125
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS- PPGCSB JULIANE BARROSO LEAL EFEITO DO CONSUMO REGULAR DE SUCO DE UVA INTEGRAL ASSOCIADO À PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO EM IDOSOS HIPERTENSOS PETROLINA - PE 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO … · Exercício aeróbico - Idoso. 3. Uvas. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco. CDD 616.132 . Ao meu eterno

Embed Size (px)

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SO FRANCISCO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE E

    BIOLGICAS- PPGCSB

    JULIANE BARROSO LEAL

    EFEITO DO CONSUMO REGULAR DE SUCO DE UVA INTEGRAL

    ASSOCIADO PRTICA DE EXERCCIO FSICO EM IDOSOS

    HIPERTENSOS

    PETROLINA - PE

    2018

  • JULIANE BARROSO LEAL

    EFEITO DO CONSUMO REGULAR DE SUCO DE UVA INTEGRAL

    ASSOCIADO PRTICA DE EXERCCIO FSICO EM IDOSOS

    HIPERTENSOS

    PETROLINA - PE

    2018

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade e Biolgicas da Universidade Federal do Vale do So Francisco, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias com nfase na Linha de Pesquisa: Sade, Sociedade e Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Ferdinando Oliveira Carvalho Co-orientadora: Prof. Dra. Patrcia Avello Nicola

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF.

    Bibliotecrio: Fabio Oliveira Lima CRB-4/2097

    Leal, Juliane Barroso .

    L435e Efeito do consumo regular de suco de uva integral associado prtica de exerccio fsico em idosos hipertensos / Juliane Barroso Leal. - - Petrolina, 2018. XIII.: 123 f. ; il.: 29 cm.

    Dissertao (Mestrado em Cincias da Sade e Biolgicas)

    Universidade Federal do Vale do So Francisco, Campus Petrolina, Petrolina PE, 2018.

    Orientador: Prof. Dr. Ferdinando Oliveira Carvalho. 1 Hipertenso arterial. 2. Exerccio aerbico - Idoso. 3. Uvas. I. Ttulo. II. Universidade Federal do Vale do So Francisco.

    CDD 616.132

  • Ao meu eterno heri que tambm possui o nome de pai, Antnio Barroso (in memorian), que tanto se dedicou ao trabalho e conseguiu deixar o estudo como maior herana aos filhos.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, meu protetor e guia, por ter me concedido sade, proteo e fora

    para realizao de mais este sonho.

    minha me Maria Helena, por ser minha maior fonte de amor, incentivo e

    acalento na realizao de meus sonhos e por no medir esforos para realiz-los.

    Aos meus irmos, por sermos: um por todos, e todos por um: Juara, por

    ser minha companheira em tudo, por termos vivenciado este desafio juntas e estar

    presente em todas as etapas dele; Joaline, minha fonte de dedicao, por ter

    acolhido meu projeto em seu trabalho e ter feito de tudo para plena realizao deste

    sonho (inclusive me presentear com o aparelho de bioimpedncia); e Juscelino, por

    ser meu heri e fazer tudo para me ver feliz e realizada (at mesmo ir buscar os

    sucos na Bahia).

    Aos meus sobrinhos Hctor, Andressa e Davi, por trazerem o sorriso bobo e

    a alegria que me acalentaram em dias difceis. Por entenderem (mesmo sem

    entenderem direito) minhas ausncias nas suas travessuras.

    minha prima-irm Maria de Ftima, por muitas vezes ter exercido meu

    papel em casa, ter sido meu dirio escutando meus desabafos e por vibrar comigo

    em cada etapa alcanada.

    minha prima doutoranda Lvia Barroso, por ser a maior incentivadora e

    inspirao neste sonho, por ter mostrado o caminho, mas ter me deixado livre em

    cada etapa.

    A grande amiga-irm, Ivone Leal, por todo apoio e torcida em mais este

    sonho, por ter estado presente em todas as etapas e por estar sempre pronta para

    ajudar. Obrigada pela cumplicidade de uma amizade verdadeira.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Ferdinando Oliveira, por acreditar e confiar em

    meu sonho, por me colocar em situaes de desafio muitas vezes, e mesmo assim,

    apoiar quase tudo que fao. E pela excelncia de todos os ensinamentos

    transmitidos.

    Aos idosos do Bairro Amando Lima, por terem me acolhido, acreditado e

    confiado em meu projeto durante toda execuo, jamais esquecerei nenhum de

    vocs.

    A equipe da UBS Amando Lima: Joaline, Adriana, Vicente, Maria Helena,

    Dona Socorro, Maria Jos, Jnior, Amparo e Iolanda, por convidarem e

  • incentivarem os idosos a participar do projeto, e por me aguentarem durante a

    execuo como parte da equipe.

    Ao fisioterapeuta Venilson Costa (meu brao direito neste projeto), pela

    execuo dos exerccios durante toda a interveno, fomos adotados pelo bairro

    Amando Lima.

    A agente de sade Adriana Lima (meu brao esquerdo neste projeto), por

    todo apoio, torcida e acompanhamento dos idosos durante toda a interveno.

    A minha equipe de pesquisa e hoje amigos: Juara, Ivone, Venilson,

    Maralina, Yan, David, Naura, Rozineide e Dasa (LAISP), por todo trabalho

    compartilhado nas coletas de dados, pela dedicao e empenho nesta pesquisa.

    Aos mestrandos Anderson Arajo, Layane Saraiva e integrantes do

    GEPEGENE por todos os ensinamentos, conselhos e contribuies na estatstica

    desta pesquisa. Por de tanta ajuda, se tornarem grande amigos. Obrigada por tudo.

    Ao Guilherme Secchi e a Lara Secchi, em nome de toda a equipe da

    empresa Grand Valle Industrial Ltda, por terem acreditado e apoiado esta pesquisa,

    disponibilizado os sucos de uva integral.

    A biomdica Rozineide Alencar e o bioqumico Afonso Sobreira, em nome

    de toda a equipe do Laboratrio LACLE, por terem apoiado, coletado e analisado

    todos os exames bioqumicos da pesquisa.

    Ao enlogo Dr. Giuliano Elias, pesquisador da Embrapa, pela ajuda na

    determinao da composio qumica centesimal do suco de uva.

    A amiga Jane Luiza, por ter acolhido eu e minha irm em seu lar durante

    estes dois anos, por todas as conversas nas horas difceis, risadas, sadas e pela

    amizade. E ao amigo Edson Rafael, meu irmo de orientao, companheiro de

    guerra e profisso, por tantas vezes ter me socorrido, alm de tamanho

    conhecimento transmitido.

    Aos amigos de mestrado, por tamanha preocupao conosco nas nossas

    idas e vindas, pelas conversas, pelos almoos, pelos ensinamentos e pela amizade.

    A todos os professores do Programa de Ps-graduao em Cincias da

    Sade e Biolgicas, pelos ensinamentos e contribuies para meu crescimento

    pessoal e profissional.

    Aos amigos, equipe de trabalho (NASF) e familiares, que compreenderam

    minhas ausncias e que direta ou indiretamente contriburam para a concretizao

    deste sonho. A todos, meus sinceros agradecimentos!

  • O xito da vida no se mede pelo caminho que voc conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho.

    Abraham Lincoln

    https://www.pensador.com/autor/abraham_lincoln/

  • RESUMO

    A hipertenso arterial (HA) atualmente responde por pelo menos 50% das mortes por doena cardiovascular e atinge mais de 60% dos idosos. Medidas como a implementao de derivados das sementes e da casca da uva que estimulam a vasodilatao e melhora das enzimas antioxidantes, e o exerccio aerbio levando a um incremento do volume sistlico e uma reduo da resistncia vascular perifrica. Acredita-se que o consumo de suco de uva integral associado prtica de exerccio aerbio ir potencializar o efeito na presso arterial, no perfil lipdico e na composio corporal no idoso hipertenso. Assim, esta pesquisa buscou avaliar o efeito de trs meses do consumo regular de 200ml de suco de uva integral dirio associado prtica de exerccio fsico em idosos com HA na presso arterial, composio corporal, perfil lipdico e capacidade funcional. Trata-se de um estudo experimental de carter clnico randomizado, quantitativo, atravs de interveno durante 12 semanas, desenvolvida em idosos com diagnstico de hipertenso, acima de 60 anos e residentes na cidade de Valena do Piau - PI. A pesquisa teve a participao de 45 idosos, randomizados em grupo controle (GC, n= 10), grupo exerccio (GE, n= 10), grupo suco (GS, n= 12) e grupo suco e exerccio (GSE, n= 13). Utilizou-se de medidas antropomtricas, bioimpedncia tetrapolar para avaliao da composio corporal, verificao de presso arterial semanal, coleta de sangue para quantificao de perfil bioqumico, triglicerdeos e glicemia de jejum, alm da aplicao do questionrio IPAQ e da bateria de testes da AHHPERD para avaliar nvel de atividade fsica e capacidade funcional (CF). Reduo significativa foi verificada no GE, GS e GSE para PAS (-25,15,6mmHg, -10,15,1mmHg e -10,04,9mmHg; p

  • ABSTRACT

    Hypertension currently accounts for at least 50% of deaths from cardiovascular disease and affects more than 60% of the elderly. Measures such as the implementation of seeds and grape bark derivatives that stimulate vasodilation and improvement of antioxidant enzymes, and aerobic exercise leading to an increase in systolic volume and a reduction in peripheral vascular resistance. It is believed that the consumption of whole grape juice associated with the practice of aerobic exercise will potentiate the effect on blood pressure, lipid profile and body composition in the elderly hypertensive. Thus, this study aimed to evaluate the effect of three months of the regular consumption of 200ml of daily grape juice associated to exercise in elderly people with arterial hypertension in blood pressure, body composition, lipid profile and functional capacity. This is an experimental, randomized, quantitative study using a 12-week intervention developed in elderly patients diagnosed with hypertension, over 60 years old and living in the city of Valena do Piau-PI. The study had the participation of 45 elderly people, in the control group (CG, n = 10), exercise group (SG, n = 10), juice group 13). The use of anthropometric measurements, tetrapolar bioimpedance to assess body composition, weekly blood pressure check, blood collection for quantification of biochemical profile, triglycerides and fasting glycemia, and the application of the IPAQ questionnaire and AHHPERD test battery were used. Assess physical activity level and functional capacity (FC). Significant reduction was observed in SG, GS and GSE for SBP (-25.1 5.6mmHg, -10.1 5.1mmHg and -10.0 4.9mmHg, p

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01. Estrutura qumica do trans-resveratrol e cis-resveratrol ..........................33

    Figura 02. Esquema da biossntese de resveratrol ...................................................34

    Figura 03. Cidade de Valena-PI e localizao da UBS Dr. Francisco de Castro ....47

    Figura 04. UBS Dr. Francisco de Castro Veloso, Bairro Amando Lima. Valena do Piau, Piau, 2017.......................................................................................................48

    Figura 05. Fluxograma do estudo, Valena do Piau, Piau, 2018.............................49

    Figura 06. Desenho experimental do estudo.............................................................51

    Figura 07. Suco de uva integral, Grand Valle Industrial Ltda 2017 ...........................58

    Figura 08. Copo graduado para consumo de suco de uva integral ..........................59

    Figura 09. Escala de Percepo de Esfora (EPE) criada por Borg em 198.............59

    Figura 10. Resposta da PAS (A) e PAD (B) de repouso semanal antes do exerccio aerbio no perodo de 12 semanas dividido por grupo (GE = 10; GSE = 13)............78

    Figura 11. Resposta do DP nos momentos pr e ps-interveno (A), o delta variao (B) e o comportamento individual (C) nos diferentes grupos.......................79

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio (> 18 anos)...............................................................................................27 Tabela 02. Valores de referncia do Software Gmon Health Professional................54 Tabela 03. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio a partir de 18 anos de idade....................................................................55

    Tabela 04. Classificao IAGF de homens ativos com idade entre 60 a 69 anos.....56

    Tabela 05. Classificao IAFG para mulheres ativas entre 60 a 69 anos.................56

    Tabela 06. Caractersticas fsico-qumicas do suco de uva integral, produzidos entre os meses de maro a maio de 2017. Grand Valle Industrial Ltda- BA.......................62

    Tabela 07. Consumo alimentar pr e ps interveno. Valena do Piau, 2018.......63

    Tabela 08. Anlise descritiva das variveis socioeconmicas e demogrficas em nmeros absolutos e porcentagens nos seus respectivos grupos. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................63

    Tabela 09. Distribuio de bens eletrodomsticos e de utilidades. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................65

    Tabela 10. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos na variao da presso arterial e frequncia cardaca. Valena do Piau, 2018............................................................................................................................66 Tabela 11. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos no perfil antropomtrico. Valena do Piau, 2018.....................................67 Tabela 12. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos na composio corporal. Valena do Piau, 2018.....................................69 Tabela 13. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado ao exerccio fsico em idosos no perfil bioqumico. Valena do Piau, 2018............................................71 Tabela 14. Efeitos do consumo de suco de uva integral associado exerccio fsico em idosos na capacidade funcional. Valena do Piau, 2018....................................74

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AAHPERD American Alliance for Health, Physical, Education, Recreation and

    Dance

    ABIPEME Associao Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado

    ACS Agente Comunitrio de Sade

    ACSM American College of Sports Medicine

    ADA American Dietetic Association

    ANVISA Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria

    CONSORT Consolidated Standards of Reporting Trials

    DCNT Doena Crnica No Transmissvel

    EA Exerccio Aerbio

    ESF Estratgia de Sade da Famlia

    GC Grupo Controle

    GE Grupo Exerccio

    GS Grupo Suco

    GSE Grupo Suco e Exerccio

    HA Hipertenso Arterial

    IAFG ndice de Aptido Funcional Geral

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IMC ndice de Massa Corporal

    IPAQ Questionrio Internacional de Atividade Fsica

    PA Presso Arterial

    PAR-Q Questionrio de Prontido para Atividade Fsica

    RCQ Relao Cintura/Quadril

    SBH Sociedade Brasileira de Hipertenso

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    OBS: as abreviaturas e smbolos utilizados neste trabalho e que no constam nesta

    relao, encontram-se descritas no texto ou so convenes adotadas

    universalmente.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .............................................................................................. 14

    2 OBJETIVOS .................................................................................................. 18 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 18 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .......................................................................... 18

    3 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................... 19 3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DO ENVELHECIMENTO E HIPERTENSO

    ARTERIAL NO INTERIOR DO PIAU. ........................................................... 19 3.2 ENVELHECIMENTO ..................................................................................... 21 3.2.1 Conceitos e classificao ........................................................................... 21 3.2.2 Epidemiologia e demografia do envelhecimento ...................................... 22 3.2.3 Alteraes fisiolgicas no envelhecimento ............................................... 22 3.2.4 Alteraes no trato digestrio .................................................................... 24 3.2.5 Necessidades nutricionais no envelhecimento ......................................... 25 3.2.6 Efeitos secundrios dos medicamentos .................................................... 25 3.3 HIPERTENSO ARTERIAL NO ENVELHECIMENTO ................................... 26 3.3.1 Definies e diagnstico............................................................................. 26 3.3.2 Epidemiologia e demografia da hipertenso arterial ................................ 27 3.3.3 Fatores de risco ........................................................................................... 28 3.3.4 Preveno e controle da hipertenso arterial ............................................ 28 3.4 ALIMENTOS FUNCIONAIS NA HIPERTENSO ARTERIAL ......................... 30 3.4.1 Compostos fenlicos .................................................................................. 30 3.5 BENEFCIOS DO RESVERATROL NA HIPERTENSO ARTERIAL ............. 32 3.5.1 Biossntese .................................................................................................. 33 3.5.2 Biodisponibilidade, ingesto, absoro, excreo e toxidade ................. 34 3.6 PRODUO E COMERCIALIZAO DA UVA ............................................. 35 3.6.1 Uva do vale do submdio So Francisco .................................................. 36 3.6.2 Uvas produtoras de suco ............................................................................ 37 3.6.3 Caractersticas organolpticas e nutricionais do suco de uva ................ 37 3.7 EXERCCIO FSICO NO ENVELHECIMENTO .............................................. 39 3.7.1 Fisiologia do exerccio no envelhecimento ............................................... 39 3.7.2 Exerccio fsico na hipertenso arterial ..................................................... 42 3.7.3 Exerccio de caminhada na hipertenso arterial ....................................... 45

    4 MATERIAIS E MTODOS............................................................................. 47 4.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................ 47 4.2 LOCAL DO ESTUDO ..................................................................................... 47 4.3 POPULAO E AMOSTRA .......................................................................... 48 4.4 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO .................................................. 50 4.5 PESQUISADORES E MONITORES DA PESQUISA ..................................... 51 4.6 DESENHO EXPERIMENTAL ........................................................................ 51 4.6.1 Triagem e Estratificao de Risco .............................................................. 52 4.6.2 Nvel socioeconmico e educacional......................................................... 52 4.6.3 Indicadores antropomtricos ..................................................................... 53 4.6.4 Composio corporal .................................................................................. 53 4.6.5 Presso arterial ............................................................................................ 55

  • 4.6.6 Nvel de atividade fsica e capacidade funcional....................................... 56 4.6.7 Anlise bioqumica ...................................................................................... 57 4.6.8 Controle da medicao anti-hipertensiva .................................................. 57 4.6.9 Consumo alimentar ..................................................................................... 57 4.7 PROTOCOLO DE CONSUMO DE SUCO DE UVA ....................................... 58 4.8 PROTOCOLO DE ATIVIDADE AERBIA ..................................................... 59 4.9 ASPECTOS TICOS ..................................................................................... 60 4.10 ANLISE DOS DADOS ................................................................................. 61

    5 RESULTADOS .............................................................................................. 62 5.1 CARACTERSTICAS FSICO-QUMICAS DO SUCO DE UVA INTEGRAL

    UTILIZADO NA INTERVENO.....................................................................62 5.2 CARACTERIZAO DOS SUJEITOS ........................................................... 62 5.3 EFEITOS DA INTERVENO ....................................................................... 66 5.4 VARIAO DE PRESSO ARTERIAL SEMANAL ........................................ 77

    6 DISCUSSO ................................................................................................. 80

    7 CONCLUSO ............................................................................................... 89

    ANEXOS ................................................................................................................ 110 ANEXO A -. PHYSICAL ACTIVITY READINESS QUESTIONNARIE ................... 111 ANEXO B -. FICHA PADRONIZADA DE BIOIMPEDANCIA TANITA BC 601. ..... 113 ANEXO C -. QUESTIONRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FSICA IPA.114 ANEXO D - RECORDATRIO DE 24 HORAS ...................................................... 118

    APENDICES .......................................................................................................... 119 APNDICE A -. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......... 120 APENDICE B -. PRANCHETA DE AVALIAO ................................................... 122

  • 14

    1 INTRODUO

    O perfil demogrfico brasileiro tem se transformado em um contingente cada

    vez mais significativo de pessoas com mais de 60 anos, trazendo consigo problemas

    de sade que desafiam os sistemas de sade e de previdncia social (MIRANDA;

    MENDES; DA SILVA, 2016). Os idosos esto expostos a fatores de risco oriundos

    da forte urbanizao acelerada, acompanhada de mudanas dos padres de

    consumo e estilo de vida, alm da falta de exerccio neste grupo populacional. Em

    conjunto, est o consumo excessivo de alimentos industrializados, estresse social,

    alm do uso de bebidas alcolicas e tabagismo, o que leva a predisposio a

    doenas cardiovasculares (PIUVEZAM et al., 2015).

    Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento de doenas

    cardiovasculares a hipertenso arterial (HA) o de maior prevalncia, faz parte do

    grupo de fatores de risco modificveis, e assim revela-se como um importante

    problema de sade pblica por sua alta prevalncia como causa de

    morbimortalidade em idosos (ESPERANDIO et al., 2013). A HA responsvel por

    pelo menos 50% das mortes por doena cardiovascular e atinge mais de 60% dos

    idosos (MALACHIAS et al., 2016).

    O Ministrio da Sade relata que desenvolver um sistema de preveno e

    tratamento da HA consiste em manter o peso corporal adequado, reduzir o consumo

    de sdio dos alimentos, abolir o uso de bebidas alcolicas, incluir alimentos

    funcionais alimentao, abandono do tabagismo e prtica de exerccio fsico

    regular (BRASIL, 2006).

    De acordo com a Portaria n 398, de 30 de abril de 1999, da Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria (ANVISA), alimentos funcionais so definidos como todo

    aquele alimento ou ingrediente que, alm das funes nutricionais bsicas, quando

    consumido fazendo parte de uma dieta, produz efeitos metablicos e/ou fisiolgicos

    benficos sade, devendo ser seguro para consumo sem superviso mdica

    (BRASIL, 1999; CARVALHO et al., 2013). Alguns alimentos so relatados pela

    American Dietetic Association (ADA) por possurem efeitos na preveno de

    doenas cardiovasculares, entre eles esto os alimentos com compostos biotivos

    como as catequinas, isoflavonas, licopeno e resveratrol (HASLER et al., 2004).

    Os polifenis, grupo base do resveratrol, possuem duas categorias: os no-

    flavonides, que incluem o resveratrol; e os flavonoides, tais como a quercetina e a

  • 15

    catequina os quais so derivados geralmente das sementes e da casca da uva

    (BONNEFONT-ROUSSELOT, 2016). O resveratrol um polifenol no flavonide,

    composto de um derivado estilbeno, produzido de uma fitoalexina nas plantas,

    notavelmente presente nas uvas e vinho tinto (BONNEFONT-ROUSSELOT, 2016).

    Este tem apresentado possuir respostas a estresse oxidativo, infeces microbianas,

    radiao, e tem mostrado efeito cardioprotetor por sua habilidade em reduzir o

    colesterol total e o LDL-c, inibir a agregao plaquetria, estimular a vasodilatao e

    enzimas antioxidantes, entre outras (SFORA-SOUSA; DE ANGELIS-PEREIRA,

    2013; PEREIRA-JNIOR et al., 2013).

    Alm dos alimentos funcionais, o exerccio fsico aerbio tem sido

    considerado uma medida teraputica e preventiva das doenas cardiovasculares e

    seus fatores de risco, principalmente da HA, por melhorar o desempenho funcional

    em idosos (CHAGAS et al., 2015; LEIBOWITZ et al., 2014). Destes, o treinamento

    aerbio, ou seja, com produo de energia pelo sistema oxidativo, produz alteraes

    fisiolgicas favorveis, no existindo obstruo mecnica do fluxo sanguneo, com

    incremento do volume sistlico e uma reduo da resistncia vascular perifrica

    (CORNELISSEN; SMART, 2013; NOGUEIRA et al., 2012). A American College of

    Sports Medicine (ACSM) orienta trinta minutos de atividade fsica com intensidade

    moderada pelo menos cinco dias por semana, totalizando cento e cinquenta minutos

    por semana de treinamento de resistncia aerbia, para se obter respostas positivas

    na reduo da presso arterial (PA) (PESCATELLO et al., 2015).

    Fazendo uma busca na literatura no foi encontrado nenhum estudo que

    aborda a temtica completa. Embora a literatura reporte que o suco de uva, utilizado

    como alimento funcional, eficiente em reduzir a PA em 40 pacientes hipertensos,

    os quais receberam 5,5ml/kg de peso/dia de suco de uva Concord ou uma bebida

    placebo durante 8 semanas com medidas na 0, 4 e 8 semanas, houve reduo no

    grupo que consumiu o suco de uva Concord na PA diminuiu em mdia 7,2 mm Hg (p

    = 0,005) e a PA diastlica reduziu em mdia em 6,2 mm Hg (p = 0,001) no o final de

    8 semanas. No mesmo sentido, Park et al. (2009) avaliou atravs de estudo duplo-

    cego controlado por placebo o efeito do suco de uva Concord na PA e outros

    marcadores de estresse oxidativo de 40 homens hipertensos adultos, um grupo foi

    instrudo a consumo de 5,5ml/kg de peso/dia de suco de uva e outro grupo

    consumiram suco placebo, observando um potencial antioxidante aumentado de

    1.31 0.01 (ps-implementao) versus 1.33 0.01 (pr-suplementao) (p

  • 16

    reduo de 26% no DNA linfocitrio no grupo do suco de uva, enquanto nenhuma

    diferena foi encontrada no grupo controle. E ainda Dohadwala et al. (2010) em seu

    estudo cruzado duplo-cego investigou se o suco de uva 100% Concord reduz PA em

    pacientes com pr-hipertenso e hipertensos grau I, 64 pacientes saudveis que no

    tomavam nenhum medicamento anti-hipertensivo foram divididos em grupo suco de

    uva e grupo placebo fizeram a ingesto durante 8 semanas em que no apresentou

    efeito primrio de 24 h na PAS, enquanto na PAD ou estresse induzido foram

    observadas mudanas significativas, na avaliao secundria houve reduo na

    PAS, alm disso no incio do estudo, a presso noturna foi menor noite do que

    durante o dia, e aumentou 1,4 pontos percentuais aps o suco de uva e diminuiu 2,3

    pontos percentuais aps o placebo (p= 0,005).

    Com o mesmo objetivo s que em ratos Mosele et al. (2012) estudaram os

    efeitos do pr-tratamento do suco de uva roxo em protenas sinalizadoras envolvidas

    na remodelao cardaca em ratos com HA pulmonar induzida pela monocrotalina,

    tratados por 6 semanas com gua ou suco de uva roxo por gavagem (10 mLkg(-1))

    e na terceira semana eles receberam uma dose nica de MCT (60 mg/kg ip),

    apresentando reduo no pr-tratamento com suco de uva roxo na a resistncia

    vascular pulmonar e melhora nos parmetros hemodinmicos na hipertenso

    induzida por monocrotalina, ambos os grupos exibiram nveis aumentados de H2O2,

    que foram reduzidos linha de base em no grupo com suco de uva.

    Novamente com humanos Draijer et al. (2015) em seu estudo duplo-cego

    controlado por placebo, observou o efeito de dois extratos de uva sobre a PA e a

    funo vascular em 60 indivduos sem tratamento e hipertensos aps 4 semanas de

    interveno, usou-se os extratos (uva-vinho tinto e uva sozinho) com altas

    concentraes de antocianinas e flavonis, mas a uva sozinha era relativamente

    pobre em catequinas e procianidinas, mostraram que a PA sistlica / diastlica

    ambulatorial de 24 horas foi significativamente menor na interveno do extrato de

    vinho (135,9 1,3 / 84,7 0,8 mmHg) comparado ao placebo (138,9 1,3 / 86,6

    1,2 mmHg), predominantemente durante o dia. As concentraes plasmticas do

    vasoconstritor endotelina-1 diminuram em 10%, mas outras medidas da funo

    vascular no foram afetadas.

    Apenas dois estudos investigaram o efeito da associao de suco de uva e

    exerccio para reduo de estresse oxidativo e inflamatrio, em que um investigou o

    suco integral de uva roxa no desempenho de corredores recreativos em 28

  • 17

    voluntrios de ambos os sexos randomizados para um grupo que recebeu suco de

    uva (10 mL/kg/min por 28 dias) ou um grupo que recebeu isocalrico com bebida

    controle isoglicmica e isovolumtrica, avaliados com teste de esforo de exausto,

    teste do limiar anaerbico e teste de capacidade aerbica, juntamente com

    avaliaes de marcadores de estresse oxidativo, inflamao, resposta imune e leso

    muscular, realizada no incio e 48 horas aps o protocolo de suplementao,

    observando que o grupo que consumiu o suco de uva mostrou um aumento

    significativo (15,3%) no tempo de corrida at a exausto (p = 0,002), aumentos

    significativos na capacidade antioxidante total (38,7%; p = 0,009), e os nveis de

    protena reativa permaneceram inalterados, e ainda de forma contraste, no houve

    mudanas significativas para qualquer destas variveis no grupo controle

    (TOSCANO et al., 2015).

    Enquanto outro estudo avaliou tambm o efeito protetor do suco de uva roxo

    orgnico no estresse oxidativo produzido por um exerccio exaustivo em ratos, os

    quais foram tratados com suco de uva orgnico (Vitis labrusca) e subsequentemente

    submetido a um exerccio exaustivo. Parmetros do estresse oxidativo, como o

    cido tiobarbitrico reativo, oxidao de diacetato de diclorofluorescena e nveis de

    sulfidrilas no proteicos no crebro, msculo esqueltico e sangue foram avaliados,

    encontrando aps a interveno aumento nos nveis de cido tiobarbitrico reativo e

    a oxidao de diacetato de diclorofluorescena, e diminuram os nveis de sulfidrilas

    no proteicos no tecido de ratos, indicando que a ingesto de suco de uva orgnico

    foi capaz de proteger contra o dano oxidativo causado por um exerccio exaustivo

    em diferentes tecidos de ratos (DALLA CORTE et al., 2013).

    Tendo em vista todos os fatores dietticos e fisiolgicos que envolvem o idoso

    hipertenso, bem como a eficcia de estudos que mostram o efeito do consumo de

    suco de uva na melhoria da PA e estudos que mostram os benefcios da prtica de

    exerccio aerbio na PA do idoso, a hiptese da presente pesquisa se pauta na

    premissa de que o consumo de suco de uva integral associado prtica de exerccio

    aerbio ir potencializar o efeito na PA, no perfil lipdico e na composio corporal

    no idoso hipertenso.

  • 18

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Avaliar o efeito de trs meses do consumo regular de 200ml de suco de uva

    integral dirio associado prtica de exerccio fsico em idosos com hipertenso

    arterial residentes na cidade de Valena do Piau - PI.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Comparar a influencia do consumo de suco de uva integral e exerccio fsico

    na composio corporal e PA antes e aps 12 semanas da ingesto do suco de uva

    integral e atividade fsica em idosos hipertensos;

    - Analisar os valores dos parmetros metablicos (colesterol total, HDL-

    colesterol, LDL- colesterol, VLDL- colesterol, glicemia de jejum e triglicerdeos) antes

    e aps 12 semanas da ingesto de suco de uva integral e atividade fsica em idosos

    hipertensos;

    - Observar a presena de variao de capacidade funcional antes e aps 12

    semanas da ingesto de suco de uva integral e atividade fsica em idosos

    hipertensos.

  • 19

    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DO ENVELHECIMENTO E HIPERTENSO

    ARTERIAL NO INTERIOR DO PIAU.

    O Piau conta com uma populao estimada em 2016 de 3.212.180 mil

    habitantes, destes 6,9% so pessoas com 60 anos ou mais de idade com limitao

    funcional para realizar Atividades de Vida Diria (IBGE, 2016a). E ainda segundo a

    Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito

    Telefnico (VIGITEL) na capital do Piau 23,2% da populao adulta tem HA, sendo

    a populao feminina a mais afetada com 24,8% e a masculina com 21,2%

    (BRASIL, 2017). A cidade de Valena do Piau a 25 cidade mais populosa do

    estado.

    A populao estimada pelo IBGE (2016b) para a cidade de Valena do Piau

    de 20.579 mil habitantes. Possui uma rea territorial de 1.334,629km, densidade

    demogrfica de 15,23 hab/km. Atualmente a populao idosa da cidade de Valena

    do Piau consta de 3.041 idosos residentes, acima de 60 anos, atendidos em 35

    estabelecimentos de sade disponveis pelo SUS (IBGE, 2016b).

    A cidade de Valena do Piau foi, em sua origem, uma aldeia de ndios

    Aroazes que recebeu posteriormente o nome de Catinguinha. No incio do sculo

    XVIII, alguns Jesutas se estabeleceram nas proximidades da nascente do rio

    Tabua, com o fim de catequizar os gentios; levantaram, com o auxlio dos indgenas,

    algumas choupanas e iniciaram a construo de um gingantesco templo de pedras,

    do qual h ainda indcios. Em 1740, o Bispo do Maranho D. Frei Manoel da Cruz,

    sabedor de que aquela povoao vinha de desenvolvendo-se consideravelmente,

    criou nela uma freguesia sob o cargo de Nossa Senhora da Conceio, tendo como

    sede o local denominado Aroazes, hoje povoado com este nome (IBGE, 2016b).

    Algumas alteraes toponmicas municipais foram realizadas, onde foi

    alterada Berlengas para Valena, pelo decreto-lei estadual n. 754, de 30/12/1943.

    Berlengas para Valena do Piau alterado pela lei estadual n. 128, de 26/07/1948

    (IBGE, 2016b).

    Segundo dados da Secretaria Municipal de Sade de Valena do Piau (SMS-

    Valena do Piau), a rea correspondente a UBS Dr. Francisco de Castro, Bairro

    Amando Lima, atende atualmente 622 famlias, possui prevalncia de doenas

  • 20

    crnicas como: HA, seguida de diabetes, infeces das vias areas superiores,

    verminoses, anemia e sobrepeso. Atualmente conta com 316 hipertensos atendidos

    no programa Hiperdia da UBS Dr. Francisco de Castro.

    Desta forma, faz-se necessrio falar sobre gerontologia. Esta o estudo e a

    prtica de elementos que envolvam estilo de vida, cuidados com a sade e o meio

    ambiente que levam a melhor qualidade de vida e longevidade em um determinado

    indivduo ou na populao como um todo. Constitui de estratgias que inclui dieta e

    atividade fsica, alm de cuidados adversos (COHEN, 2008).

    Para a gerontologia, a equipe de sade deve trabalhar de forma

    interdisciplinar e pode ser constituda por todos os profissionais que lidam com

    pacientes hipertensos: mdicos, enfermeiros, tcnicos e auxiliares de enfermagem,

    nutricionistas, psiclogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, professores de

    educao fsica, musicoterapeutas, farmacuticos, educadores, comunicadores,

    funcionrios administrativos e agentes comunitrios de sade (MALACHIAS et al.,

    2016; BRASIL, 2014a).

    Interdisciplinaridade consiste no encontro de diferentes disciplinas, produzido

    pela interseo de diferentes saberes/disciplinas sendo usada na teoria e prtica,

    geralmente atravs de intervenes. Para a prtica da interdisciplinaridade, vale

    refletir sobre a integralidade uma das diretrizes do SUS, organizado por

    descentralizao, atendimento integral e participao da comunidade, realizados

    pela prtica interdisciplinar (BISPO; TAVARES; TOMAZ, 2014).

    A exemplo, um estudo de Lauzire et al. (2013) examinou o efeito de um

    programa educativo interdisciplinar em pessoas com HA e observou redues

    significativas na presso arterial sistlica (PAS). Outro estudo acompanhou adultos

    portadores de HA e diabetes participantes de atividades de educao em sade de

    forma interdisciplinar, com orientaes para mudanas no estilo de vida com

    alimentao saudvel e prticas de atividade fsica, observando melhoria na

    satisfao do usurio e melhorias no estilo de vida (BARBOSA, 2016).

    Desta forma, entende-se que na populao de idosos portadores de HA a

    realizao de intervenes de forma interdisciplinar traz resultados mais

    significativos quando comparados apenas a intervenes medicamentosas e

    disciplinares. Pode-se intervir nas diversas reas das cincias da sade e sociais no

    paciente hipertenso, visando modificaes de estilo de vida, com vistas a

    modificaes alimentares, estilo de vida e diminuio dos fatores de risco.

  • 21

    3.2 ENVELHECIMENTO

    3.2.1 Conceitos e classificao

    A poltica nacional do idoso (PNI), Lei n 8. 842, de 4 de janeiro de 1994 e o

    estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003 (BRASIL, 2012), define o

    termo idoso a pessoas com 60 anos ou mais. J a WHO (2002) define o idoso a

    partir da idade cronolgica, portanto, idosa aquela pessoa com 60 anos ou mais,

    em pases em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em pases desenvolvidos.

    O envelhecimento biolgico est associado ao acmulo de uma grande

    variedade de danos moleculares e celulares. Leva a perda gradual nas reservas

    fisiolgicas, maior risco de contrair diversas doenas e declnio da capacidade

    intrnseca do indivduo, consequentemente resultando em falecimento (WHO, 2015).

    Outra definio a de Envelhecimento Saudvel, este definido pela WHO

    (2015), como o processo de desenvolvimento e manuteno da capacidade

    funcional que permite o bem-estar em idade avanada. Podem ser ainda

    diferenciados dois conceitos definidos pela WHO:

    O primeiro a capacidade intrnseca, que se refere ao composto de todas as capacidades fsicas e mentais que um indivduo pode apoiar-se em qualquer ponto no tempo. Entretanto, a capacidade intrnseca apenas um dos fatores que iro determinar o que uma pessoa mais velha pode fazer. Alm deste, existe a capacidade funcional, definida pelo relatrio como atributos relacionados sade que permitem que as pessoas sejam ou faam o que com motivo valorizam (WHO, 2015).

    O envelhecimento populacional compreendido como uma alternativa para

    manter os idosos socialmente e economicamente integrados e independentes,

    garantindo polticas pblicas e aes de preveno e cuidado direcionados s suas

    necessidades no mbito de proteo social (MIRANDA; MENDES; DA SILVA, 2016).

    Atualmente, o envelhecimento est associado a um bom nvel de sade,

    quando no exista doena. O envelhecimento populacional traz consigo maior

    nmero de problemas de sade, acarretando os sistemas de sade e previdncia

    social. Com isso, ocorreram avanos na sade e tecnologia que permitiram maior

    acesso da populao aos servios pblicos ou privados, garantindo melhor

    qualidade de vida aos idosos (WHO, 2002; MIRANDA; MENDES; DA SILVA, 2016).

  • 22

    3.2.2 Epidemiologia e demografia do envelhecimento

    A populao mundial vem envelhecendo em propores em dobro em funo

    da queda da taxa de fecundidade em diversas regies do mundo e do aumento da

    expectativa de vida (IBGE, 2016a). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (IBGE) apontam uma tendncia de envelhecimento demogrfico, que

    corresponde ao aumento de 9,8% para 14,3% da participao percentual de idosos

    na populao. No Brasil, a proporo de idosos de 11,7%, bem prxima ao

    indicador mundial (12,3%) em 2015 (IBGE, 2016a). Estima-se que em 2025, esse

    nmero chegar a 32 milhes, e em 2050, esse nmero ser igual ou superior ao de

    crianas e jovens de at 15 anos, fato marcante em todo o mundo (BRASIL, 2012).

    Em 2010 a estimativa de vida dobrou, chegando a 74 anos, com uma

    representao de 10,8% da populao brasileira com 60 anos ou mais.

    Acompanhando tambm este crescimento, est o crescimento do ndice de

    envelhecimento e a reduo da razo de dependncia. Com esse crescimento da

    populao idosa em relao a populao jovem, estima-se uma inverso de 153

    idosos para cada 100 jovens menores de 15 anos. Porm, o crescimento da

    populao gera alteraes na sociedade, ao setor econmico, ao mercado de

    trabalho, aos sistemas e servios de sade e relaes familiares (MIRANDA;

    MENDES; DA SILVA, 2016).

    3.2.3 Alteraes fisiolgicas no envelhecimento

    O envelhecimento inicia na concepo e termina na senescncia, o perodo

    de vida aps os 30 anos e envolve transformaes no corpo todo. Ocorrem perdas

    de catabolismo, diminuio da eficincia de clulas, influenciados por eventos da

    vida, enfermidades, gentica e fatores socioeconmicos e de estilo de vida (DAL

    BOSCO, 2006).

    Durante o processo de envelhecimento ocorrem algumas modificaes na

    composio corporal como a diminuio de gua corporal, especialmente do

    componente intracelular; massa ssea, massa muscular (MM); reduo progressiva

    da altura; e redistribuio da gordura corporal, principalmente do componente

    subcutneo diminui que de forma mais expressiva com o avano da idade,

  • 23

    comparada gordura da regio visceral (FALSARELLA et al., 2014; BRASIL,

    2014c).

    Fatores de estilo de vida como adequao e regularidade do sono, frequncia

    e consumo de refeies bem balanceadas, suficincia de atividade fsica, hbito de

    fumar, extenso de lcool e peso corporal so fatores que refletem na idade

    fisiolgica, podendo levar a doenas e incapacidade, no sendo sempre

    consequncias inevitveis do envelhecimento (DAL BOSCO, 2006).

    Alm disso, o processo de envelhecimento leva ao desenvolvimento de

    aumento da espessura e rigidez da artria endotelial, mediada por alteraes

    funcionais do endotlio e em parte por mudanas estruturais na parede arterial como

    consequncia da fragmentao e perda de fibras de elastina, acmulo de fibras de

    colgeno, alm da formao de produtos finais de glicao avanada (AGE) que

    geram um desequilbrio na produo e eliminao de radicais livres (GLIEMANN;

    NYBERG; HELLSTEN, 2016).

    3.2.3.1 Alteraes na composio corporal

    A idade cronolgica difere da idade biolgica por ser influenciada por diversos

    aspectos, como a atividade fsica e fatores de estilo de vida. A atividade fsica induz

    sinais qumicos e mecnicos que promove a sade cardiovascular atravs de

    inmeras vias bioqumicas (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016). Uma das

    principais alteraes encontradas durante o envelhecimento consiste na diminuio

    da MM, detectvel aps os 45 anos; e massa ssea contribuindo para desfechos

    desfavorveis mobilidade, levando a quadros de quedas e fraturas levando a

    dependncia no idoso (FALSARELLA et al., 2014; LEVESQUE et al., 2016).

    Um dos maiores marcadores de alteraes corporais no idoso a

    circunferncia da cintura (CC), este parmetro remete o desenvolvimento de perfil

    sarcopnico (perda de MM e fora muscular) relacionados a funcionalidade,

    comorbidades e mortalidade (LEVESQUE et al., 2016). O envelhecimento est

    associado ao aumento da massa gorda e mudanas no seu padro de distribuio,

    com aumento de 20% a 30% na gordura corporal total, com grande nmeros de

    idosos obesos (JARDIM et al., 2017).

    A estatura comea a diminuir cerca de 1cm por dcada, pela perda da

    curvatura dos arcos dos ps, aumento das curvas da coluna e alteraes dos discos

  • 24

    intervertebrais. O teor de gua diminui, pela diminuio da gua intracelular, sendo

    acompanhada de diminuio de potssio intracelular. Ocorre tambm diminuio da

    atividade das glndulas sebceas e sudorparas, resultando em pele seca e spera

    (COHEN, 2008).

    O envelhecimento est associado ainda a nveis aumentados de xido ntrico

    que atravessa as membranas celulares, levando a nitrosilao de protenas,

    bloqueando a atividade de enzimas antioxidantes como a superxido dismutase,

    reduzindo ainda a biodisponibilidade de xido ntrico. Este processo pode ser

    explicado por um desequilbrio entre antioxidantes relacionado idade, levando a

    uma alterao desfavorvel no estado redox, aumentando a espessura e rigidez dos

    vasos sanguneos (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).

    3.2.4 Alteraes no trato digestrio

    Durante o envelhecimento aparecem alteraes no trato digestrio que so

    considerveis ao estado nutricional do indivduo. Ocorrem diminuio da sensao

    de paladar, olfato, viso, audio e tato, diminuio na secreo salivar, perda

    parcial ou total dos dentes, diminuio da secreo gstrica, de pepsina e da bile,

    diminuio do movimento gastrointestinal e diminuio da taxa metablica basal e

    da tolerncia glicose, estas apresentam em frequncia e graus diferentes de

    acordo com o indivduo (DMASO, 2012; BRASIL, 2014c).

    Alteraes na capacidade mastigatria do idoso ocorrem em decorrncia de

    cries e doenas periodontais, prteses totais ou parciais inadaptadas ou m

    conservao, alm da ausncia dos dentes. Fatores primordiais no processo

    digestivo, levando a perda no consumo de nutrientes e maior grau de imunidade e

    carncias nutricionais (DAL BOSCO, 2006).

    As alteraes decorrentes do trato digestrio podem afetar o apetite e

    propiciar a diminuio do consumo de alimentos, como carnes, frutas, legumes e

    verduras cruas, o que pode ocasionar ingesto inadequada de fibras, vitaminas e

    minerais. Alm dos aspectos sociais e psicolgicos que podem interferir na compra e

    preparo dos alimentos, levando ao maior nmero de idosos incapacitados (BRASIL,

    2014c).

  • 25

    3.2.5 Necessidades nutricionais no envelhecimento

    Durante o envelhecimento fatores fsicos, fisiolgicos e psicolgicos tornam-

    se mais suscetveis ao aparecimento de alteraes e consequentemente possuem

    necessidades nutricionais particulares ao processo de envelhecimento. Observa-se

    uma diminuio das necessidades energticas entre 10 a 15% aps os 50 anos de

    idade, alm da queda do nvel de atividade fsica, provocando uma diminuio ainda

    maior (DMASO, 2012).

    O Ministrio da Sade recomenda os Dez Passos para a Alimentao

    Saudvel de Idosos que prope: incentivo ao consumo de alimentos ricos em fibras,

    tais como frutas, hortalias e cereais integrais, evitando a constipao intestinal;

    alimentos ricos em clcio, como leite e derivados, para manuteno da massa

    ssea; ingesto hdrica, beber de 6 a 8 copos de gua por dia, para manter boa

    hidratao; evitar o consumo de sal, acar, doces, alimentos gordurosos, alimentos

    e temperos industrializados; evitar ingesto de bebidas adoadas e refrigerantes

    (BRASIL, 2014c).

    A recomendao adotada uma reduo de carboidratos e gorduras da dieta,

    uma vez que a quantidade de protenas, vitaminas e minerais permanecem a

    mesma de indivduos adultos. Devendo para isso ser realizado um planejamento

    nutricional adequado em protenas, clcio, ferro e vitaminas para que haja

    segurana nutricional (DMASO, 2012).

    3.2.6 Efeitos secundrios dos medicamentos

    Aps o elevado consumo de lcool em idosos, a segunda classe de

    substncias mais suscetveis ao abuso por parte dos idosos so os medicamentos

    psicotrpicos. O resultado gera banalizao e overdoses de drogas farmacuticas,

    normalmente levando a dependncia, uso excessivo e automedicao (MENECIER;

    MENECIER-OSSIA, 2017).

    Existe grande frequncia de efeitos adversos de medicamentos na populao

    idosa, em consequncia de alteraes de suas funes vitais, estado nutricional,

    metablico e digestivo, com alto consumo de medicamentos, podendo interferir na

    absoro de frmacos ou nutrientes. Estudos apontam que 23% da populao

  • 26

    brasileira consomem 60% da produo nacional de medicamentos, com maior

    porcentagem na populao idosa (DA SILVA; SCHMIDT; DA SILVA, 2012).

    Segundo o critrio utilizado pelo Centro Ibero-Americano para a Terceira

    Idade, considerada polifarmcia quando o paciente consome 5 ou mais

    medicamentos, os quais geralmente levam a interaes medicamentosas (DA

    SILVA; SCHMITH; DA SILVA, 2012; ESCASANY; SAN-JOS, 2017). Os

    analgsicos, medicamentos cardiovasculares, antidiabticos orais, antidepressivos e

    outros medicamentos psicotrpicos (barbitricos de ao curta, antipsicticos),

    relaxantes musculares, antiarrtmicos e os antibiticos so os mais comumente

    inclusos no auto consumo por idosos e com grande probabilidade de intoxicao

    (DA SILVA; SCHMITH; DA SILVA, 2012).

    3.3 HIPERTENSO ARTERIAL NO ENVELHECIMENTO

    3.3.1 Definies e diagnstico

    A Sociedade Brasileira de Hipertenso define HA sistmica como uma

    condio clnica multifatorial caracterizada por nveis elevados e sustentados de PA,

    associada frequentemente a alteraes funcionais e/ou estruturais dos rgos alvo

    (corao, encfalo, rins e vasos sanguneos) e a alteraes metablicas, com

    consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e no fatais

    (JARDIM et al., 2017; BRASIL, 2014a). Associa ainda a distrbios metablicos,

    alteraes funcionais e/ou estruturais de rgos-alvo, sendo agravada pela presena

    de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal,

    intolerncia glicose e diabetes melito (MALACHIAS et al., 2016).

    A HA classificada como a principal causa de morbidade e mortalidade nos

    pases industrializados, responsveis em 2012 por 17,5 milhes de mortes de

    pessoas com idade inferior a 70 anos em todo o mundo, e responsvel por 46% de

    todas as mortes por DCNT (ARCHILLA et al., 2017).

    O diagnstico realizado pela deteco de nveis elevados e sustentados de

    PA pela medida casual, por mdicos de qualquer especialidade e demais

    profissionais da sade. A linha demarcatria que define HA considera valores de PA

    sistlica 140 mmHg eou de PA diastlica 90 mmHg em medidas de consultrio.

  • 27

    O diagnstico dever ser sempre validado por medidas repetidas, em condies

    ideais, em, pelo menos, trs ocasies (ARCHILLA et al., 2017; BRASIL, 2014a).

    Desde a primeira avaliao, as medidas devem ser obtidas em ambos os

    braos, pelo menos trs medidas com intervalo de um minuto entre elas,

    classificao de acordo com as medidas (Tabela 01).

    Tabela 01. Classificao da presso arterial de acordo com a medida casual no consultrio (> 18 anos).

    Classificao Presso sistlica (mmHg) Presso diastlica (mmHg)

    tima < 120 110 Hipertenso sistlica isolada >140

  • 28

    3.3.3 Fatores de risco

    A idade tem relao direta e linear com a PA com prevalncia superior a 60%

    aps os 65 anos, com elevao no gnero masculino at os 50 anos, invertendo-se

    a partir da 5 dcada, duplicao prevalente em indivduos de cor no-branca

    (MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2014a). Alm destes, o excesso de peso e

    obesidade contribui para o aumento de 2,4kg/m no ndice de massa corporal desde

    idades jovens, correlacionada com a ingesto excessiva de sdio e lcool (BRASIL,

    2014a).

    H uma associao direta e linear entre envelhecimento e prevalncia de HA,

    relacionada ao aumento da expectativa de vida da populao brasileira, atualmente

    74,9 anos e aumento na populao de idosos 60 anos na ltima dcada de 6,7%

    para 10,8%, com maior quantidade de idosos hipertensos (MALACHIAS et al.,

    2016). A inatividade fsica aumenta o risco assim como os demais fatores,

    principalmente em indivduos pr-hipertensos, bem como o nvel socioeconmico e

    de escolaridade, fatores genticos e fatores ambientais (BRASIL, 2014a).

    Alm do consumo crnico e elevado de bebidas alcolicas aumenta a PA de

    forma consistente, e a alta prevalncia de tabagismo presente nesta populao

    (MALACHIAS et al., 2016). Dados do Ministrio da Sade relatam que a incidncia

    de HA maior entre mulheres que fumam mais de 15 cigarros por dia, e diminui a

    funo ventricular esquerda em pessoas assintomticas, alm de aumentar

    20mmHg na presso sistlica no primeiro uso do cigarro (BRASIL, 2014b).

    3.3.4 Preveno e controle da hipertenso arterial

    3.3.4.1 Medidas no-medicamentosas

    A Sociedade Brasileira de Hipertenso (SBH) relata que no Brasil, cerca de

    75% da assistncia sade da populao feita pela rede pblica do SUS,

    enquanto o Sistema de Sade Complementar assiste cerca de 46,5 milhes. A

    preveno primria e a deteco precoce so as formas mais efetivas de evitar as

    doenas e devem ser metas prioritrias dos profissionais de sade. Entre as

    principais recomendaes no medicamentosas esto alimentao saudvel,

  • 29

    atividade fsica, restrio de sdio e lcool, e o combate ao tabagismo (BRASIL,

    2014a).

    Mudanas no estilo de vida so uma das principais formas de preveno da

    HA e reduo da mortalidade cardiovascular, devem ser adotados hbitos saudveis

    desde a infncia e adolescncia, respeitando as caractersticas regionais, culturais,

    sociais e econmicas, como a alimentao saudvel, consumo controlado de sdio e

    lcool, ingesto de potssio, combate ao sedentarismo e tabagismo (BRASIL,

    2014a).

    3.3.4.2 Medidas medicamentosas

    Estratgias medicamentosas so bem toleradas e possuem efeitos positivos

    na preveno em jovens de alto risco. Para indivduos sem comportamento de risco,

    recomenda-se tratamento medicamentoso apenas em condies de risco

    cardiovascular global alto ou muito alto. Com vista a reduo da morbidade e

    mortalidade cardiovascular, o uso de medicamentos na HA devem no s reduzir a

    PA, mas tambm os eventos cardiovasculares. Com durao mdia de trs a quatro

    anos, o uso de diurticos, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da

    angiotensina (IECA) e com antagonistas dos canais de clcio, muitas vezes

    associados de anti-hipertensivos demonstram reduo de mortalidade (BRASIL,

    2014a).

    A maioria dos estudos mostram efeitos positivos do tratamento realizado com

    o uso de diurticos (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida), inibidores

    andrenrgicos, agonistas alfa-2 centrais, bloqueadores beta-adrenrgicos,

    alfabloqueadores (bloqueadores alfa-1 adrenrgicos), vasodilatadores diretos,

    inibidores da enzima conversora de angiotensina, entre outros (MALACHIAS et al.,

    2016).

    Em idosos, quando o tratamento medicamentoso for necessrio, a dose inicial

    deve ser mais baixa, e o incremento de doses ou a associao de novos

    medicamentos devem ser feitos com mais cuidado, devendo avaliara presena de

    outros fatores de risco, leses de rgo-alvo e doena cardiovascular associada

    para escolher o anti-hipertensivo inicial (BRASIL, 2014a).

  • 30

    3.4 ALIMENTOS FUNCIONAIS NA HIPERTENSO ARTERIAL

    Alimentos funcionais so alimentos que possuem substncias com distintas

    funes biolgicas, denominadas componentes bioativos, que so capazes de

    modular a fisiologia do organismo, garantindo a manuteno da sade. Podem ser

    designados por meio de uma ampla terminologia: nutracuticos, nutragnicos,

    medical foof, nutritional food, pharmafood, therapeutic food, fitness food, biocuticos,

    entre outros (DMASO, 2012).

    O Ministrio da Sade publicou em sua portaria 398 de 1999, definindo a

    legislao para alimentos funcionais, como sendo:

    Todos alimentos consumidos como parte da dieta usual, que produzem efeitos metablicos ou fisiolgicos e/ou capacidade de reduzirem o risco de doenas crnico-degenerativas, alm de suas funes nutricionais bsicas. Tais propriedades tm que ser comprovadas junto s autoridades competentes, quando do registro do alimento ou do novo rtulo (BRASIL, 2014a; DMASO, 2012).

    Como alegao de propriedade de sade, define sendo aquela que afirma,

    sugere ou implica a existncia de relao entre o alimento ou ingrediente com

    doena ou condio relacionada sade (DMASO, 2012).

    3.4.1 Compostos fenlicos

    Compreendem o grupo de molculas simples at molculas com alto grau de

    polimerizao, presente na alimentao em variedades de vegetais e produtos

    industrializados, como chocolates, chs, uvas e seus derivados. So classificados

    como fenis simples ou polifenis, com base no nmero de unidades de fenol na

    molcula (LIMA, 2010).

    Os polifenis so os metablitos secundrios mais abundantes presentes no

    reino vegetal, representam um grande grupo de molculas, incluindo duas famlias

    de grandes benefcios a sade: os flavonoides e os no-flavonides. A ingesto

    diettica altamente varivel, aproximadamente entre 21,2 a 23mg/dia, sendo a

    quercetina (15,4mg/dia) o principal polifenol suplementado (RASINES-PEREA;

    TEISSEDRE, 2017). Por apresentarem efeitos positivos na reduo do ndice de

    DCNT, como DCV e alguns tipos de cncer, estes atualmente fazem parte da classe

    de fitoterpicos (LIMA, 2010). Tambm podem modular a funo cerebral com

  • 31

    efeitos neuroprotetores na Doena de Alzheimer (LEE; TOROSYAN; SILVERMAN,

    2017). Fazem parte do grupo de polifenis:

    3.4.1.1 Flavonides

    Possuem uma estrutura base formada de dois anis aromticos ligados por

    um anel pirano e podem ser encontrados no estado livre ou associado com outras

    molculas (LIMA, 2010). Pertencem a esse grupo os derivados de cidos benzoico,

    cinico e flavonoides (flavanis, flavonis e antocianinas) que se diferem pelo grau

    de oxidao do anel pirano (LIMA, 2010).

    3.4.1.2 Flavonis

    Faz parte do grupo dos flavonides, atuam como principais compostos dos

    sucos de uva, esto neste grupo a quercetina, rutina, miricetina e caempferol, todos

    presentes na uva. Atuam principalmente no sabor amargo e adstringente

    caracterstico do suco de uva e a colorao (LIMA, 2010; KOKKOU et al., 2016).

    Podem ser encontrados ainda em vegetais, frutas, chocolate escuro, ch, caf, vinho

    e suco de uva (KOKKOU et al., 2016).

    Os flavonoides do chocolate inibem a agregao plaquetria, no ch verde

    possuem catequinas que inibem a formao do fator ativador de plaquetas. Alm

    disso, nas uvas seus flavonoides inibem a funo plaquetria e exercem ao

    anticoagulante (KOKKOU et al., 2016).

    3.4.1.3 Flavanis

    Fazem parte deste grupo a catequina, epicatequina e epigalocatequina,

    encontradas nas sementes e cachos da uva, caracterizando adstringncia e amargor

    do suco de uva. Variam de acordo com o grau de polimerizao, fraes

    oligomricas e polimricas contribuem para uma maior adstringncia, menor

    amargor e aumento considervel da permanncia gustativa (LIMA, 2010).

  • 32

    3.4.1.4 Antocianinas

    Diferem entre si quanto ao nmero de hidroxilas e grau de metilao,

    presentes no anel , sua composio pode ser usada para diferenciar e classificar

    as variedades da uva. As antocianinas glicosiladas so responsveis pela colorao,

    possuem atividade antioxidante, encontram-se principalmente na casca da uva,

    atraindo insetos polinizadores e proteo de radiaes UV (LIMA, 2010).

    3.4.1.5 Estilbenos

    O principal composto deste grupo o resveratrol, um no flavonoide

    presente na uva. Quimicamente denominado, Trans-3,5,4-trihidroxiestilbeno est

    relacionado a funes como antienvelhecimento, efeito positivo na Doena de

    Alzheimer (LEE; TOROSYAN; SILVERMAN, 2017; ZHANG et al., 2016), preveno

    em DCV (MATOS et al., 2012; ALBERTONI; SCHOR, 2015), neurodegenerativas

    (PORQUET et al., 2013; LI et al., 2012), cancergenas (VALLIANOU et al., 2015;

    CARTER; DORAZIO; PEARSON, 2014) e aumento da longevidade (ROLIM;

    PERREIRA; ESKELSEN, 2013), possui ainda propriedades anti-inflamatrias,

    antioxidantes e antimicrobianas (RUIVO et al., 2015; CHEN et al., 2016; LANON;

    FRAZZI; LATRUFFE, 2016).

    3.5 BENEFCIOS DO RESVERATROL NA HIPERTENSO ARTERIAL

    O resveratrol (trans-3,5,4-trihidroxiestilbeno) tem sido bastante utilizado como

    agente promotor de sade no mundo ocidental. Ocorre em duas formas isomricas,

    uma forma cis e uma trans, onde a forma trans a forma mais comumente utilizada

    em estudos (GAMBINI et al., 2013) (Figura 01). As duas formas isomricas tem

    propriedades biolgicas um pouco diferentes, com a forma trans com propriedades

    cardioprotetoras e antioxidantes mais fortes. As doses utilizadas variam entre 30mg

    e 1g por dia em humanos, correspondendo a 0,3 a 25mg/kg/dia, e em roedores as

    doses mais utilizadas so em torno de 150mg (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN,

    2016).

  • 33

    Figura 01. Estrutura qumica do trans-resveratrol e cis-resveratrol.

    Fonte: Gambine et al. (2013).

    A origem da busca pelos benefcios do resveratrol se deu pela descoberta e

    compreenso do chamado paradoxo francs, em que os franceses possuem as

    mesmas taxas de colesterol dos americanos, porm a taxa de mortalidade por

    doenas cardiovasculares correspondem a um tero da mesma observada nos

    Estados Unidos. Alguns estudiosos acreditam que isso se deve de fato ao hbito

    francs de desfrutar algumas taas de vinho em suas refeies (BIAGI; BERTELLI,

    2015).

    O resveratrol foi proposto para reduzir a PA e funo vascular, aumentando a

    produo de oxido ntrico em parte pela protena quinase ativada (AMP) mediada

    por oxido ntrico endotelial fosforilado e at regulao da expresso (GLIEMANN;

    NYBERG; HELLSTEN, 2016).

    3.5.1 Biossntese

    A biossntese inicia atravs do processo de biotransformao da fenilalanina

    por condensao de 1 cumaril-CoA e 3 malonil-CoA, catalisados por uma enzima

    resveratrol sintase (Figura 02). Estas so codificadas em 8 genes de acordo com a

    sensibilidade aos sinais externos causados por clulas. A sntese de resveratrol

    diminui com a maturao das uvas, induzindo a expresso da estilbeno sintetase,

    aumentando o risco de infeco nos frutos (GAMBINI et al., 2013).

    A estilbeno sintetase a principal enzima na biossntese de resveratrol, esta

    ativada em resposta a fatores exgenos, tais como, radiao ultravioleta, agentes

    qumicos e estresse oxidativo. Essa enzima catalisa a reao entre a molcula p-

    cumaril-coenzima A e trs molculas de malonil-coenzima A, levando sntese do

    resveratrol na rea afetada (MACHADO; GUEDES, 2015).

  • 34

    Figura 02. Esquema da biossntese de resveratrol.

    Fonte: Gambini et al. (2013).

    3.5.2 Biodisponibilidade, ingesto, absoro, excreo e toxidade

    Estudos in vitro mostram uma elevada eficcia do resveratrol nas clulas,

    porm sua distribuio nos tecidos muito baixa, podendo no ter aes desejadas.

    Os principais locais de biodisponibilidade do resveratrol o fgado e a microflora

    intestinal. A absoro ir variar dependendo da forma como consumido e os

    alimentos ingeridos, com capacidade de ser absorvido no intestino delgado e os

    compostos insolveis so simplesmente eliminados nas fezes. Em humanos, a

    absoro do resveratrol bastante eficaz, mas a biodisponibilidade em tecido

    muito baixa (GAMBINI et al., 2013).

    A desacetilase sirtuina-1 (SIRT1), uma forma oxidada de nicotinamida

    adenina dinucleotdeo (NAD+) um membro da famlia Sirtuin que foi sugerida ser

    uma das vias mais importantes de efeitos benficos do resveratrol na vasculatura,

    protegendo contra a senescncia induzida por EROs aumentando o contedo e

    atividade da protena xido ntrico sintase endotelial, previne danos ao DNA e

    estresse oxidativo, atua no metabolismo e durao da regulao, protege obesidade

    induzida pela dieta, distrbios metablicos e leso oxidativa (GLIEMANN; NYBERG;

    HELLSTEN, 2016; ZHANG et al., 2016; XIA et al., 2016; GAMBINI et al., 2013). O

  • 35

    resveratrol um ativador de SIRT1, atravs desta ativao o resveratrol

    desempenha funes na atividade antioxidante, efeitos cardioprotetores e

    anticancergenos (ZHANG et al., 2016).

    Grande parte das reaes metablicas do organismo humano realizada em

    meio aerbio, o que irremediavelmente leva gerao de inmeras espcies

    reativas de oxignio (EROs). Normalmente, o organismo controla a concentrao

    deste tipo de espcies, principalmente por meio da produo de enzimas que

    catalisam reaes de inativao de radicais (SFORA-SOUSA; DE ANGELIS-

    PEREIRA, 2013). O efeito antioxidante do resveratrol ocorre atravs da activao de

    SIRT1, AMP e ER, levando a uma regulao da expresso de vrias enzimas

    antioxidantes, protenas de citoproteo, tecidos e clulas endoteliais (GLIEMANN;

    NYBERG; HELLSTEN, 2016; GAMBINI et al., 2013).

    Alm da via SIRT1, o resveratrol exerce seu efeito tambm atravs da

    protena quinase ativada (AMP) e receptor de estrognio (ER) regulados por vias e

    melhorias na defesa antioxidante. O resveratrol liga-se aos receptores de estrognio,

    mesmo com uma afinidade inferior e induz a expresso de genes antioxidantes.

    Dessa forma, baixas concentraes de resveratrol pode ativar oxido ntrico endotelial

    atravs de estrognio sobre o endotlio (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).

    De interesse na sade cardiovascular do envelhecimento, o de maior

    destaque o efeito do resveratrol na biodisponibilidade sobre o oxido ntrico. Essa

    biodisponibilidade depende de: expresso de oxido ntrico endotelial; estado de

    ativao do oxido ntrico endotelial; grau de desacoplamento de oxido ntrico

    endotelial, entre outros. O resveratrol aumenta o RNAm, oxido nitrito endotelial,

    nveis de protena tanto por mecanismos em clulas endoteliais, pela ativao de

    SIRT1, fatores de transcrio e ER (CHESEREK et al., 2016; GAMBINI et al., 2013).

    3.6 PRODUO E COMERCIALIZAO DA UVA

    As videiras deram incio na Groelndia, na era Terciria, no perodo

    Paleocnico ocorrido cerca de 6000 a.C, possibilitando uma enorme variedade de

    espcies adaptadas s mais diversas situaes de clima e solo, pragas e doenas.

    No Brasil, a introduo do cultivo da uva ocorreu em 1535 sendo propagadas em

    muitas regies do pas, mas somente no final do sculo XIX a vitivinicultura ganhou

  • 36

    impulso e se tornou atividade de importncia socioeconmica no pas (MOREIRA,

    2014).

    Atualmente a vitivinicultura brasileira concentra-se em regies de diversidade

    geogrficas e climticas, proporcionando variedades de uvas e seus derivados

    produzidos nos estados de Minas Gerais, So Paulo, Paran, Santa Catarina,

    Pernambuco, Bahia e Mato Grosso (LIMA, 2010).

    Os maiores polos produtores de uva no Brasil, so: a regio do Vale do So

    Francisco, com destaque na produo da uva Syrah, Moscatos, Chenin Blanc, Itlia,

    etc.; a divisa com o Uruguai, com produo da uva Tannat; a regio de Campos de

    Cima da Serra na produo de uvas brancas como a Sauvignon Blanc, Viognier e

    Chardonnay; a Serra do Sudeste e Campanha Gacha aparecem com a produo

    da Cabernet Sauvignon, Nigara e Isabel; a Serra do Sudeste, com as uvas

    Charddonnay e Merlot; a regio da Farroupilha com grandes produes da espcie

    Moscato; e o Vale dos Vinhedos, desponta a Merlot como uva cone dessa parte da

    serra (ROSA, 2016).

    3.6.1 Uva do vale do submdio So Francisco

    Um dos principais fatores determinantes para o cultivo da uva so as

    condies edafoclimticas (elevada temperatura, disponibilidade de gua para

    irrigao e luminosidade abundante), condies encontradas na regio do Submdio

    So Francisco. Esta regio entre os estados de Pernambuco (Petrolina, Santa Maria

    da Boa Vista e Lagoa Grande) e Bahia (Casa Nova), situada entre os paralelos 8 e

    9 do hemisfrio sul, com altitude mdia de 350m, a nica a ter duas a trs safras

    anuais de frutas e vinhos em condies de clima semirido tropical em perodo no

    convencional (LIMA, 2010; PEREIRA et al., 2007; MOREIRA, 2014).

    De acordo com o IBGEc (2016), os maiores polos produtores de uva no Brasil

    obedecem a seguinte ordem: em primeiro lugar Rio Grande do Sul com uma

    produo de 415.693 toneladas, seguido por Pernambuco com 237.367 toneladas e

    So Paulo com 145.251 toneladas. O nordeste totaliza uma mdia de produo de

    33.485 quilogramas de uva por hectare.

    Na regio tropical do semirido nordestino a produo de suco de uva

    concentra-se nas espcies Isabel Precoce (Vitis labrusca), as uvas hbridas BRS

  • 37

    Cora e BRS Violeta, e as uvas vinferas Syrah, Tempranillo e Alicante Bouschet

    (DOS SANTOS LIMA et al., 2014).

    3.6.2 Uvas produtoras de suco

    A regio do submdio So Francisco caracterizada por apresentar dias e

    noites quentes, associado ao manejo da irrigao favorecendo a produo de 15%

    de vinhos finos.

    O suco de uva elaborado principalmente com uvas do grupo das

    americanas/hbridas tintas. As uvas da espcie Nigara Branca tm sido usadas,

    para elaborar suco de uva branco. Entre as cultivares da produo de suco de uva

    tinto, destacam-se a Concord, Isabel e Bord, todas da espcie Vitis labrusca

    (RIZZON; MENEGUZZO, 2007; DOS SANTOS LIMA et al., 2014). Alm das

    espcies BRS Rbea, BRS Cora e BRS Violeta, os clones Isabel Precoce e Concord

    Clone 30 (RIZZON; MENEGUZZO, 2007).

    As variedades de uva do tipo Concord mantm o sabor caracterstico da uva

    in natura, sendo as mais utilizadas para a fabricao do suco (DOS SANTOS LIMA

    et al., 2014; STALMACH et al., 2011). A espcie Isabel origina suco de menor

    intensidade aromtica e de cor, em relao Concord (RIZZON; MENEGUZZO,

    2007; DOS SANTOS LIMA et al., 2014).

    O consumo de suco de uva do tipo Concord tem mostrado reduzir o estado

    inflamatrio induzido pelo tabagismo, os flavonoides presentes na uva causam

    relaxamento do endotlio, aumentando a produo de xido ntrico diminuindo o

    processo inflamatrio (KOKKOU et al., 2016).

    3.6.3 Caractersticas organolpticas e nutricionais do suco de uva

    Em relao sua composio nutricional, cerca de 85% do suco de uva

    composto por gua. Os macronutrientes de maior destaque nessa bebida so os

    carboidratos, representados especialmente pela glicose e frutose. Um fator

    determinante do acmulo de acar nas bagas de uva o total de horas de

    insolao ao qual a planta foi submetida durante o perodo vegetativo. No suco de

    uva predominam os cidos tartrico e mlico, enquanto que os cidos succnico e

    ctrico esto presentes em menores propores (DOS SANTOS LIMA et al., 2014).

  • 38

    A uva possui uma variedade de componentes qumicos, como: minerais

    (ferro, magnsio, potssio, sdio e clcio), protenas, glicose, frutose, compostos

    fenlicos e cidos fenlicos (cido benzoico e cinmico). Na casca da uva e nas

    sementes so suas maiores fontes nutricionais, nelas so encontrados flavonis,

    como a quercetina; antocianinas, como a cianidina; estilbenos, com destaque ao

    resveratrol e os cidos fenlicos, como o cido tartrico (RIZZON; MIELE, 2012;

    PEREIRA JNIOR et al., 2013; DOS SANTOS LIMA et al., 2014).

    Em geral, o suco de uva pode ser elaborado com uva de qualquer espcie,

    desde que alcance maturao adequada, bom estado sanitrio, adequada relao

    acar/acidez, aroma e sabor, alm de bom nvel de maturao e sanidade

    (RIZZON; MENEGUZZO, 2007; RIZZON; MIELE, 2012).

    A qualidade final da uva depende de fatores como a utilizao ou no de

    agrotxicos, ou seja, cultivo orgnico, este apresenta maior quantidade de polifenis

    em sua composio quando comparado s cultivadas convencional (PEREIRA

    JNIOR et al., 2013).

    Entretanto, os benefcios para a sade inerentes ao consumo do suco de uva

    so consistentemente explicados por seu contedo de compostos fenlicos. Estes

    compostos so reconhecidos pela expressiva ao antioxidante que possuem,

    sendo capazes de prevenir a oxidao de substratos biolgicos, que pode ser a

    gnese de diversas doenas crnico-degenerativas (DOS SANTOS LIMA et al.,

    2015). So ainda responsveis pela colorao dos vinhos tintos e sucos de uva, ao

    sabor amargo e adstringente, aroma, alm de constituir o principal reservatrio de

    antioxidantes (DOS SANTOS LIMA et al., 2014).

    Os cidos orgnicos ocorrem como resultados de processos metablicos

    bioqumicos, hidrlises e crescimento de bactrias, sendo encontrados em diversos

    alimentos, inclusive no suco de uva. As concentraes variam dependendo do

    cultivo, grau de maturao, disponibilidade de gua, temperatura e exposio ao sol.

    Os cidos tartrico, mlico e ctrico so provenientes da uva e dos processos de

    fermentao, contribuem com a cor, aroma, gosto, estabilidade microbiolgica e

    qumica (LIMA, 2010).

  • 39

    3.7 EXERCCIO FSICO NO ENVELHECIMENTO

    A atividade fsica est relacionada a vrios benefcios sade, como:

    Melhoria da capacidade cardiovascular e respiratria, da resistncia fsica e muscular, da densidade ssea e da mobilidade articular, da presso arterial em hipertensos, do nvel de colesterol, da tolerncia glicose e da ao da insulina, do sistema imunolgico, da diminuio do risco de cnceres de clon e de mama nas mulheres, entre outros benefcios, no menos importantes, como a preveno de osteoporose e diminuio de lombalgias, aumento da autoestima, diminuio da depresso, alvio do estresse, aumento do bem-estar e reduo do isolamento social (BRASIL, 2014c).

    A atividade fsica definida como movimento corporal que produz gastos de

    energia acima dos nveis de repouso, ou seja, so relativos aos movimentos

    corporais no sentido de gasto de energia. Enquanto que o exerccio fsico pode ser

    entendido como toda atividade fsica planejada, estruturada e repetitiva que tem por

    objetivo a melhoria e a manuteno de um ou mais componentes da aptido fsica,

    possui a caracterstica de melhorar o desempenho (BRASIL, 2014b; BRASIL,

    2014c).

    A prtica de atividades fsicas adequadas associada a alimentao saudvel

    podem prevenir doenas e o declnio funcional, aumentar a longevidade e a

    qualidade de vida do indivduo, sendo fatores modificveis e que podem ser

    trabalhados de forma interdisciplinar, visando um envelhecimento ativo e saudvel

    (PEREIRA et al., 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

    A recomendao para idosos a realizao de atividade/exerccio fsico no

    lazer, no tempo livre, nas tarefas domsticas que componham ao menos 150

    minutos de atividade aerbia de intensidade moderada, ou pelo menos 75 minutos

    de atividade aerbia intensa por semana. Alm disso, os idosos devem levar em

    conta atividades que melhorem o equilbrio e previnam quedas, pelo menos trs

    vezes por semana (BRASIL, 2014b).

    3.7.1 Fisiologia do exerccio no envelhecimento

    O exerccio exerce um estresse fisiolgico sobre o corpo, exigindo uma

    resposta coordenada cardiovascular, pulmonar e nervosa para aumentar o fluxo de

    sangue e fornecimento de oxignio ao msculo esqueltico de trabalho. Em

    repouso, o msculo recebe aproximadamente 20% do total de sangue, mas durante

  • 40

    o exerccio, isso pode aumentar para mais de 80%. Desta forma, os sistemas podem

    levar a diminuies significativas no pico de dbito cardaco e capacidade aerbia. O

    corao aumenta o dbito cardaco em resposta ao aumento das demandas

    metablicas e dependem essencialmente da regulao de parmetros fisiolgicos

    como frequncia cardaca e volume sistlico, que aumenta cerca de 40-50% da

    capacidade mxima (ROH et al., 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

    Em idosos sedentrios ocorre aumento de oxignio em consequncia de

    insuficincia de fluxo sanguneo, por alteraes na vasculatura, redues do

    msculo esqueltico e alteraes no equilbrio de vasodilatadores/vasoconstritores

    (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016). Embora a contratilidade miocrdica

    reforada seja o principal aumento do volume sistlico em coraes jovens, o

    exerccio aumenta volume sistlico em idosos, porm ocorrem alteraes mnimas

    na contratilidade dos volumes diastlicos (ROH et al., 2016).

    Ocorre diminuio da biodisponibilidade de xido ntrico associada idade

    avanada tanto em animais como em humanos pelo excesso de bioatividade de

    EROs em relao a defesa antioxidante, conduzindo a disfuno endotelial que

    pode ser atenuado e at mesmo revertido com a atividade fsica (GLIEMANN;

    NYBERG; HELLSTEN, 2016) mais um de seus efeitos positivos.

    As principais fontes de energia para o exerccio so os carboidratos e os

    lipdios, as protenas so usadas em quantidades insignificantes, sendo poupadas

    para os processos de construo e reparo, no caso da hipertrofia. Dentre os fosfatos

    de alta energia nas clulas, o principal o ATP (adenosina trifosfato), tambm

    uma das maiores fontes de energia, necessrias para a manuteno do

    metabolismo celular. Alm disso, armazena uma quantidade limitada de ATP que

    durante a atividade fsica aumenta a demanda de energia na MM, levando a

    ressntese de ATP durante ou aps o exerccio (ROH et al., 2016; MCARDLE;

    KATCH; KATCH, 2016; COHEN, 2008).

    As vias metablicas podem ser de dois tipos: anaerbia (dependente de

    glicose) e aerbia (depende de oxignio), ambas utilizam ATP. Quando na execuo

    de exerccio fsico, ocorre predominncia de determinada via metablica

    dependendo principalmente da intensidade, da durao e do nvel atual de aptido

    fsica do indivduo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; COHEN, 2008).

  • 41

    3.7.1.1 Exerccio aerbio no envelhecimento

    Um estudo de Henderson et al. (2016) comparou o efeito de treinamento

    aerbio e treinamento resistido sobre a velocidade de marcha em idosos e observou

    que ambos os treinamentos melhoram a marcha em idosos, porm o treino aerbio

    melhorou em velocidade mais rpida, diminuindo o risco de quedas em idosos.

    Caracteriza-se exerccio aerbio pela contrao repetitiva de grandes grupos

    musculares, com maior fluxo sanguneo dependente de oxignio, como ocorre na

    caminhada, corrida, ciclismo, subir escadas, entre outros. Ocorre aumento da

    capacidade aerbia (VO2) variando de 7% a 35% (AZADPOUR; TARTIBIAN;

    KOSAR, 2017; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Estudos apontam que o

    aumento da capacidade aerbia se d pelo aumento da citocromo-oxidase e da

    atividades de enzimas do ciclo de Krebs, aumentando ainda densidade capilar,

    levando a reduo da resistncia vascular perifrica, com respostas mais

    acentuadas no idoso quando comparado ao jovem (MCARDLE; KATCH; KATCH,

    2016).

    A produo aerbia de ATP ocorre na presena de oxignio e compreende a

    interao de duas vias metablicas: o ciclo de Krebs (ciclo do cido ctrico ou

    tricarboxlico) e a cadeira respiratria (sistema de transporte de eltrons). O cido

    pirvico transportado para o interior das mitocndrias e sofre descarboxilao

    oxidativa para formar acetil-CoA (acetilcoenzima-A), esta penetra no Ciclo de Krebs

    e leva NADH. A fosforilao oxidativa (produo aerbia de ATP) ocorre em trs

    estgios: formao de acetil-CoA, oxidao de acetil-CoA no ciclio de Krebs e

    fosforilao oxidativa na cadeia respiratria (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;

    ROH et al., 2016).

    A intensidade do exerccio pode ser controlada objetivamente pela ventilao,

    sendo a atividade considerada predominantemente aerbia quando o indivduo

    permanecer discretamente ofegante, conseguindo falar frases completas sem

    interrupes. Embora haja possibilidade de erros com a utilizao de frmulas que

    consideram a idade, na impossibilidade de utilizao da ergometria pode-se usar a

    frmula FC mxima = 220 - idade, exceto em indivduos em uso de

    betabloqueadores e/ou inibidores de canais de clcio no-diidropiridnicos (BRASIL,

    2014a).

  • 42

    3.7.2 Exerccio fsico na hipertenso arterial

    A SBH relata que os exerccios aerbios (isotnicos), promovem redues de

    PA, estando indicados para a preveno e o tratamento da HA (BRASIL, 2014a).

    Durante a atividade fsica, a PAS aumentada como resultado do aumento do

    dbito cardaco, consequentemente, aps a sesso de exerccio, a PA regressa a

    nveis ainda mais baixos do que antes do exerccio (GLIEMANN; NYBERG;

    HELLSTEN, 2016; PESCATELLO et al., 2015; COHEN, 2008).

    Estudos apontam uma reduo em torno de 5 a 7mmHg na PA de hipertensos

    submetidos a exerccios aerbios (PESCATELLO et al., 2015). No incio da

    atividade, quando se sai dos nveis de repouso, h uma maior elevao da PA

    sistlica para adequao ao exerccio. Aps a adequao, a PA sistlica aumenta

    gradativamente intensidade do esforo, refletindo o aumento do dbito cardaco,

    no ultrapassando em geral, 220mmHg (COHEN, 2008). Este efeito ocorre pelo

    rearranjo de barroreceptores, vasodilatadores circulantes e efeito simptico podendo

    persistir por at 24 horas (GLIEMANN; NYBERG; HELLSTEN, 2016).

    Outro estudo, agora de Park e Park (2017) observou que 24 semanas de

    exerccio aerbio do tipo caminhada em mulheres idosas com sobrepeso e

    obesidade, com durao de 40-80min em 5 dias na semana, encontrou melhoras na

    PAS e sem alteraes na PAD. Resultados semelhantes ao estudo de Azadpour;

    Tartibian e Kosar (2017) que encontrou reduo de 4,6% na PAS e 2,4% na PA

    diastlica aps 10 semanas de exerccio aerbio com intensidade moderada em

    mulheres ps-menopausa obesas com pr-hipertenso.

    3.7.2.1 Presso arterial e exerccio aerbio

    A melhor indicao do exerccio aerbio (EA) para o hipertenso, deve-se ao

    seu efeito hipotensor devido a reduo da ao simptica que na execuo do

    treinamento leva a reduo da resistncia vascular perifrica, alm de uma maior

    facilidade de eliminao de sdio pelos rins, diminuindo a volemia. So indicados

    exerccios que trabalhem maior predominncia de pernas que de braos, como

    exerccios de caminhadas e bicicletas. As pernas por terem maior quantidade de MM

    que os braos possuem maior rede vascular sofrendo vasodilatao e menor

    constrio, consequentemente, a PA apresentam menores acrscimos

  • 43

    (AZADPOUR; TARTIBIAN, KOSAR, 2017; PARK; PARK, 2017; MCARDLE; KATCH;

    KATCH, 2016).

    A sugesto da intensidade de exerccios isotnicos segundo a frequncia

    cardaca pela Sociedade Brasileira de Hipertenso (BRASIL, 2014a), classifica-se

    em:

    Atividades leves - Mantm-se com at 70% da FC mxima ou de pico,

    recomendando-se a faixa entre 60% e 70%, quando se objetiva o treinamento

    efetivo eminentemente aerbio.

    Atividades moderadas - Mantm-se entre 70% e 80% da FC mxima ou de pico,

    sendo considerada a faixa ideal para o treinamento que visa a preveno e o

    tratamento da HA.

    Atividades vigorosas - Mantm-se acima de 80% da FC mxima ou de pico,

    propondo-se a faixa entre 80% e 90% quando se objetiva o treinamento com

    expressivo componente aerbio, desenvolvido j com considervel participao do

    metabolismo anaerbio.

    Em relao aos exerccios resistidos, recomenda-se que sejam realizados

    entre 2 e 3 vezes por semana, por meio de 1 a 3 sries de 8 a 15 repeties,

    conduzidas at a fadiga moderada (parar quando a velocidade de movimento

    diminuir).

    3.7.2.2 Resistncia aerbica

    Consiste na capacidade de realizar esforo utilizando principalmente o

    metabolismo aerbio. Quanto maior a intensidade do esforo, maior a utilizao do

    metabolismo anaerbio (limiar anaerbio). Dentre as atividades aerbias, as

    principais so: natao, andar de bicicleta, caminhada, corrida, dana, entre outros

    (BRASIL, 2014b).

    Os maiores benefcios do EA incluem o fortalecimento do msculo cardaco,

    aumento da cmara do ventrculo esquerdo; diminuio da frequncia cardaca de

    repouso; aumento do nmero e tamanho das mitocndrias (responsveis pelo

    metabolismo aerbio); e melhora na vascularizao dos msculos no esforo, pelo

    aumento dos capilares (BRASIL, 2014b).

  • 44

    3.7.2.3 Fora

    Envolve a capacidade de realizar um esforo, normalmente avaliada com uma

    carga externa, ocorre quando um grupo muscular consegue exercer contra uma

    resistncia. Importante na sade dos idosos para melhoria da capacidade de

    autonomia, uma vez que esse grupo apresenta reduo da MM causada por

    diminuio do nvel de testosterona (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; BRASIL,

    2014b).

    3.7.2.4 Flexibilidade e coordenao motora

    A flexibilidade pode ser entendida como a capacidade de realizar movimentos

    articulares com amplitude, sua diminuio pode levar a dores na coluna, diminuir a

    autonomia no idoso. Enquanto que a coordenao motora a capacidade de

    realizar movimentos com habilidade satisfatria, com controle neural. Com a prtica

    de atividade fsica o risco de queda reduzido em at 30%. Pode ser avaliado a

    partir de testes de flexibilidade e capacidade funcional (MCARDLE; KATCH; KATCH,

    2016; BRASIL, 2014b).

    3.7.2.5 Capacidade Funcional

    Entende-se por capacidade funcional a capacidade de manter as habilidades

    fsicas e mentais para uma vida independente e autnoma. Sua avaliao se torna

    relevante em adultos aps os 50 anos, visto o declnio em relao a aptido

    funcional observado a partir dessa idade, como perda de fora muscular, nveis de

    condicionamento aerbio, agilidade, equilbrio, entre outros fatores. O crescimento

    do nmero das doenas crnico-degenerativas tendem a comprometer a qualidade

    de vida dos idosos, afetando a funcionalidade, o desempenho de atividades

    cotidianas, denominado de incapacidade funcional (PEREIRA et al., 2017; NEVES et

    al., 2015).

    No estudo de Pereira et al (2017) por exemplo, foi observado um maior grau

    de dependncia ao vestir-se, banhar e continncia. Alm destes, a independncia

    est ligada a coordenao, destreza, equilbrio, amplitude de movimento e fora

    muscular.

  • 45

    Existem alguns testes de capacidade funcional, como o proposto pelo

    AAHPERD, um conjunto de testes bastante usados em idosos, e o Senior Fitness

    Test que consiste de cinco testes motores. Os parmetros avaliados neste conjunto

    de testes tm estreita relao com a independncia funcional do indivduo, sendo

    que havendo um melhor desempenho haver maior autonomia. As variveis

    avali