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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO LEONARDO PAIVA DE OLIVEIRA DE AZEVEDO CAMPOS MEGAEVENTO PARA QUEM? UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 NO TERRITÓRIO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS SOB O PRISMA DE DISTINTOS STAKEHOLDERS LOCAIS Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Responsabilidade Social. Orientador: Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng. Universidade Federal Fluminense Niterói 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE … Leonardo Paiva... · percepções distintas sobre os Jogos Olímpicos, influenciando diretamente no gerenciamento do próprio megaevento

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE

MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

LEONARDO PAIVA DE OLIVEIRA DE AZEVEDO CAMPOS

MEGAEVENTO PARA QUEM? UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 NO TERRITÓRIO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS SOB O

PRISMA DE DISTINTOS STAKEHOLDERS LOCAIS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Responsabilidade Social.

Orientador:

Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng. Universidade Federal Fluminense

Niterói 2016

2

Ficha Catalográfica

C 198 Campos, Leonardo Paiva de Oliveira de Azevedo.

Megaeventos para quem? Uma análise dos impactos dos jogos

olímpicos Rio 2016 no território da Lagoa Rodrigo de Freitas sob o

prisma de distintos stakeholders locais / Leonardo Paiva de Oliveira

de Azevedo Campos. – Niterói, RJ, 2016.

112 f.

Orientador: Fernando Oliveira de Araújo. Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016. Bibliografia: f. 95-100.

1. Jogos olímpicos. 2. Rio de Janeiro (RJ). 3. Gestão

de stakeholder. I. Título.

CDD 796.48

3

4

AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Vera, por todo amor, amizade, carinho, compreensão, apoio e incentivo

na minha formação e em todas as etapas de minha vida. Meu amor e meu exemplo.

A minha namorada, Juliana, por compreender as ausências nos finais de semanas e no

relacionamento, sendo cúmplice nesta etapa tão importante.

Ao meu orientador, professor Fernando de Araujo, por me dar um choque de realidade e

por acreditar não só em mim, mas que juntos poderíamos construir um projeto em um curto

espaço de tempo. Ele fez a diferença e a faz. Professor inquestionável que levarei por toda a

vida e com quem aprendi que precisamos transformar indicadores de esforço em indicadores

de resultado.

Ao Raynne Freitas por me estender a mão e auxiliar com seus conhecimentos, sem ao

menos me conhecer.

Ao Guilherme Miziara por ser um grande amigo e por compartilhar as aflições em

fechar esta etapa.

Aos professores Carlos Lidizia e Eduardo Vilela por toda cooperação na jornada

acadêmica.

Aos professores de todos os módulos do curso por participarem comigo dessa

experiência.

À equipe do curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal

Fluminense por todo carinho e atenção ao longo do curso, em especial, a colaboradora

Bianca Feitosa.

Aos entrevistados neste trabalho pela compreensão, disponibilidade e atenção. Em

especial, aos vendedores de coco que compartilharam gratuitamente seus cocos na Lagoa

Rodrigo de Freitas sob o sol forte.

À Colônia de Pescadores Z-13 por me receber muito bem, em especial, deixo meus

sentimentos pelo falecimento do presidente, Pedro Marins, que faleceu durante esta

pesquisa.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuem para o meu crescimento

profissional, em especial, meus amigos.

Ao Comandante Rene Alonso que me apresentou ao BOPE (Batalhão de Operações

Especiais), sendo tal equipe fonte de inspiração: missão dada é missão cumprida.

A Deus por ser o maior responsável por toda essa jornada dentro e fora do mestrado.

5

RESUMO

Os mega-eventos, um dos segmentos de megaprojetos, podem ser compreendidos

como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois promovem

impactos transformadores na população e no local onde ocorrem, de acordo Horne &

Whannel (2016). Sendo assim, os mega-eventos, segundo Zhai et al. (2009), apresentam

maior investimento, maior complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências

mais amplas em comparação a projetos simples. Neste sentido, buscou-se promover uma

sinergia entre a diversidade de stakeholders com os impactos transformadores provenientes

dos efeitos do mega-evento, culminando no objetivo deste estudo: analisar os efeitos

provenientes do megaevento, Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de

Freitas, sob o prisma de distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos. Para

realizar esta análise, primeiramente, foi realizado o levantamento de dados secundários

através da revisão da literatura especializada, utilizando o método webibliomining e

proknow-c. Em seguida, foi realizado o levantamento de dados primários através de

observação participativa e entrevistas realizadas em todo o território da Lagoa Rodrigo de

Freitas, objeto deste estudo. Estas entrevistas apresentaram duas abordagens: questionários

focalizados nos transeuntes e questionários focados nos empreendimentos. Ao todo, 71

respondentes participaram das entrevistas que apresentou uma abordagem qualitativa.

Todavia, cabe destacar que para a análise dos dados primários aventados foram usados os

métodos de estatística descritiva e análise de conteúdo. Após os resultados obtidos através

do tratamento dos dados e confrontação entre os primários e secundários, pode-se verificar

que a heterogeneidade dos stakeholders locais da Lagoa Rodrigo de Freitas produziu

percepções distintas sobre os Jogos Olímpicos, influenciando diretamente no gerenciamento

do próprio megaevento. Sendo assim, realizar o gerenciamento dos stakeholders locais, pode

contribuir para a melhor efetividade dos resultados pretendidos dos megaprojetos, gerando

benefícios a até, porventura, um legado.

Palavras-chave: Megaprojetos. Mega-eventos. Gestão de Stakeholder. Jogos Olímpicos.

Rio 2016.

6

ABSTRACT

Mega-events can be understood as one of the most important political initiatives of the

modern era, as it promotes transformative impacts on the population and the place where

they happen, according to Horne & Whannel (2016). Thus, the mega-events, according to

Zhai et al. (2009), need higher investment, greater complexity, diversity of stakeholders and

suffer broader influences compared to simple projects. In this sense, we sought to promote a

synergy between the diversity of stakeholders and the transformative impacts of the mega-

event, culminating in the objective of this study: analyze the effects of the mega-event,

Olympic Games Rio 2016, in the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, under the prism of

different stakeholders during the accomplishment of these Games. In order to perform this

analysis, we first carried out the survey of secondary data through a review of the

specialized literature, using the method webibliomining and proknow-c. Then, the primary

data were collected through participatory observation and interviews conducted throughout

the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, the object of this study. These interviews

presented two approaches: questionnaires focused on passers-by and questionnaires focused

on entrepreneurship. In all, 71 respondents participated in the interviews that presented a

qualitative approach. However, it should be noted that for the analysis of the primary data,

the methods of descriptive statistics and content analysis were used. After the results

obtained through data processing and confrontation between primary and secondary, was

verified that the heterogeneity of the local stakeholders of Rodrigo de Freitas Lagoon

produced distinct perceptions about the Olympic Games, directly influencing the

management of these mega-event. Therefore, managing the local stakeholders can contribute

to the effectiveness of the desired results of megaprojects, generating benefits to, perhaps, a

legacy.

Keywords: Megaprojects. Mega-events. Stakeholder Management. Olympic Games. Rio

2016.

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016..............................................................15

Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016 .......................................................17

Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas...................................................................18

Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade…....................................19

Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins….....................................................19

Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do Leblon…...................19

Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins....................20

Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins...................20

Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins..........................22

Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo…..................................................................22

Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo......................................................................26

Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados….....................................30

Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano...........................31

Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica...................................49

Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários...........................53

Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões..........................56

Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero...........................61

Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa

Rodrigo de Freitas...................................................................................................................61

Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de

Freitas com a Realização dos Jogos Olímpicos......................................................................63

Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz das Olimpíadas na Lagoa Rodrigo de

Freitas.....................................................................................................................................66

Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas

Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...................................................................66

Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo

Palco de Atividades das Olimpíadas 2016..............................................................................67

Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de

Freitas.....................................................................................................................................69

Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria.................................70

Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação

8

na Lagoa Rodrigo de Freitas...................................................................................................71

Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários..........72

Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no

Cotidiano do Negócio.............................................................................................................73

Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do

Empreendimento.....................................................................................................................74

Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr.

Ofir..........................................................................................................................................75

Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de

Regatas do Flamengo no Corte do Cantagalo.........................................................................77

Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo

Palco de Atividades das Olimpíadas 2016..............................................................................76

Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos

Olímpicos e a Comunidade Local...........................................................................................79

Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a

Comunidade Local..................................................................................................................80

Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas

Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...................................................................81

Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da

Realização...............................................................................................................................82

Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a

Realização...............................................................................................................................82

Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da

Realização...............................................................................................................................83

Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a

Realização...............................................................................................................................83

Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13............................................................86

Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado..............................................86

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa................................................29

Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa.....................................................31

Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos............................................32

Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus..................................34

Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos............................................37

Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos………….….…...38

Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos.................................42

Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders............................................55

Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem.........................62

Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados....64

Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos

Empreendimentos e dos Transeuntes......................................................................................84

Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa

Rodrigo de Freitas...................................................................................................................88

10

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BAB - Banco de Artigos Bruto

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

DW - Deutsche Welle

GPI – Grandes Projetos de Investimento

Lagoa – Lagoa Rodrigo de Freitas

MP – Megaprojetos

MPI – Megaprojetos de Infraestrutura

OE – Objetivo Específico

PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio De Janeiro

PMI – Project Management Institute

PPP - Parcerias Público-Privadas

ProKnow-C - Knowledge Development Process Constructivist

Rio – Rio de Janeiro

SESGE - Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos

UFF – Universidade Federal Fluminense

11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................13

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................13

1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA................................................15

1.3. OBJETIVOS............................................................................................................23

1.3.1. GERAL..........................................................................................................23

1.3.2. ESPECÍFICOS..............................................................................................23

1.4. QUESTÕES-PROBLEMA.....................................................................................23

1.5. RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................................24

1.6. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO...........................................................................25

1.7. ESTRUTURA METODOLÓGICA.......................................................................25

1.8. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO............................................................................27

2. REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................28

2.1. PESQUISA BIBLIOMÉTRICA.............................................................................28

2.2. MEGAPROJETOS..................................................................................................36

2.2.1. MEGAEVENTOS.........................................................................................41

2.3. STAKEHOLDERS..................................................................................................43

2.4. APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS

OBJETIVOS DA PESQUISA………………...……………...…………………..47

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA…………………..…...49

3.1. INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS…………………………......49

3.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA…………..……........………………………50

3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS……………...…………………..…...…52

3.3.1. ENTREVISTAS……….…..........……………………………..………...…54

3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS……………………......……58

3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO………………………..………………………….59

4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS……….………………….………60

4.1. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES.......60

4.1.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES........................................60

4.1.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O

MEGAEVENTO...............................................................................................63

4.2. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS

EMPREENDIMMENTOS......................................................................................68

12

4.2.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS............................68

4.2.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O

MEGAEVENTO..............................................................................................73

4.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E

EMPREENDIMENTOS.........................................................................................84

4.4. CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA

LITERATURA........................................................................................................87

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS.........................................91

REFERÊNCIAS....................................................................................................................95

APÊNDICE 1: Diário de Bordo.........................................................................................101

APÊNDICE 2: Questionário Transeuntes........................................................................102

APÊNDICE 3: Questionário Empreendimentos..............................................................104

APÊNDICE 4: Trocas de E-mails do Restaurante Arab................................................106

APÊNDICE 5: Revista Época - Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada

Aparecem.............................................................................................................................108

APÊNDICE 6: Revista Época - Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória.....110

APÊNDICE 7: Site Alemão DW - Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio

2016......................................................................................................................................111

APÊNDICE 8: Site Alemão DW - Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio...............112

13

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os megaeventos, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, são ocasiões

únicas que, todavia, podem deixar marcas permanentes na sociedade. Conforme afirma

Müller (2015), o megaevento, além de atrair milhares de visitantes e ter alcance mundial,

demanda significativos investimentos em infraestrutura, que geram impactos sobre o

ambiente construído e a comunidade local.

Os megaeventos estão intimamente ligados aos grandes projetos de infraestrutura que

visam à reformulação urbana. Segundo Oliveira (2011), os megaeventos podem ser

percebidos como estratégia deliberada de crescimento econômico e social, pois

compartilham de alguns elementos em comum: a) atração de investimentos; b) alavancagem

do turismo; c) ações urbanas pontuais; e d) o acionamento de parcerias público-privadas

(PPP).

Eventos de grande porte, em especial os esportivos, são considerados um dos

segmentos de megaprojetos. Segundo Flyvbjerg (2014), os megaprojetos são

empreendimentos complexos que custam normalmente na ordem de bilhões de dólares,

demandam muitos anos para se desenvolver e executar, envolvem múltiplos stakeholders

(partes interessadas) e são transformacionais, na medida em que afetam milhões de pessoas.

Os megaprojetos também podem ser denominados tecnicamente de projetos de capital

(ROMERO & ANDERY, 2016), além de possuírem outros termos que podem ser

verificados na literatura especializada: grandes projetos; grandes projetos de

Desenvolvimento; GPI – grandes projetos de investimento (VAINER & ARAÚJO, 1992),

além de MPI – megaprojetos de infraestrutura (ZENG et al., 2015).

Estes projetos, usualmente, estão orientados aos setores de mineração e energia,

caracterizados por uma complexa demanda de tecnologia e sólida gestão de processos,

conforme Romero e Andery (2016). No entanto, os megaprojetos (MP) podem ser

vislumbrados em várias áreas: infraestrutura, fusões e aquisições, defesa territorial, plantas

de processamento industrial, tecnologia da informação, viagens espaciais, iniciativas

empresariais, sistemas administrativos e grandes eventos. Cada vez mais, os MPs têm sido o

modelo preferido de entrega para produtos e serviços por uma gama de organizações e

setores (FLYVBJERG, 2014).

Vale ressaltar, segundo Flyvbjerg (2014), que os megaprojetos não são apenas versões

14

ampliadas de projetos menores, tratam-se de empreendimentos completamente diferentes no

que tange à natureza, prazos de entrega, complexidade e participação das partes interessadas.

Todavia, as divergências vão além, especialmente, no que se refere à complexidade social,

pois envolve o gerenciamento de muitos atores - executores do projeto - e múltiplos

stakeholders, tanto de caráter público e privado, gerando conflitos de interesses

(AALTONEN & KUJALA, 2010).

Para Freitas (2016), a magnitude e complexidade deste tipo de projeto o deixa mais

suscetível a riscos em relação aos demais projetos de menor porte, notadamente, no que se

referem aos riscos sociais, englobando especialmente os stakeholders.

De acordo com o PMBoK (PMI, 2013), os stakeholders são pessoas, grupos ou

organizações que podem impactar ou serem impactados pela implementação de um projeto

ou evento, sendo necessário desenvolver estratégias de gerenciamento apropriadas para o

engajamento e a comunicação eficaz dessas partes, tanto nas tomadas de decisões, quanto na

execução.

De acordo com Zeng et al. (2015), os grandes projetos podem ser vislumbrados

como posicionamento estratégico para o estímulo da economia nacional e para o

desenvolvimento social. Neste sentido, os megaeventos, sendo os Jogos Olímpicos uma das

principais referências mundiais, devem ser pensados como megaprojetos, pois apresentam

propósitos e práticas de gerenciamento que se assemelham. Vale evidenciar também,

conforme Zimbalist (2015), que os grandes eventos requerem investimentos através de uma

gama de megaprojetos de infraestrutura – transporte, energia, rede hoteleira e comunicação –

para serem realizados com eficácia.

Os desafios de se gerenciar um grande evento não são puramente técnicos, implicam

também em como estruturar um contexto que abranja e dialogue com as várias partes

interessadas que percebem a iniciativa sob distintos prismas socioculturais. O gerenciamento

dos stakeholders se faz necessário em projetos globais especialmente quando executados em

ambientes institucionalmente exigentes (AALTONEN et al., 2008; AALTONEN, 2010).

Sendo assim, a compreensão clássica de sucesso em projetos e eventos, conforme

Jugdev e Muller (2005), que vincula fortemente ao atendimento das expectativas de escopo,

tempo e custo, pode ser considerada ineficaz para os dias atuais. Esta perspectiva não

considera os aspectos que permeiam os riscos sociais, no que se refere aos múltiplos

stakeholders, e os possíveis impactos, enfatizando somente os critérios técnicos.

Segundo Vargas (2016), diante da pressão de um contexto de mudanças e cenários

improváveis, é preciso viabilizar processos estruturados e lógicos capazes de lidar com

15

eventos que se caracterizam pela novidade, complexidade e dinâmica ambiental. Logo, saber

interpretar a atitude e gerenciar os stakeholders representam um elemento central das boas

práticas de gerenciamento de projetos (ARAUJO et al., 2015).

Os Jogos Rio 2016, realizados na cidade do Rio de Janeiro e sendo a primeira edição

da Olimpíada e Paralimpíada na América do Sul, representaram uma possibilidade de

transformação na sociedade, impactando a vida de milhões de indivíduos. A Figura 01

oferece um panorama das principais estatísticas relacionadas aos eventos.

Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016

Fonte: Cidade Olímpica (2016)

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

Os megaeventos, como os Jogos Olímpicos, têm sido questionados a respeito dos

impactos que geram e dos investimentos econômicos que necessitam. Segundo Zimbalist

(2015), faz-se necessário avaliar como os megaeventos podem promover algum tipo de

16

benefício ou retorno econômico à comunidade local, especialmente, àqueles que possuem

menores condições sociais.

De acordo com Flyvbjerg (2016), os Jogos Olímpicos realizados ao longo da década

2004-2014 custaram em média 8,9 bilhões de dólares, não incluindo transporte, aeroporto e

infraestrutura hoteleira, que muitas vezes custam mais do que os jogos em si. Logo, a cidade

anfitriã, neste caso o município do Rio de Janeiro, precisa passar por uma série de

transformações que sejam capazes de viabilizar a realização da Olimpíada.

Algumas medidas, no entanto, impactam de forma negativa nos stakeholders, pois

podem provocar: deslocamento espacial de uma comunidade; desvio de recursos sociais para

a construção de espaços e estruturas; e a criação de infraestruturas que não tenham uso

efetivo após os jogos (ZIMBALIST, 2015). Neste sentido, as práticas de gerenciamento de

projetos, no que tange a gestão de stakeholders, devem ser analisadas a fim de estarem

alinhadas com a intenção de gerar benefícios para a comunidade local.

Os Jogos Rio 2016 foram realizados em distintas localidades geográficas da cidade

anfitriã, Rio de Janeiro, de 05 a 21 de agosto, a Olimpíada (objeto do presente estudo), e de

07 a 21 de setembro, a Paralimpíada.

A Olimpíada, segundo o site oficial Rio 2016 (2016), envolveu 42 modalidades

esportivas, 306 provas, 37 arenas e 205 países. Apesar de toda estrutura deste evento se

ramificar por toda macrorregião do Rio de Janeiro, alguns bairros se destacam, concentrando

as competições: Deodoro, Copacabana, Barra da Tijuca, Maracanã e Lagoa Rodrigo de

Freitas, conforme ilustra a Figura 02.

17

Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016

Fonte: Meirelles (2014, p.58).

A magnitude e complexidade deste megaevento engloba uma gama de vários atores

que compõe as partes interessadas e que possuem diferentes interesses. Todavia, segundo

Clark et al. (2016), um foco excessivo no megaevento possibilita facilmente ignorar o micro,

isto é, as comunidades locais que são impactadas pelo evento. Sendo assim, para se

aprofundar em uma análise sobre o gerenciamento de stakeholders, faz-se necessário uma

melhor compreensão sobre o território no qual ocorreu a Rio 2016, segmentando-o em

microrregiões.

Cada microrregião apresenta um elevado número de atores que formam uma

comunidade local que foi impactada com a Olimpíada. Fragmentar o megaprojeto em áreas

menores pode possibilitar uma análise mais consolidada sobre o objeto de estudo. Logo, a

microrregião selecionada para devido fins de estudo foi a Lagoa Rodrigo de Freitas (Figura

03).

18

Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas

Fonte: Google Earth (2016)

A Lagoa Rodrigo de Freitas, além de ser considerada um dos cartões postais da cidade

do Rio de Janeiro, é um espaço de interligação entre vários bairros da zona sul da cidade

(Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, Leblon, Ipanema e Copacabana), apresentando uma

heterogênea comunidade local com indivíduos de diferentes culturas e posições sociais. Vale

também ressaltar que a própria Lagoa foi cenário dos jogos, sendo arena para algumas

competições e também abrigando algumas casas temáticas das delegações.

Para receber as competições de remo e canoagem de velocidade, a Lagoa Rodrigo de

Freitas, um monumento tombado pelo município e também em nível federal 1 , sofreu

transformações necessárias, no espelho d’água e seu entorno, para viabilizar os jogos.

Todavia, essas mudanças desencadearam uma série de consequências que devem ser

analisadas. Para evidenciar estes impactos, foram registradas algumas imagens, conforme as

Figuras 04, 05, 06, 07 e 08:

1 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Bens Tombados. Disponível em

<http://www.rio.rj.gov.br/web/irph/bens-tombados >. Acesso em: 30 jul. 2016.

19

Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do Leblon

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

20

Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Neste sentido, os registros fotográficos corroboram como o cercamento na Lagoa

21

Rodrigo de Freitas para a realização dos Jogos Olímpicos modificou a paisagem e o dia a dia

dos indivíduos e empreendimentos locais. Cabe destacar, segundo a SESGE - Secretaria

Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, as cercas foram instaladas como medida

de segurança a pedido do comitê organizador Rio 2016 a fim de gerar proteção2. Todavia, a

compreensão sobre este cercamento desperta outras percepções:

Empreendimentos (Figuras 05 e 08) – muitos empreendimentos foram

impactados de forma negativa com o cercamento, pois não tinha trânsito de

pessoas por essas áreas. Sendo assim, muitos ficavam fechados em horário de

expediente, devido à falta de clientes;

Colônia de Pescadores (Figura 07) – a colônia Z-13 ficou impossibilitada de

utilizar a Lagoa para a pesca, uma vez que a própria lagoa estava cercada;

Clubes de Remo (Figura 04) – os principais clubes, Flamengo, Botafogo e

Vasco da Gama não podiam utilizar o espelho d’água, logo, os alunos e atletas

de remo dos referidos clubes não podiam treinar.

Transeuntes e praticantes de esporte (Figura 06) – com a trajetória da ciclovia

modificada e o cercamento, inclusive da academia da terceira idade, vários

indivíduos tiveram o seu dia a dia impactados, diminuindo a circulação de

pessoas pela Lagoa Rodrigo de Freitas.

Ainda a título de ilustração, em conversa com o Sr. Carlos, proprietário do restaurante

La Gondola, o entrevistado reiterou o impacto negativo que cercamento da Lagoa Rodrigo

de Freitas ofereceu no cotidiano do seu estabelecimento, provocando um isolamento

geográfico e diminuindo drasticamente a quantidade de clientes. O empresário ainda

ressaltou a dificuldade para abastecer o próprio empreendimento. A Figura 09 ilustra a

situação do restaurante:

Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins

2 FOLHA DE SÃO PAULO. Trecho da Lagoa é cercado com grades de 2,5 metros para provas da Rio-2016.

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/esporte/olimpiada-no-rio/2016/07/1794794-trecho-da-lagoa-e-

cercado-com-grades-de-25-metros-para-provas-da-rio-2016.shtml> Acesso em: 30 jul. 2016.

22

Fonte: Leonardo Campos em 04 de agosto de 2016.

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 provocaram na Lagoa Rodrigo de Freitas um oximoro3:

em um mesmo contexto é possível averiguar áreas vazias e impactadas de forma negativa

devido ao cercamento; e por outro prisma, áreas que obtiveram grande circulação de

pessoas, estimulando a movimentação nos estabelecimentos localizados próximos ao Baixo

Suíça, casa de hospitalidade do governo suíço que funcionou duante a Olimpíada e

Paralimpíada. Tal efeito está ilustrado na relação das Figuras de 04 a 09 com a Figura 10.

Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo

Fonte: Leonardo Campos em 17 de agosto de 2016.

Sendo assim, é possível compreender que a Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentada

3 Segundo Loregian (2012), oximoro pode ser caracterizado por ser uma figura de pensamento que harmoniza

dois conceitos opostos, formando assim um terceiro conceito, que dependerá muito da interpretação de quem

estiver lendo.

23

em zonas dicotômicas, na quais, os indivíduos são impactados de maneiras distintas e podem

possuir percepções diferentes em relação ao megaevento. Este efeito, segundo Clark et al.

(2012), de priorizar o macro em relação ao micro em grandes projetos e não analisar a

heterogeneidade dos territórios e seus stakeholders, pode reduzir a capacidade de gerar

benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível

legado.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1. GERAL

O presente estudo tem como objetivo analisar os efeitos provenientes do megaevento,

Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de

distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos.

1.3.2. ESPECÍFICOS

Identificar quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders aplicadas nos Jogos

Olímpicos Rio 2016, no que se refere o território da Lagoa Rodrigo de Freitas;

Identificar quais são as percepções sobre o evento entre os variados stakeholders -

estabelecimentos formais, informais, comunidade de pescadores, transeuntes e turistas -

durante a realização dos Jogos Rio 2016;

Verificar se existem percepções distintas entre os stakeholders do megaprojeto;

Identificar as consequências geradas pelos Jogos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas

e avaliar se estas consequências se relacionam com as possíveis práticas de

gerenciamento de stakeholders utilizadas;

Propor aprimoramentos nas práticas de gerenciamento de projetos, no sentido de

contribuir para melhor efetividade dos resultados pretendidos;

Consolidar lições aprendidas visando ao compartilhamento dos ensinamentos de um

aludido caso de sucesso em megaeventos.

1.4 QUESTÕES-PROBLEMA

Observando o contexto e considerando os objetivos supracitados, as seguintes

questões-problemas são foco de investigação deste trabalho:

Quais foram os principais impactos (positivos e/ ou negativos) percebidos por distintos

24

stakeholders durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de

Freitas?

Quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas nos Jogos Olímpicos

Rio 2016, com base na percepção da comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas em

relação ao megaevento?

As práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas consideram a heterogeneidade de

públicos constituintes dos distintos territórios?

Na perspectiva dos stakeholders, os Jogos Olímpicos Rio 2016 deixaram um legado para

a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas?

Quais as lições aprendidas sobre boas práticas em gerenciamento de stakeholders em

megaeventos?

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Esta pesquisa busca produzir uma literatura especializada sobre um tema relevante e

contemporâneo relacionado ao gerenciamento de megaprojetos: a gestão dos stakeholders,

evidenciando a importância de se analisar a heterogeneidade das partes interessadas.

Em termos empíricos, explora-se o caso de um dos megaeventos de maior referência

no planeta: os Jogos Olímpicos Rio 2016, através do estudo das potencialidades e limitações

das práticas de gerenciamento de projetos, compartilhando importantes aprendizagens

provenientes da complexidade, magnitude e heterogeneidade da atuação do projeto.

Diante dos questionamentos que os megaeventos têm sofrido, relacionados aos

elevados montantes de investimentos necessários, os impactos que produzem na população

local e se concebem benefícios aos envolvidos; este estudo vislumbra analisar o método de

gerenciamento de projetos no que se refere à gestão de stakeholders. Sendo assim, contribuir

para a racionalização dos recursos de maneira mais eficaz - maximizando resultados - e mais

eficiente - reduzindo custos - na implantação de megaprojetos.

Além de discutir a importância de se realizar a análise sobre a heterogeneidade de

stakeholders e percepção de sucesso vinculada às boas práticas de gestão, esta pesquisa visa

a estimular formas mais sustentáveis e colaborativas de trabalho e comunicação em mega

eventos. Nesse sentido, este estudo ainda pode ser inspirador para outras organizações do

segmento de megaprojetos.

1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

25

A pesquisa está delimitada territorialmente à cidade do Rio de Janeiro, mais

especificamente a Lagoa Rodrigo de Freitas, e temporalmente de julho a novembro de 2016.

A análise do caso é particularmente de um evento global que aconteceu na cidade carioca: os

Jogos Olímpicos Rio 2016, atendo-se ao período da Olimpíada e não considerando as

Paralimpíada. O foco desta pesquisa engloba somente a visão da comunidade local da Lagoa

Rodrigo de Freitas e outras partes interessadas, não contemplando a perspectiva do comitê

gestor do megaevento Rio 2016.

Vale ressaltar que os resultados apresentados não constituem um diagnóstico total

sobre o gerenciamento de stakeholders ou a respeito do segmento de megaprojetos e

megaeventos, no entanto, tais resultados podem servir como inspiração para estudos futuros,

a fim de contribuir para o desenvolvimento do tema em questão.

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA

A estrutura metodológica, aplicada para execução deste trabalho, consiste em etapas

seriadas e distribuídas em duas vertentes: uma empírica e outra teórica que se

complementam e se confrontam para responder aos objetivos propostos, conforme ilustra a

Figura 11.

Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo

26

Fonte: Adaptado de Araujo (2011).

A primeira etapa, vertente teórica, baseia-se na revisão de literatura, através da

realização de pesquisas em fontes bibliográficas e eletrônicas, com a finalidade de

apresentar um embasamento teórico sobre os temas abordados. Nesta etapa, são analisadas

os princípios e requisitos de mega eventos e de gerenciamento de stakeholders. O resultado

esperado desta etapa é um modelo teórico que seja aplicável a vertente empírica.

A vertente empírica se baseia na identificação, coleta, análise e divulgação dos

dados, através do emprego de questionários na Lagoa Rodrigo de Freitas com os

empreendimentos formais, informais, comunidade de pescadores, clubes e transeuntes,

objetivando identificar e analisar as práticas de gestão de stakeholders utilizadas pela Rio

2016.

A última etapa abrangerá a conclusão que vislumbra responder as questões-problema

e a realização de aprimoramento no que tange o gerenciamento de projetos.

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho está estruturado em 5 capítulos distribuídos da seguinte maneira:

27

Capítulo 1 - Apresenta a introdução com as considerações iniciais, a descrição da

situação problema da pesquisa, os objetivos (geral e específicos), as questões-

problema, a relevância do estudo, delimitações do estudo, estrutura metodológica e,

por fim, a estrutura metodológica.

Capítulo 2 - Oferece a fundamentação teórica do tema abordado neste trabalho com

os conceitos, definições e características sobre megaprojetos, megaeventos e

gerenciamento de stakeholders. Neste capítulo será possível produzir uma discussão

mais sólida sobre os assuntos mencionados. Expõe a revisão da literatura e análise

dos textos com base na bibliografia publicada em periódicos de âmbito nacional

indexados na base SciELO e em periódicos de contexto internacional nas bases

Scopus, ISI Web of Science, com a finalidade produzir uma discussão mais sólida

sobre os assuntos mencionados.

Capítulo 3 – Descreve a metodologia proposta para a vertente empírica, com

embasamento na revisão da literatura técnico cientifica. Neste sentido, para uma

análise sobre a problemática desta pesquisa, se utiliza uma abordagem quantitativa

para a coleta de dados. No entanto, vale destacar que a análise dos dados primários é

embasada por uma análise de conteúdo e estatística descritiva.

Capítulo 4 – Apresenta as etapas da pesquisa de campo e, posteriormente, a análise e

discussão de resultados. Este capítulo confronta o levantamento bibliográfico

realizado com a pesquisa em campo, identificando similaridades e divergências no

que se refere as práticas de gerenciamento de stakeholders.

Capítulo 5 – Conclusões da pesquisa sobre as questões aventadas e sugestões de

estudos futuros.

28

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta os principais fundamentos teóricos que embasam o

desenvolvimento do presente estudo e que sustentarão o entendimento sobre os resultados

obtidos através desta pesquisa.

Neste sentido, o capítulo apresenta quatro seções: levantamento bibliográfico,

megaprojetos, mega eventos, gerenciamento de stakeholders. Além de apresentar tais temas,

buscar-se-á identificar e estabelecer sinergia entre eles.

2.1 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA

O levantamento bibliométrico, conforme Silva & Costa (p. 108, 2015), “compreende

o estudo relativo às técnicas e métodos para o desenvolvimento de métricas para

documentos e informações, visando associar estatísticas à pesquisa bibliográfica”. Neste

sentido, o levantamento bibliométrico torna-se um instrumento relevante para a estruturação

sólida do referencial teórico.

Para a pesquisa bibliométrica, realizada no recorte temporal de julho a setembro de

2016, foram selecionadas três bases de dados: Scopus (Elsevier); Scielo (Scientific

Electronic Library Online) e ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific). A escolha

por essas bases de dados deve-se pela multidisciplinaridade e disponibilidade de conteúdo

que possuem, sendo importantes fontes de referenciais técnico-científicos.

O tema stakeholders possui uma ampla aplicabilidade na literatura especializada,

perpassando variadas áreas do conhecimento, desde a medicina até a engenharia. Logo, para

os devido fins da pesquisa, o assunto stakeholders será abordado através de uma amostragem

que se relacione com a macro temática: megaprojetos.

Portanto, a elaboração de um núcleo básico de artigos referentes a uma amostragem

será construída através do método webibliomining. Segundo Costa (2010), este método

consiste em uma garimpagem de texto na rede web com a finalidade de se organizar um

referencial bibliográfico inicial acerca de um determinado tema.

O método webibliomining, conforme Costa (2010), apresenta seis etapas: (1)

Definição da amostra da pesquisa; (2) Pesquisa na amostra, com as palavras-chave; (3)

Identificação dos periódicos com o maior número de artigos sobre tema; (4) Identificação

dos autores com o maior número de publicações; (5) Levantamento da cronologia da

29

produção, identificando os períodos de maior número produção; (6) Seleção dos artigos para

a composição do núcleo de partida.

Sendo assim, a sistematização das etapas referentes ao webibliomining inicia-se com

a definição das palavras associadas às temáticas megaprojetos e stakeholders, inserindo a

utilização de operadores booleanos: OR e AND, não sendo incorporado o operador NOT.

Cabe ressaltar que esta pesquisa ficará restrita aos artigos provenientes de periódicos peer

reviewd que abranjam os idiomas português e inglês.

Logo, o Quadro 01 apresenta a seguinte estruturação com base nos temas da pesquisa:

Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa

Tema da pesquisa Operadores booleanos

Palavras associadas à

stakeholders

Mega eventos OR

Stakeholders

Mega events Stakeholders

AND

Palavras associadas a

megaprojetos

Megaprojetos OR

Mega projetos

Megaprojects Mega projects

Protocolo Inicial 1: ("mega eventos" OR "stakeholders") AND ("megaprojetos" OR "mega projetos")

Protocolo Inicial 2: ("mega events" OR "stakeholders") AND ("megaprojects" OR "mega projects")

Fonte: o autor (2016).

Através do protocolo inicial 1, não foram encontrados resultados na Base de

Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Em

seguida, foi aplicado o protocolo inicial 2, que gerou um resultado com 45 artigos,

representando o banco de artigos bruto (BAB), conforme Vilela (2012).

Todavia, fez-se necessário verificar a existência de possíveis lacunas entre as

palavras-chave e a temática proposta, a fim de analisar a maior quantidade possível de

artigos que serviam para o embasamento desta pesquisa. Sendo assim, foi realizado um teste

de aderência das palavras-chave que pertence ao método ProKnow-C. Segundo Vilela

(2012), este teste consiste em selecionar dois artigos do BAB, cujos títulos estejam em

adequação com o tema da pesquisa. Em seguida, analisou-se se as palavras-chave utilizadas

pelos autores dos dois artigos possuíam aderência com as palavras-chave usadas para a

construção do Banco de Artigos Bruto, com a intenção de verificar se havia um alinhamento

entre as palavras ou se era necessário readequá-las.

Seguindo com o teste de aderência das palavras-chave, para este foram selecionados

os dois artigos que possuíam maior aproximação com cada uma das temáticas da pesquisa:

megaprojetos, mega eventos e stakeholders, totalizando seis artigos.

30

Vale ressaltar que o método ProKnow-C (Knowledge Development Process –

Constructivist), oriundo da Universidade Federal de Santa Catarina, apresenta similaridade

com o webibliomining. Conforme Ensslin et al. (2010), este método trata-se da

sistematização do processo de busca e seleção de artigos sobre um determinado tema,

aplicando o uso de técnicas de análise bibliométrica a fim de construir um portfólio

bibliográfico que atenda aos objetivos da pesquisa.

Neste sentido, após averiguar os arquivos selecionados, de acordo com Silva &

Costa (2015), os resumos destes artigos foram destacados e processados no Wordle

(www.wordle.net), gerando a seguinte nuvem de palavras:

Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados

Fonte: Wordle (2016).

Diante do teste de aderência das palavras-chave e do quadro 01, foi possível verificar

a existência de lacunas no protocolo inicial 1 e 2, como por exemplo, não considerar a

pluralidade de grafia e de sinônimos da palavra “megaprojetos”. Por conseguinte, faz-se

necessário readequar as diretrizes iniciais da pesquisa com base em Peng et al. (2012) e

Freitas (2016), além de integrar a utilização de frases completas através de (“ ”) e de

truncaturas (*) que permitem pesquisar várias palavras com o mesmo radical ou raiz,

conforme ilustra o Quadro 02.

31

Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa

Tema da

Pesquisa Palavras-chave Operadores booleanos

Megaprojetos Palavras associadas a

megaprojetos

("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega-

proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*"

OR "large scale proj*")

AND

Stakeholders

Palavras associadas à

megaeventos

("mega-event*" OR "megaevent*" OR "mega event*" OR

"major sport* event*")

OR

Palavras associadas à stakeholders ("stakehold*")

Protocolo

Final:

("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega-

proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*"

OR "large scale proj*") AND ("mega-event*" OR

"megaevent*" OR "mega event*" OR "major sport*

event*" OR "stakehold*")

Fonte: o autor (2016).

O protocolo final foi aplicado às bases de dados, obtendo o seguinte resultado

parcial: 89 artigos na ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific); 123 artigos na

Scopus (Elsevier); e nenhum artigo na Scielo (Scientific Electronic Library Online),

totalizando 212 documentos a serem analisados.

Na Figura 13, apresenta-se o total de artigos encontrados em cada base e

segmentados pela ocorrência de publicações em cada ano. Cabe ressaltar que um artigo pode

ser disponibilizado, simultaneamente, nas duas bases analisadas.

Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano

Fonte: O autor (2016)

32

É possível verificar através do gráfico do Quadro 06, a evolução da produção

científica relativa ao tema. Vale destacar, que nesta análise, os artigos sobre o referido

assunto iniciaram-se no ano de 1996, embora os anos de 1998 e 2000 não apresentem

produção de conteúdo. Todavia, a partir do ano de 2008, os artigos com aderência ao tema

começaram a possuir um crescimento considerável, tendo como ápice o ano de 2015.

Conforme os métodos webibliomining e Proknow-C, foram selecionados somente

artigos de periódicos em inglês ou português, não considerando outros tipos de documentos,

como comunicações em eventos, dissertações ou teses. Do novo banco de artigos brutos,

representados por um universo de 212 artigos, foram destacados: 20 artigos da ISI Web of

Science (Thomson Reuters Scientific) e 13 artigos da Scopus (Elsevier). Para esta seleção,

foram atendidos os seguintes critérios, segundo Martens et al. (2013) e Freitas (2016):

Artigos completos – disponibilidades através do Periódicos CAPES e nos idiomas inglês

e português;

Tema – aderência ou permeando as macro temáticas: megaprojetos e stakeholders;

Palavras-Chave – presença ou similaridade com “megaprojetos” e “mega eventos” e/ou

“stakeholders”;

Abordagem do Artigo - discussão conceitual ligado ao tema, estudos de caso e práticas

adotadas em megaprojetos;

A averiguação dos artigos selecionados ocorreu com base nos títulos e resumos,

analisando também os artigos com maior relevância para a pesquisa, autores com maiores

números de publicação e periódicos com destaque ou aderência ao tema. Entre os

periódicos, vale realçar, os que obtiveram destaque: International Journal of Project

Management com 7 artigos e o Project Management Journal com 3 artigos.

Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos

Periódico Qtd WebQualis Área de Avaliação CAPES ISSN

International Journal Of Project

Management 7

A1 Administração, Ciências

Contábeis e Turismo 0263-7863

A2 Engenharias III

Project Management Journal 3 B1 Engenharias III 8756-9728

Cities 2 A1 Planejamento Urbano e Regional

/ Demografia 0264-2751

Journal Of Management In

Engineering 2 - - 0742-597X

Journal Of Engineering And

Technology Management - JET-M 1

A1 Administração, Ciências

Contábeis e Turismo 0923-4748

A1 Engenharias III

33

Journal Of Environmental

Management 1 A1 Engenharias I 0301-4797

Habitat International 1 A1

Planejamento Urbano e Regional

/ Demografia 0197-3975

A2 Engenharias I

International Journal Of Urban And

Regional Research 1 A2 Interdisciplinar 1468-2427

Energy Policy 1

A2 Administração, Ciências

Contábeis e Turismo

0301-4215 A2 Engenharias III

A2 Interdisciplinar

B1 Engenharias I

Journal Of Civil Engineering And

Management 1 B1 Engenharias I 1392-3730

Journal Of Construction Engineering

And Management 1 B1 Engenharias I 0733-9364

Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9729

Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9730

Public Administration And

Development 1 B1

Administração, Ciências

Contábeis e Turismo 0271-2075

International Journal Of Managing

Projects In Business 1

B2 Administração, Ciências

Contábeis e Turismo 1753-8378

B4 Engenharias III

Change Management 1 - - 2327-798X

Construction Economics And

Building 1 - - 2204-9029

Construction Innovation 1 - - 1471-4175

Corporate Social Responsibility And

Environmental Management 1 - - 1535-3958

Eurasian Geography And Economics 1 - - 1538-7216

European Planning Studies 1 - - 0965-4313

Geoforum 1 - - 0016-7185

International Journal Of Energy

Economics And Policy 1 - - 2146-4553

Journal Of Infrastructure Systems 1 - - 1076-0342

Political Studies Review 1 - - 1478-9302

Fonte: O autor (2016).

O Quadro 03 também exibe a classificação Qualis/CAPES (sucupira.capes.gov.br)

que o periódico apresenta. Esta classificação, que passa por processo de atualização

anualmente, ocorre de acordo com a área de avaliação na qual o periódico pode ser

enquadrado. Vale destacar que o mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou mais

áreas distintas, pode receber diferentes avaliações, representando mais de um estrato

indicativo de qualidade4: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, C. Neste sentido, foram selecionadas

as áreas dos veículos que possuíam mais aderência com o tema desta pesquisa, vislumbrando

4 COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Classificação da

produção intelectual. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-

da-producao-intelectual>. Acesso em: 12 set. 2016.

34

a submissão de artigos inspirados na pesquisa. Para averiguar a classificação desses

periódicos junto a CAPES foi utilizado o ISSN de cada veículo, a fim de elaborar o Quadro

03.

Após analisar os periódicos, foi construído o Quadro 04, englobando os 33 artigos

selecionados e seguindo a referida classificação: autor, título, ano, número de citações e

base. Destaca-se que os artigos estão distribuídos em ordem cronológica decrescente.

Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus

Autor Título Ano Periódico N°

Citações Base

van Fenema, Paul

C.; Rietjens,

Sebastiaan; van

Baalen, Peter

Stability & reconstruction operations as mega

projects: Drivers of temporary network

effectiveness

2016

International

Journal of Project

Management

0

Web

Of

Science

Clark, Julie; Kearns,

Ade; Cleland, Claire

Spatial scale, time and process in mega-

events: The complexity of host community

perspectives on neighbourhood change

2016 Cities 0

Web

Of

Science

Grabher, Gernot;

Thiel, Joachim

Projects, people, professions: Trajectories of

learning through a mega-event (the London

2012 case)

2015 Geoforum 1

Web

Of

Science

Molloy, Eamonn;

Chetty, Trish

The Rocky Road to Legacy: Lessons from the

2010 FIFA World Cup South Africa Stadium

Program

2015

Project

Management

Journal

1

Web

Of

Science

Mazur, Alicia K.;

Pisarski, Anne

Major project managers' internal and

external stakeholder relationships: The

development and validation of measurement

scales

2015

International

Journal of Project

Management

0

Web

Of

Science

Mok, Ka Yan; Shen,

Geoffrey Qiping;

Yang, Jing

Stakeholder management studies in mega

construction projects: A review and future

directions

2015

International

Journal of Project

Management

10

Web

Of

Science

Fahri, Johan;

Biesenthal,

Christopher;

Pollack, Julien; et

al.

Understanding Megaproject Success beyond

the Project Close-Out Stage 2015

Construction

Economics And

Building

0

Web

Of

Science

Williams, Nigel L.;

Ferdinand, Nicole;

Pasian, Beverly

Online Stakeholder Interactions in the Early

Stage of a Megaproject 2015

Project

Management

Journal

0

Web

Of

Science

Hu, Yi; Chan,

Albert P. C.; Le,

Yun

Understanding the Determinants of Program

Organization for

Construction Megaproject Success: Case

Study of the Shanghai Expo Construction

2015

Journal of

Management In

Engineering

0

Web

Of

Science

Mazur, Alicia;

Pisarski, Anne;

Chang, Artemis; et

al.

Rating defence major project success: The

role of personal attributes

and stakeholder relationships

2014

International

Journal of Project

Management

6

Web

Of

Science

Gezici, Ferhan; Er,

Serra

What has been left after hosting the Formula

1 Grand Prix in Istanbul? 2014 Cities 0

Web

Of

Science

Van de Graaf, Thijs;

Sovacool, Benjamin

K.

Thinking big: Politics, progress, and security

in the management of Asian and European

energy megaprojects

2014 Energy Policy 9

Web

Of

Science

Davies, Andrew;

Mackenzie, Ian

Project complexity and systems integration:

Constructing the London 2012 Olympics and

Paralympics Games

2014

International

Journal of Project

Management

12

Web

Of

Science

35

Chang, Artemis;

Chih, Ying-Yi;

Chew, Eng; et al.

Reconceptualising mega project success in

Australian Defence: Recognising the

importance of value co-creation

2013

International

Journal of Project

Management

11

Web

Of

Science

Priemus, Hugo Mega-projects: Dealing with Pitfalls 2010 European Planning

Studies 12

Web

Of

Science

Kim, Seon-Gyoo Risk Performance Indexes dnd Measurement

Systems for Mega Construction Projects 2010

Journal of Civil

Engineering And

Management

11

Web

Of

Science

Toor, Shamas-ur-

Rehman; Ogunlana,

Stephen O.

Beyond the 'iron

triangle': Stakeholder perception of key

performance indicators (KPIs) for large-scale

public sector development projects

2010

International

Journal of Project

Management

73

Web

Of

Science

Zhai, Li; Xin,

Yanfei; Cheng,

Chaosheng

Understanding the Value of Project

Management From a Stakeholder's

Perspective: Case Study of Mega-

Project Management

2009

Project

Management

Journal

14

Web

Of

Science

Ray, Subhasis A Case Study of Shell at Sakhalin: Having a

Whale of a Time? 2008

Corporate Social

Responsibility

And

Environmental

Management

10

Web

Of

Science

Warner, M Consensus' participation: an example for

protected areas planning 1997

Public

Administration

And

Development

13

Web

Of

Science

Shokri, S., Ahn,

S., Lee, S., Haas,

C.T., Haas, R.C.G.

Current status of interface management in

construction: Drivers and effects of

systematic interface management

2016

Journal of

Construction

Engineering And

Management

1 Scopus

Sierra,

R.G., Sarmiento,

A.Z.

Hydropower megaprojects in Colombia and

the influence of local communities: A view

from prospect theory to decision making

process based on expert judgment used in

large organizations

2016

International

Journal of Energy

Economics And

Policy

1 Scopus

Martin, Nigel;

Evans, Megan; Rice,

John; et al.

Using offsets to mitigate environmental

impacts of major projects:

A stakeholder analysis

2016

Journal of

Environmental

Management

0 Scopus

Hu, Y., Chan,

A.P.C., Le, Y., Jin,

R.-Z.

From Construction Megaproject Management

to Complex Project Management:

Bibliographic Analysis

2015

Journal of

Management In

Engineering

4 Scopus

Bon, B.

A new megaproject model and a new funding

model. Travelling concepts and local

adaptations around the Delhi metro

2015 Habitat

International 1 Scopus

Randeree, K.

Reputation and mega-project management:

Lessons from host cities of the olympic

games

2014 Change

Management 0 Scopus

Müller, M. After Sochi 2014: Costs and impacts of

Russias Olympic Games 2014

Eurasian

Geography and

Economics

8 Scopus

Jennings, W. Governing the games: High politics, risk and

mega-events 2013

Political Studies

Review 3 Scopus

Doucet, B.

Variations of the entrepreneurial city: Goals,

roles and visions in rotterdam's kop van zuid

and the glasgow harbour megaprojects

2013

International

Journal of Urban

And Regional

Research

6 Scopus

Al Nahyan,

M.T., Sohal,

A.S., Fildes,

B.N., Hawas, Y.E.

Transportation infrastructure development in

the UAE: Stakeholder perspectives on

management practice

2012 Construction

Innovation 1 Scopus

36

Lambert,

J.H., Karvetski,

C.W., Spencer,

D.K., (...), Ditmer,

R.D., Linkov, I.

Prioritizing Infrastructure Investments in

Afghanistan with Multiagency Stakeholders

and Deep Uncertainty of Emergent

Conditions

2012

Journal of

Infrastructure

Systems

19 Scopus

Pokharel, S. Stakeholders’ roles in virtual project

environment: A case study 2011

Journal of

Engineering and

Technology

Management -

JET-M

6 Scopus

Teo,

M.M.M., Loosemor

e, M.

Community-based protest against

construction projects: The social determinants

of protest movement continuity

2010

International

Journal of

Managing Projects

In Business

6 Scopus

Fonte: O autor (2016).

Logo, através do levantamento bibliográfico realizado, será estruturado um

embasamento teórico capaz de suportar as temáticas desta pesquisa e promover sinergia

entre elas: megaprojetos, mega eventos e stakeholders em projetos.

2.2 MEGAPROJETOS

A demanda por megaprojetos, nos mais diversos segmentos, conforme Kardes et al.

(2013), têm viabilizado uma gama de transformações no mundo: crescimento populacional,

urbanização, desenvolvimento tecnológico, enriquecimento e infraestrutura capaz de

viabilizar os confortos da vida moderna. Segundo He et al. (2015), embora seja uma

temática atual, os estudos sobre projetos complexos ainda são muito restritos.

De acordo com Kardes et al. (2013), o tema megaprojetos necessita de estudos

específicos, pois este assunto é resultado da expansão das redes globais de negócios,

envolvendo o aumento no número de colaboradores nesta área e a complexidade de gestão

deste tipo de empreendimento. Conforme Peng et al. (2012), este tema, ainda, apresenta

complexidade e singularidade únicas, possibilitando a existência de múltiplas compreensões.

Para Flyvbjerg (2014), os projetos de grande escala, também denominados mega

projetos de infraestrutura, possuem aplicação nos mais diversos setores: infraestrutura, água

e energia, tecnologia da informação, plantas industriais, cadeias de suprimento, sistemas

administrativos governamentais, reestruturação urbana, exploração espacial e grandes

eventos.

Conforme evidenciados pela literatura especializada de Flyvbjerg et al. (2016);

Grabher e Thiel (2015); He et al. (2015); Molloy e Chetty (2015); Lopez del Puerto et al.

(2014); Kardes et al. (2013), os megaprojetos estão ramificados por todos os continentes:

37

Expo Shanghai 2010; Rodovia Durango-Mazatlán; Aeroporto Internacional de Pequim;

Hidrelétrica Three Gorges Dam na China; Galileo, navegação via satélite na Europa; Copa

do Mundo da FIFA 2010 na África do Sul; os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Copa

do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 realizados no Brasil.

Os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014), têm sido o modelo preferido por

empresas para a entrega de produtos referentes a bens e serviços. Dulcet (2013), vai além,

afirma que os megaprojetos representam espaços urbanos nos quais estratégias

empreendedoras foram implementadas, referindo-se a transformação que eles produzem ao

local e à comunidade.

Conforme Zhai et al. (2009), megaprojetos apresentam maior investimento, maior

complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências mais amplas em

comparação a projetos simples.

Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos

Dimensões de

Complexidade Projeto Independente

Projeto de

Complexidade

Moderada

Projeto de Alta

Complexidade Megaprojetos

Tamanho 3-4 membros na equipe 5-10 membros na

equipe

>10 membros na

equipe

Múltiplas equipes

diversificadas

Tempo <3 meses 3-6 meses 6-12 meses Vários anos

Custo <$250 K $250k–$1 M >$1 M Milhões a Bilhões

Cronograma/

Orçamento Flexível Pequenas Variações Inflexível Agressivo

Contratos Direto Direto Complexo Alta Complexidade

Compreensão

do Problema e

Oportunidade

de Solução

Definido e claro. Fácil

compreensão

Definido e não tão

claro. Parcialmente

compreensível

Definido, mas

ambíguo. Não

clarificada

Indefinida e incertezas.

Indefinida e sem

precedentes.

Requerimentos

de Riscos Compreensível, direto

Compreensível,

instável

Baixa compreensão,

volátil Incertezas, envolvimento

Implicações

Políticas Nenhuma Pequena

Grande, impacta no

propósito do projeto

Ampla, impactando no

propósito de múltiplas

organizações, regiões e

países

Comunicação Direta Desafiadora Complexa Árdua e altamente

complexa

Gestão de

Stakeholders Direta

2-3 grupos de

stakeholders

Múltiplos grupos de

stakeholders com

conflitos de interesse

Múltiplos stakeholders

heterogêneos:

organizações, regiões,

países, órgão regulatórios

Mudanças

Organizacionais

Unidade única de

negócios.

Empresa familiar.

Sistema único de TI

2-3 unidades de

negócios. Processos.

Sistemas de TI

Várias empresas com

processos. Sistemas

múltiplos de Ti

Múltiplas Organizações,

estados, países. Novo

transformador de riscos

Desafios

Comerciais

Sem desafios. Baixa

prática comercial

Moderada prática

comercial

Inovação comercial e

nova cultura de

práticas

Novo comércio e cultura

de práticas

Nível de Risco Baixo Moderado Alto Altamente elevado

38

Restrições

Externas Sem influência externa

Influência de alguns

fatores

Metas principais

dependem de fatores

externos

Sucesso do projeto

depende em grande parte

dos fatores externos:

organizações externas,

Estados, países,

reguladores

Integração Sem problemas de

integração

Pequeno esforço para

integração

Cuidado significativo

para integração

Grande esforço de

integração, porém,

desconhecido

Tecnonologia Aprovada e

compreendida

Comprovada, mas

nova para organização

Imatura, complexa e

fornecida por

colaboradores

externos

Altamente complexa,

inovadora e sem

antecedentes na

engenharia

Complexidade

de Tecnologia

da Informação

Desenvolvimento

aplicado, integrada e

entendida facilmente

Desenvolvimento

aplicado, integrada e

utilizada amplamente

Desenvolvimento

aplicado, integrada e

difícil compreensão

Múltiplos sistemas

complexos a se

desenvolver e a serem

integrados

Fonte: Adaptado de Kardes et al. (2013) e Hass (2009).

Hu et al. (2015), Mazur et al. (2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009)

ratificam as divergências entre os megaprojetos e projetos simples: (a) orçamento superior a

500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza, ambiguidade e

interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de execução; (d)

elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por efeitos do que por

soluções.

Peng et al. (2012) detalha as características dos megaprojetos que podem ser

sistematizadas em dois grandes blocos, propriedades internas e externas, apresentando 21

indicadores.

Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos

Categoria Característica

Principal N° Indicadores específicos Descrição

Propriedades

Internas

Objetivo 1 Número de objetivos Multi propósitos ou propósito único

2 Nível dos objetivos Propósitos estratégicos ou táticos

Ciclo de vida 3 Restrição de cronograma Duração do projeto

Custo e Requisito de

Desempenho

4 Fundos número de investimento e tempo de retorno

do capital

5 Orçamento, recursos

restritos Restrição dos orçamentos e dos recursos

6 Custo de gerenciamento Custo de gerenciamento da informação e

da comunicação

7 Recursos Humanos Investimento em recursos humanos

8 Ativos Fixos Investimento em ativos fixos

9 Relacionamento prioritário

restrito

Relacionamento prioritário restrito as

atividades específicas do projeto

10 Escala e nível de

performance Grande ou pequeno, alto ou baixo

11 Grau de mutação de

desempenho

Desempenho do projeto conduzido ao

propósito original ou não

12 Riscos Projeto tem risco alto ou baixo

13 Incertezas Incertezas causadas por diversos efeitos

39

Departamentos

envolvidos e

habilidades

profissionais

14 Stakeholders Número ou a relação com fornecedores e

outras partes interessadas

15 Interação dos participantes Comunicação entre os setores da gestão do

projeto e as partes interessadas

16 Escala do Projeto Escala do Projeto

17 Complexidade técnica Multidisciplinaridade, qualidade do

investimento em tecnologia, etc

18 Complexidade A estrutura do projeto ou a complexidade

das etapas de execução

Propriedades

Externas

Interação entre

megaprojetos e o

ambienta externo

19 Abertura do Projeto Impacto da economia e do ambiente social

no projeto

20 Impacto no ambiente

externo

Impacto dos megaprojetos na economia e

no ambiente social

21 Implicações Políticas Impacto da política nos megaprojetos

Fonte: Adaptado de Peng et al. (2012).

Segundo He et al. (2015), os megaprojetos de infraestrutura ou construção

apresentam uma complexidade necessária que se manifesta através de seis áreas: (1)

tecnologia (2) organização; (3) objetivo; (4) ambiente; (5) cultura; e (6) informação.

Verifica-se que estas áreas estão em alinhamento com as características propostas por Peng

et al. (2012).

A alta tecnologia complexa (1), em empreendimentos de grande porte, está atrelada

aos processos e operações no gerenciamento destes projetos, de forma a facilitar a utilização

e desenvolvimento de conservação de energia, novos materiais, tecnologia limpa e promover

maior interação entre os atores do projeto, conforme He et al. (2015); e Chang et al. (2013).

A complexidade organizacional (2) compreende a equipe direta que executará o

projeto, a estrutura organizacional com suas burocracias e os demais departamentos. O

contexto organizacional é um fator relevante para a fluidez ou estagnação das operações do

projeto de acordo Van Fenema et al. (2016) e He et al. (2015).

A complexidade relativa ao objetivo (3) do projeto, segundo He et al. (2015) e

Mazur et al. (2014) é normalmente causada pela grande quantidade de atividades, recursos

limitados, vários requisitos e o envolvimento de vários participantes, o que pode dificultar o

alinhamento e execução de variadas metas, oriundas dos objetivos do projeto.

A complexidade ambiental (4) refere-se às forças externas que podem impactar os

megaprojetos: natural, política, mercado e órgãos regulatórios, de acordo com He et al.

(2015). Todavia, o ambiente também engloba a variedade e diversidade de stakeholders que

participam ou são impactados com o projeto. (MAZUR et al., 2015).

A complexidade cultural (5) está associada à pluralidade cultural dos indivíduos da

equipe e da diversidade de perspectivas da mentalidade humana, que se manifesta como

confiança na equipe, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e pensamento sistêmico.

40

Além destes, a complexidade cultural pode ser segmentada em três níveis: cultura nacional e

cultura industrial que dialogam com ambiente externo à organização e cultura

organizacional que engloba o ambiente interno (HE et al. 2015; BROCKMANN E

GIRMSCHEID, 2008).

A complexidade informacional (6), segundo Williams et al. (2015) e He et al. (2015)

está relacionada a capacidade de viabilizar uma comunicação eficaz entre o time gestor do

megaprojeto e entre este time e os stakeholders, através de processos, sistemas de

informações e ferramentas tecnológicas. A comunicação é um fator relevante, pois

possibilita analisar as percepções das partes interessadas sobre o projeto.

Neste sentido, é possível observar que o modelo tradicional de gerenciamento de

projetos, evidenciado na literatura, que preconiza tempo, custos e qualidade técnica, não

comporta todas as singularidades e complexidades dos grandes empreendimentos, conforme

Fahri et al. (2015). Faz-se necessário analisar e gerenciar outros indicadores para a execução

de megaprojetos: segurança, utilização eficiente dos recursos, satisfação dos stakeholders,

gestão dos riscos e redução de conflitos e disputas, afirmam Toor e Ongulana (2010).

Vale ressaltar, que Kardes et al. (2013) realça a importância de se analisar e

gerenciar os aspectos sociais que podem ser compreendidos, segundo Zeng et al. (2015),

como os impactos que permeiam as partes interessadas e o ambiente. O gerenciamento dos

stakeholders torna-se um aspecto fundamental para as boas práticas de gestão de

megaprojetos, implicando em ser um possível critério de sucesso em grandes

empreendimentos, conforme Zhai et al. (2009).

Os megaprojetos, de acordo come Mok et al. (2015) e Jia et al. (2011), apresentam

três funções básicas para o desenvolvimento de uma sociedade: satisfazer necessidades

humanas, sociais e econômicas; divulgar e elevar a imagem do país ou região; e fornecer

infraestrutura para grandes eventos.

Neste sentido, os megaeventos, também considerados megaprojetos, apresentam um

ambiente multi-projeto, isto é, com vários projetos individuais que englobam: transporte,

alojamento e infraestrutura desportiva, mídia e instalações médicas, sistemas de informação,

comunicação e segurança, conforme Müller (2014) e Randeree (2014).

Segundo Clark et al. (2016), no que diz respeito à escala, os Jogos Olímpicos podem

ser considerados a maior representação do segmento de megaeventos. Sendo assim, os

eventos de grande escala podem ser compreendidos como estruturas capazes de promover

mudanças em uma região, impactando diferentes partes interessadas, afirma Randeree

(2014). Logo, dentro deste contexto, é importante analisar como ocorre o gerenciamento de

41

stakeholders em eventos de grande porte.

2.2.1 MEGAEVENTOS

O governo da África do Sul descreveu a Copa do Mundo da FIFA 2010 como um

dos maiores projetos de investimento em infraestrutura realizados no país, com o propósito

explícito de acelerar o crescimento e o desenvolvimento local, segundo Molly e Chetty

(2015). Essa afirmação corrobora a similaridade dos megaeventos com os megaprojetos e os

impactos que proporcionam.

Neste sentido, hospedar um megaevento, de acordo com Horne & Whannel (2016),

pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois

promovem impactos transformadores da população e do local.

Segundo Flyvbejrg et al. (2016), Randeree (2016), Müller (2015), Molloy & Chetty

(2015), Müller (2014), Gezici e Er (2014) e Jennings (2013), os megaeventos podem ser

compreendidos como expos, cúpulas políticas, convenções, festivais, Jogos Olímpicos de

Verão e Inverno, Copa do Mundo de Futebol, Rugby World Copa, Fórmula 1 e Super Bowl.

A organização e planejamento de um megaevento, de acordo com Grabher e Thiel

(2015), como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na execução

que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as infraestruturas,

negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento.

Os megaeventos, embora sejam considerados megaprojetos, são implementados por

um curto e específico período de tempo, separando-os de outras atividades turísticas e

divergindo do próprio conceito de projetos complexos, conforme Gezici e Er (2014).

Todavia, vale realçar, que a infraestrutura essencial capaz de viabilizar estes megaeventos

necessitam de vários anos para serem construídas.

Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito

de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance

imediato, custo e impactos transformadores.

Conforme Müller (2015), de um lado há a atratividade turística e o alcance imediato

que os megaeventos proporcionam, do outro, há os custos de se sediar e viabilizar um

megaevento que podem chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Segundo

Randeree (2014), os altos custos dos eventos de grande porte estão relacionados à

infraestrutura necessária para hospedar o evento, como transporte, telecomunicações,

42

eletricidade e hospedagem, mas também, com os custos diretos de se organizar o próprio

espetáculo, como os salários dos profissionais envolvidos, segurança ou arenas para

realização das competições.

Fourie e Gallego (2011) afirmam que os megaeventos podem produzir benefícios

tangíveis: infraestrutura e retorno econômico, e benefícios intangíveis, difíceis de serem

mensurados: orgulho nacional, patriotismo e visibilidade do local sede.

Gezici e Er (2014) ainda afirmam que os eventos globais são construtores de imagem

para as cidades que os recebem, podendo viabilizar a atração de investimentos internacionais

para a própria localidade e aumento do turismo. Já Müller (2014), acrescenta que a

divulgação da imagem é uma das principais consequências positivas para localidades

emergentes, como China, Índia, África do Sul e Brasil.

Cabe destacar, de acordo com a NBR ISO 20121:2012 (Sistemas de Gestão para a

Sustentabilidade de Eventos - Requisitos com Orientações de Uso), cada vez mais os

eventos de pequeno a grande porte devem ser pensados e estruturados de forma sustentável,

a fim de viabilizarem um legado positivo após suas realizações. Conforme Oliveira (2016), a

NBR ISO 20121:2012, além de mitigar os impactos potencialmente negativos, fornece

orientações capazes de maximizar o engajamento dos processos de inclusão social e

responsabilidade: social, ambiental, econômica, da ética e da transparência, por meio de um

gerenciamento mais sustentável e efetivo.

Neste sentido, além de se buscar construir eventos mais sustentáveis, segundo

Randeree (2014), o gerenciamento de megaprojetos ou megaeventos deve possuir ações

estratégicas capazes de construir uma boa reputação do evento para a comunidade local e

para as outras partes interessadas. Logo, Müller (2015) destaca que o negligência de

determinados requisitos sensíveis ao gerenciamento de megaevento, pode produzir

consequências negativas:

Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos

Requisitos Descrição Consequência

Promessas de benefícios

potencializadas Superestimar os efeitos positivos do evento

Remanejamento de recursos

Perda de confiança com os cidadãos

Subestimação dos custos Orçamento real > orçamento planejado

Remanejamento de recursos

Lucratividade duvidosa

Baixa qualidade de construção

Orçamento deficitário

Evento como prioridade Prioridades do evento tornam-se as

prioridades da localidade

Necessidades do evento restringem-se as

necessidades de infraestrutura

Infraestrutura de grandes dimensões

(possíveis "elefantes brancos")

Infraestrutura inacabada

43

Riscos tomados como

públicos Riscos públicos para benefícios privados

Os fundos públicos são limitados ou sem

benefícios públicos

Lucratividade duvidosa

Exceção a regra Suspensão do Estado de Direito regular

Deslocamentos

Redução da supervisão pública

Participação pública limitada

Foco elitista Distribuição desigual dos recursos Paisagem urbana irregularmente desigual

Gentrificação5

Evento como solução

Megaeventos tornam-se aparentemente

soluções rápidas para os desafios de

planejamento local

Evento determina as prioridades de

financiamento

Ignorando os processos do gerenciamento

regular

Desperdício de recursos no evento como

alavanca para o desenvolvimento urbano

Fonte: Adaptado de Müller (2015).

Jennings (2013) realça que os megaeventos podem ainda provocar déficits

democráticos, excessos de custo e uma possível redistribuição dos recursos econômicos do

setor público para as empresas privadas. Sendo assim, Jennings (2013) questiona sobre

quem ganha e quem perde com organização de grandes eventos.

Diante das possíveis consequências negativas, de acordo com Randeree (2014), o

gerenciamento de megaeventos deve contemplar ações estratégicas participavas, isto é,

propiciar um contexto capaz de estimular a participação e colaboração das várias partes

interessadas.

As partes interessadas, segundo Gezici e Er (2014), devem ser informadas dos riscos

que os grandes eventos carregam e que estes podem ocorrer. Esta interação com os

stakeholders é uma forma de legitimar o próprio evento e gerenciar as expectativas.

Segundo Clark et al. (2016), o megaevento tem a capacidade de remodelar o espaço

físico, reconfigurando as relações sociais e influenciado a forma como a população local e o

lugar são compreendidos.

2.3 STAKEHOLDERS

A natureza complexa e incerta dos megaprojetos requer um gerenciamento eficaz dos

stakeholders, a fim de suportar os múltiplos interesses das partes interessadas e evitar

conflitos, de acordo com Mok et al. (2015). Todavia, antes de aprofundar uma análise sobre

o assunto em questão, faz-se necessário entender o próprio conceito de stakeholder.

Segundo Slinger (1999), a palavra stakeholder foi utilizada pela primeira vez, em

5 Segundo Lauriano (2015), um dos princípios da urbanização é promover o desenvolvimento de uma

localidade. Todavia, este desenvolvimento pode produzir a valorização de um local, através de novos pontos

comerciais ou novos edifícios, afetando negativamente a população de baixa renda local e favorecendo outras

faixas de renda. Sendo assim, há uma estreita relação entre urbanizar e enobrecer. Gentrificar.

44

1963, por Marion Doscher em um relatório de planejamento no Instituto de Pesquisa de

Stanford (atualmente, SRI International). Na ocasião, o termo em debate foi usado com o

intuito de fazer menção as pessoas envolvidas em todas relações de um negócio e possuía

um embasamento oriundo da economia. Vale destacar, de acordo com Torres (2013), as

palavras inglesas stake (interesse e participação) e holder (aquele que possui) ao serem

aglutinadas formaram o sentido da palavra stakeholder: indivíduo ou grupo que possui

interesse ou participação em um negócio.

No entanto, desde 1963, o conceito sobre stakeholders tem sido contornado e

reformulado, apresentando novas discussões e definições. Conforme ratifica Freeman

(2010), na área da administração, o stakeholder de uma organização é qualquer grupo ou

indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos da própria

organização. Já na área de gerenciamento de projetos, de acordo com o PMBoK (PMI, 2013)

e Mazur e Pisarski (2015), o conceito de stakeholder refere-se a um indivíduo, grupo ou

organização que pode afetar, ser afetado, ou sentir-se afetado por uma decisão,

atividade, ou resultado de um projeto ou megaprojeto. Logo, os stakeholders podem

ser: fornecedores, clientes, funcionários, investidores, sociedade e governo.

Neste sentido, segundo Mazur e Pisarski (2015), os stakeholders podem ser

classificados como internos ou externos a organização que executa o megaprojeto. Internos

são os indivíduos ou grupos pertencentes as organizações responsáveis pelo projeto. Já os

externos podem ser compreendidos como a comunidade local e outros atores que possuem

interesse ou são impactados com o megaprojeto.

As partes interessadas também podem ser categorizadas quanto a participação que

possuem no megaprojeto: stakeholders organizacionais, compreendem os executivos, líderes

de linha, funcionários e sindicatos; stakeholders de produto, englobam os clientes,

fornecedores, governos e público em geral; e os stakeholders de mercado de capitais que

podem ser acionistas, investidores, credores e bancos. (MAZUR e PISARSKI, 2015),

Por último, as partes interessadas podem apresentar uma terceira classificação:

primários ou secundários. De acordo com Mazur e Pisarski (2015), Al Nahyan et al. (2012)

e Winch (2004), no que se refere aos stakeholders primários, estes podem ser qualquer

indivíduo contratualmente envolvido com o projeto, como por exemplo os financiadores,

engenheiros, fornecedores, patrocinadores e clientes diretos. Já a classificação secundária

compreende as partes interessadas que são envolvidas indiretamente pelo megaprojeto e não

possuem alguma formalização através de contrato, tais como moradores e empreendimentos

45

locais, além de agências reguladoras.

Vale ressaltar que os indivíduos, tanto das partes interessadas assim como das

organizações, estão inseridos em um contexto mais amplo e podem ter relações tanto com a

própria organização do projeto quanto entre si. Este contexto resulta em um cenário

complexo de concorrência de interesses e que, simultaneamente, exige cooperação os

stakeholders, de acordo com Williams et al. (2015).

Para Al Nahyan et al. (2012), as partes interessadas possuem múltiplos interesses e

múltiplos papéis. Todos estão agrupados em um grande grupo pertencente ao megaprojeto,

apresentando um macro interesse comum, no entanto, podem não compartilhar

necessariamente de um objetivo comum.

Sendo assim, conforme Al Nahyan et al. (2012), as múltiplas partes interessadas

externas podem influenciar nas várias etapas de um projeto. Logo, o gerenciamento dos

stakeholders deve ser iniciado ainda durante as fases de concepção e planejamento do

megaprojeto, objetivando: a comunicação eficaz, a partilha de conhecimentos e tomada de

decisões em conjunto com as partes interessadas. Assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), a

gestão das partes interessadas deve viabilizar a relação interpessoal entre os gestores do

projeto e os stakeholders, estimulando o diálogo entre eles.

O gerenciamento das partes interessadas é uma das áreas sensíveis da gestão de

megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e promover a multiplicidade dos

benefícios relacionados aos próprios stakeholders, segundo Mazur e Pisarski (2015).

O gerenciamento dos stakeholders deve alinhar variados valores, visões e objetivos

específicos do megaprojetos com as diferentes posições das partes interessadas,

contemplando estratégias distintas e específicas, podendo produzir resultados diferentes

Doucet (2013).

Segundo Mazur e Pisarski (2015), o gerenciamento dos stakeholders diz respeito a um

processo que envolve uma série de etapas: identificar as partes interessadas; definir um

modelo de gestão capaz de promover interação com as partes interessadas e categorizá-las

para definição de estratégias; envolver-se e criar engajamento com os stakeholders; e manter

a relação para viabilidade do projeto. Já para Mok et al. (2015), o gerenciamento das partes

interessadas deve ser contemplado sob quatro prismas: (1) interesses e influências das partes

interessadas; (2) gestão de partes interessadas durante o processo; (3) métodos de análise das

partes interessadas; e (4) engajamento das partes interessadas.

O engajamento das partes interessadas é uma maneira de salvaguardar o interesse

público, conforme Mok et al. (2015). Sendo assim, embora as partes interessadas, muitas

46

vezes, não tenham uma autoridade ou representatividade formal no projeto, os stakeholders

podem gerar conflitos e criar resistências, afetando o desenvolvimento do projeto. Neste

sentido, Ng et al. (2012) apresenta três elementos que podem estimular o engajamento das

partes interessadas em megaprojetos: (a) identificar as entidades que possuem influência e os

demais stakeholders; (b) definir as possíveis restrições e preocupações no que se refere ao

processo de engajamento das partes interessadas; e (c) elaborar estratégias específicas de

engajamento.

A gestão ineficaz das partes interessadas pode apresentar as seguintes consequências:

menor probabilidade de êxito no projeto; reduzir a satisfação dos stakeholders com os

resultados do megaprojeto; impactar negativamente o projeto, inviabilizando a geração de

benefícios; e criar obstáculos para a colaboração das partes interessadas junto à gestão,

afirma Mazur e Pisarski (2015).

Conforme Clark et al. (2016), o não envolvimento das partes interessadas no

gerenciamento do megaprojeto pode ser considerado um fator de risco à execução do

projeto, pois interfere na entrega de resultados, minimizando e suprimindo os benefícios que

podem ser gerados. Logo, Mok et al. (2015) afirmam que se faz necessário desenvolver

ferramentas de gestão capazes de promover a colaboração com os stakeholders,

aprendizagem social, compartilhamento dos objetivos do projeto e das informações e

proporcionar processos éticos, a fim de manter a equidade.

Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para

a execução eficaz de projetos. Segundo ainda Warner (1997), o gerenciamentos dos

stakeholders deve proporcionar a interação entre os indivíduos, baseando-se em duas

premissas: (a) alcançar o consenso entre as partes interessadas para negociar e estabelecer

um acordo com os executores do projeto; e (b) capacidade em estimular os heterogêneos

stakeholders em contribuir efetivamente para os processos do projeto.

Sendo assim, o próprio Warner (1997) sugere um modelo de gestão mais inclusivo e

participativo, contemplando o envolvimento da população local e as influências políticas.

Pokharel (2011) ainda corrobora que o desenvolvimento de um modelo de gerenciamento de

stakeholders precisa alinhar os vários objetivos referentes as diferentes partes interessadas.

Por conseguinte, a comunicação eficaz e a gestão de relacionamento podem ser

consideradas estratégias-chave para alcançar o sucesso de um megaprojeto no que tange o

gerenciamento de stakeholders, conforme Chang et al. (2013). Já para Zhai et al. (2009), os

valores ou benefícios de um projeto de grande escala podem apresentar múltiplas dimensões,

47

todavia, estas dimensões devem ser coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders

heterogêneos que englobam o megaprojeto.

Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de

grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e

implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes

benefícios explícitos e implícitos podem provocar percepções distintas nas partes

interessadas de um projeto. Neste sentido, a aplicação ou não das práticas referentes ao

gerenciamento de stakeholders internos e externos pode influenciar fortemente nos valores e

benefícios percebidos, impactando no desenvolvimento do projeto de grande escala.

2.4 APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS

OBJETIVOS DA PESQUISA

O referencial teórico foi construído com o intuito de criar um suporte aos objetivos

estabelecidos na pesquisa, a fim de compreender os conceitos, mapear as percepções e

estabelecer sinergias entre os temas: megaprojetos, megaeventos e stakeholders.

Conforme verificado através da literatura, os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014),

têm sido o modelo preferido por empresas para a entrega de produtos referentes a bens e

serviços, promovendo transformações nas localidades nas quais são aplicados.

Compreendidos também como projetos complexos, os megaprojetos, de acordo com Dulcet

(2013), promovem uma nova significação dos espaços urbanos.

Neste sentido, os megaeventos, como os Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam

similaridades com os megaprojetos, pois viabilizam mudanças nas comunidades onde são

realizados. De acordo com Horne & Whannel (2016), hospedar um evento de grande porte

pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois

promovem impactos transformadores na população e no local.

Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para

a execução eficaz de projetos. A comunidade local pode ser percebida como um dos

stakeholders de um megaprojeto. Sendo assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), os

stakeholders são indivíduos ou grupos que possuam alguma aderência, interesse ou aspecto

de direito em um determinado projeto, podendo contribuir ou serem impactados pelos

resultados do projeto.

Logo, o gerenciamento de stakeholders é uma das áreas sensíveis da gestão de

megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e maximizar os benefícios relacionados

48

às próprias partes interessadas, segundo Mazur e Pisarski (2015). Neste sentido, a revisão da

literatura possibilita entender como o gerenciamento das partes interessadas é representado

no estado da arte e como este estado pode ser retratado na realidade.

Vale realçar que o gerenciamento de stakeholders envolve uma gama de elementos:

social; cultural; ambiental; político; econômico, incluindo o turismo; esportivo; psicológico;

físicos, como a infraestrutura local, rede hoteleira, estádios e renovação urbana; informação

e conhecimento; e símbolos, memória e história, fundamentais a construção dos

megaeventos, representando a complexidade e pluralidade da temática em questão.

49

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Este capítulo visa a oferecer o procedimento sistemático necessário para obter as

soluções das questões-problema propostas nesta pesquisa, conforme Gray (2012). Sendo

assim, a Figura 14, inspirada em Freitas (2016), ilustra de forma resumida as etapas da

pesquisa no que se refere a vertente empírica. Cabe destacar que a Figura 14 é um

desdobramento da Figura 11, na qual está representada toda a metodologia deste estudo.

Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica

Fonte: Adaptado de Freitas (2016).

3.1 INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS

A revisão da literatura, através do levantamento bibliométrico, foi realizada a fim de

estruturar os conceitos, características, metodologias e práticas referentes ao gerenciamento

de stakeholders em megaprojetos, especialmente, no segmento de megaeventos. Sendo

50

assim, foram selecionados artigos, com base nos títulos e resumos, em português e inglês

que possuíam aderência às temáticas propostas.

Através da base de artigos, foram definidas e analisadas as práticas que contemplam o

gerenciamento de stakeholders, sendo fundamentais para a elaboração dos roteiros das

entrevistas futuras.

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com os conceitos estabelecidos por Oliveira et al. (2016), Prodanov e

Freitas (2013), Gray (2012) e Ensslin et al. (2010), buscou-se uma metodologia capaz de

viabilizar as respostas para as questões-problema da pesquisa. Sendo assim, é possível

categorizar o método da seguinte maneira:

Natureza do objetivo.

o Pesquisa Explicativa: nesta pesquisa busca-se identificar quais são as práticas

que contribuem para o gerenciamento de stakeholders em megaprojetos, em

especial, megaeventos.

o Pesquisa Descritiva: este estudo tem como finalidade uma análise sobre o

gerenciamento de stakeholders, como este ocorre, quais são as características,

quais impactos podem ocorrer, de forma a descrever este fenômeno.

Lógica da pesquisa.

o Processo dedutivo: este processo possibilita, conforme Gray (2012), elaborar

um conjunto de princípios e ideias que podem ser testadas pela observação

empírica ou experimentação.

Abordagem do problema.

o Pesquisa qualitativa: o estudo em questão baseada na análise e na descrição

de dados, com a adoção de técnicas do gerenciamento de stakeholders em

megaprojetos, na categoria de megaeventos, aplicadas à pesquisa em ciências

sociais aplicadas.

Coleta de dados.

51

o Primários: levantamento de dados através de entrevistas presenciais

realizadas entre os dias 18 de agosto e 26 de setembro, portanto durante a

realização dos Jogos Rio 2016, para análise do fenômeno de estudo e

proposição de relação entre as variáveis. Cabe destacar que foram feitos

esforços para entrevistar presencialmente todos os estabelecimentos formais e

informais do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas (45 empreendimentos

entrevistados), bem como entrevistas com transeuntes, como moradores,

turistas e praticantes habituais de esportes na região (22 transeuntes

entrevistados). Cumpre-se destacar ainda que à época de realização dos

Jogos, o clima psicológico da população do Rio de Janeiro foi, em grande

medida, de acolhimento e alegria, apesar da insatisfação anterior proveniente

das muitas intervenções de obras para mobilidade e transformação da cidade,

sem falar na instabilidade institucional apresentada pelo país, em geral, e pelo

Estado do RJ, em particular. Nesse sentido, reconhece-se a possibilidade de

que a atmosfera positiva tenha, de alguma forma, incorporado algum grau de

subjetividade nas respostas obtidas. Por outro lado, considerando-se a

representatividade e quantidade de respondentes, tem-se presente que

eventuais vieses estão atenuados.

o Secundários: levantamento bibliográfico e análise de documentação técnica

referente à temática.

Métodos.

o Observação aberta e participante: este instrumento possibilita uma maior

interação in loco do pesquisador com o contexto social, buscando gerar dados

através da observação e escuta de indivíduos.

o Entrevistas semiestruturadas e questionários: foco em coletar dados primários

que somente a observação aberta e participante não é capaz de gerar.

o Análise de conteúdo: abordagem selecionada para realizar inferências sobre

os dados obtidos através dos questionários e entrevistas realizados em campo.

o Estatística descritiva: descrição das características das pesquisa, através de

histogramas e outras tipos gráficos.

Instrumentos.

o Registros fotográficos: documentos visuais que retrataram o dia a dia do

52

território na Lagoa Rodrigo de Freitas no período de realização dos Jogos

Olímpicos Rio 2016 e auxiliaram para a evidenciação do problema de

pesquisa e estruturação do estudo.

o Gravações das entrevistas: ferramenta necessária para que não haja perda de

informação durante a própria entrevista.

o Diário de bordo: registros diários sobre o desenvolvimento e acontecimento

das atividades de pesquisa em campo durante a realização dos Jogos Rio

2016 (Diário completo encontra-se no apêndice 1).

o Tablet e smartphone: o primeiro foi utilizado para a aplicação dos

questionários das entrevistas, promovendo dinamismo e organização a

pesquisa. O segundo foi usado para os registros fotográficos e gravação dos

áudios das entrevistas presenciais.

o Camisa pesquisador: foram confeccionadas 3 unidades de camisas com o

logotipo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a seguinte

identificação: pesquisador. A camisa também foi pensada como uma maneira

de aumentar o engajamento dos possíveis entrevistados em participar da

pesquisa, além de identificar o próprio pesquisador.

Resultado da pesquisa.

o Pesquisa Aplicada: a referida pesquisa vislumbra contribuir com a adição de

novos conhecimentos para a aplicação na prática e novos questionamentos a

fim de fomentar novos estudos.

3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Segundo Flick (2013), na pesquisa social há três maneiras de se coletar de dados:

fazendo perguntas às pessoas, observando-as ou estudando documentos. O próprio autor

ainda ressalta a relevância de se combinar diferentes métodos de coleta de dados, a fim de

construir um embasamento sólido. Sendo assim, neste estudo, buscou-se utilizar mais de um

instrumento para a coleta de dados.

Para facilitar a compreensão das fases da pesquisa, foi elaborado um modelo dos

procedimentos metodológicos, conforme ilustra 15:

53

Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários

Fonte: Adaptado de Araujo e Altro (2014).

A Figura 15 representa o detalhamento das etapas 3 e 4 da Figura 14, estabelecendo a

metodologia utilizada na coleta de dados primários.

Primeiramente, ocorre o levantamento de dados secundários oriundos da revisão da

literatura e que embasam a construção dos roteiros (apêndices 2 e 3) para as entrevistas.

Vale ressaltar que esta etapa está contemplada e detalhada no capítulo 2 deste estudo, no

qual se pode compreender conceitos, características e fenômenos que embasam a temática:

gerenciamento de stakeholders em megaprojetos.

Após esta etapa, são realizadas as coletas de dados referentes as fontes primárias. Esta

fase compreende as seguintes ações: elaboração do roteiro da pesquisa, aplicação do roteiro

em uma pré-testagem, entrevistas na Lagoa Rodrigo de Freitas, análise da coleta de dados e,

por fim, identificação dos fatores críticos no que se refere a gestão de stakeholders em

megaeventos. Sendo assim, os questionários são aplicados à indivíduos que compõe a

comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas ou as partes interessadas desta localidade.

54

A terceira e última etapa retrata a consolidação do estudo, resultando em reunir os

achados da pesquisa através do registro documental e elaboração das lições aprendidas. Vale

destacar que o procedimento global da pesquisa que envolve as três etapas tem como

finalidade promover conclusões teóricas e empíricas.

3.3.1 ENTREVISTAS

Uma entrevista, de acordo com Gray (2012), é uma conversa, organizada e com uma

metodologia entre pessoas na qual uma cumpre o papel de pesquisador. Conforme ainda este

mesmo autor, as pesquisas podem apresentar cinco abordagens: estruturadas,

semiestruturadas, não diretivas, direcionadas e entrevistas com conversas formais.

Neste sentido, a entrevista semiestruturada é utilizada para o levantamento dos dados

primários, pois se julga ser a mais eficaz no contexto desta pesquisa. As entrevistas

semiestruturadas, segundo Flick (2013), são métodos que apresentam um guia de perguntas

que cobrem um escopo, e os entrevistadores podem se desviar da sequência de perguntas. As

entrevistas semiestruturadas são usadas para coletar dados para análise qualitativa, de acordo

com Gray (2012).

As pesquisas semiestruturadas podem ser compreendidas como o cerne na obtenção de

dados primários deste estudo. Todavia, vale destacar que outros métodos também foram

utilizados, como a observação aberta participante.

Sendo assim, cabe realçar que, anterior a execução da pré-testagem e da aplicação dos

questionários, ocorreu uma observação do campo, Lagoa Rodrigo de Freitas, no intuito de

promover o levantamento de algumas evidências empíricas. Nesta etapa anterior à realização

ampliada da pesquisa, foi possível estabelecer: conversas informais com transeuntes e

estabelecimentos, envidar registros fotográficos e desenvolver reconhecimento

pormenorizado do território da Lagoa, suas nuances, e o seu entorno. Consequentemente,

neste primeiro contato, foi possível compreender a necessidade de fragmentar o território da

Lagoa em zonas menores e perceber que alguns indivíduos ficavam desconfortáveis em

comentar sobre os efeitos provenientes dos Jogos Rio 2016 no seu cotidiano.

O reconhecimento do espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas e os registros

fotográficos realizados auxiliaram na confecção dos roteiros. Logo, foram elaborados dois

roteiros cujas perguntas possuem como base o Quadro 08:

55

Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders

Categorias Autores Práticas

Partes Interessadas

Gou et al. (2014); Jia

et al. (2011); Jordhus-

lier (2015); Kytle e

Ruggie (2015); Liu et

al. (2016); Mok et al.

(2015); Sami (2013);

Shi et al. (2015); Teo

e Loosemore (2010);

Mapeamento do perfil social da população local

Divisão da população de acordo com o perfil social

Elaboração de ações com base no perfil e demandas sociais

Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações

sociais integradas

Comunicação com os stakeholders locais é feita estritamente

através da gestão social

Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível

ao público alvo

Participação em reuniões e conselhos comunitários

Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e

lideranças comunitárias

As obras em locais críticos, sob a perspectiva de instabilidade

social e violência, são acompanhadas pelo mediador da

comunidade

Canal de comunicação direta entre a comunidade e a

organização

Promoção de acesso à cultura, lazer e entretenimento

Diálogo com entidades públicas

Medidas assecuratórias

Comunicação de obra com todos os impactos causados pela

implementação do megaprojeto de acordo com a área afetada

Comitê de gestão de crise

Mobilização social antes da operacionalização da obra

Econômica

Gou et al. (2014);

Kytle e Ruggie

(2005); Liu et al.

(2016); Shi et al.

(2015); Teo e

Loosemore (2010);

Medidas para permitir a operacionalização de empresas e

comércios no site do projeto

Fonte: Adaptado de Freitas (2016).

O Quadro 08 contempla as práticas de gerenciamentos de stakeholders que envolvam

os stakeholders. Este Quadro é uma adaptação da pesquisa de Freitas (2016), na qual o

referido autor realizou um levantamento, confrontando as prática encontradas na literatura

científica com as práticas encontradas no estudo de caso.

Com o suporte do Quadro 08, o primeiro roteiro proposto foi com foco nos transeuntes

da Lagoa Rodrigo de Freitas, constituído por 20 perguntas abertas e fechadas segmentadas

em 3 seções.

O segundo roteiro já focaliza nos empreendimentos formais e informais ou

associações também localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo constituído por 28

perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções.

Ambos roteiros propostos, que estão disponibilizados nos apêndices 2 e 3 deste estudo,

56

possuem 3 seções de perguntas nesta ordem que representam: identificação social; práticas

de gerenciamento de stakeholders aplicadas ao dia a dia do respondente; e percepção de

satisfação com a realização do megaevento. Todas as seções possuíam perguntas abertas e

fechadas. Cabe realçar que o território da Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentado em 7

áreas: Fonte da Saudade, Curva do Calombo, Corte do Cantagalo, Lado de Ipanema, Lado

do Leblon, Lado do Jardim Botânico e Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins, a fim de

contemplar a totalidade do espaço. A Figura 16 ilustra as microrregiões:

Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões

Fonte: Adaptado do Google Maps (2016).

Vale destacar, conforme evidenciado na literatura através de Mazur e Pisarski (2015),

Al Nahyan et al. (2012) e Winch (2004), que os roteiros elaborados tem como foco os

indivíduos ou empreendimentos que estejam na qualidade de stakeholder:

Stakeholders externos – englobam as partes interessadas que não compõem as

57

organizações executoras do megaevento Rio 2016;

Stakeholders de produto – envolvem os clientes, fornecedores, governos e

público em geral;

Stakeholders primários ou secundários – os impactados direta e indiretamente

pelo megaevento.

Após a elaboração dos roteiros de pesquisa, estes foram avaliados e validados junto ao

orientador. Posteriormente, foi submetido a avaliação de um pesquisador com a titulação de

mestre e com conhecimentos específicos na área. Sendo assim, foram realizadas as

alterações necessárias ou incorporação de novas perguntas.

Em seguida, o instrumento foi submetido a uma pré-testagem com dois

estabelecimentos e com dois transeuntes, a fim de verificar a consistência e a validação do

referido instrumento. A pré-testagem tem a finalidade de averiguar os níveis de

compreensão e entendimento das perguntas, disposição da ordem das perguntas e formas de

abordar o entrevistado para assim, mapear oportunidade de melhorias, conforme Flick

(2013), Gray (2012) e Bardin et al. (2000).

Neste sentido, a pré-testagem ocorreu no dia 17 de agosto de 2016 e foi realizada em

duas microrregiões da Lagoa Rodrigo de Freitas: Lado Jardim Botânico e Parque dos Patins,

sendo direcionadas a dois estabelecimentos - Caipirinha & Filé e Quiosque do Índio – e a

dois transeuntes. Através da pré-testagem foi possível avaliar que os roteiros das entrevistas

foram construídos de maneira equivocada, pois os entrevistados ficavam ansiosos em

comentar sobre o que achavam da Olimpíada e não em responder as perguntas do roteiro.

Sendo assim, foi coerente realizar algumas modificações:

Perguntas abertas: passaram a iniciar o questionário após a seção de

identificação social. Assim, o entrevistado realizava um grande

brainstorming 6 , possibilitando uma aproximação e uma empatia entre o

pesquisador e o entrevistado.

Escala Likert: inicialmente, a escala apresentava a seguinte medição: 0, 1, 2, 3,

4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, na qual 0 era um indicador negativo ou menos favorável e

10 positivo ou mais favorável. Todavia, esta escala gerou confusão aos

entrevistados. Sendo assim, fez-se necessário minimizar a escala (de 0 a 5),

tornando-a mais simplificada: (1) discordo totalmente; (2) discordo; (3) não

6 Segundo Gary (2012) e Jarvis (1995), o brainstorming é uma técnica para gerar e refinar ideias, priorizando

que a quantidade de ideias produzidas é mais importante do que a qualidade. Vale realçar que não há ideias

certas ou erradas e sim as que possuem mais aderência ou não ao propósito que se deseja.

58

discord/concordo; (4) concordo; e (5) concordo totalmente.

Vocabulário: foi necessário realizar adequação, pois o vocabulário apresentado

estava técnico, o que ocasionava um distanciamento do entrevistado ou a não

compreensão da pergunta, uma vez que a comunidade local da Lagoa Rodrigo

de Freitas apresenta um diversificado nível de escolaridade.

Abordagem ao entrevistado: a própria abordagem estava técnica, ocasionando

distanciamento do entrevistado ou até mesmo provocar uma percepção de

superioridade do pesquisador. Neste sentido, foi adotada uma postura menos

técnica, com uma linguagem mais simples e objetiva.

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

Devido aos múltiplos métodos utilizados nesta pesquisa, foi adotada uma

fundamentação lógica que consiste, neste caso, o estudo de caso, entrevistas e pesquisas de

levantamento, atrelados às perspectivas do pesquisador. Esta fundamentação é denominada

triangulação, conforme Yin (2015) e Gray (2012).

Sendo assim, o tratamento dos dados brutos obtidos através das entrevistas foram

sistematizados, a fim de gerar um conteúdo e informações relevantes à pesquisa. Todavia,

isto não é suficiente. Logo, foi utilizada umas das abordagens mais comuns à análise de

dados qualitativos, de acordo com Gray (2012): a análise de conteúdo.

A análise de conteúdo é “um método empírico para a descrição sistemática e

intersubjetivamente transparentes das características substanciais e formais das mensagens”

(Früh, 1991, p.25). A análise de conteúdo é pode ser considerada uma das abordagens

dedutivas de análise qualitativa. (GRAY, 2012).

Segundo Berg (2006), a análise de conteúdo também funciona como testagem de

hipótese e sugere três fases: (1) elabore uma hipótese bruta com base em observação dos

dados; (2) pesquise os dados para encontrar casos que não se alinhem à hipótese; e (3) se

forem encontrados casos negativos, reformule a hipótese. Já para Bardin et al. (2000), a

análise de conteúdo possui quatro etapas: a codificação, categorização, interpretação e

inferência.

Além da análise de conteúdo, também foi usado o método de estatística descritiva para

discussão dos resultados. Segundo Gray (2012), este método consiste em descrever as

características básicas de um estudo, utilizando uma análise gráfica. O referido autor ainda

ressalta que este método pode favorecer a uma comunicação eficaz dos dados, através de um

59

formato gráfico prontamente acessível.

A análise estatística dos dados se faz necessária como estratégia para melhor estruturar

as informações relevantes à pesquisa. Neste sentido, Flick (2013) e Kromrey (2006)

corroboram sobre a importância da análise quantitativa: “é um procedimento estritamente

orientado para o objetivo, que visa à ‘objetividade’ dos seus resultados por meio de uma

padronização de todos os passos na medida do possível, e que postule uma verificação

intersubjetiva como a norma central para a garantia da qualidade.”

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Em relação ao levantamento bibliométrico, pode ocorrer a omissão de alguma palavra-

chave importante ou a inserção de algum conectivo de forma equivocada. Sendo assim,

alguns artigos podem não ter sido localizados, logo, não passando por uma análise que

permitisse a seleção desses artigos. Vale ressaltar, também, que uma busca mais ampla em

outras bases de dados poderia sugerir periódicos diferenciados capazes de promover uma

abordagem distinta ao estudo.

Outras limitações deste trabalho podem estar enraizadas nas percepções do

pesquisador. Embora haja uma metodologia sólida que suporte esta pesquisa, em algumas

etapas do processo metodológico, a subjetividade do pesquisador se faz presente, como na

seleção de artigos, de acordo com Paiva Júnior et al., (2011). Neste contexto, a subjetividade

é representada como uma atividade interpretativa necessária à pesquisa.

Por fim, ainda no que tange o universo deste estudo e devido ao fato de a pesquisa ter

sido realizada durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – evento que observou

forte apelo emocional (para o bem e para o mal) de grande parte da população do Rio de

Janeiro, esta pesquisa contemplou, durante as entrevistas, momentos em que os

entrevistados se exaltaram de forma negativa e também considerou a memória destes

entrevistados. Sendo assim, podendo haver perda de informações ou exagero no conteúdo

externado.

60

4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são analisados e discutidos os resultados obtidos através das entrevistas

realizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, a fim de embasar a parte empírica deste estudo.

As entrevistas foram segmentadas em dois tipos de roteiro: transeuntes e

empreendimentos (apêndices 2 e 3). Tal divisão se fez necessária para buscar especificidade

sobre as informações relevantes à investigação, além de preconizar uma interação e

colaboração eficaz com os entrevistados. Neste sentido, foram realizadas 71 entrevistas,

sendo divididas: 24 questionários de transeuntes, contemplando 02 questionários na pré-

testagem e 22 questionários aplicados no período dos Jogos Olímpicos; e 47 questionários

de empreendimentos, englobando 02 questionários de pré-testagem e 45 aplicados.

Neste sentido, a fim de analisar os dados levantados, este capítulo está estruturado em

quatro seções: (1) análise e discussões das percepções dos transeuntes; (2) análise e

discussões das percepções dos representantes dos empreendimentos; (3) análise comparativa

entre transeuntes e empreendimentos; (4) confrontação dos resultados com a revisão da

literatura e conclusões.

4.1 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES

4.1.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES

A primeira amostra contempla os transeuntes, representando 22 questionários

respondidos. As entrevistas foram aplicadas ao longo de todo o território da Lagoa Rodrigo

de Freitas entre os dias 19 a 22 de agosto do corrente ano, portanto durante a realização dos

Jogos Olímpicos Rio 2016.

Em termos de categorização dos respondentes, houve uma distribuição quanto ao

gênero, sendo 09 mulheres e 13 homens. Conforme a Figura 17, é possível verificar a

distribuição do gênero em relação ao nível de escolaridade.

61

Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero

A Figura 17 ilustra que mais de setenta e sete por cento dos entrevistados possuem no

mínimo ensino superior, podendo ainda apresentar especialização stricto ou lato sensu.

Neste sentido, foi analisado também a relação entre o entrevistado e a localidade, podendo

ser: transeunte, morador ou trabalha pela região. A Figura 18 retrata esta divisão:

Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa Rodrigo de Freitas

62

Quase metade dos entrevistados estavam de passagem pela Lagoa Rodrigo de Freitas,

seja praticando esporte, somente transitando ou desfrutando da localidade como ponto

turístico/ equipamento público de lazer. Sendo assim, foi feita uma análise comparativa do

nível de escolaridade do entrevistado com a localidade em que o respondente reside na

cidade do Rio de Janeiro ou outro município, de acordo com o quadro o Quadro 09:

Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem

Escolaridade Entrevistado Bairro

Da 5a à 8a série do Ensino

Fundamental (antigo ginásio)

1 Duque de Caxias

2 Campo Grande

Ensino Médio (antigo 2o grau)

3 Vila Isabel

4 Jacarepaguá

5 Copacabana

Ensino Superior

6 São Gonçalo

7 Nova Iguaçu

8 Tijuca

9 Méier

10 Tijuca

11 Tijuca

12 Lagoa

13 Ipanema

14 Copacabana

Especialização

15 Ilha do Governador

16 Copacabana

17 Lagoa

18 Fonte da Saudade

19 Jardim Botânico

20 Humaitá

Mestrado ou mais 21 Humaitá

22 Lagoa

Através do Quadro 09, é possível averiguar que os respondentes que possuem no

mínimo ensino superior ou mais residem na parte nobre do Rio de Janeiro, a Zona Sul. Além

disto, os bairros que contornam a Lagoa apresentam os residentes com maior nível de

escolaridade. Logo, é possível observar que as pessoas que habitam estes bairros possuem

mais condições de apresentar uma renda financeira elevada. Em contraposição, os

indivíduos com menor nível de escolaridade residem em sua maioria na Zona Oeste, Zona

63

Norte, ou Baixada Fluminense, reforçando a dicotomia econômica entre classes sociais que

existe entre as Zonas Norte e Sul da cidade do Rio de Janeiro.

Vale destacar, que os indivíduos residentes em Copacabana não se consideram como

moradores da região da Lagoa Rodrigo de Freitas e que setenta e sete por cento dos

entrevistados frequentam a lagoa há mais de 3 anos.

4.1.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O MEGAEVENTO

Após a análise do perfil dos transeuntes respondentes, essa seção avalia a percepção

do entrevistado em relação ao consequências do megaevento, no que se referem às práticas

de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela realização dos

jogos olímpicos.

Foi evidente que os jogos olímpicos modificaram o cotidiano da Lagoa Rodrigo de

Freitas, conforme reiterado em conversa com um dos entrevistados, Sr. Daniel, morador do

próprio bairro Lagoa Rodrigo de Freitas, na qual ele confirma que a localidade estava mais

movimentada e com mais policiamento, no entanto, ficou apreensivo com o caos que a

realização dos jogos poderia gerar como, por exemplo, o trânsito. Sendo assim, foi

perguntado aos entrevistados se antes dos inícios das competições da Olimpíada na Lagoa

Rodrigo de Freitas, eles tiveram conhecimento sobre os possíveis impactos que ocorreriam

no seu dia a dia, de acordo com a Figura 19:

Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de Freitas com a

Realização dos Jogos Olímpicos

64

Faz-se relevante observar que ocorreu uma distribuição igualitária de cinquenta por

cento entre as resposta. Metade da amostra estava informada sobre as possíveis mudanças

que ocorreriam na Lagoa em detrimento da realização das competições olímpicas, levando a

crer que houve uma comunicação ineficaz dos eventuais contratempos que poderiam ser

produzidos. Os respondentes que informam possuir ciência sobre os fatos, comentaram que

os principais meios foram: jornal, internet, propagandas do governo e o boca a boca, ou seja,

transferência de informação através do uso falado da língua portuguesa, no caso. Além

disso, eles destacaram o assunto: tentativa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas,

como o mais abordado pelas mídias citadas.

Contudo, foi questionado aos entrevistados se eles sofreram algum impacto no seu

cotidiano com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de competições

olímpicas, de acordo com o Quadro 10:

Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados

Positivos Negativos

Clima Festivo Trânsito

Projeção da cidade e do país Cercamento

Sensação de segurança Desvios na ciclovia

Movimentação Turística

Algumas áreas de lazer

interditadas (parque de

crianças, academia de idosos

e quadras poliesportivas)

Despoluição da lagoa Estacionamento do parque

dos patins fechado

Policiamento Impedimento de ir e vir

Sensação de problemas

suspensos, como a crise

econômica e política no Brasil

e no Estado do RJ

Despoluição da lagoa

Impedimento para trabalhar

Fonte: autor (2016)

O Quadro 10 ilustra as palavras que foram mencionadas pelos entrevistados e

apresentam aderência tanto com os impactos positivos como os negativos. Para isto, foi

pensado em uma análise explicativa de conteúdo, que, segundo Flick (2013), busca

promover o contexto estrito da palavra, definição etimológica de cada palavra no texto, com

o contexto amplo, abordagem que extrai o sentido das palavras através de informações além

do texto.

65

Ainda sobre o Quadro 10, o ponto positivo mais comentado pela amostra,

representando vinte e dois por dos entrevistados, foi a sensação de segurança na Lagoa

Rodrigo de Freitas e o policiamento ostensivo. Contudo, a palavra “cercamento” foi o

aspecto negativo que mais apareceu entre os questionários de transeuntes, representando um

terço dos respondentes. Vale destacar que o cercamento também é um dos motivos da

interdição de algumas zonas de lazer na Lagoa, pois provocou o isolamento destas áreas, em

especial, na Fonte da Saudade, espaço conhecido como Baixo Bebê, e no Parque dos Patins.

O tema “despoluição da lagoa” aparece, simultaneamente, tanto como característica

positiva e negativa, podendo ser observado como: um benefício gerado para a realização dos

jogos olímpicos ou falha de gestão do megaevento que não conseguiu entregar o que foi

combinado. Destaca-se ainda que na amostra, a despoluição prevalece como um aspecto

negativo, uma ação não realizada.

Apesar do surgimento de impactos negativos que causaram mudanças ao dia a dia dos

indivíduos que frequentam a Lagoa Rodrigo de Freitas e as adjacências, setenta e sete por

cento dos respondentes informaram que o cotidiano continua normal ou foi modificado para

melhor. Esta compreensão é possível devido algumas causas contempladas pelos

respondentes: (a) os aspectos negativos existem, mas são temporários, além de necessários

para a realização dos jogos; (b) os respondentes acreditavam que a organização da

Olimpíada seria bem pior do que foi apresentado, sendo suportável as modificações

temporárias; (c) a Copa do Mundo de 2014 já foi um ensaio para as transformações

ocasionadas pelas Olímpiadas, logo, a população já dispunha de uma percepção prévia sobre

as mudanças; e (d) a sensação da cidade do Rio de Janeiro estar segura, clima festivo e com

turistas de todo o mundo, auxiliaram na superação dos aspectos negativos ou em uma

sensação de que os problemas estavam suspensos por um período.

Sendo assim, fez-se necessário avaliar qual a percepção da amostra sobre a

organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 20

apresenta a esta percepção:

66

Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas

É possível averiguar, conforme a Figura 20, que setenta e sete por cento da amostra

considerou a organização do evento eficaz, apesar de existirem impactos negativos. Cabe

ressaltar também que este resultado pode estar atrelado ao fato que os entrevistados

esperavam um evento desorganizado, sendo assim, o mínimo de organização ocorrida pode

ser julgado como um processo eficaz.

Diante da satisfação dos respondentes com a organização do megaevento, foi

questionado sobre o nível de felicidade que eles apresentavam no período de realização da

Olimpíada, de acordo com a Figura 21:

Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de

Atividades da Olimpíada 2016

67

Novamente é possível observar que setenta e sete por cento dos entrevistados estavam

satisfeitos com a realização do evento. Este efeito pode ser percebido, em especial, pelo

clima festivo proporcionado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme mencionou a

respondente Patrícia Lacerda, moradora do bairro Humaitá: “Já estou com saudades das

Olimpíadas, poderia ter todo ano”. Todavia, os entrevistados também foram questionados se

a organização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco das atividades dos Jogos Rio 2016

produziram benefícios para eles, de acordo com a Figura 22.

Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da

Rio 2016

Apesar dos respondentes acharem a organização do evento eficaz e estarem contentes

com a realização do mesmo, sessenta e três por cento dos entrevistados discordam ou não

conseguem perceber quais o benefícios gerados a partir da Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo

utilizada como arena das competições da Olimpíada. O alto percentual de indivíduos

contentes não acompanha a percepção do entrevistado em relação aos benefícios, podendo-

se dizer que são quase inversamente proporcionais.

Sendo assim, os critérios relacionados a uma boa execução da Olimpíada, podem não

passar por uma análise de benefícios que devem ser produzidos pelo megaevento à

comunidade local, segundo a percepção dos entrevistados. Neste sentido, alguns indivíduos

da amostra apresentaram dificuldade em informar qual o legado que fica dos Jogos

Olímpicos Rio 2016 para a Lagoa e para a cidade do Rio de Janeiro. Contudo, sessenta e

68

oito por cento dos respondentes informaram que haverá um legado tangível: a infraestrutura

– transporte, boulevard olímpicos e os parques olímpicos, e intangível: divulgação global da

Lagoa Rodrigo de Freitas e da cidade do Rio de Janeiro.

Ressalta-se sobre os sessenta e oito por cento dos respondentes que informaram que

haverá legados dos jogos olímpicos, somente 03 indivíduos mencionaram que “a prática

esportiva e o fomento ao esporte” ficará como legado tanto para a Lagoa como para a

cidade.

Através da pesquisa realizada com os transeuntes é possível verificar que os Jogos

Olímpicos Rio 2016 despertaram compreensões e sentimentos distintos na comunidade

local. As pessoas estavam felizes com a Olimpíada, mas não conseguiam observar

benefícios produzidos pelo megaevento, conforme mencionou o Sr. Almir que trabalha pela

região: é um evento para quem pode pagar e não para o povão. No entanto, o Sr. Eudes,

morador do bairro Jardim Botânico, contrapõe: os jogos impulsionaram o turismo na cidade

e deixou-a mais movimentada, todavia, há um preço que precisamos pagar para receber a

Olimpíada.

4.2 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS EMPREENDIMENTOS

4.2.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS

A segunda amostra contempla as instituições e empreendimentos formais e informais,

representando 45 questionários respondidos. As entrevistas foram aplicadas também em

todo espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas entre os dias 19 de agosto a 19 de

setembro de 2016, durante a realização dos Jogos Olímpicos.

Cabe destacar que as entrevistas se estenderam além do período olímpico e até mesmo

ultrapassando o período Paralímpico, pois muitos estabelecimentos fecharam e somente

retornaram após a Paralimpíada ou com a finalização de todo o evento. Além deste

contratempo, cabe informar que alguns estabelecimentos não retornaram o contato

presencial, telefônico ou online estabelecido pelo pesquisador, inviabilizando a realização da

entrevista.

Neste sentido, em termos de categorização dos entrevistados referentes aos

empreendimentos, houve uma distribuição dos entrevistados de acordo com a área em que

estão localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 23 ilustra esta distribuição

69

Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de Freitas

Através da Figura 23, observa-se uma concentração de entrevistados no Corte do

Cantagalo e, em seguida, no Parque dos Patins. Estas áreas são as que mais congregam

estabelecimentos na Lagoa, logo, a ocorrência no maior número de entrevistas. Essas zonas

podem ser consideradas como os principais pontos de lazer da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Vale mencionar que a iniciativa Lagoa Presente, programa do Governo do Estado com a

Fecomércio RJ7 de policiamento militar ostensivo em toda a Lagoa Rodrigo de Freitas, tinha

a sua base localizada no estacionamento do Parque dos Patins, no entanto, com o cercamento

deste estacionamento, a base da iniciativa foi deslocada para o Corte do Cantagalo.

Após a análise de localização dos empreendimentos, foi pesquisada a categoria dos

estabelecimentos entrevistados, conforme a Figura 24:

7 BRUM, A.; DINIZ, P. Operação Segurança Presente. Disponível em: <http://www.fecomercio-

rj.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=13854&tpl=printerview&sid=96> Acesso em: 01 out. 2016.

70

Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria

Os Quiosques de Cocos são os mais recorrentes estabelecimentos encontrados e estão

distribuídos por toda extensão da Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que os vendedores

de coco em sua grande maioria estão há mais de 15 anos atuando na localidade. Outro

destaque são os restaurantes, dos 7 entrevistados, 4 estão localizados no Parque dos Patins e

os outros 3 no Corte do Cantagalo, ratificando que estas zonas, além de oferecerem lazer,

são consideradas áreas gastronômicas da Lagoa.

Em seguida, buscou-se verificar o tempo de atuação dos negócios na Lagoa Rodrigo

de Freitas em relação a formalização do próprio estabelecimento junto a prefeitura do

município do Rio de Janeiro, conforme ilustrado na Figura 25:

71

Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação na Lagoa Rodrigo

de Freitas

De acordo com a Figura 25, mais de oitenta e cinco por cento dos empreendimentos

estão há mais de cinco anos funcionando na Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que

grande parte dos oitenta e cinco por cento apresentam uma média de 22 anos de atuação na

Lagoa, com destaque para: Pedalinhos Klein com 50 anos; Clube de Regatas Vasco da

Gama com 66 anos; Botafogo de Remo, conhecida como Sacopã, com 76 anos; Clube de

Regatas do Flamengo com mais de 80 anos; e a Colônia de Pescadores Z-13 com mais de

100 anos.

Em relação a formalização dos estabelecimentos, somente 02 empreendimentos

entrevistados eram informais, um carrinho de cachorro-quente e uma carrocinha de pipoca.

Este baixo número de informais tem como causa o policiamento ostensivo que ocorreu

durante a Olimpíada, inibindo a prática comercial de vendedores não formalizados que

poderiam ter as mercadoria apreendidas.

A última análise em relação ao perfil destes entrevistados compreende o porte do

estabelecimento no que se refere a quantidade de funcionários que possui. Sendo assim, a

Figura 26 representa o porte de cada empreendimento pesquisado:

72

Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários

Pode-se depreender da Figura 26, uma grande concentração de negócios que

possuem nenhum ou até 03 funcionários. Esta percepção corrobora que a grande maioria dos

empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas, quiosques de coco e barraquinha de venda

de alimentos, são de profissionais autônomos que adquiriram uma licença junto à Prefeitura

para realizarem venda de seus produtos ou são negócios familiares com até 3 colaboradores,

no quais trabalham esposa e esposo ou país e filhos.

Em destaque, apresenta-se como empreendimentos de médio à grande porte com

mais de 16 funcionários: os restaurantes Arab (Parque dos Patins) e Palaphita Kitch (Corte

do Cantagalo); Clube de Regatas do Flamengo (Leblon) e Clube Botafogo de Remo (Curva

do Calombo); Colônia de Pescadores Z-13 (Parque dos Patins); e iniciativa Lagoa Presente,

representada pela PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (base temporária no

Corte do Cantagalo).

73

Através da pesquisa de perfil, é possível averiguar a heterogeneidade dos

empreendimentos analisados, apresentando portes, serviços, tempo de atuação e localização

distintos. Todavia, as consequências da Olimpíada também podem apresentar um caráter

heterogêneo sobre os estabelecimentos.

4.2.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O

MEGAEVENTO

Após a análise do perfil dos empreendimentos respondentes, evidenciando uma

heterogeneidade entre estabelecimentos, essa seção avalia a percepção do responsável pelo

estabelecimento em relação ao consequências dos jogos olímpicos, no que se refere as

práticas de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela

realização do megaevento.

A organização para os Jogos Olímpicos Rio 2016 promoveu várias mudanças no

cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas muito antes da realização das próprias competições,

entre 05 de agosto a 18 de setembro. Conforme reitera o Sr. Marcelo, treinador do time de

remo do Vasco da Gama, que as atividades do clube sofreram alterações desde o mês de

junho de 2016, como o não funcionamento da escolinha de remo, pois não tinham permissão

de utilizar o espelho d’água da Lagoa.

Neste sentido, foram realizadas perguntas, abertas e fechadas, para avaliar qual a

percepção dos entrevistados sobre a consequências do megaevento no cotidiano do

estabelecimento, conforme a Figura 27:

Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no Cotidiano do Negócio

74

A Figura 27 ilustra o equilíbrio em relação às percepções positivas e negativas quanto

ao megaevento. Vale salientar que dos 21 respondentes que afirmaram que os jogos

olímpicos impactaram de forma positiva no cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas, mais de

setenta e cinco por cento estão localizados na Curva do Calombo e Corte do Cantagalo.

Somente 01 respondente está localizado no Parque dos Patins.

Dentre os principais aspectos mencionados como positivo pelos 21 respondentes estão:

o policiamento, aumentos de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas e incremento

nas vendas. Em relação as vendas, a Figura 28 retrata este cenário.

Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do Empreendimento

As vendas não foram percebidas como o principal fator positivo, pois a maior parte

dos estabelecimentos não obtiveram aumentos consideráveis. No entanto, segundo o gerente

do Palaphita Kitch, Sr. Werneck, o movimento e as vendas aumentaram consideravelmente,

sendo um dos melhores momentos desde a fundação do empreendimento, localizado no

Corte do Cantagalo ao lado do estabelecimento temporário Baixo Suíça.

Apesar de também ser mencionado como fator negativo por 1 respondente, o Baixo

Suíça foi percebido como uma ação positiva. Também conhecida como Casa Suíça, este

empreendimento atraiu milhares de pessoas, apresentando filas com tempo de espera de

aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Dado o sucesso deste empreendimento, ele polarizou

um aumento significativo de pessoas circulando pelo Corte do Cantagalo e usufruindo dos

estabelecimentos próximos. O Sr. Roberto, garçom do estabelecimento Balkon, ratifica que

75

os eventos promovidos pela Casa Suíça movimentaram o mês de agosto que costumava ser

fraco, pois trouxeram turistas e gringos para esta área.

Além dos destaques positivos mencionados por esses empreendimentos de maior

porte, os estabelecimento de profissionais autônomos com até 3 pessoas, comentaram da

satisfação em ter a Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas, conforme reitera o Sr. Ofir,

único vendedor formal de milho da Lagoa: há bastante estrangeiros circulando e ainda

tivemos cursos para ajudar no atendimento ao cliente. O Sr. Ofir ainda fez questão de

mostrar o certificado de noções básicas de manipulação de alimentos adquirido, como retrata

a Figura 29:

Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr. Ofir

Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.

Em contraposição a percepção positiva, 20 entrevistados informaram que o

megaevento produziu impactos negativos. Dos 20 respondentes, sessenta e cinco por cento

estão localizados no Parque dos Patins, Jardim Botânico e Fonte da Saudade. Ainda sobre

estes 20 respondentes, 5 estão instalados no Corte do Cantagalo, incluindo um dos

estabelecimentos informais, o carrinho de cachorro-quente. De acordo com o próprio

vendedor deste negócio, Sr. Arnaldo, o movimento na Lagoa está melhor, mas está mais

difícil de trabalhar, uma vez que houve o aumento da fiscalização através da PMERJ.

Dentre as razões dos impactos negativos promovido à Lagoa Rodrigo de Freitas, o

76

principal efeito mencionado é o cercamento que ocorreu em algumas parte lagoa,

desencadeando uma série de prejuízos: (a) inviabilidade de utilizar o estacionamento do

Parque dos Patins; (b) reduziu a circulação de pessoas, consequentemente, diminuindo as

vendas; (c) alguns estabelecimentos ficaram incapacitados de funcionar; (d) outros

empreendimentos precisaram ser deslocados do seu lugar de origem para continuarem

funcionando; (e) algumas áreas ficaram praticamente desertadas, sem movimentação de

pessoas. Vale ressaltar que as principais áreas atingidas com o cercamento foram: Fonte da

Saudade, Parque dos Patins e parte Leblon, mais especificamente, ao redor do Clube de

Regatas do Flamengo.

Dentre os aspectos negativos, um dos empreendimentos que teve grande impacto

devido ao cercamento foi a Colônia de Pescadores Z-13. A colônia, que possui mais de 100

anos de existência, foi completamente cercada, mantendo-a isolada. Os pescadores, depois

de muita negociação com o comitê organizador dos jogos, conseguiram ter acesso à colônia

e a própria lagoa para pescar somente no horários das 20 horas até as 05 horas. Todavia, esta

ação não foi suficiente, pois os pescadores não conseguiam estacionar os caminhões

próximos à colônia, para realizar a retirada dos peixes e armazená-los no gelo.

Muitos pescadores, por morar longe ou até mesmo em outros municípios, decidiram

paralisar as atividades, ficando afastados da colônia e sem pescar por um período de até 03

meses. Em um primeiro momento, os pescadores informaram que o comitê organizador do

Jogos Olímpicos Rio 2016 tinha apresentado um plano de contingência, no qual, os

pescadores seriam reaproveitados em atividades da Rio 2016, com o intuito de possuírem

uma verba extra até voltarem a pescar. Contudo, esta iniciativa não foi implementada e,

consequentemente, alguns pescadores passaram por problemas financeiros. Cabe destacar,

segundo os próprios pescadores, que não houve alguma contrapartida por parte do comitê

organizador para mitigar este problema pontual.

O restaurante Arab, localizado no Parque dos Patins, também foi um dos

empreendimentos que tiveram profundos prejuízos com o cercamento. De acordo com a

proprietária do restaurante Arab, Sr. Vivian, o número de cliente diminuiu drasticamente

com o cercamento do parque e do estacionamento próximo, destinado às delegações de remo

e aos funcionários do comitê Rio 2016, afetando, indiretamente, 35 famílias de funcionários

do Arab que depende do restaurante para sobreviver. A empresária, diante desta situação,

informou que ocorreram várias desistências de reservas para o período olímpico, inclusive,

uma reserva para 120 pessoas da Federação Internacional de Canoagem (verificar apêndice

4).

77

Além disso, ainda sobre o restaurante Arab, a proprietária corrobora que teve

dificuldades de até mesmo abastecer o próprio restaurante. Através de entrevistas realizadas

com 02 músicos que tocam semanalmente no Arab (as entrevistas na seção de transeuntes),

eles informaram que devido a baixa de clientes, eles ficaram temporariamente sem emprego,

pois, segundo os próprios músicos, a relação custo e benefício não era viável para realizar as

apresentações durante este período.

Outro empreendimento que sofreu impactos negativos, foi a escola de remo do Clube

de Regatas do Flamengo, segundo o próprio gerente deste departamento, Sr. Edson, as

instalações referentes ao remo foram deslocadas para uma tenda no Corte do Cantagalo,

prejudicando as atividades de treinamento e a escola de remo. Cabe destacar, que as

instalações deslocadas do Flamengo foram implementas sobre uma quadra esportiva

utilizada pelos transeuntes da Lagoa Rodrigo de Freitas, logo, prejudicando também a

comunidade local. A Figura 30 ilustra este procedimento:

Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de Regatas do Flamengo

no Corte do Cantagalo

Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.

Em relação aos 04 entrevistados que se apresentaram como indiferentes a percepção

das consequências oriundas do megaevento, eles não se posicionaram de forma sólida entre

os efeitos positivos e negativos. Estes empreendimentos estão distribuídos da seguinte

maneira: Parque dos Patins, Leblon e dois no Corte do Cantagalo. Para estes respondentes, o

número de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas teve um aumento considerável,

todavia não influenciou no número de vendas, mantendo de formal normal o atendimento.

78

Estes entrevistados ressaltam que qualquer efeito positivo ou negativo seria temporário na

localidade.

Embora muitos empreendimentos percebam as consequências negativas provenientes

da operação dos Jogos Olímpicos Rio 2016, alguns estabelecimentos consideram estes

aspectos como necessários a realização das competições. Sendo assim, mesmo com os

impactos que geraram prejuízos, estes estabelecimentos consideraram-se beneficiados com

os jogos, conforme a Figura 31:

Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da

Olimpíada 2016

Sendo assim, a Figura 31 ilustra um pequeno contraste em relação a Figura 27. Cabe

destacar que o Complexo Lagoon de entretenimento é um caso à parte nesta pesquisa. O

Lagoon, um dos maiores estabelecimentos que possui cinemas, restaurantes e casa de

espetáculos, foi alugado pelo comitê organizador dos jogos olímpicos para ser arena das

competições de remo. Logo, devido aos objetivos da pesquisa, este estabelecimento não foi

contemplado.

Diante das percepções negativas ou positivas estabelecidas, foram propostas 05

questões para verificar o nível de interação da comunidade local com o comitê organizador

dos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme ilustra a figura 32:

Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos Olímpicos e a

79

Comunidade Local

Mais de quarenta por cento dos entrevistados (questão 1), informaram ter

participado de pelo menos 2 reuniões a respeito da realização do megaevento na Lagoa

Rodrigo de Freitas. Complementando a questão 1, as questões 02 e 03 foram realizadas e

analisadas separadamente de maneira proposital. Pois buscou-se entender se houve

transparência no comunicado das possíveis consequências, tanto de caráter benéfico como

prejudicial, provenientes da realização dos Jogos Rio 2016 aos empreendimentos.

Vale ressaltar que as questões 02 e 03 envolvem a percepção do respondente em

compreender o que significaria um efeito positivo ou negativo para o seu negócio. Sendo

assim, é possível que algum entrevistado tenha participado de uma reunião e não tenha

entendido como um determinado impacto pode influenciar no próprio negócio, tanto para

gerar bônus ou ônus.

Dos 45 entrevistados, pouco mais da metade informou saber dos impactos positivos

(questão 02) que aconteceriam ao estabelecimento em virtude da ocorrência da Olimpíada.

Em relação aos efeitos positivos, os próprios respondentes comentaram que foram

informados sobre: grande quantidade de turistas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas,

aumento das vendas e o policiamento ostensivo.

Em relação aos impactos negativos (questão 03), dos 45 entrevistados, apenas

quarenta e quatro por cento informaram saber sobre os efeitos negativos provenientes da

realização do megaevento. Segundo estes quarenta e quatro por cento, as consequências que

80

eles tiveram conhecimento foi a respeito do cercamento e seus desdobramentos:

estacionamento do Parque dos Patins inviabilizado, academia da terceira idade na parte

Leblon inutilizável, parque infantil na Fonte da Saudade isolado sem acesso, impacto visual

das grades ao redor da própria lagoa e obstrução visual para assistir as competições

olímpicas de remo em algumas partes da Lagoa. Segundo a Sra. Vivian do empreendimento

Arab, o comitê informou sobre o cercamento, mas não como seria este processo.

As questões 02 e 03 revelam que há algum equívoco no processo de comunicação

dos gestores do megaeventos com as partes interessadas da Lagoa Rodrigo de Freitas, pois

mais de cinquenta e um por cento dos entrevistados informaram não obter conhecimento

sobre os efeitos negativos ou positivos que poderiam ocorrer em virtude da realização do

evento.

A questão 04 ilustra que há uma falha nas práticas de gerenciamento de stakeholders

do megaevento, pois quase noventa por cento dos respondentes informaram em que nenhum

momento a opinião deles foi contemplada no planejamento de organização dos jogos

olímpicos. Sendo assim, é possível observar que as medidas tomadas foram unilaterais, não

abrangendo a comunidade local.

A questão 05 corrobora um equívoco no processo de comunicação do megaevento e

também de uma prática de gerenciamento de stakeholders ineficaz, não havendo um canal

direto de comunicação com o comitê organizador, que poderia ser representando por um

indivíduo ou por um grupo que pudessem atender aos empreendimentos.

Neste sentido, foi perguntado aos entrevistados se eles acreditavam que um

relacionamento foi estabelecido entre os organizadores do megaevento Rio 2016 com a

comunidade local da Lagoa, conforme retratado na Figura 33.

Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a Comunidade Local

Através da Figura 33, é possível averiguar que mais de setenta por cento dos

81

respondentes não percebem a construção de um relacionamento entre as partes interessadas

referentes à Lagoa Rodrigo de Freitas e o comitê organizador, ressaltando uma deficiência

nas práticas de gerenciamento de stakeholders.

Embora seja perceptível as evidências de falhas no gerenciamento dos stakeholders e

de impactos negativos provenientes do megaevento, mais de setenta e cinco por cento dos

entrevistados afirmaram estar felizes com a realização dos jogos olímpicos Rio 2016 na

Lagoa Rodrigo de Freitas, como ilustra a Figura 34:

Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco

de Atividades da Olimpíada 2016

O clima festivo e a euforia de celebrar o evento podem influenciar na percepção dos

entrevistados, sobrepondo-se as consequências negativas que ficam em segundo plano.

Sendo assim, apresentando uma grata surpresa sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 para a

cidade e para o mundo. No entanto, cumpre-se destacar, que esta análise representa uma

percepção distinta das expectativas apresentadas, antes do início da Olimpíada, pelos meios

de comunicação nacionais e estrangeiros. Sendo assim, as Figuras 35, 36, 37 e 38 (apêndices

5, 6, 7, e 8) ilustram essa antítese: expectativas pré-evento versus percepções pós-evento.

82

Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização8

Fonte: Revista Época (2016).

Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização9

Fonte: Revista Época (2016).

8 Material completo disponibilizado em: <http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/08/na-lagoa-e-no-

aterro-os-excluidos-da-olimpiada-aparecem.html>. Acesso em: 24 ago. 2016. 9 Material completo disponibilizado em: <http://epoca.globo.com/esporte/olimpiadas/noticia/2016/08/rio-

2016-uma-olimpiada-para-ficar-na-memoria.html> Acesso em: 24 ago. 2016.

83

Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização10

Fonte: DW (2016).

Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização11

Fonte: DW (2016).

10 Material completo disponibilizado em: <http://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-desânimo-

com-a-rio-2016/a-19219192>. Acesso em: 24 ago. 2016. 11 Material completo disponibilizado em: <http://www.dw.com/pt-br/opinião-jogos-ol%C3%ADmpicos-

libertam-o-rio/a-19487677>. Acesso em: 24 ago. 2016.

84

Todavia, após o término dos Jogos Olímpicos, a impressão deixada pelo próprio

megaevento superou as expectativas negativas, sendo retratada pela imprensa nacional e

internacional, conforme as Figuras 36 e 38.

Vale destacar uma análise comparativa entre as Figuras 35 e 36, Revista Época

(imprensa nacional), e entre as Figuras 37 e 38, canal televisivo alemão DW - Deutsche

Welle (imprensa internacional), pois trata-se de percepções distintas de um mesmo veículo

de comunicação, apresentando expectativas negativas, antes da realização do evento, e

sentimento de superação, pós Jogos Olímpicos. As matérias na íntegra encontram-se nos

respectivos apêndices: 5, 6, 7 e 8.

4.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E EMPREENDIMENTOS

A análise das percepções dos empreendimentos é mais complexa do que a dos

transeuntes, pois envolve mais variáveis. Todavia, ambas análises viabilizam informações

que convergem para uma mesma compreensão.

Tantos os empreendimentos como os transeuntes citaram consequências positivas e

negativas que impactam concomitantemente os dois, conforme o Quadro 11:

Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos

Empreendimentos e dos Transeuntes

Positivos Negativos

Segurança Cercamento

Clima Festivo Trânsito

Divulgação da cidade Estacionamento do parque

dos patins fechado

Movimentação Turística

Algumas áreas de lazer

interditadas (parque de

crianças, academia de idosos

e quadras poliesportivas)

Infraestrutura Impedimento de ir e vir

Movimento na Lagoa Fragmentação da Lagoa

Despoluição da Lagoa não

realizada

Fonte: autor (2016)

As consequências negativas provenientes dos jogos olímpicos são temporárias,

entendendo-se que com o término dos jogos, elas deixem de existir nos meses subsequentes.

O cercamento foi mencionado por ambos perfis como o principal impacto negativo

85

provocado pelo Jogos Olímpicos Rio 2016, pois desencadeou uma série de outros impactos.

Cabe salientar, segundo os entrevistados, a Lagoa Rodrigo de Freitas está fragmentada em

zonas de maior movimento, Corte do Cantagalo e zonas com menor concentração de

pessoas, Parque dos Patins.

As consequências positivas, algumas são efêmeras como o clima festivo promovido

pelo megaevento, no entanto, algumas são permanentes como a infraestrutura criada para

realização dos jogos. O policiamento ostensivo foi e a movimentação turística na Lagoa

foram os aspectos benéficos mais comentados pelos respondentes.

Neste sentido, surge o entendimento sobre o legado que os Jogos Olímpicos Rio 2016

podem deixar para a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas, impactando os

estabelecimentos e indivíduos. Cabe destacar que vários entrevistados, tanto no perfil de

transeuntes como de empreendimentos, questionaram a possibilidade de haver um legado a

longo prazo.

No entanto, vale realçar a diferença das percepções entre os respondentes Os

transeuntes são mais influenciados pelo clima eufórico promovido pelo megaevento do que

os transeuntes. Neste sentido, as consequências negativas podem ficar em segundo plano. Já

para os empreendimentos que tiveram consequências negativas, ficando incapacitados de

funcionar normalmente ou teve uma redução no número de clientes, o clima eufórico dos

jogos não é capaz de reduzir o nível de insatisfação com a Olimpíada.

Através das entrevistas, é possível observar uma necessidade maior dos

empreendimentos em estabelecer um relacionamento com o comitê organizador do

megaevento do que os transeuntes. Pois os benefícios gerados, podem vir a ser legados e

impactar toda uma comunidade local. Para a construção deste relacionamento é necessário

uma comunicação eficaz entre os gestores de megaprojetos e as partes interessadas através

de práticas eficazes de gerenciamento de stakeholders.

Neste sentido, cabe realçar os benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, que

podem atingir as pessoas e empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas. Algumas

consequências positivas não necessariamente foram promovidas pelo comitê organizador da

Rio 2016, mas por outros atores que formam as partes interessadas da Olimpíada do Rio.

Sendo assim, pode-se citar, segundo os entrevistados, como legado constituído: (a) o

acesso ao metrô localizado perto do Corte do Cantagalo; (b) a estrutura de raias no espelho

d’água da lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a

variados esportes aquáticos; (d) certificação da Lagoa Rodrigo de Freitas como atração

turística da Cidade do Rio de Janeiro e divulgação da localidade para o Brasil e o mundo; e

86

(e) restauração da Colônia de Pescadores Z-13 por emissoras de televisão da Áustria e da

Suíça (Figura 39).

Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13

Fonte: Leonardo Campos em 26 de setembro de 2016.

Durante as entrevistas, alguns respondentes comentaram sobre um possível legado

que a Casa Suíça deixaria para a Lagoa Rodrigo de Freitas: após a Paralimpíada, a área na

qual o Baixo Suíça estava instalado antigo campo de beisebol localizado no Corte do

Cantagalo, seria revitalizado e entregue à prefeitura do município do Rio de Janeiro com

melhoria de estrutura e do sistema de drenagem. Até o mês de novembro de 2016, o referida

obra não tinha sido realizada, conforme a Figura 40.

Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado

Fonte: André Sztjan em 16 de novembro de 2016.

87

4.4 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA LITERATURA

De acordo com os estudos realizados é possível observar uma complementariedade

entre os dados levantados na revisão da literatura com os dados obtidos através da pesquisa

empírica. Sendo assim, buscando respostas que sustentem os objetivos deste trabalho.

Conforme evidenciado na revisão da literatura, segundo Hu et al. (2015), Mazur et al.

(2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009), um megaprojeto, neste caso retratado pelo

megaevento Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam as seguintes características: (a)

orçamento superior a 500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza,

ambiguidade e interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de

execução; (d) elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por

efeitos do que por soluções.

Neste sentido, na análise realizada no território da Lagoa Rodrigo de Freitas pôde-se

verificar e presenciar as seguintes características: (1) grande grau de complexidade,

incertezas, ambiguidade e interfaces dinâmicas, uma vez que várias percepções distintas

foram apresentadas pelos stakeholders entrevistados; (2) atração de interesse público e

político, todavia, de forma deficiente, pois muitos entrevistados sentiram-se prejudicados

com a realização da Olimpíada; e (3) mais efeitos do que soluções, como uma das promessas

não serem realizadas: despoluição da lagoa (solução), em contraposição, houve uma

divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas para o Brasil e o mundo (efeito).

Segundo Müller (2015), os megaeventos esportivos proporcionam, de um lado, uma

atratividade turística e um alcance imediato, do outro, custos de se sediar e viabilizar a

Olimpíada que pode chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Estes

entendimentos foram verificados através das entrevistas, especialmente, no caso dos

transeuntes, pois muitos informavam a movimentação turística na Lagoa e na cidade como

um aspecto positivo, mas questionavam sobre os altos gastos para os jogos olímpicos, que

estes gastos poderiam ser destinados a outras áreas de maior relevância: como saúde e

educação.

De acordo com Grabher e Thiel (2015), a organização e planejamento de um

megaevento, como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na

execução que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as

infraestruturas, negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento.

Neste sentido e com base no Quadro 08, buscou-se analisar quais das práticas de

gerenciamento de stakeholders foram contempladas na gestão da Olimpíada Rio 2016, no

88

que se refere ao espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas. Logo, resultando no Quadro

12.

Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa Rodrigo de

Freitas

Práticas de Gestão de Stakeholders Verificado através da

Pesquisa Empírica

Mapeamento do perfil social da população

local Não percebido

Divisão da população de acordo com o

perfil social Não percebido

Elaboração de ações com base no perfil e

demandas sociais Não percebido

Desenvolvimento de parcerias com

entidades locais para ações sociais

integradas

Sim percebido

Comunicação com os stakeholders locais é

feita estritamente através da gestão social Não percebido

Ações e projetos são desenvolvidos o mais

próximo possível ao público alvo Percebido Parcialmente

Participação em reuniões e conselhos

comunitários Sim percebido

Estabelecimento de constante diálogo

entre a gestão social e lideranças

comunitárias

Percebido Parcialmente

As obras em locais críticos, sob a

perspectiva de instabilidade social e

violência, são acompanhadas pelo

mediador da comunidade

Não percebido

Canal de comunicação direta entre a

comunidade e a organização Não percebido

Promoção de acesso à cultura, lazer e

entretenimento Não percebido

Diálogo com entidades públicas Sim percebido

Medidas assecuratórias Não percebido

Comunicação de obra com todos os

impactos causados pela implementação do

megaprojeto de acordo com a área afetada

Percebido Parcialmente

Comitê de gestão de crise Não percebido

Mobilização social antes da

operacionalização da obra Não percebido

Fonte: Autor e Adaptado de Freitas (2016).

O gerenciamento eficaz de stakeholders, segundo Chang et al. (2013), apresenta como

estratégias-chave a comunicação dinâmica e a gestão de relacionamento para alcançar o

sucesso do megaevento. Já para Zhai et al. (2009), os valores ou benefícios de um projeto de

grande escala podem apresentar múltiplas dimensões, todavia, estas dimensões devem ser

89

coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders heterogêneos que englobam o

megaprojeto, neste estudo, retratado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de

grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e

implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes

benefícios explícitos e implícitos provocaram percepções distintas concomitantes nas partes

interessadas localizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Apesar dos entrevistados

apresentarem um sentimento de euforia em virtude da realização dos jogos olímpicos, alguns

questionavam se haveria algum benefício para a Lagoa com o término do evento.

Após analisar quais as práticas de gerenciamento de stakeholders foram utilizadas

segundo a percepção das partes interessadas, foi analisado as possíveis consequências

geradas por falhas na gestão de um território relevante para a realização do megaevento.

Sendo assim, conforme o Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de

Megaeventos – adaptado de Müller (2015), uma série de consequências podem comprometer

o gerenciamento de um megaevento, impactando nos benefícios entregáveis. Neste sentido,

foi observado quais requisitos estavam presentes na pesquisa ocorrida na Lagoa Rodrigo de

Freitas:

Superestimar as promessas de benefícios;

Perda de confiança com os cidadãos;

Riscos públicos para benefícios privados;

Necessidades do evento restringem-se as necessidades de infraestrutura

Infraestrutura inacabada;

Deslocamentos;

Participação pública limitada;

Paisagem urbana irregularmente desigual;

Ignorar os processos do gerenciamento regular;

Desperdício de recursos no evento como alavanca para o desenvolvimento

urbano.

Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito

de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance

imediato, custo e impactos transformadores. Logo, pormenorizando esta compreensão, é

possível observar que a Lagoa Rodrigo de Freitas contemplou estas quatro dimensões:

90

atraindo diversos turistas, promovendo um clima festivo pela região, sofrendo investimentos

como a saída do metrô no Corte do Cantagalo e modificando o cotidiano, tanto de forma

positiva e negativa, dos indivíduos e empreendimentos.

Conforme explicitado por Clark et al. (2012), o macro é priorizado em relação ao

micro em vários megaprojetos, o que pode acarretar uma análise deficiente da

heterogeneidade dos territórios e de seus stakeholders, reduzindo a capacidade de gerar

benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível

legado. Este efeito é devidamente percebido nos Jogos Olímpicos Rio 2016, no que tange a

Lagoa Rodrigo de Freitas.

Sendo assim, a confrontação dos dados primários e secundários viabilizam estruturar

um arcabouço de informações necessárias a responder as questões-problema aventadas neste

estudo.

91

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS

O referido estudo apresenta uma contribuição sobre a análise de stakeholders locais na

gestão de megaprojetos, especialmente, no que se refere a megaeventos. Neste sentido, foi

estabelecido como objetivo central: analisar os efeitos provenientes do megaevento, Jogos

Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de distintos

stakeholders durante a realização dos referidos Jogos.

Para realizar a análise do objetivo principal deste estudo, foram constituídos 06

objetivos específicos que foram respondidos no decorrer desta pesquisa. Através da revisão

da literatura (capítulo 2), foram encontradas 12 práticas de gerenciamento de stakeholders

utilizadas na gestão de megaprojetos. Após este levantamento, foi confrontado se estas

práticas, oriundas do conhecimento científico, eram aplicadas na vertente empírica: gestão

dos Jogos Olímpicos Rio 2016 com base na percepção da comunidade local da Lagoa

Rodrigo de Freitas.

Sendo assim, o primeiro objetivo específico (OE) a ser elucidado foi a identificação de

06 práticas de gerenciamento de stakeholders contempladas na gestão da Olimpíada na

Lagoa Rodrigo de Freitas:

Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais

integradas;

Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível ao público alvo;

Participação em reuniões e conselhos comunitários;

Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e lideranças

comunitárias;

Diálogo com entidades públicas;

Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do

megaprojeto de acordo com a área afetada.

Cumpre-se destacar que a implementação de algumas práticas foram percebidas de

maneira parcial, conforme indicado no Quadro 12.

Através das práticas aplicadas e das práticas que não foram implantadas no

gerenciamento de stakeholders no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, é possível verificar

que uma série de consequências foram desencadeadas, impactando de forma distinta cada

stakeholder - transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais, comunidade de

pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - envolvido no megaevento.

92

Cabe destacar a fragmentação territorial que ocorreu na Lagoa, produzindo dois polos

dicotômicos: a região do Parque dos Patins e a região do Corte do Cantagalo. Esta divisão

corroborou e promoveu a existência de percepções distintas sobre a realização do evento na

localidade, especialmente, no que se refere aos estabelecimentos. A análise sobre esta

fragmentação viabilizou responder o segundo OE estabelecido.

De um lado, no Parque dos Patins, o cercamento da lagoa e do estacionamento

impactou no baixo número de clientes nos estabelecimentos localizados acolá ou, em alguns

casos, no fechamento do empreendimento durante a Olimpíada, a fim de minimizar os

prejuízos. Vale realçar que muitos empreendimentos vivenciaram, durante os Jogos Rio

2016, o pior momento de funcionamento e de vendas desde a abertura do negócio na Lagoa.

Por outro lado, os estabelecimentos, localizados no Corte do Cantagalo, verificaram um

crescimento no número de vendas e na circulação de turistas por essa área. Alguns

estabelecimentos comentaram de se tratar do melhor período de vendas na Lagoa.

Além dos empreendimentos, os transeuntes também apresentaram uma percepção

diferente, apesar de mencionarem impactos negativos oriundos da realização dos jogos,

pode-se dizer que os transeuntes estavam suspensos em relação aos impactos negativos

provenientes dos jogos, em virtude de um sentimento eufórico e festivo que se instalou pela

cidade.

É nítido que os Jogos Olímpicos Rio 2016 produziram distintas percepções nos

heterogêneos stakeholders locais – transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais,

comunidade de pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - da Lagoa Rodrigo

de Freitas, indo ao encontro do terceiro OE. Estas percepções distintas podem influenciar

diretamente nos possíveis benefícios a serem percebidos, tais como: o metrô e a

infraestrutura construída na localidade; divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas como

equipamento público de lazer e ponto turístico; a estrutura de raias no espelho d’água da

lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a variados

esportes aquáticos; e restauração da Colônia de Pescadores Z-13.

A princípio, é possível definir estas benfeitorias como um legado viabilizado pelo

megaevento à Lagoa Rodrigo de Freitas. Todavia, somente com o passar do tempo,

diminuindo o clima de euforia, ficará nítido se a própria comunidade local conseguiu

construir um entendimento sobre estes benefícios serem um legado proveniente dos Jogos

Olímpicos. Cabe destacar, sob uma análise da mídia nacional e internacional e de presença

de público nas competições, os Jogos Olímpicos Rio 2016 foram um sucesso indiscutível.

93

No entanto, cabe uma análise mais sólida a respeito do clima eufórico e festivo que

instalou-se na cidade, devido a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Este clima pode

influenciar nas percepções dos stakeholders locais, potencializando os possíveis benefícios e

minimizando os questionamentos sobre os impactos negativos dos jogos. Neste sentido, para

compreender de forma mais assertiva qual o nível de influência deste fator na percepção dos

stakeholders locais à respeito dos benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016,

sugere-se uma nova pesquisa empírica com os transeuntes e empreendimentos da Lagoa

Rodrigo de Freitas a fim de verificar se o grau de satisfação em relação ao evento se mantem

ou muda conforme o passar do tempo.

É perceptível que os megaeventos, detentores de complexidade e magnitude, são

grandes produtores de impactos na localidade na qual ocorrem. Todavia, foi possível

compreender que um megaevento raramente produzirá somente benefícios ou somente

prejuízos. Em sua maioria, os megaprojetos promovem, mutuamente, impactos positivos e

negativos no que se referem aos stakeholders locais e as suas múltiplas e distintas

percepções. Sendo assim, clarificando o quarto OE, faz-se necessário que a gestão de um

megaevento seja pensada e acompanhada por práticas de gerenciamento de stakeholders, a

fim de viabilizar uma execução efetiva do megaprojeto.

Vale destacar que o próprio entendimento sobre projetos complexos e como gerenciá-

los vem se consolidando nos últimos anos e carece de aprofundamento através de outros

vieses além da gestão dos stakeholders. Sendo assim, estabelece-se aqui uma centelha para

futuros estudos a respeito da temática projetos complexos.

Ainda sobre as distintas perspectivas de análise sobre o tema em questão, também se

faz necessário realizar pesquisas com o Comitê Organizador Rio 2016 para analisar através

da percepção dos gestores do megaevento, como se desenvolveu a compreensão e aplicação

das práticas de gerenciamento de projetos no que tange a gestão de stakeholders.

O presente estudo consolida como aprendizado a relevância de se analisar a

heterogeneidade entre stakeholders locais, pois as partes interessadas podem possuir

múltiplas e distintas percepções. No entanto, para este fim, é necessário desmembrar o

macro diagnóstico sobre um megaprojeto em micro núcleos, assim como ocorreu neste

estudo: a fragmentação, neste caso, territorial de uma das áreas de competição dos Jogos

Olímpicos Rio 2016, a Lagoa Rodrigo de Freitas, em 7 microrregiões de análise: Parque dos

Patins, Leblon, Ipanema, Jardim Botânico, Corte do Cantagalo, Curva do Calombo e Fonte

da Saudade.

94

A fragmentação de um megaprojeto/megaevento em núcleos menores possibilita

compreender intimamente a heterogeneidade entre as partes interessadas locais e analisar

com solidez quais as práticas de gerenciamento de stakeholder devem ser aplicadas,

contribuindo para a melhor efetividade dos resultados pretendidos.

95

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Wiley Guide to Managing Projects. John Wiley and Sons, New Jersey, pp. 271–289. 2004.

WORDLE. Nuvem de Palavras-Chave. Disponível em: <http://www.wordle.net>. Acesso

em: 02 ago. 2016.

ZENG, S. X.; MA, H.Y.; LIN, H.; ZENG, R.C.; TAM, V. W.Y. Social responsibility of

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management. Project Management Journal, v. 40, n. 1, p. 99-109, 2009.

ZIMBALIST, A. Circus Maximus: the economic gamble behind hosting the olympics

and the world cup. Washington, DC: Brookings Institution Press, 2015.

101

APÊNDICE 1

Diário de Bordo

Data Ação Descrição

26/jul

Observação do

Campo - evidências

empíricas + conversas

informais

Caminhei do Baixo Bebê (Fonte da Saudade) via Jardim Botânico até o Parque

dos Patins. Conversei informalmente com alguns estabelecimentos. O

empreendimento de brinquedos infláveis foi bem solicito e conversou comigo.

Informaram que quando voltasse com a entrevista, fariam a mesma comigo. Fiz

registros com fotos.

04/ago

Observação do

Campo -evidências

empíricas

Caminhei do Parque dos Patins via Ipanema até Baixo Bebê (Fonte da

Saudade). Fiz registros com fotos.

07 a 19

Elaboração e

atualizações do

questionário

O questionário sofreu várias atualizações sendo debatidas com o Orientador,

Prof. Fernando Araujo, e Co-Orientador, Raynne Suzano até chegarmos a

versão 8 e final.

17/ago Pré testagem do

questionário

Pré testagem com 4 questionários (2 empreendimentos (Caipirinha & Filé e

Quiosque do Índio) + 2 transeuntes) No parque dos patins até jardim botânico,

sentido baixo bebê.Com a pré testagem pode se avaliar que o questionário

estava construído de maneira equivocada, pois o entrevistado fica na ansiedade

de comentar o que está achando da Olimpíada. Neste sentido, foi mais coerente

passar as perguntas abertas para uma primeira parte do questionário,

permitindo que o entrevistado realizasse um verdadeiro brainstorming.

Mudamos a escala (0 a 10) que estava gerando confusão. E deixamos o

vocabulário menos técnico.

19/ago Pesquisa de campo Início da pesquisa de Campo. Começando pela Fonte da saudade em direção

Parque dos Patins. Pessoas curtindo a Lagoa e eum clima amistoso e festivo.

20/ago Pesquisa de campo A arena das olímpiadas é dentro do Lagoon e precisa de ingresso para entrar,

ou seja, sem a participação da comunidade ao redor.

21/ago Pesquisa de campo

Bastante chuva pela manhã e horário do almoço. Parque dos Patins desertos.

Dona Nilza mudou completamente o discurso de quando fiz a observação em

04 de agosto. Na ocasião ela achou que eu era da Prefeitura e elogiou muito a

Olimpíada. Mas hoje no dia da pesquisa, ela descontruiu toda essa questão,

informando ser o pior momento em 18 anos de Lagoa.

22/ago Pesquisa de campo Lagoa vazia. Vários empreendimentos fechados. Parque dos patins deserto.

24/ago Pesquisa de Campo Entrevista no Arab de Copacabana

18/set Pesquisa de Campo

Voltei a Lagoa para realizar mais pesquisa. Foco: Fonte da Saudade, Corte do

Cantagalo e Lado do Leblon (Flamengo). Consegui entrevistar

empreendimentos que não tinha coneguido falar antes ou que não tinham

aceitado realizar a entrevista, por exemplo, o Albanir vendedor de coco. Já

tinha abordado-o mas ele não aceitou. Na ocasião da entrevista, foi muito

simpático e conversou bastante, talvez porque ele já não estivesse mais cercado

e com isso os clientes voltaram. Quase 25 estabelecimentos entrevistados.

19/set Pesquisa de Campo

Voltei a Lagoa para conversar com 3 estabelecimentos específicos: Clubes de

Remo do Flamengo, Botafogo e Vasco. Consegui falar com oBotafogo pela

manhã. No Flamengo fui na tenda que tinha no Corte do Cantagalo e me

informaram para ir na sede. Lá informaram que não poderiam ajudar no

momento, só depois do dia 23, quando voltaria ao normal a estrutura de remo.

Consegui a entrevista por email. No Vasco, fui na hora do almoço e precisei

voltar a tarde por volta das 16h. Entrevista riquíssima e mostra contraponto

com a do Botafogo.

26/set Pesquisa de campo -

Colônia de Pesca

Depois de de vários contatos, tentativas de achá-los e imprevistos, como o

falecimento do presidente da colônia Pedro Marins, consegui entrar na colônia

e entrevistá-los (ver audio e fotos). Valeu muito e o interessante que consegui

conversar com eles no primeiro dia que todos realmente voltaram. A grade

ainda estava lá, cercando-os. Eles precisaram soltar a parte de baixo da grade

para abrir uma greta e conseguirem passar. Mas a dificuldade continuava, mas

estavam felizes de conseguir voltar e sem ser no horário de 20h as 05h da

manhã.

102

APÊNDICE 2

Questionário Transeuntes

DADOS PESSOAISCÊ E SMÍLIA1. Nome (opcional): 2. E-mail (opcional):

3. Seu sexo:( ) Feminino. ( ) Masculino.

4. Ano de nascimento:

5. Informe a sua escolaridade:

( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário).

( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio).

( ) Ensino Médio (antigo 2o grau).

( ) Ensino Superior.

( ) Especialização.

( ) Mestrado ou mais.

( ) Não estudou.

6. Local da Lagoa onde foi respondida a pesquisa:

( ) Fonte da Saudade

( ) Curva do Calombo

( ) Corte do Cantagalo

( ) Lado de Ipanema

( ) Lado do Leblon

( ) Lado do Jardim Botânico

( ) Lado Jardim Botianico/Parque dos Patins

7. O(a) respondente é:

( ) Morador(a).

( ) Trabalha pela região. ( ) Transeunte.

( ) Turista.

( ) Outros. Qual?

8. Reside na cidade do Rio de Janeiro, qual bairro?

9. Não reside na cidade do Rio de Janeiro, qual Cidade/UF/País?

10. Quanto tempo frequenta a Lagoa Rodrigo de Freitas:

( ) visitante pontual ( ) até 06 meses. ( ) 06 meses até 01 ano. ( ) de 01 ano até 03 anos. ( ) 03 anos ou mais.

PARTE 1: Práticas aplicadas

11. Como está o seu dia a dia com a realização das Olímpiadas?

12. Você foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de atividades da Rio

2016? De forma positiva ou negativa? No que afetou você?

13. Caso tenha sofrido algo negativo, houve alguma contrapartida para diminuir esses efeitos por parte

do Comitê Organizador?

14. Qual legado a Olimpíada deixará no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a

cidade do Rio de Janeiro?

15. Você teve algum conhecimento sobre coisas boas e/ou ruins que aconteceriam a Lagoa Rodrigo de

Freitas devido a Olimpíada 2016?

( )Sim ( )Não

16. Sobre o que ficou sabendo?

PARTE 02: percepção de sucesso.

103

1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo totalmente

Utilize a escala acima para responder as questões de n°16 até 18:

17. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê?

1 2 3 4 5

18. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016?

1 2 3 4 5

19. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016?

1 2 3 4 5

20. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.

APÊNDICE 3

Questionário Empreendimentos

104

DADOS DA EMPRESA:CÊ E SUA FAMÍLIA1. Nome Empreendimento: 2. E-mail (opcional):

3. Tempo de atuação na Lagoa:

( ) menos de um ano ( ) de 1 até 3 anos ( ) de 3 até 5 anos ( ) mais de 5 anos ( )Temporário:

4. Em qual área da Lagoa está localizado o seu empreendimento?

( ) Fonte da Saudade ( ) Curva do Calombo ( ) Corte do Cantagalo ( ) Lado de Ipanema ( ) Lado do Leblon (

) Lado do Jardim Botânico ( ) Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins

5. Setor e Ramo de Atividade:

Setor: ( ) Comércio ( ) Serviços ( ) Outros. Qual?

Ramo: Qual?

6. Tipo de empreendimento:

( ) Formal ( ) Informal

7. Número de funcionários:

( ) Nenhum ( ) Até 03 ( ) De 04 a 06 ( ) De 07 a 10 ( ) De 11 a 15 ( ) De 16 até 49 ( ) De 50 até 99

funcionários ( ) Acima de 99 funcionários.

8. Nome do entrevistado:

9. Qual seu cargo na empresa:

( )Proprietário ( ) Diretor ( ) Gerente ( ) Supervisor ( )Outro: Qual?

10. Informe a sua escolaridade:

( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário).

( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio).

( ) Ensino Médio (antigo 2o grau).

( ) Ensino Superior.

( ) Especialização.

( ) Mestrado ou mais.

( ) Não estudou.

PARTE 1: Práticas aplicadas

11. Como está o seu dia a dia com a Lagoa sendo utilizada como palco de atividades da Olimpíada 2016?

12. O seu negócio foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas na Olimpíada 2016? De

forma positiva ou negativa? No que afetou?

13. Caso seu negócio tenha sofrido alguma ação negativa, houve alguma contrapartida para diminuir

esses efeitos por parte do Comitê Organizador?

14. Você fez alguma solicitação ao Comitê Organizador? Qual seria? Foi atendido?

15. Qual legado a Olimpíada deixarão no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a

cidade do Rio de Janeiro?

16. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas BOAS que aconteceriam para o seu

negócio durante os jogos?

( )Sim ( )Não

17. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas RUINS que aconteceriam para o seu

negócio durante os jogos?

( )Sim ( )Não

18. A sua opinião foi considerada em algum momento no planejamento das ações para realização dos

jogos da Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas?

( )Sim ( )Não

19. Você participou de alguma reunião para falar sobre a Olimpíada da Rio 2016?

105

( )Sim ( )Não

20. Caso a sua resposta tenha sido “SIM” para a pergunta anterior. De quantas reuniões participou?

( ) 01 reunião ( ) de 02 a 06 reuniões ( ) de 06 a 10 reuniões ( ) mais do que 10 reuniões

21. Existe algum canal direto de comunicação com a organização dos jogos para informações sobre a

Olimpíada?

( )Sim ( )Não. Se respondeu “sim”, qual?

PARTE 02: percepção de sucesso.

1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo Totalmente

Utilize a escala acima para responder as questões de n°22 até 27:

22. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê?

1 2 3 4 5

23. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016?

1 2 3 4 5

24. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016?

1 2 3 4 5

25. O volume de vendas do seu empreendimento teve um aumento com a realização da Olimpíada?

1 2 3 4 5

26. Seus clientes ficaram satisfeitos com a realização da Olimpíada na Lagoa?

1 2 3 4 5

27. A relação estabelecida entre a população local (empreendimentos, clubes, moradores, trabalhadores

e outros) da Lagoa e o Comitê Organizador da Olimpíada (Prefeitura e Rio 2016) antes e durante os

jogos foi positiva?

1 2 3 4 5

28. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.

APÊNDICE 4

Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 1

106

Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).

Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 2

107

Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).

APÊNDICE 5

Matéria - Revista Época: Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada Aparecem

108

Autor: Rodrigo Turrer em 15/08/2016

Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/08/na-lagoa-e-no-aterro-os-excluidos-da-

olimpiada-aparecem.html

O instrutor de windsurfe Gustavo Carilo já treinou uma centena de atletas da vela. Treinador há 40 anos, seus

pupilos ganharam campeonatos sul-americanos e participaram de Jogos Olímpicos. A última atleta olímpica a

passar por suas mãos foi Patrícia Freitas, velejadora brasileira que está competindo na Olimpíada do Rio de

Janeiro. Na tarde do domingo (14), em vez de estar nas arquibancadas montadas na Marina da Glória para as

competições de vela, Gustavo estava nas areias da Praia do Flamengo, a poucos metros da enorme grade que

separa o espaço reservado para as pessoas com ingresso da Rio 2016 daqueles que não têm. “Eu preferi não

participar, sabe? Até porque, daqui dá para ver quase do mesmo jeito ou até melhor”, afirmou Gustavo. “Quem

comprou ingresso comprou. Não custava nada abrir este espaço para atletas antigos e principalmente para os

mais jovens, que nunca mais vão ter a chance de ver os esportes tão de perto. Não tem melhor momento para

incentivar o esporte do que este.”

Assim como Gustavo, a atleta Ana Paula Marques também preferiu ficar nas areias da Praia do Flamengo. Ela

e os familiares de um dos competidores, Ricardo Winicki, o Bimba, 6º lugar no windsurfe. Todos viram o

atleta velejar das areias da Praia do Flamengo. “Ah, não tinha ingresso, ia ser difícil de entrar, muita muvuca,

preferi ficar aqui sentada com o pessoal”, diz Ana Paula. A mulher de Bimba, Paula Newlands, também

escolheu ficar do lado de fora da arena montada na Marina da Glória. “Achei muito complicado para entrar, a

distância para quem vê da praia ou da arquibancada é quase a mesma, a fila ia ser muito grande. Foi mais pelo

sossego mesmo”, diz Paula.

As razões são as mais variadas, mas uma coisa é certa: a Olimpíada do Rio não é exatamente o evento mais

inclusivo do mundo. Ingressos caros, público desengajado, organização incapaz de estimular a participação de

quem não comprou ingresso. São inúmeros os motivos. O resultado tem sido uma Olimpíada bonita de ver pela

televisão, mas com algumas arenas vazias e parte da população alienada do evento.

No Aterro do Flamengo, onde os domingos costumam ser preenchidos por peladas encarniçadas,

churrasquinhos e dezenas de pessoas com cadeiras de praia e caixas de isopor com cerveja, nada mudou.

Mesmo com provas de vela acontecendo a alguns metros de distância, poucos se interessavam. Foi o caso da

vendedora Maria Conceição Batista dos Santos, de 47 anos. “Eu queria participar de verdade, estar lá no vôlei

e no handebol, torcendo pelo Brasil, mas é caro demais. Pobre não tem vez. Então resolvi vir aqui na praia”,

afirma Maria Conceição. Ela mora no Rio de Janeiro há 25 anos. Todo fim de semana vem à Praia do

Flamengo. “Eu digo que esta é a minha praia. Conheci meu marido aqui. Minha filha quase nasceu aqui. Por

isso fiquei feliz quando soube que ia dar para ver alguma coisa da Olimpíada.”

O marido de Conceição, o comerciante José Vital, de 48 anos, esperava mais. “Eu não gostei que cortaram

minha praia no meio com essa grade”, afirma José Vital. “Podiam ter colocado um telão aqui na praia, para

pelo menos a gente saber o que estava acontecendo, já que com o preço do ingresso não dá para ver nada.”

Todo fim de semana, Vital e Conceição se deslocam de Campo Grande para a Praia do Flamengo, “a mais

bonita do Rio, porque é a nossa praia”, diz Vital. Quando ele soube que o Rio sediaria os Jogos, em 2009,

gostou da ideia. “Achei que seria ótimo para o Rio, a cidade ia ficar maravilhosa, mas eu tenho dúvidas agora.

Como vai ser depois da Olimpíada? A Força Nacional vai ficar nas ruas? Agora é legal. O Rio está em alta.

Mas até quando vai durar isso?”

Essa é uma preocupação comum à maioria das pessoas, satisfeitas ou não com o resultado da Olimpíada. A

falta de recursos públicos ameaça a continuidade das obras de melhorias levadas a cabo na cidade nos últimos

anos. “Agora está cheio de policiamento, tudo funcionando direito, ninguém é assaltado, o transporte está

ótimo, mas e depois?”, diz a aposentada Marli Soares. “Isso daí é uma fachada. Pintaram de uma cor bonita

para os gringos verem, colocaram umas placas para os gringos não verem as favelas, é só enfeite.” Moradora

de Santa Teresa há mais de 40 anos, ela diz que todo fim de semana vem para a Praia do Flamengo com a

família. “Olha lá, eles cortaram metade da minha praia para fazer isso daí”, diz Marli, apontando para a cerca

que divide a área destinada aos portadores de ingresso. “Quando o Rio foi escolhido como sede, eu protestei,

porque não queria isto daqui, sabia que não ia servir para nada.”

Quem não tem ingresso mas quer participar tenta se virar como pode para tentar tirar uma casquinha da

Olimpíada no Rio de Janeiro. Não que seja fácil. Mesmo com muitas modalidades olímpicas sendo disputadas

109

ao ar livre, barreiras, painéis e a distância são empecilhos comuns para quem tenta improvisar para assistir aos

Jogos. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, a paisagem idílica onde atletas disputam competições de remo e

canoagem é entrecortada por alambrados metálicos e cercas de aço que separam portadores e não portadores de

ingressos. Do lado de fora, muitas pessoas tentavam ver os eventos em pequenas áreas à margem da Lagoa ou

dependurados nas grades de ferro. “É difícil ver, não é? Dessa distância já não daria para ver nada, eles ainda

colocaram uns painéis na linha de chegada, para ninguém ver mesmo”, afirma José Roberto Conceição, que

tentava ver a classificatória nos 1.000 metros de canoagem pelos buracos entre a grade. “É só para acabar com

a diversão. Assim não tem Olimpíada 0800”, diz ele, em referência à gíria carioca para coisas gratuitas.

APÊNDICE 6

110

Matéria - Revista Época: Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória

Autor: Cristina Grillo em 21/08/2016

Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/olimpiadas/noticia/2016/08/rio-2016-uma-olimpiada-para-ficar-

na-memoria.html

Com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, o Brasil teve seu melhor desempenho em Jogos

Olímpicos desde sua primeira participação, na Antuérpia, em 1920. A última medalha conquistada, com a

vitória da seleção de vôlei masculino, colocou o país em 13º lugar no ranking da Rio 2016 – um resultado

abaixo do pretendido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que esperava terminar a Olimpíada em 10º

lugar. O bom resultado não esconde uma realidade: grande parte do sucesso de nossos atletas dependeu mais de

esforço pessoal que do apoio do Estado.

Foram dias emocionantes. O choro da judoca Rafaela Silva ao conquistar o ouro; a multidão carregando o

barco das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, com as duas comemorando lá no alto; o jogador de vôlei

Lucarelli, o caçula da seleção, beijando os pés do líbero Serginho, o decano do time; o boxeador Robson

Conceição caindo de joelhos ao fim da luta que lhe deu o alto do pódio são algumas das cenas que não se

apagarão de nossas mentes.

Foram também dias em que cariocas e visitantes se reencontraram com uma cidade que andava meio

maltratada. O Boulevard Olímpico recuperou a zona portuária; o Parque Olímpico, se bem aproveitado no

futuro, poderá se tornar outro grande ponto de atração no Rio. Houve melhorias inegáveis em termos de

mobilidade na cidade.

Houve excessos em alguns momentos – era desnecessário vaiar o atleta francês Renaud Lavillenie quando ele

disputava com o brasileiro Thiago Braz o ouro no salto com vara. Mas, de modo geral, nossa torcida também

merece ouro. Onde mais uma esgrimista japonesa que acerta um golpe é saudada entusiasticamente com gritos

de “sushi, sushi”? Ou, na falta de por quem torcer, gritar freneticamente “juiz, juiz” para incentivar o único

brasileiro dentro do ringue de boxe? Ou ainda, diante do time chinês atordoado com a equipe americana de

basquete, gritar entusiasmadamente “vamos virar, China”, quando o time asiático perdia por quase 50 pontos?

Foram sete anos de espera pela Olimpíada. Foram 16 dias de recordes, vitórias, derrotas, alegrias. Uma

temporada inesquecível, que nos dá vontade de dizer: fica, Rio 2016, não vai embora, não.

APÊNDICE 7

111

Matéria - Site Alemão DW: Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio 2016

Autor: Luisa FreyGrillo em 27/04/2016

Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-desânimo-com-a-rio-2016/a-19219192

A cem dias dos Jogos Olímpicos de 2016, o megaevento esportivo no Rio de Janeiro ganhou destaque na

imprensa europeia nesta quarta-feira (27/04). Um dos principais aspectos destacados foi a atual crise

econômica e política enfrentada pelo Brasil, que afeta o ânimo em relação aos Jogos.

O jornal alemão Die Welt lembra o "júbilo" na América Latina quando a cidade maravilhosa foi escolhida para

sediar o evento, em 2009. "Mas hoje o coração do Rio bate diferente. O êxtase transformou-se em desilusão; a

euforia, em desânimo", escreve o jornalista Jens Hungermann. Ele aponta a crise econômica e política como

motivo para a mudança de clima em relação aos Jogos.

"Inicialmente vistos como uma benção, os primeiros Jogos Olímpicos estão ameaçando se tornar uma maldição

para a cidade-sede em estado de choque", escreve o britânico The Guardian, seguindo a mesma linha do Die

Welt. Entre os problemas que abalam a expectativa dos cariocas e dos brasileiros em relação aos Jogos estão o

processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que dividiu o país, o maior escândalo de corrupção da

história do Brasil e a mais acentuada queda do PIB em décadas, afirma o The Guardian.

O italiano Corriere della Sera, por sua vez, começa falando dos Jogos com otimismo, dizendo que,

diferentemente da Copa do Mundo de 2014, desta vez o Brasil não está despreparado – com 98% da

infraestrutura olímpica pronta, segundo dados oficiais.

"Os contornos dos Jogos, no entanto, seguem sendo um enigma", pondera o jornal. "Quem está acompanhando

a confusão da política brasileira vai se perguntar quem será o chefe de Estado a declarar abertos os 31ºs Jogos

da era moderna [...] Justamente por esse motivo, a contagem regressiva dos cem dias cai em certo

desinteresse."

O Le Monde afirma que, a cem dias da cerimônia de abertura, em 5 de agosto, o atraso de algumas obras, como

a Linha 4 do metrô, "fonte habitual de ansiedade do Comitê Olímpico Internacional, não é nem de longe o

único desafio que o Rio terá que superar".

Zika, Guanabara e ciclovia. Várias das publicações apontam o atual surto de zika como algo que pode ter um

efeito negativo sobre o megaevento esportivo. O Le Monde afirma que o vírus provocou "uma espécie de

histeria global", levando turistas a cancelarem suas viagens e preocupando atletas. O The Guardian afirma que

se trata da "pior crise de saúde na região de que se tem lembrança".

A maioria dos jornais também menciona a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos

na semana passada. O Die Welt, por exemplo, classifica o desastre ocorrido a tão poucos dias dos Jogos

Olímpicos como um "sinal devastador". A obra deveria ser parte do legado olímpico.

Além da queda do trecho da ciclovia, o The Guardian cita o dado revelado nesta semana de que 11 operários

morreram nas obras da Rio 2016 – comparados a oito na Copa do Mundo de 2014 e nenhum nos Jogos

Olímpicos de Londres, em 2012.

A Baía de Guanabara também é citada como exemplo de fracasso dos preparativos. O jornal britânico destaca

que o local, que será palco de competições de vela, "fede a excrementos". O Corriere della Sera, por sua vez,

aponta a despoluição do local antes dos jogos como uma das promessas que o Rio não conseguirá cumprir.

Após chamar a baía de "cloaca", o tabloide alemão Bild traz uma montagem de um cartão postal do Rio de

Janeiro com as palavras Grüße aus Rio de SCHANDiero (algo como "Saudações do Rio Vexameiro", fazendo

um trocadilho com a palavra Schande, que significa vexame ou vergonha).

O jornal também destaca a queda de uma parte da ciclovia e a morte de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas.

"Ainda mais dramática é a qualidade da água na área das competições de vela, a linda Baía de Guanabara",

afirma a reportagem, intitulada "Cem dias antes dos Jogos – e ainda há mil problemas".

APÊNDICE 8

112

Matéria - Site Alemão DW: Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio

Autor: Astrid Prange em 21/08/2016

Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/opinião-jogos-ol%C3%ADmpicos-libertam-o-rio/a-19487677

Welcome to hell – bem-vindos ao inferno: com essa saudação, ainda em fins de junho policiais protestavam no

Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Sua inquietante mensagem era: não vamos cuidar para a segurança

de vocês, pois há meses não recebemos salário.

Os espectadores dos Jogos Olímpicos não se deixaram intimidar por essas boas-vindas. Pelo contrário:

centenas de milhares de turistas e atletas ousaram entrar no inferno da metrópole brasileira. Apesar do medo do

terrorismo, apesar do zika, apesar da criminalidade.

E – milagre! – eles se sentem bem. Eles desfrutam da hospitalidade e cultura brasileiras, das praias e da

natureza – e dos primeiros Jogos na América do Sul.

O Rio de Janeiro simboliza céu e inferno, na mesma medida. Nenhuma outra cidade do Brasil reúne em si, em

tamanha proporção, contradições e contrastes tão extremos: taxas de assassinato assustadoramente altas frente

a frente com uma irrefreável alegria de viver.

As temperaturas no inferno do Rio já vão baixando. Delegações e turistas deixam a cidade, só na segunda-feira

(22/08) são esperados 85 mil passageiros no aeroporto. Depois dos Jogos Paralímpicos, em setembro a chama

olímpica se apaga definitivamente.

Porém, mesmo que após os Jogos os problemas da cidade permaneçam os mesmos de antes, mesmo que a

criminalidade, caos do trânsito, hospitais desmoronando e policiais sub-assalariados sigam marcando o

quotidiano carioca, a cidade mudou: uma nova autoconfiança tomou conta de seus cidadãos.

É o justo orgulho de, sob as circunstâncias mais difíceis, ter realizado o maior evento esportivo do mundo, com

mais de 10 mil atletas e 500 mil espectadores. É a satisfação de, após anos dos distúrbios causados pelas

grandes obras, reconhecer um novo rosto da cidade. E é a alegria pelo reconhecimento mundial desse ato de

força organizatório, esportivo e social.

Os Jogos Olímpicos libertaram o Rio. Libertaram do difundido complexo de inferioridade brasileiro de que no

exterior tudo funcione melhor do que no próprio país. Libertaram do trauma de que a pobreza e a violência

minam a beleza da cidade. Libertaram-no da ilusão de que os visitantes estrangeiros, sobretudo da Europa e

dos Estados Unidos, se comportem sempre melhor do que os próprios conterrâneos.

Os nadadores americanos não contavam com essa nova autoconfiança. Eles fracassaram deploravelmente com

sua estratégia de simular um assalto – fato alegadamente quotidiano no Rio –, para assim desviar a atenção da

própria má conduta. O incidente é mais constrangedor ainda, por partir justo de atletas olímpicos um

comportamento tão desleal perante seus anfitriões.

Também o Comitê Olímpico Internacional (COI) precisa repensar. Enquanto houver em seus quadros membros

como Joseph Hickey, que vendem ingressos ilegalmente e a preços exorbitantes, o comitê coloca em jogo sua

autoridade. Ao que parece, no inferno do Rio as coisas são mais justas do que no céu olímpico do COI, o qual

se deleita na Suíça com lucros não tributados, enquanto exige que os contribuintes brasileiros compensem os

déficits com seus impostos.

Assim como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, também os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

desmascararam a dupla moral dos supostos guardiães do espírito olímpico e da lealdade esportiva: eles estão

muitos anos-luz distantes dos celestiais ideais olímpicos. Obrigado, Rio, e bem-vindos ao mais maravilhoso

inferno do planeta!