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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Psicologia O Jogo de Areia em terapia conjugal: uma proposta de intervenção Liliane A. P. P. de Carvalho São Paulo 1999 I

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Faculdade de Psicologia

O Jogo de Areia em terapia conjugal: uma proposta de intervenção

Liliane A. P. P. de Carvalho

São Paulo 1999

I

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Faculdade de Psicologia

O Jogo de Areia em terapia conjugal: uma proposta de intervenção

Liliane A. P. P. de Carvalho

Monografia apresentada ao Programa de Iniciação Científica -

(Trabalho de Graduação Interdisciplinar da Faculdade de Psicologia;

como parte dos requisitos para a obtenção do título de Psicólogo.

Orientador: Paulo Afrânio Sant’Anna

São Paulo 1999

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O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos,

Porque já não posso andar só.

Fernando Pessoa

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Agradecimentos Ao meu marido pelo carinho e inspiração. À Vania Assaly pelo estímulo. À Carolina Azevedo pelo incentivo. Ao meu orientador Paulo Afrânio Sant´Anna pela paciência. À professora Tania Aldrighi pelos ensinamentos. Aos integrantes do grupo de pesquisa de Jogo de Areia pelas descobertas. Aos colegas do estágio eletivo de Psicoterapia familiar e de casal pela cumplicidade. À equipe do DAMAC pelo apoio. À Universidade Presbiteriana Mackenzie pela oportunidade.

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Sumário

1 Introdução ...............................................................................................................01

2 Discussão teórica ....................................................................................................03 2.1 A relação conjugal 2.1.1 Dinâmica da relação conjugal: uma visão sistêmica e psicanalítica..............03 2.1.2 Fundamentos da aliança conjugal ....................................................................10 2.1.3 O relacionamento conjugal satisfatório............................................................12 2.2 Terapia conjugal 2.2.1 Breve histórico da terapia familiar e de casal ...................................................15 2.2.2 Panorama das abordagens em terapia conjugal...............................................21 2.2.3 Terapia conjugal com abordagem junguiana.....................................................24 2.2.4 Teoria da comunicação aplicada a terapia conjugal..........................................30 2.3 Jogo de Areia 2.3.1 Histórico do Jogo de Areia...................................................................................36 2.3.2 Fundamentos da técnica do Jogo de Areia..........................................................37 2.3.3 Fundamentos para o uso do Jogo de Areia em terapia com.j.gal......................43 2.3.3.1 O Jogo de Areia em terapia familiar.................................................................43 2.3.3.2 O Scenotest..........................................................................................................48 3 Metodologia 3.1 Sujeitos 3.1.1 Perfil........................................................................................................................52 3.1.2 Justificativa do perfil.............................................................................................52 3.1.3 Descrição dos sujeitos............................................................................................53 3.2 Instrumentos 3.2.1 Entrevista...............................................................................................................55 3.2.2 Caixa-de-areia........................................................................................................56 3.2.3 Genograma.............................................................................................................57

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3.3 Procedimentos..................................................................................................59 3.4 Proposta de análise de dados..........................................................................61

4 Discussão dos dados...........................................................................................62 4.1 Dados coletados 4.1.1 Dados relatados na entrevista e no genograma..........................................62 4.1.2 Transcrição da associação livre ..................................................................65 4.2 Análise dos dados coletados............................................................................68

5 Conclusão............................................................................................................73 Referências bibliográficas....................................................................................74 Anexos Anexo I Lista de miniaturas disponíveis............................................................78 Anexo II Representação icônica do genograma..................................................94 Anexo III Genograma de E..................................................................................96 Anexo IV Genograma de A...................................................................................97 Anexo V Fotografias................................................................................;;............98

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1 Introdução O casamento implica intimidade, em que um olhar ou um gesto assumem uma gama

infinita de variações e expressam diversos comunicados. A comunicação tem um importante

papel na dinâmica conjugal. O dito e o não–dito, circulam pela relação compondo o mito do

casal.

Um meio provável de avaliar o quão íntimos se é de alguém é mensurar o quanto

podemos compreender do outro através do olhar e dos gestos, o quanto podemos saber do não

- dito. Embora o diálogo cumpra um importante papel de integração do casal, não abrange

todos as aspectos da relação pois, como falar daquilo que eu mesmo desconheço em mim?

A intimidade vivenciada pelo casal pode ser comparada àquela vivida entre mãe e

bebê, contudo apresenta um traço diferencial: a escolha. Os parceiros firmam um pacto afetivo

através da mútua eleição e contínua ratificação, constituindo o vínculo conjugal, o qual se

caracteriza como uma relação diádica de natureza predominantemente subjetiva e especular.

A intimidade, por sua vez, não significa ausência de conflitos e, nesse âmbito, atua a

terapia conjugal: inserida no conjunto das terapias familiares, privilegia o vínculo conjugal,

visando tratar seus conflitos e suas disfunções.

O presente trabalho enfoca o aspecto não-verbal a partir de uma abordagem junguiana

sobre a terapia conjugal, que preceitua o casamento como uma via para o processo de

individuação. Além de expor os fundamentos teóricos sobre o tema, também apresenta um

estudo de caso para o qual elegeu-se um casal como sujeitos, que correspondia ao perfil

previamente delimitado(período de união entre um e sete anos, ausência de filhos, classe

sócio-econômica média e escolaridade de pelo menos ensino fundamental).

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O instrumento adotado para a expressão não-verbal das fantasias subjetivas foi o Jogo

de Areia que, por meio da construção de cenários em uma caixa com areia, utilizando-se de

miniaturas realistas e fantásticas, torna visível o mundo interno, concretizando-o em três

dimensões.

Com o intuito de verificar se tal instrumento em terapia conjugal viabiliza uma

interação não-verbal entre o casal e promove uma conscientização de aspectos desconhecidos

da relação, solicitou-se que os sujeitos construíssem juntos um cenário de areia, representando

o seu casamento. Depois realizou-se uma entrevista breve e aplicou-se o genograma com a

finalidade de obter dados pessoais e de suas famílias de origem.

Os dados obtidos foram analisados qualitativamente e observou-se que o revelar

simultâneo de certas imagens internas pode possibilitar ao casal uma percepção nova e

difrente sobre o relacionamento. Pôde ser observado que elementos significativos para o casal

foram simbolizados no cenário, sendo estes depois averiguados. O tema desenvolvido no

cenário foi “nossa casa”, sugerindo a ocorrência da simbolização de uma necessidade do casal

em possuir um lar, posteriormente confirmada na entrevista e no genograma. Também foi

possível avaliar a frágil comunicação existente entre o casal durante a montagem da cena,

construída separadamente e sem a interação de elementos.

Mesmo necessitando de aprofundamento, este estudo considera que o Jogo de Areia

pode contribuir para a terapia conjugal, pois promove novas percepções sobre a dinâmica do

casal. Os dados levantados não são conclusivos mas sugerem que este pode ser um

instrumento valioso para avaliação conjugal e como um recurso terapêutico em si, do mesmo

modo que o Scenotest é empregado atualmente.

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2 Discussão teórica 2.1 A relação conjugal 2.1.1 Dinâmica da relação conjugal: uma visão sistêmica e psicanalítica

Uma relação conjugal, como um composto químico, tem propriedades próprias únicas, além das características dos elementos que se fundem para formar o composto. Ela é uma entidade, nova e diferente, mas suas propriedades, embora únicas preservam uma relação dinâmica específica com os elementos que se ligaram para sua criação. Em outras palavras, os princípios psicológicos que governam o comportamento de um indivíduo e aqueles que governam o comportamento de uma relação não são os mesmos. (Ackerman, 1986, p.156).

O crescente número de divórcios na sociedade ocidental tem suscitado debates sobre a

falência do casamento e suas conseqüências sobre a instituição familiar, uma vez que o casal

é o seu pilar de sustentação. Muito se fala sobre as agruras do casamento e as dificuldades da

vida a dois. Também é comum associar-se pejorativamente a conjugalidade a situações

como “estar amarrado” ou “enforcado”, que evocam estados de aprisionamento e de asfixia, e

resultam em privação da liberdade individual e morte.

O lema “felizes para sempre”, desfecho triunfal dos contos de fadas, parece não se

aplicar à realidade rotineira da convivência conjugal, permeada por conflitos. Contudo,

observa-se que os indivíduos não deixam de se casar. Segundo Petrucelli (1994), o

comportamento de nupcialidade sofreu poucas alterações no Brasil nas últimas quatro décadas,

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embora tenham ocorrido mudanças em relação ao tipo de união e o modelo de organização

familiar.

Os valores e costumes contemporâneos modificaram o “para sempre” em “enquanto

dure”, o casamento já não é mais indissolúvel em vida. Além disso, a conquista do mercado de

trabalho pela mulher abriu novos caminhos para a realização feminina, antes concentrada

quase que exclusivamente no matrimônio.

Embora ainda pautado pela promessa de felicidade, o casamento é tão ambivalente

quanto qualquer relação humana, ou seja, é permeado por aspectos de satisfação e conflito.

Além disso, para Balint citado por Costa e Katz (1991), a união conjugal resulta do

encontro de duas pessoas que estão apenas parcialmente conscientes do que buscam e não são

plenamente capazes de expressar verbalmente o significado dessa busca.

As motivações que levam um indivíduo a se casar são variadas e envolvem fatores

sociais, culturais, biológicos e psicológicos. Kierkegaard (1994), filósofo dinamarquês do

século XIX e defensor do existencialismo cristão, expôs na obra “O matrimônio” quatro

causas motivadoras do casamento: a necessidade ética de eternizar a paixão; gerar filhos;

enobrecer o caráter e escapar à solidão.

Do ponto de vista de psicanálise, Miermont et al. (1994) destaca que a escolha do

cônjuge baseia-se na escolha de objeto, que é um ato psíquico de eleição de uma pessoa ou

tipo de pessoa como objeto de amor. A escolha pode se dar por modalidade narcisista ou pela

de escoramento.

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A escolha de objeto narcisista se dá a partir da relação do sujeito consigo mesmo.

Assim, o objeto de amor deve refletir uma parte de si mesmo ou aquilo que o sujeito é, foi ou

desejaria ser.

A escolha de objeto por escoramento se dá a partir da reprodução do modelo das

relações com os genitores e deve reproduzir de forma real ou fantasmagóricas os cuidados e

interdições vivenciados com as figuras parentais.

Também intervêm na escolha do cônjuge, segundo o autor já citado, a estrutura

transgeracional da família do parceiro, quer seja pela busca de isomorfismo, quer seja pela

busca de complementaridade ou reparação compensadora das falhas do sistema da família de

origem.

Nos primeiros momentos da escolha amorosa, predomina a idealização do parceiro

sem se levar em conta as imperfeições deste. Nessa fase, denominada por encontro, o desejo

inconsciente poderia ser definido por “quero ser feliz e o outro certamente vai me dar essa

felicidade; e eu certamente sou tudo o que o outro precisa para ser feliz.” (Benedito, 1996, p.

17).

Na fase do encontro, as diferenças individuais e as atitudes do outro que desagradam o

sujeito são ignoradas ou tidas como irrelevantes. Só importando o desejo de um pelo outro,

como se tudo parecesse estar imbuído de magia e fascínio.

Costa e Katz ( 1991 ) relacionam a busca do cônjuge à necessidade de satisfação

sexual, ao desejo de ser atendido e admirado, ao temor de envelhecer só e a aquisição de

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prestígio social e benefícios materiais. Além disso, pode revelar-se como uma defesa contra o

temor de concretização de fantasias homossexuais ou masturbatórias.

Pincus e Dare (1987) fundamentam o estudo conjugal em certos princípios gerais, que

norteiam o relacionamento. O primeiro e de mais relevante, é de que as motivações que levam

o indivíduo ao casamento, sustentam a sua perpetuação e proporcionam as suas características

peculiares são, em sua maioria, de natureza inconsciente.

A dinâmica do funcionamento mental inconsciente é caracterizada pelo uso de

dispositivos de autoproteção quanto aos anseios e frustrações, denominados mecanismos de

defesa. Um dos mecanismos presentes nas relações humanas de forma acentuada é a projeção,

através do qual sentimentos e idéias internas são atribuídos a outros sujeitos ou objetos

externos.

O segundo princípio refere-se ao contrato secreto do casamento, um acordo

inconsciente nunca dito ou escrito, que regulamenta uma reciprocidade e complementaridade

das necessidades, anseios e medos do casal.

O terceiro princípio é de que os anseios e medos inconscientes são oriundos

principalmente dos relacionamentos da infância, os quais determinam padrões repetitivos de

comportamento, derivados da forma de como as primeiras necessidades foram satisfeitas.

Segundo Costa e Katz (1991), é a qualidade dos vínculos criados no âmbito familiar na

primeira infância que irá configurar o padrão básico de relacionamento na vida adulta.

O último princípio refere-se a reedição do Complexo de Édipo infantil, quando a

criança reconhece que os pais formam um casal com um relacionamento intenso, do qual ela é

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excluída. As núpcias o fazem protagonista de uma situação, em que no passado era apenas

observador. A forma de evolução ou elaboração edípica durante a infância, repercute no

relacionamento adulto, principalmente em relação às fantasias sexuais.

Costa e Katz (1991) destacam que os indivíduos em que predominaram a inveja, o

egoísmo, o ciúme e a rivalidade na fase edípica, tendem a estabelecer relações conjugais com

muitos conflitos na vida adulta, repetindo o campo de batalha de suas lutas internas com as

figuras parentais. Este indivíduo terá dificuldade de se colocar no lugar do outro e de

respeitar a sua individualidade.

Já aqueles indivíduos em que predominaram sentimentos de reparação, tolerância,

gratidão e simpatia; tenderão a apresentar menos conflitos no casamento e maior respeito pela

individualidade do cônjuge.

Também destacam que para se desfrutar de uma sexualidade conjugal satisfatória

sexualmente, desejando o cônjuge e tendo este mobilizado os impulsos sexuais, a libido não

pode se encontrar enfraquecida pela repressão infantil. Tal fato costuma ocorrer quando a

pessoa mantém a libido fixada em uma das figuras parentais, geralmente a do sexo oposto.

O desejo por um dos pais gera maior temor de castração, de forma que o impulso é

reprimido de forma maciça e pode gerar privação de desejo sexual na vida adulta e

identificação com o objeto de desejo. A escolha do cônjuge poderá ser determinada pelo

desejo de substituição da figura parental, porém esse substituto não poderá ser desejado

sexualmente, pois traz consigo a ameaça de castração.

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Se a criança, contando com a ajuda de pais maduros, conseguir tolerar a sua exclusão

da relação sexual dos pais, na vida adulta, encontrará facilidade em dirigir seus impulsos

sexuais para fora de seu círculo familiar e estabelecer relações heterossexuais maduras.

Assim, pode-se concluir que a boa resolução da situação edípica é fundamental para

que as escolhas de objeto da infância sejam substituídas por outras atualizadas, embora estas

não deixem de ser uma tentativa de repetição das experiências vividas na infância.

O casamento configura uma relação diferenciada do ponto de vista da Teoria dos

Sistemas. É constituído por uma díade, sendo a única relação sistêmica que não tem base

biológica ou lógica, como a parental ou a profissional. O casal é auto-gerador do sistema,

fundamentando-se em uma escolha mútua e subjetiva que pode ser redefinida a qualquer

momento. O sistema diádico é essencialmente especular e tem sua interação modelada pela

reflexão mútua do comportamento dos parceiros.

O matrimônio é a primeira etapa do ciclo de vida familiar, constituindo a origem uma

nova família. Munhóz (1995) descreve a conjugalidade como o encontro de duas

individualidades com a intenção de desenvolver uma relação afetiva de intimidade e de

complemento sexual através da coexistência no ciclo de vida individual e familiar.

Whitaker (1995) define o casamento como um modelo adulto de intimidade

predominante em nossa cultura, regido por um sistema de normas específico. É uma relação de

compromisso institucionalizada, iniciada a partir de uma escolha mútua e com implicações de

continuidade temporal e projeto vital compartilhado.

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Para Satir (1995) o casamento é composto por três partes, dois indivíduos e uma

relação: eu, tu, nós. Uma relação sadia se desenvolve através do acolhimento simultâneo da

comunhão e das unicidades de cada parceiro.

Ackerman (1986) compara a relação conjugal com um composto químico, o qual tem

propriedades únicas, resultantes da fusão, e diferentes daquelas que caracterizavam os

elementos que lhe deram origem. O composto é uma entidade nova e diferente, mas suas

propriedades preservam uma relação dinâmica específica com os elementos que se ligaram

para sua criação.

Os princípios aplicados a psique individual de um dos cônjuges, não aplicam-se,

necessariamente, ao casal. Embora exista uma certa correspondência entre a dinâmica

individual e a conjugal, a relação do casal é única e por isso, regida por princípios próprios

que divergem da soma das partes.

O casamento representa uma escolha privilegiada de intercâmbio relacional com outro

indivíduo, originando uma história comum, em que o comportamento de um dos parceiros

afeta diretamente o outro. Assim, o bem-estar de um está condicionado ao outro.

Willi (1995) considera que o casamento não se limita ao vínculo interpessoal entre os

parceiros, pois implica em uma construção diádica da realidade que origina um ecossistema

de reciprocidade conjugal. O construto compartilhado do ambiente cotidiano exerce a função

de estabilizador da realidade, através da confirmação e validação contínua das percepções

pelos cônjuges.

Além de um mundo objetivo, o casal também compartilha uma organização subjetiva

que é determinante de escolhas e motivações inconscientes. Os parceiros realizam um

intercâmbio de sentimentos inconscientes que configura uma espécie de contrato secreto de

casamento, segundo Pincus e Dare. (1987).

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Caillé (1995) afirma que a conjugalidade se constrói através da confirmação recorrente

de dois níveis distintos: a percepção de uma ordem regente dos comportamentos - nível

fenomenológico; a conscientização dos significados atribuídos a relação – nível mítico.

2.1.2 Fundamentos da aliança conjugal

Conforme já foi exposto, um dos princípios que determinam a relação conjugal é o

contrato secreto do casamento, um pacto que serve de base para a formação da aliança do

casal.

O contrato, segundo Sager e Hirsch apud Miermont (1994), pode ser classificado em

três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente.

O contrato consciente contém os elementos discriminados pela consciência como os

motivos da escolha amorosa e podem ser nomeados “ eu gosto de ti por que és assim”. Esses

elementos vigentes podem conter idealizações ou representarem traços reais da personalidade

do parceiro.

O contrato pré-consciente esconde as metacomunicações não verbalizadas das

expectativas de mudar alguns traços parceiro. “ Eu gosto de ti assim, mas nem pense em fazer

isso quando casarmos”.

Geralmente o conflito conjugal relacionado às cláusulas pré-conscientes tem início

após um ano de casamento, quando as idealizações perdem terreno para a decepção pelo outro

não ser exatamente como foi idealizado.

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O contrato inconsciente, por sua vez, está ligado a um intercâmbio de sentimentos

inconscientes, muitas vezes, referentes a uma garantia de sobrevivência para cada um dos

cônjuges.

Segundo o autor já citado, a comunicação inconsciente entre os cônjuges exerce um

papel decisivo no casamento e tem antecedentes arcaicos na psique, pois segue o modelo da

primitiva relação não – verbal mãe – bebê.

Esse modelo de relação tem por característica a assimetria visto que, uma das partes, a

figura materna, sabe tudo sobre as necessidades do bebê, e por essa razão não precisa

manifestá-las verbalmente. Por outro lado, o bebê também espera ser prontamente atendido

pela mãe em todas as suas necessidades, projetando nela o poder de satisfação dos seus

próprios desejos.

Os conflitos relacionados a este contrato costumam surgir depois de sete anos de vida

em comum, se um dos parceiros romper o acordo em função de ter alcançado maior autonomia

emocional ou realização social. O nascimento de um filho também pode causar rupturas no

acordo inconsciente. Segundo Pincus e Dare (1987), esse contrato teria a seguinte forma:

Eu tentarei ser algumas das coisas mais importantes que você quer de mim,

ainda que algumas delas sejam impossíveis, contraditórias e loucas, desde que

você para seja mim algumas das coisas impossíveis , contraditórias e loucas

que eu quero que você seja. Não precisamos contar um ao outro o que estas

coisas são, mas ficaremos zangados, aborrecidos ou deprimidos se não

formos fiéis a isso. (p. 40).

Costa e Katz (1991) observam que os desajustes conjugais tem origem no rompimento

do contrato secreto. Se um dos cônjuges buscar restabelecer a relação em bases mais maduras

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gera uma situação de encruzilhada, pois o casal terá que modificar o contrato previamente

estabelecido ou modificar as cláusulas ou optar pela separação.

Os autores salientam que a base para o estabelecimento do contrato secreto é a

identificação projetiva. Esse mecanismo consiste na projeção de partes do ego e dos objetos

internos no objeto externo, que se torna possuído e controlado pelas partes projetadas e com

estas identificado. Consequentemente, o objeto externo passa a ser vivenciado como um

aspecto do próprio ego, gerando um estado de indiscriminação entre ego e objeto.

2.1.3 O relacionamento conjugal satisfatório

A natureza da relação conjugal é tão complexa que para Balint “ parece extraordinário

que possam existir casamentos satisfatórios”. ( apud Costa & Katz, 1991, p.34).

Contudo, não se deve esquecer do potencial inigualável para satisfazer algumas das

necessidades básicas do ser humano, oferecido pelo casamento. Talvez, por essa razão, mesmo

aqueles que já enfrentaram o divórcio não desistem de buscar a conjugalidade.

Baseados em sua experiência clínica, Costa e Katz (1991) definiram alguns aspectos

que evidenciam a existência de um relacionamento conjugal satisfatório, tais como:

- Limites geográficos e preservação de interesses próprios: Embora os cônjuges

devam compartilhar atividades e interesses e estar dispostos a certas renúncias em

prol do parceiro, é fundamental que cada um preserve interesses próprios sem a

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interferência do outro. Isso pode implicar que cada um tenha um canto só seu e

que aceite o desconhecimento de fatos da história do outro que por alguma razão

tenha preferência de manter preservado, inclusive as experiências sexuais

anteriores ao casamento.

- Manutenção de um certo grau de enamoramento e de idealização do parceiro e

capacidade de tolerar as inevitáveis decepções advindas da convivência íntima.

- Reconhecimento de que o casamento não é um “mar de rosas” e de que os

conflitos são inevitáveis, proporcionando o distanciamento para observar os

problemas, corrigi-los e fazer concessões.

- Valorização do desejo e satisfação sexual.

- Respeito e consideração pela relação do cônjuge para com a sua família de origem.

- Capacidade de expor em palavras as expectativas, satisfações e queixas.

A definição de limites pessoais é considerada fundamental para um relacionamento

saudável, segundo Giddens (1993). Os limites claros determinam o amor confluente e a

manutenção da intimidade, separando o que pertence a quem e neutralizando em grande parte

os efeitos da identificação projetiva.

O autor define intimidade como o conhecimento das características do outro e a

disponibilidade de tornar conhecidas as suas próprias características, sem ser absorvido pelo

parceiro. Essa abertura para o outro é um fenômeno comunicativo, pautado por um equilíbrio

de poder, vulnerabilidade e confiança entre as duas partes.

Crowther (apud Giddens, 1993) apresenta um rol de características que definem um

relacionamento no qual predomina um padrão de intimidade saudável:

- Desenvolvimento do eu como a prioridade principal.

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- Desejo de satisfação a longo prazo.

- Liberdade de escolha.

- Equilíbrio e mutualidade no relacionamento.

- Compromisso, negociação ou revezamento da liderança.

- Compartilhamento das vontades e dos sentimentos.

- Avaliação do significado do parceiro para o sujeito.

- Franqueza.

- Confiança adequada, ou seja, possibilidade de prever o comportamento provável do

parceiro de acordo com a sua natureza fundamental.

- Compreensão da individualidade do outro.

- O relacionamento lida com todos os aspectos de realidade.

- O relacionamento está em constante transformação.

- Desejo de autopreservação por parte de ambos os parceiros.

- Distanciamento amoroso, revelando uma preocupação saudável com o bem-estar e

a evolução do parceiro, embora com desprendimento.

- Solução conjunta dos problemas.

- Predomínio de bem-estar e satisfação na presença do parceiro.

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2.2 Terapia conjugal

2.2.1 Breve histórico da terapia familiar e de casal

Os primeiros centros profissionais para aconselhamento conjugal surgiram na década

de 30, nos Estados Unidos. Em 1945, foi fundada a American Association of Marriage

Counselors, com sede em Washington e organizada por Lester Dearborn e Ernest Graves.

No início os conselheiros conjugais não eram profissionais da saúde mental em sua

maioria. Contudo, esse panorama foi se modificando à medida que alguns psicanalistas

observaram a necessidade de uma terapia concomitante e conjunta para parceiros casados e

depois que Jackson e Haley , do Grupo de Palo Alto, abordaram a terapia de casal dentro da

estrutura da análise das comunicações.

Embora o aconselhamento conjugal preceda à terapia familiar, este acabou sendo

absorvido pelo movimento de tal modo que em 1970 a American Association of Marriage

passou a denominar-se American Association for Marriage and Family Therapy (AAMFT).

O primeiro trabalho sobre terapia de casais foi o da psicanalista Clarence Oberndorf,

que publicou um relatório sobre psicanálise de casais em 1931, defendendo a teoria da

conexão entre as neuroses do casal, recomendando o tratamento em conjunto.

Jacob Moreno publicou em 1937 o primeiro caso de tratamento psicodramático em

terapia de casal. Uma atriz de Viena casada com um dramaturgo, representava com sucesso

papéis de santas e heroínas. Contudo, seu marido queixava-se de que ela era um demônio na

vida doméstica. Moreno recomendou que ela representasse no teatro papéis de mulheres não

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respeitáveis e propôs que ambos contracenassem psicodramaticamente utilizando diálogos

semelhantes aos que tinham no lar, apaziguando conflito conjugal.

Bela Mittleman, em 1948, defende a perspectiva de que a realidade dos

relacionamentos pode ser tão importante quanto as suas representações psíquicas internas.

Devido a natureza do casamento ser a de um relacionamento contínuo e íntimo, a neurose de

uma pessoa casada está fortemente ancorada no relacionamento conjugal. Dessa forma, o

processo terapêutico deve se concentrar nos padrões complementares da relação, os quais são

de motivação inconsciente (Nichols & Schwartz, 1998, p. 47).

Em 1949, a Tavistock Clinic na Inglaterra, fundou uma unidade psiquiátrica familiar,

com o intuito de atender os casais que eram encaminhados pelos tribunais de divórcio. A

unidade marital era dirigida por Henry Dicks, que tinha como proposta aplicar a teoria das

relações objetais para compreender e tratar os conflitos conjugais.

Na década de 1950, cresceu o número de publicações e pesquisas sobre o tema,

difundindo a terapia conjugal, sendo esta conduzida predominantemente por profissionais da

saúde mental e baseada em teorias psicológicas, passando a compor o quadro das terapias

familiares.

A terapia familiar representou um rompimento com a tradição vigente de terapia

individual excludente da família. Os psicanalistas excluíam a família real com o intuito de

revelar a família introjetada e inconsciente. Ironicamente, o primeiro relato de um atendimento

familiar é o caso do “Pequeno Hans” publicado por Freud em 1909, narrando o atendimento

ocasional do filho concomitante ao pai. Os rogerianos justificavam o afastamento da família

em função de pretenderem um olhar positivo incondicional para o paciente. Os psiquiatras

desencorajavam a presença da família nos hospitais por considerarem que as visitas

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perturbavam o ambiente e dificultavam a vinculação dos internos com a família hospitalar

substituta.

A história da terapia familiar propriamente dita, revela o curioso fato de ter se

originado simultaneamente em lugares diferentes e por pessoas que não se conheciam. John

Bell, um psicólogo da Clark University começou a tratar famílias em 1951, porém não

constituiu um programa de treinamento e teve pouca repercussão. Murray Bowen iniciou o

tratamento de famílias de esquizofrênicos na Menninger Clinic em 1946. Natham Ackerman

publicou um artigo sobre diagnóstico familiar em 1950 e fundou o Family Institute .

O Grupo de Palo Alto, iniciado em 1952 e liderado por Gregory Bateson, destaca-se

como um dos precursores da terapia familiar e fundador do modelo sistêmico, o qual agrega

diversas abordagens.

Gregory Bateson era antropólogo. Realizou trabalhos com Margaret Mead em Bali e

Nova Guiné. Era um cientista devotado à pesquisa. Estudou o comportamento animal e mais

tarde interessou-se em pesquisar os padrões de comunicação nas relações humanas e entre os

animais. Após a dissolução do Grupo de Palo alto em 1962, trabalhou como pesquisador no

Oceanographic Institute no Havaí até sua morte em 1980.

Durante a década de 1930, as idéias de Malinowski predominavam no cenário da

Antropologia, dando origem à escola do Funcionalismo. A cultura é vista como um todo

integrado ou global e o sentido de um fato cultural só pode ser explicitado considerando-se a

interdependência dos elementos constitutivos, o contexto implícito e a sua relação com o todo

em uma perspectiva sincrônica.

Nesse período, Bateson estudou os Iatmul da Nova-Guiné, intrigando-se com um ritual

da tribo denominado Naven, que tem por intuito buscar a solução de um conflito no seio do

grupo. A partir dessas observações enfatizou a rede relacional como determinante do

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comportamento individual, ou seja, as reações dos que cercam o indivíduo sobrepõem-se às

causas intrapsíquicas como determinantes do comportamento.

No fim da década de 1940, Bateson fixou-se em São Francisco, onde trabalhou com o

psiquiatra Jurgen Ruesh, com quem desenvolveu o conceito de linguagem verbal e não-verbal,

sendo esta última até então ignorada. Freqüentava reuniões interdisciplinares, denominadas de

Conferências Macy, onde conhece Norbert Weiner, um matemático do Massachusetts Institute

of Technology (MIT) e autor dos conceitos da Cibernética.

Bateson interessou-se em estudar os problemas da comunicação humana a partir da

cibernética e da Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida pelo biólogo Ludwig Von

Bertalanffy.

Em 1952, obtém financiamento da fundação Rockefeller para um trabalho de pesquisa

intitulado “O estudo do papel dos paradoxos da abstração na comunicação” e reúne alguns

pesquisadores para colaborarem no projeto, formando o Grupo de Palo Alto.

Inicialmente o grupo era formado por: John Weakland, engenheiro químico convertido

à antropologia; Jay Haley, estudante de comunicação analista de filmes de ficção e William

Fry, psiquiatra.

A sede do grupo era o Veterans Administration Hospital, um hospital para ex-

combatentes nas cercanias de Palo Alto. O intuito dos pesquisadores era exercitar suas teorias

sobre comunicação nos discursos sem nexo dos esquizofrênicos.

Em 1954, Fry afasta-se da pesquisa para prestar serviço militar, sendo substituído por

outro psiquiatra, Don Jackson, que passa a atuar como consultor clínico e supervisor da

psicoterapia com esquizofrênicos.

O grupo era formado por talentos ecléticos e Bateson proporcionava inteira liberdade

para as pesquisas relacionadas com a comunicação e comportamento, de forma que iniciaram

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diferentes estudos tais como: lontras brincando, treinamento de cães-guia, significado dos usos

do humor, a importância psicológicas dos filmes populares e as expressões vocais dos

pacientes esquizofrênicos. Embora não houvesse a princípio um interesse particular sobre o

estudo dos esquizofrênicos e o seu contexto familiar, as pesquisas deslocaram-se para esse

foco, culminando com a elaboração da teoria do duplo vínculo, publicada em um artigo em

1956.

Após essa data, o grupo tomou várias direções. Haley iniciou uma pesquisa sobre o

poder e controle nos relacionamentos, consultando regularmente Milton Erickson sobre

hipnose. Em 1959, Don Jackson fundou paralelamente o Mental Research Institute (MRI) e

convidou a assistente social Virginia Satir, experiente em lidar com a problemática familiar

para trabalhar com ele.

Em 1960, o filósofo austríaco com formação em Psicologia Analítica no Instituto Carl

Jung de Zurique, Paul Watzlawick, juntou-se ao grupo, contribuindo para formular uma

apresentação homogênea das idéias do grupo, reunidas na obra “Pragmática da comunicação

humana”.

O grupo se dissolve em 1962, mas os seus participantes continuam a contribuir com o

desenvolvimento da terapia familiar.

O modelo sistêmico proposto em Palo Alto dá origem a diversas abordagens,

congregando diferentes teorias. Destacamos as seguintes: psicodinâmica, estruturalista,

estratégica e o grupo de Milão.

Segundo Calil (1987) a abordagem psicodinâmica associa conceitos do modelo

sistêmico com os princípios psicanalíticos. Seus representantes são: Murray Bowen, Natan

Ackerman, Ivan Bozormenyi-Nagi e Carl Whitaker.

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Em meados da década de 60, o argentino radicado nos Estados Unidos Salvador

Minuchin, introduziu uma abordagem teórica e clínica concreta e simples, ressaltando a

estrutura familiar e seus subsistemas, configurando a abordagem estruturalista.

Jay Haley, após deixar o Grupo de Palo Alto, deu continuidade ao trabalho de Milton

Erickson, desenvolvendo a terapia familiar estratégica breve, a qual concentra-se em gerar

mudanças comportamentais.

Na década de 70, a psiquiatra italiana Mara Pallazoli, juntamente com seus colegas

Luigi Boscolo, Giuliana Prata e Gianfranco Cecchin, fundam o Grupo de Milão. Essa

abordagem enfatiza a importância dos componentes paradoxais na transformação e

homeostase familiar.

Na década de 1990 emergiram novas abordagens, predominando o construcionismo

social e a abordagem narrativa do terapeuta australiano Michel White. A tendência atual é

ressaltar a experiência como resultante do modo de pensarmos a respeito dela.

Segundo Teixeira (1996), podemos dividir o movimento de terapia familiar sistêmica

em duas fases, de acordo com o referencial teórico da cibernética:

- Primeira ordem cibernética: Construtores da Terapia Familiar Sistêmica. Enfatiza

os sistemas de inter-relações. A família é o paciente. Não há doente na família, e

sim, uma família doente. O sintoma manifesto passa a ser visto como uma parte do

processo de interação do sistema. O foco da terapia são os vínculos e não o

indivíduo isolado. Busca-se uma solução instrumental através das modificações de

padrões familiares. O sistema é o gerador do problema e o terapeuta assume a

postura de resolver os conflitos na família.

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- Segunda ordem cibernética: Construtores de novas narrativas. Enfatiza as

metáforas narrativas de forma que os problemas estão relacionados com as histórias

que as pessoas têm sobre elas mesmas, as quais geralmente também refletem

práticas culturais opressivas. Assim, o problema é que gera o sistema, uma vez que

todos os elementos participam da mesma história. As narrativas são responsáveis

por manter a conexão entre os componentes do sistema. O terapeuta é um

coordenador de conversações, objetivando transformar as histórias, narrando as

coisas de um modo diferente e buscando soluções de autogestão no sistema.

2.2.2 Panorama das abordagens em terapia conjugal

O aconselhamento conjugal sempre existiu através dos tempos sob a forma de

recomendações diretivas, refletindo a moral e os costumes da época vigente. Os conselheiros

não eram profissionais da saúde mental e geralmente estavam ligados a alguma doutrina

religiosa. A partir de 1950, foi englobado pelo movimento de terapia familiar com a

denominação de terapia de casal, dividindo-se em duas vertentes principais: o modelo

sistêmico e o modelo psicanalítico. O primeiro influenciado pela da escola de Palo Alto e o

segundo derivado da teoria de relações objetais de Melanie Klein e difundido pela Tavistock

Clinic. No entanto, nenhuma das vertentes apresenta homogeneidade, englobando variados

enfoques divergentes em perspectiva e procedimento terapêutico.

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O panorama geral do campo da terapia marital é tão rico em abordagens que a sua

diversidade pode sugerir a condição de desordem irreconciliável. Entretanto, observa-se a

tendência de que esse ecletismo conduz a uma abordagem integrada, mesclando diversos

sistemas e combinando diferentes abordagens teóricas. Bockus (1988) denomina o campo

como “terra de ninguém”, uma área virgem que jaz entre as saliências dos principais enfoques

existentes, congregando pontos de semelhança entre as abordagens e integrando sistemas em

um campo unificado.

O modelo sistêmico enfatiza o aspecto interpessoal: o casal é um subsistema familiar

estruturado em forma de díade. O modelo psicanalítico enfatiza o aspecto intrapsíquico,

considerando os determinantes profundos da relação, reais ou fantasiados.

Independentemente do modelo a ser seguido, a terapia conjugal tem como objetivo a

interação do casal.

Calil (1987) descreve as diferentes abordagens em terapia de casal. Segundo a autora,

o modelo sistêmico considera o casal como um sistema e os conflitos maritais aparecem

quando há discordância quanto às regras implícitas que governam a relação. O objetivo da

terapia seria melhorar a comunicação verbal e não verbal, eliminando as discrepâncias que

podem originar os conflitos.

Os terapeutas sistêmicos com ênfase na abordagem estratégica breve podem adotar

como técnica a prescrição de sintomas, visando quebrar a simetria e complementaridade na

comunicação entre os cônjuges.

Os terapeutas com ênfase na abordagem estrutural consideram que a terapia de casal

ocorre na fase final da terapia familiar, no caso de um filho apresentar sintomas para manter o

casamentos dos pais, por exemplo.

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A abordagem proposta por Virginia Satir enfatiza a auto-estima e a diferenciação

como fatores preponderantes na qualidade de interação do casal. Busca utilizar técnicas de

clarificação da comunicação entre os cônjuges, usando gravações em vídeo para demonstrar a

maneira de interagir verbal e não verbal do casal.

O modelo comportamentalista visa identificar as seqüências comportamentais

indesejáveis e elaborar um programa de reforço do comportamento desejado no outro. Esse

enfoque tem sido muito utilizado nos casos de terapia sexual.

O modelo psicanalítico recomenda sessões individuais ou conjuntas de acordo com o

nível de conflito vivenciado pelo casal. O objetivo desta abordagem é compreender o conteúdo

inconsciente das comunicações entre o casal através do processo de transferência e

contratransferência, considerando que os cônjuges possuem um mundo interno compartilhado

com fantasias inconscientes comuns. A terapia consiste em identificar e trabalhar os conteúdos

do inconsciente do casal, principalmente as fantasias inconscientes compartilhadas pelo casal

que despertam ansiedade e induzem o uso de mecanismos de defesa, tendo por objetivo

restaurar o potencial de crescimento e realização dos cônjuges e recuperar o sentido individual

de sua existência.

Vargas (1994) distingue duas linhas de terapia conjugal e familiar: uma de base

analítica, fundamentada nos princípios da psicanálise e outra de base sistêmica, fundamentada

na Teoria Geral dos Sistemas. O autor insere a terapia conjugal de abordagem junguiana tanto

no modelo de psicoterapias analíticas, tendo como eixo central o processo de individuação,

como no modelo sistêmico, pois pressupõe um sistema de funcionamento da personalidade

arquetipicamente estruturado.

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Embora a psicologia analítica seja divergente do modelo psicanalítico em muito

aspectos, tem em comum com este modelo considerar como relevante os aspectos

inconscientes da psique.

Segundo Hall (1987), a abordagem junguiana de terapia conjugal não só considera as

distorções de comunicação ou os distúrbios vinculares, mas propõe uma visão que congrega

ambos aspectos: o interpessoal, na medida em que visa a integração dos papéis de

marido/mulher na persona, e o intrapsíquico pois, fundamenta o relacionamento do casal no

padrão arquetípico da coniunctio.

A abordagem junguiana em terapia conjugal pode ser um caminho viável de mediação

entre o intrapsíquico e o interpessoal, possibilitando novos horizontes no panorama das

terapias familiares, sobretudo por integrar diferentes conceitos, pois “o que caracteriza o

trabalho do analista junguiano de casal não é um modo técnico de trabalhar, mas uma visão de

ser humano” (Vargas, 1994, p.108).

2.2.3 Terapia conjugal com abordagem Junguiana

Jung nunca trabalhou diretamente como terapeuta de casais, porém escreveu um artigo

sobre o tema publicado em 1925, intitulado “O casamento como relacionamento psíquico”.

Nesse texto, ele estabelece como premissa que os parceiros tenham consciência de si mesmo e

a diferenciação do outro para haver um relacionamento psíquico no casamento.

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Quanto maior for a área de inconsciência, menor a possibilidade de livre escolha do

parceiro devido ao predomínio das motivações inconscientes. Destaca também, a influência

parental na escolha do cônjuge, seja pelo grau de ligação com as figuras dos pais ou sob a

herança da sombra inconsciente dos mesmos.

Distingue a escolha instintiva do parceiro, a qual visaria apenas a conservação da

espécie da escolha psicologicamente diferenciada. No primeiro caso, o vínculo é impessoal e o

relacionamento é regulado pelos costumes e tradições grupais, como acontece em sociedades

primitivas. Os parceiros vivem um papel estabelecido pelo coletivo e o sentimento de unidade

advém do compartilhar da sexualidade. No outro caso, faz-se necessário a diferenciação eu –

outro, conquistada com o início do processo de Individuação.

Contudo, a desigualdade de tempo em que os parceiros iniciam o processo de

individuação pode dificultar a relação matrimonial do ponto de vista psicológico. Haveria um

parceiro com uma personalidade mais complexa que o outro, assim como uma pedra

multifacetada comparada a um cubo. Jung designa isto como o problema do envolvente e do

envolvido.

O envolvido encontra-se dentro do matrimônio e volta-se para o outro em um estado de

dependência. O envolvente, ao contrário, sente-se situado fora do matrimônio e impelido a

buscar fora dele a satisfação da unidade.

Para o autor, o casamento na primeira metade da vida fundamenta-se na projeção de

imagens inconscientes do homem e da mulher, denominadas de anima e animus.

A anima é uma massa hereditária inconsciente, gravada no sistema vital e proveniente

de todas as experiências que os antepassados tiveram com o ser feminino, é uma imagem de

mulher que cada homem carrega dentro de si. O mesmo vale para a mulher, que carrega uma

imagem de homem interna, denominada animus.

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O envolvido projeta esta imagem no envolvente que por sua vez só é capaz de projetá-

la parcialmente no cônjuge. No entanto, essa projeção não constitui um relacionamento

psicológico individual e consciente, mas sim coletivo e espiritual. Cria uma dependência

forçada, pois baseia-se em motivações inconscientes, embora de caráter espiritual e não

biológico.

Jung (1995) conclui o texto preceituando que para atingir o relacionamento individual,

o matrimônio passará por crises, condição indispensável para a tomada de consciência.

Segundo Benedito (1996), o cônjuge geralmente corresponde a uma imagem

preexistente na psique, moldada pela atualização do arquétipo da anima e do animus. Por

analogia, pode-se supor que no plano inconsciente exista uma peça de teatro já escrita pelo

indivíduo, cujo personagem está a espera de um ator. Por essa razão, deposita-se no parceiro a

responsabilidade de atuar com perfeição para encarnar esse personagem e desempenhar o

papel com fidelidade absoluta ao texto.

As fantasias correspondentes ao parceiro idealizado desenvolvidas antes de uma

relação podem ser um reflexo de como as experiências pessoais deram forma aos arquétipos

de anima e animus. A projeção desses conteúdos na figura do parceiro é praticamente

inevitável, podendo ocorrer de forma defensiva ou criativa.

Se o indivíduo buscar alguém que represente uma promessa reparatória de suas

vivências passadas e cindidas, configura uma projeção defensiva, ou seja, um movimento da

psique em que conteúdos inconscientes permancem presos à sombra e dificultam o

desenvolvimento da personalidade. Por outro lado, se a escolha do parceiro representar um

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caminho para o desenvolvimento mútuo, constitui uma projeção criativa - caracterizada pela

tentativa de integrar aspectos inconscientes à consciência em favor do crescimento.

A idealização do parceiro estará sempre presente ao longo do relacionamento, segundo

a autora citada. Entretanto, o desenvolvimento de um vínculo conjugal satisfatório dependerá

da capacidade dos indivíduos de lidar com a frustração da imagem idealizada não

corresponder ao comportamento do parceiro, assim como da condição psíquica do casal para

reestruturar o vínculo a partir de bases concretas.

A manutenção dessa idealização do outro, mesmo ao deparar-se com uma realidade

diferente, conduz os parceiros a serem prisioneiros de seus próprios desejos não realizados.

A idealização é um componente importante da conjugalidade, porém sua atuação é

ambivalente, proporcionando riscos e benefícios. Por um lado, é a força motriz que leva os

indivíduos a se apaixonarem, possibilitando um canal para emergirem preciosos conteúdos do

inconsciente. Mas, por outro, representa o perigo do indivíduo deixar-se prender pelas

armadilhas da necessidade narcísica de reflexão especular.

O casamento deve ser uma construção permanente, através de uma relação dialética e

igualitária entre o parceiros.

Albuquerque (1989) refere-se às duas abordagens propostas por Guggenbuhl-Craig, em

seu livro “O casamento está morto, viva o casamento”. Uma trata do casamento como um

meio de individuação, descobrir a alma através do confronto com o outro. Dessa forma, os

conceitos de normalidade matrimonial seriam relativos, pois o caminhar de um casal em

direção à individuação é singular e não segue um padrão dos costumes e moral vigentes. A

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Page 34: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - .:: … · O Jogo de Areia em terapia conjugal: ... 2.2.1 Breve histórico da terapia familiar e de casal ... o objeto de amor deve refletir

outra abordagem trata da concepção do casamento de bem-estar, o qual o autor considera

falido, pois a convivência diária e rotineira gera confrontos e conflitos.

A individuação é um processo de diferenciação psicológica que tem por finalidade o

desenvolvimento da personalidade individual e diferenciação da psicologia geral e coletiva, de

acordo com Sharp (1993). Esse processo ocorre através do relacionamento entre o ego e o

inconsciente e é guiado pelo ideal arquetípico de totalidade. A meta da individuação não é

tornar-se perfeito e sobrepujar a própria psicologia pessoal, mas familiarizar-se com ela.

O processo de individuação envolve uma consciência crescente da realidade psíquica

única, inclusive das forças e limitações pessoais, e, ao mesmo tempo, implica em uma

apreciação mais ampla da humanidade em geral.

A individuação segue dois princípios: em primeiro lugar é um processo interno e

subjetivo de integração, e em segundo, é um processo igualmente indispensável de

relacionamento objetivo, segundo Jung (apud Sharp,1993).

O casamento como meio de individuação deve ser um caminho pelo qual se opta e não

um dever social, pois os cônjuges elegem-se para um confronto de amor e rejeição, no qual

conhecer-se a si mesmo e ao outro pode ser conhecer o bem e o mal.

A dialética do casamento pode ser uma busca da individuação, um “caminho especial

para a descoberta da alma” ( Guggenbühl-Craig apud Samuels, 1989, p.268). Os parceiros

podem funcionar para o outro como os opostos intrapsíquicos a serem reconciliados na

individuação.

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Byington (1988) postula a existência de um Self Conjugal, regulador da atividade

psíquica de um casal de acordo com o dinamismo da alteridade. Segundo o autor, a alteridade

é a relação igualitária das diferenças das polaridades Eu-Outro e Outro-Outro em busca da

totalidade. É uma relação criativa e até intercambiável de posição com o Outro.

Hall (1987) considera que o aconselhamento de casais em uma abordagem junguiana

baseia-se em dois conceitos estruturais: a integração de papéis da persona e o relacionamento

entre Anima e Animus sob a pressão do Arquétipo da Coniunctio.

Coniunctio, segundo Sharp (1993) é um termo alquímico que define uma operação na

qual os opostos de uma massa caótica são separados e depois reunidos em uma forma estável.

O Arquétipo da Coniunctio que refere a união e separação, está na base da instituição do

casamento e geralmente é responsável pela atração original entre duas pessoas no estágio de

enamoramento. Além do papel de homem e mulher, os parceiros exercem os papéis sociais de

marido/esposa e de pai/mãe, os quais têm como base as vivências parentais de cada um.

O modelo junguiano, considera o casamento como uma das formas de se viver o

processo de individuação através da relação com o outro:

O vínculo conjugal é por excelência um vínculo paradoxal. O ser humano necessita do outro para saber quem é, que existe e como.(...) Precisamos do outro para sabermos quem somos. Mas também nascemos para na nossa individuação nos tornarmos o ser único que somos em potencial. Precisamos ser o que somos, independente do outro. (Vargas, 1989, p 102)

A relação conjugal também é um campo propício para a integração egóica da sombra e

funcionamento da persona, segundo Vargas (1989). O casal desfruta de intimidade, a qual por

si só, facilita o aflorar de conteúdos inconscientes, pois a convivência contínua tende a relaxar

os controles egóicos.

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Na intimidade, geralmente, predomina o ser autêntico e o agir espontâneo. Por essa

razão, o parceiro pode apontar com precisão alguns dos aspectos negados pelo indivíduo,

ajudando-o a conscientizar- se sobre os conteúdos da sombra.

O casamento é visto por Vargas (1994) como um organismo vivo e criativo, que irá

gerar filhos simbólicos, concretos ou abstratos em diferentes áreas da personalidade humana:

biológica, social, cultural, psicológica, etc.

Dessa forma, o vínculo conjugal sadio é aquele que permite o desenvolvimento

individual dos parceiros e é caracterizado por uma vivência dialética criativa. Isso não

significa um estado de perfeito entendimento entre o casal ou ausência de conflitos, as a

elaboração dos mesmos de forma dinâmica, transformando-os em aspectos propulsores de

crescimento e enriquecendo a relação.

2.2.4 A Teoria da comunicação aplicada a terapia de casais

O substrato patofisiológico da doença da família é, em certo sentido, um distúrbio na comunicação, no diálogo do grupo. É essa falha da comunicação que deve ser focalizada na terapia familiar. (Richter, 1979, p. 112).

É comum atribuir-se a origem dos conflitos conjugais à falta de comunicação entre os

cônjuges, sendo o diálogo a principal recomendação para o bom entendimento. No entanto,

nem sempre o ato de conversar é suficiente para garantir que sejam alcançados os efeitos

desejados. Isso ocorre devido a complexidade e paradoxismo que envolvem a comunicação.

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O cineasta sueco Ingmar Bergman, aborda o assunto no roteiro do filme “Cenas de um

casamento”, que tem como personagens principais o casal Johan e Marianne. Eles estão

casados há dez anos e tem duas filhas. Ela é uma advogada especializada em divórcios e ele é

professor universitário e pesquisador de testes psicotécnicos. Após presenciarem uma terrível

discussão entre um casal de amigos, Marianne tece alguns comentários com Johan.

Eu sei porque Katarina e Peter vivem num inferno. (...) Eles não falam a mesma língua. Precisam traduzir tudo para um a terceira língua compreensível, para poder entender o que querem falar. (...) Eu deparo com uma situação destas, uma atrás das outras, no meu trabalho. Às vezes, é como se o homem e a mulher falassem interurbano um com o outro, por telefones defeituosos. Outras vezes, é como se uma pessoa estivesse escutando dois gravadores programados antecipadamente, E, ás vezes, é como se houvesse aquele silêncio grandioso, espacial. Eu não sei o que é mais horrível. (Bergman, 1996, p. 28).

Depois de vinte anos, já divorciados, Johan e Marianne se reencontram. Ambos estão casados novamente, porém percebem que repetem com os novos parceiros experiências vividas no passado.

Johan: - (...) somente agora começamos a falar a verdade um para o outro.

Marianne: - (...) porque é que falamos a verdade agora? Eu sei. É porque não fazemos exigências de espécie alguma.

Johan: - Não temos segredos um para o outro. (...) Você acha que daus pessoas que vivem juntas dia-a-dia alguma vez podem ser honestas e verdadeiras uma para outra? Isso é possível realmente?(...)

Marianne: - (...) aparentemente as relações entre homens e mulheres modificaram-se. Talvez. Mas na realidade, elas se mostram exatamente iguais como há cem anos atrás (...) Oh, sim, nós falávamos um com o outro. Com bastante freqüência. Johan: - Mas sem sinceridade. Marianne: - Nós nos davámos através de semi-verdades bem comedidas. E, depois, tínhamos os dois estudado um pouco de psicologia, de modo que podíamos explicar quase fosse lá o que fosse. E ainda por cima era bastante

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cômodo não brigar. Uma vez por outra, quando fícávamos realmente danados, dizíamos isto ou aquilo, claro. Johan: - Mas logo batíamos em retirada. Já que levaria muito tempo para reconstruir todo o castelo. Marianne: - E aí, mentíamos. Umas vezes mais, outras vezes menos, consoante as necessidades. Johan: - Você utiliza essa experiência no seu novo casamento? Marianne: - Claro que sim. Eu minto o tempo todo. Johan: - Eu também. (Bergman, 1996, p. 145-147)

O trecho demonstra que a existência de diálogo, por si só, não basta para garantir o

bom entendimento conjugal. É preciso haver uma comunicação saudável. Johan e Marianne

sabiam encontrar explicações para seus problemas e evitavam o confronto, porém viviam em

uma paz artificialmente forjada pelas mentiras nas quais ambos se esforçavam para criar.

A comunicação para Bordenave (1997) é um meio de duas pessoas se relacionarem

transformando a si mesmas e ao ambiente. O ato de comunicar é composto pelos seguintes

elementos básicos: a mensagem, o meio, um emissor e um receptor. Contudo, para torná-la

viável é preciso uma codificação e decodificação da mensagem.

O estudo da pragmática da comunicação encontra-se ligado às origens da Terapia

Familiar. A Escola de Palo Alto dedicou-se ao tema, postulando que a comunicação é um

comportamento interacional entre o sujeito e o meio.

Watzlawick, Beavin e Jackson (1998) adotaram o termo comunicação em dois

sentidos: no genérico para designar o campo de estudo e no específico como uma unidade

vagamente definida de comportamento.

A pragmática da comunicação, de acordo com esses autores é regida por cinco axiomas

fundamentais:

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- 1º É impossível não se comunicar.

A comunicação não ocorre apenas de modo intencional e consciente entre os

interlocures. Qualquer comportamento em uma situação interacional tem valor de mensagem,

mesmo prescindindo de compreensão mútua e ocorrendo de forma passiva ou ativa, seja

através do silêncio ou de palavras.

- 2º Toda comunicação contém o nível de conteúdo e de ordem, sendo que o segundo classifica

o primeiro e é uma metacomunicação.

O modelo de interação supõe a metacomunicação, que é a comunicação da

comunicação.

- 3º A natureza relacional se dá pela contingência da pontuação das seqüências

comunicacionais entre os comunicantes.

Os eventos comunicacionais não seguem um padrão do tipo estímulo - resposta, e sim

um padrão circular.

- 4º Os seres humanos se comunicam através da linguagem digital e da linguagem analógica.

A linguagem digital corresponde a comunicação verbal e a analógica a comunicação

não – verbal. Na comunicação saudável as mensagens analógica e digital coincidem e têm o

mesmo sentido. Na comunicação patológica, elas têm sentidos diferentes e opostos, formando

uma dupla mensagem, que deixa o receptor sem oportunidade de discriminar a resposta

correta, pois qual seja a sua escolha, errará sempre.

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A Teoria da comunicação concebe o sintoma físico ou mental como uma forma não-

verbal ou analógica de comunicação. Assim, o sintoma é uma mensagem.

- 5º As permutas comunicacionais podem se dar por simetria ou por complemento.

Se a relação for baseada na igualdade, predomina a simetria. Se basear-se na diferença, a complementaridade.

Para Kaufman (1995), pode-se estudar clinicamente um paciente pela análise de sua

comunicação, ou seja, o modo como emite e recebe mensagens. Bustos apud Kaufman

(1995) classificou os tipos sociométricos de acordo com a Teoria da Comunicação:

a) Bom emissor e bom receptor – indivíduo que emite e percebe adequadamente as

mensagens; tem fácil convivência e obtém satisfação de suas necessidades.

b) Bom emissor e mau receptor – indivíduo que é percebido melhor do que percebe,

levando-o a ter condutas inadequadas e desencontros. O aumento da percepção dos

sinais negativos pode levar à timidez e ao recolhimento. Por outro lado, a negação

desses sinais negativos pode levar o indivíduo a se aproximar de grupos errados,

embora imagine estar sendo aceito.

c) Mau emissor e bom receptor – a percepção do outro é correta, em detrimento da

emissão, que pode estar afetada por transformar o sinal negativo em positivo,

dando a falsa impressão de aceitação. Geralmente, é um indivíduo submetido a

figuras autoritárias e que não se sente no direito de rejeitar alguém. Também pode

ocorrer da emissão estar afetada pela conversão dos sinais positivos em negativos,

assim a pessoa emitirá corretamente apenas as rejeições, resultando em um

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empobrecimento da vida afetiva, pois os outros não percebem a sua aceitação e

parece que este indivíduo trata mal aqueles que ama.

d) Mau emissor e mau receptor – corresponde a um transtorno grave (psicose) e

resulta em um grau de isolamento sério e conflito de natureza aguda.

A comunicação pode ocorrer em três níveis, através dos quais os indivíduos interagem

e oferecem definições de suas relações. (Kaufman, 1995)

1º Confirmação: a mensagem é aceita tanto no nível do conteúdo como no de relação.

Emissor: – Eu te amo. Receptor: - Realmente acredito que você me ame e me sinto amada por você.

2º Rejeição: o conteúdo da mensagem é rejeitado, mas a relação é aceita.

Emissor: Eu te amo. Receptor: Acredito que você me ame, mas não me sinto amada por você.

3º Desconfirmação: é a comunicação eminentemente patológica.

Emissor: Eu te amo. Receptor: Você não me ama.

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2.3 Jogo de Areia

2.3.1 Histórico do Jogo de Areia

A origem do Sandplay remonta à literatura infantil. Em 1911, o escritor inglês H. G.

Wells escreveu o livro “Floor Games”, no qual descreve algumas brincadeiras que realizava

com seus filhos. Mais tarde, em 1929, a psiquiatra e psicanalista inglesa Margareth Lowenfeld

inspirou-se nessas brincadeiras em seu trabalho clínico com crianças. Além de miniaturas

diversas, oferecia para as crianças brincarem, duas bandejas de zinco colocadas em cima de

uma mesa, uma contendo areia e outra água.

Através da contínua experimentação, Lowenfeld observou que através dos materiais

ofertados, a criança poderia estabelecer uma forma de comunicação com o observador,

utilizando-se de recursos não - verbais. Geralmente as crianças realizavam construções com os

materiais e as denominavam de “mundo”, nascendo, assim, a “World Techique”.

Foi Dora Kalff (1904-1990) quem adaptou a técnica de Lowenfeld à teoria de C. G.

Jung.

Dora Kalff nasceu na Suíça, filha de um importante político. Demonstrou desde cedo

elevado talento estético e artístico, os quais foram incentivados pela sua família. Sua saúde era

frágil, limitando as suas atividades físicas e contribuindo para aumentar a inclinação

introvertida e o desenvolvimento de uma vida interior rica. Interessava em estudar religiões

orientais e línguas estrangeiras. Casou-se em 1934 com um banqueiro holandês, com o qual

teve dois filhos: Peter, nascido em 1939, e Martin, em 1946 . Divorciou-se em 1949 e a partir

de então, dedicou-se a carreira de analista.

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O contato com Jung se deu de forma casual. Durante a II Guerra Mundial, Dora Kalff

ficou hospedada em uma estação de esqui na Suíça com seu filho Peter e costumava promover

reuniões em sua casa para as crianças brincarem. A mãe de uma dessas crianças, era Gret

Baumann - filha de Jung. Impressionada com o fato de seu filho voltar sempre relaxado e feliz

após as brincadeiras, incentivou Kalff a estudar psicologia, apresentando-a ao seu pai. Em

1950, Kalff iniciou a formação como analista no “ C. G. Jung Institute” em Zurique.

Em 1954 assistiu uma conferência de Lowenfeld, a qual lhe despertou interesse por

tratar-se de um modo não-verbal de comunicar os processos mentais infantis. Com o incentivo

de C. G. Jung, Kalff foi estudar em Londres com Lowenfeld durante o ano de 1956.

Ao retornar para Zurique, Kalff introduziu mudanças no emprego terapêutico dos

materiais, adotando como referencial teórico a abordagem analítica e dando origem a uma

nova técnica, batizada como Sandplay.

2.3.2 Fundamentos da técnica do Jogo de Areia

Observou-se o uso da areia em rituais sagrados ou de cura em diversas culturas. No

Tibet, os monges desenham com areia uma mandala para meditação. Os índios Navahos

desenham imagens na areia, acreditando ser esta uma forma de invocar poderes curativos. Em

Mali, existe um ritual de desenhar padrões na areia com a finalidade de previsão do futuro. No

folclore europeu, encontramos a lenda de “Sandman”, personagem que faz dormir as crianças,

jogando-lhes areia nos olhos.

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A areia tem como característica essencial a mutabilidade e não permanência. Não tem

forma definida e escorre pelas mãos como a água, mas por outro lado, difere desta última,

apresentando plasticidade e possibilidade de aglutinação.

Em função de ser facilmente penetrada e moldada, a areia pode ser um símbolo de

matriz e útero, pois acolhe e abraça as formas, sobrepondo-as, sem alterar-lhes as

características. Por sua plasticidade, pode assumir outras formas, viabilizando construções

diversas e simbolizando por sua gama de variedades infinitas, o próprio mundo. Assim, é um

instrumento que possibilita a manifestação em forma concreta das imagens do mundo interno.

A areia é composta por partículas diminutas, resultantes da desintegração das rochas

pela ação da erosão. O grão de areia não está sujeito a quantificação e em função de seu

tamanho diminuto e quase invisível a olho nu, relaciona-se com aquilo que não está aparente

e que não pode ser contabilizado devido a sua extensão.

O grão de areia, um dia foi rocha. A areia representa a ação do tempo transcorrido e

está relacionada com a perpetuação e com a eternidade, não da forma, mas de algo que

sobrevive a extinção desta. Jesus Cristo recolheu-se no deserto para meditar. Simbolicamente,

o deserto de areia representa o despojo das formas e a busca da espiritualidade.

O prazer de andar pela areia, deitar-se e afundar-se em sua massa fofa pode representar

a busca pelo regresso ao estado uterino de acolhimento.

O sentido do tato é uma dos meios precoces pelo qual o indivíduo descobre o mundo.

Faz parte da comunicação não – verbal presente na interação mãe e bebê. À medida que o

indivíduo desenvolve o intelecto, os sentidos primários passam a um segundo plano da

consciência, que fica dominada por idéias, análises e julgamentos.

Oaklander (1980) enfatiza a importância de experiências sensórias como recursos

terapêuticos que trazem o paciente de volta a si mesmo, renovando a consciência dos sentidos.

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A autora também refere-se ao fascínio que a areia exerce, devido a sua plasticidade e

possibilidade de expressão livre.

O brincar com a areia de crianças e adultos, expressa a busca pelo repouso, segurança e

regeneração. A areia simboliza a eternidade, o infinito, o invisível e a criação.

Kalff (1980) enfatizou em sua técnica a espontaneidade e a dinâmica criativa.

Considerava o Jogo de Areia como uma modalidade terapêutica natural de facilitar a

expressão arquetípica e simbólica do mundo interno, bem como representações da realidade

externa. Acreditava que a expressão desses conteúdos em um espaço livre e protegido,

propiciava a oportunidade de manifestação do Self, fundamental para o fortalecimento do ego

e para estabelecer a conexão ego-Self.

Inicialmente aplicou o Jogo de Areia somente com crianças, mas ao perceber o

interesse que a técnica despertou nos pais de seus pacientes, também começou a aplicá-la em

adultos.

O brincar é a expressão dinâmica da fantasia e um facilitador do processo de

individuação, no sentido de estabelecer uma mediação entre a consciência e o inconsciente. A

personalidade tende a desenvolver-se de maneira unilateral, de modo que certas funções ou

atitudes são favorecidas pela consciência em detrimento de outras, que permanecem

inconscientes. Através do brincar, é possível acessar os conteúdos inconscientes e reconciliar a

oposição entre as polaridades consciente – inconsciente em direção à totalidade.

Stewart (1981) ressalta como mérito da técnica, o fato de não requerer habilidades ou

talentos específicos para o brincar, além de proporcionar uma ligação direta com o mundo das

brincadeiras infantis.

Na psicoterapia infantil, o Jogo de Areia é um modo natural de expressão pueril, não

muito diferente de outras brincadeiras habituais da criança. No entanto, o espaço livre e

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protegido do “setting”, proporciona segurança para que a criança expresse seus conflitos

internos e restabeleça a comunicação entre o ego e o inconsciente.

Na psicoterapia de adultos, pode propicionar o reviver do brincar, evocando memórias

perdidas e fantasias inconscientes, bem como a constelação de imagens de totalidade.

De acordo com Weinrib (1993), o valor do Jogo de Areia repousa no seu caráter

vivencial e não - cerebral, pois prescinde de regras. É livre e encoraja o espírito lúdico,

tornando concreto o mundo interior através de uma representação tridimensional. Para a

autora, o priorizar da espontaneidade aliado a um ambiente seguro e confiável, permite o livre

expressar de fantasias oriundas de camadas profundas do inconsciente, pertencentes a um

estágio pré-verbal da psique. Além disso, considera que as principais metas de um processo

terapêutico - expansão da consciência e cura - são possíveis de serem alcançadas através do

Jogo de Areia. Tal fato se deve, segundo Kallf (apud Weinrib, 1993), pela ocorrência de um

evento sincronístico proporcionada pelo encontro da imagem interna com a externa.

A cura e a expansão da consciência são metas desejáveis em psicoterapia. O emprego da caixa-de-areia aprofunda e acelera o trabalho terapêutico porque dois processos estão ocorrendo. Estes processos estão intimamente relacionados, porém separados. Durante o mesmo período em que uma análise verbal dos complexos, sonhos, personalidade e problemas de vida está progredindo em direção à consciência, a técnica da caixa-de-areia estimula uma regressão criativa (após a constelação do Self e a emergência de um ego renovado e fortalecido, o processo na caixa-de-areia assume um caráter mais verbal e progressivo. O paciente então é mais capaz de se relacionar independentemente com o seu eu interior e com o mundo exterior), que permite a cura exatamente devido a uma interpretação tardia e o desencorajamento deliberado de pensamento dirigido.(Weinrib, 1993, p.33)

Em linhas gerais, Weinrib (1993), destaca o Jogo de Areia como uma modalidade

eficiente que fornece:

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- Acesso direto ao mundo interior pessoal dos impulsos e dos sentimentos. Acesso ao

mundo lúdico criativo da criança, bem como uma entrada razoavelmente segura no

mundo arquetípico mais profundo, já que concretiza e delimita a linguagem

arquetípica de imagens. Também age como mediadora ou ponte para o mundo

exterior.

- Um instrumento para recuperação da dimensão especificamente feminina da

psique.

- Um meio de reparar os danos à imagem materna que, de outra forma, através da

reconstituição da unidade mãe-filho, que permite a constelação do Self, precursor

do desenvolvimento de um ego saudável.

- Ativação da capacidade natural , autocurativa, da psique.

- Um meio de atingir e vivenciar o mundo transpessoal da psique. Isso produz a

relativização do ego e um relacionamento naturalmente mais equilibrado entre o

ego e o Self.

- Uma oportunidade para os pacientes com dificuldades de expressão saírem de seu

isolamento interno através da comunicação não-verbal realizada nos cenários da

areia, pois oferecem uma expressão concreta da situação do paciente.

- Uma transformação de energias bloqueada.

- Um meio de autodescoberta e um despertar da capacidade criativa com influência

mínima do terapeuta.

- Uma oportunidade para experiência criativa não-racional como uma compensação

a uma exagerada ênfase coletiva no intelecto dirigido pelo ego.

Quanto ao procedimento de aplicação, a autora citada faz as seguintes recomendações:

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- Não dar nenhuma instrução específica quando apresentar a caixa-de-areia ao

paciente, simplesmente encorajá-lo a criar e externar fantasias.

- O terapeuta deve procurar manter-se em silêncio e a uma certa distância, apenas

observando as reações e o comportamento do paciente.

- Depois de finalizada a montagem, o terapeuta pode solicitar que o paciente conte

uma história sobre a cena construída.

- O cenário de areia nunca deve ser desmontado na presença do paciente, pois isso

poderia representar uma desvalorização da sua criação, assim como quebrar os

vínculos silenciosos estabelecidos com seu mundo interior e com o terapeuta.

- Após a saída do paciente, são feitos slides ou fotos do cenário. Estas fotos ou slides

podem vir a ser exibidas para o paciente no futuro.

- Interpretações, explicações e amplificações devem ocorrer somente quando o ego

tornou-se suficientemente forte para integrar este material. Então, pode-se exibir as

cenas, possibilitando ao paciente ver com clareza o seu processo de

desenvolvimento.

- O papel do terapeuta é o de ouvir, observar e participar empaticamente. Porém, o

sucesso do processo não depende só de sua compreensão cognitiva do sentido

simbólico do cenário, mas também da sua familiaridade com os estágios de

desenvolvimento arquetípico refletidos nas cenas.

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2.3.3 Fundamentos para o uso do Jogo de Areia em terapia de casal

2.3.3.1 O Jogo de Areia em terapia familiar

A bibliografia sobre o uso do Jogo de Areia em psicoterapia de casal é escassa, embora

existam depoimentos de terapeutas sobre os benefícios e validade do processo, não encontrou-

se relatos de casos ou artigos versando sobre o tema específico, somente sobre o uso de Jogo

de Areia em psicoterapia familiar. Contudo, devido às semelhanças e origem comum de

ambas, considerou-se a possibilidade de adotar como referência os artigos publicados sobre

Jogo de Areia e psicoterapia familiar, apesar de também não serem numerosos.

Após um minuncioso levantamento bibliográfico encontrou-se apenas uma autora, Lois

J. Carey, que publicou suas pesquisas sobre o tema. Carey é assistente social e dirige o Center

for Sandplay Studies em Nova York. É uma experiente terapeuta familiar e interessou-se pelo

Jogo de Areia em função de poder aliar a psicoterapia familiar com um processo criativo.

Recentemente, publicou “Sandplay Therapy with children and families”, um livro pioneiro

sobre o tema.

O Jogo de Areia, de acordo com Carey (1992), exerce uma atração natural nas crianças

e também incita o despertar do arquétipo da criança interior dos pais.

No artigo “Uma abordagem da terapia familiar com sandplay, centrada na criança”,

Carey (1192) descreve o processo terapêutico com famílias em que o paciente identificado é

uma criança. Geralmente a criança é encaminhada pela escola ou encontra-se em tratamento

individual .

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Adotando a premissa de que a família é o paciente, busca tratar a família como um

todo, pois o paciente identificado nada mais é do que o bode expiatório. A tarefa do terapeuta

consiste em intervir no sistema familiar buscando uma união e adaptação saudável.

Inicialmente recebe a família inteira para uma entrevista e geralmente a criança é

apontada como se algo estivesse errado com ela. Sua primeira atuação é demonstrar que não

só a criança é inadequada, mas seus pais também o são, por não conseguirem manejar os

problemas de seu filho.

A caixa de areia permanece visível na entrevista e é comum que os pais solicitem

brincar com a areia, contudo lhes é dito que o farão em outra oportunidade.

A criança passa por três ou quatro sessões individuais de avaliação, nas quais é

introduzido o Jogo de Areia individual com o intuito de avaliar os sentimentos da criança ao

ser submetida ao processo.

Apresenta o Jogo de Areia valorizando os aspectos não - verbais da técnica e

definindo-a como uma ajuda para a criança demonstrar ao terapeuta como ela se sente por

dentro, pois às vezes palavras simplesmente não são capazes disso. Além disso, acrescenta que

não há certo ou errado e que ela não será avaliada como ocorre em casa ou na escola. Após

essa breve introdução a criança está livre para fazer o que quiser, tendo disponível duas caixas

de areia, uma seca e outra molhada.

Após o período de avaliação, a autora convida a família para uma sessão de Jogo de

Areia, introduzindo-o como um jogo agradável que provê valiosas informações diagnósticas.

Ressalta que não existe um modo certo ou errado nesse jogo porque cada família é única e

deve encontrar a sua própria maneira de expressar-se. Se algum membro da família oferecer

resistência em participar, não é forçado a fazê-lo, apenas convidado a observar.

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Quando a família completa a primeira cena na areia pode-se comentar sem emitir juízo

sobre: o que está acontecendo na cena; quais conexões foram feitas ou anuladas; quem aliou-

se com quem.

A autora considera como valor real do Jogo de Areia na Terapia Familiar o fato de

que todos os participantes podem observar:

- o processo de diagnóstico das alianças e interações;

- os conteúdos da caixa de areia que representam elementos conscientes e

inconscientes, especialmente quando se considera os padrões de comunicação

familiar;

- o produto como uma evidência da dinâmica familiar duradoura, pois se perpetua

através das fotografias.

A autora deixa disponível duas caixas de areia, uma seca e outra molhada, assim pode

observar como as famílias se comportam, se irão escolher montar apenas uma caixa ou se

dividir em dois grupos para montar ambas.

A divisão em dois grupos é útil no caso de famílias numerosas e também para ilustrar

as alianças existentes na formação dos subgrupos. Porém é preferível o uso de apenas uma

caixa de areia por toda família pois pode-se avaliar se a interação familiar se dá pela

cooperação ou competição entre determinados membros.

É importante observar quem inicia a montagem da cena e quem dá seqüência, o

envolvimento de cada integrante no processo, o uso do espaço e o conteúdo simbólico

manifesto.

O Jogo de Areia pode proporcionar uma compreensão diagnóstica da força ou déficit

de ego de cada um dos membros , os papéis que são desempenhados na família, o modo de

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comunicação e o estilo de interação familiar. Além disso, evidencia conteúdos simbólicos

profundos do grupo.

A autora sugere que a cena montada seja estudada tendo como referência as quatro

funções da consciência propostas por Jung, da seguinte maneira:

- Função pensamento: O que essa família está tentando comunicar ao terapeuta?

- Função sentimento: Que sentimento a cena evoca? Alegria, tristeza, caos, ordem?

- Função sensação: Como foi usado o espaço? Predominam cores ou números?

- Função intuição: Que alusões poderiam ser feitas sobre a cena?

Algumas questões fundamentais reveladas pelo uso de Jogo de Areia com famílias são

listadas por Carey como exemplo do que é possível identificar a partir das produções dos

pacientes:

- Indiferenciação ego – massa, fronteiras emaranhadas;

- Triangulação, focada nos efeitos negativos;

- Reversão dos papéis parental e filial;

- Hostilidade e conflito ou complementaridade e harmonia conjugal;

- Mensagens ambíguas e contraditórias;

- Resistência para a mudança a fim de manter a homeostase familiar.

A autora conclui que o Jogo de Areia com famílias é um facilitador da interação,

favorece a abertura para o insight e a adoção de novos hábitos e modos de comunicação.

Em “Sandplay Therapy with children and families”, publicado em 1999, estabelece

algumas das possibilidades oferecidas pela combinação do Jogo de Areia com a psicoterapia

familiar. Primeiramente, ressalta que as dimensões do caixa de areia representam um set físico

e simbólico continente para o problema da família. Além disso, oferece a possibilidade de que

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um membro tenha uma apreensão particularizada do problema ao mesmo tempo em que

adquire uma nova percepção de integração e comunicação com o grupo familiar.

Em segundo lugar, destaca a observação das alianças familiares, as quais ficam

explícitas durante o processo. O Jogo de Areia pode vir a ser uma oportunidade de reestruturá-

las, principalmente se forem alianças negativas.

É importante salientar que os conteúdos inconscientes são rapidamente revelados ao

terapeuta, facilitando a discussão dos padrões familiares.

Outro ponto relevante é que o Jogo de Areia tem apelo com as crianças e também pode

ser um processo de reparação da criança interior dos pais.

Carey (1999) destaca ser possível observar aquilo que existe de único em cada grupo

familiar através do Jogo de Areia. Além disso, tem as vantagens adicionais da experiência

tátil com a areia encorajar a expressão de conflitos inconscientes e também de não requerer

habilidades artísticas de nenhum dos membros para ser executado. Por último, a autora conclui

que o brincar incorporado na terapia possibilita a compreensão dos padrões negativos

familiares e também a elaboração de novas perspectivas e soluções.

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2.3.3.2 O Scenotest

Em função da escassez bibliográfica acerca do tema deste trabalho, buscou-se outros

recursos utilizados em terapia familiar que apresentassem alguma semelhança quanto aos

princípios teóricos ou aspectos técnicos do Jogo de Areia e com os quais se pudessem serem

traçados paralelos.

Encontrou-se o Scenotest, um instrumento muito utilizado em terapia familiar e

bastante semelhante ao Jogo de Areia. Por essa razão, irá se discorrer acerca desta técnica,

com a finalidade de tecer comparações.

Cerveny (1982) justifica a adoção do Scenotest na prática clínica em função de que

esta, muitas vezes, requer um instrumento de reprodução das relações cotidianas do grupo

familiar. Por esse motivo, a autora incluiu o Scenotest no processo psicodiagnóstico, com o

objetivo de observar, em condições controladas, alguns aspectos, tais como: a rede de

comunicações, as regras e os papéis desempenhados na interação familiar.

O Scenotest foi desenvolvido por Gerdhild Von Staabs em 1938 a partir da sua

experiência clínica em atendimento infantil. O material que compõe o Scenotest consiste em

uma caixa com marionetes de figuras humanas, peças de madeira para construções diversas,

personagens simbólicas, representações de natureza e objetos variados.

Segundo Cerveny (1982), Staabs indicou a aplicação do Scenotest para vários campos

da psicologia aplicada, inclusive na superação de conflitos conjugais.

Staabs desenvolveu o Scenotest a partir de uma observação clínica. Um paciente de 5

anos, improvisou durante uma sessão terapêutica, um diálogo entre dois esposos, utilizando

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uma cortina e a porta de um armário semi-aberta para compor o cenário onde a cena se

desenrolava. A autora percebeu que través da encenação do diálogo e da montagem do

cenário, seu paciente tinha dramatizado sua própria situação familiar.

Inspirada pela World Technique, desenvolvida por Margareth Lowenfeld e que

também deu origem ao Jogo de Areia, Staabs buscou colocar à disposição de seus clientes, um

material através do qual eles pudessem reproduzir mais facilmente sua situação cotidiana.

Possibilitando assim, que crianças, adolescentes e adultos montassem cenas evocativas de

situações, problemas e conflitos vivenciados na estrutura familiar.

O material que deu origem ao Scenotest consistia de uma caixa de madeira medindo 60

X 40 X 10 cm e três caixas de papelão dentro dela para facilitar a disposição e o agrupamento

do material. Nesta caixas ficam dispostos marionetes flexíveis de 8 adultos e 8 crianças,

colocadas em posições diversas, sugerindo ações, estados de espírito e estados afetivos.

Também encontram-se retângulos de madeira de três tamanhos diferentes e em quatro cores

diferentes, além de quadrados e cilindros. Além disso, podem ser utilizados materiais

complementares como: animais; meios de transporte; personagens simbólicas, objetos da

natureza e outros objetos.

Segundo Cerveny (1982), através da sessão familiar pode-se perceber uma repetição de

algo que acontece no cotidiano de uma família. Esta análise fornece a noção do tipo de grupo

com o qual se está trabalhando, o tipo de interação que existe entre seus membros, o tipo de

ambiente físico em que vive a família, quais as normas, condutas e limites presentes no grupo

familiar. Diz ainda que a observação do grupo familiar permite a melhor percepção do

indivíduo que está em processo diagnóstico dentro deste grupo e o quanto de influência o

mesmo exerce sobre ele. Formula a hipótese de que pode-se usar este instrumento para

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investigar aspectos interativos do grupo familiar ao qual está inserido o sujeito do diagnóstico

psicológico.

Considerando as semelhanças existentes entre os dois recursos, Scnotest e Jogo de

Areia, é possível aplicar o Jogo de Areia com grupos familiares de modo similar, uma vez que

este também auxilia na observação do grupo e de seus componentes.

Cerveny (1982) considera a observação da rede de comunicações é um dos aspectos

mais importantes no sentido de oferecer uma visão da estrutura do grupo familiar. Por essa

razão, esse recurso é precioso no psicodiagnóstico familiar, uma vez que permite observar a

rede de comunicações operante tanto no nível verbal como no não–verbal.

A autora discorre sobre a eficiência das mensagens não-verbais, afirmando que esta

modalidade é mais eficiente que a verbal; pois se os dois tipos de mensagem entrarem em

conflito, os conteúdos verbais são praticamente desprezados. Dessa forma, levanta a hipótese

de que, no comportamento social humano, utiliza-se o canal não-verbal para negociar atitudes

interpessoais e o canal verbal primariamente para transmitir informação.

Por conseguinte, a importância deste tipo de linguagem também ressalta a necessidade

de existirem recursos terapêuticos que estimulem essa via.

Para efeito de comparação, destacar-se-á algumas diferenças entre os dois instrumentos

citados.

O Scenotest oferece materiais limitados e que são restritos à reprodução quase que

única e exclusiva do cotidiano familiar. Já o Jogo de Areia busca oferecer uma imensa

variedade de materiais, possibilitando a simbolização tanto de aspectos cotidianos como

também de outros relacionados ao mundo fantástico. O cenário do Jogo de Areia não é restrito

ao modelo de estruturação de uma casa, podendo ser construído de acordo com a imaginação

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do paciente. Além disso, deve-se ressaltar a importância da areia como fator terapêutico em si,

pois o sentido do tato é uma dos meios precoces pelo qual o indivíduo descobre o mundo.

Talvez, por esse motivo, Oaklander (1980) enfatiza a importância de experiências sensórias

como recursos terapêuticos.

Em razão de sua amplitude de recursos e variações de expressão, é possível considerar

a hipótese de que o Jogo de Areia é um instrumento que possibilita a manifestação livre tanto

de aspectos intrapsíquicos como daqueles referentes a relação interpessoal da dinâmica

familiar. Enquanto que o Scenotest, devido às restrições mencionadas, teria por foco apenas o

aspecto interpessoal.

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3 Metodologia

3.1 Sujeitos

3.1.1 Perfil

Casal heterossexual na faixa etária entre 20 e 35 anos; vivendo maritalmente em

situação legal ou consensual há mais de um e menos de sete anos; sem filhos ou em período de

gestação; pertencente a classe sócio - econômica média e com grau de escolaridade acima do

nível fundamental (1º grau).

Estabeleceu-se também a condição de que o casal não manifeste intenção deliberada de

separação.

3.1.2 Justificativa do perfil

A determinação do perfil foi traçada com o objetivo de evitar sujeitos em período de

grave crise conjugal. Assim, excluíram-se os casais que sinalizassem intenção de separação.

Determinou-se como no mínimo um ano e no máximo sete, o período de vida em

comum, considerando parâmetros do ciclo de vida conjugal. Durante o primeiro ano de

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casamento, segundo Sager e Hirsh (apud Miermont,1994), surgem as crises decorrentes do

contrato consciente, em que as idealizações projetadas no parceiro sucumbem ante a realidade

cotidiana conjugal. Após o sétimo ano de casamento, os autores consideram que inicia-se uma

revisão do contrato inconsciente, podendo ser este um elemento gerador de crise.

Optou-se pela inexistência de filhos ou período de gestação a fim de isolar-se os

conflitos originados pela sobreposição dos papéis maritais e parentais.

A classe econômica e o grau de escolaridade foram determinados em função de

possibilitar análises comparativas com a bibliografia adotada, a qual é baseada na família de

classe média tradicional.

Desconsiderou-se a legitimação da união devido as mudanças nos costumes da

sociedade brasileira. Segundo Petrucelli ( 1994), observa-se uma tendência progressiva de

aumento da união consensual, a qual prescinde de uma cerimônia de casamento ou da sua

formalização jurídica.

3.1.3 Descrição dos sujeitos

Casal heterossexual, sem filhos e vivendo há um ano e três meses em união do tipo

consensual.

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O componente do sexo feminino - E. N. S. – apresenta as seguintes características: 23

anos, nascida em 28/01/1976, brasileira, natural de São Bernardo do Campo - SP, solteira,

operadora de xerox, escolaridade nível médio completo, religião católica.

Por sua vez, o componente do sexo masculino - A. T. O. – caracteriza-se pelos

seguintes dados: 31 anos, nascido em 04/07/1968, brasileiro, natural de São Paulo - SP,

divorciado, motorista de ônibus, escolaridade nível médio incompleto, religião católica.

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3.2 Instrumentos

3.2.1 Entrevista

Optou-se por coletar dados sobre o casal através de uma entrevista semi-dirigida, de

modo a permitir liberdade de expressão de temas pertinentes aos sujeitos, respeitando-se um

período de tempo previamente delimitado para duração do processo. Este tipo de entrevista

estabelece-se em torno de um eixo de interesses a ser explorado, sem seguir uma seqüência

específica ou questões estruturadas. De acordo com Bleger (1995), tal fato permite uma

investigação da personalidade do indivíduo a partir do campo configurado espontaneamente

pelo próprio entrevistado.

O roteiro foi elaborado visando algumas áreas de interesse pertinentes ao tema deste

trabalho, tendo por foco a relação conjugal.

Roteiro da entrevista

A – Caracterização do sujeito

Nome, sexo, idade, naturalidade, escolaridade, profissão, estado civil.

B – Áreas de interesse a serem exploradas

- A família de origem.

- O encontro do casal (como se conheceram)

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- A união (como surgiu a decisão de viverem juntos)

- A vida em comum

- As expectativas para o futuro do casal

3.2.2 Caixa-de-areia

O Jogo de Areia consiste na montagem de cenas em uma caixa-de-areia a partir de

imagens espontâneas, utilizando-se de miniaturas.

A caixa-de-areia deve ter a forma retangular rasa com a seguinte dimensão: 72 x 50 x 7

cm. Deve ser construída com material impermeável, a fim de que se possa molhar a areia para

facilitar a modelagem do cenário e ser revestida internamente com chapa na cor azul claro,

para possibilitar a simbolização da água no fundo e do horizonte nas laterais.

A areia deve cobrir metade da altura da caixa, podendo ser utilizada seca ou molhada,

desde que separadas em caixas diferentes. Preferencialmente, a areia deve ter sido purificada

de detritos e impurezas e especialmente tratada para este fim.

Miniaturas dispostas em um armário ou estante são oferecidas aos clientes para a

montagem das cenas. Podem ser realistas ou fantásticas, abrangendo diversas categorias, tais

como: animais (domésticos, selvagens, répteis, marinhos, pré-históricos, peçonhentos e

insetos); construções; brinquedos; armas; objetos; pedras; figuras (humanas, mitológicas,

fantásticas e sacras); meios de transporte e objetos . ( Anexo I).

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O registro das cenas é feito através de fotografia da cena final e anotações

esquemáticas durante a montagem das cenas, especificando a ordem de colocação das peças e

possíveis alterações.

Geralmente, utiliza-se uma máquina fotográfica de revelação instantânea (Pollaroid),

porém pode-se optar por registro em slides ou máquina comum.

3.2.3 Genograma

O genograma é um recurso muito utilizado por terapeutas familiares em processos de

avaliação e psicodiagnóstico, visto que, segundo Miermont, “é um mapa que oferece uma

imagem gráfica da estrutura familiar ao longo de várias gerações, esquematiza as grandes

etapas do ciclo de vida familiar, além dos movimentos emocionais a ele associados.” (1994, p.

291).

A técnica é similar a construção de uma árvore genealógica, especificando-se diversas

informações referentes aos membros de até três gerações da família, no máximo.

O ciclo vital da família é circular e repetitivo. O genograma, além de fornecer dados

significativos sobre a família de origem, “ mostra a união de duas famílias separadas,

indicando o lugar de cada cônjuge em seu próprio ciclo de vida familiar.” (McGoldrick &

Gerson, 1995, p. 144).

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A representação icônica do genograma (anexo) foi estabelecida por Murray Bowen

(apud Miermont, 1994) e compreende: nomes e idades de todos os membros da família; datas

significativas; indicações de ocupações, doenças e alterações no ciclo vital.

Especifica-se o sexo, a ordem de nascimento, filiação, relacionamentos conjugais por

meio de ícones de forma a permitir uma visualização gráfica da disposição do sistema

familiar transgeracional. A confecção do genograma não segue um roteiro predeterminado,

uma vez que é possível iniciar a história da família a partir de qualquer um de seus pontos.

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3.3 Procedimentos

Em função deste trabalho tratar-se de um estudo de observação e pelo seu caráter

breve, realizou-se apenas um encontro com o casal, ocorrido nas dependências da Clínica de

Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que dispõe de uma sala própria para

aplicação do Jogo de Areia.

A sala é mobiliada com quatro cadeiras, dois armários e uma mesa, onde repousa a

caixa-de-areia. Em um dos armários encontram-se disposta a coleção de miniaturas a serem

usadas para compor o cenário.

Quando o casal entrou na sala, encontrou a porta deste armário aberta possibilitando a

visualização da coleção.

A pesquisadora apresentou-se como estudante do último ciclo do curso de Psicologia,

agradeceu a participação do casal e forneceu explicações gerais sobre o objetivo da pesquisa.

Depois, solicitou que o casal avaliasse o termo de consentimento livre e esclarecido de

participação de pesquisa, sendo que ambos acordaram em assinar o mesmo.

A seguir, apresentou a caixa-de-areia e as miniaturas ao casal da seguinte maneira:

“- Essa é uma caixa com areia e revestida com material de cor azul nas laterais e no fundo.

Nesse armário encontram-se dispostas diversas miniaturas com as quais vocês poderão

construir juntos um cenário na caixa-de-areia.”

Após um breve intervalo, no qual o casal pode se aproximar da caixa e do armário, a

pesquisadora fez a seguinte solicitação:

“ – Eu gostaria que vocês dois construíssem juntos um cenário nessa caixa que

representasse o casamento de ambos. Podem construí-lo da maneira que quiseram, usando ou

não as miniaturas que desejarem. Enquanto isso, eu irei fazer algumas anotações e gostaria que

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vocês me avisassem quando a cena estiver terminada. Esse é um espaço livre para vocês

criarem, a única condição é que procurem evitar falar durante o processo. Mais tarde eu irei

fotografar a cena final com a finalidade de registrá-la.”

O registro de dados foi feito através de fotografia da cena final e também por anotações

especificando as todas as ocorrências durante a montagem da cena e a ordem de colocação

das miniaturas.

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3.4 Proposta de análise de dados

Os dados coletados foram analisados qualitativamente com o objetivo de averiguar a

existência ou não de alguma relevância no uso do Jogo de Areia como um recurso não - verbal

em terapia conjugal, seguindo o modelo adotado em estudo de caso.

Iniciou-se análise a partir da reação dos sujeitos frente ao instrumento da caixa-de-

areia e ao procedimento por eles adotado para construção do cenário. A seguir, destacou-se os

elementos significativos da cena final do Jogo de Areia, buscando amplificações simbólicas ou

conexões com dados da história de vida averiguados na entrevista e no genograma.

Finalmente, teceu-se considerações sobre os aspectos que supostamente poderiam caracterizar

a representação psíquica da união conjugal para os sujeitos.

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4 Discussão dos dados

4.1 Dados coletados

4.1.1 Dados relatados na entrevista e no genograma

O roteiro da entrevista foi dividido em duas partes. A primeira, relacionava-se a

caracterização do casal e já foi relatada no tópico de descrição dos sujeitos. A segunda parte,

relatada abaixo, refere-se ao histórico pessoal do casal. O relato foi dividido em três ítens, com

o objetivo de organizar os dados. O primeiro refere-se ao histórico do casal: como se

conheceram, como surgiu a decisão de viverem juntos, a vida em comum e as expectativas

futuras. O segundo e terceiro referem-se à família de origem de cada um. Os dados coletados

durante a confecção do genograma também foram agrupados com os da entrevista com o

objetivo de formar um panorama geral sobre o histórico de vida dos sujeitos.

A - Histórico do casal

Os dois se conheceram no ônibus, ele na função de motorista e ela no papel de

passageira regular da linha, pois era a sua condução diária para o trabalho. Os horários de

ambos coincidiam na jornada de ida e de volta. Assim, eles se viam todos os dias e

costumavam conversar durante todo o longo percurso. Em pouco tempo iniciaram o namoro e

depois de quatro meses, resolveram morar juntos.

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A decisão de dividirem a mesma casa em tão pouco tempo, segundo A., se deu em

razão da insatisfação de E. em viver de favor com uma colega e também porque ele acreditava

que ela seria a pessoa “certa” [sic] para ele.

Ambos afirmam ter afinidade, “combinam em tudo” [sic], pois gostam das coisas

arrumadas.

Segundo o casal não houve dificuldade de adaptação com a família ampliada de ambos.

E. sente-se praticamente adotada pelos sogros, pois é como uma filha para eles. Também

relata ter um bom relacionamento com os enteados. A . ressalta que seus filhos adoram a

madrasta.

O casal considera a união feliz, sem brigas ou diferenças. Moram juntos há um ano e

três meses e pretendem ter um filho em breve.

B- A família de origem da esposa (E.N.S.)

Os pais de E. tiveram quatro filhos, sendo apenas o caçula do sexo masculino. E. é a

filha mais velha, seguida por duas irmãs, uma com 21 e outra com 17, e pelo irmão de 14

anos.

O casamento dos pais terminou quando E. tinha aproximadamente 10 anos. Depois da

separação, a mãe fixou residência juntamente com os filhos na Bahia, onde é professora em

uma escola.

O pai foi trabalhar como metalúrgico em São Bernardo do Campo e casou-se

novamente, passando a residir com a esposa e os filhos de casamentos anteriores dela, um

rapaz de 15 anos e duas meninas com 10 e 9 anos de idade.

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Quando completou 18 anos, E. optou por morar com o pai e a sua nova família,

mudando-se para São Bernardo do Campo. Relata ter enfrentado dificuldades com a

madrasta, que não gostava muito dela e tinha ciúme da atenção que o marido dispensava à

filha. Também teve dificuldades de relacionamento com os enteados do pai, exceto com a

caçula, a quem afeiçoou-se.

Pouco tempo depois, seu pai veio a falecer e E. foi morar na casa de uma colega de

trabalho, porém “como morava de favor, era praticamente escravizada” [sic], referindo-se ao

modo como era tratada e a pouca liberdade que dispunha. Entretanto, permaneceu nessa casa

até casar-se.

E. diz ter um bom relacionamento com sua mãe e irmãos, principalmente com a irmã

de 21 anos. Alega que as idéias de ambas combinam, pelo fato dela também ser casada e ter

um filho de dois anos de idade. Os irmãos solteiros tem outros tipos de preocupação, como

festas e amizades.

C – A família de origem do marido (A.T.O.)

Os pais de A. tiveram três filhos, todos do sexo masculino, sendo ele o segundo. O pai

é motorista particular e a mãe, dona de casa.

O irmão mais velho de A. está com 33 anos, é casado e tem dois filhos. O caçula tem

21 anos é solteiro e mora com os pais.

De modo geral, A. considera desfrutar de um bom relacionamento com os pais e

irmãos.

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A . casou-se pela primeira vez aos 18 anos de idade com uma esposa igualmente

jovem, de apenas 17 anos. Tiveram dois filhos, ambos do sexo masculino, atualmente com 9 e

7 anos de idade.

O casamento durou 9 anos e a causa da separação foram os constantes

desentendimentos entre o casal. Todavia, A. diz ter se esforçado muito para evitar o divórcio,

mas “ela não era a pessoa certa para mim” [sic].

Depois da separação, ele hospedou-se na casa dos pais durante três anos, pois não

queria morar sozinho. Nesse período, também não manteve relacionamentos amorosos.

4.1.2 Transcrição da associação livre

Após o término da montagem do cenário na caixa-de-areia, a pesquisadora solicitou ao

casal descrever algumas das impressões obtidas com a experiência e também que eles

contassem uma história sobre a cena produzida. Utilizou-se de um gravador para registrar as

falas, a seguir transcritas:

“Pesquisadora - Eu gostaria que vocês falassem agora como que foi para vocês estarem

fazendo esse exercício, o que vocês sentiram...

Ele- É legal, interessante, diferente.

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Ela- Quando eu fiz eu imaginei mais o interior da casa, então eu fiz mais ou menos como eu

arrumo a minha casa... foi legal, eu imaginei colocar mais coisa... um berço de neném mas

como pensei não tenho neném ainda, né, então ...

Pesquisadora – Vocês construíram uma cena. Se vocês tivessem que me contar uma história,

como seria essa história sobre essa cena ?

Ele- Eu começaria , né? Uma casa, sei lá, no campo , né? Com bastante verde, não ia poder

faltar o cachorrinho, né?... um bom churrasco e os amigos ao redor , né?”

Pesquisadora – Algo mais?

Ele – Um bom churrasco e os amigos ao redor ! Não precisa de mais nada, né? Numa casa de

campo...

Pesquisadora – Parece que você gosta mesmo de churrasco com amigos.

Ele- (risos) Ah... com certeza.... (risos)

Ela – (risos)

Pesquisadora - E você E.?

Ela - Ah, Quando eu fiz ... assim eu me imaginei chegando do serviço, né... indo arrumar o

que eu deixei, arrumar o que eu deixei desarrumado quando eu sai de casa....

Pesquisadora – E o que mais?

Ela- Não sei... não tô conseguindo expressar, o que eu quero dizer... só que estaria indo

arrumar, tudo em ordem.

Pesquisadora – E você gosta de tudo em ordem?

Ela- Gosto... Tudo arrumadinho.

Pesquisadora - E você gosta de tudo arrumadinho também?

Ele- Tudo.

Pesquisadora - Vocês arrumam tudo?

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Ele- Ah, sim...

Ela- A gente desarruma mas, mas termina arrumando tudo.”

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4.2 – Análise dos dados coletados

Durante a montagem da cena, E. e A. não se falaram e nem trocaram olhares, cada um

permaneceu concentrado na sua atividade, individualmente, como se o outro não estivesse

presente. Também não se detiveram sobre o que o outro construía, agindo de forma

independente.

A . foi o primeiro a escolher uma miniatura e iniciar a montagem e também terminou

antes que E. Dirigiu-se sem hesitação para o armário, como se já soubesse quais peças

escolheria. E. se deteve por breves momentos para analisar e escolheu uma miniatura de um

vaso sanitário para dar início a montagem do cenário.

Durante todo o processo observou-se que não houve interação consciente entre o casal.

Entretanto, ambos versaram sobre o mesmo tema, embora sob ângulos opostos, e escolheram o

mesmo título para o cenário: “ nossa casa”.

Enquanto A. construiu um cenário que representa uma casa e as suas dependências

externas, E. representou o mobiliário interno de uma residência. Assim, é possível considerar

como tema comum a casa, sendo que A . privilegiou o ângulo externo e E. o ângulo interno.

O tema comum “casa” manifestou-se espontaneamente, o que pode evidenciar alguma

comunicação inconsciente entre o casal, bem como este tratar-se de um símbolo representante

da aliança conjugal, pois quando solicitados a construir um cenário que representasse o

casamento, ocorreu a ambos representar a casa, embora um tenha escolhido o lado de dentro e

o outro, o de fora.

De acordo com a teoria junguiana dos tipos psicológicos, essa escolha poderia revelar

indicativos de traços de introversão ou extroversão. Assim, pode-se supor que A . valorize o

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meio externo, enquanto que E. o mundo interno, a intimidade. Nesse caso, A. corresponderia

ao tipo extrovertido e E. ao introvertido.

Por outro lado, o mundo externo e interno também poderiam representar os papéis

sociais convencionais do masculino e do feminino no casamento, cujo estereótipo corresponde

a mulher incumbida em cuidar do lar, enquanto o homem exerce atividades fora deste.

A escolha do tema comum e o título atribuído “nossa casa” revela que o casal valoriza

a moradia compartilhada como representante da união conjugal.

Os dados obtidos na entrevista demonstram um intenso desejo de uma casa própria e

concreta quando o casal se conheceu. E. morava com uma colega em uma situação de

subserviência e A . morava com os pais após a sua separação, pois não desejava morar só. A

união representava para ambos uma forma de realizar esse desejo. Para E. seria a oportunidade

dela ser a dona da casa e para A., a disponibilidade de uma pessoa “certa” [sic] lhe fazer

companhia. Talvez essa seja uma das razões do casal ter optado pela moradia em comum

depois de 4 meses de quando se conheceram.

Para Lexiton (1992) a casa, assim como o templo, é um símbolo cósmico. Por ser

uma área cercada e organizada, representa a ordem cósmica. Também faz referência ao corpo

humano, uma vez que este é considerado a morada da alma em várias culturas e religiões. A

relação casa e corpo humano pode figurar através de uma correspondência detalhada, na qual a

fachada externa da casa corresponde à aparência exterior; o telhado, à cabeça, ao espírito ou à

consciência; o porão aos instintos e ao inconsciente; a cozinha, às transformações psíquicas.

Do ponto de vista simbólico, “nossa casa” pode fazer referência a essa ordem cósmica

compartilhada, o templo em que ambos reverenciam o aspecto sagrado da união.

A casa representada por E. é composta por objetos inanimados, exceto algumas

plantas, porém estas foram colocadas por último e parecem ter uma função apenas decorativa.

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O predomínio de elementos inanimados somado à ausência de figuras humanas pode sugerir a

projeção de conteúdos desvitalizados. Sendo assim, supõe-se que E. procure afastar-se e não

manter contato com as emoções suscitadas na relação entre o casal.

Além disso, a predominância da cor rosa no cenário, pode ser um indicativo da

projeção de aspectos idealizados sobre a relação.

A primeira miniatura escolhida por E. para compor a cena foi um vaso sanitário. Esta

também foi a única peça que foi remanejada de posição. Inicialmente, a peça foi colocada no

lado da caixa oposto ao que E. se encontrava e depois em uma posição próxima. Essa mudança

pode sugerir alguma dificuldade inicial com a representação escolhida, pois esta teve de

ocupar primeiro um lugar distante para depois poder aproximar-se.

O vaso sanitário ou privada é um objeto destinado ao depósito dos excrementos. De

modo geral, representa uma evolução da civilização em termos de higiene pessoal. A privada

provê um destino adequado aos dejetos, portanto pode ser considerada como um elemento

purificador e promotor de limpeza.

Segundo Chevalier e Gheerbrant (1991) os excrementos, que aparentemente podem ser

considerados como elementos desvalorizados, são um receptáculo de força e uma potência

biológica regeneradora, a ponto de alguns radioestesistas afirmarem que a vibração dos

dejetos é equivalente à do ouro.

Desse modo, a princípio os dejetos são portadores de um caráter negativo e de

manifestação da sombra, significando imundície e pecado. Porém, em um segundo momento,

assumem um aspecto regenerador de poder e vitalidade.

Os excrementos são uma produção concreta e independente do indivíduo. Durante a

infância, a criança vivencia a si mesmo como criadora e exercita seu próprio poder através

dos dejetos, segundo Whitmont (1990).

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Para o autor, a analidade representa auto-afirmação agressiva, poder , posse e controle

das pessoas, objetos e de si mesmo. Exigindo esforço e pressão para expelir ou reter os

dejetos. Por outro lado, a experiência urinária enfatiza a coibição, predominando a restrição

dos anseios em deferência a um ideal de ego. A doação se contrapõe à contenção da fluidez

dos impulsos libidinais.

A presença de objetos na cena, juntamente com as referências sobre a preocupação em

manter tudo arrumado feitas na associação livre e na entrevista podem ser indicativos de traços

de analidade na personalidade de E., tais como controle excessivo e preocupação exacerbada

com limpeza.

Por outro lado, esses traços também podem exprimir que E. vivencia a relação como

um meio que lhe proporciona auto-afirmação, independência e poder visto que E. viveu como

hóspede por um longo período de sua vida. O casamento lhe proporcionou um lar, um espaço

no qual ela exerce o comando e é a “dona da casa”.

Na cena construída por A. existem figuras humanas, plantas, fogo, alimento, veículo de

transporte e um animal sugerindo vitalidade e emotividade, de acordo com Kalff (1993). Tal

aspecto é enfatizado durante a associação livre, pois A. descreve a cena como um churrasco

com os amigos, sugerindo dinamismo e afetividade.

A presença do cachorro foi enfatizada por A., “não poderia faltar” [sic]. Na cultura

ocidental esse animal está associado a imagem de fidelidade e também de companheirismo,

conforme apregoa o dito popular: “o cão é o melhor amigo do homem”.

O cachorro é o animal doméstico por excelência e também cumpre a função de

guardião vigilante do lar.

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Segundo Chevalier e Gheerbrant (1991), o cão é um elemento psicopombo, ou seja, um

mensageiro entre o mundo real e o invisível ou entre a região dos vivos e dos mortos. Dessa

foram, são atribuídas ao cão a clarividência e familiaridade com a morte e a noite.

O cão pode receber atributos positivos como o de heroísmo, potência sexual e

fidelidade, bem como outros negativos como gula e avidez.

O simbolismo do cão abrange concepções antagônicas, podendo assumir ao mesmo

tempo a forma de um espírito protetor como a de suporte da maldição divina, o bode

expiatório ou anjo caído.

Na cena construída por A. parece que o cão assumiu a forma de guardião, sugerindo a

expectativa de fidelidade e companheirismo em relação ao casamento. Na entrevista, A.

comentou que retornou para a casa paterna depois de separar-se do primeiro casamento porque

não queria morar só. Isso pode sugerir que A. valoriza o companheirismo como fator

preponderante no casamento.

Outro ponto a ser destacado é que o casal referiu o desejo de ter um filho durante a

entrevista. Após a montagem da cena E. comentou que pensou em colocar um berço, mas não

o fez porque ainda não tem um bebê.

A evocação da imagem de um bebê pode sugerir a antecipação de acontecimentos

futuros que implicam em desenvolvimento criativo para o casamento. Segundo Jung (1993), a

criança é futuro em potencial e simboliza as mudanças da personalidade. É também um

símbolo mediador e portador de cura, ou seja, possibilita restaurar a integridade da psique. No

processo de individuação, é um símbolo que antecipa a figura de Self, decorrente da síntese

entre consciente e inconsciente.

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5 Conclusão

As origens da terapia familiar encontram-se profundamente ligadas com o estudo sobre

a comunicação humana promovido pelo Grupo de Palo Alto. Desse modo, a teoria da

comunicação, abrangendo os aspectos verbais e não-verbais sempre ocupou um importante

papel nessa abordagem.

O presente trabalho buscou verificar se o Jogo de Areia em terapia conjugal viabiliza

uma interação não-verbal entre o casal e promove uma conscientização de aspectos

desconhecidos da relação.

Os dados analisados não são conclusivos, pois trata-se de um estudo breve e que

necessita de aprofundamento, porém pôde se observar que o Jogo de Areia pode contribuir

para a terapia conjugal e ser empregado nas mesmas situações em que é utilizado o Scenotest,

com algumas vantagens, tais como: como a possibilidade de representar tanto os aspectos

cotidianos como os fantásticos e o fator terapêutico em si proporcionado pelo contato com a

areia, no sentido de estimular o sentido do tato.

O Jogo de Areia demonstrou-se um recurso valioso para ser utilizado em avaliação da

dinâmica conjugal, pois revela os padrões de interação do casal . Além disso, o processo de

construção do cenário permite que através dos materiais simbólicos se faça uma investigação

profunda da dinâmica conjugal, possibilitando averiguar, por exemplo, símbolos da aliança

conjugal e as motivações inconscientes para escolha do cônjuge.

Sem a pretensão de esgotar todas as possibilidades oferecidas pelo Jogo de Areia em

terapia conjugal, este estudo sugere que o Jogo de Areia promove uma interação não-verbal

entre o casal e contribui para a percepção de aspectos desconhecidos da relação.

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Anexos

Anexo I

Relação das miniaturas disponíveis para o Jogo de Areia

Animais domésticos 6 porcos pequenos 2 porcas com filhotes 2 gatos amarelos 1 pata branca com 3 filhotes amarelos 1 cachorro 4 pássaros pequenos 3 cachorros pretos de resina 3 cisnes brancos de resina 3 cachorros raça “bulldog” de resina 3 cachorros cinza de resina 4 cavalos marrons “forte apache” 3 cavalos brancos “forte apache” 1 cavalo preto “forte apache” 2 cavalos branco com marrom 1 cabrita 1 cavalo azul

Animais selvagens 2 javalis 3 águias de resina 3 veados de resina 3 girafas pequenas (amarela, vermelha e amarela manchada) 1 girafa grande 2 elefantes pequenos (cinza e azul) 1 ema

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1 elefante grande 2 ursos pequenos (marrom e azul) 1 urso grande 1 urso dourado 3 macacos verdes pequenos 1 macaco preto 2 leões dourados 1 leão amarelo 2 cangurus 2 panteras pretas 3 pumas amarelo (1 filhote) 1 puma dourada 1 onça 2 rinocerontes marrom 1 rinoceronte cinza 1 rinoceronte cinza grande 1 búfalo verde 1 águia verde 2 alces (marrom e preto) 1 veado marrom 3 veados pequenos (2 dourados, 1 laranja) 2 lobos (verde e marrom) 2 camelos (azul e amarelo) 1 tamanduá amarelo 2 corujas de resina 1 pelicano

Répteis 1 mini tartaruga 4 tartarugas brancas 4 tartarugas vermelhas 4 tartarugas verdes 1 tartaruga amarela 2 sapos (vermelho e verde) 2 jacarés( verde e marrom) 4 crocodilos

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Animais pré-históricos 2 animais de pé (verde e azul) 2 rinocerontes (azul e amarelo) 1 rinoceronte azul pequeno 2 dinossauros herbívoros (amarelo e vermelho) 1 dinossauro verde e preto 1 dinossauro cinza 1 dinossauro marrom 1 dinossauro lagarto amarelo 1 dinossauro rabo grande azul 1 pterodactilo (pássaro jurássico) amarelo e verde 5 dinossauros pequenos 1 dinossauro rosa

Animais peçonhentos 8 cobras 1 morcego 5 ratos 4 escorpiões 14 aranhas 1 centopéia 4 lagartos

Insetos 1 joaninha 2 abelhas 1 formiga 1 escaravelho 2 moscas 1 marimbondo 1 libélula 1 gafanhoto

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Animais marinhos 1 pingüim 1 caranguejo 2 tubarões vermelhos 1 tubarão prateado 1 tubarão verde 10 peixes 3 golfinhos (azul claro, azul escuro e vermelho) 4 baleias (2 azuis claras, 1 prateada e 1 cinza) 4 leões marinhos (2 azuis claros, 1 prateado e 1 laranja) 2 focas cinzas 1 cavalo marinho 4 lagostas verdes 1 mini lagosta 1 lula 1 peixe espada 7 peixes redondos (azul e branco com listas pretas) 3 peixes (1 azul e 2 amarelos) 2 mini golfinhos

Animais da fazenda 2 cavalos brancos 2 cavalos base cinza 2 cavalos pretos 2 potros 1 cavalo cinza 1 burro cinza 4 cavalos marrons 3 cavalos marrons pequenos 4 vacas pequenas 4 vacas 2 bois brancos (branco e marrom) 1 vaca sentada 2 vacas (marrom e preta) 4 carneiros brancos

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1 ovelha amarela 4 porcos vermelhos e grandes

Pedras 1 pedra branca 1 pedra preta 1 pedra preta com manchas brancas 1 pedra marrom com manchas pretas 1 pedra marrom com manchas brancas 2 pedras cristais 2 pedras marrom clara 1 pedra prateada 1 pedra verde clara 1 pedra verde escura 1 pedra azul 1 pedra com manchas brancas, pretas e azuis

Construção 1 estação rodoviária 1 mini shopping 1 igreja verde 1 sobrado amarelo e cinza 1 sobrado amarelo e vermelho 1 casa suspensa cinza 1 prédio cinza e vermelho 1 cantina do Babo 12 casinhas 1 sobrado roxo e laranja 1 casa de cachorro 1 castelo medieval 1 castelo da nuvem 1 sobrado colorido 20 postes de luz preto 5 postes metálicos de fios

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5 postes metálicos de luz 4 pequenos arquitetos de montar 1 cerca verde 1 cerca laranja 1 cerca marrom 1 cerca branca 1 forte apache 1 castelo do fundo do mar 4 faróis 1 aeroporto 1 estação de trem 1 estábulo 2 trilhos de trem amarelo 10 cercas marrom 4 cercas madeira 1 cerca arame farpado 4 cercas amarelas 2 barreiras (X) 2 ocas 2 totem 1 roda gigante

Brinquedos 1 gangorra 1 escorregador 2 caixas de areia 1 carrinho de mão 1 atirador de bola 1 cavalo de balanço 1 urso marrom 1 skate 1 tartaruga de praia amarela 1 cisne de praia verde 1 bola de basquete 1 coelho amarelo 4 ursos amarelos 1 bola de isopor 2 gols

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Armas 3 escudos 3 lanças 2 machadinhas 3 facas 2 metralhadoras 1 corda 1 algema 1 espingarda 3 revólveres 1 rádio usado para combate 2 canhões 1 arpão 1 espada pequena 1 espada grande 2 armaduras 1 arma laser 1 arma medieval 1 porta espada 1 arma alienígena 1 cacetete

Figuras santas Santo Antônio Santa Rita Nossa Senhora Aparecida Jesus São Francisco Presépio com 12 figuras (menino na manjedoura, carneiro, burro, vaca, menino rezando, 3

reis magos e 3 pastores) 1 Buda

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Figuras fantásticas 1 Hades 1 carrasco 1 Superman 1 Hércules 1 mulher planta 1 bruxa com sapo 1 fada 1 bruxa com caldeirão (roxa) 1 casal de figuras árabes 1 mago velho 1 baiana 2 bruxas roxas (1 loira e 1 morena) 1 espantalho 1 Deusa Shiva 1 figura hindu tocando flauta 1 Buda hindu 1 Jerry 2 sereias 1 Rabugento 1 Tom 1 tartaruga Touché 1 bandido (esquadrilha da morte) 4 duendes 1 bruxa com caldeirão branca 1 bruxa com vassoura verde 1 corcunda 1 fantasma 1 mulher serpente 1 estátua / busto 1 saci 1 bruxa plástico verde com vassoura 1 caveira 1 múmia 1 espantalho verde 1 diabo 6 robôs 1 mini fada

Flores, frutas e jardim 8 vasos de flor coloridas

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6 framboesas 12 cogumelos pequenos 2 cachos de uva verdes 6 cogumelos grandes 2 maçãs 1 mini jardim de flores 1 cactos com base 3 palmeiras 1 planta de aquário 2 arbustos 3 pinheiros 2 galhos 1 flor roxa 1 flor vermelha 1 arbusto de aquário 3 árvores cheias 2 arbustos verde claro 3 cipreste 1 coqueiro 1 árvore esponja 2 árvores com flores roxa 1 árvore com flores laranja 3 árvores espinhentas 2 arbustos com flores 1 mini cactos rosa 4 árvores de flor rosa 2 mini pinheiros 2 mini arbustos 1 mini árvore laranja 2 árvores de plástico 1 vaso de flor 2 pétalas de flor 1 árvore seca 1 alga

Meios de transporte 1 barco a remo 1 canoa branca e cinza 1 jet-ski 10 fuscas coloridos 10 aviões coloridos

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1 avião comercial 6 barcos coloridos 1 balão pirata 2 barcos de madeira e barbante 1 carroça com cavalos 1 carroça coberta 1 sinais de trânsito 1 megafone 23 placas de trânsito 2 cones 2 faróis 2 cancelas 1 barco pirata com remo 1 bote amarelo 1 carro de bombeiro com escada 1 locomotiva 3 motos 1 helicóptero 1 carro de polícia 2 carros de bombeiro 1 ambulância 2 barcos numa carreta 1 caminhão carga 2 guinchos 2 tratores 1 caminhão carreta 1 caminhão carga 2 guinchos 2 tratores 1 caminhão carreta 2 carrinhos de fórmula 1 1 carrinho de corrida 1 foguete 1 nave 2 tanques de guerra 3 naves coloridas 1 disco voador 2 carros lança foguete 2 aviões de guerra 3 carros de guerra 1 ambulância de guerra

Móveis

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2 gabinete de banheiro 1 cama 1 geladeira 1 penteadeira 1 espelho 1 guarda roupa 1 berço cadeirão de urso 1 andador 1 sofá 1 luminária 3 criados mudos 1 gabinete de cozinha 1 televisão pequena azul 1 armário 1 televisão grande amarela 1 mesa de centro 1 abajur com cabideiro 1 mesa de jantar 6 cadeiras amarelas redondas 1 chiqueirinho 2 trocadores de nenê 1 vaso sanitário 1 banheira 1 máquina de lavar roupa 1 cabideiro 1 espelho roxo e rosa 1 estante 1 jarra 6 chinelos 4 facas 4 garfos 4 colheres 1 garfão 1 concha 1 colher de pau 1 cama com golfinhos 1 penteadeira rosa 2 cadeirinhas verdes com coração 1 puf 1 abajur 3 amarelos e azul 1 mesa de centro com vidro 1 cadeira de balanço 1 espreguiçadeira 5 bandeiras dos EUA

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1 bandeira medieval 5 canecas de chopp 1 barril 3 baldes de madeira 1 balde vermelho 1 cesta de palha 1 baú 1 baú com luz amarela 1 rádio 1 TV 1 mesa 1 cadeira 1 bandeira 1 vaso 2 chapéus verdes 1 azul 1 avental verde 2 xícaras 2 pratos 2 pratos com 2 tigelas

Objetos 1 carrinho de bebê 6 ferros de passar roupa 1 balde de poço 6 baldes coloridos 1 lixeira rosa 1 máquina de escrever 1 computador 1 telefone verde 1 luminária rosa 1 candelabro 2 mamadeiras ( rosa e roxa) 2 hambúrgueres 1 bandeja/ jogo de café 4 copos roxos 2 taças roxas 4 tigelas amarelas 1 fone de telefone vermelho 1 vara de pescar 1 bandeira de pirata

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1 bandeira americana 1 relógio despertador 1 lamparina 1 guarda sol 1 pente grande 1 pente pequeno 1 abajur pequeno rosa 1 porta retratos 1 cesto roxo 1 jaula 1 rádio 1 escova grande 1 escova pequena 1 espelho rosa 1 bolsa rosa 1 tigela rosa 1 pinico 1 chupeta 1 colher em forma de coração 2 chocalhos 1 âncora 1 bóia salva vidas 1 vassoura 20 guardas chuvas 1 comida de cachorro 1 carrinho de sorvete 1 tesouro do fundo do mar bolas de gude 2 conchas 2 baús 1 mini candelabro 1 mini espelho 1 espelho de sol 1 estrela de 5 pontas 1 caldeirão com salamandra 1 sol 1 lua 1 sol e lua 1 pá 1 respirado

Hospital

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1 biombo com 6 peças 1carrinho de copa 1 mesa de cabeceira 1 aparelho de eletro 1 raio X 1 bandeja de instrumentos instrumentos 2 soros 1 cama completa de hospital 1 monitor com gavetas 1 luminária de cirurgia 1 armário com gavetas 5 potes de medicamentos 2 ataduras de cabeça 3 gessos

Figuras humanas 2 pescadores playmobill 1 mergulhador playmobill 1 capitão gancho playmobill 2 doentes engessados playmobill 1 menina engessada playmobill 1 enfermeira playmobill 4 médicos playmobill 1 jogador de basquete 1 jogador careca 2 bailarinas (1 verde e 1 rosa) 6 bebês pelados 1 cigana 1 menino e 1 menina de óculos escuro 1 guarda playmobill 12 bonecas mulheres 2 skatistas 2 mulheres de calça jeans 2 mães de saia roxa 1 homem de calça verde 1 loira rosa 1 menininho e 1 menininha 1 lourinha de roxo 4 camponesas 2 camponeses

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1 noivo carregando a noiva 1 noivo beijando a noiva 1 noivo dançando com a noiva 6 bonecos corinthianos 1 menininho e 1 menininha de praia 1 pirata playmobill 6 bonecos são paulinos 12 cowboys 1 guerreiro 1 sorveteiro playmobill 1 criança menino e menina playmobill 2 homens da caverna 1 rei 1 cavaleiro medieval 1 mergulhador 6 soldados com espingarda 1 soldado flechado com revolver e faca 1 soldado com bandeira 1 soldado sentado com revolver 1 soldado com espada 1 soldado com corneta 2 índios com espingarda 3 índios com arco e flecha 2 índios com faca e machadinha 1 índio com flecha 2 índios com faca 1 índio com machadinha e escudo 1 índio com flecha e escudo 12 homens maquete 2 homens sentados maquete 1 casal maquete 1 casal sentado maquete 1 velho com bengala maquete 2 mulheres sentadas maquete 9 mulheres maquete 1 homem velho com espada 1 mergulhador no fundo do mar 2 cavaleiros medievais playmobill 1 policial playmobill 1 pirata playmobill 1 ladrão playmobill 9 índios 20 soldados verdes 35 astronautas 2 alienígenas pequenos 5 bandidos faroeste 2 bandidos faroeste agachados

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1 trabalhador com pá 1 trabalhador com inseticida 1 trabalhador com britadeira 1 bombeiro com máscara 1 jardineiro 1 policial agachado

Roupas • 2 bonés amarelos • 2 chapéus vermelhos

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Anexo II Principais símbolos estandardizados do genograma, segundo Murray Bowen

Sexo Masculino: Sexo Feminino: Morte: ou Casamento: Marido à esquerda Mulher à direita Nascimento dos filhos: de esquerda à direita, por ordem de nascimento Filha segundo filho

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............................................. Concubinagem Separação Divórcio Aborto natural ou provocado Gêmeos Filhos adotivos

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Anexo III Genograma de A. (destacado em azul)

21 33

31

7 9

46 56

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Anexo IV Genograma de E. (destacada em vermelho)

2

46

23 17

21

2

14

9 10

15