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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SO FRANCISCO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE E
BIOLGICAS- PPGCSB
JULIANE BARROSO LEAL
EFEITO DO CONSUMO REGULAR DE SUCO DE UVA INTEGRAL
ASSOCIADO PRTICA DE EXERCCIO FSICO EM IDOSOS
HIPERTENSOS
PETROLINA - PE
2018
JULIANE BARROSO LEAL
EFEITO DO CONSUMO REGULAR DE SUCO DE UVA INTEGRAL
ASSOCIADO PRTICA DE EXERCCIO FSICO EM IDOSOS
HIPERTENSOS
PETROLINA - PE
2018
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade e Biolgicas da Universidade Federal do Vale do So Francisco, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias com nfase na Linha de Pesquisa: Sade, Sociedade e Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Ferdinando Oliveira Carvalho Co-orientadora: Prof. Dra. Patrcia Avello Nicola
Ficha catalogrfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF.
Bibliotecrio: Fabio Oliveira Lima CRB-4/2097
Leal, Juliane Barroso .
L435e Efeito do consumo regular de suco de uva integral associado prtica de exerccio fsico em idosos hipertensos / Juliane Barroso Leal. - - Petrolina, 2018. XIII.: 123 f. ; il.: 29 cm.
Dissertao (Mestrado em Cincias da Sade e Biolgicas)
Universidade Federal do Vale do So Francisco, Campus Petrolina, Petrolina PE, 2018.
Orientador: Prof. Dr. Ferdinando Oliveira Carvalho. 1 Hipertenso arterial. 2. Exerccio aerbico - Idoso. 3. Uvas. I. Ttulo. II. Universidade Federal do Vale do So Francisco.
CDD 616.132
Ao meu eterno heri que tambm possui o nome de pai, Antnio Barroso (in memorian), que tanto se dedicou ao trabalho e conseguiu deixar o estudo como maior herana aos filhos.
AGRADECIMENTOS
Deus, meu protetor e guia, por ter me concedido sade, proteo e fora
para realizao de mais este sonho.
minha me Maria Helena, por ser minha maior fonte de amor, incentivo e
acalento na realizao de meus sonhos e por no medir esforos para realiz-los.
Aos meus irmos, por sermos: um por todos, e todos por um: Juara, por
ser minha companheira em tudo, por termos vivenciado este desafio juntas e estar
presente em todas as etapas dele; Joaline, minha fonte de dedicao, por ter
acolhido meu projeto em seu trabalho e ter feito de tudo para plena realizao deste
sonho (inclusive me presentear com o aparelho de bioimpedncia); e Juscelino, por
ser meu heri e fazer tudo para me ver feliz e realizada (at mesmo ir buscar os
sucos na Bahia).
Aos meus sobrinhos Hctor, Andressa e Davi, por trazerem o sorriso bobo e
a alegria que me acalentaram em dias difceis. Por entenderem (mesmo sem
entenderem direito) minhas ausncias nas suas travessuras.
minha prima-irm Maria de Ftima, por muitas vezes ter exercido meu
papel em casa, ter sido meu dirio escutando meus desabafos e por vibrar comigo
em cada etapa alcanada.
minha prima doutoranda Lvia Barroso, por ser a maior incentivadora e
inspirao neste sonho, por ter mostrado o caminho, mas ter me deixado livre em
cada etapa.
A grande amiga-irm, Ivone Leal, por todo apoio e torcida em mais este
sonho, por ter estado presente em todas as etapas e por estar sempre pronta para
ajudar. Obrigada pela cumplicidade de uma amizade verdadeira.
Ao meu orientador Prof. Dr. Ferdinando Oliveira, por acreditar e confiar em
meu sonho, por me colocar em situaes de desafio muitas vezes, e mesmo assim,
apoiar quase tudo que fao. E pela excelncia de todos os ensinamentos
transmitidos.
Aos idosos do Bairro Amando Lima, por terem me acolhido, acreditado e
confiado em meu projeto durante toda execuo, jamais esquecerei nenhum de
vocs.
A equipe da UBS Amando Lima: Joaline, Adriana, Vicente, Maria Helena,
Dona Socorro, Maria Jos, Jnior, Amparo e Iolanda, por convidarem e
incentivarem os idosos a participar do projeto, e por me aguentarem durante a
execuo como parte da equipe.
Ao fisioterapeuta Venilson Costa (meu brao direito neste projeto), pela
execuo dos exerccios durante toda a interveno, fomos adotados pelo bairro
Amando Lima.
A agente de sade Adriana Lima (meu brao esquerdo neste projeto), por
todo apoio, torcida e acompanhamento dos idosos durante toda a interveno.
A minha equipe de pesquisa e hoje amigos: Juara, Ivone, Venilson,
Maralina, Yan, David, Naura, Rozineide e Dasa (LAISP), por todo trabalho
compartilhado nas coletas de dados, pela dedicao e empenho nesta pesquisa.
Aos mestrandos Anderson Arajo, Layane Saraiva e integrantes do
GEPEGENE por todos os ensinamentos, conselhos e contribuies na estatstica
desta pesquisa. Por de tanta ajuda, se tornarem grande amigos. Obrigada por tudo.
Ao Guilherme Secchi e a Lara Secchi, em nome de toda a equipe da
empresa Grand Valle Industrial Ltda, por terem acreditado e apoiado esta pesquisa,
disponibilizado os sucos de uva integral.
A biomdica Rozineide Alencar e o bioqumico Afonso Sobreira, em nome
de toda a equipe do Laboratrio LACLE, por terem apoiado, coletado e analisado
todos os exames bioqumicos da pesquisa.
Ao enlogo Dr. Giuliano Elias, pesquisador da Embrapa, pela ajuda na
determinao da composio qumica centesimal do suco de uva.
A amiga Jane Luiza, por ter acolhido eu e minha irm em seu lar durante
estes dois anos, por todas as conversas nas horas difceis, risadas, sadas e pela
amizade. E ao amigo Edson Rafael, meu irmo de orientao, companheiro de
guerra e profisso, por tantas vezes ter me socorrido, alm de tamanho
conhecimento transmitido.
Aos amigos de mestrado, por tamanha preocupao conosco nas nossas
idas e vindas, pelas conversas, pelos almoos, pelos ensinamentos e pela amizade.
A todos os professores do Programa de Ps-graduao em Cincias da
Sade e Biolgicas, pelos ensinamentos e contribuies para meu crescimento
pessoal e profissional.
Aos amigos, equipe de trabalho (NASF) e familiares, que compreenderam
minhas ausncias e que direta ou indiretamente contriburam para a concretizao
deste sonho. A todos, meus sinceros agradecimentos!
O xito da vida no se mede pelo caminho que voc conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho.
Abraham Lincoln
https://www.pensador.com/autor/abraham_lincoln/
RESUMO
A hipertenso arterial (HA) atualmente responde por pelo menos 50% das mortes por doena cardiovascular e atinge mais de 60% dos idosos. Medidas como a implementao de derivados das sementes e da casca da uva que estimulam a vasodilatao e melhora das enzimas antioxidantes, e o exerccio aerbio levando a um incremento do volume sistlico e uma reduo da resistncia vascular perifrica. Acredita-se que o consumo de suco de uva integral associado prtica de exerccio aerbio ir potencializar o efeito na presso arterial, no perfil lipdico e na composio corporal no idoso hipertenso. Assim, esta pesquisa buscou avaliar o efeito de trs meses do consumo regular de 200ml de suco de uva integral dirio associado prtica de exerccio fsico em idosos com HA na presso arterial, composio corporal, perfil lipdico e capacidade funcional. Trata-se de um estudo experimental de carter clnico randomizado, quantitativo, atravs de interveno durante 12 semanas, desenvolvida em idosos com diagnstico de hipertenso, acima de 60 anos e residentes na cidade de Valena do Piau - PI. A pesquisa teve a participao de 45 idosos, randomizados em grupo controle (GC, n= 10), grupo exerccio (GE, n= 10), grupo suco (GS, n= 12) e grupo suco e exerccio (GSE, n= 13). Utilizou-se de medidas antropomtricas, bioimpedncia tetrapolar para avaliao da composio corporal, verificao de presso arterial semanal, coleta de sangue para quantificao de perfil bioqumico, triglicerdeos e glicemia de jejum, alm da aplicao do questionrio IPAQ e da bateria de testes da AHHPERD para avaliar nvel de atividade fsica e capacidade funcional (CF). Reduo significativa foi verificada no GE, GS e GSE para PAS (-25,15,6mmHg, -10,15,1mmHg e -10,04,9mmHg; p
ABSTRACT
Hypertension currently accounts for at least 50% of deaths from cardiovascular disease and affects more than 60% of the elderly. Measures such as the implementation of seeds and grape bark derivatives that stimulate vasodilation and improvement of antioxidant enzymes, and aerobic exercise leading to an increase in systolic volume and a reduction in peripheral vascular resistance. It is believed that the consumption of whole grape juice associated with the practice of aerobic exercise will potentiate the effect on blood pressure, lipid profile and body composition in the elderly hypertensive. Thus, this study aimed to evaluate the effect of three months of the regular consumption of 200ml of daily grape juice associated to exercise in elderly people with arterial hypertension in blood pressure, body composition, lipid profile and functional capacity. This is an experimental, randomized, quantitative study using a 12-week intervention developed in elderly patients diagnosed with hypertension, over 60 years old and living in the city of Valena do Piau-PI. The study had the participation of 45 elderly people, in the control group (CG, n = 10), exercise group (SG, n = 10), juice group 13). The use of anthropometric measurements, tetrapolar bioimpedance to assess body composition, weekly blood pressure check, blood collection for quantification of biochemical profile, triglycerides and fasting glycemia, and the application of the IPAQ questionnaire and AHHPERD test battery were used. Assess physical activity level and functional capacity (FC). Significant reduction was observed in SG, GS and GSE for SBP (-25.1 5.6mmHg, -10.1 5.1mmHg and -10.0 4.9mmHg, p
LISTA DE FIGURAS
Figura 01. Estrutura qumica do trans-resveratrol e cis-resveratrol ..........................33
Figura 02. Esquema da biossntese de resveratrol ...................................................34
Figura 03. Cidade de Valena-PI e localizao da UBS Dr. Francisco de Castro ....47
Figura 04. UBS Dr. Francisco de Castro Veloso, Bairro Amando Lima. Valena do Piau, Piau, 2017.......................................................................................................48
Figura 05. Fluxograma do estudo, Valena do Piau, Piau, 2018.............................49
Figura 06. Desenho experimental do estudo.............................................................51
Figura 07. Suco de uva integral, Grand Valle Industrial Ltda 2017 ...........................58
Figura 08. Copo graduado para consumo de suco de uva integral ..........................59
Figura 09. Escala de Percepo de Esfora (EPE) criada por Borg em 198.............59
Figura 10. Resposta da PAS (A) e PAD (B) de repouso semanal antes do exerccio aerbio no perodo de 12 semanas dividido por grupo (GE = 10; GSE = 13)............78
Figura 11. Resposta do DP nos momentos pr e ps-interveno (A), o delta variao (B) e o comportamento individual (C) nos diferentes grupos.......................79
LISTA DE TABELAS
Tabela 01. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio (> 18 anos)...............................................................................................27 Tabela 02. Valores de referncia do Software Gmon Health Professional................54 Tabela 03. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio a partir de 18 anos de idade....................................................................55
Tabela 04. Classificao IAGF de homens ativos com idade entre 60 a 69 anos.....56
Tabela 05. Classificao IAFG para mulheres ativas entre 60 a 69 anos.................56
Tabela 06. Caractersticas fsico-qumicas do suco de uva integral, produzidos entre os meses de maro a maio de 2017. Grand Valle Industrial Ltda- BA.......................62
Tabela 07. Consumo alimentar pr e ps interveno. Valena do Piau, 2018.......63
Tabela 08. Anlise descritiva das variveis socioeconmicas e demogrficas em nmeros absolutos e porcentagens nos seus respectivos grupos. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................63
Tabela 09. Distribuio de bens eletrodomsticos e de utilidades. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................65
Tabela 10. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos na variao da presso arterial e frequncia cardaca. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................66 Tabela 11. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos no perfil antropomtrico. Valena do Piau, 2018.....................................67 Tabela 12. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos na composio corporal. Valena do Piau, 2018.....................................69 Tabela 13. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos no perfil bioqumico. Valena do Piau, 2018............................................71 Tabela 14. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado exerccio fsico em idosos na capacidade funcional. Valena do Piau, 2018....................................74
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAHPERD American Alliance for Health, Physical, Education, Recreation and
Dance
ABIPEME Associao Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado
ACS Agente Comunitrio de Sade
ACSM American College of Sports Medicine
ADA American Dietetic Association
ANVISA Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria
CONSORT Consolidated Standards of Reporting Trials
DCNT Doena Crnica No Transmissvel
EA Exerccio Aerbio
ESF Estratgia de Sade da Famlia
GC Grupo Controle
GE Grupo Exerccio
GS Grupo Suco
GSE Grupo Suco e Exerccio
HA Hipertenso Arterial
IAFG ndice de Aptido Funcional Geral
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IMC ndice de Massa Corporal
IPAQ Questionrio Internacional de Atividade Fsica
PA Presso Arterial
PAR-Q Questionrio de Prontido para Atividade Fsica
RCQ Relao Cintura/Quadril
SBH Sociedade Brasileira de Hipertenso
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
OBS: as abreviaturas e smbolos utilizados neste trabalho e que no constam nesta
relao, encontram-se descritas no texto ou so convenes adotadas
universalmente.
SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................. 14
2 OBJETIVOS .................................................................................................. 18 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 18 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .......................................................................... 18
3 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................... 19 3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DO ENVELHECIMENTO E HIPERTENSO
ARTERIAL NO INTERIOR DO PIAU. ........................................................... 19 3.2 ENVELHECIMENTO ..................................................................................... 21 3.2.1 Conceitos e classificao ........................................................................... 21 3.2.2 Epidemiologia e demografia do envelhecimento ...................................... 22 3.2.3 Alteraes fisiolgicas no envelhecimento ............................................... 22 3.2.4 Alteraes no trato digestrio .................................................................... 24 3.2.5 Necessidades nutricionais no envelhecimento ......................................... 25 3.2.6 Efeitos secundrios dos medicamentos .................................................... 25 3.3 HIPERTENSO ARTERIAL NO ENVELHECIMENTO ................................... 26 3.3.1 Definies e diagnstico............................................................................. 26 3.3.2 Epidemiologia e demografia da hipertenso arterial ................................ 27 3.3.3 Fatores de risco ........................................................................................... 28 3.3.4 Preveno e controle da hipertenso arterial ............................................ 28 3.4 ALIMENTOS FUNCIONAIS NA HIPERTENSO ARTERIAL ......................... 30 3.4.1 Compostos fenlicos .................................................................................. 30 3.5 BENEFCIOS DO RESVERATROL NA HIPERTENSO ARTERIAL ............. 32 3.5.1 Biossntese .................................................................................................. 33 3.5.2 Biodisponibilidade, ingesto, absoro, excreo e toxidade ................. 34 3.6 PRODUO E COMERCIALIZAO DA UVA ............................................. 35 3.6.1 Uva do vale do submdio So Francisco .................................................. 36 3.6.2 Uvas produtoras de suco ............................................................................ 37 3.6.3 Caractersticas organolpticas e nutricionais do suco de uva ................ 37 3.7 EXERCCIO FSICO NO ENVELHECIMENTO .............................................. 39 3.7.1 Fisiologia do exerccio no envelhecimento ............................................... 39 3.7.2 Exerccio fsico na hipertenso arterial ..................................................... 42 3.7.3 Exerccio de caminhada na hipertenso arterial ....................................... 45
4 MATERIAIS E MTODOS............................................................................. 47 4.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................ 47 4.2 LOCAL DO ESTUDO ..................................................................................... 47 4.3 POPULAO E AMOSTRA .......................................................................... 48 4.4 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO .................................................. 50 4.5 PESQUISADORES E MONITORES DA PESQUISA ..................................... 51 4.6 DESENHO EXPERIMENTAL ........................................................................ 51 4.6.1 Triagem e Estratificao de Risco .............................................................. 52 4.6.2 Nvel socioeconmico e educacional......................................................... 52 4.6.3 Indicadores antropomtricos ..................................................................... 53 4.6.4 Composio corporal .................................................................................. 53 4.6.5 Presso arterial ............................................................................................ 55
4.6.6 Nvel de atividade fsica e capacidade funcional....................................... 56 4.6.7 Anlise bioqumica ...................................................................................... 57 4.6.8 Controle da medicao anti-hipertensiva .................................................. 57 4.6.9 Consumo alimentar ..................................................................................... 57 4.7 PROTOCOLO DE CONSUMO DE SUCO DE UVA ....................................... 58 4.8 PROTOCOLO DE ATIVIDADE AERBIA ..................................................... 59 4.9 ASPECTOS TICOS ..................................................................................... 60 4.10 ANLISE DOS DADOS ................................................................................. 61
5 RESULTADOS .............................................................................................. 62 5.1 CARACTERSTICAS FSICO-QUMICAS DO SUCO DE UVA INTEGRAL
UTILIZADO NA INTERVENO.....................................................................62 5.2 CARACTERIZAO DOS SUJEITOS ........................................................... 62 5.3 EFEITOS DA INTERVENO ....................................................................... 66 5.4 VARIAO DE PRESSO ARTERIAL SEMANAL ........................................ 77
6 DISCUSSO ................................................................................................. 80
7 CONCLUSO ............................................................................................... 89
ANEXOS ................................................................................................................ 110 ANEXO A -. PHYSICAL ACTIVITY READINESS QUESTIONNARIE ................... 111 ANEXO B -. FICHA PADRONIZADA DE BIOIMPEDANCIA TANITA BC 601. ..... 113 ANEXO C -. QUESTIONRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FSICA IPA.114 ANEXO D - RECORDATRIO DE 24 HORAS ...................................................... 118
APENDICES .......................................................................................................... 119 APNDICE A -. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......... 120 APENDICE B -. PRANCHETA DE AVALIAO ................................................... 122
14
1 INTRODUO
O perfil demogrfico brasileiro tem se transformado em um contingente cada
vez mais significativo de pessoas com mais de 60 anos, trazendo consigo problemas
de sade que desafiam os sistemas de sade e de previdncia social (MIRANDA;
MENDES; DA SILVA, 2016). Os idosos esto expostos a fatores de risco oriundos
da forte urbanizao acelerada, acompanhada de mudanas dos padres de
consumo e estilo de vida, alm da falta de exerccio neste grupo populacional. Em
conjunto, est o consumo excessivo de alimentos industrializados, estresse social,
alm do uso de bebidas alcolicas e tabagismo, o que leva a predisposio a
doenas cardiovasculares (PIUVEZAM et al., 2015).
Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento de doenas
cardiovasculares a hipertenso arterial (HA) o de maior prevalncia, faz parte do
grupo de fatores de risco modificveis, e assim revela-se como um importante
problema de sade pblica por sua alta prevalncia como causa de
morbimortalidade em idosos (ESPERANDIO et al., 2013). A HA responsvel por
pelo menos 50% das mortes por doena cardiovascular e atinge mais de 60% dos
idosos (MALACHIAS et al., 2016).
O Ministrio da Sade relata que desenvolver um sistema de preveno e
tratamento da HA consiste em manter o peso corporal adequado, reduzir o consumo
de sdio dos alimentos, abolir o uso de bebidas alcolicas, incluir alimentos
funcionais alimentao, abandono do tabagismo e prtica de exerccio fsico
regular (BRASIL, 2006).
De acordo com a Portaria n 398, de 30 de abril de 1999, da Agncia Nacional
de Vigilncia Sanitria (ANVISA), alimentos funcionais so definidos como todo
aquele alimento ou ingrediente que, alm das funes nutricionais bsicas, quando
consumido fazendo parte de uma dieta, produz efeitos metablicos e/ou fisiolgicos
benficos sade, devendo ser seguro para consumo sem superviso mdica
(BRASIL, 1999; CARVALHO et al., 2013). Alguns alimentos so relatados pela
American Dietetic Association (ADA) por possurem efeitos na preveno de
doenas cardiovasculares, entre eles esto os alimentos com compostos biotivos
como as catequinas, isoflavonas, licopeno e resveratrol (HASLER et al., 2004).
Os polifenis, grupo base do resveratrol, possuem duas categorias: os no-
flavonides, que incluem o resveratrol; e os flavonoides, tais como a quercetina e a
15
catequina os quais so derivados geralmente das sementes e da casca da uva
(BONNEFONT-ROUSSELOT, 2016). O resveratrol um polifenol no flavonide,
composto de um derivado estilbeno, produzido de uma fitoalexina nas plantas,
notavelmente presente nas uvas e vinho tinto (BONNEFONT-ROUSSELOT, 2016).
Este tem apresentado possuir respostas a estresse oxidativo, infeces microbianas,
radiao, e tem mostrado efeito cardioprotetor por sua habilidade em reduzir o
colesterol total e o LDL-c, inibir a agregao plaquetria, estimular a vasodilatao e
enzimas antioxidantes, entre outras (SFORA-SOUSA; DE ANGELIS-PEREIRA,
2013; PEREIRA-JNIOR et al., 2013).
Alm dos alimentos funcionais, o exerccio fsico aerbio tem sido
considerado uma medida teraputica e preventiva das doenas cardiovasculares e
seus fatores de risco, principalmente da HA, por melhorar o desempenho funcional
em idosos (CHAGAS et al., 2015; LEIBOWITZ et al., 2014). Destes, o treinamento
aerbio, ou seja, com produo de energia pelo sistema oxidativo, produz alteraes
fisiolgicas favorveis, no existindo obstruo mecnica do fluxo sanguneo, com
incremento do volume sistlico e uma reduo da resistncia vascular perifrica
(CORNELISSEN; SMART, 2013; NOGUEIRA et al., 2012). A American College of
Sports Medicine (ACSM) orienta trinta minutos de atividade fsica com intensidade
moderada pelo menos cinco dias por semana, totalizando cento e cinquenta minutos
por semana de treinamento de resistncia aerbia, para se obter respostas positivas
na reduo da presso arterial (PA) (PESCATELLO et al., 2015).
Fazendo uma busca na literatura no foi encontrado nenhum estudo que
aborda a temtica completa. Embora a literatura reporte que o suco de uva, utilizado
como alimento funcional, eficiente em reduzir a PA em 40 pacientes hipertensos,
os quais receberam 5,5ml/kg de peso/dia de suco de uva Concord ou uma bebida
placebo durante 8 semanas com medidas na 0, 4 e 8 semanas, houve reduo no
grupo que consumiu o suco de uva Concord na PA diminuiu em mdia 7,2 mm Hg (p
= 0,005) e a PA diastlica reduziu em mdia em 6,2 mm Hg (p = 0,001) no o final de
8 semanas. No mesmo sentido, Park et al. (2009) avaliou atravs de estudo duplo-
cego controlado por placebo o efeito do suco de uva Concord na PA e outros
marcadores de estresse oxidativo de 40 homens hipertensos adultos, um grupo foi
instrudo a consumo de 5,5ml/kg de peso/dia de suco de uva e outro grupo
consumiram suco placebo, observando um potencial antioxidante aumentado de
1.31 0.01 (ps-implementao) versus 1.33 0.01 (pr-suplementao) (p
16
reduo de 26% no DNA linfocitrio no grupo do suco de uva, enquanto nenhuma
diferena foi encontrada no grupo controle. E ainda Dohadwala et al. (2010) em seu
estudo cruzado duplo-cego investigou se o suco de uva 100% Concord reduz PA em
pacientes com pr-hipertenso e hipertensos grau I, 64 pacientes saudveis que no
tomavam nenhum medicamento anti-hipertensivo foram divididos em grupo suco de
uva e grupo placebo fizeram a ingesto durante 8 semanas em que no apresentou
efeito primrio de 24 h na PAS, enquanto na PAD ou estresse induzido foram
observadas mudanas significativas, na avaliao secundria houve reduo na
PAS, alm disso no incio do estudo, a presso noturna foi menor noite do que
durante o dia, e aumentou 1,4 pontos percentuais aps o suco de uva e diminuiu 2,3
pontos percentuais aps o placebo (p= 0,005).
Com o mesmo objetivo s que em ratos Mosele et al. (2012) estudaram os
efeitos do pr-tratamento do suco de uva roxo em protenas sinalizadoras envolvidas
na remodelao cardaca em ratos com HA pulmonar induzida pela monocrotalina,
tratados por 6 semanas com gua ou suco de uva roxo por gavagem (10 mLkg(-1))
e na terceira semana eles receberam uma dose nica de MCT (60 mg/kg ip),
apresentando reduo no pr-tratamento com suco de uva roxo na a resistncia
vascular pulmonar e melhora nos parmetros hemodinmicos na hipertenso
induzida por monocrotalina, ambos os grupos exibiram nveis aumentados de H2O2,
que foram reduzidos linha de base em no grupo com suco de uva.
Novamente com humanos Draijer et al. (2015) em seu estudo duplo-cego
controlado por placebo, observou o efeito de dois extratos de uva sobre a PA e a
funo vascular em 60 indivduos sem tratamento e hipertensos aps 4 semanas de
interveno, usou-se os extratos (uva-vinho tinto e uva sozinho) com altas
concentraes de antocianinas e flavonis, mas a uva sozinha era relativamente
pobre em catequinas e procianidinas, mostraram que a PA sistlica / diastlica
ambulatorial de 24 horas foi significativamente menor na interveno do extrato de
vinho (135,9 1,3 / 84,7 0,8 mmHg) comparado ao placebo (138,9 1,3 / 86,6
1,2 mmHg), predominantemente durante o dia. As concentraes plasmticas do
vasoconstritor endotelina-1 diminuram em 10%, mas outras medidas da funo
vascular no foram afetadas.
Apenas dois estudos investigaram o efeito da associao de suco de uva e
exerccio para reduo de estresse oxidativo e inflamatrio, em que um investigou o
suco integral de uva roxa no desempenho de corredores recreativos em 28
17
voluntrios de ambos os sexos randomizados para um grupo que recebeu suco de
uva (10 mL/kg/min por 28 dias) ou um grupo que recebeu isocalrico com bebida
controle isoglicmica e isovolumtrica, avaliados com teste de esforo de exausto,
teste do limiar anaerbico e teste de capacidade aerbica, juntamente com
avaliaes de marcadores de estresse oxidativo, inflamao, resposta imune e leso
muscular, realizada no incio e 48 horas aps o protocolo de suplementao,
observando que o grupo que consumiu o suco de uva mostrou um aumento
significativo (15,3%) no tempo de corrida at a exausto (p = 0,002), aumentos
significativos na capacidade antioxidante total (38,7%; p = 0,009), e os nveis de
protena reativa permaneceram inalterados, e ainda de forma contraste, no houve
mudanas significativas para qualquer destas variveis no grupo controle
(TOSCANO et al., 2015).
Enquanto outro estudo avaliou tambm o efeito protetor do suco de uva roxo
orgnico no estresse oxidativo produzido por um exerccio exaustivo em ratos, os
quais foram tratados com suco de uva orgnico (Vitis labrusca) e subsequentemente
submetido a um exerccio exaustivo. Parmetros do estresse oxidativo, como o
cido tiobarbitrico reativo, oxidao de diacetato de diclorofluorescena e nveis de
sulfidrilas no proteicos no crebro, msculo esqueltico e sangue foram avaliados,
encontrando aps a interveno aumento nos nveis de cido tiobarbitrico reativo e
a oxidao de diacetato de diclorofluorescena, e diminuram os nveis de sulfidrilas
no proteicos no tecido de ratos, indicando que a ingesto de suco de uva orgnico
foi capaz de proteger contra o dano oxidativo causado por um exerccio exaustivo
em diferentes tecidos de ratos (DALLA CORTE et al., 2013).
Tendo em vista todos os fatores dietticos e fisiolgicos que envolvem o idoso
hipertenso, bem como a eficcia de estudos que mostram o efeito do consumo de
suco de uva na melhoria da PA e estudos que mostram os benefcios da prtica de
exerccio aerbio na PA do idoso, a hiptese da presente pesquisa se pauta na
premissa de que o consumo de suco de uva integral associado prtica de exerccio
aerbio ir potencializar o efeito na PA, no perfil lipdico e na composio corporal
no idoso hipertenso.
18
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o efeito de trs meses do consumo regular de 200ml de suco de uva
integral dirio associado prtica de exerccio fsico em idosos com hipertenso
arterial residentes na cidade de Valena do Piau - PI.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
- Comparar a influencia do consumo de suco de uva integral e exerccio fsico
na composio corporal e PA antes e aps 12 semanas da ingesto do suco de uva
integral e atividade fsica em idosos hipertensos;
- Analisar os valores dos parmetros metablicos (colesterol total, HDL-
colesterol, LDL- colesterol, VLDL- colesterol, glicemia de jejum e triglicerdeos) antes
e aps 12 semanas da ingesto de suco de uva integral e atividade fsica em idosos
hipertensos;
- Observar a presena de variao de capacidade funcional antes e aps 12
semanas da ingesto de suco de uva integral e atividade fsica em idosos
hipertensos.
19
3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DO ENVELHECIMENTO E HIPERTENSO
ARTERIAL NO INTERIOR DO PIAU.
O Piau conta com uma populao estimada em 2016 de 3.212.180 mil
habitantes, destes 6,9% so pessoas com 60 anos ou mais de idade com limitao
funcional para realizar Atividades de Vida Diria (IBGE, 2016a). E ainda segundo a
Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito
Telefnico (VIGITEL) na capital do Piau 23,2% da populao adulta tem HA, sendo
a populao feminina a mais afetada com 24,8% e a masculina com 21,2%
(BRASIL, 2017). A cidade de Valena do Piau a 25 cidade mais populosa do
estado.
A populao estimada pelo IBGE (2016b) para a cidade de Valena do Piau
de 20.579 mil habitantes. Possui uma rea territorial de 1.334,629km, densidade
demogrfica de 15,23 hab/km. Atualmente a populao idosa da cidade de Valena
do Piau consta de 3.041 idosos residentes, acima de 60 anos, atendidos em 35
estabelecimentos de sade disponveis pelo SUS (IBGE, 2016b).
A cidade de Valena do Piau foi, em sua origem, uma aldeia de ndios
Aroazes que recebeu posteriormente o nome de Catinguinha. No incio do sculo
XVIII, alguns Jesutas se estabeleceram nas proximidades da nascente do rio
Tabua, com o fim de catequizar os gentios; levantaram, com o auxlio dos indgenas,
algumas choupanas e iniciaram a construo de um gingantesco templo de pedras,
do qual h ainda indcios. Em 1740, o Bispo do Maranho D. Frei Manoel da Cruz,
sabedor de que aquela povoao vinha de desenvolvendo-se consideravelmente,
criou nela uma freguesia sob o cargo de Nossa Senhora da Conceio, tendo como
sede o local denominado Aroazes, hoje povoado com este nome (IBGE, 2016b).
Algumas alteraes toponmicas municipais foram realizadas, onde foi
alterada Berlengas para Valena, pelo decreto-lei estadual n. 754, de 30/12/1943.
Berlengas para Valena do Piau alterado pela lei estadual n. 128, de 26/07/1948
(IBGE, 2016b).
Segundo dados da Secretaria Municipal de Sade de Valena do Piau (SMS-
Valena do Piau), a rea correspondente a UBS Dr. Francisco de Castro, Bairro
Amando Lima, atende atualmente 622 famlias, possui prevalncia de doenas
20
crnicas como: HA, seguida de diabetes, infeces das vias areas superiores,
verminoses, anemia e sobrepeso. Atualmente conta com 316 hipertensos atendidos
no programa Hiperdia da UBS Dr. Francisco de Castro.
Desta forma, faz-se necessrio falar sobre gerontologia. Esta o estudo e a
prtica de elementos que envolvam estilo de vida, cuidados com a sade e o meio
ambiente que levam a melhor qualidade de vida e longevidade em um determinado
indivduo ou na populao como um todo. Constitui de estratgias que inclui dieta e
atividade fsica, alm de cuidados adversos (COHEN, 2008).
Para a gerontologia, a equipe de sade deve trabalhar de forma
interdisciplinar e pode ser constituda por todos os profissionais que lidam com
pacientes hipertensos: mdicos, enfermeiros, tcnicos e auxiliares de enfermagem,
nutricionistas, psiclogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, professores de
educao fsica, musicoterapeutas, farmacuticos, educadores, comunicadores,
funcionrios administrativos e agentes comunitrios de sade (MALACHIAS et al.,
2016; BRASIL, 2014a).
Interdisciplinaridade consiste no encontro de diferentes disciplinas, produzido
pela interseo de diferentes saberes/disciplinas sendo usada na teoria e prtica,
geralmente atravs de intervenes. Para a prtica da interdisciplinaridade, vale
refletir sobre a integralidade uma das diretrizes do SUS, organizado por
descentralizao, atendimento integral e participao da comunidade, realizados
pela prtica interdisciplinar (BISPO; TAVARES; TOMAZ, 2014).
A exemplo, um estudo de Lauzire et al. (2013) examinou o efeito de um
programa educativo interdisciplinar em pessoas com HA e observou redues
significativas na presso arterial sistlica (PAS). Outro estudo acompanhou adultos
portadores de HA e diabetes participantes de atividades de educao em sade de
forma interdisciplinar, com orientaes para mudanas no estilo de vida com
alimentao saudvel e prticas de atividade fsica, observando melhoria na
satisfao do usurio e melhorias no estilo de vida (BARBOSA, 2016).
Desta forma, entende-se que na populao de idosos portadores de HA a
realizao de intervenes de forma interdisciplinar traz resultados mais
significativos quando comparados apenas a intervenes medicamentosas e
disciplinares. Pode-se intervir nas diversas reas das cincias da sade e sociais no
paciente hipertenso, visando modificaes de estilo de vida, com vistas a
modificaes alimentares, estilo de vida e diminuio dos fatores de risco.
21
3.2 ENVELHECIMENTO
3.2.1 Conceitos e classificao
A poltica nacional do idoso (PNI), Lei n 8. 842, de 4 de janeiro de 1994 e o
estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003 (BRASIL, 2012), define o
termo idoso a pessoas com 60 anos ou mais. J a WHO (2002) define o idoso a
partir da idade cronolgica, portanto, idosa aquela pessoa com 60 anos ou mais,
em pases em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em pases desenvolvidos.
O envelhecimento biolgico est associado ao acmulo de uma grande
variedade de danos moleculares e celulares. Leva a perda gradual nas reservas
fisiolgicas, maior risco de contrair diversas doenas e declnio da capacidade
intrnseca do indivduo, consequentemente resultando em falecimento (WHO, 2015).
Outra definio a de Envelhecimento Saudvel, este definido pela WHO
(2015), como o processo de desenvolvimento e manuteno da capacidade
funcional que permite o bem-estar em idade avanada. Podem ser ainda
diferenciados dois conceitos definidos pela WHO:
O primeiro a capacidade intrnseca, que se refere ao composto de todas as capacidades fsicas e mentais que um indivduo pode apoiar-se em qualquer ponto no tempo. Entretanto, a capacidade intrnseca apenas um dos fatores que iro determinar o que uma pessoa mais velha pode fazer. Alm deste, existe a capacidade funcional, definida pelo relatrio como atributos relacionados sade que permitem que as pessoas sejam ou faam o que com motivo valorizam (WHO, 2015).
O envelhecimento populacional compreendido como uma alternativa para
manter os idosos socialmente e economicamente integrados e independentes,
garantindo polticas pblicas e aes de preveno e cuidado direcionados s suas
necessidades no mbito de proteo social (MIRANDA; MENDES; DA SILVA, 2016).
Atualmente, o envelhecimento est associado a um bom nvel de sade,
quando no exista doena. O envelhecimento populacional traz consigo maior
nmero de problemas de sade, acarretando os sistemas de sade e previdncia
social. Com isso, ocorreram avanos na sade e tecnologia que permitiram maior
acesso da populao aos servios pblicos ou privados, garantindo melhor
qualidade de vida aos idosos (WHO, 2002; MIRANDA; MENDES; DA SILVA, 2016).
22
3.2.2 Epidemiologia e demografia do envelhecimento
A populao mundial vem envelhecendo em propores em dobro em funo
da queda da taxa de fecundidade em diversas regies do mundo e do aumento da
expectativa de vida (IBGE, 2016a). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE) apontam uma tendncia de envelhecimento demogrfico, que
corresponde ao aumento de 9,8% para 14,3% da participao percentual de idosos
na populao. No Brasil, a proporo de idosos de 11,7%, bem prxima ao
indicador mundial (12,3%) em 2015 (IBGE, 2016a). Estima-se que em 2025, esse
nmero chegar a 32 milhes, e em 2050, esse nmero ser igual ou superior ao de
crianas e jovens de at 15 anos, fato marcante em todo o mundo (BRASIL, 2012).
Em 2010 a estimativa de vida dobrou, chegando a 74 anos, com uma
representao de 10,8% da populao brasileira com 60 anos ou mais.
Acompanhando tambm este crescimento, est o crescimento do ndice de
envelhecimento e a reduo da razo de dependncia. Com esse crescimento da
populao idosa em relao a populao jovem, estima-se uma inverso de 153
idosos para cada 100 jovens menores de 15 anos. Porm, o crescimento da
populao gera alteraes na sociedade, ao setor econmico, ao mercado de
trabalho, aos sistemas e servios de sade e relaes familiares (MIRANDA;
MENDES; DA SILVA, 2016).
3.2.3 Alteraes fisiolgicas no envelhecimento
O envelhecimento inicia na concepo e termina na senescncia, o perodo
de vida aps os 30 anos e envolve transformaes no corpo todo. Ocorrem perdas
de catabolismo, diminuio da eficincia de clulas, influenciados por eventos da
vida, enfermidades, gentica e fatores socioeconmicos e de estilo de vida (DAL
BOSCO, 2006).
Durante o processo de envelhecimento ocorrem algumas modificaes na
composio corporal como a diminuio de gua corporal, especialmente do
componente intracelular; massa ssea, massa muscular (MM); reduo progressiva
da altura; e redistribuio da gordura corporal, principalmente do componente
subcutneo diminui que de forma mais expressiva com o avano da idade,
23
comparada gordura da regio visceral (FALSARELLA et al., 2014; BRASIL,
2014c).
Fatores de estilo de vida como adequao e regularidade do sono, frequncia
e consumo de refeies bem balanceadas, suficincia de atividade fsica, hbito de
fumar, extenso de lcool e peso corporal so fatores que refletem na idade
fisiolgica, podendo levar a doenas e incapacidade, no sendo sempre
consequncias inevitveis do envelhecimento (DAL BOSCO, 2006).
Alm disso, o processo de envelhecimento leva ao desenvolvimento de
aumento da espessura e rigidez da artria endotelial, mediada por alteraes
funcionais do endotlio e em parte por mudanas estruturais na parede arterial como
consequncia da fragmentao e perda de fibras de elastina, acmulo de fibras de
colgeno, alm da formao de produtos finais de glicao avanada (AGE) que
geram um desequilbrio na produo e eliminao de radicais livres (GLIEMANN;
NYBERG; HELLSTEN, 2016).
3.2.3.1 Alteraes na composio corporal
A idade cronolgica difere da idade biolgica por ser influenciada por diversos
aspectos, como a atividade fsica e fatores de estilo de vida. A atividade fsica induz
sinais qumicos e mecnicos que promove a sade cardiovascular atravs de
inmeras vias bioqumicas (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016). Uma das
principais alteraes encontradas durante o envelhecimento consiste na diminuio
da MM, detectvel aps os 45 anos; e massa ssea contribuindo para desfechos
desfavorveis mobilidade, levando a quadros de quedas e fraturas levando a
dependncia no idoso (FALSARELLA et al., 2014; LEVESQUE et al., 2016).
Um dos maiores marcadores de alteraes corporais no idoso a
circunferncia da cintura (CC), este parmetro remete o desenvolvimento de perfil
sarcopnico (perda de MM e fora muscular) relacionados a funcionalidade,
comorbidades e mortalidade (LEVESQUE et al., 2016). O envelhecimento est
associado ao aumento da massa gorda e mudanas no seu padro de distribuio,
com aumento de 20% a 30% na gordura corporal total, com grande nmeros de
idosos obesos (JARDIM et al., 2017).
A estatura comea a diminuir cerca de 1cm por dcada, pela perda da
curvatura dos arcos dos ps, aumento das curvas da coluna e alteraes dos discos
24
intervertebrais. O teor de gua diminui, pela diminuio da gua intracelular, sendo
acompanhada de diminuio de potssio intracelular. Ocorre tambm diminuio da
atividade das glndulas sebceas e sudorparas, resultando em pele seca e spera
(COHEN, 2008).
O envelhecimento est associado ainda a nveis aumentados de xido ntrico
que atravessa as membranas celulares, levando a nitrosilao de protenas,
bloqueando a atividade de enzimas antioxidantes como a superxido dismutase,
reduzindo ainda a biodisponibilidade de xido ntrico. Este processo pode ser
explicado por um desequilbrio entre antioxidantes relacionado idade, levando a
uma alterao desfavorvel no estado redox, aumentando a espessura e rigidez dos
vasos sanguneos (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).
3.2.4 Alteraes no trato digestrio
Durante o envelhecimento aparecem alteraes no trato digestrio que so
considerveis ao estado nutricional do indivduo. Ocorrem diminuio da sensao
de paladar, olfato, viso, audio e tato, diminuio na secreo salivar, perda
parcial ou total dos dentes, diminuio da secreo gstrica, de pepsina e da bile,
diminuio do movimento gastrointestinal e diminuio da taxa metablica basal e
da tolerncia glicose, estas apresentam em frequncia e graus diferentes de
acordo com o indivduo (DMASO, 2012; BRASIL, 2014c).
Alteraes na capacidade mastigatria do idoso ocorrem em decorrncia de
cries e doenas periodontais, prteses totais ou parciais inadaptadas ou m
conservao, alm da ausncia dos dentes. Fatores primordiais no processo
digestivo, levando a perda no consumo de nutrientes e maior grau de imunidade e
carncias nutricionais (DAL BOSCO, 2006).
As alteraes decorrentes do trato digestrio podem afetar o apetite e
propiciar a diminuio do consumo de alimentos, como carnes, frutas, legumes e
verduras cruas, o que pode ocasionar ingesto inadequada de fibras, vitaminas e
minerais. Alm dos aspectos sociais e psicolgicos que podem interferir na compra e
preparo dos alimentos, levando ao maior nmero de idosos incapacitados (BRASIL,
2014c).
25
3.2.5 Necessidades nutricionais no envelhecimento
Durante o envelhecimento fatores fsicos, fisiolgicos e psicolgicos tornam-
se mais suscetveis ao aparecimento de alteraes e consequentemente possuem
necessidades nutricionais particulares ao processo de envelhecimento. Observa-se
uma diminuio das necessidades energticas entre 10 a 15% aps os 50 anos de
idade, alm da queda do nvel de atividade fsica, provocando uma diminuio ainda
maior (DMASO, 2012).
O Ministrio da Sade recomenda os Dez Passos para a Alimentao
Saudvel de Idosos que prope: incentivo ao consumo de alimentos ricos em fibras,
tais como frutas, hortalias e cereais integrais, evitando a constipao intestinal;
alimentos ricos em clcio, como leite e derivados, para manuteno da massa
ssea; ingesto hdrica, beber de 6 a 8 copos de gua por dia, para manter boa
hidratao; evitar o consumo de sal, acar, doces, alimentos gordurosos, alimentos
e temperos industrializados; evitar ingesto de bebidas adoadas e refrigerantes
(BRASIL, 2014c).
A recomendao adotada uma reduo de carboidratos e gorduras da dieta,
uma vez que a quantidade de protenas, vitaminas e minerais permanecem a
mesma de indivduos adultos. Devendo para isso ser realizado um planejamento
nutricional adequado em protenas, clcio, ferro e vitaminas para que haja
segurana nutricional (DMASO, 2012).
3.2.6 Efeitos secundrios dos medicamentos
Aps o elevado consumo de lcool em idosos, a segunda classe de
substncias mais suscetveis ao abuso por parte dos idosos so os medicamentos
psicotrpicos. O resultado gera banalizao e overdoses de drogas farmacuticas,
normalmente levando a dependncia, uso excessivo e automedicao (MENECIER;
MENECIER-OSSIA, 2017).
Existe grande frequncia de efeitos adversos de medicamentos na populao
idosa, em consequncia de alteraes de suas funes vitais, estado nutricional,
metablico e digestivo, com alto consumo de medicamentos, podendo interferir na
absoro de frmacos ou nutrientes. Estudos apontam que 23% da populao
26
brasileira consomem 60% da produo nacional de medicamentos, com maior
porcentagem na populao idosa (DA SILVA; SCHMIDT; DA SILVA, 2012).
Segundo o critrio utilizado pelo Centro Ibero-Americano para a Terceira
Idade, considerada polifarmcia quando o paciente consome 5 ou mais
medicamentos, os quais geralmente levam a interaes medicamentosas (DA
SILVA; SCHMITH; DA SILVA, 2012; ESCASANY; SAN-JOS, 2017). Os
analgsicos, medicamentos cardiovasculares, antidiabticos orais, antidepressivos e
outros medicamentos psicotrpicos (barbitricos de ao curta, antipsicticos),
relaxantes musculares, antiarrtmicos e os antibiticos so os mais comumente
inclusos no auto consumo por idosos e com grande probabilidade de intoxicao
(DA SILVA; SCHMITH; DA SILVA, 2012).
3.3 HIPERTENSO ARTERIAL NO ENVELHECIMENTO
3.3.1 Definies e diagnstico
A Sociedade Brasileira de Hipertenso define HA sistmica como uma
condio clnica multifatorial caracterizada por nveis elevados e sustentados de PA,
associada frequentemente a alteraes funcionais e/ou estruturais dos rgos alvo
(corao, encfalo, rins e vasos sanguneos) e a alteraes metablicas, com
consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e no fatais
(JARDIM et al., 2017; BRASIL, 2014a). Associa ainda a distrbios metablicos,
alteraes funcionais e/ou estruturais de rgos-alvo, sendo agravada pela presena
de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal,
intolerncia glicose e diabetes melito (MALACHIAS et al., 2016).
A HA classificada como a principal causa de morbidade e mortalidade nos
pases industrializados, responsveis em 2012 por 17,5 milhes de mortes de
pessoas com idade inferior a 70 anos em todo o mundo, e responsvel por 46% de
todas as mortes por DCNT (ARCHILLA et al., 2017).
O diagnstico realizado pela deteco de nveis elevados e sustentados de
PA pela medida casual, por mdicos de qualquer especialidade e demais
profissionais da sade. A linha demarcatria que define HA considera valores de PA
sistlica 140 mmHg eou de PA diastlica 90 mmHg em medidas de consultrio.
27
O diagnstico dever ser sempre validado por medidas repetidas, em condies
ideais, em, pelo menos, trs ocasies (ARCHILLA et al., 2017; BRASIL, 2014a).
Desde a primeira avaliao, as medidas devem ser obtidas em ambos os
braos, pelo menos trs medidas com intervalo de um minuto entre elas,
classificao de acordo com as medidas (Tabela 01).
Tabela 01. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio (> 18 anos).
Classificao Presso sistlica (mmHg) Presso diastlica (mmHg)
tima < 120 110 Hipertenso sistlica isolada >140
28
3.3.3 Fatores de risco
A idade tem relao direta e linear com a PA com prevalncia superior a 60%
aps os 65 anos, com elevao no gnero masculino at os 50 anos, invertendo-se
a partir da 5 dcada, duplicao prevalente em indivduos de cor no-branca
(MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2014a). Alm destes, o excesso de peso e
obesidade contribui para o aumento de 2,4kg/m no ndice de massa corporal desde
idades jovens, correlacionada com a ingesto excessiva de sdio e lcool (BRASIL,
2014a).
H uma associao direta e linear entre envelhecimento e prevalncia de HA,
relacionada ao aumento da expectativa de vida da populao brasileira, atualmente
74,9 anos e aumento na populao de idosos 60 anos na ltima dcada de 6,7%
para 10,8%, com maior quantidade de idosos hipertensos (MALACHIAS et al.,
2016). A inatividade fsica aumenta o risco assim como os demais fatores,
principalmente em indivduos pr-hipertensos, bem como o nvel socioeconmico e
de escolaridade, fatores genticos e fatores ambientais (BRASIL, 2014a).
Alm do consumo crnico e elevado de bebidas alcolicas aumenta a PA de
forma consistente, e a alta prevalncia de tabagismo presente nesta populao
(MALACHIAS et al., 2016). Dados do Ministrio da Sade relatam que a incidncia
de HA maior entre mulheres que fumam mais de 15 cigarros por dia, e diminui a
funo ventricular esquerda em pessoas assintomticas, alm de aumentar
20mmHg na presso sistlica no primeiro uso do cigarro (BRASIL, 2014b).
3.3.4 Preveno e controle da hipertenso arterial
3.3.4.1 Medidas no-medicamentosas
A Sociedade Brasileira de Hipertenso (SBH) relata que no Brasil, cerca de
75% da assistncia sade da populao feita pela rede pblica do SUS,
enquanto o Sistema de Sade Complementar assiste cerca de 46,5 milhes. A
preveno primria e a deteco precoce so as formas mais efetivas de evitar as
doenas e devem ser metas prioritrias dos profissionais de sade. Entre as
principais recomendaes no medicamentosas esto alimentao saudvel,
29
atividade fsica, restrio de sdio e lcool, e o combate ao tabagismo (BRASIL,
2014a).
Mudanas no estilo de vida so uma das principais formas de preveno da
HA e reduo da mortalidade cardiovascular, devem ser adotados hbitos saudveis
desde a infncia e adolescncia, respeitando as caractersticas regionais, culturais,
sociais e econmicas, como a alimentao saudvel, consumo controlado de sdio e
lcool, ingesto de potssio, combate ao sedentarismo e tabagismo (BRASIL,
2014a).
3.3.4.2 Medidas medicamentosas
Estratgias medicamentosas so bem toleradas e possuem efeitos positivos
na preveno em jovens de alto risco. Para indivduos sem comportamento de risco,
recomenda-se tratamento medicamentoso apenas em condies de risco
cardiovascular global alto ou muito alto. Com vista a reduo da morbidade e
mortalidade cardiovascular, o uso de medicamentos na HA devem no s reduzir a
PA, mas tambm os eventos cardiovasculares. Com durao mdia de trs a quatro
anos, o uso de diurticos, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da
angiotensina (IECA) e com antagonistas dos canais de clcio, muitas vezes
associados de anti-hipertensivos demonstram reduo de mortalidade (BRASIL,
2014a).
A maioria dos estudos mostram efeitos positivos do tratamento realizado com
o uso de diurticos (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida), inibidores
andrenrgicos, agonistas alfa-2 centrais, bloqueadores beta-adrenrgicos,
alfabloqueadores (bloqueadores alfa-1 adrenrgicos), vasodilatadores diretos,
inibidores da enzima conversora de angiotensina, entre outros (MALACHIAS et al.,
2016).
Em idosos, quando o tratamento medicamentoso for necessrio, a dose inicial
deve ser mais baixa, e o incremento de doses ou a associao de novos
medicamentos devem ser feitos com mais cuidado, devendo avaliara presena de
outros fatores de risco, leses de rgo-alvo e doena cardiovascular associada
para escolher o anti-hipertensivo inicial (BRASIL, 2014a).
30
3.4 ALIMENTOS FUNCIONAIS NA HIPERTENSO ARTERIAL
Alimentos funcionais so alimentos que possuem substncias com distintas
funes biolgicas, denominadas componentes bioativos, que so capazes de
modular a fisiologia do organismo, garantindo a manuteno da sade. Podem ser
designados por meio de uma ampla terminologia: nutracuticos, nutragnicos,
medical foof, nutritional food, pharmafood, therapeutic food, fitness food, biocuticos,
entre outros (DMASO, 2012).
O Ministrio da Sade publicou em sua portaria 398 de 1999, definindo a
legislao para alimentos funcionais, como sendo:
Todos alimentos consumidos como parte da dieta usual, que produzem efeitos metablicos ou fisiolgicos e/ou capacidade de reduzirem o risco de doenas crnico-degenerativas, alm de suas funes nutricionais bsicas. Tais propriedades tm que ser comprovadas junto s autoridades competentes, quando do registro do alimento ou do novo rtulo (BRASIL, 2014a; DMASO, 2012).
Como alegao de propriedade de sade, define sendo aquela que afirma,
sugere ou implica a existncia de relao entre o alimento ou ingrediente com
doena ou condio relacionada sade (DMASO, 2012).
3.4.1 Compostos fenlicos
Compreendem o grupo de molculas simples at molculas com alto grau de
polimerizao, presente na alimentao em variedades de vegetais e produtos
industrializados, como chocolates, chs, uvas e seus derivados. So classificados
como fenis simples ou polifenis, com base no nmero de unidades de fenol na
molcula (LIMA, 2010).
Os polifenis so os metablitos secundrios mais abundantes presentes no
reino vegetal, representam um grande grupo de molculas, incluindo duas famlias
de grandes benefcios a sade: os flavonoides e os no-flavonides. A ingesto
diettica altamente varivel, aproximadamente entre 21,2 a 23mg/dia, sendo a
quercetina (15,4mg/dia) o principal polifenol suplementado (RASINES-PEREA;
TEISSEDRE, 2017). Por apresentarem efeitos positivos na reduo do ndice de
DCNT, como DCV e alguns tipos de cncer, estes atualmente fazem parte da classe
de fitoterpicos (LIMA, 2010). Tambm podem modular a funo cerebral com
31
efeitos neuroprotetores na Doena de Alzheimer (LEE; TOROSYAN; SILVERMAN,
2017). Fazem parte do grupo de polifenis:
3.4.1.1 Flavonides
Possuem uma estrutura base formada de dois anis aromticos ligados por
um anel pirano e podem ser encontrados no estado livre ou associado com outras
molculas (LIMA, 2010). Pertencem a esse grupo os derivados de cidos benzoico,
cinico e flavonoides (flavanis, flavonis e antocianinas) que se diferem pelo grau
de oxidao do anel pirano (LIMA, 2010).
3.4.1.2 Flavonis
Faz parte do grupo dos flavonides, atuam como principais compostos dos
sucos de uva, esto neste grupo a quercetina, rutina, miricetina e caempferol, todos
presentes na uva. Atuam principalmente no sabor amargo e adstringente
caracterstico do suco de uva e a colorao (LIMA, 2010; KOKKOU et al., 2016).
Podem ser encontrados ainda em vegetais, frutas, chocolate escuro, ch, caf, vinho
e suco de uva (KOKKOU et al., 2016).
Os flavonoides do chocolate inibem a agregao plaquetria, no ch verde
possuem catequinas que inibem a formao do fator ativador de plaquetas. Alm
disso, nas uvas seus flavonoides inibem a funo plaquetria e exercem ao
anticoagulante (KOKKOU et al., 2016).
3.4.1.3 Flavanis
Fazem parte deste grupo a catequina, epicatequina e epigalocatequina,
encontradas nas sementes e cachos da uva, caracterizando adstringncia e amargor
do suco de uva. Variam de acordo com o grau de polimerizao, fraes
oligomricas e polimricas contribuem para uma maior adstringncia, menor
amargor e aumento considervel da permanncia gustativa (LIMA, 2010).
32
3.4.1.4 Antocianinas
Diferem entre si quanto ao nmero de hidroxilas e grau de metilao,
presentes no anel , sua composio pode ser usada para diferenciar e classificar
as variedades da uva. As antocianinas glicosiladas so responsveis pela colorao,
possuem atividade antioxidante, encontram-se principalmente na casca da uva,
atraindo insetos polinizadores e proteo de radiaes UV (LIMA, 2010).
3.4.1.5 Estilbenos
O principal composto deste grupo o resveratrol, um no flavonoide
presente na uva. Quimicamente denominado, Trans-3,5,4-trihidroxiestilbeno est
relacionado a funes como antienvelhecimento, efeito positivo na Doena de
Alzheimer (LEE; TOROSYAN; SILVERMAN, 2017; ZHANG et al., 2016), preveno
em DCV (MATOS et al., 2012; ALBERTONI; SCHOR, 2015), neurodegenerativas
(PORQUET et al., 2013; LI et al., 2012), cancergenas (VALLIANOU et al., 2015;
CARTER; DORAZIO; PEARSON, 2014) e aumento da longevidade (ROLIM;
PERREIRA; ESKELSEN, 2013), possui ainda propriedades anti-inflamatrias,
antioxidantes e antimicrobianas (RUIVO et al., 2015; CHEN et al., 2016; LANON;
FRAZZI; LATRUFFE, 2016).
3.5 BENEFCIOS DO RESVERATROL NA HIPERTENSO ARTERIAL
O resveratrol (trans-3,5,4-trihidroxiestilbeno) tem sido bastante utilizado como
agente promotor de sade no mundo ocidental. Ocorre em duas formas isomricas,
uma forma cis e uma trans, onde a forma trans a forma mais comumente utilizada
em estudos (GAMBINI et al., 2013) (Figura 01). As duas formas isomricas tem
propriedades biolgicas um pouco diferentes, com a forma trans com propriedades
cardioprotetoras e antioxidantes mais fortes. As doses utilizadas variam entre 30mg
e 1g por dia em humanos, correspondendo a 0,3 a 25mg/kg/dia, e em roedores as
doses mais utilizadas so em torno de 150mg (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN,
2016).
33
Figura 01. Estrutura qumica do trans-resveratrol e cis-resveratrol.
Fonte: Gambine et al. (2013).
A origem da busca pelos benefcios do resveratrol se deu pela descoberta e
compreenso do chamado paradoxo francs, em que os franceses possuem as
mesmas taxas de colesterol dos americanos, porm a taxa de mortalidade por
doenas cardiovasculares correspondem a um tero da mesma observada nos
Estados Unidos. Alguns estudiosos acreditam que isso se deve de fato ao hbito
francs de desfrutar algumas taas de vinho em suas refeies (BIAGI; BERTELLI,
2015).
O resveratrol foi proposto para reduzir a PA e funo vascular, aumentando a
produo de oxido ntrico em parte pela protena quinase ativada (AMP) mediada
por oxido ntrico endotelial fosforilado e at regulao da expresso (GLIEMANN;
NYBERG; HELLSTEN, 2016).
3.5.1 Biossntese
A biossntese inicia atravs do processo de biotransformao da fenilalanina
por condensao de 1 cumaril-CoA e 3 malonil-CoA, catalisados por uma enzima
resveratrol sintase (Figura 02). Estas so codificadas em 8 genes de acordo com a
sensibilidade aos sinais externos causados por clulas. A sntese de resveratrol
diminui com a maturao das uvas, induzindo a expresso da estilbeno sintetase,
aumentando o risco de infeco nos frutos (GAMBINI et al., 2013).
A estilbeno sintetase a principal enzima na biossntese de resveratrol, esta
ativada em resposta a fatores exgenos, tais como, radiao ultravioleta, agentes
qumicos e estresse oxidativo. Essa enzima catalisa a reao entre a molcula p-
cumaril-coenzima A e trs molculas de malonil-coenzima A, levando sntese do
resveratrol na rea afetada (MACHADO; GUEDES, 2015).
34
Figura 02. Esquema da biossntese de resveratrol.
Fonte: Gambini et al. (2013).
3.5.2 Biodisponibilidade, ingesto, absoro, excreo e toxidade
Estudos in vitro mostram uma elevada eficcia do resveratrol nas clulas,
porm sua distribuio nos tecidos muito baixa, podendo no ter aes desejadas.
Os principais locais de biodisponibilidade do resveratrol o fgado e a microflora
intestinal. A absoro ir variar dependendo da forma como consumido e os
alimentos ingeridos, com capacidade de ser absorvido no intestino delgado e os
compostos insolveis so simplesmente eliminados nas fezes. Em humanos, a
absoro do resveratrol bastante eficaz, mas a biodisponibilidade em tecido
muito baixa (GAMBINI et al., 2013).
A desacetilase sirtuina-1 (SIRT1), uma forma oxidada de nicotinamida
adenina dinucleotdeo (NAD+) um membro da famlia Sirtuin que foi sugerida ser
uma das vias mais importantes de efeitos benficos do resveratrol na vasculatura,
protegendo contra a senescncia induzida por EROs aumentando o contedo e
atividade da protena xido ntrico sintase endotelial, previne danos ao DNA e
estresse oxidativo, atua no metabolismo e durao da regulao, protege obesidade
induzida pela dieta, distrbios metablicos e leso oxidativa (GLIEMANN; NYBERG;
HELLSTEN, 2016; ZHANG et al., 2016; XIA et al., 2016; GAMBINI et al., 2013). O
35
resveratrol um ativador de SIRT1, atravs desta ativao o resveratrol
desempenha funes na atividade antioxidante, efeitos cardioprotetores e
anticancergenos (ZHANG et al., 2016).
Grande parte das reaes metablicas do organismo humano realizada em
meio aerbio, o que irremediavelmente leva gerao de inmeras espcies
reativas de oxignio (EROs). Normalmente, o organismo controla a concentrao
deste tipo de espcies, principalmente por meio da produo de enzimas que
catalisam reaes de inativao de radicais (SFORA-SOUSA; DE ANGELIS-
PEREIRA, 2013). O efeito antioxidante do resveratrol ocorre atravs da activao de
SIRT1, AMP e ER, levando a uma regulao da expresso de vrias enzimas
antioxidantes, protenas de citoproteo, tecidos e clulas endoteliais (GLIEMANN;
NYBERG; HELLSTEN, 2016; GAMBINI et al., 2013).
Alm da via SIRT1, o resveratrol exerce seu efeito tambm atravs da
protena quinase ativada (AMP) e receptor de estrognio (ER) regulados por vias e
melhorias na defesa antioxidante. O resveratrol liga-se aos receptores de estrognio,
mesmo com uma afinidade inferior e induz a expresso de genes antioxidantes.
Dessa forma, baixas concentraes de resveratrol pode ativar oxido ntrico endotelial
atravs de estrognio sobre o endotlio (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).
De interesse na sade cardiovascular do envelhecimento, o de maior
destaque o efeito do resveratrol na biodisponibilidade sobre o oxido ntrico. Essa
biodisponibilidade depende de: expresso de oxido ntrico endotelial; estado de
ativao do oxido ntrico endotelial; grau de desacoplamento de oxido ntrico
endotelial, entre outros. O resveratrol aumenta o RNAm, oxido nitrito endotelial,
nveis de protena tanto por mecanismos em clulas endoteliais, pela ativao de
SIRT1, fatores de transcrio e ER (CHESEREK et al., 2016; GAMBINI et al., 2013).
3.6 PRODUO E COMERCIALIZAO DA UVA
As videiras deram incio na Groelndia, na era Terciria, no perodo
Paleocnico ocorrido cerca de 6000 a.C, possibilitando uma enorme variedade de
espcies adaptadas s mais diversas situaes de clima e solo, pragas e doenas.
No Brasil, a introduo do cultivo da uva ocorreu em 1535 sendo propagadas em
muitas regies do pas, mas somente no final do sculo XIX a vitivinicultura ganhou
36
impulso e se tornou atividade de importncia socioeconmica no pas (MOREIRA,
2014).
Atualmente a vitivinicultura brasileira concentra-se em regies de diversidade
geogrficas e climticas, proporcionando variedades de uvas e seus derivados
produzidos nos estados de Minas Gerais, So Paulo, Paran, Santa Catarina,
Pernambuco, Bahia e Mato Grosso (LIMA, 2010).
Os maiores polos produtores de uva no Brasil, so: a regio do Vale do So
Francisco, com destaque na produo da uva Syrah, Moscatos, Chenin Blanc, Itlia,
etc.; a divisa com o Uruguai, com produo da uva Tannat; a regio de Campos de
Cima da Serra na produo de uvas brancas como a Sauvignon Blanc, Viognier e
Chardonnay; a Serra do Sudeste e Campanha Gacha aparecem com a produo
da Cabernet Sauvignon, Nigara e Isabel; a Serra do Sudeste, com as uvas
Charddonnay e Merlot; a regio da Farroupilha com grandes produes da espcie
Moscato; e o Vale dos Vinhedos, desponta a Merlot como uva cone dessa parte da
serra (ROSA, 2016).
3.6.1 Uva do vale do submdio So Francisco
Um dos principais fatores determinantes para o cultivo da uva so as
condies edafoclimticas (elevada temperatura, disponibilidade de gua para
irrigao e luminosidade abundante), condies encontradas na regio do Submdio
So Francisco. Esta regio entre os estados de Pernambuco (Petrolina, Santa Maria
da Boa Vista e Lagoa Grande) e Bahia (Casa Nova), situada entre os paralelos 8 e
9 do hemisfrio sul, com altitude mdia de 350m, a nica a ter duas a trs safras
anuais de frutas e vinhos em condies de clima semirido tropical em perodo no
convencional (LIMA, 2010; PEREIRA et al., 2007; MOREIRA, 2014).
De acordo com o IBGEc (2016), os maiores polos produtores de uva no Brasil
obedecem a seguinte ordem: em primeiro lugar Rio Grande do Sul com uma
produo de 415.693 toneladas, seguido por Pernambuco com 237.367 toneladas e
So Paulo com 145.251 toneladas. O nordeste totaliza uma mdia de produo de
33.485 quilogramas de uva por hectare.
Na regio tropical do semirido nordestino a produo de suco de uva
concentra-se nas espcies Isabel Precoce (Vitis labrusca), as uvas hbridas BRS
37
Cora e BRS Violeta, e as uvas vinferas Syrah, Tempranillo e Alicante Bouschet
(DOS SANTOS LIMA et al., 2014).
3.6.2 Uvas produtoras de suco
A regio do submdio So Francisco caracterizada por apresentar dias e
noites quentes, associado ao manejo da irrigao favorecendo a produo de 15%
de vinhos finos.
O suco de uva elaborado principalmente com uvas do grupo das
americanas/hbridas tintas. As uvas da espcie Nigara Branca tm sido usadas,
para elaborar suco de uva branco. Entre as cultivares da produo de suco de uva
tinto, destacam-se a Concord, Isabel e Bord, todas da espcie Vitis labrusca
(RIZZON; MENEGUZZO, 2007; DOS SANTOS LIMA et al., 2014). Alm das
espcies BRS Rbea, BRS Cora e BRS Violeta, os clones Isabel Precoce e Concord
Clone 30 (RIZZON; MENEGUZZO, 2007).
As variedades de uva do tipo Concord mantm o sabor caracterstico da uva
in natura, sendo as mais utilizadas para a fabricao do suco (DOS SANTOS LIMA
et al., 2014; STALMACH et al., 2011). A espcie Isabel origina suco de menor
intensidade aromtica e de cor, em relao Concord (RIZZON; MENEGUZZO,
2007; DOS SANTOS LIMA et al., 2014).
O consumo de suco de uva do tipo Concord tem mostrado reduzir o estado
inflamatrio induzido pelo tabagismo, os flavonoides presentes na uva causam
relaxamento do endotlio, aumentando a produo de xido ntrico diminuindo o
processo inflamatrio (KOKKOU et al., 2016).
3.6.3 Caractersticas organolpticas e nutricionais do suco de uva
Em relao sua composio nutricional, cerca de 85% do suco de uva
composto por gua. Os macronutrientes de maior destaque nessa bebida so os
carboidratos, representados especialmente pela glicose e frutose. Um fator
determinante do acmulo de acar nas bagas de uva o total de horas de
insolao ao qual a planta foi submetida durante o perodo vegetativo. No suco de
uva predominam os cidos tartrico e mlico, enquanto que os cidos succnico e
ctrico esto presentes em menores propores (DOS SANTOS LIMA et al., 2014).
38
A uva possui uma variedade de componentes qumicos, como: minerais
(ferro, magnsio, potssio, sdio e clcio), protenas, glicose, frutose, compostos
fenlicos e cidos fenlicos (cido benzoico e cinmico). Na casca da uva e nas
sementes so suas maiores fontes nutricionais, nelas so encontrados flavonis,
como a quercetina; antocianinas, como a cianidina; estilbenos, com destaque ao
resveratrol e os cidos fenlicos, como o cido tartrico (RIZZON; MIELE, 2012;
PEREIRA JNIOR et al., 2013; DOS SANTOS LIMA et al., 2014).
Em geral, o suco de uva pode ser elaborado com uva de qualquer espcie,
desde que alcance maturao adequada, bom estado sanitrio, adequada relao
acar/acidez, aroma e sabor, alm de bom nvel de maturao e sanidade
(RIZZON; MENEGUZZO, 2007; RIZZON; MIELE, 2012).
A qualidade final da uva depende de fatores como a utilizao ou no de
agrotxicos, ou seja, cultivo orgnico, este apresenta maior quantidade de polifenis
em sua composio quando comparado s cultivadas convencional (PEREIRA
JNIOR et al., 2013).
Entretanto, os benefcios para a sade inerentes ao consumo do suco de uva
so consistentemente explicados por seu contedo de compostos fenlicos. Estes
compostos so reconhecidos pela expressiva ao antioxidante que possuem,
sendo capazes de prevenir a oxidao de substratos biolgicos, que pode ser a
gnese de diversas doenas crnico-degenerativas (DOS SANTOS LIMA et al.,
2015). So ainda responsveis pela colorao dos vinhos tintos e sucos de uva, ao
sabor amargo e adstringente, aroma, alm de constituir o principal reservatrio de
antioxidantes (DOS SANTOS LIMA et al., 2014).
Os cidos orgnicos ocorrem como resultados de processos metablicos
bioqumicos, hidrlises e crescimento de bactrias, sendo encontrados em diversos
alimentos, inclusive no suco de uva. As concentraes variam dependendo do
cultivo, grau de maturao, disponibilidade de gua, temperatura e exposio ao sol.
Os cidos tartrico, mlico e ctrico so provenientes da uva e dos processos de
fermentao, contribuem com a cor, aroma, gosto, estabilidade microbiolgica e
qumica (LIMA, 2010).
39
3.7 EXERCCIO FSICO NO ENVELHECIMENTO
A atividade fsica est relacionada a vrios benefcios sade, como:
Melhoria da capacidade cardiovascular e respiratria, da resistncia fsica e muscular, da densidade ssea e da mobilidade articular, da presso arterial em hipertensos, do nvel de colesterol, da tolerncia glicose e da ao da insulina, do sistema imunolgico, da diminuio do risco de cnceres de clon e de mama nas mulheres, entre outros benefcios, no menos importantes, como a preveno de osteoporose e diminuio de lombalgias, aumento da autoestima, diminuio da depresso, alvio do estresse, aumento do bem-estar e reduo do isolamento social (BRASIL, 2014c).
A atividade fsica definida como movimento corporal que produz gastos de
energia acima dos nveis de repouso, ou seja, so relativos aos movimentos
corporais no sentido de gasto de energia. Enquanto que o exerccio fsico pode ser
entendido como toda atividade fsica planejada, estruturada e repetitiva que tem por
objetivo a melhoria e a manuteno de um ou mais componentes da aptido fsica,
possui a caracterstica de melhorar o desempenho (BRASIL, 2014b; BRASIL,
2014c).
A prtica de atividades fsicas adequadas associada a alimentao saudvel
podem prevenir doenas e o declnio funcional, aumentar a longevidade e a
qualidade de vida do indivduo, sendo fatores modificveis e que podem ser
trabalhados de forma interdisciplinar, visando um envelhecimento ativo e saudvel
(PEREIRA et al., 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
A recomendao para idosos a realizao de atividade/exerccio fsico no
lazer, no tempo livre, nas tarefas domsticas que componham ao menos 150
minutos de atividade aerbia de intensidade moderada, ou pelo menos 75 minutos
de atividade aerbia intensa por semana. Alm disso, os idosos devem levar em
conta atividades que melhorem o equilbrio e previnam quedas, pelo menos trs
vezes por semana (BRASIL, 2014b).
3.7.1 Fisiologia do exerccio no envelhecimento
O exerccio exerce um estresse fisiolgico sobre o corpo, exigindo uma
resposta coordenada cardiovascular, pulmonar e nervosa para aumentar o fluxo de
sangue e fornecimento de oxignio ao msculo esqueltico de trabalho. Em
repouso, o msculo recebe aproximadamente 20% do total de sangue, mas durante
40
o exerccio, isso pode aumentar para mais de 80%. Desta forma, os sistemas podem
levar a diminuies significativas no pico de dbito cardaco e capacidade aerbia. O
corao aumenta o dbito cardaco em resposta ao aumento das demandas
metablicas e dependem essencialmente da regulao de parmetros fisiolgicos
como frequncia cardaca e volume sistlico, que aumenta cerca de 40-50% da
capacidade mxima (ROH et al., 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Em idosos sedentrios ocorre aumento de oxignio em consequncia de
insuficincia de fluxo sanguneo, por alteraes na vasculatura, redues do
msculo esqueltico e alteraes no equilbrio de vasodilatadores/vasoconstritores
(GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016). Embora a contratilidade miocrdica
reforada seja o principal aumento do volume sistlico em coraes jovens, o
exerccio aumenta volume sistlico em idosos, porm ocorrem alteraes mnimas
na contratilidade dos volumes diastlicos (ROH et al., 2016).
Ocorre diminuio da biodisponibilidade de xido ntrico associada idade
avanada tanto em animais como em humanos pelo excesso de bioatividade de
EROs em relao a defesa antioxidante, conduzindo a disfuno endotelial que
pode ser atenuado e at mesmo revertido com a atividade fsica (GLIEMANN;
NYBERG; HELLSTEN, 2016) mais um de seus efeitos positivos.
As principais fontes de energia para o exerccio so os carboidratos e os
lipdios, as protenas so usadas em quantidades insignificantes, sendo poupadas
para os processos de construo e reparo, no caso da hipertrofia. Dentre os fosfatos
de alta energia nas clulas, o principal o ATP (adenosina trifosfato), tambm
uma das maiores fontes de energia, necessrias para a manuteno do
metabolismo celular. Alm disso, armazena uma quantidade limitada de ATP que
durante a atividade fsica aumenta a demanda de energia na MM, levando a
ressntese de ATP durante ou aps o exerccio (ROH et al., 2016; MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016; COHEN, 2008).
As vias metablicas podem ser de dois tipos: anaerbia (dependente de
glicose) e aerbia (depende de oxignio), ambas utilizam ATP. Quando na execuo
de exerccio fsico, ocorre predominncia de determinada via metablica
dependendo principalmente da intensidade, da durao e do nvel atual de aptido
fsica do indivduo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; COHEN, 2008).
41
3.7.1.1 Exerccio aerbio no envelhecimento
Um estudo de Henderson et al. (2016) comparou o efeito de treinamento
aerbio e treinamento resistido sobre a velocidade de marcha em idosos e observou
que ambos os treinamentos melhoram a marcha em idosos, porm o treino aerbio
melhorou em velocidade mais rpida, diminuindo o risco de quedas em idosos.
Caracteriza-se exerccio aerbio pela contrao repetitiva de grandes grupos
musculares, com maior fluxo sanguneo dependente de oxignio, como ocorre na
caminhada, corrida, ciclismo, subir escadas, entre outros. Ocorre aumento da
capacidade aerbia (VO2) variando de 7% a 35% (AZADPOUR; TARTIBIAN;
KOSAR, 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Estudos apontam que o
aumento da capacidade aerbia se d pelo aumento da citocromo-oxidase e da
atividades de enzimas do ciclo de Krebs, aumentando ainda densidade capilar,
levando a reduo da resistncia vascular perifrica, com respostas mais
acentuadas no idoso quando comparado ao jovem (MCARDLE; KATCH; KATCH,
2016).
A produo aerbia de ATP ocorre na presena de oxignio e compreende a
interao de duas vias metablicas: o ciclo de Krebs (ciclo do cido ctrico ou
tricarboxlico) e a cadeira respiratria (sistema de transporte de eltrons). O cido
pirvico transportado para o interior das mitocndrias e sofre descarboxilao
oxidativa para formar acetil-CoA (acetilcoenzima-A), esta penetra no Ciclo de Krebs
e leva NADH. A fosforilao oxidativa (produo aerbia de ATP) ocorre em trs
estgios: formao de acetil-CoA, oxidao de acetil-CoA no ciclio de Krebs e
fosforilao oxidativa na cadeia respiratria (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;
ROH et al., 2016).
A intensidade do exerccio pode ser controlada objetivamente pela ventilao,
sendo a atividade considerada predominantemente aerbia quando o indivduo
permanecer discretamente ofegante, conseguindo falar frases completas sem
interrupes. Embora haja possibilidade de erros com a utilizao de frmulas que
consideram a idade, na impossibilidade de utilizao da ergometria pode-se usar a
frmula FC mxima = 220 - idade, exceto em indivduos em uso de
betabloqueadores e/ou inibidores de canais de clcio no-diidropiridnicos (BRASIL,
2014a).
42
3.7.2 Exerccio fsico na hipertenso arterial
A SBH relata que os exerccios aerbios (isotnicos), promovem redues de
PA, estando indicados para a preveno e o tratamento da HA (BRASIL, 2014a).
Durante a atividade fsica, a PAS aumentada como resultado do aumento do
dbito cardaco, consequentemente, aps a sesso de exerccio, a PA regressa a
nveis ainda mais baixos do que antes do exerccio (GLIEMANN; NYBERG;
HELLSTEN, 2016; PESCATELLO et al., 2015; COHEN, 2008).
Estudos apontam uma reduo em torno de 5 a 7mmHg na PA de hipertensos
submetidos a exerccios aerbios (PESCATELLO et al., 2015). No incio da
atividade, quando se sai dos nveis de repouso, h uma maior elevao da PA
sistlica para adequao ao exerccio. Aps a adequao, a PA sistlica aumenta
gradativamente intensidade do esforo, refletindo o aumento do dbito cardaco,
no ultrapassando em geral, 220mmHg (COHEN, 2008). Este efeito ocorre pelo
rearranjo de barroreceptores, vasodilatadores circulantes e efeito simptico podendo
persistir por at 24 horas (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).
Outro estudo, agora de Park e Park (2017) observou que 24 semanas de
exerccio aerbio do tipo caminhada em mulheres idosas com sobrepeso e
obesidade, com durao de 40-80min em 5 dias na semana, encontrou melhoras na
PAS e sem alteraes na PAD. Resultados semelhantes ao estudo de Azadpour;
Tartibian e Kosar (2017) que encontrou reduo de 4,6% na PAS e 2,4% na PA
diastlica aps 10 semanas de exerccio aerbio com intensidade moderada em
mulheres ps-menopausa obesas com pr-hipertenso.
3.7.2.1 Presso arterial e exerccio aerbio
A melhor indicao do exerccio aerbio (EA) para o hipertenso, deve-se ao
seu efeito hipotensor devido a reduo da ao simptica que na execuo do
treinamento leva a reduo da resistncia vascular perifrica, alm de uma maior
facilidade de eliminao de sdio pelos rins, diminuindo a volemia. So indicados
exerccios que trabalhem maior predominncia de pernas que de braos, como
exerccios de caminhadas e bicicletas. As pernas por terem maior quantidade de MM
que os braos possuem maior rede vascular sofrendo vasodilatao e menor
constrio, consequentemente, a PA apresentam menores acrscimos
43
(AZADPOUR; TARTIBIAN, KOSAR, 2017; PARK; PARK, 2017; MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2016).
A sugesto da intensidade de exerccios isotnicos segundo a frequncia
cardaca pela Sociedade Brasileira de Hipertenso (BRASIL, 2014a), classifica-se
em:
Atividades leves - Mantm-se com at 70% da FC mxima ou de pico,
recomendando-se a faixa entre 60% e 70%, quando se objetiva o treinamento
efetivo eminentemente aerbio.
Atividades moderadas - Mantm-se entre 70% e 80% da FC mxima ou de pico,
sendo considerada a faixa ideal para o treinamento que visa a preveno e o
tratamento da HA.
Atividades vigorosas - Mantm-se acima de 80% da FC mxima ou de pico,
propondo-se a faixa entre 80% e 90% quando se objetiva o treinamento com
expressivo componente aerbio, desenvolvido j com considervel participao do
metabolismo anaerbio.
Em relao aos exerccios resistidos, recomenda-se que sejam realizados
entre 2 e 3 vezes por semana, por meio de 1 a 3 sries de 8 a 15 repeties,
conduzidas at a fadiga moderada (parar quando a velocidade de movimento
diminuir).
3.7.2.2 Resistncia aerbica
Consiste na capacidade de realizar esforo utilizando principalmente o
metabolismo aerbio. Quanto maior a intensidade do esforo, maior a utilizao do
metabolismo anaerbio (limiar anaerbio). Dentre as atividades aerbias, as
principais so: natao, andar de bicicleta, caminhada, corrida, dana, entre outros
(BRASIL, 2014b).
Os maiores benefcios do EA incluem o fortalecimento do msculo cardaco,
aumento da cmara do ventrculo esquerdo; diminuio da frequncia cardaca de
repouso; aumento do nmero e tamanho das mitocndrias (responsveis pelo
metabolismo aerbio); e melhora na vascularizao dos msculos no esforo, pelo
aumento dos capilares (BRASIL, 2014b).
44
3.7.2.3 Fora
Envolve a capacidade de realizar um esforo, normalmente avaliada com uma
carga externa, ocorre quando um grupo muscular consegue exercer contra uma
resistncia. Importante na sade dos idosos para melhoria da capacidade de
autonomia, uma vez que esse grupo apresenta reduo da MM causada por
diminuio do nvel de testosterona (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; BRASIL,
2014b).
3.7.2.4 Flexibilidade e coordenao motora
A flexibilidade pode ser entendida como a capacidade de realizar movimentos
articulares com amplitude, sua diminuio pode levar a dores na coluna, diminuir a
autonomia no idoso. Enquanto que a coordenao motora a capacidade de
realizar movimentos com habilidade satisfatria, com controle neural. Com a prtica
de atividade fsica o risco de queda reduzido em at 30%. Pode ser avaliado a
partir de testes de flexibilidade e capacidade funcional (MCARDLE; KATCH; KATCH,
2016; BRASIL, 2014b).
3.7.2.5 Capacidade Funcional
Entende-se por capacidade funcional a capacidade de manter as habilidades
fsicas e mentais para uma vida independente e autnoma. Sua avaliao se torna
relevante em adultos aps os 50 anos, visto o declnio em relao a aptido
funcional observado a partir dessa idade, como perda de fora muscular, nveis de
condicionamento aerbio, agilidade, equilbrio, entre outros fatores. O crescimento
do nmero das doenas crnico-degenerativas tendem a comprometer a qualidade
de vida dos idosos, afetando a funcionalidade, o desempenho de atividades
cotidianas, denominado de incapacidade funcional (PEREIRA et al., 2017; NEVES et
al., 2015).
No estudo de Pereira et al (2017) por exemplo, foi observado um maior grau
de dependncia ao vestir-se, banhar e continncia. Alm destes, a independncia
est ligada a coordenao, destreza, equilbrio, amplitude de movimento e fora
muscular.
45
Existem alguns testes de capacidade funcional, como o proposto pelo
AAHPERD, um conjunto de testes bastante usados em idosos, e o Senior Fitness
Test que consiste de cinco testes motores. Os parmetros avaliados neste conjunto
de testes tm estreita relao com a independncia funcional do indivduo, sendo
que havendo um melhor desempenho haver maior autonomia. As variveis
avali