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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA Prof. Jorge Luiz Pimenta Mello, DS Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva, DS OUTUBRO-2006

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO … · nivelamento e ao lado de cada piquete deverá ficar uma estaca (preferencialmente de bambu com 50 ou 60 centímetros de comprimento)

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

Prof. Jorge Luiz Pimenta Mello, DS

Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva, DS

OUTUBRO-2006

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 1

1 – INTRODUÇÃO

Os sistemas superficiais de irrigação para serem bem conduzidos, necessitam

que os terrenos tenham superfícies adequadas no tocante ao nivelamento. A eficiência dos

diferentes métodos superficiais de aplicação de água no solo é dependente, em grande parte,

da maneira pela qual a água é distribuída na superfície do solo e, consequentemente, das

condições oferecidas para a distribuição. Desta forma, podemos afirmar que para a

implantação de um projeto de sistemas superficiais de irrigação é imprescindível e inevitável a

sistematização do terreno, utilizando-se de um ou mais dos diferentes processos que serão

apresentados adiante.

Todo e qualquer trabalho de sistematização de terrenos, seja para que

finalidade for, exige movimentação de terra. Com isso, o grau de sistematização vai depender,

em escala bastante acentuada, do tipo de trabalho a que se prestará. Como exemplo

podemos citar alguns trabalhos de sistematização que se prestam a objetivos diferentes,

quais sejam: construção de uma área esportiva, construção de uma estrada, construção de

um aeroporto, implantação de um sistema de irrigação por superfície, etc. Observa-se com

clareza, que os padrões econômicos para os diferentes objetivos citados são completamente

distintos. A viabilidade econômica para a implantação de uma quadra esportiva é subjetiva,

pois pode atender a uma série de interesses, tais que, o custo dos trabalhos de

sistematização do terreno seja irrelevante, não importando o grau de movimentação de terra,

pois os benefícios do projeto não são mensuráveis. Situação bastante diferente ocorre em se

tratando de um projeto de irrigação por superfície, pois os altos custos que resultam dos

trabalhos de movimentação de terra têm que ser minimizados ao extremo, o que, caso

contrário, poderá inviabilizar totalmente o projeto pretendido, levando com isso a se optar por

outros sistemas de irrigação que não necessitam de sistematização do terreno.

2 – OBJETIVOS

O objetivo básico da sistematização um terreno é determinar um plano

geométrico - ou planos geométricos - com declividade constante, de modo a eliminar todas as

depressões e elevações do terreno fazendo com que o movimento da água aplicada seja o

mais uniforme e eficiente possível, permitindo assim um perfeito controle da quantidade de

água a ser aplicada para atender a demanda hídrica necessária. A declividade que o plano

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 2

geométrico deverá possuir é dependente dos seguintes fatores: valor médio da terra

movimentada por hectare; adoção de uma declividade pré fixada para os tabuleiros (sistema

por inundação) ou para os sulcos (sistema por sulcos de infiltração) que melhor atenda ao

"lay-out" do projeto; ajustamento da relação volume de corte por volume de aterro de toda a

terra movimentada na sistematização; viabilidade econômica, etc.

3 – CONDIÇÕES QUE LIMITAM OU IMPEDEM A SISTEMATIZAÇÃO DE UM

TERRENO PARA IRRIGAÇÃO

3.1 – SOLO

3.1.1 - Permeabilidade do solo

Os solos ideais para serem trabalhados com sistemas superficiais de irrigação

devem ser de textura média a pesada. Solos arenosos ou ricos em matéria orgânica são

impróprios, pois se tratando de métodos que têm um grande consumo de água, os solos com

baixa permeabilidade são mais adaptados. No entanto, ocorrem situações geomorfológicas

que permitem a implantação dos sistemas superficiais em solos com alta permeabilidade,

sendo a principal, a ocorrência de uma camada com baixa permeabilidade a pouca

profundidade. Nesse caso, mesmo que tenhamos um terreno com solos superficiais com alta

permeabilidade, é viável a adoção de sistemas superficiais de irrigação e, consequentemente,

a sistematização deste. De modo geral e como primeira avaliação, solos com taxa de

infiltração maior que 40 mm h-1 já se tornam, a princípio, inadequados para métodos

superficiais de irrigação.

3.1.2 - Profundidade do solo

Nos trabalhos iniciais de prospecção de um solo visando sistematizá-lo, é de

extrema importância sua sondagem utilizando-se de um trado. Solos rasos não são

apropriados para sistematização pois nas áreas que ocorrerem cortes fatalmente poderá

haver exposição do subsolo. Nesses casos a sistematização não deverá ser indicada,

optando-se por irrigar o terreno usando-se métodos superficiais sem sistematizá-lo ou optar

por métodos sob pressão que não necessitam de terrenos sistematizados para a sua

implantação.

3.2 - RELEVO

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 3

É evidente que quando se cogita sistematizar terrenos para a implantação de

um sistema de irrigação por superfície, eles se encontram em locais de baixada, ou seja,

quase sempre áreas planas que necessitam de que sua declividade seja ajustada e

uniformizada. Um terreno pode possuir uma baixa declividade média natural e ter necessidade

de se movimentar um grande volume de terra para a sua sistematização, o que certamente

ocorrerá se a topografia for bastante acidentada. Movimentação de terra maior que

750 m3 ha-1 deve ser bem avaliada economicamente, sob o risco de se tornar um projeto de

alto custo, o que não é conveniente e nem correto. Um projeto bem elaborado e bem

estudado deve ser técnica e economicamente viável. Sempre que possível, deve-se manter a

declividade natural do terreno na sistematização, uma vez que alterando-a teremos

certamente uma maior movimentação de terra, pois ocorrerão maiores cortes e maiores

aterros (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - Terreno sistematizado obedecendo à declividade natural

Figura 2 - Terreno sistematizado com declividade natural alterada

Os pontos do terreno natural que se encontram abaixo do plano de

sistematização serão aqueles que sofrerão aterros e os que estão acima do plano são os que

sofrerão cortes. Vê-se perfeitamente nas figuras anteriores que os cortes e aterros são muito

maiores quando se altera a declividade natural do terreno. Acontece muitas vezes, por

questões de adequação ao projeto de irrigação por superfície a ser implantado, a necessidade

de se alterar a declividade natural do terreno. Nesse caso, é fundamental um estudo muito

criterioso do projeto de sistematização, sob o risco de onerá-lo em demasia.

4 – TRABALHOS INICIAIS

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 4

Antes de se iniciar o projeto de sistematização propriamente dito, os trabalhos a

seguir deverão ser executados.

4.1 – LIMPEZA DA ÁREA

O preparo da área á importante porque nos fornece uma visão geral de todo o

conjunto, além de facilitar aos preparativos para o levantamento topográfico. A limpeza da

área consiste de retirada total da vegetação existente e, se houver pequenos arvoredos, um

destocamento deverá se fazer necessário.

4.2 – LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO

O levantamento topográfico nada mais é que o levantamento altimétrico do

terreno (altimetria), por pontos eqüidistantes. O terreno será quadriculado, ou seja, será

subdividido em quadrículas com lados de 10, 20, 30 m ou mais. Comumente se utiliza

quadrículas de 20 m de lado, mas dependendo da dimensão da área, outros valores poderão

ser usados. Vale ressaltar que quanto menor o lado da quadrícula maior precisão terá o

projeto de sistematização. Em contrapartida, quadrículas menores induzem a custos maiores

nos trabalhos de levantamento topográfico, pela quantidade de pontos que terão que ser

levantados.

Inicialmente determina-se visualmente a maior dimensão do terreno que á por

onde passará a linha base do levantamento. Esta linha deve ser piqueteada para o contra

nivelamento e ao lado de cada piquete deverá ficar uma estaca (preferencialmente de bambu

com 50 ou 60 centímetros de comprimento). É importante salientar que a linha base deve ser

"amarrada" a duas referências de nível (RN) que devem ser pontos fixos fora da área de

trabalho, para possíveis relocações. Após a locação da linha base, o terreno será todo

quadriculado, ou seja, serão marcadas todas as linhas paralelas e perpendiculares à base,

não sendo necessário piquetear os pontos e sim somente instalar uma estaca em cada um

deles. Encerrado este trabalho, procede-se ao levantamento altimétrico.

Um detalhe importante é a identificação do ponto a ser levantado, podendo-se

utilizar vários processos. Um deles é a de se utilizar a marcação de dupla numeração. Como

exemplo vamos citar o seguinte: ponto 1.1 - o primeiro número significa a linha perpendicular

que passa pelo primeiro ponto da linha base, e o segundo número, o primeiro da linha no

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 5

extremo esquerdo dela, ficando o observador de frente para a linha base. Uma vez executada

a altimetria do terreno, os trabalhos seguintes serão de escritório. Os pontos levantados com

suas respectivas cotas serão transferidos para um papel milimetrado com a escala

conveniente, obtendo-se assim o plano cotado. De posse do plano cotado, proceder-se-á a

construção das curvas de nível, que tem como finalidade permitir um melhor entendimento da

topografia do terreno. A principal vantagem das curvas de nível marcadas no plano cotado é

de se subdividir o terreno em áreas com características semelhantes, sistematizando-a

individualmente, e com isso diminuindo acentuadamente o movimento de terra, minimizando

os custos do projeto.

Quanto as escalas a serem utilizadas no plano cotado podemos ter:

• áreas até 20 ha: escala 1:1000; • áreas maiores que 20 ha: escalas de 1:2000 a 1:10000.

As curvas de nível deverão ser desenhadas de acordo com os intervalos

verticais apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 – Intervalos de curvas de nível em função da declividade do terreno.

Declividade do terreno

(%) Intervalo

(cm) 0,0 a 0,5 10 0,5 a 1,0 20 1,0 a 2,0 25 2,0 a 5,0 50

5,0 a 10,0 100 5 - O PROJETO DE SISTEMATIZAÇÃO

Dentre os vários métodos utilizados para sistematização de terrenos para

irrigação, vamos detalhar um método básico, o Método do Centróide ou dos perfis médios. A

seguir descreveremos o método, ao mesmo tempo exemplificando-o numericamente.

5.1 – DETERMINAÇÃO DA COTA DO CENTRÓIDE (COTA MÉDIA DO TERRENO)

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 6

Vamos tomar a Figura 3 como referência para todos os cálculos que serão

feitos.

• 775 • 770

• 770 • 765 • 755

• 795 • 780 • 752 • 750

• 800 • 800 • 765 • 755

• 809 • 798 • 769 • 750

• 810 • 805 • 790 • 775

Figura 3 - área a ser sistematizada

A cota do centróide (Hm), que é a cota média de todos os pontos do plano

cotado, é determinada por meio da Equação 1.

N

ascotHm ∑

= (1)

em que

Distância entre os pontos = 20 m Cotas em centímetros

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 7

Hm = cota do centróide (cm); e,

N = número de pontos do plano cotado.

De acordo com a Figura 3, vamos ter:

cm77821338.16

Hm ==

5.2 – DETERMINAÇÃO DAS COORDENADAS DO CENTRÓIDE

Após a determinação da cota do centróide, determinar-se-á o seu

posicionamento no plano cotado, em relação aos dois eixos referenciais.

Da geometria, sabemos que a localização do centro geométrico de uma área

retangular nada mais é que o encontro entre as duas diagonais do retângulo. Para áreas não

retangulares, a determinação das coordenadas do centróide será a razão entre o somatório

do número (ou posição) da linha ou coluna pelo número de pontos em cada linha ou coluna e

o número total de pontos das linhas (Xm) ou das colunas (Ym).

Observe que as linhas foram numeradas de 1 a 6 em relação ao eixo "X" que é

a linha 0 (zero). O mesmo aconteceu com as colunas que foram numeradas de 1 a 4 em

relação ao eixo "Y" que á a coluna 0 (zero). Multiplicou-se então a posição de cada linha pelo

número de pontos de cada uma delas obtendo-se o somatório 80. O mesmo se fez com as

colunas obtendo-se o somatório 49. Basta agora determinar as coordenadas do centróide em

relação aos dois eixos (X e Y). Sendo assim, teremos:

81,32180

Ym33,22149

Xm ====

Define-se assim a localização do centróide da Figura 3.

No da estação

No de pontos

Produto Soma da linha

Cota média

1 2 2 1545 772,50 2 3 6 2290 763,33

O

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 8

• 775 • 770

• 770 • 765 • 755

• 795 • 780 • 752 • 750

• 800 • 800 • 765 • 755

• 809 • 798 • 769 • 750

• 810 • 805 • 790 • 775

5.3 – DETERMINAÇÃO DAS DECLIVIDADES NATURAIS DA ÁREA A SER

SISTEMATIZADA

Como visto anteriormente, um trabalho de sistematização de terrenos consiste

em uniformizarmos todos os declives e aclives do terreno. Se se desejar um terreno sem

nenhuma declividade, basta que todos os pontos tenham a cota do centróide, sendo que

todos os que tiverem cota inferior serão aterrados e todos que tiverem cota superior serão

cortados. Em se tratando de sistematização de terrenos para irrigação, isto não é

conveniente. É importante que o terreno tenha um pequeno declive por várias razões, sendo

que a principal delas é facilitar o escoamento da água sobre a superfície. Entretanto, a

definição da declividade a ser dada ao terreno é função do sistema de irrigação a ser adotado,

matéria que será objeto de detalhamento quando se estudar sistemas de irrigação por

gravidade.

No da estação 1 2 3 4 Σ No de pontos 6 6 5 4 21 Produto 6 12 15 16 49 Soma da linha

4759 4718 3831 3030 16338

Cota média 793,17 786,33 766,20 757,50 3103,20

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 9

A seguir determinaremos a declividade natural do terreno e, sempre que

possível, devemos adotá-lo no projeto, pois esta condição determina o menor movimento de

terra possível na sistematização. De acordo com o método do centróide, a declividade natural

ou que melhor se adapta ao terreno é dada pela equação 2.

( )

( )( )

∑∑

∑ ∑−∑

==

NS

S

NHS

HSGG

22

WENS (2)

em que

GNS = declividade natural do terreno na direção norte-sul;

GWE = declividade natural do terreno na direção oeste-leste;

S = posição ou afastamento de cada linha ou coluna em relação aos eixos de

referência ou ao ponto origem "O";

H = cota média de cada linha ou coluna;

∑ ∑HS = produto da soma dos afastamentos em relação aos eixos de referência,

pela soma das cotas médias das linhas ou colunas;

( )∑ HS = soma do produto do afastamento em relação aos eixos de referência, pela

cota média de cada linha ou coluna;

N = número de linhas ou colunas;

( )∑2S = soma dos quadrados dos afastamentos em relação aos eixos de referência,

de cada linha ou coluna;

( )2S∑ = quadrado da soma dos afastamentos em relação aos eixos de referência,

de cada linha ou coluna.

As declividades da área em estudo (Figura 3) serão calculadas como mostrado

a seguir.

5.3.1. Declividade no sentido norte-sul

N

S

W E

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 10

( )∑ HS = (1 x 772,50) + (2 x 763,33) + ( 3 x 769,25) + (4 x 780) + (5 x 781,50) + (6 x 795) = 16.404,41 Σ S = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = 21

( )∑2S = 12 + 22 + 32 + 42 + 52 + 62 = 91

Σ H = 4.661,58 N = 6

( )m20cadaemcm08,5

621

91

658,661.4x21

41,404.16G

2NS =

=

Isto quer dizer que o terreno "sobe" de norte para sul 5,08 centímetros a cada

20 metros. Em termos de percentagem, vamos ter que: GNS = 0,254 %.

5.3.2. Declividade no sentido oeste-leste:

( )∑ HS = (1 x 793,17) + (2 x 786,33) + ( 3 x 766,20) + (4 x 757,50) = 7.694,43 Σ S = 1 + 2 + 3 + 4 = 10

( )∑2S = 12 + 22 + 32 + 42 = 30

Σ H = 3.103,20 N = 4

( )m20cadaemcm71,12

410

30

420,103.3x10

43,694.7G

2WE −=

=

Isto quer dizer que o terreno "desce" de oeste para leste 12,71 cm a cada 20

metros. Em termos de percentagem, vamos ter que: GWE = - 0,635 %.

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 11

Conclui-se assim que o terreno, caso não haja inconvenientes, em função do

sistema de irrigação a ser adotado, deverá ser nivelado com aclive de norte para sul igual a

0,254 % e com declive de oeste para leste de 0,635 %, causando com isso o menor

movimento de terra possível.

5.4 – DETERMINAÇÃO DAS COTAS DOS PLANOS DE SISTEMATIZAÇÃO

De posse das declividades GNS e GWE e da cota do centróide, determinaremos

o plano de sistematização, ou seja, o plano que melhor se adapta a superfície,

proporcionando o mínimo de cortes e aterros.

Calcularemos inicialmente a cota do ponto origem "O" e com os valores das

declividades, todos os outros pontos terão as suas cotas calculadas. A equação para o cálculo

da cota de "O" é a seguinte:

( ) ( )XmGYmGHmO WENS −−= (3)

( ) ( ) cm26,78833,2x71,1281,3x08,5778O =−−−=

Como as cotas naturais do terreno estão expressas em número inteiro,

aproximaremos as declividades para os valores:

GNS = 5 cm / 20 m = 0,25 %

GWE = -13 cm / 20 m = - 0,65 %

Com esses valores retornamos a Equação 3 e determinamos "O" como sendo

igual a 789 cm.

A Tabela 1 apresenta todos os pontos da Figura 3 com suas respectivas cotas

naturais e cotas calculadas, bem como, os indicativos de cortes e aterros de cada ponto.

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 12

Tabela 1 – Cota natural, cota calculada e cortes e aterros de cada ponto do plano cotado em estudo

Pontos Cota natural Cota calculada Corte (cm) Aterro (cm)

1.1 775 781 -- 6 1.2 770 768 2 -- 2.1 770 786 -- 16 2.2 765 773 -- 8 2.3 755 760 -- 5 3.1 795 791 4 -- 3.2 780 778 2 -- 3.3 752 765 -- 13 3.4 750 752 -- 2 4.1 800 796 4 -- 4.2 800 783 17 -- 4.3 765 770 -- 5 4.4 755 757 -- 2 5.1 809 801 8 -- 5.2 798 788 10 -- 5.3 769 775 -- 6 5.4 750 762 -- 12 6.1 810 806 4 -- 6.2 805 793 12 -- 6.3 790 780 10 -- 6.4 775 767 8 -- Σ 81 75

5.5 – AJUSTE DO VOLUME DE TERRA MOVIMENTADA

Não é difícil compreender que ao se fazer aterros nos pontos que se faz

necessário aterrar em um terreno que sofreu nivelamento, a tendência natural é que nestes

pontos haja uma acomodação do solo, principalmente após o local receber água.

Em decorrência disso, haverá necessidade de se corrigir estes pontos com

novos aterros. Com isso queremos dizer que é necessário gerar um volume de cortes superior

ao volume de aterros para que toda a terra movimentada, por cortes, no nivelamento seja

deslocada para os pontos de aterros, evitando-se ao máximo o uso de terras de terrenos que

não o próprio, visando com isso minimizar as alterações das características físicas do solo da

área em questão com a sistematização.

Como regra geral, utiliza-se na maioria dos projetos a relação de 20 a 30 % de

volume de cortes em relação ao volume de aterro, ou seja, a relação corte/aterro se situa

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 13

entre 1,2 a 1,3. Em alguns casos e principalmente em se tratando de solos com baixa

capacidade de compactação, esta relação pode se situar em torno de 1,4.

Para o problema em questão (Figura 3) e de acordo com a Tabela 1, teremos

que a relação corte/aterro será:

08,17581

A/C ==

Vê-se que esta relação corte/aterro está muito baixa, concluindo-se que há

necessidade de aumentar o volume de cortes. Isto será feito rebaixando o plano de uma certa

altura, com isso aumentando os cortes e consequentemente diminuindo os aterros.

A equação 4 permite calcular o quanto deverá ser ajustado para a relação

corte/aterro desejada.

CNANKCAK

X+

Σ−Σ=± (4)

em que

K = relação corte/aterro desejada

ΣA = somatório de aterros

ΣC = somatório de cortes

NA = número de pontos que tiveram aterros

NC = número de pontos que tiveram cortes

No exemplo em questão, vamos ter:

K = 1,3 ΣA = 75 cm ΣC = 81 NA = 10 NC = 11

Aplicando a equação 4, teremos:

cm6875,01110x3,18175x3,1

X =+

−=±

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 14

Isto quer dizer que se rebaixarmos todo o plano calculado em 0,6875 cm,

teremos uma relação corte/aterro igual a 1,3. Para efeito didático isto é válido e o mais

correto. Na prática, e visando um calculo mais realista, vamos aproximar em nível de

centímetro inteiro. Assim o valor de "X" passará a ser igual a 1 cm.

Rebaixando então todo o plano em 1 cm, a nova cota de origem passará a ser

788 cm.

A Figura 4 apresenta o terreno devidamente pronto para nivelamento com suas

cotas calculadas e os respectivos cortes e aterros em cada ponto. A anotação usada será a

seguinte:

Cota natural

Altura de corte

Cota calculada

Altura de aterro

775 770 3 780 5 767

770 765 755 785 15 772 7 759 4

795 5 780 3 752 750 790 777 764 12 751 1

800 5 800 18 765 755 795 782 769 4 756 1

809 9 798 11 769 750 800 787 774 5 761 11

810 5 805 13 790 11 775 9 805 792 779 766

Figura 4 – Cotas naturais, cotas calculadas e os respectivos cortes e aterros em cada ponto.

A relação corte/aterro ajustada será: 4,16592

A/C ==

que podemos aceitar como bastante satisfatória.

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 15

5.6 – CÁLCULO DO VOLUME DE TERRA A SER MOVIMENTADA

O volume total de terra movimentada nada mais é que toda aquela gerada

pelos cortes. Esta determinação é de extrema importância, uma vez que está diretamente

relacionada com o custo do projeto. Basicamente, dispomos de três maneiras de se calcular o

volume. Apresentaremos a seguir um detalhamento de dois desses processos.

5.6.1. Determinação pelo método do somatório de cortes

Esse método é extremamente simples, só que carece de precisão. Consiste

unicamente em multiplicar a área da quadrícula pelo somatório de cortes. O volume de terra

movimentada será dado pela Equação 5.

CxAVT q Σ= (5)

Para o exemplo em questão vamos ter:

Sq = 20 m x 20 m = 400 m2

Σ C = 92 cm = 0,92 m

3m36892,0x400VT ==

5.6.2. Determinação pelo método dos quatro pontos

A determinação do volume total de terra movimentada é feita para cada

quadrícula independentemente, ou seja, o cálculo é feito para cada unidade de área definida

por cada quatro estacas. Além disso, calcula-se o volume de aterros independente do volume

de cortes. As Equações 6 e 7 são as utilizadas para esses cálculos.

( )AC

C4A

V2

CΣ+Σ

Σ= (6)

( )CA

A4A

V2

AΣ+Σ

Σ= (7)

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 16

Para o exemplo numérico que está sendo desenvolvido vamos ter:

- Quadrícula 1:

( ) 32

C m30,027,003,0

03,04

400V =

+=

( ) 32

A m3,2403,027,0

27,04

400V =

+=

- Quadrícula 2:

( ) 32

C m13,222,008,0

08,04

400V =

+=

( ) 32

A m13,1608,022,0

22,04

400V =

+=

Continuando a determinação dos volumes de cada quadrícula teremos o

somatório final (volume total) igual a 323,94 m3 .

Verifica-se que o método do somatório de cortes houve uma superestimativa do

volume de terra movimentada

5.7 – CÁLCULO DO VOLUME DE TERRA MÉDIO A SER MOVIMENTADA POR HECTARE

Foi comentado anteriormente que movimentação de terra maior que 750 m3 ha-1

deveria ser bem avaliado sob pena do projeto ter um custo inviável. O volume médio por

hectare (Vm) para o presente caso será:

133

Tham6,385

ha84,0m94,323

SVT

Vm −===

5 a 3 c

15 a 7 a

15 a 7 a

5 c 3 c

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 17

Com este valor podemos afirmar que o volume médio se encontra dentro de

uma faixa considerada ótima.

6 – IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DE SISTEMATIZAÇÃO

Após encerrados os trabalhos de escritório, retorna-se ao campo para os

preparativos visando iniciar os trabalhos de sistematização.

6.1 – MARCAÇÃO DOS CORTES E ATERROS

De posse de todos os valores de cota calculada, cada estaca de cada ponto

levantado no terreno será marcado com a indicação de corte ou aterro. Um dos processos

dentre outros que podem ser utilizados é o seguinte:

- marcação dos pontos de corte: pinta-se a estaca em cor vermelha da parte superior da

estaca para baixo, a altura de corte no ponto.

- marcação dos pontos de aterro: pinta-se a estaca na cor azul da parte inferior da estaca

(nível do terreno) para cima, a altura do aterro no ponto.

O esquema abaixo ilustra a marcação.

Corte Aterro

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO 18

7 – ÉPOCA A SER REALIZADA A SISTEMATIZAÇÃO

Não é conveniente que a sistematização seja realizada em época chuvosa. Há

prejuízo de ordem econômica (menor eficiência das máquinas) e de ordem agronômica (maior

compactação das camadas do solo) quando se procede aos trabalhos na época das chuvas.

Dessa forma, a sistematização deve ser planejada para ser executada nos períodos de

poucas chuvas durante o ano, época em que o trabalho será mais bem executado e com

maior eficiência da maquinaria empregada.

8 – EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA A SISTEMATIZAÇÃO

Para as tarefas de cortes e aterros são usados tratores de esteiras e

motoniveladoras (Patrol). O transporte da terra cortada para ser utilizada nos pontos que

receberão aterros deverá ser feito com “scrapers” tracionados por tratores de pneus, mas na

maioria dos projetos, o transporte é feito pelas mesmas máquinas utilizadas para o corte, fato

este que, via de regra, encarece a execução do projeto, uma vez que, apesar de terem um

rendimento muito maior que o dos tratores de pneus, o custo horário é bem mais elevado.

Motoniveladora (Patrol)

Trator de Esteiras

Trator de Pneus

Scraper