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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA RÉGIA MARIA DE CARVALHO PEIXOTO SYLVANA ROBERTA BOTELHO MIRANDA “CUIDAR DA SEGURANÇA E CONSUMIR A SAÚDE À QUEIMA- ROUPA: UM ESTUDO SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT E AS RELAÇÕES COM ESTRATÉGIAS DE COPING E SIGNIFICADO DO TRABALHO ENTRE POLICIAIS CIVIS EM UMA DELEGACIA NA CIDADE DE NATAL-RN” NATAL 2006

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

RÉGIA MARIA DE CARVALHO PEIXOTO SYLVANA ROBERTA BOTELHO MIRANDA

“CUIDAR DA SEGURANÇA E CONSUMIR A SAÚDE À QUEIMA-ROUPA: UM ESTUDO SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT E AS RELAÇÕES COM ESTRATÉGIAS DE COPING E SIGNIFICADO DO TRABALHO ENTRE POLICIAIS CIVIS EM UMA DELEGACIA

NA CIDADE DE NATAL-RN”

NATAL

2006

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RÉGIA MARIA DE CARVALHO PEIXOTO SYLVANA ROBERTA BOTELHO MIRANDA

“CUIDAR DA SEGURANÇA E CONSUMIR A SAÚDE À QUEIMA-ROUPA: UM ESTUDO SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT E AS RELAÇÕES COM ESTRATÉGIAS DE COPING E O SIGNIFICADO DO TRABALHO ENTRE

POLICIAIS CIVIS EM UMA DELEGACIA NA CIDADE DE NATAL-RN”

Monografia apresentada à Universidade Potiguar - UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Psicologia.

ORIENTADOR: Prof. Me. Elson C. Vilela

NATAL 2006

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P379c Peixoto, Régia Maria de Carvalho. Cuidar da segurança e consumir a saúde à queima-

roupa: um estudo sobre a Síndrome de Burnout e as relações com estratégias de Coping e significado do trabalho entre policiais civis em uma delegacia na cidade de Natal-RN / Régia Maria de Carvalho Peixoto, Sylvana Roberta Botelho Miranda. – Natal, 2007.

102f.

Monografia (Graduação em Psicologia). Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Graduação.

Bibliografia: 13-23. 1. Psicologia – Monografia. 2. Sindrome de Burnout. 3. Estratégia Coping. I. Miranda, Sylvana Roberta

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, ao meu esposo, meus filhos minha nora, meu neto, fontes de minha inspiração e perseverança. (Régia M. C. Peixoto).

Ao meu filho Ramon, que é minha conquista mais preciosa e por ser o real motivo que me faz transpor obstáculos, querer chegar mais longe e ser alguém melhor. (Sylvana R. B. Miranda).

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AGRADECIMENTOS

A Deus toda a gratidão, toda a honra e toda a glória para todo o

sempre.

Aos meus pais, Manoel Carvalho e Maria Alves Carvalho pelas

orações, pelo apoio constante, pelos ensinamentos e, principalmente pelo

exemplo de vida que me forneceram.

Ao meu esposo, Dr. José Peixoto, um amigo compreensivo; aos

meus filhos amorosos, Edrei Wesley e Laan Diego, minhas pedras preciosas,

presentes graciosos do meu Deus. À minha nora, Melina, esposa de Laan Diego,

querida filha do coração, que me presenteou com um netinho, Diego Filho.

Aos meus irmãos queridos, Rubem, Itamar, Márcia e Rosilva, meus

amigos de todas as horas, sempre dispostos a ajudar, compreender e encorajar.

À minha amiga Veronilda Regina pela dedicada companhia e apoio

acolhedor em todos os momentos dessa jornada.

À colega e parceira, Sylvana, pelos aprendizados nessa

construção.

À Diretora, professora Roberta Barzaghi, pelas contribuições

imensuráveis para a vida.

Ao mestre professor Elson Vilela pelos ensinamentos teórico-

práticos permeados de acolhimento significativo, e por todo o esmero com que

se envolveu na construção deste trabalho.

Ao Professor Carlos Roberto por ter disponibilizado seu tempo de

forma especial, constituindo-se em grande colaborador.

À Professora Ana Augusta pela generosa participação.

Aos professores, em especial Carina Cavalcanti, Clarisse Carneiro,

Jader Leite, Sílvia Maciel, Luciana Medeiros, Jeanne D’Garim, Ana Patrícia.

A todos os colegas da turma de Psicologia 2003 da UNP, pelo

acolhimento, carinho e amizade.

Régia Maria de Carvalho Peixoto.

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A Deus, por tamanha perfeição, sabedoria e generosidade, por me

permitir vivenciar dificuldades e superá-las e por me tornar capaz de alcançar

essa vitória.

Aos meus queridos pais Luiz e Alméria, pelo esforço, investimento

e convicção oferecidos durante toda minha vida e que foram necessários para

minhas realizações e ainda por contribuírem com o mérito da decência, valentia

e amor para meus valores pessoais.

Ao meu esposo Israel pelo incentivo, contribuição, compreensão e

paciência, estimando e acreditando sempre na minha capacidade e aptidão.

Ao meu irmão Sérgio por ansiar minhas aquisições e felicidade,

estando ciente de que isso é recíproco.

Aos meus familiares e amigos, mesmo os que não se encontram

mais presentes fisicamente, por me encorajarem, pela sensibilidade de

identificarem em mim a propensão à Psicologia e por dividirem comigo as

alegrias e angústias.

Aos colegas do Curso de Psicologia pelo compartilhamento de

conhecimentos e experiências, em especial à Régia, pela sociedade e

enriquecimento dado a este trabalho.

Ao professor e orientador Elson Vilela, pela indispensável

colaboração, cumplicidade, dedicação e sagacidade.

Aos professores Carlos Roberto e Ana Augusta pela atenção e

cooperação.

Sylvana Roberta Botelho Miranda

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RESUMO

O estudo foi desenvolvido com o propósito de investigar a incidência da síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e o significado do trabalho entre policiais civis da cidade de Natal-RN. A pesquisa foi realizada em uma delegacia especializada em homicídios (DEHOM) e envolveu uma amostra de 18 policiais de ambos os sexos com idade entre 27 e 48 anos (M= 37,8 e DP=9,6). Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram o Inventário de Burnout de Maslach (MBI), adaptado por Tamayo (1997), a Escala de Coping Ocupacional, versão brasileira, traduzida e adaptada por Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2000) e o Inventário de Motivação e Significado do Trabalho (IMST), desenvolvido Borges e Alves Filho (2001). Os dados foram registrados sob forma de banco de dados do SPSS (Statistical Package for Social Science). Foram utilizadas técnicas estatísticas como medidas de tendência central e dispersão, análise de variância (ANOVA), teste t, teste qui-quadrado (Pearson), correlações e análise de regressão. Tomadas as dimensões de coping e significado do trabalho como preditores das dimensões da burnout, encontrou-se que as mesmas explicaram 50% da exaustão emocional; 55,6%, da diminuição da realização; e, 38%, da despersonalização, tendo os participantes da amostra apresentado uma intensidade moderada da síndrome de burnout. Os participantes não apresentaram diferenças quanto às dimensões da burnout na dependência das variáveis sócio-demográficas e funcionais, assim como nas estratégias de coping adotadas, mas isso não prevaleceu no significado atribuído ao trabalho. Foram apresentadas recomendações quanto à prevenção tanto sob o aspecto organizacional quanto pessoal.

Palavras-Chave: Saúde mental e trabalho. Burnout. Significado do Trabalho.

Coping.

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ABSTRACT

The present study was developed with the purpose of investigating the incidence of the burnout syndrome and their relationships with coping strategies and the meaning of the work among civil policemen of the city of Natal-RN. The research was accomplished at a specialized police station in homicides (DEHOM) and involved a sample of 18 policemen of both sexes with age between 27 and 48 years (M = 37,8 and DP=9 ,6). The instruments used for the collection of the data were the Maslach´s Burnout Inventory (MBI), adapted by Tamayo (1997), the Scale of Occupational Coping, Brazilian version, translated and adapted by Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2000) and the Motivation and Meaning of the Work Inventory (IMST), developed Borges and Alves Filho (2001). The data were registered under form of database of SPSS (Statistical Package is Social Science). Statistical techniques were used as measures of central tendency and dispersion, variance analysis (ANOVA), test t, test qui-square (Pearson), correlations and regression analysis. Taken the coping dimensions and meaning of the work as predictors of the dimensions of the burnout, one met that the same ones had explained 50% of the emotional exhaustion; 55.6%, of the accomplishment reduction; and 38%, of the depersonalization. The participants of the sample presented a moderate intensity of the burnout syndrome. The participants didn't present differences as for the dimensions of the burnout in the dependence of the partner-demographic and functional variables, as well as in the strategies of adopted coping, but that didn't prevail in the meaning attributed to the work, in the dependence of those varied. Recommendations were presented as for the prevention of the burnout being considered organizational and personal aspects. Key words: Mental Health and work, Burnout, Meaning of the Work, Coping.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 Representação de condições para caracterização da burnout ................................................................................ 71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Distribuição dos participantes por faixa etária (N=18) ........ 58

Tabela 02 Distribuição por estado civil (N=18) .................................... 59

Tabela 03 Distribuição por religião (N=18) .......................................... 59

Tabela 04 Distribuição por freqüência a atividades religiosas (N=18) 60

Tabela 05 Distribuição por nível de instrução (N=18) ......................... 60

Tabela 06 Distribuição por cargo (N=18) ............................................ 61

Tabela 07 Distribuição por faixa de tempo no cargo .......................... 61

Tabela 08 Distribuição por faixa de tempo na Polícia Civil .................. 62

Tabela 09 Escores das médias das dimensões síndrome de burnout 67

Tabela 10 Médias dos fatores de burnout e freqüência por intervalos 68

Tabela 11 Distribuição percentual da ocorrência das dimensões exaustão, despersonalização e diminuição da realização (N=18) ................................................................................. 69

Tabela 12 Distribuição da intensidade das dimensões da burnout por variáveis que tiveram independência rejeitada pelo teste qui-quadrado ....................................................................... 73

Tabela 13 Médias nos fatores da escala de estratégias de coping no trabalho ............................................................................... 74

Tabela 14 Estatísticas descritivas da centralidade atribuída às esferas de vida (N = 18) ...................................................... 78

Tabela 15 Escores nos fatores do significado do trabalho .................. 79

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 11

1 INTRODUÇÃO 13

2 ESTRESSE E ESTRESSE OCUPACIONAL 16

2.1 ESTRESSE 16

2.2 ESTRESSE OCUPACIONAL 20

3 BURNOUT 26

4 ESTRATÉGIAS DE COPING 36

5 SIGNIFICADO DO TRABALHO 43

6 MÉTODO 56

6.1 TIPO DE ESTUDO 56

6.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 57

6.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA 62

6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 64

6.5 PROCEDIMENTO DE REGISTROS DE DADOS 65

6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS: 65

7 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 66

7.1 SÍNDROME DE BURNOUT 66

7.1.1 ESCORES DOS FATORES DA SÍNDROME DE BURNOUT 66

7.1.2 INCIDÊNCIA DE BURNOUT 70

7.2 ESTRATÉGIAS DE COPING NO TRABALHO 74

7.3 SIGNIFICADO DO TRABALHO 77

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 81

9 REFERÊNCIAS 88

APÊNDICE 93

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APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso - TCC foi desenvolvido a

partir de uma pesquisa realizada com policiais civis em uma delegacia na cidade

de Natal - RN, tendo como tema “Cuidar da segurança e consumir a saúde à

queima-roupa: um estudo sobre a síndrome de burnout e as relações com

estratégias de coping e o significado do trabalho entre policiais civis da cidade de

Natal - RN”.

O propósito maior da pesquisa foi investigar a ocorrência da

síndrome de burnout em policiais civis da cidade de Natal, bem como explorar as

possíveis relações entre a incidência de burnout, as estratégias de coping e o

significado do trabalho.

No primeiro capítulo deste trabalho se expõe os objetivos da

pesquisa, a justificativa e a relevância do estudo para o meio acadêmico e social,

tendo em vista que a síndrome de burnout interfere no bem estar do indivíduo. No segundo capítulo discorre-se sobre estresse e estresse

ocupacional, apresentando-se os conceitos e diferenças entre estes dois tipos de

estresse, enfatizando como estes podem interferir na saúde e bem estar do

trabalhador.

O terceiro capítulo traz conceitos e causas que envolvem a

síndrome de burnout e suas diferentes perspectivas. Exploram-se suas três

dimensões: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização

pessoal no trabalho. Trata-se, ainda, da síndrome em policiais, dos

desencadeadores e facilitadores do seu aparecimento, do instrumento utilizado

para que esta seja avaliada e de como prevenir e enfrentá-la.

O quarto capítulo aborda as estratégias de coping, o conceito e as

questões metodológicas que envolvem o construto e as conseqüências que

provocam no indivíduo.

O quinto capítulo, que trata do significado do trabalho, apresenta o

conceito de trabalho em diferentes perspectivas, dando-se ênfase ao trabalho

policial, a relação do trabalhador com o processo de trabalho, o modo como o

trabalhador se organiza e a importância da saúde mental deste, os fatores que

influenciam a percepção e as respostas que o policial dá a esta percepção.

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Abordam-se, também, aspectos da categoria de policiais civis e do ambiente de

trabalho dos mesmos.

O sexto capítulo explicita o método. São apresentadas as questões

de pesquisa, definida a população e caracterizada a amostra, descritos os

instrumentos utilizados e a forma (procedimentos) como os dados foram

coligidos, registrados e analisados.

No sétimo capítulo, considerando a questão geral de pesquisa e as

questões específicas, os dados são apresentados, analisados e discutidos.

O último capítulo consiste numa sumarização dos resultados

complementada por reflexões a partir do referencial teórico, de uma avaliação do

estudo e da apresentação de algumas sugestões consideradas viáveis, no

campo da pesquisa e da intervenção.

O estudo foi realizado objetivando trazer sua contribuição para a

ampliação do entendimento da relação existente entre a síndrome de burnout, as

estratégias de coping e o significado do trabalho para os policiais civis, levando

em conta fatores pessoais e organizacionais envolvidos.

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo teve o propósito de investigar a incidência da

síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e o significado

do trabalho entre policiais civis da cidade de Natal-RN.

A motivação para o desenvolvimento desse trabalho decorreu do

interesse das autoras pela Psicologia Organizacional e do Trabalho e, em

particular, pelos estudos que envolvem trabalho, saúde e doença mental e,

ainda, pela exigência acadêmica para a conclusão do bacharelado em

Psicologia.

No que diz respeito à categoria profissional escolhida para a

realização desta pesquisa, justifica-se pelo interesse em compreender a

atividade laboral dos policiais civis, reconhecidamente vinculada a ações que

provocam estresse agudo e exaustão emocional, analisando o possível desgaste

físico e/ou emocional por eles apresentados; a importância social que se atribui

atualmente à atividade do trabalho; assim como a relevância da saúde mental na

organização.

Este trabalho vinculou-se à iniciativa de constituição de um grupo

de estudo e pesquisa em processos organizacionais e qualidade de vida no

trabalho, no curso de Psicologia da UnP.

No mundo atual, a questão da prevenção do crime e da violência

vem se tornando cada vez mais uma prioridade da gestão da segurança pública

e da defesa social. A Segurança Pública é reconhecida como parte integrante da

Defesa Social e caracterizada, segundo o Ministério da Justiça, como uma

atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo,

realizada com o fim de proteger a cidadania, prevenindo e controlando

manifestações da criminalidade e da violência, garantindo o exercício pleno da

cidadania nos limites da lei.

A segurança pública depende da interação entre os componentes

da Policial Geral: a Polícia, o Ministério Público e a Autoridade Penitenciária,

para realizar a prestação de serviços públicos de segurança, através do

policiamento ostensivo, da apuração de infrações penais e da guarda e

recolhimento de presos, englobando atividades repressivas e preventivas em

prol do sentimento coletivo de segurança.

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Muitas pessoas, notadamente os rapazes, idealizam a profissão de

policial como uma possibilidade de exercer poder e respeito, proteger a

sociedade, manter a ordem pública, possuir a legitimação para manipular armas

e o sonho de vestir um imponente fardamento. Na prática, eles também lidam

com uma carreira que impõe risco de vida, com baixos salários e pouco ou

nenhum reconhecimento social.

A atividade laboral dos policiais civis está vinculada a ações que

provocam estresse agudo e exaustão emocional. Devido ao fato destes

exercícios serem legitimamente violentos, alguns destes profissionais passam a

agir de maneira excessivamente intolerante, apresentando atitudes arbitrárias e

autoritárias perante a sociedade, quando precisavam manter a segurança e o

controle da violência.

A relevância deste trabalho pode ser evidenciada considerando-se

a importância social que se atribui atualmente à atividade do trabalho, bem como

a relevância da saúde mental nas organizações e o seu reflexo na qualidade do

atendimento/tratamento dispensado ao ‘cidadão-cliente’. Por outro lado, a

síndrome de burnout apresenta-se hoje como um dos problemas psicossociais

que afetam as relações no trabalho. Neste sentido, de acordo com Tamayo e

Trocou (2002), novas pesquisas devem ser desenvolvidas no Brasil para

continuar explorando a influência de variáveis que envolvem processos de

transação entre o indivíduo e o ambiente, com a finalidade de estabelecer a sua

participação no desenvolvimento de fenômenos que atingem a saúde do

trabalhador, tais como o estresse ocupacional, a burnout e a exaustão

emocional. A importância deste trabalho reside também na identificação dos

estressores que, no trabalho de policiais civis, constituem-se em causa de

estresse e são provocadores de desgaste físico e/ou emocional. A identificação

de tais fatores pôde possibilitar sugestões de intervenção e estratégias de

enfrentamento individual e coletivo, através de re-significações de situações de

vida, relações e vínculos. Conhecer e analisar os estressores que atuam no

trabalho significa possibilidade de mudanças que podem tornar o cotidiano do

policial mais produtivo, menos desgastante e, provavelmente, resgatar a

dignidade do papel social que este desempenha.

Desta forma, a pesquisa foi orientada pelos seguintes objetivos

específicos:

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1. Identificar se os participantes apresentam a incidência de burnout e o

nível.

2. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças

quanto à incidência de burnout na dependência de variáveis sócio-demográficas

e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia e meio de

locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no atual

cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.

3. Identificar as estratégias de coping adotadas.

4. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças

quanto às estratégias de coping adotas na dependência de variáveis sócio-

demográficas e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia

e meio de locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no

atual cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.

5. Reconhecer o significado do trabalho entre os policiais civis;

6. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças

quanto ao significado atribuído ao trabalho, na dependência de variáveis sócio-

demográficas e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia

e meio de locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no

atual cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.

7. Identificar se há possibilidade de oferecer recomendações à Secretaria de

Defesa Social e ao Delegado Geral que subsidiem a tomada de decisão pela

implementação de intervenções organizacionais que possam repercutir

positivamente na melhoria da qualidade de vida dos policiais e na melhoria dos

serviços prestados ao cidadão e, sobretudo, aos profissionais sobre como lidar

com burnout, especialmente, de maneira profilática (na perspectiva de promoção

da saúde).

Espera-se que o produto desta investigação possa contribuir com a

construção de conhecimentos sobre os construtos, contribuir com o

desenvolvimento de uma linha de pesquisa em Trabalho, Saúde Mental e

Qualidade de Vida, no curso de Psicologia da Universidade Potiguar (UNP) e,

posteriormente, abrir caminho para um projeto de extensão que vise oferecer

assessoria à Secretaria de Defesa Social para que possam ser trabalhadas

intervenções, especialmente profiláticas.

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2 ESTRESSE E ESTRESSE OCUPACIONAL

2.1 ESTRESSE

Levando em conta que burnout é considerada uma conseqüência

do estresse profissional, atuando como uma resposta do organismo a um estado

de estresse prolongado e crônico optou-se por apresentar uma breve revisão

sobre estresse, na perspectiva da saúde mental e suas implicações em

situações de trabalho.

Segundo Cunha (1982), estresse constitui-se num cansaço físico

e/ou mental proveniente de excesso de trabalho e/ou preocupações. Para

Paciornik (1978) significa força, pressão, esforço, e vem do latim apertar. O

termo foi utilizado inicialmente pela Física e pela Engenharia para referir-se à

resistência de uma barra à força ou tensão (stress) antes que se rompa ou

deforme. No início do século XVII significava, para a Psicologia, fadiga, cansaço;

e a partir do século XIX passou-se a relacionar stress aos conceitos de força,

esforço e tensão.

Teles (1999) define estresse como uma forma não específica de

resposta com que o corpo se relaciona com certos agentes externos e internos.

É um estado de prontidão do organismo para a ação. Inclui três fases: reação de

alarme, que é o estágio inicial quando o indivíduo se sente imobilizado e, em

seguida, o corpo sofre uma intensa mobilização, incluindo alto grau de atividade

visceral e músculo-esquelética; reação de resistência, que corresponde ao

período em que o sujeito procura adaptar-se ao estresse; e o estágio da

exaustão, que ocorre quando o indivíduo é incapaz de manter o nível de

resistência. Quando sobrevém a exaustão, a reação de alarme se repete.

Selye (1959) foi o primeiro pesquisador que demonstrou as etapas

do “stress biológico” quando explicou as manifestações do organismo como

“reações de alarme”. Os estudos dele fomentaram e fundamentaram muitas

pesquisas sobre estresse. Selye observou em suas pesquisas que determinadas

reações orgânicas se manifestavam em doenças diversas sem relação causal

direta com o tipo de doença. Às manifestações de sinais e sintomas como perda

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de peso, perda de apetite, dores difusas, perturbações digestivas, febre e outros,

ele chamou de “síndrome de estar apenas doente”. As bases conceituais de

Hans Selye foram os estudos de Claude Bernard, que investigava a capacidade

dos seres vivos em manter a constância de bem-estar do organismo a despeito

das modificações externas. Mais tarde Walter Cannon estabeleceu o conceito de

homeostase com base nessa premissa. Lipp diz que “nenhuma doença, ou

condição, produz uma interação tão grande entre o corpo e a mente como o

stress. A reação hormonal, que é parte do stress, desencadeia uma série de

modificações físicas” e produz reações emocionais importantes (LIPP, 2000, p.

18).

De acordo com Lipp, “chama-se de stress uma reação global do

organismo, que envolve sinais psicológicos e físicos, frente a determinadas

situações que excitem, emocionem, confundam e/ou façam a pessoa

imensamente feliz” (LIPP, 2000, p. 41). Segundo a autora, sempre que a pessoa

precisa se adaptar a uma coisa nova, ela gasta “energia adaptativa” e se

desgasta. “O stress é responsável por um grande desperdício de energia”, diz

Teles (1999, p. 24). Se esse desgaste vai além das reservas de energia que a

pessoa possui, os resultados são visíveis. Os indivíduos reagem de formas

diferentes ao estresse. “Se o indivíduo vê, ao seu redor, um mundo duro, no qual

as pessoas são cruéis e não se pode confiar em nenhum relacionamento [...], se

o indivíduo se torna muito tenso como resultado de um ou vários estímulos

perturbadores” (TELES, 1999, p. 21), vai acumulando uma crescente carga

residual que lhe impossibilita lidar com o estresse. A autora diz que quando a

pessoa não consegue lidar com situações estressantes, pode tornar-se tão tensa

que culmina com uma resposta do organismo sob a forma de um distúrbio físico.

Selye (1959) definiu estresse como uma “Síndrome da Adaptação

Geral” em três fases: reação de alarme, de resistência e de exaustão. Na fase de

alarme, que se constitui como uma resposta inicial, o organismo tenta se

adequar à situação através de luta ou fuga com relação ao estressor. “A reação

do stress tem por objetivo primordial a preservação da vida. O indivíduo nasce

com a condição básica de lutar ou fugir frente ao perigo, o que vai ocorrer

através da reação do stress” (LIPP, 2000, p. 21). Essa reação de alarme altera a

homeostase e o indivíduo sofre um desgaste que procura anular eliminando o

estressor. “O grande problema é que muitas vezes o estressor presente não é do

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tipo que exija lutar ou fugir [...], contudo, o corpo humano se prepara para lidar

do mesmo modo com qualquer tipo de estressor” (LIPP, 2000, p. 21). Nesse,

caso, se o estressor persiste, o organismo se mantém alerta e entra na fase da

resistência. As reações de alerta não são tão evidentes, embora a homeostase

se conserve alterada. A fase da exaustão advém da continuidade do estressor

com dificuldade ou impossibilidade de adaptação do organismo. Selye observou

que nesta fase os sinais que ocorrem na reação de alarme se manifestam de

forma exacerbada e irreversível, e o organismo é levado ao desequilíbrio total e

entra em processos patológicos que podem culminar na morte do indivíduo.

Não é exatamente a situação ou a resposta do organismo que

definem a força do estressor, mas a percepção do indivíduo sobre a situação. “O

stress tem a ver com a resistência às pressões, com a habilidade de lidar com

demandas e situações” (LIPP, 2000, p. 31). Krupp (1987) diz que se trata de um

distúrbio situacional resultante de uma dificuldade de adaptação do indivíduo,

diante de acontecimentos para os quais não encontra formas de superação. O

evento pode ser objetivamente insignificante ou até favorável, mas como requer

comportamentos adaptativos, podem produzir estresse, que será configurado em

cada indivíduo de forma subjetiva. Também é importante a avaliação cognitiva

da situação (o fator estressor) que determina por que e quando esta situação é

estressora, assim como para o esforço de enfrentamento, ou seja, a mudança

cognitiva e comportamental diante do estressor. Cada indivíduo percebe o

estresse e responde a ele de forma peculiar. Eventos produtores de estresse

assumem proporções e níveis diferentes de acordo com os grupos etários e

fatores psicossociais. Como assevera Lipp, “se a pessoa aprende a lidar com

seu stress, este pode ser útil, pois em doses pequenas ele dá energia, vigor,

coragem, força, vontade de fazer coisas novas, aumenta a produtividade e

melhora a qualidade de vida do ser humano” (LIPP, 2000, p. 9).

Conforme demonstra Lipp (2001), o estresse, como uma reação do

organismo provocada por alterações psicofisiológicas, se manifesta quando a

pessoa é exposta a fortes e persistentes reações emocionais, como por

exemplo, em situações onde estejam presentes a irritação, o medo, a excitação

e até mesmo a felicidade. Teles diz que “a insegurança, a dúvida [...], a perda da

identidade social, a violência e uma série de outros fatores” (TELES, 1999, p. 8)

provocam no ser humano um estado de constante tensão, enredando-o em

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conflitos e provocando uma sensação permanente de mal-estar e desesperança.

Assim, o estresse é um processo, não apenas um estado, pois o indivíduo,

quando submetido às fontes estressoras, tem seu organismo alterado

bioquimicamente, com alterações fisiológicas diversas. Posteriormente, no

desenvolvimento do processo, manifestam-se diferentes sintomas, que variam

de acordo com as predisposições genéticas do sujeito, potencializadas com a

sua inserção no meio. Porém, Lazarus e Folkman (1984 apud JACQUES, 2003)

conceituam o estresse psicológico além da dimensão biológica, sendo uma

relação entre a pessoa e o ambiente que é avaliado como prejudicial ao seu

bem-estar. Taganelli e Lipp (2002) citando Kaplan (1995) e Lipp (1997) afirmam

também que há indícios de que um estado prolongado de estresse possa

interferir com o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas.

De acordo com Krupp (1987), o estresse agudo pode se manifestar

em comportamentos denotando inquietação, desassossego, irritabilidade, fadiga

e sentimento de tensão emocional. A pessoa pode apresentar dificuldade de

concentração, insônia, pesadelos e preocupações somáticas. Alguns se

encaminham para a automedicação ou para a ingestão compulsiva de álcool ou

outras drogas depressoras do sistema nervoso central. Um indivíduo pode reagir

ao stress com ansiedade ou depressão, ou com o desenvolvimento de uma

sintomatologia física, ou pelo afastamento, ou embriagando-se, ou começando

um caso amoroso ou, ainda, de uma infinidade de outras maneiras. As respostas

subjetivas mais comuns são medo (da repetição do evento estressante), raiva

(devido à frustração), culpa (impulsos agressivos) e vergonha (devido à

impotência de lidar com a situação).

Para Lipp (2001), a reação de alerta do organismo ocorre em

estágio inicial quando o indivíduo de depara com um estressor. É nesse

momento que o organismo se prepara para a ação, o que provoca a quebra da

homeostase. A aceleração do organismo muitas vezes é responsável pela

preservação da vida, já que leva o organismo a um estado de alerta, a fim de

que possa lidar com situações em que tenha que atuar com urgência,

constituindo-se, portanto, em uma defesa automática do corpo. Quando o

estressor tem uma duração curta, a restauração da homeostase ocorre e a

pessoa sai da fase do alerta sem complicações para o seu bem-estar.

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Ainda de acordo com Lipp (2001) a fase de resistência ocorre se o

estressor é de longa duração, ou sua intensidade é demasiada para a resistência

da pessoa. Nesse caso, o organismo tenta restabelecer a homeostase de um

modo reparador e entra na fase de resistência ao estresse. A saída do processo

de estresse vai depender da reserva de energia adaptativa que é utilizada na

tentativa de reequilíbrio. Se essa reserva é suficiente, a pessoa recupera-se e sai

do processo do estresse, mas se o estressor exige mais esforço de adaptação

do que é possível para aquele indivíduo, então o organismo se enfraquece e

torna-se vulnerável a doenças. Nessa fase, se há manejo do estresse ou se o

estressor for eliminado, o organismo se restabelece e o processo do estresse

termina.

Conforme afirma Lipp (2001), a fase de exaustão acontece se a

resistência da pessoa não for suficiente para lidar com a fonte de estresse, ou se

existirem vários estressores. Em decorrência disso haverá um aumento das

estruturas linfáticas, assim como a exaustão psicológica em forma de depressão,

com o conseqüente aparecimento de doenças.

É importante enfatizar que, de acordo com Glina e Rocha (2000), o

estresse não é uma doença, mas uma tentativa de adaptação do organismo em

busca da homeostase, e não está relacionado apenas ao trabalho, mas ao

cotidiano da vida do ser humano. E o termo estresse, tomado como um conceito

da fisiologia e ampliado por Selye para os eventos psicológicos, se transformou

em tema de pesquisas diversas para explicar coisas que se observavam na vida

ocupacional dos sujeitos, mas que sinalizavam para fatores além das atividades

profissionais.

2.2 ESTRESSE OCUPACIONAL

O trabalho é uma atividade essencial para a sobrevivência do

homem capaz de produzir frustrações, anseios, realizações, expectativas,

conflitos, inquietações e satisfações.

Conforme assevera Lane, “Refletir sobre uma atividade realizada

implica repensar suas ações, ter consciência de si mesmo e dos outros

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envolvidos, refletir sobre os sentidos pessoais atribuídos às palavras, confrontá-

las com as conseqüências geradas pela atividade desenvolvida pelo grupo

social”. (LANE, 1994, p.16).

Albornoz (2004) observa a diversidade de significados que a

palavra trabalho assume na linguagem cotidiana. Sendo uma forma elementar de

interação e contato entre os homens, o seu conteúdo varia designando a

operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura. “Às

vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras,

mais que aflição e fardo” (ALBORNOZ, 2004, p.8), representam o homem em

ação para sobreviver e realizar-se.

O trabalho nem sempre é uma fonte de alegria e realização como

deveria ser. Para Teles, “o trabalho, que deveria ser uma fonte de alegria e

realização, torna-se cada vez mais, um fator de stress” (1999, p. 59). A autora

diz que quando o sujeito é o empregador, sua cabeça funciona como um

computador que trabalha noite e dia em busca de maior eficiência e lucro. Por

outro lado, o empregado nunca está satisfeito com o que ganha, não se acha

livre por realizar ações programadas pelos outros e é obrigado a fazer hora extra

pra ganhar um pouco mais, assim como abre mão de férias e leva trabalho pra

casa. E assevera: “geralmente, quando o indivíduo não consegue atingir esses

objetivos, que praticamente lhe são impostos, vem a sensação de fracasso,

inferioridade, frustração, perda” (TELES, 1999, p. 46). E o trabalho, nessa

perspectiva, lembra o castigo de Sísifo, deus condenado a carregar eternamente

uma pedra até o alto da montanha. Ao chegar ao cume, a pedra rolava, e ele era

obrigado a recomeçar todo o trabalho. Mas até Sísifo um dia parou este trabalho

insano para ouvir a música de Orfeu.

Como afirmam Lipp e Novaes (2000), existem determinados tipos

de trabalho que propiciam o aparecimento do estresse, principalmente, se a

atividade exercida não combinar com o modo de ser da pessoa. São elas: a de

policial, aviador, motorista de caminhão, executivo e bancário, entre outras.

Formighieri (2003) em sua pesquisa constatou que as mudanças no

mundo social do trabalho são céleres e as situações de trabalho se caracterizam

por um complexo de exigências de natureza ambiental, fisiológica, psicológica e

social. Poucos trabalham naquilo que gostam, sentem satisfação no que fazem e

não se deixam dominar pela compulsão do trabalho. Diante desta situação, há

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quem opte pela fuga, inclusive de seus conflitos inconscientes e de sua

ansiedade, trabalhando num ritmo acelerado, numa verdadeira compulsão, como

diz Teles, “o trabalho, como o sexo, a bebida, as drogas, o fanatismo religioso ou

político, funciona como uma válvula de escape, uma fuga, uma anestesia” (1999,

p.60). Ao mesmo tempo em que o trabalho é um bem para o sujeito, ele

acrescenta desgaste ao organismo.

Arantes e Vieira (2002) atribuem o estresse à organização e às

condições de trabalho como fontes estressoras importantes no que tange,

principalmente, à função exercida, ao papel exercido dentro da organização, ao

desenvolvimento na carreira, as relações de trabalho, a relação entre a estrutura

e o clima organizacional e a interface trabalho-família. Formighieri (2003) diz que

uma ampla mudança no interior das organizações tem sido uma constante,

sendo considerada geradora de disfunções entre o processo de trabalho e o

homem.

O estresse ocupacional se evidencia quando o sujeito, em

interação com outras pessoas e a partir de sua percepção do ambiente, se acha

inseguro quanto à sua capacidade para enfrentar um desafio que tem relação

com um valor importante para si. A incerteza da resolução enfatiza que o

indivíduo interpreta a situação em termos da percepção da probabilidade de lidar

satisfatoriamente com o desafio. Ao perceber que pode lidar facilmente com o

desafio, não há estresse. Conforme interpretação de Wagner III e Hollenbeck

(2003), esse tipo de estresse provoca um estado emocional desagradável que

causa impacto significativo sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, com

reações fisiológicas, comportamentais e cognitivas, com conseqüências

importantes para as organizações, principalmente em termos dos custos

financeiros de assistência médica, absenteísmo, rotatividade, baixo compromisso

organizacional e violência no local de trabalho.

Chiavenato (1999) analisa o estresse no trabalho e demonstra que

ocorre um conjunto de reações físicas, químicas e mentais oriundas de estímulos

ou estressores no ambiente, tais como, sobrecarga de atividade, pressão de

tempo ou relações problemáticas com chefes ou clientes. Formighieri (2003)

observa que situações de emergência impõem tarefas que sobrecarregam o

homem. As conseqüências negativas incidem sobre o indivíduo tanto quanto

sobre a organização, interferindo na quantidade e qualidade do trabalho, no

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aumento do absenteísmo e rotatividade e na predisposição a queixas,

reclamações e greves.

Ballone (2002) supõe que a capacidade de adaptação dos

trabalhadores às mudanças tecnológicas e modificações no ambiente de

trabalho parece apresentar uma certa defasagem. As tensões a que estão

submetidos os profissionais, não só no ambiente de trabalho, mas na vida em

geral, produzem um amálgama entre os estressores do trabalho e da vida

cotidiana. Responsabilidades ocupacionais, alta competitividade, necessidade de

aprendizados constantes já se constituem em grande pressão sobre a pessoa, e

se somar a isso os estressores normais da vida em sociedade, como a

segurança social, a manutenção da família, as exigências culturais, a situação de

desequilíbrio se agrava. O autor acredita ser possível que os novos desafios

ultrapassem os limites adaptativos do homem moderno, levando ao estresse. O

que se sabe é que os agentes estressores a que as pessoas estão submetidas

permanentemente nos ambientes e nas relações de trabalho são fatores

determinantes de doenças com a mesma potência dos microorganismos e a

insalubridade.

Ballone (2002) chama a atenção para as normas e regras sociais

que atuam sobre os indivíduos em nome do “politicamente correto”, obrigando-os

a apresentar um comportamento emocional incongruente com seus reais

sentimentos de agressão ou medo.

Fatores intrapsíquicos relacionados ao trabalho colaboram para

que o sujeito se mantenha estressado, como é o caso da insuficiência

profissional, pressão para comprovação de eficiência ou, até mesmo, a

impressão de estar cometendo erros profissionais. O outro lado dessa moeda

pode comportar uma vida sem motivações, sem projetos, sem mudanças na

ocupação ao longo de muitos anos, sem perspectivas de crescimento

profissional. Ballone (2002) acrescenta a isso os fatores internos como conflitos

pessoais, frustrações, desavenças familiares. Em vista disso, o autor afirma que

a sobrecarga de estímulos estressores pode ser considerada um fator importante

para eclosão do estresse patológico no trabalho, e elenca quatro fatores: 1)

urgência de tempo; 2) responsabilidade excessiva; 3) falta de apoio; 4)

expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam.

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É consenso entre muitos pesquisadores que a forma como os

sujeitos percebem os estressores no contexto de trabalho faz diferença no

desempenho e bem-estar destes, com conseqüências sobre o ambiente e sobre

as organizações. Aubert (1996 apud FORMIGHIERI 2003) enfatiza que as

condições de trabalho são responsáveis em maior ou menor grau na resistência

do trabalhador às condições desfavoráveis, e isto sinaliza para a importância dos

aspectos subjetivos da relação do sujeito com a atividade profissional. Os

conflitos entre o regime da organização de trabalho e as necessidades pessoais

do trabalhador, somadas às condições individuais como ritmo, expectativas e

dificuldades, tudo isso acaba por afetar significativamente a saúde desse

trabalhador. Silva (2000 apud FORMIGHIERI 2003) relaciona o meio

organizacional com a saúde do indivíduo e a produtividade da organização.

Formighieri (2003) diz que quando não há compatibilidade possível entre o

indivíduo e o seu trabalho, emerge o sofrimento, provocando sentimentos de

desprazer, tensão, estresse laboral, frustração. A verdade é que “o ambiente de

trabalho, as relações interpessoais, o nível de responsabilidade, o não

reconhecimento de certas qualidades pessoais, são situações estressantes que

podem provocar alterações psicológicas e fisiológicas” (FORMIGHIERI, 2003, p.

13).

Bauk (1985 apud GUIDO, 2003) assegura que os estressores estão

presentes em qualquer tipo de atividade e não se pode sequer imaginar um

trabalho sem stress, uma vez que cada indivíduo entende os estímulos a que

são expostos de modo diferente. O que é percebido por um indivíduo como ruim,

desagradável e perigoso, pode ser entendido como desafiador e estimulante por

outro. Dessa maneira, entendemos que o stress faz parte da vida do ser humano

em qualquer contexto, e pode ser desencadeado por um grande número de

estímulos. As situações de trabalho, associadas aos conflitos e sentimentos dos

trabalhadores, comprometem o desempenho produtivo e o equilíbrio físico e

emocional deles. “A oportunidade que um ambiente de trabalho permite ao

indivíduo controlar as atividades que realiza, tanto intrinsecamente [...] como

extrinsecamente, caracteriza outra variável responsável por diferentes graus de

estresse” (FORMIGHIERI, 2003, p. 17).

Em suma, citando Aubert: O estresse ocupacional “é caracterizado

como uma perturbação para o indivíduo decorrente da sua força adaptativa para

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conseguir enfrentar as demandas do seu ambiente de trabalho, quando estas

exigem além das suas capacidades físicas e mentais” (1996 apud

FORMIGHIERI 2003, p. 15).

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3 BURNOUT

O termo burnout deve ser compreendido a partir de uma

desconstrução morfológica. Burn significa queima, out refere-se ao exterior.

Maslach e Leiter (1997 apud CAMPOS, 2005, p. 38) identificam burnout com

uma erosão na alma e nos valores do ser humano, que corresponde à queima da

dignidade e da força de vontade.

Campos (2005, p. 35) relata que, na década de 70, o médico

Herbert Freudenberg atendia a um grupo de usuários de drogas em Nova York e

que estes eram chamados de burnout por só darem importância às drogas e

perderem o interesse por tudo e por todos ao redor. Em 1974, o médico

escreveu um artigo para a Revista de Psicologia com o título Staff Burn-out sem

a conotação de gíria, mas com o objetivo de chamar a atenção da comunidade

científica para problemas enfrentados pelos profissionais de saúde. Benevides-

Pereira (2002) refere que o primeiro artigo versando sobre burn-out, segundo

Schaufeli e Ezmann (1998), foi publicado em 1969, por Bradley, referindo-se ao

desgaste de profissionais e propondo medidas organizacionais de

enfrentamento.

Codo (1999) diz que, “apesar de um conceito relativamente novo

(década de 70), em certo sentido o estudo de burnout tem a idade da Psicologia”

(CODO, 1999, p. 238). A teoria surgiu para explicar as contradições da vida

laboral do homem, em uma época de extrema solidão humana e escassez de

solidariedade; emerge como uma metáfora, diz Codo, “quando certos recursos

pessoais são perdidos, ou são inadequados para atender às demandas, ou não

proporcionam retornos esperados (previstos). Faltam estratégias de

enfrentamento” (CODO, 1999, 240).

Maslach e Leiter (1997 apud CAMPOS 2005) conceituam Burnout

como o índice do deslocamento entre o que as pessoas são e o que elas têm

que fazer. Erosão em valores, dignidade, espírito e força de vontade. Erosão da

alma humana decorrente de um estado de estresse prolongado em que

situações de enfrentamento não foram utilizadas, falharam ou foram

insuficientes. Na conceituação de Skovholt (2001 apud CAMPOS 2005), é a

hemorragia do self, definido como o eu intrapessoal.

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Cadiz et al. (1997) observa que as fases iniciais dos estudos sobre

a síndrome de burnout levam em consideração o conceito centrado nas

descrições clínicas do fenômeno e em constatações não empíricas de sua

relativa freqüência. A pesquisa empírica concentrou atenção especial às

categorias ocupacionais diretamente vinculadas ao cuidado do outro, como

profissionais de saúde e educação.

Gil-Monte e Peiró (1997) identificam duas perspectivas de

conceituação e abrangência do fenômeno: a clínica e a psicossocial. A

perspectiva clínica, de acordo com estudos de Freudenberg (1974), conceitua a

síndrome de burnout como um estado relacionado com experiências de

esgotamento, decepção e perda do interesse pelo trabalho, com predominância

em profissionais que trabalham em contato direto com pessoas na prestação de

serviços, sendo uma conseqüência deste contato diário no trabalho. Baseado em

sua experiência clínica, Freudenberger assevera (1974 apud COSTA, 2002, p.

58): “burnout representa um estado de exaustão decorrente do trabalho

exaustivo, onde as pessoas esquecem suas próprias necessidades para atender

as necessidades alheias, na maioria das vezes sem condições efetivas de fazê-

lo”. O estado de esgotamento estaria impregnado das características individuais

do sujeito, a partir de um conjunto de expectativas inalcançáveis geradas por ele

mesmo e pelo tipo de atividade laboral.

Maslach e Jackson (1994 apud BORGES et al. 2002) apontam para

a perspectiva sócio-psicológica, definindo o fenômeno como uma resposta a

fontes crônicas de estresse emocional e interpessoal no trabalho. Em seus

estudos, Maslach e Jackson (1994) afirmam que a síndrome atinge profissionais

envolvidos com qualquer tipo de serviço, notadamente aqueles voltados para

atividades de cuidado com outros, em uma relação de atenção direta, contínua e

altamente emocional. Essa conceituação demarca a síndrome de burnout como

um processo que se desenvolve na interação do ambiente de trabalho e

características pessoais. O estresse persistente em situações de trabalho que

promovem repetitiva pressão emocional associada a intenso envolvimento com

pessoas por prolongados períodos de tempo ocasiona a incidência da síndrome

de burnout, segundo Harrison (1999 apud CARLOTTO, 2002). Codo (1999)

afirma que o sujeito perde o sentido de sua relação com o trabalho, tornando-se

indiferente a qualquer possibilidade de realização pessoal. O trabalhador sente

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sua energia e os recursos emocionais próprios esgotados, devido ao contado

diário com os problemas. Assim, ele sente que não pode dar mais de si mesmo

afetivamente. “O burnout decorreria da discrepância entre o que o trabalhador

investe no trabalho e o que ele recebe em termos de reconhecimento de

superiores e colegas, dos clientes e usuários dos serviços que presta” (COSTA,

2002, p. 58).

Burnout é uma resposta do organismo diante de uma dificuldade

para lidar com situações de estresse prolongado, quando não parece ser

possível mudar circunstâncias complexas que exigem enfrentamento e o

indivíduo se sente impotente, incapaz perante o irreversível. Se for irreversível,

provoca desinteresse, desmotivação, resultados de um mal estar intenso ou uma

grande insatisfação ocupacional que, por sua vez, provocam o sentimento de

impotência, inutilidade e baixa auto-estima. A síndrome tem relação com o

mundo do trabalho, com o tipo de atividades laborais do indivíduo, envolve

aspectos sociais e inter-relacionais, por meio da despersonalização, o que não

ocorre necessariamente no estresse ocupacional (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997),

(MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA; GONZÁLEZ, 2000); (BENEVIDES-PEREIRA,

2002). Essa definição demarca uma distinção importante, porquanto o estresse

pode apresentar aspectos positivos ou negativos, enquanto a síndrome de

burnout, que se constitui num estado prolongado e cronificado de estresse, tem

sempre um caráter negativo (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).

Maslach e Jackson (1981) descrevem burnout como uma síndrome

tridimensional que se caracteriza pelo desgaste ou exaustão emocional,

despersonalização e incompetência ou falta de realização pessoal. Os três

fatores podem aparecer associados, mas são independentes, conforme versa

Codo (1999). Algumas variáveis possuem relevância no desencadeamento: as

características pessoais como idade, estado civil, filhos, sexo, nível educacional,

personalidade, hardness ou personalidade resistente aos estressores,

neurotismo, sentido de coerência, motivação e idealismo; e as características do

trabalho como tipo de ocupação, tempo de profissão.

Burnout é uma síndrome decorrente da cronificação do estresse

ocupacional, sendo, portanto, característica do meio laboral, com conseqüências

negativas em níveis individual, profissional, familiar e social. (BENEVIDES-

PEREIRA, 2002). Conforme Maslach e Jackson (1981 apud MORENO-JIMÉNEZ

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et al. 2002), a síndrome pode objetivar-se através de três dimensões: exaustão

emocional, despersonalização e falta de realização pessoal no trabalho como

uma resposta ao estresse ocupacional crônico que compreende a experiência de

encontrar-se emocionalmente esgotado, o desenvolvimento de atitudes e

sentimentos negativos para com as pessoas com as quais trabalha, bem como

com o próprio papel profissional.

De acordo com Ballone (2002), esta Síndrome é uma resposta ao

estresse ocupacional crônico, que tem como características mais evidentes a

desmotivação, desinteresse, mal estar interno ou insatisfação ocupacional. Em

função disso, da exaustão emocional, ocorre avaliação negativa de si mesmo,

depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos, até como defesa

emocional. Profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras

pessoas, em atividade de ajuda, resolvendo problemas dos outros, estão mais

suscetíveis a esse tipo de estresse. Trata-se de um conjunto de condutas

negativas que incluem deterioração do rendimento, perda da responsabilidade,

atitudes passivo-agressivas com os outros e perda da motivação. São acionados

tanto fatores internos, na forma de valores individuais e traços de personalidade,

como fatores externos, na forma das estruturas organizacionais, ocupacionais e

grupais, e o organismo parece se consumir física e emocionalmente, em função

de um contato interpessoal mais exigente. De acordo com pesquisas, os

primeiros anos da carreira profissional são mais vulneráveis.

A falta de esperança, a dificuldade para modificar circunstâncias e

adaptar-se a situações irreversíveis provocam o que Codo e Vasquez-Menezes

(1999 apud CAMPOS, 2005, p. 38) chamam de “síndrome da desistência”. Costa

(2002) diz que se trata da desesperança proveniente da impotência diante do

que parece ser irreversível, imutável.

Harrison (1999 apud CAMPOS, 2005, p.39) define burnout como

sendo “estresse de caráter persistente, vinculado a situações de trabalho,

resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada a intenso

envolvimento no trabalho com pessoas por longos períodos de tempo”. Ballone

(2002) diz que certos estressores podem ser classificados de acordo com o

tempo que levam para produzirem estresse. Os de curto prazo referem-se à

sensação de fracasso, carga de trabalho, pressão de tempo, ameaças, medo. Os

de longo prazo são relativos a situações de competição, ambientes de perigo e

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trabalho monótono. O autor diz que o estresse não é uma doença limitada a si

própria, mas que oportuniza outros males pelo desequilíbrio da pessoa

submetida a tensões suficientemente fortes ou persistentes.

Os sintomas mais evidentes são a exaustão emocional, mental,

fadiga e depressão, que se manifestam primordialmente nas atividades

profissionais, através de mudanças nos comportamentos de indivíduos

consideradas normais até então. A exaustão emocional é definida como uma

resposta ao estresse ocupacional crônico, caracterizada por sentimentos de

desgaste físico e emocional, verificadas no sujeito quando este sente que está

sendo super exigido e com pouco ou nenhum recurso emocional (MASLACH;

JACKSON, 1986; MASLACH, 1993 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002). Esta

exaustão freqüentemente compromete a saúde mental e física dos

trabalhadores, deteriorando a qualidade de vida no trabalho e o funcionamento

da organização (WRIGHT; CROPAZANO, 1998 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,

2002).

De acordo com Ballone (2002), o quadro evolutivo da síndrome

inclui quatro níveis de manifestação. No primeiro nível ocorre falta de vontade,

ânimo ou prazer de ir trabalhar, com dores nas costas, pescoço e coluna. No

segundo nível há deterioração do relacionamento com os outros, podendo haver

sensação de perseguição, absenteísmo e rotatividade de empregos. No terceiro

nível observa-se diminuição notável da capacidade ocupacional, com o

surgimento de doenças psicossomático, automedicação e até ingestão de álcool.

No quarto nível o quadro se agrava sensivelmente, com alcoolismo, dogradição,

idéias ou tentativas de suicídio. Neste nível também podem surgir doenças mais

graves.

Ainda mediante as observações de Ballone (2002), verificamos que

o quadro clínico completo inclui esgotamento emocional, despersonalização ou

desumanização, sintomas físicos de estresse, manifestações emocionais como

auto-avaliação negativa, sentimento de vazio, irritabilidade, inquietude,

manifestações físicas como transtornos psicossomáticos e manifestações

comportamentais. Há uma perda significativa da afetividade e do desempenho

que avança num crescendo enquanto o quadro se agrava. Esse quadro

apresenta características específicas de evolução. Inicia com a falta de vontade,

diminuição do ânimo ou prazer com o trabalho; alguns sintomas físicos como

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dores nas costas, pescoço e coluna. Em seguida, os relacionamentos começam

a deteriorar e é possível surgir uma sensação de perseguição; é comum haver

nesta fase absenteísmo e rotatividade de empregos. O próximo passo no quadro

é a redução na capacidade ocupacional e doenças psicossomáticas que podem

levar a automedicação e ingestão de álcool. Se não houver intervenção, o

indivíduo encaminha-se para o alcoolismo e pode alimentar idéias suicidas.

Codo (1999) verifica que a despersonalização é um estágio da

síndrome evidente na atitude do trabalhador quando este trata os clientes,

colegas e a organização como objetos, expressando sentimentos de cinismo e

comportamentos negativos frente às pessoas destinatárias do trabalho. Outra

dimensão da síndrome é caracterizada pela diminuição da realização pessoal no

trabalho. O trabalhador tende a se auto-avaliar de forma negativa, sentindo-se

infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional

(MASLACH, SCHAUFELI, LEITER, 2001 apud CARLOTTO, 2002). Surgem

sintomas como: sensação de inadequação ao posto de trabalho, sensação de

falta de suporte organizacional, sentimento de carecer da formação necessária,

diminuição da capacidade para resolução de problemas, carência de tempo

suficiente, etc. (MORENO-JIMÉNEZ et al, 2002).

Codo (1999) afirma que a síndrome deve ser considerada com a

análise dessas três dimensões como uma variável contínua, com níveis altos,

moderado e baixo e não como uma variável dicotômica, onde existe ou não

existe a presença do sintoma. A partir da combinação do nível de cada uma das

três dimensões se obtém o nível da burnout no indivíduo.

De acordo com Maslach et al. (2001 apud CARLOTTO, 2002),

existem divergências em alguns aspectos conceituais da síndrome entre autores,

porém todas as definições contêm pelo menos cinco elementos comuns, que

são: a) deve existir a predominância de sintomas relacionados à exaustão mental

e emocional, fadiga e depressão; b) a ênfase nos sintomas comportamentais e

mentais e não nos sintomas físicos; c) os sintomas da burnout são relacionados

ao trabalho; d) os sintomas manifestam-se em pessoas “normais” que não

sofriam de distúrbios psicopatológicos antes do surgimento da síndrome; e) a

diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de

atitudes e comportamentos negativos.

Tamayo e Troccoli (2002) definem burnout como uma síndrome

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psicológica causada por uma tensão emocional crônica no trabalho, sendo uma

experiência subjetiva interna que gera sentimentos e atitudes negativas no

relacionamento do indivíduo com o seu trabalho, provocando insatisfação,

desgaste, perda do comprometimento, minando o desempenho profissional e

ocasionando conseqüências indesejáveis para a organização, como o abandono

do emprego, absenteísmo e baixa produtividade.

Os profissionais envolvidos com serviços, tratamento ou educação

podem estar mais sujeitos à síndrome, mas o processo e sua evolução são

individuais, podendo levar anos ou até décadas (MASLACH; LEITER, 1999

RUDOW, 1999 apud CARLOTTO, 2002). De acordo com Moracco e McFadden

(1982 apud LIPP, 2001), existem estressores potenciais do ambiente, que

podem ser ocupacionais, domésticos e sociais, e estes só se transformam em

estressores reais quando são avaliados pelo sujeito como ameaça ao seu bem-

estar e à sua auto-estima e isto irá depender da avaliação da interação entre as

suas características individuais e a percepção das exigências presentes. O

indivíduo utiliza alguns mecanismos para que esta ameaça não ocorra, e estes

mecanismos são determinados pelas características pessoais e, se eles não

forem eficientes, ocorrerá o estresse. Assim, se o nível de estresse for

prolongado aparecerão sintomas crônicos e a burnout.

Um modelo sociológico de estudo da síndrome proposto por Woods

(1999 apud CARLOTTO, 2002) aponta fatores em três níveis: o micro, meso e

macro. Os fatores micro estão relacionados com a biografia pessoal e

profissional do sujeito. Os fatores meso são os institucionais, ligados ao tipo de

organização, aspectos éticos da organização e aspectos culturais dos indivíduos.

Os fatores macro são todas as forças derivadas das tendências globais e

políticas governamentais.

Keltchtermans (1999 apud CARLOTTO, 2002) sinaliza para uma

perspectiva biográfica, na qual a burnout pode ser entendida com base no

desenvolvimento da carreira do trabalhador, e os estressores dependem de

características individuais e da história de vida profissional. Sleegers (1999 apud

CARLOTTO, 2002), prefere a interação entre as perspectivas sociológica,

psicológica e organizacional.

O grau do burnout pode ser avaliado usando-se o Maslach Burnout

Inventory (MBI) de Maslach & Jackson, que é um dos tipos de questionário de

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auto-informe, denominado também de instrumento de autopreenchimento ou

auto-aplicável. Este instrumento já passou por três edições: a primeira foi

publicada em 1981 nos Estados Unidos, a segunda em 1986 e a terceira em

1996, juntamente com Michael Leiter.

Maslach, Jackson e Leiter, (1996 apud BENEVIDES-PEREIRA,

2002) asseguram que os níveis da burnout variam de acordo com a cultura, com

a categoria profissional e características relativas ao trabalho, evidenciando a

necessidade de estudos particularizados para cada população. Gil-Monte e Peiró

(1997) que existem facilitadores e desencadeadores para a síndrome de burnout.

Os facilitadores são as variáveis de caráter pessoal que têm função facilitadora

ou inibidora da ação dos estressores sobre o indivíduo, enquanto que os

desencadeadores são os estressores percebidos como crônicos, no ambiente de

trabalho.

Os policiais formam uma categoria especialmente exposta aos

riscos psicossociais, pois estes se defrontam com os desencadeadores de

estresse próprios da convivência e interação entre os indivíduos, como também

com situações nas quais se desequilibram as expectativas individuais do

profissional, a realidade do trabalho diário e as expectativas e demandas sociais.

Conceituando burnout, Farber (1971, 1995 apud COSTA, 2002, p. 58) diz se

tratar de “uma síndrome do trabalho, que se origina da discrepância da

percepção individual entre esforço e conseqüência, percepção esta influenciada

por fatores individuais, organizacionais e sociais”. Mallar e Capitão constatam

que os policiais são “chamados atualmente de profissionais de alto contato, os

quais aliam às longas jornadas o inevitável envolvimento com os problemas dos

outros e a excessiva carga de trabalho em ambientes potencialmente geradores

de conflitos” (MALLAR, 2004, p.19). É possível nessa situação que as

estratégias de enfrentamento não adaptativas esgotem os recursos emocionais

(MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA; GONZÁLEZ, 2000) levando-os ao

deterioramento pessoal e profissional.

Benevides (BENEVIDES-PEREIRA, 2002) apresenta alguns

estudos empíricos e teóricos que contribuem para detectar as variáveis

desencadeadoras da burnout. As características pessoais do sujeito, as

características do trabalho, as características organizacionais e as

características sociais são levadas em consideração a fim de se fazer o

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planejamento de ações preventivas e de estratégias para controle da síndrome.

Gil-Monte e Peiró (1997) analisam estratégias que servem para a

prevenção e o enfrentamento da síndrome de burnout, especialmente estratégias

individuais, ligadas ao desenvolvimento da assertividade, ao manejo eficaz do

tempo e ao treinamento para solução dos problemas; estratégias interpessoais e

grupais, que englobam o apoio social por parte dos colegas de trabalho e

superiores, ou seja, o feedback positivo do grupo; e estratégias organizacionais,

que objetivam principalmente a prevenção da síndrome, e inclui a melhoria do

ambiente e do clima organizacional através de programas de socialização,

desenvolvimento de processos de retro informação e programas de

desenvolvimento organizacional. As estratégias organizacionais estabelecem

metas e objetivos que a organização deverá alcançar, definem linhas claras de

autoridade e melhoram as redes de comunicação.

Conforme estudos de Benevides-Pereira (2002) os programas

preventivos, bem como as intervenções podem ocorrer em três níveis: 1) Os

programas centrados na resposta do indivíduo, focalizando-se a intervenção no

feedback da pessoa diante de situações negativas ou estressantes; 2) os

programas centrados no contexto ocupacional, considerando-se que a burnout é

produzida a partir de um contexto laboral desfavorável e, assim sendo é

necessário modificar a situação em que se desenvolvem as atividades,

principalmente no que se refere à organização; 3) os programas centrados na

interação do contexto ocupacional e o indivíduo, que objetivam combinar o

primeiro e o segundo nível, levando-se em conta que a burnout é conseqüência

da relação do sujeito e do ambiente de trabalho, torna-se necessário melhorar as

condições de trabalho, a percepção do trabalhador e a forma de enfrentamento

diante das situações de estresse laboral. Os programas centrados na interação

do contexto ocupacional e o indivíduo podem ser divididos de acordo com a fase

de atuação sobre o problema, assim existe a prevenção primária, em que o

objetivo é reduzir os fatores de risco da burnout, mudando a natureza do

estressor; a prevenção secundária ocorre quando já existe a percepção do

estresse na resposta da pessoa e no contexto de trabalho, sem ter

desencadeado sintomas e a prevenção terciária é a fase na qual os sintomas

efetivos já existem, trazendo perda do bem-estar e da saúde do sujeito. De

acordo com Benevides-Pereira (2002), somente com a combinação destes três

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níveis se consegue intervir e, principalmente, prevenir o aparecimento da

síndrome de burnout.

A síndrome de burnout é classificada no CID-10 na categoria dos

Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionado ao Trabalho (Z73.0.

Grupo V). O Ministério da Saúde preconiza como tratamento o acompanhamento

psicoterápico, farmacológico e intervenções psicossociais.

Resumindo, Burnout pode ser definida como uma síndrome

tridimensional – desgaste ou exaustão emocional, despersonalização e

incompetência ou falta de realização pessoal – que se manifesta como resposta

do organismo a situações persistentes de estresse, resultante da constante e

repetitiva pressão emocional associada a intenso envolvimento no trabalho com

pessoas por longos períodos de tempo. Trata-se de um fenômeno psicossocial

relacionado diretamente à situação laboral. O homem busca constituir-se como

sujeito através de seu trabalho e o mesmo não se realiza de forma individual,

mas sim se materializa num espaço social. A atividade produtiva é um elemento

constitutivo da saúde mental individual e coletiva. Identificar os fatores

desencadeantes da burnout e suas conseqüências possibilita intervenções de

caráter preventivo, considerando que seu início é insidioso, traiçoeiro, silencioso

e progressivo, só se evidenciando como transtorno em sua fase final, quando

sintomas psicossomáticos já se encontram consolidados.

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4 ESTRATÉGIAS DE COPING

O termo coping vem do verbo to cope, em inglês, que significa dar

conta (de algo), enfrentar (Oxford, 1999). Savoia (1999) define coping como as

habilidades desenvolvidas para adaptação ou domínio das situações de

estresse. Coping tem sido definido como um conjunto de estratégias que as

pessoas utilizam para adaptarem-se às circunstâncias estressantes. Antoniazzi,

Dell’Aglio e Bandeira (1998) afirmam que pesquisadores vinculados à psicologia

do ego têm concebido o coping enquanto correlato aos mecanismos de defesa,

mas há uma distinção clara entre os dois: os mecanismos de defesa são

classificados como rígidos, derivados de elementos inconscientes, enquanto os

comportamentos associados ao coping são flexíveis e propositais, com

derivações conscientes.

A idéia de coping como processo transacional entre a pessoa e o

ambiente tem ênfase no processo e em traços de personalidade. Outra

perspectiva de conceituação envolve pesquisas de convergência entre coping e

personalidade. Há evidências de que certos traços de personalidade como

otimismo, rigidez, auto-estima e lócus de controle se relacionam com estratégias

de coping. Folkman e Lazarus (1984, apud GUIDO, 2003, p. 21) estabelecem

um modelo com duas categorias funcionais de coping: focalizado no problema ou

focalizado na emoção.

Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998) definem coping como um

conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos

com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que

surgem em situações de stress e são avaliadas como sobrecarregando ou

excedendo seus recursos pessoais.

Segundo Antoniazzi, Dell’aglio e Bandeira (1998), o modelo de

Folkman e Lazarus baseia-se em quatro conceitos: coping é um processo ou

uma interação entre o indivíduo e o ambiente; sua função é de administração da

situação estressora, controle ou domínio da mesma; os processos de coping

pressupõem a noção de avaliação; e o processo constitui-se em mobilização de

esforço. O coping funciona como um mediador entre um estressor e o resultado

advindo desse estressor. A resposta de coping é uma ação intencional, física ou

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mental, iniciada em resposta a um estressor percebido. Nesse sentido, ressalta

Antoniazzi (1998), difere dos mecanismos de defesa, que são rígidos, derivados

de elementos inconscientes. Os comportamentos associados ao coping são

flexíveis e propositais, com derivações conscientes.

Os moderadores são variáveis pré-existentes que afetam a direção

ou a intensidade da relação entre uma variável independente e uma variável

dependente, mas não são afetadas pela natureza do estressor ou pela resposta

de coping. Os moderadores são recursos pessoais constituídos de

características físicas e psicológicas que incluem saúde física, moral, crenças

ideológicas, experiências prévias de coping, inteligência; refletem as

características da pessoa, do estressor, do contexto e da relação entre esses

fatores. Os mediadores são os mecanismos que, através da variável

independente, age sobre a variável dependente.

Pinheiro (2003) reconhece que a existência de muitos estudos

envolvendo múltiplos aspectos metodológicos e conceituais não tem

proporcionado consenso sobre os tipos de estratégias de coping. Os estilos e

estratégias de coping referem-se às formas habituais de lidar com o estresse.

Estes hábitos ou estilos podem influenciar suas reações em novas situações.

Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998) estabelecem em suas definições que os

estilos de coping estão mais relacionados a características de personalidade ou

a resultados de coping, enquanto as estratégias se referem a ações cognitivas.

Todas as tentativas de se lidar com os estressores são consideradas coping¸

independentemente de se lograr êxito ou não.

As psicologias social, clínica e da personalidade têm empreendido

estudos para investigar os esforços despendidos pelos indivíduos para lidar com

situações estressantes, crônicas ou agudas, privilegiando o estudo das

diferenças individuais. Nestes estudos podem ser observadas diferenças teóricas

e metodológicas marcantes em suas construções em função de suas filiações

epistemológicas (SULS; DAVID; HARVEY, 1996 apud ANTONIAZZI et al. 1998).

Vaillant (1994 apud ANTONIAZZI, 1998) relata que pesquisadores vinculados à

psicologia do ego conceberam o coping como um correlato aos mecanismos de

defesa, motivado interna e inconscientemente como forma de lidar com conflitos

sexuais e agressivos. Tapp (1985 apud ANTONIAZZI, 1998) observa que

eventos externos e ambientais, podem ser incluídos como possíveis

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desencadeadores dos processos de coping e, a exemplo dos mecanismos de

defesa, categorizados hierarquicamente no sentido dos mais imaturos aos mais

sofisticados e adaptativos. Antoniazzi (1998) destaca que para esta geração de

pesquisadores o estilo de coping utilizado pelos indivíduos era concebido como

estável numa hierarquia de saúde versus psicopatologia. Pesquisas efetuadas

por Suls, David e Harvey (1996) apontam para uma nova perspectiva com

relação ao coping, com ênfase nos comportamentos de coping e seus

determinantes cognitivos e situacionais. Antoniazzi (1998) destaca que na

perspectiva cognitivista de Folkman e Lazarus (1980) as estratégias de coping

são ações deliberadas que podem ser aprendidas, usadas e descartadas. Nesse

sentido Ryan-Wenger (1992 apud ANTONIAZZI, 1998) considera que

mecanismos de defesa inconscientes e não intencionais, como negação,

deslocamento e regressão, não podem ser considerados como estratégias de

coping. Assim como somatização, dominação e competência são vistas como

resultados dos esforços de coping e não como estratégias.

Miller (1981 apud ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998,

p.283) destaca dois estilos de coping: o estilo monitorador, que utiliza estratégias

que envolvem estar alerta e sensibilizado; e o estilo desatento, que envolve

distração e proteção cognitiva de fontes de perigo. Para Band e Weisz (1988,

apud ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998, p.283) é preferível referir-

se ao coping primário e secundário, este fala da capacidade de adaptação da

pessoa às condições de estresse, aquele é utilizado com o objetivo de lidar com

situações ou condições objetivas) O estilo de coping é considerado ativo quando

há esforço de aproximação do foco de estresse, e passivo quando a pessoa o

evita. Em crianças pode ser definido como coping pró-social, quando o sujeito

procura ajuda de outros, e anti-social, quando ocorre reação agressiva contra

outrem. (BILLINGS; MOSS, 1984 e HOLAHAN; MOSS, 1885 apud ANTONIAZZI;

DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998, p.283).

Os estilos de coping estão ligados a fatores disposicionais do

indivíduo, as estratégias relacionam-se com fatores situacionais. As estratégias

incluem ações, comportamentos ou pensamentos usados para lidar com um

estressor ou situação adversa. No nível somático ocorre coping focalizado na

emoção, nos sentimentos, quando os esforços são dirigidos para alterar o estado

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emocional do indivíduo a fim de reduzir ou eliminar a sensação desagradável

provocada pelo estresse.

O coping focalizado no problema atua na origem do estressor,

numa tentativa de alterar a situação que desencadeou o estado de estresse.

Esse esforço pode ter um direcionamento interno ou externo. De acordo com o

nível de desenvolvimento da pessoa surgem diferentes formas de lidar com o

estresse. A utilização de determinadas estratégias de coping, as escolhas dos

esforços dependem também do desenvolvimento cognitivo. Pesquisas têm

demonstrado que o gênero pode fazer diferença nas estratégias de coping.

Segundo Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), coping é um

processo de interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente, e que tem como

finalidade a administração da situação estressora e não o controle ou domínio

sobre ela. O processo inclui ações cognitivas que implicam em avaliação do

fenômeno conforme é percebido e interpretado pelo organismo, resultando em

mobilização de esforço cognitivo e comportamental para administrar as

demandas de sua relação com o ambiente. Folkman e Lazarus, (1985 apud

ANTONIAZZI, 1998), confirmam que pesquisadores passaram a conceitualizar

coping como um processo transacional entre a pessoa e o ambiente, com ênfase

no processo tanto quanto em traços de personalidade. Latack e Havlovic (1992

apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002) concluíram, após o exame de várias

definições sobre coping que há um certo consenso no que diz respeito à noção

de que esse fenômeno é parte de uma transação pessoa-ambiente decorrente

da avaliação do indivíduo que determina uma situação como estressante.

O foco de atenção do indivíduo na regulação da emoção envolvida

ao dispor-se para a solução de problemas foi enfatizado por alguns autores

durante um certo tempo, conforme observamos em alguns autores (FOLKMAN;

LAZARUS, 1980; COHEN, 1987; CARVER; SCHEIER; WEINTRAUB, 1989 apud

PINHEIRO et al. 2003), mas o deficitário teor explicativo a respeito do

comportamento expôs esse encaminhamento a questionamentos que

terminaram por minar-lhe a legitimidade (DEWE; COX; FERGUSON, 1993 apud

PINHEIRO et al. 2003).

Definições como as de Tamayo e Tróccoli (2002) destacam outros

aspectos do coping. Zautra e Wrabetz (1991), definem coping como um processo

dinâmico de esforços determinados para a resolução das dificuldades e das

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demandas exigidas para o ajustamento do organismo. Parkes (1994) e Terry

(1994) conceituam como sendo um construto multidimensional que envolve uma

grande variedade de estratégias cognitivas e comportamentais que podem ser

utilizadas para alterar, reavaliar e evitar situações estressantes ou para amenizar

os seus efeitos adversos. Folkman, Lazarus, Dunkel-Schetter, Delongis e Gruen

(1986 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002), definem como esforços cognitivos e

comportamentais que mudam constantemente e que se desenvolvem para

responder às demandas específicas externas e/ou internas avaliadas como

excessivas para os recursos do indivíduo. Alguns autores preferem dizer que

coping é uma variável individual representada pelas formas como as pessoas

comumente reagem ao estresse, determinadas por fatores pessoais, exigências

situacionais e recursos disponíveis (LAZARUS; FOLKMAN, 1984 apud

PINHEIRO et al., 2003).

Assim como há variações nas concepções quanto às estratégias,

também ocorrem distinções quanto à forma de enfrentar o estresse, conforme

demonstra Pinheiro et al. (2003), relatando estudos de Carver et al. (1989),

Dewe et al. (1993) e Taylor (1986), onde são apontadas categorias gerais de

estratégias, tais como busca de informações, ação direta, inibição da ação,

processos intrapsíquicos e busca de apoio social. Em alguns estudos, observa-

se uma redução das opções de estratégias a duas dimensões: controle e a

esquiva.

As funções de coping e as formas pelas quais as pessoas a

utilizam servem para evidenciar a diferença entre função e conseqüência do

coping. A função fala do propósito a que a estratégia serve e as conseqüências

dizem respeito ao efeito produzido pela estratégia. A utilização de determinada

estratégia, não resulta necessariamente, que a situação ameaçadora seja

evitada, conforme avaliação de Lazarus e Folkman (1984 apud SAVOIA 1999).

Lazarus e Folkman (1984) consideram dois tipos de estratégias

para a compreensão do coping: as estratégias focalizadas no problema, que têm

como propósito analisar e definir a situação, considerando seus custos e

benefícios, e buscando alternativas para resolvê-la; e as estratégias centradas

na emoção, que dizem respeito aos processos cognitivos responsáveis pela

diminuição do transtorno emocional produzido por uma situação estressante,

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conforme definição de Lazarus e Folkman (1984 apud GIL-MONTE; PEIRÓ,

1997).

O primeiro tipo, segundo Lazarus e Folkman (1984 apud SAVOIA,

1999), tenta modificar a relação entre a pessoa e o ambiente, controlando ou

alterando o problema causador do estresse, incluindo estratégias que afetam o

ambiente e o sujeito As estratégias dirigidas ao ambiente tentam alterar o

estressor através de mudanças nas pressões externas, nos obstáculos, nos

recursos, nos procedimentos. As estratégias que afetam o sujeito estão

relacionadas a mudanças nas aspirações do indivíduo, redução da participação

do Eu, desenvolvimento de novas condutas, assim como a aprendizagem de

novos procedimentos e recursos (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002).

Já as estratégias centradas na emoção são utilizadas pelo

indivíduo quando houve uma avaliação de que nada pode ser feito para modificar

as condições ambientais, ou seja, quando percebem que os estressores não

podem ser modificados e que é necessário continuar interagindo com eles. Entre

essas estratégias estão a esquiva, a culpabilidade, o escape, o distanciamento, a

atenção seletiva, as comparações positivas e a extração de aspectos positivos

de acontecimentos negativos, segundo Tamayo e Tróccoli (2002).

Savoia (1999) considera que as estratégias de coping focalizadas

no problema e as estratégias centradas na emoção influenciam-se mutuamente

em todas as situações estressantes, sendo que a emergência de uma

manifestação pode facilitar ou impedir uma ou outra forma. Recursos pessoais

tais como saúde e energia, crenças existências, habilidades de solução de

problemas, habilidades sociais, suporte social e recursos materiais podem influir

significativamente na forma pela qual uma pessoa usa o coping. Algumas

variáveis que diminuem o uso dos recursos pessoais, que podem ser de

natureza pessoal ou ambiental, também podem determinar o coping. Cordes e

Doughherty (1993 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002) defendem que a

disponibilidade de estratégias de coping modera a relação entre os estressores e

a exaustão emocional

O uso de estratégias de coping de controle ou centradas no

problema previne o desenvolvimento da burnout, ao passo que, a utilização de

estratégias centradas na emoção facilita a sua aparição, segundo estudos de Gil-

Monte e Peiró (1997).

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Alguns autores defendem que estratégias de coping inativas, como

por exemplo, o escape, a evitação e a medicação, apresentam uma relação

positiva com a burnout, e um nível baixo de burnout proporciona ao indivíduo a

possibilidade de enfrentar as situações estressantes de forma ativa e direta,

enquanto que, um nível alto de burnout, pode diminuir a energia do sujeito para

lidar com as situações de forma ativa, levando-o a adotar comportamentos

passivos e indiretos (ETZION; PINES, 1986; THORTON, 1992 apud TAMAYO;

TRÓCCOLI, 2002).

No relato de uma pesquisa realizada por Leiter (1991), Tamayo e

Tróccoli (2002) apresentam resultados evidenciaram que um índice menor de

exaustão emocional estava associado à utilização de estratégias de coping. Os

estudos mostram também que o uso de estratégias de escape/evitação aumenta

a exaustão emocional, denotando a ineficácia deste tipo de estratégia para evitar

a burnout.

À medida que as pesquisas avançam enfatizando o trabalho como

um fazer essencial ao homem, crescem os saberes que se preocupam com o

ambiente físico do trabalho e as condições materiais para exercê-lo, com a

natureza, as condições ambientais para o exercício do trabalho e com as

condições de vida do trabalhador, conforme observam Arantes e Vieira (2002).

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5 SIGNIFICADO DO TRABALHO

A palavra trabalhar tem origem em tripaliare, do latim vulgar, e

significava torturar, e de tripalium, um instrumento de tortura. Shakespeare

retratou a idéia de forma poética: “Exausto com o trabalho corro ao leito, repouso

de meus membros tão cansados; mas corre a mente agora o curso feito, ‘stando

o labor do corpo terminado” (SHAKESPEARE, 2005, p. 22). Porém, como a

língua é construída histórica e socialmente pelos usuários, o significado evoluiu

ao longo dos séculos. Carvalho (1999) diz que o trabalho não atende apenas a

uma necessidade humana básica e nem é só uma obrigação social, mas é um

direito dos seres humanos, previsto em Lei. Dejours (1992) diz que o trabalho é

fonte de sentido para a vida humana, constituinte de sua identidade.

A revolução industrial trouxe, numa esteira de revisões e re-

significações, a reavaliação do significado do trabalho sob uma perspectiva mais

existencial e humana. Trabalho como algo penoso e difícil era, até a Idade

Média, atividade desempenhada pelos escravos ou pessoas de baixa condição

social. Esse significado está alicerçado na cultura judaico-cristã. Na cultura

grega, com o dualismo ontológico corpo/espírito, expresso na cultura ocidental

pelo cartesianismo, o trabalho corporal era considerado como uma atividade

indigna dos homens livres, porquanto impossibilitava o ócio, a contemplação, a

fruição da arte e das atividades de reflexão sábia.

A modernidade propiciou uma nova compreensão do trabalho. Max

Weber introduz uma concepção menos negativa – trabalho enquanto

colaboração com Deus – mas não menos determinista e segregacionista na

legitimação das diferenças sociais a partir de uma espécie de eleição divina.

A partir do século XVIII o trabalho afirma-se como instrumento de

melhoria da qualidade de vida, por propiciar meios eficazes de autonomia e

recursos úteis para uma vida mais digna. A partir do século XVIII registra-se uma

mudança importante no sentido. De uma condição social de inferioridade, o

trabalho afirma-se como um dispositivo eficaz de autonomia e superação de

situações sentidas como danosas à condição e dignidade humana. Observa-se a

mudança de uma visão teocêntrica para uma visão antropocêntrica.

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No início do século XXI, no mundo globalizado, verifica-se o

escasseamento das oportunidades de trabalho remunerado, este com elevado

valor sócio-afetivo. Continua-se a atribuir ao trabalho um significado de

participação e reconhecimento sociais. A atividade profissional continua a ser

entendida como uma das fontes mais importantes fundadoras de sentido para a

vida humana. A idéia do cidadão produtivo impregna as sociedades. O emprego

é bem mais do que uma fonte de rendimento, é freqüentemente a medida do

valor pessoal, compondo a centralidade que o trabalho ou atividade profissional

tem na vida das pessoas.

Dejours (1992) demarca o período de desenvolvimento do

capitalismo industrial, no século XIX, com alguns elementos importantes:

duração do trabalho chegando até a 16 horas por dia, salários ínfimos, moradia

escassa, altas taxas de mortalidade. A burguesia perde a credibilidade e sua

imagem humanista se desfaz. Três correntes perpassam esse período: o

movimento humanista, o movimento das ciências morais e políticas e o

movimento dos grandes alienistas. Para conter os desvios e atentados

individuais à ordem social, emerge a repressão estatal. Da primeira Guerra

Mundial até 1968 acontecem mudanças significativas na jornada de trabalho e

no significado do trabalho. A partir do ano de 1968, “o desenvolvimento desigual

das forças produtivas, das ciências, das técnicas, das máquinas, do processo de

trabalho, da organização e das condições de trabalho” (DEJOURS, 1992, p. 22)

culmina com o esgotamento do sistema Taylor. A droga e as toxicomanias fazem

parte da “crise da civilização”, como enfatiza Dejours (1992, p. 24).

Soratto e Olivier-Heckler (1999) definem o trabalho como uma

atividade de criação intencional, planejada, que demanda capacidades cognitivas

e transforma a natureza dando origem a um produto que antes só existia na

mente humana e que, uma vez concretizado através do trabalho, torna-se parte

do mundo, adquire vida própria independentemente do seu criador e do

momento de sua criação. O trabalho tem uma dimensão intergeracional porque

através dele as gerações partilham produções, construções e têm a possibilidade

de continuar transformando, refazendo, renovando, a partir de algo

anteriormente criado. “Trabalhando, cada povo cria seus costumes próprios,

suas leis e seu ritmo de crescimento e desenvolvimento econômico e social”

(CARVALHO, 1999, p. 25). Nossos costumes, conhecimentos, leis e técnicas

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formam um patrimônio coletivo que percorre os séculos e resulta do trabalho de

todos os povos que viveram antes de nós. Neste sentido, o trabalho como

atividade criativa e de transformação modifica, não somente o mundo, mas

também o homem que o executa, na medida em que ele se reconhece no seu

trabalho, se orgulha do fruto do seu trabalho e também se transforma nesse

processo. O trabalho possibilita ao homem adquirir conhecimentos, experiências,

habilidades. “Toda a cultura mundial é soma e emaranhado de heranças, com as

quais também contribuímos para transformar, com o nosso trabalho”

(CARVALHO, 1999, p. 27). Codo (1997) refere-se ao trabalho como ação de

transformação transcendente que envolve o sujeito, o objeto e o significado,

capaz de imortalizar o homem, enfatizando-o como ser histórico.

O trabalho enquanto processo de criação deve levar em conta os

diferentes modos de organização deste, considerando que as formas de

planejamento e execução para a obtenção de um produto através da

transformação da natureza são múltiplas e não se prendem a um único

momento, conforme análise de Soratto e Olivier-Heckler (1999). O modo como o

trabalho se organiza e as condições do trabalhador frente a esta organização

são preditores de como o trabalhador se sentirá frente ao seu labor. Um mesmo

trabalho pode ser realizado de diversas maneiras e se há flexibilidade na

organização da atividade, o trabalhador reconhecerá sua própria autonomia. A

falta continuada e exagerada de autonomia pode provocar sofrimento e

insatisfação.

Por condição de trabalho, Dejours (1992) entende o ambiente

físico, ambiente químico, o ambiente biológico, condições de higiene, de

segurança, e as características antropométricas do posto de trabalho. A

organização do trabalho inclui, para esse autor, a divisão do trabalho, o conteúdo

da tarefa, o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de

poder, as questões de responsabilidades. Relação de trabalho envolve “todos os

laços humanos criados pela organização do trabalho: relações de hierarquia,

com as chefias, com a supervisão, com os outros trabalhadores – e que são às

vezes desagradáveis, até insuportáveis” (DEJOURS, 1992, p. 75).

Soratto e Olivier-Heckler (1999) acreditam que um ciclo de trabalho

maior possibilita um planejamento no qual o trabalhador se assenhoreia do seu

trabalho, permitindo maior envolvimento e menor alienação, com conseqüente

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redução do sofrimento, e obtenção de prazer e satisfação. Acrescente-se a isso

comprometimento e possibilidade de gestão favorável do tempo e expectativa de

retorno sobre o trabalho realizado. Essa perspectiva é norteada por estudos

realizados com várias categorias profissionais analisando a relação do

trabalhador com o processo de trabalho, o ciclo de trabalho, a relação com o

produto do trabalho e o controle sobre o trabalho. O ser humano emprega

afetividade na relação com o trabalho, e esta relação tem também caráter

subjetivo, porquanto nela se investem alegrias, satisfações, queixas, sonhos. O

espaço da afetividade no trabalho contribui para a identidade do trabalho, se

nesse se encontra o reconhecimento do próprio esforço no produto final. Se

durante o processo de produção o reconhecimento não se evidencia, se não há

autonomia e o trabalho é fragmentado, o trabalhador tem sua identidade

ameaçada, o que lhe traz sofrimento e desequilíbrio.

Jacques (1996) destaca a importância do trabalho na vida do ser

humano observando o tempo de vida que o homem gasta em atividades laborais

e como a atividade profissional compromete a identidade individual. Em seus

estudos Campos percebeu que “o trabalho, atividade essencial para a

sobrevivência do homem e gerador de expectativas, frustrações ou triunfos,

consome metade da vida, desperta e define interesse e identidade pessoal”

(CAMPOS, 2005, p. 17). Todavia, conforme enfatiza Dejours (1992), mesmo

constatando essa importância atribuída ao trabalho, nem sempre este funciona

como fonte de crescimento, reconhecimento e independência profissional, já que

muitas vezes causa problemas de insatisfação, desinteresse, irritação e

exaustão. “A atividade do trabalho, pelos gestos que ela implica, pelos

instrumentos que ela movimenta, pelo material tratado, pela atmosfera na qual

ela opera, veicula um certo número de símbolos” (DEJOURS, 1992, p.50)

compondo o conteúdo concreto e abstrato do significado do trabalho. Como diz

Codo, “Quando o homem se relaciona com o mundo, imprimindo-lhe a sua

marca, além da energia física ele despende também uma energia psíquica,

enquanto dá significação às coisas” (CODO, 1999, p. 52). Isso faz com que o

trabalho englobe a objetividade do mundo real e a subjetividade do indivíduo que

o realiza. Cada tipo de trabalho permite múltiplas possibilidades de expressão da

subjetividade e afetividade do sujeito em maior ou menor grau.

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Sartre defendia que o homem define-se pelo seu projeto de vida e

só existe na medida em que o realiza. Todo projeto é fundamentado por

escolhas e as escolhas têm um caráter individual com dimensões sociais e

universais. Lucchiari (1998) fala da importância da escolha de uma profissão

como uma das escolhas mais fundamentais na vida das pessoas. “Escolher um

trabalho, uma profissão é escolher a forma pela qual queremos participar do

mundo em que vivemos que é, sem dúvida, uma forma de ser responsável

também pelas escolhas dos outros” (LUCCHIARI, 1998, p. 15).

Mallar (2004) destaca a importância de se conhecer a saúde geral

e mental dos trabalhadores, seu adoecer, as características de cada trabalho e

suas relações com as doenças ou agravos psicossomáticos. Há um significativo

crescimento de pesquisas direcionadas para o impacto do trabalho na saúde

física e mental do trabalhador. Benevides-Pereira (2002) diz que as

organizações têm aumentado a atenção quanto à significação e à repercussão

do trabalho sobre o trabalhador e, também, aos efeitos dessa relação na

instituição. Os estudos demonstram que o desequilíbrio na saúde do profissional

provoca efeitos negativos na qualidade dos serviços prestados e no nível de

produção, com diminuição dos lucros, na medida em que os custos se

incrementam em absenteísmo, auxílio-doença, reposição de funcionários,

transferências, novas contratações e treinamento.

Costa diz que o desejo de poder controlar e interferir no mundo

circundante e desta forma prever acontecimentos é talvez o mais antigo dos

desejos humanos, e “vemos o homem primitivo com seu limitado entendimento

do mundo ao seu redor apelar para os rituais e estabelecer códigos de conduta”

(COSTA, 2002, p. 34). O homem ampliou sua capacidade de predizer os

acontecimentos e exercer controle sobre eles com o desenvolvimento da ciência

e da tecnologia. Todavia, a ação humana resulta da interação entre seres

singulares e imprevisíveis, mobilizados por fatores pessoais internos, afetivos e

biológicos, e ambiente externo. Como diz a autora, os fatores situacionais, os

papéis que a pessoa ocupa e outras circunstâncias determinam parcialmente o

que se pode, ou não, fazer em resposta à ação dos outros. Assim sendo, “as

dificuldades de relações interpessoais, ocorrem mais provavelmente quando os

indivíduos desenvolvem estreita amplitude de comportamentos efetivos e por

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isto, dependem de métodos coercitivos para forçar as ações desejadas pelos

outros” (COSTA, 2002, p. 37). .

O trabalho dos policiais civis envolve ações que provocam

estresse agudo e exaustão emocional. Existe um contato direto e constante com

a violência e a insegurança. E, embora o exercício dessa função tenha elevado

valor social, porquanto o policial desempenha um papel importante para a

cidadania, nem sempre é reconhecido pela sociedade como tal. “A rigor, todo

trabalho é igualmente importante para a sociedade. [...] A importância da

percepção do próprio trabalho como útil à sociedade tem valor inegável para a

auto-estima do trabalhador” (CODO, 1999, p. 293). É sobre essa percepção que

o homem estrutura a sua identidade. O reconhecimento da importância social do

trabalho tem relação direta com a burnout, de acordo com Codo (1999), pois

quando o trabalhador não sente o produto do seu trabalho como sendo

importante, aumentam os sentimentos de burnout. Albornoz destaca que “um

homem só satisfaz seu desejo, suas carências humanas, quando outro homem

seu igual lhe reconhece o seu valor humano. O homem só pode manter-se

humano na relação com outros homens” (ALBORNOZ, 2004, p. 64), pois o

indivíduo só é legitimamente humano em comunidade. A autora acredita que a

violência origina-se do desejo humano espiritual de reconhecimento que cada

um traz dentro de si. “As percepções que as pessoas têm de sua eficácia afetam

as projeções e antecipações que fazem sobre as circunstâncias de suas ações”

(COSTA, 2002, p. 44). Bandura (1986 apud COSTA 2002) afirma que

praticamente todo comportamento humano é propositado e regulado pelas

antecipações ou projeções das conseqüências de seu comportamento. Costa

(2002) acredita que o ambiente social pode colocar restrições ao que as pessoas

fazem ou ao que pode ajudá-las a se comportar de modo melhor. Bandura (1983

apud COSTA 2002, p. 52) afirma que “auto-eficácia não se refere à capacidade

que se tem, mas ao julgamento do que se pode fazer com aquilo que se tem”.

Carvalho (1999) fala da importância do produto do trabalho

individual para referendar o papel social do homem em comunidade. O policial é

um funcionário que deve se submeter às leis do Estado e trabalhar em prol do

bem-estar e segurança da sociedade. “Funcionários públicos produzem conforto

às pessoas, quando prestam serviços à comunidade” (CARVALHO, 1999, p. 40).

Desse modo, fazendo parte de uma instituição que é julgada levando-se em

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consideração sempre os interesses gerais da sociedade, freqüentemente esse

trabalhador é rotulado de maneira depreciativa, preconceituosa. O modelo de

segurança que a sociedade tem em mente responde aos seus anseios mais

primários, e envolve conceitos, princípios e valores que são historicamente

construídos. Em muitas situações o policial civil não tem condições de atender às

demandas que recebe, mas é atingido visceralmente por elas e o resultado é

sofrimento. “O comportamento das pessoas em grande parte é regulado pela

disposição prévia organizando alvos conhecidos. O estabelecimento de alvos ou

metas é afetado pela auto-avaliação das próprias capacidades” (COSTA, 2002,

p. 43).

Albornoz (2004) defende que o homem precisa reconhecer-se nos

produtos que cria e esse reconhecimento lhe fornece a consciência de si como

ser humano. O trabalho policial implica em cuidado. Roach (1993, p. 47, apud

CAMPOS, 2005, p. 32) diz que cuidar do ser humano é uma capacidade

inseparável da natureza humana, mas não é uma atribuição fácil. Gamboa

(1997, apud CAMPOS, 2005, p. 32) explica a questão: “cuidar não é um ato

único ou a soma de procedimentos técnicos ou qualidades humanas, é o

resultado de um processo no qual delicada e estreitamente se conjugam

sentimentos, valores, atitudes”. Cuidado, segundo definição de Codo (1999) “é

uma relação entre dois seres humanos cuja ação resulta no bem-estar do outro

[...] uma relação de dupla transformação entre homem (no sentido de ser

humano que cuida) e objeto (no sentido de externo ao homem; o outro que

recebe cuidado)” (CODO, 1999, p. 53). O cuidador se transforma enquanto cuida

de outrem, transferindo parte de si enquanto vê seu trabalho realizado. Esse

profissional, não raro lida com demandas de cuidado em contraposição com

situações de extrema violência e riscos, em ambientes hostis com altos graus de

tensão.

Dejours (1992) diz que o medo é um elemento constante na

vivência dos trabalhadores e está presente em todas as categorias profissionais.

O policial está sujeito freqüentemente a riscos relacionados com sua integridade

física. O caráter imprevisível desses riscos é fonte de ansiedade. Bandura

postula uma “relação interativa, apesar de assimétrica entre a autopercepção de

eficácia e a instigação do medo, na qual a eficácia autojulgada exerce o maior

impacto” (1983 apud COSTA 2002, p. 55).

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O significado do trabalho permeia a vida e as relações em cada

cultura numa perspectiva construída historicamente e explicitada na linguagem e

nos comportamentos dos indivíduos. O homem moderno atribui sentido à própria

existência no trabalho. O status que o emprego confere ao sujeito é uma marca

dessa era. Sob a ótica filosófica, trabalho pode significar o ato humano que inclui

forças espirituais e corporais para um fim objetivamente delineado e que deve

ser perseguido. Albornoz (2004) diz que nesse sentido o trabalho significa um

esforço afirmado e desejado para a realização de objetivos e, tanto o esforço

como o resultado, são considerados trabalho. Nesse século, muitas questões

que envolvem o convívio harmonioso entre os cidadãos foram transferidas do

âmbito familiar para o domínio social.

Albornoz (2004) fala sobre a reavaliação do significado do trabalho

a partir da Reforma Protestante. Para Calvino é vontade de Deus que todos

trabalhem, e a Bíblia Sagrada reitera esse pensamento. Diferentemente da

concepção católica, há uma ênfase no aspecto moral que confere ao trabalho um

aspecto de “eleição e graça” identificado com a própria fé. Nessa perspectiva, “A

falta de vontade de trabalhar é um sintoma de ausência do estado de graça.

Para o cristão há o dever de trabalhar” (2004, p. 55). No período renascentista o

pensamento judaico-cristão e heranças greco-romanas se somam e o trabalho

passa a ser a expressão da personalidade e do próprio homem. O significado do

trabalho não está mais na renda, na salvação, no status ou no poder sobre

outras pessoas, mas no processo técnico inerente que transforma o homem num

sujeito ativo, construtor do mundo.

Uma questão importante que faz parte dessa discussão na

sociedade atual é a violência. Para Albornoz (2004, p.67), “a violência teria sua

origem não em contradições de interesses econômicos e materiais, mas sim no

desejo humano espiritual de ser reconhecido cada um em seu valor humano”. O

indivíduo em sociedade antecipa em seus projetos o resultado do

reconhecimento de que necessita. O homem deseja e necessita de

reconhecimento e na relação com outros homens evidencia seu desejo e suas

carências humanas. “A essência humana não pode manifestar-se no indivíduo

isolado. O indivíduo só é propriamente indivíduo, e indivíduo humano, quando

em comunidade” (ALBORNOZ, 2004, p. 64). Através do trabalho como

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instrumento de participação na vida social, o homem obtém um reconhecimento

de outrem como indivíduo humano.

A integração dos homens pressupõe a integração dos projetos

individuais e o convívio sempre foi acompanhado de formas de pressão e

controle social. O trabalho de quem é incumbido de empreender ações que

visem reduzir a inadaptação social, seja de forma preventiva ou repressiva, em

constante contato com outros seres humanos, impregna-se de conflitos. “Não é o

trabalho per si que faz mal ao trabalhador, mas os modos como ele se realiza”

(CODO, 1999, p. 282).

Policiais compartilham emoções, atribuições, procedimentos,

responsabilidades, idéias em ambientes e situações de extremo contato humano,

em relacionamentos por vezes conflituosos, em meio à insegurança, violência,

sofrimento, confrontos. Acontecimentos inesperados, situações de risco exigem

complexas e múltiplas ações que garantam a vida, assegurem a harmonia e

equilíbrio no convívio social, forneçam a segurança.

Bock (1999, p. 312) diz que as pessoas costumam procurar

atividades profissionais que tenham importância social e que proporcionem

remuneração suficiente para um bom padrão de vida. Quais seriam as profissões

de maior relevância social? A importância que a sociedade atribui à profissão

redunda em remuneração proporcionalmente equivalente? A verdade é que

profissões que contribuem maximamente para a vida em sociedade são

freqüentemente desvalorizadas.

Borges e Alves Filho (2001) caracterizam o significado do trabalho

como uma cognição subjetiva e social que varia individualmente, na medida em

que deriva do processo de atribuir significados e, ao mesmo tempo, apresenta

aspectos socialmente compartilhados, associados às condições históricas da

sociedade. Portanto, o significado do trabalho revela a contemporaneidade do

sujeito do processo.

Os estudos sobre o significado do trabalho desenvolvidos nos

anos 80 por uma equipe de pesquisadores conhecida pela sigla MOW – Meaning

of Work International Research Team (1987) são considerados o principal marco

teórico-metodológico na produção de conhecimentos sobre o significado do

trabalho. Para a Equipe MOW (1987), a estrutura geral do conceito de significado

do trabalho envolve três grandes domínios, dimensões ou facetas: a centralidade

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do trabalho, as normas societais do trabalho e os resultados e objetivos

valorizados do trabalho.

A centralidade é definida como o grau de importância geral que o

trabalho possui na vida de um indivíduo em determinado momento,

independentemente das razões pelas quais tal importância seja atribuída. É,

também, o grau de importância conferida ao trabalho em comparação com as

demais esferas vitais – família, lazer, religião e comunidade. Ou, ainda, uma

crença geral acerca do valor do trabalho na vida do indivíduo (ENGLAND;

MISUMI, 1986 e MOW, 1987 apud BORGES; ALVES FILHO, 2001).

Os objetivos e resultados valorados se relacionam com as

finalidades que as atividades de trabalho possuem para o indivíduo,

respondendo à indagação acerca do porquê o indivíduo trabalha. Consistem nos

objetivos que os indivíduos esperam alcançar por meio do seu trabalho e a

valoração atribuída aos resultados do mesmo, envolvendo funções intrínsecas

(relacionadas ao conteúdo do trabalho, às tarefas) e extrínsecas (não

relacionadas ao conteúdo do trabalho ou tarefas) (MOW, 1987). Bastos, Pinho e

Costa (1995) vêem nessa faceta um componente motivacional.

As normas societais do trabalho consistem nos direitos e

obrigações individuais para com a sociedade em equivalência com a

reciprocidade social (MOW, 1987) ou, ainda, como acentuam Bastos, Pinho e

Costa (1995), expressão geral do que seriam trocas eqüitativas entre o que o

indivíduo recebe da situação de trabalho e as contribuições que ele traz para o

processo de trabalho.

A Equipe MOW (1987) identificou quatro padrões de significado do

trabalho: instrumental (ênfase nos aspectos econômicos e minimização dos

aspectos intrínsecos do trabalho); expressivo e de centralidade (ênfase na

expressão pelo trabalho que é central e resultados econômicos como não

importantes); orientação para o direito e contato (ênfase nas normas de direito e

alta valorização da dimensão contato social); e baixo direito (minimização das

normas de direito e orientação média para obrigações).

Borges (1999) avalia que, dentre outros aspectos, o trabalho da

Equipe MOW contribuiu para a consideração do construto significado do trabalho

como multifacetado, para a inclusão de aspectos sócio-normativos e na

elaboração de questionários padronizados e testados em diversos países.

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centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e hierarquia

dos atributos

Também tomando os estudos da Equipe MOW (1987) como

referência e fazendo uso dos instrumentos adaptados ao contexto brasileiro por

Soares (1992), outros estudos desenvolvidos no Brasil confirmaram a função

instrumental do trabalho como a mais importante e, em relação à centralidade, a

maior importância atribuída à família, seguida pela esfera trabalho

(BASTOS;PINHO;COSTA, 1995; BORGES-ANDRADE MARTINS;ABBAD-OC,

1995; SANTOS, 1995 e SILVA, 1995). Estes estudos mostraram, também, uma

variabilidade do significado do trabalho conforme variáveis sócio-demográficas

definidas: categoria ocupacional, sexo, idade, renda, tempo de serviço, dentre

outras.

Borges (1998) propôs um modelo de construção do significado do

trabalho para explicar a relação entre significado do trabalho e socialização

organizacional que previa que os indivíduos integram conjuntos de variáveis

(características sócio-econômicas e demográficas, estrutura social das

organizações e concepções do trabalho) pelo processo de socialização

organizacional (envolvendo: qualificação/inclusão, competência e objetivos e

tradições organizacionais), construindo um significado próprio do trabalho

(multifacetado: centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos

descritivos e hierarquia dos atributos), com o qual voltam a atuar sobre os

primeiros.

A estrutura dos atributos valorativos consiste na identificação do

seguinte conjunto de fatores primários: 1) Justiça no trabalho (r2=0,17 e

Alfa=0,92): define que o ambiente de trabalho deve garantir as condições

materiais, de higiene e de equipamentos adequados às características das

atividades e à adoção das medidas de segurança, bem como garantir o retorno

econômico compatível, o equilíbrio de esforços e direitos entre os profissionais;

2) auto-expressão e realização pessoal (r2=0,12 e Alfa=0,81): define que o

trabalho deve oportunizar expressão da criatividade, do sentimento de

produtividade, das habilidades interpessoais, da capacidade de tomar decisões e

do prazer pela realização das tarefas; 3) sobrevivência pessoal e familiar

(r2=0,05 e Alfa=0,78): define que o trabalho deve garantir as condições

econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência à família, a

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existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do desempenho, o

salário e o progresso social; e 4) desgaste e desumanização (r2=0,04 e

Alfa=0,77): define que o trabalho deve implicar em desgaste, pressa,

atarefamento, perceber-se como máquina ou animal (desumanizado), esforço

físico, dedicação e perceber-se discriminado.

O fator valorativo Desgaste e Desumanização faz parte da

estrutura fatorial, mas a exemplo da estrutura fatorial encontrada no estudo com

operários da construção habitacional e trabalhadores de redes de supermercado

(Borges, 1997; 1999; Borges e Tamayo, 2001), também apresenta um

coeficiente alfa inferior aos demais fatores dos atributos valorativos. Além dessa

constatação, observamos a tendência das diferentes amostras apresentarem

pontuações mais baixas neste fator do que nos demais. Significa, pois, que este

fator se constitui em atributo valorativo apenas para uma parcela da amostra. A

mesma seqüência de estudos já relatada permitiu o aperfeiçoamento da

identificação dos fatores dos atributos descritivos. No último teste empírico

desenvolvido por Borges e Alves-Filho (no prelo), com profissionais de saúde,

bancários e trabalhadores de uma distribuidora de petróleo, foi identificada a

seguinte estrutura fatorial dos atributos descritivos: 1) Auto-expressão (r2=0,24 e

Alfa=0,91): descreve o trabalho como oportunizando a aplicação de opiniões dos

participantes e como lugar de influenciar nas decisões, de reconhecimento do

que se faz, de sentir-se tratado como pessoa respeitada, de relacionamento de

confiança e de crescimento pessoal; 2) Condições de trabalho (r2=0,07 e

Alfa=0,83): descreve o trabalho exigindo para o desempenho adequado

equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e melhores

salários para o trabalhador; 3) Responsabilidade (r2=0,04 e Alfa=0,70): descreve

o trabalho como implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas,

na ocupação e no direito de que a organização cumpra com seus deveres,

fazendo o indivíduo sentir-se bem; 4) Recompensa econômica (r2=0,03 e Alfa =

0,82): descreve o trabalho como garantia do sustento, de independência

econômica e de sobrevivência; 5) Desgaste e Desumanização (r2=0,02 e

Alfa=0,73): descreve o trabalho como associando a valorização da condição de

ser gente à aceitação da dureza no trabalho, terminando por fazer o indivíduo

perceber-se como máquina ou animal, por exigir rapidez, esforço físico, ritmo

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acelerado, repetição de tarefas e perceber-se discriminado de outras pessoas

em função do que faz.

Os atributos valorativos correspondem às características ideais do

trabalho – como este, na concepção do indivíduo, deve ser. Os atributos

descritivos expressam a representação mental ou abstraída da realidade do

trabalho por cada pessoa. A hierarquia dos atributos é considerada a quarta

faceta (BORGES, 1998, 1999; BORGES; ALVES FILHO, 2001 e BORGES;

TAMAYO, 2002). Esta pode ser definida como arranjos individuais que consistem

na organização dos diversos atributos valorativos e descritivos, conforme a

ordem de importância atribuída aos mesmos.

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6 MÉTODO

Na busca de cada vez mais se aproximar da verdade, a ciência

busca o saber embasado na fidedignidade, controle, sistematização e

comprovação. É por meio do método cientifico que a pesquisa busca a solução

dos problemas. De acordo com Cervo e Bervian (2002), o método científico é a

ferramenta colocada à disposição do cientista que, com a pesquisa, pretende

penetrar no segredo de seu objeto de estudo. Segundo estes mesmos autores,

Toda investigação nasce de um problema observado ou sentido, de tal modo que não pode prosseguir, a menos que se faça uma seleção da matéria a ser tratada. Essa seleção requer alguma hipótese ou pressuposição que vai guiar e, ao mesmo tempo, delimitar o assunto a ser investigado. Daí o conjunto de processos ou etapas de que se serve o método cientifico. (CERVO & BERVIAN, 2002, p.25).

6.1 TIPO DE ESTUDO

Desenvolveu-se um estudo exploratório que, de acordo com Cervo

e Bervian (2002) é o passo inicial no processo de pesquisa, pela experiência e

um auxílio que traz a formulação de hipóteses significativas para posteriores

pesquisas. Este tipo de pesquisa tem por objetivo obter novas percepções

acerca de um determinado assunto, podendo descobrir novas idéias, para assim,

realizar descrições precisas da situação e descobrir as relações existentes entre

os elementos que a compõe. Assim, pretendeu-se entender a síndrome de

burnout em policiais civis, verificando suas possíveis relações com o significado

do trabalho e as estratégias de coping adotadas por eles.

Já Gonsalves (2001), defende que este tipo de pesquisa recebe

uma outra denominação de ‘pesquisa de base’, pelo fato de oferecer dados

elementares que possibilitam suporte para a realização de estudos mais

aprofundados sobre o tema.

Fez-se um levantamento que teve como característica a

interrogação direta dos indivíduos cujo comportamento se desejava conhecer

(GIL, 1996). Ainda de acordo com o autor, este tipo de pesquisa é feito através

da solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do

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problema estudado. Após a análise quantitativa dos dados obtiveram-se as

conclusões correspondentes aos dados coletados. Em geral, na maioria dos

levantamentos não são pesquisados todos os integrantes da população

estudada. Assim, fez-se uma seleção prévia, mediante procedimentos

estatísticos, de uma amostra representativa da categoria.

A pesquisa evolui por meio da observação direta das atividades do

grupo estudado e de entrevistas com informantes para registrar suas

interpretações do que ocorre na comunidade em questão. Posteriormente, ocorre

a análise quantitativa, que propicia a obtenção de conclusões derivadas dos

dados coletados.

Como é desenvolvido no próprio local em que ocorrem os

fenômenos, seus resultados costumam ser mais fidedignos e como o

pesquisador apresenta nível maior de participação, torna-se maior a

probabilidade dos sujeitos oferecerem repostas mais confiáveis.

6.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

De acordo com dados estatísticos obtidos junto à Secretaria de

Estado da Defesa Social do Rio Grande do Norte, o município de Natal conta

com 15 delegacias distritais e 19 especializadas.

Segundo RIZZINI (1999, p. 73), “denomina-se amostra o conjunto

de indivíduos selecionados dentro de uma população que se quer investigar. A

amostra é, portanto, parte da população a ser investigada”.

Face ao escopo do estudo (permitir a elaboração de um TCC) e

limitações de recursos e tempo disponível, procurando atender aos requisitos

acima mencionados para a determinação de uma amostra, foi realizado um

levantamento junto à Secretaria de Estado da Defesa Social do Rio Grande do

Norte para a identificação das delegacias localizadas no município do Natal,

adotando-se como critério o número de policiais vinculados a organização.

Definida a delegacia (DEHOM – Delegacia Especializada de

Homicídios), constatou-se que nela trabalhavam 20 agentes da policia civil, três

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escrivãs e cinco delegados. A escolha desta delegacia se deu em função do

elevado número de policiais civis trabalhando na mesma e por ela direcionar-se

a uma especialização que, supõe-se, apresenta mais possibilidades de lidar com

situações de estresse ocupacional na rotina policial.

A amostra final se caracterizou pelo método acidental. Foram

distribuídos 28 protocolos, conforme ficará demonstrado na descrição dos

procedimentos de coleta de dados. A amostra é conseqüente do tempo

disponível dos policiais para a realização do protocolo, uma vez que realizam

diversos serviços externos, assim como precisam seguir uma escala de trabalho,

férias e afastamentos diversos. A amostra reflete ainda o receio em relação à

garantia do sigilo, uma vez que abordar a percepção do significado dado ao

trabalho poderia levar a uma preocupação que causasse algum tipo de viés nas

respostas.

A amostra foi composta por 18 participantes, correspondendo a

64% da população.

Os aspectos a seguir apresentados fazem parte do perfil sócio-

demográfico dos policiais civis participantes, caracterizando, então, a amostra:

• Idade: a idade mínima entre os participantes foi de 27 anos e a máxima de 48

anos. A média de idade foi 37,8, enquanto o desvio padrão situou-se em 6,04.

Apenas um dos participantes não informou esse dado.

• Faixa etária: analisando-se a distribuição das faixas etárias na delegacia, foi

possível se verificar a maior incidência de policiais entre 41 e 45 anos de

idade, representando 33,3% dos participantes. Tabela 01 – Distribuição dos participantes por faixa etária (N=18)

Faixa etária Freqüência Percentual Até 30 anos 3 16,7 31 a 35 anos 3 16,7 36 a 40 anos 4 22,2 41 a 45 6 33,3 Acima de 46 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100

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• Sexo: houve predomínio do sexo masculino, com 14 participantes (77,8%).

Apenas uma pessoa não indicou seu sexo (5,6%).

• Estado Civil: conforme se verifica na tabela 02, predominou o número de

participantes casados/união estável.

Tabela 02 – Distribuição por estado civil (N=18)

• Número de filhos: entre os participantes, 6 não têm filhos (33,3%); dentre os

que têm, 6 (33,3%) possuem um filho apenas – sendo este número de filhos o

mais freqüente; 4 participantes possuem 2 filhos (22,2%); uma pessoa tem 3

filhos (5,6%) e apenas um participante, tem 4 filhos (5,6%).

• Orientação religiosa: a predominância da religião dentre os participantes da

amostra foi à católica, 15 policiais (83,3%) eram desta religião. Apenas uma

pessoa (5,6%) relatou ser espírita, enquanto 2 afirmaram não ter orientação

religiosa, como pode ser verificado na tabela 03.

Tabela 03 – Distribuição por religião (N=18)

• Freqüência a atividades religiosas: como se pode constatar a partir da

Estado Civil Freqüência Percentual

Solteiro(a) 2 11,1

Casado(a) ou união estável 14 77,8

Separado(a) ou divorciado(a) 1 5,6

Omissos 1 5,6

Total 18 100

Religião Freqüência Percentual

Católica 15 83,3 Evangélica 0 0 Espírita 1 5,6 Nenhuma 2 11,1 Total 18 100,0

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tabela 04, no que concerne à freqüência a atividades religiosas, 4 participantes

(22,2%) referem participar semanalmente; 11 (61,1%), a maioria, freqüenta

raramente; 2 (11,1%) mensalmente participam das atividades religiosas.

Tabela 04 – Distribuição por freqüência a atividades religiosas (N=18)

• Nível de Instrução: de acordo com a tabela 05, a maioria dos participantes (8

ou 44,4%), relatou ter ensino superior completo, enquanto 2 pessoas (11,1%)

concluíram o ensino fundamental, 3 (16,7%) concluíram o ensino médio e 2

(11,1%) possuem pós-graduação.

Tabela 05 – Distribuição por nível de instrução (N=18)

• Residência própria: a maioria dos policiais possui residência própria (14 ou

77,8%), enquanto 4 participantes (22,2%) não possuem.

• Locomoção própria: entre os participantes, 11 (61,1%), ou seja, a maioria,

possui locomoção própria e apenas 5 (27,8%) não possuem. Apenas 2 pessoas

(11,1%) não responderam a este dado.

Freqüência Percentual

Semanalmente 4 22,2 Mensalmente 2 11,1 Raramente 11 61,1 Nunca 1 5,6 Total 18 100,0

Instrução Freqüência Percentual

Ensino fundamental completo 2 11,1 Ensino médio completo 3 16,7

Ensino superior completo 8 44,4

Pós-graduação 2 11,1 Total 18 100,0

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• Tempo na Polícia Civil: dentro da amostra, o tempo médio foi de 8,71 anos, o

desvio padrão situou-se em 6,659, o tempo mínimo foi de 1 ano e máximo, de 21

anos.

• Cargo: a amostra foi constituída predominantemente por Agentes Policiais.

Tabela 06 – Distribuição por cargos (N=18)

• Tempo no cargo: o tempo mínimo de ocupação do cargo variou entre 2 anos

(tempo mínimo) e 21 anos (tempo máximo). A média foi de 3,61 anos, enquanto

o desvio padrão foi de 6,529.

• Faixa de tempo no cargo: conforme a tabela 07, mais da metade dos

policiais (10 ou 55,6%) encontram-se a no máximo de 5 anos (tempo mínimo) no

cargo.

Tabela 07 – Distribuição por faixa de tempo no cargo (N=18)

• Faixa de tempo na PC: a maioria dos participantes está ocupando o cargo há

no máximo 5 anos (10 ou 55,6%).

Freqüência Percentual Delegado Titular 1 5,6 Delegado Adjunto 1 5,6 Escrivão 1 5,6 Agente Policial 14 77,8 Omissos 1 5,6 Total 18 100

Freqüência Percentual Até 5 anos 10 55,6 6 a 10 anos 2 11,1 16 a 20 anos 3 16,7 Acima de 21 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100

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Tabela 08 – Distribuição por faixa de tempo na Polícia Civil (N=18)

• Outros vínculos: a minoria dos policiais (4 ou 22,2%) afirmou possuir outro

tipo de vinculo de trabalho, enquanto a maioria (13 ou 72,2%) confirmou não

desenvolver outra atividade fora da polícia civil.

• Quantidade de vínculos: 14 pessoas (77,8%), ou a maioria, não possuem

outros vínculos, enquanto apenas 4 participantes (22,2%) confirmaram ter

outros vínculos de trabalho, sendo que cada participante tem apenas mais 1

vinculo cada.

6.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Para a coleta de dados foi elaborado um protocolo contendo uma

apresentação, um inventário para a abordagem de cada construto, uma ficha

sócio-demográfica (ver anexo), que será descrito a seguir.

O instrumento utilizado para aferição da síndrome de burnout foi o

Inventário de Burnout de Maslach - MBI - Este questionário de mensuração de

Maslach e Jackson (1981), de acordo com Gil-Monte e Peiró (1997), é o

instrumento mais utilizado para avaliar burnout, independentemente das

características ocupacionais da amostra e de sua origem. Foi, inicialmente,

traduzido e validado para uso no Brasil por Robayo-Tamayo, (1997) com

amostra brasiliense, sendo sua estrutura fatorial retestada posteriormente com

amostra de profissionais de saúde em Natal, por Borges et al. (2002). Este

questionário é composto por 22 itens relacionados com sentimentos pelo

trabalho que mensuram os seguintes fatores: Exaustão Emocional, Diminuição

Freqüência Percentual Até 5 anos 10 55,6 6 a 10 anos 2 11,1 16 a 20 anos 4 22,2 Acima de 21 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100

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da Realização Pessoal e Despersonalização. O indivíduo responde de acordo

com uma escala de 1 a 5, a freqüência com que experimenta o conteúdo

sugerido por cada frase.

O segundo instrumento foi a Escala de Coping Ocupacional na

versão brasileira, traduzida e adaptada por Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2003) da

escala proposta por Latack (1986). Esta escala apresenta os fatores controle (ɑ

= 0,79); escape (ɑ = 0,77) e manejo de sintomas (ɑ = 0,81).

O fator controle consiste em ações e reavaliações cognitivas

proativas; o escape são ações e reavaliações cognitivas que sugerem fuga ou

um modo de evitação; e o manejo de sintomas são estratégias popularmente

aceitas utilizadas pelo indivíduo para administrar eventos relacionados ao

estresse, tais como: o relaxamento ou a atividade física (TAMAYO; TRÓCCOLI,

2002).

O terceiro, parte integrante do Inventário de Motivação e

Significado do Trabalho (IMST) e utilizado visando à apreensão da centralidade

do trabalho e dos atributos valorativos e descritivos. O IMST foi desenvolvido por

Borges e Alves Filho (2001) e validado em pesquisa empírica realizada em Natal

(RN), em diversas instituições, com uma amostra de 487 profissionais de saúde

e 155 bancários. O processo de validação mostrou que o instrumento

apresentava características psicométricas satisfatórias, tendo em vista as

proporções da variância explicada, os coeficientes de consistência (alfa) de cada

fator, os coeficientes de fatorabilidade e a capacidade dos escores nos fatores

de diferenciar as categorias ocupacionais.

A descrição a seguir, prender-se-á apenas às duas escalas

utilizadas. Ambas são compostas por 73 itens. São apresentadas duas questões

aos respondentes: a) quanto o trabalho implica o resultado indicado idealmente e

b) quanto julga que ocorre realmente o resultado indicado. O respondente deve

atribuir a cada item um valor numa escala que varia de 0 a 4 pontos. Tanto em

relação aos atributos valorativos quanto aos descritivos são mensurados 05

(cinco) fatores, a saber: Justiça no Trabalho, Desgaste e Desumanização,

Realização, Bem-estar e Auto-expressão (valorativos) e Auto-expressão,

Responsabilidade e Dignidade, Desgaste e Desumanização, Recompensas

Econômicas e Condições de Trabalho (descritivos).

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Utilizou-se uma ficha para que os dados sócio-demográficos e

funcionais pudessem ser coligidos, esta era composta de indagações sobre

idade, sexo, religião e freqüência a estas atividades, estado civil, escolaridade,

tempo de vinculação a Policia Civil; tempo de exercício no cargo/função atual e

desenvolvimento de alguma outra atividade profissional. Essas variáveis

permitiram análises relacionadas aos objetivos específicos perseguidos na

investigação.

6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Inicialmente entrou-se em contato com o Secretário de Defesa

Social, em seguida com a Delegada Geral. Depois de determinada a delegacia

em que se desenvolveria a pesquisa, entrou-se em contato com o delegado da

DEHOM (Delegacia Especializada de Homicídios), a fim de explicar sobre o que

seria a pesquisa, qual eram seus objetivos e obter a anuência para a realização

da coleta de dados. Com sua concordância e colaboração, foi realizada uma

rápida reunião para a divulgação da pesquisa junto aos policiais. Na ocasião,

feita a sensibilização e solicitação de cooperação, foram dados esclarecimentos

sobre a forma de resposta ao conteúdo do protocolo e, especialmente,

destacado o caráter voluntário de participação na pesquisa, bem como a garantia

de sigilo dos dados e anonimato dos participantes. A garantia do anonimato é

uma tradição das pesquisas realizadas na área da Psicologia Organizacional e

do Trabalho, já que as relações de trabalho, nem sempre, permitem que as

pessoas sintam-se à vontade para expressar de forma sincera e declarada sobre

as questões referentes ao seu ambiente de trabalho. Após isto, os protocolos

foram distribuídos, e foi fixada uma data para a devolução.

Ainda como uma forma de resguardar o sigilo, na delegacia foi

colocada uma urna para que os protocolos fossem sendo depositados na

devolução até o recolhimento no prazo estabelecido.

Quanto à entrega dos protocolos, as pesquisadoras informaram aos

participantes que estariam disponíveis para prestarem posteriores

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esclarecimentos que se fizessem necessários por meio de contato telefônico. No

entanto, as orientações dadas quando foi feita a distribuição se mostraram

suficientes.

6.5 PROCEDIMENTOS DE REGISTROS DE DADOS

Na medida em que os protocolos foram sendo recolhidos, foi

procedida a uma conferência dos mesmos para a eliminação dos que tiveram

preenchimento inadequado ou muitas omissões que comprometessem a sua

utilização.

Após isto, procedeu-se o registro dos dados sob a forma de banco

de dados do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão para

Windows – o que viabilizou o desenvolvimento das análises estatísticas.

6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

A utilização do SPSS possibilitou o emprego de técnicas e

procedimentos estatísticos, tais como: freqüências, medidas de tendência central

e variabilidade, test t, análise de variância e teste qui-quadrado. Em seguida, foi

feita a discussão dos resultados com base nos marcos teóricos previamente

selecionados e estudados e de acordo com os objetivos estabelecidos para a

investigação que permitam conclusões, críticas, sugestões e recomendações

pertinentes.

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7 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para o que se propõe o capítulo, obedecer-se-á a mesma

seqüência com que os dados foram coletados; ou seja, inicialmente, serão

apresentados os dados referentes à síndrome de burnout, estratégias de coping

e significado do trabalho de forma que, paulatinamente, seja possível que as

questões de pesquisa venham a ser respondidas.

7.1 SÍNDROME DE BURNOUT

7.1.1 ESCORES DOS FATORES DA SÍNDROME DE BURNOUT

Quando comparadas as médias nas três dimensões, verificou-se

que os participantes apresentam média mais alta em diminuição da realização (t

= -5,51, para p=0,000) e que as médias de exaustão e de despersonalização não

apresentam diferença estatisticamente significativa. Codo (1999) afirma que a

síndrome deve ser considerada com a análise dessas três dimensões como uma

variável contínua, com níveis altos, moderado e baixo e não como uma variável

dicotômica, onde existe ou não existe a presença do sintoma. A partir da

combinação do nível de cada uma das três dimensões se obtém o nível da

burnout no indivíduo.

Os participantes da amostra apresentaram maior homogeneidade

na avaliação da exaustão. Este dado foi verificado também em uma pesquisa

com a categoria de professores, feita por Moreno-Jimenez et al. (2002).

A diminuição da realização pessoal no trabalho é uma dimensão

importante a ser considerada. O trabalhador tende a se auto-avaliar de forma

negativa, sentindo-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu

desenvolvimento profissional (MASLACH, SCHAUFELI, LEITER, 2001 apud

CARLOTTO, 2002). Farber (1971, 1995 apud COSTA, 2002, p. 58) explica que

essa situação se instala a partir “da discrepância da percepção individual entre

esforço e conseqüência, percepção esta influenciada por fatores individuais,

organizacionais e sociais”.

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Mallar e Capitão constatam que os policiais são “chamados

atualmente de profissionais de alto contato, os quais aliam às longas jornadas o

inevitável envolvimento com os problemas dos outros e a excessiva carga de

trabalho em ambientes potencialmente geradores de conflitos” (MALLAR, 2004,

p.19). É possível nessa situação que as estratégias de enfrentamento não

adaptativas esgotem os recursos emocionais (MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA;

GONZÁLEZ, 2000) levando-os ao deterioramento pessoal e profissional. Codo e

Vasquez-Menezes (1999 apud CAMPOS, 2005, p. 38) chamam de “síndrome da

desistência”. Costa (2002) observou que se tratava, em circunstâncias como

essa, de uma espécie de desesperança proveniente da impotência diante do que

parece ser irreversível, imutável, falta de esperança promovida pela dificuldade

para modificar circunstâncias, e adaptar-se a situações irreversíveis.

Tabela 09 - Escores das médias das dimensões síndrome de burnout

Fatores Média Desvio Padrão

Exaustão Emocional 2,50 0,59

Diminuição da Realização 3,93 0,59

Despersonalização 2,14 0,73

Na tabela 10, considerando-se a distribuição por intervalos de

escores, vê-se que a diminuição da realização pessoal foi, também, a dimensão

que apresentou uma maior concentração nos intervalos relativos aos escores

mais altos. Destaca-se, na mesma tabela, que quanto à exaustão, os

participantes da amostra apresentaram uma maior concentração (moda) no

intervalo intermediário e a despersonalização com a menor média, tem uma

concentração no intervalo mais baixo e nenhuma incidência no intervalo mais

alto. Os dados obtidos nesta última dimensão corroboram com o estudo

realizado por Moreno-Jimenez et al. (2002).

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Tabela 10 - Médias dos fatores de burnout e freqüência por intervalos (N=40)

Fatores de burnout Média Desvio-padrão

Freqüência por intervalo

x≤2 2<x≤3 3<x≤4 X>4

Exaustão Emocional 1,82 0,59 4 9 5 0

Diminuição da Realização Pessoal 3,52 0,60 0 1 11 6

Despersonalização 1,32 0,65 7 10 1 0

Os policiais, no confronto com os desencadeadores de estresse

próprios da convivência e interação entre os indivíduos, como também com

situações nas quais se desequilibram as expectativas individuais do profissional,

a realidade do trabalho diário e as expectativas e demandas sociais, podem

apresentar a sensação de esgotamento tanto físico como mental, com um

sentimento de não dispor de energia para realizar suas atividades e de ter

chegado ao limite de possibilidades. Embora não tenha tido alteração na

personalidade, que leva a um contato frio e impessoal com os cidadãos usuários

do serviço policial. Este dado remete à reflexão de que estes profissionais

apresentam uma tendência em desenvolver a burnout.

O presente estudo, nas dimensões de exaustão emocional e

despersonalização, apresentam resultados coincidentes com os encontrados na

investigação conduzida por Dantas (2003), com profissionais de saúde e

docente, visto que se obteve a mesma freqüência por intervalo. O que não

ocorreu em relação à diminuição da realização, já que em seu estudo esta

dimensão apresentou uma maior concentração no intervalo mais baixo.

Para verificar se os participantes apresentaram semelhança ou

diferença quanto à exaustão, diminuição da realização pessoal e

despersonalização na dependência de: faixa etária, sexo, estado civil; nível de

instrução; número de filhos, religião, freqüência a atividades religiosas,

residência próprio, meio de locomoção próprio, cargo, faixa de tempo na polícia

civil, faixa de tempo no cargo e manutenção de outros vínculos empregatícios, foi

feita a aplicação do teste t para as variáveis sexo, residência e meio de

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locomoção próprios e manutenção de outros vínculos, bem como da análise de

variância – ANOVA, para as demais.

Na aplicação do test t e da ANOVA não se verificaram diferenças

estatisticamente significativas entre as médias. Assim, os participantes não

apresentaram diferenças quanto às dimensões da burnout na dependência das

variáveis.

Tabela 11 – Distribuição percentual da ocorrência das dimensões exaustão, despersonalização e diminuição da realização (N=18)

Dimensão Freqüência Percentual

Exaustão

Baixa 4 22,2

Moderada 9 50,0

Elevada 5 27,8

Total 18 100,0

Despersonalização

Baixa 6 33,3

Moderada 7 38,9

Elevada 5 27,8

Total 18 100,0

Diminuição da Realização

Baixa 4 22,2

Moderada 10 55,6

Elevada 4 22,2

Total 40 100,0

Quando identificadas as intensidades (níveis gerais) da síndrome

de burnout – baixa, moderada e alta, buscou-se verificar se os participantes

apresentaram semelhanças ou diferenças em tais níveis na dependência das

variáveis sócio-demográficas e funcionais. A aplicação do teste qui-quadrado

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permitiu que se constatasse que nenhuma independência fosse rejeitada. Assim,

concluiu-se que os participantes não apresentaram diferenças quanto à

intensidade da burnout na dependência das variáveis.

7.1.2 INCIDÊNCIA DE BURNOUT

Considerando que o instrumento utilizado para a coleta dos dados

atinentes a burnout mensura os fatores exaustão emocional, diminuição da

realização pessoal e despersonalização, entende-se pertinente observar que,

conforme sugerem Maslach e Jackson (1986), as dimensões devem ser

pontuadas de forma separada, pois ainda não é claro o peso de cada uma delas

no conjunto dos elementos que a compõem. Codo (1999), também, menciona

que as três dimensões devem ser analisadas separadamente como uma variável

contínua, com níveis alto, moderado e baixo e não como uma variável

dicotômica, onde existe ou não existe a presença do sintoma. Sendo a partir da

combinação do nível de cada uma das três dimensões que se obtém o nível da

burnout no indivíduo (CODO, 1999).

Nessa perspectiva, para o diagnóstico de incidência, tomou-se a

burnout e suas dimensões como variáveis contínuas e as pontuações dos

indivíduos foram classificadas mediante um sistema de percentuais para cada

escala. Aos indivíduos com pontuações acima do percentil 75 atribui-se

intensidade alta; entre percentil 25 e 75, intensidade moderada; e abaixo de 25,

baixa intensidade (Maslach e Jackson, 1986).

Quanto à interpretação das pontuações, como assumido por Pinto

A.M; Lima M.L; Silva A.; (2003) dentre outros autores, observa-se que, nas

dimensões exaustão emocional e despersonalização, uma pontuação alta

corresponde à elevada intensidade; mas na dimensão diminuição da realização

pessoal, a elevada intensidade é dada pela baixa pontuação. Assim, uma pessoa

caracteristicamente com síndrome de burnout apresenta pontuação alta em

exaustão emocional, bem como em despersonalização e baixa, em diminuição

da realização pessoal. O que pode ser representado, hipoteticamente, pelo

gráfico 01.

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Figura 01. Representação de condições para caracterização da burnout

0

20

40

60

80

100

Exautão

Despersonalização

Diminuição darealização

Como pode ser depreendido da tabela 11, nas três dimensões da

síndrome de burnout houve um predomínio de maior freqüência na classificação

“moderada”. Observou-se que, nesta classificação, se concentraram na exaustão

emocional 50% da amostra, na despersonalização 38% e na diminuição da

realização 55,6%. O que contradiz os resultados obtidos na pesquisa de Mendes

(2002), em que na dimensão de exaustão emocional a maior freqüência recaiu

sobre a classificação “alta” (39%) e nas dimensões despersonalização e

envolvimento pessoal no trabalho, na classificação “baixa” (50%). De acordo com

Maslach e Leiter (1997 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002), a exaustão

emocional pode ser um preditor de despersonalização e esta podendo predizer o

sentimento de baixa realização no trabalho. A partir de uma investigação

envolvendo psicólogos brasileiros, Benevides-Pereira (2002) afirma que os

mesmos apresentaram grau elevado em exaustão emocional e reduzido na

despersonalização, confirmando o estudo de Mendes (2002).

A constatação de que a maioria da amostra apresentou uma

intensidade moderada nas dimensões da síndrome, remete à necessidade de

que medidas sejam adotadas pelos policiais e intervenções no ambiente de

trabalho sejam promovidas pela Secretaria de Defesa Social, visando o bem-

estar psicológico da categoria.

De acordo com Schmidt (1991), indivíduos com maior idade

apresentam menor grau de estresse enquanto que indivíduos de menor idade

apresentam maior grau de estresse. Em idades intermediárias ocorre à mesma

tendência, mas apresentando-se de forma oscilante. Cherniss (1980 apud

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BENEVIDES-PEREIRA, 2002), justifica que este fato ocorre porque profissionais

jovens possuem um entendimento irrealístico sobre o que podem ou não fazer

em início de carreira, sendo freqüentes as frustrações profissionais.

Pesquisas apontam resultados, ainda não conclusivos, de que

pessoas com mais idade apresentam menor grau de burnout. Em termos de

faixas de idade, o resultado mostra relações significativas do tipo curvilíneo:

baixo entre 20 e 25 anos, alto entre 25 e 40 anos, e baixo a partir dos 40 anos

(FARBER, 1984 apud MENDES, 2002). Neste sentido, faz-se importante

mencionar que a maioria dos policiais constituintes da amostra desta pesquisa

localiza-se na faixa de 40 a 45 anos, estando relacionado à alta possibilidade de

desenvolver a síndrome.

No gênero masculino, quando existe estresse elevado, o fator

desencadeante refere-se à falta de reconhecimento ou compensação (MENDES,

2002). Corroborando com os resultados de Dantas (2003), onde os profissionais

do sexo masculino tendem mais a despersonalizar. Provavelmente isto decorre

das atitudes masculinas serem mais instrumentais e haver menor demonstração

de reações emocionais no ambiente de trabalho. Tal variação por gênero

corrobora com estudos anteriores (TAMAYO; 2002; BORGES; 2002; MASLACH;

SCHAUFELI; LEITER; LEITER; 2001; SCHAUFELI; EZMANN, 1998, apud

BENEVIDES-PEREIRA, 2002).

Com isto, pode-se dizer que os policiais do sexo masculino

apresentam uma maior tendência a substituir o vínculo afetivo pelo racional,

perdendo o sentimento de estar lidando com outro ser humano, desenvolvendo

atitudes negativas.

Aqueles participantes que professam a religião católica

apresentaram intensidade moderada (44,8%) na despersonalização. Quanto à

freqüência a atividades religiosas em relação a esta dimensão, houve uma

predominância dos policiais que freqüentam raramente estas atividades,

prevalecendo à intensidade moderada (34,3%). Assim, pode-se dizer que

aqueles que não são assíduos a atividades religiosas apresentam uma maior

propensão ao desenvolvimento da burnout, justificando-se, ainda, a partir da

religião que predominou (católica), já que esta é a mais aceita no Brasil, embora

muitos adeptos sejam católicos não praticantes e raramente freqüentem a igreja.

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Tabela 12 – Distribuição da intensidade das dimensões da burnout por variáveis que tiveram independência rejeitada pelo teste qui-quadrado

Diminuição da realização e Faixa Etária

Intensidade

Faixa etária Baixa Moderada Alta

≤30 4,5% 11,9% 1,5%

31 - 40 14,9% 14,9% 3,0%

41 - 50 1,5% 19,4% 9,0%

51 - 60 3,0% 6,0% 10,4%

Total 23,9% 52,2% 23,9%

Intensidade da Despersonalização e Sexo

Intensidade

Sexo Baixa Moderada Alta

Masculino 7,5% 41,8% 10,4%

Feminino 14,9% 14,9% 10,4%

Total 20,9% 56,7% 22,4%

Intensidade da Despersonalização e Religião

Intensidade

Religião Baixa Moderada Alta

Católica 14,9% 44,8% 10,4%

Evangélica 1,5% 3,0%

Espírita 3,0% 7,5%

Outras 6,0% 6,0% 3,0%

Total 22,4% 56,7% 20,9%

Intensidade da Despersonalização e Freqüência a atividades religiosas

Intensidade

Freqüência Baixa Moderada Alta

Semanalmente 4,5% 14,9% 14,9%

Quinzenalmente 1,5% 6,0%

Mensalmente 3,0% 1,5%

Raramente 13,4% 34,3% 6,0%

Total 22,4% 56,7% 20,9%

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74

7.2 ESTRATÉGIAS DE COPING NO TRABALHO

Para a identificação das estratégias de coping no trabalho pelos

policiais civis que participaram da amostra, procedeu-se a uma análise dos

resultados relacionados aos fatores previstos pelo modelo teórico adotado. Fez-

se, também necessário, o estudo das relações de tais resultados com todas as

variáveis envolvidas no estudo. Estimaram-se os escores individuais nos três fatores pela da média

dos pontos que cada participante atribuiu aos itens componentes dos mesmos,

conforme representação na tabela 13.

Tabela 13 - Médias nos fatores da escala de estratégias de coping no trabalho

Fatores Média Desvio Padrão

Controle 3,16 0,25

Escape 2,34 0,46

Manejo 3,07 0,30

Observou-se que os participantes empregam o controle e o manejo

com igual intensidade e o escape é a estratégia menos utilizada (t = -12,47, para

p = 0,000). Os participantes divergiram mais na avaliação do emprego do escape

e apresentaram uma avaliação mais homogênea sobre o uso do controle.

Leiter (1991), Tamayo e Tróccoli (2002), apresentam resultados de

seus estudos evidenciando que um índice menor de exaustão emocional estava

associado à utilização de estratégias de coping. Os estudos mostram também

que o uso de estratégias de escape/evitação aumenta a exaustão emocional,

denotando a ineficácia deste tipo de estratégia para evitar a burnout. Sendo

assim, podemos confirmar em relação aos policiais que, devido ao baixo

resultado do escape, eles tendem a evitar a burnout através desta medida

estratégica.

Da mesma forma, podemos confirmar o estudo de Gil-Monte e

Peiró (1997), quando concluem que o uso de estratégias de coping de controle

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previne o desenvolvimento da burnout, ao passo que, a utilização de estratégias

centradas na emoção facilita a sua aparição. O controle é uma estratégia

centrada no problema e foi a mais utilizada pelos policiais, o que leva a

prevenção do desenvolvimento da burnout. Por isso, para que a síndrome não

seja desencadeada no policial civil, é preciso que ele atue diretamente sobre o

estressor, desenvolvendo estratégias que possibilitem definir e analisar a

situação, buscando alternativas para solução do problema, atuando diretamente

sobre o meio laboral e sobre si mesmo.

O manejo, segunda estratégia mais utilizada pelos policiais, é a

mais eficaz, pois a partir dele o policial pode perceber quando deve parar,

estabelecer descansos e alternar tarefas diferentes. Visando, assim, desenvolver

habilidades para saber estabelecer prioridades, investir mais tempo nas

atividades priorizadas e reduzir a percepção de situações laborais de urgência,

melhorando o rendimento e diminuindo a fadiga física e mental.

No caso do escape, o policial apresenta uma tendência a evitar os

problemas que podem surgir no ambiente de trabalho, já que não encontra

soluções para os mesmos e isto acaba interferindo no desenvolvimento da sua

atuação profissional. De acordo com Tamayo e Tróccoli (2002), o uso desta

estratégia incrementa a exaustão emocional. Assim, a implementação de

programas que levem os policiais a recuperar o controle quando lidam com os

estressores ocupacionais podem ser de utilidade para a prevenção da burnout.

Alguns autores defendem que estratégias de coping inativas, como o escape e a

evitação, apresentam uma relação positiva com a burnout, e um nível baixo de

burnout proporciona ao indivíduo a possibilidade de enfrentar as situações

estressantes de forma ativa e direta, enquanto que, um nível alto de burnout,

pode diminuir a energia do sujeito para lidar com as situações de forma ativa,

levando-o a adotar comportamentos passivos e indiretos (ETZION; PINES, 1986;

THORTON, 1992 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002).

Para verificar se os participantes apresentaram semelhança ou

diferença quanto ao controle, escape e manejo na dependência de: faixa etária,

sexo, estado civil; nível de instrução; número de filhos, religião, freqüência a

atividades religiosas, residência próprio, meio de locomoção próprio, cargo, faixa

de tempo na polícia civil, faixa de tempo no cargo e manutenção de outros

vínculos empregatícios, foi feita a aplicação do teste t para as variáveis sexo,

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residência e meio de locomoção próprios e manutenção de outros vínculos, bem

como da análise de variância – ANOVA, para as demais.

Com a aplicação do teste t, constatou-se que os homens

empregam mais intensamente o controle do que a que as mulheres (t = 3,54,

para p = 0,003) e que os participantes que não possuem residência própria

empregam mais o manejo do que os que a têm (t = -2,964, para p=0,009).

Com aplicação da ANOVA verificou-se a inexistência de diferenças

das médias nas estratégias na dependência das variáveis testadas. Assim,

concluiu-se que os participantes não diferem quanto uso das estratégias de

coping na dependência das mesmas. Conforme sustenta Benevides-Pereira

(2002), ainda, não há um consenso entre os pesquisadores quanto à relação

entre tempo na profissão e na organização e o desenvolvimento da síndrome.

Segundo Maslach e Leiter (1997 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,

2002) as intervenções para resolver a burnout e/ou preveni-la deve-se ocorrer a

partir da focalização de soluções tanto no trabalhador quanto no local de

trabalho, tendo como finalidade desenvolver um processo que permita recuperar

o equilíbrio entre as expectativas do individuo e as exigências do seu trabalho,

visto que a burnout está mais relacionada a características do ambiente de

trabalho do que às características do trabalhador.

Nem sempre, porém, o profissional submetido cronicamente a

situações estressantes no ambiente de trabalho responde com grave quadro de

esgotamento ou burnout. Estratégias diferentes e mais eficazes de

enfrentamento ao estresse podem significar maior resistência e menor

sofrimento para as pessoas.

A associação entre demandas ocupacionais e estratégias de coping

replica, em parte, resultados de outros estudos. De acordo com Pinheiro, Trócoli

e Tamayo (2003), alguns autores têm apresentado associações positivas, tais

como as apresentadas neste trabalho, entre suporte social e controle (Amirkhan,

1990; Folkman & cols., 1986; Latack, 1986), bem como fracas associações entre

suporte social e esquiva (Amirkhan, 1990; Latack, 1986). Latack destacou que a

associação positiva entre controle e suporte social se deve ao fato de que

suporte tem um papel maior do que o de simples apoio emocional, estando

associado ao engajamento dos indivíduos em estratégias proativas de controle,

diante de situações de estresse.

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77

7.3 SIGNIFICADO DO TRABALHO

Para a apreensão dos significados atribuídos ao trabalho pelos

participantes, procedeu-se a uma análise dos resultados relacionados às facetas

definidas pelo modelo teórico adotado – centralidade do trabalho, atributos

valorativos e atributos descritivos.

Acerca da centralidade do trabalho, os participantes responderam a

duas questões ao serem coletados os dados. Na primeira, foram solicitados a

distribuir pontos entre as cinco esferas de vida – lazer, comunidade, trabalho,

família e religião – de forma que a soma totalizasse 100 (cem) pontos

(centralidade relativa do trabalho). Na outra, considerando a importância

atribuída exclusivamente ao trabalho (centralidade absoluta), assinalaram uma

pontuação numa escala que variava de 0 (zero) a 7 (sete). Foram estimadas as

médias para ambas e os respectivos desvios-padrão.

A partir dos dados observados na tabela 14 e após a aplicação do

teste t, se constatou que, no tocante à centralidade relativa, as esferas família

(M=38,50 e DP=16,26) e trabalho (M=32,92 e DP=13,73) foram as que mais se

evidenciaram, sem diferença estatisticamente significativa entre as médias mais

altas. As médias das demais esferas não apresentaram diferenças

estatisticamente significativas entre si. O que se observou entre as médias de

trabalho e lazer (t = -3,413, para p=0,006). Assim, se caracterizou que os

participantes atribuem maior importância à família e ao trabalho indistintamente

do que ao lazer, à religião e à comunidade.

Quanto à centralidade absoluta, a média das respostas – 5,60 – se

mostra coerente com a constatação anterior sobre a posição relativa ocupada

pelo trabalho.

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Tabela 14 - Estatísticas descritivas da centralidade atribuída às esferas de vida (N = 18)

Esferas Mínimo Máximo Média DP

Lazer 2 40 14,50 11,69

Comunidade 0 20 6,08 5,28

Trabalho 5 50 32,92 13,73

Religião 0 20 8,00 6,09

Família 20 80 38,50 16,26

Centralidade

Absoluta do Trabalho 4 7 5,60 1,07

Estimaram-se os escores individuais, nos 4 (quatro) fatores dos

atributos valorativos (características percebidas como desejáveis no trabalho,

“como deve ser”) e nos 5 (cinco) dos atributos descritivos (características

percebidas na realidade concreta do trabalho, “como é”), pela da média dos

pontos que cada participante atribuía aos itens componentes dos fatores

valorativo e descritivo, ponderados pelas cargas dos itens na composição do

fator.

Aplicando-se o teste t, verificou-se que o atributo valorativo mais

enfatizado pelos participantes foi ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - o trabalho

deve garantir as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal,

a assistência à família, a existência humana, a estabilidade no emprego

decorrente do desempenho, o salário e o progresso social (t = -4,190, para p =

0,001). Da mesma forma, o fator ‘desgaste e desumanização’ - define que o

trabalho deve implicar em desgaste, pressa, atarefamento, perceber-se como

máquina ou animal (desumanizado), esforço físico, dedicação e perceber-se

discriminado – foi que se apresentou menor desejabilidade pelos participantes

(t = 4,207, para p=0,001). Inclusive, foi o fator diante do qual os participantes

apresentaram uma maior heterogeneidade na sua avaliação.

Aplicando-se o teste t, verificou-se que outro atributo descritivo

mais enfatizado pelos participantes foi o ‘condições de trabalho’ - descreve o

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trabalho exigindo para o desempenho adequado equipamentos específicos,

conforto material e higiênico, assistência e melhores salários para o trabalhador

(t = 3,210, para p = 0,006). Já o fator ‘responsabilidade’ - descreve o trabalho

como implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas, na

ocupação e no direito de que a organização cumpra com seus deveres, fazendo

o indivíduo sentir-se bem – o menos enfatizado.

Tabela 15 - Escores nos fatores

Fatores Média Desvio Padrão

Atributos Valorativos Fator 1 – Justiça no Trabalho 2,66 0,30 Fator 2 – Auto-expressão e Realização Pessoal 2,75 0,30 Fator 3 – Sobrevivência Pessoal e Familiar 3,17 0,30 Fator 4 – Desgaste e Desumanização 2,20 0,54 Atributos Descritivos

Fator 1 – Auto-expressão 3,68 0,36 Fator 2 – Condições de trabalho 3,72 0,35 Fator 3 – Responsabilidade 2,54 0,55 Fator 4 – Recompensa econômica 3,57 0,33 Fator 5 – Desgaste e Desumanização 3,16 0,43

Para verificar se os participantes apresentavam diferenças ou

semelhanças nos fatores do significado do trabalho na dependência do sexo, da

residência e locomoção própria foi aplicado o teste t que levou à constatação de

que os mesmos diferiram no tocante a terem moradia própria. Os que têm

residência própria apresentaram médias mais elevadas nos fatores valorativos

‘auto-expressão e realização pessoal’ - define que o trabalho deve oportunizar

expressão da criatividade, do sentimento de produtividade, das habilidades

interpessoais, da capacidade de tomar decisões e do prazer pela realização das

tarefas e ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - define que o trabalho deve garantir

as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência

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à família, a existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do

desempenho, o salário e o progresso social.

O mesmo ocorrendo com o fator dos atributos descritivos

‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o desempenho

adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e

melhores salários para o trabalhador. Para as demais variáveis, foi empregada a

ANOVA, quando se constatou que houve diferenças estatisticamente

significativas.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi realizada com o objetivo principal de investigar a

incidência da síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e

significado do trabalho entre policiais civis em uma delegacia de Natal-RN.

À medida que os resultados da pesquisa foram discutidos,

verificou-se que as questões de pesquisa foram se tornando mais claras,

possibilitando concluir que as mesmas foram respondidas. A partir destas

questões e da análise dos resultados obtidos por meio dos instrumentos,

chegou-se a algumas conclusões que serão discutidas a seguir.

Deste modo, o primeiro objetivo deste trabalho – Identificar se os

participantes apresentam a incidência de burnout e o nível – foi confirmado,

demonstrando que os princípios teóricos têm um correspondente empírico. Os

resultados encontrados indicaram que, em termos gerais, os policiais de uma

delegacia de Natal-RN apresentam nível moderado da síndrome de burnout,

uma vez que, observou-se que na exaustão emocional e na despersonalização

nesta classificação se concentraram 50% e 38% da amostra, respectivamente, e

na diminuição da realização, 55,6%.

Tal incidência, provavelmente, esteja relacionada com as

características do próprio ambiente laboral, já que se trata de uma delegacia

especializada em homicídios. O policial civil lida diretamente com situações de

violência, o que exige grande responsabilidade em sua atuação profissional

voltada para a segurança social levando-o a um desgaste emocional.

A respeito do segundo objetivo específico – Identificar se os

participantes apresentam diferenças ou semelhanças quanto à incidência de

burnout na dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como

sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios,

tempo de vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local trabalho e

manutenção de outros vínculos profissionais – foram aplicados test t e ANOVA e

não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre as médias.

Assim, os participantes não apresentaram diferenças quanto às dimensões da

burnout na dependência das variáveis.

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Com relação ao terceiro objetivo – Identificar as estratégias de

coping adotadas – os participantes empregam o controle e o manejo com igual

itens idade e o escape é a estratégia menos utilizada (t = -12,47, para p = 0,000).

Os policiais divergiram mais na avaliação do emprego do escape e apresentaram

uma avaliação mais homogênea sobre o uso do controle.

O controle foi a estratégia mais utilizada pelos policiais, o que leva

a prevenção do desenvolvimento da burnout. Por isso, para que a síndrome não

seja desencadeada no policial civil, é preciso que ele atue diretamente sobre o

estressor, desenvolvendo estratégias que possibilitem definir e analisar a

situação, buscando alternativas para solução do problema, atuando diretamente

sobre o meio laboral e sobre si mesmo.

O manejo, segunda estratégia mais utilizada pelos policiais, é a

mais eficaz, pois a partir dele o policial pode perceber quando deve parar,

estabelecer descansos e alternar tarefas diferentes. Visando, assim, desenvolver

habilidades para saber estabelecer prioridades, investir mais tempo nas

atividades priorizadas e reduzir a percepção de situações laborais de urgência,

melhorando o rendimento e diminuindo a fadiga física e mental.

No caso do escape, o policial apresenta uma tendência a evitar os

problemas que podem surgir no ambiente de trabalho, já que não encontra

soluções para os mesmos e isto acaba interferindo no desenvolvimento da sua

atuação profissional, incrementando a exaustão emocional. Assim, a

implementação de programas que levem os policiais a recuperar o controle

quando lidam com os estressores ocupacionais podem ser de utilidade para a

prevenção da burnout.

Quanto ao quarto objetivo - Identificar se os participantes

apresentam diferenças ou semelhanças quanto às estratégias de coping adotas

na dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como sexo, idade,

estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios, tempo de

vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local de trabalho e

manutenção de outros vínculos profissionais – verificou-se, através da aplicação

do teste t, que os homens empregam mais intensamente o controle do que a que

as mulheres (t = 3,54, para p = 0,003) e que os participantes que não possuem

residência própria empregam mais o manejo do que os que a têm (t = -2,964,

para p=0,009).

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Com aplicação da ANOVA verificou-se a inexistência de diferenças

das médias nas estratégias na dependência das variáveis testadas. Assim,

concluiu-se que os participantes não diferem quanto ao uso das estratégias de

coping na dependência das mesmas.

Para averiguar o quinto objetivo - Reconhecer o significado do

trabalho entre os policiais civis – foi realizada a aplicação do teste t, e se

constatou que, no tocante à centralidade relativa, os participantes atribuem maior

importância à família e ao trabalho indistintamente do que ao lazer, à religião e à

comunidade.

Verificou-se também que o atributo valorativo mais enfatizado pelos

participantes foi ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - o trabalho deve garantir as

condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência à

família, a existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do

desempenho, o salário e o progresso social (t = -4,190, para p = 0,001). Da

mesma forma, o fator ‘desgaste e desumanização’ - define que o trabalho deve

implicar em desgaste, pressa, atarefamento, perceber-se como máquina ou

animal (desumanizado), esforço físico, dedicação e perceber-se discriminado –

foi que se apresentou menor desejabilidade pelos participantes (t = 4,207, para

p=0,001). Inclusive, foi o fator diante do qual os participantes apresentaram uma

maior heterogeneidade na sua avaliação.

Constatou-se ainda que o atributo descritivo mais enfatizado pelos

participantes foi o ‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o

desempenho adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico,

assistência e melhores salários para o trabalhador (t = 3,210, para p = 0,006). Já

o fator ‘responsabilidade’ – foi o menos enfatizado e descreve o trabalho como

implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas, na ocupação e

no direito de que a organização cumpra com seus deveres, fazendo o indivíduo

sentir-se bem.

Para identificar o sexto objetivo - Se os participantes apresentam

diferenças ou semelhanças quanto ao significado atribuído ao trabalho, na

dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como sexo, idade,

estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios, tempo de

vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local trabalho e

manutenção de outros vínculos profissionais - foi aplicado o teste t que levou à

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constatação de que os mesmos diferiram no tocante a terem moradia própria. Os

que têm residência própria apresentaram médias mais elevadas nos fatores

valorativos ‘auto-expressão e realização pessoal’ - define que o trabalho deve

oportunizar expressão da criatividade, do sentimento de produtividade, das

habilidades interpessoais, da capacidade de tomar decisões e do prazer pela

realização das tarefas e ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - define que o trabalho

deve garantir as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal,

a assistência à família, a existência humana, a estabilidade no emprego

decorrente do desempenho, o salário e o progresso social.

O mesmo ocorrendo com o fator dos atributos descritivos

‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o desempenho

adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e

melhores salários para o trabalhador. Para as demais variáveis, foi empregada a

ANOVA, quando se constatou que houve diferenças estatisticamente

significativas.

O sétimo e último objetivo é identificar se há possibilidade de

oferecer recomendações à Secretaria de Defesa Social e ao Delegado Geral que

subsidiem a tomada de decisão pela implementação de intervenções

organizacionais que possam repercutir positivamente na melhoria da qualidade

de vida dos policiais e na melhoria dos serviços prestados ao cidadão e,

sobretudo, aos profissionais sobre como lidar com burnout, especialmente, de

maneira profilática (na perspectiva de promoção da saúde)

Foi constatado com esta pesquisa que a maioria da amostra

apresenta uma intensidade moderada nas dimensões da síndrome, remetendo à

necessidade de que medidas sejam adotadas pelos policiais e intervenções no

ambiente de trabalho sejam promovidas pela Secretaria de Defesa Social,

visando o bem-estar psicológico da categoria.

Segundo Maslach e Leiter (1997 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,

2002) as intervenções para resolver a burnout e/ou preveni-la deve-se ocorrer a

partir da focalização de soluções tanto no trabalhador quanto no local de

trabalho, tendo como finalidade desenvolver um processo que permita recuperar

o equilíbrio entre as expectativas do individuo e as exigências do seu trabalho,

visto que a burnout está mais relacionada a características do ambiente de

trabalho do que às características do trabalhador.

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Faz-se importante que a Secretaria de Defesa Social leve em conta

a realidade laboral e individual dos policiais. Foi averiguado neste trabalho, por

exemplo, que a maioria dos policiais constituintes da amostra localiza-se na faixa

de 40 a 45 anos, estando relacionado à alta possibilidade de desenvolver a

síndrome, como já foi confirmado em estudos de Schmidt (1991), Cherniss

(1980), Benevides-Pereira (2002), Farber (1984) e Mendes (2002).

Outra conclusão interessante informa que os policiais do sexo

masculino, por apresentarem uma maior tendência a substituir o vínculo afetivo

pelo racional, perdem o sentimento de estar lidando com outro ser humano,

desenvolvendo atitudes negativas. Provavelmente isto decorre das atitudes

masculinas serem mais instrumentais e haver menor demonstração de reações

emocionais no ambiente de trabalho. Para Mendes (2002), no gênero masculino,

quando existe estresse elevado, o fator desencadeante refere-se à falta de

reconhecimento ou compensação.

Durante nossas passagens na delegacia, foi abordada a relevância

que esta pesquisa teria tanto para fins científicos, como para a organização.

Salientamos estes dados nas nossas considerações, uma vez que acreditamos

que os mesmos possam interferir nos resultados ou fornecer explicações para

adoecimentos.

Acreditamos que as informações obtidas nesta pesquisa possam

subsidiar ações administrativas destinadas a minimizar as manifestações da

síndrome de burnout, ou redução dos casos identificados, uma vez que os

resultados aqui apresentados, caso sejam aprofundados com estudos

complementares, poderão orientar diversas ações internas na organização

relacionadas à referida síndrome; bem como poderão ainda subsidiar ações

relacionadas ao fortalecimento do comprometimento e ao uso das estratégias de

coping que são medidas necessárias para que os policiais adaptem-se às

circunstâncias estressantes do seu trabalho.

Quanto ao índice de burnout encontrado entre os pesquisados,

resgatam-se as observações de Maslach (1997) que alerta para o fato de que os

trabalhadores estão a cada dia concedendo a maior parte de seus tempos às

organizações em que trabalham e que a sobrecarga de trabalho talvez seja o

indicativo mais óbvio da divergência entre a pessoa e o trabalho, numa

incongruência que esgota o indivíduo psíquica e fisicamente. Fica evidente que

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os policiais se sentem impelidos fazer muito, em pouco tempo, com recursos

escassos. Parece ser este o momento das organizações se atentarem para este

fato, que requer mais atenção por parte da sociedade e dos próprios

pesquisadores da área, podendo fornecer maiores subsídios para os

trabalhadores.

Considerando as conclusões acima, eliciamos algumas medidas

que podem ajudar na prevenção da síndrome de burnout:

- Inicialmente pensamos na questão satisfação pessoal em relação

ao trabalho, a função exercida, como um ponto de partida para tudo isso

começar, pois se há insatisfação, há desgaste por não fazer o que se gosta.

Aliado às longas jornadas, ao excesso de tarefas e atividades que envolvem alto

grau de estresse, pode ocorrer um grande desgaste na saúde física e mental do

trabalhador. Pensar e entender o que leva ao excesso de desgaste físico e

emocional é o ponto de partida para se falar em prevenção e, evitar, assim, que

se chegue à burnout.

-Desenvolver grupos de discussão entre os trabalhadores,

proporcionando a estes um ambiente de reflexões, experiências, e formas de

lidar com o estresse ao qual eles são acometidos em seu ambiente de trabalho e

fora deste.

- Ajudar os policiais a relaxarem e aliviarem os sintomas de tensão

e, concomitantemente, recomendar a estes que dediquem alguns minutos de sua

jornada ocupacional à prática de relaxamento.

- No caso dos que já apresentam a incidência de burnout, é

importante que as organizações, a partir de estudos como este, observem essa

incidência e ressalte ao trabalhador a importância de consultar profissionais

qualificados e especialistas no diagnóstico e tratamento do burnout, caso o

policial suspeite estar com esta síndrome.

- A qualidade de vida no trabalho é uma outra condição que

compromete a saúde do trabalhador, uma vez que, as condições de trabalho que

incluem aspectos de bem-estar, garantia da saúde e segurança física, mental e

social, e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso de energia

pessoal, interferem no modo como o trabalhador cria vínculos na organização

também. Logo é importante ressaltar que não depende só da organização ou só

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do trabalhador, é um trabalho múltiplo, ou seja, conjunto das duas partes,

indivíduo e organização.

- Também seria de grande valia o empreendimento de estudos

sobre burnout e sua aplicação a outras categorias ocupacionais, como uma

forma de ampliar a divulgação da sua importância para a sociedade, de um

modo geral, o que seria o ponto de partida para a criação de políticas públicas a

favor do bem-estar no trabalho por parte dos órgãos governamentais.

Por fim, como sugere Maslach e Leitter (1999) em seu estudo, uma

das principais estratégias para prevenir a síndrome, é enfatizar a promoção dos

valores humanos no ambiente de trabalho. Logo, se queremos nos prevenir da

burnout antes de pensar no trabalho como lamento ou dor, devemos pensar

neste como um ambiente de prazer e inspiração, onde sentimos uma satisfação

pessoal, pois a solução está em ações integradas, que vão do comprometimento

de cada um em consonância com o comprometimento da organização com o seu

colaborador.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – Protocolo contendo instrumentos utilizados

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