87
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA PETRÓLEO E GÁS NA BACIA DE CAMPOS (RJ): PERCEPÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PELA POPULAÇÃO. Juliana Marsico Correia da Silva Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro para obtenção do título de mestre em Ecologia. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Luiz Bozelli Rio de Janeiro - RJ Julho de 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

  • Upload
    lyngoc

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

PETRÓLEO E GÁS NA BACIA DE CAMPOS (RJ): PERCEPÇÃO DOS

IMPACTOS AMBIENTAIS PELA POPULAÇÃO.

Juliana Marsico Correia da Silva

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro para obtenção do título de mestre em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Luiz Bozelli

Rio de Janeiro - RJ

Julho de 2008

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Ficha Catalográfica

Marsico, Juliana

Petróleo e gás na Bacia de Campos (RJ): percepção dos impactos ambientais pela

população.

Dissertação de Mestrado – Departamento de Ecologia, UFRJ, 2008, 75p.

Palavras-chave: 1. impactos ambientais 2. petróleo 3. ecologia 4. grupos

focais 5. Bacia de Campos (RJ)

ii

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

“Energia nuclear, o homem subiu à lua.

É o que se ouve falar, mas a fome continua.

É o progresso, tia Clementina, trouxe tanta confusão...

Um litro de gasolina por cem gramas de feijão.

Não vadeia Clementina.

Fui feita pra vadiar...

Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar...

Cadê o cantar dos passarinhos?

Ar puro não encontro mais não.

É o preço que o progresso paga com a poluição.

O homem é civilizado, a sociedade é que faz sua imagem.

Mas tem muito diplomado que é pior do que selvagem.

Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar

Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar...”

Partido alto de Clementina de Jesus e Clara Nunes.

“as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”

Paulinho da Viola, Coisas do Mundo.

iii

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Agradecimentos

À mamãe e ao papai. Ao Daniel e à Rosa. Pessoas em que me inspiro sempre. Meus

guias e maiores referências. Agradeço-os por tudo o que eu sou hoje. Pelo apoio, por

serem sempre terreno firme e fértil pro meu crescimento, por dialogarem sempre e por

gerar amor, respeito e coragem. Por entenderem a ausência em tantos momentos e por

estarem por perto em muitos outros. Por tudo o que eu consegui buscar até hoje. Porque

mesmo depois de grande, trago a essência do que vocês me ensinaram a ser. Amo vocês.

Aos irmãos Nanda e Dani pelo amor, carinho e apoio. Por fazerem parte da minha vida,

do meu crescimento e serem motivos pra continuar sorrindo sempre. Amo vocês.

Ao Guga, por trazer felicidade sem tamanho com o aumento da família.

Ao Lucas e ao Miguel, que me inspiram a vida e trazem prazer em estar por aqui.

Ao tio Nande e tia Íris, Amanda e Aline pelo carinho, torcida e ajuda no processo.

À Aninha, minha irmã, cúmplice e companheira no dia-a-dia, na vida, por ser assim

shock de monster. Pelas conversas e pelas risadas diárias que levam a luz do holofote

pro céu!!! Por agüentar os momentos de agitação nos últimos meses e ajudar a trazer

pro centro. Aprendi e cresci muito contigo. Te amo, irmãzinha!!

À Jô, por abrir os horizontes com as conversas intermináveis, nas horas de estrada na

BR 101 e em outros momentos. Conversar contigo sempre me traz luz. Te amo, menina!

E viva o trio calafrio! Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora.

Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar a minha qualidade de vida. Te amo!

Ao Reinaldo, orientador querido. Pelas oportunidades que sempre abriu, pelo cuidado,

por conseguir enxergar que há alguém além de aluna e profissional aqui. Por dar terreno

pra formação e participar do meu crescimento não apenas profissional. Pela confiança

no trabalho e pelo apoio de sempre.

Ao Alê, pela cumplicidade. Pelo incentivo, bom-humor, pelas besteiras que me faziam

rir quase o dia inteiro, pelo companheirismo e pelo carinho. Por fazer parte do

descobrimento.

iv

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

À Laísa pela amizade, apoio e constante lembrança do meu trabalho trazendo textos,

idéias, perguntas, pronta pra ler e palpitar sempre, principalmente com a importante

metodologia.

Ao Fábio Alves, por me ajudar a entender os grupos focais. E pelas conversas e risadas

durante as horas de BR-101.

Aos sempre polinizadores Alê, Laísa, Reinaldo, Aline, Marcela, Ana, Titi, Sandra,

Rose, Monique, Paula, Thais, Fabio, Rafa Curcio, Lulu, Jô, Patrícia, Patrick, Serginho,

Rafa Costa, Marta, Vivi, Carla, Alessandro, Baiano, Diego, Jamile, Carol, Américo, Sol,

Luciana, Claudinha e Fred. O que eu apresento nas próximas páginas está impregnado

do trabalho de vocês e de todas as conversas. Aos outros 40 polinizadores, que sempre

motivaram o trabalho e trouxeram muita ajuda com a experiência nos municípios que

começo a conhecer. Aos motoristas da Vix, pelo transporte, papo na estrada e paciência.

Aos companheiros do Laboratório de Limnologia dessa universidade. Em especial: à

Luciana Carneiro, por me fazer pensar no que eu realmente queria estudar e dar

coragem pra mudar o rumo. Ao Caliman e ao Rafael pela ajuda na qualificação. Ao

Marquinho pelo café de sempre e as conversas que vinham acompanhando. À Telma,

pelo carinho, amizade e ajuda informática. Aos do setor de boas gargalhadas nesse

laboratório: Cláudio, Rose, Mário, Dri, Alê, Paloma, Titi, Aninha, Aline, Aliny, Thais,

Paloma, Lúcia, Ellen, Marcela, Baiano, Fred, Jaime, os “portugas” Ana e João.

Acreditem, esse setor fez a diferença...

Aos professores Francisco Esteves e Vinícius Farjalla por proporcionarem a infra-

estrutura para o desenvolvimento desse trabalho.

Ao pessoal do NUPEM, pelo cuidado e carinho. Especialmente à Lena pela amizade e

ao João Marcelo pela ajuda em um grupo focal que sem ele não teria sido realizado.

Aos amigos que estão sempre por perto (e aos que não estão tão perto também). Trazem

sempre alegria pro coração e luz pra vida. Pelas cervejinhas tomadas, boa música, boa

prosa e inspirações. Que me ajudam a nivelar a vida em alto astral!!

Ao Erico Lisboa, companheiro de batuque que tirou muitas dúvidas sobre o petrolês.

Ao Pedrinho pela amizade, ajuda, risadas e boa companhia.

v

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Ao Pablo pelo incentivo à caminhada que me trouxe a essas páginas.

Ao Fred, Lúcia e Claudinha, por todas as sementes que plantaram e pela inspiração.

À Marcinha e à Suely, da secretaria de ecologia, por toda a atenção, paciência e todos os

sorrisos, sempre fazendo tudo o que estava ao alcance pra ajudar a quem por ali passar.

Ao Fernando Fernandez, amigo e professor, por dar apoio e tranqüilidade num dos

momentos mais difíceis, por acreditar que eu faria um bom trabalho e me fazer acreditar

nisso.

Ao Ricardo Iglesias por mostrar que essa dissertação é apenas uma semente que ainda

dará muitos frutos. Obrigada pela conversa, sugestões de leitura e inspiração.

Ao Mário Ximenez e Cris Falcão, sempre prontos a conversar, levantar o astral e ajudar.

Ao Henri Acselrad, pela preocupação em sempre me dar textos que poderiam servir

para a minha dissertação, pelas boas críticas ao trabalho, pelas conversas e ótima aula.

Ao Vainer (IPPUR), o professor de universidade publica, pronto pra uma conversa com

quem quer que seja, de qualquer curso que seja, com sorriso no rosto e tranqüilidade.

À Erica Caramaschi e ao Ricardo Iglesias pelas contribuições feitas em pré-banca.

Ao Sílvio à Janice pela gentileza e pelo carinho sempre.

Aos professores Erica e Fred pela avaliação motivadora deste trabalho.

À equipe de produção do Juruboteco liderada pelas queridas Paloma e Ellen. Aos

amigos que lá estiveram. É muito bom ter vocês por perto.

À Eliete Miranda por me ajudar a manter a concentração e buscar a minha força.

A Júlia, Cacau e Cami e suas mãos de cura.

Ao CNPq pela bolsa de estudos e à Petrobras pelo apoio financeiro ao projeto Pólen.

Ao Cronos, deus do tempo.

vi

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Resumo

O petróleo é a principal fonte de energia utilizada pela sociedade moderna, apesar de

ser um recurso natural não renovável. A exploração deste recurso gera impactos ao

ambiente e exige um processo de licenciamento ambiental, que deve ser baseado tanto

no conhecimento da ecologia como da dinâmica socioeconômica da região em que se

pretende implantar a atividade. O processo de licenciamento determina medidas para

minimizar esses impactos. A determinação e implantação dessas medidas mitigadoras

dependem da participação social nesse processo. Essa pesquisa identificou os impactos

ambientais gerados por essas atividades, segundo a percepção da população local,

discutindo suas causas e conseqüências à luz de uma ciência ecológica capaz de atuar de

forma integrada na gestão ambiental. O estudo foi baseado no diagnóstico

socioambiental realizado pelo Projeto Pólen, medida mitigadora do licenciamento, em

13 municípios considerados área de influência de parte das atividades da Petrobras na

Bacia de Campos (RJ), de acordo com os estudos de impactos ambientais (EIA).

Durante o diagnóstico realizado representantes da sociedade civil organizada e da esfera

estatal responderam sobre os impactos gerados por essas atividades nos municípios

estudados. Os impactos no meio natural, o crescimento populacional e a geração de

empregos foram citados em todos os municípios, sendo os mais importantes

mencionados. Pelo menos em metade dos municípios foram citados impactos como

realização de projetos de responsabilidade social; desenvolvimento econômico;

melhorias na qualidade de vida; e arrecadação de royalties. Além desses, outros

impactos foram lembrados em menos da metade dos municípios. Muitos dos impactos

associados ao ambiente natural mostram-se indissociáveis do processo de urbanização.

Esses impactos enunciados pela sociedade local compõem um universo diferente,

eventualmente mais amplo e complexo, que aqueles indicados no EIA, sugerindo que os

impactos ambientais devem ser percebidos numa perspectiva que leve em conta o

contexto social em que estão inseridos. Esses estudos devem integrar os conhecimentos

da ecologia e dos sistemas sociais, considerando a percepção da população para o

encontro de alternativas efetivas para a gestão dos recursos naturais.

vii

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Abstract

The petroleum represents the main current source of energy explored by modern

society, although non renewable. The exploitation causes environmental impacts, and

therefore requires a licensing process, which encompasses both regional ecological and

socio-economic knowledge. The licensing process determines mitigation measures to

minimize impact’s range. The determination and implementation of mitigation measures

frequently depend upon population perception and engagement. This research identifies

the environmental impacts produced by these enterprises perceived by local society,

discussing its causes and consequences under the light of comprehensive ecology

discipline oriented for environmental management. The study is based upon socio-

environmental diagnostics conducted by the Pólen Project, mitigation measure of the

licensing process, in the 13 municipalities influenced by Petrobras’ enterprises in the

Campos Basin, according to the Environmental Impact Assessment (EIA). The socio-

environmental diagnosis interviewed representatives from municipalities’ government

and from organized civil society. The impacts of enterprises on “environment”,

“population dynamics”, and “employment dynamics” were cited by all the 13

municipalities, therefore representing the most relevant ones. At least, half part of the

municipalities recognized the “arise of social responsibility projects”, “economic

development”, “life quality improvement”, “royalties revenue to the municipalities”.

Besides these most represented impacts, other 15 were identified by less then half the

sample. The majority of impacts on environment identified were associated to

urbanization process. These impacts perceived by local population compose a different

universe, eventually broader and complex than those indicated by EIA reports. Hence,

whenever there were environmental impacts they might be perceived under the socio-

economic context they were inserted. These studies must integrate ecological and socio-

economical knowledge, and for that reason, consider local population’s perception to

figure out effective alternatives to environmental management.

viii

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

ix

Sumário

Introdução __________________________________________________________ 01

Metodologia _________________________________________________________15

Coleta de dados ________________________________________________ 16

Processamento e organização dos dados coletados _____________________ 21

Análise dos dados ______________________________________________ 22

Resultados __________________________________________________________ 24

Discussão ___________________________________________________________ 27

Impactos ambientais ____________________________________________ 27

Desenvolvimento econômico _____________________________________ 32

Arrecadação de royalties __________________________________________33

Investimentos no município _______________________________________ 37

Geração de empregos ____________________________________________ 37

Crescimento populacional ________________________________________ 39

Realização de projetos de responsabilidade socioambiental _______________43

Qualidade de vida _______________________________________________ 45

Prejuízos para a pesca ____________________________________________ 46

Prejuízos para o turismo __________________________________________ 47

Outros impactos mencionados ______________________________________49

Considerações sobre os impactos __________________________________ 49

Considerações finais ___________________________________________________ 53

Referências Bibliográficas _____________________________________________ 54

Anexo 1 _____________________________________________________________ 62

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Petróleo e gás na Bacia de Campos (RJ): impactos ambientais pela

percepção da população.

Introdução

O uso de energia é vital para a maioria das atividades humanas, principalmente

na sociedade moderna. Sua produção é apoiada na busca e exploração de recursos

naturais, provocando uma série de modificações no ambiente. A produção e o consumo

de energia ocupam importantes espaços de discussão, públicos ou não, sendo um tema

muito relevante ao longo da trajetória política e econômica do mundo. A necessidade de

energia é uma realidade desde que nossa sociedade começa a ser formada e se

intensifica com a Revolução Industrial, quando as máquinas começam a ser alimentadas

pelo uso de madeira, vento, animais e água. Em meados do século XVIII, o carvão

começa a ser importante, tanto na produção do gás utilizado nas casas quanto para

alimentar máquinas, como trens que transportavam os mais variados bens. No século

XIX a revolução tem seu auge, com o uso em larga escala do petróleo e seus derivados,

utilizados em processos industriais, geração de energia elétrica e como combustível para

veículos. Gradualmente aumenta sua importância e, principalmente após a segunda

guerra mundial, ganha espaço como recurso mais utilizado para gerar energia no mundo

até hoje.

A Revolução Industrial, baseada no uso intensivo de combustíveis fósseis, abriu

caminho para uma expansão inédita das atividades humanas, pressionando fortemente a

base de recursos naturais do planeta pelo consumo e ocupação do espaço, gerando

resíduos como lixo industrial, plásticos não degradáveis e emissão atmosférica de gases.

A era industrial é marcada pela ascensão do sistema capitalista, cuja lógica de consumo

ilimitado é incompatível com qualquer atitude no sentido de diminuir o uso dos recursos

naturais e de preservação do ambiente.

A energia está fortemente associada ao desenvolvimento, sendo seu consumo

per capita utilizado como indicador do crescimento econômico nacional, estimulando

dessa forma o aumento do consumo. Muitos dos problemas ambientais conhecidos

podem ser associados ao uso de recursos naturais para a produção de energia, sendo um

dos fatores que causam mais impactos ao ambiente (Elliot, 1997).

1

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

De acordo com a Resolução Conama nº 001/86, impacto ambiental é “qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas no meio ambiente, causada por

qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades

sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e a

qualidade dos recursos ambientais”.

Dentre os impactos da geração de energia, os mais claros parecem ser os

impactos físicos como formação de barragens para geração de energia hidrelétrica,

desmatamento para passagem de redes elétricas, riscos na exploração de combustíveis

fósseis e de minérios, como a passagem de dutos e vazamento de óleo ou de substâncias

químicas no solo ou em corpos hídricos, dentre outros.

Hoje no Brasil cerca de 40% da energia consumida é proveniente do petróleo e

seus derivados (tabela I) mostrando a importância desse recurso no país. Dentre outros

motivos, essa preferência se explica por seu rendimento calorífico-energético por

unidade de volume ser superior ao do carvão mineral e do gás natural, outros

combustíveis fósseis largamente utilizados, representando juntos a proveniência de 90%

da energia consumida no mundo (Salvador & Marques, 2004). Cerca de 40% da energia

consumida pela sociedade brasileira é utilizada pela indústria, 26% pelo setor de

transportes, enquanto que 11% é utilizado nas residências e menos de 5% nos setores

comercial e público (tabela II). Esses dados nos dão a dimensão de que a maior

demanda energética do país concentra-se nas indústrias e empresas de transportes, sejam

eles coletivos ou individuais. A energia obtida da exploração de recursos naturais

envolve uma distribuição socialmente desigual dos custos da obtenção desta e alterações

no balanço social de poder, conseqüentes do controle da produção de energia (Acselrad,

2005).

2

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Tabela I: Consumo de energia no Brasil por fonte em TEP1 e em porcentagem no ano de 2006.

Fonte: MME – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006.

Fonte 106 TEP % petróleo e derivados 85,3 37,7 gás natural 21,7 9,6 carvão mineral e derivados 13,5 6,1

Não renováveis

urânio e derivados 3,7 1,6 Hidráulica e elétrica 33,5 14,8 carvão vegetal e lenha 28,6 12,6 Derivados da cana-de-açúcar 33,0 14,6

Renováveis

outras fontes renováveis 6,8 3,0 Total 226,1 100

Tabela II: Consumo de energia no Brasil por setor em porcentagem no ano de 2006.

Setor % Industrial 37,8Transportes 26,3Residencial 10,9Agropecuário 4,2comercial e público 4,5

Fonte: MME – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006.

Petróleo

O petróleo – do latim petroleum: petrus, pedra e oleum, óleo; do grego

petrelaion: óleo da pedra – é um combustível fóssil formado em bacias sedimentares sob

efeito de pressão e temperatura ao longo do tempo geológico, há milhões de anos, a

partir de substâncias orgânicas de origem autóctone (matéria orgânica planctônica) e/ou

alóctone (material terrestre carregado para as bacias sedimentares). Esse material

orgânico, rico em compostos de carbono e hidrogênio, acumulou-se em rochas

chamadas geradoras, constituídas de material detrítico de granulometria muito fina

(fração argila) em ambiente anóxico e, quando submetido a temperaturas entre 600 e

1200ºC, transformou-se em petróleo e gás natural. Uma vez formado o petróleo, este

passa a ocupar um volume maior que a mistura orgânica original na rocha geradora. A

pressão excessiva faz com que a rocha se frature, expulsando os fluidos para uma zona

de pressão mais baixa até a chegada em um local selado, alojando-se numa estrutura

localizada na parte mais alta de um compartimento da rocha porosa, isolada por

1 Tonelada Equivalente de Petróleo, ou a energia equivalente à adquirida pela combustão de uma tonelada de petróleo.

3

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

camadas impermeáveis, resultantes de modificações sofridas pelas rochas ao longo do

tempo geológico, através do desenvolvimento de dobras e falhas na crosta terrestre

(Milani et al, 2000).

O petróleo é um recurso natural abundante, apesar de finito e é, atualmente, a

principal fonte de energia utilizada no mundo. Serve como matéria-prima para

fabricação dos mais variados produtos, como benzinas, óleo diesel, gasolina, parafina,

gás natural, querosene, solventes, óleos lubrificantes, alcatrão, polímeros plásticos,

fertilizantes, pesticidas, embalagens e medicamentos. Por outro lado, impulsionou

muitas guerras, seja como objeto direto da disputa ou como matéria-prima para

alimentar a indústria bélica, não só como combustíveis, mas na composição do napalm,

um tipo de gasolina gelificada utilizada como bombas em ataques a partir da Segunda

Guerra Mundial.

Segundo Canuto (2007), o início da utilização do petróleo se deu 4000 anos

antes de Cristo, a partir exsudações e afloramentos freqüentes no Oriente Médio, onde

povos da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia e da Judéia já utilizavam o betume para

pavimentação de estradas, calefação de grandes construções, aquecimento e iluminação

de casas, e como lubrificantes. Os gregos e romanos embebiam lanças incendiárias com

betume para atacar as muralhas inimigas. No início da Era Cristã, os árabes davam ao

petróleo fins bélicos e de iluminação.

A indústria moderna do petróleo data de meados do século XIX, na Pensilvânia,

quando tal recurso ganha importância como fonte energética, tornando-se estratégico no

século XX para empresas e Estados, sobretudo após o primeiro grande conflito mundial.

A partir daí inaugurou-se uma corrida desenfreada para encontrar jazidas minerais de

onde se pudesse extrair a matéria-prima dos combustíveis mais procurados para

alimentar veículos automotores, o fornecimento de energia elétrica, a indústria pesada,

de transformação e, inclusive, a da guerra.

No Brasil, a sondagem em busca de petróleo começou na última década do

século XIX, pelo regime de livre iniciativa, mas data de 1939 a perfuração do primeiro

poço de petróleo brasileiro, em Lobato, no estado da Bahia. A exploração desse recurso

ganhou grande importância no país, a ponto de ser criado em 1938 o Conselho Nacional

do Petróleo desencadeando um movimento social envolvendo o governo federal e a

4

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

população, principalmente, as elites brasileira e estrangeira. Havia na sociedade uma

geração inteira impregnada com a idéia de que não havia futuro sem petróleo, e

estabeleceu-se no país uma corrida tecnológica a fim de desenvolver maneiras de se

explorar petróleo na plataforma marítima, local de maior probabilidade de se encontrar

o recurso em escala comercial. Em outubro de 1953, é criada a Petrobras por meio da lei

2.004, que instituía monopólio estatal nas atividades de pesquisa, lavra e

comercialização de petróleo e gás natural, e que viria ser a maior empresa do país

(Farias, 2003; Lessa, 2005). A busca por petróleo em território nacional foi, como

mostram esses estudos, não apenas uma necessidade econômica, mas uma afirmação de

nacionalidade, uma aspiração ligada à necessidade de desenvolver e fazer crescer a

economia brasileira, uma discussão política. Hoje o Brasil se considera auto-suficiente

na produção de petróleo e gás natural e a expectativa é de que o país se torne um

exportador do produto. Em 2006 a Petrobras anunciou a descoberta de um campo de

exploração abaixo da camada de sal na Bacia de Santos, a 7.000 metros de

profundidade, capaz de produzir um volume de óleo e gás que representa quase metade

do total das reservas atuais. A corrida tecnológica de hoje diz respeito à exploração e ao

refino desse óleo encontrado em águas ultraprofundas do território nacional, mais

pesado e mais viscoso, que o país não tem ainda condições de tratar.

Desde sua descoberta em território nacional, o petróleo transformou

profundamente a economia, a sociedade e o espaço do Brasil, principalmente nas

últimas quatro décadas, fornecendo divisas, energia e matérias-primas para o processo

de industrialização (Monié, 2003), gerando além de crescimento econômico, muitos

problemas ambientais.

A exploração de petróleo e gás natural

A exploração de petróleo e gás natural no mar compreende as fases de pesquisa

sísmica, perfuração e desenvolvimento do poço, ou produção. A pesquisa sísmica

consiste em estudos geológicos e geofísicos para detectar jazidas de petróleo e gás

natural no subsolo da plataforma continental e de águas profundas. É feita por

embarcações equipadas com canhões de ar comprimido, disparados em períodos

determinados de tempo, gerando emissões acústicas de grande alcance (Moraes, 2004).

Os impactos dessa fase são pouco conhecidos, mas estudos apontam que dentre os mais

importantes estão a interferência em comportamentos biológicos importantes como

5

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

acasalamento e desova em peixes, cetáceos e quelônios (Vilardo, 2007). Durante a

perfuração do poço de petróleo e gás natural, há revolvimento do sedimento com a

produção de cascalho, triturado pela broca utilizada e transportado à superfície através

de um fluido de perfuração. Esse fluido é composto de compostos químicos como

sulfato de Bário (BaSO4), que pode conter metais pesados, como cádmio e mercúrio, e

outras substâncias como potássio, ácido acético, óleo e gases e parte é liberada agregada

ao cascalho para o ambiente marítimo. A produção de cascalho varia de volume de

acordo com o volume do poço perfurado, e os impactos associados a ela são a morte da

comunidade bentônica, tanto pelo impacto físico do cascalho quanto pela toxicidade do

fluido agregado ao sedimento (Shaffel, 2002). Além disso, ocorre risco de vazamento de

óleo e fluido de perfuração durante a operação. Na fase de desenvolvimento, ou

produção de petróleo, os impactos são: o descarte de resíduos orgânicos provenientes da

atividade nas plataformas e navios; descarte de água de produção2, que é produzida

junto com o óleo e o gás; riscos de vazamentos e outros acidentes decorrentes do

armazenamento e transporte do petróleo; alteração da qualidade da água; interferência

na biota marinha; introdução de espécies costeiras em área oceânica, levadas pela água

de lastro e cascos de embarcações; desenvolvimento de comunidades incrustantes na

estrutura física da unidade; liberação de gases como dióxido e monóxido de carbono ou

derivados de enxofre e nitrogênio para a atmosfera, alteração na qualidade do ar.

Sendo o recurso mais importante para geração de energia atualmente, a busca

pelo petróleo é muito intensa. Onde há petróleo há interesse das nações em investir em

pesquisa e exploração, mesmo que isso signifique gerar impactos ambientais. O modo

de produção e de consumo de recursos naturais, fundado na lógica de acumulação

ilimitada, gera uma acelerada degradação do ambiente, com o esgotamento dos recursos

ambientais levando a distúrbios ecológicos, como a rápida liberação do carbono fóssil

para a atmosfera, elevando a temperatura do planeta.

2 Pode ser de duas fontes: i) algum aqüífero existente ligado ao reservatório de petróleo (chamada água de formação) que pode ser muito salgada, como por exemplo, no campo de produção Albacora Leste, a salinidade da água desta chega a 100.000 ppm, enquanto que a água do mar tem salinidade de 40.000 ppm; ou ii) água injetada no reservatório com o objetivo de manter a pressão e otimizar a retirada do óleo. Um aspecto importante a ser observado é que a água produzida é indesejável, sendo um dos maiores problemas da indústria do petróleo. Além da produção de algo que não tem valor comercial, ainda temos sérios problemas em descartá-la, uma vez que é muito salgada e muitas vezes misturada com óleo. Muitas empresas no mundo produzem mais água do que óleo. (Erico Lisboa, comunicação pessoal).

6

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

A ecologia, ao produzir conhecimento sobre a estrutura e dinâmica de

populações, comunidades e ecossistemas, as interações entre os organismos e entre eles

e o ambiente, torna-se uma ferramenta essencial para embasar decisões relacionadas ao

uso dos recursos naturais. Conhecer é essencial para uma intervenção qualificada, assim

como compreender que os caminhos seguidos pela ciência e pela tecnologia não são

definidos fora da realidade existente. Esses caminhos são construções sociais, frutos das

relações e das condições que a sociedade viabilizou, face às diferentes culturas,

histórias, matérias-primas e localizações geográficas (Oliveira, 2005) e, que inclusive os

cientistas e técnicos, a universidade e os centros de pesquisas, são parte dessa sociedade.

As idéias científicas não são totalmente independentes da filosofia e das ideologias que

impregnam o meio em que vivem os pesquisadores (Japiassú & Marcondes, 1996). A

corrida tecnológica que se deu face à primeira crise do petróleo, em 1973, é um bom

exemplo de como a produção do conhecimento está inserida no contexto das relações

sociais. O Brasil investiu em tecnologia para explorar o recurso em plataformas

marítimas, numa época em que isso parecia impossível, em busca da autonomia e

desenvolvimento prometido pela exploração do ouro negro. Atualmente continua a

buscar inovações tecnológicas que permitam explorar o petróleo encontrado em águas

com profundidade de cerca de 7000 metros.

A questão ambiental é mais que uma questão ecológica. Requer, além de

conhecimento técnico-científico, o fortalecimento da democracia. É uma questão ética,

econômica, cultural e política (Loureiro, 2003; Loureiro, 2007). Oliveira e

colaboradores (2005), em um estudo que mostra o homem como agente geológico,

ilustram como a economia global pode ser vinculada com a erosão do solo causada por

um lavrador. Eles mostram que as modificações dos preços de insumos e mercadorias,

afetados pelas bolsas de valores e taxas de câmbio, acabam influenciando as políticas

públicas dos países, alcançando até comunidades marginalizadas que, intensificando sua

produção em solos frágeis, provocam erosão e geração de sedimentos, que vão se

acumular nos fundos dos vales. Assim, as decisões de um lavrador podem ser afetadas

por vários fatores, tanto nacionais como internacionais, mas que acabam interferindo

diretamente no uso do solo e no ambiente. Assumir a dimensão social nos estudos de

ecologia que se relacionam ao uso e preservação dos recursos naturais é a chave para o

desenvolvimento de uma ciência integrada que contribua efetivamente na preservação

dos sistemas ecológicos. As decisões locais acerca do uso e exploração dos recursos

7

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

naturais, como o petróleo, são influenciadas por decisões políticas e econômicas em

âmbitos nacional e internacional.

O ambiente estudado pela ecologia é social e historicamente construído. Sua

construção se faz no processo da interação contínua entre uma sociedade em movimento

e um espaço particular que se modifica permanentemente. Ao ser modificado, torna-se

condição para novas mudanças, modificando assim, a sociedade. Pickett e McDonnell

(1993) observam que a preocupação em inserir a dimensão humana na ciência ecológica

não é uma novidade. Observam que em 1864, George Perkins Marsh publicou um livro

que tratava do papel dos humanos no funcionamento dos sistemas ecológicos da Terra.

E que na Ecology, conceituada revista de nossa ciência, um dos primeiros artigos

publicados (Huntington, 1920), incluia o homem como parte de um sistema ecológico e

considerava uma cidade como um sistema ecológico. Entretanto, observam também

que desde Huntington pouquíssimos artigos publicados nessa e em outras revistas

clássicas da ecologia fazem essa relação. Chama nossa atenção, portanto, a urgência de

emergir no nosso campo um novo paradigma ecológico que acomode o homem e suas

atividades na área de conhecimento da ecologia: Margalef (1993) em seu livro Teoria

de los sistemas ecológicos considera o homem “um componente importante dos

ecossistemas naturais”, e Pickett e colaboradores (2004), ao traçarem características do

que chamam de paradigma ecológico do não-equilíbrio, colocam como um dos pontos

que o homem é parte dos ecossistemas, exercendo através de suas atividades,

instituições, sociedades e indivíduos importante papel na dinâmica desses sistemas.

Apesar de reconhecermos a importância de se estabelecer essa relação,

predomina na ciência ecológica, assim como nas ciências humanas, uma disjunção

natureza/cultura, sempre desmembrando o homem entre sua natureza de ser vivo,

espécie biológica, estudada pela biologia – passando por cima do importante fato de que

o homem por natureza produz cultura – e sua natureza física e social, estudada pelas

ciências humanas, que por sua vez também o retiram de seu ambiente biológico.

Esse estudo fragmentado, sem comunicação entre as áreas de conhecimento e

sem a visão complexa da realidade é insuficiente para tratarmos de assuntos como a

questão ambiental. Morin (2002) afirma que há complexidade quando os componentes

que constituem o todo (como o econômico, o político, o sociológico, o ecológico) são

inseparáveis e formam um tecido interdependente. Assistimos a uma realidade de

8

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

problemas cada vez mais globais e multidimensionais, cuja compreensão está em mais

de uma área de conhecimento. A fragmentação do conhecimento em disciplinas nos

ajuda a entender melhor as partes do todo e contribui para o avanço da ciência, na

medida em que traz algumas vantagens da divisão do trabalho, como a possibilidade de

se dedicar ao estudo focalizado em uma parte do todo. Todavia, compreender a

realidade buscando um conhecimento em movimento, que integre e articule diferentes

informações e saberes, é a chave para uma atuação efetiva no que diz respeito às

decisões acerca da exploração e do uso de recursos naturais e a preservação dos

sistemas que comportam a vida.

A Bacia de Campos

A Bacia de Campos é uma área de depósitos sedimentares originados,

principalmente, pela erosão de parte das rochas da Serra do Mar. Recebe este nome pela

proximidade à cidade de Campos dos Goytacazes, e está em frente aos municípios da

região norte fluminense e da região das baixadas litorâneas. Tem área sedimentar de

cerca de 100 mil quilômetros quadrados e se estende do Espírito Santo (próximo ao Alto

de Vitória) até o Alto de Cabo Frio, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. As

condições geológicas de formação dessa bacia, que incluem os depósitos sedimentares e

o acúmulo de matéria orgânica, proporcionaram o acúmulo de grandes quantidades de

petróleo em sua plataforma continental (Caetano-Filho, 2003).

A descoberta de petróleo em quantidades comerciais na bacia de Campos dá-se

logo após o primeiro choque mundial do petróleo em 1973, quando da alta de preços

internacionais do produto. A região passa, então, a receber investimentos para o

desenvolvimento de tecnologia e infra-estrutura para a exploração petrolífera, que à

época fazia parte dos chamados “Grandes Projetos de Investimentos”, projetos de

importância estratégica e magnitude econômico-financeira, sob a diretriz de transformar

o Brasil em potência emergente no final do séc XX. Em 1974, a Petrobras chega à

região, elegendo a cidade de Macaé como base de operações das atividades de

prospecção e produção do petróleo e gás natural, inaugurando um novo ciclo econômico

regional. Seguindo esse objetivo a qualquer custo, as decisões em torno do

empreendimento eram definidas em função dos chamados “interesses nacionais”, sem

levar em conta os impactos que seriam causados (Piquet, 2003).

9

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

O licenciamento ambiental

Posto que as atividades relacionadas a esse empreendimento – dentre as quais

estão a pesquisa sísmica, a implantação e operação de plataformas, gasodutos, terminais

portuários, oleodutos e refinarias – oferecem riscos ambientais, a legislação brasileira

exige que se realize um processo de licenciamento ambiental.

O licenciamento ambiental é um instrumento de gestão do Sistema Nacional de

Meio Ambiente (Sisnama), criado pela Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política

Nacional de Meio Ambiente, regulamentada e normatizada pelas Resoluções Conama nº

001/86 e nº 237/97. Consiste em um processo administrativo pelo qual o órgão

legalmente responsável pelo meio ambiente (determinado pela esfera de atuação e

abrangência geopolítica da atividade) avalia e concede licença de localização,

instalação, ampliação e operação para empreendimentos que utilizam recursos naturais e

possam causar danos ou impactos que afetem o meio ambiente e a qualidade de vida das

populações. Esse processo funciona como importante instrumento de gestão ambiental e

controle social em países com cultura em Estados democráticos com cultura cidadã e

participativa. Demanda competência técnica e habilidade política na mediação de

conflitos de uso e distributivos no processo de tomada de decisão. A licença ambiental

prevê ações que se fazem necessárias para minimizar impactos, considerando-se as

disposições legais e regulamentares.

Esse processo é muitas vezes realizado com base em instrumentos de avaliação

de impacto ambiental (AIA) que constituem um conjunto de procedimentos que

pretende assegurar um exame acerca dos impactos que serão causados pelas atividades

ou empreendimentos que se querem realizar e se tratam de importantes elementos para a

tomada de decisão. Esses instrumentos incluem relatório de avaliação ambiental, plano

e projeto de controle ambiental, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de

recuperação de área degradada e análise preliminar de risco (Brasil/TCU, 2007).

Quando as atividades são consideradas, pela legislação, geradoras de significativos

impactos, como são as de exploração e produção de petróleo e gás natural, são exigidos

o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental (art. 3º da Resolução

Conama nº 237/97). De acordo com Brasil/MMA (2006b):

10

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

“Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um estudo detalhado destinado a

identificar e avaliar todas as alterações que determinada atividade poderá

causar ao meio ambiente”.

“Relatório de Impacto Ambiental (Rima) é um documento que reflete as conclusões

do EIA redigidas em linguagem acessível, de modo que se possam entender as

vantagens e as desvantagens de um projeto, bem como todas as conseqüências

ambientais de sua implementação.”

Para sua elaboração, o órgão ambiental competente expede termos de referência,

que constituem um conjunto de critérios exigidos para a realização do estudo,

apontando as questões que devem ser abordadas. Normalmente referem-se ao

levantamento de vegetação e de fauna, impactos na qualidade do ar e da água, impactos

no solo e nas rochas, estudos socioeconômicos, impactos na infra-estrutura urbana,

impactos paisagísticos e no patrimônio histórico-cultural, entre outros, de acordo com o

previsto na legislação (ver artigo 6º da Resolução Conama nº 001/86).

Ao receber os estudos, o órgão ambiental anuncia pela imprensa a

disponibilidade do material para consulta pública e estabelece prazo para que seja

requerida a audiência pública. Esta se trata de uma reunião para debater os prós e os

contras do empreendimento, além da divulgação das medidas mitigadoras propostas, e

deve ser realizada com a presença do requerente da licença ambiental, das autoridades

competentes, das organizações da sociedade civil, assim como das comunidades e dos

cidadãos interessados (Brasil/MMA, 2006b).

O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 estabelece que “todos têm direito

ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações”. Para garantir esse princípio a Constituição

determina incumbências ao poder público que vão desde a preservação e restauração de

processos ecológicos até a proteção da fauna e da flora, destacando-se a educação

ambiental (EA) como um instrumento estratégico para a concretização do controle

social no acesso e uso do patrimônio ambiental brasileiro.

11

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Pensando na importância do licenciamento como instrumento para o controle

social3 e a gestão ambiental pública, o Ibama vem exigindo como condicionante de

licença para empreendimentos de exploração de petróleo e gás natural no Brasil, dentre

outras medidas, um projeto de EA, com o objetivo de fomentar condições para a

aquisição de conhecimentos e habilidades que permitam e estimulem a gestão

participativa, com conhecimento de causa, nos processos decisórios sobre o acesso aos

recursos naturais no Brasil.

Um programa de EA inserido nesse contexto deve garantir a participação dos

diferentes grupos sociais afetados, direta ou indiretamente pela atividade objeto do

licenciamento em todas as etapas do processo e envolver a sociedade de forma a atuar

na prevenção/superação dos riscos e danos socioambientais causados por intervenções

no meio ambiente. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de capacidades tais

que diferentes grupos sociais participem do processo de gestão ambiental pública, de

modo a perceberem a escala e as conseqüências, explícitas e implícitas, do

empreendimento no seu cotidiano.

A qualidade do processo de licenciamento depende, em grande parte, da

disponibilidade e produção do conhecimento dos recursos naturais e da dinâmica

socioeconômica da região em que se pretende implantar a atividade ou

empreendimento. A produção do conhecimento cabe, especialmente, à universidade e

instituições de pesquisa, entretanto, o conhecimento popular, produzido por quem vive

em determinada região é também de fundamental importância, sendo necessário seu

reconhecimento por parte dos pesquisadores responsáveis pela realização dos estudos

ambientais. Conhecer é fundamental para intervir, para se apropriar dos instrumentos e

qualificar o debate e a atuação nas tomadas de decisão durante o processo de

licenciamento.

Além do conhecimento produzido é necessário o fortalecimento de mecanismos

que garantam a dimensão democrática da nossa legislação, pois é a dimensão coletiva

que dá a possibilidade de assegurar os direitos individuais, na possibilidade da discussão

pública da tomada de decisão. A participação da população local é indispensável a esse

3 Controle social é a ação de fiscalização exercida pela sociedade sobre os governos, visando garantir transparência na definição das prioridades políticas e nos gastos públicos (Brasil, MMA 2006a).

12

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

processo, pois é ela quem desfruta do dia-a-dia do local onde será instalado o

empreendimento a ser licenciado.

Acselrad (2005) chama a atenção para o fato de que os riscos ambientais são

diferenciados e desigualmente distribuídos na sociedade, dada a diferente capacidade

dos grupos sociais escaparem aos efeitos das fontes de tais riscos. Assim, ao evidenciar

a desigualdade distributiva e os diferentes sentidos e lógicas de uso que as sociedades

podem atribuir ao meio ambiente, sua base material, abre-se espaço para a percepção de

que o ambiente de certos sujeitos sociais prevaleça sobre o de outros, fazendo surgir o

que veio a se denominar de conflitos ambientais. Segundo definição de Little (2001),

conflitos ambientais são disputas entre grupos sociais derivadas dos distintos tipos de

relações por eles mantidas com seu meio natural, podendo ocorrer pelo controle dos

recursos naturais, ou derivados dos impactos ambientais e sociais decorrentes de

determinados usos ou, ainda, aqueles ligados aos usos e apropriações dos

conhecimentos ambientais. Quintas (2005) acrescenta que essas disputas estão sempre

relacionadas a divergências de interesses na gestão desses recursos. Acrescenta ainda

que essa assimetria na distribuição desses custos e benefícios não é auto-evidente, posto

que a percepção de determinado problema ambiental não é meramente uma questão

cognitiva, mas também mediada por interesses econômicos, políticos e ideológicos,

ocorrendo sempre em um contexto específico, historicamente situado.

Nesse contexto, surgiu o Projeto Pólen, referente a uma das condicionantes de

licença ambiental exigida pelo Estado (Ibama) para atividades de exploração de petróleo

e gás natural pela empresa Petrobrás S.A. na região da Bacia de Campos/RJ. Insere-se

como medida mitigadora para o licenciamento ambiental da atividade de ampliação do

sistema de tratamento e escoamento da fase 2 do Campo de Marlim, por meio do FPSO

P-47 (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência de petróleo), e da

atividade de produção e escoamento de petróleo e gás natural no Campo de Espadarte e

área leste do Campo de Marimbá, por meio do FPSO Espadarte, empreendimentos

localizados na Bacia de Campos, RJ.

É um projeto executado por uma equipe do Laboratório de Limnologia do

Departamento de Ecologia da UFRJ, e que atua na formação de educadores ambientais e

pólos de EA em treze municípios da região norte fluminense e região das baixadas

13

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

litorâneas4 considerados pelo Ibama, a partir dos estudos de impactos ambientais

realizados, área de influência do empreendimento. Pretende ser um processo de

construção crítico e transformador da realidade, compreendendo processos de

ensino/aprendizagem que visam a elaboração e implementação participativa de projetos

e/ou intervenções educativas que tornem as pessoas capazes de participarem das

tomadas de decisão no seu cotidiano e no fortalecimento da cidadania através da

implementação de políticas públicas ambientais. Trata-se de um projeto realizado em

parceria entre a universidade (UFRJ) e o poder público municipal da área de influência

do empreendimento, fiscalizado pelo Ibama e financiado pela Petrobras, empresa

responsável pela atividade potencialmente poluidora.

Executado pela universidade, inserido no programa de extensão, o Projeto Pólen

pretende ser um processo educativo, cultural e científico articulado com o ensino e a

pesquisa, ampliando a relação entre a universidade e a sociedade. A extensão

universitária não deve substituir as funções do Estado, mas produzir saberes interagindo

com outras instituições e segmentos da sociedade tais como organizações

governamentais, poder legislativo, empresas, sindicatos, organizações não

governamentais e outras organizações da sociedade civil.

A empresa potencialmente poluidora envolvida, detentora do capital para o

financiamento do projeto, o faz como condicionante da licença de operação de suas

atividades geradoras de lucro a partir da exploração excessiva e apropriação privada dos

recursos naturais que geram transformações socioeconômicas, políticas e culturais e

mudanças significativas no meio ambiente. Como medida mitigadora que é, o projeto

recebe o acompanhamento constante do órgão regulador e fiscalizador (Ibama).

Trabalhando com o Estado buscamos transformar a atual estrutura social a partir da

instituição pública, de dentro dela, acreditando na possibilidade de seus gestores (das

secretarias municipais parceiras) abrirem espaços, dentro da gestão que já executam,

para a participação social.

Os objetivos do projeto Pólen vão além da troca de saberes, pois buscam integrar

o potencial criativo e de conhecimento da cultura popular com o conhecimento

científico, gerando um saber integrado entre o que é produzido na academia e o que é 4 Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema.

14

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

vivenciado no cotidiano dessas populações. Buscamos identificar problemas, conflitos,

potencialidades ambientais, e as iniciativas e grupos sociais que atuam no campo da

questão ambiental. Quanto mais competências as populações desses municípios

adquirirem para o enfrentamento dos riscos e danos socioambientais de

empreendimentos objetos de licenciamento, como o deste caso, mais participativas

serão as ações públicas, resultando em políticas de conservação mais democráticas.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa buscamos na sociedade opiniões sobre o

processo de mudanças ambientais gerados pelas atividades de exploração de recursos

naturais. Discutimos esse processo à luz de uma ciência ecológica capaz de ajudar na

compreensão da questão ambiental, e atuar no processo de gestão do ambiente na

perspectiva da complexidade ambiental.

Objetivo

O objetivo dessa pesquisa foi identificar e discutir os impactos ambientais em treze

municípios do norte fluminense e região das baixadas litorâneas, associados às

atividades de uma empresa de energia que explora petróleo e gás natural na Bacia de

Campos (RJ), segundo a percepção da população local.

Metodologia

Este trabalho é parte de um diagnóstico socioambiental realizado no âmbito do

Projeto Pólen em treze municípios das regiões norte fluminense e baixadas litorâneas

(figura 1), considerados área de influência de dois empreendimentos de exploração e

produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos pela Petrobras. O diagnóstico

ambiental é uma ferramenta da pesquisa exploratória, que representa uma tentativa

sistemática de organização de dados e permite o conhecimento do cotidiano, afirmando

a importância das dimensões subjetiva, afetiva e cultural na construção do saber e nas

ações humanas, resgatando o conhecimento concreto, a experiência vivida (Arruda,

2002). Um diagnóstico socioambiental permite conhecer o estado da arte de

determinadas ações desenvolvidas numa dada área e seus aspectos históricos. Durante o

diagnóstico do Projeto Pólen, foram realizadas visitas aos municípios com o intuito de

estabelecer parcerias, conhecer os ecossistemas e os aspectos relacionados à integridade

15

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

ecológica desses ambientes, as escolas e as organizações da sociedade civil5 (OSCs) da

região e identificar as suas iniciativas de educação ambiental e as diferentes realidades

locais, sempre com a questão ambiental em foco.

Figura 1: Disposição geográfica dos municípios em que o Projeto Pólen atua. Circulados em

vermelho os campos de exploração de petróleo e gás natural da Bacia de Campos (RJ).

Coleta de dados

Nesta pesquisa utilizamos grupos focais como procedimento para coleta de

dados. Um grupo focal é uma reunião de pessoas selecionadas para discutir e comentar

um tema, como a questão ambiental do município onde vivem, a partir de sua

experiência pessoal. O trabalho com grupos focais permite coletar informações sobre

crenças, valores e conhecimentos de participantes através da interação entre eles nas

discussões em grupo. Neste trabalho escolhemos essa metodologia porque permite a

coleta de informações de caráter objetivo, qualitativas e ancoradas nas percepções de

representantes sociais envolvidos nas questões ambientais presentes nos municípios de

interesse.

5 Empregando o termo OSC estamos nos referindo a organizações na órbita da sociedade civil em geral, sendo estas organizações não-governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos (OSFL), instituições filantrópicas, associações de moradores ou comunitárias, associações profissionais ou categorias, instituições culturais e religiosas, movimentos sociais, etc.

16

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Planejamos dois grupos focais em cada município, um estatal e um não-estatal.

Optamos por separar as esferas de representação por dois motivos: i) como o assunto

divide opiniões e gera conflitos entre o Estado e a sociedade civil, procuramos evitar

discussões além do próprio tema abordado, prejudicando assim a atividade que tem

tempo limitado de duração; ii) em se tratando de esferas de atuação diferentes, contamos

com a possibilidade de haver padrões definidos pela esfera de representação.

Realizamos treze grupos focais estatais e nove não-estatais, totalizando 21 atividades.

A escolha dos participantes foi feita levando-se em conta a familiaridade do

representante com o tema discutido, de modo que a participação dele pudesse trazer

elementos da sua experiência cotidiana relacionada à presença da Petrobras nos

municípios. Para os grupos estatais, convidamos representantes das secretarias

municipais existentes na região estudada, além de fundações e entidades que eram

indicadas particularmente pelas secretarias de Meio Ambiente e Educação como Defesa

Civil, Vigilância Sanitária e Guarda Municipal. Para os grupos não-estatais convidamos

as OSCs que visitamos durante o diagnóstico, cujo critério de escolha também obedeceu

a relação com a presença da empresa na região. As tabelas III e IV apresentam uma

sistematização das entidades participantes e o número de participantes em cada

município.

Tabela III – Organizações e número de representantes presentes nos grupos focais estatais em

cada município.

Município Nº de

presentes/ entidades

Representantes

Araruama 9

Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Pesca

Consórcio Intermunicipal Lagos São João

Armação dos Búzios 5

Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Saúde Vigilância Sanitária – SECSA

Secretaria de Planejamento (SECPLAN)

Arraial do Cabo 8

Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Secretaria Municipal de Turismo Secretaria Municipal de Saúde

Cabo Frio 11

SENAC Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Planejamento Casa do Educador

Secretaria Municipal de Meio Ambiente Extinção de Incêndios/Salvamento e Defesa Civil

17

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Campos dos Goytacazes 8

Secretaria Municipal de Agricultura Secretaria de Obras

Secretaria Municipal de Educação Secretaria de Indústria Comércio e Turismo

Carapebus 7

Secretaria Municipal de Agricultura Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Administração Secretaria Municipal de Transporte

Guarda Municipal

Casimiro de Abreu 9

Secretaria Municipal de Obras Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca Assessoria de Desenvolvimento Econômico

Programa de Apoio Integral à Família

Macaé 14

Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia Macro Região Ambiental 5 (Consórcio de Bacias Hidrográficas)

Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Guarda Municipal Secretaria Municipal Trabalho e Renda

PARNA Restinga de Jurubatiba

Quissamã 8

Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Captação de Recursos Secretaria Municipal de Cultura Secretaria Municipal de Obras

Rio das Ostras 17

Secretaria Municipal de Transportes Guarda Municipal

Secretaria Municipal de Esporte e Lazer Secretaria de Meio Ambiente

Secretario Municipal de Urbanismo, Obras e Serviço Público Secretaria. Municipal de Agricultura e Pesca

Secretaria Municipal de Turismo Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Planejamento Secretaria Municipal de Saúde

São Francisco de Itabapoana

11

Secretaria Municipal de Trabalho e Renda Secretaria Municipal de Fazenda Secretaria Municipal de Obras

Secretaria Municipal de Comunicação Social Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Sub-procuradoria geral do município Secretaria Municipal de Agricultura

Assessoria de Comunicação Secretaria Municipal de Educação e Cultura

São João da Barra 17

Secretaria Municipal de Meio Ambiente Secretaria Municipal de Turismo

Defesa Civil Secretaria Municipal de Pesca

Secretaria Municipal de Planejamento Secretaria Municipal de Fazenda

Secretaria Municipal de Esporte e Laser Secretaria Municipal de Obras

Saquarema 9 Secretaria Municipal de Educação e Cultura Secretaria Municipal de Educação

18

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Tabela IV – Organizações e número de representantes presentes nos grupos focais não estatais em cada município.

Município Nº de presentes Representantes

Armação dos Búzios 12

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente ASFAB – Associação de Moradores da Ferradura

Associação de Funcionários da Prefeitura Associação de Amigos e Moradores do Canto Esquerdo de Geribá

Casa da Amizade Melhor Idade Ativa Búzios

Associação de Mulheres de Armação dos Búzios Associação Protetores dos Animais São Francisco de Assis

Colônia de Pescadores Z-23 Companheiros pró Educação, Cultura, Lazer, Ecologia e Trabalho

Arraial do Cabo 4 Associação de Turismo de Arraial do Cabo Ambientalista de Arraial do Cabo e Região dos Lagos

Campos dos Goytacazes 8

Associação de Moradores de Vila Nova Associação de Moradores e Amigos do Pq João Maria e Adjacências

Instituto Goitacá de E.S. Ambiental Associação de Moradores de P. Guarus

Associação de Moradores de P. Pecuária Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza

Carapebus 6

Associação de Moradores e Amigos da Praia de Caxanga Associação de Plantadores de Cana de Carapebus Associação Pastores Evangélicos de Carapebus

Associação de Rodagem Associação de Pescadores de Carapebus

Macaé 5 Ecoturismo / Esportes Radicais / ONG Habitat

Associação Mineira de Defesa do Ambiente Associação de Moradores do Mirante da Lagoa

Quissamã 12

Associação de Moradores de Morro Alto Câmara dos Dirigentes Logistas

Associação de Surf de Barra do Furado Associação de Guias (turismo)

Espaço Cultural José Carlos Barcelos Conselho Gestor do PARNA Jurubatiba

Guarda Municipal / líder comunitário Vigilância Sanitária

São Francisco de Itabapoana 13

Associação de Moradores da Praia de Santa Clara Associação de Moradores e Produtores Agrícolas de Carrapato

Associação de Moradores de Santa Clara Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

Associação de Estudantes de São Francisco de Itabapoana AMASS – Associação de Moradores de Sonhos e Sossegos

ONG Arco-íris de luz Colônia de Pescadores Z1

São João da Barra 5

ONG Um Novo Projeto de Vida Associação Moradores de Grussaí

Associação de Hotéis e Pousadas de Grussaí Associação Cultural Teatral Nós na Rua

Associação dos Comerciantes Associação de Mulheres Sanjoanense

Saquarema 11 ONG POABAS do Brasil

Escola de Surf Associação de Moradores do Boqueirão

As atividades tiveram duração entre três e quatro horas e o tamanho dos grupos

variou entre 4 e 17 pessoas. Foram conduzidas por um moderador que propôs a

19

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

discussão baseada em um roteiro focado nas atividades da Petrobras em cada município

(quadro 1), e acompanhadas por um observador, que redigiu um relatório com

impressões coletadas durante a discussão. As respostas foram dadas em seqüência,

anotadas pelos participantes em tarjetas e cartazes, lidas em voz alta para o

conhecimento de todos e foram exibidas ao grupo durante toda a atividade (figuras 2 e

3). Eventualmente, os participantes teciam comentários e explicações a respeito de suas

respostas e das de outros participantes. As atividades foram registradas em mídia

audiovisual. Na condução do grupo focal, foi respeitado o princípio da não diretividade,

e o moderador da discussão cuidou para que o grupo desenvolvesse a comunicação sem

ingerências indevidas da parte dele com intervenções afirmativas ou negativas, emissão

de opiniões particulares, conclusões ou outras formas de intervenção direta (Gatti,

2005). Além da discussão sobre os temas propostos no roteiro, os participantes

preencheram uma ficha de cadastro com dados pessoais.

Quadro I: Roteiro orientador da discussão realizada nas atividades de grupos focais nos

municípios estudados.

Roteiro Orientador dos Grupos Focais

Todas as respostas são escritas em cartões colados na parede a serem vistos por todos os

participantes

1) Nome; Atuação no município e tempo de moradia; Como a Petrobras está relacionada à sua

vida?; e As atividades da Petrobrás geram benefícios ou desvantagens para sua cidade?

Cada um se apresenta rapidamente (através da leitura dos cartões).

2) Quais as atividades da Petrobras presentes neste município?

3) Essas atividades geram que tipos de impactos? (separá-los em Positivos/ Negativos)

4) Que grupos sociais são afetados nessas atividades?

5) Vocês percebem se essas atividades geram alguns conflitos? E qual o conflito? Entre que

grupos?

6) Como poderiam ser solucionados esses conflitos?

7) Que meios são necessários para o alcance dessas soluções?

8) Como vocês poderiam colaborar para isto?

9) Quem mais precisa colaborar?

20

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Figura 2: Respostas dadas à questão sobre os impactos associados às atividades de exploração e

produção de petróleo e gás natural pela empresa Petrobras S.A. durante as atividades de grupo

focal nos municípios de Armação dos Búzios (esquerda) e Arraial do Cabo (direita).

Figura 3: Atividades de grupo focal nos municípios de São João da Barra (esquerda) e Rio das

Ostras (direita).

Processamento e organização dos dados coletados

Para essa pesquisa utilizamos as respostas dadas à terceira questão do roteiro

(anexo 1), além de falas emergentes da discussão sobre o assunto durante a atividade.

Transcrevemos as tarjetas contendo respostas sobre os impactos gerados pelas

atividades da indústria do petróleo na região, que foram sistematizadas em uma planilha

21

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

e separadas por município e por grupo. Assistimos as fitas de vídeo nas quais foram

registradas as atividades por completo, a fim de reconhecer não apenas explicações e

comentários relativos a essa pergunta, mas também falas emergentes em outros

momentos da atividade em que os participantes retomavam o assunto sobre os impactos

gerados. A essas respostas acrescentamos impressões registradas pelo observador da

atividade referentes à discussão em curso, como pontos de vista, consensos e dissensos,

contidas nos relatórios de observação. O grupo focal tem como uma de suas maiores

riquezas se basear na tendência humana de formar opiniões e atitudes na interação com

outros indivíduos, contrastando com dados colhidos em questionários fechados ou

entrevistas individuais, onde o indivíduo é convocado a emitir opiniões sobre assuntos

que talvez ele nunca tenha pensado a respeito anteriormente (Johnson, 1996; Millward,

2006). Portanto, consideramos que acompanhar e compreender o processo como se

deram essas respostas é uma base importante para a análise dos resultados.

A unidade amostral escolhida nessa pesquisa foi o município, porém,

eventualmente, é considerada a atuação no município de cada participante, procurando

identificar se há diferentes percepções sobre as questões do estudo que variam entre os

representantes da esfera estatal e da esfera não-estatal.

Análise dos dados

Realizamos uma análise textual discursiva, processo que se inicia com a

separação dos textos em unidades de significado. Essas unidades, formadas pelas

respostas dadas à questão, geram conjuntos de unidades a partir da interlocução

empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador, fazendo a

articulação de significados semelhantes em um processo de categorização dos impactos

que serão apresentados (figuras 4 e 5). Esse tipo de análise tem como desafio exercitar

uma dialética entre o todo e as partes (Moraes e Galiazzi, 2006; Moraes, 2003). Com

base em Moraes (2003) apresentamos o processo de análise das respostas enunciadas.

22

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Figura 4: Esquema dos passos metodológicos realizados para a análise das respostas geradas

durantes as atividades de grupos focais.

Figura 5: Exemplo dos passos seguidos para a caracterização das respostas geradas durante

as atividades de grupos focais.

O processo de unitarização implica examinar o material das tarjetas (as

respostas) em seus detalhes, fragmentando-o no sentido de atingir unidades de análise,

referentes aos diferentes impactos enunciados, ordenando-os e separando-os de acordo

com os significados, dando origem a um conjunto de informações sobre os fenômenos

- impacto ambiental; - aumento de esgoto; - poluição; - poluição de praias;

Impactos ambientais

discussão a respeito desses

impactos

-os migrantes chegam no

município em busca de empregos, a cidade cresce e

aumenta a produção de esgotos.

Texto das tarjetas

(unidades de análise)

Categorias de impactos a partir das respostas

Análise textual das categorias (discussão)

Falas emergentes da

discussão durante a

atividade de grupo focal e relatórios de observação.

23

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

investigados. Apenas as respostas escritas pelos participantes dão origem às unidades de

análise. As observações e os comentários emergentes da discussão durante as atividades

foram utilizados apenas para embasar o processo de categorização realizado

posteriormente.

A categorização é um processo de comparação entre as unidades definidas no

processo anterior da análise, estabelecendo relações entre elas que levam a

agrupamentos de elementos semelhantes, constituindo as categorias. Essas foram

construídas a posteriori, com base nas informações emergentes das atividades cujos

dados foram coletados. Com a categorização buscamos uma sistematização e descrição

mais objetiva de nossos resultados, e destacamos de IBASE (2005; 35p):

“Outro aspecto relevante a ser abordado é que essa técnica, em momento algum, se

dispôs a fazer juízo de valor, do tipo certo e errado, mas somente a coletar percepções

acerca de um entendimento do assunto, priorizando a simples oitiva e sistematização

das informações surgidas nos grupos focais.”

Uma vez construídas as categorias, estas são descritas, caracterizadas e

interpretadas dando origem a um texto argumentativo fundamentado em discussões e

opiniões dos participantes, inclusive em resposta a outras perguntas do roteiro, e em

referenciais teóricos relacionados aos diferentes impactos observados, estabelecendo-se

pontes entre elas sempre que possível.

Resultados

Ao tentar identificar os impactos ambientais decorrentes das atividades de

exploração de petróleo e gás natural percebemos que há, entre os participantes, o senso

comum de que esses são efeitos relacionados principalmente ao ambiente não

construído no qual a espécie humana está presente apenas como causa do impacto e não

como espécie que também sofre o impacto. Em todos os municípios foram mencionados

impactos como o risco de acidentes e vazamentos de óleo, a poluição e degradação

ambiental, o desmatamento, alterações nos ecossistemas costeiros e oceânicos,

introdução de espécies exóticas e extinção de espécies entre outros que dizem respeito

ao ambiente natural, não construído, separados dos impactos sociais e econômicos. Em

algumas atividades, entretanto, nos municípios de Arraial do Cabo, Armação dos Búzios

24

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

e São Francisco do Itabapoana já percebemos nas falas uma relação entre os riscos da

exploração do petróleo e os prejuízos para a atividade pesqueira, associando um

impacto ambiental a seu contexto sócio-econômico.

Com as atividades de grupos focais, percebemos que seria interessante

estudarmos os impactos ambientais sob outra perspectiva, incluindo a dimensão sócio-

econômica desses efeitos. Apresentamos, portanto todos os impactos indicados pelos

representantes dos municípios da região litorânea da Bacia de Campos, a fim de buscar

estabelecer relações entre eles. O quadro II apresenta uma sistematização desses

impactos já em categorias organizadas e os municípios em que foram citados. As

respostas escritas durante as atividades que deram origem a essas categorias estão no

final desse trabalho (anexo 1).

Quadro II – Categorias de impactos apresentados pelos participantes das atividades de grupo

focal e os municípios em que foram apontados.

Impacto Municípios

Impactos ambientais

Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de

Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)

Desenvolvimento econômico – movimentação da economia (local, regional e/ou nacional)

Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé,

Quissamã, São Francisco de Itabapoana e Saquarema (10)

Arrecadação dos royalties Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Carapebus, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São João da Barra e

Saquarema (9)

Dependência fiscal dos royalties ou preocupação com a economia pós-petróleo Araruama, Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã (4)

Investimentos no município Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus e Saquarema (6)

Geração de empregos

Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de

Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)

Crescimento populacional –migração.

Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de

Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (13)

Realização de projetos de responsabilidade social

Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras,

São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (10)

Abrangência dos projetos sociais que não alcançam a comunidade em geral São Francisco de Itabapoana e São João da Barra (2)

Melhorias na qualidade de vida Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Casimiro de

Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São Francisco de Itabapoana (8)

25

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Diminuição da qualidade de vida Arraial do Cabo, Macaé e Quissamã (3)

Prejuízos para a pesca Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Macaé, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema (6)

Prejuízos para o turismo Arraial do Cabo (1)

Certeza da qualidade do combustível Araruama (1)

Pesquisas tecnológicas Arraial do Cabo (1)

Pesquisas científicas

Conhecimento

Mobilização

Capital social

Casimiro de Abreu (1)

Crise levando à criação de Ucs Macaé (1)

Valorização da mão-de-obra Campos dos Goytacazes (1)

Os impactos ambientais, o crescimento populacional (migração),

freqüentemente associado aos impactos sociais decorrentes desse fenômeno, e a

geração de empregos são impactos citados em todos os treze municípios, sendo os mais

importantes observados. Pelo menos em metade dos municípios foram mencionados

impactos como realização de projetos de responsabilidade social; desenvolvimento

econômico (movimentação da economia); melhorias na qualidade de vida; e

arrecadação de royalties.

À categoria impactos ambientais estão agregadas falas relacionadas a: risco de

acidentes e derramamento de óleo; vazamentos; catástrofes; desastre ecológico;

poluição ambiental; degradação ambiental; desmatamento; impacto sobre ecossistemas

marinhos e terrestres; potencial poluidor de praias, de costões rochosos, de manguezais,

de águas oceânicas, das águas, dos rios; poluição do ar; estresse ambiental; alteração

dos ecossistemas vizinhos; mudanças no ecossistema marinho/ costeiro; super

exploração de recursos naturais; impactos na colocação de dutos; pesquisas sísmicas;

riscos de vida; introdução de espécies exóticas; extinção de espécies; destruição da

fauna aquática em caso de derramamento de óleo; esgotamento de jazidas; consumo e

captação desordenada de água; lançamento de resíduos; aumento do esgoto; mananciais

aterrados; pressão sobre o ambiente natural e sobre outros recursos naturais.

Entre os problemas trazidos pela migração, relatados pelos participantes

entrevistados, estão: especulação imobiliária; perda de identidade cultural das cidades;

ocupação desordenada do solo; ocupação de áreas de riscos como inundação e

deslizamentos; favelização; aumento da violência; aumento da criminalidade e da

prostituição; atividades de risco no centro da cidade; barulho; danos à saúde e riscos à

população; transformação da cidade em um canteiro de obras; aumento do tráfico de

26

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

drogas; aumento do custo de vida; desigualdade social; pressão nos serviços de

habitação, saúde, educação, assistência social, trânsito/ transportes, turismo e lazer; falta

de planejamento ambiental da cidade; aumento da poluição das vias; riscos de vida.

Discussão

No estágio de avanço de ocupação do mundo, torna-se cada vez mais difícil

separar as dimensões sócio-econômicas dos impactos ambientais, já que as condições

ecológicas alteram as condições culturais, sociais e históricas, e são por elas

transformadas. Assim, impacto ambiental não é somente resultado de uma ação sobre o

ambiente, mas relação de mudanças sociais e ecológicas em movimento. Se impacto

ambiental é indivisível, a preservação dos sistemas que suportam a vida deve ser

pensada na perspectiva da complexidade ambiental, num planejamento integrado e

adequado ao gerenciamento das questões sociais, contribuindo com a conservação de

nossos ambientes, atuando no fortalecimento político da sociedade e ajudando-a a

intervir ativamente nas decisões sobre a gestão dos recursos naturais (Reyes, 1996).

Trata-se, então, de se promover uma ciência ecológica que seja integral e analise os

problemas ambientais desde uma perspectiva de ecossistemas, incluindo a interação dos

sistemas sociais com naturais (Holling et al, 1998), cabendo trabalhar de forma mais

ampla, assumindo que nossa espécie, responsável não só por grande parte das mudanças

ambientais nos últimos tempos, mas também por toda a produção de conhecimento na

área, vive, por sua natureza, em sociedade.

Impactos ambientais

Essa categoria traz a idéia de que no senso comum o ambiente se reduz ao meio

que está ao nosso redor, quase sempre separando o homem, ou os impactos relacionados

à nossa vida em sociedade. Em todos os municípios esse impacto foi mencionado pelos

participantes das atividades de grupo focal.

A palavra poluição aparece recorrentemente durante as atividades e é quase

sempre relacionada às atividades de exploração de petróleo, principalmente associada a

vazamentos de óleo e alteração em ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres.

Todavia, aparece também fazendo menção aos impactos do processo de adensamento

urbano, como lançamento de esgotos e alterações na qualidade do ar.

27

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Poluição é definida pela entrada de substâncias ou energia no ambiente, sempre

pela ação humana, que podem causar danos à saúde, à estrutura e ao funcionamento dos

organismos e dos ecossistemas, ou a interferência do ambiente pelo uso (Holdgate,

1979). Os poluentes agem modificando processos bioquímicos e afetando a fisiologia

dos organismos, o sucesso reprodutivo e a dinâmica de populações, gerando mudanças

no ecossistema, posto que há interação entre os seres e o ambiente (Holdgate, op. cit.).

Segundo Rios (1995), os principais tipos de poluição são causados diretamente

pelo uso, em grande escala, da energia exossomática, como, por exemplo, o petróleo.

De acordo com Margalef (1993), os ecossistemas tendem ao aumento de diversidade e à

redução da taxa de renovação, ou seja, tendem a funcionar da forma mais lenta possível.

Ao longo da sucessão ecológica se observa uma tendência à desaceleração da produção,

equivalente a diminuição do coeficiente de fluxo de energia por unidade de biomassa

mantida. Quando a taxa de renovação é mais lenta, os organismos aumentam seu

controle sobre os ciclos biogeoquímicos, ou seja, à medida que passa o tempo, os

elementos limitantes cada vez permanecem menos tempo fora dos organismos,

estendendo-se inclusive à matéria orgânica morta.

O homem, ao tomar posse de uma enorme quantidade de energia e ao fazer dela

o uso em larga escala – lembrando que o petróleo é a fonte de energia mais utilizada no

mundo – altera em alta velocidade os ciclos biogeoquímicos do planeta e força os

ecossistemas a inverter sua tendência natural, acelerando suas taxas de renovação e

aumentando da entropia. Esse aumento de energia no ambiente favorece o

desenvolvimento de espécies principalmente r estrategistas, comuns aos estágios

iniciais de sucessão, reduzindo a equitabilidade, provocando inevitavelmente a

diminuição da diversidade (Margalef, op. cit.).

Contaminação por óleo e derivados

Além dos impactos do uso de energia em larga escala, há o risco de

contaminação por óleo e derivados. Contaminação se refere à acumulação de moléculas

recalcitrantes, cuja degradação é muito lenta, implicando uma tensão constante sobre os

ecossistemas os quais respondem acelerando sua taxa de renovação (Margalef, op. cit.).

Segundo o mesmo autor, a contaminação implica uma tensão constante sobre os

ecossistemas, que respondem acelerando sua taxa de renovação e perdem diversidade.

28

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Em casos de acidentes envolvendo vazamento de petróleo, a toxicidade do óleo

é influenciada por suas características físico-químicas (densidade, viscosidade e tipos de

hidrocarbonetos) e pelo volume derramado (Bartha, 1986), pelo grau de exposição às

ondas, pelo tipo de substrato e pelas características – composição específica, densidade,

biomassa, diversidade funcional – da própria comunidade que sofre o impacto (Falcão,

2003). Os principais fatores limitantes da degradação de petróleo no mar são a

resistência e a toxicidade do próprio óleo, a baixa temperatura do ambiente, a escassez

de nutrientes, oxigênio dissolvido e número de bactérias capazes de degradá-lo (Atlas,

1981). Em áreas de intenso hidrodinamismo, o impacto na fauna e na flora é menor que

em áreas protegidas da ação das ondas, como estuários, manguezais e baías, onde a

degradação do óleo pode ser lenta. O hidrodinamismo é um dos fatores que acelera o

espalhamento, a evaporação, emulsificação, foto-oxidação, sedimentação e degradação

microbiana. Em manguezais, onde o sedimento é predominantemente anóxico, a

contaminação por óleo persiste e diminui a diversidade de comunidades bentônicas

(Falcão, op.cit.).

Os efeitos sobre os organismos podem ser a morte por asfixia pelo contato

direto, envenenamento por exposição aos componentes tóxicos (Schaeffer-Novelli,

1990), além da redução de sua tolerância a condições físicas extremas e efeitos

subletais, que causam alterações no comportamento, crescimento e sucesso reprodutivo

dos organismos marinhos (Howarth, 1989). Nos ecossistemas costeiros, afeta a

capacidade fotossintética da vegetação. Em algas de costões rochosos, por exemplo, os

hidrocarbonetos afetam a membrana dos cloroplastos, destruindo a clorofila,

diminuindo a taxa de fotossíntese e aumentando a taxa de respiração, fazendo com que a

produção líquida seja reduzida (Falcão, op. cit.).

Em casos de ambientes eutrofizados pelo lançamento de esgotos domésticos,

ricos em compostos de nitrogênio e fósforo, a diminuição da concentração de oxigênio

no ambiente aumenta os efeitos da contaminação, posto que diminui o potencial de

degradação dos hidrocarbonetos (Couceiro et al, 2006).

Poluição do ar

A poluição do ar é gerada, principalmente, pela queima de combustíveis, que

libera para a atmosfera partículas como fumaças, fuligens e gases como dióxido e

29

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

monóxido de carbono, óxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. Esse impacto, assim

como o processo de eutrofização, está associado ao processo de adensamento urbano

gerado pela instalação de um parque industrial numa dada região.

Pesquisas sísmicas

Outro impacto mencionado se refere às atividades de pesquisas sísmicas para

buscar jazidas de petróleo e gás natural na plataforma continental e em águas profundas,

que apresentam, dentre seus principais efeitos, a interferência em comportamentos

biológicos importantes como acasalamento e desova em peixes, cetáceos e quelônios

(Vilardo, 2007).

Os estudos sísmicos podem ser classificados como poluição sonora, uma vez que

são feitos a partir de disparos de ar comprimido em períodos determinados de tempo,

gerando emissões acústicas de grande alcance. Entretanto, nos grupos focais essa

relação não é explícita.

A partir das respostas dadas (anexo 1), observamos que são mencionados os

tipos mais visíveis de poluição, como por contaminações que alteram aparência do

ambiente, como cor, odor etc. Mesmo entre esses não são considerados, em geral, os

efeitos indiretos como de acumulação dos poluentes no solo, água, ar e nos organismos

e os fluxos na cadeia alimentar, da qual também fazemos parte. Alguns impactos

relacionados à exploração do petróleo como o revolvimento do sedimento na instalação

de plataformas e perfuração de poços, a geração de cascalho e a contaminação por

fluidos de perfuração, parecem ser visíveis apenas nas imediações das plataformas, a

cerca de 160 Km da costa. Esses são indicados nos estudos de avaliação de impactos

ambientais referentes ao licenciamento de empreendimentos de exploração petróleo6,

mas não são mencionados durante as atividades realizadas.

Esses impactos ambientais são gerados pelo processo de industrialização e

urbanização decorrente dessa forma de vida em sociedade, sendo, portanto,

6 Relatório de Avaliação Ambiental da plataforma P-47, elaborado pela empresa Vereda Estudos e

Execução de Projetos Ltda (2003) e no Relatório de Impactos Ambientais do campo de Espadarte,

elaborado pela empresa CEPEMAR (2002).

30

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

indissociáveis do contexto sócio-econômico e das decisões políticas da sociedade. Um

empreendimento como o de exploração e produção de petróleo e gás natural gera,

principalmente no espaço geográfico imediato em que se instala, impactos tanto no

ambiente construído, como no meio natural.

Para entendermos efeitos ecológicos à luz de sistemas urbanos, os processos

socioeconômicos são tão importantes à análise quanto os processos estudados pelas

ciências biológicas e ciências da terra (Pickett et al, 2004). Se forças externas regulam

potencialmente a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas, as atividades humanas

precisam ser consideradas importantes direcionadoras dessas mudanças (Pickett &

McDonnell, 1993). As sociedades humanas e suas diferentes formas de vida têm

mostrado exercer um considerável papel na dinâmica dos ecossistemas. A sociedade

moderna desenvolveu técnicas eficazes no uso da energia exossomática para realizar

trabalho, principalmente no que diz respeito ao deslocamento de energia no plano

horizontal. O processo de urbanização, produto do desenvolvimento da civilização

industrial, provoca não só a escassez de recursos naturais em um determinado local, mas

também o acúmulo de resíduos não assimilados pelo sistema. Freqüentemente a

influência deixa marcas persistentes nos solos, na vegetação ou em outros componentes

dos sistemas ecológicos. Às vezes são indiretas, fazendo-se sentir em lugares diferentes

do local da atividade, como quando a poluição é transportada pela água ou pelo ar até

áreas distantes, outras são de influência direta como pastagens, agricultura, mineração e

urbanização.

Pensando os impactos ambientais em meios urbanos buscamos uma visão dos

processos ambientais integradora das dimensões biológica, político-econômica,

sociocultural e espacial. Sendo a urbanização uma transformação da sociedade, os

impactos ambientais promovidos pelas aglomerações urbanas são ao mesmo tempo

produto e processo de transformações dinâmicas e recíprocas da natureza e da sociedade

estruturada em classes sociais (Coelho, 2005). Compreendemos uma relação dialética

entre a sociedade (e suas relações sociais de produção) e os ciclos ecológicos,

apreendidos a partir da noção de ecossistema. Uma ecologia urbana aborda as relações

entre usos do solo, os efeitos dessas atividades e o esforço político-financeiro de

reordenação e conservação dos recursos naturais.

31

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Acreditamos, portanto, ser importante conhecer os impactos sobre o meio sócio-

econômico citados nas atividades de grupos focais, na tentativa de traçar relações entre

os efeitos no meio natural e o processo social associado às atividades de exploração de

um recurso natural.

Desenvolvimento econômico / movimentação da economia

A descoberta de petróleo na Bacia de Campos trouxe para a cidade de Macaé, e

seus municípios vizinhos da costa litorânea, grandiosos investimentos para o

desenvolvimento de tecnologia e infra-estrutura para a exploração petrolífera. Esses

empreendimentos faziam parte dos chamados “Grandes Projetos de Investimentos” no

governo militar do país, numa época em que a região norte-fluminense passava por uma

grave crise de estagnação econômica no setor sucro alcooleiro. Atualmente ainda são

parte dos projetos de desenvolvimento nacional, quando o Brasil busca a auto-

suficiência em relação à produção de energia. A busca por petróleo em território

nacional foi sempre marcada pela magnitude financeira de seus investimentos,

transformando profundamente a economia, a sociedade e o espaço do Brasil (Monié,

2003).

O papel que a indústria petrolífera desenvolve atualmente no mundo vai muito

além do desempenho de suas unidades de operação – neste caso, aparentemente isoladas

em alto mar – ou da importância de seus derivados para o consumo. Esta atividade e

seus efeitos multiplicadores apresentam a capacidade de interferir nas dinâmicas sócio-

espaciais do lugar em que está estabelecida ou em qualquer parte do globo (Souza,

2004) na medida em que a economia mundial atual é baseada principalmente na

produção e consumo de petróleo. Apesar do complexo industrial da Petrobras localizar-

se em Macaé, essa indústria vem trazendo também para outros municípios da região

norte fluminense e para a região das baixadas litorâneas muitas modificações no que diz

respeito à ocupação territorial e ao foco da economia.

A Bacia de Campos, responsável por 84% da produção nacional, se configura a

mais importante região produtora do país atraindo investimentos e empresas direta ou

indiretamente associadas à indústria petrolífera, além de gerar um efeito multiplicador

pela inclusão de outros setores da economia, e pela criação de oportunidades de

negócios para um vasto mercado de fornecedores de equipamentos, suprimentos e

32

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

serviços (Leal & Serra, 2003). Tal fato leva a um aquecimento da economia regional,

traduzido em aumentos nas rendas municipais e benefícios diversos à sociedade como,

por exemplo, a geração de empregos, impacto mencionado em todos os municípios.

Ainda que a oferta de empregos seja para um público mais especializado, é um atrativo

para os municípios da região7, como observa Souza (2004):

“os efeitos desencadeadores ou multiplicadores da atividade petrolífera

desenvolvida, atualmente, na Bacia de Campos modificam os perfis sociais,

econômicos, culturais e políticos e tem como conseqüências a reorganização

do espaço regional, bem como a mudança na posição da região, que passa a

assumir um importante papel em escala nacional e se inserir na economia do

sistema mundo.”

Entretanto, as estruturas econômicas e sociais evidenciam que não houve

correspondência entre o visível crescimento econômico e o desenvolvimento nessa

região, mostrando que dispor de recursos para investir não é condição suficiente para

melhorar a situação da população, como o desenvolvimento de políticas públicas que

garantam água potável, saneamento básico e atendimento médico para todos e todas as

crianças na escola.

O desenvolvimento dessa atividade na região provocou uma transformação

radical e rápida da estrutura produtiva e do mercado de trabalho, cujos impactos sociais

e espaciais revelam-se particularmente desiguais, fazendo-se notar, ao mesmo tempo, o

enriquecimento de parte da população e o afluxo de trabalhadores pobres sem

qualificação; o surgimento de áreas de residência e de consumo de alto padrão social e a

expansão de bolsões de pobreza; o aumento das desigualdades intra-regionais entre

campo e cidade, e também entre centros urbanos mais ou menos inseridos na nova

economia regional.

Arrecadação de royalties

Os royalties constituem um recurso que tem como função tornar mais

eqüitativos os investimentos econômicos em longo prazo, ou seja, permitir que os

7 Estamos nos referindo aos 13 municípios envolvidos pelo projeto: Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Rio das Ostras, Búzios, Casimiro de Abreu, Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco do Itabapoana.

33

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

municípios afetados pela exploração de petróleo e gás natural possam investir em outras

atividades econômicas não relacionadas somente ao petróleo, aproveitando, por

exemplo, o potencial da região explorada para o turismo (Leal & Serra, 2003).

A partir da promulgação da Lei n.º 9.478/97 que dispõe sobre a política

energética nacional e institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência

Nacional de Petróleo, verificou-se um extraordinário crescimento nas receitas de

royalties e participações especiais, resultantes de compensações financeiras, devidas

pelos concessionários de exploração e produção de petróleo e gás natural. O

recebimento dos royalties apareceu nas atividades como a forma com que a Petrobras

promove o desenvolvimento municipal, e de fato representa um incremento

significativo nos orçamentos das prefeituras dos municípios que compõem a zona de

produção principal, composta pelos municípios de Armação dos Búzios, Cabo frio,

Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das

Ostras e São João da Barra (Souza, 2004 e Gutman & Leite, 2003). Muitas vezes o

repasse de royalties significa mais da metade da receita orçamentária municipal, como

em Armação dos Búzios, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé e Quissamã, tornando

assim o município bastante dependente de tal fonte de recurso. A tabela V traz valores

totais de royalties arrecadados pelos municípios, a população residente e o valor desse

tributo arrecadado per capita no ano de 2006. Mostra ainda a receita orçamentária de

alguns municípios no mesmo ano.

Tabela V – Valores totais de royalties arrecadados, população e valores do mesmo tributo

arrecadados per capta e receita orçamentária por município no ano de 2006.

Município Arrecadação(R$)

População

Royalties per capta

(R$)

Receita orçamentária

(R$)

Arrecadação de royalties/receita orçamentária

Araruama 5.995.028,70 103.229 58,08 N/D N/D

Armação dos Búzios 56.369.444,93 24.919 2.262,07 106.114.424,90 0,53

Arraial do Cabo 4.716.942,33 27.263 173,01 N/D N/D

Cabo Frio 218.548.225,54 172.685 1.265,59 N/D N/D

Campos dos Goytacazes 847.869.662,01 432.535 1.960,23 N/D N/D

Carapebus 33.076.939,27 10.818 3.057,59 53.720.267,37 0,62

Casimiro de Abreu 83.965.371,51 27.767 3.023,95 132.932.963,60 0,63

Macaé 413.116.830,41 165.285 2.499,41 801.082.699,30 0,52

Quissamã 85.042.407,67 16.407 5.183,21 135.813.678,90 0,63

Rio das Ostras 319.128.486,78 52.519 6.076,42 N/D N/D

São Francisco de Itabapoana 5.162.385,87 47.739 108,14 47.833.777,55 0,11

São João da Barra 54.580.611,28 28.910 1.887,97 N/D N/D

Saquarema 5.328.914,38 64.963 82,03 77.721.390,18 0,07 Fonte: InfoRoyalties: www.royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br N/D: não disponível.

34

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Gutman & Leite (2003) afirmam que, apesar de tais recursos serem responsáveis

por alavancar o crescimento econômico local, fica evidente que não são investidos na

redução dos níveis de exclusão social existentes na região, tampouco na mitigação dos

impactos sobre o meio ambiente. Se notarmos na tabela V apenas os valores de royalties

arrecadados per capita em 2006, cabe questionarmos como pode haver parte da

população vivendo sem acesso a serviços públicos, como tratamento de esgoto que é

lançado in natura em corpos d’água, e ausência de programas e projetos de mitigação

de impactos ambientais em municípios como Armação dos Búzios, Campos dos

Goytacazes e Macaé, por exemplo.

Aliado à questão sobre o atendimento das necessidades da população ou das

melhorias que chegam à sociedade, há o problema do uso legal dos royalties. Serra &

Patrão (2003) observam a ausência de qualquer instrumento específico de controle

social sobre a destinação dada aos recursos de tais tributos na legislação vigente e

aponta para a necessidade da ampliação de espaços democráticos de participação no

país para decisão sobre a alocação de parte ou toda a receita de royalties repassada à

esfera local. Nos municípios de Armação dos Búzios e Macaé, representantes do setor

de pesca reclamaram maior participação da sociedade civil nas decisões que concernem

à utilização desses tributos. Ressaltaram que políticas públicas municipais de apoio à

pesca poderiam contribuir para melhorias no padrão de vida dos pescadores, na

conservação da frota e investimentos em tecnologia e segurança, levando-se em conta

os altos rendimentos auferidos pelas prefeituras municipais. No primeiro, representantes

afirmaram que propostas de alocação dos royalties para preservação do meio ambiente

enviadas à prefeitura por organizações da sociedade sequer são respondidas. Serra

(2005) sugere que esses recursos sejam revertidos em políticas públicas de preservação

ambiental, pois assim como as prefeituras municipais, o Ministério do Meio Ambiente

também tem parte significativa de seu orçamento advinda dos royalties do petróleo.

Apenas o município de Rio das Ostras submete a destinação de recursos municipais,

dentre eles os royalties, à discussão e avaliação de setores organizados da sociedade

civil, realizando periodicamente reuniões de orçamento participativo.

Outro impacto associado a esse é a preocupação com a economia pós-petróleo,

relacionada com a dependência econômica dos royalties por parte dos municípios da

região, nos quais pelo menos a metade da receita vem desses tributos. Essa preocupação

é legitimada por Serra & Patrão (2003) que afirmam que a norma vigente de

35

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

distribuição dos royalties é pautada no determinismo físico dos campos de exploração e

não de acordo com a dinâmica sócio-econômica desses municípios em relação às

atividades relacionadas à indústria petrolífera. Esse fato dificulta uma efetiva utilização

desses recursos como instrumento de promoção de políticas de justiça intergeracional,

ou seja, em investimentos de diversificação produtiva, visto que a trajetória econômica

atual é baseada em um recurso finito, não-renovável (Leal e Serra, 2003).

Dados de produção acumulada e reservas provadas de petróleo permitem estimar

a época de pico da produção e posterior declínio. M. King Hubbert, em estudo

encomendado pela presidência dos Estados Unidos da América em 1956 calculou com

acerto a época que se daria o pico de produção de petróleo no país. Com base em outras

estimativas como essa, observou que ao longo do tempo a produção dos campos de

exploração seguia uma curva que chegava ao máximo e começava a cair

irremediavelmente depois de retirada a metade da quantidade de petróleo passível de

extração (Porto, 2006). Com base nessa observação e em dados oficiais de produção e

reservas de petróleo (provadas ou a serem encontradas), o mesmo autor argumenta que

o Brasil ultrapassou seu pico na produção de petróleo convencional8 em 1997, e

provavelmente atingirá o pico geral de produção (incluindo os óleos não convencionais)

aproximadamente no ano 2012 (figura 6). A época do pico pode variar, principalmente

em função dos novos reservatórios que parecem existir abaixo da camada de sal nas

águas ultraprofundas da Bacia de Santos. Entretanto, é necessário que a Petrobras

consiga desenvolver tecnologia que torne economicamente viável a exploração desses

reservatórios a cerca de 7.000 metros de profundidade. Mesmo que o país consiga adiar

a época do “pico de Hubbert”, é fato que a economia sofrerá em poucas décadas, o

efeitos da queda na produção do ouro negro, com reflexos tanto no setor de bens e

serviços quanto em relação aos empregos oferecidos.

8 O chamado óleo convencional é o petróleo mais leve, de fácil extração e refinamento. O chamado óleo “não-convencional” refere-se a óleos pesados, de águas profundas, piche, areias betuminosas entre outras formas (Porto, 2006).

36

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Figura 6: Pico de Hubbert para o óleo brasileiro (petróleo convencional somado aos óleos não-

convencionais (Porto, 2006).

Investimentos no município

Esse impacto pode estar relacionado tanto ao recebimento de royalties, muitas

vezes entendido pela população como investimento da empresa ou como indenização, e

não como tributo que é, ou com o aquecimento da economia atraindo cada vez mais

empresas que invistam nesses municípios, que a exemplo de Macaé e Rio das Ostras

ampliam suas zonas especiais de negócios, espaços criados para a instalação industrias e

instalação de empresas nos municípios.

Geração de empregos

A geração de empregos foi citada em todos os municípios. A presença da

Petrobras vem alterando a estrutura socioeconômica de cidades que recebem as

instalações da empresa, como é o caso de Macaé e Campos dos Goytacazes. Lobato

(1988) observa que muitas vezes uma grande empresa constitui-se na mais importante

fonte de empregos de uma cidade. E de fato, Macaé transformou-se em um dos

municípios do estado do Rio de Janeiro que mais ofereceu postos de trabalho entre 1990

e 2000 (Neto e Ajara, 2006). A abertura de novos postos de trabalho é também

responsável pelo aumento da circulação financeira na região e, conseqüentemente, pelo

desenvolvimento de outros setores da economia, como comércio e serviços, que geram

mais empregos e contribuem para o aquecimento da economia regional (Souza, 2004).

37

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Contudo, é na faixa que vai de 1,01 a 3,00 salários mínimos que se encontra a

maior concentração e o maior aumento percentual de postos de trabalho na região,

sendo informais em sua maioria. Na faixa acima de 15,01 salários mínimos observa-se

aumento de oferta de empregos somente até os anos de 1990, seguido de declínio a

partir dessa data (Neto e Ajara, op cit). Os municípios vizinhos, apesar de não sediarem

o parque industrial, também oferecem postos de trabalho na construção de estruturas da

indústria petrolífera como, por exemplo, gasodutos e oleodutos, atraindo,

principalmente, trabalhadores menos qualificados que ocupam postos temporários de

trabalho.

Essa diferenciação em relação à qualificação dos trabalhadores é refletida em

outro impacto, associado a este, mencionado apenas por representantes da esfera estatal:

o incentivo à qualificação profissional voltada para a área. Apareceu nos municípios

de Arraial do Cabo, Carapebus, Casimiro de Abreu, Quissamã e São Francisco de

Itabapoana, e sugere que essas oportunidades estão mais associadas a profissionais

vinculados à administração municipal, dos quais quase sempre se exige nível superior.

De fato, de acordo com os dados cadastrais dos participantes, verificamos a

predominância do nível superior como grau de escolaridade nos grupos estatais quando

comparados aos não-estatais, o que pode ser explicado pelo fato de a entrada no

funcionalismo público, na maior parte das vezes ser por concurso público, o que exige

maior grau de escolaridade. Já nos grupos não-estatais, o envolvimento é muitas vezes

voluntário e não há exigência de escolaridade mínima para participar das organizações

da sociedade civil.

A região surge em diversas reportagens na imprensa escrita e falada como um

pólo de desenvolvimento em franca expansão, onde o emprego é farto e a qualidade de

vida elevada. Essa propaganda, também comentada pelos representantes participantes

das atividades, resulta na migração de pessoas com os mais diversos graus de

escolaridade e tipos de qualificação. Aqueles migrantes com capacitação para trabalhar

no ramo do petróleo ou nas atividades diretamente ligadas a ele conseguem emprego,

recebem altos salários, concentrando-se em condomínios de luxo e bairros valorizados,

que abrigam a maior parte dos serviços, enquanto aqueles migrantes desqualificados,

em sua maioria, ficam subempregados ou tomam os postos de trabalho informais e,

muitas vezes, temporários, ocupando áreas menos valorizadas pela indústria imobiliária

constituindo bairros pobres e favelas (Souza, 2004). Esse processo está intrinsecamente

38

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

relacionado a outro impacto muito mencionado durante as atividades realizadas: o

crescimento populacional acelerado dos municípios estudados.

Crescimento populacional – migração

“A cidade não para, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce.”

O crescimento populacional é um impacto relacionado à Petrobras em todos os

municípios. A geração de empregos impulsionada pela chegada da indústria do petróleo

como mencionado no item anterior, atrai migrantes em busca de trabalho em uma região

em franco desenvolvimento econômico. A tabela VI mostra o número de residentes nos

municípios da Bacia de Campos a que estamos nos referindo em três épocas: em 1970,

década da chegada da Petrobras na Bacia de Campos; em 2000, no último censo

realizado pelo IBGE; e em 2007, segundo contagem da população feita pelos

municípios e publicada no D.O.U. e na página eletrônica do IBGE. Podemos notar o

impressionante crescimento demográfico de municípios como Araruama, Armação dos

Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu, Macaé, Rio das

Ostras, São João da Barra e Saquarema, também ilustrado na figura 7.

Tabela VI – Variação do tamanho populacional dos municípios envolvidos neste estudo em três

épocas: 1970, 2000 e 2007.

Município 1970 2000

Taxa de crescimento 1970-2000

(%)

2007

Taxa de crescimento 1970-2007

(%) Araruama 40.288 82.757 105 98.312 144 Armação dos Búzios 4.225 18.125 329 24.560 481 Arraial do Cabo 10.937 23.860 118 25.248 131 Cabo Frio 29.768 126.834 326 162.191 445 Campos dos Goytacazes 285.670 406.484 42 426.154 49 Carapebus 8.261 10.684 29 10.677 29 Casimiro de Abreu 9.971 22.036 121 27.086 172 Macaé 47.328 130.518 176 169.229 258 Quissamã 9.993 13.832 38 17.376 76 Rio das Ostras 6.658 36.771 452 74.789 1023 São Francisco de Itabapoana 40.066 41.076 3 41.947 5 São João da Barra 15.610 27.422 76 28.889 85 Saquarema 31.233 67.566 116 62.169 99 Fonte: Fundação CIDE, banco de dados municipais para 1970 e 2000 e IBGE, censo realizado em 2000 e

contagem da população em 2007 (D.O.U.).

39

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

450.000

Ararua

ma

Arraial

do Cab

o

Cabo F

rio

Campo

s dos

Goytac

azes

Carape

bus

Casimiro

de A

breu

Rio da

s Ostr

as

Saqua

rema

197020002007

Figura 7: Variação do tamanho populacional nos treze municípios em três épocas: 1970, 2000 e

2007.

Municípios que eram predominantemente rurais em 1950, passam a apresentar

em 2000 índices de urbanização altíssimos (tabelas VII e VIII). Estes migrantes vêm

não somente de outros centros urbanos, mas observa-se também um êxodo rural

ocasionado pelo esvaziamento das áreas de produção agrícola, conseqüência da

significativa mudança na economia regional (Neto e Ajara, 2006). Armação dos Búzios

e Macaé tornaram-se quase exclusivamente urbanos; Quissamã e Carapebus que eram

áreas pertencentes a usinas de açúcar, predominantemente rurais, emanciparam-se do

município de Macaé e passaram a apresentar maior parte da população nas cidades;

Casimiro de Abreu e São João da Barra perderam também seu território com a

emancipação de Rio das Ostras e São Francisco de Itabapoana (Piquet, 2003). Apesar de

não haver censos mais recentes, podemos inferir, apoiando-nos na tendência mundial,

que os números continuam crescendo. De acordo com o recente relatório do Programa

das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma, GEO 4, 2007), o ano de 2007 é o

primeiro na história da humanidade em que mais da metade da população mundial vive

em cidades.

Tabela VII: População rural e urbana nos municípios considerados da zona de produção

principal de petróleo nos censos demográficos realizados pelo IBGE (em 1960 não houve

censo).

Ano do censo demográfico 1950 1970 1980 1991 2000 Municípios rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana

Armação dos Búzios1 - - - - - - - - - 18.204

Cabo Frio 6.557 9.619 6.699 37.680 12.539 58.416 5.698 79.217 20.591 106.237

Campos dos Goytacazes 154.545 83.088 143.110 175.501 145.062 203.399 64.442 324.667 42.812 364.177

40

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Carapebus2 - - - - - - - - 1.791 6.875

Casimiro de Abreu 6.190 1.818 12.803 3.996 8.475 13.696 3.459 30.386 3.815 18.337

Macaé 38.782 16.091 25.380 39.938 20.699 55.152 11.559 89.336 6.454 126.007

Quissamã3 - - - - - - - - 5.975 7.699

Rio das Ostras4 - - - - - - - - 10.276 26.513

São João da Barra 40.355 4.728 45.912 9.707 33.580 21.017 29.770 29.791 8.051 19.631

Fonte: IBGE 1 município emancipado de Cabo Frio em janeiro de 1997. 2 município emancipado de Macaé em janeiro de 1997. 3 município emancipado de Macaé em janeiro de 1990. 4 município emancipado de Casimiro de Abreu em janeiro de 1993.

Tabela VIII – Proporção (em percentagem) das populações urbana e rural de acordo com os

censos demográficos realizados pelo IBGE nos municípios da zona de produção principal de

petróleo.

Ano do censo demográfico 1950 1970 1980 1991 2000 Municípios rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana rural urbana

Armação dos Búzios - - - - - - - - - 100 Cabo Frio 41 59 15 85 18 82 7 93 16 84 Campos dos Goytacazes 65 35 45 55 42 58 17 83 11 89 Carapebus - - - - - - - - 21 79 Casimiro de Abreu 77 23 76 24 38 62 10 90 17 83 Macaé 86 14 39 61 27 73 11 89 5 95 Quissamã - - - - - - - - 44 56 Rio das Ostras - - - - - - - - 28 72 São João da Barra 90 10 83 17 62 38 50 50 29 71

O impacto ambiental provocado pelo aumento da concentração de população em

alguns pontos do espaço geográfico, em cidades ou em periferias é muito grande. A

concentração da população implica por si mesma, questões ambientais que não se

colocam quando a população está dispersa nas áreas rurais, como lixo, o abastecimento

de água, o saneamento básico. Somado ao fato de já significar em si um impacto

ambiental, o crescimento dessas cidades acontece sem levar em conta um planejamento

urbano que garanta o acesso da população a serviços básicos e a proteção de áreas de

preservação permanente, como restingas, manguezais, encostas e margens de rios e

lagoas, levando a saúde pública a se tornar um problema ambiental. Além disso, o

crescimento das populações em aglomerados urbanos aumenta exponencialmente a

demanda por matéria e energia, e altera as relações espaço-temporais dos ciclos

biogeoquímicos da vida no planeta, configurando uma manifestação concreta dos

efeitos do aumento da entropia (Gonçalves, 2004).

41

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Os efeitos desagradáveis são mais percebidos pelos setores menos favorecidos

da população, que habitam áreas mais suscetíveis a riscos e menos assistidas pelo poder

público, e não podem arcar com os custos da moradia em áreas ambientalmente mais

seguras ou beneficiadas por obras mitigadoras de impactos ambientais. Durante as

atividades realizadas, os participantes apontam que as causas dos problemas são quase

sempre relacionadas à falta de planejamento municipal ou, ao desigual investimento das

receitas municipais em obras de infra-estrutura e serviços em relação a diferentes

segmentos da população. Os custos financeiros para garantir as condições ecológicas

básicas de reprodução da vida (coleta de lixo, redes de água e saneamento básico para

milhares de habitantes concentrados) são muito grandes (Gonçalves, op. cit.) e tornam-

se visíveis os sinais de desigualdade e exclusão social no que diz respeito a distribuição

desses investimentos na sociedade. Terra et al (2007) em estudo realizado em Campos

dos Goytacazes, afirmam que os investimentos em obras como saneamento,

pavimentação ou construção de equipamentos públicos não foram alocados nos últimos

anos em áreas sociais menos favorecidas, mostrando que o simples aumento da

arrecadação não é suficiente para que haja políticas sociais mais igualitárias.

Especulação imobiliária

A especulação imobiliária recebe destaque sendo mencionada, sobretudo, no que

diz respeito à questão ambiental. Acreditamos tratar-se de uma questão pertinente na

região, posto que além de ser citada como um impacto, aparece durante a atividade

também como um conflito vivenciado entre empreendedores e ambientalistas e/ou

gestores de Unidades de Conservação (UC) nos municípios de Araruama, Armação dos

Búzios, Arraial do Cabo, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã e Rio das Ostras. Está

vinculada, principalmente, ao uso do solo e espaço motivado pela presença da empresa

na região, tanto para moradia quanto para instalação de outros empreendimentos no

município. Neto & Ajara (2006) sugerem que o crescimento populacional em

municípios como Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Quissamã e São João da Barra, é

explicado pela procura de maior qualidade de vida, fugindo da alta especulação

imobiliária e dos problemas que acometem centros maiores como Macaé e Campos dos

Goytacazes. Outro fato apresentado no mesmo estudo diz respeito à ocupação de áreas

de risco ou áreas protegidas, geralmente pela população de baixo poder aquisitivo que

migra para a cidade em busca de empregos ou ainda para outros bairros mais baratos.

42

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

A ocupação desordenada da faixa costeira, marcada pela especulação imobiliária

tem dentre seus efeitos o aumento da produção de esgotos, o aterro de manguezais e

lagoas, a ocupação de áreas de preservação permanente, além da “expulsão” dos antigos

moradores com baixo poder aquisitivo, como por exemplo, pescadores, da beira do mar.

Essa “expulsão” pode ser atribuída à aquisição de terras onde se localizavam suas casas

por custos relativamente baixos, e/ou pela valorização da área e conseqüente aumento

na cobrança de impostos, levando-os a procurarem outro local para residirem (Moraes,

2004), causando não apenas impactos nos ecossistemas da região, mas também no meio

socioeconômico, caracterizando uma questão ambiental no seu sentido mais complexo.

Realização de projetos de responsabilidade social

As mudanças políticas e socioeconômicas vividas nos anos 80 resultaram em

fortes conseqüências na esfera social, ampliando as demandas por ações e benefícios

sociais, acompanhadas pela atuação de algumas organizações da sociedade civil que

mostravam preocupação com movimentos ecológicos, pacifistas, humanistas,

movimento contra a fome a mortalidade infantil etc. Esses fatos, que aos fins dos anos

80 resultaram inclusive na própria Constituição Federal, deram início a uma mudança

em relação à atuação do Estado e das empresas, fazendo exigir práticas socialmente

responsáveis e politicamente corretas (Torres, 2005).

Machado Filho (2006) acrescenta que mudanças decorrentes da globalização

levaram à intensificação da informação e à internacionalização dos mercados, induzindo

as empresas a desenvolverem ações buscando manter ou ganhar reputação. Essa

preocupação estaria associada ao fato de que um fator de diferenciação para obtenção de

vantagens competitivas passa a ser, em grande medida, a percepção do público sobre a

reputação da empresa. Torres (op cit) considera o surgimento de uma espécie de

mercado do bem-estar social, motivado pela preocupação em não perder investidores e

consumidores mais ativos e conscientes que podem optar por outra empresa ou marca

considerada ambiental e/ou socialmente mais responsável.

A questão da imagem da empresa vinculada à realização de projetos de cunho

socioambiental é fortemente presente nesses municípios. Mesmo os municípios que não

apontaram esses projetos como impacto (Araruama, Cabo Frio e Casimiro de Abreu),

mencionaram-nos quando responderam sobre as atividades da empresa realizadas nos

43

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

municípios. Nesse momento da atividade observamos a percepção da Petrobras muito

mais como promotora de projetos socioambientais, cursos de capacitação, parcerias em

projetos municipais ou prestadora de serviços como fornecimentos de combustíveis, do

que como realizadora de uma atividade de exploração potencialmente poluidora.

Para Marín (2003), as chamadas alianças produtivas entre comunidades e setor

privado estão no centro da nova estratégia de controle do capitalismo global,

constituindo uma negociação de interesses com uma forte desigualdade de poderes. Um

exemplo típico recente apresentado pelo autor ilustra essa aliança: os indígenas

Huaorani no Equador, conhecidos por resistirem durante décadas às ameaças de

ocupação de seu território, concederam à empresa transnacional italiana Agip Oil

autorização para construir uma plataforma de exploração de petróleo e um oleoduto na

província de Pastaza. Em troca a empresa se comprometeu a entregar a cada uma das

seis comunidades Huaorani uma sala de aula, um curso de saúde, um rádio, um painel

solar com bateria, 50 kg de arroz, 50 Kg de açúcar, duas latas de óleo, uma sacola de

sal, um apito de juiz e duas bolas de futebol, 15 pratos, 15 copos e um armário com 200

dólares em medicamentos.

Acselrad & Mello (2002) tocam em uma importante questão a ser pensada: a

empresa atua muitas vezes por meio de programas sociais, ou pela oferta de serviços

básicos insuficientemente fornecidos pelo poder público como saúde e incentivos à

educação. Dessa forma, desenvolve laços de lealdade e desmobiliza os segmentos da

população que quase sempre são os primeiros a serem atingidos pelas práticas

poluidoras, mas que dependem desses serviços, programas ou postos de trabalho para

sobreviver. Assim, dissolvem-se conflitos que porventura poderiam vir à tona,

ganhando a empresa, ao contrário, credibilidade e legitimidade junto à população.

Uma das questões respondidas durante as atividades de grupo focal dizia

respeito a se a empresa traria para o município benefícios ou desvantagens. Os

participantes costumavam responder que apesar de trazer impactos negativos como risco

de acidentes, poluição ao ambiente e agravamento da exclusão social, a empresa tinha

sempre a preocupação de realizar projetos de assistência social e ambiental para

minimizar esses problemas. Além disso, mencionaram a importância no que diz respeito

à oferta de empregos e investimentos municipais, justificando e legitimando a atuação

da empresa, suas marcas e produtos. Apenas em São Francisco de Itabapoana e São

44

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

João da Barra a questão da abrangência desses projetos aparece como um impacto

negativo. Representantes desses municípios observam que raramente estes são bem

divulgados ou atendem às camadas mais pobres da população, fazendo, entretanto, uma

crítica não só ao setor de divulgação da empresa, mas ao funcionamento da

administração municipal (Projeto Pólen, 2007)9.

Apesar de muitas vezes essa atuação das empresas significar melhorias reais

para a população com intervenções benéficas é imprescindível o entendimento de que

estamos falando de ações, discursos e comportamentos de empresas, de atores sociais,

políticos e econômicos que visam maximizar lucro e minimizar custos, e não de

instituições filantrópicas. E que o enfraquecimento das ações sociais e atuação do

Estado na defesa dos direitos dos cidadãos dificulta a garantia de assegurar a

democracia, desmobiliza organizações da sociedade civil e reforça o poder do capital

privado, e as mazelas a ele inerentes, sobre a vida na sociedade.

Qualidade de vida

A mudança na qualidade de vida foi percebida com impacto relacionado a

chegada da indústria do petróleo na região. Nos municípios de Araruama, Armação dos

Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São

Francisco de Itabapoana, os participantes comentaram que a empresa traz melhorias

para a qualidade de vida. Na maioria deles esta melhoria está associada a obras de infra-

estrutura e outros investimentos gerados pela indústria petrolífera, principalmente nos

grupos estatais, provavelmente devido ao fato de seus participantes serem vinculados à

administração municipal, que recebe e faz a gestão dos recursos.

Em Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Macaé e Quissamã, foi mencionada a

diminuição na qualidade de vida após a chegada da Petrobras na região, associada ao

aumento do custo de vida, a segregação sócio-espacial e a poluição gerada.

A questão da qualidade de vida parece estar relacionada à posição

socioeconômica do participante, pois para aqueles que têm qualificação e oportunidades

de bons empregos na empresa, a presença da Petrobras no município traz melhorias, já

9 Esses dados foram compilados em relatório semestral referente ao diagnóstico socioambiental realizado pelo Projeto Pólen nos municípios em questão. O relatório encontra-se disponível para consulta ([email protected]).

45

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

que esses passam a ocupar empregos formais com boa remuneração e residem em

bairros valorizados nos municípios. Entretanto, para as camadas menos favorecidas da

população, que têm menos oportunidades de empregos e passam a ocupar espaços

menos valorizados, a empresa não traz muitos impactos positivos diretos, sendo mais

comuns as falas em relação a projetos para o município.

Prejuízos para a pesca

Em geral, estão relacionados à influência direta da exploração do petróleo e

alteração no pescado, seja pelo risco de acidentes e vazamentos, ou em relação à área

delimitada para a pesca junto às plataformas de petróleo, que corresponde, segundo

determinação legal, a um raio de 500m em torno da plataforma. Observamos que no

RIMA apresentado ao órgão regulador/fiscalizador (Ibama) e à sociedade relativo ao

empreendimento do Campo de Espadarte (Petrobras, 2002), a atração de peixes para as

imediações das plataformas, seja por sua própria estrutura que possibilita incrustação de

organismos num ambiente originalmente oligotrófico, ou pelo descarte de resíduos

orgânicos, é classificada como um impacto positivo.

Os pescadores, entretanto são proibidos de se aproximar e reclamam do

deslocamento do pescado para a área de exclusão para a pesca, que interfere no

tradicional conhecimento da rota desses animais, informação há muitas gerações

utilizada por esse grupo social. Cabe observar que na Bacia de Campos, em 2007, havia

45 plataformas em operação10, o que resulta numa expressiva área de exclusão, ainda

ampliada pelo grande número de embarcações em trânsito na região. Moraes (2004)

argumenta que uma determinada área que concentra parte dos campos de exploração

loteados pela Agência Nacional do Petróleo, entre os paralelos 22 e 23º S, coincide

justamente com a área de maior produção de pesca de linha entre 1986 e 1995, mas é

atualmente uma das áreas de exclusão para a pesca. Berkes (1999) considera que assim

como na ecologia animal o território para algumas espécies constitui um importante

aspecto para a manutenção da vida, em algumas culturas humanas, como os pescadores,

esse conceito pode ser aplicado, inclusive no que concerne à luta para preservá-lo. De

fato, observamos durante as atividades de grupos focais conflitos que dizem respeito a

10 www.petrobras.com.br acessada em 12 de dezembro de 2007.

46

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

“invasões” de pescadores à área proibida para pesca na Bacia de Campos, também

mencionados por Moraes (2004) (Projeto Pólen, 2007).

Em São Francisco de Itabapoana e Macaé, a ausência do pescado foi

relacionada, pelos participantes, ao trabalho de sísmica realizado previamente durante a

prospecção das reservas. Para os representantes desses municípios, as detonações têm

interferência no comportamento dos cardumes, afastando-os da rota normal, além de

relacionarem o desaparecimento de cardumes com a atividade. Vilardo (2007), após

realizar revisão bibliográfica sobre o assunto, conclui que dentre os principais impactos

ambientais relacionados às atividades de sísmica estão a interferência em

comportamentos biológicos importantes como acasalamento e desova em peixes,

cetáceos e quelônios, além da interferência na pesca artesanal de baixa mobilidade,

principalmente no que diz respeito à restrição de acesso aos pesqueiros tradicionais.

A chegada da indústria petroleira modificou o que antes era a forma de

subsistência e resistência dessas comunidades, fazendo com que os pescadores,

especialmente os mais jovens, sejam atraídos aos trabalhos da exploração de petróleo,

que não só os aprisiona no sentido da dependência da empresa para conseguir sustento

mas distorce sua cultura, diminui o tempo e o espaço com suas famílias, destruindo a

identidade e diminuindo a diversidade ambiental, cultural e biológica, do nosso planeta.

Prejuízos para o turismo

A região estudada é uma faixa litorânea extensa e de regiões montanhosas,

compreendendo municípios que pertencem à macro-região das baixadas litorâneas, que

inclui as micro-regiões dos Lagos e da Bacia do Rio São João, e a macro-região norte

fluminense, que inclui as micro-regiões de Macaé e Campos dos Goytacazes (Fundação

CIDE, 2005). Essa extensão de terra, pertencente ao domínio da Mata Atlântica, é

formada por um mosaico de diferentes formações vegetacionais como floresta pluvial

de encosta e de baixada, manguezais, desembocadura de rios, praias, restingas e lagoas

costeiras, alta biodiversidade (Myers et al, 2000) e belíssimas paisagens.

O turismo é, assim, uma das atividades importantes nos municípios da área de

influência dos empreendimentos da Petrobras na Bacia de Campos. Entretanto, com a

chegada da empresa à região, há alteração da paisagem gerada pela instalação de

47

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

estruturas da indústria do petróleo e gás, como o complexo industrial e portuário

localizado na praia de Imbetiba em Macaé; o parque de Tubos nas imediações da Lagoa

Imboassica e o terminal de Cabiúnas também em Macaé; os dutos que passam por

diversos pontos de diversos municípios; as plataformas em manutenção à vista da costa

em Macaé e Arraial do Cabo e o intenso trânsito de embarcações.

Além da poluição visual, há o problema já mencionado da especulação

imobiliária, que exerce pressão, sobretudo, sobre os ecossistemas costeiros, áreas de

preservação permanente e, quase sempre de grande beleza, como restingas, praias,

manguezais e rios. Esses fatores, aliados ao risco de um acidente de derramamento de

óleo, podem descaracterizar o principal objeto motivador do fluxo turístico na região,

trazendo conseqüências econômicas e sociais indesejáveis. Entretanto, não poderíamos

deixar de ressaltar que a indústria do turismo também exerce pressão no que diz respeito

à ocupação de faixas costeiras e à especulação imobiliária.

Notamos durante a atividade que os moradores nativos da região que, via de

regra, pertencem a segmentos sociais menos favorecidos, vêem a chegada da empresa

como promotora de serviços que não são cobertos pelo Estado com a geração de

empregos e os projetos de responsabilidade social. Os moradores que defendem o

potencial turístico da região e colocam-se contra a indústria do petróleo são, quase

sempre, migrantes, muitas vezes estrangeiros, que ao chegarem no município constroem

pousadas e estabelecimentos comerciais de luxo que atendem somente aos turistas

vindos de outras regiões do Brasil e do mundo. Assim, percebemos que a percepção dos

impactos gerados e a relativização de seus benefícios ou desvantagens são carregadas

dos valores culturais e da posição socioeconômica que os cidadãos ocupam na

sociedade.

Em Arraial do Cabo, os participantes colocaram-se contra a transformação do

porto do Forno, localizado dentro da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo

(ResEx), em um porto para atividades offshore no município. Na ResEx há atividades

de extrativismo pesqueiro e de mariscos e atividades de turismo e mergulho, que já

apresentam entre elas algum grau de conflito, segundo relatos de gestores, públicos ou

não, desse município. A transformação do porto para abrigar atividades da indústria

petrolífera oferece ameaças tanto aos que vivem do extrativismo, como do turismo e

mergulho, por motivos já discutidos anteriormente, como riscos de acidentes,

48

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

contaminação das águas e ecossistemas costeiros e formação de áreas de exclusão,

como também para gestores ambientais, já que o porto está inserido na área de uma UC,

constituindo assim mais um motivo de conflito na região, ou melhor dizendo, mais um

ponto de conflito por motivos já conhecidos.

Outros impactos mencionados

Além dos considerados acima, apareceram durante as atividades impactos

mencionados em apenas um município. São eles: a certeza da qualidade do combustível,

em Araruama; o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas, em Arraial do Cabo; o

desenvolvimento de pesquisas científicas e o conhecimento, a mobilização e o capital

social em Casimiro de Abreu; a crise levando à criação de UCs, em Macaé; e a

valorização da mão-de-obra, em Campos dos Goytacazes, que de alguma forma, já

foram discutidas ao longo desse trabalho.

Considerações sobre os impactos mencionados

A instalação da Petrobras promove a movimentação da economia na região por

investimentos atraídos direta ou indiretamente pela indústria do petróleo, ou pela

arrecadação de royalties, engordando as receitas governamentais. Esse fato contribui

para a geração de empregos nesses municípios, que atrai migrantes acelerando o

crescimento da população e das cidades, trazendo consigo problemas que vão desde o

aumento da segregação sócio-espacial e desigualdade social no acesso a recursos e

serviços até a geração de impactos ambientais. Muitos desses impactos mostram-se

expressivamente indissociáveis do processo social de urbanização, e se refletem em

fortes desigualdades sociais.

Os benefícios e custos trazidos pela exploração do petróleo não são distribuídos

de forma igualitária na população. Essa questão é visível especialmente no que se refere

à definição dos locais em que serão alocados os bens públicos e as atividades produtoras

de externalidades negativas, ou construções como hospitais, escolas, depósitos de lixo

etc, que ao mesmo tempo em que produzem benefícios sociais difusos, concentram

custos em uma parcela da sociedade (Fuks, 2001).

49

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

A distribuição de benefícios e custos socioambientais gerados pelo

desenvolvimento da indústria do petróleo na região parece estar relacionada à condição

socioeconômica da população. Observamos que para determinados grupos houve

incremento na qualidade de vida, enquanto que para outros prevaleceu a perda de

qualidade de vida. Diante dos problemas gerados, associados à ausência de políticas

públicas sociais que garantam acesso a água potável e saneamento básico, atendimento

médico, educação e cultura, surgem os projetos de responsabilidade social empresarial.

Tais projetos passaram a ocupar o espaço que na verdade, numa perspectiva

democrática, cabe ao Estado: assegurar os direitos civis e sociais da população. Torna-

se notável o fato de que alguns desses municípios hoje sobrevivem economicamente

dependentes da empresa, que representa importante fonte de recurso para o governo

local (Serra, 2005). Estes governos fazem sua gestão com pouca transparência, sem

controle social e, portanto, sem definição pública e democrática das prioridades de

investimentos. Esse fato reproduz uma dinâmica social que favorece os interesses

privados em função da apropriação do Estado por certos grupos e frações de classe que

se beneficiam com a fragilidade da esfera pública em sociedades desiguais e com baixa

tradição de participação política.

Comparando nossos resultados com os impactos previstos no Relatório de

Avaliação Ambiental da plataforma P-47 (Petrobras, 2003) e no Relatório de Impactos

Ambientais do campo de Espadarte (Petrobras, 2002), observamos que existem

coincidências (quadros III, IV e V). A geração de empregos, o desenvolvimento

econômico regional e nacional e a arrecadação de royalties figuram como impactos

relacionados ao desenvolvimento da indústria petrolífera também nesses relatórios.

Entretanto, a promoção de projetos de responsabilidade social não é interpretada pelos

estudos encomendados pela empresa como um impacto, apesar de terem sido bastante

mencionados como tal nos grupos focais realizados. O risco de acidentes marítimos, a

pressão sobre a infra-estrutura urbana e social, a exposição da população a riscos e

acidentes, a aceleração da expansão do espaço urbano, a intensificação do movimento

migratório, o derrame de óleo com prejuízo para a pesca e contaminação ambiental, e os

problemas de saúde ocupacional são impactos também presentes nos estudos. Por outro

lado, não foram relatados nos grupos focais impactos como contaminação por fluidos de

perfuração, descarte de efluentes sanitários e restos orgânicos pelas plataformas,

revolvimento de sedimento, riscos de acidentes marítimos, incremento do tráfego

50

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

aquaviário e outros que parecem ser mais presentes nas imediações das plataformas de

exploração. Como esses empreendimentos na Bacia de Campos estão mais concentrados

em águas profundas a aproximadamente 160 Km da costa, esses tipos de impactos não

são de fácil percepção e conhecimento da população.

Quadro III: Impactos apresentados nos relatórios11 de estudos de impactos apresentados pela

Petrobras e apresentados também nas atividades de grupos focais.

Estudos apresentados pela Petrobras e grupos focais

Geração de empregos

Arrecadação de royalties

Risco de acidentes marítimos

Pressão sobre infra-estrutura urbana e social

Exposição da população a riscos e acidentes

Aceleração da expansão do espaço urbano e intensificação do movimento migratório

Emissões atmosféricas na queima de gás natural e outros combustíveis

Derrame de óleo com prejuízo para a pesca

Contaminação ambiental

Problemas de saúde ocupacional

Interferência nas atividades pesqueiras

Quadro IV: Impactos apresentados somente nos relatórios de estudos de impactos apresentados

pela Petrobras.

Somente nos estudos apresentados pela petrobras

Contaminação por fluidos de perfuração

Descarte de efluentes sanitários e restos orgânicos

Revolvimento do sedimento

Produção de cascalho e morte do bentos

Incremento do tráfego aquaviário

Alteração da temperatura das águas marinhas por descarte de água de resfriamento

Contaminação de água, sedimentos e biota marinhos por resíduos oleosos de água de lavagem

11 Relatório de Avaliação Ambiental da plataforma P-47 (Petrobras, 2003) e Relatório de Impactos Ambientais do campo de Espadarte (Petrobras, 2002).

51

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Quadro IV: Impacto apresentado somente nas atividades de grupos focais realizadas.

Somente nos grupos focais

Promoção de projetos de responsabilidade social

Parece não haver também nesses estudos uma visão mais integrada dos impactos

gerados pela atividade de exploração de petróleo. Vemos a preocupação, definida por lei

(Resolução Conama nº 001/86) de se montar uma equipe multidisciplinar que levante os

possíveis impactos ambientais e no meio sócio-econômico. Todavia, desde os próprios

termos de referência apoiados pela mesma resolução e que balizam os estudos até

relatórios que são escritos, pesquisadores das ciências naturais levantam os impactos

ambientais, enquanto pesquisadores das ciências humanas relatam os possíveis impactos

no meio sócio-econômico. Até aqui não seria um grave problema, se após os

levantamentos houvesse um estudo relacionado, dialógico, ou um entendimento entre os

diferentes pesquisadores, o que não parece acontecer. Se analisarmos alguns desses

relatórios e estudos veremos que os impactos não se relacionam, ficando muitas vezes

incompletos, sem apresentar a realidade complexa por trás das diferentes áreas de

produção do conhecimento.

Percebemos a complexidade do que chamamos impacto ambiental. Percebemos

o quão estreitas são as relações entre os diferentes efeitos mencionados, sugerindo que

os impactos ambientais devem ser vistos numa perspectiva mais complexa, levando-se

em conta o contexto social em que estamos inseridos. Apesar de considerarmos

impactos causados pelas atividades humanas, como fogo, desmatamento, inundações e

desvios de rios, não consideramos as motivações culturais, políticas e econômicas das

decisões que levam a esses impactos. É necessário que haja diálogo entre nós ecólogos e

os cientistas sociais, físicos, geógrafos, historiadores, antropólogos, no intuito de

entendermos melhor as relações que se dão na complexidade do mundo real, do qual

fazemos parte. Sugerimos que estudos que pretendem identificar e mitigar impactos

ambientais gerados pelas atividades humanas sejam executados sob uma perspectiva

que favoreça a aptidão para relacionar os diferentes conhecimentos, inserindo-os em seu

contexto. Estudos que integram os conhecimentos da ecologia e os sistemas sociais

devem contribuir para o encontro de alternativas para a gestão de recursos naturais

(Berkes, 1999). Há intrínseca relação entre as conseqüências ecológicas das decisões

52

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

governamentais e as conseqüências sociais das intervenções ecológicas. Do conceito de

ecossistema emergem características como conectividade, adaptabilidade, integração e

complexidade. Um novo paradigma da ciência ecológica que considera a Terra como

um sistema de relações interconexas inclui o homem na rede viva desses sistemas,

tornando importante entender não só os fluxos de matéria e energia e a composição

específica, como a estrutura e o funcionamento desses sistemas são influenciados pelo

comportamento humano, suas ações institucionais e infra-estrutura construída (Pickett et

al, 2004).

Considerações finais

A partir da análise das respostas dadas por moradores dos municípios em que

atuamos e da vivência proporcionada pelo Projeto Pólen, percebemos que impacto

ambiental não é somente resultado de uma ação sobre o ambiente, mas relação de

mudanças sociais e ecológicas em movimento. Assim, condições ecológicas alteram as

condições culturais, sociais e históricas, e são por elas transformadas.

A utilização dos ecossistemas é guiada pela política de cada sociedade, por suas

prioridades e formas de desenvolvimento. Conhecer os aspectos ecológicos é essencial

para pensar intervenções a fim de utilizar, preservar ou recuperar os ecossistemas que

sofrem pressão pela forma de vida das sociedades humanas. E entender as razões e

relações políticas, dinâmicas espaciais, social e economicamente definidas, é

imprescindível para a efetividade das políticas de preservação dos sistemas naturais.

Essas só terão realmente efeito se forem consolidadas como políticas públicas, levadas

como prioridades nas agendas governamentais e garantida a participação democrática

dos cidadãos envolvidos.

Dessa forma, é importante conhecer de que forma os impactos de um

empreendimento são percebidos pela população que atua no local onde o mesmo será

desenvolvido. Acreditamos que estudos que integrem esse componente nas avaliações

de impactos ambientais podem contribuir para o encontro de melhores alternativas para

a gestão de recursos naturais no planeta.

53

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Referências Bibliográficas

Acselrad, H. (2005) Justiça ambiental: narrativas de resistência ao risco social

ampliado. In: Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e

coletivos educadores. MMA, Brasília. p219-228.

Acselrad, H. & Mello, C.C.A. (2002) Conflito e risco ambiental: o caso de um

vazamento de óleo na Baía de Guanabara. In: Alimonda, H. (org) Ecología Política,

Naturaleza, Sociedad y Utopia. Colección Grupos de Trabajo de CLACSO Buenos

Aires, p. 293-316.

Arruda, A. (2002) Teoria das representações sociais e teorias de gênero.

Cadernos de Pesquisa n.117: 127-147.

Atlas, R.M. (1981) Microbial degradation of petroleum hydrocarbons: na

environmental perspective. Microbiological reviews, v.45 (1): 180-209.

Bartha, R. (1986) Biotechnology of petroleum polluant biodegradation. Microbial

Ecology, v.12:155-172.

Berkes, F. (1999) Sacred Ecology. Traditional ecological knowledge and resource

management. Taylor & Francis, USA, 209 p.

Brasil, MMA (2006a) Política Nacional de Meio Ambiente. Programa Nacional de

Capacitação de Gestores Ambientais. Cadernos de Formação Volume 1. Brasília,

72p.

_____, MMA (2006b) Instrumentos da Gestão Ambiental Municipal. Programa

Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais. Cadernos de Formação Volume 4.

Brasília, 80p.

_____, MME (2007) – Balanço Energético Nacional 2007: Ano Base 2006. Rio de

Janeiro EPE, 48p.

_____ (1953) Lei nº 2.004 de 03/10/1953: dispõe sobre a política nacional do petróleo e

define as atribuições do conselho nacional do petróleo, institui a sociedade por ações

petróleo brasileiro sociedade anônima, e da outras providencias.

54

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

_____ (1981) Lei nº 6.938 de 31/08/1981: dispõe sobre a política nacional do meio

ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e da outras

providencias.

_____ (1997) Lei n.º 9.478 de 06/08/1997: dispõe sobre a política energética nacional,

as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o conselho nacional de

política energética e a agencia nacional do petróleo e da outras providencias.

_____, (1986) Resolução Conama nº 001 de 23/01/1986: dispõe sobre critérios básicos e

diretrizes gerais para o relatório de impacto ambiental – RIMA.

_____, (1997) Resolução Conama 237 de 22/12/1997: Regulamenta os aspectos de

licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente.

_____, (1988) Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 05/10/1988.

_____, TCU (2007) Cartilha de Licenciamento Ambiental. 2ª edição, Brasília, 83p.

Caetano-Filho, E. (2003) O papel da pesquisa nacional na explorarão e exploração

petrolífera da margem continental na Bacia de Campos. In: Piquet, R. (Org).

Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro: Garamond. p39-94.

Canuto, J.R. (2007) Petróleo. Enciclopédia USP. Disponível em:

http://www.igc.usp.br/geologia/petroleo.php, acessado em 15 de janeiro de 2008.

Coelho, M. C. N. (2005) Impactos ambientais em áreas urbanas – teorias, conceitos e

métodos de pesquisa. p19-45 In: Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. Guerra,

A. J. T. e Cunha, S. B. (org.). Bertrand Brasil 3ª edição 416p

Couceiro, S.R.M.; Forsberg, B.R.; Hamada, N. & Ferreira, R.L.M.(2006) Effects of na

oil spill and discharge of domestic sewage na the insect fauna of Cururu stream,

Manaus, AM, Brazil. Braz. J. Biol. v.66 (1).

Elliot, D. (1997) Energy, Society and Environment. Routledge. London and New York

252p.

Falcão, C. (2003) Efeitos dos hidrocarbonetos em comunidades de mediolitoral e teste

de viabilidade de biorremediadores em derrames de petróleo. Experimento in situ –

55

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Angra dos Reis, RJ. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Ecologia da UFRJ. Rio de Janeiro, 117p.

Farias, P. (2003) Nacionalismo e participação popular na campanha “O petróleo é

nosso”. In: Piquet, R. (Org). Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro: Garamond.

p13-38.

Fuks, M. (2001) Conflitos ambientais no Rio de Janeiro: ação e debate nas arenas

públicas. Editora UFRJ, Rio de Janeiro. 244p.

Fundação CIDE, Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro.

http://www.cide.rj.gov.br/cide/divisao_regional.php, acessada em 05/03/2008.

Gatti, B.A. (2005) Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Série

Pesquisa em Educação v.10, Líber Livro, Brasília, 75p.

Gutman, J. & Leite, G. (2003) Aspectos legais da distribuição regional dos royalties In:

Piquet, R. (Org). Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro: Garamond. p125-162.

Gonçalves, C.W.P. (2004) O desafio ambiental. Organizador: Emir Sader. Os porquês

da desordem mundial. Mestres explicam a globalização. Ed. Record, Rio de Janeiro,

179p.

Holdgate, M.W. (1979) A perspective of environmental pollution. Cambridge University

Press, 278p.

Holling, C.S.; Berkes, F. & Folke, C. (1998) Science, sustentability and resource

management. In Berkes, F. & Folke, C. Linking Social and Ecological Systems.

Cambrige University Press,Cambrige. p342-362.

Howarth, R.W. (1989) Determining the ecological effects of oil pollution in marine

ecosystems. In: Levin et al (org) Ecotoxicology: Problems and Approaches. New

York, Springer-Verlag. 547p

Huntington, E. (1920) The Control of Pneumonia and Influenza by the Weather.

Ecology v.1(1): 6-23.

56

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

IBASE. 2005. Diagnóstico socioambiental do Parque Nacional da Tijuca e áreas do

entorno. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. 99p.

Japiassú, H. & Marcondes, D. (1996) Dicionário Básico de Filosofia. 3ª edição Jorge

Zahar Editor. 296p.

Johnson, A. (1996) It’s good to talk: the focus group and sociological imagination. The

Sociological review 44: 517-538.

Leal, J.A. & Serra, R. (2003) Uma investigação sobre os critérios de repartição dos

royalties petrolíferos. In: Piquet, R. (Org). Petróleo, royalties e região. Rio de

Janeiro: Garamond. 163-184p.

Lessa, C. (2005) A engenharia no desenvolvimento nacional. In: Lianza, S. & Addor, F.

(orgs) Tecnologia e desenvolvimento social e solidário. Ed. UFRGS. 47-60p.

Little, P. (2001) Os conflitos socioambientais: um campo de estudo e ação política. In:

Bursztin, M (org) A difícil sustentabilidade – política energética e conflitos

ambientais. Rio de Janeiro. Garamond.

Lobato, R. (1988) Grande empresa e organização urbana. In: Becker, B.; Bartholo Jr,

R.S.; Egler, C. & Miranda, M. Tecnologia e gestão do território. Ed. UFRJ, 153-

158p.

Loureiro, C.F.B. (2003) O Movimento Ambientalista e o Pensamento Crítico: uma

abordagem política. Rio de Janeiro: Quartet.160p

Loureiro, C.F.B. (2007) Pensamento crítico, tradição marxista e a questão ambiental.

p13-68 In: A questão ambiental no pensamento crítico: natureza, trabalho e

educação. Rio de Janeiro: Quartet 256p

Machado Filho, C.P. (2006) Responsabilidade social e governança: o debate e as

implicações. Pioneira Thomson, São Paulo, 172p.

Margalef, R. (1993) Teoría de los sistemas ecológicos. Ediciones Universitat Barcelona

290p.

57

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Marin, J. (2003) Las huellas territoriales de la intervención desarrollista. Revista

Traza, Colombia. Disponível em:

http://www.rebelion.org/ecologia/030418traza.htm acessada em 24 de janeiro de

2008.

Milani, E.J.; Brandão, J.A.S.L.; Zalán, P.V. & Gamboa, L.A.P. (2000) Petróleo na

margem continental brasileira: geologia, exploração, resultados e perspectivas.

Revista Brasileira de Geofísica v.18 n.3 São Paulo.

Millward, L. J. (2006) Focus Groups. In: Breakwell, G.M.; Hammond, S. & Fife-

Schaw, C. Research methods in psychology. Sage Publications, London. 274-292p.

Monié, F. (2003) Petróleo, industrialização e organização do espaço regional. In:

Piquet, R. (Org). Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro: Garamond. p257-286.

Moraes, M.S.M. (2004). O loteamento do mar – conflito e resistência. p 19-63. In

Ascelrad, H. (org) Conflito Social e Meio Ambiente no Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, Ed. Relume Dumara. 262p.

Moraes, R. (2003) Uma Tempestade de Luz: a compreensão possibilitada pela análise

textual discursiva. Ciência e Educação 9 (2): 191-211.

Moraes, R. e Galiazzi, M.C. (2006) Análise Textual Discursiva: processo reconstrutivo

de múltiplas faces. Ciência e Educação 12 (1): 117-128.

Morin, E. (2002) A cabeça bem-feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento.

Bertrand Brasil, 6ª edição, Rio de Janeiro, 128p.

Myers, N.; Mittermeier, R.A.; Mittermeier, C.G.; Fonseca, G.A.B. & Kent, J. (2000)

Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature v 403: 853-858p.

Neto, A.F.P. & Ajara, C. (2006). Transformações recentes na dinâmica sócio-espacial

do Norte Fluminense. Disponível em:

http://www.apeb.nepo.unicamp.br/encontro2006/docspdf/ABEP2006_795.pdf.

Acesso em 16 de janeiro de 2007.

58

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Oliveira, A.M.S.; Brannstrom, C.; Nolasco, M.C.; Peloggia, A.U.G.; Peixoto, M.N.O. &

Coltrinari, L.(2005). Tecnógeno: registros da ação geológica do homem. Cap. 17, p.

363-378. In: Souza, C.R.G. (org.) Quaternário do Brasil. Holos Editora, 378p.

Petrobras (2002) Relatório de Impactos Ambientais – RIMA. Atividade de produção de

óleo e gás no campo de Espadarte – Bacia de Campos. Relatório Técnico. 197p

Petrobras (2003) Relatório de Avaliação Ambiental- RAA. Atividade de ampliação do

sistema de produção e escoamento da fase 2 do campo de Marlim – Bacia de

Campos. Relatório Técnico.

Pickett, S. T.A & McDonnell, M.J. (1993) Humans as components of ecosystems. New

York Springer. 339p.

Pickett, S.T.A; Cadenasso, M.L.; Grove, J.M. (2004) Resilient cities: meaning, models,

and metaphor for integrating the ecological, sócio-economic, and planning realms.

Landscape and Urban Planning 69: 369-384.

Piquet, R. (2003) Da cana ao petróleo: uma região em mudança. In: Piquet, R. (Org).

Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro: Garamond. p219-238.

Pnuma (2007) Global Environmental Outlook 4 (GEO 4) Perspectivas del medio

ambiente mundial. Medio ambiente para el desarrollo. Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente, 574p.

Porto, M. (2006) O crepúsculo do petróleo: acabou-se a gasolina, salve-se quem puder!

Rio de Janeiro. Editora Brasport. 142p.

Projeto Pólen (2007). Relatório do Projeto de Educação Ambiental. Relatório Semestral

IBAMA, Petrobras e NUPEM/UFRJ. Fevereiro de 2007. mimeo.

Quintas, J.S. (2005) Introdução à gestão ambiental pública. Brasília: IBAMA/MMA

132p.

Reyes, R.J. (1996) Educacion Ambiental en el Medio Rural. En Garcia Campos, H.M.;

Pons Gutiérrez, J.M. & M.C. Rojas Canales (Coord.) (1996) Memorias Primer

Encuentro Nacional de Promotores/ Capacitadores Campesinos para el Desarrollo

Sustentable. Cecadesu/ Semarnap; Red de Educación Popular y Ecología/ Consejo

59

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

de Educación de Adultos de America Latina; Red de Alternativas Ecológicas de

Mexico; IMTA.

Rios, R.I. (1995) Relação dos modelos ecológicos com os modelos da economia ou os

descendentes de Adam (Adão) Smith povoaram o mundo. In: Neto, M.I.A. (org)

Desenvolvimento Social – desafios e estratégias, vol.II UNESCO - UFRJ/EICOS

Salvador, R. & Marques, B.P. (2004) Geopolítica do petróleo: de estragão à(s)

guerra(s) do Iraque. Disponível em:

http://rsalvador.planetaclix.pt/geopoliticadopetroleo.pdf acessada em 16 de janeiro

de 2008.

Schaeffer-Novelli, Y. (1990) Vulnerabilidade do litoral norte do estado de São Paulo a

vazamentos de petróleo e derivados. In: II Simpósio de Ecossistemas da Costa Sul e

Sudeste Brasileira. Estrutura, função e manejo. v2:375-399, Águas de Lindóia, SP.

Shaffel, S.B. (2002) A questão ambiental na etapa de perfuração de poços marítimos de

óleo e gás no Brasil. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação

de Engenharia da UFRJ, 147p.

Souza, F. S. P. (2004) Os impactos da atividade petrolífera nas dinâmicas Territoriais

da Bacia de Campos - RJ. Disponível em: http://www.igeo.uerj.br/VICBG-

2004/Eixo2/E2_125.htm. acessada em 17 de janeiro de 2007.

Serra, R. & Patrão, C. (2003) Impropriedades dos critérios de distribuição dos royalties

no Brasil. In: Piquet, R. (Org). Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro:

Garamond. p185-216.

Serra, R.V. (2005) Concentração espacial das rendas petrolíferas e sobrefinanciamento

das esferas de governo locais: evidências e sugestões para correção de rumo.

XXXIII Encontro Nacional da ANPEC, Natal (RN). Disponível em:

http://www.royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br/index.php?cod=4 acessada em

09/01/2008.

Terra, D.C.T.; Givisiez, G.H.N. & Oliveira, E.L. (2007) Rendas petrolíferas,

investimentos públicos e aumento das desigualdades intra-urbanas. 19p, Disponível

em: http://royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br. Acesso em 14 de dezembro de 2007.

60

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Torres, C. (2005) Responsabilidade social empresarial: o espírito da mudança e a

conservação da hegemonia. In: Lianza, S. & Addor, F. (orgs) Tecnologia e

desenvolvimento social e solidário. Ed. UFRGS, 95-103p.

Vilardo, C. (2007). Análise da evolução do modelo de avaliação ambiental de pesquisas

sísmicas marítimas no Brasil. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia COPPE/UFRJ. 287p

http://www.royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br, boletim InfoRoyalties, acessado em 15

de dezembro de 2007.

http://www.petrobras.com.br acessada em 12 de dezembro de 2007.

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/11/09/materia.2007-11-

9.0702587416/view acessada em 04/03/2008

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESEN

HA=418443 acessada em 04/03/2008.

61

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Anexo 1 O quadro abaixo mostra, na íntegra, as respostas escritas nas tarjetas sobre os

impactos gerados pelas atividades da Petrobras relatadas durante as atividades de grupo

focal por município e pó atividade realizada.

Quadro 1: Respostas escritas pelos participantes sobre os impactos gerados pelas indústria do

petróleo durante as atividades de grupo focal realizadas.

Município Grupo focal Estatal Grupo focal não-Estatal

Araruama

• geração de empregos; • contribuição na

formação do professor;

• sustentabilidade financeira e econômica da região; certeza da qualidade do combustível;

• perspectiva de gerar projetos novos;

• geração de empregos; • facilidades por ser

uma cidade perto do local de exploração;

• exportação de mão-de-obra qualificada;

• melhoria na qualidade de vida;

• aumento dos royalties;

• desenvolvimento econômico;

• crescimento populacional, migração;

• crescimento desordenado;

• risco de acidentes; • a não utilização do

município como base de escoamento de petróleo quando a exploração acabar;

• onde existe desenvolvimento, existirá também a violência.

Não foi realizado.

62

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Arraial do Cabo

• pesquisas tecnológicas;

• capacitação de agentes no fomento da política de Educação Ambiental;

• responsabilidade socioambiental;

• projeto de leitura; • empregos; • incentivos à

qualificação voltada para a área;

• poluição de praias e do costão rochoso;

• falta de compensações financeiras;

• lucros cessantes da pesca e do turismo;

• perda da qualidade de vida;

• atividades de risco no centro da cidade;

• instalação de pequenas industrias na cidade visando empregar a população local;

• financiar um trabalho ou um projeto que atue profundamente na proteção ecológica na cidade;

• educação e tecnologia, cursos técnicos, curso de especialistas e cursos de petróleo;

• investimentos na área de SMS (segurança, meio ambiente e saúde), principalmente saúde do trabalho e meio ambiente;

• projetos; • educação ambiental e

projeto mosaico e projeto de pesca e maricultura;

• transformação da cidade em um porto off-shore acabando com a visão de cidade turística e natural;

• impactos sobre a pesca artesanal, o meio ambiente como um todo, o turismo e o lazer;

• a entrada de organismos exóticos;

• o incremento populacional;

• o crescimento vertical;

• o aumento dos problemas sociais;

• a qualidade de vida decai;

• riscos de vida; • a maricultura fica

inviável

63

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

• formação continuada de professores;

• implementação de atividades de leitura;

• conscientização; • investimento em

educação ambiental gerando conscientização;

• contribuição com projetos de reciclagem;

• tudo relativo a educação ambiental;

• reciclagem de resíduos;

• emprego; • coloca o Brasil no

mercado internacional;

• financiadora de projetos ambientais;

• royalties; • risco de vazamentos,

catástrofes; • ainda explora em

grande quantidade combustíveis fósseis;

• poluição ambiental; • baixa qualidade de

vida; • possibilidade de um

desastre ecológico; • desastre ecológico

em caso de acidentes/vazamentos

• desconhecidos; • projetos futuros; • pouco impacto

positivo; • nenhum impacto; • o poder federal da

petrobras pode gerara leis positivas para o uso dos royalties;

• não tem impacto em búzios até o momento nem positivo nem negativo, algumas ruas calçadas (talvez);

• eventos: gerar dinheiro; gerar emprego;

• ressaltamos o vazamento de óleo nas praias e prejuízos para a pesca;

• eventos: barulho, trânsito; dorgas;

• postos de gasolina: poluição do ar, trânsito, barulho;

• cabide de empregos na prefeitura (emprego de royalties);

• derramamento de óleo;

• nenhum impacto; • poluição leva a

extinção.

Armação dos Búzios

Cabo Frio

• melhorias em infra-estrutura;

• emprego x desemprego;

• geração de multiplicadores ambientais;

• empregos; • royalties; • procura por

profissionalização; • expectativa positiva a

64

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

médio prazo; • contribui no

saneamento básico do município;

• social e cultural; • poluição; • desmatamento; • possibilidade de

acidentes ambientais; • emprego x

desemprego; • alteração de

ecossistemas vizinhos;

• poluição ambiental; • acidentes; • estresse ambiental; • não oportunizar os

nativos na participação da empregabilidade.

65

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Campos dos Goytacazes

• educação e conhecimento, conscientização, socialização, saúde, preocupação com as futuras gerações;

• empregos; • impacto sócio-

cultural; • crescimento

habitacional; • criação de heliporto; • afastamento dos

jovens das ruas e das drogas;

• conscientização e preservação do meio ambiente;

• incentivo à leitura possibilitando maior conhecimento;

• geração de renda; • melhro qualidade de

vida; • preocupação com as

futuras gerações (fim da exploração);

• impacto político; • crescimento

habitacional; • mudança nos

ecossistemas marinhos/ costeiros;

• cultural (leia Brasil, Mova, capacitação de professores);

• econômico, exploração de petróleo;

• distribuição de royalties;

• formação de NEAs (núcleo de educação ambiental);

• benefícios na educação;

• exportação e desenvolvimento, crescimento do país trazendo benefícios para o Brasil;

• ampliação no nível de qualificação de professores;

• geração de trabalho e renda;

• royalties e financiamento da reforma de infra-estrutura da cidade;

• exploração/ uso de mão-de-obra;

• projetos socioambientais;

• poluição; • Petrobras causa

destruição na fauna aquática em caso de desastre ecológico;

• poluição do ar com a queima de combustíveis;

• poluição nos rios e mares;

• derramamento de óleo e acidentes;

• esgotamento de jazidas;

• agressão a comunidade de peixes;

• poluição de águas oceânicas;

• aumento da poluição das vias.

66

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Carapebus

• aspecto econômico; • oportunidades de

emprego; • movimentação da

economia; • empregos; • capacitação de

multiplicadores em educação ambiental;

• renda comercial; • impacto ambiental; • degradação do meio

ambiente; • transporte de

máquinas pesadas; • risco à população; • degradação do meio

ambiente pela passagem de dutos;

• riscos ambientais ao meio ambiente e à população;

• capacitação de professores e outros profissionais;

• incentivo à leitura; • movimentação

comercial; • repasse de royalties; • preocupação com o

meio ambiente e o projeto leia Brasil e todos os eventos culturais;

• royalties – impacto positivo e negativo;

• reuniões sobre meio ambiente;

• teatro mambembe, reunião da comunicação social;

• renda familiar e palestras em escolas e outros lugares;

• vazamento no mar; • royalties – impacto

positivo e negativo.

Casimiro de Abreu

• geração de empregos; • cursos de capacitação

para formação ou aprimoramento de profissionais;

• mobilização, capital social;

• pesquisas científicas; • auto-suficiência em

petróleo; • patrocínio de eventos

culturais e esportivos;

• apoio a educação, refletindo-se diretamente na cultura;

• poluição; • crescimento

desordenado do município ou da região;

• alto índice de criminalidade;

• impacto ambiental

67

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

gerado pela própria atividade;

• crescimento desordenado de municípios vizinhos;

• impacto ambiental; • interesses políticos

acima dos interesses sociais;

• monopólio do petróleo.

Macaé

• desenvolvimento econômico;

• oportunidade de emprego;

• aumento de emprego e renda;

• pagamento de royalties;

• cresimento da rede hoteleira;

• investimentos em infra-estrutura, saúde, esportes, educação etc;

• econômico: geração de empregos;

• sociais: projetos de responsabilidade ambiental;

• ambientais: investimentos em projetos de preservação;

• tomada de consciência, melhoria dos processos educacionais;

• retomada do conceito de desenvolvimento;

• oportunidade de transformação, mais recursos financeiros para ações básicas em saneamento;

• crise levando a criação de Ucs;

• arrecadação de tributos para o

• desenvolvimento econômico;

• provisão de sustentabilidade futura (royalties);

• aquecimento do mercado;

• ofertas de serviços; • atração de comércio

diversificado; • incremento geral da

economia; • potencial sócio-

econômico favorável; • trabalho. • consumo de água,

lançamento de resíduos;

• especulação imobiliária;

• diminuição da qualidade de vida;

• meio ambiente; • crescimento

demográfico acelerado;

• custo de vida; • divulgação do nome

da cidade; • captação desordenada

da água do rio Macaé;

• poluição das águas; • impactos sobre a

pesca; • impactos sobre

ecossistemas marinhos e terrestrees;

68

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

município; • apoio a projetos

sociais; • migração excessiva

de pessoas dando origem a problemas sociais;

• perda da identidade cultural;

• degradação ambiental;

• adensamento urbano/rural;

• pauperismo e desfiliação;

• adoecimentos físicos e mentais;

• violência; • poluição de diversos

níveis; • dominação e pressão

sobre as atividades relacionadas aos recursos naturais renováveis;

• dependência fiscal dos municípios sobre os tributos relacionados;

• concentração de renda e desigualdade social;

• destruição dos meios futuros de sobrevivência das comunidades;

• vazamentos de derivados da exploração na costa litorânea;

• crescimento populacional;

• aumento da violência e do trânsito;

• violência gerada pelas pessoas que ao chegarem em Macaé sem qualificação ficam desempregadas e o aumento do

• migração humana descontrolada;

• perda da praia de Imbetiba;

• trânsito caótico; • vinda de mão-de-

obra desqualificada; • propaganda enganosa

– emprego + assalto.

69

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

tráfico de drogas que busca a cidade pelo lado financeiro;

• econômicos: custos de vida;

• sociais: bolsões de pobreza;

• risco de vazamentos, explosões (óleo e gás);

• riscos químicos; • impactos ambientais; • super exploração dos

recursos naturais; • falta de medidas

compensatórias ao patrimônio natural do município;

70

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

71

Quissamã

• recursos e compensações;

• possibilidades de investimento;

• geração de empregos; • melhora circulação

de riquezas; • aumentam as vendas

do comércio; • crescimento sócio-

econômico; • geração de renda/

empregos; • melhorias na saúde,

educação, infra-estrutura;

• formação e capacitação profissional;

• royalties; • projetos sociais; • com o pagamento de

royalties, e havendo um planejamento, o município tende a ter um desenvolvimento diferenciado de outros municípios;

• melhorias nas rodovias;

• palestras educativas sobre segurança, oportunidade de emprego e royalties para o município;

• desenvolvimento do mercado econômico com a chegada de mais consumidores;

• maior volume financeiro circulando;

• vantagens das arrecadações de impostos para o município;

• desenvolvimento urbano

• impactos ambientais e sociais;

• possibilidade de acidentes;

• custo de vida; • aumentam a

violência, ao final das atividades fica a

• obras – casas populares;

• qualidade de vida, até que ponto?;

• mantém quissamã; • royalties; • arrecadação,

proporção maior de benefícios;

• multinacional no país, tudo mais barato, não consigo ver desvantagem;

• emprego; • tudo é benefício; tem maior produtor de petróleo no país, emprego; • aumento expressivo

do trânsito de cargas no perímetro urbano, transformação da cidade em um canteiro de obras por passagem do gasoduto;

• crescimento desordenado da população (violência);

• danos, obras mal feitas;

• dependência dos royalties;

• vazamento no parque;

• aumento da população na cidade = problemas, prostituição, falta de fiscalização;

• aumento do esgoto, de carros na rua, de favelas e mananciais aterrados;

danos ambientais.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Rio das Ostras

• geração de renda e emprego;

• projetos educacionais e cultuais;

• royalties + melhoria de infra-estrutura e maior oferta de empregos;

• implementação das atividades socioambientais e educacionais;

• conscientização ambiental;

• desenvolvimento cultural;

• sócio-cultural (patrocínio de atividades);

• danos à flora, fauna terrestre e marinha;

• riscos de acidentes; • crescimento

populacional; • pressão sobre

ambientes naturais; • falta de planejamento

ambiental (nas cidades);

• social; • sócio-cultural; • explosão

demográfica; • poluição; • impacto ambiental na

colocação de dutos; • risco de acidentes

ambientais.

São Francisco de Itabapoana

• geração de trabalho e renda;

• inclusão social; • promoção de

atividades culturais; • sócio-econômicos e

sócio-culturais; • empregos; • projetos sociais –

investimentos – treinamento;

• valoriza a mão-de-

• progresso; • projeto mosaico de

geração de renda; • projeto Tamar –

proteção a extinção de tartarugas;

• projeto Gasoduto, geração de emprego;

• projeto Jovens Aprendizes – ajuda na renda familiar;

• cultura;

72

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

obra aumentando a auto-estima;

• ambiental: pesquisas sísmicas;

• na atividade de sondagem sísmica – impede a pesca artesanal por conta de explosões;

• Jovem Aprendiz: discriminador e não tem continuidade na profissão;

• derramamento de óleo.

• formação de adolescentes;

• gosto pala leitura e desenvolvimento na aprendizagem.

São João da Barra

• geração de empregos. • 70% das dotações orçamentárias do município provêm dos royalties do petróleo;

• conscientização, educação de quem participa dos projetos ajudando na preservação do meio ambiente;

• verba para a cidade; • projetos são

efetuados; • inclusão de crianças e

adolescentes no período de férias escolares (projeto Botinho);

• quando derrama óleo no mar;

• não são divulgados os projetos;

• prejudica bastante a atividade pesqueira que é a base econômica significativa do município;

• o projeto Tamar não é atuante no município, existem outros projetos que poderiam estar em atividade;

73

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

• poluição devido a exploração de petróleo (derramamento de óleo...);

• falta de divulgação dos projetos.

Saquarema

• qualificação aos profssionais da Educação;

• a descoberta pelo gosto da leitura, mais acessibilidade a leitura (Leia Brasil);

• acesso a cultura através do teatro;

• projetos de capacitação;

• criação de um núcleo de Educação Ambiental no município;

• royalties para o município;

• formação educacional;

• melhores condições de trabalho para pescadores;

• conhecer os benefícios do meio ambiente da região;

• na área financeira e na mão de obra.

• • riscos de acidentes

envolvendo combustíveis derivados do petróleo;

• desastre ecológico em conseqüência de vazamento de petróleo;

• emissão de poluentes através de combustíveis;

• plataformas de petróleo excluem pescadores dos

• projetos Peispa: capacitação e cursos de melhoria da família dos pescadores, ótimo por auxiliar a população e a comunidade dos pescadores;

• projeto Biblioteca Volante: sementinha muito lenta, cultural;

• projeto Botinho: de Educação Ambiental e informação marítima e atividades recreativas no verão nas praias,

• projeto Seletiva Petrobras de Surf: turismo, gera emprego e atrai o turista de fora, protege o município e ajuda o meio ambiente;

• projeto AP: disseminar conhecimento;

• projeto Pólen: ta andando, início das atividades de criação de núcleo ambiental na cidade.

74

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

75

arredores; • vazamento de

combustíveis; • atração de mão-de-

obra de outras regiões e conseqüentes implicações de saúde.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO …livros01.livrosgratis.com.br/cp094444.pdf · Trio ternura! Maricota, Frô e Aurora. Ao Titi, cúmplice e companheiro, por aumentar

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo