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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Jean Souza Lopes Filho AGENDA 2030 E O LIXO SOB UMA ÓTICA SOCIAL: REFLEXÕES E PROPOSIÇÕES DE AÇÕES INFORMACIONAIS NO ÂMBITO DAS BIBLIOTECAS Natal/RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Jean Souza Lopes Filho

AGENDA 2030 E O LIXO SOB UMA ÓTICA SOCIAL: REFLEXÕES E

PROPOSIÇÕES DE AÇÕES INFORMACIONAIS NO ÂMBITO DAS BIBLIOTECAS

Natal/RN

2018

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JEAN SOUZA LOPES FILHO

AGENDA 2030 E O LIXO SOB UMA ÓTICA SOCIAL: REFLEXÕES E

PROPOSIÇÕES DE AÇÕES INFORMACIONAIS NO ÂMBITO DAS BIBLIOTECAS

Monografia apresentada ao curso de

Biblioteconomia, da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, como requisito para

obtenção do grau de bacharel.

Orientadora: Gabrielle Francinne de Souza

Carvalho Tanus

Natal/RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Lopes Filho, Jean Souza.

Agenda 2030 e o lixo sob uma ótica social: reflexões e

proposições de ações informacionais no âmbito das bibliotecas / Jean Souza Lopes Filho. - 2018.

94f.: il.

Monografia (Graduação em Biblioteconomia) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais

Aplicadas, Departamento de Ciências da Informação. Natal, RN,

2018.

Orientador: Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho

Tanus.

1. Informação Ambiental - Monografia. 2. Sociedade da

Informação - Monografia. 3. Agenda 2030 - Monografia. 4. Ação

informacional- Monografia. I. Tanus, Gabrielle Francinne de

Souza Carvalho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

III. Título.

RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 02:316.422.44

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355

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JEAN SOUZA LOPES FILHO

AGENDA 2030 E O LIXO SOB UMA ÓTICA SOCIAL: REFLEXÕES E PROPOSIÇÕES DE AÇÕES INFORMACIONAIS NO ÂMBITO DAS BIBLIOTECAS

Monografia apresentada ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus

Aprovado em 14/12/2018.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Orientadora

_______________________________________________

Jonathas Luiz Carvalho Silva Universidade Federal do Cariri (UFCA)

1º Examinador

_______________________________________________

Mônica Karina Santos Reis Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

2º Examinadora

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos os seres senscientes, por todos os conhecimentos que

possibilitam outros modos de enxergar o mundo.

A meu pai, sobretudo pela insistência em me tornar leitor, o melhor presente que

alguém me deu na vida. A minha mãe, pela força e por ser, por estar junto. A meu

irmão Pedro por me ensinar a ser tudo que posso ser. A Rodrigo pelas ecdises, pela

possibilidade de outras carcaças.

A Padrinho e Madrinha pela percepção de que mesmo errando posso ser sempre

melhor, a minha prima Dalilla pelas sutilezas. A meu primo Vinicius pelos silêncios

partilhados. A minha família por, no acerto e no erro, me fazer perceber o que há de

bom e de ruim no mundo e em mim.

A Kaliane e Carlos por se fazerem presentes, pela energia pra chegar aqui. A

Ramon, Alice e Angélica por continuarem comigo em minhas trocas de pele e me

apoiarem nelas. A Maru por ser condutora de si.

A todos os meus professores, por boa parte do que sou e por todo o tempo

empregado em construir realidades melhores. Agradeço especialmente a Gabrielle

Francinne de Souza Carvalho Tanus, que me orientou na construção desse trabalho

e por acreditar num fazer bibliotecário que vai além da técnica, por seu empenho em

ajudar a formação de uma geração de profissionais e pesquisadores mais

engajados.

Agradeço também Jonathas Carvalho e Mônica Reis que compuseram a banca

examinadora e muito tiveram a acrescentar ao trabalho, pela generosidade dos

saberes partilhados e pela delicadeza com a qual se debruçaram sobre ele.

Nada existe sozinho e por isso, agradeço a todos que já encontrei pela vida, por

existirem e assim sermos.

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“Quem vem vivenciando um ciclo importante de

desapego e transformações enfatiza sua

capacidade de regenerar-se, reciclar e renovar. O

que é admiração característica movida pelo

relativo motivo razão”

Edgar

“Posso sair daqui pra me organizar, posso sair

daqui pra desorganizar”

Chico Science

“A expressão de alívio de Sócrates – ‘Quantas

coisas no mundo das quais não preciso!’ – ao

retornar de um passeio pelo mercado de Atenas.”

Eduardo Giannetti

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RESUMO

Os 193 Estados-membros, que compõem a organização das Nações Unidas,

assumiram o compromisso, em 2015, com a Agenda 2030, que apresenta 17

objetivos para uma comunidade global sustentável, apoiada no bem estar

econômico, social e ambiental, de forma equilibrada e integrada. A referida Agenda

traz em seu cerne a questão da informação em toda a sua extensão, sendo foco de

algumas metas, e assumindo o papel de fio condutor entre os objetivos propostos e

sua implementação na sociedade. O presente trabalho aborda sob a ótica das

Ciências Sociais, mais especificamente, a partir da Biblioteconomia e Ciência da

Informação, a relação entre informação, consumo e descarte de produtos,

destacando o protagonismo da informação e das bibliotecas diante das metas de

consumo. Tem como objetivo geral discutir o protagonismo da informação e das

bibliotecas diante da Agenda 2030, sob o enfoque dado pelo 12º objetivo, que

estabelece como meta a produção, o consumo e o descarte conscientes na

sociedade contemporânea. São objetivos específicos discutir sobre a Agenda 2030,

tomando como base os seus objetivos de desenvolvimento sustentável; refletir sobre

possíveis papéis da Biblioteconomia e Ciência da Informação no contexto da

Agenda; abordar os pressupostos vinculados a sociedade da informação, sociedade

do consumo e do lixo a partir de uma visão integradora; e, propor atividades a serem

desenvolvidas pelas bibliotecas e bibliotecários para dinamização do 12º objetivo da

Agenda 2030. Entendendo todas as ações como ações políticas, inclusive o fazer

bibliotecário, ressaltando a necessidade de novas posturas de trabalho, em que a

crítica às relações hegemonizadas funcione como força emancipadora, da qual a

educação ambiental faz parte, sendo percebida nessa abordagem como uma

educação política. Para tanto, observa-se alguns aspectos da sociedade atual

através de algumas alcunhas atribuídas a ela, como sociedade da informação,

sociedade de consumo e sociedade do lixo, observando as relações estabelecidas

entre elas, seus contornos e interseções, buscando entender a questão do lixo como

um problema social derivado dos comportamentos de uma sociedade capitalista.

Utilizou-se para tanto metodologia exploratória e bibliográfica, sem a pretensão de

esgotamento da literatura dada à amplitude da temática. Propõem-se ainda ações

informacionais que podem ser desenvolvidas em bibliotecas e unidades de

informação, concluindo, com isso, a percepção da necessidade de oferecer

possibilidades de ação emancipatória e crítica para a sociedade em sua relação ao

consumo e ao descarte de objetos.

Palavras chave: Informação Ambiental; Bibliotecas; Ação informacional; Agenda

2030; Sociedade da Informação.

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ABSTRACT

The 193 member states, which make up the United Nations, have made a

commitment in 2015 to Agenda 2030, which sets out 17 goals for a sustainable

global community, supported by economic, social and environmental well-being, in a

balanced and integrated. The Agenda addresses the issue of information in its

entirety, being the focus of some goals and assuming the role of guiding the

proposed objectives and their implementation in society. This paper deals with the

relationship between information, consumption and disposal of products, highlighting

the role of information and libraries in the face of consumption goals, from the point

of view of Social Sciences, specifically from Librarianship and Information Science.

Its general objective is to discuss the role of information and libraries in the context of

Agenda 2030, under the focus of the 12th objective, which establishes the goal of

conscious production, consumption and disposal in contemporary society. Specific

objectives are to discuss Agenda 2030, based on its sustainable development

objectives, to reflect on the possible roles of Librarianship and Information Science in

the context of this agenda, to address the assumptions related to the information

society, society of consumption and waste from an integrative vision and propose

activities to be developed by libraries and librarians to promote the 12th objective of

Agenda 2030. Understanding all actions as political actions, including the librarian,

emphasizing the need for new work positions, in which the critical to hegemonized

relations functions as an emancipatory force, of which environmental education is

part, and is perceived in this approach as a political education. In order to do so, it

observes some aspects of current society through some nicknames attributed to it,

such as information society, consumer society and the society of garbage, observing

the relations established between them, their contours and intersections, trying to

understand the question of garbage as a social problem derived from the behavior of

a capitalist society. It was used for both exploratory and bibliographic methodology,

without the pretension of exhaustion of the literature given the amplitude of the

theme. It also proposes informational actions that can be developed in libraries and

information units, concluding with this, the perception of the need to offer possibilities

of emancipatory and critical action for the society in its relation to the consumption

and the discard of objects.

Keywords: Environmental Information; Agenda 2030; Information Society;

Informational action.

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LISTA DE SIGLAS

CBBD Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IFLA International Federation of Library Associations and Instituitions

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ODM Objetivos de desenvolvimento do milênio

ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

ONU Organização das Nações Unidas

PANCS Plantas Alimentícias Não-Convencionais

PIB Produto Interno Bruto

PPCS Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

PNMC Plano Nacional sobre Mudança do Clima

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

USP Universidade de São Paulo

WWF World Wide Fund for Nature

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FIGURAS & QUADROS

QUADRO 1 – Quadro teórico-metodológico ......................................................... 17

FIGURA 1 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ....................................... 22

FIGURA 2 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável..................................... 24

FIGURA 3 – Refugos ............................................................................................... 51

FIGURA 4 – Refugos ............................................................................................... 57

QUADRO 2 – Propostas de ações informacionais ............................................... 82

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 12

1.2 Objetivo geral........................................................................................... 16

1.2.1 Objetivos específicos................................................................................. 16

1.3 Metodologia.............................................................................................. 16

1.4 Justificativa.............................................................................................. 20

2 AGENDA 2030.......................................................................................... 22

2.1 A biblioteconomia e as bibliotecas frente à Agenda 2030.................. 36

3 SOCIEDADE DO CONSUMO................................................................... 47

3.1 Lixo, uma abordagem social.................................................................. 56

4

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E SOCIEDADE DO LIXO: CONTORNOS, LIMITES E INTERSEÇÕES.............................................

61

5 INFORMAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

69

6

AÇÕES INFORMACIONAIS PARA CONSCIENTIZAÇÃO DO CONSUMO.................................................................................................

76

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 84

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 87

ANEXOS.................................................................................................... 93

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1 INTRODUÇÃO

A forma que andamos no mundo, o que escolhemos consumir, o que

comemos, são escolhas com consequências que estão para além de nossas

próprias vidas. Isso se dá pelo caráter comunitário da humanidade. Mesmo a dita

neutralidade denota um posicionamento frente à realidade, na maioria das vezes

fortalecendo ideologias dominantes. Não existem posicionamentos neutros quando

se fala em humanidade. Para Hannah Arendt (1970) toda ação é política, podemos

estender para a compreensão de que toda informação é política e social.

As consequências de nossas ações não se atêm ao local. Historicamente, não

se ativeram e hoje, no mundo hiperconectado, não seria diferente. Esses fatos

extrapolam a territorialidade e, dessa forma beneficiam ou prejudicam atores e

ambientes de modo direto e/ou indireto. Ter consciência disso é reconhecer a

responsabilidade e o poder individual diante das situações que possam surgir no

social, no político e no ambiental e intervir através de escolhas conscientes.

Buscar entender o que está por trás de nossas escolhas e ações, no entanto, é

ser agente ativo nesse processo, reconhecer o mecanismo por detrás de escolhas,

ter consciência das imposições sociais, estatais e da mídia que são “fortemente

determinados pelas lógicas corporativas, comerciais ou de interesses

propagandísticos dos donos do poder” (CITELLI, 2005, p. 71), é desafiar o status

quo do ordenamento social que se impõe a todos.

A atual situação de desgaste do planeta, do meio ambiente e dos recursos

naturais vista sob essa ótica é responsabilidade de todos, em diferentes níveis.

Desde a nossa “distraída” ação de jogar no chão algo que não queremos mais à

compra de frutas descascadas e vendidas em bandejas de isopor e embrulhadas em

papel filme. A aparência cômoda das frutas cortadas, prontas ao consumo, no

entanto, podem ser colocadas aqui como símbolo entorpecente de nossa sociedade.

Em nossa sociedade o pensamento consciente para o consumo ainda não se

instaurou de modo desejável, o ciclo de vida dos produtos e os seus devidos

descartes, acarretando problemas ecológicos, tanto no momento de compra quanto

no fim do ciclo poderiam ser amenizados ou eliminados a partir da educação e

reeducação ambiental.

Bauman (2008) avalia os efeitos da troca da sociedade de produtores, moderna

e sólida, que concerne à produção (trabalho e resultado da sua força de trabalho) e

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acumulação ou fruição de riqueza, pela sociedade de consumidores, pós-moderna e

líquida, que transformou tanto o trabalho como o ser humano produtor/consumidor

em produtos que devem ser avaliados como mercadoria e capazes de gerar fluidez

e capital nesse espaço social, que passa a ser descrito como “mercado”.

Fomentado pela ideia de escolha em estado de permanente troca, como

percebido por Ayer (2010), “essa sutil e penetrante transformação dos consumidores

em mercadoria é a principal e mais dissimulada característica da sociedade do

consumo” (AYER, 2010, p. 160). Devemos reconhecer que esses mercados estão

necessariamente incrustados em complexas matrizes políticas e culturais que

conferem aos atos de consumo sua ressonância e importância específicas (AYER,

2010, p. 161).

Acreditamos que outro desafio de nossa sociedade contemporânea se impõe

como, por exemplo, o de gerir e distribuir as informações ambientais, fazendo com

que dialoguem diretamente com a população, tornando ações possíveis e por

consequência, tornando as mudanças possíveis. Como é percebido por Amorim

(2008, p. 1, grifo nosso):

A informação ambiental é um tipo de informação científica e tecnológica que contribui para a preservação de ambientes naturais e dos ambientes construídos pelo homem, e é imprescindível para que a crise ambiental atual seja superada com sucesso. Porém, como não há conexão entre os mundos da informação e a realidade das populações atingidas pelas políticas públicas ambientais, faz-se necessário que os profissionais da informação procurem facilitar a difusão da informação ambiental, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.

Tendo em vista este contexto, acreditamos que a Biblioteconomia e a Ciência

da Informação possibilitam caminhos para ir contra estas estruturas e ajudar a

fundamentar caminhos para um futuro sustentável, igualitário e mais justo para todas

as partes envolvidas nesse processo, endossando o discurso da Agenda 2030 da

Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu 17 objetivos e uma série

de metas para um mundo melhor. Salientamos o papel da informação, que, por sua

vez, aparece como protagonista1 ou fator decisivo em praticamente todos os

objetivos, apesar de ficar mais evidente em alguns deles.

1 Compreende-se aqui protagonista segundo a definição de Perrotti (2017, p. 15), significando

“resistência, combate, enfrentamento de antagonismos produzidos pelo mundo físico e/ou social e que afetam a todos”. Tomar frente face aos obstáculos que ameaçam a espécie.

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Ademais, de mostrar a importância da informação diante da Agenda 2030, este

trabalho se posiciona com ênfase no objetivo 12 - Consumo e produção

responsáveis: assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis. Para que se

compreenda a função da informação no processo de transformação social, visando a

partir da pesquisa exploratória e bibliográfica entender a natureza macro e micro que

perpassam essa questão. Dentro do objetivo supracitado destacamos as seguintes

metas:

“12.5 - Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da

prevenção, redução, reciclagem e reuso”. Na prevenção podemos mencionar ainda

a ação de recusar, especialmente, dos plásticos descartáveis que gastam muito em

sua produção, são utilizados por poucos minutos ou segundos e em seguida são

descartados para durar centenas de anos afetando o ambiente.

“12.8 - Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham

informação relevante e conscientização para o desenvolvimento sustentável e estilos

de vida em harmonia com a natureza”. Nessa direção, a partir do estudo da

comunidade ou de usuários a unidade de informação onde está inserida atuaria de

modo estratégico no acesso às informações sobre desenvolvimento sustentável.

“12.a Apoiar países em desenvolvimento para que fortaleçam suas

capacidades científicas e tecnológicas em rumo à padrões mais sustentáveis de

produção e consumo”. O desenvolvimento das bases do conhecimento, sejam

científicas e tecnológicas, perpassam as bibliotecas e os centros de documentação,

como instituições que facilitam o acesso às informações e a construção de

conhecimentos a partir de seus materiais informacionais.

A informação mantém presença dentro da agenda, aparecendo nos objetivos e

sendo foco de algumas metas de modo mais explícito. Com isso a informação

assume o papel de fio condutor entre a agenda – e seus objetivos e metas - e sua

implementação na sociedade. Como enfatizado por Cunha (2003, p. 41) “é cada vez

mais evidente que o acesso à informação, a sua difusão e a sua livre circulação são

elementos essenciais em todos os aspectos da vida humana”.

Informações dessa natureza traduzidas a uma linguagem simples,

apontamentos sobre consumo e meio ambiente segurarão que os objetivos e metas

possam ser cumpridos e possamos, enquanto comunidade global, verdadeiramente

almejar uma vida sustentável em todos os seus aspectos.

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15

Em suma, tal Agenda busca por meio de parceria entre os países da

comunidade global, uma realidade mais igualitária, na qual as pessoas possam

desenvolver suas competências e viver em plenitude, guiadas pelos ideais de paz,

prosperidade e sustentabilidade. Como modo de reforçar a importância do acesso à

informação a International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA)

desenvolveu a Declaração de Santiago (2018) cujo compromisso envolve as

bibliotecas e o desenvolvimento sustentável preconizado pela Agenda 2030 na

América Latina e no Caribe (Ver anexo).

Esta temática pode ser considerada como emergente dentro das discussões da

Biblioteconomia e Ciência da Informação, com destaque o evento realizado em

2017, Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), que teve

como tema “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas:

como as bibliotecas podem contribuir com a implementação da Agenda 2030”2. E,

que, certamente, precisa ser mais discutida pela Biblioteconomia e Ciência da

Informação a partir das múltiplas possibilidades que os temas da agenda

possibilitam por meio desse diálogo interdisciplinar.

Dada essa percepção da informação como aliada na construção de uma

realidade mais igualitária, consciente, equitativa, tolerante e socialmente inclusiva

em que ninguém seria deixado para trás, levantamos o questionamento para esta

pesquisa: Como as bibliotecas e os bibliotecários podem colaborar no

consumo consciente e ajudar a comunidade a reduzir seu lixo?

Para responder a este problema de pesquisa traçamos o objetivo geral, os

objetivos específicos e a metodologia, em que se expõe o caminho da pesquisa,

tanto o caminho teórico quando o caminho do fazer, que corresponde ao

entendimento dos métodos de pesquisa, expostos nas seções seguintes:

2 Os trabalhos apresentados no CBBD apresentaram diversas visões conectadas com os objetivos da agenda. Em

consonância com a problemática do lixo urbano destacamos: “A reciclagem como elemento promotor do

consumo sustentável no desenvolvimento de ações culturais em bibliotecas”, de Anyelle da Silva Palhares e

Juliana Rodrigues Holanda, “Ações da biblioteca para promoção do conceito de desenvolvimento sustentável”

de Andréa Pereira Santos e Benjamim Pereira Vilela e “Compostagem como Educação Ambiental” de Gabriel

José Teixeira da Silva et al. Dentre os pôsteres apresentados a questão do lixo aparece como tema central apenas

no trabalho de Amanda Tavares Silva Lima Nascimento e Gutemberg Virgínio do Nascimento, que apresentaram

o “Uso do lixo escolar em unidade de informação especializada para geração de renda e redução do impacto

ambiental - o caso da Biblioteca de Gestão Ambiental do IFPE”, demonstrando também a possibilidade da

inserção do profissional no âmbito escolar.

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1.2 Objetivo Geral

Discutir o protagonismo da informação e das bibliotecas diante da Agenda 2030, sob

o enfoque dado pelo seu 12º objetivo, que estabelece como metas a produção, o

consumo e o descarte conscientes na sociedade contemporânea.

1.2.1 Objetivos específicos

a) Discutir sobre a agenda 2030, tomando como base os seus objetivos de

desenvolvimento sustentável;

b) Refletir sobre possíveis papéis da Biblioteconomia e Ciência da Informação no

contexto da Agenda 2030;

c) Abordar os pressupostos vinculados a sociedade da informação, sociedade do

consumo e do lixo a partir de uma visão integradora;

d) Propor atividades a serem desenvolvidas pelas bibliotecas e bibliotecários para

dinamização do 12º objetivo da Agenda 2030.

1.3 Metodologia

A metodologia deste trabalho corresponde à pesquisa exploratória, que

segundo Marconi e Lakatos (2003), apresentam tripla finalidade: “desenvolver

hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou

fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e

clarificar conceitos.” No caso do presente trabalho, trata-se de uma necessidade de

clarificar conceitos, buscando entender através das leituras, a forma que alguns

temas se relacionam entre si, como poderemos observar adiante.

Através de descrições predominantemente qualitativas do objeto de estudo,

“conceituando as inter-relações entre as propriedades do fenômeno, fato ou

ambiente observado” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 188). Buscando através da

análise de conteúdo o estudo relativamente intensivo sem emprego de técnicas

probabilísticas de amostragem, concentrando na leitura e análise dos textos, da

produção bibliográfica acerca da temática.

A pesquisa ainda apresenta-se como revisão bibliográfica, concebendo uma

discussão entre autores dos temas pesquisados. Como pode ser observado no

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quadro 1, que apresenta de modo sistemático os principais autores usados em cada

um dos momentos da pesquisa, a saber:

QUADRO 1 – Quadro teórico-metodológico

Abordagem Questão abordada Bibliografia Utilizada

Social

Sociedade de consumo

Baudrillard (2010); Bauman

(2008; 2010); Figueiredo (1995); Lipovetsky e Serroy

Sociedade do lixo Rodrigues (1995) Figueiredo

(1995);

Sociedade da informação Burch (2005); Furnival

(2000)

Ciências Sociais e Sociedade

Bourdieu (2001); Guattari, (2012);

Biblioteconomia Atuação social e política do

bibliotecário

Almeida Junior (2015) Bufrem (1985); Cavalcante (2018); Cunha (2003); Lindemann, Spudeit, Corrêa (2016);

Questões ambientais

Informação ambiental Caribé (1992); Santos (2011); Furnival (2000)

Ações informacionais Kinupp (2009); Santos e

Vilela (2017); Silva (2018); Silva et al. (2017)

1.4 Justificativa

Acredito que a construção desse trabalho tem muito a acrescentar no meu

caminho pessoal, enquanto parte integrante da sociedade e à sociedade em si, a

quem o presente trabalho tem a intenção de servir. Construindo, através dos

esforços coletivos, alternativas para uma vida mais consciente e ecologicamente

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responsável. Acredito que cada pequeno esforço é válido. O trabalho é, portanto,

minha pequena contribuição, pois esse fazer não é individual, mas consciente do

todo, para que se possa crescer junto.

O trabalho surge de alguns incômodos em relação à forma de consumo. A

partir de pesquisas sobre modos de vida e de consumo que pudessem ter uma

maior consonância com as questões ambientais comecei a perceber e entender a

dificuldade de acesso a informações para que estas orientem ações e me ocorreram

questionamentos sobre o papel do bibliotecário diante dessa situação, me valendo

da crença de um fazer profissional orientado pelo social.

Visando também contribuir com o cumprimento das metas e objetivos da

Agenda 2030, proposta pela ONU e assinada por importantes órgãos da nossa

sociedade, inclusive a International Federation of Library Associations (IFLA),

instituição que representa a Biblioteconomia em nível mundial, o trabalho se propõe

a discutir os caminhos do consumo e a produção de lixo urbano com ênfase nos

resíduos domiciliares.

Assim, se firma no objetivo 12, “Assegurar padrões de produção e de

consumo sustentáveis”, com ênfase, particular, nos itens 12.5, 12.8 e 12.a, mas

justamente por sua natureza estar entrelaçada com outras questões, torna-se

necessária a visualização da agenda como um todo, traçando também paralelos

com produções além da agenda em si que contextualizem a problemática das

questões levantadas.

A própria concepção da biblioteca carrega em seu cerne um valor sustentável,

dada a rotação informacional que faz com que menos material seja comprado e por

consequência uma redução no uso de matéria prima e seu potencial descarte na

natureza. O fazer bibliotecário deve integrar o processo educacional, sempre

questionando a importância de ter e comprar, por exemplo.

A biblioteca pode conhecer, como poucos órgãos da sociedade, a realidade da

comunidade na qual está inserida e pode, por isso, desenvolver a percepção de

formas mais efetivas de envolver sua comunidade, quais ações estão dentro das

possibilidades das pessoas dali, e que podem, de fato, ser efetuadas dentro das

realidades individuais e coletivas.

A produção de lixo é um dos grandes problemas a serem enfrentados pela

humanidade nesse momento. Tudo o que é utilizado pelo homem em suas ações

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cotidianas acaba necessitando em algum momento de descarte e na maioria das

vezes acaba se depositando na natureza de modo criminoso.

A percepção do que as necessidades são bastante alteradas por fatores

sociais. A publicidade, a mídia de forma geral e o convívio com seus semelhantes

alteram a visão sobre o que é consumido. Enfrentar a condição do lixo vai contra

essas grandes questões sociais, contra a imposição do consumo e da publicidade,

pois entende que esse é um bom caminho para uma sociedade mais equilibrada.

O estudo norte-americano It Aint Easy Bein’ Green (Não é fácil ser “verde”,

tradução nossa) desenvolvido em 2016 pela Trulia’s Research3 em parceria com

Harris Poll, percebeu que para o senso comum, a ideia de responsabilidade

ambiental está associada a um alto poder aquisitivo como comprar um carro elétrico

ou instalar sistema de energia solar, por exemplo. Mas muito é feito com bem menos

que isso. A escolha de uma vida com mais equilíbrio em relação ao ambiente é

verdadeiramente feita através de escolhas simples.

Dito isto, a preocupação ambiental precisa deixar de ser uma questão de nicho

e ser uma pauta debatida em conjunto em todos os ambientes. Informações dirigem

comportamentos e isso fica claro quando se torna popular um alimento saudável

através de um novo estudo ou quando se deixa de consumir alguma marca em

decorrência de alguma denúncia.

O conhecimento da realidade social, política e ambiental precisam ser

intrínsecas no fazer bibliotecário, como observado por Cunha (2003, p. 42), “o

profissional da informação vem se diversificando a cada dia com novas atividades

acrescidas ao seu processo de trabalho, atividades estas que demandam maior

envolvimento intelectual” e torna-se dever que se implique na transformação de tais

realidades a partir do momento que jura em sua solenidade de formatura “tudo fazer

para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de bibliotecário,

fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa

humana”.

Ainda motiva esse trabalho a situação do lixo em Natal, capital do estado do

Rio Grande do Norte, reconhecida por seus atributos naturais, e que tem suas ruas,

praias e mais diversos ambientes poluídos pelo lixo. A falta de uma gestão eficaz

3 Empresa americana que segundo descrição presente em seu website apresenta notícias,

comentários e análises sobre tendências da habitação, economia, etc.

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somado a falta de uma educação ambiental estruturada são agravadores que

somam causa e efeito porque se depositam sobre a própria sociedade.

Como é possível perceber nas observações de Silveira (2017, p. 15) a situação

da gerência dos resíduos sólidos do município de Natal, que atende também os

municípios que constituem a Região Metropolitana de Natal (RMN), “o atual

panorama expressa a manutenção de velhos problemas e a configuração de

avanços ainda tímidos na gestão compartilhadas dos resíduos sólidos urbanos nos

municípios que compõem a RMN”.

Ao longo do trabalho serão utilizadas como ilustração as fotografias da série

Refugo, da fotógrafa Natalense Elisa Elsie, que recolheu algumas sacolas de lixo de

algumas casas e observou através disso a forma de consumo e descarte. As fotos

registram “um lixo vasculhado, meticulosamente organizado e catalogado

visualmente”, que cria o retrato de quem as consumiu, “uma existência visual de

personas concebidas efemeramente” (ELSIE, [201-]). O trabalho foi realizado Em

Ponta Negra, na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e no Brooklyn, Nova Iorque,

nos Estados Unidos. Para ilustrar o trabalho foram escolhidas as fotos feitas na

cidade de Natal.

Tendo em vista ainda a importância do tema para a comunidade global nesse

momento em que acontecem muitas transições, mudanças de comportamento,

percebendo o claro papel da informação para que de fato ocorram esses processos

de transformação, vendo na criação e conhecimento das possibilidades como algo

que encerra a necessidade de dicotomias, entre certo e errado, entre limpo e sujo,

entre os extremos.

Para compreensão da problemática do trabalho sob uma perspectiva mais

ampla, o segundo capítulo, ‘Agenda 2030’, surge como uma retomada da referida

agenda e de seus objetivos e metas, uma observação de todo o corpo da agenda,

destacando algumas metas e o papel desempenhado pela informação em cada um

dos objetivos. Conta com o subcapítulo ‘A Biblioteconomia e as bibliotecas frente à

Agenda 2030’, que demonstra o posicionamento da biblioteconomia e da ciência da

informação no contexto atual e de que forma estamos inseridos nas discussões e de

que forma colaboramos com a sociedade, através de ações como a assinatura da

Agenda pela International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) e

ações desenvolvidas ao redor do mundo o que se tem feito para uma atuação

implicada com o social.

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O terceiro capítulo aborda a sociedade de consumo, observando os

mecanismos motores para que se estabeleça a forma de consumo que tem gerado

uma série de desequilíbrios. Tem como subcapítulo ‘Lixo, uma abordagem social’,

que reflete a condição do lixo como um problema histórica e socialmente construídos

enquanto conceito, a fim de compreender as formas possíveis de agir diante desse

problema, compreendendo as responsabilidades e as consequências do que está

colocado.

O quarto capítulo apresenta os contornos, os limites e as interseções entre os

conceitos de sociedade do consumo e sociedade do lixo e de que maneira essas

problemáticas atuam em conjunto.

O quinto capítulo, ‘Informação ambiental e desenvolvimento sustentável’

aborda o papel da informação ambiental e sua relação com o profissional

bibliotecário.

O sexto capítulo, ‘Ações informacionais para conscientização do consumo’,

apresenta proposições de ações que podem ser aplicadas por bibliotecas para que

se desenvolvam o pensamento e as ações conscientes à realidade ambiental.

O trabalho visa também que ações possam ser tomadas apesar dos

impedimentos e entraves políticos que possam existir, da eminência de estados que

não acreditam ou disseminam o discurso de não crença nos problemas ambientais,

que não pretende manter compromissos ecológicos internacionais. É preciso se

fazer acreditar.

Visando também reforçar e cooperar com a produção acadêmica sobre o tema,

esperando com isto contribuir para a difusão de informações ambientais em um

cenário global no qual a pauta ecológica é uma emergência e precisa tornar-se uma

preocupação geral e naturalizada através da percepção da cultura de manutenção

do sistema que provoca esse desgaste, observações mais cotidianas e de que forma

podemos cooperar para a transformação de informação em conhecimento prático,

em ação sustentável, urge serem expostas e debatidas socialmente.

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2 AGENDA 2030

Os Objetivos de desenvolvimento do Milênio (ODM), que vigoraram entre

2000 e 2015, com o apoio de 191 nações, com realidades distintas entre elas,

procuravam uma realidade diferente para o mundo em sua passagem para o novo

milênio. Para cada um dos oito objetivos foi proposto uma política pública para o

cumprimento dos objetivos e das metas, segundo o portal ODM:

O grande mérito dos ODM é integrar os compromissos assumidos pelos governos numa agenda mundial de desenvolvimento, definindo metas claras, prazos nos quais devem ser cumpridas, e indicadores do progresso alcançado por cada região, país e comunidade. Os ODM visam o desenvolvimento humano e nos dão a chance de construir um mundo melhor e mais justo.

Os objetivos desta agenda são: 1 - Acabar com a fome e a miséria; 2 -

Oferecer educação básica de qualidade para todos; 3 - Promover a igualdade entre

os sexos e a autonomia das mulheres; 4 - Reduzir a mortalidade infantil; 5 - Melhorar

a saúde das gestantes; 6 - Combater a Aids, a malária e outras doenças; 7 - Garantir

qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e, 8 - Estabelecer parcerias para o

desenvolvimento. Conforme podemos ver integrados na imagem a seguir:

FIGURA 1 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

Fonte: Portal ODM

Com o fim desta agenda, em 2015, foi proposta a Agenda 2030, com seus 17

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que é um plano de ação com

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finalidade de criar uma realidade global mais igualitária e pacífica, sob o lema

“ninguém será deixado para trás”. As 169 metas acordadas entre 193 países

membros da ONU em novembro de 2015 em Nova Iorque, estabeleceu nove

objetivos a mais em relação à ODM, dando continuidade às suas conquistas e

buscando atingir alguns objetivos inacabados e colocando em pauta algumas

questões que não foram abordadas pela agenda de desenvolvimento anterior.

A nova agenda enfatiza a necessidade de o desenvolvimento sustentável

acontecer em suas três dimensões: econômica, social e ambiental, de forma

equilibrada, integrada e indivisível. Tendo em vista que o desequilíbrio em alguma

dessas dimensões, significa necessariamente, desequilíbrio no todo. Desenvolve-se

ainda sobre as seguintes áreas de atuações (ONU, 2015):

Pessoas, na qual é clara a ambição em atingir condições de igualdade

entre as pessoas, buscando possibilidades para que todos consigam

realizar seu potencial, tentando acabar com a pobreza e da fome.

Planeta, que busca proteger o planeta da degradação, especialmente o

que se dá por meio do consumo.

Prosperidade, pretendendo assegurar que todos possam ter uma vida

próspera e com realização pessoal.

Paz, promover uma sociedade pacífica, reforça a ideia de justiça e

inclusão, que são mencionadas nas demais áreas de atuação.

Parceria, a agenda pretende mobilizar o que for necessário para que

seus objetivos e metas sejam alcançados, para tanto, é necessário

uma parceria global, espírito solidário global e com a participação de

todos os países.

A observação dessas cinco áreas de atuação permite entender que todos os

objetivos se desenvolvem como um rizoma, conceito de Deleuze e Guattari (1995, p.

15), segundo o qual “qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer

outro e deve sê-lo”, pois tudo mantém uma relação de interdependência e todas as

ações se movimentam e desenvolvem ainda mantendo essas relações.

Desse modo, os 17 objetivos, são implicados por essas guias e almejam o

desenvolvimento conjunto das mesmas, por entender que a melhora de um desses

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pontos é melhora também para outros. “Se realizarmos as nossas ambições em toda

a extensão da Agenda, a vida de todos será profundamente melhorada e nosso

mundo será transformado para melhor.” (ONU, 2015, p. 2). Os 17 objetivos estão

registradas em cada uma das figuras que compõe a imagem e detalhados a seguir:

FIGURA 2 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Plataforma Agenda 2030

O objetivo 1 permeia toda a agenda, segundo a qual é impossível alcançar o

desenvolvimento sustentável sem que se haja acabado com a pobreza em todas as

suas formas e dimensões e em todos os lugares.

Acabar com a pobreza, aliás, está entre as aspirações da ONU desde sua

gênese, quando se mostra disposta em sua carta de fundação, de 1945, “a

empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e

social de todos os povos” (ONU, 1945, p. 3).

A primeira meta desse objetivo, portanto, é a erradicação da pobreza

extrema, que é definida nesta nova agenda como viver com menos de U$ 1,90 por

dia. Outras metas visam reduzir pelo menos à metade a proporção de pessoas que

vivem em qualquer dimensão de pobreza de acordo com os níveis nacionais (dadas

as diferenças conceituais em relação ao tema em diferentes lugares do mundo).

Visa também garantir direitos iguais e redução da exposição dos mais

necessitados em situações de risco como em casos de desastres naturais,

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econômicos, sociais e outras adversidades, tal como a criação de marcos políticos

sólidos para apoiar a erradicação da pobreza extrema.

O objetivo 2, “acabar com a fome e alcançar a segurança alimentar e

melhoria da nutrição e a promoção da agricultura sustentável” (ponto que também

figurava entre os ODM e retorna nessa agenda), pretendendo extinguir formas de

desnutrição e subnutrição, buscando a garantia de alimentação nutritiva, enfatizando

a alimentação de mulheres grávidas e lactantes, pessoas idosas e também de

crianças, acabando com a caquexia e o nanismo em menores de cinco anos.

Até 2030, pretende também dobrar a produtividade agrícola e a renda de

pequenos produtores, especialmente mulheres, indígenas, agricultores familiares,

pastores e pescadores. Destaca a importância do acesso seguro à terra, recursos

produtivos e insumos, serviços financeiros, mercados, oportunidades de agregação

de valor e de emprego não agrícola e também ao conhecimento.

Ainda é meta do segundo objetivo, a garantia de sistemas sustentáveis de

produção agrícola que mantenham os ecossistemas e fortaleçam a capacidade de

adaptação às mudanças climáticas, a diversidade genética de sementes, plantas

cultivadas, animais em todas as suas expressões, incluindo a criação de bancos de

sementes e plantas, e a partilha justa e equitativa dos benefícios da utilização dos

recursos genéticos, bem como dos conhecimentos tradicionais associados.

O acesso à informação faz parte da pauta da última meta deste objetivo,

favorecendo, a partir das informações de mercado e reservas de commodities4

limitar a volatilidade dos preços dos alimentos, garantindo seu funcionamento

adequado do mercado.

O objetivo 3, “Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para

todos, em todas as idades”. Buscando reduzir a taxa de mortalidade materna global

para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos, acabar com as mortes

evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos, com todos os

países objetivando reduzir a mortalidade neonatal e a mortalidade de crianças

menores de 5 anos, assim como reduzir em um terço a mortalidade prematura por

doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental

e o bem-estar.

4 Segundo o novo dicionário de economia (1994) Commodity é um tipo de mercadoria que se

caracteriza por ser vendido em estado bruto ou produto primário como é o caso de frutas, açúcar, café, algodão, ferro, cobre, entre outros.

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Neste objetivo podemos ver a presença da informação quando coloca como

meta “assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva,

incluindo o planejamento familiar, informação e educação, bem como a integração

da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais”, assim como aumentar

substancialmente o financiamento da saúde e o recrutamento, desenvolvimento e

formação, e retenção do pessoal de saúde nos países em desenvolvimento,

especialmente nos países menos desenvolvidos e nos pequenos Estados insulares

em desenvolvimento.

A informação aparece também de forma central quando coloca como meta

“Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para as

doenças transmissíveis e não transmissíveis, que afetam principalmente os países

em desenvolvimento, proporcionar o acesso a medicamentos e vacinas essenciais a

preços acessíveis”.

Pode ser também de grande ajuda em relação a meta de acabar com as

epidemias de AIDS, com o reforço de informações sobre o contágio e também para

que se derrubem mitos que cercam a doença. Visa ainda o reforço a prevenção e o

tratamento do abuso de substâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e

uso nocivo do álcool, onde podem ser implantadas políticas de redução de danos,

para que se possa, através da produção e disseminação da informação se repensar

a relação do sujeito com as drogas e “colaborar para a melhoria das condições de

vida e saúde e a sobrevivência”, evitando a marginalização dessas pessoas, como é

visto em Gomes e Vecchia (2018).

O objetivo 4 da agenda foca a questão da educação para todos, e busca

“Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover

oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”. A informação

e o conhecimento mais uma vez aparecem, e de forma central neste objetivo,

eliminando as disparidades de gênero e garantindo a igualdade de acesso em todos

os níveis de educação a todos.

O objetivo visa com suas metas, o aumento no número de professores,

inclusive por meio de parcerias internacionais, especialmente para os países em

desenvolvimento, assim como o aumento de ambientes físicos à disposição de

todos, apropriadas e sensíveis às deficiências e gêneros, e a ampliação global no

número de bolsas de estudo, trazendo segurança e oportunidade de aprendizado

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para todos, garantido que até 2030 os jovens e uma substancial proporção de

adultos detenham conhecimento básico de matemática e estejam alfabetizados.

Como enfatizado por Bufrem (1985), a leitura é fator que possibilita a

participação dos seres humanos na sociedade em termos de compreensão do

presente e do passado e participação consciente no futuro. Tendo em vista que a

biblioteca deve fazer parte da formação das pessoas, a Biblioteconomia e a Ciência

da Informação podem ser parte decisiva para a criação da realidade de um mundo

alfabetizado e, portanto, com mais possibilidades de escolhas conscientes para o

futuro. A informação mais uma vez se configura como elemento central na vida, sua

apropriação é imprescindível para uma sociedade democrática, em que todos

tenham acesso às informações e possam tomar decisões fundamentadas.

Essas possiblidades de escolha são reafirmadas com a meta de construção

de conhecimentos e habilidades para promoção do desenvolvimento sustentável e

estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de

uma cultura de paz e não violência e valorização da diversidade cultural.

O objetivo 5, “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as

mulheres e meninas”, mostra a diferença entre os gêneros como algo urgente a ser

resolvido, algumas de suas metas são indicativos da dissonante realidade na qual

parte das mulheres do mundo ainda vive, quando coloca entre suas metas, por

exemplo, a eliminação de práticas nocivas a qual são submetidas como os

casamentos prematuros, forçados e de crianças, ou mutilações genitais femininas,

que se mantém como prática cultural em alguns países do mundo.

Do mesmo modo, busca eliminar todas as formas de discriminação e violência

nas esferas públicas e privadas, inclusive do tráfico e exploração sexual.

Assegurando o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos

reprodutivos para mulheres.

A agenda prioriza ainda a garantia da participação plena e efetiva das

mulheres na vida política, assim como oportunidade para a liderança e espaços de

tomada de decisão. Realizar reformas que ofereça direitos iguais aos recursos

econômicos para mulheres, buscando o acesso a prosperidade, serviços financeiros,

herança e recursos naturais.

Figura ainda neste objetivo “Aumentar o uso de tecnologias de base, em

particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o

empoderamento das mulheres”, mais uma vez a informação aparece na agenda

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como agente transformador da realidade. O objetivo finaliza com a meta de adoção

e fortalecimento de políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da

igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos

os níveis.

Os objetivos 6 e 7, respectivamente, “Assegurar a disponibilidade e gestão

sustentável da água e o saneamento para todos” e “o acesso confiável, sustentável,

moderno e a preço acessível à energia”, visam assegurar o acesso universal,

confiável de água e luz. E reduzir substancialmente o número de pessoas que

sofrem com a escassez de água, bem como apoiar e fortalecer a participação das

comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento

As principais metas deste objetivo são melhorar a qualidade da água,

reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos

químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais

não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura

globalmente, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos

para todos aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os

setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para

enfrentar a escassez de água, até 2030, ampliar a cooperação internacional e o

apoio à capacitação para os países em desenvolvimento em atividades e programas

relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a

eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias

de reuso.

Além dessas metas que visam o acesso à água, também está presente a

meta para proteção e restauração de ecossistemas relacionados com a água, como

rios, mares e oceanos, além de montanhas e florestas.

Entre as principais metas sobre energia estão dobrar a taxa global de

melhoria da eficiência energética. Procura também o aumento substancial da

participação de energias renováveis na matriz energética global, reforçar a

cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e tecnologias de energia

limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de

combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o investimento em

infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa.

Expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento de

serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em

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desenvolvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos

Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem

litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio

O objetivo 8, “Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e

sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”,

entre suas metas, busca a melhora progressiva, até 2030, da eficiência dos

recursos globais no consumo e na produção, buscando também dissociar o

crescimento econômico da degradação ambiental, de acordo com o Plano de

Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis.

Desde 2011 o Brasil conta com o Plano de Ação para Produção e Consumo

Sustentáveis (PPCS), que complementa os ideais do Plano Nacional sobre Mudança

do Clima (PNMC) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fornecendo

diretrizes básicas, prioridades e uma lista de ações para tornar conhecidos os

conceitos de produção e consumo sustentáveis (BRASIL, 2012).

Atingir níveis mais elevados de produtividade das economias por meio da

diversificação, modernização tecnológica e inovação, inclusive por meio de um foco

em setores de alto valor agregado e dos setores intensivos em mão de obra,

sustentar o crescimento econômico per capita de acordo com as circunstâncias

nacionais e, em particular, um crescimento anual de pelo menos 7% do produto

interno bruto (PIB) nos países menos desenvolvidos.

O objetivo 9, “Construir infraestruturas resilientes, promover a

industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação”, desenvolver

infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e resiliente, incluindo

infraestrutura regional e transfronteiriça, para apoiar o desenvolvimento econômico e

o bem-estar humano, com foco no acesso equitativo e a preços acessíveis para

todos, promover a industrialização inclusiva e sustentável, assim como modernizar a

infraestrutura e reabilitar as indústrias para torná-las sustentáveis, com eficiência

aumentada no uso de recursos e maior adoção de tecnologias e processos

industriais limpos e ambientalmente corretos, aumentando a participação da

indústria na criação de oportunidades de emprego.

A informação e o conhecimento estão presentes no objetivo através da meta

“Fortalecer a pesquisa científica, melhorar as capacidades tecnológicas de setores

industriais em todos os países, particularmente os países em desenvolvimento,

inclusive, até 2030, incentivando a inovação e aumentando substancialmente o

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número de trabalhadores de pesquisa e desenvolvimento por milhão de pessoas e

os gastos público e privado em pesquisa e desenvolvimento”. Apoiar o

desenvolvimento tecnológico, a pesquisa e a inovação nacionais nos países em

desenvolvimento, inclusive garantindo um ambiente político propício para, entre

outras coisas, a diversificação industrial e a agregação de valor às commodities,

constitui em outra meta dentro deste objetivo.

Aumentar significativamente o acesso às tecnologias de informação e

comunicação e se empenhar para oferecer acesso universal e a preços acessíveis à

internet nos países menos desenvolvidos, até 2020. A agenda mostra não apenas a

importância da informação como também a questão do acesso como elemento

fundamental para que de fato possa chegar a todos, ainda mais quando estamos em

um mundo globalizado. Particularmente, no Brasil, a carência e ausência do acesso

às tecnologias de informação e comunicação se faz presente por meio dos excluídos

digitalmente, que somam 4, 5 milhões de pessoas dentro dessa categoria “excluídos

digitais” segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

O objetivo 10 “Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles”, pode

ser um dos mais complicados desafios, porque de certo modo, exige uma mudança

de pensamento sobre o desenvolvimento. Ele é desafiador por precisar bater de

frente com estruturas de poder, com estruturas cognitivas e culturais, dado o modelo

estabelecido de desenvolvimento, que visa a concentração de riqueza e acúmulo de

bens materiais.

Entre as metas desse objetivo, está “Adotar políticas, especialmente fiscal,

salarial e de proteção social, e alcançar progressivamente uma maior igualdade” e

“Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições

financeiras globais e fortalecer a implementação de tais regulamentações”.

O objetivo visa ainda a adoção de políticas, especialmente fiscais, salariais e

de proteção social. Assim como alcançar progressivamente uma maior igualdade e a

promoção da inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da

idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou

outra.

O objetivo 11, “Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,

seguros, resilientes e sustentáveis”, foca na gestão de cidades e comunidades e o

desenvolvimento de questões como moradia, mobilidade e segurança, visando em

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princípio, garantir o acesso de todos à habitação segura e adequada a preços

acessíveis e a urbanização das favelas.

Ainda é meta desse objetivo o acesso a sistemas de transporte seguros,

acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, procurando também

melhorar a segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes públicos,

com especial atenção para as necessidades de pessoas em situação de

vulnerabilidade, como mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos.

“Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e

natural do mundo” é uma meta em que a ciência da informação, a biblioteconomia, a

arquivologia e a museologia tem condições de exercer papel fundamental, seja por

meio das instituições ou pelo fazer bibliotecário em si.

O objetivo visa ainda reduzir o impacto ambiental das cidades, através da

atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros medidores, meta

que se relaciona com algumas outras metas da agenda, inclusive as metas 12.5 e

12.8, foco do presente trabalho. Até 2020, aumentar substancialmente o número de

cidades e assentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos

integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às

mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar o

gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis

O objetivo 12, “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”

diz respeito à forma de consumo que se estabeleceu na sociedade moderna e suas

consequências para o ambiente do qual fazemos parte. Como é foco desse trabalho,

as metas do desse objetivo, serão observadas com maior profundidade, atendo-se a

cada um dos pontos.

A meta 12.1 coloca em pauta a implementação do Plano Decenal de

Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis, com os países desenvolvidos

assumindo a liderança, tendo em conta o desenvolvimento e as capacidades dos

países em desenvolvimento.

A meta 12.2 é alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos

naturais. Essa meta necessita de esforços da sociedade e também das forças

estatais, uma meta que sem dúvidas não tem como acontecer com ações isoladas.

A meta 12.3 visa a redução pela metade do desperdício de alimentos per

capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, assim como a redução das

perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo

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as perdas pós-colheita e carrega grande importância para que se reduzam com isso

os desgastes de insumos naturais, como solo, água, e toda a poluição causada ao

longo do processo de transporte desses produtos, além do que é colocado de volta

no ambiente.

Com a meta 12.4 pretende-se que até 2020, seja alcançado o manejo

ambientalmente saudável dos produtos químicos e todos os resíduos, ao longo de

todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos internacionais e reduzir

significativamente a liberação destes para o ar, água e solo, minimizando seus

impactos negativos sobre a saúde humana e ambiental.

Uma das metas que nortearam esse trabalho, a meta 12.5 pretende que até

2030, seja reduzida substancialmente a geração de resíduos por meio da

prevenção, redução, reciclagem e reuso. Essa meta é debatida ao longo do trabalho,

buscando compreender os fenômenos que impulsionam os rápidos descartes e

buscando entender melhor que ações podem ser aplicadas.

A meta 12.6 busca incentivar as empresas, especialmente as empresas

grandes e transnacionais, a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações de

sustentabilidade em seu ciclo de relatórios. A meta 12.7 visa a promoção de práticas

de compras públicas sustentáveis, de acordo com as políticas e prioridades

nacionais.

A meta 12.8, outro foco do presente trabalho, busca a garantia que as

pessoas, em todos os lugares, tenham informação relevante e conscientização para

o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza. E isso

é o que se pretende com as ações informacionais, desenvolvidas no capítulo seis e

trabalhadas ao longo do trabalho, observando a importância da informação como

condutora das ações.

A meta 12.a visa o apoio a países em desenvolvimento para que fortaleçam

suas capacidades científicas e tecnológicas, mudando com isso seus padrões de

produção e consumo, a fim de torna-los mais sustentáveis. Como é a realidade do

Brasil, essa meta acaba se relacionando com o trabalho. Apesar de vivermos em

uma realidade na qual as fronteiras territoriais parecem estar diluídas, ainda somos

diretamente afetados pela realidade de nosso país, logo, as proposições tomadas

aqui, assim como as ações informacionais propostas, são influenciadas por essa

realidade.

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A meta 12.b visa o desenvolvimento e implementação de ferramentas para

monitorar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável,

que gera empregos, promove a cultura e os produtos locais, abarcando com isso, a

sustentabilidade em suas três dimensões.

A meta 12.c procura a racionalização de subsídios ineficientes aos

combustíveis fósseis, que encorajam o consumo exagerado, eliminando as

distorções de mercado, inclusive por meio da reestruturação fiscal e a eliminação

gradual desses subsídios prejudiciais, para refletir os seus impactos ambientais,

tendo em conta as necessidades específicas e condições dos países em

desenvolvimento e minimizando os possíveis impactos adversos sobre o seu

desenvolvimento de uma forma que proteja os pobres e as comunidades afetadas. A

crítica às formas de consumo acabam por se também uma crítica à forma de energia

gasta nos processos de produção.

A informação aparece em destaque em uma das metas, “Incentivar as

empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais, a adotar práticas

sustentáveis e a integrar informações de sustentabilidade em seu ciclo de relatórios”.

Apesar de manter em cada objetivo o foco em uma questão específica, é

inerente à agenda a natureza do rizoma, porque essa natureza é, a propósito, a

natureza da vida em múltiplos aspectos. Assim como do conceito de

sustentabilidade, a forte relação entre as áreas e por consequência, a relação dos

objetivos e metas, como ocorre entre os objetivos 12 e 13.

O objetivo 13 procura “tomar medidas urgentes para combater a mudança do

clima e seus impactos” e hoje é impossível tratar das mudanças climáticas sem

mencionar o impacto causado pelas ações humanas, sem mencionar ou questionar

os padrões de produção e consumo. Direta ou indiretamente contribuímos para o

acelerado desgaste do planeta em suas todas as suas esferas.

A primeira meta é criar resiliência e capacidade de adaptação para todos os

países nesse contexto em que as mudanças climáticas continuam como um

imperativo, buscando integrar as pautas destas mudanças na política e

planejamentos nacionais.

A terceira meta é um ponto em que a informação aparece de forma central.

“Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e

institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da

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mudança do clima”. É possibilidade de unidades de informação ajudarem na

construção do saber ambiental.

O objetivo 14 e o objetivo 15, respectivamente: “Conservação e uso

sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o

desenvolvimento sustentável” e “proteger, recuperar e promover o uso sustentável

dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a

desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de

biodiversidade” estão também ligados ao objetivo 12.

Tendo em vista que uma parte significativa do lixo produzido pela humanidade

acaba por chegar aos mares, causando grandes danos a esses ecossistemas, como

a morte de diversos animais, a dificuldade para que as plantas possam realizar a

fotossíntese, através do descarte inadequado de descartáveis e outros materiais

poluentes, entre outros problemas.

Vale ainda salientar que existem outras formas de degradação desses

ambientes, como a caça e pesca predatória, o desmatamento de grandes áreas para

plantio de monoculturas, entre tantas outras práticas que a humanidade, em

inconsonância com o ambiente do qual faz parte, acaba por desequilibrar para

alimentar sua ganância.

São metas do objetivo 14, a preservação de pelo menos 10% de zonas

costeiras e marinhas, de acordo com legislações nacionais e internacionais,

proporcionar o acesso dos pescadores artesanais de pequena escala aos recursos

marinhos e mercados.

A informação figura especialmente na meta “Aumentar o conhecimento

científico, desenvolver capacidades de pesquisa e transferir tecnologia marinha”.

O objetivo 15, “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos

ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a

desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de

biodiversidade” também se comunica diretamente com o objetivo sobre o qual o

presente trabalho irá focar.

Apresenta em suas metas o ideal de proteção de todos os ecossistemas

conhecidos, terrestres e de água doce, em especial florestas, zonas úmidas,

montanhas e terras áridas, em conformidade com as obrigações acordadas

internacionalmente.

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O objetivo ainda prevê metas como o combate a desertificação, restaurar a

terra e o solo degradado, deter o desmatamento, restaurar florestas degradadas e

aumentar substancialmente o florestamento e o reflorestamento.

O objetivo 16, “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir

instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis”, tem como

primeira meta a redução significativa de todas as formas de violência e as taxas de

mortalidade relacionada a isto em todos os lugares. Vemos ainda nesse objetivo a

pretensão de reduzir o fluxo de armas ilegais, reforçar a recuperação e devolução de

recursos roubados e combater todas as formas de crime organizado.

Seguido de reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as

suas formas, além de desenvolver instituições eficazes, responsáveis e

transparentes em todos os níveis. Problemas bastante evidentes na realidade

brasileira. A corrupção, inserida em todos os âmbitos de nossa sociedade, turva a

visão de um país que se quer democrático. Sejam nas esferas públicas, estatais e

também na vida privada.

Assegurar o acesso público à informação é meta também deste objetivo,

buscando ainda proteger as liberdades fundamentais, em conformidade com a

legislação nacional e os acordos internacionais. Como, por exemplo, no Brasil tal

previsão é expressa na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Acesso à

informação, nº 12.527/2011.

O objetivo 17, “Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria

global para o desenvolvimento sustentável”, se divide em finanças, tecnologia,

capacitação, comércio e questões sistêmicas, que por sua vez está dividida em

coerência de políticas e institucional, parcerias multissetoriais e dados,

monitoramento e prestação de contas.

Para tanto, são metas desse objetivo ações como o fortalecimento da

mobilização de recursos internos para melhorar a capacidade nacional para

arrecadação de impostos e outras receitas, mobilizar recursos financeiros adicionais

para os países em desenvolvimento a partir de múltiplas fontes.

Para Silva e Gomes (2015, p. 154), a informação é um “processo de interação

e estrutura heteronômica social constituída a partir de uma atividade hermenêutica

possibilitando apreensão, compreensão e apropriação”. Na definição de informação

por Barreto (1994, p. 3) o autor a apresenta como uma “estrutura significante com a

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competência de gerar conhecimento para o indivíduo e seu grupo”. Nesse sentido, a

informação, como revelou-se também em sua utilização ao longo das metas da

Agenda 2030, figura como elemento de emancipação, devendo ser tratado como tal.

2.1 A Biblioteconomia e as bibliotecas frente à Agenda 2030

“Posso sair daqui pra desorganizar, posso sair daqui pra me organizar”. A

frase do compositor recifense Chico Science poderia ser mote de uma

Biblioteconomia e Ciência da Informação mais engajadas, empenhada não só na

organização de seus acervos, nos processos técnicos, mas também na não

manutenção de estruturas hegemônicas, na construção de uma sociedade onde a

educação sociopolítica é possível e questionadora. Como podemos observar na

ótica de Bufrem (1985, p. 113) “A promessa de um ideal democrático é ponto de

convergência de todas as novas possibilidades no terreno da Biblioteconomia e disto

decorre outra atitude de trabalho”.

No entanto, a biblioteconomia, sendo uma área tradicionalmente

conservadora (CAVALCANTE, 2018), ainda precisa percorrer um longo percurso até

que se tenha estabelecido essa nova atitude de trabalho, até que se consiga mover

integralmente para além das estruturas estruturantes. Como discutido também por

Almeida Junior (2015) essa postura conservadora, repudia as propostas de

mudanças ou as aceita de maneira superficial, numa aparente transformação,

mantendo o mesmo cerne, o mesmo âmago, conservando o conhecimento dos

dominantes. Dada também a complexidade de algumas funções, atreladas ao fazer

físico.

Mas à medida que se toma consciência de outras possibilidades de

abordagem e se educa tendo isto em vista se colabora para a solidificação de novos

paradigmas e ampliação de possibilidades na área. Como o paradigma social

iniciado a partir da década de 1990, como escreveu Capurro (2003) ao remontar a

epistemologia da Ciência da Informação. Momento em que a informação passa a ser

vista como fenômeno social individual e coletivo (ALMEIDA et al., 2007).

“Por que é importante questionar o interesse que os agentes podem ter em

fazer o que fazem?”. Com essa pergunta, Bourdieu (1996, p. 137) está questionando

o interesse que há por trás das condutas pessoais, mencionando o “princípio da

razão suficiente”, para a qual, “os agentes sociais não agem de maneira

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disparatada”, mas mesmo assim, ainda questiona a raiz de tais comportamentos

quando menciona que tais condutas podem não ter tido a razão como princípio. Para

tanto, podemos responder com a visão de Lindemann, Spudeit e Corrêa (2016, p.

710), de um ponto de vista micro:

O conhecimento é uma energia psíquica profunda que direciona o comportamento em direção a uma meta e buscá-la é preciso sem importar-se com o destino final, mas compreender porque se caminha em busca desta construção.

Sob essa perspectiva, o conhecimento, apreendido pelos sujeitos, direciona

os comportamentos. No entanto, a socialização dos saberes, sua apreensão e sua

posição como verdades são observados de um nível macro, como construções

históricas, culturais e sociais, como observado sob a ótica de Bourdieu, por

Nascimento e Marteleto (2018, p. 2):

Se a informação não é apenas uma ‘coisa’ a ser fisicamente observada, e sim historicamente construída, pois é ela que ‘dá forma a alguma coisa’, pode-se concluir que os sujeitos criam mecanismos informacionais (percepção, memória, imagem, etc.) para reconhecer, interpretar e transmitir significados. Ou seja, agir.

Perceber assim, as ações desenvolvidas no microssocial, como algo que

pode afetar o macro, à medida que sugerem novas demandas. Mas perceber

também o macrossocial como algo que afeta o micro, à medida que exerce

influência e poder de coerção sobre o micro.

É importante ressaltar que esses níveis são desassociáveis e exercem

influência sobre o outro mutuamente, como percebido por Hanna Arendt (1970)

“todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que homens vivem

juntos”, a ação, portanto, implica julgamento, linguagem, escolhas, decisões, opções

(PERROTTI, 2017).

Assim, compreendemos que não há neutralidade em nenhuma ação. O agir é

político, pois afeta e gera implicações na vida de outras pessoas. Precisa lembrar-

se, contudo, que a política está para além das dicotomias e polaridades partidárias.

Para Arendt a liberdade e a ação política são sinônimas e “a liberdade existe onde a

condição plural do homem não seja desconsiderada” (TORRES, 2007, p. 238). Seja

ela no cotidiano, seja no fazer bibliotecário, em campos mais amplos ou em relações

mais estreitas.

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Dentro do campo da ciência da informação e da biblioteconomia,

especificamente, existe o mito da neutralidade bibliotecária como é visto em

Cavalcante (2018), segundo o qual o profissional deve estar liberto da subjetividade

no exercício de sua função. O mesmo autor contesta esse mito na afirmativa de que

tudo é tocado pela subjetividade de profissionais bibliotecários. E como parte

integrante do social, as bibliotecas são, portanto, “instituições políticas, assim como

o homem” (BUFREM, 1985, p. 121).

Segundo Guattari (2012) o primado das infraestruturas, das estruturas e dos

sistemas, faz com que a subjetividade não esteja bem cotada em nossa sociedade,

e em nosso exercício isso pode ser entendido como a primazia pelas estruturas de

nossos códigos de catalogação, em detrimento de um fazer mais amplo. O mesmo

autor diz que nessas condições não é de se espantar que as ciências humanas e

sociais tenham deixado escapar as dimensões intrinsecamente evolutivas, criativas

e autoposicionantes dos processos de subjetivação.

A biblioteca é, além de parte integrante da política, parte integrante do

processo de educação, a partir da autoeducação e do autodesenvolvimento, como

colocados por Bufrem (1985). A educação, por sua vez, é uma maneira política de

manter ou de modificar a apropriação dos discursos com os saberes e os poderes

que estes trazem consigo, como pode ser visto em Foucault (2006). Tais poderes

que são transferidos a partir do momento que seus usuários tomam para si uma

nova informação, incorporando em si um novo conhecimento. Ainda na visão de

Bufrem (1985, p. 121):

A Biblioteconomia, fundamentada em valores sociais e políticos, impõe-se no concerto das ciências, revelando potencial incomensurável no sentido de proporcionar, de forma cada vez mais eficiente o acesso à informação e à democratização do saber.

Dada essa visão do campo bibliotecário, inserido em novas possibilidades de

atuação, onde o social segue à frente, observamos ações como a assinatura pela

International Federation of Library Association (IFLA), órgão internacional que

representa os interesses da Biblioteconomia e da dos serviços de informação, da

Agenda 2030, que traz importantes resoluções para a sociedade e para a

humanidade.

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Entre os objetivos da associação, está o de “defender e fomentar a nível

global o valor e a importância dos serviços de bibliotecas e informação de qualidade

que gerem crescimento social, econômico e cultural” (IFLA, tradução nossa). Ao

assinar esse documento, portanto, a IFLA demonstra aproximação com o caráter

social do bibliotecário e das bibliotecas.

Observamos em documento disponibilizado pela IFLA, algumas atitudes e

formas de bibliotecas cooperarem com a promoção dos ODS, visto que em muitos

países as bibliotecas receberam o desígnio de depositários das Nações Unidas,

funcionando como importantes locais de recolha e informação dos temas

supracitados. (IFLA, 2015, p. 14)

O documento, originalmente conhecido como Toolkit: Libraries and the UN

post-2015 development (Caixa de ferramentas: Bibliotecas e o desenvolvimento das

Nações Unidas pós-2015, tradução nossa) apresenta uma série de estratégias para

a implementação da agenda, segundo o documento “Os serviços das bibliotecas

contribuem para melhorar os resultados em todos os Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável” e destaca em que pontos isso ocorre (adaptados aqui):

• Promovem a alfabetização universal, incluindo o letramento para as mídias

de informação e competências digitais;

• Encerram lacunas no acesso à informação e auxiliam o governo, a

sociedade civil e as empresas, a compreender melhor as necessidades locais de

informação;

• Fornecem uma rede de sites para programas e serviços governamentais;

• Promovem a inclusão digital através do acesso às TIC com o auxílio de

técnicos dedicados que ajudam as pessoas a desenvolverem novas competências

digitais;

• Servem como centro de investigação para a comunidade acadêmica;

• Preservam e dão acesso à cultura e patrimônio mundial.

Cabem aqui exemplos de atitudes que algumas bibliotecas têm tomado frente

à Agenda 2030, fornecendo uma visão do que é possível ser feito na construção da

sociedade que almejamos.

A IFLA disponibilizou alguns documentos para auxiliar na implementação da

Agenda 2030 nas bibliotecas, destacamos aqui alguns pontos importantes desses

documentos, assim como alguns exemplos de ações por parte de bibliotecas, dos

quais chamam atenção os seguintes pontos:

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Cada bibliotecário tem um papel na Agenda 2030 da ONU garantindo que

todos os utilizadores conheçam as metas. A implementação dos ODS. Com o tempo

alteram-se as prioridades e os recursos, consoante os avanços no cumprimento dos

ODS.

Informar os utilizadores da biblioteca sobre os ODS “A participação autêntica

e o acesso à informação são os pilares para o empoderamento” Grupo das Nações

Unidas para o Desenvolvimento. Solicitou-se que cada país garanta que todos

conhecem os ODS nas bibliotecas e de como estes se aplicam a nível nacional e

local. Os bibliotecários podem apoiar nesta tarefa. Divulgar os objetivos: partilhar

informação sobre os ODS nas bibliotecas. O documento informa também da

possibilidade de a comunicação com a sede da IFLA permitirá ter apoio aquando da

planificação de reuniões, clarificar mensagens e oferecer evidências e estudos de

casos.

Para o Objetivo 1, relacionado à erradicação da pobreza, a IFLA (2016)

menciona as seguintes contribuições que podem ser feitas por nossas instituições e

profissionais: acesso público à informação e recursos que geram oportunidades para

melhorar a vida das pessoas, capacitação para adquirir novas habilidades

necessárias para a educação e o emprego; Informação para apoiar o processo de

tomada de decisões para combater a pobreza por parte dos governos, da sociedade

civil e do setor empresarial.

No Sri Lanka o e-Library Nenasala Program34 é uma iniciativa do governo

que visa aumentar a formação digital e o acesso à tecnologia entre os residentes

mais pobres no país e que vivem em áreas rurais remotas. O programa oferece

instrução para as competências básicas de informática, orientação sobre o acesso a

informações através da Internet e uma ampla variedade de conhecimento relevante

local (IFLA, 2015, p. 15).

Para o Objetivo 2, relacionado à luta contra a fome podemos ajudar através

das pesquisas e dados agrícolas para que os cultivos sejam mais produtivos e

sustentáveis; Acesso público para produtores agrícolas a recursos em rede, como,

por exemplo, preços de mercado local, informes meteorológicos e novos

equipamentos (IFLA, 2016).

Na Romênia os bibliotecários formados pela Biblionet35 ajudaram 100 mil

agricultores a obter 187 milhões de dólares em subsídios através de novos serviços

de Internet e informática entre 2011-2012. Os mais de 1.000 bibliotecários que

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participaram no programa decidiram trazer os serviços para suas bibliotecas

juntamente com os governos locais. O programa ajudou os agricultores a aprender

como usar a tecnologia nas bibliotecas para fazer crescer as finanças e submeter os

pedidos, economizando tempo e dinheiro (IFLA, 2015).

Para o Objetivo 3, assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar

para todos, podemos ajudar através de pesquisas disponíveis em bibliotecas

médicas e hospitalares que apoiem a educação e melhorem a prática médica dos

provedores de cuidados médicos; Acesso público à informação sobre saúde e bem

estar nas bibliotecas públicas para contribuir com que todas as pessoas e famílias

sejam saudáveis (IFLA, 2016).

O exemplo que segue é de Cuba, em que a Infomed constitui na primeira rede

eletrônica de informação em saúde, que surgiu como parte de um projeto visando

facilitar o intercâmbio eletrônico de informações entre um conjunto de bibliotecas,

centros de informação e outras entidades que compõem o Sistema Nacional de

Informação de Ciências Médicas do Ministério da Saúde (IFLA, 2015).

O Objetivo 4, assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, é

apoiado pelas bibliotecas mediante a provisão de equipes dedicadas que apoiem a

educação na primeira infância (educação continuada), o acesso à informação e a

pesquisa para estudantes em todo o mundo e em todos os níveis, e através da

manutenção de espaços inclusivos onde os custos não sejam uma barreira para

adquirir novos conhecimentos e habilidades (IFLA, 2016).

No Canadá o programa Man in the moon baseia-se na alfabetização precoce

para jovens e crianças. O programa evidencia o envolvimento dos pais na vida das

crianças tem um impacto enorme sobre a saúde e na alfabetização dos mesmos. Ao

ensinar aos pais como brincar, cantar, conversar e ler para seus filhos, o vínculo pai-

filho constrói a base para a prontidão das crianças para a leitura, para a felicidade e

para o sucesso mais tarde na escola e na vida (IFLA, 2015).

O Objetivo 5, alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as

mulheres e meninas, encontra apoio nas bibliotecas mediante o acesso à espaços

de encontro seguros e agradáveis; Programas e serviços pensados para satisfazer

as necessidades de mulheres e meninas como direito e saúde. Acesso à informação

e tecnologias que permitam as mulheres desenvolver habilidades no mundo dos

negócios (IFLA, 2016).

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No Nepal a iniciativa de Capacitação para Leitura do Information and

Resource Centre ajuda meninas e mulheres a compreenderem melhor as suas

vidas. O programa de capacitação inclui seminários e workshops sobre direitos das

mulheres, igualdade de género, saúde, violência e outras questões. A biblioteca

incentiva a inscrição das mulheres no grupo que se reúne uma vez por mês na

própria biblioteca e onde as mulheres possam falar livremente. Os cursos práticos

incluem alfabetização e aritmética, língua inglesa, TIC, habilidades de

empreendedorismo e aulas práticas para a fabricação de produtos para venda (IFLA,

2015).

Os Objetivos 6 e 7, que asseguraram a disponibilidade e gestão da água,

saneamento e à energia para todos, a IFLA propõe às bibliotecas que possibilitem o

acesso à informação de qualidade sobre boas práticas que permitam desenvolver

projetos locais de gestão da água e saneamento; Acesso livre e seguro a

eletricidade e iluminação para ler, estudar e trabalhar (IFLA, 2016)..

Em Honduras a Biblioteca de San Juan Planes desempenha um papel central

no fornecimento de água potável a toda a comunidade através de um projeto de

tratamento de água que eles estabeleceram na praça central da cidade. Inúmeras

bibliotecas públicas e comunitárias em todo o mundo constituem o único lugar onde

as pessoas podem obter acesso a luz e eletricidade para ler, estudar e candidatar-se

a um emprego. Na Namíbia a biblioteca pública de Katatura oferece acesso público

às TIC, salas de estudo e aulas para a utilização de celulares (IFLA, 2015).

Já para o Objetivo 8, promover o crescimento econômico sustentado,

inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos,

são propostas às bibliotecas o acesso à informação e capacitação para desenvolver

habilidades que as pessoas necessitem para encontrar melhores postos de

trabalhos, candidatar-se a eles e ter sucesso em melhores empregos (IFLA, 2016).

Anualmente 250.000 pessoas encontram emprego através da sua biblioteca

pública da União Europeia. O acesso público às TIC e às competências digitais

permite que as pessoas se candidatem a empregos, à medida que o processo de

candidatura passou a ser realizado online (IFLA, 2015).

O Objetivo 9, construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização

inclusiva e sustentável e fomentar a inovação, menciona uma ampla estrutura de

bibliotecas públicas, especializadas e universitárias e com profissionais qualificados,

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espaços agradáveis e inclusivos e acesso a TIC, como por exemplo, com internet de

alta velocidade que não se encontra disponível em todo lugar (IFLA, 2016).

Na Letônia por cada dólar investido em bibliotecas públicas na a partir de

2008-2010, foi criado cerca de 2 dólares em valor (direta e indireta). O retorno do

investimento em computadores e uso da Internet em bibliotecas públicas foi ainda

maior, retornando mais de 3 dólares por cada dólar investido (IFLA, 2015).

O Objetivo 10, reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles, sugere

que as bibliotecas possam ser espaços neutros e agradáveis que permitam a

aprendizagem para todos, incluindo os grupos marginalizados, como os imigrantes,

os refugiados, as minorias, os povos indígenas e pessoas com deficiência, o acesso

equitativo à informação que promova a inclusão social, política e econômica (IFLA,

2016).

A maioria das 15.000 pessoas com problemas de visão na Mongólia estão

desempregados. Em 2010, a Biblioteca Pública de Ulaanbaatar e a Federação

Nacional para os Invisuais da Mongólia construíram dois estúdios de gravação para

criar audiolivros, o que aumentou a quantidade de materiais acessíveis, abrindo

novos mundos de aprendizagem para os deficientes visuais (IFLA, 2015).

O Objetivo 11, tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,

seguros, resilientes e sustentáveis, sugere que as bibliotecas possam ser

Instituições confiáveis dedicadas a promover a inclusão e o intercâmbio cultural;

Documentação e conservação do património cultural para as futuras gerações (IFLA,

2016).

Em 2013, grupos armados ocuparam o Norte do Mali e Timbuktu, uma cidade

famosa pelo seu património cultural e pela sua vasta quantidade de bibliotecas

públicas e privadas com valioso património documental. Para salvaguardar os

manuscritos durante a ocupação, os voluntários contrabandearam-nos em

segurança para cidade de Bamako com a ajuda do apoio internacional. Os

manuscritos foram mantidos na capital e estão a ser submetidos a trabalhos de

restauração e digitalização. As bibliotecas estão na vanguarda da evacuação e

preservação do património único do Mali (IFLA, 2015).

Entre os Objetivos 12 e 15, que incluem assegurar padrões de produção e de

consumo sustentáveis, tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima,

conservação e uso sustentável dos oceanos, dos ecossistemas terrestres, gerir de

forma sustentável as florestas e deter a perda de biodiversidade, o documento da

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IFLA sugere que as bibliotecas sejam provedoras de um sistema sustentável de

intercâmbio e circulação de materiais que reduza a geração de resíduos. Pesquisa e

produção de dados necessários para elaboração de políticas de mudanças

climáticas. Acesso difundido para informações necessárias para orientar os

tomadores de decisão por parte dos governos locais ou nacionais sobre temas

como: caça, pesca, uso da terra e gestão da água (IFLA, 2016).

Nas bibliotecas de Croydon, Derby e outras cidades do Reino Unido, os

utilizadores tem a possibilidade de solicitar monitores de energia para descobrirem

que aparelhos elétricos gastam muita energia, permitindo assim que as pessoas

reduzam seu consumo de energia (IFLA, 2015).

O Portal de Estudantes para a Saúde Ambiental, um produto da Biblioteca

Nacional de Medicina (NLM – acrónimo em inglês) e dos Institutos Nacionais de

Saúde (NIH – acrónimo em inglês), fornece um recurso seguro e útil para alunos e

professores dos 6º a 8º anos para aprender como o ambiente pode influenciar a

nossa saúde. O site explora temas como poluição da água, alterações climáticas,

poluição do ar e produtos químicos (IFLA, 2015).

A Biblioteca Nacional da Indonésia tem um papel importante no aumento do

nível de educação e alfabetização para a população que se encontra espalhada

entre milhares de ilhas onde a educação é mais difícil de aceder - muitos serviços de

biblioteca são fornecidos por barco (IFLA, 2015).

A Biblioteca para a Preservação da Biodiversidade é uma biblioteca digital de

acesso aberto para a literatura sobre biodiversidade e que inclui mais de 46 milhões

de páginas de mais de 160.000 volumes de literatura publicados entre os séculos XV

e a atualidade em mais de 40 idiomas. Cientistas de todo o mundo utilizam estes

dados para identificar novas espécies, mapear populações e os declínios de

ecossistemas, informando modelos futuros de mudança climática. Tais dados podem

ser usados para informar novas políticas relacionadas com a conservação,

desenvolvimento sustentável e gestão responsável de recursos (IFLA, 2015).

O Objetivo 16, promover sociedades pacíficas e inclusivas para o

desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir

instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis, as bibliotecas

apoiam esse objetivo mediante a provisão de acesso público à informação sobre

governo, a sociedade civil e outras instituições; Capacitação nas habilidades

necessárias para compreender e utilizar esta informação; Espaços inclusivos e

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politicamente neutros para que as pessoas possam reunir-se e organizar-se (IFLA,

2016).

Na Moldávia as bibliotecas contribuem para os planos de ação na Parceria de

Governo Aberto, uma plataforma existente entre o governo, a sociedade civil e as

empresas visando impulsionar compromissos para uma transparência de governo e

de maior responsabilidade. Os bibliotecários participam nas reuniões da sociedade

civil para ajudar a desenvolver o plano nacional de ação do país e incluir o papel das

bibliotecas como apoiantes fundamentais no acesso à informação (IFLA, 2015).

O Objetivo 17, visa fortalecer os meios de implementação e revitalizar a

parceria global para o desenvolvimento sustentável, as bibliotecas apoiam esse

objetivo mediante a provisão de uma rede de instituições baseadas nas

comunidades que formam os planos de desenvolvimento locais (IFLA, 2016).

A Biblioteca do Grupo do Banco Mundial fornece aos funcionários e à

comunidade global acesso a informações e serviços relevantes para promover a

transferência de conhecimento, a boa governança através de iniciativas de

transparência e responsabilização e o desenvolvimento econômico, trazendo

crescimento e prosperidade de acordo com a estratégia para acabar com a pobreza

extrema até 2030 e promover o crescimento dos 40% mais pobres da população de

todos os países (IFLA, 2015).

Observamos com isso, que a ação das bibliotecas hoje, já se encontra para

além da custódia e guarda de livros em muitas realidades. Seu papel está no campo

social. Sua responsabilidade extrapola os livros e as bibliotecas com atividades

tradicionais. O desenvolvimento dos usuários e das comunidades toma frente em

nossas responsabilidades, o conhecimento e a informação são insumos para a

nossa sociedade contemporânea.

Tendo isso exposto e observando a realidade político-social brasileira atual,

como também sobre o espaço historicamente construído, a instrução, a voz política,

tem urgência em tomar espaço, modificando espaços já construídos, buscando

avanço em todos os âmbitos que compõe a sociedade.

Acreditar no fazer bibliotecário, em suas múltiplas possibilidades de atuação,

com a consciência da expressão da subjetividade é ter plena noção da importância

deste fazer, afinal, “A democracia é uma necessidade e não um luxo. Informação é

poder e, sem dúvida, poder de decisão”. (BUFREM, 1985, p. 121).

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O homem que lê está informado e adquire conhecimentos que necessariamente ampliam suas oportunidades e opções. As alternativas que encontra para suas escolhas, como um ser destinado a ser livre, são maiores e sendo maiores, mais consciente será sua escolha (BUFREM, 1985, p. 118-119).

Com isso fica claro que ter a ciência da responsabilidade enquanto

formadores de leitores e cidadãos deve ser o norte perseguido pelo bibliotecário(a)

nesse momento da humanidade.

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3 SOCIEDADE DO CONSUMO

Segundo Loureiro (2000) o problema da crise na relação sociedade e

natureza é consequência de um conjunto de variáveis interconexas, compreendendo

entre elas o capitalismo, a modernidade, o industrialismo, a urbanização e a

tecnocracia, que coloca no mesmo plano de equivalência os bens materiais,

culturais, áreas naturais, etc. Logo, uma sociedade que almeja o desenvolvimento

sustentável supõe a critica as relações sociais, de produção e de consumo.

Por um lado, o desenvolvimento dos meios técnico-científicos se apresenta

como uma possibilidade capaz de resolver as problemáticas ecológicas dominantes,

e por outro a incapacidade das forças sociais organizadas se apropriarem dessas

possibilidades para torná-los operativos (GUATTARI, 2012). Para que se tenha visão

da vastidão dos domínios dessas variáveis é preciso que se entenda a sociedade

não apenas como capitalista, mas como capitalística5, para tanto, sublinha-se o

conceito de capital simbólico, atribuído por Bourdieu (2001, p. 296):

O capital simbólico [...] não constitui uma espécie particular de capital, mas justamente aquilo em que se transforma qualquer espécie de capital quando é desconhecido enquanto capital, ou seja, enquanto força, poder ou capacidade de exploração (atual ou potencial), portanto reconhecida como legítima.

Todas estas variáveis estão compreendidas na sociedade de consumo,

absorvidas e em funcionamento, dispostas a aumentar capital, seja ele como lucro

monetário ou poder de decisão. As promessas instauradas com essa sociedade são

de uma vida longa, saudável (especialmente pela variável tecnocrata) e, sobretudo,

feliz. “A felicidade constitui a referência absoluta da sociedade de consumo”

(BAUDRILLARD, 2010, p. 49), assumindo uma onipresença nos comerciais, desde

às propagadas de margarina até os produtos do mercado de luxo. Se instituiu em

5 O termo “capitalístico” é utilizado como sinônimo de sistema “capitalista-urbano-industrial-patriarcal”,

não apenas para definir as relações sociais características do capitalismo. Dessa forma, o termo refere-se a todo um universo cultural e ético, e não simplesmente a uma categoria econômica. Designa não apenas as sociedades qualificadas como capitalistas, mas também setores do "Terceiro Mundo" ou do capitalismo "periférico", assim como as economias ditas socialistas, que segundo Guattari, em nada se diferenciariam do ponto de vista do modo de produção da subjetividade, seguindo uma mesma cartografia do desejo no campo social, uma mesma economia libidinal-política.

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nossa sociedade a promessa de satisfação dos desejos, e de uma vida feliz, como

coloca Bauman (2008, p. 63):

A sociedade de consumo tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos em um grau que nenhuma sociedade do passado pôde alcançar, ou mesmo sonhar, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito.

A essas sociedades o modelo de sociedade “desenvolvida” são aquelas que

estão no centro do sistema capitalista (GUIMARÃES, 2010, p.84). Para tanto se

trabalha para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em detrimento de outros

fatores como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou Renda per capita,

criando fossos sociais ainda mais profundos, em que o capital, tanto o de valor

econômico, quanto simbólicos, gira “nas mãos” de um pequeno grupo enquanto a

maior parte da sociedade divide uma parcela ínfima dos valores econômicos

acumulados por esse sistema. Como observou Guimarães (2010, p. 84) esse

desenvolvimento é, portanto, produtor de subdesenvolvimento.

Outros danos colaterais abandonados ao longo da trilha do progresso

triunfante do consumismo se espelham por todo o espectro social das sociedades

contemporâneas como observado por Ayer (2010, p. 166), enumerados aqui por

Lipovetsky e Serroy (2014, p. 7):

Construindo megalópoles caóticas e asfixiantes, pondo em risco o ecossistema, tornando insípidas as sensações, condenando os seres humanos a viver como rebanhos padronizados num mundo insulso, o modo de produção capitalista é estigmatizado como barbárie moderna que empobrece o sensível.

Por esse modo de vida em que a humanidade está imersa se instalam ainda

no tecido social “a riqueza do mundo, o empobrecimento das existências; o triunfo

do capital, a liquidação do saber viver; o superpoder das finanças, “proletarização”

dos modos de vida;” (LIPOVETSKY; SERROY, 2014, p. 7). Em nome do dito

progresso, se poluem o ar e a água, se destroem as paisagens e lugares, se

acomodam o ruído e perturbação das zonas residenciais pela implantação de novos

equipamentos (aeroportos, autoestradas, etc.), como pontuado por Baudrillard

(2010), originando um déficit técnico, psicológico e humano de dimensões colossais.

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É da natureza do capital não reconhecer qualquer medida de restrição, não importando o peso das implicações materiais dos obstáculos a enfrentar, nem a urgência relativa (chegando à emergência extrema) em relação a sua escala temporal. A própria ideia de “restrição” é sinônimo de crise no quadro conceitual do sistema do capital. A degradação da natureza ou a dor da devastação social não têm qualquer significado para seu sistema de controle sociometabólico, em relação ao imperativo absoluto de sua autorreprodução numa escala cada vez maior (MÉSZÁROS, 2011, p. 253).

Para Bauman (2008), uma transformação importante, que nos traz para o

momento atual da sociedade global é a transformação da sociedade de produtores

para sociedade de consumidores. Emerge o corpo-consumidor, “Liberado do dever

de produzir, este novo corpo incorpora, portanto, o dever de consumir. Esta nova

tarefa é vista como fruição, como prazer, fazendo coincidir o agradável e o

obrigatório” (RODRIGUES, 1995, p.60).

Para Guattari (2012) o capitalismo pós-industrial tende cada vez mais a

descentrar seus focos de poder das estruturas de produção de bens e de serviços

para as estruturas produtoras de signos, de sintaxe e de subjetividade, por

intermédio da mídia e da publicidade. E é justamente disso que trata-se o capital

simbólico, estimulado pelas técnicas atuais de propaganda e seus sofisticados

mecanismos de “criar necessidades” que em nada contribuem para uma solução

efetiva da crise ambiental (FIGUEIREDO, 2005, p. 40).

Em consonância com isso, Lipovetsky e Serroy (2014), afirmam que não

estamos mais no tempo em que produção industrial e cultura remetiam a universos

separados, radicalmente inconciliáveis. Esta relação tem suas fronteiras cada vez

mais diluídas, numa troca mútua de poder, mantendo os consumidores como

aliciados, mas também como aliados, num enredo que proporciona desgastes para o

social e para o ambiental.

Os pobres de hoje não desempenham o mais crucial dos deveres sociais: ser comprador ativo e efetivo. São não-consumidores. Surge, então, uma nova categoria de população, a “subclasse”, vítima dos danos colaterais múltiplos do consumismo. Agregado de pessoas que foram declaradas fora dos limites em relação a todas as classes e à própria hierarquia de classe, com poucas chances e nenhuma necessidade de readmissão. O termo implica uma sociedade que é tudo menos hospitaleira e atenciosa com todos (AYER, 2010, p.166).

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Nessa mesma sociedade que dispensa os pobres, ninguém pode se tornar

sujeito sem primeiro virar mercadoria. Visível, socialmente aceito, indivíduo como

sublinham Gattari e Rolnik (1996, p. 16):

Essa cultura de massa produz, exatamente, indivíduos; indivíduos normalizados, articulados uns aos outros segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão - não· sistemas de submissão visíveis e explícitos, como na etologia animal, ou como nas sociedades arcaicas ou pré-capitalistas, mas sistemas de submissão muito mais dissimulados.

Essa dissimulação garante ao sistema que se faça parte dele, sem que se

percebam os seus danos diretos ou que ele seja contestado. Pelo contrário,

defende-se esse sistema como se fosse propiciador do bem estar comum. Como se

a maior rotação do capital significasse também sua melhor distribuição.

A participação ativa nos mercados de consumo é a principal virtude que se espera dos membros de uma sociedade de consumo [...]. Afinal de contas, quando o “crescimento” avaliado pelo PIB ameaça diminuir, ou ainda mais quando ele cai abaixo de zero, é dos consumidores procurando o talão de cheques ou, melhor ainda, os cartões de crédito, devidamente persuadidos e estimulados, que se espera que ‘façam a economia ir em frente’ – a fim de ‘tirar o país da recessão’. (BAUMAN, 2008, p. 102)

Assim, muitos mercados são fundados, na esperança de seus compradores

de poderem com esses novos objetos tornarem-se esse sujeito normalizado. Como

observado por Ayer (2010), a identidade torna-se uma pena perpétua de trabalho

forçado. Esse esquema, no entanto, reduz a trajetória humana à capacidade de

acúmulo de “poder” ou capital, exercitada individualmente ou por grupos de

indivíduos, ao longo de suas existências (FIGUEIREDO, 2005, p.39).

Para os produtores de consumidores ávidos e infatigáveis, assim como para

os vendedores de bens de consumo, ela é também uma fonte inesgotável de capital.

Para tanto, como observado em Bauman (2008), ela alicia, estimula ou força as

pessoas a promoverem uma mercadoria atraente e desejável, fazendo o máximo

para aumentarem seu valor de mercado, o que se comercializa agora é a pretensão

de um “eu”.

O fetichismo da subjetividade, termo cunhado por Bruno Latour e utilizado por

Bauman, parte da necessidade de afirmação pessoal para que se alimente um

mercado, comprando e vendendo, não mais mercadorias, como na sociedade sólida

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pré-industrial, na qual se trabalhava para garantir a permanência do modo de vida

habitual. Mercantilizam-se agora “símbolos empregados na construção da

identidade”, como coloca Bauman (2008) ou “poder apreendido” como percebido por

Jean Baudrillard (2010).

O fetichismo da subjetividade, tal como, antes dele, o fetichismo da mercadoria, baseia-se numa mentira [...] ambas as variações tropeçam e caem diante do mesmo obstáculo: a teimosia do sujeito humano, que resiste bravamente às repetidas tentativas de objetificá-lo (BAUMAN, 2008, p. 30).

Mesmo se apresentando como um maquinário de realizações de desejos, em

sua criação das novidades, surge ainda a insatisfação. A perpétua não-satisfação é

também uma engrenagem potente desse sistema, fazendo-o prosperar enquanto

seus membros continuam em sua busca por satisfação. E “entre as maneiras com

que o consumidor enfrenta a insatisfação, a principal é descartar os objetos que a

causam” (BAUMAN, 2008, p. 31).

FIGURA 3 – Refugos

Fonte: Elisa Elsie

Figueiredo (1995) aponta ainda a evolução dos materiais empregados pela

sociedade na composição dos produtos, sem que se contemplem os

desdobramentos possíveis deste conjunto de materiais após o consumo.

Desvalorizando a durabilidade, igualando “velho” a “defasado”, impróprio para

continuar sendo utilizado e destinado à lata de lixo.

Entre esses materiais empregados está o plástico. Apesar de ter adquirido

caráter descartável, o plástico surgiu como uma alternativa barata de produção, uma

das principais problemáticas desse material, que possuem vida útil de alguns

minutos ou segundos em detrimento de soluções mais duráveis, como copos ou

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pratos de plástico reutilizáveis. A questão dos plásticos descartáveis levanta-nos a

questão da comodidade, que se apresenta como um dos discursos que atravessa

essa forma de consumo. A comodidade de levar poucas coisas ao sair de casa, por

exemplo. Ou de se livrar logo.

Uma parte considerável dos objetos feitos em plástico, no entanto, são

opções que apresentam potencial combativo ao consumo excessivo de descartáveis

e/ou aos produtos feitos em outros materiais com preço superior. A maior questão,

no entanto, ainda diz respeito a relação que mantemos com os objetos de consumo:

A vida do consumidor, a vida de consumo, não se refere à aquisição e posse. Tampouco tem a ver com se livrar do que foi adquirido anteontem e exibido com orgulho no dia seguinte, refere-se em vez disso, principalmente e acima de tudo, a estar em movimento (BAUMAN, 2008, p.126).

Além disso, a falta de conhecimento sobre a questão do ciclo de vida de um

produto, oculta o que é gasto durante o processo de produção e ainda as formas

que o mercado encontra para que um produto fique rapidamente defasado. Tal ciclo

ocorre da seguinte maneira:

Fase I introdução: o produto começa a ser fabricado e colocado no mercado. A demanda ainda não é alta, pois o mercado não está familiarizado com o produto, enquanto que muitos consumidores podem estar esperando pela queda do preço e/ou aperfeiçoamentos posteriores do produto. Fase II crescimento: o produto começa a se tornar competitivo e a publicidade ajuda o mercado a conhecê-lo melhor. Fase II maturidade: o produto já está bem integrado no mercado e as vendas começam a se estabilizar. Fase IV saturação: após a estabilidade das vendas, começa um eventual declínio; daqui por diante, tendem a diminuir as mudanças no projeto e as estratégias centram-se em preços competitivos. Fase V declínio: o produto começa a perder terreno para outros produtos. É chegada a hora de descontinuá-lo (tirá-lo do mercado), substituí-lo ou modificar radicalmente o produto. (MOREIRA, 1993 apud. GUILHERME, PAULA; SILVA, 2013).

Dentro desse ciclo, a quinta fase representa o fenômeno da obsolescência

planejada, como observado por Nunes e Bastos (2018), cada vez mais os objetos se

tornam obsoletos com vida útil já pré-determinada, estimulando o consumo e a

intensificando a fabricação de novos produtos. Gerando impactos enormes pela

velocidade dessa obsolescência, o que estimula o desperdício e a geração de

resíduos sólidos, em consequência.

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Uma sociedade de consumo é uma sociedade de excessos e extravagâncias, de uma multiplicidade de objetos de desejo e, portanto, da redundância e de largo desperdício. Numa sociedade de consumidores o verdadeiro ciclo econômico é o do “compre, desfrute, jogue fora” (AYER, 2010, p. 164).

Além dessa forma de gerar mais consumo, a sociedade de consumidores

desenvolveu uma capacidade de absorver todas as discordâncias intrassistêmicas e

então “recicla-las, a um grau sem precedentes como fonte importante de sua própria

reprodução, revigoramento e expansão” (BAUMAN, 2008, p. 66). Logo, mesmo

quando se levantam questionamentos sobre os modos de consumo e produção, o

sistema absorve e gera novos produtos para que se atendam essas demandas.

Gerando respostas para concorrer consigo mesmo.

Em Capitalismo parasitário, Bauman (2010) expressa esse sistema expondo

que a força do capitalismo está em sua extraordinária engenhosidade com que

busca e descobre novas espécies hospedeiras sempre que as espécies

anteriormente exploradas se tornam escassas ou se extinguem. Assim como um

vírus ou um parasita, oportuno e veloz, ele se adapta às idiossincrasias de seus

novos pastos.

Podemos colocar como exemplos recentes desses mecanismos o slow

fashion, movimento da moda que responde ao fast fashion, na pretensão de diminuir

os ciclos de modas, que tendem a acontecer num intervalo cada vez menor, gerando

nesses curtos intervalos danos imensos em todo o ciclo de vida desses produtos. E

apesar de a menor velocidade ser uma boa iniciativa, esses processos ainda

produzem muitos resíduos e desgastes naturais.

Outro exemplo, talvez mais perigoso e sucinto é o de produtos ditos “verdes”.

Como os produtos de origem natural que surgem em resposta aos transgênicos ou

sintéticos, como produtos de beleza, alimentação etc. Muitas vezes se utilizando de

algumas boas verdades para distrair de algumas verdades perigosas.

Essas questões retomam a percepção da capitalização da subjetividade, do

fetichismo da subjetividade e dos capitais simbólicos. Logo, os consumidores mais

atentos aos mecanismos do mercado e de seus desgastes caem ainda em

propostas corrosivas para o ambiente.

Para que se realizem de formas mais abrangentes essas ações, muito se

utiliza das articulações do marketing. Entre os recursos utilizados pela publicidade

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está a promessa de felicidade, completude e calar o desamparo o de associar os

produtos à felicidade, em slogans como “abra a felicidade” ou em trademarks como

McLanche Feliz.

Outros recursos como a redução da autoestima das pessoas em detrimento

de outras, a necessidade de diferentes produtos para que as pessoas sejam amadas

ou amem a si mesmas, recurso amplamente utilizado em comerciais de produtos de

higiene, como pastas de dente, desodorantes, shampoos, etc. demonstram a

perversidade, e a promessa de ser esse sujeito, no entanto, não se cumpre.

Figueiredo (1995) pontua a tentativa bastante atual de contrapor, frente a

opinião pública, as questões sociais e ambientais, como se elas fossem

antagônicas, manobra apresentada muitas vezes pelos setores comerciais e estatais

nas quais se apresentam questões controversas pelos empreendedores ou

interessados apresentando a ideia de que a não implantação de um projeto,

inaceitável do ponto de vista ambiental, implica, por exemplo, em desemprego.

Estas “armadilhas” preparadas de forma minuciosa e com o auxílio de um forte aparato de marketing buscam, na verdade, desviar a atenção da opinião pública das questões fundamentais, tais como: quem realmente se beneficia com o projeto? De quem é o ônus da implantação e qual a sua abrangência? Quais as formas alternativas possíveis? E, talvez, a questão mais importante: qual a real necessidade ou utilidade da implantação? (FIGUEIREDO, 1995, p. 42)

Figueiredo (1995) questiona ainda o dito “marketing ambiental”, que segundo

o autor, constitui uma máscara sob a qual se esconde a verdadeira face de um

empreendimento industrial na tentativa de encobrir suas responsabilidades com a

degradação ambiental, visando acobertar ou minimizar a pressão relativa à intensa

degradação ambiental de suas atividades. Essas máscaras surgem muitas vezes

sob a forma de patrocínios de eventos ambientalistas.

A despeito das reais preocupações com relação aos resíduos, são frequentes

as práticas que, longe de aprofundar a discussão, esquiva aos problemas

fundamentais associados à questão, com a intenção de manter e reproduzir a

estrutura e a dinâmica vigente (FIGUEIREDO, 1995). A intenção que norteia estes

procedimentos visa acobertar ou minimizar a pressão relativa a intensa degradação

ambiental decorrente de suas atividades.

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‘marketing ambiental’, muitas vezes confundido com ‘planejamento ambiental’, através do qual se procura passar ao público uma imagem de preocupação com o meio ambiente por parte da indústria. Esta nova forma de propaganda faz parte da estratégia atual no sentido de atingir uma maior penetração dos produtos, associando a imagem da indústria ao comprometimento ambiental [...] Não é raro nos dias atuais o patrocínio de eventos ambientalistas por parte de empresas poluidoras. (FIGUEIREDO, 1995, p.38)

Como podemos perceber o próprio discurso de redução de lixo ou consumo

consciente está minado por desgastes naturais provocados pelo mercado. E no meio

disso, o consumidor acaba sendo levado por diferentes discursos que os faz

desaguar nas mesmas problemáticas. Para Jean Baudrillard em “A sociedade de

consumo” (2010, p. 83):

A liberdade e a soberania do consumidor não passam de mistificação. A mística bem alimentada (e, antes de mais, pelos economistas) da satisfação e da escolha individuais, ponto culminante de uma civilização da “liberdade”, constitui a própria ideologia do sistema industrial, justificando a arbitrariedade e todos os danos coletivos: lixo, poluição, desculturação.

A partir dessa visão geral assumimos o questionamento inicial sobre a forma

de consumo no qual a sociedade atual parece mergulhada. Não se pode dizer que o

consumo excessivo, o desperdício e o desrespeito aos ciclos da natureza são

características intrínsecas ao homem ou a humanidade. Tais comportamentos

podem apresentar diversas faces de um mesmo prisma. Sua análise necessita,

inegavelmente, de uma transdisciplinaridade. Assim como apresentam em seu fazer

diversos pontos de partida e motores que o mantém em funcionamento.

Percebemos que ao longo da história do homem houve momentos em que a

produção, o consumo e o ambiente se mantiveram alinhados, no entanto, uma

mudança que se pretende, não pode considerar voltar a modos de vida passados.

Essa mudança de rota tem além do impulso estrutural, capitalístico, um caráter

conceitual, semântico, cultural e histórico. Na nossa sociedade uma ordem de

consumo se manifesta como ordem de manipulação de signos, significações,

códigos e dos sistemas simbólicos (BAUDRILLARD, 2010).

Como mencionado por Guattari (2012) as instâncias políticas e executivas

parecem totalmente incapazes de apreenderem toda essa problemática, geralmente

se contentando em abordar os campos dos danos industriais unicamente na

perspectiva tecnocrática, ao passo que só uma articulação entre os três registros

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ecológicos (o do meio ambiente, o das relações sociais e da subjetividade humana)

é que poderia esclarecer convenientemente essas questões.

Ainda é possível identificar na leitura de Bauman, o perigo que reside na

espera que o estado possa sozinho tomar frente das questões ecológica. Sua visão

é bastante certeira em relação a dinâmica estado-mercado, segundo a qual, nesses

mecanismos de poder, o estado também perde sua força, inclusive seu poder

regulador, abrindo espaço para que de certa forma sejamos governados pelos

interesses do mercado.

Muito mais revolucionária (e potencialmente fatal para o Estado, já que foi moldada durante a era moderna) é a outra tendência que mina a soberania do Estado de modo muito mais profundo: a inclinação do Estado enfraquecido a passar muitas de suas funções e prerrogativas para os lados, e não para cima, cedendo-as aos poderes impessoais dos mercados. Ou a rendição cada vez mais abrangente do estado à chantagem das forças do mercado, contrariando as políticas preferidas e endossadas por seu eleitorado e tomando dos cidadãos o status de ponto de referência e árbitro final das propriedades políticas. (BAUMAN, 2008, p. 87)

Visto esse alinhamento dos conceitos motores para o consumo, partimos

agora para o problema do lixo em si. “Das variações cotidianas de preço chega-se

às inflações seculares” (FOUCAULT, 2006, p. 55). Com base nessa analogia,

buscamos a compreensão do lixo como um conceito histórico, social e culturalmente

construído em nossa sociedade. O presente trabalho, não tem a pretensão de

redefinir o significado de lixo, mas busca entender o conceito e como signo e

significante se relacionam mutuamente, influenciando as ações empreendidas a

partir dele.

3. 1 Lixo, uma abordagem social

Para que possamos entender a questão do lixo urbano e domiciliar, tomamos

agora algumas linhas que acabam por tentar de forma geral, perceber o discurso

que sustenta a forma de consumo em que estamos inseridos e a forma como

descartamos. Sem buscar desvendar a universalidade de um sentido; apenas

mostrar à luz do dia o jogo da rarefação imposta (FOUCAULT, 2008).

Na literatura de José Carlos Rodrigues (1995), encontramos uma genealogia

do conceito de lixo, percebendo que a origem do tratamento dele como tal, tem a

mesma raiz que a separação de outros corpos indesejáveis para as cidades e

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sociedades como os loucos, doentes, moribundos. O autor, em seu resgate, mostra

que até a Idade Média o conceito de lixo era inconcebível, visto que não se tinha, até

então um sistema de categorização tão proeminente.

FIGURA 4 – Refugos

Fonte: Elisa Elsie

Essa categorização resultou numa tentativa de colocar em determinados

espaços, distantes da sociedade normalizada, os dejetos ou aquilo que causava

algum incomodo, a tentativa de demarcar territórios com conceitos. É desta época

que emergem a cadeia, os hospitais, os manicômios e os lixões. O lixo e a sujeira,

então, se configuram na indistinção que abole a nitidez das linhas demarcatórias de

diferentes domínios, como observado por Rodrigues:

Ela é quase sempre a mistura de elementos pertencentes a categorias que devam ser mantidos separadoras (orgânico e inorgânico, cru e cozido, útil e inútil privado e público, interior e exterior...) daí podemos pensar que a seleção torne o lixo menos ameaçador (RODRIGUES, 1995, p. 84).

Ainda na análise de Rodrigues, o lixo vai deixando de ser tabu, algo perigoso

e ameaçador, na proporção em que vá perdendo sua identidade já parcial, seu

caráter essencialmente semi-identificado ou semi-identificável. “Quando vira cinza,

quando volta a ser terra, quando é queimado e se transforma em fumaça, quando é

reciclado e adquire vida nova [...]” (RODRIGUES, 1995, p. 104).

Com isso, percebemos que o lixo como conceituamos hoje emerge de sua

classificação como tal, no qual a sujeira ou o lixo é sempre alguma coisa que ofende

esse sistema de classificação, como apontado por Rodrigues (1995).

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Por se tratar, então, de uma conduta classificatória, procuramos entender o

que se conceitua “lixo” ou “resíduo”, a fim de entender os mecanismos linguísticos

que cercam e rotulam algo como tal. Como observado por Foucault (2006), uma

língua não se fecha sobre si mesma senão em uma função de impotência. Dessa

forma, inferimos que os significados, significantes e significações decorrem dessa

relação entre as pessoas e o mundo que as cerca.

Quando procuramos o significado atribuído à palavra lixo nos dicionários,

fontes secundárias de informação, que se apresentam como uma importante fonte

de informação e que estão na construção do vocabulário das pessoas na apreensão

de sentidos que possibilitam a comunicação, percebemos através de um

levantamento em alguns dicionários de língua portuguesa da definição de lixo

segundo nos faz perceber o valor construído e a forma que classificamos as coisas

como tal:

Houaiss: 1. Objeto sem valor ou utilidade ou restos de trabalhos

domésticos, industriais etc. que se joga fora.

3. Sujeira, imundice

Michaelis: 1. Resíduos provenientes de atividades domésticas, industriais,

comerciais etc. que não prestam e são jogados fora; bagaço.

4. Qualquer coisa sem valor ou utilidade.

5. Qualquer coisa feia ou malfeita.

Priberam: 1. Qualquer matéria ou coisa que repugna por estar suja ou que

se deita fora por não ter utilidade.

Outra questão relacionada à palavra diz respeito aos conceitos nacionais

adotados para a classificação dos resíduos. Como pontuado por Figueiredo (1995) a

falta de rigor na definição de lixo desencadeia problemas como a incineração de

resíduos (já que seu conceito não prevê cinzas como lixo) ou ainda o despejo de

resíduos em meios hídricos. Essas medidas, que amplamente causam mais

problemas que trazem solução mostram também que o aspecto de categoria cinza

do lixo, ou seja, uma zona em que os limites se confundem.

É necessário fazê-lo deixar de ser um semi-identificável, pois o lixo é em geral uma mistura (de coisas da casa que estão na rua, das coisas da rua que estão na casa, de coisas intimas que vieram a público, partes de um todo que já não é, interioridades que foram

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exteriorizadas, algo que deveria estar longe mas está perto ou vice-versa...). (FIGUEIREDO, 1995, p. 104).

Observando a linguagem que utilizamos ao falar daquilo que consideramos

lixo, podemos observar que comumente é dado o fator “falta de utilidade”, fatores

físicos como sujeira, falta de beleza, impureza. Essas classificações presumem a

existência de um poder que se quer próximo ao "puro" (RODRIGUES, 1995). É

importante que se tenha em mente que tais atributos são construções sociais, são

subjetivos e por isso devem ser ponderados. Rodrigues (1995, p. 107) observa esse

fenômeno sob uma ótica social e simbólica:

Quando apreciamos a sociedade em seu conjunto constatamos facilmente que o lixo de uma camada pode perfeitamente representar o luxo de outra e reciprocamente. Assim, conseguimos entender que não existe valor de uso absoluto e que as dimensões materiais da sociedade estão sobrecarregadas de relações sociais, simbólicas e, sobretudo políticas.

O autor destaca ainda que o nosso ponto de vista individualista nos impede

de ver a sociedade em sua totalidade, o que faz com que não possamos perceber

que a perda do “valor de uso” de algo, que o institui como dejeto, não abole

absolutamente o seu “valor de troca”.

Por isso a importância da ponderação e da criação de culturas diferentes para

nossa relação com os bens de consumo, principalmente ante a escolha do descarte

inapropriado com fim de levar tais objetos aos lixões onde aquilo será incinerado ou

irá se decompor na natureza por anos ou séculos a fio, gerando danos ao ambiente.

Outras expressões subjacentes em relação ao lixo, especialmente da

informalidade como “jogar fora” ignoram o fato de não haver verdadeiramente um

“fora”, como observado em Rodrigues (1995, p. 107):

Ora, se o ‘fora’ na verdade é um ‘dentro’, afastar algo, no caso o lixo, é necessariamente aproximá-lo de alguém. Está presente aí um movimento de poder estruturalmente inevitável: Aproximá-lo dos lixeiros, dos caminhoneiros, dos moradores das favelas, dos pobres... Este longe será sempre um perto, esta expulsão será invariavelmente inclusão. Banir o lixo do “centro” corresponderá inexoravelmente aproximá-lo da “periferia”. Nada de neutralidade técnica ou política.

Essa relação demonstra mais uma vez a conotação estrutural de demarcação

de poder estabelecida por esse objeto. O autor pontua ainda que a questão da

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limpeza, ou higiene, sempre será uma questão limitante para as forças sociais,

enquanto elas estabelecerem essa relação de poder:

Não é difícil deduzir o que forçosamente acontecerá com favelados e outros “periféricos”, por mais objetivamente e urbanizadas que venham a ser suas condições de vida (água em abundância, coleta frequente do lixo, etc.). De um ponto de vista simbólico e relativo, a hierarquia social inventará outros critérios de discriminação de pureza e poluição (RODRIGUES, 1995, p. 96-97).

Para Figueiredo (1995) não devemos esquecer que as regras de poluição

estão estritissimamente ligadas à marcação de distâncias sociais entre pessoas,

grupos, objetos e ideias. Está na forma como classificamos os objetos e a relação

com eles. A observação desses conceitos classificadores, da forma como o tratamos

está de certa forma ligada ao que podemos fazer para que possam ser

estabelecidas relações diferentes. Mudar a visão do lixo como um problema isolado,

ou um problema que deve ser gerido unicamente pelo estado poderá mudar nossa

relação com o que tratamos por lixo.

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4 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E SOCIEDADE DO LIXO: CONTORNOS, LIMITES E INTERSEÇÕES

Para Furnival (2000), a grande questão, é que a dificuldade de mensuração

do papel fundamental que a informação apresenta a níveis sociais e econômicos.

Embora seja afirmado frequentemente que a informação desempenha um papel

fundamental no processo de desenvolvimento econômico e social, também sabe-se

quão complexo é demonstrar e provar explicitamente esta relação. E esta torna-se

mais complexa ainda pelo fato de que a própria percepção, daquilo que seja

informação e sua utilidade potencial, é muito orientada pela cultura e pelo local no

qual foi gerada ou assimilada.

A informação sempre teve um caráter político. Desde o início da civilização

humana a detenção de informações em detrimento da falta de conhecimento de

seus pares se manteve como ferramenta de controle. Não é preciso ir longe para

perceber que nunca antes se produziu e valorizou tanta informação, um

característica da sociedade contemporânea, isto é, da sociedade da informação.

“Sociedade da informação” foi um termo introduzido em 1973, pelo sociólogo

estadunidense Daniel Bell, sob a alegação de que o conhecimento seria responsável

pelo principal eixo econômico da sociedade, tomando posição na estrutura central

da nova economia, a sociedade seria sustentada na informação e as ideologias

seriam supérfluas (BURCH, 2005).

A expressão reaparece com grande repercussão midiática na década de

1990, assumindo a posição de termo hegemônico, tal posição está amplamente

relacionada ao seu uso por instituições como agências das Nações Unidas e pelo

Banco Mundial, como pontuado por Burch (2005, p. 2), “não porque expresse

necessariamente uma clareza teórica, mas graças ao batismo que recebeu nas

políticas oficiais dos países mais desenvolvidos”.

A partir de 1998 o termo foi escolhido, na União Internacional de

Telecomunicações e, depois, na ONU para nome da Cúpula Mundial programada

para 2003 e 2005. Neste contexto, o conceito de ‘sociedade da informação’ como

construção política e ideológica se desenvolveu das mãos da globalização

neoliberal, cuja principal meta foi acelerar a instauração de um mercado mundial

aberto e ‘auto-regulado’:

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Política que contou com a estreita colaboração de organismos multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para que os países fracos abandonem as regulamentações nacionais ou medidas protecionistas que “desencorajassem” o investimento; tudo isso com o conhecido resultado da escandalosa intensificação dos abismos entre ricos e pobres no mundo (BURCH, 2005, p. 2).

Ao assumir essa posição hegemônica, a informação se estabelece como

capital simbólico designando e delimitando poderes, detê-la ou possuí-la apresenta-

se como possibilidade de domínio. Associada a outros capitais como o financeiro, ou

o cultural é capaz de estabelecer hierarquias.

O papel que o conhecimento agora tem no processo de desenvolvimento é tão crítico que o desenvolvimento em si poderia ser redefinido em termos da capacidade de gerar, adquirir, disseminar e utilizar o conhecimento, ambos o moderno e o tradicional. A presença ou ausência desta capacidade constitui-se num marco divisor crucial entre as nações desenvolvidas e aquelas em desenvolvimento. (FURNIVAL, 2000, p. 81)

Ainda segundo Burch (2005), a UNESCO adotou o termo “sociedade do

conhecimento” dentro de suas políticas institucionais, termo que surgiu no final dos

anos 1990. Desenvolveu uma reflexão em torno do assunto que busca incorporar

uma concepção mais integral, não ligada apenas à dimensão econômica.

Para tanto, é importante ressaltar que por esse termo ocupar um espaço

hegemônico, o nivelamento é feito por cima. A realidade que se observa, no entanto,

“é que não se oferece acesso nem mesmo à informação de qualidade para todos,

quiçá ao conhecimento.” (LINDEMANN; SPUDEIT; CORRÊA, 2016, p. 708). As

autoras ressaltam ainda uma nuance dessa questão:

a sociedade existente (sociedade da informação) e a sociedade desejada (sociedade do conhecimento) no qual a informação é caracterizada como alavanca para o crescimento do capitalismo, mas também progressivo aumento de desigualdades. Ao mesmo tempo, o acesso à informação permite uma maior consciência social possibilitado pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (LINDEMANN; SPUDEIT; CORRÊA, 2016, p. 708).

É importante observar e ponderar, então, o que se tem por sociedade da

informação, em um país como o Brasil, no qual 11,8 milhões de pessoas são ainda

analfabetas, como mostrou pesquisa do IBGE, em especial no Nordeste, onde se

encontra a maior porcentagem, representando 14,8% da população. Desta forma, a

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sociedade da informação não é realidade para muitos, e a informação não garantiu

uma sociedade mais justa, livre e igualitária.

A mídia é uma instituição que está muito próxima aos cidadãos de todas as

camadas sociais. Dada essa proximidade com o social é inegável sua influência em

questões de consumo, e por isso ela perpassa a ideia geral de consumo e

sustentabilidade, tendo em vista que grande parte das informações consumidas por

uma parcela considerável da população, especialmente no Brasil, ainda é

proveniente de meios de comunicação como a televisão.

A “Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 - Hábitos de Consumo de Mídia pela

População Brasileira” mostrou que quase 90% da população se mantém informada

pela televisão. Da mesma forma que as ações individuais, o que se escolhe

televisionar ou não também é uma escolha política, especialmente sob o

conhecimento dessa fatia populacional que está sendo informada através de suas

escolhas. Delimita-se que comida comprar, o mercado que irá crescer e a demanda

e os produtos que irão surgir.

Informações, afinal de contas, dirigem comportamentos. Dessa forma, a

população é influenciada a corroborar e inconscientemente patrocinar ideologias

gananciosas, práticas arbitrárias e desgastes ambientais. Como o caso da

propaganda televisiva “O agro é pop”, que possui o claro objetivo de melhorar a

reputação do agronegócio, dada a má imagem que se vinculou aos produtos com

altos níveis de agrotóxicos que adoecem as pessoas, a água, o ar e os solos. O que

a campanha elipsa, no entanto, é que “o pop não poupa ninguém”.

Em seu ensaio sobre a televisão, Maria Rita Kehl (2018, p. 102) elucida a

questão da tevê e dos grandes monopólios econômicos no Brasil, demonstrando a

atuação da mídia na capitalização dos desejos produzidos, levando-os para o

terreno do possível:

Se a burguesia reproduz sua imagem pelo mundo afora, a indústria cultural, tendo a tevê como veículo mais eficaz, dilui essa imagem em padrões pequeno-burgueses tornando a imitação acessível a qualquer outro estrato social [...] Integração nacional via unificação da linguagem, do consumo e da ideologia também.

Ao mesmo tempo em que nesse modo de consumo se baseia no poder

exercido pelo capital simbólico a sociedade se baseia em “tendências”, sem líderes,

hierarquias e estrutura de poder fixos, pois como foi dito anteriormente, nesse

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modelo social, é preciso se manter relevante e se mantem relevante, principalmente,

através do consumo. Ayer (2010, p. 163-164) associa esse comportamento ao

enxame, que em nossa sociedade substitui os grupos:

[...] se reúnem, se dispersam e se juntam guiados a cada vez por relevâncias diferentes, invariavelmente mutáveis. Unidas unicamente pela reprodução de padrões de comportamento semelhantes. No caso de enxames de consumo não emergem vínculos duradouros. São reconhecidamente determinados pela ocasião e tendo pouca influência.

Esse comportamento, em geral, é guiado pelas mídias. Sejam elas as mais

novas como a internet ou as tradicionais como a tevê. O caráter comunitário e

hierárquico da sociedade, anteriormente citados, dão conta da replicabilidade dos

comportamentos e consumos.

Germaine Greer, na leitura de Bauman (2008, p. 21), lembra que “na era da

informação, a invisibilidade é equivalente à morte”. Para esquivarem dessa morte

social, os indivíduos são “bombardeados de todos os lados por sugestões de que

precisam se equipar com um ou outro produto fornecido pelas lojas se quiserem ter

a capacidade de alcançar e manter a posição social que desejam, desempenhar

suas obrigações sociais e proteger a autoestima” (BAUMAN, 2008, p. 74). E nesse

território, “o consumo excessivo é sinal de sucesso” (AYER, 2010, p. 166).

Ayer (2010) pontua ainda que nas tribos pós-modernas o reconhecimento e a

aceitação são base para se constituir como indivíduo consumidor. Os bens servem

para mobilizar outras pessoas ao seu redor. Curiosa dialética do coletivo e do

individual, ou da pertença e da autoafirmação. Para ser eficaz, a tentação de

consumir, e de consumir mais, deve ser transmitida em todas as direções e dirigida

indiscriminadamente a todos.

Por fim, registra o impacto dos padrões de interação e avaliação consumista

acerca de vários aspectos aparentemente desconexos do ambiente social, como

política e democracia, divisões e estratificação social, comunidades e parcerias,

construção de identidade, produção e uso do conhecimento, e preferências

valorativas (AYER, 2010, p. 167).

Para Figueiredo (1995), a avaliação segmentada de alguns processos

produtivos dificulta sua associação com a degradação ambiental e as parcelas de

responsabilidade com relação à produção e movimentação de insumos requeridos,

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com os resíduos gerados e com os produtos após o consumo, onde a parte mais

visível dessa problemática está depositada nas ruas centrais e periféricas.

A sociedade asseptizada é automaticamente uma sociedade hierarquizada. A luta contra a poluição (seja pecado, sujeira, moralidade, raça, toxidade...) está sempre associada ao estabelecimento de um poder [...] Aí está uma dimensão política que com frequência desprezamos. (RODRIGUES, 1998, p. 106).

O desprezo desta dimensão, no entanto, é uma dos aspectos fatais para que

não se desenvolvam diálogos abertos nesta temática. O pensamento é posto e

permanece sendo observado sob o mesmo ângulo e fechado em si mantém a

inércia da questão. A observação desses aspectos, no entanto, é observar os

parâmetros de distinção entre as pessoas e classes como destaca ainda o autor:

O lixo se transforma, assim, em instrumento semiótico de diferenciação de classe, trazendo, como consequências intimamente associadas, por um lado, o encurtamento da vida dos objetos, que devem ser descartados tão rápido quanto possível, para colocar em evidência a posição de superioridade social daquele que os despreza. Por outro lado, a decorrência óbvia dessa lógica não pode ser outra senão a exponencial multiplicação do lixo, cada vez mais acelerado pelo circuito de realimentação fundado pelo desejo de diferenciação presente no íntimo de quase todos e de cada um dos componentes desta sociedade (RODRIGUES, 1998, p. 108).

Essa aproximação da questão do lixo da diferenciação de classe estabelece

ainda as regras para seu combate. As ações movidas na sociedade, em geral,

culpabilizam apenas aqueles com menor poder, se valendo mais uma vez do que

está aparente para a sociedade, já que em geral grandes fábricas não estão

localizadas nos centros, tornando-se assim, mais complicado para a sociedade civil

a sua observação.

Compreende-se perfeitamente, assim, que os discursos sobre poluição estejam quase sempre marcados por espírito de acusação. Acusar de impureza significa reivindicar sua própria superioridade. Em lugar de estudar social e politicamente o sentido das regras de pureza, em vez de questionar a sociedade do consumo, assim como os industriais eminentemente poluidores e os próprios consumidores, os canhões se direcionam contra os “marginais”, isto é, apontam para os inferiores (RODRIGUES, 1998, p. 106)

Com isso a culpa, que muitas vezes deveria ser atribuída a grandes empresas

ou empresários sobre quem deveriam recair as acusações e leis, acaba caindo

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sobre a população que vive às margens do sistema. Essa dificuldade é ampliada

pelo fato apontado por Figueiredo (1995, p.39):

A avaliação segmentada de alguns processos produtivos dificulta sua associação com a degradação ambiental e, portanto, sua responsabilização, uma vez que ficam descartadas, por exemplo, as parcelas de responsabilidade com relação à produção e movimentação dos insumos requeridos, com os resíduos gerados e com os produtos após o consumo.

Com isso, tornam-se comuns as campanhas de conscientização da

população acerca de questões ecológicas voltadas à população, como as

constantes campanhas de redução de gasto de água ou energia, enquanto

empresas com grandes responsabilidades não são cobrados. Coloca-se essa

observação, não para que não haja contribuição ou participação da sociedade como

um todo na construção de uma sociedade mais consciente em relação ao consumo

dos recursos naturais, esse processo requer a participação de todos, mas que sejam

melhor pontuadas as responsabilidades dentro desse ciclo. Como observado por

Rodrigues (1995, p. 107):

Os rejeitados pela sociedade se transformam em responsáveis pela sociedade dos dejetos. São eles que devem ser reprimidos, esclarecidos, educados... Para eles devem se dirigir as campanhas as vigilâncias, as repressões. Por baixo das boas intenções, aparentemente inquestionáveis, quanta discriminação!

Um exemplo da impunidade que favorece as grandes empresas e essa

proximidade com questões de classe é o caso Mariana/RS, que ficou conhecido

como o maior desastre ambiental do Brasil (BARBOSA et al., 2015, p. 162).

Permanecem impunes as empresas responsáveis pelo desastre socioambiental no

Rio Grande do Sul, no qual o rompimento da barragem do Fundão, de

responsabilidade das empresas Samarco BHP-Billiton e Vale, acabou causando 19

mortes, aproximadamente 320.000 pessoas afetadas, além dos danos ao ambiente,

como um volume de lama da ordem de 40 bilhões de litros, impactos notados em

toda a extensão do rio, 853 km. E esses são apenas os danos que foram passíveis

de mensuração.

Dadas as colocações até aqui, sublinhamos a percepção dos contornos da

sociedade da informação ou sociedade do conhecimento. Nunca se foi produzida

tanta informação. No entanto, ainda é possível perceber que existem

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direcionamentos institucionais e algumas informações importantes se mantem fora

do alcance dos cidadãos a que essas informações interessariam.

A falta de educação básica, não permite também que se estabeleça uma

sociedade igualitária. Aliado à isso, o grande contingente de informações produzidas

e possibilidades de produção geram desinformações, à medida que se espalham

mentiras pela internet, um campo aberto, onde em tese, qualquer um pode publicar

o que quiser. Em tese, porque um terço da população não possui acesso à internet.

A televisão, apesar de dividir seu espaço de atenção com outras mídias,

como o jornal impresso, a internet, de modo amplo entre outros, mantém uma

dominância, atingindo diferentes públicos de diferentes faixas etárias, sociais,

econômicas, gerando a impressão de democracia da informação. No entanto, é

cabível o lembrete de que essa mídia obedece ao funcionamento de um sistema

maior, que visa manter uma ordem, e para tanto, informa sobre o que quer, e distrai

de fatos que eventualmente poderiam desestabilizar essa ordem.

Já a sociedade do lixo, se apoia na sociedade de consumo, no consumismo,

no fetichismo da subjetividade, no fenômeno da obsolescência programada. A mídia,

sendo uma das mais importantes difusoras de informação, possui papel fundamental

na manutenção desse sistema de consumo e descarte, atrelando a imagem de bens

de consumo à auto realização, felicidade, satisfação.

Em compensação a mesma mídia, junto ao sistema capitalístico estabelecido,

subjugam o que é usado, velho. Essa dominância dos meios de produção cultural

são amplamente relacionados com o desgaste ambiental promovido pela forma

como estamos consumindo, nisso observamos uma interseção entre sociedade de

informação e sociedade do lixo.

Pelo entendimento do que foi lido até aqui, infere-se que a principal interseção

entre sociedade do consumo – portanto, de lixo – e sociedade da informação, é a

inserção dentro de um plano de criação de conceitos. Sobre o consumo podemos

enxergar através da ótica do marketing ou da publicidade, que criam produtos a

partir de desejos inventados, já que os objetivos da publicidade são “incutir uma

idéia na mente da massa; criar o desejo pela coisa anunciada; levar a massa ao ato

da compra.” (SANT’ANNA, 2009, p. 659).

A partir dessa compreensão dos fatores que tornam a informação parte

responsável pelo desenvolvimento sustentável, assim como pela questão de

consumo e de descarte consciente, retoma-se as palavras de Cunha (2003, p. 41),

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na qual destaca o papel do profissional bibliotecário na chamada sociedade do

conhecimento:

É necessário lembrar que o conceito de sociedade do conhecimento, fruto destas transformações, está fundamentado no reconhecimento cada vez maior, que ocupam a aquisição, a criação, a assimilação e a disseminação da informação e do conhecimento em todas as áreas da sociedade. Ora, estas práticas estão intimamente relacionadas com o fazer dos profissionais da informação e, principalmente, dos bibliotecários.

Entendendo as funções e disfunções intrassistêmicas, torna-se mais palpável

os pontos que devem ser reorganizados para que se modifiquem essas cadeias.

Fortalecer as subjetividades enfraquecidas pela mídia, dar poder e participação para

a sociedade que vem a nós como usuários.

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5 INFORMAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Os efeitos de nosso atual modelo de consumo são conhecidos. No entanto, a

comoção social não é suficiente para que nossa situação frente ao desgaste do

ambiente mude. É necessário alterar as rotas, apresentar alternativas que possam

ser incorporadas na vida de diferentes pessoas nas diferentes realidades que as

cercam.

Para tanto, como observado por Guattari (2012), não poderá haver uma

verdadeira resposta a crise ecológica a não ser em escala planetária e com a

condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural que

reoriente os objetivos da produção de bens materiais e imateriais, atuando não só

sobre as relações de “forças visíveis de grande escala” (GUATTARI, 2012, p. 9),

mas também sobre os “domínios moleculares de sensibilidade, inteligência e desejo”

(GUATTARI, 2012, p. 9). Campos mais próximos às atuais abordagens e

possibilidades da Biblioteconomia.

A educação ambiental é também uma educação política (REIGOTA, 2017).

Daí a necessidade de uma educação ambiental que não busque cristalizações, mas

que se desenvolva de forma crítica. A Agenda 2030, ao apresentar as dimensões

em que se dá o desenvolvimento sustentável, apresenta uma visão próxima a esse

exercício crítico. Quando diferente disso caímos facilmente no que Grangeiro e

Grangeiro (2010, p. 95) pontuam:

[...] o conceito de “desenvolvimento sustentável”, em que pese o seu largo uso, por vezes acrítico e irrefletido, tem uma conotação fortemente problemática, pois tende a induzir as pessoas a tentarem conciliar as formas capitalistas de exploração da natureza e do homem com alguma forma de controle dos níveis de destruição e degradação, sem que se ataque as razões sistêmicas desses males.

A forma que a educação amplia o discurso do modelo econômico baseado no

crescimento do PIB, mostra como nosso sistema é falho, ao passo que

desenvolvimento é compreendido e aceito como aumento de capital. Como bem

percebido e pontuado por Santos (2011, p. 19):

A história ocidental da trajetória humana na Terra e a história que por muitos anos foi e ainda é ensinada às crianças nas escolas brasileiras rejeita colocar o homem como se não fosse parte deste planeta. A visão clássica tem seu foco nos “ciclos econômicos”: pau-

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brasil, cana-de-açúcar, gado, algodão, ouro, café, borracha..., em síntese, explorações de curto prazo de recursos naturais. O Brasil é um país cuja economia é atada à exploração de curto prazo de recursos naturais. Esse conceito de desenvolvimento é sinônimo de extinção humana.

Este mesmo sistema de ensino apresenta o ponto de vista do colonizador

redentor, que veio ao país explorá-lo, acabar com os sistemas de conhecimento que

aqui haviam e é até hoje retratado pela história como uma espécie de herói nacional,

mesmo nesse processo tendo causado danos à população que aqui habitava (além

da população negra, trazida para ser escravizada), além dos danos ao meio

ambiente. O Brasil surge como colônia de Portugal, figurando como colônia de

exploração, tendo como meta principal explorar alguma atividade agrícola, como

observado por Almeida (2015). A autora desenvolve ainda:

O atraso nas relações sociais de produção na colônia não se devia apenas ao fato da força de trabalho ser escrava, mas também a forma como a terra era explorada, baseada numa agricultura extremamente rudimentar, com danos ecológicos que comprometem a qualidade dos solos de forma permanente (ALMEIDA, 2015, p. 9).

Estes colonizadores trouxeram, segundo Rodrigues (1995), uma visão de

mundo anterior à cultura capitalista, e essa característica matiza muitas de nossas

práticas atuais em relação ao lixo. Por mais distante que pareçam esses fatos, ela

constitui ainda a nossa formação. E como já foi afirmado, uma nova abordagem

ecológica assume uma crítica à aspectos diversos de nossa sociedade. Inclusive a

forma como aprendemos sobre ela. Uma crítica à nossa colonização exerce,

portanto, uma crítica direta à forma como consumimos, como pensamos a

exploração da natureza, como observamos as relações sociais estabelecidas entre

os homens e da humanidade com a natureza.

Essa crítica, no entanto, tem caráter progressista. Como afirma Guattari

(2012) seria inconcebível pretender retornar a fórmulas anteriores de relação,

correspondentes a períodos nos quais, ao mesmo tempo, a densidade demográfica

era mais fraca e a densidade das relações sociais mais forte que hoje. Essa

reconstruir o conjunto das modalidades do ser-em-grupo.

O ‘eu’ que compreende praticamente o espaço físico e o espaço social (sujeito do verbo compreender, não sendo necessariamente um “sujeito” no sentido das filosofias da consciência, mas sim um habitus, um sistema de disposições), encontra-se abarcado, em sentido completamente distinto, ou seja, englobado, inscrito, implicado nesse espaço. (BOURDIEU, 2007, 159-160)

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Logo, “Mais do que nunca a natureza não pode ser separada da cultura e

precisamos aprender a pensar ‘transversalmente’ as interações entre ecossistemas,

mecanosfera e universos de referências sociais e individuais”, como colocou Guattari

(2012, p. 25). Além disso, a economia, que antes era nacional, hoje é mundial e

extremamente dependente de relações externas, marca de nossa sociedade

globalizada e informacional, como observado por Santos (2011).

Globalizada porque as atividades produtivas, de comercialização, consumo e circulação, dependem de uma rede de interconexões entre organizações (privadas, governamentais e não-governamentais) e nações. E informacional porque a competitividade é diretamente proporcional à capacidade da organização e/ou da nação de coletar, processar, armazenar, difundir e aplicar eficientemente a informação. Nesta sociedade, a informação, gerando conhecimento, não é apenas mais um recurso, mas o recurso. (SANTOS, 2011, p. 35)

Assim como o mercado articula as informações, existe a possibilidade de

utilizar as informações para reorganizar os quadros já apresentados. Como

observado por Caribé (1992) a informação ambiental desempenha o papel de

informar os indivíduos sobre os problemas e soluções viáveis sobre a questão

ambiental, além de controlar e armazenar a documentação pertinente produzida

sobre os assuntos ligados ao meio ambiente. Estabelecendo relações diferentes das

já estabelecidas com o sistema de consumo.

Guattari (2012) sublinha a existência complementar de três ecologias: a

ecologia social, a ecologia mental e a ecologia ambiental, e as coloca sob a égide

ético-estético de uma ecosofia. O autor pontua ainda que:

As relações da humanidade com o socius, com a psique e com a “natureza” tendem, com efeito, a se deteriorar cada vez mais, não só em razão de nocividades e poluições objetivas mas também pela existência de fato de um desconhecimento e de uma passividade fatalista dos indivíduos e dos poderes com relação a essas questões consideradas em seu conjunto. (GUATTARI, 2012, p. 23)

Numa sociedade que se formulou que a felicidade e o bem estar estão

intrínsecos aos bens de consumo como é possível alterar as e convencer as

pessoas que um caminho com menos e mais sustentável é o caminho para o

desenvolvimento social pleno?

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Como postulado por Barreto (1994) para que possa intervir na vida social,

gerando conhecimento que promove o desenvolvimento, a informação necessita ser

transmitida e aceita como tal. Essa aceitação depende da adoção, por parte dos

produtores de informação, de estratégias de distribuição, que viabilizem a aceitação

de seu produto e são limitados pelas competências contextuais e cognitivas dos

habitantes de realidades diferenciadas.

Para entender o modo de aceitação desses produtos é necessário entender

que essas realidades, ou os espaços sociais, diferentemente da homogeneidade do

processamento técnicos, possuem uma formação heterogênea. Encontram-se nesse

mesmo corpo social diferentes graus de instrução, níveis de renda, religiões, raças,

acesso e interpretação dos códigos formais de conduta moral e ética, acesso à

informação, confiança no canal de transferência, codificação e decodificação do

código linguístico comum, entre outros (BARRETO, 1994, p. 3).

Esta diferenciação e aproximação, certamente, condicionam a distribuição da

informação, o seu uso e a assimilação. Para o autor ainda democratizar a

informação não pode, assim, envolver somente programas para facilitar e aumentar

acesso à informação. É necessário que o indivíduo tenha condições de elaborar este

insumo recebido, transformando-o em conhecimento esclarecedor e libertador, em

benefício próprio e da sociedade onde vive.

A democratização do acesso à informação também não se limita à

reprodução consentida de um estágio de desenvolvimento social homogeneizado

por um menor conhecimento comum, que só traz benefício para a eficácia dos

estoques e dos produtores de informação.

Em sua obra Ética, Espinosa (2009) demonstra que a origem da ação é o

afeto, que por sua vez surgem das afecções, proporcionadas pelo externo. Por afeto

podem-se compreender as afecções pelas quais a potência de agir é aumentada ou

diminuída. E por afeto, podemos entender, literalmente, aquilo que nos afeta.

Promover ideias tão radicais quanto ao modo de vida dominante, necessitam ser

passadas de uma forma que consigam afetar a quem se fala, seja através de

adequações na linguagem ou na forma com que o conteúdo é promovido. O

reconhecimento do campo em que se pretende trabalhar é uma ferramenta

indispensável dentro dessa proposta.

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A possibilidade de doações, vendas, descartes para coleta seletiva, são

práticas que precisam ser culturalmente adotadas, a cultura de ajustes e reparos, já

que muitas vezes produtos com pequenos defeitos são descartados.

É importante perceber a ossatura de algumas demandas. Algumas vezes

somos levados a escolhas que são concebidas sob o disfarce da comodidade ou do

conforto, como temos visto com as frutas vendidas descascadas e embaladas, chás

em sachê, etc.

Como também já foi observado, o próprio discurso ambientalmente implicado,

também se apresenta como máscaras que não nos deixam perceber algumas

questões muito fundamentais por trás daquilo que consumimos. Destacamos aqui

algumas informações adaptadas do curso “Sustentabilidade no dia a dia: orientações

para o cidadão” da Fundação Getúlio Vargas que são relevantes na escolha de

nossos produtos:

Reconhecer o processo de produção do produto até que ele chegue a

você e depois de consumido, em que resultará seu descarte, de que

forma isso ocorrerá.

Para a fabricação desse produto alguma área precisou ser desmatada?

Quanta água foi gasta para a produção desse produto? Essa informação

nem sempre está disponível com facilidade.

Na indústria houve preocupação com a quantidade de água e energia

gastas?

Os trabalhadores foram bem tratados? O consumo consciente, o

desenvolvimento sustentável, invariavelmente passa pela questão

social, do bem estar das pessoas.

Há preocupação com a embalagem? Menos papel, papelão e plástico?

Todas essas embalagens são necessárias? Observar as embalagens e

saber que fim se dará a elas, ou como será o fim dela na natureza.

Pensando nisso, pode-se pensar ações como

Os transportes foram adequados? Precisaram rodar muitos quilômetros

e emitiram muito gás?

Houve desperdício na armazenagem do produto na loja?

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Como acontece o consumo do produto em casa? Há consumo

consciente que busque utilizar todo o produto? para que não demande a

substituição ou compra de novos produtos.

A utilização dos recursos naturais deve respeitar a capacidade da terra

de repô-los.

Esses questionamentos nos ajudam a não responder às demandas criadas

pelo mercado e por consequência, se o comportamento puder ser reproduzido por

um grande contingente de usuários poderá reduzir a demanda de produção,

diminuindo gradualmente a exploração predatória do ambiente.

Hoje, além de canais como periódicos científicos, algumas iniciativas, como

blogs de consciência ambiental assumem um papel importante, nesse momento em

que ainda não se despertou de forma integral para essas questões, pela

compreensão e apreensão de uma linguagem que está mais próxima às pessoas.

Esse tipo de ação pode ter o suporte de unidades de informação ou profissionais

bibliotecários em diversos aspectos. Desde o processo curatorial de novas

informações, até a indexação dos materiais ou a gestão informacional.

Os blogs, que em sua maioria também interagem com os usuários em outras

plataformas como as redes sociais Instagram, Facebook ou YouTube, mantém o

diálogo aberto, dinamizam as informações, abrem canal para que se estabeleçam

trocas sobre o tema.

Alguns deles, como o Zero waste home (Desperdício zero em casa, tradução

nossa, zerowastehome.com/blog/) de Béa Johnson, que acabou gerando um livro de

mesmo nome, traduzido em mais de 20 línguas, não disponível no Brasil, ganharam

destaque pelo arrojo de sua iniciativa.

A iniciativa de Béa Johnson inspirou outros blogs, como os brasileiros

Menos1lixo (www.menos1lixo.com.br) de Fê Cortez, ganhador do Prêmio Lixo Zero,

promovido pelo Instituto Lixo Zero Brasil (www.ilzb.org). O instituto conceitua o lixo

zero como:

Máximo aproveitamento e correto encaminhamento dos resíduos recicláveis e orgânicos e a redução – ou mesmo o fim – do encaminhamento destes materiais para os aterros sanitários e\ou para a incineração.

O instituto reitera esse conceito afirmando que “Uma gestão Lixo Zero é

aquela que não permite que ocorra a geração do lixo, que é a mistura de resíduos

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recicláveis, orgânicos e rejeitos”. “É um conceito de vida (urbano e rural), no qual o

indivíduo e consequentemente todas as organizações das quais ele faz parte,

passam a refletir e se tornam conscientes dos caminhos e finalidades de seus

resíduos antes de descartá-los.”

Nas redes sociais a dinâmica das hashtags movimenta algumas questões

como no desafio do armário cápsula que propôs aos seguidores do blog Menos1lixo,

um número controlado de peças de roupa, trocando somente à medida que surgem

necessidades para tal. Essa ação pode ter bons efeitos, se for adotado por muitas

pessoas visto que a indústria da moda, por seus ciclos cada vez mais rápidos, por

seu modo feroz de fazer publicidade exige muito da natureza, e ainda assim

acompanhada de forma entorpecida.

A proposta do Modefica (www.modefica.com.br/), outro blog que promove

informações para um futuro mais sustentável, oferece algumas ideias e iniciativas

com relação a consciência ambiental no âmbito da moda, com conteúdo

referenciado, o que oferece confiança aos seus usuários, possibilitando que se

acessem outros meios de se manter informado sobre o tema.

Há ainda o Um ano sem lixo (www.umanosemlixo.com) de que apresenta

propostas de intervenções cotidianas para reduzir tanto o consumo, quanto o

descarte de objetos, promovendo oficinas em todo o território nacional segundo as

demandas.

Assim como blogs, a biblioteca pode também, através de algumas ações,

tanto virtuais quanto em seus espaços físicos desenvolver o potencial das

informações ambientais.

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6 AÇÕES INFORMACIONAIS PARA CONSCIENTIZAÇÃO DO CONSUMO

A questão que encontramos agora e que também é pontuada por Barreto

(1994) é como podemos trabalhar com a informação enquanto estruturas

significantes para direcioná-la ao seu propósito de produtora de conhecimento para

a sociedade. Como se organiza, controla e distribui de maneira correta, política e

socialmente, a informação, considerando a sua (in)gerência na produção do

conhecimento.

A articulação de ideias que possam promover as mudanças almejadas para o

social e o meio ambiente precisa passar pelo entendimento para que se possam

gerar ações que sejam afetivas e efetivas. Trata-se cada vez mais de se debruçar

sobre os dispositivos de produção de subjetividade, indo no sentido de uma

ressinguralização dos indivíduos e dos coletivos, diferente da usinagem causada

pela mídia, procurando “antídotos” para suas uniformizações, para o conformismo

das modas, as manipulações da opinião pela publicidade e pelas sondagens etc.

(GUATTARI, 2012).

Bourdieu (2001) fala de um conhecimento pelo corpo, incorporando o conceito

de habitus, que resume como “subjetivismo coletivista”, por meio da inclusão

material do homem no mundo, ele passa a incorporar em si as estruturas sociais

“sob a forma de estruturas de disposições”, domínios práticos do espaço englobante.

Ou como na visão de Rodrigues (1995, p. 63):

Não existe corpo universal ou absoluto. Existem apenas corpos que contem em si, fazendo-os viver, os princípios estruturais das sociedades em que foram “adestrados”. Toda relação entre práticas, sensibilidades e concepções corporais é uma questão de poder.

“O habitus contribui para determinar as coisas a fazer ou não fazer, as

urgências etc., que desencadeiam a ação” (BOURDIEU, 2001, p. 181) intermediada

por estruturas cognitivas e motivacionais e que dependem em certa medida, do

campo, atuante como campo de forças formadoras, do qual é produto.

As nossas ações precisam, primeiramente, ter um caráter de reconhecimento

de campo, algo que pode ser introduzido a partir de estudos da comunidade de

usuários que utiliza os serviços da biblioteca, assim como do público potencial.

Realizações de cadastro de usuários podem mapear algumas informações que

possam dar subsídio para que se desenvolvam ações.

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Esse saber sobre com quem se fala, é uma determinante, que possibilita um

trabalho de relevância para a vida de cada um. Dentro disso algumas possibilidades

para os diferentes tipos de biblioteca.

A partir desse conhecimento da comunidade a tarefa dos bibliotecários é uma

adequação da linguagem para que se atinja o público de forma eficaz, se valendo de

apoio de outros saberes como a pedagogia, a psicologia, o direito etc. visto que o

campo a ser atingido por essas transformações precisam estar nas “maneiras de

viver” (GUATTARI, 2012, p. 8). “Essa revolução deverá concernir, portanto, não só

as relações de forças visíveis em grande escala, mas também os domínios

moleculares de sensibilidade e inteligência e de desejo” (GUATTARI, 2012, p. 9).

Educar para o consumo consciente não deve ser uma tarefa restrita à

biblioteca, é uma tarefa de todas as partes da esfera social, que deve estar

disseminada nos diversos âmbitos. Alguns pontos como a redução de embalagens,

um recurso comumente utilizado pelos fabricantes no intuito de tornar os produtos

mais atrativos, geram um lixo desnecessário. Todavia, sendo a biblioteca uma

instituição pública e social o seu compromisso com a sociedade precisa ser

ressaltado na construção coletiva do conhecimento para uma sociedade melhor.

As ações educativas devem sempre levar o caráter questionador e o

desenvolvimento do pensamento crítico. Operando-se com perguntas, como, por

exemplo: Por que precisamos trocar um produto que está novo? Por que mandar

para o lixo um produto com pequenos defeitos quando podemos consertá-lo? Por

que pegar mais sacolas quando menos é suficiente ou quando não é necessária?

Esses questionamentos podem ajudar a comunidade de usuários a questionar seus

próprios hábitos de consumo, fazendo-os refletir.

É importante perceber as realidades distintas das bibliotecas em que se vão

aplicar as ações educativas e informacionais. Uma biblioteca infantil ou escolar

poderia obter tanto sucesso com as mesmas ações desenvolvidas em uma

biblioteca universitária, desde que sejam observadas as especificidades dos

públicos, adequando a linguagem e as ações conforme o público e suas

singularidades.

Dentro desse campo, a partir da leitura dos blogs e da literatura utilizada na

composição de todo o trabalho, podemos refletir acerca de algumas ideias para

futuras ações que poderiam ser desenvolvidas em diferentes bibliotecas e em

diferentes realidades. Elas evitam o uso de recursos como atividades que requerem

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papel, como a panfletagem, por considerar que essas ações não promovem tanto

afeto (já que é feito para e não com a comunidade), além disso, para que se evitem

práticas que gerem a necessidade de recursos e também para que possam se

adequar a diferentes bibliotecas em diferentes realidades.

Santos e Vilela (2017) observam que são essenciais para a promoção do

desenvolvimento sustentável e do bem estar social e cultural das pessoas que sejam

desenvolvidos os conceitos de desenvolvimento sustentável trabalhados no contexto

das bibliotecas por meio de oficinas, cursos, vídeos, debates. Nesse campo, as

possibilidades são amplas, sendo algumas ações possíveis para bibliotecas de nível

escolar, como as oficinas e os vídeos, propostas que junto aos outros métodos,

também podem ser incorporados em outras realidades, como as bibliotecas

universitárias ou especializadas. As propostas podem ser mobilizadas de diferentes

modos e intensidades a depender dos objetivos das atividades.

A possibilidade de uma horta comunitária, apoiada ou incentivada pela

biblioteca, na qual moradores em situações econômicas sensíveis possam trocar

alimentos ali cultivados por empréstimos de livros, poderia trazer diferentes

benefícios para a comunidade, à medida que promove alimentação saudável e o

hábito da leitura. A horta pode ainda ser fruto de trabalhos sociais, nos quais se

fortalecem práticas de plantio junto às comunidades de usuários, fornecendo apoio

informacional tanto no sentido de informar sobre a importância de plantio, quanto em

relação a formas de cultivar determinadas plantas. A atividade ainda tem caráter

transdisciplinar, podendo contar com apoio de profissionais de outras áreas do

conhecimento.

O fortalecimento das feiras livres, através de ações informacionais tanto com

o público consumidor, quanto com os feirantes, destacando a importância da feira

nos aspectos econômicos, sustentáveis, em níveis locais. Para ambos os públicos

pode-se incentivar práticas como o uso de sacos de pano para compras a granel,

uso de latas de inox para compra de carnes e peixes, ecobags e carrinhos de

mercado para transporte, evitando o uso de sacos e sacolas plásticas, ajudando os

comerciantes para que possam se informar das peculiaridades desses

armazenamentos, e sejam feitas as pesagens corretamente.

Observar, no ato da compra as possibilidades de aquisição de produtos que

possam apresentar uma maior vida útil. Incentivar o consumo de produtos de

“segunda mão” em contestação à nossa sociedade de consumo, baseada na

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obtenção de capital simbólico, a novidade, o novo, a juventude, ganham uma

centralidade que deve ser questionada.

Oferecer, com apoio de outras instituições, minicursos de culinária com

cascas. Talos, sementes, cascas, folhas tem grande valor nutritivo, possibilitando

uma alimentação saudável. Além de promover o bem estar pessoal, essa utilização

das partes acaba diminuindo a quantidade de resíduos orgânicos a pararem em

lixões. Esse ponto parece ser um ponto pequeno dentro do universo do consumo

sustentável, mas na verdade as demandas criadas para que se produzam frutas em

larga escala geram enormes coeficientes de poluição e desequilíbrios.

O desperdício de partes das frutas não leva em conta que foram gastos no

processo de plantio bastante água, foi emitido uma quantidade considerável de gás

carbônico em seu transporte, entre outros efeitos indiretos, como a produção de

sacolas, plásticos descartáveis etc.

Outra possibilidade é a cooperação para disseminação de informações sobre

as plantas alimentícias não convencionais, conhecidas como PANCS. Como é

possível perceber pelo nome atribuído à elas, essas plantas tem concentrado valor

nutricional e são passíveis de participar da alimentação das pessoas, mas muitas

vezes por questões culturais acabam não entrando em nossos cardápios. São

pertinentes aqui as indagações de Kinupp (2009):

Quais são as espécies de frutas e hortaliças nativas produzidas em larga escala? Quais passaram por pesquisas, a longo prazo, de melhoramentos e seleções genéticas? Existem programas governamentais efetivos que incentivem ou, ao menos, não criem empecilhos para o cultivo e manejo de espécies alimentares nativas? Quantas disciplinas acadêmicas existem nas instituições nacionais de ensino técnico ou superior voltadas ao estudo e divulgação de espécies alimentícias silvestres?

Ainda segundo Kinupp (2009), a maior parte das plantas chamadas

"daninhas" apresentam grande importância ecológica e econômica, o autor destaca

que algumas frutas nativas têm expressão regional, mas ainda abaixo do desejado.

Essa falta de reconhecimento acarreta na necessidade de transporte, do plantio de

culturas muitas vezes de forma agressiva com o ambiente. Reconhecer essas

formas de alimentação é reconhecer os potencias do ambiente e aprender a

respeitá-lo.

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Oferecer formas de capacitação para promover reparos em objetos, através

de cursos e de bibliografias especializadas e devidamente catalogadas. A política de

formação de coleções pode ter em vista a formação de tais acervos, voltados para

os temas: desenvolvimento social e sustentável, informação ambiental, sociedade do

consumo etc.

Além das opções que visam a capacitação, buscar informar também para que

se conheça o passado e o futuro do produto, conhecer os impactos socioambientais

gerados na produção e no descarte de determinados produtos. Em relação a isso,

as bibliotecas e/ou unidades de informação podem estimular e incentivar a compra

de produtos de fornecedores e marcas locais e/ou marcas que ofereçam menor

impacto social e ambiental.

Abordar a situação dos lixões e terrenos baldios, que passam a ser utilizados

como lixões, já que pouco leva-se em conta em relação ao tempo que um resíduo

leva para se reintegrar ao meio ambiente. Além disso, faltam políticas que possam

verificar as condições de biodegradabilidade dos ambientes para os quais o lixo é

destinado. E esses danos são colocados para a humanidade.

Para essa questão dos lixões uma boa alternativa para os resíduos orgânicos

é a compostagem, como observado na experiência de Silva et al. (2017). Os autores

defendem a sensibilização para a redução, reutilização e reciclagem dos materiais.

Enfocando o incentivo à separação dos materiais orgânicos dos inorgânicos

apresentando a possibilidade de produzir adubo a partir do lixo orgânico.

Podem ainda ser oferecidos treinamentos à sociedade local para o descarte

correto do lixo, separação de produtos recicláveis e compostagem. O incentivo da

reciclagem pode diminuir o consumo de matérias-primas, o volume total de lixo e a

poluição. A maior parte dos materiais são recicláveis: alumínio, vidro, papel, garrafas

pet. Deve-se ter em mente, porém que a reciclagem ainda provoca alguns desgastes

ambientais, inferiores aos do processo de fabricação, por exemplo, mas existentes.

Outros fins como a reutilização, devem ser priorizadas, causando danos menores ao

ambiente.

A depender do tipo de biblioteca em que se está trabalhando, o profissional

bibliotecário pode ainda ajudar a disseminar informações de consumo sustentável,

como a construção de mapas de consumo consciente para sua cidade, o que pode

envolver a ajuda de usuários, gerando um maior afeto entre as partes. Tais mapas

podem incluir feiras orgânicas, hortas, bazares e brechós, sebos etc.

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É possível também ajudar empresas no processo de pesquisa informacional

para desenvolver processos mais sustentáveis em todas as etapas. Ajudar a

desenvolver pesquisas para que se desenhem produtos pensando em seu desmonte

e na reutilização de seus componentes após o término do uso, assim como a

otimização dos processos de transporte.

Algumas informações do campo ecológico também podem ser fornecidos à

setores executivos e estatais como os conceitos de autodepuração, a

biodegradabilidade dos resíduos, além de informações, quantidade de resíduo que

vai voltar a terra.

Outra possibilidade de ação informacional é servir como ponto de coleta de

assinaturas ou mobilizações em geral pra que se promovam abaixo-assinados sobre

questões ambientais ou como ponto de denúncias para questões como despejos de

lixo em locais inapropriados, para que sejam levados às instâncias que regulam

essas questões.

São ainda possibilidades ações como o projeto de extensão “Biblioteca Ativa”,

do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

(IFRN) - campus João Câmara, abordado por Palhares e Holanda (2017, p. 2) “que

visa a capacitação de multiplicadores para realizar ações ambientais” levando-os a

conhecer as questões da realidade ambiental através de visitas à Biblioteca, rodas

de conversas sobre os ODS com alunos das escolas públicas da cidade,

sensibilizando sobre a importância da reciclagem através da confecção de

mamulengos.

Como observados por Santos e Vilela (2017) pode-se publicizar trabalhos no

campo dando maior visibilidade a esses estudos e promovendo o interesse para que

outros também publiquem e contribuam para o fortalecimento de pesquisas sobre

desenvolvimento sustentável, mas também para que se possam ser tomadas

posições e desenvolver soluções, tanto por parte do poder público, quanto da ordem

do privado, do particular.

Acreditamos também como mencionam Santos e Vilela (2017) a biblioteca

deve ser exemplo a ser seguido, tanto na estrutura física, podendo utilizar uma

arquitetura que priorize a luz natural, ou que motive o uso comedido de recursos

como papéis e copos descartáveis, quanto nos recursos humanos, investindo na

formação de bibliotecários, tendo em vista a promoção da educação ambiental e os

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ODS, de modo que possam tornar-se multiplicadores desses saberes, promovendo

a capacitação de sua comunidade usuária.

Algumas ações, inerentes do fazer bibliotecário também podem ser ações

que trabalhem esses conhecimentos requeridos para uma mudança de paradigma

pragmático. Algumas mudanças na forma e na intenção de fazer já podem ser

traduzidas em uma nova abordagem, como podemos observar no quadro a seguir:

QUADRO 2 – Propostas de ações informacionais Ações da biblioteca Procedimentos das ações

Dinamização do acervo

Práticas mediacionais – estratégias de mediação da informação, mediação da leitura e mediação cultural aplicadas as bibliotecas e estímulo à formação de competências em informação; Organização e tratamento da informação – estratégias dinâmicas para representação do acervo e uso de técnicas e linguagens documentárias para otimizar o acesso à informação Recursos e serviços de informação – estratégias para oferecimento de serviços; elaboração para o uso das fontes de informação e definição dos produtos a serem propostos pela biblioteca.

Serviços de informação

Informação utilitária - A partir de assuntos diversos do cotidiano, que valorize de forma mais efetiva o caráter criativo da comunidade de usuários. Desenvolvidos a partir de eventos de impacto como exposições, palestras, exibição de filmes, disponibilizados pela biblioteca e podendo contemplar temas de relevância como: sustentabilidade, descartes, práticas de consumo etc. Serviço de referência – transmissão de mensagens, conteúdos e materiais sobre temas diversos de leitura de mundo (assuntos do cotidiano da comunidade), assim como orientação bibliográfica e provisão de documentos; Uso do acervo – estímulo dinamizado ao uso dos diversos tipos de acervo/documento/fontes de informação de fomento à leitura, conforme os principais interesses dos usuários;

Difusão de produtos

Distribuição de guias, cartilhas, manuais, folhetos, folders, índices e outros materiais sobre leitura em seus diversos tipos e níveis de formação da comunidade de usuários.

Ações culturais

Ações para o acesso à informação relativas ao desenvolvimento sustentável que pode ocorrer através de ações de teatro, desenho, pintura, música, exposições,

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exibição de documentários e filmes etc;

Educação de usuários

Realização de cursos, oficinas, treinamentos sobre aspectos que resgatam a memória da comunidade de usuários; incentivo à leitura; temas do cotidiano social;

Incentivo à leitura

Disseminação seletiva da informação – estimular a leitura, de acordo com as principais demandas e necessidades dos usuários considerando suas generalidades e peculiaridades;

Preservação da memória

Transformar discursos e ideias de expoentes da comunidade em acervo do ambiente de informação, valorizando os saberes populares assim como os científicos;

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Silva (2018).

Percebemos que as ações podem ser empreendidas em todos os tipos de

bibliotecas, adaptadas à realidade em que se está inserida. Por exemplo, o tipo de

pesquisa que se vai incentivar em uma biblioteca infantil é diferente das pesquisas

incentivadas em uma biblioteca universitária, por exemplo. Essas ações

desenvolvidas pelas bibliotecas podem gerar uma aproximação necessária entre os

usuários e as ações desenvolvidas pelas bibliotecas.

A biblioteca e seus profissionais assumem com isso a responsabilidade social

de contribuir para o desenvolvimento local, regional e global de uma sociedade mais

consciente diante dos problemas postos pela sociedade contemporânea, conhecida

como sociedade da informação e/ou sociedade do consumo. A partir da pluralidade

de propostas, cabe às bibliotecas e aos bibliotecários, adequarem as ações à

realidade em que estão inseridos, fazendo valer o compromisso social e a

informação como recurso estratégico para o desenvolvimento das comunidades.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na era da Agenda 2030, da sociedade da informação e da democratização ao

acesso à informação, qual o papel do profissional bibliotecário? A sociedade da

informação não pode ser assim denominada por fatores meramente numéricos.

Acreditamos que não somos sociedade da informação enquanto ela não pode ser

assumida fora dos campos da educação, enquanto a informação, de fato,

transformar a sociedade em benefício de todos, e não de uma minoria. O

permanente desse mundo mais justo passa inegavelmente por nosso objeto

primordial de trabalho e mais do que nunca é importante assumir as informações

como poder político.

A questão ambiental, como discutido ao longo do trabalho, não está distante

de nossas questões informacionais, pelo contrário. A proximidade dos planos

midiáticos com as questões ambientais, o caráter classificatório que se impõe sobre

a questão do lixo, nos faz também responsáveis, enquanto categoria profissional,

por colocar isso em questionamento. A biblioteca como uma instituição social e

pública não pode se abster de discutir e dialogar com a comunidade acerca das

questões ambientais e do desenvolvimento das comunidades.

A revisão do conceito de lixo, pelos diversos setores da sociedade, pode

configurar uma mudança à longo prazo, mas para além disso é necessário que se

alterem as formas de viver e com isso, as formas de consumo e descarte. Como

desenvolvido ao longo do trabalho, o valor aparente dos objetos. Lixo é um recurso

mal utilizado. Cabe as bibliotecas atuar como instituições verdadeiramente

significativas para os indivíduos e para a sociedade, visando contribuir para o

desenvolvimento sustentável para a disseminação de informações ambientais.

Concluímos então voltando a pergunta motivadora desse trabalho: Como as

bibliotecas e os bibliotecários podem colaborar no consumo consciente e ajudar a

comunidade a reduzir seu lixo? Observamos ao longo do trabalho que a informação

e os profissionais bibliotecários, que representam e são representados por suas

bibliotecas, tem papel fundamental na construção dos saberes, assumindo nessa

sociedade da informação, como se supõe, necessita também do engajamento dos

profissionais.

Como visto, a discussão sobre a Agenda 2030 é necessária e não se esgota

nessas páginas, visto que abarca uma enorme quantidade de questões a serem

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resolvidas por nossa sociedade. Observa-se ainda nesse devir de uma sociedade da

informação que os papéis em que devemos atuar são amplos, mas precisam estar

sempre abertos a outras possibilidades. Como visto a sociedade da informação está

entre os mecanismos que movimentam a sociedade do consumo e do lixo, logo,

como atuaremos sobre questões dessa ossatura? Através de um fazer que se

proponha ir além do fazer técnico, mas que também em seu fazer técnico

compreenda a sociedade como parte integrante dos processos.

As propostas aqui articuladas a partir da compreensão da amplitude da

problemática, somadas a outras possibilidades, que podem e devem ser vistas por

diferentes instituições e centros informacionais, podem transformar realidades em

níveis distintos. Tais ações podem conduzir a compreensões mais amplas das

relações estabelecidas na sociedade e emancipações.

Como foi dito ao longo do trabalho, essa temática tem abrangência para ser

discutida por todos, em diferentes âmbitos. É possível, a partir dos caminhos aqui

traçados, que se produzam outras pesquisas, aprofundando algumas questões

pontuadas aqui. Objetos de pesquisa como as feiras livres, que em algumas

cidades, vem perdendo sua dimensão e importância pode ser abordada a partir de

um ponto de vista informacional, as PANCS sob um ponto de vista informacional,

entre outros.

A Agenda 2030 deve ser tida como um impulso inicial, para que se

movimentem realidades, alterá-las, no entanto, exige esforço diário de todas as

partes envolvidas, para que se modifiquem as estruturas inclusive as estruturas de

desejo. As ações das bibliotecas devem fortalecer e somar nesse caminho,

buscando romper com o que já está posto. Introduzir a Agenda nos temas

discutidos, incentivar as produções acerca dos objetivos, ajudar a formação de um

pensamento crítico é ajudar o fortalecimento de poderes distantes do centro de

poder.

A forma com que se tem formado os bibliotecários ainda precisa de mais

coragem. Coragem para se posicionar enquanto ser subjetivo. Coragem para

encarar o social e seus múltiplos fenômenos complexos. Coragem para entender a

nossa profissão com a importância que ela sempre mereceu e passa a merecer em

nosso contexto onde a informação figura como recurso central e estratégico. É

necessária uma formação que dê conta não apenas dos fazeres técnicos, mas que

destaque o papel político, ativo e humano dos profissionais.

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Atuamos e podemos atuar em todos os espectros sociais, nas mais diferentes

realidades. E isso precisa ser ressaltado em nossa formação. A era e a sociedade

da informação, nos insere em todos os ambientes. Limitar o bibliotecário às

bibliotecas é negar o contexto em que estamos inseridos e as possibilidades que

nela residem como esta de discutir e agir em prol do desenvolvimento sustentável a

partir da informação ambiental. Isto é, enquanto houver certo estranhamento acerca

das temáticas sociais trabalhadas pela Biblioteconomia e Ciência da Informação,

ainda estaremos sendo conservadores.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO DECLARAÇÃO DE SANTIAGO: O ACESSO À INFORMAÇÃO PARA ALCANÇAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE Reconhecemos que: O acesso à informação e ao conhecimento é um direito humano universal e um

instrumento essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável na América

Latina e no Caribe;

O acesso público à informação e ao conhecimento permite que as pessoas

exerçam seus direitos fundamentais, conhecer, aprender e tomar decisões

conscientes que podem melhorar suas vidas;

As comunidades que têm acesso à informação relevante e no tempo oportuno

estão melhores posicionadas para erradicar a pobreza e a desigualdade,

melhorar a agricultura e atividades econômicas, proporcionar a educação de

qualidade, promover a saúde, cultura e pesquisa e inovação;

As comunidades necessitam de espaços que possam apoiar a aprendizagem ao

longo da vida, especialmente as pessoas com baixos níveis de alfabetização, em

condições de vulnerabilidade ou que tenham alguma deficiência;

Estamos cientes de que:

As bibliotecas, em quase todo o mundo, oferecem infraestrutura física e

virtual para garantir o acesso confiável e adequado à informação, ao

conhecimento, a criação, à inovação e à cidadania, reduzindo a lacuna digital

por meio de serviços de informação inclusivos e inovadores;

Existe mais de um bilhão de usuários de bibliotecas registradas no planeta, e

para muitos deles as bibliotecas são os únicos locais que facilitam o acesso à

internet, redes sociais ou serviços de governo eletrônico, publicações, dados e

outros recursos de informação de acesso público;

As bibliotecas são por excelência o espaço adequado para o empoderamento

das pessoas por meio da alfabetização midiática e informacional, como pré-

requisito para o acesso equitativo e crítico à informação e o conhecimento,

proporcionando o pleno exercício da democracia e participação cidadã;

As bibliotecas exercem uma função social vital em suas comunidades,

promovendo valores como equidade, solidariedade e confiança;

Existe uma posição clara da Federação Internacional das Associações de

Bibliotecários e Instituições (IFLA) em relação à agenda de desenvolvimento

sustentável pós-2015 que compromete e mobiliza as bibliotecas para trabalhar

em apoio aos ODS.

Assim, nos comprometemos a:

Reafirmar a importância das bibliotecas como parcerias estratégicas para

o cumprimento dos ODS, com enfoque especial para o acesso à informação

para todos os cidadãos e todas as comunidades;

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Sensibilizar os governos sobre a necessidade de desenvolver estratégias e

mecanismos, nacionais e locais, que facilitem e reforcem o bom funci0namento

das bibliotecas na América Latina e Caribe, e em particular que dêem as

condições para que os espaços sejam dignos, igualitários e de confiança;

Fortalecer o papel das bibliotecas na promoção e difusão dos recursos de

informação produzidos na América Latina e no Caribe;

Incentivar os governos a firmarem acordos e leis de direitos autorais que

facilitem o acesso público à informação de qualidade e ao conhecimento sem

barreiras a todos os cidadãos da região;

Apoiar a busca e fomento dos recursos necessários para o envolvimento das

bibliotecas da América Latina e Caribe em projetos nacionais e regionais que

tenham por objetivo implementar um ou mais dos ODS;

Apoiar o trabalho das associações nacionais e regionais de bibliotecas e de

bibliotecários da América Latina e Caribe;

Fomentar a colaboração entre as bibliotecas da América Latina e Caribe em

nível nacional e regional para o intercâmbio de conhecimentos, experiências e

boas práticas;

Fomentar a discussão política entre as bibliotecas sobre o acesso à informação

e ao conhecimento como parte de um enfoque universal sobre os direitos

humanos;

Incentivar os Estados membros das Nações Unidas durante o High Level Forum

2019, para incluir a discussão sobre o ODS 16.10 e a relevância do acesso à

informação para toda a Agenda de 2030.