71
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE THAYSSA DA SILVA FERREIRA FAGUNDES DESENVOLVIMENTO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA USANDO CORANTES ALIMENTÍCIOS CURCUMINÓIDICOS PARA O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL DA UFF NITERÓI, RJ 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

THAYSSA DA SILVA FERREIRA FAGUNDES

DESENVOLVIMENTO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

USANDO CORANTES ALIMENTÍCIOS CURCUMINÓIDICOS

PARA O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL

DA UFF

NITERÓI, RJ

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

THAYSSA DA SILVA FERREIRA FAGUNDES

DESENVOLVIMENTO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

USANDO CORANTES ALIMENTÍCIOS CURCUMINÓIDICOS

PARA O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL

DA UFF

Monografia apresentada ao Curso de

Graduação em Química da Universidade

Federal Fluminense como requisito

parcial à obtenção do título de Bacharel

em Química.

Orientadora:

Profa Drª ALESSANDRA LEDA VALVERDE

Coorientador:

Prof. Drº CARLOS MAGNO ROCHA RIBEIRO

Niterói, RJ

2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

F 156 Fagundes, Thayssa da Silva Ferreira

Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes

alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

experimental da UFF/Thayssa da Silva Ferreira Fagundes. - Ni-

terói: [s. n.], 2014.

69f.

Trabalho de Conclusão de Curso – (Bacharelado em Química)

- Universidade Federal Fluminense, 2014.

1. Ensino de química. 2. Química orgânica. 3. Experiência la-

boratorial. 4. Processo de ensino-aprendizagem. 5. Cromatografia

em camada delgada. 6. Corante de alimento. 7.Curcuma. I. Títu-

lo.

CDD.: 540.7

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por iluminar a minha vida e me dar

forças durante toda essa caminhada até aqui.

Agradeço imensamente, a minha mãe Rosane Ferreira e a minha tia Amália

Ferreira por terem me conduzido, junto a Deus, até o fim dessa jornada, da forma

mais sábia, carinhosa e linda. Obrigada pela estrutura sólida que me deram, de

abrirem mão de tantas coisas por mim, de tentarem me fazer feliz sempre, mesmo

nos momentos de dificuldades e, por me manterem de pé e estarem ao meu lado

sempre, independente de qualquer coisa. Amo vocês mais que tudo.

Agradeço ao meu pai Jorge Fagundes pelo apoio, carinho e incentivo que

me concedeu. Obrigada pelos ensinamentos, por estar a postos sempre que precisei

e por querer sempre o meu bem e o meu sucesso.

Agradeço também a minha amiga/irmã Francine Dassoler por me aturar, por

me ajudar, por tantas vezes me fazer erguer a cabeça e seguir em frente. A tua

força, cumplicidade, companheirismo e até as suas broncas foram essenciais para

eu chegar até aqui.

Agradeço a minha orientadora, Alessandra Leda Valverde, por desde o inicio

acreditar em mim e na minha capacidade e, ao meu orientador Carlos Magno Rocha

Ribeiro por ser tão atencioso e me ajudar com a maior paciência em cada detalhe

deste trabalho.

Quero agradecer em especial a minha falecida orientadora Rosangela de

Almeida Epifânio que, da sua maneira especial, me incentivou durante todo esse

tempo, seja com broncas ou elogios, que abriu as portas do seu laboratório pra mim,

que me passou seus conhecimentos, que me fez chorar e sorrir. Gostaria muito que

estivesse presente nos momentos finais dessa caminhada, mas sei que onde estiver

estará feliz de me ver concluindo essa etapa fundamental da minha vida. Você foi

muito importante pra mim. Obrigada.

Agradeço aos amigos do laboratório LAPROMAR, pela ajuda e apoio, em

especial a Karen Dutra que esteve comigo durante esses anos vivendo os

momentos alegres e difíceis. Te agradeço muito pela paciência, pela força que

sempre me deu e por acreditar em mim.

Agradeço aos meus amigos de faculdade, Vanessa, Larissa, Walkiria,

Carolina, Vinicius e outros que de alguma forma participaram dessa etapa da minha

vida. Muito obrigada pela força, pelos maravilhosos momentos que tivemos e por

tornarem essa importante e difícil caminhada mais leve, divertida e inesquecível.

Por fim, agradeço a todos os professores do Curso de Química da

Universidade Federal Fluminense, e a todos aqueles que de uma forma ou de outra,

contribuíram para minha formação profissional e para a execução deste trabalho de

conclusão de curso.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão

importante.

Antoine de Saint-Exupéry

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

RESUMO

Neste trabalho foi desenvolvida uma sequência didática usando experimentos com e pigmentos curcuminóides contidos em alimentos industrializados como tema motivador, para serem realizados em aulas de Química Orgânica Experimental (QOE) I, V e XI dos cursos de Química, Farmácia e Engenharia Química, respectivamente, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Os alimentos utilizados nos experimentos foram: cúrcuma em pó (açafrão-da-terra), sopa desidratada comercial e caldo de galinha em pó comercial, todos contendo cúrcuma em sua composição. Foi aplicada na sequência de experimentos a obtenção dos pigmentos curcuminóides desses alimentos através de extração contínua por Soxhlet ou extração descontínua por solvente (extração rápida), seguida da retirada do solvente por evaporação em rotaevaporador, e finalmente a análise qualitativa dos pigmentos extraídos por cromatografia em camada delgada (CCD) revelada com a radiação da lâmpada de “luz negra”. A sequência foi planejada para ser facilmente realizada em três aulas de 3 a 4 horas de duração, mas de acordo com as observações feitas durante a aplicação da sequência, os experimentos podem ser feitos em até uma ou duas aulas dependendo do andamento das atividades no laboratório. A partir do questionário diagnóstico, aplicado aos alunos antes das aulas que abordariam as técnicas envolvidas na sequência experimental, constatou-se um baixo conhecimento prévio dos conteúdos de extração, remoção de solvente de amostras sólidas e CCD. Com o questionário avaliativo, aplicado após as aulas, observou-se um maior interesse dos alunos pelos experimentos ao utilizar os alimentos e seus corantes curcuminóides como material motivador. Observou-se também que nas questões mais gerais sobre os temas de extração e CCD, os alunos que fizeram a sequência tiveram uma retenção de conhecimento igual ou inferior aos alunos sem sequência, porém, nas questões mais específicas o percentual de acertos dos alunos que fizeram a sequência experimental foi maior. Desta forma, para um melhor aprendizado das técnicas abordadas é necessário ressaltar aos professores os pontos em que o conhecimento sobre os temas não foi bem assimilado. A partir do questionário respondido pelos professores que aplicaram a sequência experimental, observou-se que o método proposto, além de gerar maior interesse dos alunos pelos experimentos, proporcionou uma ótima interação entre o grupo, e permitiu a abordagem de diferentes tópicos de química orgânica. Visando a utilização da sequência experimental para o desenvolvimento de uma sequência didática como divulgação científica, sua aplicação foi realizada para alunos de nível médio do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) na forma de oficinas de ensino. Neste momento, a sequência foi composta apenas da extração descontínua seguida de CCD e buscou-se, durante as técnicas, substituir os Erlenmeyers, as câmaras de eluição e os capilares por materiais mais próximos ao cotidiano desses alunos, como vidros de geleia e tubos internos de caneta. Neste caso, uma avaliação da percepção por parte dos alunos, através de observação comportamental, mostrou estarem bastante atentos e interessados aos experimentos, principalmente no momento de revelação dos pigmentos curcuminóides com a lâmpada de “luz negra”. Palavras chave: Cúrcuma, Corantes Alimentícios Naturais, Cromatografia em Camada Delgada, Extração por Soxhlet, Química Orgânica, Sequência didática.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

ABSTRACT

In this work was developed a didactic sequence of experiments using experiments with curcuminoids pigments contained in processed foods as a motivating theme to be implemented in experimental organic chemistry classes I, V and XI of the Chemistry, Pharmacy and Chemical Engineering courses, respectively, from Universidade Federal Fluminense (UFF). The foods used in the experiments were: turmeric powder, commercial dehydrated soup and commercial chicken broth, all containing turmeric in their composition. The didactic sequence applies the curcuminoid extraction of these foods by continuous extraction (Soxhlet extraction) or discontinuous extraction (Rapid Extraction), followed by solvent evaporation under rotary evaporator and finally the qualitative analysis of the extracted pigments by thin layer chromatography (TLC) revealed with “black light” lamp radiation. The procedures were designed to be easily carried in 3 lessons during 3-4 hours long, but according to the observations made during the sequence application, the experiments can be made up to one or two classes depending on the activities progress in the classroom. From the diagnostic questionnaire, applied to the students before classes which involve the techniques used on the experimental sequence, we found a low previous knowledge content of purification and TLC. With the evaluative questionnaire applied after classes, was observed a greater student interest in the experiments by using food and their curcuminoid pigments as motivating material. It was also observed that students who did sequence had equal or lower knowledge retention than students without it in more general questions about the themes of extraction and TLC, however, in more specifics questions the percentage of correct answers of the students who made the sequence was higher. Thus, for a better learning of the purification and analysis techniques, is necessary to emphasize to the teachers the points in which knowledge was not well assimilated. From the questionnaire answered by teachers who applied the experimental sequence, it was observed that the proposed method, besides generate a greater student interest in experiments, also provided an optimal group interaction and allowed to approach different topics of organic chemistry. Aiming to use the experimental sequence for development a didactic sequence as scientific disclosure, its application was made to high school students from Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) as educational workshops. At this time, the sequence was composed only of discontinuous extraction followed by TLC and, during the experiments, sought-for replace the Erlenmeyer flasks, thin layer chromatography tanks and capillaries tube by students quotidian materials, like jelly glasses and pen ink tubes. In this case, an evaluation of the student’s perception by through behavioral observation showed they were more attentive and interested in the experiments, especially in the chromatography revelation moment with “black light” lamp.

Keywords: Turmeric, Natural Food Colorants, Thin Layer Chromatography, Soxhlet Extraction, Organic Chemistry, Didactic Sequence.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CCD Cromatografia em Camada Delgada

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

C. longa Curcuma longa

GQO-UFF Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal

Fluminense

IEPIC Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho

IQ-UFF Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense

JECFA Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência

PPP Projeto Político-Pedagógico

QOE Química orgânica experimental

Rf Fator de retenção

UV Ultravioleta

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Aparelhagem de extração por Soxhlet , p. 17

Figura 2 - Imagem do evaporador rotatório, p. 18

Figura 3 - Imagem de uma câmara de eluição para CCD, p. 19

Figura 4 - Rizoma da cúrcuma, p. 22

Figura 5 - Estrutura dos principais curcuminóides da C. longa, p. 22

Figura 6 - Mapa conceitual para elaboração da sequência didática, p. 32

Figura 7 - Alimentos industrializados utilizados na sequência experimental, p. 37

Figura 8 - CCDs dos extratos metanólicos dos alimentos e da curcumina

purificada , p. 39

Figura 9 - CCDs dos extratos etanólicos dos alimentos e da curcumina

purificada, p. 39

Figura 10 - CCDs dos extratos de alimentos concentrados obtidos na extração

rápida e da curcumina purificada, p. 40

Figura 11 - Fórmula utilizada para o cálculo dos Rfs, p. 41

Figura 12 - Curcumina (1), desmetoxicurcumina (2) e bisdesmetoxicurcumina (3)

na placa cromatográfica revelada na luz negra, p. 42

Figura 13 - Curcuminóides e afinidade com a sílica, p. 42

Figura 14 - Equilíbrio ceto-enólico nos curcuminóides, p. 43

Figura 15 - Questões 1-8 do questionário diagnóstico, p. 44

Figura 16 - Questões 9-11 do questionário diagnóstico, p. 47

Figura 17 - a) Imagem da explicação da sequência de experimentos usando

alimentos contendo cúrcuma e alunos realizando o experimento de

extração por Sohxlet com os alimentos; b) Imagem da retirada de

solvente do extrato por rotavapor feita pelos alunos, p. 47

Figura 18 - a) Técnica de CCD realizada pelos alunos; b) Imagem dos

cromatogramas dos extratos de alimentos, revelados em luz negra,

feitos pelos alunos, p. 48

Figura 19 - Questões 1-12 do questionário avaliativo, p. 50

Figura 20 - Questões 13-15 do questionário avaliativo aplicado aos alunos que

fizeram a sequência experimental, p. 53

Figura 21 - Imagem da capa da cartilha, p. 55

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

Figura 22 - a) Extração dos pigmentos curcuminóides dos alimentos com etanol

46° em frascos de geleia. b) Aplicação dos extratos na placa de sílica

utilizando tubo de caneta como capilar. c) Eluição da placa

cromatográfica em um frasco de maionese com filtro de papel, p. 56

Figura 23 - Alunos do colégio IEPIC: a) acompanhando a eluição da placa; b)

observando a revelação do cromatograma em “luz negra”, p. 57

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Alguns dos corantes alimentícios de uso permitido pela ANVISA, p. 20

Tabela 2 - Preço de 1mg dos curcuminóides em relação a sua pureza, p. 23

Tabela 3 - Distribuição das turmas na avaliação da sequência experimental, p. 34

Tabela 4 - Quantidades de amostras de alimentos utilizadas nas extrações,

massa de extrato e rendimento, p. 38

Tabela 5 - Valores de Rf calculados para 1, 2 e 3, p. 41

Tabela 6 - Execução da sequência experimental nas turmas, p. 49

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos

do curso de Química, p. 45

Gráfico 2 - Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos

do curso de Engenharia Química, p. 45

Gráfico 3 - Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos

do curso de Farmácia, p. 46

Gráfico 4 - Percentual de acertos das questões 1-12 do questionário avaliativo

pelos alunos que fizeram e que não fizeram a sequência experimental,

p. 51

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

SUMÁRIO

1. Introdução, p. 14

1.1. Parâmetros curriculares nacionais no Ensino Médio (PCNs) e projeto

político-pedagógico no Ensino Superior, p. 15

1.2. Técnicas de laboratório, p. 16

1.2.1. Técnica de extração por Soxhlet, p. 16

1.2.2. Técnica de destilação à pressão reduzida, p. 17

1.2.3. Técnica de cromatografia em camada delgada (CCD), p. 18

1.3. Corantes alimentícios, p. 20

1.3.1. Cúrcuma – fonte de corantes naturais, p. 21

1.3.2. Corantes alimentícios no ensino de química, p. 23

1.4. Sequência Didática no processo Ensino/Aprendizagem, p. 25

1.4.1. Ferramentas instrucionais, p. 26

1.4.2. Aportes teóricos, p. 27

2. Objetivos, p. 30

2.1. Objetivo geral, p. 30

2.2. Objetivo específico, p. 30

3. Metodologia, p. 31

4. Resultados e discussão, p. 37

4.1. Elaboração dos experimentos para a sequência didática, p. 37

4.2. Aplicação e análise da sequência experimental, p. 43

4.3. Proposta de sequência didática, p. 55

4.4. Divulgação científica da Química usando a sequência didática, p. 56

5. Conclusão, p. 59

6. Experimental, p. 61

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

6.1. Materiais, p. 61

6.2. Experimentos que constituíram a sequência didática, p. 61

6.2.1. Extração por Soxhlet e retirada de solvente por rotavapor, p. 61

6.2.2. Extração por solvente descontínua (extração rápida), p. 62

6.2.3. Cromatografia em camada delgada (CCD), p. 62

7. Referências bibliográficas, p. 63

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

14

1. Introdução

O processo ensino-aprendizagem de Química, seja no nível médio ou

superior, tem sido, nos últimos tempos, muito discutida por educadores e

pesquisadores da área de educação, principalmente pela falta de interesse do aluno

pelo conteúdo abordado, o que causa dificuldades nesse processo, já que a Química

apresentada na sala de aula é, aparentemente, uma disciplina com conteúdo

desvinculado do universo discente, tornando-se monótona e sem sentido para o

estudante (MACEDO et al., 2012). Mesmo no ensino superior, onde o individuo opta

por se especializar na área de Química, ainda se observa o desinteresse e o baixo

rendimento, o que se vê de forma mais intensificada quando o aluno chega à

universidade sem a base teórica necessária para iniciar um estudo aprofundado,

gerando maiores dificuldades na formação desse profissional.

Nessa conjuntura, a contextualização no Ensino Médio de Química vem

sendo discutida e aplicada com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (PCNs) (RICARDO; ZYLBERSZTAJN, 2007), por meio da utilização

de novas metodologias e ferramentas instrucionais, como jogos educativos, vídeos,

programas computacionais e experimentação (MACEDO et al., 2012; MICHEL;

SANTOS; GRECA, 2004; SILVA; SILVA, 2011; SILVA; SILVA; SOARES, 2013).

O processo educativo de cursos de ensino superior, por sua vez, é baseado

no projeto político-pedagógico (PPP) de cada curso, onde a contextualização, a

cotidianização e a modernização, também podem e devem ser implantadas. Assim,

o Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense (GQO-

UFF), vem buscando adequar seus laboratórios a novos equipamentos e técnicas

mais contextualizadas que auxiliem no aprendizado do aluno, buscando a excelência

na formação de futuros profissionais. Deste modo, o uso de sequências didáticas,

envolvendo o cotidiano do aluno tal, como se observa algumas vezes no Ensino

Médio, pode ser um recurso de grande valor também para o ensino do conteúdo

programático das disciplinas de Química Orgânica Experimental (QOE) oferecidas

pelo GQO-UFF a diversos cursos de graduação.

Nesse contexto, os corantes alimentícios são matérias-primas presentes no

dia a dia do alunado que podem fornecer elementos necessários para essa

contextualização, ao se discutir as técnicas usuais de laboratório que fazem parte do

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

15

conteúdo programático das disciplinas experimentais, buscando atingir os PPPs dos

cursos.

1.1. Parâmetros curriculares nacionais no Ensino Médio (PCNs) e projeto

político-pedagógico no Ensino Superior

Os PCNs oriundos da reforma educacional dos anos 1990 e a nova proposta

elaborada pouco depois (PCN+) vieram da necessidade de se estabelecer formas

de pensar e organizar o currículo do Ensino Médio brasileiro. Esses documentos

foram redigidos com o intuito de orientar o corpo docente na construção do ensino

baseado não mais em conteúdos específicos fixos e sim em competências e

habilidade. A diferença entre os dois documentos, segundo Ricardo e Zylbersztajn

(2007), é que o PCN+ atribuiu maior importância à interdisciplinaridade e à

contextualização, porém ambos apresentam a controvérsia da pouca participação e

a ausência de debates com os educadores que seriam os maiores interessados

(OLIVEIRA, et al., 2013).

Enquanto o conteúdo curricular do Ensino Médio é regido pelos PCNs, os

objetivos e ações do processo educativo, assim como o conteúdo programático das

disciplinas dos cursos de Ensino Superior, são baseados nos projetos político-

pedagógicos (PPPs). Desse modo, cada curso da universidade elabora o seu projeto

político-pedagógico.

O curso de Química da Universidade Federal Fluminense (UFF), possui um

projeto pedagógico que visa não apenas o domínio de conteúdos, mas também o

desenvolvimento de competências, habilidades e a autonomia intelectual do aluno

(UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, 2003). Os PPPs dos cursos de

Farmácia e Engenharia Química da UFF não se encontram disponíveis para acesso.

O Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense

(GQO-UFF), atende a uma diversidade de cursos de graduação, dentre eles os

cursos de Química (Bacharelado, Licenciatura e Industrial), Farmácia e Engenharia

Química (UFF, 2014a). Dentre as disciplinas do GQO-UFF oferecidas a esses

cursos, tem-se respectivamente a Química Orgânica Experimental (QOE) I, V e XI.

As ementas dessas disciplinas, originadas de discussões sobre o projeto politico-

pedagógico de cada curso, compreendem técnicas de análise de substâncias

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

16

orgânicas, como ponto de fusão e ebulição, métodos de separação, isolamento e

purificação, como destilações, extrações e técnicas cromatográficas (UFF, 2014b).

Nesse sentido, o GQO-UFF tem desenvolvido ferramentas didáticas para a

melhoria do ensino superior de seus cursos (SILVA et al., 2009; UFF, 2014c), assim

como para o Ensino Médio (RIBEIRO et al., 2014). Desta forma, ressalta-se a

importância de se desenvolver novas pesquisas para o ensino, por exemplo, das

técnicas de laboratório, já que são essenciais para o profissional de Química,

Farmácia e Engenharia Química, uma vez que são de grande importância para que

se atinja o objetivo dos PPPs dos cursos, que visam promover competências e

habilidades do alunado.

1.2. Técnicas de laboratório

A extração por Soxhlet, a evaporação à pressão reduzida e a cromatografia

em camada delgada (CCD) são algumas das técnicas de laboratório abordadas nas

disciplinas QOE I, V e XI do GQO-UFF. Diversos laboratórios de pesquisa, até

mesmo de grandes empresas, utilizam frequentemente essas técnicas em suas

análises e produção. Assim o conhecimento e domínio dessas técnicas são

importantes para a execução de um trabalho experimental eficiente e seguro.

1.2.1. Técnica de extração por Soxhlet

As técnicas de extração por solvente são processos usados principalmente

na química orgânica como métodos de separação e isolamento de substâncias.

Dentre as extrações mais utilizadas tem-se: extração líquido-líquido descontínua

(extração simples) usando funil de separação, a qual se baseia na distribuição de

um soluto líquido em dois solventes imiscíveis; a extração sólido-líquido

descontínua, onde um solvente extrai parte de uma amostra sólida em uma única

etapa; e a extração sólido-líquido contínua (extração por Soxhlet), na qual a extração

do material sólido é feita repetidas vezes de maneira automática (SOARES; SOUZA;

PIRES, 1988).

A extração por Soxhlet tem esse nome pois utiliza em sua aparelhagem

(Figura 1), um extrator proposto pela primeira vez em 1879 por Franz von Soxhlet

(JENSEN, 2007). Nesse extrator é colocada a amostra sólida, e é conectado um

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

17

balão contendo o solvente de extração. Quando o solvente é aquecido, seus

vapores se elevam até um condensador, que fica na parte superior do extrator, e

condensam-se sobre a amostra. O extrator de Soxhlet possui um sifão, quando o

solvente atinge o nível máximo do sifão, ele retorna ao balão recomeçando o ciclo. É

esse processo que torna a extração por Soxhlet uma extração contínua, automática

e menos laboriosa, e que, além disso, utiliza uma única quantidade de solvente em

sucessivas extrações (SOARES; SOUZA; PIRES, 1988).

Figura 1. Aparelhagem de extração por Soxhlet (fonte: autora desse trabalho)

1.2.2. Destilação à pressão reduzida

A destilação é uma técnica de purificação de líquidos em que ocorre

basicamente a vaporização de um líquido seguido da condensação do vapor

formado. Em misturas homogêneas, a composição desse vapor é dado pela

combinação das leis de Dalton e Raoult, que englobam a pressão parcial de cada

componente (SOARES; SOUZA; PIRES, 1988).

Existem diversos tipos de destilação, como a destilação simples e a

fracionada que podem ser realizadas a pressão atmosférica ou a pressão reduzida.

A destilação à pressão reduzida, também chamada de destilação à vácuo, é muito

utilizada por permitir que um líquido entre em ebulição a uma temperatura mais

baixa do que a sua temperatura de ebulição normal nas CNTP. Portanto é uma

técnica muito útil na purificação de líquidos de alto ponto de ebulição.

A destilação à pressão reduzida também é largamente utilizada no preparo

de substâncias orgânicas, pois possibilita a retirada de solvente de uma amostra

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

18

antes da aplicação de outras técnicas como, por exemplo, a cromatografia. A

aparelhagem que torna mais fácil essa retirada de solvente é o evaporador rotatório

(Figura 2), também chamado de rotavapor, e por isso ele é constantemente

empregado para esse fim nos laboratórios de Química Orgânica (SOARES; SOUZA;

PIRES, 1988). No entanto, deve-se ressaltar que, apesar do princípio físico-químico

ser o mesmo que ocorre na destilação à vácuo, quando utiliza-se o rotavapor tem-se

na verdade um processo de evaporação, já que o componente principal que se

deseja obter, neste caso, não é o líquido destilado e sim a amostra que resta no

balão inicial.

Figura 2. Imagem do evaporador rotatório (fonte: autora desse trabalho)

1.2.3. Cromatografia em camada delgada (CCD)

A cromatografia é um método físico-químico de separação largamente

utilizado nos pequenos e grandes laboratórios de Química de todo o mundo, e está

fundamentada na migração diferencial dos componentes de uma mistura. Essa

migração diferencial ocorre devido a diferentes interações, entre duas fases

imiscíveis, a fase móvel e a fase estacionária (DEGANI; CASS; VIEIRA, 1998). A

grande variedade de combinações entre fases móveis e estacionárias é o que a

torna uma técnica extremamente versátil e de grande aplicação (COLLINS; BRAGA;

BONATO, 1993).

Essa técnica teve sua origem em 1906 quando o botânico Mikhail

Semenovich Tswett descreveu suas experiências na separação dos componentes

de extratos de folhas de vegetais, no qual ocorreu uma separação das substâncias

em faixas coloridas (DEGANI; CASS; VIEIRA, 1998). Possivelmente, devido a isso

essa técnica é conhecida pelo termo cromatografia (chrom= cor e graphie = escrita),

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

19

o que muitas vezes leva a ideia incorreta de ser um processo usado apenas em

misturas coloridas. A cromatografia pode ser utilizada para a identificação de

substâncias, por comparação com padrões previamente existentes e para a

separação e purificação dos componentes de uma mistura.

As diferentes formas de cromatografia podem ser classificadas

considerando-se diversos critérios, sendo um deles o da forma física do sistema

cromatográfico, o qual divide a técnica em duas possibilidades: cromatografia em

coluna e cromatografia planar. Nessa última, encontra-se a cromatografia em

camada delgada (CCD) que é uma das mais utilizadas em laboratório, sendo uma

técnica de adsorção sólido–líquido, onde a separação se dá pela diferença de

afinidade dos componentes de uma mistura pela fase estacionária (DEGANI; CASS;

VIEIRA, 1998). Na prática, a técnica de CCD se resume na aplicação da amostra

sobre a placa cromatográfica (fase estacionária), que então é colocada em uma

câmara de eluição (Figura 3) contendo a fase móvel adequada que irá ascender pela

placa separando as substâncias. Ao fim da eluição, para se observar a separação

das substâncias, muitas vezes é necessária uma etapa de revelação da placa com

reveladores físicos (exemplo: luz ultravioleta) ou químicos (exemplo: solução de

ácido sulfúrico). A CCD é uma das técnicas de análise qualitativa mais utilizada em

laboratórios de Química Orgânica, podendo ser usada em acompanhamento de

reações químicas e separação e purificação de substâncias.

Figura 3. Imagem de uma câmara de eluição para CCD

(fonte: autora desse trabalho)

Tendo em vista a complexidade dos conceitos teóricos, a importância e a

versatilidade de técnicas como a cromatografia, a destilação/evaporação e a

extração por Soxhlet, cabe ao educador despertar a curiosidade do aluno e facilitar o

processo ensino-aprendizagem. Neste sentido, o uso de temas motivadores como,

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

20

por exemplo, química dos polímeros, óleos essenciais, alimentos e corantes

alimentícios, pode facilitar o ensino/aprendizagem dessas técnicas, uma vez que são

temas presentes no cotidiano e, portanto, podem despertar a curiosidade do aluno

sobre o assunto, servindo de ponte cognitiva, aproximando os saberes de dentro e

de fora da academia.

1.3. Corantes alimentícios

A cor de um alimento é um dos primeiros atributos reconhecidos pelo sentido

do consumidor e portando influencia diretamente na sua aceitação. O uso de

corantes nos alimentos surgiu da necessidade de melhorar a coloração e,

consequentemente, sua aceitabilidade (TONIAL; SILVA, 2008; VOGLER

INGREDIENTS, 2009).

Existem dois grandes grupos de corantes de uso permitido em alimentos

pela legislação: os corantes naturais, que compreendem qualquer pigmento ou

corante inócuo extraído de um vegetal ou animal, e os corantes artificiais, que são

substâncias obtidas por processo de síntese. A Tabela 1 mostra alguns dos corantes

alimentícios permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA,

2011), órgão responsável por controlar o uso de corantes nos alimentos no Brasil

(HAMERSKI; REZENDE; SILVA, 2013):

Tabela 1. Alguns dos corantes alimentícios de uso permitido pela ANVISA

Corantes naturais Corantes artificiais

Cúrcuma, curcumina (INS 100i) Tartrazina (INS 102)

Carmim de cochonilha, ácido carmínico (INS 120) Amarelo de quinoleína (INS 104)

Clorofila (INS 140i) Amarelo Crepúsculo (INS 110)

Carotenos: extratos naturais (INS 160a ii) Azorrubina (INS 122)

Urucum, bixina, norbixina (INS 160b) Ponceau 4R (INS 124)

Páprica, capsorrubina, capsantina (INS 160c) Eritrosina (INS 127)

Licopeno (INS 160d) Vermelho 2G (INS 128)

Vermelho de beterraba, betanina (INS 162) Vermelho 40 (INS 129)

Antocianinas (INS 163i) Indigotina, carmim de índigo (INS 132)

O uso de corantes naturais como substitutos dos corantes sintéticos em

produtos alimentícios industrializados vem sendo defendida por especialistas devido

as controvérsias quanto aos malefícios à saúde e a presença de consumidores cada

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

21

vez mais críticos (HAMERSKI; REZENDE; SILVA, 2013). Apesar dos benefícios

dessa substituição, esses corantes naturais ainda possuem uma restrição em seu

uso: a degradação diante de fatores nos quais diversos alimentos industrializados

estão expostos (CORANTEC, 2013). Os pigmentos presentes no rizoma da

cúrcuma, por exemplo, sofrem degradação em pH básico e quando expostos à luz

(WANG et al., 1997).

De qualquer modo os corantes alimentícios são um tema interessante para

ser discutido no Ensino Médio e Superior, exatamente por apresentar essas

questões positivas e negativas, tendo o urucum, a páprica e a cúrcuma como

exemplos de corantes que podem ser usados para esse fim.

1.3.1. Cúrcuma: uma fonte de corantes naturais

Um dos corantes amarelos naturais mais utilizados pela indústria de

alimentos é a cúrcuma (Curcuma longa L., Zingiberaceae; INS 100(i)) (CORANTEC,

2013). Sua raiz é utilizada, há tempos, na culinária devido a propriedades

conservantes, cor e sabor característico.

A cúrcuma, também conhecida no Brasil por açafrão-da-terra, é uma planta

originária do sudeste asiático. Na gastronomia da Índia, de Moçambique e dos povos

da África Oriental a cúrcuma é o açafrão da Índia. Esse nome o difere de outro

açafrão conhecido nos países ocidentais, o Crocus sativus L., Iridaceae, uma flor

lilás, de estigmas e parte dos estiletes, muito finos e de cor vermelha, que dão

origem a especiaria mais cara do mundo, de perfume e sabor intensos e muito

apreciados (PINTÃO; SILVA, 2008).

O rizoma da Curcuma longa (C. longa) (Figura 4, p. 22) possui três

substâncias principais responsáveis pela sua coloração amarelada: curcumina (1),

desmetoxicurcumina (2) e bisdesmetoxicurcumina (3) (Figura 5, p. 22)

(JAYAPRAKASHA; RAO; SAKARIAH, 2005).

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

22

Figura 4. Rizoma da cúrcuma (fonte: PHARMA ELITE, 2013)

Dos pigmentos que constituem essa planta 50 a 60% são curcumina (1), 20

a 30% desmetoxicurcumina (2) e 7 a 20% bisdesmetoxicurcumina (3) (VOGLER

INGREDIENTS, 2009). Estruturalmente, estas três substâncias diferem apenas no

número de grupamentos metoxila presentes, como mostra a Figura 5.

Figura 5. Estruturas dos principais curcuminóides da C. longa

A curcumina (1), além de propriedade corante, vem sendo extensivamente

estudada e aplicada na medicina por possuir propriedade antioxidante, anti-

inflamatória, anticancerígena, antifúngica, além de potencial contra Doença de

Alzheimer e HIV (DARVESH; AGGARWAL; BISHAYEE, 2012).

A substância 1, curcuminoide majoritário na cúrcuma, pode ser obtida pura a

partir de sucessivas cristalizações ou por meio de métodos cromatográficos como a

cromatografia em camada delgada preparativa e a cromatografia em coluna

(MOHAN; ANDERSON; MITCHELL, 2000). As substâncias 2 e 3, minoritárias,

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

23

também podem ser obtidas por estes dois métodos cromatográficos, porém é

necessário que sejam feitos repetidos processos para se obter um elevado grau de

purificação. O preço atual dessas substâncias puras, mostrados na Tabela 2

(SIGMA-ALDRICH, 2014a), está diretamente ligado a esta dificuldade de purificação.

Tabela 2. Preço atual de 1mg dos curcuminóides em relação a sua pureza

Curcumina

(1mg)

Desmetoxicurcumina

(1mg)

Bisdesmetoxicurcumina

(1mg)

80% de pureza R$ 1,10 - -

95% de pureza - R$ 62,40 R$ 52,80

98% de pureza R$ 38,00 R$ 116,40 R$ 81,00

A análise dos corantes alimentícios envolve diversas etapas como teste de

toxidez, quantificação, estabilidade durante processamento e estocagem, análise

dos produtos de degradação e, em destaque ao nosso interesse, a confirmação de

presença ou ausência em produtos industrializados (SANTOS; DEMIATE; NAGATA,

2010).

De acordo com o Joint FAO/WHO Expert Committee on Food

Additives (JECFA) (2003) o principal método de análise para curcuminóides é a

cromatografia em camada delgada (CCD). Esse método de análise indicado pelo

JECFA é o mesmo utilizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA,

2014).

A cúrcuma, assim como outros corantes presentes em alimentos, são

materiais do cotidiano interessantes para serem usados no ensino de Química. A

seguir falaremos mais a respeito dessa temática em sala de aula.

1.3.2. Uso de alimentos e corantes alimentícios no ensino de Química

Todos os profissionais ligados ao ensino de Química estão cientes da

dificuldade de ensinar de forma efetiva os conceitos químicos em sala de aula. O

ensino em torno do cotidiano através de aulas experimentais com materiais de uso

comum e de fácil acesso há alguns anos vem se apresentando como uma

alternativa eficiente para estimular o aprendizado (DIAS; GUIMARÃES; MERÇON,

2003).

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

24

Um dos materiais do cotidiano que está sendo muito utilizado como tema

motivador no ensino de Química, tanto no nível médio como no superior, são os

alimentos. Estes permitem o ensino dos mais diversos conteúdos da Química, seja

teórico ou experimental, a partir dos diferentes tópicos e elementos que os envolvem

e constituem. A temática conservação dos alimentos, por exemplo, foi proposta por

Ferreira; Silva e Vieira (2013) para o ensino do conteúdo de cinética-química no

Ensino Médio. Já Silva et al (2009) se utilizou do óleo essencial do limão para o

ensino da técnica de cromatografia em camada delgada (CCD) e suas variáveis, no

Ensino Superior de Química. O sal de cozinha também já foi utilizado no ensino de

Química numa linguagem interdisciplinar onde o objetivo principal era fazer uma

análise qualitativa e semiquantitativa de iodato presente (BELTRAME; ROMERO;

ROMERO, 2012). Estes trabalhos são apenas alguns exemplos de como os

alimentos podem promover um ensino-aprendizagem de forma mais

contemporânea.

Outro elemento muito utilizado no ensino de Química a partir dos alimentos

são os seus corantes. Atualmente existem muitos trabalhos publicados envolvendo

extração de pigmentos presentes em diversos alimentos como a beterraba, cenoura,

pimentão e até mesmo a casca de feijão preto (DIAS; GUIMARÃES, MERÇON,

2003; LUCAS et al., 2013; SOARES; SILVA, CAVALHEIRO, 2011). Esses pigmentos

são constantemente empregados no ensino de Química Geral e Química Analítica,

sendo utilizados, por exemplo, como indicadores de pH e em volumetria ácido-base.

O rizoma da C. longa, fonte de pigmentos curcuminóides naturais utilizados

na indústria alimentícia é outro exemplo de corante usado no ensino de Química.

Uma aplicação da cúrcuma no Ensino Médio foi relatado por Tonial e Silva (2008),

que descrevem o uso desta fonte de corantes naturais, e de outras fontes como

beterraba, cenoura e urucum, em práticas experimentais de extração e

cromatografia em papel de filtro. Costa (2011) foi outro que estudou o uso da

cúrcuma também como indicador ácido-base. Mohan; Anderson e Mitchell (2000)

sugeriram o uso do rizoma da cúrcuma em pó para o ensino das técnicas de

separação e isolamento por cromatografia em coluna e cromatografia em camada

delgada preparativa. Os pigmentos curcuminóides também já foram aplicados no

ensino de síntese orgânica. Nesse sentido, Wagner et al. (2013), por exemplo,

propôs a reação de hidrogenação da curcumina (1) em tetrahidrocurcumina e o uso

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

25

destes na técnica de espectroscopia de ressonância magnética nuclear, para alunos

de Química Orgânica do nível superior.

Alimentos industrializados também já foram utilizados no ensino de Química,

como, por exemplo, Fraceto e Lima (2003) que propuseram o uso dos corantes

artificiais presentes em pastilhas coloridas de chocolate para o ensino da técnica de

cromatografia em papel. Salvadego (2007), por sua vez, propôs a extração e

purificação da trimiristina em aulas de Ensino Médio, a partir do condimento noz

moscada.

Sendo assim, esses materiais podem ser usados em sala de aula por meio

de diferentes ferramentas instrucionais, como visto anteriormente. A sequência

didática, é outra ferramenta de ensino que permite abordar diferentes conceitos

teóricos e experimentais da Química a partir dos elementos do cotidiano de forma

contextualizada, possibilitando ainda a percepção de que o uso de diferentes

técnicas não são isoladas e sim complementares.

1.4. Sequência Didática no processo Ensino/Aprendizagem de Química

Sequência didática “[...] é um conjunto de atividades ordenadas,

estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que

têm um princípio e um fim, conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos.”

(AMORIM et al., 2012, apud ZABALA, 1998, p.18). Essas atividades planejadas de

maneiras sequenciais podem contribuir para a aprendizagem de diversos conteúdos

em Ciências (PEREIRA; PIRES, 2012).

Uma sequência didática pode ser planejada intercalando-se diversos

recursos didáticos como jogos, vídeos, demonstrações, sessões de questionamento,

experimentos em laboratório, dinâmicas, debates, entre outros (PEREIRA; PIRES,

2012). Além disso, temáticas envolvendo o cotidiano costumam se aliar a esses

recursos usados de forma sequencial para facilitar o processo de ensino-

aprendizagem.

Neste enfoque, muitos pesquisadores da área da Educação já utilizaram

essas sequências de atividades para ensinar conceitos químicos a alunos de Ensino

Médio (AMORIM et al., 2012; FIGUEIREDO et al., 2010; SANTOS, NASCIMENTO;

NUNES, 2012; SILVA et al., 2012; SOUZA; BATINGA, 2012). Pereira e Pires (2012),

por exemplo, desenvolveram e aplicaram uma sequência didática teórico-

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

26

experimental para abordar o conteúdo de interações intermoleculares utilizando-se

de dois elementos do cotidiano: gasolina e corantes de urucum. Mais recentemente,

Endringer et al. (2014) desenvolveu e aplicou uma sequência, também teórico-

experimental, utilizando elementos como suco de caju e água oxigenada para tornar

o tema identificação de polifenóis mais significativo para os alunos. Assim como

Endringer, Ghirardi (2014) foi outro pesquisador que, recentemente, utilizou uma

sequência de atividades para abordar o conceito de equilíbrio químico em sala de

aula.

Sequências experimentais e didáticas também são estudadas com foco no

ensino superior, porém com menor frequência quando comparado com o nível

médio. Silva et al. (2009); Kiouranis; Sousa; Santin Filho (2010) são pesquisadores

que já analisaram a implementação de sequências experimentais e didáticas em

disciplinas de Química Orgânica Experimental e Química Quântica, respectivamente,

oferecidas a alunos de cursos superiores em Química. No caso da sequência de

atividades proposta por Silva (2009), utilizou-se novamente um material do cotidiano,

que é o limão, para estudar as técnicas de extração mecânica, extração por arraste

à vapor e CCD, enquanto Kiouranis Sousa e Santin Filho, utilizaram a representação

esquemática e gráfica, escrita, sessão de discussão e apresentação de filme, para

facilitar a compreensão dos alunos sobre o comportamento dos objetos partículas e

ondas no experimento da dupla fenda.

Desta forma, e assim como no nível médio, o uso de sequências didáticas

no Ensino Superior de Química, contextualizado com o cotidiano, pode ser de

grande valia para a aprendizagem significativa de alunos de graduação, o que

mostra a necessidade de estudos mais frequentes deste tipo de abordagem para o

ensino superior.

Conforme mencionado anteriormente as sequências didáticas necessitam de

ferramentas instrucionais adequadas para cada proposta, nesse sentido achamos

interessante comentar sobre algumas delas.

1.4.1. Ferramentas instrucionais

Atualmente muitos professores e pesquisadores na área da educação

buscam adaptar ações pedagógicas e usar recursos inovadores que possam ser

implementados em aulas dos diferentes níveis da educação. Muitos artigos já foram

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

27

publicados utilizando as chamadas ferramentas instrucionais de diversas formas.

Essas ferramentas compreendem recursos como vídeos, músicas, cinema,

quadrinhos, jogos, experimentação e programas computacionais (MACEDO et al.,

2012; MICHEL; SANTOS; GRECA, 2004; SILVA; SILVA, 2011; SILVA; SILVA;

SOARES, 2013) e mais recentemente, vemos também a cotidianização e a

contextualização como ferramentas para o ensino (OLIVEIRA et al., 2012; SANTOS;

SILVA; SILVA, 2012).

A busca cada vez maior pela inserção dessas ferramentas no Ensino Médio

é oriunda da necessidade de solucionar o problema crônico do ensino-

aprendizagem, devido ao desinteresse do aluno (MORAN, 1995). A experimentação

no ensino de Química é uma das mais discutidas e pesquisadas já que traz a teoria

para a realidade do estudante, uma vez que a Química por si só é uma ciência

experimental, o que ressalta ainda mais a importância do uso dessa ferramenta

(SILVA; SILVA; SOARES, 2013). Porém, ainda hoje vemos escolas de nível básico

sem uma infraestrutura adequada para realização de aulas experimentais e

decorrente disso, muitos alunos ingressam no curso superior de Química sem o

conhecimento básico necessário, dificultando o processo de aprendizagem

significativa.

1.4.2. Aportes teóricos

David Ausubel baseou sua teoria de ensino na aprendizagem significativa,

na qual a aprendizagem e a retenção de um novo conteúdo se torna mais fácil a

partir do momento em que este está relacionado à um conjunto de conhecimentos

pré-existentes, também chamado conceito subsunçor. Segundo Santana e Carlos

(2013) o fator isolado que mais influencia a aprendizagem, na visão de Ausubel, é o

conhecimento prévio do aluno e, cabe ao educador identificar esse conhecimento e

ensinar de acordo. Todas as novas informações que serão apresentadas ao aluno

irão se “ancorar” aos conceitos da sua estrutura cognitiva gerando assimilação dos

novos conceitos (RONCA, 1994).

A aprendizagem significativa pressupõe que o novo conteúdo a ser

aprendido seja potencialmente significativo para o aluno, ou seja, que se relacione,

de forma não arbitrária, aos seus conhecimentos prévios (RONCA, 1994). Uma

aplicação prática da teoria da aprendizagem significativa de Ausubel são os mapas

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

28

conceituais desenvolvidos pelo educador Joseph D. Novak. Esses mapas

conceituais são, de maneira geral, ferramentas gráficas que indicam relações entre

conceitos, ou entre palavras que representem esses conceitos. Essas relações são

representadas por linhas contendo palavras-chave que explicitem a natureza das

mesmas, partindo de um conceito mais amplo para conceitos mais específicos

(CAVELLUCCI, 2009; MOREIRA, 2012).

De acordo com Moreira (2012, p.2) o mapa conceitual “[...] é uma técnica

muito flexível e em razão disso pode ser usado em diversas situações, para

diferentes finalidades: instrumento de análise do currículo, técnica didática, recurso

de aprendizagem, meio de avaliação.”

Também na perspectiva de Ausubel, segundo Maia (2013, p.1004), a

experimentação é outra ferramenta que pode ser usada como “[...] estratégia para

revelar os conhecimentos prévios dos alunos e, fornecer ou formalizar os

subsunçores que podem subsidiar aprendizagem de alguns conteúdos.” Já na visão

de Vygotsky, de acordo com Gaspar e Monteiro (2005, p.232), a atividade

experimental em sala de aula, “[...] apesar de fundamentar-se em conceitos

científicos, formais e abstratos, tem por singularidade própria a ênfase no elemento

real, no que é diretamente observável [...]”, ou seja, para este teórico da educação, a

utilização da demonstração experimental de um conceito em sala de aula é

fundamental porque acrescenta ao pensamento do aluno elementos de realidade e

de experiência pessoal que podem fazer uma ponte entre estes e os conceitos

teóricos. Esse pensamento se fundamenta na própria teoria de ensino de Vygotsky,

que segundo Maia (2013, p.1004), diz que:

[...] a Cultura é a responsável pela tradução dos dados do mundo para o

sujeito. Para ele os processos de desenvolvimento e da aprendizagem são

processos interdependentes, que se constituem em um processo unitário e

que se influenciam mutuamente, sendo a aprendizagem a base histórico-

cultural do desenvolvimento.

Diante desses conceitos deve-se considerar, que um experimento, por

exemplo, não pode ser executado de forma empirista, mas sim de forma

problematizadora ou investigativa. O educador, em suas aulas, não deve assumir

um caráter de comprovação ou de verificação da teoria na prática e sim propor um

problema, através de questionamentos, ou levá-los a investigar, através da

pesquisa. Desta forma o aluno passa por um processo de construção do saber,

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

29

articulado com seu cotidiano e, não por um ensino automatizado com percepção

empobrecida (JESUS et al., 2011; FERREIRA; HARTWIG; OLIVEIRA, 2010)

O que vemos, por fim, nos discursos, tanto de Ausubel como de Vygotsky é

a grande influência do conhecimento cultural, ou conhecimento prévio, do aluno no

processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, fica clara a vantagem de se usar

elementos do cotidiano do aluno e experimentação para o ensino em sala de aula,

ressaltando-se que sua execução deve ser mais focada em que o alunado adquira

uma forma própria de aprendizado, isto é, de uma maneira investigativa ou

problematizadora.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

30

2. Objetivos

2.1. Objetivo geral

Formular uma sequência didática, a partir do desenvolvimento, aplicação e

avaliação de uma sequência de experimentos que se inicia com extração por

Soxhlet, seguida de evaporação à vácuo e finalmente CCD, para alunos das

disciplinas de QOE I, V e XI dos cursos de Química, Farmácia e Engenharia Química

da UFF.

2.2. Objetivo específico

Avaliar a eficiência da utilização de pigmentos curcuminóides encontrados

em alimentos industrializados no processo de ensino-aprendizagem das técnicas de

extração por Soxhlet, evaporação à vácuo e CCD.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

31

3. Metodologia

A pesquisa realizada neste trabalho pode ser classificada quanto à sua

natureza como uma pesquisa aplicada, pois, de acordo com Prodanov e Freitas

(2013, p.61), a pesquisa aplicada é aquela que: ”[...] objetiva gerar conhecimentos

para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos.” No caso deste

estudo a aplicação prática citada seria o uso da sequência didática utilizando

materiais do cotidiano (alimentos industrializados) para solucionar a problemática da

desmotivação do aluno por falta de práticas experimentais contextualizadas, nas

aulas experimentais de Química Orgânica.

Do ponto de vista do procedimento técnico esta pesquisa também pode ser

classificada como pesquisa-ação, já que, segundo Prodanov e Freitas (2013, p.65)

esse tipo de pesquisa se dá “[...] quando concebida e realizada em estreita

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo.” A

pesquisa-ação, portanto, não se refere a um simples levantamento de dados ou de

relatórios a serem arquivados, neste caso os pesquisadores tem a pretensão de

trabalhar ativamente na própria realidade dos fatos observados, reformulando o

produto idealizado, que neste caso é a sequência didática (PRODANOV; FREITAS,

2013).

Neste sentido, a pesquisa para elaboração da sequência didática para as

disciplinas de QOE I, V e XI do GQO-UFF iniciou-se com a formação da equipe

envolvida no projeto, a qual foi formada por três professores de Química Orgânica

da UFF e duas alunas de graduação em Química também da UFF.

Em reuniões do grupo discutiu-se sobre as dificuldades no ensino de

Química Orgânica Experimental e as técnicas de extrema importância abordadas

nessas disciplinas. Decidiu-se por fazer uso de alimentos industrializados contendo

corantes naturais como material motivador para ensinar as técnicas de extração por

Soxhlet, evaporação sob vácuo e CCD de forma sequencial e inserida no cotidiano

do aluno. Nestas reuniões também foram definidas as atividades em que cada

participante do projeto iria colaborar, tais como: o(s) responsável(is) pela elaboração

da sequência experimental e didática, preparação dos materiais e equipamentos dos

experimentos, bem como o(s) responsável(is) pela aplicação da sequência em sala

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

32

de aula, aplicação de questionários (diagnósticos e avaliativos) e análise das

respostas.

A escolha do uso de alimentos industrializados contendo o corante natural

cúrcuma se deu a partir da observação dos experimentos já realizados por Lee e

Choung (2011) com esses alimentos. Neste trabalho, Lee extraiu com metanol os

pigmentos curcuminóides de diversos alimentos industrializados e os identificou por

Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE).

Buscando o planejamento da sequência experimental fez-se uso dos mapas

conceituais de Novak. Esses mapas permitem correlacionar conceitos e ter o

controle das ações durante uma atividade. Neste sentido elaborou-se um mapa

conceitual (Figura 6) que facilitou o planejamento da sequência à medida que

buscou correlacioná-la com os elementos necessários para desenvolvê-la, como

todo o conteúdo experimental e teórico de Química Orgânica que pode ser abordado

ao utilizá-la em aula, e com o objetivo principal da sua elaboração, que é o

aprendizado significativo de alunos de nível superior, podendo se estender à alunos

de nível médio.

Figura 6. Mapa conceitual para elaboração da sequência experimental

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

33

Iniciou-se, então, a elaboração dos experimentos que iriam compor a

sequência didática, a qual visava extração e análise de corantes alimentícios.

Foram, inicialmente, realizados testes da extração por Soxhlet, da retirada de

solvente por evaporador rotatório e da CCD com os alimentos industrializados

contendo cúrcuma. Nos testes da extração por Soxhlet buscou-se verificar o

solvente de extração mais adequado para aulas experimentais e o tempo de

extração. Outro experimento que teve suas variáveis analisadas foi a extração

descontinua dos corantes por solvente, pensada como alternativa para aulas de

curta duração. No caso dessas aulas a sequência experimental seria composta por

uma extração rápida, seguida de evaporação por rotavapor e por fim a CCD. No

teste da evaporação por rotavapor verificou-se apenas a eficiência da aparelhagem

para a retirada do solvente do extrato em um curto período de tempo. Nos testes

com a CCD, avaliou-se a eficiência do eluente e de alguns reveladores que

poderiam ser utilizados na CCD dos pigmentos curcuminóides. Um dos reveladores

testados, como opção de revelador não prejudicial a saúde, foi a lâmpada de “luz

negra”.

Após definidas as variáveis dos experimentos da sequência foi elaborado um

questionário diagnóstico constituído por 11 perguntas. A questão 1 buscou avaliar o

conhecimento prévio dos alunos sobre extração de amostras sólidas. A questão 2

buscava saber seu conhecimento prévio sobre retirada de solvente de uma solução.

Com as questões 3 a 8 procurou-se avaliar o conhecimento prévio sobre CCD. Além

destas, havia ainda mais três questões. Duas delas buscavam saber se os alunos

realizaram, no Ensino Médio, algum experimento de extração (questão 9), e/ou de

cromatografia (questão 10). Com a última questão (questão 11) buscou-se saber se

os alunos tiveram contato com qualquer experimento envolvendo o uso de

alimentos.

No questionário havia um cabeçalho que solicitava ao aluno marcar com um

“x" a qual curso pertencia, o ano de ingresso e data. A identificação do aluno não era

obrigatória. Antes da primeira questão havia ainda a seguinte frase destacada:

“marque uma ou mais alternativas em cada uma das questões abaixo”.

A diagnose foi aplicada aos alunos das disciplinas introdutórias de QOE I, V

e XI ministradas aos cursos de graduação em Química, Farmácia e Engenharia

Química, respectivamente, da UFF no ano de 2014, a saber: a) 2 turmas da

Disciplina de QOE I que são oferecidas aos cursos de Química Industrial,

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

34

Bacharelado em Química e Licenciatura em Química, compreendendo 12, 2 e 10

alunos, respectivamente (total de 24 alunos); b) 4 turmas da disciplina QOE XI

referente ao curso de Engenharia Química com total de 23 alunos e, c) 6 turmas da

disciplina QOE V do curso de Farmácia com total de 58 alunos. Ao todo 105 alunos

participaram da avaliação diagnóstica. Vale ressaltar que o questionário diagnóstico

foi aplicado por um dos integrantes da equipe, antes das aulas experimentais, que

abordariam a extração por Soxhlet, o evaporador rotatório e a cromatografia como

conteúdo.

Após a diagnose foi solicitado que os alunos assistissem ao vídeo chamado

“Vídeo-Aula: Cromatografia em Camada Delgada” (EPIFÂNIO et al., 2014) e então

foi aplicada a sequência experimental nas turmas, sob a supervisão de um dos

componentes da equipe do projeto. A Tabela 3 resume o número de turmas onde a

sequência foi realizada e o total de alunos que participaram, bem como aquelas

turmas onde não foi aplicada a sequência. Cabe ressaltar que em algumas turmas a

sequência experimental não foi aplicada com o objetivo de perceber sua influência a

partir da comparação do desempenho desses alunos com os que fizeram a

sequência. As turmas onde não foi aplicada a sequência tiveram as aulas de

extração por Soxhlet, evaporação à vácuo e CCD como comumente ministradas por

cada um de seus professores.

Tabela 3. Distribuição das turmas na avaliação da sequência experimental

Curso Disciplina Nº de

Turmas

Nº de

Alunos Sequência

Química Industrial

Química Orgânica Exp I

1 11 sim

Licenciatura em Química

1 12 não

Bacharelado em Química

Engenharia Química Química Orgânica Exp XI 2 8 sim

2 14 não

Farmácia Química Orgânica Exp V

3 29 sim

3 27 não

Como se pode notar na Tabela 3, 48 alunos fizeram a sequência e 53 não

fizeram, perfazendo um total de 101 alunos. Este número varia em relação aos 105

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

35

alunos que fizeram, inicialmente, a diagnose por motivo de falta, abandono ou,

inscrição do aluno na disciplina após a aplicação do questionário diagnóstico.

A sequência experimental foi planejada para ocupar 3 aulas de 4 horas

(cursos de Química) ou 3 horas (cursos de Farmácia e Engenharia Química) da

seguinte forma: 1ª aula – extração contínua (por Soxhlet) e/ou extração descontínua

(rápida), 2ª aula – destilação do solvente, 3ª aula – cromatografia em camada

delgada. No início de cada aula o professor da disciplina, explicava o conteúdo

relacionado a técnica que seria executada no dia (extração por Soxhlet e/ou

extração rápida ou destilação por rotavapor ou CCD) e em seguida aplicava a

prática utilizando os alimentos industrializados contendo o corante cúrcuma, com o

auxílio de um dos integrantes do projeto.

Após as aulas que abordaram as técnicas envolvidas na sequência

experimental, foi aplicado um questionário avaliativo aos alunos de todas as turmas

mostradas na Tabela 3, p. 34. O mesmo constou de 8 perguntas idênticas às do

questionário diagnostico, além de outras 4 perguntas mais específicas sobre as

técnicas de Extração por Soxhlet e CCD, com o objetivo de avaliar a retenção do

conhecimento após terem feito ou não a sequência proposta. Para os alunos das

turmas com sequência experimental, havia ainda mais 3 perguntas de opinião, 1

fechada e 2 abertas. Estas questões procuravam saber a motivação deles pelas

aulas ao utilizar uma sequência de experimentos com produtos alimentícios e buscar

sugestões, críticas ou qualquer comentário sobre a sequência.

Por fim também foi elaborado e aplicado um questionário

diagnóstico/avaliativo para os 4 professores das turmas onde foi aplicada a

sequência experimental. Este era formado por perguntas que procuravam saber se

os mesmos já haviam elaborado ou utilizado alguma proposta de sequência didática

experimental ou, se já utilizaram alimentos com corantes naturais em alguma de

suas aulas experimentais da graduação. Com este questionário buscou-se saber

também suas opiniões, sugestões e criticas em relação ao uso da sequência

experimental proposta utilizando alimentos industrializados com corantes naturais,

no ensino das técnicas abordadas.

Além da elaboração, aplicação e avaliação da sequência de experimentos

nas disciplinas de QOE nos cursos de Farmácia, Química e Engenharia Química da

UFF utilizando os corantes alimentícios curcuminóidicos, foi realizada também a sua

divulgação científica para 30 alunos do nível médio do Instituto de Educação

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

36

Professor Ismael Coutinho (IEPIC), localizado na cidade de Niterói. A divulgação da

Química baseada na sequência didática elaborada foi realizada no dia 23 de outubro

de 2014, como parte de uma oficina composta por várias atividades/experimentos,

com a temática Química na Cozinha. Essa oficina foi elaborada por professores e

alunos vinculados ao programa PIBID/UFF, e ocorreu durante a semana pedagógica

do IEPIC. Já a atividade sobre o nosso tema foi elaborada usando-se materiais do

cotidiano, e executada pela extração descontínua de corantes usando alimentos

(caldo de galinha, sopa desidratada e pó de cúrcuma/açafrão), seguida de CCD

desses extratos e revelação com luz negra.

Resumindo, as etapas envolvidas no desenvolvimento do trabalho, temos:

a. Formação da equipe envolvida no projeto;

b. Levantamento bibliográfico;

c. Elaboração dos experimentos para a sequência didática;

d. Discussão e avaliação prévia da sequência de experimentos pelos

integrantes da equipe;

e. Elaboração e aplicação de um questionário diagnóstico aos alunos dos

cursos de graduação em Química, Farmácia e Engenharia Química da UFF,

buscando saber o conhecimento prévio desses alunos aos temas de extração e

CCD;

f. Aplicação da sequência experimental, nas turmas dos cursos de

graduação citados, da seguinte forma: 1ª aula – extração contínua (por Soxhlet) e

descontínua (rápida), 2ª aula – evaporação do solvente, 3ª aula – cromatografia em

camada delgada;

g. Elaboração e aplicação de um questionário avaliativo da sequência

experimental para aos mesmos alunos desses cursos;

h. Análise dos resultados.

i. Divulgação científica no IEPIC.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

37

4. Resultados e discussão

Os resultados e a discussão deste trabalho seguem divididos em quatro

tópicos. No primeiro discutiremos os resultados da etapa de elaboração dos

experimentos para a sequência didática e no segundo os resultados da aplicação e

análise da sequência de experimentos. No quarto tópico será proposta a sequência

didática para ensinar as técnicas experimentais de extração por Soxhlet, evaporação

a vácuo e CCD a partir dos corantes alimentícios curcuminóides e por fim o quarto

tópico discutirá a divulgação científica da sequência didática para alunos de nível

médio. Por outro lado, o procedimento detalhado de cada um dos experimentos que

constituíram a sequência didática elaborada pode ser encontrado no tópico 6 –

Experimental, p. 60.

4.1. Elaboração dos experimentos para a sequência didática

Para desenvolver os experimentos a serem utilizados em sala de aula foram

selecionados os seguintes alimentos/temperos industrializados: sopa desidratada,

caldo de galinha em pó e açafrão-da-terra (cúrcuma em pó) (Figura 7). Estes

alimentos foram encontrados em mercados locais, e escolhidos por apresentarem o

corante natural cúrcuma/curcumina em sua composição.

Figura 7. Imagem dos alimentos industrializados utilizados na sequência experimental (fonte: autora

desse trabalho)

Inicialmente as amostras de sopa, caldo de galinha e cúrcuma foram

expostas separadamente ao micro-ondas sob baixa potência, por 15 minutos, com

intervalos de 30 em 30 segundos com o objetivo de retirar substâncias voláteis

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

38

(WAKTE et al., 2011). Em seguida foi realizada a extração por Soxhlet de cada uma

das amostras de alimentos utilizando metanol como solvente e com uma duração de

2 horas.

Com o objetivo de diminuir a toxidez do solvente usado nos experimentos e

facilitar a preparação da amostra, realizou-se uma nova etapa de extrações por

Soxhlet utilizando agora etanol como solvente e sem prévia retirada de substâncias

voláteis por micro-ondas.

Na etapa de retirada de solvente por rotavapor, também pode ser utilizada

aparelhagem de destilação simples à pressão atmosférica ou até mesmo

evaporação do solvente a temperatura ambiente, caso haja tempo hábil. O

evaporador rotatório se mostrou rápido e eficiente na retirada do metanol/etanol dos

extratos dos alimentos, como já era de se esperar.

As quantidades obtidas e o rendimento de cada extração por Soxhlet

encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4. Quantidades de amostras de alimentos utilizadas nas extrações, massa de extrato e

rendimento.

Amostra

utilizada (g)

Extratos

(g)

Rendimento

(%)

Cúrcuma em pó 44,6854 Metanólico: 2,0521 4,59

29,6284 Etanólico: 2,0305 6,85

Sopa desidratada 41,3186 Metanólico: 2,4039 5,82

43,4131 Etanólico: 1,9331 4,45

Caldo de galinha 44,0376 Metanólico: 4,6558 10,57

38,1750 Etanólico: 1,7902 4,68

De acordo com a Tabela 4, os rendimentos dos extratos metanólicos e

etanólicos apresentam diferenças pouco relevantes tendo em vista a finalidade

destes experimentos. Como o objetivo principal não era a obtenção do maior

rendimento e sim a elaboração de um experimento que facilitasse a visualização e

compreensão da técnica pelos alunos, o uso do etanol se mostrou inicialmente mais

apropriado devido sua menor toxidez (SIGMA-ALDRICH, 2014b; SIGMA-ALDRICH,

2014c).

Após a concentração dos extratos por meio de rotavapor, foram realizadas

CCDs utilizando como eluente uma solução 5% de metanol em diclorometano e

como reveladores a luz branca, luz UV 254nm, “luz negra” (luz UV-A, 400 à 320 nm)

e solução 20% de H2SO4 em etanol. As imagens das placas cromatográficas foram

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

39

registradas pela autora desse trabalho. A partir da análise dos cromatogramas

obtidos pudemos observar claramente a presença dos três principais pigmentos

curcuminóides tanto nas CCDs dos extratos metanólicos (Figura 8) quanto dos

etanólicos (Figura 9) de sopa desidratada (sopa), caldo de galinha em pó (caldo) e

cúrcuma em pó (cúrcuma), confirmando, assim, que esses alimentos possuem

cúrcuma em sua composição. Além disso, a análise das CCDs mostrou que o etanol

foi tão eficiente quanto o metanol para a extração dos três pigmentos curcuminóides

principais, o que nos levou a escolher o primeiro como solvente mais adequado a

ser utilizado na sequência experimental e didática.

Figura 8. CCDs dos extratos metanólicos concentrados da sopa desidratada (sopa), do caldo de

galinha (caldo), do rizoma de cúrcuma em pó (cúrcuma) e do padrão curcumina (P). Eluente: mistura

de 5% de metanol em diclorometano. Reveladores: A) luz branca e luz UV 254nm (círculos); B) luz

negra – luz UV-A (400 à 320 nm); C) H2SO4 em EtOH (20%).

Figura 9. CCDs dos extratos etanólicos concentrados da sopa desidratada (sopa), do caldo de

galinha (caldo), do rizoma de cúrcuma em pó (cúrcuma) e do padrão curcumina (P). Eluente: mistura

de 5% de metanol em diclorometano. Reveladores: A) luz branca e luz UV 254nm (círculos); B) luz

negra – luz UV-A (400 à 320 nm); C) H2SO4 em EtOH (20%).

Comparando-se as imagens das CCDs em cada um dos reveladores nota-se

que a “luz negra” foi um ótimo revelador para os curcuminóides, pois mostra com

nitidez a presença das três manchas referentes a essas substâncias. Essa lâmpada,

de baixo custo, e que pode ser adquirida facilmente em mercados locais, é uma

lâmpada que emite luz na região do ultravioleta próxima ao visível (UV-A 400 à

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

40

320nm) e por isso não causa danos à saúde (HARRIS, 2014), podendo ser uma

ferramenta de fácil incorporação em aulas experimentais de Ensino Superior ou até

mesmo no Ensino Médio.

Além das extrações por Soxhlet foram realizadas extrações rápidas

(extração descontínua) com etanol, como outro exemplo de extração e como opção

para aulas com pouca disponibilidade de tempo. Foram realizados testes desta

extração usando placa de agitação sem aquecimento (por 20 minutos) e com

aquecimento (15 minutos). Foram realizadas CCDs com alíquotas dos extratos sem

e com aquecimento, utilizando solução 5% de metanol em diclorometano como

eluente. A análise das CCDs mostrou que ambos os procedimentos (com e sem

aquecimento) apresentaram igual eficiência de extração dos curcuminóides,

mostrando ser desnecessária a etapa de aquecimento no experimento.

Após concentração por rotavapor dos extratos obtidos conforme mencionado

acima, chegamos aos seguintes rendimentos: cúrcuma em pó 3,20%, sopa

desidratada 3,56% e caldo de galinha 2,83%. Esses valores foram menores que os

rendimentos das extrações por Soxhlet, porém significativos para aulas

experimentais com menor carga horária e suficientes para realização da prática de

CCD.

As cromatografias dos extratos obtidos nas etapas de extração rápida sem e

com aquecimento, não apresentaram diferenças entre si, porém, comparando-as

com as CCDs dos extratos concentrados por rotavapor, observaram-se manchas

mais nítidas. A concentração dos extratos por rotavapor é, portanto, necessária para

garantir uma melhor visualização do cromatograma, devido a maior nitidez que as

manchas apresentam após esse procedimento (Figura 10).

Figura 10. CCDs dos extratos concentrados da sopa desidratada (sopa), do caldo de

galinha (caldo), do rizoma de cúrcuma em pó (cúrcuma) obtidos na extração rápida e do padrão

curcumina (P). Eluente: mistura de 5% de metanol em diclorometano. Reveladores: A) luz branca e

luz UV 254nm (círculos); B) luz negra – luz UV-A (400 à 320 nm); C) H2SO4 em EtOH (20%).

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

41

A análise visual das placas cromatográficas já permite a identificação dos

curcuminóides a partir da comparação com mancha referente à curcumina purificada

e com as manchas referentes ao extrato da cúrcuma, mas o cálculo do Rf é um fator

teórico de grande importância ao aprendizado dos alunos e que dá mais evidência à

análise visual. Os fatores de retenção (Rf) calculados para 1, 2 e 3 nas CCDs,

usando solução 5% de metanol em diclorometano como eluente, são mostrados na

Tabela 5 e, a fórmula usada para o calculo está descrita na Figura 11.

Tabela 5. Valores de Rf calculados para 1, 2 e 3

Valor de Rf obtido nas CCDs dos extratos

Curcumina (1) 0,58

Desmetoxicurcumina (2) 0,40

Bisdesmetoxicurcumina (3) 0,26

Figura 11. Fórmula utilizada para o cálculo dos Rfs

A identificação da mancha da curcumina (1) pôde ser feita pela comparação

do Rf com o da mancha da curcumina purificada, mas a desmetoxicurcumina (2), de

Rf médio, e a bisdesmetoxicurcumina (3), de Rf menor (Figura 12, p.42), não tiveram

amostra padrão para comparação, porém sua identificação pode ser feita a partir de

comparação com o extrato da cúrcuma e com experimentos já realizados

encontrados na literatura (MOHAN; ANDERSON; MITCHEL, 2000). O que explica o

Rf de cada uma dessas substâncias é a interação de cada uma delas com a fase

estacionária de sílica, envolvendo ligações intra e intermoleculares. Estes são dois

aspectos teóricos que podem ser abordados com a utilização dos pigmentos

curcuminóides nas aulas experimentais.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

42

Figura 12. Curcumina (1), desmetoxicurcumina (2) e bisdesmetoxicurcumina (3) na placa

cromatográfica revelada na luz negra.

A Figura 13 mostra a diferença de interação dos curcuminóides com a sílica.

Essa diferença ocorre justamente pela variação no número de grupamentos

metoxilas presentes nesses pigmentos. A curcumina, por possuir dois grupos

metoxila, forma ligações de hidrogênio intramolecular, dos dois lados da molécula,

que são estáveis e preferenciais à ligação intermolecular com a sílica. Já a

desmetoxicurcumina por possuir apenas uma metoxila, forma ligação intra de um

lado da molécula possuindo, do outro lado, uma hidroxila livre pra fazer ligação de

hidrogênio intermolecular com a sílica, o que faz com que esta fique mais retida na

sílica apresentando menor Rf do que a curcumina. O mesmo raciocínio ocorre para

a bisdesmetoxicurcumina, que, como não possui grupo metoxila em nenhum dos

lados da molécula, fica com duas hidroxilas livres que fazem ligação de hidrogênio

com a sílica ficando ainda mais retida e, portanto, apresentando Rf ainda menor do

que os das substâncias anteriores.

Figura 13. Curcuminóides e afinidade com a sílica

sopa caldo cúrcuma P

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

43

Além do cálculo do Rf e interações intra e intermoleculares, outro aspecto

teórico que pode ser abordado durante as aulas experimentais de Química Orgânica

utilizando os pigmentos curcuminóides é o tautomerismo ceto-enólico que pode ser

observado na Figura 14.

Figura 14. Equilíbrio ceto-enólico nos curcuminóides

Por fim, a sequência experimental elaborada e aprovada pela equipe do

projeto consistiu nas seguintes etapas: 1ª aula - extração dos alimentos

industrializados por técnica de extração por Soxhlet com etanol por um período de 2

horas e/ou pela técnica de extração rápida por etanol com agitação por 20 minutos;

2ª aula - retirada parcial do solvente dos extratos por rotavapor; 3ª aula - separação

e análise dos pigmentos curcuminóides extraídos através da técnica de CCD,

utilizando a lâmpada de “luz negra” como revelador.

4.2. Aplicação e análise da sequência experimental

Após a escolha das variáveis de cada uma das técnicas experimentais que

compôs a sequência experimental, foi realizada uma avaliação diagnóstica com os

alunos das disciplinas de QOE I, V e IX dos cursos de Química, Farmácia e

Engenharia Química da UFF do ano letivo de 2014. Essa avaliação foi feita através

de um questionário diagnóstico contendo 11 perguntas que buscavam saber o

conhecimento prévio dos alunos sobre as técnicas de extração de amostras sólidas,

remoção de solvente e CCD.

O questionário diagnóstico aplicado antes das aulas que abordariam as

técnicas envolvidas na sequência, foi respondido pelos alunos em cerca de 10 à 15

minutos. Os Gráficos 1 a 3 mostram os resultados obtidos para as respostas das

questões 1-8 (Figura 15, p.44) do questionário diagnóstico dos 24, 23 e 58 alunos

dos cursos de Química, Engenharia Química e Farmácia, respectivamente,

totalizando 105 estudantes.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

44

1) Dentre as técnicas indicadas abaixo, quais podem ser utilizadas para extração de substâncias a partir de

amostras sólidas:

( ) Extração por solvente seguida de filtração

( ) Extração por solvente usando funil de separação

( ) Extração contínua por solvente usando Soxhlet

( ) Extração química/extração ácido base

( ) Extração usando arraste a vapor

( ) Não Sei

2) Como você poderia remover o solvente de uma solução de forma segura e rápida?

( ) Evaporador rotatório (Rotavapor)

( ) Aparelhagem de destilação simples ( ) Aparelhagem de filtração a vácuo

( ) Usando placa de aquecimento e copo de Bécher ou erlenmeyer ( ) Não Sei

3) A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) é considerada um método de:

( ) Separação ( ) Purificação ( ) Análise qualitativa ( ) Não Sei

4) Na CCD a fase móvel encontra-se no estado:

( ) Sólido ( ) Líquido ( ) Gasoso ( ) Não Sei

5) Na CCD a fase estacionária encontra-se no estado:

( ) Sólido ( ) Líquido ( ) Gasoso ( ) Não Sei

6) Apenas as amostras coloridas podem ser analisadas por CCD?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei

7) A CCD pode ser empregada no acompanhamento de uma reação?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei

8) As substâncias após a técnica de CCD podem ser reveladas (detectadas) usando:

( ) Lâmpada de luz ultravioleta ( ) Solução de H2SO4/etanol

( ) Iodo metálico ( ) Olho nu (para substâncias coloridas) ( ) Não Sei

Figura 15. Questões 1-8 do questionário diagnóstico

De forma geral, os resultados das respostas indicam que o conhecimento

prévio sobre extração de amostras sólidas e remoção de solvente, refletidos nas

questões 1 e 2, respectivamente, pode ser considerado muito baixo visto que o

número de acertos para os três cursos vão apenas de 0 à 4% na questão 1 e de 0 à

17 % na questão 2, sendo os maiores percentuais observados no curso de Química

representado no Gráfico 1, p.45.

Apesar do baixo número de acertos, que foi considerado apenas se o aluno

marcasse todas as alternativas corretas, vale ressaltar que na questão 1

aproximadamente 40% dos alunos dos três cursos apresentavam conhecimento

sobre a técnica de extração por solvente seguida de filtração para extração de

sólidos. Outro fato observado foi que grande parte dos alunos do curso de Química

(79%) declaram conhecer a técnica de extração por Soxhlet para extração a partir de

amostras sólidas, ao contrário dos cursos de Farmácia e Engenharia Química onde

poucos apresentaram esse conhecimento. Quanto à questão 2, uma parcela

considerável dos alunos de Engenharia Química (52%) julgaram conhecer a

aparelhagem de destilação simples como técnica usada na remoção de solvente de

uma solução e 79% dos alunos de Química assinalaram a alternativa

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

45

correspondente ao rotavapor como aparelhagem usada para o mesmo fim. Porém,

ainda na mesma questão notou-se que alguns alunos (12 à 20%) dos três cursos

avaliados possuem uma ideia equivocada sobre o uso de aparelhagem de filtração à

vácuo na remoção de solvente de uma solução.

O conhecimento prévio dos conteúdos básicos sobre CCD foi avaliado nas

questões 3 a 8. De forma geral podemos observar pelos Gráficos 1, 2 e Gráfico 3,

p.46 que os alunos mostraram baixo conhecimento prévio sobre essa técnica já que

um máximo de 39% dos alunos, verificados no curso de Engenharia Química,

acertaram as questões de 3 a 8. Os alunos do curso de Farmácia apresentaram o

conhecimento mais baixo sobre CCD visto que o número de acertos variou de 0 a 17

% apenas.

Gráfico 1. Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos do curso de

Química

Gráfico 2. Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos do curso de

Engenharia Química

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

46

Gráfico 3. Respostas das questões 1-8 do questionário diagnóstico pelos alunos do curso de

Farmácia

Com os dados obtidos para as questões de 9 a 11 do questionário

diagnóstico (Figura 16, p.47), podemos dizer que a grande maioria dos alunos

desses cursos nunca teve contato com experimentos de extração ou cromatografia

no Ensino Médio e nem com qualquer outro experimento usando alimentos. Dos

alunos do curso de Química (8%), Farmácia (9%) e Engenharia Química (9%) que

responderam sim na questão 9, citaram a extração dos seguintes materiais:

“cachaça”, “óleo de coco”, “DNA do morango”, “extrato de repolho roxo”, “DNA do

tomate”, “cloreto de sódio” e “tinta de caneta”. Porém, os mesmos não mencionaram

qual foi o método de extração usado.

Os alunos de Engenharia Química (9%) e Farmácia (5%) que responderam

sim na questão 10, disseram que as técnicas de cromatografia usadas no Ensino

Médio foram: “CLAE” (cromatografia liquida de alta eficiência), “CG” (cromatografia

gasosa), “cromatografia em papel de filtro”, “cromatografia de íons” e “cromatografia

em coluna por afinidade”. Lembrando que todos os alunos do curso de Química

disseram que não lembram ou que nunca usaram técnicas de cromatografia no

Ensino Médio.

Na última questão do questionário diagnóstico, questão 11, um percentual

um pouco maior de alunos (Farmácia: 19%; Química 17%; Engenharia Química: 9%)

responderam sim, afirmando ter feito algum experimento usando alimentos nos

Ensino Médio. Dentre os alimentos mencionados, os mais citados foram a batata e o

repolho roxo, porém outros alimentos como banana, ovos, vinagre, cana de açúcar,

leite, geleia, vegetais, tomate e cachaça também foram citados. Poucos desses

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

47

alunos mencionaram qual o experimento foi feito com esses alimentos, mas dos

poucos relatados temos: “quantificação de Ca2+ em leite”, “quantificação de

carboidrato em geleia”, “extração do DNA do tomate e do morango”, “detecção de

amido na batata” e “verificação de células vegetais”.

9) No ensino médio você já fez algum experimento em que você extraiu alguma substância? ( ) Sim; ( )Não; ( ) Não lembro Se a resposta for sim, diga qual: ______________________

10) No ensino médio você já fez algum experimento usando cromatografia? ( ) Sim; ( )Não; ( ) Não lembro Se a resposta for sim, diga qual: ______________________

11) No ensino médio você já fez algum experimento usando alimentos? ( ) Sim; ( )Não; ( ) Não lembro Se a resposta for sim, diga qual: ______________________

Figura 16. Questões 9-11 do questionário diagnóstico

A aplicação da sequência experimental foi realizada nas aulas seguintes à

diagnose. Lembramos que foi solicitado aos alunos que assistissem ao vídeo “

Vídeo-Aula: Cromatografia em Camada Delgada”, produzido pelo GQO-UFF

(EPIFÂNIO et al., 2014) para conhecimento inicial sobre CCD.

Das 12 turmas onde foi aplicado o questionário diagnóstico, 6 participaram

da sequência experimental, a saber: 1 turma da disciplina QOE I (curso de Química)

com 11 alunos, 2 turmas da disciplina de QOE XI (curso de Engenharia Química)

com 8 alunos e 3 turmas da disciplina de QOE V (curso de Farmácia) com 29

alunos. Ao todo 48 alunos fizeram a sequência de experimentos. A Figura 17 e a

Figura 18, p.48, mostram algumas imagens da aplicação da sequência experimental

em uma das turmas da disciplina de QOE I do curso de Química.

Figura 17. a) Imagem da explicação da sequência de experimentos usando os pigmentos

curcuminóides e alunos realizando o experimento de extração por Sohxlet com os alimentos; b)

Imagem da retirada de solvente do extrato por rotavapor feita pelos alunos

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

48

Figura 18. a) Técnica de CCD realizada pelos alunos; b) Imagem dos cromatogramas dos extratos de

alimentos, revelados em “luz negra”, feitos pelos alunos

Durante a aplicação da sequência experimental nas diferentes turmas, as

seguintes alterações foram feitas em relação aos experimentos:

I) Em todas as turmas o tempo de extração por Soxhlet teve que ser

reduzido para 40 minutos à 1:30 hora por falta de tempo hábil, porém o

fato não interferiu na eficiência da extração;

II) Em duas das turmas não foi realizada a etapa de retirada do solvente da

amostra (evaporação) pois o mesmo já havia evaporado de uma aula até

a outra;

III) Em uma das turmas, o rotavapor foi substituido pela aparelhagem de

destilação simples na etapa de retirada de solvente para concentrar a

amostra. A mudança foi realizada devido à disponibilidade de apenas um

aparelho de rotavapor para os alunos, o que tornava a aula muito

demorada;

IV) A sequência de experimentos foi realizada em 2 ou em até 1 única aula,

dependendo da turma e da didática de cada professor que aplicava a

sequência.

A Tabela 6, p.49, resume a execução da sequência experimental em cada

uma das 6 turmas onde foi aplicada:

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

49

Tabela 6 – Execução da sequência experimental nas turmas

Turma (curso)

Nº de alunos

Nº de aulas

Tempo de aula

Execução (distribuição das práticas)

DB - 2014.1 (Farmácia)

12 2 3 horas

Extração por Soxhlet (2:00h) e Extração rápida (20 minutos)

3 horas Rotavapor e CCD

GC – 2014.1 (Eng. Química)

2 2 3 horas

Extração por Soxhlet (2:00h) e Extração rápida (20 minutos)

3 horas Rotavapor e CCD

FB – 2014.2 (Farmácia)

11 1 3 horas Extração por Soxhlet (40 minutos),

Rotavapor e CCD

FC – 2014.2 (Farmácia)

6 2 3 horas

Extração por Soxhlet (1:30h) e evaporação do solvente

3 horas CCD

EC – 2014.2 (Eng. Química)

6 2 3 horas

Extração por Soxhlet (1:30h) e evaporação do solvente

3 horas CCD

QA – 2014.2 (Química)

11 1 4 horas Extração por Soxhlet (40 minutos),

Destilação Simples e CCD

Apesar das alterações mencionadas acima, todas as turmas chegaram ao

final dos experimentos com resultados satisfatórios. A cromatografia em camada

delgada do extrato dos alimentos (caldo de galinha e sopa desidratada) e do rizoma

da cúrcuma, obtidos pelos alunos foi muito eficiente. A revelação pela luz negra

permitiu que todos os alunos observassem claramente a separação dos três

pigmentos curcuminóides contidos na cúrcuma e nos alimentos, mesmo nos extratos

que ficaram ainda muito diluídos. Como visto na Tabela 6, em duas das turmas onde

a sequência foi aplicada, fez-se uso da extração rápida (extração descontínua), em

paralelo à extração por Soxhlet. A extração durou cerca de 20 minutos sem utilizar

aquecimento, obtendo-se extratos em concentração suficiente para a posterior

separação dos pigmentos e análise qualitativa através de CCD.

Durante a aplicação da sequência de experimentos, alguns conceitos

teóricos de Química Orgânica foram abordados. Com base nas moléculas

correspondentes aos três pigmentos amarelos, curcumina (1), desmetoxicurcumina

(2) e bisdesmetoxicurcumina (3), presentes nos alimentos, apresentou-se aos alunos

os seguintes tópicos: funções orgânicas; ligações de hidrôgenio intra e

intermolecular; e tautomeria ceto-enólica. Além desses conceitos foi abordado o

conteúdo teórico-experimental de cada uma das técnicas experimentais envolvidas

na sequência experimental, incluindo desde a fundamentação do processo de

extração por Soxhlet, de destilação por rotapavor, passando por interação dos

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

50

componentes da mistura com a sílica na CCD, fase móvel e estacionária e

finalmente cálculo de fator de retenção (Rf).

O questionário avaliativo foi aplicado nas mesmas 12 turmas onde foi

aplicado o questionário diagnóstico após todas as aulas que abordaram extração por

Soxhlet, destilação por rotavapor e CCD, sendo elas com ou sem sequência

experimental. A avaliação continha 12 questões (Figura 19), sendo 8 delas iguais às

do questionário diagnóstico, com o objetivo de avaliar a retenção do conteúdo pelo

aluno após terem feito ou não a sequência de experimentos. As outras 4 questões

foram mais específicas sobre o conteúdo de extração por Soxhlet (questão 2) e de

CCD (questões 9, 10 e 12), com a finalidade de avaliar se a sequência experimental

proposta transmite esses conhecimentos específicos de forma mais eficiente do que

quando comparado com aulas onde o método não foi aplicado.

1) Dentre as técnicas indicadas abaixo, quais podem ser utilizadas para extração de substâncias a partir de amostras sólidas: ( ) Extração por solvente seguida de filtração ( ) Extração por solvente usando funil de separação ( ) Extração contínua por solvente usando Soxhlet ( ) Extração química/extração ácido base ( ) Extração usando arraste a vapor ( ) Não Sei 2) Em relação a extração por Soxhlet pode-se afirmar que: ( ) Realiza várias extrações (sifonadas) com um único volume de solvente; ( ) É uma extração contínua; ( ) Não sei 3) Como você poderia remover o solvente de uma solução de forma segura e rápida? ( ) Evaporador rotatório (Rotavapor) ( ) Aparelhagem de destilação simples ( ) Aparelhagem de filtração a vácuo ( ) Usando placa de aquecimento e copo de Bécher ou erlenmeyer ( ) Não Sei 4) A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) é considerada um método de: ( ) Separação ( ) Purificação ( ) Análise qualitativa ( ) Não Sei 5) Na CCD a fase móvel encontra-se no estado: ( ) Sólido ( ) Líquido ( ) Gasoso ( ) Não Sei 6) Na CCD a fase estacionária encontra-se no estado: ( ) Sólido ( ) Líquido ( ) Gasoso ( ) Não Sei 7) Apenas as amostras coloridas podem ser analisadas por CCD? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei 8) A CCD pode ser empregada no acompanhamento de uma reação? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei 9) O fator de retenção (Rf) de uma substancia, na CCD, é calculado de qual forma? ( ) Rf = dm / ds ; ( ) Rf = ds / dm ; ( ) Não sei. Onde: dm: distância percorrida pela fase móvel ds: distância percorrida pela substância

10) O Rf ideal em uma CCD deve ter o valor: ( ) Rf > 1; ( ) 1 < Rf < 2; ( ) Rf > 0,6 ; ( ) 0,3 < Rf < 0,6 ; ( ) Não Sei. 11) As substâncias após a técnica de CCD podem ser reveladas (detectadas) usando: ( ) Lâmpada de luz ultravioleta; ( ) Solução de H2SO4/etanol; ( ) Iodo metálico; ( ) Olho nu (para substâncias coloridas); ( ) Não Sei. 12) Quais afirmativas abaixo estão corretas levando em conta a realização de uma CCD? ( ) O nível de eluente na cuba cromatográfica não deve alcançar o ponto de aplicação da amostra. ( ) O solvente utilizado para solubilizar a amostra tem que ser o mesmo da fase móvel. ( ) A substância de menor Rf é a que possui maior afinidade com a fase estacionária. ( ) Não Sei.

Figura 19. Questões 1-12 do questionário avaliativo

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

51

No Gráfico 4, estão representados os percentuais de acertos das questões 1

à 12 dos questionários avaliativos dos alunos que fizeram e que não fizeram a

sequência experimental. Cabe ressaltar que foi considerada como certa a questão

em que o aluno assinalava todas as alternativas corretas. Já a alternativa Não Sei foi

considerada como erro, já que evidencia o desconhecimento do indivíduo sobre o

assunto.

Gráfico 4. Percentual de acertos das questões 1-12 do questionário avaliativo pelos alunos que

fizeram e que não fizeram a sequência experimantal

Analisando o Gráfico 4 e ainda comparando-o com os Gráficos 1, 2, p.45 e

Gráfico 3, p.46, referentes às respostas dos questionários diagnósticos, pode-se

dizer que:

I) Sobre o conteúdo geral de extração de amostras sólidas observou-se

que a retenção do conhecimento de ambos os grupos de alunos (com e

sem sequência experimental) foi fraca tendo em vista o baixo percentual

de acertos na questão 1. Ainda assim, os alunos que não fizeram a

sequência obtiveram um percentual de acertos um pouco mais elevado

que os alunos que a fizeram, o que sugere algum problema na

abordagem do tema extração durante a sequência. No entanto, na

questão 2, específica sobre a técnica de extração por Soxhlet que foi

aplicada na sequência de experimentos, o maior percentual de acertos

para os alunos que fizeram a sequência , comprova a eficácia do uso do

método proposto para o ensino dessa técnica, mas também deixa claro

que, durante a sequência, deve-se atentar em abordar a técnica de

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

52

extração por Soxhlet não como uma técnica isolada, mas sim inserida

num conjunto de técnicas utilizadas para extração de amostras sólidas.

II) Sobre o conteúdo de retirada de solvente de amostras sólidas, avaliado

através da questão 3, notou-se também uma baixa retenção do

conhecimento geral para ambos os grupos de alunos (< 20%). No

entanto, apesar de baixo, os alunos que fizeram a sequência de

experimentos apresentaram maior percentual de acertos do que os não

fizeram, mostrando sua melhor eficácia. Nesta mesma questão pode-se

observar também, que 79% dos alunos com sequência experimental

assinalaram a alternativa correspondente ao evaporador rotatório, como

aparelhagem rápida e segura para retirar solvente de amostras sólidas,

porém menos que 20% marcaram as outras alternativas corretas sobre o

tema. Mais uma vez esses resultados nos remetem a necessidade de

abordar a técnica em sala de aula de forma a associá-la com um grupo

de técnicas que possuem a mesma finalidade.

III) Já sobre o conteúdo básico de CCD houve ótima retenção do

conhecimento, visto pelo percentual de acertos das questões 5 à 8, tanto

para os alunos que fizeram a sequência de experimentos quanto para os

que não fizeram. Na questão 4, o percentual de acertos mais inferior

deve–se ao fato de que a maior parte dos alunos considerou a técnica de

CCD um método não apenas de separação, mas também de análise

qualitativa como muitas vezes é abordada em sala. Neste caso os alunos

com sequência experimental tiveram um resultado um pouco melhor.

Observando-se ainda os percentuais de acertos das questões 9, 10 e 12,

mais específicas sobre CCD, vemos que os alunos que participaram da

sequência experimental tiveram melhor retenção desses conteúdos do

que os alunos que não fizeram a sequência.

Diante da avaliação desses resultados, para melhorar ainda mais a proposta

de sequência experimental e didática e a aprendizagem dos conteúdos a partir dela,

é preciso passar um “feedback” desses resultados aos professores que se utilizaram

da sequência experimental, e até mesmo os que não utilizaram o método proposto,

buscando ressaltar para eles os pontos em que o conhecimento sobre os temas de

extração, retirada de solvente de amostras sólidas e CCD não foram bem

assimilados.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

53

Para os alunos que participaram da sequência de experimentos havia ainda

mais 3 perguntas (Figura 20) no questionário avaliativo. Essas perguntas buscaram

saber a opinião desses alunos em relação à sequência de experimentos que eles

realizaram utilizando sopas e caldos.

13) Em sua opinião a sequência didática usando sopas e caldos para explicar extração, evaporação/destilação e cromatografia:

( ) tornaram a aula mais interessante; ( ) me motivaram a saber mais sobre extrações; ( ) me motivaram a saber mais sobre cromatografia; ( ) me ajudou a compreender as técnicas; ( ) o tempo das aulas para executar os experimentos foram adequadas. 14) Se tiver qualquer comentário sobre a sequência didática e os experimentos, escreva abaixo.

15) Se tiver sugestões e críticas, escreva abaixo.

Figura 20. Questões 13-15 do questionário avaliativo aplicado aos alunos que fizeram a sequência

experimental

Analisando as respostas da questão 13, verificou-se que 70 % dos alunos

afirmam que o uso da sequência didática usando sopas e caldos tornou as aulas

mais interessantes. Também se observou que 56% disseram que o uso da

sequência com os alimentos ajudou a compreender as técnicas abordadas.

Entretanto, os alunos das primeiras turmas onde foi aplicada a sequência

experimental não assinalaram a última alternativa correspondente ao adequado

tempo de execução dos experimentos. O fato observado possivelmente ocorreu

devido ao tempo de 2 horas inicialmente proposto para a extração por Soxhlet que

excedeu o horário das aulas, tendo em vista que alguns professores necessitam de

cerca de 1:30 horas para introduzir e explicar a técnica antes de iniciar a execução

dos experimentos e que os alunos levam um tempo maior para montar a

aparelhagem por falta de prática. Deve-se ressaltar, porém, que esse erro foi

corrigido nas turmas seguintes de forma que o tempo de 3-4 horas de aula foi

perfeitamente adequado.

Na questão 14, aplicada às turmas que fizeram a sequência, os alunos

apresentaram alguns comentários como:

“Gostei da sequência e achei muito esclarecedor ver as duas práticas

seguidas.”

“Achei muito bacana e ajudou bastante a entender a CCD.”

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

54

“Aula muito interessante e produtiva.”

“Gostei muito de saber mais sobre substâncias presentes em nosso

cotidiano que antes passavam despercebidas.”

Esses comentários sobre a sequência de experimentos reforçam a ideia de

que os alunos se sentiram mais interessados e atraídos pelas aulas a medida que se

utilizou de materiais do cotidiano deles para explicar de forma sequencial as técnicas

abordadas no método proposto.

Ainda no questionário avaliativo dos alunos que fizeram a sequência de

experimentos, a questão 15 permitiu mencionar críticas ou sugestões sobre a

mesma. Desta forma os alunos fizeram comentários como:

“Tempo de duração dos experimentos excedeu as aulas.”

“Falar mais sobre o assunto na área da farmácia.”

“Usar mais amostra para extrair mais produto.”

Com exceção do primeiro comentário, que já foi considerado e reparado nas

turmas seguintes, as outras sugestões devem ser consideradas ao aplicar a

sequência já que torna o assunto e os experimentos mais atraentes para o aluno.

Por último, os 4 professores que utilizaram a sequência experimental em

suas aulas responderam a perguntas sobre o uso de sequências didáticas e de

corantes naturais nas aulas de graduação. Sobre o uso de sequências didáticas,

nenhum professor afirmou se utilizava outras sequências de atividades em suas

aulas da graduação, o que reafirma o fato de que as sequências didáticas ainda são

pouco utilizadas no ensino superior. Quanto ao uso de corantes naturais, os

professores disseram que já utilizaram em suas aulas da graduação os corantes

presentes em alimentos e temperos em geral, mas nunca haviam utilizado a

cúrcuma presente no caldo de galinha e na sopa desidratada comercial.

Aos professores foi perguntado ainda sobre a opinião deles em relação à

sequência de experimentos utilizado corantes alimentícios curcuminóidicos, e todos

os professores concordaram que: tornaram a aula mais interessante; motivaram os

alunos à saber mais sobre extrações; motivaram os alunos à saber mais sobre

cromatografia; ajudou os alunos a compreenderem as técnicas; o tempo das aulas

para executar os experimentos foi adequado. Além disso, comentários à parte foram

feitos destacando outros pontos positivos em relação à sequência proposta. Os

professores mencionaram a possibilidade de abordagem de diferentes tópicos

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

55

sequenciados, o que tornou o estudo mais produtivo e a ótima interação que o grupo

de alunos teve durante as aulas.

Diante das avaliações positivas de alunos e professores que participaram da

sequência de experimentos e da boa retenção dos conteúdos experimentais

específicos abordados nela, podemos dizer que a sequência de experimentos

utilizando os corantes curcuminóides presentes em alimentos industrializados é de

fato uma eficiente alternativa para o ensino das técnicas de extração por Soxhlet,

retirada de solvente por rotaevaporação e separação das substâncias por CCD, nas

disciplinas de QOE I, V e XI da UFF.

4.3. Proposta de sequência didática

Tendo as observações sobre melhoria da execução dos procedimentos

experimentais obtidas a partir da aplicação em sala de aula da sequência de

experimentos desenvolvida; a percepção da abordagem feita pelos professores ao

utilizar a experimentação em questão; a diagnose sobre o conhecimento prévio dos

alunos sobre as técnicas abordadas nos experimentos da sequência experimental; a

percepção referente ao aprendizado retido pelos estudantes; e as sugestões e

comentários dos alunos e professores relativos à sequência experimental aplicada,

propomos a seguinte sequência didática usando corantes alimentícios

curcuminóides para o ensino de Química Orgânica Experimental da UFF, conforme a

seguir:

1° Momento: discussão sobre as técnicas envolvidas na separação e análise

de substâncias, ressaltando a extração por Sohxlet, destilação simples, uso de

evaporador-rotatório, cromatografia em camada delgada e reveladores; assim como,

de seus respectivos conteúdos químicos, como por exemplo, interação

intermolecular, coeficiente de partição, ponto de ebulição, lei de Raoult e

fluorescência.

2° Momento: discussão sobre alimentos e corantes usando diversos

recursos, como vídeos, jornais, rótulos de produtos alimentícios, dentre outros,

correlacionando-os aos cursos que abordam a Química, como seu uso no ensino

(Licenciatura em Química), em pesquisa (Bacharelado em Química), seu uso como

medicamentos (Farmácia) e na sua obtenção industrial (Química Industrial e

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

56

Engenharia Química). A discussão deve considerar a interdisciplinaridade, a

contextualização e a inter-relação das áreas do conhecimento.

3° Momento: Aplicação da sequência de experimentos numa perspectiva

problematizadora.

4° Momento: Avaliação da aprendizagem (Revisão dos conceitos)/Aplicação

de um questionário para avaliação do conteúdo.

4.4. Divulgação científica da Química usando a sequência didática

A sequência didática proposta utilizando corantes alimentícios

curcuminóidicos foi apresentada a alunos do nível médio do Instituto de Educação

Professor Ismael Coutinho (IEPIC), localizado na cidade de Niterói. A sequência de

experimentos com os corantes curcuminóidicos foi apresentada para

aproximadamente 30 alunos das três séries do nível médio e foi realizada no

laboratório do colégio. Ao entrarem no laboratório os alunos recebiam uma cartilha

(Figura 21) contendo informações a respeito de cada uma das

atividades/experimentos que seriam demonstrados, e da qual a nossa sequência

didática fazia parte.

Figura 21. Imagem da capa da cartilha (ALMEIDA et al., 2014)

Devido à falta de equipamentos e pouco tempo hábil para a realização dos

experimentos a sequência realizada foi constituída apenas pela extração rápida

(descontínua) seguida de CCD. Além disso, como os experimentos seriam

apresentados para alunos de Ensino Médio, procurou-se utilizar outros materiais do

seu cotidiano visando aproximar ainda mais estes experimentos à realidade desse

aluno. Para isso substituiu-se as vidrarias de laboratório, como a cuba

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

57

cromatográfica, béqueres e Erlenmeyers, por vidros de geleia ou maionese.

Também foram substituídos o papel de filtro e capilar utilizados na CCD por filtro de

papel para café e tubos internos de caneta sem tinta. A Figura 22 mostra imagens

da utilização desses materiais durante o procedimento.

Figura 22. a) Extração dos pigmentos curcuminóides dos alimentos com etanol 46° em frascos de

geleia. b) Aplicação dos extratos na placa de sílica utilizando tubo de caneta como capilar. c) Eluição

da placa cromatográfica em um frasco de maionese com filtro de papel.

Ao iniciar a apresentação foi perguntado aos alunos se todos conheciam ou

já haviam consumido os três alimentos/temperos ali presentes (caldo de galinha,

sopa desidratada e cúrcuma em pó). A maioria deles respondeu positivamente para

o caldo de galinha e a sopa, mas alguns afirmaram que não tinham conhecimento

sobre a cúrcuma em pó. Desta forma foi explicado a eles um pouco sobre esse

corante natural muito utilizado na indústria alimentícia. Pediu-se a eles, então, que

verificassem os ingredientes da sopa e do caldo de galinha no verso do pacote e

nesse momento todos viram a indicação da presença da cúrcuma na composição

desses alimentos.

Nesse sentido perguntou-se a eles se saberiam como comprovar a presença

desse corante nos alimentos. Diante da falta de resposta indicamos a técnica de

CCD como método de separação de substâncias utilizada para este fim,

mencionando que é uma técnica muito utilizada nos laboratórios de Química,

inclusive das grandes empresas. Buscou-se então saber o interesse deles pela área

de Química, e muitos disseram achar interessante e alguns já até pensaram nela

como futura profissão.

Depois de inserir os alunos num contexto, iniciou-se a parte prática.

Mostrou-se o processo de extração dos alimentos com etanol que estava ocorrendo

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

58

nos frascos de geleia. Em seguida mostrou-se como era feita a técnica de CCD

recolhendo um pouco do sobrenadante de cada frasco, com o auxilio do “capilar” e

aplicando-se na placa de sílica. A placa foi colocada para eluir no frasco de

maionese utilizando uma solução de 5% de metanol em diclorometano e os alunos

então observaram o procedimento de separação das substâncias (Figura 23 a).

A maioria dos alunos mostrou-se interessada e atenda às explicações e ao

procedimento experimental. O momento de revelação do cromatograma com a luz

negra foi o momento de maior admiração para eles ao verem as manchas

correspondentes aos três pigmentos curcuminóides, presentes nos alimentos,

florescerem (Figura 23 b). Ao observarem as três manchas amarelas fluorescentes

presentes na cúrcuma na mesma altura da placa que as outras três manchas

amarelas fluorescentes do caldo de galinha e da sopa, eles chegaram à conclusão

de que existe de fato a cúrcuma na composição destes alimentos.

Figura 23. Alunos do colégio IEPIC: a) acompanhando a eluição da placa; b) observando a revelação

do cromatograma em “luz negra”

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

59

5. Conclusão

Neste trabalho desenvolveu-se uma sequência de experimentos utilizando

alimentos industrializados contendo corantes curcuminóidicos que demostraram ser

substâncias interessantes para o ensino de práticas experimentais e de alguns

conceitos teóricos abordados nas disciplinas de Química Orgânica Experimental

(QOE) I, V e XI da UFF. A sequência experimental desenvolvida consistiu em: 1ª

aula - Extração contínua (extração por Soxhlet – 2 horas) ou extração descontínua

(extração rápida – 20 minutos) dos pigmentos curcuminóidicos contidos nos

alimentos seguida de; 2ª aula - evaporação do solvente por evaporador rotatório e

por fim; 3ª aula - CCD dos extratos obtidos. Todos os experimentos se mostraram

eficientes para a observação clara das técnicas. Escolheu-se como solvente de

extração o etanol, por ser tão eficiente na extração dos pigmentos quanto o metanol

e ainda ter menor toxidez. Como revelador para a CCD escolheu-se radiação da

lâmpada de “luz negra” (320 à 400 nm) que se mostrou um excelente revelador para

os curcuminóides além de ser menos prejudicial à saúde do que as lâmpadas de UV

comumente utilizadas nos laboratórios.

Os questionários diagnósticos respondidos pelos 105 alunos (12 turmas) das

disciplinas de QOE I, V e XI dos cursos de Química, Farmácia e Engenharia

Química, respectivamente, da UFF do ano de 2014, indicaram um conhecimento

prévio muito baixo sobre técnicas de extração de sólidos, retirada de solvente de

amostra sólida e CCD. A partir da diagnose também se pode concluir que no Ensino

Médio poucos desses alunos tiveram contato com experimentos de extração ou

cromatografia, porém um percentual um pouco maior, apesar de ainda baixo (<20%),

afirma que ao menos já realizaram algum experimento utilizando alimentos no

Ensino Médio.

A partir da aplicação da sequência experimental para 6 das 12 turmas

mencionadas acima constatou-se a necessidade da sua reformulação reduzindo o

tempo da extração por Soxhlet para 40 minutos à 1:30 horas e realocando a prática

de rotaevaporação para a mesma aula de CCD. Deste modo, a sequência ocuparia

apenas 2 aulas, com a possibilidade de realização das três práticas em até 1 única

aula dependendo do andamento das atividades em sala de aula. Confirmou-se

também que o uso da destilação simples pode ser uma alternativa na falta de

rotavapores, apesar disso, constatou-se que o processo de evaporação do solvente

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

60

a pressão atmosférica torna desnecessária a sua evaporação por rotavapor ou

destilação simples, porém é necessário que haja tempo hábil para tal.

O questionário avaliativo aplicado à todas as 12 turmas (incluindo as que

não fizeram a sequência experimental) permitiu concluir que a sequência de

experimentos utilizando os corantes curcuminóides possibilitou um processo de

ensino-aprendizagem bastante eficiente das técnicas de extração por Soxhlet,

rotaevaporação e CCD, mas é necessário que, durante a sequência didática, cada

uma destas técnicas não sejam abordadas como única, mas sim inseridas num

conjunto de técnicas que possuem a mesma finalidade.

Além da eficiência no ensino das técnicas de extração por Soxhlet,

rotaevaporação e CCD, o uso da sequência experimental, de acordo com os alunos,

possui o diferencial de atrair seu interesse. A sequência possui ainda, segundo os

professores, a capacidade de promover uma ótima interação entre os alunos e o

estudo, além de permitir a abordagem de diferentes tópicos, tornando a aula mais

produtiva.

A divulgação científica deste trabalho, realizada no colégio IEPIC, mostrou

como pode ser interessante o ensino de experimentos não muito apresentados no

Ensino Médio, como é o caso da CCD, a partir do uso da sequência didática com

corantes curcuminóides contidos em alimentos industrializados. Os 30 alunos que

participaram do experimento se mostraram interessados e atentos à execução do

experimento e ficaram admirados com a etapa de revelação da CCD com a luz

negra. A sequência didática utilizada neste caso se resumiu à extração rápida com

etanol comercial seguida de CCD. Além disso, o uso de materiais como vidros de

geleia e tubos de tinta de caneta mostraram que esses experimentos podem ser

realizados em qualquer ambiente, em escolas com ou sem laboratórios, a partir de

equipamentos simples e de fácil aquisição.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

61

6. Experimental

6.1. Materiais

Todo o projeto foi elaborado e realizado no Laboratório de Produtos Naturais

(LaProMar) da Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ, Brasil) utilizando-se de

seus materiais e equipamentos. Os solventes etanol, metanol e diclorometano

utilizados foram adquiridos da empresa Vetec. Para a CCD foram utilizadas placas

de sílica Micro TLC/AL F-254, Silicycle. Os alimentos industrializados, cúrcuma

moída, (Kitano, Yoki, PR, Brasil), caldo de galinha em pó (Sazón, Ajinomoto, SP,

Brasil) e sopa desidratada (Vono, Ajinomoto, SP, Brasil) foram adquiridos em um

mercado local da cidade de Niterói (RJ, Brasil) e foram escolhidas por apresentarem

cúrcuma em sua composição. A lâmpada de luz negra (Foxlux, compacta, 27W),

utilizada como revelador para os cromatogramas, também foi comprada em mercado

local e o rotavapor utilizado para destilação dos solventes foi o Rotavapor R-114,

Buchi.

6.2. Experimentos que constituíram a sequência didática

6.2.1. Extração por Soxhlet e retirada de solvente por rotavapor

Inicialmente preenche-se um cartucho de celulose com uma das amostras

de alimentos (sopa desidratada, caldo de galinha em pó ou cúrcuma em pó) e

tampa-se o cartucho com um pedaço de algodão. Coloca-se o cartucho dentro de

um extrator de Soxhlet. Preenche-se 2/3 de um balão de 250 mL (cerca de 170 mL)

com etanol 95% e adiciona-se algumas pedras de porcelana. Acopla-se o balão ao

extrator de Soxhlet que em seguida é acoplado a um condensador de bolas resfriado

com água corrente. Por fim aquece-se o sistema com manta aquecedora por um

período aproximado de 2 horas. Retira-se o solvente dos extratos obtidos, por meio

do evaporador rotatório.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

62

6.2.2. Extração por solvente descontínua (extração rápida)

Em um frasco de Erlenmeyer adiciona-se cerca de 7 g de uma das amostra

de alimento (sopa desidratada, caldo de galinha em pó ou cúrcuma em pó).

Adiciona-se etanol 95% até cobrir toda a amostra (cerca de 15 mL). Agita-se a

mistura com magneto, por meio de placa de agitação, por 20 minutos. Por fim retira-

se parte do solvente do extrato através de rotavapor.

6.2.3. Cromatografia em camada delgada

Cobre-se a metade da parte interna de um béquer com um pedaço de papel

de filtro e adiciona-se uma solução 5% de metanol em diclorometano até que cubra

todo o fundo do béquer. Tampa-se o béquer. Corta-se uma placa cromatográfica de

sílica gel com cerca de 6cm x 2cm e marca-se uma linha à 0,5 cm da parte superior

e outra linha à 1,0 cm da parte inferior. Aplica-se a solução do extrato do alimento

obtido pelo aluno sobre a linha inferior da placa cromatográfica, com o auxilio de um

capilar. Espera-se secar por alguns minutos. Coloca-se a placa cromatográfica

dentro do béquer contendo a solução e tampa-se. Retira-se a placa assim que a

solução ascender até a linha superior marcada na placa. Espera-se secar por alguns

segundos e revelam-se os cromatogramas em luz ultravioleta 365nm e 254nm e luz

ultravioleta A (380 à 420 nm - luz negra).

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

63

7. Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA. Comitê de Especialistas da FAO/OMS em Aditivos Alimentares – JECFA. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/home/alimentos/!ut/p/c5/rY_LsqIwGISfxQcYE24BlhDlGmUA5bahEEQE4kGEE-Xpx6pZj7M5_S-7q7-_QQbedyu-r5diun7dih4kIEM5NjVLlAmEEOkY2qa0R5LvQdOBIAYJFPOwfQ320i1BCxm322Cm6zYdaD8879RpmoJKlMZumGlaOXXha9fucq4MYGRohOF0LldvTopy-A9p8L9fZB8S0OP_-h_6U5DJeWTyiuWa3LtT1qG9PViGBw3B5yE4_NDOzxz-xzgOyK4numYlXcO1Koi8wimyICFOREgEMUlf8vZhs40W5M_wVj7v47DrD4OLL_btpKl--pyymPSsUlptEqrljCTmc7-7c9-x0uVPIVTL-SHFarO4U4L3lse2hu4LvQdF0tvEI3OgtoZwur-OXbSIUcfiuomwAJsDYuoxKnS1mMeq7ugWkYHLpHZMxkwPnKKqUXsnsyM9WJo8Zhc3srmvR3w9VrhXCvrL34hJUFOwt77oGQz0m6DgPY9ThIu2Wv0B9Ncb5g!!/?1dmy&urile=wcm%3apath%3a/anvisa+portal/anvisa/inicio/alimentos/publicacao+alimentos/comite+de+especialistas+da+fao+oms+em+aditivos+alimentares++jecfa>. Acesso em: 20 mar. 2014.

______. Compêndio da legislação brasileira de aditivos alimentares. 2011. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a6809d8047457a1c86c0d63fbc4c6735/Compendio_marco_2011.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 30 jul. 2014b.

ALMEIDA, Amaryllis de Sousa et al. Química na cozinha. Guia de Oficinas. Pibid-Química UFF. 2014.

AMORIM, Nádia Ribeiro et al. Calorias e saúde: uma proposta de sequência didática no ensino de química. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE CIÊNCIA E

TECNOLOGIA, 3, 2012, Ponta Grossa. Disponível em: <http://www.sinect.com.br/anais2012/html/artigos/ensino%20qui/23.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2014.

BELTRAME, Karla Karine; ROMERO, Rafaelle Bonzanini; ROMERO, Adriano Lopes. Teste para iodo em sal de cozinha: interdisciplinaridade e contextualização para o ensino de conceitos químicos. In: ENCONTRO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA, 7, 2012, Campo Mourão. Disponível em: <http://www.fecilcam.br/nupem/anais_vii_epct/PDF/ENGENHARIAS/EPA/06_483_kkbeltrameartigocompleto.pdf>. Acesso em: 18 out. 2014.

CAVELLUCCI, Lia Cristina Barata. Mapas Conceituais: uma breve revisão. Disponível em: <http://www.virtual.ufc.br/cursouca/modulo_4_projetos/conteudo/unidade_3/MEC_eixo3-texto-MapasConceituais-UmaBreveRevis_o.pdf.>. Acesso em: 24 abr. 2014.

COLLINS, Carol Hollingworth; BRAGA, Gilberto Leite; BONATO, Pierina S. Introdução à métodos cromatográficos. 5 ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1993.

CORANTEC. Corantes naturais: uma tendência desafiadora. Aditivos & Ingredientes, 2013. Disponível em:

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

64

<http://www.insumos.com.br/aditivos_e_ingredientes/artigos/93.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2014.

COSTA, Kênia de Paula. O uso do açafrão-da-terra como indicador ácido-base no ensino de química. Brasília, 2011. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Química) – Instituto de Química, Universidade de Brasília, Brasília, 2011.

DARVESH, Altaf. S.; AGGARWAL, Bharat. B.; BISHAYEE, Anupam. Curcumin and Liver Cancer: A Review. Current Pharmaceutical Biotechnology, v. 13, n. 1, p. 218-228, 2012.

DEGANI, Ana Luiza G.; CASS, Quezia B.; VIEIRA, Paulo C. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola, v. 7, p. 21-25, 1998.

DIAS, Marcelo Vizeu ; GUIMARÃES, Pedro Ivo C.; MERÇON, Fábio. Corantes naturais: extração e emprego como indicadores de pH. Química Nova na Escola, v. 17, p. 27 - 31, 2003.

ENDRINGER, Denise C. et al. Identificação de polifenóis: sequência pedagógica para o ensino médio. Revista Virtual de Química, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 467-477, 2014. Disponível em: <http://www.uff.br/RVQ/index.php/rvq/article/view/545/432>. Acesso em: 16 set. 2014.

EPIFÂNIO, Rosângela de Almeida et al. Departamento de Química Orgânica. Material didático disponibilizado de disciplinas. Disponível em: <http://www.uff.br/organica/arquivos/horario.htm>. Acesso em: 12 out. 2014.

FERREIRA, Luiz Henrique; HARTWIG, Dácio Rodney; OLIVEIRA, Ricardo Castro de. Ensino Experimental de Química: Uma Abordagem Investigativa Contextualizada. Química Nova na Escola, v. 32, n. 2, p. 101-106, 2010.

FERREIRA, Wagner Pinheiro; SILVA, Antonio Denilson Leandro da; VIEIRA, Elizabeth do Rosário. Percepção de alunos do ensino médio sobre a temática conservação dos alimentos no processo de ensino-aprendizagem do conteúdo cinética química. Educación Química, v. 24, n. 1, p. 44-48, 2013.

FIGUEIREDO, Marcia Camilo et al. A temática “Drogas” no ensino de química. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, 15, 2010, Brasília. Disponível em: <http://www.xveneq2010.com.br/resumos/R0765-1.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2014.

FRACETO, Leonardo Fernandes ; LIMA, Sílvio Luís Toledo de. Aplicação da cromatografia em papel na separação de corantes em pastilhas de chocolate. Química Nova na Escola, v. 18, p. 46-48, 2003.

GASPAR, Alberto; MONTEIRO, Isabel Cristina de Castro Atividades experimentais de demonstrações em sala de aula: uma análise segundo o referencial da teoria de Vygotsky. Investigações em Ensino de Ciências, v. 10, n. 2, 2005.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

65

GHIRARDI, Marco et al. A teaching sequence for learning the concept of chemical equilibrium in secondary school education. Journal of Chemical Education, v. 91, p. 59-65, 2014.

HAMERSKI, Lidilhone; REZENDE, Michelle Jakeline Cunha; SILVA, Bárbara Vasconcellos da. Usando as Cores da Natureza para Atender aos Desejos do Consumidor: Substâncias Naturais como Corantes na Indústria Alimentícia. Revista Virtual de Química, v. 5, n. 3, 2013. Disponível em: <http://www.uff.br/RVQ/index.php/rvq/article/viewFile/469/320>. Acesso em: 16 ago. 2014.

HARRIS, Tom. Como funciona a luz negra. Disponível em: <http://www.aridesa.com.br/servicos/click_professor/italo_reann/3serie_ext_int/como_funciona_a_luz_negra_aula1.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2014.

JAYAPRAKASHA, G. K.; RAO, L. Jagan Mohan; SAKARIAH, K. K. Chemistry and biological activities of C-longa. Trends in Food Science & Technology, v. 16, n. 12, p. 533-548, 2005.

JENSEN, William B. The Origin of the Soxhlet Extractor. Journal of Chemical Education. v. 84, n. 12, 1913-1914, 2007.

JESUS, Edislei Maria de et al. A experimentação problematizadora na perspectiva do aluno: um relato sobre o método. Ciência em Tela, v. 4, n. 1, 2011. Disponível em: <http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/artigos/0111_guimaraes.pdf>. Acesso em: 26 out. 2014

JOINT FAO/WHO EXPERT COMMITTEE ON FOOD ADDITIVES – JECFA. Curcumin. FAO Food and Nutrition Paper 52, Specifications Template, 2003. Disponível em: <http://www.fao.org/ag/agn/jecfa-additives/specs/Monograph1/Additive-140.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2014.

KIOURANIS, Neide Maria Michellan; SOUSA, Aguinaldo Robinson de; SANTIN FILHO, Ourides. Alguns aspectos da transposição de uma sequência didática sobre o comportamento de partículas e ondas. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 9, n. 1, p. 199-224, 2010.

LEE, Jin Hwan; CHOUNG, Myoung-Gun. Determination of curcuminoid colouring principles in commercial foods by HPLC. Food Chemistry, v. 124, n. 3, p. 1217-1222, 2011.

LUCAS, Mônica et al. Indicador natural como material instrucional para o ensino de química. Experiências em Ensino de Ciências, v. 8, n. 1, p. 61-71, 2013.

MACEDO, Maria Erisfagna Ribeiro de et al. Jogo lúdico como ferramenta pedagógica no ensino de química. In: CONGRESSO NORTE NORDESTE DE

PESQUISA E INOVAÇÃO, 7, 2012, Tocantins. Disponível em: <http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/paper/viewFile/1683/1161>. Acesso em: 23 mai. 2014.

MAIA, Juliana de O. et al. Piaget, Ausubel, Vygotsky e a experimentação no ensino de química In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

66

DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS, 9, 2013, Girona. Disponível em: <http://congres.manners.es/congres_ciencia/gestio/creacioCD/cd/articulos/art_859.pdf>. Acesso em: 17 out. 2014.

MICHEL, Rosângela; SANTOS, Flávia Maria Teixeira dos; GRECA, Ileana Maria Rosa. Uma busca na internet por ferramentas para edução química no ensino médio. Química Nova na Escola, v. 19, p. 3-7, 2004.

MOHAN, Ram S.; ANDERSON, Andrew M.; MITCHELL, Matthew S. Isolation of Curcumin from Turmeric Journal of Chemical Education, v. 77, n. 3, p. 359-360, 2000.

MORÁN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Comunicação e Educação, v. 2, p. 27-35, 1995.

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2014.

OLIVEIRA, Eduardo Augusto Moscon et al. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Formação Docente e a Gestão Escolar In: SIMPÓSIO BRASILEIRO

DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO, 26, 2013, Recife. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/simposio26/1comunicacoes/EduardoAugustoMosconOliveira-ComunicacaoOral-int.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2014.

OLIVEIRA, Gabriele et al. O Uso da Cotidianização como Ferramenta para o Ensino de Química Orgânica no Ensino Médio. In: ENCONTRO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 1, 2012, Paraíba. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/revistas/enect/trabalhos/17362bb2b25f73d3c94a0853375157f9_598.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2014.

PEREIRA, Ademir de Souza; PIRES, Dario Xavier. Uma proposta teórica-experimental de sequência didática sobre Interações intermoleculares no ensino de química, utilizando variações do teste da adulteração da gasolina e corantes de Urucum. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, n. 2, p. 385-413, 2012.

PHARMA ELITE. Curcuma longa. Disponível em: <http://fitoterapia.pharmaelite.it/curcuma-longa-curcuma/>. Acesso em: 15 mar. 2014.

PINTÃO, Ana Maria; SILVA, Inês Filipa da. A Verdade sobre o Açafrão. In: WORKSHOP PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPÊUTICAS NOS TRÓPICOS, 1, 2008, Lisboa. Disponível em: <http://www2.iict.pt/archive/doc/A_Pintao_wrkshp_plts_medic.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2014.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2 ed.; Feevale, Universidade, Ed. Novo Hamburgo, 2013. Disponível em: <http://www.feevale.br/Comum/midias/8807f05a-14d0-4d5b-b1ad-1538f3aef538/E-

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

67

book%20Metodologia%20do%20Trabalho%20Cientifico.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2014.

RIBEIRO, Erika Louise B. et al. Paródias como ferramentas para o ensino/aprendizagem de química. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE

CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO AMBIENTE, 4, 2014, Niterói. Disponível em: <http://www.ivenecienciassubmissao.uff.br/index.php/ivenecienciassubmissao/eneciencias/paper/view/132/39>. Acesso em: 12 ago. 2014.

RICARDO, Elio Carlos; ZYLBERSZTAJN, Arden. Os parâmetros curriculares nacionais na formação inicial dos professores das ciências da natureza e matemática do ensino médio. Investigações em Ensino de Ciências, v. 12, n. 3, p. 339 - 355, 2007.

RONCA, Antonio Carlos Caruso. Teorias de Ensino: A contribuição de David Ausubel. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto: v. 2, n. 3, p. 91-95, 1994. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-389X1994000300009&script=sci_arttext>. Acesso em: 15 jun. 2014.

SALVADEGO, Wanda Naves Cocco. Programa de desenvolvimento educacional. Investigando os componentes presentes nos condimentos. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_wanda_naves_cocco_salvadego.pdf>. Acesso em: 18 out. 2014.

SANTANA, Marcelo da Fonsêca; CARLOS, Erenildo João. Regularidades e dispersões no discurso da aprendizagem significativa em David Ausubel e Paulo Freire. Aprendizagem Significativa em Revista, v. 3, n. 1, 2013. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/asr/?go=artigos&idEdicao=7>. Acesso em: 15 jun. 2015.

SANTOS, Éverton da Paz; SILVA, Bruna Cristina de França e; SILVA, Givanildo Batista da. A contextualização como ferramenta didática no ensino de química. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL "EDUCAÇÃO E CONTEPORANEIDADE", 6, 2012, Sergipe. Disponível em: <http://educonse.com.br/2012/eixo_06/PDF/39.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2014.

SANTOS, Mara Eliza dos; DEMIATE, Ivo Mottin; NAGATA, Noemi. Determinação simultânea de amarelo tartrazina e amarelo crepúsculo em alimentos via espectrofotometria UV-VIS e métodos de calibração multivariada. Ciencia e Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 4, 2010.

SANTOS, Rafaela Souza; NASCIMENTO, Valquíria Rodrigues do; NUNES, Simara Maria Tavares. A Química dos Alimentos e Aditivos: a Cinética Química Ensinada Sob a Perspectiva do Modelo CTS de Ensino. In: ENCONTRO NACIONAL DE

ENSINO DE QUÍMICA, 16, 2012, Salvador. Acesso em: 10 mai. 2014.

SIGMA-ALDRICH. Disponível em: < http://www.sigmaaldrich.com/brazil.html>. Acesso em: 14 ago. 2014a.

______. Alcool metílico PA ACS (MSDS). Disponível em: <http://www.sigmaaldrich.com/MSDS/MSDS/DisplayMSDSPage.do?country=BR&language=pt&productNumber=V003352&brand=VETEC&PageToGoToURL=http%3A%

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

68

2F%2Fwww.sigmaaldrich.com%2Fcatalog%2Fproduct%2Fvetec%2Fv003352%3Flang%3Dpt>. Acesso em: 04 ago. 2014b.

______. Etanol solução 70% aquosa (MSDS). Disponível em: <http://www.sigmaaldrich.com/MSDS/MSDS/DisplayMSDSPage.do?country=BR&language=pt&productNumber=02877&brand=FLUKA&PageToGoToURL=http%3A%2F%2Fwww.sigmaaldrich.com%2Fcatalog%2Fproduct%2Ffluka%2F02877%3Flang%3Dpt>. Acesso em: 04 ago. 2014c.

SILVA, A. D. L.; SILVA, I. R. A experimentação como ferramenta didática no ensino de química. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO QUÍMICA, 9, 2011, Natal. Disponível em: <http://www.abq.org.br/simpequi/2011/trabalhos/10-9939.htm>. Acesso em: 24 abr. 2014.

SILVA, José Luiz da et al. A utilização de vídeos didáticos nas aulas de química do ensino médio para abordagem histórica e contextualizada do tema vidros. Química Nova na Escola, São Paulo: Publicações Sociedade Brasileira de Química, v. 34, n. 4, p. 189-200, 2012.

SILVA, Rosaly Silveira da et al. Óleo essencial do limão no ensino de cromatografia em camada delgada. Química Nova, São Paulo: Publicações Sociedade Brasileira de Química, v. 32, n. 8, p. 2234-2237, 2009.

SILVA, Silvana Dias da; SILVA, Vanessa Mendes da; SOARES, Alessandro Cury. O cinema e os quadrinhos: ferramentas alternativas para o ensino de química. In: ENCONTRO DE DEBATES SOBRE O ENSINO DE QUÍMICA, 33, 2013, Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/edeq/issue/current>. Acesso em: 10 jun. 2014.

SOARES, Bluma Guenther; SOUZA, Nelson Ângelo de; PIRES, Dario Xavier. Quimica orgânica: teoria e técnicas de preparação, purificação e identificação de compostos orgânicos. Rio de Janeiro: Editora Guanabara S.A, 1988. 322 p.

SOARES, Márlon Herbert Flora Barbosa; SILVA, Marcus Vinicius Boldrin; CAVALHEIRO, Éder Tadeu Gomes. Aplicação de corantes naturais no ensino médio. Eclética Química, v. 26, 2001. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-46702001000100017>. Acesso em: 25 mai. 2014.

SOUZA, Jeisyanne Suélen Alves de; BATINGA, Verônica Tavares Santos. Validação de uma sequência didática sobre Produtos de Limpeza: análise de uma atividade experimental. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, 16, 2012, Salvador. Disponível em: <http://congres.manners.es/congres_ciencia/gestio/creacioCD/cd/articulos/art_396.pdf>. Acesso em: 21 set. 2014.

TONIAL, Ivane Benedetti; SILVA, Expedito Leite. A química dos corantes: uma alternativa para o ensino de química. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, Paraná: v. 1, 2008. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2008_uem_qui_artigo_ivane_benedetti.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2014.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2020. 5. 26. · Desenvolvimento de uma sequência didática usando corantes alimentícios curcuminóidicos para o ensino de química orgânica

69

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Curriculo Pleno: curso de Química. 2003

______. Departamento de Química Orgânica. Disponível em: <http://www.uff.br/organica/>. Acesso em: 27 abr. 2014a.

______. Departamento de Química Orgânica. Ementa, programa analítico e bibliografia das disciplinas do gqo por curso. Disponível em: <http://www.uff.br/organica/arquivos/disciplinas.htm>. Acesso em: 27 abr. 2014b.

VOGLER INGREDIENTS. Corantes. Food Ingredients Brasil, n. 2, 2009. Disponível em: <http://www.revista-fi.com/materias/106.pdf>. Acesso em: 12 ago.. 2014

WAGNER, Carl E. et al. Visually following the hydrogenation of curcumin to tetrahydrocurcumin in a natural product experiment that enhances student understanding of NMR spectroscopy. Journal of Chemical Education, n. 90, p. 930-933, 2013.

WAKTE, Pravin S. et al. Optimization of microwave, ultra-sonic and supercritical carbon dioxide assisted extraction techniques for curcumin from Curcuma longa. Separation and Purification Technology, v. 79, n. 1, p. 50-55, 2011.

WANG, Ying-Jan et al. Stability of curcumin in buffer solutions and characterization of its degradation products. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 15, n. 12, p. 1867-1876, 1997.