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Universidade Federal Fluminense Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Coordenação Geral de Pós Graduação Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde LUANA CARDOSO PESTANA PERFIL DE IDOSOS EM SITUAÇÃO DE READMISSÃO HOSPITALAR: implicações para a Enfermagem Gerontológica Niterói - RJ 2012

Universidade Federal Fluminense Escola de Enfermagem ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/831/1/LUANA CARDOSO PESTANA... · 13 LUANA CARDOSO PESTANA PERFIL DE IDOSOS EM SITUAÇÃO DE READMISSÃO

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12

Universidade Federal Fluminense

Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

Coordenao Geral de Ps Graduao

Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade

LUANA CARDOSO PESTANA

PERFIL DE IDOSOS EM SITUAO DE READMISSO

HOSPITALAR: implicaes para a Enfermagem Gerontolgica

Niteri - RJ

2012

13

LUANA CARDOSO PESTANA

PERFIL DE IDOSOS EM SITUAO DE READMISSO

HOSPITALAR: implicaes para a Enfermagem Gerontolgica

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Acadmico em

Cincias do Cuidado em Sade, da Escola de Enfermagem

Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial obteno do ttulo de MESTRE EM

ENFERMAGEM. rea de Concentrao: A Complexidade do

Cuidado em Enfermagem e Sade. Linha de Pesquisa: o

Cuidado nos Ciclos Vitais Humanos Tecnologias e

Subjetividades na Enfermagem e Sade.

Orientadora: Prof Dr. FTIMA HELENA DO ESPRITO SANTO

Niteri - RJ

2012

14

P 476 Pestana, Luana Cardoso.

Perfil de idosos em situao de readmisso hospitalar:

implicaes para a enfermagem gerontolgica / Luana Cardoso

Pestana. Niteri: [s.n.], 2011.

87 f.

Dissertao (Mestrado em Cincias do Cuidado em Sade) -

Universidade Federal Fluminense, 2011.

Orientador: Prof. Ftima Helena do Esprito Santo.

1. Enfermagem geritrica. 2. Idoso. 3. Readmisso do

paciente. 4. Servios de sade para idosos. I.Ttulo.

CDD 610.7365

15

PERFIL DE IDOSOS EM SITUAO DE READMISSO

HOSPITALAR: implicaes para a Enfermagem Gerontolgica

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em

Sade, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial obteno do ttulo de MESTRE EM ENFERMAGEM.

Aprovada em Niteri, 5 de dezembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

16

Agradeo todas as dificuldades que enfrentei.

Elas foram adversrias dignas e tornaram

minha vitria muito mais saborosa.

17

AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos avs, Antnio e Arminda, que se dedicam diariamente a cuidar, zelar e

proteger nossa famlia.

Ao meu companheiro, Fernando, que ao longo desta caminhada compartilhou das minhas

angstias, cansaos e humores. Obrigada por acreditar no meu potencial.

A Vida com voc torna-se Divina e emocionante.

Ao meu pai e minha medrasta, Lili, pelo carinho e pacincia.

minha me, que, apesar de distante, o Amor da minha Vida.

Ftima Helena, amiga e orientadora, que abraou comigo o desafio dessa pesquisa. Sua

dedicao e brilhantismo iluminam este trabalho. Sua amizade ilumina minha Vida.

s Profas. Dras. Clia Pereira Caldas, Jaqueline da Silva, Rosimere Ferreira Santana,

Patrcia dos Santos Claro Fuly e Selma Petra pelas contribuies em todas as avaliaes e

sugestes apontadas durante o Mestrado.

Aos colegas do Curso de Mestrado, em especial s amigas Analyane Santos e Andrea

Rodrigues, pelo incentivo, convvio e amizade.

Aos funcionrios do Arquivo Mdico do Hospital Universitrio Antnio Pedro, pelo rduo

trabalho de seleo dos pronturios.

Aos funcionrios da Ps-Graduao do Curso de Mestrado Acadmico em Cincias do

Cuidado em Sade.

Bioestatstica, Rosangela Martins, pela assessoria e competncia.

Aos idosos que participaram desta pesquisa, minha eterna gratido.

Muito obrigada!

18

RESUMO

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, com delineamento descritivo

retrospectivo e transversal, tendo como objetivo caracterizar idosos em situao de

readmisso hospitalar, associar tais caractersticas ao desfecho readmisso hospitalar e

discutir as implicaes para a Enfermagem Gerontolgica. A pesquisa foi realizada em um

hospital universitrio, localizado em Niteri, RJ. Os sujeitos foram 94 pacientes com idade

igual ou superior a 60 anos que, entre janeiro e dezembro de 2010, sofreram readmisso

hospitalar em enfermarias de clnica mdica. A mdia de idade foi de 72,3 10,7 anos, idosos

do sexo masculino, procedentes do Municpio de Niteri, RJ; casados, com mdia de 2,8 2,4

filhos e composio familiar de 2,8 1,1 pessoas, aposentados e com cuidador familiar. As

doenas prevalentes foram cardiovasculares, gastrointestinais, neoplsicas e respiratrias. A

maioria dos idosos apresentou at 2 comorbidades; o tempo de permanncia hospitalar foi de

19,9 18,8 dias; a mdia de internaes em 4 anos foi de 2 internaes, ocorrendo, em geral,

nos ltimos 12 meses precedentes a ltima internao; a maioria dos idosos apresentou

dependncia parcial ou total dos cuidados de Enfermagem, no recebeu orientaes de

Enfermagem para a alta hospitalar, realizou acompanhamento atravs do ambulatrio

hospitalar e utilizou servios de emergncia entre as internaes. A referida populao exige

mais cuidados de Enfermagem e por consequncia, maior conhecimento do processo do

envelhecimento e das peculiaridades do cuidado ao idoso com mltiplas patologias. Os fatores

de risco para readmisso entre idosos identificados foram internao prvia no ltimo ano e

tempo de permanncia hospitalar de 8 a 30 dias. Os resultados desta investigao fornecem

subsdios para o planejamento de programas de ateno sade do idoso no contexto

hospitalar e para acompanhamento comunitrio. Recomenda-se a capacitao dos

profissionais de sade e implantao de programas de planejamento de alta hospitalar, com

base em aes educativas que promovam o autocuidado, bem como orientaes aos

cuidadores, de forma integrada junto aos demais nveis de ateno. Tais intervenes tm o

propsito de otimizar a assistncia prestada, os recursos investidos sejam eles humanos,

materiais ou financeiros, diminuir as readmisses hospitalares e promover melhoria na

qualidade de vida do idoso e sua famlia.

Descritores: Enfermagem Geritrica; Idoso; Readmisso Hospitalar; Servios de Sade para

Idosos; Enfermagem.

19

SUMMARY

It is a study with quantitative approach, with retrospective descriptive and transversal profile,

having as objective to characterize elders in situation of hospital readmission, to associate

such characteristics to closing of readmission and to discuss the implications to the

Gerontology Nursing. The research was performed at a university hospital, located in Niteri,

RJ. The subjects were 94 patients who were 60 years old or more and that, between January

and December 2010, had experienced hospital readmission in medical clinical wards. The age

average was 72.3 10.7 years, male elderly patients, from the Niteri/ RJ; married, with an

average of 2.8 2.4 sons and family composition of 2.8 1.1 persons, retired and with

family caretaker. The prevailing illnesses were cardiovascular, gastrointestinal, neoplastic and

respiratory. Most of the elders had up to 2 comorbidities; the time of hospital stay was of 19.9

18.8 days; institutionalization average in 4 years was of 2 institutionalizations, generally

occurring in last 12 months preceding the last institutionalization; most of elders presented

partial or total dependency of the Nursing cares, did not received guidelines from the Nursing

for the hospital discharging, had follow-up through the hospital ambulatory and used

emergency services between the institutionalizations. The mentioned population requires

more Nursing care and, therefore, a better knowledge of the aging process and singularities of

the multiple-pathology elders care-taking. Risk factors of the readmission among identified

elders have been previous institutionalization in the last year and the term of hospital stay

from 8 up to 30 days. The results of this investigation provide subsidies to the planning of

health attention programs to the elders in the hospital context and to community follow up. It

is recommended the qualification of health professionals and implantation of hospital

discharge, based in educative actions that promote self-care, as well as guidelines to the care-

takers, in an integrated way in relation to the other levels of care-taking. Such interventions

have the objective to optimize the assistance offered and the resources invested being

humane, material or financial -, to reduce hospital readmissions and to promote the

improvement in life quality of elders and their families.

Descriptors: Geriatric Nursing; Elder; Hospital Readmission; Health Service for Elders;

Nursing.

20

RESMEN

Tratase de un estudio con abordaje cualitativo con delineamiento descriptivo y transversal,

teniendo como objetivo caracterizar ancianos en situacin de readmisin en el hospital,

asociar tales caractersticas al cerramiento readmisin en el hospital y discutir las

implicaciones para los enfermeros que actan en Gerontologa. La pesquisa fue realizada en

un hospital universitario, ubicado en Niteri, RJ. Los sujetos fueron 94 pacientes con edad

igual o superior a 60 aos que, entre enero y diciembre de 2010, han sufrido readmisin en el

hospital en enfermaras de clnica medica. La media de edad fue de 72,3 10,7 aos, ancianos

del sexo masculino, procedentes del municipio de Niteri, RJ; casados, con media de 2,8

2,4 hijos y composicin familiar de 2,8 1,1 personas, pensionados y con cuidador familiar.

Las enfermedades prevalentes han sido cardiovasculares, gastrointestinales, neoplsicas y

respiratorias. La mayora de los ancianos ha presentado hasta 2 morbosidades simultaneas; el

tiempo de permanencia en el hospital ha sido de 19,9 18,8 das; la media de internaciones en

4 aos fue de 2 internaciones, ocurriendo, en general, en los 12 meses antes de la ltima

internacin; la mayora de los ancianos ha presentado dependencia parcial o total de los

cuidados de los enfermeros, no ha recibido orientaciones de los profesionales de enfermara

para el da de dar de alta, ha realizado acompaamiento a travs del ambulatorio en el hospital

y ha usado servicios de emergencia entre las internaciones. La referida populacin exige ms

cuidados de los profesionales de enfermara y, as, mayor conocimiento del proceso de

envejecimiento y de las peculiaridades del cuidado al anciano con mltiples patologas. Los

factores de riesgo para readmisin entre ancianos identificados han sido internacin previa en

el ltimo ao y tiempo de permanencia en el hospital de 8 hasta 30 das. Los resultados de esa

investigacin fornecen subsidios para el planeamiento de programas de atencin a la salud del

anciano en el contexto del hospital y para acompaamiento comunitario. Recomendase la

capacitacin de los profesionales de salud y la implementacin de programas de planeamiento

de dar de alta, con base en acciones educativas que promuevan el autocuidado, bien como

orientaciones a los cuidadores en una forma integrada a los dems niveles de atencin. Tales

intervenciones tienen el propsito de optimizar la asistencia prestada, los recursos investidos -

sean humanos, materiales o financieros -, reducir las readmisiones en los hospitales y

promover la mejora en la cualidad de vida del anciano y su familia.

Descriptores: Profesionales de Enfermara Geritrica; Readmisin en el Hospital; Servicios

de Salud para Ancianos; Profesionales de Enfermara.

21

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuio de pessoas idosas em condio de readmisso hospitalar, segundo as

caractersticas demogrficas, HUAP. Niteri, janeiro dezembro, 2010, p.45.

Tabela 2 - Distribuio de pessoas idosas em condio de readmisso hospitalar, segundo as

caractersticas socioeconmicas, HUAP. Niteri, janeiro dezembro, 2010, p.47.

Tabela 3 - Distribuio de pessoas idosas em condio de readmisso hospitalar, segundo as

caractersticas da situao de sade relacionadas aos diagnsticos mdicos primrios e

secundrios, HUAP. Niteri, janeiro dezembro, 2010, p.50-51.

Tabela 4 - Distribuio de pessoas idosas em condio de readmisso hospitalar, segundo as

caractersticas das internaes hospitalares, HUAP. Niteri, janeiro dezembro, 2010, p.54.

Tabela 5 - Distribuio de pessoas idosas em condio de readmisso hospitalar, segundo as

caractersticas de utilizao dos servios de sade, orientaes para alta hospitalar e

encaminhamentos, HUAP. Niteri, janeiro dezembro, 2010, p.56.

Tabela 6 Variveis independentes associadas ao desfecho de readmisso hospitalar, HUAP.

Rio de Janeiro, 2010, p.59-60.

Tabela 7 Resultados da anlise de logstica de variveis independentes associadas ao

desfecho de readmisso hospitalar, HUAP. Rio de Janeiro, 2010, p.61.

22

SUMRIO

INTRODUO

O Tema e sua Contextualizao ..........................................................................12

Motivao para o Tema .......................................................................................16

Objeto de Estudo .................................................................................................17

Questes de Pesquisa ...........................................................................................17

Objetivo Geral .....................................................................................................17

Objetivos Especficos ..........................................................................................18

Justificativa ..........................................................................................................18

Relevncia do Estudo ..........................................................................................19

CAPTULO I: FUNDAMENTAO TERICA

O Ser Idoso ..........................................................................................................20

O Estudo do Envelhecimento ...............................................................................22

Conhecendo os conceitos: envelhecer, velho e idoso ..........................................23

O Idoso Frgil ......................................................................................................25

O Idoso Hospitalizado .........................................................................................28

O Idoso em Situao de Readmisso Hospitalar ................................................29

Cuidado de Enfermagem ao Idoso Hospitalizado ...............................................32

CAPTULO II: MTODO

Delineamento do Estudo.......................................................................................37

Campo de Estudo .................................................................................................37

Populao do Estudo ............................................................................................38

Variveis do Estudo .............................................................................................39

Coleta de Dados ...................................................................................................39

Organizao e Anlise de Dados .........................................................................41

Aspectos ticos da Pesquisa ................................................................................43

CAPTULO III: RESULTADOS E DISCUSSO

Caractersticas Demogrficas ..............................................................................45

Caractersticas Socioeconmicas ........................................................................47

Caractersticas da Situao de Sade ..................................................................50

Utilizao dos Servios de Sade ........................................................................56

Fatores Associados Readmisso Hospitalar .....................................................58

Implicaes para a Enfermagem Gerontolgica .................................................62

CONCLUSO ...................................................................................................67

REFERNCIAS ................................................................................................70

APNDICES

Apndice A: Formulrio de Coleta de Dados ......................................................80

Apndice B: Codificao para Banco de Dados ..................................................81

ANEXOS

Anexo A: Sistema de Classificao de Pacientes de Perroca ..............................83

Anexo B: Carta de Aprovao CEP/HUAP......................................................87

23

INTRODUO

A populao mundial, em sua maioria, experimenta um incremento da expectativa de

vida o qual tem gerado um rpido crescimento do nmero de idosos no mundo. Segundo a

Organizao das Naes Unidas (ONU, 1982) o perodo que compreende os anos de 1975 a

2025 pode ser considerado a Era do Envelhecimento. Nos pases desenvolvidos, este processo

vem ocorrendo de modo lento e gradativo. Entretanto, nos pases em desenvolvimento tem

avanado com maior rapidez. Este fato traduz-se em mais idosos, que, segundo Ruiz (2008),

demanda medidas sociais, econmicas e sanitrias que devem ser resolvidas em tempo hbil

para responder a estas novas necessidades.

O Brasil apresenta uma realidade congruente com o cenrio mundial atual, e encontra-

se em um processo de transio demogrfica e epidemiolgica avanadas. Segundo dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2002), na dcada de 1970, cerca de

4,95% da populao brasileira era composta por idosos, percentual que aumentou para 8,47%

na dcada de 1990, havendo a expectativa de alcanar 9,2% em 2010. Todavia, dados do

ltimo censo demogrfico (IBGE, 2010) confirmaram a existncia de mais 18 milhes de

idosos no Brasil, o equivalente a 10,8% de toda a populao. Estima-se que em 17 anos esse

nmero aumentar para 33 milhes, o que nos dar o posto de 6 pas em populao idosa do

planeta (BRASIL, 2008).

Em pesquisa realizada pelo IBGE, Perfil dos Idosos Responsveis pelos Domiclios no

Brasil (2002), importantes aspectos do perfil demogrfico da populao idosa foram

levantados. Alm de corroborar quanto ao crescimento exponencial da populao

envelhecida, esta pesquisa trouxe um dado relevante quanto ao segmento que mais crescer

relativamente, o das pessoas de 75 anos ou mais (49,3%), alterando a composio interna do

prprio grupo e revelando uma heterogeneidade de caractersticas deste segmento

populacional.

Alm do alargamento no extrato considerado muito idoso, a pesquisa apontou para

uma feminizao da populao idosa brasileira, que em 2000 j apontava para 55,1% da

populao total de idosos.

Camarano (2002) corrobora com este dado ao discutir as implicaes da feminizao

da velhice, uma vez que grande parte destas mulheres so vivas, vivem ss, no tem

experincia de trabalho formal e tem menor escolaridade. Nesta pesquisa evidenciaram-se

altas taxas de analfabetismo entre os idosos, porm os ndices tm diminudo. Em 1991 a taxa

24

de analfabetismo entre idosos era de 44,2%, havendo um decrscimo para 33,2% em 2002

acompanhado pelo aumento da proporo de idosos alfabetizados de 66,8%, no mesmo ano.

Aliado s mudanas do perfil demogrfico populacional, o Brasil tem experimentado

uma transio epidemiolgica, com alteraes relevantes no quadro de morbimortalidade. As

doenas infecciosas e parasitrias, antes responsveis por 40% das mortes registradas no pas,

hoje so responsveis por menos de 10% destas mortes (RADIS: Mortalidade nas capitais

brasileiras, 1930-1980). O oposto ocorreu em relao s doenas cardiovasculares que na

dcada de 50 representavam 12% das mortes e hoje representam mais de 40% do total de

mortes. Nesse contexto, Veras et al (2000, p.16), afirmam que:

Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de morbimortalidade tpico de

uma populao jovem, para um perfil caracterizado por enfermidades crnicas,

prprias das faixas etrias mais avanadas, com custos diretos e indiretos mais

elevados.

Assim, pode-se afirmar que a transio demogrfica est intimamente relacionada

transio epidemiolgica. A queda na taxa de mortalidade interfere nos grupos etrios mais

jovens; a queda da fecundidade altera a estrutura da pirmide populacional e, por fim, o

aumento da expectativa de vida expe os indivduos a fatores de risco associados s doenas

crnicas no transmissveis (DCNTs), ou seja, o foco da ateno que anteriormente estava

sobre as doenas infecto-contagiosas e parasitrias hoje coabita um cenrio onde se destacam

idosos com doenas caracterizadas pela sua cronicidade.

A maior incidncia das DCNTs pode levar os idosos perda da autonomia e da

capacidade funcional e cognitiva. O que pressupe o aumento dos custos hospitalares, uma

vez que a populao de idosos tem sido referenciada como a que mais utiliza os servios de

sade (60%) e a que mais ocupa leitos hospitalares, com taxas de hospitalizao de 242,12

habitantes/ano, e maior ndice de readmisso (uma em cada cinco), o que equivale a utilizao

de 26% dos recursos da sade (IBGE, 2004).

Segundo dados fornecidos pelo Sistema nico de Sade (SUS, 2002), 18,6% do total

de internaes apuradas pelas Autorizaes de Internao Hospitalar (AIH) foram registrados

na faixa etria de 60 anos ou mais de idade, para uma populao total de idosos de apenas

8,5%. Uma vez comparados com outros extratos etrios como na faixa de zero a 14 anos, cuja

populao corresponde a 29,6% do total da populao brasileira, suas taxas de internao

registraram aproximadamente 20,9%, ou seja, um percentual menor se comparado

proporo total da populao.

25

Estas mudanas no perfil demogrfico e epidemiolgico brasileiro trouxeram

questo do envelhecimento a necessidade de discutir e planejar aes direcionadas

populao idosa, nas diversas esferas, como as questes relativas previdncia social, os

direitos civis e, principalmente, no que se refere ateno a sade. A ampliao da discusso

sobre polticas sociais voltadas para este segmento culminou em 1994 com a primeira lei

voltada especificamente para a populao idosa.

A Poltica Nacional do Idoso (PNI), estabelecida em 1994 atravs da Lei n8.842

(BRASIL, 1994) criou normas para os direitos sociais dos idosos, garantindo autonomia,

integrao e participao efetiva como instrumentos de cidadania. Essa lei foi reivindicada

pela sociedade, sendo resultado de inmeras discusses e consultas ocorridas nos Estados, nas

quais participaram idosos ativos, aposentados, professores universitrios, profissionais da rea

de gerontologia e geriatria e vrias entidades representativas desse segmento que elaboraram

um documento, o qual se transformou no texto base de lei. A PNI trabalha eixos especficos

em reas de promoo e assistncia social, educao, sade, trabalho e previdncia social,

habitao e urbanismo, justia, cultura, esporte e lazer, trazendo como aes governamentais

desde o estmulo a criao de modelos alternativos de atendimento ao idoso, adequao

curricular que inclui o ensino de geriatria, reconhecida como especialidade clnica, alm da

criao das universidades abertas da terceira idade e acesso ao transporte, cultura e lazer.

A partir da PNI, as questes relativas sade dos idosos ficaram evidentes tanto

quanto dificuldade de organizar uma rede assistencial para o atendimento dessa populao,

que j se revelava to heterognea e complexa, devido a diversos fatores como a cronicidade

de suas patologias, maior incidncia de mltiplas comorbidades, maior consumo dos servios

de sade e necessidade de aes preventivas, de deteco precoce, controle e reabilitao dos

problemas de sade. Em dezembro de 1999, foi aprovada, atravs da Portaria 1395/GM, a

Poltica Nacional de Sade do Idoso (PNSI) que tem como propsito basilar a promoo do

envelhecimento saudvel, a preservao e/ou a melhoria, ao mximo possvel, da capacidade

funcional dos idosos, a preveno das doenas, a recuperao da sade daqueles que adoecem

e a reabilitao daqueles que venham a ter sua capacidade funcional restringida, de modo a

garantir-lhes permanncia no meio em que vivem exercendo de forma independente suas

funes na sociedade.

Parece evidente a necessidade de se pensar e concretizar aes voltadas

especificamente para a populao idosa, mas esta preocupao deve extrapolar o foco

curativista e consolidar-se na manuteno das capacidades do idoso para exercer atividades

26

fsicas, sociais e cidads, o que requer pensar novos modelos de ateno para alm do modelo

hospitalocntrico.

Assim, em 2001, a Secretaria de Estado de Assistncia Social, em parceria com

organizaes governamentais e no governamentais e ministrios setoriais, propuseram novas

modalidades de ateno ao idoso, que podero ser adequadas realidade de cada municpio,

atravs da Portaria 73/2001 (BRASIL, 2001). Os modelos de ateno ao idoso assim,

incluiriam a famlia natural, famlia acolhedora, residncias temporrias, centros-dia, casas-

lar, repblicas, institucionalizao, atendimento domiciliar e centros de convivncia,

entendendo ser fundamental a participao do idoso, da famlia, da sociedade, dos fruns e

dos Conselhos nas formas de organizao dos servios de ateno ao idoso.

Esta portaria foi complementada quando se estabeleceram as Redes Estaduais de

Assistncia Sade do Idoso (Portaria GM/MS n. 702/2002 e Portaria SAS/MS n. 249/2002),

organizadas por Hospitais Gerais e Centros de Referncia em Assistncia Sade do Idoso,

adequados a oferecer e integrar as modalidades assistenciais propostas.

Enfim, aps 7 anos tramitando no Congresso, o Estatuto do Idoso foi aprovado em

setembro de 2003 e sancionado pelo Presidente da Repblica no ms seguinte, ampliando os

direitos dos cidados com idade acima de 60 anos. Mais abrangente que a PNI, Lei de 1994, o

Estatuto instituiu penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidados da terceira

idade, alm de outras medidas, como atendimento preferencial no Sistema nico de Sade

(SUS), direito ao transporte coletivo, distribuio de medicamentos, etc.

Em 2006, a PNSI foi revista e ento estabelecida como Poltica Nacional de Sade da

Pessoa Idosa (PNSPI - Portaria GM/MS n. 2.528/2006) que tem como meta a ateno sade

adequada e digna para os idosos brasileiros principalmente, os considerados frgeis e/ou

vulnerveis, estabelecendo importante papel para a estratgia de sade da famlia (ESF). No

mesmo ano foi publicado o Pacto pela Sade do SUS (Portaria GM/MS 399/2006) em que a

sade do idoso foi elencada como uma das seis prioridades pactuadas entre as trs esferas de

governo no SUS.

Com vistas a atender tais diretrizes, os servios de sade envolvidos na ateno

primria, como as Unidades Bsicas de Sade (UBS) e os ambulatrios, realizam aes de

preveno que incluem educao sade, vacinao, deteco precoce de doenas crnicas

no transmissveis (DCNTs), entre outros.

Corroboram Loureno et al (2005), ao afirmarem que faz-se necessria a mudana no

paradigma de ateno sade dessa populao por meio do desenvolvimento de novos

modelos de ateno que contemplem a identificao, avaliao e o tratamento de idosos com

27

perfis funcionais variados, passveis de serem utilizados nas diferentes modalidades

assistenciais. Assim, dependendo de uma avaliao de risco, esse idoso pode ser encaminhado

para um grupo de convivncia, fazer acompanhamento clnico ou ser encaminhado para um

atendimento especializado.

Apesar de todos os esforos, uma pequena parcela de idosos parece destacar-se sob o

aspecto da vulnerabilidade que contribui para as estatsticas apresentadas quanto ao nmero

de internaes hospitalares, ocupao prolongada dos leitos e ndices de readmisso

hospitalar. A utilizao dos servios de sade, destacando-se as internaes hospitalares,

constitui-se um tema importante abordado nesta pesquisa, pois alm dos altos custos

envolvidos com este tipo de assistncia, a mesma parece no reverter em grandes benefcios

sade dos idosos (VERAS et al, 2000), havendo estudos, inclusive, que demonstram que o

idoso aps a alta hospitalar apresenta perdas na capacidade funcional que no existiam antes

da internao (SOUZA et al, 2010) com risco mais elevado para resultados de sade adversos

ou sndromes geritricas, o que o caracteriza como frgil (MINISTRIO DA SADE, 2006).

Portanto, o presente estudo tem como rea de interesse a sade do idoso e alia-se aos

estudos que buscam compreender as questes que envolvem a sua situao de sade,

especialmente no que se refere ao idoso frgil no cenrio hospitalar, trazendo discusso a

ausncia de modelos assistenciais existentes voltados para esse segmento populacional, bem

como reforar as perspectivas preconizadas pelas polticas de ateno ao idoso.

Motivao para o tema

A definio desta temtica tem suas razes em uma trajetria acadmica que esteve

voltada para as questes relativas sade do idoso. Desta forma, foram desenvolvidos estudos

com idosos nos cenrios asilar (PESTANA e ESPRITO SANTO, 2008) e ambulatorial

(PESTANA e CALDAS, 2009).

Hoje, na prtica profissional como enfermeira assistencial em unidade de clnica

mdica, guiada pela formao profissional em gerontologia, observa-se o expressivo nmero

de readmisses hospitalares entre idosos, que se destacam em relao s demais faixas etrias.

Principalmente no que se refere s causas de internao que nos idosos, em geral, esto

associadas a momentos de descompensao de processos patolgicos crnicos enquanto que

nas demais faixas etrias, as readmisses costumam ser programadas para exames

diagnsticos ou continuao de tratamento teraputico.

28

Nesta prtica, a Enfermagem entendida como arte de cuidar e tambm cincia cuja

essncia e especificidade incidem no cuidado em todos os ciclos vitais humanos,

individualmente, na famlia e/ou na comunidade de modo integral e holstico, no poderia

privar-se do cuidado ao idoso, enquanto especialidade.

A Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS, 1993) considera a Enfermagem

gerontolgica como sendo o estudo cientfico do cuidado de Enfermagem ao idoso,

caracterizado como cincia aplicada com o propsito de utilizar os conhecimentos do

processo de envelhecimento para o planejamento da assistncia de Enfermagem e dos

servios que melhor atendam promoo da sade, longevidade, independncia e ao nvel

mais alto possvel de funcionamento da pessoa.

Enquanto Enfermeira Gerontloga, ao observar o elevado nmero de readmisses

hospitalares de idosos, pode-se afirmar que este indicador tem um grande peso ao avaliarmos

as condies de sade desses idosos. O desfecho readmisso hospitalar pode ser indicativo de

fragilidade, est relacionado perda de capacidade funcional em diversos graus, interfere na

qualidade de vida, no aumento dos custos no tratamento das DCNTs, indicando a necessidade

de acompanhamento contnuo pela equipe de sade dessa clientela.

Portanto, olhar o idoso internado numa perspectiva gerontolgica implica em uma

abordagem integral atravs da avaliao ampla interdisciplinar e da interveno que

contemple a participao do idoso, famlia e comunidade, em todas as esferas do cuidado, seja

ela de promoo, preveno, tratamento ou reabilitao, num processo contnuo de cuidados.

Objeto de Estudo:

Idosos em situao de readmisso hospitalar.

Questes de Pesquisa:

Quais as caractersticas do idoso em condio de readmisso hospitalar?

Existe relao entre o perfil destes idosos e o desfecho readmisso hospitalar?

Objetivo geral:

Analisar a relao entre o perfil destes idosos e o desfecho readmisso hospitalar.

29

Objetivos Especficos:

Descrever as caractersticas demogrficas, socioeconmicas, de situao de sade e

utilizao de servios de sade de idosos em situao de readmisso hospitalar;

Discutir o perfil de pessoas idosas em relao situao de readmisso hospitalar e suas

implicaes para a Enfermagem Gerontolgica.

Justificativa

Ainda existem poucos estudos que tratem do tema readmisso hospitalar em idosos no

pas (CASTRO, CARVALHO e TRAVASSOS, 2005). Os estudos existentes coadunam com

a ideia de que os idosos sofrem mais readmisses, permanecem mais tempo no leito, tm

maior comprometimento da capacidade funcional, bem como demandam maiores gastos nos

servios de sade.

Paz (2004) acompanhou 164 idosos durante seis meses e verificou que 26,4% dos

idosos foram readmitidos em 30 dias e 41,2% foram readmitidos em trs meses de

acompanhamento.

Castro (2004) avaliou os resultados da Pesquisa Nacional de Amostras em Domiclio

(PNAD, 1998) e observou que o grupo etrio de 80 anos ou mais, apresentou o maior

coeficiente de internaes (18,7%) e que as internaes de idosos corresponderam a 16,5% do

total de internaes, no referido ano.

Alvarenga e Mendes (2003) verificaram em uma amostra de 262 idosos, um total de

502 readmisses no perodo de um ano. Os mesmos estudos sustentaram como fatores de

risco para readmisso hospitalar de idosos: neoplasias, internaes hospitalares de 16 a 30

dias e hospitalizao prvia no ltimo ano.

Devido ao alto custo do paciente no hospital, do nmero insuficiente de leitos e dos

riscos da internao, tem ocorrido que, a partir do momento em que as causas que levam o

idoso hospitalizao so sanadas, ele retorna para a famlia e para a comunidade, ainda com

problemas, precisando de assistncia domiciliar adequada (MARIN, 1999), sem planejamento

para alta hospitalar e sem preparao do familiar cuidador.

Veras et al (2000) colocam que os idosos no recebem uma abordagem mdica ou

psicossocial adequadas nos hospitais, no sendo submetidos tambm a uma triagem rotineira

para fins de reabilitao. Assim, pensar organizao dos servios de sade na ateno ao

30

idoso pressupe levar em considerao a cronicidade das patologias mais prevalentes nessa

populao e na construo de novos modelos assistenciais.

Relevncia do Estudo

Com desenvolvimento deste estudo espera-se conhecer o perfil dos idosos em situao

de readmisso hospitalar. Reconhecer o idoso frgil em situao de vulnerabilidade, que

necessita de assistncia especializada contnua, como preconiza a PNSPI, torna-se de

fundamental importncia, uma vez que, embora descritos em leis, contamos com limitadas

alternativas de modelos assistenciais de suporte disponveis na rede de ateno ao idoso como

os ambulatrios especializados e demais programas.

Como tambm preconizado, almeja-se um efetivo funcionamento dos sistemas de

referncia e contrarreferncia, e acredita-se que a readmisso hospitalar um indicador de

baixa resolutividade da rede de ateno bsica e dos modelos ambulatoriais. Na assistncia

hospitalar, a readmisso hospitalar pode ser entendida como indicador de fragilidade,

determinando a necessidade do idoso de continuao dos cuidados, aps a alta hospitalar.

Alm disso, inserido na Linha de Pesquisa do Mestrado Acadmico em Cincias do

Cuidado em Sade Cuidados nos Ciclos Vitais Humanos, Tecnologias e Subjetividade na

Sade este estudo pretende contribuir na ampliao dos conhecimentos gerontolgicos que

se organiza na Universidade Federal Fluminense, em especial na Escola de Enfermagem

Aurora de Afonso Costa, atravs do Ncleo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem

Gerontolgica (NEPEG), voltado para a pesquisa, ensino e prtica de Enfermagem

Gerontolgica.

31

CAPTULO I: FUNDAMENTAO TERICA

O SER IDOSO

As formas pelas quais a vida periodizada, as categorias etrias e o carter dos grupos

etrios construdos na sociedade so temas importantes a serem abordados para uma ampla

compreenso do processo do envelhecimento. Sabe-se que o envelhecimento no se revela

como algo estritamente orgnico, e sim, algo construdo culturalmente, com implicaes

econmicas, polticas e sociais.

Contudo, faz-se necessrio lembrar que pesquisas sobre estes temas geralmente

deparam-se com certas dificuldades, como enfatiza Barros (2000, p. 49), pois envolvem

caractersticas bem peculiares a esta problemtica, tais como: categorias culturalmente

produzidas, que tem como referncia processos biolgicos universais; questes que nas

sociedades ocidentais contemporneas passaram a ser problemas sociais; e temas em torno

dos quais se institucionaliza um discurso cientfico especializado.

Guedes (1994) enfatiza a importncia do estudo antropolgico no questionamento das

nossas prprias naturalizaes sobre as categorias de idade, no caso, mais especificamente,

aquela da velhice. No se trata de negar o processo biolgico do envelhecimento, mas de

deixar claro que este processo pode ser vivido de diferentes maneiras. Culturalmente, as

sociedades determinam ordens de significado, constituindo-se num quadro de referncia

fundamental que orienta a viso do mundo e a atuao das pessoas. De certo modo, como

coloca a autora, cada homem s construdo plenamente como tal no interior de uma cultura,

embora, no decorrer de sua vida, possa estar exposto, submetido ou relacionado a outras.

Antigamente, conhecamos termos como criana, jovem, adulto e velho. Hoje,

convivemos com inmeros termos e conceitos para designar pessoas que j viveram bastante

ou que esto na fase da vida, antes designada apenas como velhice. Dentre estes termos

podemos citar: pessoa de meia-idade, idoso, pessoa da terceira idade, maduro, etc.

Mas, qual seria a verdadeira razo para o surgimento de tantos termos? Por que os

nossos idosos preferem ser chamados de terceira idade e tendem a rejeitar serem chamados

de velhos ou ancios?

Segundo Neri e Freire (2000), uma das razes pode ser a existncia de preconceitos

em relao velhice, que se expressa em reaes de afastamento, desgosto, ridicularizao e

negao, por respostas de ingnua benevolncia e por prticas discriminatrias. Todas essas

32

atitudes traduzem preconceito. Na base da rejeio ou da exaltao acrtica da velhice, existe

uma forte associao entre esse evento do ciclo vital com a morte, a doena, o afastamento, a

dependncia e a incapacidade. Essa associao atravessou sculos e, mesmo hoje, quando so

tantos os recursos para retardar o envelhecimento e para prevenir doenas, muitos temem a

velhice.

Corroborando com esta ideia, Guedes (1994, p. 9) diz que:

Simplesmente ao substituir, por exemplo, a categoria velhice por terceira idade

no acrescenta qualquer preciso ao conceito. Ao contrrio, o eufemismo, tal como

chamar um negro de escurinho no Brasil, traz implcito o preconceito com relao

queles classificados como velhos.

Apesar das especialidades de geriatria e gerontologia serem relativamente novas, a

preocupao com a velhice e como combat-la nos acompanha h muito tempo. Beauvoir

(1990, p.8) fez referncia a um dos documentos mais antigos que comentam sobre a velhice,

escrito por Ptah-Hotep, filsofo e poeta egpcio, que no ano 2.500 a.C. dizia:

Quo penosa a vida do ancio! Vai dia a dia enfraquecendo, a viso baixa. Seus

ouvidos se tornam surdos, a fora declina, o corpo no encontra repouso, a boca se

torna silenciosa e j no fala. A velhice a pior desgraa que pode acontecer a um

homem.

E assim, por toda a histria da humanidade percebemos uma negao do

envelhecimento. O desejo de viver mais, mas no de ser velho.

Na era crist, Galeno com sua teoria sobre os temperamentos (fleugmtico, sanguneo,

colrico e melanclico) colocava que a senilidade seria a consequncia do desequilbrio entre

eles. At o sculo XV, como disse Anacreonte: Envelhecer perder tudo o que constitui a

doura da vida, referindo-se a questo do amor, da sexualidade e dos prazeres (PAPALO

NETTO, 2002).

Devido complexidade fisiolgica, psicolgica e social, seria muito difcil

compreender a velhice, delinear seu incio e at mesmo conceitu-la.

Segundo Cortelletti, Casara e Herdia (2004), do ponto de vista cientfico, a Biologia,

a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia desenvolveram vrias teorias com o objetivo de

compreender e explicar o envelhecimento. Utilizam-se como fatores explicativos o passar do

tempo (viso cronolgica); o desenvolvimento humano (continuum da vida); e a funo

(diminuio das capacidades fsicas e mentais). Muitos conceitos de velhice foram

33

formulados por estudiosos e tericos, entretanto, mesmo sem conceitos universalmente

aceitos, que esgotem esse entendimento, preciso tentar compreend-lo em todas as suas

dimenses.

O Estudo do Envelhecimento

O envelhecimento enquanto caracterizado como um estado patolgico, s estimulou

nossa sociedade numa tentativa muito mais de combat-lo do que de entend-lo. Hoje,

testemunha-se uma ampla e diversificada rede de investigaes, abrangendo desde o aspecto

primordial dos mecanismos celulares e moleculares que determinam o envelhecimento at

mudanas comportamentais que o indivduo e a sociedade, progressivamente, devero

assumir perante essa nova realidade populacional.

Pensar o idoso transcende a busca pela longevidade, onde emergem com fora maior

os aspectos sociais, econmicos e polticos que envolvem o processo de envelhecer. Assim,

estudar o envelhecimento implica em considerar quatro vertentes1

marcantes: a primeira,

chamada biolgica/comportamentalista, que aborda os processos fisiolgicos e bioqumicos

do corpo humano ao envelhecer enfatizando a inter-relao com os hbitos de vida e doenas

caractersticas da faixa etria; uma segunda viso, que podemos chamar de economicista

forjada no capitalismo, em que o idoso visto sob a questo das aposentadorias, do ser

improdutivo, que consome mais do que contribui e representa um fardo previdncia social; a

terceira sociocultural, abordada geralmente por cientistas sociais que colocam a velhice como

construo social, onde a sociedade define que prticas esto associadas a cada etapa da vida;

e a ltima, entendida como a viso para o futuro nos estudos de geriatria e gerontologia, que

a transdisciplinar, que, segundo Botelho, Coelho e Siqueira (2002, p.904):

onde a velhice percebida como um fenmeno natural e social que se desenrola

sobre o ser humano, nico, indivisvel, que, na sua totalidade existencial, defronta-se

com problemas e limitaes de ordem biolgica, econmica e cultural que

singularizam seu processo de envelhecimento.

Nesse sentido, atualmente a gerontologia ganha relevncia na abordagem do

envelhecimento por parte dos estudiosos, avanando da perspectiva biolgica centrada nas

1 Termos em itlico foram termos utilizados por: BOTELHO, M.I.V.; COELHO, F.M.G.; SIQUEIRA, R.L. de. A

velhice: algumas consideraes tericas e conceituais. Rev. Cincia e Sade Coletiva. 7(4), 2002. p. 899-906.

34

doenas da velhice para o enfoque transdisciplinar, conceituada por Salgado (1989, p.23)

como:

O estudo do processo de envelhecimento, com base nos conhecimentos oriundos das

cincias biolgicas, psicocomportamentais e sociais [...] vm se fortalecendo dois

ramos igualmente importantes: a Geriatria, que trata das doenas do

envelhecimento; e a Gerontologia Social, voltada aos processos psicossociais

manifestados na velhice. Embora no se encontrem definitivamente explorados esses

dois setores das pesquisas gerontolgicas j apresentaram [...] contribuies para a

elucidao da natureza do processo de envelhecimento, e provam estar e, condies

de levantar questes sobre os problemas decorrentes.

Diante de diferentes olhares sobre o processo de envelhecimento, emergem discusses

sobre o processo de envelhecer, ser velho e ser idoso, e as vertentes geritrica e gerontolgica

complementam-se nesta complexa misso de conceituar esta fase de vida, que por princpio

no deve ser pr-determinado cronologicamente ou por aspectos exclusivamente biolgicos.

Conhecendo os Conceitos: Envelhecer, Velho e Idoso

Envelhecer, segundo Papalo Netto (2002), pode ser definido como um processo

consequente de alteraes no organismo, demonstradas de forma varivel em cada indivduo

que surge com a progresso do tempo da idade adulta at o fim da vida. A expectativa de vida

do homem e da mulher pode ser determinada pela capacidade de desempenho orgnico, ou

pela disposio para a insuficincia de seus rgos. importante diferenar o processo de

envelhecimento natural do patolgico para no incorrer no erro de o considerar como doena.

O processo de envelhecimento provoca no organismo modificaes biolgicas,

psicolgicas e sociais. As modificaes biolgicas so as morfolgicas, reveladas por

aparecimento de rugas, cabelos brancos e outras; as fisiolgicas relacionadas s

transformaes das reaes qumicas que se processam no organismo. As modificaes

psicolgicas ocorrem quando o ser humano precisa adaptar-se a cada nova situao do seu

novo cotidiano. J as modificaes sociais so verificadas quando as relaes sociais tornam-

se alteradas em funo da diminuio da produtividade e, principalmente, do poder fsico e

econmico, sendo a alterao social, segundo Santos (2003), a mais evidente em pases de

economia capitalista, como o caso do Brasil.

Considera-se assim, o envelhecimento um processo universal, que afeta o ser humano,

a famlia, a comunidade e a sociedade, tendo a velhice como sua ltima fase. E sendo esta

35

ltima fase, a velhice no pode ser interpretada igualmente como um estado e sim, um

processo que caracteriza a condio do ser humano idoso.

Segundo Martins (2002), a velhice pode ser considerada um conceito abstrato, porque

diz respeito a uma categoria criada socialmente para demarcar o perodo em que os seres

humanos ficam envelhecidos, velhos ou idosos.

Para Waldow (1984, p.127) a velhice:

caracteriza-se pela forma como uma sociedade determina e encara o

envelhecimento, mais do que a prpria percepo do idoso a respeito do processo de

envelhecimento e que nem sempre corresponde ao seu estado de velhice. Portanto, a

forma como uma sociedade marginaliza, venera ou respeita o idoso determinar

como ele se adaptar e assumir a velhice.

O idoso pode ser conceituado de vrias formas, como no conceito legal, baseado no

critrio cronolgico, utilizado na construo de polticas pblicas e leis (que diz ser idosa a

pessoa com mais de 60 anos), e aquele construdo socialmente, portanto, muito varivel. Em

pesquisa sobre o termo, evidenciou-se que idoso muitas vezes designa a pessoa que ainda est

ativa. A partir da anlise de todos os termos, parece haver em nossa sociedade uma construo

destes conceitos com base nas questes fsicas, no poder de desenvolver tarefas e trabalhar.

Velho aquele que no consegue mais desenvolver atividades como trabalhar, votar, se

divertir e viver de forma independente.

Neste contexto, revela-se uma sociedade em busca de auto-realizao, seja atravs do

amor, do bem-estar ou da vida privada. Os homens e mulheres no querem envelhecer, se

amarem e desfrutarem do presente.

Em um conceito transdisciplinar do ser idoso, S (2002, p. 1120) nos presenteia

dizendo que:

O idoso um ser de seu espao e de seu tempo. o resultado do seu processo de

desenvolvimento, do seu curso de vida. a expresso das relaes e interdependncias.

Faz parte de uma conscincia coletiva, a qual introjeta em seu pensar e em seu agir.

Descobre suas prprias foras e possibilidades, estabelece a conexo com as foras dos

demais, cria suas foras de organizao e empenha-se em lutas mais amplas,

transformando-se em fora social e poltica.

Outros conceitos tm sido estudados pela geriatria e gerontologia, desdobrando o ser

idoso em situaes e condies fsicas, sociais e ambientais. Um termo amplamente utilizado

atualmente o da fragilidade em idosos. O idoso frgil incorpora uma srie de caractersticas

fundamentais na discusso da presente investigao.

36

O IDOSO FRGIL

O termo Idoso Frgil tem sido referenciado como relativamente novo na literatura

cientfica mundial. No incio da dcada de 80, expresses como doente crnico, incapacitado,

institucionalizado ou com dependncia funcional eram as mais utilizadas para referenciar

idosos com problemas de sade. Segundo Hogan et al (2003) quando mencionado, o termo

idoso frgil relacionava-se fragilidade fsica e a necessidade de assistncia, porm isso era

algo subentendido e no definido.

A partir da segunda metade da dcada de 80, houve um perceptvel aumento no nmero

de estudos relacionados fragilidade e aos idosos frgeis. Neste perodo, a construo de uma

definio para idoso frgil partiu de um conjunto de caractersticas amplas como idade igual

ou superior aos 75 anos, vulnerabilidade, dficit fsico, dficit cognitivo, participao em

programas geritricos, necessidades de cuidados institucionais e dependncia de terceiros para

realizao de atividades de vida diria (HOGAN et al, 2003).

Assim, pode-se afirmar que foi neste perodo que o termo idoso frgil passou a ser um

equivalente de incapacidade e, mesmo hoje, depois desta concepo ter sofrido reorientaes,

muitos estudos permanecem utilizando a expresso neste sentido.

Incapacidade seria um termo amplamente utilizado em gerontologia e diz respeito s

deficincias e limitaes para o desempenho de atividades e restries na participao social,

resultante da associao dos fatores pessoais e dos fatores externos, esses representativos da

situao na qual o indivduo vive (OMS, 2003).

J o termo idoso frgil apresenta hoje inmeras definies e discusses sobre a sua

conceituao parecem estar longe de terminar. Estudos na dcada de 90 tentaram desvincular

a fragilidade da dependncia funcional e das doenas crnicas, substituindo o estado de ser

frgil pela condio de estar frgil, baseado nas premissas de que nem todas as pessoas

com limitaes no desempenho das atividades so frgeis; nem todas as pessoas frgeis

apresentam limitaes no desempenho das atividades; e pela existncia de um potencial de

preveno (HAMERMAN, 1999; FRIED e WALSTON, 1998; CAMPBELL e BUCHNER,

1997).

Para Campbell e Buchner (1997), a fragilidade uma condio instvel, determinada

pela interao entre o indivduo e o ambiente, que implica em risco para declnio funcional,

resultando ou no em perda de autonomia.

37

Segundo Fried e Walston (1998), a fragilidade pode ser entendida como um estado

clnico de vulnerabilidade a fatores estressores que resultam em perda das reservas

fisiolgicas, com consequente diminuio e desequilbrio da homeostase.

Hamerman (1999) tambm relaciona fragilidade s respostas homeostticas aos

mltiplos estresses como geradores de desequilbrio metablico.

No sculo XXI, dois grupos destacam-se nos estudos sobre fragilidade e idosos frgeis:

Fried, et al (2001), nos Estados Unidos da Amrica e o Canadian Initiative on Flailty and

Aging (CIF-A), cujos pesquisadores so do Canad, de alguns pases da Unio Europia,

Israel e Japo.

Para Fried, et al (2001), a fragilidade pode ser entendida como uma sndrome clnica

determinada por alteraes neuromusculares, desregulao do sistema neuroendcrino e

disfuno do sistema imunolgico. Assim, determinam um fentipo do idoso frgil que

incluiria indivduos com 65 anos ou mais que apresentam no mnimo trs destas

caractersticas: perda de peso no intencional, reduo da fora de preenso, diminuio das

atividades fsicas, autorelato de fadiga e diminuio da velocidade de marcha. A presena

destas caractersticas traduz-se em alto risco para consequncias adversas como quedas,

incapacidade, hospitalizao, institucionalizao e morte.

Fried, et al (2004) apontam ainda que o grande desafio est na fragilidade ser

considerada uma condio intrnseca do envelhecimento, o que acaba determinando

intervenes tardias com potencial mnimo de reverso das consequncias adversas desta

sndrome, reduzindo a expectativa de vida saudvel.

O Canadian Initiative on Flailty and Aging (CIF-A), teve seu incio em 2002 com

estudos de reviso de literatura sobre fragilidade, dividido em 11 domnios: (1) histria,

conceitos e definies; (2) bases biolgicas; (3) bases sociais; (4) prevalncia; (5) histria

natural e fatores de risco; (6) impacto; (7) identificao, (8) conduta teraputica; (9)

preveno, (10) ambiente e (11) tecnologia (BERGMAN et al, 2004). Foi observado que a

ocorrncia de fragilidade na velhice depende da histria de vida, ou seja, pode ser modificada

por fatores biolgicos, psicolgicos e sociais e suas interaes resultam em recursos ou

dficits individuais, em um contexto particular.

Este modelo multidimensional de fragilidade identificou mltiplas definies de

fragilidade que poderiam dividir-se em quatro categorias: conceitos com bases fisiolgicas,

outros determinados como sndrome complexa, conceitos relativos a modelos de equilbrio

com elementos sociais e a fragilidade vista como sndrome geritrica.

38

Como se observa, no h consenso na definio de fragilidade e essa dificuldade tem

gerado o aumento na produo de conhecimentos sobre a temtica. No Brasil, um estudo

pioneiro realizado por Teixeira (2008) buscou definir fragilidade sob a tica de profissionais

de sade que atuam em um ambulatrio geritrico, onde os mesmos tambm concordaram

com a multidimensionalidade do fenmeno, que envolve a interao de fatores biolgicos,

psicolgicos e sociais no curso da vida.

Assim, Teixeira (2008) afirma que h uma complementaridade entre a dimenso fsica e

psicossocial da fragilidade, que poderia ser definida de trs formas:

1. Sndrome clnica caracterizada por diminuio da reserva e pela resistncia

reduzida aos estressores, resultando em declnio cumulativo dos sistemas

fisiolgicos (sobretudo neuroendcrino, imunolgico e musculoesqueltico),

causando vulnerabilidade s condies adversas. Frequentemente este idoso

apresenta uma idade mais avanada (80 anos ou mais), tem diversas patologias,

necessidade de uso de vrias medicaes e algum nvel de dependncia funcional e

cognitiva.

2. Sndrome clnica decorrente da interao de fatores caracterizada pela diminuio

da reserva funcional e por uma maior vulnerabilidade, com potencial para

preveno, identificao e tratamento dos sintomas.

3. Decrscimo da atividade motora e dos sistemas fisiolgicos do organismo, nem

sempre por um motivo aparente, mas que leva a maior morbidade e mortalidade.

No Brasil, Loureno et. al (2005) afirmam que 10% a 25% da populao de idosos

brasileiros composta por idosos frgeis. Esta pequena parcela de idosos tem sido

referenciada como a que mais consome recursos do sistema de sade, com destaque para as

internaes hospitalares que alm de mais frequentes, caracterizam-se por longos perodos de

internao.

De fato, a hospitalizao ou mltiplas internaes foram referenciadas em todos os

estudos mencionados neste captulo, seja como fator preditor para a condio de fragilidade

ou como consequncia da fragilidade, enquanto sndrome clnica, no idoso.

39

O IDOSO HOSPITALIZADO

O Brasil enfrenta problemas sociais relativos pobreza que interferem diretamente na

sade da populao. Os adultos pobres do passado transformaram-se em idosos pobres do

presente, cujos benefcios assistenciais no acompanharam o aumento do custo de vida. Silva

(2006) aponta que muitas pessoas, especialmente os idosos pobres, ficam doentes mais

facilmente porque vivem em situao precria e alimentam-se mal, tendo maior dificuldade

para o autocuidado.

Veras (2003), ao avaliar os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar

(PNAD, 1998) demonstrou que as pessoas de menor poder aquisitivo utilizam mais

frequentemente os servios hospitalares, pois, quanto maior a pobreza da populao, maior a

prevalncia de patologias e agravos diversos.

A elevada prevalncia de doenas crnicas no transmissveis, somada a presena de

mltiplas comorbidades tem sido relacionada necessidade de maior permanncia hospitalar

e pela perda progressiva de autonomia entre idosos (VERAS et al, 2000; SALES e SANTOS,

2007).

As doenas crnicas no transmissveis entendidas como problemas longitudinais que

raramente podem ser curados, caracterizam-se pela alternncia entre perodos estveis e

instveis, que requerem estratgias de tratamento e cuidados diferenciados do que

atualmente oferecido na assistncia hospitalar.

Tais doenas associadas s internaes hospitalares favorecem o declnio funcional e,

consequentemente, se encaminham para o desenvolvimento de incapacidades. Pazinatto

(2003) identificou que 50% dos idosos internados com dependncia severa receberam alta

hospitalar apresentando o mesmo grau de dependncia. J Sager e Rudberg (1998),

determinaram que a hospitalizao gera nos idosos quase duas vezes mais perdas funcionais

para as atividades instrumentais de vida diria (AIVDs) do que para as atividades de vida

diria (AVDs).

A capacidade funcional pode ser definida como sendo o grau de preservao do

indivduo na capacidade de realizar Atividades Bsicas da Vida Diria (AVDS), como

banhar-se, vestir-se, transferir, ter continncia de esfncteres e alimentar-se, e tambm para

desenvolver Atividades Instrumentais da Vida Diria (AIVDS) como cozinhar, arrumar a

casa, telefonar, lavar roupa, ir s compras, cuidar das finanas domsticas e tomar remdios.

Sousa et al (2010) identificaram que idosos internados com diagnsticos que

caracterizam a presena de sndromes geritricas, receberam alta hospitalar com os mesmos

40

diagnsticos que possuam quando admitidos, ou pior, adquiridos durante o perodo de

internao, o que corrobora com a ideia de que as sndromes geritricas favorecem a

fragilidade em idosos, levando a uma sria de debilidades que acarretam dependncia.

Atualmente, tem crescido o nmero de estudos que enfocam a trade envelhecimento,

capacidade funcional e hospitalizao. A literatura indica que o declnio funcional acomete de

34% a 50% dos idosos durante o perodo de hospitalizao. Contudo, ainda no se sabe ao

certo at onde esse comprometimento secundrio apenas ao processo de hospitalizao ou

influenciado por fatores como gravidade da doena, estado nutricional, teraputica empregada

e o ambiente no responsivo (KAWASAKI e DIOGO, 2007; KAMPER et al, 2005).

Entretanto, em alguns aspectos parece haver concordncia: o idoso hospitalizado, em

geral, recebe um cuidado generalizado com base em parmetros da fase adulta (SOUZA, et al,

2010; WACKER e ROBERTO, 2008), este cuidado pouco reverte em benefcio para o idoso

(LOURENO, et al, 2005; VERAS et al, 2000), o declnio da capacidade funcional seria

observado em grande parte dos idosos hospitalizados e a hospitalizao pode ser considerada

preditora de readmisses hospitalares futuras (PAZ, 2004; GUERRA e RAMOS-

CERQUEIRA, 2007).

O Idoso em Situao de Readmisso Hospitalar

A organizao das referncias, no sentido de fundamentar a pesquisa com dados mais

atualizados, viabilizou-se atravs de reviso de literatura, de forma sistemtica. O perodo de

coleta dos documentos compreendeu os meses de janeiro a junho de 2010 e desenvolveu-se

atravs da Biblioteca Virtual em Sade Sistema Bireme com buscas nos seguintes

diretrios: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade),

SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), BDENF (Base de Dados de Enfermagem),

MEDLINE (Literatura Internacional de Cincias em Sade) e IBECS.

Guiada pelas questes de pesquisa (quais as caractersticas do idoso em condio de

readmisso hospitalar? Existe relao entre o perfil destes idosos e o desfecho readmisso

hospitalar?), foram utilizados trs descritores principais: readmisso hospitalar

(qualificadores: estatstica e dados numricos; e tendncias), idoso (descritor expandido) e

fatores de risco (no h qualificadores para este descritor). Os critrios de incluso definiram

documentos que apresentam os trs descritores principais, com acesso na ntegra online,

41

respeitando o corte temporal de 2000 a junho de 2010, nos idiomas portugus, ingls ou

espanhol.

Foram encontradas 34 referncias, entre artigos cientficos, dissertaes de mestrado e

teses de doutorado. Os mesmos foram submetidos a uma leitura prvia, de forma superficial,

submetendo-as aos critrios de incluso estabelecidos anteriormente. Alguns artigos que

seriam excludos pelo critrio da data de publicao no o foram por tratarem-se de

referncias na rea, como os estudos de Boult et al (1993, 1994 e 1997), Tierney e Worth

(1995).

Para anlise das informaes foi realizada a organizao do contedo encontrado quanto

ao ano, tipo de publicao e abordagem metodolgica, essncia do contedo/produo no que

se refere ao perfil de idosos em situao de readmisso hospitalar, fatores associados

readmisso hospitalar em idosos e recomendaes dos autores.

Sobre a produo na rea, a temtica em si no amplamente explorada, sendo ainda

pouco abordada no Brasil, representada por aproximadamente 43% das publicaes

selecionadas. As publicaes estrangeiras, originrias da Europa e Amrica do Norte,

somaram 57% dos artigos selecionados. A maior parte dos documentos estava disponvel na

ntegra atravs do portal PubMed, sendo as demais localizadas atravs dos portais SciELo

Brasil e SciELO Espanha.

Ao analisar o tipo de publicao no que tange as abordagens metodolgicas utilizadas

houve predomnio da abordagem quantitativa, entretanto, os mtodos de pesquisa foram

bastante variados, configurando-se em pesquisas descritivas e exploratrias, estudos de coorte

prospectivos, caso-controle, etc. Para coleta de dados foram utilizados diversos instrumentos

entre escalas, questionrios, entrevistas e anlise documental. Anlises estatsticas estavam

presentes em todos os artigos selecionados.

Sobre a essncia do contedo estudado nas referncias e as suas produes no

conhecimento destacaram-se trs categorias dentro da temtica readmisso hospitalar em

idosos: perfil da clientela com descrio de dados sociodemogrficos e nfase nos extratos

etrios; fatores associados e; cuidados aps a alta hospitalar como estratgia de preveno de

readmisses. Todas as referncias trazem de alguma forma o perfil da amostra submetida ao

estudo, porm, 48% das publicaes indicam que idosos nas faixas etrias mais avanadas

compem o grupo de maior risco para readmisses hospitalares (GUERRA e RAMOS-

CERQUEIRA, 2007; ROBBINS e WEBB, 2006; ROLAND, et al, 2005; CASTRO,

CARVALHO e TRAVASSOS, 2005).

42

Dentre os fatores associados, destacam-se 55% das referncias encontradas, estando esta

categoria subdividida em dois grandes grupos: readmisses hospitalares em idosos associadas

presena de doena crnica no transmissvel (NEZ, et al, 2006; PAZ, 2004;

PALOMARES, et al, 2002; MARTNEZ, et al, 2001) e s associadas em especial com

doenas cardiovasculares (BARRETO e DEL CARLO, 2008; NEZ, et al, 2006;

PALOMARES, et al, 2002; MARTNEZ, et al, 2001).

No que tange aos cuidados aps a alta hospitalar como estratgia de preveno de

readmisses hospitalares, 20% dos estudos abordavam a relao custo-benefcio entre

programas de cuidado domiciliar e diversas modalidades assistenciais (BELL, et al, 2009;

COURTNEY, et al, 2009; KWOK, et al, 2004).

Em relao ao perfil do idoso que sofre readmisso hospitalar os dados sugerem que

idosos com mltiplas comorbidades (especial destaque para as doenas cardiovasculares),

com capacidade funcional diminuda, muito idoso (> 80 anos), com internaes hospitalares

prvias e auto avaliao de sade ruim so os mais susceptveis s readmisses hospitalares

(GUERRA e RAMOS-CERQUEIRA, 2007; PUENTE, et al, 2003; PALOMARES, et al,

2002; MARTNEZ, et al, 2001; BOULT et al, 1993) .

Alguns estudos sugerem que as taxas de readmisso hospitalar so menores nas

unidades cirrgicas quando comparadas s unidades mdicas e, dentro das unidades mdicas,

as unidades geritricas so as que comportam maiores taxas de readmisso hospitalar

(TIERNEY e WORTH, 1995).

Outro fator que parece estar presente na maioria dos estudos infere que idosos que

sofreram admisso hospitalar prvia nos ltimos 12 meses apresentam ndices maiores de

readmisso hospitalar (BAHADORI e FITZGERALD, 2007; GUERRA e RAMOS-

CERQUEIRA, 2007; NEZ, et al, 2006; BILLINGS, et al, 2006; ROLAND, et al, 2005;

PAZ, 2004) . Outros afirmam que a alta precoce e a falta de orientao no momento da alta

esto presentes em cerca de um tero dos casos de readmisso (NEZ, et al, 2006;

TIERNEY e WORTH, 1995).

Naylor et al (1999), em estudo randomizado que acompanhou 363 idosos por 24

semanas aps a alta hospitalar, identificaram que os idosos que foram includos em um

Programa de Enfermagem de acompanhamento aps a alta hospitalar sofreram menos

readmisses. Quando as mesmas ocorreram, o intervalo de tempo entre as admisses foram

maiores e o tempo de internao foi menor, alm de haver reduo significativa dos custos

com estes idosos.

43

Torna-se exaustivo comparar estudos com metodologias to diferentes, as amostras no

so significativas, so utilizados diversos conceitos de readmisso hospitalar e os intervalos

de tempo medidos entre admisso e readmisso so os mais variados.

Os achados tambm so bastante variados, porm, h concordncias quanto a

necessidade de reduzir as taxas de readmisso. E as alternativas sugeridas esto embasadas no

melhor acompanhamento deste idoso no momento da alta hospitalar que deve ser bem

orientada, em modelos assistenciais que valorizem a presena da equipe de sade da famlia,

suporte comunitrio e visita domiciliar, pela equipe multidisciplinar.

Enfim, sugere-se que para entendermos melhor os achados sobre a temtica, seja criado

um sistema de classificao das readmisses, definindo conceitos, intervalos de tempo e

outras variveis, pois, s assim poderemos comparar os resultados das pesquisas e determinar,

com fidedignidade, o perfil desta clientela.

Cuidado de Enfermagem ao Idoso Hospitalizado

A Enfermagem Gerontolgica compreende o estudo cientfico do cuidado de

Enfermagem ao idoso. O Enfermeiro Gerontolgico pode ser um especialista ou um

generalista que oferece cuidados de Enfermagem abrangentes as pessoas idosas ao combinar o

processo de Enfermagem bsico de histrico, diagnstico, planejamento, implementao e

evoluo, com o conhecimento especializado sobre o envelhecimento.

Assim, Diogo (2007) define como objetivos da Enfermagem gerontolgica:

Assistir integralmente ao idoso, sua famlia e comunidade na qual estiver

inserido, auxiliando sua compreenso e facilitando sua adaptao s mudanas

decorrentes do processo de envelhecimento; desenvolver aes educativas nos nveis

primrios, secundrio e tercirio de ateno sade do idoso e; estimular a

participao ativa do idoso, e de seus familiares, no seu processo de autocuidado.

O Enfermeiro Gerontlogo pode desenvolver seu exerccio profissional em diversos

servios de ateno a idosos como ambulatrios, centros de convivncia, instituies de longa

permanncia, atendimento domiciliar e hospitalar, atravs da educao, assessoria, assistncia

direta, planejamento e coordenao de servios.

Um dos aspectos fundamentais do cuidado gerontolgico est na equipe

interdisciplinar e na incluso da famlia nos aspectos deste cuidar. A contribuio da

interdisciplinaridade para a Enfermagem advm no s para eliminar barreiras profissionais

entre as disciplinas que contribuem para o desenvolvimento de pesquisas, mas tambm

44

provocar reflexes entre as pessoas que nela atuam de modo a buscar alternativas para se

conhecer mais e melhor o idoso, sem esquecer as diversidades das relaes da vida familiar,

social, cultural, biolgica, entre outras.

um modo de proceder intelectualmente, uma prtica de trabalho cientfico,

profissional, de construo coletiva e benfica para a clientela idosa. Essa viso para a

Enfermagem possibilita uma prtica organizacional, na qual so estabelecidos saberes,

atitudes e valores, tendo como pano de fundo a interdisciplinaridade (CAMACHO, 2002).

Diogo (2007) refere que a consulta de Enfermagem deve ser a atividade que

proporciona ao enfermeiro tais condies para sua atuao. Assim, apresenta a consulta de

Enfermagem em gerontologia dividida em: (1) Dados Pessoais, de Sade e da Famlia, (2)

Avaliao das Atividades da Vida, (3) Exame Fsico, (4) Avaliao da Dependncia na

Realizao das Atividades da Vida e (5) Plano Assistencial de Enfermagem.

Alguns aspectos precisam ser considerados em cada uma das etapas da consulta. Na

etapa 1, o estado civil ganha destaque, pois a viuvez gera estresse no idoso; outro aspectos

como religio, anos de estudos, composio familiar, presena ou no de cuidador, auto

avaliao de seu estado de sade, medicaes em uso e suas maiores preocupaes devem ser

investigadas.

Na etapa 2, devemos avaliar e orientar quanto a manuteno do ambiente seguro onde

o idoso vive, e dados como mobilidade, atividades fsicas, alimentao e hidratao,

eliminaes, higiene, sono e repouso, lazer e recreao, sexualidade, comunicao, uso de

transportes e hbitos dirios.

Na Etapa 3, o enfermeiro precisa ter conhecimentos relativos a fisiologia do

envelhecimento. fundamental diferenciar as alteraes relativas ao envelhecimento

fisiolgico e as impostas pelo envelhecimento patolgico, bem como a relao entre ambos.

Muitos servios utilizam escalas de avaliao geritrica para avaliar as atividades de

vida diria e instrumentais de vida diria, nesta que se configura a Etapa 4.

A etapa final abrange o planejamento da assistncia e intervenes de Enfermagem.

De acordo com os problemas identificados planeja-se junto ao idoso e sua famlia, as aes de

Enfermagem necessrias. Cada ao deve ser avaliada periodicamente e registrada,

fornecendo dados para analise das respostas do cliente, ao longo da assistncia.

Esta proposta tem sido desenvolvida, prioritariamente, em servios especializados

ambulatoriais e domiciliares. Quando falamos de cuidado gerontolgico no ambiente

hospitalar, identificamos aes tmidas e isoladas e em enfermarias de internao clnica

parecem quase inexistentes.

45

Esta realidade evidenciou-se ao realizar uma reviso integrativa da literatura nacional

tendo como objetivo identificar quais temas tm sido abordados pela Enfermagem em relao

ao idoso hospitalizado. Determinou-se o recorte temporal da ltima dcada, utilizando os

descritores: idoso, hospitalizao e Enfermagem; atravs da Biblioteca Virtual em Sade

(BVS). Respeitando critrios de incluso foram selecionados 28 artigos nacionais disponveis

na ntegra e, aps anlise, identificamos cinco categorias temticas: identificao de

Diagnsticos de Enfermagem (DE) no idoso hospitalizado (5); A Prtica da Enfermagem

junto aos idosos hospitalizados (4); estudos de perfil de idosos hospitalizados (2);

Sentimentos e percepes do idoso e da equipe de Enfermagem durante a hospitalizao (11);

e a presena dos cuidadores/acompanhantes de idosos no cenrio hospitalar (6).

Em relao aos DE, foram identificados riscos para infeco (SOUZA, et al; 2010;

ALMEIDA, et al; 2008; SAKANO e YOSHITOME, 2007), mobilidade fsica prejudicada

(SOUZA, et al; 2010; SAKANO e YOSHITOME, 2007) , nutrio alterada: menos que as

necessidades corpreas (SOUZA, et al; 2010; ALMEIDA, et al; 2008; SAKANO e

YOSHITOME, 2007), dficit de autocuidado (SOUZA, et al; 2010; ALMEIDA, et al; 2008;

SAKANO e YOSHITOME, 2007) e integridade da pele prejudicada (SOUZA, et al; 2010;

MALAQUIAS, BACHION e NAKATANI, 2008).

Todos os DE encontrados esto relacionados presena de sndromes geritricas,

como a iatrogenia e a instabilidade postural (SOUZA, et al; 2010). So achados importantes,

uma vez que a presena das sndromes geritricas tem sido associada instalao da

fragilidade em idosos.

As prticas de Enfermagem, embora separadas em outra categoria, estavam

intimamente ligadas aos DE e sndromes geritricas e relacionaram-se s iatrogenias causadas

pela equipe no idoso hospitalizado, com destaque para os problemas com acesso venoso

perifrico, lceras por presso e quedas (SANTOS e CEOLIM, 2009). Tambm foram

identificadas prticas e cuidados de Enfermagem relativas ao lazer durante a hospitalizao do

idoso (JANNUZZI e CINTRA, 2006) e no manejo dos distrbios do sono, como a insnia

(COSTA e GERMANO, 2004).

Quanto ao perfil da populao idosa hospitalizada, em sua maioria os estudos

trouxeram a caracterizao dos sujeitos da pesquisa. Houve prevalncia da faixa etria entre

60-79 anos (MOTTA, HANSEL e SILVA, 2010; MALAQUIAS, BACHION e NAKATANI,

2008; ALMEIDA, et al; 2008; SAKANO e YOSHITOME, 2007), do sexo feminino, com

diagnsticos principais de doenas cardiovasculares e neoplasias (MOTTA, HANSEL e

SILVA, 2010; ALMEIDA, et al; 2008; MALAQUIAS, BACHION e NAKATANI, 2008;

46

SALES e SANTOS, 2007) e presena de mltiplas comorbidades (SALES e SANTOS, 2007;

JANNUZZI e CINTRA, 2006).

Sobre as implicaes da presena do cuidador do cliente idoso no ambiente hospitalar

destaca-se sua importncia na execuo de algumas atividades junto ao idoso como s

relativas ao suporte emocional, alimentao e higiene oral (PENA e DELBOUX, 2009). A

participao dos acompanhantes no cuidado ao idoso hospitalizado pode ser favorecida pela

boa inter-relao pessoal com a equipe de sade, quando h interesse em participar do

cuidado, quando h experincia anterior de cuidado ao idoso (PENA e DELBOUX, 2005) e

quando o familiar torna-se acompanhante, uma vez que este papel reconhecido como

teraputico (SILVA e BOCCI, 2005).

Caldas (2003) identificou que os cuidadores de idosos, no momento da alta hospitalar,

mencionaram a falta de informaes sobre a doena, escassez de orientaes e apoio aos

familiares para continuidade dos cuidados no domiclio.

Outros estudos demonstraram que o planejamento de alta e o acompanhamento

domiciliar de idosos aps a alta hospitalar, reduz hospitalizaes no planejadas, tempo de

permanncia hospitalar e bitos (ISRAEL, 2005; ELKAN et al, 2001; STEWART, MARLEY

e HOROWITZ, 1999; NAYLOR et al, 1999).

Pesquisas sobre as percepes e expectativas de idosos em relao equipe de

Enfermagem durante a hospitalizao apontam para a complexa relao neste cuidado. Para

os profissionais da sade h uma forte associao entre velhice, doena e dependncia.

Associao esta ampliada pelo ambiente hospitalar e condies de sade limitantes

(RODRIGUES e BRETAS, 2003).

J os idosos apontam que direitos como respeito, conforto, privacidade fsica, direito

informao e assistncia religiosa so comumente negligenciados (FERREIRA e

BALDAVINA, 2005); e tcnicas mal executadas, que causam dor, so determinantes para os

sentimentos de insegurana e crena de que no haver melhora do quadro clnico

(CARVALHAIS e SOUZA, 2007).

O cuidado instrumentalizado por um estar junto, proporcionando conforto fsico e

bem-estar, visando o enfrentamento da situao vivida foi apontado positivamente no cuidado

de Enfermagem (BRUM, 2001) ao idoso hospitalizado. Assim, o idoso identifica a

importncia desse cuidado e sente-se seguro, confiante e acredita que poder melhorar

(CARVALHAIS e SOUZA, 2007).

Neste contexto, pode-se afirmar que a promoo da sade para a populao idosa em

situao de hospitalizao apresenta dois grandes desafios: o primeiro refere-se ao aspecto

47

qualitativo do cuidado prestado durante a internao hospitalar, e o segundo diz respeito s

condies necessrias para a manuteno dos cuidados ao idoso na comunidade.

Alguns fatores podem contribuir para esta afirmao tais como: idosos ocupam leitos

reservados a pacientes adultos e, portanto, recebem assistncia de forma generalizada; as

equipes de sade que prestam assistncia nas unidades de internao no possuem formao

gerontolgica ou no recebem treinamento em servio para lidar com esta clientela cujas

caractersticas so peculiares e complexas; o modelo assistencial biomdico restringe-se ao

tratamento das doenas com acompanhamento ambulatorial especializado por clnica de

atendimento (pneumologia, cardiologia, hematologia e outros); no h programa de

preparao do idoso e famlia para alta hospitalar; os modelos assistenciais de suporte so

escassos e muitas vezes desconhecidos da equipe que atua no hospital e; na dificuldade de

implantar sistemas de referncia e contrarreferncia entre os servios generalistas e

especializados.

Nestas situaes deve-se partir da premissa de um continuun de cuidados que atenda

s necessidades que os idosos experimentam, na medida em que avanam suas limitaes.

Talvez por isso, a sistematizao da assistncia de Enfermagem ao idoso hospitalizado seja

sugerida por grande parte dos estudos referenciados, uma vez que possibilitam a identificao

de problemas e fatores de risco que podem ser manejados ou minimizados.

Os DE e as intervenes propostas, quando interligadas, facilitam a conduta de

Enfermagem e garantem a assistncia individualizada, apontando resultados de excelncia e a

independncia dentro dos limites impostos pela idade, garantindo assim autonomia, reduo

de complicaes, diminuio do tempo de hospitalizao e futuras reinternaes.

Nesse sentido, refora-se a necessidade de que a equipe de Enfermagem tenha

conhecimento das particularidades inerentes aos idosos e ao processo de envelhecimento

(SOUZA, et al; 2010; SALES E SANTOS, 2007).

48

CAPTULO II: MTODO

Delineamento do Estudo

Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, com delineamento descritivo

retrospectivo e transversal.

As pesquisas de levantamento so pesquisas com o objetivo de descrever, explicar e

explorar o fenmeno proposto. Elas descrevem como aparece naquela amostra determinado

comportamento ou atitude ou tentam encontrar uma explicao para aquele fenmeno

(BAPTISTA e CAMPOS, 2007).

A finalidade dos estudos descritivos seria o de observar, descrever e documentar os

aspectos da situao, e quando realizados de forma transversal, envolvem a coleta de dados

em um ponto de tempo, ou seja, os fenmenos sob estudo sero obtidos durante um perodo

de coleta de dados (POLIT, BECK e HUNGLER, 2004).

Campo de Estudo

O campo de estudo compreende as enfermarias de clnica mdica masculina e

feminina do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP), vinculado a Universidade Federal

Fluminense (UFF), localizado no Municpio de Niteri, no Estado do Rio de Janeiro.

O Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP) foi inaugurado no dia 15 de janeiro

de 1951 e denominado Hospital Municipal Antnio Pedro. O nome foi escolhido em

homenagem ao clnico-geral Antnio Pedro Pimentel, um dos fundadores da Faculdade

Fluminense de Medicina, que se destacou no estudo de doenas infecciosas.

Em 1964, o Hospital Municipal foi cedido pela Prefeitura Universidade Federal

Fluminense tornando-se, assim, o Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP).

Atualmente, o HUAP representa a maior e mais complexa unidade de sade da Grande

Niteri e, portanto, considerado na hierarquia do SUS como hospital de nvel tercirio e

quaternrio, isto , unidade de sade de alta complexidade de atendimento, tendo como

finalidade, segundo seu regimento, prestar servios ao ensino, pesquisa e comunidade em

todos os setores da rea de sade relacionados com os Departamentos Didticos da

Universidade Federal Fluminense que nele exeram atividades.

49

Atende sade pblica pelo SUS, atuando na ao curativa de mdia e alta

complexidade atravs do acesso direto da populao ou por referncia (clientes encaminhados

por unidades de ateno bsica). Os servios so disponibilizados para a regio Metropolitana

II que engloba os seguintes municpios: Itabora, Marica, Niteri, Rio Bonito, So Gonalo,

Silva Jardim e Tangu, embora recebam pacientes de outras reas programticas.

O HUAP presta servios em consultas ambulatoriais, internaes, diagnstico por

imagem e mtodos grficos, urgncia/emergncia 24h, e Bancos de Sangue e de Leite. Possui

263 leitos distribudos em: 118 de cirurgia, 90 de clnica mdica, 18 de materno-infantil, e 37

especiais. Alm de a estrutura hospitalar e ambulatorial, compreende ainda em suas

instalaes servios de farmcia, cozinha, lavanderia, segurana, coleta seletiva de rejeitos,

notificao de doenas e investigao epidemiolgica.

A Clnica Mdica atende s especialidades de cardiologia, pneumologia,

endocrinologia, gastroenterologia, nefrologia, neurologia, dermatologia e clnica mdica. As

enfermarias masculinas localizam-se no sexto andar e as femininas esto dispostas no stimo

andar do prdio principal. Os pacientes so admitidos pelo Sistema de Emergncia

referenciada, de acordo com uma hierarquizao e utilizao dos sistemas de referncia e

contrarreferncia preconizados pelo SUS atravs do Ncleo Interno de Regulao,

responsvel pela comunicao com o Servio de Emergncia e regulao dos leitos

disponveis.

Populao do Estudo

A pesquisa investiga a populao total de idosos que, entre janeiro e dezembro de

2010, foram admitidos nas enfermarias de Clnica Mdica Feminina e Masculina do HUAP,

sendo esta admisso caracterizada como readmisso hospitalar.

Neste estudo so considerados idosos indivduos de ambos os sexos com idade igual

ou superior a 60 anos, de acordo com o critrio cronolgico estabelecido na Poltica Nacional

do Idoso (1999).

Readmisso hospitalar refere-se ao idoso que sofreu admisses subsequentes no

HUAP, sendo a ltima internao em enfermarias de clnica mdica, seja esta internao

planejada ou no. Segundo Kossovsky et al (1999), as readmisses hospitalares planejadas

so as caracterizadas como necessrias para a continuidade da avaliao diagnstica ou

teraputica.

50

Logo, os critrios de incluso da pessoa idosa nesse estudo foram:

Ter 60 anos ou mais;

Ter sido admitido na Clnica Mdica Feminina e/ou Masculina do HUAP entre

janeiro e dezembro de 2010;

Ter histria de internaes prvias em unidades de internao do HUAP entre 2007

e 2010 (quatro anos).

Os critrios de excluso da pessoa idosa para fins deste estudo so:

Casos de primeira internao em unidades clnicas no HUAP;

Sujeitos cujos pronturios no estavam acessveis durante a coleta de dados.

Variveis do Estudo

As variveis medidas neste estudo esto dividas em quatro grupos. As variveis

demogrficas relacionadas ao sexo, idade (distribuio etria) e procedncia dos sujeitos da

pesquisa; as variveis socioeconmicas identificam a situao conjugal, nmero de filhos,

composio familiar, proviso de rendimentos e a presena ou no de cuidador; as variveis

que definem a situao de sade envolvem os diagnsticos principais e secundrios por

grupos de causas, de acordo com Cdigo Internacional de Doenas (CID-10 - OMS, 2000),

dias de permanncia hospitalar, intervalo entre as duas ltimas admisses, nmero de

internaes hospitalares em quatro anos e nvel de dependncia dos cuidados de Enfermagem;

quanto s variveis referentes utilizao dos servios so avaliados o acompanhamento do

tratamento, servios de sade utilizados entre as admisses e os registros de enfermagem de

preparao para alta hospitalar.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada atravs de anlise documental em pronturios com a

utilizao de um formulrio (APNDICE A).

51

O formulrio deve ser constitudo de questes de escolha mltipla, perguntas abertas

ou fechadas, requerendo que o pesquisador preencha os dados na medida em que pergunta ao

entrevistado, ou que analisa documentos (LEOPARDI, 2002).

A coleta de dados realizou-se no perodo de abril a julho de 2011, em trs etapas: no

primeiro momento foram triados, no setor de informtica do Arquivo Mdico, os idosos

admitidos nas enfermarias das clnicas mdicas, feminina e masculina, do HUAP entre janeiro

e dezembro de 2010; na segunda etapa, os pronturios selecionados foram acessados e

submetidos aos critrios de incluso e excluso, determinando assim a amostra final; e, por

fim, os pronturios selecionados foram analisados para preenchimento do formulrio

construdo (APNDICE A).

Para anlise dos pronturios, o setor de Arquivos Mdicos disponibiliza uma agenda

para pesquisadores na qual determinam um nmero mximo de trs pesquisadores por dia e

cada um pode consultar at 20 pronturios. Os pronturios inacessveis foram novamente

solicitados na etapa final da coleta de dados, na tentativa de minimizar as perdas ocorridas no

decorrer da pesquisa. Ao final da pesquisa, alguns pronturios foram resgatados, outros

permaneceram inacessveis (104).

As admisses e os dados demogrficos foram confirmados atravs da Autorizao de

Internao Hospitalar (AIH), um documento obrigatrio emitido todas as vezes que o paciente

sofre internao no hospital.

As caractersticas socioeconmicas foram analisadas atravs dos impressos de

Entrevista Social, realizadas no momento de cada admisso, pela Assistente Social.

Para coleta de dados relativos situao de sade identificou-se o diagnstico mdico

principal a partir do relatrio de internaes fornecido pela estatst