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Treinamento aeróbico em
pacientes neurológicos
GILMAR ROBERTO BATISTA
FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA
O que é exercício aeróbico? O exercício aeróbico é aquele que usa oxigênio no processo de geração de energia dos músculos. Esse
tipo de exercício trabalha uma grande quantidade de grupos musculares de forma rítmica. Andar, correr,
nadar e pedalar, são alguns dos principais exemplos de exercícios aeróbicos.
São várias adaptações cardiovasculares, respiratórias, musculares e no metabolismo, que ocorrem em
decorrência do treinamento aeróbio.
A capacidade aeróbica de pacientes hemiparéticos é consideravelmente diminuída, com valores de
VO2MAX que variam de 50% a 75% do esperado, quando comparados com indivíduos saudáveis de
mesma idade. Esse decréscimo da aptidão física está relacionado a diversos fatores, tais como
comorbidades cardiovasculares associadas ao AVE, imobilidade, diminuição da capacidade de locomoção
e déficits motores; LINDEMAN, 2012
O treinamento aeróbio para pessoas com disfunções neurológicas destaca-se na
recuperação de capacidades físicas (GLOBAS et al., 2011) e pode ser realizado
de diferentes formas, como o uso de esteira rolante.
A especificidade dos protocolos de treinamento aeróbio em esteira rolante
repercute nos parâmetros da marcha, como velocidade, cadência e amplitude de
movimento, auxiliando na melhora das limitações geradas pelas sequelas do AVC
(PINTER; BRAININ, 2012; PORT; WEVERS; LINDEMAN, 2012; TANG et al.,
2009).
O exercício aeróbico pode aumentar a capacidade funcional e a qualidade de vida em
pacientes neurológicos. Há uma melhora do condicionamento cardiovascular que
possibilita a realização das atividades de vida diária com menor gasto energético,
maior recrutamento de unidades motoras e utilização de fibras oxidativas.
Observam-se, ainda, perda de peso, diminuição da agregação plaquetária, melhora
do perfil lipoprotéico, tolerância da glicose e tempo de exercício, diminuição da
frequência cardíaca tanto de repouso quanto submáxima e da pressão arterial
LINDEMAN, 2012
O treinamento com ênfase no condicionamento cardiopulmonar melhora o
VO2MAX ou VO2 de pico e diminui a frequência cardíaca (FC) de repouso em
indivíduos hemiparéticos, além de reduzir o consumo de energia durante um
teste de esforço.
O principal objetivo dos programas de treinamento aeróbico é a melhora da
aptidão cardiopulmonar, que está consideravelmente diminuída em indivíduos
com hemiparesia.
Moura, 2005
TREINO AERÓBIO NA PISCINA
O treinamento aeróbio para a reabilitação também pode ser feito em piscina.
Jung et al. (2010), Vivas, Arias e Cudeiro (2011) e Zamparo e Pagliaro (1998)
mostraram que pessoas submetidas a tal abordagem melhoraram a qualidade de
vida, controle postural e reduziram o risco de quedas.
O exercício em ambiente aquático aproveita-se de princípios físicos que
promovem respostas fisiológicas importantes para alguém com mobilidade
reduzida. A viscosidade da água e a flutuabilidade são utilizadas para melhorar o
equilíbrio e estimular a propriocepção (KATSURA et al., 2010).
De acordo com Cider et al. (2003), os exercícios em piscina melhoram a
mobilidade, força muscular, retorno venoso e o condicionamento cardiovascular.
A melhora da capacidade aeróbia promove benefícios para a recuperação de
capacidades motoras (GLOBAS et al., 2011) e os profissionais da saúde
apresentam recursos como a piscina, ambiente com ação da gravidade
diminuída que promove adequação do tônus muscular, melhora da instabilidade
postural e mobilidade (JUNG et al., 2010; VIVAS; ARIAS; CUDEIRO, 2011);
TREINO AERÓBIO – MARCHA/ESTEIRA
O gasto energético durante a marcha em pacientes hemiparéticos varia de acordo com o grau de
fraqueza, espasticidade, treinamento e uso de órteses, porém o consumo de oxigênio na
caminhada é mais elevado nessa população quando comparados com indivíduos fisicamente
saudáveis.
O comprometimento motor de um paciente de AVC por exemplo, faz com que o gasto energético
durante a caminhada seja até duas vezes maior, assim como o aumento do gasto energético na
execução de AVD’s básicas, podendo criar um círculo vicioso de diminuição da atividade e da
intolerância ainda maior aos exercícios, levando a complicações secundá- rias, como a aptidão
cardiorrespiratória reduzida, atrofia muscular, osteoporose e insuficiência de circulação nas
extremidades inferiores Moura, 2005
O treinamento em esteira pode ser utilizado com intuito de aperfeiçoar a
reabilitação motora enquanto condiciona o sistema cardiovascular;
Outros equipamentos que podem ser utilizados:
Suporte Parcial de Peso;
Cicloergômetro;
Esteira Ergométrica;
Elíptico;
Bicicleta ergométrica.
TREINO AERÓBIO – MARCHA/ESTEIRA
Avaliação para Treinamento Aeróbico:
Verificação de sinais vitais;
Escala de Avaliação de Fugl-Meyer;
Escala de Equilíbrio de Berg;
Time up and go (TUGT);
Teste de caminhada de 6 minutos;
Teste de caminhada de 10 metros;
Escala de Borg;
Fórmula de Karvonen: FCT = FC repouso + (0,5 a 0,8) x (FCM - FC repouso).
Escala de Avaliação de Fugl-Meyer;
Escala de Avaliação de Fugl-Meyer -EFM – é designada especificamente como avaliativa da recuperação do paciente hemiplégico. É dividida em cinco domínios: função motora, sensibilidade, equilíbrio, amplitude de movimento e dor. O domínio da função motora inclui mensuração do movimento, coordenação e atividade reflexa de ombro, cotovelo, punho, mão, quadril e tornozelo, totalizando 100 pontos, sendo 66 referentes à extremidade superior e 34 referentes à extremidade inferior. Dependendo do escore total o paciente pode ser classificado como tendo comprometimento severo, moderado ou leve. (MAKI T. 2007)
Time up and go (TUGT)
Nesse teste é solicitado ao paciente a levantar-se de uma cadeira (altura do assento de 45 cm e dos braços de 65 cm), deambular 3 metros, retornar e sentar-se novamente, enquanto o tempo despendido na realização desta tarefa é cronometrado. O voluntário recebeu a instrução “vá”, para o início do teste, e o tempo foi cronometrado a partir da voz de comando até o momento em que o voluntário sentava-se novamente.
Indivíduos independentes sem alterações no equilíbrio realizam o teste em 10 segundos ou menos com independência em transferências básicas gastam 20 segundos ou menos. Já os indivíduos que necessitam de mais de 30 segundos para realizar o teste são dependentes em muitas atividades de vida diária e na mobilidade, apresentando risco aumentado de cair.
(PODSIADLO D, RICHARDSON S. 1991)
Teste de caminhada de 6 minutos
Antes de iniciar o teste são aferidos: frequência cardíaca, respiratória , pressão arterial, saturação periférica de oxigênio e a escala de esforço percebido de Borg modificada. A cada minuto em que o paciente caminha pela pista, são aferidas, através do oxímetro de pulso, a FC e a SpO2, e é feita a marcação de quantos metros o paciente percorreu. Ao final dos seis
minutos são aferidos os mesmos parâmetros iniciais e verificam-se quantos metros o paciente percorreu neste tempo. Após dez minutos de repouso, verifica-se os sinais para averiguar a recuperação do paciente ao exercício.
Equações que determinam distância caminhada prevista :
Homens: distância TC6M (m) = (7,57 x altura cm) – (5,02 x idade) – (1,76 x peso Kg) – 309m e
Mulheres: distância TC6M (m) = (2,11 x altura cm) – (2,29 x peso Kg) – (5,78 x idade) + 667.
(RODRIGUES, VIEGAS e LIMA, 2002)
Teste de caminhada de 10 metros
Este teste requer um caminho de 20 m em linha reta, com os 5m iniciais reservados para
aceleração, 10m para andar em velocidade auto selecionada, e os 5m finais para
desaceleração. Marcadores são colocados na posição 5 e 15 m ao longo do caminho.
O paciente caminha "em um ritmo confortável" de um extremo ao outro. O fisioterapeuta utiliza
um cronômetro para determinar quanto tempo leva para o paciente a atravessar os 10 m
centrais do percurso, acionando o cronômetro assim que o membro do paciente atravessa o
primeiro marcador e interrompe a cronometragem assim que o membro do paciente cruza o
segundo marcador. Enquanto a VM varia de acordo com idade, sexo e antropometria, a
variação normal da VM varia de 1,2m/s a 1,4m/s.
(CUNHA IT, LIM PAC, HENSON H. 2002)
Escala de Borg
• Facilita a compreensão da alteração da Frequência Cardíaca através de nossa própria percepção corporal, durante a prática da atividades aeróbias. Ela pode ser utilizada para qualquer atividade aeróbia, sendo recomendada como uma opção prática na observação da Intensidade de esforço.
• Os números de 6-20 são baseados na Frequência Cardíaca de 60-200 bpms por minuto . Sendo que o número 12 corresponde aproximadamente 55% e o 16 a 85% da Frequência Cardiaca Máxima.
Fórmula de Karvonen
Exemplo: 1º dia – 55 bpm/2º dia – 52 bpm/3º dia – 56 bpm
A frequência cardíaca basal é 55 + 52 + 56 / 3 = 54,3 A frequência cardíaca máxima é 220 – 53 = 167
Esforço de 75% segundo Karvonen: 167 – 54,3 = 112,7
112,7 x 0,75 + 54,3 = 139 bpm
(Diretriz SBC II Edição 2007)
Objetivo: Revisar a literatura pertinente sobre programas
de treinamento envolvendo marcha, condicionamento
cardiorrespiratório e fortalecimento muscular de membros
inferiores em pacientes portadores de hemiparesia por
sequela de AVE, e descrever a eficácia, limitações e
efeitos desses programas na recuperação cardiovascular,
funcional e motora dessa população.
Conclusão: Praticamente todas as intervenções
relatam resultados positivos em termos de
ganhos funcionais, além de efeitos específicos de
acordo com o tipo de treinamento.
Objetivo: Avaliar os efeitos da cicloergometria em lesados medulares por TRM.
Métodos: Pesquisa quase- -experimental, tipo séries de tempo, com 3 pré e 3 pós-testes em dias alternados. Participaram
do estudo dois indivíduos, um paraplégico, nível neurológico T11, e outro paraparético, nível neurológico T6. Foram
utilizados o protocolo da ASIA, Dinamômetro de Preensão Manual (DPM), Manovacuometro Digital (MVD) com medidas de
pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima, e o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Para o treinamento
aeróbio foi utilizado um cicloergômetro para os quatro membros (Ciclomaster Embreex® ). O programa de treinamento teve
frequência de 2 vezes por semana durante 10 semanas (± 15 sessões).
Resultados: Dos resultados encontrados neste estudo, houve uma significativa melhora nas medidas de PEmáx, no sujeito
1 foi de 43,7% (p < 0,01) e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, e na análise do Teste do Pêndulo do sujeito 2 também observou-se
redução significativa da espasticidade. Conclusão: Estes resultados iniciais devem estimular novas pesquisas com
amostras maiores e grupo controle para ampliar o conhecimento dos potenciais benefícios deste recurso terapêutico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lundy-Ekman L. Neurociência: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008.
Nascimento APC. Projeto e desenvolvimento de um cicloergômetro para membros superiores e inferiores [Dissertação]. São Carlos: Instituto de Química de São Carlos – Universidade de São Paulo; 2004.
Scott,K. Powers & Edward, T Fisiologia do Exercício. Editora: Manole, 2000, 527p
Caromano F. A.: Candeloro, J. M. Fundamentos da Hidroterapia para Idosos. Arq Ciênc Saúde Unipar 2001;5:187-95.