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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
JOSELY DE SENA DOS SANTOS
A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um
Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.
NATAL/RN
2012
JOSELY DE SENA DOS SANTOS
A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um
Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em Serviço Social.
Orientador: Prof.ª Jussara Keilla Batista do Nascimento.
NATAL/RN
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
JOSELY DE SENA DOS SANTOS
A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um
Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.
Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, submetida à aprovação da banca examinadora composta
pelos seguintes membros:
____________________________________________
Prof. Orientador: Jussara Keilla Batista do Nascimento
____________________________________________
Prof. Dr. Dalva Horácio da Costa
____________________________________________
Geralda Dias de Medeiros
Assistente Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
Natal, 25 de Junho de 2012.
Dedico este trabalho a trindade santíssima (pai, filho e Espírito Santo)
que no decorrer de toda a minha vida, em específico na minha
vivencia acadêmica, estiveram ao meu lado me orientando, ajudando e
cuidando de forma muito especial.
AGRADECIMENTOS
Á Deus, dono e doador de todo conhecimento e sabedoria, pela sua grandiosa
fidelidade em minha vida. Pois sua palavra não falha e suas promessas são fiéis e verdadeiras.
Recordo-me das promessas feitas a mim no Círculo de Oração de Mocidade em minha igreja,
em que por meio de uma serva sua me falou dizendo que iria realizar o desejo do meu
coração. E naquele momento o maior desejo do meu coração era ingressar em uma
Universidade. Após dois anos meu amado Pai cumpriu com a sua palavra. Fui aprovada no
vestibular para cursar Serviço Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Louvo e agradeço ao meu Jesus por sua presença constante nos momentos mais
tenebrosos e hostis, assim como nos momentos de bonança e alegria.
Ao amado Espírito Santo, meu grande orientador e consolador, presente em meu viver,
real em cada bênção rebebida.
Á minha família, em especial meus pais, que me superabundaram com seu amor,
carinho e cuidado. Minha querida mãe, Maria da Conceição de Sena dos Santos que tanto
prezo e amo, sempre presente ao meu lado, e intercedendo por mim em suas orações. Meu
pai, João Lima dos Santos, muito amado, pelo seu cuidado.
À meu noivo Jefferson Bruno G. da Cunha pelo seu companheirismo e pelo o amor
dedicado a mim. Pelas palavras de carinho e atenção. Pelo apoio dado por meio de cada
atitude. Obrigada amor por cada palavra dita no momento certo.
Aos amigos e colegas, que direta e indiretamente colaboraram para que esse sonho se
concretizasse. Em especial a minha querida amiga Marcella Renata dos Santos Filipe, com a
qual pude contar nos momentos de dificuldades de vida acadêmica e secular.
À Professora Jussara Keila do Nascimento, orientadora de TCC, pela sua
disponibilidade, paciência e dedicação.
À todo corpo docente e coordenadores do curso, pelo empenho e contribuição na
minha formação acadêmica e profissional.
Enfim, agradeço a todos eu estiveram ao meu lado, de forma direta e indireta, no
decorrer dos quatro anos de curso.
"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou o
coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que O
amam." (I Coríntios 2.9).
RESUMO
A Questão Social enquanto expressão das desigualdades sociais provenientes das contradições
inerentes ao modo de produção capitalista está presente nos diversos espaços ocupacionais do
assistente social. Nesses espaços ela se materializa através das demandas postas a esses
profissionais. No campo ocupacional da saúde a Questão Social é percebida como resultante
de determinantes sociais, políticos e econômicos que incidem de forma direta na realidade
social dos usuários. A violência em todos os seus aspectos, tem ganhado maior visibilidade na
saúde pública em decorrência dos números crescentes de pacientes atendidos vitimados pela
violência, com destaque para as lesões e fraturas causadas por armas de fogo. No Hospital
Monsenhor Walfredo Gurgel a violência por armas de fogo é responsável por um número
considerável de atendimentos. Nesse sentido essa monografia teve por objetivo identificar a
Questão Social no HMWG a partir da realidade social dos atendidos vitimados por projétil de
armas de fogo. Para tanto foi realizada uma coleta de dados a partir dos prontuários de
pacientes que foram atendidos no Walfredo Gurgel no período do 1º semestre de 2011. Esses
dados revelaram que a violência por armas de fogo enquanto expressão da Questão Social na
saúde atinge principalmente homens em idade produtiva, com nível mínimo de escolaridade,
provenientes de bairros periféricos de Natal, que em sua maioria residem com os pais. O perfil
socioeconômico dos atendidos mostra que a realidade social desses sujeitos é permeada por
contradições que só poderão ser superadas a partir da instituição de um novo modelo de
sociabilidade.
Palavras-Chave: Questão Social. Violência por armas de fogo. Saúde.
ABSTRACT
The Social Matter while expression of the social inequalities coming of the inherent
contradictions to the way of capitalist production is present in the social worker's several
occupational spaces. In these spaces she materializes through the demands puts to these
professional. In the occupational field of the health the Social Matter is realized as resultant of
social, political and economic determinants that happen of direct form in fact social of the
users. The violence in all of their aspects, it has been wining larger visibility in the public
health due to the increasing numbers of attended patients victimized by the violence, with
highlight for the lesions and fractures caused by firearms. In hospital Monsignor Walfredo
Gurgel the violence for firearms is responsible for a considerable number of assistances. In
this sense this monograph had for goal identify the Social Matter in HMWG from the social
reality of the attended victimized by firearms projectile. For so much was accomplished a data
collection from records of patient that were attended in Walfredo Gurgel in the period of the
1st semester of 2011. These data revealed that the violence for firearms while expression of
the Social Matter in the health reaches mostly men in productive age, with minimum level of
education, coming of peripheric districts on Christmas, who in its majority reside with the
parents. The profile socioeconomic of the attended exhibition that the social reality of these
subject is permeated by contradictions that only will be able to be overcome from the
institution of a sociability new model.
Key-Words: Social Matter. Violence by firearms. Health.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 Quantitativo (%) dos atendimentos a vítimas de armas de fogo
no 1º Semestre 2011
66
Gráfico 2 Atendimentos por Gênero no 1º Semestre 2011 68
Gráfico 3 Atendimentos por idade 1º Semestre 2011 69
Gráfico 4 Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Oeste 71
Gráfico 5 Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Leste 71
Gráfico 6 Atendimentos por Grau de Escolaridade 73
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Hospitais do RN por Macrorregiões 30
Tabela 2 Número de atendidos pelo HMWG vitimados por armas de
fogo no 1º Semestre 2011.
65
Tabela 3 Distribuição dos Roteiros por meses do 1º Semestre 2011 67
Tabela 4 Número de Atendidos pelo HMWG Vitimados por Armas de
Fogo no 1º Semestre 2011
68
Tabela 5 Distribuição dos atendimentos por idade 69
Tabela 6 Distribuição dos Atendimentos por Local de Procedência
(Bairros e Municípios)
70
Tabela 7 Distribuição dos Atendimentos por Grau de Escolaridade
Jan./Jun. 2011
72
Tabela 8 Distribuição dos Pacientes Atendidos Segundo a Renda 74
Tabela 9 Composição familiar dos Pacientes Atendidos 74
LISTA DE SIGLAS
AMB Associação Brasileira de Medicina
AMH Associações Médicas de Hospitais
CAPS Caixas de Aposentadorias e Pensões
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CID Classificação Internacional de Doenças
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
CNS Conferência Nacional de Saúde
CRESS Conselho Regional de Serviço Social
CRO Centro de Recuperação pós Operatório
CTQ Centro de Tratamento de Queimados
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
ESF Estratégia Saúde da Família
HMWG Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência e
Assistência Social
IAPS Instituto de Aposentadorias e Pensões
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência
Social
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
LOS Lei Orgânica da Saúde
MEC Ministério da Educação
NEV/USP Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São
Paulo
NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB Norma Operacional Básica
OMS Organização Mundial da Saúde
ONGs Organizações Não Governamentais
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
PID Programa de Internação Domiciliar
PSCS Pronto Socorro Clóvis Sarinho
RMN Região Metropolitana de Natal
SESAP/RN Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte
SINPAS Sistema nacional de Previdência e Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
UGV Unidade de Gerenciamento de Vagas
UTI Unidade de Terapia Intensiva
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 15
2. SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 20
2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL 20
2.2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO NORTE 28
2.3 A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE:
ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS
35
2.3.1 O Serviço Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel 40
3. QUESTÃO SOCIAL E SAÚDE: A VIOLÊNCIA COMO
EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL
48
3.1 QUESTÃO SOCIAL E VIOLÊNCIA 48
3.2 A VIOLÊNCIA E SEUS REBATIMENTOS NA SAÚDE PÚBLICA 58
4. VIOLÊNCIA NO RN: VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO
HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL
65
4.1 DADOS DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HMWG 65
4.2 PERFIL SOCIOECONOMICO DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE
FOGO NO HMWG
65
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 76
REFERENCIAS 79
APÊNDICE 86
- 15 -
1. INTRODUÇÃO
O Serviço Social tem como elemento fundante da profissão, a questão social, uma vez
que seus profissionais atuam na execução das políticas sociais, que se constituem em
respostas às diversas expressões da questão social que são fruto do modelo de sociedade
capitalista.
Na contemporaneidade, a questão social tem passado por um aprofundamento, bem
como ganhado novas configurações, que consequentemente tem contribuído para o aumento
de demandas no cotidiano profissional dos assistentes sociais.
Essa categoria é vista sob diferentes visões, como a tese que afirma existir uma nova
questão social, defendida por autores como Castel (1999), que considera as mudanças nos
fatores econômicos, sociais e políticos da contemporaneidade, como determinantes para
legitimar sua afirmação.
Mas para efeitos deste trabalho, será considerado o pensamento de Netto (2001)
Iamamoto (2001), Yasbeck (2001) entre outros autores que compartilham a ideia de que a
questão social continua sendo expressões de velhas mazelas do capitalismo que na
contemporaneidade tem se revestido de novas roupagens e de forma agudizada.
Esse processo de agudização da questão social, face às novas formas de exploração do
capitalismo, se dar de forma mais complexa nos países periféricos, como o Brasil, onde há um
aprofundamento das questões sócias promovidas pelas desigualdades econômicas, sociais,
políticas e culturais.
Diante do aprofundamento da questão social, o assistente social é posto
cotidianamente a limites e desafios de intervenção, que exigem deles um reconhecimento da
realidade social, principalmente no que diz respeito à instituição em que atuam.
Os campos ocupacionais do assistente social em suas diversas áreas são também
campo de inserção da questão social, sendo essas traduzidas por meio das demandas que se
apresentam ao profissional.
No cotidiano dos serviços de saúde em geral, as manifestações da questão social são
parte do cotidiano. Pois todas as sequelas advindas das más condições de vida decorrente da
falta ou precarização do trabalho, renda, moradia, alimentação, educação, água, saneamento,
entre outros, tendem a criar grande número de pessoas miseráveis, empobrecidas,
desinformadas, famintas e doentes que buscam os serviços de saúde, e trazem consigo
necessidades provenientes de um modo de produção que explora cotidianamente.
- 16 -
Nesse sentido, é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital
Monsenhor Walfredo Gurgel, com um olhar sobre as vítimas por armas de fogo.
A questão social foi constituída em torno das transformações econômicas, políticas e
sociais ocorridas na Europa do Século XIX, devidas à industrialização. Inicialmente essa
questão foi levantada quando com a tomada de consciência da sociedade, ou parte dela, dos
problemas decorrentes do trabalho urbano e da pauperização como fenômeno social. Hoje a
“questão social” é a expressão das desigualdades e lutas sociais em suas múltiplas
manifestações e todos os segmentos sociais envolvidos (trabalhadores e desprotegidos) são
heterogêneos.
Segundo Pereira (2003, p. 19) “os graves desafios atuais são produtos da mesma
contradição entre capital e trabalho, que gerou a questão social no século XIX, mas que
contemporaneamente, assumiram enormes proporções e não foram suficientemente
problematizadas”.
Desse modo, pode-se afirmar que a questão social só se torna “questão social” quando
ela é problematizada por algum setor da sociedade com o objetivo de enfrentá-la e de
transformá-la em demanda política, no sentido de resolver o problema.
Assim entende-se que a questão social é a contradição entre capital e trabalho. E as
consequências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: desemprego,
analfabetismo, fome, falta de moradia, violência, entre outros.
A violência enquanto expressão da questão social é um dos grandes desafios da
atualidade. Enquanto recorte do social, perpassa o cotidiano de todos de forma atordoante,
sendo necessário buscar novos parâmetros para sua compreensão e enfrentamento. A
violência possui ligações profundas com a desigualdade entre as classes e a exclusão social,
dessa forma, seu enfrentamento não pode eximir-se da melhoria do sistema de proteção social,
do fortalecimento das políticas sociais e da garantia de direitos.
O relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2002, considera a
violência como um problema mundial de saúde pública. Os dados apontados no estudo são
assustadores, pois indicam que anualmente um milhão de pessoas no mundo perde suas vidas
e outras sofrem lesões não fatais, vítimas de diferentes modalidades de violência. Nesse
sentido, a OMS define a violência da seguinte forma: “Uso intencional da força física ou do
poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
- 17 -
O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, referência no atendimento de urgência pelo
SUS no Rio Grande do Norte, é o único hospital público da região metropolitana de Natal
(RMN) que conta com serviços de queimados, ortopedia, neurologia e neurocirurgia.
Para atender a grande demanda de pacientes oriundos de todo o Estado, o complexo
hospitalar formado pelo Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e Pronto Socorro
Clóvis Sarinho (PSCS), possui 264 leitos, destinados ao atendimento de diversas
especialidades. Dos 264 leitos presentes nos complexo hospitalar, 62 estão no Pronto Socorro
Clóvis Sarinho, sendo 19 na UTI geral, 7 na UTI pediátrica, 9 no Centro de Recuperação de
Operados, 20 na Unidade Semi-intensiva, 6 no setor de Politrauma e 6 na pediatria. Os demais
leitos estão distribuídos no Hospital Walfredo Gurgel nos setores de tratamento de queimados
(CTQ), UTI Cardiológica, Centro de Recuperação pós-operatório (CRO) e enfermarias,
destinadas ao tratamento de pacientes da neurocirurgia, neurologia, clínica médica, clínica
cirúrgica, vascular, ortopedia, nefrologia e hematologia. As enfermarias são distribuídas por
andares e especialidades médicas. No primeiro andar ficam os pacientes do Centro de
Tratamento de Queimados (CTQ) e da Unidade de Tratamento Intensivo Cardiológico (UTI);
No segundo ficam internados os pacientes da especialidade vascular e da neurocirurgia; No
terceiro andar tem pacientes da vascular, da cardiologia e amputados; no quarto e quinto andar
está os pacientes da cirurgia clínica, da ortopedia, da nefrologia, da hematologia e da
cardiologia.
O Hospital Walfredo Gurgel, enquanto parte da área da saúde, se constitui em espaço
de expressão da questão social, que se coloca em seus mais variados aspectos. Nesse sentido
Minayo (1986) demonstra o distanciamento existente entre a concepção de saúde enunciada
pela VIII Conferência Nacional de saúde e a realidade vivenciada pela maioria da população
brasileira.
Segundo Minayo (1986) a saúde resulta das condições de alimentação, no entanto
existem milhões de famintos no país; a saúde é resultante das condições de habitação, mas
dados indicam que menos da metade da população tem acesso a moradia digna; a saúde
resulta das condições de educação, entretanto mais de 15% (quinze por cento) da população
do nordeste acima de 15 anos são analfabetas; a saúde é resultante do nível de renda, e no
entanto mais de 20% (quinze por cento) dos nordestinos não possuem rendimento; a saúde
resulta do trabalho, mas milhões estão desempregados; a saúde resulta do acesso e posse da
terra, entretanto os conflitos por terra de alongam no decorrer dos anos.
- 18 -
Diariamente o hospital recebe pacientes vítimas de todo tipo de lesões. Dentre as mais
expressivas está o número de acolhidos vitimados por projétil de arma de fogo. Os
determinantes sociais, econômicos, políticos e culturais são imprescindíveis no processo de
saúde-doença. As condições precárias de vida do povo brasileiro tendem a criar demandas de
atenção à saúde.
Essas manifestações da questão social fazem parte do cotidiano dos serviços de saúde
em geral, inclusive no HMWG, que se traduz em demandas para o setor de saúde. Neste
sentido se justifica investigar o fenômeno da violência por armas de fogo.
Assim essa monografia tem por objetivo geral identificar como se expressa a questão
social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel no acometimento das vítimas por armas de
fogo. Sendo os objetivos específicos: contextualizar as questões de saúde como expressão da
questão social; levantar o perfil socioeconômico das vítimas por armas de fogo do Hospital
Monsenhor Walfredo Gurgel; identificar as principais causas dos ferimentos por armas de
fogo dos pacientes do HMWG e fazer uma estatística com o número de vítimas no período de
janeiro a junho de 2011.
Essa pesquisa é de natureza explicativa, mas também apresenta características
descritivas e exploratórias. A população pesquisada consiste em pacientes que deram entrada
no HMWG vítimas de arma de fogo. Para tanto foi utilizado os métodos
quantitativo/qualitativo devido à necessidade de se mostrar em gráficos os resultados obtidos
da estatística com os números das vítimas num determinado período, seguido do perfil
socioeconômico destes. Foram utilizados como ferramentas para esses métodos roteiros para
coleta de dados estruturado de forma a contemplar algumas categorias, tais como: gênero,
idade, local de moradia, grau de escolaridade, renda e composição familiar. Como
complementação as contribuições do método qualitativo foram utilizadas a pesquisa
bibliográfica baseada em livros, revistas e sites relacionados com o tema, bem como pesquisa
documental.
A base teórico-metodológica da pesquisa é o método dialético, uma vez que este
“fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade” (GIL, 1999, p.
32). A aplicação da lógica dialética permite reconhecer a especificidade histórica, a
construção e compreensão social dos fenômenos existentes, assim como permite, através de
análise crítica das contradições existentes na sociedade, criar estratégias que visem agir de
forma coerente sobre a mesma. Ou seja, foi utilizado o referencial teórico-metodológico
crítico-analítico para análise dos fenômenos.
- 19 -
A monografia está estruturada em 3 (três) capítulos. O 1º (primeiro) aborda o Serviço
Social e Saúde a partir da Política de Saúde no Brasil e Rio Grande do Norte, fazendo uma
relação com a trajetória do Serviço Social na saúde delimitando suas atribuições e
competências, partindo da análise da profissão no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.
O 2º (segundo) capítulo traz uma discussão concernente à questão social e saúde: a
violência como expressão da questão social. Nele são abordadas as categorias sociais questão
social e violência. Em seguida são apresentados os principais rebatimentos do fenômeno da
violência na Saúde Pública.
O 3º (terceiro) capítulo trata da violência no RN: vítimas por armas de fogo no
Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Onde a partir de dados coletados na instituição é
construído o perfil socioeconômico dos pacientes vítimas de lesões por armas de fogo.
As considerações finais analisa o perfil socioeconômico dos atendidos a partir da
conjuntura social. Visando compreender a totalidade do fenômeno da violência por armas de
fogo. E os possíveis enfrentamentos, com vistas a minimizar os riscos sociais da população,
por parte do Serviço Social.
- 20 -
2 – SERVIÇOSSOCIAL E SAÚDE
Este capitulo traz um discussão sobre a política de saúde no Brasil como primeiro
tópico. De início trata da seguridade social enquanto avanço constitucional de suma
importância para o processo de legitimação dos direitos sociais por meio das políticas
públicas. Em seguida delimita a saúde como política pública com maior avanço
constitucional. Para tanto é feita uma retomada histórica de todo processo de constituição da
saúde enquanto direito social. As transformações implementadas na saúde pública do Brasil
após a regulamentação do SUS são discutidas no decorrer do tópico.
O segundo item trata da política de saúde no Rio grande do Norte, explicitando as
principais formas de organização do SUS no estado e na capital. Com ênfase nos serviços de
alta complexidade, abordando o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel como sendo referência
no atendimento de urgência/emergência.
O terceiro item discute a trajetória do serviço social na saúde, fazendo um resgate
histórico da institucionalização da profissão na saúde, bem como suas principais
competências e atribuições. Por fim faz uma abordagem do serviço social no Hospital
Walfredo Gurgel.
2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL
A Seguridade Social consitui-se num dos maiores avanços constitucionais da nossa
carta magna de 1988 no que se refere á proteção social, uma vez que os direitos garantidos
por meio das políticas sociais atende às reivindicações da classe trabalhadora. Composta pelo
tripé: Saúde, Assistência Social e Previdência Social ela representa a afirmação e legitimação
dos direitos sociais no país, refletindo as transformações sociopolíticas que se processaram no
decorrer das décadas de 1970 e1980.
As lutas e reivindicações da classe trabalhadora por melhores condições de vida e
trabalho não conseguiram interferir ou modificar a ordem econômica vigente, mas no âmbito
social e político obtiveram vitórias consideráveis num contexto de lutas democráticas contra o
regime ditatorial que se instaurara no nosso país. Nesse sentido as políticas de seguridade
social se gestaram no interior da ordem capitalista como resultado das lutas políticas e
conquistas da classe trabalhadora.
- 21 -
A concepção de Seguridade Social trouxe consigo conceitos significativos para a
efetivação dos direitos sociais, tais como a universalização, a concepção de direito social e
dever do Estado, o estatuto de política pública à assistência social, a definição de fontes de
financiamento e novas modalidades de gestão democrática e descentralizada com ênfase na
participação social de novos sujeitos sociais com destaque para os conselhos e conferências.
Art. 194. (*) A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a
participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e
aposentados. (Brasil, 1988).
Nesse processo de consolidação da política de Seguridade Social no Brasil, a Saúde
foi a que teve maiores avanços constitucionais. O Sistema Único de Saúde (SUS)
regulamentado pela lei 8.080/90 intitulada como Lei Orgânica da Saúde (LOS) representou a
conquista do movimento sanitarista. Este lutava por melhorias na qualidade dos serviços de
saúde prestados a população, bem como defendiam um novo modelo assistencial que
proporcionasse o acesso universal e igualitário as ações em saúde.
A saúde no Brasil nem sempre foi vista enquanto direito. Durante muito tempo a
população não teve atendimento médico de caráter público, ficando a mercê dos hospitais
filantrópicos e religiosos. Para melhor compreensão das mudanças ocorridas na Saúde
Pública, após a implementação do SUS, cabe fazer uma análise da saúde no país.
A saúde pública no Brasil passou por vários estágios até chegar ao modelo de saúde de
que temos conhecimento hoje. Até início do século XX as ações de saúde pública eram
organizadas como campanhas militares sendo as cidades divididas em distritos. Os doentes de
moléstias contagiosas eram encarcerados e obrigados pelo uso da força a aceitar as práticas
sanitárias a eles postas.
Durante o período de dominação da coroa portuguesa, as ações de saúde no Brasil
eram quase que inexistentes e as que eram desenvolvidas não tinham eficácia. Nesse período
as ações sanitárias estavam concentradas na cidade do Rio de janeiro, que naquele momento
- 22 -
era a principal cidade do Império. Nesse período o surto de febre amarela, varíola,
tuberculose, entre outras enfermidades era muito grande no país, principalmente após a
abertura dos portos em 1808.
Em meio a várias epidemias, houve uma centralização do poder imperial, que
empreendeu uma reforma nos serviços de saúde, criando a Junta Central de Higiene Pública,
que passou a coordenar as atividades de polícia sanitária, vacinação antivariólica e
fiscalização do exercício da medicina. Incluindo o serviço de inspeção das condições de saúde
dos portos. A atuação do Estado era bastante limitada no que diz respeito à assistência
médica.
Durante esse período a atuação do Estado na assistência médica se restringia à
internação de doentes graves em lazaretos e enfermarias improvisadas e à internação
dos loucos no Hospício criado pelo Imperador. Os serviços médicos hospitalares
estavam nas mãos de entidades filantrópicas nas cidades maiores. (ESCORES, S.;
TEIXEIRA, 2008).
Com a Proclamação da República, estabeleceu-se uma nova forma de organização no
âmbito jurídico e político de ordem tipicamente capitalista. Em que eram assegurados apenas
às formas de representações formais da classe burguesa.
O regime republicano não adotou um modelo sanitário para o país, deixando assim as
cidades brasileiras a mercê das epidemias. Os surtos de enfermidades se perduraram no país.
No Rio de Janeiro se instaurou um quadro sanitário caótico. Diante desse quadro o Governo
torna a vacinação contra a varíola obrigatória em todo o país. E aqueles que se opusessem a
tal medida eram considerados “inimigos da saúde pública”.
A promulgação da Constituição em 1931 trouxe novas formulações no que diz
respeito à saúde. Houve uma descentralização de atribuições a estado e municípios, ficando ao
governo a responsabilidade pela vigilância sanitária dos portos.
Fica nítido que a ação do Estado em relação à saúde, nesse período estava restrita a
medidas que beneficiavam a vida urbana. A assistência médica à saúde da população carente
ficava sob a responsabilidade dos hospitais filantrópicos e os mantidos pela igreja. Mais tarde
com o surgimento das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS), os trabalhadores filiados
que contribuíam tinham acesso a atendimento médico.
Em 1923, são criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS) para os
trabalhadores ferroviários e marítimos. Esta foi à primeira iniciativa do governo que se
destinava a garantir algum tipo de assistência ao trabalhador. As CAPS garantiam um direito
- 23 -
desigual, uma vez que só tinham acesso aos benefícios os que contribuíam, e ficava restrito
apenas aos trabalhadores das empresas ferroviárias e marítimas.
Na década de 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder é decretada a
centralização da estrutura dos serviços de saúde, e concomitante a isso a saúde é levada até a
parte rural do país. Em 1933, são criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS),
com o caráter de seguro social: mensalmente era descontado um valor do salário do
trabalhador, e o fundo assim criado era investido para gerar recursos necessários para pagar as
aposentadorias e pensões. Os IAPS eram organizados por categoria profissional, e havia
representantes dos trabalhadores em sua administração. O financiamento dos IAPS tinha um
caráter tripartite: trabalhadores, empresas e Estado. Eles garantiam direito a assistência
médica e a aposentadoria após 30 anos de contribuição.
Em 1937 o então presidente Getúlio Vargas decreta estado de sítio, cancela as eleições
presidenciais, fecha o congresso e anuncia o Estado Novo. Getúlio dá um golpe e instaura
ditadura do Estado Novo. Nesse período cria o Ministério do Trabalho e a Consolidação das
Leis trabalhistas (CLT).
Os recursos dos IAPS são desviados e aplicados na industrialização do país. Durante
esse momento as ações do Estado na área da saúde se dividem em dois segmentos: saúde
pública de caráter preventivo e assistência médica de caráter curativo, por meio da ação da
previdência social.
Em meados da década de 1940 inicia-se o período desenvolvimentista no Brasil. E sob
influencia dos americanos durante a segunda guerra mundial, o país adota o modelo de
atenção à saúde americana. Esta visava à atenção aos grandes hospitais, uma vez que atendia
as necessidades crescentes da indústria farmacêutica e de equipamentos médicos, e deixava
em segundo plano à atenção básica a saúde, que tem custo mais baixo. Posterior a isso, em
1953 foi criado o Ministério da Saúde, que passou a concentrar os serviços de assistência
médica individual.
Em 1964, os militares chegam ao poder e inicia-se o período da ditadura militar. No
poder, uma das primeiras medidas dos militares, foi à destituição dos direitos de representação
de empregados e empregadores na condução dos órgãos administrativos do sistema
previdenciário. Nesse período os IAPS passam por uma crise que culmina com sua unificação
e posterior criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Este Instituto
concentrou numa estrutura única todos os institutos relacionados com a previdência social. Só
poderia usufruir da previdência e da assistência médica quem contribuísse.
- 24 -
Ainda nesse período o governo contrata médicos para atendimento aos pobres em
hospitais. Nascem as Associações Médicas de Hospitais (AMH). Também nesse período foi
fundada a Associação Brasileira de Medicina (AMB).
A ditadura permitiu uma deterioração das condições de saúde da população, tanto pelo
aumento da miséria, quanto pela mudança de ênfase nos investimentos em saúde. Até então, a
saúde pública sempre tivera mais recursos que a assistência médica. A ditadura inverte essa
relação, diminuindo muito os investimentos na saúde publica.
Em meados dos anos de 1970 foi criado o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (SINPAS), que passa a reunir todos os órgãos de assistência médica no
Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), e todos os órgãos
de aposentadorias e pensões no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A
administração dos recursos financeiros no sistema passa a ser controlada pelo Instituto de
Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS).
Na década de 1970 a saúde no Brasil era de competência do INAMPS, portanto, o
atendimento médico era restringido apenas aos trabalhadores que tinham vínculo
empregatício formal, ou seja, aqueles que contribuíam com a previdência social o que
obviamente, gerava uma grande desigualdade no tratamento de assistência a saúde da
população. Nessa época a organização do sistema de saúde era deficitária. Os serviços
oferecidos eram de baixa qualidade, havia desigualdades na prestação dos serviços ofertados
nas regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste, os recursos financeiros eram poucos, faltavam
equipamentos e funcionários especializados.
Com toda essa insatisfação em meados dos anos 1970 e 1980 aconteceu o Movimento
Sanitário, organizado por médicos, enfermeiros, trabalhadores sindicalizados e donas de casa
que tinha como objetivo a reformulação da assistência médica no Brasil, para garantir
melhores condições de prestação de serviços de saúde e atendimento aos cidadãos.
No ano de 1986, intensificou-se o Movimento Sanitário, sendo convocada a VIII
Conferência Nacional de Saúde (CNS), que visava discutir a nova proposta de estrutura e
política de saúde para o país. Deste encontro surgiram propostas de reformulação do sistema
nacional de saúde, sendo documentadas e conhecidas como projeto da Reforma Sanitária
Brasileira.
O projeto contemplava uma gama de modificações no sistema de saúde brasileiro, para
além de uma reforma administrativa e financeira. Nesse sentido os principais pontos que
nortearam o projeto da reforma sanitária no Brasil diziam respeito à necessidade de ampliação
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do conceito de saúde, com ênfase nas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, a
proposta de estatização mediata ou progressiva do novo sistema, e a separação da saúde da
previdência.
Os avanços foram significativos no que diz respeito à formulação do “novo” conceito
de saúde que passou a ser entendida como resultante de um conjunto de determinações
histórica, econômica e social. A proposta de expansão e fortalecimento do setor estatal sofreu
resistência por parte do Estado, que afirmava não ter verbas suficientes para estatizar a saúde
de forma integral. Assim os prestadores de serviços privados passaram a ter uma atuação
complementar no sistema de saúde. Tendo suas ações e procedimento controlados pela gestão
pública.
Em 1988 foi aprovada a nova Constituição Brasileira, onde foi incorporada grande
parte dos conceitos e propostas definidas durante a VIII CNS, foi adotada então, a proposta da
Reforma Sanitária e do SUS. A ideia de adotar as propostas definidas na CNS não foi aceita
de forma passiva, houve resistência, uma vez que o modelo médico assistencial existente
privatista privilegiava determinados grupos sociais. Porém, para a implantação do SUS, era
necessária a formulação de leis, mas somente em 19/09/1990 foi aprovada a Lei 8.080,
conhecida como Lei Orgânica da Saúde (LOS).
Assim nasce o SUS pautado nos princípios da universalidade, com o dever de atender,
gratuitamente, a todos de acordo com suas necessidades; integralidade deve atuar de maneira
integral, a fim de prestar assistência, objetivando a promoção da saúde, prevenção e cura da
doença; descentralizado, deve permitir aos níveis estaduais e municipais coordenar as ações
de modo que a implantação do SUS esteja de acordo com seus princípios; racional, devem-se
disponibilizar ações nos diferentes níveis de atenção, atentando para as características da
clientela em cada setor, a fim de suprir e solucionar suas necessidades; eficácia e eficiência
enquanto capacidade de solucionar o problema de quem o procura, ou seja, garantir qualidade
e resolutividade do serviço. Para que isso ocorra, também há a necessidade de adequar-se à
realidade da comunidade e à disponibilidade de recursos, administrando os recursos públicos
de modo eficiente; democrático, deve permitir a participação de todos os segmentos
envolvidos com o sistema, ajudando a delimitar a política no seu nível de atuação, auxiliando
no melhor modo de administração que garanta qualidade de vida e do serviço à comunidade.
(BRASIL, 2011).
Os princípios do SUS foram estabelecidos legalmente, porém há a necessidade de que
o SUS seja implementado de forma a respeitá-los e, principalmente, garantir à população o
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acesso a um serviço de saúde com qualidade, contribuindo para manter uma melhor qualidade
de vida e de saúde da população. Aos gestores cabe o papel de cumprir as atribuições e
competências estabelecidas pela lei de regulamentação da saúde visando o crescimento e
fortalecimento do SUS. Este nos últimos 20 anos vem instituindo um novo modelo de saúde
pública no país, no que diz respeito à promoção, proteção, recuperação e reabilitação da
saúde.
Antes da criação SUS, o Ministério da Saúde, desenvolvia com o apoio dos estados e
municípios ações de promoção e prevenção de doenças, com destaque para o controle de
endemias por meio de campanhas de vacinação, que por vezes tinha caráter punitivo e
repressivo.
A partir da legalização do SUS enquanto novo modelo de Saúde Pública do país, as
ações sanitárias deixam de ter caráter repressivo e de punição e passam a atuar junto à
população no sentido de orientar e conscientizar quanto à sua relevância para a promoção da
saúde.
A ação do estado no setor da saúde estava dividida claramente em dois ramos: de um
lado a saúde pública de caráter preventivo e conduzida através de campanhas, e de outro lado
a assistência médica de caráter curativo, conduzida através da ação da previdência social. Este
modelo de saúde conduzida por meio da previdência social era restritivo uma vez que
somente os trabalhadores formais poderiam ter acesso à assistência médica, o restante da
população recebia a assistência na condição de favor por meio das instituições filantrópicas.
A partir da promulgação da constituição cidadã a saúde passa a ser direito de todos, ou
seja, o acesso deixa de ser restrito aos trabalhadores formais e passa a abranger toda a
população (rural e urbana), ficando estabelecido seu principio fundamental, o da
universalidade. A saúde enquanto dever do Estado significou conquista para a construção dos
direitos sociais no país, tendo em vista que anterior a constitucionalização da saúde a
assistência médico-hospitalar a população ficava restrita a filantropia. Segundo dados do
Mistério da Saúde antes de 1988 o atendimento em hospitais públicos estava restrito a 30
(trinta) milhões de brasileiros. Com a constituição cidadã, mais de 170 (cento e setenta)
milhões de pessoas passaram a ter direito a atendimento pelo SUS.
As ações que anteriormente estavam sob responsabilidade apenas da esfera federal
passa a ter caráter descentralizado, municipalizado e participativo. Este último proporciona
aos usuários o direito de participação, fiscalização e deliberação, por meio dos conselhos
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estaduais e municipais de saúde, das políticas voltadas à saúde. A lei 8.142/90 é a legislação
que estabelece a participação da comunidade na gestão do SUS.
Os avanços proporcionados pós-regulamentação do SUS foram inúmeros no tocante
ao acesso da população aos serviços de saúde, estando voltado para as necessidades da
população e também para a garantia do acesso enquanto um dos direitos da cidadania. Outro
avanço considerável definido pelo novo modelo de saúde está no novo conceito de saúde que
passa a considerar fatores de ordem econômico e social como determinantes para a saúde.
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda,
a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais: os níveis
de saúde da população expressam a organização social e econômica do país.
(BRASIL, Lei 8.080/90, art. 3°).
Nesse sentido as ações de saúde passam a ser concebidas de forma a integralizar
outras políticas públicas que visem à qualidade de vida da população usuária e seu acesso aos
bens e serviços essenciais a manutenção da vida. A articulação com programas sociais
federais que se desdobram por estados e municípios.
As ações e serviços de saúde foram estabelecidos em níveis de complexidade
conforme o art. 8 da LOS: “As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada,
serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade
crescente”. O principio da regionalização permite adequar os serviços de saúde a realidade
social de cada região do país.
Os níveis de atenção à saúde foram definidos como atenção básica, média
complexidade e alta complexidade. Sendo a atenção básica considerada como o primeiro nível
de atenção, caracterizada pelo baixo emprego de tecnologia em seus procedimentos. Os níveis
de média e alta complexidade já se utilizam de tecnologia de alta densidade para diagnosticar
problemas e agravos da população que necessita de profissionais especializados.
De acordo com o Mistério da Saúde (2002) a rede ambulatorial do SUS é constituída
por 56.642 (cinquenta e seis mil seiscentos e quarenta e dois) unidades, sendo realizados, em
média, 350 (trezentos e cinquenta) milhões de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-
se da atenção básica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade. No ano de 2001
foram realizadas aproximadamente 250 (duzentos e cinquenta) milhões de consultas, sendo
165 (cento e sessenta e cinco) milhões em atenção básica (consultas de pré-natal, puericultura,
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etc.) e 85 (oitenta e cinco) milhões de consultas especializadas. Nesse mesmo ano foram
realizados 200 (duzentos) milhões de exames laboratoriais, 6 (seis) milhões de exames
ultrassonográficos, 79 (setenta e nove) milhões de atendimentos de alta complexidade, tais
como: tomografias, exames hemodinâmicos, ressonância magnética, sessões de hemodiálise,
de quimioterapia e radioterapia. São 6.493 (seis mil quatrocentos e noventa e três) hospitais,
públicos, filantrópicos e privados, com um total de 487.058 (quatrocentos e oitenta e sete mil
e cinquenta e oito) leitos, onde são realizadas em média pouco mais de 1(um) milhão de
internações por mês, perfazendo um total de 12,5 (doze vírgula cinco) milhões de internações
por ano. As internações realizadas vão da menor complexidade, tais como internações de
crianças com diarreia, até as mais complexas, como a realização de transplantes de órgãos,
cirurgias cardíacas, entre outras que envolvem alta tecnologia e custo. São despendidos, pelo
Ministério da Saúde (MS) recursos da ordem de R$ 10,5 (dez vírgula cinco) bilhões por ano
para custeio dos atendimentos ambulatoriais de média e alta complexidade e hospitalares,
além de R$ 3 (três) bilhões para a atenção básica.
O desenvolvimento dessas ações é descentralizado cabendo a cada esfera do governo a
gestão do SUS de acordo com os princípios estabelecidos. A lei federal 8.080/1990 apresenta,
no artigo 15, as atribuições comuns dos três gestores e, nos artigos 16, 17 e 18, as atribuições
específicas de cada esfera, tratando de diversos assuntos, porém abordando poucos pontos
sobre as competências assistenciais em saúde. Cabe a cada ente federado a execução da
Política de Saúde do SUS obedecendo às ordenanças da legislação competente.
2.2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO NORTE
Os constantes desafios vivenciados durante o processo de construção e consolidação
do SUS precisam ser enfrentados pelos gestores, pois cotidianamente eles se veem diante de
mudanças permanentes. Em face dessas mudanças e das dificuldades latentes de se
consolidarem normas iguais em um país tão grande, e visando a superação dessas
dificuldades, foi lançado em 2006 o Pacto pela Saúde que traz a regionalização como um dos
principais eixos estruturantes, tendo como objetivo a garantia do acesso, a integralidade da
atenção, a promoção da equidade, a qualificação do processo de descentralização e a
racionalização de gastos e otimização de recursos.
O processo de descentralização consiste num avanço significativo pela qual vem
passando o SUS desde a sua instituição em 1990. Este processo se dar na repartição das
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responsabilidades, atribuições e recursos da esfera federal para estados e municípios,
diferentemente do modelo anterior de gestão da saúde em que a centralização decisória e
financeira ficava apenas em nível federal.
A implementação desse sistema de descentralização e definição do papel de cada
esfera de governo, deve considerar o enfrentamento de ao menos três questões gerais: as
acentuadas desigualdades existentes no país; as especificidades dos problemas e desafios na
área da saúde; as características do federalismo brasileiro. (BRASIL, 2002).
Esse processo tem sido orientado pelas Normas Operacionais do SUS (NOB/SUS),
instituídas por meio de portarias ministeriais. Estas Normas definem as competências de cada
esfera de governo e as condições necessárias para que estados e municípios possam assumir
as novas posições no processo de implantação do SUS.
As Normas Operacionais definem critérios para que estados e municípios
voluntariamente se habilitem a receber repasses de recursos do Fundo Nacional de Saúde para
seus respectivos fundos de saúde. A habilitação às condições de gestão definidas nas Normas
Operacionais é condicionada ao cumprimento de uma série de requisitos e ao compromisso de
assumir um conjunto de responsabilidades referentes à gestão do SUS.
A publicação da Norma Operacional da Assistência à saúde (NOAS/SUS), aprovada
pela portaria nº 95, de janeiro de 2001, foi mais um avanço no processo de descentralização
tendo como principal estratégia a regionalização.
No Rio Grande do Norte a macroestratégia de regionalização das ações e serviços de
saúde foram definidas a partir do Plano Diretor embasado pela NOAS que delimita as
instancias administrativas. Nesse sentido a Secretaria Estadual da Saúde (SESAP/RN), está
organizada em 06 (seis) Regionais de Saúde. É através das Regionais de Saúde que o Estado
exerce o papel, de apoio, cooperação técnica e investimentos aos municípios e aos Consórcios
Intermunicipais de Saúde. (RIO GRANDE DO NORTE, 2004).
O modelo de regionalização no estado consiste em 06 (seis) Regiões de Saúde e a
divisão do território estadual em 04 (quatro) Macrorregiões de Saúde: Metropolitana, Oeste,
Seridó e Alto Oeste. Existem ainda 14 (quatorze) Microrregiões de saúde cujos municípios
servem de referência para os 26 (vinte e seis) municípios sede de Módulos Assistenciais, por
oferecerem serviços ambulatoriais e hospitalares de baixa e média complexidade ficando a
alta complexidade restrita apenas aos municípios de Natal, Mossoró e Caicó. (idem)
O estado adotou as modalidades de atenção básica e atenção especializada em média e
alta complexidade, tanto ambulatorial quanto hospitalar. Os principais Hospitais de atenção de
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média e alta complexidade do estado estão distribuídos em municípios das 04 (quatro)
macrorregiões de saúde do estado. Estes estão listados a seguir:
MACRORREGIÕES HOSPITAIS LOCALIZAÇÃO
Alto Oeste Hospital Dr. Cleodon Carlos de Andrade Pau dos Ferros
Metropolitana
Complexo Hospitalar M. Walfredo Gurgel Natal
Hospital Dr. Deoclécio Marques de Lucena Parnamirim
Hospital Dr. José Pedro Bezerra Natal
Hospital Giselda Trigueiro Natal
Hospital Lindolfo Gomes Vidal Santo Antonio
Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes Natal
Hospital Regional Alfredo Mesquita Macaíba
Hospital Regional de João Câmara João Câmara
Hospital Regional de Angicos Angicos
Hospital Regional de São Paulo do Potengi São Paulo do Potengi
Hospital Regional Monsenhor Antônio Barros São José de Mipibu
Hospital Regional Prof. Dr. Getúlio de Oliveira Sales Canguaretama
Hospital Regional Aluísio Beserra Santa Cruz
Oeste
Hospital Rafael Fernandes Mossoró
Hospital Regional de angicos Angicos
Hospital Regional Dr. Aguinaldo Pereira Caraúbas
Hospital Regional Dr. Tarcísio Maia Mossoró
Hospital Regional Hélio Morais Apodi
Hospital Regional Nelson Inácio dos Santos Assu
Seridó
Casa de Saúde Milton Marinho Caicó
Hospital Doutor Mariano Coelho Currais Novos
Hospital Regional do Seridó Caicó
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Hospital Regional Dr. Odilon Guedes Acari
Tabela 1: Hospitais do Rio Grande do Norte por macrorregiões.
Fonte: Rio Grande do Norte. Secretaria Estadual de Saúde, 2012.
A construção de redes de serviços é um desafio bastante complexo, que envolve a
definição de diferentes perfis assistenciais e a articulação os mecanismos de gestão,
financiamento e avaliação de resultados. Esses complexos hospitalares constituem-se num
dispositivo essencial para acesso ao sistema de saúde, integrando as centrais de internações,
consultas, exames, urgência/emergência, protocolos assistenciais e outras modalidades de
atenção com vistas à regulação do Sistema.
O município de Natal pertencente à macrorregião Metropolitana tem sua rede
municipal de saúde formada por 147 (cento e quarenta e sete) unidades, sendo 80 (oitenta)
públicas municipais, 10 (dez) estaduais e 04 (quatro) federais. E prestando serviço
complementar o município conta com 06 (seis) unidades filantrópicas e 47 (quarenta e sete)
unidades privadas. (NATAL, 2007).
No que diz respeito ao modelo de atenção adotado tem-se, enquanto prioridade, a
prestação de serviços a partir da pessoa, de sua família e de seu entorno comunitário, tendo
como eixo estruturante a Estratégia Saúde da Família - ESF. Com vistas a implementar os
serviços e ações de saúde em Natal levando em consideração peculiaridades sócio-
demográficas e sanitário-epidemiológicas locais as zonas norte/sul e leste/oeste da cidade
foram divididas em 05 (cinco) distritos sanitários: Distrito Norte 1, Distrito Norte 2, Distrito
Sul, Distrito Leste e Distrito Oeste.
Cada um desses distritos possui serviços de atendimento a atenção básica à saúde
formada por postos de saúde, unidades básicas de saúde, unidades de saúde da família,
policlínicas entre outros. A rede básica representa o primeiro contato de acolhimento e a
formação de vínculos com as equipes de saúde, sendo também o local prioritário para que o
exercício da clínica do cuidado aconteça conforme estipulado pelo Mistério da saúde. Cumpre
ainda a função essencial de coordenar o trânsito das pessoas pelos diversos serviços na rede
de atenção.
A atenção especializada engloba a assistência de média e alta complexidade,
compreendidas enquanto o conjunto de ações e serviços ambulatoriais e hospitalares que visa
atender aos principais problemas de saúde da população, cuja complexidade da prática clínica
demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos
tecnológicos de alta densidade.
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Na rede municipal a média complexidade é realizada preferencialmente nas
policlínicas distritais, seguidas dos ambulatórios públicos e em caráter complementar pela
rede filantrópica e privada contratada.
Os procedimentos de alta complexidade compreende o atendimento ambulatorial bem
como a atenção hospitalar. Esta apresenta o maior nível de complexidade no sistema,
responsável pela prestação de serviços especializados. Os hospitais existentes em Natal são
classificados como de pequeno, médio e grande porte. Dentre os hospitais de grande porte
destaca-se Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e o Hospital Doutor José Pedro Bezerra,
também conhecido como Hospital Santa Catarina.
O Hospital Santa Catarina, é o segundo maior de Natal. Localizado na Zona Norte de
Natal, o Hospital atende uma demanda expressiva de usuários do SUS, compreendendo a
população tanto dessa região da cidade, quanto o considerável volume de pacientes vindos
dos municípios da Região Metropolitana de Natal e do interior do Estado. (RIO GRANDE
DO NORTE, 2012).
Nele são oferecidos serviços de urgências nas especialidades de clínica médica,
cirurgia geral, neonatologia, ginecologia e obstetrícia. A unidade é maternidade estadual de
referência em gestação de alto risco e uma das quatro unidades de saúde no Estado que
dispõe do Programa de Internação Domiciliar (PID). (idem)
A estrutura do Hospital é constituída por seis alas distribuídas entre os alojamentos
conjuntos de pediatria/neonatologia; clínicas médica/cirúrgica; pronto-socorro; administração;
centro cirúrgico/obstétrico; UTI; serviços de apoio. Possui equipamentos de alta tecnologia
que permite a realização de procedimentos de alta complexidade. (idem)
O Hospital Walfredo Gurgel está inserido na Política Pública de Saúde do SUS e
integra a rede de alta complexidade da SESAP/RN. O SUS conforme já citado anteriormente
está dividido em níveis de atenção: básica, média complexidade e alta complexidade. Este é
caracterizado por procedimentos de alta tecnologia e alto custo. São exemplos de
procedimentos: trauma, ortopedia, cardiologia, terapia renal substitutiva e oncologia.
Os serviços e ações oferecidos pelo Hospital à população da capital e dos demais
municípios do Rio grande do Norte devem está de acordo com as diretrizes instituídas na
LOS.
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou
conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de
acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo
ainda aos seguintes princípios:
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I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e
moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer
espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua
utilização pelo usuário;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação
de recursos e a orientação programática;
VIII - participação da comunidade;
IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de
governo:
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento
básico;
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de
assistência à saúde da população;
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e
“XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios
para fins idênticos”. (BRASIL, 2011).
O Hospital Walfredo Gurgel é referência no atendimento de urgência pelo SUS no Rio
Grande do Norte, sendo o único hospital público da região metropolitana de Natal (RMN) 1
que conta com serviços de queimados, ortopedia, neurologia e neurocirurgia, cirurgia plástica,
atendimento a queimados; nefrologia; urologia; cirurgia vascular, buco-maxilo-facial,
otorrinolaringologia, oftalmologia e cirurgia torácica. A cada mês, são feitas cerca de 600
(seiscentos) procedimentos cirúrgicos, entre cirurgias e reduções ortopédicas. Os principais
procedimentos realizados são: ortopedia, clínica médica, pediatria, cirurgia geral, UTI,
cirurgia buco-maxilo-facial, anestesia, análises clínicas, fisioterapia, fonoaudiologia,
oftalmologia e otorrinolaringologia O Hospital atende uma média de 25.000 (vinte e cinco
mil) pacientes por mês, vindos da capital e do interior do estado. Mensalmente são realizadas
cerca de 1.300 (mil e trezentas) internações, sendo 60% (sessenta por cento) procedentes de
pacientes oriundos do interior do Rio Grande do Norte. Quantificando para números inteiros
têm-se que dos 1.300 (mil e trezentos) pacientes que são internados no HMWG 780
(setecentos e oitenta) são provenientes dos vários municípios do estado. (RIO GRANDE DO
NORTE, 2012).
1 A Região Metropolitana de Natal é formada por dez municípios, que compreende: a capital do Estado,
Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Nísia Floresta, São José de Mipibu, Ceará Mirim, Monte
Alegre, Macaíba e Vera Cruz.
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As vantagens auferidas aos municípios com a implantação do Pacto pela Saúde (2006)
e pela estratégia de regionalização por meio da construção de hospitais regionais não foram
suficientes para minimizar a demanda do Hospital Walfredo Gurgel conforme nos mostram os
números acima.
O Rio Grande do Norte possui 14 (quatorze) hospitais regionais distribuídos em
municípios das 04 macrorregiões do estado, conforme já colocado anteriormente, que prestam
assistência aos municípios vizinhos. Os hospitais regionais foram implementados visando
uma intervenção que atenda às necessidades de saúde da população e garantam o acesso da
mesma a todos os níveis de atenção, bem como o “desafogamento” dos hospitais da capital.
Nesse sentido oferece serviços ambulatoriais e hospitalares de baixa e média
complexidade de urgência/emergência. Conta também com especialidades em clínica médica,
cirurgia geral, cardiologia, otorrinolaringologia, pediatria, obstetrícia, entre outros. Oferece
atendimento e procedimentos anestesiológicos, cirúrgicos de pequeno, médio e grande porte
(herniorrafia, histerectomia, colecistectomia, colpoperineoplastia, cesariana, plástica mamária
reparadora (não estética)), serviços de laboratório de análises clínicas, ultrassonografia,
eletrocardiografia, radiologia, colposcopia, eletrocardiograma, endoscopia digestiva, raios-X e
outros.
Ainda assim cotidianamente o número de usuários que solicitam as ações e serviços do
Hospital Walfredo Gurgel tem crescido gradativamente, principalmente no que diz respeito à
demanda de pacientes vindos do interior do estado. Mas o número de leitos disponíveis no
complexo hospitalar é insuficiente para atender a grande demanda.
Se a população dos municípios atendidos pelos hospitais regionais tivesse acesso a
todos os procedimentos acima mencionados, bem como fossem devidamente orientados
quanto à organização do SUS em níveis de atenção e suas respectivas atribuições, o número
de pacientes oriundos do interior do estado a ser atendido no Walfredo Gurgel reduziria
consideravelmente. Observamos durante a vivência de estágio curricular no HMWG que há
um desconhecimento por parte dos usuários quanto aos serviços oferecidos por cada nível de
atenção à saúde. Quando não é esse o fator que motiva a procura por atendimento em
hospitais da capital, esta se dar pela falta de profissionais e equipamentos nos hospitais
regionais, o que por sua vez obriga a população a procurar os serviços de saúde dos hospitais
de alta complexidade de Natal, sendo que no Walfredo Gurgel as consequências são mais
sentidas, expressas pela superlotação.
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Este é resultado de uma política pública mal implementada pelos gestores municipal e
estadual da saúde, que não visam garantir melhor qualidade ao atendimento à população.
Pode-se ainda afirmar que há uma má distribuição das verbas destinadas pela União ao Estado
e município, tendo em vista o caos pelo qual atualmente tem passado a saúde pública no
Estado, bem como no país. É nesse cotidiano também que estão latentes as expressões da
questão social, materializadas na saúde em forma de demandas ao Serviço Social.
2.3 A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: COMPETÊNCIAS E
ATRIBUIÇÕES
O Serviço Social no Brasil surge por volta da década de 1930. As mudanças sociais,
políticas e econômicas sentidas com o processo crescente de urbanização, seguida das
contradições inerentes à industrialização fez surgir lutas reivindicativas pela classe
trabalhadora, que passa a se organizar. È neste momento, através do Estado, que ocorre a
institucionalização do Serviço Social, movido pelas profundas alterações sociais. A questão
social surge nesse momento como ameaça a ordem vigente, obrigando o Estado, Igreja e
outras parcelas da classe dominante, a se posicionarem diante dela (Iamamoto, 2004).
A profissão surge ligada não apenas ao Estado, e a classe dominante, mas também a
Igreja Católica que teve papel fundamental na abertura das primeiras escolas de Serviço
Social no Brasil.
No período desenvolvimentista das décadas de 1950 e 1960, os assistentes sociais são
comissionados a atuar nos programas sociais do governo. Nesse período na América Latina
surgem dentro da categoria profissional inquietações e contestações quanto à metodologia,
objetivos e conteúdos utilizados na formação profissional. Surge assim o movimento de
reconceituação, que visava ir além do que estava posto no serviço social de caso, grupo e
comunidade. Ainda na mesma década, em 1964, é instituído o Golpe militar de 1964, de teor
altamente repressivo e autoritário.
Na década de 1970 e início da década de 1980, novas ações são pensadas para atender
camadas populares. Em 1979, ocorre o Congresso da Virada que marca o rompimento do
Serviço Social com as práticas conservadoras, proporcionando uma maior maturidade
intelectual dentro da categoria.
A década de 1980 está marcada pelo avanço na categoria expresso na publicação do
Código de ética de 1986. Aliado a isso está à promulgação da Constituição Federal de 1988,
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que marca um novo momento em que a sociedade civil avança em busca da legitimação dos
seus direitos e o assistente social avança na ruptura de suas antigas matrizes conservadoras
ligadas a Igreja e a filantropia, para atuar na execução e gestão das políticas públicas.
No que diz respeito à produção de instrumentos normativos dentro da profissão, a
década de 1990 foi a mais rica. Em 1993 é criado o Código de ética profissional do Serviço
Social e a lei de regulamentação da profissão (BRASIL, Lei nº 8.662/93).
O Serviço Social se apresenta como uma profissão profundamente associada à história
da sociedade, que tem na questão social e em suas expressões seu objeto principal de estudo.
Assim, é possível afirmar que o serviço Social lida diretamente com as expressões das
desigualdades sociais inerentes ao modo de produção capitalista e atua na execução e
formulação de políticas que visam à garantia do direito do sujeito. Caracteriza-se ainda
enquanto profissão inscrita dentro da divisão sócio-técnica do trabalho estando sujeito às
transformações societárias que se gestam no seio da sociedade. Essas transformações segundo
Netto (1996) incidem sobre o Serviço Social em sua área de intervenção, no perfil do
profissional e na formulação de estratégias sócio-profissionais.
Iamamoto (2009) afirma que vários fatores históricos incidem de forma direta nas
relações sociais entre Estado e sociedade civil. As transformações histórias apontadas por
Netto (1996) e Iamamoto (2009) se materializam por meio do processo de reestruturação
produtiva e privatização das políticas sociais em que se observa uma agudização da questão
social, manifesta em suas múltiplas expressões na vida dos sujeitos através das desigualdades
de classe, gênero, etnia, etc. São nesses processos histórico-sociais que se assentam as
alterações observadas nos espaços ocupacionais do assistente social.
Mesmo diante de todos os desafios posto ao assistente social face o processo de
metamorfose dos espaços ocupacionais, este precisa ser um profissional crítico, atuante na
luta pela construção de um novo modelo de sociabilidade, pautado na democratização das
relações sociais.
É necessário que este articule no seu fazer profissional os fundamentos teórico-
metodológicos, ético-político e técnico-operativo para uma maior consolidação de sua
identidade profissional no seu espaço sócio-ocupacional.
Como afirma Iamamoto (1996), em qualquer frente de trabalho onde insira-se o
Serviço Social, o propósito de contribuir ao protagonismo da sociedade civil na construção de
uma nova sociabilidade, sedimentada na democratização das relações sociais, requer-se um
profissional informado, crítico e propositivo, com sólida competência teórico-metodológica,
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adquirida mediante a pesquisa da realidade sobre as situações concretas em que incide o
trabalho profissional, aliada ao conhecimento dos processos macroscópicos que geram-na e
modificam-na, descortinando ao profissional as possibilidades de ação contidas na própria
realidade, potencializada a partir de um instrumental técnico-operativo rigorosamente
elaborado.
O assistente social no espaço sócio-ocupacional da saúde está diariamente submetido a
desafios e dificuldades que se materializam no exercício profissional cotidiano. Ele atua na
saúde no sentido de legitimar os princípios constituintes do SUS como direito do cidadão
previsto em lei. Estes princípios consistem na descentralização, integralidade, participação da
comunidade, equidade, igualdade e preservação da autonomia.
A implantação e desenvolvimento do SUS no país vêm requerendo a atuação do
assistente social no processo de (re) organização dos serviços, nas ações interdisciplinares e
intersetoriais, no controle social, entre outras demandas que expressam a abrangência do con-
ceito de saúde vigente, especialmente nos municípios, que é onde se concretizam as ações e
serviços de saúde, buscando fortalecer a perspectiva da universalização do acesso a bens e
serviços relativos aos programas e políticas sociais (BRAVO, 2006).
Nesse contexto o compromisso crítico com a contínua reformulação do SUS, leva o
assistente social a pensar a maneira que trabalha com os direitos sociais, visando reduzir as
desigualdades pela via da inclusão, de empregos, de renda digna, que transforma as condições
de vida e a própria condição dos sujeitos sociais.
As expressões da questão social se materializam nas instâncias da saúde pública em
forma de demandas e necessidades. As principais demandas do serviço social na saúde são
oriundas das más condições de vida a que estão submetidos uma grande parcela da população
brasileira que se encontra sem trabalho, sem comida, sem casa, sem escola, sem terra, sem
água, sem saneamento, sem lazer, sem informação, e, consequentemente, sem saúde. Estas
expressões da questão social na vida do individuo gera as mais variadas doenças. A violência
e a criminalidade também são expressões da questão social que se materializam em demanda.
São cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, postos à margem da
discriminação. Destituídos dos seus direitos sociais.
O assistente social atua no atendimento das necessidades sociais apresentadas pelos
usuários nos serviços de saúde. Essa atuação é legitimada por instrumentos normativos que
garantem ao assistente social um fazer crítico, com base na realidade social. Os principais
instrumentos são: Lei de Regulamentação da Profissão (1993), projeto ético político
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profissional e Código de Ética Profissional, seguidos dos estatutos da Criança e do
Adolescente, estatuto do Idoso, entre outros.
As atribuições do assistente social na saúde estão especificadas num documento
produzido pelo conjunto CFESS/CRESS que estabelece os parâmetros da atuação do
assistente social na saúde. Suas ações são desenvolvidas a partir das seguintes dimensões:
Assistencial; em Equipe; Socioeducativa; Mobilização, Participação e Controle Social;
Investigação, Planejamento e Gestão; Assessoria, Qualificação e Formação Profissional
(CFESS, 2009).
As ações assistenciais do assistente social na área da saúde se dar a partir das
contradições inerentes a contrarreforma na saúde que não viabiliza o SUS constitucional, ou
seja, os princípios e diretrizes aprovadas no texto constitucional por vezes tende a não
corresponder ao que se projeta na realidade da saúde pública no país. Acarretando no
cotidiano das unidades de atendimento a saúde diferentes questões: demora no atendimento,
precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa, problemas
com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos usuários. (idem)
Essas questões se expressam como demandas no cotidiano dos serviços de saúde:
-solução quanto ao atendimento (facilitar marcação de consultas e exames,
solicitação de internação, alta e transferência);
-reclamação com relação à qualidade do atendimento e/ou ao não atendimento
(relações com a equipe falta de medicamento, entre outros);
-não entendimento do tratamento indicado. (idem)
As demandas também se apresentam enquanto consequência das condições de vida dos
usuários e se apresentam na forma de desemprego e subemprego; ausência de local de
moradia; violência urbana, doméstica e acidentes de trabalho; abandono do usuário.
Diante dessas demandas postas ao profissional do serviço social, este precisa atuar de
maneira a romper com as práticas emergencial e burocrática. Buscando por meio de ações
socioeducativas garantir o acesso dos usuários aos direitos sociais garantidos.
O CFESS (2009) elencou as principais ações a serem desenvolvidas pelos assistentes
sociais. Estas consistem em atendimento individual e coletivo a fim de orientar quanto aos
direitos sociais; identificar a situação socioeconômica e familiar dos usuários; realizar
abordagem individual e/ou grupal; criar mecanismos e rotinas de ação; realizar visitas;
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realizar visitas institucionais; trabalhar com as famílias; criar protocolos e rotina de ação e
registrar os atendimentos sociais no prontuário único.
As ações em equipe devem ser ordenadas de forma a não descaracterizar o trabalho do
assistente social, ou seja, o profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências.
Tendo em vista que o olhar do assistente social sob o usuário na saúde é diferenciado do olhar
dos demais profissionais, dentre eles o médico.
A observância dos princípios éticos políticos da profissão explicitados nos marcos
legais entre os quais código de ética, lei de regulamentação da profissão e lei de diretrizes
curriculares, é de suma importância na realização do trabalho em equipe.
No que tange as ações socioeducativas desenvolvidas pelo assistente social na saúde
estas devem ser orientadas no sentido da prática reflexiva de levar o usuário a desvelar as
situações vivenciadas por ele próprio, de forma que ele consiga captar a realidade social. É
importante que essa prática seja desenvolvida em grupo propiciando a troca de experiências.
Mobilização, participação e controle social são ações que estão voltadas a inserção dos
usuários, familiares e trabalhadores de saúde nos espaços democráticos de controle social e
defesa dos direitos sociais. Incentivando a participação destes em conselhos, fóruns,
conferencias de saúde, e de outras políticas públicas.
Consiste ainda na prática de mediação da comunicação entre usuários e instituição no
sentido de melhorar a qualidade dos serviços prestados. E em casos onde houver a
necessidade fazer o encaminhamento das denúncias, reclamações ou elogios aos órgãos
competentes. Outra característica dessa ação diz respeito a fomentar a articulação dos usuários
com os movimentos sociais a fim de fortalecer os debates em torno da política social de
saúde.
As ações de investigação, planejamento e gestão são consideradas pelo CFESS (2009)
pela sua importância no que tange ao fortalecimento da gestão democrática e participativa.
Potencializando uma gestão em favor dos usuários e trabalhadores da saúde. O assistente
social atualmente se encontra diante de novas demandas institucionais. O processo de
descentralização das políticas sociais vem requisitando aos profissionais de Serviço Social a
atuação nos níveis de planejamento, gestão e coordenação de equipes, programas e projetos.
O assistente social deixa de ser apenas executor de políticas sociais e passa agora também ao
nível de gestão, implementação e monitoramento de políticas sociais.
Por fim não menos importante que as demais até agora elencadas estão às ações de
assessoria, qualificação e formação profissional. As atividades de qualificação profissional
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caracterizam-se pelas ações de treinamento, preparação e formação de recursos humanos, que
atuem voltados a educação contínua de funcionários e demais representantes da saúde. As
ações devem ser realizadas em conjunto com outros profissionais. As ações de qualificação
profissional também podem ser desenvolvidas por meio da criação de campos de estágio,
supervisão de estagiários, participação nos programas de residência multiprofissional e/ou
uniprofissional. (idem)
A assessoria por sua vez consiste na ação desenvolvida pelo profissional do serviço
social, podendo ser realizada por outras áreas do conhecimento, que toma a realidade como
objeto de estudo com a intenção de modificá-la. A assessoria pode ser prestada ao
profissional, à gestão para formulação de políticas sociais e aos movimentos sociais. Podendo
ser uma atribuição privativa do assistente social ou uma competência do profissional. (idem)
As dimensões acima citadas são atribuições e competências a serem realizadas pelo
profissional do serviço social a fim de contribuir para a efetivação e garantia dos direitos
sociais, bem como para o fortalecimento da participação social e das lutas sociais no âmbito
da saúde pública.
No tópico seguinte apresentaremos o Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel a
partir da sua atuação, relacionando ao cumprimento dos parâmetros estabelecidos pelo
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).
2.3.1 O Serviço Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
O Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel surge juntamente com a inauguração do
Hospital em 1973. A implementação se deu por meio da assistente social Lúcia Guerra.
Passados dois anos da fundação do Serviço Social no Hospital, chegam para compor o quadro
de profissionais duas assistentes sociais. Em 1979, face ao aumento da demanda do hospital,
sente-se a necessidade de mais profissionais para melhor realização das atividades. Assim
chega ao Serviço Social do Walfredo Gurgel duas outras assistentes sociais.
Nesse período as profissionais do Serviço Social não trabalhavam em regime de
plantão noturno. Só havia plantões de 12h. Em 1990, o Dr. José Dantas, diretor do hospital
naquele momento, solicita da chefia do Serviço Social a implantação do serviço de urgência
24 horas.
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Em meados de 1990, frente ao agravamento da questão social, bem como da
manifestação de suas expressões em forma de demanda para o Hospital, mais 10 profissionais
são agregadas ao Serviço Social.
No contexto histórico o Serviço Social brasileiro passava pelo processo de renovação
de suas matrizes formadoras. Há uma grande contestação dentro da categoria profissional
quanto aos aportes teórico-metológicos de base conservadora. Mesmo com o processo de
renovação posto em xeque pela categoria, ainda podia ser observado posturas conservadoras.
Isso vai refletir no cotidiano do assistente social por meio do fazer profissional de caráter
pouco crítico, mais voltado para a abordagem psicossocial, de cunho funcionalista. É
importante ressaltar que na conjuntura histórica do país havia a dominação da autocracia
burguesa, por meio da ditadura militar de 64.
O Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel integra o processo de trabalho coletivo.
Atuam na prestação de assistência as demandas dos usuários, família e a rede de relações
sociais.
As principais demandas do Serviço Social do Hospital são direito do trabalhador,
direito e deveres do paciente e acompanhante, questões intra e extra institucionais como:
traslado, admissões, exames, visitas, altas, óbitos, informações sobre tratamento, como
também esclarecimentos acerca do cotidiano hospitalar, materiais e equipamentos; violência
intra e extrafamiliar (mulher, criança, adolescente, idosos e gênero).
Constata-se que tais demandas refletem as expressões da questão social que se
manifestam no cotidiano da sociedade, como um todo e, em especial, na saúde. O Assistente
Social como profissional de saúde, efetiva o atendimento a todas as demandas facilitando o
acesso aos serviços e contribuindo para resolução das necessidades dos usuários.
A Divisão de Serviço Social do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
face a grande demanda de usuários e pacientes que descumprem ou até mesmo desconhecem
as normas e rotinas do Hospital, desenvolve um projeto junto com familiares e
acompanhantes dos pacientes internados. Mensalmente uma equipe formada por assistentes
sociais e psicólogas se reúne, com os acompanhantes de pacientes, no auditório do Hospital
para a realização de palestras onde são abordadas e discutidas as normas e rotinas do Hospital.
Na ocasião também é aberto espaço para que os familiares possam relatar sua história, o
motivo que os levou até lá. Logo após as profissionais fazem sua intervenção de acordo com
cada caso.
A atuação profissional das assistentes sociais compreende o PSCS, recepção,
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politrauma, uniclínica I e II, UTI Geral, UTI Bernadete, UTI Pediátrica, UTI Cardiológica,
reanimação, Centro de Recuperação pós-operatório (CRO), Unidade de gerenciamento de
vagas (UGV), Centro de tratamento de queimados (CTQ) e enfermarias do Hospital.
A equipe de profissionais da divisão de Serviço Social do Walfredo Gurgel é composta
por 36 assistentes sociais, sendo que 03 estão afastadas do trabalho, e 01 secretária. As 33
profissionais do Serviço Social se dividem em quatro setores, que abrange o Pronto Socorro
Clóvis Sarinho, o Setor de Acolhimento, a Unidade de Gerenciamento de Vagas (UGV) e as
Enfermarias do hospital.
As atribuições e competências das Assistentes Sociais são orientadas por direitos e
deveres especificados no Código de Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da
Profissão e nos parâmetros para atuação dos Assistentes Sociais na saúde.
As atribuições do Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel consistem em:
Visitar diariamente os pacientes internados nas enfermarias;
Atender aos usuários que buscam a Divisão de Serviço Social solicitando
informações e/ou orientações sobre os serviços prestados pela unidade;
Informar os familiares sobre o estado de saúde do paciente;
Contato com outras unidades de saúde em caso de transferência de pacientes ou
realização de exames inexistentes nesta unidade hospitalar;
Realizar reuniões com acompanhantes;
Orientar quanto aos direitos trabalhistas, previdenciários e/ou sobre seguro;
Contatos com entidades de apoio e proteção à criança e adolescente;
Contato com familiares ou responsáveis, em caso de óbito;
Assessoramento técnico à direção;
Contato interprofissional e interinstitucional;
Autorizar visita extra, quando se fizer necessário;
Orientar a família e/ou paciente quando necessário amputar membros ou intervenção
cirúrgica de urgência;
Supervisionar estagiárias de Serviço Social;
Comunicar alta de pacientes às famílias;
Contato com Prefeituras e Hospitais Municipais para agilizar o retorno do paciente
ao município;
Encaminhar o usuário a outros serviços e/ou recursos existentes na comunidade;
Autorizar acompanhante para crianças, adolescentes menores de 18 anos e idosos
com mais de 60 anos, conforme legislação vigente. (Plano de trabalho do
Serviço Social HMWG, 2010).
Na atuação profissional das assistentes sociais no Hospital Walfredo Gurgel é possível
perceber a dimensão política do Projeto ético político no sentido em que elas visam à
universalização do acesso da população aos serviços de saúde; bem como contribuem por
meio das orientações aos pacientes e acompanhantes, quanto aos seus direitos, para a justiça
social. A consolidação da cidadania está muito presente no fazer profissional das assistentes
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sociais do Walfredo Gurgel, no sentido de que elas mediam o acesso dos usuários a
programas e serviços que contribuem para a construção da cidadania.
A materialização do projeto ético-político se dar a partir de três dimensões. A
dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social; a dimensão político-
organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as entidades representativas e pela
dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico estritamente profissional
(Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8.662/93 e as
novas Diretrizes Curriculares do MEC (CRESS 17ª REGIÃO).
A dimensão jurídico-política do projeto ético-político está presente no cotidiano das
profissionais do serviço social do Walfredo Gurgel em sua prática profissional, por meio da
execução da política pública de saúde no Hospital; das orientações e encaminhamentos
prestados aos pacientes e acompanhantes. A lei n° 8.662/93, que regulamenta a profissão do
assistente social, estabelece no art. 4º o que constitui as competências deste profissional.
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da
administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações
populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam
do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população;
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de
identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus
direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais. (Lei nº
8.662/93).
O Código de ética do assistente social é um instrumento normativo muito importante
na normatização da prática profissional. Nele estão contidos aspectos que fazem menção aos
direitos, deveres, o que está vedado ao profissional, à relação com os usuários.
No que diz respeito aos deveres do assistente social estes precisam ser respeitados
principalmente no que concerne ao não policiamento do comportamento, ou ações que visem
limitar a liberdade do indivíduo.
Artigo 3º - São deveres do Assistente Social:
c. abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o
cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua
ocorrência aos órgãos competentes; (idem).
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A relação com os usuários, principalmente no que diz respeito aos usuários da saúde,
uma vez que estes já se encontram em estado bastante fragilizado bem como os familiares,
precisa ser de orientação e acolhimento, norteando quanto às providências a serem tomadas na
efetivação das garantias previstas em lei. O usuário precisa estar ciente de todo processo
realizado pelo assistente social
Artigo 5º - São deveres do Assistente Social nas suas relações com os usuários:
a. contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas
decisões institucionais;
b. garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências
das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários,
mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais
resguardados os princípios deste Código;
c. democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários;
d. devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido
de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses;
e. informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro áudio-
visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos;
f. fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao
trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o sigilo
profissional;
g. contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação
com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;
h. esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de
sua atuação profissional; (idem)
O trabalho realizado pelo Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel enfrenta
dificuldades que superadas será muito importante para o melhoramento do atendimento aos
usuários, estando como discorremos anteriormente relacionadas muitas vezes a questões
conjunturais. Essas dificuldades se expressam no dia a dia do profissional do serviço social
através da relação profissional/usuário e profissional/instituição.
O assistente social precisa ter em mente que a sua atuação profissional está
condicionada, assim como outras profissões, pelas determinações sociais impostas pelo
modelo de trabalho capitalista. Essas determinações dizem respeito ao trabalho assalariado, ao
controle da força de trabalho e a subordinação ao conteúdo do trabalho aos objetivos e
necessidades das entidades empregadoras. (COSTA, 2000).
Vivenciamos um contexto que Netto (1996) define como de transformações
societárias, cujas repercussões rebatem diretamente no cotidiano dos usuários atendidos pelas
diferentes políticas sociais, entre elas Saúde.
É nesse contexto de transformações que o assistente social atua cotidianamente, por
meio do enfrentamento das múltiplas expressões da questão social. Nesse processo o
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profissional precisa ter uma postura crítica e está munido de todo aparato legal que legitima a
profissão, visando garantir ao usuário, por meio das ações, o acesso aos direitos sociais
garantidos.
No que diz respeito à área da saúde um dos principais documentos que legitima a
atuação do profissional do serviço social é intitulado de Parâmetros para a Atuação de
Assistentes Sociais na Saúde, produzido pelo CFESS. Sendo que este já foi discutido no
tópico anterior. Mas cabe fazermos uma relação dele com o fazer profissional das assistentes
sociais do HMWG.
As principais demandas do serviço social do Walfredo Gurgel dizem respeito às
expressões da questão social, materializadas por meio da violência (de todos os tipos),
abandono, negação dos direitos essenciais à vida e a dignidade (saúde, educação, moradia,
alimentação, lazer, entre outros), superlotação do hospital e falta de leitos.
As ações assistenciais das profissionais do serviço social do Hospital se dar a partir
dessas demandas, e consiste em visita aos leitos para contato com o paciente/acompanhante a
fim de realizar as orientações quanto às normas e rotinas da instituição e preenchimento da
ficha social. É por meio dela que as assistentes sociais identificam o perfil socioeconômico do
usuário. Isso permite desenvolver posteriormente, junto com as equipes intersetoriais,
estratégias para melhor atendimento aos usuários. Bem como contribui para o
desenvolvimento de novas estratégias de ação por parte do Serviço Social.
São realizadas também pelas assistentes sociais ações que visam facilitar marcação de
consultas e exames, solicitação de internação, alta e transferência. Atuam também na
mediação entre médico/família e vice versa. Nos casos de reclamação com relação à
qualidade do atendimento, ao não atendimento (relações com a equipe, falta de medicamento
entre outros), ao não cumprimento das rotinas do Hospital por parte dos acompanhantes.
Os principais desafios postos às ações do serviço social dizem respeito às atividades
atribuídas ao profissional pela instituição que não são atribuições privativas do assistente
social. No Walfredo Gurgel durante o período de estágio foi possível identificar algumas
delas. A convocação do assistente social para informar ao usuário sobre alta e óbito; a
solicitação de ambulância para remoção de alta; realização de notificação em casos de
violência.
As decisões tomadas por parte da direção do Hospital, bem como a política
institucional tendem a limitar as ações do serviço social, deixando evidente a correlação de
forças dentro da instituição. Essas limitações também se constituem em desafio ao assistente
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social. Este precisa atuar de forma crítica, competente e criativa visando driblar as
dificuldades.
A relação dos profissionais do serviço social com os demais profissionais do Hospital
ocorre de forma integrada. Havendo em alguns momentos conflitos com os profissionais da
enfermagem e nutrição, em questões que envolvem a garantia do direito do usuário. Iamamoto
(2002) já chamava a atenção para algumas questões que devem ser observadas. Uma delas é a
fragmentação da questão social, que ela chama de armadilha, uma vez que atribui ao
indivíduo a responsabilidade por suas dificuldades e pobreza, o que tende a desresponsabilizar
a sociedade de classes. Não saúde essa tendência é bem expressiva entre os profissionais
quando estes responsabilizam o usuário pela sua situação, deixando de lado os determinantes
sociais, econômicos e culturais.
O Hospital Walfredo Gurgel possui profissionais de diversas áreas do conhecimento o
que permite a realização de trabalhos em equipe multidisciplinar. O Serviço Social do
Walfredo Gurgel atua com maior frequência em articulação com os profissionais da
psicologia, enfermagem e nutrição.
É importante destacar que a atribuição referente à orientação acerca dos direitos
sociais, este perpassa todas as atividades, uma vez que se dar em todo atendimento realizado
pelo assistente social, seja nos individuais com os usuários ou família, nos encaminhamentos
a outras instituições de viabilização de direitos, nas reuniões com os acompanhantes.
O serviço Social realiza reuniões com os acompanhantes uma vez ao mês. Ela está
voltada para a realização de ações sócio educativas, no sentido de despertar os acompanhantes
para questões que envolvem seus pacientes. São tratados assuntos concernentes aos direitos e
deveres do usuário, e são reforçadas as rotinas do Hospital.
Sobre a atribuição de supervisão de estágio supervisionado de Serviço Social, as
profissionais recebem estagiárias de algumas Universidades e faculdades. Esta experiência
permite as assistentes sociais divulgar sua vivência na área, contribuindo para o
fortalecimento do espaço ocupacional.
É nesse contexto de desafios e limitações que atua o Serviço Social do Hospital
Walfredo Gurgel, numa atuação compromissada com o direito do usuário e com o
fortalecimento do SUS.
Esse processo depende do grau de conscientização política da categoria no sentido de
promover o incentivo às lutas coletivas que perpassem os limites institucionais, seguido de
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uma articulação entre as profissionais visando o reconhecimento da profissão ante os demais
profissionais.
A inserção nos espaços de deliberação das políticas de saúde, os conselhos de saúde,
paralelo a participação nos espaços de gestão da profissão, a exemplo do CRESS, constitui-se
em estratégias de fortalecimento da categoria nos seus espaços ocupacionais. O apoio às lutas
da classe trabalhadora não só enquanto assistentes sociais, mas enquanto trabalhador da saúde
também é de grande valia para a superação das limitações e desafios postos no espaço de
trabalho.
No Serviço Social do HMWG é possível perceber certa mobilização política por parte
da categoria, por meio da formulação de planos de trabalho que norteiam a atuação do
profissional no âmbito institucional, bem como a abertura de espaços de conversa com junto
aos acompanhantes onde são repassados orientações quanto aos direitos e deveres que
dispõem. Semelhantemente também são realizadas palestras mensais com as profissionais do
serviço social visando à divulgação de informações pertinentes a categoria, bem como o
compartilhamento de conhecimento entre elas.
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3 – QUESTÃO SOCIAL E SAÚDE PÚBLICA: A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO
DA QUESTÃO SOCIAL
Este capítulo está estruturado em dois tópicos. O primeiro trata da questão social e
violência. De início é feita uma discussão em torno dos fatores políticos, econômicos e sociais
que corroboraram para o processo de politização da questão social. Em seguida a questão
social no Brasil é analisada a partir de suas particularidades históricas fazendo um paralelo
com as mudanças no cenário econômico e mundial da época. Posterior a isso as principais
expressões da questão social no país são destacadas, com ênfase na violência. Analisada a
partir das contradições inerentes ao modo de produção capitalista.
O segundo tópico aprofunda a análise da violência por meio de conceitos, tipologia e
natureza. Fazendo uma interlocução com a Saúde pública explicitando os principais
rebatimentos da violência nessa área. Para tanto, são utilizados dados que enriquecem o
conteúdo discutido.
3.1. QUESTÃO SOCIAL E VIOLÊNCIA
A questão social e suas expressões se constituem enquanto objeto de intervenção das
ações do profissional do Serviço Social. Dada a sua dimensão estrutural, a questão social
atinge a vida dos sujeitos nas suas aspirações pela garantia de direitos civis, sociais, políticos
e humanos. Ela está articulada com as formas de produção e reprodução social. Sendo suas
expressões consideradas enquanto manifestação de uma relação de subalternidade do trabalho
ao capital. Sendo as políticas sociais a principal via de intervenção pelo qual o Estado, tende a
dar respostas às contradições inerentes à relação capital trabalho.
As políticas sociais possuem uma natureza contraditória: de um lado constituem-se
numa forma do Estado alcançar o consenso entre as classes; e de outro expressam as lutas
sociais.
São as múltiplas manifestações da “questão social” que chegam para os assistentes
sociais como demandas. Neste sentido, a retomada da gênese da questão social, buscando seus
fundamentos históricos, é de grande relevância para a compreensão da questão social na
contemporaneidade, bem como para orientar as intervenções do assistente social.
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As condições econômico-sociais e políticas que corroboraram para o surgimento da
questão social tem sua gênese intrinsecamente ligada ao intenso desenvolvimento das forças
produtivas, com a expansão do industrialismo e a ampliação de mercados no século XIX.
No cenário econômico, ocorrem alterações nos processos e relações de produção, uma
vez que o processo produtivo passa a ser constituído de nova dinâmica industrial, a partir da
incorporação das máquinas. A necessidade de mão de obra para operacionalizar as máquinas
cria uma nova forma de relação de trabalho, em um espaço diferenciado, a fábrica, que impõe
ao operariado uma nova disciplina que afeta diretamente suas condições de vida e de
existência social em termos materiais e políticos. Isso ocorre em virtude da escassez das
condições mínimas de sobrevivência. Ou seja, o desenvolvimento observado das forças
produtivas não repercutiu nos níveis e condições da reprodução social.
Para melhor entendimento do que ocorria na esfera econômica no momento de
ascensão das forças produtivas vamos nos remeter a Marx que nos oferece aporte teórico para
compreendermos a questão social como a expressão mais desenvolvida de um tipo de
exploração diferenciada “que se efetiva num marco de contradições e antagonismos que a
tornam, pela primeira vez na história registrada, suprimível sem a supressão das condições nas
quais se cria exponencialmente a riqueza social” (NETTO, 1996 p.46).
Em O Capital, Marx expõe de maneira crítica como se deu a constituição das
condições econômicas advindas da nova forma de produção fazendo uma relação com as
necessidades humanas. De início o autor faz uma análise das inovações que o capital conferiu
aos processos de trabalho no que tange ao desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo
tempo em que considera as revoluções advindas desse desenvolvimento, também explicita os
aspectos contraditórios inerentes a ele. Pois segundo Marx a criação e expansão das
necessidades humanas só poderão realizar-se na forma de mercadorias. E estas tiveram sua
plena expansão na grande indústria, uma vez que as barreiras que impediam essa expansão
foram eliminadas pelo capital. Esse fato segundo Marx tornou o trabalhador um apêndice da
máquina. Tendo em vista que “é removido o motivo técnico da anexação do trabalhador a
uma função parcial, por toda a vida. Por outro lado, caem as barreiras que o mesmo princípio
impunha ao domínio do capital” (Marx, t.1, 1996 p. 482).
Nesse sentido ocorre na esfera do trabalho o que Marx vai chamar de dessubjetivação
do processo de trabalho, que consiste na negação do elemento subjetivo, onde o trabalhador
passa de sujeito à coisa. Essa transformação se inicia na venda da força de trabalho e tem seu
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aprofundamento na medida em que o trabalhador torna-se objeto manipulável da tecnologia.
(Augusto, 2009).
A dessubjetivação permite ao capital o controle dos salários, uma vez que há a
possibilidade do trabalhador ser substituído por máquinas. Isso permite um controle maior do
capital sobre a força de trabalho. Segundo Teixeira (1999) “o trabalho abstrato ganha uma
realidade tecnicamente tangível, na medida em que a nivelação geral das operações permite o
deslocamento dos trabalhadores de uma máquina para outra, de um setor a outro, em tempo
muito breve e sem a necessidade de um adestramento especial”.
A partir daí a produção de coisas úteis fica limitada ao lucro, ou seja, só serão
produzidas se forem lucrativas para o capital. Além disso, a reprodução do capital necessita
de produzir uma mercadoria cujo valor seja mais alto que a soma dos valores das mercadorias
exigidas para produzi-la. Impondo assim produzir não só um valor de uso, mas valor, e não
apenas valor, como também mais valia. E esse mais valor é extraído do trabalho humano. As
vias pelas quais era extraído o trabalho humano passaram a constituir um elemento central da
desigualdade social que se instaurou com a industrialização emergente. Essa contradição não
pode ser eliminada pela produção capitalista, uma vez que assim fosse significaria colocar o
desenvolvimento das forças produtivas a serviço do homem, e não do capital. (SANTOS &
COSTA, 2006).
Com base em Marx podemos analisar o capitalismo por meio de duas dimensões. A
primeira diz respeito a uma dimensão que podemos considerar positiva, uma vez que com a
revolução das forças produtivas foi possível criar bens e serviços em quantidade capaz de
responder as necessidades da sociedade, em caráter universal. A segunda dimensão diz
respeito à contradição inerente a essa forma de produção, que compreende os limites impostos
pelo capital. Marx afirma que “O capital é destrutivo ante tudo isso e constantemente o
revoluciona, rompendo todas as barreiras que impeçam o desenvolvimento das forças
produtivas, a expansão das necessidades, a diversificação do desenvolvimento da produção e
a exploração e o intercâmbio das forças naturais e espirituais” (MARX, 1985 p. 362).
A contradição inerente ao capital consiste na desigualdade social gerada diante do
processo de produção capitalista. O capitalismo cria uma classe operária que não tem suas
necessidades atendidas e uma grande disparidade entre as condições de vida e os interesses
entre operariado e a burguesia, detentora dos meios de produção.
A emergência do modo de produção capitalista foi sentida em todas as esferas da vida
humana. Os pequenos proprietários de terra foram expropriados dos seus lotes familiares, o
- 51 -
que provocou profundas transformações na agricultura inglesa. A posse da terra passou por
um processo de concentração nas mãos de grandes proprietários, o que por sua vez levou a um
maciço êxodo rural, aumentando a população urbana e a oferta de mão de obra para a
manufatura. (CASTELO, 2010).
O advento da maquinaria nas indústrias gerou um excedente de mão de obra, seguido
de diminuição dos salários e aumento da jornada de trabalho além da capacidade física dos
trabalhadores. Esses fatores corroboraram para as condições de pauperização do trabalhador,
que naquele momento era absoluta, e negavam condições mínimas de sobrevivência humana,
ao mesmo tempo em que gerava riqueza aos expropriadores, mediante a extração da mais-
valia.
Os trabalhadores rurais expulsos violentamente da sua terra, alijados dos seus meios
de produção e de reprodução sociais, eram, naquele momento, obrigados a subsistir nas
cidades em péssimas condições de vida.
A pobreza absoluta que naquele momento se instaurara no seio das famílias inglesas,
resultante da industrialização, impõe o ingresso destas no mercado de trabalho, objetivando a
ampliação da renda familiar e assegurar a reprodução social do trabalhador e de sua família. É
nesse momento que se tem o uso da força de trabalho feminina e infantil no espaço fabril.
É importante ressaltar que a pobreza já existia anterior à evolução das forças
produtivas e da industrialização. Sendo possível observar ainda no século XIV uma população
pauperizada que de acordo com o estudo que Castel (1999), sobre as metamorfoses da
“questão social”, era classificada entre indigentes inválidos, desobrigados do trabalho por
razões de doença, velhice e viuvez. A estes era concedido o “direito” à assistência; E
indigentes válidos, os vagabundos e similares, que estavam aptos ao trabalho, mas que não
tinham acesso à assistência. O pauperismo neste momento ainda não podia ser considerado
como questão social, de acordo com Castel.
O pauperismo que se observa no século XIX decorrente das más condições de trabalho
e escassez das formas mínimas de sobrevivência, que têm sua origem a partir da evolução das
forças produtivas e que ganha maior visibilidade na relação capital X trabalho, através da
exploração da força de trabalho do operariado e de sua família, ganha conotação importante
nos espaços de debate da burguesia revolucionária, por apresentar uma dinâmica de caráter
massivo e absoluto. Outro fator relevante para a inserção do tema na pauta de debates da
burguesia se dava pelo fato de “(...) os, pauperizados não se conformarem com a sua situação
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(...), configurando uma ameaça real às instituições sociais vigentes” (NETTO, 1996, p. 43).
Nesse sentido a “questão social” está relacionada aos desdobramentos políticos.
Diante das péssimas condições de vida geradas pelo pauperismo e da exploração de
sua força de trabalho, pelo capitalismo, as massas trabalhadoras impôs-se como sujeito
histórico independente e autônomo, lutando e reivindicando soluções para suas mazelas
organizando-se como classe em torno de interesses comuns. A partir de então o fenômeno do
pauperismo ganha conotação política, passando a ser denominado de questão social. Anterior
a isso o Estado e a economia política burguesa viam e tratavam a miséria dos trabalhadores
ora como algo criminoso, passível de prisão e internação forçada em casa de abrigo; ora como
natural, como algo inerente a condição humana desde a antiguidade.
Um turbilhão de protestos e reivindicações populares tomou conta da sociedade
britânica. Os trabalhadores antes esquecidos nas periferias das grandes fábricas passaram a ser
motivo de preocupação da classe dominante. O desprezo deu lugar a um repentino interesse
pelas condições de vida e de trabalho dos operários. A luta operária ganhou força e expressão
na cena política, com os sindicatos e partidos políticos proletários.
Foram às lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e
trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferên-
cia do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos
sujeitos sociais envolvidos (IAMAMOTO, pag. 66, 2003).
As reivindicações empreendidas pela classe trabalhadora passaram pela luta contra
condições opressivas de vida e trabalho, satisfação de carências de natureza material e moral e
regulamentação do trabalho das mulheres. Na esfera político-social exigiam a intervenção do
estado na esfera econômica e social, no sentido de regulamentar o mercado de trabalho e de
melhorias nas condições de vida. Uma vez que, a questão social naquela conjuntura era um
problema que não se enquadrava na estrutura do Estado, tendo em vista que a burguesia se
inspirava nas doutrinas liberais.
Nesse sentido, coube ao catolicismo social intervir, em um primeiro momento, sobre
os efeitos da questão social na sociedade, onde visava à melhoria e recuperação da classe
trabalhadora emergente, bem como a manutenção da ordem social vigente. A igreja passa a
atuar em espaços onde o Estado se recusava a assumir. Nesse sentido, se vale de estratégias e
forte conteúdo moralizador, atuando basicamente em três níveis ela lançará mão de um
conjunto de procedimentos e estratégias de forte conteúdo moralizador, atuando basicamente
em três níveis:
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[...] assistência aos indigentes por meio de técnicas que antecipam o trabalho social
no sentido profissional do termo; o desenvolvimento de instituições de poupança e
de previdência voluntária que apresentam as premissas de uma sociedade
segurancial; a instituição da proteção patronal, garantia da organização racional do
trabalho e, ao mesmo tempo, da paz social (CASTEL, 1999, p. 319).
Outras respostas foram dadas a luta do operariado, dentre as quais a criação da
legislação fabril com vistas a regulamentar o trabalho nas fábricas, sendo ela posteriormente
aplicada a outros espaços de trabalho (minas e agricultura). Paralelo a isso são criadas
comissões de investigação do trabalho de crianças, de adolescentes e de mulheres nas fábricas
e na agricultura.
É, portanto, a partir das lutas sociais e políticas do proletariado, que surge a questão
social.
A “questão social” não é senão as expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do
Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais
além da caridade e da repressão (IAMAMOTO e CARVALHO, 2000, p. 77).
Com o advento do capitalismo monopolista a intervenção do Estado torna-se
imprescindível na expansão e aceleração econômica. Essas transformações vão se refletir na
questão social, no sentido de que o Estado passará a intervir nos conflitos resultantes das
relações de trabalho.
Nesse momento o Welfare State surge como expressão máxima do Estado Social, que
vai se caracterizar pela a atribuição de diversas funções, dentre as quais tornará acessível às
demandas da classe trabalhadora. A construção dos direitos sociais são formulados nesse
período, enquanto forma de ocultar as contradições de classe, bem como atenuar os conflitos.
Isso de certa forma tende a favorecer a reprodução dos trabalhadores. Mas o fim em sim é
assegurar o pleno desenvolvimento do capital monopolista.
Na atualidade, o discurso neoliberal continua a negar a questão social. E tendem a
responsabilizar o sujeito pelas más condições de vida a que está submetido. Os problemas
sociais são analisados apenas no limite do indivíduo e de sua família sendo deixado de fora da
análise à dimensão coletiva e o recorte de classe da questão social. Isso tende a reduzir a
exploração da classe trabalhadora a uma dificuldade do indivíduo. (IAMAMOTO, 2010). De
modo que, por parte do pensamento liberal, a questão social e sua objetivação atravessam a
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responsabilidade individual e responsabilidade pública de resolvê-la pela via do Estado ou da
sociedade civil. Tal polemica se perpetua ainda nos dias atuais em que o neoliberalismo
defende a desresponsabilização do Estado no que diz respeito à questão social e suas
expressões, materializadas nas mais variadas formas de pobreza de grande contingente da
sociedade.
A pulverização da questão social, típica da ótica liberal, resulta na automização de
suas múltiplas expressões – as várias “questões sociais” – em detrimento da
perspectiva de unidade. Impede-se, assim, o resgate do complexo de causalidades
que determina as origens da questão social, imanente à organização social
capitalista, o que não elide a necessidade de apreender as múltiplas expressões e
formas concretas que assume (idem).
Nesse cenário de dominação ideológica do liberalismo a questão social é permeada
por diversos fatores que visam sua redução ao espaço da sociedade civil, a culpabilização do
individuo, a redução da questão social ao conceito de exclusão seguida do esvaziamento de
suas particularidades históricas no sentido de desconsiderar as suas expressões.
Assim, na contemporaneidade segundo Iamamoto (2010) há uma renovação da “velha
questão social”, mantida sua natureza de contradições inerentes às relações sociais
capitalistas. O que se tem é uma questão social (...) “sob outras roupagens, e novas condições
sócio-históricas na sociedade contemporânea, aprofundando suas condições e assumindo
novas expressões na atualidade” (idem). Ainda hoje se evidenciam as lutas sociais contras as
desigualdades geradas pelo processo de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho
social e das relações sociais.
Deste modo, é possível afirmar que a intervenção sobre a questão social e suas
expressões está condicionada a expansão do capitalismo e da reprodução do capital. A
responsabilização ou desresponsabilização do Estado pelo problema tem seguido as
exigências dessa expansão.
No Brasil a questão social sofre conotações diferentes da vivenciada na sociedade
europeia. Isso se dar em virtude das particularidades históricas que são vivenciadas no país.
Martins (1997) afirma que “é produto de uma estrutura social inerente ao modo de produção e
reprodução vigentes, pelos modelos de desenvolvimento que o país experimentou, a saber:
escravista, industrial, desenvolvimentista - fordista – taylorista e de reorganização flexível”.
A história da sociedade brasileira está permeada por diversas situações que trazem à
tona a questão social. Se apresentando enquanto problemática nacional e estando inserida nos
impasses e dilemas vivenciados pelos governantes de cada regime político experimentado
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pelo país. Esses regimes políticos compreendem o período colonial, império, e república
seguida dos seus desdobramentos (oligárquica, populista, militar e nova) regimes políticos e
seus governantes. (Ianni, 1989).
Já no período colonial eram perceptíveis traços da questão social manifesta por meio
da desigualdade social que tinha como expressão máxima o trabalho escravo, o qual se
perdurou por vários séculos, sendo “extinto” em 1888, sob pressão social de grupos
revolucionário nacional e influenciado pelo liberalismo inglês. Assim podemos afirmar que a
desigualdade social no país não é algo novo.
Na República, ocorre o aprofundamento das desigualdades sociais manifestas nas mais
variadas formas de pobreza, miséria, desemprego e exclusão social, que refletem as
disparidades econômicas, políticas e culturais que envolvem classes sociais, minorias sociais
(negros, índios, mulheres, crianças, e outros) e formações regionais.
Essas desigualdades eram manifestas por meio das condições precárias de trabalho das
pequenas oficinas, órgãos públicos, numa industrialização lenta e de poucos empregos, longas
jornadas de trabalho, trabalho infantil e escravo, salários reduzidos, escassez de alimentos,
acesso restrito às poucas escolas públicas primárias e técnicas, epidemias, mão de obra
disponível nas cidades. (Arcoverde & Almeida (orgs), 2006).
Nesse período a questão social e suas expressões não eram vistas como questão
política por parte do Estado. Por várias décadas a questão social no Brasil permaneceu na
ilegalidade pensada enquanto desordem e marcada pela criminalização do sujeito. Seu
enfrentamento se dava por meio dos aparelhos coercitivos do Estado. Ainda nesse contexto
surgem às sociedades de auxílio mútuo, as santas casas de misericórdia, por iniciativa da
Igreja, da elite local e do Estado. Sendo os problemas da questão social tratados por meio da
filantropia e da beneficência.
Cabe ressaltar que nesse momento na Europa, final do século XIX, se vivia um
momento de expansão do capitalismo monopolista por meio da evolução das forças
produtivas que alavancou a produção dos bens produzidos. E as lutas sociais da classe
trabalhadora, por melhores condições de vida e trabalho, se intensificavam na sociedade.
Enquanto que no Brasil, nesse período, a questão social começa a se tornar visível,
mas ainda com pouca conotação em virtude do incipiente processo de industrialização, que no
Brasil é tardio, se comparado a outros países europeus. Iamamoto apud Fernandes (1975)
afirma que “a transição do capitalismo competitivo ao monopolista no Brasil ocorre por
caminhos que fogem ao “modelo universal da democracia burguesa””.
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Somente no final do século XIX é que começa a se formar, de forma mais densa no
país, movimentos de luta por mudanças sociais. Isso se dar num contexto de desemprego,
subemprego e pauperismo vivenciados na realidade do trabalhador. As reivindicações e
protestos expressam a insatisfação popular. As lutas sociais polarizam-se em torno do acesso
a terra, emprego, salário, condições de trabalho na fábrica e fazenda, garantias trabalhistas,
saúde, habitação, educação, direitos políticos, cidadania.
A questão social sai da ilegalidade e passa a ser reconhecida pela elite dominante
enquanto questão política. Fruto das contradições de um capitalismo que assentava suas bases
num padrão econômico de substituições de importações e industrialização periférica. Nesse
sentido Iamamoto (2010) afirma que “a economia brasileira relacionou-se com a expansão
monopolista segundo a forma típica que assumiu nas periferias dos centros mundiais”.
Deixando a ilegalidade, as intervenções públicas relativas à questão social se voltam
às questões trabalhistas visando desmobilizar a classe que oferecia risco a ordem social
vigente naquele momento. Assim, em 1930 o Estado aprova criação da Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), que garantia aos trabalhadores direitos e melhores condições de trabalho.
Paralelo a isso, os governantes passam a investir em ações de saneamento e
modernização das principais cidades do país. Essas ações foram insuficientes para atender a
grande demanda de serviços reivindicados pela população, que se encontrava expropriada da
riqueza socialmente produzida. Ficando a população a mercê do assistencialismo privado,
oferecido pelas santas casas aos pobres e desvalidos. Aos trabalhadores era prestado o mesmo
atendimento e tratamento. Na nova República os governos ainda mostravam-se inertes em
relação à questão social.
Na atualidade, a desigualdade enquanto base da questão social se evidencia por meio
dos números que a quantificam.
O detém a terceira pior desigualdade de renda dentre 162 países do mundo. É,
inclusive, pior do que a África do Sul do aparthaid. Dez por cento dos ricos ganham
50 vezes mais do que os 10% mais pobres e que compartilham 1% apenas da riqueza
socialmente produzida e acumulada; 20% da população apresentam renda per capita
acima de R$ 540,00 reais e 25% dos brasileiros vivem em condições precárias, sem
renda, emprego, acesso à educação, acumulando desigualdades não só de renda, mas
política, social, cultural, moral. (Arcoverde & Almeida apud Pochmann, 2003).
Diante disso o Estado tem engendrado respostas que são limitadas e não conseguem
ultrapassar o caráter emergencial, assistencialista e clientelista. Pautados no imediatismo das
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políticas sociais. A sociedade civil organizada por sua vez tem atuado por meio de atividades
que visam atender as demandas que o estado não consegue alcançar. Nessa esfera se destacam
as diversas organizações não governamentais (ONGs), setores das igrejas, partidos, sindicatos
e outros.
A desresponsabilização do Estado ante as expressões da questão social resultam da
política neoliberal, que no Brasil tem seu auge nos anos 90. Um dos princípios da lógica
neoliberal consiste na redução das funções do Estado, que visa instituir o Estado mínimo.
Mínimo no sentido de intervir na esfera social. Transferindo à sociedade civil a execução de
atividades que não cabem a ela. Esse processo tende a desregulamentar e reduzir os direitos
sociais conquistados pela classe trabalhadora por meio das lutas sociais.
O país passa por um momento de perplexidades em que a exclusão impera.
Evidenciada por meio da precarização do trabalho, do desemprego estrutural, das violências
contra as minorias. Expressões da questão social que se manifestam em todos os espaços
sociais e institucionais.
Dentre as várias expressões da questão social que se apresentam na cena atual está a
violência. Ela se apresenta cotidianamente no espaço social e atinge um grande contingente da
população (homens, mulheres, crianças, pobres, ricos, negros, brancos, etc.). Representando
um dos grandes desafios da atualidade.
A desigualdade entre as classes e a exclusão social, resultante do modelo de
sociabilidade capitalista, está intimamente ligada à violência. Ela desempenha papel histórico
nas relações capitalistas. Uma vez que a violência está ligada a questões estruturais, seu
entendimento não pode se limitar apenas as expressões de criminalidade e agressões físicas,
podendo também se materializar em diversas esferas, sendo o Estado uma destas.
Na sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, como é a sociedade
capitalista atual, a violência não só se mostra nas formas diretas e organizadas de
uma violência real ou possível, como também se manifesta de um modo indireto, e
aparentemente espontâneo, como violência vinculada como caráter alienante e
explorador das relações humanas. Tal é a violência da miséria, da fome, da
prostituição ou da doença que já não é a resposta a outra violência potencial ou em
ato, mas sim da própria violência como modo de vida porque assim o exige a própria
essência do regime social. Essa violência surda causa muito mais vítimas que a
violência ruidosa dos organismos coercitivos do Estado.
(Vázquez, 2007, p. 377-378).
A lógica destrutiva do modo de produção capitalista seguida da política neoliberal tem
promovido o desmonte do social em detrimento do crescimento econômico o que por sua vez,
- 58 -
tende a atingir os direitos sociais no sentido de suprimi-los e reduzi-los. Fazendo com que o
número de pessoas em situação de vulnerabilidade social aumente.
Esse processo tende a se acentuar cada vez mais, tendo em vista que só a superação do
modelo de sociabilidade capitalista poderá reverter essa situação. Enquanto isso não ocorre o
que fica evidente são as gigantescas contradições sociais que tendem a fomentar o
crescimento da violência nos centros urbanos. Vista nesse contexto de crise político-
econômico-social, a violência incide sobre as condições de vida da população afetando
diretamente seu desenvolvimento social.
O tópico seguinte trás uma discussão referente à violência, visando aprofundar suas
definições, tipologias e natureza. Em seguida faz uma relação entre violência e seus
desdobramentos na Saúde pública, afunilando para uma discussão sobre as mortes e lesões
por armas de fogo no Brasil.
3.2. A VIOLÊNCIA E SEUS REBATIMENTOS NA SAÚDE PÚBLICA
Na atualidade a violência se apresenta aos sujeitos em sua vivencia cotidiana nos
diversas esferas da vida social, seja no dia a dia, em casa, no trabalho, nas ruas. Sendo um
dos temas mais discutidos no cenário atual, uma vez que seus efeitos afetam a todos os
cidadãos, de todas as classes, etnias, culturas e religiões.
Mas a violência não é um fenômeno novo na história. Ela sempre permeou a
humanidade. Assim é possível afirmar que não houve sociedade onde a violência não
estivesse presente.
A dimensão que o fenômeno tomou no seio das sociedades despertou a preocupação e
a curiosidade de inúmeros teóricos e filósofos da teoria social da época. Que passaram a
problematizá-la buscando a compreensão de sua natureza, origem e os meios pelos quais
poderia haver uma atenuação de suas expressões nas relações sociais.
Várias teorias foram levantadas a fim de explicar o fenômeno da violência. O
entendimento em torno do seu conceito foi e continua sendo bastante discutido por vários
autores e analisado a partir de várias perspectivas que visam compreendê-la nas diversas
dimensões da vida humana. Algumas partiam do pressuposto biológico e psicológico
enquanto determinantes da violência. Em que afirmavam que a violência era algo do instinto
humano que se externava por meio das emoções. Outras correntes consideravam o fator
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histórico e social, seguidos dos seus elementos estruturais e conjunturais para explicar as
causas da violência.
A partir dessas teorias foi possível chegar a um nível considerável de conhecimento
em torno do tema, onde alguns elementos tornaram-se consensuais, mas que ao mesmo tempo
ainda é controverso em muitos aspectos. Atualmente, há um consenso praticamente unânime
que considera que o fenômeno da violência não está imbricado à natureza humana, bem como
não tem raízes em fatores biológicos.
Mas essa discussão está longe de chegar a um consenso final, tendo em vista que há na
atualidade uma grande diversidade de estudos e diferentes abordagens sobre o tema que
oferecem uma gama de caminhos para a discussão dessa temática. Porém uma coisa é certa
todas essas abordagens buscam a compreensão das raízes sócio-históricas e culturais que
envolvem a violência. Para fins deste trabalho abordaremos a violência como uma expressão
da questão social e que possui determinantes históricos.
Portanto, para entendê-la, é necessário retomar sua especificidade histórica. Nessa
busca tem-se a interlocução da temática da violência com outros aspectos da vida social.
Minayo (1994) afirma que a violência
trata-se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de
criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. Portanto, para entendê-la, há que
se apelar para a especificidade histórica. Daí se conclui, também, que na
configuração da violência se cruzam problemas da política, da economia, da moral,
do Direito, da Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano
individual.
É nesse campo que se concentram as dificuldades de conceituação do fenômeno da
violência, pois ele está ligado diretamente com o vivido do individuo, cujas suas
manifestações incidem direto no emocional de quem a comete ou de quem é por ela
acometido.
Para melhor compreensão do tema, e visando não reduzi-lo a delinquência ou a
criminalidade este trabalho vai considerar as tipologias da violência a partir do Relatório
Mundial da OMS (2002) que a subdividiu a partir de algumas de suas manifestações. Assim a
violência se apresenta com violência dirigida contra si mesmo (auto-infligida); violência
interpessoal; violência coletiva.
As violências denominadas de auto-infligida compreende os comportamentos suicidas
e autoabusivos, este termo designa as agressões cometidas contra o próprio individuo.
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As violências interpessoais ocorrem de duas formas. A primeira diz respeito à
violência cometida no ambiente intrafamiliar por membros ou não membros da família. E se
expressão através da agressão a segmentos infantil, feminino ou masculino, idosos e
portadores de algum tipo de deficiência. A segunda é denominada de violência comunitária,
uma vez que suas expressões se dão no ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos.
Sendo manifestas por meio da violência juvenil, agressões físicas, estupros, ataques sexuais e
inclusive, a violência institucional que ocorre, por exemplo, em escolas, locais de trabalho,
prisões e asilos. (Minayo, 2005).
As violências coletivas estão relacionadas aos atos violentos que ocorrem nas esferas
macrossociais da política e da economia. Suas expressões são os grupos organizados, as
guerrilhas, atos terroristas, guerras, entre outros.
Após termos analisado a divisão da violência em tipologias, passaremos a analisar a
sua natureza que se encontra classificada em quatro modalidades: abuso físico; abuso
psicológico; abuso sexual; negligencia e abandono.
O abuso físico é aquele cometido por meio do uso da força, com o objetivo de
produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em outra pessoa. O psicológico, por sua vez
integra as agressões verbais ou por meio de gestos, que visem a produzir na vítima um
sentimento de terror, rejeição, humilhação; seguida da restrição da liberdade ou do isolamento
do convívio social. (BRASIL, 2001)
Abuso sexual se dar no momento em que o explorador impõe à vítima a participação
em jogo ou ato hetero ou homossexual, por meio de violência física ou ameaça. Ou quando a
vítima for utilizada para obter excitação sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais. A
negligencia e o abandono ocorrem quando há ausência ou recusa de cuidados especiais a
alguém que necessita. (idem.).
A violência, como se observou anteriormente por meio da sua distribuição em
tipologia e pela análise de sua natureza, tende a provocar impactos na qualidade de vida da
população através das lesões físicas, psíquicas e morais. Que por sua vez, exigem a atenção e
cuidados médicos e hospitalares. Nesse sentido, mesmo não sendo um objeto propriamente da
saúde. Ela se torna um tema recorrente na área em virtude de suas expressões que se refletem
diretamente nas instituições de saúde.
Por ser um fenômeno sócio-histórico, a violência não é, em si, uma questão de saúde
pública e nem um problema médico típico. Mas ela afeta fortemente a saúde:
provoca morte, lesões e traumas físicos e um sem número de agravos mentais,
emocionais e espirituais; diminui a qualidade de vida das pessoas e das
- 61 -
coletividades; exige uma readequação da organização tradicional dos serviços de
saúde; Coloca novos problemas para o atendimento médico preventivo ou curativo;
evidencia a necessidade de uma atuação muito mais específica, interdisciplinar,
multiprofissional, intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos
cidadãos. (MINAYO, 2006).
Nesse sentido, no cenário atual a problemática da violência não pode ser pensada sem
analisar seus desdobramentos na área da saúde. Agudelo (1999) diz que "a violência afeta a
saúde porque ela representa um risco maior para a realização do processo vital humano:
ameaça a vida, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade
próxima”.
Mesmo diante de todas essas evidências o fenômeno da violência só foi incluído na
agenda da Saúde Pública no final dos anos 80. Quando as mortes e traumas ocorridos por
questões violentas aumentam de forma alarmante ante as demais doenças. Esse processo exige
do sistema respostas que se traduzam em meios de atenuar o quadro crescente do impacto da
violência na saúde.
Na década de 90, a preocupação com o tema ganha conotações importantes nos
espaços de debates das organizações internacionais. Em 1993 o dia Mundial da Saúde foi
comemorado sob o tema “prevenção de acidentes e traumatismos”. Nesse mesmo ano a
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em reunião com seu conselho diretor, decidem
incentivar aos governos dos países membros a estabelecer políticas e planos nacionais que
visem prevenir e controlar a violência. Outro importante avanço foi à inclusão das mortes e
traumas por violência na Classificação Internacional de Doenças (CID) no grupo, já existente,
das causas externas (E800- E999).
No Brasil, há vários anos vêm sendo desenvolvidas pesquisas e produção de materiais
que tratam da problemática da violência e Saúde Pública. O Ministério da Saúde tem lançado
anualmente documentos que tratam do tema. Viva: vigilância de violências e acidentes, 2006
e 2007 (2009); Impacto da Violência na Saúde dos Brasileiros (2005); Painel de Indicadores
do SUS Nº 5 - Prevenção de Violências e Cultura de Paz (2008); Enfrentando a Violência
(2005); Violência: uma epidemia silenciosa nº 15, 16 e 17 (2008 e 2009); Enfrentando a
Violência contra a Mulher (2005); Violência Intrafamiliar (2002); Notificação de Maus-tratos
contra crianças e adolescentes pelos profissionais de saúde(2002). Legislação sobre a temática
da violência, seguida de leis e portarias também foram instituídas no país: Lei Nº 8.069/1990
(Estatuto da criança e do adolescente- ECA); portaria GM/MS Nº 1.968, de 25 de outubro de
2001, que dispõe sobre a notificação, às autoridades competentes, de casos de suspeita ou de
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confirmação de maus tratos contra crianças e adolescentes atendidos nas entidades do SUS;
Portaria MS/GM Nº737 de 16 de maio de 2001—Política Nacional de Redução da
Morbimortalidade por acidentes e violências; Lei Nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso); Lei Nº
10.778/2003 que institui o serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher
nos serviços públicos e privados de saúde; Portaria Nº 2.406/GM de 5 de novembro de 2004,
que institui serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher e aprova
instrumento e fluxo para notificação; Portaria MS/GM Nº 687 de 30 de junho de 2006—
Política Nacional de Promoção da Saúde; Portaria Nº 1.876 de 14 de agosto de 2006, que
institui as diretrizes nacionais para prevenção do suicídio; Portaria Nº 2.472 de 31 de agosto
de 2010, que define a relação de doenças, agravos (dentre esses as violências) e eventos em
saúde pública de notificação compulsória.
Esses documentos refletem o significativo avanço que a violência alcançou no espaço
da Saúde Pública no Brasil, em virtude dos impactos e agravos causados.
Já na década de 1960, no Brasil, o número de mortalidades no quadro das causas
externas passa a serem vistos como de caráter relevante. As causas externas compreendem
todos os tipos de acidentes (E800-E949); suicídios (E950-E959); homicídios e lesões
intencionalmente infligidas (E960-969); intervenções legais (E970-E978); lesões resultantes
de operações de guerra (E990-E999); e lesões que se ignora se foram acidental ou
intencionalmente infligidas (E980-E989). (OPAS, 1993).
Cabe pontuar que os fatores econômicos, políticos e sociais são determinantes para o
aumento ou diminuição do fenômeno da violência. Nesse sentido Krug (2002) afirma que “a
violência é um fenômeno complexo, sendo a sua ocorrência determinada ou influenciada por
um conjunto de fatores que incluem características individuais, relacionais, comunitárias, e
sociais”. A estrutura social e as desigualdades evidenciadas através de taxas de desemprego,
baixa renda e analfabetismo; o difícil acesso aos serviços públicos, tais como hospitais,
escolas, e justiça; as precárias condições de vida e a alta densidade domiciliar; a ineficiência
das instituições de segurança pública e judiciais; o crescimento do mercado ilícito de drogas e
de organizações criminosas são fatores determinantes relacionados ao crescimento da
violência no Brasil.
A mortalidade e morbidade por causas externas no Brasil têm crescido
concebivelmente nos últimos anos. Em 1930, 2% (dois por cento) das mortes se deviam à
violência e a acidentes. Em 1980, esse percentual subia para 10,5% (dez e meio por cento),
seguido de 12,3% (doze vírgula três por cento), em 1988.
- 63 -
Os anos 1980 apresentou o maior crescimento no número de mortes violentas
chegando a 29% dos óbitos, perdendo apenas para as doenças do coração. De 1991 a 2000 o
número de mortos chegou a 1. 118. 651 (um milhão, cento e dezoito mil, seiscentos e
cinquenta e uma) pessoas. Dentre as quais 369. 068 (trezentas e sessenta e nove mil e sessenta
e oito) foram por homicídios, 62. 480 (sessenta e dois mil, quatrocentos e oitenta) por
suicídios e 309.212 (trezentas e nove mil, duzentas e doze) por acidentes e violências no
transito e nos transportes. (Minayo, 2005).
Cerca de 84% (oitenta e quatro por cento) de toda a mortalidade por acidentes e
violências em 2000, correspondendo à perda de 99.474 (noventa e nove mil, quatrocentas e
setenta e quatro) pessoas, ocorreram na população masculina. No grupo feminino, morreram
18.810 (dezoito mil, oitocentos e dez) vítimas, numa proporção de 15,9% (quinze vírgula
nove por cento). No ano 2000, chegaram aos serviços públicos de saúde 693.961 (seiscentos e
noventa e três, novecentos e sessenta e uma) pessoas buscando tratamento hospitalar para
lesões e traumas provenientes de acidentes e violências. Esses agravos ocuparam o 7o
(sétimo)
lugar no conjunto das internações. O custo médio de tratamento de pessoas feridas,
traumatizadas ou lesionadas por acidentes e violências foi de R$ 506,52 (quinhentos e seis
reais e cinquenta e dois centavos), bem acima dos R$ 403,38 (quatrocentos e três reais e trinta
e oito centavos), que correspondem ao custo médio das internações em geral. Isso mostra
como a violência contribui para o aumento do orçamento da saúde. (idem).
Dentre os agravos que tem contribuído para o aumento da mortalidade e da morbidade
por causas externas está o uso das armas de fogo. O uso de álcool e drogas, aliado ao aumento
das facções e crimes organizados influencia o cotidiano dos indivíduos e contribuem para a
grande magnitude da violência por armas de fogo na sociedade Brasileira que se repercute nos
corredores dos hospitais públicos do país. As internações por lesões devidas a armas de fogo
são muito expressivas, tendo tido um crescimento de 95% (noventa e cinco por cento) do
início para o final da década de 1990.
Em pesquisa realizada pelo Núcleo de estudos da violência da Universidade de são
Paulo (NEV/USP, 2004) sobre a violência por armas de fogo foi constatado que entre os anos
de 1990 a 2000 o número de mortes e lesões pelo uso de armas de fogo cresceu
consideravelmente, passando a ocupar o primeiro lugar entre as causas externas, superando as
mortes por acidentes de transito. Na relação entre gênero o número de vítimas é bem mais
expressivo entre os homens. Sendo que para cada óbito feminino são encontrados cerca de 12
(doze) óbitos masculinos. Esta diferença se amplia após a adolescência. A faixa etária das
- 64 -
vítimas ficou compreendido entre 5 (cinco) e 29 (vinte e nove) anos para a população do sexo
masculino. No contexto regional as regiões Nordeste e Sudeste, especialmente os estados do
Rio de Janeiro e Pernambuco foram os que mais contribuíram nas mortes por armas de fogo.
O capítulo seguinte vai trazer um aprofundamento da violência no estado do Rio
grande do Norte, a partir da análise dos coeficientes de morte e lesões por armas de fogo da
população atendida pelo Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.
- 65 -
4 - VIOLÊNCIA NO RN: VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HOSPITAL
MONSENHOR WALFREDO GURGEL
Este capítulo apresenta dados referentes às vítimas por armas de fogo que foram
atendidas no Hospital Walfredo Gurgel no 1º (primeiro) semestre de 2011. Em seguida faz o
levantamento do perfil socioeconômico dessas vítimas a partir dos números levantados por
meio da coleta de dados.
4.1 DADOS DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HMWG
No primeiro semestre de 2011 o número de vítimas por armas de fogo que deram
entrada no Hospital Walfredo Gurgel perfez um total de 383 (trezentos e oitenta e três)
atendimentos. Nesses estão incluídos internamentos e atendimentos de urgência. Nos meses
de janeiro e junho foram atendidas 72 (setenta e duas) pessoas atingidas por projétil de arma
de fogo. Fevereiro, março e abril registraram 54 (cinquenta e quatro), 74 (setenta e quatro) e
30 (trinta) atendimentos respectivamente. O mês de maio foi responsável pelo maior número
de atendimentos, 81 (oitenta e um).
Meses/2011
Nº de atendimentos
Janeiro
72 (setenta e dois)
Fevereiro
54 (cinquenta e quatro)
Março
74 (setenta e quatro)
Abril
30 (trinta)
Maio
81 (oitenta e um)
Junho
72 (setenta e dois)
Total
383 (trezentos e oitenta e três)
Tabela 2: Número de atendidos pelo HMWG vitimados por armas de fogo no 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Os dados referentes aos meses de jan. a jun. 2011, quantificados em números
percentuais correspondem a 19% (dezenove por cento), 14% (quatorze por cento), 19%
- 66 -
(dezenove por cento), 8% (oito por cento), 21% (vinte e um por cento) e 19% (dezenove por
cento) respectivamente. O mês de maio apresentou um aumento em relação aos demais meses.
Enquanto que em abril há uma queda no número de atendimentos. Podemos inferir que este
aumento e queda no número de atendimentos a pessoas vítimas por armas de fogo podem
estar ligados a eventos ocorridos nesse período. Como também, podem representar um
mascaramento da realidade social, uma vez que nem todos os casos, de vítimas por armas de
fogo, que são atendidos pelo Hospital são notificados, tendo em vista as limitações do sistema
de armazenagem de dados utilizado atualmente pelo Walfredo Gurgel.
Gráfico 1: Quantitativo (%) dos atendimentos as vítimas de armas de fogo no 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
4.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO
HMWG
Para caracterização do perfil das vítimas a coleta dos dados foi realizada no arquivo do
Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel por meio do levantamento de prontuários dos pacientes
vítimas de lesões por armas de fogo, atendidos no Hospital, no período de Jan./Jun. 2011.
Em virtude do grande número de prontuários, e tendo em vista que estes não estavam
separados por tipos de atendimento, mas sim por meses e em caixas com numeração, foram
escolhidas algumas dessas caixas para serem retiradas amostras que viessem a subsidiar a
construção do perfil das vítimas por armas de fogo atendidas no Walfredo Gurgel.
Nesse sentido foram utilizadas num total de 20 (vinte) caixas que continham uma
média de 15 a 20 prontuários. A partir desses prontuários foram preenchidos 28 roteiros. Estes
Jan. 19%
Fev. 14%
Mar. 19%
Abr. 8%
Maio 21%
Jun. 19%
Número (%) de atendimentos 1º Semestre 2011
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
- 67 -
foram distribuídos entre os 06 (seis) primeiros meses de 2011. Resultando na distribuição a
seguir
Meses Numero de Roteiros Preenchidos
Janeiro 05 (cinco)
Fevereiro 05 (cinco)
Março 03 (três)
Abril 05 (cinco)
Maio 06 (seis)
Junho 04 (quatro)
Tabela 3: Distribuição dos Roteiros por meses do 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
O roteiro foi estruturado de forma a identificar o perfil socioeconômico dos vitimados
por armas de fogo. Assim os itens contemplaram os seguintes temas: gênero; idade; local de
procedência, com o enquadramento dos bairros dentro da divisão administrativa de Natal e a
possível identificação de usuários provenientes do interior do Estado; grau de escolaridade;
renda do atendido; composição familiar.
A população atendida no Hospital Walfredo Gurgel vítimas de agressões ou lesões por
armas de fogo, no que concerne ao gênero é majoritariamente masculino (96%). Sendo 4%
(quatro por cento) dos atendimentos feito a mulheres. Ou seja, a cada 28 (vinte e oito)
atendimentos, apenas 1 (um) é feito as mulheres.
Os homens são os principais alvos do fenômeno da violência por armas de fogo. Tal
fato pode ser explicado pela maior inserção desse segmento na criminalidade expressa por
meio de facções criminosas que promovem a violência nos centros urbanos.
Outro fator a ser considerado é o determinante cultural. A sociedade burguesa em
geral é paternalista. E fomentam a ideia de que a figura masculina é provida de maior
liberdade em detrimento da feminina.
- 68 -
Tabela 4: Atendidos pelo HMWG Vitimados por Armas de Fogo no 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Gráfico 2: Atendimentos por Gênero no 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Em relação à faixa etária dos atendidos pelo serviço de urgência/emergência e
internamentos do Walfredo Gurgel, os pacientes com idade entre 18-25 anos foram mais
representativos perfazendo 33% (trinta e três por cento) dos atendimentos. Seguido dos
usuários com 26-30 anos sendo 21% (vinte e um por cento). E em terceiro aparece os
vitimizados na faixa de 12-17 anos com 18% (dezoito por cento) das ocorrências. Os que
compreendem a faixa dos 36-40 anos e 46-59 anos apresentaram um percentual de 11% (onze
por cento) dos atendimentos, respectivamente. Dos 31- 35 anos e 41- 45 anos foram
responsáveis por 3% (três por cento) dos casos registrados. Entre a faixa de idade que
compreende os menores de 12 (doze) anos e maiores de 60 (sessenta) anos não houve
ocorrências.
5 5
3
5
6
3
0 0 0 0 0
1
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.
Distribuição dos Atendimentos Por Armas de Fogo
segundo Gênero
Masculino Feminino
Meses/2011 Masculino Feminino
Janeiro 05 _
Fevereiro 05 _
Março 03 _
Abril 05 _
Maio 06 _
Junho 03 01
- 69 -
Idade
Meses
<12
anos
12-17
anos
18-25
anos
26-30
anos
31-35
anos
36-40
anos
41-45
anos
46-59
anos
>60
anos
Janeiro _ _ 03 02 _ _ _ _ _
Fevereiro _ 02 _ _ _ 02 _ 01 _
Março _ 01 _ 01 _ _ 01 _
Abril _ 01 03 01 _ _ _ _ _
Maio _ _ 01 03 _ 01 _ 01 _
Junho _ 01 02 _ _ _ 01 _ _
Total _ 05 09 06 01 03 01 03 _
Tabela 5: Distribuição dos atendimentos por idade
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
No gráfico a seguir podemos visualizar os jovens com destaque etário das vítimas por
armas de fogo, sobressaindo-se primeiro os jovens entre 18 e 25; segundo os de 26 a 30 anos e
em 3º (terceiro) lugar os jovens de 12 a 17 anos.
Gráfico 3: Atendimentos por idade 1º Semestre 2011.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
No que diz respeito ao local de procedência dos pacientes atendidos estes são em sua
maioria da cidade do Natal com maior representatividade dos bairros da zona Oeste, seguido
das Zonas Leste, Norte e Sul. Apareceram também atendimentos a pacientes de alguns
municípios do interior do Estado.
0%
18%
33% 21%
3%
11%
3% 11%
0% Atendimentos por Faixa Etária(%)
<12 anos
12-17 anos 18-25 anos 26-30 anos 31-35 anos 36-40 anos 41-45 anos 46-59 anos >60 anos
- 70 -
Dentre os bairros da zona oeste com maior número de vítimas por armas de fogo
atendidas pelo HMWG estão Planalto, Felipe Camarão, Quintas, Bom Pastor e Dix. Sept.
Rosado. Na zona administrativa leste da capital o bairro das Rocas; Praia do Meio e Mãe
Luiza, aparecem como os principais locais de procedência dos atendidos por armas de fogo.
Lagoa Azul; Pajuçara e Loteamento Cidade Praia, que está dentro do Bairro de Lagoa Azul,
são os bairros da zona norte com maior número de atendidos. A zona sul de Natal teve como
representação apenas o bairro da Candelária.
Em relação aos municípios do interior do Estado, com exceção de Mossoró e Tangará
os demais fazem parte da RMN. São eles: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante,
Ceará-Mirim e São José de Mipibu.
Cabe ressaltar que os municípios de Mossoró e Tangará possuem hospitais regionais.
Em Mossoró há 2 (dois): Hospital Rafael Fernandes e Hospital Regional Dr. Tarcísio Maia. A
população de Tangará é coberta pelo Hospital Aluísio Beserra, localizado no município de
Santa Cruz. Conforme ilustrado na Tabela 1.
Esses Hospitais, como já relatado em capítulos anteriores, possuem estrutura para o
atendimento de média complexidade. Apesar disso a demanda de regiões do interior do estado
para o HMWG ainda é bem expressiva. Isso pode ser explicado pela cultura já internalizada
no cidadão rio-grandense que subjetivamente ver r o complexo Hospitalar Walfredo Gurgel
como um “resolve tudo”. Onde todas as enfermidades podem ser curadas, independentes do
grau de complexidade.
Meses Zona Norte Zona Sul Zona Leste Zona
Oeste
Interior
Janeiro
_
_
Rocas Cidade da
Esperança
Macaíba
Parnamirim
Tangará
Fevereiro
_
_
Rocas
Planalto Parnamirim
Praia do
Meio
São José de
Mipibu
Março
_
_
Mãe Luiza Planalto Cidade
Verde
(Nova
Parnamirim)
Abril
_
_
Rocas
Felipe
Camarão
(02)
Mossoró
Mãe Luiza
Maio Lagoa Azul
Candelária
_
Dix. Sept.
Rosado
São Gonçalo
do
- 71 -
Pajuçara
Planalto
Amarante
Junho Cidade
Praia
_
_
Quintas
Ceará-
Mirim
Bom
Pastor Tabela 6: Distribuição dos atendimentos por local de procedência (Bairros e Municípios).Fonte: Arquivo do
Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
A seguir, gráficos demonstrativos da procedência dos pacientes vítimas por armas de
fogo, na cidade de Natal/RN quanto às regiões administrativas com maior incidência, nas
zonas administrativas Oeste e Leste.
Gráfico 4: Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Oeste.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Gráfico 5: Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Leste.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Quanto à escolaridade registrou-se uma queda na proporção de pacientes não
alfabetizados. A maioria dos usuários atendidos pelo Hospital possui ensino fundamental
incompleto, perfazendo um total de 70% (setenta por cento). 11% (onze por cento) dos
0
0.5
1
1.5
2
2.5
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Bairros da Zona Oeste
Cidade da Esperança Planalto
Felipe Camarão Dix. Sept. Rosado
Quintas Bom Pastor
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.
Bairros da Zona Leste
Rocas
Praia do
Meio
Mãe Luiza
- 72 -
pacientes tinham concluído o ensino fundamental. Seguido de 11% (onze por cento) com
nível médio completo; e 8% (oito por cento) que não concluíram o ensino médio. Em relação
ao nível superior nenhum caso foi registrado.
Essa realidade evidencia claramente a política educacional do nosso país em que o
ensino básico é priorizado em detrimento dos demais. Ou seja, é perceptível a falta de
interesse dos nossos governantes em formar uma população com consciência política. O que
tem sido observado é apenas um esforço no sentido de diminuir o número de não
alfabetizados visando à inserção do Brasil no grupo dos países com baixos indicies de
analfabetismo e consequentemente no rol dos desenvolvidos.
Meses
Grau de Escolaridade
Não
Alfabetizado
Ensino
Fund.
Comp.
Ensino
Fund.
Incomp.
Ensino
Médio
Comp.
Ensino
Médio
Incomp.
Superior
Janeiro _ 01 03 01 _ _
Fevereiro _ _ 05 _ _ _
Março _ 02 _ 01 _
Abril _ 01 04 _ _ _
Maio _ 01 02 02 01 _
Junho _ _ 04 _ _ _
Total _ 03 20 03 02 _
Tabela 7: Distribuição dos pacientes atendidos por Grau de Escolaridade.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
Sem pensarmos de forma reducionista, também poderemos nos questionar como a
escolaridade pode contribuir para a construção de uma cultura de paz. Observa-se em outras
pesquisas que quanto maior a escolaridade, maior a inserção no mercado de trabalho e quanto
menor a escolaridade, mais precarizada as formas de inserção, segregação ou atuação em
processos econômicos à margem da lei.
- 73 -
Gráfico 6: Atendimentos por Grau de Escolaridade.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
A renda da população vítima por armas de fogo que deram entrada no hospital
Walfredo Gurgel é obtida, em sua maioria, a partir de trabalhos informais que geram um valor
de até 1 (um) salário mínimo. Foram registradas 61% (sessenta e uma) pessoas com esse
montante. Aparecendo como principais ocupações: pedreiro, pintor, pescador, vidraceiro,
agricultor, carroceiro, garçonete. A maioria destes atua no mercado de trabalho informal,
como autônomos. Nestes relacionamos à baixa escolaridade como limitadora de acesso à
outras profissões/ocupações.
Os pacientes que apresentaram uma renda mensal de 2 (dois) salários mínimos
perfizeram um total de 11% (onze por cento). Não havendo registro de pessoas com 3 (três)
ou mais salários mínimos de renda.
No que diz respeito aos usuários atendidos que não possuíam qualquer tipo de renda,
os números foram bastante expressivos: 28% (vinte e oito por cento). Esses números refletem
o processo de desregulamentação do mercado e das relações de trabalho no Brasil que tem se
evidenciado nas últimas décadas caracterizado pela regressão dos direitos trabalhistas,
flexibilidade salarial, do emprego, técnico organizacional e do tempo de trabalho.
Esse processo tende a gerar um aumento na taxa de desemprego, bem como contribui
para o crescimento dos trabalhos informais que deixam o trabalhador desprovido de qualquer
tipo de garantia trabalhista. Além de acentuar as características da exclusão social e
econômica no país.
0%
11%
70%
11%
8%
0%
Atendimentos por Grau de Escolaridade (%)
Não Alfabetizado
Ensino Fund. Comp.
Ensino Fund. Incomp.
Ensino Médio Comp.
Ensino Médio Incomp.
Superior
- 74 -
Meses
Renda
Até 1 SM 2 SM 3 ou Mais
SM
Sem renda
Janeiro 04 _ 01
Fevereiro 04 _ 01
Março 03 _ _ _
Abril 02 _ _ 03
Maio 02 03 _ 01
Junho 02 _ _ 02
Total 17 03 _ 08
Tabela 8: Distribuição dos pacientes atendidos segundo a renda.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
A pesquisa mostrou que a maioria da população atendida vítima de projétil por armas
de fogo reside com os pais. Isso pode ser explicado a partir da faixa etária predominante que
se encontra na média dos 18-25 (dezoito aos vinte e cinco).
A população que reside com companheiros (as) e filhos aparece em segundo lugar no
número de atendimento. Os que residem sozinho somaram 2 (dois) casos. Houve 1 (um)
registro de convivência com os avós.
Meses
Composição Familiar
Reside
Sozinho
Com os
Pais
Com
Companheiro
(a) e filhos
Com os
avós
Outros
Parentes
Janeiro _ 04 01 _ _
Fevereiro 01 03 01 _ _
Março _ _ 03 _ _
Abril 03 02 _ _
Maio 01 03 02 _ _
Junho _ 02 01 01 _
Total 02 15 10 01 _
Tabela 9: Composição Familiar dos pacientes atendidos.
Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.
A composição familiar levantada a partir dos dados coletados nos permite afirmar
que a família brasileira ainda é composta em sua maioria pelo modelo pai/mãe/filhos. E que o
grande número de homens vitimados por armas de fogo se dar principalmente em virtude
- 75 -
desse perfil. Pois a figura masculina dentro do ambiente familiar tem a função social de
manter ou prover o sustento daqueles que dele dependem.
O mercado de trabalho para esses homens não apresenta muitas possibilidades de
subsistência aquém do já instituído. Diante disso muitos homens procuram maneiras mais
“fáceis” de ter a sua necessidade e de seus familiares providas. Assim são empurrados ao
mundo da criminalidade e do trafico que lhes garante melhores “oportunidades” de
crescimento social e econômico.
Uma vez que as ações do Estado são pouco abrangentes no que diz respeito à família
da classe trabalhadora.
- 76 -
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade social é multifacetada e dinâmica e uma simples descrição de fatos
ocorridos não representa a totalidade, sendo necessário a partir do método dialético buscar a
constituição socio-histórica deste processo.
Assim a análise de conjuntura é um instrumento essencial que nos permite
compreender as inter-relações das partes que constituem o todo. E a partir dela buscam-se
identificar a estrutura e superestrutura, em suas esferas econômicas, políticas e sociais, da
sociedade. Constituindo-se enquanto determinantes para a maior incidência da violência.
Nesse sentido o fenômeno da violência é constituinte do modo de produção capitalista.
A produção e reprodução das condições materiais e imateriais de vida são definidas a partir
das forças produtivas e das relações sociais de produção. Estas são expressas pelo conjunto
das relações econômicas que se estabelecem entre as classes sociais. Enquanto que as forças
produtivas formam a base material e técnica da sociedade (infraestrutura econômica).
No modo de produção capitalista há uma separação entre as classes sociais. Em que os
proprietários são os detentores dos meios de produção e os trabalhadores detém a força de
trabalho. Estes vendem sua força de trabalho como forma de garantir os meios necessários a
sua subsistência. A produção capitalista volta-se para a obtenção do lucro e deixa em segundo
plano o atendimento das necessidades sociais de moradia, alimentação, educação, saúde,
emprego, segurança, entre outras. O não atendimento dessas necessidades tende a gerar um
número maior de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
A estrutura política e os sistemas econômico e social aumentam a vulnerabilidade
dos países à violência. Desigualdade e exclusão sociais, desemprego, regime político
e eficácia das instituições governamentais e de segurança pública são alguns dos
fatores que, do ponto de vista macroestrutural, favorecem o desenvolvimento da
violência. O modo como esses determinantes são atualizados e expressos no
cotidiano exemplificam os fatores conjunturais: aumento da criminalidade urbana,
da delinquência juvenil, do crime organizado e da prostituição infantil, entre outros.
São favorecidos por contextos marcados pela desigualdade social e impunidade e,
por sua vez, favorecem a escala da violência em contextos específicos.
Recentemente vem sendo dada importância aos fatores culturais e individuais que
atuam como determinantes do comportamento violento, tais como atitudes,
comportamentos e normas, padrões de relação familiar e de gênero, uso de drogas e
álcool, entre outros. (PERES, 2002, p. 54).
A violência enquanto processo social gestado no seio da sociedade capitalista não é
reflexo da natureza humana, nem tampouco está ligada a determinantes biológicos e
psicológicos. Sua dinâmica passa pela compreensão dos fatores políticos, econômicos, sociais
- 77 -
e culturais que incidem de forma direta nas relações sociais. Ela se constitui como expressão
da questão social, resultante da desigualdade e exclusão social promovida pelo modelo de
sociabilidade vigente.
Ela se apresenta de forma heterogênea e multifacetada, atingindo diferentes segmentos
sociais (homens, mulheres, crianças, idosos, entre outros) e classes sociais diversas (ricos,
milionários, pobres, miseráveis). Mas ao falarmos da violência por armas de fogo essa
assertiva sofre algumas alterações.
Por meio da coleta de dados realizada no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
depreendeu-se que a violência por armas de fogo, enquanto expressão da questão social é
bastante expressiva na área da saúde. Com 383 (trezentos e oitenta e três) casos registrados
apenas no 1º (primeiro) semestre 2011 (dois mil e onze).
O perfil socioeconômico dos atendidos vitimados por armas de fogo reflete as
condições de miséria, exploração e opressão vivenciadas pela classe subalterna. Que se
encontra desprovida do acesso a direitos sociais básicos, previstos na Constituição, mas que
não se efetivam na realidade social da população.
Estes consistem em sua maioria em homens na faixa etária dos 18-25 (dos dezoito aos
vinte e cinco) anos e 26-30 (vinte seis aos trinta) anos; com grau de escolaridade mínimo
(ensino fundamental incompleto); residentes em bairros periféricos da Zona Leste e Oeste da
capital; não estão inseridos no mercado de trabalho formal, atuando de forma autônoma em
funções precarizadas que lhes garantem uma renda de até 1 (um) salário mínimo mensal.
A questão social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel se materializa por meio da
população vítima por armas de fogo através da sua condição de sujeitos que tem seus direitos
sociais violados cotidianamente. Essa violação se dar por meio do desemprego e das
condições de trabalho precárias; da ausência de uma educação pública de qualidade; da falta
de esgotamento e saneamento; do não policiamento efetivo, que contribui para a propagação
da criminalidade e das facções.
Esses dados expressam a precarização das ações do Estado através da insuficiência das
políticas públicas sociais em atender a real demanda da população que se encontra sequelada
pelas mazelas da questão social.
O Estado não intervém de forma satisfatória na esfera social de forma a assistir e
minimizar os riscos de vulnerabilidade social desse segmento. O que se observa é uma
desresponsabilização do poder público em relação social. O Estado atuando apenas por meio
- 78 -
de concessões visando manter a hegemonia. E nesse jogo de poder, os mais prejudicados são
os da classe trabalhadora.
As políticas sociais enquanto resposta do Estado à questão social e suas expressões
tornam-se cada vez mais fragmentadas, focalizadas e privatizadas. O que por sua vez, tende a
acentuar os níveis de miséria e exploração.
Nesse terreno tensionado pela correlação de forças atua o assistente social na área da
saúde, mas precisamente no Hospital Walfredo Gurgel. Onde diariamente são confrontados
pela questão social e suas expressões, provenientes do capitalismo.
O desafio está posto ao Serviço Social ante a violência por armas de fogo: articular às
ações assistenciais o trabalho em rede visando garantir o acesso dos usuários às demais
políticas públicas. A categoria precisa enfrentar essa problemática de forma a não cair numa
postura messiânica, pois é fato que nenhuma profissão sozinha poderá responder as questões
estruturais da sociedade capitalista, uma vez que todas essas problemáticas estão para além
das intervenções profissionais. Como também não deve assumir uma postura fatalista, que
tende a acomodação.
Isso nos leva a concluir que a oferta de serviços e as ações realizadas pelo Estado e
mediadas via Serviço Social contribui para amenizar as expressões da questão social no que
diz respeito aos vitimados pela violência por armas de fogo. Porém se deter apenas a isso é
contribuir para a perpetuação do quadro vigente.
Em sumula a superação da questão social e suas expressões na saúde e na sociedade
em geral só poderão ocorrer com a superação do modo de produção capitalista.
Nesse processo é extremamente importante o reconhecimento do Código de Ética
profissional e o Projeto Ético-Político como instrumentos que norteiam o exercício
profissional de modo a não cair no pragmatismo.
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APÊNDICE
ROTEIRO PARA COLETA DE DADOS
Instituição: Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
Título: A Questão Social no HMWG: um olhar sobre as vítimas por armas de fogo
INFORMAÇÕES DO PACIENTE
Nome: __________________________________________________________
Sexo
Feminino ( ) Masculino ( )
Idade:
< 12 anos ( ) 12-17 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) 36-40 anos ( )
41-45 anos ( ) 46-59 ( ) > 60 anos ( )
Local de Moradia (bairro): ___________________________
Zona Sul ( ) Zona Norte ( ) Zona Oeste ( ) Zona Leste ( ) Interior ( )
Município: ______________________
Grau de Escolaridade
Não alfabetizado ( ) Fund. compl. ( ) Fund. Incompl. ( )
Ensino Médio Compl. ( ) Ensino Médio Incompl. ( ) Superior ( )
Renda
até 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3 ou mais SM ( ) sem renda ( )
Composição Familiar
reside sozinho ( ) com os pais ( ) com companheiro (a) e filhos ( )
com os avós ( ) outros parentes ( )