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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
PETRÓLEO E GÁS NA BACIA DE CAMPOS (RJ): PERCEPÇÃO DOS
IMPACTOS AMBIENTAIS PELA POPULAÇÃO.
Juliana Marsico Correia da Silva
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro para obtenção do título de mestre em Ecologia.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Luiz Bozelli
Rio de Janeiro - RJ
Julho de 2008
Livros Grátis
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Ficha Catalográfica
Marsico, Juliana
Petróleo e gás na Bacia de Campos (RJ): percepção dos impactos ambientais pela
população.
Dissertação de Mestrado – Departamento de Ecologia, UFRJ, 2008, 75p.
Palavras-chave: 1. impactos ambientais 2. petróleo 3. ecologia 4. grupos
focais 5. Bacia de Campos (RJ)
ii
“Energia nuclear, o homem subiu à lua.
É o que se ouve falar, mas a fome continua.
É o progresso, tia Clementina, trouxe tanta confusão...
Um litro de gasolina por cem gramas de feijão.
Não vadeia Clementina.
Fui feita pra vadiar...
Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar...
Cadê o cantar dos passarinhos?
Ar puro não encontro mais não.
É o preço que o progresso paga com a poluição.
O homem é civilizado, a sociedade é que faz sua imagem.
Mas tem muito diplomado que é pior do que selvagem.
Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar
Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar...”
Partido alto de Clementina de Jesus e Clara Nunes.
“as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”
Paulinho da Viola, Coisas do Mundo.
iii
Agradecimentos
À mamãe e ao papai. Ao Daniel e à Rosa. Pessoas em que me inspiro sempre. Meus
guias e maiores referências. Agradeço-os por tudo o que eu sou hoje. Pelo apoio, por
serem sempre terreno firme e fértil pro meu crescimento, por dialogarem sempre e por
gerar amor, respeito e coragem. Por entenderem a ausência em tantos momentos e por
estarem por perto em muitos outros. Por tudo o que eu consegui buscar até hoje. Porque
mesmo depois de grande, trago a essência do que vocês me ensinaram a ser. Amo vocês.
Aos irmãos Nanda e Dani pelo amor, carinho e apoio. Por fazerem parte da minha vida,
do meu crescimento e serem motivos pra continuar sorrindo sempre. Amo vocês.
Ao Guga, por trazer felicidade sem tamanho com o aumento da família.
Ao Lucas e ao Miguel, que me inspiram a vida e trazem prazer em estar por aqui.
Ao tio Nande e tia Íris, Amanda e Aline pelo carinho, torcida e ajuda no processo.
À Aninha, minha irmã, cúmplice e companheira no dia-a-dia, na vida, por ser assim
shock de monster. Pelas conversas e pelas risadas diárias que levam a luz do holofote
pro céu!!! Por agüentar os momentos de agitação nos últimos meses e ajudar a trazer
pro centro. Aprendi e cresci muito contigo. Te amo, irmãzinha!!
À Jô, por abrir os horizontes com as conversas intermináveis, nas horas de estrada na
BR 101 e em outros momentos. Conversar contigo sempre me traz luz. Te amo, menina!
E viva o trio calafrio! Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora.
Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar a minha qualidade de vida. Te amo!
Ao Reinaldo, orientador querido. Pelas oportunidades que sempre abriu, pelo cuidado,
por conseguir enxergar que há alguém além de aluna e profissional aqui. Por dar terreno
pra formação e participar do meu crescimento não apenas profissional. Pela confiança
no trabalho e pelo apoio de sempre.
Ao Alê, pela cumplicidade. Pelo incentivo, bom-humor, pelas besteiras que me faziam
rir quase o dia inteiro, pelo companheirismo e pelo carinho. Por fazer parte do
descobrimento.
iv
À Laísa pela amizade, apoio e constante lembrança do meu trabalho trazendo textos,
idéias, perguntas, pronta pra ler e palpitar sempre, principalmente com a importante
metodologia.
Ao Fábio Alves, por me ajudar a entender os grupos focais. E pelas conversas e risadas
durante as horas de BR-101.
Aos sempre polinizadores Alê, Laísa, Reinaldo, Aline, Marcela, Ana, Titi, Sandra,
Rose, Monique, Paula, Thais, Fabio, Rafa Curcio, Lulu, Jô, Patrícia, Patrick, Serginho,
Rafa Costa, Marta, Vivi, Carla, Alessandro, Baiano, Diego, Jamile, Carol, Américo, Sol,
Luciana, Claudinha e Fred. O que eu apresento nas próximas páginas está impregnado
do trabalho de vocês e de todas as conversas. Aos outros 40 polinizadores, que sempre
motivaram o trabalho e trouxeram muita ajuda com a experiência nos municípios que
começo a conhecer. Aos motoristas da Vix, pelo transporte, papo na estrada e paciência.
Aos companheiros do Laboratório de Limnologia dessa universidade. Em especial: à
Luciana Carneiro, por me fazer pensar no que eu realmente queria estudar e dar
coragem pra mudar o rumo. Ao Caliman e ao Rafael pela ajuda na qualificação. Ao
Marquinho pelo café de sempre e as conversas que vinham acompanhando. À Telma,
pelo carinho, amizade e ajuda informática. Aos do setor de boas gargalhadas nesse
laboratório: Cláudio, Rose, Mário, Dri, Alê, Paloma, Titi, Aninha, Aline, Aliny, Thais,
Paloma, Lúcia, Ellen, Marcela, Baiano, Fred, Jaime, os “portugas” Ana e João.
Acreditem, esse setor fez a diferença...
Aos professores Francisco Esteves e Vinícius Farjalla por proporcionarem a infra-
estrutura para o desenvolvimento desse trabalho.
Ao pessoal do NUPEM, pelo cuidado e carinho. Especialmente à Lena pela amizade e
ao João Marcelo pela ajuda em um grupo focal que sem ele não teria sido realizado.
Aos amigos que estão sempre por perto (e aos que não estão tão perto também). Trazem
sempre alegria pro coração e luz pra vida. Pelas cervejinhas tomadas, boa música, boa
prosa e inspirações. Que me ajudam a nivelar a vida em alto astral!!
Ao Erico Lisboa, companheiro de batuque que tirou muitas dúvidas sobre o petrolês.
Ao Pedrinho pela amizade, ajuda, risadas e boa companhia.
v
Ao Pablo pelo incentivo à caminhada que me trouxe a essas páginas.
Ao Fred, Lúcia e Claudinha, por todas as sementes que plantaram e pela inspiração.
À Marcinha e à Suely, da secretaria de ecologia, por toda a atenção, paciência e todos os
sorrisos, sempre fazendo tudo o que estava ao alcance pra ajudar a quem por ali passar.
Ao Fernando Fernandez, amigo e professor, por dar apoio e tranqüilidade num dos
momentos mais difíceis, por acreditar que eu faria um bom trabalho e me fazer acreditar
nisso.
Ao Ricardo Iglesias por mostrar que essa dissertação é apenas uma semente que ainda
dará muitos frutos. Obrigada pela conversa, sugestões de leitura e inspiração.
Ao Mário Ximenez e Cris Falcão, sempre prontos a conversar, levantar o astral e ajudar.
Ao Henri Acselrad, pela preocupação em sempre me dar textos que poderiam servir
para a minha dissertação, pelas boas críticas ao trabalho, pelas conversas e ótima aula.
Ao Vainer (IPPUR), o professor de universidade publica, pronto pra uma conversa com
quem quer que seja, de qualquer curso que seja, com sorriso no rosto e tranqüilidade.
À Erica Caramaschi e ao Ricardo Iglesias pelas contribuições feitas em pré-banca.
Ao Sílvio à Janice pela gentileza e pelo carinho sempre.
Aos professores Erica e Fred pela avaliação motivadora deste trabalho.
À equipe de produção do Juruboteco liderada pelas queridas Paloma e Ellen. Aos
amigos que lá estiveram. É muito bom ter vocês por perto.
À Eliete Miranda por me ajudar a manter a concentração e buscar a minha força.
A Júlia, Cacau e Cami e suas mãos de cura.
Ao CNPq pela bolsa de estudos e à Petrobras pelo apoio financeiro ao projeto Pólen.
Ao Cronos, deus do tempo.
vi
Resumo
O petróleo é a principal fonte de energia utilizada pela sociedade moderna, apesar de
ser um recurso natural não renovável. A exploração deste recurso gera impactos ao
ambiente e exige um processo de licenciamento ambiental, que deve ser baseado tanto
no conhecimento da ecologia como da dinâmica socioeconômica da região em que se
pretende implantar a atividade. O processo de licenciamento determina medidas para
minimizar esses impactos. A determinação e implantação dessas medidas mitigadoras
dependem da participação social nesse processo. Essa pesquisa identificou os impactos
ambientais gerados por essas atividades, segundo a percepção da população local,
discutindo suas causas e conseqüências à luz de uma ciência ecológica capaz de atuar de
forma integrada na gestão ambiental. O estudo foi baseado no diagnóstico
socioambiental realizado pelo Projeto Pólen, medida mitigadora do licenciamento, em
13 municípios considerados área de influência de parte das atividades da Petrobras na
Bacia de Campos (RJ), de acordo com os estudos de impactos ambientais (EIA).
Durante o diagnóstico realizado representantes da sociedade civil organizada e da esfera
estatal responderam sobre os impactos gerados por essas atividades nos municípios
estudados. Os impactos no meio natural, o crescimento populacional e a geração de
empregos foram citados em todos os municípios, sendo os mais importantes
mencionados. Pelo menos em metade dos municípios foram citados impactos como
realização de projetos de responsabilidade social; desenvolvimento econômico;
melhorias na qualidade de vida; e arrecadação de royalties. Além desses, outros
impactos foram lembrados em menos da metade dos municípios. Muitos dos impactos
associados ao ambiente natural mostram-se indissociáveis do processo de urbanização.
Esses impactos enunciados pela sociedade local compõem um universo diferente,
eventualmente mais amplo e complexo, que aqueles indicados no EIA, sugerindo que os
impactos ambientais devem ser percebidos numa perspectiva que leve em conta o
contexto social em que estão inseridos. Esses estudos devem integrar os conhecimentos
da ecologia e dos sistemas sociais, considerando a percepção da população para o
encontro de alternativas efetivas para a gestão dos recursos naturais.
vii
Abstract
The petroleum represents the main current source of energy explored by modern
society, although non renewable. The exploitation causes environmental impacts, and
therefore requires a licensing process, which encompasses both regional ecological and
socio-economic knowledge. The licensing process determines mitigation measures to
minimize impact’s range. The determination and implementation of mitigation measures
frequently depend upon population perception and engagement. This research identifies
the environmental impacts produced by these enterprises perceived by local society,
discussing its causes and consequences under the light of comprehensive ecology
discipline oriented for environmental management. The study is based upon socio-
environmental diagnostics conducted by the Pólen Project, mitigation measure of the
licensing process, in the 13 municipalities influenced by Petrobras’ enterprises in the
Campos Basin, according to the Environmental Impact Assessment (EIA). The socio-
environmental diagnosis interviewed representatives from municipalities’ government
and from organized civil society. The impacts of enterprises on “environment”,
“population dynamics”, and “employment dynamics” were cited by all the 13
municipalities, therefore representing the most relevant ones. At least, half part of the
municipalities recognized the “arise of social responsibility projects”, “economic
development”, “life quality improvement”, “royalties revenue to the municipalities”.
Besides these most represented impacts, other 15 were identified by less then half the
sample. The majority of impacts on environment identified were associated to
urbanization process. These impacts perceived by local population compose a different
universe, eventually broader and complex than those indicated by EIA reports. Hence,
whenever there were environmental impacts they might be perceived under the socio-
economic context they were inserted. These studies must integrate ecological and socio-
economical knowledge, and for that reason, consider local population’s perception to
figure out effective alternatives to environmental management.
viii
ix
Sumário
Introdução __________________________________________________________ 01
Metodologia _________________________________________________________15
Coleta de dados ________________________________________________ 16
Processamento e organização dos dados coletados _____________________ 21
Análise dos dados ______________________________________________ 22
Resultados __________________________________________________________ 24
Discussão ___________________________________________________________ 27
Impactos ambientais ____________________________________________ 27
Desenvolvimento econômico _____________________________________ 32
Arrecadação de royalties __________________________________________33
Investimentos no município _______________________________________ 37
Geração de empregos ____________________________________________ 37
Crescimento populacional ________________________________________ 39
Realização de projetos de responsabilidade socioambiental _______________43
Qualidade de vida _______________________________________________ 45
Prejuízos para a pesca ____________________________________________ 46
Prejuízos para o turismo __________________________________________ 47
Outros impactos mencionados ______________________________________49
Considerações sobre os impactos __________________________________ 49
Considerações finais ___________________________________________________ 53
Referências Bibliográficas _____________________________________________ 54
Anexo 1 _____________________________________________________________ 62
Petróleo e gás na Bacia de Campos (RJ): impactos ambientais pela
percepção da população.
Introdução
O uso de energia é vital para a maioria das atividades humanas, principalmente
na sociedade moderna. Sua produção é apoiada na busca e exploração de recursos
naturais, provocando uma série de modificações no ambiente. A produção e o consumo
de energia ocupam importantes espaços de discussão, públicos ou não, sendo um tema
muito relevante ao longo da trajetória política e econômica do mundo. A necessidade de
energia é uma realidade desde que nossa sociedade começa a ser formada e se
intensifica com a Revolução Industrial, quando as máquinas começam a ser alimentadas
pelo uso de madeira, vento, animais e água. Em meados do século XVIII, o carvão
começa a ser importante, tanto na produção do gás utilizado nas casas quanto para
alimentar máquinas, como trens que transportavam os mais variados bens. No século
XIX a revolução tem seu auge, com o uso em larga escala do petróleo e seus derivados,
utilizados em processos industriais, geração de energia elétrica e como combustível para
veículos. Gradualmente aumenta sua importância e, principalmente após a segunda
guerra mundial, ganha espaço como recurso mais utilizado para gerar energia no mundo
até hoje.
A Revolução Industrial, baseada no uso intensivo de combustíveis fósseis, abriu
caminho para uma expansão inédita das atividades humanas, pressionando fortemente a
base de recursos naturais do planeta pelo consumo e ocupação do espaço, gerando
resíduos como lixo industrial, plásticos não degradáveis e emissão atmosférica de gases.
A era industrial é marcada pela ascensão do sistema capitalista, cuja lógica de consumo
ilimitado é incompatível com qualquer atitude no sentido de diminuir o uso dos recursos
naturais e de preservação do ambiente.
A energia está fortemente associada ao desenvolvimento, sendo seu consumo
per capita utilizado como indicador do crescimento econômico nacional, estimulando
dessa forma o aumento do consumo. Muitos dos problemas ambientais conhecidos
podem ser associados ao uso de recursos naturais para a produção de energia, sendo um
dos fatores que causam mais impactos ao ambiente (Elliot, 1997).
1
De acordo com a Resolução Conama nº 001/86, impacto ambiental é “qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas no meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades
sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e a
qualidade dos recursos ambientais”.
Dentre os impactos da geração de energia, os mais claros parecem ser os
impactos físicos como formação de barragens para geração de energia hidrelétrica,
desmatamento para passagem de redes elétricas, riscos na exploração de combustíveis
fósseis e de minérios, como a passagem de dutos e vazamento de óleo ou de substâncias
químicas no solo ou em corpos hídricos, dentre outros.
Hoje no Brasil cerca de 40% da energia consumida é proveniente do petróleo e
seus derivados (tabela I) mostrando a importância desse recurso no país. Dentre outros
motivos, essa preferência se explica por seu rendimento calorífico-energético por
unidade de volume ser superior ao do carvão mineral e do gás natural, outros
combustíveis fósseis largamente utilizados, representando juntos a proveniência de 90%
da energia consumida no mundo (Salvador & Marques, 2004). Cerca de 40% da energia
consumida pela sociedade brasileira é utilizada pela indústria, 26% pelo setor de
transportes, enquanto que 11% é utilizado nas residências e menos de 5% nos setores
comercial e público (tabela II). Esses dados nos dão a dimensão de que a maior
demanda energética do país concentra-se nas indústrias e empresas de transportes, sejam
eles coletivos ou individuais. A energia obtida da exploração de recursos naturais
envolve uma distribuição socialmente desigual dos custos da obtenção desta e alterações
no balanço social de poder, conseqüentes do controle da produção de energia (Acselrad,
2005).
2
Tabela I: Consumo de energia no Brasil por fonte em TEP1 e em porcentagem no ano de 2006.
Fonte: MME – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006.
Fonte 106 TEP % petróleo e derivados 85,3 37,7 gás natural 21,7 9,6 carvão mineral e derivados 13,5 6,1
Não renováveis
urânio e derivados 3,7 1,6 Hidráulica e elétrica 33,5 14,8 carvão vegetal e lenha 28,6 12,6 Derivados da cana-de-açúcar 33,0 14,6
Renováveis
outras fontes renováveis 6,8 3,0 Total 226,1 100
Tabela II: Consumo de energia no Brasil por setor em porcentagem no ano de 2006.
Setor % Industrial 37,8Transportes 26,3Residencial 10,9Agropecuário 4,2comercial e público 4,5
Fonte: MME – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006.
Petróleo
O petróleo – do latim petroleum: petrus, pedra e oleum, óleo; do grego
petrelaion: óleo da pedra – é um combustível fóssil formado em bacias sedimentares sob
efeito de pressão e temperatura ao longo do tempo geológico, há milhões de anos, a
partir de substâncias orgânicas de origem autóctone (matéria orgânica planctônica) e/ou
alóctone (material terrestre carregado para as bacias sedimentares). Esse material
orgânico, rico em compostos de carbono e hidrogênio, acumulou-se em rochas
chamadas geradoras, constituídas de material detrítico de granulometria muito fina
(fração argila) em ambiente anóxico e, quando submetido a temperaturas entre 600 e
1200ºC, transformou-se em petróleo e gás natural. Uma vez formado o petróleo, este
passa a ocupar um volume maior que a mistura orgânica original na rocha geradora. A
pressão excessiva faz com que a rocha se frature, expulsando os fluidos para uma zona
de pressão mais baixa até a chegada em um local selado, alojando-se numa estrutura
localizada na parte mais alta de um compartimento da rocha porosa, isolada por
1 Tonelada Equivalente de Petróleo, ou a energia equivalente à adquirida pela combustão de uma tonelada de petróleo.
3
camadas impermeáveis, resultantes de modificações sofridas pelas rochas ao longo do
tempo geológico, através do desenvolvimento de dobras e falhas na crosta terrestre
(Milani et al, 2000).
O petróleo é um recurso natural abundante, apesar de finito e é, atualmente, a
principal fonte de energia utilizada no mundo. Serve como matéria-prima para
fabricação dos mais variados produtos, como benzinas, óleo diesel, gasolina, parafina,
gás natural, querosene, solventes, óleos lubrificantes, alcatrão, polímeros plásticos,
fertilizantes, pesticidas, embalagens e medicamentos. Por outro lado, impulsionou
muitas guerras, seja como objeto direto da disputa ou como matéria-prima para
alimentar a indústria bélica, não só como combustíveis, mas na composição do napalm,
um tipo de gasolina gelificada utilizada como bombas em ataques a partir da Segunda
Guerra Mundial.
Segundo Canuto (2007), o início da utilização do petróleo se deu 4000 anos
antes de Cristo, a partir exsudações e afloramentos freqüentes no Oriente Médio, onde
povos da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia e da Judéia já utilizavam o betume para
pavimentação de estradas, calefação de grandes construções, aquecimento e iluminação
de casas, e como lubrificantes. Os gregos e romanos embebiam lanças incendiárias com
betume para atacar as muralhas inimigas. No início da Era Cristã, os árabes davam ao
petróleo fins bélicos e de iluminação.
A indústria moderna do petróleo data de meados do século XIX, na Pensilvânia,
quando tal recurso ganha importância como fonte energética, tornando-se estratégico no
século XX para empresas e Estados, sobretudo após o primeiro grande conflito mundial.
A partir daí inaugurou-se uma corrida desenfreada para encontrar jazidas minerais de
onde se pudesse extrair a matéria-prima dos combustíveis mais procurados para
alimentar veículos automotores, o fornecimento de energia elétrica, a indústria pesada,
de transformação e, inclusive, a da guerra.
No Brasil, a sondagem em busca de petróleo começou na última década do
século XIX, pelo regime de livre iniciativa, mas data de 1939 a perfuração do primeiro
poço de petróleo brasileiro, em Lobato, no estado da Bahia. A exploração desse recurso
ganhou grande importância no país, a ponto de ser criado em 1938 o Conselho Nacional
do Petróleo desencadeando um movimento social envolvendo o governo federal e a
4
população, principalmente, as elites brasileira e estrangeira. Havia na sociedade uma
geração inteira impregnada com a idéia de que não havia futuro sem petróleo, e
estabeleceu-se no país uma corrida tecnológica a fim de desenvolver maneiras de se
explorar petróleo na plataforma marítima, local de maior probabilidade de se encontrar
o recurso em escala comercial. Em outubro de 1953, é criada a Petrobras por meio da lei
2.004, que instituía monopólio estatal nas atividades de pesquisa, lavra e
comercialização de petróleo e gás natural, e que viria ser a maior empresa do país
(Farias, 2003; Lessa, 2005). A busca por petróleo em território nacional foi, como
mostram esses estudos, não apenas uma necessidade econômica, mas uma afirmação de
nacionalidade, uma aspiração ligada à necessidade de desenvolver e fazer crescer a
economia brasileira, uma discussão política. Hoje o Brasil se considera auto-suficiente
na produção de petróleo e gás natural e a expectativa é de que o país se torne um
exportador do produto. Em 2006 a Petrobras anunciou a descoberta de um campo de
exploração abaixo da camada de sal na Bacia de Santos, a 7.000 metros de
profundidade, capaz de produzir um volume de óleo e gás que representa quase metade
do total das reservas atuais. A corrida tecnológica de hoje diz respeito à exploração e ao
refino desse óleo encontrado em águas ultraprofundas do território nacional, mais
pesado e mais viscoso, que o país não tem ainda condições de tratar.
Desde sua descoberta em território nacional, o petróleo transformou
profundamente a economia, a sociedade e o espaço do Brasil, principalmente nas
últimas quatro décadas, fornecendo divisas, energia e matérias-primas para o processo
de industrialização (Monié, 2003), gerando além de crescimento econômico, muitos
problemas ambientais.
A exploração de petróleo e gás natural
A exploração de petróleo e gás natural no mar compreende as fases de pesquisa
sísmica, perfuração e desenvolvimento do poço, ou produção. A pesquisa sísmica
consiste em estudos geológicos e geofísicos para detectar jazidas de petróleo e gás
natural no subsolo da plataforma continental e de águas profundas. É feita por
embarcações equipadas com canhões de ar comprimido, disparados em períodos
determinados de tempo, gerando emissões acústicas de grande alcance (Moraes, 2004).
Os impactos dessa fase são pouco conhecidos, mas estudos apontam que dentre os mais
importantes estão a interferência em comportamentos biológicos importantes como
5
acasalamento e desova em peixes, cetáceos e quelônios (Vilardo, 2007). Durante a
perfuração do poço de petróleo e gás natural, há revolvimento do sedimento com a
produção de cascalho, triturado pela broca utilizada e transportado à superfície através
de um fluido de perfuração. Esse fluido é composto de compostos químicos como
sulfato de Bário (BaSO4), que pode conter metais pesados, como cádmio e mercúrio, e
outras substâncias como potássio, ácido acético, óleo e gases e parte é liberada agregada
ao cascalho para o ambiente marítimo. A produção de cascalho varia de volume de
acordo com o volume do poço perfurado, e os impactos associados a ela são a morte da
comunidade bentônica, tanto pelo impacto físico do cascalho quanto pela toxicidade do
fluido agregado ao sedimento (Shaffel, 2002). Além disso, ocorre risco de vazamento de
óleo e fluido de perfuração durante a operação. Na fase de desenvolvimento, ou
produção de petróleo, os impactos são: o descarte de resíduos orgânicos provenientes da
atividade nas plataformas e navios; descarte de água de produção2, que é produzida
junto com o óleo e o gás; riscos de vazamentos e outros acidentes decorrentes do
armazenamento e transporte do petróleo; alteração da qualidade da água; interferência
na biota marinha; introdução de espécies costeiras em área oceânica, levadas pela água
de lastro e cascos de embarcações; desenvolvimento de comunidades incrustantes na
estrutura física da unidade; liberação de gases como dióxido e monóxido de carbono ou
derivados de enxofre e nitrogênio para a atmosfera, alteração na qualidade do ar.
Sendo o recurso mais importante para geração de energia atualmente, a busca
pelo petróleo é muito intensa. Onde há petróleo há interesse das nações em investir em
pesquisa e exploração, mesmo que isso signifique gerar impactos ambientais. O modo
de produção e de consumo de recursos naturais, fundado na lógica de acumulação
ilimitada, gera uma acelerada degradação do ambiente, com o esgotamento dos recursos
ambientais levando a distúrbios ecológicos, como a rápida liberação do carbono fóssil
para a atmosfera, elevando a temperatura do planeta.
2 Pode ser de duas fontes: i) algum aqüífero existente ligado ao reservatório de petróleo (chamada água de formação) que pode ser muito salgada, como por exemplo, no campo de produção Albacora Leste, a salinidade da água desta chega a 100.000 ppm, enquanto que a água do mar tem salinidade de 40.000 ppm; ou ii) água injetada no reservatório com o objetivo de manter a pressão e otimizar a retirada do óleo. Um aspecto importante a ser observado é que a água produzida é indesejável, sendo um dos maiores problemas da indústria do petróleo. Além da produção de algo que não tem valor comercial, ainda temos sérios problemas em descartá-la, uma vez que é muito salgada e muitas vezes misturada com óleo. Muitas empresas no mundo produzem mais água do que óleo. (Erico Lisboa, comunicação pessoal).
6
A ecologia, ao produzir conhecimento sobre a estrutura e dinâmica de
populações, comunidades e ecossistemas, as interações entre os organismos e entre eles
e o ambiente, torna-se uma ferramenta essencial para embasar decisões relacionadas ao
uso dos recursos naturais. Conhecer é essencial para uma intervenção qualificada, assim
como compreender que os caminhos seguidos pela ciência e pela tecnologia não são
definidos fora da realidade existente. Esses caminhos são construções sociais, frutos das
relações e das condições que a sociedade viabilizou, face às diferentes culturas,
histórias, matérias-primas e localizações geográficas (Oliveira, 2005) e, que inclusive os
cientistas e técnicos, a universidade e os centros de pesquisas, são parte dessa sociedade.
As idéias científicas não são totalmente independentes da filosofia e das ideologias que
impregnam o meio em que vivem os pesquisadores (Japiassú & Marcondes, 1996). A
corrida tecnológica que se deu face à primeira crise do petróleo, em 1973, é um bom
exemplo de como a produção do conhecimento está inserida no contexto das relações
sociais. O Brasil investiu em tecnologia para explorar o recurso em plataformas
marítimas, numa época em que isso parecia impossível, em busca da autonomia e
desenvolvimento prometido pela exploração do ouro negro. Atualmente continua a
buscar inovações tecnológicas que permitam explorar o petróleo encontrado em águas
com profundidade de cerca de 7000 metros.
A questão ambiental é mais que uma questão ecológica. Requer, além de
conhecimento técnico-científico, o fortalecimento da democracia. É uma questão ética,
econômica, cultural e política (Loureiro, 2003; Loureiro, 2007). Oliveira e
colaboradores (2005), em um estudo que mostra o homem como agente geológico,
ilustram como a economia global pode ser vinculada com a erosão do solo causada por
um lavrador. Eles mostram que as modificações dos preços de insumos e mercadorias,
afetados pelas bolsas de valores e taxas de câmbio, acabam influenciando as políticas
públicas dos países, alcançando até comunidades marginalizadas que, intensificando sua
produção em solos frágeis, provocam erosão e geração de sedimentos, que vão se
acumular nos fundos dos vales. Assim, as decisões de um lavrador podem ser afetadas
por vários fatores, tanto nacionais como internacionais, mas que acabam interferindo
diretamente no uso do solo e no ambiente. Assumir a dimensão social nos estudos de
ecologia que se relacionam ao uso e preservação dos recursos naturais é a chave para o
desenvolvimento de uma ciência integrada que contribua efetivamente na preservação
dos sistemas ecológicos. As decisões locais acerca do uso e exploração dos recursos
7
naturais, como o petróleo, são influenciadas por decisões políticas e econômicas em
âmbitos nacional e internacional.
O ambiente estudado pela ecologia é social e historicamente construído. Sua
construção se faz no processo da interação contínua entre uma sociedade em movimento
e um espaço particular que se modifica permanentemente. Ao ser modificado, torna-se
condição para novas mudanças, modificando assim, a sociedade. Pickett e McDonnell
(1993) observam que a preocupação em inserir a dimensão humana na ciência ecológica
não é uma novidade. Observam que em 1864, George Perkins Marsh publicou um livro
que tratava do papel dos humanos no funcionamento dos sistemas ecológicos da Terra.
E que na Ecology, conceituada revista de nossa ciência, um dos primeiros artigos
publicados (Huntington, 1920), incluia o homem como parte de um sistema ecológico e
considerava uma cidade como um sistema ecológico. Entretanto, observam também
que desde Huntington pouquíssimos artigos publicados nessa e em outras revistas
clássicas da ecologia fazem essa relação. Chama nossa atenção, portanto, a urgência de
emergir no nosso campo um novo paradigma ecológico que acomode o homem e suas
atividades na área de conhecimento da ecologia: Margalef (1993) em seu livro Teoria
de los sistemas ecológicos considera o homem “um componente importante dos
ecossistemas naturais”, e Pickett e colaboradores (2004), ao traçarem características do
que chamam de paradigma ecológico do não-equilíbrio, colocam como um dos pontos
que o homem é parte dos ecossistemas, exercendo através de suas atividades,
instituições, sociedades e indivíduos importante papel na dinâmica desses sistemas.
Apesar de reconhecermos a importância de se estabelecer essa relação,
predomina na ciência ecológica, assim como nas ciências humanas, uma disjunção
natureza/cultura, sempre desmembrando o homem entre sua natureza de ser vivo,
espécie biológica, estudada pela biologia – passando por cima do importante fato de que
o homem por natureza produz cultura – e sua natureza física e social, estudada pelas
ciências humanas, que por sua vez também o retiram de seu ambiente biológico.
Esse estudo fragmentado, sem comunicação entre as áreas de conhecimento e
sem a visão complexa da realidade é insuficiente para tratarmos de assuntos como a
questão ambiental. Morin (2002) afirma que há complexidade quando os componentes
que constituem o todo (como o econômico, o político, o sociológico, o ecológico) são
inseparáveis e formam um tecido interdependente. Assistimos a uma realidade de
8
problemas cada vez mais globais e multidimensionais, cuja compreensão está em mais
de uma área de conhecimento. A fragmentação do conhecimento em disciplinas nos
ajuda a entender melhor as partes do todo e contribui para o avanço da ciência, na
medida em que traz algumas vantagens da divisão do trabalho, como a possibilidade de
se dedicar ao estudo focalizado em uma parte do todo. Todavia, compreender a
realidade buscando um conhecimento em movimento, que integre e articule diferentes
informações e saberes, é a chave para uma atuação efetiva no que diz respeito às
decisões acerca da exploração e do uso de recursos naturais e a preservação dos
sistemas que comportam a vida.
A Bacia de Campos
A Bacia de Campos é uma área de depósitos sedimentares originados,
principalmente, pela erosão de parte das rochas da Serra do Mar. Recebe este nome pela
proximidade à cidade de Campos dos Goytacazes, e está em frente aos municípios da
região norte fluminense e da região das baixadas litorâneas. Tem área sedimentar de
cerca de 100 mil quilômetros quadrados e se estende do Espírito Santo (próximo ao Alto
de Vitória) até o Alto de Cabo Frio, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. As
condições geológicas de formação dessa bacia, que incluem os depósitos sedimentares e
o acúmulo de matéria orgânica, proporcionaram o acúmulo de grandes quantidades de
petróleo em sua plataforma continental (Caetano-Filho, 2003).
A descoberta de petróleo em quantidades comerciais na bacia de Campos dá-se
logo após o primeiro choque mundial do petróleo em 1973, quando da alta de preços
internacionais do produto. A região passa, então, a receber investimentos para o
desenvolvimento de tecnologia e infra-estrutura para a exploração petrolífera, que à
época fazia parte dos chamados “Grandes Projetos de Investimentos”, projetos de
importância estratégica e magnitude econômico-financeira, sob a diretriz de transformar
o Brasil em potência emergente no final do séc XX. Em 1974, a Petrobras chega à
região, elegendo a cidade de Macaé como base de operações das atividades de
prospecção e produção do petróleo e gás natural, inaugurando um novo ciclo econômico
regional. Seguindo esse objetivo a qualquer custo, as decisões em torno do
empreendimento eram definidas em função dos chamados “interesses nacionais”, sem
levar em conta os impactos que seriam causados (Piquet, 2003).
9
O licenciamento ambiental
Posto que as atividades relacionadas a esse empreendimento – dentre as quais
estão a pesquisa sísmica, a implantação e operação de plataformas, gasodutos, terminais
portuários, oleodutos e refinarias – oferecem riscos ambientais, a legislação brasileira
exige que se realize um processo de licenciamento ambiental.
O licenciamento ambiental é um instrumento de gestão do Sistema Nacional de
Meio Ambiente (Sisnama), criado pela Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política
Nacional de Meio Ambiente, regulamentada e normatizada pelas Resoluções Conama nº
001/86 e nº 237/97. Consiste em um processo administrativo pelo qual o órgão
legalmente responsável pelo meio ambiente (determinado pela esfera de atuação e
abrangência geopolítica da atividade) avalia e concede licença de localização,
instalação, ampliação e operação para empreendimentos que utilizam recursos naturais e
possam causar danos ou impactos que afetem o meio ambiente e a qualidade de vida das
populações. Esse processo funciona como importante instrumento de gestão ambiental e
controle social em países com cultura em Estados democráticos com cultura cidadã e
participativa. Demanda competência técnica e habilidade política na mediação de
conflitos de uso e distributivos no processo de tomada de decisão. A licença ambiental
prevê ações que se fazem necessárias para minimizar impactos, considerando-se as
disposições legais e regulamentares.
Esse processo é muitas vezes realizado com base em instrumentos de avaliação
de impacto ambiental (AIA) que constituem um conjunto de procedimentos que
pretende assegurar um exame acerca dos impactos que serão causados pelas atividades
ou empreendimentos que se querem realizar e se tratam de importantes elementos para a
tomada de decisão. Esses instrumentos incluem relatório de avaliação ambiental, plano
e projeto de controle ambiental, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de
recuperação de área degradada e análise preliminar de risco (Brasil/TCU, 2007).
Quando as atividades são consideradas, pela legislação, geradoras de significativos
impactos, como são as de exploração e produção de petróleo e gás natural, são exigidos
o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental (art. 3º da Resolução
Conama nº 237/97). De acordo com Brasil/MMA (2006b):
10
“Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um estudo detalhado destinado a
identificar e avaliar todas as alterações que determinada atividade poderá
causar ao meio ambiente”.
“Relatório de Impacto Ambiental (Rima) é um documento que reflete as conclusões
do EIA redigidas em linguagem acessível, de modo que se possam entender as
vantagens e as desvantagens de um projeto, bem como todas as conseqüências
ambientais de sua implementação.”
Para sua elaboração, o órgão ambiental competente expede termos de referência,
que constituem um conjunto de critérios exigidos para a realização do estudo,
apontando as questões que devem ser abordadas. Normalmente referem-se ao
levantamento de vegetação e de fauna, impactos na qualidade do ar e da água, impactos
no solo e nas rochas, estudos socioeconômicos, impactos na infra-estrutura urbana,
impactos paisagísticos e no patrimônio histórico-cultural, entre outros, de acordo com o
previsto na legislação (ver artigo 6º da Resolução Conama nº 001/86).
Ao receber os estudos, o órgão ambiental anuncia pela imprensa a
disponibilidade do material para consulta pública e estabelece prazo para que seja
requerida a audiência pública. Esta se trata de uma reunião para debater os prós e os
contras do empreendimento, além da divulgação das medidas mitigadoras propostas, e
deve ser realizada com a presença do requerente da licença ambiental, das autoridades
competentes, das organizações da sociedade civil, assim como das comunidades e dos
cidadãos interessados (Brasil/MMA, 2006b).
O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 estabelece que “todos têm direito
ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações”. Para garantir esse princípio a Constituição
determina incumbências ao poder público que vão desde a preservação e restauração de
processos ecológicos até a proteção da fauna e da flora, destacando-se a educação
ambiental (EA) como um instrumento estratégico para a concretização do controle
social no acesso e uso do patrimônio ambiental brasileiro.
11
Pensando na importância do licenciamento como instrumento para o controle
social3 e a gestão ambiental pública, o Ibama vem exigindo como condicionante de
licença para empreendimentos de exploração de petróleo e gás natural no Brasil, dentre
outras medidas, um projeto de EA, com o objetivo de fomentar condições para a
aquisição de conhecimentos e habilidades que permitam e estimulem a gestão
participativa, com conhecimento de causa, nos processos decisórios sobre o acesso aos
recursos naturais no Brasil.
Um programa de EA inserido nesse contexto deve garantir a participação dos
diferentes grupos sociais afetados, direta ou indiretamente pela atividade objeto do
licenciamento em todas as etapas do processo e envolver a sociedade de forma a atuar
na prevenção/superação dos riscos e danos socioambientais causados por intervenções
no meio ambiente. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de capacidades tais
que diferentes grupos sociais participem do processo de gestão ambiental pública, de
modo a perceberem a escala e as conseqüências, explícitas e implícitas, do
empreendimento no seu cotidiano.
A qualidade do processo de licenciamento depende, em grande parte, da
disponibilidade e produção do conhecimento dos recursos naturais e da dinâmica
socioeconômica da região em que se pretende implantar a atividade ou
empreendimento. A produção do conhecimento cabe, especialmente, à universidade e
instituições de pesquisa, entretanto, o conhecimento popular, produzido por quem vive
em determinada região é também de fundamental importância, sendo necessário seu
reconhecimento por parte dos pesquisadores responsáveis pela realização dos estudos
ambientais. Conhecer é fundamental para intervir, para se apropriar dos instrumentos e
qualificar o debate e a atuação nas tomadas de decisão durante o processo de
licenciamento.
Além do conhecimento produzido é necessário o fortalecimento de mecanismos
que garantam a dimensão democrática da nossa legislação, pois é a dimensão coletiva
que dá a possibilidade de assegurar os direitos individuais, na possibilidade da discussão
pública da tomada de decisão. A participação da população local é indispensável a esse
3 Controle social é a ação de fiscalização exercida pela sociedade sobre os governos, visando garantir transparência na definição das prioridades políticas e nos gastos públicos (Brasil, MMA 2006a).
12
processo, pois é ela quem desfruta do dia-a-dia do local onde será instalado o
empreendimento a ser licenciado.
Acselrad (2005) chama a atenção para o fato de que os riscos ambientais são
diferenciados e desigualmente distribuídos na sociedade, dada a diferente capacidade
dos grupos sociais escaparem aos efeitos das fontes de tais riscos. Assim, ao evidenciar
a desigualdade distributiva e os diferentes sentidos e lógicas de uso que as sociedades
podem atribuir ao meio ambiente, sua base material, abre-se espaço para a percepção de
que o ambiente de certos sujeitos sociais prevaleça sobre o de outros, fazendo surgir o
que veio a se denominar de conflitos ambientais. Segundo definição de Little (2001),
conflitos ambientais são disputas entre grupos sociais derivadas dos distintos tipos de
relações por eles mantidas com seu meio natural, podendo ocorrer pelo controle dos
recursos naturais, ou derivados dos impactos ambientais e sociais decorrentes de
determinados usos ou, ainda, aqueles ligados aos usos e apropriações dos
conhecimentos ambientais. Quintas (2005) acrescenta que essas disputas estão sempre
relacionadas a divergências de interesses na gestão desses recursos. Acrescenta ainda
que essa assimetria na distribuição desses custos e benefícios não é auto-evidente, posto
que a percepção de determinado problema ambiental não é meramente uma questão
cognitiva, mas também mediada por interesses econômicos, políticos e ideológicos,
ocorrendo sempre em um contexto específico, historicamente situado.
Nesse contexto, surgiu o Projeto Pólen, referente a uma das condicionantes de
licença ambiental exigida pelo Estado (Ibama) para atividades de exploração de petróleo
e gás natural pela empresa Petrobrás S.A. na região da Bacia de Campos/RJ. Insere-se
como medida mitigadora para o licenciamento ambiental da atividade de ampliação do
sistema de tratamento e escoamento da fase 2 do Campo de Marlim, por meio do FPSO
P-47 (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência de petróleo), e da
atividade de produção e escoamento de petróleo e gás natural no Campo de Espadarte e
área leste do Campo de Marimbá, por meio do FPSO Espadarte, empreendimentos
localizados na Bacia de Campos, RJ.
É um projeto executado por uma equipe do Laboratório de Limnologia do
Departamento de Ecologia da UFRJ, e que atua na formação de educadores ambientais e
pólos de EA em treze municípios da região norte fluminense e região das baixadas
13
litorâneas4 considerados pelo Ibama, a partir dos estudos de impactos ambientais
realizados, área de influência do empreendimento. Pretende ser um processo de
construção crítico e transformador da realidade, compreendendo processos de
ensino/aprendizagem que visam a elaboração e implementação participativa de projetos
e/ou intervenções educativas que tornem as pessoas capazes de participarem das
tomadas de decisão no seu cotidiano e no fortalecimento da cidadania através da
implementação de políticas públicas ambientais. Trata-se de um projeto realizado em
parceria entre a universidade (UFRJ) e o poder público municipal da área de influência
do empreendimento, fiscalizado pelo Ibama e financiado pela Petrobras, empresa
responsável pela atividade potencialmente poluidora.
Executado pela universidade, inserido no programa de extensão, o Projeto Pólen
pretende ser um processo educativo, cultural e científico articulado com o ensino e a
pesquisa, ampliando a relação entre a universidade e a sociedade. A extensão
universitária não deve substituir as funções do Estado, mas produzir saberes interagindo
com outras instituições e segmentos da sociedade tais como organizações
governamentais, poder legislativo, empresas, sindicatos, organizações não
governamentais e outras organizações da sociedade civil.
A empresa potencialmente poluidora envolvida, detentora do capital para o
financiamento do projeto, o faz como condicionante da licença de operação de suas
atividades geradoras de lucro a partir da exploração excessiva e apropriação privada dos
recursos naturais que geram transformações socioeconômicas, políticas e culturais e
mudanças significativas no meio ambiente. Como medida mitigadora que é, o projeto
recebe o acompanhamento constante do órgão regulador e fiscalizador (Ibama).
Trabalhando com o Estado buscamos transformar a atual estrutura social a partir da
instituição pública, de dentro dela, acreditando na possibilidade de seus gestores (das
secretarias municipais parceiras) abrirem espaços, dentro da gestão que já executam,
para a participação social.
Os objetivos do projeto Pólen vão além da troca de saberes, pois buscam integrar
o potencial criativo e de conhecimento da cultura popular com o conhecimento
científico, gerando um saber integrado entre o que é produzido na academia e o que é 4 Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema.
14
vivenciado no cotidiano dessas populações. Buscamos identificar problemas, conflitos,
potencialidades ambientais, e as iniciativas e grupos sociais que atuam no campo da
questão ambiental. Quanto mais competências as populações desses municípios
adquirirem para o enfrentamento dos riscos e danos socioambientais de
empreendimentos objetos de licenciamento, como o deste caso, mais participativas
serão as ações públicas, resultando em políticas de conservação mais democráticas.
Para o desenvolvimento dessa pesquisa buscamos na sociedade opiniões sobre o
processo de mudanças ambientais gerados pelas atividades de exploração de recursos
naturais. Discutimos esse processo à luz de uma ciência ecológica capaz de ajudar na
compreensão da questão ambiental, e atuar no processo de gestão do ambiente na
perspectiva da complexidade ambiental.
Objetivo
O objetivo dessa pesquisa foi identificar e discutir os impactos ambientais em treze
municípios do norte fluminense e região das baixadas litorâneas, associados às
atividades de uma empresa de energia que explora petróleo e gás natural na Bacia de
Campos (RJ), segundo a percepção da população local.
Metodologia
Este trabalho é parte de um diagnóstico socioambiental realizado no âmbito do
Projeto Pólen em treze municípios das regiões norte fluminense e baixadas litorâneas
(figura 1), considerados área de influência de dois empreendimentos de exploração e
produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos pela Petrobras. O diagnóstico
ambiental é uma ferramenta da pesquisa exploratória, que representa uma tentativa
sistemática de organização de dados e permite o conhecimento do cotidiano, afirmando
a importância das dimensões subjetiva, afetiva e cultural na construção do saber e nas
ações humanas, resgatando o conhecimento concreto, a experiência vivida (Arruda,
2002). Um diagnóstico socioambiental permite conhecer o estado da arte de
determinadas ações desenvolvidas numa dada área e seus aspectos históricos. Durante o
diagnóstico do Projeto Pólen, foram realizadas visitas aos municípios com o intuito de
estabelecer parcerias, conhecer os ecossistemas e os aspectos relacionados à integridade
15
ecológica desses ambientes, as escolas e as organizações da sociedade civil5 (OSCs) da
região e identificar as suas iniciativas de educação ambiental e as diferentes realidades
locais, sempre com a questão ambiental em foco.
Figura 1: Disposição geográfica dos municípios em que o Projeto Pólen atua. Circulados em
vermelho os campos de exploração de petróleo e gás natural da Bacia de Campos (RJ).
Coleta de dados
Nesta pesquisa utilizamos grupos focais como procedimento para coleta de
dados. Um grupo focal é uma reunião de pessoas selecionadas para discutir e comentar
um tema, como a questão ambiental do município onde vivem, a partir de sua
experiência pessoal. O trabalho com grupos focais permite coletar informações sobre
crenças, valores e conhecimentos de participantes através da interação entre eles nas
discussões em grupo. Neste trabalho escolhemos essa metodologia porque permite a
coleta de informações de caráter objetivo, qualitativas e ancoradas nas percepções de
representantes sociais envolvidos nas questões ambientais presentes nos municípios de
interesse.
5 Empregando o termo OSC estamos nos referindo a organizações na órbita da sociedade civil em geral, sendo estas organizações não-governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos (OSFL), instituições filantrópicas, associações de moradores ou comunitárias, associações profissionais ou categorias, instituições culturais e religiosas, movimentos sociais, etc.
16
Planejamos dois grupos focais em cada município, um estatal e um não-estatal.
Optamos por separar as esferas de representação por dois motivos: i) como o assunto
divide opiniões e gera conflitos entre o Estado e a sociedade civil, procuramos evitar
discussões além do próprio tema abordado, prejudicando assim a atividade que tem
tempo limitado de duração; ii) em se tratando de esferas de atuação diferentes, contamos
com a possibilidade de haver padrões definidos pela esfera de representação.
Realizamos treze grupos focais estatais e nove não-estatais, totalizando 21 atividades.
A escolha dos participantes foi feita levando-se em conta a familiaridade do
representante com o tema discutido, de modo que a participação dele pudesse trazer
elementos da sua experiência cotidiana relacionada à presença da Petrobras nos
municípios. Para os grupos estatais, convidamos representantes das secretarias
municipais existentes na região estudada, além de fundações e entidades que eram
indicadas particularmente pelas secretarias de Meio Ambiente e Educação como Defesa
Civil, Vigilância Sanitária e Guarda Municipal. Para os grupos não-estatais convidamos
as OSCs que visitamos durante o diagnóstico, cujo critério de escolha também obedeceu
a relação com a presença da empresa na região. As tabelas III e IV apresentam uma
sistematização das entidades participantes e o número de participantes em cada
município.
Tabela III – Organizações e número de representantes presentes nos grupos focais estatais em
cada município.
Município Nº de
presentes/ entidades
Representantes
Araruama 9
Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Pesca
Consórcio Intermunicipal Lagos São João
Armação dos Búzios 5
Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Saúde Vigilância Sanitária – SECSA
Secretaria de Planejamento (SECPLAN)
Arraial do Cabo 8
Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Turismo Secretaria Municipal de Saúde
Cabo Frio 11
SENAC Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Planejamento Casa do Educador
Secretaria Municipal de Meio Ambiente Extinção de Incêndios/Salvamento e Defesa Civil
17
Campos dos Goytacazes 8
Secretaria Municipal de Agricultura Secretaria de Obras
Secretaria Municipal de Educação Secretaria de Indústria Comércio e Turismo
Carapebus 7
Secretaria Municipal de Agricultura Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Administração Secretaria Municipal de Transporte
Guarda Municipal
Casimiro de Abreu 9
Secretaria Municipal de Obras Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca Assessoria de Desenvolvimento Econômico
Programa de Apoio Integral à Família
Macaé 14
Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia Macro Região Ambiental 5 (Consórcio de Bacias Hidrográficas)
Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Guarda Municipal Secretaria Municipal Trabalho e Renda
PARNA Restinga de Jurubatiba
Quissamã 8
Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Captação de Recursos Secretaria Municipal de Cultura Secretaria Municipal de Obras
Rio das Ostras 17
Secretaria Municipal de Transportes Guarda Municipal
Secretaria Municipal de Esporte e Lazer Secretaria de Meio Ambiente
Secretario Municipal de Urbanismo, Obras e Serviço Público Secretaria. Municipal de Agricultura e Pesca
Secretaria Municipal de Turismo Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Planejamento Secretaria Municipal de Saúde
São Francisco de Itabapoana
11
Secretaria Municipal de Trabalho e Renda Secretaria Municipal de Fazenda Secretaria Municipal de Obras
Secretaria Municipal de Comunicação Social Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Sub-procuradoria geral do município Secretaria Municipal de Agricultura
Assessoria de Comunicação Secretaria Municipal de Educação e Cultura
São João da Barra 17
Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Turismo
Defesa Civil Secretaria Municipal de Pesca
Secretaria Municipal de Planejamento Secretaria Municipal de Fazenda
Secretaria Municipal de Esporte e Laser Secretaria Municipal de Obras
Saquarema 9 Secretaria Municipal de Educação e Cultura Secretaria Municipal de Educação
18
Tabela IV – Organizações e número de representantes presentes nos grupos focais não estatais em cada município.
Município Nº de presentes Representantes
Armação dos Búzios 12
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente ASFAB – Associação de Moradores da Ferradura
Associação de Funcionários da Prefeitura Associação de Amigos e Moradores do Canto Esquerdo de Geribá
Casa da Amizade Melhor Idade Ativa Búzios
Associação de Mulheres de Armação dos Búzios Associação Protetores dos Animais São Francisco de Assis
Colônia de Pescadores Z-23 Companheiros pró Educação, Cultura, Lazer, Ecologia e Trabalho
Arraial do Cabo 4 Associação de Turismo de Arraial do Cabo Ambientalista de Arraial do Cabo e Região dos Lagos
Campos dos Goytacazes 8
Associação de Moradores de Vila Nova Associação de Moradores e Amigos do Pq João Maria e Adjacências
Instituto Goitacá de E.S. Ambiental Associação de Moradores de P. Guarus
Associação de Moradores de P. Pecuária Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza
Carapebus 6
Associação de Moradores e Amigos da Praia de Caxanga Associação de Plantadores de Cana de Carapebus Associação Pastores Evangélicos de Carapebus
Associação de Rodagem Associação de Pescadores de Carapebus
Macaé 5 Ecoturismo / Esportes Radicais / ONG Habitat
Associação Mineira de Defesa do Ambiente Associação de Moradores do Mirante da Lagoa
Quissamã 12
Associação de Moradores de Morro Alto Câmara dos Dirigentes Logistas
Associação de Surf de Barra do Furado Associação de Guias (turismo)
Espaço Cultural José Carlos Barcelos Conselho Gestor do PARNA Jurubatiba
Guarda Municipal / líder comunitário Vigilância Sanitária
São Francisco de Itabapoana 13
Associação de Moradores da Praia de Santa Clara Associação de Moradores e Produtores Agrícolas de Carrapato
Associação de Moradores de Santa Clara Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
Associação de Estudantes de São Francisco de Itabapoana AMASS – Associação de Moradores de Sonhos e Sossegos
ONG Arco-íris de luz Colônia de Pescadores Z1
São João da Barra 5
ONG Um Novo Projeto de Vida Associação Moradores de Grussaí
Associação de Hotéis e Pousadas de Grussaí Associação Cultural Teatral Nós na Rua
Associação dos Comerciantes Associação de Mulheres Sanjoanense
Saquarema 11 ONG POABAS do Brasil
Escola de Surf Associação de Moradores do Boqueirão
As atividades tiveram duração entre três e quatro horas e o tamanho dos grupos
variou entre 4 e 17 pessoas. Foram conduzidas por um moderador que propôs a
19
discussão baseada em um roteiro focado nas atividades da Petrobras em cada município
(quadro 1), e acompanhadas por um observador, que redigiu um relatório com
impressões coletadas durante a discussão. As respostas foram dadas em seqüência,
anotadas pelos participantes em tarjetas e cartazes, lidas em voz alta para o
conhecimento de todos e foram exibidas ao grupo durante toda a atividade (figuras 2 e
3). Eventualmente, os participantes teciam comentários e explicações a respeito de suas
respostas e das de outros participantes. As atividades foram registradas em mídia
audiovisual. Na condução do grupo focal, foi respeitado o princípio da não diretividade,
e o moderador da discussão cuidou para que o grupo desenvolvesse a comunicação sem
ingerências indevidas da parte dele com intervenções afirmativas ou negativas, emissão
de opiniões particulares, conclusões ou outras formas de intervenção direta (Gatti,
2005). Além da discussão sobre os temas propostos no roteiro, os participantes
preencheram uma ficha de cadastro com dados pessoais.
Quadro I: Roteiro orientador da discussão realizada nas atividades de grupos focais nos
municípios estudados.
Roteiro Orientador dos Grupos Focais
Todas as respostas são escritas em cartões colados na parede a serem vistos por todos os
participantes
1) Nome; Atuação no município e tempo de moradia; Como a Petrobras está relacionada à sua
vida?; e As atividades da Petrobrás geram benefícios ou desvantagens para sua cidade?
Cada um se apresenta rapidamente (através da leitura dos cartões).
2) Quais as atividades da Petrobras presentes neste município?
3) Essas atividades geram que tipos de impactos? (separá-los em Positivos/ Negativos)
4) Que grupos sociais são afetados nessas atividades?
5) Vocês percebem se essas atividades geram alguns conflitos? E qual o conflito? Entre que
grupos?
6) Como poderiam ser solucionados esses conflitos?
7) Que meios são necessários para o alcance dessas soluções?
8) Como vocês poderiam colaborar para isto?
9) Quem mais precisa colaborar?
20
Figura 2: Respostas dadas à questão sobre os impactos associados às atividades de exploração e
produção de petróleo e gás natural pela empresa Petrobras S.A. durante as atividades de grupo
focal nos municípios de Armação dos Búzios (esquerda) e Arraial do Cabo (direita).
Figura 3: Atividades de grupo focal nos municípios de São João da Barra (esquerda) e Rio das
Ostras (direita).
Processamento e organização dos dados coletados
Para essa pesquisa utilizamos as respostas dadas à terceira questão do roteiro
(anexo 1), além de falas emergentes da discussão sobre o assunto durante a atividade.
Transcrevemos as tarjetas contendo respostas sobre os impactos gerados pelas
atividades da indústria do petróleo na região, que foram sistematizadas em uma planilha
21
e separadas por município e por grupo. Assistimos as fitas de vídeo nas quais foram
registradas as atividades por completo, a fim de reconhecer não apenas explicações e
comentários relativos a essa pergunta, mas também falas emergentes em outros
momentos da atividade em que os participantes retomavam o assunto sobre os impactos
gerados. A essas respostas acrescentamos impressões registradas pelo observador da
atividade referentes à discussão em curso, como pontos de vista, consensos e dissensos,
contidas nos relatórios de observação. O grupo focal tem como uma de suas maiores
riquezas se basear na tendência humana de formar opiniões e atitudes na interação com
outros indivíduos, contrastando com dados colhidos em questionários fechados ou
entrevistas individuais, onde o indivíduo é convocado a emitir opiniões sobre assuntos
que talvez ele nunca tenha pensado a respeito anteriormente (Johnson, 1996; Millward,
2006). Portanto, consideramos que acompanhar e compreender o processo como se
deram essas respostas é uma base importante para a análise dos resultados.
A unidade amostral escolhida nessa pesquisa foi o município, porém,
eventualmente, é considerada a atuação no município de cada participante, procurando
identificar se há diferentes percepções sobre as questões do estudo que variam entre os
representantes da esfera estatal e da esfera não-estatal.
Análise dos dados
Realizamos uma análise textual discursiva, processo que se inicia com a
separação dos textos em unidades de significado. Essas unidades, formadas pelas
respostas dadas à questão, geram conjuntos de unidades a partir da interlocução
empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador, fazendo a
articulação de significados semelhantes em um processo de categorização dos impactos
que serão apresentados (figuras 4 e 5). Esse tipo de análise tem como desafio exercitar
uma dialética entre o todo e as partes (Moraes e Galiazzi, 2006; Moraes, 2003). Com
base em Moraes (2003) apresentamos o processo de análise das respostas enunciadas.
22
Figura 4: Esquema dos passos metodológicos realizados para a análise das respostas geradas
durantes as atividades de grupos focais.
Figura 5: Exemplo dos passos seguidos para a caracterização das respostas geradas durante
as atividades de grupos focais.
O processo de unitarização implica examinar o material das tarjetas (as
respostas) em seus detalhes, fragmentando-o no sentido de atingir unidades de análise,
referentes aos diferentes impactos enunciados, ordenando-os e separando-os de acordo
com os significados, dando origem a um conjunto de informações sobre os fenômenos
- impacto ambiental; - aumento de esgoto; - poluição; - poluição de praias;
Impactos ambientais
discussão a respeito desses
impactos
-os migrantes chegam no
município em busca de empregos, a cidade cresce e
aumenta a produção de esgotos.
Texto das tarjetas
(unidades de análise)
Categorias de impactos a partir das respostas
Análise textual das categorias (discussão)
Falas emergentes da
discussão durante a
atividade de grupo focal e relatórios de observação.
23
investigados. Apenas as respostas escritas pelos participantes dão origem às unidades de
análise. As observações e os comentários emergentes da discussão durante as atividades
foram utilizados apenas para embasar o processo de categorização realizado
posteriormente.
A categorização é um processo de comparação entre as unidades definidas no
processo anterior da análise, estabelecendo relações entre elas que levam a
agrupamentos de elementos semelhantes, constituindo as categorias. Essas foram
construídas a posteriori, com base nas informações emergentes das atividades cujos
dados foram coletados. Com a categorização buscamos uma sistematização e descrição
mais objetiva de nossos resultados, e destacamos de IBASE (2005; 35p):
“Outro aspecto relevante a ser abordado é que essa técnica, em momento algum, se
dispôs a fazer juízo de valor, do tipo certo e errado, mas somente a coletar percepções
acerca de um entendimento do assunto, priorizando a simples oitiva e sistematização
das informações surgidas nos grupos focais.”
Uma vez construídas as categorias, estas são descritas, caracterizadas e
interpretadas dando origem a um texto argumentativo fundamentado em discussões e
opiniões dos participantes, inclusive em resposta a outras perguntas do roteiro, e em
referenciais teóricos relacionados aos diferentes impactos observados, estabelecendo-se
pontes entre elas sempre que possível.
Resultados
Ao tentar identificar os impactos ambientais decorrentes das atividades de
exploração de petróleo e gás natural percebemos que há, entre os participantes, o senso
comum de que esses são efeitos relacionados principalmente ao ambiente não
construído no qual a espécie humana está presente apenas como causa do impacto e não
como espécie que também sofre o impacto. Em todos os municípios foram mencionados
impactos como o risco de acidentes e vazamentos de óleo, a poluição e degradação
ambiental, o desmatamento, alterações nos ecossistemas costeiros e oceânicos,
introdução de espécies exóticas e extinção de espécies entre outros que dizem respeito
ao ambiente natural, não construído, separados dos impactos sociais e econômicos. Em
algumas atividades, entretanto, nos municípios de Arraial do Cabo, Armação dos Búzios
24
e São Francisco do Itabapoana já percebemos nas falas uma relação entre os riscos da
exploração do petróleo e os prejuízos para a atividade pesqueira, associando um
impacto ambiental a seu contexto sócio-econômico.
Com as atividades de grupos focais, percebemos que seria interessante
estudarmos os impactos ambientais sob outra perspectiva, incluindo a dimensão sócio-
econômica desses efeitos. Apresentamos, portanto todos os impactos indicados pelos
representantes dos municípios da região litorânea da Bacia de Campos, a fim de buscar
estabelecer relações entre eles. O quadro II apresenta uma sistematização desses
impactos já em categorias organizadas e os municípios em que foram citados. As
respostas escritas durante as atividades que deram origem a essas categorias estão no
final desse trabalho (anexo 1).
Quadro II – Categorias de impactos apresentados pelos participantes das atividades de grupo
focal e os municípios em que foram apontados.
Impacto Municípios
Impactos ambientais
Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de
Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)
Desenvolvimento econômico – movimentação da economia (local, regional e/ou nacional)
Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé,
Quissamã, São Francisco de Itabapoana e Saquarema (10)
Arrecadação dos royalties Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Carapebus, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São João da Barra e
Saquarema (9)
Dependência fiscal dos royalties ou preocupação com a economia pós-petróleo Araruama, Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã (4)
Investimentos no município Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus e Saquarema (6)
Geração de empregos
Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de
Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)
Crescimento populacional –migração.
Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de
Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)
Realização de projetos de responsabilidade social
Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras,
São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (10)
Abrangência dos projetos sociais que não alcançam a comunidade em geral São Francisco de Itabapoana e São João da Barra (2)
Melhorias na qualidade de vida Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Casimiro de
Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São Francisco de Itabapoana (8)
25
Diminuição da qualidade de vida Arraial do Cabo, Macaé e Quissamã (3)
Prejuízos para a pesca Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Macaé, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (6)
Prejuízos para o turismo Arraial do Cabo (1)
Certeza da qualidade do combustível Araruama (1)
Pesquisas tecnológicas Arraial do Cabo (1)
Pesquisas científicas
Conhecimento
Mobilização
Capital social
Casimiro de Abreu (1)
Crise levando à criação de Ucs Macaé (1)
Valorização da mão-de-obra Campos dos Goytacazes (1)
Os impactos ambientais, o crescimento populacional (migração),
freqüentemente associado aos impactos sociais decorrentes desse fenômeno, e a
geração de empregos são impactos citados em todos os treze municípios, sendo os mais
importantes observados. Pelo menos em metade dos municípios foram mencionados
impactos como realização de projetos de responsabilidade social; desenvolvimento
econômico (movimentação da economia); melhorias na qualidade de vida; e
arrecadação de royalties.
À categoria impactos ambientais estão agregadas falas relacionadas a: risco de
acidentes e derramamento de óleo; vazamentos; catástrofes; desastre ecológico;
poluição ambiental; degradação ambiental; desmatamento; impacto sobre ecossistemas
marinhos e terrestres; potencial poluidor de praias, de costões rochosos, de manguezais,
de águas oceânicas, das águas, dos rios; poluição do ar; estresse ambiental; alteração
dos ecossistemas vizinhos; mudanças no ecossistema marinho/ costeiro; super
exploração de recursos naturais; impactos na colocação de dutos; pesquisas sísmicas;
riscos de vida; introdução de espécies exóticas; extinção de espécies; destruição da
fauna aquática em caso de derramamento de óleo; esgotamento de jazidas; consumo e
captação desordenada de água; lançamento de resíduos; aumento do esgoto; mananciais
aterrados; pressão sobre o ambiente natural e sobre outros recursos naturais.
Entre os problemas trazidos pela migração, relatados pelos participantes
entrevistados, estão: especulação imobiliária; perda de identidade cultural das cidades;
ocupação desordenada do solo; ocupação de áreas de riscos como inundação e
deslizamentos; favelização; aumento da violência; aumento da criminalidade e da
prostituição; atividades de risco no centro da cidade; barulho; danos à saúde e riscos à
população; transformação da cidade em um canteiro de obras; aumento do tráfico de
26
drogas; aumento do custo de vida; desigualdade social; pressão nos serviços de
habitação, saúde, educação, assistência social, trânsito/ transportes, turismo e lazer; falta
de planejamento ambiental da cidade; aumento da poluição das vias; riscos de vida.
Discussão
No estágio de avanço de ocupação do mundo, torna-se cada vez mais difícil
separar as dimensões sócio-econômicas dos impactos ambientais, já que as condições
ecológicas alteram as condições culturais, sociais e históricas, e são por elas
transformadas. Assim, impacto ambiental não é somente resultado de uma ação sobre o
ambiente, mas relação de mudanças sociais e ecológicas em movimento. Se impacto
ambiental é indivisível, a preservação dos sistemas que suportam a vida deve ser
pensada na perspectiva da complexidade ambiental, num planejamento integrado e
adequado ao gerenciamento das questões sociais, contribuindo com a conservação de
nossos ambientes, atuando no fortalecimento político da sociedade e ajudando-a a
intervir ativamente nas decisões sobre a gestão dos recursos naturais (Reyes, 1996).
Trata-se, então, de se promover uma ciência ecológica que seja integral e analise os
problemas ambientais desde uma perspectiva de ecossistemas, incluindo a interação dos
sistemas sociais com naturais (Holling et al, 1998), cabendo trabalhar de forma mais
ampla, assumindo que nossa espécie, responsável não só por grande parte das mudanças
ambientais nos últimos tempos, mas também por toda a produção de conhecimento na
área, vive, por sua natureza, em sociedade.
Impactos ambientais
Essa categoria traz a idéia de que no senso comum o ambiente se reduz ao meio
que está ao nosso redor, quase sempre separando o homem, ou os impactos relacionados
à nossa vida em sociedade. Em todos os municípios esse impacto foi mencionado pelos
participantes das atividades de grupo focal.
A palavra poluição aparece recorrentemente durante as atividades e é quase
sempre relacionada às atividades de exploração de petróleo, principalmente associada a
vazamentos de óleo e alteração em ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres.
Todavia, aparece também fazendo menção aos impactos do processo de adensamento
urbano, como lançamento de esgotos e alterações na qualidade do ar.
27
Poluição é definida pela entrada de substâncias ou energia no ambiente, sempre
pela ação humana, que podem causar danos à saúde, à estrutura e ao funcionamento dos
organismos e dos ecossistemas, ou a interferência do ambiente pelo uso (Holdgate,
1979). Os poluentes agem modificando processos bioquímicos e afetando a fisiologia
dos organismos, o sucesso reprodutivo e a dinâmica de populações, gerando mudanças
no ecossistema, posto que há interação entre os seres e o ambiente (Holdgate, op. cit.).
Segundo Rios (1995), os principais tipos de poluição são causados diretamente
pelo uso, em grande escala, da energia exossomática, como, por exemplo, o petróleo.
De acordo com Margalef (1993), os ecossistemas tendem ao aumento de diversidade e à
redução da taxa de renovação, ou seja, tendem a funcionar da forma mais lenta possível.
Ao longo da sucessão ecológica se observa uma tendência à desaceleração da produção,
equivalente a diminuição do coeficiente de fluxo de energia por unidade de biomassa
mantida. Quando a taxa de renovação é mais lenta, os organismos aumentam seu
controle sobre os ciclos biogeoquímicos, ou seja, à medida que passa o tempo, os
elementos limitantes cada vez permanecem menos tempo fora dos organismos,
estendendo-se inclusive à matéria orgânica morta.
O homem, ao tomar posse de uma enorme quantidade de energia e ao fazer dela
o uso em larga escala – lembrando que o petróleo é a fonte de energia mais utilizada no
mundo – altera em alta velocidade os ciclos biogeoquímicos do planeta e força os
ecossistemas a inverter sua tendência natural, acelerando suas taxas de renovação e
aumentando da entropia. Esse aumento de energia no ambiente favorece o
desenvolvimento de espécies principalmente r estrategistas, comuns aos estágios
iniciais de sucessão, reduzindo a equitabilidade, provocando inevitavelmente a
diminuição da diversidade (Margalef, op. cit.).
Contaminação por óleo e derivados
Além dos impactos do uso de energia em larga escala, há o risco de
contaminação por óleo e derivados. Contaminação se refere à acumulação de moléculas
recalcitrantes, cuja degradação é muito lenta, implicando uma tensão constante sobre os
ecossistemas os quais respondem acelerando sua taxa de renovação (Margalef, op. cit.).
Segundo o mesmo autor, a contaminação implica uma tensão constante sobre os
ecossistemas, que respondem acelerando sua taxa de renovação e perdem diversidade.
28
Em casos de acidentes envolvendo vazamento de petróleo, a toxicidade do óleo
é influenciada por suas características físico-químicas (densidade, viscosidade e tipos de
hidrocarbonetos) e pelo volume derramado (Bartha, 1986), pelo grau de exposição às
ondas, pelo tipo de substrato e pelas características – composição específica, densidade,
biomassa, diversidade funcional – da própria comunidade que sofre o impacto (Falcão,
2003). Os principais fatores limitantes da degradação de petróleo no mar são a
resistência e a toxicidade do próprio óleo, a baixa temperatura do ambiente, a escassez
de nutrientes, oxigênio dissolvido e número de bactérias capazes de degradá-lo (Atlas,
1981). Em áreas de intenso hidrodinamismo, o impacto na fauna e na flora é menor que
em áreas protegidas da ação das ondas, como estuários, manguezais e baías, onde a
degradação do óleo pode ser lenta. O hidrodinamismo é um dos fatores que acelera o
espalhamento, a evaporação, emulsificação, foto-oxidação, sedimentação e degradação
microbiana. Em manguezais, onde o sedimento é predominantemente anóxico, a
contaminação por óleo persiste e diminui a diversidade de comunidades bentônicas
(Falcão, op.cit.).
Os efeitos sobre os organismos podem ser a morte por asfixia pelo contato
direto, envenenamento por exposição aos componentes tóxicos (Schaeffer-Novelli,
1990), além da redução de sua tolerância a condições físicas extremas e efeitos
subletais, que causam alterações no comportamento, crescimento e sucesso reprodutivo
dos organismos marinhos (Howarth, 1989). Nos ecossistemas costeiros, afeta a
capacidade fotossintética da vegetação. Em algas de costões rochosos, por exemplo, os
hidrocarbonetos afetam a membrana dos cloroplastos, destruindo a clorofila,
diminuindo a taxa de fotossíntese e aumentando a taxa de respiração, fazendo com que a
produção líquida seja reduzida (Falcão, op. cit.).
Em casos de ambientes eutrofizados pelo lançamento de esgotos domésticos,
ricos em compostos de nitrogênio e fósforo, a diminuição da concentração de oxigênio
no ambiente aumenta os efeitos da contaminação, posto que diminui o potencial de
degradação dos hidrocarbonetos (Couceiro et al, 2006).
Poluição do ar
A poluição do ar é gerada, principalmente, pela queima de combustíveis, que
libera para a atmosfera partículas como fumaças, fuligens e gases como dióxido e
29
monóxido de carbono, óxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. Esse impacto, assim
como o processo de eutrofização, está associado ao processo de adensamento urbano
gerado pela instalação de um parque industrial numa dada região.
Pesquisas sísmicas
Outro impacto mencionado se refere às atividades de pesquisas sísmicas para
buscar jazidas de petróleo e gás natural na plataforma continental e em águas profundas,
que apresentam, dentre seus principais efeitos, a interferência em comportamentos
biológicos importantes como acasalamento e desova em peixes, cetáceos e quelônios
(Vilardo, 2007).
Os estudos sísmicos podem ser classificados como poluição sonora, uma vez que
são feitos a partir de disparos de ar comprimido em períodos determinados de tempo,
gerando emissões acústicas de grande alcance. Entretanto, nos grupos focais essa
relação não é explícita.
A partir das respostas dadas (anexo 1), observamos que são mencionados os
tipos mais visíveis de poluição, como por contaminações que alteram aparência do
ambiente, como cor, odor etc. Mesmo entre esses não são considerados, em geral, os
efeitos indiretos como de acumulação dos poluentes no solo, água, ar e nos organismos
e os fluxos na cadeia alimentar, da qual também fazemos parte. Alguns impactos
relacionados à exploração do petróleo como o revolvimento do sedimento na instalação
de plataformas e perfuração de poços, a geração de cascalho e a contaminação por
fluidos de perfuração, parecem ser visíveis apenas nas imediações das plataformas, a
cerca de 160 Km da costa. Esses são indicados nos estudos de avaliação de impactos
ambientais referentes ao licenciamento de empreendimentos de exploração petróleo6,
mas não são mencionados durante as atividades realizadas.
Esses impactos ambientais são gerados pelo processo de industrialização e
urbanização decorrente dessa forma de vida em sociedade, sendo, portanto,
6 Relatório de Avaliação Ambiental da plataforma P-47, elaborado pela empresa Vereda Estudos e
Execução de Projetos Ltda (2003) e no Relatório de Impactos Ambientais do campo de Espadarte,
elaborado pela empresa CEPEMAR (2002).
30
indissociáveis do contexto sócio-econômico e das decisões políticas da sociedade. Um
empreendimento como o de exploração e produção de petróleo e gás natural gera,
principalmente no espaço geográfico imediato em que se instala, impactos tanto no
ambiente construído, como no meio natural.
Para entendermos efeitos ecológicos à luz de sistemas urbanos, os processos
socioeconômicos são tão importantes à análise quanto os processos estudados pelas
ciências biológicas e ciências da terra (Pickett et al, 2004). Se forças externas regulam
potencialmente a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas, as atividades humanas
precisam ser consideradas importantes direcionadoras dessas mudanças (Pickett &
McDonnell, 1993). As sociedades humanas e suas diferentes formas de vida têm
mostrado exercer um considerável papel na dinâmica dos ecossistemas. A sociedade
moderna desenvolveu técnicas eficazes no uso da energia exossomática para realizar
trabalho, principalmente no que diz respeito ao deslocamento de energia no plano
horizontal. O processo de urbanização, produto do desenvolvimento da civilização
industrial, provoca não só a escassez de recursos naturais em um determinado local, mas
também o acúmulo de resíduos não assimilados pelo sistema. Freqüentemente a
influência deixa marcas persistentes nos solos, na vegetação ou em outros componentes
dos sistemas ecológicos. Às vezes são indiretas, fazendo-se sentir em lugares diferentes
do local da atividade, como quando a poluição é transportada pela água ou pelo ar até
áreas distantes, outras são de influência direta como pastagens, agricultura, mineração e
urbanização.
Pensando os impactos ambientais em meios urbanos buscamos uma visão dos
processos ambientais integradora das dimensões biológica, político-econômica,
sociocultural e espacial. Sendo a urbanização uma transformação da sociedade, os
impactos ambientais promovidos pelas aglomerações urbanas são ao mesmo tempo
produto e processo de transformações dinâmicas e recíprocas da natureza e da sociedade
estruturada em classes sociais (Coelho, 2005). Compreendemos uma relação dialética
entre a sociedade (e suas relações sociais de produção) e os ciclos ecológicos,
apreendidos a partir da noção de ecossistema. Uma ecologia urbana aborda as relações
entre usos do solo, os efeitos dessas atividades e o esforço político-financeiro de
reordenação e conservação dos recursos naturais.
31
Acreditamos, portanto, ser importante conhecer os impactos sobre o meio sócio-
econômico citados nas atividades de grupos focais, na tentativa de traçar relações entre
os efeitos no meio natural e o processo social associado às atividades de exploração de
um recurso natural.
Desenvolvimento econômico / movimentação da economia
A descoberta de petróleo na Bacia de Campos trouxe para a cidade de Macaé, e
seus municípios vizinhos da costa litorânea, grandiosos investimentos para o
desenvolvimento de tecnologia e infra-estrutura para a exploração petrolífera. Esses
empreendimentos faziam parte dos chamados “Grandes Projetos de Investimentos” no
governo militar do país, numa época em que a região norte-fluminense passava por uma
grave crise de estagnação econômica no setor sucro alcooleiro. Atualmente ainda são
parte dos projetos de desenvolvimento nacional, quando o Brasil busca a auto-
suficiência em relação à produção de energia. A busca por petróleo em território
nacional foi sempre marcada pela magnitude financeira de seus investimentos,
transformando profundamente a economia, a sociedade e o espaço do Brasil (Monié,
2003).
O papel que a indústria petrolífera desenvolve atualmente no mundo vai muito
além do desempenho de suas unidades de operação – neste caso, aparentemente isoladas
em alto mar – ou da importância de seus derivados para o consumo. Esta atividade e
seus efeitos multiplicadores apresentam a capacidade de interferir nas dinâmicas sócio-
espaciais do lugar em que está estabelecida ou em qualquer parte do globo (Souza,
2004) na medida em que a economia mundial atual é baseada principalmente na
produção e consumo de petróleo. Apesar do complexo industrial da Petrobras localizar-
se em Macaé, essa indústria vem trazendo também para outros municípios da região
norte fluminense e para a região das baixadas litorâneas muitas modificações no que diz
respeito à ocupação territorial e ao foco da economia.
A Bacia de Campos, responsável por 84% da produção nacional, se configura a
mais importante região produtora do país atraindo investimentos e empresas direta ou
indiretamente associadas à indústria petrolífera, além de gerar um efeito multiplicador
pela inclusão de outros setores da economia, e pela criação de oportunidades de
negócios para um vasto mercado de fornecedores de equipamentos, suprimentos e
32
serviços (Leal & Serra, 2003). Tal fato leva a um aquecimento da economia regional,
traduzido em aumentos nas rendas municipais e benefícios diversos à sociedade como,
por exemplo, a geração de empregos, impacto mencionado em todos os municípios.
Ainda que a oferta de empregos seja para um público mais especializado, é um atrativo
para os municípios da região7, como observa Souza (2004):
“os efeitos desencadeadores ou multiplicadores da atividade petrolífera
desenvolvida, atualmente, na Bacia de Campos modificam os perfis sociais,
econômicos, culturais e políticos e tem como conseqüências a reorganização
do espaço regional, bem como a mudança na posição da região, que passa a
assumir um importante papel em escala nacional e se inserir na economia do
sistema mundo.”
Entretanto, as estruturas econômicas e sociais evidenciam que não houve
correspondência entre o visível crescimento econômico e o desenvolvimento nessa
região, mostrando que dispor de recursos para investir não é condição suficiente para
melhorar a situação da população, como o desenvolvimento de políticas públicas que
garantam água potável, saneamento básico e atendimento médico para todos e todas as
crianças na escola.
O desenvolvimento dessa atividade na região provocou uma transformação
radical e rápida da estrutura produtiva e do mercado de trabalho, cujos impactos sociais
e espaciais revelam-se particularmente desiguais, fazendo-se notar, ao mesmo tempo, o
enriquecimento de parte da população e o afluxo de trabalhadores pobres sem
qualificação; o surgimento de áreas de residência e de consumo de alto padrão social e a
expansão de bolsões de pobreza; o aumento das desigualdades intra-regionais entre
campo e cidade, e também entre centros urbanos mais ou menos inseridos na nova
economia regional.
Arrecadação de royalties
Os royalties constituem um recurso que tem como função tornar mais
eqüitativos os investimentos econômicos em longo prazo, ou seja, permitir que os
7 Estamos nos referindo aos 13 municípios envolvidos pelo projeto: Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Rio das Ostras, Búzios, Casimiro de Abreu, Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco do Itabapoana.
33
municípios afetados pela exploração de petróleo e gás natural possam investir em outras
atividades econômicas não relacionadas somente ao petróleo, aproveitando, por
exemplo, o potencial da região explorada para o turismo (Leal & Serra, 2003).
A partir da promulgação da Lei n.º 9.478/97 que dispõe sobre a política
energética nacional e institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência
Nacional de Petróleo, verificou-se um extraordinário crescimento nas receitas de
royalties e participações especiais, resultantes de compensações financeiras, devidas
pelos concessionários de exploração e produção de petróleo e gás natural. O
recebimento dos royalties apareceu nas atividades como a forma com que a Petrobras
promove o desenvolvimento municipal, e de fato representa um incremento
significativo nos orçamentos das prefeituras dos municípios que compõem a zona de
produção principal, composta pelos municípios de Armação dos Búzios, Cabo frio,
Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das
Ostras e São João da Barra (Souza, 2004 e Gutman & Leite, 2003). Muitas vezes o
repasse de royalties significa mais da metade da receita orçamentária municipal, como
em Armação dos Búzios, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé e Quissamã, tornando
assim o município bastante dependente de tal fonte de recurso. A tabela V traz valores
totais de royalties arrecadados pelos municípios, a população residente e o valor desse
tributo arrecadado per capita no ano de 2006. Mostra ainda a receita orçamentária de
alguns municípios no mesmo ano.
Tabela V – Valores totais de royalties arrecadados, população e valores do mesmo tributo
arrecadados per capta e receita orçamentária por município no ano de 2006.
Município Arrecadação(R$)
População
Royalties per capta
(R$)
Receita orçamentária
(R$)
Arrecadação de royalties/receita orçamentária
Araruama 5.995.028,70 103.229 58,08 N/D N/D
Armação dos Búzios 56.369.444,93 24.919 2.262,07 106.114.424,90 0,53
Arraial do Cabo 4.716.942,33 27.263 173,01 N/D N/D
Cabo Frio 218.548.225,54 172.685 1.265,59 N/D N/D
Campos dos Goytacazes 847.869.662,01 432.535 1.960,23 N/D N/D
Carapebus 33.076.939,27 10.818 3.057,59 53.720.267,37 0,62
Casimiro de Abreu 83.965.371,51 27.767 3.023,95 132.932.963,60 0,63
Macaé 413.116.830,41 165.285 2.499,41 801.082.699,30 0,52
Quissamã 85.042.407,67 16.407 5.183,21 135.813.678,90 0,63
Rio das Ostras 319.128.486,78 52.519 6.076,42 N/D N/D
São Francisco de Itabapoana 5.162.385,87 47.739 108,14 47.833.777,55 0,11
São João da Barra 54.580.611,28 28.910 1.887,97 N/D N/D
Saquarema 5.328.914,38 64.963 82,03 77.721.390,18 0,07 Fonte: InfoRoyalties: www.royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br N/D: não disponível.
34
Gutman & Leite (2003) afirmam que, apesar de tais recursos serem responsáveis
por alavancar o crescimento econômico local, fica evidente que não são investidos na
redução dos níveis de exclusão social existentes na região, tampouco na mitigação dos
impactos sobre o meio ambiente. Se notarmos na tabela V apenas os valores de royalties
arrecadados per capita em 2006, cabe questionarmos como pode haver parte da
população vivendo sem acesso a serviços públicos, como tratamento de esgoto que é
lançado in natura em corpos d’água, e ausência de programas e projetos de mitigação
de impactos ambientais em municípios como Armação dos Búzios, Campos dos
Goytacazes e Macaé, por exemplo.
Aliado à questão sobre o atendimento das necessidades da população ou das
melhorias que chegam à sociedade, há o problema do uso legal dos royalties. Serra &
Patrão (2003) observam a ausência de qualquer instrumento específico de controle
social sobre a destinação dada aos recursos de tais tributos na legislação vigente e
aponta para a necessidade da ampliação de espaços democráticos de participação no
país para decisão sobre a alocação de parte ou toda a receita de royalties repassada à
esfera local. Nos municípios de Armação dos Búzios e Macaé, representantes do setor
de pesca reclamaram maior participação da sociedade civil nas decisões que concernem
à utilização desses tributos. Ressaltaram que políticas públicas municipais de apoio à
pesca poderiam contribuir para melhorias no padrão de vida dos pescadores, na
conservação da frota e investimentos em tecnologia e segurança, levando-se em conta
os altos rendimentos auferidos pelas prefeituras municipais. No primeiro, representantes
afirmaram que propostas de alocação dos royalties para preservação do meio ambiente
enviadas à prefeitura por organizações da sociedade sequer são respondidas. Serra
(2005) sugere que esses recursos sejam revertidos em políticas públicas de preservação
ambiental, pois assim como as prefeituras municipais, o Ministério do Meio Ambiente
também tem parte significativa de seu orçamento advinda dos royalties do petróleo.
Apenas o município de Rio das Ostras submete a destinação de recursos municipais,
dentre eles os royalties, à discussão e avaliação de setores organizados da sociedade
civil, realizando periodicamente reuniões de orçamento participativo.
Outro impacto associado a esse é a preocupação com a economia pós-petróleo,
relacionada com a dependência econômica dos royalties por parte dos municípios da
região, nos quais pelo menos a metade da receita vem desses tributos. Essa preocupação
é legitimada por Serra & Patrão (2003) que afirmam que a norma vigente de
35
distribuição dos royalties é pautada no determinismo físico dos campos de exploração e
não de acordo com a dinâmica sócio-econômica desses municípios em relação às
atividades relacionadas à indústria petrolífera. Esse fato dificulta uma efetiva utilização
desses recursos como instrumento de promoção de políticas de justiça intergeracional,
ou seja, em investimentos de diversificação produtiva, visto que a trajetória econômica
atual é baseada em um recurso finito, não-renovável (Leal e Serra, 2003).
Dados de produção acumulada e reservas provadas de petróleo permitem estimar
a época de pico da produção e posterior declínio. M. King Hubbert, em estudo
encomendado pela presidência dos Estados Unidos da América em 1956 calculou com
acerto a época que se daria o pico de produção de petróleo no país. Com base em outras
estimativas como essa, observou que ao longo do tempo a produção dos campos de
exploração seguia uma curva que chegava ao máximo e começava a cair
irremediavelmente depois de retirada a metade da quantidade de petróleo passível de
extração (Porto, 2006). Com base nessa observação e em dados oficiais de produção e
reservas de petróleo (provadas ou a serem encontradas), o mesmo autor argumenta que
o Brasil ultrapassou seu pico na produção de petróleo convencional8 em 1997, e
provavelmente atingirá o pico geral de produção (incluindo os óleos não convencionais)
aproximadamente no ano 2012 (figura 6). A época do pico pode variar, principalmente
em função dos novos reservatórios que parecem existir abaixo da camada de sal nas
águas ultraprofundas da Bacia de Santos. Entretanto, é necessário que a Petrobras
consiga desenvolver tecnologia que torne economicamente viável a exploração desses
reservatórios a cerca de 7.000 metros de profundidade. Mesmo que o país consiga adiar
a época do “pico de Hubbert”, é fato que a economia sofrerá em poucas décadas, o
efeitos da queda na produção do ouro negro, com reflexos tanto no setor de bens e
serviços quanto em relação aos empregos oferecidos.
8 O chamado óleo convencional é o petróleo mais leve, de fácil extração e refinamento. O chamado óleo “não-convencional” refere-se a óleos pesados, de águas profundas, piche, areias betuminosas entre outras formas (Porto, 2006).
36
Figura 6: Pico de Hubbert para o óleo brasileiro (petróleo convencional somado aos óleos não-
convencionais (Porto, 2006).
Investimentos no município
Esse impacto pode estar relacionado tanto ao recebimento de royalties, muitas
vezes entendido pela população como investimento da empresa ou como indenização, e
não como tributo que é, ou com o aquecimento da economia atraindo cada vez mais
empresas que invistam nesses municípios, que a exemplo de Macaé e Rio das Ostras
ampliam suas zonas especiais de negócios, espaços criados para a instalação industrias e
instalação de empresas nos municípios.
Geração de empregos
A geração de empregos foi citada em todos os municípios. A presença da
Petrobras vem alterando a estrutura socioeconômica de cidades que recebem as
instalações da empresa, como é o caso de Macaé e Campos dos Goytacazes. Lobato
(1988) observa que muitas vezes uma grande empresa constitui-se na mais importante
fonte de empregos de uma cidade. E de fato, Macaé transformou-se em um dos
municípios do estado do Rio de Janeiro que mais ofereceu postos de trabalho entre 1990
e 2000 (Neto e Ajara, 2006). A abertura de novos postos de trabalho é também
responsável pelo aumento da circulação financeira na região e, conseqüentemente, pelo
desenvolvimento de outros setores da economia, como comércio e serviços, que geram
mais empregos e contribuem para o aquecimento da economia regional (Souza, 2004).
37
Contudo, é na faixa que vai de 1,01 a 3,00 salários mínimos que se encontra a
maior concentração e o maior aumento percentual de postos de trabalho na região,
sendo informais em sua maioria. Na faixa acima de 15,01 salários mínimos observa-se
aumento de oferta de empregos somente até os anos de 1990, seguido de declínio a
partir dessa data (Neto e Ajara, op cit). Os municípios vizinhos, apesar de não sediarem
o parque industrial, também oferecem postos de trabalho na construção de estruturas da
indústria petrolífera como, por exemplo, gasodutos e oleodutos, atraindo,
principalmente, trabalhadores menos qualificados que ocupam postos temporários de
trabalho.
Essa diferenciação em relação à qualificação dos trabalhadores é refletida em
outro impacto, associado a este, mencionado apenas por representantes da esfera estatal:
o incentivo à qualificação profissional voltada para a área. Apareceu nos municípios
de Arraial do Cabo, Carapebus, Casimiro de Abreu, Quissamã e São Francisco de
Itabapoana, e sugere que essas oportunidades estão mais associadas a profissionais
vinculados à administração municipal, dos quais quase sempre se exige nível superior.
De fato, de acordo com os dados cadastrais dos participantes, verificamos a
predominância do nível superior como grau de escolaridade nos grupos estatais quando
comparados aos não-estatais, o que pode ser explicado pelo fato de a entrada no
funcionalismo público, na maior parte das vezes ser por concurso público, o que exige
maior grau de escolaridade. Já nos grupos não-estatais, o envolvimento é muitas vezes
voluntário e não há exigência de escolaridade mínima para participar das organizações
da sociedade civil.
A região surge em diversas reportagens na imprensa escrita e falada como um
pólo de desenvolvimento em franca expansão, onde o emprego é farto e a qualidade de
vida elevada. Essa propaganda, também comentada pelos representantes participantes
das atividades, resulta na migração de pessoas com os mais diversos graus de
escolaridade e tipos de qualificação. Aqueles migrantes com capacitação para trabalhar
no ramo do petróleo ou nas atividades diretamente ligadas a ele conseguem emprego,
recebem altos salários, concentrando-se em condomínios de luxo e bairros valorizados,
que abrigam a maior parte dos serviços, enquanto aqueles migrantes desqualificados,
em sua maioria, ficam subempregados ou tomam os postos de trabalho informais e,
muitas vezes, temporários, ocupando áreas menos valorizadas pela indústria imobiliária
constituindo bairros pobres e favelas (Souza, 2004). Esse processo está intrinsecamente
38
relacionado a outro impacto muito mencionado durante as atividades realizadas: o
crescimento populacional acelerado dos municípios estudados.
Crescimento populacional – migração
“A cidade não para, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce.”
O crescimento populacional é um impacto relacionado à Petrobras em todos os
municípios. A geração de empregos impulsionada pela chegada da indústria do petróleo
como mencionado no item anterior, atrai migrantes em busca de trabalho em uma região
em franco desenvolvimento econômico. A tabela VI mostra o número de residentes nos
municípios da Bacia de Campos a que estamos nos referindo em três épocas: em 1970,
década da chegada da Petrobras na Bacia de Campos; em 2000, no último censo
realizado pelo IBGE; e em 2007, segundo contagem da população feita pelos
municípios e publicada no D.O.U. e na página eletrônica do IBGE. Podemos notar o
impressionante crescimento demográfico de municípios como Araruama, Armação dos
Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu, Macaé, Rio das
Ostras, São João da Barra e Saquarema, também ilustrado na figura 7.
Tabela VI – Variação do tamanho populacional dos municípios envolvidos neste estudo em três
épocas: 1970, 2000 e 2007.
Município 1970 2000
Taxa de crescimento 1970-2000
(%)
2007
Taxa de crescimento 1970-2007
(%) Araruama 40.288 82.757 105 98.312 144 Armação dos Búzios 4.225 18.125 329 24.560 481 Arraial do Cabo 10.937 23.860 118 25.248 131 Cabo Frio 29.768 126.834 326 162.191 445 Campos dos Goytacazes 285.670 406.484 42 426.154 49 Carapebus 8.261 10.684 29 10.677 29 Casimiro de Abreu 9.971 22.036 121 27.086 172 Macaé 47.328 130.518 176 169.229 258 Quissamã 9.993 13.832 38 17.376 76 Rio das Ostras 6.658 36.771 452 74.789 1023 São Francisco de Itabapoana 40.066 41.076 3 41.947 5 São João da Barra 15.610 27.422 76 28.889 85 Saquarema 31.233 67.566 116 62.169 99 Fonte: Fundação CIDE, banco de dados municipais para 1970 e 2000 e IBGE, censo realizado em 2000 e
contagem da população em 2007 (D.O.U.).
39
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
450.000
Ararua
ma
Arraial
do Cab
o
Cabo F
rio
Campo
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Goytac
azes
Carape
bus
Casimiro
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Rio da
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Saqua
rema
197020002007
Figura 7: Variação do tamanho populacional nos treze municípios em três épocas: 1970, 2000 e
2007.
Municípios que eram predominantemente rurais em 1950, passam a apresentar
em 2000 índices de urbanização altíssimos (tabelas VII e VIII). Estes migrantes vêm
não somente de outros centros urbanos, mas observa-se também um êxodo rural
ocasionado pelo esvaziamento das áreas de produção agrícola, conseqüência da
significativa mudança na economia regional (Neto e Ajara, 2006). Armação dos Búzios
e Macaé tornaram-se quase exclusivamente urbanos; Quissamã e Carapebus que eram
áreas pertencentes a usinas de açúcar, predominantemente rurais, emanciparam-se do
município de Macaé e passaram a apresentar maior parte da população nas cidades;
Casimiro de Abreu e São João da Barra perderam também seu território com a
emancipação de Rio das Ostras e São Francisco de Itabapoana (Piquet, 2003). Apesar de
não haver censos mais recentes, podemos inferir, apoiando-nos na tendência mundial,
que os números continuam crescendo. De acordo com o recente relatório do Programa
das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma, GEO 4, 2007), o ano de 2007 é o
primeiro na história da humanidade em que mais da metade da população mundial vive
em cidades.
Tabela VII: População rural e urbana nos municípios considerados da zona de produção
principal de petróleo nos censos demográficos realizados pelo IBGE (em 1960 não houve
censo).
Ano do censo demográfico 1950 1970 1980 1991 2000 Municípios rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana
Armação dos Búzios1 - - - - - - - - - 18.204
Cabo Frio 6.557 9.619 6.699 37.680 12.539 58.416 5.698 79.217 20.591 106.237
Campos dos Goytacazes 154.545 83.088 143.110 175.501 145.062 203.399 64.442 324.667 42.812 364.177
40
Carapebus2 - - - - - - - - 1.791 6.875
Casimiro de Abreu 6.190 1.818 12.803 3.996 8.475 13.696 3.459 30.386 3.815 18.337
Macaé 38.782 16.091 25.380 39.938 20.699 55.152 11.559 89.336 6.454 126.007
Quissamã3 - - - - - - - - 5.975 7.699
Rio das Ostras4 - - - - - - - - 10.276 26.513
São João da Barra 40.355 4.728 45.912 9.707 33.580 21.017 29.770 29.791 8.051 19.631
Fonte: IBGE 1 município emancipado de Cabo Frio em janeiro de 1997. 2 município emancipado de Macaé em janeiro de 1997. 3 município emancipado de Macaé em janeiro de 1990. 4 município emancipado de Casimiro de Abreu em janeiro de 1993.
Tabela VIII – Proporção (em percentagem) das populações urbana e rural de acordo com os
censos demográficos realizados pelo IBGE nos municípios da zona de produção principal de
petróleo.
Ano do censo demográfico 1950 1970 1980 1991 2000 Municípios rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana
Armação dos Búzios - - - - - - - - - 100 Cabo Frio 41 59 15 85 18 82 7 93 16 84 Campos dos Goytacazes 65 35 45 55 42 58 17 83 11 89 Carapebus - - - - - - - - 21 79 Casimiro de Abreu 77 23 76 24 38 62 10 90 17 83 Macaé 86 14 39 61 27 73 11 89 5 95 Quissamã - - - - - - - - 44 56 Rio das Ostras - - - - - - - - 28 72 São João da Barra 90 10 83 17 62 38 50 50 29 71
O impacto ambiental provocado pelo aumento da concentração de população em
alguns pontos do espaço geográfico, em cidades ou em periferias é muito grande. A
concentração da população implica por si mesma, questões ambientais que não se
colocam quando a população está dispersa nas áreas rurais, como lixo, o abastecimento
de água, o saneamento básico. Somado ao fato de já significar em si um impacto
ambiental, o crescimento dessas cidades acontece sem levar em conta um planejamento
urbano que garanta o acesso da população a serviços básicos e a proteção de áreas de
preservação permanente, como restingas, manguezais, encostas e margens de rios e
lagoas, levando a saúde pública a se tornar um problema ambiental. Além disso, o
crescimento das populações em aglomerados urbanos aumenta exponencialmente a
demanda por matéria e energia, e altera as relações espaço-temporais dos ciclos
biogeoquímicos da vida no planeta, configurando uma manifestação concreta dos
efeitos do aumento da entropia (Gonçalves, 2004).
41
Os efeitos desagradáveis são mais percebidos pelos setores menos favorecidos
da população, que habitam áreas mais suscetíveis a riscos e menos assistidas pelo poder
público, e não podem arcar com os custos da moradia em áreas ambientalmente mais
seguras ou beneficiadas por obras mitigadoras de impactos ambientais. Durante as
atividades realizadas, os participantes apontam que as causas dos problemas são quase
sempre relacionadas à falta de planejamento municipal ou, ao desigual investimento das
receitas municipais em obras de infra-estrutura e serviços em relação a diferentes
segmentos da população. Os custos financeiros para garantir as condições ecológicas
básicas de reprodução da vida (coleta de lixo, redes de água e saneamento básico para
milhares de habitantes concentrados) são muito grandes (Gonçalves, op. cit.) e tornam-
se visíveis os sinais de desigualdade e exclusão social no que diz respeito a distribuição
desses investimentos na sociedade. Terra et al (2007) em estudo realizado em Campos
dos Goytacazes, afirmam que os investimentos em obras como saneamento,
pavimentação ou construção de equipamentos públicos não foram alocados nos últimos
anos em áreas sociais menos favorecidas, mostrando que o simples aumento da
arrecadação não é suficiente para que haja políticas sociais mais igualitárias.
Especulação imobiliária
A especulação imobiliária recebe destaque sendo mencionada, sobretudo, no que
diz respeito à questão ambiental. Acreditamos tratar-se de uma questão pertinente na
região, posto que além de ser citada como um impacto, aparece durante a atividade
também como um conflito vivenciado entre empreendedores e ambientalistas e/ou
gestores de Unidades de Conservação (UC) nos municípios de Araruama, Armação dos
Búzios, Arraial do Cabo, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã e Rio das Ostras. Está
vinculada, principalmente, ao uso do solo e espaço motivado pela presença da empresa
na região, tanto para moradia quanto para instalação de outros empreendimentos no
município. Neto & Ajara (2006) sugerem que o crescimento populacional em
municípios como Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Quissamã e São João da Barra, é
explicado pela procura de maior qualidade de vida, fugindo da alta especulação
imobiliária e dos problemas que acometem centros maiores como Macaé e Campos dos
Goytacazes. Outro fato apresentado no mesmo estudo diz respeito à ocupação de áreas
de risco ou áreas protegidas, geralmente pela população de baixo poder aquisitivo que
migra para a cidade em busca de empregos ou ainda para outros bairros mais baratos.
42
A ocupação desordenada da faixa costeira, marcada pela especulação imobiliária
tem dentre seus efeitos o aumento da produção de esgotos, o aterro de manguezais e
lagoas, a ocupação de áreas de preservação permanente, além da “expulsão” dos antigos
moradores com baixo poder aquisitivo, como por exemplo, pescadores, da beira do mar.
Essa “expulsão” pode ser atribuída à aquisição de terras onde se localizavam suas casas
por custos relativamente baixos, e/ou pela valorização da área e conseqüente aumento
na cobrança de impostos, levando-os a procurarem outro local para residirem (Moraes,
2004), causando não apenas impactos nos ecossistemas da região, mas também no meio
socioeconômico, caracterizando uma questão ambiental no seu sentido mais complexo.
Realização de projetos de responsabilidade social
As mudanças políticas e socioeconômicas vividas nos anos 80 resultaram em
fortes conseqüências na esfera social, ampliando as demandas por ações e benefícios
sociais, acompanhadas pela atuação de algumas organizações da sociedade civil que
mostravam preocupação com movimentos ecológicos, pacifistas, humanistas,
movimento contra a fome a mortalidade infantil etc. Esses fatos, que aos fins dos anos
80 resultaram inclusive na própria Constituição Federal, deram início a uma mudança
em relação à atuação do Estado e das empresas, fazendo exigir práticas socialmente
responsáveis e politicamente corretas (Torres, 2005).
Machado Filho (2006) acrescenta que mudanças decorrentes da globalização
levaram à intensificação da informação e à internacionalização dos mercados, induzindo
as empresas a desenvolverem ações buscando manter ou ganhar reputação. Essa
preocupação estaria associada ao fato de que um fator de diferenciação para obtenção de
vantagens competitivas passa a ser, em grande medida, a percepção do público sobre a
reputação da empresa. Torres (op cit) considera o surgimento de uma espécie de
mercado do bem-estar social, motivado pela preocupação em não perder investidores e
consumidores mais ativos e conscientes que podem optar por outra empresa ou marca
considerada ambiental e/ou socialmente mais responsável.
A questão da imagem da empresa vinculada à realização de projetos de cunho
socioambiental é fortemente presente nesses municípios. Mesmo os municípios que não
apontaram esses projetos como impacto (Araruama, Cabo Frio e Casimiro de Abreu),
mencionaram-nos quando responderam sobre as atividades da empresa realizadas nos
43
municípios. Nesse momento da atividade observamos a percepção da Petrobras muito
mais como promotora de projetos socioambientais, cursos de capacitação, parcerias em
projetos municipais ou prestadora de serviços como fornecimentos de combustíveis, do
que como realizadora de uma atividade de exploração potencialmente poluidora.
Para Marín (2003), as chamadas alianças produtivas entre comunidades e setor
privado estão no centro da nova estratégia de controle do capitalismo global,
constituindo uma negociação de interesses com uma forte desigualdade de poderes. Um
exemplo típico recente apresentado pelo autor ilustra essa aliança: os indígenas
Huaorani no Equador, conhecidos por resistirem durante décadas às ameaças de
ocupação de seu território, concederam à empresa transnacional italiana Agip Oil
autorização para construir uma plataforma de exploração de petróleo e um oleoduto na
província de Pastaza. Em troca a empresa se comprometeu a entregar a cada uma das
seis comunidades Huaorani uma sala de aula, um curso de saúde, um rádio, um painel
solar com bateria, 50 kg de arroz, 50 Kg de açúcar, duas latas de óleo, uma sacola de
sal, um apito de juiz e duas bolas de futebol, 15 pratos, 15 copos e um armário com 200
dólares em medicamentos.
Acselrad & Mello (2002) tocam em uma importante questão a ser pensada: a
empresa atua muitas vezes por meio de programas sociais, ou pela oferta de serviços
básicos insuficientemente fornecidos pelo poder público como saúde e incentivos à
educação. Dessa forma, desenvolve laços de lealdade e desmobiliza os segmentos da
população que quase sempre são os primeiros a serem atingidos pelas práticas
poluidoras, mas que dependem desses serviços, programas ou postos de trabalho para
sobreviver. Assim, dissolvem-se conflitos que porventura poderiam vir à tona,
ganhando a empresa, ao contrário, credibilidade e legitimidade junto à população.
Uma das questões respondidas durante as atividades de grupo focal dizia
respeito a se a empresa traria para o município benefícios ou desvantagens. Os
participantes costumavam responder que apesar de trazer impactos negativos como risco
de acidentes, poluição ao ambiente e agravamento da exclusão social, a empresa tinha
sempre a preocupação de realizar projetos de assistência social e ambiental para
minimizar esses problemas. Além disso, mencionaram a importância no que diz respeito
à oferta de empregos e investimentos municipais, justificando e legitimando a atuação
da empresa, suas marcas e produtos. Apenas em São Francisco de Itabapoana e São
44
João da Barra a questão da abrangência desses projetos aparece como um impacto
negativo. Representantes desses municípios observam que raramente estes são bem
divulgados ou atendem às camadas mais pobres da população, fazendo, entretanto, uma
crítica não só ao setor de divulgação da empresa, mas ao funcionamento da
administração municipal (Projeto Pólen, 2007)9.
Apesar de muitas vezes essa atuação das empresas significar melhorias reais
para a população com intervenções benéficas é imprescindível o entendimento de que
estamos falando de ações, discursos e comportamentos de empresas, de atores sociais,
políticos e econômicos que visam maximizar lucro e minimizar custos, e não de
instituições filantrópicas. E que o enfraquecimento das ações sociais e atuação do
Estado na defesa dos direitos dos cidadãos dificulta a garantia de assegurar a
democracia, desmobiliza organizações da sociedade civil e reforça o poder do capital
privado, e as mazelas a ele inerentes, sobre a vida na sociedade.
Qualidade de vida
A mudança na qualidade de vida foi percebida com impacto relacionado a
chegada da indústria do petróleo na região. Nos municípios de Araruama, Armação dos
Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São
Francisco de Itabapoana, os participantes comentaram que a empresa traz melhorias
para a qualidade de vida. Na maioria deles esta melhoria está associada a obras de infra-
estrutura e outros investimentos gerados pela indústria petrolífera, principalmente nos
grupos estatais, provavelmente devido ao fato de seus participantes serem vinculados à
administração municipal, que recebe e faz a gestão dos recursos.
Em Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Macaé e Quissamã, foi mencionada a
diminuição na qualidade de vida após a chegada da Petrobras na região, associada ao
aumento do custo de vida, a segregação sócio-espacial e a poluição gerada.
A questão da qualidade de vida parece estar relacionada à posição
socioeconômica do participante, pois para aqueles que têm qualificação e oportunidades
de bons empregos na empresa, a presença da Petrobras no município traz melhorias, já
9 Esses dados foram compilados em relatório semestral referente ao diagnóstico socioambiental realizado pelo Projeto Pólen nos municípios em questão. O relatório encontra-se disponível para consulta ([email protected]).
45
que esses passam a ocupar empregos formais com boa remuneração e residem em
bairros valorizados nos municípios. Entretanto, para as camadas menos favorecidas da
população, que têm menos oportunidades de empregos e passam a ocupar espaços
menos valorizados, a empresa não traz muitos impactos positivos diretos, sendo mais
comuns as falas em relação a projetos para o município.
Prejuízos para a pesca
Em geral, estão relacionados à influência direta da exploração do petróleo e
alteração no pescado, seja pelo risco de acidentes e vazamentos, ou em relação à área
delimitada para a pesca junto às plataformas de petróleo, que corresponde, segundo
determinação legal, a um raio de 500m em torno da plataforma. Observamos que no
RIMA apresentado ao órgão regulador/fiscalizador (Ibama) e à sociedade relativo ao
empreendimento do Campo de Espadarte (Petrobras, 2002), a atração de peixes para as
imediações das plataformas, seja por sua própria estrutura que possibilita incrustação de
organismos num ambiente originalmente oligotrófico, ou pelo descarte de resíduos
orgânicos, é classificada como um impacto positivo.
Os pescadores, entretanto são proibidos de se aproximar e reclamam do
deslocamento do pescado para a área de exclusão para a pesca, que interfere no
tradicional conhecimento da rota desses animais, informação há muitas gerações
utilizada por esse grupo social. Cabe observar que na Bacia de Campos, em 2007, havia
45 plataformas em operação10, o que resulta numa expressiva área de exclusão, ainda
ampliada pelo grande número de embarcações em trânsito na região. Moraes (2004)
argumenta que uma determinada área que concentra parte dos campos de exploração
loteados pela Agência Nacional do Petróleo, entre os paralelos 22 e 23º S, coincide
justamente com a área de maior produção de pesca de linha entre 1986 e 1995, mas é
atualmente uma das áreas de exclusão para a pesca. Berkes (1999) considera que assim
como na ecologia animal o território para algumas espécies constitui um importante
aspecto para a manutenção da vida, em algumas culturas humanas, como os pescadores,
esse conceito pode ser aplicado, inclusive no que concerne à luta para preservá-lo. De
fato, observamos durante as atividades de grupos focais conflitos que dizem respeito a
10 www.petrobras.com.br acessada em 12 de dezembro de 2007.
46
“invasões” de pescadores à área proibida para pesca na Bacia de Campos, também
mencionados por Moraes (2004) (Projeto Pólen, 2007).
Em São Francisco de Itabapoana e Macaé, a ausência do pescado foi
relacionada, pelos participantes, ao trabalho de sísmica realizado previamente durante a
prospecção das reservas. Para os representantes desses municípios, as detonações têm
interferência no comportamento dos cardumes, afastando-os da rota normal, além de
relacionarem o desaparecimento de cardumes com a atividade. Vilardo (2007), após
realizar revisão bibliográfica sobre o assunto, conclui que dentre os principais impactos
ambientais relacionados às atividades de sísmica estão a interferência em
comportamentos biológicos importantes como acasalamento e desova em peixes,
cetáceos e quelônios, além da interferência na pesca artesanal de baixa mobilidade,
principalmente no que diz respeito à restrição de acesso aos pesqueiros tradicionais.
A chegada da indústria petroleira modificou o que antes era a forma de
subsistência e resistência dessas comunidades, fazendo com que os pescadores,
especialmente os mais jovens, sejam atraídos aos trabalhos da exploração de petróleo,
que não só os aprisiona no sentido da dependência da empresa para conseguir sustento
mas distorce sua cultura, diminui o tempo e o espaço com suas famílias, destruindo a
identidade e diminuindo a diversidade ambiental, cultural e biológica, do nosso planeta.
Prejuízos para o turismo
A região estudada é uma faixa litorânea extensa e de regiões montanhosas,
compreendendo municípios que pertencem à macro-região das baixadas litorâneas, que
inclui as micro-regiões dos Lagos e da Bacia do Rio São João, e a macro-região norte
fluminense, que inclui as micro-regiões de Macaé e Campos dos Goytacazes (Fundação
CIDE, 2005). Essa extensão de terra, pertencente ao domínio da Mata Atlântica, é
formada por um mosaico de diferentes formações vegetacionais como floresta pluvial
de encosta e de baixada, manguezais, desembocadura de rios, praias, restingas e lagoas
costeiras, alta biodiversidade (Myers et al, 2000) e belíssimas paisagens.
O turismo é, assim, uma das atividades importantes nos municípios da área de
influência dos empreendimentos da Petrobras na Bacia de Campos. Entretanto, com a
chegada da empresa à região, há alteração da paisagem gerada pela instalação de
47
estruturas da indústria do petróleo e gás, como o complexo industrial e portuário
localizado na praia de Imbetiba em Macaé; o parque de Tubos nas imediações da Lagoa
Imboassica e o terminal de Cabiúnas também em Macaé; os dutos que passam por
diversos pontos de diversos municípios; as plataformas em manutenção à vista da costa
em Macaé e Arraial do Cabo e o intenso trânsito de embarcações.
Além da poluição visual, há o problema já mencionado da especulação
imobiliária, que exerce pressão, sobretudo, sobre os ecossistemas costeiros, áreas de
preservação permanente e, quase sempre de grande beleza, como restingas, praias,
manguezais e rios. Esses fatores, aliados ao risco de um acidente de derramamento de
óleo, podem descaracterizar o principal objeto motivador do fluxo turístico na região,
trazendo conseqüências econômicas e sociais indesejáveis. Entretanto, não poderíamos
deixar de ressaltar que a indústria do turismo também exerce pressão no que diz respeito
à ocupação de faixas costeiras e à especulação imobiliária.
Notamos durante a atividade que os moradores nativos da região que, via de
regra, pertencem a segmentos sociais menos favorecidos, vêem a chegada da empresa
como promotora de serviços que não são cobertos pelo Estado com a geração de
empregos e os projetos de responsabilidade social. Os moradores que defendem o
potencial turístico da região e colocam-se contra a indústria do petróleo são, quase
sempre, migrantes, muitas vezes estrangeiros, que ao chegarem no município constroem
pousadas e estabelecimentos comerciais de luxo que atendem somente aos turistas
vindos de outras regiões do Brasil e do mundo. Assim, percebemos que a percepção dos
impactos gerados e a relativização de seus benefícios ou desvantagens são carregadas
dos valores culturais e da posição socioeconômica que os cidadãos ocupam na
sociedade.
Em Arraial do Cabo, os participantes colocaram-se contra a transformação do
porto do Forno, localizado dentro da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo
(ResEx), em um porto para atividades offshore no município. Na ResEx há atividades
de extrativismo pesqueiro e de mariscos e atividades de turismo e mergulho, que já
apresentam entre elas algum grau de conflito, segundo relatos de gestores, públicos ou
não, desse município. A transformação do porto para abrigar atividades da indústria
petrolífera oferece ameaças tanto aos que vivem do extrativismo, como do turismo e
mergulho, por motivos já discutidos anteriormente, como riscos de acidentes,
48
contaminação das águas e ecossistemas costeiros e formação de áreas de exclusão,
como também para gestores ambientais, já que o porto está inserido na área de uma UC,
constituindo assim mais um motivo de conflito na região, ou melhor dizendo, mais um
ponto de conflito por motivos já conhecidos.
Outros impactos mencionados
Além dos considerados acima, apareceram durante as atividades impactos
mencionados em apenas um município. São eles: a certeza da qualidade do combustível,
em Araruama; o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas, em Arraial do Cabo; o
desenvolvimento de pesquisas científicas e o conhecimento, a mobilização e o capital
social em Casimiro de Abreu; a crise levando à criação de UCs, em Macaé; e a
valorização da mão-de-obra, em Campos dos Goytacazes, que de alguma forma, já
foram discutidas ao longo desse trabalho.
Considerações sobre os impactos mencionados
A instalação da Petrobras promove a movimentação da economia na região por
investimentos atraídos direta ou indiretamente pela indústria do petróleo, ou pela
arrecadação de royalties, engordando as receitas governamentais. Esse fato contribui
para a geração de empregos nesses municípios, que atrai migrantes acelerando o
crescimento da população e das cidades, trazendo consigo problemas que vão desde o
aumento da segregação sócio-espacial e desigualdade social no acesso a recursos e
serviços até a geração de impactos ambientais. Muitos desses impactos mostram-se
expressivamente indissociáveis do processo social de urbanização, e se refletem em
fortes desigualdades sociais.
Os benefícios e custos trazidos pela exploração do petróleo não são distribuídos
de forma igualitária na população. Essa questão é visível especialmente no que se refere
à definição dos locais em que serão alocados os bens públicos e as atividades produtoras
de externalidades negativas, ou construções como hospitais, escolas, depósitos de lixo
etc, que ao mesmo tempo em que produzem benefícios sociais difusos, concentram
custos em uma parcela da sociedade (Fuks, 2001).
49
A distribuição de benefícios e custos socioambientais gerados pelo
desenvolvimento da indústria do petróleo na região parece estar relacionada à condição
socioeconômica da população. Observamos que para determinados grupos houve
incremento na qualidade de vida, enquanto que para outros prevaleceu a perda de
qualidade de vida. Diante dos problemas gerados, associados à ausência de políticas
públicas sociais que garantam acesso a água potável e saneamento básico, atendimento
médico, educação e cultura, surgem os projetos de responsabilidade social empresarial.
Tais projetos passaram a ocupar o espaço que na verdade, numa perspectiva
democrática, cabe ao Estado: assegurar os direitos civis e sociais da população. Torna-
se notável o fato de que alguns desses municípios hoje sobrevivem economicamente
dependentes da empresa, que representa importante fonte de recurso para o governo
local (Serra, 2005). Estes governos fazem sua gestão com pouca transparência, sem
controle social e, portanto, sem definição pública e democrática das prioridades de
investimentos. Esse fato reproduz uma dinâmica social que favorece os interesses
privados em função da apropriação do Estado por certos grupos e frações de classe que
se beneficiam com a fragilidade da esfera pública em sociedades desiguais e com baixa
tradição de participação política.
Comparando nossos resultados com os impactos previstos no Relatório de
Avaliação Ambiental da plataforma P-47 (Petrobras, 2003) e no Relatório de Impactos
Ambientais do campo de Espadarte (Petrobras, 2002), observamos que existem
coincidências (quadros III, IV e V). A geração de empregos, o desenvolvimento
econômico regional e nacional e a arrecadação de royalties figuram como impactos
relacionados ao desenvolvimento da indústria petrolífera também nesses relatórios.
Entretanto, a promoção de projetos de responsabilidade social não é interpretada pelos
estudos encomendados pela empresa como um impacto, apesar de terem sido bastante
mencionados como tal nos grupos focais realizados. O risco de acidentes marítimos, a
pressão sobre a infra-estrutura urbana e social, a exposição da população a riscos e
acidentes, a aceleração da expansão do espaço urbano, a intensificação do movimento
migratório, o derrame de óleo com prejuízo para a pesca e contaminação ambiental, e os
problemas de saúde ocupacional são impactos também presentes nos estudos. Por outro
lado, não foram relatados nos grupos focais impactos como contaminação por fluidos de
perfuração, descarte de efluentes sanitários e restos orgânicos pelas plataformas,
revolvimento de sedimento, riscos de acidentes marítimos, incremento do tráfego
50
aquaviário e outros que parecem ser mais presentes nas imediações das plataformas de
exploração. Como esses empreendimentos na Bacia de Campos estão mais concentrados
em águas profundas a aproximadamente 160 Km da costa, esses tipos de impactos não
são de fácil percepção e conhecimento da população.
Quadro III: Impactos apresentados nos relatórios11 de estudos de impactos apresentados pela
Petrobras e apresentados também nas atividades de grupos focais.
Estudos apresentados pela Petrobras e grupos focais
Geração de empregos
Arrecadação de royalties
Risco de acidentes marítimos
Pressão sobre infra-estrutura urbana e social
Exposição da população a riscos e acidentes
Aceleração da expansão do espaço urbano e intensificação do movimento migratório
Emissões atmosféricas na queima de gás natural e outros combustíveis
Derrame de óleo com prejuízo para a pesca
Contaminação ambiental
Problemas de saúde ocupacional
Interferência nas atividades pesqueiras
Quadro IV: Impactos apresentados somente nos relatórios de estudos de impactos apresentados
pela Petrobras.
Somente nos estudos apresentados pela petrobras
Contaminação por fluidos de perfuração
Descarte de efluentes sanitários e restos orgânicos
Revolvimento do sedimento
Produção de cascalho e morte do bentos
Incremento do tráfego aquaviário
Alteração da temperatura das águas marinhas por descarte de água de resfriamento
Contaminação de água, sedimentos e biota marinhos por resíduos oleosos de água de lavagem
11 Relatório de Avaliação Ambiental da plataforma P-47 (Petrobras, 2003) e Relatório de Impactos Ambientais do campo de Espadarte (Petrobras, 2002).
51
Quadro IV: Impacto apresentado somente nas atividades de grupos focais realizadas.
Somente nos grupos focais
Promoção de projetos de responsabilidade social
Parece não haver também nesses estudos uma visão mais integrada dos impactos
gerados pela atividade de exploração de petróleo. Vemos a preocupação, definida por lei
(Resolução Conama nº 001/86) de se montar uma equipe multidisciplinar que levante os
possíveis impactos ambientais e no meio sócio-econômico. Todavia, desde os próprios
termos de referência apoiados pela mesma resolução e que balizam os estudos até
relatórios que são escritos, pesquisadores das ciências naturais levantam os impactos
ambientais, enquanto pesquisadores das ciências humanas relatam os possíveis impactos
no meio sócio-econômico. Até aqui não seria um grave problema, se após os
levantamentos houvesse um estudo relacionado, dialógico, ou um entendimento entre os
diferentes pesquisadores, o que não parece acontecer. Se analisarmos alguns desses
relatórios e estudos veremos que os impactos não se relacionam, ficando muitas vezes
incompletos, sem apresentar a realidade complexa por trás das diferentes áreas de
produção do conhecimento.
Percebemos a complexidade do que chamamos impacto ambiental. Percebemos
o quão estreitas são as relações entre os diferentes efeitos mencionados, sugerindo que
os impactos ambientais devem ser vistos numa perspectiva mais complexa, levando-se
em conta o contexto social em que estamos inseridos. Apesar de considerarmos
impactos causados pelas atividades humanas, como fogo, desmatamento, inundações e
desvios de rios, não consideramos as motivações culturais, políticas e econômicas das
decisões que levam a esses impactos. É necessário que haja diálogo entre nós ecólogos e
os cientistas sociais, físicos, geógrafos, historiadores, antropólogos, no intuito de
entendermos melhor as relações que se dão na complexidade do mundo real, do qual
fazemos parte. Sugerimos que estudos que pretendem identificar e mitigar impactos
ambientais gerados pelas atividades humanas sejam executados sob uma perspectiva
que favoreça a aptidão para relacionar os diferentes conhecimentos, inserindo-os em seu
contexto. Estudos que integram os conhecimentos da ecologia e os sistemas sociais
devem contribuir para o encontro de alternativas para a gestão de recursos naturais
(Berkes, 1999). Há intrínseca relação entre as conseqüências ecológicas das decisões
52
governamentais e as conseqüências sociais das intervenções ecológicas. Do conceito de
ecossistema emergem características como conectividade, adaptabilidade, integração e
complexidade. Um novo paradigma da ciência ecológica que considera a Terra como
um sistema de relações interconexas inclui o homem na rede viva desses sistemas,
tornando importante entender não só os fluxos de matéria e energia e a composição
específica, como a estrutura e o funcionamento desses sistemas são influenciados pelo
comportamento humano, suas ações institucionais e infra-estrutura construída (Pickett et
al, 2004).
Considerações finais
A partir da análise das respostas dadas por moradores dos municípios em que
atuamos e da vivência proporcionada pelo Projeto Pólen, percebemos que impacto
ambiental não é somente resultado de uma ação sobre o ambiente, mas relação de
mudanças sociais e ecológicas em movimento. Assim, condições ecológicas alteram as
condições culturais, sociais e históricas, e são por elas transformadas.
A utilização dos ecossistemas é guiada pela política de cada sociedade, por suas
prioridades e formas de desenvolvimento. Conhecer os aspectos ecológicos é essencial
para pensar intervenções a fim de utilizar, preservar ou recuperar os ecossistemas que
sofrem pressão pela forma de vida das sociedades humanas. E entender as razões e
relações políticas, dinâmicas espaciais, social e economicamente definidas, é
imprescindível para a efetividade das políticas de preservação dos sistemas naturais.
Essas só terão realmente efeito se forem consolidadas como políticas públicas, levadas
como prioridades nas agendas governamentais e garantida a participação democrática
dos cidadãos envolvidos.
Dessa forma, é importante conhecer de que forma os impactos de um
empreendimento são percebidos pela população que atua no local onde o mesmo será
desenvolvido. Acreditamos que estudos que integrem esse componente nas avaliações
de impactos ambientais podem contribuir para o encontro de melhores alternativas para
a gestão de recursos naturais no planeta.
53
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61
Anexo 1 O quadro abaixo mostra, na íntegra, as respostas escritas nas tarjetas sobre os
impactos gerados pelas atividades da Petrobras relatadas durante as atividades de grupo
focal por município e pó atividade realizada.
Quadro 1: Respostas escritas pelos participantes sobre os impactos gerados pelas indústria do
petróleo durante as atividades de grupo focal realizadas.
Município Grupo focal Estatal Grupo focal não-Estatal
Araruama
• geração de empregos; • contribuição na
formação do professor;
• sustentabilidade financeira e econômica da região; certeza da qualidade do combustível;
• perspectiva de gerar projetos novos;
• geração de empregos; • facilidades por ser
uma cidade perto do local de exploração;
• exportação de mão-de-obra qualificada;
• melhoria na qualidade de vida;
• aumento dos royalties;
• desenvolvimento econômico;
• crescimento populacional, migração;
• crescimento desordenado;
• risco de acidentes; • a não utilização do
município como base de escoamento de petróleo quando a exploração acabar;
• onde existe desenvolvimento, existirá também a violência.
Não foi realizado.
62
Arraial do Cabo
• pesquisas tecnológicas;
• capacitação de agentes no fomento da política de Educação Ambiental;
• responsabilidade socioambiental;
• projeto de leitura; • empregos; • incentivos à
qualificação voltada para a área;
• poluição de praias e do costão rochoso;
• falta de compensações financeiras;
• lucros cessantes da pesca e do turismo;
• perda da qualidade de vida;
• atividades de risco no centro da cidade;
• instalação de pequenas industrias na cidade visando empregar a população local;
• financiar um trabalho ou um projeto que atue profundamente na proteção ecológica na cidade;
• educação e tecnologia, cursos técnicos, curso de especialistas e cursos de petróleo;
• investimentos na área de SMS (segurança, meio ambiente e saúde), principalmente saúde do trabalho e meio ambiente;
• projetos; • educação ambiental e
projeto mosaico e projeto de pesca e maricultura;
• transformação da cidade em um porto off-shore acabando com a visão de cidade turística e natural;
• impactos sobre a pesca artesanal, o meio ambiente como um todo, o turismo e o lazer;
• a entrada de organismos exóticos;
• o incremento populacional;
• o crescimento vertical;
• o aumento dos problemas sociais;
• a qualidade de vida decai;
• riscos de vida; • a maricultura fica
inviável
63
• formação continuada de professores;
• implementação de atividades de leitura;
• conscientização; • investimento em
educação ambiental gerando conscientização;
• contribuição com projetos de reciclagem;
• tudo relativo a educação ambiental;
• reciclagem de resíduos;
• emprego; • coloca o Brasil no
mercado internacional;
• financiadora de projetos ambientais;
• royalties; • risco de vazamentos,
catástrofes; • ainda explora em
grande quantidade combustíveis fósseis;
• poluição ambiental; • baixa qualidade de
vida; • possibilidade de um
desastre ecológico; • desastre ecológico
em caso de acidentes/vazamentos
• desconhecidos; • projetos futuros; • pouco impacto
positivo; • nenhum impacto; • o poder federal da
petrobras pode gerara leis positivas para o uso dos royalties;
• não tem impacto em búzios até o momento nem positivo nem negativo, algumas ruas calçadas (talvez);
• eventos: gerar dinheiro; gerar emprego;
• ressaltamos o vazamento de óleo nas praias e prejuízos para a pesca;
• eventos: barulho, trânsito; dorgas;
• postos de gasolina: poluição do ar, trânsito, barulho;
• cabide de empregos na prefeitura (emprego de royalties);
• derramamento de óleo;
• nenhum impacto; • poluição leva a
extinção.
Armação dos Búzios
Cabo Frio
• melhorias em infra-estrutura;
• emprego x desemprego;
• geração de multiplicadores ambientais;
• empregos; • royalties; • procura por
profissionalização; • expectativa positiva a
•
64
médio prazo; • contribui no
saneamento básico do município;
• social e cultural; • poluição; • desmatamento; • possibilidade de
acidentes ambientais; • emprego x
desemprego; • alteração de
ecossistemas vizinhos;
• poluição ambiental; • acidentes; • estresse ambiental; • não oportunizar os
nativos na participação da empregabilidade.
65
Campos dos Goytacazes
• educação e conhecimento, conscientização, socialização, saúde, preocupação com as futuras gerações;
• empregos; • impacto sócio-
cultural; • crescimento
habitacional; • criação de heliporto; • afastamento dos
jovens das ruas e das drogas;
• conscientização e preservação do meio ambiente;
• incentivo à leitura possibilitando maior conhecimento;
• geração de renda; • melhro qualidade de
vida; • preocupação com as
futuras gerações (fim da exploração);
• impacto político; • crescimento
habitacional; • mudança nos
ecossistemas marinhos/ costeiros;
• cultural (leia Brasil, Mova, capacitação de professores);
• econômico, exploração de petróleo;
• distribuição de royalties;
• formação de NEAs (núcleo de educação ambiental);
• benefícios na educação;
• exportação e desenvolvimento, crescimento do país trazendo benefícios para o Brasil;
• ampliação no nível de qualificação de professores;
• geração de trabalho e renda;
• royalties e financiamento da reforma de infra-estrutura da cidade;
• exploração/ uso de mão-de-obra;
• projetos socioambientais;
• poluição; • Petrobras causa
destruição na fauna aquática em caso de desastre ecológico;
• poluição do ar com a queima de combustíveis;
• poluição nos rios e mares;
• derramamento de óleo e acidentes;
• esgotamento de jazidas;
• agressão a comunidade de peixes;
• poluição de águas oceânicas;
• aumento da poluição das vias.
66
Carapebus
• aspecto econômico; • oportunidades de
emprego; • movimentação da
economia; • empregos; • capacitação de
multiplicadores em educação ambiental;
• renda comercial; • impacto ambiental; • degradação do meio
ambiente; • transporte de
máquinas pesadas; • risco à população; • degradação do meio
ambiente pela passagem de dutos;
• riscos ambientais ao meio ambiente e à população;
• capacitação de professores e outros profissionais;
• incentivo à leitura; • movimentação
comercial; • repasse de royalties; • preocupação com o
meio ambiente e o projeto leia Brasil e todos os eventos culturais;
• royalties – impacto positivo e negativo;
• reuniões sobre meio ambiente;
• teatro mambembe, reunião da comunicação social;
• renda familiar e palestras em escolas e outros lugares;
• vazamento no mar; • royalties – impacto
positivo e negativo.
Casimiro de Abreu
• geração de empregos; • cursos de capacitação
para formação ou aprimoramento de profissionais;
• mobilização, capital social;
• pesquisas científicas; • auto-suficiência em
petróleo; • patrocínio de eventos
culturais e esportivos;
• apoio a educação, refletindo-se diretamente na cultura;
• poluição; • crescimento
desordenado do município ou da região;
• alto índice de criminalidade;
• impacto ambiental
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gerado pela própria atividade;
• crescimento desordenado de municípios vizinhos;
• impacto ambiental; • interesses políticos
acima dos interesses sociais;
• monopólio do petróleo.
Macaé
• desenvolvimento econômico;
• oportunidade de emprego;
• aumento de emprego e renda;
• pagamento de royalties;
• cresimento da rede hoteleira;
• investimentos em infra-estrutura, saúde, esportes, educação etc;
• econômico: geração de empregos;
• sociais: projetos de responsabilidade ambiental;
• ambientais: investimentos em projetos de preservação;
• tomada de consciência, melhoria dos processos educacionais;
• retomada do conceito de desenvolvimento;
• oportunidade de transformação, mais recursos financeiros para ações básicas em saneamento;
• crise levando a criação de Ucs;
• arrecadação de tributos para o
• desenvolvimento econômico;
• provisão de sustentabilidade futura (royalties);
• aquecimento do mercado;
• ofertas de serviços; • atração de comércio
diversificado; • incremento geral da
economia; • potencial sócio-
econômico favorável; • trabalho. • consumo de água,
lançamento de resíduos;
• especulação imobiliária;
• diminuição da qualidade de vida;
• meio ambiente; • crescimento
demográfico acelerado;
• custo de vida; • divulgação do nome
da cidade; • captação desordenada
da água do rio Macaé;
• poluição das águas; • impactos sobre a
pesca; • impactos sobre
ecossistemas marinhos e terrestrees;
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município; • apoio a projetos
sociais; • migração excessiva
de pessoas dando origem a problemas sociais;
• perda da identidade cultural;
• degradação ambiental;
• adensamento urbano/rural;
• pauperismo e desfiliação;
• adoecimentos físicos e mentais;
• violência; • poluição de diversos
níveis; • dominação e pressão
sobre as atividades relacionadas aos recursos naturais renováveis;
• dependência fiscal dos municípios sobre os tributos relacionados;
• concentração de renda e desigualdade social;
• destruição dos meios futuros de sobrevivência das comunidades;
• vazamentos de derivados da exploração na costa litorânea;
• crescimento populacional;
• aumento da violência e do trânsito;
• violência gerada pelas pessoas que ao chegarem em Macaé sem qualificação ficam desempregadas e o aumento do
• migração humana descontrolada;
• perda da praia de Imbetiba;
• trânsito caótico; • vinda de mão-de-
obra desqualificada; • propaganda enganosa
– emprego + assalto.
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tráfico de drogas que busca a cidade pelo lado financeiro;
• econômicos: custos de vida;
• sociais: bolsões de pobreza;
• risco de vazamentos, explosões (óleo e gás);
• riscos químicos; • impactos ambientais; • super exploração dos
recursos naturais; • falta de medidas
compensatórias ao patrimônio natural do município;
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Quissamã
• recursos e compensações;
• possibilidades de investimento;
• geração de empregos; • melhora circulação
de riquezas; • aumentam as vendas
do comércio; • crescimento sócio-
econômico; • geração de renda/
empregos; • melhorias na saúde,
educação, infra-estrutura;
• formação e capacitação profissional;
• royalties; • projetos sociais; • com o pagamento de
royalties, e havendo um planejamento, o município tende a ter um desenvolvimento diferenciado de outros municípios;
• melhorias nas rodovias;
• palestras educativas sobre segurança, oportunidade de emprego e royalties para o município;
• desenvolvimento do mercado econômico com a chegada de mais consumidores;
• maior volume financeiro circulando;
• vantagens das arrecadações de impostos para o município;
• desenvolvimento urbano
• impactos ambientais e sociais;
• possibilidade de acidentes;
• custo de vida; • aumentam a
violência, ao final das atividades fica a
• obras – casas populares;
• qualidade de vida, até que ponto?;
• mantém quissamã; • royalties; • arrecadação,
proporção maior de benefícios;
• multinacional no país, tudo mais barato, não consigo ver desvantagem;
• emprego; • tudo é benefício; tem maior produtor de petróleo no país, emprego; • aumento expressivo
do trânsito de cargas no perímetro urbano, transformação da cidade em um canteiro de obras por passagem do gasoduto;
• crescimento desordenado da população (violência);
• danos, obras mal feitas;
• dependência dos royalties;
• vazamento no parque;
• aumento da população na cidade = problemas, prostituição, falta de fiscalização;
• aumento do esgoto, de carros na rua, de favelas e mananciais aterrados;
danos ambientais.
Rio das Ostras
• geração de renda e emprego;
• projetos educacionais e cultuais;
• royalties + melhoria de infra-estrutura e maior oferta de empregos;
• implementação das atividades socioambientais e educacionais;
• conscientização ambiental;
• desenvolvimento cultural;
• sócio-cultural (patrocínio de atividades);
• danos à flora, fauna terrestre e marinha;
• riscos de acidentes; • crescimento
populacional; • pressão sobre
ambientes naturais; • falta de planejamento
ambiental (nas cidades);
• social; • sócio-cultural; • explosão
demográfica; • poluição; • impacto ambiental na
colocação de dutos; • risco de acidentes
ambientais.
•
São Francisco de Itabapoana
• geração de trabalho e renda;
• inclusão social; • promoção de
atividades culturais; • sócio-econômicos e
sócio-culturais; • empregos; • projetos sociais –
investimentos – treinamento;
• valoriza a mão-de-
• progresso; • projeto mosaico de
geração de renda; • projeto Tamar –
proteção a extinção de tartarugas;
• projeto Gasoduto, geração de emprego;
• projeto Jovens Aprendizes – ajuda na renda familiar;
• cultura;
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obra aumentando a auto-estima;
• ambiental: pesquisas sísmicas;
• na atividade de sondagem sísmica – impede a pesca artesanal por conta de explosões;
• Jovem Aprendiz: discriminador e não tem continuidade na profissão;
• derramamento de óleo.
• formação de adolescentes;
• gosto pala leitura e desenvolvimento na aprendizagem.
São João da Barra
• geração de empregos. • 70% das dotações orçamentárias do município provêm dos royalties do petróleo;
• conscientização, educação de quem participa dos projetos ajudando na preservação do meio ambiente;
• verba para a cidade; • projetos são
efetuados; • inclusão de crianças e
adolescentes no período de férias escolares (projeto Botinho);
• quando derrama óleo no mar;
• não são divulgados os projetos;
• prejudica bastante a atividade pesqueira que é a base econômica significativa do município;
• o projeto Tamar não é atuante no município, existem outros projetos que poderiam estar em atividade;
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• poluição devido a exploração de petróleo (derramamento de óleo...);
• falta de divulgação dos projetos.
Saquarema
• qualificação aos profssionais da Educação;
• a descoberta pelo gosto da leitura, mais acessibilidade a leitura (Leia Brasil);
• acesso a cultura através do teatro;
• projetos de capacitação;
• criação de um núcleo de Educação Ambiental no município;
• royalties para o município;
• formação educacional;
• melhores condições de trabalho para pescadores;
• conhecer os benefícios do meio ambiente da região;
• na área financeira e na mão de obra.
• • riscos de acidentes
envolvendo combustíveis derivados do petróleo;
• desastre ecológico em conseqüência de vazamento de petróleo;
• emissão de poluentes através de combustíveis;
• plataformas de petróleo excluem pescadores dos
• projetos Peispa: capacitação e cursos de melhoria da família dos pescadores, ótimo por auxiliar a população e a comunidade dos pescadores;
• projeto Biblioteca Volante: sementinha muito lenta, cultural;
• projeto Botinho: de Educação Ambiental e informação marítima e atividades recreativas no verão nas praias,
• projeto Seletiva Petrobras de Surf: turismo, gera emprego e atrai o turista de fora, protege o município e ajuda o meio ambiente;
• projeto AP: disseminar conhecimento;
• projeto Pólen: ta andando, início das atividades de criação de núcleo ambiental na cidade.
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arredores; • vazamento de
combustíveis; • atração de mão-de-
obra de outras regiões e conseqüentes implicações de saúde.
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