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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA Título do Trabalho Mapeamento geológico – geotécnico do quadrante NE da Folha Santa Cruz em escala 1:20000 com análise preliminar para possíveis áreas de risco geológico Nome do Aluno Elyene Funayama da Silva - Nome do Orientador Euzébio Gil Novembro/2010 Obra para Consulta

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

Título do Trabalho

Mapeamento geológico – geotécnico do quadrante NE da Folha Santa

Cruz em escala 1:20000 com análise preliminar para possíveis áreas de

risco geológico

Nome do Aluno Elyene Funayama da Silva

-

Nome do Orientador Euzébio Gil

Novembro/2010

Obra para Consulta

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AGRADECIMENTOS

Há abismos pelo caminho, que por vezes, nos põe a refletir nossa real capacidade de

seguir em frente...

No entanto para cada momento de entrega, Deus coloca diante de nós anjos de

consolação e a todos eles chamamos: amigos.

Porque amizade é mais que um laço, mais que uma relação, mas que consangüinidade,

está longe de convenções e formalidades, não tem a ver com interesses ou imagem, transcende a

qualquer sentimento. É alicerce, edificação, morada da paz, repouso das almas, aliança eterna.

E daí se dias ruins nos perseguem, se ciclos difíceis se iniciam em nossas vidas, se

algumas pessoas partem e outras chegam? Neste momento há mais de seis bilhões de almas no

mundo e todas elas se unem em um só apelo: paz. E o que é a paz se não a divina manifestação

de amizade, de amor? Quem tem amigos, conquista plenitude de espírito e é detentor de valioso

tesouro, vence batalhas e sempre encontra consolo!

Minha religião é a família e em meu coração só cabem agradecimentos a todos aqueles

que fizeram parte desta etapa vencida: Cida, Jacy Filho, Rodrigo, Etiene, Maria, Oraida, Jacy,

Toshio, Ana, Bel, Patrícia, Esdras, Ana Lúcia, Eliane, Paulo, Zeca, Adriano, Ronaldo, Lê, Lari,

Lucas, Fael, Tiago, Felipinho, Isadora, Carlos José, Roberta, Aninha, Aline, Adriano, Claudia, Ana

Paula, Claudinho, Allana, Lil, Matheus, Érika, Vivian, Thayza, Maria Fernada, Gabil, Lucas, Dudu,

Edinho, Mendes, Bel, Gil, Goulart, Geisi, Waltinho, Mary (Aireslene), Paulo, JF, Marcela, Leilinha,

Cassiano, Joyce, Fernandinha, Mari, Dani, Carol, Monique, Sérgio Lima, Euzébio...

Meus sinceros agradecimentos também a todos os professores que mais que lecionar, ao

longo destes quatro anos, nos passaram sempre a sensação de que fazíamos parte do time, de

que éramos peças importantes e que dentro de cada um de nós há potencial para se redescobrir o

mundo!

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RESUMO O presente trabalho aborda o mapeamento geológico-geotécnico e o mapa de setorização

de riscos preliminares da porção NE da Folha Santa Cruz.

Para tanto, utilizou-se por base os mapas da antiga FUNDREM (atual CEPERJ)

produzidos em 1976 em escala 1:10000 com curvas de nível de 5m que permitiram delimitar as

unidades de mapeamento e a setorização de risco geológico apresentadas nesta monografia de

graduação.

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ÍNDICE

I – INTRODUÇÃO 6

I.1 – Objetivos 6

I.2 – Localização e Acesso 6

I.3 – Metodologia 9

II – FISIOGRAFIA – Clima, Vegetação e Hidrografia 10

III – GEOLOGIA DA REGIÃO 12

III.1 – Estratigrafia 13

III.2 – Geologia Econômica 15

III.3 - Geomorfologia 16

III.4 – Mapeamento Geológico-Geotécnico 17

III.5 – Mapa do DNPM 21

IV – SETORIZAÇÃO DE RISCOS 23

IV.1 – Setorização de riscos proposta à área de estudo 24

V - CONCLUSÕES 29

VI – BIBLIOGRAFIA 30

VII - ANEXOS 33

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Porção NE da Folha Santa Cruz inserida no contexto Estadual. 7

Figura 2: Mapa de municípios do Estado do Rio de Janeiro com topografia associada. 7

Figura 3: Principais vias de acesso à área estudada. 8

Figura 4: Mapa de hidrografia da área estudada. 11

Figura 5: Mapa tectônico da região sudeste do Brasil. 13

Figura 6: Saibreira com área de aproximadamente 80x50m com 10m de altura. 15

Figura 7: Imagem de satélite que permite boa visualização do relevo da área estudada. 17

Figura 8: Transição típica entre material aluvionar e coluvionar. 18

Figura 9: Relevo típico com espessa cobertura de colúvio, cerca de 1,5m. 19

Figura 10: Contraste observado entre as unidades de mapeamento. 20

Figura 11: Afloramento de rochas alcalinas – Morro do Marapicu. 20

Figura 12: Porção NE da Folha Santa Cruz, obtida a partir do mapa original DNPM, 1965. 22

Figura 13: Seqüência tipo apresentando camada de solo coluvionar e solo residual. 25

Figura 14: Corte de estrada. 26

Figura 15: Detalhe do limite solo coluvionar e residual. 27

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I – INTRODUÇÃO

Assumindo-se a setorização de riscos geológicos como a distinção e caracterização

geotécnica de áreas que podem vir a conferir qualquer tipo de risco à segurança e bem estar de

uma dada população, fica evidente a sua importância.

A porção NE da Folha Santa Cruz ainda hoje pouco estudada e com reduzido número de

publicações, apresenta insuficiente planejamento na tocante à ocupação. Há habitações em locais

que representam área de cheia dos principais rios que drenam a região, assim como verifica-se a

utilização de terrenos com forte declividade para construção civil em geral.

Com base em fatores de geologia/geomorfologia foi possível a distinção de três áreas com

características favoráveis ou não à ocupação, como veremos mais adiante no mapa de risco

geológico apresentado neste trabalho.

I.1 – Objetivos

Os objetivos pretendidos com o desenvolvimento deste estudo são: a distinção das áreas

aluvionares das demais litologias que ocorrem na região; delimitação e caracterização dos tipos

de relevo e associação desta característica com o risco à ocupação.

I.2 – Localização e Acesso

A área estudada localiza-se entre a Serra das Araras e a Baía de Sepetiba, está inserida

na margem esquerda da bacia do rio Guandu, constituindo parte dos municípios de Queimados e

Nova Iguaçu a sudoeste do Estado do Rio de Janeiro (Figuras 1 e 2). Tem como principais vias de

acesso a Avenida Brasil e a antiga estrada Rio-São Paulo (BR 465). Pode-se citar como acessos

secundários as Estradas do Pedregoso e Mato Grosso, assim com a Rua Nat e a Avenida Abílio

Augusto Távora, Figura 3.

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Figura 1: Porção NE da folha Santa Cruz inserida no contexto Estadual. Imagem de base: www.goole.com.br/imghp. Adaptado e editado pelo autor.

Figura 2: Mapa de municípios do Estado do Rio de Janeiro com topografia associada. Fonte: WWW.googlei.com

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Figura 3: Principais vias de acesso a área estudada.

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I.3 – Metodologia

Para a execução deste estudo primeiramente foram feitas as seguintes consultas:

- Projeto de Aerofotogrametria - FUNDREM em escala 1:10000 com curvas de nível possuindo

eqüidistância de 5 metros, recobrindo a região metropolitana do Rio de Janeiro;

- Mapa Geológico do Estado da Guanabara - DNPM em escala 1:50000 (Folha Santa Cruz, 1965);

- Mapa Geológico do Estado do Rio de Janeiro – CPRM 2000, em escala 1:500000.

Para compor a área de interesse foram agrupadas as folhas 259A, 259B, 259C, 259D,

259E e 259F, compreendidas entre as latitudes 43°37’30”e 43°30’00”; e longitudes 22°52’30” e

22°45’00”. Esta região corresponde ao quadrante nordeste da Folha Santa Cruz, constituindo uma

quadrícula de 13x13 km com uma área total de 169 km², situada entre as coordenadas 7484,

7470, 641 e 654.

Como suporte para pesquisa, o mapa geológico do CPRM foi adotado como fonte básica à

geologia regional e o mapa do DNPM foi utilizado como fonte à geologia local. Essa

integração/comparação de dados constitui um dos pontos principais do escopo deste trabalho.

Estes dados juntamente com inspeções de campo permitiram consistência de informações na

distinção das unidades de mapeamento apresentadas, tornando possível a identificação das

unidades baseadas fundamentalmente nas elevações dos terrenos, que permitiram a delimitação

dos aluviões, das partes de relevo movimentado. As inspeções de campo permitiram uma

preliminar separação da setorização das áreas de risco.

Foram feitos testes de plasticidade e descrições de solo.

Para confecção do mapa final, apresentado em escala 1:20000, utilizou-se de softwares

para edição de imagens como Corel Draw e Adobe Photoshop.

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II- FISIOGRAFIA - Clima, Vegetação e Hidrografia

As informações aqui apresentadas (acerca no item Clima) foram embasadas no trabalho

de Alexandre Nunes da Rosa intitulado “Estudo de impacto ambiental do estaleiro e base naval

para a construção de submarinos convencionais e de propulsão nuclear, em Itaguaí – Rio de

Janeiro – de responsabilidade da Marinha do Brasil” solicitado pelo IBAMA e entregue em agosto

de 2009.

A área de estudo, próxima a orla litorânea da costa leste do Estado do Rio de Janeiro,

apresenta diferentes padrões climáticos. As características típicas desta região incluem elevado

número de horas de insolação, chuvas freqüentes, altos valores de umidade relativa, velocidades

do vento de intensidade baixa a moderada, e intensas tempestades de verão. Os verões são

bastante quentes e os invernos apresentam temperaturas amenas. As maiores diferenças entre a

estação de inverno (junho, julho e agosto) e o verão (dezembro, janeiro e fevereiro) são as

temperaturas e a quantidade de precipitação, com as temperaturas máximas e as precipitações

mais intensas ocorrendo durante o verão. Os períodos de verão são longos, quentes e úmidos

com pequena variação diária. No inverno existem freqüentes trocas entre as massas de ar mais

aquecidas do Oceano Atlântico e o ar continental seco e frio. No verão quase toda precipitação é

devida a tempestades originadas por convecção local, e que ocorrem principalmente no período

da tarde. As chuvas nos meses de inverno são provocadas principalmente devido à passagem de

sistemas frontais já enfraquecidos durante a sua passagem pelo continente. Por situar-se próximo

ao Oceano Atlântico, o clima da região e imediações sofre um grande efeito da ação marítima, e a

temperatura do ar na região pode ser caracterizada como estando na faixa média de 25-28ºC no

verão, de 22-26ºC no outono, 20-21ºC no inverno e de 21-24ºC na primavera, tendo uma média

anual em torno de 23ºC, o que mostra um claro efeito de sazonalidade.

A vegetação apresenta-se de três maneiras distintas: nas partes mais baixas ocupadas por

solos aluvionares, a vegetação foi quase que totalmente erradicada e substituída por uma

vegetação disciplinar secundária, com exceção das matas ciliares remanescentes que ocorrem

próximas a captação de águas da CEDAE e outros locais de difícil acesso; um segundo tipo, com

vegetação também secundária, ocorre em morros com vertentes suaves, geralmente bastante

ocupados pela população, mas que contém vegetação residual especialmente nas áreas mais

elevadas; e finalmente ocorre a vegetação de maior expressão na região, com presença de Mata

Atlântica ocupando maciços de elevados valores de altitude, que por características próprias

impedem a ocupação e acabam funcionando com barreira natural favorável à preservação da

floresta.

A drenagem da região é constituída quase que totalmente pelos afluentes da margem

esquerda do Rio Guandu destacando-se de norte para sul os rios dos Poços, Sarapó e Cabuçu.

Estes se unem formando o Rio Queimados, que deságua no Rio Guandu.

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Ao sul, os rios Capenga, do Sapé, da Prata, do Mendanha e dos Cachorros se juntam

formando o rio Guandu Mirim .

Pela margem direita do rio Guandu a drenagem converge para a margem esquerda do rio

dos Bois.

Na porção central da área, ocorre o maciço do Mendanha e ao sul o maciço do Marapicu,

que atuam como zona dispersora de águas entre a zona oeste do município do Rio de Janeiro e a

Baixada Fluminense, alojando as nascentes de importantes tributários das bacias dos rios Guandu

e Cabuçu, que drenam para a baía de Sepetiba, Figura 4.

Figura 4: Mapa de Hidrografia da área estudada

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III – GEOLOGIA DA REGIÃO

A área de estudo está regionalmente inserida na Província Estrutural Mantiqueira (Almeida

et al., 1977), constituída, principalmente, de rochas pré-cambrianas, intensamente deformadas,

metamorfizadas em diferentes graus, migmatizadas e injetadas por granitóides de variadas

composições e fases de intrusionamento. A área situa-se no contexto do segmento central da

Faixa Ribeira (Cordani et al., 1967; Almeida 1967, 1969), conforme a Figura 5, desenvolvida

durante a Orogenia Neoproterozóica Brasiliana, que resultou da formação do paleocontinente

Gondwana. Essa faixa móvel é constituída por um complexo sistema de dobramentos e

empurrões desenvolvidos do Eoproterozóico ao Neoproterozóico (Brito Neves & Cordani, 1991),

ao longo da borda sul/sudeste do Cráton de São Francisco.

Heilbron et al. (2000, 2004) e Eirado et al. (2006) caracterizam o Segmento Central da

Faixa Ribeira, dividindo-o em Terrenos Tectono-Estratigráficos distintos: Ocidental, Paraíba do

Sul/Embu, Oriental (onde está inserida a área de estudo) e Cabo Frio.

O Terreno Oriental (Domínio Costeiro segundo Machado et al., 1996), onde está inserida a

área estuda, é caracterizado pela presença marcante de ortognaisses gerados em ambiente

colisional, por marcada presença de grandes dobras isoclinais recumbentes e faixas de

cisalhamento dúctil-rúptil contendo granitóides sin a póscolisionais. Compreende o Arco

Magmático Rio Negro (Heilbron et al., 2000), formado pela subducção oceânica da Placa São

Francisco, onde foram gerados ortognaisses trondhjemíticos do Complexo Rio Negro (Tupinambá,

1999) e granitóides associados, destacando-se o Batólito Serra dos Órgãos (Barbosa & Grossi

Sad, 1985), formado por um megasheet de ortognaisse granodiorítico a granítico que intrusiona

rochas gnáissica-migmatíticas do Complexo Rio Negro (Penha et al., 1980), em condição sin a

tardi-colisional de intrusionamento na fase orogênica. O Terreno Cabo Frio, a este, estaria

relacionado a uma paleoplaca derivada do Cráton do Congo.

Os terrenos Ocidental e Oriental são separados por uma zona de cisalhamento dúctil/rúptil

de direção NE/SW, complexamente redobrada e com a presença de rochas miloníticas. Essa faixa

de extensão regional e com intensa deformação crustal é denominada Limite Tectônico Central

(CTB) e constitui uma zona de sutura da colagem brasiliana (Almeida et al., 1998).

O Maciço Alcalino Marapicu (Cretáceo/Terciário), na porção sudoeste da área de estudo,

aparece em associação com rochas sieníticas insaturadas. Esse maciço alcalino está associado

ao conjunto alcalino Marapicu-Mendanha, de idade Cretácea Superior, ±72 Ma (Riccomini et al.,

2005). A esse conjunto alcalino, associam-se estruturas vulcânicas e subvulcânicas.

Os diques de rochas alcalinas de idade eocretácea, com variação entre 129 e 134 Ma

relacionam-se com o Complexo Marapicu-Mendanha e apresentam orientação NE a ENE.

(Regelous, 1990).

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Figura 5: Mapa tectônico da região sudeste do Brasil. Simplificado de Heilbron et al. (2000), Ferrari (1990) e Mohriak &

Barros (1990). Fonte: Ferrari (2001).

Os aluviões ocorrem em terrenos vizinhos a rios e lagos, formados comumente entre as

planícies costeiras e morros e serras de embasamento cristalino, em altitudes inferiores a dez

metros e em terraços de até 30 metros, em um relevo plano, podendo-se encontrar isoladamente

morrotes e colinas residuais. São constituídos por materiais associados a ambientes fluviais,

erodidos, retrabalhados e transportados pelos cursos d’água e depositados nos seus leitos e

margens (Vaz, 1996, apud Semads, 1997).

III.1 – Estratigrafia

No Anexo I é apresentado o Mapa Geológico Regional do Estado do Rio de Janeiro CPRM

- 2000 com a estratigrafia da área estudada descrita abaixo.

Proterozóico – Neoproterozóico

Granitóides pré a sin colisionais Unidade duas Barras: fácies homogênea, foliada, de

composição tonalítica, intrudida por veios e bolsões de leucogranito tipo-S. Essa unidade ocorre

em pequena expressão no setor noroeste da área, envolvida por aluviões, próxima a margem

esquerda do rio Guandu.

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Complexo Rio Negro, disposto em uma faixa de direção NE na porção central da área

envolvendo núcleos de rochas alcalinas. Este complexo é formado por ortognaisses bandados de

granulação grossa, textura porfirítica recristalizadas e augen, com forte foliação tangencial.

Intercalações de metagabro e metadiorito deformados (anfibolito) ocorrem localizadamente.

Intrusões de granada leucogranitos e de apófises de granitóides do batólito Serra dos Órgãos

ocorrem regionalmente. Outras áreas menos expressivas dessa unidade ocorrem também ao sul

e ao norte sob a forma de morros e morrotes isolados e/ou agrupados com ocupações de áreas

aluvionares nas partes mais abatidas constituindo as baixadas por onde drenam os principais rios

coletores da região.

Granitóides tardi colisionais Suíte Serra dos Órgãos: composta por hornblenda-biotita

granitóide de granulação grossa e composição expandida de tonalítica a granítica, composição

calci-alcalina. Texturas e estruturas magmáticas preservadas com foliação tangencial em estado

sólido superimpostas. Localmente podem ser observados encalve paleodiques anfibolíticos.

Ocorre na porção norte da área em uma faixa alongada de direção ENE envolvido por aluviões

alinhado ao rio Camboatá.

Paleoproterozóico – Cambriano Magmatismo pós tectônico Granitóides Pós Tectônicos: (hornblenda) – biotita

granitóides do tipo I, de granulação fina a média, textura equigranular a porfirítica localmente com

foliação de fluxo magmático preservada. Ocorrem como corpos tabulares, diques, stocks e

pequenos batólitos cortando as rochas regionais. Ocorrem também como plutons homogêneos.

Fases aplíticas tardias são abundantes. Aparece em uma pequena porção no extremo sul da área

envolvidos por aluviões na margem esquerda do rio Guandu-Mirim.

Mesozóico – Cretáceo

Rochas alcalinas cretácicas/terciárias: sienitos, foyaitos, fonolitos, traquitos, tinguaitos,

pulaskitos umptekititos, fenitos. (Maciço Alcalino da Serra do Mendanha, Intrusão alcalina de

Marapicu).

Representam núcleo central na área com cerca de três quilômetros de largura possuem

formato alongado e ocupam as partes mais elevadas da região serrana.

Cenozóico – Quaternário

Depósito colúvio aluvionar: depósitos fluviais areno-siltico-argilosos com camadas de

cascalheiras associadas a depósitos de tálus e sedimentos lacustrinos retrabalhados. Ocorrem

nas partes mais baixas da região, especialmente na faixa oeste, se estendendo para leste pelos

vales dos principais rios que drenam a região, como por exemplo o rio Camboata, Cabuçu,

Ipiranga, Capenga, Mendanha e principalmente a margem esquerda do rio Guandu que drena

para o sul.

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III.2 - Geologia Econômica

A economia local restringe-se: ao turismo impulsionado por áreas de preservação

ambiental cujo principal atrativo é o Maciço do Mendanha, hoje sob proteção, que funciona como

parque aberto a visitação (gerenciado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente). Representa a

maior área de lazer da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, com aproximadamente 1450

hectares de área preservada; a extração de areia com exploração cíclica em pequena quantidade

nos rios da região, ocorrendo somente após os períodos chuvosos, constituindo fonte de material

local para a população, sem maiores expressões comerciais; no morro do Marapicu ocorre

extração de paralelepípedos nas rochas alcalinas, também de forma atersanal e com pequena

produção; no quadrante sudoeste da área entre o rio Capenga e o morro do Marapicu um

condomínio de casa em construção explora saibreira fornecendo material granular nobre para

construções de aterros e base de estradas, Figura 6.

Figura 6: Saibreira com área de aproximadamente 80 x 50m com 10m de altura, onde o material retirado é aproveitado

para aterros locais.

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III.3 – Geomorfologia

A região em estudo apresenta três unidades geomorfológicas distintas, como pode ser

visualizado em imagem de satélite da área (Figura 7):

Baixadas – constituem terrenos de baixa declividade, com altitudes de dez a quinze metros, mal

drenados possuindo antigos canais meandrantes que foram retificados para a ocupação, tendo

solos aluvionares constituídos de argilas e areias com nível d’água próximo à superfície. Ocupam

cerca de trinta por cento da área sendo a sua maior expressão na porção oeste. Esses rios,

próximos a sua foz, por ocasiões das grandes chuvas, podem localizadamente transbordar

causando inundações periódicas.

Morrotes isolados - constituem feições isoladas ou agrupamentos de morros com altitudes de até

cem metros de altura, vertentes suaves e amplas e grande espessura de solo muitas vezes com

penetrações de faixas aluvionares entre os mesmos. Sua maior expressão fica na parte central e

norte da área de estudo. Os principais rios citados na hidrografia têm seu curso por entre esta

feição. O nível d’água é profundo e ocorre marcante mudança no relevo quando em contato com

as outras unidades (Baixadas e Maciços Alcalinos).

Maciços alcalinos - compreende um conjunto de maciços montanhosos de rochas alcalinas

geradas num período de atividade vulcânica entre o final do Cretáceo e o início do Terciário,

decorrente da abertura do oceano Atlântico, que originaram corpos intrusivos no embasamento

cristalino de idade pré-cambriana (fonte: CPRM, 2001). Na área de estudo, são representados

pelos maciços do Mendanha e do Marapicu ocupando a faixa central nordeste da região.

Possuem formato dômico, alongado apresentando cristas paralelas e padrão de drenagem

dendrítico a retangular, condicionado pela rede de fraturamento. Caracteriza-se por apresentar

relevo acentuado com altitudes de até setecentos metros, alta densidade de drenagens nas

cabeceiras que ao alcançar as regiões abatidas mudam abruptamente seu comportamento

escoando pelos terrenos de baixada. Ocupam trinta por cento da área constituindo uma faixa de

quatro quilômetros de largura por mais de uma dezena de quilômetros de extensão.

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Figura 7: Imagem de satélite que permite boa visualização do relevo da área estudada, onde se percebe a ocorrência

de planícies, morrotes isolados ou agrupados, assim como a Serra do Marapicu-Mend anha a NE (os limites em

branco correspondem à área estudada).

III.4 – Mapeamento geológico-geotécnico O mapeamento geológico geotécnico foi elaborado na base 1:10000, com curvas de nível

de cinco em cinco metros onde foi possível a delimitação e caracterização das unidades conforme

apresentado no Anexo II e descritas abaixo :

Solos aluvionares: solos com baixa declividade, predominando valores inferiores a 10º,

ocupando as partes mais baixas da região constituídas pelos leitos e várzeas dos rios e córregos,

podendo estar encaixados entre morros ou ocupando amplas planícies de inundação, muitas

vezes com aterros superficiais cobrindo esta unidade. Normalmente apresentam uma seqüência

tipo, cuja parte superior e caracterizada por uma camada de sedimentos de cor escura, baixa

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capacidade de suporte, constituída por areia fina a média, argiloso, plasticidade elevada podendo

conter nas partes superiores, concentração de matéria orgânica e resto de vegetais. São mal

drenados com lençol freático ocorrendo da ordem de 1 a 2 metros de profundidade, podendo

ocorrer localizadamente acúmulo de água na superfície do terreno devido à dificuldade do

escoamento das águas. São áreas sujeitas a inundações periódicas, não adequadas a ocupação

urbana e quando sofrem intervenção, cuidados especiais são necessários quanto a criação de

acesso que poderá criar barreiras ao escoamento das águas subterrâneas e superficiais, Figura 8.

Figura 8: Transição típica entre material aluvionar e coluvionar.

Solos coluvionares e residuais: apresentam relevo ondulado dominando formas côncavas nos

divisores de águas e convexas nas cabeceiras dos talvegues com amplitudes de vertentes

atingindo até 300 metros de extensão e declividades dominantes em torno de 10º a 30º, se

apresentando recortados por linhas de drenagens naturais, são bem drenados, com drenagens

espaçadas devido a espessa cobertura de solo poroso superficial e nível d`água profundo. O

horizonte superficial é constituído por solo argilo-arenoso, amarelado, de boa plasticidade, com

origem coluvionar, indica 1 a 2m de espessura passando a solo coluvionar silte-arenoso fino,

pouco argiloso, avermelhado e de boa plasticidade. Bem drenados, com drenagens espaçadas

devido a espessa cobertura de solo poroso superficial e nível d´água profundo. Estáveis em

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condições naturais podendo apresentar instabilidade se removido o horizonte superficial de solo

coluvionar. Apresentam boas características de fundação aumentando sua resistência com a

profundidade do terreno.São normalmente escaváveis com retro-escavadeira podendo,

eventualmente, ocorrer níveis mais resistentes no fundo da escavação, exigindo o emprego de

escarificador simples.

Os terrenos com declividade não muito acentuada são adequados a ocupação e

implementação de vias de acesso. Em cortes acima de 3 metros, cuidados devem ser tomados

quando a estabilidade dos taludes e disciplinar as águas evitando-se concentração de águas de

chuva nos taludes remanescentes. Observe a Figura 9:

Figura 9: Vista para W, relevo típico. Cobertura espessa com colúvio de aproximadamente 1,5m e solos residuais com

cerca de 4,5m. Verificou-se o contato entre solos aluvionares e residuais.

Tálus: São acúmulos de matacões e blocos de rocha instáveis nas encostas rochosas. Ocorrem

nas áreas próximas aos afloramentos de rocha, concentrando-se nas feições côncavas,

provocadas pelas fraturas, escamações e esfoliação do maciço rochoso, expostos

superficialmente na superfície dos terrenos, especialmente nas vertentes das calhas das

drenagens, em relevo bastante acentuado, nos talvegues no fundo dos vales das drenagens. São

muitos raros ocorrendo somente nos morros do Mendanha e Marapicu.

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Afloramentos de rocha: Caracterizam-se pelo relevo destacado, drenagens freqüentes e

profundas sulcando o maciço apresentam nos contatos capa superficial de solo coluvionar,

podendo-se observar exposições de rocha aparente nas partes mais dissecadas do relevo, como

mostram as Figuras 10 e 11.

Figura 10: Contraste observado entre as unidades de mapeamento, com destaque de relevo para as rochas alcalinas.

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Figura 11: Afloramento de rochas alcalinas – Morro do Marapicu.

O Anexo III - Perfil topográfico A-B e o Anexo IV - Perfil topográfico C-D mostram os

diferentes tipos de relevo que ocorrem na área.

III.5 – Mapa do DNPM O resultado dos estudos apresentados no mapa geológico e no mapa de setorização

mostra que a questão da base cartográfica adotada é de fundamental importância. O mapa do

DNPM em escala 1:50000 e curvas de nível a cada 20m apresenta limitação quanto ao

detalhamento das áreas aluvionares em relação as demais litologias.

Uma alternativa que poderia ser aplicada seria o levantamento das áreas aluvionares na

base cartográfica 1:10000 e a sua transferência para a folha Santa Cruz na escala 1:50000

original.

A título de ilustração segue a Figura 12, mostrando a dificuldade em delimitar as áreas

aluvionares da escala original.

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Figura 12: Porção NE da Folha Santa Cruz, obtida a partir do mapa original DNPM, 1965

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IV – SETORIZAÇÃO DE RISCOS

As informações aqui expostas fazem parte de elementos de apoio didático preparados pelo

professor J. Alveirinho Dias:

Podemos caracterizar o risco geológico como qualquer processo natural ou não que afeta

de forma adversa o homem (tanto no que se refere a sua vida como aos seus bens).

O risco geológico(R) é o produto da probabilidade (p) de ocorrência de determinado

acontecimento pelas consequências (c) para o Homem de tal acontecimento se verificar

R = p*c a avaliação de um risco geológico é a determinação do potencial que determinado processo tem

para produzir catástrofes.

O risco será tanto maior quanto mais ocupada estiver a área afetada. Os riscos geológicos

antropogênicos foram fortemente amplificados desde a revolução industrial. O risco associado a

determinado acontecimento tem como tendência sofrer um aumento significativo com a passagem

do tempo (devido ao crescimento demográfico).

Estudos relacionados a riscos geológicos têm sido cada vez mais abordados pelo Serviço

Geológico do Brasil, tendo como motivação os históricos de ocorrência de acidentes resultantes

dos processos naturais somados às intervenções antrópicas no meio ambiente. Tal ação tem por

objetivo identificar, caracterizar e orientar a tomada de decisões para a redução dos danos

resultantes desses processos, principalmente dos escorregamentos, erosões diversas,

assoreamento e inundações, que muitas vezes causam a perda de vidas humanas e danos

materiais.

O zoneamento do território baseado na avaliação da vulnerabilidade e do risco é

considerado o instrumento fundamental para a integração dos riscos no planejamento ambiental;

distingue-se entre o zoneamento para o planejamento e ordenamento do território, o de caráter

preventivo e o de caráter corretivo.

Desde longo tempo já é reconhecida, no início de forma puramente empírica, a influência

que a dinâmica da superfície terrestre tem no condicionamento quantitativo e qualitativo do tipo de

uso que o homem pode fazer dos diferentes segmentos da mesma; é nesta dinâmica, nos seus

mecanismos e nos fenômenos naturais de que é responsável, que se situa a noção de risco

geológico.

A noção de risco geológico está integrada numa noção de âmbito mais vasto que é a de

risco natural. A amplitude dos danos e perdas provocados por uma catástrofe, tenha ela origem

natural ou origem antrópica, depende em primeiro lugar da natureza e da magnitude das suas

causas, mas também das características do espaço territorial em que ocorre. Isto significa a

existência de segmentos da superfície terrestre mais vulneráveis do que outros a riscos

potenciais, de origem natural e/ou antrópica. A vulnerabilidade de uma região a tais riscos

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depende de fatores tão diversos como a densidade populacional, a natureza dos seus bens

tecnológicos e culturais, o tipo de organização social e econômica e a capacidade exibida pelas

comunidades para enfrentarem os diferentes fatores de risco.

O risco geológico avalia-se, então, pela probabilidade de um segmento de superfície

terrestre experimentar processos de natureza geológica de uma certa intensidade e freqüência e

pela interação entre esses processos e os seres humanos.

IV.1 - Setorização de riscos proposta à área de estudo

Com base na topografia a região pode ser dividida em três setores quanto ao risco

geológico.

a)Setor de alto risco localizado – solos aluvionares: As cotas mais baixas onde se

desenvolvem as bacias hidrográficas dos rios Queimados e Ipiranga ao norte, rio Capenga ao

centro e rio Guandu Mirim ao sul, que deságuam no rio Guandu a oeste da folha correspondem ao

setor de alto risco localizado. Esta condição de alto risco localizado se refere as margens dos rios

acima citados especialmente em relação ao Queimados e Ipiranga nas regiões próximas a borda

da represa da CEDAE no rio Guandu onde deságuam. Outros pontos de alto risco localizado

nesse setor correspondem às margens desses rios quando lançados aterros próximos a calha dos

mesmos prejudicando o escoamento natural e criando condições de alagamento à montante, essa

última situação é bastante freqüente devido à intensa ocupação dessas últimas duas bacias

citadas. Outro elemento que contribui para esta condição de alto risco localizado é a presença do

nível d’água próximo à superfície visto que ocupam áreas abatidas e com pequena declividade

impedindo o escoamento, com capturas de água insuficientes condicionando alagamentos.

Adicionalmente as cabeceiras e afluentes naturais têm suas nascentes em regiões serranas que

contribuem para elevados volumes de escoamento de água promovidos pela topografia

acidentada.

A ocupação da região promove a impermeabilização do solo impedindo a infiltração

natural.

Na parte sul o fenômeno se repete sendo que o deságüe se dá diretamente no rio Guandu

abaixo da barragem da CEDAE.

b)Setor de baixo risco – solos coluvionares: Ocupa quase toda faixa extremo norte com largura

de cerca de 2 – 3 Km e no extremo sul da folha em uma faixa leste-oeste apresenta-se com

aproximadamente 10 km de extensão e 1,5 km de largura. Corresponde a região de domínios da

unidade Rio Negro, representada por ortognaisses com solos coluvionares. Esta unidade

apresenta elevações máximas da ordem de 100 a 120 metros e mínima de 35 a 15 metros.

Constituem um conjunto de morros e morrotes às vezes agregados formando um conjunto por

onde circulam talvegues que drenam a região. Esses morros apresentam vertentes amplas da

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ordem de 200 a 300 metros com declividade de cerca de 10 a 30° sendo mais acentuada nas

porções mais elevadas. Nas partes mais baixas desses morros a declividade é amenizada onde

se observa uma espessura de solo coluvionar mais expressiva já próxima à aluviões sendo essas

feições caracterizadas como rampas de colúvio. Estas são as áreas mais ocupadas.

Localizadamente a ocupação desta área acaba por criar situações de risco geológico

condicionadas por escavações e aterros para ocupação. Essas escavações feitas com

remanescentes de taludes muito inclinados promovem a instabilidade do terreno. Essas

escavações quando em topografia côncava acabam por capturar águas superficiais para o talude.

O aterro dessas escavações feito com compactação, drenagens e taludes não adequados criam

situações de instabilidade localizadas. Essas intervenções são geralmente de pequeno porte para

construções de casas, estradas e outras infra-estruturas da região. Figuras 13, 14 e 15.

Figura 13: Seqüência tipo apresentando camada de solo coluvionar (marrom acinzentado) de aproximadamente 1m de

espessura e solo residual (avermelhado) com veios de quartzo de aproximadamente 0,5 a 1 cm.

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Figura 14: Mesmo corte de estrada da fotografia anterior. O solo residual argilo-arenoso apresenta boa plasticidade,

alguns pedregulhos, veios de quartzo descontínuos e de espessura em torno de 1cm. A camada de solo residual tem

cerca de 3m. Apresenta nível de água profundo e é bem drenado. Ocorre em cotas mais elevadas de um plateau.

O solo coluvionar presente é francamente areno-argiloso contendo boas características de plasticidade, contem

fragmentos desagregados de quartzo de até 5cm. Este conjunto representa um material de primeira categoria e é muito

utilizado em aterros.

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Figura 15: Detalhe do limite solo coluvionar e residual.

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c)Setor de alto risco – intrusões alcalinas: ocupa uma faixa central de direção NE-SW com

extensão de aproximadamente 11 km. As maiores altitudes se balizam pelas cotas de 600-700 m

e as menores por 30-40 m. Há vertentes amplas com extensão de até 2 Km e declividade de 90%

ou seja pouco menos de 45°. Grande parte dessa área constitui a reserva Parque do Mendanha

situado entre os bairros de Bangu e Campo Grande.

Na vertente sudoeste tem-se a divisa do município do Rio de Janeiro a sul e Nova Iguaçu a

norte, esta unidade é constituída por rochas alcalinas encaixadas em ortognaisses. A cobertura de

solo é variável dominando maiores espessuras nas bordas e afloramentos, nas cristas, na linha de

cumiada.

As ocupações se restringem as bordas desse maciço acentuando o nível de risco

naturalmente existente por conta da declividade do terreno.

Há muitas nascentes ocorrendo nesta região que acaba por representar um interflúvio

estrutural.

O Anexo V apresenta o mapa para a setorização de riscos proposta para a área.

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V - CONCLUSÕES A base cartográfica adotada quanto à escala e espaçamento de curva de nível, permitiram,

com apoio de inspeções de campo, a elaboração de um mapa geológico-geotécnico com a

delimitação das unidades aluvionares localizadas nas partes mais baixas, os solos coluvionares

em setores intermediários de interflúvios em cotas intermediárias e uma terceira unidade de relevo

mais acentuado - morro do Mendanha e Marapicu, com afloramentos de rochas.

Os diferentes relevos associados às unidades geológico-geotécnicas acima citadas

mostraram correspondência a riscos geológicos e permitiram a elaboração de uma mapa de

setorização de riscos diferenciados, atendendo plenamente, portanto, os objetivos pretendidos

neste trabalho.

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VII - ANEXOS

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