86
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JOSELY DE SENA DOS SANTOS A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo. NATAL/RN 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

  • Upload
    vokien

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JOSELY DE SENA DOS SANTOS

A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um

Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.

NATAL/RN

2012

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

JOSELY DE SENA DOS SANTOS

A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um

Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.

Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para

obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientador: Prof.ª Jussara Keilla Batista do Nascimento.

NATAL/RN

2012

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

FICHA CATALOGRÁFICA

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

JOSELY DE SENA DOS SANTOS

A QUESTÃO SOCIAL NO HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL: Um

Olhar Sobre as Vítimas Por Armas de Fogo.

Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, submetida à aprovação da banca examinadora composta

pelos seguintes membros:

____________________________________________

Prof. Orientador: Jussara Keilla Batista do Nascimento

____________________________________________

Prof. Dr. Dalva Horácio da Costa

____________________________________________

Geralda Dias de Medeiros

Assistente Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

Natal, 25 de Junho de 2012.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

Dedico este trabalho a trindade santíssima (pai, filho e Espírito Santo)

que no decorrer de toda a minha vida, em específico na minha

vivencia acadêmica, estiveram ao meu lado me orientando, ajudando e

cuidando de forma muito especial.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

AGRADECIMENTOS

Á Deus, dono e doador de todo conhecimento e sabedoria, pela sua grandiosa

fidelidade em minha vida. Pois sua palavra não falha e suas promessas são fiéis e verdadeiras.

Recordo-me das promessas feitas a mim no Círculo de Oração de Mocidade em minha igreja,

em que por meio de uma serva sua me falou dizendo que iria realizar o desejo do meu

coração. E naquele momento o maior desejo do meu coração era ingressar em uma

Universidade. Após dois anos meu amado Pai cumpriu com a sua palavra. Fui aprovada no

vestibular para cursar Serviço Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Louvo e agradeço ao meu Jesus por sua presença constante nos momentos mais

tenebrosos e hostis, assim como nos momentos de bonança e alegria.

Ao amado Espírito Santo, meu grande orientador e consolador, presente em meu viver,

real em cada bênção rebebida.

Á minha família, em especial meus pais, que me superabundaram com seu amor,

carinho e cuidado. Minha querida mãe, Maria da Conceição de Sena dos Santos que tanto

prezo e amo, sempre presente ao meu lado, e intercedendo por mim em suas orações. Meu

pai, João Lima dos Santos, muito amado, pelo seu cuidado.

À meu noivo Jefferson Bruno G. da Cunha pelo seu companheirismo e pelo o amor

dedicado a mim. Pelas palavras de carinho e atenção. Pelo apoio dado por meio de cada

atitude. Obrigada amor por cada palavra dita no momento certo.

Aos amigos e colegas, que direta e indiretamente colaboraram para que esse sonho se

concretizasse. Em especial a minha querida amiga Marcella Renata dos Santos Filipe, com a

qual pude contar nos momentos de dificuldades de vida acadêmica e secular.

À Professora Jussara Keila do Nascimento, orientadora de TCC, pela sua

disponibilidade, paciência e dedicação.

À todo corpo docente e coordenadores do curso, pelo empenho e contribuição na

minha formação acadêmica e profissional.

Enfim, agradeço a todos eu estiveram ao meu lado, de forma direta e indireta, no

decorrer dos quatro anos de curso.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou o

coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que O

amam." (I Coríntios 2.9).

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

RESUMO

A Questão Social enquanto expressão das desigualdades sociais provenientes das contradições

inerentes ao modo de produção capitalista está presente nos diversos espaços ocupacionais do

assistente social. Nesses espaços ela se materializa através das demandas postas a esses

profissionais. No campo ocupacional da saúde a Questão Social é percebida como resultante

de determinantes sociais, políticos e econômicos que incidem de forma direta na realidade

social dos usuários. A violência em todos os seus aspectos, tem ganhado maior visibilidade na

saúde pública em decorrência dos números crescentes de pacientes atendidos vitimados pela

violência, com destaque para as lesões e fraturas causadas por armas de fogo. No Hospital

Monsenhor Walfredo Gurgel a violência por armas de fogo é responsável por um número

considerável de atendimentos. Nesse sentido essa monografia teve por objetivo identificar a

Questão Social no HMWG a partir da realidade social dos atendidos vitimados por projétil de

armas de fogo. Para tanto foi realizada uma coleta de dados a partir dos prontuários de

pacientes que foram atendidos no Walfredo Gurgel no período do 1º semestre de 2011. Esses

dados revelaram que a violência por armas de fogo enquanto expressão da Questão Social na

saúde atinge principalmente homens em idade produtiva, com nível mínimo de escolaridade,

provenientes de bairros periféricos de Natal, que em sua maioria residem com os pais. O perfil

socioeconômico dos atendidos mostra que a realidade social desses sujeitos é permeada por

contradições que só poderão ser superadas a partir da instituição de um novo modelo de

sociabilidade.

Palavras-Chave: Questão Social. Violência por armas de fogo. Saúde.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

ABSTRACT

The Social Matter while expression of the social inequalities coming of the inherent

contradictions to the way of capitalist production is present in the social worker's several

occupational spaces. In these spaces she materializes through the demands puts to these

professional. In the occupational field of the health the Social Matter is realized as resultant of

social, political and economic determinants that happen of direct form in fact social of the

users. The violence in all of their aspects, it has been wining larger visibility in the public

health due to the increasing numbers of attended patients victimized by the violence, with

highlight for the lesions and fractures caused by firearms. In hospital Monsignor Walfredo

Gurgel the violence for firearms is responsible for a considerable number of assistances. In

this sense this monograph had for goal identify the Social Matter in HMWG from the social

reality of the attended victimized by firearms projectile. For so much was accomplished a data

collection from records of patient that were attended in Walfredo Gurgel in the period of the

1st semester of 2011. These data revealed that the violence for firearms while expression of

the Social Matter in the health reaches mostly men in productive age, with minimum level of

education, coming of peripheric districts on Christmas, who in its majority reside with the

parents. The profile socioeconomic of the attended exhibition that the social reality of these

subject is permeated by contradictions that only will be able to be overcome from the

institution of a sociability new model.

Key-Words: Social Matter. Violence by firearms. Health.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 Quantitativo (%) dos atendimentos a vítimas de armas de fogo

no 1º Semestre 2011

66

Gráfico 2 Atendimentos por Gênero no 1º Semestre 2011 68

Gráfico 3 Atendimentos por idade 1º Semestre 2011 69

Gráfico 4 Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Oeste 71

Gráfico 5 Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Leste 71

Gráfico 6 Atendimentos por Grau de Escolaridade 73

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Hospitais do RN por Macrorregiões 30

Tabela 2 Número de atendidos pelo HMWG vitimados por armas de

fogo no 1º Semestre 2011.

65

Tabela 3 Distribuição dos Roteiros por meses do 1º Semestre 2011 67

Tabela 4 Número de Atendidos pelo HMWG Vitimados por Armas de

Fogo no 1º Semestre 2011

68

Tabela 5 Distribuição dos atendimentos por idade 69

Tabela 6 Distribuição dos Atendimentos por Local de Procedência

(Bairros e Municípios)

70

Tabela 7 Distribuição dos Atendimentos por Grau de Escolaridade

Jan./Jun. 2011

72

Tabela 8 Distribuição dos Pacientes Atendidos Segundo a Renda 74

Tabela 9 Composição familiar dos Pacientes Atendidos 74

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

LISTA DE SIGLAS

AMB Associação Brasileira de Medicina

AMH Associações Médicas de Hospitais

CAPS Caixas de Aposentadorias e Pensões

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CID Classificação Internacional de Doenças

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CNS Conferência Nacional de Saúde

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

CRO Centro de Recuperação pós Operatório

CTQ Centro de Tratamento de Queimados

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ESF Estratégia Saúde da Família

HMWG Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência e

Assistência Social

IAPS Instituto de Aposentadorias e Pensões

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência

Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

LOS Lei Orgânica da Saúde

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

MEC Ministério da Educação

NEV/USP Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São

Paulo

NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde

NOB Norma Operacional Básica

OMS Organização Mundial da Saúde

ONGs Organizações Não Governamentais

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

PID Programa de Internação Domiciliar

PSCS Pronto Socorro Clóvis Sarinho

RMN Região Metropolitana de Natal

SESAP/RN Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte

SINPAS Sistema nacional de Previdência e Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UGV Unidade de Gerenciamento de Vagas

UTI Unidade de Terapia Intensiva

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 15

2. SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 20

2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL 20

2.2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO NORTE 28

2.3 A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE:

ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS

35

2.3.1 O Serviço Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel 40

3. QUESTÃO SOCIAL E SAÚDE: A VIOLÊNCIA COMO

EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

48

3.1 QUESTÃO SOCIAL E VIOLÊNCIA 48

3.2 A VIOLÊNCIA E SEUS REBATIMENTOS NA SAÚDE PÚBLICA 58

4. VIOLÊNCIA NO RN: VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO

HOSPITAL MONSENHOR WALFREDO GURGEL

65

4.1 DADOS DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HMWG 65

4.2 PERFIL SOCIOECONOMICO DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE

FOGO NO HMWG

65

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 76

REFERENCIAS 79

APÊNDICE 86

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 15 -

1. INTRODUÇÃO

O Serviço Social tem como elemento fundante da profissão, a questão social, uma vez

que seus profissionais atuam na execução das políticas sociais, que se constituem em

respostas às diversas expressões da questão social que são fruto do modelo de sociedade

capitalista.

Na contemporaneidade, a questão social tem passado por um aprofundamento, bem

como ganhado novas configurações, que consequentemente tem contribuído para o aumento

de demandas no cotidiano profissional dos assistentes sociais.

Essa categoria é vista sob diferentes visões, como a tese que afirma existir uma nova

questão social, defendida por autores como Castel (1999), que considera as mudanças nos

fatores econômicos, sociais e políticos da contemporaneidade, como determinantes para

legitimar sua afirmação.

Mas para efeitos deste trabalho, será considerado o pensamento de Netto (2001)

Iamamoto (2001), Yasbeck (2001) entre outros autores que compartilham a ideia de que a

questão social continua sendo expressões de velhas mazelas do capitalismo que na

contemporaneidade tem se revestido de novas roupagens e de forma agudizada.

Esse processo de agudização da questão social, face às novas formas de exploração do

capitalismo, se dar de forma mais complexa nos países periféricos, como o Brasil, onde há um

aprofundamento das questões sócias promovidas pelas desigualdades econômicas, sociais,

políticas e culturais.

Diante do aprofundamento da questão social, o assistente social é posto

cotidianamente a limites e desafios de intervenção, que exigem deles um reconhecimento da

realidade social, principalmente no que diz respeito à instituição em que atuam.

Os campos ocupacionais do assistente social em suas diversas áreas são também

campo de inserção da questão social, sendo essas traduzidas por meio das demandas que se

apresentam ao profissional.

No cotidiano dos serviços de saúde em geral, as manifestações da questão social são

parte do cotidiano. Pois todas as sequelas advindas das más condições de vida decorrente da

falta ou precarização do trabalho, renda, moradia, alimentação, educação, água, saneamento,

entre outros, tendem a criar grande número de pessoas miseráveis, empobrecidas,

desinformadas, famintas e doentes que buscam os serviços de saúde, e trazem consigo

necessidades provenientes de um modo de produção que explora cotidianamente.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 16 -

Nesse sentido, é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

Monsenhor Walfredo Gurgel, com um olhar sobre as vítimas por armas de fogo.

A questão social foi constituída em torno das transformações econômicas, políticas e

sociais ocorridas na Europa do Século XIX, devidas à industrialização. Inicialmente essa

questão foi levantada quando com a tomada de consciência da sociedade, ou parte dela, dos

problemas decorrentes do trabalho urbano e da pauperização como fenômeno social. Hoje a

“questão social” é a expressão das desigualdades e lutas sociais em suas múltiplas

manifestações e todos os segmentos sociais envolvidos (trabalhadores e desprotegidos) são

heterogêneos.

Segundo Pereira (2003, p. 19) “os graves desafios atuais são produtos da mesma

contradição entre capital e trabalho, que gerou a questão social no século XIX, mas que

contemporaneamente, assumiram enormes proporções e não foram suficientemente

problematizadas”.

Desse modo, pode-se afirmar que a questão social só se torna “questão social” quando

ela é problematizada por algum setor da sociedade com o objetivo de enfrentá-la e de

transformá-la em demanda política, no sentido de resolver o problema.

Assim entende-se que a questão social é a contradição entre capital e trabalho. E as

consequências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: desemprego,

analfabetismo, fome, falta de moradia, violência, entre outros.

A violência enquanto expressão da questão social é um dos grandes desafios da

atualidade. Enquanto recorte do social, perpassa o cotidiano de todos de forma atordoante,

sendo necessário buscar novos parâmetros para sua compreensão e enfrentamento. A

violência possui ligações profundas com a desigualdade entre as classes e a exclusão social,

dessa forma, seu enfrentamento não pode eximir-se da melhoria do sistema de proteção social,

do fortalecimento das políticas sociais e da garantia de direitos.

O relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2002, considera a

violência como um problema mundial de saúde pública. Os dados apontados no estudo são

assustadores, pois indicam que anualmente um milhão de pessoas no mundo perde suas vidas

e outras sofrem lesões não fatais, vítimas de diferentes modalidades de violência. Nesse

sentido, a OMS define a violência da seguinte forma: “Uso intencional da força física ou do

poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma

comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano

psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 17 -

O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, referência no atendimento de urgência pelo

SUS no Rio Grande do Norte, é o único hospital público da região metropolitana de Natal

(RMN) que conta com serviços de queimados, ortopedia, neurologia e neurocirurgia.

Para atender a grande demanda de pacientes oriundos de todo o Estado, o complexo

hospitalar formado pelo Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e Pronto Socorro

Clóvis Sarinho (PSCS), possui 264 leitos, destinados ao atendimento de diversas

especialidades. Dos 264 leitos presentes nos complexo hospitalar, 62 estão no Pronto Socorro

Clóvis Sarinho, sendo 19 na UTI geral, 7 na UTI pediátrica, 9 no Centro de Recuperação de

Operados, 20 na Unidade Semi-intensiva, 6 no setor de Politrauma e 6 na pediatria. Os demais

leitos estão distribuídos no Hospital Walfredo Gurgel nos setores de tratamento de queimados

(CTQ), UTI Cardiológica, Centro de Recuperação pós-operatório (CRO) e enfermarias,

destinadas ao tratamento de pacientes da neurocirurgia, neurologia, clínica médica, clínica

cirúrgica, vascular, ortopedia, nefrologia e hematologia. As enfermarias são distribuídas por

andares e especialidades médicas. No primeiro andar ficam os pacientes do Centro de

Tratamento de Queimados (CTQ) e da Unidade de Tratamento Intensivo Cardiológico (UTI);

No segundo ficam internados os pacientes da especialidade vascular e da neurocirurgia; No

terceiro andar tem pacientes da vascular, da cardiologia e amputados; no quarto e quinto andar

está os pacientes da cirurgia clínica, da ortopedia, da nefrologia, da hematologia e da

cardiologia.

O Hospital Walfredo Gurgel, enquanto parte da área da saúde, se constitui em espaço

de expressão da questão social, que se coloca em seus mais variados aspectos. Nesse sentido

Minayo (1986) demonstra o distanciamento existente entre a concepção de saúde enunciada

pela VIII Conferência Nacional de saúde e a realidade vivenciada pela maioria da população

brasileira.

Segundo Minayo (1986) a saúde resulta das condições de alimentação, no entanto

existem milhões de famintos no país; a saúde é resultante das condições de habitação, mas

dados indicam que menos da metade da população tem acesso a moradia digna; a saúde

resulta das condições de educação, entretanto mais de 15% (quinze por cento) da população

do nordeste acima de 15 anos são analfabetas; a saúde é resultante do nível de renda, e no

entanto mais de 20% (quinze por cento) dos nordestinos não possuem rendimento; a saúde

resulta do trabalho, mas milhões estão desempregados; a saúde resulta do acesso e posse da

terra, entretanto os conflitos por terra de alongam no decorrer dos anos.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 18 -

Diariamente o hospital recebe pacientes vítimas de todo tipo de lesões. Dentre as mais

expressivas está o número de acolhidos vitimados por projétil de arma de fogo. Os

determinantes sociais, econômicos, políticos e culturais são imprescindíveis no processo de

saúde-doença. As condições precárias de vida do povo brasileiro tendem a criar demandas de

atenção à saúde.

Essas manifestações da questão social fazem parte do cotidiano dos serviços de saúde

em geral, inclusive no HMWG, que se traduz em demandas para o setor de saúde. Neste

sentido se justifica investigar o fenômeno da violência por armas de fogo.

Assim essa monografia tem por objetivo geral identificar como se expressa a questão

social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel no acometimento das vítimas por armas de

fogo. Sendo os objetivos específicos: contextualizar as questões de saúde como expressão da

questão social; levantar o perfil socioeconômico das vítimas por armas de fogo do Hospital

Monsenhor Walfredo Gurgel; identificar as principais causas dos ferimentos por armas de

fogo dos pacientes do HMWG e fazer uma estatística com o número de vítimas no período de

janeiro a junho de 2011.

Essa pesquisa é de natureza explicativa, mas também apresenta características

descritivas e exploratórias. A população pesquisada consiste em pacientes que deram entrada

no HMWG vítimas de arma de fogo. Para tanto foi utilizado os métodos

quantitativo/qualitativo devido à necessidade de se mostrar em gráficos os resultados obtidos

da estatística com os números das vítimas num determinado período, seguido do perfil

socioeconômico destes. Foram utilizados como ferramentas para esses métodos roteiros para

coleta de dados estruturado de forma a contemplar algumas categorias, tais como: gênero,

idade, local de moradia, grau de escolaridade, renda e composição familiar. Como

complementação as contribuições do método qualitativo foram utilizadas a pesquisa

bibliográfica baseada em livros, revistas e sites relacionados com o tema, bem como pesquisa

documental.

A base teórico-metodológica da pesquisa é o método dialético, uma vez que este

“fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade” (GIL, 1999, p.

32). A aplicação da lógica dialética permite reconhecer a especificidade histórica, a

construção e compreensão social dos fenômenos existentes, assim como permite, através de

análise crítica das contradições existentes na sociedade, criar estratégias que visem agir de

forma coerente sobre a mesma. Ou seja, foi utilizado o referencial teórico-metodológico

crítico-analítico para análise dos fenômenos.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 19 -

A monografia está estruturada em 3 (três) capítulos. O 1º (primeiro) aborda o Serviço

Social e Saúde a partir da Política de Saúde no Brasil e Rio Grande do Norte, fazendo uma

relação com a trajetória do Serviço Social na saúde delimitando suas atribuições e

competências, partindo da análise da profissão no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.

O 2º (segundo) capítulo traz uma discussão concernente à questão social e saúde: a

violência como expressão da questão social. Nele são abordadas as categorias sociais questão

social e violência. Em seguida são apresentados os principais rebatimentos do fenômeno da

violência na Saúde Pública.

O 3º (terceiro) capítulo trata da violência no RN: vítimas por armas de fogo no

Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Onde a partir de dados coletados na instituição é

construído o perfil socioeconômico dos pacientes vítimas de lesões por armas de fogo.

As considerações finais analisa o perfil socioeconômico dos atendidos a partir da

conjuntura social. Visando compreender a totalidade do fenômeno da violência por armas de

fogo. E os possíveis enfrentamentos, com vistas a minimizar os riscos sociais da população,

por parte do Serviço Social.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 20 -

2 – SERVIÇOSSOCIAL E SAÚDE

Este capitulo traz um discussão sobre a política de saúde no Brasil como primeiro

tópico. De início trata da seguridade social enquanto avanço constitucional de suma

importância para o processo de legitimação dos direitos sociais por meio das políticas

públicas. Em seguida delimita a saúde como política pública com maior avanço

constitucional. Para tanto é feita uma retomada histórica de todo processo de constituição da

saúde enquanto direito social. As transformações implementadas na saúde pública do Brasil

após a regulamentação do SUS são discutidas no decorrer do tópico.

O segundo item trata da política de saúde no Rio grande do Norte, explicitando as

principais formas de organização do SUS no estado e na capital. Com ênfase nos serviços de

alta complexidade, abordando o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel como sendo referência

no atendimento de urgência/emergência.

O terceiro item discute a trajetória do serviço social na saúde, fazendo um resgate

histórico da institucionalização da profissão na saúde, bem como suas principais

competências e atribuições. Por fim faz uma abordagem do serviço social no Hospital

Walfredo Gurgel.

2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

A Seguridade Social consitui-se num dos maiores avanços constitucionais da nossa

carta magna de 1988 no que se refere á proteção social, uma vez que os direitos garantidos

por meio das políticas sociais atende às reivindicações da classe trabalhadora. Composta pelo

tripé: Saúde, Assistência Social e Previdência Social ela representa a afirmação e legitimação

dos direitos sociais no país, refletindo as transformações sociopolíticas que se processaram no

decorrer das décadas de 1970 e1980.

As lutas e reivindicações da classe trabalhadora por melhores condições de vida e

trabalho não conseguiram interferir ou modificar a ordem econômica vigente, mas no âmbito

social e político obtiveram vitórias consideráveis num contexto de lutas democráticas contra o

regime ditatorial que se instaurara no nosso país. Nesse sentido as políticas de seguridade

social se gestaram no interior da ordem capitalista como resultado das lutas políticas e

conquistas da classe trabalhadora.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 21 -

A concepção de Seguridade Social trouxe consigo conceitos significativos para a

efetivação dos direitos sociais, tais como a universalização, a concepção de direito social e

dever do Estado, o estatuto de política pública à assistência social, a definição de fontes de

financiamento e novas modalidades de gestão democrática e descentralizada com ênfase na

participação social de novos sujeitos sociais com destaque para os conselhos e conferências.

Art. 194. (*) A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de

iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos

relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a

seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e

rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a

participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e

aposentados. (Brasil, 1988).

Nesse processo de consolidação da política de Seguridade Social no Brasil, a Saúde

foi a que teve maiores avanços constitucionais. O Sistema Único de Saúde (SUS)

regulamentado pela lei 8.080/90 intitulada como Lei Orgânica da Saúde (LOS) representou a

conquista do movimento sanitarista. Este lutava por melhorias na qualidade dos serviços de

saúde prestados a população, bem como defendiam um novo modelo assistencial que

proporcionasse o acesso universal e igualitário as ações em saúde.

A saúde no Brasil nem sempre foi vista enquanto direito. Durante muito tempo a

população não teve atendimento médico de caráter público, ficando a mercê dos hospitais

filantrópicos e religiosos. Para melhor compreensão das mudanças ocorridas na Saúde

Pública, após a implementação do SUS, cabe fazer uma análise da saúde no país.

A saúde pública no Brasil passou por vários estágios até chegar ao modelo de saúde de

que temos conhecimento hoje. Até início do século XX as ações de saúde pública eram

organizadas como campanhas militares sendo as cidades divididas em distritos. Os doentes de

moléstias contagiosas eram encarcerados e obrigados pelo uso da força a aceitar as práticas

sanitárias a eles postas.

Durante o período de dominação da coroa portuguesa, as ações de saúde no Brasil

eram quase que inexistentes e as que eram desenvolvidas não tinham eficácia. Nesse período

as ações sanitárias estavam concentradas na cidade do Rio de janeiro, que naquele momento

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 22 -

era a principal cidade do Império. Nesse período o surto de febre amarela, varíola,

tuberculose, entre outras enfermidades era muito grande no país, principalmente após a

abertura dos portos em 1808.

Em meio a várias epidemias, houve uma centralização do poder imperial, que

empreendeu uma reforma nos serviços de saúde, criando a Junta Central de Higiene Pública,

que passou a coordenar as atividades de polícia sanitária, vacinação antivariólica e

fiscalização do exercício da medicina. Incluindo o serviço de inspeção das condições de saúde

dos portos. A atuação do Estado era bastante limitada no que diz respeito à assistência

médica.

Durante esse período a atuação do Estado na assistência médica se restringia à

internação de doentes graves em lazaretos e enfermarias improvisadas e à internação

dos loucos no Hospício criado pelo Imperador. Os serviços médicos hospitalares

estavam nas mãos de entidades filantrópicas nas cidades maiores. (ESCORES, S.;

TEIXEIRA, 2008).

Com a Proclamação da República, estabeleceu-se uma nova forma de organização no

âmbito jurídico e político de ordem tipicamente capitalista. Em que eram assegurados apenas

às formas de representações formais da classe burguesa.

O regime republicano não adotou um modelo sanitário para o país, deixando assim as

cidades brasileiras a mercê das epidemias. Os surtos de enfermidades se perduraram no país.

No Rio de Janeiro se instaurou um quadro sanitário caótico. Diante desse quadro o Governo

torna a vacinação contra a varíola obrigatória em todo o país. E aqueles que se opusessem a

tal medida eram considerados “inimigos da saúde pública”.

A promulgação da Constituição em 1931 trouxe novas formulações no que diz

respeito à saúde. Houve uma descentralização de atribuições a estado e municípios, ficando ao

governo a responsabilidade pela vigilância sanitária dos portos.

Fica nítido que a ação do Estado em relação à saúde, nesse período estava restrita a

medidas que beneficiavam a vida urbana. A assistência médica à saúde da população carente

ficava sob a responsabilidade dos hospitais filantrópicos e os mantidos pela igreja. Mais tarde

com o surgimento das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS), os trabalhadores filiados

que contribuíam tinham acesso a atendimento médico.

Em 1923, são criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS) para os

trabalhadores ferroviários e marítimos. Esta foi à primeira iniciativa do governo que se

destinava a garantir algum tipo de assistência ao trabalhador. As CAPS garantiam um direito

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 23 -

desigual, uma vez que só tinham acesso aos benefícios os que contribuíam, e ficava restrito

apenas aos trabalhadores das empresas ferroviárias e marítimas.

Na década de 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder é decretada a

centralização da estrutura dos serviços de saúde, e concomitante a isso a saúde é levada até a

parte rural do país. Em 1933, são criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS),

com o caráter de seguro social: mensalmente era descontado um valor do salário do

trabalhador, e o fundo assim criado era investido para gerar recursos necessários para pagar as

aposentadorias e pensões. Os IAPS eram organizados por categoria profissional, e havia

representantes dos trabalhadores em sua administração. O financiamento dos IAPS tinha um

caráter tripartite: trabalhadores, empresas e Estado. Eles garantiam direito a assistência

médica e a aposentadoria após 30 anos de contribuição.

Em 1937 o então presidente Getúlio Vargas decreta estado de sítio, cancela as eleições

presidenciais, fecha o congresso e anuncia o Estado Novo. Getúlio dá um golpe e instaura

ditadura do Estado Novo. Nesse período cria o Ministério do Trabalho e a Consolidação das

Leis trabalhistas (CLT).

Os recursos dos IAPS são desviados e aplicados na industrialização do país. Durante

esse momento as ações do Estado na área da saúde se dividem em dois segmentos: saúde

pública de caráter preventivo e assistência médica de caráter curativo, por meio da ação da

previdência social.

Em meados da década de 1940 inicia-se o período desenvolvimentista no Brasil. E sob

influencia dos americanos durante a segunda guerra mundial, o país adota o modelo de

atenção à saúde americana. Esta visava à atenção aos grandes hospitais, uma vez que atendia

as necessidades crescentes da indústria farmacêutica e de equipamentos médicos, e deixava

em segundo plano à atenção básica a saúde, que tem custo mais baixo. Posterior a isso, em

1953 foi criado o Ministério da Saúde, que passou a concentrar os serviços de assistência

médica individual.

Em 1964, os militares chegam ao poder e inicia-se o período da ditadura militar. No

poder, uma das primeiras medidas dos militares, foi à destituição dos direitos de representação

de empregados e empregadores na condução dos órgãos administrativos do sistema

previdenciário. Nesse período os IAPS passam por uma crise que culmina com sua unificação

e posterior criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Este Instituto

concentrou numa estrutura única todos os institutos relacionados com a previdência social. Só

poderia usufruir da previdência e da assistência médica quem contribuísse.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 24 -

Ainda nesse período o governo contrata médicos para atendimento aos pobres em

hospitais. Nascem as Associações Médicas de Hospitais (AMH). Também nesse período foi

fundada a Associação Brasileira de Medicina (AMB).

A ditadura permitiu uma deterioração das condições de saúde da população, tanto pelo

aumento da miséria, quanto pela mudança de ênfase nos investimentos em saúde. Até então, a

saúde pública sempre tivera mais recursos que a assistência médica. A ditadura inverte essa

relação, diminuindo muito os investimentos na saúde publica.

Em meados dos anos de 1970 foi criado o Sistema Nacional de Previdência e

Assistência Social (SINPAS), que passa a reunir todos os órgãos de assistência médica no

Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), e todos os órgãos

de aposentadorias e pensões no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A

administração dos recursos financeiros no sistema passa a ser controlada pelo Instituto de

Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS).

Na década de 1970 a saúde no Brasil era de competência do INAMPS, portanto, o

atendimento médico era restringido apenas aos trabalhadores que tinham vínculo

empregatício formal, ou seja, aqueles que contribuíam com a previdência social o que

obviamente, gerava uma grande desigualdade no tratamento de assistência a saúde da

população. Nessa época a organização do sistema de saúde era deficitária. Os serviços

oferecidos eram de baixa qualidade, havia desigualdades na prestação dos serviços ofertados

nas regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste, os recursos financeiros eram poucos, faltavam

equipamentos e funcionários especializados.

Com toda essa insatisfação em meados dos anos 1970 e 1980 aconteceu o Movimento

Sanitário, organizado por médicos, enfermeiros, trabalhadores sindicalizados e donas de casa

que tinha como objetivo a reformulação da assistência médica no Brasil, para garantir

melhores condições de prestação de serviços de saúde e atendimento aos cidadãos.

No ano de 1986, intensificou-se o Movimento Sanitário, sendo convocada a VIII

Conferência Nacional de Saúde (CNS), que visava discutir a nova proposta de estrutura e

política de saúde para o país. Deste encontro surgiram propostas de reformulação do sistema

nacional de saúde, sendo documentadas e conhecidas como projeto da Reforma Sanitária

Brasileira.

O projeto contemplava uma gama de modificações no sistema de saúde brasileiro, para

além de uma reforma administrativa e financeira. Nesse sentido os principais pontos que

nortearam o projeto da reforma sanitária no Brasil diziam respeito à necessidade de ampliação

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 25 -

do conceito de saúde, com ênfase nas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, a

proposta de estatização mediata ou progressiva do novo sistema, e a separação da saúde da

previdência.

Os avanços foram significativos no que diz respeito à formulação do “novo” conceito

de saúde que passou a ser entendida como resultante de um conjunto de determinações

histórica, econômica e social. A proposta de expansão e fortalecimento do setor estatal sofreu

resistência por parte do Estado, que afirmava não ter verbas suficientes para estatizar a saúde

de forma integral. Assim os prestadores de serviços privados passaram a ter uma atuação

complementar no sistema de saúde. Tendo suas ações e procedimento controlados pela gestão

pública.

Em 1988 foi aprovada a nova Constituição Brasileira, onde foi incorporada grande

parte dos conceitos e propostas definidas durante a VIII CNS, foi adotada então, a proposta da

Reforma Sanitária e do SUS. A ideia de adotar as propostas definidas na CNS não foi aceita

de forma passiva, houve resistência, uma vez que o modelo médico assistencial existente

privatista privilegiava determinados grupos sociais. Porém, para a implantação do SUS, era

necessária a formulação de leis, mas somente em 19/09/1990 foi aprovada a Lei 8.080,

conhecida como Lei Orgânica da Saúde (LOS).

Assim nasce o SUS pautado nos princípios da universalidade, com o dever de atender,

gratuitamente, a todos de acordo com suas necessidades; integralidade deve atuar de maneira

integral, a fim de prestar assistência, objetivando a promoção da saúde, prevenção e cura da

doença; descentralizado, deve permitir aos níveis estaduais e municipais coordenar as ações

de modo que a implantação do SUS esteja de acordo com seus princípios; racional, devem-se

disponibilizar ações nos diferentes níveis de atenção, atentando para as características da

clientela em cada setor, a fim de suprir e solucionar suas necessidades; eficácia e eficiência

enquanto capacidade de solucionar o problema de quem o procura, ou seja, garantir qualidade

e resolutividade do serviço. Para que isso ocorra, também há a necessidade de adequar-se à

realidade da comunidade e à disponibilidade de recursos, administrando os recursos públicos

de modo eficiente; democrático, deve permitir a participação de todos os segmentos

envolvidos com o sistema, ajudando a delimitar a política no seu nível de atuação, auxiliando

no melhor modo de administração que garanta qualidade de vida e do serviço à comunidade.

(BRASIL, 2011).

Os princípios do SUS foram estabelecidos legalmente, porém há a necessidade de que

o SUS seja implementado de forma a respeitá-los e, principalmente, garantir à população o

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 26 -

acesso a um serviço de saúde com qualidade, contribuindo para manter uma melhor qualidade

de vida e de saúde da população. Aos gestores cabe o papel de cumprir as atribuições e

competências estabelecidas pela lei de regulamentação da saúde visando o crescimento e

fortalecimento do SUS. Este nos últimos 20 anos vem instituindo um novo modelo de saúde

pública no país, no que diz respeito à promoção, proteção, recuperação e reabilitação da

saúde.

Antes da criação SUS, o Ministério da Saúde, desenvolvia com o apoio dos estados e

municípios ações de promoção e prevenção de doenças, com destaque para o controle de

endemias por meio de campanhas de vacinação, que por vezes tinha caráter punitivo e

repressivo.

A partir da legalização do SUS enquanto novo modelo de Saúde Pública do país, as

ações sanitárias deixam de ter caráter repressivo e de punição e passam a atuar junto à

população no sentido de orientar e conscientizar quanto à sua relevância para a promoção da

saúde.

A ação do estado no setor da saúde estava dividida claramente em dois ramos: de um

lado a saúde pública de caráter preventivo e conduzida através de campanhas, e de outro lado

a assistência médica de caráter curativo, conduzida através da ação da previdência social. Este

modelo de saúde conduzida por meio da previdência social era restritivo uma vez que

somente os trabalhadores formais poderiam ter acesso à assistência médica, o restante da

população recebia a assistência na condição de favor por meio das instituições filantrópicas.

A partir da promulgação da constituição cidadã a saúde passa a ser direito de todos, ou

seja, o acesso deixa de ser restrito aos trabalhadores formais e passa a abranger toda a

população (rural e urbana), ficando estabelecido seu principio fundamental, o da

universalidade. A saúde enquanto dever do Estado significou conquista para a construção dos

direitos sociais no país, tendo em vista que anterior a constitucionalização da saúde a

assistência médico-hospitalar a população ficava restrita a filantropia. Segundo dados do

Mistério da Saúde antes de 1988 o atendimento em hospitais públicos estava restrito a 30

(trinta) milhões de brasileiros. Com a constituição cidadã, mais de 170 (cento e setenta)

milhões de pessoas passaram a ter direito a atendimento pelo SUS.

As ações que anteriormente estavam sob responsabilidade apenas da esfera federal

passa a ter caráter descentralizado, municipalizado e participativo. Este último proporciona

aos usuários o direito de participação, fiscalização e deliberação, por meio dos conselhos

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 27 -

estaduais e municipais de saúde, das políticas voltadas à saúde. A lei 8.142/90 é a legislação

que estabelece a participação da comunidade na gestão do SUS.

Os avanços proporcionados pós-regulamentação do SUS foram inúmeros no tocante

ao acesso da população aos serviços de saúde, estando voltado para as necessidades da

população e também para a garantia do acesso enquanto um dos direitos da cidadania. Outro

avanço considerável definido pelo novo modelo de saúde está no novo conceito de saúde que

passa a considerar fatores de ordem econômico e social como determinantes para a saúde.

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a

alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda,

a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais: os níveis

de saúde da população expressam a organização social e econômica do país.

(BRASIL, Lei 8.080/90, art. 3°).

Nesse sentido as ações de saúde passam a ser concebidas de forma a integralizar

outras políticas públicas que visem à qualidade de vida da população usuária e seu acesso aos

bens e serviços essenciais a manutenção da vida. A articulação com programas sociais

federais que se desdobram por estados e municípios.

As ações e serviços de saúde foram estabelecidos em níveis de complexidade

conforme o art. 8 da LOS: “As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de

Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada,

serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade

crescente”. O principio da regionalização permite adequar os serviços de saúde a realidade

social de cada região do país.

Os níveis de atenção à saúde foram definidos como atenção básica, média

complexidade e alta complexidade. Sendo a atenção básica considerada como o primeiro nível

de atenção, caracterizada pelo baixo emprego de tecnologia em seus procedimentos. Os níveis

de média e alta complexidade já se utilizam de tecnologia de alta densidade para diagnosticar

problemas e agravos da população que necessita de profissionais especializados.

De acordo com o Mistério da Saúde (2002) a rede ambulatorial do SUS é constituída

por 56.642 (cinquenta e seis mil seiscentos e quarenta e dois) unidades, sendo realizados, em

média, 350 (trezentos e cinquenta) milhões de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-

se da atenção básica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade. No ano de 2001

foram realizadas aproximadamente 250 (duzentos e cinquenta) milhões de consultas, sendo

165 (cento e sessenta e cinco) milhões em atenção básica (consultas de pré-natal, puericultura,

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 28 -

etc.) e 85 (oitenta e cinco) milhões de consultas especializadas. Nesse mesmo ano foram

realizados 200 (duzentos) milhões de exames laboratoriais, 6 (seis) milhões de exames

ultrassonográficos, 79 (setenta e nove) milhões de atendimentos de alta complexidade, tais

como: tomografias, exames hemodinâmicos, ressonância magnética, sessões de hemodiálise,

de quimioterapia e radioterapia. São 6.493 (seis mil quatrocentos e noventa e três) hospitais,

públicos, filantrópicos e privados, com um total de 487.058 (quatrocentos e oitenta e sete mil

e cinquenta e oito) leitos, onde são realizadas em média pouco mais de 1(um) milhão de

internações por mês, perfazendo um total de 12,5 (doze vírgula cinco) milhões de internações

por ano. As internações realizadas vão da menor complexidade, tais como internações de

crianças com diarreia, até as mais complexas, como a realização de transplantes de órgãos,

cirurgias cardíacas, entre outras que envolvem alta tecnologia e custo. São despendidos, pelo

Ministério da Saúde (MS) recursos da ordem de R$ 10,5 (dez vírgula cinco) bilhões por ano

para custeio dos atendimentos ambulatoriais de média e alta complexidade e hospitalares,

além de R$ 3 (três) bilhões para a atenção básica.

O desenvolvimento dessas ações é descentralizado cabendo a cada esfera do governo a

gestão do SUS de acordo com os princípios estabelecidos. A lei federal 8.080/1990 apresenta,

no artigo 15, as atribuições comuns dos três gestores e, nos artigos 16, 17 e 18, as atribuições

específicas de cada esfera, tratando de diversos assuntos, porém abordando poucos pontos

sobre as competências assistenciais em saúde. Cabe a cada ente federado a execução da

Política de Saúde do SUS obedecendo às ordenanças da legislação competente.

2.2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO NORTE

Os constantes desafios vivenciados durante o processo de construção e consolidação

do SUS precisam ser enfrentados pelos gestores, pois cotidianamente eles se veem diante de

mudanças permanentes. Em face dessas mudanças e das dificuldades latentes de se

consolidarem normas iguais em um país tão grande, e visando a superação dessas

dificuldades, foi lançado em 2006 o Pacto pela Saúde que traz a regionalização como um dos

principais eixos estruturantes, tendo como objetivo a garantia do acesso, a integralidade da

atenção, a promoção da equidade, a qualificação do processo de descentralização e a

racionalização de gastos e otimização de recursos.

O processo de descentralização consiste num avanço significativo pela qual vem

passando o SUS desde a sua instituição em 1990. Este processo se dar na repartição das

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 29 -

responsabilidades, atribuições e recursos da esfera federal para estados e municípios,

diferentemente do modelo anterior de gestão da saúde em que a centralização decisória e

financeira ficava apenas em nível federal.

A implementação desse sistema de descentralização e definição do papel de cada

esfera de governo, deve considerar o enfrentamento de ao menos três questões gerais: as

acentuadas desigualdades existentes no país; as especificidades dos problemas e desafios na

área da saúde; as características do federalismo brasileiro. (BRASIL, 2002).

Esse processo tem sido orientado pelas Normas Operacionais do SUS (NOB/SUS),

instituídas por meio de portarias ministeriais. Estas Normas definem as competências de cada

esfera de governo e as condições necessárias para que estados e municípios possam assumir

as novas posições no processo de implantação do SUS.

As Normas Operacionais definem critérios para que estados e municípios

voluntariamente se habilitem a receber repasses de recursos do Fundo Nacional de Saúde para

seus respectivos fundos de saúde. A habilitação às condições de gestão definidas nas Normas

Operacionais é condicionada ao cumprimento de uma série de requisitos e ao compromisso de

assumir um conjunto de responsabilidades referentes à gestão do SUS.

A publicação da Norma Operacional da Assistência à saúde (NOAS/SUS), aprovada

pela portaria nº 95, de janeiro de 2001, foi mais um avanço no processo de descentralização

tendo como principal estratégia a regionalização.

No Rio Grande do Norte a macroestratégia de regionalização das ações e serviços de

saúde foram definidas a partir do Plano Diretor embasado pela NOAS que delimita as

instancias administrativas. Nesse sentido a Secretaria Estadual da Saúde (SESAP/RN), está

organizada em 06 (seis) Regionais de Saúde. É através das Regionais de Saúde que o Estado

exerce o papel, de apoio, cooperação técnica e investimentos aos municípios e aos Consórcios

Intermunicipais de Saúde. (RIO GRANDE DO NORTE, 2004).

O modelo de regionalização no estado consiste em 06 (seis) Regiões de Saúde e a

divisão do território estadual em 04 (quatro) Macrorregiões de Saúde: Metropolitana, Oeste,

Seridó e Alto Oeste. Existem ainda 14 (quatorze) Microrregiões de saúde cujos municípios

servem de referência para os 26 (vinte e seis) municípios sede de Módulos Assistenciais, por

oferecerem serviços ambulatoriais e hospitalares de baixa e média complexidade ficando a

alta complexidade restrita apenas aos municípios de Natal, Mossoró e Caicó. (idem)

O estado adotou as modalidades de atenção básica e atenção especializada em média e

alta complexidade, tanto ambulatorial quanto hospitalar. Os principais Hospitais de atenção de

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 30 -

média e alta complexidade do estado estão distribuídos em municípios das 04 (quatro)

macrorregiões de saúde do estado. Estes estão listados a seguir:

MACRORREGIÕES HOSPITAIS LOCALIZAÇÃO

Alto Oeste Hospital Dr. Cleodon Carlos de Andrade Pau dos Ferros

Metropolitana

Complexo Hospitalar M. Walfredo Gurgel Natal

Hospital Dr. Deoclécio Marques de Lucena Parnamirim

Hospital Dr. José Pedro Bezerra Natal

Hospital Giselda Trigueiro Natal

Hospital Lindolfo Gomes Vidal Santo Antonio

Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes Natal

Hospital Regional Alfredo Mesquita Macaíba

Hospital Regional de João Câmara João Câmara

Hospital Regional de Angicos Angicos

Hospital Regional de São Paulo do Potengi São Paulo do Potengi

Hospital Regional Monsenhor Antônio Barros São José de Mipibu

Hospital Regional Prof. Dr. Getúlio de Oliveira Sales Canguaretama

Hospital Regional Aluísio Beserra Santa Cruz

Oeste

Hospital Rafael Fernandes Mossoró

Hospital Regional de angicos Angicos

Hospital Regional Dr. Aguinaldo Pereira Caraúbas

Hospital Regional Dr. Tarcísio Maia Mossoró

Hospital Regional Hélio Morais Apodi

Hospital Regional Nelson Inácio dos Santos Assu

Seridó

Casa de Saúde Milton Marinho Caicó

Hospital Doutor Mariano Coelho Currais Novos

Hospital Regional do Seridó Caicó

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 31 -

Hospital Regional Dr. Odilon Guedes Acari

Tabela 1: Hospitais do Rio Grande do Norte por macrorregiões.

Fonte: Rio Grande do Norte. Secretaria Estadual de Saúde, 2012.

A construção de redes de serviços é um desafio bastante complexo, que envolve a

definição de diferentes perfis assistenciais e a articulação os mecanismos de gestão,

financiamento e avaliação de resultados. Esses complexos hospitalares constituem-se num

dispositivo essencial para acesso ao sistema de saúde, integrando as centrais de internações,

consultas, exames, urgência/emergência, protocolos assistenciais e outras modalidades de

atenção com vistas à regulação do Sistema.

O município de Natal pertencente à macrorregião Metropolitana tem sua rede

municipal de saúde formada por 147 (cento e quarenta e sete) unidades, sendo 80 (oitenta)

públicas municipais, 10 (dez) estaduais e 04 (quatro) federais. E prestando serviço

complementar o município conta com 06 (seis) unidades filantrópicas e 47 (quarenta e sete)

unidades privadas. (NATAL, 2007).

No que diz respeito ao modelo de atenção adotado tem-se, enquanto prioridade, a

prestação de serviços a partir da pessoa, de sua família e de seu entorno comunitário, tendo

como eixo estruturante a Estratégia Saúde da Família - ESF. Com vistas a implementar os

serviços e ações de saúde em Natal levando em consideração peculiaridades sócio-

demográficas e sanitário-epidemiológicas locais as zonas norte/sul e leste/oeste da cidade

foram divididas em 05 (cinco) distritos sanitários: Distrito Norte 1, Distrito Norte 2, Distrito

Sul, Distrito Leste e Distrito Oeste.

Cada um desses distritos possui serviços de atendimento a atenção básica à saúde

formada por postos de saúde, unidades básicas de saúde, unidades de saúde da família,

policlínicas entre outros. A rede básica representa o primeiro contato de acolhimento e a

formação de vínculos com as equipes de saúde, sendo também o local prioritário para que o

exercício da clínica do cuidado aconteça conforme estipulado pelo Mistério da saúde. Cumpre

ainda a função essencial de coordenar o trânsito das pessoas pelos diversos serviços na rede

de atenção.

A atenção especializada engloba a assistência de média e alta complexidade,

compreendidas enquanto o conjunto de ações e serviços ambulatoriais e hospitalares que visa

atender aos principais problemas de saúde da população, cuja complexidade da prática clínica

demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos

tecnológicos de alta densidade.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 32 -

Na rede municipal a média complexidade é realizada preferencialmente nas

policlínicas distritais, seguidas dos ambulatórios públicos e em caráter complementar pela

rede filantrópica e privada contratada.

Os procedimentos de alta complexidade compreende o atendimento ambulatorial bem

como a atenção hospitalar. Esta apresenta o maior nível de complexidade no sistema,

responsável pela prestação de serviços especializados. Os hospitais existentes em Natal são

classificados como de pequeno, médio e grande porte. Dentre os hospitais de grande porte

destaca-se Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e o Hospital Doutor José Pedro Bezerra,

também conhecido como Hospital Santa Catarina.

O Hospital Santa Catarina, é o segundo maior de Natal. Localizado na Zona Norte de

Natal, o Hospital atende uma demanda expressiva de usuários do SUS, compreendendo a

população tanto dessa região da cidade, quanto o considerável volume de pacientes vindos

dos municípios da Região Metropolitana de Natal e do interior do Estado. (RIO GRANDE

DO NORTE, 2012).

Nele são oferecidos serviços de urgências nas especialidades de clínica médica,

cirurgia geral, neonatologia, ginecologia e obstetrícia. A unidade é maternidade estadual de

referência em gestação de alto risco e uma das quatro unidades de saúde no Estado que

dispõe do Programa de Internação Domiciliar (PID). (idem)

A estrutura do Hospital é constituída por seis alas distribuídas entre os alojamentos

conjuntos de pediatria/neonatologia; clínicas médica/cirúrgica; pronto-socorro; administração;

centro cirúrgico/obstétrico; UTI; serviços de apoio. Possui equipamentos de alta tecnologia

que permite a realização de procedimentos de alta complexidade. (idem)

O Hospital Walfredo Gurgel está inserido na Política Pública de Saúde do SUS e

integra a rede de alta complexidade da SESAP/RN. O SUS conforme já citado anteriormente

está dividido em níveis de atenção: básica, média complexidade e alta complexidade. Este é

caracterizado por procedimentos de alta tecnologia e alto custo. São exemplos de

procedimentos: trauma, ortopedia, cardiologia, terapia renal substitutiva e oncologia.

Os serviços e ações oferecidos pelo Hospital à população da capital e dos demais

municípios do Rio grande do Norte devem está de acordo com as diretrizes instituídas na

LOS.

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou

conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de

acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo

ainda aos seguintes princípios:

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 33 -

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das

ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada

caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e

moral;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer

espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua

utilização pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação

de recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de

governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento

básico;

XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de

assistência à saúde da população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

“XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios

para fins idênticos”. (BRASIL, 2011).

O Hospital Walfredo Gurgel é referência no atendimento de urgência pelo SUS no Rio

Grande do Norte, sendo o único hospital público da região metropolitana de Natal (RMN) 1

que conta com serviços de queimados, ortopedia, neurologia e neurocirurgia, cirurgia plástica,

atendimento a queimados; nefrologia; urologia; cirurgia vascular, buco-maxilo-facial,

otorrinolaringologia, oftalmologia e cirurgia torácica. A cada mês, são feitas cerca de 600

(seiscentos) procedimentos cirúrgicos, entre cirurgias e reduções ortopédicas. Os principais

procedimentos realizados são: ortopedia, clínica médica, pediatria, cirurgia geral, UTI,

cirurgia buco-maxilo-facial, anestesia, análises clínicas, fisioterapia, fonoaudiologia,

oftalmologia e otorrinolaringologia O Hospital atende uma média de 25.000 (vinte e cinco

mil) pacientes por mês, vindos da capital e do interior do estado. Mensalmente são realizadas

cerca de 1.300 (mil e trezentas) internações, sendo 60% (sessenta por cento) procedentes de

pacientes oriundos do interior do Rio Grande do Norte. Quantificando para números inteiros

têm-se que dos 1.300 (mil e trezentos) pacientes que são internados no HMWG 780

(setecentos e oitenta) são provenientes dos vários municípios do estado. (RIO GRANDE DO

NORTE, 2012).

1 A Região Metropolitana de Natal é formada por dez municípios, que compreende: a capital do Estado,

Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Nísia Floresta, São José de Mipibu, Ceará Mirim, Monte

Alegre, Macaíba e Vera Cruz.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 34 -

As vantagens auferidas aos municípios com a implantação do Pacto pela Saúde (2006)

e pela estratégia de regionalização por meio da construção de hospitais regionais não foram

suficientes para minimizar a demanda do Hospital Walfredo Gurgel conforme nos mostram os

números acima.

O Rio Grande do Norte possui 14 (quatorze) hospitais regionais distribuídos em

municípios das 04 macrorregiões do estado, conforme já colocado anteriormente, que prestam

assistência aos municípios vizinhos. Os hospitais regionais foram implementados visando

uma intervenção que atenda às necessidades de saúde da população e garantam o acesso da

mesma a todos os níveis de atenção, bem como o “desafogamento” dos hospitais da capital.

Nesse sentido oferece serviços ambulatoriais e hospitalares de baixa e média

complexidade de urgência/emergência. Conta também com especialidades em clínica médica,

cirurgia geral, cardiologia, otorrinolaringologia, pediatria, obstetrícia, entre outros. Oferece

atendimento e procedimentos anestesiológicos, cirúrgicos de pequeno, médio e grande porte

(herniorrafia, histerectomia, colecistectomia, colpoperineoplastia, cesariana, plástica mamária

reparadora (não estética)), serviços de laboratório de análises clínicas, ultrassonografia,

eletrocardiografia, radiologia, colposcopia, eletrocardiograma, endoscopia digestiva, raios-X e

outros.

Ainda assim cotidianamente o número de usuários que solicitam as ações e serviços do

Hospital Walfredo Gurgel tem crescido gradativamente, principalmente no que diz respeito à

demanda de pacientes vindos do interior do estado. Mas o número de leitos disponíveis no

complexo hospitalar é insuficiente para atender a grande demanda.

Se a população dos municípios atendidos pelos hospitais regionais tivesse acesso a

todos os procedimentos acima mencionados, bem como fossem devidamente orientados

quanto à organização do SUS em níveis de atenção e suas respectivas atribuições, o número

de pacientes oriundos do interior do estado a ser atendido no Walfredo Gurgel reduziria

consideravelmente. Observamos durante a vivência de estágio curricular no HMWG que há

um desconhecimento por parte dos usuários quanto aos serviços oferecidos por cada nível de

atenção à saúde. Quando não é esse o fator que motiva a procura por atendimento em

hospitais da capital, esta se dar pela falta de profissionais e equipamentos nos hospitais

regionais, o que por sua vez obriga a população a procurar os serviços de saúde dos hospitais

de alta complexidade de Natal, sendo que no Walfredo Gurgel as consequências são mais

sentidas, expressas pela superlotação.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 35 -

Este é resultado de uma política pública mal implementada pelos gestores municipal e

estadual da saúde, que não visam garantir melhor qualidade ao atendimento à população.

Pode-se ainda afirmar que há uma má distribuição das verbas destinadas pela União ao Estado

e município, tendo em vista o caos pelo qual atualmente tem passado a saúde pública no

Estado, bem como no país. É nesse cotidiano também que estão latentes as expressões da

questão social, materializadas na saúde em forma de demandas ao Serviço Social.

2.3 A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: COMPETÊNCIAS E

ATRIBUIÇÕES

O Serviço Social no Brasil surge por volta da década de 1930. As mudanças sociais,

políticas e econômicas sentidas com o processo crescente de urbanização, seguida das

contradições inerentes à industrialização fez surgir lutas reivindicativas pela classe

trabalhadora, que passa a se organizar. È neste momento, através do Estado, que ocorre a

institucionalização do Serviço Social, movido pelas profundas alterações sociais. A questão

social surge nesse momento como ameaça a ordem vigente, obrigando o Estado, Igreja e

outras parcelas da classe dominante, a se posicionarem diante dela (Iamamoto, 2004).

A profissão surge ligada não apenas ao Estado, e a classe dominante, mas também a

Igreja Católica que teve papel fundamental na abertura das primeiras escolas de Serviço

Social no Brasil.

No período desenvolvimentista das décadas de 1950 e 1960, os assistentes sociais são

comissionados a atuar nos programas sociais do governo. Nesse período na América Latina

surgem dentro da categoria profissional inquietações e contestações quanto à metodologia,

objetivos e conteúdos utilizados na formação profissional. Surge assim o movimento de

reconceituação, que visava ir além do que estava posto no serviço social de caso, grupo e

comunidade. Ainda na mesma década, em 1964, é instituído o Golpe militar de 1964, de teor

altamente repressivo e autoritário.

Na década de 1970 e início da década de 1980, novas ações são pensadas para atender

camadas populares. Em 1979, ocorre o Congresso da Virada que marca o rompimento do

Serviço Social com as práticas conservadoras, proporcionando uma maior maturidade

intelectual dentro da categoria.

A década de 1980 está marcada pelo avanço na categoria expresso na publicação do

Código de ética de 1986. Aliado a isso está à promulgação da Constituição Federal de 1988,

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 36 -

que marca um novo momento em que a sociedade civil avança em busca da legitimação dos

seus direitos e o assistente social avança na ruptura de suas antigas matrizes conservadoras

ligadas a Igreja e a filantropia, para atuar na execução e gestão das políticas públicas.

No que diz respeito à produção de instrumentos normativos dentro da profissão, a

década de 1990 foi a mais rica. Em 1993 é criado o Código de ética profissional do Serviço

Social e a lei de regulamentação da profissão (BRASIL, Lei nº 8.662/93).

O Serviço Social se apresenta como uma profissão profundamente associada à história

da sociedade, que tem na questão social e em suas expressões seu objeto principal de estudo.

Assim, é possível afirmar que o serviço Social lida diretamente com as expressões das

desigualdades sociais inerentes ao modo de produção capitalista e atua na execução e

formulação de políticas que visam à garantia do direito do sujeito. Caracteriza-se ainda

enquanto profissão inscrita dentro da divisão sócio-técnica do trabalho estando sujeito às

transformações societárias que se gestam no seio da sociedade. Essas transformações segundo

Netto (1996) incidem sobre o Serviço Social em sua área de intervenção, no perfil do

profissional e na formulação de estratégias sócio-profissionais.

Iamamoto (2009) afirma que vários fatores históricos incidem de forma direta nas

relações sociais entre Estado e sociedade civil. As transformações histórias apontadas por

Netto (1996) e Iamamoto (2009) se materializam por meio do processo de reestruturação

produtiva e privatização das políticas sociais em que se observa uma agudização da questão

social, manifesta em suas múltiplas expressões na vida dos sujeitos através das desigualdades

de classe, gênero, etnia, etc. São nesses processos histórico-sociais que se assentam as

alterações observadas nos espaços ocupacionais do assistente social.

Mesmo diante de todos os desafios posto ao assistente social face o processo de

metamorfose dos espaços ocupacionais, este precisa ser um profissional crítico, atuante na

luta pela construção de um novo modelo de sociabilidade, pautado na democratização das

relações sociais.

É necessário que este articule no seu fazer profissional os fundamentos teórico-

metodológicos, ético-político e técnico-operativo para uma maior consolidação de sua

identidade profissional no seu espaço sócio-ocupacional.

Como afirma Iamamoto (1996), em qualquer frente de trabalho onde insira-se o

Serviço Social, o propósito de contribuir ao protagonismo da sociedade civil na construção de

uma nova sociabilidade, sedimentada na democratização das relações sociais, requer-se um

profissional informado, crítico e propositivo, com sólida competência teórico-metodológica,

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 37 -

adquirida mediante a pesquisa da realidade sobre as situações concretas em que incide o

trabalho profissional, aliada ao conhecimento dos processos macroscópicos que geram-na e

modificam-na, descortinando ao profissional as possibilidades de ação contidas na própria

realidade, potencializada a partir de um instrumental técnico-operativo rigorosamente

elaborado.

O assistente social no espaço sócio-ocupacional da saúde está diariamente submetido a

desafios e dificuldades que se materializam no exercício profissional cotidiano. Ele atua na

saúde no sentido de legitimar os princípios constituintes do SUS como direito do cidadão

previsto em lei. Estes princípios consistem na descentralização, integralidade, participação da

comunidade, equidade, igualdade e preservação da autonomia.

A implantação e desenvolvimento do SUS no país vêm requerendo a atuação do

assistente social no processo de (re) organização dos serviços, nas ações interdisciplinares e

intersetoriais, no controle social, entre outras demandas que expressam a abrangência do con-

ceito de saúde vigente, especialmente nos municípios, que é onde se concretizam as ações e

serviços de saúde, buscando fortalecer a perspectiva da universalização do acesso a bens e

serviços relativos aos programas e políticas sociais (BRAVO, 2006).

Nesse contexto o compromisso crítico com a contínua reformulação do SUS, leva o

assistente social a pensar a maneira que trabalha com os direitos sociais, visando reduzir as

desigualdades pela via da inclusão, de empregos, de renda digna, que transforma as condições

de vida e a própria condição dos sujeitos sociais.

As expressões da questão social se materializam nas instâncias da saúde pública em

forma de demandas e necessidades. As principais demandas do serviço social na saúde são

oriundas das más condições de vida a que estão submetidos uma grande parcela da população

brasileira que se encontra sem trabalho, sem comida, sem casa, sem escola, sem terra, sem

água, sem saneamento, sem lazer, sem informação, e, consequentemente, sem saúde. Estas

expressões da questão social na vida do individuo gera as mais variadas doenças. A violência

e a criminalidade também são expressões da questão social que se materializam em demanda.

São cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, postos à margem da

discriminação. Destituídos dos seus direitos sociais.

O assistente social atua no atendimento das necessidades sociais apresentadas pelos

usuários nos serviços de saúde. Essa atuação é legitimada por instrumentos normativos que

garantem ao assistente social um fazer crítico, com base na realidade social. Os principais

instrumentos são: Lei de Regulamentação da Profissão (1993), projeto ético político

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 38 -

profissional e Código de Ética Profissional, seguidos dos estatutos da Criança e do

Adolescente, estatuto do Idoso, entre outros.

As atribuições do assistente social na saúde estão especificadas num documento

produzido pelo conjunto CFESS/CRESS que estabelece os parâmetros da atuação do

assistente social na saúde. Suas ações são desenvolvidas a partir das seguintes dimensões:

Assistencial; em Equipe; Socioeducativa; Mobilização, Participação e Controle Social;

Investigação, Planejamento e Gestão; Assessoria, Qualificação e Formação Profissional

(CFESS, 2009).

As ações assistenciais do assistente social na área da saúde se dar a partir das

contradições inerentes a contrarreforma na saúde que não viabiliza o SUS constitucional, ou

seja, os princípios e diretrizes aprovadas no texto constitucional por vezes tende a não

corresponder ao que se projeta na realidade da saúde pública no país. Acarretando no

cotidiano das unidades de atendimento a saúde diferentes questões: demora no atendimento,

precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa, problemas

com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos usuários. (idem)

Essas questões se expressam como demandas no cotidiano dos serviços de saúde:

-solução quanto ao atendimento (facilitar marcação de consultas e exames,

solicitação de internação, alta e transferência);

-reclamação com relação à qualidade do atendimento e/ou ao não atendimento

(relações com a equipe falta de medicamento, entre outros);

-não entendimento do tratamento indicado. (idem)

As demandas também se apresentam enquanto consequência das condições de vida dos

usuários e se apresentam na forma de desemprego e subemprego; ausência de local de

moradia; violência urbana, doméstica e acidentes de trabalho; abandono do usuário.

Diante dessas demandas postas ao profissional do serviço social, este precisa atuar de

maneira a romper com as práticas emergencial e burocrática. Buscando por meio de ações

socioeducativas garantir o acesso dos usuários aos direitos sociais garantidos.

O CFESS (2009) elencou as principais ações a serem desenvolvidas pelos assistentes

sociais. Estas consistem em atendimento individual e coletivo a fim de orientar quanto aos

direitos sociais; identificar a situação socioeconômica e familiar dos usuários; realizar

abordagem individual e/ou grupal; criar mecanismos e rotinas de ação; realizar visitas;

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 39 -

realizar visitas institucionais; trabalhar com as famílias; criar protocolos e rotina de ação e

registrar os atendimentos sociais no prontuário único.

As ações em equipe devem ser ordenadas de forma a não descaracterizar o trabalho do

assistente social, ou seja, o profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências.

Tendo em vista que o olhar do assistente social sob o usuário na saúde é diferenciado do olhar

dos demais profissionais, dentre eles o médico.

A observância dos princípios éticos políticos da profissão explicitados nos marcos

legais entre os quais código de ética, lei de regulamentação da profissão e lei de diretrizes

curriculares, é de suma importância na realização do trabalho em equipe.

No que tange as ações socioeducativas desenvolvidas pelo assistente social na saúde

estas devem ser orientadas no sentido da prática reflexiva de levar o usuário a desvelar as

situações vivenciadas por ele próprio, de forma que ele consiga captar a realidade social. É

importante que essa prática seja desenvolvida em grupo propiciando a troca de experiências.

Mobilização, participação e controle social são ações que estão voltadas a inserção dos

usuários, familiares e trabalhadores de saúde nos espaços democráticos de controle social e

defesa dos direitos sociais. Incentivando a participação destes em conselhos, fóruns,

conferencias de saúde, e de outras políticas públicas.

Consiste ainda na prática de mediação da comunicação entre usuários e instituição no

sentido de melhorar a qualidade dos serviços prestados. E em casos onde houver a

necessidade fazer o encaminhamento das denúncias, reclamações ou elogios aos órgãos

competentes. Outra característica dessa ação diz respeito a fomentar a articulação dos usuários

com os movimentos sociais a fim de fortalecer os debates em torno da política social de

saúde.

As ações de investigação, planejamento e gestão são consideradas pelo CFESS (2009)

pela sua importância no que tange ao fortalecimento da gestão democrática e participativa.

Potencializando uma gestão em favor dos usuários e trabalhadores da saúde. O assistente

social atualmente se encontra diante de novas demandas institucionais. O processo de

descentralização das políticas sociais vem requisitando aos profissionais de Serviço Social a

atuação nos níveis de planejamento, gestão e coordenação de equipes, programas e projetos.

O assistente social deixa de ser apenas executor de políticas sociais e passa agora também ao

nível de gestão, implementação e monitoramento de políticas sociais.

Por fim não menos importante que as demais até agora elencadas estão às ações de

assessoria, qualificação e formação profissional. As atividades de qualificação profissional

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 40 -

caracterizam-se pelas ações de treinamento, preparação e formação de recursos humanos, que

atuem voltados a educação contínua de funcionários e demais representantes da saúde. As

ações devem ser realizadas em conjunto com outros profissionais. As ações de qualificação

profissional também podem ser desenvolvidas por meio da criação de campos de estágio,

supervisão de estagiários, participação nos programas de residência multiprofissional e/ou

uniprofissional. (idem)

A assessoria por sua vez consiste na ação desenvolvida pelo profissional do serviço

social, podendo ser realizada por outras áreas do conhecimento, que toma a realidade como

objeto de estudo com a intenção de modificá-la. A assessoria pode ser prestada ao

profissional, à gestão para formulação de políticas sociais e aos movimentos sociais. Podendo

ser uma atribuição privativa do assistente social ou uma competência do profissional. (idem)

As dimensões acima citadas são atribuições e competências a serem realizadas pelo

profissional do serviço social a fim de contribuir para a efetivação e garantia dos direitos

sociais, bem como para o fortalecimento da participação social e das lutas sociais no âmbito

da saúde pública.

No tópico seguinte apresentaremos o Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel a

partir da sua atuação, relacionando ao cumprimento dos parâmetros estabelecidos pelo

Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).

2.3.1 O Serviço Social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

O Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel surge juntamente com a inauguração do

Hospital em 1973. A implementação se deu por meio da assistente social Lúcia Guerra.

Passados dois anos da fundação do Serviço Social no Hospital, chegam para compor o quadro

de profissionais duas assistentes sociais. Em 1979, face ao aumento da demanda do hospital,

sente-se a necessidade de mais profissionais para melhor realização das atividades. Assim

chega ao Serviço Social do Walfredo Gurgel duas outras assistentes sociais.

Nesse período as profissionais do Serviço Social não trabalhavam em regime de

plantão noturno. Só havia plantões de 12h. Em 1990, o Dr. José Dantas, diretor do hospital

naquele momento, solicita da chefia do Serviço Social a implantação do serviço de urgência

24 horas.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 41 -

Em meados de 1990, frente ao agravamento da questão social, bem como da

manifestação de suas expressões em forma de demanda para o Hospital, mais 10 profissionais

são agregadas ao Serviço Social.

No contexto histórico o Serviço Social brasileiro passava pelo processo de renovação

de suas matrizes formadoras. Há uma grande contestação dentro da categoria profissional

quanto aos aportes teórico-metológicos de base conservadora. Mesmo com o processo de

renovação posto em xeque pela categoria, ainda podia ser observado posturas conservadoras.

Isso vai refletir no cotidiano do assistente social por meio do fazer profissional de caráter

pouco crítico, mais voltado para a abordagem psicossocial, de cunho funcionalista. É

importante ressaltar que na conjuntura histórica do país havia a dominação da autocracia

burguesa, por meio da ditadura militar de 64.

O Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel integra o processo de trabalho coletivo.

Atuam na prestação de assistência as demandas dos usuários, família e a rede de relações

sociais.

As principais demandas do Serviço Social do Hospital são direito do trabalhador,

direito e deveres do paciente e acompanhante, questões intra e extra institucionais como:

traslado, admissões, exames, visitas, altas, óbitos, informações sobre tratamento, como

também esclarecimentos acerca do cotidiano hospitalar, materiais e equipamentos; violência

intra e extrafamiliar (mulher, criança, adolescente, idosos e gênero).

Constata-se que tais demandas refletem as expressões da questão social que se

manifestam no cotidiano da sociedade, como um todo e, em especial, na saúde. O Assistente

Social como profissional de saúde, efetiva o atendimento a todas as demandas facilitando o

acesso aos serviços e contribuindo para resolução das necessidades dos usuários.

A Divisão de Serviço Social do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel

face a grande demanda de usuários e pacientes que descumprem ou até mesmo desconhecem

as normas e rotinas do Hospital, desenvolve um projeto junto com familiares e

acompanhantes dos pacientes internados. Mensalmente uma equipe formada por assistentes

sociais e psicólogas se reúne, com os acompanhantes de pacientes, no auditório do Hospital

para a realização de palestras onde são abordadas e discutidas as normas e rotinas do Hospital.

Na ocasião também é aberto espaço para que os familiares possam relatar sua história, o

motivo que os levou até lá. Logo após as profissionais fazem sua intervenção de acordo com

cada caso.

A atuação profissional das assistentes sociais compreende o PSCS, recepção,

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 42 -

politrauma, uniclínica I e II, UTI Geral, UTI Bernadete, UTI Pediátrica, UTI Cardiológica,

reanimação, Centro de Recuperação pós-operatório (CRO), Unidade de gerenciamento de

vagas (UGV), Centro de tratamento de queimados (CTQ) e enfermarias do Hospital.

A equipe de profissionais da divisão de Serviço Social do Walfredo Gurgel é composta

por 36 assistentes sociais, sendo que 03 estão afastadas do trabalho, e 01 secretária. As 33

profissionais do Serviço Social se dividem em quatro setores, que abrange o Pronto Socorro

Clóvis Sarinho, o Setor de Acolhimento, a Unidade de Gerenciamento de Vagas (UGV) e as

Enfermarias do hospital.

As atribuições e competências das Assistentes Sociais são orientadas por direitos e

deveres especificados no Código de Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da

Profissão e nos parâmetros para atuação dos Assistentes Sociais na saúde.

As atribuições do Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel consistem em:

Visitar diariamente os pacientes internados nas enfermarias;

Atender aos usuários que buscam a Divisão de Serviço Social solicitando

informações e/ou orientações sobre os serviços prestados pela unidade;

Informar os familiares sobre o estado de saúde do paciente;

Contato com outras unidades de saúde em caso de transferência de pacientes ou

realização de exames inexistentes nesta unidade hospitalar;

Realizar reuniões com acompanhantes;

Orientar quanto aos direitos trabalhistas, previdenciários e/ou sobre seguro;

Contatos com entidades de apoio e proteção à criança e adolescente;

Contato com familiares ou responsáveis, em caso de óbito;

Assessoramento técnico à direção;

Contato interprofissional e interinstitucional;

Autorizar visita extra, quando se fizer necessário;

Orientar a família e/ou paciente quando necessário amputar membros ou intervenção

cirúrgica de urgência;

Supervisionar estagiárias de Serviço Social;

Comunicar alta de pacientes às famílias;

Contato com Prefeituras e Hospitais Municipais para agilizar o retorno do paciente

ao município;

Encaminhar o usuário a outros serviços e/ou recursos existentes na comunidade;

Autorizar acompanhante para crianças, adolescentes menores de 18 anos e idosos

com mais de 60 anos, conforme legislação vigente. (Plano de trabalho do

Serviço Social HMWG, 2010).

Na atuação profissional das assistentes sociais no Hospital Walfredo Gurgel é possível

perceber a dimensão política do Projeto ético político no sentido em que elas visam à

universalização do acesso da população aos serviços de saúde; bem como contribuem por

meio das orientações aos pacientes e acompanhantes, quanto aos seus direitos, para a justiça

social. A consolidação da cidadania está muito presente no fazer profissional das assistentes

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 43 -

sociais do Walfredo Gurgel, no sentido de que elas mediam o acesso dos usuários a

programas e serviços que contribuem para a construção da cidadania.

A materialização do projeto ético-político se dar a partir de três dimensões. A

dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social; a dimensão político-

organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as entidades representativas e pela

dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico estritamente profissional

(Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8.662/93 e as

novas Diretrizes Curriculares do MEC (CRESS 17ª REGIÃO).

A dimensão jurídico-política do projeto ético-político está presente no cotidiano das

profissionais do serviço social do Walfredo Gurgel em sua prática profissional, por meio da

execução da política pública de saúde no Hospital; das orientações e encaminhamentos

prestados aos pacientes e acompanhantes. A lei n° 8.662/93, que regulamenta a profissão do

assistente social, estabelece no art. 4º o que constitui as competências deste profissional.

Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da

administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações

populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam

do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à

população;

V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de

identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus

direitos;

VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais. (Lei nº

8.662/93).

O Código de ética do assistente social é um instrumento normativo muito importante

na normatização da prática profissional. Nele estão contidos aspectos que fazem menção aos

direitos, deveres, o que está vedado ao profissional, à relação com os usuários.

No que diz respeito aos deveres do assistente social estes precisam ser respeitados

principalmente no que concerne ao não policiamento do comportamento, ou ações que visem

limitar a liberdade do indivíduo.

Artigo 3º - São deveres do Assistente Social:

c. abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o

cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua

ocorrência aos órgãos competentes; (idem).

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 44 -

A relação com os usuários, principalmente no que diz respeito aos usuários da saúde,

uma vez que estes já se encontram em estado bastante fragilizado bem como os familiares,

precisa ser de orientação e acolhimento, norteando quanto às providências a serem tomadas na

efetivação das garantias previstas em lei. O usuário precisa estar ciente de todo processo

realizado pelo assistente social

Artigo 5º - São deveres do Assistente Social nas suas relações com os usuários:

a. contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas

decisões institucionais;

b. garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências

das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários,

mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais

resguardados os princípios deste Código;

c. democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço

institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários;

d. devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido

de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses;

e. informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro áudio-

visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos;

f. fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao

trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o sigilo

profissional;

g. contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação

com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;

h. esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de

sua atuação profissional; (idem)

O trabalho realizado pelo Serviço Social do Hospital Walfredo Gurgel enfrenta

dificuldades que superadas será muito importante para o melhoramento do atendimento aos

usuários, estando como discorremos anteriormente relacionadas muitas vezes a questões

conjunturais. Essas dificuldades se expressam no dia a dia do profissional do serviço social

através da relação profissional/usuário e profissional/instituição.

O assistente social precisa ter em mente que a sua atuação profissional está

condicionada, assim como outras profissões, pelas determinações sociais impostas pelo

modelo de trabalho capitalista. Essas determinações dizem respeito ao trabalho assalariado, ao

controle da força de trabalho e a subordinação ao conteúdo do trabalho aos objetivos e

necessidades das entidades empregadoras. (COSTA, 2000).

Vivenciamos um contexto que Netto (1996) define como de transformações

societárias, cujas repercussões rebatem diretamente no cotidiano dos usuários atendidos pelas

diferentes políticas sociais, entre elas Saúde.

É nesse contexto de transformações que o assistente social atua cotidianamente, por

meio do enfrentamento das múltiplas expressões da questão social. Nesse processo o

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 45 -

profissional precisa ter uma postura crítica e está munido de todo aparato legal que legitima a

profissão, visando garantir ao usuário, por meio das ações, o acesso aos direitos sociais

garantidos.

No que diz respeito à área da saúde um dos principais documentos que legitima a

atuação do profissional do serviço social é intitulado de Parâmetros para a Atuação de

Assistentes Sociais na Saúde, produzido pelo CFESS. Sendo que este já foi discutido no

tópico anterior. Mas cabe fazermos uma relação dele com o fazer profissional das assistentes

sociais do HMWG.

As principais demandas do serviço social do Walfredo Gurgel dizem respeito às

expressões da questão social, materializadas por meio da violência (de todos os tipos),

abandono, negação dos direitos essenciais à vida e a dignidade (saúde, educação, moradia,

alimentação, lazer, entre outros), superlotação do hospital e falta de leitos.

As ações assistenciais das profissionais do serviço social do Hospital se dar a partir

dessas demandas, e consiste em visita aos leitos para contato com o paciente/acompanhante a

fim de realizar as orientações quanto às normas e rotinas da instituição e preenchimento da

ficha social. É por meio dela que as assistentes sociais identificam o perfil socioeconômico do

usuário. Isso permite desenvolver posteriormente, junto com as equipes intersetoriais,

estratégias para melhor atendimento aos usuários. Bem como contribui para o

desenvolvimento de novas estratégias de ação por parte do Serviço Social.

São realizadas também pelas assistentes sociais ações que visam facilitar marcação de

consultas e exames, solicitação de internação, alta e transferência. Atuam também na

mediação entre médico/família e vice versa. Nos casos de reclamação com relação à

qualidade do atendimento, ao não atendimento (relações com a equipe, falta de medicamento

entre outros), ao não cumprimento das rotinas do Hospital por parte dos acompanhantes.

Os principais desafios postos às ações do serviço social dizem respeito às atividades

atribuídas ao profissional pela instituição que não são atribuições privativas do assistente

social. No Walfredo Gurgel durante o período de estágio foi possível identificar algumas

delas. A convocação do assistente social para informar ao usuário sobre alta e óbito; a

solicitação de ambulância para remoção de alta; realização de notificação em casos de

violência.

As decisões tomadas por parte da direção do Hospital, bem como a política

institucional tendem a limitar as ações do serviço social, deixando evidente a correlação de

forças dentro da instituição. Essas limitações também se constituem em desafio ao assistente

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 46 -

social. Este precisa atuar de forma crítica, competente e criativa visando driblar as

dificuldades.

A relação dos profissionais do serviço social com os demais profissionais do Hospital

ocorre de forma integrada. Havendo em alguns momentos conflitos com os profissionais da

enfermagem e nutrição, em questões que envolvem a garantia do direito do usuário. Iamamoto

(2002) já chamava a atenção para algumas questões que devem ser observadas. Uma delas é a

fragmentação da questão social, que ela chama de armadilha, uma vez que atribui ao

indivíduo a responsabilidade por suas dificuldades e pobreza, o que tende a desresponsabilizar

a sociedade de classes. Não saúde essa tendência é bem expressiva entre os profissionais

quando estes responsabilizam o usuário pela sua situação, deixando de lado os determinantes

sociais, econômicos e culturais.

O Hospital Walfredo Gurgel possui profissionais de diversas áreas do conhecimento o

que permite a realização de trabalhos em equipe multidisciplinar. O Serviço Social do

Walfredo Gurgel atua com maior frequência em articulação com os profissionais da

psicologia, enfermagem e nutrição.

É importante destacar que a atribuição referente à orientação acerca dos direitos

sociais, este perpassa todas as atividades, uma vez que se dar em todo atendimento realizado

pelo assistente social, seja nos individuais com os usuários ou família, nos encaminhamentos

a outras instituições de viabilização de direitos, nas reuniões com os acompanhantes.

O serviço Social realiza reuniões com os acompanhantes uma vez ao mês. Ela está

voltada para a realização de ações sócio educativas, no sentido de despertar os acompanhantes

para questões que envolvem seus pacientes. São tratados assuntos concernentes aos direitos e

deveres do usuário, e são reforçadas as rotinas do Hospital.

Sobre a atribuição de supervisão de estágio supervisionado de Serviço Social, as

profissionais recebem estagiárias de algumas Universidades e faculdades. Esta experiência

permite as assistentes sociais divulgar sua vivência na área, contribuindo para o

fortalecimento do espaço ocupacional.

É nesse contexto de desafios e limitações que atua o Serviço Social do Hospital

Walfredo Gurgel, numa atuação compromissada com o direito do usuário e com o

fortalecimento do SUS.

Esse processo depende do grau de conscientização política da categoria no sentido de

promover o incentivo às lutas coletivas que perpassem os limites institucionais, seguido de

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 47 -

uma articulação entre as profissionais visando o reconhecimento da profissão ante os demais

profissionais.

A inserção nos espaços de deliberação das políticas de saúde, os conselhos de saúde,

paralelo a participação nos espaços de gestão da profissão, a exemplo do CRESS, constitui-se

em estratégias de fortalecimento da categoria nos seus espaços ocupacionais. O apoio às lutas

da classe trabalhadora não só enquanto assistentes sociais, mas enquanto trabalhador da saúde

também é de grande valia para a superação das limitações e desafios postos no espaço de

trabalho.

No Serviço Social do HMWG é possível perceber certa mobilização política por parte

da categoria, por meio da formulação de planos de trabalho que norteiam a atuação do

profissional no âmbito institucional, bem como a abertura de espaços de conversa com junto

aos acompanhantes onde são repassados orientações quanto aos direitos e deveres que

dispõem. Semelhantemente também são realizadas palestras mensais com as profissionais do

serviço social visando à divulgação de informações pertinentes a categoria, bem como o

compartilhamento de conhecimento entre elas.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 48 -

3 – QUESTÃO SOCIAL E SAÚDE PÚBLICA: A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO

DA QUESTÃO SOCIAL

Este capítulo está estruturado em dois tópicos. O primeiro trata da questão social e

violência. De início é feita uma discussão em torno dos fatores políticos, econômicos e sociais

que corroboraram para o processo de politização da questão social. Em seguida a questão

social no Brasil é analisada a partir de suas particularidades históricas fazendo um paralelo

com as mudanças no cenário econômico e mundial da época. Posterior a isso as principais

expressões da questão social no país são destacadas, com ênfase na violência. Analisada a

partir das contradições inerentes ao modo de produção capitalista.

O segundo tópico aprofunda a análise da violência por meio de conceitos, tipologia e

natureza. Fazendo uma interlocução com a Saúde pública explicitando os principais

rebatimentos da violência nessa área. Para tanto, são utilizados dados que enriquecem o

conteúdo discutido.

3.1. QUESTÃO SOCIAL E VIOLÊNCIA

A questão social e suas expressões se constituem enquanto objeto de intervenção das

ações do profissional do Serviço Social. Dada a sua dimensão estrutural, a questão social

atinge a vida dos sujeitos nas suas aspirações pela garantia de direitos civis, sociais, políticos

e humanos. Ela está articulada com as formas de produção e reprodução social. Sendo suas

expressões consideradas enquanto manifestação de uma relação de subalternidade do trabalho

ao capital. Sendo as políticas sociais a principal via de intervenção pelo qual o Estado, tende a

dar respostas às contradições inerentes à relação capital trabalho.

As políticas sociais possuem uma natureza contraditória: de um lado constituem-se

numa forma do Estado alcançar o consenso entre as classes; e de outro expressam as lutas

sociais.

São as múltiplas manifestações da “questão social” que chegam para os assistentes

sociais como demandas. Neste sentido, a retomada da gênese da questão social, buscando seus

fundamentos históricos, é de grande relevância para a compreensão da questão social na

contemporaneidade, bem como para orientar as intervenções do assistente social.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 49 -

As condições econômico-sociais e políticas que corroboraram para o surgimento da

questão social tem sua gênese intrinsecamente ligada ao intenso desenvolvimento das forças

produtivas, com a expansão do industrialismo e a ampliação de mercados no século XIX.

No cenário econômico, ocorrem alterações nos processos e relações de produção, uma

vez que o processo produtivo passa a ser constituído de nova dinâmica industrial, a partir da

incorporação das máquinas. A necessidade de mão de obra para operacionalizar as máquinas

cria uma nova forma de relação de trabalho, em um espaço diferenciado, a fábrica, que impõe

ao operariado uma nova disciplina que afeta diretamente suas condições de vida e de

existência social em termos materiais e políticos. Isso ocorre em virtude da escassez das

condições mínimas de sobrevivência. Ou seja, o desenvolvimento observado das forças

produtivas não repercutiu nos níveis e condições da reprodução social.

Para melhor entendimento do que ocorria na esfera econômica no momento de

ascensão das forças produtivas vamos nos remeter a Marx que nos oferece aporte teórico para

compreendermos a questão social como a expressão mais desenvolvida de um tipo de

exploração diferenciada “que se efetiva num marco de contradições e antagonismos que a

tornam, pela primeira vez na história registrada, suprimível sem a supressão das condições nas

quais se cria exponencialmente a riqueza social” (NETTO, 1996 p.46).

Em O Capital, Marx expõe de maneira crítica como se deu a constituição das

condições econômicas advindas da nova forma de produção fazendo uma relação com as

necessidades humanas. De início o autor faz uma análise das inovações que o capital conferiu

aos processos de trabalho no que tange ao desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo

tempo em que considera as revoluções advindas desse desenvolvimento, também explicita os

aspectos contraditórios inerentes a ele. Pois segundo Marx a criação e expansão das

necessidades humanas só poderão realizar-se na forma de mercadorias. E estas tiveram sua

plena expansão na grande indústria, uma vez que as barreiras que impediam essa expansão

foram eliminadas pelo capital. Esse fato segundo Marx tornou o trabalhador um apêndice da

máquina. Tendo em vista que “é removido o motivo técnico da anexação do trabalhador a

uma função parcial, por toda a vida. Por outro lado, caem as barreiras que o mesmo princípio

impunha ao domínio do capital” (Marx, t.1, 1996 p. 482).

Nesse sentido ocorre na esfera do trabalho o que Marx vai chamar de dessubjetivação

do processo de trabalho, que consiste na negação do elemento subjetivo, onde o trabalhador

passa de sujeito à coisa. Essa transformação se inicia na venda da força de trabalho e tem seu

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 50 -

aprofundamento na medida em que o trabalhador torna-se objeto manipulável da tecnologia.

(Augusto, 2009).

A dessubjetivação permite ao capital o controle dos salários, uma vez que há a

possibilidade do trabalhador ser substituído por máquinas. Isso permite um controle maior do

capital sobre a força de trabalho. Segundo Teixeira (1999) “o trabalho abstrato ganha uma

realidade tecnicamente tangível, na medida em que a nivelação geral das operações permite o

deslocamento dos trabalhadores de uma máquina para outra, de um setor a outro, em tempo

muito breve e sem a necessidade de um adestramento especial”.

A partir daí a produção de coisas úteis fica limitada ao lucro, ou seja, só serão

produzidas se forem lucrativas para o capital. Além disso, a reprodução do capital necessita

de produzir uma mercadoria cujo valor seja mais alto que a soma dos valores das mercadorias

exigidas para produzi-la. Impondo assim produzir não só um valor de uso, mas valor, e não

apenas valor, como também mais valia. E esse mais valor é extraído do trabalho humano. As

vias pelas quais era extraído o trabalho humano passaram a constituir um elemento central da

desigualdade social que se instaurou com a industrialização emergente. Essa contradição não

pode ser eliminada pela produção capitalista, uma vez que assim fosse significaria colocar o

desenvolvimento das forças produtivas a serviço do homem, e não do capital. (SANTOS &

COSTA, 2006).

Com base em Marx podemos analisar o capitalismo por meio de duas dimensões. A

primeira diz respeito a uma dimensão que podemos considerar positiva, uma vez que com a

revolução das forças produtivas foi possível criar bens e serviços em quantidade capaz de

responder as necessidades da sociedade, em caráter universal. A segunda dimensão diz

respeito à contradição inerente a essa forma de produção, que compreende os limites impostos

pelo capital. Marx afirma que “O capital é destrutivo ante tudo isso e constantemente o

revoluciona, rompendo todas as barreiras que impeçam o desenvolvimento das forças

produtivas, a expansão das necessidades, a diversificação do desenvolvimento da produção e

a exploração e o intercâmbio das forças naturais e espirituais” (MARX, 1985 p. 362).

A contradição inerente ao capital consiste na desigualdade social gerada diante do

processo de produção capitalista. O capitalismo cria uma classe operária que não tem suas

necessidades atendidas e uma grande disparidade entre as condições de vida e os interesses

entre operariado e a burguesia, detentora dos meios de produção.

A emergência do modo de produção capitalista foi sentida em todas as esferas da vida

humana. Os pequenos proprietários de terra foram expropriados dos seus lotes familiares, o

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 51 -

que provocou profundas transformações na agricultura inglesa. A posse da terra passou por

um processo de concentração nas mãos de grandes proprietários, o que por sua vez levou a um

maciço êxodo rural, aumentando a população urbana e a oferta de mão de obra para a

manufatura. (CASTELO, 2010).

O advento da maquinaria nas indústrias gerou um excedente de mão de obra, seguido

de diminuição dos salários e aumento da jornada de trabalho além da capacidade física dos

trabalhadores. Esses fatores corroboraram para as condições de pauperização do trabalhador,

que naquele momento era absoluta, e negavam condições mínimas de sobrevivência humana,

ao mesmo tempo em que gerava riqueza aos expropriadores, mediante a extração da mais-

valia.

Os trabalhadores rurais expulsos violentamente da sua terra, alijados dos seus meios

de produção e de reprodução sociais, eram, naquele momento, obrigados a subsistir nas

cidades em péssimas condições de vida.

A pobreza absoluta que naquele momento se instaurara no seio das famílias inglesas,

resultante da industrialização, impõe o ingresso destas no mercado de trabalho, objetivando a

ampliação da renda familiar e assegurar a reprodução social do trabalhador e de sua família. É

nesse momento que se tem o uso da força de trabalho feminina e infantil no espaço fabril.

É importante ressaltar que a pobreza já existia anterior à evolução das forças

produtivas e da industrialização. Sendo possível observar ainda no século XIV uma população

pauperizada que de acordo com o estudo que Castel (1999), sobre as metamorfoses da

“questão social”, era classificada entre indigentes inválidos, desobrigados do trabalho por

razões de doença, velhice e viuvez. A estes era concedido o “direito” à assistência; E

indigentes válidos, os vagabundos e similares, que estavam aptos ao trabalho, mas que não

tinham acesso à assistência. O pauperismo neste momento ainda não podia ser considerado

como questão social, de acordo com Castel.

O pauperismo que se observa no século XIX decorrente das más condições de trabalho

e escassez das formas mínimas de sobrevivência, que têm sua origem a partir da evolução das

forças produtivas e que ganha maior visibilidade na relação capital X trabalho, através da

exploração da força de trabalho do operariado e de sua família, ganha conotação importante

nos espaços de debate da burguesia revolucionária, por apresentar uma dinâmica de caráter

massivo e absoluto. Outro fator relevante para a inserção do tema na pauta de debates da

burguesia se dava pelo fato de “(...) os, pauperizados não se conformarem com a sua situação

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 52 -

(...), configurando uma ameaça real às instituições sociais vigentes” (NETTO, 1996, p. 43).

Nesse sentido a “questão social” está relacionada aos desdobramentos políticos.

Diante das péssimas condições de vida geradas pelo pauperismo e da exploração de

sua força de trabalho, pelo capitalismo, as massas trabalhadoras impôs-se como sujeito

histórico independente e autônomo, lutando e reivindicando soluções para suas mazelas

organizando-se como classe em torno de interesses comuns. A partir de então o fenômeno do

pauperismo ganha conotação política, passando a ser denominado de questão social. Anterior

a isso o Estado e a economia política burguesa viam e tratavam a miséria dos trabalhadores

ora como algo criminoso, passível de prisão e internação forçada em casa de abrigo; ora como

natural, como algo inerente a condição humana desde a antiguidade.

Um turbilhão de protestos e reivindicações populares tomou conta da sociedade

britânica. Os trabalhadores antes esquecidos nas periferias das grandes fábricas passaram a ser

motivo de preocupação da classe dominante. O desprezo deu lugar a um repentino interesse

pelas condições de vida e de trabalho dos operários. A luta operária ganhou força e expressão

na cena política, com os sindicatos e partidos políticos proletários.

Foram às lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e

trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferên-

cia do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos

sujeitos sociais envolvidos (IAMAMOTO, pag. 66, 2003).

As reivindicações empreendidas pela classe trabalhadora passaram pela luta contra

condições opressivas de vida e trabalho, satisfação de carências de natureza material e moral e

regulamentação do trabalho das mulheres. Na esfera político-social exigiam a intervenção do

estado na esfera econômica e social, no sentido de regulamentar o mercado de trabalho e de

melhorias nas condições de vida. Uma vez que, a questão social naquela conjuntura era um

problema que não se enquadrava na estrutura do Estado, tendo em vista que a burguesia se

inspirava nas doutrinas liberais.

Nesse sentido, coube ao catolicismo social intervir, em um primeiro momento, sobre

os efeitos da questão social na sociedade, onde visava à melhoria e recuperação da classe

trabalhadora emergente, bem como a manutenção da ordem social vigente. A igreja passa a

atuar em espaços onde o Estado se recusava a assumir. Nesse sentido, se vale de estratégias e

forte conteúdo moralizador, atuando basicamente em três níveis ela lançará mão de um

conjunto de procedimentos e estratégias de forte conteúdo moralizador, atuando basicamente

em três níveis:

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 53 -

[...] assistência aos indigentes por meio de técnicas que antecipam o trabalho social

no sentido profissional do termo; o desenvolvimento de instituições de poupança e

de previdência voluntária que apresentam as premissas de uma sociedade

segurancial; a instituição da proteção patronal, garantia da organização racional do

trabalho e, ao mesmo tempo, da paz social (CASTEL, 1999, p. 319).

Outras respostas foram dadas a luta do operariado, dentre as quais a criação da

legislação fabril com vistas a regulamentar o trabalho nas fábricas, sendo ela posteriormente

aplicada a outros espaços de trabalho (minas e agricultura). Paralelo a isso são criadas

comissões de investigação do trabalho de crianças, de adolescentes e de mulheres nas fábricas

e na agricultura.

É, portanto, a partir das lutas sociais e políticas do proletariado, que surge a questão

social.

A “questão social” não é senão as expressões do processo de formação e

desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da

sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do

Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o

proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais

além da caridade e da repressão (IAMAMOTO e CARVALHO, 2000, p. 77).

Com o advento do capitalismo monopolista a intervenção do Estado torna-se

imprescindível na expansão e aceleração econômica. Essas transformações vão se refletir na

questão social, no sentido de que o Estado passará a intervir nos conflitos resultantes das

relações de trabalho.

Nesse momento o Welfare State surge como expressão máxima do Estado Social, que

vai se caracterizar pela a atribuição de diversas funções, dentre as quais tornará acessível às

demandas da classe trabalhadora. A construção dos direitos sociais são formulados nesse

período, enquanto forma de ocultar as contradições de classe, bem como atenuar os conflitos.

Isso de certa forma tende a favorecer a reprodução dos trabalhadores. Mas o fim em sim é

assegurar o pleno desenvolvimento do capital monopolista.

Na atualidade, o discurso neoliberal continua a negar a questão social. E tendem a

responsabilizar o sujeito pelas más condições de vida a que está submetido. Os problemas

sociais são analisados apenas no limite do indivíduo e de sua família sendo deixado de fora da

análise à dimensão coletiva e o recorte de classe da questão social. Isso tende a reduzir a

exploração da classe trabalhadora a uma dificuldade do indivíduo. (IAMAMOTO, 2010). De

modo que, por parte do pensamento liberal, a questão social e sua objetivação atravessam a

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 54 -

responsabilidade individual e responsabilidade pública de resolvê-la pela via do Estado ou da

sociedade civil. Tal polemica se perpetua ainda nos dias atuais em que o neoliberalismo

defende a desresponsabilização do Estado no que diz respeito à questão social e suas

expressões, materializadas nas mais variadas formas de pobreza de grande contingente da

sociedade.

A pulverização da questão social, típica da ótica liberal, resulta na automização de

suas múltiplas expressões – as várias “questões sociais” – em detrimento da

perspectiva de unidade. Impede-se, assim, o resgate do complexo de causalidades

que determina as origens da questão social, imanente à organização social

capitalista, o que não elide a necessidade de apreender as múltiplas expressões e

formas concretas que assume (idem).

Nesse cenário de dominação ideológica do liberalismo a questão social é permeada

por diversos fatores que visam sua redução ao espaço da sociedade civil, a culpabilização do

individuo, a redução da questão social ao conceito de exclusão seguida do esvaziamento de

suas particularidades históricas no sentido de desconsiderar as suas expressões.

Assim, na contemporaneidade segundo Iamamoto (2010) há uma renovação da “velha

questão social”, mantida sua natureza de contradições inerentes às relações sociais

capitalistas. O que se tem é uma questão social (...) “sob outras roupagens, e novas condições

sócio-históricas na sociedade contemporânea, aprofundando suas condições e assumindo

novas expressões na atualidade” (idem). Ainda hoje se evidenciam as lutas sociais contras as

desigualdades geradas pelo processo de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho

social e das relações sociais.

Deste modo, é possível afirmar que a intervenção sobre a questão social e suas

expressões está condicionada a expansão do capitalismo e da reprodução do capital. A

responsabilização ou desresponsabilização do Estado pelo problema tem seguido as

exigências dessa expansão.

No Brasil a questão social sofre conotações diferentes da vivenciada na sociedade

europeia. Isso se dar em virtude das particularidades históricas que são vivenciadas no país.

Martins (1997) afirma que “é produto de uma estrutura social inerente ao modo de produção e

reprodução vigentes, pelos modelos de desenvolvimento que o país experimentou, a saber:

escravista, industrial, desenvolvimentista - fordista – taylorista e de reorganização flexível”.

A história da sociedade brasileira está permeada por diversas situações que trazem à

tona a questão social. Se apresentando enquanto problemática nacional e estando inserida nos

impasses e dilemas vivenciados pelos governantes de cada regime político experimentado

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 55 -

pelo país. Esses regimes políticos compreendem o período colonial, império, e república

seguida dos seus desdobramentos (oligárquica, populista, militar e nova) regimes políticos e

seus governantes. (Ianni, 1989).

Já no período colonial eram perceptíveis traços da questão social manifesta por meio

da desigualdade social que tinha como expressão máxima o trabalho escravo, o qual se

perdurou por vários séculos, sendo “extinto” em 1888, sob pressão social de grupos

revolucionário nacional e influenciado pelo liberalismo inglês. Assim podemos afirmar que a

desigualdade social no país não é algo novo.

Na República, ocorre o aprofundamento das desigualdades sociais manifestas nas mais

variadas formas de pobreza, miséria, desemprego e exclusão social, que refletem as

disparidades econômicas, políticas e culturais que envolvem classes sociais, minorias sociais

(negros, índios, mulheres, crianças, e outros) e formações regionais.

Essas desigualdades eram manifestas por meio das condições precárias de trabalho das

pequenas oficinas, órgãos públicos, numa industrialização lenta e de poucos empregos, longas

jornadas de trabalho, trabalho infantil e escravo, salários reduzidos, escassez de alimentos,

acesso restrito às poucas escolas públicas primárias e técnicas, epidemias, mão de obra

disponível nas cidades. (Arcoverde & Almeida (orgs), 2006).

Nesse período a questão social e suas expressões não eram vistas como questão

política por parte do Estado. Por várias décadas a questão social no Brasil permaneceu na

ilegalidade pensada enquanto desordem e marcada pela criminalização do sujeito. Seu

enfrentamento se dava por meio dos aparelhos coercitivos do Estado. Ainda nesse contexto

surgem às sociedades de auxílio mútuo, as santas casas de misericórdia, por iniciativa da

Igreja, da elite local e do Estado. Sendo os problemas da questão social tratados por meio da

filantropia e da beneficência.

Cabe ressaltar que nesse momento na Europa, final do século XIX, se vivia um

momento de expansão do capitalismo monopolista por meio da evolução das forças

produtivas que alavancou a produção dos bens produzidos. E as lutas sociais da classe

trabalhadora, por melhores condições de vida e trabalho, se intensificavam na sociedade.

Enquanto que no Brasil, nesse período, a questão social começa a se tornar visível,

mas ainda com pouca conotação em virtude do incipiente processo de industrialização, que no

Brasil é tardio, se comparado a outros países europeus. Iamamoto apud Fernandes (1975)

afirma que “a transição do capitalismo competitivo ao monopolista no Brasil ocorre por

caminhos que fogem ao “modelo universal da democracia burguesa””.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 56 -

Somente no final do século XIX é que começa a se formar, de forma mais densa no

país, movimentos de luta por mudanças sociais. Isso se dar num contexto de desemprego,

subemprego e pauperismo vivenciados na realidade do trabalhador. As reivindicações e

protestos expressam a insatisfação popular. As lutas sociais polarizam-se em torno do acesso

a terra, emprego, salário, condições de trabalho na fábrica e fazenda, garantias trabalhistas,

saúde, habitação, educação, direitos políticos, cidadania.

A questão social sai da ilegalidade e passa a ser reconhecida pela elite dominante

enquanto questão política. Fruto das contradições de um capitalismo que assentava suas bases

num padrão econômico de substituições de importações e industrialização periférica. Nesse

sentido Iamamoto (2010) afirma que “a economia brasileira relacionou-se com a expansão

monopolista segundo a forma típica que assumiu nas periferias dos centros mundiais”.

Deixando a ilegalidade, as intervenções públicas relativas à questão social se voltam

às questões trabalhistas visando desmobilizar a classe que oferecia risco a ordem social

vigente naquele momento. Assim, em 1930 o Estado aprova criação da Consolidação das Leis

Trabalhistas (CLT), que garantia aos trabalhadores direitos e melhores condições de trabalho.

Paralelo a isso, os governantes passam a investir em ações de saneamento e

modernização das principais cidades do país. Essas ações foram insuficientes para atender a

grande demanda de serviços reivindicados pela população, que se encontrava expropriada da

riqueza socialmente produzida. Ficando a população a mercê do assistencialismo privado,

oferecido pelas santas casas aos pobres e desvalidos. Aos trabalhadores era prestado o mesmo

atendimento e tratamento. Na nova República os governos ainda mostravam-se inertes em

relação à questão social.

Na atualidade, a desigualdade enquanto base da questão social se evidencia por meio

dos números que a quantificam.

O detém a terceira pior desigualdade de renda dentre 162 países do mundo. É,

inclusive, pior do que a África do Sul do aparthaid. Dez por cento dos ricos ganham

50 vezes mais do que os 10% mais pobres e que compartilham 1% apenas da riqueza

socialmente produzida e acumulada; 20% da população apresentam renda per capita

acima de R$ 540,00 reais e 25% dos brasileiros vivem em condições precárias, sem

renda, emprego, acesso à educação, acumulando desigualdades não só de renda, mas

política, social, cultural, moral. (Arcoverde & Almeida apud Pochmann, 2003).

Diante disso o Estado tem engendrado respostas que são limitadas e não conseguem

ultrapassar o caráter emergencial, assistencialista e clientelista. Pautados no imediatismo das

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 57 -

políticas sociais. A sociedade civil organizada por sua vez tem atuado por meio de atividades

que visam atender as demandas que o estado não consegue alcançar. Nessa esfera se destacam

as diversas organizações não governamentais (ONGs), setores das igrejas, partidos, sindicatos

e outros.

A desresponsabilização do Estado ante as expressões da questão social resultam da

política neoliberal, que no Brasil tem seu auge nos anos 90. Um dos princípios da lógica

neoliberal consiste na redução das funções do Estado, que visa instituir o Estado mínimo.

Mínimo no sentido de intervir na esfera social. Transferindo à sociedade civil a execução de

atividades que não cabem a ela. Esse processo tende a desregulamentar e reduzir os direitos

sociais conquistados pela classe trabalhadora por meio das lutas sociais.

O país passa por um momento de perplexidades em que a exclusão impera.

Evidenciada por meio da precarização do trabalho, do desemprego estrutural, das violências

contra as minorias. Expressões da questão social que se manifestam em todos os espaços

sociais e institucionais.

Dentre as várias expressões da questão social que se apresentam na cena atual está a

violência. Ela se apresenta cotidianamente no espaço social e atinge um grande contingente da

população (homens, mulheres, crianças, pobres, ricos, negros, brancos, etc.). Representando

um dos grandes desafios da atualidade.

A desigualdade entre as classes e a exclusão social, resultante do modelo de

sociabilidade capitalista, está intimamente ligada à violência. Ela desempenha papel histórico

nas relações capitalistas. Uma vez que a violência está ligada a questões estruturais, seu

entendimento não pode se limitar apenas as expressões de criminalidade e agressões físicas,

podendo também se materializar em diversas esferas, sendo o Estado uma destas.

Na sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, como é a sociedade

capitalista atual, a violência não só se mostra nas formas diretas e organizadas de

uma violência real ou possível, como também se manifesta de um modo indireto, e

aparentemente espontâneo, como violência vinculada como caráter alienante e

explorador das relações humanas. Tal é a violência da miséria, da fome, da

prostituição ou da doença que já não é a resposta a outra violência potencial ou em

ato, mas sim da própria violência como modo de vida porque assim o exige a própria

essência do regime social. Essa violência surda causa muito mais vítimas que a

violência ruidosa dos organismos coercitivos do Estado.

(Vázquez, 2007, p. 377-378).

A lógica destrutiva do modo de produção capitalista seguida da política neoliberal tem

promovido o desmonte do social em detrimento do crescimento econômico o que por sua vez,

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 58 -

tende a atingir os direitos sociais no sentido de suprimi-los e reduzi-los. Fazendo com que o

número de pessoas em situação de vulnerabilidade social aumente.

Esse processo tende a se acentuar cada vez mais, tendo em vista que só a superação do

modelo de sociabilidade capitalista poderá reverter essa situação. Enquanto isso não ocorre o

que fica evidente são as gigantescas contradições sociais que tendem a fomentar o

crescimento da violência nos centros urbanos. Vista nesse contexto de crise político-

econômico-social, a violência incide sobre as condições de vida da população afetando

diretamente seu desenvolvimento social.

O tópico seguinte trás uma discussão referente à violência, visando aprofundar suas

definições, tipologias e natureza. Em seguida faz uma relação entre violência e seus

desdobramentos na Saúde pública, afunilando para uma discussão sobre as mortes e lesões

por armas de fogo no Brasil.

3.2. A VIOLÊNCIA E SEUS REBATIMENTOS NA SAÚDE PÚBLICA

Na atualidade a violência se apresenta aos sujeitos em sua vivencia cotidiana nos

diversas esferas da vida social, seja no dia a dia, em casa, no trabalho, nas ruas. Sendo um

dos temas mais discutidos no cenário atual, uma vez que seus efeitos afetam a todos os

cidadãos, de todas as classes, etnias, culturas e religiões.

Mas a violência não é um fenômeno novo na história. Ela sempre permeou a

humanidade. Assim é possível afirmar que não houve sociedade onde a violência não

estivesse presente.

A dimensão que o fenômeno tomou no seio das sociedades despertou a preocupação e

a curiosidade de inúmeros teóricos e filósofos da teoria social da época. Que passaram a

problematizá-la buscando a compreensão de sua natureza, origem e os meios pelos quais

poderia haver uma atenuação de suas expressões nas relações sociais.

Várias teorias foram levantadas a fim de explicar o fenômeno da violência. O

entendimento em torno do seu conceito foi e continua sendo bastante discutido por vários

autores e analisado a partir de várias perspectivas que visam compreendê-la nas diversas

dimensões da vida humana. Algumas partiam do pressuposto biológico e psicológico

enquanto determinantes da violência. Em que afirmavam que a violência era algo do instinto

humano que se externava por meio das emoções. Outras correntes consideravam o fator

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 59 -

histórico e social, seguidos dos seus elementos estruturais e conjunturais para explicar as

causas da violência.

A partir dessas teorias foi possível chegar a um nível considerável de conhecimento

em torno do tema, onde alguns elementos tornaram-se consensuais, mas que ao mesmo tempo

ainda é controverso em muitos aspectos. Atualmente, há um consenso praticamente unânime

que considera que o fenômeno da violência não está imbricado à natureza humana, bem como

não tem raízes em fatores biológicos.

Mas essa discussão está longe de chegar a um consenso final, tendo em vista que há na

atualidade uma grande diversidade de estudos e diferentes abordagens sobre o tema que

oferecem uma gama de caminhos para a discussão dessa temática. Porém uma coisa é certa

todas essas abordagens buscam a compreensão das raízes sócio-históricas e culturais que

envolvem a violência. Para fins deste trabalho abordaremos a violência como uma expressão

da questão social e que possui determinantes históricos.

Portanto, para entendê-la, é necessário retomar sua especificidade histórica. Nessa

busca tem-se a interlocução da temática da violência com outros aspectos da vida social.

Minayo (1994) afirma que a violência

trata-se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de

criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. Portanto, para entendê-la, há que

se apelar para a especificidade histórica. Daí se conclui, também, que na

configuração da violência se cruzam problemas da política, da economia, da moral,

do Direito, da Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano

individual.

É nesse campo que se concentram as dificuldades de conceituação do fenômeno da

violência, pois ele está ligado diretamente com o vivido do individuo, cujas suas

manifestações incidem direto no emocional de quem a comete ou de quem é por ela

acometido.

Para melhor compreensão do tema, e visando não reduzi-lo a delinquência ou a

criminalidade este trabalho vai considerar as tipologias da violência a partir do Relatório

Mundial da OMS (2002) que a subdividiu a partir de algumas de suas manifestações. Assim a

violência se apresenta com violência dirigida contra si mesmo (auto-infligida); violência

interpessoal; violência coletiva.

As violências denominadas de auto-infligida compreende os comportamentos suicidas

e autoabusivos, este termo designa as agressões cometidas contra o próprio individuo.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 60 -

As violências interpessoais ocorrem de duas formas. A primeira diz respeito à

violência cometida no ambiente intrafamiliar por membros ou não membros da família. E se

expressão através da agressão a segmentos infantil, feminino ou masculino, idosos e

portadores de algum tipo de deficiência. A segunda é denominada de violência comunitária,

uma vez que suas expressões se dão no ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos.

Sendo manifestas por meio da violência juvenil, agressões físicas, estupros, ataques sexuais e

inclusive, a violência institucional que ocorre, por exemplo, em escolas, locais de trabalho,

prisões e asilos. (Minayo, 2005).

As violências coletivas estão relacionadas aos atos violentos que ocorrem nas esferas

macrossociais da política e da economia. Suas expressões são os grupos organizados, as

guerrilhas, atos terroristas, guerras, entre outros.

Após termos analisado a divisão da violência em tipologias, passaremos a analisar a

sua natureza que se encontra classificada em quatro modalidades: abuso físico; abuso

psicológico; abuso sexual; negligencia e abandono.

O abuso físico é aquele cometido por meio do uso da força, com o objetivo de

produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em outra pessoa. O psicológico, por sua vez

integra as agressões verbais ou por meio de gestos, que visem a produzir na vítima um

sentimento de terror, rejeição, humilhação; seguida da restrição da liberdade ou do isolamento

do convívio social. (BRASIL, 2001)

Abuso sexual se dar no momento em que o explorador impõe à vítima a participação

em jogo ou ato hetero ou homossexual, por meio de violência física ou ameaça. Ou quando a

vítima for utilizada para obter excitação sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais. A

negligencia e o abandono ocorrem quando há ausência ou recusa de cuidados especiais a

alguém que necessita. (idem.).

A violência, como se observou anteriormente por meio da sua distribuição em

tipologia e pela análise de sua natureza, tende a provocar impactos na qualidade de vida da

população através das lesões físicas, psíquicas e morais. Que por sua vez, exigem a atenção e

cuidados médicos e hospitalares. Nesse sentido, mesmo não sendo um objeto propriamente da

saúde. Ela se torna um tema recorrente na área em virtude de suas expressões que se refletem

diretamente nas instituições de saúde.

Por ser um fenômeno sócio-histórico, a violência não é, em si, uma questão de saúde

pública e nem um problema médico típico. Mas ela afeta fortemente a saúde:

provoca morte, lesões e traumas físicos e um sem número de agravos mentais,

emocionais e espirituais; diminui a qualidade de vida das pessoas e das

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 61 -

coletividades; exige uma readequação da organização tradicional dos serviços de

saúde; Coloca novos problemas para o atendimento médico preventivo ou curativo;

evidencia a necessidade de uma atuação muito mais específica, interdisciplinar,

multiprofissional, intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos

cidadãos. (MINAYO, 2006).

Nesse sentido, no cenário atual a problemática da violência não pode ser pensada sem

analisar seus desdobramentos na área da saúde. Agudelo (1999) diz que "a violência afeta a

saúde porque ela representa um risco maior para a realização do processo vital humano:

ameaça a vida, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade

próxima”.

Mesmo diante de todas essas evidências o fenômeno da violência só foi incluído na

agenda da Saúde Pública no final dos anos 80. Quando as mortes e traumas ocorridos por

questões violentas aumentam de forma alarmante ante as demais doenças. Esse processo exige

do sistema respostas que se traduzam em meios de atenuar o quadro crescente do impacto da

violência na saúde.

Na década de 90, a preocupação com o tema ganha conotações importantes nos

espaços de debates das organizações internacionais. Em 1993 o dia Mundial da Saúde foi

comemorado sob o tema “prevenção de acidentes e traumatismos”. Nesse mesmo ano a

Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em reunião com seu conselho diretor, decidem

incentivar aos governos dos países membros a estabelecer políticas e planos nacionais que

visem prevenir e controlar a violência. Outro importante avanço foi à inclusão das mortes e

traumas por violência na Classificação Internacional de Doenças (CID) no grupo, já existente,

das causas externas (E800- E999).

No Brasil, há vários anos vêm sendo desenvolvidas pesquisas e produção de materiais

que tratam da problemática da violência e Saúde Pública. O Ministério da Saúde tem lançado

anualmente documentos que tratam do tema. Viva: vigilância de violências e acidentes, 2006

e 2007 (2009); Impacto da Violência na Saúde dos Brasileiros (2005); Painel de Indicadores

do SUS Nº 5 - Prevenção de Violências e Cultura de Paz (2008); Enfrentando a Violência

(2005); Violência: uma epidemia silenciosa nº 15, 16 e 17 (2008 e 2009); Enfrentando a

Violência contra a Mulher (2005); Violência Intrafamiliar (2002); Notificação de Maus-tratos

contra crianças e adolescentes pelos profissionais de saúde(2002). Legislação sobre a temática

da violência, seguida de leis e portarias também foram instituídas no país: Lei Nº 8.069/1990

(Estatuto da criança e do adolescente- ECA); portaria GM/MS Nº 1.968, de 25 de outubro de

2001, que dispõe sobre a notificação, às autoridades competentes, de casos de suspeita ou de

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 62 -

confirmação de maus tratos contra crianças e adolescentes atendidos nas entidades do SUS;

Portaria MS/GM Nº737 de 16 de maio de 2001—Política Nacional de Redução da

Morbimortalidade por acidentes e violências; Lei Nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso); Lei Nº

10.778/2003 que institui o serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher

nos serviços públicos e privados de saúde; Portaria Nº 2.406/GM de 5 de novembro de 2004,

que institui serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher e aprova

instrumento e fluxo para notificação; Portaria MS/GM Nº 687 de 30 de junho de 2006—

Política Nacional de Promoção da Saúde; Portaria Nº 1.876 de 14 de agosto de 2006, que

institui as diretrizes nacionais para prevenção do suicídio; Portaria Nº 2.472 de 31 de agosto

de 2010, que define a relação de doenças, agravos (dentre esses as violências) e eventos em

saúde pública de notificação compulsória.

Esses documentos refletem o significativo avanço que a violência alcançou no espaço

da Saúde Pública no Brasil, em virtude dos impactos e agravos causados.

Já na década de 1960, no Brasil, o número de mortalidades no quadro das causas

externas passa a serem vistos como de caráter relevante. As causas externas compreendem

todos os tipos de acidentes (E800-E949); suicídios (E950-E959); homicídios e lesões

intencionalmente infligidas (E960-969); intervenções legais (E970-E978); lesões resultantes

de operações de guerra (E990-E999); e lesões que se ignora se foram acidental ou

intencionalmente infligidas (E980-E989). (OPAS, 1993).

Cabe pontuar que os fatores econômicos, políticos e sociais são determinantes para o

aumento ou diminuição do fenômeno da violência. Nesse sentido Krug (2002) afirma que “a

violência é um fenômeno complexo, sendo a sua ocorrência determinada ou influenciada por

um conjunto de fatores que incluem características individuais, relacionais, comunitárias, e

sociais”. A estrutura social e as desigualdades evidenciadas através de taxas de desemprego,

baixa renda e analfabetismo; o difícil acesso aos serviços públicos, tais como hospitais,

escolas, e justiça; as precárias condições de vida e a alta densidade domiciliar; a ineficiência

das instituições de segurança pública e judiciais; o crescimento do mercado ilícito de drogas e

de organizações criminosas são fatores determinantes relacionados ao crescimento da

violência no Brasil.

A mortalidade e morbidade por causas externas no Brasil têm crescido

concebivelmente nos últimos anos. Em 1930, 2% (dois por cento) das mortes se deviam à

violência e a acidentes. Em 1980, esse percentual subia para 10,5% (dez e meio por cento),

seguido de 12,3% (doze vírgula três por cento), em 1988.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 63 -

Os anos 1980 apresentou o maior crescimento no número de mortes violentas

chegando a 29% dos óbitos, perdendo apenas para as doenças do coração. De 1991 a 2000 o

número de mortos chegou a 1. 118. 651 (um milhão, cento e dezoito mil, seiscentos e

cinquenta e uma) pessoas. Dentre as quais 369. 068 (trezentas e sessenta e nove mil e sessenta

e oito) foram por homicídios, 62. 480 (sessenta e dois mil, quatrocentos e oitenta) por

suicídios e 309.212 (trezentas e nove mil, duzentas e doze) por acidentes e violências no

transito e nos transportes. (Minayo, 2005).

Cerca de 84% (oitenta e quatro por cento) de toda a mortalidade por acidentes e

violências em 2000, correspondendo à perda de 99.474 (noventa e nove mil, quatrocentas e

setenta e quatro) pessoas, ocorreram na população masculina. No grupo feminino, morreram

18.810 (dezoito mil, oitocentos e dez) vítimas, numa proporção de 15,9% (quinze vírgula

nove por cento). No ano 2000, chegaram aos serviços públicos de saúde 693.961 (seiscentos e

noventa e três, novecentos e sessenta e uma) pessoas buscando tratamento hospitalar para

lesões e traumas provenientes de acidentes e violências. Esses agravos ocuparam o 7o

(sétimo)

lugar no conjunto das internações. O custo médio de tratamento de pessoas feridas,

traumatizadas ou lesionadas por acidentes e violências foi de R$ 506,52 (quinhentos e seis

reais e cinquenta e dois centavos), bem acima dos R$ 403,38 (quatrocentos e três reais e trinta

e oito centavos), que correspondem ao custo médio das internações em geral. Isso mostra

como a violência contribui para o aumento do orçamento da saúde. (idem).

Dentre os agravos que tem contribuído para o aumento da mortalidade e da morbidade

por causas externas está o uso das armas de fogo. O uso de álcool e drogas, aliado ao aumento

das facções e crimes organizados influencia o cotidiano dos indivíduos e contribuem para a

grande magnitude da violência por armas de fogo na sociedade Brasileira que se repercute nos

corredores dos hospitais públicos do país. As internações por lesões devidas a armas de fogo

são muito expressivas, tendo tido um crescimento de 95% (noventa e cinco por cento) do

início para o final da década de 1990.

Em pesquisa realizada pelo Núcleo de estudos da violência da Universidade de são

Paulo (NEV/USP, 2004) sobre a violência por armas de fogo foi constatado que entre os anos

de 1990 a 2000 o número de mortes e lesões pelo uso de armas de fogo cresceu

consideravelmente, passando a ocupar o primeiro lugar entre as causas externas, superando as

mortes por acidentes de transito. Na relação entre gênero o número de vítimas é bem mais

expressivo entre os homens. Sendo que para cada óbito feminino são encontrados cerca de 12

(doze) óbitos masculinos. Esta diferença se amplia após a adolescência. A faixa etária das

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 64 -

vítimas ficou compreendido entre 5 (cinco) e 29 (vinte e nove) anos para a população do sexo

masculino. No contexto regional as regiões Nordeste e Sudeste, especialmente os estados do

Rio de Janeiro e Pernambuco foram os que mais contribuíram nas mortes por armas de fogo.

O capítulo seguinte vai trazer um aprofundamento da violência no estado do Rio

grande do Norte, a partir da análise dos coeficientes de morte e lesões por armas de fogo da

população atendida pelo Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 65 -

4 - VIOLÊNCIA NO RN: VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HOSPITAL

MONSENHOR WALFREDO GURGEL

Este capítulo apresenta dados referentes às vítimas por armas de fogo que foram

atendidas no Hospital Walfredo Gurgel no 1º (primeiro) semestre de 2011. Em seguida faz o

levantamento do perfil socioeconômico dessas vítimas a partir dos números levantados por

meio da coleta de dados.

4.1 DADOS DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO HMWG

No primeiro semestre de 2011 o número de vítimas por armas de fogo que deram

entrada no Hospital Walfredo Gurgel perfez um total de 383 (trezentos e oitenta e três)

atendimentos. Nesses estão incluídos internamentos e atendimentos de urgência. Nos meses

de janeiro e junho foram atendidas 72 (setenta e duas) pessoas atingidas por projétil de arma

de fogo. Fevereiro, março e abril registraram 54 (cinquenta e quatro), 74 (setenta e quatro) e

30 (trinta) atendimentos respectivamente. O mês de maio foi responsável pelo maior número

de atendimentos, 81 (oitenta e um).

Meses/2011

Nº de atendimentos

Janeiro

72 (setenta e dois)

Fevereiro

54 (cinquenta e quatro)

Março

74 (setenta e quatro)

Abril

30 (trinta)

Maio

81 (oitenta e um)

Junho

72 (setenta e dois)

Total

383 (trezentos e oitenta e três)

Tabela 2: Número de atendidos pelo HMWG vitimados por armas de fogo no 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Os dados referentes aos meses de jan. a jun. 2011, quantificados em números

percentuais correspondem a 19% (dezenove por cento), 14% (quatorze por cento), 19%

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 66 -

(dezenove por cento), 8% (oito por cento), 21% (vinte e um por cento) e 19% (dezenove por

cento) respectivamente. O mês de maio apresentou um aumento em relação aos demais meses.

Enquanto que em abril há uma queda no número de atendimentos. Podemos inferir que este

aumento e queda no número de atendimentos a pessoas vítimas por armas de fogo podem

estar ligados a eventos ocorridos nesse período. Como também, podem representar um

mascaramento da realidade social, uma vez que nem todos os casos, de vítimas por armas de

fogo, que são atendidos pelo Hospital são notificados, tendo em vista as limitações do sistema

de armazenagem de dados utilizado atualmente pelo Walfredo Gurgel.

Gráfico 1: Quantitativo (%) dos atendimentos as vítimas de armas de fogo no 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

4.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS VÍTIMAS POR ARMAS DE FOGO NO

HMWG

Para caracterização do perfil das vítimas a coleta dos dados foi realizada no arquivo do

Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel por meio do levantamento de prontuários dos pacientes

vítimas de lesões por armas de fogo, atendidos no Hospital, no período de Jan./Jun. 2011.

Em virtude do grande número de prontuários, e tendo em vista que estes não estavam

separados por tipos de atendimento, mas sim por meses e em caixas com numeração, foram

escolhidas algumas dessas caixas para serem retiradas amostras que viessem a subsidiar a

construção do perfil das vítimas por armas de fogo atendidas no Walfredo Gurgel.

Nesse sentido foram utilizadas num total de 20 (vinte) caixas que continham uma

média de 15 a 20 prontuários. A partir desses prontuários foram preenchidos 28 roteiros. Estes

Jan. 19%

Fev. 14%

Mar. 19%

Abr. 8%

Maio 21%

Jun. 19%

Número (%) de atendimentos 1º Semestre 2011

Jan.

Fev.

Mar.

Abr.

Maio

Jun.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 67 -

foram distribuídos entre os 06 (seis) primeiros meses de 2011. Resultando na distribuição a

seguir

Meses Numero de Roteiros Preenchidos

Janeiro 05 (cinco)

Fevereiro 05 (cinco)

Março 03 (três)

Abril 05 (cinco)

Maio 06 (seis)

Junho 04 (quatro)

Tabela 3: Distribuição dos Roteiros por meses do 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

O roteiro foi estruturado de forma a identificar o perfil socioeconômico dos vitimados

por armas de fogo. Assim os itens contemplaram os seguintes temas: gênero; idade; local de

procedência, com o enquadramento dos bairros dentro da divisão administrativa de Natal e a

possível identificação de usuários provenientes do interior do Estado; grau de escolaridade;

renda do atendido; composição familiar.

A população atendida no Hospital Walfredo Gurgel vítimas de agressões ou lesões por

armas de fogo, no que concerne ao gênero é majoritariamente masculino (96%). Sendo 4%

(quatro por cento) dos atendimentos feito a mulheres. Ou seja, a cada 28 (vinte e oito)

atendimentos, apenas 1 (um) é feito as mulheres.

Os homens são os principais alvos do fenômeno da violência por armas de fogo. Tal

fato pode ser explicado pela maior inserção desse segmento na criminalidade expressa por

meio de facções criminosas que promovem a violência nos centros urbanos.

Outro fator a ser considerado é o determinante cultural. A sociedade burguesa em

geral é paternalista. E fomentam a ideia de que a figura masculina é provida de maior

liberdade em detrimento da feminina.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 68 -

Tabela 4: Atendidos pelo HMWG Vitimados por Armas de Fogo no 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Gráfico 2: Atendimentos por Gênero no 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Em relação à faixa etária dos atendidos pelo serviço de urgência/emergência e

internamentos do Walfredo Gurgel, os pacientes com idade entre 18-25 anos foram mais

representativos perfazendo 33% (trinta e três por cento) dos atendimentos. Seguido dos

usuários com 26-30 anos sendo 21% (vinte e um por cento). E em terceiro aparece os

vitimizados na faixa de 12-17 anos com 18% (dezoito por cento) das ocorrências. Os que

compreendem a faixa dos 36-40 anos e 46-59 anos apresentaram um percentual de 11% (onze

por cento) dos atendimentos, respectivamente. Dos 31- 35 anos e 41- 45 anos foram

responsáveis por 3% (três por cento) dos casos registrados. Entre a faixa de idade que

compreende os menores de 12 (doze) anos e maiores de 60 (sessenta) anos não houve

ocorrências.

5 5

3

5

6

3

0 0 0 0 0

1

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.

Distribuição dos Atendimentos Por Armas de Fogo

segundo Gênero

Masculino Feminino

Meses/2011 Masculino Feminino

Janeiro 05 _

Fevereiro 05 _

Março 03 _

Abril 05 _

Maio 06 _

Junho 03 01

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 69 -

Idade

Meses

<12

anos

12-17

anos

18-25

anos

26-30

anos

31-35

anos

36-40

anos

41-45

anos

46-59

anos

>60

anos

Janeiro _ _ 03 02 _ _ _ _ _

Fevereiro _ 02 _ _ _ 02 _ 01 _

Março _ 01 _ 01 _ _ 01 _

Abril _ 01 03 01 _ _ _ _ _

Maio _ _ 01 03 _ 01 _ 01 _

Junho _ 01 02 _ _ _ 01 _ _

Total _ 05 09 06 01 03 01 03 _

Tabela 5: Distribuição dos atendimentos por idade

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

No gráfico a seguir podemos visualizar os jovens com destaque etário das vítimas por

armas de fogo, sobressaindo-se primeiro os jovens entre 18 e 25; segundo os de 26 a 30 anos e

em 3º (terceiro) lugar os jovens de 12 a 17 anos.

Gráfico 3: Atendimentos por idade 1º Semestre 2011.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

No que diz respeito ao local de procedência dos pacientes atendidos estes são em sua

maioria da cidade do Natal com maior representatividade dos bairros da zona Oeste, seguido

das Zonas Leste, Norte e Sul. Apareceram também atendimentos a pacientes de alguns

municípios do interior do Estado.

0%

18%

33% 21%

3%

11%

3% 11%

0% Atendimentos por Faixa Etária(%)

<12 anos

12-17 anos 18-25 anos 26-30 anos 31-35 anos 36-40 anos 41-45 anos 46-59 anos >60 anos

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 70 -

Dentre os bairros da zona oeste com maior número de vítimas por armas de fogo

atendidas pelo HMWG estão Planalto, Felipe Camarão, Quintas, Bom Pastor e Dix. Sept.

Rosado. Na zona administrativa leste da capital o bairro das Rocas; Praia do Meio e Mãe

Luiza, aparecem como os principais locais de procedência dos atendidos por armas de fogo.

Lagoa Azul; Pajuçara e Loteamento Cidade Praia, que está dentro do Bairro de Lagoa Azul,

são os bairros da zona norte com maior número de atendidos. A zona sul de Natal teve como

representação apenas o bairro da Candelária.

Em relação aos municípios do interior do Estado, com exceção de Mossoró e Tangará

os demais fazem parte da RMN. São eles: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante,

Ceará-Mirim e São José de Mipibu.

Cabe ressaltar que os municípios de Mossoró e Tangará possuem hospitais regionais.

Em Mossoró há 2 (dois): Hospital Rafael Fernandes e Hospital Regional Dr. Tarcísio Maia. A

população de Tangará é coberta pelo Hospital Aluísio Beserra, localizado no município de

Santa Cruz. Conforme ilustrado na Tabela 1.

Esses Hospitais, como já relatado em capítulos anteriores, possuem estrutura para o

atendimento de média complexidade. Apesar disso a demanda de regiões do interior do estado

para o HMWG ainda é bem expressiva. Isso pode ser explicado pela cultura já internalizada

no cidadão rio-grandense que subjetivamente ver r o complexo Hospitalar Walfredo Gurgel

como um “resolve tudo”. Onde todas as enfermidades podem ser curadas, independentes do

grau de complexidade.

Meses Zona Norte Zona Sul Zona Leste Zona

Oeste

Interior

Janeiro

_

_

Rocas Cidade da

Esperança

Macaíba

Parnamirim

Tangará

Fevereiro

_

_

Rocas

Planalto Parnamirim

Praia do

Meio

São José de

Mipibu

Março

_

_

Mãe Luiza Planalto Cidade

Verde

(Nova

Parnamirim)

Abril

_

_

Rocas

Felipe

Camarão

(02)

Mossoró

Mãe Luiza

Maio Lagoa Azul

Candelária

_

Dix. Sept.

Rosado

São Gonçalo

do

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 71 -

Pajuçara

Planalto

Amarante

Junho Cidade

Praia

_

_

Quintas

Ceará-

Mirim

Bom

Pastor Tabela 6: Distribuição dos atendimentos por local de procedência (Bairros e Municípios).Fonte: Arquivo do

Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

A seguir, gráficos demonstrativos da procedência dos pacientes vítimas por armas de

fogo, na cidade de Natal/RN quanto às regiões administrativas com maior incidência, nas

zonas administrativas Oeste e Leste.

Gráfico 4: Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Oeste.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Gráfico 5: Distribuição dos Atendimentos por Bairros da Zona Leste.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Quanto à escolaridade registrou-se uma queda na proporção de pacientes não

alfabetizados. A maioria dos usuários atendidos pelo Hospital possui ensino fundamental

incompleto, perfazendo um total de 70% (setenta por cento). 11% (onze por cento) dos

0

0.5

1

1.5

2

2.5

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Bairros da Zona Oeste

Cidade da Esperança Planalto

Felipe Camarão Dix. Sept. Rosado

Quintas Bom Pastor

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.

Bairros da Zona Leste

Rocas

Praia do

Meio

Mãe Luiza

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 72 -

pacientes tinham concluído o ensino fundamental. Seguido de 11% (onze por cento) com

nível médio completo; e 8% (oito por cento) que não concluíram o ensino médio. Em relação

ao nível superior nenhum caso foi registrado.

Essa realidade evidencia claramente a política educacional do nosso país em que o

ensino básico é priorizado em detrimento dos demais. Ou seja, é perceptível a falta de

interesse dos nossos governantes em formar uma população com consciência política. O que

tem sido observado é apenas um esforço no sentido de diminuir o número de não

alfabetizados visando à inserção do Brasil no grupo dos países com baixos indicies de

analfabetismo e consequentemente no rol dos desenvolvidos.

Meses

Grau de Escolaridade

Não

Alfabetizado

Ensino

Fund.

Comp.

Ensino

Fund.

Incomp.

Ensino

Médio

Comp.

Ensino

Médio

Incomp.

Superior

Janeiro _ 01 03 01 _ _

Fevereiro _ _ 05 _ _ _

Março _ 02 _ 01 _

Abril _ 01 04 _ _ _

Maio _ 01 02 02 01 _

Junho _ _ 04 _ _ _

Total _ 03 20 03 02 _

Tabela 7: Distribuição dos pacientes atendidos por Grau de Escolaridade.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

Sem pensarmos de forma reducionista, também poderemos nos questionar como a

escolaridade pode contribuir para a construção de uma cultura de paz. Observa-se em outras

pesquisas que quanto maior a escolaridade, maior a inserção no mercado de trabalho e quanto

menor a escolaridade, mais precarizada as formas de inserção, segregação ou atuação em

processos econômicos à margem da lei.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 73 -

Gráfico 6: Atendimentos por Grau de Escolaridade.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

A renda da população vítima por armas de fogo que deram entrada no hospital

Walfredo Gurgel é obtida, em sua maioria, a partir de trabalhos informais que geram um valor

de até 1 (um) salário mínimo. Foram registradas 61% (sessenta e uma) pessoas com esse

montante. Aparecendo como principais ocupações: pedreiro, pintor, pescador, vidraceiro,

agricultor, carroceiro, garçonete. A maioria destes atua no mercado de trabalho informal,

como autônomos. Nestes relacionamos à baixa escolaridade como limitadora de acesso à

outras profissões/ocupações.

Os pacientes que apresentaram uma renda mensal de 2 (dois) salários mínimos

perfizeram um total de 11% (onze por cento). Não havendo registro de pessoas com 3 (três)

ou mais salários mínimos de renda.

No que diz respeito aos usuários atendidos que não possuíam qualquer tipo de renda,

os números foram bastante expressivos: 28% (vinte e oito por cento). Esses números refletem

o processo de desregulamentação do mercado e das relações de trabalho no Brasil que tem se

evidenciado nas últimas décadas caracterizado pela regressão dos direitos trabalhistas,

flexibilidade salarial, do emprego, técnico organizacional e do tempo de trabalho.

Esse processo tende a gerar um aumento na taxa de desemprego, bem como contribui

para o crescimento dos trabalhos informais que deixam o trabalhador desprovido de qualquer

tipo de garantia trabalhista. Além de acentuar as características da exclusão social e

econômica no país.

0%

11%

70%

11%

8%

0%

Atendimentos por Grau de Escolaridade (%)

Não Alfabetizado

Ensino Fund. Comp.

Ensino Fund. Incomp.

Ensino Médio Comp.

Ensino Médio Incomp.

Superior

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 74 -

Meses

Renda

Até 1 SM 2 SM 3 ou Mais

SM

Sem renda

Janeiro 04 _ 01

Fevereiro 04 _ 01

Março 03 _ _ _

Abril 02 _ _ 03

Maio 02 03 _ 01

Junho 02 _ _ 02

Total 17 03 _ 08

Tabela 8: Distribuição dos pacientes atendidos segundo a renda.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

A pesquisa mostrou que a maioria da população atendida vítima de projétil por armas

de fogo reside com os pais. Isso pode ser explicado a partir da faixa etária predominante que

se encontra na média dos 18-25 (dezoito aos vinte e cinco).

A população que reside com companheiros (as) e filhos aparece em segundo lugar no

número de atendimento. Os que residem sozinho somaram 2 (dois) casos. Houve 1 (um)

registro de convivência com os avós.

Meses

Composição Familiar

Reside

Sozinho

Com os

Pais

Com

Companheiro

(a) e filhos

Com os

avós

Outros

Parentes

Janeiro _ 04 01 _ _

Fevereiro 01 03 01 _ _

Março _ _ 03 _ _

Abril 03 02 _ _

Maio 01 03 02 _ _

Junho _ 02 01 01 _

Total 02 15 10 01 _

Tabela 9: Composição Familiar dos pacientes atendidos.

Fonte: Arquivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, 2011.

A composição familiar levantada a partir dos dados coletados nos permite afirmar

que a família brasileira ainda é composta em sua maioria pelo modelo pai/mãe/filhos. E que o

grande número de homens vitimados por armas de fogo se dar principalmente em virtude

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 75 -

desse perfil. Pois a figura masculina dentro do ambiente familiar tem a função social de

manter ou prover o sustento daqueles que dele dependem.

O mercado de trabalho para esses homens não apresenta muitas possibilidades de

subsistência aquém do já instituído. Diante disso muitos homens procuram maneiras mais

“fáceis” de ter a sua necessidade e de seus familiares providas. Assim são empurrados ao

mundo da criminalidade e do trafico que lhes garante melhores “oportunidades” de

crescimento social e econômico.

Uma vez que as ações do Estado são pouco abrangentes no que diz respeito à família

da classe trabalhadora.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 76 -

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade social é multifacetada e dinâmica e uma simples descrição de fatos

ocorridos não representa a totalidade, sendo necessário a partir do método dialético buscar a

constituição socio-histórica deste processo.

Assim a análise de conjuntura é um instrumento essencial que nos permite

compreender as inter-relações das partes que constituem o todo. E a partir dela buscam-se

identificar a estrutura e superestrutura, em suas esferas econômicas, políticas e sociais, da

sociedade. Constituindo-se enquanto determinantes para a maior incidência da violência.

Nesse sentido o fenômeno da violência é constituinte do modo de produção capitalista.

A produção e reprodução das condições materiais e imateriais de vida são definidas a partir

das forças produtivas e das relações sociais de produção. Estas são expressas pelo conjunto

das relações econômicas que se estabelecem entre as classes sociais. Enquanto que as forças

produtivas formam a base material e técnica da sociedade (infraestrutura econômica).

No modo de produção capitalista há uma separação entre as classes sociais. Em que os

proprietários são os detentores dos meios de produção e os trabalhadores detém a força de

trabalho. Estes vendem sua força de trabalho como forma de garantir os meios necessários a

sua subsistência. A produção capitalista volta-se para a obtenção do lucro e deixa em segundo

plano o atendimento das necessidades sociais de moradia, alimentação, educação, saúde,

emprego, segurança, entre outras. O não atendimento dessas necessidades tende a gerar um

número maior de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A estrutura política e os sistemas econômico e social aumentam a vulnerabilidade

dos países à violência. Desigualdade e exclusão sociais, desemprego, regime político

e eficácia das instituições governamentais e de segurança pública são alguns dos

fatores que, do ponto de vista macroestrutural, favorecem o desenvolvimento da

violência. O modo como esses determinantes são atualizados e expressos no

cotidiano exemplificam os fatores conjunturais: aumento da criminalidade urbana,

da delinquência juvenil, do crime organizado e da prostituição infantil, entre outros.

São favorecidos por contextos marcados pela desigualdade social e impunidade e,

por sua vez, favorecem a escala da violência em contextos específicos.

Recentemente vem sendo dada importância aos fatores culturais e individuais que

atuam como determinantes do comportamento violento, tais como atitudes,

comportamentos e normas, padrões de relação familiar e de gênero, uso de drogas e

álcool, entre outros. (PERES, 2002, p. 54).

A violência enquanto processo social gestado no seio da sociedade capitalista não é

reflexo da natureza humana, nem tampouco está ligada a determinantes biológicos e

psicológicos. Sua dinâmica passa pela compreensão dos fatores políticos, econômicos, sociais

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 77 -

e culturais que incidem de forma direta nas relações sociais. Ela se constitui como expressão

da questão social, resultante da desigualdade e exclusão social promovida pelo modelo de

sociabilidade vigente.

Ela se apresenta de forma heterogênea e multifacetada, atingindo diferentes segmentos

sociais (homens, mulheres, crianças, idosos, entre outros) e classes sociais diversas (ricos,

milionários, pobres, miseráveis). Mas ao falarmos da violência por armas de fogo essa

assertiva sofre algumas alterações.

Por meio da coleta de dados realizada no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

depreendeu-se que a violência por armas de fogo, enquanto expressão da questão social é

bastante expressiva na área da saúde. Com 383 (trezentos e oitenta e três) casos registrados

apenas no 1º (primeiro) semestre 2011 (dois mil e onze).

O perfil socioeconômico dos atendidos vitimados por armas de fogo reflete as

condições de miséria, exploração e opressão vivenciadas pela classe subalterna. Que se

encontra desprovida do acesso a direitos sociais básicos, previstos na Constituição, mas que

não se efetivam na realidade social da população.

Estes consistem em sua maioria em homens na faixa etária dos 18-25 (dos dezoito aos

vinte e cinco) anos e 26-30 (vinte seis aos trinta) anos; com grau de escolaridade mínimo

(ensino fundamental incompleto); residentes em bairros periféricos da Zona Leste e Oeste da

capital; não estão inseridos no mercado de trabalho formal, atuando de forma autônoma em

funções precarizadas que lhes garantem uma renda de até 1 (um) salário mínimo mensal.

A questão social no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel se materializa por meio da

população vítima por armas de fogo através da sua condição de sujeitos que tem seus direitos

sociais violados cotidianamente. Essa violação se dar por meio do desemprego e das

condições de trabalho precárias; da ausência de uma educação pública de qualidade; da falta

de esgotamento e saneamento; do não policiamento efetivo, que contribui para a propagação

da criminalidade e das facções.

Esses dados expressam a precarização das ações do Estado através da insuficiência das

políticas públicas sociais em atender a real demanda da população que se encontra sequelada

pelas mazelas da questão social.

O Estado não intervém de forma satisfatória na esfera social de forma a assistir e

minimizar os riscos de vulnerabilidade social desse segmento. O que se observa é uma

desresponsabilização do poder público em relação social. O Estado atuando apenas por meio

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 78 -

de concessões visando manter a hegemonia. E nesse jogo de poder, os mais prejudicados são

os da classe trabalhadora.

As políticas sociais enquanto resposta do Estado à questão social e suas expressões

tornam-se cada vez mais fragmentadas, focalizadas e privatizadas. O que por sua vez, tende a

acentuar os níveis de miséria e exploração.

Nesse terreno tensionado pela correlação de forças atua o assistente social na área da

saúde, mas precisamente no Hospital Walfredo Gurgel. Onde diariamente são confrontados

pela questão social e suas expressões, provenientes do capitalismo.

O desafio está posto ao Serviço Social ante a violência por armas de fogo: articular às

ações assistenciais o trabalho em rede visando garantir o acesso dos usuários às demais

políticas públicas. A categoria precisa enfrentar essa problemática de forma a não cair numa

postura messiânica, pois é fato que nenhuma profissão sozinha poderá responder as questões

estruturais da sociedade capitalista, uma vez que todas essas problemáticas estão para além

das intervenções profissionais. Como também não deve assumir uma postura fatalista, que

tende a acomodação.

Isso nos leva a concluir que a oferta de serviços e as ações realizadas pelo Estado e

mediadas via Serviço Social contribui para amenizar as expressões da questão social no que

diz respeito aos vitimados pela violência por armas de fogo. Porém se deter apenas a isso é

contribuir para a perpetuação do quadro vigente.

Em sumula a superação da questão social e suas expressões na saúde e na sociedade

em geral só poderão ocorrer com a superação do modo de produção capitalista.

Nesse processo é extremamente importante o reconhecimento do Código de Ética

profissional e o Projeto Ético-Político como instrumentos que norteiam o exercício

profissional de modo a não cair no pragmatismo.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 79 -

REFERÊNCIAS

ADORNO, S. Raízes político-ideológicas da violência. São Paulo: NEV, 1989.

AGUDELO, S. F. El Quinto: no matar: contextos explicativos de la violencia en Colômbia.

Bogotá (BO): TM editores, 1999.

ARCOVERDE, A. C. B. Manifestações da Questão Social no Brasil. In: Violência, Exclusão

Social e Desenvolvimento Humano: Estudos em Representações Sociais. (Orgs.). Angela

Maria de Oliveira Almeida et al. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2006. p. 27-37.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE SERVIÇO SOCIAL. Cadernos ABESS,

São Paulo: Cortez Editora, nº 7, 1997.

AUGUSTO, André Guimarães. A dessubjetivação do trabalho: o homem como objeto da

tecnologia. Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p.1-7, 01 maio

2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-98482009000200006>. Acesso em:

13 abr. 2012.

BRASIL Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de

1988.Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

_________Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições de promoção

e recuperação da saúde, a organização e o financiamento dos serviços correspondentes e dá

outras providências.

_________ Lei 8.142, de 28 de Dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da

comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências

intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.

_________Ministério da Saúde, Secretaria de Assistência à Saúde. Departamento de

Descentralização da Gestão da Assistência. Manual de apoio aos gestores do SUS:

organização da rede de laboratórios clínicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

_________Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde: ilustrada.

Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em

<http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/cartaaosusuarios01.pdf>. Acesso em 11 de

mai. 2012.

_________ Ministério da Saúde. Portaria MS/GM n.º 737 de 16/05/01. Política nacionalde

redução da morbimortalidade por acidentes e violências. Diário Oficial da União,Brasília, n.

96, Seção 1E, 18 maio, 2001.

_________ Ministério da Saúde. Cidadão: Cartilha entendendo o SUS. Brasília, 2007.

Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_entendendo_o_sus_2007.pdf >.

Acesso em: 25 fev. 2012.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 80 -

_________Ministério da Saúde. Legislação. Brasília, 2011. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/default.cfm >. Acesso em: 11 mai. 2012.

_________Ministério da Saúde. O sistema público de saúde brasileiro. In: SEMINÁRIO

INTERNACIONAL: Tendências e Desafios dos Sistemas de Saúde nas Américas. São Paulo,

11 a 14 ago. 2002. Disponível em:

<http://www.opas.org.br/observatorio/arquivos/Sala299.pdf>>. Acesso em 13 abr. 2012.

_________ Ministério da Saúde. Profissional e gestor: o que é Pacto pela Saúde. Brasília,

2006. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1021>. Acesso em 15

de mar. 2012.

_________ Ministério da Saúde. Reforma do Sistema da Atenção Hospitalar Brasil –

Cadernos de Atenção Especializada. Série B. Textos Básicos de Saúde, 2004.

_________ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regulação,

Avaliação e Controle de Sistemas. Diretrizes para a programação pactuada e integrada da

assistência à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

_________Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção

Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

_________ Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. A

construção do SUS: histórias da Reforma Sanitária e do Processo Participativo. Brasília:

Ministério da Saúde, 2006.

_________ Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na

saúde dos brasileiros. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,

2005.

BRAVO, Maria Inês. (Org.). Saúde e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2006.

CASTELO, Rodrigo. A “questão social” nas obras de Marx e Engels. In: Revista Praia

Vermelha, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, jan-jun. 2010. p.85-94.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: Uma crônica do salário. Petrópolis,

Vozes, 2. ed. 1999.

CERQUEIRA FILHO, G. A. Questão Social no Brasil. Crítica do discurso político. Retratos

do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.

CHOSSUDOVSKY, M. A globalização da pobreza: impactos das reformas do FMI e do

Banco Mundial. São Paulo: Moderna, 1999.

COHN, Amélia. Saúde no Brasil: políticas e organização de serviços. 6. ed. São Paulo:

Cortez, 2005.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 81 -

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética Profissional dos

assistentes Sociais. Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993 com as alterações

introduzidas pelas Resoluções CFESS n.º 290/94 e nº 293/94.

_________Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei nº 8662, de 07 de

junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências.

_________Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde. Brasília, 2009.

CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 17ª Região. Serviço Social: uma

profissão a serviço da cidadania. In: Projeto Ético-Político. Vitória – ES, 2008-2011.

COSTA, G. M. da. Trabalho e Serviço Social: debate sobre a concepção de Serviço Social

como processo de trabalho com base na Ontologia de Georg Lukács. 2005. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) - Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade

Federal de Pernambuco, Pernambuco. 2005.

COSTA, M. D. H. da. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção do (as) assistentes

sociais. In Revista Serviço Social e Sociedade, n.62. São Paulo: Editora Cortez, 2000.

ESCORES, S.; TEIXEIRA, L. A. História das políticas de saúde no Brasil de 1822 a 1963: do

império ao desenvolvimentismo populista. In: GIOVANELLA, L. et al. Políticas e Sistemas

de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008. P. 333‐ 384.

FALCÃO, F. J. A questão social na formação do capitalismo industrial brasileiro – o Rio de

Janeiro das revoltas de 1904. In: Revista Ágora: Políticas Públicas e Serviço Social, Ano 2, nº

4, julho de 2006. Disponível em: < http://www.assistentesocial.com.br>. Acesso em 20 de

abr.2012.

GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

GUERRA, Yolanda. O debate contemporâneo da “questão social”. In: III Jornada

Internacional de Políticas Públicas. São Luís/MA, 2007.

GUERRA, A. G. O crime, realidade, desafio: abordagem psicodinâmica do homicídio. s. ed.

Recife, 2001.

IANNI, O. A Questão Social. In: Ciência e Trópico. Pernambuco, v.17, n. 2, jul-dez, 1989. p.

27-37. Disponível em: <http://periodicos.fundaj.gov.br/index.php/CIT/article/view/501>

Acesso em 15 maio 2012.

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: os fundamentos teórico-

metodológicos e técnico-operativos do trabalho profissional. Caderno Técnico: Metodologias

e Técnicas do Serviço Social, n.º 23. Brasília, 1996, p.09-16.

_________Os espaços sócio-ocupacionais. In: CFESS e ABEPSS (org.). Serviço Social:

Direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 82 -

_________Projeto Profissional, Espaços Ocupacionais e Trabalho do Assistente Social na

Atualidade. Atribuições Privativas do (a) Assistente Social Em questão. Brasília: CFESS,

2002.

_________Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 9. ed.

São Paulo: Cortez, 2004.

_________ A Questão Social no Capitalismo. Revista Temporalis. Brasília: ABEPSS, nº 3,

2001.

_________ A questão social no capitalismo. In: Revista Praia Vermelha, primeiro semestre.

Rio de Janei¬ro: UFRJ, Escola de Serviço Social, n. 8, 2003. p.56-83.

_________ Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão

social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

_________.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma

interpreta¬ção histórico-metodológica. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

KRUG, E. et al., (Eds.) Relatório Mundial sobre violência e saúde. Organização Mundial da

Saúde: Genebra, 2002.

LOSURDO, D. Hegel, Marx e a tradição liberal: liberdade, igualdade, Estado. São Paulo:

UNESP, 1998.

MARTINS, J. S. Exclusão Social e a Nova Desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

MARX, K. & ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Bontempo, 1998.

_________& ENGELS, F. O capital, Livro Primeiro, Tomos 1 e 2, São Paulo:Nova Cultural,

1996.

_________& ENGELS, F. Lei geral da acumulação capitalista. O Capital, Vol II. Os

economistas. São Paulo: Nova Cultura, 1985.

_________& ENGELS, F. Observações à margem do Programa do Partido Operário Alemão.

Obras Escolhidas. São Paulo: Alfaômega, s/d.

_________ Grundrisse – 1857 –1858. I. México, Fondo de Cultura Económica, 1985.

_________Critica ao programa de Gotha. Obras Escolhidas. São Paulo: Alfaômega, s/d.

_________A questão Judaica. São Paulo: Editora Moraes, 1991.

MÉSZÁROS, I. Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição. São Paulo,

Boitempo/Editora da UNICAMP, 2002.

MINAYO, M. C. de Souza. Violência e Saúde. Editora Fiocruz – Coleção Temas em Saúde.

Rio de Janeiro, 2006.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 83 -

_________ (Org.). A Saúde em Estado de Choque . 3. ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo,

1986.

_________ e SOUZA, E. R. de: Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação

coletiva. História, Ciências, Saúde— Manguinhos, IV(3): p. 513-531, nov. 1997-fev. 1998.

_________et al. Análise da morbidade hospitalar por lesões e envenenamento no Brasil em

2000. In: MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. (Org.). Violência sob o olhar da saúde: a

infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 109- 129.

_________ A violência social sob a perspectiva da Saúde Pública. Cadernos de Saúde

Pública, Rio de Janeiro, v. 10, 1994. Suplemento 1. p. 7-18.

_________ Violência um problema para a saúde dos brasileiros. In: Impacto da violência na

saúde dos brasileiros. Brasil. Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

_________ Violência e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. Coleção Temas em Saúde. p.45.

Martins, J. S. Exclusão Social e a Nova Desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

NATAL. Prefeitura do Natal. (Re) desenhando a Rede de Saúde na Cidade do Natal, 2007.

Disponível em: <www.natal.rn.gov.br/sms/paginas/File/desenho_de_rede_sms.pdf>.Acesso

em: 30 abr. 2012.

_________ Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde: 2006-2009. Natal,

RN, 2007.

NETTO, J. P. Desemprego e luta de classes: as novas determinações do conceito de exército

industrial de reserva. In Neoliberalismo e reestruturação produtiva: as novas determinações

do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1996.

________Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1996.

________ Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. Revista Temporalis. Brasília:

ABEPSS, nº3, 2001.

________ Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1996.

________ Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional. A Construção do

Projeto Ético-Político do Serviço Social. Brasília: CFESS/ABEPSS/CEAD/UnB, 1999.

________ Transformações Societárias e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade n.º 50.

São Paulo: Cortez, 1996.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório mundial sobre violência e

saúde. Brasília: OMS/OPAS, 2002.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. A transformação da gestão de

hospitais na AméricaLatina e Caribe. Brasília: OPAS/OMS, 2004.

________ Resolução XIX: violência e saúde. Washington: OPAS, 1993.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 84 -

PEREIRA, Potyara A. Questão Social, Serviço Social e Direitos da Cidadania. Revista

Temporalis. Brasília: ABEPSS, nº. 3, 2001.

_________. Perspectivas teóricas sobre a questão social no serviço social. In: Revista

Temporalis. Brasília: CFESS, 2003.

PERES, Maria Fernanda Tourinho. (Org.). Violência por armas de fogo no Brasil: Relatório

Nacional. São Paulo, Brasil: Núcleo de Estudos da Violência, Universidade de São Paulo,

2004.

_________. Prevenção e Controle: Oposição ou Complementaridade para a

Redução da Violência? In: Revista Ciência e Cultura. Sociedade brasileira para o

progresso da ciência. Ano 54, nº 1., Jul/ago/set 2002. p. 54-55.

POCHMANN, M. Atlas da exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.

RIBEIRO, Herval Pina. O Hospital: História e Crise. São Paulo: Cortez, 1993.

RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria Estadual de Saúde. Hospital Monsenhor Walfredo

Gurgel. O Hospital, missão e histórico. Natal, 2012. Disponível em:

<http://www.walfredogurgel.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/sesap_hwg/principal/envia

dos/index.asp >. Acesso em 11 de mar. 2012.

_________Secretaria Estadual de Saúde. Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Divisão de

Serviço Social. Plano de Trabalho do Serviço Social. 2010.

_________ Secretaria Estadual de Saúde. Plano Diretor de Regionalização. 2004.

Disponível em:

<http://www.saude.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/sesap/servicos/planos_estruturantes/

2005_plano_diretor_regionalizacao.pdf> Acesso em 25 fev. 2012.

_________ Sesap. Guia de saúde: hospitais do RN, 2012. Disponível em:

<http://www.saude.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/sesap/guia_saude/gerados/hospitais.a

sp> Acesso em: 13 mar.2012.

ROSANVALLON, P. A Nova Questão Social. Repensar o Estado Providência. Petrópolis:

Vozes, 1998.

SANTOS, E. P. & COSTA, G. M. da Questão social e desigualdade: novas formas, velhas

raízes. In Revista Ágora: Políticas Públicas e Serviço Social, Ano 2, nº 4, julho de 2006.

Disponível em: <http://www.assistentesocial.com.br>. Acesso em: 21 mar. 2012.

SANTOS, E. P. O Pauperismo de Ontem e de Hoje: raízes materiais e humano-sociais da

"questão social". 2005. Tese (Doutorado em Serviço Social) Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE) /Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, 2005.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 85 -

SOUZA, E. R. et al. Análise temporal da mortalidade por causas externas no Brasil: décadas

de 80 e 90. In: MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. (Org.). Violência sob o olhar da saúde: a

infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 83-107.

TEIXEIRA, F. J. S. O capital e suas formas de produção de mercadorias: rumo ao fim da

Economia Política. Fortaleza: texto, julho de 1999.

TELLES, V. S. Questão Social: Afinal do que se trata? São Paulo em Perspectiva, São Paulo:

SEAD, 1996.

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da Práxis. Tradução: MOTA, MariaEncarnación. 1ª.

Ed. Buenos Aires: Consejo Latinoamericnao de Ciencias Sociales – CLACSO; São Paulo:

Expressão Popular, Brasil, 2007.

WANDERLEY, L. E. W. A. Questão Social no Contexto da Globalização: O caso latino-

americano e caribenho. Em: M. B. Wanderley, L. Bógus & M. C.Yazbek (Orgs.).

Desigualdade e a Questão Social. São Paulo: EDUC, 1997, p. 140 – 160.

YASBEK, M> C. Pobreza e Exclusão Social: expressões da questão social no Brasil. In:

revista Temporalis, n. 3. ABEPSS, 2001.

_________ Estado e Políticas Sociais. In: Revista Praia Vermelha. Rio de Janeiro, v. 18, n. 1.

2008. Disponível em: <

http://www.ess.ufrj.br/ejornal/index.php/praiavermalha/article/view/39/24> Acesso em 18

maio 2012.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ... orientadora de TCC, ... é pertinente discutir a questão social e suas expressões no Hospital

- 86 -

APÊNDICE

ROTEIRO PARA COLETA DE DADOS

Instituição: Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

Título: A Questão Social no HMWG: um olhar sobre as vítimas por armas de fogo

INFORMAÇÕES DO PACIENTE

Nome: __________________________________________________________

Sexo

Feminino ( ) Masculino ( )

Idade:

< 12 anos ( ) 12-17 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) 36-40 anos ( )

41-45 anos ( ) 46-59 ( ) > 60 anos ( )

Local de Moradia (bairro): ___________________________

Zona Sul ( ) Zona Norte ( ) Zona Oeste ( ) Zona Leste ( ) Interior ( )

Município: ______________________

Grau de Escolaridade

Não alfabetizado ( ) Fund. compl. ( ) Fund. Incompl. ( )

Ensino Médio Compl. ( ) Ensino Médio Incompl. ( ) Superior ( )

Renda

até 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3 ou mais SM ( ) sem renda ( )

Composição Familiar

reside sozinho ( ) com os pais ( ) com companheiro (a) e filhos ( )

com os avós ( ) outros parentes ( )