de peso final, seguido do de dependência sintática e, por último,
do princípio de centralidade semântica.
Esperamos que, em nossa análise de ordenação de circunstanciais de tempo e lugar e de
co-habitação desses constituintes com outros circunstanciais, nossos resultados possam contribuir
para os estudos linguísticos, sobretudo os de ordenação de constituintes. Inevitavelmente,
algumas questões ficaram por responder e seria necessário um estudo debruçado em outras
amostras a fim de testar as generalizações apontadas neste estudo.
131
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