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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM-PPgEL DEPARTAMENTO DE LETRAS-DL MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA VITÓRIA MARIA AVELINO DA SILVA PAIVA AVALIANDO A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO A PARTIR DE CONTRIBUIÇÕES DISCENTES UFRN - Natal/RN 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN …...CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA ... que, a despeito de tantas dificuldades, souberam educar seus filhos e ensiná-los

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM-PPgEL

DEPARTAMENTO DE LETRAS-DL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

VITÓRIA MARIA AVELINO DA SILVA PAIVA

AVALIANDO A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UMA ESCOLA DE

ENSINO MÉDIO A PARTIR DE CONTRIBUIÇÕES DISCENTES

UFRN - Natal/RN

2012

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VITÓRIA MARIA AVELINO DA SILVA PAIVA

AVALIANDO A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UMA ESCOLA DE

ENSINO MÉDIO A PARTIR DE CONTRIBUIÇÕES DISCENTES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Estudos da Linguagem do Centro de

Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, como

requisito parcial para obtenção do título de mestre

em Linguística Aplicada.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Graça Canan

UFRN - Natal/RN

2012

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Catalogação da Publicação na Fonte.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Silva Paiva, Vitória Maria Avelino da.

Avaliando a aprendizagem de língua inglesa em uma escola de ensino

médio a partir de contribuições discentes / Vitória Maria Avelino da Silva

Paiva. – 2012.

119 f. : il. -

Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e

Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Natal, 2012.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Graça Canan.

1. Língua inglesa – Dissertação. 2. Língua inglesa - Avaliação. 3.

Língua inglesa - Aprendizagem. 4. Estudantes. 5. Participação. I. Canan,

Ana Graça. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BSE-CCHLA CDU 811.111

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VITÓRIA MARIA AVELINO DA SILVA PAIVA

AVALIANDO A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM UMA ESCOLA DE

ENSINO MÉDIO A PARTIR DE CONTRIBUIÇÕES DISCENTES

Esta dissertação de Mestrado foi julgada e aprovada para a obtenção do título de

mestre em Linguística Aplicada no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem.

Natal, 31 de Julho de 2012.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Presidente e Orientadora: Profa. Dra. Ana Graça Canan (UFRN)

_________________________________________________________

1º Examinador: Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto (UFRN)

_________________________________________________________

2º Examinador: Prof. Dr. Silvano Pereira de Araújo (UERN)

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DEDICATÓRIA

________________________________________________________________

Dedico este trabalho aos meus pais, Geraldo da Silva e Francisca Avelino da Silva,

que, a despeito de tantas dificuldades, souberam educar seus filhos e ensiná-los a

trocar a enxada pela caneta.

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AGRADECIMENTOS

________________________________________________________________

Muitas foram as pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho,

ainda que sem consciência desse suporte. A elas, agora dirijo meus agradecimentos.

Agradeço primeiramente a Deus, pois acredito que a todo momento Ele estava

comigo nas fases de elaboração deste trabalho, dando-me inspiração e condições para

desenvolvê-lo.

À Profa. Dra. Ana Graça Canan pela orientação, compreensão e confiança

tantas vezes a mim dispensada.

À srta. Maria Veridiana da Silva e suas colegas, à sra. Leni de Melo, à sra.

Luciana Pessoa e ao professor Marcos Antônio Nunes, que fizeram uma leitura crítica

deste trabalho e ao sr. Jorge Lélio da Silva, pela vasta bibliografia que deixou à minha

disposição.

Aos professores Dr. João Gomes da Silva Neto e Dr. Silvano Pereira de

Araújo, por participarem da defesa pública desta dissertação. A Dra. Selma Alas

Martins Cestaro e ao Dr. João Gomes da Silva Neto, pela valiosa contribuição prestada

na etapa de qualificação deste trabalho. Aos estudantes da Escola Estadual Pedro II,

colaboradores maiores para a realização desta pesquisa.

Aos meus professores do mestrado em Linguística Aplicada, pelas inigualáveis

contribuições à minha formação e ao meu pensamento crítico: Dra. Ana Graça Canan

e Dr. João Gomes da Silva Neto, meus primeiros professores do mestrado, quando eu

ainda estava com o vínculo de “aluna especial”. Ainda, aos professores Dra. Ana Paz,

Dra. Maria do Socorro Oliveira, Dr. Orlando Vian Júnior, Dra. Glícia Tinoco, Dra.

Penha Alves, Dra. Cleide Pedrosa, Dra. Cellina Muniz, Dr. Marília Faria, Dra.

Bernadete Oliveira e Dra. Sandra Gomes.

Aos secretários do PPgEL Elizabete Dantas e João Gabriel Moreira e aos

estagiários da biblioteca setorial do CCHLA, pelo valioso apoio e excelente

atendimento, sempre.

À equipe de revisão de textos: Júlia Ribeiro, Gilceane Soares e Glessa Santana.

pela revisão final do trabalho.

Agradeço, por fim, aos meus colegas de mestrado e às pessoas que

contribuíram por meio de uma palavra de incentivo, de um encorajamento, de um

momento de atenção dedicado às descobertas desta pesquisadora.

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“Se tudo o que percebo tem por base o que já conheço, como poderei perceber

alguma coisa nova? Se eu nunca perceber algo novo, como poderei mudar? Como

crescerei?”

(Arntz, Chasse e Vicente)

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RESUMO

O presente estudo discorre sobre a avaliação da aprendizagem de língua inglesa desenvolvida

em uma escola pública de ensino médio do município de Lajes-RN, em 2011, a partir de uma

proposta qualitativa de avaliação (SAUL, 1988; CANAN, 1996; DEMO, 2008), objetivando a

produção de conhecimento acerca do processo de avaliação desenvolvido nas aulas de língua

inglesa, envolvendo as contribuições dos estudantes. Ao se diagnosticar e caracterizar o

processo avaliativo de língua inglesa da escola pesquisada, identificando as representações

que os estudantes atribuíam à avaliação, implementaram-se os instrumentos avaliativos por

eles sugeridos para a realização da avaliação da aprendizagem dessa disciplina. Esse fato

possibilitou uma reflexão sobre a participação discente na construção do processo avaliativo

de língua inglesa, assunto discutido por Sant‟anna (2002) e outros teóricos como Canan

(1996), Brasil (2002) e Pereira (2009). Para a condução do trabalho investigativo, fez-se uso

da abordagem qualitativa de base etnográfica, fundamentando-se em autores como Bogdan e

Biklen (1994), Mazzotti e Gewandsznajder (1998), Strauss e Corbin (2008), entre outros. A

metodologia adotada foi a pesquisa ação (ANDRÉ, 1995; NUNAN, 2007; LANKSHEAR;

KNOBEL, 2008), descrita como uma pesquisa de base empírica que associa uma ação a uma

resolução de um problema coletivo, porque nela seus pesquisadores e colaboradores se

envolvem de modo cooperativo (THIOLLENT, 1985). Ao tratar da avaliação da

aprendizagem de língua inglesa (ALMEIDA FILHO, 1993; SCARAMUCCI, 2009) praticada

antes e depois das contribuições feitas pelos estudantes da segunda série do ensino médio da

referida escola, este estudo considera que os estudantes do ensino médio têm uma consciência

mais crítica e reflexiva no que se refere a suas avaliações, opinando não apenas sobre a

avaliação da aprendizagem de língua inglesa, mas também de outras disciplinas do seu

currículo escolar. Assim, esta investigação apresenta possibilidades para a realização do ato

avaliativo que considere a participação dos estudantes nas decisões que concernem a esse

processo, ao se cogitar que, quando compartilham decisões com seus aprendizes, os docentes

podem agregar qualidade ao processo de avaliação.

Palavras-chave: Avaliação. Aprendizagem. Estudantes. Participação.

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ABSTRACT

This study discusses the evaluation of the English language‟s learning developed in a public

high school from Lajes-RN in 2011 starting from a qualitative evaluation proposal (SAUL

1988; CANAN, 1996; DEMO, 2008) aiming the production of knowledge about the

evaluation process developed in the classes of English language involving the contributions

from students. To diagnose and characterize the evaluation process of English language of the

researched school, identifying the representations that students attributed to the evaluation, we

have implemented the evaluation instruments suggested by students to perform the evaluation

of language learning and allowed a reflection about the student‟s participation in the

construction of the evaluation process of the English language, subject discussed by

Sant‟anna (2002) and other theorists (CANAN, 1996; BRAZIL, 2002; PEREIRA, 2009). To

conduct the research work, we use the qualitative approach with ethnographic basis,

substantiate in authors like Bogdan, Biklen (1994), Mazzotti; Gewandsznajder (1998),

Strauss, Corbin (2008) among others. The methodology was the action research (ANDRÉ,

1995; NUNAN, 2007; LANKSHEAR; KNOBEL, 2008) described as research of empirical

basis which associates an action with a resolution of a collective problem, because in it, its

researchers and employees are engaged in a cooperatively way (THIOLLENT, 1985). When

we treat about the evaluation of English language‟s learning (ALMEIDA FILHO, 1993;

SCARAMUCCI, 2009) practiced before and after the contributions made by the students of

the second year of the refereed school, the study considers that high school students have a

more critical and reflective conscience with regard to their evaluations, not just opining on the

assessment of learning English but also about the assessment of other subjects from their

scholar curriculum and so this research presents possibilities for performing the act of

evaluation which consider the participation of students in decisions regarding this process,

because we cogitate that when the teachers share the decisions with their students, teachers

can add quality to the evaluation process.

Key-Words: Evaluation. Learning. Students. Participation.

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LISTA DE FIGURAS E DESENHOS

FIGURA 1: Representação das funções da avaliação.................................................... 34

FIGURA 2: Capa da revista pedagógica Pátio..................................................................41

FIGURA 3: Imagem desenhada por um estudante em uma semana de provas, na escola

pesquisada, no ano de 2007 ............................................................................................. 42

DESENHO 1: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 76

DESENHO 2: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 76

DESENHO 3: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 77

DESENHO 4: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 77

DESENHO 5: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 77

DESENHO 6: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 78

DESENHO 7: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 78

DESENHO 8: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 79

DESENHO 9: Representações sobre instrumentos avaliativos ....................................... 79

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Passos de uma pesquisa ação .................................................................... 56

QUADRO 2: Opiniões sobre as avaliações da escola ..................................................... 63

QUADRO 3: Instrumentos avaliativos empregados na avaliação de língua inglesa ...... 66

QUADRO 4: Maneira de avaliar preferida pelos estudantes .......................................... 67

QUADRO 5: Dificuldades durante as avaliações............................................................ 69

QUADRO 6: Instrumentos avaliativos apreciados .......................................................... 80

QUADRO 7: Instrumentos avaliativos não apreciados ................................................... 80

QUADRO 8: Instrumentos de avaliação que contemplem as habilidades linguísticas sugeridas

pelos PCNEM .................................................................................................................. 84

QUADRO 9: Posicionamento ante os instrumentos avaliativos tradicionais.................. 85

QUADRO 10: Sugestões para modificação das avaliações escolares ............................. 88

QUADRO 11: Sugestões dos estudantes para modificação das avaliações nacionais cuja

finalidade seja o ingresso nas instituições de ensino superior ......................................... 90

QUADRO 12: Opiniões dos estudantes sobre as disciplinas separadas por blocos ........ 94

QUADRO 13: Realização, participação e frequência dos estudantes nas atividades avaliativas

......................................................................................................................................... 95

QUADRO 14: Desempenho estudantil e análise crítica sobre os resultados expressos em notas

......................................................................................................................................... 96

QUADRO 15: Justificativas dos estudantes para as notas pretendidas..........................96

QUADRO 16 – Opinião dos estudantes sobre a avaliação de língua inglesa desenvolvida a

partir das sugestões deles................................................................................................98

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Formulário de consentimento do estudante ....................................... 115

APÊNDICE 2 – Questionário dos professores ............................................................. 116

APÊNDICE 3 – Questionário dos estudantes .............................................................. 117

APÊNDICE 4 – Folder do Seminário .......................................................................... 118

APÊNDICE 5 – Autoavaliação .................................................................................... 119

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EM (ensino médio) .......................................................................................................... 13

IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ............................................... 13

ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) ................................................................... 13

LE (língua estrangeira) .................................................................................................... 15

EMI (Ensino Médio Inovador) ........................................................................................ 15

LA (Linguística Aplicada) ............................................................................................... 18

MEC (Ministério da Educação e Cultura) ....................................................................... 19

PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio).............................. 22

LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) ................................................. 36

EC (estudante colaborador) ............................................................................................. 52

PC (professora colaboradora) .......................................................................................... 52

LI (língua inglesa) ........................................................................................................... 65

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1.1 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ........................................................................ 14

1.2 QUESTÕES E OBJETIVOS DA PESQUISA ......................................................... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 18

2.1 AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO

MÉDIO ........................................................................................................................... 20

2.2 AVALIAÇÃO QUALITATIVA COMO UMA PROPOSTA PARA SE AVALIAR A

LÍNGUA INGLESA NO ENSINO MÉDIO INOVADOR ............................................ 24

2.3 A AVALIAÇÃO E OS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS ................................. 31

2.4 O ESTUDANTE ENQUANTO COCONSTRUTOR DO PROCESSO AVALIATIVO

........................................................................................................................................ 36

2.5 OS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS REPRESENTADOS POR IMAGENS ... 40

3 METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................... 47

3.1 ESCOLHA METODOLÓGICA DA PESQUISA .................................................... 47

3.2 DESCRIÇÃO DO CAMPO E DOS PARTICIPANTES DE PESQUISA ............... 52

3.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ...................................................................... 54

3.3.1 Geração de dados ................................................................................................. 57

3.3.1.1 Instrumentos e procedimentos para a geração de dados......................................57

3.3.1.2 Tratamento dos dados..........................................................................................60

4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 62

4.1 A CARACTERIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE LÍNGUA INGLESA.................. 62

4.2 IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS SUGERIDOS PELOS

ESTUDANTES .............................................................................................................. 73

4.3 REFLEXÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL NA CONSTRUÇÃO DO

PROCESSO AVALIATIVO .......................................................................................... 93

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 100

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 105

APÊNDICES ............................................................................................................... 114

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1 INTRODUÇÃO

Procurou-se, com a avaliação qualitativa,

desviar a atenção dos alunos,

geralmente voltada para as notas,

para aspectos, como por exemplo

motivação, participação, pontualidade,

assiduidade e empenho com os estudos.

(Ana G. Canan)

O ato de avaliar está em evidência em nosso país. Em busca da excelência dos

resultados a serem apresentados nacional e internacionalmente, instituições escolares de todo

o Brasil estão sendo submetidas à análise dos conhecimentos de seus educandos, mensurados

por meio do instrumento avaliativo prova escrita, apresentado por nomes sugestivos, como,

por exemplo: “Olimpíada”, “Viagem”, “Provinha”, entre outros, no intuito de se tornar

atraente ao público para o qual se destina, a fim de que o estudante se sinta estimulado a

participar dessa avaliação. Os exames nacionais se propõem a acompanhar a trajetória

estudantil desde a educação básica até a universidade, objetivando construir um diagnóstico

mais verossímil da educação oferecida no país, para, a partir deste, estipularem-se

procedimentos cabíveis à melhoria do ensino brasileiro.

A prática desse tipo de avaliação vem resultando em uma busca por posição de

destaque entre as escolas que preparam os estudantes para a realização dos exames, já que o

seu desempenho passará a ser conhecido pela posição que ocupa no ranking produzido

imediatamente depois dos resultados preconizados pela avaliação realizada. Atualmente, o

sucesso ou insucesso das ações didático-pedagógicas que se desenvolvem nas escolas

brasileiras está diretamente relacionado aos números que aparecem em seu Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Na etapa final da educação básica, o ensino médio (EM), percebemos uma crescente

preocupação com a quantidade de aprovados entre aqueles estudantes que se submetem aos

exames de alta relevância, denominados de high-stakes tests (SILVA, R., 2010), como o

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o vestibular, por estes terem uma influência

decisiva no futuro dos estudantes que almejam cursar uma faculdade. Se atentarmos para as

propagandas divulgadas pelas escolas privadas, constataremos a valorização que se está

atribuindo às escolas que aprovam mais. Com essa evidente procura por quantidade de

aprovados em exames nacionais, cabe a nós, pesquisadores, elucidarmos a dúvida a respeito

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da função da avaliação da aprendizagem na escola: quantificar ou qualificar? Serão os exames

os melhores diagnosticadores e quiçá preparadores de um estudante para a vida acadêmica e

profissional?

Nesse contexto, o presente trabalho se propõe a investigar a avaliação da

aprendizagem de língua inglesa no âmbito do ensino médio, a qual, a despeito do apelo

quantitativo, no estado do Rio Grande do Norte, está revendo suas prioridades. O terceiro

artigo da nova portaria1 de avaliação estadual, in verbis, dispõe:

Art.3. A avaliação da aprendizagem escolar orientar-se-á por processo

diagnosticador, mediador e emancipador, devendo ser realizada de forma

contínua e cumulativa, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os

quantitativos e dos resultados ao longo do período letivo sobre o exame

final.

A orientação do documento objetiva que os professores utilizem a avaliação de modo a

promover os aspectos qualitativos sobre os quantitativos, gerando a emancipação dos

aprendizes.

A avaliação é um dos aspectos fundamentais do processo de ensino- aprendizagem,

visto que por meio dela se obtêm, entre outras informações importantes, o retorno e a reflexão

a respeito do investimento teórico e metodológico que se emprega em sala de aula. Na aula de

língua estrangeira, entre diferentes métodos, técnicas e abordagens de ensino, faz-se

necessário rever os critérios avaliativos, que devem estar coerentes com os objetivos

propostos, agregando qualidade ao ensino da língua ensinada.

1.1 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

A avaliação de línguas estrangeiras constitui uma subárea em proeminente

desenvolvimento para a Linguística Aplicada (SCARAMUCCI, 2009). Alguns linguistas

aplicados já nos precederam na tentativa de entender e contribuir com o processo avaliativo

de língua estrangeira, desvelando-nos desde seus aspectos de ordem psicológica, como as

crenças comuns a professores de língua inglesa a respeito da avaliação (FLAIN-FERREIRA,

2005; MAGALHÃES, 2006; SOUZA, 2007), aos de ordem prática, buscando entendimento

sobre a avaliação das habilidades pretendidas para a aprendizagem de idiomas, como a

1 Portaria n. 1033/2008/SEEC/RN.

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avaliação de leitura em língua estrangeira (LE), enfocando os instrumentos avaliativos

empregados (ARAÚJO, 2006; SCARAMUCCI, 2009) e os testes, em especial os testes de

vestibular, considerados exames de alta relevância, bem como analisando a função da

avaliação enquanto instrumento de política social (SILVA, R., 2010).

Outros momentos do ato de avaliar também são pesquisados, como o feedback

avaliativo (OLIVEIRA, 2008) e a avaliação de materiais de ensino (RIBEIRO, 2008). Além

disso, existe um interesse científico em se aprofundar sobre as novas modalidades de

avaliação, como, por exemplo, a pesquisa sobre autoavaliação da aprendizagem de línguas a

distância, mediada pelo computador em um ambiente virtual de ensino (CAVALARI, 2009), a

autoavaliação presente nos livros didáticos de língua inglesa (LIMA, 2010; SILVA PAIVA,

2011) e a avaliação de LE segundo as teorias de letramento predominantes nas últimas

décadas (DUBOC, 2007). Essas pesquisas realizadas têm adicionado conhecimento a essa

subárea de pesquisa da Linguística Aplicada e suscitado novas perspectivas para a

investigação dessa temática.

A investigação que o presente trabalho de pesquisa considera pertinente a respeito da

avaliação da aprendizagem de língua inglesa se origina de um problema recorrente na sala de

aula: o discurso construído pelos estudantes a partir do resultado de suas avaliações finais, nas

quais, se eles são aprovados, atribuem a si mesmos a aprovação obtida, porém, quando são

reprovados, eximem-se da responsabilidade, atribuindo-a ao professor. Esse problema

observado nos faz querer saber como o estudante de EM se constrói ou se define enquanto

agente de seu processo avaliativo e que razões ou sugestões ele apresentaria para

corresponsabilizar-se pelos resultados de seu desempenho escolar. Outro interesse desta

pesquisa é o estudo das representações que os discentes atribuem aos instrumentos avaliativos

com os quais convivem, por entendermos que esse conhecimento nos fará compreender como

o uso de determinados instrumentos avaliativos podem contribuir ou não com o processo de

ensino-aprendizagem de língua inglesa. As representações passam a ser do interesse da

pesquisa por termos presenciado em sala de aula, durante uma semana de avaliação da escola

em que trabalhamos, um desenho produzido por um estudante no birô: a figura de uma bruxa

mexendo um caldeirão com uma seta apontada para o nome “prova”. Entendemos ser esse

desenho a representação do que para o estudante seria o instrumento avaliativo prova.

A investigação se passa na Escola Estadual Pedro II, uma instituição pública de ensino

médio que desenvolve em suas dependências a metodologia do programa Ensino Médio

Inovador (EMI), uma nova modalidade para a educação básica, proposta pelo Ministério da

Educação, a qual se encontra ainda em fase de experimentação em algumas escolas do país.

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Na proposta desenvolvida para o EMI, os estudantes têm espaço opinativo e contributivo

durante as reuniões e atividades escolares, como os planejamentos pedagógicos e as reuniões

de pais e mestres, além de terem sua participação assegurada em seminários e eventos

voltados ao público do EMI.

A metodologia do EMI defende que o estudante seja um sujeito autônomo em sua

aprendizagem e que na escola desenvolva o seu papel de agente de transformação (BRASIL,

2009). Assim sendo, para elucidarmos o problema observado na escola, buscamos consultar

os estudantes para compreendermos a postura adotada por eles em face de seus resultados e

suas representações, apontando suas predileções e apreensões quanto a determinados

instrumentos avaliativos.

1.2 QUESTÕES E OBJETIVOS DA PESQUISA

Para se chegar ao entendimento pretendido, algumas indagações puderam ser arguidas

e respondidas pela investigação desta pesquisa:

1. Como se caracteriza a avaliação de língua estrangeira em uma escola pública do

ensino médio, considerando os instrumentos avaliativos utilizados pelos

professores, a participação e a reação dos estudantes a esses instrumentos?

2. Que contribuições o estudante do EM pode agregar ao seu processo avaliativo de

língua inglesa?

3. Que procedimentos didáticos poderemos desenvolver para que o estudante do EM

sinta-se participante na construção de seu processo avaliativo e corresponsável

pelos seus resultados?

Em busca de respostas que contemplem essas perguntas, procuramos, por meio de uma

pesquisa ação de abordagem qualitativa, desenvolver os objetivos propostos à realização deste

estudo, os quais se seguem:

OBJETIVO GERAL

Produzir conhecimento sobre o processo de avaliação desenvolvido nas aulas

de língua inglesa a partir das contribuições dos estudantes da segunda série de uma

escola pública de ensino médio de Lajes-RN.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Diagnosticar e caracterizar o processo avaliativo de língua inglesa da

escola pesquisada, identificando as representações que os discentes

atribuem à avaliação;

2. Implementar os instrumentos avaliativos sugeridos pelos estudantes para a

realização da avaliação da aprendizagem de língua inglesa;

3. Refletir sobre a participação discente na construção do processo avaliativo

de língua inglesa.

A pesquisa foi conduzida inicialmente com as fundamentações teóricas que dialogam

com os subtemas que compõem este trabalho, discutindo, entre outros, a avaliação do ensino-

aprendizagem de língua inglesa no ensino médio e a avaliação qualitativa como uma proposta

para se avaliar a língua inglesa, passando por um estudo dos instrumentos avaliativos e da

participação do estudante enquanto coconstrutor de seu processo avaliativo e ainda analisando

as representações dos estudantes pesquisados sobre os instrumentos avaliativos.

Apresentamos os resultados obtidos pela pesquisa detendo-nos no processo avaliativo

construído a partir das contribuições propostas pelos estudantes do EMI, ao se aplicar em sala

de aula as sugestões feitas pelos discentes, bem como analisando os efeitos destas no processo

de ensino-aprendizagem de língua inglesa.

Finalmente, tecemos nossas considerações finais refletindo sobre as mudanças

ocasionadas pela pesquisa e a compreensão obtida acerca do que nos propomos a investigar,

apontando perspectivas de aplicação dos conhecimentos construídos e apresentando sugestões

para futuros trabalhos de pesquisa na temática de avaliação em língua estrangeira.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

______________________________________________________________________

A Linguística Aplicada (LA) desde seus primórdios focaliza o fenômeno da linguagem

(SIGNORINI; CAVALCANTI, 1998; ALMEIDA FILHO, 2008; MOTTA ROTH;

MARCUZZO, 2008; MOITA LOPES, 2009).

Os interesses da atual agenda de pesquisa da LA se ampliaram, em resposta às

exigências e aos anseios da contemporaneidade, mas seu foco permanece, sendo a linguagem

manifestada nas diversas práticas sociais inerentes ao ser humano, nas quais a linguagem tem

papel central e externo, ou seja, está em uso e depende de contextos para acontecer. A LA

procura contribuir com essas práticas ao imprimir-lhes legitimidade, através da criação da

inteligibilidade sobre elas (MOITA LOPES, 2009).

A Linguística Aplicada é uma área que “se ocupa da pesquisa sobre questões de

linguagem situadas na prática social” (ALMEIDA FILHO, 2008, p. 26). Devido à sua

natureza interdisciplinar, tem manifestado interesse, através dos seus pesquisadores, por temas

sociais que tratam ou fazem uso da linguagem, ainda que estes sejam discutidos em outras

áreas científicas do conhecimento, por isso é caracterizada como

Uma espécie de interface que avança por zonas fronteiriças de diferentes

disciplinas, não somente na área dos estudos da linguagem, como também na

da Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da Pedagogia, da Psicanálise,

entre outras (SIGNORINI, 1998, p. 89).

Essa caracterização que tem identificado as pesquisas desenvolvidas em LA é propícia

para justificarmos o nosso tema de pesquisa, que trata primordialmente da avaliação, assunto

por muito tempo vinculado aos estudos de outras ciências. Serão a esses estudos, portanto,

que nos remeteremos, quando se fizer necessário, porque concordamos com Moita Lopes

(2009, p. 19) que “Muitas das compreensões mais relevantes sobre a linguagem no mundo

atual, devido à chamada „virada linguística‟, podem vir de outros campos do conhecimento”.

A Linguística Aplicada é uma ciência aberta, articulada e articuladora. Ela busca as

respostas para suas indagações não apenas no aparato teórico da Linguística, mas também em

quaisquer outras áreas do conhecimento que tratem de assuntos do interesse da LA. Uma vez

que nossa pesquisa se insere em uma área que interessa a LA, que é o ensino e a

aprendizagem de língua inglesa, ao tratarmos do assunto avaliação, parte fundamental e

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indissociável do processo de ensino-aprendizagem de qualquer componente curricular, ainda

necessitamos de contribuições que são peculiares a outras ciências.

De acordo com Cook (2003 apud MENEZES; SILVA; GOMES, 2009), o tema

avaliação é um assunto com que a LA se importa, pois o autor classifica-o na primeira área

geral do escopo da Linguística Aplicada sugerido por ele, que é Linguagem e Educação. A

esse respeito, também se posiciona Scaramucci (2009, p. 30):

Apesar de a avaliação em contextos de ensino-aprendizagem de línguas vir

merecendo uma atenção bastante grande nos últimos anos no cenário

internacional, constituindo-se uma subárea com desenvolvimentos

importantes para a área de Linguística Aplicada, podemos dizer que ainda

são escassos os estudos sobre avaliação em contextos de línguas no Brasil

quando comparados com outras temáticas. Quando se trata da avaliação da

leitura em inglês como língua estrangeira, as contribuições brasileiras são

ainda mais escassas, apesar do interesse pelo ensino dessa habilidade ter-se

renovado com a publicação dos PCN nos anos 1990.

Outros estudiosos da LA passaram a usar o termo educação linguística de forma a

abranger temáticas de pesquisa que sejam convenientes às duas áreas: Linguística e Educação.

Esse termo foi definido por Motta Roth e Marcuzzo (2008) como uma educação que acontece

de duas formas: sistemática e assistemática, para a qual tanto o professor quanto o estudante

precisam estar preparados, uma vez que a educação sistemática é aquela tida por formal, que

se dá no ambiente escolar, e a assistemática é a informal, que ocorre de maneira indireta,

sendo que ambas fazem uso das diferentes faces da linguagem em seus múltiplos contextos.

Ainda a respeito da educação linguística, temos nas palavras de Garcez (informação

verbal)2 uma preocupação com a avaliação analisada a partir dessa perspectiva, ao

argumentar: “que se enfatize a reflexão acerca de procedimentos de avaliação, coerentes com

os propósitos da educação linguística”.

Ao refletirmos sobre as atuais práticas avaliativas desenvolvidas pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC), perceberemos que da educação básica ao ensino superior são

aplicadas avaliações, cujo instrumento principal refere-se a provas escritas, desenvolvidas

para diagnosticar, caracterizar, classificar e rotular a educação no Brasil. Em 2010, o destaque

avaliativo foi dado para as línguas estrangeiras, pela primeira vez incluídas nas provas do

ENEM, que a cada dia desponta como exame tão importante quanto o vestibular. Essas

constatações nos fazem considerar que as avaliações se constituem como uma atividade social

2 Parecer do professor doutor Pedro de Moraes Garcez em uma mesa redonda do I Simpósio Internacional de

Letras e Linguística, na Universidade Federal de Uberlândia, em novembro de 2006.

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centralizada na linguagem, pois por meio delas serão definidas as novas posições sociais que

os educandos que a elas se submetem deverão ocupar, se nelas obtiverem êxito ou não.

Portanto, estando esta pesquisa justificadamente inserida na área da Linguística

Aplicada, nesta seção, apresentaremos os seus postulados teóricos, por meio da discussão dos

seguintes itens: 2.1 Avaliação do ensino-aprendizagem de língua inglesa no ensino médio; 2.2

Avaliação qualitativa como uma proposta para se avaliar a língua inglesa no Ensino Médio

Inovador; 2.3 Os instrumentos avaliativos e a avaliação; 2.4 O estudante enquanto

coconstrutor do processo avaliativo; e 2.5 Os instrumentos avaliativos representados por

imagens.

2.1 AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO

MÉDIO

No ensino médio brasileiro, etapa final da educação básica, os conhecimentos dos

educandos são constantemente avaliados. Além das avaliações promovidas pelas instituições

de ensino das quais fazem parte, ainda tomam parte em avaliações nacionais, federais,

estaduais e municipais, dependendo da sua finalidade, haja vista que nessa etapa da educação,

de acordo com os documentos oficiais, o estudante deverá estar sendo preparado para a

cidadania, para a continuação dos seus estudos científicos e para o mercado de trabalho

(BRASIL, 2002).

Citamos como exemplo das diversas avaliações a que é submetido o estudante do

ensino médio uma avaliação realizada anualmente na escola pesquisada, entre os estudantes

que desejam ser selecionados para trabalharem como estagiários na agência local de um

estabelecimento comercial de crédito ou no cartório municipal. Nessa avaliação, geralmente,

além de terem seu histórico escolar examinado, os estudantes ainda se submetem a uma prova

escrita de produção argumentativa e a uma entrevista. Quanto menor o número de vagas

oferecido, mais rigorosos e numerosos são os critérios avaliativos, a fim de reduzir os

participantes da seleção proposta ao número ideal.

O interesse governamental em promover uma avaliação que melhor expresse os

conhecimentos e as aptidões dos estudantes secundaristas se faz notar pelo constante

investimento e incentivo nessa área. Em setembro de 2010, ano em que a avaliação da

aprendizagem foi tema recorrente e muito discutido em seminários e encontros pedagógicos

de professores, na esfera estadual, foram doados computadores portáteis (notebooks) aos

professores da rede pública estadual de ensino que se encontravam atuando em sala de aula,

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pela Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Norte, por intermédio do projeto

denominado “Professor Conectado”. Acompanhando cada computador portátil, veio um termo

de compromisso orientando o educador a utilizar o equipamento recebido como ferramenta

avaliativa, em uma tentativa de promover mais agilidade aos registros diários feitos pelos

docentes.

Ponderamos que a razão pela qual se desencadeia um notável interesse, por parte das

esferas governamentais, pela melhoria do processo avaliativo de suas escolas pode estar

relacionada a uma autoavaliação governamental, já que pressupomos que o governo também

se sente avaliado mediante os resultados obtidos nas avaliações em que as escolas que se

encontram sob sua responsabilidade são submetidas. É sabido que os exames nacionais

realizados apresentam o perfil da educação de cada estado, fornecendo-lhes indicadores

(ainda que numéricos) para que possam se aprimorar cada vez mais.

Destacamos também que, sem uma avaliação qualitativa (e, ao usarmos esse termo,

pretendemos ressignificar o termo qualitativo para designar as formas de avaliar que não

tenham como finalidade somente a apresentação do grau de aferimento dos conhecimentos

estudantis de forma numérica e descontextualizada das situações de aprendizagem)

acontecendo no cotidiano das nossas salas de aulas, os resultados apresentados pelos exames

nacionais não trarão informações fidedignas da real situação em que se encontra a educação

pública.

O ensino médio de algumas cidades brasileiras está passando por um período de

mudanças, sendo desenvolvida em algumas escolas a modalidade Ensino Médio Inovador, a

qual está presente na escola em que desenvolvemos a pesquisa. Nessa nova modalidade, as

aulas acontecem em períodos semestrais, dividindo-se as disciplinas curriculares por blocos,

nos quais a carga horária de cada uma delas é duplicada. As aulas de inglês, por exemplo,

antes do EMI, eram duas por semana em cada classe da escola pesquisada, com a

implementação do EMI passaram a ser quatro aulas semanais. Algumas disciplinas são

concluídas ainda no primeiro semestre, enquanto outras são deixadas para o semestre

seguinte.

O EMI apresenta-se como um modelo adequado à educação básica em sua etapa final.

Em fase de adaptação e experimentação, visa o desenvolvimento de ações que provoquem

melhorias em todo o ensino médio não profissionalizante brasileiro, sendo suas

transformações desejáveis:

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1. Superação das desigualdades de oportunidades educacionais; 2.

Universalização do acesso e permanência dos adolescentes de 15 a 17 anos

no ensino médio; 3. Consolidação da identidade desta etapa educacional,

considerando as especificidades desta etapa da educação e a diversidade de

interesses dos sujeitos; 4. Oferta de aprendizagem significativa para

adolescentes e jovens, priorizando a interlocução com as culturas juvenis

(BRASIL, 2009, p. 5)3.

Nessas perspectivas de transformação, o EMI demonstra a preocupação com os

interesses dos educandos e com a aprendizagem significativa deles, retomando de modo mais

claro esse posicionamento quando expressa que devemos “estimular a capacidade de aprender

do aluno, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos estudantes” (BRASIL, 2009, p. 9).

A autonomia estudantil se reflete no momento em que os estudantes opinam nas

decisões a serem tomadas pela equipe escolar, uma característica presente no EMI, em que os

educandos se veem representados nas reuniões ordinárias da escola por lideranças escolhidas

democraticamente por eles, as quais têm presença assegurada em seminários e eventos

estaduais ou nacionais promovidos em prol do EMI.

O EMI permanece de acordo com os parâmetros e diretrizes nacionais para o ensino

médio, mesmo em fase de experimentação e construção. Observando esses documentos, no

que se refere ao ensino de idiomas, percebemos que o ensino médio reivindica o seu papel de

formador e se propõe a organizar seus cursos de línguas de forma útil e significativa, fazendo

com que os estudantes possam adquirir competências e habilidades na língua alvo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) é um

documento elaborado pelo MEC que propõe uma reorganização curricular para as diversas

áreas do conhecimento. No tocante à área de linguagens, os PCNEM apresentam

competências e habilidades linguísticas a serem desenvolvidas durante o ensino e a

aprendizagem das línguas estrangeiras. Essas competências e habilidades, por sua vez,

sugerem múltiplas formas de se avaliar a LE estudada, porque partem da representação e

comunicação, que envolvem: a) escolher o registro adequado à situação comunicativa

pretendida; b) fazer uso da coesão e da coerência nas produções orais e escritas; c) fazer uso

das estratégias verbais e não verbais durante a comunicação; d) ter acesso a informações e

outras culturas e grupos sociais; passam pela investigação e compreensão, que abrangem: a)

interpretação de expressões em razão de aspectos sociais e culturais; b) análise dos recursos

expressivos da linguagem verbal; e ainda se apoiam na contextualização sociocultural da

3 Documento criado conforme o Parecer CNE/CP n. 11/2009, que trata da proposta da experiência curricular

inovadora do ensino médio.

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linguagem, que inclui: a) distinção das variáveis linguísticas e b) compreensão enunciativa

dos sujeitos (BRASIL, 2002, p. 153).

A despeito das competências e habilidades acima descritas, pressupomos que a

avaliação do ensino de LE no ensino médio ainda é realizada por meio de instrumentos

avaliativos que de certa maneira privilegiam algumas habilidades em detrimento de outras. De

acordo com Hadji (2009, p. 21), “Se uma „pedagogia da integração‟ dá ênfase às

competências que todo aluno deve dominar, a avaliação das aquisições deve ser focalizada

nas competências, que serão apreciadas em situações concretas e complexas”.

Entendemos que as competências e habilidades a serem desenvolvidas nas aulas de

língua estrangeira não podem contar com instrumentos avaliativos escolhidos e determinados

por apenas uma das partes do processo de ensino, para fornecer um retorno significativo aos

estudantes que precisam ser avaliados para progredirem em seu aprendizado, mas devem

estimular a autonomia estudantil, considerando ser o jovem educando o maior responsável

pelo desenvolvimento do seu saber:

Usar o envolvimento do aluno na avaliação como um espelho em que ele

veja seu crescimento [...] pode ser um poderoso meio de construir

autoconfiança. Alguns professores poderão indagar: “Essa não é tarefa do

professor? Isso não significa „facilitar‟ demais as coisas para o aluno?”

Segundo a concepção tradicional de avaliação, sim, porque ela tem como

objetivo dar nota e simplesmente aprovar ou reprovar o aluno (VILLAS

BOAS, 2008, p. 33).

Defendemos a ideia de que a avaliação está associada à aprendizagem. Assim sendo,

para que aconteça uma aprendizagem significativa, a avaliação dessa aprendizagem também

precisa oferecer significação ao processo. A avaliação adequada para o EMI pode ser aquela

que definimos como qualitativa, por ser construída em parceria entre educadores e educandos,

levando em consideração os seus interesses para que haja estímulos à sua aprendizagem, não

se limitando a aprovar e reprovar estudantes de forma mecânica, como pontuou Villas Boas

(2008).

O documento orientador para o EMI sinaliza como deve acontecer a avaliação da

aprendizagem, o que a nosso ver é uma das características da avaliação qualitativa:

“Avaliação da aprendizagem como processo formativo e permanente de reconhecimento de

saberes, competências, habilidades e atitudes” (BRASIL, 2009, p. 10). Na mesma página,

acrescenta que se deve “estimular a participação social dos jovens, como agentes de

transformação de suas escolas e de suas comunidades” (BRASIL, 2009, p. 10).

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Opinamos que transformação na escola pressupõe rompimento com tradições

obsoletas, como, por exemplo, os sistemas avaliativos classificatórios e não atrativos,

separados do ato de ensinar, construídos de forma unilateral e, portanto, deficientes. A nosso

ver, avaliação não deve ser jamais um meio de limitação ou impedimento dos conhecimentos

do estudante, mas um veículo que apresse sua chegada a tais conhecimentos.

Conforme Almeida Filho (1993), a avaliação é um dos componentes fundamentais da

operação global de ensino de línguas, uma vez que o docente precisa dispor de meios que o

permitam saber se seus objetivos estão sendo atingidos no que se refere aos conteúdos

ensinados. Assim sendo, este estudo busca um melhor entendimento desses meios, que

interpretamos serem os instrumentos avaliativos utilizados pelo professor de língua inglesa.

Entendemos que o ensino de línguas não se resume unicamente à tarefa de dar aulas e

que a avaliação deve ser parte do processo de ensino-aprendizagem, não devendo, portanto,

ser tratada como parte desassociada deste, como se lidássemos com dois processos distintos,

em especial nos dias atuais, já que nas salas de aula das escolas se tornou um comportamento

recorrente dos aprendizes fazer algumas atividades somente mediante a garantia de que irão

obter “pontos” para a sua média.

A recorrência comportamental dos estudantes aponta para a necessidade de que o

professor (que ainda não o faz) deve aliar o ensino com a avaliação, sob pena de comprometer

a sua prática pedagógica. Se consideramos a avaliação como uma maneira constante de

aprimorar o processo de ensino, os “pontos” que tanto atraem os estudantes não precisam

aparecer de forma aleatória, sem um significado que os justifique nas atividades propostas

durante o momento de aprendizagem.

2.2 AVALIAÇÃO QUALITATIVA COMO UMA PROPOSTA PARA SE AVALIAR A

LÍNGUA INGLESA NO ENSINO MÉDIO INOVADOR

Ao tratarmos da avaliação qualitativa como proposta para se avaliar o ensino de inglês

no Ensino Médio Inovador, procuramos expressar uma ressignificação do termo qualitativo

para indicar a avaliação que, ao ser empregada, não faz uso apenas de dados quantitativos e

metodologias somativas, cujo produto é o saturado sistema de notas como medida de

conhecimentos, ao término do período avaliativo, “já que na busca por uma exatidão

excessiva, esquecem-se de dar conta da subjetividade presente em qualquer atividade da área

de ciências humanas” (CANAN, 1996, p. 21), mas que a preocupação com o desenvolvimento

seja tão relevante quanto o resultado, priorize os envolvidos no processo e seja suscetível a

mudanças e novas ideias que venham a contribuir com a aprendizagem.

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Ao ressignificarmos a avaliação como qualitativa, baseamo-nos em definições como

as de Saul (1988 apud CANAN, 1996) e Demo (2008) e acrescentamos nosso próprio

entendimento do que seja essa avaliação, que prima pela qualidade da aprendizagem do

educando. Podemos dizer que ela contribui para a aprendizagem através do seu caráter

diagnóstico (LUCKESI, 2003), que identifica as carências e as potencialidades dos

estudantes, para que ambos, professor e aprendizes, dediquem-se a elas.

Por qualidade na avaliação, entendemos uma avaliação cíclica e contínua

(HOFFMAN, 2001) que vai servindo de reflexo às práticas de ensino, mostrando os avanços

da aprendizagem e contribuindo por meio de um retorno reflexivo que oportuniza ao

educando recuperar os seus conhecimentos a respeito de um conteúdo que não assimilou

completamente ou avançar para os conteúdos seguintes.

É uma avaliação que se preocupa igualmente com o processo e com o resultado do

ensino ministrado. Para o avaliador qualitativo, a importância que se dedica à quantidade de

estudantes que serão promovidos de uma série para outra é semelhante à importância devida

ao preparo, ou seja, os conhecimentos adquiridos que os estudantes estarão levando para a

série subsequente.

Podemos acrescentar que é uma avaliação que faz uso da combinação de diferentes

tipos de metodologias e instrumentos que podem ser escolhidos de acordo com o momento de

aprendizagem em que se encontra inserida, levando em consideração a opinião do discente a

esse respeito, por entender que não é um processo unilateral, cabível apenas ao professor.

A avaliação qualitativa acontece não para testar ou verificar se o estudante aprendeu,

mas para ajudá-lo a aprender. É uma etapa recorrente e não uma etapa conclusiva, durante o

ensino-aprendizagem. Seu resultado, mesmo que expresso em notas, norma padrão da maioria

das escolas públicas, ainda assim demonstra cuidado e interesse pelo desenvolvimento do

aprendiz.

Certamente, os dados quantitativos permanecerão ainda por muito tempo nas nossas

escolas, pois fazem parte da nossa cultura a testagem e a valoração. Demo (2008) observa que

não faz mal para a avaliação qualitativa a presença de dados quantitativos inevitáveis, como é

o caso das notas bimestrais. Porém, pelo fato de os dados quantitativos serem algumas vezes

inevitáveis, não quer dizer que eles sozinhos possam atestar todas as competências e

habilidades pretendidas para os estudantes.

Gostaríamos de exemplificar a posição assumida acima tomando como base a

pesquisa que desenvolvemos a respeito de avaliação de língua inglesa no ensino fundamental

(SILVA, 2007). Citamos como exemplo a situação de um estudante que, por não obter um

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resultado numérico satisfatório, ficou com a sua nota abaixo da média numérica pretendida

para a disciplina e não conseguiu ser aprovado. Esse estudante já repetia a série por mais de

três anos consecutivos, chegando a constranger os professores e a si mesmo por já conhecer,

dentre outros procedimentos e recursos didáticos, os conteúdos que para seus colegas ainda

eram inéditos. Questionamo-nos se esse estudante, ao ser avaliado de outra forma, não

poderia demonstrar a qualidade (expressa pelos seus conhecimentos e competências)

necessária para estar na turma subsequente. Ao ser constantemente retido com base apenas

nos números de sua média anual, esse estudante sempre aparecerá como reprovado (portanto,

desqualificado), o que é ruim tanto para ele quanto para a escola.

Resultados como reprovação e evasão, tidos como negativos, fazem-nos refletir se

algo está errado, não apenas com o estudante que os apresenta ou desenvolve, mas também

com o processo de ensino-aprendizagem-avaliação, que apresenta deficiências. Se durante três

anos o estudante está exposto aos mesmos procedimentos, às mesmas metodologias, talvez até

às mesmas atividades dos anos anteriores, o que o impede de avançar? O que o limita?

Entendemos que o processo de recuperação de uma proposta de avaliação qualitativa,

quando se faz necessário acontecer, é promovido paralelamente ao ensino e é contínuo, por

tratar-se de uma avaliação apreciativa (PRESKILL; CATSAMBAS, 2006). O avaliador

qualitativo não pode conceber que a recuperação aconteça de forma isolada, em períodos

finais do curso prestado, separando o estudante que dela precisa dos seus demais colegas, de

forma talvez até discriminatória.

A avaliação qualitativa prioriza nos estudantes aspectos como: assiduidade,

pontualidade, comprometimento com os estudos, participação e responsabilidade (CANAN,

1996). O avaliador qualitativo geralmente se interessa em acompanhar os registros feitos nos

cadernos de seus estudantes, atribui pontos pela frequência e avalia indiretamente,

considerando o impacto psicológico das avaliações formais (SILVA, 2007).

A maneira de “corrigir” de um avaliador qualitativo deve ser peculiar, ao promover os

acertos, sem, no entanto, ignorar os erros, que devem ser apontados de maneira casual e

tratados como algo que faz parte da aprendizagem e não como sinal de falta de inteligência. O

discente deve sentir-se alertado e instigado a aprender com seus erros e não corrigido,

envergonhado e reprimido. De acordo com Carvalho (1997, p. 20, grifo do autor), “apontar

um erro ou inadequação não significa „podar a criatividade‟, nem decretar o fracasso.

Significa instrumentalizar os alunos para que adquiram uma capacidade que não podemos

pressupor que tenham”.

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Um dos aspectos mais importantes dessa avaliação é o fato de ela não ser uma etapa

final, mas deve iniciar, acompanhar e concluir o trabalho do docente, sendo indispensável um

retorno ao estudante da avaliação feita por ele (correção), o qual não pode ser apenas

numérico (notas bimestrais), mas também reflexivo, revisando e ensinando ao discente a

melhor forma de corresponder ao que dele foi exigido nas atividades avaliativas empregadas,

de forma a habilitá-lo para o próximo conteúdo. Pellegrine (2003)4 observa:

Quem procura um médico está em busca de pelo menos duas coisas, um

diagnóstico e um remédio para seus males. Imagine sair do consultório

segurando nas mãos, em vez da receita, um boletim. Estado geral de saúde

nota 6, e ponto final. Doente nenhum se contentaria com isso. E os

estudantes que recebem apenas uma nota no final de um bimestre, será que

não se sentem igualmente insatisfeitos? Se a escola existe para ensinar, de

que vale uma avaliação que só confirma “a doença”, sem identificá-la ou

mostrar sua cura?

A partir dessa observação, deduzimos a atribuição que deve ter o retorno para os

estudantes, de forma a orientá-los na sua trajetória de aprendizes de uma língua estrangeira,

mostrando a “doença” do erro, mas também apontando a “cura” das possibilidades. Penna

Firme (2009, p. 46) nos alerta para termos o cuidado de não agredir a autoestima do estudante,

“confundindo seu desempenho com seu valor como pessoa”, ao justificar que o aprendiz pode

se sentir incapaz, improdutivo ou sem inteligência devido à expressão dos professores diante

de suas notas bimestrais. Para Carvalho (1997, p. 20, grifo do autor), os professores devem

estar cientes de que:

Não existimos para decretar fracassos, mas para promover aprendizagens. E

nesta tarefa, os erros, frutos das tentativas de operar com novos conceitos e

procedimentos, têm um papel fundamental, posto que a partir do seu exame

crítico desenvolve-se o discernimento.

O desempenho dos estudantes, o seu sucesso ou fracasso escolar, ainda tendo nas

notas bimestrais o seu principal indício, pode comprometer o desenvolvimento do

discernimento dos aprendizes sobre a função da avaliação. A demasiada preocupação com as

notas é um dos principais equívocos dos avaliadores, alimentado pela exigência dos pais dos

estudantes (quando estes são menores de idade) e pela competição em sala de aula entre os

próprios estudantes. A esse respeito, Hoffmann (2004, p. 45) afirma:

4 Revista Nova Escola, versão on-line (jan. 2003), sem indicação do número de página.

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Considero que o reducionismo da avaliação à concepção de medida denuncia

uma consciência ingênua do educador no tratamento desse fenômeno, pois

ele não se aprofunda nas causas e consequências de tais fatos, cometendo

equívocos de maneira simplista. Ou seja, os educadores aceitam e reforçam o

velho e abusivo uso das notas, sem percebê-lo como um mecanismo

privilegiado de competição e seleção nas escolas. Ingenuamente ou

arbitrariamente, obstaculizam o projeto de vida de crianças e adolescentes

com base em décimos e centésimos. Preocupam-se sobremaneira em atribuir

nota 7 ou 7,5, enquanto relegam a último plano os sérios problemas de

aprendizagem.

A maneira peculiar de cada professor corrigir e expor os resultados da avaliação da

aprendizagem em sua disciplina poderá desencadear o empenho de seus estudantes ou até

mesmo a ausência deste. Um professor que apresenta um retorno punitivo aos seus estudantes

pode estar contribuindo para a inibição destes em situações futuras. Kuenthe (1978) observa

que a punição pode reduzir a participação estudantil em situações semelhantes àquela em que

o educando foi repreendido, por receio de ser repreendido outra vez. Carvalho (1997, p. 20)

defende que as correções de erros “devem ser sinais regulamentadores que levam o aluno a

criar seu próprio caminho”.

A correção ou o retorno é um dos momentos fundamentais de uma proposta de

avaliação qualitativa, o qual não pode ser negligenciado nem subornado, mas deve ser

amplamente discutido e refletido pelas duas partes do processo de ensino-aprendizagem-

avaliação, para, dessa forma, contribuir com a maneira de se atribuir valores conceituais e não

apenas numéricos à língua, estrangeira ou materna, posto que é língua. Além disso, não

podemos continuar avaliando uma matéria genuinamente interativa do mesmo modo que

avaliamos disciplinas memorizáveis ou lógicas. Assim, não devemos estar aqui somente para

observar e exercer os modelos avaliativos teóricos, mas também para dar especial atenção aos

que surgem na nossa prática.

Ainda podemos dizer que nessa avaliação que entendemos como qualitativa o

estudante e seu mestre são agentes construtores. As responsabilidades são divididas e o

contexto de aprendizagem é privilegiado, visando sempre o aprendizado a ser desenvolvido.

Sobre os aspectos qualitativos que desejamos que façam parte da avaliação da

aprendizagem, Demo (2008, p. 13) traz uma descrição propícia:

Na qualidade, não vale o maior, mas o melhor; não o extenso, mas o intenso;

não o violento, mas o envolvente; não a pressão, mas a impregnação.

Qualidade é de estilo cultural, mais que tecnológico; artístico, mais que

produtivo, lúdico mais que eficiente, sábio mais que científico.

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Com essa definição, o autor expressa o que entendemos ser o objetivo de uma

avaliação qualitativa, que demanda atenção, sobretudo, ao desenvolvimento das

aprendizagens. Essa avaliação qualitativa é diagnóstica (LUCKESI, 2003), para identificar o

que prejudica o desempenho dos nossos aprendizes ou para preveni-los. Ela é também

formativa (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983 apud CANAN, 1996), pois vai se

renovando e intervindo quando é necessário ainda durante as fases do processo. Ela é contínua

(HOFFMAN, 2001), pois é cíclica e viva, é autoavaliativa (LEWKOWICZ; MOON, 1985

apud CANAN, 1996), porque seus participantes são agentes críticos que se conhecem e se

respeitam, e é apreciativa (PRESKILL; CATSAMBAS, 2006), porque sabe que seus objetivos

são altruístas, o que a torna uma avaliação autêntica (CONDEMARÍN; MEDINA, 2005).

Consideramos também que a avaliação é a investigação do resultado dos processos

metodológicos de ensino aplicados pelo professor, já que somos cientes de que na

investigação nada é feito ingenuamente, sem haver um envolvimento entre a intenção e a

execução. O professor quando está atribuindo valores não pode se manter indiferente aos

resultados obtidos, porque já se encontra envolvido por estar avaliando e por ter escolhido o

seu modo de avaliar. De acordo com Bakhtin (1981 apud MUSSALIM; BENTES, 2004, p.

325):

A atividade mental tende desde a origem para uma expressão externa

plenamente realizada [...] pode-se dizer que não é tanto a expressão que se

adapta ao nosso mundo interior, mas o nosso mundo interior que se adapta às

possibilidades de nossa expressão, aos seus caminhos e orientações

possíveis.

Depreendemos que o professor, conhecedor do seu público e das suas necessidades,

não se posiciona com neutralidade na escolha da avaliação que por ele será empregada. O

professor externa essa escolha, feita inicialmente em seu interior, quando: a) elege os

instrumentos avaliativos que lhe são familiares ou que ele considera peculiares à fase de

ensino em que se encontram; b) dispensa tratamento aos dados obtidos por intermédio desses

instrumentos.

Ainda sobre o processo avaliativo de opção teórica qualitativa, a atual portaria5 de

avaliação do estado do Rio Grande do Norte, no seu Artigo 3, in verbis, dispõe:

Art. 3 - A avaliação da aprendizagem escolar orientar-se-á por processo

diagnosticador, mediador e emancipador, devendo ser realizada de forma

5 Portaria n. 1033/2008/SEEC/RN.

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contínua e cumulativa, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os

quantitativos e dos resultados ao longo do período letivo sobre o exame

final.

Por sugerir que os aspectos qualitativos sobreponham-se aos quantitativos, além de

indicar modelos de avaliação (diagnóstica, contínua), essa portaria se mostra consoante com

os objetivos da pesquisa, haja vista que a avaliação “ganharia mais significado político e

pedagógico, mostrando-se coerente com a função formativa que dela se espera, se não fosse

discutida de modo isolado das demais categorias do trabalho escolar” (DE SORDI; LÜDKE,

2009, p. 13).

Em sua pesquisa sobre a avaliação de língua inglesa, a pesquisadora Duboc (2007), ao

construir seu objeto de pesquisa a partir das reflexões que fez sobre suas experiências

profissionais, lembrou-se de que, na escola em que trabalhava, o assunto avaliação era

negligenciado, quando não subornado, durante as capacitações e reuniões pedagógicas das

quais tomava parte. Até então, ela desconhecia as atribuições da avaliação no processo de

ensino, pois somente era solicitada a elaborar provas escritas quando se falava em avaliar.

Podemos nos questionar: se há tantas metodologias para o ensino de línguas, por que

não se pensar, através do conjunto professor-estudante, metodologias específicas para a

avaliação de línguas estrangeiras que se unam às demais categorias do trabalho escolar?

Canan (1996, p. 7) observa:

Todo modelo de avaliação contém orientações sobre como o professor avalia

seus estudantes e toma decisões a partir dos resultados obtidos. As decisões

realizadas pelo professor representam determinadas formas de concepção do

mundo, do indivíduo e da sociedade, fazendo-se necessária, portanto, uma

análise dos pressupostos subjacentes às modalidades de ação educativa.

Os modelos avaliativos de que dispomos e usamos refletem a nossa cultura avaliativa

enquanto docentes. Por estarmos tratando de uma avaliação de linguagem, esta deve

considerar todos os aspectos linguisticamente possíveis, atribuindo-lhes valores, não apenas

numéricos, mas antes de tudo sociais, no intuito de buscarmos a certificação de que está

havendo a aprendizagem da língua ensinada, em todas as estruturas que são necessárias ao seu

aprendizado, uma vez que as competências linguísticas que se esperam ao se aprender uma

LE são diversificadas. Sobre avaliação de linguagem, Bronckart (1999, p. 45) nos atesta:

Na medida em que é uma forma autonomizada de atividade social, a

atividade de linguagem torna-se objeto de uma avaliação análoga, mas

apresentando, dessa vez, um caráter metadiscursivo [meta-langagier]. Essa

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avaliação provoca, de um lado, um recorte da atividade de linguagem, em

porções que podem ser imputáveis a um ser humano particular (ponto de

vista externo), e a apropriação dos critérios dessa avaliação pelo organismo

falante dota-o de uma representação sobre si mesmo como “responsável pelo

seu dizer” (ponto de vista interno). Do mesmo modo que as avaliações da

atividade não semiotizada produzem ações não verbais, as avaliações

metadiscursivas [méta-langagières], portanto, produzem ações específicas,

ou ações de linguagem, atribuíveis a agentes verbais.

Entendemos que a avaliação é primariamente linguística porque começa em uma

situação em que se faz necessário o uso da linguagem. Não se avalia sem se fazer uso de pelo

menos um tipo de linguagem, pois a verbalização, as imagens e os enunciados avaliativos se

valem dela para se constituírem.

A linguagem é por si mesma comunicativa, expressiva, dinâmica, sensível e plural. Ela

não pode se acomodar com uma avaliação prioritariamente exata e singular, escolhida e

aplicada por só uma das partes do processo avaliativo, mas requer uma avaliação que

provoque ações representativas e responsáveis, portanto, específicas para ambas as partes

envolvidas.

A avaliação qualitativa se faz necessária no processo de ensino-aprendizagem de

língua inglesa no ensino médio por esta ser uma modalidade de ensino vinculada à educação

básica há pouco mais de uma década, motivo pelo qual se encontra ainda em fase de

construção, permitindo que os estudantes possam participar de forma mais ativa, construtiva e

dinâmica do seu processo de aprendizagem. Se concebermos a avaliação como promotora da

aprendizagem, através da variedade e finalidade dos seus instrumentos, da aplicação e do

retorno reflexivo desses instrumentos, mudar as decisões quanto às formas de avaliar pode,

sim, mudar o processo de ensino e, consequentemente, a aprendizagem dos envolvidos.

2.3 A AVALIAÇÃO E OS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS

A avaliação escolar acontece a partir de instrumentos, também designados de

ferramentas ou meios avaliativos. São esses instrumentos que caracterizam a avaliação que os

emprega, conferindo-lhe identidade.

Ao optar por um instrumento na hora de avaliar, o professor não o faz de maneira

casual ou ingênua. O professor escolhe porque, de antemão, sabe o que pretende obter com

aquela escolha. Assim como seleciona técnicas de ensino, opta por instrumentos para aplicar

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tais técnicas. Vamos nos deter aos instrumentos avaliativos entendendo que eles são meios

através dos quais o professor identificará como está a aprendizagem dos estudantes. De

acordo com o Artigo 4 da portaria n. 1033/2008/SEEC/RN, in verbis:

Serão considerados instrumentos de avaliação da aprendizagem os trabalhos

teóricos e práticos, aplicados individualmente e em grupo, testes, provas,

relatórios, pesquisas, sínteses, exposições orais, entre outros adequados ao

componente curricular, que permitam avaliar o desempenho do estudante.

Os instrumentos de avaliação descritos, aos quais a portaria acrescenta que também

podem ser outros não citados, desde que adequados ao componente curricular, geralmente são

escolhidos apenas pelos professores, que, por vezes, reproduzem os instrumentos a que foram

submetidos em suas épocas de estudantes. Conforme Luckesi (2011, p. 220):

Em nossa experiência escolar, não tivemos oportunidade de aprender outra

forma de acompanhar a aprendizagem dos educandos que não fosse os

exames escolares, pois a eles fomos submetidos durante os anos sucessivos

de nossa escolaridade. Se não fomos traumatizados, acostumamo-nos a esse

modo de agir como se fosse o único. Hoje como educadores, no momento da

necessidade, repetimos a solução que fora praticada conosco.

Destarte, a escolha de um instrumento avaliativo é um gesto imbuído de intenções

previamente pretendidas para o momento do avaliar. O que determina as escolhas dos meios

avaliativos acaba por caracterizar também a avaliação aplicada pelo docente. A atitude de nos

atermos a reproduções de modelos avaliativos antigos pode justificar a pouca evolução das

maneiras de se avaliar na escola e nos faz buscar o diferente no ato avaliativo.

Também podemos dizer que os instrumentos formam conceitos sobre a avaliação e

podem fomentar crenças, como, por exemplo, o julgamento de se determinada avaliação é

difícil ou fácil. Eles também podem ser escolhidos por motivações diversificadas, tais como a

praticidade de empregá-los ou corrigi-los, por parte do docente, ou a forma como vão ser

resolvidos por parte dos aprendizes.

Outra característica que deve ser considerada na escolha de uma ferramenta avaliativa

pode ser atribuída à portaria de avaliação da escola, pois existem aquelas que determinam

como devem ser avaliados os conhecimentos dos seus estudantes e a não observância das

determinações, que podem trazer consequências indesejadas para o professor que assim

proceder.

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Podemos entender a relação entre os instrumentos e seus usos acompanhando as

palavras de Vygotsky (1998, p. 69), ao nos esclarecer:

A questão principal quanto ao processo da formação de conceitos – ou

quanto a qualquer atividade dirigida para um objetivo – é a questão dos

meios pelo qual essa operação é realizada. Quando se afirma, por exemplo,

que o trabalho é induzido pelas necessidades humanas, esta explicação não é

suficiente. Devemos considerar também o uso de instrumentos, a

mobilização dos meios apropriados, sem os quais o trabalho não poderia ser

realizado.

Nossa intenção é analisar os meios avaliativos que o professor de língua inglesa do

ensino médio utiliza em suas aulas para acompanhar a aprendizagem dos seus educandos, por

entender que sem eles a avaliação não seria realizada. Compreendemos que, por intermédio

dos instrumentos, podemos conceituar a avaliação aplicada e dimensionar o seu impacto nos

estudantes, já que nos parece impraticável discutirmos avaliação separadamente dos seus

instrumentos de verificação (HOFFMANN, 2004). Além disso, temos a possibilidade de

apontar as categorias que norteiam esses meios de verificação, uma vez que se conduzem para

uma análise, que expõe o desempenho que se espera do estudante.

Sobre o uso de instrumentos avaliativos pelos professores, Sant‟anna (2002) alerta que

o docente deve utilizá-los de forma a promover a interação ativa entre o estudante e a

aprendizagem. Já Polato (2009) defende o uso deles no diagnóstico avaliativo cotidiano,

podendo contemplar outros instrumentos possíveis, como seminário, debate, relatório e

observação.

Para relacionarmos os instrumentos com os tipos de avaliação empreendidos,

procuramos nos remeter às três classificações clássicas da avaliação: diagnóstica, formativa e

somativa, reproduzindo, de forma adaptada para esta dissertação, a figura criada por

Sant‟anna (2002, p. 38), que ilustra, em seu livro Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e

instrumentos, as funções da avaliação.

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Diagnóstica Formativa Classificatória (Somativa)

Propósitos Determinar a presença ou a

ausência de habilidades e/ou

pré-requisitos.

Identificar as causas de

repetidas dificuldades na

aprendizagem.

Informar professor e estudante

sobre o rendimento da

aprendizagem durante o

desenvolvimento das atividades

escolares.

Localizar deficiências na

organização do ensino, de modo

a possibilitar reformulações no

mesmo e aplicações de técnicas

de recuperação do educando.

Classificar os estudantes ao

fim de um semestre, ano ou

curso, segundo níveis de

aproveitamento.

Objetos de

medida

Comportamento cognitivo e

psicomotor.

Comportamento cognitivo,

afetivo e psicomotor.

Geralmente comportamento

cognitivo, às vezes,

comportamento psicomotor

e, ocasionalmente,

comportamento afetivo.

Época No início do ano letivo ou

curso. Durante o ensino,

quando o estudante

evidencia incapacidade em

seu desempenho escolar.

Durante o ensino. Ao final de um semestre,

ano letivo ou curso.

Instrumentos Pré-teste,

Teste padronizado de

rendimento,

Teste diagnóstico,

Ficha de observação,

Instrumento elaborado/

escolhido pelo professor.

Instrumentos especificamente

planejados de acordo com os

objetivos propostos.

Exame, prova ou teste final.

Figura 16 – Representação das funções da avaliação

Fonte: Adaptado de Sant‟anna (2002).

Nessa figura, percebemos que na avaliação diagnóstica há um espaço, sugerido pela

autora Sant‟anna (2002), no qual pode haver instrumentos elaborados (ao que acrescentamos a

palavra escolhidos) pelo professor, que devem ser usados no início e durante o período de

ensino, enquanto que na avaliação formativa, os instrumentos são planejados de acordo com

os objetivos que surgem durante o ensino. A avaliação somativa, descrita pela autora como

classificatória, determina que seus instrumentos devem ser utilizados ao final do período de

6 Essa figura sofreu alterações pela pesquisadora.

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ensino, fazendo uso de exames, provas ou testes. Por ser um dos tipos de avaliação mais

utilizados, é comum se confundir “avaliação” com “exames”. Nas escolas, por exemplo, ao se

determinar a semana de avaliação, está se determinando, na realidade, um período para a

aplicação de exames de diferentes disciplinas:

A avaliação até hoje está ligada a prova, notas, aprovação e reprovação. O

discurso pode até apresentar seu objetivo como sendo o de promover a

aprendizagem do aluno, mas ainda não é comum essa prática, daí a

necessidade de ampliação de estudos que ajudem professores e alunos a

construir outra lógica de avaliação (VILLAS BOAS, 2008, p. 10).

Fazer uso ou privilegiar apenas um método de avaliação mostra-se, para nós, uma

maneira deficiente de se promover a aprendizagem de idiomas, pois entendemos que uma

única metodologia avaliativa não serve de suporte à amplitude do processo de internalização

de uma língua estrangeira, por dar conta apenas de uma das muitas competências

comunicativas que se esperam atualmente com o ensino de idiomas. Tomando como exemplo

a avaliação somativa, ao limitar suas ferramentas às provas e aos testes, essa avaliação

somente servirá para avaliar competências relacionadas com a leitura e com a escrita da

língua estrangeira que se está lecionando.

Nenhuma das três avaliações contempladas na figura acima apresenta a possibilidade

de seus instrumentos serem escolhidos ou ao menos sugeridos pelos estudantes, apesar de

terem seus propósitos claramente voltados para eles. Isso nos faz perceber que, apesar de a

expressão “a escola é a segunda casa dos estudantes” ter se tornado lugar-comum nas falas

relacionadas à educação, na “casa” que deveria ser dele o estudante é tratado apenas como um

visitante que se encontra ali para comportar-se conforme regras preestabelecidas. Como

alguém está em sua casa e não pode tomar nenhuma decisão para com os assuntos que lhe

dizem respeito?

Por não ser consultado a respeito da avaliação a que é submetido, o estudante fica

vulnerável a julgamentos que caracterizam e determinam o seu grau de inteligência. Para

Sant‟anna (2002, p. 17), “Tudo na vida é avaliado, consciente ou inconscientemente; o perigo

está em que os parâmetros sejam estabelecidos por terceiros, e não pelo próprio interessado”.

Em uma pesquisa voltada para a avaliação no âmbito do ensino fundamental, Silva

(2007) identificou os seguintes instrumentos avaliativos utilizados pelos professores de língua

inglesa: prova escrita, prova oral, teste escrito, atividade de listening, atividades de leitura e

interpretação de textos, trabalhos de pesquisa feitos em grupo e atividades de produção

textual.

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Os instrumentos, suas escolhas, objetivos, usos e frequências eram sempre

determinados pelo professor daquelas escolas pesquisadas, sendo o estudante convocado a

participar do seu processo avaliativo apenas quando respondia à ferramenta que lhe era

orientada.

Estamos atualmente diante de uma variedade de novos instrumentos que antes eram

mais concebidos como ferramentas de ensino e hoje passaram a ser usados para fins

avaliativos, como, por exemplo, os seminários e as apresentações de trabalhos, os relatórios e

as tarefas de pesquisa, além de instrumentos relativamente novos, como o portfólio.

Percebemos, com isso, que a dinamização do processo avaliativo tem sofrido mudanças e

novas definições têm surgido para designar as avaliações que se originam do uso ou desuso de

alguns instrumentos, como é o caso da avaliação qualitativa, tal como a concebemos, por

conter nela inserida as demais avaliações e por tratar de todos os aspectos relacionados à

formação e ao desenvolvimento dos saberes estudantis, através do uso de diversas ferramentas

avaliativas.

2.4 O ESTUDANTE ENQUANTO COCONSTRUTOR DO PROCESSO AVALIATIVO

A tentativa de incluir os estudantes como responsáveis no processo do ensino-

aprendizagem não é atual, mas ainda acontece de forma gradativa. Uma das diretrizes

propostas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no seu Artigo 36, que

reaparece nos PCNEM, trata do currículo do EM e nos diz que ele “adotará metodologias de

ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes” (BRASIL, 2002, p. 46-69),

desfazendo, assim, o paradigma de que a avaliação deve ser elaborada somente pelo professor

e ampliando o papel participativo-ativo do estudante na construção desse processo, antes

resumido numa função de participante-passivo, apenas aceitando e respondendo de acordo

com a avaliação que lhe era imposta.

Não obstante as diretrizes e os estudos voltados ao tema avaliação, os avanços nessa

área ainda acontecem de forma lenta e a contribuição do estudante praticamente inexiste, o

que deveria ser mais estimulado, pois surte resultados positivos, como observou Canan (1996,

p. 30). Segundo a autora, os estudantes envolvidos no processo avaliativo “se sentem

responsáveis pelo processo de avaliação, tornando-se conscientes dos critérios usados,

capazes de participar do desenvolvimento de critérios próprios e se tornando mais

independentes dos resultados”.

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A avaliação que é conduzida somente pelo professor é caracterizada como

conservadora por Luckesi (2003, p. 28), que assim a define:

Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a serviço de um

entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o

rompimento dos seus limites, que é o que procuramos fazer, temos de

necessariamente situá-la num outro contexto pedagógico, ou seja, temos de,

opostamente, colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que

entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de

transformação social.

A transformação social mencionada por Luckesi (2003) é característica do processo

avaliativo, se considerarmos que somos avaliados e avaliamos constantemente e que são essas

avaliações rotineiras que influenciam e modificam nossas vidas sociais.

De acordo com Sant‟anna (2002, p. 33):

Afirma-se que o educando é o sujeito, e não o objeto da ação educativa; no

entanto ele próprio não participa do processo de sua avaliação, apenas

recebe, direta ou indiretamente, o resultado de sua vitória ou fracasso. É lhe

comunicada apenas a sentença final.

A “sentença final” muitas vezes é a nota bimestral que o estudante recebe de forma

descontextualizada da sua aprendizagem. Sendo uma nota satisfatória, ele não questiona,

aceita, não discute. Sendo, porém, uma nota ameaçadora, ou seja, que ponha em risco sua

promoção para a série seguinte, logo vem ele e mais alguns “advogados providenciais” saber

do professor o motivo da “sentença”.

Observa-se uma certa apatia dos envolvidos, que parecem não reagir, de

modo proativo, à situação. A tendência é que a força dinamogênica da

avaliação ceda lugar à aceitação/negação pura e simples da medida

informada, mesmo quando esta não leva em conta os fatores associados.

Constrói-se uma cultura de indiferença aos dados de avaliação, e, por outro

lado, presencia-se uma certa idolatria das notas boas, que passam a orientar a

escola a buscá-las, mesmo que discursivamente contestem seu valor, sua

exatidão ou suas formas de obtenção (DE SORDI; LÜDKE, 2009, p. 19).

Ponderamos que tanto a apatia quanto a idolatria acima descritas são resultados de

uma avaliação que permanece ainda muito restrita ao professor que a aplica. Sendo o

professor que escolhe os instrumentos, determina os períodos em que a avaliação deve

acontecer, decide a quantidade de pontos de cada quesito e corrige-os, não será mesmo o

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culpado? Quer dizer, não está se colocando na posição de culpado, a quem familiares e

estudantes devem tomar satisfações quando não alcançam os resultados desejados?

A busca pela participação dos estudantes em um processo avaliativo interativo é

defendida por Sant‟anna (2002, p. 27), que afirma:

A avaliação só será eficiente e eficaz se ocorrer de forma interativa entre

professor e aluno, ambos caminhando na mesma direção, em busca dos

mesmos objetivos. O aluno não será um indivíduo passivo; e o professor, a

autoridade que decide o que o aluno precisa e deve saber. O professor não irá

apresentar verdades, mas com o aluno, irá investigar, problematizar,

descortinar horizontes, e juntos avaliarão o sucesso das novas descobertas e

pelos erros, as melhores alternativas para superá-los.

A avaliação que permanece sendo conduzida de forma unilateral, sem a participação

discente, é constantemente acompanhada de um período de tensão com muitos equívocos

devido a esta. Professores têm tomado posições extremistas de aprovadores ou reprovadores

em massa, negligenciado o saber que pertence ou deveria pertencer ao educando. De Sordi e

Lüdke (2009, p. 14) afirmam: “não basta que os alunos não sejam reprovados na escola.

Importa que aprendam para que possam ocupar um lugar na sociedade e nela atuar como

sujeitos históricos”. É necessário denunciar a aprovação ou reprovação advindas de uma

avaliação que responde a períodos de tensão ou modismos educacionais, pouco contribuindo

para a aprendizagem e não permitindo que os seus sujeitos atuem socialmente. Sobre a

atuação dos estudantes em assuntos de cunho educacional, vemos:

É inconcebível falar em informação crítica, consciente, para a cidadania se

os sujeitos dessa formação, ou seja, os estudantes, ainda continuam sendo

convocados para ocuparem a posição de meros expectadores, de receptores

de informações e das decisões repassadas, transmitidas pelos mais

experientes, por aqueles considerados aptos a se pronunciarem. Ou, em

alguns casos, são convocados para fazerem figuração em processos ditos

democráticos, ou seja, são apenas inseridos, mas não participam de fato, pois

sua voz não tem credibilidade, não é considerada significativa (PEREIRA,

2009, p. 203).

Os estudantes ainda são figurantes em boa parte dos assuntos escolares que

diretamente lhes dizem respeito. Então, como resolver esse problema? Como fazer com que

os aprendizes se engajem em sua aprendizagem, corresponsabilizando-se por ela?

Antes da tomada de decisões que envolvam os estudantes, os professores devem se

conscientizar de que “é preciso compreender quem é o educando e como ele se expressa, a

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fim de, consequentemente, definir como atuar com ele para auxiliá-lo em seu processo de

autoconstrução” (LUCKESI, 2011, p. 29).

Estamos vivenciando uma época em que a educação não pode mais tentar “enformar”

seus estudantes, achando que todos têm os mesmos estilos de aprendizagem, da mesma

maneira que têm os mesmos uniformes escolares. Vivemos em tempos de inteligências

múltiplas (GARDNER, 1993) e diversos saberes (MORIN, 2000), portanto, há diversidade na

aprendizagem.

No âmbito universitário, diferentes metodologias de ensino são apresentadas aos

futuros professores que tencionam lecionar o idioma inglês, em suas aulas de didática de

línguas estrangeiras, sendo que a esses futuros profissionais é facultada a oportunidade de

fazer uso de diversas dessas metodologias, também conhecidas por métodos ou abordagens.

Inferimos que a variedade de abordagens apresentadas pelos livros de didática (LARSEN-

FREEMAN, 2000) contempla as diferentes necessidades de aprendizagem dos estudantes,

cujo desenvolvimento poderia ser prejudicado se fossem ensinados com apenas uma das

abordagens previamente escolhidas, em vez de fazer uso do conjunto. Deveríamos

desenvolver o mesmo princípio do ensino de línguas para a avaliação da aprendizagem dessa

disciplina, evitando tratar todos os educandos por igual, ao avaliá-los sempre com o mesmo

instrumento.

Ao compreender quem é seu educando, o professor poderá atuar por meio de

instrumentos avaliativos que façam o estudante vencer seus desafios de aprendizagem. O

professor somente irá compreender seu aprendiz no momento em que lhe ceder espaço na

participação de assuntos escolares que são do interesse de ambos.

Ceder espaço ao educando é uma maneira de conhecê-lo melhor. É dar-lhe a

oportunidade de expressar como aprende e, consequentemente, como é mais bem avaliado. O

instrumento de avaliação não pode ser alheio às técnicas de ensino que provocaram a

aprendizagem. “É preciso ressaltar, no entanto, que a avaliação da aprendizagem precisa ser

coerente com a forma de ensinar” (MORETO, 2007, p. 87). Para ilustrarmos uma avaliação

incoerente com a prática de ensino, remetemo-nos à pesquisa de Silva (2007), na qual a

pesquisadora observou um professor que ensinava de um jeito e avaliava de outro, o que

sempre provocava notas perdidas e baixas nos estudantes e gerava uma situação confusa,

porque na hora da aula eles pareciam saber dos conteúdos, mas na hora da avaliação os

“desaprendiam”. Ao prosseguirmos com a investigação, constatamos que essa atitude docente

condizia com uma crença comum ao professor e aos aprendizes deste de que as avaliações

difíceis provocavam o respeito pelo professor.

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No ambiente escolar, em que o ato de avaliar se evidencia constantemente, devemos

“fazer da avaliação um verdadeiro instrumento de pilotagem das aprendizagens”

(PERRENOUD, 2009, p. 10). Partindo do pressuposto de que o estudante percebe a avaliação

como um meio de obter nota para passar de série, é interessante saber como ele reage (e por

que reage) ao processo avaliativo a que se submete e buscar envolvê-lo na construção desse

processo, para que ele o compreenda melhor. “Para isso, é preciso desaprendermos o que

temos feito na prática avaliativa mais corrente, estimulando a criatividade no processo e

provocando maior satisfação nos envolvidos” (PENNA FIRME, 2009, p. 47, grifo nosso).

Seria essa criatividade, proveniente do diálogo entre educador e educandos, o diferencial

necessário que estaria nos faltando para construirmos sistemas avaliativos mais inteligíveis?

2.5 OS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS REPRESENTADOS POR IMAGENS

Ao fazermos uso de imagens para expressarmos o que pensamos a respeito de algo,

logo nos reportamos aos nossos ancestrais, os homens primitivos que fizeram dos seus

desenhos a primeira forma de linguagem escrita que conhecemos. Essa escrita simbólica se

fez tão compreensível que é possível ao homem moderno, através da observação dos símbolos

antigos, dar um significado àquelas situações toscamente representadas por desenhos.

A imagem é importante, entre outros argumentos, porque precede a fala, bastando para

compreendermos isso nos remetermos a um infante, que, antes de pronunciar uma palavra, já

terá visto inúmeras imagens, devendo, ao começar a falar, relacionar sua fala aos objetos cujas

imagens já estão tão familiares em sua mente.

De acordo com os autores Santaella e Nöth (2008, p. 15):

O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio

das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras,

fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas

pertencem a esse domínio. O segundo é o domínio imaterial das imagens na

nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias,

imaginações, esquemas, modelos ou, em geral, como representações

mentais. Ambos os domínios da imagem não existem separados, pois estão

inextricavelmente ligados já na sua gênese. Não há imagens como

representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente

daqueles que as produziram, do mesmo modo que não há imagens mentais

que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais.

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Ao longo do percurso da pesquisa empreendida, quando esta ainda era um rascunho de

projeto de pesquisa, percebemos que a mídia impressa brasileira, ao se referir ao tema

avaliação, por meio de revistas e publicações voltadas aos educadores, agregava a esse tema

alguma imagem de cunho negativo, como, por exemplo, um nó, um dragão, uma caixa preta,

entre outros. Como exemplo, escolhemos uma imagem que foi capa da revista educativa

Pátio, representando a avaliação com a figura de um nó.

Figura 2 – Capa da revista pedagógica Pátio

Fonte: revista pedagógica Pátio, de maio/julho de 2009.

Imagens representativas, como essas, do que seria a avaliação para os autores e

editores das publicações voltadas para educadores nos instigaram a sabermos dos estudantes o

que eles teriam a expressar, em outra forma de linguagem que diferisse da escrita e da verbal,

sobre o que entendiam ser a avaliação empregada pelos seus professores de língua inglesa.

Ao nos interessarmos por incluir nesta pesquisa as representações imagéticas

(GOODMAN, 1968 apud SANTAELLA; NÖTH, 2008) construídas pelos estudantes,

relacionadas ao tema avaliação, a partir do que estes concebem como representativo sobre os

meios pelos quais são avaliados, entendemos, como Goodman (1968 apud SANTAELLA;

NÖTH, 2008, p. 19), que as “representações são imagens que têm aproximadamente o mesmo

tipo de função que descrições”. Ao vermos uma imagem, esta serve para nos fazer

compreender as intenções do seu produtor, pois se trata de uma descrição do pensamento

expressada por outra forma de linguagem, carente de interpretação, como qualquer outro

texto.

Para fundamentar o estudo das representações imagéticas neste trabalho, remetemo-

nos aos teóricos da Semiótica, entre outros. A Semiótica é descrita por Nöth (2003, p. 17)

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como “a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura”.

Pignatari (2004, p. 15) reforça esse conceito ao descrevê-la do seguinte modo:

A Semiótica ou Semiologia, pois, é a ciência ou Teoria Geral dos signos,

entendendo-se por signo [...] toda e qualquer coisa que substitua ou

represente outra, em certa medida e para certos efeitos. Ou melhor: toda e

qualquer coisa que se organize ou tenda a organizar-se sob a forma de

linguagem, verbal ou não, é objeto de estudo da Semiótica.

Ainda, para esse autor, “a Semiótica acaba de uma vez por todas com a ideia de que as

coisas só adquirem significado quando traduzidas sob a forma de palavras” (PIGNATARI,

2004, p. 20), considerando, portanto, as outras formas de linguagem, como a imagética. A

linguagem percebida nas imagens pode nos trazer conotações além das óbvias, mesmo que

essas imagens nos sejam familiares (JUNG, 2005). A partir desse esclarecimento,

apresentamos uma imagem que foi por nós encontrada em um birô, durante uma semana de

provas da escola pesquisada, na qual se vê uma bruxa7 mexendo um caldeirão cheio de um

líquido fumegante, sobreposto a uma fogueira acesa:

Figura 38 – Imagem desenhada por um estudante em uma semana de provas, na escola pesquisada, no

ano de 2007

Observando o desenho, podemos nos perguntar, enquanto pesquisadores, o que um

estudante que desenha em um birô de uma escola essa imagem gostaria de expressar.

Essa figura até poderia passar despercebida, como as inúmeras outras manifestações

estudantis que ocasionalmente encontramos nas paredes e carteiras escolares, se não estivesse

7 “Bruxa” foi o termo usado pelo estudante que produziu o desenho para descrever sua imagem.

8 Figura reproduzida em papel e cedida pelo estudante para esta pesquisa.

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em um birô, exatamente na semana de provas de uma escola, onde inevitavelmente os

professores a veriam, trazendo acima do desenho uma seta nominando-a de prova.

O que gostaria de dizer o estudante ao conceber a prova como uma bruxa? Que prova

é algo maléfico? Que é um instrumento avaliativo poderoso? Que a semana de provas de sua

escola seria um período mágico? Que nas provas o seu desempenho é feio? Essas nossas

perguntas, a partir dos adjetivos em destaque, estão baseadas nos conceitos do que para nós

deve ser uma bruxa, pois fazem parte da nossa noção de percepção ao entrarmos em contato

com essa imagem, já que, de acordo com Derdik (1989), as noções de percepção e imagem se

comprometem para propiciar significados.

Porém, na imagem exposta, ainda estão implícitas as conotações específicas que são

particulares ao estudante que se expressou pelo desenho. O que elas poderiam nos dizer e em

que poderiam nos ajudar a melhorar a prova escrita, instrumento avaliativo tão utilizado e

aparentemente tão hostilizado por esse estudante?

Dos desenhos rupestres das antigas cavernas aos artefatos arqueológicos, que

variam desde joias reais a objetos do lar, de milhões de guerreiros chineses

de argila às atuais telas dos computadores, imagens e símbolos mostram a

riqueza e a complexidade da vida humana. A cognição humana muitas vezes

depende do uso de imagens e símbolos para representar ou substituir algo

diferente do que estes aparentam. Esta habilidade separa-nos de todas as

outras criaturas e tem capacitado a humanidade para transcender o espaço e

o tempo. A ciência faz grande uso de modelos, símbolos e sistemas

numéricos para avançar a nossa capacidade (WAKEFIELD;

UNDERWAGER, 1998, p. 176, tradução nossa)9.

A riqueza e a complexidade das imagens e dos símbolos podem elucidar questões que

muitas vezes se tornam difíceis de se expressar em palavras. Suponhamos que o estudante, na

semana de provas, esperasse seus professores e vociferasse que detesta provas, que provas lhe

são tão repugnantes como uma bruxa. Seria uma situação incomum, porém o estudante em

questão acabou dizendo muito mais do que quis, pois deixou aos que viram o seu desenho

múltiplas interpretações: “Nós usamos as imagens não apenas como representações do mundo

9 “From ancient cave drawings, to archeological artifacts ranging from royal jewelry to household objects, to

thousands of clay Chinese warriors, to today‟s computer screen, images and symbols show the richness and

complexity of human life. Human cognition often depends upon the use of images and symbols to represent or

stand for something other than itself. This ability separates us from all other creatures and has enabled humanity

to transcend space and time. Science makes great use of models, symbols and number systems to advance our

human capacity” (WAKEFIELD; UNDERWAGER, 1998, p. 176).

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objetivo, mas também para comunicar nossos sentimentos mais profundos (PROSSER, 1998,

p. 1, tradução nossa)10

.

A autora Hoffmann (2004), em seu livro Avaliação, mito e desafio, propôs um

exercício com alguns professores, no qual eles relacionavam a avaliação a imagens,

construindo metáforas. Não foi solicitado que os professores desenhassem, somente que

comparassem a que se assemelhava a avaliação para eles. O exercício fez com que os

professores, que constantemente avaliam, pudessem expressar suas metáforas avaliativas, já

que, de acordo com Lakoff e Jonhson (2002, p. 46), “o modo como pensamos o que

experienciamos e o que fazemos todos os dias, são uma questão de metáfora”. Os autores

defendem a associação com metáforas por compreenderem que o nosso pensamento não é

governado somente pelo nosso intelecto, mas possui um sistema conceitual que se ocupa de

nossas questões triviais, definindo nossa realidade cotidiana.

Entendemos que, se a avaliação está na realidade cotidiana dos professores, também se

encontra na realidade dos estudantes, que são perceptíveis e talvez mais sensíveis a seus

efeitos. Desenhar os instrumentos avaliativos, portanto, constitui expressar suas percepções a

respeito do assunto.

A noção de percepção está comprometida com a noção de imagem. Esta

propicia um feixe de significados do percebido. Podemos elevar o sentido do

olhar e do desenhar às ideias de “fábrica de imagens”, ou então, “fábrica de

significações” (DERDIK, 1989, p. 112).

É a partir das nossas interpretações sobre as imagens produzidas pelos estudantes que

temos uma descrição da avaliação de língua inglesa aplicada por meio dos instrumentos

representados. Para tanto, não faremos uso apenas da produção imagética, mas também de

textos dos estudantes que justifiquem os desenhos produzidos, já que:

Os argumentos a favor da dependência linguística do entendimento da

imagem são de dois tipos. O primeiro trata da realmente frequente inserção

de imagens em contextos texto-imagem. O outro trata da necessidade das

imagens de recorrerem ao auxílio da linguagem dentro do seu processo de

entendimento e interpretação (SANTAELLA; NÖTH, 2008, p. 42).

Os autores ainda acrescentam que “a relação entre a imagem e seu contexto verbal é

íntima e variada. A imagem pode ilustrar um texto verbal ou o texto pode esclarecer a imagem

10

“We use images not only as representations of the objective world but also to communicate our deeepest

feelings” (PROSSER, 1998, p. 1).

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na forma de um comentário” (SANTAELLA; NÖTH, 2008, p. 52). Por meio das percepções

expressadas pelos desenhos produzidos, podemos compreender melhor as reações dos

estudantes pesquisados ante os instrumentos avaliativos com os quais convivem, o que em

outros momentos da pesquisa poderia ser difícil de perceber, uma vez que ao utilizarmos a

linguagem falada ou escrita, em um ambiente de pesquisa, tencionamos a nos expressar com

mais cuidado, nem sempre transmitindo o que desejaríamos ou deveríamos, devido aos limites

sociais característicos dessas formas de se expressar.

Por isso, ao fornecermos espaço para a inserção das representações imagéticas, ainda

que justificadas por outros textos, chamamos a atenção para outras leituras, nas quais as

imagens se fazem presentes não apenas de forma decorativa ou ilustrativa, mas também

representativa do que se disse a respeito dos instrumentos avaliativos desenhados, para que a

partir delas se faça uma leitura do que os estudantes opinam sobre os instrumentos avaliativos

representados. Portanto, propomos que a imagem deva preceder o texto escrito, para que a

partir dela se oportunize a justificativa de sua entrada na construção textual. Para Buoro

(2002, p. 34):

A imagem ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem

contemporâneo. Livros, revistas, outdoors, internet, cinema, vídeo, tevê,

para citar apenas as fontes mais comuns, produzem imagens

incessantemente, quase sempre à exaustão e diante de olhares de passagem.

Todos são meios ao alcance da maioria da população brasileira e tão

presentes quanto enraizados nos gestos mínimos de nosso dia a dia. Faz-se

necessária uma tomada de consciência dessa presença maciça, pois,

pressionados pela grande quantidade de informação, estabelecemos com as

imagens relações visuais pouco significativas. Expectadores frequentemente

passivos, temos por hábito consumir toda e qualquer produção imagética,

sem tempo para deter sobre ela um olhar mais reflexivo, o qual a inclua e

considere como texto visual visível e, portanto, como linguagem

significante.

A tomada de consciência das imagens que se remetem às avaliações de língua inglesa

pode nos fornecer inteligibilidade sobre os efeitos que determinados instrumentos avaliativos

provocam nos estudantes, dificultando ou facilitando sua aprendizagem. As imagens de

caráter positivo podem nos fazer perceber efeitos como fruição, realização, senso de

responsabilidade, parceria, facilidade, entre outros, que, a nosso ver, são dinamizadores da

aprendizagem de idiomas. Por sua vez, as imagens de caráter negativo, que sugerem efeitos

como pânico, medo e insegurança, por exemplo, podem justificar os resultados obtidos pelos

estudantes quando submetidos a esses instrumentos. Na concepção de Buoro (2002, p. 35),

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“imagens propõem presenças que não podem persistir ignoradas ou subestimadas em sua

potencialidade comunicativa [...] ao contrário, devem ser devidamente exploradas e lidas, o

que implicaria ganho evidente para o processo educacional”.

Portanto, entendemos que um estudo das imagens produzidas pelos estudantes torna-

se relevante para que os professores de língua inglesa obtenham por meio desses desenhos um

indicativo que poderá, entre outras ações cabíveis, norteá-los nas escolhas de suas futuras

avaliações.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

___________________________________________________________________

3.1 ESCOLHA METODOLÓGICA DA PESQUISA

Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa de base etnográfica. Trata-

se mais especificamente de uma pesquisa ação, por apresentar em seu desenvolvimento etapas

e amparo teórico relacionados com esse método.

Com a opção pela pesquisa qualitativa, estamos nos referindo “ao processo não

matemático de interpretação, feito com o objetivo de descobrir conceitos e relações nos dados

brutos e de organizar esses conceitos e relações em um esquema explanatório teórico”

(STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 24).

Por muito tempo, eram considerados como pesquisas científicas apenas aqueles

trabalhos que faziam uso da experimentação e da testagem de hipóteses, sempre recorrendo a

procedimentos de quantificação, cálculos e classificações para descreverem suas análises.

Essas pesquisas, conhecidas como pesquisas quantitativas, provaram suas fragilidades ao se

voltarem para o campo das ciências humanas, no qual o objeto de estudo passa a ser as

interações do homem enquanto ser social.

Os cientistas sociais começaram a indagar se o método de investigação das

ciências físicas e naturais, que por sua vez se fundamentavam numa

perspectiva positivista de conhecimento, deveria continuar servindo como

modelo para o estudo dos fenômenos humanos e sociais (ANDRÉ, 1995, p.

16).

Como amparo às novas necessidades de produção de conhecimento, surge o que se

convencionou chamar no meio acadêmico de pesquisa qualitativa, uma abordagem de

pesquisa que se caracteriza por seu interesse mais voltado ao processo do pesquisar do que

aos resultados que possam advir desse processo (BOGDAN; BIKLEN, 1994), além de

priorizar o estudo do seu objeto de análise no meio social ou cultural ao qual pertence. A

pesquisa qualitativa “é o estudo do fenômeno em seu acontecer natural” (ANDRÉ, 1995, p.

17). De caráter mais acurado em relação aos dados da pesquisa, exige do pesquisador uma

imersão no contexto a ser analisado, além de muita leitura e reflexão (MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 1998) acerca das observações realizadas.

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A pesquisa qualitativa surge no campo das ciências humanas como mais uma

alternativa de produzir e expor o conhecimento. Sendo de natureza descritiva e interpretativa,

oferece aos seus adeptos mais detalhes e, portanto, maior precisão daquilo que se pretende

investigar. Além disso, faz uso de diversos instrumentos ou meios para geração de dados,

oferecendo ao pesquisador uma visão cada vez mais abrangente do seu universo de pesquisa,

para que assim ele possa não apenas elucidar o que se propôs investigar, como também

produzir inteligibilidade que corrobore a pesquisa empreendida.

Ao optar pelo uso da pesquisa qualitativa, de acordo com Seabra (2009), o pesquisador

precisa ser consciente de que deve ter ou desenvolver um perfil no qual ele demonstre

interesse pelo objeto de pesquisa, aprenda com a experiência, seja humilde, sensível, criativo

e ainda habilidoso para observar e sintetizar seus dados, imprimindo assim qualidade ao seu

trabalho.

Também se requere do pesquisador qualitativo uma reavaliação do que seria

considerado como neutralidade de pesquisa, já que ele tem o direito e o dever de interpretar

seus dados e de construir seu corpus de pesquisa.

Pesquisadores qualitativos não precisam estar limitados pelas suposições

teóricas de suas profissões, mas isso não significa que eles são apenas

receptáculos passivos de significados locais. Querendo ou não, eles refletem

seu treino científico, pesquisadores inevitavelmente atribuem seus próprios

significados sobre os eventos que eles observam (WEINBERG, 2002, p. 27,

tradução nossa)11

.

Na área de estudos de línguas estrangeiras, a pesquisa qualitativa apresenta-se como

uma aliada, uma vez que a aprendizagem de uma língua estrangeira perpassa questões que vão

das simples crenças sobre qual a melhor maneira de aprender e ensinar até o estudo

aprofundado de questões psicolinguísticas, como constatação da existência da interlíngua, isto

é, o sistema linguístico único ou particular de cada estudante (ELLIS, 1997).

A pesquisa qualitativa ainda é vista com certo receio, já que por muito tempo tinha-se

a ideia de que os números eram inquestionáveis, sendo comum legitimar as pesquisas

realizadas com gráficos, comparações e estatísticas, passando a impressão de que sem esses

dados a pesquisa ficaria incompleta. Atualmente, alguns pesquisadores qualitativos, talvez

buscando cada vez mais diferenciar as duas abordagens de pesquisa, passaram a produzir

11

“Qualitative researchers need not be bound by the theoretical assumptions of their professions, but this does

not mean they are just passive receptacles of local meanings. Whether or not they reflect their scientific training,

researchers inevitably confer their own meanings upon the events they observe” (WEINBERG, 2002, p. 27).

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trabalhos nos quais não utilizam qualquer dado numérico, sob o risco de este não ser

considerado qualitativo, o que pode configurar um equívoco:

Pode-se cair no extremo de se chamar de qualitativo qualquer tipo de estudo,

desde que não envolva números, seja ele bem ou mal feito, o que me parece

muito negativo para o reconhecimento da abordagem qualitativa de pesquisa

(ANDRÉ, 1995, p. 15).

Entendemos que as pesquisas, tanto as de caráter qualitativo quanto as de cunho

quantitativo, são consideráveis de acordo com o contexto no qual acontecem. Percebemos, no

entanto, que na maioria das pesquisas ditas quantitativas as pessoas e os objetos são tratados

da mesma maneira, ou seja, ambos serão transformados em números ao final da análise

empreendida. Sendo assim, muitas vezes os números obtidos não são contextualizados com a

realidade observada, como se ela não tivesse sido importante para o pesquisador ou não

interferisse no resultado numérico extraído e exposto, o que não ocorre com a abordagem

qualitativa, que, mesmo se utilizando de números, pretende dar-lhes a devida interpretação

contextualizada.

Por ser descritiva e interpretativa, entendemos ser a abordagem qualitativa a mais

adequada para tratar da análise de assuntos que se referem ao ensino e à aprendizagem de

idiomas, uma vez que esse é um processo dinâmico e complexo, construído por pessoas com

motivações, necessidades, formação educacional e cultural e estilos de aprendizagem

diferentes, ou seja, seres em constante formação intelectual, que desenvolvem ações, se

expressam e interagem uns com os outros.

A pesquisa qualitativa, de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 49-51), possui

cinco características:

1. Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural,

constituindo o investigador o instrumento principal;

2. A investigação qualitativa é descritiva;

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos;

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar seus dados de forma

indutiva;

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

Com a intenção de investigar e contribuir com o processo avaliativo de língua

estrangeira em uma escola do nosso estado, o Rio Grande do Norte, compreendemos que

essas características listadas pelos autores fazem parte do nosso trabalho, porque fomos

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diretamente ao campo de pesquisa, descrevendo as situações nele encontradas, interagindo

com os envolvidos e assim ampliando as percepções de nosso estudo ainda durante o

processo. Na interpretação dos dados, procuramos entender as contribuições de nossos

participantes por meio da aplicação dos conhecimentos construídos coletivamente, de forma

que gerássemos novas perspectivas inteligíveis sobre o tema proposto.

Para nós, interpretação é uma forma de dedução. Deduzimos o que está

acontecendo com base nos dados, mas também com base na leitura dos

dados junto com nossas suposições sobre a natureza da vida, a literatura que

temos em nossa mente e as discussões que temos com nossos colegas (é

assim que nasce a ciência) (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 135).

A interpretação dos dados para nós, pesquisadores qualitativos, é o que torna a

pesquisa peculiar e significativa, porque nesse estágio da pesquisa dependemos de muitos

fatores, como as leituras feitas, as situações observadas, os objetivos que conduzem o

pesquisador ao campo de pesquisa e até mesmo o impacto que a presença do pesquisador

causa nos participantes e no local escolhido para desenvolvê-la, o que chamamos de “efeito

do observador” (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

A respeito da base etnográfica deste trabalho, entendemos que a etnografia trata da

descrição cultural do que se está observando, o que o trabalho procura fazer ao descrever a

cultura avaliativa da escola pesquisada. Nunan (2007, p. 55, tradução nossa) observa:

“Etnografia envolve o estudo da cultura/das características de um grupo na vida real, ao invés

de ambientadas em laboratório”12

. No mesmo livro, LeCompte e Goetz (1928 apud NUNAN,

2007) esclarecem que a etnografia se define pelo uso da observação participante ou não, tem

foco nas ambientações naturais e faz uso dos pontos de vista subjetivos e também das crenças

dos participantes envolvidos no processo de pesquisa.

Podemos dizer que nosso trabalho segue os princípios etnográficos, ao se tratar de uma

pesquisa participante, uma pesquisa ação, cujas observações se deram no ambiente natural dos

acontecimentos, qual seja: a escola e a sala de aula. Outra característica dos estudos

etnográficos que desenvolvemos foi trabalhar com a opinião dos participantes a respeito das

suas representações sobre os instrumentos avaliativos utilizados. Essa opinião foi emitida por

meio de desenhos que permeiam a cultura avaliativa dos pesquisados. Conforme André (1995,

p. 19), consiste na principal preocupação da etnografia “o significado que tem as ações e os

eventos para as pessoas ou grupos estudados”. A autora acrescenta que alguns significados

12

“Ethnography involves the study of the culture/characteristics of a group in real-world rather than laboratory

settings” (NUNAN, 2007, p. 55).

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podem ser expressos de maneira direta pela linguagem, enquanto outros somente poderão ser

transmitidos por meio de ações, ou seja, indiretamente, o que requer do estudo de base

etnográfica um interesse em perceber e descrever a realidade do grupo estudado.

Outra característica da pesquisa qualitativa etnográfica é que ela não tem um fim em si

mesma, pois “questões e hipóteses frequentemente emergem durante o curso da

investigação”13

(NUNAN, 2007, p. 56, tradução nossa). Assim sendo, ao optar pela pesquisa

qualitativa etnográfica, o pesquisador tem permissão para responder ativamente às

circunstâncias nas quais está inserida a sua pesquisa, modificando técnicas de geração de

dados, se necessário, revendo as questões que orientam a pesquisa, localizando novos

colaboradores e atualizando seu estudo durante o desenrolar do trabalho (ANDRÉ, 1995).

A pesquisa ação, descrita como “uma forma de pesquisa que está se tornando cada vez

mais significante em educação linguística”14

(NUNAN, 2007, p. 17, tradução nossa), foi o

modelo escolhido para tratar do assunto da avaliação qualitativa de língua inglesa no ensino

médio, por entendermos ser essa modalidade de pesquisa genuinamente uma pesquisa

interativa, que não se detém apenas a observar e a descrever a realidade investigada, mas

também com ela interage e provoca mudanças no contexto em que se insere.

Uma atividade cada vez mais recorrente é que hoje muitos profissionais da educação

fazem de suas aulas um campo para a pesquisa. Seja para que possam diagnosticar e melhorar

sua prática, seja para melhor ajudar seus estudantes, a atividade de pesquisar-se está

crescendo, com ou sem a presença de outros professores colaboradores (LANKSHEAR;

KNOBEL, 2008).

Defendemos que a pesquisa pressupõe a produção de novos conhecimentos. Ainda que

estejamos trabalhando com temas anteriormente pesquisados, nosso dever, enquanto

investigadores qualitativos, é acrescentar algo novo para a área de estudos a que pertencemos.

Sendo assim, encontramos na pesquisa ação um modelo ideal, pois nela seus pesquisadores e

colaboradores se envolvem de modo cooperativo (THIOLLENT, 1985).

A pesquisa ação difere das outras porque, enquanto pesquisa de natureza

completamente interventiva, já na sua fase exploratória começa a se preocupar com possíveis

soluções para os problemas que vai encontrando no decorrer de seu percurso. “Pesquisa ação

combina um ato substancial com um procedimento de pesquisa; é a ação disciplinada pela

13

“Questions and hypotheses often emerge during the course of the investigation” (NUNAN, 2007, p. 56). 14

“A form of research which is becoming increasingly significant in language education” (NUNAN, 2007, p.

17).

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inquirição, uma tentativa pessoal à compreensão, enquanto engajada em um processo de

melhoria e reforma”15

(HOPKINS, 1992, p. 32, tradução nossa).

Podemos dizer que a pesquisa ação é de ordem prática, pois tem como pretensão

conseguir mudanças no contexto em que se insere e por isso seus procedimentos são flexíveis.

Thiollent (1985) a descreve como uma pesquisa de base empírica que associa uma ação a uma

resolução de um problema coletivo.

A pesquisa ação é um dos métodos de se fazer pesquisa na investigação qualitativa,

que, para nós, representa a renovação da pesquisa científica: “A investigação científica

implica um escrutínio empírico e sistemático que se baseia em dados. A investigação

qualitativa preenche esses requisitos” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 64). Em nossa opinião,

a pesquisa não deve ter como objetivo apenas descrever as situações observadas sem

apresentar uma contribuição ou deixar para a posteridade a responsabilidade de intervir, de

apresentar um esclarecimento que contribua com os participantes do estudo. Uma vez que “o

objetivo dos investigadores qualitativos é o de melhor compreender o comportamento e

experiência humanos” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 70), a pesquisa deve sim provocar

alguma mudança, deixar a sua contribuição social, especialmente no lugar onde foi

desenvolvida, bem como incitar novas pesquisas no mesmo tema, justamente por ter

demonstrado a sua utilidade.

3.2 DESCRIÇÃO DO CAMPO E DOS PARTICIPANTES DE PESQUISA

Nossa pesquisa se desenvolveu em uma escola pública da rede estadual de ensino do

município de Lajes-RN, que tem como modalidade o ensino médio. Localizada no centro da

cidade, num bairro socialmente descrito como de classe média, atende a estudantes oriundos

da zona urbana e da zona rural, bem como de cidades vizinhas. Trata-se uma escola

materialmente bem equipada, que oferece aos seus usuários um ambiente adequado para os

estudos. Sua infraestrutura compreende seis salas de aula, além de sala de vídeo, laboratório

de informática, laboratório de ciências, biblioteca, sala de leitura, secretaria, sala dos

professores, sala da agremiação estudantil, sala da coordenação pedagógica, sala de direção,

cozinha e um pátio pequeno, usado para servir refeições e para a recreação da comunidade

escolar.

15

“Action research combines a substantive act with a research procedure; it is action disciplined by enquiry, a

personal attempt at understanding whilst engaged in a process of improvement and reform”.

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O ambiente onde a maior parte das atividades propostas para esta pesquisa aconteceu

foi a sala de aula, mas também fizemos uso de outras dependências escolares, como a

biblioteca, a sala de leitura e a sala de vídeo.

A escola atualmente passa por mudanças significativas em sua estrutura político-

pedagógica, pois é uma das pioneiras em nosso estado a inserir em seu currículo o Ensino

Médio Inovador, uma nova proposta do MEC para ressignificar o ensino médio, a qual se

encontra em fase de experimentação.

Por convenções éticas referentes à pesquisa qualitativa (CELANI, 2005), passaremos

a nos referir a essa escola, doravante, como escola inovadora e usaremos de siglas quando

nos referirmos aos participantes desta pesquisa, que compreendem trinta e seis informantes,

sendo um deles uma professora e trinta e cinco deles estudantes da segunda série do EM da

referida escola. Para um melhor esclarecimento, usaremos a sigla EC, seguida de numeração

por ordem de participação, para os estudantes, em substituição das palavras estudante

colaborador, e a sigla PC para a professora colaboradora.

Escolhemos trabalhar com uma turma da segunda série do EM por se tratar de

estudantes que se encontram em uma turma intermediária, ou seja, nem principiantes nem

concluintes. Na segunda série do EM, os estudantes já conhecem as normas e regras da escola

e já possuem suficiente familiaridade com professores e colegas, além de não se encontrarem

envolvidos em atividades típicas de uma turma concluinte, como a organização da cerimônia

de conclusão do curso, inscrições e participações em exames nacionais e estaduais com a

finalidade de ingressarem em universidades, entre outras.

Para que os participantes pudessem se sentir seguros ao participarem da pesquisa por

livre vontade, redigimos um formulário de consentimento (anexo 1), no qual informamos a

natureza do estudo, seus objetivos e as implicações referentes à participação dos estudantes.

Ao adotarmos esses procedimentos, estamos concordando com Bogdan e Biklen (1994), ao

afirmarem que, apesar de não haver um código deontológico específico à investigação

qualitativa, aqueles que voluntariamente concordarem em fazer parte de uma investigação

devem estar “cientes da natureza do estudo e dos perigos e obrigações nele envolvidos”

(BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 75). Os aprendizes menores de idade levaram o formulário

para casa, para que seus pais tomassem conhecimento e assinassem, caso concordassem com a

participação de seus filhos na pesquisa.

Apesar de trabalharmos com uma turma completa, alguns estudantes não se sentiram à

vontade em participar de todas as etapas da pesquisa, o que achamos compreensível, pois, “na

pesquisa educacional, ética refere-se a garantir que os interesses e o bem-estar das pessoas

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não venham a ser prejudicados, em razão da realização da pesquisa” (LANKSHEAR;

KNOBEL, 2008, p. 93).

Como exemplo do que acima mencionamos, alguns estudantes não devolveram os

questionários e outros não compareceram ao Seminário-workshop de avaliação qualitativa,

uma das etapas da nossa pesquisa que descreveremos adiante. Porém, uma vez que todos

desenvolveram as atividades avaliativas propostas pelos demais estudantes, então achamos

adequado deixar o número completo de estudantes da sala de aula investigada.

Na fase inicial da pesquisa ação, contávamos com a ajuda de uma estudante

universitária, durante as aulas nessa turma, pela necessidade de estarmos cursando o

mestrado. Porém, a referida estudante não pôde continuar conosco até o término da pesquisa,

por estar concluindo seu curso universitário e precisar realizar seu estágio docência em uma

escola de outra cidade.

A pesquisa iria se desenvolver no primeiro semestre de 2011, porém, devido a um

movimento grevista dos professores estaduais, que compreendeu os meses de maio, junho e

julho, as atividades escolares foram suspensas, retornando após a greve, em um horário

especialmente organizado para a reposição das aulas suprimidas e o consequente

cumprimento da carga horária reservada para a disciplina, o que ocasionou uma alteração no

cronograma proposto para a pesquisa, que veio a ser concluída em novembro de 2011.

3.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

A pesquisa ação qualitativa de base etnográfica foi desenvolvida em três fases

distintas, porém complementares, que trataram da caracterização da avaliação de língua

inglesa vigente na escola antes da realização do estudo; da implementação dos instrumentos

avaliativos adequados à disciplina de língua inglesa sugeridos pelos estudantes; e de uma

análise dos resultados advindos dos instrumentos avaliativos sugeridos.

Durante a primeira fase, a caracterização da avaliação de língua inglesa, aqui

definida como a fase de pré-intervenção da pesquisa ação realizada, o estudo buscou

identificar os instrumentos avaliativos empregados pela docente e de que forma acontecia a

participação dos estudantes no processo avaliativo dessa disciplina. Na segunda fase, a

implementação dos instrumentos avaliativos sugeridos pelos estudantes, considerada

como a fase da intervenção da pesquisa, foi relevante para o estudo entender as representações

estudantis a respeito dos instrumentos avaliativos que tomavam parte e daqueles que eles

gostariam que fizessem parte da sua avaliação de língua inglesa. A terceira fase, uma reflexão

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sobre a participação estudantil na construção do processo avaliativo, trouxe-nos

esclarecimentos sobre a participação dos estudantes na construção do processo avaliativo,

dedicando-se às opiniões estudantis no que diz respeito aos aspectos qualitativos do ensino-

aprendizagem de idiomas que tenham se desencadeado a partir da avaliação proposta, sendo

definida como a fase de pós- intervenção da pesquisa ação.

Uma vez que nossa pesquisa se define como qualitativa etnográfica, a qual prima pela

inserção do pesquisador nos contextos e situações de pesquisa (CHIZZOTTI, 2003), as três

fases deste estudo foram desenvolvidas a partir de um modelo de pesquisa ação descrito por

Nunan (2007), o qual nos serviu como base para os procedimentos peculiares a esse tipo de

pesquisa. De acordo com o autor, assim se constituem as etapas de um trabalho de pesquisa

ação:

Em primeiro lugar, a pesquisa é iniciada pelo especialista e é derivada de um

problema real na sala de aula que precisa ser confrontado. Em segundo

lugar, a pesquisa é colaborativa – neste caso não entre colegas, mas entre um

professor e uma pesquisa de base universitária. Em terceiro lugar, o

professor coleta dados objetivos nas formas de interações em sala de aula e

da linguagem do aprendiz. Em quarto lugar, os resultados são disseminados.

Finalmente o projeto toma a forma de um ciclo contínuo, no qual o professor

reflete sobre ele, retorna para ele e amplia a investigação inicial (NUNAN,

2007, p. 18, tradução nossa)16

.

O parecer de Nunan (2007) corrobora o de André (1995, p. 31), quando este declara

ser um exemplo de pesquisa ação “o professor que decide fazer uma mudança na sua prática

docente e a acompanha com um processo de pesquisa”. Durante essas etapas por nós adotadas

como modelo de base, partimos de um problema corriqueiro em sala de aula, a saber: a reação

dos estudantes ante as formas de avaliação de suas aprendizagens em língua inglesa. O estudo

colabora com a professora pesquisada e com a pesquisa universitária por oferecer a ambas

novos procedimentos a serem experimentados, de forma que venham a contribuir com a

compreensão ou a resolução do problema contemplado. Os dados de nosso estudo foram

originados em sua ambientação natural, ou seja, a sala de aula, e dependeram das interações e

das colocações estudantis sobre o que se estava pesquisando. Após o entendimento dos dados,

presentes nos resultados obtidos, realizamos a disseminação desses resultados perante a

16

“In the first place, the research is initiated by the practioner and is derived from a real problem in the

classroom which need to be confronted. Secondly, the research is collaborative – not in this instance, between

colleagues, but between a teacher and a university-based research. Thirdly, the teacher collects objective data in

the form of classroom interactions and learner language. Fourthly, the results are disseminated. Finally, the

project takes the form of an ongoing cycle in which the teacher reflects on, returns to, and extends the initial

inquiry” (NUNAN, 2007, p. 18).

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comunidade escolar que fez parte da pesquisa empreendida, o que gerou um ciclo contínuo de

novas inteligibilidades sobre os resultados apresentados, ampliando a pesquisa realizada.

Além da descrição geral separada em cinco etapas, Nunan (2007, p. 19) apresenta sete

steps, ou seja, sete passos que são característicos de um trabalho de pesquisa ação.

Traduzimos, interpretamos e organizamos os passos de maneira adequada aos nossos

procedimentos de pesquisa. São eles:

1 Iniciação Identificação do problema.

2 Investigação

preliminar

Geração dos dados por meio das primeiras observações e

registros.

3 Hipóteses Formulação de pressupostos com base nos primeiros dados que

foram gerados.

4 Intervenção Uma das principais contribuições da pesquisa, que nessa fase

deve oferecer subsídios teóricos e metodológicos visando a

solução e/ou elucidação do problema de pesquisa.

5 Avaliação É o retorno ao campo de pesquisa e aos participantes, para nova

geração de dados que venham a demonstrar se foi útil ou não a

intervenção do pesquisador.

6 Disseminação 1 Aqui ocorre a primeira divulgação (entre os participantes) e a

ampliação dos resultados obtidos com a pesquisa.

7 Dar seguimento Neste passo, prosseguimos com mais reflexões e investigações

mais apuradas sobre a pesquisa desenvolvida.

8 Disseminação 2 Acrescentamos este passo para justificar a divulgação pública

da pesquisa já concluída.

QUADRO 1 – Passos de uma pesquisa ação17

Nosso trabalho também usou como parâmetro esses sete steps, apresentados por

Nunan (2007), no desenvolvimento das três fases propostas para a pesquisa, porque

interpretamos que a iniciação de uma pesquisa se dá a partir do momento em que um

problema é diagnosticado. Para se construir uma noção de como lidar com o problema

identificado, faz-se necessária uma investigação preliminar, que originará dados por

intermédio das observações e registros do pesquisador, o que acontece durante a primeira fase

de nossa pesquisa. São os dados que nos permitem a formulação de pressupostos que

necessitam de uma intervenção cuja metodologia seja planejada e amparada teoricamente, no

intuito de explicar cientificamente o problema e sua origem, o que foi contemplado durante a

17

Quadro 1: Steps de pesquisa ação de David Nunan (2007), interpretados e adaptados pela pesquisadora, ao

acrescentar o número 1 ao nome disseminação, no step de número 6, e ao acrescentar o oitavo step, onde

originalmente havia apenas sete.

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segunda fase de nossa pesquisa. Por fim, há uma avaliação da ação desenvolvida, a qual

entendemos que deve ser feita em conjunto entre pesquisador e pesquisados, daí o retorno ao

campo de pesquisa para nova geração de dados, seguida da disseminação, ou antes,

divulgação das descobertas ou constatações do estudo entre os envolvidos. Dar seguimento à

pesquisa significa continuar com o ciclo de reflexão investigativo sobre ela mesma,

procedimentos realizados durante a terceira fase deste trabalho, aos quais nós acrescentamos o

oitavo step, que entendemos ser adequado em decorrência do tempo hábil cumprido, ao

término do qual apresentamos a análise concluída do que nos propomos a investigar.

3.3.1 Geração de dados

3.3.1.1 Instrumentos e procedimentos para a geração de dados

Para desenvolvermos a pesquisa proposta, tornamo-nos cientes de que na pesquisa

ação devemos fazer uso da combinação de diversas fontes de registro (ANDRÉ, 1995). Assim

sendo, utilizamos variados instrumentos para a geração dos dados, sendo que cada

instrumento foi usado em fases distintas do trabalho. Durante a primeira fase, usamos

questionários, elaborados com perguntas abertas. A segunda fase contou com a realização de

um seminário, uma entrevista semiestruturada e uma produção de desenho livre (produção

textual imagética). Na terceira fase da pesquisa, utilizamos a observação participante, que,

aliás, foi empregada durante todas as fases do estudo, tendo, porém, mais destaque em sua

fase conclusiva, e fizemos uso também de uma análise documental, ao examinarmos as

autoavaliações dos estudantes participantes.

De acordo com Gressler (2003), o questionário é o instrumento mais rápido para se

coletar dados e há uma quase total ausência de pressão sobre quem o está respondendo, que

pode inclusive fazer uso do anonimato. O autor cita como uma das desvantagens do

instrumento a sua não devolução, fato que se confirma, já que alguns questionários não foram

devolvidos pelos participantes da pesquisa. No caso da nossa investigação, para entendermos

como se caracteriza a avaliação de língua estrangeira em escolas públicas de ensino médio e

como o estudante do EM se constrói como um agente de avaliação, elaboramos dois

questionários (anexos 2 e 3) que foram destinados aos estudantes e à professora colaboradora.

No total, foram distribuídos 35 questionários entre os estudantes, mas apenas 28 foram

devolvidos, representando 80% do total.

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Os questionários foram entregues aos participantes em abril de 2011, tendo a

pesquisadora permanecido na escola para leitura e explicação das perguntas contidas neles.

Porém, era facultativa a escolha de serem respondidos ou não no ambiente escolar pelos

participantes da pesquisa. O recolhimento dos questionários respondidos aconteceu no

decorrer das aulas subsequentes à sua entrega.

Outro instrumento utilizado para gerar dados nesta pesquisa foi o seminário,

procedimento descrito por Gil (2002) como “principal ponto de referência” para a formulação

das diretrizes da pesquisa ação. No seminário, intitulado I Seminário-Workshop sobre

Avaliação Qualitativa de Língua Inglesa, cujo folder constitui o anexo 4, agregamos uma

workshop, uma vez que seus participantes também tomariam parte na elaboração de algumas

atividades.

O seminário, feito a priori para fundamentar os estudantes envolvidos na pesquisa a

respeito do desenvolvimento de uma avaliação nos preceitos qualitativos, apresentando-lhes

teóricos que estudam o tema, também procurou obter dos estudantes suas concepções acerca

da avaliação de língua inglesa realizada em sua escola.

Durante a realização do seminário, utilizamos mais dois instrumentos para a geração

de dados: uma entrevista semiestruturada e coletiva, feita com todos os participantes, e um

momento dedicado à produção imagética de desenhos dos estudantes acerca do tema

proposto, construindo assim suas representações, por meio de imagens, do que pensam sobre

avaliação.

Sobre o uso de entrevistas mescladas a outras atividades de investigação, Bogdan e

Biklen (1994) colocam-nos que, uma vez que na observação participante os investigadores e

os investigados já se conhecem, a entrevista se assemelha muitas vezes a “uma conversa entre

amigos”. Para André (1995, p. 28), “as entrevistas têm a finalidade de aprofundar as questões

e esclarecer os problemas observados”. Esta foi nossa intenção ao trabalharmos com esse

instrumento: conversar com aqueles estudantes para podermos entender como pensam e

sugerem a avaliação de língua inglesa, esclarecendo conceitos outrora contemplados por

outros procedimentos da pesquisa.

A respeito da produção de desenho livre, no intuito de servir como representação das

ideias dos pesquisados, percebemos que essa atividade tem se configurado em uma técnica

que está se popularizando nas pesquisas das ciências humanas, de acordo com a observação

de Prosser (1998, p. 1, tradução nossa): “Nas últimas três décadas, pesquisadores qualitativos

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têm dado sérias reflexões ao uso de imagens com palavras, para melhorar a compreensão da

condição humana”18

.

Nessa técnica, o uso de imagens se faz necessário por entendermos que estas

compõem um texto visual, que se apropria de uma linguagem não verbal, imbuída de

significados que passam a ser representados por meio de desenhos. Dessa forma, em nosso

trabalho, passamos a tratar essas representações pelo viés da semiótica, entendendo que “o

conceito de representação tem sido um conceito-chave da semiótica desde a escolástica

medieval, na qual este se referia, de maneira geral, a signos, símbolos, imagens e várias

formas de substituição” (SANTAELLA; NÖTH, 2008, p. 15).

A realização do seminário, da entrevista e da produção de desenhos aconteceu em

novembro de 2011, após a análise dos questionários obtidos. Permanecemos na escola

observando a implementação dos instrumentos avaliativos sugeridos pelos discentes, bem

como os resultados advindos da participação estudantil no processo avaliativo de língua

inglesa e se houve ou não contribuição dessa avaliação qualitativa para a aprendizagem dos

estudantes.

Após o seminário, continuamos a nos encontrar com os participantes para acompanhar

os efeitos de suas contribuições. Os encontros foram registrados por meio da observação

participante e da análise de uma autoavaliação (anexo 5) realizada por alguns dos partícipes,

sendo esses dois últimos instrumentos de geração de dados os que utilizamos para

concluirmos o nosso estudo.

Ao fazermos uso da observação participante, estamos em concordância com Moreira e

Caleffe (2006, p. 204), quando afirmam ser essa uma técnica que “proporciona a melhor

maneira de obter uma imagem válida da realidade social”. Com a observação participante,

pudemos ver o desempenho dos estudantes ante os instrumentos avaliativos que eles

escolheram. Também destacamos a opinião de André (1995, p. 28), quando diz que a pesquisa

“é chamada de participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um

grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado”.

A autoavaliação, nesse estágio da pesquisa tratada como um documento para análise,

foi o instrumento complementar às demais etapas de geração de dados, pois serviu para

compreender, por intermédio das opiniões dos estudantes, se foi válida ou não a adoção, entre

as escolhas deles, dos instrumentos avaliativos empregados e que mudanças pudemos

perceber nas suas concepções, enquanto participantes desse processo. “A análise documental

18

“Over the last three decades qualitative researchers have given serious thought to use images with words to

enhance understanding of the human condition” (PROSSER, 1998, p. 1).

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pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja

complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos

de um tema ou problema” (ANDRÉ; LÜDKE, 1996, p. 38).

Realizada em novembro de 2011, a autoavaliação empregada encerrou as atividades

que necessitavam da colaboração dos participantes da pesquisa empreendida.

Outros instrumentos secundários utilizados para geração e armazenamento dos dados

foram: um caderno para anotações de campo durante o período de observação; um aparelho

de MP4 para a gravação da entrevista; uma câmera digital para registros fotográficos e de

vídeos nos encontros de pesquisa; e um projetor de multimídia, que foi utilizado no

Seminário-workshop.

3.3.1.2 Tratamento dos dados

No tocante à sua análise, os dados apresentados receberam tratamento qualitativo.

Todas as respostas obtidas pelos instrumentos utilizados foram organizadas, após leitura e

transcrição19

, em categorias de análise previamente definidas pela pesquisadora, com base no

referencial teórico que fundamenta o trabalho, ou sugeridas pelas respostas adquiridas.

Para analisar os dados referentes à primeira fase da pesquisa, foram elaborados dois

questionários distintos. Um questionário foi destinado ao corpo docente e continha perguntas

orientadas pelas seguintes categorias de análise: 1) concepções sobre avaliação e objetivos da

avaliação de língua inglesa; 2) instrumentos avaliativos utilizados em sala de aula e

habilidades linguístico-comunicativas avaliadas; 3) preferência por instrumento avaliativo; 4)

dificuldade de elaboração e aplicação das avaliações de língua inglesa; 6) reação dos

estudantes à avaliação e às notas; 7) descrição dos recursos didáticos utilizados em sala de

aula.

O outro questionário, direcionado ao corpo discente, contemplou as seguintes

categorias de análise: 1) concepções sobre as avaliações da escola; 2) como são avaliados os

conhecimentos em língua inglesa; 3) preferência por instrumento avaliativo já aplicado; 4)

dificuldade na resolução das avaliações de língua inglesa; 5) desempenho dos estudantes nas

avaliações de língua inglesa; 6) reação dos estudantes aos resultados em língua inglesa; 7)

preferência ou sugestão por instrumento avaliativo a ser aplicado 8) descrição dos recursos

didáticos utilizados em sala de aula.

19

Usamos de transcrição apenas para as respostas obtidas com a entrevista.

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Com essas categorias, buscamos o diagnóstico e a caracterização de como estava

acontecendo a avaliação da aprendizagem de língua inglesa na escola pesquisada.

Para a segunda fase da pesquisa, ao realizarmos o seminário, utilizamos as categorias

de análise: 1) instrumentos avaliativos apreciados pelos estudantes e 2) instrumentos

avaliativos não apreciados pelos estudantes, para compreendermos as representações que eles

atribuem aos instrumentos avaliativos. Por também realizarmos uma entrevista

semiestruturada, definimos como critérios as seguintes categorias de análise, contempladas ao

longo da entrevista: 1) instrumentos avaliativos que contemplem as exigências dos PCNEM

para o ensino de idiomas; 2) posicionamento ante os instrumentos avaliativos tradicionais e

convencionais; 3) sugestões para as avaliações escolares; 4) sugestões para as avaliações

nacionais.

A partir dessas categorias de análise, procuramos identificar e implementar os

instrumentos avaliativos indicados pelos estudantes, para que a avaliação passasse a ser

realizada com base neles, como uma das formas de contribuição dos estudantes no processo

avaliativo.

Por último, durante a terceira fase desta pesquisa, ao fazermos uso da análise

documental de uma autoavaliação, elaborada com questões que tratam das ações corriqueiras

na vida estudantil relacionadas à disciplina de língua inglesa, observamos as seguintes

categorias de análise: 1) adequação à metodologia do EMI; 2) frequência e participação

estudantil na realização das atividades; 3) desempenho e justificativa perante as notas

pretendidas.

Com essas categorias, buscamos entender se os estudantes se encontravam satisfeitos

com os novos rumos da avaliação da aprendizagem de língua inglesa da sua escola e se, ao

serem corresponsáveis pelas avaliações por eles sugeridas, reconheciam sua participação nos

resultados obtidos. Também procuramos contemplar com essas categorias de análise se a nova

forma de avaliar, que considera as opiniões estudantis, tem interferido positivamente na

aprendizagem do idioma estudado.

A análise dos dados gerados se desenvolveu de forma descritiva, sendo estes

analisados como um sistema completo e interativo, e não de maneira isolada.

Os resultados são demonstrados a partir de quadros produzidos para ilustrar alguns

dados obtidos, de modo a facilitar a sua compreensão, atentando para a recorrência de

respostas e pertinência ao tema. As nossas interpretações são apresentadas de forma dedutiva,

baseando-se em conclusões apontadas pela pesquisa realizada.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

___________________________________________________________________

Neste capítulo, prosseguiremos com a análise dos dados gerados pela pesquisa ação de

base etnográfica que empreendemos, discutindo-os a partir da teoria que nos referenciou ao

longo deste trabalho. Como a pesquisa qualitativa não tem um fim em si mesma e no campo

de pesquisa podem surgir novas inteligibilidades sobre o tema pesquisado, adotamos como

procedimento de análise continuar a nos remeter aos teóricos anteriormente consultados e a

outros teóricos cujas leituras e trabalhos dialoguem com as observações empreendidas,

sempre que se fizer necessário.

Para melhor estruturar a análise, procuramos seguir a divisão proposta nos

procedimentos de pesquisa, ou seja, dividir o estudo em três fases distintas, ainda que

complementares à pesquisa realizada, situando, inclusive, os instrumentos de geração de

dados utilizados em cada fase, de acordo com seus objetivos, e descrevendo os dados

levantados pela pesquisa e os indicadores que estes suscitam.

4.1 A CARACTERIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE LÍNGUA INGLESA

Na primeira fase, classificada por nós como a fase de pré-intervenção da pesquisa

ação, procuramos identificar e caracterizar os instrumentos avaliativos empregados pelos

professores de língua inglesa da escola pesquisada, assim como perceber suas preferências

quanto a esses instrumentos e obter as primeiras percepções dos estudantes sobre o tema

abordado. Foram elaborados dois tipos de questionário, um foi destinado aos estudantes e o

outro, à professora colaboradora.

Dentre os questionários obtidos, decidimos que, para analisá-los, deveríamos

examiná-los por reincidência de respostas, pois colocá-las todas aqui seria repetitivo e

desnecessário.

No primeiro momento, ao obtermos as opiniões emitidas pelos participantes acerca

das avaliações da escola, assim partindo de uma perspectiva mais abrangente da avaliação,

pudemos dividir essas opiniões em positivas e negativas. Essas opiniões sobre as avaliações

da escola pesquisada partiram da seguinte questão: o que você acha das avaliações da sua

escola?

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Positivas Negativas

Interessantes Exames descontextualizados do conteúdo

Ótimas Ruins

Legais Regulares

Boas Limitadas

Razoáveis Deveriam ser mais explicadas

Avaliação visa aparência do estudante, não seu conhecimento

Sem sentido, por não explicitar bem o conteúdo

Difíceis

Precisam melhorar

Amedrontadoras

Elaboradas para prejudicar o estudante

Promovem a “cola”

Não produtivas e com enfoque nas notas

QUADRO 02 – Opiniões sobre as avaliações da escola

Fonte: Dados da pesquisa.

Com base nas opiniões emitidas, constatamos que as avaliações empregadas pela

escola pesquisada, de um modo geral, não agradam aos estudantes, tendo em vista que suas

opiniões apresentam mais referências negativas do que positivas. Eles classificaram as

avaliações de sua escola de acordo com os instrumentos avaliativos empregados, os quais

foram diversos, como: “interessantes, boas, ruins, limitadas, razoáveis, legais, dinâmicas e

difíceis”, entre outras colocações.

Algumas opiniões emitidas pelos estudantes pesquisados demandaram um pouco da

nossa atenção, mas, apesar de as respostas se referirem a todas as avaliações da escola, e não

apenas as da disciplina a qual nos propomos a investigar, resolvemos tornar público esses

depoimentos. Um dos estudantes, denominado de EC1, denunciou que as avaliações da escola

“não são tão produtivas, pois os professores, em sua maioria, focam apenas nas notas e não no

que o aluno aprendeu”.

O interesse pelas notas demonstra uma cultura quantitativa, que se preocupa com

resultados, de preferência, numéricos. Hoffmann (2004) classifica como simplista essa atitude

por parte de educadores. A presença das notas “boas”, ou seja, daquelas notas que deixam o

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estudante na média exigida para sua aprovação, é perseguida como a principal meta, em vez

de a principal meta ser a aprendizagem, pelo que entendemos da fala de EC1.

Percebemos inquietação na fala de EC1, ao evidenciar que as avaliações de sua escola

não são produtivas, isto é, não conduzem ou induzem a momentos de aprendizagem, mas são

meros instrumentos com a finalidade de gerar notas. Podemos deduzir que essas avaliações

aplicadas, ao terem a meta das notas alcançadas, não se preocupam em promover um retorno a

partir da aprendizagem relegada, denunciada pelos próprios instrumentos avaliativos

empregados, o que de certa maneira delimita a função da avaliação a simplesmente medição

dos saberes conteudinais dos estudantes.

Outro estudante, EC2, expressou que as avaliações eram “muito bem elaboradas, para

„ferrar‟ o aluno mesmo!” Essa opinião nos remete a uma postura adotada por determinados

docentes que fazem dos momentos avaliativos um meio de autopromoção dos seus saberes em

contraste com a “fraqueza” ou o “despreparo” dos estudantes, termos usados pelos docentes

ao se referirem àqueles que não conseguem um bom resultado em seus exames. Essa postura,

observada por Silva (2007) e também descrita por Flain-Ferreira (2005), origina-se de

determinada crença que muitos professores ainda possuem, quando julgam que, ao elaborarem

avaliações difíceis, estão construindo ou mantendo o status de professores exigentes e bem

preparados.

Para os detentores desse mito, ou crença, uma avaliação difícil, que venha a “ferrar o

aluno”, como observou EC2, promoveria o respeito pelo professor que dela faz uso, ao gerar

nos estudantes um certo temor em não serem bem-sucedidos quando avaliados (SILVA,

2007).

A terceira opinião veio da jovem EC3, que escreveu: “a maioria das avaliações feitas

em sala de aula ajudam, especialmente, aquele aluno que sabe colar!” Essa terceira opinião

vem complementar as opiniões anteriores, ao sinalizar que não existe preocupação com a

aprendizagem, dessa vez por parte do estudante, que tem como meta obter uma nota

satisfatória sem outro esforço senão o de plagiar as respostas alheias. A opinião de EC3

também aponta para avaliações mal elaboradas, que induzem a respostas prontas, em vez de

promover o raciocínio, o que dificultaria as atitudes de plágio de respostas entre os estudantes.

Na visão de Moço (2011), é tarefa do educador compreender por que ocorre o plágio (vulgo

“cola”) entre os estudantes, para tentar minimizar esse problema.

A resposta de EC3 permite-nos deduzir, ainda, que essas avaliações servem para

reforçar a postura de dificultador do professor, uma vez que somente quem tem condições de

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respondê-las satisfatoriamente são os estudantes bem preparados, que memorizam os

conteúdos exigidos nas avaliações, ou aqueles que saibam “colar”.

Esse posicionamento de EC3, ao apontar que as avaliações de sua escola são boas para

os que sabem “colar”, deixa perceptível que o professor pode contribuir para essa prática

nociva à aprendizagem, quando: a) porta-se com antagonismo perante seus educandos, o que

provoca atitudes de desafio; b) elabora avaliações distintas de sua maneira cotidiana de

ministrar aulas, o que provoca no estudante o temor de não ser aprovado; c) faz da sua

avaliação uma maneira de retaliar-se dos dissabores enfrentados em sala de aula, o que propõe

ser a “cola” a alternativa plausível para os estudantes.

Com base nas respostas dos estudantes pesquisados a respeito das avaliações da sua

escola, entendemos que ainda não são realizadas de forma satisfatória para essa significativa

parcela da comunidade escolar, que são os estudantes.

Ao questionarmos a docente pesquisada, ela se posicionou de acordo com os seus

procedimentos avaliativos, o que nos fez perceber que suas concepções de avaliação refletem

uma preocupação em ajudar seus aprendizes a aprenderem, e não apenas a conferirem seus

conhecimentos. Os objetivos para a avaliação de língua inglesa indicados pela professora são:

ensinar inglês, fornecer feedback e oferecer oportunidades para a melhoria da aprendizagem

nessa disciplina. Nas palavras dela, avaliar “é proporcionar aos estudantes meios de avançar

em sua aprendizagem, pois através da avaliação encontramos subsídios para ver em que

estamos precisando melhorar”.

Podemos inferir, pelas palavras da professora, que a avaliação não está desvinculada

da aprendizagem, como um procedimento que deva ser realizado à parte da tarefa de ensinar e

que serve para conferir se o ensino foi bem feito ou não. Antes, é um dos desencadeadores

dessa aprendizagem, já que se apresenta como mais um dos procedimentos do ato de ensinar

que conduzirão a outros e outros, dependendo da necessidade dos estudantes.

Delimitando o tema avaliação para a perspectiva da pesquisa, ou seja, voltando-o para

o ensino de língua inglesa (LI), procuramos identificar os instrumentos avaliativos

empregados na avaliação de LI e, assim, formulamos a segunda pergunta do questionário da

seguinte maneira: Como você é avaliado na disciplina de língua inglesa? (prova escrita, prova

oral, outros).

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Instrumentos avaliativos

Prova escrita

Prova oral

Seminários

Trabalhos

Trabalhos para apresentar

Trabalhos individuais

Trabalhos de pesquisa

Exercícios

Atividades em grupo

Atividades de música

Diversas formas

QUADRO 03 – Instrumentos avaliativos empregados na avaliação de língua inglesa

Fonte: Dados da pesquisa.

Percebemos uma variedade de instrumentos usados para aferição dos conhecimentos

dos educandos na disciplina pesquisada, o que demonstra que há uma preocupação por parte

da docente em avaliar as quatro habilidades pretendidas para o ensino de língua estrangeira

(ler, falar, ouvir e escrever) de acordo com os PCNEM (BRASIL, 2002), embora tenhamos

identificado que alguns instrumentos têm peso valorativo diferente dos demais, sendo

privilegiados em detrimento de outros.

A prova escrita, por exemplo, tem seu valor pretendido entre 50% do valor total de

todos os instrumentos avaliativos utilizados durante o semestre. Ou seja, o valor de pontos

atribuídos para as atividades avaliativas durante todo o semestre é dividido de forma desigual

entre os instrumentos, gerando a seguinte situação: se a docente utilizar em um semestre a

quantidade de seis instrumentos avaliativos, a prova valerá 5,0 e os demais, 1,0 cada.

Já de conhecimento dos instrumentos avaliativos utilizados, procuramos identificar

aqueles que seriam os preferidos dos estudantes, fazendo a pergunta: Qual a sua maneira de

avaliar preferida? Por quê? Elaboramos então o seguinte quadro com as respostas e as

justificativas dos estudantes para cada escolha.

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Instrumentos Justificativas apresentadas pelos estudantes

Prova oral É divertida – é interessante – o estudante aprende a falar inglês – avalia-se

a pronúncia – produz o desempenho da fala – a possibilidade de aprender é

maior – o instrumento mais adequado para se aprender o inglês.

Prova escrita Requer paciência para responder.

Trabalho Avaliação fácil e boa.

Trabalho de

pesquisa

Requer tempo para se preparar – estuda-se apenas o necessário.

Trabalho em

grupo oral

Testa o conhecimento dos envolvidos.

Trabalho em

equipe

Melhora a aprendizagem – é uma oportunidade de melhorar as notas – há

troca de ideias – desenvolve a confiança nos colegas – traz tranquilidade –

diminui a timidez.

Atividades com

música

Proporcionam divertimento.

Exposições Trabalham a oralidade.

Não define As avaliações dependem do conteúdo aplicado.

Quadro 04 – Maneira de avaliar preferida pelos estudantes

Fonte: Dados da pesquisa.

As preferências pelos instrumentos avaliativos já utilizados pela professora de inglês

mostraram-se bem variadas, mas foi predominante a escolha do trabalho em equipe, seguida

da prova oral e de outros tipos de trabalhos (de pesquisa, de música, de apresentar). O

trabalho em equipe é uma rica oportunidade de interação entre os envolvidos, que, como

integrantes desse tipo de trabalho, sentem-se afetados uns pelos outros, passando a agir de

modo diferente da forma como se comportam quando estão sozinhos. É por meio do contato

com os colegas e da segurança por estarem interagindo em um grupo conhecido que os

estudantes superam a timidez e desenvolvem a autoconfiança.

A prova oral, segundo instrumento mais apontado pelos estudantes durante essa fase

da pesquisa, é mostrada pelos participantes como “instrumento mais adequado para se

aprender o inglês”. Essas colocações nos remetem à ideia de que os estudantes sentem que

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aprenderam e que podem praticar a língua alvo, exigência legitimada pelos PCNEM

(BRASIL, 2002).

A professora, por sua vez, alegou preferir a prova escrita por questões de praticidade

e por considerar que ela é o instrumento que mais prepara o estudante para a vida, devido aos

exames nacionais, citando como exemplo o ENEM, que desde 2010 inseriu as línguas

estrangeiras na sua prova. A docente acha que é uma maneira de pensar realista, porque,

mesmo disposta a utilizar variados instrumentos para avaliação das aprendizagens de seus

aprendizes, preocupa-se em prepará-los para formas de avaliação mais tradicionais.

A despeito das finalidades dos exames nacionais, percebemos que a avaliação

realizada através do instrumento prova escrita ainda é a mais utilizada em nosso país, mesmo

em exames que queiram se diferenciar do tradicional vestibular. Defender a extinção desse

instrumento nas escolas públicas do Brasil seria um posicionamento um tanto ingênuo, bem

como seria ingênuo entender que uma única maneira de avaliar pode definir adequadamente

os futuros profissionais da nação, negligenciando aspectos importantes como o desempenho e

a vocação, por exemplo.

Na fala da PC, destacamos o termo praticidade como uma das justificativas pela

preferência desse instrumento. A prova escrita proporciona praticidade, uma vez que é

uniforme a todos os estudantes que irão resolvê-la, possibilitando uma correção rápida através

do que se convencionou chamar entre os professores de “chave de correção”. Ou seja, é uma

prova matriz, devidamente respondida, com valores numéricos distribuídos entre as suas

questões, servindo de apoio para eventuais consultas, ao se corrigir as demais. Essa

praticidade parece vir a calhar na conturbada rotina docente, especialmente daqueles que

dividem seus expedientes entre duas ou mais instituições de ensino.

Em relação às dificuldades apontadas pelos participantes, elaboramos a seguinte

questão: Você sente dificuldades durante as avaliações de inglês? Quais? Ao obtermos

respostas para esse questionamento, deparamo-nos com uma certa divergência, tendo em vista

os instrumentos utilizados. No caso dos estudantes, as dificuldades expostas se referiam ao

momento da aplicação dos instrumentos avaliativos pela professora e relacionavam-se ao não

entendimento de questões, devido ao fato de as provas escritas virem na língua alvo e não na

língua materna. Alguns apontaram dificuldade de falar, alegando timidez, nos seminários e

apresentações orais ou outras, bem como de pronúncia durante as provas orais. Duas

dificuldades peculiares a dois partícipes foram: dificuldade para ler e interpretar textos em

inglês e também na escrita de palavras no idioma. Dividimos as dificuldades apresentadas em

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três níveis: nenhuma dificuldade, pouca dificuldade ou muita dificuldade. Para cada nível

apresentado, colocamos as justificativas dos estudantes.

Dificuldades nas

avaliações

aplicadas

Justificativas dos estudantes

Nenhuma

dificuldade

Quando a avaliação é bem explicada – Os conteúdos são fáceis ou

repetidos – As avaliações são fáceis – As avaliações vêm escritas no

idioma estudado, assim melhoram a aprendizagem na língua alvo.

Pouca dificuldade Na pronúncia das palavras estrangeiras – Em questões similares com a

língua portuguesa (falsos cognatos).

Muita dificuldade

Quando a avaliação vem escrita em inglês – Na pronúncia das palavras –

Por não entender questões – Por não entender a avaliação ou a

explicação – Durante as apresentações, por dificuldade de falar – Na

escrita de palavras no idioma inglês – Durante a leitura de textos – Na

interpretação de textos.

Quadro 05 – Dificuldades durante as avaliações

Fonte: Dados da pesquisa.

Partindo das justificativas apresentadas pelos estudantes, conjeturamos que suas

dificuldades se relacionam com os aspectos linguísticos peculiares à língua estudada, o que

provoca o não entendimento da avaliação. Por não ser bem explicada, não estar na língua

materna (quando escrita) ou o estudante não entender a avaliação, ou seja, não saber que

critérios estão sendo considerados no ato de avaliar, logo tende a desgostar ou apresentar

dificuldades para participar dessas avaliações. Essas dificuldades aparecem porque os

aprendizes de uma língua estrangeira parecem desenvolver uma inconsciente predisposição a

associarem-na com a língua materna. Percebemos isso nas constantes observações de que “a

avaliação não era entendida por não vir escrita na língua materna”.

Ainda podemos dizer que os estudantes não apresentam dificuldades quando os

conteúdos são repetidos, ou seja, já foram vistos ou mesmo avaliados antes. Esse fato

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confirma que, quando os professores fazem de sua prática avaliativa um ato contínuo ao da

sala de aula, as dificuldades inexistem ou amenizam-se, prática contrária à noção de ensinar

para avaliar (SILVA, 2007), na qual os professores ensinam de um jeito e avaliam de outro.

Para a professora, as dificuldades começam antes, com a escolha e a elaboração dos

instrumentos avaliativos a serem utilizados. Citando o exemplo da prova escrita, PC alegou

ter bastante dificuldade ao elaborar suas questões, para que não fiquem tão fáceis nem tão

difíceis, mas sejam equilibradas.

Outra dificuldade apontada pela professora refere-se à distribuição de pontuação nos

instrumentos utilizados. Quanto a isso, constatamos, através da observação participante

empreendida, que a coordenação pedagógica da escola adotou, entre os professores, a

determinação de destinar 50% dos pontos a serem obtidos pelos discentes para a prova escrita

e os outros 50% para trabalhos e outras atividades.

Durante a aplicação dos instrumentos selecionados, a professora apontou como

dificuldade o despreparo dos estudantes, que, segundo ela, não estudam para os exames. O

que deveria constituir dificuldade para os estudantes, a professora atribui como uma

dificuldade docente, talvez preocupada com a motivação dos estudantes em somente

estudarem poucos dias antes dos exames.

Preparando-se ou não para os exames, o desempenho dos discentes na avaliação de

língua inglesa parece ser bom, pois, entre aqueles que responderam ao questionário, nenhum

foi reprovado na disciplina.

Ao indagarmos aos estudantes como reagiam diante das notas tiradas e se as

mereciam, obtivemos algumas das seguintes respostas: uns alegaram que não sabiam como

conseguiram as notas, pois não tinham muito conhecimento na matéria, outros se sentiam

insatisfeitos, mesmo com notas admiráveis. Entre os insatisfeitos, destacamos algumas

respostas: EC1, um dos pesquisados, assim se posicionou: “Reajo de forma natural diante da

nota, se a mereci. Quando acho que não mereço, discuto mesmo com a professora!” Outra

estudante, EC4, expressou-se desta maneira: “Não reajo quando me são favoráveis”. Sua

colega, EC3, expressa a mesma opinião, quando diz: “Reajo conforme meu desempenho”.

Outras respostas semelhantes a essas nos fazem entender que os estudantes

pesquisados somente procuravam sua professora quando tiravam notas insatisfatórias. EC5 se

posicionou de maneira aparentemente natural e assim observou seu merecimento às notas:

“Sim, porque são boas”. Concorda que merece suas notas porque são boas, o que nos leva a

pensar que se as notas de EC5 fossem ruins, provavelmente, ele iria achar que não as merecia.

A única exceção de resposta que tivemos veio da estudante EC6, que, apesar de ter notas altas

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em inglês, ficou insatisfeita: “[reajo] Normal, mas tenho certeza que sou melhor do que

minhas notas atestam!”, reivindicando, portanto, notas mais altas, não porque as suas estavam

baixas, mas porque conhece o seu potencial e acha que está sendo avaliada de forma

equivocada.

Ao ser indagada a esse respeito, a professora confirmou que os estudantes agem de

forma normal se as notas forem boas para eles, mas que são bem questionadores quando estão

insatisfeitos, chegando até mesmo a acusá-la de “perseguição”.

As notas ainda têm influência decisiva e são de caráter propagandista nas instituições

de ensino. Na iniciativa privada, por exemplo, servem como parâmetro para os pais

matricularem seus filhos, preferindo uma escola a outra, devido ao desempenho demonstrado

pelas notas dos estudantes daquela escola perante exames estudantis de destaque. A

preocupação com as notas por parte dos estudantes, a ponto de provocarem reações apenas se

forem desfavoráveis, configura-se como um equívoco do que seria realmente a funcionalidade

das notas: registrar a aprendizagem. “Todavia, com o decurso do tempo e com a sedimentação

de hábitos comuns de pensar e agir, as notas, que representavam um meio de registro,

passaram a ser confundidas com a própria qualidade da aprendizagem” (LUCKESI, 2011, p.

407).

No intuito de obtermos a opinião discente sobre os instrumentos avaliativos sugeridos

que pudessem vir a ser aplicados pela professora na fase de pós-intervenção da pesquisa,

percebemos que não foram propostos muitos instrumentos avaliativos novos, como

pressupúnhamos, mas sim o desejo de que fossem aplicados alguns instrumentos que os

estudantes gostavam quando a professora os utilizava e outros que a docente ainda não fazia

uso de maneira avaliativa. Assim, foram sugeridos: “Trabalhos, dinâmicas, interpretação

teatral de textos, seminários, provas orais, músicas e exposições”.

Na sugestão dos instrumentos, verificamos que existia uma desvinculação do ensino-

aprendizagem com a avaliação, pois havia aulas que eram voltadas ao ensino de inglês e

outras que tinham como função a avaliação da aprendizagem dos aprendizes no idioma

estudado. As aulas relacionadas ao ensino, quando a docente utilizava instrumentos no intuito

de fixação dos conteúdos apresentados, diferiam das aulas avaliativas, que faziam uso de

outros instrumentos.

Antes de empreendermos a pesquisa, por também exercermos a docência no ensino

médio, ficávamos intrigados com o repetitivo interesse dos estudantes em somente quererem

desenvolver atividades, trabalhos e participações em classe mediante a garantia de que

valeriam alguns pontos para a sua nota. Essa atitude discente apresenta-se justificada agora,

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mediante o conhecimento de que, para os estudantes, o processo não deveria ocorrer separado

por etapas distintas, mas sim contínua e cumulativamente. Por esse motivo, os estudantes

apontaram que a docente também fizesse uso dos instrumentos que lhes possibilitassem

participar tanto da etapa de ensino da língua quanto da etapa de avaliação da aprendizagem da

língua.

A diferença entre os instrumentos para fixação e para aferição de conhecimentos

também já foi assunto de pesquisa de outros estudiosos (MAGALHÃES, 2006) que

identificaram que o procedimento de ensinar de uma maneira e avaliar de outra fomenta uma

crença em torno da pessoa do professor, que deve ser temido pelos seus educandos

exatamente por estes não saberem de que forma serão avaliados seus conhecimentos.

Ao pedirmos uma descrição dos materiais didáticos de propriedade da escola que a

professora de inglês utiliza, nossa intenção era saber se a Escola Inovadora estava em

condições de proporcionar uma avaliação qualitativa, que no nosso entendimento, como

colocado anteriormente, vai em busca das potencialidades dos seus envolvidos e não se

dissocia do processo de ensino-aprendizagem, mas dele faz parte. Se durante o ensino a

professora não utilizasse os recursos didáticos existentes e disponíveis, que facilitassem ou

melhorassem sua práxis, dificilmente sua avaliação poderia ser conduzida de forma

qualitativa.

Pelas respostas dos estudantes e da professora colaboradora, observamos que a Escola

Inovadora está bem equipada e que a professora também se mostra atualizada com as

tendências tecnológicas para o ensino, o que sugere mudanças benéficas ao seu

desenvolvimento pedagógico. Dentre os recursos didáticos que a escola possui e a professora

utiliza estão: lousa branca e caneta para quadro branco, notebook, aparelhos reprodutores de

DVD, de som e televisão, fotocópias de textos, livros para consulta pessoal, já que ainda não

há livros didáticos para os estudantes20

, computadores com acesso à internet, projetor de

imagens, cartazes etc. Os partícipes EC7 e EC8 observam que sua professora: “utiliza [...],

enfim, todos os meios que os professores atuais utilizam” e “O que tem na escola, ela usa”.

Portanto, por meio dos primeiros dados obtidos nessa fase de pré-intervenção

característica da pesquisa ação, pudemos inferir que a avaliação do ensino médio de língua

inglesa da escola pesquisada encontra-se caracterizada como unilateral, uma vez que está no

controle apenas de uma das partes do processo, a professora, que é quem escolhe, determina,

resolve a pontuação e utiliza os instrumentos avaliativos empregados. Nessa fase da pesquisa,

20

Os livros didáticos, apesar de haverem chegado à escola no final do ano letivo de 2011, somente passariam a

ser utilizados pelos estudantes do ano seguinte, o ano letivo de 2012.

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verificamos que os estudantes apenas participavam de forma passiva dos instrumentos

avaliativos a que foram submetidos, não reagindo a eles. Desse modo, mesmo quando se

sentiam prejudicados (ao verem as notas), acatavam a decisão da professora em relação ao

instrumento a ser usado para os reavaliarem, constituindo-se assim como meros receptores, e

não construtores, desse dinâmico processo.

Também caracterizamos essa avaliação como quantitativa em virtude da aparente

preocupação com a medição dos conhecimentos dos estudantes, sendo as notas ao término do

semestre letivo seu maior enfoque, levando educadora e educandos ao consenso, quando as

notas são favoráveis, ou ao desentendimento, quando são desfavoráveis. De acordo com

Hoffmann (2004, p. 46, grifo nosso):

A medida, em educação, deve resguardar o significado de um indicador de

acertos e erros. Esse indicador passa a adquirir sentido a partir da

interpretação pelo professor do que ele verdadeiramente representa

quanto à produção de conhecimento pelo aluno. A quantificação não é

absolutamente indispensável e muito menos essencial à avaliação. Consiste

em uma ferramenta de trabalho, útil, somente, se assim for compreendida.

Observamos que as notas, principal meta dos estudantes e principal preocupação da

professora, representam o objetivo final do que seria o estado de aprendizagem dos

estudantes, classificando-os em aprovados ou reprovados, não desempenhando a função de

indicador de acertos e erros, como pontua Hoffmann (2004), no intuito de ter como principal

objetivo a aprendizagem em língua inglesa dos conteúdos estudados.

Por fim, percebemos, por parte dos estudantes, pouca inovação durante a sugestão de

outros instrumentos avaliativos e atribuímos isso à falta de costume com a autonomia que

repentinamente lhes foi concedida para tratar de um assunto tão restrito na escola, que é a

avaliação.

4.2 IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS AVALIATIVOS SUGERIDOS PELOS

ESTUDANTES

A fase de intervenção desta pesquisa iniciou-se com a realização do seminário sobre

avaliação qualitativa de língua inglesa com os participantes. Asseguramos aos estudantes que

durante o seminário eles não teriam a pessoa da professora, somente a presença da

pesquisadora, que estava ali por propósitos científicos, dando-lhes assim um pouco mais de

autonomia e confiança, pois “os investigadores qualitativos tentam interagir com os seus

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sujeitos de forma natural, não intrusiva e não ameaçadora” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.

68).

Remetendo-nos às aulas voltadas ao ensino de idiomas, observadas na escola

pesquisada, percebemos que há inclusão, por parte da docente PC, das sugestões feitas pelos

estudantes a respeito de como ela deve trabalhar nas aulas de inglês. Nessas sugestões,

geralmente conduzidas pela professora nas aulas iniciais do semestre, os estudantes não

opinavam com muita convicção, limitando-se a sugerir atividades diversificadas, como

trabalhar com música, trazer vídeos ou fazer dinâmicas. Ao questionarmos por que agiam

assim, os estudantes justificaram que confiavam na sua professora, na sua prática docente no

ensino do idioma inglês e não questionam as atitudes conduzidas por ela durante as aulas. É

como se eles percebessem que a docente foi preparada para lecionar a disciplina, porque

domina o assunto, expõe com clareza os conteúdos, retira as dúvidas e corrige as atividades

propostas, além disso, ela ainda procura utilizar as sugestões dos discentes durante o semestre

letivo.

Percebendo que a atitude de usar as indicações dos estudantes para o prosseguimento

das aulas tornava-os corresponsáveis pela sua aprendizagem, a professora sentiu-se incitada a

verificar se o mesmo sentimento de corresponsabilidade se daria na sugestão de instrumentos

avaliativos e na adoção de novos procedimentos de avaliação. Para isso, pensamos em

promover uma fundamentação básica dos estudantes nas teorias avaliativas de abordagem

qualitativa, proposta que foi desenvolvida durante o seminário ministrado.

O seminário iniciou-se com dinâmicas visuais envolvendo imagens que fomentavam

significados ambíguos, provocando assim diferentes respostas por parte do público presente,

numa tentativa de chamar a atenção para os diversos pré-julgamentos que podem ser

desencadeados por interpretações diferentes de um mesmo conceito. Os objetivos e a origem

da pesquisa foram reapresentados aos participantes por meio de pôsteres e slides. Em seguida,

os partícipes foram convidados a representarem mediante imagens produzidas por eles

(desenhos) os instrumentos avaliativos apreciados e também os depreciados, escolhendo quais

deveriam fazer parte ou não das aulas de língua inglesa. Essa etapa do evento fez parte da

workshop agregada ao seminário.

Foi solicitado aos estudantes que, ao desenharem os instrumentos, fizessem uso de

representações, associando-os a imagens de cunho positivo, quando fossem apreciados, e de

cunho negativo, quando fossem depreciados. De acordo com as opiniões expressas pelos

desenhos, gravamos, ao término da produção imagética, cada participante do seminário

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explicando seu desenho para os demais e abaixo de cada desenho transcrevemos as

explicações feitas.

Para melhor compreensão das representações obtidas com a pesquisa, iremos

apresentar algumas produções feitas pelos estudantes pesquisados e as legendas a elas

atribuídas. Por questões de conveniência estética, como muitos instrumentos foram repetidos,

representaremos aqui os desenhos mais elaborados e que melhor transmitem o sentido dado

por seus autores. Iremos primeiramente apresentar os desenhos que ilustram os instrumentos

avaliativos que os estudantes apreciam, colocando abaixo de cada um deles alguns trechos das

transcrições que justificam a preferência estudantil. Logo após, encontram-se as imagens que

representam os instrumentos avaliativos que os estudantes depreciam, pondo novamente

abaixo de cada uma a opinião emitida pelos pesquisados.

Após a apresentação original das imagens produzidas, elaboramos dois quadros, no

intuito de melhor compreender as representações feitas, nos quais relacionamos o significado

convencional (descrição vocabular baseada em dicionário) de cada imagem produzida com o

sentido a elas atribuído pelos participantes no momento da representação.

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I – Representações por imagens dos instrumentos avaliativos apreciados pelos estudantes

pesquisados.

Trabalho em grupo

Justificativas:

“[...] Eu desenhei uma porta aberta e um bocado de

lâmpadas dentro, que lâmpadas não representam ideias? Aí

trabalho em grupo, porque [...] você tem várias pessoas,

então não fica naquela mesmice. [...] um tem uma ideia:

vamos fazer assim? Ah, também pode ser de outro jeito”

(EC921

).

“Trabalho em grupo é como se fosse um bolo de

chocolate” (EC10).

“Eu gosto de trabalho em grupo... porque eu não faço nada,

fico só olhando os outros fazer” (EC11).

“Eu gosto de trabalho em grupo, porque eu gosto de trufas”

(EC12).

“Gosto de trabalho em grupo.

Desenhei uns anjinhos no céu [...]” (EC1322

).

“Gosto de trabalho em grupo, é como se fosse

um céu para mim” (EC14).

“[...] A prova em grupo não para um se

escorar no outro, mas para um tirar as

dúvidas do colega [...] se eu tô em dúvida

numa questão e meu colega ele sabe, então

ele vai passar pra mim e não simplesmente

ele colocar lá a resposta e eu ficar lá

relaxado: ah, eu vou tirar uma nota boa, não

vou nem me preocupar, não vou nem olhar o

que é. Procurar entender por que aquela

resposta” (EC5).

20

Autora do desenho 1. 22

Autora do desenho 2.

Desenho 1

Desenho 2

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77

Prova oral

Justificativa:

“O que eu gosto – teste oral. Aqui é yo falando

[...]” (EC1523

).

Prova escrita

Justificativa:

“Eu gosto de prova porque eu desenhei um

anjo [...] escrita” (EC1624

).

Atividades variadas (de listening,

de pesquisa, com recursos

tecnológicos...)

Justificativa

“Bom, eu gosto de música, então eu quis

facilitar tudo pra minha vida, sabe? Então

assim, é bom ouvir a música com tradução,

ver imagens, também, coisa, pesquisas de

internet e também trabalho em grupo”

(EC1725

).

23

Autor do desenho 3. 24

Autor do desenho 4. 25

Autora do desenho 5.

Desenho 3

Desenho 4

Desenho 5

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I – Representações por imagens dos instrumentos avaliativos não apreciados pelos

estudantes pesquisados.

Prova escrita

Justificativas

“Esse bicho de sete cabeças representa assim

justamente isso, essas provas muito avançadas, que

eu acho que deveria ter algo mais inicial, desde o

começo” (EC526

).

“[...] e não gosto de provas porque é chato”

(EC18).

“Aí as coisas que eu não gosto é: [...] provas

avaliativas tipo no papel, porque é bom você ser

avaliado é indiretamente” (EC17).

“E eu não gosto de nenhum tipo de prova, não.

Nenhum. [...] Diga não às provas!” (EC11).

“[...] e não gosto de provas” (EC19).

Testes

Justificativas:

“Eu não gosto de testes, porque muitas vezes o que você

estuda pro teste não está lá no que o professor passa. Às

vezes ele passa uma coisa, mas você estuda outra

totalmente diferente que não tem nada a ver” (EC3).

“E o que eu não gosto: teste surpresa. O professor, né?

Aí o cabra [...] pânico!” (EC1527

).

“E não gosto nem de prova e nem de teste. Pronto!”

(EC20).

26

Autor do desenho 6. 27

Autor do desenho 7.

Desenho 6

Desenho 7

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Apresentação de trabalhos

Justificativas:

“[...] e não gosto de trabalho de apresentar. É como

se fosse uma mulher com defeito” (EC14).

“E eu odeio apresentar trabalho, é o inferno de

minha vida” (EC2128

).

“Não gosto de trabalho de apresentar. Porque é ruim

demais” (EC22).

“Ah, meu Deus! De apresentação de trabalho”

(EC23).

“O que eu não gosto é de apresentar trabalho,

principalmente de inglês, né? Pra ler, pra traduzir...”

(EC5).

Prova oral

Justificativas:

“Não gosto de prova oral. Deveria ser excluída

da sala de aula” (EC27).

“[...] e não gosto de prova oral” (EC1).

“[...] mas não gosto de prova oral” (EC24).

“[...] mas não gosto de prova oral” (EC2529

).

“Eu não gosto de prova oral, principalmente”

(EC26).

28

Autora do desenho 8. 29

Autora do desenho 9.

Desenho 8

Desenho 9

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80

Abaixo, relacionamos as imagens produzidas pelos estudantes e seus significados

convencionais bem como os significados atribuídos por eles durante esse momento da

pesquisa.

INSTRUMENTO

IMAGEM

REPRESENTATIVA

SIGNIFICADO

CONVENCIONAL

REPRESENTAÇÃO

Trabalho em

grupo

1. Porta aberta

(com

lâmpadas)

2. Anjo

3. Trufa/ bolo

de chocolate

4. Céu

1. Receptividade

(luminosidade)

2. Ser celestial

benigno

3. Itens

comestíveis

4. Paraíso dos

cristãos

1. Espaço para

novas ideias

2. Salvação,

proteção

3. Algo bom,

prazeroso

4. Tranquilidade,

segurança

Prova oral O globo terrestre O mundo, a Terra Língua falada

mundialmente, confiança

em falar inglês

Prova escrita Anjo Ser celestial benigno Salvação, proteção

Atividades

diversificadas

No mesmo desenho

havia aparelho de

som, projetor de

imagens, computador

e pessoas

Comunicação, interação e

conectividade

Variedade, diversidade,

interação

Quadro 06 – Instrumentos avaliativos apreciados

Fonte: Dados da pesquisa.

INSTRUMENTO IMAGEM

REPRESENTATIVA

SIGNIFICADO

CONVENCIONAL

REPRESENTAÇÃO

Prova escrita Bicho de sete cabeças Animal da mitologia grega

(monstro)

Dificuldade, medo

Teste Freddy Krueger Personagem fictício de

filme de terror

Pânico, suspense, algo

inesperado

Apresentação de

trabalhos

Diabo Ser maligno Maldade, algo ruim

Prova oral Tempestade Chuva perigosa Desgraça, susto,

inquietação

Quadro 07 – Instrumentos avaliativos não apreciados

Fonte: Dados da pesquisa.

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Ao relacionarmos as imagens produzidas com seus significados convencionais e com

o que estes representam para os estudantes, entendemos, conforme Goodman (1968 apud

SANTAELLA; NÖTH, 2008, p. 36), que “o conceito de imagem se divide [...] por dois polos.

Um descreve a imagem direta, perceptível ou até mesmo existente. O outro contém a imagem

mental simples, que, na ausência de estímulos visuais, pode ser evocada”. Com base nesse

conceito, pudemos perceber o impacto que o processo avaliativo causa nos estudantes,

desencadeando reações a partir de sua aceitação ou rejeição. Essas reações são expressas por

meio da evocação mental dos estudantes de imagens existentes e por eles já conhecidas, mas

que assumem novos significados perante os sentimentos que são, por meio delas, expressos

pelos estudantes.

A partir das representações imagéticas realizadas, percebemos maior liberdade de

expressão dos pesquisados ante o tema de seus desenhos, porque com eles relacionavam o que

sentiam dificuldade de expressar em palavras, sendo o uso das palavras nessa fase da pesquisa

necessário apenas para legendar os desenhos produzidos. As palavras apareceram na pesquisa

para justificar os desenhos, e não o contrário. Primamos, portanto, pelas representações

imagéticas, que nos possibilitam outras leituras: a da “imagem emitida do objeto e a da

imagem captada pelo observador” (NÖTH, 2003, p. 30).

Um exemplo dessa expressividade foi a representação de EC12, seguida da

justificativa: “Eu gosto de trabalho em grupo, porque eu gosto de trufas”, mostrando-nos que

sua identificação com o trabalho em grupo provoca nela a mesma sensação de comer trufas.

Nesse momento da representação, uma coisa não ficou distinta da outra, nem comparada, mas

o símbolo (signo) “trufa” representa o trabalho em grupo para EC12, que sente nessa

atividade a mesma fruição que sente ao degustar trufas. Para Agostinho (De Doctrina

Christiana II, 1,1 apud NÖTH, 2003, p. 32), “o signo é, portanto, uma coisa que, além da

impressão que produz nos sentidos, faz com que outra coisa venha à mente como

consequência de si mesmo”.

Ao se sentirem bem avaliados, os estudantes representaram suas sensações por

intermédio de desenhos que nos fazem compreender que eles se sentem relaxados, tranquilos,

seguros, porque foram avaliados de maneira que podem demonstrar o que de fato aprenderam

na disciplina. Da mesma forma, quando se sentem inseguros, ameaçados, aterrorizados diante

de um instrumento avaliativo que julgam inadequado para expressar seus conhecimentos

adquiridos, os estudantes expressam, por meio das representações imagéticas, suas sensações

relacionadas a esses instrumentos.

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Uma das opiniões emitidas por meio de uma imagem e de sua legenda é a de EC21,

que representou a apresentação de trabalho por meio da figura de um diabo. Verificamos que

essa partícipe não apresentou justificativas para que se pudesse inferir porque ela não aprecia

apresentar seus trabalhos de inglês, pois apenas legendou o seu desenho com a frase: “é o

inferno da minha vida”, permitindo ao leitor de sua imagem refletir para chegar às suas

próprias conclusões.

A imagem representativa de EC21 pode desencadear várias reflexões que nos façam

entender o motivo da assertiva de sua legenda. Diante disso, podemos pensar: ao pedir uma

apresentação de trabalho, enquanto docente, será que dou tempo suficiente para que meu

educando se prepare? Será que explico adequadamente como espero que seja sua

apresentação? Será que exemplifico, delimito tempo, oriento a produção de material que vai

ser apresentado? Será que considero o grau de inteligência verbal e linguística (GARDNER,

1993) dos meus educandos antes de solicitar um trabalho dessa natureza? Será que procuro

saber dos professores das outras disciplinas da minha escola se eles também solicitam

trabalho de apresentação e como os estudantes (que não apreciam quando eu solicito) reagem

à apresentação de trabalho dos outros professores, descobrindo assim se a falha está comigo

ou se de fato os estudantes não gostam mesmo de apresentar trabalho? Esses e outros

questionamentos que possam advir da leitura da imagem produzida, confirmada por sua

legenda, permitem-nos uma compreensão mais abrangente da reação estudantil aos

instrumentos avaliativos que utilizamos em sala de aula, possibilitando-nos rever conceitos e

talvez técnicas de reaplicação desses instrumentos, que podem estar sendo aplicados de

maneira inadequada, provocando reações indesejadas.

Ainda durante a análise das justificativas e das imagens representativas, observamos a

preferência estudantil pelo instrumento avaliativo trabalho em grupo, considerado o mais

apreciado pelos participantes da pesquisa, enquanto a prova escrita foi o instrumento menos

apreciado.

Os instrumentos intitulados “prova” e “teste” (para provar, para testar) aparentaram ser

os mais hostilizados, enquanto aqueles cuja denominação se afastava do sentido de

julgamento e testagem pareceram mais aceitos, como, por exemplo, “trabalho” (que dá a ideia

de que se vai trabalhar algo) e “atividade” (exercitar algo, colocar em atividade algo).

Dentre as justificativas transcritas após as imagens, pudemos perceber que os

objetivos, ao escolherem os instrumentos avaliativos, são diversos e vão do interesse pessoal

ao profissional. Uma das jovens, EC27, escreveu embaixo de seu desenho que gostava de

trabalho em grupo, pois era “mais uma oportunidade de estar com as amigas”. Essa

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justificativa demonstra, aparentemente, um motivo pessoal, voltado à sua liberdade de ter

amizades, uma vez que a estudante precisa de uma razão aparente para se encontrar com suas

amigas. Outro exemplo de interesse pessoal veio da partícipe EC17, que justificou sua escolha

por dizer que gostava muito de música e gostaria de “facilitar tudo” para a sua vida. Como

exemplo de interesse profissional, citamos a justificativa de EC15, que vê no instrumento

prova oral uma forma de conduzi-lo à ascensão social, ao relacionar o inglês com o mundo e

com um evento esportivo de cunho futebolístico de grande repercussão, como a Copa do

mundo de futebol, programando para si mesmo o período que terá para estar falando

fluentemente o idioma inglês.

O caso do participante EC11, que justifica sua preferência por trabalho em grupo

porque ele, sendo componente do grupo, não faz nada, somente observa os demais colegas,

mostra-nos estudantes que não utilizam bem esse instrumento avaliativo, que deve ser

aproveitado para enriquecimento do conhecimento através da interação com os demais

colegas. Podemos também deduzir, com essa justificativa de EC11, uma certa insegurança

dele em relação aos seus conhecimentos, o que o torna dependente dos colegas do grupo, a

ponto de não se sentir capacitado para contribuir.

Ao analisarmos os instrumentos avaliativos representados por desenhos, vemos que os

estudantes ainda se detêm nos instrumentos aos quais já estão acostumados, como trabalhos

em grupo, provas e testes. Quase não houve sugestão de novos instrumentos a serem usados

com fins avaliativos na aula de inglês. Os instrumentos indicados, especialmente aqueles que

já foram utilizados nas aulas de inglês, apresentaram sentidos antagônicos, pois enquanto

alguns jovens indicavam gostar de determinados instrumentos, outros os designavam como os

quais não gostavam, o que nos permite inferir que, para acontecer uma avaliação qualitativa,

faz-se necessário contemplar todas essas escolhas, que podem ser desenvolvidas a partir de

etapas na própria sala de aula.

Ainda durante o seminário, na fase de implementação dos instrumentos avaliativos,

também definida por nós como a fase de intervenção da pesquisa, decidimos fazer uma

entrevista que nos trouxesse maiores esclarecimentos sobre as colocações dos estudantes a

respeito dos instrumentos avaliativos que preferem que façam parte das suas avaliações de

língua inglesa, doravante. A entrevista utilizada foi semiestruturada, por entendermos que

durante sua realização poderia surgir a necessidade de mais questionamentos.

Organizamos as respostas da entrevista em quadros que se remetem às categorias de

análise pretendidas, antepondo a esses quadros a pergunta geradora das respostas e pospondo

aos quadros a análise que as repostas obtidas suscitam.

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Iniciamos a entrevista com a pergunta abaixo, desdobrada em dois questionamentos: o

primeiro referindo-se aos instrumentos avaliativos que podemos usar para desenvolvermos as

habilidades pretendidas pelos PCNEM e o segundo interrogando os estudantes a respeito do

uso dos instrumentos avaliativos tradicionais na sala de aula.

Pesquisadora: Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio apontam que

devemos desenvolver quatro habilidades ao aprendermos uma língua

estrangeira: falar (speaking), ler (reading), ouvir e entender o que se ouve

(listening) e escrever (writing) na língua alvo. Que instrumentos de avaliação

poderíamos usar para chegar a tais habilidades? Podem falar dos instrumentos

que já existem ou dar ideias de outros instrumentos. Por exemplo, sugeriram

que (os estudantes) gravem suas falas em seus celulares, para [...] que eles

mesmos verifiquem em casa suas aferições de conhecimentos auditivos em

inglês. [...] E quanto aos outros instrumentos tradicionais que nós temos? Por

exemplo: vocês acham que deveria, que deva ser abolida a [...] prova escrita?

Caderno

Mídias digitais

Audiovisuais

Teatro

Aulas em ambientes diferenciados da escola

QUADRO 8 – Instrumentos de avaliação que contemplem as habilidades linguísticas sugeridas pelos PCNEM

Fonte: Dados da pesquisa.

Observando esse quadro, verificamos que os estudantes indicaram instrumentos e

recursos que a professora já utiliza em sala de aula, porém não de forma avaliativa, como, por

exemplo, as peças teatrais, geralmente realizadas quando se organiza algum evento na escola,

apenas para fins de apresentação. O uso de videoclipes, contemplados na indicação de se

avaliar por meio das aulas que fizessem uso de recursos audiovisuais, bem como o uso de

músicas no idioma inglês eram práticas corriqueiras durante as aulas, cujos objetivos

voltavam-se para as práticas auditivas, conhecidas como listening. Porém, essas atividades

realizadas não apresentavam caráter avaliativo.

A partícipe EC17 sugere atividades avaliativas relacionadas com os outros ambientes

escolares, justificando que a sala de aula estanque não é atrativa para os “alunos que torcem

para sair da sala”, em suas palavras. Notamos que é comum e recorrente nas colocações da

estudante a expressão “avaliação indireta”, uma vez que ela concebe a avaliação como uma

“forma indireta” de aprender, recordando-nos também da tensão psicológica que muitos

estudantes desenvolvem ante a realização dos exames formais. Essa tensão não se faz presente

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numa avaliação em que o aprendiz não sabe se está sendo avaliado, ou seja, numa avaliação

“indireta”, como pondera EC17.

A sugestão do uso de mídias digitais chama a atenção da pesquisa, porque não se pode

ignorar as atribuições sociais que essas mídias desempenham na atualidade, já que nem todas

as pessoas sabem ainda fazer o uso correto e devido delas, sendo, portanto, elementos

possíveis de se promover uma avaliação, já que para utilizar as mídias os estudantes precisam

desenvolver habilidades linguísticas condizentes com elas.

A indicação do caderno enquanto instrumento avaliativo, uma vez que nele estão

contidos os registros, as atividades, o cuidado com a organização do conteúdo e mesmo a

apresentação da escrita do estudante, por meio de sua caligrafia, lembrando que a escrita é

uma das habilidades pretendidas pelos PCNEM, remete-nos ao portfólio, instrumento de

autoavaliação contínua que contém evidências do progresso e reflexões sobre o andamento do

trabalho do estudante (VILLAS BOAS, 2008).

As respostas fornecidas ao segundo questionamento presente na pergunta de pesquisa

se referiram aos instrumentos tradicionais (que entendamos aqui como os instrumentos que

PC já utiliza há algum tempo na escola pesquisada) e geraram o seguinte quadro:

Inexistência da prova escrita

Mais atividades orais e de pronúncia

Rever a finalidade dos instrumentos tradicionais

QUADRO 9 – Posicionamento ante os instrumentos avaliativos tradicionais

Fonte: Dados da pesquisa.

Nesse segundo quadro, percebemos uma confirmação da depreciação do instrumento

tradicional prova escrita, com o posicionamento extremo de alguns participantes para que não

houvesse mais a utilização dela na avaliação dos conhecimentos dos estudantes. Outra

observação que figura no quadro partiu, dentre outros participantes, de EC26, que, na

oportunidade de produzir o seu desenho, expressou por meio deste que não gostava de prova

oral, um instrumento tido por tradicional entre os estudantes da escola pesquisada. Porém,

EC26, durante a entrevista, cita que deve haver mais trabalho oral “por causa da pronúncia”.

Essa divergência de opinião em dois momentos distintos da pesquisa nos mostra que há uma

consciência, por parte dos estudantes pesquisados, a respeito do que gostam de fazer e do que

é necessário fazer para aprenderem outro idioma.

Para permanecer com os demais instrumentos avaliativos já conhecidos, uma das

participantes, EC9, sugere rever as finalidades destes, apontando, provavelmente, a falta de

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um retorno (correção comentada), quando observa que os trabalhos são pedidos apenas para

gerar pontos, não desenvolvendo aprendizagem nos envolvidos.

De um modo geral, os estudantes veem necessidade de permanecer a fazer uso de

instrumentos tradicionais para a avaliação de suas aprendizagens, mas sinalizam que sejam

revistas suas finalidades e prioridades.

Ainda a respeito de se avaliar suas competências e habilidades, foi feita a seguinte

pergunta, referindo-se à relação entre as notas obtidas pelos instrumentos avaliativos

empregados e a aprendizagem dos estudantes:

Pesquisadora: Bom, pessoal, e quanto às notas? A avaliação qualitativa, que é o

tema do nosso seminário, ela quer ver mais a qualidade do que a quantidade.

Porque muitas vezes você, no nosso caso, o professor, chega para um aluno e

classifica-o com um 60, um 10, um 7,0, um 80. Essas notas não têm muito

significado, para nós que trabalhamos com a avaliação qualitativa. Nós

queremos que esses estudantes realmente cheguem em casa, ou na escola

mesmo, e sintam que eles aprenderam. Não que se preocupem apenas com uma

nota, se passou de ano ou não.

Com essa pergunta, os estudantes que a responderam opinaram que não encontram

sentido nas notas se não há aprendizagem. Eles se dizem insatisfeitos ao apontarem o fato de

passarem o ano (letivo) inteiro estudando e não aprenderem muita coisa. Em relação a esse

entendimento, destacamos a observação de EC19: “Não aprendi, passaram outro conteúdo” e

a de EC9: “A gente não aprende pela questão que os professores estão mais preocupados em

cumprir com o seu currículo [...] cumprir com o que está planejado [...] independente se o

aluno aprende ou não. Muitas vezes, é isso que acontece”. Essas constatações referem-se à

conduta dos professores de modo geral, os quais, ao procurarem cumprir com o currículo de

sua disciplina, de certa forma, negligenciam a aprendizagem, porque, ao avançarem em seus

conteúdos, avaliando-os, logo prosseguem com outros conteúdos, não considerando se os

estudantes aprenderam os anteriores.

Essa postura adotada por alguns docentes nos faz entender que para eles a avaliação é

parte distinta do processo de ensino-aprendizagem, tendo como função apenas a checagem

dos conhecimentos a respeito dos conteúdos ministrados. A essa avaliação não cabe

identificar em que ponto o conhecimento dos estudantes se mostra carente, porque ele não

será retomado, outros conteúdos deverão ser ensinados e, por conseguinte, avaliados,

independentemente do fato de os estudantes aprendê-los ou não.

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Os estudantes entrevistados também revelaram que, quando não aprendem, os

professores os responsabilizam por isso. A partícipe EC18 coloca em sua fala que alguns

professores “costumam dizer: „vocês não querem se esforçar‟ [...] eu dou minha aula

independente de você estar ou não, eu recebo [meu pagamento] do mesmo jeito‟”. Essas

frases, no nosso entendimento, são uma forma de o professor chamar a atenção do estudante

enquanto aquele que precisa da aprendizagem.

Embora não estejamos em concordância com o procedimento docente delatado pelos

estudantes, convém lembrarmos que a prática dos professores ainda é muito cerceada pelas

imposições escolares, tanto administrativas como pedagógicas, que praticamente direcionam o

fazer docente em sala de aula.

A avaliação é importante e necessária, mas, muitas vezes, está desvinculada

dos objetivos propostos e dos conteúdos ensinados, perdendo a sua relação

com os processos de ensino e aprendizagem. Outras vezes ela serve aos

interesses do professor ou do sistema de ensino, desvinculando-se

também, nesse caso, da relação professor-aluno (FLAIN-FERREIRA, 2005,

p. 2, grifo nosso).

Na escola, existem diversas imposições: há imposição quanto ao valor que deve se dar

aos instrumentos avaliativos utilizados, quanto a uma cartela de conteúdos a serem aplicados

durante o ano, quanto ao número de aprovações que deve haver ao término do período letivo.

Nesse sentido, imposições ainda são a realidade de muitas escolas brasileiras. Apesar das falas

educativas para “olhar a realidade dos alunos”, os professores se sentem julgados e

pressionados a cumprirem com suas imposições referentes à sala de aula, porque, assim como

o estudante teme adjetivos pejorativos relativos ao seu desempenho escolar, o docente

também se preocupa com o aviltamento da sua prática, ao deixar de cumprir com o que dele

se espera.

Uma vez que a entrevista conduzia-se para um entendimento a respeito de como

deveria ser avaliada a aprendizagem dos estudantes em língua inglesa, apesar de as respostas

dos entrevistados se referirem também às outras áreas do conhecimento lecionadas na escola,

e já que o inglês figura como apenas uma das disciplinas, sujeita às mesmas imposições

avaliativas das demais no âmbito escolar pesquisado, indagamos acerca de sugestões para

modificações nas avaliações escolares, na terceira pergunta da entrevista, a saber:

Pesquisadora: Se vocês tivessem o poder de modificar as avaliações da escola,

o que vocês modificariam?

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Avaliações dinâmicas

Avaliações indiretas

Avaliações que façam uso de diversas habilidades

Diversidade de instrumentos avaliativos

Mais trabalhos em grupo

QUADRO 10 – Sugestões para modificação das avaliações escolares

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir dessas respostas a respeito de indicações para modificar as avaliações

escolares, os estudantes sugerem a diversidade de instrumentos e defendem a ideia de uma

avaliação mais dinâmica. No intuito de contribuir com o processo avaliativo, faz-se necessário

informar que muitos educadores ainda utilizam apenas a prova escrita como único

instrumento de aferição de conhecimentos de seus educandos, evidenciando talvez o que

Villas Boas (2008, p. 17) chama de problema: “o problema está na confusão que se faz entre

prova e avaliação. Não são sinônimos. A prova pode fazer parte da avaliação, mas esta não se

reduz a ela”.

Analisando as sugestões feitas pela perspectiva de aplicá-las durante a avaliação da

disciplina de língua inglesa, uma ideia nos chamou a atenção, que foi a do participante EC5,

ao propor uma prova que avaliasse as quatro habilidades linguísticas requeridas pelos

PCNEM na aprendizagem de uma língua estrangeira. Considerando que a escola pesquisada

impõe na sua portaria de avaliação que a prova escrita deve valer 50% do total dos pontos a

serem obtidos em um semestre e que a professora pesquisada fazia uso desse instrumento

apenas em prol das habilidades de leitura e escrita, havia a dificuldade de se distribuir os

pontos com equidade entre os demais instrumentos avaliativos empregados no semestre letivo

com fins de avaliar as outras habilidades pretendidas. A sugestão de EC5, portanto, pareceu-

nos viável para suplantar essa dificuldade.

A avaliação indireta ou informal, e o modo como ela se articula com a avaliação

formal, é mais uma vez mencionada durante a pesquisa (VILLAS BOAS, 2008), por isso nos

deteremos um pouco em fazer uma comparação entre as duas. Consideramos que há todo um

ritual enquanto se realiza uma avaliação formal, em que, por vezes, até a cor da tinta da caneta

é levada em consideração como pré-requisito ao se realizar uma determinada avaliação.

Tomemos como exemplo a realização de uma prova escrita: nela, a postura do estudante é

diferente, deve ser. Não é permitido cantar, conversar com os colegas, consultar o material de

ensino, o erro não é permitido. Se o estudante marcar uma questão, refletir melhor e entender

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que sua resposta está incorreta, elegendo nova resposta, ele não pode usar seu corretivo,

porque rasurar sua prova já o faz perder a questão. O professor, por sua vez, não está ali como

o companheiro diário das aulas, mas assume uma personalidade de fiscal, desenvolvendo

atitudes mais rígidas e rigorosas a respeito do cumprimento das determinações que estipulou

para a realização do exame que se propôs a fazer. Agindo dessa forma, pensa que está

preparando seu estudante para os muitos exames que este irá ter pela frente. De fato está, mas

o presente momento da aprendizagem fica preterido em prol de avaliações futuras, às quais

nem todos os estudantes pretendem se submeter.

Diferenciando a avaliação formal da informal, Villas Boas (2008, p. 23) esclarece:

A diferença entre a avaliação informal e a formal é que a informal nem

sempre é prevista e, consequentemente, os avaliados, no caso, os alunos, não

sabem que estão sendo avaliados. Por isso deve ser conduzida com ética.

Precisamos nos lembrar sempre de que o aluno se expõe muito ao professor

ao manifestar suas capacidades e fragilidades e seus sentimentos. Cabe à

avaliação ajudar o aluno a se desenvolver, a avançar, não devendo expô-lo a

situações embaraçosas ou ridículas. A avaliação serve para encorajar e não

para desestimular o aluno.

Ao proporem uma avaliação informal, os estudantes buscam mostrar sua competência

no ambiente de sala de aula, que já lhes é familiar, utilizando os recursos de que dispõem para

melhor compreenderem o que lhes está sendo ensinado. Em uma avaliação informal, mesmo o

uso de instrumentos tradicionais pode ser conduzido de forma menos rigorosa, para que o

educando não se sinta testado, nem julgado, mas como alguém que deve exercitar o que

aprendeu.

No decorrer da entrevista, teve início uma discussão em torno do instrumento

avaliativo prova, por ser, a nosso ver, privilegiado em relação aos demais. A professora

defendia a prova alegando ser esse instrumento o mais utilizado em concursos e exames

nacionais, enquanto que alguns estudantes rebatiam, justificando que a prova não seria

suficiente para demonstrar o saber deles. A opinião da professora colaboradora tem se

mostrado recorrente, inclusive para outros professores que compartilham da mesma opinião

da pesquisada, ao justificarem o uso excessivo do instrumento avaliativo prova, tomando

como base o desempenho da sua escola nas avaliações nacionais. Del Castillo (2011, p. 48)

afirma que “os problemas de cada escola são diferentes e as avaliações externas não mostram

isso. Para avaliar, é preciso acompanhar o dia a dia da escola. Não basta estar fora e

simplesmente colocar o termômetro”. Diante disso, podemos nos questionar: o termômetro,

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representação adequada para os exames nacionais, pode realmente atestar como se encontra a

educação brasileira?

Refletindo sobre esse questionamento, elaboramos outra pergunta, com a finalidade de

saber daqueles que são os mais afetados por essas avaliações, os estudantes, cujas posições na

sociedade dependem, em parte, da aprovação ou reprovação nas avaliações nacionais, que

sugestões poderiam ser feitas para que se fizessem modificações eficazes e mais precisas em

uma avaliação voltada para o ingresso nas universidades, locais, por excelência, destinados à

formação dos futuros profissionais brasileiros. Assim sendo, encerramos a entrevista com a

seguinte pergunta:

Pesquisadora: [...] Porém, pessoal, nós vemos que essas provas valem mais,

até, talvez, pelos exames nacionais, como vestibulares, Enem [...] todos eles

usarem a prova escrita, concursos, [...] como a maior exigência feita para a sua

entrada, o seu ingresso. O aluno só irá entrar se tiver tirado nota boa em suas

provas. Se você tivesse como modificar isso... como você faria para o aluno

entrar... na universidade, por exemplo?

Análise do histórico escolar do estudante

Estágio na área pretendida

Exames vocacionados, que só façam uso das disciplinas pertinentes a cada área

Mais opções de exames, além do escrito, que identifiquem melhor as aptidões dos futuros

universitários

Melhor distribuição do tempo de acordo com o número de questões propostas, quando se tratar

de exame escrito

QUADRO 11 – Sugestões dos estudantes para modificação das avaliações nacionais cuja finalidade seja o

ingresso nas instituições de ensino superior

Fonte: Dados da pesquisa.

Nessa última pergunta da entrevista, são sugeridas alternativas para ser avaliado o

conhecimento nos exames nacionais, que são os principais norteadores para os processos de

ensino regionais e locais. Inicialmente, os estudantes apontam: uma vez que estão à procura

de notas para o ingresso nas universidades, que se leve em consideração o histórico escolar

dos futuros universitários, pois nele está impressa toda a trajetória estudantil, com frequência,

notas e observações pertinentes ao seu desempenho. O partícipe EC5 assim sintetiza sua

justificativa para que seja observado seu histórico escolar: “Eu acho que deveria haver um

exame do meu histórico desde a primeira série, até o terceiro ano. [...] Durante todo esse

tempo eu estudo, tiro notas boas, sou um bom aluno, aí quando eu vou fazer as provas do

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ENEM, do concurso de vestibular, deixo de passar [...] eu deixo de entrar, pelo nervosismo eu

não consegui tirar uma nota boa, por causa só de uma prova? É isso, não se decidir por uma

prova, deve se olhar todo o meu histórico escolar”.

O estudante cobra uma avaliação contínua que não despreze toda a sua trajetória

estudantil no ensino médio, desde o primeiro até o terceiro ano. Se entendermos, conforme os

documentos oficiais preconizam, que o ensino médio também é uma etapa preparatória para o

trabalho (BRASIL, 2002), não poderemos ter uma carreira interrompida por apenas um

método de verificação do desempenho, ignorando o que o discente construiu ao longo de sua

passagem pelo ensino médio. Luckesi (2011, p. 407) afirma que “o histórico escolar do

estudante garante o registro da informação acerca da qualidade do seu desempenho, em

determinado momento da sua vida, na instituição escolar pela qual foi educado”. Além da

análise do desempenho discente, a avaliação do histórico escolar ainda pode revelar, por

exemplo, aptidões e identificações com determinadas disciplinas, peculiares a cada área do

conhecimento, o que a nosso ver facilitaria a escolha da futura profissão por parte dos

estudantes.

Uma outra sugestão apontada pelos participantes foi um estágio voltado para a área em

que se pretende atuar, o qual deveria acontecer enquanto ainda são estudantes do ensino

médio. Conforme o desempenho do discente no estágio, o educando ingressaria ou não na

universidade pretendida. O estágio é como um treinamento prévio da profissão que se

pretende desenvolver, indicado pelos estudantes para verificar se existe vocação nas

profissões que serão estagiadas, porque é sabido que muitos jovens às vezes ingressam nas

universidades motivados por escolhas de familiares ou de amigos, não se identificando com o

curso após terem nele ingressado.

Os estudantes participantes da entrevista se mostraram críticos quanto ao sistema

avaliativo nacional que estão prestes a enfrentar, uma vez que são pré-concluintes do ensino

médio, e atribuem isso a uma forma proposital de dificultar a continuação de seus estudos.

Eles defendem que o ingresso nas universidades brasileiras deva acontecer de forma

vocacional, tendo em vista as qualidades e aptidões dos interessados nas profissões que

deverão exercer, não em um modelo padronizado e estático de uma avaliação excludente e

classificatória.

Eles ainda apontaram, durante a discussão levantada, a falibilidade das provas escritas

usadas nesses processos, e não seria falta de ética mencionar algo que já é de domínio público

– as falhas apresentadas anualmente pelo ENEM, como vazamento de informações, entre

outras. Uma resposta que pode parecer um tanto intransigente, diante da seriedade do assunto,

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foi colocada por EC11, ao dizer aos demais que levaria uma moeda para fazer a prova do

ENEM, mostrando certa desvalorização do instrumento avaliativo prova escrita, que, para

esse jovem, não demonstra que alguém precise estar preparado para resolvê-lo, basta para isso

fazer “joguinhos” de sorte, como o “cara ou coroa”.

As opiniões desses participantes sobre as formas de se avaliar em exames nacionais

colaboram com os propósitos da pesquisa, uma vez que a presença das línguas estrangeiras se

encontra inserida neles e pelo fato de, enquanto educadores, não deixarmos de ter certa

apreensão a respeito do desenvolvimento de nossos aprendizes nesses exames, que acabam

virando propaganda de fracasso ou sucesso de muitas instituições de ensino e de muitos

professores.

De posse das opiniões emitidas, demos por encerrado o nosso seminário, assim

finalizando também a primeira etapa da fase de intervenção da pesquisa proposta e passando

para a segunda, ao colocarmos em prática os instrumentos avaliativos indicados pelos

participantes e ao registrarmos, com a observação participante, os efeitos deles resultantes.

Durante o período em que nos dedicamos à observação, pudemos ver o empenho dos

nossos jovens estudantes ao protagonizarem suas avaliações. A assiduidade e a participação

deles foram notadamente acentuadas. Os estudantes e a professora colaboradora passaram a

dividir as responsabilidades advindas do processo avaliativo. Vale salientar que mesmo os

estudantes que não participaram de forma direta da pesquisa empreendida, por não terem

respondido a alguns dos instrumentos utilizados para a geração de dados, envolveram-se com

os demais colegas e realizaram as atividades avaliativas propostas.

Devido a uma questão de tempo, não foi possível aplicar todos os instrumentos

sugeridos de forma avaliativa (alguns já haviam sido usados anteriormente), o que não

prejudicou o andamento da investigação. Optamos por citar, mediante cada instrumento

avaliativo empregado, os conteúdos utilizados pela PC, por terem sido os mesmos

recentemente aplicados, portanto, os que precisavam ainda ser avaliados, uma vez que já

haviam acontecido avaliações antes da fase de intervenção da pesquisa.

Seguindo as sugestões da maioria, a professora colaboradora realizou uma atividade

em grupo, dividindo a classe de forma a mesclar os estudantes com maior domínio do

conteúdo aplicado anteriormente (false cognates or false friends) com os outros estudantes

que ainda apresentavam alguma dificuldade nesse conteúdo, promovendo assim um equilíbrio

entre os componentes dos grupos formados. Para não haver estudantes sem participar, as

atividades começaram ainda na sala de aula, onde recebiam orientações específicas à

contribuição de cada um.

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A prova escrita, instrumento determinado pela portaria de avaliação da Escola

Inovadora, foi elaborada e aplicada conforme as sugestões dos estudantes. Contemplava as

quatro habilidades pretendidas pelos PCNEM e foi estruturada em quatro partes, com a

pontuação dividida igualmente entre cada uma destas. Foram contemplados nessa prova os

seguintes aspectos: vocabulário, pronúncia, percepção auditiva, conhecimentos gramaticais,

interpretação textual e produção textual. Os estudantes apreciaram esse exame, porque

ninguém se sentiu prejudicado e assim puderam identificar suas aptidões e desempenho

mediante as habilidades trabalhadas, uma vez que, não conseguindo bons resultados em uma

das partes da prova, havia a possibilidade de obterem em outra.

A professora utilizou ainda duas formas de avaliação informal, examinando os

estudantes sem que estes percebessem: uma aula de conversação com frases já conhecidas

pelos estudantes, introduzindo palavras novas (phrasal verbs) e uma dinâmica de grupo

(fazendo uso do imperative). Nas duas avaliações indiretas, a nota foi concedida pela

participação e observação aos critérios esclarecidos antes da realização das atividades.

Percebemos que houve uma assimilação da docente no que diz respeito a aliar a

avaliação com o ensino, algo que enriqueceu sua prática pedagógica. Ao incluir as sugestões

dos educandos na sua prática avaliativa, envolveu-os na construção do processo, cedendo-lhes

um novo lugar e um novo discurso, mediante os resultados obtidos. Os discentes que já

concebiam a avaliação dessa forma agiram como participantes ativos de seu processo de

avaliação, sendo protagonistas de seus resultados.

4.3 REFLEXÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL NA CONSTRUÇÃO DO

PROCESSO AVALIATIVO

A terceira fase, conclusiva das etapas propostas para este trabalho de pesquisa ação,

denominada de fase de pós-intervenção, veio nos fornecer uma compreensão acerca das

opiniões dos estudantes envolvidos na pesquisa no que se refere à sua participação no

processo avaliativo de língua inglesa na escola. Procuramos fundamentar essa fase da

pesquisa por meio de uma autoavaliação aplicada com alguns dos estudantes envolvidos pela

pesquisa empreendida. Uma vez que estávamos no campo desenvolvendo anotações, não seria

necessária a opinião de todos os trinta e cinco estudantes, parecendo-nos suficiente uma

representação de dez pessoas. Essas dez pessoas foram voluntariamente selecionadas.

Com a autoavaliação, procuramos saber as opiniões discentes não somente sobre

questões referentes à sua avaliação de língua inglesa, mas também a respeito de uma

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característica do Ensino Médio Inovador, qual seja, a separação das disciplinas por blocos.

Dessa forma, procuramos também contribuir com essa etapa de ensino, cuja proposta

metodológica ainda é nova em nosso país.

Ainda dessa vez, aproveitamos a oportunidade para perguntar se eles tinham

preferência por algum instrumento avaliativo, tendo em vista que não sabíamos quem iria

responder a essa autoavaliação, já que algumas pessoas, como explicamos anteriormente, não

haviam respondido a qualquer instrumento de geração de dados durante a pesquisa. Como

apenas um novo participante direto surgiu e citou os instrumentos outrora indicados pelos

demais, decidimos não nos deteremos neste item.

As respostas obtidas por essa autoavaliação estão organizadas em quadros. Iniciamos

nossas perguntas nos remetendo à metodologia adotada pelo EMI, qual seja, a de separar as

disciplinas curriculares em dois blocos semestrais, assim apresentando aos educandos da

Escola Inovadora a oportunidade de defenderem ou não essa metodologia.

Melhora as notas

Melhora a aprovação

Torna o ensino menos cansativo e menos complicado

O tempo mais bem aproveitado (otimizado)

O ensino fica mais organizado e fácil

Fica mais fácil para estudar as matérias

Nessa nova modalidade os estudantes ficam mais atarefados

Não é interessante e sim complicado

QUADRO 12 – Opiniões dos estudantes sobre as disciplinas separadas por blocos

Fonte: Dados da pesquisa.

Os estudantes consultados, em sua maioria, aprovaram a metodologia do EMI de

separar as disciplinas por blocos, admitindo que estudar dessa forma se torna mais fácil,

porque as disciplinas ficam organizadas e aparentemente diminuem o seu número, o que lhes

proporciona uma otimização do tempo ao estudá-las. Nessa metodologia, o número de aulas

requisitado para cada disciplina permanece o mesmo, sendo que algumas disciplinas são

ofertadas durante o primeiro semestre e assim suas aulas semanais são duplicadas. O mesmo

acontece no semestre seguinte, com as disciplinas ainda não estudadas pelos discentes. Dessa

forma, os estudantes terão Geografia em um bloco e História em outro bloco, por exemplo.

Com o número de disciplinas aparentemente diminuído e as aulas das disciplinas que

estão cursando aumentadas, os professores se veem com mais tempo para investir na

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aprendizagem de seus estudantes, chegando a requisitar mais atividades. Em decorrência

disso, alguns estudantes, como EC28 e EC35, acham que seu desempenho melhorou, ao

expressarem que “melhorou a aprovação” e que ficou mais fácil para o educando “tirar notas

boas”, segundo EC16. Apenas uma estudante, EC4, achou complicado estudar dessa forma,

porque são exigidas muitas atividades, o que, de acordo com ela, a deixa muito atarefada.

A proposta da avaliação qualitativa para o ensino de língua inglesa no ensino médio

defendida pela pesquisa parte do princípio de que essa avaliação deve ser de responsabilidade

de ambas as partes do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, docentes e discentes. Tendo

as atividades avaliativas sido realizadas por meio dos instrumentos avaliativos sugeridos pelos

estudantes, buscamos entender destes se procuraram participar das atividades propostas, agora

cientes de sua corresponsabilidade nesse processo.

ESTUDANTES REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES FREQUÊNCIA PARTICIPAÇÃO

06 Fizeram todas Assídua Boa-excelente

03 Não fizeram algumas Regular Regular

01 Perdeu diversas Ruim Razoável

QUADRO 13 – Realização, participação e frequência dos estudantes nas atividades avaliativas

Fonte: Dados da pesquisa.

Os estudantes consultados, em sua maioria, realizaram todas as atividades por eles

propostas, classificando sua participação como boa ou excelente e tendo assiduidade às aulas.

Os partícipes EC5 e EC4, por exemplo, definem-se como estudantes assíduos, pois, mesmo

quando precisavam faltar, justificavam sua ausência, demonstrando compromisso com sua

aprendizagem. Os estudantes que responderam não terem feito algumas atividades atribuem

isso a algumas vezes que precisaram faltar às aulas e classificam sua participação como

regular. Esse também parece ser o motivo pelo qual o partícipe EC25 define sua participação

como razoável, ao assumir que sua frequência às aulas é ruim.

Antes da intervenção da pesquisa, foi observado que, no dia da prova, muitos

estudantes que não eram assíduos nas aulas não avaliativas (que aconteciam separadamente,

como já explicamos ao longo do trabalho) frequentavam as aulas avaliativas, talvez com o

propósito de obterem notas.

Ao assumirem que para que a participação melhore (e consequentemente os resultados

da aprendizagem) é primordial a frequência às aulas, os estudantes mais uma vez demonstram

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que não separam o processo de ensino do processo de avaliação, deixando esta orientação

para os docentes: que esse processo aconteça de forma indissociável nas aulas cotidianas.

Ainda sobre a avaliação desenvolvida na escola, buscamos entender se esses

estudantes se mostravam satisfeitos com o seu desempenho na aprendizagem do inglês; para

tanto, mediante o desempenho apresentado, era necessário que analisassem criticamente o

merecimento de sua nota. Buscamos separar desempenho de nota, entendendo que o

desempenho está mais relacionado ao desenvolvimento do educando na disciplina ensinada,

enquanto que a nota está compreendida como uma das formas de registro burocrático de sua

aprendizagem na língua inglesa. Dividimos o questionamento feito em dois quadros, por

questão de organização, porém não os analisaremos de maneira separada.

ESTUDANTES DESEMPENHO NOTAS QUE MERECEM

02 Regular-ruim Nota suficiente para aprovação

01 Regular-bom Nota baixa

01 Regular-bom Nota suficiente para aprovação

04 Bom-ótimo Nota alta

01 Bom-ótimo Nota suficiente para aprovação

01 Bom-ótimo Nota baixa

QUADRO 14 – Desempenho estudantil e análise crítica sobre os resultados expressos em notas

Fonte: Dados da pesquisa.

NOTA BAIXA NOTA SUFICIENTE NOTA ALTA

Não aprender nada Não ter boa frequência Aprender muitas coisas

Não gostar da disciplina Achar a disciplina

complicada

Assistir todas as aulas,

estudar muito, participar de

todas as atividades

Não fazer todas as atividades Ter assiduidade e

participação

Não saber de tudo o que foi

explicado

Ter dedicação aos estudos

QUADRO 15 – Justificativas dos estudantes para as notas pretendidas

Fonte: Dados da pesquisa.

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Em face das respostas apresentadas nos dois quadros, percebemos que as situações se

intercalam com as respostas demonstradas nos quadros anteriores. Por exemplo, se atentarmos

para as respostas de EC27, teremos que a estudante realizou todas as atividades, era assídua

nas aulas, seu desempenho oscila entre bom e ótimo e ela acha que merece uma nota alta por

ter estudado muito, participado de todas as atividades e assistido a todas as aulas. Quer dizer,

os estudantes reconhecem que merecem as notas obtidas a partir dos esforços que

empreenderam. Em nenhum momento dessa fase de pós-intervenção houve acusação dos

discentes envolvendo a docente PC quanto aos resultados obtidos. Segundo ela, isso ocorria

antes dos procedimentos realizados com a participação dos estudantes, que se sentiam

injustiçados por suas notas e a acusavam de “perseguição”, entre outras colocações não

lisonjeiras.

Os estudantes estavam habituados a não participarem de seu processo avaliativo de

forma direta e atribuíam o seu sucesso ou insucesso escolar unicamente à pessoa da

professora. Ao tomarem parte nas decisões concernentes à avaliação empregada, mostraram-

se autocríticos, conscientes de que as notas obtidas nas disciplinas e os resultados por elas

previstos dependem de seu desempenho e de sua participação nas aulas que frequentam. Ao se

corresponsabilizarem pelas avaliações de sua turma, não mais se vitimizaram em busca de um

responsável por seus resultados, mas desenvolveram senso de responsabilidade para com seus

deveres estudantis.

Concluindo nossa análise, a última pergunta direcionada da autoavaliação discorria

sobre as opiniões dos estudantes a respeito das sugestões por eles apresentadas (e acatadas) no

processo avaliativo.

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Regular – ruim Deveria ter sido mais bem aproveitada pelo

estudante

O estudante preferia ter tido mais explicações

a respeito

Boa – ótima A professora soube explicar bem a avaliação

Avaliação mais fácil e boa de fazer

O estudante aprendeu bastante com ela

(avaliação)

Uma avaliação dinâmica, que deu para

aprender tudo

A professora procurou saber dos alunos sobre

esse assunto

Avaliação interessante, modo de aplicar

interessante

Avaliação que merece elogios, pois a

professora explicou suas aulas de vários

modos

A estudante aprecia a nova avaliação realizada

QUADRO 16 – Opinião dos estudantes sobre a avaliação de língua inglesa desenvolvida a partir das sugestões

deles

Fonte: Dados da pesquisa.

A nova forma de avaliação desenvolvida na escola, segundo os participantes,

aumentou as chances de haver mais aprendizagem no idioma inglês, porque os estudantes

ficaram mais comprometidos com as aulas. Percebemos a junção dos processos de ensinar e

avaliar pela frase de EC28, quando coloca que “a professora explicou suas aulas de vários

modos”, denotando que as aulas estariam inseridas na avaliação e vice-versa. A aprendizagem

do idioma fica subtendida nas colocações de EC35: “Aprendi bastante com essa avaliação” e

EC3: “Agora a avaliação é dinâmica, deu pra aprender tudo”. A partir do modo de se

expressar desses estudantes, entendemos que a avaliação proposta pela pesquisa ação

desenvolvida acarretou mudanças positivas para o ensino-aprendizagem de língua inglesa.

Mesmo analisando as opiniões desfavoráveis, como a do partícipe EC25, que achou a

avaliação aplicada “muito ruim, por falta de explicação”, percebemos o seu senso de

responsabilidade despertado, uma vez que o estudante admitiu não ter frequentado todas as

aulas, estando aí, talvez, o motivo de querer mais explicações a respeito.

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Tendo obtido essas opiniões em forma de autoavaliação, concluímos a geração de

dados da pesquisa empreendida, por vermos que os objetivos propostos foram alcançados.

O estudante do EMI da escola pesquisada mostrou-se um protagonista, um construtor

da sua avaliação, que passou a acontecer de maneira descentralizada da pessoa da docente,

tida agora como uma parceira desse processo, trocando com seus aprendizes experiências e

saberes, como se espera de uma educação que prima pela qualidade.

Verificamos que ações tão simples, como acatar as sugestões dos estudantes, foram

promotoras de grandes mudanças. Uma delas, talvez a mais significativa, é o reconhecimento

de cada educando como o responsável maior pelos seus resultados. Ao admitir seus esforços e

suas lacunas no ato de aprender uma língua estrangeira, classificando o seu desempenho

mediante avaliações que foram realizadas por sugestões suas e de seus pares, o aprendiz passa

a conviver com a sua nota, não de maneira egoísta, tentando justificá-la com acusações contra

a pessoa da professora, mas de maneira realista, ao relacionar o resultado à sua performance

durante o período letivo de que tomou parte.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

________________________________________________________________

Conta-se a respeito de Alexandre, O grande, que ele, quando menino, certo dia, estava

a olhar o treino dos cavalos de seu pai, o rei Felipe da Macedônia. Durante o treino, um dos

cavalos não se permitia ser montado por ninguém. Os cavaleiros mais experientes se

revezavam, na tentativa de montá-lo, mas o animal continuava indomável. Até que Alexandre

pediu permissão a seu pai para montar o cavalo.

Depois de muitas objeções, pelo fato de ser apenas uma criança e de seu pai alegar que

até mesmo os cavaleiros mais experientes do seu reino não haviam conseguido tal façanha,

Alexandre finalmente convence o rei por sua insistência.

Antes de montar no cavalo, dizem que Alexandre fez um gesto aparentemente banal:

trocou o animal de posição, de forma que o cavalo ficasse de frente para o sol, e não de

costas, como estava até então. O que passou despercebido aos olhos do rei e dos experientes

cavaleiros, que o atento menino percebeu, era o fato de que o cavalo estava nervoso por estar

assustado com a própria sombra. Ao trocá-lo de lado, de forma que ele não mais visse a

sombra que o estava assustando, o menino subiu no cavalo, que não lhe apresentou a menor

resistência. O cavalo, chamado Bucéfalo, foi presenteado por seu pai no mesmo dia para

Alexandre (LOBATO, 2004).

O motivo de termos iniciado nossas considerações finais com essa narrativa é que o

objetivo geral de nossa pesquisa, qual seja, produzir conhecimento sobre o processo de

avaliação desenvolvido nas aulas de língua inglesa a partir das contribuições dos estudantes

da segunda série de uma escola pública de ensino médio, foi alcançado com uma atitude

aparentemente simples: ao pensarmos na construção do processo avaliativo de aprendizagem

de língua inglesa, em vez de deixá-lo permanecer sendo da competência única e exclusiva do

professor, este passou a ser escolhido, sugerido e pensado pelo viés do estudante, para quem

ele acontece. Os demais objetivos que concorreram para a realização da pesquisa foram: 1)

diagnosticar e caracterizar o processo avaliativo de língua inglesa da escola pesquisada,

identificando as representações que os discentes atribuem à avaliação; 2) implementar os

instrumentos avaliativos sugeridos pelos estudantes para a realização da avaliação da

aprendizagem de língua inglesa; e 3) refletir sobre a participação discente na construção do

processo avaliativo de língua inglesa.

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Para alcançarmos essa compreensão, partimos de alguns questionamentos que

nortearam a pesquisa. Resolvemos reapresentá-los nesse momento, refletindo sobre se os

demais objetivos da pesquisa foram alcançados. Inicialmente nos questionamos: Como se

caracteriza a avaliação de língua estrangeira em uma escola pública do ensino médio,

considerando os instrumentos avaliativos utilizados pelos professores, a participação e a

reação dos estudantes a esses instrumentos?

A pesquisa empreendida identificou a avaliação empregada pela professora pesquisada

como unilateral e somativa, portanto quantitativa, pelos seus fins. Ao propor mudanças,

inserindo a participação efetiva e igualitária dos estudantes nas decisões que concernem ao

processo avaliativo de língua inglesa, a professora mostrou-se disposta a dividir suas

responsabilidades e expectativas com os estudantes, passando a avaliação de idiomas agora a

se desenvolver por uma perspectiva qualitativa, em que instrumentos utilizados em momentos

de ensino passaram a ter uso também na avaliação (outro momento de ensino) e novos

instrumentos foram apontados como possíveis sugestões para dinamizar esse processo.

Após a caracterização da avaliação da aprendizagem de língua inglesa, foi do

interesse da pesquisa saber que contribuições o estudante do EM poderia agregar ao seu

processo avaliativo de língua inglesa, sendo este nosso segundo questionamento para a

pesquisa.

Uma das contribuições da nossa pesquisa, portanto, é apontar a possibilidade de

envolver o estudante como um dos agentes construtores de sua avaliação, não o deixando

permanecer, durante o desenvolvimento do processo, como um participante passivo, que

apenas executa a avaliação escolhida por seu professor, porque cogitamos ser esta uma das

características da avaliação tradicionalmente unilateral que se desenvolve na maioria das

instituições de ensino, em que somente o professor rotula, caracteriza e determina o grau de

aprendizagem do educando, deixando-o isento da responsabilidade pelos resultados que

obtém. A pesquisa partiu da constatação de que a avaliação

não deveria ser uma atividade unilateral com um professor fazendo

julgamentos a partir de critérios predefinidos e sim um sistema dinâmico

com aprendizagens envolvidas entre si, fazendo julgamentos sobre eles

mesmos a partir de critérios definidos e negociados de acordo com a situação

de aprendizagem (CANAN, 1996, p. 30).

Ao nos interessarmos pelas opiniões dos estudantes a respeito de suas concepções

avaliativas, refletimos com eles as indicações e representações dos instrumentos avaliativos

que esses estudantes apontaram como melhores indicadores de sua aprendizagem de idiomas,

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ou seja, os instrumentos que melhor representam as suas reais competências e habilidades

linguísticas, de forma a trazer para a sala de aula a qualidade na aprendizagem e,

consequentemente, na expressão dessa aprendizagem. Assim, o terceiro questionamento da

pesquisa volta-se agora para o público docente: que procedimentos didáticos poderemos

desenvolver para que o estudante do EM sinta-se participante na construção de seu

processo avaliativo e corresponsável pelos seus resultados?

O professor, nesse processo, torna-se um mediador dos estudantes na coconstrução

dinâmica do processo ensino-aprendizagem-avaliação, uma vez que nos indagávamos acerca

do por que de apenas o professor ser tido como responsável pelo desenvolvimento da

avaliação de uma língua estrangeira e, consequentemente, pela apresentação dos resultados

obtidos por esse processo. Cogitamos que, ao dividir as tarefas com seus aprendizes, os

docentes podem agregar qualidade ao processo de avaliação. Assim, apresentamos uma nova

perspectiva para a avaliação, centrada no coletivo, envolvendo ambos os participantes do

processo.

A pesquisa compreendeu que os estudantes do ensino médio possuem uma consciência

mais crítica e reflexiva no que se refere a suas avaliações. Os estudantes participantes deste

estudo demonstram entender que a avaliação é parte constante do processo de ensino-

aprendizagem, já que eles apontam que os procedimentos de ensino de idiomas sejam

vinculados à avaliação e não realizados separadamente, como até então estava acontecendo na

escola pesquisada. A opinião estudantil diverge da percepção de alguns educadores, que

tratam o ensino como algo que difere e ocorre separadamente do processo avaliativo (SILVA,

2007).

Esses estudantes não se preocupam apenas com as avaliações escolares, mas têm

interesse e opinam sobre as avaliações nacionais, que, em sua maioria, somente utilizam como

parâmetro os exames. Tais exames, como, por exemplo, o vestibular, mostram-se, para esses

estudantes, como maneiras deficientes de se conhecer as aprendizagens desenvolvidas por

toda uma vida escolar, o que, segundo eles, deveria ser modificado o quanto antes, fazendo-se

uso de instrumentos mais fidedignos da trajetória estudantil, como a observação do histórico

escolar e ainda das aptidões dos jovens para algumas atividades, realizadas em forma de

estágio, que tivessem relacionamento com o curso superior que desejassem ingressar.

Ao serem solicitados para que produzissem imagens relacionadas ao tema avaliação,

os estudantes expuseram seus receios e expectativas a respeito do que idealizam ante as

avaliações que tomam parte e as que desejam que aconteça com mais frequência. Suas

representações, ao se valerem de imagens por eles produzidas para se constituírem,

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expressaram suas sensações provocadas pelo uso dos instrumentos avaliativos que já

conhecem, fazendo-nos entender os aspectos psicológicos desencadeados pelos instrumentos

e o quanto esses aspectos podem contribuir para a aprendizagem de uma língua estrangeira ou

ainda para impedir que ela aconteça.

A pesquisa também constatou que a escola ainda influencia na avaliação, que deveria

ser assunto da autonomia dos educadores e educandos. A escola privilegia alguns

instrumentos avaliativos em detrimento de outros, o que dificulta o favorecimento das

diversas aprendizagens, especialmente daqueles aprendizes que não apresentam um bom

desempenho quando são avaliados por meio dos instrumentos privilegiados.

Conjeturamos que a criatividade é o que não pode faltar em nossos ambientes de

ensino, uma vez que ela é a responsável pela resolução dos problemas que surgem no decorrer

da prática pedagógica e avaliativa. Como exemplo disso, citamos a sugestão, feita por um

estudante e aceita pela professora pesquisada, de usar uma prova que trabalhasse com as

quatro habilidades básicas pretendidas para o ensino de línguas: falar, ouvir, ler e escrever no

idioma ensinado. A prova, dividida em pontuações iguais por cada habilidade, proporcionou e

privilegiou a aprendizagem do idioma inglês, além de haver superado um problema criado

pela escola, por valorizar o instrumento prova em relação aos demais. A prova tornava-se um

problema para a avaliação das habilidades linguísticas porque, antes da sugestão do estudante,

esse instrumento somente trabalhava com duas das habilidades citadas: a leitura e a escrita.

A pesquisa realizada alcançou os objetivos propostos, mas identificou outras lacunas

no processo avaliativo vigente. Uma dessas lacunas é o fato de a avaliação já ser divulgada de

maneira pejorativa, como algo que deve ser ruim, difícil, complexo. Tal divulgação, até

mesmo pela mídia impressa, demonstra a cultura avaliativa do país? Por que privilegiar os

exames, se estes são apontados como os instrumentos que mais provocam essas sensações de

dificuldade e complexidade? Vemos que para responder a essas e outras questões que

surgiram ao longo do trabalho são necessários mais estudos na área, em um contexto de

pesquisa maior, talvez em âmbito nacional, em que se possa entrar em contato com as

opiniões de mais estudantes brasileiros. Pode ser do interesse de futuras pesquisas a

vinculação dos estudos sobre avaliação da aprendizagem com a cultura escolar brasileira, para

compreender como uma influencia na outra e o que se pode fazer para contribuir com ambas.

Ainda podemos acrescentar um fato interessante que perpassou todos os momentos da

pesquisa in loco, qual seja, os estudantes pesquisados não se limitaram a falar apenas das

avaliações da aprendizagem de língua inglesa, mas, sempre que surgia a oportunidade,

referiam-se a outras disciplinas, o que de certa forma mostra a sua insatisfação com o sistema

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de avaliação da sua escola como um todo e também sinaliza que essa pesquisa pode auxiliar

não somente os profissionais ou estudantes de línguas, mas também a todos que se interessem

pela temática da avaliação.

Finalmente, consideramos que pensar a avaliação da aprendizagem pelo viés do

estudante é uma atitude aparentemente simples, pois reconhecemos que a cultura avaliativa

com a qual ainda convivemos, na teoria, é muito consciente de que a participação discente é

imprescindível para o equilíbrio do processo avaliativo, no entanto, na prática, essa cultura

ainda é unilateral: “não raro encontramos no espaço pedagógico discursos que primam pelo

princípio da coletividade e posições que tendem a silenciar segmentos que são considerados

sem capacidade para se posicionar, como é o caso do segmento dos estudantes” (PEREIRA,

2009, p. 190, grifo nosso). Além disso, nem todos os docentes poderão querer abdicar das

decisões referentes aos seus métodos avaliativos, talvez por se sentirem confortáveis com eles

ou por entenderem que continuar a determinar sua avaliação pode lhes conceder poder perante

seus estudantes.

Assim sendo, a pesquisa realizada propõe sua utilidade social ao trazer contribuições

que podem ser utilizadas em cursos de formação de professores, ao apresentar novos

subsídios teóricos para serem discutidos pelos docentes, ao mesmo tempo que contribui com

os professores em serviço, adaptando a experiência vivenciada em material que pode ser

utilizado para a formação continuada ou atualização dos conhecimentos dos professores.

Consequentemente, o estudo contribui para a transformação do ensino-aprendizagem de

língua inglesa nas escolas, por meio da proposta inovadora da participação do estudante no

processo de avaliação de aprendizagem e por nortear que o processo avaliativo ocorra

priorizando os aspectos qualitativos da avaliação, como, por exemplo: pontualidade,

assiduidade, participação e compromisso com os estudos (CANAN, 1996), antes tidos apenas

como procedimentos de rotina das salas de aula.

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113

LEITURAS SUPLEMENTARES

______________________________________________________________________

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da Língua

Portuguesa. Editoração de Anjos, M. et al. 4. ed. rev. ampliada. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2000.

HOFFMANN, J. Avaliar para promover. Porto Alegre: Mediação, 2001.

KUENTHE, J. L. O processo ensino-aprendizagem. Porto Alegre: Globo, 1978.

LOWENFIELD, V. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

OTANI, N.; FIALHO, F. A. P. TCC: métodos e técnicas. Florianópolis: Visual Books, 2011.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas

lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

PRESKILL, H.; CATSAMBAS, T. T. Reframing evaluation through appreciative inquiry.

Thousand Oaks: Sage, 2006.

THIOLLENT, M. Pesquisa-ação nas organizações. São Paulo: Atlas, 1997.

TOTIS, V. P. Língua Inglesa: leitura. São Paulo: Cortez, 1991.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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114

APÊNDICES

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Apêndice 01 – Formulário de consentimento do estudante.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM-PPgEL

DEPARTAMENTO DE LETRAS-DL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

Campus Universitário - Lagoa Nova - Natal/RN - Brasil - 59078-970

E-mail: [email protected] - Telefone: (84) 3215.3584 - Fax: (84) 3211.9212

PARA DÚVIDAS SOBRE ESTE ESTUDO, ENTRE EM CONTATO COM:

Vitória Maria Avelino da Silva Paiva (pesquisadora da UFRN)

Tel.: (84) 9905 4442; (84) 9423 4002

e-mail: [email protected]

FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO DO ESTUDANTE

(obs: O aluno de menor deverá mostrar esse formulário para pais ou responsáveis e

só assinar mediante concordância destes)

DESCRIÇÃO: Você está sendo convidado a participar de um estudo de pesquisa cujo

propósito é entender melhor a participação dos alunos do Ensino Médio na construção do

seu processo avaliativo condizente com os propósitos linguísticos do ensino de uma língua

estrangeira. Sua participação acontecerá em diversos momentos importantes para a nossa

pesquisa: na resposta de questionários e entrevistas, na participação de um seminário e em

outras ações que poderão surgir no decorrer da pesquisa. Sua identidade será mantida em

sigilo confidencial, inclusive, se você desejar, poderá fazer uso de pseudônimos, pois

analisaremos suas respostas e participação apenas para os propósitos a que se destina esta

pesquisa.

BENEFÍCIOS: Colaborando com a nossa pesquisa você estará ajudando a fazer uma

educação melhor e a esclarecer o quadro do ensino de idiomas do nosso país de forma

brilhante, pois ajudará a melhorar o entendimento do processo avaliativo vigente.

DIREITOS DO PARTICIPANTE: Ao ler este formulário e resolver participar deste

estudo, saiba que sua participação é voluntária e que você tem o direito de interromper sua

participação a qualquer momento, bem como de recusar-se a responder perguntas ou de

tomar parte em outras atividades solicitadas pelo pesquisador com as quais você não

concorde. Sua privacidade será preservada em todos os dados publicados e escritos

resultantes deste estudo. A qualquer momento, você poderá se dirigir ao pesquisador para

retirar dúvidas quanto ao estudo empreendido.

Nome do aluno: _____________________________________________________

Assinatura do aluno:_____________________________________ data: 06/09/2011

Assinatura de pai, mãe ou responsável: ___________________________________

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Apêndice 02 – Questionário dos professores

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM-PPgEL

DEPARTAMENTO DE LETRAS-DL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

Campus Universitário - Lagoa Nova - Natal/RN - Brasil - 59078-970

E-mail: [email protected] - Telefone: (84) 3215.3584 - Fax: (84) 3211.9212

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

QUESTIONÁRIO A SER APRESENTADO AO(S) PROFESSOR(ES)

(Caro(a) professor(a), necessitamos de sua colaboração para elaborarmos o perfil da avaliação de

língua estrangeira da nossa escola. Contamos com a sua valiosa contribuição para a nossa pesquisa.

Obrigada!)

IDENTIFICAÇÃO NOME (ou pseudônimo): ___________________________________________

FORMAÇÃO ACADÊMICA: _______________________________________

ESCOLA EM QUE TRABALHA: ____________________________________

TEMPO QUE LECIONA: ___________________________________________

CIDADE: ________________________ ESTADO: ______________________

QUESTÕES:

1. O que é avaliar, para você? Quais os objetivos da sua avaliação?

2. Que tipos de instrumentos avaliativos você utiliza em sala de aula (prova escrita, prova

oral, etc.) e que habilidades linguístico-comunicativas você avalia (reading, writing, listening,

speaking)? Justifique:

3. Qual a sua maneira de avaliar preferida? Por quê?

4. Você sente dificuldades em elaborar e aplicar suas avaliações? Se sim, quais e por quê?

5. Como os estudantes reagem à sua avaliação e como eles reagem às notas que tiram em

Inglês? Reagem bem se tiram notas boas. Se não, logo me acusam, dizem que estou de

marcação.

06. Por favor, faça uma descrição do material didático da sua escola que você utiliza em sala

de aula:

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Apêndice 03 – Questionário dos estudantes

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM-PPgEL

DEPARTAMENTO DE LETRAS-DL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

Campus Universitário - Lagoa Nova - Natal/RN - Brasil - 59078-970

E-mail: [email protected] - Telefone: (84) 3215.3584 - Fax: (84) 3211.9212

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA

QUESTIONÁRIO A SER APRESENTADO AOS ESTUDANTES

(Caro(a) estudante, necessitamos de sua colaboração para elaborarmos o perfil da avaliação de língua

estrangeira da nossa escola. Contamos com a sua valiosa contribuição para a nossa pesquisa.

Obrigada!)

IDENTIFICAÇÃO:

NOME (pseudônimo): ____________________________________________________

ESCOLA EM QUE ESTUDA: ____________________________________________

SÉRIE QUE ESTUDA: __________________________________________________

TEMPO QUE ESTUDA AQUI: ___________________________________________

MATÉRIA FAVORITA: _________________________________________________

CIDADE: ___________________________ ESTADO: _________________________

QUESTÕES:

1. O que você acha das avaliações da sua escola?

2. Como você é avaliado, na disciplina de Língua Inglesa? (prova escrita, prova oral, outros).

3. Qual a sua maneira de avaliar preferida? Por quê?

4. Você sente dificuldades durante as avaliações de Inglês? Quais?

5. Você já foi reprovado nessa disciplina?

6. Como você reage às notas que tira em Inglês? Você acha que as merece?

7. Como você gostaria que fossem avaliados seus conhecimentos nessa disciplina?

8. Por favor, faça uma descrição do material didático que existe em sua escola e que o seu professor de

Inglês utiliza em sala de aula. (Ex.: som, livros, entre outros).

9. Por favor, faça-nos dois desenhos: Um que represente a sua maneira de avaliar favorita e outro que

represente a maneira de avaliar que você detesta:

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Apêndice 04 – Folder do Seminário

(ANEXO 5)

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Apêndice 05 – Autoavaliação

AUTOAVALIAÇÃO SEMESTRAL DE LÍNGUA INGLESA

ESCOLA ESTADUAL PEDRO II – ENSINO MÉDIO

ESTUDANTE:__________________________________________________________

SÉRIE _______ TURNO______________________ BLOCO ____________________

Caro estudante, você é o maior responsável pelo seu aprendizado. Assim sendo, responda com

sinceridade às perguntas baixo, pois elas irão nos ajudar a melhorar a estrutura da nossa escola e do

nosso ensino e irão te ajudar a se perceber como um agente dinâmico na melhoria da sua performance

estudantil.

1. O que você achou de estudar as disciplinas separadas por blocos?

Achei legal, pois ________________________________________________

________________________________________________________________

Achei mais ou menos, pois ________________________________________

________________________________________________________________

Não gostei, pois _________________________________________________

________________________________________________________________

2. Como você participou das atividades realizadas pela sua professora?

participei de todas perdi algumas não participei muito

3. Como foi sua frequência às aulas desta matéria?

ótima! Quase não faltei e quando o fiz, justifiquei.

assisti a algumas aulas, outras não...

além de faltar, gazeei diversas aulas.

4. Como você avaliaria o seu desempenho nesta disciplina?

Bom – ótimo (aprendi o que me foi ensinado) regular – bom (aprendi o que me

interessou) regular – ruim (aprendi? O quê?)

5. Que nota você se daria nesta disciplina?

Uma nota alta. Por quê? __________________________________________

________________________________________________________________

Uma nota que desse para passar. Por quê? ____________________________

________________________________________________________________

Reconheço que mereço uma nota baixa. Por quê? ______________________

________________________________________________________________

6. O que você achou das avaliações (que foram sugeridas pelos estudantes) aplicadas pela

sua professora?

Gostei, pois ____________________________________________________

Achei que deveria __________________________________________

Péssimo! Eu preferia _____________________________________________

7. (Para quem ainda não sugeriu) Você tem preferência por algum instrumento

avaliativo?___________________________________________________

Muito obrigada e boa sorte nos seus estudos!

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