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Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Fabio dos Santos Giannini
Dissertação de Mestrado Orientador: Prof. Dr. Carlos Egídio Alonso
Tensão Entre Forma e Função na Habitação: Possibilidades e Restrições
São Paulo / 2009
G433t Giannini, Fabio dos Santos.
Tensăo entre forma e funçăo na habitaçăo: possibilidades e restriçőes / Fabio dos Santos Giannini – 2009 95 f.: il.; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009. Bibliografia: f. 94-95. 1. Habitação. 2. Espaços flexíveis. 3. Habitações transformáveis. I.
Título. CDD 728
Para meus pais e avós que alimentaram cérebro e coração, e para
Camila Nomura, que cuida muito bem de ambos.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente aos meus avós,
por serem meu espelho e minha base sempre.
Aos meus pais, por todo aprendizado e
dedicação. À minha noiva Camila Nomura, por
todo amor e companheirismo neste, e em todos
os momentos da minha vida; e ao orientador
Carlos Egídio Alonso.
Obrigado!
Sumário 1. Introdução................................................................................................ 2. Estudos de Caso..................................................................................... 2.1 Habitação Tradicional Japonesa............................................... 2.1.1 Habitação Rural da Era Edo – Minka............................. 2.1.2 Habitação Urbana da Era Edo – Machiya....................... 2.2 Células Habitacionais................................................................. 2.2.1 Casa Cápsula – Arqchigram.............................................. 2.2.2 Torre Nakagin – Kisho Kurokawa (1970/1972)...................... 2.2.3 Hotél Cápsula – Asakusa Riverside.................................... 2.3 Guifú Apartments (Guifú – 1994/1998)...................................... 2.4 Habitações Transformáveis....................................................... 2.4.1 Casa Praça 01................................................................ 2.4.2 Casa Praça 02................................................................ 2.4.3 Casa Praça 03................................................................ 2.5 Max Haus..................................................................................... 2.6 Indústrias Naval, Ferroviária e Aeronáutica............................. 2.6.1 Indústria Naval.............................................................. 2.6.2 Indústria Ferroviária..................................................... 2.6.3 Indústria Aeronáutica................................................... 3. Análise Comparativa............................................................................... 4. Considerações Finais............................................................................. 5. Lista de Figuras....................................................................................... 6. Bibliografia...............................................................................................
07 13 13 15 19 28 29 32 36 38 41 44 46 48 50 54 56 61 65 68 83 87 94
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar e comparar alguns espaços “soft”
selecionados, incluindo além de habitações, espaços desenvolvidos pelas
indústrias naval, ferroviária e aeronáutica, com o intuito de identificar recursos e
soluções úteis para tipologias habitacionais contemporâneas.
Para aproveitar um momento de grande prosperidade do mercado
imobiliário, as construtoras adotaram como padrão uma tipologia extremamente
fragmentada e repleta de ambientes e nomes de alto valor mercadológico para
acelerar a venda das unidades.
Nesse processo pouco se pensou na qualidade dos espaços de morar,
reproduzindo com pouca (ou nenhuma) alteração um modelo que atende aos
desejos dos compradores, mas não às necessidades dos usuários, ocasionando
inúmeros conflitos entre forma e função nas habitações. Dessa forma a cidade
que está sendo produzida tem alto valor financeiro, mas é cada vez mais pobre
nos espaços que as pessoas habitam.
Os recursos identificados nos exemplos analisados nessa dissertação de
mestrado podem contribuir para o enriquecimento do espaço habitacional,
melhorar a qualidade de vida em seu interior e minimizar os conflitos entre forma
e função na habitação.
Palavras chave Habitação, Espaços Flexíveis, Habitações Transformáveis
Abstract
This paper aims to analyze and compare some soft spaces selected,
including habitations, spaces developed by shipbuilding, railway and aviation
industries, with the intent of identifying resources and useful solutions to
contemporary housing types.
To enjoy a moment of great prosperity in the property market, construction
companies have adopted a standard typology extremely fragmented and full af
environments and names of high economical value to accelerate the sale of the
units.
In this process the quality of the living spaces were left behind, reproducing
with little changes a model that satisfies the desires of buyers but not the needs of
users, leading to many conflicts between form and functions in the home
environment. So the city that is being produced has high value but is increasingly
poor in the spaces that people inhabit.
Spaces assets identified in the areas analyzed in this dissertation can
contribute to the enrichment of living space, improve the quality of life within them
and minimize conflicts between form and function at home.
Keywords
Habitation, Flexible Spaces, Transformable Habitations
7
1. Introdução
A habitação é primeiramente abrigo, local onde se busca proteção, seja
contra animais selvagens, pessoas indesejadas ou intempéries. Hoje essa função
é ampliada, a casa tem o papel de proteger não só os indivíduos, mas também
seu universo particular, seus bens, família, privacidade, etc. “A casa é um regaço materno que cinge, protege e sustenta: o interior é desprovido de
tensão, é um lugar que proporciona um sentimento de continuidade existencial, nomeadamente
porque é regido por regras “naturais” estritas... Estas paredes previnem contra a angústia do
anonimato...” (Kacem Basfao em Arquitetura e Civilização, Tradição e Modernidade no Magebre)
Imagem 1 - Habitação paleolítica em Terra Amata
A comparação da casa com a proteção materna parece bem oportuna,
uma vez que essa proteção não ocorre apenas no sentido físico, mas também
psicológico. A casa se torna extensão de sua personalidade, nesse ambiente o
morador confia às paredes a sua guarda e pode dessa maneira sentir-se “em
casa”.
O homem tem habitado espaços muito diversos através do tempo. A
relação entre a forma das habitações e as funções de seus espaços tem se
modificado numa relação de mão dupla, onde muitas vezes as condições de
habitação do local, sua política e situação econômica modificam o morador, em
outras os desejos e necessidades do morador modificam a habitação.
8
Assim como os espaços são diversos, o homem que os habita é também
variado, apresentando características diferentes no decorrer do tempo e de
acordo com a cultura da sociedade em que ele se encontra.
Os espaços habitacionais são, portanto, determinados e modificados por
uma combinação desses fatores, possibilitando inúmeras configurações desse
mesmo espaço.
Nessa pesquisa, as análises dos estudos de caso não levam em conta o
usuário que a construiu e as condições geográficas, climáticas e culturais em que
o objeto está inserido. Os exemplos selecionados são analisados estritamente
pela espacialidade e as relações entre os espaços e as funções atribuídas a ele.
Entre a idade média e o século XVIII, o perfil do grupo familiar abandona
gradativamente o sistema baseado em uma família extensa, o que significava
maior disponibilidade de mão-de-obra para trabalhar a terra, e assume
organizações nucleares, onde geralmente habitam juntos apenas pai, mãe e
filhos. Outra grande mudança experimentada durante esse período foi a
industrialização, que fez com que muitos se deslocassem em direção às cidades
em busca de melhores condições de vida.
A partir desse momento aqueles que até então eram agricultores ou
artesãos, passam a ser remunerados monetariamente, e experimentam a nova
relação entre patrão e funcionário. Deixam de ser proprietários do produto e do
meio de produção, atuando exclusivamente como mão-de-obra.
Esse período é marcado por péssimas condições de trabalho, longas
jornadas diárias, escassez de habitações na cidade e alto valor dos aluguéis.
Grande parte dos habitantes urbanos, principalmente operários das indústrias,
vivem em condições miseráveis, com pouca, ou nenhuma infra-estrutura de
saneamento, aglomerados em cortiços e cômodos sublocados, disseminando
epidemias, saturando as cidades e ocasionando inúmeras greves e rebeliões
populares.
9
Imagem 2 - Os bairros pobres de Londres; gravura de Gustave Doré de 1872
Pouco se fez para solucionar esses problemas, cidades como Londres e
Paris se desenvolviam sobre uma estrutura medieval precária e apertada,
tornando a tarefa de reestruturação urbana praticamente impossível.
As guerras foram eventos determinantes nesse sentido. Pela primeira vez
os arquitetos tiveram a chance de pensar sobre a questão da habitação e as
unidades que seriam construídas, já que encontraram nas cidades devastadas
pelos conflitos um grande potencial de reconstrução, não mais limitado pelas
vielas medievais estreitas e tortuosas.
Imagem 3 - (Esq.) Vista aérea do centro histórico de Spalato; (Dir.) Rua medieval em Siena
10
No Brasil as condicionantes foram um pouco diferentes, já que suas
cidades não foram palco de grandes conflitos. A cidade de São Paulo, por
exemplo, experimentou uma grande mudança econômica na segunda metade do
século XIX. Com o abandono da economia de subsistência, baseada no trabalho
escravo e a adoção de uma economia capitalista de exportação, alimentada pela
monocultura do café. A cidade conta agora com a mão-de-obra assalariada.
O abandono da mão-de-obra escrava, a prosperidade oferecida pelo cultivo
do café e a construção da ferrovia que liga Santos a Jundiaí, atraiu para São
Paulo pessoas de todo o Brasil e da Europa, encantadas com o grande
desenvolvimento da cidade. Essa recém chegada população de imigrantes
europeus trazia consigo modelos de habitações e costumes burgueses. Surgem
então na cidade, cafés e palacetes parisienses.
Imagem 4 - Decoração de uma sala de estar, por Bruce Talbert em 1869
As habitações copiavam, na medida do possível, as construções
burguesas européias. A verticalização da cidade fez com que essa tipologia
habitacional fosse transferida para os apartamentos. Dentro de uma unidade se
encontrava muitos dos ambientes presentes nos palacetes parisienses,
principalmente na área social da casa, para ser vista e frequentada pelos
convidados. A parte íntima da casa era geralmente apertada e os banheiros
úmidos e pouco iluminados.
11
O mercado imobiliário logo percebeu que o desejo de possuir uma
habitação com hall de entrada, sala de estar, sala de jantar, copa, cozinha,
dormitórios e suítes, era uma fórmula capaz de vender muitas unidades. A ampla
aceitação desse modelo fez com que as tipologias fossem praticamente
reproduzidas em empreendimentos espalhados pela cidade.
Imagem 5 – Tipologias habitacionais de 43m2 em empreendimentos imobiliários diferentes
A necessidade de aumentar os lucros para contrabalancear o alto custo do
solo na cidade resultou em uma redução da área das unidades, porém o
programa permaneceu inalterado.
As unidades foram retalhadas em inúmeros ambientes com áreas
reduzidíssimas, tornando quase impossível a tarefa de mobiliá-los com móveis de
medida padrão e habitá-los com conforto e praticidade.
A situação se agrava com a quantidade de novos empreendimentos
nesses padrões que surgem a cada dia na cidade de São Paulo. Apenas em 2007
foram lançados 550 empreendimentos, somando um total de 988 prédios e
59.400 apartamentos. Em um mercado com a atenção voltada quase
exclusivamente para os lucros, muitas vezes deixa a qualidade do espaço
construído em segundo plano.
Gráfico 1 - Histórico de imóveis vendidos na cidade de São Paulo
12
Inicialmente, esse estudo pretendia avaliar como um portador de
necessidades especiais iria interagir com esses espaços fragmentados e
reduzidos, e posteriormente estudar as adaptações necessárias para tornar as
unidades em questão acessíveis a eles. Porém durante o levantamento das
tipologias constatou-se que a grande maioria delas oferecia espaços tão
apertados que eram inacessíveis aos portadores de necessidades especiais e
inadequados para o restante da população.
Esse foi o primeiro momento em que se identificou o conflito entre forma e
função nas habitações, ampliando o alcance da pesquisa, já que busca atender
não só deficientes e idosos. Por hipótese, espaços dimensionados para
portadores de necessidade especiais seriam também, adequados e confortáveis
para o restante da população.
Iniciou-se então um trabalho de aplicação das normas técnicas nas plantas
das tipologias selecionadas, redimensionamento dos espaços para atendê-las e
análise das consequências espaciais nesse processo. O trabalho se tornou
extremamente prático abrindo poucas possibilidades de discussão sobre o
assunto.
Buscou-se outra maneira de abordar o conflito entre forma e função na
habitação, foi feito então um recorte epistemológico de exemplos que podiam ser
chamados de espaços “soft”. O estudo desses exemplos pretende identificar
soluções adotadas para lidar com espaços reduzidos e funções diversas.
Uma das possíveis traduções de soft para o português é flexível, mas
nesse caso soft pode também ser relacionado com softwares de informática; um
programa de computador que tem por objetivo o desempenho de tarefas de índole
prática, ativados quando necessários e fechados em seguida. Quando se tornam
obsoletos ou desnecessários para o usuário são desinstalados da máquina ou
substituídos por versões mais recentes.
Transportada para a arquitetura, essa definição pode descrever espaços
onde mobiliários, equipamentos e divisões podem ser alterados e acionados de
acordo com a necessidade do morador e a função desempenhada em um
determinado momento, e em alguns casos substituídos quando danificados,
obsoletos ou desnecessários.
13
2. Estudos de Caso
2.1 Habitação Tradicional Japonesa
O Japão está localizado no Extremo Oriente do continente Asiático. Sua
topografia apresenta íngremes cadeias de montanhas concebidas por atividades
geológicas, e suas planícies são formadas por acúmulos de resíduos das
montanhas, carregada pela correnteza dos rios.
Os primeiros vestígios de habitações encontradas no arquipélago japonês
datam do Período Neolítico. Elas eram construídas em fossas cobertas por palha
sustentadas por pilares de madeira. As cabanas de planta circular ou retangular,
mediam em geral de 4 a 6 metros de largura e sustentavam-se com um esqueleto
de madeira, constituído por estacas cravadas no solo e cruzadas por cima.
Imagem 6 - Habitação paleolítica no arquipélago japonês
No período seguinte (primeira metade do século I a.C.), aparecem as
primeiras cabanas com o piso no nível do terreno, e logo após habitações
elevadas do solo.
Após influências do Taoísmo e seus novos critérios de sistematização das
zonas de edificação, do Confucionismo com o funcionamento dos sistemas
burocráticos e do Budismo que também contribuiu para uma nova arquitetura
religiosa e residencial; o Japão começa a estabelecer um costume de vida política
próprio, onde todo soberano ao ascender ao trono deveria fixar a residência
imperial em um local previamente escolhido, o qual poderia ser deslocado
conforme as necessidades circunstanciais.
14
Essa tradição “semi-nômade” está presente em toda a história japonesa e
reflete-se na concepção das casas simples com mobiliário escasso. As casas não
eram feitas para durarem muito tempo, pois eram concebidas para serem
transladadas, quase como tendas.
Nos anos seguintes são introduzidos na arquitetura japonesa telhas e
telhados, foi incorporada também uma unidade de medida chamada Ken para a
distância entre pilares, deu-se início ao uso mais freqüente de materiais em seu
aspecto natural e os tradicionais jardins japoneses com pedras, areia, lagos e
pontes.
Outra característica marcante das habitações japonesas é o uso de
divisórias leves e móveis para definir os ambientes. Frequentemente feitas de
madeira e papel proporcionam uma intimidade muito mais visual do que sonora.
Em algumas culturas esse grau de intimidade não seria suficiente para um
dormitório – por exemplo – mas para os japoneses a privacidade visual é mais
importante que a sonora.
No decorrer dos estudos de caso é possível notar que o conceito de
privacidade é diferente em cada exemplo, em alguns se pressupõe níveis mais
elevados, com ambientes mais fechados e isolados, em outros surgem espaços
multiuso sem qualquer divisão interna. Mais uma vez, o importante para a
pesquisa é a espacialidade dos objetos de estudo, e não os conceitos
considerados para se chegar até ela.
Após um longo período de influências de chineses, espanhóis e
portugueses, o Japão se fecha para estrangeiros de 1612 a 1867. Nessa época
sem influências alheias, se desenvolveu uma arquitetura tradicionalmente
japonesa com o aperfeiçoamento das Minkas (habitações rurais).
15
2.1.1 Habitação Rural da Era Edo – Minka
As Minkas eram construídas com materiais locais como pedras, madeira,
palha e papel, utilizando-se de técnicas construtivas de amarração e encaixes,
sem a necessidade de pregos para fixação das peças. Além de acelerar a
construção, esse sistema também tornava a estrutura extremamente flexível, e,
portanto, resistente a terremotos. Os telhados de palha eram executados com
uma grande inclinação para favorecer o escoamento da água, evitando o acúmulo
de neve e sobrecarga da estrutura durante o inverno rigoroso.
Imagem 7 – Minka, habitação rural tradicional japonesa
Essa tipologia deu origem às demais habitações tradicionais japonesas.
Formadas por uma área com piso de terra batida, que servia de entrada, espaço
para trabalho e cozinha, o doma, e por um piso elevado de madeira, coberto por
tatames e dividido em cômodos menores, chamados de zashiki, literalmente “piso
sobre o qual se senta”, esse espaço abrigava funções como, dormir, comer e
recepcionar hóspedes.
O doma é uma área exclusiva para serviços e trabalhos domésticos,
ambos realizados exclusivamente por mulheres da família. O local de
sociabilidade familiar é onde ocorrem as refeições, situado sobre o piso elevado,
esse espaço é totalmente aberto para o doma em um primeiro momento, e depois
confinado em um dos zashiki.
16
Esse piso por sua vez recebe sua primeira subdivisão, com uma espécie
de biombo que preserva a intimidade dos pais. Mais tarde esse cômodo será
fechado e receberá o nome de hiroma, espaço central onde a família se reúne,
come e recebe visitas em torno do braseiro.
Imagem 8 - Braseiro no hiroma de uma minka
A necessidade de privacidade em relação aos visitantes e vizinhos provoca
o surgimento do genkan, um vestíbulo que serve de espaço de transição entre a
rua e o hiroma, utilizado constantemente também para receber visitas rápidas.
A flexibilidade é uma das características mais conhecidas dos cômodos
sobre o piso elevado, pressupondo a sobreposição de funções em um mesmo
espaço, com a possibilidade de acrescentar e retirar divisórias de acordo com a
necessidade de uso, através de portas e painéis de correr feitos basicamente de
madeira e papel.
Para o uso flexível dos espaços, os equipamentos e mobiliários ficam em
um depósito, sendo retirados e organizados no cômodo para uma determinada
atividade. Esse depósito é chamado de kura, e originalmente estocava e protegia
o arroz contra incêndios e invasores, considerado o bem mais precioso da família.
Por extensão, o kura passou a abrigar todos os tesouros da casa e sua mobília.
A maior parte das Minkas tradicionais foi destruída pelo tempo, terremotos,
ou pela ocupação moderna e urbana. Hoje algumas tipologias estão sendo
reconstruídas em parques e museus para materializar os registros da arquitetura
rural tradicional japonesa. Por esse motivo, grandes partes das imagens obtidas
17
para esse estudo foram feitas a partir de uma reconstrução do que seria a Minka
tradicional.
No exemplo representado a seguir, a entrada é feita geralmente pelo
doma, por onde se acessa o hiroma, local das refeições e reuniões familiares.
Esse ambiente pode ser fragmentado por meio de divisórias móveis definindo
assim um zashiki íntimo para recepção de visitas ou para dormir. Nesse espaço
também se encontra um depósito, destinado principalmente as mobílias que
caracterizam o ambiente em seus diversos momentos e aos futons, acolchoados
sobre os quais se dorme.
A escada presente no interior da casa leva a um sótão, geralmente
utilizado como depósito.
Apesar da entrada tradicionalmente feita pelo doma, há nessa Minka outra
possibilidade de acesso através da varanda, chegando diretamente ao hiroma.
Essa característica é exclusiva da habitação rural, sua relação direta com o meio
em que está inserida faz com que a casa se abra para o ambiente externo em
diversas frentes, fazendo dele uma extensão visual da própria habitação.
Existe uma dificuldade em se encontrar descrições sobre os sanitários
dessas habitações, o que nos faz crer que esses espaços não eram muito bem
vistos na cultura oriental. Essa característica é evidenciada pela disposição
dessas áreas e sua separação em relação ao local de banho nas casas
japonesas, que costumavam ter uma localização mais privilegiada. Segundo
relatos de imigrantes japoneses os sanitários das minkas tradicionais ficavam
afastados da casa.
18
Imagem 9 - Planta da minka analisada
A minka em questão tem 74,75m2, e se desenvolve livremente pelo
terreno. Seu resultado formal externo é fruto imediato da justaposição das
necessidades espaciais internas. Apesar das suas formas serem sempre
definidas por ângulos retos, a construção ainda não segue uma forte rigidez
geométrica e modular, pois o terreno e os vizinhos não impõem essa limitação,
como ocorre num lote urbano.
Outra característica díspar em relação às habitações urbanas é a ausência
dos jardins internos. A possibilidade de manter o valorizado contato com a
natureza descarta a necessidade de trazê-lo para dentro da habitação.
Um desenho como esse confere à habitação inúmeras possibilidades de
uso já que permite a integração ou divisão dos espaços com facilidade e rapidez
através do deslocamento das portas e divisórias de correr. Uma das únicas
restrições encontradas está na impossibilidade de desempenhar funções no
hiroma durante o horário de dormir, uma vez que nesse momento a casa toda é
utilizada como dormitório.
19
2.1.2 Habitação Urbana da Era Edo – Machiya
Após a reabertura do Japão podem ser identificados três tipos de casas
urbanas: o yashiki, mansão residencial, que ocorre em terrenos maiores e tem
grande área interna; já a nagaya, também chamada de casa longa, ocorre em
lotes urbanos estreitos, dentre as três tipologias urbanas é a única que não reflete
o conceito de ponte coberta, onde a construção conecta a rua e o jardim fazendo
da habitação uma transição entre duas áreas externas; por fim a machiya, a
tipologia urbana mais comum.
A machiya era a casa dos comerciantes, frequentemente o comércio do
morador se localizava na parte da frente da própria habitação. Essa tipologia
urbana sempre tinha um pequeno jardim interno, muito valorizado pela cultura
oriental, os ambientes mais importantes dessa habitação eram sempre voltados
para essa área verde, resgatando a relação da construção com a natureza
encontrada nas minkas.
Imagem 10 - Jardim interno de uma machiya
O acesso à construção era feito por uma única entrada, diferentemente da
habitação rural onde o acesso mais usual era feito pelo doma e visitas
importantes acessavam o hiroma diretamente pela varanda. Devido a essa
característica, surgiu uma hierarquia dos espaços para recepção de visitas que se
desenvolvia na seqüência de cômodos da habitação. O genkan era um vestíbulo
para assuntos rápidos; o omote e os zashiki (em número variado de acordo com o
tamanho da habitação) se localizavam próximos a rua, para visitas mais
demoradas e com certa importância; o tokonoma era reservado para as visitas
formais, nesse espaço também se localiza o altar budista.
20
Na segunda metade do século XIX as dimensões dos tatames foram
padronizadas e fixadas em 1,81m x 0,91m, isso fez com que vários elementos
das edificações tivessem dimensões similares criando certa modulação da
construção, onde as portas de correr e painéis móveis fossem facilmente
intercambiáveis.
A técnica construtiva dessas habitações era visivelmente mais
desenvolvida em relação às habitações rurais, seja pela disponibilidade de mão
de obra ou fornecimento de material para essas construções.
As machiyas apresentadas a seguir são casas tradicionais reformadas e
colocadas a venda atualmente, porém a planta original foi mantida assim como
foram respeitados os principais materiais utilizados na construção da habitação,
sofrendo modificações apenas em suas instalações hidráulicas e elétricas.
21
Machiya Ebisuya-cho (Kyoto)
Esta casa está localizada em uma via principal no centro de Kyoto.
Tradicionalmente a entrada das machiyas era feita por uma porta decorada com
um treliçado de madeira. Outra característica marcante das habitações urbanas
tradicionais japonesas presente nessa machiya é a escada que leva ao piso
superior, escondida atrás de uma porta deslizante, conferindo assim a esse andar
uma privacidade maior.
Imagem 11 - Porta de acesso à machiya Ebisuya-cho
A casa tem no total 110,95m2 e está implantada em um lote retangular com
5,15m de frente. Nas casas urbanas a entrada nem sempre dava acesso direto a
área de serviço, separando assim o doma em dois. Neste caso, a partir da
entrada de terra batida se desenvolve uma hierarquia de cômodos para usos
diversos.
O primeiro cômodo nessa sequência é o hall de entrada (genkan) para
assuntos rápidos e a seguir se encontra o zashiki para visitas informais. Esse
cômodo pode ser fechado por uma porta de correr, dependendo da privacidade
necessária. O próximo espaço é uma sala de tatami que serve basicamente para
distribuição e controle de privacidade dessa machiya. Fechando uma porta e
abrindo outra se permite a conexão e a divisão entre zashiki, cozinha e tokonoma,
22
nele também está oculta, por uma porta deslizante, a escadaria de acesso ao
segundo andar.
Imagem 12 - Planta da machiya Ebisuya-cho
O próximo e mais importante cômodo na hierarquia dos espaços da
machiya está o tokonoma, seu valor é evidenciado pela presença do altar budista
e pela vista privilegiada que se tem do jardim. Nele se recebe as visitas mais
formais para assuntos mais demorados, por isso a possibilidade de isolamento
desse cômodo com o fechamento das portas deslizantes.
Nestas salas são feitas também as refeições e reuniões familiares, seu
caráter pode ser facilmente modificado com a disposição das mobílias adequadas
ao seu uso em cada situação.
Ainda no térreo, um banheiro com vaso e lavatório se esconde nos fundos
da habitação, enquanto o local para banhos tem funcionamento e acesso
independentes, também com uma vista privilegiada do jardim através de uma
23
divisória de elementos vazados, é evidente a exaltação desse cômodo em relação
ao espaço reservado para as necessidades fisiológicas.
No andar superior, os espaços são reservados para a intimidade familiar,
como dormir e alguns serviços domésticos com um curioso espaço reservado
para secagem de roupas. As duas salas de tatami podem ser divididas durante a
noite formando dois quartos, um para o casal, e outro para os filhos. O caráter
íntimo desse andar é reforçado pela escada, que serve como barreira física entre
os andares e protege a intimidade familiar com a porta deslizante.
24
Machiya Izumiya-cho (Kyoto)
Apesar de estar classificada como uma machiya, essa habitação tem
algumas características típicas de uma tradicional casa longa (nagaya), sua
largura é de apenas 3,6m e não há jardim interno, porém a valorizada relação
com a natureza ocorre com a presença do rio Kamogawa que passa no fundo do
lote, forte característica dessa habitação.
O acesso a residência acontece de forma tradicional, por um piso de terra
batida e uma porta deslizante de madeira treliçada. Nessa machiya, o doma é o
primeiro espaço após a porta de entrada, neste caso ele é formado por um
corredor que tem em suas laterais, a cozinha, o sanitário e a sala de banho,
novamente com função e acesso independentes.
Imagem 13 - Planta da machiya Izumiya-cho
Cruzando o corredor se tem acesso ao primeiro zashiki da casa. Não se
sabe se o uso desse ambiente foi modificado em sua reforma ou se ele surgiu
através de uma influência da cultura ocidental após a reabertura do Japão na
metade do século XIX, mas na planta encontrada esse cômodo está definido
como “Sala Ocidental”, que por sua vez tem piso de madeira e móveis ocidentais.
Nele também está localizada a escada de acesso ao piso superior que devido a
essa característica do ambiente está totalmente aparente.
25
Sem um ambiente de distribuição como na machiya Ebisuya-cho, o
tokonoma está diretamente conectado à sala ocidental, dividido apenas por uma
porta de correr. Devido a sua importância na hierarquia dos cômodos da casa
tradicional japonesa, o acesso físico e visual ao deck com vista para o rio é
reservado ao tokonoma.
Imagem 14 - Rio Kamogawa visto do tokonoma
Assim como visto anteriormente o térreo é destinado às atividades sociais,
serviços e higiene. O andar superior, acessado através da escada, abriga as
funções mais íntimas da casa e revela outras vistas do rio. Devido à menor
privacidade oferecida pela escada aparente no térreo, o ambiente na qual ela
chega ao superior funciona como um espaço de distribuição entre os dormitórios
e um banheiro.
Com 86,22m2 essa machiya tem um menor número de ambientes e formas
de usos mais definidas, uma vez que se encontram tipos distintos de ambientes
que modificam diretamente a forma do usuário se relacionar com o meio. Na sala
ocidental, por exemplo, não se senta no chão de madeira e seu mobiliário tem
uma organização e presença mais constantes. Nesse cômodo pressupõe-se uma
forma de uso e ocupação ocidentalizada, restringindo a flexibilidade da tradição
oriental, que fica reservada ao tokonoma.
26
Machiya Ishifundono-cho (Kyoto)
Apesar de seu tamanho modesto, apresenta características fundamentais
das machiyas maiores. Em um lote praticamente quadrado com 5,5m de frente,
essa habitação foi obrigada a adaptar-se para abrigar o modo de morar tradicional
japonês.
Sua forma de distribuição de funções e atividades é um pouco
diferenciada, com apenas um ambiente principal por pavimento e áreas
complementares. O hall de entrada (genkan) dá acesso direto ao tokonoma com
vista para o jardim interno, e a escada para o andar superior.
Devido ao reduzido número de cômodos, o tokonoma pode assumir a
função de um simples zashiki em determinados momentos, por exemplo, durante
refeições familiares.
No térreo existe ainda o conjunto de sanitário com área de banho, sempre
independente das outras funções sanitárias. Nesse caso até o lavatório tem um
ambiente separado e independente dos demais. A cozinha nessa machiya tem
piso de terra batida.
Há no segundo pavimento apenas uma sala com piso de madeira onde
termina a escada vinda do térreo e um ambiente com tatames que serve de
dormitório, podendo até ser usado para recepção de convidados caso o tokonoma
do térreo esteja sendo utilizado simultaneamente.
Imagem 15 - Planta da machiya Ishifundono-cho
27
Devido suas dimensões reduzidas, apenas 57,00m2, suas funções se
sobrepõem e seus ambientes têm funções pouco definidas, dando a eles
inúmeras possibilidades de usos de acordo com a necessidade dos usuários. A
limitação dessa machiya está no pequeno número de ambientes, que não permite
muitos acontecimentos simultâneos na casa sem que ocorram conflitos entre eles.
Por fim, a casa tradicional japonesa oferece mais possibilidades de uso do
que restrições, sua organização espacial, desenho dos móveis e divisões
permitem a integração total dos ambientes de uma machiya em um determinado
momento e a divisão dos mesmos em outro, possibilitando assim sobreposição e
justaposição de usos na habitação. Porém essa flexibilidade é reforçada pelos
costumes e modo de morar orientais, ou seja, uma integração entre cultura e
espaços adequados as suas características, gerando poucos conflitos entre eles.
Imagem 16 - Sala de tatami no pavimento superior
28
2.2 Células Habitacionais
O entendimento de uma habitação como célula depende de uma
comparação direta com a biologia, onde a célula é o elemento constitutivo de todo
ser vivo. Rodeada por uma membrana que protege os componentes
indispensáveis para o seu funcionamento e realiza as trocas de substâncias
necessárias para sua sobrevivência, como a absorção de nutrientes e a excreção
dos produtos do seu metabolismo.
Imagem 17 - Célula animal
No caso da arquitetura, uma célula habitacional é definida por uma casca
que protege seus componentes internos. A unidade se conecta através de dutos a
um núcleo que provê água, luz e comunicação com a cápsula e também recolhe
os resíduos gerados pela vida dentro dela. A estrutura na qual a habitação está
conectada é o edifício, que por sua vez estabelece a mesma relação com a
cidade.
Assim como as células presentes no corpo humano, a célula habitacional
pode (e deve) ser trocada quando apresentar defeito ou ficar obsoleta com o
surgimento de novas tecnologias, para possibilitar essas constantes substituições,
pressupõe-se a produção das unidades em escala industrial e padronização de
dimensões e conexões.
29
2.2.1 Casa Cápsula – Archigram
O grupo de arquitetos ingleses conhecido como Archigram, foi formado em
1961, porém adotou este nome apenas em 1963. Suas propostas buscavam um
diálogo mais próximo com o contexto cultural da época e sua inspiração para
criação de projetos hipotéticos era a tecnologia. Seus principais membros foram,
Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, Dennis Crompton, Michael Webb e David
Greene.
Warren Chalk começa a usar a palavra cápsula na arquitetura habitacional
em 1964. Nesse período o grupo Archigram fazia parte da companhia de design
Taylor Woodrow, fundado em 1921 pelo jovem Frank Taylor, na época com
apenas 16 anos de idade. O nome Woodrow foi emprestado por seu tio para
iniciar a empresa, já que Frank era muito novo para isso.
A companhia Taylor Woodrow costumava alimentar constantemente o
grupo Archigram com projetos experimentais. Esse foi o caso da casa cápsula
que deveria ser completamente pré-fabricada e estar fixada a uma torre estrutural.
O partido projetual foi uma cápsula com a ergonomia e a sofisticação de
uma cápsula espacial. Suas partes internas, equipamentos, portas e janelas
seriam pré-fabricados, atualizados e substituídos conforme a necessidade ou
aparecimento de novas tecnologias.
Imagem 18 - Esquema de montagem do pavimento tipo (esq.) e da casa cápsula (dir.)
30
O desenho da unidade resulta da subtração entre dois círculos
concêntricos, um com 12,5m e outro com 6,65m de diâmetro e posteriormente a
divisão radial desse desenho em 11 partes iguais. A unidade de 20,00m2 mede
5,38m de comprimento e consiste em um único espaço onde se encaixam os
equipamentos, mobília e o módulo do banheiro.
Imagem 19 - Planta da Casa Cápsula
Todas as atividades são realizadas no mesmo espaço, a parede plug-in
permite que eletrônicos e eletrodomésticos possam ser conectados a ela durante
seu uso e guardados no momento em que não são mais necessários. Como
existem duas dessas paredes na cápsula e uma tela divisória retrátil no meio da
unidade, é possível ter um ambiente maior com duas ou mais funções
simultâneas, como sala e cozinha, ou dois ambientes com usos independentes e
com um pouco mais de privacidade, como por exemplo, dormitório e sala.
Dessa forma são inúmeras as possibilidades de combinações de uso do
espaço, ficando restrito apenas aos equipamentos e tecnologias disponíveis para
a parede plug-in e a área reduzida da unidade.
As habitações com áreas reduzidas pressupõem a realização de atividades
31
sociais em grupos maiores fora dos limites da unidade, necessitando de uma
infra-estrutura urbana abundante e desenvolvida para atender aos habitantes.
O projeto, não foi além dos desenhos e conceitos, a tecnologia e
organização urbana necessárias para sua aplicação estavam à frente da sua
época, porém a discussão ao redor do tema se mostrou muito valiosa, uma vez
que vários arquitetos utilizaram essas idéias experimentais em seus projetos.
32
2.2.2 Torre Nakagin – Kisho Kurokawa (1970 – 1972)
Localizada na área de Ginza em Tóquio, a Torre Nakagin foi originalmente
projetada como um Hotel Cápsula, com o objetivo de prover acomodação
econômica para empresários que trabalham no centro de Tóquio. A torre de 14
andares tem 140 cápsulas empilhadas em diferentes direções ao redor de um
núcleo central. Kurokawa desenvolveu também a tecnologia para fixar as
unidades ao núcleo de concreto com apenas quatro parafusos de alta tensão.
Imagem 20 - Torre Nakagin
A cápsula foi produzida a partir de um container comercial modificado com
2,5m de largura e 4,0m de comprimento. Em seus reduzidos 10m2 a unidade é
dividida em dois ambientes, o banheiro e o espaço principal onde se desenvolvem
todas as outras atividades. O banheiro lembra o sanitário presente nos aviões
comerciais com a adição de um chuveiro, os equipamentos de higiene e o vaso
têm suas dimensões ligeiramente menores se comparadas às medidas padrões
desses mesmos equipamentos.
33
Imagem 21 - Perspectiva isométrica da unidade
No espaço multiuso, o mobiliário aparentemente simples suporta diversas
funções e equipamentos. Um das paredes é coberta por um móvel planejado que
abriga armários, uma pequena mesa escamoteável com luminária, calculadora,
ar-condicionado, telefone, rádio e televisão. Esse móvel lembra a parede plug-in
presente na Casa Cápsula do grupo Archigram, porém no caso da torre Nakagin,
não é possível conectar e desconectar equipamentos de acordo com a
necessidade do usuário, uma vez que todos são embutidos no móvel.
Na parede oposta a porta de entrada está localizado um sofá-cama e uma
janela circular, única fonte de iluminação natural da unidade. O sofá não pode ser
recolhido durante o dia e aberto para dormir, a distinção entre sofá e cama é feita
simplesmente pelo seu uso num determinado momento.
34
A cápsula e seu interior foram feitas em uma fábrica, transportadas até o
local, elevadas por um guindaste e finalmente fixadas ao núcleo de concreto.
Devido a essa facilidade de produção e fixação, as unidades poderiam ser
facilmente destacadas e substituídas.
O espaço reduzido e a ausência de local adequado para o preparo e
consumo de alimentos, pressupõe o suporte de uma ampla infra-estrutura urbana
para alimentação e principalmente convívio social, assim como foi proposto por
Warren Chalk com a Casa Cápsula.
Dentro da unidade as atividades se justapõem, ocorrem todas em um
mesmo espaço, mas não se sobrepõem. Sendo assim, não há necessidade de se
finalizar uma tarefa para começar outra.
Imagem 22 - Foto interna da unidade
35
Por exemplo, o morador chega tarde do trabalho trazendo além de uma
papelada para preparar-se para uma reunião na manhã seguinte, um lanche para
mais tarde. Ao entrar abre a mesa escamoteável e já arruma o material do
trabalho ao lado do lanche. Tira os sapatos, faz alguns telefonemas e entra no
banheiro para uma ducha rápida. Ao sair liga a televisão, e enquanto se seca,
acompanha as últimas notícias no jornal local, logo em seguida se senta e inicia a
leitura, amparado pela calculadora para conferir os números e cifras de seu
relatório, buscando motivação em cada mordida em seu sanduíche.
A Torre Nakagin pode ser considerada como a materialização da Casa
Cápsula do Archigram. Modificada formalmente para se adequar à tecnologia
disponível no momento de sua concepção, a torre ainda preserva muitos dos
conceitos presentes no projeto de Warren Chalk.
36
2.2.3 Hotel Cápsula – Asakusa Riverside
Os hotéis cápsula surgiram na tentativa de oferecer acomodações com um
bom custo benefício para viajantes e também trabalhadores que frequentemente
ficam até tarde da noite nas empresas e precisam estar de volta ao trabalho na
manhã seguinte, fazendo com que a volta para casa seja não só desgastante
como também desnecessária.
Esse tipo de hospedagem foi desenvolvido no Japão e não ganhou muita
popularidade fora dele. O primeiro hotel cápsula foi inaugurado em 1979 e foi
projetado por Kisho Kurokawa em Osaka (Capsule Inn Osaka).
Imagem 23 - Foto interna do hotel
O espaço privado do hóspede é reduzido a um módulo de fibra de vidro
fixado a uma estrutura de aço contra terremotos de apenas 2,0m de comprimento,
1,0m de largura e 1,25m de altura, onde além de acomodação para dormir conta
com televisão, internet sem fio e rádio relógio. A privacidade do hóspede é
garantida apenas por uma cortina de enrolar e em alguns casos com uma porta
de fibra de vidro. Há também uma pequena prateleira para pequenos objetos
pessoais, como chaves, carteira e telefone celular, uma vez que ao fazer o check-
in, suas bagagens são guardadas em um armário, normalmente fora do hotel.
37
Imagem 24 - "Raio X" da unidade
Cada aposento foi dimensionado para abrigar uma pessoa nos momentos
que antecedem o descanso noturno e os instantes após o despertar, todas as
outras atividades são realizadas coletivamente, em banheiros comuns,
restaurantes e bares. Em alguns desses hotéis, homens e mulheres são
separados em andares diferentes por motivos de segurança e privacidade.
Esse tipo de unidade não pode ser considerado uma habitação, uma vez
que foi projetada para estadias curtas, mas é válida para esse estudo como
exemplo extremo da idéia lançada pelo grupo Archigram na década de 1960.
Outro conceito dos metabolistas aplicado com sucesso nesse caso é a
possibilidade de substituição e descarte das unidades danificadas ou obsoletas.
Esse êxito se deve a grande demanda por cápsulas novas gerada em cada hotel,
justificando assim o esforço industrial de produção das unidades e
desenvolvimento da tecnologia para sua viabilização.
38
2.3. Guifú Apartments (Guifú – 1994/1998)
O edifício elaborado a pedido do governo municipal de Guifú no Japão tem
107 unidades habitacionais destinadas à habitação popular para locação. O
prédio se desenvolve paralelo à rua, elevado em relação ao nível do solo por
pilotis, liberando o térreo para estacionamento de automóveis.
Imagem 25 - Foto externa do edifício
A torre tem apenas 7,34m de largura, as unidades são organizadas por
uma modulação de 2,80m entre pilares e a área dos apartamentos varia entre
53m2 e 90m2. Todos são compostos por apenas cinco tipos de cômodos, são
eles: dormitório, cozinha e sala de jantar (dinning kitchen), sala de tatame (típica
no Japão), varanda e banheiro com acessos separados e independentes para
cada função.
39
A combinação de diferentes números e disposições desses cômodos nas
unidades, permite a formação de diversas tipologias para atender a diferentes
composições familiares, em sua maioria com dois andares. Esse arranjo de
diferentes plantas faz com que o edifício tenha um corte complexo, e possibilita a
existência de varandas que atravessam toda a largura da torre, formando vazios
que deixam a construção visualmente mais leve e conferindo certo anonimato a
fachada.
Imagem 26 - Esquema de composição da fachada
Independente da organização dos cômodos e o número de andares em
que estão distribuídos, todos (com exceção da cozinha) têm acesso ao corredor
de circulação externa, dando mais autonomia a cada um deles, permitindo um
acesso independente à unidade através de diversos ambientes e possibilitando
inclusive a sublocação dos mesmos. Essa característica elimina a hierarquia dos
espaços presente nas habitações tradicionais japonesas já que é possível
acessar as unidades por diversos cômodos. Para complementar essa
independência dos ambientes e flexibilidade da unidade, o vaso sanitário,
lavatório e chuveiro têm acesso pelo corredor de circulação interno do
apartamento, cada um com uso independente das demais funções.
40
Imagem 27 - Planta da tipologia analisada
Apesar da definição de dormitórios e salas, os cômodos não têm mobiliário
fixo e podem adequar-se a outras funções determinadas pelo usuário. Um
dormitório, por exemplo, pode assumir a função de um escritório ou uma sala de
estar íntima durante o dia.
Devido a modulação do edifício, vários de seus elementos construtivos
também puderam ser padronizados, como divisórias, portas e janelas, facilitando
a construção e reduzindo seu custo.
O projeto adapta conceitos da habitação tradicional japonesa, preservados
através do tempo para uma construção inserida em uma cidade do século XX. Os
espaços multiuso, a sala de tatami, o espaço único para preparo e consumo dos
alimentos, o sanitário com funções separadas e independentes, são mesclados
com cômodos autônomos e uma construção verticalizada com estrutura em
concreto. Este projeto gera unidades extremamente flexíveis e adaptáveis para a
grande diversidade de grupos familiares e formas de habitar presentes nas
cidades japonesas na década de 1990.
41
2.4. Habitações Transformáveis – Concurso Morar na Metrópole (2004)
A proposta inicial do concurso era uma reflexão a respeito dos impactos da
tecnologia, sustentabilidade e demandas dos habitantes urbanos contemporâneos
no desenho das novas habitações.
O concurso se dividiu em duas categorias, na primeira, quatro escritórios
de diferentes gerações foram convidados para desenvolver projetos de moradia
para o cidadão urbano em questão. A segunda, aberta a estudantes, convidava
os inscritos a desenvolver novas soluções para moradia nos grandes centros
urbanos, levando em consideração a proposta inicial da mostra.
O caráter conceitual do concurso traz pontos negativos e positivos para as
propostas apresentadas. Ao mesmo tempo em que a discussão em torno do tema
se dá de forma mais livre e utópica, essa mesma liberdade, permite que os
projetos contenham soluções conceituais pouco aplicáveis na metrópole
contemporânea, devido à cultura, desenvolvimento tecnológico, etc.
O projeto vencedor dessa edição do concurso foi elaborado pelos
estudantes Débora Vieira e Igor Macedo, sob a orientação dos arquitetos
Alexandre Brasil e Carlos Alberto Maciel.
A premissa era promover a consciência do morador em relação ao local
que habita. Na rotina usual, o habitante de grandes cidades passa grande parte
do seu tempo confinado em espaços limitados, seja em seu apartamento ou
escritório, alienado da cidade e do seu meio natural. O próprio sistema viário
urbano, com seus túneis e viadutos, contribui para esta segregação entre
habitante e cidade, que é uma das causas do estresse urbano. Indo contra esta
tendência, o projeto adota a horizontalidade em sua implantação, permitindo que
cada habitação tenha contato direto com o solo, a rua e a vizinhança.
No entanto, há a questão da supervalorização do solo, que incentiva a
verticalização. Para minimizar este impasse, as unidades buscam maneiras de
abrigar os moradores no menor espaço possível. Como solução, foi adotado o
conceito da transformabilidade, espaços que possam ser utilizados de várias
formas, fazendo com que a arquitetura se adéque as vontades do morador, e não
o contrário.
42
A mutabilidade é uma condição inevitável em edificações sujeitas ao
tempo. Para cada fase da vida, os moradores têm necessidades diferentes, ora
com filhos, ora sem eles, no início são jovens e no futuro, idosos. Esses fatores
triviais demandam soluções espaciais completamente diferentes em uma
habitação.
Os desenvolvimentos tecnológicos também são responsáveis por
modificações espaciais na habitação. Os ambientes que abrigam determinados
equipamentos são diretamente definidos pelas características dos mesmos. A
televisão, por exemplo, já necessitou de um grande espaço para sua
acomodação, hoje cada vez mais fina, não precisa sequer de um móvel para isso,
pode ser facilmente fixada à parede, assim como os equipamentos relacionados a
ela, como DVD’s e caixas acústicas. A fiação necessária para conectar todo o
sistema pode ser substituída por um sistema wireless, além de facilitar a
instalação confere ao conjunto uma maleabilidade maior, se adequando ao
caráter mutável das novas habitações.
Imagem 29 - Antigo sistema de entretenimento doméstico (esq.) Nova LED TV Samsung Luxia (dir.)
“A transformabilidade pode transcender o convencional – rejeitando os
padrões do estilo de vida tradicional e promovendo argumentos a favor de uma
fluidez que aceite e acolha a mudança e a diferença. Transformabilidade é uma
reavaliação de como escolhemos viver. É a tentativa de coletar elementos
arquitetônicos dispersos a fim de agrupar, fundir os aspectos do design que
validam o potencial de uma aberta, cinética, fluída e, acima de tudo, transformável
arquitetura”. – Débora Vieira e Igor Macedo em seu texto de apresentação do
projeto.
43
As casas, através de painéis móveis, conseguem modificar totalmente seus
ambientes: uma área interna pode se transformar radicalmente em uma área
externa de lazer. A casa abrindo e fechando-se, consegue proporcionar áreas
variadas no mesmo espaço físico.
Foram propostas quatro tipologias de casas, com metragens diferentes.
Estas casas estão encaixadas em valas, dentro das quais podem se movimentar
verticalmente, através de elevadores em coluna (sistema utilizado em
empilhadeiras). Elas ainda possuem um jardim na cobertura, de forma que,
quando abaixadas, o conjunto se transforma em uma grande área verde pública.
Imagem 29 - Corte geral do projeto
No projeto, os carros circulam por cima do terreno, e não em
estacionamentos subterrâneos, integrando-se aos pedestres, fazendo com que os
motoristas vejam o que acontece. É possível, inclusive, que os moradores
guardem seus carros dentro da própria casa ou sob ela.
44
2.4.1 Casa Praça – 01
Essa unidade está contida em um retângulo de 7,0m de comprimento por
4,8m de largura, configurando uma área interna de 33,60m2. Suas principais
peças de transformação espacial são: o sofá-cama que pode ser deslocado para
qualquer ponto da habitação; o conjunto hidráulico da casa composto por
lavatório, sanitário, chuveiro e bancada da cozinha, que desliza no sentido
longitudinal da casa, colado a parede; e por fim as vedações móveis que podem
ser abertas e integrar totalmente a unidade a área externa.
Imagem 30 - Casa Praça 01: Sequência de abertura e plantas
A posição das peças na primeira configuração da sequência de abertura
representa uma suíte, um ambiente de total privacidade com uma cama de casal,
lavatório, chuveiro e vaso sanitário com acessos e usos independentes; assim
como era encontrado nas habitações tradicionais japonesas, porém com uma
diferença, o lavatório é completamente integrado ao ambiente.
45
Na segunda configuração, o ambiente ainda tem uma característica
espacial predominantemente privativa, porém, a disposição dos móveis e o
aparecimento da cozinha pressupõem o uso do ambiente por duas ou mais
pessoas ou, pelo menos, o uso simultâneo da cozinha e do dormitório pelo
mesmo usuário. Essa organização espacial pode ser vista como um arranjo para
o dia-a-dia da habitação, dessa forma o morador pode cozinhar, comer, lavar-se e
até receber uma visita mais íntima sem a necessidade de remanejar as peças de
sua casa.
Com a abertura dos painéis de fechamento da habitação a unidade ganha
15,00m2 somando dessa forma uma área total de 48,60m2. Ao integrar-se com o
entorno, a unidade perde seus limites físicos e acaba se transformando em um
quiosque no meio de uma área ao ar livre, podendo agora ser utilizada como uma
grande sala para festas, eventos sociais ou, como sugerido pelos autores do
projeto, um atelier.
Um espaço como esse não tem um número limitado de configurações,
principalmente devido à possibilidade de substituir o sofá-cama por um ou mais
móveis que sejam mais adequados as atividades de um determinado morador. A
simplicidade do espaço é também a característica que lhe confere maior
flexibilidade. A única restrição encontrada é a dificuldade de conciliação entre
atividades sociais e íntimas, noturnas e diurnas, devido ao espaço reduzido e a
ausência de divisórias fixas ou retráteis.
46
2.4.2 Casa Praça – 02
A principal característica que difere essa tipologia das demais é a divisão
da habitação em dois pavimentos. O térreo com 47,60m2 pode ficar totalmente
fechado, configurando uma sala integrada à cozinha com espaço inclusive para
guardar o carro. Deslizando alguns painéis e o conjunto da cozinha, é liberado um
grande espaço interno, ampliado ainda mais com a retirada do carro e a
integração da unidade a área externa, possibilitando a realização de festas,
churrascos e outras reuniões sociais, ou simplesmente atividades ao ar livre.
No pavimento superior estão o dormitório, um pequeno escritório e o
sanitário da unidade. Todo esse pavimento tem um caráter mais íntimo, mas não
deixa de possibilitar algumas transformações, como o recolhimento da cama,
abertura das divisórias e a criação de uma varanda sobre a cozinha,
transformando o dormitório em um escritório.
Imagem 31 - Casa Praça 02: Sequência de abertura e plantas
47
Com a divisão da habitação em dois pavimentos a unidade ganha uma
separação permanente entre as atividades íntimas e sociais, tornando possível a
realização de atividades com caráter distinto simultaneamente. No entanto, as
transformações da casa alteram basicamente o nível de intimidade e capacidade
de cada ambiente e não suas funções. A cozinha, estando aberta ou fechada
continua sendo cozinha, o único ambiente que pode ser suprimido é o dormitório
que fica descaracterizado com tal com o fechamento da cama, mas ainda assim o
escritório mantém um caráter de intimidade maior que a sala do pavimento térreo.
A Casa Praça – 02 é um pouco mais restritiva na transformação dos
espaços e modificação das suas funções, mas ao mesmo tempo parece ser mais
eficiente quando se pensa no cotidiano de uma habitação.
48
2.4.3 Casa Praça – 03
Contida em um retângulo de 6,9m de largura por 11,5 de comprimento
essa é a maior das tipologias analisadas, com 79,35m2 de área interna, dos quais
apenas 72,35m2 são úteis. No centro da unidade há um núcleo fixo de onde saem
divisórias, armários e bancadas que definem os diversos usos e ambientes da
casa. Esse recurso permite a configuração de um grande salão livre ou de uma
habitação composta por sala, cozinha, escritório, dois dormitórios e um banheiro
com funções e acessos independentes.
A unidade é cercada por grandes painéis deslizantes que permitem a
abertura de grande parte dos ambientes, as divisórias estão localizadas na frente
dos dormitórios, preservando a privacidade dos mesmos e impedindo que a
abertura de uma divisória interfira na configuração dos espaços de dormir.
Imagem 32 - Casa Praça 03: Sequência de abertura e plantas
Essa é a mais versátil das unidades, além da possibilidade de dividir o
grande salão em espaços menores, esses ambientes criados podem assumir
diversas funções. O dormitório pode ser configurado com o deslizar das divisórias
móveis, mas desempenhar o papel de um escritório, ou seja, o espaço físico que
pode ser gerado pelos painéis deslizantes é limitado, mas as possibilidades de
uso desse espaço não, dando ao usuário a oportunidade de decidir qual será ele.
49
A maior qualidade encontrada no desenho das unidades analisadas é a
possibilidade que o morador tem de encontrar uma configuração ideal para suprir
as necessidades de uso do seu cotidiano. A transformabilidade da casa não
significa que a cada dia a unidade estará organizada de maneira diferente, mas
que uma configuração principal será definida para as atividades mais usuais do
espaço e modificada sempre que necessário. A qualidade do desenho está
justamente nessa possibilidade.
50
2.5 Max Haus
O mercado imobiliário entendeu que para vender apartamentos menores
era preciso inserir todos os elementos dos apartamentos grandes. Então,
unidades de 80m2 foram divididas em três dormitórios, banheiros, cozinha, área
de serviço, terraço e até banheiro de empregada. O espaço já vem retalhado em
uma porção de minúsculos cômodos, que, de cômodos, nada têm.
O empreendimento imobiliário batizado de Max Haus surgiu para contrapor
essa mentalidade de produção de habitações. As unidades de 70m2 são
entregues sem qualquer divisão interna, contam apenas com um banheiro e uma
cozinha que podem ser personalizados no momento da compra.
Imagem 33 - Exemplo de unidade com 70m2
A intenção é que cada proprietário tenha a possibilidade de montar seu
apartamento de acordo com suas necessidades, além de permitir modificações
com mais facilidade quando necessário. As unidades podem também se unir tanto
na horizontal quanto na vertical, para formar apartamentos de 140m2, 210m2,
280m2 e assim por diante.
51
Para atender às inúmeras possibilidades de ocupação das unidades, as
janelas não pretendem “adivinhar” a posição das futuras divisórias e, portanto
estão uniformemente distribuídas ao redor do apartamento. Com 1,60m de altura
a 0,60m do chão, proporcionam uma iluminação até 50% maior do que os
apartamentos comuns.
Imagem 34 - Exemplo de unidade com 140m2
Nesse empreendimento os espaços não são definidos logo na construção,
cada morador tem a oportunidade de dividir os ambientes de acordo com suas
necessidades específicas. As unidades, portanto, são tão diversas quanto seus
ocupantes. A própria incorporadora traz no site cerca de trinta sugestões de
planta entre apartamentos de 70m2 e coberturas compostas por oito unidades,
somando 560m2.
Dentro dos limites das unidades os únicos elementos que balizam a
organização espacial do apartamento são a cozinha e o banheiro principal, ambos
com localização fixa, mas seu interior pode ser personalizado com kits oferecidos
no momento da compra do imóvel.
52
Imagem 35 - Exemplo de unidade com 210m2
Outro fator que aumenta o potencial de personalização das plantas é a
possibilidade de conectar duas ou mais unidades, tanto na vertical, quanto na
horizontal.
O Max Haus aplica o conceito da planta livre em um empreendimento
contemporâneo. Aparentemente esse é o único ponto dos cinco propostos por Le
Corbusier utilizado nesse projeto, já que a estrutura não é independente da
fachada, impedindo ao mesmo tempo a fachada livre e as janelas em banda; o
terraço jardim dá espaço a uma cobertura, espaço com grande valor imobiliário, e
os pilotis, que há muito tempo foram substituídos por suntuosos halls de entrada,
salões de festa e sala de jogos, levando a garagem dos edifícios para o subsolo.
Além dessas, outra grande diferença entre esse e outros projetos
realizados durante o chamado movimento moderno é o contexto tecnológico em
que está inserido. Com as novas tecnologias de materiais e instalações as
possibilidades para a divisão dos espaços vão além das divisórias leves. Elas
podem ser deslizantes ou até compostas por móveis inteiros, como estantes e
armários. As instalações sem fios permitem a mudança da localização dos
aparelhos eletrônicos e também a mobilidade dos mesmos dentro da unidade.
53
O espaço criado com esses recursos se torna também altamente flexível,
devido a facilidade de relocação dos elementos, definindo ambientes
completamente diferentes.
Imagem 36 - Exemplo de unidade com 280m2
54
2.6 Indústrias Naval, Ferroviária e Aeronáutica
O objetivo de passar o olhar sobre tipologias produzidas por indústrias
ligadas aos meios de transporte é perceber como cada uma trata o espaço em
movimento e lidam com condicionantes que as características de seu meio de
locomoção impõem.
Cada meio de transporte teve momentos de grande desenvolvimento e
períodos de aparente estagnação evolutiva durante sua existência. Algumas
vezes o desenvolvimento de uma significa a desaceleração de outra. A indústria
naval, por exemplo, que era a única opção para viagens entre os continentes,
perdeu esta exclusividade com o surgimento dos aviões comerciais. A princípio a
segurança e custo das viagens aéreas não eram muito atrativos, desde então a
aviação comercial tem evoluído constantemente e hoje transporta milhares de
pessoas ao redor do globo, deixando as viagens de navio para aqueles que
optam por um cruzeiro marítimo durante as férias.
Imagem 37 - Mapa de rotas aéreas da TAM para a América Latina e Europa
55
O transporte ferroviário por sua vez, tem sua popularidade diretamente
relacionada com a história e cultura de cada região. Para ser um meio de
transporte eficiente e abrangente, sua infra-estrutura precisa ser instalada e se
desenvolver juntamente com a ocupação do território, seja ele urbano ou rural.
Cada meio de transporte está sujeito a condicionantes que balizam seu
desenvolvimento, mas todos se complementam, compondo uma rede que conecta
os pontos do planeta de diversas formas.
56
2.6.1 Indústria Naval
Dentre as três indústrias escolhidas é a que mais cedo iniciou seu
desenvolvimento, assim que as civilizações se instalaram próximas aos grandes
rios(,) perceberam o potencial existente na força das águas para o transporte de
pessoas e mercadorias. O contato com os oceanos ocasionou um
desenvolvimento muito maior das embarcações, já que viajar por ele requer
tempo, embarcações maiores e mais resistentes.
Imagem 38 - Caravela do séc. XV (esq.) e Transatlântico do séc. XXI (dir.)
Das primeiras balsas de toras e canoas de casca de árvore até os
modernos transatlânticos existentes hoje, muitas foram as evoluções das
tecnologias e materiais utilizados na indústria naval. A madeira foi substituída pelo
metal que por sua vez cedeu lugar para as fibras de vidro e de carbono, o objetivo
nesse caso é sempre a redução de peso e o aumento de resistência.
O meio de propulsão também exerce sua força sobre a forma da
embarcação e suas características, no início era utilizada basicamente a força
humana. O domínio dos ventos possibilitou viagens mais longas e os motores a
vapor conferiram maior velocidade aos barcos, mas ao mesmo tempo necessitam
de grande espaço para suas caldeiras e armazenamento de carvão para a
viagem. A seguir vieram os motores a gasolina, óleo diesel, elétricos e finalmente
os propulsores nucleares.
57
Esses são apenas exemplos dos principais fatores que influenciaram o
desenvolvimento das embarcações até atingir a forma atual, não cabe nesse
trabalho discorrer sobre o desenvolvimento da indústria naval, uma vez que o
interesse é no espaço habitável das embarcações selecionadas.
Todas as embarcações analisadas são de uso particular, esse tipo de
barco costuma ter um uso semelhante ao de uma habitação. Com ambientes
similares, mas com espacialidades distintas.
O barco batizado de Aurora tem 12,20m de comprimento e uma área
interna total de 30,24m2 divididos em dois níveis. No convés estão localizadas a
cabine de comando em um ambiente e a cozinha, sala de estar e jantar, que
dividem um único espaço. No nível inferior se encontra uma pequena suíte com
12,00m2.
Imagem 39 - Aurora 40pés: Vista Lateral
De uma forma geral os ambientes dentro de uma embarcação são uma
resposta direta do aproveitamento dos vazios limitados pelo casco do barco e da
cobertura de algumas áreas do convés. Para aproveitar melhor esses reduzidos
espaços ociosos, o mobiliário é reduzido em relação ao tamanho padrão e as
formas se adéquam às curvas da embarcação gerando espaços com maior
fluidez e facilidade de uso.
58
Imagem 40 - Aurora 40pés: Plantas
O segundo exemplo selecionado tem 15,8m de comprimento e uma área
interna maior se comparado ao Aurora. O Phantom tem no total 52,35m2 e sua
organização espacial se assemelha a embarcação anterior, dividida em dois
níveis, o convés também é reservado para a cabine de comando, cozinha, sala de
estar e jantar. O nível inferior é reservado para a área íntima, porém com uma
área muito maior, são dois dormitórios, uma suíte e um banheiro. Um desses
dormitórios pode ser revertido em outra suíte com a alternância do fechamento e
abertura de algumas portas.
Essa característica confere a embarcação uma pequena maleabilidade
espacial. Os barcos analisados são voltados para o lazer, e não pensados em
longas viagens, por isso os ambientes não apresentam grandes recursos de
reconfiguração espacial e oferecem suporte às atividades básicas do habitar no
menor espaço possível com um mínimo de conforto.
59
Imagem 41 - Phantom: Plantas
A divisão em dois níveis acentua a separação dos espaços íntimos para
dormir e higiene pessoal, e os espaços de convívio familiar e social, de atividades
predominantemente diurnas. Essa organização é recorrente nos três exemplos
escolhidos, cada um com suas particularidades.
O último exemplo tem duas características únicas e marcantes que
conferem a essa embarcação uma organização espacial diferente das demais.
Trata-se de um Catamaran com 13,6m de comprimento. Esse tipo de barco de
origem polinésia tem dois cascos e pode ser movido à vela ou motor.
Imagem 42 - Catamaran Lagoon 440
60
Além de ser um barco mais rápido e estável em relação às embarcações
monocasco, ele apresenta uma grande diferença em sua organização espacial.
Os espaços de dormir estão acomodados nos cascos, separados pelo espaço de
convívio familiar, e não concentrados como nos outros exemplos.
Entre os cascos está apoiado o espaço onde se integram cozinha e sala,
ligeiramente acima do nível dos dormitórios esse ambiente multiuso também dá
acesso a uma área externa com sofás e a seguir ao convés, onde estão
localizados os comandos da embarcação.
Imagem 43 - Catamaran Lagoon 440: Planta
No total são quatro dormitórios e quatro banheiros, dois deles com acesso
exclusivo dos quartos e os outros dois com a possibilidade de um acesso direto
do corredor de circulação.
Apesar do seu amplo espaço interno, o aproveitamento espacial é feito
através dos mesmos recursos utilizados nos exemplos anteriores, diminuição das
dimensões padrões do mobiliário e adequação das suas formas às curvas da
embarcação.
Devido à constante movimentação da embarcação e a eventuais tormentas
enfrentadas no mar, não é adequado encher os ambientes com partes móveis,
retráteis e escamoteáveis. Os espaços têm uma rigidez indesejada em áreas tão
reduzidas.
61
2.6.2 Indústria Ferroviária – African Luxury Train Safari
O transporte sobre trilhos teve um papel importante em vários momentos
da história. Ainda hoje são amplamente utilizados como meio de transporte rápido
e eficiente, principalmente na Europa e no Japão.
Imagem 44 - Trem de alta velocidade europeu
As ferrovias auxiliaram muito no processo de colonização do continente
africano, cruzando territórios selvagens e hostis com certa segurança e rapidez,
porém esses benefícios custaram muitas vidas de operários que morreram devido
a ataques de animais, doenças e confrontos com tribos nativas.
Grande parte da infra-estrutura ferroviária existente hoje na África é fruto
dessa época, no tempo que percorrer o país de trem podia levar dias e até
semanas. Por esse motivo existiam locomotivas movidas a vapor, elas eram
praticamente hotéis sobre trilhos, com cabines individuais, vagões restaurante,
bagageiro e outros serviços característicos do setor hoteleiro.
Ainda hoje existem roteiros turísticos que percorrem essas rotas em
locomotivas restauradas que conservam suas características originais. O roteiro
foi batizado de African Luxury Train Safari, que consiste em realizar um safari,
viajando entre as reservas selvagens da África em um trem de luxo. Estão
disponíveis oito itinerários diferentes que variam de 2 a 14 dias de duração.
62
Imagem 45 - Rotas do African Luxury Train Safari
Nesse período praticamente toda a acomodação e serviços são oferecidos
dentro dos vagões, exigindo praticidade e flexibilidade em espaços compactos
para oferecer aos passageiros, conforto e serviços eficientes.
Cada trem pode levar 72 passageiros, distribuídos em 36 suítes. Para as
refeições são utilizados dois vagões restaurante, cada um com capacidade para
42 pessoas.
Existem três tipos de suítes, todas com capacidade para abrigar até duas
pessoas, sejam elas solteiras ou um casal. A menor delas é chamada de Pullman
Suíte e tem apenas 7m2. Para abrigar um casal o sofá pode ser transformado em
uma cama única para duas pessoas, no caso dos ocupantes serem solteiros é
possível montar um beliche dentro da cabine.
Esse recurso torna a cabine flexível para atender as necessidades de
ocupantes com características diferentes, e para se adaptar a diferentes tipos de
uso, mais especificamente um uso de estar/convívio e outro de descanso.
63
Imagem 46 - Configurações possíveis da Pullman Suite
O banheiro presente nessa cabine é completo com vaso sanitário, lavatório
e chuveiro. A suíte média tem a mesma instalação sanitária encontrada na
Pullman Suíte, mas sua cabine reserva algumas diferenças.
Com 11m2 também é possível configurar nela uma cama de casal ou duas
camas de solteiro, porém essa configuração permanece fixa durante o dia todo.
Seus 4m2 a mais permitem a presença de uma pequena sala com duas poltronas
e mesa para escrita, sendo assim a Deluxe Suíte – como é chamada – apresenta
a possibilidade de atender hóspedes solteiros ou casados, mas essa configuração
permanece fixa durante toda a viagem.
Imagem 47 - Configurações possíveis da Deluxe Suite
Alguns recursos e serviços são comuns a todas as suítes, independente do
preço que se paga pela estadia em cada uma. Todas são equipadas com uma
pequena mesa de apoio, cofre, e itens mais modernos após a restauração, como
ar-condicionado e frigobar. Os hóspedes também contam com serviço de quarto
24hs.
64
Imagem 48 - Royal Suite
A suíte mais luxuosa ocupa meio vagão e recebe o nome de Royal Suíte,
ela tem no total 16m2 e sua maior diferença em relação às demais é uma
banheira no sanitário. A cabine é composta pelos mesmos itens da suíte Deluxe,
mas seu espaço interno é mais generoso, porém não é possível modificá-la para
atender solteiros, a única opção de composição da suíte é com uma cama de
casal.
Os meios de transporte comerciais têm características diferentes dos
particulares, quando falamos das embarcações, o interior das mesmas buscava
atender os ocupantes com conforto, aproveitando o espaço da melhor forma
possível para oferecer ambientes generosos dentro dos limites impostos pela
forma do barco.
Já os transportes comerciais buscam atender às necessidades básicas dos
passageiros com conforto e praticidade no menor espaço possível, uma vez que
quanto menor o espaço ocupado por um passageiro, maior a capacidade de
transporte do veículo e consequentemente maior é a arrecadação com as
passagens.
65
2.6.3 Indústria Aeronáutica – Habitáculo de Primeira Classe
Os primeiros vôos comerciais foram feitos nos Estados Unidos no início da
Primeira Guerra Mundial. No período entre guerras a aviação comercial se
desenvolveu bastante, principalmente no que diz respeito ao desenho das
aeronaves e sua segurança.
Desde então a indústria da aviação civil vivenciou um forte crescimento a
cada ano, oferecendo transporte rápido, seguro, confortável e cada vez mais
acessível financeiramente.
A aviação comercial segue alguns princípios que guiam o desenvolvimento
das suas tecnologias. Os principais objetivos são: oferecer o maior número
possível de assentos com um mínimo de conforto e dispor de uma grande
quantidade de recursos acoplados aos assentos para aumentar o conforto do
passageiro e diminuir a sensação de clausura das longas viagens internacionais,
sempre levando em consideração o peso que cada elemento desses vai adicionar
a aeronave.
Dentro dessa estratégia extremamente prática ainda cabem a adição de
alguns luxos nos assentos de primeira classe para atrair clientes mais
endinheirados. A constante busca pela superação da concorrência criou espaços
ricos em recursos, em equipamentos e altamente informatizados.
Imagem 49 - Habitáculo de primeira classe da Japan Airlines
66
A companhia aérea Japan Airlines oferece aos seus passageiros
habitáculos com inúmeras possibilidades de configurações espaciais, a espaçosa
poltrona reclinável se transformar em uma mesa de trabalho ou de jantar em
questão de segundos, basta deslizá-la de sua posição original para o colo do
passageiro.
No momento de dormir o passageiro pode desfrutar de uma verdadeira
cama, diferente dos assentos reclináveis das classes inferiores, esse fica
totalmente horizontal. O ambiente ainda tem divisórias móveis que
complementam a privacidade do passageiro.
Esses assentos também dispõem de recursos eletrônicos como luz
direcionável, fones de ouvido sem fios, rádio e televisão. Para que os objetos
pessoais do passageiro fiquem sempre ao seu alcance há um compartimento
para bagagem de mão, um revisteiro e um pequeno porta-objetos.
Todos os recursos eletrônicos e ajustes da poltrona podem ser facilmente
configurados e acionados por um painel de comando localizado ao lado do braço
das cadeiras.
Imagem 50 - Mesa retrátil; Painel de comandos; Tomada; Conexões de rede e USB
O habitáculo de primeira classe da companhia United Airlines oferece um
espaço mais informatizado se comparado ao anterior. Além da luz, fone de
ouvido, rádio, televisão e painel de comando, estão à disposição do passageiro,
conexões de internet, USB, fonte de energia e um controle remoto para os
equipamentos eletrônicos.
Alguns de seus recursos espaciais estão dispostos em locais diferentes,
mas tem suas funções preservadas. A mesa fica embutida na lateral do assento e
o revisteiro está localizado logo ao lado dela.
67
A indústria aeronáutica tem os espaços mais avançados quando se fala em
tecnologia e design. Além de ser um segmento ainda em pleno desenvolvimento e
crescimento, recebe o que há de mais novo em materiais e equipamentos
eletrônicos. Os fornecedores desses recursos têm grande interesse comercial em
alimentar as companhias aéreas com essas novidades.
A tendência é, portanto, a continuidade desse desenvolvimento, com
habitáculos cada vez mais informatizados e transformáveis que permitem várias
configurações espaciais e usos diferentes em um mesmo local.
Imagem 51 - Assento de primeira classe da United Airlines em diversas posições
68
3. Análise Comparativa
A primeira análise consiste em uma comparação direta entre a área total
da unidade e sua capacidade, as unidades que podem ser abertas e expandidas
foram consideradas na sua configuração inicial, fechadas. Muitas vezes quando
abertas se integram ao ambiente externo não sendo mais possível definir seus
limites.
As capacidades foram definidas pelo número de leitos disponíveis na
unidade. No caso das residências japonesas os leitos não são elementos fixos,
são simplesmente futons dispostos diretamente sobre o tatami no momento de
dormir. Porém a capacidade de cada residência é fornecida na descrição da
habitação, sendo essa a capacidade considerada, por mais que seja possível
imaginar uma ocupação muito maior devido à área disponível sem uso definido.
O uso original de cada exemplo também é considerado, já que cada uso
traz consigo algumas características em comum. As residências reúnem em seus
interiores todas as instalações necessárias para o desempenho das atividades
básicas relacionadas ao habitar.
Tabela 1 - Comparativo ente área total, capacidades e ambientes
69
Gráfico 2 - Área disponível por ocupante
70
Gráfico 3 - Área disponível por cômodo
71
Os exemplos destinados originalmente para hospedagem consideram que
parte das atividades se desenvolva fora da unidade. A Torre Nakagin, por
exemplo, não contém espaços e equipamentos destinados ao preparo de
alimentos, pressupondo a existência de um serviço externo para essa atividade
ou refeições feitas na cidade. Já o hotel cápsula em Asakusa suprime até os
equipamentos sanitários do espaço privado do hóspede disponibilizando
banheiros comuns.
Os transportes mesclam as duas características de acordo com o tempo de
permanência do passageiro em seu assento, cabine ou habitáculo. Os aviões são
os exemplos que tem menor tempo de viagem, contam com uma estrutura de
serviços para atender às necessidades dos passageiros e banheiros comuns
equipados apenas com vaso e lavatório.
As viagens feitas nos trens do African Luxury Train Safari são mais longas,
podendo durar até 14 dias segundo os itinerários fornecidos em seu site, por isso
o espaço privado dos passageiros é mais generoso e contam também com
banheiro privativo completo. As refeições geralmente são feitas fora das cabines,
nos vagões restaurante, mas podem também ser solicitadas ao serviço de quarto
a qualquer hora do dia.
As embarcações analisadas são as tipologias mais parecidas com as
habitações, elas contêm toda estrutura necessária para o desempenho das
atividades básicas do habitar em um espaço reduzido e definido pelas formas de
cada embarcação. É possível inclusive morar permanentemente nelas.
A área total das unidades de cada categoria de uso cresce de acordo com
a disponibilidade de infra-estrutura, assim como a área disponível por ocupante e
área média por ambiente. Nos casos analisados o número de ocupantes cresce
juntamente com a área total da habitação, assim como o número de divisões da
unidade.
Os transportes e hotéis contam geralmente com algum apoio externo a
unidade para algumas das tarefas cotidianas, pressupondo uma permanência
mais breve em seus ambientes, por esse motivo a área por ambiente nesses
exemplos está sempre abaixo dos 10,00m2, já as habitações tem ambientes
maiores para permanências mais longas.
72
O segundo ponto de análise foi a proporção entre as áreas de uso único,
múltiplo e áreas multiuso dentro de cada unidade. Pode parecer um pouco
redundante a diferenciação entre áreas de uso múltiplo e áreas multiuso, mas
para esse estudo foram consideradas áreas de uso múltiplo aquelas que têm
funções definidas e imutáveis, sendo inflexíveis em sua forma, mas permitindo o
desempenho de diversas funções em seu interior.
São consideradas áreas multiuso aquelas sem função definida, podendo
ser montadas e remontadas de inúmeras maneiras diferentes, de acordo com a
necessidade do usuário naquele momento. Finalmente as áreas de uso único são
aquelas inflexíveis, com uso definido e imutável.
Para esse levantamento foram consideradas apenas as áreas internas das
unidades e excluídas as áreas de circulação vertical e horizontal.
Tabela 2 - Proporção entre áreas de uso único, múltiplo e multiuso nas unidades
73
Habitação Tradicional Japonesa
As habitações tradicionais japonesas apresentam uma característica em
comum. A maior parte da sua área interna é destinada a espaços multiuso, os
ambientes de uso único são apenas os banheiros e a cozinha. Os outros
cômodos da habitação são espaços fechados pelas divisórias móveis tradicionais,
cobertos por tatamis e livres de mobília.
Imagem 52 - Proporção entre áreas e usos: Minka
Os banheiros e sanitários têm dimensões parecidas, independente do
tamanho da habitação. Como a maioria das habitações analisadas tem apenas
um conjunto de equipamentos sanitários, quanto maior a área da unidade, maior é
a área de espaços multiuso.
Imagem 53 - Proporção entre áreas e usos: Ebisuya-cho
74
A única tipologia que se difere das demais é a Izumiya-cho. Essa unidade
tem duas características únicas que alteram os padrões dos dados no gráfico. A
presença de uma sala em estilo ocidental restringe as possibilidades de uso
desse ambiente, que pressupõe o uso de mobiliário também ocidental, com a
característica de ter posições mais definidas no espaço, impossibilitando a
frequente modificação da sua configuração.
Imagem 54 - Proporção entre áreas e usos: Izumiya-cho
Por esse motivo o cômodo foi considerado de uso múltiplo, pois pode ser
arranjado para uma ou várias tarefas simultâneas, porém, uma vez definido seu(s)
uso(s) não é possível modificá-lo(s) com facilidade.
Imagem 55 - Proporção entre áreas e usos: Ishifundono-cho
A segunda característica particular dessa habitação é a presença de dois
conjuntos sanitários em seu interior. Essas duas individualidades fazem com que
haja um equilíbrio entre a porcentagem de áreas de uso único e multiuso nessa
unidade.
75
Células Habitacionais
Imagem 56 - Proporção entre áreas e usos: Casa Cápsula
Na sequência dos projetos analisados estão as células habitacionais.
Todas elas apresentam características diferentes, evidenciadas nas proporções
entre suas áreas. A Casa Cápsula do Archigram previa 88% de área multiuso com
suas paredes clip-on, que permitiam a definição de diversos usos em um mesmo
espaço de acordo com os equipamentos que se acoplariam a ela. Porém na Torre
Nakagin – projeto considerado a materialização dos conceitos ensaiados pelos
metabolistas – esse recurso foi substituído por uma parede onde os
equipamentos eram fixos, talvez devido a indisponibilidade de tecnologia a um
preço acessível, as funções do espaço foram definidas. Por mais diversas que
elas sejam, não é possível modificá-las, transformando esse cômodo em uma
área de uso múltiplo.
Imagem 57 - Proporção entre áreas e usos: Casa Cápsula
76
Em ambos os casos o conjunto sanitário ocupa quase a mesma
porcentagem de área, demonstrando uma proporcionalidade com o tamanho da
unidade.
O Hotel Cápsula em Asakusa apresenta diferenças principalmente por ser
um local de hospedagem, que conta com banheiros e restaurantes comuns para
os hóspedes, que por sua vez, ficam nas unidades apenas para dormir. Por esse
motivo não existem áreas de uso único em seu interior, seu espaço interno pode
ser considerado apenas de uso múltiplo.
Guifú Apartments
Nos apartamentos desse conjunto habitacional é interessante notar como
algumas características das machiyas tradicionais ainda estão presentes. Mesmo
após dois séculos de desenvolvimento e influências ocidentais na arquitetura
japonesa, estão presentes em todas as unidades desse conjunto as tradicionais
salas de tatami, preservando sua característica mais marcante, a
multifuncionalidade.
O conjunto sanitário também traz sua configuração das habitações
tradicionais, com acessos e usos independentes, ocupando a mesma proporção
espacial em relação à área total da unidade.
Imagem 58 - Proporção entre áreas e usos: Guifú Apartments
77
O surgimento de uma grande área de uso múltiplo nessa tipologia ocorreu
devido à modificação de uma área tradicionalmente de uso único, a cozinha. A
fusão do espaço de preparo com a área de consumo de alimentos deu origem ao
ambiente chamado no Japão de dinning-kitchen (DK), hoje amplamente utilizado
nas habitações japonesas.
Mesmo tendo seu uso indicado pelo nome, os dormitórios desse projeto
foram considerados como áreas multiuso. A possibilidade de independência
desse ambiente permite que ele assuma outras funções dentro da habitação,
inclusive como uma unidade independente para sublocação como citado
anteriormente.
Habitações Transformáveis
Como o próprio nome já sugere essas tipologias têm espaços
extremamente maleáveis, possibilitando a sua total transformação para o
desempenho de diversas funções em seu interior. Essa característica é válida
para as duas tipologias térreas (Casas Praça 01 e 03), que apesar da grande
diferença de áreas entre elas, apresentam recursos semelhantes para
transformação do espaço. Ambas são formadas por um amplo espaço livre e um
núcleo compartimentado que abriga o conjunto sanitário e o mobiliário
escamoteável. Na Casa Praça 01 essa estrutura pode se deslocar no sentido da
parede lateral da habitação, enquanto na Casa Praça 03 ela é fixa e central.
Imagem 59 - Proporção entre áreas e usos: Casa Praça 01
78
Imagem 60 - Proporção entre áreas e usos: Casa Praça 02
A Casa Praça 02 se difere das demais em diversos aspectos. Em primeiro
lugar a habitação é organizada em dois pavimentos, dividindo a unidade em
espaços mais íntimos no andar superior, e áreas sociais no térreo. Devido essa
divisão os ambientes não precisam se transformar totalmente, no térreo, por
exemplo, a sala e a cozinha não perdem suas características e continuam sendo
sala e cozinha com outras configurações espaciais que permitem a recepção de
convidados e visitas, sendo caracterizados como um espaço social de uso
múltiplo. O andar superior pode assumir a forma de um dormitório ou de um
escritório, ambos os usos são de maior reclusão e intimidade.
Imagem 61 - Proporção entre áreas e usos: Casa Praça 03
79
Max Haus
Os apartamentos do empreendimento Max Haus não são possíveis de
analisar quanto aos usos de cada espaço, uma vez que eles só serão definidos
após a ocupação da unidade.
Nesse caso as áreas foram consideradas da maneira que são entregues
ao comprador, classificadas de acordo com os usos e funções que cada espaço
pode abrigar.
O conjunto sanitário é fixo e de uso único, a unidade é entregue
originalmente com esse espaço já definido. A cozinha também tem sua
localização fixa no apartamento básico de 70m2. É possível apenas personalizar o
tamanho e a posição da bancada a ser instalada antes da entrega do
apartamento. Esse ambiente foi considerado de uso múltiplo, pois pode ser um
local exclusivo para preparo de refeições, ou de acordo com as necessidades de
cada morador, ser também um local de consumo dos alimentos.
O restante da unidade é composto por uma grande área multiuso, podendo
assumir formas e funções diversas, de acordo com a necessidade de cada
proprietário, inclusive sua varanda que em algumas sugestões é um pequeno
jardim e em outras um escritório.
Imagem 62 - Proporção entre áreas e usos: Max Haus
80
Indústrias naval, ferroviária e aeronáutica
De uma forma geral os barcos têm espaços mais rígidos que o restante
dos exemplos analisados. Nenhuma das embarcações apresentadas tem áreas
multiuso, e apesar de apresentarem algumas diferenças de área e configuração
entre si, são organizadas de forma similar.
Imagem 63 - Proporção entre áreas e usos: Aurora
Os espaços íntimos de descanso e os banheiros estão de alguma forma,
separados dos ambientes de uso social. Nos barcos Aurora e Phantom essa
divisão é feita em decorrência dos diferentes níveis. Os dormitórios se localizam
no nível inferior e os espaços de convívio ficam no convés da embarcação. O
Catamaran Lagoon tem seus quatro dormitórios localizados nos cascos da
embarcação, separados pela área de convívio social.
Imagem 64 - Proporção entre áreas e usos: Phantom
81
A área de uso comum contém os mesmos elementos em todos os
exemplos analisados. É basicamente um espaço que abriga simultaneamente
uma cozinha, uma mesa para refeições e uma sala.
Imagem 65 - Proporção entre áreas e usos: Caramaran Lagoon 440
Apesar de serem meios de transportes, as embarcações analisadas
contém a estrutura completa de uma habitação, sem a necessidade de infra-
estrutura externa para execução de algumas atividades, como nos exemplos a
seguir.
As suítes do trem Pride of Africa tem uma configuração bastante rígida
também. A única que permite algum tipo de transformação espacial é a Pullman
Suite, que pode ter sua(s) cama(s) transformada(s) em um sofá durante o dia. Por
esse motivo é a única que apresenta uma porcentagem de espaço multiuso no
gráfico.
Imagem 66 - Proporção entre áreas e usos: African Luxury Train Safari
Nas outras suítes esse espaço é substituído por uma área de uso múltiplo
que abriga diversas funções, mas não pode ser reconfigurado durante a viagem.
Nos assentos de primeira classe não se observa nenhuma rigidez espacial.
O habitáculo pode ser totalmente modificado, assumindo diversas configurações e
abrigando muitas funções diferentes.
82
Para isso contam com uma combinação de recursos mecânicos e
eletrônicos para configurar o assento na posição desejada, montar a mesa para
refeições ou trabalho, assistir televisão, escutar música ou ler um livro.
A premissa desses habitáculos é que o passageiro não precise deixar seu
assento para nada durante a viagem, a não ser para utilizar o banheiro. Para isso
contam com uma grande estrutura externa de serviços.
Entre os meios de transporte analisados, os assentos de primeira classe
são os exemplos que mais se distanciam do uso habitacional, devido
principalmente a sua dependência em relação às estruturas de apoio e a falta de
privacidade, mas ao mesmo tempo é o espaço mais informatizado, que abriga o
maior número de recursos para transformação espacial.
83
4. Considerações Finais
No decorrer da dissertação foram apresentados exemplos de espaços
“soft”, alguns mais restritivos e outros mais flexíveis em relação aos usos
possíveis em seu interior. Cada um deles apresenta alguma característica ou
solução espacial que visa minimizar os conflitos entre forma e função.
As habitações tradicionais japonesas são extremamente flexíveis. Os
ambientes separados por divisórias, leves e deslocáveis, são na maioria espaços
multiuso, mobiliados de acordo com seu uso em um determinado momento.
Esses espaços contestam a maneira que costumamos nos relacionar com os
ambientes de uma habitação. Quando uma determinada atividade termina, muitas
vezes é necessário ir para outro ambiente preparado para abrigar a próxima
atividade.
Espaços sem divisões fixas e com funções indefinidas são, portanto
duplamente flexíveis, ou seja, permitem a modificação de sua forma e função.
Os conjuntos sanitários das habitações tradicionais japonesas apresentam
uma característica marcante que pode ser observada em outros exemplos
analisados posteriormente. O vaso sanitário, o lavatório e o local para banhos são
separados, com acessos e usos independentes. Essa separação além de permitir
o uso simultâneo desses ambientes também tem um caráter higienista, pois evita
o contato de atividades de limpeza com as necessidades fisiológicas dos
moradores.
Em seguida foram apresentados exemplos de células habitacionais. É
possível identificar nessas unidades a utilização de alguns recursos em comum
para um melhor aproveitamento do espaço. Todas elas têm ao menos uma
parede destinada a equipamentos eletrônicos. Na Casa Cápsula do grupo
Archigram ela é chamada de parede plug-in, por ser um projeto conceitual, o nível
de sofisticação e desenvolvimento tecnológico necessário para sua execução é
muito maior do que o disponível na época de sua concepção.
Com relação a torre Nakagin essa parede, onde são conectados os
equipamentos, foi substituída por um móvel fixo no qual estão embutidos os
aparelhos eletrônicos mais modernos da época. Essa simples mudança cria
algumas restrições no espaço, que não pode ser definido pelo usuário, mas ainda
pode ser utilizado de diversas maneiras.
84
As duas primeiras cápsulas analisadas contam com um pequeno conjunto
sanitário em seu interior, porém por serem dimensionadas para abrigar no
máximo duas pessoas e disporem de uma área tão reduzida, não seguem a
tendência dos conjuntos sanitários das casas tradicionais japonesas, e
concentram em um único espaço todas as funções sanitárias e de higiene.
Apesar de ser utilizado como hospedagem, o hotel cápsula em Asakusa
apresenta características similares aos exemplos anteriores. Na lateral da
unidade se encontra uma versão reduzida da parede onde são fixados os
equipamentos eletrônicos na torre Nakagin, nela estão apenas um rádio relógio e
os controles da televisão que por sua vez está instalada no teto da unidade.
Posteriormente uma das tipologias do conjunto habitacional em Guifú é
analisada. É interessante notar como recursos presentes nas habitações
tradicionais japonesas foram utilizados nesse exemplo contemporâneo.
Os ambientes não são mais separados por divisórias móveis, mas na
maioria dos cômodos do apartamento eles são multiuso. O conjunto sanitário
também segue os padrões das machiyas tradicionais, e tem usos e acessos
independentes.
A maior diferença identificada entre os apartamentos em Guifú e as
machiyas é a independência dos ambientes. Todos podem ser acessados
diretamente pelo corredor externo de circulação, sem a necessidade de entrar na
unidade.
O projeto vencedor do concurso “Morar na Metrópole” mescla a
flexibilidade das habitações tradicionais japonesas com áreas reduzidas e
espaços tecnologicamente desenvolvidos.
As tipologias consistem basicamente em espaços livres que podem ser
configurados por elementos retráteis ou móveis deslocáveis, se assemelhando
muito aos ambientes das machiyas, pois têm suas formas e funções indefinidas.
Todas as unidades apresentam o conjunto sanitário com acessos e usos
independentes.
Já o empreendimento Max Haus é flexível, pois deixa que as funções e
divisões da sua área interna sejam definidas pelo morador, mas isso não significa
que sua ocupação será feita com recursos que permitam a modificação dos
ambientes sempre que necessário. Mesmo assim esse apartamento tende a
85
minimizar os conflitos entre forma e função, pois permite que o proprietário
organize o espaço de acordo com suas necessidades, ao contrário do que ocorre
com a compra de um apartamento com sala, cozinha dois dormitórios e uma
suíte. Nesse caso, ou o morador se adapta ao espaço ou precisa submeter o
imóvel a uma grande reforma antes de se mudar.
As embarcações por sua vez, lidam com a escassez de espaço de uma
maneira diferente. No lugar de áreas flexíveis e peças móveis, o mobiliário é
reduzido e o espaço habitável é dividido entre as áreas íntimas e sociais. Em
geral as áreas íntimas são de uso único e as áreas sociais compostas por um
único espaço onde ocorrem diversas atividades.
Essa rigidez espacial se deve a constante movimentação das unidades,
tornando impossível o uso de mobiliários facilmente deslocáveis ou peças móveis.
As cabines do trem Pride of Africa contam com o apoio externo para as
refeições, dessa forma conseguem manter o mobiliário nas dimensões padrões
mesmo com áreas tão reduzidas. Apenas a suíte Pullman recebe um recurso que
permite a multifuncionalidade do espaço. Essa cabine pode ser modificada para
ser tanto um dormitório, quanto uma sala de estar.
Os últimos exemplos analisados são os habitáculos de primeira classe de
aviões comercias. Sem dúvida são os exemplos mais adaptáveis e informatizados
dentre todos os analisados, mas ao mesmo tempo os que menos se adéquam as
atividades básicas do habitar.
Com um simples toque no botão é possível modificar radicalmente a
configuração do assento e adaptá-lo para atividades diferentes. Esse tipo de
controle tem um grande potencial para uso doméstico, e hoje já é utilizado para
controlar várias funções de uma habitação. Assim como a parede plug-in da Casa
Cápsula, as funções vão se acoplando a essa central de comando. Hoje já é
possível controlar a iluminação da habitação; a abertura de janelas e persianas; a
temperatura do ar-condicionado; a irrigação do jardim; e até programar banhos de
banheira pelo telefone celular.
Como pôde ser observado no decorrer da dissertação, há uma grande
quantidade de recursos já disponíveis para melhorar os espaços habitacionais.
Oferecendo assim um leque de possibilidades para atender às preocupações
inicias dessa pesquisa, a melhor adequação dos espaços habitacionais à grande
86
diversidade de usos e usuários, com suas particularidades e características
culturais. A sabedoria tradicional japonesa, por exemplo, pode ser amplamente
aplicada em habitações contemporâneas, como visto no caso do conjunto
habitacional em Guifú.
De alguma forma os conceitos presentes nos exemplos analisados podem
ser utilizados para melhorar as áreas habitacionais, porém é importante observar
as necessidades de cada espaço e de cada usuário antes de saturar o ambiente
com recursos superficiais que visam apenas valorizar a vendas dos imóveis.
Muitas vezes os espaços mais simples, são os mais adaptáveis.
Apenas identificar o problema e elaborar soluções para minimizá-los não é
o suficiente. Para superar as tipologias impostas pelo mercado imobiliário,
primeiramente é necessário reconhecer as deficiências dessas unidades e em
seguida exigir espaços mais adequados ao cidadão e à metrópole
contemporânea. Se o mercado entender que esta nova tipologia tem também um
bom retorno financeiro, consequentemente as construtoras e incorporadoras
investirão no desenvolvimento dessas idéias e finalmente haverá a melhora no
espaço habitacional produzido.
87
5. Lista de Figuras
Imagem 01 - Habitação paleolítica, Fonte: BENEVOLO, Leonardo; História da
Cidade; 3ª Edição; Ed. Perspectivas; São Paulo; 2003 (pág. 14)
Imagem 02 - Os bairros pobres de Londres, Fonte: BENEVOLO, Leonardo;
História da Cidade; 3ª Edição; Ed. Perspectivas; São Paulo; 2003 (pág. 560)
Imagem 03 - Cidade Medieval, Fonte: BENEVOLO, Leonardo; História da Cidade;
3ª Edição; Ed. Perspectivas; São Paulo; 2003 (págs. 255 e 269)
Imagem 04 - Decoração de uma sala de estar, Fonte: BENEVOLO, Leonardo;
História da Cidade; 3ª Edição; Ed. Perspectivas; São Paulo; 2003 (pág. 598)
Imagem 05 - Montagem comparativa, Fonte: http://mrv.com.br (acessado em
19/06/2009)
Imagem 06 - Habitação Primitiva Japonesa, Fonte: KARPOUZAS, Helena; A
Casa Moderna Ocidental e o Japão; Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal do Rio Grande de Sul, 2003 (pág. 21)
Imagem 07 - Minka, habitação tradicional rural japonesa, Fonte:
http://paulstravelpics.blogspot.com/2008/11/photographers-paradise-of-
shirakawago.html (acessado em 06/11/2009)
Imagem 08 - Braseiro em um hiroma de uma minka, Fonte:
http://blog.ounodesign.com/tag/japan/ (acessado em 06/11/2009)
Imagem 09 - Planta da minka analisada, Fonte: Elaborada pelo autor com base
na planta disponível em http://www.minka-intl.com/servs.html (acessado em
06/11/2009)
Imagem 10 - Jardim de uma Machiya, Fonte: www.kyoto-okoshiyasu.com
(acessado em 06/11/2009)
88
Imagem 11 - Porta de acesso à machiya Ebisuya-cho, Fonte: www.kyoto-
okoshiyasu.com (acessado em 06/11/2009)
Imagem 12 - Planta da machiya Ebisuya-cho, Fonte: Elaborada pelo autor com
base na planta disponível em www.kyoto-okoshiyasu.com (acessado em
06/11/2009)
Imagem 13 - Planta da machiya Izumiya-cho, Fonte: Elaborada pelo autor com
base na planta disponível em www.kyoto-okoshiyasu.com (acessado em
06/11/2009)
Imagem 14 - Rio Kamogawa visto do tokonoma, Fonte: www.kyoto-
okoshiyasu.com (acessado em 06/11/2009)
Imagem 15 - Planta da machiya Ishifundono-cho, Fonte: Elaborada pelo autor
com base na planta disponível em www.kyoto-okoshiyasu.com (acessado em
06/11/2009)
Imagem 16 - Sala de tatami no pavimento superior,Fonte: www.kyoto-
okoshiyasu.com (acessado em 06/11/2009)
Imagem 17 - Célula animal, Fonte: www.professorpaulinho.com.br/ (acessado em
17/12/2009)
Imagem 18 - Esquema de montagem do pavimento tipo e da casa cápsula, Fonte:
COOK, Peter; Archigram; New York: Princeton Architectural Press, 1999 (pág. 44)
Imagem 19 - Planta da casa cápsula, Fonte: Elaborada pelo autor com base na
planta disponível em
http://www.archigram.net/projects_pages/capsule_homes.html (acessado em
19/06/2009)
89
Imagem 20 - Torre Nakagin, Fonte:
http://aminus3.s3.amazonaws.com/image/g0002/u00001194/i00067029/49993295
be568532fff3dc01a5dbe64f_large.jpg (acessado em 19/06/2009)
Imagem 21 - Perspectiva isométrica da unidade, Fonte:
http://www.lewism.org/wp-content/uploads/2007/05/iso.jpg (acessado em
19/06/2009)
Imagem 22 - Foto interna da unidade, Fonte: http://www.gizmodo.fr/wp-
content/uploads/2008/12/nakagin03.jpg (acessado em 19/06/2009)
Imagem 23 - Foto interna do hotel, Fonte:
http://www.yesicanusechopsticks.com/thesequel/capsule/IMG_2752_small.JPG
(acessado em 19/06/2009)
Imagem 24 - "Raio X" da unidade, Fonte: Elaborado pelo autor a partir das fotos e
descrições encontradas na pesquisa
Imagem 25 - Foto externa do edifício, Fonte:
http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Kitagata_Sejima/wm_s
ejima05.JPG (acessado em 19/06/2009)
Imagem 26 - Esquema de composição da fachada, Fonte:
http://3.bp.blogspot.com/_Yq9yt4IMtNQ/R0nx-
Ovr2vI/AAAAAAAAAIQ/xOpTmViYMtI/s1600-h/neighbors1+copy.jpg (acessado
em 19/06/2009)
Imagem 27 - Planta da tipologia analisada, Fonte: Elaborada pelo autor com base
na planta disponível em
http://www.cse.polyu.edu.hk/~cecspoon/lwbt/Case_Studies/Kitagata_Sejima/wm_s
ejima15-stdfloorplan.JPG (acessado em 19/06/2009)
90
Imagem 28 - Triple Thrill, entretenimeto doméstico, Fonte:
http://www.gadgetspage.com e Samsung Luxia LED TV, Fonte:
http://www.techpluto.com/top-five-ces-2009-gadgets/ (acessado em 19/06/2009)
Imagem 29 - Corte geral do projeto, Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst108/inst108.asp (acessado em
24/09/2009)
Imagem 30 - Casa Praça 01: Sequência de abertura e plantas, Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst108/inst108.asp (acessado em
24/09/2009)
Imagem 31 - Casa Praça 02: Sequência de abertura e plantas, Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst108/inst108.asp (acessado em
24/09/2009)
Imagem 32 - Casa Praça 03: Sequência de abertura e plantas, Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst108/inst108.asp (acessado em
24/09/2009)
Imagem 33 - Exemplo de unidade com 70m2, Fonte: www.maxhaus.com.br
(acessado em 05/08/2009)
Imagem 34 - Exemplo de unidade com 140m2, Fonte: www.maxhaus.com.br
(acessado em 05/08/2009)
Imagem 35 - Exemplo de unidade com 210m2, Fonte: www.maxhaus.com.br
(acessado em 05/08/2009)
Imagem 36 - Exemplo de unidade com 280m2, Fonte: www.maxhaus.com.br
(acessado em 05/08/2009)
91
Imagem 37 - Mapa de Rotas Aéreas, Fonte:
http://img521.imageshack.us/img521/6384/taminternacionalrd7.jpg (acessado em
17/12/2009)
Imagem 38 - Caravela do séc. XV e Transatlântico do séc. XXI, Fonte:
http://historiaeatualidade.blogspot.com/2008/09/o-tempo-da-poltica.html e
http://dilmaturismo.com.br/loja/images/navio1vq3.jpg (acessado em 17/12/2009)
Imagem 39 - Aurora 40pés: Vista Lateral, Fonte: www.cmdboats.com_aurora.htm
(acessado em 19/06/2009)
Imagem 40 - Aurora 40pés: Plantas, Fonte: Elaborada pelo autor com base nas
plantas disponíveis em www.cmdboats.com_aurora.htm (acessado em
19/06/2009)
Imagem 41 - Phantom: Plantas, Fonte: Elaborado pelo autor com base nas
plantas disponíveis em www.promarine-yachting.com (acessado em 19/06/2009)
Imagem 42 - Catamaran Lagoon 440, Fonte: http://www.windward-
islands.net/bareboat/boat-us.php?ID=572 (acessado em 19/06/2009)
Imagem 43 - Catamran Lagoon 440: Plantas, Fonte: Elaborada pelo autor com
base nas plantas disponíveis em www.boatingturkey.net (acessado em
19/06/2009)
Imagem 44 - Trem de alta velocidade europeu, Fonte: http://zull.org/dont/HO/
(acessado em 19/06/2009)
Imagem 45 - Rotas do African Luxury Train Safari, Fonte: http://www.african-
luxury-train-safaris.com/ (acessado em 19/06/2009)
Imagem 46 - Configurações da Pullman Suite, Fonte: http://www.african-luxury-
train-safaris.com/ (acessado em 19/06/2009)
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Imagem 47 - Configurações da Deluxe Suite, Fonte: http://www.african-luxury-
train-safaris.com/ (acessado em 19/06/2009)
Imagem 48 - Royal Suite, Fonte: http://www.african-luxury-train-safaris.com/
(acessado em 19/06/2009)
Imagem 49 - Habitáculo de primeira classe da Japan Airlines, Fonte:
http://www.etravelblackboardasia.com/images/etc/2008/53627/New%20FCYP%20
on%20US%20Routes_img_0.jpg (acessado em 19/06/2009)
Imagem 50 - Mesa retrátil; Painel de comandos; Tomada; Conexões de rede e
USB, Fonte: http://www.suitedreams.united.com/ (acessado em 19/06/2009)
Imagem 51 - Assento de primeira classe da United Airlines em diversas posições,
Fonte: http://www.suitedreams.united.com/ (acessado em 19/06/2009)
Imagem 52 - Proporção de áreas: Minka, Fonte: O Autor
Imagem 53 - Proporção de áreas: Ebisuya-cho, Fonte: O Autor
Imagem 54 - Proporção de áreas: Izumiya-cho, Fonte: O Autor
Imagem 55 - Proporção de áreas: Ishifundono-cho, Fonte: O Autor
Imagem 56 - Proporção de áreas: Casa Cápsula, Fonte: O Autor
Imagem 57 - Proporção de áreas: Torre Nakagin, Fonte: O Autor
Imagem 58 - Proporção de áreas: Guifú Apartments, Fonte: O Autor
Imagem 59 - Proporção de áreas: Casa Praça 01, Fonte: O Autor
Imagem 60 - Proporção de áreas: Casa Praça 02, Fonte: O Autor
Imagem 61 - Proporção de áreas: Casa Praça 03, Fonte: O Autor
Imagem 62 - Proporção de áreas: Max Haus, Fonte: O Autor
Imagem 63 - Proporção de áreas: Aurora, Fonte: O Autor
Imagem 64 - Proporção de áreas: Phantom, Fonte: O Autor
93
Imagem 65 - Proporção de áreas: Catamaran Lagoon, Fonte: O Autor
Imagem 66 - Proporção de áreas: African Luxury Train Safari, Fonte: O Autor
Gráfico 01 - Histórico dos imóveis vendidos na cidade de São Paulo (1990-2007),
Fonte: Departamento de Economia do Secovi-SP
Gráfico 02 - Área disponível por ocupante, Fonte: O Autor
Gráfico 03 - Área disponível por cômodo, Fonte: O Autor
Tabela 01 - Comparativo entre área total, capacidades e ambientes, Fonte: O
Autor
Tabela 02 - Proporção entre áreas de uso único, multiplo e multiuso nas
unidades, Fonte: O Autor
94
6. Bibliografia
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nakagin.html - acessado em 19/09/2009
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