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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO LETICIA SOARES DANIEL ARQUITETURA MODERNA INSTITUCIONAL EM TERESINA: reflexos de um arquiteto migrante São Paulo 2014

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/363/1/Leticia Soares Daniel.pdf · Ao meu pai Hermes, avó Ana Cristina e irmãos Layla

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1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LETICIA SOARES DANIEL

ARQUITETURA MODERNA INSTITUCIONAL EM TERESINA: reflexos de um arquiteto migrante

São Paulo

2014

2

LETICIA SOARES DANIEL

ARQUITETURA MODERNA INSTITUCIONAL EM TERESINA:

reflexos de um arquiteto migrante

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rafael Antônio da Cunha Perrone

São Paulo

2014

D184a Daniel, Leticia Soares

Arquitetura moderna institucional em Teresina: reflexos de um arquiteto migrante / Leticia Soares Daniel – 2014.

202 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Bibliografia: f. 146-149.

1. Arquitetura moderna. 2. Araújo, Antonio Luiz Dutra de

(arquiteto). 3. Edifícios institucionais. 4. Teresina (Piauí). I. Título.

CDD 724.9

3

LETICIA SOARES DANIEL

ARQUITETURA MODERNA INSTITUCIONAL EM TERESINA:

reflexos de um arquiteto migrante

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Prof. Dr. Rafael Antônio da Cunha Perrone – Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie

______________________________________________________

Profª. Drª. Aline Nassaralla Regino

Universidade Belas Artes

______________________________________________________

Profª. Drª. Ana Gabriela Godinho Lima

Universidade Presbiteriana Mackenzie

4

Para minha mãe, Ana Lavínia.

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte de fé e sabedoria, por me iluminar e amparar durante essa

jornada.

Ao meu pai Hermes, avó Ana Cristina e irmãos Layla e Rhavi, pelo apoio,

sempre presentes em minha vida.

À minha família e aos meus amigos, por estarem sempre na torcida, obrigada

pelas palavras de incentivo.

À Leticia e Bruno em especial, por serem verdadeiros irmãos e meu porto

seguro em São Paulo. Obrigada pela amizade e pela alegria.

Ao professor Rafael Perrone, minha eterna gratidão, por ter sido orientador

persistente e apostar no tema do trabalho, agradeço pelos ensinamentos.

Ao arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo, pela disposição e paciência em

nossas conversas.

Ao engenheiro Lourival Sales Parente, pela contribuição à pesquisa.

Às professoras Gabriela Godinho e Aline Regino, pelos comentários e

sugestões sobre o trabalho.

À professora Alcília Afonso, pela força para ingressar no mestrado e por ser

uma figura de incentivo à pesquisa acadêmica em arquitetura no Piauí.

6

RESUMO

O presente trabalho é uma dissertação de mestrado realizada no Programa de Pós-

Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, intitulado Arquitetura

institucional moderna em Teresina: reflexos de um arquiteto migrante. Trata-se da

análise de três edifícios institucionais modernos, projetos do arquiteto mineiro

Antonio Luiz Dutra de Araújo na cidade de Teresina, Piauí. São eles: Edifício Cepisa

(1973), edifício-sede do Ministério da Fazenda (1973) e edifício do Palácio do

Comércio (1977). O arquiteto teve uma vasta e heterogênea produção arquitetônica

no estado, trabalhando com diversas escalas e tipologias, e é considerado um dos

pioneiros ao utilizar a linguagem moderna em seus projetos na capital piauiense.

Tais exemplares carregam uma relação entre o modo de projetar do arquiteto e os

fatores limitadores de uma cidade nos primórdios de modernização. Inicialmente,

realiza-se um histórico da arquitetura moderna em Teresina, enquadrando alguns

personagens e obras importantes na cidade. Posteriormente, é dada atenção à

trajetória profissional de Antonio Luiz e à apresentação de exemplares de qualidade

projetual expressiva, parte de sua obra. Os três últimos capítulos apresentam

análises sistemáticas de cada edifício escolhido como objeto de estudo. Por fim,

serão realizadas as considerações finais e conclusões.

Palavras-chave: Antonio Luiz. Teresina. Edifícios institucionais. Arquitetura moderna.

7

ABSTRACT

The present work is a dissertation conducted in the Post-Graduate Mackenzie

University and is titled Building modern architecture in Teresina: reflections of an

migrant architect. It deals with the analysis of three modern institutional buildings,

projects of the architect of Minas Gerais Antonio Luiz Dutra de Araújo in the city of

Teresina, Piauí. The three buildings are: Cepisa Building (1973), Headquarters of the

Ministry of Finance (1973) and the Palace of Trade Building (1977). The architect had

a wide and heterogeneous architectural production in the state, working with different

scales and types, and he is considered one of the pioneers to use the modern

language in their designs in the capital of Piauí. Such copies bear a relation between

the way of designing architect and the limiting factors of a town in early

modernization. Initially, this work describes a history of modern architecture in

Teresina, framing characters and some important works in the city. Subsequently

attention is given to the career of Antonio Luiz and to submitting copies of projetual

expressive, quality of his work. The last three chapters are the systematic analysis of

each chosen as the object of study building. Finally, the conclusions will be made.

Keywords: Antonio Luiz. Teresina. Institutional buildings. Modern architecture.

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Mapa atual do território do estado do Piauí 29

Figura 1.2 Mapa do plano elaborado pelo conselheiro Saraiva para a

cidade de Teresina

30

Figura 1.3 Praça Marechal Deodoro ainda no século XIX, com os

primeiros prédios públicos ao redor. Ao fundo, a Igreja Matriz,

ainda sem as torres, e, à esquerda, o Mercado Público

31

Figura 1.4 Imagem de meados do século XIX da Delegacia Fiscal,

atualmente, Justiça Federal

32

Figura 1.5 Praça Pedro II em Teresina, Piauí: ao fundo, o Cine Rex em

art déco

36

Figura 1.6 Fachada do Hospital Getúlio Vargas voltada para a Avenida

Frei Serafim

37

Figura 1.7 Mapa representativo da expansão urbana de Teresina entre

1800 e 1980

39

Figura 1.8 Imagem da maquete física do Estádio Albertão, publicada no

jornal O Dia de 1972. Arquiteto Raul Cirne

40

Figura 1.9 Vista aérea do estádio e do entorno em 2004 41

Figura 1.10 Fachada oeste do Edifício Chagas Rodrigues –

Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Arquiteto

Maurício Saed, 1955

43

Figura 1.11 Painel de Anísio de Medeiros no Monumento aos Pracinhas

no Rio de Janeiro em 1952

44

Figura 1.12 Painel de Anísio de Medeiros no Monumento aos Pracinhas

no Rio de Janeiro em 1952

44

Figura 1.13 Painel de Anísio de Medeiros na Escola Dom Silvério em

Cataguases, Minas Gerais

45

Figura 1.14 Painel de Anísio de Medeiros na Casa Nanzita Gomes em

Cataguases, Minas Gerais

45

Figura 1.15 Perspectiva da Casa David Cortelazzi, em Teresina, 1968 46

Figura 1.16 Perspectiva da Casa David Cortelazzi, em Teresina, 1968 46

9

Figura 1.17 Planta baixa pavimento térreo (à esquerda) e primeiro

pavimento

47

Figura 1.18 Fachada noroeste da Casa Zenon Rocha 47

Figura 1.19 Escola J. Clímaco d’Almeida, em Teresina 49

Figura 1.20 Fachada da Igreja do Cristo Rei, em Teresina 49

Figura 1.21 Tribunal de Justiça. Arquiteto Acácio Gil Borsói, 1972 50

Figura 2.1 Arquiteto Antonio Luiz 53

Figura 2.2 Planta baixa da residência em Rio das Ostras 56

Figura 2.3 Croqui da residência em Rio das Ostras, Rio de Janeiro, em

1963; primeiro projeto de Antonio Luiz

56

Figura 2.4 Agência do Banco Nacional em Porto Alegre, início da

década de 1960

57

Figura 2.5 Vista aérea do Hotel Tambaú, 2011 58

Figura 2.6 Antonio Luiz Dutra (à direita) e seu sócio Márcio Lustosa no

escritório da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro

59

Figura 2.7 Fachada da agência do Banco Nacional em Teresina, Piauí,

no ano de 1964

60

Figura 2.8 Interior da agência do Banco Nacional em Teresina, Piauí, no

ano de 1964

60

Figura 2.9 Imagem do escritório Maloca em Teresina, em 1968 61

Figura 2.10 Planta do escritório Maloca em Teresina 62

Figura 2.11 Escritório Maloca em 2014 62

Figura 2.12 Conjunto Maloca, localizado na zona leste de Teresina. Foto

do fim da década de 1960

64

Figura 2.13 Escritório da Construtora Lourival Sales Parente S.A.,

localizado na Avenida Frei Serafim. Antonio Luiz Dutra de

Araújo, 1976

64

Figura 2.14 Perspectiva do projeto do Mercado Público de Coelho Neto,

Maranhão. Ano de 1971

66

Figura 2.15 Perspectiva do Instituto Antonino Freire 69

Figura 2.16 Planta baixa dos blocos do Instituto Antonino Freire 70

Figura 2.17 Detalhe da solução da ventilação dos blocos, realizada por

Antonio Luiz no Instituto Antonino Freire

71

10

Figura 2.18 Caixa d’água do Eldorado Country Club 71

Figura 2.19 Perspectivas do prédio do Eldorado Country Club 72

Figura 2.20 Edifício-sede do BEP no ano de 1971 73

Figura 2.21 Planta do pavimento-tipo do edifício-sede do BEP, 1968 74

Figura 2.22 Imagem do interior do edifício-sede do BEP na década de

1960: pavimento térreo e mezanino

74

Figura 2.23 Agência da Caixa Econômica Federal em Parnaíba 75

Figura 2.24 Agência do BEP em Parnaíba 75

Figura 2.25 Agência do BEP de Picos, 1974 75

Figura 3.1 Mapa do centro de Teresina com a locação dos edifícios a

serem estudados. A linha vermelha delimita o território do

centro de Teresina atualmente. O espaço quadrangular

tracejado em branco representa primeiro traçado da capital

do século XIX. Em amarelo, encontram-se os três edifícios

em estudo: 1) Edifício do Ministério da Fazenda; 2) Edifício

do Palácio do Comércio; 3) Edifício Alberto Tavares Silva

(Cepisa)

84

Figura 3.2 Vista aérea dos edifícios: 1) Edifício Alberto Tavares Silva

(Cepisa); 2) Edifício do Palácio do Comércio; 3) Edifício do

Ministério da Fazenda. O espaço tracejado em branco

corresponde à parte da malha urbana inicial de Teresina

85

Figura 3.3 Imagem aérea de Teresina no início da década de 1960. Ao

fundo, o Rio Parnaíba; a igreja com volume em duas torres é

a Igreja Matriz de Teresina (Igreja do Amparo), e, à sua

esquerda, o espaço vazio que foi ocupado pelo edifício do

Ministério da Fazenda em 1973

86

Figura 4.1 Perspectiva apresentada no concurso da sede da Cepisa

pelo arquiteto Antonio Luiz, no início da década de 1970

90

Figura 4.2 Perspectiva apresentada no concurso da sede da Cepisa

pelo arquiteto Antonio Luiz, no início da década de 1970

90

Figura 4.3 Imagem aérea do edifício ainda em construção e da Avenida

Maranhão ainda sem infraestrutura. O volume atrás do

edifício redondo corresponde ao prédio da antiga usina a

91

11

vapor

Figura 4.4 Imagem da construção do edifício e da Avenida Maranhão

ainda sem infraestrutura, início da década de 1970

93

Figura 4.5 Imagem da Avenida Maranhão no fim da década de 1970, já

pavimentada. À direita, o Rio Parnaíba, e, à esquerda, a

Praça Da Costa e Silva. Ao fundo, o Edifício Cepisa

92955

Figura 4.6 Locação do terreno e entorno: 1) Edifício Cepisa; 2) Praça Da

Costa e Silva; 3) Edifício do Instituto Federal do Piauí (IFPI);

4) Central de Treinamento; 6) Edifício comercial

95

Figura 4.7 Imagem do terreno da Cepisa e dos outros edifícios que

foram construídos posteriormente: 1) Edifício Cepisa; 2)

Centro de Operação da Distribuição; 3) Prédio da antiga

usina a vapor; 4) Centro de Processamento de Dados; 5)

Laboratório de Aferição de Medidores (1983); 6) Sede da

Superintendência de Engenharia de Transmissão e

Planejamento Elétrico; 7) Centro de Treinamento

96

Figura 4.8 Implantação do edifício no terreno, com a diferença de cotas

e os acessos

97

Figura 4.9 Planta com a trama dos pilares. Encontram-se destacados as

baterias sanitárias, o espaço para a futura instalação de

elevadores e a escada

98

Figura 4.10 Planta com a setorização dos anéis do edifício 99

Figura 4.11 Perspectiva do edifício com a implantação do terreno e os

acessos

100

Figura 4.12 Circulação vertical interna do Edifício Cepisa 100

Figura 4.13 Circulação horizontal interna 100

Figura 4.14 Corte do Edifício Cepisa 101

Figura 4.15 Volume do edifício com a estrutura do telhado aparente 102

Figura 4.16 Volume do edifício com a estrutura do telhado e do

pavimento-tipo aparente

102

Figura 4.17 Corte do pavimento-tipo evidenciando a circulação de ar

proposta

103

Figura 4.18 Fachada do átrio interno com os panos de cobogó, que 100

12

servem exaustão

Figura 4.19 Sacada que percorre todo o volume do edifício 104

Figura 4.20 Fachada do Edifício Cepisa 105

Figura 4.21 Fachada do Edifício Cepisa em contraponto com o volume

cilíndrico do edifício

106

Figura 4.22 Fachada do edifício 107

Figura 5.1 Imagem do prédio do antigo Tesouro Provincial, demolido

para a construção do edifício do Ministério da Fazenda em

1970. Ao fundo, a Igreja Matriz ainda sem suas torres

112

Figura 5.2 Imagem do centro de Teresina no início da década de 1970.

Observa-se a Igreja do Amparo entre o esqueleto do prédio

do Ministério da Fazenda (à direita) e o Hotel Piauí,

construído na década de 1950

113

Figura 5.3 Perspectiva do edifício do Ministério da Fazenda projetado

por Antonio Luiz Dutra de Araújo

114

Figura 5.4 Vista aérea do entorno do edifício do Ministério da Fazenda.

Estão destacadas as praças Marechal Deodoro (maior

retângulo) e Rio Branco (retângulo menor, logo abaixo).

Estão enumerados: 1) Edifício do Ministério da Fazenda; 2)

Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo; 3) Luxor Hotel

(antigo Hotel Piauí); 4) Praça Marechal Deodoro; 5) Shopping

da Cidade

115

Figura 5.5 Vista aérea do edifício do Ministério da Fazenda e da Igreja

do Amparo, 2014

116

Figura 5.6 Implantação do edifício no terreno: 1) Edifício do Ministério da

Fazenda; 2) Igreja do Amparo; 3) Jardim e casa de

máquinas. As setas vermelhas indicam os acessos do edifício

117

Figura 5.7 Trama ordenadora de pilares. Os espaços demarcados em

cinza mais escuro representam as circulações verticais,

baterias sanitárias e espaços reservados para a instalação de

ar-condicionado

118

Figura 5.8 Auditório 119

Figura 5.9 Varanda do último pavimento voltada para a fachada 119

13

nordeste do edifício

Figura 5.10 Corte esquemático do edifício em 3D mostrando os pilares, as

baterias sanitárias e as circulações

121

Figura 5.11 Fachada sudoeste 121

Figura 5.12 Esquadria pivotante em vidro duplo 122

Figura 5.13 Perspectiva do edifício, fachadas noroeste e sudoeste 123

Figura 5.14 Perspectiva do edifício: volume e cobertura 124

Figura 5.15 Fachada noroeste 125

Figura 5.16 Setor de serviço do edifício e o entorno 126

Figura 6.1 Sobrado onde funcionava a sede da Associação Comercial

Piauiense

130

Figura 6.2 Perspectiva do edifício Palácio do Comércio, desenvolvida

em 1969

131

Figura 6.3 Mapa do entorno do edifício do Palácio do Comércio. Estão

numerados: 1) Edifício do Palácio do Comércio; 2) Imóvel

comercial descaracterizado; 3) Imóvel de uso comercial

descaracterizado; 4) Imóvel de uso religioso com fachada

eclética preservada; 4) Estacionamento; 5) Edifício da

primeira agência bancária do Banco do Brasil em Teresina,

em estilo eclético com fachadas conservadas; 6) Edifício do

primeiro Grande Hotel do Piauí, hoje de uso comercial, muito

descaracterizado; 7) Imóvel de uso religioso em linhas

modernistas; 8) Imóvel de uso comercial em linha eclética e

art nouveau com fachada preservada; 9) Estacionamento

com fachada preservada em linhas ecléticas; 10) Imóvel

comercial com fachada descaracterizada; 11) Imóvel com

características ecléticas pouco preservadas; 12) Imóvel de

uso comercial em linhas modernistas; 13) Edifício comercial

modernista com fachadas degradadas

132

Figura 6.4 Imagem aérea do entorno evidenciando o recuo frontal do

edifício do Palácio do Comércio com relação à Rua Senador

Teodoro Pacheco, alinhado à cota da Igreja São Benedito, e

do recuo lateral com relação à Rua Rui Barbosa, alinhado à

cota da Praça Saraiva. Estão enumerados: 1) Praça

133

14

Marechal Deodoro; 2) Praça Saraiva; 3) Igreja São Benedito;

4) Edifício do Palácio do Comércio

Figura 6.5 Vista do edifício da Rua Rui Barbosa 134

Figura 6.6 Planta do terreno com os acessos e as diferenças de cota da

topografia

135

Figura 6.7 Imagem da galeria interna do edifício a partir do acesso pela

Rua Rui Barbosa. À esquerda, o acesso aos elevadores e às

escadas

135

Figura 6.8 Plantas com a malha da demarcação dos pilares. A planta da

direita representa os pilares do primeiro e segundo

pavimentos, e a planta da esquerda representa a malha do

segundo ao décimo segundo pavimento

136

Figura 6.9 Imagem da circulação do pavimento-tipo 137

Figura 6.10 Imagem interna da escada helicoidal 138

Figura 6.11 Fachada sudeste 139

Figura 6.12 Vista do térreo e da marquise que forma o primeiro

pavimento

140

Figura 6.13 Corte do detalhe construtivo de exaustão dos banheiros e do

ar quente dos aparelhos de ar-condicionado

140

Figura 6.14 Marquise do primeiro pavimento contrapondo-se com a

verticalidade da fachada sudoeste

141

Figura 6.15 Volume da escada helicoidal avançando na fachada e na

cobertura

142

Figura 6.16 O térreo e os rasgos no plano inclinado da marquise formada

pelo avanço do primeiro pavimento (fachada noroeste)

143

Figura 6.17 Mármore branco utilizado para revestir o pavimento térreo 144

Figura 6.18 Pastilhas brancas e azuis revestindo a fachada noroeste 145

Figura 7.1 Planta original de situação 187

Figura 7.2 Planta original do pavimento térreo 188

Figura 7.3 Planta original do primeiro pavimento 189

Figura 7.4 Planta original do segundo pavimento 190

Figura 7.5 Planta original do terceiro pavimento 191

15

Figura 7.6 Planta original do quarto pavimento e da cobertura 192

Figura 7.7 Corte A-A. Projeto original 193

Figura 7.8 Fachada principal. Projeto original 194

Figura 7.9 Detalhe da calha. Projeto original 195

Figura 7.10 Detalhe do corte para mostrar o mecanismo de ventilação

projetado pelo arquiteto. Projeto original

196

Figura 7.11 Planta baixa do segundo ao sétimo pavimento. Projeto

original

197

Figura 7.12 Layout do sétimo pavimento. Projeto original 198

Figura 7.13 Layout do oitavo pavimento. Projeto original 199

Figura 7.14 Corte longitudinal. Projeto original 200

Figura 7.15 Planta do primeiro pavimento. Projeto original 201

Figura 7.16 Planta do segundo ao primeiro ao décimo primeiro

pavimentos. Projeto original

202

Figura 7.17 Corte transversal. Projeto original 203

Figura 7.18 Corte longitudinal. Projeto original 204

Figura 7.19 Detalhes. Projeto original 205

Figura 7.20 Planta de cobertura. Projeto original 206

16

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição

entre estados

66

Gráfico 2.2 Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição

entre décadas

68

Gráfico 2.3 Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição

por programas

69

17

LISTA DE ABREVIATURAS

Agespisa Águas e Esgotos do Piauí S.A.

Agripisa Agroindústria do Piauí S.A.

AIP Associação Industrial do Piauí

BEP Banco do Estado do Piauí S.A.

BNMG Banco Nacional de Minas Gerais S.A.

Cepisa Centrais Elétricas do Piauí S.A.

Codipi Companhia de Desenvolvimento Industrial do Piauí

DER Departamento de Estradas de Rodagem

Emoppi Empresa de Obras Públicas do Piauí

Fiepi Federação das Indústrias do Estado do Piauí

FNA Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil

Fominpi Fomento Industrial do Piauí

Fripisa Frigoríficos do Piauí S.A.

HDIC Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas

IAB-PI Instituto dos Arquitetos do Brasil – Seção Piauí

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Iapep Instituto de Assistência e Previdência do Estado do Piauí

IFPI Instituto Federal do Piauí

Insopil Indústria de Soro e Produtos Farmacêuticos Ltda.

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

PDLI Plano de Desenvolvimento Local Integrado

SEEBLA Serviço de Engenharia Emílio Baumgart

Semplan Secretaria Municipal de Planejamento de Teresina

Telepisa Telefones do Piauí

UFPI Universidade Federal do Piauí

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNI-Rio Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

18

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................

21

1 SOBRE TERESINA................................................................................. 27

1.1 TERESINA: CAPITAL PLANEJADA........................................................ 28

1.1.1 A cidade em vias de modernização..................................................... 32

1.2 A PRESENÇA DE ARQUITETOS MIGRANTES..................................... 41

1.2.1 Anísio de Medeiros................................................................................ 44

1.2.1.1 Casa Zenon Rocha.................................................................................. 46

1.2.2 Miguel Caddah.......................................................................................

48

2 SOBRE ANTONIO LUIZ DUTRA DE ARAÚJO...................................... 51

2.1 FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL...................................... 53

2.2 A ATUAÇÃO DO ARQUITETO EM TERESINA...................................... 65

2.2.1 Arquitetura institucional....................................................................... 69

2.2.2 Arquitetura bancária..............................................................................

72

3 CRITÉRIOS DE ANÁLISE E O ESPAÇO EM QUESTÃO...................... 76

3.1 CRITÉRIOS DE ANÁLISE....................................................................... 77

3.1.1 O entorno e a implantação.................................................................... 78

3.1.2 Programa do edifício (fluxos, acessos e circulações)....................... 80

3.1.3 Estrutura................................................................................................. 81

19

3.1.4 Adequações ao clima local................................................................... 81

3.1.5 Volumetria.............................................................................................. 82

3.1.6 Plasticidade e materiais........................................................................ 83

3.2 O ESPAÇO EM QUESTÃO.....................................................................

84

4 EDIFÍCIO ALBERTO TAVARES SILVA (CEPISA) – 1973.................... 88

4.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO.......................................................... 92

4.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (FLUXOS, ACESSOS E

CIRCULAÇÕES)..................................................................................... 96

4.3 ESTRUTURA........................................................................................... 101

4.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL......................................................... 102

4.5 VOLUMETRIA.......................................................................................... 104

4.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS............................................................... 106

4.7 CONSIDERAÇÃO....................................................................................

107

5 EDIFÍCIO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA – 1973................................. 111

5.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO.......................................................... 114

5.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (FLUXOS, ACESSOS E

CIRCULAÇÕES)...................................................................................... 117

5.3 ESTRUTURA........................................................................................... 120

5.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL......................................................... 122

5.5 VOLUMETRIA.......................................................................................... 123

5.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS............................................................... 124

20

5.7 CONSIDERAÇÃO....................................................................................

126

6 EDIFÍCIO DO PALÁCIO DO COMÉRCIO – 1977................................... 129

6.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO.......................................................... 131

6.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (FLUXOS, ACESSOS E

CIRCULAÇÕES)...................................................................................... 136

6.3 ESTRUTURA........................................................................................... 138

6.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL......................................................... 141

6.5 VOLUMETRIA.......................................................................................... 142

6.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS............................................................... 144

6.7 CONSIDERAÇÃO....................................................................................

145

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 147

INTERLOCUÇÕES PROJETUAIS..........................................................

149

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................

151

ANEXO A – TEXTOS DE ANTONIO LUIZ.............................................. 156

ANEXO B – LISTA DE OBRAS DO ARQUITETO.................................. 176

ANEXO C – CADERNO DE PROJETOS ORIGINAIS............................ 187

21

INTRODUÇÃO

22

Apesar de numerosa, a obra arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo,

tão presente no espaço urbano da cidade de Teresina, capital piauiense, foi pouco

divulgada em revistas e veículos de circulação nacional sobre arquitetura, até o

início do século XXI. Sua produção, que data inicialmente dos anos 1960 até os dias

atuais, engloba as mais variadas tipologias de projeto e, no caso de Teresina,

caracterizou-se pela busca da implantação da arquitetura moderna em uma região

consideravelmente atrasada em relação aos importantes centros do país (São Paulo

e Rio de Janeiro).

Nascido em Minas Gerais e formado na Faculdade Nacional de Arquitetura da

Universidade do Brasil (FNA)1, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),

Antonio Luiz Dutra encontra a capital piauiense em intenso crescimento e carente de

melhorias sanitárias e urbanas, já existentes nas cidades centrais do país. Durante

período de início da atuação de Antonio Luiz, ideais de desenvolvimento e

modernidade defendidos por intelectuais e pela elite teresinense, em conjunto com o

desejo de progresso almejado pelos políticos do estado, transformam Teresina em

um atrativo para aqueles que trabalhavam na construção civil. Aproveitando a

demanda, o arquiteto se estabelece na cidade e realiza uma série de projetos que

marcam sua paisagem urbana tanto pelas soluções formais, técnicas e estéticas

quanto pela habilidade em lidar com os materiais locais, seguindo o processo de

modernização do país sem deixar de inserir as raízes culturais preexistentes.

Existem textos publicados sobre Antonio Luiz, datados a partir dos anos 2000

e fruto do trabalho de alunos do grupo de pesquisa Modernidade Arquitetônica.

Vinculado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Piauí

(UFPI), o grupo foi formado em 2007 e é coordenado pela professora Alcília Afonso,

que colabora com pesquisas sobre a modernidade arquitetônica do estado. Além de

publicações em congressos nacionais como o Docomomo, realizou a produção de

livros que citam o trabalho de Antonio Luiz, como Documentos de arquitetura

moderna no Piauí e Antonio Luiz, arquiteto. O primeiro, lançado em 2010, traz um

conjunto de obras modernas representativas da cidade de Teresina, incluindo

algumas de autoria do arquiteto. O segundo trabalho foi organizado pela professora

1 A Faculdade Nacional de Arquitetura surgiu em 1945, resultado da separação do curso de

Arquitetura de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

23

Alcília Afonso em 2012 e contém artigos publicados em congressos sobre Antonio

Luiz, além do inventário de sua obra do período em que residia no Rio de Janeiro

até os dias atuais.

A inserção de edifícios institucionais em Teresina, que correspondiam ao

modelo de arquitetura moderna já difundido no Brasil e no mundo, representa um

fenômeno de características particulares, não apenas com relação ao aspecto formal

e construtivo, mas também devido à história, à economia e principalmente, no caso

da capital piauiense, de aspectos políticos e sociais.

A periodização para estudo na década de 1970 representa melhor a inserção

dos objetos em estudo ao contexto, o que possibilita grande compreensão dos fatos

históricos, bem como a relação com a totalidade da história. Segundo Waisman

(2013, p. 58), a definição de uma unidade histórica é baseada em uma série de

características que diferenciam nitidamente as mudanças e as causas de uma

ruptura – no caso da arquitetura, estilística.

A autora também sugere que países latino-americanos, como o Brasil, não

podem relacionar o desenvolvimento arquitetônico de acordo com o proferido em

países centrais, como os da Europa.

Na América Latina não correu um desenvolvimento estilístico coerente, ou que permita descobrir uma continuidade nas ideias arquitetônicas, pois, ao longo dos séculos, a arquitetura baseou-se em ideias transculturais, que foram interpretadas, modificadas ou transformadas de acordo com circunstâncias histórico-cultural-tecnológicas locais (WAISMAN, 2013, p. 59).

Além disso, as condições sociais, políticas e econômicas são preponderantes,

de acordo com a autora, na produção arquitetônica latina, destacando ainda “o valor

dos tipos de edifícios que constituem a resposta direta às exigências programáticas

da sociedade e que, portanto, mostram-se mais diretamente ligados às

circunstâncias a-estéticas” (WAISMAN, 2013, p. 61).

Para entender a produção de Antonio Luiz em Teresina, buscou-se

primeiramente compreender a formação e o crescimento da cidade, já que esta foi

uma cidade planejada para ser a capital do estado do Piauí e apresentou atrasos na

modernização de seu espaço urbano em relação a outras capitais do país. O

trabalho tem embasamento histórico na formação e evolução urbanística de

Teresina, bem como da atuação, na cidade, dos primeiros arquitetos formados,

24

situação do arquiteto da obra em estudo. Isso, junto a uma apresentação de edifícios

institucionais de destaque a partir da década de 1960, compõe o primeiro capítulo

desta dissertação.

No capítulo 2, o foco será voltado para o próprio arquiteto, sua trajetória

acadêmica e profissional, assim como alguns projetos importantes de sua autoria.

Em seguida, o terceiro capítulo irá conceituar os critérios de análise a serem

utilizados para um estudo analítico de três edifícios escolhidos: Edifício Alberto Silva,

de 1973, sede das Centrais Elétricas do Piauí S.A. (Cepisa); edifício-sede do

Ministério da Fazenda, de 1973; e edifício do Palácio do Comércio, de 1977. Todos

são prédios institucionais, construídos na década de 1970, período em que os

políticos do Piauí tentavam ao máximo exaltar seu poder de progresso e

desenvolvimento, por meio de obras grandiosas e modernas na capital piauiense.

A partir de estudos realizados na UFPI, iniciados na graduação, acerca da

modernidade arquitetônica em Teresina, foi estruturada uma linha do tempo que

abrange os projetos realizados por Antonio Luiz durante sua vida profissional. De

acordo com essa cronologia, observa-se uma produção significativa durante a

década de 1970 na cidade, englobando tipologias variadas de projetos desde

residências e escolas até edifícios institucionais e agências bancárias. Com esse

recorte cronológico, justifica-se ainda a escolha dos objetos de estudo aqui

analisados pelo fato de serem edifícios que representam importantes instituições na

cidade, localizados no centro histórico de Teresina, além de marcar a paisagem

urbana, ainda com ares provincianos na década de 1970, e que são detentores de

qualidade projetual expressiva e característica do arquiteto mineiro.

Outro ponto relevante é a qualidade projetual e de resultado construtivo final

que essas tipologias tiveram – tornando-se exemplares de seu pensamento sobre

arquitetura como “a ciência que procura criar espaços racionais, sustentados por

estruturas lógicas, transparentes e bem definidas”.

Nesse sentido, o trabalho tem o objetivo de reunir a trajetória do arquiteto

Antonio Luiz Dutra de Araújo em sua atividade profissional, por meio de dados,

desenhos e imagens de seus mais significativos projetos em Teresina. Além disso, a

partir da análise crítica de três edifícios institucionais, objetiva-se também

demonstrar sua forma característica de projetar, relacionada ao movimento

desenvolvido no Brasil.

25

Para a escolha dos objetos de análise, foram observadas as características

projetuais da obra, que aparentemente explicitavam as formas de projetar do

arquiteto. Outros pontos primordiais para este trabalho são a importância desses

edifícios para a cidade de Teresina, o lugar que adquire valor simbólico por meio de

sua atividade desempenhada e, principalmente, a inserção dessa arquitetura

modernista em um traçado urbano que mantinha alguns aspectos coloniais.

O valor da pesquisa se dá pela vasta produção do arquiteto na cidade, uma

variação que engloba desde residências até edifícios de porte significativo, como

clubes, escolas, maternidades, edifícios institucionais e outros. O estudo da obra do

arquiteto e de sua trajetória irá contribuir para a formação da historiografia

arquitetônica piauiense, além de ampliar o reconhecimento desses edifícios, pois,

atualmente, alguns se encontram degradados e descaracterizados.

Com relação à metodologia utilizada, a dissertação foi desenvolvida a partir

do contato com os seguintes elementos:

documentos originais ou cópia de projetos, croquis e fotografias,

encontrados no escritório do arquiteto, Maloca Arquitetura e Estruturas

Ltda. (fonte primária);

textos de autoria do arquiteto (fonte primária);

projetos construídos (fonte primária);

depoimentos do arquiteto Antonio Luiz e de pessoas relacionadas às suas

obras (fonte primária);

bibliografia geral e específica a respeito do arquiteto em livros e trabalhos

acadêmicos (fonte secundária);

arquivos fotográficos e textuais encontrados em jornais e revistas de

circulação em Teresina durante a década de 1970 (fonte primária).

A primeira etapa do trabalho consistiu no levantamento bibliográfico, realizado

junto ao grupo de pesquisa Modernidade Arquitetônica da UFPI e a partir dos

trabalhos já publicados sobre o arquiteto, sobre algum edifício de sua autoria e sobre

outros arquitetos da cidade de Teresina. Com o material levantado, pôde-se escolher

o objeto de estudo do trabalho e separar as fontes usuais utilizadas na bibliografia

definitiva.

26

A segunda etapa foi a sequência de entrevistas com o próprio arquiteto e com

pessoas envolvidas com seu trabalho, além da coleta dos projetos para a

digitalização do material. Tais obras foram listadas e distribuídas em uma linha do

tempo, para identificar o recorte cronológico a ser determinado na dissertação.

Por fim, a terceira etapa foi uma seleção dos projetos construídos para estudo

analítico, levando-se em consideração o recorte do tema proposto. As três obras

escolhidas foram redesenhadas em 2D E 3D e, por meio de imagens e perspectivas,

formou-se um material gráfico rico e didático ao entendimento dos critérios utilizados

pelo arquiteto ao definir um edifício.

27

CAPÍTULO 1

28

1 SOBRE TERESINA

Este capítulo, subdividido em dois tópicos, consiste em apresentar a cidade

de Teresina e situá-la no panorama brasileiro em que a arquitetura moderna foi

desenvolvida. Para tanto, foi necessária uma breve apresentação da formação da

cidade e como ela constrói seu espaço urbano por meio de bases históricas,

políticas, econômicas e sociais.

O primeiro tópico, cujo título é “Teresina: capital planejada”, caracteriza o

espaço urbano desde a implantação da cidade. No segundo tópico, intitulado “A

presença de arquitetos migrantes”, é apresentado um quadro dos primeiros

arquitetos graduados atuantes na cidade, a partir dos anos 1950.

1.1 TERESINA: CAPITAL PLANEJADA

“Teresina tem uma origem peculiar, pois foi, dentre todas as cidades

brasileiras, a primeira a ter o espaço que viria a se constituir em seu núcleo urbano,

escolhido e planejado, para ser uma cidade capital” (ABREU; LIMA, 2000, p. 20).

A capital piauiense é a única da Região Nordeste que não se encontra em

área litorânea. Localizada na zona fisiográfica do Médio Parnaíba2, é atravessada

por dois importantes rios, o Parnaíba, que deságua no Oceano Atlântico, formando o

Delta do Parnaíba, e o Rio Poti, seu afluente. Implantada estrategicamente na

porção central do território do Piauí, foi a primeira cidade planejada do país, criada

para fins econômicos, políticos e administrativos do estado. Por se encontrar muito

próxima da faixa equatorial, é considerada uma das cidades mais quentes do país,

com temperaturas acima dos 26 °C praticamente o ano todo, e apresenta relevo

basicamente plano, com algumas variações suaves de altitude.

2 A zona fisiográfica do Médio Parnaíba situa-se entre os paralelos correspondentes 4°15’ (ao norte,

os municípios de União e José de Freitas) e 7º45’ de latitude sul (ao sul, os municípios de Rio Grande do Piauí e Flores do Piauí); entre os meridianos 42º15’ (a leste, os municípios de Altos e Beneditinos) e 43º30’ de longitude oeste. Conta com uma superfície de 27.651 km

2 e abrange 24 municípios no

estado do Piauí (PMT, 1969, p. 11).

29

Em 16 de agosto de 1852, o conselheiro doutor José Antônio Saraiva envia a

outros presidentes de província do país um documento que comunica a autorização

da lei n. 3153, transferindo a capital do estado do Piauí para a Nova Vila do Poti,

atual Teresina (DIAS, 2006, p. 18). A cidade, que atualmente conta com população

próxima a 850 mil habitantes e quase 1,5 milhão de km2 de área4, foi implantada em

uma região do estado mais propícia ao desenvolvimento comercial, com localização

estratégica e detentora de uma riqueza natural considerável, diferente da antiga

Oeiras5 (Figura 1.1).

Figura 1.1: Mapa atual do território do estado do Piauí. Fonte: Redesenho da autora (2014).

Inserida no Alto da Chapada do Corisco6, apresenta uma geografia plana, o

que facilitou a implantação da cidade e serviu como pressuposto físico da escolha

da região por Saraiva. Entre rios, a região também garantia pesca em abundância,

3 Lei de 21 de julho de 1852, da qual se extrai: “Artigo 1º: a nova Vila do Puti fica desde já elevada a

cathegoria de cidade com a denominação de Therezina” (IPHAN, 2008). 4 De acordo com dados do site do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), 2014.

5 Oeiras localiza-se ao sul do estado. Uma região árida e com poucas riquezas naturais, considerada

como inapropriada para seu progresso como capital piauiense. 6 A Chapada do Corisco é um local “alto e aprazível” à margem direita do Rio Parnaíba, no topo mais

regular do planalto que se forma entre as últimas curvas dos rios Parnaíba e Poti (PMT, 2002, p. 3).

30

solos férteis, riqueza argilosa e ligação direta com o litoral do estado, por meio do

sistema de transporte fluvial eficiente.

O traçado do Plano de Teresina, realizado pelo mestre de obras João Isidoro

França7 e com ajustes de Saraiva, caracterizou-se por uma malha ortogonal

semelhante a um tabuleiro de xadrez, tendo como “marco zero” da cidade a Igreja

Matriz Nossa Senhora do Amparo. Situada na cabeceira mais elevada da Praça da

Constituição, atual Praça Marechal Deodoro, apresenta sua fachada principal

voltada para o Rio Parnaíba, e foi a partir da sua linha frontal que as outras quadras

foram situadas. Silva (2007, p. 102) relata o caráter paisagístico e ambiental do

plano traçado para Teresina, primeiramente pela valorização da paisagem natural,

ao voltar a cidade para o rio, e também pela acomodação de quadras margeando a

atual Avenida Maranhão, para proteção contra possíveis enchentes (Figura 1.2).

Figura 1.2: Mapa do plano elaborado pelo conselheiro Saraiva para a cidade de Teresina. Fonte: Cadernos de Teresina. Edição especial do conselheiro Saraiva. (2000).

7 Português naturalizado brasileiro, elaborou plantas de prédios públicos e orçamentos, como o da

Assembleia Provincial e da Cadeia.

31

O ordenamento geométrico do espaço urbano encontra assim ressonância na antiga tradição dos traçados portugueses como em Angra, do século XVI, inclusive consignando relevância ao caráter paisagístico. Esse tipo de acomodação espacial, antes de urdir uma correta disposição para a terrível insolação que castiga a cidade, foi o recurso técnico para dispor os edifícios e, consequentemente, estruturar a cenografia urbana (SILVA, 2007, p. 104).

A edificação dos prédios públicos da nova capital também foi destinada a

João Isidoro França. Erguidos no contorno da Praça da Constituição, formavam um

centro cívico característico setecentista. Dentre os edifícios estavam: o Tesouro

Provincial, a Intendência Municipal, o Mercado Público e a Delegacia Fiscal (Figura

1.3).

Figura 1.3: Praça Marechal Deodoro ainda no século XIX, com os primeiros prédios públicos ao redor. Ao fundo, a Igreja Matriz, ainda sem as torres, e, à esquerda, o Mercado Público.

Fonte: Arquivo Casa Anísio Brito.

Segundo Silva Filho (2007, p. 17), antes da construção de Teresina, a

arquitetura tradicional urbana do Piauí caracterizava-se formalmente por soluções

simples e sintéticas, despojadas de pompa e ornamentos. As edificações detinham

caráter rural, utilizando varandas largas que protegiam o interior do clima equatorial

predominante na região. Com técnicas construtivas em adobe e sem grandes

diversificações arquitetônicas, apresentavam analogias formais uniformes, não

importando a finalidade e o uso.

Nos primeiros anos da capital, a navegação a vapor pelo Rio Parnaíba

favoreceu a entrada de mercadorias industrializadas em Teresina. Esse fato, aliado

à atividade semimecanizada desde o início da construção da cidade, intensificou o

32

processo de alteração arquitetônica. Mudanças socioeconômicas e tecnológicas

proporcionaram transformações nas maneiras de habitar e construir, incorporando

benefícios da sociedade industrial e tipificando as novas edificações (Figura 1.4).

O adobe, desprestigiado e abreviado em artefato de reduzida qualidade, dá lugar para as construções de alvenaria [...] Gradis de ferro fundido, ferragens, estucarias, vidraças coloridas, azulejaria, tacos, parquetes, assoalhos de tabuado claro-escuro, pastilhas vitrificadas, ladrilho hidráulico, estruturas de madeira serrada nas coberturas, telhas prensadas, louças e metais sanitários, lambrequins recortados em serra de fita são produtos da mecanização e do trabalho assalariado que davam expressão às edificações da cidade. Fachadas rebuscadas são associadas às renovações técnicas construtivas. [...] O neoclássico acentua-se, imprimindo a ruptura estilística com o meio rural (SILVA FILHO, 2007, p. 18).

Figura 1.4: Imagem de meados do século XIX da Delegacia Fiscal, atualmente, Justiça Federal. Fonte: Arquivo Casa Anísio Brito.

1.1.1 A cidade em vias de modernização

33

Em “A questão nacional: a modernização”, Raymundo Faoro (1992, p. 7)

discorre sobre o termo modernização, a partir de analogias entre países

desenvolvidos e atrasados, como sendo tentativas de alcançar a modernidade. Para

ele, na corrida pelo desenvolvimento, as nações atrasadas podem se espelhar nas

desenvolvidas sem se absterem de suas realidades históricas e temporais. Deve-se

evitar a chamada “queima de etapas”, buscando descobrir primeiramente a “pista da

lei natural do seu desenvolvimento”.

A modernidade compromete, no seu processo, toda a sociedade, ampliando o raio de expansão de todas as classes, revitalizando e removendo seus papéis sociais, enquanto que a modernização, pelo seu toque voluntário, se não voluntarista, chega à sociedade por meio de um grupo condutor, que, privilegiando-se, privilegia os setores dominantes. Na modernização não se segue o trilho da “lei natural”, mas se procura moldar, sobre o país, pela ideologia ou pela coação, uma certa política de mudança (FAORO, 1992, p. 8).

Ao relacionar tais conceitos com o processo de desenvolvimento do Brasil,

Faoro demonstra sucessivas tentativas de modernização desde o período colonial

como episódios sem sucesso e que eram “sepultados” um após o outro. Analisando

episódios, observa-se um país regido por uma conciliação política que regula a

sociedade de forma a evitar mudanças sociais, priorizando os interesses de uma

minoria elitizada e mantendo a sociedade civil dependente de poucos benefícios.

Na modernidade, a elite, o estamento, as classes [...] coordenam e organizam um movimento. Não o dirigem, conduzem ou promovem como na modernização. A modernização, que se chama ocidentalização, europeização, industrialização, revolução passiva, via prussiana, revolução do alto, revolução de dentro – ela é uma só, com um vulto histórico, com muitas máscaras, tantas quantas as das diferentes situações históricas. Talvez se possa dizer, ainda que a modernização, ao contrário da modernidade, cinde a ideologia da sociedade, inspirando-se mais na primeira do que na segunda. (FAORO, 1992, p. 9).

O Brasil inicia o século XX com um notório crescimento demográfico nas

regiões centrais do país. O Estado passa então a tomar iniciativas, de forma

reguladora, para melhorias do espaço urbano, tomando como base cidades

europeias com relação ao sanitarismo e salubridade. Empresas estrangeiras

também começaram a implantar serviços de melhorias urbanas, como serviços de

eletricidade, companhias de gás, implantação do sistema ferroviário e transporte

34

urbano. Segawa (2010, p. 19) discorre que Recife, São Paulo, Manaus, Salvador e

Rio de Janeiro (desde 1862) já tinham sistemas de drenagens, abastecimento de

água e esgotos urbanos na entrada do século. De acordo com Reis Filho (2013, p.

44),

As transformações socioeconômicas e tecnológicas pelas quais passaria a sociedade brasileira durante a segunda metade do século XIX iriam provocar o desprestígio dos velhos hábitos de construir e habitar. A posição cambial favorável conseguida através das exportações crescentes de café possibilitaria a generalização do uso de equipamentos importados, que libertariam os construtores do primitivismo das técnicas tradicionais. A isto, acrescenta-se a modernização dos transportes, com o aparecimento das linhas férreas ligando o interior ao litoral e de linhas de navegação nos grandes rios interiores. Equipamentos pesados, como máquinas a vapor, serrarias etc., teriam então a possibilidade de serem empregados em vastas regiões, auxiliando-as a romper com a rotina dos tempos coloniais.

Zein (2010, p. 126) afirma que no período entre 1930 até o da construção de

Brasília (1957-1960), as cidades brasileiras ainda conservavam suas tramas urbanas

e métodos construtivos coloniais, mas desde o fim do século XIX já inseriam o

concreto armado e o ferro, principalmente em obras de maior porte, como em

equipamentos urbanos e edifícios públicos. Essa arquitetura produzida no Brasil

destacava-se pela “criação de um repertório e de uma linguagem diferenciadora” por

meio de recursos de projeto e técnicas construtivas de períodos anteriores, mas que

buscavam maneiras de intensificar a “tipificação das soluções arquitetônicas

modernas”.

Nesse contexto, Teresina adentra o século XX sem um nível satisfatório de

desenvolvimento: suja, pouco habitada, de ruas estreitas e com a maioria da

população vivendo em construções miseráveis. Em contraste, existiam os prédios

públicos do centro cívico e algumas residências de famílias mais abastadas em

linhas neoclássicas e ecléticas. Apesar da falta de sinais urbanos que a

caracterizariam como uma cidade moderna, tinha uma elite política e intelectual

defensora do progresso. “Datam desse período os primeiros símbolos de

modernidade implantados em Teresina, tais como o fornecimento de água encanada

(1906), telefone (1907), energia elétrica (1914), bonde com motor de explosão

(1917)” (NASCIMENTO, 1999, p. 124).

35

Assim como o Brasil, Teresina também recebeu inúmeras tentativas

modernizadoras em seu espaço urbano. Apoiadas pelo poder público ou por

iniciativa da elite local, esses primeiros símbolos não alcançavam toda a população

da cidade, não beneficiando as classes menos favorecidas, que ocupavam as

margens do centro administrativo da cidade, acomodando-se em construções

miseráveis e rudimentares.

Com relação à arquitetura no início desse século, Silva Filho (2007, p. 19)

afirma que houve uma implantação do ecletismo, linguagem arquitetônica já

disseminada no Brasil desde o século anterior. Até o segundo quartel do século XX,

o núcleo central de Teresina se apresentava consolidado e com o ecletismo

estabelecido, principalmente nas residências de famílias mais nobres e em prédios

institucionais e públicos.

A partir da década de 1930, com a implantação do Estado Novo por Getúlio

Vargas, o Estado passa a exercer um papel primordial na produção de cidades,

atuando como organismo regulamentador não apenas da materialidade, mas

também da população que nela reside. Em cidades centrais8 como Rio de Janeiro e

São Paulo, as obras arquitetônicas patrocinadas pelo Estado começam a se

apropriar de princípios preconizados modernistas, inseridas em um meio cultural

efervescente como mais uma manifestação de uma modernidade ainda incipiente.

Além da limpeza ornamental, os novos projetos arquitetônicos tornavam-se

interessantes pelos aspectos econômicos construtivos, sendo classificados como

arquitetura “modernista-classicizante”, art déco, “protomoderna” ou

“protorracionalista” (DIEGOLLI, 1996, p. 152).

Em Teresina, o interventor Landri Sales nomeia como diretor de obras da

Prefeitura Municipal o engenheiro Luís Pires Chaves, que questionou o Plano

Saraiva e atentava para a falta de um Plano Regulador da Cidade. Nascimento

(1999, p. 137) cita algumas propostas de intervenções urbanas com caráter

modernizador para a capital, como o alargamento e arborização das avenidas, a

projeção de grandes linhas de tráfego que interligavam os pontos de entrada e saída

ao centro da cidade e a formação de um sistema circulatório, tomando como base o

símbolo da modernidade do período: o automóvel. Além disso, cria o Código de

8 O termo central aqui utilizado refere-se ao conceito de Marina Waisman sobre a questão centro-

periferia retratada.

36

Posturas de 1939, que iria reger as obras de expansão do município a partir de

então.

A partir da década de 1930, o art déco é adotado na cidade,

preferencialmente em elegantes edifícios comerciais, prédios, monumentos públicos

e cinemas, como foi o caso do Cine Rex, que data do ano de 1939 (Figura 1.5).

Promovendo uma ruptura com a arquitetura dos períodos anteriores, tais edifícios

representavam o tipo de cidade que seus administradores desejavam construir,

espelhando-se em outras cidades mais desenvolvidas do país. Novas tecnologias

eram incorporadas às construções, como o uso do concreto armado substituindo

estruturas de madeira e carnaúba, com uma geometria ordenadora e fachadas mais

limpas, e garantiam um ar de modernidade para uma sociedade que se afastava

cada vez mais do colonial (SILVA, 2007, p. 20). Segundo Nascimento (2010, p. 8),

Figura 1.5: Praça Pedro II em Teresina, Piauí: ao fundo, o Cine Rex em art déco. Fonte: Site Teresina Meu Amor (2012).

Alguns edifícios foram construídos para atingir a demanda de infraestrutura de Teresina, como exemplos o edifício dos Correios e Telégrafos e a sede do Liceu Piauiense, que detinham ares de moderno com traços arquitetônicos mais retilíneos e fachadas simplificadas, apresentando uma concepção arquitetônica suntuosa. O processo de modernização da rede hospitalar em outros estados reflete no Piauí pela busca de construção de um grande hospital em Teresina pelo governador Leônidas de Castro Melo, a partir de 1937.

37

Sendo assim, em 1941, o Hospital Getúlio Vargas é inaugurado na antiga Avenida Getúlio Vargas, atual Frei Serafim (Figura 1.6).

Figura 1.6: Fachada do Hospital Getúlio Vargas voltada para a Avenida Frei Serafim. Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010).

Em meados dos anos 1950, o Estado, dentro de uma política

desenvolvimentista do país, tinha objetivos de acelerar e estruturar o processo de

industrialização do Brasil. O ambiente de efervescência cultural que Brasília9 trouxe

ao país fez eclodir uma série de arquiteturas com boa qualidade projetual, sobretudo

construtiva, em diversas regiões do Brasil. Aliado ao regime de expansão

econômica, industrial e urbana, o Estado projeta e constrói muitas obras das mais

diversas tipologias.

No Piauí, essas manifestações não ocorrem com a mesma intensidade, por

conta de sua economia pouco expressiva no cenário nacional, mas ainda assim, a

partir de 1950, surgia uma “Nova Ordem Piauiense”, como explica Façanha (1988, p.

18), criada a partir do processo de desenvolvimento capitalista brasileiro. Algumas

medidas são tomadas, como: a melhoria no setor de comunicação; a criação da

Barragem de Boa Esperança em Guadalupe, para suprir a demanda de energia

elétrica; o desenvolvimento dos setores administrativos, financeiro e creditício; o

aumento do comércio varejista; e a criação de políticas agrícolas, a fim de diminuir 9 Construída entre 1957 e 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek, Brasília representa o

primeiro espaço ideal para a implantação da arquitetura moderna.

38

as diferenças socioeconômicas do estado. Para Brito, Dias e Nascimento (2005, p.

2),

No final da mesma década, foram criadas algumas empresas de economia mista, entre as quais merecem destaque: Frigoríficos do Piauí S.A. (Fripisa), Centrais Elétricas do Piauí S.A. (Cepisa), Agroindústria do Piauí S.A. (Agripisa), Telefones do Piauí (Telepisa), Águas e Esgotos do Piauí S.A. (Agespisa). É desta mesma época a transformação do Banco Agrícola do Piauí em Banco do Estado do Piauí S.A. (BEP). Outra ação do sentido colocar o Piauí no caminho do desenvolvimento, na visão dos atores sociais que atuavam na seca política, foi a criação da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi), em 1954. Em meados da década seguinte, foi instituída a Associação Industrial do Piauí (AIP); em 1965, é instalada uma de empresa chamada de Fomento Industrial do Piauí (Fominpi) que, algum tempo depois, passaria a se chamar Companhia de Desenvolvimento Industrial do Piauí (Codipi). Como se pode constatar, trabalha-se na implantação de ferramentas que pudessem ajudar na construção de um novo Piauí, que pudessem modificar a infraestrutura básica do estado, na área da energia elétrica, de abastecimento de água, dos transportes, da alimentação e do embelezamento da cidade.

Quanto à expansão urbana de Teresina, até a década de 1950 a cidade

apresentou crescimento nos sentidos norte e sul, encontrando-se confinada entre os

rios Parnaíba e Poti. Todavia, com a construção do primeiro vão da ponte de

cimento sobre o Rio Poti, a cidade é ligada ao norte do estado pela BR-34310, e

inicia-se então o processo de expansão urbana, rumo ao leste da cidade (BRITO;

DIAS; NASCIMENTO, 2005). Atualmente essa região é a mais nobre da cidade e

apresentou forte ocupação residencial desde o início.

Nos primórdios dos anos 1960, a cidade tem seu campo de pouso estruturado

para receber aviões grandes, o que liga a cidade ao resto do país e ao mundo de

maneira mais rápida (NASCIMENTO, 2010, p. 7). A criação e implantação da UFPI

na direção noroeste da cidade e a promulgação do Plano Diretor da Prefeitura

Municipal fazem parte da presença do estado como um indutor da dinâmica urbana

e atraem ainda mais imigrantes à capital. É nesse período que o aparecimento de

edifícios modernos é notado na paisagem urbana da cidade, sendo o primeiro deles

a Casa Zenon Rocha, edificada na área central de Teresina, seguida do Edifício do

Departamento de Estradas de Rodagem (DER), na Avenida Frei Serafim (Figura

1.7).

10

Estrada que liga Teresina ao norte do estado do Piauí.

39

Figura 1.7: Mapa representativo da expansão urbana de Teresina entre 1800 e 1980. Fonte: Resende (2013, p. 96).

Mas é na década de 1970 que a cidade tem um grande impulso transformador

ligado diretamente ao modelo econômico gerido pelos governos militares. Iniciada a

política de modernização seguindo o crescimento do país por meio do processo de

industrialização, foram feitas diversas intervenções urbanas tanto no sentido de

dotar a cidade de sistemas de abastecimento de água e luz regulares como

melhorias no sistema viário para a desobstrução do crescente tráfego de veículos.

Além disso, mudanças no modo de vida da população demandam novas exigências

de conforto e inovações de consumo; assim ocorre uma expansão de rodovias do

estado, com a construção da Transpiauí, que interligava o estado à capital federal

Brasília, pelo sul, e atraía ainda mais imigrantes à capital do estado (FAÇANHA,

1999, p. 34).

Além disso, o estado procurou criar símbolos modernizadores da presença do

poder público na capital, realizando reformas nos logradouros públicos e a

construção de edifícios de grande porte, utilizando-se da arquitetura moderna e de

novas tecnologias para mostrar a seus habitantes a sensação de mudança de

40

configuração da cidade, em consonância com os novos tempos (MONTE;

NASCIMENTO, 2009, p. 2).

Um dos governos do Piauí que mais utilizou a arquitetura como símbolo de

sua gestão foi o do engenheiro Alberto Tavares Silva, entre 1971 e 1975. Conhecido

como “albertista”, foi marcado pela melhoria urbana como asfaltamento e

embelezamentos das principais vias da cidade, avenidas Miguel Rosa e Frei

Serafim. Além disso, construiu obras públicas monumentais que marcaram a

paisagem urbana da cidade até os dias atuais. Dentre elas, o Estádio Albertão, de

1973 (Figura 1.8), o Tribunal de Justiça do Piauí, de 1972, o Edifício Cepisa, de

1973, o Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas (HDIC), a UFPI e o Hotel Piauí. O

discurso do governo “albertista” relacionava o progresso às edificações modernas e

monumentais na cidade de Teresina, como símbolos que marcam a paisagem

urbana da capital piauiense até os dias atuais (Figura 1.9).

Figura 1.8: Imagem da maquete física do Estádio Albertão, publicada no jornal O Dia de 1972. Arquiteto Raul Cirne.

Fonte: Arquivo Público do Piauí (2014).

41

Figura 1.9: Vista aérea do estádio e do entorno em 2004. Fonte: Feitosa e Macedo (2009, p. 10).

1.2 A PRESENÇA DE ARQUITETOS MIGRANTES

Segawa (2002, p. 42) retrata que, no Brasil, a introdução da arquitetura

moderna teve suas origens no século XX, embasada pela modernização urbanística

de algumas cidades principais, como São Paulo e Rio de Janeiro, resultado de uma

efervescência cultural que movimentava a sociedade influente no país, a partir da

Semana de Arte Moderna de 1922. A presença de arquitetos imigrantes, como o

russo Gregori Warchavchik, formados em escolas em que se discutiam ideais

modernistas, também foi de grande importância, principalmente na tentativa de se

introduzir uma arquitetura moderna seguindo as limitações de um país ainda com

pouco progresso técnico construtivo.

Mindlin (1956, p. 282) afirma que a história da arquitetura moderna brasileira

foi baseada em um conjunto de jovens arquitetos e obras, estas realizadas com

rapidez inacreditável. Para ele, o período anterior ao edifício do Ministério da

42

Educação é considerado o lançamento das raízes modernas em São Paulo e no Rio

de Janeiro, instaurando-se e atingindo uma “maturidade paradoxal” no país. Já

Frampton (2012, p. 310) idealiza o início da arquitetura moderna no Brasil pelas

atividades e parcerias de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik nos anos 1920 e

também pela nomeação de Costa à diretoria da Escola de Belas Artes,

desenvolvendo-se e, posteriormente, utilizada no país como uma questão de política

nacional.

Essa sequência de episódios relacionados à arquitetura moderna no país teve

como centro irradiador as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo a partir de suas

forças econômicas, políticas e também pela própria sociedade, que atuava a favor

de modernizações do espaço. O surgimento dos cursos de graduação em

arquitetura como a Escola Carioca e a Escola Paulista também contribuíram para o

crescimento do movimento moderno no país, visto que apresentavam uma base

moderna no ensino, formando profissionais que desenvolveriam a arquitetura

brasileira.

Para implantar obras e acompanhá-las ou até mesmo na criação de novos

cursos de graduação em outras regiões do Brasil, o certo é que esse intenso

deslocamento de profissionais acabou por traçar um quadro arquitetônico no país

heterogêneo. Personagens como Luiz Nunes, Acácio Gil Borsói e Severiano Porto

fazem parte desse grupo de profissionais tidos como “migrantes”, que, depois de

formados, foram à procura de novas e boas oportunidades em locais fora do eixo

central, em desenvolvimento, do país. Luiz Nunes e Borsói migraram para Recife,

Pernambuco, onde mais tarde participaram da formação da Escola de Pernambuco,

e Severiano adentrou o norte do país, realizando construções um tanto quanto

peculiares, utilizando-se de materiais e técnicas construtivas locais.

A Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (assim denominada a partir de 1945 com a reforma da Escola Nacional de Belas Artes) foi a principal irradiadora de profissionais nos anos 1950. Passando ao largo da geração de arquitetos que fizeram a Escola Carioca (Niemeyer, Machado Moreira, Reidy, Rocha Miranda etc.), nas turmas formadas nessa década, encontramos um grupo significativo de profissionais que abriram espaços de atuação em novas frentes: regiões que desconheciam arquitetos e, sobretudo, arquitetura moderna (SEGAWA, 1988, p. 9).

43

A partir da década de 1950, Teresina ganhou exemplares arquitetônicos

modernos em sua malha urbana. Como a cidade ainda não tinha um curso de

Arquitetura, Andrade (2005, p. 26) afirma que inicialmente os projetos arquitetônicos

eram idealizados por leigos, devido à escassez de profissionais com formação

superior. Alguns nomes conhecidos foram o mestre de obras Domingos Pinheiro, o

advogado Raimundo Portela, os empreiteiros João e Antônio Roldão e o professor

de geometria Pantaleão. Localizados em grande maioria na porção central de

Teresina, os edifícios eram inspirados em revistas, viagens e na própria produção da

cidade.

Alguns projetos foram encomendados em outros estados, como foi o caso do

DER, de 1955 (Figura 1.10), do arquiteto Maurício Saed, e do Teatro de Arena, de

1959, ambos provenientes do Rio de Janeiro. Na década de 1960, a cidade recebe

profissionais graduados, e os edifícios modernos passam a fazer parte da paisagem

urbana de Teresina, inicialmente por meio de residências de famílias mais abastadas

ou, na maioria das vezes, em obras públicas patrocinadas pelo Estado. Três

arquitetos merecem destaque por terem sido os primeiros a atuarem com formação

na cidade e também por idealizarem edificações que seguiam os princípios

modernistas. Formados pela FNA, tiveram contatos com importantes profissionais da

área e, principalmente, com o discurso já consolidado da arquitetura moderna

brasileira.

Figura 1.10: Fachada oeste do Edifício Chagas Rodrigues – Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Arquiteto Maurício Saed, 1955.

Fonte: Arquivo da autora (2014).

44

Ao migrarem para o Piauí nas décadas de 1950 e 1960, tornaram possível a

disseminação do movimento em uma região ainda em princípio de desenvolvimento.

São eles: Anísio de Medeiros, Miguel Caddah e Antonio Luiz Dutra de Araújo11.

1.2.1 Anísio de Medeiros

Nascido em Teresina, em 1922, muda-se para o Rio de Janeiro na década de

1940 para estudar arquitetura na FNA. Graduando-se em 1948, estudou com o

arquiteto Sérgio Bernardes e, ainda estudante, dedicava-se também às artes

plásticas, concebendo em 1947 um painel para o Conjunto Pedregulho, projeto de

Affonso Eduardo Reidy.

O arquiteto e sua obra arquitetônica residencial em Teresina foram objetos de

estudo de Arthur Sampaio Andrade, em sua dissertação de mestrado pela

Universidade de Brasília, concluída em 2005. Segundo Andrade (2005, p. 6), em

1952, Anísio de Medeiros foi convidado a fazer o projeto da casa do doutor Zenon

Rocha em Teresina, considerado o primeiro projeto modernista da capital piauiense.

Datam desse mesmo período os painéis integrados ao projeto de Hélio Marinho e

Marcos Konder, o Monumento aos Pracinhas, inaugurado em 1960 no Rio de

Janeiro (Figuras 1.11 e 1.12). Entre 1954 e 1958, realiza painéis para a Escola Dom

Silvério e a Casa Nanzita Gomes, ambos projetos de Francisco Bolonha, um

arquiteto amigo, em Cataguases, Minas Gerais (Figuras 1.13 e 1.14).

11

Antonio Luiz será retratado no próximo capítulo.

45

Figuras 1.11 e 1.12: Painéis de Anísio de Medeiros no Monumento aos Pracinhas no Rio de Janeiro em 1952.

Fonte: Andrade (2005).

Figuras 1.13 e 1.14: Painéis de Anísio de Medeiros na Escola Dom Silvério (à esquerda) e na Casa Nanzita Gomes em Cataguases, Minas Gerais.

Fonte: Andrade (2005).

Atuando também como figurinista e diretor de arte, foi na cenografia em teatro

que ele mais se dedicou profissionalmente, sendo premiado em 1966 na VII Bienal

de São Paulo por seu trabalho. Andrade (2005, p. 5) ainda cita alguns de seus

trabalhos que foram para as telas da TV, como Capitu (1968), Macunaíma (1969) e

Dona Flor e seus dois maridos (1976), ganhando prêmios importantes.

Por Capitu, ganhou o prêmio de Melhor Cenografia do Festival de Brasília de 1968; com Macunaíma, conquistou em 1969, também em Brasília, as premiações de Melhor Figurino e Melhor Cenografia, esta última categoria também contemplada no mesmo ano pelo Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema. Por Dona Flor e seus dois maridos, levou em 1976 o Prêmio Especial do Júri de Figurino e

Cenário, no Festival de Gramado. Em 1984, Gramado lhe agraciou novamente com a Melhor Cenografia por Noites do sertão

(ANDRADE, 2005, p. 6).

Como docente, ministrou a disciplina de Desenho na UFRJ, Desenho Artístico

na Universidade de Santa Úrsula e também na disciplina de Cenografia da Escola

de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio) (COSTA;

MELO, 2009, p. 4). Paralelamente, foi autor de outros projetos de arquitetura no

Piauí, como a Casa David Cortelazzi, de 1968 (Figuras 1.15 e 1.16), e o Iate Clube,

ambos em Teresina, e o Igará Clube, em Parnaíba.

46

Figuras 1.15 e 1.16: Perspectivas da Casa David Cortelazzi, em Teresina, 1968. Fonte: Silva Filho (2007, p. 28).

1.2.1.1 Casa Zenon Rocha

O projeto do ano de 1952 foi encomendado pelo médico teresinense doutor

Zenon Rocha e sua família e finalizado em 1954. A residência, localizada no centro

da cidade e em um lote de esquina, representou o início da arquitetura moderna em

Teresina e apresenta uma série de inovações arquitetônicas características do

47

modernismo, até então sem precedentes na cidade. A planta baixa modulada,

terraços e mezaninos em pilotis e setorização dos espaços de acordo com as

necessidades da família são características notórias (Figura 1.17).

Figura 1.17: Planta baixa pavimento térreo (à esquerda) e primeiro pavimento. Fonte: Costa e Melo (2009, p. 12).

Anísio de Medeiros volta a casa para o pátio interno, relacionando os espaços

internos com a vegetação presente no terreno. Essa solução de implantação, aliada

à disposição das fachadas que favoreciam a ventilação cruzada no conjunto

arquitetônico, contribuía para as melhorias de conforto interno (Figura 1.17).

Apresentando soluções volumétricas que remetiam à arquitetura da Escola

Carioca, como o telhado em “asa de borboleta”, a casa representou um avanço não

apenas plástico e formal, mas também de concepção projetual e de técnicas

construtivas para a cidade (Figura 1.18).

Figura 1.18: Fachada noroeste da Casa Zenon Rocha. Fonte: Andrade (2005).

48

Outras características identificadas no objeto arquitetônico são a criação de

pés-direitos generosos nos espaços internos, a adequada orientação do edifício em

relação ao sol, rasgos generosos nas fachadas e proteção das esquadrias com

venezianas (COSTA; MELO, 2009, p. 5) (Figura 1.17).

As análises feitas por Arthur Sampaio Andrade (2005, p. 104) de duas casas

modernas teresinenses12, relacionando-as com cinco residências cariocas, fizeram-

no concluir que Anísio de Medeiros, como introdutor do primeiro edifício modernista

na cidade de Teresina, não desenvolveu uma nova plástica arquitetônica, mas

trouxe para a cidade uma “repercussão da Escola Carioca”.

Admite-se, por outro lado, que Medeiros conseguiu ser duplamente original nesse contexto: primeiro, ao renovar a concepção local de residência, dotando-a de ambientes, características e soluções até então desconhecidas; segundo porque, embora tenha proposto soluções inspiradas na arquitetura vernácula, ele as incluiu no repertório modernista com um novo desenho e, ao fazer isto, evitou recair em um regionalismo folclórico, pitoresco (ANDRADE, 2005, p. 105).

1.2.2 Miguel Caddah

Nascido em Teresina, em 1936, Miguel Caddah troca a cidade natal pelo Rio

de Janeiro para graduar-se em Arquitetura e Urbanismo pela FNA. Influenciado por

arquitetos atuantes no cenário brasileiro, como Oscar Niemeyer e Sérgio Bernardes,

Caddah apresenta projetos arquitetônicos em linhas modernistas e com uma

atenção especial ao conforto dos edifícios.

Após sua formação, retorna à Teresina e produz uma série de edifícios

institucionais de ensino da rede pública, por se tornar arquiteto da Secretaria de

Educação de Teresina. A figura 1.19 apresenta a fachada da Escola J. Clímaco

d’Almeida, um de seus projetos que buscou melhorias qualitativas e quantitativas no

espaço público de ensino.

12

Casa Zenon Rocha e David Cortelazzi.

49

Figura 1.19: Escola J. Clímaco d’Almeida, em Teresina. Fonte: Andrade (2005).

Além das escolas, também desenvolveu outros projetos em Teresina,

trabalhando melhores concepções plásticas e volumétricas. Dois bons exemplos são

a Igreja da Santíssima Trindade, de 1968, e a Igreja do Cristo Rei, ambas com um

padrão formal diferente das igrejas existentes em Teresina até então (Figura 1.20).

Figura 1.20: Fachada da Igreja do Cristo Rei, em Teresina. Fonte: Andrade (2005).

Durante a década de 1970, o governo desenvolvimentista incentivou o

crescimento da infraestrutura nas cidades. No caso de Teresina, foram realizadas

grandes obras, como o Estádio Albertão, projeto do mineiro Raul Cirne, e o Tribunal

50

de Justiça do Estado do Piauí, de autoria do arquiteto carioca Acácio Gil Borsói. O

segundo engloba um centro cívico com características brutalistas, localizado próximo

ao Rio Poti (Figura 1.21). Sobre o projeto, Feitosa (2012, p. 145) discorre:

A arquitetura cumpre papel ativo no processo de desvendar as qualidades de um local, e o julgamento sobre este se elabora com a interseção do projeto. O arquiteto interpreta-o e faz as relações, não deixando o ambiente se impor e, de modo sistemático, cria ordem e elege circunstâncias próprias que irão também constituir o ambiente. O lugar, para Borsói, procede, no projeto, de modo coerente, criando ressonâncias sutis com seu entorno.

Figura 1.21: Tribunal de Justiça. Arquiteto Acácio Gil Borsói, 1972. Fonte: Feitosa (2012, p. 204).

A presença desses arquitetos em Teresina contribuiu não apenas para a

inserção de um estilo moderno na cidade. Além de modificar sua paisagem urbana,

tais profissionais inserem novos parâmetros de vida em sociedade ligados a novos

hábitos, costumes e, principalmente, ajustam a tecnologia aos novos edifícios

projetados. Talvez uma das maiores contribuições desses profissionais tenha sido a

procura de melhorias de conforto térmico, utilizando soluções construtivas em seus

projetos que envolviam desde a implantação até o uso de materiais diferenciados.

51

CAPÍTULO 2

52

2 SOBRE ANTONIO LUIZ DUTRA DE ARAÚJO

Para compreender a análise dos três edifícios institucionais de autoria de

Antonio Luiz Dutra de Araújo, é necessário introduzi-lo no panorama arquitetônico

brasileiro. Existe uma forma de situar o arquiteto na historiografia arquitetônica por

meio de sua formação e atuação profissional, podendo ser considerado um

“arquiteto migrante” de acordo com Bastos e Zein (2010, p. 142). A partir dos anos

1950, houve intensa migração de arquitetos pelo território nacional tanto para

conceber projetos em estados distintos quanto para atuar na docência em novas

faculdades de arquitetura; esse movimento proporcionou novos debates sobre a

produção arquitetônica desse período. Segawa (2010, p. 134) comenta sobre esse

fluxo de profissionais pelo país:

Essas migrações internas – como procuramos demonstrar sinteticamente – transcendem o mero sentido de deslocamento de profissionais em busca de oportunidades melhores. Esse trânsito de profissionais pelo país simboliza uma troca e um enriquecimento de valores que, como sementes ao vento, vão desenvolver atitudes em outras paragens. [...] Essas migrações caracterizam um processo de transferência de conhecimento e tecnologia de regiões mais desenvolvidas (como Rio de Janeiro, São Paulo e os grandes centros regionais) para outras menos desenvolvidas, num processo indutivo de modernização e uniformização de valores culturais e técnicos de arquitetura.

Seguindo o pensamento de Waisman (2013, p. 57), que defende a situação

dos objetos de estudo analisados em um contexto para que estes sejam mais bem

compreendidos, este capítulo é delimitado pela exposição da vida acadêmica e

profissional do arquiteto e alguns de seus projetos notórios em Teresina. Antonio

Luiz tem uma característica preponderante em sua trajetória: sendo mineiro, formado

na FNA no Rio de Janeiro e posteriormente mudando-se para o Piauí, nota-se um

contexto particular de atuação. O arquiteto tenta se inserir em um estado do

Nordeste brasileiro, com características provincianas e de difícil aceitação do novo,

um movimento modernizador que irá encontrar algumas barreiras tanto tecnológicas

quanto climáticas, culturais e econômicas.

A FNA foi o principal centro irradiador desses profissionais, uma geração que

em números significativos abriram espaços de atuação em novas frentes,

53

principalmente em regiões com o desconhecimento acerca da arquitetura e,

sobretudo, de arquitetura moderna. Assim como Antonio Luiz, outros arquitetos

seguiram a mesma trajetória, porém com extremos distintos, como foi o caso de Luiz

Nunes ainda na década de 1930. Severiano Porto, que migrou para Manaus,

desenvolvendo uma arquitetura com base em materiais e técnicas construtivas

locais, também foi um personagem notório. Outro destaque desse período foi Acácio

Gil Borsói, carioca também formado na FNA, que se mudou para Recife e realizou

uma série de projetos modernistas em outros estados (SEGAWA, 1988, p. 9).

2.1 FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Filho de Rubem Araújo e Lauricy Leite Dutra de Araújo, Antonio Luiz Dutra de

Araújo nasceu em 2 de setembro de 1935 em Juiz de Fora, Minas Gerais, e se

mudou com a família, aos sete anos, para o Rio de Janeiro. De acordo com Araújo

(2012), em entrevista, iniciou os estudos na FNA em 1958, na primeira turma

reduzida da faculdade, com apenas 63 alunos. Formou-se em fevereiro de 1962,

tendo colado grau em dezembro do ano anterior (Figura 2.1).

Figura 2.1: Arquiteto Antonio Luiz. Fonte: Arquivo pessoal da autora (2014).

54

No Piauí, atuou como suplente do diretor do Instituto dos Arquitetos do Brasil

– Seção Piauí (IAB-PI), durante o início de suas atividades no estado, como

arquiteto da Empresa de Obras Públicas do Piauí (Emoppi), entre 1982 e 1992, e

como de chefe da Divisão do Patrimônio Artístico e Arquitetônico da Fundação

Cultural do Piauí, em 29 de abril de 1994, onde permaneceu até 1988. Em 1975, foi

membro indicado pelo IAB-PI a participar da comissão que avaliaria o Plano de

Desenvolvimento Local Integrado (PDLI) de Teresina e da elaboração do Código de

Obras para a Prefeitura Municipal.

Participou de dois concursos em Teresina, o do projeto arquitetônico do

Edifício Cepisa, em 1970, e o concurso do projeto arquitetônico do Clube de

Engenharia do Piauí; classificou-se em primeiro lugar para ambos os projetos, porém

apenas o primeiro foi executado.

Enquanto estudante estagiou na fábrica da empresa Elevadores Atlas logo no

segundo ano de faculdade, projetando cabines de elevadores de 1 m2. Em

entrevista, o arquiteto afirmou que o trabalho era demasiado mecânico e repetitivo,

levando-o a procurar outras oportunidades rapidamente. Pouco tempo depois,

graças ao pai, que era bancário, ingressou no Departamento de Engenharia do

Banco Nacional de Minas Gerais S.A. (BNMG)13, setor responsável pela projeção e

construção das agências do banco pelo Brasil. Lá, atuou como desenhista,

acompanhando a execução das obras e, ao graduar-se, passou a compor o quadro

de arquitetos da empresa (ARAÚJO, 2012).

Em 1964 era eu arquiteto do Banco Nacional, que possuía um Departamento de Engenharia dividido em quatro regiões: à Região A pertencia o estado de Minas Gerais; à B, o estado do Rio de Janeiro; a Região C cobria São Paulo e Paraná; e a D, que era a minha e de meu colega Márcio de Miranda Lustosa, abrangia os demais estados da Federação. Naquele ano fui designado para ir à Teresina a fim de efetuar a compra de uma loja e fazer seu levantamento para então dar início ao projeto de reforma do que seria a primeira agência daquele banco no estado do Piauí (ARAÚJO, 2003).

13

O BNMG foi criado pelos irmãos José e Waldomiro Magalhães Pinto, que trabalharam no Banco Hipotecário e no da Lavoura. Com estrutura erguida em bases mineiras, estendeu suas atividades à capital da República, tornando-se apenas Banco Nacional e voltando as vistas para outras praças. Incorporou outras instituições financeiras, como o renomado Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais. Chegou a ser o maior estabelecimento bancário da América Latina. Faliu. Mesma trajetória teve o Banco do Progresso.

55

Durante a faculdade, Antonio Luiz (2012) relata que teve a convivência mais

marcante com seu professor Sérgio Bernardes, na disciplina de Grandes

Composições, durante o terceiro ano de curso. Para ele, a influência do arquiteto

carioca se tornou de grande importância em sua formação, devido ao “modo de

ensinar, de projetar, de pensar a arquitetura e no modo simples e igual de se

relacionar com seus alunos”. As aulas por ele ministradas eram práticas, a turma,

dividida em grupos, era separada por biombos, e geralmente os alunos eram

levados à visita de algumas obras em andamento de Bernardes, tornando esse

contato direto extremamente rico para a aprendizagem.

Dentre os ensinamentos de Sérgio Bernardes, Antonio Luiz cita sua grande

preocupação com uma boa resolução do programa de necessidades em planta,

incentivando o uso de modulação das estruturas, setorização dos espaços a fim de

evitar circulações exageradas e criar fluxos confortáveis e lógicos aos usuários do

espaço.

Se vai projetar (dizia), comece definindo as circulações; não se preocupe com a fachada, ela surgirá naturalmente e será bonita se a planta for boa; defina a estrutura do seu projeto, cuja importância é fundamental, e, sempre que possível, tire partido dela; cuidado com as proporções, trabalhe com modulação, e os melhores módulos são de 1,20 e 1,50 m, pois estes são múltiplos da maioria dos materiais de revestimentos existentes no mercado; se você não sabe desenhar, não tem problema, arquitetura é detalhe; estude bastante a planta procurando definir bem as diversas áreas, cada uma em seu lugar; numa casa, por exemplo, temos a planta dividida em três setores, o social, o íntimo e o de serviço, que devem ser dispostos de forma bem definida, independentes e ao mesmo tempo próximos; procure sempre evitar grandes circulações, os famosos corredores; em se tratando de prédios públicos, a própria circulação, se bem estudada, separa as áreas de trabalho das de público (ARAÚJO, 2014).

Seu primeiro projeto como autônomo foi a casa de praia da família em Rio

das Ostras, litoral do Rio de Janeiro. O projeto de 1963 foi concluído em 1966, na

beira da Praia do Bosque, local hoje com uma orla urbanizada. O projeto apresenta

resoluções em planta, típicos da arquitetura residencial moderna. Apesar de

compacta, a casa apresenta uma setorização que mantém o setor de serviços entre

os setores social e íntimo da casa, além de dinamizam o fluxo de pessoas entre os

ambientes internos e externos (Figura 2.2).

56

Figura 2.2: Planta baixa da residência em Rio das Ostras. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

Os quartos da casa ficam reservados mais ao fundo do terreno em uma área

mais íntima e protegida. A área de serviço é dividida, uma parte na edificação da

residência, com uma cozinha, quarto de empregada e banheiro, e outra parte

desvinculada ao volume principal, em uma edícula composta por um depósito e um

banheiro para a área externa da casa (Figura 2.2).

A solução volumétrica da residência foi a de usar empenas laterais, com a

cobertura da área social em evidência ao ser observada pelo passeio público.

Aberturas em vidro com dimensões generosas, o hall externo da entrada social e a

garagem compõem um ritmo de cheios e vazios na fachada principal (Figura 2.3).

Figura 2.3: Croqui da residência em Rio das Ostras, Rio de Janeiro, em 1963; primeiro projeto de Antonio Luiz.

Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

57

Segundo Melo (2012, p. 64), enquanto funcionário do Banco Nacional14,

Antonio Luiz concebeu diversos espaços para abrigarem as agências por todo o

Brasil, dentre elas: no Espírito Santo, agência de Vitória; no Rio de Janeiro, agências

de Campos e Teresópolis; em Pernambuco, agência de Recife; no Piauí, agência de

Teresina; em Goiás, agência de Goiânia; no Amazonas, agência de Manaus; no

Ceará, agência de Fortaleza; e no Rio Grande do Sul, agência de Porto Alegre

(Figura 2.4).

Figura 2.4: Agência do Banco Nacional em Porto Alegre, início da década de 1960. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

Hugo Segawa (1984, p. 54) afirma em seu texto introdutório sobre arquitetura

bancária da Revista Projeto que existia uma falta de expressão significativa do

sistema financeiro brasileiro com relação à sua arquitetura desenvolvida, até o fim da

década de 1940. A partir dos anos 1960 e, principalmente, da década de 1970,

houve uma tentativa de maior organização do ambiente financeiro, ampliando os

14

Antonio Luiz trabalhou como funcionário do Banco Nacional entre 1962 e 1964, quando a instituição extinguiu o Departamento de Engenharia. Então passou a prestar serviço terceirizado, também como arquiteto.

58

serviços prestados pelas instituições financeiras e ampliando o universo dos clientes,

usando uma nova estratégia de mercado, por meio do aperfeiçoamento dos “pontos

de venda” de serviços bancários: as agências.

No início da década de 1960, o Brasil se encontrava em grande efervescência

cultural, com um quadro de arquitetura impulsionado pelo clima progressista criado

no período pós-Brasília. Esse período compreende o ano em que Antonio Luiz inicia

sua atividade profissional como arquiteto e também marca a busca por novos

caminhos para a “nova arquitetura brasileira”, pela classe dos arquitetos, atingindo

outros estados periféricos do país.

Em cidades com contextos distintos, fizeram eclodir uma série de arquiteturas

com notória qualidade projetual e, sobretudo, com boas resoluções construtivas

como, por exemplo, o Hotel Tambaú (Figura 2.5), de 1966, em João Pessoa,

Paraíba, de autoria de Sérgio Bernardes, e o Edifício Barão do Rio Branco, de 1968,

em Recife, Pernambuco, de autoria de Delfim Amorim (NOGUEIRA, 2008, p. 126).

Tais exemplos comprovam que:

[...] a arquitetura brasileira emitia sinais de sua capacidade de se reorganizar sem que muitas concessões fossem feitas às ditas vertentes oficiais, que tinham como referência o modernismo e também as experiências bem-sucedidas de Oscar Niemeyer em Brasília (NOGUEIRA, 2008, p. 126).

Figura 2.5: Vista aérea do Hotel Tambaú, 2011. Fonte: Archdaily (2011).

59

A partir de 1965, o setor de engenharia do BNMG passou a contratar os

serviços de Antonio Luiz de forma terceirizada, devido à extinção do setor de

arquitetura. Essa medida fez com que Antonio Luiz, em 15 de janeiro de 1965,

entrasse em sociedade com um arquiteto parceiro do banco, Márcio de Miranda

Lustosa, abrindo um escritório no Edifício Avenida Central, localizado na Avenida Rio

Branco, Rio de Janeiro. O escritório, cujo razão social era Maloca Arquitetura e

Decoração Ltda., pretendia atuar em qualquer área da arquitetura (Figura 2.6).

Figura 2.6: Antonio Luiz Dutra (à direita) e seu sócio Márcio Lustosa no escritório da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro.

Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

Ainda prestando serviços ao Banco Nacional, Antonio continuava o trabalho

de projetar e reformar espaços físicos para novas agências. A partir de 1964, o

arquiteto faz visitas à Teresina, com o intuito de executar a reforma do espaço da

primeira agência do Banco Nacional no Piauí.

Localizada em frente à Praça Rio Branco, onde antes funcionava uma das

Lojas Rianil (comercial conhecido na cidade), a primeira obra de Antonio Luiz na

cidade já fez parte do principal centro cívico e arquitetônico, inserida em frente à

Praça Rio Branco, em meio a edifícios do início da construção de Teresina, como a

Igreja do Amparo (marco zero da cidade) e o Tesouro Provincial (Figuras 2.7 e 2.8).

60

Figura 2.7: Fachada da agência do Banco Nacional em Teresina, Piauí, no ano de 1964. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

Figura 2.8: Interior da agência do Banco Nacional em Teresina, Piauí, no ano de 1964. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

O divisor de águas para o estabelecimento do arquiteto mineiro em Teresina

foi a amizade com o engenheiro Lourival Sales Parente. O arquiteto e engenheiro

passaram a realizar projetos em conjunto, dentre eles a reforma do prédio para a

ocupação da agência do Banco Nacional, a residência de Lourival Parente e a

primeira agência do Banco do Estado Piauí S.A. (BEP) em Teresina.

61

Em entrevista, Antonio Luiz (2012) afirma que a demanda significativa de

projetos no estado fez com que, em 1968, ele viesse a mudar do Rio de Janeiro para

a capital piauiense com a família. Recebendo um terreno15 doado pelo engenheiro,

constrói sua residência e uma filial do escritório Maloca, até então com sede no Rio

de Janeiro. No mesmo ano, seu sócio Márcio Lustosa veio a falecer, e Antonio

compra sua parte da sociedade, levando a sede da Maloca para Teresina.

Localizada na zona leste, a edificação se assemelha a “moradias indígenas”,

feita com uso de materiais locais como o tijolo aparente, madeira e cobertura em

palha de carnaúba (Figura 2.9).

Figura 2.9: Imagem do escritório Maloca em Teresina, em 1968. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

A planta resolvida pela inter-relação de duas curvas forma volumes cilíndricos

dispondo a sala do arquiteto e a sala de projetos, que se interligam por um banheiro

e uma copa. A fachada, delimitada pelas linhas verticais dos tijolos, apresenta uma

rugosidade, que se assemelha a materiais brutos, naturais (Figura 2.10).

15

O terreno localiza-se na zona leste de Teresina. Na época, era uma região de chácaras e ainda sem urbanização, onde hoje está a Avenida Kennedy.

62

Figura 2.10: Planta do escritório Maloca em Teresina. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

No período de construção, o escritório era inserido em uma região ainda rural,

por isso a relação do edifício não era tão destoante de alguns casebres de palha.

Porém, hoje em dia, com o crescimento de Teresina, o edifício marca a paisagem

por se assemelhar a construções vernaculares, inserida em um meio com edifícios

modernos e sofisticados (Figura 2.11).

Figura 2.11: Escritório Maloca em 2014. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

63

Quando o arquiteto Márcio de Miranda Lustosa e eu resolvemos criar nosso escritório, cuja razão social ficou sendo Maloca Arquitetura e Decoração Ltda., pensamos em escolher um nome relacionado com a construção de moradia e a palavra escolhida foi oca, casa indígena, provavelmente a primeira forma de abrigo construída no Brasil que, ao ser reproduzida várias vezes, já que nosso pensamento era crescer, resultaria numa maloca. Nosso logotipo é

formado por duas ocas encostadas, estilizando o M de maloca, e as letras da razão social são letras desenhadas seguindo as mesmas linhas do logotipo (ARAÚJO, 2010).

Segundo Melo (2010, p. 23), durante as décadas de 1950 e 1960, período no

qual o setor imobiliário alavancava um desenvolvimento significativo em cidades no

Brasil e no mundo, Teresina ainda se encontrava com ar provinciano. Poucas obras

públicas foram produzidas durante esse período; no entanto, o setor privado detinha

uma produção significativa de residências (algumas com caráter modernista),

principalmente ao longo da Avenida Frei Serafim e no entorno. O arquiteto afirma

que sua impressão inicial da cidade foi a quase inexistência de obras modernas, a

maioria dos edifícios eram em estilo eclético, e existia ainda uma dificuldade de se

encontrar construtores locais para a realização de projetos diferenciados.

A relação de Antonio Luiz e Lourival Parente, após a primeira obra que

realizaram juntos, virou uma parceria de muitos trabalhos. Em conjunto, foram

projetados em Teresina:

agência do Banco Nacional em Teresina (1964);

sede do escritório Maloca (1967);

Conjunto Maloca, o primeiro conjunto de classe média de Teresina (1968)

(Figura 2.12);

64

Figura 2.12: Conjunto Maloca, localizado na zona leste de Teresina. Foto do fim da década de 1960. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2013).

edifício-sede do BEP (1969);

conjunto do Instituto de Assistência e Previdência do Estado do Piauí

(Iapep)16, com 60 casas e 240 apartamentos (1969);

edifício do Ministério da Fazenda (1971);

Ginásio Lira Parente (1974);

Automaq, primeira agência da Ford em Teresina (1976);

Vemosa, agência da Volkswagen (1976);

escritório da Construtora Lourival Sales Parente S.A. (1976) (Figura 2.13);

Figura 2.13: Escritório da Construtora Lourival Sales Parente S.A., localizado na Avenida Frei Serafim. Arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo, 1976.

Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

16

Segundo Araújo (2012), foi o primeiro conjunto habitacional de classe média de Teresina.

65

fábrica de postes Saci (1976);

edifício do Palácio do Comércio (1977);

José Elias Tajra Veículos Ltda., a Jotal (1979).

2.2 ATUAÇÃO DO ARQUITETO EM TERESINA

O legado arquitetônico deixado por Antonio Luiz em Teresina foi produzido

entre as décadas de 1960 e 2000. Desde sua chegada à cidade, ainda prestando

serviços ao Banco Nacional, houve uma demanda significativa na área da

construção civil, tornando o espaço urbano teresinense um atrativo à inserção da

arquitetura moderna por ele realizada.

Analisando a obra do arquiteto desde sua formação até o ano de 2000, sua

produção mais significativa foi no estado do Piauí. Apesar de ter se formado em

arquitetura no Rio de Janeiro e lá ainda residir até 1968, Antonio Luiz realizou

apenas quatro trabalhos no estado. Dois em Rio das Ostras, a residência de Rubem

Araújo e a residência de Moacir Reis, e duas agências do Banco Nacional, uma em

Campos e outra em Teresópolis. As duas residências foram projetadas em 1963 e

executadas entre os anos de 1965 e 1966.

Chegou a realizar trabalhos também em outros estados, como Espírito Santo,

Pernambuco, Amazonas, Rio Grande do Sul, Goiás e Ceará, e no Piauí, durante o

período em que atuou como arquiteto do setor de engenharia do Banco Nacional

entre 1962 e 1964. A ida para o Piauí abriu as portas para muitos trabalhos, desde a

década de 1960 até 2000, somando mais de 200 projetos entre reformas e de sua

autoria – grande parte deles, mais de 90%, só em Teresina (Gráfico 2.1).

66

Gráfico 2.1: Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição entre estados. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Também houve uma pequena demanda de projetos para o Maranhão, devido

à proximidade de Teresina a este estado. Projetos como o da Indústria e Comércio

de Óleos e Vegetais S.A., em Caxias, e o Mercado Público de Coelho Neto (Figura

2.14), além de residências unifamiliares nas cidades de Coelho Neto e Pedreiras,

estas duas não executadas.

Figura 2.14: Perspectiva do projeto do Mercado Público de Coelho Neto, Maranhão. Ano de 1971. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto.

67

O “milagre econômico brasileiro” é conhecido pelo período em que o país teve

um crescimento econômico significativo entre fins da década de 1960 e até meados

da seguinte.

No campo da construção e da arquitetura, houve uma intensificação do processo de diferenciação no setor da construção civil, baseado fundamentalmente nas áreas de infraestrutura, transporte, comunicação, estradas e outros num projeto político-econômico de integração nacional [...] (OSEKI apud SEGAWA, 2010, p. 160).

O governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, pertencente a esse

período, foi marcado pela realização de grandes obras de iniciativa pública, como a

Rodovia Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. No

caso do Piauí, no governo do engenheiro Alberto Silva, houve melhorias urbanas

como o asfaltamento de vias importantes, a exemplo da Avenida Miguel Rosa e da

Frei Serafim, principais artérias urbanas do período, além de edifícios monumentais

como os já citados Estádio Albertão e o Tribunal de Justiça (MELO, 2013, p. 7).

Analisando os projetos do arquiteto, notou-se também que sua maior

produção arquitetônica ocorreu na década de 1970, seguindo pela década de 1980.

Esse fato decorre primeiramente da política desenvolvimentista nacional do Estado,

que investe em infraestrutura urbana e na construção de prédios públicos, mas

também por uma quantidade considerável de residências unifamiliares, o dobro em

relação aos outros períodos. Acompanhando o crescimento urbano da cidade, tais

residências se encontram principalmente na zona do centro, inicialmente, mas a

maior presença está na zona leste (Gráfico 2.2).

68

Gráfico 2.2: Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição entre décadas. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

A partir da década de 1980, a produção do arquiteto começa a declinar,

sendo muito inferior nos anos 2000. De acordo com Antonio Luiz, isso se deve

principalmente à chegada de novos profissionais da área na cidade e também

devido à criação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI. O número de

profissionais aumentou consideravelmente sem acompanhar a demanda do

mercado. Atualmente, o escritório Maloca ainda funciona, prestando serviços

estruturais.

Outro ponto discutível é a grande variedade de programas projetuais que o

arquiteto conduziu no decorrer de sua carreira profissional. Como sua produção mais

expressiva foi na capital piauiense, pode-se remeter também a ela esse resultado

observado no Gráfico 2.3.

Para Silva (2006, p. 11), a produção arquitetônica de Antonio Luiz em

Teresina se manifestou mais variadas tipologias, desde residências, escolas,

edifícios institucionais, até clubes de lazer, hospitais, dentre outros. No período em

que chegou à cidade, existia uma carência de profissionais arquitetos, sendo Miguel

Caddah e Anísio de Medeiros alguns dos principais profissionais da cidade. Isso

garantia uma variedade de projetos para Antonio Luiz, que teve muito de seu

trabalho executado principalmente por serem obras para o governo do estado.

69

Gráfico 2.3: Produção arquitetônica de Antonio Luiz Dutra de Araújo: distribuição por programas. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

2.2.1 Arquitetura institucional

Observando o Gráfico 2.3 verifica-se que os edifícios institucionais também

representam uma produção significativa de Antonio Luiz em Teresina, tanto públicos

como privados. O Instituto de Educação Antonino Freire, construído em 1973, é um

dos edifícios. Resultado de um concurso público, o edifício está inserido na Praça

Firmina Sobreira, localizada no Bairro Matinha, zona norte da cidade (Figura 2.15).

Figura 2.15: Perspectiva do Instituto Antonino Freire. Fonte: Arquivo pessoal do arquiteto (2012).

70

O exemplar arquitetônico apresenta uma volumetria com horizontalidade

evidenciada. A fachada apresenta a demarcação da solução estrutural, com o

avanço dos pilares, provocando um ritmo ao conjunto. A setorização do programa é

resolvida em blocos, sendo três paralelos entre si para as salas de aula, biblioteca e

bateria sanitária e um bloco administrativo perpendicular aos demais, compondo a

fachada principal do edifício junto ao terreno da praça (Figura 2.16).

Figura 2.16: Planta baixa dos blocos do Instituto Antonino Freire. Fonte: Da Costa e Do Carmo (2011).

Esse edifício é um evidente exemplo, dentre os de sua autoria, de sua

preocupação com o alcance do conforto térmico. Teresina, cidade de altas

temperaturas durante todo o ano, predispõe de soluções de ventilação cruzada e

fachadas protegidas; no caso da obra do Instituto Antonino Freire, foi criada uma

ventilação da cobertura para amenizar a sensação térmica no interior dos blocos

(Figura 2.17).

A solução em blocos distintos apresenta também a vantagem de permitir a ventilação cruzada, amenizando a temperatura interna. O ar entra pelas janelas abertas ou pelas venezianas das folhas fixas (quando as folhas envidraçadas estão fechadas) e sai pelas aberturas, junto ao teto, na parede oposta ou vice-versa. Os pilotis do segundo bloco abrigam um agradável recreio coberto, que protege os alunos da intensa luminosidade do sol e do calor. Os blocos separados permitiram ainda a execução de pátios com jardins e

71

espaços de convivência, sendo o verde mais um fator contribuinte para o conforto térmico (DA COSTA; DO CARMO, 2011).

Figura 2.17: Detalhe da solução da ventilação dos blocos, realizada por Antonio Luiz no Instituto Antonino Freire.

Fonte: Da Costa e Do Carmo (2011).

Além do Instituto Antonino Freire, Antonio Luiz também projetou o edifício-

sede da Servi-San, em 1974, a Indústria de Soro e Produtos Farmacêuticos Ltda.

(Insopil), em 1979, o Instituto de Olhos do Piauí, em 1978, dentre outros. Na década

de 1980, um de seus maiores projetos foi o Eldorado Country Club, de 1987. O

projeto, que abrangia um complexo de clube, áreas de lazer com um lago artificial e

um hotel, não foi executado por completo (Figuras 2.18 e 2.19).

Figura 2.18: Caixa d’água do Eldorado Country Club. Fonte: Arquivo da autora (2011).

72

Figura 2.19: Perspectivas do prédio do Eldorado Country Club. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

2.2.2 Arquitetura bancária

O dia 1º de maio de 1946 representa um marco na economia do Piauí. Nessa data, foi fundado o Banco Agrícola, hoje BEP [...] Graças ao papel que tem desempenhado nos seus 25 anos de existência, o BEP tornou-se um dos principais propulsores do desenvolvimento para o estado do Piauí (O DIA, 1972).

Se o motivo para o qual Antonio Luiz havia vindo pela primeira vez em

Teresina, na década de 1960, foi instalar a primeira agência do Banco Nacional na

cidade, um dos primeiros projetos que lhe foi designado por intermédio do

engenheiro Lourival Sales Parente foi o das instalações, acabamento e

agenciamento interno da primeira agência do BEP17 na capital do estado, em 196818.

17

Também conhecido como Edifício Anfrísio Lobão. 18

O projeto estrutural e a execução da parte estrutural de fundações e lajes já havia sido executado por engenheiros do Rio de Janeiro.

73

Localizado no centro da cidade de Teresina, na esquina da Rua Treze de

Maio com a Rua Elizeu Martins, o edifício foi concluído em 1969 e, como afirma o

arquiteto, foi o primeiro prédio da cidade a ter uma fachada com fechamento em

vidro no térreo, o que chamava a atenção dos transeuntes à noite pela iluminação

dos rasgos em vidro por toda a fachada (Figura 2.20).

Figura 2.20: Edifício-sede do BEP no ano de 1971. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

O edifício contém um subsolo, pavimento térreo, mezanino e quatro

pavimentos-tipos contanto com uma área de 2,5 mil m2. Ficou a cargo do arquiteto

definir as circulações verticais e setorizar cada pavimento de acordo com as

necessidades da instituição; no caso, a planta de todos os andares se apresenta

livre, apenas com a demarcação estrutural, instalações sanitárias e circulações

definidas da maneira mais prática e livre possível, pois o layout de cada pavimento

foi resolvido por meio de divisórias de madeira removíveis folheadas de jacarandá,

proveniente da Bahia. Contando também com elevadores, sistema de som, de

intercomunicação interna e de ar-condicionado central, foi um marco devido à

tecnologia empregada no edifício (Figura 2.21).

74

Figura 2.21: Planta do pavimento-tipo do edifício-sede do BEP, 1968. Fonte: Arquivo Escritório Maloca, 2012.

De acordo com o arquiteto, o revestimento da fachada em mármore branco

nacional foi proveniente do Espírito Santo, em razão da melhor qualidade da

matéria-prima. As esquadrias são de alumínio Fichet, os fechamentos, em vidro

temperado no pavimento térreo, e nos demais, vidros transparentes comuns, o que

garante uma fluidez do edifício com relação ao entorno e também maior

permeabilidade à luz natural no interior do objeto arquitetônico (Figura 2.22).

Figura 2.22: Imagem do interior do edifício-sede do BEP na década de 1960: pavimento térreo e mezanino.

Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

75

Após projetar a primeira sede do BEP, Antonio Luiz também foi o arquiteto

responsável das agências de Parnaíba, Canto do Buriti, Esperantina e Picos. Em

Parnaíba, cidade do litoral piauiense, também projetou a agência da Caixa

Econômica Federal, na Praça da Graça, centro histórico de Parnaíba (Figuras 2.23,

2.24 e 2.25).

Figuras 2.23 e 2.24: Agência da Caixa Econômica Federal em Parnaíba (à esquerda) e agência do BEP em Parnaíba.

Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

Figura 2.25: Agência do BEP de Picos, 1974. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

76

CAPÍTULO 3

77

3 CRITÉRIOS DE ANÁLISE E O ESPAÇO EM QUESTÃO

Após situar o contexto do aparecimento da arquitetura moderna em Teresina

e da produção do arquiteto Antonio Luiz na cidade, foi definido um recorte temporal

para o estudo de três projetos do arquiteto. Os anos 1970 foram escolhidos por

representar o período de sua maior produção arquitetônica na cidade e também pelo

fato de, principalmente no início desta década, a capital piauiense ter sido palco de

grandes obras de infraestrutura e edifícios monumentais, em sua maioria, públicos.

A consolidação da cidade como espaço administrativo do estado do Piauí criou uma

demanda significativa de prédios institucionais no período, sendo esta a outra

justificativa da escolha para estudo: três edifícios institucionais, de autoria do

arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo, os quais, assim como toda a produção do

arquiteto, tiveram caráter moderno.

3.1 CRITÉRIOS DE ANÁLISE

No artigo “Desenhos e projeto”, Perrone (2014, p. 147) explica que toda forma

construída na paisagem natural “é fruto de um desenho forjado entre desejo e

necessidade”, ou seja, o primeiro objetivo do projeto arquitetônico (e também

urbanístico) é atender às necessidades da vida do homem e da sociedade,

propondo novos anseios para habitar.

O projeto de arquitetura ou design envolve a concepção e a proposição de formas, portanto, no trato de seus fundamentos é necessário abordar, ensinar e aprender procedimentos para suas definições, seus entendimentos e suas construções. Embora respondendo a diversas solicitações humanas e técnicas, a criação das formas em arquitetura sempre ultrapassou a condição de ser somente uma solução para atendimento de exigências funcionais ou construtivas. Abrigar as atividades humanas requereu expressões (PERRONE, 2014, p. 85).

Ao pensar em um edifício, o arquiteto cria uma série de relações entre o

projeto, ou a parte gráfica dele, e todo o contexto social, econômico, político e

78

natural do lugar em que ele será inserido. Utilizando o pensamento de Martinez

(2000, p. 37) que define o projeto como “a descrição de um objeto que não existe no

começo do processo”, pode-se afirmar que a produção arquitetônica de um edifício

envolve a evolução operacional de desenhos, imagens, projeções e aparato verbal,

mas sobretudo consiste no espelho das vivências intelectuais e culturais do

profissional.

No caso do arquiteto em estudo, foram reveladas características próprias de

seu processo criativo, algumas por meio de seu discurso19, outras percebidas e

reveladas pela análise de suas obras. Nesse sentido, o trabalho busca tanto analisar

as qualidades projetuais de três edifícios como identificar neles algumas atitudes que

o profissional teve no momento de concepção arquitetural.

O resultado do processo é um objeto. Mais precisamente, a descrição de um objeto por meios analógicos – desenhos e maquetes, acompanhados de especificações escritas sobre propriedades dos materiais propostos para sua construção. A invenção do objeto realiza-se por meio de “representações” dessa coisa inexistente, codificadas de maneira imprecisa em um sistema gráfico cuja sintaxe é parecida com aquela das representações definitivas (MARTINEZ, 2000, p. 37).

Os critérios de análise aqui elencados foram resultados de características

arquitetônicas presentes em edifícios institucionais e também de certas diretrizes

seguidas por Antonio Luiz ao projetar, que se repetem em diversos projetos

concebidos em Teresina. Segundo Comas (apud ZEIN, 2011, p. 208), a necessidade

de um reconhecimento crítico e referenciado de um variado repertório de obras não

serve apenas para conhecer essas obras “em si mesmas”, mas também para

iluminar o cenário criativo em que se desenvolve um novo projeto.

3.1.1 O entorno e a implantação

O entorno, ou o lugar em que o edifício é implantado, é uma informação que

deve ser precursora do ato de projetar um edifício. É preciso conhecer o espaço que

19

Observado nas entrevistas ou em textos de sua própria autoria. Tais textos são divagações de Antonio Luiz, tanto sobre arquitetura e alguns projetos como sua vida.

79

receberá tal intervenção, seja ele ainda vazio ou com estruturas já preexistentes.

Perrone (2014, p. 147) discorre que:

A elaboração de projetos requer entender as cidades, as obras de arquitetura e os objetos com e em que habitamos como parte do palimpsesto de muitos desenhos. É preciso reconhecê-los no espaço construído, observar como foram utilizados, compreender como e porque são assim e acrescentar a essa compreensão a cogitação de como poderiam ou deveriam ser para que se habite melhor.

A arquitetura não pode ser vista apenas como um conjunto de soluções

técnicas e construtivas, mas também como parte do entorno onde irá interagir. E

considerando a arquitetura moderna, a que se desenvolveu no Brasil a partir do

século XX, tem como atributo entender o meio em que esta se desenvolve, de forma

a participar da sua concepção projetual. Em seu livro Teoria do projeto, Piñon (2006,

p. 154) discorre:

O projeto moderno não apenas atende à vizinhança do edifício como não pode prescindir da sua consideração, se quiser usar de suas possibilidades de síntese por meio da forma. As condições do lugar – na medida em que estimulam e ao mesmo tempo limitam a concepção – são um elemento essencial para a identidade do edifício; a maioria dos projetos exemplares da modernidade não serão entendidos sem uma sutil mas intensa consideração do entorno. Os grandes arquitetos – Mies van der Rohe à frente – converteram os arredores nos grandes protagonistas dos seus projetos [...].

O diálogo entre o edifício e a cidade precisa se mostrar claro, observando

escalas, alturas, cheios e vazios do entorno, sem esquecer as preexistências. Essa

ressalva é feita porque os edifícios aqui analisados se encontram no centro da

cidade de Teresina, como parte do traçado original da capital executado por Saraiva.

A cidade contemporânea, sede de mudanças contínuas, parece um confuso amálgama de fragmentos heterogêneos [...]. Por isso, tanto a cidade contemporânea como a antiga são lugares privilegiados da miscigenação e da simultaneidade [...]. Parte da cidade, materiais urbanos e formas espaciais, pertencentes a diversos períodos da história, mesclam-se a outros materiais, formas, figuras e técnicas que anunciam aspectos do futuro e da modernidade (BARDA, 2009, p. 48).

80

3.1.2 Programa do edifício (fluxos, acessos e circulações)

No projeto arquitetônico, o programa engloba o conjunto e a disposição de

espaços que são delimitados de acordo com os anseios e necessidades dos futuros

usuários. Cabe ao arquiteto aplicá-los ao edifício que será idealizado, prevendo a

organização dos ambientes para melhor funcionamento do objeto arquitetônico e

desempenho de atividades. A setorização do projeto arquitetônico foi uma das

inovações que surgiram com a arquitetura moderna.

Outro percurso pelo qual se constrói um projeto é o da organização da especialização de usos de espaços/volumes, cada um correspondendo a tipos de funções ou ambientes requisitados pelo programa. Um dos caminhos mais conhecidos é o do uso das articulações entre os diversos espaços funcionais divididos em dois grandes grupos: espaços de circulação e ambientes do programa. As circulações se compõem por corredores, halls, escadas, rampas, elevadores, acessos etc., e os ambientes se constituem nas peças destinadas a usos específicos: salas, sanitários, depósitos, quartos etc. (PERRONE, 2014, p. 154).

Assim como afirmou Perrone no discurso acima, essas articulações entre os

espaços de um dado objeto arquitetônico correspondem aos fluxos em seu interior e

que delimitam os espaços de circulação. Guiados pelos acessos ao edifício, tendem

a seguir uma hierarquização de acordo com a funcionalidade dos ambientes.

Os caminhos de circulação20 de um dado projeto, além de conduzirem os

usuários aos espaços internos e externos do conjunto arquitetônico, também

sugerem por meio da delineação dos possíveis movimentos dos transeuntes uma

“linha perceptiva” entre espaços e ambientes criados.

Sabendo que o arquiteto aqui analisado refere-se à circulação como ponto de

partida ao projetar uma obra, será analisada a forma como ela se destaca nos três

objetos de estudo.

Uma boa obra incorpora o estudo de como se ingressa no edifício, como ele será percorrido, acessado e como nesses percursos serão reconhecidos seus espaços, fazendo da circulação um elemento definidor da forma, da ligação dos ambientes e da percepção dos edifícios (PERRONE, 2014, p. 155).

20

Ching (2008, p. 228) conceitua circulação como “movimento através do espaço”.

81

3.1.3 Estrutura

“A construção é a disciplina que comumente vertebra a aparência” (Piñon,

2006, p. 126).

A relação entre arquitetura e estrutura é de suma importância em um projeto

arquitetônico, sendo o saber construtivo um instrumento básico na hora de conceber

um edifício. O sistema estrutural precisa ser resolvido previamente antes de maiores

decisões em cima do projeto, já que, como afirma Piñon (2006, p. 126), “seu destino

é contribuir decisivamente para a sistematicidade congênita do edifício”.

Do mesmo modo, Amorim (2014, p. 139) trata a estrutura de uma edificação

como “parte integrante da síntese das decisões formais, que origina a materialização

do espaço”, ou seja, a estrutura é determinante no aspecto formal que um objeto

arquitetônico irá assumir e, dependendo da forma que for resolvida, pode facilitar ou

não sua idealização. Na arquitetura moderna, a estrutura transforma-se não apenas

como parte do edifício, mas é a principal norteadora de suas soluções de planta,

fachada e técnicas construtivas tecnológicas.

À estrutura também pode ser atribuído o termo tectônico utilizado como

construção por Piñon (2006, p. 128), da mesma forma que o termo geologia

referencia-se à estrutura da Terra, o que sugere considerar tectônico como um

aspecto da construção que transcende seu papel básico de produção material do

edifício, fazendo parte também de sua identidade e expressividade.

A condição estrutural do construtivo, aquela dimensão da arquitetura na qual ordem visual e ordem material confluem em um mesmo critério de ordem, sem chegar jamais a fundir-se, animando a tensão entre forma e construção (PIÑON, 2006, p. 130).

3.1.4 Adequações ao clima local

A razão desse critério analítico é indicar nos edifícios analisados as atitudes

do arquiteto que contribuíram para melhorias de conforto do ambiente interno, já que

o lugar em questão apresenta condições climáticas consideradas extremas.

82

Teresina situa-se [...] dentro da macrorregião do meio norte do estado. O clima da região caracteriza-se por ter duas estações bem distintas. Durante o primeiro semestre o clima é quente e úmido, com a média das temperaturas máximas entre 30 e 32 °C e umidade relativa média entre 75 a 85%. As chuvas são concentradas neste período, nos meses de dezembro a maio. No segundo semestre, praticamente não há precipitações, o clima é quente e seco, com temperaturas médias máximas entre 33 a 36 °C e umidade relativa do ar entre 55 e 65% (CARVALHO; MELO; SILVEIRA, 2010, p. 148).

Sabe-se que no Nordeste como um todo, devido à sua proximidade da linha

equatorial, o clima é considerado um critério indispensável ao se projetar. A inserção

da arquitetura moderna nesse meio teve de se adequar à adoção de materiais e de

sistemas construtivos para proteger o ambiente interno das construções, do calor e

da grande incidência de luz solar (HOLANDA, 2010, p. 15).

Paredes recuadas e vazadas por meio de cobogós, ventilação da cobertura,

ventilação cruzada e outras soluções construtivas amenizam as sensações de calor

e melhoram o desempenho dos edifícios. A cidade de Teresina, por apresentar

temperaturas altas durante praticamente o ano todo, além de técnicas construtivas e

cuidado com os materiais utilizados, exige uma disposição coerente do edifício no

terreno como determinante do melhor aproveitamento da ventilação cruzada e da

proteção contra insolação de fachadas.

3.1.5 Volumetria

“Em arquitetura, um volume pode ser considerado tanto como uma porção de

espaço contido e definido pelos planos das paredes, do piso, do teto ou de cobertura

como uma quantidade de espaço ocupado pela massa de um edifício” (CHING,

2008, p. 96).

Serão observados nos objetos de estudo do trabalho os elementos de

composição do edifício que definem sua volumetria. Fachadas, fechamentos e

coberturas serão analisados com o objetivo de definir características formais dos

objetos de estudo.

83

Levando-se em consideração a arquitetura moderna, também serão

identificadas as relações desses elementos entre si. As fachadas, por exemplo,

entram na questão da valorización de los elementos de la Geometria21 como

elementos independentes de suas estruturas e que não atuam apenas como uma

cortina que envolve o edifício sem nenhuma ligação com seu interior.

Desaparece definitivamente el concepto de fachada como telón anónimo irrelevante de la interioridad. Ahora se propone desde el exterior una lectura clara que expressa el comportamiento interior de la vivienda, al contrastar definitivamente las zonas que requieren una absoluta privacidad de aquellas em donde interesa la fusión com el espacio exterior (física o psicológicamente) (TOMAS, 1988, p. 72).

3.1.6 Plasticidade e materiais

Para Chala, Mori e Oyarzun (2007, p. 52), “las relaciones entre forma y

matéria han tenido, em el terreno de la arquitetctura, um carácter dialético. Esto

significa que es impossible imponer unilateralmente uma sobre la outra.” Dessa

maneira, a plasticidade será analisada por meio da identificação dos materiais

utilizados nos edifícios em análise. A textura desses materiais, o cromatismo e como

eles se distribuem ao longo do projeto constituem também diretrizes projetuais

utilizadas pelo arquiteto, como forma de caracterizar a natureza do edifício e também

do lugar em que ele está inserido.

“La física y la química moderna nos han enseñado hasta qué punto

diferencias materiales pueden explicarse a través de condiciones formales em la

constitución de la materia” (CHALA; MORI; OYARZUN, 2007, p. 52).

21

Constante definida por Hector Tomas em seu livro El lenguaje de la arquitectura moderna, que atribui ao edifício moderno um objeto resultado da junção de vários elementos independentes da composição (1998, pg.71).

84

3.2 O ESPAÇO EM QUESTÃO

Os três edifícios em análise foram construídos na área que atualmente

pertence ao centro de Teresina. Localizada entre os dois principais rios da região,

Parnaíba e Poti, segue as delimitações da Avenida Maranhão, Avenida Miguel Rosa

e Avenida Joaquim Ribeiro, conglomerando além do desenho original do início da

cidade o território que avançou até o primeiro quarto do século XX (Figura 3.1).

Figura 3.1: Mapa do centro de Teresina com a locação dos edifícios a serem estudados. A linha vermelha delimita o território do centro de Teresina atualmente. O espaço quadrangular tracejado em

branco representa primeiro traçado da capital do século XIX. Em amarelo, encontram-se os três edifícios em estudo: 1) Edifício do Ministério da Fazenda; 2) Edifício do Palácio do Comércio; 3)

Edifício Alberto Tavares Silva (Cepisa). Fonte: Acervo Secretaria Municipal de Planejamento de Teresina (Semplan). Adaptado pela autora

(2014).

Os edifícios do Ministério da Fazenda e do Palácio do Comércio estão

inseridos dentro do perímetro da primeira malha urbana desenhada para abrigar a

capital do Piauí, em meados do século XIX, enquanto que o Edifício Cepisa, fora

desse perímetro, foi construído em uma área marginal ao traçado inicial da cidade

durante a década de 1970.

Apesar de os três objetos de estudo estarem em uma mesma região da

cidade e relativamente próximos uns dos outros, a análise da implantação dos

85

mesmos revelará que os espaços têm peculiaridades distintas, relacionadas ao

entorno de cada um deles.

A malha inicial da cidade, mantida até a atualidade, apresenta ruas estreitas e

ainda a presença de edificações do século XIX. A disposição dos quarteirões

acompanha também uma regularidade, quadras 40 x 40 m dispostas em tabuleiro de

xadrez, assim como foram traçadas inicialmente. Já as partes que se encontram fora

do traçado original detêm um traçado que foge à ortogonalidade e foram se

adequando a partir de ocupações periféricas pela população, com o passar do

tempo (Figura 3.2).

Figura 3.2: Vista aérea dos edifícios: 1) Edifício Alberto Tavares Silva (Cepisa); 2) Edifício do Palácio do Comércio; 3) Edifício do Ministério da Fazenda. O espaço tracejado em branco corresponde à

parte da malha urbana inicial de Teresina. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora (2014).

A área é densamente ocupada e, nos dias de hoje, o uso predominante do

solo é comercial, de serviços ou de fins institucionais, com poucas residências,

principalmente na malha correspondente ao traçado original de Teresina.

Os vazios urbanos são praticamente inexistentes, o que chama a atenção das

massas verdes das praças. Identificam-se na Figura 3.2 a Praça Da Costa e Silva,

ao lado do Edifício Cepisa, a Praça Marechal Deodoro (ou Praça da Bandeira) em

frente ao edifício do Ministério da Fazenda, e a Praça Conselheiro Saraiva.

Outra particularidade da região é que ela reúne a maior parte dos edifícios

históricos, alguns deles construídos ainda na época da fundação da cidade. Alguns

86

dos prédios com traços neoclássicos e ecléticos encontram-se ainda presentes na

paisagem, mas uma quantidade significativa foi demolida para novas construções ou

para estacionamentos, um sério problema da região. Além disso, a

descaracterização dessas tipologias remanescentes é outro problema que

empobrece o patrimônio arquitetônico e cultural da cidade.

Do acervo tradicional, poucos imóveis conservam a função de origem. Com a desvalorização das zonas antigas, as residências cada vez mais ficam acuadas, reféns de grotescas adaptações, enquanto as atividades do comércio e serviços se esparramam a todos os espaços. Não se vê sinal de abandono. Mas a falta de uso, má conservação ou o arruinamento expressam a estratégia de lucro, baseada na expectativa da oferta e da procura. O estado físico se fragiliza, menos pela resistência dos materiais que pelas volumosas descaracterizações. Muitas edificações perderam as referências de uma tipificidade local, quando não, sumariamente eliminadas (IPHAN, 2008, p. 17).

Figura 3.3: Imagem aérea de Teresina no início da década de 1960. Ao fundo, o Rio Parnaíba; a igreja com volume em duas torres é a Igreja Matriz de Teresina (Igreja do Amparo), e, à sua esquerda, o espaço vazio que foi ocupado pelo edifício do Ministério da Fazenda em 1973.

Fonte: Site Isto É Piauí (2014).

O centro de Teresina apresentou a partir da década de 1950 indícios de

verticalização22 de suas edificações, com aumento considerável já no fim dos anos

22

O primeiro desses edifícios foi o antigo Instituto Nacional de Previdência Social, construído em 1948 e inaugurado em 1950, para uso institucional. Durante anos foi o edifício mais alto da cidade, com oito pavimentos, apresentando traços em art déco (COSTA; DANTAS, 2010, p. 35).

87

1960 (Figura 3.3). Hoje, há a presença de volumes verticais mais demarcados na

paisagem central.

88

CAPÍTULO 4

89

4 EDIFÍCIO ALBERTO SILVA (CEPISA) – 1973

Durante o período posterior à Segunda Guerra Mundial, as cidades brasileiras

passaram por uma industrialização acelerada acompanhada de urbanização. Tal

crescimento aparentemente favorável acentuou a ausência de uma política de

infraestrutura energética no país, tornando-se um empecilho à dinâmica econômica

emergente nesse período. Entre os anos de 1945 e 1962 (período de constituição da

Eletrobras, estatal responsável pela política nacional de energia), foram organizadas

inúmeras companhias públicas de energia elétrica (SEGAWA, 2010, p. 161).

O edifício-sede da Cepisa faz parte de um processo de modernização pelo

qual passou Teresina a partir da década de 1950. Em 1962 é constituída a Cepisa

como Sociedade Anônima, com razão social de Centrais Elétricas do Piauí S.A. No

início da década de 1970, chega à cidade – durante a atuação do até então diretor

das Centrais Elétricas do Piauí, engenheiro Alberto Tavares Silva – o Plano de

Distribuição da Rede Elétrica do estado, que exigia uma sede para a empresa

(CAVALCANTI; LOPES, 2010, p. 246).

Em 1971, Alberto Silva é eleito governador do estado do Piauí e de imediato

lança um concurso para o projeto arquitetônico da sede; na época a cidade era

carente de profissionais da área e, de acordo com o arquiteto Antonio Luiz, foram

poucos os participantes (Figuras 4.1 e 4.2).

90

Figuras 4.1 e 4.2: Perspectivas apresentadas no concurso da sede da Cepisa pelo arquiteto Antonio Luiz, no início da década de 1970.

Fonte: Acervo do arquiteto (2012).

Ao assumir o governo em março de 1971 e depois de reestruturar a diretoria da Cepisa, determinou o estudo e a reformulação do plano de eletrificação do estado, para que esse setor básico da formação da infraestrutura acelerasse seus cronogramas de obra no quadriênio 1971-74. Em resumo, pretende o governador atingir os seguintes objetivos:

1. Construção de 3.272,78 km de linhas de transmissão. 2. Construção de redes de distribuição em 66 cidades com um

total de 4.691 postes. 3. Construção de sede própria para a Cepisa, com 3 mil m2 de

área construída [...] (O DIA, 1972).

O terreno localizado no centro da cidade, às margens do Rio Parnaíba, era

ocupado por uma usina de abastecimento de energia à base de carvão e alguns

casebres de palha nas redondezas. Segundo Melo (2010, p. 23), a região, ainda

sem infraestrutura urbana, teve como evento impulsionador a concepção do edifício-

sede, trazendo a pavimentação da Avenida Maranhão (Figura 4.3).

91

Figura 4.3: Imagem aérea do edifício ainda em construção e da Avenida Maranhão ainda sem infraestrutura. O volume atrás do edifício redondo corresponde ao prédio da antiga usina a vapor.

Fonte: Site da Cepisa, 2010.

Segawa (2010, p. 190) afirma que a arquitetura brasileira desenvolvida nos

anos do “milagre econômico” alimentava uma pretensão de alcance de

desenvolvimento do país, por isso, planejava-se, projetava-se e construía-se como

nunca se fez em outros tempos.

Outra característica desse período é que “canonizava-se e burocratizava-se

uma postura arquitetônica”, ou seja, não importava qual tipologia ou programa de

necessidades de um edifício, a modernidade teria de estar presente, principalmente

com estruturas de concreto, o concreto aparente, a competição pelos grandes vãos

e maiores panos de vidro – o uso desses sistemas para demonstrar o avanço e a

modernização.

O concurso teve poucos participantes, e foi a proposta do arquiteto Antonio

Luiz a escolhida. Idealizada em linhas modernistas, é um edifício em formato

cilíndrico puro, até então inexistente na cidade.

Um edifício redondo, de arquitetura arrojada e estrutura inovadora, é erguido ao lado de antigas usinas elétricas de carvão em plena década de 1970. Rasga os céus para mostrar a beleza dos contrastes, dos grandes desafios e das melhores ideias: um gerador de energia (Cepisa, 2009).

O prédio foi executado de imediato, concluído em 1973 e inaugurado em

janeiro de 1974, recebendo o nome de Edifício Alberto Tavares Silva. Segundo

92

Antonio Luiz, em entrevista (2013), o partido do projeto foi tratar o edifício de acordo

com a função a que ele seria destinado; sendo assim, pensou no aspecto formal de

uma bobina de gerador. O aspecto formal cilíndrico é evidenciado pela superposição

de círculos ou de anéis em “fatias, como discos sobrepostos”, afirma o arquiteto

(Figura 4.3).

De acordo com o arquiteto, a partir da década de 1980 “o progresso da cidade

trouxe um contrapeso, a malandragem [...] as pessoas desandaram a levantar

barricadas urbanas chamadas muros, para se defender contra o que, em pouco

tempo, passou a se chamar violência” (ARAÚJO, 2000). Essa prática observada em

Teresina, principalmente no segmento residencial, também atingiu diversos edifícios

do setor público, tais como a Cepisa e o Ministério da Fazenda. Em 2000 foi

levantado um muro de pedra em todo o perímetro do terreno pertencente às Centrais

Elétricas, no intuito de garantir maior segurança ao edifício e aos outros prédios

posteriormente construídos no complexo.

4.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO

“A edificação executada pousava como um objeto raro na paisagem urbana

circundante: monumental e imponente, contrastando com edificações residenciais

horizontais e uma praça projetada no entorno do edifício” (AFONSO, 2013).

Com relação aos princípios modernistas, o conhecimento do lugar em que um

objeto arquitetônico será inserido envolve não apenas questões técnicas do projeto,

mas também sua própria identidade.

O edifício está localizado na porção sul do centro de Teresina e foi implantado

próximo à margem do Rio Parnaíba em meio a uma paisagem natural privilegiada.

No período de sua construção, início da década de 1970, a região era considerada

periférica ao centro da cidade, portanto não fazia parte do traçado original e

ortogonal que data de meados do século XIX (Figura 4.4).

93

Figura 4.4: Imagem da construção do edifício e da Avenida Maranhão ainda sem infraestrutura, início da década de 1970.

Fonte: Site da Cepisa (2010).

A Avenida Maranhão ainda não se encontrava pavimentada, e a infraestrutura

ainda era inexistente. O entorno era composto por alguns casebres de palha e, no

próprio terreno que pertencia às Centrais Elétricas, havia uma usina de carvão. Após

a construção do edifício, a região foi ocupada por edificações de pequeno porte, em

sua maioria residências e pontos comerciais. Em 1977, no terreno a noroeste do

Edifício Cepisa é construída a Praça Da Costa e Silva23 (Figura 4.5), em

homenagem a Antônio Francisco da Costa e Silva.

23

A praça foi construída durante o governo de Dirceu Arcoverde e inaugurada em 1977. Foi um projeto do paisagista Burle Marx em parceria com o arquiteto Acácio Gil Borsói.

94

Figura 4.5: Imagem da Avenida Maranhão no fim da década de 1970, já pavimentada. À direita, o Rio Parnaíba, e, à esquerda, a Praça Da Costa e Silva. Ao fundo, o Edifício Cepisa.

Fonte: Site Isto É Piauí (2011).

Atualmente o terreno em que edifício está inserido pertence à zona do centro

da cidade e é delimitado ao norte pela Rua Santa Luzia, a leste pela Rua João

Cabral, ao sul pela Avenida Joaquim Ribeiro e a oeste pela Avenida Maranhão. A

malha urbana da região não é disposta de maneira ortogonal, apresentando

configurações que fogem ao padrão regular do traçado original. O entorno próximo é

composto, em grande parte, por residências, alguns pontos comerciais e da Praça

Da Costa e Silva (Figura 4.6).

95

Figura 4.6: Locação do terreno e entorno: 1) Edifício Cepisa; 2) Praça Da Costa e Silva; 3) Edifício do Instituto Federal do Piauí (IFPI); 4) Central de Treinamento; 5) Edifício institucional; 6) Edifício comercial.

Fonte: Google Maps, adaptado pela autora (2014).

No período de sua construção, o formato puro e curvo chamava a atenção e

divergia das preexistências não apenas pelo seu aspecto volume, mas também pela

tecnologia construtiva utilizada no edifício.

O terreno em formato trapezoidal apresenta cotas de 130 x 230 m e uma área

de aproximadamente 31,2 mil m2. A topografia tem um desnível de 4 m no sentido

leste-oeste. Implantado na porção norte do terreno, o objeto arquitetônico recua do

seu eixo 20 m do limite lateral e 30 m do limite frontal, formando uma praça que

evidencia a monumentalidade (Figura 4.7).

96

Figura 4.7: Imagem do terreno da Cepisa e dos outros edifícios que foram construídos posteriormente: 1) Edifício Cepisa; 2) Centro de Operação da Distribuição; 3) Prédio da antiga usina a vapor; 4) Centro de Processamento de Dados; 5) Laboratório de Aferição de Medidores (1983); 6)

Sede da Superintendência de Engenharia de Transmissão e Planejamento Elétrico; 7) Centro de Treinamento.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

O projeto original também teve uma proposta paisagística, com a presença de

jardins e espelhos d’água juntos ao acesso pelo térreo do edifício. Atualmente o

espelho d’água está desativado por falta de manutenção, e o edifício foi murado na

década 2000 devido à violência do entorno, o que prejudica a visibilidade do

conjunto arquitetônico (Figuras 4.1 e 4.2).

4.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (ACESSOS, FLUXOS, CIRCULAÇÕES)

Como o terreno tem uma topografia irregular, apresentando um decaimento

de 4 m no sentido leste-oeste, os dois acessos ao edifício apresentam cotas em

altura diferentes.

97

O acesso principal é recuado, em planta, para o centro do edifício que se

apresenta em parte solto pelos pilotis e em parte ocupado por salas. Voltado para a

Avenida Maranhão, esse acesso é ladeado por dois espelhos d’água, fazendo com

que o usuário seja conduzido ao hall principal, no interior do edifício. O acesso

voltado para a Rua João Cabral leva o usuário direto ao primeiro pavimento, onde

fica o auditório da instituição (Figura 4.8).

Figura 4.8: Implantação do edifício no terreno, com a diferença de cotas e os acessos. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

Para a concepção formal do volume foi criada uma malha de 50 pilares

dispostos em três anéis concêntricos. Os pilares apresentam três dimensionamentos

diferentes, de 0,35 x 0,70 m, 0,35 x 0,55 m e 0,35 x 0,40 m, dispostos nessa ordem,

do centro para a extremidade. Essa disposição se repete em todo o edifício, com

exceção do último pavimento que apresenta apenas os dois primeiros anéis

concêntricos (Figura 4.9).

98

Figura 4.9: Planta com a trama dos pilares. Encontram-se destacados as baterias sanitárias, o espaço para a futura instalação de elevadores e a escada. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

O edifício foi projetado partindo do aspecto formal cilíndrico com uma

subtração do eixo central, formando uma planta circular resolvida em anéis. A

estrutura delimita os espaços e as circulações, dispostos radialmente em quatro

anéis concêntricos, nos quais foi resolvido o programa de necessidades.

No eixo central se tem o vazio, ocupado por um jardim de 10 m de diâmetro,

de onde partem a setorização dos espaços em planta. O primeiro anel, com largura

de 2,65 m, representa o setor de serviços e de circulação vertical, composto pela

copa, depósito, bateria sanitária, escada e o espaço vazio para futuras instalações

de elevadores.

O segundo anel, com largura de 2,35 m, delimita a circulação do pavimento

que conduz o usuário para as circulações verticais, baterias sanitárias e para as

salas de trabalho. As salas formam o anel de maior largura, com 7,75 m,

acompanhado do último anel, o mais estreito, com 1,05 m de largura. O último anel

representa a circulação externa dos pavimentos devido ao avanço da estrutura,

formando uma varanda em todo o perímetro do objeto arquitetônico (Figura 4.10).

99

Figura 4.10: Planta com a setorização dos anéis do edifício. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

A partir da disposição dos ambientes em planta, são delimitadas as

setorizações de cada pavimento, seguindo o programa de necessidades geral. De

acordo com o projeto original, o térreo apresenta parte da planta em pilotis, onde se

tem acesso à entrada principal do edifício e o estacionamento. O primeiro

pavimento, que também tem um acesso pela área externa do edifício, devido à

diferença da topografia, é ocupado pelo auditório, setor de contabilidade, setor

administrativo, setor de patrimônio e setor pessoal.

O segundo pavimento é constituído pela sala do presidente, dois salões para

eventos diversos, secretaria geral, sala das acessórias e auditorias. O terceiro

pavimento é ocupado pelo setor de divisão de obras civis, Salão D.T.E., Salão

D.T.D. e pela secretaria técnica. Por fim, o último pavimento compreende a casa de

máquinas, o arquivo morto e a caixa d’água, não dispondo da mesma dimensão dos

outros pavimentos, ocupando até dois anéis (Figura 4.11).

100

Figura 4.11: Perspectiva do edifício com a implantação do terreno e os acessos. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

Ching (2008, p. 228) conceitua circulação como “movimento através do

espaço”; para o autor, a circulação de um edifício pode ser concebida como a “linha

perceptiva que conecta os espaços de um edifício ou qualquer série de espaços

internos e externos”. Para Antonio Luiz, o ponto de partida de um projeto é a

definição das circulações, são elas que delimitam o real espaço a ser utilizado pelo

conjunto arquitetônico e é com base nelas que se podem ter diferentes soluções

projetuais do espaço edificado. Existe então uma concepção de projeto adotada pelo

arquiteto: a circulação como determinante da forma do edifício (Figuras 4.12 e 4.13).

Figuras 4.12 e 4.13: Circulação vertical interna do Edifício Cepisa (à esquerda) e circulação horizontal interna.

Fonte: Arquivo da autora (2013).

101

No edifício estudado, as circulações permitem um conhecimento do espaço

interno do objeto arquitetônico que além de induzir o usuário para os diferentes

ambientes proporciona a observação do pátio interno em boa parte do seu percurso

através das paredes vazadas em cobogó. No caso da circulação formada pela

sacada das salas, o entorno é contemplado em toda a extensão radial do objeto

arquitetônico, trazendo a paisagem natural privilegiada para dentro do edifício.

4.3 ESTRUTURA

A estrutura como delimitadora não apenas da materialidade do edifício, mas

também de sua identidade é destacada na concepção projetual como a responsável

por todo o partido do Edifício Cepisa. Com relação às plantas, a estrutura é

responsável por delimitar todos os espaços e circulações do objeto arquitetônico, por

meio da trama de pilares, que é interligada às vigas circulares.

A fachada se apresenta livre da marcação de elementos estruturais, já que os

pilares e vigas são dispostos recuados da extremidade do volume, formando um

balanço evidenciado pelos elementos de fechamento. Essa solução construtiva

garante uma leveza ao complexo arquitetônico ao simular uma sobreposição de

discos ao volume (Figura 4.14).

Figura 4.14: Corte do Edifício Cepisa. Fonte: Maloca Arquitetura e Estruturas Ltda. (2013).

102

A cobertura é formada por dois anéis concêntricos em alturas diferentes e foi

resolvida de acordo com a malha estrutural, de modo que o último pavimento

apresenta-se recuado em relação ao edifício, criando um complexo estrutural que

interliga os três anéis de pilares em dois níveis de telhado.

O primeiro nível, de cota mais baixa, faz a cobertura dos dois anéis

periféricos, que englobam a varanda e as salas, acima do terceiro pavimento do

edifício. O segundo nível, de cota mais alta, faz a cobertura dos dois anéis centrais,

que englobam a circulação e o setor de serviços, acima do quarto pavimento do

prédio. Os telhados são em material metálico, de caimento anelar em uma água, em

que a cobertura de cota mais alta direciona o caimento da água para a cobertura de

cota inferior, que por sua vez direciona para a calha (Figuras 4.15 e 4.16).

Figuras 4.15 e 4.16: Volume do edifício com a estrutura do telhado aparente (à esquerda) e volume do edifício com a estrutura do telhado e do pavimento-tipo aparente.

Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

4.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL

O corte (Figura 4.17) mostra um detalhe na laje e no forro dos pavimentos,

que favorecem a ventilação natural, usando o átrio central como exaustor de ar

quente, através dos panos de cobogó distribuídos na fachada interna.

103

Figura 4.17: Corte do pavimento-tipo evidenciando a circulação de ar proposta. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

A preocupação do arquiteto com a circulação de ar ocorria em um período em

que ainda era raro o uso de aparelhos de ar-condicionado na cidade. Como o clima

de Teresina apresenta altas temperaturas durante todo o ano, existe uma atenção

dada ao alcance do conforto térmico no interior dos edifícios.

Sabendo que toda a fachada apresenta essa solução estrutural de ventilação,

o edifício foi beneficiado pelas circulações cruzadas. Os ventos percorriam todos os

ambientes a partir das salas, atravessando as circulações internas e a bateria

sanitária, protegidos pelo forro, até atingirem o átrio central aberto, que funcionava

como um grande exaustor (Figura 4.18).

Figura 4.18: Fachada do átrio interno com os panos de cobogó, que servem exaustão. Fonte: Arquivo da autora (2013).

104

Além da ventilação favorecida, houve outro critério projetual explorado: o uso

da circulação externa de cada pavimento como quebra-sol, com a colocação de um

painel em laje horizontal, a fim de barrar a alta incidência de raios solares no edifício,

controlando o conforto interno e a alta luminosidade dos ambientes (Figura 4.19).

Figura 4.19: Sacada que percorre todo o volume do edifício. Fonte: Arquivo da autora (2013).

4.5 VOLUMETRIA

O edifício sugere uma situação de isolamento devido à concepção formal

incomum em relação ao entorno. No período de sua construção, a paisagem natural

se encontrava predominante no entorno, por isso, a volumetria se destacava no

espaço arquitetônico. O terreno em dimensões generosas e a presença de poucas

construções garantiam maior destaque ao formato puro e circular do objeto

arquitetônico, atribuindo-lhe um caráter de monumentalidade.

105

A sensação de leveza é evidenciada pela fachada em lâminas, como anéis

em vidro e concreto que se sobrepunham e também por parte do térreo, sustentado

por pilotis (Figura 4.20).

Figura 4.20: Fachada do Edifício Cepisa. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

A geometria simétrica das plantas e a fachada em um plano único sugerem

harmonia e equilíbrio ao conjunto, apresentando uma forma leve, evidenciada pelos

“discos” em fachada.

O edifício abre-se para a paisagem em toda a sua extensão, já que as

esquadrias estão dispostas na forma de anéis transparentes. Porém, essa abertura

generosa ocorre apenas nas salas, mantendo a circulação interna e o setor de

serviços confinados ao jardim do átrio interno.

A cobertura constitui um volume cilíndrico, recuado, devido ao escalonamento

do setor de salas do quarto pavimento. A composição do volume acompanha a

estrutura complexa de pilares e vigas que se apresentam demarcados na cobertura

pelas vigas inclinadas (Figura 4.21).

106

Figura 4.21: Fachada do Edifício Cepisa em contraponto com o volume cilíndrico do edifício. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

4.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS

Quanto à plasticidade, o edifício apresenta um caráter sóbrio observado pela

fachada externa devido à pintura em tons ocre e as esquadrias em vidro. Foram

utilizados poucos materiais de revestimento no conjunto arquitetônico, o que garante

uma supervalorização da forma arquitetônica como partido do projeto.

A sobreposição dos pavimentos garante uma horizontalidade ao conjunto

arquitetônico que é quebrada pela textura vertical das sacadas. Com uma

rugosidade característica, externamente fachadas em tons de ocre, bem leve, com

alguns detalhes brancos e a presença dos fechamentos em vidro garantem

sobriedade ao conjunto arquitetônico. Além disso, existem rasgos de transparência

devido ao fechamento em pano de vidro utilizado para entrada de iluminação natural

indireta, dando mais leveza à arquitetura do edifício (Figura 4.22).

107

Figura 4.22: Fachada do edifício. Fonte: Arquivo da autora (2013).

Atualmente, o edifício se encontra com algumas alterações, o piso interno das

salas de trabalho foi todo alterado: antes taco, agora cerâmica. A subdivisão das

salas também foi alterada, assim como a implantação de aparelhos de ar-

condicionado, o que fez com que as aberturas propostas pelo arquiteto na fachada

para a circulação de ventos pelo edifício fossem utilizada para a colocação desses

aparelhos. Houve a desativação dos espelhos d’água na entrada principal do edifício

e também do jardim interno no piso térreo do átrio central. Além disso, em 2000 foi

colocado um muro alto nos limites no terreno, dificultando a visão das relações do

edifício com seu entorno.

4.7 CONSIDERAÇÃO

A análise da obra revelou uma busca incessante pela evidência formal por

parte do arquiteto, já que o projeto fez parte de um concurso para a sede da Cepisa.

108

A ideia de assimilar o edifício à energia foi o partido adotado, que procurou associar

elementos arquitetônicos na busca pela forma cilíndrica de uma bobina de energia.

A arquitetura, ao ser inserida em um lugar, não apenas agrega novos

significados ao espaço como se materializa, trazendo em si parte dele. A relação do

Edifício Cepisa com o lugar atualmente é considerada bem distinta daquela que foi

proposta e executada. Apesar de o terreno ter dimensões generosas, o arquiteto

concentra todo o programa em um único volume e recua o edifício na extremidade

noroeste, deixando-o solto do lote. A topografia acidentada permite uma implantação

que eleva o edifício da cota da Avenida Maranhão, garantindo monumentalidade ao

conjunto arquitetônico.

Na década de 1970, o terreno pertencia a uma região periférica de Teresina,

ainda sem infraestrutura urbana e com uma paisagem predominantemente natural,

formada pelo Rio Parnaíba, alguns casebres em construções rudimentares e pela

usina de carvão. O edifício marcava fortemente a paisagem ao se apresentar como

uma estrutura moderna, arrojada e de aspecto curvo, que não parecia se inserir ao

meio. O térreo em pilotis solta parte do volume do chão e simula uma estrutura em

pouso, o que garante aspecto de leveza à obra.

A delimitação dos acessos foi resolvida a partir de elementos que conduzem o

usuário para dentro do edifício. O acesso principal, voltado para a Avenida

Maranhão, apresenta um caminho que leva o usuário ao térreo do edifício, que,

resolvido em pilotis, cria um espaço de transição demarcado pelos espelhos d’água

conduzindo o usuário ao hall do edifício. Essa postura do arquiteto cria diálogos

entre espaço público e privado, criando fluxos bem delimitados e ao mesmo tempo

protegendo as entradas.

A orientação do edifício não foi determinada levando-se em consideração a

posição do sol, visto que o aspecto volumétrico curvo, igualmente recortado em

panos de vidro, proporciona uma abertura generosa de todas as salas de trabalho

da instituição para o entorno, enquanto as circulações, baterias sanitárias e áreas de

serviços se voltam de maneira menos generosa para o átrio central do edifício. Em

contraponto, o arquiteto criou uma solução estrutural que protege a fachada, por

meio de uma marquise que avança às salas de trabalho, formando sacadas em toda

a extensão do edifício.

109

A setorização do volume e delimitação de fluxos e circulações também foram

pontos cuidadosamente resolvidos pelo arquiteto, como maneira de defender seu

partido arquitetônico formal até o fim. Circulações horizontais, setores de serviço e o

setor de trabalho foram dispostos em anéis concêntricos seguindo uma hierarquia

radial do centro para a extremidade da planta, o que permitia espaços com

deformidades menos acentuadas, para setores que demandassem uma planta mais

livre.

Ao assumir a volumetria circular e fachadas com aberturas generosas, o

arquiteto tende a minimizar a vulnerabilidade do conforto interno das salas de

trabalho e propõe um mecanismo de ventilação que aproveita a ventilação cruzada

em todo o edifício, utilizando o átrio central como um grande exaustor.

Atualmente a obra se encontra isolada por um muro que foi levantado na

década de 2000 sem consulta ao arquiteto. A identidade do edifício é fortemente

abalada, já que o muro prevê acessos diferentes ao conjunto arquitetônico, além de

mantê-lo isolado do meio urbano, perdendo diálogos importantes com a cidade e

minimizando seu caráter monumental e de liberdade.

Além disso, a fachada foi modificada para a inserção de aparelhos de ar-

condicionado nas salas de trabalho, fechando as aberturas que conduziam a

ventilação cruzada dos ambientes e assim fazendo com que o volume perca a

sensação de discos sobrepostos, presentes do partido proposto pelo arquiteto. Os

espelhos d’água estão desativados por falta de verba para manutenção, e o painel

artístico da entrada principal encontra-se degradado. Por fim, o átrio interno do

edifício se encontra com a fachada já bem degradada, o jardim, desativado, e houve

a inserção de um novo volume que foge da dinâmica proposta para abrigar um

elevador. Apesar de o arquiteto ter previamente demarcado o espaço em planta para

tal finalidade, este não foi utilizado, e o novo volume foi inserido sem considerar

questões de intervenção em objetos arquitetônicos consolidados.

Fazendo uma revisão geral dos aspectos de um edifício, nota-se que o

arquiteto subordina os elementos arquitetônicos para a busca da variedade formal

desejada. Ao assumir o partido do edifício, desenvolve uma estrutura e um

dimensionamento de vãos que sejam coerentes aos usos dos ambientes; além

disso, resolve estruturalmente questões como proteção da fachada e mecanismos

110

de ventilação, mantendo o aspecto formal evidenciado em um organismo

arquitetônico de elementos tão bem definidos e inter-relacionados.

111

CAPÍTULO 5

112

5 EDIFÍCIO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA – 1973

O edifício do Ministério da Fazenda foi concluído durante o governo de

Alberto Tavares Silva24 e executado pela Construtora Lourival Sales Parente Ltda.

Está localizado em um terreno situado na Praça Rio Branco, esquina da Rua Rui

Barbosa com a Rua Coelho de Rodrigues, ao lado da Igreja Matriz de Teresina.

Antes disso, ali existia o Tesouro Provincial, edifício com características

neoclássicas que fazia parte do centro cívico inicial da cidade (Figura 5.1).

Figura 5.1: Imagem do prédio do antigo Tesouro Provincial, demolido para a construção do edifício do Ministério da Fazenda em 1970. Ao fundo, a Igreja Matriz ainda sem suas torres.

Fonte: Site Luis Nassif Online (2011).

Kallas (2005, p. 135) discorre que “o edifício foi demolido durante o governo

de Helvídio Nunes25, tendo em vista a execução de um projeto que visava à

integração da Praça Rio Branco à Praça Marechal Deodoro”. Porém o projeto não

teve andamento devido à falta de verbas e assim foi vendido ao Ministério da

Fazenda.

Em contrapartida, na entrevista realizada com o engenheiro Lourival Parente

em 2014, ele afirma que o destino do espaço seria um centro administrativo de

24

Governou o estado do Piauí em dois períodos: de 1971 a 1975 e 1987 a 1991. Engenheiro de formação, foi durante seu primeiro governo que Teresina teve grandes obras de infraestrutura urbana e edifícios públicos. 25

Helvídio Nunes foi governador do estado do Piauí entre 1966 e 1970.

113

Teresina. Segundo o engenheiro, foi realizado um anteprojeto pelo arquiteto

Adalberto Correia Lima26, que determinou a fundação e o dimensionamento dos

pilares do edifício. A empresa de Lourival executou a estrutura em tempo recorde27,

mas a obra ficou parada por um bom período apenas com o esqueleto estrutural

(Figura 5.2).

Figura 5.2: Imagem do centro de Teresina no início da década de 1970. Observa-se a Igreja do Amparo entre o esqueleto do prédio do Ministério da Fazenda (à direita) e o Hotel Piauí, construído

na década de 1950. Fonte: Site Teresina Meu Amor (2012).

Quando o Ministério da Fazenda compra as instalações do prédio

abandonado, a mesma construtora que deu início ao projeto é solicitada para sua

conclusão, a partir da estrutura já existente, adaptando-as às necessidades do órgão

administrativo. É nesse momento que Lourival Parente convida o arquiteto Antonio

Luiz para projetar as instalações do novo edifício, concluído em 1973 (Figura 5.2).

Segundo o arquiteto, em entrevista (2014), ele recebeu a obra com fundação,

lajes e modulações de pilares definidas, de forma que ficou a seu cargo definir todo

o resto do edifício: circulações, fachadas, a adequação do espaço ao programa

solicitado pelo órgão, definição de materiais, cobertura e demais instalações (Figura

5.3).

26

Engenheiro e arquiteto que, no período, atuava como secretário de Obras Públicas durante o governo de Helvídio Nunes (1966-70). 27

Devido ao uso da primeira grua e de pré-moldados, sendo a primeira obra no estado a utilizar esses novos métodos construtivos. O uso de pré-moldados se deu por meio do Serviço de Engenharia Emílio Baumgart (SEEBLA), construtora mineira ainda existente atualmente.

114

Figura 5.3: Perspectiva do edifício do Ministério da Fazenda projetado por Antonio Luiz Dutra de Araújo.

Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

O material disponível para o estudo não dispunha de todos os desenhos

técnicos, de modo que o redesenho para sua análise só foi possível por meio de

conversas com o próprio arquiteto Antonio Luiz, com o engenheiro Lourival Sales

Parente e de visitas ao local.

5.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO

Localizado na Praça Rio Branco, em frente à Praça da Bandeira e ao lado da

Igreja Matriz, o edifício faz parte do centro cívico mais antigo da cidade. Edifícios

com traços neoclássicos, como a antiga Intendência Municipal e a Prefeitura

Municipal, ainda predominam no entorno, já com algumas descaracterizações. O

Ministério da Fazenda tem sua fachada principal voltada para o Rio Parnaíba, de

forma a concordar com os outros prédios da Praça Rio Branco, também com a

mesma disposição.

A Figura 5.4 apresenta as duas praças pertencentes ao traçado original de

Teresina. Na menor delas, a Praça Rio Branco, estão implantados o Luxor Hotel

(antigo Hotel Piauí, construído em 1950), a Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo

115

e o edifício em estudo, do Ministério da Fazenda. A praça maior, Marechal Deodoro,

também conhecida como Praça da Bandeira, teve parte de seu território utilizado

para a construção do Shopping da Cidade28, finalizado em 2009, o que gerou uma

série de discussões sobre a preservação do traçado urbano original de Teresina.

Figura 5.4: Vista aérea do entorno do edifício do Ministério da Fazenda. Estão destacadas as praças Marechal Deodoro (maior retângulo) e Rio Branco (retângulo menor, logo abaixo). Estão enumerados:

1) Edifício do Ministério da Fazenda; 2) Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo; 3) Luxor Hotel (antigo Hotel Piauí); 4) Praça Marechal Deodoro; 5) Shopping da Cidade.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

O terreno apresenta topografia plana, sem diferenças de cotas. Localizado na

esquina da Rua Rui Barbosa com a Rua Coelho Rodrigues, observa-se que ele

apresenta uma forma quadrangular, com a extremidade da esquina em chanfro29.

O edifício não ocupa todo o terreno, limita-se lateralmente à esquerda de

acordo com o alinhamento da Praça da Bandeira, o que proporcionou um recuo

considerável referente à fachada voltada para a Rua Coelho de Rodrigues. Já do

28

O projeto de autoria do arquiteto Júlio Medeiros, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Teresina, propunha organizar o problema dos vendedores ambulantes do centro de Teresina, ligando o prédio ao Mercado da Cidade e à linha de trem. 29

Segundo Silva Filho (2007, p. 19), a partir dos anos 1920, os automóveis chegam à cidade e a malha urbana ortogonal aliada às ruas estreitas dificultaram a segurança dos usuários desse meio de transporte, pois as esquinas barravam a visão dos motoristas. A solução foi adaptar as construções existentes, chanfrando suas fachadas, e as novas deveriam aderir à nova regra.

116

lado direito, apresenta um recuo insuficiente, deixando-o muito próximo da Igreja do

Amparo. O recuo frontal avança o alinhamento do edifício com relação à cota da

igreja, invadindo um pouco o passeio urbano, mas o recuo de trás apresenta-se

alinhado à cota de trás da igreja, sem maiores interferências no conjunto da praça

(Figura 5.5).

Figura 5.5: Vista aérea do edifício do Ministério da Fazenda e da Igreja do Amparo, 2014. Fonte: Portal O Dia, 2013.

A área verde criada na lateral esquerda foi ocupada também pela casa de

máquinas do ar-condicionado central. Essa solução, de acordo com Antonio Luiz,

deveria ter sido resolvida na cobertura do prédio, porém tornou-se inviável no

período em que se finalizavam as obras; então, foi criado um volume em concreto

para camuflar a instalação.

Três acessos do conjunto foram determinados; dois deles sociais, um voltado

para a Rua Rui Barbosa e o outro com saída direta para a Praça Rio Branco. Tais

entradas localizam-se em fachadas opostas, mas seguem as mesmas dimensões e

alinhamentos, apresentando-se como um corredor interno que interliga os dois lados

do edifício (Figura 5.6).

117

Figura 5.6: Implantação do edifício no terreno: 1) Edifício do Ministério da Fazenda; 2) Igreja do Amparo; 3) Jardim e casa de máquinas. As setas vermelhas indicam os acessos do edifício.

Fonte: Desenho da autora (2014).

A outra possibilidade de adentrar o conjunto arquitetônico é por meio do

acesso para carros que leva ao subsolo. Com acesso para a Rua Coelho de

Rodrigues, a entrada pode ser utilizada para serviço ou para o uso do elevador

privativo, que não tem acesso ao térreo do edifício. Atualmente parte do terreno tem

uso de estacionamento e encontra-se delimitado por uma cerca de ferro em todos os

limites do edifício.

Os recuos do edifício foram pré-definidos e executados ainda no período em

que o secretário de obras Adalberto Correia Lima era o responsável pelo projeto.

Vale ressaltar que durante a década de 1960, período do início da construção da

estrutura, ainda não existia um controle de legislação urbana que determinasse

recuos mínimos e taxas de ocupação, o que garantiu certa liberdade aos projetistas.

5.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (FLUXOS, ACESSOS E CIRCULAÇÕES)

Idealizar um projeto arquitetônico envolve, antes de tudo, o contato direto com

seu futuro usuário a fim de estabelecer o programa de necessidades. No caso do

118

objeto em estudo, como a estrutura já se encontrava executada, coube ao arquiteto

adequar o programa ao esqueleto existente.

O órgão do Ministério da Fazenda apresenta uma diversidade de setores e

um programa abrangente, por isso o arquiteto procurou manter a planta o mais livre

possível, a fim de dinamizar e racionalizar o espaço.

A Figura 5.7 representa a trama dos pilares em planta, seguindo a modulação

de 8 x 8 m, configurando um retângulo de 32 x 48 m. Em cinza mais escuro

encontram-se as circulações verticais30, a partir daí delimitou-se um bloco comum a

todos os pavimentos, que abrangia as circulações verticais e as baterias sanitárias,

além dos espaços reservados às instalações do ar-condicionado, dispostos nas

extremidades de cada fachada.

Figura 5.7: Trama ordenadora de pilares. Os espaços demarcados em cinza mais escuro representam as circulações verticais, baterias sanitárias e espaços reservados para a instalação de

ar-condicionado. Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

O último pavimento, por ter um programa de necessidades que envolvia

espaços bem mais generosos, como um auditório para 261 pessoas e uma

biblioteca, não seguiu a mesma modulação de pilares do projeto. Foram suprimidos

30

Englobam as circulações verticais quatro elevadores de uso social, uma escada de incêndio e um elevador privativo que tem acesso ao subsolo, garantindo maior privacidade para alguns usuários.

119

quatro pilares centrais da trama e abertas varandas para as fachadas nordeste e

sudoeste (Figuras 5.8 e 5.9).

Figura 5.8: Auditório. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Figura 5.9: Varanda do último pavimento voltada para a fachada nordeste do edifício. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Adequadas tais soluções técnicas ao edifício, os pavimentos-tipo de um a

sete foram destinados à subdivisão dos setores dos órgãos, incluindo salas de

reunião, pequenos auditórios para apresentações rápidas, depósitos, hall social e

área de serviço. O subsolo, com área menor, destina-se ao setor de serviços, além

120

de ter acesso direto ao elevador privativo. Por fim, o oitavo pavimento foi destinado

ao auditório para grandes eventos, à biblioteca do ministério e mais algumas salas,

que funcionam como gabinetes.

Relacionando a disposição do programa com as circulações, pode-se

observar que o térreo, por desenvolver atividades diretamente ao público, tem os

dois acessos ao edifício ligados em uma mesma cota, formando um corredor que

direciona o usuário às escadas e elevadores. A circulação vertical, para os setores

com acesso mais restrito, encontra-se mais reclusa no espaço interno, com acesso

apenas por meio do subsolo. Essa hierarquização das circulações é um critério

projetual que foi aperfeiçoado a partir da arquitetura moderna e, quando bem

resolvida, dinamiza os fluxos do espaço arquitetônico interno, tornando-o um lugar

mais acessível e eficiente.

5.3 ESTRUTURA

A resolução construtiva, quando bem definida, relaciona-se com todos os

outros elementos do projeto arquitetônico, articulando-os entre si de forma racional.

O objeto em análise apresenta uma solução estrutural em concreto armado, com 35

pilares dispostos em uma malha de 8 x 8 m dimensionados em quatro tamanhos

diferentes e vigas em concreto com alturas de 1 m.

Resolvida em uma trama de pilares e vigas sobrepostos, a malha estrutural

demarca duas fachadas opostas e soltas às outras duas, deixando o edifício com

uma aparência rígida e leve ao mesmo tempo. Aquelas voltadas para nordeste e

sudoeste têm os pilares e as vigas demarcados como delimitadores das esquadrias

em vidro, seguindo em linhas verticais, os pilares se unem às vigas da trama do

oitavo pavimento, que se subdivide, criando pérgolas em balanço a cada vão entre

pilares (Figura 5.10).

121

Figura 5.10: Corte esquemático do edifício em 3D mostrando os pilares, as baterias sanitárias e as circulações

Fonte: Arquivo da autora (2014).

Enquanto isso, nas duas outras fachadas, os pilares não aparecem, mantidos

recuados internamente, o que permite uma fachada independente da estrutura.

Configurando-se de forma plana por meio de um generoso plano transparente,

alcança todos os pavimentos do edifício, encontrando-se emoldurada pelas

estruturas das extremidades (Figura 5.11).

Figura 5.11: Fachada sudoeste.

122

Fonte: Arquivo da autora (2014).

Analisando o volume, é clara a relação da estrutura com o partido do projeto

por apresentar-se tão explícita nos planos do edifício. Nesse caso, ela tem um

caráter tectônico de forma a transcender seu papel construtivo, atuando também

como identidade da concepção projetual.

5.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL

O uso de soluções construtivas foi observado com pouca expressividade no

projeto. As fachadas com grandes rasgos transparentes deixam o edifício muito

exposto à alta insolação que atinge Teresina durante o ano. Não se observa o uso

de brise ou de segunda pele para minimizar o calor; apesar de as esquadrias

utilizadas serem em vidros duplos, não se ameniza a incidência solar local. A única

solução observada foi a inserção de venezianas na parte superior de algumas

esquadrias do edifício, que servem como exaustão (Figura 5.12).

Figura 5.12: Esquadria pivotante em vidro duplo. Fonte: Arquivo da autora (2014).

123

Deduz-se que tais aspectos relacionados ao conforto dos edifícios foram

deixados para segundo plano em razão da ideia de refrigerar o edifício desde sua

concepção inicial. Porém, em se tratando das condições climáticas da cidade, esse

artifício não consegue suprir sua total eficiência, ou só a realiza mediante grande

dispêndio energético.

5.5 VOLUMETRIA

O edifício apresenta um volume semelhante a um cubo em que as linhas

horizontais predominam, sugerindo uma situação de estabilidade em meio a um

entorno de proporções variadas. Apesar dos oitos pavimentos, a grande dimensão

das lajes e a relação com o edifício da Igreja Matriz fazem prevalecer o aspecto

formal compacto do conjunto, explicitado pela simetria e proporção das fachadas

(Figura 5.13).

Figura 5.13: Perspectiva do edifício, fachadas noroeste e sudoeste. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

124

No caso da noroeste e a similar oposta, percebe-se que o plano transparente

delimitado pelas empenas e altura da platibanda não evidencia a marcação

estrutural, como a fachada sudoeste e similar oposta. Essas últimas apresentam a

demarcação construtiva evidenciada por meio dos pilares e vigas, que compõe uma

trama vertical acentuada pelo coroamento das pérgulas do oitavo pavimento. A

horizontalidade contrapondo-se à verticalidade do conjunto arquitetônico cria

expressões volumétricas distintas de acordo com o ângulo de visão do usuário

(Figura 5.12).

O programa apresenta-se resolvido em um volume puro e linear, finalizado

por uma cobertura recuada, devido à solução das pérgulas, nas fachadas sudoeste

e nordeste. Escondida em uma platibanda, a coberta do edifício é dividia em quatro

águas e apresenta o volume das circulações verticais (escadas e elevadores)

sacando o plano horizontal (Figura 5.14).

Figura 5.14: Perspectiva do edifício: volume e cobertura. Fonte: Arquivo da autora (2014).

5.6 PLASTICIDADES E MATERIAIS

Utilizando dois tipos de materiais, as fachadas são revestidas em mármore

branco, vindo do Espírito Santo devido à sua boa qualidade, e os fechamentos das

esquadrias em vidro e estrutura metálica. No caso das fachadas sudoeste e

125

nordeste, a estrutura encontra-se evidenciada, porém revestidas em mármore, na

tentativa de encontrar maior leveza e unidade ao conjunto (Figura 5.14).

Segundo Antonio Luiz, o mármore vindo de fora era de melhor qualidade que

o encontrado no Piauí, com superfície menos porosa, sendo mais resistente

principalmente ao clima da cidade. As esquadrias também vieram de fora do estado,

devido à tecnologia de vidros duplos: são Fischer (Figura 5.15).

Figura 5.15: Fachada noroeste. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Nesse edifício, o uso de materiais transparentes em grande escala

proporciona miradas ao entorno de praticamente todas as salas, transpondo a

paisagem para dentro do edifício. Esse critério projetual, muito explorado no

modernismo, evidencia a relação do objeto arquitetônico e o entorno não apenas

pelas fachadas ou acessos, mas também através do ambiente interno (Figura 5.16).

126

Figura 5.16: Setor de serviço do edifício e o entorno. Fonte: Arquivo da autora (2014).

5.7 CONSIDERAÇÃO

O edifício se encontra no centro histórico da cidade e é inserido em seu mais

antigo centro cívico – um tecido urbano pertencente ao traçado original de Teresina,

desenhado em meados do século XIX –, o que propõe uma série de inter-relações

entre espaços públicos e privados e entre arquiteturas novas e preexistentes. Nesse

projeto, a adequação do programa da instituição ao esqueleto estrutural previamente

determinado é considerada o ponto que orienta o objeto arquitetônico.

Localizado na Praça Rio Branco, em frente à Praça Saraiva (mais adiante, o

Rio Parnaíba) e ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora do Amparo, o lote urbano

de dimensões retangulares se encontra no cruzamento de duas esquinas, que

aliadas aos espaços públicos do entorno evidenciam o caráter representativo urbano

a partir de três fachadas principais. Como a implantação do edifício no lote havia

sido delimitada pelo esqueleto estrutural já existente, é percebida uma busca do

arquiteto pela sobriedade e passividade do objeto arquitetônico a fim de minimizar

127

os impactos causados na paisagem, relacionados à proporção e escala dos

elementos preexistentes.

A inserção arquitetônica em um sítio já consolidado permite uma primeira

leitura edifício versus praça partindo do pressuposto de alinhamento do ministério à

Praça da Bandeira, como forma de manter uma continuidade do espaço urbano e

edificado. No caso da relação edifício versus arquitetura preexistente, ocorre um

conflito entre o ministério e a Igreja Matriz da cidade, justificado pelo avanço da

fachada do edifício moderno em relação à cota da fachada da igreja, proporcionando

um avanço do volume inserido em relação ao espaço urbano consolidado. Além

disso, o pequeno recuo mantido entre as laterais dos dois edifícios causa a

sensação de disputa pela presença: a monumentalidade da igreja torna-se

questionável quando o ministério ultrapassa o gabarito do volume principal – apesar

de não ultrapassar as torres da Igreja Matriz, a robustez do ministério contrapõe-se à

imponência do edifício religioso – da primeira edificação da cidade. Nesse caso, ao

receber a obra com a delimitação estrutural e gabarito definidos, o arquiteto procura

minimizar tais impactos criando fachadas simétricas e similares além da utilização de

materiais como o mármore branco e o vidro, que enaltecem a sobriedade e a

estática do conjunto arquitetônico. Mesmo com essa tentativa, o edifício modernista

materializa-se, marcando fortemente a paisagem.

A definição dos acessos sociais do edifício de formas alinhadas e opostas,

voltadas para as praças da Bandeira e Rio Branco, poderia criar a sensação de livre

penetrabilidade ao edifício, já que ele apresenta espaços de transição nos dois

principais acessos, se não fosse a quebra com o espaço público evidenciada por

sua monumentalidade. Além disso, a cerca metálica que envolve todo o edifício

enaltece a percepção de espaço público e privado e mais ainda a sensação de

barreira ao usuário, como se o elemento não fosse aberto a qualquer cidadão. No

entanto, o programa do edifício destina o térreo para atendimento ao público em

geral, o que causa certo paradoxo entre a configuração atual do projeto e as ideias

que conceberam os usos do edifício.

A setorização e o zoneamento foram outros pontos de destaque resolvidos

pelo arquiteto, ao manter um volume reservado às circulações, baterias sanitárias

coletivas e depósitos. Essa medida libera a planta dos pavimentos, permitindo uma

128

distribuição mais consciente dos espaços de trabalho, além de manter a liberdade

para futuras alterações de layout.

Com relação à estrutura, pode-se dizer que ela define a tectônica do edifício

em partes, já que o volume como um todo apresenta duas de suas fachadas livres

de quaisquer marcações estruturais, enquanto as outras duas têm os pilares

demarcados, acentuando a verticalidade do objeto arquitetônico. Entretanto, a

utilização do revestimento em mármore minimiza a demarcação estrutural, o que

remete ao observador um distanciamento do construtivismo do ministério.

O volume do edifício, relacionado à plasticidade dos materiais utilizados,

resultam em uma composição que, mais uma vez, assume um comportamento não

só estático, mas também compacto, como se todo o espaço interno estivesse

enclausurado em um cubo, formado pelas fachadas e pela cobertura. A sensação de

quem visualiza o edifício pela via pública é de total ruptura entre o espaço público e

privado, mesmo que as aberturas nas fachadas, por mais que se apresentem

generosas, dificilmente estão abertas ao entorno, já que o interior do edifício foi

determinado a ser refrigerado desde sua concepção projetual. No entanto, em uma

breve visita às instalações internas do prédio, percebe-se presença notória da

paisagem da cidade no espaço interno, trazendo uma continuidade e amplitude

visual para aqueles o utilizam.

Apesar de critérios projetuais, construtivos e tecnológicos inovadores,

tomando como base o contexto da cidade de Teresina na década de 1970, foi

deixado em segundo plano a questão do conforto térmico no ambiente interno.

Mesmo com a utilização de esquadrias em vidro duplo e do edifício ter sido pré-

concebido agregando tecnologia de refrigeração interna, as grandes aberturas

existentes em todas as fachadas (sem proteção) aliadas às condições climáticas da

capital piauiense resultaram em um organismo arquitetônico que, para ser eficiente,

demanda um potencial energético muito grande e que poderia ter sido previamente

minimizado por meio de soluções construtivas.

129

CAPÍTULO 6

130

6 EDIFÍCIO DO PALÁCIO DO COMÉRCIO – 1977

Palácio do Comércio... Sonho de várias gerações, superior aspiração dos comerciantes piauienses.

José Elias Tajra, 1977.

O Palácio do Comércio surgiu como a nova sede da Associação Comercial

Piauiense31, instituição que ocupava o antigo sobrado (Figura 6.1), antes de

propriedade do senhor Agripino Maranhão. Segundo Araújo et. al. (2011), o plano de

construção da nova sede da associação iniciou-se em 1961, sendo o sobrado

derrubado em 1969 para dar início às obras do edifício.

Figura 6.1: Sobrado onde funcionava a sede da Associação Comercial Piauiense. Fonte: Blog Extensão e Pesquisa (2014).

Para Silva (2006, p. 11), o projeto teve o apoio dos governos de Lucídio

Portela e Alberto Silva, com as obras iniciadas e concluídas durante a administração

da associação por José Elias Tajra. Foi idealizado pelo arquiteto Antonio Luiz Dutra

de Araújo a convite do engenheiro Lourival Parente, em 1969. Executado pela

31

A associação surgiu em 1903, com a reunião de sete negociantes de Teresina, transformando em sua sede o sobrado da Rua Bela, hoje Rua Senador Teodoro Pacheco, no cruzamento com a Rua Rui Barbosa (FILHO, 1982, p. 29).

131

Construtora Lourival Sales Parente Ltda., o edifício foi inaugurado em 23 de agosto

de 1977 (Figura 6.2).

Figura 6.2: Perspectiva do edifício Palácio do Comércio, desenvolvida em 1969. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

6.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO

Localizado na esquina das ruas Rui Barbosa e Senador Teodoro Pacheco, a

quatro quadras do Rio Parnaíba, o edifício pertence ao traçado original da capital

piauiense, inserido em um contexto urbanístico e arquitetural de valor histórico para

a cidade.

O entorno próximo atualmente apresenta um conjunto arquitetônico de

exemplares ecléticos que datam desde o início do século XX, alguns deles já

descaracterizados e outros já demolidos devido à intensa atividade comercial e

administrativa da região, que não valoriza a preservação do patrimônio histórico dos

imóveis.

A antiga Rua Bela, atual Rua Senador Teodoro Pacheco, e suas vizinhanças guardam um importante conjunto arquitetônico eclético, com edifícios do final do século XIX e início do século XX. É

132

perceptível a grande importância que a Rua Bela teve, sendo locação de edifícios como a Associação Comercial Piauiense, o primeiro banco do estado, o primeiro Grande Hotel e a primeira loja maçônica, além de ser endereço nobre de grandes famílias. A lei municipal complementar n. 3.563, de 20 de outubro de 2006, criou zonas de preservação ambiental, instituiu normas de proteção de bens de valor cultural e deu outras previdências (ARAÚJO et. al, 2011).

Analisando o mapa da Figura 6.3, observa-se o entorno em que o edifício está

localizado: as edificações ecléticas importantes, como o a primeira agência bancária

do Banco do Brasil em Teresina32 e o edifício onde funcionou o primeiro Grande

Hotel do Piauí33, junto a alguns imóveis com fachadas remanescentes, porém

descaracterizadas34, além de edificações em traços modernistas, como o edifício em

uso comercial (representado no mapa pelo número 13), também com a fachada

degradada.

Figura 6.3: Mapa do entorno do edifício do Palácio do Comércio. Estão numerados: 1) Edifício do Palácio do Comércio; 2) Imóvel comercial descaracterizado; 3) Imóvel de uso comercial

descaracterizado; 4) Imóvel de uso religioso com fachada eclética preservada; 4) Estacionamento; 5) Edifício da primeira agência bancária do Banco do Brasil em Teresina, em estilo eclético com

fachadas conservadas; 6) Edifício do primeiro Grande Hotel do Piauí, hoje de uso comercial, muito descaracterizado; 7) Imóvel de uso religioso em linhas modernistas; 8) Imóvel de uso comercial em

linha eclética e art nouveau com fachada preservada; 9) Estacionamento com fachada preservada em linhas ecléticas; 10) Imóvel comercial com fachada descaracterizada; 11) Imóvel com características

32

Atualmente neste edifício de 1921 funciona o escritório do Exército brasileiro. 33

Construído no começo do século XX, encontra-se muito descaracterizado atualmente. 34

Como é o caso do número 9 na Figura 6.3, que teve sua estrutura demolida para um estacionamento, sendo mantida somente a fachada, além do edifício número 3 que também foi posto abaixo para a construção das dependências de uma igreja, mantendo apenas a fachada.

133

ecléticas pouco preservadas; 12) Imóvel de uso comercial em linhas modernistas; 13) Edifício comercial modernista com fachadas degradadas.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

A quadra em que se encontra o Palácio do Comércio mantém um alinhamento

com as praças Conselheiro Saraiva e Rio Branco por meio da Rua Rui Barbosa,

seguindo também o alinhamento do terreno da Igreja São Benedito por meio da Rua

Senador Teodoro Pacheco. Segundo o arquiteto Antonio Luiz, a implantação do

edifício obedeceu à mesma cota o recuo da Igreja São Benedito em relação à

Avenida Frei Serafim, por isso existe um recuo de 8,50 m para o passeio público,

proporcionando um espaço de respiro urbano (Figura 6.4).

Figura 6.4: Imagem aérea do entorno evidenciando o recuo frontal do edifício do Palácio do Comércio com relação à Rua Senador Teodoro Pacheco, alinhado à cota da Igreja São Benedito, e

do recuo lateral com relação à Rua Rui Barbosa, alinhado à cota da Praça Saraiva. Estão enumerados: 1) Praça Marechal Deodoro; 2) Praça Saraiva; 3) Igreja São Benedito; 4) Edifício do

Palácio do Comércio. Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

A malha urbana do entorno é marcada por ruas estreitas com calçadas

estreitas por conta da alta taxa de ocupação dos terrenos dessa região. Levando-se

em consideração o gabarito das preexistências em um raio de 100 m, nota-se que

atingem, em sua maioria, a altura de três pavimentos, com exceção do objeto em

estudo e do prédio ao lado em linhas modernistas de uso comercial, com oito

pavimentos. A percepção do entorno reflete o quanto o edifício marca a paisagem,

pois além de apresentar os traços modernistas em seu aspecto formal, destaca-se

134

também sua verticalidade, evidenciada principalmente em decorrência das ruas

estreitas e dos baixos gabaritos (Figura 6.5).

Figura 6.5: Vista do edifício da Rua Rui Barbosa. Fonte: Arquivo da autora (2013).

O projeto disponibilizado não apresenta planta de situação, portanto a análise

da ocupação do edifício foi feita de acordo com observações durante a visita, vistas

aéreas e também pelas proporções das plantas e dos cortes, com relação ao recuo

do entorno.

A topografia do local apresenta uma diferença de 1,35 m da fachada voltada

para a Rua Rui Barbosa ao fundo do terreno, mantendo os dois acessos do edifício

em níveis de altura diferentes (Figura 6.6). Tais acessos (um pela Rua Senador

Teodoro Pacheco e outro pela Rua Rui Barbosa) se encontram na galeria existente

no pavimento térreo, sendo que o primeiro leva o usuário diretamente às lojas e aos

elevadores, e o segundo direciona o usuário primeiramente à escada para o primeiro

pavimento e só depois para a galeria (Figura 6.7).

135

Figura 6.6: Planta do terreno com os acessos e as diferenças de cota da topografia. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

Figura 6.7: Imagem da galeria interna do edifício a partir do acesso pela Rua Rui Barbosa. À esquerda, o acesso aos elevadores e às escadas.

Fonte: Arquivo da autora (2014).

136

6.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (ACESSOS, FLUXOS, CIRCULAÇÕES)

O projeto segue alguns dos princípios modernistas utilizados na construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde. O prédio é monumental, disposto em dois blocos, tendendo à verticalidade, como forma de aproveitar melhor o terreno. No entanto, não foram utilizados os pilotis no projeto teresinense, devido à necessidade de se ter 12 pontos comerciais no nível da rua e pelo fato de o edifício não estar isolado, o que tornava sem sentido a liberação integral do solo (SILVA, 2006, p. 12).

O edifício foi projetado para utilizar melhor a área do terreno, que tinha um

pequeno dimensionamento com relação ao programa requerido. A Associação

Comercial também pretendia criar salas comerciais para locação, além do espaço

utilizado por eles. Dessa forma, o edifício foi projetado mantendo-se os recuos, mas

verticalizando o objeto arquitetônico a fim melhor aproveitar o espaço disponível.

Os pilares foram dispostos em duas tramas iguais seguindo a modulação de

3,90 x 7,80 m, distantes 3 m uma da outra (Figura 6.8). Essa disposição resolveu o

pavimento-tipo com um programa definido em 12 salas comerciais separadas de

maneira simétrica por um corredor central de 3 m de largura (Figura 6.9).

Figura 6.8: Plantas com a malha da demarcação dos pilares. A planta da direita representa os pilares do primeiro e segundo pavimentos, e a planta da esquerda representa a malha do segundo ao

décimo segundo pavimento. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

137

Figuras 6.9: Imagem da circulação do pavimento-tipo. Fonte: Arquivo da autora (2014).

O térreo e o primeiro pavimento foram resolvidos seguindo a modulação dos

pavimentos-tipo, mas como a planta avançava nos sentidos noroeste e nordeste,

foram dispostos mais cinco pilares na fachada noroeste, seguindo uma modulação

específica. O avanço do primeiro pavimento com relação ao térreo sobrepõe uma

marquise de 1,60 m pelo perímetro do passeio público do edifício (Figura 6.8).

A circulação vertical foi resolvida por uma escada helicoidal e por dois

elevadores (Figura 6.10). No caso do primeiro pavimento existe uma escada em L

que leva diretamente ao primeiro pavimento, a partir do acesso do edifício pela Rua

Rui Barbosa. As baterias sanitárias também estão sobrepostas nos pavimentos-tipo,

dispondo uma bateria para cada dois módulos de salas comercias. Junto ao volume

das baterias, também percorrem, a partir do segundo pavimento, os dutos de ar-

condicionado propostos pelo arquiteto (Figura 6.8).

138

Figura 6.10: Imagem interna da escada helicoidal. Fonte: Arquivo da autora (2014).

O pavimento térreo apresenta uma galeria com cinco espaços comerciais

voltados para o interior do edifício e mais seis voltados para o passeio público e uma

recepção. O primeiro pavimento ocupa os espaços do auditório, sala de reunião,

biblioteca, arquivo morto, secretaria, área para exposições e depósito. No projeto

original, o último pavimento seria destinado para uso da Associação Comercial,

porém, na execução do projeto, a associação eliminou o pavimento, deixando-o

como um terraço livre, passando a ocupar o segundo pavimento.

6.3 ESTRUTURA

A solução construtiva do Palácio do Comércio foi resolvida pelo uso do

concreto armado. Analisando a disposição das plantas, observa-se que a

setorização e circulação dos espaços obedece à trama dos pilares. Além disso, as

139

fachadas (sudeste e noroeste) também são demarcadas pela solução estrutural

(Figura 6.11).

Figura 6.11: Fachada sudeste. Fonte: Arquivo da autora, 2014.

A estrutura que percorre de modo homogêneo todos os pavimentos tem 28

pilares dimensionados em 0,20 x 1 m dispostos em duas malha de 3,90 x 7,80 m

distantes 3 m uma da outra. No térreo e primeiro pavimento, foram adicionados mais

cinco pilares com a dimensão de 0,20 x 0,30 m na fachada noroeste, que não

seguem a modulação da trama do edifício.

Esse acréscimo de pilares é justificado pelo avanço do primeiro pavimento e

do térreo em relação ao pavimento-tipo, formando uma marquise de 1,60 m que

percorre todo o perímetro do passeio público. Já vigas, dimensionadas com uma

altura de 60 cm, só se apresentam marcadas na fachada do pavimento térreo

(Figura 6.12).

140

Figura 6.12: Vista do térreo e da marquise que forma o primeiro pavimento. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Os detalhes construtivos apresentados no projeto revelam o desenho de

câmaras de exaustão criadas junto às baterias sanitárias das salas comerciais. A

solução construtiva recua as baterias em planta para formar um duto vertical, que

percorre todos os pavimentos-tipo, servindo como abertura para ventilação higiênica

dos banheiros e ao mesmo tempo para a instalação dos aparelhos de ar-

condicionado, que ficam escondidos por uma grelha metálica (Figura 6.13).

Figura 6.13: Corte do detalhe construtivo de exaustão dos banheiros e do ar quente dos aparelhos de ar-condicionado.

Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2014).

141

6.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL

Atentando para as condições climáticas da capital piauiense, no projeto original não

se observou soluções construtivas que demonstrasse intenções de melhorias de conforto

térmico no conjunto. O terreno apresenta uma disposição inclinada em relação aos pontos

cardeais, o que deixa duas fachadas vulneráveis à insolação poente – no caso, aquelas

voltadas para sudoeste e sudeste (Figura 6.14).

Figura 6.14: Marquise do primeiro pavimento contrapondo-se com a verticalidade da fachada sudoeste. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Além disso, o edifício não apresenta soluções construtivas que viabilizem o

aproveitamento da ventilação cruzada ou que protejam melhor as fachadas. De

acordo com o arquiteto Antonio Luiz, foi feita a proposta de instalação de brises nas

duas fachadas mais prejudicadas (sudoeste e nordeste), porém a solução nunca foi

executada.

142

6.5 VOLUMETRIA

Evidenciando a verticalidade, o Palácio se materializa com um caráter

monumental, principalmente em decorrência dos baixos gabaritos das construções

do entorno. A marcação dos elementos estruturais nas fachadas forma planos

verticais nas fachadas das salas comerciais, evidenciadas pela solução das grelhas

que escondem os aparelhos de ar-condicionado (Figura 6.11).

A escada helicoidal demarca a fachada cega com um volume cilíndrico azul,

que avança o gabarito do edifício, propondo ao conjunto arquitetônico uma sensação

de apoio. A cobertura em telha metálica é escondida por platibandas que seguem a

mesma volumetria do pavimento-tipo. Observando o edifício pela fachada nordeste,

não se apresentam quaisquer sinais da cobertura, sendo evidenciada a altura da

platibanda apenas nas fachadas nordeste e sudoeste (Figura 6.15).

Figura 6.15: Volume da escada helicoidal avançando na fachada e na cobertura. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Localizado em um terreno modesto no centro de Teresina, o edifício sugere

uma situação de instabilidade volumétrica, devido ao escalonamento das lajes,

143

resultando a sensação de um volume vertical que se origina do horizontal.

Apresentando uma tendência à verticalização, em evidencia pelas baixas

construções do entorno próximo, não alcança o olhar dos transeuntes com

facilidade, devido à falta de espaço para sua contemplação. Apesar de estar em

uma esquina e apresentar um recuo maior em relação aos outros edifícios, as

árvores e as marquises das outras edificações barram o ângulo de visão.

O programa é evidenciado no objeto arquitetônico por meio dos volumes da

escada helicoidal em azul, da marquise formada pelo primeiro pavimento e pelos

rasgos transparentes, que evidenciam as esquadrias das salas comerciais. Ao

analisar o conjunto como um todo, o pavimento do auditório evidenciado horizontal

contrapõe-se com o volume dos pavimentos-tipo, em linhas verticais, criando uma

sobreposição de formas puras, quebrando a linearidade volumétrica em altura. Além

disso, a inclinação das paredes do primeiro pavimento garante maior leveza à

estrutura vertical, formando recortes de esquadria na fachada, que apresentam uma

quebra da rigidez do conjunto (Figura 6.16).

Figura 6.16: O térreo e os rasgos no plano inclinado da marquise formada pelo avanço do primeiro pavimento (fachada noroeste).

Fonte: Arquivo da autora (2014).

144

6.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS

O objeto arquitetônico é revestido parte em mármore branco e parte em

pastilhas, nas cores branca e azul. O térreo e o primeiro pavimento em mármore

branco apresentam maior rigidez, evidenciada pelas linhas horizontais. No caso dos

pavimentos-tipo, revestidos em pastilhas brancas, são evidenciadas a verticalidade e

menor rigidez, também devido aos planos transparentes bem demarcados (Figura

6.17).

Figura 6.17: Mármore branco utilizado para revestir o pavimento térreo. Fonte: Arquivo da autora (2014).

A escada é evidenciada na fachada pelo revestimento de pastilhas em tom

azul, que quebra a sobriedade do edifício da fachada noroeste do edifício. Com

relação à construção, apresenta-se toda revestida, inclusive na área interna dos

pavimentos, o que mimetiza das soluções estruturais (Figura 6.18).

145

Figura 6.18: Pastilhas brancas e azuis revestindo a fachada noroeste. Fonte: Arquivo da autora (2014).

6.7 CONSIDERAÇÃO

O edifício institucional é inserido na paisagem como um objeto arquitetônico

resultado da configuração do lote. Localizado em um terreno de esquina pertencente

ao traçado original de Teresina e de linhas ortogonais, apresenta questionamentos

que o relacionam ao entorno quanto a espaços privados e públicos, no que diz

respeito à escala, à arquitetura inserida no contexto urbano e ao uso dos espaços do

edifício.

A aproximação ao objeto arquitetônico representa o primeiro aspecto de

conflito, já que a ortogonalidade e as modestas larguras das vias urbanas

prejudicam a visualização e percepção da concepção formal. A diferença acentuada

de escalas em relação às construções do entorno enaltecem sua verticalidade, de

forma a imprimir uma sensação de monumentalidade.

A relação com os elementos preexistentes gera uma discrepância de escalas

e de modelos arquitetônicos e tecnológicos. Ainda assim, o recuo do edifício com

146

relação à Rua Senador Teodoro Pacheco, seguindo o alinhamento da Igreja São

Benedito, é uma tentativa do arquiteto de soltá-lo do lote, visto que os recuos dos

fundos do terreno haviam sido completamente ocupados. Esse partido arquitetônico

não apenas libera o volume do edifício como cria um espaço de transição ao acesso

principal, representando um respiro urbano com poucos vazios.

A interligação dos dois acessos principais do edifício – um pela Rua Senador

Teodoro Pacheco e outro pela Rui Barbosa – gera um galeria no pavimento térreo,

que conduz o usuário às circulações verticais. A relação dos fluxos aos acessos gera

uma hierarquização das circulações de acordo com o uso do objeto arquitetônico. A

setorização do objeto arquitetônico cria um conjunto simétrico com volumes

demarcados na fachada como a circulação vertical e o mezanino social, o que

propõe uma quebra da linearidade e monotonia do volume principal (determinado

pelas salas comerciais, esse volume é resultado do aspecto formal do lote).

A estrutura foi definida a partir da planta dos pavimentos-tipo, que

comportavam as salas comerciais. No mezanino e térreo ela recebe mais suporte

para sustentar a marquise que percorre todo o perímetro do espaço público térreo,

formando um espaço de transição que convida o usuário a adentrar o conjunto

arquitetônico. A relação construtiva com o volume foi visualmente minimizada já que,

apesar de fazer parte da fachada, a estrutura não se encontra evidenciada por

receber o mesmo revestimento em pastilhas do resto do edifício (com exceção do

mezanino e do térreo, revestidos por mármore branco), camuflando a tectônica e a

materialidade do edifício.

Atualmente as condições físicas do edifício não são satisfatórias. As fachadas

se apresentam degradadas pelo desprendimento de pastilhas e do mármore, além

da inserção de placas comerciais no térreo. A solução indicada pelo arquiteto para

locar os aparelhos de ar-condicionado não é utilizada em razão da não eficiência

dos aparelhos que, ao serem instalados, ficam com suas caixas inseridas nas

janelas, o que mais uma vez descaracteriza o volume arquitetônico. Por fim, a

vulnerabilidade das janelas das salas comerciais e a não solução de brises

arquitetônicos resultam na utilização de filmes e até papelão para barrar a alta

incidência solar ao ambiente interno, quebrando a homogeneidade arquitetônica do

conjunto.

147

CONSIDERAÇÕES FINAIS

148

A trajetória particular do arquiteto Antonio Luiz, que percorreu caminhos

transitados por muitos profissionais de sua geração, envolve episódios

determinantes em sua produção arquitetônica como um todo, mas principalmente

deixou uma marca e um legado expressivo na cidade de Teresina. Graduado pela

FNA no início da década de 1960, Antonio Luiz teve uma formação modernista, em

um ambiente intelectual repleto de profissionais atuantes no meio arquitetônico,

como foi o caso de Sérgio Bernardes, professor que muito admirava. Ao fazer parte

do setor responsável pela construção das agências do Banco Nacional, ele encontra

uma oportunidade de atuar diretamente com a arquitetura de prédios institucionais

bancários, projetando agências pelo Brasil e vivenciando outras cidades em

realidade tão distintas daquelas centrais do período, como Rio de Janeiro e São

Paulo.

Esse movimento dos arquitetos a partir da década de 1950 acompanhava o

crescimento do país e abria as portas para quem interessava em assumir a

demanda de infraestrutura e expansão de atividades urbanas nas cidades periféricas

e ainda atrasadas do país. A ida de Antonio Luiz para Teresina por meio do Banco

Nacional também se inclui nesses movimentos, enquadrando-o como arquiteto

migrante. O bom relacionamento com a sociedade local, aliado à oferta de trabalho

na capital piauiense, traz o arquiteto de forma definitiva à cidade, considerada por

ele na década de 1960 um lugar atrasado e provinciano, visto que as construções

ainda não apresentavam, na grande maioria, linhas do modernismo arquitetônico.

Ao conhecer sua produção arquitetônica, percebe-se que ela é vasta não

apenas em número, mas principalmente na variedade de programas, usos e também

na quantidade considerável de projetos executados em Teresina. Tais objetos

arquitetônicos acompanharam o crescimento e modernização da cidade, fazendo

parte não apenas da malha urbana, mas também da paisagem construída. A

arquitetura residencial desenvolvida por Antonio Luiz apresenta uma íntima ligação

com a cultura e materiais locais, adequando soluções construtivas modernistas que

se ajustam ao ambiente local, como o aproveitamento do terreno e das ventilações.

Sua produção institucional em Teresina buscou trazer elementos

arquitetônicos que evidenciassem a modernidade e tecnologia já presentes nas

149

capitais mais desenvolvidas do país, como o elevador, esquadrias generosas em

estrutura metálica, o ar-condicionado, revestimentos nobres, como foi o caso do

mármore, e critérios projetuais elencados pelo arquiteto, que se tornaram

determinantes na caracterização de sua arquitetura institucional.

INTERLOCUÇÕES PROJETUAIS

Os três edifícios analisados partiram do pressuposto de que o lugar faz parte

da identidade do objeto arquitetônico tanto quanto as soluções projetuais

empregadas. Portanto, a evolução do espaço em que estão inseridos, o centro da

cidade, tornou-se importante para o entendimento dos três edifícios escolhidos.

O lugar é utilizado pelo arquiteto de maneiras diferentes: no Edifício Cepisa, a

inserção em um espaço predominante natural aproveita a topografia e a liberdade de

implantação do lote para evidenciar o aspecto formal cilíndrico do edifício. Enquanto

isso, no Ministério da Fazenda e no Palácio do Comércio, a inserção em um espaço

urbano de alta complexidade proporciona uma ruptura ao meio, já que as escalas,

os gabaritos e o aspecto formal destoam do centro cívico mais antigo da cidade.

No caso do Ministério da Fazenda, por ter sido resolvido a partir de um

esqueleto estrutural já pré-definido, o arquiteto utilizou soluções projetuais que

evidenciassem a sobriedade do conjunto, por meio da simetria e do revestimento

das fachadas como forma de minimizar o contraponto com a Igreja Matriz. E com

relação ao Palácio do Comércio, o arquiteto busca liberar o recuo frontal do edifício a

fim de soltá-lo da malha urbana ortogonal, aumentando sua visibilidade no entorno.

É importante salientar que no período da década de 1970, a cidade não tinha um

controle rígido que delimitasse a implantação dos edifícios, o que não levantou

questionamentos no período de suas construções.

Alguns elementos arquitetônicos são percebidos com facilidade nos critérios

projetuais dos edifícios como delimitação dos espaços de circulação não apenas

como espaços para fluxos, mas como elementos arquitetônicos definidores da forma

e do volume. Os acessos aos edifícios são bem demarcados pelo arquiteto, como

forma de atrair os usuários para seu interior, a partir da utilização de espaços de

150

transição que definem esses acessos e criam uma relação de espaço público e

privado, externo e interno.

Ao observar os anéis de circulação no Edifício Cepisa, o volume cilíndrico da

escada helicoidal no Palácio do Comércio e volume da circulação que avança a

cobertura do Ministério da Fazenda, é possível concluir que o papel da circulação

para o arquiteto transcende a condução do usuário pelo espaço interno, destacando-

se no volume e criando caminhos pelos quais o edifício e o entorno são aos poucos

percebidos.

A busca por soluções plásticas formais é observada claramente em seus

projetos, já que o arquiteto praticamente direciona as soluções estruturais e de

setorização na busca por volumes puros, simétricos e que evidenciem o objeto

arquitetônico a partir da plástica material utilizada. Além disso, a estrutura também

conduzia a adequação do programa ao edifício, permitindo uma planta mais livre em

espaços necessários visivelmente observados no Ministério da Fazenda e nas salas

de trabalho do Edifício Cepisa e delimitando as baterias sanitárias e circulações

verticais.

Dentre os objetos arquitetônicos analisados, percebe-se o Edifício Cepisa

como um exemplar da arquitetura de Antonio Luiz, porque enquadra em um único

volume seus principais valores projetuais e, ao aproveitar a implantação e topografia

do terreno, forma um organismo onipresente na paisagem da cidade, que é definido

por uma relação de elementos arquitetônicos com as estruturas urbanas existentes.

151

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PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Plano de Desenvolvimento Local Integrado. Teresina: PMT, 1969. PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Teresina, Agenda 2015: Plano de Desenvolvimento Sustentável. Teresina: PMT, 2002. PORTAL O Dia. Disponível em: <http://www.portalodia.com/>. Acesso em: 13 ago.

2014. Raio X dos estados: Piauí, Luis Nassif Online, 1 jul. 2011. Disponível em: <http://advivo.com.br/comentario/re-raio-x-dos-estados-piaui-4>. Acesso em: 18 ago. 2014. REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. RESENDE, S. C. Os planos de urbanismo de Teresina e a Agenda 2015. 2013.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)–Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2013. SEGAWA, H. A atividade bancária e sua arquitetura, Revista Projeto, n. 67, p. 50-

55, set. 1984. ______. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 2002. SILVA, J. S. da. A arquitetura modernista em Teresina (PI) e os projetos do arquiteto mineiro Antonio Luiz. In: Seminário Docomomo Norte/Nordeste, 1., 2006, Recife. SILVA FILHO, O. P. da. Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007. 3 v. TERESINA meu amor. Disponível em: <https://www.facebook.com/teresinameuamor>. Acesso em: 10 out. 2012. TOMAS, H. El lenguaje de la arquitectura moderna. Buenos Aires: Universidad

Nacional de La Plata, 1998. WAISMAN, Marina. O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos. São Paulo: Perspectiva, 2013. ZEIN, R. V. O futuro do passado ou as tendências atuais. In: GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre história da arquitetura moderna brasileira. V. 1. São Paulo: Romano Guerra, 2010.

156

ANEXO A – TEXTOS DE ANTONIO LUIZ

ARQUITETURA

Como a vejo:

Para mim, Arquitetura é a ciência que procura criar espaços racionais

sustentados por estruturas lógicas, transparentes e bem definidas.

Sendo assim, arquitetura e estrutura não deveriam jamais ser pensadas por

cabeças diferentes; o arquiteto, ao criar seus espaços, tem que estar

simultaneamente imaginando como será sua sustentação.

O arquiteto não é obrigado a dimensionar essa estrutura, encargo geralmente

confiado ao calculista, porém, a escolha do tipo, a locação dos pilares e um pré-

dimensionamento cabem ao arquiteto que, para tal, deve ter uma boa noção sobre o

assunto.

Uma vez definidos os espaços e o sistema estrutural responsáveis pela parte

artística da volumetria, segue-se outra etapa, também artística, a que cuida da

escolha dos materiais que farão o revestimento da obra. Aqui o campo apresenta

uma variedade enorme de opções e é preciso que haja muito bom senso por parte

do profissional, para que não venha a cometer excessos. Muitos tipos de materiais e

muitas cores podem gerar uma poluição visual capaz de prejudicar todo o conjunto.

A obra possui dois tipos de decoração, a fixa e a móvel ou descartável. A

primeira é a que trata da escolha dos materiais de acabamento que comporão o

projeto arquitetônico. Estes deverão atuar enquanto a obra existir, sem causar

cansaço a seu dono ou demais pessoas, daí a imperiosa necessidade de não serem

agressivos; aqui, sobriedade deveria ser a palavra de ordem. Já a decoração móvel,

também chamada de ambientação, envolve a participação de outro profissional, o

decorador, que escolherá o mobiliário, os tapetes, quadros e demais ornamentos

que enfeitarão as paredes, compondo os ambientes dos espaços, trabalho que

alguns arquitetos também gostam de fazer.

Nesta nova etapa a liberdade do profissional é maior, de menor

responsabilidade, pois se determinado elemento não ficar bom troca-se por outro,

sem maiores prejuízos. O ideal, em minha opinião, é que estes dois tipos de

decoração sejam independentes. O arquiteto deve facilitar o trabalho do decorador,

157

cabendo a este respeitar o que aquele planejou, ou seja, a decoração fixa da obra

deve ser intocável, pois ela faz parte integrante do conjunto imaginado por seu autor

que conta para sua defesa com a Lei do Direito Autoral. O arquiteto pode facilitar o

trabalho do decorador deixando livre seu campo de atuação mandando pintar de

branco todas as paredes e tetos, dando assim liberdade ao novo profissional para

introduzir as cores que desejar através das cortinas, estofados, mobiliário, tapetes e

demais ornamentos. A pintura branca, por ser neutra, não interferirá no trabalho do

decorador e caso este deseje colorir algumas delas, o branco já servirá de base.

Como vemos, em todas as fases da nossa construção falamos em arte. Por

isso podemos afirmar que: arquitetura é a concretização de uma manifestação

artística que tem início na imaginação do arquiteto, possibilidade na capacidade do

calculista, podendo tornar-se realidade pelas mãos caprichosas de seus executores

para, finalmente, ser decorada pelo último artista.

Se todos trabalharem com amor, dedicação e entusiasmo, o resultado será

uma obra de arte, cujo nome é ARQUITETURA.

Antonio Luiz Dutra de Araújo

Arquiteto

158

MUROS

Será que nossa próxima geração ao caminhar pelas Avenidas da Cidade

poderá ter a visão de suas Praças, dos jardins que abraçam alguns prédios públicos,

dos canteiros que embelezam as áreas externas das casas? Esta é uma pergunta

cuja resposta tem me preocupado; como serão as nossas ruas daqui a trinta anos?

Façamos um retrocesso no tempo e lembremo-nos de como eram esses

lugares na década de 70. Quando iniciei minhas atividades aqui em Teresina, em

1968, contava sempre com a mãe Natureza para valorizar meus projetos, pois os

jardins, além de amenizarem nosso clima, são sempre uma festa para os olhos. A

partir dos anos 80, o “progresso” da cidade trouxe de contrapeso o aumento da

malandragem, da gatunice e as pessoas desandaram a levantar barricadas urbanas

chamadas muros, para se defenderem contra o que, em pouco tempo, passou a se

chamar violência. Será que estas defesas realmente defendem? Nunca acreditei

nelas, pois o ladrão ao pular uma parede de dois metros, coisa que qualquer um faz

com a maior facilidade, cai num terreno à prova de olhares externos, onde se sente

mais seguro, pois sabe que naquele espaço protegido por muros, ele só tem um

inimigo pela frente que é o proprietário; então, se houver refém no assalto, a

proteção para o assaltante não poderia ser melhor!

Infelizmente o modismo pegou como pegaram também outras modas, tais

como o plantio desvairado da Palmeira Imperial e agora, mais recente, surge o Ficus

que em breve será o responsável pelo fim de nossas calçadas.

Mas voltando ao assunto das barreiras visuais, como se já não bastassem as

ruas dos bairros residenciais terem se transformado em verdadeiros corredores

murados, sem nenhum atrativo, desumanizando a comunidade, vem agora a Cepisa

tentar estender o mesmo procedimento ao setor público. No projeto original de sua

Sede, havia uma mureta com um metro de altura cercando o terreno, deixando

visível toda a área verde em volta do prédio; posteriormente resolveram colocar uma

grade sobre a mureta, solução que dá uma proteção razoável sem criar barreira

visual, mas agora, pasmem os senhores, resolveram dar início à construção da

famigerada barricada! Provavelmente a moda no novo setor logo terá seguidores e

dentro em breve estaremos assistindo a mesma solução sendo adotada para

159

“proteger” a Assembléia Legislativa, a Sede da Agespisa, o Centro de Convenções,

o Palácio da Justiça e outros mais. Tentem visualizar o Palácio de Karnak com um

muro substituindo as grades que circundam seus jardins!

Quando essa segunda etapa de muramento for concluída, não pensem os

caros leitores que os obcecados construtores de paredes se darão por satisfeitos:

partirão imediatamente para a terceira fase do plano de “defesa” e murarão o que

resta, nossas Praças. Talvez até aproveitem as grades já existentes para servirem

de estrutura interna de suas paredes.

Com tantas inovações permitidas pela Prefeitura, caberá então a esta

encontrar uma nova definição para a palavra Cidade, e a título de colaboração deixo

minha sugestão: Cidade é o labirinto formado por corredores murados com barreiras

que variam entre dois e três metros de altura, por onde circulam carros blindados,

assaltantes e assaltados.

Teresina, 31 de março de 2000

Antonio Luiz

160

MUDANDO DE CLIMA

Algumas pessoas me perguntam como vim parar em Teresina. Realmente fica

difícil entender se não houver uma explicação.

Em 1964 era eu arquiteto do Banco Nacional de Minas Gerais S/A que

possuía um Departamento de Engenharia dividido em quatro regiões: à Região A,

pertencia o Estado de Minas Gerais; a B, o Estado do Rio de Janeiro; a Região C

cobria São Paulo e Paraná, e a D, que era a minha e de meu colega Márcio de

Miranda Lustosa, abrangia os demais Estados da Federação. Naquele ano fui

designado para ir a Teresina a fim de efetuar a compra de uma loja e fazer seu

levantamento para então dar início ao projeto de reforma do que seria a primeira

agência daquele Banco no Estado do Piauí.

Tínhamos a nossa disposição sempre os melhores meios de transporte e para

Teresina era assim: embarcávamos numa segunda-feira num Caravelle ou num

Electra da Varig ou ainda num Viscount da Vasp com destino a Fortaleza, onde

pernoitávamos para no dia seguinte pegar um DC-5 para Manaus com escala em

Teresina, aonde chegava por volta das oito da manhã retornando para Fortaleza na

quinta-feira à tarde. Isto significava que, se não voltássemos nele, tínhamos que

aguardar uma semana pelo próximo!

Ao regressar dessa aventura disse ao Dr. Vicente Alves de Carvalho, diretor

da nossa Região, que se algum dia eu tivesse que me mudar do Rio para morar em

outra cidade, Teresina seria a última opção. Realmente Teresina era o fim da picada,

diziam mesmo alguns que aqui era, com licença da má palavra, o... deixa pra lá.

Quando estava com o projeto da reforma pronto, retornei a ela com a missão

de contratar uma Construtora para executar a obra. Naquela época havia dois

engenheiros na cidade e nenhum deles se interessou pelo trabalho. Que fazer? Era

terça-feira e o avião voltava na quinta!

Como a aeronave chegava cedo, naquele mesmo dia conversei com todos os

que podiam executar o serviço, pois o negócio era não perder tempo para não

perder o vôo!

Na quarta-feira, encontrava-me na Prefeitura pagando determinado imposto,

já totalmente sem esperança de levar a cabo minha missão quando, ao meu lado

161

surge, como que caído do céu, um cidadão com uma pasta preta e pergunta para a

moça que estava me atendendo o que ele precisava fazer para dar início às suas

atividades de Engenheiro, pois estava chegando de Belo Horizonte de regresso à

sua terra, onde pretendia morar.

Mal acreditando no que estava acontecendo não perdi tempo; olhando para o

recém chegado perguntei de supetão: -- Você gostaria de assinar aqui e agora um

contrato com o Banco Nacional de Minas Gerais para construir sua agência nesta

Capital? Tão rápida quanto a pergunta veio a resposta: -- O que mais eu poderia

desejar? E ali mesmo, naquela mesa, o documento foi assinado e eu pude então

respirar aliviado. O retorno à civilização na quinta estava assegurado!

Dessa amizade outros trabalhos foram aparecendo e o Dr. Lourival Sales

Parente, que viria a ser o maior e melhor construtor de Teresina, de vez em quando

me convidava para vir morar no Piauí.

No Banco nossa situação estava se complicando. A entidade resolveu

extinguir seu Departamento de Engenharia e sugeriu que fizéssemos uma firma com

a qual o Banco faria um contrato para prestação de serviços, contrato esse que seria

renovado a cada ano. Boatos começaram a surgir afirmando que aquela situação

não duraria muito; meu sócio Marcio tratou logo de arranjar trabalho na Faculdade

de Arquitetura de Belo Horizonte enquanto eu continuava sozinho conduzindo nossa

Maloca Arquitetura e Decoração Ltda. criada em 1965, entrando já no seu terceiro

ano de atividade.

Meus filhos, todos cariocas, estavam com quatro anos o mais velho, dois a do

meio, e três meses a mais nova; Maria Amélia, consultada sobre uma possível

mudança, para surpresa minha logo se entusiasmou e foi assim que, no dia 18 de

abril de 1968, por volta das 14 horas, deixando para trás vinte anos de Copacabana,

desembarcávamos em Teresina com malas e cuias, mulher, filhos e uma sogra a

tira-colo, o que veio a confirmar o dito: “Quem bebe a água do Parnaíba sempre

volta”; o que eu não sabia é que ficava prisioneiro para sempre!

Antonio Luiz

28 de dezembro de 2003

162

HISTÓRICO

Mudamo-nos para Teresina no dia 18 de abril de 1968; minha esposa, um

filho, duas filhas, a sogra e eu, embora, desde 1964 eu já andasse por estas plagas

como arquiteto do Banco Nacional de Minas Gerais S.A., o Banco do Guarda-chuva

de Magalhães Pinto, época em que vim fazer o levantamento do prédio onde

funcionava as Lojas Rianil de propriedade do senhor Aragão, adquirido pelo Banco

que o transformaria em sua primeira agência nesta Capital.

Após a conclusão do projeto retornei a esta cidade com o objetivo de

contratar quem o executasse; foi quando fiquei conhecendo o engenheiro Lourival

Sales Parente a quem confiei a tarefa, surgindo daí uma grande amizade e tanto ele

insistiu no convite para que eu trocasse a minha Cidade Maravilhosa pela sua

Cidade Verde que acabei cedendo, após a concordância de minha mulher,

naturalmente.

A Maloca foi fundada no Rio de Janeiro, no dia 15 de janeiro de 1965, quando

deixei o Banco (dados mais completos no Google: Antonio Luiz Dutra de Araujo –

Pesquisa).

Nosso escritório sempre atuou em qualquer área da arquitetura e a relação

completa dos trabalhos realizados durante esses quarenta e cinco anos, mais os

executados nos quatro anos que trabalhei como arquiteto do Banco, acham-se

gravados num CD.

Quando o arquiteto Marcio de Miranda Lustosa e eu resolvemos criar nosso

escritório cuja razão social ficou sendo Maloca Arquitetura e Decoração Ltda.,

pensamos em escolher um nome relacionado com construção de moradia e a

palavra escolhida foi OCA, casa indígena, provavelmente a primeira forma de abrigo

construída no Brasil, que ao ser reproduzida várias vezes, já que nosso pensamento

era crescer, resultaria numa MALOCA.

Nosso logotipo é formado por duas OCAS encostadas estilizando o M de

Maloca e as letras da razão social são letras desenhadas seguindo as mesmas

linhas do logotipo.

163

Inicialmente nosso escritório funcionou no sétimo andar do Ed. Avenida

Central, localizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na Av.

Rio Branco 156, sala 707.

Ao me mudar para Teresina, após comprar a parte de meu sócio, meu

padrinho de casamento já falecido, decidi que faria aqui uma filial da Maloca e já que

ia ser construída numa imensa área verde, porque não fazer algo coerente com o

nome da firma? Daí a sua forma: os tijolos assentados formando juntas retas

verticais representam os paus-a-pique que, unidos, formam as paredes da oca e

como cobertura foi usada a palha de carnaúba.

Posteriormente, encerrando as atividades no Rio de Janeiro, passei a filial

teresinense para Sede da Empresa.

Hoje, a Casa do Índio já não tem a presença marcante que tinha antes de ser

engolida pelas Casas dos Brancos!

Nestes últimos dez anos o mercado imobiliário em Teresina deu um salto para

o alto, talvez inspirado por outras Capitais, embora eu ache que ainda poderíamos

viver por um bom tempo em nossas casas, em linguagem indígena eu diria, em

nossas Malocas.

Acredito que o aumento da violência tenha sido o grande responsável por

essa fuga para as alturas, embora eu tenha minhas dúvidas quanto à futura

segurança nesses Edifícios, haja vista, os constantes assaltos que vem ocorrendo

em prédios de alto luxo construídos no Morumbi, bairro nobre da Cidade de São

Paulo, onde os bandidos vêm fazendo arrastões começando de cima para baixo.

Se compararmos o ritmo acelerado da construção civil existente em algumas

cidades brasileiras de grande porte com o ritmo de Teresina, acho até que aqui a

marcha tem sido bem mais lenta.

Teresina, 10 de maio de 2010

Antonio Luiz Dutra de Araújo

Arquiteto

164

MALOCA ARQUITETURA E ESTRUTURAS LTDA.

Em 1965 dois arquitetos, Marcio de Miranda Lustosa e Antonio Luiz Dutra de

Araujo decidiram abrir um Escritório para elaboração de projetos arquitetônicos e de

decoração tendo por endereço uma sala alugada no Ed. Avenida Central – Av. Rio

Branco, 156, sala 707, no centro da cidade do Rio de Janeiro e o nome escolhido foi

Maloca arquitetura e decoração ltda., pois, já que pretendiam projetar casas

escolheram como símbolo a maloca, conjunto de casas primitivas aqui encontrado

pelos portugueses em 1500, residência oficial dos indígenas.

Em 1967, ao aceitar o convite para se instalar em Teresina, Antonio Luiz,

adquirindo a parte de Marcio na Sociedade, deu início a construção do que seria

uma filial de seu escritório no Rio e o terreno escolhido, doação de quem o convidou,

que é o atual, naquela época ficava no centro de uma grande área verde.

A zona leste, depois da ponte, possuía algumas quintas nas imediações da

antiga sede do Jóquei Clube. Na região onde hoje fica o balão de São Cristóvão,

não havia nada.

Agora é fácil descobrir a razão da forma do nosso escritório.

Já que o nome era MALOCA e sua futura Sede ia ser construída no meio do

mato, por que não construir algo que viesse a justificar o nome?

Com esse pensamento nasceu uma casa de índio estilizada, onde os tijolos

assentados formando faixas verticais representam o pau-a-pique das ocas indígenas

e a cobertura não poderia ter sido outra senão a palha de carnaúba.

Hoje a Maloca, cuja Filial se transformou em Sede com o fechamento do

escritório do Rio, tendo trocado na sua Razão Social a palavra

Decoração por Estruturas, possui como sócios um arquiteto, Antonio Luiz com sua

esposa Maria Amélia e um engenheiro, professor da UFPI, Doutor Pedro Wellington

e sua esposa Ana Amélia, minha filha, nossa maquetista e, quem sabe, futura

arquiteta.

Teresina, 2 de junho de 2010

Antonio Luiz

Sócio Administrativo

165

OBJETIVOS DIFERENTES

Existe certa dificuldade, principalmente para os leigos, em distinguir o

Engenheiro do Arquiteto; para muitos é tudo igual e isso se deve, a meu ver, ao fato

de que é dado a ambos o direito de fazer as mesmas coisas.

Em minha opinião o arquiteto deveria apenas elaborar projetos e fiscalizar

suas execuções, embora devesse continuar a ter na Faculdade todas as matérias

que hoje existem, pois, seria inconcebível o arquiteto fiscalizar o trabalho do

engenheiro e demais profissionais envolvidos na construção, sem ter noção de

topografia, estrutura, e dos diversos tipos de instalações.

O arquiteto que envereda pelos caminhos da construção ou que resolve se

dedicar ao cálculo estrutural poderá vir a ser um excelente profissional, mas, errou

na escolha da Faculdade, fez Arquitetura quando deveria ter feito Engenharia.

Vejo o arquiteto como sendo, antes de tudo, um pensador; ele consegue,

partindo do nada, ver sua idéia concretizada; eu diria ainda, é um sonhador que

sonha acordado, com os pés no chão.

Enquanto o engenheiro se preocupa com a construção da obra resolvendo

todos os problemas técnicos relacionados a ela, o arquiteto pensa, em primeiro

lugar, no bem estar de quem vai usá-la e para isso, quebra a cabeça na busca da

melhor solução para seu cliente, necessitando para tal, dialogar com ele e sua

família; é preciso saber o que eles pensam, do que gostam, para que não haja uma

decepção tardia e mudanças no projeto após o início da construção, o que causaria

transtorno a todos e encarecimento da obra.

A fim de que essa solução ideal seja conseguida, muitos rabiscos serão feitos

várias idéias apresentadas até que o projeto procurado seja encontrado e aprovado.

Como podem ver os objetivos dos dois profissionais em questão, são bem

distintos: o arquiteto projeta enquanto o engenheiro executa só que, o arquiteto não

se restringe a obra em si, ele pensa no entorno e nos acessos.

De que adianta, por exemplo, construirmos um prédio de apartamentos, tudo

muito bem projetado e construído, acabamento de primeira, se o terreno fica dentro

de um buraco sem escoamento satisfatório para as águas pluviais, de tal forma que,

166

nos dias de chuva forte a enchente não permitirá a chegada dos proprietários a seus

apartamentos?

Será que essas pessoas, que com dificuldade conseguiram a tão almejada

casa própria, cantarão hinos de louvor dentro de seus carros refrigerados enquanto

aguardam as águas baixarem?

Antonio Luiz

17 de julho de 2010

167

VOCAÇÃO

A verdade é que cada um de nós vem a esse mundo com uma missão a

cumprir, mas, nem todos têm o conhecimento exato de qual seja a sua, o que lhes

causa certo transtorno, pois, perdem tempo fazendo coisas que não lhes trazem

nenhuma satisfação.

Ninguém consegue ser feliz fazendo um trabalho que não gosta; isto é mais

do que certo, no entanto, o que vemos, atualmente, são jovens desorientados que

pensam que a felicidade está condicionada ao dinheiro e quando chega o momento

de decidir por uma profissão a maior preocupação deles é saber quanto rende cada

uma.

Isto é muito triste, porém, temos de admitir que o mercado de trabalho cada

vez exige mais dos candidatos que, quando se formam e festejam a vitória, ainda

não sabem o que, realmente, os espera.

Ter um diploma hoje pode ajudar, mas não representa muita coisa; isto para

aqueles que não tiveram dúvidas quanto a sua vocação; agora imaginem o grau de

dificuldade dos que tentam o vestibular, simultaneamente, para cursos de áreas

diversas, por exemplo, para medicina, direito e engenharia, que tipo de profissional

será?

Portanto, jovem, descubra sua verdadeira vocação e lute para vivê-la. Um dia,

lá na frente, quando menos esperar, alguém haverá de reconhecer o que você fez e

o cumprimentará pelo esforço e dedicação.

O reconhecimento do nosso trabalho não tem preço.

Mas, se o que fizemos foi o que sempre desejamos fazer, indagaremos: que

esforço?

Falando por mim, posso afirmar que minha vida profissional não exigiu

maiores sacrifícios porque sempre a vi como um jogo de quebra-cabeças, super

interessante, no qual me viciei.

Para o arquiteto, cada cliente deve ser um desafio novo que absorve e

empolga. Nosso objetivo é conseguir a melhor forma de atender às suas

necessidades, que logo passam a ser as de um novo amigo. A estratégia para se

ganhar o jogo no primeiro “round”, reside no pleno conhecimento do seu modo de

168

pensar, dos seus gostos, suas expectativas, suas manias, enfim, do seu jeito de

viver. Ele, por sua vez, espera que o arquiteto lhe apresente um projeto bonito,

racional, prático, de baixo custo e duradouro, pois o sonho da casa própria é, para a

grande maioria, algo que só acontece uma vez. O jogo pode terminar quando

encontramos uma boa solução, porém, sabendo que outras melhores existem,

nossa consciência nos alerta: “ainda há tempo, busque-a, procure a excelência”.

Pondo amor no seu trabalho, seja ele qual for, você o fará bem feito e será

feliz.

Nunca podemos nos esquecer de que fizemos um juramento e também, não

custa repetir, que nossa profissão possui um Código de Ética que existe para ser

seguido.

Quem se forma em arquitetura porque reconheceu nela sua verdadeira

vocação, mesmo que não venha a ter grandes clientes e não tenha oportunidade de

projetar grandes obras, mesmo que não venha a ser grande na profissão, ainda

assim, nunca se arrependerá por tê-la abraçado.

Deixando de lado a excelência, mesmo sabendo que continuarei a procurá-la,

vou contar um pouco da minha história; ela é simples, de uma pessoa comum, sem

nenhum dote excepcional. Nos estudos nunca cheguei, sequer, perto de ser o que

poderíamos classificar como um aluno exemplar, mas, também não era de perder

ano; numa escala de 1 a 10 me situo em torno de 7, média semi-alta dentre os

normais, performance suficiente para me deixar de bem com a vida.

Não nasci para ser arquiteto como acontece com alguns predestinados que,

desde criança, sempre souberam o que queriam ser quando crescessem.

Ao terminar o científico, hoje 2o grau, eu não sabia a que carreira me dedicar.

Eram tormentosas as imagens que passavam por minha cabeça, nas quais ora me

via um professor de educação física, ora um engenheiro, algumas vezes um

advogado, vez por outra um arquiteto, dilema que só deixou de existir graças ao

teste de Orientação Profissional que fiz na Fundação Getúlio Vargas, cujo resultado

foi Arquitetura em primeira opção e Engenharia em segunda. Aí a escolha ficou fácil!

Acreditando, e livre do peso da dúvida, resolvi fazer o curso Pré-vestibular

COS que preparava candidatos desejosos de ingressar numa Universidade. Na

minha primeira tentativa fracassei logo na prova eliminatória, desenho artístico, que

consistia em desenhar com carvão sobre uma folha de papel canson, fixada num

169

cavalete, um determinado busto. Não consegui desenhar, satisfatoriamente, “nosso

amigo” Sêneca, então, pensei: seria muita pretensão minha, recém saído dos

cueiros, como dizia minha mãe, querer fazer a cabeça de um filósofo tão famoso!

Com esse pensamento positivo, tomei a decisão de não desistir, mesmo

porque, em toda minha vida de estudante aquela foi a minha primeira reprovação.

Cursei novamente o COS, do professor Charuto, como era conhecido porque,

quando não estava com um charuto entre os dedos, estava com ele no canto da

boca, e na segunda tentativa consegui tornar-me universitário, juntamente, com mais

62 colegas.

Quantos daqueles concluiriam o curso? Só Deus poderia dizer!

A nossa foi a primeira turma reduzida da Faculdade, éramos apenas 63.

Iniciamos os estudos em 1958 e colei grau no dia 23 de dezembro 1961; alguns

deixaram para mais tarde.

Foi um curso tranqüilo, feito com entusiasmo, por um aluno normal. Nunca me

arrependi da escolha feita; consegui trabalhar na profissão desde o segundo ano da

Faculdade quando fiz um estágio numa fábrica de elevadores onde passava metade

do dia projetando cabines com 1m2 de área, o que logo me saturou. Posteriormente,

graças ao meu pai que era bancário, ingressei no Banco Nacional de Minas Gerais

S/A como desenhista; acompanhava a execução de suas agências e, tão logo me

formei fui transferido para o quadro de arquitetos.

Sempre vivi do meu ofício e a ele devo tudo o que tenho inclusive a

maravilhosa companheira que descobri entre os arquivos do Banco, que se casou

comigo, deu-me três filhos e com a qual, a mais de cinquenta anos, caminho pela

mesma estrada, Maria Amélia, minha eterna musa.

Agradeço a Deus pelas oportunidades que aproveitei, por me permitir exercer

meus talentos com dignidade respeitando os méritos de meus colegas, por não trair

a confiança de quem acreditou em mim e por cumprir, da melhor forma, o juramento

do arquiteto e os princípios éticos da profissão; agradeço também a meus pais que

sempre apoiaram minhas decisões e que nunca tentaram incutir na minha cabeça

alguma profissão que, para eles, seria a melhor para mim, o que é muito comum

acontecer e que tanto prejudica a vida dos filhos gerando em suas cabeças mais

dúvidas, sentimentos de culpa por não ouvi-los, tristezas, muita insegurança e até

infelicidade caso siga a profissão escolhida pelos pais e passe a vida arrependido.

170

Voltemos um pouco a falar da Faculdade. No terceiro ano do curso tivemos a

sorte de ter como professor da cadeira de Grandes Composições o arquiteto Sérgio

Bernardes, já falecido, que lecionou na FNA apenas um ano, justamente na nossa

turma. Suas aulas eram concorridas e algumas vezes eram ministradas no auditório,

único espaço capaz de comportar o grande número de pessoas que queriam ouvi-lo.

Com ele aprendemos muitas dicas para elaborarmos bons projetos.

“Se vai projetar, (dizia) comece definindo as circulações; não se preocupe

com a fachada, ela surgirá, naturalmente, e será bonita se a planta for boa; defina a

estrutura do seu projeto cuja importância é fundamental e sempre que possível, tire

partido dela; cuidado com as proporções, trabalhe com modulação e os melhores

módulos são 1,20m e 1,50m, pois, estes são múltiplos da maioria dos materiais de

revestimentos existentes no mercado; se você não sabe desenhar, não tem

problema, arquitetura é detalhe; estude bastante a planta procurando definir bem as

diversas áreas, cada uma em seu lugar; numa casa, por exemplo, temos a planta

dividida em três setores, o social, o íntimo e o de serviço que devem ser dispostos

de forma bem definida, independentes e ao mesmo tempo próximos, procure

sempre evitar grandes circulações, os famosos corredores; tratando-se de prédios

públicos, a própria circulação, se bem estudada, separa as áreas de trabalho das de

público.”

Ensinou-nos a trabalhar em equipe dividindo a sala em grupos de cinco

alunos, separados por biombos; às vezes nos levava para visitar alguma obra em

andamento, por ele projetada.

Como ser humano, Sérgio Bernardes foi grande. Era amigo de seus alunos e

já, no segundo mês do curso, chamava cada um por seu nome.

Enfim, era muito querido; marcou sua passagem pela Universidade e por tudo

que fez não poderia ser outro o paraninfo da nossa turma, a primeira a se formar na

Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, pois, em julho de 1961 a FNA – Faculdade

Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil saiu da Praia Vermelha para

ocupar seu novo espaço no novo Campus, em início de formação, onde tivemos os

últimos seis meses de aulas.

Atualmente, com a criação do nosso Conselho, o CAU, passou a se chamar

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ - Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

171

TROCARAM-LHE A ROUPA

Semana passada, caminhando pelo centro de nossa Teresina, deparei-me

com uma construção nova, pensei; porém, puxando pela memória, concluí que

aquele espaço era ocupado pela Sede do extinto Banco do Estado do Piauí S/A –

BEP, do meu amigo Bernardino Soares Viana, o Bina, que Deus o tenha, e que na

sua inauguração, em 12 de setembro de 1969, ocupava o cargo de Diretor Gerente.

Passado o susto da primeira visão, constatei que o prédio continuava ali

mesmo, apenas trocaram sua roupa, substituindo a de grife, que o vestia há mais de

quarenta anos, por uma dessas que se compra em camelôs, ou seja, o mármore

branco deu lugar a uma fórmica amarela (foi o que me pareceu à distância), um

amarelão forte, padrão adotado pelas Farmácias Big Ben, um horror!

Não sei como é em outras cidades, mas, aqui cada um faz o que quer num

total desrespeito ao Direito Autoral,

Órgãos como Prefeitura, IAB, CAU, CREA, OAB, Ministério Público, que

deveriam ter voz ativa sobre certas reformas em prédios públicos, apenas assistem

as transformações acontecerem.

O que fizeram no antigo BEP não tem justificativa. Que façam mudanças

internas, tudo bem, sua estrutura já foi feita pensando nelas, suas áreas de trabalho

foram definidas por divisórias removíveis, justamente, para se adaptarem a futuras

necessidades, mas, o exterior deve ser mantido, é preciso respeitar o projeto

original!

Quem autorizou a mudança, ou melhor, a descaracterização do Edifício, sim,

porque o que está feito nada tem a ver com o prédio, o responsável pela aberração

repito, se merece uma nota, essa nota é zero.

Se por um lado faltou bom senso, por outro houve excesso de coragem.

172

CEPISA E ELETROBRAS

Na página 555 que trata do tema MANUTENÇÃO citei o Ed. Sede da Cepisa,

hoje da Eletrobrás, como exemplo de descaso e desrespeito ao Direito Autoral numa

demonstração ignorante da autoridade de seus administradores; ignorante porque

decidem fazer coisas no prédio, totalmente descabidas, que vão descaracterizando

o que foi idealizado.

Várias intervenções já foram feitas naquele edifício fazendo dele hoje uma

construção sem maior expressão e essas intervenções foram as que a seguir

descrevo:

A) A primeira delas foi acabar com um gradil que havia sobre uma mureta

baixa, de um metro de altura, cuja finalidade era servir de contenção para o

terreno ajardinado que circunda o prédio. A substituição da mureta e grade

por um muro de dois metros de altura escondeu o edifício e seu entorno,

assunto esse já tratado na página 14;

B) A segunda foi a substituição, em cada pavimento, do vidro que deveria

existir na linha dos aparelhos de ar condicionado, por parede de alvenaria. A

finalidade do vidro, além de iluminar e ventilar era, juntamente com a linha

das janelas, toda em vidro, conferir ao prédio uma certa leveza devido a

alternância de cheios e vazios, mostrando a obra como se fosse formada pela

superposição de discos de concreto separados por faixas de luz, dando a

impressão para quem o olhasse de fora de que os discos flutuavam entre si,

uma vez que os pilares não aparecem por estarem bem recuados em relação

a fachada;

C) A terceira foi secarem os dois espelhos d’água que ladeiam a entrada

única do prédio, onde haviam esguichos centrais e peixes elétricos

(poraquês);

D) A quarta foi a construção de um elevador na área interna do edifício

ignorando o fato de que no projeto original existe local para dois elevadores

com casa de máquinas na cobertura. A área interna, que deveria ser um local

ajardinado, aprazível para os funcionários, foi totalmente cimentada e agora

173

ocupada, em parte, pelo tal elevador, verdadeiro monstrengo, com estrutura

metálica independente do prédio e revestido externamente com um azulejo

azul que nada tem a ver com a obra;

E) No hall de entrada do prédio as telas pintadas pelo artista piauiense

Afrânio Castelo Branco, encontram-se rasgadas e soltando pedaços.

Sem mais o que dizer, deixo aqui meu protesto e toda minha revolta com o

que os órgãos fiscalizadores permitem que se faça com o patrimônio público.

Teresina, 21 de dezembro de 2012, o dia em que o mundo não acabou.

Antonio Luiz

174

MAIS UMA ABERRAÇÃO

Agora foi a vez do prédio do Ministério da Fazenda sofrer a interferência de

pessoas insensíveis com as quais a Prefeitura não se mete, permitindo que façam o

que querem na Cidade.

Vamos ao fato: quando as obras do Ministério estavam para serem

concluídas chegou-se à conclusão de que o local destinado à torre de arrefecimento

do ar condicionado central, na cobertura, não seria adequado para aquela obra e

nos pediram para definir outro espaço.

Para quem não conhece, o edifício fica situado junto ao Marco Inicial da

Capital, Teresina, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, na principal

Praça da Cidade e era cercado por área ajardinada, sem grades, vale a pena

ressaltar, uma vez que as mesmas, de hoje, não faziam parte do projeto original.

Mas, deixando de lado as grades, que na realidade não prejudicam muito sua

estética, voltemos a necessidade surgida naquela época: onde instalar a torre com

tudo o mais que a acompanha, tubulações, casa de controle de todo o sistema, etc.?

A única área disponível era o jardim!

“Bolamos” então esconder toda aquela parafernália por meio de placas de

concreto, pré-fabricadas, com medidas aproximadas de 35x5cm na secção

transversal e comprimento suficiente para não permitir ao observador da rua a visão

do que havia por trás delas. Essas placas, com as terminações na parte superior

chanfradas a 45 graus foram “plantadas”, verticalmente, de forma irregular e

afastadas entre si.

O conjunto dessas placas, sobre um gramado verde apresentava-se quase

como que um “monumento” a compor o entorno do Edifício.

Agora, os tais insensíveis, resolveram construir, em continuidade a esse

“monumento”, um caixão de alvenaria que nada tem a ver com o conjunto!

Não sei a que se destina, mas, se tivessem nos consultado, daríamos a eles a

mesma área interna que precisavam, porém, escondida pelo simples prolongamento

das placas de concreto, não prejudicando em nada a estética de uma das principais

construções do Centro da Cidade.

175

Teresina, 5 de novembro de 2013

Antonio Luiz

Arquiteto

176

ANEXO B – LISTA DE OBRAS DO ARQUITETO

ANTONIO LUIZ DUTRA DE ARAUJO, natural de Juiz de Fora - Minas Gerais,

nascido em 2/9/1935, filho de Rubem Araujo e de Lauricy Leite Dutra de Araujo,

identidade no 112.618, emitida pela SJSP-PI, em 15/8/1974, e CPF no 001.579.967 –

00;

No dia 18/4/1968 chegamos com a família em Teresina, onde residimos até

hoje.

I - Arquiteto diplomado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do

Brasil, em 8/2/1962, tendo colado grau em 23/12/1961. Primeira turma a se formar

na Ilha do Fundão – Cidade Universitária - Carteira do CREA no 11.505 D expedida

em 18/2/75 e Registro no 45.841, atual carteira do CAU no A0209-7 de 5/1/2013, com

o título de Arquiteto Urbanista;

II - Arquiteto do Banco Nacional de Minas Gerais S/A, durante o período de 1o de

janeiro de 1962 a 30 de abril de 1964, ano em que conheci Teresina;

III - Sócio Gerente da Sociedade Civil denominada Maloca Arquitetura e Decoração

Ltda., registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, sob o no

13.142, em 15/1/1965; em 1968 foi criada a Filial em Teresina, que mais tarde se

transformou em Sede, com o CGC no 33.015.694 / 0001 – 90, hoje, Maloca

Arquitetura e Estruturas Ltda.;

IV - Suplente do Diretor da Seção do Piauí do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB-

PI, no início de suas atividades;

V - Membro indicado pelo IAB para participar da Comissão encarregada da

avaliação do Plano de Desenvolvimento Local Integrado de Teresina e da

elaboração do Código de Obras para a Prefeitura Municipal, por solicitação desta

(Diário Oficial 20/5/75);

VI - Participante com o Arquiteto Márcio de Miranda Lustosa, do concurso para o

projeto arquitetônico da Igreja Presbiteriana de Brasília;

VII - 1o lugar no concurso para o projeto arquitetônico do Edifício Sede das Centrais

Elétricas do Piauí S/A - CEPISA, em Teresina – 1970;

VIII - 1o lugar no concurso para o projeto arquitetônico do Clube de Engenharia do

Piauí, 1975, não executado devido à irregularidade surgida com a posse do terreno;

177

IX - Arquiteto da Empresa de Obras Públicas do Piauí - EMOPPI, no período de

1982 a 1992;

X - Nomeado para o cargo de Chefe da Divisão do Patrimônio Artístico e

Arquitetônico da Fundação Cultural do Piauí, em 29/4/1994, onde permaneceu até o

fim do mandato do então Governador;

XI - Como arquiteto do Banco Nacional de Minas Gerais S/A, de 1962 a 1964,

projetamos e acompanhamos as instalações das seguintes agências:

No Espírito Santo: Ag. de Vitória; no Estado do Rio: Agências de Campos e

Teresópolis; em Pernambuco: Ag.de Recife; em Goiás: Ag.de Goiânia; no

Amazonas: Ag. de Manaus; no Ceará: Ag. de Fortaleza; no Rio Grande do Sul:

reforma da Ag. de Porto Alegre e no Piauí: 1a Ag. de Teresina;

XII– PROJETOS

Projetos elaborados por encomenda do Governo do Estado do Piauí:

a) Mercado Público para Parnaíba

1971 -b) Fórum para a cidade de Pedro II

c) Casa do Estudante do Piauí, em Teresina

d) Parque Gráfico da COMEPI

e) Maternidades para Teresina (duas)

f) Câmara Municipal de Teresina

1971 -g) Instituto de Educação de Teresina

1971 -h) Atalaia Motel em Luiz Correia

1973 -i) Campus Avançado da Universidade do Espírito Santo, em

Parnaíba

1973 -j) Rodoviária Municipal de Floriano

l) Ginásio Esportivo coberto, em Parnaíba

m) Ginásio Polivalente em Parnaíba

n) Ginásio Estadual Lourival Lira Parente, em Teresina

1975- o) Penitenciária Agro-Industrial Major César Oliveira (dois projetos)

1975 - p) Ed. Sede do Núcleo de Assistência Gerencial do Piauí - NAG

1977 - q) Presídio Professor Elias Oliveira (Casa de Custódia de Teresina)

1980 -r) Ed. da Junta Comercial do Estado do Piauí

178

s) Centro Administrativo da EMATER - PI

1981 - t) Reforma da Maternidade Evangelina Rosa e ampliação (anexos A e B)

u) Hemocentro (banco de sangue do HGV)

v) Urbanização da área externa do Hospital Getúlio Vargas

Observação: Os itens a, b, d, e, f, j, l, p, r, s, não foram executados.(N,E.)

Relação de outros projetos:

Em Teresina:

1967 - Sede da Maloca Arquitetura e Decoração Ltda.

Acabamento e Instalações do Edifício Sede do Ministério da Fazenda

1967 - Acabamento, instalação e decoração do Ed. Sede do Banco do Estado do

Piauí

1968 - Conjunto Maloca (1o conjunto classe média de Teresina)

1968 - Conjunto de 60 casas e 240 apartamentos para o IAPEP

1970 - Auditório para o DER(N.E.)

1971 - Clínica São José

1971 - Reforma do antigo Jóquei Clube do Piauí (Não Executada) – (N.E.)

1971 - ProjetoAgro-Pecuário - PASA (N,E.)

1971 - Reforma do Clube das Classes Produtoras do Piauí

1972 - Acabamento e decoração do Teresina Pálace Hotel

1972 - Reforma do Cine Rex

1973 - Reforma do Cine Royal

1973 - Clínica Oftalmológica – Ed. Santa Mônica

Reforma da Associação Piauiense de Medicina

1973 - Acabamento do Hospital Santa Maria

1974 - Loja da JET

1974 - Edifício Sede da Servi-San

1975 - Ampliação do 18o Distrito Rodoviário Federal – DNER, (hoje DNIT)

1975 - Reforma da Igreja N.S. de Fátima

1976 - Edifício Palácio do Comércio

Escritório da firma Lourival Sales Parente c/ Ag. da Cia. de cigarros Souza Cruz (anexo

179

Centro Paroquial da Piçarra

Agência da Volkswagen - VEMOSA

1a Agência da Ford - AUTOMAQ

Fábrica de Postes Saci

Ag. da Companhia Importadora de Tratores e Equipamentos – CITREC

Auditório da Faculdade de Direito do Piauí, hoje salão de leitura da Biblioteca

Cromwell de Carvalho

Acabamento e instalação da 1a Ag. do BRADESCO

Ampliação do Laboratório de Patologia Clínica Dr. Antonio Lobão Veras

Acabamento e instalação do Ed. Sede da Caixa Econômica Federal

1976 - Edifício São Pedro (Pintos Magazine)

1977 - Reforma da Clínica de Radiologia do Piauí

Ampliação do Ed. Sede da CEF (N.E.)

1978 - Acabamento da Casa Somali de Elesbão Soares

1978 - Reforma da Igreja de São Raimundo Nonato

1978 - Instituto de Olhos do Piauí

1978 – Reforma e ampliação da Casa da Fazenda Bebedouro

1979 - José Elias Tajra Veículos Ltda. - JOTAL

1979 - Clínica Santo Antonio

1979 - Indústria de Soro e Produtos Farmacêuticos Ltda. – INSOPIL

1979 - Ampliação da Indústria de Soro e Produtos Farmacêuticos S/A – INSOPISA

1980 - Ed. Comercial, Sede da firma J. Franco Com. e Representações

1980 - Clínica Piauiense de Cirurgia Plásticado Dr. Geraldo Lages

1980 - Ed. Valdemar Viana & Cia Ltda.

1981 - Hospital Geral do Piauí Ltda.- HOGEPI (N.E.)

1981 - Detalhamento e especificação dos materiais do Ed. Danilo Romero (21

aptos)

1981 - José Elias Tajra Veículos Ltda. JOTAL

1981 - Reforma da Maternidade Evangelina Rosa

Ed. Palmeirais

Reforma da Diave - Indústria Comércio Representações Ltda.

1982 - Hospital Santa Maria - Unidades de Cardiologia, Pediatria, Central de

Esterilização, reforma do Centro Cirúrgico, UTI e nova entrada (pronto socorro)

180

Fachada e forro (teto) da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes na Vermelha

Ed. Comercial, Sede da firma Valdemar Viana

1983 - Carlos Henrique Aragão Ind. e Com. Ltda. - Fábrica da Coca Cola

1983 - TV Pioneira Ltda. (N.E.)

1985 - Prédio para José Elias Tajra& Cia

1986 - Depósito Geral da firma José Elias Tajra& Cia Jet Magazine

Reforma da Clínica Santa Mônica

1986 - Ampliação do Colégio São Francisco de Sales - Diocesano

1986 - Reforma e ampliação da Clínica de Doenças Torácicas do Piauí

1987 - Eldorado Country Club

Hangar da firma Lourival Sales Parente no Aeroporto

Escritório Onosíforo Oliveira

Prédio Comercial p/ Dr. Luiz Nodgi Nogueira (N.E.)

Ed. Dona Jovem

Prédio Comercial p/ Dr. Artur Freire Rocha (N.E.)

Casa das Ferragens de Lourival Nery

1991 - Sede da firma Carlos Aguiar & Cia. (Lojas Aguiar)

Reforma e ampliação do escritório de A. Guimarães & Cia.

1993 - Capela p/ o Seminário Menor de Teresina (N.E;)

Mini Centro Comercial(Dr. Bernardo Melo Filho)

1993 - Reforma e ampliação do Fórum Osmundo Pontes - TRT22a Região

1995 - Instituto Educacional da Criança - INEC - (N.E.)

2000 - Ateliê Maria Amélia (anexo à Maloca e à residência)

Em Parnaíba -PI

Ampliação do SESC

1969 - Agência do Banco do Estado do Piauí S/A

1975 - Prefeitura Municipal de Parnaíba (hoje Câmara Municipal) Ed. Elias Ximenes

do

Prado

1976 - Agência da Caixa Econômica Federal,os três últimos na Praça da Graça.

Em Canto do Buriti - PI

181

1974 - Agência do Banco do Estado do Piauí S/A

Em Esperantina - PI

1973 - Agência do Banco do Estado do Piauí S/A

Em Picos - PI

1974 - Agência do Banco do Estado do Piauí S/A

Em Corrente

Reforma da Igreja Batista

Em Luiz Correia – PI

1973 - Atalaia Motel

Em Floriano – PI

1973 - Rodoviária

1979 - L. S. Brandão & Cia. – Revemo – Real Veículos e Motores Ltda.

1981 - Reforma e ampliação do Hospital Tibério Nunes

No Maranhão

1971 - A. Silva Indústria e Comércio de Óleos Vegetais S/A - em Caxias - MA

Mercado Público em Coelho Neto

1972 - 1a Exposição Agropecuária de Coelho Neto

1984 - Filial da Servi-San, em São Luis (N.E.)

Residências em Teresina:

1966 - Residência Lourival Sales Parente (1a)

1968 - " Mansueto Martins Magalhães

" Jesus Elias Tajra

" Fernando Carvalho

" Nicanor Barreto

1969 - " Antonio Luiz Dutra de Araujo

182

1969 - " Leonel Madeira Campos

1970 - " José Francisco Sady (acabamento)

1970 - “ Ferdinand Silveira (acabamento)

1971 - " Elesbão Soares Veloso

1971 - " Lívio Parente

1971 - " Afonso Bacelar em Coelho Neto - Maranhão - (N.E.)

1971 - " Luiz Francisco do Rego Monteiro

1972 - " Firmino Silveira Soares

“ Rômulo Bastos

" Luiz Chagas

1972 - " Antonio Lobão Veras

1973 - " Djalma da Costa e Silva

1973 - " Celso Pires

1973 - " Benjamin do Rego Monteiro Neto (reforma)

1973 - " Roberto Carvalho (acabamento e decoração)

" José EliasTajra (reforma)

1973 - " José Alves de Lobão Veras

1973 - " Cícero da Silva Moura

1973 - " Marcolino Rio Lima

1973 - “ José Paschoal Francisco

1973 - " José Arimatéia Martins Magalhães

1974 - " Wall Ferraz

1974 - " Ivan Torres

1974 - " José Caddah

1974 - " Delfim Pinto de Sá Quintela

1974 - " Benoit de Deus Nogueira

1974 - " Carlos Morais Aguiar

1975 - " Agostinho Inácio Pinto

1975 - " Norbelino Lira de Carvalho

1975 - " Antonio Luiz (casa construída para venda) Av. Fortaleza

" David Cortellazzi (acabamento e decoração)

1975 - " Pedro Portela

1976 - " Mussa de Jesus Demes

183

" WashingtonQuirino

1976 - " Lourival Nery (N.E.)

1976 - " Antonio Baião de Azevedo Filho

1977 - " José Wilson Pereira da Silva

1977 - " Antonio Lobão

1977 - " Josemar Cordeiro Medeiros

1977 - " Antonio Luiz (1 casa construída para venda)

1977 - " João Damasceno Gualberto Franco

1977 - Casa p/ Dr. Geraldo Lages

1977 - ResidênciaAntonio Martins de Oliveira Furtado

1978 - " Antonio Lages Alves

1978 - " Valdo Noronha

1978 - " Antonio Portela Barbosa

1978 - " Hidelmar dos Santos Araujo

1978 - " Francisco Moreira Nunes

1978 - " Dionísio Brochado Lapa Sobrinho (N.E.)

1978 - “ Raimundo Fortes (acabamento)

1979 - " Cleber dos Santos Araujo

1979 - " Francisco das Chagas Oliveira

1980 - " Átila Freitas Lira

1980 - “ Waldemar de Morais Menezes

1980 - " Luciano Nunes Santos

1980 - Antonio Luiz (2 casas construídas para venda)

1981- Casa de praia de Arlindo Lopes Guimarães

1984 - Reforma da Res. Bernardo Melo Filho

Residência Josemar Medeiros (reforma)

" Antonio Moreira Mendes

1982 - " Arnaldo Ferreira (reforma e ampliação)

" Lustosa Elvas Parente (reforma)

"Arlindo Lopes Guimarães

1982 - " Mazerine Cruz Lima Junior

Residência Valdemar Meneses

" Geraldo Vasconcellos (reforma)

184

" Maria do Rosário Alves

" Genival Castelo Branco Carvalho (reforma)

1982 - “ Joaquim José de Castro Vilarinho

1984 - “ Herbert Costa Napoleão do Rego

" Maria do Carmo Mello

1984 - " João José Tourinho

1984 - " Bernardo Melo Filho

1985 - " Verdi Cruz Lima

" Chácara Mirtisa (reforma)

“ Paulo Sérgio Cortellazzi

1990 - " Francisco Regis Arcanjo Cordeiro

1990 - " Raimundo Pereira da Silva

" João José Torres (urbanização)

1998 - " João Domingos Alves de Alencar

Residências em outros Estados:

1963 - Casa de praia de Rubem Araujo, meu pai, em Rio das Ostras - Estado do

Rio - Região dos Lagos, nosso1o projeto de casa

1963 - Casa de praia de Moacir Reis em Rio das Ostras

1983 - ResidênciaMaria do Socorro Leite, em Pedreiras - MA - (N.E.)

- “ Afonso Duque Bacellar - MA - (N.E;)

Observação:Não temos os endereços dos projetos, mas, de quase todos, temos as

propostas

e contratos aprovados.

OUTROS TRABALHOS

Logotipos para:

Maloca Arquitetura e Decoração Ltda.

Banco do Estado do Piauí S/A BEP

Piauí Construtora Ltda.

FUSEPI

185

SUHEPI

Eldorado Country Club

A partir de setembro de 2002, com a entrada dos novos sócios, Engenheiro

Civil Dr. Pedro Wellington Gonçalves do Nascimento Teixeira e sua esposa Ana

Amélia Faria de Araujo Teixeira (minha filha), passou a vigorar a nova razão social

da Maloca:

MALOCA ARQUITETURA E ESTRUTURAS LTDA.

Projetos arquitetônicos da nova fase:

2011 - Livraria ENTRELIVROS, de parceria com a Arquiteta Nelcia Beatriz Fortes da

Costa.

Homenagens recebidas, por ordem cronológica:

Placa de agradecimento conferida pelo Eng. Lourival Sales Parente pela

oportunidade que oferecemos à sua empresa, Construtora Lourival Sales Parente,

possibilitando a execução de sua primeira obra no Piauí, Ag. do Banco Nacional de

Minas Gerais S/A.; Placa entregue em 16/11/1979.

Medalha do Mérito Conselheiro José Antonio Saraiva, grau Cavaleiro, conferida pela

Prefeitura Municipal de Teresina, pelos relevantes serviços prestados ao Estado do

Piauí e em particular ao Município de Teresina, entregue pelo então Prefeito

Raimundo Wall Ferraz, em 24/8/1994.

Medalha de Honra ao Mérito conferida pelo Sindicato dos Engenheiros do Piauí –

SENGE / PI aos profissionais da Engenharia com mais de trinta anos de Exercício

da Profissão, conferida em 8/2/1996.

Arquiteto e Urbanista homenageado no Io Seminário de Serviço do CAU-PI com

recebimento de Placa e exposição de trabalhos em 21/9/2012.

186

Em 25/10/2012, Exposição de alguns trabalhos e lançamento de um livro sobre

nossa obra intitulado: “ANTONIO LUIZ . ARQUITETO”, escrito pela Professora,

Arquiteta e Urbanista, Doutora em Arquitetura, da UFPI, Universidade Federal do

Piauí, Auxilia Afonso (Kaki), juntamente, com seus alunos.

Teresina, 13 de abril de 2013.

187

ANEXO C – CADERNO DE PROJETOS ORIGINAIS

EDIFÍCIO ALBERTO TAVARES SILVA – CEPISA

Figura 7.1: Planta original de situação. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

188

Figura 7.2: Planta original do pavimento térreo. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

189

Figura 7.3: Planta original do primeiro pavimento. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

190

Figura 7.4: Planta original do segundo pavimento. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

191

Figura 7.5: Planta original do terceiro pavimento. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

192

Figura 7.6: Planta original do quarto pavimento e da cobertura. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

193

Figura 7.7: Corte A-A. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

194

Figura 7.8: Fachada principal. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

195

Figura 7.9: Detalhe da calha. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

196

Figura 7.10: Detalhe do corte para mostrar o mecanismo de ventilação projetado pelo arquiteto. Projeto original.

Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

197

EDIFÍCIO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Figura 7.11: Planta baixa do segundo ao sétimo pavimento. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

198

Figura 7.12: Layout do sétimo pavimento. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

199

Figura 7.13: Layout do oitavo pavimento. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

200

Figura 7.14: Corte longitudinal. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

201

EDIFÍCIO DO PALÁCIO DO COMÉRCIO

Figura 7.15: Planta do primeiro pavimento. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

202

Figura 7.16: Planta do segundo ao primeiro ao décimo primeiro pavimentos. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

203

Figura 7.17: Corte transversal. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

204

Figura 7.18: Corte longitudinal. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

205

Figura 7.19: Detalhes. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

206

Figura 7.20: Planta de cobertura. Projeto original. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

207