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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL LARISSA MOTA BARACHO O Transtorno Psíquico, a Família e o Serviço Social na recuperação do Portador de Sofrimento Psíquico em um hospital no Rio Grande do Norte RN NATAL/RN 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

LARISSA MOTA BARACHO

O Transtorno Psíquico, a Família e o Serviço Social na recuperação do

Portador de Sofrimento Psíquico em um hospital no Rio Grande do Norte – RN

NATAL/RN

2013

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LARISSA MOTA BARACHO

O Transtorno Psíquico, a Família e o Serviço Social na recuperação do

Portador de Sofrimento Psíquico em um hospital no Rio Grande do Norte – RN

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção de Título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Drª. Edla Hoffmann

Natal/RN

2013

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Baracho, Larissa Mota. O transtorno psíquico, a família e o serviço social na recuperação do portador de sofrimento psíquico em um hospital no Rio Grande do Norte - RN / Larissa Mota Baracho. - Natal, RN, 2013. 122f. Orientadora: Prof.ª Drª Edla Hoffmann. Monografia (Graduação em Serviço social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço social. 1. Serviço social – Saúde mental - Monografia. 2. Políticas - Saúde mental - Monografia. 3. Famílias - Serviço social - Monografia. I. Hoffmann, Edla. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 364.622-53

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LARISSA MOTA BARACHO

O Transtorno Psíquico, a Família e o Serviço Social na recuperação do

Portador de Sofrimento Psíquico em um hospital no Rio Grande do Norte – RN

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Drª. Edla Hoffmann Aprovada em: ____/ ____/ ____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Profª. Drª. Edla Hoffmann

(Profª. Orientadora – DESSO/UFRN)

_________________________________________________ Profª. Drª. Maria Regina de Ávila Moreira

(Profª. Examinadora – DESSO/UFRN)

_________________________________________________ Assistente Social Denize Melo Martins

(Examinadora Externa – Hospital Dr. João Machado/RN)

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“Fiz a escalada da montanha da vida. Removendo pedras e plantando flores.” (Cora Coralina)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, por tudo de

grandioso que realizou em minha vida. Por ter me dado fé, sabedoria,

perseverança e força para continuar quando eu achei que não iria conseguir.

Obrigada meu Deus por guiar os meus passos e me abençoar!

À meus pais Sérgio e Lúcia, que, cada um do seu modo, desde criança

me educaram, se esforçaram e me incentivaram a ter uma boa qualificação e

contribuíram para minha formação. Obrigada por tudo, amo vocês!

À Romerito, meu noivo, meu amigo. Agradeço pelo incentivo,

preocupação, força e compreensão na concretização deste e de outros

trabalhos. Nos momentos difíceis me fez rir com seu jeito extrovertido.

Obrigada pelo seu amor, respeito, carinho e amizade. Te amo!

A minha madrinha Maria José, mulher exemplo de persistência a qual

me espelho. Obrigada pelo estímulo, pelas palavras de confiança e pelo amor

que tens por mim.

À meu avô Geraldo pelo apoio, preocupação e carinho de sempre.

À meus padrinhos Socorro e Amaro por me ensinarem o jeito leve e

divertido de levar a vida.

À minha tia Vera (Verinha) pela simplicidade, palavra amiga e

acolhimento em sua residência quando sempre precisei.

À minha prima Emiliane (Milinha) pelas conversas críticas. Estás entre

as pessoas que me instiga em continuar na defesa da diversidade humana, e

como é bom saber que sou o apoio para continuares “diferente”.

À minha irmã Laise, meu cunhado Davi, meus tios, tias, primos, primas,

“Os Valentim”, pelo carinho, preocupação, pelas palavras de apoio, cada um

tem um significado especial nesta caminhada. Tenho muito amor e carinho por

todos!

À minha Orientadora, Doutora Edla Hoffmann, minha gaúcha, tchê! Pelo

vasto conhecimento compartilhado desde as orientações no período do Estágio

Obrigatório até a conclusão deste trabalho. Tens uma grande contribuição na

realização deste sonho. Obrigada pela paciência e dedicação. Aprendi muito

contigo, és uma profissional excelente.

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À Minhas Amigas e Amigos de Curso. Lembro como hoje dos primeiros

dias na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a alegria de ter passado

no vestibular e está na tão desejada “Federal”, a sede por conhecimento, a

alegria etc. E na turma iam se formando os grupos, e neste ambiente me

identifiquei com quatro criaturas muito especiais, Sabrina, Luana, Jéssika e

Aline. Com elas tive a oportunidade de viver momentos de alegria, badalações

(calouradas), horas de estudo. Tantos lanches e conversas na cantina. Tantas

horas estudando, discutindo Marx, Paulo Netto, Iamamoto. Tantos momentos

maravilhosos compartilhamos uma com a outra. Obrigada meninas pelos dias

que vivi com vocês e pelos momentos que dividi angústias e momentos difíceis

e vocês me escutaram, cada uma com seu jeito de ser. Vocês moram em meu

coração. E hoje meu ciclo de amizade cresceu, e tenho a agradecer também a

Tibério, Íris, pessoas espetaculares, em que tive a oportunidade de

compartilhar conhecimentos, dividir angústias e alegrias.

À Meus Amigos, que não são muitos, mas os poucos que tenho são os

melhores. Obrigada a minhas amigas de turma, a minhas amigas do IFRN,

Luanda, Karine, Raphaela, Bia, Adriele, pelo incentivo, apoio e carinho. A

minha amiga Laís Tavares pelo apoio e pelos momentos em que me ouviu e

me incentivou. A minha “velha” amiga Geane Karla, que na reta final deste

trabalho me ajudou com suas habilidades e palavras amigas. As minhas

companheiras estagiárias da SEHARPE. E aos demais amigos os quais não

citei por nome, mas que me incentivaram nesta caminhada. Obrigada pela

amizade!

Aos Professores da UFRN. O curso de Serviço Social não seria nada

sem eles: os professores, os docentes. Obrigada por cada conhecimento

partilhado, por cada discussão em sala de aula, pela dedicação, por terem me

ensinado a ser um ser social crítico, por serem verdadeiras lutadoras, em prol

de uma universidade pública e de qualidade, por um ensino presencial, mesmo

esta não oferecendo condições para esta prática, e por uma sociedade mais

justa e igualitária.

Aos Professores da Vida, pessoas, profissionais que cruzaram em meu

caminho e contribuíram para o que sou hoje. Meus professores do Ensino

Infantil, Fundamental e Médio. Às Assistentes Sociais (Vane, Marileide, Liana,

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Violeta, Adja, Miessa) e funcionários da Secretaria de Habitação, e do Hospital

Dr. João Machado, em especial minha Orientadora de Estágio, Denize Martins,

pela dedicação, apoio; a Fátima Couto pelo suporte, uma verdadeira militante

da saúde mental; e também Ana Karenina pelo acolhimento e atenção.

A todos vocês, muito obrigada!

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RESUMO

O referido trabalho expõe um breve histórico sobre a Reforma Sanitária no Brasil, no que consistiu esse período de muitas mudanças no âmbito da saúde do país e que os fatos ocorridos nesse período influenciaram na Saúde Mental, sendo ela o ponto central da nossa discussão. Se tratando desta área nos deteremos na história da Reforma Psiquiátrica, seus antecedentes, o que motivou esse advento e que mudanças ela acarretou na Saúde Mental. Neste contexto encontra-se o portador de sofrimento psíquico e junto a ele, ao seu tratamento e inserção na sociedade, a família e o Assistente Social, portanto, também serão abordados em nossas discussões. Foi através das vivências tidas no local em que foi realizado o Estágio, o Hospital Dr. João Machado, que se observou a importância de fazer uma pesquisa relacionada a esses elementos. A pesquisa para a elaboração deste trabalho foi de cunho bibliográfico, documental e pesquisa de campo. E partiu também de inquietações vividas durante o período do estágio em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) no Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado, especificamente na primeira enfermaria masculina. A partir das vivências e apreensões tidas no cotidiano institucional durante o estágio e salientando que a área da Saúde Mental requer várias discussões, sentimos a necessidade de descobrir quais são as contribuições da família e do Serviço Social na recuperação do portador de sofrimento psíquico e aprofundar o estudo sobre esses elementos. A partir dos dados coletados no hospital, concluímos que a família e a categoria dos assistentes sociais são de fundamental importância para o portador de sofrimento psíquico ter uma melhor recuperação e ser inserido novamente na sociedade. Palavras-chave: Saúde, Saúde Mental, Serviço Social, Família.

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ABSTRACT

The present paperwork explains about patients with psychological distress of Dr. João Machado Hospital, aims to provide visibility to the family and social service's importance for their treatment. Problematizing how those elements help with the health recovery for those patients, of the hospital in observation. For this, was made a qualitative analysis of bibliographical, documental and field research. The theme's context, brings a brief history of Brazilian health sector reform, the meaning of this time, the health changes and the main facts occurred that influenced the mental health, is the central point on our discussion. This way, we focus on the history of Psychiatric Reform, its backgrounds, that motivated this advent and what kind of changes it brought to the mental health. The theme has a huge importance to the society and to the Social Service due the increase of frequently hospitalizations of patients in this Hospital, that in the most of time, came from cities close to Natal, that doesn’t have the assistence pre-hospital and post-hospital, specializes in mental health, they need. Then, its up to the social worker, that has the health as a sócio-occupational área, close with the patient family to execute some actions that allows a decrease in these hospitalizations. This research aims to detect the family importance and the social worker importance in the recovery of those who carry a mental desease, showing which are their needs and dificulties. The research data, show that the family is closer to the patient, helping them, and is also who gives the support and who can make decrease the number of hospitalizations; And the social service, is the most requested for the users and for the institution, is the service responsable to inform about the patient’s rights, the service network, and to connect the family with the patient who has a mental desease, and to put this patient into the society. Key-words: Health, Mental Health, Social Service, Family.

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LISTA DAS TABELAS

TABELA 1 Grau de Escolaridade do Familiar .............................................. 68

TABELA 2 Composição Familiar ................................................................. 69

TABELA 3 Onde o familiar é tratado melhor ............................................... 69

TABELA 4 Onde acha ser tratado melhor ................................................... 70

TABELA 5 Direitos Previdenciários do Usuário ........................................... 71

TABELA 6 Renda do Usuário ...................................................................... 71

TABELA 7 Renda do Usuário ...................................................................... 75

TABELA 8 Direitos Previdenciários ............................................................. 75

TABELA 9 Escolaridade .............................................................................. 76

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LISTA DE SIGLAS

ABESS – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

AD – Álcool e outras Drogas

AIS – Ações Integradas de Saúde

ANAS – Associação Nacional dos Assistentes Sociais

CAIS – Centro de Atividades Integradas em Saúde Mental

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil

CAPSad – Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas

CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões

CBCISS – Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços Social

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

COI – Centro de Orientação Infantil

COJ – Centro de Orientação Juvenil

DAP-DF – Divisão de Assistência a Psicopatas do Distrito Federal

DINSAM – Divisão Nacional de Saúde Mental

DNS – Departamento Nacional de Saúde

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EUA – Estados Unidos da América

IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência

Social

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IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

HJM – Hospital João Machado

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

LOS – Lei Orgânica da Saúde

MTSM – Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental

NAPS – Núcleos de Atenção Psicossocial

OMS – Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

RN – Rio Grande do Norte

SAP – Serviço de Assistência a Psicopatas

SESAP – Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte

SESP – Serviço Especial de Saúde Pública

SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

SISREG – Sistema de Regulação

SNDM – Serviço Nacional de Doenças Mentais

SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SP – São Paulo

SUS – Sistema Único de Saúde

SRT – Serviços Residenciais Terapêuticos

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15

2. A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL .................................................. 18

2.1. Antecedentes as Reformas: Sanitária e Psiquiátrica ...................................... 18

2.2. Contexto Histórico da Reforma Sanitária ........................................................ 28

2.3. Contexto Histórico da Reforma Psiquiátrica .................................................... 31

3. O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE ........................................................................ 39

3.1. Serviço Social na Saúde Mental ..................................................................... 47

3.2. As Particularidades da Saúde Mental no Hospital Dr. João Machado ............ 54

3.3. O Serviço Social no Hospital Dr. João Machado ............................................. 56

4. A FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL...................................................................... 62

4.1. A Família e a Saúde Mental ............................................................................ 68

4.2. A intervenção do Serviço Social com Famílias no Hospital Dr. João

Machado ................................................................................................................ 72

4.3. Caracterização dos sujeitos de pesquisa e apresentação dos resultados ...... 75

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 90

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95

APÊNDICES ........................................................................................................... 102

ANEXOS ................................................................................................................. 114

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso versa sobre a importância da

Reforma Psiquiátrica, em um contexto de lutas na Saúde em geral, cenário

este que proporcionou muitas mudanças à saúde mental, entre elas a inserção

da família e de equipe multiprofissional. Assim, serão analisadas

especificamente, as contribuições da família na recuperação da Saúde do

Portador de Sofrimento Psíquico no Hospital Dr. João Machado.

O tema instiga a autora desde o início de sua trajetória acadêmica.

Durante o curso esta sempre se interessou pela área da saúde, pelas

disciplinas, atividades relacionadas ao contexto. E, foi no estágio que se

confirmou a afinidade pela área da saúde mental, já vivenciada há anos, por

uma experiência pessoal.

Neste trabalho é abordado a inserção do Serviço Social na saúde e

saúde mental, buscando apreender os desafios à atuação do assistente social

nesse espaço sócio-ocupacional. (ROBAINA, 2010), e suas contribuições para

a recuperação do portador de sofrimento psíquico, prezando pelos princípios

da Reforma Psiquiátrica.

O desenvolvimento do trabalho é composto pelos contextos históricos da

Reforma Sanitária e Psiquiátrica e, baseado pelas experiências vivenciadas no

estágio curricular obrigatório em Serviço Social, realizado no Hospital

Psiquiátrico Dr. João Machado – HJM, na primeira enfermaria masculina, local

em que ficam internados por um período, devido o sofrimento psíquico. É a

partir das experiências no HJM, somado as leituras e discussões sobre a

história da reforma psiquiátrica no Brasil e, no mundo que emerge o interesse

pela temática em questão.

O HJM é uma instituição que tem o seu passado fundamentado na

Psiquiatria Asilar, no modelo hospitalocêntrico de assistência. Forma esta de

assistência que segrega as pessoas, as isolam, as limitam, fazendo piorar o

seu quadro clínico. Atualmente o Hospital Dr. João Machado já dentro da

proposta de Humanização do Atendimento a seus usuários não faz uso de

grades, havendo no tratamento uma interação entre os profissionais e os

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familiares, sendo a participação familiar um grande estímulo aos portadores de

sofrimento psíquico. A interação da família e o contato frequente se tornam

fundamentais no tratamento desses usuários. É ela que incentiva, acompanha

e luta juntamente com a pessoa com o sofrimento psíquico pela busca e

prosseguimento ao tratamento na rede de saúde mental e no convívio com a

família e a comunidade.

O objetivo do Hospital é recuperar o usuário da crise dentro da linha da

desinstitucionalização, de acordo com os princípios do SUS e da Reforma

Psiquiátrica. A ideia é tratá-los permitindo que eles retornem a sociedade e

que, como cita a Lei no 10.216, de 06 de abril de 2001 – dispõe sobre a

proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e

redireciona o modelo assistencial em saúde mental –, tenham acesso ao

melhor tratamento do sistema de saúde, de acordo com as suas necessidades;

sejam tratados com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de

beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na

família, no trabalho e na comunidade, enxergando-o como cidadão de direitos.

Diante de tais colocações observou-se a necessidade de uma reflexão

aprofundada sobre a inserção da família no HJM, nesta área tão complexa que

é a saúde mental. Do mesmo modo, o fazer profissional dos assistentes sociais

nesse cenário, quais as dificuldades enfrentadas por esses sujeitos, e quais os

avanços desses junto ao tratamento do portador de sofrimento psíquico.

Portanto o objetivo geral deste trabalho é analisar as contribuições da

família e do Serviço Social na recuperação da saúde do Portador de Sofrimento

Psíquico no Hospital Dr. João Machado, a fim de contribuir no âmbito da saúde

das pessoas com sofrimento psíquico na perspectiva da efetivação dos

princípios e diretrizes da Reforma Psiquiátrica. Os objetivos específicos

incidem na caracterização da saúde do usuário com sofrimento psíquico que

tem acompanhamento e/ou não da família na investigação a importância do

trabalho do Serviço Social junto aos familiares no tratamento; na análise das

concepções que perpassam o imaginário da família sobre a sua participação no

tratamento dos usuários a fim de entender os motivos da presença e/ou

ausência desses; e na averiguação da opinião dos familiares e assistentes

sociais sobre sua inserção no HJM.

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Visando abranger todas as discussões que se propõe acima, o trabalho

está estruturado em quatro capítulos, sendo que o primeiro consiste nesta

introdução e os outros serão indicados a seguir.

O segundo capítulo trata-se da sistematização teórica da Política de

Saúde no Brasil, através de um breve contexto histórico que remete ao início

da saúde pública no Brasil, suas transformações no decorre dos séculos,

havendo uma discussão sobre os fatos que antecederam a Reforma Sanitária e

a Reforma Psiquiátrica. Neste capítulo também discutiremos o que consiste

cada uma, a relação entre elas, e chegaremos assim no contexto atual.

No terceiro capítulo será abordada a inserção do Serviço Social na

Saúde Mental. Inicialmente destacaremos o histórico da profissão, sua origem

e atuação na área da Saúde, e em seguida traremos elementos para a

discussão da profissão no âmbito da saúde mental e do fazer profissional do

Assistente Social neste campo profissional.

No quarto capítulo a discussão se centrará na família. No conceito, nos

arranjos familiares que encontramos na sociedade, o perfil das famílias em que

convivemos durante o período de estágio e que entrevistamos, a sua

caracterização no âmbito da saúde mental, especificamente no Hospital em

que desenvolvemos as atividades de observação, intervenção e entrevistas, o

Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado. Discutiremos também as contribuições

da família e do Serviço Social na recuperação da saúde dos usuários com

sofrimento psíquico.

Para encerrar, as considerações finais apresentam uma reflexão acerca

dos assuntos abordados em todo o trabalho e da importância da presença da

família e do assistente social no tratamento do portador de sofrimento psíquico

para, contribuir na recuperação da saúde deste visando as concepções da

Reforma Psiquiátrica.

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2. A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL

Na realidade, é possível prever ‘cientificamente’ apenas a luta, mas não os momentos concretos dela, que não podem deixar de ser resultados de forças contrastantes em contínuo movimento.

(GRAMSCI, 1999, p. 121)

Neste capítulo será abordado o contexto histórico que antecede a as

Reformas Sanitária e Psiquiátrica no Brasil. Problematiza a saúde desde o

Período Colonial, no século XVI, perpassando pelo Império em meados de

1822 a 1889, e pelo Período Republicano, no século XIX, de 1889 até os dias

atuais. Traz a discussão sobre os fatos que ocorreram antes da Reforma

Psiquiátrica, iniciados no período imperial, época que se construiu o primeiro

hospício, por volta de 1841, pois começavam as preocupações em relação ao

doente mental, que vinha infligindo a “ordem” do Brasil. Dando prosseguimento

aos fatos no século XX, chegando até o presente momento, procurando

estabelecer uma relação entre as duas reformas.

2.1. Antecedentes as Reformas: Sanitária e Psiquiátrica

Do século XVI ao XVIII, a sociedade colonial brasileira, essencialmente

ruralizada e escravocrata, respaldou o surgimento do modelo hospitalocêntrico,

também nomeado de hospiciocêntrico, de assistência psiquiátrica no Brasil

(ROSA, 2003). Na época do Império até por volta da década de 1930 no Brasil,

à assistência à saúde da população era realizada pelas instituições

hospitalares vinculadas a entidades religiosas, destinadas aos pobres. Assim

cabia ao Estado a intervenção apenas em situações que ultrapassassem as

capacidades dos agentes da saúde (DIAS, 2007).

No período seguinte, século XIX, surge o Império (1822-1889), que tem

como marca a vinda da Corte Portuguesa ao Brasil, foi caracterizado por várias

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mudanças na área da administração da saúde no país (FILHO, 2002). A saúde

sofre mudanças no âmbito do atendimento das questões sanitárias, sendo

criados hospitais, centros de saúde para que houvesse o atendimento mais

organizado e permanente (FILHO, 2002). Entre essas construções, na segunda

metade deste século inaugura no Rio de Janeiro, em 1852, o primeiro hospital

psiquiátrico, denominado Hospício Pedro II, caracterizando o início da

institucionalização do país.

Entretanto, mesmo com essas modificações e construções, as medidas

sanitárias encontravam-se frágeis, pouco eficazes e, apesar de várias

reformulações, não alcançaram o objetivo de cuidar da saúde da população

(FILHO, 2002, p. 8).

Em casos mais graves, os doentes ricos buscavam assistência médica na Europa ou nas clínicas particulares que começaram a ser criadas na região serrana fluminense. Para os pobres restavam, sobretudo, os curandeiros negros, que continuaram a ser os principais responsáveis pelo tratamento dos que tinham pouco dinheiro. Os doentes tinham muito medo de ser internados nos raros hospitais públicos e nas Santas Casas. Em suas enfermarias misturavam-se pacientes de todos os tipos, sendo comum dois ou mais doentes dividirem o mesmo leito. É claro que tal “tratamento”, somado à falta de higiene dos hospitais, fazia com que as famílias evitassem internar seus parentes, pois a morte era o destino certo da maioria dos pacientes pobres (FILHO, 2002, p. 10).

A fase do Império no Brasil termina sem que o Estado tivesse

solucionado os graves problemas de saúde da população. O país, no fim do

Segundo Reinado, mantinha a fama de ser um dos países mais insalubres do

planeta, mesmo Dom Pedro II sendo sempre lembrado como o monarca que

incentivou as pesquisas científicas (FILHO, 2002).

No fim deste século e nas primeiras décadas do século seguinte, o Brasil

compreende a necessidade de redefinir a composição da sua força de trabalho,

devido a conclusão do ciclo da escravidão, que tinha o trabalhador escravo

como mão de obra do período e a chegada dos imigrantes (FILHO, 2002).

Na República Velha (1889-1930) o Brasil foi governado pelas

oligarquias1, marcado pela forte centralização de poder nas mãos dos grandes

1 Oligarquia – Grupo Social formado por grandes capitalistas, geralmente latifundiários, que

detêm amplo controle político e econômico de um estado ou de uma região. Neste período a

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proprietários de terra dos estados mais ricos (São Paulo, Minas Gerais e Rio de

Janeiro) e no bloco agrário exportador (DIAS, 2007), dando a estes um grande

poder de decisão na administração federal do Brasil.

Nesta época, os lucros produzidos pela cafeicultura (principal setor

econômico do momento), foram, em parte, aplicados nas cidades. Isso

promoveu a industrialização, a expansão das atividades comerciais e o

aumento acelerado da população urbana, progredida com a vinda dos

imigrantes. E, também houve reformas das principais cidades e dos grandes

portos, buscando modernizá-los e facilitar o fluxo de homens e mercadorias.

Assim, as oligarquias buscaram base na ciência da higiene para

examinar cuidadosamente o ambiente físico e social das populações urbanas.

São definidas, portanto, estratégias para melhorar as condições sanitárias das

áreas fundamentais para a economia do país. A zona rural seria colocada em

segunda opção, só chamando atenção das autoridades quando os problemas

sanitários interferiam na produção agrícola para exportação.

Ainda no Brasil República, “o louco e a loucura adquiriram status de

doente e doença e passaram a serem objetos de especialistas” (NOGUEIRA;

COSTA, 2007, p. 2). Em 1890, foi criada a Assistência Médica Legal a

Alienados, que tinha como função organizar a assistência psiquiátrica brasileira

e possibilitou a difusão do modelo hospitalocêntrico, que se tornou hegemônico

no trato da loucura (NOGUEIRA; COSTA, 2007).

Vale ressaltar que no ano de 1903 foi instaurada a primeira Lei Federal

de assistência aos doentes mentais, pelo Decreto nº 1.132, de 22 de

dezembro. A segunda foi promulgada no governo de Getúlio Vargas, Decreto

nº 24.559 de 3 de julho de 1934 e, em 1941 foi criado o Serviço Nacional de

Doenças Mentais – SNDM (ROSA, 2003).

Com o surgimento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a economia

exportadora sofre um abalo, o que ocasiona a entrada do capital externo, a

instalação estrangeira e a formação de operários urbanos; e, neste ambiente

cria-se a condição de reivindicação destes, por melhores condições de trabalho

(IANNI, 1984; FIORI, 2003).

produção de café era o principal setor da economia brasileira, tendo os fazendeiros paulistas grande poder nas decisões na área administrativa do país (FILHO, 2002, p. 16).

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21

Ao buscar no Brasil justamente uma ação social que saneasse os

aglomerados urbanos e rurais e imprimisse novos comportamentos sociais

para esconder os efeitos da miscigenação racial, vista como um risco social a

elite (GOMES; ADORNO,1990; STANCIK, 2004), a eugenia2 configura-se num

movimento que satisfaz as estratégias do governo, que visa a consolidação do

Estado (DIAS, 2007). Havendo assim, a predominância da saúde pública.

A saúde pública caracterizou-se, desde esta época até os anos 1960,

pela ênfase as campanhas sanitárias, interiorizando as ações para as áreas de

endemias rurais e criando serviços de combate às endemias. Em 1923, eram

discutidas questões de higiene e saúde do trabalhador, sendo tomadas

algumas medidas que se constituíram no início do projeto previdenciário

brasileiro (BRAVO, 2007), entre elas está a criação das Caixas de

Aposentadorias e Pensões (CAPs3), com a promulgação da Lei Elói Chaves4.

As CAPs eram financiadas pela União, pelos empregados e pelas

empresas empregadoras, mas apenas os grandes estabelecimentos tinham

condições de mantê-las. Os benefícios eram proporcionais às contribuições e

foram previstos: assistência médico-curativa e fornecimento de medicamentos;

aposentadoria por tempo de serviço velhice e invalidez, incapacidade física e

mental (no caso dos portadores de sofrimento psíquico), pensão para os

dependentes e auxílio funeral (BRAVO, 2007).

Inicialmente restritas ao âmbito das empresas, as Caixas, foram

transformadas, na década de 1930, nos Institutos de Aposentadoria e Pensões

(IAPs) (BATICH, 2004), estes criados pela medicina previdenciária, que

“pretendia estender para um número maior de categorias de assalariados

2 Eugenia – Ciência que estuda as características raciais dos grupos humanos. No início do

século, afirmava que os brancos eram os mais perfeitos representantes da espécie humana; as

demais raças teriam alguma dose de “inferioridade biológica”.

3 As Caixas foram organizadas pelo setor privado e destinadas aos ferroviários e

posteriormente estendida a outras categorias profissionais, com financiamento tripartite: financiamento com participação dos três segmentos envolvidos: empregadores, trabalhadores e Estado (COHN, 1996).

4 A Lei Elói Chaves, nome do deputado por São Paulo que a propôs, determinava que cada

empresa ferroviária do país criasse um fundo de aposentadoria e pensão, uma CAP, sendo apontada como marco inaugural da previdência no país. Em 1926 essa determinação se estende a outras categorias, como marítimos e portuários (MALLOY, 1986).

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urbanos os seus benefícios” (BRAVO, 2007, p. 5) oferecendo como benefícios

aposentadoria, assistência médica individual aos seus segurados e

dependentes.

Os IAPs ampliaram seu raio de ação, organizando-se em torno de

categorias profissionais, e passaram a ter uma abrangência bem maior, até

serem unificadas com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS), em 1966 (BATICH, 2004). O INPS foi criado para atender ao

trabalhador nos locais de trabalho e a previdência estendida para várias

categorias, incluindo os trabalhadores rurais, até então, não incorporadas pelo

sistema, embora mantendo restrições para vários desses segmentos (BRASIL,

2006, p. 38).

Ao contrário das CAPs, a administração financeira dos Institutos,

baseado no regime de capitalização, seguia uma “orientação contencionista”,

ou seja, de restrição na concessão de benefícios e serviços como forma de

reduzir as despesas das instituições de previdência. Um dos determinantes

para a redução dos gastos foi, sem dúvida, o acelerado crescimento dos

assalariados urbanos (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1996).

A centralização do sistema prosseguiria ao longo da década de 1970, com a criação do Ministério da Previdência e Assistência Social, do Sinpas – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social, do Inamps – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social e do Iapas – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (BRASIL, 2006, p. 38).

Na década de 1930, na estrutura da saúde pública do Brasil, há

crescimento relativo dos gastos da previdência social com a assistência

médico-hospitalar (BRAVO, 2007; MATOS, 2007), e a aproximação entre o

higienismo e a eugenia influenciando na saúde mental de modo hegemônico.

A prevenção eugênica se materializou através da criação de hospitais e

colônias-agrícolas públicas para os portadores de transtornos mentais,

tuberculose e hanseníase, sendo o período da Proclamação da República até

1941 caracterizado como o da hegemonia do setor público nas ações relativas

à assistência psiquiátrica pela adoção do modelo de colônias (SAMPAIO,

1988). Por não serem considerados capazes de compor a mão de obra que o

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modo capitalista necessita, os indivíduos que se internavam nesses hospitais

eram isolados e segregados socialmente.

O fato influenciou também a saúde mental, sendo promulgado pelo

governo de 1946, que estimulava a construção de hospitais psiquiátricos como

o principal meio de intervir na doença mental. Os apoiadores dessa linha de

tratamento tentam justificar a existência dos hospitais psiquiátricos como

sendo: indicação prioritariamente social, a remoção e exclusão do elemento

perturbador, preservação dos bens e segurança dos cidadãos e uma indicação

clínica com o propósito de curar os doentes mentais (RESENDE, 1994).

Havendo assim a efetivação da política com o aumento de hospitais e

consequentemente, há um aumento também de pessoas institucionalizadas

(DIAS, 2007).

Enquanto isso, a política de centralizar a atenção em saúde mental na

internação hospitalar continua, agora, ativada pela reorganização da

previdência social (AMARANTE, 1994). Já que, com o efeito da acelerada

industrialização durante a década de 1950, todo o sistema previdenciário tem

um crescimento em volume de recursos, em aparato institucional e em clientela

a ser atendida (COHN, 1996, p. 18).

O estabelecimento do modo de produção capitalista inicia o processo de

industrialização, com isso surge a classe trabalhadora, e com ela a

necessidade de adotar estratégias para melhorar suas condições de vida. São

estes os fatores que irão determinar as primeiras ações estatais na saúde

brasileira (COSTA, 1986).

Com base nas ações do governo em relação às reivindicações da classe

trabalhadora, que propõe a redução dos conflitos resultantes da relação capital

e trabalho, realiza-se a mediação pelo atendimento de determinadas demandas

da classe subalterna, com o importante apoio do círculo intelectual médico-

sanitário (DIAS, 2007),

que consolidou rotinas científicas e administrativas que sustentaram a iniciativa das classes dominantes nacionais no campo da prevenção da saúde, da força de trabalho, no controle e erradicação de um conjunto de doenças transmissíveis que debelava a saúde da população (DIAS, 2007, p. 25).

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O círculo intelectual médico-sanitário, ao proceder em relação a

preservação da saúde, no controle e erradicação de várias doenças que

assolavam a população, tinha como propósito manter a salubridade no

ambiente de trabalho dos cidadãos, à promoção e proteção da saúde visando à

recuperação e reabilitação da saúde desses trabalhadores, submetidos aos

riscos e agravos advindos das condições de trabalho. E, também avançar em

suas pesquisas, criando programas de saúde pública e campanhas sanitárias

para prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos (DIAS,

2007).

A política pública de saúde mental contou com a ajuda também da

acelerada industrialização. A produção de medicamentos sendo incentivada

pelo governo veio a colaborar ainda mais na eficácia terapêutica dos

transtornos mentais, mas não o bastante para criar um cuidado extra-

hospitalar, visto que o modelo hospitalocêntrico tem vários determinantes

econômicos e sociais (DIAS, 2007).

A Política Nacional de Saúde, que se esboçava desde 1930, foi

consolidada no período de 1945-1950. O Serviço Especial de Saúde Pública

(SESP) foi criado durante a 2ª Guerra Mundial, em convênio com órgãos do

governo americano e sob o patrocínio da Fundação Rockefeller5 (BRAVO,

2007).

No final dos anos de 1940, é criado o Plano Salte (1948) que tinha por

objetivo melhorar as áreas de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia: a

Saúde foi posta como uma de suas finalidades principais. O plano apresentava

previsões de investimentos de 1949 a 1953, mas não foi implementado

(BRAVO, 2007).

Em maio de 1953, foi criado o Ministério da Saúde, mas este atuou de

maneira ineficiente. Pois contou com verbas irrisórias no decorrer da década de

1950, confirmando o descaso dos governantes para com a saúde do povo; e

esta falta de dinheiro impedia que o Estado atuasse com eficácia na péssima

5 Nas primeiras décadas do século XX, a Fundação Rockefeller atuou de modo decisivo na

implementação de ações voltadas para a saúde pública no Brasil, especialmente no movimento sanitarista (KOBAYASHI, FARIA, COSTA, 2009).

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situação da saúde coletiva. Além das dificuldades enfrentadas pelo Ministério,

o clientelismo6 também interferiu na política de saúde do Brasil.

Em 1964 é iniciada a Ditadura Militar (1964-1985), reduzindo verbas

destinadas a saúde pública (que teve acréscimo na primeira metade da década

de 1960) (FILHO, 2002) e as discussões sobre as necessárias alterações na

política de saúde durante os anos de sua duração; e centralizou mais uma vez

as ações de saúde do nível central do governo, destruindo os poderes

estaduais e municipais.

O período de 1974 a 1985 é caracterizado pelo período de

redemocratização7. Nesta época ocorre abertura política, ou seja, a

recuperação das instituições democráticas extinguidas pelo Regime Militar,

regime de exceção e de censura, e a superação desse Regime (BRAVO,

2001).

Assim, o fim dos anos 1970 foi marcado, na política, por mudanças nas

regras autoritárias do regime militar, como a extinção do Ato Institucional nº 5

em 1978. No âmbito da saúde mental, nas décadas de 1970 e 1980, houve

uma grande mobilização para recolher doentes mentais para hospitais

psiquiátricos com ambulâncias percorrendo as cidades. No ano de 1971 já

existiam 80.000 leitos psiquiátricos no Brasil (ALVES, 1992; BRENER, 1996;

COSTA, 2002).

Em relação à assistência a saúde no Brasil, no ano de 1966 ocorreu a

unificação dos diversos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs, e do

sistema previdenciário, com a criação do Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS), o qual assumiu a responsabilidade pela garantia da assistência

previdenciária e médica aos seus segurados e dependentes.(NOGUEIRA;

COSTA, 2007).

6 Clientelismo: os partidos ou os líderes políticos trocavam ambulâncias, leitos hospitalares,

profissionais da saúde e vacinas – muitas vezes em número bem superiores à demanda de uma região – por votos e apoio nas épocas eleitorais. Ao mesmo tempo, outras áreas permaneciam totalmente sem assistência médico-sanitária (FILHO, 2002, p. 41).

7 Período marcado pelas eleições diretas para os principais cargos políticos, pelo

pluripartidarismo e pela liberdade de atuação da imprensa, das agremiações políticas e dos

sindicatos (FILHO, 2002, p. 39).

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26

Mesmo com esses avanços, até meados de 1970, a saúde mental quase

não era vista como política pública quando, enfim, o Ministério da Saúde lança

a Campanha Nacional de Saúde Mental e acaba com o Serviço Nacional de

Doenças Mentais (SNDM8), substituindo-o pela Divisão Nacional de Saúde

Mental (DINSAM) (NOGUEIRA; COSTA, 2007).

Analisar as ligações de acontecimentos históricos e sociais é muito

importante para que se entenda e explique a dinâmica dos episódios da

sociedade. Ficando evidente a relação dos interesses capitalistas no que se

refere à política de saúde/ saúde mental, com a ênfase na hospitalização,

assistência médica curativa, individual e na medicalização, tendo o

planejamento como peça fundamental na organização e funcionamento do

sistema de saúde.

Assim, as políticas de saúde e saúde mental vão ser constituídas por

tais características, influenciando o momento seguinte em que ambas passam

por processo de reforma. Em resistência a esta lógica capitalista, mercantil e

centralizadora da saúde e, do modelo hospitalocêntrico e manicomial na saúde

mental, vários profissionais começam a organizar-se, compondo de debates e

novos conceitos a partir do ano de 1979. Portanto, este contexto da política de

saúde e saúde mental brasileira, fez com que na década de 1980 ocorressem

mudanças.

Com a falência do modelo econômico do regime militar, que decretou

seu fim em 1985, a sociedade brasileira presenciou o agravamento da crise

econômica, profunda e prolongada que persiste até os dias atuais (BRAVO,

2001); vivenciou um processo de democratização política superando o regime

8 O Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM) era um dos 23 órgãos do Departamento

Nacional de Saúde (DNS) do Ministério da Educação e Saúde, que compreendia as divisões de Saúde Pública, de Assistência Hospitalar, de Assistência a Psicopatas e de Amparo a Maternidade e a Infância. De acordo com a Estudiosa da história da psiquiatria, Ana Teresa, “a reunião desses órgãos foi um indício de mudanças substanciais no campo da política assistencial psiquiátrica, porque ampliou a ação do Departamento Nacional de Saúde (DNS) na área psiquiátrica, até então mais circunscrita ao Distrito Federal”. O SNDM representou a junção, em apenas um órgão, do Serviço de Assistência a Psicopatas (SAP) e da Divisão de Assistência a Psicopatas do Distrito Federa (DAP-DF) (VALVERDE, 2003). E a DINSAM passa a ser a responsável pela normatização, avaliação e controle dos programas de saúde mental no Brasil e formada por um complexo de quatro unidades: Centro Psiquiátrico Pedro II, Hospital Pinel, Colônia Juliano Moreira e Manicômio Judiciário Heitor Carvalho (NOGUEIRA E COSTA, 2007, p. 3).

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ditatorial e, assim, a sociedade voltava a mobilizar-se, exigindo liberdade e

democracia.

As primeiras críticas aos hospitais psiquiátricos surgem também no

período Pós-Segunda Guerra Mundial, a partir da experiência de médicos,

enfermeiros que foram prisioneiros dos campos de concentração nazistas.

Inicia-se, então, o questionamento crítico de participação destes profissionais

em instituições psiquiátricas, que se baseiam em discriminações tão

desumanas como as que eles haviam sofrido (TUNÕN; ABUDARA, 1988). A

partir dos questionamentos desses profissionais surgiram vários ciclos de

debates e novas formulações em vários países defendendo o louco diante da

sociedade, e não optam mais pela sociedade em detrimento do louco.

Com o fim do Regime Militar, esta década (1970) foi marcada também

pelos Movimentos Populares. Em meio a várias manifestações havia um grupo

que discutia sobre a Política de Saúde. Este fez surgir o Movimento Popular de

saúde e a luta pela instauração de uma política pública de saúde que

implantasse um sistema único de saúde e garantisse a cidadania aos

brasileiros.

No que se refere a saúde mental, ela apenas iniciou um campo de luta

no Brasil a partir da “crise da DINSAM”, enquanto que em outros países, a

reforma psiquiátrica já estava com toda a agitação. É apenas na 8ª Conferência

Nacional de Saúde, de 17 a 21 de março de 1986, que o Movimento Popular de

Saúde é conhecido nacionalmente, dando origem ao Movimento pela Reforma

Sanitária9, contendo em suas discussões a assistência à saúde como direito de

cidadania (NOGUEIRA; COSTA, 2007).

A Reforma Sanitária Brasileira, segundo AROUCA (1998), caracteriza-se

como uma reforma democrática que nasceu na luta contra a ditadura, tendo

como tema: Saúde e Democracia. Ela estruturou-se nas universidades, no

movimento sindical e em experiências regionais de organização de serviços.

9 O conceito de Reforma Sanitária refere-se a um processo de transformação da norma legal e

do aparelho institucional que regulamenta e se responsabiliza pela proteção à saúde dos cidadãos e corresponde a um efetivo deslocamento do poder político em direção às camadas populares, cuja expressão material se concretiza na busca do direito universal à saúde e na criação de um sistema único de serviços sob a égide do Estado (TEIXEIRA, 1989, p. 39).

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Esse movimento consolidou-se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em

1986, na qual, pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todas as

partes da sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O

resultado foi garantir na Constituição, por meio de emenda popular, que a

saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado.

Nesse contexto de mudanças, de luta e de grande crescimento da

representação popular, de reivindicação dos direitos e das necessidades do

país, nasce o Movimento pela Reforma Sanitária, a partir do descontentamento

em relação ao Sistema de Saúde Previdenciário que vigorava durante o

período de Ditadura Militar.

E, em seguida a Reforma Psiquiátrica, contendo discussões da

assistência psiquiátrica. Cenário este de recessão na política econômica, que

há limitação de investimentos, cortes de verbas públicas nos setores sociais,

inclusive na saúde, e, que houve uma maior cobrança da sociedade para o

provimento de um sistema de saúde eficaz, que atendesse às necessidades da

população como um todo (PAIM, 2008). Assim, em meio a uma das mais

graves crises econômicas e sociais, o Brasil reconquista a sua democracia.

2.2. Contexto Histórico da Reforma Sanitária

O Movimento Sanitário culmina por volta dos anos 1970, influenciado

pelo modelo do Movimento Sanitário Italiano (GERSCHMAN, 1995) e,

estabelecido em uma conjuntura de reformulação da saúde, tendo em sua

essência o projeto reformador e a proposta da equidade, que é fundamental

para a efetivação da democracia (GERSCHMAN,1995). É composto por um

grupo de médicos, intelectuais e lideranças políticas do setor da saúde, que

tinham uma trajetória própria na área da saúde e se opunham ao Regime

Militar.

O projeto do movimento era sustentado sobre uma grande crítica ao

modelo da época, baseado na valorização e crescimento do setor privado à

custa do setor público (GERSCHMAN,1995). Tinha como propósito fazer várias

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modificações necessárias ao setor saúde, além de uma reforma administrativa

e financeira. Necessitava-se de uma reformulação mais profunda,

ampliando o próprio conceito de saúde e sua correspondente ação institucional, revendo-se a legislação no que diz respeito à proteção e a recuperação da saúde, constituindo-se a Reforma Sanitária (BRASIL, 1986, p. 381).

A Reforma Sanitária foi constituída por uma concepção higienista,

apoiada em várias práticas sanitárias para a erradicação de doenças

transmissíveis que afetavam as condições de saúde dos brasileiros. Entretanto,

também ligada a este pensamento sanitarista a concepção de eugenia (DIAS,

2007). Ela se afirmava no Brasil, baseado na Revolução Sanitária Italiana,

sendo esta, um dos reflexos das necessidades do país, que surgia na época da

redemocratização brasileira (SILVA, 2008).

Em 1983, o movimento sanitarista expande sua ideia de reformulação do

Sistema de Saúde (GERSCHMAN,1995), desde que passou a ocupar espaços

nas instituições estatais visando realizar modificações na política de saúde.

Com o crescimento da proposta e do processo de reformulação desta política

originou-se 8ª Conferencia Nacional de Saúde em 1986, na qual se definiu o

projeto da Reforma Sanitária Brasileira (GERSCHMAN,1995).

Com as mudanças introduzidas pelo projeto de Reforma, o setor saúde

tornou-se democrático, universal, acessível. E passou a sustentar-se em um

conceito de saúde ampliado, relacionado às condições de vida, como: moradia,

saneamento, alimentação, condições de trabalho, educação, lazer.

Ultrapassando o atendimento da doença para se estenderem à prevenção e ao

melhoramento das condições de vida geradoras dessas doenças. Sendo

definida a saúde como um direito do cidadão e dever do Estado

(GERSCHMAN,1995).

A Reforma Sanitária consiste em um longo processo político de

conquistas da sociedade em direção à democratização da saúde, rumo a

construção de um novo Sistema Nacional de Saúde, tendo como pressupostos:

a visão da saúde como um processo resultante das condições de vida; atenção

à saúde não restrita a assistência médica, envolvendo “todas as ações de

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promoção, proteção e recuperação”; saúde como direito de todos e dever do

Estado, de modo que, as ações e serviços de saúde estivessem ‘subordinados

ao interesse público’; acesso universal e igualitário de toda a população a todas

as ações e serviços necessários, sem discriminações; constituição do SUS

com comando único em cada esfera de governo; regionalização e

hierarquização da rede de serviços de saúde; distritalização; e gestão

colegiada (PROPOSTA, 1987).

A Política de Saúde tem como aspectos centrais: a politização da

questão saúde, que consiste no aumento de consciência sanitária; alteração na

norma constitucional, que resultou em um processo de articulação e

mobilização, incorporando muitas das reivindicações do movimento sanitário; e

mudança do arcabouço e das práticas institucionais, que tinham como

propósito fortalecer o setor público, reduzir a participação do setor privado,

universalizar o atendimento, descentralizar do processo decisório da política de

saúde e a execução de serviços em diferentes níveis (TEIXEIRA; BRAVO, p.

11 e 12).

A partir desses fatos é criado em 1987 o Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS)10 e, posteriormente, o Sistema único de

Saúde, o SUS11, fundamentado pela Constituição Federal de 1988 e

posteriormente pelas Leis Federais n.º 8080/1990 e nº 8.142/1990, Leis

Orgânicas da Saúde, com a finalidade de alterar a situação de desigualdade na

assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público

a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer

10

O SUDS consiste em um sistema que pertencia a linha do movimento de reforma sanitária, que tinha como propósito contribuir para a consolidação e o desenvolvimento qualitativo das Ações Integradas de Saúde (AIS). Estabeleceu a reorganização das atribuições dos três níveis de poder, numa ação conjunta inédita do Ministério e da Previdência Social. Ao mesmo tempo que possibilitou a superação da dicotomia histórica entre o Ministério da Saúde e a Previdência, não resolveu conflitos existentes, principalmente na definição de papéis entre estados e municípios. Sobrevivendo o SUDS até a aprovação da Lei Orgânica de Saúde, 1990, dando lugar ao SUS (DIAS, 2007, p. 55 e 56). 11

O SUS alicerça-se nos princípios de acesso universal, público e gratuito às ações e serviços de saúde; integralidade das ações, cuidando do indivíduo como um todo e não como um amontoado de partes; equidade, como o dever de atender igualmente o direito de cada um, respeitando suas diferenças; descentralização dos recursos de saúde, garantindo cuidado de boa qualidade o mais próximo dos usuários que dele necessitam; controle social exercido pelos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, com representação dos usuários, trabalhadores, prestadores, organizações da sociedade civil e instituições formadoras (BRASIL, 2004).

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31

pretexto (BRASIL, 2004). Esse Sistema definiu a saúde como direito de

cidadania e dever do Estado, implicando numa visão desmedicalizada da

saúde, que identifica saúde apenas como ausência relativa de doença (DIAS,

2007).

O SUS foi o passo mais avançado da reformulação do setor saúde.

Mesmo não conseguindo total êxito na melhoria das condições da saúde da

população, ele fez com que ocorressem muitos avanços na área, que refletiram

no agir político, e estas perduram até os dias atuais. Deixando claro que o

único meio de se colocar em prática a reforma sanitária é havendo uma

construção democrática.

A partir desse movimento de reforma sanitária surge outro visando a

reforma do modelo tradicional psiquiátrico, dando origem a Reforma

Psiquiátrica.

2.3. Contexto Histórico da Reforma Psiquiátrica

O período que vai da constituição da medicina mental no Brasil, em

meados do século XIX, até as primeiras décadas do século XXI, precisamente

até a segunda guerra mundial, será considerado como a o período higienista,

que trata do aparecimento e desdobramento de um projeto de medicalização

social, no qual a psiquiatria surge como um instrumento tecnocientífico de

poder, em uma medicina que autodenomina social (MACHADO, 1978 et al

AMARANTE, 1995, p. 88).

A Segunda Guerra Mundial deixa muitos países vitimados com o seu

fim, entre eles encontra-se o Brasil. Este fato faz com que surjam experiências

socioterápicas, como as comunidades terapêuticas, por exemplo. Terminando

por constituir, após o episódio da psiquiatria preventivo-comunitária, o percurso

da saúde mental (VASCONCELOS, 2008). Salientando que o surgimento de

um caminho não signifique que não existia nenhum anterior a ela.

A antiga concepção de prevenção da psiquiatria higienista, também

denominada de profilaxia, passa a superar a ideia de prevenção das desordens

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32

mentais, para alcançar o projeto de promoção da Saúde Mental e luta pelos

direitos dos portadores de sofrimento psíquico no Brasil.

A política de saúde, especificamente a de saúde mental, foi se

gerenciando no período da formação e consolidação do estado brasileiro ao

longo do século XX, ora negando, ora reconhecendo a questão social12. Inicia

nesta perspectiva, no fim da década de 1970, no Brasil, a Reforma Psiquiátrica,

precisamente no ano de 1978, resultante da Reforma Sanitária e com o

surgimento do Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, com o episódio

da Crise da DINSAM13. Embora advinda do movimento sanitarista, o processo

de Reforma Psiquiátrica no Brasil tem sua própria história, inscrita num

contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar

(BRASIL, 2005).

A Reforma Psiquiátrica tem como fundamentos uma crítica conjuntural ao subsistema nacional de saúde mental, mas também – e principalmente – uma crítica estrutural ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, dentro de toda a movimentação político-social que caracteriza a conjuntura de redemocratização (AMARANTE, 1998, p. 87).

O processo da Reforma divide-se em duas fases: a primeira de 1978 a

1991 compreende uma crítica ao modelo hospitalocêntrico, enquanto a

segunda, de 1992 aos dias atuais destaca-se pela implantação de uma rede de

serviços extra-hospitalares, que serão explanados mais à frente (MESQUITA;

NOVELLINO; CAVALCANTI, 2010).

A Crise da DINSAM (Divisão Nacional de Saúde Mental) foi o estopim

para a reforma ocorrer. A crise foi iniciada através de denúncias de

trabalhadores (médicos bolsistas) do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de

Janeiro. Essas denúncias revelavam às irregularidades do hospital, divulgando

12

A Questão Social é entendida como o conjunto das manifestações das desigualdades sociais geradas na sociedade capitalista, e que “tem como raiz comum: a produção social cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 1998, p. 27).

13 DINSAM – Divisão Nacional de Saúde Mental. Órgão do Ministério da Saúde responsável

pela formulação das políticas de saúde do subsetor saúde mental.

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33

as pessoas a trágica situação existente naquela unidade hospitalar. Também

mostrava como o quadro de funcionários estava defasado e antigo

(AMARANTE, 1995).

A Divisão não estava realizando concursos, passando a contratar

bolsistas (estudantes, graduados) no lugar de contratar médicos, enfermeiros,

assistentes sociais, psicólogos; e, estes trabalhando precariamente

(AMARANTE, 1995). Assim, há uma mobilização dos profissionais de outros

locais e, as amarras de cunho trabalhista e humanitário dão grande

repercussão ao movimento.

Dado que, neste ano se assiste à reemergência dos principais

movimentos sociais no Brasil, após um longo período de repressão pela

ditadura militar, com já foi dito anteriormente, que impossibilitava a expressão

política da sociedade no país (VASCONCELOS, 2008). Entre esses

movimentos está o MTSM, que desempenha durante um longo período do fato

(reforma), o principal papel, tanto na formulação teórica quanto na organização

de novas práticas (AMARANTE, 1995, p. 88).

O Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), com seus

vários ambientes de luta, é que protagonizará e construirá a partir deste

período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da

loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e, constrói

coletivamente uma crítica ao saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico

na assistência a pessoas com sofrimento psíquico (BRASIL, 2005).

A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua característica radical ao manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas (BRASIL, 2005).

No mesmo ano do início da reforma surge no Brasil, na cidade de São

Paulo, o primeiro CAPS14. E, no ano de 1978 inicia-se a primeira intervenção

em um hospital psiquiátrico caracterizado por maus tratos e mortes de

14

O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou Núcleo de Atenção Psicossocial é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida (BRASIL, 2004).

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pacientes, pela Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP), a Casa de

Saúde Anchieta. Esta intervenção repercutiu nacionalmente, demonstrou de

maneira convicta que é possível a construção de uma rede de cuidados que

substitua efetivamente o hospital psiquiátrico (BRASIL, 2005).

Nesta época são inaugurados em Santos - SP os primeiros NAPS

(Núcleos de Atenção Psicossocial), com funcionamento de 24hs, também são

criadas residências para os pacientes que tinham saído do hospital, igualmente

criadas cooperativas e associações. Esses fatos ocorridos em Santos

marcaram o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil, demonstrando através

dos fatos que a Reforma Psiquiátrica era possível e realizável.

Em 1987, no Rio de Janeiro é realizada a I Conferência Nacional de

Saúde Mental, ocorrida no mesmo ano do surgimento dos movimentos, após

embates entre o governo e o movimento de saúde mental (AMARANTE, 1994).

Este evento tinha como objetivo a correção e reversão do modelo manicomial

hospitalocêntrico em direção aos serviços extra-hospitalares. Nestes serviços

deveriam trabalhar equipes multiprofissionais, no intuito de diminuir ou até se

extinguir os leitos psiquiátricos asilares, substituindo-os por leitos psiquiátricos

em hospitais gerais públicos (NOGUEIRA; COSTA, 2007). Indicava também a

conferência, que houvesse a luta pela cidadania das pessoas portadoras de

sofrimento psíquico, principal bandeira do Movimento Nacional de Luta

Antimanicomial.

O movimento antimanicomial denuncia as condições de segregação

social dos portadores de saúde mental e defende mudanças de concepção

sobre a doença mental. Os portadores de sofrimento psíquico passam a serem

vistos como cidadãos de direito e o modelo hospitalocêntrico sofre

modificações, objetivando a criação e ampliação de espaços democráticos e

participativos (DIAS, 2007).

A participação dos trabalhadores de instituições psiquiátricas nesses

movimentos de Saúde Mental “representa o transbordamento de uma questão

de natureza social e política, como a saúde mental, até então rigidamente

contida nos muros de um saber hegemônico marcadamente corporativo”

(DELGADO, 1994, p. 173).

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35

Estes profissionais passaram a partir da crítica ao modelo de produção

do binômio saúde-doença (DIAS, 2007), a rever e analisar suas práticas de

intervenção e chegam a conclusão que:

O cidadão é aquele que possui uma saúde ou um corpo apto para ser incluído na produção. Mas, da mesma maneira que o estatuto do cidadão vai-se configurando historicamente ligado aos processos produtivos, o estatuto do louco vai-se constituindo em relação aos processos de anti-produção (LANCETTI, 1987, p.87).

O Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM) estabelece

um forte processo de indagações das políticas de assistência psiquiátrica em

andamento no período, cujo objetivo é constituir-se em um

espaço de luta não institucional, em um lócus de debate e encaminhamento de propostas de transformação da assistência psiquiátrica, que aglutina informações, organiza encontros, reúne trabalhadores em saúde, associações de classe, bem como entidades e setores mais amplos da sociedade (AMARANTE, 1995, p.52).

A primeira conquista do movimento foi conseguir aprovar em vários

estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva

dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental,

inspirados no Projeto de Lei nº 3.657/89. Este Projeto, formulado pelo

Deputado Paulo Delgado, foi aprovado apenas em 2001, após 12 anos

tramitando pelo Congresso Nacional. Com a aprovação, iniciam as lutas do

movimento da Reforma Psiquiátrica no âmbito do legislativo e normativo.

Assim, a Lei, um pouco diferente do Projeto, redireciona a assistência

em saúde mental, dispõe sobre a proteção e os direitos dos portadores de

transtorno mentais, porém não institui mecanismos claros para a progressiva

extinção dos manicômios (BRASIL, 2005), contudo impõe nova configuração

para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.

É a partir desses fatos que a Política do Ministério da Saúde para a

saúde mental, seguindo a linha de conduta em construção da Reforma

Psiquiátrica, começa a obter melhor definição. Nessa conjuntura de

promulgação de lei e da realização da 3ª Conferência Nacional de Saúde

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Mental, que a política de saúde mental do Governo Federal, lado a lado com as

normas da Reforma Psiquiátrica, consolida-se, e ganha maior apoio e

perceptibilidade.

Na III Conferência Nacional de Saúde Mental, com ampla participação

dos movimentos sociais, de usuários e de seus familiares, que fornece os

substratos políticos e teóricos para a política de saúde mental no Brasil

(BRASIL, 2001). Assim, a rede de atenção à saúde mental se expande, e

começa a atingir lugares que possuíam hospitais como tradição, e que

possuíam escassa assistência comunitária em saúde mental.

Surge, então, a rede de atenção à saúde mental, composta por vários

serviços substitutivos, como: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),

Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência,

Ambulatórios de Saúde Mental, e Hospitais Gerais, caracterizados por serem

essencialmente públicos, de base municipal, com um controle social

fiscalizador e gestor no processo de consolidação da Reforma Psiquiátrica

(BRASIL, 2005).

Os Centros de Atenção Psicossocial, entre todos os dispositivos de

atenção à saúde mental, é o que têm valor estratégico para a Reforma

Psiquiátrica Brasileira. A partir do surgimento desses serviços que se vê a

possibilidade de organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico

no Brasil (BRASIL, 2005).

O CAPS tem como função organizar a rede de atenção às pessoas com

transtornos mentais nos municípios. São os articuladores estratégicos desta

rede e da política de saúde mental num determinado espaço. Os Centros

devem ser substitutivos, contudo não devem ser complementares ao hospital

psiquiátrico. Eles têm que acolher, dar atenção às pessoas com transtornos

mentais, e procurar preservar os elos sociais do usuário em sua comunidade

(BRASIL, 2005).

Os Centros de Atenção Psicossocial se diferenciam de outros serviços

pelo porte, capacidade de atendimento, clientela atendida, e organizam-se de

acordo com o perfil populacional dos municípios. Desse modo, estes se

diferenciam como CAPS I (Centros de menor porte), CAPS II (centros de médio

porte), os CAPS III (serviços de maior porte da rede), os CAPSi, especializados

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no atendimento de crianças e adolescentes com transtornos mentais, e os

CAPSad, especializados no atendimento de pessoas que fazem uso de álcool

e outras drogas (BRASIL, 2005).

Outro serviço que surge para subsidiar a Reforma são as Residências

Terapêuticas. Consistindo em casas localizadas no espaço urbano,

constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas

portadoras de transtornos mentais graves, vindas de hospitais psiquiátricos ou

não.

Uma residência terapêutica deve acolher, no máximo, oito moradores.

Assim, a inserção de um usuário nesse serviço dá início ao longo processo de

reabilitação que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador. Cada

residência deve estar referenciada a um CAPS e operar junto à rede de

atenção à saúde mental no território a que pertence (BRASIL, 2005).

Os Centros de Convivência também estão entre esses dispositivos

públicos que compõe a rede substitutiva em saúde mental, oferecendo às

pessoas com transtornos mentais espaços de sociabilidade, produção cultural

e intervenção na cidade. Estes Centros, através da construção de espaços de

convívio e sustentação das diferenças na comunidade, facilitam a construção

de laços sociais e a inclusão de pessoas com transtornos mentais (BRASIL,

2005). Contudo, eles não são equipamentos assistenciais e, tampouco

realizam atendimento médico ou terapêutico. Esses espaços resumem-se ser

para a pessoa com transtorno mental e ao seu território meio de articulação

com a vida cotidiana e a cultura (BRASIL, 2005).

Também é criado nesse contexto o Programa “De Volta para Casa”, e

este impulsiona o processo de desinstitucionalização das pessoas que

passaram um longo tempo internadas em hospitais psiquiátricos; do mesmo

modo é criada uma política de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica

(BRASIL, 2005), e, idealizada a política para a questão do álcool e outras

drogas, introduzindo a estratégia de redução de danos (BRASIL, 2005).

A partir dos anos 1990, o processo de redução de leitos em hospitais

psiquiátricos e de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de

internação torna-se política pública no Brasil, e ganha força em 2002, após a

promulgação da Lei 10.216 e com uma série de normatizações do Ministério da

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Saúde, contribuindo de uma maneira mais forte até os dias atuais com a

Reforma Psiquiátrica.

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3. O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE

“Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar, efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo” (IAMAMOTO, 1998, p. 20).

Neste capítulo trataremos do Serviço Social no campo da Saúde,

resgatando inicialmente o histórico da profissão, e como se inseriu neste

campo, para posteriormente, trazer a discussão acerca da profissão no âmbito

da saúde mental, suas dificuldades e desafios. Por último, as particularidades

da saúde mental em um hospital psiquiátrico e o fazer profissional do

Assistente Social, neste espaço ocupacional.

No que se refere a sua origem, o Serviço Social15 surge no Brasil na

conjuntura de 1930 a 1940, com o capitalismo monopolista e influência

europeia (MARTINELLI, 1995, p.67), a partir da relação capital-trabalho.

Através da assistência aos trabalhadores, partindo de obras de caridade, em

conjunto com a Igreja Católica, em áreas assistenciais, previdenciárias e fabris.

O Serviço Social nasce vinculado ao assistencialismo de atuações religiosas, e

articulado ao projeto de hegemonia do poder burguês (IAMAMOTO, 2005).

Nesta época a área da saúde não era tão visada.

A profissão também nasceu com o objetivo de ‘controlar’ as questões sociais, decorrentes do avanço do capitalismo. Em uma conjuntura marcada pelo processo de transição das atividades essencialmente agrárias para as atividades industriais e pela crescente mobilização popular, a burguesia organizou-se em torno de estratégias que, de certo modo neutralizassem a crescente insatisfação da maioria da população (CAVALCANTI, 2007, p. 39).

A Igreja se via preocupada com sua missão frente às mudanças da

realidade social, acarretadas pelo acelerado processo de industrialização e

urbanização. Com os fatos, houve o estímulo a “Ação Católica”, ambiente em

15

O termo Serviço Social (origem anglo-saxônica), foi utilizado pela primeira vez nos EUA, em 1904, para nomear uma escola para profissionais que atuavam com assistência social em Boston. Tendo esta expressão forte ligação com práticas de merecimento, no período (IAMAMOTO, 2005).

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40

que fiéis leigos podiam participar de ações sociais relacionadas com os

princípios católicos. Posteriormente, esse assistencialismo passa a ser

desenvolvido como Política Pública (IAMAMOTO, 2005).

Todavia, a expansão do Serviço Social no país, ocorre a partir de 1945,

com as exigências e necessidades de aprofundamento do capitalismo no Brasil

e às mudanças que ocorreram com o fim da Segunda Guerra. Em princípio a

área da saúde não foi a que concentrou maior número de assistentes sociais,

mas é a partir dessa década, que se amplia a ação profissional neste âmbito,

devido a forte demanda quanto à higienização da população, no intuito de

controlar as pestes surgidas nessa época (PANOZZO, 2009), transformando-se

na área que mais vem absorvendo os assistentes sociais.

Em 1948, com a elaboração do “novo conceito de saúde”16, inicia-se o

enfoque aos aspectos psicossociais. Desta forma, surge a necessidade da área

de ter outros profissionais para atuar, entre eles está o assistente social. O

papel do profissional neste tempo era de educar seus usuários a terem hábitos

saudáveis, “ajustando-os” na sociedade, seguindo a atuação deste profissional

até a década de1960 uma linha conservadora (BRAVO; MATOS, 2004). É a

partir desta década que os assistentes sociais começaram a ter uma atuação

político-militante (IAMAMOTO, 2005).

Nos anos 1960, com o surgimento do Movimento de Reconceituação17,

houve um debate na profissão, que abalou com as bases do tradicionalismo

16 A “Organização Mundial de Saúde” (OMS) define a saúde como "um estado de completo

bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Conceito hoje superado pela concepção ampliada de saúde. Site: http://www.alternativamedicina.com/medicina-tropical/conceito-saude, acessado dia 27 de abril de 2013. 17 O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina constituiu-se numa

expressão de ruptura com o Serviço Social tradicional e conservador; e na possibilidade de uma nova identidade profissional com ações voltadas às demandas da classe trabalhadora (FALEIROS, 2007, p.133). No bojo do movimento surgiram três vertentes teóricas, (YASBEK, 2009): 1. A Modernizadora, caracterizada pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e positivistas, voltadas a uma modernização conservadora e melhoria do sistema, pela mediação do desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da pobreza na perspectiva de integração da sociedade. 2. A Reatualização do Conservadorismo, inspirada na fenomenologia, emerge como metodologia dialógica, que, apropriando-se da visão de pessoa e comunidade, dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, atribuindo ao Serviço Social a tarefa de auxiliar a abertura desse sujeito existente, singular em relação aos outros e ao mundo de pessoas. Valoriza o diálogo e a transformação das pessoas, sendo analisada por Paulo Netto como uma reatualização do conservadorismo inicial da profissão; 3. A Vertente Marxista que remete a profissão à consciência de sua inserção na

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profissional (NETTO, 2008), questionando o conservadorismo e, fazendo com

que o Serviço Social sofresse profundas transformações, no pós-1964, que

refletisse no trabalho do assistente social (BRAVO; MATOS, 2004). Mas, este

processo de crítica foi eliminado pelo golpe militar burguês, que não deixaram

desenvolver as propostas de ultrapassagem do subdesenvolvimento como

função da transformação substantiva dos quadros societários latino-

americanos. Estreitando o suporte social para uma renovação do Serviço

Social no Brasil (NETTO, 2008).

A modernização conservadora implantada pelos militares no país trouxe

novas estratégias de controle e repressão para a classe trabalhadora, exigindo

a renovação do Serviço Social. O principal meio de elaborar a teoria do Serviço

Social, no período de 1965 a 1975, foi o Centro Brasileiro de Cooperação e

Intercâmbio em Serviços Social (CBCISS18).

No âmbito da saúde, a profissão vai ser influenciada por esta

modernização que se operou no âmbito das políticas sociais, sedimentando

sua ação na prática curativa, principalmente na assistência médica

previdenciária, local que empregava o maior número dos profissionais

(BRAVO; MATOS, 2004).

De 1974 a 1979, mesmo com algumas mudanças no âmbito organizativo

da categoria, do aparecimento de outras direções para a profissão, do

aprofundamento dos docentes e de movimentos da sociedade, o Serviço Social

na saúde não se alterou. O trabalho profissional continuou orientado pela

vertente “modernizadora” e as vertentes teóricas em sua maioria também

continuaram seguindo essa direção (BRAVO; MATOS, 2004).

A década de 1980 no Brasil foi marcada pelo aprofundamento da crise

econômica que se evidenciou na ditadura militar, mas também por grande

mobilização política. Ocorreram movimentos sociais ligados às políticas sociais

e projetos societários, principalmente na área da saúde (BRAVO; MATOS,

2004); que também chegaram ao Serviço Social, o qual, no momento histórico,

passava por seu processo de revisão. Adquirindo a profissão uma maturação

sociedade de classes e, que no Brasil vai configurar-se, em um primeiro momento, como uma aproximação ao marxismo sem o recurso ao pensamento de Marx. 18 O CBCISS difundiu a “perspectiva modernizadora” no sentido de adequar a profissão às exigências postas pelos processos sociopolíticos emergentes no pós-1964 (Netto, 1996).

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que expressou rupturas com o seu tradicional conservadorismo, expressa pela

democratização da convivência de diferentes posicionamentos teórico-

metodológicos e ideopolíticos (YABEK, 2009).

Na saúde coletiva19 há um significativo movimento, que também ocorre

no Serviço Social, de “ruptura ao tradicionalismo”. Em que há a ampliação do

debate teórico e a incorporação de algumas temáticas como o Estado e as

políticas sociais fundamentadas no marxismo, e na concepção crítica (BRAVO;

MATOS, 2004).

Contudo, esse processo de revisão e discussão sobre os novos rumos

que a profissão deveria tomar ocorreu de maneira interna, deixando de fora da

discussão do Serviço Social, questões cruciais como a construção de uma

Reforma Sanitária no Brasil (COSTA, 2008).

O processo de renovação do Serviço Social no Brasil está ligado às

indagações postas pela realidade da época. Mas, por ter sido um movimento

de revisão interna, não foi realizado via contato direto com outros debates, que

buscavam construir práticas democráticas, como o movimento pela reforma

sanitária. Assim, vimos que estas são as causas para o descompasso da

profissão com a luta pela assistência à saúde pública (BRAVO, 1996).

A profissão teve várias lacunas no fazer profissional na década de 1980

resultantes, por exemplo, da natureza monopolista do Estado brasileiro; do

enfrentamento de questões sobre as políticas sociais, quanto à consolidação

de políticas públicas nas áreas da seguridade social (saúde, assistência e

previdência social) e do trabalho (IAMAMOTO et al BONETTI, 1996). Mas,

observou-se uma mudança de posição no que se refere à postura crítica dos

trabalhos em saúde apresentados nos Congressos Brasileiros de Assistentes

Sociais; na apresentação de alguns trabalhos nos Congressos Brasileiros de

Saúde Coletiva; a proposta de intervenção formulada pela ABESS, ANAS E

19

“A Saúde Coletiva, latino-americana foi composta a partir da crítica à Medicina Preventiva, à Medicina Comunitária, à Medicina da Família, além de ser fertilizada pela Medicina Social do Século XIX e pela saúde pública institucionalizada, seja nos serviços de saúde, seja na academia. Envolve um conjunto de práticas técnicas, ideológicas, políticas e econômicas desenvolvidas no âmbito acadêmico, nas organizações de saúde e em instituições de pesquisa vinculadas a diferentes correntes de pensamento resultantes de projetos de reforma em saúde” (PAIM, 2005, p. 128).

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CFAS para o Serviço Social do INAMPS; e a articulação do CFAS com outros

conselhos federais de saúde20 (BRAVO, 1996).

No entanto, para Bravo e Matos (2004, p. 205),

o Serviço Social na área da saúde chega à década de 90 ainda com uma incipiente alteração da prática institucional; continua enquanto categoria desarticulada do movimento de reforma sanitária e, com isso, sem nenhuma explicita e organizada ocupação na máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão; e insuficiente produção sobre “as demandas postas à prática em saúde.

A década de 1990 foi marcada pela implantação e êxito da ideologia do

projeto neoliberal no Brasil. Este projeto político econômico consolidado no

país prometia ao povo brasileiro justiça social. Mas, mostrou-se contrário,

confrontando-se então, com os ideais do projeto profissional hegemônico do

Serviço Social e com o projeto da reforma sanitária.

No projeto neoliberal as políticas sociais podem ser caracterizadas como

fragmentadas, emergenciais, assistenciais, privatizadas, precarizadas e

focalizadas. A tensão entre o público e o privado ganha proporções complexas,

fragilizando e reduzindo os direitos sociais dos cidadãos brasileiros, Neste

cenário, quem se expande e ganha centralidade é o Terceiro Setor21, impondo

uma nova lógica à proteção social, a qual se fundamenta no conteúdo de

expressões como o voluntariado, a filantropia e a responsabilidade social,

transferindo a responsabilidade do público para o privado (DUARTE; RAMOS,

2011).

A partir desses fatos houve o acirramento da exploração do trabalho

pelo capital, o desemprego estrutural, a precarização do trabalho, além da

diminuição de recursos para o social e consequentemente, o agravo das

expressões da questão social (VASCONCELOS, 2001), já que o projeto

20

ANAS – Associação Nacional dos Assistentes Sociais, entidade atualmente desativada, que

congregava os sindicatos de Assistentes Sociais do país. CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais, denominado desde 1993 como Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). ABESS – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social, designada desde 1997 como Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). 21

O marco legal do terceiro setor engloba sob um mesmo título as instituições filantrópicas, o

voluntariado e as organizações não governamentais, que contemplam desde aquelas mais

combativas, oriundas de movimentos sociais, até filantropia empresarial (IAMAMOTO, 2008).

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neoliberal defendia o processo de privatização e a constituição do “cidadão

consumidor”22.

Há uma distância entre a proposta do movimento sanitário e a prática

do sistema público de saúde vigente. A proposição inscrita na Constituição

Federal de 1988 de um sistema público universal não se efetivou, apesar de

alguns avanços, como por exemplo: o acesso de camadas da população que

antes não tinham direito; o sistema de imunização e de vigilância

epidemiológica e sanitária, entre outros. (CFESS, 2010).

Nesta linha, o projeto de reforma sanitária é questionado e consolida-se

na segunda metade dos anos 1990 o projeto de saúde articulado ao mercado

ou privatista (BRAVO; MATOS, 2004). O projeto privatista tem como principais

tendências: contenção dos gastos racionalizando a oferta e a descentralização,

com isenção de responsabilidade do poder central. Este projeto visa o Estado

mínimo, tendo como propostas principais: caráter focalizado, estímulo ao

privado e ampliação da privatização (COSTA, 1998; BRAVO, 2009), adotando

concepções individualistas e fragmentadoras da realidade, em contraposição

às concepções coletivas e universais do projeto de reforma sanitária.

Na defesa da privatização, ressalta-se a mercantilização das políticas

sociais, particularmente, a saúde e a Previdência Social, bem como, a

ampliação do assistencialismo. O agravo da questão social resultou no

aumento do mercado de trabalho para os assistentes sociais neste período, já

que esta é uma das áreas de atuação do Serviço Social.

Neste contexto dois projetos políticos em disputa na saúde foram

identificados (o projeto privatista e o da reforma sanitária), ambos

apresentando diferentes solicitações para o Serviço Social. O Projeto Privatista

vem requisitando, ao assistente social, entre outras demandas: seleção

socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial através de

22

Cidadão Consumidor é o “indivíduo capaz de adquirir bens e comprar serviços privados, paradigma que ascende a partir da crise do Estado de Bem Estar. O cidadão que emerge deste contexto, além de atomizado, conta cada vez menos com o suporte do Estado, como provedor de serviços públicos e direitos sociais. Com a crise do emprego, expressa entre outros fatores, na extinção de vagas e na precarização dos vínculos trabalhistas. O conceito de cidadania vinculado à condição de trabalhador perde força, emergindo a ideia do mercado como espaço de justiça social nas relações de compra e de venda e do cidadão consumidor e comprador, como sujeito social individualizado que ocupa este espaço para satisfazer suas necessidades, segundo sua possibilidade aquisitiva”. (LESSA, 2010, p. 139-140).

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aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde,

assistencialismo através da ideologia do favor e predomínio de práticas

individuais (BRAVO; MATOS, 2004).

O Projeto de Reforma Sanitária ao contrário do Privatista traz como

demandas para o trabalho do assistente: a busca de democratização do

acesso às unidades e aos serviços de saúde, o atendimento humanizado,

estratégias de interação da instituição de saúde com a realidade,

interdisciplinaridade, ênfase nas abordagens grupais, acesso democrático às

informações e estímulo à participação cidadã (BRAVO; MATOS, 2004).

No período dos anos 2000 as principais diretrizes estabelecidas são: a

ampliação do atendimento no SUS, de modo singular na atenção básica;

combate as endemias23; e melhoria do acesso aos medicamentos. Adota

estratégias para viabilizar metas e objetivos, como mudança na prática e a

formação dos profissionais; capacitação continuada de conselheiros de saúde,

entre outros (BRAVO, 2001).

Entretanto, a expectativa que se colocava na época de fortalecer o SUS

constitucional foi superado pelo debate interno ocorrido entre os universalistas

e focalistas, que estão a cada dia mais fortalecidos (BRASÍLIA, 2010). Assim,

podemos perceber que a política macroeconômica de metade dos anos 1990

até os anos 2000 foi mantida, e, as políticas sociais continuam fragmentadas e

subordinadas à lógica econômica. Salientando também, que nesse período não

foi valorizada a concepção de seguridade social.

A defesa da primazia do Estado na saúde para o atendimento dos segmentos mais pobres da população ganha cada vez mais eco e com a pressão do desfinanciamento, a perspectiva universalista está cada dia mais longe de ser atingida. A grande questão é a segmentação do sistema, com ênfase nas ações privadas que passam de complementares para essenciais (CFESS, 2009, p. 13).

Essa nova configuração da política de saúde vai interferir no trabalho do

assistente social em várias dimensões: nas condições de trabalho, na formação

23

Endemias são doenças localizadas em um espaço limitado denominado “faixa endêmica”. Isso quer dizer que, são doenças que se manifestam apenas numa determinada região, de causa local, e não atinge nem se espalha para outras comunidades. As endemias, certamente, têm raízes históricas e sociais, cujos principais determinantes são as precárias condições de vida da população, as formas de ocupação do espaço e a falta de acesso aos serviços e equipamentos urbanos (Donalísio, 1995).

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profissional, nas influências teóricas, na ampliação da demanda e na relação

com os demais profissionais e movimentos sociais. Com a ampliação do

trabalho precarizado, os profissionais de Serviço Social são chamados para

amenizar a situação da pobreza que a classe trabalhadora é submetida

(BRASÍLIA, 2010).

Neste contexto, as entidades do Serviço Social, junto ao seu Código de

Ética24 (CFESS n. 273/93) têm por desafio articular-se com os demais

profissionais de saúde e movimentos sociais em defesa do projeto de Reforma

Sanitária.

O Assistente Social é reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde,

como profissional de saúde, junto a outras categorias profissionais de nível

superior, através da Resolução de nº. 218 de 06 de março de 1997. Também

pela Resolução CFESS, n. 383/99 como profissional da saúde, mas não

exclusivo a ela, mas qualificado para atuar com competência nas diferentes

dimensões da questão social no âmbito das políticas sociais, inclusive a saúde,

levando em consideração a dimensão ampliada da saúde.

A saúde é a área sócio-ocupacional que mais emprega o assistente

social. Conforme revelam os relatórios do II Encontro Estadual de Assistentes

Sociais da Secretaria de Estado da Saúde Pública / RN-SSAP / RN,

tanto em nível nacional quanto local, os assistentes sociais são a quarta categoria de nível superior na composição das equipes de saúde, ‘perdendo’ apenas para os médicos, dentistas e enfermeiros (COSTA, 1998; BRAVO, 2009, p. 305).

Na área da saúde, o assistente social intervém, junto à população

usuária, na inserção dos mesmos nas políticas sociais, utilizando de

instrumentos que minimizem seus problemas e garanta-lhes melhores

condições de cidadania. O profissional atua na perspectiva da concepção

ampliada de saúde, ou seja, para além dos sofrimentos físicos e psíquicos, no

enfrentamento das inúmeras expressões da questão social, que infrinjam na

saúde dessa população, com ações de prevenção de doenças, promoção e

24

O Código de Ética da profissão apresenta ferramentas imprescindíveis para o trabalho dos

assistentes sociais na saúde em todas as suas dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no planejamento, na assessoria, na gestão e na mobilização e participação social (CFESS, 2009, p. 17).

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47

recuperação da saúde e inserção dos usuários em programas, que viabilizem

resultados quanto as suas demandas.

Como competência nesta área, o assistente social age junto aos

fenômenos sócio-culturais e econômicos, e no nível de promoção, proteção e

ou recuperação da saúde. Sendo todo este trabalho amparado e

fundamentado, nas reflexões do fazer profissional, contidas no Projeto Ético

Político.

Para a efetivação do seu trabalho, faz-se necessário que este

profissional tenha domínio das leis institucionais e normas. Além de ter total

embasamento teórico-metodológico de todo arcabouço de leis que regem as

políticas, tais como, LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social), LOS (Lei

Orgânica da Saúde), dentre outros.

3.1. Serviço Social na Saúde Mental

Na política de Saúde Mental Brasileira, o Serviço Social iniciou sua

trajetória em meados de 1940, como assistência aos trabalhadores visando

amenizar a relação entre capital e trabalho, através de intervenções nas

demandas mais imediatas da “questão social” e com a atuação em 1946 no

COI (Centro de Orientação Infantil) e no COJ (Centro de Orientação Juvenil),

que foi uma experiência importante na conformação do modelo do “Serviço

Social Clínico” (VASCONCELOS, 2000, p.163- 184).

Contudo, não devemos confundir práticas tradicionais em Serviço Social

com o “Serviço Social Psiquiátrico”. As práticas na área psiquiátrica eram

comuns na profissão no Brasil até início dos anos 1970 (psiquiatria,

psicanálise, psicologia do ego). Com essas práticas o Serviço Social se

distancia cada vez mais das suas práticas atuais, pois naquela época

predominavam as abordagens de caráter eugênico25 e de higiene mental.

No início da trajetória do Serviço Social na Saúde Mental, na década de

1920, sua atuação era por meio do diagnóstico social. Método que servia na

abordagem do Serviço Social de Casos, que buscava ajustar o indivíduo a uma

25

Eugenia (Eugênico) contextualizada no capítulo segundo, na página 5, parágrafo 6.

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48

realidade considerada perfeita (DIAS, 2009). Os assistentes sociais que

propuseram um Serviço Social terapêutico esqueceram que a “questão social”

está fortemente ligada ao problema da Saúde Mental no Brasil, e é por isto que

a profissão se insere na área, historicamente e na atualidade (BISNETO,

2011).

Nesse período, utilizava-se do Serviço Social de Casos para o

atendimento de problemas dos indivíduos. Trazia-se a especialidade do

trabalho do Serviço Social ligado à concepção clínica. Os fundamentos da

doutrina católica e a tradição higienista eram o cerne do desenvolvimento do

trabalho profissional, reforçados pelo movimento da “psi” que também fez parte

desse momento do Serviço Social. Essa perspectiva não trouxe avanços no

trato dos “problemas sociais”, ao contrário, as vertentes mais conservadoras é

que tinham ênfase, numa perspectiva de adaptação e ajustamento dos

indivíduos (VASCONCELOS, 2000).

Posteriormente, a profissão rompe com as práticas antigas e segue o

contexto de luta. Há uma incorporação do Projeto Ético Político26 partindo da

necessidade e imposição da conjuntura, pois a saúde mental sofre das

mesmas imposições que outros âmbitos de atuação do Serviço Social são

submetidos (NETTO, 1999), que é o conservadorismo, representado na área

da saúde mental pelos ideais das categorias profissionais do campo “psi”, que

se baseavam na psicanálise, psicologia do ego, psiquiatria e psicologias

dinâmicas (BISNETO, 2011).

A quantidade de assistentes sociais trabalhando na área psiquiátrica

(manicômios, hospitais e clínicas) era bem pequena, já que até meados anos

1960, o número desses profissionais era reduzido e seu foco de atuação, como

citado acima, era bem divergente do que está estabelecido hoje (atendimento

de jovens e famílias na prevenção higienista) (BISNETO, 2011).

26

O Projeto Ético-Político do Serviço Social está vinculado a um projeto de transformação da sociedade (BRAZ, 2001, p. 189). Tem em seu núcleo de reconhecimento da liberdade como valor ético central; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero (NETTO, 1999, p. 104-5), defendendo intransigentemente os direitos humanos, repudiando o arbítrio e os preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo na sociedade e no exercício profissional (NETTO, 1999).

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49

O assistente social está aí colocado para atender às necessidades da Psiquiatria em minimizar as contradições do sistema e atender à racionalidade médica no que o mundo “psi” não dá conta: a extrema pobreza dos usuários e o estado de exclusão social resultante das políticas econômicas e sociais do capitalismo monopolista, do neoliberalismo, da globalização e da reestruturação produtiva no

Brasil (BISNETO, 2005, p. 112).

O Serviço Social se insere de fato em hospitais psiquiátricos nos anos

1970, com o Movimento Sanitarista27, iniciado nesta década por médicos e

lideranças políticas do setor saúde (SIMIONATTO, 1997, p. 16). Mesmo sendo

caracterizada pelo autoritarismo do regime militar, a década foi marcada por

algumas tentativas de organização do setor saúde e psiquiátrico, exigindo,

entre outras coisas, o aumento do número de profissionais nos hospitais,

incluindo os assistentes sociais (VASCONCELOS, 2000, p. 192). Iniciando-se

uma atuação quantitativamente expressiva desses profissionais na área, e

amplia-se o número de assistentes sociais na Saúde Mental nos anos 1990,

fato que será discutido posteriormente.

Na década de 1970, o Serviço Social vive no Brasil o Movimento de

Reconceituação, citado anteriormente. Momento de absorção de muitas

mudanças nas práticas de assistência social na Psiquiatria e de dificuldades de

articulação das novas teorias na profissão com a efetivação de suas atividades

no campo da saúde mental. Os paradigmas da profissão que guiavam a prática

nesta década não conseguiram estabelecer uma metodologia de atuação na

Saúde Mental (BISNETO, 2011), mesmo com o comprometimento dos

profissionais28, como é o caso do Marxismo e da Psicanálise.

O Marxismo teve dificuldades em ser colocado na prática, devido à

orientação das políticas sociais em um Estado Capitalista e o objetivo das

instituições se opõe aos princípios de uma teoria transformadora da realidade

social (BISNETO, 2011). A Psicanálise, também não resolveu as falhas

metodológicas, pois ela não discutia sobre o que o Serviço Social encarava em

sua atuação no Brasil, que é a pobreza exacerbada da população usuária,

como consequência da relação capital/trabalho.

27

Como já referendado no segundo capítulo dessa monografia, p. 11. 28

Havia profissionais engajados, mas o próprio Marxismo absorvido pela Reconceituação tinha dificuldades de abordar as questões da subjetividade na atenção ao sujeito singular.

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Enquanto ocorria o Movimento de Reconceituação não foi dado, no

Serviço Social do Brasil, o destaque as pesquisas no campo da Saúde Mental.

Priorizou-se pesquisas sobre movimentos sociais, políticas sociais, e que

estavam ligados a sua pauta principal. Também a antiga formação acadêmica

não possibilitava a estes profissionais no campo produzirem artigos, livros etc.

Com isso se escreveu pouco sobre Serviço Social e Saúde Mental e não houve

tanto acúmulo de debate no país, visto que, a entrada maciça nessa área se

deu de forma tardia e a profissão, em sua maioria, negou este debate (NETTO,

2011).

Na década seguinte (1980), vários acontecimentos novos somaram-se

ao desenvolver da ligação do Serviço Social com a Saúde Mental. O debate da

Pós-Reconceituação veio esclarecer a gênese da profissão através da análise

crítica de sua história no Brasil (IAMAMOTO; CARVALHO, 1988). Neste

mesmo período, adquiria impulso na Saúde Mental o Movimento de Reforma

Psiquiátrica, com propostas alternativas de esquerda, e com amplas

preocupações sociais (BEZERRA JR., 1994).

O contexto do movimento de reforma são inseridos novos fatores que

atingem de certa maneira o Serviço Social. Na perspectiva da

desinstitucionalização, que as instituições psiquiátricas precisam ser analisadas

coletivamente (BASAGLIA, 1991). Isto condizendo com a perspectiva da

profissão que baseada na práxis e na Análise Institucional.

Entretanto, há várias instituições de assistência psiquiátrica que são

inspiradas tipicamente no Movimento de Reforma Psiquiátrica: são os ditos

serviços psiquiátricos alternativos, como por exemplo, os CAPS (Centros de

Atenção Psicossocial). Mas, podemos presenciar na maioria das instituições, a

mistura dos serviços tidos como tradicionais com os renovados, e também, os

vários posicionamentos teóricos dos diversos atores que estão inseridos nestas

instituições, produzindo um conjunto contraditório e tenso na prática

multiprofissional psiquiátrica (BISNETO, 2011).

O interessante é que nas instituições em que há uma presença de

alguma forma do Movimento de Reforma Psiquiátrica, há concepções

psiquiátricas em que a ênfase à dimensão social e política dos problemas

mentais é respeitada, proporcionando a possibilidade de uma direção

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emancipadora para o campo da Saúde Mental e do Serviço Social (BISNETO,

2011). Perdurando até hoje, bem mais elaborado de quando foi iniciado, mas

sempre mantendo sua importância e expressividade na área da Saúde Mental.

As correntes teóricas que abordavam a saúde mental, algumas foram

anuladas, outras receberam novos aportes teóricos e há o crescimento de

novos paradigmas. Dentre estas, o que destacamos é que ainda estão

presentes as correntes que pensam a loucura como fenômeno social, político,

histórico, e institucional pela perspectiva crítica e dialética. Acredita BISNETO

(2011) que é através destas portas que se pode encontrar a expressão

metodológica do Serviço Social atual no Brasil em Saúde Mental e, que o

movimento antimanicomial,

ainda carrega teorias que sustentam aspectos institucionalistas ou marxistas: o debate da mediação institucional na prática psiquiátrica, tanto no sentido da discussão da legitimidade de seus fins, quanto da prática em estabelecimentos; que as práticas psiquiátricas não podem ser analisadas tão somente pelo enfoque de um saber científico, mas também pelos seus efeitos políticos e interesses econômicos; e que a luta social embutida no fenômeno da loucura também é uma contrafação das lutas de classes e expressão da dinâmica do capitalismo (BISNETO, 2011, p. 36).

Assim, o Movimento de Reforma Psiquiátrica menciona itens que mexem

com o atual momento que vivencia o Serviço Social. Como no debate em torno

da transformação progressista das organizações institucionais psiquiátricas; a

ênfase no aspecto político da assistência social e da assistência psiquiátrica; a

necessidade da interdisciplinaridade; de ultrapassar os limites entre os saberes

e de democratizar as relações de poder entre técnicos e usuários (BISNETO,

2011).

No início da década de 1990, com as conquistas do movimento, houve a

expansão dos serviços psiquiátricos alternativ3eos, estes se tornando atrativos

para empresários do setor de Saúde Mental.

Em 1991, a Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde inicia um processo de reestruturação da assistência em saúde mental, implementando o financiamento de uma rede de assistência extra-hospitalar, ainda embrionária, apoiando a abertura de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, e, paralelamente, instituindo regras

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mais rígidas para o funcionamento dos serviços hospitalares psiquiátricos (Schechtman et al., 1997, p. 2).

Foram implantados no fim desta década vários serviços alternativos no

Sudeste do Brasil, como: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); Núcleo de

Atenção Psicossocial (NAPS); Centro de Atenção Primária (CAP); Centro de

Atividades Integradas em Saúde Mental (CAIS); hospital-dia; oficinas

terapêuticas; moradia assistida; dentre outros. Alguns desses serviços

perduram nos dias atuais, como: Os CAPS, as Moradias Assistidas, os

Ambulatórios de Saúde Mental, entre outros.

Por necessitaram em uma proporção maior do que na internação da

participação do Serviço Social, desde os anos 1990, estes serviços estão

permitindo uma maior empregabilidade de assistentes sociais na Saúde

Mental. Ou seja, o Movimento de Reforma Psiquiátrica vem trazer uma

abertura muito grande para a atuação do Serviço Social na Saúde Mental, por

causa da formação política e social desses profissionais.

Porém, surgem duas limitações à atuação dos assistentes sociais no

campo da saúde mental. Há lacunas na capacitação desses profissionais na

academia para entender a loucura na sua expressão de totalidade histórica,

social e política; e, a psiquiatria reformada deseja abrir o campo para o “social”,

entretanto, o movimento de renovação é heterogêneo dentro da categoria e

nem todos os psiquiatras visam rever os mandatos sociais e sua hegemonia no

espaço profissional (BISNETO, 2011).

Assim, com estas restrições, a prática cotidiana do Serviço Social em

instituições psiquiátricas sofre interferência e fica comprometida. Para superar

essas dificuldades sugere-se a melhoria na formação dos assistentes sociais

no ambiente acadêmico, por meio de disciplinas institucionalistas; e o

engajamento dos movimentos sociais por uma reforma psiquiátrica realmente

democrática (BISNETO, 2011).

Ainda em 1990, no cenário de lutas e desafios, há no Brasil a junção de

quatro fatores sociais: o fim do capitalismo monopolista, a globalização, o

neoliberalismo e a reestruturação produtiva, que resultou em problemas para a

ordem do Serviço Social e da Saúde Mental. O Neoliberalismo objetiva reduzir

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a regulação social, fazendo com que a sociedade seja comandada pelas leis

“naturais” do mercado. Este prega o Estado mínimo, diminuindo as políticas

públicas ou transferindo-as para a esfera privada (BISNETO, 2011).

A grande Burguesia monopolista tem absoluta clareza da funcionalidade do pensamento neoliberal e, por isto mesmo, patrocina a sua ofensiva: ela e seus associados compreendem que a proposta do “Estado mínimo” pode viabilizar o que foi bloqueado pelo desenvolvimento da democracia política – o Estado máximo para o capital. (NETTO, 1995, p. 81).

No Brasil, o Movimento de Reforma Psiquiátrica vinha tendo sucesso em

várias áreas de atuação, mas, desde esta década, com as políticas neoliberais,

as propostas do movimento tem sofrido ameaças. Dentre estas está a

diminuição do investimento público no setor de Saúde Mental, a redução de

gastos com a população e o aumento da acumulação capitalista para os donos

de estabelecimentos psiquiátricos e indústrias multinacionais. Nesse contexto,

os trabalhadores de Saúde Mental, entre eles os Assistentes Sociais,

encontram-se angustiados e apreensivos com o desemprego, a terceirização, a

precarização do trabalho e a instabilidade no emprego etc. (BISNETO, 2011).

Todavia, é a partir desta década que a Reforma Psiquiátrica configura-se

e toma vigor, com a aprovação da Legislação em Saúde Mental, assegurando,

sem distinção, direitos e proteção aos portadores de sofrimento psíquico,

através da garantia da presença médica, de informação, de inserção da família

no tratamento e de sigilo às informações prestadas (PANOZZO, 2009).

Em nível mundial, a Declaração de Caracas (1990), organizada pela

OPAS, tornou-se um marco no movimento, servindo de documento norteador

para que o atendimento de saúde mental acontecesse num ambiente

comunitário e integral, bem como fomentou a criação de legislação nacional

para proteção dos seus usuários. Em 1992, a Portaria nº 224 regulamentou um

novo modelo de atenção em saúde mental, assistindo aos usuários nos

serviços substitutivos do NAPS, hoje CAPS, além da internação hospitalar

(PANOZZO, 2009).

Nessa conjuntura, o Serviço Social na Saúde Mental procura delinear

uma prática emancipadora para os Assistentes Sociais. E, isto, apenas será

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possível com muito estudo, pesquisa e análise por parte destes profissionais do

que nos é posto socialmente, politicamente e economicamente.

Na tentativa de aproximar a discussão teórica deste estudo com a

experiência realizada no campo da saúde, particularmente na saúde mental, a

seguir apresenta-se a realidade de um hospital psiquiátrico, enquanto espaço

ocupacional do assistente social, e campo de estágio obrigatório.

3.2. As Particularidades da Saúde Mental no Hospital Dr. João Machado

O Hospital Dr. João Machado inicialmente recebeu a denominação de

Hospital Colônia por desenvolver atividades agrícolas que garantiam a

subsistência dos internos pertencentes ao Estado do Rio Grande do Norte. A

sua construção deu-se em uma área que na época era afastada da cidade,

distante dos centros que ficavam as pessoas indesejadas; sendo inaugurado

em 1957.

Quando foi idealizado, deveria receber pessoas mal vistas pela

sociedade. Contudo, com a chegada do Psiquiatra João Machado29 a Natal,

veio a pioneira ideia de instalar no Estado um hospital especializado em

doenças mentais. Segundo sua filha, Juçara Machado, o projeto inicial dele era

tratar e socializar essas pessoas, sendo esta proposta discutida até hoje.

Entretanto, o projeto ficou incompleto porque as condições da época (Golpe

Militar 1964 e sua morte em 1965) eram impróprias e impediram a continuidade

do projeto.

O Hospital possui natureza pública, inclui-se na categoria de grande

porte, e é referência em Psiquiatria para todo o estado. É o único com

atendimento psiquiátrico de urgência em Natal e referência em Saúde Mental

de atenção terciária pública do RN, classificado na categoria de média

complexidade, sendo atualmente uma unidade reguladora das internações

psiquiátricas para hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde através

do SISREG da SMS de Natal.

29

João Machado nasceu em Lajes, município do RN, formado em Medicina no Recife.

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55

O Hospital atende pessoas com transtornos mentais em geral, incluindo

dependentes químicos de álcool e droga, oriundas na grande maioria da

própria capital e municípios vizinhos, quase nas mesmas proporções. Os

usuários do hospital, na sua maioria, encontram-se na faixa etária produtiva e

reinternam-se com frequência (SOUZA, 2003).

O hospital tem a função de assistir o paciente no momento de crise e

efetivar o direito à saúde especializada na saúde mental. A referida unidade

dispõe de uma estrutura de 165 leitos distribuídos em sete enfermarias: duas

psiquiátricas e uma de moradia assistida (masculina e feminina); uma

(masculina) de álcool e outras drogas e três no PS Psiquiátrico. Comporta

internações voluntárias, involuntárias e compulsórias, de acordo com a Lei nº

10.216 de 06 de abril de 2001. Podendo ser de curta, média ou longa duração,

variando de acordo com o caso.

Bem diferente do esquema de eletrochoque e insulina, usado para

controlar os "loucos", há 50 anos, hoje, os usuários com sofrimento psíquico

são medicados, avaliados e incentivados a desenvolver diversas atividades e

serem desinstitucionalizados30. Os usuários estão divididos entre a urgência

psiquiátrica, clínica e enfermarias, que juntos formam o complexo do HJM.

Atualmente o HJM possui a proposta de Humanização do Atendimento a

seus usuários, havendo no tratamento uma interação entre os profissionais e

os familiares. Esta participação familiar é um grande estímulo aos internos, e o

contato frequente com eles torna-se fundamental na recuperação. Desse

modo, é preciso trabalhar a família para saber lidar com a patologia sofrida pelo

seu parente. As visitas das famílias na instituição ocorrem todos os dias, pela

manhã e a tarde.

30

A Desinstitucionalização é um processo bem mais complexo que a desospitalização, já que

fundamenta-se na ideia de desconstrução e invenção. De modo que desinstitucionalizar é,

acima de tudo, ocupar-se do sujeito e não da doença, para a partir daí, as instituições de

cuidados ganharem um novo sentido e o tratamento deixar de significar apenas prescrição de

medicamentos e a aplicação de terapias, tornar-se um ocupar cotidiano do tempo, do trabalho,

do lazer, do ócio, do fazer algo, etc. (FERNANDES, 1999). A desospitalização diz respeito ao

processo de criação de dispositivos que viabilizem alternativas de cuidados psi-sócio-

assistenciais opostos aos espaços que se caracterizam como lócus de repressão e sofrimento

e que promovem a exclusão social (NOGUEIRA; COSTA, 2007, p. 5).

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56

Após a alta do usuário é de responsabilidade da família incentivar, lutar

juntamente com o indivíduo pela busca e pelo prosseguimento ao tratamento,

que numericamente o estado conta com unidades que dão (ou deveriam dar)

continuidade ao tratamento dos pacientes do hospital, para onde são

encaminhados. São eles: CAPS, SRT, Entidades de Apoio Social e

Psicológico, Ambulatórios de Saúde Mental, entre outros.

A continuidade do tratamento via o referenciamento é denominada de

“Alta Assistida”. Projeto este realizado no HJM, que visa promover contato com

o usuário e sua família após a alta, orientando sobre a importância da

medicação e do comprometimento com o tratamento; direciona o

acompanhamento do portador de transtorno mental para alguma unidade de

saúde ou CAPS, que exista na região de seu domicílio, com a finalidade de

estabelecer comprometimento do gestor de saúde do município com o

tratamento do usuário assistido (DIMENSTEIN e BEZERRA, 2009).

Intencionando recolocar o usuário ao convívio familiar, social e

comunitário, evitando o isolamento e a segregação deste, o objetivo da equipe

do hospital é recuperá-lo da crise dentro da linha da desinstitucionalização, de

acordo com os princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica. O tratamento tem

como principal finalidade a reinserção social do usuário em seu meio,

permitindo que ele retorne à sociedade. Neste contexto encontra-se o

assistente social.

3.3. O Serviço Social no Hospital Dr. João Machado

A origem do Serviço Social no Hospital João Machado se deu meados

anos de 1960, diante da finalidade que tinha os Hospitais Psiquiátricos, onde

se internavam doentes mentais e os excluíam da sociedade. Assim, os

Assistentes Sociais eram contratados para trabalhar na assistência a esses

pacientes. Contudo, com a Reforma Sanitária e posteriormente a Reforma

Psiquiátrica o fazer profissional deste centrou-se na garantia de direitos, na

reinserção desses pacientes na sociedade e na família, em contribuir para a

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garantia de um tratamento humanizado e da luta pela desinstitucionalização

dos pacientes psiquiátricos.

No quadro do hospital atualmente (2013) encontram-se quatorze

Assistentes Sociais, as quais se dividem: duas na enfermaria de AD uma na

Coordenação da divisão de Serviço Social, e as outras onze nas enfermarias

masculinas e femininas, do Pronto Socorro e na Sala de Atendimento. No HJM,

mesmo com as mudanças ocorridas, o Serviço Social vem conseguindo

garantir o que a reforma pretende, continua na luta por esta, prosseguindo

como um profissional atuante nas mudanças que a reforma propôs. Se

atualizando com as Portarias de Saúde e Princípios reformistas, conseguindo

exercer seu fazer profissional ao encontro da Reforma Psiquiátrica e do Projeto

Profissional.

Tomando como referência a importância histórica da atuação do Serviço

Social no contexto das Instituições e, em especial, da área de Saúde, faz-se

necessário remeter-se a algumas considerações que caracterizam, inclusive, a

intermediação da profissão com um dos principais elementos de ação junto ao

usuário na porta de entrada do sistema de Saúde e, mais especificamente, da

rede hospitalar.

Primeiro, faz-se importante considerar o Serviço Social como uma

profissão liberal, contudo com um exercício de prestação de serviço

basicamente voltado para a Instituição Pública, tendo como público-alvo, na

maioria, uma a população à margem do processo produtivo, a exemplo dos

doentes mentais.

Em meio à situação de exclusão social vivida pela maioria dos

portadores de sofrimento psíquico, pontua-se como agravante o abandono

dessa população pela própria família no ato de admissão, gerando o

hospitalismo, fenômeno esse detectado pelo Serviço Social e priorizado como

objeto de intervenção ao longo de sua prática junto ao Serviço de Urgência

deste Hospital. Sendo interessante declarar, ainda, que a participação do

assistente social na equipe de atendimento de urgência com ações voltadas a

esse público, constitui-se em uma de suas funções básicas na Unidade

Hospitalar.

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O Serviço Social tem como função trabalhar na recuperação do usuário

em crise, juntamente com outros profissionais, para que este se insira

novamente na família e na sociedade. Informando-os no pós-alta da

importância da família e dos tratamentos extra-hospital, como os CAPS, as

Unidades Básicas de Saúde, por exemplo, orientando de seus serviços, para

assim darem continuidade ao seu tratamento e terem seus direitos sociais

garantidos.

O trabalho do assistente social vai além das demandas do hospital. Ele

trabalha junto à família e o usuário, orientando-os dos direitos e deveres, sendo

responsável em fazer contato com outras instituições da rede de atenção

psicossocial. Entretanto, mesmo orientando os usuários dos benefícios, estes

profissionais expõem as dificuldades do processo burocrático que permeia o

sistema previdenciário, e a importância deles retornarem ao trabalho, inserindo-

se na sociedade para contribuir com ela, e assim ter garantido o seu direito ao

trabalho.

Há que se considerar, também, a caracterização de uma das linhas de

trabalho do Serviço Social, no que diz respeito à ações voltadas para a

educação em saúde, tendo como finalidade a prevenção de doenças ou

agravamentos, através de intervenções de caráter sócio-educativo, sobretudo

em situações emergentes, em nível de serviço de urgência.

O setor de saúde, não pode sozinho melhorar a qualidade de vida das

pessoas, mas ele deve contribuir para que os problemas possam ser

compreendidos além de suas manifestações individuais e imediatas,

conduzindo à busca de soluções dentro de um universo mais amplo de opções.

Discutir com as pessoas, as famílias, a história natural real, os Determinantes

Sociais das doenças que mais afligem, considerando na relação causa-efeito

todas as variáveis que interferem na situação saúde está fortemente ligada à

área da educação em saúde.

Tem-se que considerar também, referente aos Recursos Humanos, que

há a necessidade de inserção do Assistente Social como integrante da equipe

técnica mínima do Serviço de Urgência Psiquiátrica, de acordo com normas

estabelecidas na Portaria nº 224 do Ministério da Saúde, de 29 de janeiro de

1992, que trata dos Serviços de Urgência Psiquiátrica em prontos-socorros

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gerais. Que estes funcionem diariamente durante 24 horas e contem com o

apoio de leitos de internação para até 72 horas, com equipe multiprofissional. O

atendimento tem por objetivo evitar a internação hospitalar, permitindo que o

paciente retorne ao convívio social, em curto período de tempo. Com isso a

Portaria pede que cada Serviço de Urgência tenha a seguinte equipe técnica

mínima: 1 médico psiquiatra ou 1 médico clínico e 1 psicólogo; 1 assistente

social; 1 enfermeiro; e profissionais de níveis médio e elementar necessários

ao desenvolvimento das atividades. Assim a atuação da Divisão de Serviço

Social no Serviço de Atendimento de Urgência deste hospital deu-se a partir do

período de janeiro a dezembro de 1990.

Através de dados epidemiológicos, foi constatado que 20% da demanda

era atendida pelo Assistente Social, demanda essa caracterizada por um

elevado índice de hospitalização e cronificação, antes da inserção deste

profissional no referido serviço. Diante disso, detectou-se a necessidade de

uma atuação permanente do Assistente Social frente ao desenvolvimento de

ações educativas que visassem a desmistificação da doença mental, passando

este profissional, a partir de 1991, a integrar em contínuo, a equipe de

atendimento do Serviço de Urgência, mediante uma definição mais ampla de

suas atribuições.

Já no Pronto Socorro as atribuições básicas dos Assistentes Sociais

consiste no atendimento individual aos pacientes e familiares para fins de um

acolhimento inicial e levantamento de dados sobre a história da vida do

paciente. No ato da chegada deste usuário ao Pronto Socorro, observa-se sua

procedência, sexo, faixa etária, profissão, grupo familiar, diagnóstico, situação

previdenciária, número de internamentos conforme incidência, analisando-os

com o intuito de elaborar projetos que venham ao encontro das necessidades e

demandas dos usuários e familiares atendidos pelo referido hospital.

Este profissional tem como atribuições também orientar e referenciar

familiares e/ou pacientes acerca dos serviços de saúde; realizar entrevistas no

ato da admissão com pacientes, familiares e/ou acompanhantes; estabelecer

articulações com setores do hospital e outras Instituições na viabilização de

altas; registrar no livro de ocorrência informações referentes à dinâmica do

setor; expedir atestados, declarações e documentos afins, conforme a situação;

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entrar em contato com Instituições, agilizando questões de interesses dos

pacientes e do setor; e atender individualmente familiares e pacientes,

conforme solicitação dos mesmos.

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4. A FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL

“[...] o grupo-familiar e a comunidade são lugares naturais de proteção e inclusão social, vínculos relacionais para a implementação de projetos coletivos de melhoria da qualidade de vida” (BRASIL, 1999, p. 50).

No decorrer deste quarto e último capítulo, discutiremos sobre o conceito

de família, os arranjos familiares presente na sociedade, qual o perfil desta

família que tivemos contato durante todo o ano em que realizamos o estágio

curricular obrigatório, a sua caracterização no campo da saúde mental,

particularmente no Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado. Ressaltaremos

também as contribuições da instituição família e do Serviço Social na

recuperação do portador de sofrimento psíquico.

Para entendermos melhor sobre a evolução da instituição família

voltaremos brevemente ao período da história antes da Revolução Industrial.

Neste contexto, de economia artesanal e agrícola a família era denominada

tradicional e patriarcal. Esta família caracterizava-se por ter os papéis do

homem e da mulher e, as fronteiras entre público e privado rigidamente

definidos; em que a atribuição de chefe da família era tida exclusivamente do

homem, sendo ele o responsável pelo sustento da sua esposa e seus filhos. A

mulher por sua vez, era educada para cuidar da casa e dos filhos e ser

obediente ao esposo (GUEIROS, 2002).

Desde a revolução industrial, houve a separação do mundo do trabalho

do mundo familiar e foi instituída a dimensão privada de família, contraposta ao

público, e assim, mudanças sociais e econômicas ocorreram significativamente

(SCAVONE, 1993). A agricultura deixa de ser o centro da economia, muitas

famílias vão para os centros urbanos, o salário oferecido pelas indústrias é

insuficiente obrigando as mulheres a trabalharem; e assim a estrutura familiar

também sofre modificações. Com isso, houve uma redefinição dos papéis

sociais do homem e da mulher, mas ainda assim a mulher acumula a

responsabilidade da dupla jornada (SANTOS, 2010).

A partir da década de 1960, não apenas no Brasil, mas em todo o

mundo, se torna mais evidente a conquista de espaço da mulher com o

movimento feminista e a difusão da pílula anticoncepcional, que separou a

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sexualidade da reprodução e interferiu decisivamente na sexualidade feminina

(SARTI, 2008). Outros episódios que contribuíram para o fato foram: a

legalização do divórcio no Brasil no fim da década de 1970, a inserção das

mulheres no mercado de trabalho e, os avanços da medicina e tecnologia

(SANTOS, 2010). Desse modo, estes acontecimentos criaram condições para

que a mulher deixasse de ter sua vida e sexualidade presas à maternidade.

Mesmo com tantas mudanças ainda é forte e presente o machismo na

sociedade, inclusive na família. Deste período em diante, a família assume

novos formatos, sendo nomeada como contemporânea ou pós-moderna.

A família tradicional ou vertical ou nuclear, que consiste na primeira

configuração de família, é entendida pela relação de indivíduos com relação

consanguínea que residem em uma mesma residência. Considerando a família

como sendo um dos principais agentes da socialização e reprodução de

valores e padrões culturais dos indivíduos. (SANTOS, 2010).

Entretanto, podemos observar que a família está adquirindo novos

formatos, predominando a fraterna e não mais a tradicional. Com essas novas

configurações, o trabalho com famílias tornou-se complexo, instigando

preocupação em se trabalhar o tema pelos profissionais que atuam na área,

pois sua discussão envolve inúmeros aspectos, como as diferentes

configurações familiares, as relações que a família vem estabelecendo com

outras áreas da sociedade, como Estado, Sociedade Civil e Mercado, bem

como os processos familiares (MIOTO, 2004), surgindo a família

contemporânea.

Ao contrário da família tradicional, a contemporânea é dita como

arruinada. Compõe-se da união de dois indivíduos com uma duração relativa,

tem múltiplas aparências e com o poder descentralizado. Uma família

horizontal e fraterna, em que cada um, se sente autônomo pode ser

caracterizada como coparental (poder paterno dividido com a mãe), (SANTOS,

2010), biparental (constituída pelo casamento ou união estável, em que se

encontram juntos os cônjuges ou companheiros), multiparental (dois pais ou

duas mães), pluriparental (reúne sob o mesmo teto pessoas advindas de outros

relacionamentos) (LEITE, 2003) e monoparental são as famílias que possuem

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um único progenitor com os filhos, e estes ainda não são adultos (VITALE,

2002).

Neste conceito, a autora destaca que, famílias monoparentais têm uma

ligação direta com a classe feminina, referencia também, que muitas destas

encontram-se na condição de vulnerabilidade social.

[...] por outro ângulo, convém ainda ressaltar que a associação entre famílias monoparentais, chefiadas por mulheres e pobreza aponta claramente estes segmentos como foco de critérios para programas sociais. (VITALE, 2002, p. 51).

Outra concepção de família que surgiu na contemporaneidade foram as

famílias do mesmo sexo, as homoparentais, propondo um modelo alternativo,

no qual o vínculo afetivo se dá entre indivíduos do mesmo sexo.

As mudanças na composição familiar, sua visibilidade e aceite da sociedade (como a legalização da união entre homossexuais) exigem que se leve em conta o reflexo daquelas sociedades mais amplas, nas formas de se viver em família e nas relações interpessoais. O mesmo é válido para famílias nucleares, que também tem que assimilar o impacto dessas transformações (SZYMANSKI, 2002, p. 10).

No entanto esta nova figura familiar tem muito a conquistar dentro de

seu espaço, pois na sociedade atual fomos criados com o entendimento de que

família poderia ser formada por pessoas de sexos diferentes (FABER, 2010).

Também surgem dificuldades na formulação coerente e consistente de

uma política social voltada para essa instituição, já que, mais do que a política,

é a família que vem se caracterizando como um fenômeno plural (PEREIRA-

PEREIRA, 2009).

Para a Política Nacional de Assistência Social, aprovada em 2004,

A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades, além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no âmbito da proteção social (p. 41).

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Atualmente, mesmo sendo proclamada por alguns que o seu fim está

próximo, a família parece apresentar-se a cada dia mais viva, assumindo

diversas formas (monoparentais, chefiadas por avós, homossexuais, etc.), e

encontra-se cada vez mais distante de um modelo centralizador. Muitos foram

os fatores que contribuíram para essas mudanças na família contemporânea,

como já citamos anteriormente.

Observa-se também, neste cenário de mudanças, que o Estado está

diminuindo sua participação em algumas áreas (crianças, adolescentes, idosos,

pessoas com doenças crônicas, pessoas com deficiência), e transferindo suas

responsabilidades à família, esta que não recebe a devida assistência do poder

público para preencher as lacunas deixadas pelo Estado. Em consequência do

retraimento do Estado, ocorre a culpabilização da família pela sociedade, do

mesmo modo a ausência de políticas de proteção social à população, a falta de

suporte por parte da esfera estatal para o enfrentamento de situações postas, o

que acaba dificultando à prática de profissionais que atuam nesta área, entre

eles os assistentes sociais (GUEIROS, 2002).

Assim, o “modelo” é um Estado que reduz suas intervenções no campo social e que apela à solidariedade social, optando por programas focalistas e seletivos caracterizados por ações tímidas, erráticas e incapazes de alterar a imensa fratura entre necessidades e possibilidades efetivas de acesso a bens, serviços e recursos sociais. Aparece com força a defesa de alternativas privatistas para a questão social, envolvendo a família, as organizações sociais e a comunidade (YASBEK, 2001, p. 37).

O Estado e a família desempenham papéis similares, em seus

respectivos âmbitos de atuação: regulam, normatizam, impõem direitos de

propriedade, poder e dever de proteção e assistência (SOUZA, 2000). Nesse

contexto, podemos dizer que a família e as políticas públicas têm adequadas e

imprescindíveis funções ao desenvolvimento e à proteção social dos indivíduos

(CARVALHO, 2008).

Mesmo presente a responsabilidade do público nas políticas sociais, que

respondam efetivamente às demandas socialmente colocadas, no cotidiano do

fazer profissional do assistente social está cada vez inevitável nos depararmos

com situações relacionadas à família e com situações complicadas nas quais

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temos o suporte apenas dela, pois como cita Yasbek (2001), diante da

conjuntura, esta tem sido assumida como uma das alternativas para o

enfrentamento de determinadas expressões da questão social.

Se voltarmos um pouco à história da profissão, observaremos que no

âmbito do Serviço Social, os processos de atenção à família pertencem à sua

história, pois os assistentes sociais são os únicos profissionais que têm a

família como objeto de estudo, um campo privilegiado de intervenção durante

toda sua trajetória histórica; ao contrário de outras profissões que a privilegiam

em alguns momentos e, em outros, a tiram de vista (NEDER, 1996).

Mesmo com esses fatos, no cotidiano da prática do trabalho profissional

com a instituição familiar, observamos que este profissional pouco a conhece,

mesmo diante das inúmeras transformações que ela vem passando

atualmente. A família está assumindo o papel de importante alternativa à

redução do Estado em suas intervenções no âmbito social e dada como

parceira nas escassas políticas sociais que existem (GUEIROS, 2002).

Apesar da longa tradição do Serviço Social com as famílias e

aprofundamento na discussão sobre o assunto dentro da profissão nas últimas

décadas, o fazer profissional dos assistentes sociais continua sendo

considerada muito aquém das exigências que lhes estão sendo colocadas,

relacionadas à necessidade de consolidação do atual projeto ético-político da

profissão, de qualificação das ações profissionais dessa área, além da

afirmação do espaço do Serviço Social num campo cada vez mais disputado

por outras profissões (MIOTO, 2004).

Na maioria das vezes o processo de intervenção com as famílias é

efetivado apenas no âmbito do atendimento direto, não sendo vislumbradas

outras possibilidades de se trabalhar com famílias. É importante que o

profissional adote uma postura socioeducativa, tendo em mente o respeito à

individualidade de cada família, procurando não fazer julgamento de valores. O

Assistente Social, por caracterizar-se um profissional da saúde, é parte

integrante das equipes do SUS, por sua formação é um profissional

preocupado com a acolhida, com o diálogo, com a possibilidade de melhorar a

qualidade de vida do usuário, além de tornar-se aquele que reforça o papel de

facilitador das relações de um grupo familiar (OLIVEIRA, 2012).

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No cotidiano as ações profissionais com a família surgem algumas

dificuldades, como citadas acima, porque, como podemos observar os

assistentes sociais além de sofrerem com a disputa de espaço com outros

profissionais, desenvolvem atividades que podem ser diferenciadas pelas

particularidades que apresentam e, no entanto, estas continuam sendo tratadas

de maneira indiferenciada. Por exemplo, as ações socioeducativas (através da

informação ou reflexão, visam provocar mudanças nos valores, modos de

vida), socioassistenciais (toda ação de provimento e de sustentação para

atendimento de necessidades das famílias usuárias), socioterapêuticas (são

desenvolvidas diante de situações de sofrimento das famílias, no intuito de

alterar tal contexto), ações periciais (através de estudo e de avaliação das

situações familiares, visam à emissão de um parecer social para outrem), de

acolhimento (acolhimento e apoio às famílias), entre outras (MIOTO, 2004).

A família é muito importante no contexto da vida social, e o

reconhecimento disto está explícito na Constituição da República Federativa do

Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, no artigo nº 226, que a “família,

base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, assegurando, assim, o

que contém na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e

proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações

Unidas em 10 de dezembro de 1948, artigo nº 16, que traduz a família como

sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, e com direito à proteção

da sociedade e do Estado; e reafirmada nas legislações de Assistência Social –

Lei nº 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 13 de julho de

1990; o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003; e na

própria Lei nº 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) (BRASÍLIA,

2005).

Não só para o Serviço Social, mas como para todas as profissões, o

tema família não é desconhecido e intervém-se nesta dinâmica a todo instante.

Porém, poucos profissionais são preparados para trabalhar com as relações

familiares e suas mudanças estruturais ocorridas ao longo da história

(OLIVEIRA, 2012).

O Assistente Social tem enfrentado muitos desafios tanto na esfera

privada como na pública. Havendo uma busca constante por intervenções que

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possam responder as demandas que lhe são apresentadas, num contexto

marcado pelo sucateamento das políticas públicas, diante do avanço do

capitalismo. Este profissional através do seu trabalho nas diversas áreas pode

fortalecer a luta emancipatória dos usuários, através de sua escolha teórico-

metodológica e ético-política (OLIVEIRA, 2012).

Desta forma, para uma intervenção social crítica e propositiva, este

profissional desenvolve metodologias de trabalho com famílias por meio do

aprimoramento de conhecimentos técnicos, habilidades e saberes que

expressam um reconhecimento social do trabalho profissional. Portanto o

aparato de instrumentos e técnicas, quando articulado a um referencial teórico,

garante a análise e a interpretação da realidade, bem como uma atuação

coerente e comprometida para a consecução do projeto-ético-político da

profissão (OLIVEIRA, 2012).

A elaboração de uma nova linha para a prática profissional dos

assistentes sociais com as famílias está apenas iniciando, muitos são os

campos de atuação do Serviço Social com a família, mais adiante nos

deteremos ao surgimento de ações de saúde junto a instituição familiar,

especificamente na saúde mental, e como os assistentes sociais se inserem

nesse contexto junto à instituição familiar.

4.1. A Família e a Saúde Mental

A sociedade possui a cultura de que a família é uma instituição

protetora, decisiva na formação do sujeito em todos os aspectos, em que esta

é tida como referencial na vida de seus membros e diante de tais

características é tão valorizada (BUSSULA, OLIVEIRA, VOLPATO, 2009).

Neste ponto, antes de adentrarmos na participação da família na saúde

mental, cabe lembrar de forma sintetizada da inserção da família na saúde. No

período da tentativa de melhorar o panorama na área da saúde no Brasil, e

consequentemente dar continuidade ao processo de Reforma Sanitária, a

família era vista como unidade de ação e cujos resultados da sua participação

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foram significativos na redução de índices, como por exemplo, de mortalidade

infantil (PINGARILHO, 2010).

No processo de Reforma Psiquiátrica, em que se caracterizou por ser

um projeto de cunho democrático e participativo, havia como protagonistas os

gestores do SUS, os trabalhadores em saúde, e principalmente os usuários e

os familiares dos CAPS e de outros serviços substitutivos. O processo de

Reforma Psiquiátrica, e mesmo o processo de consolidação do SUS, somente

foi exequível a partir da participação ativa de trabalhadores, usuários e

familiares (BRASÍLIA, 2005).

Nos anos 1990 as experiências de usuários e da família passam a

potencializar o processo de reforma. A participação destes não se dá, no

entanto, apenas nas instâncias previstas pelas estruturas do SUS. É no

cotidiano dos serviços da rede de atenção à saúde mental e na militância, nos

movimentos sociais, na luta por uma sociedade sem manicômios, de maneira

geral, que os familiares e usuários vêm conseguindo garantir seus direitos,

apoiar-se mutuamente e provocando mudanças nas políticas públicas e na

cultura de exclusão do louco da sociedade (BRASÍLIA, 2005).

No que se refere à saúde mental em si e a família neste processo, antes

do movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil (década de 1970), o portador

de sofrimento psíquico vivia à margem da sociedade. Quando ocorria o

primeiro surto, o doente era trancado em manicômios por longos anos e às

vezes não saía mais. Neste momento histórico, o portador de transtorno mental

era afastado de qualquer convívio ou sinal de uma vida produtiva, ficava à

margem da sociedade, distante da família, esquecido, e excluído. Muitas

vezes, falecia na instituição asilar (PIMENTA, 2008).

Nesse contexto, o “louco” era distanciado da família como uma proposta

terapêutica: “isolamento terapêutico”. Para justificar tal procedimento, defendia-

se que a família estaria sob ameaça de alienação e que, por isso, necessitaria

ser protegida, pois o portador de sofrimento psíquico era encarado como uma

figura perigosa para a estrutura familiar, supondo-se que poderia subverter os

membros mais frágeis, tornando-se um modelo exemplar negativo. Entretanto,

embora a família fosse protegida do seu membro doente, por outro lado,

contraditoriamente, o grupo era também acusado de promover a loucura, pois

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havia um discurso de que a alienação provinha da estrutura familiar e dos

conflitos que aconteciam a partir desta relação. Sobre isso voltaremos a falar

mais a frente (PIMENTA, 2008).

A identificação do transtorno mental ocorre geralmente através da

família ou por grupos próximos do portador do sofrimento psíquico, devido à

observação de ruptura com o comportamento convencional do indivíduo. E

para falar sobre o cuidado em saúde mental no âmbito familiar é imprescindível

que se faça uma apresentação da família moderna. Segundo Beltrame e Bottoli

(2010), a família moderna constitui-se através do progresso da vida privada, ou

seja, a família assume um espaço de destaque na sociedade.

Assim, é importante considerar que, “a relação da família com o portador

de transtorno mental é historicamente construída” (ROSA 2003, p. 28), sendo

que nem sempre foi vista como uma instituição capaz de acolher e cuidar de

um familiar que adoece mentalmente. Nas sociedades pré-capitalistas, o

cuidado com o louco era remetido à família; na sua inexistência, o louco

tornava-se uma questão pública, de justiça ou de deliberação do rei (CASTEL,

1978 apud ROSA, 2003). Já no século XX, com as transformações e os

avanços de saberes como a psicanálise e o movimento de higiene mental, a

família é vista de modo negativo, sendo culpabilizada pelo surgimento de um

portador de transtorno mental (ROSA, 2003).

Com a culpabilização da família, em relação ao adoecimento psíquico,

ocorre que o saber psiquiátrico, cada vez mais, procura afastar o paciente do

ambiente familiar, como também limita a atuação da família. Assim, ganham

força as instituições psiquiátricas e a cultura do isolamento social do portador

de sofrimento psíquico. Melman (2008) aponta outra justificativa para o

procedimento de isolamento, considerando também necessário proteger a

família da loucura e prevenir uma possível contaminação dos demais membros.

De um jeito ou de outro, a família entra para o rol das intervenções dos

especialistas. Esse movimento se intensifica no século XX, principalmente com

influência das teorias freudianas, que destacam a importância das relações

familiares sobre o psiquismo dos sujeitos (ROSA, 2003).

Os familiares tendem a conhecer, sim, sua importância no tratamento,

contudo, apontam para a necessidade do reconhecimento dos seus limites no

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processo de cuidar e de suas tensões advindas da presença de um ente

portador de sofrimento psíquico na família (PEREIRA, 1999). Quando o grupo

familiar é trabalhado, nota-se que seus membros conscientemente querem

contribuir para a melhoria do ente que apresenta o transtorno mental

(MELMAN, 1998).

A Reforma Psiquiátrica tem como uma de suas vertentes trazer a saúde

mental para o seio familiar, possibilitando que o usuário esteja reintegrado o

convívio social e, que não esteja mais trancado nos manicômios. Desta forma,

vemos que ocorre uma grande transformação. Antes, o portador de sofrimento

psíquico era afastado da família por ser uma “ameaça”, e hoje é inserido nesse

grupo a partir do qual pode receber subsídios para a vida em sociedade. Com

esta mudança, surgem as dificuldades enfrentadas pelos familiares diante

deste novo encargo: lidar com o sofrimento psíquico de forma tão próxima e

ainda ser parte imprescindível para a reinserção social do portador de

transtorno mental.

Cavalheri (2002) enfatiza que, no início das manifestações que

impulsionaram a Reforma, aconteceu uma ampliação significativa da função da

família no que tange ao papel de co-participante do processo de tratar e

reabilitar as pessoas mentalmente enfermas. Nesse sentido, o autor salienta a

ocorrência de uma mudança radical, a exclusão inicial da família no âmbito

tradicional, e as propostas de inclusão e participação ativas reivindicadas pelos

profissionais no modelo da Reforma Psiquiátrica. Esse movimento reivindica

essas posturas como um processo a ser construído no cotidiano, visando

melhorar a qualidade de vida de tantos dos usuários, quanto de seus

familiares.

Se tratando da família nos eventos da saúde mental, Moreno e

Alencastre (2003) ressaltam que, na 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental,

em 1987, as dificuldades enfrentadas pela família do portador de transtorno

mental não obtiveram destaque, por que sua estruturação centrou-se em

pontos mais técnicos que estavam ligados e influenciavam a área da saúde

mental, como: Economia, Sociedade, Estado, Reforma Sanitária, Cidadania,

Doença Mental, Legislação, entre outros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1988).

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Em 1992, deu-se a 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental. Que tem

como indicador de mudança a participação efetiva dos usuários na realização

dos trabalhos de grupo, nas plenárias, nos debates e tribunas livres; e nela os

familiares tiveram sua representatividade assegurada. O relatório final da 2ª

Conferência delimita que não haja a culpabilização do usuário e da família, e

que seja promovido o atendimento integrado da mesma inserida no contexto

comunitário e social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994). Já na 3ª Conferência

Nacional de Saúde Mental ocorrida em 2001, busca-se afirmar a importância

da família como aliada na nova forma de atenção a ser dada ao portador de

transtorno mental e, nela busca-se suporte nos serviços através do cuidado

domiciliar e enfrentamentos das crises.

Pensando nas diversas questões já pontuadas e buscando trazer

respostas para as indagações surgidas durante o estágio no Hospital Dr. João

Machado sobre a importância da família e do Serviço Social no tratamento dos

portadores de sofrimento psíquico, realizamos entrevistas neste hospital e que

serão expostas mais à frente. Mas, antes falaremos um pouco sobre a atuação

dos assistentes sociais com as famílias na Instituição, especificamente na

primeira enfermaria masculina e na Intervenção.

4.2. A intervenção do Serviço Social com Famílias no Hospital Dr. João

Machado

Ao iniciar o estágio obrigatório no Hospital Dr. João Machado no começo

do ano de 2012, foi possível acompanhar o trabalho da assistente social, a

Supervisora de Estágio, na primeira enfermaria masculina do hospital. Com a

inserção na instituição e principalmente na enfermaria, observamos a deficitária

ligação entre a família e a rede de serviços substitutivos, resultando no alto

índice de reinternações; observamos também a presença de muitos familiares

visitando os usuários, e ao mesmo tempo, a ausência de muitos devido a

empecilhos externos, como: falta de meio de transporte, condição financeira

precária, entre outros.

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Desta forma, no intuito de fortalecer a garantia dos preceitos da reforma

psiquiátrica, contribuindo para a redução da incidência/reincidência de

internações no Hospital Dr. João Machado advindos dos municípios em que os

pacientes da 1ª enfermaria residem, devido a falta de assistência à saúde

mental, elegemos como tema do projeto de intervenção as “Alternativas de

tratamento para usuários em situação de sofrimento psíquico do Hospital Dr.

João Machado na perspectiva da Desinstitucionalizacão.

A intervenção consistiu na produção de material informativo com o

propósito de esclarecer aos usuários e familiares sobre os serviços

substitutivos, para mostrar a importância da continuidade do tratamento;

facilitar o acesso às ações e serviços de saúde mental existentes; e contribuir

para a articulação entre Serviço Social do Hospital Dr. João Machado e da rede

de saúde dos municípios para que os usuários tenham acesso aos serviços de

direito.

Após a execução das ações interventivas, notou-se a necessidade de

realizar uma pesquisa de campo para avaliar a importância da família e do

Serviço Social na recuperação do portador de sofrimento psíquico, a partir da

análise do processo de visita das famílias aos seus parentes que estavam

internados, considerando o papel desta na sociedade e, por fim expor os

resultados obtidos no trabalho. A crença de que a instituição familiar exerce

grande influência na formação e na vida do indivíduo está presente em todas

as categorias profissionais que se interessam por trabalhar com aquela

(PEREIRA, 2002).

A pesquisa foi fundamentada pelo método dialético-crítico, constituiu-se

como pesquisa qualitativa, trabalhando com dados quantitativos e qualitativos.

O objeto do estudo envolveu o tratamento dos portadores de sofrimento

psíquico do Hospital Doutor João Machado31 que tem o acompanhamento da

31

O Hospital Dr. João Machado pertence ao Governo Estadual do Rio Grande do Norte, sendo,

portanto público, enquadrando-se no perfil de hospital de grande porte. Referência em

Psiquiatria para todo o RN é o único com atendimento psiquiátrico de urgência em Natal e

referência em Saúde Mental de atenção terciária pública do Estado. O Hospital atende pessoas

com transtornos mentais em geral, e também dependentes de álcool e outras drogas, oriundas

da própria capital e municípios do estado. Sua função é assistir o paciente no momento de

crise e efetivar o direito à saúde especializada na saúde mental.

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família e do Serviço Social. Este trouxe consigo questões relacionadas ao

desafio de tornar o tratamento cada vez mais eficaz e evitar frequentes

reinternamentos, e como indagação central tem-se como a família contribui na

recuperação da saúde do Portador de Sofrimento Psíquico no contexto do

Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado?

A Pesquisa de campo utilizou como instrumentais de coleta de dados a

entrevista do tipo semiestruturada com a utilização do formulário com questões

abertas e fechadas, aplicados no próprio hospital com familiares presentes,

durante o horário da visita, dividindo entre os assíduos e os que são mais

ausentes. A ausência dos familiares que ocorre por motivos socioeconômicos,

por morarem distante, dentre outros motivos; usuários e equipe técnica do

hospital. Os dados quantitativos serão representados por tabelas e os

qualitativos categorizados.

A amostra trabalhada foi do tipo não probabilística intencional, em que o

pesquisador está interessado na opinião (ação, intenção, etc.) de determinados

elementos da população. Os sujeitos de pesquisa foram familiares de usuários

internados há pelo menos um mês, os próprios usuários internados neste

período e representantes dos profissionais de Serviço Social, Psicologia,

Enfermagem e Terapia Ocupacional do Hospital Doutor João Machado. Os

sujeitos de pesquisa foram 08 familiares, 08 usuários e 08 representantes da

equipe técnica, sendo dois de cada categoria de profissionais.

A técnica de análise utilizada foi a Análise de Conteúdo, utilizamos

análise temática, e nesse processo em que analisamos tivemos os cuidados

éticos, garantindo o sigilo e devolvendo todos os documentos à instituição. A

interpretação dos dados coletados será demonstrada através de tabelas,

obtendo-se uma melhor compreensão dos dados. E, os dados qualitativos

demonstrados a partir do processo de categorização.

Nesta pesquisa procuramos conhecer as condições de vida dos

familiares e usuários, em relação à escolaridade, renda, moradia, profissão,

sexo, etc. Destacar a profissão dos técnicos e apresentar os dados das

entrevistas que prevaleceram as perguntas abertas. No próximo tópico

veremos com mais detalhe a caracterização dos sujeitos da pesquisa.

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75

4.3. Caracterização dos sujeitos de pesquisa e apresentação dos resultados

No período de análise e interpretação dos dados, preferimos apresentar,

primeiramente a caracterização dos sujeitos de pesquisa por meio da

apresentação de tabelas, para, então, expor os resultados e análises previstas

por meio da contextualização e da categorização, sempre buscando articular o

referencial teórico com as falas, a fim de responder os objetivos deste trabalho.

Inicialmente será apresentada a caracterização da família dos usuários

do HJM, os usuários do Hospital, e posteriormente dados que revelam como se

dá a participação da família no tratamento da pessoa com sofrimento psíquico

e sua importância na recuperação e na melhoria das condições de vida desses.

Ao entrevistar os familiares observamos a grande presença da figura

feminina na visita diária no hospital, salientando que as entrevistas foram todas

feitas com mulheres (100%). Como afirma Vasconcelos (1992), a família,

sobretudo a mulher, é tradicionalmente a principal provedora de cuidado, neste

caso do portador de sofrimento psíquico. O grau de parentesco das

entrevistadas com o usuário é geralmente materno, ou senão próximo (esposa,

irmã, filha, etc.). Notando, assim, que prevalece a chefia feminina, a família

mononuclear.

Em relação ao grau de escolaridade constatamos que 75% das

familiares entrevistadas possuem apenas o ensino fundamental (Tabela 1),

tendo 12,5% cursado o ensino médio e superior.

Tabela 1 - Grau de Escolaridade do Familiar

ESCOLARIDADE PERCENTAGEM (%)

Ensino Fundamental 75

Ensino Médio 12,5

Ensino Superior 12,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

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76

A baixa escolaridade implica em vários fatores, que vai desde precárias

formas de inserção produtiva, a exclusão das mulheres do mercado de

trabalho, em que está cada vez mais exigente e solicitando uma mão de obra

mais qualificada; renda menor da mulher em relação ao homem, entre outros.

Esta expressão da questão social, de certa forma, tende a excluir esta parte da

população menos favorecida (FABER, 2010).

Tabela 2 – Composição Familiar

COMPOSIÇÃO FAMILIAR PERCENTAGEM (%)

Nenhum 12,5

1 a 3 pessoas 25

4 a 10 pessoas 62,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

Tratando-se da Composição Familiar (Tabela 2), a maioria (62,5%)

afirmou estar morando em sua residência de quatro a dez pessoas,

caracterizando famílias bem numerosas, com dificuldades para prover o

sustento de seus membros e uma baixa qualidade de vida. Todas as famílias

moram em casas próprias, advindas de projetos habitacionais, de herança, ou

até mesmo pelo fato de possuir terreno e ter construído gradativamente, visto

que muitas das entrevistadas moram no interior do Estado.

Tabela 3 – Onde o familiar é tratado melhor

O FAMILIAR É TRATADO MELHOR PERCENTAGEM (%)

Em casa com a família 37,5

No HJM 37,5

No HJM e com a família 25

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

Em relação ao seu familiar, surgiu o questionamento ao entrevistado

onde possivelmente ele era mais bem tratado (Tabela 3), e, na mesma

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proporção (37,5%) responderam que era em casa com a família e os outros

37,5% que era no HJM. Justificando que estar em casa era importante pelo

apoio e suporte, a convivência com a família, e que o hospital era responsável

pela retirada da crise. Entretanto os usuários se posicionaram diferente dos

familiares.

Tabela 4 – Onde acha ser tratado melhor

ONDE ACHA SER TRATADO

MELHOR

PRCENTAGEM (%)

Em casa com a família 62,5

No HJM 25

Sem resposta 12,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

A maioria (62,5%) afirmou ser tratado melhor em casa com a família,

apenas 25% disseram o HJM e 12,5% não responderam (Tabela 4). Neste

caso notamos a necessidade do portador de sofrimento psíquico em estar perto

da família, inserido na comunidade, na sociedade, mesmo sendo no hospital

bem tratado e medicado.

A Portaria nº 3.108, instituída em 21 de dezembro de 1982, propôs

mudanças no modelo assistencial, calcadas na predominância do modelo

extra-hospitalar, que a assistência fosse exercida por equipe multidisciplinar;

que esta fosse incluída na estratégia de atenção primária de saúde,

restringindo a internação aos casos estritamente necessários e promovendo a

implantação progressiva de pequenas unidades psiquiátricas em hospitais

gerais. O movimento de reforma defende a alteração no modelo de atenção

terapêutico, o hospitalocêntrico por espaços participativos e democráticos,

inserindo o portador de sofrimento psíquico no espaço dos cidadãos, no

ambiente familiar, evitando o isolamento (DIAS, 2007).

Os usuários, mesmo afirmando ser tratado melhor no âmbito familiar, em

sua maioria (87,5%) aceitam a internação, por não estar bem, estarem em

crise, agitados; e 12,5% aceitam em parte, por que dizem não saber o motivo

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do internamento, mas sabemos que este esquecimento se dá algumas vezes

por causa da doença.

Na coleta de dados, foi unânime a resposta de que os familiares das

entrevistadas eram inativos (100%), ou seja, nunca tinham trabalhado, ou

tinham deixado o trabalho por causa do sofrimento psíquico.

Tabela 5 – Direitos Previdenciários do Usuário

DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS PERCENTAGEM (%)

Aposentadoria 37,5

Benefício 37,5

Nenhum 25

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

Se tratando dos Direitos Previdenciários (37,5%) recebem benefício

(37,5%) são aposentados ou não recebem nada (25%), sendo sustentados

pela família (Tabela 5). “Na ausência de direitos sociais, é na família que os

indivíduos tendem a buscar recursos para lidar com as circunstâncias

adversas” (ALENCAR, 2009, p. 63).

Em relação à renda do usuário 62,5% recebem um salário mínimo,

12,5% de dois a três salários, e 25% não tem nenhuma renda (Tabela 6).

Tabela 6 – Renda do Usuário

RENDA DO USUÁRIO PERCENTAGEM (%)

1 salário 62,5

2 a 3 salários 12,5

Nenhum 25

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

A partir desses dados coletados foi revelado que a grande maioria dos

portadores de sofrimento psíquico são de baixa renda, sendo impossibilitados

de trabalhar, tem uma família com muitos membros, resultando em uma renda

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per capita muito baixa. O que acaba dificultando o seu tratamento, devido a

falta de recursos para o transporte, compra de remédios quando faltam na rede

pública, entre outros. Outra característica presente é, nesse contexto, a mulher

como provedora. Este usuário recebe cuidado na maioria das vezes da mãe,

tia, irmã, e é esta que trabalha para ‘sustentar a casa’.

Ao questionar em relação às visitas, com que frequência elas ocorriam,

nenhuma visita ocorre diariamente, umas ocorrem duas vezes por semana,

outras três vezes. Quando os familiares se ausentam atribuem às condições

financeiras (custo alto de visitar todos os dias, passagem de ônibus cara, a

família é de baixa renda), por encontrar-se trabalhando; também a distância,

muitos moram longe, a maioria no interior do RN. Como pode ser comprovado

na entrevista:

Eu venho visitar sim toda semana. Não venho todos os dias por que moro longe, gasto muito, e não tenho condições (Lírio).

Nesse contexto observamos a família como sendo o local em que se

articula as mais diversas formas de alternativas de superar as situações de

precariedade social, diante do desemprego ou inserção precária no âmbito do

trabalho (TELLES, 1992).

Se tratando do que era preciso para melhorar as condições de vida dos

portadores de sofrimento psíquico, os familiares responderam em sua maioria

em relação ao tratamento medicamentoso; em seguida vem a questão de ter

boa assistência e profissionais na rede de atendimento Municipal de Saúde

Mental, e, por fim, falam da importância de uma boa alimentação e da

convivência no ambiente familiar.

No que se refere a participação da família no tratamento dos usuários,

todas revelam ser bastante importante essa presença, que as visitas ajudam no

tratamento e consequentemente na recuperação do portador de sofrimento

psíquico, pois a família é quem promove o cuidado, apoia. Em casa é a

responsável em dar a medicação, e por conduzir o usuário ao serviço de

saúde. Como fala de uma das entrevistadas:

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A participação da família é importante, foi a família que tomou as decisões para tentar tirar ele da crise (Gardênia).

Para Pontes (2009), nos grupos de familiares ou nos atendimentos de

família, é comum que as discussões girem em torno dos sintomas. Os

familiares tendem a reconhecer, sim, sua importância no tratamento, contudo

apontam para a necessidade do reconhecimento dos seus limites no processo

de cuidar e de suas tensões advindas da presença de um ente portador de

transtorno mental (PEREIRA, 2008).

Foi constatado que a maior causa dos internamentos é o momento de

crise, em que os portadores de sofrimento psíquico saem do seu

comportamento habitual, colocando em risco a própria vida e a dos membros

da família (tentar o suicídio, são agressivos, não dormem, entre outros

sintomas), e que estas internações são bem frequentes, como falam a

entrevistadas:

ele foi internado muitas vezes, mais de 20 vezes, por causa da crise. Ele sobe em cima da casa, meche em fio... (Rosa). foi internado muitas vezes, mas demora para vir. Trouxemos para cá por que ele estava fugindo de casa, tava agressivo, tentou incendiar a casa, tava causando perigo (Lírio).

Sabemos que muitos são os motivos para este número muito alto de

internações. Isto ocorre devido ao mau funcionamento da rede de saúde e

consequentemente a de saúde mental. A maioria desses usuários são do

interior do estado e, não tem acesso aos serviços substitutivos. Ou por falta

destes, ou pelo não funcionamento dos serviços, pela deficiência na estrutura,

pela falta de profissionais, de remédios, etc. Com isso comprometendo a

continuidade do tratamento. Assim, este usuário fica mais propício a ter a crise,

e retorna com mais frequência ao Hospital Psiquiátrico.

A proposta de saída dos usuários do hospital de forma planejada e

assistida é uma estratégia fundamental no processo de desinstitucionalização,

no sentido de evitar o tão acentuado fenômeno da reinternação. Tal situação

está relacionada à falta de uma rede de atenção extra-hospitalar, bem como de

suporte e acompanhamento do usuário por parte da equipe técnica em parceria

com as famílias (DIMENSTEIN e BEZERRA, 2009).

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A rede de saúde mental encontrando-se deficitária, as famílias recorrem

ao Hospital Dr. João Machado como o meio para retirar seu familiar com

sofrimento psíquico da crise. Mas, devido ao funcionamento precário, e/ou a

falta de serviços extra-hospitalares o hospital sofre com a superlotação,

acarretando a presença de usuários em condições desumanas no pronto-

socorro esperando uma vaga na enfermaria.

Outro problema também está no sucateamento da saúde do estado do

Rio Grande do Norte, que reflete no Hospital Dr. João Machado. Faltam

remédios, a estrutura física está toda comprometida, os profissionais são

poucos para a grande demanda, e estes estão sobrecarregados de trabalho,

dentre outros problemas. Isto se deve a mercantilização da saúde, em que há

uma diminuição dos investimentos no setor público e um aumento do setor

privado, cuja lógica é a mercadorização32 da saúde.

Mesmo com o sucateamento do HJM, podemos observar que a lógica

hospitalocêntrica na saúde mental do estado é muito presente. Por ser o único

hospital público em Psiquiatria no RN, de referência, exercendo um importante

papel na saúde mental, pois ele é o responsável em retirar o portador de

sofrimento psíquico da crise e de inseri-lo na sociedade. Devido a deficiência

na rede, o trabalho é dificultado pela não continuidade do tratamento na rede

de atenção extra-hospitalar.

Por fim, a análise das entrevistas com os familiares encerra com

indagações sobre como eles avaliavam o trabalho do Serviço Social no HJM e

responderam que as assistentes sociais tratavam muito bem eles, que era

muito bom o trabalho dessas profissionais.

as assistentes sociais tratam muito bem a gente. Não tenho nada a reclamar. O tratamento é bem adequado (Margarida).

32

Mercadorização é entendida como sendo o processo de transformação do valor de uso em

valor de troca e como esse processo se estende ao campo da saúde. A saúde é vista como

mercadoria. O financiamento da saúde fica por conta do indivíduo, retirando o Estado desse

contexto, que de responsabilidade dele. Assim, há um grande crescimento do setor privado de

saúde, da mercadorização da medicina, da saúde, e uma transformação do nosso sistema

único em um sistema que tem baixa qualidade, destinado para uma população que não pode

pagar plano privado (BENVENUTI, 2012).

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82

Nas falas percebemos ainda muito presente a cultura do cuidado (visão

tradicional) por parte dos familiares em relação à profissão Serviço Social, mas

não podemos deixar de colocar a importância que foi dada por estes ao fazer

profissional dos assistentes sociais junto aos seus parentes com sofrimento

psíquico.

O trabalho é muito bom. Elas atendem a gente direitinho. Cuidam dele (do usuário) bem direitinho (Lírio).

Nas entrevistas com os usuários a presença de homens foi unânime,

pelo fato de terem sido feitas na enfermaria masculina, em que tivemos maior

contato durante o estágio.

Tabela 7 – Renda do Usuário

RENDA DO USUÁRIO PERCENTAGEM (%)

1 salário 75

2 a 3 salários 0

4 a 10 salários 12,5

Nenhum 12,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

Caracterizam-se cidadãos em situação de vulnerabilidade social, de

baixa renda (Tabela 7), e, na maioria essa renda é advinda de direitos

previdenciários, como podemos ver na Tabela 8.

Tabela 8 – Direitos Previdenciários

DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS PERCENTAGEM (%)

Aposentadoria 62,5

Benefício 25

Nenhum 12,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

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83

Como já foi afirmado pelas familiares, seus parentes não tem condições

físicas e mentais para trabalhar, em sua maioria são aposentados; outra

parcela recebe benefício, e necessitam do apoio da família. Ainda, uma

minoria é dependente de algum familiar para prover seu sustento.

Em relação à escolaridade, os usuários em sua maioria não são

alfabetizados (50%), 12,5% cursaram o Ensino Fundamental, 25% o Ensino

Médio e 12,5 o Ensino Superior; como podemos ver na Tabela 9.

Tabela 9 – Escolaridade

ESCOLARIDADE PERCENTAGEM (%)

Não alfabetizado 50

Ensino Fundamental 12,5

Ensino Médio 25

Ensino Superior 12,5

TOTAL 100

FONTE: Sistematização da Pesquisadora

Esta baixa escolaridade faz com que diminua cada vez mais as chances

de inserção desse usuário no mercado de trabalho. Esse que a cada dia é mais

competitivo e exige mão de obra qualificada e apta a seguir seu ritmo em busca

de lucro.

Em relação à condição de moradia, 75% moram em sua própria casa,

12,5% moram de aluguel e 12,5% não tem casa (Tabela 10). Os entrevistados

que não tem casa residem na moradia assistida do hospital, em residências

terapêuticas, dentre outros lugares.

Para melhorar a qualidade de vida, os portadores de sofrimento psíquico

elegem como necessário a realização de atividades, a importância de trabalhar,

estar perto da família, bem como, tomar os remédios regularmente para não

entrar em crise, como podemos observar abaixo nas falas:

trabalhar, fazer atividade, estar perto da família (Rubi).

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melhorar do problema: fazendo atividades, tomando o remédio direitinho (Calcita). trabalhar, mas não posso trabalhar de carteira assinada por causa dos internamentos (Jade).

Nessas falas observamos a importância que é dada ao trabalho. A

cultura que foi posta na sociedade de que é útil quem produz. E, assim eles se

sentem melhor trabalhando por estão contribuindo para a sociedade, contudo

as crises, os internamentos, interferem e/ou impedem esta atividade. O que

contribui para reafirmar a eles e para a sociedade que esses indivíduos têm

que viver à margem por não serem mais produtivos. Neste sentido, a Reforma

Psiquiátrica vem para desmistificar essa linha de pensamento e mostrar que os

portadores de sofrimento psíquico são cidadãos de direito e, que merecem o

acesso à saúde de qualidade, a convivência familiar e comunitária, e uma boa

qualidade de vida.

YASBEK, (2009) reitera que o trabalho pode atrelar vários significados

na vida do sujeito:

As estratégias ocupacionais de sobrevivência dos trabalhadores pauperizados, que tanto buscam o trabalho assalariados, quanto o trabalho por conta própria para fazer frente as suas necessidades. Esta inserção múltipla no mundo do trabalho (no tempo e no espaço) revela a busca de “ganhar a vida” de todas as formas possíveis e se expressa no estilhaçamento de suas vidas, particularmente em relação ao trabalho (YASBEK, 2009, p.105).

Do mesmo jeito que a família acredita ser importante a participação dos

familiares em seu tratamento, pois segundo eles afirmam, que a família

incentiva, ajuda.

sinto falta quando eles não veem, acho boa a visita. Queria que eles me visitassem todos os dias (Jade).

No que se refere ao conhecimento sobre a Reforma Psiquiátrica, tanto

dos familiares como os usuários em sua maioria nunca ouviram falar. O

portador de sofrimento psíquico que afirmou conhecer, disse que:

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já ouvi falar de Reforma Psiquiátrica lá no CAPS que eu fazia parte (Pérola).

Ao perguntar sobre como eles avaliavam o trabalho desenvolvido pelas

assistentes sociais no hospital, a maioria respondeu que era bom, que elas

cuidavam dos direitos de forma correta e, que mantinham a ligação do usuário

com a família. Na Saúde Mental os assistentes sociais tem a função de

contribuir para que a Reforma Psiquiátrica alcance seu projeto ético-político.

Assim, tomando por objeto a subjetividade, cabendo a este profissional ações

desafiantes frente às requisições no trabalho com as famílias, na geração de

renda e trabalho, no controle social e na garantia de acesso aos benefícios

(ROBAINA, 2009). É importante incentivar a ligação do usuário com a família,

para que haja o fortalecimento desta e uma maior promoção de cuidados com

os portadores de sofrimento psíquico.

Outro ponto comum na entrevista com os familiares é a presença da

mulher predominando no cuidado. Observamos que é a figura feminina que

está mais presente, e que os usuários se relacionam melhor com quem cuida

deles.

me relaciono bem com todos, mas gosto mais da minha madrinha, por que é ela que se interessa por mim (Esmeralda).

Neste sentido, devemos considerar a questão das mulheres chefes de

famílias que acumulam a responsabilidade pelo sustento da família com o

cuidado com a casa e com os filhos (VITALE, 2002).

Por fim, nas entrevistas com os técnicos (assistentes sociais,

enfermeiros, psicólogos e terapeutas ocupacionais), observamos que, em

relação ao que é preciso para melhorar as condições de vida dos portadores de

sofrimento psíquico, a maioria dos entrevistados detiveram-se as condições de

infraestrutura, melhorando o número de serviços de saúde mental, a estrutura

física dos locais de atendimento, o abastecimento de remédios, o número de

profissionais, como podemos ver nas falas:

melhorar a assistência, os serviços [...]. Tem que existir uma ponte entre o HJM e o CAPS (Profissional Redinha).

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melhorar a assistência no CAPS, pois com isso não sobrecarrega o HJM (Profissional Barreta). que os familiares e usuários tenham suporte na rede, que sejam incluídos na sociedade, tendo assistência em todos os setores da saúde, sem sofrer discriminação (Profissional Tabatinga).

Nestas falas podemos observar a relação do que foi dito com o conceito

ampliado de saúde, que enfatiza, que saúde não é apenas como a ausência de

doença. Fundamentado pela Reforma Sanitária, Reforma Psiquiátrica e,

também atual legislação brasileira do SUS, a definição de saúde encontra-se

ampliada, considerando-a resultado de vários fatores determinantes e

condicionantes, como alimentação, moradia, meio ambiente, trabalho, renda,

educação, transporte, entre outros. Assim, as gestões municipais do SUS

devem desenvolver ações conjuntas com outros setores governamentais que

possam contribuir, direta ou indiretamente, para a promoção de melhores

condições de vida e da saúde para a população (BRASÍLIA, 2004). Nestas

situações que colaborem com a melhoria da saúde e da qualidade de vida dos

usuários, através da articulação da rede de serviços que deve ser garantida

pelo princípio da intersetorialidade, além da política de saúde, as demais

políticas sociais, para que o usuário possa acessar serviços de melhor

qualidade, resolutivos e ter a assistência na rede de saúde e saúde mental,

evitando assim a hospitalização desnecessária.

Outros pontos abordados foram em relação à melhoria das condições

sociais (saúde, trabalho, habitação, etc.), pois estes são totalmente

desprovidos de direitos. Destacando a importância da rede,

a rede funcione para dar suporte, garantindo o tratamento e a universalização do acesso, e que perpasse no contexto familiar (Profissional Upanema).

escuta qualificada, tentando reorganizar sua rotina e inseri-lo num ambiente familiar. Oferecer oportunidades para eles sentirem-se úteis e integrantes de uma sociedade (Profissional Jacumã). trabalho intenso com a família e a sociedade visando quebrar os estigmas perante a doença mental; suporte da família / acolhimento com os indivíduos portadores; aumento de oportunidades (trabalho, por exemplo) para esta população (Profissional Genipabu).

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Referindo-se a participação da família no tratamento, todos os

entrevistados afirmam ser muito importante quando ocorre a integração da

família ao tratamento, seja ele no hospital ou em serviços extra-hospitalares, é

fundamental, pois é a família que lida diretamente com o portador de

sofrimento psíquico. Percebem que os usuários que tem o suporte familiar

apresentam melhores resultados em seu tratamento, há uma melhora

expressiva com esta presença. Já que a família contribui com o processo de

retirada da crise, de conduzir o usuário a rede de saúde mental e com a

medicalização e os meios para melhorar seu bem estar (lazer, cultura, ...).

Foi reconhecido o incentivo a participação familiar por parte do Serviço

Social. Contudo, devemos nos atentar aos motivos sociais externos (famílias

de baixa renda, famílias que moram no interior, etc.) que interferem nessa

participação, como fala o entrevistado logo abaixo, e não na culpabilização da

família.

O Serviço Social abre visita para que haja a participação, mas as condições precárias da família interferem nessa participação (Profissional Pipa).

Referindo-se ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social, todos o

consideram também importante para o hospital, até afirmam ser o serviço mais

solicitado pelos usuários e de maior demanda na instituição, sendo o setor que

informa sobre os direitos dos usuários, a rede de atendimento.

o Serviço Social é a porta de entrada e de saída dos pacientes e seus familiares (Profissional Pititinga).

O exercício profissional do Assistente Social ganha destaque no local de

atuação, neste caso o HJM, devido as suas competências gerais serem

fundamentais à compreensão do contexto sócio-histórico em que situa-se a

intervenção por um viés da análise crítica da realidade. E das suas

competências e atribuições específicas necessárias ao confronto das situações

e demandas sociais postas no cotidiano. Por exemplo, é competência deste

profissional encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos,

grupos e à população; orientar indivíduos e grupos de vários segmentos sociais

visando a garantia de direitos (CFESS, 2010).

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Todavia, este profissional encontra-se cada vez mais sobrecarregado,

pois, há uma precarização no trabalho do Assistente Social, devido à

diminuição do quadro profissional. Há muitas profissionais afastadas ou se

ausentando do trabalho com frequência (aproximadamente seis assistentes

sociais), por motivo de doença, por estarem perto de se aposentar, e se

encontram com problemas de saúde, por causa do tempo de trabalho (sistema

de plantões, rotina de trabalho, etc.). Encontramos então a precarização do

trabalho do assistente social, havendo uma sobrecarga das assistentes sociais

que estão trabalhando, e como são poucos não conseguem realizar todas as

demandas e surgem lacunas no trabalho.

Todos os profissionais que entrevistamos afirmou conhecer a Reforma

Psiquiátrica e explanaram bem sobre o que consiste esta reforma. Referiram-

se às mudanças e ao avanço no tratamento em saúde mental, na criação dos

serviços substitutivos, uns falaram na extinção dos hospitais psiquiátricos, da

desinstitucionalização, mas outros já discordaram dessa extinção. No mais,

deixam claro que foi um episódio que veio para contribuir com a humanização

da saúde mental.

a reforma é um processo de desinstitucionalização e desconstrução de conceitos e práticas de exclusão, segregação e ‘aprisionamento’ do portador de transtorno mental (Profissional Tabatinga).

Quando questionadas acerca da influência do ambiente hospitalar na

postura dos familiares diante o tratamento dos portadores de sofrimento

psíquico, e a maioria respondeu que influenciava. E uma das entrevistadas

explanou bem dizendo que:

acredito que não só o ambiente hospitalar como a própria estrutura hospitalar influencia na postura dos familiares que às vezes evitam está presentes em um local como este (até mesmo por preconceito), o que influencia diretamente e negativamente no tratamento do indivíduo que tem suas relações socioafetivas cortadas (Profissional Genipabu).

A inserção da família no âmbito da saúde mental, em especial em

hospitais psiquiátricos, foi um dos muitos avanços conquistados na área

psíquica. Comprovando que a presença da família e de uma equipe

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89

multiprofissional no Hospital Dr. João Machado, incluindo o Serviço Social,

influencia no tratamento do portador de sofrimento psíquico, e este se torna

cada vez mais eficaz, resolutivo e terapêutico.

Neste trabalho, muitas dificuldades surgem devido a estrutura ainda

asilar do hospital, que dificulta atividades em grupo, inibe a participação dos

familiares; a falta de articulação com a rede de atendimento do estado do Rio

Grande do Norte; a precária rede de atendimento, a ausência de investimento

no setor público, entre outros. Mas, notamos que com a participação desses

dois elementos (família e Serviço Social) podemos ter um tratamento um pouco

mais humano e assim procurar sempre avançar na busca pelo direito a saúde

de qualidade, gratuita e universal dos portadores de sofrimento psíquico.

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90

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O referido trabalho almejou, mesmo com todos os limites postos a

execução de um estudo monográfico, contribuir com algumas reflexões acerca

da Reforma Psiquiátrica, e as novas concepções e abordagens em torno do

sofrimento psíquico na sociedade moderna atual. Assinalando os limites,

desafios e possibilidades de inserção da família e do Serviço Social no

tratamento do portador de sofrimento psíquico mediante uma conjuntura

mercadológica.

A produção deste trabalho foi muito desafiadora, devido o campo da

saúde mental ser bastante complexo. Todavia, esta atividade, nos permitiu uma

melhor compreensão acerca do assunto em foco e, portanto, uma ampliação

do conhecimento, principalmente no que se refere ao público que o assistente

social lida, e como se dá o fazer profissional desse profissional nesse espaço

sócio-ocupacional. Assim, durante a produção do trabalho, houve a

preocupação em realizar relevantes discussões para a área da saúde e da

saúde mental.

A partir disso, houve a compreensão de quanto o movimento pela

Reforma Psiquiátrica foi importante, que ao surgir na década de 1970, logo

após o surgimento da Reforma Sanitária e como resultante desta, tinha como

propósito interrogar os eixos do modelo hospitalocêntrico que fundamentado

pela psiquiatria tradicional, baseava-se em aspectos psicobiológicos. Os

tratamentos eram centralizados no ambiente hospitalar, manicomial, eram

precários e isolavam o indivíduo da sociedade. Assim, aumentando cada vez

mais o preconceito e o estigma em torno das pessoas com sofrimento psíquico.

Assim, diante da precariedade da saúde mental, o movimento pela

Reforma Psiquiátrica vem propor uma nova linha de tratamento, para se

construir um novo modelo de atenção à saúde mental, fundamentado na

desinstitucionalização e humanização.

O mais novo paradigma de atenção à saúde mental proposto acima

organiza-se em meio à comunidade, com a participação dos usuários e

familiares, correspondendo ao conceito ampliado de saúde, como também,

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admitindo a influência direta dos determinantes sociais no processo saúde-

doença, passando a ver a loucura pelos seus aspectos biopsicossociais.

Assim, com a mudança no modo de ver a loucura, a reforma psiquiátrica deseja

imensamente que a sociedade modifique o meu modo de agir, pensar a saúde

mental.

Essas mudanças refletem também na dinâmica do hospital Dr. João

Machado, na cultura da família e dos portadores de sofrimento psíquico e no

fazer profissional do assistente social. Com a política do hospital modificada,

houve como resultado de luta do Serviço Social, a abertura da visita ao usuário,

consequentemente a inserção dos familiares no acompanhamento do

tratamento, que já vem desmistificando a cultura asilar; e assim, uma melhor

recuperação do portador de sofrimento psíquico.

Ao observar esse contexto, elaboramos esse trabalho com o intuito de

aproximar-se desses elementos e pesquisar sobre as contribuições da família e

do Serviço Social na recuperação da saúde da pessoa com sofrimento psíquico

que estaria internado no HJM. E chegamos aos seguintes resultados: que tanto

os familiares quanto os usuários e os profissionais da saúde entrevistados vem

a família e o Serviço Social como fundamentais ao tratamento do portador de

sofrimento psíquico, que estes contribuem bastante para a recuperação.

A família exerce a função do cuidado, apoio, de intermediadora. É ela

que conduz o portador de sofrimento psíquico aos serviços substitutivos para

este dar continuidade ao tratamento, responsável por ministrar a medicação,

quem o leva para o hospital no momento de crise. Entretanto a instituição

familiar, seja de qual for a configuração, enfrenta muitas dificuldades. Para

começar pela ausência do Estado, colocando sobre ela toda a

responsabilidade com o usuário que também pertence a ele. O transporte

deficitário, o fato de morar longe e de ser baixa renda impossibilita a visita. O

número expressivo de mulheres chefiando a família e tendo que exercer vários

papéis, ficando sobrecarregada de atividades e, assim se ausentando um

pouco do acompanhamento ao tratamento, pela necessidade de cuidar dos

demais integrantes da família e de prover o sustento.

No que se refere às contribuições do Serviço Social é possível afirmar

que o seu fazer profissional é fundamentado nos princípios da reforma

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psiquiátrica, e do projeto profissional. Procura informar e conduzir o usuário à

rede de atendimento, lutando pela desinstitucionalização, pelo tratamento

humanizado, com a presença dos familiares, viabilizando a efetivação dos

direitos. Mas, também aos assistentes sociais enfrentam dificuldades, pois

encontram-se sobrecarregados de atividades, há a precarização do trabalho,

onde faltam recursos para exercer atividades. Pela influência do neoliberalismo

na saúde, onde há a valorização de investimento no setor privado, a ausência e

falta de recursos no setor público.

Ao realizarmos o estágio curricular obrigatório em Serviço Social no HJM

em 2012, foi possível estabelecer a aproximação mais concreta com a área da

saúde mental, bem como, o fazer profissional do assistente social nesse

espaço sócio-ocupacional e a inserção da família nesse campo. E, podemos

afirmar através desse contato e da coleta de dados que mesmo com todos

esses entraves, a família e o Serviço Social contribuem significativamente para

o processo de recuperação e inserção do portador de sofrimento psíquico na

sociedade.

Uma dimensão muito importante que deve ser observada é em relação a

precaução para que o atendimento à família não se detenha ao caráter

assistencialista e paternalista. Sempre frisarmos que os membros da família

são cidadãos, com direitos e deveres. E, também temos cuidado para não

cairmos no discurso da culpabilização da família, sempre observando os meios

sociais que influenciam em suas atitudes e que ela também precisa de cuidado,

assistência para poder dar conta de seu papel.

Todo esse processo, iniciando pelo estágio, seguindo com o projeto de

intervenção, foi muito importante para a formação acadêmica e profissional.

Nesse percurso, podemos observar que tudo o que foi estudado durante a

formação acadêmica estava colocado na prática. Através da aproximação (com

o fazer profissional dos assistentes sociais, o trabalho com a família, os

usuários, a intermediação de direitos, entre outros), proporcionada pelo estágio

e intervenção e, sendo colocado em prática com essa produção acadêmica.

Com este trabalho acreditamos estar contribuindo de acordo com os

princípios da Reforma Psiquiátrica para a área da Saúde Mental, onde nota-se

a necessidade de mais produções, estudos, pesquisas e publicações do

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Serviço Social neste vasto campo de atuação, que em sua complexidade,

demonstra o quanto ainda precisa ser explorado (BISNETO, 2011), e estar

fortalecendo a atuação do assistente social no Hospital Dr. João Machado,

junto à família, os usuários e outros profissionais.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Departamento de Serviço Social

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Este documento visa solicitar sua participação na Pesquisa “A Família e o

Serviço Social na recuperação do Portador de Transtorno Psíquico no Hospital Dr. João

Machado”, que tem como objetivo analisar as contribuições da família e do Serviço

Social na recuperação da Saúde do Portador de Sofrimento Psíquico no Hospital Dr.

João Machado. Será desenvolvido pela (o) acadêmica (o) Larissa Mota Baracho, sob

orientação da Profª Drª Edla Hoffmann, CRESS 4281, docente do curso de Serviço

Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Sua colaboração é fundamental para compor as informações da pesquisa,

possibilitando maior visibilidade a este espaço sócio-ocupacional e ao tratamento dos

portadores de sofrimento psíquico junto à família e ao Serviço Social, visando

contribuir para o desenvolvimento científico na área do Serviço Social no Hospital

Doutor João Machado e a qualificação do processo de recuperação do portador de

sofrimento psíquico nesse espaço sócio-ocupacional. Os dados da pesquisa estarão à

disposição na universidade ao término da pesquisa, previsto para junho de 2013.

Levando em consideração que este estudo visa à coleta de dados de informações

sobre a importância da família e do Serviço Social na recuperação do portador de

sofrimento psíquico, não se espera que você tenha nenhum desconforto ou prejuízo

decorrente de sua participação, porque a pesquisa e as questões a responder oferecem

riscos mínimos. A pesquisa não oferece riscos à integridade física, moral e social dos

sujeitos, ao patrimônio físico e/ou financeiro da instituição. Entretanto, como forma de

minimizar os riscos todo cuidado será tomado para que você não sinta-se constrangida

(o) em responder alguma questão, tendo o sigilo, a privacidade e o anonimato

garantido. Na abordagem para realização da coleta de dados será contemplada a

preocupação em estabelecer a interação, os vínculos, um ambiente de confiança, onde a

entrevistadora irá esclarecer os objetivos do estudo, a importância da pesquisa e a

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relevância da participação da entrevistada, cuidados éticos, sigilo explicitado neste

termo.

As informações obtidas de cada participante são confidenciais e somente serão

usadas com propósito científico. Os pesquisadores e os membros envolvidos neste

estudo terão acesso aos arquivos dos participantes, para verificação de dados, sem,

contudo, violar a confidencialidade.

Embora não estejam previstos riscos à integridade física dos sujeitos, ao

patrimônio físico e financeiro da instituição, os pesquisadores se comprometem a

ressarcir e/ou indenizar qualquer prejuízo desde que devidamente comprovado. Do

mesmo modo, que caso haja dano comprovado decorrente da participação na pesquisa, o

voluntário tem direito a receber indenização caso solicite.

Este estudo contempla a realização de etapas importantes para seu

desenvolvimento, inicia com a revisão bibliográfica, seguida da apresentação do projeto

a instituição e sua submissão ao Comitê de Ética, para então realizarmos a testagem do

instrumento, entrevista, coleta de dados propriamente dita, por fim, a sistematização e

análise dos dados, elaboração do Relatório de Pesquisa, Entrega do mesmo e

apresentação dos resultados. Chamamos a atenção que você precisa consentir sua

participação na realização da testagem do instrumento e entrevista propriamente dita. A

assinatura deste termo de consentimento formaliza sua autorização para o

desenvolvimento de todos os passos anteriormente apresentados.

Por intermédio deste termo são garantindo-lhes os direitos de: retirar seu

consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem que isto me

traga qualquer prejuízo; solicitar, a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre esta

Pesquisa entrando em contato com a acadêmica pesquisadora (Telefone Celular: 084 -

8846-5786) ou sua orientadora (Telefone Celular: 084 - 9672 7424); ser devidamente

esclarecido sobre os objetivos da pesquisa acima mencionada de maneira clara e

detalhada; sigilo absoluto sobre seus dados pessoais; a ampla possibilidade de negar-se

a responder quaisquer questões ou a fornecer informações que julguem prejudiciais a

sua integridade física, moral e social.

“Declaro estar ciente das informações constantes neste ‘Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido’, entendendo que serei

resguardado pelo sigilo absoluto de meus dados pessoais e de

minha participação na Pesquisa; poderei retirar meu

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consentimento a qualquer momento e deixar de participar do

estudo sem que isto me traga qualquer prejuízo poderei pedir, a

qualquer tempo, esclarecimentos sobre esta Pesquisa; que fui

devidamente esclarecido sobre os objetivos da pesquisa acima

mencionada de maneira clara e detalhada; recusar a dar

informações que julgue prejudiciais a minha pessoa. Permito a

gravação de minha entrevista, que será transcrita, lida e utilizada

na referida pesquisa de forma integral ou em partes, sem

restrições de prazos e citações, a partir da presente data. As

informações são de responsabilidade do pesquisador. Abdico

direitos autorais meus e de meus descendentes, subscrevendo o

presente termo”.

Natal (RN), ____ de ______________ de 2013.

Participante: _______________________________

Assinatura: ________________________________

Pesquisadora: ____________________________________

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APÊNDICE B

INSTRUMENTO DE PESQUISA

ROTEIRO DE ENTREVISTA - FAMILIARES

01. Data:

02. Entrevista n° ____.

03. Entrevistado:

04. Profissão do entrevistado:

05. Sexo:

06. Grau de escolaridade:

( ) não alfabetizado;

( ) alfabetização;

( ) ensino fundamental;

( ) ensino médio;

( ) ensino superior;

( ) pós-graduação.

07. Grau de Parentesco com o usuário:

08. Composição Familiar:

( ) Nenhum;

( ) 01 a 03 pessoas;

( ) 04 a 10 pessoas;

( ) acima de 10 pessoas.

09. Renda mensal:

( ) Nenhuma;

( ) 1 Salário Mínimo;

( ) 2 a 3 Salários Mínimos;

( ) 4 a 10 Salários Mínimos;

( ) acima de 10 Salários Mínimos.

10. Condição de moradia

( ) casa própria;

( ) alugada;

( ) cedida

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108

RELATIVO AOS OBJETIVOS DA PESQUISA

11. Você visita seu familiar portador de transtorno mental quando ele está internado

aqui no Hospital Dr. João Machado? Com que frequência? Caso se ausenta, por

quê?

12. O que você acha que é preciso fazer para melhorar as condições de vida dos

portadores de transtornos mentais?

13. Como você ver a participação ou não da família no tratamento dos usuários

portadores de sofrimento psíquico?

14. Como você avalia o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social no Hospital

Doutor João Machado com os familiares e usuários?

16. Você já ouviu falar em Reforma Psiquiátrica? Se sim, o que sabe sobre ela?

17. Você acha que o ambiente hospitalar influencia na postura dos familiares diante

o tratamento do portador do sofrimento psíquico.

18. Você acha que seu familiar portador de transtorno mental seria mais bem

tratado:

( ) em casa, com a família;

( ) ambulatório de Saúde Mental;

( ) CAPES;

( ) Residência Terapêutica;

( ) no Hospital Doutor João Machado.

19. Qual a profissão do seu familiar Portador de Transtorno Mental?

____________________. Ativo ( ). Inativo ( ).

20. Renda:

( ) Nenhuma;

( ) 01 Salário Mínimo;

( ) 02 a 03 Salários Mínimos;

( ) 04 a 10 Salários Mínimos;

( ) acima de 10 Salários Mínimos.

21. Direitos Previdenciários:

( ) Aposentadoria;

( ) Benefício;

( ) Pensionista;

( ) Nenhum.

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22. Os rendimentos são recebidos por terceiros? ( ) Sim; ( ) Não.

Quem recebe: _______________________________________.

( ) Curador;

( ) Procurador;

( ) Sem vínculo.

23. Qual o papel do paciente na família?

( ) Pai;

( ) Mãe;

( ) Filho/Filha;

( ) Irmão;

( ) Outros.

24. Quem é a pessoa que cuida com mais frequência do paciente?

25. As pessoas da família tem medo do paciente?

26. Por quê o encaminharam para o Internamento?

27. Aceita a Internação? ( ) Sim; ( ) Não; Número de Internações: __________.

Por quê?_________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

28. Quando o paciente está em casa, quem cuida dele? Quem cuida da medicação?

29. O usuário tem um lugar próprio para dormir?

30. O usuário faz sua higiene sozinho?

32. Quais as habilidades de trabalho demonstradas pelo paciente?

33. Com quem o paciente se relaciona melhor em casa?

34. Tem outro familiar com Transtorno Mental em casa?

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ROTEIRO DE ENTREVISTA - USUÁRIOS

01. Data:

02. Entrevista n° ____.

03. Entrevistado:

04. Profissão do entrevistado:

05. Sexo:

06. Grau de escolaridade:

( ) não alfabetizado;

( ) alfabetização;

( ) ensino fundamental;

( ) ensino médio;

( ) ensino superior;

( ) pós-graduação.

07. Grau de Parentesco com o usuário:

08. Composição Familiar:

( ) Nenhum;

( ) 01 a 03 pessoas;

( ) 04 a 10 pessoas;

( ) acima de 10 pessoas.

09. Renda mensal:

( ) Nenhuma;

( ) 1 Salário Mínimo;

( ) 2 a 3 Salários Mínimos;

( ) 4 a 10 Salários Mínimos;

( ) acima de 10 Salários Mínimos.

10. Condição de moradia

( ) casa própria;

( ) alugada;

( ) cedida

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111

RELATIVO AOS OBJETIVOS DA PESQUISA

11. Seu familiar te visita quando está internado aqui no Hospital Dr. João Machado?

Com que frequência? Caso se ausenta, por quê?

12. O que você acha que é preciso fazer para melhorar suas condições de vida?

13. Como você ver a participação ou não da família no seu tratamento?

14. Como você avalia o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social no Hospital

Doutor João Machado com os familiares e com você?

16. Você já ouviu falar em Reforma Psiquiátrica? Se sim, o que sabe sobre ela?

17. Você acha que o ambiente hospitalar influencia na postura dos familiares diante

o tratamento do portador do sofrimento psíquico?

18. Você acha ser mais bem tratado:

( ) em casa, com a família;

( ) ambulatório de Saúde Mental;

( ) CAPES;

( ) Residência Terapêutica;

( ) no Hospital Doutor João Machado.

19. Renda:

( ) Nenhuma;

( ) 01 Salário Mínimo;

( ) 02 a 03 Salários Mínimos;

( ) 04 a 10 Salários Mínimos;

( ) acima de 10 Salários Mínimos.

20. Direitos Previdenciários:

( ) Aposentadoria;

( ) Benefício;

( ) Pensionista;

( ) Nenhum.

21. Quem é a pessoa que cuida com mais frequência de você?

22. As pessoas da família tem medo de você?

23. Por quê o encaminharam para o Internamento?

24. Aceita a Internação? ( ) Sim; ( ) Não; Número de Internações: __________.

Por quê?_________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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25. Quando está em casa, quem cuida de você? Quem cuida da medicação?

26. Quais as habilidades de trabalho demonstradas pelo paciente?

27. Com quem você se relaciona melhor em casa?

28. Tem outro familiar com Transtorno Mental em casa?

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ROTEIRO DE ENTREVISTA – TÉCNICO

01. Data:

02. Entrevista n° ____.

03. Entrevistado:

04. Profissão do entrevistado:

05. Sexo:

06. Profissão: _____________________

RELATIVO AOS OBJETIVOS DA PESQUISA

07. O que você acha que é preciso fazer para melhorar suas condições de vida dos

portadores de sofrimento psíquico?

08. Como você ver a participação ou não da família no tratamento dos portadores de

sofrimento psíquico?

09. Como você avalia o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social no Hospital

Doutor João Machado com os familiares e com você?

10. Você já ouviu falar em Reforma Psiquiátrica? Se sim, o que sabe sobre ela?

11. Você acha que o ambiente hospitalar influencia na postura dos familiares diante

o tratamento do portador do sofrimento psíquico?

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ANEXOS

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ANEXO A

LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.

Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata

esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus

familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a

assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os

recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

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§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em

seu meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer

assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições

com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e

que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de

grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico

circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve

assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico

devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser

comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou

responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo

juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

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Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113

o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Jose Gregori José Serra Roberto Brant

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.4.2001

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ANEXO B

LEI No 10.708, DE 31 DE JULHO DE 2003.

Institui o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Fica instituído o auxílio-reabilitação psicossocial para assistência,

acompanhamento e integração social, fora de unidade hospitalar, de pacientes acometidos de transtornos mentais, internados em hospitais ou unidades psiquiátricas, nos termos desta Lei.

Parágrafo único. O auxílio é parte integrante de um programa de ressocialização de pacientes internados em hospitais ou unidades psiquiátricas, denominado "De Volta Para Casa", sob coordenação do Ministério da Saúde.

Art. 2o O benefício consistirá em pagamento mensal de auxílio pecuniário, destinado aos

pacientes egressos de internações, segundo critérios definidos por esta Lei.

§ 1o É fixado o valor do benefício de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais), podendo ser

reajustado pelo Poder Executivo de acordo com a disponibilidade orçamentária.

§ 2o Os valores serão pagos diretamente aos beneficiários, mediante convênio com

instituição financeira oficial, salvo na hipótese de incapacidade de exercer pessoalmente os atos da vida civil, quando serão pagos ao representante legal do paciente.

§ 3o O benefício terá a duração de um ano, podendo ser renovado quando necessário aos

propósitos da reintegração social do paciente.

Art. 3o São requisitos cumulativos para a obtenção do benefício criado por esta Lei que:

I - o paciente seja egresso de internação psiquiátrica cuja duração tenha sido, comprovadamente, por um período igual ou superior a dois anos;

II - a situação clínica e social do paciente não justifique a permanência em ambiente hospitalar, indique tecnicamente a possibilidade de inclusão em programa de reintegração social e a necessidade de auxílio financeiro;

III - haja expresso consentimento do paciente, ou de seu representante legal, em se submeter às regras do programa;

IV - seja garantida ao beneficiado a atenção continuada em saúde mental, na rede de saúde local ou regional.

§ 1o O tempo de permanência em Serviços Residenciais Terapêuticos será considerado

para a exigência temporal do inciso I deste artigo.

§ 2o Para fins do inciso I, não poderão ser considerados períodos de internação os de

permanência em orfanatos ou outras instituições para menores, asilos, albergues ou outras instituições de amparo social, ou internações em hospitais psiquiátricos que não tenham sido

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custeados pelo Sistema Único de Saúde - SUS ou órgãos que o antecederam e que hoje o compõem.

§ 3o Egressos de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico poderão ser igualmente

beneficiados, procedendo-se, nesses casos, em conformidade com a decisão judicial.

Art. 4o O pagamento do auxílio-reabilitação psicossocial será suspenso:

I - quando o beneficiário for reinternado em hospital psiquiátrico;

II - quando alcançados os objetivos de reintegração social e autonomia do paciente.

Art. 5o O pagamento do auxílio-reabilitação psicossocial será interrompido, em caso de

óbito, no mês seguinte ao do falecimento do beneficiado.

Art. 6o Os recursos para implantação do auxílio-reabilitação psicossocial são os referidos

no Plano Plurianual 2000-2003, sob a rubrica "incentivo-bônus", ação 0591 do Programa Saúde Mental n

o 0018.

§ 1o A continuidade do programa será assegurada no orçamento do Ministério da Saúde.

§ 2o O aumento de despesa obrigatória de caráter continuado resultante da criação deste

benefício será compensado dentro do volume de recursos mínimos destinados às ações e serviços públicos de saúde, conforme disposto no art. 77 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 7o O controle social e a fiscalização da execução do programa serão realizados pelas

instâncias do SUS.

Art. 8o O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei.

Art. 9o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 31 de julho de 2003; 182o da Independência e 115

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Humberto Sérgio Costa Lima Ricardo José Ribeiro Berzoini

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 1º.8.2003

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ANEXO C

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