129
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO LAUDICÉRIO AGUIAR MACHADO O PAPEL DO ADMINISTRADOR HOSPITALAR: estudo nas unidades de Saúde das Secretárias de Estado de Segurança Pública da região Centro-Oeste PIRACICABA 2011

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA - unimep.br · O PAPEL DO ADMINISTRADOR HOSPITALAR: estudo nas unidades de Saúde das Secretárias de Estado de Segurança Pública da região

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE GESTO E NEGCIOS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO

LAUDICRIO AGUIAR MACHADO

O PAPEL DO ADMINISTRADOR HOSPITALAR: estudo nas unidades de Sade

das Secretrias de Estado de Segurana Pblica da regio Centro-Oeste

PIRACICABA 2011

LAUDICRIO AGUIAR MACHADO

O PAPEL DO ADMINISTRADOR HOSPITALAR: estudo nas unidades de Sade

das Secretrias de Estado de Segurana Pblica da regio Centro-Oeste

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administrao da Faculdade de Gesto e Negcios da Universidade Metodista de Piracicaba, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Administrao. Campo do conhecimento: Estudos Organizacionais e Gesto de pessoas.

Orientadora: Profa. Dra. Valria Rueda Elias Spers

PIRACICABA 2011

MACHADO,Laudicrio Aguiar O papel do Administrador Hospitalar nas Unidades de Sade das Secretarias de Estado de Segurana Pblica da Regio Centro-Oeste./ Laudicrio Aguiar Machado. 2011.

129 f. Orientadora: Valria Rueda Elias Spers Dissertao (mestrado) Faculdade de Gesto e Negcios

Universidade Metodista de Piracicaba. 1. Papel do Administrador 2. Administrao Hospitalar 3. Papel do

Administrador Hospitalar 4. Segurana Pblica. . Spers, Valria Rueda

Elias. . Dissertao (mestrado) Universidade Metodista de Piracicaba.

. Ttulo.

LAUDICRIO AGUIAR MACHADO

O PAPEL DO ADMINISTRADOR HOSPITALAR: estudo nas unidades de Sade

das Secretrias de Estado de Segurana Pblica da regio Centro-Oeste

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administrao

da Faculdade de Gesto e Negcios da Universidade Metodista de Piracicaba,

como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em

Administrao.

Campo do conhecimento: Estudos Organizacionais e Gesto de pessoas.

Orientadora: Profa. Dra. Valria Rueda Elias Spers

Data de aprovao:

_____/_____/_______

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Valria Rueda Elias Spers

Universidade Metodista de Piracicaba

Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani

Universidade Metodista de Piracicaba

Prof. Dr. Edmundo Escrivo Filho

Universidade de So Paulo

Dedico este trabalho a todos aqueles que, de certa forma, contriburam direta ou indiretamente para a sua realizao. Aos amigos e familiares queridos. A minha Polcia Militar do Estado de Mato Grosso e a todos os que acreditaram em mim, incentivando-me sempre.

AGRADECIMENTOS

Deus, em sua infinita bondade, nos envia anjos e, muitas vezes, pensamos

que so invisveis. No entanto, com base em minhas prprias vivncias e variadas

experincias, posso afirmar com veemncia que no.

Isso porque no decorrer de minha vida foram enviadas pessoas que me

ajudaram fundamentalmente nos momentos mais precisos. Como meus pais, por

exemplo, que me ensinaram o caminho correto de seguir;

Meus irmos, para que eu possa compartilhar momentos difceis;

Meus amigos: Luiz que muito me ajudou durante os crditos , o Adilson,

Gesiel, Erisvaldo, Manoel, Jovinete, Cel. Sales e Kak por serem amigos;

Aos tambm amigos: Aline, Itamar, Capit Susane, Isadora, Tenente Patrcia,

Ruth e Lia que tiveram pacincia de me aturar principalmente ouvindo meu

discurso s em torno da dissertao;

Minha amiga e Superintendente Tatiana Guedes e Lidiane que apostou no

meu desenvolvimento intelectual.

Meu Secretrio de Segurana Pblica, Dr. Digenes e Dr. Alexandre

Bustamante, que me valorizaram e permitiu que este sonho pudesse ser realizado

autorizando-me a participar do curso , junto aos demais oficiais:, Coronel Zaquel,

Coronel Campos Filho e Coronel Lilian, os quais me apoiaram e o Coronel Farias

juntamente com o Coronel Catarino que ao assumir o Comando da PM no se

opuseram quanto a minha qualificao;

Minhas amigas Keila, Vaneska e Flvia que proporcionaram o momento certo

para a realizao deste mestrado;

Meu coordenador de curso, Professor Dr. Giuliani, pela oportunidade

proporcionada para a realizao deste projeto;

A Profa. Dra. Valria Rueda Elias Spers, minha orientadora e amiga, pela

pacincia, perseverana e persistncia que comigo tivera nesta empreitada

acadmica. Minhas palavras so insuficientes para expressar minha gratido. Esta

educadora ensinou-me que educar dar oportunidade de nunca mais parar de

aprender;

Meus professores Sacomano, Dalila, Lesley e Eliciane pelos ensinamentos

durante o curso;

Ao Professor Edmundo Escrivo Filho pela ateno prestada mesmo no me

conhecendo em princpio;

A minha querida FAUC com seus diretores, coordenadores e amigos

professores que compartilharam vrios momentos deste percurso;

A Polcia Militar do Estado de So Paulo que me concedeu alojamento

durante o perodo de aula;

Aos motoristas de nibus e carreta que me deram carona; as vrias amizades

que constitu na estrada, que pagaram, inclusive, almoo em vrias situaes

difceis;

As minhas amigas Dra. Vilma Azevedo e Dra. Fernanda, por torcerem por

mim, sempre.

Ao meu amigo, Dr. Zeca, que acreditou que eu poderia findar tal percurso

acadmico;

Ainda que em momentos esqueamos Deus, ele nunca se esquece das

promessas em nossas vidas. Obrigado Deus, por possibilitar a vivncia dessa

experincia que me fez aprender muito, superar obstculos, vencer meus medos de

nunca ser capaz e viver um momento ao qual nunca ser esquecido (se algum nome

esquecido, este est lembrado em meu corao).

A minha me Maria Aparecida e meu pai Dilicrio que me transmitiram e,

sempre, me transmitem fora, confiana e carinho. O amor que sinto por vocs

imenso, prspero e imortal , o meu muito OBRIGADO, este teu filho vencendo

mais uma etapa da vida.

Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante...

No por vaidade, mas para corresponder obrigao sagrada de

contribuir sempre mais, e sempre melhor, para a construo do

mundo.

(D. Helder Cmara)

RESUMO

MACHADO, L. A. O papel do administrador hospitalar nas Unidades de Sade das Secretarias de Estado de Segurana Pblica da regio Centro-Oeste. 2011. 129 f. Dissertao (Mestrado Profissional em Administrao) Faculdade de Gesto e Negcios Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba, 2011.

Objetivou-se, neste trabalho, analisar o papel do administrador hospitalar nas

Unidades de Sade das Secretarias de Estado de Segurana Pblica da regio

Centro-Oeste. O referencial terico adotado para fundamentar os papis do

administrador foi o conceito proposto por Henry Mintzberg (1986). Este, ao tratar

sobre os papis do administrador, faz aluso ao exerccio das capacidades de

desenvolver relaes com os pares, fazer negociaes, motivar os subordinados,

solucionar conflitos, estabelecer redes de informaes, difundir informaes, tomar

decises e alocar recursos, o que engloba as dimenses interpessoais,

informacionais e decisionais. Quanto aos mtodos da pesquisa, a abordagem foi

qualitativa. Para a coleta de dados recorreu-se s tcnicas de anlise documental e

entrevistas semi-estruturadas. O universo de sujeitos pesquisados englobou 14

administradores hospitalares, espalhados pelas Unidades de Sade das Secretarias

de Segurana Pblica dos quatro Estados da regio Centro-Oeste (Distrito Federal,

Gois, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), todavia entrevistou-se 11 deles. A coleta

de dados empricos ocorreu no segundo semestre de 2011. O principal resultado da

pesquisa apontou que o administrador exerce fortemente o papel de lder nestas

instituies, atravs de vrias aes e, aliando funo, o uso dos princpios da

disciplina e hierarquia, que reconhece como necessrios. um lder que tambm

motiva seus subordinados por entender as dificuldades que o servio administrativo

impe aos policiais da rea operacional. As dimenses interpessoais, informacionais

e decisionais se presentificaram na fala dos pesquisados.

Palavras-chave: Papel do administrador. Administrao hospitalar. Papel do

administrador hospitalar. Segurana pblica.

ABSTRACT

MACHADO, L. A. The role of the hospital administrator in the Health Units of the

State Department of Public Security of the Central West region. 2011. 129 p.

Dissertation (Professional Master in Business Administration) - Faculty of Business

and Management - Methodist University of Piracicaba. Piracicaba, 2011.

The objective of this work was to analyze the role of the hospital administrator in the

Health Units of the State Department of Public Security of the Central West region.

The theoretical approach used to support the roles of the administrator was the

concept proposed by Henry Mintzberg (1986). This, in treating on the roles of the

administrator, alludes to the capacity to develop relationships with peers, making

negotiations, motivating subordinates, resolving conflicts, establishing information

networks, disseminate information, make decisions and allocate resources, which

includes interpersonal, informational and decisional dimensions. Regarding the

methods of research, the approach was qualitative. To collect data we used the

techniques of documentary analysis and semi-structured interviews. The universe of

study subjects comprised 14 hospital administrators, health units spread across the

Departments of Public Safety of the four states in the Central West region (Distrito

Federal, Goias, Mato Grosso and Mato Grosso do Sul), but were collected from 11 of

them. The empirical data collection occurred in the second half of 2011. The main

result of the survey indicated strongly that the Administrator has the leading role in

these institutions, through various actions, and the combining function, using the

principles of discipline and hierarchy, which recognizes as necessary. It is also a

leader who motivates his subordinates to understand the difficulties that the

administrative department imposes on police operational area. The interpersonal,

informational and decisional dimensions were identified in the speech of those

surveyed.

Keywords:. The role of the administrator. Hospital Administration. The role of the

hospital administrator. Public Security.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Dimenses do Trabalho do Administrador .............................................. 52

Quadro 2 Exigncias mnimas para direo geral de Hospitais do Sistema SUS,

segundo Portaria 2.225/GM/2002 ............................................................................. 76

Quadro 3 Classificao da pesquisa ...................................................................... 80

Quadro 4 - Caracterizao dos entrevistados ........................................................... 82

Quadro 5 - Categorias e subcategorias de anlise das entrevistas .......................... 88

Quadro 6 Identificao dos papis ......................................................................... 89

Quadro 7 Sujeitos da entrevista, tempo de durao e quantidade de palavras ..... 90

Quadro 8 - Perfis pessoal e profissional dos entrevistados ....................................... 91

Quadro 9 - Perfil pessoal e profissional dos sujeitos entrevistados ........................... 95

4

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CBM Corpo de Bombeiros Militar

CEBES Centro Brasileiro de Estudos e Sade

CEL. Coronel

CF Constituio Federal

CIB Comisso Intergestora Bipartite

CIT Conselho Intergestores Bipartite

CNS Conselho Nacional de Sade

CRM Conselho Regional de Medicina

CRO Conselho Regional de Odontologia

MARE Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado

MEGP Modelo de Excelncia em Gesto Pblica

MPAS Ministrio de Previdncia e Assistncia Social

NOB Normas Operacionais Bsicas

OPM Organizao da Polcia Militar

PJC Policia Judiciria Civil

PM Polcia Militar

PRONASCI Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania

QOPM Quadro de Oficiais da Polcia Militar

SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

SEJUSP Secretaria de Estado de Justia e Segurana Pblica

SENASP Secretaria Nacional de Segurana Pblica

SESP Secretaria de Estado e Segurana Pblica

SUS Sistema nico de Sade

TEN. CEL Tenente Coronel

5

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................................. 15

1.1 Contextualizao da pesquisa ............................................................................................... 15

1.2 Delimitao do tema da pesquisa ......................................................................................... 20

1.3 Formulao do problema da pesquisa ................................................................................. 22

1.4 Declarao dos objetivos da pesquisa ................................................................................. 25

1.4.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 25

1.4.2 Objetivos especficos ....................................................................................................... 25

1.5 Justificativa ............................................................................................................................... 26

2 O PAPEL DO ADMINISTRADOR: conceitos e evoluo ............................................... 31

2.1 Abordagem do trabalho do administrador ............................................................................ 33

2.2 Abordagem dos papis ........................................................................................................... 39

2.3 Outras contribuies ............................................................................................................... 46

3 PROFISSIONALIZAO DA SEGURANA PBLICA, SADE E ADMININISTRAO

HOSPITALAR ..................................................................................................................... 53

3.1 Profissionalizao da Segurana Pblica ............................................................................ 53

3.2 Do Sistema nico de Sade .................................................................................................. 56

3.2.1 O Sistema nico de Sade: conceito, princpio e objetivos ...................................... 58

3.2.2 Organizao e funcionamento do SUS ......................................................................... 59

3.2.3 Recursos da Sade e a Emenda Constitucional n 29 ............................................... 61

3.2.4 Responsabilidades dos estados na gesto do SUS ................................................... 61

3.2.5 Responsabilidade da Unio na gesto do SUS ........................................................... 62

3.3 Administrador hospitalar ......................................................................................................... 64

3.4.1 Administrador hospitalar: formao ............................................................................... 74

4 MTODOS DE ESTUDO .............................................................................................. 80

4.1 Universo e amostra do estudo ............................................................................................... 82

4.2 Variveis de pesquisa: categorias de Mintzberg ................................................................ 83

4.3 Formulao das fases da pesquisa ...................................................................................... 83

4.4 Tcnicas de coleta de dados ................................................................................................. 84

4.5 Tcnicas de Anlise dos dados ............................................................................................. 85

4.6 Descrio das Unidades de Sade da Segurana Pblica do Centro-Oeste ................ 85

6

4.7 Procedimentos para a realizao das entrevistas .............................................................. 86

4.8 Processo de categorizao das variveis ............................................................................ 87

Desenvolvimento das atividades cotidianas e identificao das mais relevantes para a

prtica da funo de administrador hospitalar ....................................................................... 88

5 APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS .................................................................. 89

Apresentao dos perfis pessoal e profissional dos entrevistados .................................... 91

CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................... 107

REFERNCIAS ................................................................................................................. 111

APNDICE A ROTEIRO PARA ENTREVISTA .............................................................. 117

APNDICE B OFCIO DE AUTORIZAO PARA APLICAO DO INSTRUMENTO DE

PESQUISA ........................................................................................................................ 120

ANEXO A - PORTARIA N 2.224/GM EM 5 DE DEZEMBRO DE 2002. ........................... 121

ANEXO B - PORTARIA N 2.225/GM EM 5 DE DEZEMBRO DE 2002. ........................... 126

15

1 INTRODUO

Percebe-se certa preocupao, por parte do Estado brasileiro, em

empreender reformas nas instituies pblicas nacionais, que objetiva, como em

outras partes do mundo, a melhoria da qualidade na oferta dos servios pblicos

prestados aos cidados, atravs de uma gesto pblica parametrizada nas

eficincias e eficcias administrativas.

Com o fim de incrementar essas reformas, em 1995 foi concebido o Plano

Diretor da Reforma do Aparelho do Estado que, em conjunto com outras medidas

polticas do Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado (MARE),

propuseram para o Brasil uma nova administrao pblica, tendo como fundamento

a profissionalizao e a valorizao do servidor pblico.

Neste contexto de mudanas, tornou-se essencial a proposio de uma nova

poltica de gesto de pessoas, voltada para os funcionrios pblicos de carreira, os

quais compem o ncleo estratgico da administrao pblica do Estado, mediante

inmeras medidas e prticas administrativas voltadas para a composio de um

perfil diferente do existente, at ento.

1.1 Contextualizao da pesquisa

Considerando que a estrutura poltico-administrativa do Estado um dos pr-

requisitos necessrios para o desenvolvimento competitivo entre as empresas,

destacando os vrios setores da economia como determinante da posio nacional

frente a outras naes enquanto participante da economia globalizada, que se

procurou realizar um estudo englobando as unidades de Sade das Secretrias de

Estado de Segurana Pblica da regio Centro-Oeste, tendo como foco de pesquisa

o papel do administrador no Distrito Federal e nos estados de Gois Mato Grosso do

Sul e Mato Grosso.

Percebe-se que o crescimento do setor econmico o determinante para se

mensurar o desenvolvimento de um pas, caractersticas ligadas melhoria das

condies de sade, educao, segurana e participao poltica, relacionadas a

16

fatores sociais e conquistas polticas so tambm imprescindveis como parmetros

para se atestar o estgio de desenvolvimento de uma determinada nao.

Cada vez mais, esses parmetros que envolvem as questes sociais e os

direitos fundamentais vm ganhando maior importncia e se consolidando como

conquistas coletivas que valorizam de forma individual cada membro da sociedade

brasileira. Apesar das vrias conquistas efetivadas nesses ltimos anos, ainda

sobram problemas nas reas de sade, segurana e educao, mesmo em face dos

avanos obtidos.

O cumprimento das prerrogativas estabelecidas pela constituio de 1988

com referncia s reas j citadas no tm sido efetivadas em sua totalidade,

impedindo que os servios pblicos ofertados populao tenham a quantidade e a

qualidade desejadas pelos cidados. A rea da sade mostra-se como um dos

pontos mais crticos do atual cenrio nacional, constituindo fator de grande

preocupao, tanto para os governantes quanto para aqueles que dependem do

servio pblico de sade.

De acordo com a Constituio Federal de 1988 (CF), as polticas de

assistncia sade devem ser desenvolvidas pelo Estado, sendo garantido como

direito de todo cidado.

Os direitos fundamentais representam valores que no podem ser

renunciados pelo homem e nem suprimidos dele, seja por ao do Estado ou de

outros sujeitos, caso contrrio, isso implicaria pr em risco a dignidade, a igualdade,

e a liberdade, e, no caso da privao do direito sade, a sobrevivncia das

pessoas. Estes direitos esto presentes nas Constituies de cada pas.

Conforme Mezzomo (2006), a plenitude do direito sade varia de nao

para nao, de acordo com seu nvel de desenvolvimento socioeconmico, e de

pessoa para pessoa, em um mesmo pas, de acordo com essa mesma variante.

Mesmo instintivamente, sabe-se que somente em um pas desenvolvido todas as

pessoas so totalmente livres para exercer o direito sade, sem impedimentos de

ordem econmica, social ou cultural.

Sob o prisma de ser um direito social, o direito sade privilegia a igualdade

e tambm se guia por ela. O Estado tem o dever prestacional de oferecer cuidados

de sade de mesmo nvel a todos que necessitem, com a finalidade de que todos

possam ter, igualmente, meios de viver em sociedade e resguardar sua dignidade. A

17

preservao da sade no pode, portanto, ser prejudicada pelo Estado ou por

particulares.

relevante registrar que o direito sade surge como uma das formas de

garantia do direito vida, localizado no caput do art. 5. da CF, e a previso do

direito vida possui uma ntima relao com um dos fundamentos da Repblica

Federativa do Brasil, o da Dignidade da Pessoa Humana, relacionado no art. 1., III,

da CF.

Isso significa que qualquer previso legal, qualquer atitude tomada pelo Poder

Pblico que provoque como conseqncia o esvaziamento do direito vida, trar

como corolrio, o desrespeito dignidade da pessoa humana, pois so dois vetores

considerados igualmente fundamentais pela Constituio.

Porm, como um direito social que o direito sade adquire seu significado

mais completo, pois dessa forma que ele est previsto na Constituio Federal:

Art. 6.o

So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. [...] Art. 196 A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. (BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil, 1988).

Analisando os artigos 6. e 196 da Constituio, percebe-se que no se deve

considerar o indivduo isolado do meio em que vive, ou seja, o conceito de sade

utilizado na legislao considera a alimentao, a moradia, o saneamento, as

condies do meio ambiente, a renda, as condies de trabalho, a educao, o

transporte, entre outros, como determinantes e condicionantes. E os elementos

desse meio so passveis de mudana quando a relao homem-ambiente, os

meios de produo, a densidade demogrfica e a situao cultural tambm mudam.

O Brasil, ainda est distante de cumprir o que est explcito na Constituio

de 1988 em relao aos direitos sociais, que no so efetivos para milhares de

brasileiros. Basta observar diariamente o descaso com a sade pblica, a educao

18

e a segurana. Esse quadro demanda a implementao e a administrao de

polticas pblicas, pelas quais a sociedade tambm , em parte, responsvel.

At este ponto, pode-se observar que a sade de algum depende de seu

bem estar fsico, mental e social, estado esse que tambm determinado pela

melhoria da renda, da moradia, da alimentao e da educao.

Importa frisar que, alm do art. 196, outros artigos tratam da sade na

Constituio Federal:

O art. 197 trata da relevncia pblica das aes e servios de sade, pblicos e privados, conferindo ao Estado o direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (pblico e privado); - o art. 198 dispe sobre as aes e os servios pblicos de sade que devem ser garantidos a todos cidados para a sua promoo, proteo e recuperao, ou seja, dispe sobre o Sistema nico de Sade; - o art. 199 trata da liberdade da iniciativa privada, suas restries (no pode explorar o sangue, por ser bem fora do comrcio; deve submeter-se lei quanto remoo de rgos e tecidos e partes do corpo humano; no pode contar com a participao do capital estrangeiro na sade privada; no pode receber auxlios e subvenes, se for entidade de fins econmicos etc.) e a possibilidade de o setor participar, complementarmente, do setor pblico; - e o art. 200, das atribuies dos rgos e entidades que compem o sistema pblico de sade. (SANTOS, 2005, p. 1).

Sendo assim, o Estado, cumprindo seu dever prestacional, identificaria a

situao em que a populao de determinado local vive e assim, formularia polticas

pblicas adequadas para cada caso. Ainda mais, sendo a sade de uma populao

dependente do meio em que ela vive, as situaes de doena seriam previstas e

evitadas.

Seguindo essa linha de raciocnio, Santos (2005, p.1) defende que o direito

sade no ser realmente efetivo enquanto no houver reduo das desigualdades

sociais, erradicao da pobreza e melhoria do modo de vida, porque:

Mesmo que o sistema de sade tenha atuao preventiva e curativa absolutamente iguais, as pessoas que vivem em situao precria, fatalmente sero mais acometidas de doenas e outros agravos, ainda que o sistema de sade lhes oferea um excelente servio de recuperao.

Nessa esteira, o estado precisa voltar sua atuao prioritariamente para

aqueles que tm mais carncias individuais e sociais.

E essa atuao, como muitos poderiam pensar, no fere o princpio de

igualdade, tambm conhecido como princpio de isonomia. Para dizer que

determinada situao fere esse princpio, preciso que, como explica Canotilho

19

(2006, p. 226), [...] a disciplina jurdica no se baseie num: (I) fundamento srio; (II)

no tiver um sentido legtimo; (III) estabelecer diferenciao jurdica sem um

fundamento razovel.

Muito diferente de ferir o princpio de isonomia, as aes chamadas de

afirmativas, voltadas para a prtica de polticas pblicas de incluso social, tm o

objetivo de estabelecer diferenas entre certos grupos sociais que propiciaro um

equilbrio de oportunidades. Tomando como base essas garantias constitucionais,

pode-se afirmar que alguns fatores de risco expem de modo mais intenso, alguns

grupos ou categorias sociais, os quais, conseqentemente, em vista dessa maior

exposio aos riscos, precisam de maior proteo.

Com relao sade, isso bastante notrio no caso dos profissionais de

Segurana Pblica, pois suas atividades profissionais os levam a enfrentar situaes

que colocam em risco sua sade, tanto fsica quanto mental. A exposio violncia

urbana, o estresse a flor da pele e outros aspectos existentes no trabalho desses

profissionais um dos principais fatores de agravo sade.

De modo geral, os habitantes das grandes e mdias cidades brasileiras tm

enfrentado nos ltimos anos o aumento indiscriminado da violncia e, de modo mais

especfico, o policial, por causa de seu trabalho, est mais vulnervel a esse tipo de

risco. Essa realidade vem confirmar as concluses do relatrio SENASP sobre a

forma como o trabalho desenvolvido pelos profissionais de segurana pblica e sua

organizao vem afetando a sade dessa categoria e a necessidade urgente de se

promover investimentos de valorizao, apoio e ateno a esses profissionais.

Segundo esse relatrio:

As condies de trabalho que acarretam sobrecarga fsica e emocional e as presses da sociedade por eficincia afetam a sade, geram desgaste, insatisfao e provocam estresse e sofrimento psquico, com implicaes no desempenho individual e coletivo dos profissionais. (BRASIL. Ministrio da Justia, 2009, p. 25).

Ainda de acordo com esse estudo, as caractersticas peculiares

desenvolvidas sob a forma de atividades corriqueiras pelos policiais, como o

enfrentamento de situaes-limite so causadoras de alteraes fisiolgicas ligadas

s respostas do organismo que, somadas s escalas de servio, desenvolvimento

de atividades paralelas, perodos reduzidos de repouso, ocorrncias repetitivas,

exposio a situaes de risco, emergncia e insegurana acabam por afetar a

20

sade, estreitando a relao entre as atividades desenvolvidas no trabalho e a

possibilidade de adoecer.

Portanto, o atendimento desses profissionais com relao preservao de

sua sade imprescindvel para que esses possam desenvolver de maneira eficaz

suas atividades profissionais das quais dependem a segurana e a tranqilidade de

um grande nmero de pessoas.

Percebe-se que as questes que envolvem o assunto sade, suscitam muitos

debates e merecem ser abordados cientificamente de maneira mais detalhada pelo

fato de envolver vrios aspectos diferentes, como o poltico, o econmico e o social.

Um dos estudos possveis de se abordar o referido assunto sob o enfoque da

teoria administrativa.

Cada vez mais, cresce a importncia, nas organizaes, sejam elas de

primeiro ou segundo setor, de se desenvolver polticas administrativas que propiciem

aos cidados servios de qualidade. No caso da sade especificamente, esta

pretenso deve ser alcanada por parte das organizaes levando em conta os altos

custos que cercam o atendimento sade e tambm a complexidade que a

prestao desse servio exige para ser considerado de boa qualidade.

1.2 Delimitao do tema da pesquisa

Segundo Diacov, Silva e Maia (2004), para se assegurar a qualidade do

atendimento mdico hospitalar, deve-se levar em considerao as caractersticas de

segurana, ateno, bom atendimento e baixo custo para o paciente. Para que essa

possibilidade seja alcanada, faz-se necessrio o conhecimento em profundidade

das atividades desenvolvidas nesse tipo de organizao, a qual compreende um

ambiente de constante tenso, onde os profissionais necessitam tomar decises

importantes a cada momento.

Assim sendo, o trabalho administrativo a ser desenvolvido nessas

organizaes exige profissionais altamente preparados para lidar com diferentes

categorias de profissionais e demais cidados, alm das prprias atividades

administrativas comuns s empresas.

Neste estudo, que tem por tema o papel do administrador hospitalar no

servio pblico, detalha-se o papel deste profissional para administrar uma unidade

21

de sade, abordando os enfoques da teoria administrativa e da gesto pblica, esta

ltima especificamente ligada ao setor de sade.

Cabe salientar que, para este estudo, ser compreendido conforme definio

de Katz e Kahn (1970), como representaes padronizadas de comportamento

desempenhadas por todas as pessoas em determinada relao funcional, sem que

se considerem seus prprios desejos pessoais, mas levando em considerao as

normas e valores que permeiam tal relao.

Com relao ao conceito de perfil, Amatucci (2002) o define como os

qualificadores de interesse profissional, atribudos a uma pessoa, em particular

caracterizado por sua rica variedade, entre as quais se podem apontar as

habilidades, as capacidades, os conhecimentos e as competncias.

Tambm no estudo, utiliza-se o termo administrador em virtude de ser este o

mais usual no setor pblico. Compreende-se por administrador a pessoa

responsvel por exercer a coordenao do esforo conjunto de um grupo de

trabalhadores para a realizao de um objetivo pr-determinado pela organizao.

(ESCRIVO FILHO; PERUSSI FILHO, 2008).

Para Katz (1986), o administrador pode ser definido como a pessoa

responsvel por atingir determinados objetivos por meio da soma de esforos de

outras pessoas, as quais so dirigidas para esse fim.

J o termo gestor definido por Motta (2003), dentro de uma viso tradicional,

como o decisor racional, planejador sistemtico, coordenador e supervisor eficiente,

estando inseridos em realidades prticas bastante diferentes.

Assim, tomando como base as definies para administrador e gestor, pode

se considerar que o primeiro est mais relacionado racionalidade instrumental, j o

segundo, racionalidade substantiva (SERVA, 1997).

Baseado em estudos, Serva (1997) define que os elementos constitutivos da

ao racional instrumental so: maximizao dos recursos, clculo, fins, xito

(resultados), desempenho, utilidade, rentabilidade e estratgia interpessoal.

J na abordagem substantiva, Serva (1997) elucida que os elementos que a

constituem so: autorrealizao, entendimento, julgamento tico, autenticidade,

valores emancipatrios e autonomia. Citando Guerreiro Ramos (1983), o autor

entende a racionalidade substantiva como uma abordagem ampla, na qual a tica

seria uma disciplina preponderante na categoria de anlise da vida social.

22

1.3 Formulao do problema da pesquisa

O setor de sade no Brasil tem revelado distores no que diz respeito ao

atendimento de setores especficos da populao, o que leva ao agravamento das

condies de sade de determinados grupos, a exemplo do que ocorre com os

trabalhadores da segurana pblica, os quais, por conta das atividades que

desempenham necessitam de um atendimento diferenciado que priorize a qualidade

e tratamentos adequados ao tipo de trabalho desempenhado.

H, por conseguinte, um consenso geral, tanto no interior das Corporaes

como por parte de pesquisadores do tema, que estes profissionais esto expostos a

mais agravos de sade tanto fsica quanto mental se comparados com o perfil

epidemiolgico da sociedade brasileira (MINAYO, 2006). A confirmao do quadro

de vitimizao desta categoria corroborada pela pesquisa: Estudo Comparativo

Sobre Riscos Profissionais, Segurana e Sade Ocupacional dos Policiais Civis e

Militares do Rio de Janeiro de autoria de Maria Ceclia de Souza Minayo, publicada

no ano de 2006.

Nesta pesquisa so apontados seis tpicos que de forma conclusiva revelam

as condies de sade tanto de policiais civis quanto de militares, os quais sero

sucintamente enumerados:

1 Sobre o Perfil Scio-Demogrfico: dos problemas encontrados

neste tpico o mais relevante a questo salarial, com queixas de baixos

salrios, desigualdade de renda entre praas e oficiais da PM, resultando num

grande percentual de pedidos de exonerao por parte dos praas militares

com menos de dez anos de Corporao, o que gera um perfil excessivamente

instvel e de grande rotatividade nos escales inferiores das corporaes;

2 Do ponto de vista do processo de trabalho: percebido como

maior problema o excesso de hierarquia e disciplina, fruto de uma gesto

tradicional e fechada. Esta situao persistente apesar de haver um

discurso de modernizao desta Instituio, com a diminuio dos nveis de

hierarquia na administrao organizacional;

23

3 Sobre o abuso de lcool e drogas: o enfrentamento quanto ao

abuso dessas substncias precisa ser visto como um sintoma de alvio do

sofrimento mental destes profissionais, indicando a necessidade de apoio e a

melhoria das condies de trabalho no aspecto mais amplo;

4 Sobre a qualidade de vida: h referncia questo dos baixos

salrios, falta de qualidade na habitao e alimentao, ausncia de

valorizao profissional por parte de seus superiores, autoridades e da prpria

sociedade, dada a grande importncia ao relacionamento familiar;

5 Riscos e Vitimizao: h o excesso de vitimizao sofrido por

estes profissionais e consequentemente altas taxas de mortalidade, causadas

pelo risco da profisso e as situaes de insegurana a que esto submetidos

no cumprimento de suas atividades laborais;

6 Sobre problemas de sade neste tpico so vrios pontos

que merecem ateno: (a) a questo do excesso de peso e obesidade; (b)

falta de qualidade na alimentao; (c) no sensibilizao individual sobre a

importncia e necessidade de cuidados com a sade diante da exposio

sofrida por estes profissionais. No aspecto coletivo ressaltada a

necessidade de mudanas das condies de trabalho e melhoria dos servios

de sade; (d) os agravos e distrbios comuns a estes profissionais esto

relacionados alm do aspecto da sade fsica e mental, tambm ao

sofrimento psquico e estresse; (e) urgncia em desenvolver servios de

apoio psicolgico que d estrutura emocional a estes profissionais; (f) em

ambas as Corporaes, no h ateno quanto ao servio de assistncia

sade voltada tanto aos profissionais quanto as suas famlias.

Com relao administrao de hospitais brasileiros, Cutrim (2005) menciona

em sua pesquisa intitulada Perfil do Administrador Hospitalar da Rede Pblica

Municipal de Sade de So LusMA, que a maioria dos cargos ocupada por

profissionais com formaes superiores diversas, sendo que apenas 01 (um) dos

entrevistados Bacharel em Administrao Hospitalar, e 01 (um) Tecnlogo em

24

Gesto Hospitalar. Os demais tinham formaes acadmicas totalmente diferentes

da rea relativa ao cargo ocupado.

Tambm foi levantado, por esse autor, que os investimentos em profissionais

bacharelados em Administrao com Gesto Hospitalar na Rede Assistencial de

Sade do municpio de So Lus do Maranho so apontados como deficientes.

Cutrim (2005) observou ainda que meio duvidosa a qualificao dos profissionais

que ocupam esses cargos dentro das unidades assistenciais de sade do municpio,

uma vez que os mesmos esto ocupando os referidos cargos por indicao e no

por capacidade de cunho profissional.

J Maia (2003), em sua pesquisa sobre os Administradores Hospitalares de

Hospitais Privados, Pblicos Municipais, Estaduais e Universitrios do Estado de

So Paulo, apurou que a maioria dos executivos tem formao mdica, e pouco

mais da metade possui curso de especializao na rea de administrao hospitalar.

Alm dos problemas mais amplos encontrados na administrao de hospitais

brasileiros pelas referidas pesquisas, h com relao ao servio de sade nas

unidades de segurana pblica especificidades administrativas, fruto da

administrao burocrtica existente nesta Secretaria, que se expressa pelo excesso

de hierarquia, disciplina e autoritarismo, e acabam por atingir tambm a

administrao dos servios de sade desta Instituio, interferindo no

relacionamento dos profissionais de sade com seus clientes, onde se confundem a

competncia e a autoridade hierrquica, j que tambm so baseados nos mesmos

valores da administrao deste rgo.

Observa-se que nas Unidades de Sade da Segurana Pblica da Regio

Centro Oeste, conforme o Relatrio Final do Ministrio da Justia (2009)

Mapeamento dos Programas de Ateno Sade das Instituies Estaduais de

Segurana Pblica, que nas trs corporaes, Polcia Militar, Polcia Civil e Corpo de

Bombeiros Militar, pesquisadas, fica bastante evidente a existncia de inmeros

problemas que ainda esto longe de serem resolvidos. Estes vo desde a ausncia

de uma poltica de sade em sua totalidade e voltada especificamente para os

males, tanto no que se refere sade geral, sade mental e qualidade de vida para

esses servidores quanto insuficincia de recursos materiais, financeiros e de

pessoas capacitadas para as atividades administrativas, o que torna invivel o

atendimento de qualidade para estes profissionais.

25

Diante deste quadro, torna-se relevante questionar Qual o Papel a ser

exercido pelo Administrador Hospitalar nas Unidades de Sade da Segurana

Pblica?

1.4 Declarao dos objetivos da pesquisa

Ao optar por uma pesquisa cientfica, depara-se com a necessidade de se

tomar um conjunto de decises e, entre elas, inserem-se as metas que se pretende

alcanar. Neste vis, na sequncia, seguem expressos os objetivos do estudo, os

quais se dividem em geral e especficos.

1.4.1 Objetivo geral

Analisar o papel do administrador hospitalar nas Unidades de Sade da Segurana

Pblica. A pesquisa foi realizada em Unidades de Sade da regio Centro-Oeste.

1.4.2 Objetivos especficos

Verificar os motivos que levam necessidade de se ter um

administrador hospitalar exercendo o cargo dentro de uma Unidade

de Sade na Secretaria de Estado de Segurana Pblica dos estados

da regio Centro-Oeste;

Identificar a necessidade e importncia de um administrador

hospitalar voltado especificamente ao atendimento dos Servidores da

Segurana Pblica nos estados da regio Centro-Oeste;

26

Reconhecer as tarefas, os requisitos necessrios e as caractersticas

intrnsecas funo/cargo do administrador hospitalar dentro da

Secretaria de Segurana Pblica;

Analisar os papis interpessoais, informacionais e decisionais do

administrador hospitalar em uma Unidade de Sade da Segurana

Pblica.

1.5 Justificativa

O estudo oriundo de inquietaes surgidas como discente do Estgio

Supervisionado desenvolvido no Ambulatrio Central da Polcia Militar do Estado de

Mato Grosso, do qual resultou a elaborao do Trabalho de Concluso de Curso

intitulado Um Estudo Exploratrio: Refletindo sobre a Necessidade de Implantao

do Hospital Militar no Estado de Mato Grosso (MACHADO, 2006).

O contato com a realidade vivenciada pelos servidores pblicos da

Secretaria de Estado de Justia e Segurana Pblica do Estado de Mato Grosso-

SEJUSP, (agora com nova reestruturao Secretaria de Estado e Segurana

Pblica-SESP), referente ao servio de sade, suscitou inmeras reflexes sobre a

vida profissional desses trabalhadores, e a ateno que recebiam por parte do

Estado com relao sade e sobre a prpria valorizao profissional. A

necessidade de aprofundamento terico sobre o assunto e de maior conhecimento

do tema levou busca de literatura especializada e de respostas para os problemas

vivenciados por aqueles profissionais, uma vez que h uma substancial lacuna no

objeto de pesquisa ora proposto.

O Relatrio Final do Ministrio da Justia (2009) Mapeamento dos

Programas de Ateno Sade das Instituies Estaduais de Segurana Pblica

trouxe as informaes necessrias mostrando o panorama nacional da sade

desses servidores, o qual desvendou uma realidade no muito diferente daquela que

ocorria nas Unidades de Sade da SESP de Mato Grosso.

A proposta do documento visava:

[...] a implementao do Plano Nacional de Qualidade de Vida para a Segurana Pblica com o objetivo de: a) planejar, implementar, monitorar e avaliar polticas que tenham por objeto a promoo da qualidade de vida dos servidores pblicos da segurana pblica; b) produzir, gerenciar e

27

difundir conhecimentos relativos qualidade de vida destes servidores; c) estabelecer parcerias com organizaes da sociedade civil, organismos internacionais e governos estrangeiros para a implementao de polticas pblicas atinentes ao programa (BRASIL, Ministrio da Justia. 2009, p. 7-8).

Porm estudos mais especficos mostram-se imprescindveis, pois o

problema de atendimento sade desses profissionais vivenciada localmente no

constitua um fato isolado e restrito a uma Secretaria, e sim abrangente, atingindo

toda uma categoria de servidores, e que se repetia em todo o territrio nacional, ora

pesquisado, caracterizando um problema de grandes dimenses, comum a um

determinado segmento profissional, fato este observado tambm na regio Centro-

Oeste.

No que respeita especificamente regio Centro-Oeste, a pesquisa, j

mencionada em linhas atrs, englobou o Distrito Federal, o Estado de Gois e o

Estado de Mato Grosso, onde foram investigadas trs corporaes: Polcia Militar,

Polcia Civil e o Corpo de Bombeiros Militar. O estudo referente sade e qualidade

de vida destes profissionais apontou para:

O foco de atuao est baseado na cura, e no na preveno das

doenas;

Desconhecimento da realidade global;

Necessidade de programar as aes;

Necessidade de acompanhamento das aes realizadas;

Ausncia de infraestrutura, recursos humanos, materiais e financeiros,

prejudicando o atendimento sade, fundamentalmente no que respeita

aos servidores lotados no interior;

A realidade descrita por este documento com relao ao atendimento de

sade dos servidores da Segurana Pblica da regio Centro-Oeste vai ao encontro

de novas diretrizes propostas pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica

(SENASP), que [...] contribuir para a qualificao, padronizao e integrao das

aes executadas pelas instituies de segurana pblica de todo o Pas (BRASIL.

Ministrio da Justia, 2009, p. 6), o que leva concluso de que h ainda um longo

caminho a ser percorrido no que se refere ao alcance das metas e princpios do

Sistema nico de Segurana Pblica (SUSP):

28

Policiais so seres humanos, trabalhadores e cidados, titulares, portanto, dos direitos humanos e dos benefcios constitucionais correspondentes s suas funes;

Valorizar as polcias e os policiais, reformando-as e requalificando-os, levando-os a recuperar a confiana popular e reduzindo o risco de vida a que esto submetidos. (BRASIL. Ministrio da Justia, 2009, p. 6).

Ainda no que tange a este documento, nas concluses relacionadas pelo

Ministrio da Justia (2009), encontram-se as necessidades de:

Unificar na capital e no interior os Servios de Sade Geral, Sade Mental

e Qualidade de Vida das trs Corporaes, como forma de aperfeioar

recursos, ampliarem servios, promover a integrao e disponibilizar a

ateno sade a todos os servidores da Segurana Pblica;

Implantar nas regionais do interior um Centro de Sade composto, pelo

menos, de uma equipe bsica de profissionais: mdico, psiclogo,

odontlogo e assistente social;

Constituir, no mbito da SENASP, uma comisso de Sade composta por

representantes de cada Estado, integrantes das trs Corporaes, da

Secretaria de Segurana Pblica e de representantes de outras entidades

ligadas sade geral, sade mental e qualidade de vida, para definir

estratgias, polticas e analisar resultados;

Subsidiar o planejamento de estratgias de reorganizao, otimizao e

ampliao de programas e aes de sade geral, promoo de sade,

cuidado e reabilitao psicossocial;

Instrumentalizar a rea de Sade Geral, Sade Mental, Qualidade de Vida

e Gesto de Pessoas, para agirem integrada e estrategicamente;

Fornecer suporte financeiro e tcnico para estruturao da rea de Sade

Geral, Sade Mental e Qualidade de Vida nos aspectos: espao fsico,

equipamentos, material de escritrio, material grfico, audiovisual,

capacitao, infraestrutura e recursos humanos;

Fornecer um modelo adequado de funcionamento da rea de Sade

Geral, Sade Mental e Qualidade de Vida e Gesto de Pessoas, voltado

para Segurana Pblica: roteiro para implantao de projeto, estrutura

29

fsica, dimensionamento de pessoal, avaliao e controle, dimenso de

custos, indicadores de desempenho;

Estabelecer parcerias com outros servios de sade geral e mental que

atuam segundo os princpios do SUS e da Reforma Psiquitrica, com

instituies especializadas em reabilitao fsica e psicossocial, com

organizaes civis de auto-ajuda, bem como parcerias inter setoriais

(educao, habitao, previdncia social etc.), de forma a assegurar

resposta adequada s mltiplas necessidades em sade dos servidores

em sofrimento mental e seus familiares;

Tais necessidades parecem impossibilitar um gerenciamento que contemple

de modo satisfatrio todas as prerrogativas que envolvem a gesto especfica das

Unidades de Sade da Segurana Pblica, resultando em problemas nos aspectos

de infraestrutura, Recursos Humanos e Financeiros.

Fica assim apontada a importncia do estudo, principalmente com referncia

falta de profissionais habilitados para administrar as unidades de sade, pois quem

administra, nos dias de hoje, geralmente, so diretores que esto ligados atuao

de polcia, mdicos e ou dentistas do quadro de sade das Instituies ligadas s

Secretarias de Segurana Pblica da regio Centro Oeste, entretanto tais

profissionais no possuem especialidade na rea de administrao hospitalar,

conforme apontam os dados obtidos por meio da pesquisa de campo.

Desse modo, tornam-se importantes estudos e pesquisas acerca do tema,

que possam contribuir com a proposio de projetos e diretrizes atravs de polticas

pblicas que valorizem o servidor da Segurana Pblica e proporcionem aos

mesmos um atendimento digno a sua sade.

1.6 Estruturao do trabalho

Este trabalho compe-se de seis partes. O Captulo 1 apresenta a parte

introdutria. O Captulo 2 trata sobre o papel do administrador: conceitos e evoluo.

O Captulo 3 foi pensado com o fito de abordar acerca da profissionalizao da

Segurana Pblica, sade e administrao hospitalar. Enquanto que, no Captulo 4,

30

aborda-se acerca do mtodo de estudo, as tcnicas de coleta de dados, universo e

sujeitos da pesquisa. No Captulo 5 sero apresentados os dados, bem assim as

anlises suscitadas a partir dos mesmos. Por fim, a sexta parte dedicada s

Consideraes finais, que trazem algumas reflexes acerca dos resultados obtidos a

partir dos objetivos estabelecidos para a pesquisa.

31

2 O PAPEL DO ADMINISTRADOR: conceitos e evoluo

Neste captulo sero abordadas as definies, funes e os papis do

administrador na viso de vrios tericos, por meio dos quais tratar-se- sobre a

construo e o desenvolvimento dos princpios e conceitos da administrao. Vale

salientar que necessrio levar em conta a importncia da contribuio desses

estudiosos, sem, no entanto, esquecer que as teorias foram desenvolvidas sob

determinados contextos e conjunturas especficas.

A exemplo do que ocorreu com outros saberes baseados em tcnicas, as

experincias humanas com relao ao trabalho e a produo originadas nas

necessidades de buscar solues viveis ligadas, em primeiro lugar, sobrevivncia

dos primeiros grupos humanos e, mais tarde, ao aumento da produtividade, levou ao

desenvolvimento e aprimoramento das atividades laborais como forma de resolver a

demanda por mais oferta de produtos com menor custo e menor espao de tempo.

Porquanto, a economia que era natural e primitiva, ligada manuteno da

vida humana, transformou-se em economia de mercado, tendo no lucro seu fator

determinante. Essas transformaes ocorridas no sistema econmico e produtivo,

que j vinham acontecendo de modo menos intenso, tm na Revoluo Industrial

(sculo XVIII a XIX) um marco de mudanas sem precedentes anteriores que iriam

reestruturar as relaes entre os agentes econmicos e os processos produtivos,

tornando-os mais complexos e inovadores, e estabelecendo a acumulao de

riquezas como uma recompensa justa, desde que tivesse como base o trabalho

honesto e o gasto mnimo, preconizado pela tica calvinista.

De acordo com Rossetti e Andrade (2009), alguns fatores foram

determinantes na evoluo do sistema capitalista e do surgimento das grandes

corporaes que atualmente compem o mundo econmico globalizado, sendo elas:

1. A sanso da tica calvinista. 2. A doutrina liberal, enquanto revoluo poltica e econmica. 3. A Revoluo Industrial. 4. O desenvolvimento tecnolgico incessante, o agigantamento das escalas, a produo em srie, a diversificao e a multiplicao de novos ramos industriais. 5. A ascenso do capital como fator de produo. 6. O surgimento e a institucionalizao do sistema de sociedade annima. 7. O crash de 1929-1933, a revoluo keynesiana, os avanos da macroeconomia e a reviso das funes do Estado.

32

8. O desenvolvimento da cincia da administrao. 9. O agigantamento das corporaes e o divrcio propriedade-gesto. (ROSSETTI; ANDRADE, 2009, p. 32).

Tais fatores se encontravam ligados e formavam, de acordo com os autores,

um conjunto complexo de vrios elementos, que propiciaram a ocorrncia de

determinado momento histrico, tendo, cada um deles, sua devida importncia como

partes de um todo, resultando no processo de evoluo do capitalismo (ROSSETTI;

ANDRADE, 2009).

De acordo com esse estudo, o desenvolvimento da Cincia da

Administrao est historicamente relacionado existncia do capitalismo e do

mundo corporativo nos moldes atuais. Tais categorias histricas esto diretamente

associadas e dependentes umas das outras. Nas palavras dos autores, [...] as

adaptaes proporcionadas pelas teorias e prticas de gesto no s revitalizaram

internamente as corporaes, como transmitiram, para fora delas, mudanas nos

valores e na cultura (ROSSETTI; ANDRADE, 2009, p. 51).

O contexto histrico de vrios perodos demonstra tais ocorrncias atravs

das vrias contribuies ao longo do tempo. Desde os perodos mais remotos da

histria da civilizao humana, podem ser apontados exemplos de conhecimentos

que permitiram a execuo de grandes projetos tanto civis quanto militares. So

inmeras as contribuies que, de algum modo, permitiram ao homem acumular

uma cultura em torno do que hoje denominamos administrao.

As frmulas usadas para resolver problemas, tornaram-se experincias que

acabaram por permitir a construo de saberes a partir dos quais puderam ser

elaborados princpios e teorias que ocasionaram, no sculo XX, o desenvolvimento

da administrao como um novo ramo do conhecimento.

O surgimento e o aprofundamento terico, ligados ao desenvolvimento dos

princpios administrativos, podem ser apontados como responsveis pelo enorme

crescimento das organizaes e a expanso mundial do capitalismo, atravs dos

[...] avanos conceituais, a articulao de princpios, a anlise de processos, as

abordagens crescentemente complexas das organizaes e a criao de

instrumentos aplicativos (ROSSETTI; ANDRADE, 2009, p. 53).

A administrao se tornou um elemento histrico imprescindvel, capaz de

ser continuamente renovado e adaptado s necessidades primeiramente do mundo

do trabalho e do prprio comportamento humano. Isso pode ser claramente

33

observado a partir do processo de desenvolvimento pelo qual passou esse

conhecimento. A chamada ESCOLA CLSSICA DA ADMINISTRAO surge

como uma resposta s necessidades dos dirigentes das empresas que comeam

nesse perodo incio do sculo XX a se tornarem maiores, tanto no que se refere

ao aumento da produo quanto ao nmero de empregados, exigindo, por sua vez,

maior controle e mtodos mais eficazes para se produzir.

Diante dessas novas exigncias, Taylor e Fayol, responsveis pela criao

dos primeiros mtodos considerados cientficos de administrao, tm importante

contribuio, enfatizando a aplicao de tcnicas que buscam eficincia atravs da

separao das diversas funes administrativas.

Portanto, inegvel que a necessidade de lidar com as transformaes

histricas ocorridas desde o incio do sculo XX obrigou a Administrao rever

periodicamente seus princpios e teorias, buscando oferecer solues

administrativas s organizaes.

2.1 Abordagem do trabalho do administrador

Henry Fayol (1989) considerado um dos fundadores da chamada Teoria

Clssica da Administrao, e se dedicou ao estudo da organizao racional dos

trabalhadores das grandes empresas, procurou facilitar a atividade de gerenciar.

Alm disso, analisou a natureza da atividade administrativa e formulou, de maneira

mais completa, uma teoria administrativa voltada para proporcionar maior eficincia

nas empresas. Sua formao acadmica e sua experincia profissional forneceram

os elementos tericos e empricos sob os quais desenvolveu as bases fundamentais

presentes em sua obra.

Para Fayol, as funes administrativas envolvem as atividades de: [...]

prever, organizar, comandar, coordenar e controlar (FAYOL, 1989, p. 26). Esses

elementos ficaram conhecidos pela sigla POC3, constituam partes do processo

administrativo, as quais estariam presentes em todos os tipos e tamanhos de

empresas, fossem elas: industrial, comercial, governamental, poltica ou religiosa.

O objetivo deste terico era o de tornar as organizaes eficientes, atravs

de normas e princpios organizacionais e indicar qual a melhor maneira de se

34

estruturar uma empresa. Para tanto, ele desenvolveu princpios, que teriam por

caracterstica a maleabilidade, sendo suscetveis de se adaptarem a todas as

necessidades, bastando que o administrador soubesse servir-se deles.

Os princpios em questo so: Diviso do trabalho; Autoridade e

responsabilidade; Disciplina; Unidade de comando; Unidade de direo;

Subordinao do interesse particular ao interesse geral; Remunerao do pessoal;

Centralizao; Hierarquia; Ordem; Equidade; Estabilidade do pessoal; Iniciativa;

Unio do pessoal (CERRI; ESCRIVO FILHO, 2008, p. 24-25).

Quanto atividade administrativa, Fayol a concebia como parte de um

conjunto, formado por seis grupos, sendo eles: Operaes tcnicas: produo,

fabricao, transformao; operaes comerciais: compras, vendas, permutas;

operaes financeiras: procura e gerncia de capitais; operaes de segurana:

proteo de bens e de pessoas; operaes de contabilidade: inventrios, balanos,

preos de custo, estatsticas; operaes administrativas: previso, organizao,

direo, coordenao e controle (CERRI; ESCRIVO FILHO, 2008, p. 22).

Para ele, havia uma clara diferena entre a atividade administrativa e o

exerccio de dirigir uma organizao:

A administrao no seno uma das seis funes, cujo ritmo assegurado pela direo. Mas ocupa to grande lugar nas funes dos altos chefes que, s vezes, pode parecer que elas sejam exclusivamente administrativas. (FAYOL, 1989, p. 26).

De acordo com Cerri e Escrivo Filho (2008), Fayol, ao observar prticas

efetuadas nos nveis de gerenciamento superiores da empresa, concluiu que as

modificaes das quais as empresas necessitassem deveriam ocorrer a partir dos

nveis mais altos. Por isso, ele via o administrador como sendo o maior responsvel

por obter o mximo desempenho de seus subordinados.

Esses mesmos autores pontuam algumas qualidades imprescindveis aos

administradores, quais sejam:

a) Sade e vigor fsico;

b) Inteligncia e vigor intelectual;

c) Qualidades morais: perseverana, vontade reflexiva e, se necessrio,

audcia, coragem ao assumir responsabilidades, sentimento do dever, entre outras;

d) Ampla cultura geral;

35

e) Capacidade administrativa: prever, organizar, comandar, coordenar e

controlar;

f) Noes gerais sobre todas as funes essenciais;

g) Maior competncia possvel na especialidade profissional caracterstica

da empresa (CERRI; ESCRIVO FILHO, 2008, p. 35-36).

Em suma, a misso do administrador consistiria em possibilitar que o plano

de ao fosse estabelecido e executado. Tambm caberia ao administrador cuidar

para que a organizao cumprisse o seu papel social e material e que ambos

tivessem ligao e respeito aos objetivos organizacionais e aos recursos

empresariais.

Porm, cabe salientar que Fayol determinava que o administrador

precisasse ter clareza de objetivo, ou seja, necessitava estabelecer uma nica

direo, o que, em um ambiente sem turbulncia de mercado, sem as constantes

variaes da economia, e das leis etc. era possvel conseguir.

O administrador sob as perspectivas de Fayol careceria de ser competente e

forte para articular as aes e coordenar os esforos na formulao de aes, em

decises claras, precisas e com uma nitidez que conseguissem estabelecer a

comunicao com aqueles que esto em nvel operacional.

Para isso, o administrador deveria priorizar um recrutamento efetivo, fazendo

com que cada funcionrio estivesse no lugar certo e na hora certa para atender aos

objetivos determinados, com a maior produtividade.

Para que isso ocorresse, as normas, regulamentos, comunicaes, aes,

processos etc., necessitariam estar definidos claramente de forma a ser acessvel a

todos, inclusive quando da aplicao de sanes, gerando uma burocracia

necessria cuidando da ordem material e social da empresa e, estabelecendo

claramente quem est no comando criando assim uma unidade, ou seja, um nico

supervisor coordenando e controlando processos e pessoas.

indiscutvel a influncia exercida pelos princpios fayolianos no campo

administrativo. Porm, nem todos esses princpios foram amplamente aceitos pelos

seus seguidores, os denominados processualistas. Um bom exemplo so os

professores Koontz e ODonnell, ambos americanos, que foram grandes

divulgadores da obra de Fayol, tendo se destacado pela larga experincia em

funes administrativas, na licenciatura e como escritores e pesquisadores da Teoria

Administrativa.

36

Tendo vivenciado nos Estados Unidos um perodo de grandes

transformaes econmicas, mais exatamente no perodo ps Segunda Guerra

Mundial, esses tericos buscaram elementos administrativos de qualidade, que

fossem ao encontro das expectativas exigidas pelos novos mercados, tecnologias e

complexidade das recm-criadas organizaes desse perodo.

Eles buscaram extrair da obra de Fayol seus princpios, ao mesmo tempo

em que inovaram o pensamento administrativo, o que resultou na Escola Processual

ou Operacional, a qual obteve grande aceitao no meio empresarial acadmico. A

Escola Processual ou Operacional surgiu como uma adaptao ao ps-guerra, e

provocou mudanas no pensamento administrativo naquele perodo e,

consequentemente, no papel do executivo.

Moraes e Escrivo Filho (2008) apontam elementos de preocupaes

diferenciadas entre Koontz e ODonnell com relao a Fayol como a funo de

coordenao, delineada por Fayol como integrada ao conjunto de funes

administrativas, permanecendo at 1954, quando passou a receber um olhar bem

diferenciado. Tal olhar repousa sobre a ideia de que necessrio separar a

coordenao do conjunto das funes administrativas, pois, para Koontz e ODonnell

(1959), coordenao est vinculada harmonizao dos esforos individuais,

buscando efetivar os objetivos do grupo. Os autores a tratam como a essncia da

administrao: a coordenao permeia as funes do administrador.

Para Koontz e ODonnell, a coordenao uma atribuio separada do

conjunto das funes administrativas. Para eles, coordenar harmonizar o esforo

individual a fim de alcanar os objetivos do grupo. Trata-se do propsito da

organizao como um todo. Por essa razo, cada funo do administrador

considerada como um exerccio da coordenao.

Ento, Koontz e ODonnell acreditam que, ao obter esforo sincronizado por

parte dos funcionrios, o administrador realiza funes administrativas, ou seja,

planeja, organiza, designa pessoal, dirige e controla,

[...] ademais, coordenar responsabilidade do administrador, ao assegurar a estrutura adequada da organizao, com subordinados bem treinados que entendam os princpios de coordenao e a importncia de p-los em prtica. (MORAES; ESCRIVO FILHO, 2008, p. 48).

37

J em relao s ideias gerais de Koontz e ODonnell, pertinente comear

analisando aquelas referentes tarefa do administrador. A ao primordial deste

seria a de criar dentro da empresa um ambiente que facilitasse a obteno de um

objetivo comum.

A necessidade de sincronizar a ao individual surge da diferena de

opinies sobre como os objetivos do grupo podem ser alcanados ou de como os

objetivos individuais e de grupo podem ser harmonizados. Mesmo no caso de uma

igreja ou organizao de caridade, os indivduos, muitas vezes, interpretam

interesses similares de maneira diferente, e seus esforos para conseguir objetivos

comuns no se coadunam automaticamente.

Sobre tcnicas, Koontz e ODonnell (1959) preconizam que o principal modo

de conseguir coordenar uma empresa atravs da superviso. O supervisor

consegue que os subordinados se esforcem em suas relaes entre si e com

elementos de outros setores.

O austraco Peter Drucker procurou imprimir atividade administrativa

contempornea maior nfase possvel racionalidade econmica, com a

preocupao de que essa exacerbada racionalidade no significasse apartar o ser

humano, ou seja, o trabalhador, de exercer um relativo domnio sobre o seu trabalho.

A preocupao desse terico em conceber a administrao com uma

perspectiva humana certamente tem razes em sua diversificada formao Peter

Drucker era jornalista, escritor, doutor em direito pblico e internacional, estudioso

de economia e poltica internacional, conferencista, professor e analista financeiro

assim como conhecedor profundo de diversas culturas.

Do ponto de vista econmico, buscaram sempre a eficincia e a eficcia

organizacional como prerrogativas indispensveis ao trabalho do administrador, pois

considerava esses elementos os desencadeadores do processo administrativo.

Bigaton e Perussi Filho (2008) apontam como a maior contribuio de Peter Drucker

a criao da tcnica conhecida como Administrao por Objetivos, na qual os

subordinados so incentivados a traar objetivos em conjunto com os dirigentes.

Os dois principais objetivos do administrador, do ponto de vista econmico,

seria buscar a eficincia tanto no uso dos recursos escassos quanto das aes e, do

ponto de vista humano, buscar a satisfao plena das pessoas que fazem parte do

processo administrativo. Mais: a qualidade e o desempenho dos administradores

seriam a nica vantagem que uma empresa pode ter ao competir com outra.

38

Para que essa eficincia seja adquirida, o administrador deve dar

administrao maior racionalidade econmica e ter relativo domnio sobre o trabalho

a ser realizado. Pensando nisso, Drucker identificou os requisitos bsicos de um

administrador:

Saber administrar por objetivos;

Ter a habilidade de correr riscos por longos perodos, mas lembrando-

se de que as decises que implicam mais riscos devem ser tomadas em

nveis superiores da organizao;

Capacidade de tomar decises estratgicas;

Capacidade de formar uma equipe integrada, na qual cada membro

esteja apto a administrar e avaliar seu prprio desempenho e seus

resultados com relao aos objetivos comuns;

Capacidade de comunicar informaes de forma rpida e clara;

Capacidade de motivar pessoas e obter a participao responsvel de

todos, inclusive de outros administradores;

Capacidade de relacionar o produto e a indstria com o ambiente,

percebendo o que significativo nele e o que levar em conta em suas

decises e aes; e

Aprender a ver os acontecimentos econmicos, polticos e sociais em

escala mundial e saber integrar tendncias mundiais em suas decises.

(BIGATON; PERUSSI FILHO, 2008, p. 59).

Drucker pontua trs funes bsicas ao exerccio do administrador

profissional, quais sejam: empresarial; de movimentar recursos do passado para o

futuro; e no minimizar riscos, mas sim maximizar oportunidades. Juntando essas

trs funes o resultado sero recursos humanos produtivos, pois os

administradores trabalharo em conjunto, unindo habilidades e conhecimentos de

cada um a fim de tornar produtivas as qualidades positivas e irrelevantes as

deficincias.

Mas, para que o gerente consiga ser eficaz ele deve saber onde gastar o

prprio tempo; concentrar esforos em resultados mais do que em atividades;

39

basear-se nas qualidades pessoais mais fortes; concentrar-se nas tarefas

fundamentais e tomar decises efetivas.

J as tarefas da alta administrao exigiriam diversidade de aptides,

capacidade de analisar, de pesar as alternativas e de harmonizar as dissenses,

audcia e coragem intuitiva; conscincia do ser humano, empatia e, no todo,

interesse ativo e respeito pelas pessoas. Algumas dessas tarefas da alta

administrao seriam de representao e cerimonial, que so tarefas externas e

envolvem o gosto poltico pelas multides e protocolo.

Drucker estabeleceu algumas regras que devem ser seguidas pelos

executivos da alta administrao para que sua gerncia seja eficaz. So elas:

elaborar, manter e ter clareza de foco, planejar aes para evitar erros, cuidar da

operao e assegurar sua efetividade e no ficar preso a detalhes, e, por fim, ter

clareza do que seja vida pessoal, amigos e a gerncia.

Nota-se que Drucker foca a sua preocupao com a efetividade do

gerenciamento e da gerncia, isto , ter um objetivo claro e segui-lo regra a ser

cuidada. O que acaba por instigar o estudo do prximo autor que vai estabelecer

papis para esse gestor.

2.2 Abordagem dos papis

J Chester Barnard est na raiz do desenvolvimento da abordagem dos

papis, caracterizada por uma linha mais descritiva e informal, se comparada

abordagem processual, que tem por caractersticas a prescrio e a sistematizao

(MIGLIATO; ESCRIVO FILHO, 2008).

Apesar da complexidade atribuda sua obra, inegvel sua habilidade de

transitar entre o conhecimento emprico e o terico, utilizando-se de conceitos

contemporneos de psicologia e sociologia.

Chester Barnard considerado um precursor da investigao explicativa do

trabalho do administrador, abordando, como indica Migliato e Escrivo Filho (2008),

a relao indivduo-organizao, centrando o foco em como a organizao

formada a partir das relaes dos indivduos.

40

Um dos conceitos emitidos por Chester Barnard o de organizao formal,

que na verdade uma espcie de cooperao consciente entre homens, com

finalidade expressa. Atualmente essa cooperao se tornou onipresente e inevitvel:

A sobrevivncia de uma organizao depende da manuteno de um equilbrio de tipo complexo, num ambiente em permanente flutuao, de materiais fsicos, biolgicos e sociais, elementos e foras que clamam por ajustamento dos processos internos da organizao. (BARNARD, 1971, p. 38).

Justamente por isso, Barnard se preocupa com os indivduos, definindo-os e

estudando-os, dentro e fora de qualquer organizao especfica, pois as

caractersticas biolgicas das pessoas, com faculdades e habilidades separadas,

so limitaes que podem ser superadas pela cooperao.

Ele afirma:

Cooperao e organizao, como so observadas e experimentadas, so concretas de fatos opostos, bem como de pensamentos opostos e emoes dos seres humanos. A funo do executivo exatamente a de facilitar a sntese de foras contraditrias em ao concreta, para reconciliar foras, instintos, interesses, condies, posies e ideais conflitantes. (BARNARD, 1971, p. 51).

O ponto central de sua argumentao reside na tenso existente entre a

necessidade de se alcanar os objetivos da organizao e aqueles inerentes aos

prprios indivduos. O conjunto de objetivos individuais deve ser levado em conta

pela organizao, pois, do contrrio, dificilmente os objetivos da organizao

podero ser efetivamente alcanados (MIGLIATO; ESCRIVO FILHO, 2008).

Nessa mesma linha de estudo, centrada no comportamento do indivduo

dentro da organizao, o cientista poltico Hebert A. Simon prope, mediante a

abordagem comportamental, demonstrar que as escolhas racionais dos indivduos

dentro das organizaes podem servir como base para entender a estrutura e o

funcionamento das mesmas e, assim, descrever o trabalho do administrador.

Partindo de crticas s abordagens tradicionais de Administrao, sua obra,

publicada em 1945, caracteriza os processos gerenciais como processos decisrios.

Simon era contrrio definio clssica da administrao a arte de realizar coisas

em que a nfase dada aos mtodos e s realizaes. Os mtodos e princpios

administrativos deveriam orientar e assegurar a tomada de decises acertadas:

41

Dessa forma, a proposta de Simon saber como o administrador pode influenciar os operrios a fim de obter um comportamento coordenado, ou seja, como as decises e comportamento desses operrios podem ser determinados pela organizao para que eles produzam [...] (ALBUQUERQUE; ESCRIVO FILHO, 2008, p. 86).

O foco da teoria administrativa deveria estar centralizado na racionalidade

da deciso (adequao entre meios e fins), cabendo ao processo administrativo

influenciar tais decises para alcanar o comportamento desejado. Isto envolveria

trs etapas:

a) Desenvolvimento de um plano para todos os participantes da

organizao;

b) Comunicao do plano aos participantes;

c) Aceitao do plano pelos participantes.

Porquanto, deveriam ser utilizados mecanismos de natureza externa

autoridade, informao e de natureza interna critrio de eficincia, lealdade

organizativa os quais permitiriam chegar ao objetivo organizacional atravs de

conhecimento, habilidade e informao. Assim:

O modelo de comportamento do subordinado composto de uma deciso indeterminada nica, ou critrio para deciso: seguir aquela alternativa de comportamento que foi selecionada para mim por meu superior. Em outras palavras, ele inibe suas prprias faculdades de escolher entre alternativas e aceita o critrio formal da recepo de uma ordem ou de um sinal como base de sua escolha. (SIMON, 1965, p. 147).

Mintzberg (1986) considerado um inovador no que se refere ao

pensamento terico administrativo, propondo a introduo de elementos mais

atualizados para definir a tarefa do administrador.

De acordo com Sentanin (2008), em sua obra, Mintzberg exps o seu

pensamento desafiador e inovador sobre o gerenciamento, abrangendo a natureza,

a estrutura e as estratgias utilizadas nas organizaes. Estudou a estrutura das

organizaes com o objetivo de entender como eram formuladas as estratgias

dentro das mesmas. Estudou tambm o poder das organizaes com o mesmo

objetivo, ou seja, o conhecimento da natureza das estratgias.

Pode-se afirmar que Mintzberg foi precursor quanto proposio de um

novo modelo de se exercer o trabalho administrativo. Seu estudo teve como base a

pesquisa e observao de altos executivos de grandes corporaes, e a maneira

42

como estes lidavam com as questes rotineiras do seu cargo e as presses

inerentes s responsabilidades exigidas pra a tomada de decises importantes que

envolviam grandes somas financeiras.

Seu trabalho terico se contrape ao pensamento clssico da teoria

administrativa, sobretudo corrente processualista e aos ensinamentos de Fayol,

baseados nas funes: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Para

Mintzberg, estas funes esto vagamente relacionadas com os objetivos que

compem o dia-a-dia do administrador, porm, esto distantes de descrever a

realidade do que seja a prtica administrativa.

Conforme Sentanin (2008), a teoria de Mintzberg desafia a abordagem

processual de Fayol, propondo a Abordagem dos Papis, na qual afirma que

executar formalmente planos que tm como base uma sequncia de atividades no

compreende a funo verdadeira do administrador. Ainda de acordo com Sentanin

(2008), Mintzberg afirmava que os administradores trabalham reagindo aos

estmulos a partir das condies do seu prprio trabalho, preferindo aes imediatas

ao invs das tardias.

Buscando elucidar a forma mais prxima da realidade, para descrever o

trabalho do administrador, Mintzberg props derrubar alguns mitos que

caracterizariam a atividade administrativa de acordo com as teorias clssicas:

1 Mito: O executivo um planejador sistemtico e reflexivo. [...] Realidade: Um grande nmero de estudos prova que os executivos trabalham num ritmo inexorvel e que suas atividades se caracterizam pela brevidade, variedade e descontinuidade e que eles esto firmemente orientados para a ao, no apresentando inclinaes para atividades de reflexo; [...] 2. Mito: O verdadeiro executivo no executa tarefas de rotina. [...] Realidade: Alm de se ocupar com excees, o trabalho administrativo envolve a execuo de uma srie de deveres rotineiros, incluindo rituais e cerimnias, negociaes e processamento de pequenas informaes que ligam a organizao a seu meio ambiente; [...] 3. Mito: Os principais executivos necessitam de informaes agregadas, que podem ser melhor obtidas atravs de um sistema formal de informaes gerenciais; [...] Realidade: Os executivos preferem a mdia verbal, principalmente telefonemas e reunies; [...] 4. Mito: A administrao , ou pelo menos est se transformando rapidamente, em cincia e profisso. Sob qualquer definio de cincia e profisso, tal afirmao falsa; [...] Realidade: Os programas dos executivos para organizar o tempo, processar informaes, tomar decises e outras coisas mais permanecem trancados em suas cabeas. Assim, para descrever esses programas, ns empregamos palavras como julgamento e intuio,

43

raramente constatando que elas so meros rtulos, para classificar nossa ignorncia. (MINTZBERG, 1986, p. 9-17).

Mintzberg (1986) argumenta que o trabalho do administrador estaria mais

ligado s aes e reaes que o executivo deve ter como resposta aos desafios

rotineiros inerentes ao prprio cargo do que reflexo, desenvolvimento e execuo

de planos administrativos formais que ele possa vir a propor para a administrao de

uma determinada organizao.

O ato de administrar , sob a perspectiva de Mintzberg, o ato de oferecer

respostas imediatas aos constantes desafios recorrentes do prprio trabalho

administrativo. Ainda que tal formulao parea transmitir a ideia de que o

administrador venha a agir por impulso, o autor salienta em seu modelo de

pensamento que o executivo deve se cercar de todo um aparato que lhe proporcione

a segurana suficiente para tomar decises, estabelecendo uma espcie de rede de

informantes, tanto internos quanto externos.

primordial para o executivo comunicar e receber informaes atravs de

seus subordinados (informantes de dentro das organizaes) e de outros

executivos/administradores (ambiente externo), formulando, a partir da, o

cruzamento de informaes variadas que lhe permitam perceber e conceber

respostas precisas para a elaborao das decises adequadas, que possam ir ao

encontro da resoluo dos problemas e da identificao das oportunidades.

Essas atividades decisrias, ou, melhor dizendo, estas informaes,

estariam, de acordo com Mintzberg, apenas na cabea do executivo, o qual ele

nomeia como o centro nervoso da administrao. Por isso mesmo, difcil para o

administrador delegar poderes e traar planos formais que transfiram a terceiros o

ato decisrio.

Por depender dessa extensa rede de relacionamentos informais,

importante que o executivo exera autoridade, liderana e influencia sobre uma

grande variedade de pessoas. O ato de comunicar-se com elas, recebendo e

passando informaes se mostra determinante para o ato de administrar de forma

eficaz.

Portanto, para o exerccio da funo administrativa, Mintzberg afirma que

imprescindvel ter algumas habilidades, tais como: desenvolver relaes com seus

pares, fazer negociaes, motivar os subordinados, solucionar conflitos, estabelecer

44

redes de informaes e, posteriormente, difundir informaes, tomar decises e

alocar recursos (SENTANIN, 2008, p. 108).

Para Sentanin (2008), tais habilidades levam o administrador a desenvolver

os vrios papis (ou funes), que compem o seu cargo. Ao exercer a autoridade

que o cargo lhe confere, do qual tambm advm o seu status, o administrador

acaba por dar origem aos seguintes papis:

2.2.1 Papis interpessoais

O papel ligado prpria imagem do chefe ou de representante

relacionado ao desempenho de atividades que envolvem as

representatividades, as cerimnias e os rituais.

O papel de lder a atividade de liderana faz do executivo o

responsvel direto pelo trabalho de seus subordinados, assim como

tambm faz parte da liderana encorajar e motivar os funcionrios,

conciliando os objetivos destes com os objetivos da organizao.

O papel de contato importante que o executivo estabelea relaes

extras com uma grande variedade de pessoas, alm de sua prpria

cadeia vertical de comando, levando-o a entender o ambiente sua

volta, tecendo redes de informantes que o auxiliariam nos momentos

de deciso.

2.2.2 Papis Informacionais

Papel de Monitor Para o autor a permanente comunicao,

principalmente verbal, faz parte do trabalho do administrador levando-

o ao exame minucioso do ambiente relacionado ao seu trabalho.

Atravs de sua prpria rede de contatos ou at mesmo aqueles

informantes espontneos ou no solicitados.

45

Papel de Disseminador Neste papel o executivo transmite aos seus

subordinados as informaes recebidas que se mostram importantes

para a organizao. Mantendo e alimentando um fluxo de

comunicao que estes no teriam acesso sem a figura do

disseminador.

Papel de Porta-Voz Alm de comunicar-se com pessoas envolvidas

com o seu ambiente ou unidade da organizao, o executivo tambm

necessita transmitir mensagens a outras pessoas fora da sua

unidade. Servindo de porta-voz na busca de seus interesses

administrativos ou da organizao como um todo.

2.2.3 Papis Decisionais

Papel de Empreendedor A preocupao de empreender melhorias

e desenvolver as idias para realizao de projetos que busquem

adaptar a sua unidade s transformaes do ambiente faz do

executivo um empreendedor em potencial.

Papel de Solucionador de Distrbios Este papel est ligado s

questes involuntrias que podem surgir com parte do trabalho do

executivo como as presses decorrentes de fatores como: greves,

falncia de clientes, rompimento de contrato por fornecedores, as

quais levam o administrador sob forte presso.

Papel de Alocador de Recursos Como responsvel pela estrutura

formal de relacionamento da sua unidade, cabe ao executivo decidir a

diviso e a coordenao do trabalho a ser executado. Tambm faz

parte do seu trabalho distribuir recursos dentro de sua unidade

organizacional. No entanto, Mintzberg afirma que o mais importante

recurso que o executivo distribui o seu prprio tempo.

Papel de Negociador Por ser detentor das informaes

necessrias e ter o poder de decidir quanto maioria das questes

46

administrativas cabe aos executivos de qualquer nvel negociar,

utilizando importante parcela do seu tempo nessa atividade.

Para Mintzberg, os papis, por ele descritos, devem ser considerados como

um todo, do contrrio, isto , a ausncia de um deles leva ao prejuzo do trabalho do

executivo, desmontando o conjunto e o equilbrio que deve existir para o

desempenho da funo administrativa. Como ele bem exemplifica:

[...] um executivo sem contatos no consegue obter informaes externas. Em conseqncia, no pode fornecer a seus subordinados as informaes de que necessitam nem tomar decises que reflitam adequadamente as condies externas (na realidade, esse um problema para uma pessoa que ocupa uma funo administrativa h pouco tempo, visto que ela no pode tomar decises antes de formar sua rede de contatos). (MINTZBERG, 1986, p. 31).

Assim, todos os elementos que compem os papis devem funcionar

harmonicamente e sinergicamente, ainda que alguns deles tenham maior destaque

que os outros, dependendo do setor onde o executivo atua. Porm, retirar, dividir ou

compartilhar os papis propostos por Mintzberg pode gerar problemas para

administrar uma organizao, pois estes so, para o autor, caracteristicamente

inseparveis.

2.3 Outras contribuies

As transformaes ocorridas a partir de meados do sculo XX no cenrio

econmico trouxeram a rpida expanso das organizaes, exigindo dos dirigentes

iniciativas, e obrigando-os a ter um novo olhar para o mundo dos negcios.

A administrao deixou de ser uma atividade voltada para dentro da

empresa, restrita aos assuntos internos, para atuar no ambiente externo, o que leva

os administradores a observarem as oportunidades e os perigos oferecidos pela

economia mundial, impelindo-os a fazerem as devidas adaptaes no interior da

organizao.

Dentro desse novo contexto, os estudos do professor americano John P.

Kotter so considerados de grande importncia, sendo autor de vasta obra sobre

47

liderana e mudana organizacionais as quais deveriam ser elaboradas para

oferecer s empresas transformaes que as tornassem bem-sucedidas.

Kotter (1982), no seu trabalho investigativo sobre executivos norte-

americanos de diversos ramos da economia, concluiu que os dois grandes desafios

desses profissionais so:

a) a diversidade e o volume de informaes potencialmente relevantes;

b) dependncia de um grande nmero de pessoas.

A partir da, cria o modelo de desempenho no cargo, levando em conta a

agenda de trabalho e os diversos contatos, visando:

1. Estabelecimento de uma agenda usada como estratgia pessoal para

alcanar as metas no seu trabalho;

2. Construo de redes de contato aps estabelecer os contratos e

construir a agenda, o executivo usa a rede para implementar a agenda;

3. Implementao das agendas deve ocorrer com o uso de recursos

oramentrios, da influncia e da informao, usando mtodos simb