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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL JOVANE FRANÇA O BATISMO: UMA VISÃO GERAL EM LUTERO; SEU POSICIONAMENTO QUANTO AO BATISMO INFANTIL, E COMO SE RECEBE OS BENEFÍCIOS DESTE SACRAMENTO. Canoas 2013

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL JOVANE FRANÇA · Para Lutero, por meio do Batismo, Deus derrama sobre nós tão abundante e profunda riqueza de sua graça, de forma que ele mesmo

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

JOVANE FRANÇA

O BATISMO: UMA VISÃO GERAL EM LUTERO; SEU POSICIONAMENTO

QUANTO AO BATISMO INFANTIL, E COMO SE RECEBE OS BENEFÍCIOS

DESTE SACRAMENTO.

Canoas

2013

1

JOVANE FRANÇA

O BATISMO: UMA VISÃO GERAL EM LUTERO; SEU POSICIONAMENTO

QUANTO AO BATISMO INFANTIL, E COMO SE RECEBE OS BENEFÍCIOS

DESTE SACRAMENTO.

Trabalho de Conclusão de Curso Para a obtenção do grau em Bacharel em Teologia na Universidade Luterana do Brasil.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Moisés Nerbas

Canoas

2013

2

A presente monografia “O BATISMO: UMA VISÃO GERAL EM LUTERO;

SEU POSICIONAMENTO QUANTO AO BATISMO INFANTIL, E COMO SE

RECEBE OS BENEFÍCIOS DESTE SACRAMENTO”, redigida pelo acadêmico

Jovane França, será examinada e julgada pela Banca Examinadora, em

cumprimento ao Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em Teologia, na

Universidade Luterana do Brasil, Canoas, Rio Grande do Sul.

Professor Orientador: Prof. Dr. Paulo Moisés Nerbas

______________________________

Prof. Dr. Paulo Moisés Nerbas

Examinador:

______________________________

Rev. Paulo Brum

Canoas, Junho de 2013

3

DEDICATÓRIA

A minha querida e amável esposa Balbina Rodrigues da Silva França, e aos meus pais, Abrão Paulo França e Maria Inês França , que em todos os momentos me apoiaram, acreditaram e incentivaram meus estudos com muito carinho e amor intenso.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e salvação

em Cristo Jesus. Agradeço a minha querida esposa

pelo amor e companheirismo em todos os momentos. E também aos meus pais pelo amparo, ensino e amor.

Agradeço aos meus avós, irmãos, tios e aos amigos, pelo apoio e pelo incentivo.

Agradeço a CEL “São João Batista” de Panorama e a CEL “São Mateus” de São Jacinto, Rio Bananal, ES, pelo apoio e auxílio financeiro.

Agradeço ao “Distrito Rio Doce” pelo auxílio financeiro.

Agradeço ao meu orientador e professor Dr. Paulo Moisés Nerbas, pela atenção e dedicação.

Agradeço em especial ao professor Anselmo E. Graff e sua esposa Camila pelo apoio e incentivo.

Agradeço aos meus professores pelo ensino e à ULBRA pela oportunidade e incentivo nos estudos.

5

“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia

nele, e o mais ele fará” (Sl 37.5).

6

RESUMO

Este trabalho de pesquisa bibliográfico analisa a importância do Sacramento do Batismo na visão geral do ponto de vista do Reformador Martinho Lutero. Esta monografia expõe que esse Sacramento vem até nós somente através de Jesus Cristo, o qual reconciliou o mundo através de sua obra redentora na cruz. E por meio deste Santo Sacramento o “Batismo”, que é uma ordem de Deus para batizar a todos indistintamente independente de idade, o qual é o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, Deus opera e mantém a fé nos corações dos crentes. Conforme Lutero, o Batismo é pura ação de Deus que age mediante o mesmo para nos salvar por meio da fé em Jesus Cristo. E isso é possível até mesmo nas crianças que são batizadas mesmo não expressando a fé como os adultos, mas se batiza por ser uma ordem de Deus, onde está contida a promessa de perdão e salvação.

Palavras-chave: Batismo – Fé – Lavar Regenerador – Ação de Deus – Cristo Jesus.

7

ABSTRACT

This research examines the importance of the Sacrament of Baptism in the overview from the point of view of the reformer Martin Luther. This monograph presents that this Sacrament comes to us only through Jesus Christ, reconciled the world through his redemptive work on the cross. And through this Holy Sacrament "Baptism," which is an order from God to baptize indiscriminately to all regardless of age, which is the washing of regeneration and renewing of the Holy Spirit, I presents God operates and maintains the faith in the hearts of believers. As Luther, Baptism is pure action God who acts upon it to save us through faith in Jesus Christ. And this is possible even in children who are baptized even not expressing faith as adults, but is baptized because is an order of God, we which is contained the promise of forgiveness and salvation.

Keywords:

Baptism - Faith - Wash Regenerator - Action of God - Jesus Christ.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 9

1 – LUTERO E O BATISMO: SUA VISÃO GERAL ..................................................................... 10

1.1- Importância Da Palavra No Sacramento Do Batismo ................................................................ 10

1.2 - Três Partes Do Batismo ............................................................................................................ 12

1.2.1- O Sinal ................................................................................................................................ 12

1.2.2- O Significado ...................................................................................................................... 13

1.2.3 - A Fé .................................................................................................................................... 17

2 - O BATISMO INFANTIL EM LUTERO ..................................................................................... 20

2.1 O Batismo Infantil Nos Artigos De Esmalcalde ......................................................................... 21

2.2 – O Proveito E Uso Do Batismo ................................................................................................. 22

2.3 – Lutero Expõe O Batismo Como Ação De Deus ....................................................................... 25

3 – O RECEBIMENTO DOS BENEFÍCIOS DO BATISMO ......................................................... 29

3.1 – O Revestir-se De Cristo ............................................................................................................ 29

3.2 – O Lavar Regenerador ............................................................................................................... 31

3.3 – A Maneira Que Se Recebe Os Benefícios Do Batismo ............................................................ 33

CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 37

BÍBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 39

ANEXOS .............................................................................................................................................. 41

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa oferecer uma visão geral do Batismo a partir do

ponto de vista de Martinho Lutero. O objetivo primeiro é destacar pontos importantes

a respeito do Sacramento do Batismo na teologia de Lutero, apontando aspectos

relevantes e que chamam a atenção. Neste breve estudo, busca-se observar a

importância do sacramento do Batismo como um cerimonial de introdução na vida

cristã do batizado a partir de um estudo em Lutero.

No mundo atual há uma grande dificuldade em anunciar esse Sacramento

por causa dos diferentes sistemas de ideias religiosas em que se vive hoje. Existe

por parte de algumas denominações religiosas no atual contexto evangélico

brasileiro uma banalização do Batismo. Isto acontece quando uma pessoa batizada

em uma determinada denominação religiosa deve ser rebatizada se desejar entrar

em outra. Porém, essas denominações religiosas que se dizem “cristãs” acabam

inventando suas próprias doutrinas de acordo com sua teologia ideológica, muitas

vezes varrendo o proveito e uso do Batismo.

O primeiro capítulo desta monografia busca trabalhar o Sacramento do

Batismo com uma visão geral de Lutero com respeito ao assunto estudado. De como

Lutero observa este Sacramento e quando o mesmo age como um valioso dom da

graça de Deus. Destaca-se também a importância que Lutero dá à Palavra do

Sacramento do Batismo. Ainda, nesta parte, Lutero considera três fatos que são

fundamentais neste Sacramento: o Sinal, o Significado e a Fé.

No segundo capítulo deste estudo, o enfoque é como Lutero trabalhou a

questão do Batismo para crianças. Lutero escreve para instruir os membros da sua

igreja, na língua de seu povo. O objetivo é analisar o proveito e uso do Batismo

como ação de Deus por parte dos escritos deixados por Martinho Lutero, e também

analisar como ele defende a necessidade do Batismo como uma ordem de Deus e

em virtude da pecaminosidade humana.

O terceiro e ultimo capítulo visa analisar o recebimento dos benefícios do

Batismo examinado por Lutero, sua obra, seu proveito, e o fruto e a finalidade do

memo. Observar como este Sacramento opera, inicia e promove uma nova vida; o

revestir-se de Cristo, seu lavar regenerador e a maneira de como se recebe os seus

benefícios.

10

1 – LUTERO E O BATISMO: SUA VISÃO GERAL

Lutero observa que o Batismo age como um valioso dom da graça de Deus.

E ele disse que “o Batismo é o sacramento da admissão ao Reino de Deus e à

Igreja, a „comunhão dos santos‟. Nesse sentido é „nosso único consolo‟”. 1 Lutero faz

um estudo sobre o Sacramento do Batismo tendo em conta todo o seu poder

regenerador como porta de entrada na vida cristã.

Para Lutero, por meio do Batismo, Deus derrama sobre nós tão abundante e

profunda riqueza de sua graça, de forma que ele mesmo o chama de novo

nascimento, e também somos libertados de toda a tirania do diabo, de pecados,

morte e inferno. Tornamo-nos filhos da vida e herdeiros de todos os bens de Deus, e

filhos do próprio Deus e irmãos de Cristo. 2

1.1- Importância Da Palavra No Sacramento Do Batismo

No Catecismo Maior o tema do Batismo é um tema bem aprofundado por

Lutero. Este tema aparece na exposição da instituição do Batismo a partir da

Escritura Sagrada. Lutero faz referência ao Batismo à Mateus 28.19: “Ide por todo

mundo, ensinai todos os gentios e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do

Espírito Santo” 3, e Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem,

porém, não crer será condenado”. Lutero fala que nessa palavra é apresentado o

mandamento e a instituição de Deus e que o Batismo não é brincadeira de homens

1 LUTERO, Martinho. O Manual do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo/ Porto Alegre:

Sinodal/ Concórdia, 2000, v.7, p. 210. 2 Ibidem, p. 217.

3 ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA, Mt 28.19: Sociedade Bíblica do Brasil: 2ª- Ed. São Paulo,

2000. (Todas as passagens bíblicas utilizadas para esta monografia serão utilizadas nesta versão).

11 4, e que no Batismo está presente a Palavra de Deus, pela qual é santificada a água,

e, na água, nós. 5

Lutero observa que Deus estabelece e ordena o Batismo. Para ele, “o que

Deus institui e ordena não pode ser coisa vã, se não que deve ser cabalmente

preciosa, ainda que, segundo a aparência, tenha menos valor que uma palhinha” 6,

isto é, um acontecimento definitivamente simples. Lutero menciona também que “ser

batizado em nome de Deus é ser batizado não por homens, mas pelo próprio Deus”

7. Ele ressalta que a água se torna Batismo por meio da palavra de Deus, um banho

para a vida eterna, que lava o pecado e salva. 8

Lutero fala que o Batismo é água divina, ou seja, é água compreendida na

palavra e mandamento de Deus e por eles santificada 9. Pode se observar esta

compreensão no Catecismo Maior da seguinte forma.

Pois é Deus que aqui empenha sua honra e nela põe sua força e poder. Por isso a água do batismo não é apenas água natural, porém água divina, celeste, santa, bendita, e outros termos com que se possa louvá-la. Tudo em virtude da palavra, que é palavra divina, santa, que ninguém pode exaltar suficientemente, porque tem e pode tudo quanto é de Deus. Daí também tem a sua essência, graças à qual se chama sacramento. Assim também ensinou Santo Agostinho: “Accedat verbum ad elementum et fit sacramentum”, isto é: “Quando a palavra de Deus se une a substância natural, faz-se o sacramento”.

10

Deste modo, quando água e palavra estão presentes da forma como Deus o

estabeleceu, nesse caso é sacramento e é chamado Batismo de Cristo. Não há

Batismo quando há separação entre a água e a palavra. Lutero usa um termo forte

para ilustrar isso como: “Batismo de banheiro” 11, ou seja, se a água e a palavra

estiverem separadas, este Batismo não é mais do que um simples e puro banho,

4 CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia;

São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 475. 5 LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras Selecionadas.

São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008. v. 10. Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 636. 6 CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia;

São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 475. 7 Ibidem, p. 475.

8 LUTERO, Martinho. Dos Concílios e da Igreja. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal;

Porto Alegre: Concórdia, 1992, v.3, p. 424. 9CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia;

São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 476. 10

Ibidem, p. 476-477. 11

Ibidem, p. 477.

12

mas no momento que estiverem unidos palavra e água, então é verdadeiro

sacramento e chamado de verdadeiro Batismo de Cristo. 12

Portanto, conforme Lutero, “o Batismo não é apenas água simples, más é

água compreendida no mandamento divino e ligada à palavra de Deus” 13. Segundo

o Catecismo Menor, Terceira Parte explica que:

A água, em verdade, não as faz, mas a palavra de Deus que está unida à água, e a fé que confia nesta palavra de Deus unida com a água. Pois sem a palavra de Deus, a água é simplesmente água e não batismo. Mas com a palavra de Deus a água é batismo, isto é, água de vida, cheia de graça, e um “lavar de renascimento do Espírito Santo”, corno diz Paulo na Carta a Tito, no capítulo terceiro: “Mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna, segundo a esperança”. Isto é certissimamente verdade.

14

1.2 - Três Partes Do Batismo

Para Martinho Lutero “o Batismo dá Cristo uma vez por todas ao batizado e

o separa dos demais seres humanos” 15. E, no entanto, “a força, a obra, o proveito, o

fruto e o fim do Batismo é salvar” 16. Lutero considera três fatos que são

fundamentais no Sacramento do Batismo: o Sinal, o Significado e a Fé. 17

1.2.1- O Sinal

O Batismo é um sinal externo, como um sinal distintivo ou uma característica

particular do cristão, o qual diferencia as criaturas batizadas das pessoas que não

são batizadas, de forma que, por meio desse sinal, os cristãos sejam reconhecidos

12

Ibidem, p. 477. 13

CATECISMO MENOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 375. 14

Ibidem, p. 376. 15

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 413. 16

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 475. 17

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 413.

13

como um povo que contém Cristo como guia e continuamente luta contra o pecado.

18 Paul Althaus comenta que para Lutero:

[...] o caráter físico do sacramento significa especialmente o sinal ou penhor que o sacramento contém, como uma ajuda para a fé que está à disposição e pode ser apropriada pelos sentidos. Ele pode ser agarrado pelos sentidos e assim apropriado pelo coração.

19

Conforme Lutero, o sinal do Batismo consiste em mergulhar a pessoa na

água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; porém, a pessoa que está

sendo batizada não deve ser deixada na água, mas retirada em seguida. Por isso

emprega-se a expressão “auss der Tauff gehàben”, que quer dizer “tirada da água

do Batismo”. 20

1.2.2- O Significado

Na visão de Lutero, o significado do Batismo é inteiramente agradável e traz

consolo, pois é um morrer bem-aventurado para o pecado e uma ressurreição na

graça de Deus. Desse modo, o velho homem que está dentro do ser humano na

concepção é afogado e nasce um novo ser humano que é nascido na graça. 21

Lutero faz referência que Jesus diz em João 3.3-5; “Se vocês não nascerem

de novo, da água e do Espírito, não podem entrar no reino dos céus”. Dessa forma,

Lutero afirma que, assim como uma criança é tirada do ventre de sua mãe e nasce,

nascimento este que é carnal, de um ser humano pecador e filho da ira, igualmente

o ser humano que é tirado da água do Batismo nasce espiritualmente, tornando-se,

18

Ibidem, p. 415. 19

ALTHAUS. Paul., apud LUTERO, Martinho. A Teologia de Martinho Lutero. Canoas: ULBRA. 2008, p. 365. 20

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 415. (Conforme a explicação do Sacramento do Batismo, realizada pelo professor e Dr. Paulo Moisés Nerbas, na aula de Sistemática III: Teologia dos Sacramentos, na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), dia 26/03/2013. Ele falou até a época da Reforma, a fórmula do Batismo era a de mergulhar a criança nua na água, dentro da pia batismal, o sacerdote segurava a criança com uma mão e derramava copiosamente água sobre ela. Aparecem essas cenas em pinturas e afrescos da época. Com o passar do tempo às pias batismais foram substituídas por pratos ou tigelas de água, onde é derramada água sobre a cabeça da criança. Nesse caso tudo indica que o Batismo se dá por aspersão). 21

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 415.

14

através desse nascimento, um filho da graça, justificado. Dessa maneira, os

pecados se afogam no Batismo e surge a justiça em lugar do pecado. 22

Lutero escreve na Quarta Parte do Catecismo Menor que o Batismo com

água significa:

Que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente.

23

Para Lutero, ”o Batismo significa duas coisas: morte e ressurreição, isto é, a

justificação plena e consumada” 24. Ele também ressalta que o morrer ou afogar-se

do pecado não se completa inteiramente nesta vida, até que o ser humano morra

corporalmente e se torna completamente em pó 25. Pois, o Sacramento ou sinal do

Batismo se realiza rapidamente, de modo que é possível vê-lo com os nossos

próprios olhos. Contudo, o significado do Batismo espiritual, o afogamento do

pecado, este dura enquanto o cristão viver e só é consumado na hora da morte. 26

Lutero ressalta que isso leva o cristão a compreender que esta vida é um

constante batizar espiritual até o seu final, neste sentido fica determinado o que

Paulo disse conforme Rm 6.4: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo

batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,

assim também andemos nós em novidade de vida” 27. Quando Lutero explica o

significado do Batismo, ele também o faz em comparação com o dilúvio:

Antigamente, este batismo foi anunciado no dilúvio de Noé, quando todo o mundo foi afogado, com exceção de Noé, com três filhos e suas mulheres; ao todo, oito pessoas foram conservadas na arca. O fato de que as pessoas do mundo morreram afogadas significa que os pecados são afogados no Batismo. Porém o fato de que as oito foram preservadas na arca, juntamente com toda espécie de animais, significa que o ser humano é salvo através do Batismo.

28

22

Ibidem, p. 415. 23

CATECISMO MENOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 376. 23

Ibidem, p. 376. 24

LUTERO, Martinho. O Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1989, v.2, p. 383. 25

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 415. 26

Ibidem, p. 416. 27

Ibidem, p. 416. 28

Ibidem, p. 416.

15

Lutero faz essa comparação do Batismo com o diluvio baseando-se na

segunda carta de Pedro, dizendo que o Batismo é um dilúvio maior do que aquele

nos tempos de Noé. Ele fala que aquele dilúvio afogou apenas as pessoas que

viviam naquele ano, o Batismo ainda afoga toda sorte de pessoas pelo mundo todo,

desde o nascimento de Cristo até o último dia, e é um dilúvio da graça, ao passo que

aquele foi um dilúvio da ira. Para Lutero é isso que o salmista anuncia no Sl 29.10:

“O Senhor preside aos dilúvios; como rei, o Senhor presidirá para sempre”. Lutero

fala que sem duvida são batizadas muito mais pessoas do que morreram afogadas

no dilúvio. 29

Isso confirma que quando uma pessoa sai do Batismo, diante de Deus, ela

aparece sem pecado e justa. Embora, o pecado original vai continuar habitando nela

por causa da sua natureza pecaminosa, e pelo velho homem que habita em nós.

Enquanto o ser humano viver aqui na terra, ele permanece com esta natureza

pecaminosa.

Conforme Lutero, Deus concebeu um plano para fazer cumprir seu

propósito. Ele comenta que o profeta Jeremias faz o seguinte anúncio da mensagem

de Deus no seu livro, capítulo 18, versículo 4: “Quando o vaso não lhe saiu bem, o

oleiro jogou-o novamente ao monte de barro, amassa-o e faz então um outro vaso

de seu agrado. Assim (diz Deus) são vocês na minha mão”. Para Lutero, no primeiro

nascimento, a criatura humana não se sai bem. Por isso, Deus a joga de volta à

terra através da morte e a recria no último dia, para que então possa sair bem e

permanecer sem pecado 30. A partir do que o Batismo faz, o ser humano batizado

começa a viver uma nova vida, o cristão estará vivendo no proveito do Batismo.

Lutero fala que Deus começa este plano do Batismo da seguinte forma.

Ele dá inicio a esse plano no Batismo, que significa a morte e a ressurreição no último dia, como foi dito. E por isso, no que diz respeito ao significado ou sinal do sacramento, os pecados já estão mortos com o ser humano, e este já ressuscitou; o sacramento, portanto, já se realizou. Mas a obra do sacramento ainda não se realizou de todo, isto é, a morte e a ressurreição no último dia ainda estão a nossa frente.

31

Lutero ressalta que a pessoa está completamente pura e sem culpa de um

modo sacramental, ou seja, todos os pecados são perdoados e o batizado é perfeito

29

Ibidem, p. 416-417. 30

Ibidem, p. 417. 31

Ibidem, p. 417.

16

pela fé. Em outras palavras, isto que dizer que o batizado tem o sinal de Deus no

Batismo. E este é o ponto de partida para demonstrar a perfeição na vida ainda

imperfeita. O Batismo indica que todos os pecados hão de morrer no batizado, e que

também ele há de morrer na graça e ressuscitar no último dia, para viver

eternamente, sem mácula, sem pecado, sem culpa. Portanto, por causa do

sacramento é verdade que o batizado está sem pecado e sem culpa. 32

Para Lutero, é preciso que o cristão se comprometa a perseverar nisso,

enquanto viver, destruindo o seu pecado mais e mais, até a morte. Ele fala que isto

é aceito por Deus, e que exercita o batizado durante toda a sua vida com muitas

boas obras e uma variedade de sofrimentos. Lutero prossegue dizendo que com isto

realiza o que é desejado no Batismo: ser livrado do pecado, morrer e ressuscitar,

renovado, no ultimo dia, consumando, assim, o Batismo 33. Conforme Lutero,

“enquanto vivemos, fazemos continuamente aquilo que o Batismo significa, isto é,

morremos e ressuscitamos” 34. Ele segue afirmando que:

Enquanto subsiste este compromisso com Deus, este, por sua vez, age graciosamente contigo e se compromete contigo no sentido de não te imputar os pecados que estão em sua natureza após o Batismo. Ele não os considerará nem te condenará por causa deles. O que lhe baste e agrade é que estejas em contínuo exercício e alimentes o desejo de destruir esses pecados e de te livrar deles com teu morrer.

35

Segundo Lutero, mesmo que maus pensamentos ou desejos se manifestem,

ou por vezes, a pessoa peque e caia, pela aliança do Batismo os pecados são

perdoados. Ele cita Romanos 8.1: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os

que estão em Cristo Jesus”, A má e pecaminosa inclinação natural não condena

ninguém que crê em Cristo, desde que não siga essa inclinação nem se submeta a

ela. Ele também cita o evangelista João 2.1: “Filhinhos meus, estas coisas vos

escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao

Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Para Lutero, tudo o que acontece no Batismo, nos é

dado por Cristo. 36

Lutero fala que não há consolo maior sobre a terra do que o Batismo, pelo

qual entramos no juízo da graça e misericórdia, que não condena o pecado, mas o

32

Ibidem, p. 417. 33

Ibidem, p. 418. 34

LUTERO, Martinho. O Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1989, v.2, p. 383. 35

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 418. 36

Ibidem, p. 418.

17

expulsa com muitos exercícios 37. Ele cita Santo Agostinho dizendo “o pecado é

totalmente perdoado no Batismo; não no sentido de que deixasse de existir, mas de

que não é imputado”. 38 Lutero continua dizendo que:

O pecado certamente permanece em nossa carne até a morte, manifestando-se sem cessar; mas enquanto nele não consentimos nem permanecemos, ele está ordenado pelo Batismo de tal forma que não condena nem é prejudicial, sendo, pelo contrário, extirpado diariamente mais e mais, até a morte. Por isso, ninguém deve se assustar quando sentir maus desejos e paixões, nem desanimar mesmo que caia em pecado, mas lembrar-se de seu Batismo e consolar-se alegremente com ele, tendo em vista que, no Batismo, Deus se comprometeu a matar o pecado dele e a não imputá-lo para a condenação, desde que não consinta nem permaneça no pecado.

39

Paul Althaus também faz a seguinte descrição de perdão dos pecados por

meio do Batismo comentando Lutero:

No batismo, recebemos imediatamente completo perdão dos pecados e pureza, pelo julgamento de Deus. A pessoa, que é batizada, pode e deve em cada momento em sua vida agarrar-se a isso pela fé [...] Batismo é um sinal para nós; ele nos garante um concerto de Deus conosco, pelo qual ele purifica nossa natureza pelo perdão dos pecados.

40

Para Lutero, os pensamentos e desejos de ira não devem ser motivo para

desânimo. Precisam, pelo contrário, ser aceitos como uma exortação de Deus no

sentido de que a pessoa se lembre de seu Batismo, que invoque a graça de Deus e

se exercite na luta contra o pecado. 41

Nas águas do Batismo, Deus mais uma vez livra o homem do mundo

dominado pelo pecado, levando-o para dentro da nova criação que Cristo traz. O

Batismo é dado inteiramente somente por causa da misericórdia de Deus. Com essa

concepção de Batismo, fica entendido porque os cristãos são chamados filhos da

misericórdia, povo da graça e pessoas da boa vontade de Deus.

1.2.3 - A Fé

Os homens estão em contato com Cristo pela fé e pelos sacramentos. Inicia-

se o encontro com Cristo pelo evangelho e o sacramento, o Batismo. Jesus

37

Ibidem, p. 419. 38

Ibidem, p.419. 39

Ibidem, 419. 40

ALTHAUS, apud Lutero. op.cit., p. 374. 41

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 419.

18

estabeleceu batizar e ensinar (Mt 28.19). Oswald Bayer42 comenta que para Lutero,

a fé consiste em admitir o que é dado no sacramento do Batismo, isto é, o perdão

dos pecados. Não é a fé que faz o sacramento, no entanto, para receber os

benefícios do sacramento, a fé é indispensável.

Na afirmação "Quem crer e for Batizado será salvo" 43, para Lutero é o

primeiro princípio que deve ser observado no Batismo. Pelo fato de ser uma

promessa de Deus, deve ser escolhida, pois dela está sujeita toda a salvação. É

preciso analisar essa promessa como um exercício de fé, de tal modo que o cristão

nunca duvide que seja salvo depois de ter sido batizado. Porquanto, onde não se

alcança essa fé de nada convém o Batismo. 44

Em Lutero a fé é um aspecto fundamental no sacramento do Batismo. Isso

quer dizer que o cristão deve crer firmemente de que o sacramento dá tudo o que

promete desde que o cristão queira, até a morte, eliminar o pecado e lutar contra

ele. Com a fé também se crê que Deus quer levar o Batismo em conta e tratar o

cristão graciosamente, de modo a não julgá-lo de maneira tão rigorosa até que se

torne puro através da morte 45. Quando o evangelho é ouvido como evangelho,

então o Espírito também está presente e perdoa o pecado, então o sacramento

efetua a fé 46. Lutero afirma que:

O Batismo não justifica a ninguém, nem é útil a pessoa alguma, mas a fé na palavra da promessa, a qual se agrega o Batismo, essa, sim, justifica e cumpre o que o Batismo significa, pois a fé é a submersão do velho ser humano e a emersão do novo ser humano.

47

Quando Lutero analisa as palavras do profeta, no Salmo 32.1, “Bem-

aventuradas são as pessoas cujos pecados são perdoados. Bem-aventurada é a

pessoa a quem Deus não atribui seu pecado”, ele comenta que esta fé é a mais

necessária, pois é a razão de todo consolo. Quem não tem esta fé, há de

42

BAYER, Oswald., apud LUTERO, Martinho. A Teologia de Martinho Lutero. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2007, p. 192. 43

Marcos 16.16. 44

LUTERO, Martinho. O Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1989, v.2, p. 383. 45

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 419. 46

LUTERO, Martinho, apud BAYER,1519, A Teologia de Martinho Lutero: Sinodal, 2007, p.192. 47

LUTERO, Martinho. O Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1989, v.2, p. 383.

19

desesperar em pecados. Pois o pecado que fica após o Batismo faz com que todas

as boas obras não sejam puras diante de Deus. 48

Por isso, devemos apegar-nos resoluta e ousadamente ao Batismo e contrapô-lo a todo pecado e terror de consciência, dizendo humildemente: “Sei muito bem que não tenho nenhuma obra pura. Porém fui batizado, e através do Batismo Deus, que não pode mentir, fez uma aliança comigo, para não me imputar meu pecado, mas para matá-lo e eliminá-lo”.

49

Deste modo, a pessoa tendo caído no pecado, ela pode se lembrar de seu

Batismo com toda a eficácia, crendo em uma aliança que Deus fez com ela no

Batismo. Com essa verdade e aliança de Deus pode-se crer com toda alegria e

júbilo. Bayer citando Lutero comenta que “o Batismo é uma transferência de posse

de vida para Deus, seu Senhor; quem crer nessa palavra terá a vida eterna. Sem

Batismo não há fé; sem fé não há Batismo” 50. Lutero afirma que:

Assim vês quão rica é uma pessoa cristã ou batizada, a qual, mesmo querendo, não pode perder a sua salvação nem mesmo com os maiores pecados, a não ser que se negue a crer. Porque nenhum pecado pode condená-la, senão unicamente a incredulidade. Se retorna ou permanece firme sua fé na promessa divina que lhe foi feita quando foi batizada, todos os demais pecados são instantaneamente absolvidos pela mesma fé, ou melhor, pela verdade de Deus.

51

Em Lutero, o Batismo se torna benéfico e útil em todas as aflições,

especialmente na morte. Para cumprir o Batismo e livrar-se do pecado é necessário

morrer 52. Lutero estimula que o cristão caminhe no temor de Deus, de maneira pelo

qual ele possa manter as riquezas da graça de Deus com fé e ficar agradecido por

Sua misericórdia com contentamento por toda vida53. Lutero ainda fala: “Todavia

estou batizado; porém, se estou batizado, então tenho a promessa de que serei

salvo e terei a vida eterna de alma e corpo”. 54

48

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In. Obras Selecionadas. Editora Sinodal: São Leopoldo; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1987, v.1. p. 419. 49

Ibidem, p. 419-420. 50

BAYER, apud Lutero, 2007, p.192. 51

LUTERO, Martinho. O Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Editora Concórdia, 1989, v.2, p. 378. 52

Ibidem, p.421. 53

Ibidem, p. 424. 54

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 480.

20

2 - O BATISMO INFANTIL EM LUTERO

Em referencia ao Batismo de crianças, Lutero escreve para instruir os

membros da sua igreja, na língua de seu povo. Porém, além disso, mais ainda, ele

escreve contra aqueles que renunciam esta prática, principalmente os anabatistas,

que na Confissão de Augsburgo também foram desaprovados. Ele defende a

necessidade do Batismo em virtude da pecaminosidade humana.

Lutero, no período da Reforma, foi um dos grandes defensores do Batismo

como obra de Deus, e seus escritos são de fundamental importância para todos os

tempos devido a sua pureza de doutrina. Ao escrever a “Missa Alemã e Ordem do

Culto” de 1526, Lutero comenta que o cristão não precisa do Batismo, da Palavra e

do Sacramento na qualidade de cristão, uma vez que já possui tudo, e, sim, na

qualidade de pecador. 55

Lutero escreve que no Batismo o menos importante são os aspectos

exteriores introduzidos pela Igreja Católica Romana dá época, que são:

[...] soprar nos olhos, fazer o sinal da cruz, dar sal na boca, pôr saliva e terra nas orelhas e no nariz, ungir peito e ombros com óleo e passar crisma na testa, usar camisa batismal e dar velas acesas nas mãos e outras coisas mais acrescentarão ao Batismo para enfeitá-lo; pois o Batismo também pode ser feito sem tudo isso, e não são estes os gestos adequados que o diabo teme e foge [...].

56

Segundo Lutero, o mais importante durante a cerimônia do Batismo é que se

ouça a Palavra de Deus e se ore junto com seriedade, e que se esteja com

verdadeira fé. Também todos os padrinhos e as pessoas que participam da

cerimônia devem acompanhar no coração todas as palavras da oração do

sacerdote. Pois, é necessário apresentar com toda seriedade a causa da criança

diante de Deus, e colocar-se totalmente à disposição da criança para contrapor ao

diabo, e levar a sério a ato do Batismo, porque com o diabo não se brinca. 57

55

LUTERO. Martinho. Culto: Missa Alemã e Ordem do Culto. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 178.

56 LUTERO, Martinho. O Manual do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto

Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 216-217. 57

Ibidem, p. 217.

21

Lutero compara o Batismo com a circuncisão e fala que deve permanecer e

continuar com o Batismo infantil porque ele é valido e é ordem de Deus:

Visto que o Batismo significa a mesma coisa que a circuncisão, e como se circuncidavam as crianças, devem batizar-se as crianças. Deus diz que quer tornar sob sua proteção as crianças circuncidadas, em Gênesis 17 [.7s.]: “Para ser teu Deus, e o Deus de tua descendência.” Diz também: “E serei o seu Deus.” Assim também se encontram sob a proteção de Deus as crianças batizadas. Por isso se deve invocar a Deus sinceramente com base nessa sua promessa.

58

Assim como no AT a circuncisão era um meio da graça, ou seja, um sangue

derramado que aponta para Cristo e que era um meio que a criança entrava para o

Reino de Deus, assim também o Batismo é um meio da graça no qual a criança

recebe a fé e o perdão do pecado, e passa também a fazer parte do Reino Deus.

Lutero também fala que “se deve ensinar ao povo simples que o Batismo traz

grandes benefícios: Deus quer ser protetor e defensor da criança e adota-la como

filho”. 59

2.1 O Batismo Infantil Nos Artigos De Esmalcalde

Nos Artigos de Esmalcalde podem ser observados os pontos em que Lutero

discorda do Batismo do ponto de vista dos monges dominicanos e também como

dos monges franciscanos.

O primeiro ponto de desacordo é que para com os monges dominicanos,

porque diziam que Deus pôs na água uma força espiritual que lava o pecado. Com

isso, esquecem-se do poder da Palavra, que deve estar unida à água. 60

Já os monges franciscanos, ensinavam que o batismo lava o pecado graças

à assistência da vontade divina, de forma que este lavar sucede apenas pela

vontade de Deus e de maneira nenhuma pela Palavra ou a água. 61

58

Ibidem, p. 282. 59

Ibidem, p. 282. 60

Os Artigos de Esmalcalde, Artigo V: Do Batismo. In: LIVRO DE CONCÓRDIA: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. . 6. ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006. p. 333.

61 Ibidem, p. 333.

22

Os Artigos de Esmalcalde também apresentam uma ideia muito clara quanto

à validade do Batismo infantil: “Cremos que as crianças devem ser batizadas. Pois

elas também pertencem à redenção prometida, que se realizou através de Cristo, e

a igreja a elas deve administrá-lo”. 62

2.2 – O Proveito E Uso Do Batismo

Para Lutero, o proveito do Batismo é dado da seguinte forma, segundo o

Catecismo Menor, Segunda Parte do Batismo:

Opera a remissão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá à salvação eterna os quantos creem, conforme rezam as palavras e promessas e Deus. [...] Conforme Cristo Senhor nosso diz no ultimo capitulo de Marcos: "Quem crer e for batizado será salvo: quem, porém, não crer será condenado" (Mc 16.16).

63

Lutero também faz a seguinte afirmação no Catecismo Maior sobre o

proveito do Batismo.

[...] conhecidas a grande utilidade e força do batismo, vejamos, agora, quem é a pessoa que recebe o que o batismo dá e qual o seu proveito. Isso, urna vez mais, está expresso da maneira mais bela e clara nestas exatas palavras: “Quem crer e for batizado será salvo”. Isto é, somente a fé torna a pessoa digna de receber com proveito a salutar e divina água. Pois, já que isso é oferecido e prometido aqui, nas palavras, na água e com a água, não pode ser preenchido de outro modo senão o de crê-lo de coração. De nada aproveita sem a fé, ainda que, em si mesmo, seja tesouro divino inestimável. Razão por que a só palavra “quem crê” tanto pode que exclui e rejeita todas as obras que possamos fazer com a intenção de, mediante elas, alcançar e merecer a salvação. Porque isso é coisa certa: o que não é fé nada contribui e nada recebe.

64

Lutero escreve no Catecismo Maior que no Batismo infantil “ocorre uma

questão com o que o diabo, através de suas seitas, confunde o mundo, a saber, a

questão do Batismo infantil: se os infantes também creem, ou se é acertado batizá-

62

Ibidem, p. 333. 63

CATECISMO MENOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 376-377. 64

Ibidem, p. 478.

23

los” 65, ele aconselha que “quanto a isso dizemos, brevemente: quem é simples e

desista da questão e a remeta aos doutos”. 66

Lutero ainda escreve uma resposta contra os anabatistas: “que o batismo

infantil agrada a Cristo, prova-o suficientemente sua própria obra. A muitos dentre os

que assim foram batizados, Deus os santificou e lhes deu o Espírito Santo”. 67 Lutero

fala que “as pessoas também devem ser admoestadas em pregações sobre os

sacramentos de que o Batismo não significa que Deus queira adotar apenas na

infância, mas durante toda a vida”. 68

Para Lutero, no Batismo, Deus derrama sobre o batizado e a batizada a

“abundante e profunda riqueza de sua graça”. E que o Batismo é uma arma

poderosa na luta contra o poder do mal, personificado no diabo69. Pois, a

necessidade do Batismo de crianças consiste na aplicação da promessa da

salvação em Cristo, através de sua ordem de “batizar todas as nações” (Mt 28.19). 70

Lutero ainda diz que “o Batismo não é apenas um sinal para as crianças,

mas também deve incentivar e admoestar os adultos á penitência, pois o Batismo

com água representa penitência, arrependimento e pesar”. 71

Deste modo, para Lutero, como a todos é oferecida a salvação, a todos

também é oferecido o Batismo, tanto quanto a homens, mulheres e crianças. Deus

aprova o Batismo infantil pelo fato de ser uma ordem Dele e por isso Ele dá o

Espírito Santo a todos os batizados. Lutero completa falando que “se Deus não

aceitasse o Batismo infantil, a nenhum deles daria o Espírito Santo, nem qual quer

parte dele”. 72

65

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 480. 66

Ibidem, p. 480. 67

Ibidem, p. 480. 68

LUTERO, Martinho. O Manual do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 283. 69

LUTERO, Martinho. Sacramentos. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 210. 70

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481. 71

LUTERO, Martinho. O Manual do Batismo. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 283. 72

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481.

24

No Catecismo Maior, Lutero faz a seguinte afirmação:

Que o batismo infantil agrada a Cristo, prova-o suficientemente sua própria obra. A muitos dentre os que assim foram batizados, Deus os santificou e lhes deu o Espírito Santo. E, ainda, no dia de hoje muitos há nos quais se percebe que têm o Espírito Santo, tanto à vista de sua doutrina, como por causa de sua vida. Assim também nós outros foi dada pela graça de Deus a capacidade de podermos, deveras, interpretar a Escritura e conhecer a Cristo, o que não pode suceder sem o Espírito Santo. Agora, se Deus não aceitasse o batismo infantil, a nenhum deles daria o Espírito Santo, nem qualquer parte dele.

73

Para Lutero, Deus confirma o Batismo pela infusão de seu Espírito Santo,

como pode ser percebido em alguns pais da igreja. Ele cita como exemplo São

Bernardo, Gérson, João Hus, entre outros 74. Ele fala que “o Batismo deve suscitar a

fé de que os pecados são lavados e perdoados quando alguém se arrepende de seu

pecado. Essa fé é o Batismo perfeito” 75, e que a santa igreja cristã não perece até o

fim do mundo, há que se reconhecer que o Batismo infantil agrada a Deus 76.

“A prática de toda a cristandade no mundo inteiro de batizar as crianças

antes que cresçam ou alcancem o uso da razão, parece ter surgido por especial

desígnio e providência de Deus” 77. Paul Althaus comentando a teologia de Lutero,

cita alguns exemplos de famílias que foram batizadas no Novo Testamento. Ele faz

a seguinte afirmação citando Lutero dizendo:

A ordem para batizar simplesmente se refere a "todas as nações" (Mt 28.19) em geral e não exclui ninguém. As crianças, portanto, estão incluídas. Por isso, o livro dos Atos dos Apóstolos e as cartas do apóstolo Paulo frequentemente relatam o batismo em toda "casa". Obviamente "eles batizavam todos os que estavam em casa". As crianças eram parte substancial nessas casas. Visto que os apóstolos, ao falarem de outros assuntos em suas cartas, enfatizavam muitas vezes que entre os cristãos não se faz acepção de pessoas ou diferenças entre elas; se, portanto, na questão relacionada ao batismo tivessem recebido uma ordem para tal distinção, teriam mencionados.

78

Na explicação acima, Althaus comentando Lutero tem como base bíblica,

por exemplo, o texto de Atos 16.14-15 quando Lídia e toda sua família foram

73

Ibidem, p. 480-481. 74

Ibidem, p. 481. 75

LUTERO, Martinho. Instrução dos Visitadores. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 283. 76

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481. 77

LUTERO, Martinho. Exortação ao Sacramento. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 223. 78

ALTHAUS. Paul, apud LUTERO, Martinho. A Teologia de Martinho Lutero. Canoas: ULBRA. 2008, p. 480.

25

batizadas: “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de

púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender

às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa” [...]. 79

Também outro exemplo bíblico usado por Althaus, foi quando toda família do

carcereiro da cidade de Filipos é batizada, conforme Atos 16.33 quando Paulo e

Silas estavam na prisão de Filipos: “Naquela mesma hora da noite, cuidando deles,

lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir, foi ele batizado, e todos os seus”. 80

2.3 – Lutero Expõe O Batismo Como Ação De Deus

O que pode se observar em Lutero e ponto decisivo para ele é a indistinta

ordem de batizar. E mesmo que os homens tornem visível este acontecimento,

assim sendo, quem está atuando é o próprio Deus. Continuamente é Deus que vem

em direção ao homem e não o oposto. Ele fala deste Sacramento com muito

cuidado e também com muito respeito.

Na “Exortação ao Sacramento” de 1530, Lutero fala que o diabo percebe

muito bem que as pessoas, além de serem tão primitivas e ímpias, nem se

preocupam com o que é o Batismo e quase nunca se lembram de agradecer a Deus

por terem sido batizadas, e ainda muito menos aceitam o Batismo e vivem uma vida

digna do mesmo. 81

Lutero ressalta que por causa do pecado original que há na criança, ela

possui a necessidade do Batismo, pois este é eficaz para a salvação, como se pode

ver em Tt 3. 4-7 82: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso

Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós,

mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e

renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de

79

Ibidem, p. 480. 80

Ibidem, p. 480. 81

LUTERO, Martinho. Exortação ao Sacramento. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 224. 82

Ibidem, p, 224.

26

Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos

seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna”.

Na concepção de Batismo, para Lutero a coisa mais importante não é se

aquele que é batizado crê ou não, visto que esse fato não pode invalidar o Batismo.

Tudo depende da palavra e do mandamento de Deus 83. O Batismo está

centralizado em Deus e não naquele que está sendo batizado, isto é, o próprio Deus

é que batiza e a fé apenas recebe o Batismo.

Para Lutero não há participação do batizado no sacramento batismal, mas

há unicamente a ação de Deus, que atua no ser humano batizado. Porquanto fica

bem claro porque se pode concordar com o Batismo infantil, e que também não há

necessidade de um segundo Batismo, porque, isso seria violar o sacramento. Nessa

direção de pensamento, Lutero faz o seguinte argumento:

[...] não ser o batismo outra coisa senão água e palavra de Deus, uma junto à outra e com a outra, isto é, quando a palavra acompanha a água, o batismo é válido, ainda que não haja fé. Pois minha fé não faz o batismo, porém recebe o batismo. Ora, ainda que recebido ou usado indevidamente, nem por isso o batismo se torna inválido, já que, conforme dito, está ligado não à nossa fé, mas à palavra. Porquanto, ainda que no dia de hoje um judeu viesse aí com astúcia e má intenção e nós batizássemos com absoluta seriedade, deveríamos não obstante dizer que o batismo é válido. Pois que aí está a água e com ela a palavra de Deus, posto não o receba do modo como devera [...] embora não cressem os infantes - o que, todavia, não é o caso, como demostramos -, não obstante seria válido o batismo, não devendo ninguém batizá-la novamente [...] Pois que isto seria blasfemar e profanar o sacramento no mais alto grau.

84

Como foi citado, no entendimento de Lutero, não há duvida de que o

Batismo infantil seja válido, e que não é preciso rebatizar novamente. No Batismo,

Deus novamente livra o homem do mundo dominado pelo pecado, levando-o para

dentro da nova criação que Cristo traz e as crianças certamente fazem parte desse

mundo.

Para Lutero o Batismo não é um tema de racionalização, de se ponderar,

estar consciente, entretanto é obra de Deus. O que faz o Batismo ser Batismo é a

própria obra de Cristo, não o ser humano coberto de pecado. Lutero fala que a fé é

um dom de Deus e meio receptor que alcança as obras de Deus.

83

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481.. 84

Ibidem, p. 481-482.

27

Lutero deixa explicado de forma clara que o Batismo é definitivamente

estabelecido por Deus e sempre permanece válido na plenitude de sua substância, e

que mesmo se fosse batizado um só homem e esse não cresse verdadeiramente,

por ser ordenação da Palavra de Deus os homens não podem modificar e nem

alterar85. Lutero ainda afirma que:

Uma criancinha não tem vício especial, mas, quando cresce, torna-se impudica e incasta; quando alcança a idade adulta, surgem os verdadeiros vícios, desenvolvendo-se com o correr do tempo. Por isso, o velho homem segue desenfreado de acordo com a sua natureza, quando não é contido e reprimido pelo poder do batismo.

86

A criança quando pequena não tem noção do que faz, mas já nasce com a

herança do pecado original. Por isso, o Sacramento do Batismo é o meio pelo qual

Deus opera a fé salvadora nas crianças e por isso elas devem ser batizadas, é carne

nascida da carne e precisam de regeneração, conforme o Evangelho de João 3.5-6:

“[...] quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O

que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”.

Para Lutero, o Batismo opera, inicia e promove uma nova vida. Ele sempre

permanece e sempre temos acesso a ele. Por isso, se alguém cair o se desviar dele,

mesmo assim ele continua permanecendo conosco. E mesmo que nós fôssemos

imersos cem vezes em água, não seria mais que um só Batismo, a finalidade e o

significado permanecem, contudo, o arrependimento diário é um retorno ao Batismo

e aproximação dele, repetindo e praticando-se o que anteriormente se começo. 87

Bayer comentando Lutero fala que um segundo Batismo não faz nenhum

sentido, pois o Batismo é promessa de Deus e é dado para sempre, não importa

com que idade seja realizado, porquanto Deus não mente, por isso não é necessário

um outro Batismo. 88

Lutero fala que grande e excelente coisa é o Batismo, que cada um

considere o Batismo como sua vestimenta cotidiana, ele nos torna propriedade de

Deus, nos arranca das fauces do diabo, e ainda subjuga e tira o pecado. O Batismo

85

Ibidem, p.482-483. 86

Ibidem, p.484. 87

Ibidem, p.485. 88

BAYER, apud Lutero, op.cit., p. 194.

28

também fortalece diariamente o novo homem e sempre age e permanece no ser

humano até que ele passe para a glória eterna. 89

Bayer comenta que é próprio do Batismo um caráter indestrutível,

independente daquilo que vai ocorrer após a vida do Batizado. Mesmo que o

Batismo não seja garantia de salvação para uma pessoa, mas ele é o feito de Deus

na vida dessa pessoa, que continua fazendo efeito. 90

Lutero conclui no Catecismo Maior dizendo que: “assim como uma vez

recebemos perdão dos pecados no batismo, assim continua todos os dias, enquanto

vivemos, isto é, enquanto arrastamos conosco o velho homem”. 91

89

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 485. 90

BAYER, Oswald, op.cit., p. 194. 91

Ibidem, p. 485-486.

29

3 – O RECEBIMENTO DOS BENEFÍCIOS DO BATISMO

Para Lutero, a força, a obra, o proveito, o fruto e o fim do Batismo é salvar.

Ele fala que ninguém se batiza para que se torne príncipe, entretanto, conforme

rezam as palavras, para que "seja salvo". Ele ressalta que ser salvo não significa

outra coisa a não ser, liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de

Cristo e com ele viver eternamente 92. Martin Carlos Warth comentando Lutero

ressalta que por meio do Batismo, o Espírito Santo nos regenera para o reino de

Deus, ele nos concede perdão dos pecados e nos salva. 93

Para Lutero, a lei não produz os filhos de Deus, ela não pode produzir uma

nova natureza ou um novo nascimento, ela nos prepara para o novo nascimento que

acontece pela fé em Cristo Jesus. Ele, baseando-se na carta de Paulo aos Gálatas

(3.27), explica que todos quantos foram batizados em Cristo de Cristo foram

revestidos. Lutero deixa claro que revestir-se de Cristo pode ser entendido de

acordo com o Evangelho. 94

3.1 – O Revestir-se De Cristo

Conforme Lutero, o Batismo opera, inicia e promove uma vida nova 95. Ele

fala que o revestir-se de Cristo pelo Batismo, se dá de acordo com o Evangelho, ele

explica esse revestir-se do Batismo por meio do Evangelho da seguinte forma:

Revestir-se de Cristo, porém, de acordo com o Evangelho, não é uma questão de imitação, mas de um novo nascimento, de uma nova criação. Isso quer dizer que eu seja revestido do próprio Cristo, isto é, de sua

92

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 477. 93

WARTH, Martim Carlos, apud LUTERO, Martinho. Fé e Batismo em Lutero: a Base Exegética para a Doutrina Luterana da Regeneração Batismal – Canoas: Ed. ULBRA, 2004, p.31. 94

LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008, v.10. Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 333. 95

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 484.

30

inocência, justiça, sabedoria, poder, salvação, vida, de seu Espirito, etc. Estamos vestidos com a vestimenta de peles de Adão, que é uma vestimenta mortal e do pecado, isto é, todos nós estamos sujeitos e vendidos à escravidão do pecado.

96

Lutero fala que essa vestimenta, ou seja, essa natureza corrupta e

pecaminosa, que Paulo chama de velho homem, nos sobreveio de Adão, por

propagação. Ele observa que dessa vestimenta, como também de suas obras, é

necessário uma exclusão conforme Paulo escreve em Ef 4.22: “no sentido de que,

quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo

as concupiscências do engano.”, e Cl 3.9: “Não mintais uns aos outros, uma vez que

vos despistes do velho homem com os seus feitos”. 97

Conforme Lutero, essa exclusão é necessária para que, de filhos de Adão,

sejamos feitos filhos de Deus. Isso não acontece com a troca de vestes, não, por

nenhuma espécie de leis e obras, mas pelo renascimento e pela renovação, que

ocorre no Batismo 98. Lutero segue explicando que:

Essa vestimenta, isto é, essa natureza corrupta e pecaminosa, que Paulo costuma chamar de velho homem, nos sobreveio de Adão, por propagação. Dela, como de suas obras, é necessário despojar-se, Ef 4[.22], C1 3[.9], para que, de filhos de Adão, sejamos feitos filhos de Deus. Isso não acontece com a troca de vestes, não, por nenhuma espécie de leis e obras, mas pelo renascimento e pela renovação, que ocorre no Batismo.

99

Para Lutero, no Batismo nasce nos batizados uma nova luz e uma chama,

que brotam novas e piedosas emoções, e também germina o temor a Deus, a

confiança e a esperança nele. Isso, então, é revestir-se apropriada e

verdadeiramente de Cristo de acordo com o Evangelho. 100

Lutero segue sua explicação da seguinte forma:

No Batismo, portanto, não nos é dado o traje da justiça da lei ou de nossas obras, mas Cristo toma-se a nossa vestimenta. Mas ele não é a lei, não é um legislador, não é uma obra, mas um dom divino e inenarrável, que o Pai nos deu, para ser o nosso Justificador, Vivificador e Redentor. Revestir-se de Cristo, de acordo com o Evangelho, é, por conseguinte, revestir-se não da lei e das obras, mas de um inestimável dom, a saber, da remissão dos

96

Ibidem, p.334. 97

Ibidem, p.334. 98

Ibidem, p.334. 99

Ibidem, p.334. 100

Ibidem, p.334.

31

pecados, da justiça, da paz, da consolação, da alegria no Espírito Santo, da salvação, da vida e do próprio Cristo.

101

Lutero ressalta que Paulo orna o Batismo com títulos magníficos em Tt 3.5,

Paulo chama o Batismo de “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”. Lutero

explica que Paulo propõe neste texto de Tito, que todos quantos foram batizados se

revestiram de Cristo. 102

Lutero comentado o que Paulo disse em Gl 3.27 (Todos quantos fostes

batizados de Cristo vos revestistes), ele explica que quando nós somos batizados,

nós somos arrancados da lei para dentro de um novo nascimento que se realiza no

Batismo. Por esse motivo, nós não estamos mais sob a lei, mas nós estamos agora

revestidos de uma nova vestimenta, que é a justiça de Cristo. Pois, o próprio Cristo,

na verdade, é a nossa vestimenta. Por isso, o Batismo é uma coisa muito poderosa

e eficaz. Lutero segue explicado que essa vestimenta que Cristo nos dá por meio do

Batismo, é a vestimenta de nossa justiça e salvação. 103

3.2 – O Lavar Regenerador

Lutero destaca que não somos salvos pela dádiva divina, mas somos salvos

pela misericórdia de Deus que vem até nós pelo banho regenerador e não a partir de

nossas obras104. Ele ressalta que a afirmação de que o Batismo é o lavar da

regeneração significa que ele é o sinal daqueles que são regenerados. Ele observa

que se atribui o banho dos regenerados àqueles que já são regenerados por meio

do Espírito Santo. 105

Lutero explica que ao batizarmos, proferimos a vivificante palavra de Deus,

que regenera as almas e redime da morte e dos pecados106. E que o Batismo é um

101

Ibidem, p.334. 102

Ibidem, p.334-335. 103

Ibidem, p. 335. 104

LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008. v. 10. Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 635. 105

Ibidem, p. 636. 106

LUTERO, Martinho. Ministério: Como instituir ministros na igreja. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 96.

32

santo banho do novo nascimento pelo Espírito Santo, no qual nos banhamos e

somos lavados de pecados e morte pelo Espírito Santo, como no inocente e santo

sangue do Cordeiro de Deus 107. Ricardo Rieth comentando Lutero, fala que o

Batismo obtém para o crente, a morte da morte, isto é, um processo que recém inicia

quando este é batizado. 108

Lutero afirma que surge por meio da palavra, quando ocorre o Batismo, a

presença da vontade e da misericórdia de Deus, que não é apenas água pura, pois

nela está presente o nome ou todo o poder divino, o qual foi ajuntado ao Batismo,

sendo o próprio Deus aquele que batiza, regenerando o batizando. 109

Lutero segue dizendo que:

Nós, porém, não chegamos a Deus a não ser por meio de Cristo. Deus o enviou ao mundo para que fosse Salvador, Is [62.11]. Se pudéssemos chegar ao céu sem uma coisa exterior, Deus não teria tido a necessidade de enviá-lo. Mas Deus colocou-o na carne, na manjedoura. Depois, quando tirou o pecado e a morte, ele também o ofereceu através da sua Palavra no Batismo e no Sacramento, de modo que, por esses atos, tivéssemos certeza de que seu próprio Espírito chega até nós por esta Palavra.

110

Conforme Lutero, para não tolerarmos a ideia de que um episódio externo de

não vale de nada, o fato de que fomos salvos pela misericórdia está encoberto, mas

é revelado a nós pelo lavar do Batismo, que é um banho que regenera e renova 111.

Lutero apud Rieth fala que o caráter único do Batismo aponta para a eternidade da

graça 112. Lutero ainda afirma que o lavar da regeneração é bom, pois produz um

novo nascimento, que reveste o novo ser com um novo modo de pensar113. Ele

segue com a seguinte explicação.

107

LUTERO, Martinho. Dos Concílios e da Igreja. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1992, v.3, p. 411. 108

RIETH, Ricardo W., apud LUTERO, Martinho. “Paulo e a Carta aos Romanos antes da Reforma”. In: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 2003, v.8, p. 249. 109

LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008, v.10. Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 636. 110

Ibidem. p. 637. 111

Ibidem. p. 637. 112

RIETH, Ricardo W., apud LUTERO, Martinho. “Paulo e a Carta aos Romanos antes da Reforma”. In: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 2203, v.8, p. 250. 113

LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008, v.10. Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 637.

33

Embora eu, antes, odiasse a lei, Deus e Cristo, agora, já começo a amá-los. Antes, eu costumava repetir que era iníquo amar um único Deus. Agora, considero os preceitos de Deus excelentes, justíssimos e santíssimos; detesto a torpeza, a concupiscência, os furtos e os adultérios. Com efeito, ali onde existe esse novo modo de pensar e sentir, que considera boas essas coisas e deseja buscar uma consciência perfeita, ele acaba resistindo à carne, Rm 7 [23].

114

Segundo Lutero, o Batismo inclui uma coisa na outra e é criado um novo

homem, que começa a ser renovado, isto é, um regenerar-se, ou seja, uma

transformação da natureza humana, de modo que ela passa a ser uma nova criação

115. Lutero explica que:

No Batismo, portanto, não nos é dado o traje da justiça da lei ou de nossas obras, mas Cristo toma-se a nossa vestimenta. Mas ele não é a lei, não é um legislador, não é uma obra, mas um dom divino e inenarrável, que o Pai nos deu, para ser o nosso Justificador, Vivificador e Redentor. Revestir-se de Cristo, de acordo com o Evangelho, é, por conseguinte, revestir-se não da lei e das obras, mas de um inestimável dom, a saber, da remissão dos pecados, da justiça, da paz, da consolação, da alegria no Espírito Santo, da salvação, da vida e do próprio Cristo.

116

Lutero deixa claro que o centro da ação está em Deus e não naquele que

está sendo batizado. Ou seja, o próprio Deus é que batiza e a fé é apenas um meio

receptor do Batismo 117. Lutero ressalta que “as obras de Deus, entretanto, são

salvadoras e necessárias para a salvação, e não excluem a fé, senão que a exigem,

pois que sem a fé não poderiam ser apreendidas” 118. Ele descreve que pelo

Batismo, em conformidade com o mandamento de Deus, somos acolhidos na

comunidade do Deus Triúno. 119

3.3 – A Maneira Que Se Recebe Os Benefícios Do Batismo

Para Lutero, o Batismo é um sinal público e um precioso meio de salvação

por meio do qual o povo de Deus é santificado 120. Ele explica que as nossas obras,

nada fazem para a nossa salvação. Porém acontece que o Batismo é uma obra,

mas não nossa, e sim de Deus. Ele adverte que as obras de Deus, no entanto, são

114

Ibidem, p. 637-638. 115

Ibidem, p. 638. 116

Ibidem, p. 638. 117

Ibidem, p. 481. 118

Ibidem, p. 479. 119

LUTERO, Martinho. In. Catecismo Menor, 33ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2001, p. 139. 120

LUTERO, Martinho. Dos Concílios e da Igreja. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1992, v.3, p. 424.

34

salvadoras e necessárias para a salvação, e não excluem a fé, senão que a exigem,

pois que sem a fé não poderiam ser apreendidas121. No entender, Lutero expõe que

o que faz o Batismo ser Batismo é a própria obra de Cristo, não o ser humano

coberto de pecado, e por meio da fé, recebemos os benefícios desse sacramento.

Quando Lutero escreve “UM SERMÃO SOBRE O SANTO,

VENERABILÍSSIMO SACRAMENTO DO BATISMO” no final de 1519, ele diz que o

proveito do venerabilíssimo Sacramento do Batismo consiste em que, nele, Deus se

alia e se une com o batizado num pacto gracioso e consolador 122. Lutero também

escreve no Catecismo Maior que a fé não faz o Batismo, porém ela recebe o

Batismo. 123

Com uma explicação sobre a fé, Lutero diz que a esperança do cristão é que

no momento em que a criança é batizada ela creia. Ele ressalta que levamos a

criança ao Batismo com o ânimo e na esperança de que ela creia, rogamos que

Deus lhe dê a fé. Mas não são à vista disso que a batizamos as crianças, mas

unicamente porque Deus o ordenou 124. Ou seja, quando Deus batiza a criança, ele

dá à criança a fé que se apega na obra de Cristo que é seu novo Senhor.

Lutero explica que ao batizarmos, proferimos a vivificante palavra de Deus,

que regenera as almas e redime da morte e dos pecados 125. Ele adverte que deve

continuar batizando as crianças, visto que o Batismo significa a mesma coisa que a

circuncisão, e como se circuncidavam as crianças no AT, devem batizar-se as

também crianças no NT. 126

Deus diz que quer tomar sob sua proteção as crianças circuncidadas, em Gênesis 17[.7s.]: “Para ser teu Deus, e o Deus de tua descendência.” Diz também: “E serei o seu Deus.” Assim também se encontram sob a proteção de Deus as crianças batizadas. Por isso se deve invocar a Deus sinceramente com base nessa sua promessa. Deve-se ensinar ao povo

121

LUTERO. Martinho. Catecismos: Catecismo Maior: 4a parte: Do Batismo. In: Obras Selecionadas.

São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 479. 122

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. Os Primórdios Escritos de 1517 a 1519. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2004, v.1. p. 418.

123 LUTERO. Martinho. In: Catecismo Maior. Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora

Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481. 124

Ibidem, p. 481. 125

LUTERO, Martinho. Ministério: Como instituir ministros na igreja. In: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 96.

126 LUTERO, Martinho. Visitação: Instrução dos Visitadores aos Párocos. In: Obras selecionadas.

São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000, v.7, p. 282.

35

simples que o Batismo traz grandes benefícios: Deus quer ser protetor e defensor da criança e adota-la como filha.

127

Conforme o Catecismo Menor de Lutero, “apenas a incredulidade condena e

a fé salvadora não pode existir onde o Batismo é desprezado; todavia pode haver

esta fé nos casos em que não foi possível batizar”. Ele baseia esta explicação

conforme Lc 7.30: “mas os fariseus e os intérpretes da Lei rejeitaram, quanto a si

mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele” 128. Para Lutero, o

Batismo somente é aniquilado quando não se crê em sua obra. É a fé que derruba

os obstáculos para a obra do Batismo. Portanto, tudo depende da fé. 129

Warth comenta que Lutero explica a passagem bíblica de Mateus 19.13-15

(vs.14: “Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o

reino dos céus”) para dizer que Cristo aprova o batismo de crianças 130. Warth segue

comentado Lutero com a seguinte explicação sobre o assunto.

[...] os infantes podem crer mesmo com sua razão não desenvolvida. Não podemos ver sua fé; Cristo, porém, a vê. A razão não é pré-requisito para a fé. É até mais fácil crer sem a razão do que com ela, diz Lutero, porque a razão é, por natureza, contrária à fé. A razão não pode iluminar a fé. É a fé que tem de iluminar a razão. Por isso, temos de ser como criancinhas e matar nossa razão de modo que possamos crer.

131

Segundo Warth, Lutero expõe que “podemos estar mais seguros da fé dos

infantes que da fé dos adultos porquanto os infantes não têm a razão para opor-se à

fé” 132. Warth ressalta o que fica claro em Lutero sobre a fé da criança, é que esta é

puramente dádiva de Deus através da sua palavra, e que Espírito Santo aplica no

ser humano todos os benefícios oferecidos na palavra através de Jesus Cristo. 133

Para Lutero na aliança do Batismo, Deus aceita a nós, pecadores, nos

poupa e dia após dia nos purifica, e se cremos nisso firmemente, então o coração só

pode ficar alegre, amar e louvar a Deus 134. Ele afirma que “a prática de toda a

127

Ibidem, p. 282. 128

LUTERO, Martinho. In. Catecismo Menor. 33ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2001, p. 143. 129

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. Os Primórdios Escritos de 1517 a 1519. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2004, v.1, p. 421. 130

WARTH, apud Lutero, op. cit., p.38. 131

Ibidem, p. 38. 132

Ibidem, p. 39. 133

WARTH, apud Lutero ,op. cit., p.41-42. 134

LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In: Obras Selecionadas. Os Primórdios Escritos de 1517 a 1519. 2. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1987, p. 424.

36

cristandade no mundo inteiro de batizar as crianças antes que cresçam ou alcancem

o uso da razão, parece ter surgido a ele por especial desígnio e providência de

Deus”. 135

Lutero lembra que o satã infernal e príncipe deste mundo não descansa, ele

nos detém e nos impede a tornar-nos preguiçosos e negligentes para todo culto a

Deus. Este satã procura enfraquecer ao máximo o Evangelho, os Sacramentos e

toda ordem de Deus. Lutero pede que todos os pastores e pregadores zelem com

dedicação a esse respeito pelo povo, que Deus adquiriu com propriedade sua,

através do sangue de seu Filho, tendo-o chamado e trazido para o Batismo e o seu

Reino. 136

135

LUTERO. Martinho. Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor. In: Obras Selecionadas. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 2000, v.7. p. 223. 136

Ibidem, p. 225.

37

CONCLUSÃO

O enfoque fundamental deste trabalho consistiu em fornecer uma visão geral

da argumentação do Sacramento do Batismo na visão geral de Martinho Lutero. É

admirável observar a insistência que Lutero tinha no pressuposto deste Sacramento,

isto é, a graça de Deus para com o ser humano em pecado. Conforme o

Reformador, o ato do Batismo, mesmo acontecendo somente uma vez na vida de

cada cristão, é renovado e vivido diariamente. Em Lutero, pode ser observado que

Deus todos os dias renova a aliança que Ele fez com os batizados no dia do seu

Batismo, onde Deus oferece consolo, esperança e perdão do pecado.

A pessoa humana é corrompida pelo pecado e é impossível ela se salvar por

sua própria obra ou méritos, e que, apenas pela justificação pela fé ela ganha a

salvação. No entanto, não há dúvidas de que é necessário o Batismo Infantil e que

esta prática deve permanecer. Os infantes também trazem o pecado original e por

isso carecem de um meio de regeneração para que possa receber de Cristo a

salvação.

Lutero, quando escreve os Artigos de Esmalcalde, expõe uma ideia muito

clara quanto à validade do Batismo infantil: “Cremos que as crianças devem ser

batizadas. Pois elas também pertencem à redenção prometida, que se realizou

através de Cristo, e a igreja a elas deve administrá-lo” 137. Na opinião de Lutero,

como a todos é oferecida a salvação, a todos também é oferecido o Batismo, tanto

quanto a homens, mulheres e crianças. Deus confirma o Batismo para as crianças

pelo fato de ser uma ordem Dele e por isso Ele dá o Espírito Santo a todos os

batizados. 138

No pensar de Lutero, a força, a obra, o proveito, o fruto e o fim do Batismo é

salvar, e que ele inicia e promove uma vida nova. O Batismo é a vestimenta de

nossa justiça e salvação. Quando levamos a criança ao Batismo, torcemos com o

ânimo e esperança que ela creia, oramos que Deus dê fé aos infantes. Mas também

137

Os Artigos de Esmalcalde, Artigo V: Do Batismo. In: LIVRO DE CONCÓRDIA: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. . 6. ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006. p. 334. 138

CATECISMO MAIOR. Do Batismo. In: Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481.

38

não é apenas por esta causa que a batizamos os infantes, mas somente porque

Deus o ordenou. 139

Portanto, o Sacramento do Batismo dá, pela fé em Cristo Jesus, o

fortalecimento e a renovação interior no ser humano. Essa fé auxilia a partilhar a

vida cristã e torna as pessoas filhos e filhas de Deus. O Sacramento do Batismo vem

até o ser humano por meio de um sinal visível: a água mais palavra, que, unidas

pelo poder de Deus se torna um ato gracioso de Deus. Por meio deste ato, o

batizado torna-se uma nova criatura perante o Criador.

139

LUTERO. Martinho. In: Catecismo Maior. Livro de Concórdia. 6ª- ed. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal; Canoas: Editora da ULBRA, 2006. p. 481.

39

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