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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA GRADUAÇÃO DE BACHAREL EM QUÍMICA INDUSTRIAL DALISSA GRANJA VILLA NOVA DETERMINAÇÃO DE Cd (II) EM ÁGUAS PRODUZIDAS ORIUNDAS DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO EMPREGANDO SISTEMA PARA SEPARAÇÃO DA MATRIZ UTILIZANDO MEMBRANAS SEMIPERMEÁVEIS DE POLIETILENO DE BAIXA DENSIDADE. NITERÓI 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE … Dalissa... · vantagens como baixo custo, simplicidade e limites de quantificação adequados. ... A metodologia foi aplicada em uma

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE QUÍMICA GRADUAÇÃO DE BACHAREL EM QUÍMICA INDUSTRIAL

DALISSA GRANJA VILLA NOVA

DETERMINAÇÃO DE Cd (II) EM ÁGUAS PRODUZIDAS ORIUNDAS DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO EMPREGANDO SISTEMA PARA SEPARAÇÃO DA MATRIZ UTILIZANDO MEMBRANAS SEMIPERMEÁVEIS DE POLIETILENO

DE BAIXA DENSIDADE.

NITERÓI 2016

DALISSA GRANJA VILLA NOVA

DETERMINAÇÃO DE Cd (II) EM ÁGUAS PRODUZIDASORIUNDAS DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO EMPREGANDO SISTEMA PARA

SEPARAÇÃODA MATRIZ UTILIZANDO MEMBRANAS SEMIPERMEÁVEIS DE POLIETILENO DE BAIXA DENSIDADE.

Monografia de final de curso apresentada ao Curso de Graduação em Química Industrial da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Química Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Jorgensen Cassella

Coorientador: Drª. Nicolle Figueira Robaina

Niterói, RJ 2016

N 935 Nova, Dalissa Granja Villa

Determinação de Cd (II) em águas produzidas oriunda da

exploração de petróleo empregando sistema para separação da

matriz utilizando membranas semipermeáveis de polietileno de

baixa densidade./ Dalissa Granja Villa Nova.--Niterói : [s.n.],

2016.

53.

Trabalho de Conclusão de Curso--(Bacharelado em

Química Industrial)--Universidade Federal Fluminense, 2016.

1. Petróleo. 2. Salinidade. 3. Impacto ambiental. 4. Especto-

metria. 5. Otimização. 6. Niterói,RJ. 7. Polietileno. I. Título.

CDD. : 547.83

Dedico essa monografia ao meu avô Sebastião, que tenho certeza, que esteve comigo em toda minha jornada. E sempre estará.

IV

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Luiz Alberto e Domarcia, e minha irmã Larissa, pelo

carinho, confiança e dedicação.

Ao meu orientador, Ricardo Cassella, pela oportunidade de trabalhar e

aprender, durante esses três anos, com um dos melhores professores que já

tive.

A minha maravilhosa coorientadora, Nicolle Robaina, por todo carinho,

paciência e conhecimento transmitido. Sem você teria sido muito mais difícil!

A todos que passaram pelo laboratório LESPA.

A antiga e nova geração do 901, Ana Clara Reis, Camila Novo, Pedro

Rodrigues, Renata Dantas e Marcele Quevene, que suportaram todo o

estresse e felicidade durante a faculdade e que tornaram tudo mais fácil! Vocês

foram a família que escolhi. Amo vocês.

Aos meus amigos, Caio Pequeno, Caio Guedes, Mayara Müller, Willian

Guedes, que estavam comigo antes mesmo dessa jornada começar e me

ajudaram muito a estar aqui!

Aos amigos maravilhosos que eu fiz aqui e que tornaram essa fase

melhor e mais leve! Vocês estarão para sempre comigo. Aos que me ajudaram

me mandando estudar: Obrigada! E também aos que me atrapalharam me

chamando pra sair: Obrigada, e mesmo assim eu consegui! Amo vocês, Ana

Cecília, Carinne Borges, Carolina Bispo, Claudia Moreira, Claudio Gabriel,

Fabiana Melo, Gian Giordano, Isabella Alves, Isabela Oliveira, Israel Rocha,

Jaqueline Freitas, Jorge Roque, Karina Medeiros, Karla Saboya, Leandro

Machado, Leonardo Gomes, Leonardo Megliorini, Luiz Felipe Santoro, Maria

Carolina, Natália Couto, Pedro Diniz, Rafael Lamarca, Raul Xavier, Ricardo

Rito, Rodrigo Sarcinelli, Samir Costa, Thiago Reitor, Victor Santos, Vitor Keller,

Wesley Costa.

V

SUMÁRIO

Resumo ............................................................................................................................................. VIII

Abstract ................................................................................................................................................ IX

Lista de figuras....................................................................................................................................X

Lista de tabelas ............................................................................................................................... XII

1. Introdução ......................................................................................................................................13

2. Objetivos .........................................................................................................................................16

2.2. Objetivo geral .............................................................................................................16

2.3. Objetivo específico ..................................................................................................16

3. Fundamentação teórica ..........................................................................................................18

3.1. Petróleo.........................................................................................................................18

3.2. Extração do petróleo ..............................................................................................19

3.3. Água produzida .........................................................................................................20

3.4. Contaminação das águas .................................................................................... 20

3.5. Cádmio ..........................................................................................................................22

3.6. Dispositivo de membrana semipermeável .................................................. 23

3.7. Espectometria de absorção atômica em forno de grafite

25

4. Parte experimental..................................................................................................................... 27

4.1. Materiais e reagentes ............................................................................................ 27

4.1.1. Instrumentação ........................................................................................27

4.1.2. Reagentes ................................................................................................ 27

4.1.3. Materiais .....................................................................................................28

VI

4.2. Metodologia ................................................................................................................ 29

4.2.1. Preparo de soluções ............................................................................. 29

4.2.2. Otimização do método de extração............................................... 29

4.2.3. Aplicação do método de extração otimizado em amostras

reais de águas salinas ...................................................................................... 31

5. Resultado e discussão ............................................................................................................. 32

5.1. Otimização do método de extração ................................................................ 32

5.1.1. Solvente extrator .................................................................................... 33

5.1.2. Concentração do complexante ........................................................ 34

5.1.3. Tempo de extração ............................................................................... 36

5.1.4. Influencia do pH ...................................................................................... 38

5.1.5. Volume do solvente extrator .............................................................40

5.1.6. Influencia da força iônica .................................................................... 41

5.2. Aplicação do método otimizado em amostras reais .......................... 43

6. Conclusão ......................................................................................................................................48

7. Bibliografia .....................................................................................................................................49

VII

RESUMO

As águas produzidas oriundas da exploração de petróleo são amostras

de água com elevada salinidade e que muitas vezes são despejadas no

oceano sem o tratamento adequado, podendo acarretar na sua contaminação

por diversas substâncias, como por exemplo, o cádmio, um metal tóxico e

cumulativo. As águas salinas são amostras complexas, particularmente difíceis

de analisar, sendo importante o desenvolvimento de métodos de preparo de

amostra que permitam a separação do analito da matriz e que agreguem

vantagens como baixo custo, simplicidade e limites de quantificação

adequados. O presente trabalho propõe uma metodologia analítica para

determinação de Cd (II) em amostras de águas salinas empregando um

sistema de separação da matriz utilizando membranas semipermeáveis de

polietileno de baixa densidade (DMSP) e determinação espectrométrica através

de absorção atômica em forno de grafite (GF AAS). O processo de extração de

Cd (II) das amostras é baseado na sua conversão em uma espécie de baixa

polaridade, através da sua complexação com dietilditiocarbamato de sódio

(DDTC) e posterior migração para o interior na membrana preenchida com um

solvente extrator apolar. Foram otimizadas as condições de extração dos

analitos: pH = 9,0, volume de 3 mL de clorofórmio, DDTC 3,7 x 10-4 mol L-1 e

extração realizada após um tempo de 2 h. Os limites de detecção e

quantificação para Cd foram de 0,15 μg L-1 e 0,52 μg L-1 e testes de

recuperação com percentuais entre 88 e 133% demonstraram a exatidão do

método proposto. A metodologia foi aplicada em uma amostra de água do mar

proveniente do município de Niterói-RJ, uma amostra de água produzida

sintética preparada em laboratório e duas amostras de água produzida

fornecidas pelo CENPES/Petrobras.

Palavras-chave: Águas salinas, extração, cádmio, membrana semipermeável,

petróleo.

VIII

ABSTRACT

The water produced from petroleum exploration present high salinity and

are often discarded in the ocean without a suitable treatment, which can result

in the ocean contamination by various substances, such as cadmium, a toxic

and cumulative metal. Saline waters are particularly difficult to analyze and, for

this reason, the development of sample preparation methods for the matrix

separation is required. These methods must present low-cost, simplicity and

adequate limits of quantification. This work proposes a novel analytical

methodology for Cd(II) determination in saline water samples using a low

density polyethylene semi-permeable membrane device (SPMD) for analyte

separation. Its determination was performed by graphite furnace atomic

absorption spectronmetry. The extraction of Cd(II) ions was based on their

conversion into a low-polarity complex with sodium diethyldithiocarbamate

(DDTC) and subsequent migration into the membrane filled with a nonpolar

solvent. The extraction conditions were optimized and best results were

observed at pH = 9.0, using a 3 mL of chloroform to fill the membrane, DDTC of

3.7 x 10-4 mol L-1 and an extraction time of 2 h. The limits of detection and

quantification for Cd(II) were 0.15 µg g-1 and 0.52 µg g-1, respectively.

Recovery tests were performed and recovery percentages between 88 and

133% were obtained, which demonstrated the accuracy of the proposed

method. The developed methodology was applied in the determination of Cd(II)

in three saline water samples (one seawater sample and two production water

samples, supplied by CENPES/Petrobras).

Keywords: Saline water, extraction, cadmium, semipermeable membrane, oil.

IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Sistema de amostragem com membrana semipermeável preenchida

com solvente (Robaina, 2015). .................................................................................................23

Figura 2. Gráfico comparativo da eficiência de extração entre hexano e

clorofórmio como solvente extrator influente no processo de extração de Cd(II).

32

Figura 3. Estrutura química do complexo Cd(DDTC)2. ................................................33

Figura 4. Gráfico do efeito das concentrações de DDTC na eficiência da

extração de Cd(II). Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd e 1 hora de agitação na

mesa agitadora. ................................................................................................................................34

Figura 5. Gráfico do tempo de extração de Cd (II) sem agitação. Foi usado 1

μg L-1 de padrão de Cd e DDTC 3,7x10-4 mol L-1. ....................................................... 35

Figura 6. Gráfico do tempo de extração, em minutos, de Cd (II) com agitação

em mesa agitadora horizontal. Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd e DDTC

3,7x10-4 mol L-1. ............................................................................................................................. 36

Figura 7. Equilíbrio do ácido dietilditiocarbamato com seu respectivo valor de

pKa à 19°C de acordo SOTO et al., 2015. .......................................................................... 37

Figura 8. Gráfico da influência do pH no meio de extração de Cd (II). Foi usado

1 μg L-1 de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4 mol L-1, 2h de agitação em mesa

agitadora horizontal e solução tampão Britton-Robinson em pH proposto. ........ 38

Figura 9. Reações de decomposição do DDTC com formação de (A) dissulfeto

de carbono e de (B) sulfeto de hidrogênio a partir do DDTC..................................... 39

Figura 10. Gráfico da influência do volume do solvente extrator. Foi usado 1 μg

L-1

de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4

mol L-1

, 2h de agitação em mesa agitadora

horizontal e solução tampão Britton-Robinson em pH 9,0. ......................................... 40

Figura 11. Gráfico da influência da força iônica do meio na influência da

extração. Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4 mol L-1, 2h de

X

agitação em mesa agitadora horizontal e solução tampão Britton-Robinson em

pH 9,0. ................................................................................................................................................. 41

Figura 12. Curvas analítica e de adição padrão da amostra de água produzida

em laboratório 96,097‰. ............................................................................................................ 44

Figura 13. Curvas analítica e de adição padrão da amostra de água produzida

270‰. ................................................................................................................................................... 44

XI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Programa de temperatura da absorção atômica em forno de grafite

para determinação de cádmio (Robaina, 2015). .............................................................. 32

Tabela 2. Concentrações de DDTC usadas para estudo da otimização do

método. .................................................................................................................................................35

Tabela 3. Condições ótimas de extração e pré-concentração de Cd (II) de

águas salinas através de membrana semipermeável. .................................................. 43

Tabela 4. Parâmetro de mérito para determinação de Cd (II) pelo método

proposto. ..............................................................................................................................................44

Tabela 5. Resultados de recuperação de Cd (II) através do método

padronizado. ......................................................................................................................................47

XII

1. INTRODUÇÃO

Desde sua descoberta em território nacional, o petróleo transformou

profundamente a economia, a sociedade e o espaço do Brasil, principalmente nas

últimas quatro décadas, fornecendo energia e matérias-primas para o processo de

industrialização (Monié, 2003), gerando além de crescimento econômico, muitos

problemas ambientais, como a poluição de águas e de solos.

O petróleo é o recurso natural mais importante na matriz energética atual,

sendo de interesse das nações investirem em pesquisa e exploração deste, mesmo

que isso signifique gerar impactos ambientais. Esse desenvolvimento do setor

petrolífero tem causado danos irreparáveis ao meio ambiente, ou que exigiriam um

alto investimento para reparar a agressão ambiental, como é o caso da Baía de

Guanabara (Silva, 2008).

Na exploração de petróleo, seja em jazidas em terra (onshore) ou em alto mar

(offshore), existe geração de um efluente aquoso, denominado água produzida. A

chamada água produzida é extraída junto com o petróleo e é oriunda principalmente

da injeção de água para aumentar a produção de petróleo na etapa de recuperação

secundária, onde essa injeção mantém a pressão necessária no reservatório para

que o óleo seja extraído do poço. O processo de recuperação secundária exige um

volume muito grande de água, que geralmente é a própria água do mar coletada

próxima à região da exploração, e após a extração do petróleo é descartada em alto

mar, sendo considerado o maior resíduo, em termos de volume, gerado na produção

de petróleo. A quantidade de rejeito de água produzida gerada em uma atividade

offshore no Brasil está estimada em aproximadamente 3,8 milhões de barris por dia

(Nunes, 2010). Valor este que depende das dimensões do reservatório, da área

explorada e da capacidade da unidade exploradora.

A produção excessiva de água durante a exploração de petróleo é um

problema principalmente nos campos de petróleo denominados maduros, isto é,

aqueles que têm permanecido em operação por longo período de tempo. A eficiência

do separador água/óleo é afetada com a perda da pressão dentro dos poços, tendo

a necessidade de injetar cada vez mais água nos reservatórios (Lima, 2008).

As águas produzidas apresentam, em geral, altos teores de contaminantes

potencialmente tóxicos (metais, tais como Cd, Cr, Cu, Pb, Hg, Ag, Ni, Zn; produtos

químicos adicionados nos reservatórios, tais como inibidores de corrosão, inibidores

de incrustação, desemulsificantes, metanol, glicol, polieletrólitos), além de uma

complexa mistura de compostos orgânicos e inorgânicos, cuja composição varia com

a vida do campo petrolífero (Lima, 2008).

Na atividade offshore o descarte é feito em grandes ambientes receptores,

como o próprio mar, o que poderia ser uma argumentação para o não tratamento da

água produzida. Mas fatores tais como, correntes marítimas, ventos, temperatura da

água, mudança de clima, podem transportar ou mesmo concentrar alguns de seus

constituintes. O descarte de tais volumes de resíduos vem causando preocupações

sobre a poluição ambiental não controlada e irreversível no ambiente marinho (Lima,

2008).

O impacto ambiental é avaliado pela toxicidade dos constituintes e pela

quantidade de compostos presentes. Alguns destes constituintes permanecerão

dissolvidos, enquanto outros são convertidos, seja por decomposição, evaporação,

transformação em outro composto não tóxico, deposição no fundo do mar, etc. Os

efeitos mais nocivos ao meio ambiente são aqueles associados aos compostos que

permanecem solúveis após o descarte, por interagirem diretamente com a vida

presente neste meio (Lima, 2008).

Os metais presentes na água produzida são elementos naturais que se

encontram nos ecossistemas, porém, as atividades humanas têm elevado suas

concentrações naturais, levando a contaminação dos ecossistemas (Almeida, 2009).

Os metais merecem atenção por serem não degradáveis, permanecendo por longos

14

períodos no ambiente, além da elevada toxicidade de alguns metais, o que cria

problemas em zonas costeiras, lagos e rios (Boada et al., 2007).

Com as exigências ambientais, é necessário o monitoramento das

concentrações dos diversos poluentes que a produção de petróleo possa trazer ao

meio ambiente que o cerca. A partir disso, cresce, no mundo, pesquisas que

atendam a essa necessidade, principalmente na área da química analítica, utilizando

diversas técnicas instrumentais, por exemplo, Espectrometria de Absorção Atômica

com Forno de Grafite (GF AAS, Graphite Furnace Atomic Absorption Spectrometry),

uma técnica altamente sensível e seletiva para detectar pequenas concentrações de

metais, além de usar pequenas quantidades de amostras.

Nesse contexto, destaca-se a relevância do presente trabalho, que tem como

objetivo o desenvolvimento de um método analítico para determinação de Cd em

amostras de água salina utilizando membranas semipermeáveis para separação da

matriz complexa. No método são utilizadas membranas de polietileno de baixa

densidade preenchidas com solvente apolar e a extração do Cd é realizada pela sua

conversão em uma espécie de baixa polaridade, através da reação de complexação

do Cd com o complexante DDTC.

15

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolvimento de um método de extração para determinação de Cd (II) em

águas salinas, águas do mar e águas produzidas oriundas da exploração offshore,

através de membranas semipermeáveis de polietileno de baixa densidade

preenchidas com solvente orgânico e detecção por espectrometria de absorção

atômica com forno de grafite (GF AAS).

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

i. Otimizar os parâmetros para melhor eficiência da extração de Cd (II):

a. Tipo de solvente extrator;

b. Concentração do complexante (DDTC);

c. Tempo de exposição das membranas;

d. Agitação do sistema;

e. pH do meio;

f. Volume do solvente extrator;

g. Força iônica; ii. Aplicar a metodologia de extração estudada em amostras salinas reais,

utilizando espectrometria de absorção atômica em forno de grafite.

17

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 PETRÓLEO

O interesse pelo petróleo, do ponto de vista econômico, começou no século

XIX, quando ele passou a ser utilizado para produção de energia no lugar do carvão

mineral. Quando Thomas Edison desenvolveu os estudos acerca da energia elétrica,

o petróleo perdeu sua função, porém, no século XX, com a invenção dos motores a

gasolina e diesel, o petróleo voltou ao cenário mundial (Debeir, 1993).

O país pioneiro nas pesquisas sobre petróleo foram os EUA, mas anos mais

tarde o Brasil iria descobrir que a maior parte dos seus reservatórios de petróleo se

encontrava no fundo do mar e não em terra, como nos demais países (Freeman e

Soete, 1997). Sendo assim, os EUA são pioneiros em técnicas onshore, e o Brasil,

através da Petrobrás por intermédio de seu Programa de Capacitação Tecnológica

em Águas Profundas - PROCAP, criado em 1986, desenvolveu as técnicas offshore,

o que a tornou referência mundial em tecnologia de exploração de petróleo em

águas profundas (Neto e Costa, 2007).

O petróleo é constituído de hidrocarbonetos (compostos ricos em carbono e

hidrogênio) saturados, aromáticos, compostos policíclicos, além de elementos

inorgânicos (Souza et al., 2015). A principal teoria de formação do petróleo é

baseada na deposição de um volume alto de produtos orgânicos em uma rocha

específica, denominada geradora, que possui pressão e temperatura adequada para

a formação do óleo, e estar livre de uma possível oxidação, que destrói as ligações

C-H com a ação do oxigênio (Milani, 2000). Essa formação requer um alto resquício

geológico ocorrendo em uma rocha sedimentar e um alto tempo geológico nessa

formação.

3.2 EXTRAÇÃO DO PETRÓLEO

Durante a perfuração do poço e extração do petróleo, a pressão existente no

poço decai bruscamente, fazendo com que nem todo petróleo seja removido, assim,

surgiram maneiras de aproveitar uma maior parte do produto que fica retido nos

poros da rocha. Esse primeiro momento da extração se chama recuperação

primária, que geralmente tem um fator baixo de recuperação, em torno de 15%, mas

um baixo custo de produção porque utiliza energia natural para levar o petróleo até a

superfície (Teixeira, 2007).

Foram desenvolvidos métodos de recuperação para minimizar as perdas de

petróleo durante a exploração, um desses é a recuperação secundária que tem

como objetivo fornecer ao poço a pressão que havia sido perdida. Na recuperação

secundária é realizada a injeção de um fluido nos poços, que nas plataformas

offshore pode ser a própria água do mar onde se encontra o poço, sendo a mais

usada atualmente, por ser mais viável economicamente e de fácil acesso (Teixeira,

2007), fornecendo a pressão necessária para que o óleo que ficou retido seja

liberado para o poço de produção. A água salina injetada nos poços ocupa o espaço

do óleo nos poros da rocha reservatório, sendo que certa quantidade de água fica

retida no reservatório e outra parte é produzida juntamente com o petróleo (Borges,

2009).

A recuperação secundária somada com a primária ainda não é suficiente para

a extração total, somando juntas cerca de 30% da produção (Carrero 2007), mas

ainda assim são as recuperações mais usadas e considerados métodos

convencionais de recuperação. O método de recuperação terciário é considerado um

método de recuperação avançada (Rosa, 2006), para poços mais maduros

recuperar reservatórios que apresentam óleos com alta viscosidade e elevadas

tensões interfaciais (Borges, 2009).

19

3.3 ÁGUA PRODUZIDA

A água produzida é um mistura de água de diferentes origens, como a água

de injeção para recuperação secundária do petróleo e a água presente naturalmente

no reservatório. A sua composição ainda é pouco conhecida quimicamente.

De acordo com um Boletim Técnico da PETROBRAS (Oliveira & Oliveira,

2000), no qual são apresentadas as faixas de concentração e a concentração típica

de diversas espécies presentes em amostras de águas produzidas do mar do norte

(um mar do oceano Atlântico), pode-se destacar as concentrações de Cd: faixa de 0-

100 µg L-1 e concentração típica de 50 µg L-1.

A utilização da técnica secundária de recuperação gera um grande volume de

água produzida onde parte é descartada no mar e parte é reaproveitada para re-

injeção (Thomas, 2004). A água do mar, que é reutilizada como água de injeção,

possui alto teor de salinidade, superior a 30‰ (CONAMA, 2005) e é rica em sulfato e

carbonato. A água de formação, gerada dentro dos reservatórios, de mais elevada

salinidade é rica em cátions precipitantes como bário, estrôncio e cálcio, fazendo

com que favoreça a formação de precipitados e podendo formar incrustações nas

tubulações ocasionando danos econômicos e temporais no processo (Teixeira,

2007; Ribeiro, 2013).

3.4 CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SALINAS

A poluição marinha decorrente do descarte de água produzida no mar pelas

indústrias do petróleo vem aumentando gradativamente e, com ela, a preocupação

com o ambiente próximo dos poços de perfuração. Isso, porque essa água possui

diversos componentes nocivos à natureza, podendo conter, por exemplo, minerais

dissolvidos presentes no petróleo, óleo, compostos químicos, sólidos residuais da

produção, gases dissolvidos e microrganismos, e assim, tornando-as complexas se

forem contaminadas por tais substâncias.

20

A água produzida, geralmente, contém (Oliveira & Oliveira, 2000):

- Sais de Na, Cl, Ca, Sr, Mg, K;

- Metais e ametais: Ba, Cd, Cr, Cu, Fe, Pb, Mn, Hg, Mo, Ni, V, Zn;

- Substâncias orgânicas: alifáticos, aromáticos, polares e ácidos graxos;

- Radioisótopos;

- Produtos químicos adicionados nos poços de petróleo: biocidas, inibidores de

corrosão, sequestrantes de oxigênio, anticoagulantes.

Todos esses componentes presentes na água de produção oferecem riscos

ao meio ambiente, em especial os metais pesados, substâncias não degradáveis

que apresentam risco de bioacumulação em seres vivos que entram em contato com

eles. Por eles serem tóxicos, o controle das concentrações desses metais tem sido

cada vez mais pertinente nas águas, devido à introdução na cadeia alimentar que,

posteriormente, podem vir a ser ingeridos por seres humanos (Cruz, 2015).

As águas salinas são classificadas em quatro classes, conforme a resolução

CONAMA nº 357 de 2005:

- Classe especial: águas destinadas à preservação dos ambientes aquáticos em

unidades de conservação de proteção integral e à preservação do equilíbrio natural

das comunidades aquáticas.

- Classe 1: águas que podem ser destinadas à recreação de contato primário,

conforme resolução CONAMA nº 274 de 2000, à proteção das comunidades

aquáticas e à aquicultura e atividade de pesca.

- Classe 2: águas que podem ser destinadas à pesca amadora e à recreação de

contato secundário.

- Classe 3: águas que podem ser destinadas à navegação e à harmonia

paisagística.

A resolução CONAMA nº 357 estipula a concentração máxima permitida de

metais tóxicos para águas salinas, onde o Cd apresenta um valor máximo de 5 μg L-1

para a classe 1 e um valor máximo de 40 μg L-1

para classe 2. A classe especial se

21

deve manter em condições naturais e a classe 3 não possui valores máximos

estabelecidos.

3.5 CÁDMIO

Geralmente o cádmio é encontrado na natureza associado a outros

elementos, como o zinco, sendo um dos subprodutos na mineração de zinco, cobre

e chumbo. Em outras fontes é encontrado como sulfeto, sulfatos, óxidos, nitratos,

cloretos e acetatos. Por sua concentração na crosta terrestre ser de 1,1x10-4 Kg g-1,

o cádmio é tido como um poluente não natural. Sendo encontrado, geralmente, em

concentrações inferiores a 1 mg Kg-1 nos solos e inferiores a 1 µg L-1 em águas,

exceto em áreas de alta atividade industrial envolvendo este metal (Azevedo &

Chasin, 2003).

O cádmio possui ampla aplicação industrial, como revestimento anticorrosivo

de aço e ferro (por eletrodeposição), em pigmentos para plásticos e vidros, na

produção de baterias recarregáveis (níquel-cádmio) e como aditivo estabilizante

térmico do PVC. Além disso, é usado ainda como aditivo na indústria têxtil, em ligas,

em fios de eletricidade, fungicidas, pirotecnia, entre outros. O revestimento de

cádmio sobre aço-carbono por processos eletrolíticos tem como benefícios boa

resistência à corrosão, bom contato elétrico e baixo coeficiente de atrito, acarretando

numa vasta aplicabilidade, por exemplo, parafusos cadmiados são usados em

portas, fechaduras e até em plataformas de petróleo offshore (Oliveira et al., 2011;

Siqueira, 2005; Manahan, 1989).

A principal fonte natural de cádmio no meio ambiente é o vulcanismo, mesmo

em períodos de baixa atividade ou sem erupções. Também podendo ser encontrado

em altas concentrações em rochas sedimentares e fosfáticas. As ocorrências

antropogênicas incluem processos em altas temperaturas, como nas indústrias de

ferro e aço, nestes processos a emissão de cádmio ocorre agregada à partículas

com menos de 10 µm, passíveis de inalação. O cádmio nessa forma agregada tem

potencial de ser transportado a longas distâncias, uma vez que seu tempo de

residência na atmosfera vai de 1 a 10 dias até que seja depositado via úmida ou

22

seca, normalmente sob a forma de óxido ou cloreto de cádmio (formas estáveis à

incineração) (Siqueira, 2005).

Nos últimos anos os estudos sobre o metabolismo e a distribuição do cádmio

no organismo têm se intensificado e sendo estimulado principalmente por ser um

metal tóxico e cumulativo, com um tempo de meia vida biológico de 30 anos. Ao ser

absorvido, se acumula, principalmente, no fígado, pâncreas, pulmões e rins.

Manifestando sua toxicidade através de diversas síndromes e efeitos, como por

exemplo, lesões hepáticas, disfunção renal, hipertensão e, quando inalado, danos

aos pulmões (Vieira, 2004).

3.6 DISPOSITIVO DE MEMBRANA SEMIPERMEÁVEL (DMSP)

Huckins desenvolveu, em 1990, um amostrador com membranas

semipermeáveis, que consiste em uma membrana de polietileno de baixa densidade,

fabricadas sem aditivos, não-porosa, apresentando cavidades transientes formadas

termicamente por movimentos randômicos das cadeias poliméricas de

aproximadamente 10 Å. Essas cavidades livres permitem a dissolução e difusão das

moléculas orgânicas na membrana. Esse processo simula a difusão de

contaminantes através das membranas de organismos vivos (Huckins et al., 1990;

Petty et al., 1998).

Inicialmente, a técnica era utilizada com trioleína como fase aceptora de

analitos no interior da membrana. A tiroleína(1,2,3-tri(cis-9-octadecenoil)glicerol) é

um lipídio apolar de elevado peso molecular (≥ 600 Da), e foi escolhido para simular

o tecido lipídico de organismos aquáticos (Petty et al., 1998).

As substâncias hidrofóbicas interagem com a membrana de polietileno e/ou

com a fase aceptora em seu interior, que vão sendo extraídas e acumuladas no

interior das mesmas, como pode ser visto na Figura 1.

23

Figura 1. Sistema de amostragem com membrana semipermeável preenchida com

solvente (Robaina, 2015).

A capacidade de acúmulo de compostos hidrofóbicos por DMSP está

relacionada com o coeficiente de partição octanol/água (Kow) dos compostos. Kow

consiste na razão das concentrações da substância, no equilíbrio, entre os solventes

imiscíveis octanol e água. Aqueles com valores de Kow mais altos têm maior

possibilidade de serem concentrados significativamente nos dispositivos com níveis

acima do ambiente aquoso, como compostos hidrofóbicos com log Kow≥3. Apesar

dos que possuem valores de log menores de 3 poderem ser concentrados, seu uso

não possui vantagem em relação aos outros procedimentos de amostragem (Petty et

al., 2000). Devido aos altos fatores de concentração alcançados pelos DMSP torna-

se possível analisar níveis de contaminantes em ultra-traços (Lebo et al., 1995).

De acordo com Petty et al. (2000), o uso dos DMSP pode ser vantajoso para

as seguintes aplicações:

- determinar fontes de poluição;

- estimar a concentração média ao longo do tempo (CMLT);

- simular a concentração de compostos químicos biodisponíveis para testes

com bioindicador ou imunoensaios;

24

- seqüestrar contaminantes para os procedimentos de avaliação e

identificação de toxicidade (AIT);

- estimar a exposição de organismos e a bioconcentração potencial.

3.7 ESPECTROMETRIA DE ABSORÇÃO ATÔMICA EM FORNO DE GRAFITE

A Espectrometria de Absorção Atômica em Forno de Grafite (GF AAS) é uma

técnica que possui alta sensibilidade, conferindo baixos limites de detecção (da

ordem de μg L-1), além de possuir a vantagem da utilização de pequenos volumes

de amostra (entre 1 e 50 μL).

O princípio básico do funcionamento do GF AAS consiste na passagem de

uma radiação eletromagnética, de um determinado comprimento de onda por um

vapor atômico contendo átomos livres no estado fundamental, no qual uma parte da

radiação é absorvida e os átomos passam para um estado mais excitado. A

concentração do analito na amostra é determinada por essa energia que foi

absorvida, pois é proporcional ao numero de átomos livres no estado fundamental

que foram excitados (Holler et al., 2009). Assim, é feita analogia com a lei de

Lambert-Beer, em que a absorvância (A) e o coeficiente de absorção (Kⱱ) são

proporcionais a concentração do átomo. A partir dessa correlação, é possível

deduzir o quanto foi absorvido do analito em solução, e assim, determinar sua

concentração através de uma relação linear. (Ebdon et al., 1998).

Equação da lei de Lambert-Beer: A = log (I0/I) = Kⱱ L log e

Onde,

A é a absorvância;

I0 é a intensidade de luz incidente;

I intensidade de luz transmita;

Kⱱ é o coeficiente de absorção;

L é o comprimento do caminho.

25

Após a introdução da amostra no interior de um pequeno tubo de grafite,

localizado no caminho ótico do AAS, são programados estágios de aquecimentos no

programa de temperatura composto por várias etapas para a separação do analito

da matriz,sendo assim minimizadas as possíveis interferências (Freschi et al., 2000).

O programa de temperatura é composto por 4 etapas: Secagem, pirólise,

atomização e limpeza.

A secagem é a etapa em que se eliminam os componentes voláteis e os

solventes presentes na solução. Após a secagem, ocorre a pirólise, onde é

eliminada toda a matriz da amostra ao se atingir uma temperatura muito alta, porém

com cautela para que não ocorra perda de analito. Na atomização, a temperatura é

elevada suficientemente para vaporizar os átomos livres do analito, mas de modo

que não seja alta demais para danificar o tubo de grafite. A etapa final é a limpeza

do tubo, com uma temperatura um pouco acima da de atomização para eliminar

qualquer resíduo de amostra presente nas paredes do tubo comprometendo a

próxima utilização.

É necessária uma programação de temperatura para cada analito em cada

matriz a ser estudada, para que não haja interferência da matriz e nem perda do

analito por elevadas temperaturas. Existem casos em que alguns metais, por

apresentarem baixa estabilidade térmica, não suportam as determinadas

temperaturas, porém suas matrizes as necessitam para que possam ser

completamente eliminadas, então, neste caso, é necessário o uso de modificadores

químicos, onde seu emprego pode acarretar em um aumento da sensibilidade nas

medições e também na diminuição de possíveis interferências espectrais. Um

exemplo é o Pd, que estabiliza termicamente o analito, onde o modificador reduz a

velocidade do analito dentro do forno permitindo que sejam usadas temperaturas

elevadas propícias para a eliminação completa da matriz sem a perda do analito em

questão. Esse metal de transição forma compostos intermetálicos termicamente

estáveis com o metal que deseja ser determinado (Ebdon et al., 1998; Freschi et al.,

2000).

26

4 PARTE EXPERIMENTAL

4.1 MATERIAIS E REAGENTES

4.1.1 INSTRUMENTAÇÃO

i. Agitador horizontal MRII Roler Mixer;

ii. Balança Analítica Shimadzu, modelo AY220;

iii. Espectrômetro de absorção atômica Varian, modelo AA240Z, equipado com

amostrador automático Varian PSD 120, forno de grafite GTA 120, corretor de

fundo por efeito Zeeman e tubos de grafite (eletrolítico) com plataforma de

L´vov;

iv. pHmetro Digimed, modelo DM-22;

v. Seladora Cristofoli;

4.1.2 REAGENTES

i. Acetato de Sódio Trihidratado - Vetec

ii. Ácido Bórico - Caledon

iii. Ácido Clorídrico - Tedia

iv. Ácido Nítrico - Tedia

v. Cloreto de sódio - Vetec

vi. Clorofórmio - Tedia

vii. DDTC – Sigma Aldrich

viii. Etanol - Tedia

ix. Fosfato Monobásico de Sódio - Vetec

x. Hexano - Tedia

xi. Hidróxido de sódio - Vetec

xii. Padrão de Cádmio - Vetec

xiii. Padrão de Paládio - Fluka

4.1.3 MATERIAIS

Todas as vidrarias e plásticos, tubos de polietilenos de 15 e 50 mL, ponteiras

de micropipetas e recipientes do amostrador, foram lavados com água corrente e

detergente comum. Em seguida foram enxaguados com água deionizada e imersos

em solução de HNO3 10% v/v por, pelo menos, 24 h. Antes do uso, esses materiais

foram cuidadosamente lavados com água ultrapura (sistema Milli-Q: Millipore,

Milford, MA, USA) e secos em estufa a 40°C (exceto material volumétrico), evitando

qualquer contato com materiais metálicos e poeira. Rigoroso controle dos brancos foi

realizado para evitar problemas de contaminação.

Foram usadas membranas de polietileno de baixa densidade com 80 μm de

espessura e 2,5 cm de largura. Para o uso no procedimento, foram cortadas com

8 cm de comprimento, lavadas em hexano e secadas a temperatura ambiente.

Os reagentes usados foram de grau analítico e utilizados sem purificação

adicional. Todas as soluções foram preparadas com água deionizada de alta pureza

(resistividade 18,2 MΩ cm-1) obtida em um sistema Direct Q-3 (Millipore, Milford, MA,

USA).

28

4.2 METODOLOGIA

4.2.1 PREPARO DE SOLUÇÕES

As soluções padrões aquosas de Cd utilizadas nos experimentos para

construção de curvas analíticas foram preparadas diariamente pela diluição

adequada da solução estoque de 1000 mg L-1 com água ultrapura e armazenadas

em frascos de polietileno.

Foram preparadas soluções intermediárias de DDTC na concentração 3,7 x

10-3 mol L-1. Para isso foram pesados 84,48 mg do complexante e dissolvido em um

balão volumétrico de 100 mL com água purificada.

Foi utilizada, também, uma solução tampão Britton Robinson na concentração

de 0,01 mol L-1, para manter a faixa de pH em 9,0, preparada através da mistura de

soluções formada pelo ácido bórico, acetato de amônio e fosfato monobásico de

sódio. Para o preparo de 80 mL de solução foram pesados 0,8709 g de acetato,

0,3957 g borato e 0,7677 g de fosfato. O pH foi ajustado pela adição de uma solução

de hidróxido de sódio e/ou ácido clorídrico 2,0 mol L-1. Após a otimização do pH,

optou-se por utilizar uma solução tampão de acetato de sódio 0,1 mol L-1.

As soluções tampão borato (pH = 9,0) na concentração 0,1 mol L-1 foram

preparadas pela pesagem de 1,1808 g de acetato de amônio e avolumados até

100mL em balões volumétricos com água purificada. O pH foi ajustado com a

solução de HCl e/ou NaOH 2,0 mol L-1 previamente preparadas.

4.2.2 OTIMIZAÇÃO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO

Primeiramente, foi realizada uma otimização do método para que fossem

encontradas as melhores condições de pré-concentração e extração Cd através da

membrana semipermeável.

Esta otimização consiste em estudar variáveis como, solvente extrator,

concentração do complexante DDTC, tempo de extração, influência da agitação,

29

influência do pH no meio, volume de solvente extrator e influência da força iônica,

para, assim, ser feita a análise da amostra.

A primeira etapa do método consiste em preparar as membranas

semipermeáveis, as quais foram cortadas com 8 cm de comprimento, imersas em

hexano durante 24h e secadas a temperatura ambiente. Para serem armazenadas,

foram embrulhadas individualmente em papel alumínio e mantidas em refrigerador a-

4ºC. Para seu uso, a membrana foi selada e preenchida com volume de solvente

extrator adequado.

Na etapa de otimização do método foi utilizada uma solução aquosa de 40 mL

contendo o analito e o agente complexante em meio tamponado. As soluções

continham 1 μg L-1 de cádmio, 4 mL de solução aquosa de DDTC 3,7 x 10-3 mol L-1

e 4 mL de solução tampão Britton Robinson 0,01 mol L-1.

Para o estudo da influência da força iônica, foram adicionados solução

estoque de NaCl ao meio contendo DDTC, tampão e padrão do analito, preparando

assim meios com salinidade de 12%, 3,6% e 0,12% m/v.

A solução aquosa foi transferida para um tubo falcon de 50 mL e a membrana,

previamente selada com o solvente extrator, foi introduzida no tubo que é levado

para agitação horizontal por um tempo previamente determinado a velocidade de

cerca de 110 rpm.

Após a agitação, a membrana foi retirada do tubo, e o solvente que estava em

seu interior é diluído adequadamente em etanol para que seja realizada a medição

do analito por absorção atômica em forno de grafite. O volume de injeção da

amostra no equipamento foi de 20 μL e foi utilizado paládio como modificador

químico com injeção de 20 μg deste. As temperaturas de pirólise e atomização,

utilizadas no programa de temperatura, foram 800ºC e 1800ºC, respectivamente, de

acordo com Robaina, 2015.

30

4.2.3 APLICAÇÃO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO OTIMIZADO EM

AMOSTRAS REAIS DE ÁGUAS SALINAS

As amostras foram analisadas nas condições otimizadas: membranas

cortadas com 8 cm de comprimento e seladas com 3 mL de clorofórmio atuando

como solvente extrator, solução de DDTC 3,76 x 10-4 mol L-1, solução tampão de

0,1 mol L-1 de acetato de sódio com pH 9 e agitação horizontal durante 2h.

Para a determinação de cádmio na água do mar, foram adicionados 4 mL de

amostra de água salina, 4 mL de DDTC 3,76 x 10-3 mol L-1, 4 mL de solução tampão

e 28 mL de água deionizada a um tubo falcon de 50 mL. Foi introduzida na solução a

membrana contendo o solvente extrator e levada para agitação horizontal.

Passado o tempo determinado, foi retirada a membrana do tubo, e, após o

estudo de volume do solvente, optou-se por avolumar todo o extrato para o volume

de 5 mL com etanol para que a amostra fosse levada a absorção atômica em forno

de grafite.

Para avaliar o problema de interferência de matriz, na etapa de análise das

amostras foram preparadas curvas analíticas e de adição padrão de Cd para cada

amostra analisada.

As curvas analíticas foram preparadas nas mesmas condições do método

otimizado, ou seja, soluções contendo diferentes concentrações de Cd (II) foram

submetidas ao processo de extração com a DMSP.

31

5 RESULTADO E DISCUSSÃO

5.1 OTIMIZAÇÃO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO

A análise das soluções de Cd (II) na etapa de otimização do método de

extração foi realizada em triplicata real e duplicata instrumental, utilizando o método

GF AAS, desenvolvido por Robaina, 2015. O programa de temperatura utilizado no

GF AAS pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1. Programa de temperatura da absorção atômica em forno de grafite para

determinação de cádmio (Robaina, 2015).

Etapa Temperatura (ºC) Rampa (s) Patamar (s) Vazão de Ar

(mL min-1)

Secagem I 85 5 300

Secagem II 95 40 0 300

Secagem III 120 10 0 300

Pirólise 800 5 4 300

Atomização 1400 1 3 0

Limpeza 2200 2 0 300

Foram realizados testes para otimização do método analítico por GF AAS de

modo a obter a máxima eficiência de extração do Cd (II). Na etapa de otimização

foram avaliados parâmetros que pudessem influenciar na etapa de extração e os

resultados podem ser vistos a seguir.

5.1.1 SOLVENTE EXTRATOR

Foram avaliados dois solventes apolares, hexano e clorofórmio, para que

ajam como extrator e pré-concentrador do complexo apolar formado entre o

complexante (DDTC) e o metal.

Os dois solventes apresentam uma volatilidade muito alta, podendo haver

perda de analito, e acarretando em erro e/ou maior variabilidade de medição no GF

AAS. Para minimizar esse problema foi adicionado, ao final da extração, etanol para

que fosse realizada a medição no GF AAS, pois, além de apresentar um ponto de

ebulição maior, possui baixa toxicidade e disponibilidade no laboratório.

Como pode ser observada na Figura 2, a extração de Cd (II), utilizando

clorofórmio como solvente extrator, foi bem melhor do que com hexano. Essa

afinidade fez com que ocorresse uma maior migração do complexo que estava em

solução para o solvente localizado dentro da membrana.

Sin

al R

ela

tivo

0.40

0.35

0.30

0.25

0.20

0.15

0.10

0.05

0.00 Hexano Cloroformio

Solvente Extrator

Figura 2. Gráfico comparativo da eficiência de extração entre hexano e clorofórmio

como solvente extrator influente no processo de extração de Cd(II).

33

5.1.2 CONCENTRAÇÃO DO COMPLEXANTE

Essa é uma etapa muito importante na otimização do método, pois é o

complexante que vai converter o analito em uma espécie apolar, migrando assim

para o interior da membrana que contém o solvente apolar. O complexante é

essencial para a extração do metal da solução aquosa, já que é um composto

hidrofóbico e faz com que sua transferência para dentro da DMSP seja favorecida.

A membrana possui uma seletividade baseada no diâmetro do composto e

seletividade da fase extratora. Ela possui um diâmetro de passagem do analito de 10

Â, portanto, a escolha do complexante, também foi baseada nessa informação.

Sabe-se que o dietiltiocarbamato (DDTC) possui uma boa capacidade de

complexar metais, como o cádmio, por possuir dois átomos de enxofre, que são

doadores de elétrons, em sua composição, fazendo com que duas moléculas de

DDTC se complexem em um átomo de Cd, como na Figura 3 (Yousefi & Shemirani,

2010; Soto et al., 2015).

Figura 3. Estrutura química do complexo Cd(DDTC)2.

O complexante deve estar em concentração suficiente para que reaja com o

metal e migre para o interior da membrana de forma eficiente. As concentrações de

DDTC avaliadas no estudo podem ser vistas na Tabela 2.

34

Tabela 2. Concentrações de DDTC usadas para estudo da otimização do método.

Concentração de DDTC (mol L-1)

0,0

7,5x10-7

7,5x10-6

7,5x10-5

3,7x10-4

7,5x10-4

Os resultados podem ser vistos na Figura 4. Como era esperado, sem a

adição de DDTC não ocorreu a extração de Cd e em concentrações muito baixas de

DDTC, pouco metal foi extraído. Já em concentrações acima de 7,5x10-5, foi

observado um aumento na quantidade de metal na fase extratora. Optou-se por

trabalhar com a concentração de DDTC de 3,7x10-4 mol L-1, por se encontrar numa

faixa de máxima extração do analito e dentro de uma região conhecida.

Sin

al R

ela

tivo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

0.0 3.0x10 -4

6.0x10 -4

9.0x10 -4

Concentração de DDTC (mol L

-1 )

Figura 4. Gráfico do efeito das concentrações de DDTC na eficiência da extração de

Cd(II). Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd e 1 hora de agitação na mesa agitadora.

35

5.1.3 TEMPO DE EXTRAÇÃO

Foi estudado, também, o tempo em que a solução deveria ficar em contato

com a membrana preenchida com solvente extrator para que o Cd (II) fosse pré-

concentrado com mais eficiência.

Foram analisados os tempos sem agitação (10 a 120 min) e com agitação (10

a 360 min) em mesa agitadora horizontal. Os resultados podem ser vistos nas

Figuras 5 e 6.

Sin

al R

ela

tivo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0 0 30 60 90 120 150

Tempo de Extração sem Agitação (min)

Figura 5. Gráfico do tempo de extração de Cd (II) sem agitação. Foi usado 1 μg L-1

de padrão de Cd e DDTC 3,7x10-4 mol L-1.

36

Si

nal

Re

lati

vo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

0 100 200 300 400

Tempo de Extração com Agitação (min)

Figura 6. Gráfico do tempo de extração, em minutos, de Cd (II) com agitação em

mesa agitadora horizontal. Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd e DDTC 3,7x10-4

mol L-1.

Apesar do gráfico da extração sem agitação apresentar um crescimento ao

longo do tempo, observou-se que no mesmo tempo com a agitação, a extração de

Cd foi muito maior, visto que nesse sistema tem-se os fenômenos de difusão e

convecção influenciando na migração do analito para o DMSP. Então, optou-se pelo

procedimento usando a mesa agitadora horizontal.

Como previsto no teste sem agitação, também era esperado o crescimento

conforme o tempo na agitação do sistema, por isso foi realizado um estudo com

tempos mais elevados, até 360 min.

Apesar de se observar um pequeno incremento de extração com tempos

superiores a 240 min, optou-se por trabalhar com o tempo de extração de 120 min,

buscando uma maior velocidade analítica.

37

5.1.4 INFLUÊNCIA DO pH

O estudo do pH é de extrema importância no desenvolvimento do método de

extração proposto, visto que a disponibilidade do complexante e do analito é

dependente desta variável, devido as características ácido-base do molécula de

DDTC, Figura 7, e da formação de hidroxicomplexos de Cd.

Figura 7. Equilíbrio do ácido dietilditiocarbamato com seu respectivo valor de pKa à

19°C de acordo SOTO et al., 2015.

Além disso, de acordo com SOTO et al., 2015, o DDTC pode degradar-se em

meio ácido e formar compostos quimicamente estáveis, fazendo com que sua

disponibilidade em solução para complexar com o metal desejado seja menor,

afetando assim a eficiência da extração.

Foi avaliada uma faixa de pH entre 3,0 e 11,0 utilizando uma solução de

tampão Britton-Robinson, que é preparada com uma mistura de três sistemas

tamponantes: acetato, fosfato e borato.

38

Si

nal

Re

lati

vo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

3.0 6.0 9.0 12.0

pH

Figura 8. Gráfico da influência do pH no meio de extração de Cd (II). Foi usado 1 μg

L-1 de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4 mol L-1, 2h de agitação em mesa agitadora

horizontal e solução tampão Britton-Robinson em pH proposto.

A Figura 8 mostra que nas soluções preparadas em meio ácido ocorreu uma

extração menos significativa do complexo do que em meio básico. Para formação

dos complexos é mais favorável trabalhar com valores de pH superiores à 5,0, pois a

espécie não protonada passa a predominar no meio. Isso ocorre, pois em meio mais

fortemente ácido pode ocorrer a decomposição do DDTC em dissulfeto de carbono e

sulfeto de hidrogênio como pode ser visto nas reações da Figura 9 (Soto et al.,

2015).

39

Figura 9. Reações de decomposição do DDTC com formação de (A) dissulfeto de

carbono e de (B) sulfeto de hidrogênio a partir do DDTC.

Por isso, foi escolhido trabalhar com pH em torno de 9,0 por se encontrar em

uma região de máxima eficiência. A partir dessa etapa, o ajuste do pH foi realizado

com tampão borato por ser um sistema tamponante mais simples.

5.1.5 VOLUME DE SOLVENTE EXTRATOR

O volume do solvente extrator está diretamente ligado ao fator de pré-

concentração; volumes menores do solvente resultam em fatores de pré-

concentração maiores, sendo importante a otimização dessa variável. Nesse estudo

foram avaliados os volumes de 1,0 a 3,0 mL de clorofórmio.

Durante a realização do estudo observou-se uma perda de clorofórmio após a

etapa de extração, que foi mais evidente com o volume de 1,0 mL. Para contornar o

problema, optou-se por avolumar todo o solvente extrator em etanol para 5 mL.

Com base nos dados, os volumes menores ocasionaram sinais mais baixos,

indicando que não foram suficientes para captar a quantidade de analito que estava

em solução. Assim, optou-se por utilizar o volume de 3 mL de solvente,pois, além de

possuir o maior sinal, caracterizando maior concentração do analito, diminuem-se as

possíveis perdas após a agitação.

40

Si

nal

Re

lati

vo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5

Volume de Solvente Extrator (mL)

Figura 10. Gráfico da influência do volume do solvente extrator. Foi usado 1 μg L-1

de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4 mol L-1, 2 h de agitação em mesa agitadora

horizontal e solução tampão Britton-Robinson em pH 9,0.

5.1.6 INFLUÊNCIA DA FORÇA IÔNICA

O objetivo do método é a sua aplicação em amostras de águas com elevada

salinidade, assim, foi realizado um estudo com o intuito de avaliar o efeito da

salinidade da amostra sobre o processo de extração e determinação do Cd (II) por GF AAS.

Para isso foram realizadas extrações com soluções contendo NaCl 0,12%,

3,6% e 12% m/v. Observou-se que ocorre uma diminuição na extração do analito

quando tem-se um aumento da salinidade, como pode ser observado na Figura 11.

41

Si

nal

Re

lati

vo

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0 0 2 4 6 8 10 12 14

Salinidade (%)

Figura 11. Gráfico da influência da força iônica do meio na influência da extração.

Foi usado 1 μg L-1 de padrão de Cd, DDTC 3,7x10-4 mol L-1, 2 h de agitação em

mesa agitadora horizontal e solução tampão Britton-Robinson em pH 9,0.

O efeito da diminuição da extração quando a solução possui maior salinidade

é um resultado contrário ao do esperado pelo efeito salting-out, que é quando

moléculas de água estão atraídas pelos sais em solução, fazendo com que a

solubilidade de moléculas apolares diminua devido a queda de disponibilidade de

água para que as mesmas sejam solvatadas. Com o efeito contrario, o aumento da

concentração salina pode dificultar o processo de difusão dos analitos da solução

aquosa para a fase aceptora, uma vez que a presença de outras espécies no meio

pode alterar algumas propriedades da solução, como densidade e viscosidade.

Observou-se que a salinidade afeta a eficiência de extração do Cd, o que

pode ser um indicativo de que, durante a aplicação em amostras reais, pode-se

observar o efeito de interferência de matriz.

42

5.2 APLICAÇÃO DO MÉTODO OTIMIZADO EM AMOSTRAS REAIS

As condições otimizadas do método de extração e pré-concentração de Cd (II)

em águas salinas foram obtidas e serão utilizadas para aplicação em amostras reais.

Essas condições podem ser vistas na Tabela 3.

Tabela 3. Condições ótimas de extração e pré-concentração de Cd (II) de águas

salinas através de membrana semipermeável.

Condições Otimização

Solvente Extrator Clorofórmio

Concentração de DDTC 3,7x10-4 mol L-1

Tempo de Agitação 2 horas

pH 9,0

Volume do Solvente 3 mL

Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) do método proposto foram

calculados segundo as expressões mostradas a seguir (Brito et al.,2003).

= 3σ

= 10σ

Onde:

σ = desvio padrão do primeiro ponto;

s = sensibilidade da curva analítica.

O LD é a menor concentração de um analito presente em uma amostra que

pode ser detectada. Entretanto, não necessariamente essa porção detectável

43

poderá ser quantificada nas condições experimentais que foram estabelecidas. Já o

LQ é a menor quantidade do analito presente em uma amostra que pode ser

quantificada com precisão e exatidão aceitáveis sob as condições experimentais

estabelecidas (Brito et al., 2003). A Tabela 4 mostra os parâmetros de mérito para o

método desenvolvido.

Tabela 4. Parâmetro de mérito para determinação de Cd (II) pelo método proposto.

Faixa de trabalho LD LQ

0,25 – 2,0 μg L-1 0,15 μg L-1

0,52 μg L-1

O método foi aplicado nas seguintes amostras de água salina:

- Amostra 1: Água produzida sintética preparada no laboratório (96,097‰);

- Amostra 2: Água do mar amostrada próxima ao terminal rodoviário de Niterói-RJ;

- Amostras 3 e 4: Águas produzidas A (234‰) e B (270‰).

Como no estudo da salinidade foi observada influência dessa variável na

extração do analito, esperava-se observar interferência de matriz na análise das

amostras, por isso na análise de todas as amostras foram preparadas curvas

analíticas e de adição padrão, para sua posterior comparação.

As curvas analíticas foram preparadas nas mesmas condições do método

otimizados, ou seja, soluções contendo diferentes concentrações de Cd (II) foram

submetidas ao processo de extração com a membrana. As análises das amostras

reais foram realizadas em duplicata real e duplicata instrumental.

Comparando-se as curvas analíticas com as curvas de adição padrão pode-se

observar que não há indicação de interferência de matriz, visto que os coeficientes

angulares das curvas são compatíveis. Portanto, a quantificação de Cd em águas

salinas pelo método desenvolvido pode ser realizada por meio de método da curva

44

analítica. Nas Figuras 12 e 13 podem ser vistas as comparações entre as curvas

analíticas e de adição padrão das amostras 1 e 4, respectivamente.

Sin

al R

ela

tivo

1.2

1.0 Curva de analítica

Curva de adição padrão

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

Concentração de Cd (II) ( g L

-1 )

Figura 12. Curvas analítica e de adição padrão da amostra de água produzida em

laboratório 96‰.

Sin

al R

ela

tivo

1.2

Curva analítica

1.0 Curva de adição padrão

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

Concentração de Cd (II) ( g L

-1 )

Figura 13. Curvas analítica e de adição padrão da amostra de água produzida

270‰.

45

As amostras analisadas apresentaram concentração de Cd abaixo do limite de

quantificação do método, ou seja, abaixo de 0,52 μg L-1.

A exatidão do método desenvolvido por avaliado por meio de testes de

recuperação, em que faixas de 80 a 120% são consideradas aceitáveis para

exatidão do método proposto, o que representa uma diferença de 20% em relação

ao valor de concentração adicionado.

Na realização do teste de recuperação foram adicionadas quatro diferentes

concentrações (0,25; 0,50; 1,0 e 2,0 μg L-1) de Cd (II) às amostras utilizando um

padrão aquoso. As recuperações foram calculadas de acordo com o descrito na

equação a seguir e podem ser vistas na Tabela 5 (Brito et al., 2003):

Onde,

C1: concentração do analito na amostra com adição do analito padrão;

C2: concentração do analito na amostra sem adição do analito padrão;

C3: concentração do analito adicionado a amostra (com adição de analito).

46

Tabela 5. Resultados de recuperação de Cd (II) através do método padronizado.

Amostras Concentração de Cd(II) Concentração de Cd(II) Recuperação

adicionada (μg L-1) encontrada (μg L-1) (%)

0 < LQ -

0,25 0,26 ± 0,003 104

1 0,50 0,51 ± 0,005 103

1,0 1,05 ± 0,013 105

2,0 1,97 ± 0,049 98

0 < LQ -

0,25 0,29 ± 0,010 116

2 0,50 0,59 ± 0,002 118

1,0 1,00 ± 0,009 100

2,0 1,91 ± 0,046 96

0 < LQ -

0,25 0,33 ± 0,014 133

3 0,50 0,55 ± 0,008 110

1,0 0,88 88

2,0 2,03 101

0 < LQ -

0,25 0,24 ± 0,001 95

4 0,50 0,53 ± 0,002 107

1,0 0,90 ± 0,001 91

2,0 1,88 ± 0,013 94

Os valores de recuperação encontrados foram na faixa de 88-133%, mostra-se

uma boa taxa de recuperação do analito para o método proposto, demonstrando a

exatidão do método proposto.

47

6 CONCLUSÃO

No presente trabalho foi desenvolvida uma metodologia para a determinação

de Cd (II) em amostras de água produzidas oriundas da exploração de petróleo.

Diferentes variáveis relacionadas ao método foram otimizadas: tipo e volume de

solvente extrator, concentração de complexante (DDTC), tempo de extração,

agitação do sistema, força iônica e pH. As condições otimizadas foram: 3 mL de

clorofórmio como solvente extrator, concentração de DDTC de 3,7x10-4 mol L-1,

tempo de extração 2 horas com agitação horizontal e pH 9,0.

O método otimizado apresentou limite de detecção de 0,15 μg L-1, limite de

quantificação de 0,52 μg L-1 e faixa de trabalho de 0,25 – 2,0 μg L-1.

A metodologia desenvolvida foi aplicada em 1 amostra de água do mar obtidas

em uma praia do município de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e 1 amostra de

água produzida em laboratório, e 2 amostras de água produzida doadas pelo

CENPES/Petrobras. Sendo que as concentrações de Cd nas amostras estavam

abaixo do limite de quantificação do método.

Não foi observada interferência de matriz na determinação de Cd nas

amostras pelo método proposto, indicando que se pode empregar o método da curva

analítica, neste caso. Por ter sido observado interferência de matriz nos estudos

preliminares a aplicação nas amostras, a perspectiva é que seja aplicado em mais

amostras com características distintas para que seja verificada a interferência de

matriz.

A sensibilidade do método foi avaliada através de testes de recuperação, que

apresentaram recuperações na faixa de 88-133%, demonstrando uma boa exatidão

para o método proposto.

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