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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS Talyta Torres Vianez VIABILIDADE DOS RAIOS X NO DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DO INSETO ESTÉRIL PARA ESTERILIZAÇÃO DO Aedes aegypti (LINNAEUS, 1762) (DIPTERA: CULICIDAE) PETROLINA - PE 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA

SAÚDE E BIOLÓGICAS

Talyta Torres Vianez

VIABILIDADE DOS RAIOS X NO DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA

DO INSETO ESTÉRIL PARA ESTERILIZAÇÃO DO Aedes aegypti

(LINNAEUS, 1762) (DIPTERA: CULICIDAE)

PETROLINA - PE

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E

BIOLÓGICAS

Talyta Torres Vianez

VIABILIDADE DOS RAIOS X NO DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA

DO INSETO ESTÉRIL PARA ESTERILIZAÇÃO DO Aedes aegypti

(LINNAEUS, 1762) (DIPTERA: CULICIDAE)

Dissertação apresentada à Universidade Federal do

Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus Petrolina,

como requisito da obtenção do título de Mestre em

Ciências, na linha de pesquisa em Biodiversidade,

Tecnologia e Recursos Naturais.

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Bento Moreira

Co-orientador: Eduard Montgomery Costa

PETROLINA - PE

2018

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Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF. Bibliotecário: Fabio Oliveira Lima CRB-4/2097.

Vianez, Talyta Torres.

V615v Viabilidade dos raios x no desenvolvimento da técnica do inseto estéril para esterilização do Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae) / Talyta Torres Vianez. – Petrolina, 2018. xv, 68 f.: il.: 29 cm.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde e Biológicas) –

Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Petrolina, Petrolina – PE, 2018.

Orientador: Profª. Drª. Márcia Bento Moreira. 1. Aedes aegypti. 2. Controle vetorial. 3. Radiação Ionizante. 4. Esterilização. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

CDD 614.4323

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DEDICATÓRIA

Agradecimento mais que especial só poderia ser dedicado ao meu amigo,

companheiro, cúmplice, amor, meu marido Augusto Bentinho, por acreditar em mim,

muitas vezes quando nem eu mais acreditava, por segurar a minha mão em todos

os momentos, pela paciência e compreensão. Sou grata por todo gesto de carinho e

sorriso.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Aos meus pais, José Vianez e Romilda Torres, pelo amor, cuidado, educação

e compreensão da minha ausência em muitos momentos. É incomensurável o amor

e admiração que sinto por vocês.

A minha irmã, Renata Vianez, pelo incentivo diário, sempre querendo o meu

melhor e pelo grandioso presente, minha sobrinha, Raíssa Vianez.

Agradeço a minha amável, serelepe e companheira fiel, Paçoca. Infelizmente

ela não sabe ler, mas quero que todos saibam da sua importância na minha vida,

principalmente durante o período do mestrado. Ela foi o melhor presente que o

mestrado me deu, é um amor recíproco inexplicável.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF por ter

permitido a criação do Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde e Biológicas

(PPGCSB) do qual fiz parte.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),

por ter recomendado o PPGCSB e pelo auxílio financeiro no desenvolvimento desta

pesquisa concedendo a mim uma bolsa de nível mestrado.

Ao Programa Pós-Graduação Ciências da Saúde e Biológicas, pelo apoio e

suporte.

À Dra. Márcia Bento Moreira, por aceitar mais um desafio como orientadora,

pelo estímulo e alegria.

Meus afetuosos agradecimentos à família Biofábrica Moscamed Brasil,

principalmente ao Dr. Jair Virgínio, pela confiança e concessão para o

desenvolvimento do trabalho. Agradecimentos especiais para quatro incríveis

pesquisadores que tenho admiração e afeto: Michelle Pedrosa, tudo que aprendi foi

graças a sua motivação, conhecimento partilhado de vida e de pesquisa desde a

iniciação científica, serei eternamente grata; a Maylen Gómez pela colaboração e de

ensinamentos de estatística, fundamentais para que eu conseguisse finalizar o

trabalho; a Luiza Garzieira pelo apoio, colaboração e risadas contagiantes; ao Danilo

Carvalho, também pela colaboração e ensinamentos, grande mestre e grande

coração. Aos meus companheiros de laboratório, histórias e muitas risadas: Aline

Taiane, pela sua dedicação em poder me ajudar no decorrer dos experimentos,

grata por toda o auxílio e companhia; Miriam Brito, por sempre me socorrer com

materiais, lote, etc.; Suenny Tupiná, sempre disposta a ajudar, risonha e com muito

assunto pra conversar ; Amanda Cunha e Aline Campos, mais conhecida como rica,

pela amizade, conselhos, colaboração e companhia, Nilton de Souza, por toda

disponibilidade e paciência para a efetuação das irradiações, Profa. Dra. Margareth

Capurro; Joseph Soeiro, Pedro Barros, Seu Luiz, Anna Souza, Carla Raquel, Dona

Sandra enfim, os integrantes do setor de operações, administração e demais que

fazem essa empresa de sucesso.

Aos meus amigos, irmãos que a vida me deu, que me alegram, brincam me

incentivam, me dão forças e que confia em mim, um abraço carinhoso em Rui

Alencar, Tarcísio Dourado, Ruana Sandes, Anette Viana, Uêdija Dias, Luiz Dantas,

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Vitória Jacó, Juciara Lima. A Dairan Santos e Thaís Leal pela minha afilhada Cecília

Leal, Michele Costa, pelo incentivo de ir à biblioteca todos os dias, Dieggo Lenno,

Ana Carla Santos, Camila Siqueira, Amanda Guimarães, Ilka Mendes, Hellen Silva

entre tantos outros que irão me perdoar caso não tenha lembrado nesse momento,

mas todos estão presentes no meu coração.

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“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da

busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da

alegria.”

Paulo Freire.

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RESUMO

No Brasil o Aedes aegypti é a principal espécie implicada nos ciclos de transmissão

dos vírus Dengue, Febre Amarela (urbana), Chikungunya e Zika e seu controle ainda

é desafiador. Os métodos tradicionais de controle do vetor têm sido considerados

pouco efetivos e a Técnica do Inseto Estéril (TIE), comprovadamente eficaz no

controle de pragas agrícolas, tem sido apontada como alternativa para

complementar o controle integrado. A TIE baseia-se na criação massiva da espécie-

alvo, na esterilização através de radiação (Gama ou X), com posterior liberação na

área a ser tratada. O intuito é que os mosquitos irradiados inviabilizem a formação

da prole. O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de raios X no controle

reprodutivo do Ae. aegypti. Pupas macho de Ae. aegypti foram irradiadas com as

doses: 10, 20, 30, 40, 50, 60, 65 e 70 Grays (Gy) sendo mantido um grupo controle

para cada processo. Parâmetros melhor idade para irradiação, mortalidade de

pupas, taxa de emergência, longevidade dos adultos, fecundidade e esterilidade

foram avaliados. Os resultados evidenciaram que a idade ideal para a esterilização é

com pupas entre 30 e 36 horas. A sobrevivência média de 96,1% dos machos

adultos irradiados nas doses entre 10 e 65 Gy foi no 10° dia, mas a mesma

porcentagem de sobrevivência de indivíduos irradiados com 70 (Gy) só foi 6°dia. A

irradiação não influenciou a fecundidade de fêmeas que copularam com machos

irradiados. Machos irradiados com 60, 65 e 70 Gy foram capazes de reduzir a zero a

fecundidade de fêmeas selvagens. Fêmeas irradiadas com 60, 65 e 70 Gy não

foram capazes de produzir ovos. Os resultados obtidos neste trabalho

demonstraram que é possível atingir a esterilidade em machos de A. aegypti

utilizando raios-X, sem comprometer a qualidade dos insetos.

Palavras-chave: Aedes aegypti. Radiação Ionizante. Esterilização. Controle

Vetorial.

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ABSTRACT

In Brazil the Aedes aegypti is the main species implicated in the transmission cycles

of Dengue, Yellow Fever (urban), Chikungunya and Zika viruses and its control is still

challenging. The traditional methods of vector control have been considered

ineffective, and the Sterile Insect Technique (SIT), proven to be effective in the

control of agricultural pests, has been suggested as an alternative method to

complement the integrated control. The SIT is based on the massive creation of

target species, sterilization by radiation (Gamma or X), with subsequent release of

sterilized species in the area to be treated. The intention is that irradiated mosquitoes

will not be able to produce offspring. The objective of the present study was to

evaluate the use of X - rays in the reproductive control of Ae. aegypti. Male Ae.

aegypti pupae were irradiated with the doses: 10, 20, 30, 40, 50, 60, 65 and 70

Grays (Gy) and a control group was maintained for each process. Parameters such

as of the best age for irradiation, pupae mortality, emergency rate, adult longevity,

fecundity and sterility were evaluated. The results showed that the ideal age for

sterilization is between 30 and 36 hours after the pupae emergence. The mea

(average)survival rate of 96.1% of adult males irradiated at the in between 10 and 65

Gy doses was on the 10th day, but the same survival percentage of individuals

irradiated with 70 (Gy) was on the 6th day. Irradiation did not influence the fecundity

of females that copulated with irradiated males. Males irradiated with 60, 65 and 70

Gy were able to reduce the fecundity of wild females to zero. Females irradiated with

60, 65 and 70 Gy were not able to produce eggs. The results obtained in this work

demonstrated that it is possible to achieve sterility in males of A. aegypti using X-rays

without compromising insect quality.

Keywords: Ionizing radiation. Sterilization. Vector Control.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fases do ciclo biológico de Aedes aegypti. Em sentido anti-horário: Fêmea

adulta; Ovo; Larva (L4); Pupas (macho e fêmea); Macho adulto. Fonte: elaborado

pela autora. ............................................................................................................... 21

Figura 2. Gaiola de PVC para colônia bissexual de Ae. aegypti. .............................. 30

Figura 3. Sistema de alimentação artificial sanguínea: (A) sangue ovino ou caprino;

(B) Parafilm®; (C) placa de alumínio; (D) placa de alumínio revestida com Parafilm®

e preenchida com sangue; (E) bolsa térmica de trigo sobre a placa de alumínio; (F)

Gaiola de PVC. Fotos: da autora. .............................................................................. 31

Figura 4. Sistema para oviposição das fêmeas: (A) papel filtro; (B) recipiente plástico

com água filtrada e (C) unidade de oviposição (UO). Foto: da autora. ..................... 32

Figura 5. Materiais para eclosão das larvas: (A) Ovos; (B) Pode de vidro com água;

(C) momento da eclosão das larvas; (D) larvas (L1) em bandeja. Fotos: da autora. . 33

Figura 6. Criação larval: (A) carrinho com bandejas para criação e (B) bandeja com

larvas e alimentação larval. Fotos: da autora. ........................................................... 33

Figura 7. (a) Separador de pupas e larvas Hock's Machine. (b) Gradiente trifásico

formado durante a separação. .................................................................................. 34

Figura 8. Acondicionamento para irradiação. (A) Placa de cultura; (B) Placa com

pupas ao centro; (C, D e E) Protótipo de isopor; (F, G e H) Posicionamento do

protótipo no recipiente de irradiação; (I) Posicionamento das placas para a

esterilização; (G, H, I, J, K, L e M) Disposição das placas de cultura na parte central

do protótipo de isopor e (N) Caníster de irradiação fechado. Fotos: da autora. ........ 35

Figura 9. Máquina de raios – x , modelo RadSource-2400. ...................................... 36

Figura 10. (A) recipiente plástico com amostras de pupas; (B) gaiola BugDorm®; (C)

Disposição das gaiolas dos tratamentos e controle. Fotos: da autora. ..................... 36

Figura 11. Emergência e alimentação sanguínea. (A) Pote para emergência dos

adultos; (B) Gaiola com fêmeas e alimentação artificial; (C) fêmeas no momento da

alimentação. Fotos: da autora. .................................................................................. 38

Figura 12. Passos da preparação dos tubos de oviposição: (A) tubo vazio; (B)

chumaço de algodão com água filtrada; (C e D) inserção do substrato de oviposição;

(E) inserção da fêmea; (F) individualização de fêmeas. Fotos: da autora. ................ 39

Figura 13. Despigmentação do córion: (A) Ovo fechado; (B) Ovo despigmentado

com embrião e (C) ovo despigmentado sem embrião. Fotos: da autora. .................. 40

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Figura 14. (A) Pote para emergência e avaliação da sobrevivência; (B) Sugador. ... 41

Figura 15. Peso médio de pupas de Aedes aegypti não irradiadas (controle) e

irradiadas com 65 Gy com 12, 24 e 36 horas de formação do pupário. T=27±1°C,

UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro

padrão. ...................................................................................................................... 43

Figura 16. Taxa de emergência (%) de mosquitos irradiados na fase de pupa com

12, 24 e 36 horas de formação do pupário. T= 27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h.

As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão. Colunas com letras

diferentes diferem entre si (Teste de Tukey; p˂ 0,05). .............................................. 44

Figura 17. Taxa de sobrevivência (%) dos mosquitos irradiados no terceiro, quinto e

sétimo dia de avaliação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas

representam a média dos tratamentos ± erro padrão para um mesmo dia de

avaliação após a emergência. Colunas seguidas por letras diferentes diferem entre

si (Teste de Tukey; p˂ 0,05). ..................................................................................... 45

Figura 18. Taxa de emergência de adultos de Aedes aegypti expostos a diferentes

doses de radiação X. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas

representam a média dos tratamentos ± erro padrão. .............................................. 46

Figura 19. Taxa de sobrevivência (%) dos mosquitos irradiados no décimo dia de

avaliação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média

dos tratamentos ± erro padrão. Colunas com letras diferentes diferem entre si (Teste

de Tukey; p˂ 0,05). ................................................................................................... 47

Figura 20. Taxa de sobrevivência diária de Ae. aegypti do grupo controle e irradiados

após emergência. ...................................................................................................... 48

Figura 21. Curva de esterilidade de raios X para Ae. aegypti. (A) Taxa média de

eclosão de ovos em função da dose; (B) Percentual de esterilidade em função das

doses. Os pontos contendo letras distintas são estatisticamente diferentes (p<0,05).

.................................................................................................................................. 51

Figura 22. Representação gráfica da relação Probit / dose de radiação X obtida do

cruzamento entre fêmeas selvagens e machos de Ae. aegypti expostos a diferentes

doses de radiação X. Limites de confiança de 95% para dose de raios X. ............... 51

Figura 23. Taxa de emergência de fêmeas expostas à diferentes doses de

irradiação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. .................................................. 52

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Fecundidade média das fêmeas que copularam com machos dos grupos

controle e tratamentos. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h................................ 49

Tabela 2. Taxa de eclosão de ovos provenientes da cópula de machos da colônia e

não irradiados; número de ovos sem eclosão das larvas (ovos fechados) e

porcentagem de ovos com presença de larvas. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14

h. ............................................................................................................................... 50

Tabela 3. Equação de Probit para as irradiações. ..................................................... 52

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 19

2.1. Anatomia, ecologia, distribuição e reprodução de Aedes aegypti ................ 19

2.2. Estratégias de controle de Ae. aegypti ......................................................... 21

2.3. Inovações para o controle vetorial ............................................................... 23

2.4. A importância da irradiação na TIE .............................................................. 25

2.5. Adequação e efeitos da Técnica do Inseto Estéril em mosquitos ................ 26

3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 28

3.1. Objetivo Geral .............................................................................................. 28

3.2. Objetivos Específicos ................................................................................... 28

4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 29

4.1. Local de Estudo ........................................................................................... 29

4.2. Material Biológico ......................................................................................... 29

4.2.1. Origem dos insetos ................................................................................ 29

4.2.2. Criação e manutenção das colônias de Ae. aegypti .............................. 29

4.2.3. Separação de pupas .............................................................................. 33

4.3. Determinação da idade adequada da pupa de Ae. aegypti para esterilização

35

4.4. Determinação da dose esterilizante para Ae. aegypti .................................. 37

4.4.1. Indução de esterilidade de fêmeas selvagens de Ae. aegypti ............... 37

4.4.2. Avaliação da Sobrevivência ................................................................... 40

4.4.3. Efeitos da irradiação em fêmeas ........................................................... 41

4.5. Análises Estatísticas .................................................................................... 42

5. RESULTADOS ................................................................................................... 43

5.1. Determinação da idade de pupas de Ae. aegypti para esterilização ............ 43

5.1.1. Peso do pupário ..................................................................................... 43

5.1.2. Mortalidade de pupas durante a irradiação ........................................... 43

5.1.3. Taxa de Emergência .............................................................................. 43

5.1.4. Taxa de Sobrevivência .......................................................................... 44

5.2. Determinação da dose esterilizante para Ae. aegypti .................................. 45

5.2.1. Mortalidade de pupas durante a irradiação ........................................... 45

5.2.2. Emergência de adultos .......................................................................... 45

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5.2.3. Sobrevivência dos insetos ..................................................................... 46

5.2.4. Avaliação de Fecundidade e esterilidade .............................................. 49

5.2.5. Efeitos da irradiação em fêmeas de Ae. aegypti ................................... 52

5.3. Taxa de emergência..................................................................................... 52

5.4. Fecundidade e fertilidade ............................................................................. 53

6. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 54

7. CONCLUSÕES .................................................................................................. 60

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61

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1. INTRODUÇÃO

Existem cerca de 140 arbovírus que causam doenças em humanos, as

infecções causadas por eles podem ser fatal assintomática ou fulminante. Pessoas

infectadas apresentam sintomas que se caracterizam como uma doença febril e

sistêmica, febre hemorrágica e doença neurológica invasiva. As doenças

emergentes causadas por arbovírus foram consideradas controladas ou de pouca

importância. Porém, nas últimas décadas, houve aumento significante do número de

doenças causadas por infecções por arbovírus (VASILAKIS; GUBLER, 2016).

Arbovírus (de “Arthropod Borne Viruses”) é o termo utilizado para definir vírus

que realizam parte do seu ciclo de replicação no interior de artrópodes. Os arbovírus

podem ser transmitidos ao homem por diversas espécies de artrópodes, como por

exemplo, mosquitos dos géneros: Aedes (Aedes aegypti, e Aedes albopictus) e

Culex (Culex quinquefasciatus ou outros insetos que possuam o hábito

hematofágico) (LOPES; NOZAWA; LONHARES et al., 2014.

Dengue, chikungunya e Zika são atualmente, as arboviroses de maior

repercussão em saúde pública no Brasil, destacando a zika que no ano de 2015,

causou numerosos casos de microcefalia, principalmente no estado de Pernambuco

(MS, 2017). As arboviroses atingem principalmente populações que habitam regiões

tropicais, onde condições ambientais como temperatura, umidade e condições

socioeconômicas favorecem a proliferação do vetor (TAUIL, 2002; RIVERA;

RODRÍGUEZ; MELÉNDREZ, 2012; HONORIO, 2015).

Aedes aegypti é a principal espécie implicada nos ciclos de transmissão dos

vírus Dengue, Febre Amarela (urbana), Chikungunya e Zika (TAUIL, 2001; WHO,

2016). Esta espécie tem origem africana e pertence à família Culicidae. Este

mosquito está bem adaptado ao ambiente urbano e possui hábitos diurnos e

comportamento antropofílico. Somente a fêmea na fase adulta em seus ciclos

reprodutivos é hematófaga e é neste momento que pode ocorrer a transmissão do

vírus ao homem. A alimentação sanguínea está relacionada à produção e maturação

dos ovos, os quais podem ser depositados em criadouros naturais (ocos de árvores,

folhas e cascas de plantas) ou artificiais (vasos de plantas, potes, caixa d’água) que

contenham água parada e baixo teor de matéria orgânica, para o desenvolvimento

de suas formas jovens (larvas e pupas) (FORATTINI, 2002).

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As ações de controle vetorial têm como finalidade reduzir a densidade

populacional da espécie-alvo e minimizar, ou mesmo interromper seu contato com o

homem (MS, 2009). Dois métodos de controle são amplamente empregados contra

o mosquito: o mecânico, dirigido à eliminação de criadouros temporários reais e

potenciais e o químico, que utiliza tanto inseticidas voltados ao tratamento focal dos

criadouros mais estáveis (frequentemente representados pelos grandes

reservatórios de água potável), como produtos de ação larvicida e adulticidas, de

efeito residual, voltados para o tratamento perifocal em pontos estratégicos para a

reprodução do mosquito (e.g. ferro-velho, cemitério, borracharia, etc.) (MANRIQUE-

SAIDE et al.,2015; ZARA et al., 2016).

Diante dos desafios de controle vetorial e do cenário de surtos e epidemias

destas arboviroses, agravado pela expansão destes arbovírus em todo o mundo, é

inevitável o estudo e a adoção de estratégias específicas, com investimentos em

métodos adequados, que acarretem em ações efetivas e sustentáveis das redes de

vigilância (ZARA et al., 20016).

Várias tecnologias diferentes mecanismos de ação têm sido desenvolvidas e

apontadas como opções para complementar o controle do Ae. aegypti. Uma

alternativa considerada promissora é a Técnica do Inseto Estéril -TIE (Sterile Insect

Technique- SIT (KNIPLING, 1955) (ZARA et al., 20016). A TIE é uma técnica de

controle genético, espécie-específica, baseada na liberação em massa de machos

estéreis da espécie-alvo, em uma área preestabelecida. O objetivo central da técnica

é favorecer a cópula destes machos estéreis com as fêmeas selvagens, para

inviabilizar suas progênies e desta forma controlar o crescimento populacional do

mosquito, através do controle reprodutivo (KNIPLING, 1955; ROBINSON, 2002;

WILKE et al., 2009). A esterilização é obtida a partir da exposição de indivíduos

machos às radiações gama ou X ou aos agentes quimioesterilizantes (HELINSKI,

2009).

A TIE tem sido comprovadamente eficaz no controle de pragas agrícolas,

como a mosca-das-frutas (Ceratitis capitata), atuando como alternativa à aplicação

de inseticida (FERREIRA; CHIARAVALLOTI NETO, 2007), e seu sucesso tem

levado a criação de biofábricas de machos estéreis em outros países como EUA,

México, Brasil e Inglaterra (PARANHOS, 2005). Nas últimas décadas, seu potencial

para o controle de insetos vetores tem sido avaliado com resultados promissórios

(CURTIS et al., 1982; PETERSEN et al., 1977; BENEDICT; ROBINSON, 2003;

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DYCK 2005; BELLINI, et al. 2013). Técnicas inovadoras relacionadas à esterilização

por meio de irradiação tem se mostrado como uma alternativa eficaz para a redução

da população de mosquitos em centros urbanos (BALESTRINO et al., 2010).

Contudo, diversos requisitos precisam ser preenchidos até que uma técnica

seja considerada eficiente no controle vetorial. É necessário, por exemplo, que a

tecnologia seja eficaz, segura, aplicável em larga escala e em tempo hábil, seja

compatível com as estratégias já utilizadas, e que apresente risco mínimo de

consequências negativas para o meio ambiente e para a população (ZARA et al.,

2016).

Apesar de existirem trabalhos que demonstrem o uso de machos esterilizados

por raios X para o controle de vetores (YAMADA et al., 2014), ainda não estão

disponíveis informações que demonstrem sua utilização para o controle de Ae.

aegypti. Diante deste contexto, são necessários estudos que revelem se a radiação

X na TIE agrega vantagens sobre o ponto de vista de produção dos indivíduos

estéreis e se a técnica, como um todo, é efetiva para o controle de Ae. aegypti.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Anatomia, ecologia, distribuição e reprodução de Aedes aegypti

Pertencente à família Culicidae, o Aedes aegypti é conhecido popularmente

como mosquito da dengue. No ano de 1762, Linneaus descreveu a primeira

ocorrência de Ae. aegypti no Egito. Apesar de ter sido originalmente encontrado na

África, esta espécie tem distribuição cosmopolita e sua dispersão pelo mundo está

associada ao homem. Acredita-se que o ingresso do mosquito no Brasil ocorreu

durante o transporte de escravos, no interior de grandes navegações, no período da

colonização do país (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI,

1996; ZARA et al., 2016).

Os mosquitos Ae. aegypti são mais facilmente encontrados em regiões

tropicais e subtropicais, onde encontram condições climáticas ideais . No entanto, há

registro de ocorrências desta espécie em regiões de alta latitude, como no México e

Índia (OPS; 2004).

A sobrevivência da espécie está associada à ocorrência de condições

favoráveis para sua multiplicação, causada pelo crescimento populacional e

territorial acelerado e desordenado das cidades concomitantemente com a baixa

infraestrutura urbana e educacional. Diante desse cenário, o mosquito, ao longo dos

anos desenvolveu comportamentos característicos que permitem a sua reprodução

em ambientes urbanos, tais qual o sinantropismo e a antropofilia (NATAL, 2002;

COELHO, 2008; CRISTOPHERS, 1960; ZARA et al., 2016).

Os criadouros naturais do mosquito correspondem a flores ornamentais como

bromélias, cavidade de árvores, buracos em rochas e internódios de bambu e os

principais criadouros artificiais são recipientes a céu aberto com capacidade de reter

água. Estes recipientes podem ser oriundos de descarte inadequado (garrafas pet,

pneus usados, etc) ou são utilizados para o armazenamento de água para

abastecimento humano (tanques, caixas d‘agua, dentre outros) (CONSOLI;

OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002).

Durante um ciclo gonadotrófico, as fêmeas de Ae. aegypti conseguem se

alimentar de sangue por diversas vezes, o que leva a uma alta capacidade de

disseminação de vírus na população (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994;

FORATTINI, 1996; NATAL, 2002).

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O período de desenvolvimento desde a fase de ovo até a emergência do

mosquito adulto varia entre 5 e 13 dias. Porém, essa duração é influenciada pelas

condições ambientais, como umidade relativa do ar e temperatura, ou por

indisponibilidade de alimento. As fases imaturas (larvas e pupas) se desenvolvem

exclusivamente na água e os ovos, em sua maioria, não são colocados diretamente

na superfície da água, mas sim na superfície da parede do criadouro (CONSOLI;

LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; NATAL, 2002).

Os ovos de Ae. aegypti são caracterizados pelo seu formato alongado com

aproximadamente 1 mm de comprimento. São colocados individualmente pelas

fêmeas em um ou mais criadouros, as fêmeas não ovipositam toda sua reserva de

ovos em apenas um lugar, elas escolhem locais diferentes para garantir maior

distribuição de progênies e reduzir a competição entre as larvas (HARRINGTON;

EDMAN, 2001). Além disso, os ovos de espécies do gênero Aedes possuem uma

particularidade conhecida como “quiescência”, que corresponde à resistência à

dissecação, podendo permanecer viáveis por mais de 300 dias em locais com

ausência de água. Nesta condição, as larvas somente irão eclodir após o contato

dos ovos com a água. Essa condição permite o transporte de ovos para outros

locais, bem como dificulta a execução das estratégias de controle do mosquito

(CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 2002).

Durante a fase larval, o inseto passa por quatro estádios de desenvolvimento

(L1 a L4). O período de cada fase está intimamente ligado às condições ambientais,

disponibilidade de alimento e densidade de larvas no criadouro. Completado o

quarto estádio de desenvolvimento, tem início o estágio de pupa, fase na qual

acontece a metamorfose do estágio larval para o adulto (Figura 1). A fase de pupa

dura entre dois e três dias, mas há a possibilidade de variação, de acordo com

fatores bióticos e abióticos (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994;

FORATTINI, 1996).

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Figura 1. Fases do ciclo biológico de Aedes aegypti. Em sentido anti-horário: Fêmea adulta; Ovo; Larva (L4); Pupas (macho e fêmea); Macho adulto. Fonte: elaborado pela autora.

A fase alada ou terrestre corresponde ao mosquito adulto, ou imago, capaz de

se reproduzir, garantindo-se dessa forma a perpetuação da espécie. Os mosquitos

adultos são relativamente pequenos, em média com 0,5 cm de comprimento, e

apresentam coloração enegrecida com listras brancas distribuídas pelo corpo.

Fêmeas e machos possuem a mesma coloração e pigmentação branca na forma de

listras, no entanto se diferenciam pelo tamanho corporal, palpos maxilares e tipo de

antenas. O macho se diferencia da fêmea por apresentar antenas plumosas e

palpos longos (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; FORATTINI, 1996).

2.2. Estratégias de controle de Ae. aegypti

O direcionamento do controle do Ae. aegypti consiste na avaliação dos

fatores que influenciam o crescimento da população do mosquito, como condições

climáticas, estrutura do saneamento urbano, comportamentos socioculturais da

comunidade que reside nos centros urbanos, lixo e desmatamento (DONALISIO;

GLASSER, 2002; COELHO, 2008).

O A. aegypti foi considerado erradicado no Brasil na década de 50, porém foi

reintroduzido nos anos 60. Após nova erradicação da espécie em 1973, a espécie foi

novamente introduzida (1976) (CATÃO; GUIMARÃES, 2009).

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A partir de 1996, foi colocado em prática o primeiro programa para a

erradicação do mosquito no Brasil, conhecido como Plano de Erradicação do Ae

aegypti (PEAe), proposto pelo Ministério da Saúde. O PEAe tinha como objetivo

reduzir a incidência da dengue no país. Apesar do esforço empregado pelas

entidades governamentais de saúde, o objetivo do programa não foi alcançado e a

dengue se tornou ainda mais preocupante, pois o número de casos e a infestação

do mosquito continuaram aumentando (BRAGA; VALLE, 2007; ZARA et al., 2016).

Cinco anos mais tarde, o Plano de Intensificação de Ações de Controle de Dengue

(PIACD) foi implantado com o mesmo objetivo do PEAe, porém, em um cenário

caracterizado pelo surgimento das formas graves e a disseminação acelerada da

dengue com sorotipo 3. Em 2001, mais um plano foi elaborado: Plano Nacional de

Controle da Dengue (PNCD) e desde então, tem sido realizado em parceria com a

comunidade e estado, ambos responsáveis para por em prática o controle integrado

do vetor (MS, 2002; BRAGA; VALLE, 2007; MS, 2009; FIGUEIRÓ, 2010; ZARA et

al., 2016).

O controle integrado do vetor consiste em ações em conjunto aplicadas contra

mosquitos vetores. Este controle é empregado como um sistema que engloba todos

os métodos convencionais para a redução populacional do inseto, vinculando

conhecimento de manejo para o sucesso na supressão do vetor. Os vários tipos de

controle desenvolvidos, de acordo com o PNCD, podem ser categorizados em

mecânicos, biológicos e químicos (LHOSTE, 1966).

A ação mecânica ou física consiste em reduzir ao máximo o contato do

mosquito com a população humana, e está relacionada com a eliminação dos

possíveis criadouros, retirada de água ou limpeza regular em reservatórios de água

como caixa d’água, tonéis. A utilização de redes ou telas em portas e janelas pode

impedir o aparecimento do mosquito em área intradomiciliar (DONALISIO;

GLASSER, 2002; MS, 2009).

A utilização de inseticidas que exterminam mosquitos na fase adulta

(adulticidas) e larval (larvicidas) é a principal forma de controle químico. São

utilizados produtos químicos com ação neurotóxica, inibidores de crescimento e

síntese protéica (BRAGA; VALLE, 2007). A utilização de produtos químicos no

controle do mosquito possibilita a seleção de indivíduos resistentes à inseticidas,

podendo influenciar negativamente o controle do vetor e os ecossistemas, já que o

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controle químico não é específico apenas para o Ae. aegypti (WHO, 1996; ZARA et

al (2016).

Por fim, o controle biológico compreende o uso de peixes larvófagos a

utilização Bacillus turigiensis israelenses (BTI). O BTI é conhecido como um

inseticida biológico que tem como principal agente a bactéria Bacillus turigiensis

israelenses, essa bactéria é inofensiva para humanos e animais, mas é letal para o

mosquito. São encontradas diversas formulações do BTI, como comprimidos

grânulos ou líquido. O produto é adicionado à água parada ou a recipientes que não

podem ser esvaziados ou cobertos (DONALISIO; GLASSER, 2002).

2.3. Inovações para o controle vetorial

Apesar da existência das mais variadas e distintas formas de controle do

mosquito, a maioria dos resultados são considerados insatisfatórios. Assim, novas

técnicas têm sido avaliadas para contribuir com a diminuição da população dos

mosquitos, dentre elas: controles naturais (como óleos essenciais de plantas),

genético ou autocida (DONALÍSIO; GLASSER, 2002; WILKE et al., 2009;

BALESTRINO et al., 2010; PEREIRIA, 2014).

Estudos de novos métodos complementares ao manejo integrado do vetor

vêm crescendo ao longo dos anos. A busca por extratos vegetais ou componentes

naturais, eficazes no controle de pragas, tem aumentado, como uma alternativa de

controle químico. Já se sabe que combinações de compostos químicos em algumas

espécies vegetais podem gerar a redução no desenvolvimento da larva, sem ser

prejudicial ao ambiente. Por exemplo, estudos recentes indicaram que extratos das

cascas de limão e laranja apresentaram potencial larvicida (BENJAMIN et al, 2005;

BOYCE et al., 2013; SANTOS et al., 2011; ZARA et al., 2016).

2.3.1. Técnica do Inseto Estéril (TIE)

Em meados de 1930, o entomologista Edward Knipling idealizou a Técnica do

Inseto Estéril - TIE (em inglês, Sterile Insect Technique – SIT) para o controle da

mosca-varejeira, Cochiliomyia hominivorax. Na época, a espécie era reconhecida

como um grande problema para a bovinocultura nos Estados Unidos.

Posteriormente, Knipling propôs a utilização de machos estéreis de C. hominivorax,

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com a intenção de controlar a população do inseto. Em 1955, Knipling formalizou a

importância de liberação de inseto estéril para controlar populações de pragas com

importância agrícola. Esse tipo de controle passou a ser reconhecido como controle

genético ou autocida (WALDER, 2000; MALAVASI; ZUCCHI, 2000; IMPERATO;

RAGA, 2015). Segundo Robinson (2002), a TIE se baseia na criação em massa de

insetos machos e liberação desses na área a ser tratada, assim, fêmeas selvagens

estéreis que copulam com machos estéreis não terão prole viável.

Formas alternativas de controle genético, baseados na TIE, mas que evitem

ou reduzam o uso de radiação, têm sido desenvolvidas (ZARA et al., 2016). Thomas

et al. (2000) propuseram um mecanismo para liberação de indivíduos de

Dhrosophila melanogaster, que carregam um gene letal dominante (release of insect

carrying a dominant letal gene – RIDL). Este gene leva a uma expressão acentuada

da proteína tTA, que quando acumulada, acarreta na morte do indivíduo (ALPHEY,

2002).

Entretanto, a expressão do gene de letalidade é inibida quando o indivíduo

estiver na presença de tetraciclina, substância com poder antibacteriana (WILKER,

2009). O sistema foi adaptado para o mosquito Ae aegypti, sendo que podem ser

criados normalmente em laboratório na presença do antibiótico e (PHUC et al, 2007;

WILKER, 2009). Em campo, machos de Ae. aegypti transgênicos, ao copular com

fêmeas selvagens, transferem o gene letal para a progênies. As larvas eclodem,

mas na ausência da tetraciclina, morrem antes de atingirem a fase adulta

(BENEDICT; ROBINSON, 2003; MOÑOZ et al., 2004; CARVALHO, 2011). Usando

tecnologia transgênica, Carvalho et al. (2015) demonstrou em seu estudo que a

liberação de machos transgênicos no bairro mandacaru (Juazeiro-BA) foi capaz de

reduzir cerca de 70% da população de Ae. aegypti.

Outra estratégia capaz de inviabilizar a prole é infectar os mosquitos de Ae.

aegypti com a bactéria gram-negativa Wolbachia, , encontrada na maioria dos

invertebrados e que não é nociva para alguns animais e ao homem,. A bactéria pode

provocar feminização, partenogênese e incompatibilidade citoplasmática total, o que

causa a esterilização do mosquito (WERREN; BALDO; CLARK, 2008; McMENIMAN

et al, 2009; WALKER, 2011; OLIVEIRA; MOREIRA, 2012). Há relatos da capacidade

da bactéria em relação ao bloqueio na transmissão de arboviroses, isso ocorre pela

competição por aminoácidos entre o mosquito infectado e a bactéria. Estudos iniciais

em relação à liberação de mosquitos infectados com Wolbachia foram realizados na

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Austrália em 2008. A eficiência dessa tecnologia está sendo avaliado no Brasil como

também no Vietnã (WU et al., 2004; SINKINS, 2013; ZARA et al, 2016). Com intuito

de minimizar o risco de substituição da população de mosquitos pelo uso da

Wolbachia, está sendo testada a combinação da técnica do inseto estéril e de

insetos incompatíveis. Essa combinação consiste em infectar os mosquitos com a

bactéria e posteriormente submetê-los a exposição à radiação, que pode ser

radiação gama ou X (ZHANG, 2015).

Alguns fatores são considerados importantes para o sucesso da TIE, como:

baixa densidade do vetor ou praga a ser tratada em alguma estação do ano; a

espécie tratada deve possibilitar a sua criação em condições de laboratório; é

preferível que as fêmeas dessa espécie copulem apenas uma vez e que os insetos

estéreis apresentem uma boa capacidade de dispersão e fitness reprodutivo

(KNIPLING, 1955; WALDER, 2000).

A TIE, comparada a outros métodos de controle, apresenta algumas

vantagens, tais como: ser considerada uma técnica ambientalmente segura (não se

faz o uso de resíduos tóxicos), ser espécie-específica, além de ser compatível com

outras metodologias de controle vetorial (DYCK; HENDRINCHS; ROBINSON, 2005).

Além disso, o processo de irradiação é considerado simples, uma vez já

definido a fase que o mosquito será irradiado, baseada de acordo com o tempo de

duração da maturação dos órgãos reprodutivos. Porém, a fase de pupa é mais

comumente utilizada para a técnica, pois nela, os indivíduos são de fácil manuseio e

acondicionamento (KLASSEN, 2005; HELINSK et al., 2009).

A TIE leva em consideração não só a esterilidade dos indivíduos machos,

mas também questões importantes como a dose de radiação a ser aplicada,

buscando não interferir no fitness dos machos liberados. Assim, é necessário

também avaliar se uma vez liberados nas áreas urbanas, se a indução dos raios vai

interferir na dispersão dos indivíduos e também a capacidade dos insetos estéreis

serem competitivos nas áreas em que serão distribuídos nos centros urbanos

(BELLINI, 2013).

2.4. A importância da irradiação na TIE

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Insetos irradiados não apresentam risco à saúde humana e aos

ecossistemas, pois a radiação não deixa resíduos nocivos (BAKRI et al., 2005;

MASTRANGELO et al, 2009). Os primeiros testes de esterilização de insetos foram

realizados com a mosca varejeira com o auxílio de um equipamento de raios X

hospitalar. Os resultados desses testes foram considerados promissores, uma vez

que houve a confirmação por Muller (1950) da possibilidade de indução de

esterilidade através de mutação letal dominante em esperma de insetos (DARDEN

et al. 1954).

Os métodos que vem sendo utilizados para a esterilização de insetos é

através da radiação ionizante, procedente dos radioisótopos 137Cs e 60Co, raios

gama. Além dos raios gama, os raios X podem ser usados para a esterilização de

insetos (WALDER, 2000. HELINSKI et al., 2009). Os raios X, assim como os raios

gama, são ondas eletromagnéticas e o que difere uma da outra é a sua origem, pois

os raios gama provém do núcleo ou de aniquilação de partículas, enquanto os raios

X tem origem fora no núcleo, da excitação de elétrons (OKUNO, 1986). Os raios

gama tem energias fotônicas de 1,17 e 1,33 megaelétron-volt (MeV) são

encontrados no 60Co, e 0,66 MeV no 137Cs (WALDER, 1999; MASTRANGELO,

2009).

Os raios X são gerados a partir de feixes de elétrons de energia abaixo de

cinco (MeV), nessa faixa a radioatividade em materiais irradiados é evitada,

tornando segura a liberação. A liberação desses insetos pode ocorrer via terrestre

ou aérea (BAKRI et al., 2005; MASTRANGELO, 2009). O raio X é uma poderosa

onda curta de energia que foi descoberta em 1895 por Wilhelm Roentgen e há mais

de 20 anos começou o seu uso comercial. Por volta de 1920, se iniciaram estudos

relativos à aplicação de raios x para exame de corpos, diagnóstico de doenças,

esterilização de materiais, eletroterapia utilizada como tratamento de dor doenças

(PEREIRA, 2012).

Quando o material biológico é exposto à radioatividade, seu DNA sofre

alterações, como fragmentações cromossômicas ou mutações, desintegrando suas

ligações moleculares, e pode causar a apoptose das células germinativas e,

consequentemente, induzir a esterilidade em machos (HELINSKI; PARKER; KNOLS,

2009).

2.5. Adequação e efeitos da Técnica do Inseto Estéril em mosquitos

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A eficácia da TIE foi comprovada utilizando organismos como a mosca-do-

mediterrâneo (Ceratitis capitata); mosca-do-melão (Bactrocera cucurbitae coquillett),

moscas tsé-tsé (Glossina species), além da mosca-da-varejeira (C. hominivorax).

Até a década de 1960, a técnica era utilizada somente no controle de pragas

agrícolas e, desde então, foi crescente o interesse da utilização da TIE para o

controle dos insetos vetores, principalmente mosquitos devido à alta capacidade

destes de transmitir vírus (ARTHUR; CACERES; WIENDL, 1993; BORGES, 2008;

WILKE et al, 2009).

Ainda na década de 1960, estudos realizados nos Estados Unidos com a

esterilização de Ae. aegypti utilizaram radiação gama, mas sem resultados

conclusivos (MORLAN et al, 1962). Em 1973, Hallinan e Rai apresentaram dados

que mostraram 100% de esterilidade em Ae. aegypti utilizando 70 Gy (Gray) de

radiação gama. Algumas pesquisas com a utilização de radiação ionizante em

relação ao controle de vetores foram realizadas por BALESTRINO et al. (2010) na

Itália, os resultados demonstraram que amostras de Ae. albopictus expostas a 40 Gy

de radiação gama houve índice de esterilidade de 99%. Testes com a irradiação de

pupas de Anopheles arabiensis relacionadas à marcação, liberação, recaptura foram

feitas no Sudão e demonstraram que o tempo de vida em campo os machos podem

sobreviver tempo suficiente para copular com as fêmeas selvagens (AGEEP et al.

2014).

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3. OBJETIVOS

3.1. Geral

Avaliar a eficiência de raios X na esterilização de Aedes aegypti para

aplicação na Técnica do Inseto Estéril.

3.2. Específicos

a) Identificar a idade da fase de pupa que apresentará os melhores

resultados de esterilidade após irradiação;

b) Estudar a sobrevivência dos mosquitos irradiados, em condições de

laboratório;

c) Avaliar a taxa de fecundidade e fertilidade os mosquitos irradiados ao

copularem com mosquitos selvagens.

d) Definir as melhores doses para esterilização de machos e fêmeas de

Ae. aegypti, para o uso da TIE.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Local de Estudo

Os experimentos foram conduzidos na Biofábrica Moscamed Brasil (BMB),

localizada no município de Juazeiro/BA, em salas com condições ambientais

controladas [temperatura (T): 27±1°C), umidade relativa do ar (UR): 70±10%, e

fotofase: 14:10].

4.2. Material Biológico

4.2.1. Origem dos insetos

4.2.1.1. Linhagem MBR-0001 de Ae. aegypti

No presente estudo foi utilizada uma colônia de Ae. aegypti, linhagem MBR-

001, originária de ovos coletados no distrito de Carnaíba, município de Juazeiro/BA.

A coleta de material biológico (ovos) para a colonização e domesticação da

linhagem ocorreu em 2013 com a utilização de armadilhas (ovitrampas) instaladas

aleatoriamente em 40 pontos do distrito. As coletas foram realizadas semanalmente

(no primeiro trimestre de 2013). O material coletado foi mantido sob condições

ambientais controladas no insetário da BMB de acordo com o protocolo de criação

desenvolvido por CARVALHO et al. (2014).

4.2.1.2. Linhagem selvagem de Ae. aegypti

Os insetos selvagens utilizados na presente pesquisa foram oriundos de ovos

coletados em ovitrampas instaladas no distrito de Carnaíba/BA, instaladas

aleatoriamente em 226 pontos, dos quais 59 ovitrampas foram positivas (presença

de ovos). Os ovos coletados no período de duas semanas foram levados para a

colonização em laboratório de acordo com o protocolo de criação citado acima.

4.2.2. Criação e manutenção das colônias de Ae. aegypti

4.2.2.1. Colônia de adultos

Para o estabelecimento das colônias de adultos, pupas machos (N=500) e

fêmeas (N=1500) foram acondicionadas em gaiolas (Figura 2; armação de PVC com

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30x30 cm de altura, teto e fundo com 28,8 cm de diâmetro e com 15,5 cm de

diâmetro na abertura na parte frontal de tecido voal para introdução das pupas e

manuseio dos insetos após emergência, Modelo Moscamed Brasil). A proporção de

insetos utilizada foi de 3 fêmeas:1 macho, respectivamente. Os adultos emergidos

foram alimentados com dieta artificial à base de sacarose (10%) ad libitum oferecida

com o auxílio de chumaços de algodão embebidos na solução.

Figura 2. Gaiola de PVC para colônia bissexual de Ae. aegypti.

Os mosquitos foram mantidos na gaiola por um período mínimo de três dias,

tempo necessário para a ocorrência da cópula. Após esse período as fêmeas

receberam alimentação sanguínea artificial (sangue ovino e/ou caprino). Para tanto,

uma placa de alumínio (10x10 cm), revestida com Parafilm® e contendo

aproximadamente 9 ml de sangue foi posicionada na parte superior gaiola e, sobre

ela, colocou-se uma bolsa térmica aquecida simulando a temperatura do corpo

humano, aproximadamente 36°C (Figura 3). A cada 20 minutos a bolsa térmica foi

reaquecida em forno micro-ondas (~2 minutos) e colocada novamente sobre a gaiola

(procedimento adaptado de CARVALHO et al., 2014).

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Figura 3. Sistema de alimentação artificial sanguínea: (A) sangue ovino ou caprino; (B) Parafilm®; (C) placa de alumínio; (D) placa de alumínio revestida com Parafilm® e preenchida com sangue; (E) bolsa térmica de trigo sobre a placa de alumínio; (F) Gaiola de PVC. Fotos: da autora.

No interior de cada gaiola, foi oferecida, três dias após a alimentação

sanguínea e, por três dias, uma unidade de oviposição (UO) (recipiente plástico de 8

cm de altura x 9,5 cm de diâmetro), revestida com uma tira de papel filtro (41x8 cm),

contendo cerca de 200 mL água filtrada (Figura 4). Posteriormente, as UO foram

retiradas, identificadas por data e em seguida as tiras de papel filtro contendo os

ovos foram acondicionadas em bandeja plástica (3,5 cm x 1,3 cm x 20,8 cm) para a

secagem, também durante três dias.

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Figura 4. Sistema para oviposição das fêmeas: (A) papel filtro; (B) recipiente plástico com água filtrada e (C) unidade de oviposição (UO). Foto: da autora.

4.2.2.2. Criação larval

A criação larval iniciou-se com a eclosão das larvas. Para isso, ovos

previamente coletados, segundo a metodologia supracitada no item 4.2.1.1, foram

retirados do papel de filtro com auxílio de um pincel macio (modelo Condor Ref. 385)

e peneirados (modelo 9002) para separar resíduos de mosquitos que morreram na

água da UO. Potes de vidro contendo 250 ml água filtrada foram colocados em forno

micro-ondas em potência alta por cinco minutos, após esse tempo os potes foram

fechados e reservados para que a água estivesse na temperatura ambiente (27°C).

A água com baixo teor de oxigênio dissolvido favorece a eclosão sincronizada das

larvas. Os ovos foram colocados nos potes e, após 60 minutos (tempo suficiente

para que a maioria das larvas eclodissem), transferiu-se para bandejas (Figura 5) e,

após mais uma hora, foi feita a aliquotagem (adaptado de CARVALHO et al., 2014).

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Figura 5. Materiais para eclosão das larvas: (A) Ovos; (B) Pode de vidro com água; (C) momento da eclosão das larvas; (D) larvas (L1) em bandeja. Fotos: da autora.

Após a eclosão, as larvas no estádio L1 foram transferidas para bandejas

plásticas de criação (9,7 cm de altura x 30,3 cm de largura x 51,0 cm de

comprimento) contendo 4 L de água filtrada (Figura 6). As larvas foram alimentadas

diariamente e durante sete dias com ração Sera Vipan®, seguindo a tabela de

alimentação proposta por CARVALHO et al., (2014).

Figura 6. Criação larval: (A) carrinho com bandejas para criação e (B) bandeja com larvas e alimentação larval. Fotos: da autora.

4.2.3. Separação de pupas

Antes da separação das pupas, as bandejas eram drenadas com o auxílio de

uma peneira (modelo 1062), para reter as pupas em quantidade mínima de água

para facilitar a separação. A coleta das pupas acontecia sempre nos dois primeiros

A B C D

A B

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34

dias, período em que a coleta de pupas macho é maior. As pupas foram separadas

por sexo com o auxílio do separador Hock’s Machine (modelo Moscamed Brasil), em

função do dimorfismo sexual entre pupas machos e fêmeas. As pupas fêmeas

apresentam tamanho corporal superior ao das pupas machos e as larvas (4° instar)

são menores que ambas as pupas (adaptado de CARVALHO et al., 2014) (Figura 7).

O separador é composto por duas placas de vidro e quatro válvulas (duas

superiores e duas inferiores). Quando as válvulas são fechadas, elas pressionam as

placas de vidro (uma contra a outra) e estas por sua vez, passam a funcionar como

um “funil” com formato horizontal linear. Quando as válvulas estão fechadas, larvas,

pupas e água são colocadas na parte superior do aparelho e as válvulas inferiores

vão sendo abertas aos poucos. Assim, no “funil”, forma-se assim um gradiente

trifásico, onde na porção superior (primeira fase) são encontradas pupas fêmeas, na

porção central (segunda fase) encontram-se as pupas machos e na porção mais

inferior (terceira fase), as larvas (adaptado de BORGES, 2008; CARVALHO et al.,

2014).

Dessa maneira, quando se deseja recuperar larvas, abre-se a válvula até que

todas as larvas “caiam” do separador nas bandejas. Em seguida, troca-se a bandeja

e abre-se um pouco mais a válvula para que os machos caiam. E por fim, troca-se

novamente a bandeja e abre-se toda a válvula para que as fêmeas caíssem.

Figura 7. (a) Separador de pupas e larvas Hock's Machine. (b) Gradiente trifásico formado durante a separação.

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35

4.3. Determinação da idade adequada da pupa de Ae. aegypti para

esterilização

Pupas machos (N=1080) divididas de acordo com a idade (12, 24 e 36 horas

de formação) foram expostas a uma dose de 65 Gy. A escolha dessa dose foi

baseada nos resultados encontrados nos estudos de Yamada et al (2014) e Vianez

(2015), que obtiveram maior esterilidade com a dose de 60 Gy e 65 Gy,

respectivamente. Para isso, 120 pupas foram acondicionadas, com o auxílio de uma

pipeta de Pasteur (3 mL), em poços de placa de meio de cultura de células (placa

com 12 poços; poço com 21,4mm de diâmetro e área de 3,66cm2) contendo uma

fina camada de água filtrada (1,5 mL). As placas foram fechadas, vedadas e inserida

dentro de protótipo de isopor previamente desenhado (16x11,7x17,4 cm) (Figura 8).

Na parte central (11,7 x 8,6 x 11 cm), o protótipo possuía capacidade para acomodar

cinco placas de cultura empilhadas. Esse protótipo foi desenvolvido para

acondicionar as placas de cultura contendo as pupas de mosquito em posição

horizontal na área central do recipiente de irradiação (15,4 x 17,8 x 18 cm), para

garantir uma variação mínima na distribuição de dose, ou seja, uma maior

uniformidade da dose absorvida pelo material biológico. A esterilização foi conduzida

numa máquina de raios X, modelo RadSource-2400 (Figura 9), operado com

voltagem de 125 kV, corrente de 18 mA, apresentando uma relação dose-energia:

0,0207 Gy.Kw-1.s-1.

Figura 8. Acondicionamento para irradiação. (A) Placa de cultura; (B) Placa com pupas ao centro; (C, D e E) Protótipo de isopor; (F, G e H) Posicionamento do protótipo no recipiente de irradiação; (I) Posicionamento das placas para a esterilização; (G, H, I, J, K, L e M) Disposição das placas de cultura na parte central do protótipo de isopor e (N) Caníster de irradiação fechado. Fotos: da autora.

A B D E F G C

I J K L M N H

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36

Figura 9. Máquina de raios – x , modelo RadSource-2400.

As pupas do grupo controle foram acondicionadas da mesma forma e levadas

para a sala de irradiação, permanecendo no ambiente pelo mesmo período que os

grupos tratamento. Cada tratamento (idade da pupa) foi constituído por seis

repetições, contendo 120 pupas cada, para um total de 720 pupas/tratamento. Após

a irradiação, as pupas foram transferidas para recipientes plásticos (2,3 cm x 7,0 cm

x 10,3 cm) com 50 mL de água, que foram inseridos dentro de gaiolas BugDorm®

devidamente identificadas com as informações correspondentes a cada grupo

(tratamento) (Figura 9). Após a emergência dos adultos, os mosquitos foram

alimentados com solução de sacarose a 10% ad libitum. A mortalidade dos adultos

foi monitorada diariamente nas gaiolas durante sete dias. Os mosquitos mortos

foram retirados e contabilizados para estimar as taxas de mortalidade e de

sobrevivência diária e final.

Figura 10. (A) recipiente plástico com amostras de pupas; (B) gaiola BugDorm®; (C) Disposição das gaiolas dos tratamentos e controle. Fotos: da autora.

A B C

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37

Os parâmetros biológicos avaliados no experimento foram: peso da pupa

(mg), mortalidade de pupas durante a irradiação, emergência de adultos (%) e

sobrevivência de adultos em três intervalos de tempo: 72h (3 dias), 120h (5 dias) e

168h (7 dias) após a emergência.

Para avaliação do peso do pupário, grupos de pupas (N=30) de cada idade

avaliada foram acondicionados em papel filtro para retirar o máximo de água

possível. Em seguida, as pupas foram transferidas para uma placa de Petri (60 x 15

mm) e verificado o peso com o auxílio de uma balança semianalítica de precisão

(Modelo AR3130, OHAUS Adventurer™, precisão de 0,0001 grama). Para calcular a

a emergência após 48h finalizada a fase de pupa, utilizou-se a fórmula: E= [(no de

adultos emergidos/ no de pupas expostas a irradiação) X 100].

4.4. Determinação da dose esterilizante para Ae. aegypti

Para determinar a dose de raios X que, quando aplicada em pupas de Ae.

aegypti, garantisse um 100% de esterilidade em fêmeas selvagens após cópula com

machos estéreis, pupas machos com idade entre 30 e 36 horas foram expostas às

doses de radiação X de: 10, 20, 30, 40, 50, 65 e 70 Gy. Para isso, pupas machos

(N=200) foram confinadas em poços de placa de cultura para células,

acondicionadas em caníster e esterilizadas como descrito no item (Figura 8C).

Posteriormente à exposição à radiação, as pupas e cada dose avaliada foram

subdividas em dois grupos: um para determinação da indução de esterilidade em

fêmeas selvagens após cópula com machos estéreis e outro grupo para avaliação

da longevidade de machos estéreis expostos às diferentes doses testadas dentro da

avaliação da longevidade parâmetros como: mortalidade de pupas durante a

irradiação, emergência de adultos (%) e sobrevivência de adultos no período de 10

dias (%). Como controle utilizou-se pupas da mesma idade, porém não expostas à

radiação ionizante.

4.4.1. Indução de esterilidade de fêmeas selvagens de Ae. aegypti

Pupas machos expostas as doses supracitadas no item 4.4 foram transferidas

para recipientes plásticos (2,3 cm de altura x 7,0 cm de largura x 10,3 de

comprimento) contendo 50 mL de água, com o auxílio de uma pipeta Pasteur (3 mL),

e inseridos em gaiolas BugDorm®, identificadas com as informações

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38

correspondentes a cada grupo experimental (dose de radiação), até a emergência.

Em cada gaiola, foi acondicionado um recipiente contendo 35 pupas (Figura 9A). Em

quatro recipientes plásticos (Figura 10A), foram mantidas 100 pupas fêmeas

selvagens até a emergência.

Após a emergência dos machos, fêmeas selvagens adultas com 120h de vida

foram liberadas nas gaiolas para ocorrência de cópula durante 72h. A proporção

macho/fêmea utilizada para cópula foi de 1:1 (35 casais). Durante este período de

cópula, os mosquitos foram alimentados com sacarose ad libitum a 10%. Em

seguida, os machos foram retirados das gaiolas, e a sacarose foi suspensa durante

24 horas, previamente à realização de repasto sanguíneo pelas fêmeas (Figura

10B). As fêmeas realizaram alimentação sanguínea artificial, com sangue caprino,

até que todas as fêmeas estivessem ingurgitadas. Fêmeas não ingurgitadas foram

descartadas, não sendo consideradas para as avaliações de fecundidade e a

fertilidade.

Figura 11. Emergência e alimentação sanguínea. (A) Pote para emergência dos adultos; (B) Gaiola com fêmeas e alimentação artificial; (C) fêmeas no momento da alimentação. Fotos: da autora.

Concluído o tempo de alimentação sanguínea, 20 fêmeas ingurgitadas de

cada grupo experimental (dose) foram retiradas das gaiolas e acondicionadas

individualmente em tubos de oviposição adaptadas de tubos Falcon (50 mL). Na

A B

C

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39

parte interna inferior de cada tubo, acondicionou-se um chumaço de algodão

umedecido com água filtrada. Este por sua vez, foi coberto com círculo de papel filtro

(substrato para a oviposição das fêmeas) (Figura 11). Após três dias, o substrato de

oviposição foi removido do tubo e os papéis contendo ovos foram reservados para

secagem durante três dias, para que se completasse o período da embriogênese.

Posteriormente, todos os ovos foram contabilizados sob estereoscópio

binocular (aumento de 40x) e em seguida, foram acondicionados em potes plásticos

(volume de 60 mL) com 6 mL de solução (0,6%) de levedura e Sera Vipan® durante

uma hora. Os ovos que permaneceram fechados após esse procedimento, foram

submetidos a um processo de despigmentação do córion para verificação da

presença de embriões no interior dos mesmos. Para tanto, foram acondicionados em

potes plásticos (volume de 60 mL) e submergidos em hipoclorito de sódio (NaClO

2,5%) em temperatura ambiente até que todos os ovos apresentassem

descoloração.

Durante esse processo, o córion passou da cor marrom escuro para amarelo

e em seguida, tornou-se completamente translúcido (Figura 12). Ao completar o

estágio de clareamento, os ovos foram levados ao microscópio estereoscópico Leica

M165 para avaliar presença/ausência do embrião no seu interior (adaptado de

TRPIS, 1970).

Figura 12. Passos da preparação dos tubos de oviposição: (A) tubo vazio; (B) chumaço de algodão com água filtrada; (C e D) inserção do substrato de oviposição; (E) inserção da fêmea; (F) individualização de fêmeas. Fotos: da autora.

A B C

D E F

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40

Figura 13. Despigmentação do córion: (A) Ovo fechado; (B) Ovo despigmentado com embrião e (C) ovo despigmentado sem embrião. Fotos: da autora.

Os parâmetros avaliados para cada dose foram: fecundidade e

fertilidade/fêmea. A fecundidade foi determinada pelo número total de ovos

depositados/ fêmea. A esterilidade também foi avaliada de maneira individual, sendo

contabilizado o número de larvas eclodidas a partir do número de ovos coletados por

fêmeas copuladas com machos irradiados. Cada tratamento (dose e controle) foi

constituído por três repetições, contendo 20 casais cada, para um total de 60

casais/tratamento.

4.4.2. Avaliação da Sobrevivência

Para esta avaliação, 20 pupas machos irradiadas foram acondicionadas em

pote plástico (14,85 cm de altura x 15 cm de diâmetro), contendo 150 mL de água

filtrada e coberto com tampa de voal (Figura 13A). Após a emergência dos adultos, a

água foi drenada e a mortalidade de pupas foi avaliada, para determinação da taxa

de emergência. Os mosquitos adultos foram mantidos sob uma alimentação ad

libitum com solução de sacarose a 10%. A mortalidade foi monitorada diariamente

durante 10 dias consecutivos, Em cada dia de avaliação, os adultos mortos foram

retirados dos potes com o auxílio de um sugador (Figura 13B), sendo então,

contabilizados e em seguida, descartados. Para avaliação deste parâmetro

comportamental, foram utilizadas 30 repetições por dose, levando a um total de 300

mosquitos/tratamento.

A B C

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41

Figura 14. (A) Pote para emergência e avaliação da sobrevivência; (B) Sugador.

4.4.3. Efeitos da irradiação em fêmeas

Na TIE para controle de vetores, a liberação deve ser somente de machos,

contudo, é sabido que durante o processo de separação de pupas, uma quantidade

ínfima de fêmeas passe pelo separador Hock’s Machine juntamente com os machos,

levando à uma contaminação do lote a ser liberado. Assim, é importante determinar

se “fêmeas contaminantes”, expostas à radiação e posteriormente liberadas

acidentalmente com o lote de machos estéreis, possuem 100% de esterilidade. Para

tanto, foi conduzido um bioensaio seguindo-se o mesmo procedimento supracitado

no item 4). Entretanto, baseado nos resultados obtidos nos testes biológicos

realizados com machos (itens 4.1), as pupas fêmeas foram expostas às doses de

60, 65 e 70 Gy.

Após a irradiação a montagem das gaiolas para a obtenção dos resultados

para da cópula seguiram os procedimentos supracitados no item 4.1. Para esta

avaliação foram utilizados machos não irradiados da colônia da linhagem MBR001,

seguindo a mesma proporção 1♂:1♀ (35 casais). Apenas 14,11 e 8 das fêmeas

irradiadas com 60 65 e 70 Gy, respectivamente, e 20 fêmeas do controle que se

alimentaram. Estas foram retiradas das gaiolas e acondicionadas individualmente

em tubos de oviposição. Os parâmetros avaliados correspondem aos mesmos

citados no item 4.4.1. Cada tratamento (dose e controle) foi constituído por uma

repetição.

A B

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42

4.5. Análises Estatísticas

Em todos os experimentos, seguiu-se o desenho experimental inteiramente

casualizado. Previamente à análise estatística de cada uma das variáveis, foram

verificadas a normalidade e homocedasticidade, por meio dos testes de Kolmogorov-

Smirnov (p>0,05) e Cochran C, Hartley, Bartlett (p>0,05), respectivamente.

Os resultados das variáveis: mortalidade de pupas, emergência de adultos e

sobrevivência de adultos nos três intervalos de tempo avaliados foram

transformados em arco seno √x+0,5 e posteriormente submetidos à análise de

variância paramétrica simples (ANOVA - um fator) para verificação de significância

através do teste F. Quando detectada significância no teste F, as médias dos

tratamentos foram comparadas através do teste de Tukey (HSD).

Os resultados de fertilidade foram submetidos primeiramente à análise de

ANOVA para comprovação de significância através do teste F. Posteriormente, com

base nesses resultados, realizou-se uma análise de regressão Probit, sendo

verificada previamente a adequação dos dados às pressuposições do modelo.

As análises estatísticas foram realizadas com uso dos softwares estatísticos

Statistica (STASOFT), versão 10.0, e SPSS Statistic (IBM CORPORATION, 2011)

versão 20.0, com nível de significância α de 0,05.

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43

5. RESULTADOS

5.1. Determinação da idade de pupas de Ae. aegypti para esterilização

5.1.1. Peso do pupário

Os resultados da avaliação do peso de pupas de Ae. aegypti expostas a 65

Gy com diferentes idades fisiológicas , ou seja, com 12, 24 e 36 horas após

formação, indicaram que a dose de radiação aplicada não afetou o peso corporal

dos pupários apesar da diferença na idade fisiológica dos insetos

[F(3,20)=1.91;p=0,1613] (Figura 14).

Figura 15. Peso médio de pupas de Aedes aegypti não irradiadas (controle) e irradiadas com 65 Gy com 12, 24 e 36 horas de formação do pupário. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão.

5.1.2. Mortalidade de pupas durante a irradiação

No que se refere a este parâmetro biológico, constatou-se que não houve

mortalidade durante a exposição de diferentes idades fisiológicas dos pupários à

dose de radiação X aplicada (65 Gy) em nenhum dos tratamentos testados.

5.1.3. Taxa de Emergência

A exposição à radiação X influenciou negativamente a taxa de emergência

dos mosquitos irradiados, sendo evidenciadas diferenças significativas entre os

tratamentos [ANOVA: F(3,20) = 28,659; p<0,05]. As menores taxas de emergência

foram verificadas em pupários de Ae. aegypti expostos a radiação com 12 (77%) e

24 horas (81%) de idade. Não houve diferenças entre as pupas irradiadas com 36

horas de idade e o grupo controle para esse parâmetro biológico (Figura 15).

0

1

2

3

4

5

Controle 12h 24h 36h

Peso

méd

io (

mg

)

Idade das pupas (horas)

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Figura 16. Taxa de emergência (%) de mosquitos irradiados na fase de pupa com 12, 24 e 36 horas de formação do pupário. T= 27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão. Colunas com letras diferentes diferem entre si (Teste de Tukey; p˂ 0,05).

5.1.4. Taxa de Sobrevivência

A sobrevivência foi analisada no terceiro, quinto e sétimo dia após a

emergência dos adultos. Nos três dias de avaliação, observou-se que a idade

fisiológica em que as pupas foram expostas a radiação influenciou a taxa de

sobrevivência. No terceiro dia, verificou-se que as taxas de sobrevivência dos

mosquitos irradiados com 12h (73%) e 24h (85%) foram significativamente menores

quando comparadas às taxas registradas para os insetos do grupo controle e os

irradiados com 36h [ANOVA: F(3,20) =23.631; p<0,05]. A sobrevivência dos mosquitos

irradiados com 36h foi semelhante à dos mosquitos controle.

Os resultados da avaliação no quinto dia foram semelhantes aos observados

no terceiro dia, sendo também constatada uma redução das taxas sobrevivência dos

mosquitos irradiados com 12h (62%) e 24 h (70%) comparados com os mosquitos

controle (98%) e os irradiados com 36h (95%) [ANOVA: F(3,20)=39,501; p<0.05]. No

sétimo dia após a emergência, as taxas de sobrevivência registradas em todos os

tratamentos diferiram do grupo controle [ANOVA: F(3,20)=57.742; p<0,05], sendo os

menores valores de sobrevivência observados para mosquitos oriundos de pupários

irradiados com 12 e 24 horas de formação do pupário (Figura 16).

a

b b

a

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Controle 12h 24h 36h

Em

erg

ên

cia

de a

du

lto

s (

%)

Idade das pupas

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45

Figura 17. Taxa de sobrevivência (%) dos mosquitos irradiados no terceiro, quinto e sétimo dia de avaliação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão para um mesmo dia de avaliação após a emergência. Colunas seguidas por letras diferentes diferem entre si (Teste de Tukey; p˂ 0,05).

5.2. Determinação da dose esterilizante para Ae. aegypti

5.2.1. Mortalidade de pupas durante a irradiação

Neste parâmetro biológico, constatou-se que não houve mortalidade de pupas

durante a exposição em diferentes doses de radiação X aplicada (10, 20, 30, 40, 50,

60, 65 e 70 Gy).

5.2.2. Emergência de adultos

Os valores correspondentes às taxas de emergência registradas em todos os

tratamentos estão descritos na figura 18. A exposição dos insetos as doses testadas

não comprometeu a emergência de adultos [ANOVA: F(8,81)= 0,40; p>0,05], oscilando

este parâmetro entre 97,5% a 99%.

a a a

b

b

c

b

b

c

a a

b

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

3 5 7

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Dias após emergência

Controle 12h 24h 36h

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Figura 18. Taxa de emergência de adultos de Aedes aegypti expostos a diferentes doses de radiação X. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão.

5.2.3. Sobrevivência dos insetos

Os resultados da avaliação diária da sobrevivência estão apresentados na

Figura 19. A sobrevivência dos mosquitos machos oscilou entre 89.1% e 99,7% nas

diferentes doses testadas e foi influenciada pela dose de radiação X aplicada

[ANOVA: F(8,126)= 4,39; p<0,05] (Figura 18). Quando avaliado esse parâmetro

biológico ao longo do tempo para as diferentes doses testadas, observou-se que

95% dos machos sobreviveram até o sétimo dia de vida. Entre este momento e o 10o

dia, houve uma redução deste parâmetro para os insetos expostos as doses de 60,

65 e 70 Gy.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Controle 10 GY 20 Gy 30 Gy 40 GY 50 GY 60 GY 65 GY 70 GY

Em

erg

ên

cia

(%

)

Dose (Gy)

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Figura 19. Taxa de sobrevivência (%) dos mosquitos irradiados no décimo dia de avaliação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h. As colunas representam a média dos tratamentos ± erro padrão. Colunas com letras diferentes diferem entre si (Teste de Tukey; p˂ 0,05).

a a a a a

ab ab

ab

b

70

75

80

85

90

95

100

Controle 10 20 30 40 50 60 65 70

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Doses (Gy)

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Figura 20. Taxa de sobrevivência diária de Ae. aegypti do grupo controle e irradiados após emergência.

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

Controle

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

10Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

20Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

30Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

40Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

50Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

60Gy

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

65Gy

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49

5.2.4. Avaliação de Fecundidade e esterilidade

A fecundidade média foi obtida a partir do número de fêmeas ingurgitadas e o

número de ovos produzidos. A fecundidade para cada dose avaliada está

representada na Tabela 1.

Tabela 1. Fecundidade média das fêmeas que copularam com machos dos grupos controle e tratamentos. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h.

Tratamentos Nº de fêmeas Nº total de ovos Fecundidade (média ± EP)

0 28 2469 88,2 ± 4,90

10 Gy 32 2491 77,8 ± 4,49

20 Gy 26 2169 83,4 ± 4,66

30 Gy 35 2554 73,0 ± 3,97

40 Gy 37 2451 66,2 ± 5,00

50 Gy 32 2404 75,1 ± 4,73

60 Gy 28 2308 82,4 ± 4,05

65 Gy 29 2140 73,8 ± 5,52

70 Gy 33 2183 66,2 ± 4,81

As fêmeas copuladas com machos irradiados com as doses de 40 e 70 Gy

apresentaram a menor fecundidade (66,2 ± 5,00 ovos/fêmea) dentre os demais

grupos, e maior valor para este parâmetro foi observado no grupo controle (88,2 ±

4,90ovos/fêmea). Houve diferença significativa na fecundidade de fêmeas copuladas

com machos estéreis [ANOVA: F(8,270)= 2,57; p<0,05].

Fêmeas selvagens copuladas por machos férteis tiveram 87,7% dos seus

ovos fertilizados. Assim, mortalidade embrionária natural de Ae. aegypti foi de 12,3

± 2,06 no grupo controle. No entanto, a taxa de eclosão de larvas obtidas de

cruzamentos entre fêmeas selvagens e machos estéreis foi influenciada

significativamente pela dose de raios-X aplicada nos machos (Tabela 2). Para

70

75

80

85

90

95

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

So

bre

viv

ên

cia

(%

)

Tempo (dias)

70Gy

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fêmeas que copularam com machos estéreis expostos a 60, 65 e 70 Gy de radiação

X não foi verificada a eclosão das larvas. Além disso, quando analisada a presença

de embrião nos ovos fechados, através da despigmentação do corión, contatou-se

que doses a partir de 10 Gy comprometeram o desenvolvimento embrionário, uma

vez que apenas entre 4,7 e 0,1% destes ovos apresentaram embrião (Tabela 2,

Figura 20A).

Tabela 2. Taxa de eclosão de ovos provenientes da cópula de machos da colônia e não irradiados; número de ovos sem eclosão das larvas (ovos fechados) e porcentagem de ovos com presença de larvas. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h.

Tratamentos Nº total de ovos Nº de ovos fechados Ovos embrionados (%)

0 2469 303 38,6

10 Gy 2491 1123 4,7

20 Gy 2169 1922 4,2

30 Gy 2554 2513 0,6

40 Gy 2451 2362 0,8

50 Gy 2404 2402 0,5

60 Gy 2308 2308 0,1

65 Gy 2140 2140 0,6

70 Gy 2183 2183 1,6

*Taxa de eclosão= (número de larvas eclodidas / número total de ovos)x100

Houve interação significativa entre a mortalidade embrionária e as doses de

raios X aplicadas (ANOVA: F (8,271) = 377,2; p<0,05). A exposição de machos de Ae.

aegypti as diferentes doses de radiação X avaliadas promoveu níveis de esterilidade

em fêmeas selvagens entre 45,1 e 100% após a cópula com os machos estéreis

(Figura 20B). Ou seja, houve um aumentou da radiossensibilidade de ovos de Ae.

aegypti com o incremento da dose de radiação aplicada em machos. Foi induzida

uma esterilidade de 98,2 quando aplicada a dose de 30 Gy. Já as doses de 60, 65 e

70 promoveram 100% de esterilidade (Figura 20B).

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Figura 21. Curva de esterilidade de raios X para Ae. aegypti. (A) Taxa média de eclosão de ovos em função da dose; (B) Percentual de esterilidade em função das doses. Os pontos contendo letras distintas são estatisticamente diferentes (p<0,05).

Visando facilitar a comparação da eficiência da esterilização entre as doses

de raios X, foi adotada a análise de regressão Probit para estudar as curvas

estimadas em função das doses de radiação X aplicadas, sendo verificada

previamente a adequação dos dados aos pressupostos do modelo. Com base nesta

análise, as doses letais, DL 90 e DL 99,9968, para inibir a esterilidade de adultos foram

estimadas em 22,12 e 31,27 Gy, respectivamente (Figura 21).

Figura 22. Representação gráfica da relação Probit / dose de radiação X obtida do cruzamento entre fêmeas selvagens e machos de Ae. aegypti expostos a diferentes doses de radiação X. Limites de confiança de 95% para dose de raios X.

a

bc

b

c c c c c c

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70

Eclo

são

(%

)

Dose irradiação (Gy)

A

d

c

b a a a a a a

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70

Este

rilid

ad

e (

%)

Doses de irradiação (Gy)

B

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

0 5 10 15 20 25 30 35

Pro

bit

Doses de irradiação (Gy)

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Tabela 3. Equação de Probit para as irradiações.

Doses (Gy) Equação

DL50 DL90 DL99

10.9 22.07 31.17 y=0,115x - 1,251

(8,97_12,78) (19,50_25,73) (27,22_37,15)

5.2.5. Efeitos da irradiação em fêmeas de Ae. aegypti

Diante dos níveis de esterilidade promovidos quando aplicadas as doses 60,

65 e 70 Gy em machos de Ae. aegypti, pupas fêmeas com idade entre 30-36 horas

foram submetidas às mesmas faixas de doses de irradiação.

5.2.5.1. Mortalidade de pupas fêmeas durante a irradiação

Não foi constatada mortalidade de pupas fêmeas submetidas à irradiação

com as doses de 60, 65 e 70 Gy.

5.3. Taxa de emergência

De acordo com os dados obtidos, não houve diferença entre os tratamentos

em relação às taxas de emergência das fêmeas irradiadas (Figura 23), evidenciando

que a exposição à radiação não influenciou o comportamento deste parâmetro

biológico [ANOVA: F(3,16) = 2.49; p>0,05].

Figura 23. Taxa de emergência de fêmeas expostas à diferentes doses de irradiação. T=27±1°C, UR=60±10%, fotofase 14 h.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Controle 60 65 70

Em

erg

ên

cia

(%

)

Doses de irradiação (Gy)

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5.4. Fecundidade e fertilidade

A exposição das pupas fêmeas de Ae. aegypti às doses de 60, 65 e 70 Gy

comprometeu a fecundidade, não sendo observada a deposição de ovos após a

cópula destas fêmeas com machos selvagens, seguida de repasto sanguíneo. No

grupo controle, um total de 855 ovos foram ovipositados por 20 fêmeas, com uma

fecundidade média de 42,75 ± 2,56 ovos.

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6. DISCUSSÃO

A TIE vem se mostrando como uma ferramenta promissora, segura e bem

sucedida para o controle de populações de insetos vetores. Neste sentido, o

presente estudo possibilitou definir relevantes elementos para aplicação desta

técnica no controle do mosquito Ae. aegypti. A exposição de pupas de 36h de idade

a radiação X se mostrou como um procedimento viável para induzir esterilidade em

machos de Ae. aegypti sem comprometer importantes parâmetros de qualidade tais

como: mortalidade de pupas durante a irradiação, taxa de emergência e

sobrevivência de adultos. Além disso, doses entre 50 e 70 Gy de raios X foram

eficientes garantindo níveis de esterilidade superiores a 99% em machos e fêmeas

desta espécie de mosquito.

Em Ae. albopictus, os efeitos da radiação ionizante gama sobre a

espermatogênese são maiores quando o indivíduo encontra-se na sua fase imatura

(pupas) (Bellini et al., 2013). Entretanto, a duração da pupação de Ae. aegypti é de

aproximadamente dois dias (FORATTINI, 2002) e a depender do seu estágio de

maturação, pode haver um melhor período para que elas sejam irradiadas. Nesse

sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar pupas com diferentes idades

de formação com o propósito de verificar os efeitos da irradiação quando a pupa

está jovem ou próxima da emergência. Apesar da irradiação a 65 Gy não ter afetado

o peso do pupário em nenhuma das idades avaliadas, diferenças substanciais na

emergência e sobrevivência do adulto foram encontradas entre pupas de idades

distintas.

Os resultados evidenciaram que a taxa de emergência foi diretamente

relacionada à idade em que as pupas foram irradiadas. Pupas com 12 h de

formação apresentaram menor taxa de emergência (77%) em relação aos demais

grupos avaliados, e somente pupas irradiadas com 36 horas apresentaram taxa de

emergência (97%) similar ao grupo não irradiado (97%). Os resultados obtidos

corroboram com Curtis (1976), cujo estudo mostrou que em Anopheles gambiae, a

exposição de pupas (radiação gama) com idade inferior a 24 h reduziu

drasticamente a taxa de emergência dos adultos. Tal fato pode estar relacionado à

radiossensibilidade das células somáticas e à imaturidade das pupas com até 24

horas.

Em relação à sobrevivência dos adultos, provenientes das pupas irradiadas

com diferentes idades, até o terceiro dia pós-emergência, a menor sobrevivência foi

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obtida no grupo de pupas mais jovens irradiadas (12 h). Já a maior, e semelhante ao

controle, foi apresentada no grupo de pupas expostas à irradiação com 36h de

idade. A sobrevivência até o terceiro dia é de extrema importância, uma vez que a

cópula com as fêmeas selvagens só é possível após 24 horas de emergência do

adulto macho, devido à sua maturidade sexual só ser atingida após a rotação de sua

genitália em 180° (BELLINI et al. 2013). Além disso, quando se trata da aplicação da

TIE em campo, obter um número elevado de machos estéreis sobreviventes neste

período avaliado é fundamental para eficiência da técnica Bellini et al. (2013), uma

vez que os mosquitos são liberados por volta dos três dias de vida (Carvalho et al.,

2015).

Nesse sentido, foi observado que os indivíduos irradiados mais jovens (12 h e

24 h) apresentaram sobrevivência inferior a 75% até o quinto dia de avaliação,

enquanto os indivíduos irradiados tardiamente (36 h) revelaram taxas de

sobrevivência de 95% neste período. Além disso, o presente trabalho mostrou que

no sétimo e último dia de avaliação das amostras, houve uma diminuição do número

de sobreviventes para 45 %, 49 % e 84% nos grupos irradiados com idade de 12, 24

e 36 horas, respectivamente.

De acordo com Balestrino et al. (2010), a idade em que as pupas são

expostas à radiação pode influenciar na longevidade do adulto. De acordo com o

mesmo autor, uma vez pupas mais velhas forem utilizadas, menor será o dano

somático durante a irradiação pupal. Foram irradiadas pupas machos de Ae.

albopictus com 16-24h de formação, com doses de raio gama de 40, 60 e 80 Gy.

Nele, foi observada uma diminuição na longevidade quando comparada com o grupo

controle. Já pupas irradiadas com 40 Gy, com idade entre 24-40, 40-48 h não

apresentaram resultados diferentes do controle (Balestrino et al., 2010), resultados

similares aos obtidos no presente trabalho. Helinski et al. (2009) afirmaram que a

redução dos danos somáticos acontece quando o inseto está próximo da etapa final

de desenvolvimento do pupário. Nesse contexto, os resultados indicam que pupas

irradiadas com 36 h, possuem altas taxa de emergência e sobrevivência, o que pode

ser considerado satisfatório para aplicações da TIE.

Diante do melhor desempenho das pupas com 36h de formação, a faixa de

idade entre 30 h e 36 h foi estabelecida para subsidiar os testes de definição de

dose de esterilização. Nestes testes, não houve mortalidade de pupas durante o

processo de irradiação em nenhuma das doses avaliadas (10, 20, 30, 40, 50, 60, 65

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e 70 Gy). Este resultado diferiu do obtido por Yamada et al., (2014) e Lima (2014)

que obtiveram 1,6% e 0,6% de mortalidade durante o processo, respectivamente.

Como sugerido por Yamada et al., 2014, um dos principais fatores que pode ter

contribuído para a baixa mortalidade pupal mesmo em doses mais altas, pode estar

relacionado ao dispositivo utilizado para acondicionar pupas durante a irradiação,

uma vez que as pupas permanecem na posição vertical durante todo o processo,

gerando menos estresse.

Com relação à emergência dos adultos, não houve diferença entre as taxas

obtidas em qualquer grupo irradiado. Os resultados da presente pesquisa são

similares aos constatados por Enawan et al. (2017) que constataram que a

exposição de pupas machos de Ae. aegypti a uma dose de 70 Gy de raios gama,

com taxas-doses que variaram entre 300 e 1500 Gy/h não comprometeu a

emergência dos mosquitos. A menor taxa de emergência registrada por esses

autores (cerca de 98%) foi verificada para pupas irradiadas com a taxa de 300Gy/h,

sendo que no controle obtiveram-se 100% de emergência.

Quando observada a fecundidade de fêmeas que copularam com machos

irradiados foi significativamente diferente entre os tratamentos, as fêmeas que

acasalaram com machos irradiados apresentaram uma menor fecundidade em

relação ao grupo controle. Estes resultados corroboram relatos feitos por Balestrino

et al. (2010), em que todas as fêmeas que acasalaram com machos estéreis

apresentaram taxas de fecundidade reduzidas quando comparado ao grupo

controle.

Em relação a esterilidade induzida em fêmeas acasaladas com machos

expostos às diferentes doses de raios X, observou-se que quanto maior a dose de

radiação aplicada, menor a porcentagem de ovos fertilizados. As doses acima de 30

Gy foram capazes de proporcionar índices de esterilidade acima de 98%, contudo,

doses de 60, 65 e 70 Gy promoverem 100% de esterilidade. Oliva et al. (2012),

relataram uma redução para 7% da fertilidade de fêmeas de Ae. albopictus após

cópula com machos expostos à dose de 35 Gy (raio gama). Balestrino et al. (2010)

induziram 99% de esterilidade em Ae. albopictus quando aplicada a dose de 40 Gy

(radiação gama) em pupas machos com idade superior a 24h. Yamada et al. (2014)

também verificaram altos níveis de esterilidade (99%) quando machos de Ae.

albopictus foram expostos a dose de 40 Gy. Os mesmos autores relataram 100% de

esterilidade induzida em fêmeas de Ae. albopictus, porém quando a dose de

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radiação aplicada foi de 60 Gy, o que foi similar aos resultados obtidos no presente

trabalho com a dose de 60 Gy de radiação X. Lima (2014) quando avaliou diferentes

doses de radiação gama, constatou 100% de esterilidade em machos de Ae. aegypti

foi atingida quando aplicada uma dose de 50 Gy utilizando raios gama. Em estudo

recente de Ernawan et al. (2017), machos de Ae. aegypti irradiados com a dose de

70 Gy indicaram uma variação de esterilidade de 95% a 98,21%, de acordo com a

taxa-dose utilizada.

Segundo ANWAR et al. (1971), LECIS; FIGUS; SANTARINI, (1975) as

irradiações em estágios de desenvolvimento posteriores a ovos e larvas resultam em

mutações letais dominantes nos espermatozoides, que causam mortalidade

embrionária após a fertilização do ovo.

Em relação aos resultados obtidos na irradiação de fêmeas com as doses de

60, 65 e 70 Gy foram semelhantes aos testes realizados com machos, não

apresentando diferenças quanto à mortalidade de pupas durante a irradiação e

quanto à taxa de emergência dos adultos. Todavia, estas fêmeas, após cópula com

machos férteis da colônia, foram 100% estéreis, ou seja, não foram capazes de

depositar ovos. Esses resultados coincidem com os relatados por Yamada et al.

(2014) e Lima (2014), que encontraram 100% de esterilidade induzida em fêmeas de

Ae. albopictus quando expostas na fase de pupa às doses de 40 Gy de raios X e 40

Gy de raios gama, respectivamente. Contudo, segundo Balestrino et al. (2010) a

fecundidade pode ser totalmente inibida em fêmeas desta mesma espécie de Aedes

quando aplicada a dose de 20 Gy de radiação gama. Para a aplicação da TIE no

controle do vetor Ae. aegypti, ainda não está disponível uma linhagem GSS (Genetic

Sexing Strain) (GILLES et al., 2014). Assim, como a TIE se fundamenta na liberação

de machos estéreis, a separação dos machos para liberação ocorre de forma

mecânica. Portanto, é possível que uma pequena porcentagem de fêmeas

“contaminem” o lote a ser liberado (ROBINSON, 2005). A presença de fêmeas não

estéreis durante o processo de liberação poderia contribuir no aumento indesejado

da população selvagem interferindo na eficiência da TIE e por isso, os resultados

obtidos no presente trabalho são pertinentes, pois indicam que fêmeas

contaminantes, quando liberadas, não gerarão prole.

Em relação aos testes de sobrevivência dos grupos avaliados com diferentes

doses de irradiação, foram obtidos bons resultados, mesmo exposto a maior dose 70

Gy os mosquitos apresentaram sobrevida média de 89,1% enquanto todos os outros

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tratamentos, incluindo controle, tiveram mais de 91% de sobrevivência. Balestrino et

al. (2010) relataram a redução de longevidade em machos de Ae. albopictus quando

foi aplicado altas doses de radiação gama (60 e 80 Gy). Yamada et al. (2014)

observaram que Ae. albopictus irradiados com a maior dose (60 Gy apresentaram

redução na sobrevivência de 50% em onze dias de avaliação. Resultado semelhante

foi encontrado no estudo de Ernawan et al. (2017), em que pupas machos de Ae.

aegypti expostas a uma dose de 70 Gy (taxa-dose de a 1500 Gy/h de raios gama)

promoveram uma longevidade média de 22,7 dias, enquanto para o controle foi de

34,17 dias. Lima (2014) relatou uma média de longevidade 23,4 dias para Ae.

aegypti irradiados com 50 Gy de radiação gama.

Para Proverbs (1969), a redução da longevidade pode estar relacionada com

a danificação das células somáticas, resultante da exposição à radiação ionizante.

Segundo Balestrino et al. (2010), a diminuição da sobrevivência pode estar

relacionada com o acometimento de órgãos e de suas funções fundamentais para

maior longevidade, causadas pelas doses elevadas de radiação.

Apesar da probabilidade de acasalamento ser maior nos primeiros dias de

vida do mosquito adulto, pois é quando os mosquitos estão mais aptos para localizar

a fêmea, competir por ela e copular, quanto mais machos sobreviver após a

liberação, maior a probabilidade de cópula com fêmeas selvagens férteis (Helinski et

al., 2009).

Nesse contexto, o presente trabalho revelou que a irradiação com raios X

acarretou em baixo custo biológico, com relação à sobrevivência, em comparação

com os trabalhos supracitados, uma vez que as doses de 60 e 65 Gy tiveram 94% e

91,6 % de sobrevivência até o 10° dia, respectivamente. Além disso, ainda que a

dose de 70 Gy tenha apresentado redução em relação ao controle, a taxa de

sobrevivência obtida pode ser considerada alta. Mesmo que os dados de

sobrevivência se refiram há 10 dias, este tempo seria suficiente para que os machos

atingissem sua maturação sexual, fossem liberados e realizassem a cópula com

fêmeas em campo.

Na TIE, a dose esterilizante deve ser definida de tal forma que não

comprometa importantes parâmetros biológicos dos insetos estéreis. Assim, os

resultados deste estudo indicam que todas as doses acima de 60 Gy são capazes

de induzir alto nível de esterilidade, sem grandes comprometimentos da

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sobrevivência, o que demonstra o potencial da utilização de raios X como uma fonte

ionizante segura para aplicação da TIE no controle do vetor Ae. aegypti.

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7. CONCLUSÕES

Diante dos experimentos realizados, considerou-se que a melhor idade de

pupa para processo de irradiação é de 36 horas.

A esterilidade completa das fêmeas foi obtida quando estas foram expostas a

doses a partir de 60 Gy. Esse efeito demostra minimizar riscos associados ao

aumento populacional do mosquito, em caso de liberação acidental.

Os resultados obtidos neste trabalho demonstraram que é possível atingir a

esterilidade em machos de A. aegypti utilizando 65 Gy de raios-X, sem comprometer

a qualidade dos insetos, sugerindo a viabilidade desta fonte ionizante no

desenvolvimento da Técnica do Inseto Estéril (TIE).

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REFERÊNCIAS

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