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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA ENFRENTANDO O ESTRESSE: UM ESTUDO COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICO EM MACACOS-PREGO (SAPAJUS LIBIDINOSUS) CATIVOS VITOR HUGO BESSA FERREIRA NATAL/ RN – BRASIL MARÇO/2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

ENFRENTANDO O ESTRESSE: UM ESTUDO COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICO EM MACACOS-PREGO (SAPAJUS LIBIDINOSUS) CATIVOS

VITOR HUGO BESSA FERREIRA

NATAL/ RN – BRASIL MARÇO/2017

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VITOR HUGO BESSA FERREIRA

ENFRENTANDO O ESTRESSE: UM ESTUDO COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICO EM MACACOS-PREGO (SAPAJUS LIBIDINOSUS) CATIVOS

Dissertação apresentada à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Departamento de

Fisiologia, Programa de Pós-graduação em

Psicobiologia como parte das exigências para a

obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

Orientador: Prof. Dr. Renata Gonçalves Ferreira

NATAL/ RN – BRASIL MARÇO/2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB

Ferreira, Vitor Hugo Bessa. Enfrentando O Estresse: um estudo comportamental e fisiológico em Macacos-Prego (Sapajus libidinosus) Cativos / Vitor Hugo Bessa Ferreira. - Natal, 2017. 96 f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia. Orientadora: Profa. Dra. Renata Gonçalves Ferreira. 1. Estereotipias - Dissertação. 2. Estratégias de enfrentamento - Dissertação. 3. Perfis comportamentais - Dissertação. 4. Personalidade - Dissertação. I. Ferreira, Renata Gonçalves. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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ENFRENTANDO O ESTRESSE: UM ESTUDO COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICO EM MACACOS-PREGO (SAPAJUS LIBIDINOSUS) CATIVOS

Autor: Vitor Hugo Bessa Ferreira Orientação: Renata Gonçalves Ferreira

Dissertação apresentada à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Departamento de

Fisiologia, Programa de Pós-graduação em

Psicobiologia como parte das exigências para a

obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Profa. Dra. Renata Gonçalves Ferreira

Psicobiologia – UFRN

___________________________________________ Dra. Olívia de Mendonça Furtado Pimenta

Instituto de Psicologia – USP

___________________________________________ Profa. Dra. Nicole Leite Galvao Coelho

Departamento de Fisiologia - UFRN

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Dedico à Maria Lucidea e Antônio Carlos,

pelo cuidado e investimento parental

que me permitiu (e ainda permite)

forragear cada vez mais distante do ninho.

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AGRADECIMENTOS

À Renata Ferreira pelo jeito especial de conduzir seus orientandos, nos motivando e nos dando liberdade de expressarmos, na prática, as diferenças individuais. Obrigado por ser quem você é!

À Elanne Paiva, meu braço direito, meu braço esquerdo, meu corpo inteiro. Sua garra e força de vontade me incentivaram bastante durante os 6 meses de coleta. Nossa parceria deu super certo e o fruto do nosso trabalho se encontra nas páginas a seguir.

Aos funcionários do Zoológico de João Pessoa e do CETAS de Cabedelo que nos abriram portas (e recintos) para o desenvolvimento dessa pesquisa.

À Cecília e Guilherme pelo empenho nas análises laboratoriais e pela paciência ao me ver tentando manusear corretamente a multicanal.

À equipe IDSS (aka COLAB) pelos conhecimentos, risadas e idas ao Thomas. Que os artigos se publiquem e multipliquem nas nossas vidas!!!

Um agradecimento especial a Anita Stone e Luana Ruivo: pessoas que me inspiraram lá no final da graduação. Obrigado por me mostrarem o mundo da Etologia! Olha onde eu vim parar! Um zootecnista biólogo, rs!

Aos meus familiares, principalmente meus pais e madastra, por acreditarem nos meus sonhos e vibrarem juntos comigo a cada passo que eu dou.

Aos meus amigos, em especial os Fat Friends que, mesmo de longe, partilham comigo os dramas de uma adolescência tardia.

Ao Balazs Kirkovits (Balu) por suportar, com amor, todas as crises acadêmicas que passei e sempre me motivar a ser alguém melhor.

Aos membros da Comunidade Cidade de Refúgio pelo esforço em manter as portas abertas e por me fazer sentir acolhido em momentos difíceis.

Por último, mas não menos importante, a Jesus Cristo, por sua mensagem de paz e amor que me alcançou. Valeu a pena!

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SUMÁRIO

Lista de tabelas............................................................................................................................1

Lista de figuras............................................................................................................................1

Resumo........................................................................................................................................2

Abstract.......................................................................................................................................3

Capitulo 1: Diferenças Individuais Em Animais: Importância E Implicações Para O Manejo

E Para A Pesquisa Científica

1. Introdução....................................................................................................................... 4

2. Conceitos.........................................................................................................................5

3. Diferenças individuais: evolução e manutenção.............................................................8

4. Mensuração das diferenças individuais em animais.....................................................11

5. Influência de diferenças individuais no manejo de animais e na pesquisa científica...16

6. Considerações finais......................................................................................................18

7. Referências....................................................................................................................20

Capitulo 2: Perfis Comportamentais, Estratégias De Enfrentamento E Níveis De Metabólitos

Fecais De Glicorticóides Em Macacos Prego Cativos

1. Introdução......................................................................................................................30

2. Materiais e métodos......................................................................................................33

2.1 Animais e local de estudo....................................................................................33

2.2 Coleta de dados comportamentais.......................................................................33

2.3 Coleta de fezes e análises de metabólitos fecais de glicorticóides......................38

2.4 Análises estatísticas.............................................................................................39

3. Resultados.....................................................................................................................41

3.1. Análises descritivas...........................................................................................41

3.2. Padrão comportamental.....................................................................................43

3.3. Perfil comportamental GNB e BPIS................................................................. 43

3.4. Correlações entre eixos e unidades comportamentais.......................................46

3.5. Correlações entre comportamentos, fatores e MFG..........................................49

4. Discussão.......................................................................................................................50

5. Conclusão......................................................................................................................55

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6. Referências....................................................................................................................56

Capitulo 3: Tipos Comportamentais E Efeito Do Estresse Agudo Em Macacos-Prego

1. Introdução......................................................................................................................63

2. Metodologia..................................................................................................................65

2.1. Primeiro período: coleta de linha de base.........................................................66

2.2. Segundo período: recinto novo.........................................................................67

3. Análise dos dados..........................................................................................................68

4. Resultados.....................................................................................................................69

4.1. Em nível de grupo.............................................................................................69

4.2. Em nível de tipo comportamental......................................................................70

4.2.1. Sociabilidade.....................................................................................................70

4.2.2. Vigilância..........................................................................................................71

4.2.3. Exploração.........................................................................................................72

4.2.4. Atividade...........................................................................................................73

5. Discussão.......................................................................................................................74

6. Conclusao......................................................................................................................77

7. Referências....................................................................................................................78

Considerações gerais finais.......................................................................................................86

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1 LISTA DE TABELAS

Capitulo 1 Pagina Tabela 1: Composição dos grupos, tempo e período de observação. 35 Tabela 2: Comportamentos normativos de gênero (CNG). Os comportamentos estão agrupados em macrocategorias 36

Tabela 3: Comportamentos indicadores de estresse. 37 Tabela 4: PCA dos GNBs, matriz de estrutura pelo método Oblimin direto, seus componentes e a variância explicada 45

Tabela 5: PCA dos BPIS, matriz de estrutura pelo método Oblimin direto, seus componentes e a variância explicada 45

Tabela 7: Análises de Correlação entre fatores GNB e fatores BPIS 46 Tabela 8: Análises de Correlação entre unidades comportamentais do GNB e BPIS 48 Tabela 9: Correlações de fatores GNB e BPIS com Cortisol Fecal 49 Tabela 10: Correlações de GNB e BPIS com MFG 50 Capitulo 2 Tabela 1: Composição dos grupos de Macaco-prego (Sapajus spp.) no CETAS de Cabedelo, Paraiba, Brasil 73

Tabela 2: Agrupamento das unidades comportamentais em Macrocategorias 75 Tabela 3: Variação comportamental e fisiológica, de acordo com as fases pré e pós-mudança 77

LISTA DE FIGURAS

Capitulo 1 Pagina Figura 1: Orçamento de atividades de CNG. Os resultados são apresentados em porcentagem média do total de indivíduos (n=31) 42

Figura 2: Orçamento de atividades de BPIS. Os resultados são apresentados em porcentagem média do total de indivíduos (n=31) 42

Figura 3: Frequência por hora de BPIS eventos 43 Capitulo 2 Figuras 1a, b, c: Variação nas macrocategorias Alimentação, Inatividade e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Sociabilidade (mais ou menos sociáveis).

82

Figuras 2a, b, c: Variação nas macrocategorias Alimentação, BPIS Estados e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Vigilância (mais ou menos vigilantes).

83

Figuras 3a, b, c, d, e: Variação nas macrocategorias Alimentação, Locomoção, BPIS Estados, BPIS Eventos e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Exploração (mais ou menos exploradores).

84

Figuras 4a, b, c, d: Variação nas macrocategorias Social, Locomoção, Inatividade e BPIS Eventos, segundo a classificação no eixo Atividade (mais ou menos ativos). 85

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RESUMO

Considerar o bem-estar de animais em cativeiro é primordial para cuidar da saúde física e psicológica

dos indivíduos. No entanto, apesar de vários indicadores disponíveis (ex. comportamentais,

bioquímicos e fisiológicos), a integração de resultados ainda gera dúvidas sobre o real estado de bem-

estar de um indivíduo. Neste trabalho testamos a hipótese de que a incongruência entre os indicadores

de bem-estar ocorre porque os animais, dentro da mesma população, diferem na maneira como se

comportam e reagem face aos estímulos. Usamos como modelo macacos-pregos cativos aos cuidados

do CETAS de Natal/RN e Cabedelo/PB e do zoológico de João Pessoa/PB. No primeiro capitulo,

revisamos diversos conceitos e metodologias do estudo da personalidade animal. No segundo capitulo,

definimos os eixos do perfil comportamental (GNB - Comportamento Normativo de Gênero) e de

enfrentamento ao estresse (BPIS - Comportamentos Potencialmente Indicativos de Estresse), e o perfil

fisiológico (Metabólitos Fecais de Glicocorticóides - MFG) dos animais em condição de estresse

crônico de cativeiro. No terceiro capitulo, analisamos se os diferentes tipos comportamentais reagem a

um estresse agudo de mudança de recinto. Nossos resultados principais foram: Individuos que

locomovem mais exibem BPIS mais rápidos (ex. giro de cabeça), enquanto indivíduos mais inativos

exibem BPIS mais estacionarias (ex. autoenganchar). Em ambos os extremos do eixo atividade-

inatividade, os animais mostram sinais fisiológicos de baixo grau de bem-estar. Animais mais

sociáveis são mais resilientes, tanto a nível fisiológico quanto a nível comportamental aos estresses do

cativeiro. Após um estresse agudo, os indivíduos que pontuam positivamente nos eixos Sociabilidade

e Exploraçao exibem melhor adaptação ao ambiente novo. Nossos resultados corroboram modelos

indicando a existência de diferentes perfis comportamentais que reagem de forma diferente ao estresse

e que apresentam perfis fisiológicos. O padrão encontrado assemelha-se ao descrito em outros

trabalhos para outras espécies e podem lançar luz sobre a evolução e plasticidade comportamental no

reino animal.

Palavras-chave: perfis comportamentais, estilos de enfrentamento, diferenças individuais, metabolitos

de glicocorticóides fecais, personalidade.

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ABSTRACT

Considering the welfare of animals in captivity is findamental to take care of the physical and

psychological health of individuals. However, despite several indicators available (eg,

behavioral, biochemical and physiological), the integration of results still raises doubts about

the actual state of well-being of an individual. In this paper we test the hypothesis that the

incongruity between well-being indicators occurs because the animals within the same

population differ in the way they behave and react to the stimuli. We used, as model, captive

capuchin-monkey under the care of CETAS de Natal / RN and Cabedelo / PB and the zoo of

João Pessoa / PB. In the first chapter, we review several concepts and methodologies of the

study of the animal personality. In the second chapter, we define the axes of the behavioral

profile (GNB - Gender Normative Behavior) and stress coping (BPIS - Behaviors Potentially

Indicative of Stress), and the physiological profile (Metabolites of Fecal Glucocorticoids -

MFG) of animals in chronic stress of captivity. In the third chapter, we analyze whether the

different behavioral types react to an acute stress of change of enclosure. Our main results

were: Individuals who move more exhibit faster BPIS (eg head twirl), while more inactive

individuals exhibit more stationary BPIS (eg crouching). At both ends of the activity-

inactivity axis, the animals show physiological signs of low welfare. More sociable animals

are more resilient, both physiologically and behaviorally level to captivity stress. After an

acute stress, the individuals that score positively in the Sociability and Exploration axes

exhibit better adaptation to the new environment. Our results corroborate models indicating

the existence of different behavioral profiles that react differently to stress and that present

physiological profiles. The pattern found resembles that described in other works for other

species and may shed light on behavioral evolution and plasticity of the animal kingdom.

Keywords: behavioural profiles, coping styles, individual differences, metabolites of fecal

glucocorticoids, personality.

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CAPÍTULO 1

DIFERENÇAS INDIVIDUAIS EM ANIMAIS: IMPORTÂNCIA E IMPLICAÇÕES

PARA O MANEJO E PARA A PESQUISA CIENTÍFICA

Artigo a ser submetido ao periódico “Estudos de Psicologia (Natal)”

1. INTRODUÇÃO

Desde 1906, o cientista russo Ivan Pavlov, influenciado por Hipocrates e Galeno, já

identificava algumas diferenças individuais em cães submetidos a aprendizado associativo e

considerava essas diferenças como variáveis influenciadoras de seus resultados (Corr e

Perkins, 2006; Carere e Locurto, 2011). Apesar dos fatos e do conhecimento empírico através

do contato homem-animal mostrar que indivíduos de mesma espécie diferiam em seus

comportamentos e na maneira com a qual reagiam a certos estímulos (Watters e Powell,

2012), foi apenas nas ultimas décadas que o estudo das diferenças individuais entre os animais

se desenvolveu cientificamente (Powell & Gartner, 2010).

A existência das diferenças no padrão comportamental dos indivíduos está distribuída

por quase todos os táxons existentes no reino animal e os estudos desse fenômeno vão além

dos modelos animais já classicamente estudados (Wolf e Weissing, 2012). Nos vertebrados,

os exemplos são diversos: ensaios de campo aberto com girinos de rã-touro (Lithobates

sylvaticus) mostraram que existem diferenças interindividuais no nível de exploração de

novos ambientes pelos animais (Carlson e Langkilde, 2013). Em aves, Patrick e Weimerskirch

(2014) observaram que a personalidade influencia nas estratégias de forrageamento de

albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), com indivíduos bold

(corajoso/ousado) se alimentando em áreas mais rasas e próximas ao ninho e indivíduos shy

(tímido) viajando para mais longe da colônia e buscando alimento em águas mais profundas.

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5 Em mamíferos, King e Figueiredo (1997) viram, de maneira quantitativa, a existência de

similaridade entre padrões comportamentais de chimpanzés e a personalidade de seres

humanos: análises revelaram seis componentes de personalidade para os chimpanzés, cinco

dos quais se assemelham ao Big-Five da personalidade humana. Um sexto fator foi

encontrando em chimpanzés e denominado ‘Dominância’.

Em invertebrados, o caranguejo eremita (Dardanus calidus) foi a primeira espécie de

crustáceo decápoda a ter suas diferenças individuais estudadas extensivamente no eixo

‘ousadia-timidez’. Caranguejos eremitas classificados como ‘ousados’ apresentam maior

comportamento exploratório em novos ambientes e investigam mais rapidamente um objeto

novo (Gherardi, Aquiloni e Tricarico, 2012). Da mesma maneira, estudos conduzidos com

insetos eusociais mostram que, apesar da seleção natural atuar principalmente em nível de

colônia, as operárias apresentam diferenças comportamentais evidentes: alguns indivíduos

interagem socialmente mais com seus coespecíficos quando estão forrageando ou cuidando do

ninho (Pinter-Wollman, 2012). Semelhantemente, Wright, Holbrook e Pruitt (2014), em seu

experimento com aranhas Anelosimus studiosus, viram que indivíduos mais dóceis (que

mostravam baixo nível de agressão e baixa responsividade em relação a predadores, presas e

parceiros sexuais) passavam mais tempo em cuidado parental do que indivíduos mais

agressivos (76% do orçamento de atividades contra 23%, respectivamente). Além disso, a

proficiência nas tarefas sociais entre os diferentes tipos comportamentais também diferiam,

com indivíduos dóceis obtendo uma taxa de sobrevivência da prole duas vezes maior que

indivíduos agressivos.

2. CONCEITOS

Assim como na psicologia humana (Digman, 1990), o estudo das diferenças

individuais em animais é abordado de maneiras distintas por diferentes sub-áreas, recebendo

diversas terminologias e conceitos que acabam por dificultar a compreensão do fenômeno

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6 (MacKay e Haskell, 2016). Os termos mais comuns usados atualmente, quando se fala em

diferenças individuais em animais são: ‘personalidade’, ‘temperamento’, ‘tipos e síndromes

comportamentais’ e ‘estratégias de enfrentamento’ (coping strategies) (MacKay e Haskell,

2016; Dall et al, 2004).

Originais dos estudos de psicologia humana, os conceitos de personalidade e

temperamento foram gradualmente absorvidos e utlizados pelos estudiosos do comportamento

e da fisiologia animal. Em humanos, por exemplo, o temperamento é considerado uma parte

da personalidade, implicando em tendências comportamentais observadas nas fases iniciais da

vida e tendo um maior componente genético, herdável (Weinstein, Capitanio e Gosling,

2008). Clarke e Boinski (1995), em uma revisão sobre o temperamento em primatas,

comparam as repostas comportamentais de crianças humanas com aquelas exibidas por várias

espécies de primatas não-humanos. As autoras associam ‘personalidade’ às características

sociais de um indivíduo, enquanto, ‘temperamento’ é a reação individual à novos desafios e

estímulos, sendo independente do aspecto social.

Os termos ‘tipo e síndrome comportamental’ ganharam popularidade dentro da

ecologia comportamental. Stamps e Groothuis (2010) distinguem síndrome comportamental

de personalidade ao dizer que o primeiro termo refere-se a correlações entre comportamentos

em diferentes momentos ou diferentes contextos, enquanto personalidade refere-se a

correlações entre comportamentos em diferentes momentos e diferentes contextos. Sih et al.

(2004) consideram tipo comportamental como sendo a personalidade em nível individual, os

constructos de síndrome comportamental e de personalidade são, por sua vez, correlacionais e

diferenciais em relação a um conjunto de indivíduos, ou seja, ambos envolvem a análise de

correlação dos comportamentos de um mesmo indivíduo em diferentes contextos e/ou

momentos, mas os valores analisados são medidos diferenciando-se os valores apresentados

por outros indivíduos do grupo. A personalidade de um indivíduo não é, portanto, um

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7 conceito categórico e estático, mas relativo e dinâmico, pois é definido enquanto comparação

a outros indivíduos numa escala contínua.

Outra maneira de abordar as diferenças individuais em animais é através dos ‘estilos

de enfrentamento’, ou coping styles, tal como feito nos estudos de fisiologia do estresse. Os

diferentes estilos de enfrentamento são distinguíveis a partir do momento que os indíviduos

encaram situações estressantes, crônicas ou agudas, e se esforçam, de maneira cognitiva,

comportamental e fisiológica, para balancear satisfatoriamente as demandas internas e

externas, visando manter a homeostase (Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira, 1998). Koolhaas

et al. (1999), estudando os perfis comportamentais e fisiológicos de ratos e roedores de

laboratório, identificaram duas principais estratégias, a primeira, a estratégia proativa, era,

comportamentalmente, mais agressiva, ousada, inflexível e com maior ativação emocional.

Fisiologicamente, exibia maior ativação do sistema simpático e noradrenérgico, com baixa

atividade do eixo HPA. A segunda estratégia é chamada reativa e se apresenta

comportamentalmente através de menor agressividade, maior exibição de flexibilidade e

comportamentos aversos ao risco. Fisiologicamente, essa estratégia tem maior reatividade do

eixo HPA (pituitária-adrenal) e do sistema parasimpático. Em primatas do novo mundo,

Cristóbal-Azkarate, Chavira, Boeck, Rodriguez-Luna e Vea (2007) identificaram diferentes

estratégias de enfrentamento em bugios (Alouatta palliata) em vida livre durante momentos

de encontro com machos imigrantes. Os autores concluiram que os machos adultos

apresentam um padrão proativo, com maiores respostas agonísticas mas menor secreção de

cortisol. Ja as fêmeas apresentam um padrão semelhante ao reativo, com maiores

comportamentos de esquiva e maior secreção de cortisol.

Destaca-se que, apesar das diferentes terminologias, existe um ponto comum entre as

diferentes definições: os indivíduos devem diferir em seus comportamentos de maneira

constante no tempo e em diferentes contextos e/ou situações (Briffa e Weiss, 2010).

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3. DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: EVOLUÇÃO E MANUTENÇÃO

Para a ecologia comportamental clássica, variações interindividuais eram vistas como

não adaptativas ou mensurações de baixa acurácia (ruídos ao redor da média) e, por isso,

eram frequentemente ignoradas (Wilson, 1998). Ou seja, por muito tempo, ecólogos

comportamentais se focaram no chamado ‘ótimo comportamental’, pensava-se que a seleção

natural e sexual favorecia os indivíduos que forrageavam, reproduziam e acessavam diversos

recursos da maneira mais eficiente, de forma que à longo prazo as diferenças individuais

desapareciam (Odgen, 2012). Dessa maneira o indivíduo com a estratégia de maior sucesso

individual seria aquele com maior aptidão individual, gerando maior número de proles e, por

consequência, resultando em apenas um tipo comportamental dominante. Esta abordagem

com foco em tendências centrais, tais como a média de uma população, ficou conhecida como

a “Tirania da média dourada” (Bennet, 1987), se sobrepondo às diferenças individuais como

importante sinal evolutivo (Careau, Thomas e Humphries, 2008).

Parte desta visão se deve ao fato de que, em modelos de computador, um indivíduo

que tenha comportamento totalmente plástico é vitorioso em jogos de soma zero. Assim, a

existência de padrões comportamentais fixos ou estáveis em animais ainda é um enigma para

a comunidade científica. Ser comportamentalmente consistente significa, por exemplo, que

um animal mais corajoso irá manter o seu comportamento em situações contrastantes, tanto

naquelas com alto risco de predação como na ausência de predadores, o que se tornaria

contraproducente para a propagação de genes, uma vez que ser corajoso durante altos níveis

de predação aumenta o risco de ser predado. Igualmente, indivíduos mais precavidos podem

perder oportunidades de forragear, encontrar melhores áreas e parceiros sexuais, em

ambientes que são seguros (Dall et al., 2004).

Com o avanço cientifico e metodológico das pesquisas, percebeu-se que as diferenças

individuais têm um papel fundamental para evolução, não só por oferecerem o material básico

para serem selecionadas as melhores variantes, mas porque são vatajosas em si: populações

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9 com diferentes tipos comportamentais são mais estáveis no tempo (Dingemanse e Wolf,

2010). Ou seja, na maioria das situações, múltiplas estratégias tendem a coexistir em

equilíbrio dinâmico, resultando numa população que enfrenta de maneira mais eficaz ao

ambiente em constante mutação (Wilson, 1998).

Modelos mais recentes em evolução e ecologia, à luz da teoria dos jogos, mostram que

quando o fitness de um indivíduo é determinado pela frequência na qual as diferentes

estratégias comportamentais competem ou colaboram entre si, é possível que surjam tipos

comportamentais estáveis em uma população (Dall, Alasdair e McNamara, 2004), ou seja,

ocorre seleção dependente de frequência. Em peixes guppies (Poecilia reticulata) submetidos a

três tratamentos de composição social (grupos com apenas bold, grupos com apenas shy,

grupos mistos), viu-se que indivíduos em grupos mistos se alimentavam mais do que

indivíduos em grupos homogêneos (tanto bold, quanto shy), ou seja, a frequência de

indivíduos apresentando uma dada estratégia comportamental pode influenciar na estabilidade

da mesma (Dyer, Croft, Morrell e Krause, 2008).

Outra possível rota para a manutenção de diferentes estratégias comportamentais numa

população é através de flutuações na força seletiva. Por exemplo, Dingemanse e Réale (2005)

ao estudarem a diversidade comportamental em chapim-real (Parus major), viram que a taxa

de sobrevivência de adultos podia ser prevista de acordo com o tipo comportamental (lento ou

rápido) dos indivíduos, com a quantidade de recursos alimentares no ambiente e com o sexo

dos animais. Este estudo corrobora a ideia de que diferentes tipos comportamentais podem

coexistir em uma mesma população e dentro de diferentes categorias como sexo, idade e

tamanho (Wilson, Clark, Coleman e Dearstyne, 1994).

Se a manutenção de diferentes tipos comportamentais já consegue ser explicada por

modelos matemáticos, a origem de tais diferenças ainda é alvo de intensa pesquisa e debates.

Existem três principais modelos para a origem das diferenças individuais. O primeiro, e mais

conhecido, mecanismo causal subjacente ao estado de um indivíduo é a sua genética. Van

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10 Oers, de Jong, van Noordwijk, Kempenaers e Drent (2005), em uma revisão sobre genética e

personalidade animal, mostram vários estudos que confirmam a clara base genética existente

na expressão de traços comportamentais, e conscientizam sobre a importância de levar em

consideração a estrutura genética da personalidade para melhor compreender a seleção natural

e as forças evolutivas atuantes. Em chapim-real e em seres humanos, o gene receptor de

dopamina D4 (DRD4) está relacionado ao comportamento exploratório e a busca por

novidades (Fidler et al., 2007). Outros equivalentes funcionais de genes candidatos, como 5-

HTTLPR e MAOA, já foram associados aos perfis comportamentais tanto de seres humanos,

quanto do gênero Macaca (Nettle e Penke, 2010).

Outro modelo proposto diz que a variabilidade interindividual é dependente do estado

do indivíduo. Nesse caso, entende-se ‘estado’ como todas as características que influenciam

as decisões comportamentais, e por consequência o fitness (ex. condição física e fisiológica,

informação disponível, ambiente físico e social de um indivíduo). Uma vez que a soma dessas

diferentes características não é semelhante para cada indivíduo, o estado de cada um será

diferenciado, resultando em distintas estratégias comportamentais. No caso de estados

estáveis ou fixos, como sexo, além do surgimento das diferenças individuais, elas se tornam

consistentes ao longo tempo, situações e contextos (Wolf e Weissing, 2010). Exemplificando

esse modelo, de maneira causal, Careau et al. (2008) e Biro e Stamps (2010) sugerem que

personalidade e taxa metabólica estão inter-relacionadas, uma vez que a maquinaria

metabólica gera energia para a exibição de comportamentos e que existe uma grande variação

interindividual no metabolismo de uma dada espécie. Como essa relação ocorre em nível da

hierarquia metabolismo-fisiologia-comportamento, no entanto, ainda é desconhecido.

Apesar dos fatores biológicos receberem prioridade, mais recentemente, um terceiro

modelo foca em questões sociais para o surgimento das diferenças individuais também em

animais. O conceito ecológico de nicho tem sido extrapolado do estudo de diferenças entre

espécies para o estudo de diferenças individuais em uma mesma espécie ou em uma

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11 população. Nessa linha de pensamento, a tentativa de diminuir o conflito social entre

coespecíficos pode influenciar o desenvolvimento e formação de diferentes tipos

comportamentais. A consistência e diversificação comportamental ocorrem quando indivíduos

se especializam em diferentes nichos sociais. Desta maneira, os fatores sociais atuam tanto

como agentes quanto como alvos da seleção natural (Bergmuller e Taborsky, 2010).

4. MENSURAÇÃO DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS EM ANIMAIS

Atualmente, a mensuração das diferenças individuais em animais ocorre,

principalmente, através de duas abordagens metodológicas. Essas abordagens são divididas

em ‘codificação do comportamento’ (em inglês, coding) e ‘classificação do comportamento’

(rating). Apesar do debate para saber qual método é o mais adequado e confiável, cada um

tem suas vantagens e desvantagens e apresentam o mesmo objetivo: identificar de maneira

precisa às diferenças consistentes entre os indivíduos estudados. Gosling (2001), no entanto,

mostra que a maioria dos estudos com animais (74%) usa o coding como principal método.

O coding se baseia na observação direta e no registro das atividades comportamentais.

Em geral, os observadores, já habituados ao etograma de uma dada espécie, reúnem dados a

respeito da frequência dos mais variados comportamentos. Esse método é simples, pelo fato

de envolver apenas o acompanhamento dos indivíduos, no entanto, é necessário um período

de tempo considerável para que uma base de dados robusta seja construída, de forma que os

animais possam ser vistos nas mais variadas situações e contextos. Por ser um método

realizado com medidas em tempo real, isso faz com que seja considerado um método bastante

objetivo (Watters e Powell, 2012).

Mount e Seabrook (1993), usando o coding para estudar o comportamento agonístico

durante a formação de grupos de fêmeas suínas (Sus scrofa domesticus), viram que a

agressividade era consistente em duas diferentes situações de manejo, com certos indivíduos

sendo mais propensos a agredir os outros. Os autores sugerem que esse seja um traço

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12 comportamental que contribui para a individualidade desses animais. Em outro estudo,

visando acessar a ontogenia da personalidade em cães da pradaria de rabo preto (Cynomys

ludovicianus), Loughry e Lazari (1994) viram que desde o momento que os filhotes emergem

de suas tocas já é possível detectar estatisticamente a existência de diferenças individuais

entre os mesmos.

As críticas a esse metódo se devem ao fato de que, por ser considerado mais objetivo,

certos detalhes são negligenciados pelos pesquisadores durante a publicação de seus

resultados (como o número de observadores, a origem dos observadores, forma de treino,

horas de coleta por animal etc.), tornando dificultosa a elaboração de um resumo dos métodos

e procedimentos específicos usados tipicamente durante a coleta de dados (Vazire, Gosling,

Dickey e Schaprio, 2007). Além disso, a escolha dos comportamentos que serão considerados

durante a pesquisa e a forma de organização hierárquica dos traços candidatos (vários traços

individuais ou apenas um traço composto) gera discussão sobre a pressuposta objetividade

desse método (Powell e Gartner, 2010).

O rating é fundamentado na experiência de pessoas que conhecem e são próximas aos

indivíduos aos quais se deseja conhecer a personalidade. Por ter raízes nos estudos

tradicionais de Psicologia Humana, esse método não foca em comportamentos específicos, ao

invés disso, é através de questionários que os observadores avaliam o comportamento dos

animais e pontuam cada item de acordo com o que lhes é requerido, exigindo um elevado

nível de abstração (Kubinyi, Gosling e Miklosi, 2015). Em geral, mais de um observador é

indicado para essa avaliação a fim de que haja independência e confiança dos dados

coletados. Apesar da suspeita de subjetividade do método por parte da comunidade científica,

vários estudos vêm mostrando que o mesmo cumpre os requerimentos padrões para ser

considerado um instrumento valido para medir adequadamente o perfil comportamental de

animais (Gosling, 2001).

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Por se basear nas experiências humanas com os animais, o rating pode apresentar

alguns vieses. Highfill, Hanbury, Kristiansen, Kuczaj e Watson (2010), estudando gálagos de

orelha pequena (Otolemur garnettii), compararam os dois métodos de mensuração da

personalidade e observaram que os dados coletados através de rating apresentavam baixa

confiabilidade entre observadores quando comparados aos coletados por coding. Os autores

sugerem que, apesar de conhecerem os animais, os avaliadores tinham diferentes tarefas ao

entrarem em contato com os animais, enquanto um os alimentava, outro fazia o manejo

veterinário, o que pode gerar diferentes reações dos animais e, consequentemente, influenciar

na experiência subjetiva dos avaliadores. Em publicação recente, Uher e Visalberghi (2016)

relatam a existência de vários problemas metodológicos e vieses que ocorrem durante o

processo de avaliação da personalidade animal usando rating, devido à abstração mental dos

avaliadores e suas crenças estereotipadas sobre os indivíduos.

Concomitante ao uso de coding ou rating pode-se fazer uso de testes

comportamentais. Durante esses testes, os animais são submetidos a diversas situações a fim

de que exibam certos comportamentos-alvo. As diferentes reações são, então, correlacionadas

a fim de que se obtenha uma imagem completa do perfil comportamental dos indivíduos

(Watters e Powell, 2012). Esses testes podem incluir a apresentação de objetos novos, a

interação com seres humanos ou própria interação entre coespecíficos durante competição por

comida em uma situação experimentalmente provocada (Uher, Addessi e Visalberghi, 2013).

Os testes tradicionais para análise de estratégias de enfrentamento consistem em

verificar a reação do animal frente a situações de separação involuntária de seu grupo social

e/ou a inserção em ambiente novo por breves períodos de tempo, e parear esse padrão aos

níveis de cortisol medidos antes e durante a situação estressora (Byrne e Suomi, 2002;

Galvão-Coelho et al., 2009). Reimers, Schwarzenberger e Preuschoft (2007) relata que

chimpanzés menos exploradores (medido por testes de novos objetos) reagiram aos novos

ambientes (físico e social) com o aumento da imobilidade, enquanto chimpanzés mais

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14 exploradores reagiram com perambular. Semelhantemente, indivíduos de primatas que são

classificados como ‘reativos’, ‘medrosos’ ou ‘tímidos’, evitam situações e estímulos novos,

apresentando elevada responsividade comportamental e fisiológica quando testados (Clarke e

Snipes, 1998).

O uso convergente de métodos pode aprimorar os estudos da personalidade animal,

por isso é sugerido que, quando possível, as metodologias sejam usadas concomitantemente.

Vários estudos mostram que existe concordância entre os três métodos (Iwanicki e Lehmann,

2015; Horback, Miller e Kuczaj, 2013; Carter, Marshall, Heinsohn e Cowlishaw, 2012), o que

supre um dos critérios estabelecidos para a validade da ciência da personalidade animal: as

avaliações prevêem comportamentos e resultados do mundo real (Gosling, Lilienfeld e

Marino, 2003).

Outros dois critérios que corroboram a eficácia dos métodos usados para estudo da

personalidade animal são: confiabilidade e repetibilidade. Ao checar a confiabilidade dos

dados e resultados, compara-se a concordância entre os pesquisadores. Espera-se que a

concordância intra e interparticipantes sejam altas, a fim de confirmar a confiança dos dados.

Estudos que usam o rating, em geral, apresentam taxas altas de concordância, com poucos

relatos de sobre a confiabilidade dos dados no uso de coding. A repetibilidade é importante,

pois versa sobre a manutenção da personalidade em um dado período. Através de índices de

repetibilidade, pode-se medir a consistência de um traço ao longo do tempo, contextos e

situações. Para ser mais repetível e consistente, o traço deve apresentar menos variação a

nível individual e mais variação a nível populacional (Gosling, 2001 ; Koski, 2011)

A mensuração de qualquer traço envolve debates, e isso não é diferente para o estudo

das diferenças individuais. Análises da fisiologia e bioquímica da personalidade, estratégias

de enfrentamento e psicopatologias são realizadas sob protocolos metodológicos que podem

envolver manipulações de criação, manipulação farmacológica e danos cirúrgicos estratégicos

(Nelson e Winslow, 2009). Considerações éticas (o princípio dos 3Rs) na implementação de

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15 metodologias necessárias para análises da psicopatologia têm limitado o número de animais

envolvidos e, consequentemente, o poder dos testes estatísticos. Por outro lado, cresce o

número de estudos não invasivos que tentam mapear o comportamento dos animais em

condições de liberdade ou cativeiro com pouca ou nenhuma intervenção (Sapolsky e Ray,

1989; Ray e Saposlky 1992; Virgin e Sapolsky,1997).

Em artigo crítico sobre personalidade e síndrome comportamental em animais, Uher

(2011) ressalta que um grande desafio nos estudos comportamentais e fisiológicos é explorar

sistematicamente e empiricamente se, de que forma, e sob quais condições as diferenças

individuais são de fato significativas. Com relação à condição ambiental, a autora destaca que

se, por um lado, a variância interindividual é maior em situações de estresse, o cativeiro pode

obscurecer as diferenças interindividuais se a colônia já tiver sofrido um processo de seleção

natural (i.e. com os indivíduos menos resistentes já tendo vindo a óbito). Isto posto, a autora

argumenta que é necessário medir e comparar a variância intra e interindividual sob diferentes

métodos: padrão comportamental diário, testes cognitivos e medidas fisiológicas em

diferentes condições ambientais.

Para uma eficiente validação de diferentes indicadores que permita comparação intra e

interindividual, um alto n amostral precisa estar disponível. Nesse contexto, destaca-se que

numa revisão sobre os trabalhos publicados sobre síndrome comportamental em animais,

Gosling e John (1999) detectaram apenas 19 artigos cujo n amostral era igual ou superior a 20

indivíduos. Ao longo desta década, ainda são escassos os trabalhos com n amostral superior a

20, principalmente em primatas (Galvão-Coelho et al., 2009).

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5. INFLUÊNCIA DE DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NO MANEJO DE ANIMAIS

E NA PESQUISA CIENTÍFICA

A existência de diferenças individuais tem inúmeras implicações práticas tanto no

âmbito científico quanto na produção, manejo e conservação de animais não humanos.

Aquários e zoológicos empenham-se em manter seus animais saudáveis e em alto grau de

bem-estar e conhecer as tendências comportamentais dos indivíduos pode ajudar a estabelecer

planos de manejo mais eficientes e que promovam e aumentem a capacidade dos animais de

se adaptarem ao cativeiro de maneira mais adequada (Powell e Gartner, 2010).

Barlow et al. (2006), em um estudo com macacos Diana (Cercopithecus diana diana)

em cativeiro, constataram que certos indivíduos são mais propensos a exibir comportamentos

indicativos de estresse (BPIS) quando a densidade de visitantes é alta. Para outros indivíduos,

todavia, a exibição de BPIS diminuía e a de comportamentos típicos da espécie, como brincar,

aumentava. Em chimpanzés cativos, indivíduos que pontuam mais nos eixos de personalidade

Dominância, Extroversão e Confiabilidade, são mais felizes, ou seja, apresentam maiores

indicadores de bem-estar subjetivo (SWB, Subjective well-being), o mesmo indicador

utilizado para aferir o bem-estar em humanos (King e Landau, 2003). A própria exposição de

animais, então, pode passar por um processo de seleção de indivíduos a fim de que sejam

escolhidos os mais aptos a interagir com o público e menos suscetíveis ao estresse.

As diferenças individuais podem interferir, também, no sucesso reprodutivo em

cativeiro. Powell et al. (2008) viram a existência de relação entre perfis comportamentais e a

interação sociossexual em pandas gigantes (Ailuropoda melanoleuca). Fêmeas shy tiveram

pior desempenho sociossexual do que fêmeas bold. Esse resultado se assemelha ao encontrado

em cheetahs (Acinonyx jubatu) – onde indivíduos não reprodutores pontuavam mais no eixo

‘tenso-medroso’ quando comparados a indivíduos reprodutores – e em rinocerontes-negros

(Diceros bicornis) com machos que marcavam mais pontos nos traços ‘Dominante’ e

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17 ‘Comportamentos olfativos’ tendo menor sucesso reprodutivo (Carlstead, Mellen e Kleiman,

1999 e Wielebnowski, 1999). Esses achados mostram a importância de levar em consideração

a variação entre os indivíduos a fim que o manejo reprodutivo, principalmente de espécies

ameaçadas de extinção, seja apropriado e eficaz.

Além da sua aplicação pratica em cativeiro, estudar a personalidade pode colaborar

com planos de conservação de animais silvestres em vida livre, pois certos traços de

personalidade podem estar ligados diretamente com a sobrevivência dos indivíduos. Os

estudos sobre os potenciais traços que aumentam a chance de sobrevivência de animais

reintroduzidos ainda são limitados (McDougall, Réale, Sol e Reader, 2006). No entanto,

alguns resultados já mostram direcionamentos importantes: Bremner-Harrison, Prodohl e

Elwood (2004), acompanhando o pós e pré-soltura de raposas-velozes (Vulpes velox),

concluíram que os indivíduos mais bold apresentaram taxas de mortalidade maior, dentro de

seis meses seguidos da data de liberação dos animais na natureza. Os autores sugerem que,

para essa espécie, animais que apresentam esse traço mais fortemente, apresentam muitos

comportamentos de risco, o que desfavorece a liberação desses animais na natureza, pois

seriam facilmente predados.

Outro aspecto que de ver ser considerado é a existência de diferenças interindividuais

durante a amostragem científica, devido a possibilidade de vários vieses resultantes, o que

violaria o princípio estatístico da amostragem randômica (Biro e Dingemanse, 2009). Carter,

Heinsohn, Goldizen e Biro (2011) viram que os indivíduos de Agama planiceps considerados

bold eram mais facilmente capturados do que aqueles considerados shy e que esse viés

poderia influenciar na detecção de correlações existentes entre os traços comportamentais.

Resultado semelhante foi encontrado por Morton, Lee e Buchanan-Smith (2013) ao estudar 18

indivíduos de macaco-prego. Animais que pontuaram mais em ‘Abertura a experiências’ eram

mais propensos a participar de testes cognitivos quando comparado àqueles que pontuaram

mais em ‘Assertividade’, que participavam mais de atividades sociais. Esses e outros

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18 trabalhos mencionam a importância de se usar métodos e abordagens (amostra passiva versus

amostra ativa) para incluir todos os tipos de personalidade em uma amostragem (para mais

detalhes sobre essas metodologias veja Biro, 2013 e Michelangeli, Wong e Chappel, 2015).

Por fim, Cavigelli (2005), em uma revisão sobre personalidade e saúde, fala sobre a

importância dos estudos das diferenças individuais em animais a fim de melhor interpretar a

resiliência e susceptibilidade a doenças em seres humanos. Por exemplo, estudos mostram que

diferenças individuais em seres humanos favorecem o surgimento de patologias: pessoas mais

raivosas e com tendência a estabelecer comportamentos interpessoais hostis (padrão

comportamental tipo A) apresentam maior incidência de aterosclerose assintomática e maior

risco de morte por ataque cardíaco (Smith, 2006), indivíduos mais neuróticos, por sua vez,

apresentam maior tendência de doenças psicológicas tais como a depressão e ansiedade (del

Barrio, Moreno-Rosset, Lopez-Martinez e Olmedo, 1997). Entre animais não humanos esse

cenário parece ser semelhante, Cussen e Mench (2015), ao estudarem padrões

comportamentais de papagaios-do-mangue (Amazona amazonica), viram que animais mais

neuróticos eram mais susceptíveis ao estresse ambiental e desenvolviam mais facilmente

comportamentos indicadores de estresse, como o arrancar de penas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo das diferenças individuais humanas remontam aos estudiosos gregos

Hipocrates (460 - 370 a.C.) e Galeno (século II) que sugeriram a existência de quatro

diferentes tipos de perfis comportamentais (colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico)

que se expressavam a partir dos níveis de fluidos (ou humores) corporais (Chamorro-

Premuzic e Furnham, 2005). O modelo conhecido como Big Five, é o modelo mais apoiado

pela comunidade científica e, como o próprio nome já evidencia, propõe a existência de cinco

dimensões (ou fatores) da personalidade humana, sendo essas: Neuroticismo, Extroversão,

Abertura a experiências, Agradabilidade e Conscienciosidade (para melhor compreensão de

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19 cada dimensão, veja Chamorro-Premuzic e Furnham, 2005). Atualmente, novos estudos já

falam em 6 eixos da personalidade humana, em que o eixo Humildade é acrescentado,

mostrando que este é um assunto ainda em debate (Ashton & Lee, 2007).

Este manuscrito buscou contribuir na construção desta ciência do estudo da

personalidade apresentando um debate que vem ganhando força na literatura das áreas de

evolução, ecologia, e etologia (Dingemanse e Réale, 2005; Sih, Bell e Johnson, 2004), a

saber: perfis comportamentais e diferenças individuais em animais.

Muitas questões ainda são foco de debate, tanto nos estudos em humanos, quanto em

animais: a estabilidade dos traços (Caspi, Roberts e Shiner, 2005), os comportamentos

momentâneos e tendências comportamentais (person-situation debate) (Fleeson, 2004) e a

influência social e de grupo na expressão da personalidade (Webster e Ward, 2011), ainda são

focos de pesquisa e precisam de maiores elucidações.

Nettle e Penke (2010) destacam que maiores avanços nos estudos da personalidade

humana podem ser alcançados ao se considerar os estudos das diferenças individuais em

animais. No entanto, como comentam Mehta e Gosling (2006), esses avanços não beneficiam

apenas seres humanos, defendendo que vários conceitos e conhecimentos, já bem

fundamentados da pesquisa com humanos, podem ser adaptados e utilizados para aumentar o

conhecimento e melhoraro bem-estar em relação aos próprios animais.

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30

CAPÍTULO 2

PERFIS COMPORTAMENTAIS, ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E NÍVEIS DE METABÓLITOS FECAIS DE GLICORTICÓIDES EM MACACOS PREGO CATIVOS

Artigo a ser submetido ao periódico “Applied Animal Behaviour”

1. INTRODUÇÃO

Diferenças nos perfis comportamentais de animais selvagens (anfíbios - Carlson &

Langkilde, 2013, aves - Patrick & Weimerskirch, 2014, mamíferos - King & Figueireido,

1997 e invertebrados - Gherardi et al., 2012; Pinter-Wollman, 2012; Wright et al., 2014) têm

ganhado destaque nos estudos sobre evolução, ecologia (Réale et al., 2010) e bem-estar

animal (Waters & Powell, 2012; Coleman, 2012). Em nível distal, busca-se determinar até

que ponto estas diferenças têm substratos genéticos e modelar quais forças e condições

ecológicas levam ao aparecimento e favorecem a permanência de padrões comportamentais

alternativos (Dingemanse & Réale, 2005). Em nível proximal, estudos com animais em

cativeiro vêm mostrando que a capacidade individual ao enfrentar situações aversivas varia

dentro de uma mesma população (Cussen & Mench, 2015). Cada animal, portanto, lida com o

estresse de maneira particular, o que pode refletir, em longo prazo, na sobrevivência e

reprodução diferencial dentro de uma população.

Estilo de enfrentamento refere-se à maneira dos indivíduos reagirem e se adaptarem a

situações estressantes do ambiente (físico e social) e, consequentemente, à sua vulnerabilidade

a doenças relacionadas ao estresse. Distintas estratégias de enfrentamento ao estresse têm sido

verificadas em diversas espécies. O comportamento estereotipado em chimpanzés cativos é

endêmico nas populações de cativeiro, independentemente dos esforços em enriquecimento

ambiental. Em média, um indivíduo passava entre 4% e 5% do seu tempo exibindo

estereotipias, havendo, no entanto, indivíduos que iam muito além da média e empregavam

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31 60% do seu orçamento nessas atividades (Birkett & Newton-Fisher, 2011). Essa variação

interindividual na exibição de comportamentos indicativos de estresse é vista, igualmente, em

espécies como papagaios (Garner et al., 2003), suínos (Geverink et al., 2003), ratos (Garner &

Manson, 2002), cavalos (Mills, 1998) e visons (Dallaire et al., 2012).

Koolhaas et al. (1999), estudando ratos e camundongos em laboratório, definiu dois

estilos de enfrentamento ao estresse, com base em características estáveis de respostas

comportamentais e fisiológicas. Face à um evento estressor, os animais podem reagir de duas

maneiras, proativa e reativa, pertencentes à um contínuo. A resposta mais ativa, dita proativa,

é caracterizada por baixa imobilidade, menor latência para agressão, menor sensibilidade para

mudanças e, a nível fisiológico, maior reatividade simpática e menor reatividade do eixo

HPA. Por outro lado, a resposta reativa é acompanhada de comportamentos como inatividade,

maior flexibilidade comportamental, alta dependência de sinais ambientais, sendo considerada

uma resposta de “autoconservação/afastamento”. Fisiologicamente, há menor reatividade

simpática com maior reatividade do eixo HPA.

Em um estudo realizado com Papagaios-do-mangue (Amazona amazonica) viu que

animais considerados mais neuróticos eram mais propensos a desenvolver BPIS, tais como a

danificação das próprias penas. Em contrapartida, animais que pontuaram mais na dimensão

‘Extroversão’ se mostraram mais resilientes, desenvolvendo menos comportamentos

estereotipados durante o experimento (Cussen & Mench, 2015). Ijichi et al. (2013) sugere que

existe um link entre ‘personalidade’ (padrão comportamental constante no tempo e entre

contextos) e a estratégia de enfretamento ao estresse, com os animais mais proativos sendo

mais propensos a desenvolver estereotipias que os animais mais reativos, esses últimos

desenvolveriam comportamentos mais inativos e apáticos (Mason, 2010). Corroborando essa

ideia, resultados recentes, de uma pesquisa com um roedor africano (Rhabdomys dilectus),

mostraram que indivíduos mais proativos e corajosos apresentavam mais estereotipias do que

aqueles considerados reativos e tímidos (Joshi & Pillay 2016).

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32

Primatas não humanos são modelos biológicos valorizados para o estudo das

psicopatologias humanas devido à neurobiologia similar (vias neurais e fisiologicas),

resultante da história evolutiva compartilhada. Além disso, boa parte das espécies vive em

ambientes complexos que demandam ampla variação de estratégias cognitivas,

comportamentais, sociais e fisiológicas, o que possibilita certa extrapolação de resultados para

a espécie humana (Nelson & Winslow, 2009).

O macaco prego (Sapajus spp.) vem ganhando destaque na literatura de psicologia

comparada (Morton et al., 2013), evolução (Adessi, 2008), neurociências e cognição

(Pomerantz et al., 2012), e se encaixa como modelo animal para tais estudos, pois possui alta

complexidade nos níveis comportamentais e cognitivos, reflexos do seu alto grau de

encefalização (Dalgalarrondo, 2011), além de apresentar uma complexa vida social em grupos

multimacho e multifêmea. Em vida livre, essa espécie apresenta comportamentos como: uso

de ferramentas, cooperação, partilha de alimentos, coalizões e tradições comportamentais

(Fragaszy et al., 2004), já em cativeiro, essa espécie pode exibir um amplo repertório de BPIS

(Boinski et al., 1999). Recentemente, Ferreira et al. (2016), usando uma lista de 18 GNB

(Comportamentos normativos do gênero) e 10 BPIS (Comportamentos indicativos de

estresse) encontraram diferenças individuais no enfrentamento ao estresse, com indivíduos

variando entre si, dentro de cinco eixos distintos.

O presente estudo buscar aprofundar a discussão sobre as diferenças individuais nas

estratégias de enfrentamento ao estresse em animais cativos, tendo como modelo o macaco

prego, relacionando GNB e BPIS aos parâmetros fisiológicos (metabólitos fecais de

glicocorticoides, MFG). Com base nos resultados já vistos para outras espécies (Cussen &

Mench, 2015; Joshi & Pillay 2016), nossa hipótese é de que o perfil comportamental (GNB)

influenciará nos estilos de enfrentamento (BPIS) e nos niveis de MFG. Testaremos, então, três

predições: 1) Animais mais e menos ativos, avaliados a partir do seu GNB, tenderão a

apresentar BPIS diferentes, semelhantes ao eixo proativo-reativo da estratégia de

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33 enfrentamento, respectivamente. Animais com caracteristicas mais sociáveis, por sua vez,

apresentarão menores indicadores de estresse comportamental 2) Os indivíduos com

características ativas terão maior quantidade de MFG excretado, enquanto que os mais

sociáveis apresentarão menos. 3) Conforme já visto em outros trabalhos com o mesmo gênero

(Ferreira et al., 2016; Mendonça-Furtado, 2006), prevemos ausência ou diferenças mínimas

entre os sexos, nas variáveis estudadas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ANIMAIS E LOCAL DE ESTUDO

A pesquisa foi realizada em uma amostra de 31 macacos-prego (Sapajus libidinosus),

sendo 18 machos e 13 fêmeas, distribuídos em 7 grupos sociais (tabela 1). Os grupos

variavam em número de 3 a 9 animais, incluindo infantes, juvenis, subadultos e adultos de

ambos os sexos. As coletas ocorreram em três lugares, sendo: um zoológico (João Pessoa,

Paraíba) e dois Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) em Cabedelo, Paraíba e

Natal, Rio Grande do Norte, entre os anos de 2013 e 2016. Os indivíduos eram identificados

através de características físicas próprias, tais como cor, tamanho e formatos da cabeça e do

corpo. A idade exata, a origem dos animais e a quantidade de tempo que cada um se

encontrava nesses ambientes são variáveis desconhecidas e, portanto, não foram consideradas

nessas análises. Além disso, excluímos de nosso estudo os infantes e juvenis, analisando

somente adultos e subadultos de nossa amostra.

2.2. COLETA DE DADOS COMPORTAMENTAIS

Baseado na literatura para macacos prego cativos (Ferreira et al., 2016) , definimos um

etograma com 13 comportamentos normativos de gênero (GNB) e 10 comportamentos

potencialmente indicativos de estresse (BPIS). Os dados comportamentais foram coletados

através do método ‘animal focal’ (Altmann, 1974), em sessões de 10 minutos por dia, por

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34 individuo, durante o período da tarde. O etograma foi dividido em eventos e estados (tabelas 2

e 3). Para os estados, a amostragem era instantânea, com registros a intervalos de 30

segundos, totalizando 20 registros comportamentais (estados) diários por animal. Os eventos

foram quantificados em ‘todas as ocorrências’ (dentro dos 10 minutos do animal focal). O

tempo total de coleta comportamental foi de 170,39 horas durante 10 meses (entre 2013 e

2016). Além dos registros comportamentais, dados sobre proximidade social (vizinho mais

próximo na distância de um metro) e localização dentro do recinto também eram registrados a

cada 30 seg. Todas as ocorrências de comportamentos agonísticos foram registradas, a fim de

se calcular a hierarquia de dominância para cada grupo.

Os dados foram coletados por três autores desse trabalho (CS, EF e VF) e dois

assistentes. Um período piloto de treinamento e habituação ao etograma foi realizado antes do

início deste projeto, a fim de se obter concordância e consistência nos dados obtidos. Ao

alcançar um mínimo de 85% de concordância entre observadores, deu-se início, então, a

coleta de dados de maneira independente.

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35 Tabela 1: Composição dos grupos, tempo e período de observação.

Grupo Recinto Área (m²) Individuo Sexo Horas por recinto Mês/ano de observação

1 ILHA (PB) 112

Chicão M

27 Outubro/2015 à Janeiro/2016

Segundo F Supla F

Ré F Caco M Gaga F

2 CETAS (PB) 14

Buraco M

38,97

Novembro/2015 à Janeiro/2016

Maguila M Sanfona M

Libi M Gal F

Junior M Sandy F Inês F

Claudio M

3 CETAS (PB) 14

Catra M

12,64 Jony F Ramos M Tufo F

4 QUARENTENA (PB) 3

Sivuca M 14,49

Agosto/Outubro de 2015

Acordeom M Cabelinho M

5 QUARENTENA (PB) 3

Mi M 15,99 Riana* F

Romário M

6 CETAS (RN) 23

Ester F

40,64 Setembro/Dezembro de 2013

Hulk M Lula M

Soleil F

7 CETAS (RN) 23 Golias M

20,66 Queen F

* Fêmea prenhe: dados de MFG não inclusos

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36

Tabela 1: Comportamentos normativos de gênero (CNG).

Comportamento Definição Forragear Procura por comida, sem manuseio ou consumo Comer Traz comida até a boca, seguido de ingestão Manipulação de comida

Manipula a comida, a fim de tornar o consumo mais eficiente

Manipulação de ambiente

Tocar, morder, movimentar objetos ou parte do seu ambiente

Brincar só Empurrar e se pendurar, de maneira lúdica, em cordas, galhos, ramos e fios Grooming Manipular lentamente o pelo de outro individuo, com a boca ou com as mãos Brincar social Dois indivíduos interagem fisicamente ou perseguem um ao outro sem haver interação agonistica Comportamentos sexuais

Individuo abre seus olhos e se contorce, com movimentos de um lado para o outro, direcionando o comportamento para outro animal.

Scrounge Individuo se alimenta dos restos de comida que caem da boca de outro animal Agonismo* Qualquer briga, ameaça, incitação à agressão entre dois ou mais animais Observar ambiente Sentado ou em pé, escaneando seus arredores Inatividade Posição corporal relaxada. Olhos podem estar abertos ou fechados. Não ha observação do ambiente. Locomoção Locomoção vertical ou horizontal no ambiente, sem manipulação ou forrageamento. O trajeto não é repetido duas vezes no

mesmo focal Outros Comportamentos não contemplados no etograma.

* Comportamentos agonísticos foram utilizados apenas para a construção da hierarquia de dominância, não sendo integrados ao Orçamento de atividades

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37

Tabela 2: Comportamentos indicadores de estresse.

Comportamento Definição Tipo Locomoção aberrante Se locomove, sem objetivo, no mesmo percurso repetidas vezes Estado Movimento pendular Balança seu corpo de um lado para o outro ou de trás para frente Evento/Estado Giro de cabeça Gira a cabeça, para cima e para os lados, rapidamente Evento

Pirueta Gira o corpo em 360° ao redor de si mesmo. Pode estar se locomovendo

Evento

Autocatação Se cata com as mãos ou com a boca, compulsivamente Estado Autoenganchar Se encolhe em si mesmo, abraçando a si próprio com as mãos, as

pernas e o rabo. Não esta em uma posição relaxada Estado

Ingestão/Manipulação de Fluidos Corporais

Manipula e/ou ingere fluidos corporais (vômito, fezes, urina e esperma)

Evento/Estado

Automasturbação Estimula e manipula seu próprio genital Evento/Estado Coçar Coça seu próprio corpo com as mãos ou pés Evento/Estado Display para humanos Semelhante aos comportamentos sexuais, mas direcionado para

humanos Evento/Estado

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38

2.3. COLETA DE FEZES E ANÁLISES DE METABÓLITOS FECAIS DE

GLICORTICÓIDES

A fim de medirmos a reatividade do eixo HPA um dos métodos menos intrusivos é,

atualmente, através das análises de metabólitos fecais de glicocorticoides (MFG). Devido a

limitações práticas (Cavigelli & Caruso, 2015), a coleta de fezes foi realizada de maneira

oportunista, no mínimo, 3 vezes por semana, em dias não consecutivos, pela manhã ou pela

tarde, para todos os animais observados. Testamos estatisticamente a influência da variação

circadiana nos níveis de MFG através da ANOVA (separação em três blocos de horas: das

07:00 às 09:59; das 10:00 às 12:59; das 13:00 às 15:59) e correlação de Pearson (Hora x

Niveis de MFG). Não houve diferença significativa entre os blocos de horários (Z= 0,495;

p=0,609), nem correlação entre o horário de coleta e os níveis de MFG (r=-0,042; p=0,284).

Após a defecação, sendo identificado o indivíduo, a coleta ocorria dentro de um

período de duas horas, em seguida, as fezes eram acondicionadas em tubos eppendorf

contendo informações como nome do animal, hora da defecação, hora da coleta e data. As

amostras foram congeladas até sua o momento da análise. O total de amostras fecais coletadas

e analisadas foi de 668, com média de 22,26 amostras para cada individuo.

Para a dosagem dos MFGs, o método imunoenzimático utilizado foi o ELISA, baseado

nos trabalhos de Munro & Stabenfeldt (1984) e Ziegler & Sousa (2000) e as amostras

analisadas no Laboratório de Medidas Hormonais da UFRN. Os protocolos laboratoriais

foram previamente validados para a espécie em estudo pelo mesmo laboratório e podem ser

encontrados em Chagas, (2016).

Para extrair os esteroides das amostras, foi pesado 0,1g de amostra fecal, sendo,

posteriormente, diluído em 1 ml de metanol 80% (v/v). A diluição foi sujeita a 30 minutos de

mistura por vórtex (WWR Scientific Products) e 10 minutos de centrifugação a 3000 rpm para

separação entre fezes e extrato (centrífuga Fanem, Excelsa® mod. 280). 500 μl do extrato

suspenso foram pipetados em eppendorfs, os quais foram guardados no freezer a -20ºC.

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39

Durante os procedimentos ELISA, 25 μl dos extratos fecais foram pipetados em tubos

de ensaio e evaporados por uma cascada de ar filtrado (Secadora de Tubos Organomation

Associates, Inc.), depois disso as amostras foram resuspensas em 975 μl de tampão EIA (fator

de diluição: 1:40). Os extratos resuspensos (25 μl, cada amostra) foram, então, pipetados em

minitubos de plástico com 275 μl de solução HRP-F (1:37.500 em EIA). Cada amostra foi

ensaiada em duplicata (100 μl em cada poço) e as placas lidas em Espectrofotômetro Epoch,

através do software Gen5. Os coeficientes de variação intra e inter ensaio foram inferiores à

20%, evidenciando a confiabilidade das análises (Chagas, 2016).

2.4. ANÁLISES ESTATÍSTICAS

A partir das amostragens de estados e eventos, computamos, de maneira individual, o

orçamento de atividades dos GNB e o orçamento (estado) e frequência (evento) de exibição

de BPIS. Para o orçamento, estimamos o tempo alocado (em porcentagem) para cada

atividade baseado na proporção de focais, ou seja, o número de registros intervalares em um

comportamento X foi dividido pelo número total de registros focais para dado indivíduo. Em

relação a frequência, o total de eventos exibidos foi dividido pelo total de horas dedicadas à

observação individual. A frequência nos permite ver a quantidade de eventos por hora e o

orçamento a proporção geral de cada comportamento na rotina do animal.

Levando em consideração a sociabilidade da espécie e a formação de hierarquias

estabelecidas dentro dos grupos, calculamos a dominância intragrupo através dos eventos de

agressões e afastamentos entre os indivíduos. Para os grupos onde havia maior quantidade de

interação agonística (grupos 3, 4, 5, 6 e 7) e o n amostral permitu, calculamos o índice de

dominância através do software SOCPROG 2.4 (Whitehead, 2009) e o índice utilizado foi o

IMD, Índice Modificado de David (de Vries et al. 2006). Para os grupos onde nem todos os

animais se envolviam em interações agonísticas ou essas eram pouco frequentes (grupos 1 e

2), a hierarquia foi classificada segundo comunicações pessoais de tratadores e dos próprios

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40 autores deste trabalho. A partir dessas informações, cada animal, dentro de seu grupo, foi

classificado do mais dominante ao mais subordinado.

Para testar a predição 1, primeiramente definimos eixos do perfil comportamental

separadamente para comportamentos GNB e BPIS, usando a Análise de Componentes

Principais (PCA), com rotação direct oblimin devido a dependência dos dados. O input dos

dados ocorreu da seguinte maneira: apenas GNB (estados), a fim de identificarmos os eixos

comportamentais normativos da espécie, e apenas BPIS (estados e eventos,

concomitantemente), a fim de observar os possíveis estilos de enfrentamento existentes entre

os indivíduos. Valores do Kaiser-Meyer-Olkin (KMOGNB=0,532; KMOBPIS=0,536) e do teste

de esfericidade de Bartlett (GNB: X2=153,490, p<0,001; BPIS: X2=425,435, p<0,001)

mostram a adequação de nossa amostra (n=31).

Valores de eigenvalue maior que 1 e itens que pontuavam mais que 0.5 foram

considerados como parte do componente. Quando algum item pontuava em mais de um

componente, apenas o componente que apresentava o item de maior valor era considerado.

Em seguida, fizemos uma análise de correlações parciais (controladas por dominância) entre

os fatores GNB e BPIS obtidos.

Para testar a predição 2, os valores obtidos nas análises de MFG foram compilados em

4 índices individuais: mediana, média, máxima, mínima. A partir disso, foram realizadas

correlações parciais (controlando por dominância) para verificar se os eixos dos perfis

comportamentais GNB e BPIS correlacionavam com os níveis de MFG.

Para testar a predição 3, um teste t de amostras independentes foi realizado a fim de

verificar a diferença entre machos e fêmeas dentro de todas as variáveis estudadas.

Dada a não normalidade, os níveis de significância foram definidos a partir de

bootstrap de 1000 amostras. Todas as análises foram conduzidas usando o IBM SPSS 21,

com significância fixada à 5% e tendências a 6%.

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41 3. RESULTADOS

3.1. ANÁLISES DESCRITIVAS

Em média, os comportamentos relacionados à alimentação (Comer, Forragear e

Manipular comida) representaram um terço das atividades diárias dos indivíduos (33,89%).

Vigilância (Observar ambiente) e Locomoção compreenderam um quinto do orçamento de

atividades dos indivíduos (22,08% e 19,46%, respectivamente). Seguido de 8.86% dedicado

aos BPIS Estado e 8.08% aos comportamentos sociais (Catação, Brincar social e

Comportamento sexual). Os comportamentos restantes contribuem, em conjunto, com menos

de 10% do orçamento total de atividades (figura 1).

No caso dos BPIS Estado que influenciam no orçamento de atividades, o

comportamento mais presente foi a ‘Locomoção Aberrante’, ocorrendo em 4,28% dos focais,

seguido da ‘Autocatação’ e ‘Manipulação e ingestão de fluidos corporais’ e ‘Coçar’, que

foram exibidos, somados, em 3,94% dos focais (figura 2). Por outro lado, em relação aos

BPIS Evento, os animais realizaram, em média, 42,41 BPIS Evento por hora ou 0,70 BPIS

evento por minuto. BPIS como ‘Giro de cabeça’ e ‘Coçar’ foram responsáveis pela quase

totalidade desses eventos, com média de 0,58 eventos por minuto. Os outros BPIS

contribuíram com, aproximadamente, 0,11 eventos por minuto (figura 3).

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Figura 1: Orçamento de atividades. Os resultados são apresentados em porcentagem média do total de indivíduos (n=31)

Figura 2: Detalhamento do orçamento de atividades de BPIS Estado. Os resultados são apresentados em porcentagem média do total de indivíduos (n=31)

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Figura 3: Frequência média por hora de BPIS eventos

3.2. PADRÃO COMPORTAMENTAL

Não houve diferenças entre machos e fêmeas para os comportamentos que compõem o

GNB. No entanto, encontramos diferença significativa entre machos e fêmeas ao exibir o

BPIS Coçar (evento) (t=2,061; p=0,042), com machos exibindo maior frequência

(0.28/minuto) que fêmeas (0,20/minuto). Além disso, houve uma tendência de machos

exibirem mais o BPIS ‘Autocatação’ quando comparados às fêmeas (1,8% e 0,9% do

orçamento de atividades, respectivamente) (t=1,831; p=0,061).

3.3. PERFIL COMPORTAMENTAL GNB E BPIS

Para o perfil de GNB, o PCA gerou 4 fatores (tabela 4). O primeiro fator, nomeado

‘Sociabilidade’ (24,96% da variância explicada) foi composto, principalmente, de

comportamentos sociais como ‘Catação’, ‘Brincar social’ e ‘Comportamento sexual’. O

segundo fator (19,30% da variância), designado ‘Vigilância’, foi composto positivamente por

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44 ‘Observar ambiente’ e negativamente para comportamentos relacionados à alimentação

(Comer, Forragear e Manipular comida). O terceiro fator (16,16% da variância) foi composto

por ‘Manipular ambiente’ e ‘Brincar só’ e foi denominado ‘Exploração’. O quarto, e último,

fator do GNB (11,86% da variância) pontuou positivamente em ‘Locomoção’ e ‘Scrounge’ e

negativamente em ‘Inatividade’, esse fator foi nomeado ‘Atividade’. Os perfis

comportamentais não apresentaram diferenças significativas entre os sexos (Sociabilidade: t=-

1,048 p=0,309; Vigilância: t=0,326, p=0,771; Exploração: t=0,578, p=0,571 e Atividade: t=-

1,716, p=0,122).

Para o perfil de BPIS, o PCA gerou 5 fatores (tabela 5). O primeiro fator do perfil

BPIS foi nomeado ‘Autodirecionado’ (explicando 27,37% da variância) reuniu os

comportamentos ‘Autoenganchar’, ‘Movimento pendular’ (estado e evento) e ‘Autocatação’.

O segundo fator, denominado ‘Inquieto’ (18,06% da variância), pontuou positivamente para

os comportamentos ‘Locomoção Aberrante’ e ‘Automasturbação’ (estado e evento). O

terceiro fator pontuou positivamente para ‘Manipulação/Ingestão de Fluidos Corporais’

(estado e evento) e ‘Coçar’ (evento), o nomeamos como fator ‘Manipulativo/Ingestivo’

(15,68% da variância). O quarto fator, nomeado Head Twirl, explica 8,98% da variância,

obteve valores positivos para ‘Giro de cabeça’ e negativos para ‘Coçar’ (estado). O quinto

fator, denominado Body Twirl (8,85% da variância explicada), obteve valores positivos para

‘Pirueta’ e negativos para ‘Display para humanos’. Semelhantemente aos fatores de GNB, não

houve diferenças significativas entre machos e fêmeas (Autodirecionado: t=-1,472, p=0,333;

Inquieto: t= -0,441, p=0,691; Manipulativo/Ingestivo: t=0,647, p=0,527; Head Twirl:

t=0,727, p=0,483 e Body Twirl: t=-0,142, p=0,892).

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45 Tabela 4: PCA dos GNBs, matriz de estrutura pelo método Oblimin direto, seus componentes e a variância explicada

Componentes

Sociabilidade Vigilância Exploração Atividade Catação ,768 ,305 -,049 -,446

Comportamento sexual ,746 -,215 -,017 ,003

Observando ambiente -,722 ,598 -,162 ,087 Brincando com outro ,710 ,195 ,250 -,216

Comendo ,082 -,865 -,074 -,006 Forrageando ,069 -,801 -,068 -,168

Manipulando comida -,040 -,740 ,357 ,051 Manipulando ambiente ,158 ,020 ,959 -,110

Brincando só ,021 -,075 ,955 -,008 Locomovendo -,262 ,283 -,169 ,828

Scrounge -,219 ,113 -,099 ,715 Inativo -,023 ,154 -,081 -,678

% de variância explicada 24,96 19,30 16,16 11,86

Tabela 5: PCA dos BPIS, matriz de estrutura pelo método Oblimin direto, seus componentes e a variância explicada

Componentes

Autodirecionado Inquieto Manipulativo/Ingestivo Head Twirl Body Twirl Autoenganchar (estado) ,958 -,073 ,271 -,120 -,009

Movimento pendular (estado) ,949 -,048 -,065 -,149 -,023

Movimento pendular (evento) ,948 -,061 -,048 -,156 -,023 Autocatação (estado) ,804 ,278 ,259 -,075 ,061

Automasturbação (estado) ,081 ,965 -,011 ,000 -,038 Automasturbação (evento) ,008 ,959 ,004 ,010 -,052

Locomoção aberrante (estado) -,116 ,680 -,140 -,379 ,135 Manipulação/Ingestão de Fluidos Corporais

(estado) ,111 -,038 ,948 ,094 -,008

Manipulação/Ingestão de Fluidos Corporais (evento)

-,074 -,020 ,846 ,104 -,043

Coçar (evento) ,516 -,078 ,677 ,018 -,146 Giro de cabeça (evento) -,083 -,208 -,031 ,827 ,325

Coçar (estado) ,229 -,131 -,184 -,762 ,378 Pirueta (evento) -,142 -,049 -,185 ,043 ,718

Display para humanos* (evento) -,106 -,059 -,115 ,034 -,685

% de variância explicada 27,37 18,06 15,68 8,98 8,85

* O comportamento ‘Display para humanos’ não ocorreu como estado

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3.4. CORRELAÇÕES ENTRE EIXOS E UNIDADES

COMPORTAMENTAIS

Ao relacionar os fatores GNB e fatores BPIS (tabela 7) apenas o fator ‘Head Twirl’

apresentou correlação positiva e significativa com ‘Atividade’ (R2= 0,500; p= 0,005) e

tendências negativas com ‘Sociabilidade’ (R2= -0,358; p= 0,052) e ‘Exploração’ (R2= -0,351;

p=0,057). Além disso, existiu uma tendência negativa entre ‘Manipulativo/Ingestivo’ e

‘Atividade’ (R2= -0,349; p=0,059).

Tabela 7: Análises de Correlação entre fatores GNB e fatores BPIS

FATORES Autodirecionado Inquieto Manpiulativo/Ingestivo Head Twirl Body Twirl

Sociabilidade -,296 ,108 -,300 -,358 ,145 Vigilância -,088 ,092 -,191 ,037 -,006 Exploração -,112 -,093 -,107 -,351 ,221 Atividade -,272 -,250 -,349 ,500** ,057

* p≤0,05 ; ** p≤0,01 ; *** p≤0,001; Tendências estão sublinhadas

As correlações entre as unidades comportamentais de GNB e BPIS, a partir dos eixos

gerados no PCA, se encontram na tabela 8. Dentro do eixo ‘Sociabilidade’, o comportamento

‘Brincar social’ apresenta correlação negativa com o BPIS ‘Coçar’ evento (R2= -0,428

p=0,018) e uma tendência de relação negativa com ‘Total de BPIS Evento’ exibido (R2= -

0,353; p=0,056). A ‘Catação’, por sua vez, exibe correlação negativa e significativa com o

‘Total de BPIS Evento’ (R2= -0,365; p=0,047).

Dentro do eixo ‘Vigilância’, o comportamento “Manipular comida” correlacionou

positiva e significativamente com “Manipular e/ou ingerir fluidos corporais” evento e uma

tendência positiva para seu equivalente em estado (R2= 0,552; p=0,002 e R2= 0,348; p=0,060,

respectivamente). Outro comportamento que correlacionou positivamente com esse BPIS foi

o de ‘Forragear’, no entanto, apenas para eventos (R2= 0,391; p=0,033). Para ‘Observar o

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47 ambiente’ a correlação apesar de significativa foi positiva para ‘Coçar’ evento (R2= 0,495;

p=0,005) e negativa para ‘Coçar’ estado (R2= -0,379; p=0,039).

Para o eixo ‘Exploração’, as duas unidades comportamentais que o compõem,

‘Manipula ambiente’ e ‘Brincar só’, correlacionaram de maneira positiva com o BPIS ‘Coçar’

estado (R2= 0,579; p=0,001 e R2= 0,560; p=0,001, respectivamente). No eixo ‘Atividade’, os

comportamentos ‘Locomoção’ e ‘Inatividade’ foram os que mais se correlacionaram com os

BPIS dentre os comportamentos analisados. Para a ‘Locomoção’ as correlações foram

positivas com a unidade comportamental principal do fator BPIS ‘Head Twirl’, ‘Giro de

Cabeça’ (R2= 0,519; p=0,003) e com ‘Total de BPIS Evento’ (R2= 0,466; p=0,009). As

correlações negativas ocorreram com ‘Locomoção Aberrante’ (R2= -0,376; p=0,041), ‘Coçar’

estado’ (R2= -0,383; p=0,037),‘Total de BPIS Estado’ (R2= -0,576; p=0,001). Ainda no

mesmo eixo, as correlações, todas positivas, do comportamento ‘Inatividade’, ocorreram com

algumas unidades dos eixos ‘Autodirecionado’ e ‘Manipulativo/Ingestivo’ como

‘Autoenganchar’ (R2= 0,472; p=0,008), ‘Autocatação’ (R2= 0,464; p=0,010) e ‘Manipular

e/ou ingerir fluidos corporais’ em estado e evento (R2= 0,600; p<0,001 e R2= 0,407; p=0,026,

respectivamente). Houve, também, correlação positiva com ‘Coçar’ evento (R2= 0,397;

p=0,030) e o ‘Total de BPIS Estado’ (R2= 0,406; p=0,026).

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Tabela 8: Análises de Correlação entre unidades comportamentais do GNB e BPIS

AUTODIRECIONADO INQUIETO MANIPULATIVO/INGESTIVO HEAD TWIRL BODY TWIRL TOTAL

AEs MPs MPe ACs LAs AMs AMe MIFs MIFe CCe GCe CCs PIe DHe BPIS ESTADO BPIS EVENTO

Sociabilidade

Catação -0,28 -0,269 -0,279 -0,025 0,214 0,114 0,079 -0,083 -0,218 -0,332 -0,297 0,24 0,179 0,036 0,137 -,365* Brincar social -0,19 -0,118 -0,13 -0,103 -0,042 0,007 -0,008 -0,261 -0,239 -,428* -0,21 0,319 -0,225 -0,111 -0,12 -0,353 Comportamento sexual -0,24 -0,143 -0,101 -0,197 0,04 0,021 0,009 0,062 0,284 -0,285 -0,194 0,139 0,154 -0,087 -0,003 -0,205

Vigilância

Observa ambiente 0,17 -0,003 0,002 0,206 -0,217 -0,155 -0,169 0,226 -0,076 ,495** 0,086 -,379* -0,097 -0,063 -0,124 0,156

Comer 0,151 0,25 0,26 -0,068 0,071 -0,138 -0,088 0,038 0,211 0,022 0,084 0,088 -0,264 0,127 0,098 0,085

Manipula comida 0,005 -0,042 -0,045 -0,204 -0,302 -0,164 -0,176 0,348 ,551** 0,096 0,212 0,028 0,086 0,134 -0,202 0,272

Forragear 0,118 0,218 0,193 0,007 -0,053 0,026 0,024 0,168 ,391* -0,021 -0,083 0,195 -0,016 -0,108 0,064 -0,033

Exploração Manipula ambiente -0,133 -0,125 -0,121 -0,158 0,053 -0,001 -0,021 -0,107 -0,113 -0,077 -0,167 ,578*** 0,168 -0,054 0,035 -0,172

Brincar só -0,068 -0,039 -0,041 -0,154 -0,031 -0,039 -0,045 -0,077 -0,073 0,006 -0,105 ,560*** 0,144 -0,047 -0,018 -0,091

Atividade

Locomoção -0,297 -0,209 -0,212 -0,302 -,376* -0,144 -0,169 -0,322 -0,175 -0,101 ,519** -,383* 0,242 0,091 -,576*** ,466**

Inativo ,472** 0,152 0,149 ,464** 0,075 0,14 0,164 ,600*** ,407* ,397* -0,316 0,069 -0,185 0,18 ,406* -0,189

Scrounge -0,112 -0,071 -0,075 -0,256 -0,213 -0,095 -0,086 -0,175 -0,102 0,038 0,203 -0,328 -0,133 -0,084 -0,344 0,163

LEGENDA: LA: Locomocação Aberrante; MP: Movimento Pendular ; AE: Autoenganchar ; CC: Coçar ; AM: Masturbação ; AC: Autocatação ; MIF: Manipulação/Ingestão de Fluidos

Corporais ; GC: Giro de Cabeça ; PI: Pirueta ; DH: Display para Humanos; * p≤0,05 ; ** p≤0,01 ; *** p≤0,001; Tendências estão sublinhadas

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3.5. CORRELAÇÕES ENTRE COMPORTAMENTOS, FATORES E MFG

Não houve diferenças significativas entre machos e fêmeas para nenhum dos índices de

MFG considerados (mediana: t=1,250; p= 0,169; média: t=1,027; p=0,377; máxima: t=1,083;

p=0,376; mínima: t=1,494; p=0,131).

Os únicos fatores, tanto do GNB quanto BPIS, a se correlacionarem significativamente

com os índices de MFG foram ‘Sociabilidade’ e ‘Head Twirl’ (tabela 9). O fator ‘Sociabilidade’

do perfil GNB correlacionou negativamente com a Mediana do MGF (R2= -0,548; p= 0,002) e o

fator ‘Head Twirl’ do perfil comportamental BPIS correlacionou positivamente com a Mediana

(R2= 0,381; p= 0,042), Média (R2= 0,494; p= 0,006) e Máxima (R2= 0,485; p= 0,008).

Tabela 9: Correlações de fatores GNB e BPIS com MFG

R2 p Mediana

Sociabilidade -,548 ,002

Head Twirl ,381 ,042

Média

Head Twirl ,494 ,006 Máxima

Head Twirl ,485 008

Refinando a análise, ao correlacionar a mediana de MGF com as unidades

comportamentais do GNB e BPIS (tabela 10), verificam-se correlações positivas com ‘Observar o

ambiente’ (R2= 0,430; p= 0,020), BPIS ‘Coçar’ evento (R2= 0,436; p= 0,018), ‘Autocatação’

(R2= 0,422; p= 0,023) e o ‘Total de BPIS Evento’ (R2= 0,432; p= 0,019). Correlações negativas

com ‘Brincar social’ (R2= -0,466; p= 0,011) e ‘Comportamento sexual’ (R2=-0,433; p= 0,019).

Houve uma tendência positiva com o ‘Total de BPIS Estado’ (R2= 0,354; p= 0,059).

A média correlacionou-se significativa e positivamente com ‘Locomoção’ (R2= 0,407; p=

0,028), ‘Giro de Cabeça’ (R2= 0,553; p= 0,002) e o ‘Total de BPIS Evento’ (R2= 0,571; p=

0,001). O valor máximo seguiu a mesma tendência dos valores medianos (tabela 10).

O valor mínimo se correlacionou positivamente com ‘Inatividade’ (R2= 0,418; p= 0,024) e

com o BPIS ‘Coçar’ evento (R2= 0,441; p= 0,017), havendo uma tendência positiva com o ’Total

de BPIS Estado’ (R2= 0,363; p= 0,053) e negativa com ‘Comportamento sexual’ (R2=-0,364; p=

0,052) (tabela 10).

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50 Tabela 10: Correlações de GNB e BPIS com MFG

R2 p Mediana

Observar o ambiente ,430 ,020

Brincar social -,466 ,011

Comportamento sexual -,433 ,019

Coçar (evento) ,436 ,018

Autocatação ,422 ,023

Total BPIS Evento ,432 ,019

Total BPIS Estado ,354 ,059

Média

Locomoção ,407 ,028

Giro de cabeça ,553 ,002

Total BPIS Evento ,571 ,001 Máxima

Locomoção ,392 ,035

Giro de cabeça ,544 ,002

Total BPIS Evento ,553 ,002 Mínima Inatividade ,418 ,024

Coçar (evento) ,441 ,017

Total BPIS Estado ,363 ,053

4. DISCUSSÃO

O orçamento de atividades destes 31 macacos-prego, mantidos em CETAS e zoológico do

RN e PB, não variou muito quando comparado ao já visto em macacos-prego em outros

cativeiros. Aproximadamente 9% do tempo foi dedicado aos BPIS, semelhante ao encontrado por

Silva (2015) (11%), abaixo do encontrado por Ferreira et al. (2016) (17%) e Mendonça-Furtado

(2006) (>20%) e muito abaixo do descrito por Boinsky et al. (1999) para macacos prego alojados

individualmente (54%). Algumas dessas diferenças podem ocorrer pelo fato de separarmos os

BPIS em estados e eventos. Diferenciar eventos de estados parece mais eficiente para quantificar

as estereotipias que são mais curtas, enquanto Silva (2015) encontrou 5,7 estereotipias por hora,

quantificando apenas estados, nossa pesquisa viu que a média de eventos foi de 42,41 eventos por

hora ou 0,7 por minuto, acima do encontrado (0,45 por minuto) por Ferreira et al. (2016) em

Sapajus spp.

Conforme esperado, não constatamos diferenças entre os sexos dentro dos perfis

comportamentais, no entanto, encontramos que machos se coçam e tendem a se autocatar mais do

que fêmeas. Uher et al. (2013) e Ferreira et al. (2016) também não encontraram diferenças

sexuais nem nas dimensões de personalidade, nem nos estilos de enfrentamento em indivíduos da

mesma espécie. Uma possibilidade para a ausência de diferençaas sexuais no padrão

comportmental é a homogeneidade e limitacão ambiental, além da oferta abundante de alimentos,

em relação aos grupos selvagens.

Nossos PCAs dectetaram 4 componentes para o GNB (Sociabilidade, Vigilância,

Exploração e Atividade) e 5 componentes para o BPIS (Autodirecionado, Inquieto,

Manipulativo/Ingestivo, Head Twirl e Body Twirl).

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51

O fator ‘Sociabilidade’ assemelha-se a um dos eixos de investigação da personalidade

animal propostos por Réale et al., (2007). Este autor denomina indivíduos sociáveis como

indivíduos que buscam contato com outros coespecíficos, enquanto indivíduos não sociáveis o

evitam. Em nosso estudo, esse fator, além de pontuar positivamente apenas para comportamentos

claramente sociais, vem acompanhado de uma correlação negativa com a exibição de ‘Total BPIS

Evento’ e ‘Coçar evento’, e tendência negativa para exibir o fator ‘Head Twirl’. Morton et al.

(2013) também encontraram um eixo ‘Sociabilidade’ em Sapajus apella cativos. No trabalho

desses autores, os animais que pontuaram mais em ‘Sociabilidade’ foram classificados como

sociavéis e amigáveis, pontuando negativamente em características como ansiosos e depressivos.

Em relação aos níveis de MFG, apresentou a correlação negativa mais forte. Devido ao

dado ser correlacional, não se pode dizer se o contato social alivia o estresse ou se indivíduos

menos estressados mantêm maior contato social. No entanto, é possível afirmar que variações

individuais no perfil comportamental expõem os animais de maneira diferente às condições

estressoras, ou seja, indivíduos que tem maior contato social tem menor indicador fisiológico e

comportamental de estresse em situação de cativeiro, que indivíduos com menor contato social,

como visto por DeVries et al. (2003).

O fator ‘Vigilância’ se assemelha ao eixo ‘Neuroticismo’, descrito para Cebus capucinus

e Sapajus apella, respectivamente (Manson & Perry, 2013; Robinson et al., 2016).

Complementando nosso resultado, as correlações mostram que animais que observam o ambiente

em maior constância, se coçam com maior frequência. O correlato fisiológico positivo entre

ambas as unidades comportamentais (‘Observar ambiente’ e ‘Coçar evento’) com os níveis de

MFG, nos leva, então, a sugerir que ‘Vigilância’ indica um estado de afeto negativo e,

consequentemente, os animais que o exibem em maior grau tendem a apresentar bem-estar

comprometido. Outros relatos da literatura científica corroboram este achado: comportamentos de

alarme, orientação e vigilância aumentada estão, ligados ao estresse e apresentam

correspondência fisiológica (Morgan & Tromborg, 2007; Rimpley & Buchanan-Smith, 2013).

Ainda no eixo ‘Vigilância’, ao correlacionar outras unidades comportamentais do GNB

com os BPIS, vê-se que comportamentos como “Comer”, “Manipular comida” e “Forragear” se

correlacionam positivamente (ainda que algumas sejam não significativas) com unidades do fator

de BPIS ‘Manipulativo/Ingestivo’, que incluem comportamentos de ‘Manipulação e Ingestão de

Fezes’. Além da hipótese de que há uma deficiência nutricional motivando esse BPIS (Prates &

Bicca-Marques, 2005), sugerimos a existência de um padrão semelhante à síndrome de

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52 hiperfagia. Estudos em seres humanos obesos evidenciam que o ato de ingerir altas quantidades

de alimentos previne ou diminui certos estados emocionalmente negativos, como depressão e

tédio. A hiperfagia também é vista em ratos saciados quando submetidos ao estresse de serem

levantados pela cauda (Rowland & Antelman, 1976).

O terceiro fator ‘Exploração’, que inclui ‘Manipular ambiente’ e ‘Brincar só’, apresenta

característica do eixo ‘Abertura’. Animais mais ‘abertos’ foram classificados como mais

curiosos, criativos e brincalhões (Morton et al., 2013; Robinson et al., 2016; Mason & Perry,

2013). Ambas as unidades comportamentais deste fator se correlacionaram positivamente com

‘Coçar Estado’, assemelhando-se a têndencias de comportamentos perseverativos. Apesar de não

haver correspondência deste fator com os níveis de MFG, encontramos na literatura que, para

macacos-prego avaliados como curiosos, existe correlação negativa entre esse traço de

personalidade e o cortisol (Byrne & Suomi, 2002). Em seres humanos, homens e mulheres que

pontuam mais em ‘Abertura’ apresentam menor resposta ao estresse psicosocial de falar em

público (Caramaschi et al., 2013).

O fator GNB ‘Atividade’ é um dos fatores resultantes mais importantes para testar nossa

hipótese. Semelhante ao proposto por autores como Réale et al., 2007, Careau et al., 2008 e Biro

& Stamps, 2010, achamos, na nossa pesquisa, um eixo bastante estudado: o eixo rápido-lento ou

atividade-inatividade. Esse eixo, além de explicar 11,86 % da variação do perfil de GNB, mostra

que animais mais ativos se engajam com maior frequência na exibição de BPIS menos demoradas

como o fator ‘Head Twirl’ e fazem mais BPIS eventos do que BPIS estados. Os indivíduos que

pontuam menos nesse eixo, por outro lado, ficam mais apáticos e apresentam BPIS mais

estacionárias, como ‘Autoenganchar’, ‘Autocatação’ (ambas do fator BPIS ‘Autodirecionado’) e

‘Manipulação/ingestão de fluidos corporais’ (do fator BPIS “Manipulativo/Ingestivo”).

Esse resultado corrobora a nossa hipótese em relação aquela proposta por Ijichi et al.

(2013): Animais mais ativos desenvolvem estratégias diferentes daqueles que são reativos e têm

maior tendência ao desenvolvimento de BPIS mais instantâneas e frenéticas, enquanto os menos

ativos desenvolvem BPIS mais duradouras e autodirecionadas.

Quando focamos exclusivamente nos dois primeiros fatores de BPIS (Autodirecionado e

Inquieto), que explicam a maior parte da variância, percebe-se um quadro similar. Esses fatores

são semelhantes aos dois eixos básicos da estratégia de enfrentamento (Koolhaas et al., 1999,

2010). O fator Autodirecionado com alta proporção de ‘Autoenganchar’, ‘Autocatação’ e

‘Movimento pendular’ parece refletir a estratégia de enfrentamento Reativo. Por sua vez, o fator

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53 Inquieto, com maior exibição de ‘Locomoção Aberrante’ e ‘Masturbação’ se assemelha ao lado

Proativo do contínuo. Esse eixo ativo-reativo já havia sido detectado anteriormente por Ferreira

et al. (2016), em um estudo com uma população diferente de 123 macacos-prego cativos, em

situações semelhantes.

Apesar do esperado, nem o fator GNB ‘Atividade’, nem BPIS ‘Inquieto’ correlacionaram

significativamente com os níveis de MFG. Entretanto ao aprimorar as análises, indo para o nível

dos comportamentos que compõe os fatores, a ‘Locomoção’ correlacionou positiva e

significativamente com os níveis de MFG, mostrando que indivíduos que se locomovem mais,

apresentam, de fato, maiores níveis de excitação fisiológica.

Uma vez que a ‘Locomoção’ também se correlaciona com o ‘Total BPIS Evento’ e há

correlação entre ambas as variáveis e os níveis de MFG, os resultados podem advir de uma

covariância, pondo em questionamento, novamente, a eficácia do uso de BPIS como indicadores

de baixo bem-estar animal. O cortisol, sendo um glicocorticoide vital para atividades corporais

(como o sistema cardiovascular e metabólico), auxilia, quando necessário, a liberação de glicose,

ácidos graxos e triglicérides para os músculos e para o cérebro (Mormède et al., 2007). Portanto,

animais que se locomovem mais, podem apresentar maior nível de MFG, não devido ao estresse,

mas por demandarem maior quantidade de energia para suas atividades (Otovic & Hutchinson,

2015).

Em contrapartida, ao olharmos os níveis mínimos de MFG, verificamos que há correlação

positiva com a ‘Inatividade’. Isso mostra que não é necessária expressiva movimentação corporal

para que os níveis de glicorticóides estejam elevados. Além disso, animais mais inativos

apresentam maior incidência de ‘Total BPIS Estado’, ‘Coçar’ evento e ‘Autocatação’,

comportamentos que também correlacionam positivamente com níveis medianos de MFG.

Polizzi di Sorrentino et al. (2012) e Maestripieri et al. (1992) sugerem que, em primatas,

atividades como coçar e autocatação ocorrem, e se tornam mais evidentes, principalmente,

durante situações de estresse psicossocial e que tais comportamentos devem ser considerados

como indicadores do estado emocional de um indivíduo, ao se avaliar seu bem-estar.

A compilação desses resultados revela que ambos os extremos do contínuo atividade-

inatividade apresentam baixo nível de bem-estar. Poole (1998) considera tanto a extrema

hipoatividade (apatia, inércia) como a hiperatividade de primatas, um sinal de pobre bem-estar.

Smith et al. (1998) observaram que indivíduos de Callithrix kuhli aumentam os níveis de

locomoção após o primeiro dia em um novo ambiente, essa intensificação se correlaciona

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54 positivamente com níveis de cortisol urinário. Semelhantemente, pandas gigantes (Ailuropoda

melanoleuca), em cativeiro, aumentam a locomoção e apresentam maior nível de glicocorticoides

na urina, em dias muito barulhentos (Owen et al., 2004).

O fator ‘Atividade’, assim como o fator ‘Vigilância’, se assemelha ao ‘Neuroticismo’

encontrado em Sapajus apella e Cebus capucinus. Indivíduos neuróticos são classificados como

tensos, excitáveis, impulsivos e erráticos (Morton et al., 2013; Robinson et al., 2016; Mason &

Perry, 2013) Não é surpreendente, então, que esse fator se correlacione com vários tipos de BPIS

e com altos níveis de MFG. Efetivamente, vários estudos sugerem e relatam a importância do

neuroticismo como fator causal do surgimento de BPIS (Ijichi et al., 2013; Cussen & Mench,

2015) Sob essa perspectiva, nossos dados parecem corroborar nossa hipótese de que, enquanto

animais mais ativos reagem de maneira frenética e proativa, animais mais inativos reagem de

maneira reativa e, em ambos os extremos, os níveis de glicorticoides fecais estão elevados. De

um lado, em níveis médios e máximos, em outro em níveis mínimos.

Entre fatores de BPIS, o único que correlacionou positivamente com as medidas de MFG

foi o ‘Head Twirl’, que apresenta como único componente positivo o ‘Giro de cabeça’.

Resultados semelhantes foram encontrados por Pomerantz et al. (2012): macacos-prego que

exibiam ‘giro de cabeça’ mais frequentemente, apresentavam maior MFG fecal e maior viés

pessimista em testes de cognição. Por outro lado, contrariando outros resultados destes autores,

não foram achadas correlações positivas para ‘Locomoção aberrante’, nem para qualquer outra

estereotipia ou fator do PCA de BPIS. Uma possibilidade para essa disparidade de resultados

pode ser devido às diferenças metodológicas e de definição do etograma durante a coleta de

comportamentos semelhantes tais como a ‘Locomoção’ e a ‘Locomoção aberrante’.

O fato de ‘Body Twirl’ composto por ‘Pirueta’ e ‘Display para Humanos’ não ter

correlacionado com nenhuma das variáveis, nem em nível de fator, nem com as unidades

comportamentais, necessita maior investigação de como tais comportamentos podem ajudar o

animal a reagir ao estresse. Ferreira et al. (2016) também encontraram outos três eixos que ainda

necessitam maior elucidação, nomeados de “Auto-narcotização”, “Estereotipado” e “Busca por

ajuda”. Isso sugere a existência de outras formas de estratégia de enfrentamento usadas pelos

animais em situações de estresse.

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55

5. CONCLUSÃO

Nossos resultados indicam distintos perfis comportamentais normativos e estratégias de

enfrentamento da espécie na amostra de macasos-prego cativos estudada. Esses perfis e

estratégias apresentam correlatos fisiológicos e comportamentais que diferenciam os indivíduos e

as suas reatividades ao estresse. Animais em maior contato social, apresentam menor nivel de

estresse, tanto à nível fisiológico, quanto a nível comportamental. Animais mais vigilantes,

apresentam alto nível de MFG, se alimentam menos e se coçam mais. Por outro lado, dentro do

mesmo contínuo, animais que comem, forrageiam e manipulam mais comida, tem maior

tendência à manipularem e ingerirem fluidos corporais, sinalizando uma síndrome hiperfágica. A

locomoção tem relação com altos níveis de MFG e maior frequência de BPIS mais rápidas. No

entanto, a alta inatividade se relaciona com outro tipo de BPIS: as mais estacionárias e

duradouras, o que se reflete nos níveis mínimos elevados de MFG. Nesse trabalho, encontramos

um fator (Body Twirl) que precisa ser mais profundamente estudado a fim de sabermos qual o

impacto na saúde física e psicológica dos animais que o exibem. Os eixos de GNB e BPIS

encontrados, em particular o eixo Atividade, assemelham-se ao descrito em outros trabalhos para

outras espécies e pode lançar luz sobre a evolução e plasticidade comportamental dos animais e

nos humanos.

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56 6. REFERÊNCIAS

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63

CAPÍTULO 3

TIPOS COMPORTAMENTAIS E EFEITO DO ESTRESSE AGUDO EM

MACACOS-PREGO

Artigo a ser submetido ao periódico “Animal Welfare”

1. INTRODUÇÃO

Durante a vida em cativeiro, é bastante comum que os animais sejam submetidos

à procedimentos de manutenção e manejo, tanto em relação ao recinto (ex. entrada no

recinto por parte dos tratadores, limpeza), quanto aos próprios animais (ex. contenção

para coleta de material fisiológico e exames veterinários) (Morgan & Tromborg, 2007).

Em gatos-leopardo, dados experimentais mostram que a exposição a novos ambientes

produz alterações marcantes nos níveis de cortisol e sinais de excitação comportamental

(Carlstead et al., 1993). Em macacos rhesus (Macaca mulatta), por exemplo, foi visto

que a rotina de manejo causa alterações fisiológicas indicadoras de estresse, tais como

aumento na frequência cardiaca, aumento no nivel de hormônio do crescimento (GH) e

maior resposta leucocitária (Balcombe et al., 2004). A sobrecarga alostática decorrente

dessas alterações pode permanecer por até um mês até os indicadores comportamentais

e hormonais voltarem ao nível basal, como visto em Callithrix jacchus submetidos a

diferentes tipos de manejo rotineiro (Menezes-Galvão et al., 2016).

Primatas cativos em zoológicos, aquários ou centros de triagem podem ser

manejados entre recinto várias vezes, dentro do mesmo lugar ou entre diferentes

estabelecimentos. (Matheson et al., 2005). Em um estudo com 231 macacos rhesus, em

isolamento ou em dupla, viu-se que o numero de realocações impostas a um animal

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aumenta o risco de comportamentos autoabusivos (Rommeck et al., 2006). Os

resultados de Gottlieb et al. (2013), estudando a mesma espécie, corroboraram esses

resultados: cada realocação aumenta os comportamentos potencialmente indicadores de

estresse (BPIS) em 3%.

No entanto, nem todos os indivíduos reagem de maneira similar ao estresse.

Grand et al. (2012) estudando elefantes africanos (Loxodonta africana) em cativeiro,

verificaram que indivíduos classificados como ‘medrosos’ exibiam maior cortisol

salivar do que aqueles classificados como ‘sociáveis’ ou ‘eficazes’. As diferenças

individuais podem influenciar outros parâmetros fisiológicos: Maninger et al. (2003),

estudando os impactos do eixo Sociabilidade nas respostas imunológicas de Macaca

mulatta após retirada do grupo natal e realocação, viram que animais mais sociáveis

tinham maior resposta imunológica quando comparados aos indivíduos menos

sociáveis. Esses autores comentam que as mudanças físicas e sociais podem impactar de

maneira diferente a saúde dos indivíduos de uma colônia, em maior ou menor grau, com

base no perfil comportamental de cada animal. A nível comportamental, Barlow et al.

(2006) viram diferenças individuais em macacos Diana (Cercopithecus diana diana) em

ambiente de zoológico: em alta densidade de visitantes, alguns indivíduos reagem

exibindo mais BPIS, outros, por sua vez, aumentam a exibição de comportamentos

normativos, tais como brincar.

Na Europa, a maioria dos macacos-prego (Sapajus apella) cativos em zoológicos

foi realocada para diferentes lugares; ao menos uma vez em suas vidas, chegando até a

cinco mudanças para um único individuo (Dufour et al., 2011). Segundo Levacov et al.

(2011), entre 1996 e 2006, apenas no Brasil, 4631 primatas foram enviados para

CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) de todo pais, 28,1% desse total

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65

eram do gênero Sapajus. A frequente chegada de indivíduos nesses centros faz com que

a formação de novos grupos e realocação dos mesmos seja uma atividade costumaz.

Atualmente, planos de manejo que incluam as diferenças individuais têm guiado

às decisões que são tomadas em relação à manutenção de animais em cativeiro

(Coleman, 2012). Conhecer o perfil comportamental de um indivíduo pode prever sua

resposta quando submetido a diferentes experiências, isso inclui o próprio manejo e a

mudança de recinto (Coleman, 2012).

Esse capítulo tem por objetivo testar a hipótese de que macacos-prego com

diferentes traços de personalidade reagem de maneira distinta a um evento estressor de

realocação de recinto. Testamos as seguintes predições: 1. Animais mais sociais

reagirão (em nivel comportamental e fisiológico) de maneira menos intensa que animais

menos sociais; 2. Indivíduos mais ativos e exploradores apresentarão maior reação

comportamental e menor reação fisiológica, enquanto o oposto será verificado nos

indivíduos menos ativos, menos exploradores e mais vigilantes.

2. METODOLOGIA

Nosso estudo compreendeu dois grupos de macacos-prego (Sapajus spp.) aos

cuidados do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) de Cabedelo, no estado

da Paraiba. O primeiro grupo (a partir daqui chamado de C1) continha 9 individuos, 6

machos e 3 fêmeas. O segundo grupo (a partir daqui chamado de C2), continha 6

individuos, 3 machos e 3 fêmeas. Uma fêmea do grupo C2 morreu poucas horas após a

mudança e seus dados foram excluídos. Nosso n amostral para esse estudo foi de 12

animais (Tabela 1).

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Tabela 1: Composição dos grupos de Macaco-prego (Sapajus spp.) no CETAS de Cabedelo, Paraiba, Brasil

CETAS C1 CETAS C2 Nome Sexo Categoria Nome Sexo Categoria Buraco Macho Adulto Catra Macho Adulto Sanfona Macho Adulto Ramos Macho Adulto Maguila Macho Adulto Jony Fêmea Adulto Junior Macho Adulto - - -

Claudio Macho Adulto - - - Libi Macho Adulto - - - Gal Fêmea Adulto - - - Inês Fêmea Adulto - - -

Sandy Fêmea Adulto - - -

2.1. PRIMEIRO PERÍODO: COLETA DE LINHA DE BASE

As diferenças individuais e eixos de personalidade de acordo com

comportamentos normativos de gênero (GNB) foram definidos conforme metodologia

explicada em capitulo anterior. Para verificar a variação comportamental, os dados de

linha de base foram coletados durante dois meses, antes da mudança de recinto (o

etograma detalhado se encontra na tabela 2, capítulo 2). No entanto, para este capítulo,

utilizamos os comportamentos coletados tanto pela manhã, quanto pela tarde, excluindo

os dias em que não houve coleta de fezes.

Os dois grupos estavam alocados em recintos de igual tamanho (4,60m x 3,15m

x 2,40m). O inicio da observação diária se dava meia hora após o fornecimento de

alimento a fim de evitar dados enviesados para comportamentos relacionados a

alimentação. A coleta de dados comportamentais (estados e eventos) segue a mesma

metodologia do Capítulo 1: método ‘animal focal’ (Altmann, 1974), 2 sessões de 10

minutos, por individuo, sendo uma no período da manha e outra pela tarde. Totalizando

40 registros comportamentais (estados) diários por animal. A observação de cada

individuo foi feita três vezes por semana, totalizando 77,6 horas (média C1: 6,7

horas/individuo; média C2: 5,7 horas/individuo). A coleta e análises das fezes (para

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obtenção dos níveis de MFG – Metabolitos Fecais de Glicorticoides) segue a mesma

metodologia do Capítulo 1. Ao total, foram coletadas 91 amostras de fezes de fêmeas e

142 de machos (total de 233 coletas). À linha de base, denominamos Primeira Fase.

2.2. SEGUNDO PERÍODO: RECINTO NOVO

Devido a procedimentos de rotina do CETAS, os grupos foram realocados para

novos recintos dentro da própria instituição, no dia 16 de janeiro de 2016, por volta das

6h30 da manhã. O novo recinto era igual para ambos os grupos e com dimensões

semelhantes ao recinto anterior, apresentando 4,65m x 2,30m x 2,63m.

A observação comportamental pós-mudança ocorreu durante os 14 dias

seguintes, e semelhantemente ao primeiro período, os animais foram observados 10

minutos pela manhã e 10 minutos pela tarde, meia hora após o fornecimento de comida.

O terceiro dia pós-mudança (coletas comportamentais e fezes) foi excluído devido à

fortes chuvas. Essa fase compreendeu um total de 60,6 horas de observação, com média

de 4,6 horas por animal em ambos os recintos. O diferencial nesse período foi a coleta

de fezes, que ocorreu durante todo o tempo de observação. Foram coletadas, ao todo,

669 fezes, média de 55 coletas por animal, a fim de comparar as duas fases do

experimento e analisar a evolução e recuperação dos níveis de MFG durante os 14 dias.

O segundo período foi dividido em três fases, sendo:

Segunda fase: Primeiro e Segundo dia pós-mudança

Terceira fase: Terceiro ao sétimo dia pós-mudança

Quarta fase: Oitavo ao décimo quarto dia pós-mudança

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68

3. ANÁLISE DOS DADOS

A fim de simplificar as análises, agrupamos as unidades comportamentais em 8

macrocategorias: Alimentação, Exploração, Social, Vigilância, Inatividade, Locomoção,

BPIS Estado e BPIS Evento (tabela 2). Utilizamos essas macro-categorias para

comparar a reação comportamental dos animais.

A partir da análise de componentes principais (PCA), realizada no Capítulo 1,

separamos os animais em dois grupos, com base no valor do desvio padronizado em

relação à média (Z maior ou menor que 0), dentro dos eixos do GNB: Sociabilidade

(mais e menos sociáveis), Vigilância (mais e menos vigilantes), Exploração (mais e

menos exploradores) e Atividade (mais e menos ativos).

Tabela 2: Agrupamento das unidades comportamentais em Macrocategorias

Macrocategoria Comportamento

Alimentação Forragear

Comer Manipulação de comida

Exploração Manipulação de ambiente

Brincar só

Social Grooming

Brincar social Comportamentos sexuais

Vigilância Observa o ambiente Inatividade Inatividade Locomoção Locomoção BPIS Estado Soma de todos BPIS Estado BPIS Evento Soma de todos BPIS Evento

Em seguida realizamos uma ANOVA Medidas Repetidas, usando cada dia de

coleta como uma medida. Os fatores entre assuntos foram as categorias do perfil

comportamental. As variáveis dependentes (dentro dos assuntos) foram analisadas de

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maneira separada, em primeiro lugar, as macrocategorias comportamentais e, em

seguida, os níveis de MFG. Como covariável utilizamos o próprio indivíduo.

Análises prévias (Pearson com bootstrap de 1000 amostras) mostraram que a

hierarquia estabelecida (DMS) após a mudança não se correlacionou com o valor de Z

de cada individuo, nos diferentes eixos (Social: R=-0,225, P=0,482; Vigilância: R=

0,358, P=0,254; Exploração: R=-0,516, P=0,086; Atividade: R= -0,523, P=0, 081).

Assim, optamos por rodar um modelo simplificado, sem a inclusão de rank.

Todas as análises foram conduzidas usando o IBM SPSS 21, com significância

fixada à 5% e tendências a 6%.

4. RESULTADOS

4.1. EM NÍVEL DE GRUPO

Em nível de grupo, todas as macrocategorias comportamentais e os níveis de

MFG sofreram alterações significativas quando comparadas à fase antes da mudança

Nos dois primeiros dias (fase 2), em relação a fase 1, houve diminuição na

‘Alimentação’, aumento da ‘Exploração’, ‘Vigilância’, ‘Inatividade’ e ‘Locomoção’ e

duplicação na exibição da macrocategoria ‘Social’. Os BPIS, tanto em Estado quanto

Evento, apresentaram padrão semelhante, intensificando na fase 2. Os níveis de MFG

também variaram positivamente.

No final da primeira semana (fase 3) os indivíduos mantiveram baixos níveis de

alimentação e exploração, e elevado nível de vigilância. Os comportamentos sociais e a

inatividade, mais uma vez, duplicaram. enquanto a ‘Locomoção’ e os ‘BPIS’ (Estado e

Evento), em sentido inverso, diminuíram. Em comparação a fase I, os níveis de MFG na

primeira semana duplicaram.

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70

Na segunda semana pós mudança (fase 4), os animais passam a se alimentar

mais, em relação às duas fases anteriores. A ‘Exploração’ volta à níveis basais, assim

como a ‘Vigilância’. O ‘Social’ permaneceu a níveis altos, mantendo-se no mesmo nível

da fase 3, ocorrendo de igual maneira com a ‘Inatividade’. A ‘Locomoção’ e os ‘BPIS’

(Estado e evento) retornaram aos níveis basais, assim como os níveis de MFG. Um

resumo das variações em nível de grupo encontra-se na tabela 3.

Tabela 3: Variação comportamental e fisiológica, de acordo com as fases pré e pós-mudança (valores em % para aos comportamentos)

Z P Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 Alimentação 27,012 ,000 39,2 20,8 19,8 26,3 Exploração 4,356 ,049 0,7 0,8 0,8 0,7

Social 11,876 ,002 6,7 11,9 21,7 20,4 Vigilância 41,365 ,000 19,4 21,6 22,2 15,2 Inatividade 4,536 ,045 3,1 5,0 9,4 9,1 Locomoção 13,065 ,002 17,7 22,4 15,7 14,1 BPIS Estado 19,408 ,000 12,4 17,0 7,8 11,8 BPIS Evento

(eventos/hora) 10,645 ,004 34,09 47,10 31,19 37,37

MFG 8,867 ,007 3333,19 4836,78 7050,61 3471,40

4.2. EM NÍVEL DE TIPO COMPORTAMENTAL

Quando as análises ocorrem diferenciando os diferentes tipos comportamentais,

obtemos outra perspectiva da reação dos indivíduos.

4.2.1. SOCIABILIDADE

A ‘Sociabilidade’ tem impacto na variação da Alimentação (Z=5,117, P=0,040)

e da Inatividade (Z=9,192, P=0,009), além dos níveis de MFG (Z=9,605, P=0,008). Em

ambos os grupos (mais e menos sociáveis) há uma queda na alimentação logo após a

mudança (fase 2), no entanto, os animais mais sociáveis apresentam menor variação, em

relação a fase 1, e se alimentam com maior frequência nas fases subsequentes. Os

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menos sociáveis, por sua vez, diminuem ainda mais a alimentação na fase 3, iniciando a

recuperação apenas na fase 4 (Figura 1a).

Os animais menos sociáveis ficam inativos nas fases 2 e 3, retornando atividade

apenas na fase 4. Os mais sociais, entretanto, permanecem mais estáveis na exibição de

tal comportamento (Figura 1b). Além disso, quando olhamos os níveis de MFG, vemos

que o pico de excreção nas fezes é muito maior para indivíduos menos sociáveis (fase 3

> fase 2 > fase 1), com animais mais sociáveis mantendo nível mais estável de excreção

de MFG. Ambos os grupos, diminuem os níveis de MFG na fase 4 (Figura 1c).

4.2.2. VIGILÂNCIA

O eixo Vigilância mostra diferenças marcantes nas macrocategorias

Alimentação (Z=13,418, P=0,003), BPIS Estado (Z=17,043, P=0,001) e nos níveis de

MFG (Z=4,958, P=0,043). Na fase 2, como ocorre no eixo Sociabilidade, ambos os

grupos diminuem a alimentação, com os menos vigilantes apresentando maior variação

negativa. Estes, porém, logo tornam a se alimentar mais nas fases 3 e 4. Os mais

vigilantes, contrariamente, continuam a limitar a alimentação, retomando variações

positivas apenas na fase 4 (Figura 2a).

Em relação aos BPIS Estado, temos os animais mais vigilantes mantendo a

exibição desses comportamentos à níveis basais na fase 2, os animais menos vigilantes,

entretanto, intensificam a expressão dos mesmos. Nas fases 3 e 4, os BPIS Estado segue

o mesmo padrão para ambos os grupos, com diminuição seguida de aumento na

frequência (Figura 2b).

Os níveis de MFG são mais estáveis no grupo de indivíduos mais vigilantes,

com um pico maior para indivíduos menos vigilantes, aumentando progressivamente

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72

nas fases 2 e 3. Na fase 4, os dois grupos apresentam níveis de MFG menores (Figura

2c).

4.2.3. EXPLORAÇÃO

O eixo ‘Exploração’ apresenta maior numero de resultados significativos que os

outros. Esse eixo influencia na Alimentação (Z=13,418, P=0,003), Locomoção

(Z=13,418, P=0,003), BPIS Estado (Z=17,043, P=0,001), BPIS Evento (Z=13,418,

P=0,003) e nos níveis de MFG (Z=4,958, P=0,043).

Semelhante ao ocorrido nos dois eixos anteriores, animais mais e menos

exploradores se alimentam menos na fase 2, no entanto, a partir da fase 3 nota-se uma

diferença progressiva: animais mais exploradores voltam a se alimentar com maior

frequência. Os animais menos exploradores demoram mais a mostrar variações

positivas (Figura 3a). Para a locomoção ocorre um pico positivo seguido de queda, nos

dois grupos. É apenas na fase 4 que podemos notar diferença: os animais mais

exploradores se locomovem mais no recinto novo (Figura 3b).

A exibição de BPIS Estado tem padrão semelhante tanto para indivíduos mais

exploradores, quanto para indivíduos menos exploradores: há um pico na fase 2,

seguido de queda na fase 3 e volta à níveis basais na fase 4. Os animais mais

exploradores, porém, durante todas as fases, exibem mais BPIS Estado que os menos

exploradores (figura 3c). Na exibição de BPIS Evento, houve aumento em ambos os

grupos (fase 2), seguido de declínio (fase 3) e intensificação na fase 4, os animais mais

exploradores, porém, foram mais afetados, com maior pico e menor estabilidade ao

longo das fases (figura 3d).

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73

Assim como para os animais mais sociáveis e mais vigilantes, os níveis de MFG

são mais estáveis no grupo de indivíduos mais exploradores, com um pico maior para

indivíduos menos exploradores, aumentando progressivamente nas fases 2 e 3. Na fase

4, os dois grupos apresentam níveis de MFG menores (Figura 3e).

4.2.4. ATIVIDADE

Dentro desse eixo existem diferenças significativas nas seguintes

macrocategorias: Social (Z=6,805, P=0,021), Locomoção (Z=10,811, P=0,005),

Inatividade (Z=4,278, P=0,058), BPIS Estado (Z=6,391, P=0,024).

Os comportamentos sociais aumentam progressivamente ao longo das fases para

os dois grupos, é apenas na fase 4 que se nota que os animais mais ativos diminuem o

contato social, enquanto que os menos ativos continuam expressando níveis cada vez

mais altos.

Como esperado, animais mais ativos mantém estável o comportamento

locomotivo, enquanto que os menos ativos, apesar do pico na fase 2, diminuem a

locomoção nas fases subsequentes. A inatividade aumenta com o passar dos dias nos

animais menos ativos, enquanto que nos animais mais ativos, o efeito é inverso, a

inatividade diminui (fase 4 < fase 3 < fase 2 < fase 1).

No que se refere aos BPIS Evento, os animais mais ativos apresentam maior

pico e menor estabilidade comportamental, os animais menos ativos, por sua vez,

diminuem a frequência de exibição desses eventos progressivamente, a partir da fase 3.

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74

5. DISCUSSÃO

Semelhantemente aos resultados encontrados na literatura de macacos prego

(Dufour et al., 2011; Matheson et al., 2005), nosso estudo corrobora a existência de

alterações marcantes à níveis comportamentais e fisiológicos causadas pela realocação

de recinto.

À nível de grupo, podemos ver que o maior custo para os animais ocorre via

diminuição acentuada do comportamento alimentar e aumento dos níveis de inatividade,

Dufour et al. (2011) encontrou o mesmo resultado ao estudar um grupo de Sapajus

apella cativos. Crockett et al. (2000) viram que após eventos estressantes, tais como a

sedação, o apetite de indivíduos de Macaca fascicularis e Macaca nemestrina também

diminuía. Na presença de perigos desconhecidos e de baixo controle da situação, a

supressão de certas atividades e aumento da inatividade pode vir a ser uma resposta

adaptativa na qual os animais evitam o contato com a fonte estressora, nesse caso o

próprio recinto (exemplos com suínos: Bolhuis et al., 2006; gatos-leopardo: Carlstead et

al., 1993).

A maior frequência em comportamentos de vigilância, locomoção, exploração e

BPIS, podem vir a ser outra estratégia utilizada por alguns indivíduos: a fim de

enfrentar o estresse, os animais aumentam o comportamento de conhecimento do

ambiente à custa da alimentação. Gatos de laboratório, por exemplo, ao serem

submetidos a um período experimental de estresse, aumentam comportamentos de alerta

(Carlstead et al., 1993).

As alterações ocorridas dentro da macrocategoria Social se assemelham aos

resultados encontrados por Dufour et al., 2011, esses autores viram que os animais

aumentaram a proximidade social após a realocação de S. apella. Matheson et al. (2005)

também verificaram aumento de proximidade na mesma espécie, no entanto, viram que

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75

o número de episódios de catação diminuiu pós-mudança. Uma provável explicação

para essa diminuição é a metodologia usada, uma vez que nesse estudo (Matheson et al.,

2005) os episódios de catação subsequentes ao primeiro episódio não eram levados em

consideração.

Todas essas mudanças comportamentais são acompanhadas de um aumento nos

níveis de MFG indicando que a mudança de recinto é um evento estressor, conforme já

descrito em outros trabalhos. O retorno a níveis basais de cortisol, exploração e

vigilância ocorreram na segunda semana, sendo mantido aumento do comportamento

social.

No entanto, verificamos que os indivíduos não reagem de maneira semelhante.

Os dados corroboram nossa predição de que, dentro dos tipos comportamentais, a

Sociabilidade parece conferir maior resiliência ao estresse. Animais mais sociáveis

voltam a se alimentar mais rapidamente, mantendo a inatividade e os níveis de MFG em

estados basais. O suporte social e os comportamentos afiliativos, tanto em humanos

quanto em animais pode agir contra o estresse (DeVries, 2003). Exemplificando o

impacto das interações positivais, Gutmann et al. (2015) mostram que vacas leiteiras

mantêm relações diádicas importantes para a manutenção da estrutura hierárquica do

rebanho e promoção do bem-estar das mesmas.. As interações sociais têm grande

impacto no eixo HPA (DeVries, 2003), o que pode explicar a estabilidade fisiológica

apresentada pelos animais mais sociáveis. A realocação de animais junto com seus

companheiros de recinto apresenta um efeito tampão na excitação fisiológica dos

indivíduos (Norcross e Newman, 1999; Galvão-Coelho et al., 2012).

No eixo Vigilância, animais mais vigilantes apresentaram menor variação no

comportamento alimentar e nos níveis de MFG, quando comparados aos animais menos

vigilantes. A estabilidade os níveis de MFG, no entanto, pode ser devida ao fato de que

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76

(conforme visto no capitulo 1) esses indivíduos já apresentam maiores níveis de MFG e

menor de alimentação antes da realocação de recinto. Os animais menos vigilantes são,

portanto, mais impactados após a mudança, apresentando maior pico de MFG e maior

queda de alimentação. Dettmer et al. (2012) ao estudar os efeitos de realocação em

grupos de infantes de macacos rhesus submetidos a diferentes tipos de criação, viu que,

contrário ao esperado, infantes criados em grupos na ausência de suas mães

apresentavam maior cortisol antes da mudança, mas não após a mesma. Isso pode

sugerir que indivíduos que já estão cronicamente estressados, sofrem menos ao passar

por um estresse agudo.

Os animais mais exploradores, dentro do eixo Exploração, apresentam

características do eixo proativo proposto por Koolhaas et al. (1999):

comportamentalmente mais ousados e ativos, apresentando alta ativação emocional e

fisiologicamente exibindo baixa atividade do eixo HPA. Esses indivíduos voltam a se

alimentar e a se locomover mais rapidamente, têm maiores picos de exibição de BPIS

(estado e evento), mantendo, todavia, maior estabilidade nos níveis de MFG quando

comparados aos animais menos exploradores. Alguns autores sugerem que o

comportamento exploratório indica maior capacidade adaptativa de um individuo em

relação ao seu ambiente (Carlstead et al., 1993; Dembiec et al., 2004). Para macacos-

prego juvenis, Byrne & Suomi (2002) encontraram uma correlação negativa entre o

comportamento exploratório e a reatividade de cortisol entre os 2 meses e os 4 anos de

idade. Sita (2016) verificou que macacos-pregos-preto mais exploradores e neófilos

durante o cativeiro apresentaram maior sobrevivência após reintrodução na natureza.

Nossos resultados então corroboram a ideia de animais mais exploradores aparentam ser

menos susceptíveis à mudanças do ambiente no qual estão inseridos.

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77

Conforme esperado, indivíduos mais ativos, dentro do eixo Atividade, mantêm

estáveis os comportamentos de Locomoção e Inatividade, enquanto os menos ativos se

tornam ainda mais inativos e diminuem o deslocamento dentro do recinto. Os animais

mais ativos apresentam maior pico de exibição de BPIS. Em nível de grupo, o aumento

concomitante de comportamentos de locomoção e exploração, junto aos

comportamentos de inatividade, aparenta ser contraditórios, no entanto, a abordagem a

partir de tipos comportamentais indica múltiplos padrões de reatividade. O mesmo

ocorreu em um estudo sobre o comportamento de tigres cativos submetidos ao estresse

de transporte: enquanto alguns animais reagiram mais ativamente (através de pacing e

se deslocando em seu recinto), outros reagiram de maneira mais estacionária (deitando-

se e permanecendo por mais tempo em um determinado lugar) (Dembiec et al., 2004).

6. CONCLUSÃO

Nosso estudo confirma que a mudança de recinto impactou o comportamento

dos indivíduos, alterando seu orçamento de atividade por, pelo menos, 2 semanas, com

animais mostrando uma drástica redução no seu comportamento alimentar e

aumentando em até 3 vezes a inatividade. Sugerimos que, a fim de enfrentar e diminuir

o estresse causado pelo evento houve um aumento na frequência de alguns

comportamentos, como os BPIS e comportamentos sociais positivos. As alterações

comportamentais e fisiológicas não são, no entanto, iguais para todos os indivíduos.

Confirmando a hipótese de que o perfil comportamental influencia na maneira em que

um dado individuo reage aos estímulos do ambiente. Estes dados indicam que as

mudanças de recinto devem ser mantidas ao mínimo, de modo a evitar o estresse

excessivo e prolongado nos animais. Além disso, considerar o tipo comportamental dos

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animais pode prever as reações comportamentais em um novo ambiente, o que auxilia

na seleção de indivíduos mais preparados para passar por esse manejo, quando

necessário.

7. REFERÊNCIAS

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Figuras 1a, b, c: Variação nas macrocategorias Alimentação, Inatividade e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Sociabilidade (mais ou menos sociáveis).

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Figuras 2a, b, c: Variação nas macrocategorias Alimentação, BPIS Estados e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Vigilância (mais ou menos vigilantes).

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Figuras 3a, b, c, d, e: Variação nas macrocategorias Alimentação, Locomoção, BPIS Estados, BPIS Eventos e nos níveis de MFG segundo a classificação no eixo Exploração (mais ou menos exploradores).

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Figuras 4a, b, c, d: Variação nas macrocategorias Social, Locomoção, Inatividade e BPIS Eventos, segundo a classificação no eixo Atividade (mais ou menos ativos).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAIS

O estudo das diferencas individuais é um atual tema de intenso debate nas

ciências do comportamento, cognição, fisiologia, ecologia e evolução. A existência de

tipos comportamentais estáveis (no tempo e/ou contexto) põe em dúvida o modelo da

“média dourada”, um valor teórico ótimo de estratégia comportamental para o qual

todos os indivíduos que vivem no mesmo ambiente convergiriam. Num nivel teórico, os

diferentes perfis comportamentais ainda precisam ser mapeados nas diferentes espécies

para verificar se existem eixos comuns que possam ter sido selecionados

evolutivamente. Num nível prático, mapear os diferentes perfis podem auxiliar no

manejo e no cuidado ao bem estar dos animais cativos ou em ambientes alterados.

Devido ao seu alto grau de encefalização e ao grande número de espécimens

mantidos em centros de resgate e em zoológicos, macacos-prego constituem um

excelente modelo teórico e prático para explorar esse tema. Neste trabalho testamos a

hipótese de que existem diferencas nos perfis comportamentais de macacos-pregos-

cativos e que estas diferencas podem ser vistas em condições de estresse crõnico e

agudo. Destacamos os seguintes resultados:

CAPÍTULO 1

Detectamos quatros eixos de GNB: Sociabilidade, Vigilância, Exploraçao e Locomoçao;

Detectamos cinco eixos de BPIS: Autodirecionado, Inquieto, Ingestivo, Head Twirl e Body Twirl;

Há correlações entre GNB e BPIS: Animais mais ativos exibem mais Head Twirl; Animais que locomovem exibem BPIS mais rápidas; Animais mais inativos exibem BPIS mais estacionarias; Animais mais sociais apresentam menores níveis de MFG; Animais mais vigilantes se coçam mais e apresentam altos níveis de MFG; Ambos os extremos do eixo atividade-inatividade apresentam elevados níveis de

MFG;

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CAPÍTULO 2

A mudança de recinto impacta todas as macracotegorias comportamentais, tanto em nível de grupo, quanto à nível de tipo comportamental

Animais sociáveis são mais resilientes após mudança de recinto Animais mais exploradores exibem uma estratégia proativa ao enfrentar o

estresse agudo Animais mais vigilantes e ativos são os menos recomendáveis para a mudança

de recinto

Nossos dados indicam a existencia de diferencas individuais que são observdas

em nivel comportamental, mas que tem substratos fisiológicos. Ademais, os eixos

encontrados (exploração, atividade e sociabilidade) assemelham-se aos eixos já

descritas em outras espécies, e parecem corroborar a existência de traços

comportamentais evolutivamente conservados.

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