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UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS- UNIPAC FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA - FADI CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO CAMILA DA SILVA TAVARES LEGALIZAÇÃO DE PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS NO BRASIL BARBACENA 2012

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS- UNIPAC · 2.1 Diferentes teorias sobre o ... 5 A LEGALIZAÇÃO DAS PESQUISAS EM DIVERSAS PARTES DO MUNDO ... Além da teoria da criação

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UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS- UNIPAC

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA - FADI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

CAMILA DA SILVA TAVARES

LEGALIZAÇÃO DE PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO

EMBRIONÁRIAS NO BRASIL

BARBACENA

2012

CAMILA DA SILVA TAVARES

LEGALIZAÇÃO DE PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO

EMBRIONÁRIAS NO BRASIL Monografia apresentada ao Curso de Graduação em

Direito da Universidade Presidente Antônio Carlos –

UNIPAC, como requisito parcial para a obtenção do

título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof.Esp.Colimar Dias Braga Junior

BARBACENA

2012

Camila da Silva Tavares

LEGALIZAÇÃO DE PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO

EMBRIONÁRIAS NO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em

Direito da Universidade Presidente Antônio Carlos –

UNIPAC, como requisito parcial para a obtenção do

título de Bacharel em Direito.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Maria do Perpetuo Socorro de Oliveira Cantaruti Guida

Técnica de Apoio Judicial-matrícula 66.555

Prof. Esp.Colimar Dias Braga Junior

Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC

Profª Me. Maria José Gorini da Fonseca

Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC

6

Dedico aos meus pais, minhas irmãs, e ao meu

amado sobrinho Gustavo. Dedico também a

todos meus familiares e amigos que me

apoiaram. Aos que não mais estão presentes

fisicamente, minhas homenagens e eterna

gratidão.

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço a Deus por sempre estar presente na minha vida e nunca me

desamparar.

Agradeço, especialmente, ao meu Professor e Orientador Colimar Dias Braga Junior,

que mesmo com o tempo apertado, teve paciência, dedicação e disponibilidade para me

orientar e fazer com que este trabalho se concretizasse.

Agradeço também a Professora Rosy Mara Oliveira, por sempre estar disposta a

sanar todas as dúvidas dos alunos.

Não poderia deixar de agradecer neste momento um nobre padre, que ao exercer bem

sua vocação sempre me ajudou a fortalecer a minha fé, além de me dar um enorme apoio

neste trabalho. A você Padre Danival Milagres Coelho o meu muito obrigado.

E sempre agradecerei meus pais, por todo amor, carinho e dedicação que me

proporcionaram. As minhas amadas irmãs pela amizade e apoio incondicional. Ao meu

amado sobrinho Gustavo que veio para acalmar meu coração nos momentos difíceis. Aos

meus cunhados Daniel e Ricardo por fazer a minha vida cada vez mais divertida. As minhas

lindas tias Edina, Sueli e Maria Helena, obrigada por terem se tornado verdadeiras mães para

mim. As minhas irmãs do coração Ana Rita e Laura, por estarem sempre ao meu lado.

Agradeço com a alma cheia de alegria a minha vozinha Dona Zeca que a 83 anos vem

trazendo alegria a todos que a cercam.

Por fim agradeço a todos os demais familiares, e principalmente aos amigos que

nunca me abandonaram ao longo dessa jornada.

RESUMO

Considerações quanto à lei de Biossegurança, nº 11.105/2005 que foi publicada com a

finalidade de normatizar e fiscalizar as pesquisas com organismos geneticamente

modificados, em especial tornar legal as pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil.

Análise de todos os benefícios prometidos por essas pesquisas e também de todas as

polêmicas geradas por elas. As opiniões de diversos países sobre a legalização dessas

pesquisas e os diferentes pensamentos religiosos sobre o tema. Análise dos artigos 5 º e 6º da

lei de Biossegurança, sua boa intenção e ao mesmo tempo o restringimento e

comprometimento dessas pesquisas. Demonstrando também de forma clara o posicionamento

do Supremo Tribunal Federal a respeito da constitucionalidade da lei, onde este alega que esta

é uma lei que veio para salvar vidas e não par destruí-las.

Palavras-chave: Lei de Biossegurança, nº 11.105/2005. Pesquisas com células-tronco

embrionárias. Constitucionalidade da lei. Biodireito.

ABSTRACT

Considerations regarding the Biosafety Act, No. 11.105/2005 which was published in order to

become legal the embryonic stem cells research in Brazil. Analysis of the concept of stem

cells, all of the benefits promised by the studies and also all the controversies generated by

them. The opinions of many countries on the many times discussed legalization of these

researches and the different religious thoughts on the subject. Analysis of Articles 5 and 6 of

the Biosafety Law, its good intention and at the same time the restraining and commitment of

these researches, demonstrating also in a clearly way the perspective of the Supreme Court

regarding the constitutionality of the law.

Keywords: Biosafety Law No. 11.105/2005. Embryonic stem cells reserches.

Constitutionality of the law

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15

2 A BUSCA POR UMA EXPLICAÇÃO DE ONDE SE ORIGINOU A VIDA ................ 17

2.1 Diferentes teorias sobre o início da vida ......................................................................... 18

3 COMO CHEGAMOS AS CÉLULAS-TRONCO ............................................................. 23

3.1 O que são células-tronco .................................................................................................. 24

3.2 Os benefícios prometidos pelas pesquisas com células-tronco embrionárias ............. 26

4.1 Análise sobre os artigos 5º e 6º da Lei de Biossegurança .............................................. 30

4.1.1. Art.5º da Lei 11.105/2005 .............................................................................................. 31

4.2 Art.6.º da Lei 11.105/200 .................................................................................................. 32

4.2.1 O que é clonagem ............................................................................................................ 32

4.2.2 Diferentes tipos de clonagem .......................................................................................... 33

5 A LEGALIZAÇÃO DAS PESQUISAS EM DIVERSAS PARTES DO MUNDO ........ 39

6 A RELIGIÃO E SUAS INFLUÊNCIAS NAS PESQUISAS COM CÉLULAS

TRONCO-EMBRIONÁRIAS- O INÍCIO DA VIDA ......................................................... 41

6.1 Islamismo ........................................................................................................................... 42

6.2 Hinduísmo ......................................................................................................................... 43

6.3 Budismo ............................................................................................................................. 44

6.4 Espiritismo ........................................................................................................................ 45

6.5 Catolicismo ........................................................................................................................ 47

7 DIREITO A VIDA .............................................................................................................. 51

7.1 Votação dos Ministros no Supremo Tribunal Federal .................................................. 52

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 59

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 63

15

1 INTRODUÇÃO

A cada dia que passa o mundo se moderniza cada vez mais em todas as áreas

possíveis, como por exemplo, nos meios automotivos, produção agropecuária, no consumo de

roupas, jóias, entre outras variáveis tecnologias.

Dentre todas essas áreas que vem se modernizando ao longo do tempo, uma de

grande importância para nossa civilização, é a área médica.

A medicina vem buscando de forma implacável cada vez mais meios para a cura de

doenças graves que muitas vezes são motivos de tristeza e desespero de várias famílias, que

sem esperar se deparam com elas tendo que ver seus entes queridos partindo sem ter nada o

que fazer para salvar suas vidas.

A ciência médica alega ter dado um grande passo para a cura dessas doenças, sendo

este, a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias.

Acontece que essas pesquisas ainda são motivo de grande discussão no cenários

mundial, muitas vezes por diversas entidades religiosas e também por uma parte da

população, que na maioria das vezes opinam de forma leiga sem saber ao certo a dimensão da

sua opinião.

É possível encontrar em diferentes partes do corpo humano outros tipos de células-

tronco que não sejam as embrionárias, sendo esta ultima mencionada as extraídas do próprio

embrião. Vale mencionar que essas diversas células tronco que podem ser encontradas em

nosso corpo, já estão sendo utilizadas em tratamentos de doenças. Tratamento estes que vem

tento resultados importantes e gratificantes para a medicina, podendo ser citado como

exemplo o ator Reinaldo Gianecchini, que utilizou células-tronco de seu próprio corpo no

tratamento de um câncer que enfrentava, e hoje se encontra curado de sua doença.

Mesmo sendo muito eficazes em tratamentos de doenças, segundo os cientistas

nenhuma célula é tão eficaz e promissora como as células embrionárias, sendo que essas

podem se converter em praticamente todos os tecidos do corpo humano.

As células-tronco tem esse nome por serem consideradas um tronco comum, de onde

se originam as demais células, sendo por esse motivo o qual os cientistas desejam tanto

pesquisá-las, uma vez que estas células embrionárias são especialmente versáteis, podendo

converter-se em qualquer um dos tecidos do organismo, sendo que somente o uso delas

poderia ser o método mais adequado para tratar de diversos tipos de doenças neuromusculares

degenerativas, que segundo pesquisas estatísticas realizadas, afeta uma a cada mil pessoas, ou

seja, cerca de duzentas mil pessoas só no Brasil.

16

De acordo com os cientistas a forma mais fácil para obtenção dessas células seria a

utilização de embriões estocados em clínicas de fertilização. Estes embriões depois de um

certo tempo congelado se tornam não aconselháveis mais para a implantação uterina, se

tornando assim “ embriões descartáveis”, que deveram ser jogados no lixo. Sendo assim o

cientistas alegam que esses embriões ao invés de serem descartados, deveriam ser utilizados

para a realização dessas pesquisas, contribuindo dessa forma para a evolução da ciência que

tem como principal finalidade salvar vidas.

Tendo explicado brevemente a importância dessas pesquisas, é importante entramos

no mundo jurídico a respeito do mencionado tema e também das polêmicas geradas por ele.

Em março de 2005, foi sancionada a Lei de Biossegurança nº 11.105, de 24 de março

de 2005, que veio para regular os incisos II e IV do §1º do art.225 da Constituição Federal de

1988, fixando regras para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio

ambiente de organismos geneticamente modificados.

O texto da mencionada lei permite que os cientistas brasileiros possam usar em

pesquisas de células- tronco embriões humanos, desde que congelados até o dia da publicação

e que tenham, no mínimo, 3 (três) anos de estocagem.Vale mencionar também que esta lei

veda a clonagem humana e a produção de embriões para a retirada de células-tronco, com o

objetivo terapêutico, sendo só permitido o uso de embriões que seriam, necessariamente,

descartados por clínicas de fertilização.

Apesar de todas as explicações dadas pelos cientistas quanto aos benefícios trazidos

por estas pesquisas, e todos os esclarecimentos prestados a respeito da forma de obtenção

dessas células, muitos ainda não se convenceram quanto a legalização da pesquisa, alegando

que o meio para a obtenção dessas células devem ser considerados ilegais.

Em diferentes partes do mundo o presente tema ainda gera polêmica, apesar de já

terem sido legalizada em diversos países, algumas entidades religiosas e certa parte da

população ainda acreditam que a legalização destas pesquisas é o mesmo que legalizar o

aborto.

Assim, é importante entendermos bem, o que são as células-tronco, sua forma de

obtenção, as diferentes teorias que defendem o início da vida, e uma boa interpretação da lei

11.105/2005, para que assim possamos formar uma opinião sólida , fundamentada e

verdadeira, e não uma “falsa” opinião baseada em informações ilusórias que lemos a todo

instante por aí.

17

2 A BUSCA POR UMA EXPLICAÇÃO DE ONDE SE ORIGINOU A VIDA

Durante muito tempo pessoas de toda parte do mundo tentam responder a seguinte

pergunta: De onde se originou a vida?

A teoria mais antiga sobre esse tema seria a da “Criação Divina”, sendo esta a mais

aceita até hoje por fiéis de diversas religiões. Segundo essa teoria um ser supremo “DEUS”,

foi o responsável pela criação de tudo que existe no universo, inclusive a vida de todos os

seres vivos existentes na terra.

Além da teoria da criação divina, várias outras teorias surgiram com o intuito de

explicar esse grande fenômeno que é a vida, como, por exemplo, a teoria do químico sueco

Svante Arrhenius, chamada de “Teoria Panspémica”, que trazia a idéia de que uma civilização

adiantada em alguma parte do universo talvez tivesse deliberadamente contaminando a Terra

com a vida como experiência, ou a teoria da “Grande Explosão”, mais conhecida como a

“Teoria do Big Bang”, que defendia a tese de que o universo está em constante expansão, e

que deveria assim ter se originado de uma grande explosão. Como estas, várias outras teorias

surgiram se esforçando cada vez mais para explicar o significado dessa palavra tão

importante, deixando ainda muitas dúvidas1.

A palavra “VIDA” rege o mundo, ela é responsável por todos os nossos sentimentos

e atitudes, e é com o intuito de preservá-la ao máximo que nos dedicamos cada vez mais para

compreendê-la e prolongá-la.

Não importa quantas teorias surgiram até hoje com o intuito de explicar o significado

dessa palavra, nenhuma delas foi capaz de explicar de fato o seu correto significado.

Há mais de dois mil anos, essa definição foi motivo de inquietação, é claro que para

poucos filósofos, uma vez que, apesar de todo ser humano fazer esta pergunta, nossa preguiça

é tanta que preferimos nos contentar em falar que “Vida é Vida” e pronto.

Porém, nos dias de hoje a ciência tenta aprofundar cada vez mais nesse conceito.

Atualmente tornou-se normal ouvirmos expressões como “proveta” e “manipulação”, e sendo

assim a pergunta sobre o que é a vida, e quando ela começa, se transformou em uma polêmica

que cresce a cada dia mais na nossa sociedade.

Atualmente, graças ao desenvolvimento da ciência, já é possível explicar muito a

respeito do início da vida. O astrônomo Galileu-Galilei (1554-1642), por exemplo, passou a

vida fugindo da Igreja por causa de seus estudos de astronomia, acontece que ironicamente foi

1 http://www.webartigos.com/artigos/celulas-tronco-mocinha-e-bandida/32440/.

18

através de uma de suas invenções, o telescópio, instrumento este fundamental para a criação

do microscópio, que foi possível um enorme avanço nas pesquisas científicas. Importante

salientar que a própria Igreja se pronunciou tempos depois, não só reconhecendo as grandes

descobertas do ilustre astrônomo, como também se pronunciou dizendo que a vida começa já

na união do óvulo com o espermatozóide.

Foi no século XVII, após a criação do mencionado aparelho, que os cientistas

começaram a compreender melhor o grande segredo da vida. O que nos leva a acreditar que a

medicina está mais próxima de ser uma ciência humana que biológica. Prova disso, é que

atualmente nos deparamos com cientistas se valendo de argumentos religiosos e religiosos se

valendo de argumentos científicos2.

Sendo assim, para uma melhor compreensão conheceremos algumas das várias

teorias que surgiram com o passar do tempo, definindo cada uma ao seu modo o início da

vida.

2.1 Diferentes teorias sobre o início da vida

Com o passar dos anos várias teorias surgiram no intuito de explicar da onde se

origina a vida. Grupos religiosos, cientistas e legislações de diferentes partes do mundo

definem de diversas maneiras quando se dá o início da vida do ser humano.

Em um artigo escrito pela autora Souza , na revista índex é possível termos a

dimensão de quantas teorias existem sobre o início da vida, e como suas diferentes

explicações causam polêmicas nos dias atuais, principalmente no que diz respeito a Lei

11.105/05, que foi aprovada com a finalidade de legalizar as pesquisas com células tronco

embrionárias em nosso país.

Dentre as teorias existentes veremos as principais, que são:

*Teoria Concepcionista: Esta é a teoria adotada pelos defensores da

inconstitucionalidade da lei, segundo esta o início da vida se origina a partir da fecundação do

óvulo pelo espermatozóide, sendo chamado este momento de concepção. Sendo assim, para

esta teoria deveria ser proibida as pesquisas com embriões, mesmo que fertilizados in vitro,

uma vez que isto implicaria em um crime, ou seja, aborto, pois haveria a destruição do

embrião já considerado ser humano com vida própria. Essa teoria é a adotada pela Igreja, e

também o nosso ordenamento jurídico, eis que o artigo 2º do Código Civil Brasileiro, prevê

2 http://wGww.webartigos.com/artigos/celulas-tronco-mocinha-e-bandida/32440/.

19

que “ a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo,

desde a concepção os direitos do nascituro”.

Segundo o representante da igreja o frei Antônio Moser, doutor em bioética, da

CNBB, “ a vida é humana desde o momento da fecundação”.

Assim, conclui-se que nesta teoria o embrião humano é um indivíduo em

desenvolvimento, que merece respeito e dignidade que é dado a todo homem, a partir do

momento da concepção3.

*Teoria da Nidação: Nesta segunda teoria ocorre o fenômeno da implantação

(nidação), e é com este que o embrião adquire vida. É pela implantação que o ovo adquire

viabilidade, e determina o estado gravídico da mulher, pois é a partir de então que os

hormônios femininos começam a se alterar.

Sendo assim, segundo esta teoria o embrião só passaria a adquirir vida com a sua

implantação no útero da mulher, considerando que antes apenas existia um aglomerado de

células que constituiria posteriormente os alicerces do embrião, esta teoria acredita que

somente com a implantação as células podem ser consideradas capazes de gerar um indivíduo.

A mencionada teoria é altamente defendida por um grande número de ginecologistas,

que alegam que o embrião fecundado em laboratório morre se não for implantado no útero da

mulher, não possuindo portanto, relevância jurídica. Para entender melhor esta teoria,

devemos salientar que segundo ela como o início da vida ocorre com a implantação e nidação

do ovo no útero materno, não existe nenhuma vida humana em um embrião fertilizado em

laboratório, não devendo ser alvo de proteção.

Em defesa dessa teoria, vem complementar Scarparo (1991, p.42): “Não seria viável

falar de vida humana enquanto o blastócito ainda não conseguiu a nidação, o que se daria

somente no sétimo dia, quando passa a ser alimentado pela mãe”4.

*Teoria Genético-Desenvolvimentista: De acordo com esta teoria, no início de seu

desenvolvimento o ser humano passa por uma série de fases: pré-embrião, embrião e feto,

sendo que em cada fase o novo ente em formação apresenta características diversas. Assim,

para esta teoria não existiria vida humana desde a concepção e, portanto não teria caráter

humano, o ser formado com a união de gametas, sendo seu início comparado com um mero

aglomerado celular.

3 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

4 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

20

O reconhecimento de sua dignidade e necessária proteção se dá em um segundo

momento, que é aquele no qual já é possível identificá-lo como único e individualizado, para

tanto há a necessidade de se estabelecer critérios de identificação dos elementos capazes de

determinar a sua individualidade. É difícil ser mantida essa teoria, uma vez que devido a

problemática dos diversos critérios de identificação de elementos capazes de determinar a

individualidade do novo ser, já que tais critério não possuem tamanha assertiva.

No que diz respeito a esta teoria explica, Meirelles (2000, p.114):

Entendem os adeptos da referida teoria, que o embrião humano, nas etapas

iniciais do seu desenvolvimento, não apresenta ainda caracteres suficientes a

individualizá-lo e, desse modo, identificá-lo e, desse modo, identificá-lo

como pessoa5.

*Teoria das Primeiras Atividades Celebrais: Segundo esta teoria, a definição da

vida pode ser buscada pelo inverso, ou seja, a morte. No século passado para a medicina a

morte acontecia quando uma pessoa parava de respirar ou quando o coração parava de bater,

nos dias de hoje foi criado um novo conceito pela medicina, a morte pode ser decretada

quando o cérebro deixa de funcionar, mas o coração ainda bate, sendo possível retirar os

órgãos para fins de transplante. Assim, se a vida acaba quando o cérebro para, seria lícito

supor que ela só começa quando o cérebro se forma, é o pensamento dos defensores da

corrente das primeiras atividades celebrais.

Existem algumas discussões sobre o exato momento em que se daria a formação

encefálica no feto, uma vez que a doutrina não é unânime nesse lapso temporal.

Assim, alguns cientistas dizem haver sinais celebrais na 8º semana, o feto já teria as

feições faciais mais ou menos definidas, e um circuito básico de 3 neurônios. Outra hipótese é

apontada para 20º semana, que é quando a mulher consegue sentir os primeiros movimentos

do feto, sendo nessa fase que o tálamo, a central de distribuição de sinais sensoriais dentro do

cérebro, esta pronto.

Verifica-se assim, que diz respeito a uma teoria em potencial, já que possui

fundamentação científica, mas falta provas de que ali já existe vida, e não seria apenas a

formação do sistema nervoso mais uma etapa do desenvolvimento embrionário.

Adeptos a essa teoria cite-se primeiramente, Barroso apud Siqueira:

Se a vida humana se extingue, para a legislação vigente, quando o sistema nervoso

pára de funcionar, o início da vida teria lugar apenas quando este se formasse, ou

5http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

21

pelo menos, começasse a se formar. E isso ocorre por volta do 14º dia após a

fecundação, com a formação da chamada placa neural.

Já a Vice-Presidente da Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil,

Melaré (2005) relata:

Esse critério para a definição do momento da morte, para fins de doação de órgãos,

absolutamente pragmático, deve servir de orientação para a definição do início da

vida, em termos legais. Nesse sentido, o embrião humano, ainda sem atividade

encefálica, pode ser utilizado para pesquisas em prol de outras vidas humanas.6.

*Teoria Da Potencialidade Da Pessoa Humana: Classifica o embrião como ser

humano desde a concepção, não se afastando a idéia dele vir a se tornar humano, a corrente

aponta ao embrião desde o primeiro momento de sua existência uma autonomia que não é

“humana” nem “biológica”, e sim “embrionária”. A mencionada corrente assegura que o ovo,

formado da fecundação do óvulo pelo espermatozóide contém potencialmente o ser completo

que virá a ser mais tarde.

Salienta Bernard ( apud Meirelles, 2000, p.138),o seguinte posicionamento:

Porém o que a teoria assegura e que, desde o momento da concepção, encontram-se

no genoma do ser que se forma as condições necessárias para o seu completo

desenvolvimento biológico. Ainda que insuficientes tais condições são necessárias,

o que vem a significar que desde a concepção existe a potencialidade e a

virtualidade de uma pessoa.

Isto significa que as propriedades características da pessoa humana, ou seja, todo

material genético, já estão presentes no embrião, em estado de latência. Sendo assim, segundo

essa teoria o embrião deve ser considerado como uma pessoa em potencial, necessita de

amparo jurídico para que não seja tratado como objeto, e que lhe assegure a vida e dignidade

que lhe são inerentes7.

*Teoria Natalista: Defende que a personalidade da pessoa tem início a partir do seu

nascimento com vida. O nascituro é considerado um ser em potencial, pois para que tenha os

direitos que lhe são assegurados ainda em sua existência intra-uterina é necessário que nasça

com vida. O nascituro revela-se um ser com expectativa de direitos. Assim, para os natalistas,

o nascituro não é considerado pessoa, e apenas tem, desde sua concepção, uma expectativa de

direitos, pois tudo depende do seu nascimento com vida.

6 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

7 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

22

A teoria defende que o fato de afirmar que a personalidade tem início a partir do

nascimento com vida, não quer dizer que o nascituro não tenha direito antes do nascimento.

Se o nascituro, durante toda a fase intra-uterina, tivesse personalidade, não haveria

necessidade de o Código distinguir, os direitos, ou melhor, a expectativa de direitos que se

consolidam com o nascimento com vida.

Assim a mencionada teoria entende que o nascituro não tem personalidade jurídica

nem capacidade de direitos, sendo protegido pela lei apenas os direitos que terá possivelmente

ao nascer com vida, os quais são taxativamente enumerados pelo Código Civil 8.

Como visto são inúmeras as teorias que buscam definir o início da vida, e podemos

dizer que é graças a toda essa diversidade de pensamentos que nos distanciamos cada vez

mais de chegar a um consenso razoável, para que assim aumente as chances de resolução para

os problemas que assombra nossa humanidade, que apesar de tantos recursos, ainda é

extremamente frágil. Fragilidade esta que pode ser atribuída, a desunião e a falta de respeito

que atinge tanto a nossa civilização.

8 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773.

23

3 COMO CHEGAMOS AS CÉLULAS-TRONCO

Foi a busca incessante pela origem da vida que na evolução de suas pesquisas ao

longo de anos, que os cientistas descobriram as tão faladas célula-tronco.

Em 1998, o cientista James Thonson9 conseguiu pela primeira vez isolar células-

tronco embrionárias, e a partir daí surgiram nos anos posteriores, evidências sobre a

capacidade destas células em se transformar em qualquer outra célula especializada e sobre o

seu potencial em regenerar órgãos e tecidos do nosso organismo.

Importante salientar que a idéia de utilizar células-tronco, com a finalidade de reparo

de tecidos lesados já existe desde a metade do século passado, quando um patologista viu que

uma célula-tronco indiferenciada era capaz de reproduzir vários tipos de tecidos tumorais. Foi

a partir daí que as pesquisas científicas a respeito desse tema evoluíram em várias direções,

procurando entender assim a enorme plasticidade dessas células.

A cada dia que passa os cientistas trabalham mais e mais na busca de conseguir

decifrar as inúmeras possibilidades terapêuticas que essas células proporcionam. A produção

de diferentes tipos de células em laboratórios e sua utilização para recuperar tecidos ou órgãos

lesados está deixando de ser um sonho para humanidade.

Acontece que para realização desse sonho é necessário saber ao certo os meios a

serem utilizados, sua real finalidade e suas conseqüências.

O povo brasileiro é conhecido por sua simpatia, carisma e principalmente por ser um

povo muito afetuoso e acolhedor. E é devido a esses sentimentos de dependência que todo ser

humano possui, que a cada dia que passa desejamos mais o prolongamento da vida de quem

amamos.

Com o passar dos anos, vários órgãos e tecidos do nosso corpo perdem

progressivamente sua capacidade de funcionamento, seja por alguma doença desenvolvida em

nosso organismo ou através do processo de envelhecimento. Sendo assim, há um grande

número de casos que necessitam da reposição desses órgãos, que hoje em dia normalmente

são supridos através de programas de transplantes de órgãos.

Apesar de os transplantes ser uma opção de grande importância para salvar vidas,

enfrentamos um grande problema. Esses programas atendem uma fração muito pequena de

pacientes, seja pela escassez de doadores, ou pela atual incapacidade de transplante de

9 http://www.webartigos.com/artigos/celulas-tronco-mocinha-e-bandida/32440/.

24

determinados órgãos e tecidos, como, por exemplo, o muscular e o nervoso. Devendo se levar

em consideração também que os transplantes de órgãos existentes tem um alto custo, o que é

de particular importância para a saúde pública no Brasil, já que são pagos pelo Ministério da

Saúde.

É fato que a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, promete

inúmeros benefícios terapêuticos em casos de doenças graves, como doenças coronarianas,

doenças do coração, doenças degenerativas musculares e do envelhecimento, e

principalmente, as doenças endócrinas e do sistema nervoso, ou seja, diabetes, síndromes de

Addison, mal de Parkinson, doenças de Alzehimerm, esclerose múltipla, entre tantas outras.

Resta saber até onde essas promessas podem realmente beneficiar nossa população, afinal é

importante saber que existe uma longa estrada que distancia as promessas da realidade, e nem

sempre promessas se tornam a realidade que desejamos.

De qualquer forma para podermos formar uma opinião mais fundamentada a respeito

da legalização dessas pesquisas, vamos conhecer um pouco mais sobre o que é as células-

tronco, e suas promessas de cura.

3.1 O que são células-tronco

Ás células-tronco receberam este nome por serem consideradas um tronco comum,

da onde se origina as demais células.

Existem basicamente dois tipos de células-tronco, sendo estas: as adultas, que são

encontradas no cordão umbilical, placenta, tecidos e na medula óssea, existindo também, as

denominadas células-tronco embrionárias, as quais são encontradas nos embriões.

As células adultas apesar de serem muito eficazes e também ajudarem no tratamento

de doenças, não possuem a capacidade de originar todos os tecidos, sendo esse o principal

motivo pelo qual os cientistas desejam tanto pesquisar as células embrionárias, uma vez que

essas são especialmente versáteis, podendo converter-se em qualquer um dos tecidos do

organismo, sendo que somente com o seu uso poderiam ser tratados diversos tipos de

doenças, como por exemplo as doenças neoromusculares degenerativas, que segundo

pesquisas estatísticas realizadas em nosso país, a mencionada doença afeta um a cada mil

brasileiros, ou seja, cerca de duzentas mil pessoas só em nosso país.

Sendo assim, de uma maneira simples, as células-tronco são definidas como células

mestras que possuem a capacidade de se transformar em outros tipos de células, incluindo as

do cérebro, coração, ossos, músculos e pele, dentre outros. A diferenciação celular trata-se do

25

processo através do qual surgem diferenças estáveis entre as células. Todos os organismos

superiores desenvolvem-se a partir de uma única célula, o óvulo fertilizado, que dará origem

aos diversos tecidos e órgãos.

As células-tronco, células-mães ou células estaminais são células que possuem a

melhor capacidade de se dividir dando origem a células semelhantes, às progenitoras.

Há três possibilidades de extração das células-tronco. Podem ser adultas,

mesenquimais ou embrionárias.

As células embrionárias são encontradas no embrião humano e são classificadas

como totipotentes ou pluripotentes, devido ao seu poder de diferenciação celular de outros

tecidos. A utilização de células estaminais embrionárias para fins de investigação e

tratamentos médicos varia de país para país, em que alguns a sua investigação e utilização é

permitida, enquanto em outros países é ilegal.

Já as células adultas, são encontradas em diversos tecidos, como a medula óssea,

sangue, fígado, cordão umbilical, placenta, e outros. Estudos recentes mostram que estas

células-tronco têm uma limitação na sua capacidade de diferenciação, o que dá uma limitação

de obtenção de tecidos a partir delas.

E também tem as células mesenquimais, que são uma população de células do

estroma do tecido (parte que dá sustentação ás células), têm a capacidade de se diferenciar em

diversos tecidos. Por conta desta plasticidade, essas células têm sido utilizadas para reparar ou

regenerar tecidos danificados como ósseo, cartilaginoso, hepático, cardíaco e neural. Além

disso, essas células apresentam uma poderosa atividade imunossupressora, o que abre a

possibilidade de sua aplicação clínica em doenças imunomediadas, como as auto-imunes e

também nas rejeições aos transplantes. Em adultos, residem principalmente na medula óssea e

no tecido adiposo10

.

Assim, as células-tronco são como coringas, ou seja, células neutras que ainda não

possuem características que as diferenciem como células da pele ou do músculo.

É essa capacidade em se diferenciar em outros tecidos que têm chamado a atenção

dos cientistas. A cada dia que passa pesquisas mostram que as células-tronco podem

recompor tecidos danificados e tratar um inflável número de problemas, como alguns tipos de

câncer, o mal de Parkinson e o Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou até mesmo

fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar .

10

HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula-tronco.

26

Nos dias de hoje podemos dizer que sobram esperanças e faltam pesquisas, afinal por

mais que já tenha um tempo considerável em que se ouve falar nessas pesquisas, estas ainda

se encontram em período inicial, e exigem um longo caminho a ser percorrido até que se

obtenha um resultado de fato.

Importante salientar, que mesmo já havendo algumas conquistas importantes como,

por exemplo, o apoio quanto à realização dessas pesquisas, já tendo sido aprovada uma lei de

Biossegurança em 2005, os cientistas lutam cada vez mais por um espaço maior, desejando

agora que seja aprovada a manipulação de embriões em busca de conseguirem um número

maior de células-tronco para serem estudadas.

Devemos levar em conta que às vezes poderá trazer mais resultados, o fato de

aproveitarmos e valorizarmos o que já temos, ao invés de criarmos cada vez mais obstáculos

para a realização dessas pesquisas. Pois a partir do momento que os resultados começarem a

aparecer, novas portas se abrirão naturalmente e com mais facilidade para a evolução tão

desejada pelos cientistas.

3.2 Os benefícios prometidos pelas pesquisas com células-tronco embrionárias

Os benefícios prometidos pela realização dessas pesquisas são inúmeros, e é o grande

motivo pelo qual famílias do mundo inteiro que enfrentam casos de graves doenças a desejam

depositando nessas pesquisas tanta esperança.

As pesquisas com células-tronco prometem grandes avanços para medicina, pois

essas células podem ser utilizadas para substituir células que o organismo deixa de produzir

por alguma deficiência, ou em tecidos lesionados ou doentes. A mencionada pesquisa sustenta

a esperança humana de encontrar tratamento, e talvez até mesmo a cura para doenças que até

pouco tempo eram consideradas incontornáveis, como diabetes, esclerose, infarto, distrofia

muscular, Alzheimer e Parkinson.

É fato que as células-tronco adultas também são de grande importância e fonte de

tratamento pra determinadas doenças graves, mas o enorme desejo dos cientistas no estudo

são nas células embrionárias, uma vez que esses alegam que essas células são as únicas com

a capacidade de se diferenciar em todos os 216 tecidos que constituem o corpo humano, o que

não é proporcionado pelas células adultas, uma vez que estas somente tem a capacidade de

dar origem a um número restrito de tecidos (exemplo: as células da medula óssea formam

apenas células que formam o sangue, como glóbulos vermelhos e linfócitos).

27

Em nosso país algumas pesquisas já vêem sendo desenvolvidas. Na Bahia,

pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz estão tratando com sucesso cardiopatias causadas

pela doença de Chagas. No hospital Pró-Cardíaco do Rio de Janeiro e no Instituto do Coração

de São Paulo, células-tronco são usadas em pacientes que sofreram infarto. Também há

estudos em vítimas de lesões medulares, diabetes do tipo 1, esclerose múltipla e artrite11

.

Basicamente a grande motivação da realização das pesquisas com células-tronco

estão depositadas na esperança das pessoas acometidas por doenças graves e sem chances de

cura, que acreditam cada vez mais no que prometem a realização destas pesquisas.

Um caso que explica bem toda essa esperança é o do estudante Sergio Pompeu

Barreira que dificilmente sai á noite. Prefere ficar na sua casa, em Brasília, debruçado sobre

livros de português e história. Aos 17 anos, ele se prepara para prestar vestibular para

jornalismo e só não dedica mais tempo aos estudos porque tem as tardes ocupadas com

sessões de fisioterapia e atividades dentro da piscina. Faz parte da indicação médica para

retardar os efeitos da distrofia muscular de Duchenne, doença genética degenerativa que afeta

meninos. Ela se manifesta por volta dos 5 anos e, pouco a pouco, paralisa todos os músculos

do corpo. A morte por parada respiratória acontece, em geral, ao redor dos 25 anos, quando o

diafragma deixa de funcionar. Segundo o pai de Serginho, o engenheiro Sergio Barreira, seu

filho vai viver muito mais e será um grande comentarista esportivo. É com uma grande

esperança de ver seu filho salvo, e brigando como um leão para salvar sua vida, que o pai de

Serginho se tornou um dos membros mais combatentes da ONG Movitae, que foi criada para

lutar pela legalização no Brasil das pesquisas com células-tronco extraídas de embriões

humanos12

.

Existem inúmeros casos pelo o mundo afora como o do Serginho, e são esses casos

que motivam cada vez mais a realização dessas pesquisas, é a esperança de ver quem amamos

felizes e saudáveis junto de nós pelo o maior tempo possível.

A motivação é grande por um lado, mas a rejeição também é por outro. É preciso

estudarmos a fundo e saber respeitar as limitações da ciência, é preciso analisar calmamente

os meios utilizados para realização dessas pesquisas, as reais intenções de quem as realizam, e

acima de tudo é preciso que haja respeito às diferentes opiniões, à vida, aos doentes, e saber

ao certo os pontos positivos e negativos que envolvem a realização de um feito dessa

dimensão, para que assim a ciência possa evoluir cada vez mais, mas com o intuito de trazer

11

HTTP://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/celulas_tronco/11.html. 12

HTTP://claudia.abril.com.br/materia/celulas-tronco-uma-discussao-que-vale-vidas-1791/?p=/comportam.

28

apenas o bem para um todo, e não utilizar suas conquistas para proporcionar benefícios para

uma minoria.

29

4 LEI DE BIOSSEGURANÇA

No Brasil foi promulgada a Lei de Biossegurança em 24 de março de 200513

, com o

intuito de estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que

envolvam organismos geneticamente modificados- OGM e seus derivados, criando o

Conselho Nacional Biossegurança- CNBS, reestruturando a Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança- CTNBio e dispondo sobre “ a Política Nacional de Biossegurança- PNB”,

dentre outras providências.

Apesar da lei de Biossegurança tratar da fiscalização das atividades relacionadas a

todos os organismos geneticamente modificados e seus derivados, focaremos em um

específico.

A mencionada lei veio para tornar possível o uso de embriões humanos em pesquisas

científicas, tornando legal as chamadas pesquisas de células-tronco embrionárias, conforme

comprova o seu art.5º.

Art.5º

É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de célula-

tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por

fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,

atendidas as seguintes condições:

I- sejam embriões inviáveis; ou

II- sejam embriões congelados há 3(três) anos ou mais, na data da

publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação

desta Lei, depois de completarem 3(três) anos, contados a partir da

data de congelamento.

§1º Em qualquer caso é necessário o consentimento dos genitores.

§2º Instituições de pesquisa e serviço de saúde que realizem pesquisa

ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão

submeter seus projetos à apreciação e a aprovação dos respectivos

comitês de ética em pesquisa.

Importante mencionar também para uma melhor compreensão do nosso tema o art.6º

da lei 11.105/05. “Art.6º. Fica proibido:[...] IV- clonagem humana”.

Apesar da proibição ampla da clonagem humana tornar ilegal a clonagem

terapêutica, a aprovação do uso de embriões congelados para pesquisa permite o

13

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm.

30

desenvolvimento de novas linhagens de células-tronco embrionárias humanas no Brasil, o que

para muitos pesquisadores é considerado fundamental para a consolidação dessa área de

pesquisa no país

A verdade é que o uso dessas células que prometem a efetiva cura de inúmeras

doenças ainda estão longe de alcançar seu objetivo. É preciso muitas pesquisas, para que esse

sonho tenha algum dia chance de realmente se realizar. Sendo também necessário

entendermos que a lei 11.105/2005, não veio para legalizar a promessa de cura como muitos

imaginavam mais sim o estudo dessas células, a realização de pesquisas com essa finalidade.

4.1 Análise sobre os artigos 5º e 6º da Lei de Biossegurança

Para todos que acreditavam nas pesquisas com células-tronco embrionárias, a

aprovação da Lei de Biossegurança significaria a resolução de todos os seus problemas, seria

mais que aprovação de uma lei, seria um avanço indescritível e certo no mundo científico, e a

cura de todas as enfermidades desacreditadas que até aquela data não seria mais um sonho e

sim realidade.

Infelizmente as coisas não aconteceram bem assim. A lei realmente foi aprovada,

digamos que até com um bom propósito, mas como tudo na vida com algumas falhas, falhas

essas que vem trazendo graves conseqüências para nossa sociedade.

O grande avanço que era tão certo e indescritível para o mundo científico se encontra

estagnado, prova disso é que a aprovação dessa lei foi em 2005, e hoje no ano de 2012 não

ouvimos mais com tanta freqüência noticias sobre os avanços das pesquisas que envolvem as

células tronco. As curas tão sonhadas e prometidas que com aprovação dessa lei se tornariam

realidade ainda continuam apenas nos sonhos, principalmente no sonho daqueles que lutaram

tão bravamente pela aprovação dessa lei, no intuito de ver seus problemas físicos ou

neorológicos serem resolvidos brevemente.

O que se encontra na verdade nos dias de hoje sobre o determinado assunto são

muitas expectativas e poucas notícias de trabalho.

Sendo assim, no meio de tantas dúvidas, polêmicas e contradições vamos analisar os

artigos dessa lei que tratam das tão desejadas pesquisas, no intuito de compreendermos ao

certo a sua finalidade.

31

4.1.1. Art.5º da Lei 11.105/2005

De acordo com o art.5º da lei de Biossegurança, já devidamente transcrito acima, a

legalização da pesquisa com células tronco embrionárias não seria motivo de tanta polêmica,

uma vez que as células utilizadas para o desenvolvimento das pesquisas seriam células

inviáveis para a fertilização, ou células congeladas há mais de 3(três) anos, que são quando

também se tornam inviáveis para serem implantadas dentro do útero materno, por terem seu

desenvolvimento comprometido.

Mesmo assim, ainda tem os que defendem as várias teorias que explicam o momento

do qual a vida se origina, criticando a prática da fertilização “in vitro”. Devemos levar em

conta que essa é uma prática que já vem sendo utilizada há muitos anos, totalmente

legalizada, não sendo mais motivo de polêmica, uma vez que a maior parte da população não

só aceita como também se acostumou, normalizou a pratica da fertilização em laboratórios.

Acontece que as coisas não são tão simples quanto parecem, o artigo quinto apesar

de ter sido bem formulado e ter uma boa intenção ao querer legalizar essas pesquisas não se

preocupou com o futuro da mesma.

Afinal a partir do momento em que ele determina as duas condições explicitas nos

seus incisos I e II, ele limita muito o número dessas pesquisas, uma vez que o número de

células disponíveis para as pesquisas são poucas e os estudos necessários para descobrir ao

certo todo o potencial de cura das células tronco é grande.

E é daí que vem a grande briga entre cientistas, população e grupos religiosos. Os

cientistas alegam que não possuem assistência, nem material genético necessário com

disponibilidade para a realização das pesquisas. E para atender a suas exigências, seria

necessário ou a legalização da clonagem terapêutica, ou uma possível liberação de doações de

embriões abandonados em clínicas para as pesquisas antes de completarem os 3 (três) anos. O

que para os grupos religiosos e a população seria um verdadeiro absurdo porque se pagaria

um preço muito alto pelas mencionadas pesquisas, afinal elas seriam feitas a partir da

destruição desenfreada de vários embriões.

É preciso admitir que as duas partes tem razão, os cientistas estão certo ao se

preocuparem com o futuro das pesquisas, uma vez que não existe material genético suficiente

para o seu desenvolvimento. E a população e seus lideres religiosos também estão certos em

se preocupar, afinal não podemos permitir que uma causa tão nobre se torne mais um tipo de

32

comercio sujo, fonte de um dinheiro desonesto em nosso país, uma vez que para muitos essa

prática poderia resultar em uma manipulação, ou produção de embriões desenfreada.

4.2 Art.6.º da Lei 11.105/200

O art.6º, veio para proibir expressamente a clonagem, sendo esse também um grande

motivo de polêmica no que diz respeito às pesquisas com células- tronco embrionárias.

Os cientistas, como anteriormente já mencionado, alegam que um dos grandes

problemas para o desenvolvimento com as pesquisas é a escassez do material genético

necessário para a sua realização.

Um dos meios para a resolução desse problema oferecido pelos cientistas seria a

clonagem de embriões.

Solução esta que foi expressamente vedada pelo artigo 6º da lei 11.105/2005.

Para entender melhor as expectativas do cientistas quanto aos procedimentos da

clonagem devemos conhecer melhor o seu significado e em que os cientistas acreditam que

ela possa ajudar.

4.2.1 O que é clonagem

Clonagem é a produção de indivíduos geneticamente iguais. É um processo de

reprodução assexuada que resulta na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um

mesmo ser vivo – micro-organismo, vegetal ou animal.

A reprodução assexuada é um método próprio dos organismos constituídos por uma

única ou por um escasso número de células, por via de regra absolutamente dependentes do

meio onde vivem e muito vulneráveis às suas modificações.

Clonagem em biologia é o processo de produção das populações de indivíduos

geneticamente idênticos, que ocorre na natureza quando organismos, tais como bactérias,

insetos e plantas se reproduzem assexuadamente. Clonagem em biotecnologia refere-se aos

processos usados para criar cópias de fragmentos de DNA (Clonagem molecular), células

(Clonagem Celular), ou organismos. Mas genericamente, o termo refere-se à produção de

várias cópias de um produto, tais como os meios digitais ou de software14

.

14

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem..

33

4.2.2 Diferentes tipos de clonagem

Existem diferentes modalidades na área da clonagem, sendo importante aqui citar

algumas delas, para podermos diferenciar cada uma quando devidamente necessário.

*Clonagem natural: podemos dizer que a clonagem é natural em todos os seres

originados a partir de reprodução assexuada (ou seja, na qual não há participação de células

sexuais), como é o caso das bactérias, dos seres unicelulares e mesmo da relva do jardim.Pode

ocorrer também a clonagem natural em mamíferos, como no tatu e nos gêmeos univitelinos.

Nestes dois casos, embora haja reprodução sexuada na formação do ovo, os descendentes

idênticos têm origem a partir de um processo assexuado de divisão celular. Os indivíduos

resultantes da clonagem têm, geralmente, o mesmo genótipo, isto é, o mesmo gene, ou

patrimônio genético15

.

*Clonagem induzida: já a clonagem induzida é realizada a partir de um processo no

qual é retirado de uma célula o núcleo , e de um óvulo a membrana. A junção dos dois

posteriormente é colocada em uma barriga de aluguel, ou mesmo poderá ser colocado em

laboratório, para a clonagem terapêutica.

A clonagem induzida artificialmente é uma técnica da engenharia genética aplicada

em vegetais e animais, ligada à pesquisa científica. Nesse caso, o termo aplica-se a uma forma

de reprodução assexuada produzida em laboratório, de forma artificial, baseada num único

patrimônio genético. A partir de uma célula-mãe, ocorre a produção de uma ou mais células

(idênticas entre si e à original), que são os clones. Os indivíduos resultantes desse processo

terão as mesmas características genéticas do indivíduo "doador", também denominado

"original"16

.

*Clonagem reprodutiva: Uma das técnicas básicas usadas por cientistas é a

transferência nuclear da célula somática (SCNT ou TNCS). Esta técnica foi usada por

cientistas durante muitos anos, para clonar animais através de células embrionárias.

Como o nome da técnica implica, a transferência de uma célula somática está

envolvida neste processo. Esta célula somática é introduzida, então, numa célula retirada de

15

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem. 16

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem.

34

um animal (ou humano), logo depois da ovulação. Antes de introduzir a célula somática, o

cientista deve remover os cromossomos, que contêm genes e funcionam para continuar a

informação hereditária, da célula recipiente.

Após ter introduzido a célula somática, as duas células fundem. Ocasionalmente, a

célula fundida começará a tornar-se como um embrião normal, produzindo a prole,

colocando-se no útero de uma "mãe de aluguel" para um desenvolvimento mais propício17

.

Os problemas associados com a técnica de SCNT são o stress em ambas as células

envolvidas no processo. Isto resulta numa taxa elevada de mortalidade de ovos recipientes.

Além disso, o processo inteiro é um consumo de tempo e de recursos, porque as partes deste

requerem o trabalho manual sob microscópio. Similar a outras técnicas, esta é também

ineficiente pois, apenas aproximadamente 2,5% dos embriões sobrevivem dado logo após o

nascimento18

.

*Clonagem terapêutica: E por fim temos a tão falada no presente trabalho, a

clonagem terapêutica, que é um procedimento cujos estágios iniciais são idênticos à clonagem

para fins reprodutivos mas que difere no fato da blástula (segundo estado de desenvolvimento

do embrião) não ser introduzida no útero: esta é utilizada em laboratório para a produção de

células estaminais a fim de produzir tecidos ou órgãos para transplante.

Esta técnica tem como objetivo produzir uma cópia saudável do tecido ou do órgão

de uma pessoa doente para transplante. As Células embrionária/células-tronco embrionárias

são particularmente importantes porque são multifuncionais, isto é, podem ser usadas em

diferentes tipos de células. Podem ser utilizadas no intuito de restaurar a função de um órgão

ou tecido, transplantando novas células para substituir as células perdidas pela doença, ou

substituir células que não funcionam adequadamente devido a defeito gene/genético

(ex:neurônio/doenças neurológicas,diabetes, coração/problemas cardíacos, Acidente vascular

cerebral, lesões da coluna cervical e sangue/doenças sanguíneas etc… ).

As células-tronco adultas não possuem essa capacidade de transformarem-se em

qualquer tecido. As células músculo/musculares vão originar células musculares, as células do

fígado vão originar células do fígado, e assim por diante19

.

Para os cientistas além de entendermos bem os diferentes tipos de clonagem é

essencial compreender e termos conhecimento dos benefícios que alguns tipos de clonagem

pode trazer.

17

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem. 18

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem.

19 http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem.

35

Quando nos deparamos com o tema clonagem humana, pensamos logo em um ser

humano sendo clonado, uma vez que o marco das experiências de clonagem foi a ovelha

Dolly ( onde conseguiram dar vida ao clone de uma ovelha), mais na verdade as coisas não

são bem assim.

Hoje em dia ouvimos muito falar na famosa clonagem terapêutica, que se refere a

clonagem de células humanas com o intuito de reproduzir em laboratórios uma cópia saudável

de um tecido ou órgão de uma pessoa doente para fins de transplantes e a cura de doenças que

até hoje são consideradas incuráveis.

Assim, vamos conhecer alguns dos benefícios que os cientistas acreditam que o

procedimento de clonagem podem causar, tais como:

o rejuvenescimento; O Dr. Richard Seed, um dos principais propulsores da

clonagem humana, sugere que um dia, poderá vir a ser possível inverter o processo do

envelhecimento devido à aprendizagem que nos é fornecida através do processo de clonagem;

a tecnologia humana da clonagem podia ser usada para inverter os ataques

cardíacos; os cientistas afirmam que conseguirão tratar vítimas de ataques cardíacos através

da clonagem das suas células saudáveis do coração, e injetando-as nas áreas do coração que

foram danificadas. As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte em grande parte

dos países industrializados;

casos de infertilidade; com a clonagem, os casais inférteis poderiam ter filhos.

Uma estimativa é de que os tratamentos atuais de infertilidade são menos de 10% bem

sucedidos. Os casais passam por um sofrimento psíquico e emocional muito grande, para uma

possibilidade remota de ter filhos; a clonagem humana torna possível fazer com que muitos

casais inférteis consigam ter filhos;

a cirurgia plástica reconstrutiva e estética; devido à clonagem humana e à sua

tecnologia, os problemas, que, por vezes, ocorrem depois de algumas cirurgias de implantes

mamários ou de outros procedimentos estéticos deixam de existir. Com a nova tecnologia, em

vez de usar materiais estranhos ao corpo, os médicos serão capazes de manufaturar o osso, a

gordura, ou a cartilagem que combina os tecidos dos pacientes exatamente; qualquer um

poderá ter a sua aparência modificada para sua satisfação, sem riscos de doença; as vítimas

dos acidentes terríveis que deformam o rosto (por exemplo), devem assim conseguir voltar a

ter as suas características, sendo reparadas e de maneira mais segura; os membros amputados

também poderão vir a ser regenerados;

implantes mamários; muitas pessoas verificaram que os implantes mamários as

faziam ficar doentes, com doenças próprias dos seus sistemas imunes, devido a algumas

36

incompatibilidades produzidas por materiais usados no aumento de peito; com a clonagem

humana e a sua tecnologia de implantes mamários e outros formulários da cirurgia estética,

poderia ser feito com implantes que não seriam diferentes dos tecidos normais da pessoa;

genes defeituosos; cada pessoa carrega em média 8 genes defeituosos dentro

dela. Estes genes defeituosos permitem que as pessoas fiquem doentes quando permaneceriam

doutra maneira, saudáveis. Com a clonagem e a sua tecnologia pode ser possível assegurar-se

de que não soframos mais por causa dos nossos genes defeituosos.

casos de Síndrome de Down; as mulheres com risco elevado para a Síndrome

de Down poderão evitar esse risco através da clonagem.

problemas no fígado e nos rins; poderá ser possível clonar fígados humanos

para transplante dos mesmos;

a leucemia; este espera-se ser um dos primeiros benefícios a vir desta

tecnologia;

vários tipos de câncer; poderemos aprender como trocar células, „„on‟‟ and

„„off‟‟, através da clonagem, e assim, ser capaz de curar diversos câncer; os cientistas ainda

não sabem exatamente se as células se diferenciam em tipos específicos do tecido, nem

compreendem porque células cancerígenas perdem o seu isolamento;

fibrose cística; poderemos conseguir produzir uma terapia genética eficaz

contra a fibrose cística. Alguns cientistas já se encontram a trabalhar nesta área;

ferimento da coluna vertebral; aprenderemos a fazer crescer, outra vez, os

nervos ou a parte posterior da coluna vertebral, quando magoada; tetraplégicos poderão sair

das suas cadeiras de rodas e voltar a andar;

testar algumas doenças genéticas; a clonagem pode ser usada para testar, e

talvez curar, doenças genéticas;

as espécies em via de extinção poderiam ser salvas - com a pesquisa que

conduz à clonagem humana nós aperfeiçoaremos a tecnologia para clonar animais, e assim

nós poderíamos para sempre preservar a espécie posta em perigo, incluindo seres humanos20

.

Mesmo sendo demonstrado todos os possíveis benefícios que a clonagem pode

trazer, a discussão em sua volta ainda é muito grande e o medo de sua liberação também.

Vários estudiosos e principalmente grupos religiosos acreditam que a legalização da

clonagem fere gravemente nosso ordenamento jurídico, sendo considerado por estes a

20

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem

37

liberação da mencionada pratica um desrespeito a dignidade humana, e uma afronta ao direito

a vida devidamente protegido em nossa Constituição.

Todavia, tendo em vista o benefícios promissores da clonagem terapêutica, devemos

considerar que essa prática não deve ser banida como se fosse uma praga a ser extirpada do

meio científico.

Mais também, é necessário que a ousadia da ciência esteja sempre agindo com

respeito e prudência a ética.

Afinal é preciso que a ciência encontre um ponto de equilíbrio capaz de aquietar as

polêmicas, dúvidas e inseguranças trazidas a tona pela biotecnologia.

Sendo assim, fazendo uma análise do mencionado artigo mais uma vez nos

deparamos com falhas na formulação da lei de Biossegurança, ao mesmo tempo que ela

legaliza as pesquisas com células tronco embrionárias, ela a delimita de tal modo que as deixa

cada vez mais comprometida.

A grande intenção nessa análise é saber ao certo até onde essa lei veio para beneficiar

as pessoas que tanto as desejaram, se de fato sua legalização é benéfica e realmente útil em

nosso cotidiano, uma vez que mesmo tendo vindo para ajudar deixou tantas lacunas que as

vezes fica difícil saber ao certo seus bons e malefícios.

39

5 A LEGALIZAÇÃO DAS PESQUISAS EM DIVERSAS PARTES DO MUNDO

As pesquisas com células tronco embrionárias são discutidas, desejadas e repudiadas

em diferentes países em nosso planeta.

Sendo assim, explanemos brevemente sobre a opinião de diferentes países quanto a

legalização das pesquisas com células-tronco embrionárias, sendo estes:

África do Sul- é permitido todas as pesquisas com embriões, inclusive a

clonagem terapêutica. É importante mencionar que até então é o único país africano que se

tem notícias que possui legislação a respeito do mencionado tema.

Alemanha- permite a pesquisa com linhagem de células- tronco existentes e

sua importação, mas proíbe a destruição de embriões.

Brasil- como já mencionado no decorrer dessa pesquisa o Brasil permite a

utilização de células-tronco produzidas a partir de embriões humanos para fins de pesquisa e

terapia, desde que sejam embriões inviáveis ou estejam congelados há mais de três anos. Em

todos os casos, é necessário o consentimento dos pais. A comercialização do material

biológico é crime. Sendo válido também mencionar que em 29 de maio 2008 o STF

confirmou que a lei em questão é constitucional.

China- permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Coréia do Sul- permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Estados Unidos- proíbe a aplicação de verbas do governo federal a qualquer

pesquisa envolvendo embriões humanos ( a exceção é feita para 19 linhagens de células-

tronco derivadas antes da aprovação da lei norte- americana) Mas estados como a Califórnia

permitem e patrocinam esse tipo de pesquisa (inclusive a clonagem terapêutica).

França- não possui legislação específica, mas permite a pesquisa com

linhagens existentes de células- tronco embrionárias e com embriões de descarte.

Índia- proíbe a clonagem terapêutica, mas permite as outras pesquisas.

Israel- permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Itália- proíbe totalmente qualquer tipo de pesquisa com células-tronco

embrionárias humanas e sua importação.

40

Japão- permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Reino Unido- tem uma das legislações mais liberais do mundo e permite a

clonagem tepêutica.

Rússia: permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Singapura- permite todas as pesquisas com embriões, inclusive a clonagem

terapêutica.

Turquia- permite pesquisas e uso de embriões de descarte, porém proíbe a

clonagem terapêutica das células tronco21

.

Como podemos ver, apesar de tantas polêmicas, muitos países já legalizaram as

pesquisas com células tronco embrionárias, legalizando inclusive os meios para a sua

obtenção, como, por exemplo, a liberação em muitos destes da clonagem terapêutica, que

segundo os cientistas seria uma das grandes formas de produção desses embriões.

21

http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula-tronco

41

6 A RELIGIÃO E SUAS INFLUÊNCIAS NAS PESQUISAS COM CÉLULAS

TRONCO-EMBRIONÁRIAS- O INÍCIO DA VIDA

Segundo Frazer (1982) em sua obra “O ramo de ouro”, a religião seria composta por

dois elementos: o primeiro e mais importante seria a crença em poderes superiores ao homem,

ou seja, o homem deve acreditar que existe acima dele um ser superior que a tudo observa e

controla e, segundo lugar, as ações deste homem crente devem ser pautadas por um temor a

este ser superior ao qual ele chama de Deus.

Por religião, entendo uma propiciação ou conciliação de poderes superiores ao

homem que supõe, dirija e controle o curso de natureza da vida humana. Assim

definida, a religião consiste em dois elementos, um teórico e um prático, ou seja,

uma crença em poderes superiores ao homem e uma tentativa de propiciá-los e

guardá-los. Dos dois, é claro que a crença vem em primeiro lugar, pois precisamos

crer na existência de um ser divino antes de tentar agradá-lo. Mas, ao menos que a

crença nos leve á prática correspondente, não é uma religião, mas tão somente uma

teologia, nas palavras de São Tiago, “ a fé isoladamente, se não tiver atos é morta”.

Em outras palavras nenhum homem pode ser considerado religioso quando não

pauta sua conduta, até certo ponto, pelo temor a Deus. Por outro lado, a mera

prática, despojada de toda crença religiosa, também não é religiosa. (Frazer,J.,1982).

De todas as polêmicas que assombram a realização com pesquisas com células-

tronco embrionárias, as polêmicas religiosas são as que mais geraram e geram até hoje

conflitos sobre a aprovação dessas pesquisas.

É fato que cada religião, possui características próprias, seus dogmas, costumes e

crenças, e é a partir dessas crenças e costumes que seus fiéis confiam, acreditam, tem fé nas

teorias e teses defendidas por suas igrejas, mesmo que às vezes essas teorias não façam

sentido algum. Afinal a fé é algo que vai além da compreensão humana.

Sendo assim podemos dizer que, tentar entender plenamente as particulares razões de

um budista, um hinduísta, um mulçumano talvez só seja possível vivenciando a própria

religião de cada um deles.

É fato que existe um grande número de religiões em nosso planeta, mais seria

impossível vislumbrar o opinião de todas elas sobre o nosso tema, sendo assim falaremos um

pouco sobre as opiniões das religiões que possuem um grande número de adeptos sendo estas:

o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduísmo, Budismo e o Espiritismo.

42

6.1 Islamismo

Em sua tese para mestrado a autora Arruda, conta que em visita a um site

denominado Arrasala22

dirigido à comunidade islâmica no Brasil, foi encontrada a seguinte

pergunta: “Com quantos dias que um feto pode ser considerado um ser vivo, e com quanto

tempo ele recebe, o sopro da vida, ou melhor, seu espírito?” Citando o Alcorão Sagrado o

Sheik Al-Kharaji respondeu que, em conformidade com o que está disposto no capítulo 22 (A

Sura da Peregrinação)- Versículo5, a nossa origem se inicia: a)Terra, b) de uma gota seminal

(esperma), c) aderência (o sangue coagulado e que se gruda), d) embrião configurado (carne

proteção), e) embrião, f) a entrada do espírito.

Em um texto do Alcorão23

, livro sagrado dos mulçumanos também foi encontrada a

seguinte citação para explicar melhor o inicio da vida humana:

Ó humanos, se estais em dúvida sobre a ressurreição, reparai em que vos criamos

do pó, depois do esperma, e logo vos convertemos em algo que se agarra e,

finalmente, em feto, com forma ou amorfo, para demosntrar-vos (a Nossa

onipotência); e conservamos no útero o que queremos, até um período determinado,

de onde vos retiraremos, crianças para que alcanceis a puberdade. Há entre vós,

aqueles que morrem (ainda jovens) e há os que chegam à senilidade, até ao ponto de

não se recordarem do que sabiam. E observai que a terra é árida; não obstante,

quando (Nós) fazemos descer a água sobre ela, move-se e se impregna de fertilidade,

fazendo brotar todas as classes de pares de viçosos (frutos).

Analisando a citação acima mencionada, entendemos que o texto sagrado dos

mulçumanos compara de maneira poética a imagem da terra, como sendo um elemento

primordial da criação. Na visão dos mulçumanos a terra passa por uma metamorfose e se

transforma em esperma, este por sua vez gruda (presume-se que na parede do útero materno),

e se transforma em um feto, assim permanecendo por um certo período de tempo, tempo este

determinado por Deus.

Nas informações fornecidas pelo Sheik Al- Khazraji no site Arrasala24

verificamos

que no seu entender a criação do homem, mais precisamente a geração de um bebê é dividida

em etapas, exemplificando ainda no fim que:

A última etapa não é completa assim que entra em sua fase, mas sim necessita de um

tempo para se transformar. Deus menciona no versículo que iremos aplicar algo de

nós nele, significa que a última fase entrará o espírito. A mulher não sente um

22

www.arrasala.org.br. 23

www.arrasala.org.br. 24

www.arrasala.org.br.

43

embrião ou um bebê no útero desde o primeiro instante, mais sim apenas após mais

ou menos 4 meses da entrada do espírito do embrião.

Tendo em vista as informações obtidas, entendemos que, segundo a visão

mulçumana, o tempo de “entrada do espírito do embrião” não é exatamente definido.

Afinal de acordo com as explicações fornecidas pelo Sheik, diz que a “entrada do

espírito no embrião” se daria na última fase, depois que o embrião já estivesse formado, mas

segundo a lei islâmica, uma mulher que venha a praticar o aborto intencionalmente, tanto no

início (antes da formação do embrião), quanto por volta dos quatro meses (que é quando

segundo os mulçumanos a mulher realmente sente o embrião), torna-se uma pecadora,

passível de uma pena pecuniária que é fixada em cima do pagamento de 3,529Kg de ouro

(que curiosamente é medida de peso que os bebês nascem), tanto em um caso quanto em

outro.

Dessa forma entende-se que o islamismo condena o aborto intencional, e deixa

subentendido que o espírito vive anteriormente ao corpo (mesmo porque, caso contrário ele

não teria que entrar no corpo por volta do quarto mês para torná-lo vivo)25

.

6.2 Hinduísmo

Analisando novamente os estudos da autora Arruda, em sua tese de mestrado,

constata-se um estudo breve mas claro sobre a opinião do Hinduísmo a respeito das pesquisas

com células-tronco.

Para Santana-Dharma, conhecido popularmente como Hinduísmo, não há

uniformidade de pensamento: como, por exemplo, podemos dizer que um adepto desta

religião, morador do norte da Índia, pode pensar completamente diferente de um outro adepto

morador do sul. Não há uma única opinião religiosa, assim como não há na Índia, uma

uniformidade legal, além disso, a própria lei (referente ao aborto) sofre influências da religião.

A respeito das pesquisas genéticas, o Hinduísmo não a proíbe. A aceitação nessas

pesquisas se fundamenta em um dos versos do Mahabatara, onde nos conta que a esposa do

rei dos Kauravas, Gandlhari teria gerado uma bola de carne que permaneceu em gestação em

seu ventre durante dois anos, sem que viesse a termo. Auxiliada por sua serva, Gabdhari

aborta a bola de carne que é cortada em 100 pedaços os quais foram, conforme o conselho de

25

ebookbrowse.com/vanessa-gabriel-da-silva-arruda-dissertacao-pdf-d77836171.

44

um rei, posteriormente plantados em um meio de cultura contendo “ghee” (uma espécie de

manteiga) e água de fonte, dando origem aos cem filhos do rei.

Outras narrações também presentes no Mahabatara mencionam a interferência do

homem na criação de frutas, grãos, verduras e cereais.

Para os hinduístas também são de grande importância as normas éticas contidas no

Manusmriti ou Lei de Manu, que explica que, “alguém só é considerado um ser humano, após

a realização de Samskaras (ritos purificatórios,ou ritos de passagem) representados por:

concepção, rito de nascimento, corte de cabelo etc...”

Importante salientar também que em contrapartida, um outro princípio hinduísta diz

que se deve agir de modo a produzir o menor dano possível para uma entidade viva, o que

asseguraria a existência para alguns animais considerados inferiores, como por exemplo, o

rato.

Sendo assim para o hinduísmo atesta Swami Krishnapriyananda, “as pesquisas que

envolvam embriões de corpos humanos e outras espécies, deverão ter um fim de bem-comum,

onde o bom senso deverá estar presente”26

.

6.3 Budismo

Nos estudos realizados a respeito da religião Budista, percebe-se que sua maior

preocupação parece ser a morte, ou melhor, com que se tenha uma “boa morte”, do que com a

vida. De fato, é interessante saber que o budista prepara-se para a morte como um atleta.

A religião budista vê a vida como um fluxo contínuo que às vezes pode assumir

direção ascendente, se as ações de uma vida anterior foram boas, ou descendente, se os

resultados das ações forem maus.

De acordo com a crença budista, o início da vida se daria no momento em que a

consciência individualizada toma como suporte a união das células masculina e feminina, o

que pode ocorrer tanto em um corpo animal quanto em um corpo humano.

Na união do espermatozóide com o óvulo, o ser perde a sua consciência e passará a

reestruturar uma nova consciência durante os nove meses de gestação, perdendo a memória da

vida anterior.

Contudo não se pode afirmar que, de acordo com esta visão, o momento exato em

que o corpo passa a ter consciência, mas se esta consciência pode nascer em um corpo animal,

26

ebookbrowse.com/vanessa-gabriel-da-silva-arruda-dissertacao-pdf-d77836171.

45

ali, naquele animal poderá estar encarnado um parente próximo, um amigo querido, o que

garante a preservação da vida animal seja de que espécie for.

Sendo assim, podemos dizer que a visão budista parece considerar a vida como uma

passagem importante, sendo que a morte nada mais seria do que um aspecto da própria.

Na religião budista todas as formas de vida devem ser preservadas,

independentemente de estarem elas manifestadas em um corpo humano ou em um inseto,

interessante também é que, a visão de um fluxo contínuo de vida que se modifica

momentaneamente com a morte, o que parece significar aos budistas um conforto, ou talvez,

até mesmo, uma certeza de que a morte não passa de um fenômeno da vida27

.

6.4 Espiritismo

O espiritismo é uma religião que vem crescendo muito nos últimos anos. Houve uma

época que nem era considerado religião e sim um estudo, mais com o seu desenvolvimento e

o grande aumento em seu número de seguidores hoje o espiritismo é sim considerado uma

religião, e de grande importância e repercussão em nosso país.

Talvez por ser uma religião menos conservadora foi difícil achar um posicionamento

concreto a respeito do espiritismo, uma vez que se encontra divergência na opinião de seus

seguidores, e não há nenhum posicionamento oficial de uma “ igreja” (se é que podemos

chamar assim) espírita.

Mesmo assim, como sempre, há um pensamento predominante, conforme esclarece

um estudo muito interessante realizado por Elias e Souza, trabalhadores do Grupo de

Autocura Joanna de Ângelis, e membros do Centro Espírita Maria Angélica, disponível do

site Luz do Espírito28

.

Segundo este estudo, não há referências ao uso experimental ou terapêutico das

células-tronco nos textos e nas comunicações que se referem à Doutrina Espírita. Desse modo,

o exame do tema pelos seus adeptos, à luz dos ensinamentos doutrinários, apenas pode ser

feito por analogias ou interferências. Essas, entretanto, são passíveis das interpretações

imperfeitas a que estamos sujeitos, devido ao estágio de desenvolvimento em que nos

encontramos.

Nas obras que constituem os alicerces da Doutrina Espírita “O Livro dos Espíritos”

trata da vida, da reencarnação e das suas relações com a fecundação natural.

27

ebookbrowse.com/vanessa-gabriel-da-silva-arruda-dissertacao-pdf-d77836171. 28

www.luzdoespiritismo.com/estudos/celulastronco_estudos.pdf.

46

Examinando as questões 344, 358 e 880 do “ Livro dos Espíritos” vemos que

Kardec recebeu claros conceitos sobre a vida humana e suas origens.

No que diz respeito ao momento em que a alma se une ao corpo, podemos dizer que

essa “união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o

instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço

fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. O grito,

que o recém nascido solta, anuncia que ele se conta no mundo dos vivos e servos de

Deus”.(ELIAS; SOUZA,2010,p.12 apud O LIVRO DOS ESPIRITOS, pergunta 344, 2004,

p.242)29

.

Referente ao aborto, a doutrina espírita explica que “ há crime sempre que

transgredis a lei de Deus. A mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a

vida a uma criança antes de seu nascimento , por isso que impede uma alma de passar pelas

provas a que serviria de instrumento o corpo que estava formando”. (ELIAS; SOUZA, 2010,

p.12 apud O LIVRO DOS ESPIRITOS, pergunta 358, 2004, p.252)30

.

O primeiro de todos os direitos naturais do homem é “o de viver. Por isso é que

ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que

possa comprometer-lhe a existência corporal”. (ELIAS; SOUZA, 2010, p.12 apud O LIVRO

DOS ESPIRITOS, pergunta 880, 2004, p.495)31

.

Ainda segundo a doutrina espírita, a paternidade e a maternidade são sempre

decorrentes de vínculos pretéritos; o triângulo constituído por pai, mãe e filho resulta de uma

continuidade necessária para todos os envolvidos na nova constelação familiar, onde também,

irmão e parentes próximos são normalmente ligações de encarnações anteriores. (ELIAS;

SOUZA, 2010, p.13).

A reencarnação é presidida por Espíritos Superiores que auxiliam o Espírito

reencarnante nas escolhas dos pais e das eventuais provas a que deverá submeter-se ou das

eventuais expirações que deverá sofrer. (ELIAS; SOUZA, 2010, p.13).

Importante mencionar que, a fecundação artificial, produzida pela fusão de um óvulo

e um espermatozóide no ambiente de laboratório, com a finalidade imediata de congelamento

e preservação, representa uma tecnologia nova, inexistente á época de Kardec. Esse fato

permite supor que as perguntas formuladas no “O Livro dos Espíritos” referem-se

29

www.luzdoespiritismo.com/estudos/celulastronco_.pdf. 30

www.luzdoespiritismo.com/estudos/celulastronco_estudos.pdf. 31

WWW.luzdoespiritismo.com/estudos/celulastronco_estudos.pdf.

47

especificamente á fecundação natural, única possível á época em que a Doutrina Espírita foi

codificada.(ELIAS; SOUZA, 2010, p.13).

Sabedores da intenção de imediata congelação e preservação por tempo

indeterminado da célula-ovo, é possível supor que os Espíritos Superiores não tenham

contribuído para a programação reencarnatória em um blastocisto não destinado ao implante

em um útero materno. Entretanto, esse argumento tem apenas um caráter especulativo.

(ELIAS; SOUZA, 2010, p.13).

Devem ser levados em conta também outros argumentos nessa discussão, como, por

exemplo, o desígnio de Deus de que seus filhos permaneçam sadios e progridam em sua

caminhada de aperfeiçoamento moral e espiritual, até alcançar o amor pleno e absoluto. Além

disso, como os Espíritos Superiores nos tem asseverado, o conhecimento científico só é

revelado ao Homem quando este se encontra em condições de compreendê-lo e utilizá-lo

corretamente, em benefício da humanidade. (ELIAS; SOUZA, 2010, p.13).

A verdade é que a convergência e a fusão entre ciência e a religião espírita são

inevitáveis e se trata de um processo que teve início há bastante tempo.

Sendo assim, a religião espírita de um modo geral define seu posicionamento da

seguinte forma:

Somos favoráveis ao emprego das células-tronco adultas (removidas dos próprios

pacientes) por não constituírem qualquer ofensa à moralidade, aos costumes, à lei ou

à doutrina espírita. Somos também favoráveis ao uso científico das células-tronco

dos blastocistos ou dos embriões criongelados e abandonados pelos doadores, cujo

destino final será o descarte e destruição. Não acreditamos que a espiritualidade

superior, elevada a esse estado pelo sublime desenvolvimento do amor ao próximo,

permita qualquer programação reencarnatória em um embrião destinado ao

aprisionamento por anos, mediante os processos de congelamento e preservação

artificiais, sem perspectivas de gerar um corpo físico.( ELIAS; SOUZA, 2010,

p.15)32

.

6.5 Catolicismo

A Igreja Católica é possuidora de um grande número de fiéis, não só no Brasil mais

em todo o mundo ela é conhecida, seguida e respeitada.

Sua força foi adquirida a muitos anos atrás, desde o início da civilização a igreja já

possuía uma grande força, não apenas no meio religioso, mais também no meio

governamental. Prova disso é que na época medieval a igreja católica além de influenciar na

vida religiosa das pessoas, também influenciava na vida social, tendo papel inclusive no poder

32

www.luzdoespiritismo.com/estudos/celulastronco_estudos.pdf

48

judiciário da época, julgando grandes nomes da história. Nomes estes já mencionados neste

trabalho como por exemplo Galileu-Galilei, que teve seus trabalhos julgados e condenados

pela igreja católica.

Para a religião católica a vida se origina a partir da união do óvulo com o

espermatozóide, ou seja, desde o momento da fecundação, portanto qualquer intervenção a

partir deste momento significaria o assassinato de um ser vivo.

A verdade é que apesar de possuírem diferentes crenças, as religiões em geral

transmitem as mesmas idéias místicas, porém, de diferentes maneiras. Prova disso é que

mesmo nas religiões citadas acima (Islamismo, Hinduísmo e Budismo) acreditarem que a vida

se origina em estágios posteriores ao da fecundação, em nenhuma a mulher tem o direito de

interromper o desenvolvimento do feto, podendo neste caso serem penalizadas.

É importante mencionar o poder que a religião tem sobre as pessoas, tamanha é a

força do mito e de todos os seus símbolos que muitas vezes não se percebe o quanto se está

imbuído disto, ou melhor, não se dá conta da quota mitológica presente nas próprias crenças.

Como diria Campbell: “Uma das grandes vantagens de ser educado no catolicismo romano é

que você é ensinado a encarar o mito com seriedade, a deixar que ele atue em sua vida; você é

ensinado a viver em função desses motivos míticos.” (CAMPBELL, 1993 apud ARRUDA,

2009 , p.28)33

.

O importante é saber que a religião envolve muito mais que uma simples opinião,

envolve a esperança das pessoas em algo maior, a fé que é passada de geração para geração, a

crença em algo divino, o verdadeiro sentido da vida.

Interessante dizer, que a igreja católica apóia a pesquisa com células- tronco, desde

que essas pesquisas sejam realizadas com células-tronco adultas, a única discriminação da

igreja é quanto às embrionárias, uma vez que essas são adquiridas através da destruição do

embrião.

A extração das células-tronco embrionárias ocorre entre o 4º e o 14º dia após a

fecundação, para a igreja já se trata de um ser humano com quatro dias de vida

Em meados do mês de abril de 2010, foi informado pelo cardeal Renato Martino que

o Vaticano financiaria novas pesquisas sobre o uso de células-tronco adultas no tratamento de

doenças intestinais e talvez outras34

, ressalvando sempre que o apoio ao projeto com as

33

ebookbrowse.com/vanessa-gabriel-da-silva-arruda-dissertacao-pdf-d77836171. 34

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vaticano-vai-financiar-pesquisas-de-celulas-tronco-

adultas,542140,0.htm.

49

pesquisas se devia ao fato de não ter envolvimento com células tronco-embrionárias, mais tão

somente as adultas.

Em 2007, o papa Bento XVI disse que as pesquisas com células-tronco adultas

respeitam a vida humana, que segundo a igreja tem início na concepção.

Ressalta-se que o Vaticano foi e é até hoje altamente criticado por sua oposição as

pesquisas realizadas com células embrionárias, mas a Igreja afirma que há alternativas

cientificamente viáveis.

A verdade que apesar de serem muito eficazes em tratamento em inúmeras doenças

grave, as células tronco adultas não possuem o mesmo potencial das embrionárias, afinal

segundo os cientistas, somente elas tem a capacidade de se originar em qualquer tecido do

corpo- células adultas são assim, menos maleáveis. Por isso muitos cientistas dizem que o

verdadeiro potencial terapêutico reside nas embrionárias.

Os pesquisadores envolvidos nas pesquisas financiadas pelo vaticano dizem querer

avaliar o potencial das células-tronco intestinais, um campo relativamente novo para fins

terapêuticos.

“Queremos colhê-las, queremos isolá-las, queremos fazer com que cresçam fora do

corpo e ver se são pluripotentes”, disse Alessio Fasano, o cientista que dirige o projeto35

.

A grande motivação para essas pesquisas é saber que as células tronco intestinais são

especialmente interessantes, uma vez que os intestinos as substituem a cada poucos dias e elas

são bastante flexíveis. Além disso, a coleta pode ser feita por meio de um procedimento

simples, como, por exemplo, uma endoscopia.

O fato é que a igreja católica, ao contrário do que muitos pensam não é tão arbitrária

e atrasada assim.

A igreja não vai contra a evolução da ciência em momento algum em suas decisões,

pelo menos não na atualidade, desde que essa evolução não vá contra seus princípios e que

vise sempre o bem comum.

A igreja Católica é a favor das pesquisas com células-tronco adultas, pois as

considera uma evolução na ciência que visa simplesmente a cura, a salvação de vidas.

Mas, no que diz respeito às células embrionárias, o catolicismo é radicalmente

contra, já que acredita que a vida se origina no momento da fecundação. O interessante disso

35

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vaticano-vai-financiar-pesquisas-de-celulas-tronco-

adultas,542140,0.htm.

50

tudo é que essa opinião da igreja foi fundada com base nas informações fornecidas pela

própria ciência, afinal no começo de tudo, quando começou a surgir o microscópio que foi

possível visualizar o momento da fecundação a ciência também acreditava que ali era o

momento em que a vida se originava, com o passar do tempo que esta mudou o seu

posicionamento.

51

7 DIREITO A VIDA

Fonte de grande polêmica também no que diz respeito às pesquisas com

células-tronco embrionárias, seria a inviolabilidade do direito a vida, assegurado a todos no

caput do art. 5º da Constituição Federal que diz:

Art.5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito a vida, à liberdade, á dignidade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes...”

Também para assegurar o direito a vida em especial a do nascituro,que é o ser

humano em potencial alvo de tanta polêmica nas pesquisas temos em nosso ordenamento

jurídico o artigo 2º do Código Civil que diz: “Art 2º” A personalidade civil da pessoa começa

do nascimento com vida; mas a lei pões a salvo, desde a concepção, os direito do

nascituro”.

Muitos alegam que a aprovação da lei de biossegurança nº 11.105/2005, vão contra

esses dois artigos do nosso ordenamento jurídico, e foi por isso que foi proposta a ação de

inconstitucionalidade da lei (ADI 3510) no Supremo Tribunal Federal36

.

Acontece que o supremo não entendeu assim, em um dos seus mais importantes

julgamentos já realizado em toda a sua história, o mesmo reconheceu em 03 de junho de 2008

a constitucionalidade do art.5º, da Lei de Biossegurança, que estabelece a viabilidade das

pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil.

Essa decisão foi imensamente comemorada por milhares de famílias que vêem nas

células embrionárias as curas para enfermidades que enfrentam, e também pela comunidade

científica de todo país.

É evidente que na interpretação das normas não é lícito desprezar o pano de fundo

representado pela maneira como o povo brasileiro enxerga o processo vital, mas não devemos

esquecer que na definição constitucional da vida outros direitos fundamentais hão de ser

considerados, como a liberdade (de consciência, de crença, de expressão da atividade

intelectual e científica), a igualdade além dos próprios princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade que a nossa constituição também reconhece.

Importante lembrar que as pesquisas com células embrionárias poderão resultar em

médio ou longo prazo, benefícios para milhares de pessoas não só do Brasil mas também de

36

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print.

52

outras partes do mundo, sendo assim o Supremo entende que sua decisão é em defesa da

vida.

Segundo Amaral, podemos dizer que em um contexto de um ambiente de alta

tecnologia em que as células podem se transformar em remédios ou tratamentos com

potencialidade para curar tantos seres humanos, não seria mesmo possível imaginar que se

devesse entender o início da vida como o momento em que, fora do corpo da mulher, o

espermatozóide é simplesmente injetado no óvulo para transformar o chamado “pré-embrião”.

O mencionado autor explica que o próprio Código Civil, em seu artigo 2º, reforça tal

compreensão jurídica ao dizer que “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento

com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Não é razoável que se cogite de nascituro aquele que está para nascer, antes da

implantação do embrião no útero da mulher (aquela de quem alguém vai nascer); sem

nascituro não há concepção, sem nascituro não há ainda, pessoa humana. O raciocínio é o

mesmo quando se pensa na lei penal que criminaliza o aborto como a violação da vida que

floresce no ventre da gestante.

Sendo assim devemos considerar que a partir do momento em que o embrião não foi

introduzido no útero da mulher, ele não tem a mínima possibilidade de se desenvolver, não

podendo assim ser considerado as pesquisas com esses embriões um procedimento abortivo.

Acontece que no meio de tantas polêmicas, quando foi aprovada e promulgada a lei

de Biossegurança, o ex-procurador- geral da República Claudio Fonteles, não concordando

como muitos com a sua aprovação propôs perante a Suprema Corte Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI 3510), alegando que as pesquisas com células-tronco

embrionárias violam o direito à vida e a dignidade da pessoa humana.

Uma vez proposta esta ação de inconstitucionalidade, vale apena mencionarmos

brevemente os posicionamentos de destaque dos ministros que votaram e decidiram pela a

constitucionalidade da lei.

7.1 Votação dos Ministros no Supremo Tribunal Federal

No julgamento realizado pela Suprema Corte ADI 3510, seis ministros,votaram

dizendo que a mencionada lei não merece reparo portanto nesse sentido os ministros Carlos

53

Ayres Britto, relator da matéria, Ellen Gracie, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Joaquim

Barbosa, Marco Aurélio e Celso de Mello37

.

Já os ministros Cezar Peluso e Gilmar Mendes também disseram que a lei é

constitucional, mas pretendiam que o Tribunal declarasse, em sua decisão, a necessidade de

que as pesquisas fossem rigorosamente fiscalizadas do ponto de vista ético por um órgão

central, no caso, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Vale ressaltar que essa

questão foi alvo de um caloroso debate ao final do julgamento e não foi acolhida pela Corte38

.

Outros três ministros disseram que as pesquisas podem ser feitas, mas somente se os

embriões ainda viáveis não forem destruídos para a retirada das células-tronco. Esse foi o

entendimento dos ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Ricardo Lewandowski e Eros

Grau. Esses três ministros fizeram ainda, em seus votos, várias outras ressalvas para a

liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no país39

.

Assim mencionaremos simplificadamente neste momento o posicionamento de cada

ministro.

Carlos Ayres Britto (relator)

Relator da ADI 3510, o ministro Carlos Ayres Britto votou pela total improcedência

da ação. Fundamentou seu voto em dispositivos da Constituição Federal que garantem o

direito à vida, à saúde, ao planejamento familiar e à pesquisa científica. Destacou, também, o

espírito de sociedade fraternal preconizado pela Constituição Federal, ao defender a utilização

de células-tronco embrionárias na pesquisa para curar doenças.

Carlos Britto qualificou a Lei de Biossegurança como um "perfeito" e "bem

concatenado bloco normativo". Sustentou a tese de que, para existir vida humana, é preciso

que o embrião tenha sido implantado no útero humano. Segundo ele, tem que haver a

participação ativa da futura mãe. No seu entender, o zigoto (embrião em estágio inicial) é a

primeira fase do embrião humano, a célula-ovo ou célula-mãe, mas representa uma realidade

distinta da pessoa natural, porque ainda não tem cérebro formado.

Ele se reportou, também, a diversos artigos da Constituição que tratam do direito à

saúde (artigos 196 a 200) e à obrigatoriedade do Estado de garanti-la, para defender a

utilização de células-tronco embrionárias para o tratamento de doenças40

.

37

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print. 38

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print. 39

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print.. 40

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print.

54

Ellen Gracie

A ministra acompanhou integralmente o voto do relator. Para ela, não há constatação

de vício de inconstitucionalidade na Lei de Biossegurança. "Nem se lhe pode opor a garantia

da dignidade da pessoa humana, nem a garantia da inviolabilidade da vida, pois, segundo

acredito, o pré-embrião não acolhido no seu ninho natural de desenvolvimento, o útero, não se

classifica como pessoa."

Ela assinalou que a ordem jurídica nacional atribui a qualificação de pessoa ao

nascido com vida. "Por outro lado, o pré-embrião também não se enquadra na condição de

nascituro, pois a este, a própria denominação o esclarece bem, se pressupõe a possibilidade, a

probabilidade de vir a nascer, o que não acontece com esses embriões inviáveis ou destinados

ao descarte"41

.

Carlos Alberto Menezes Direito

De forma diversa do relator, o ministro Menezes Direito julgou a ação parcialmente

procedente, no sentido de dar interpretação conforme ao texto constitucional do artigo

questionado sem, entretanto, retirar qualquer parte do texto da lei atacada. Segundo Menezes

Direito, as pesquisas com as células-tronco podem ser mantidas, mas sem prejuízo para os

embriões humanos viáveis, ou seja, sem que sejam destruídos.

Em seis pontos salientados, o ministro propõe ainda mais restrições ao uso das

células embrionárias, embora não o proíba. Contudo, prevê maior rigor na fiscalização dos

procedimentos de fertilização in vitro, para os embriões congelados há três anos ou mais, no

trato dos embriões considerados "inviáveis", na autorização expressa dos genitores dos

embriões e na proibição de destruição dos embriões utilizados , exceto os inviáveis. Para o

ministro Menezes Direito, "as células-tronco embrionárias são vida humana e qualquer

destinação delas à finalidade diversa que a reprodução humana viola o direito à vida"42

.

Cármen Lúcia

A ministra acompanhou integralmente o voto do relator. Para ela, as pesquisas com

células-tronco embrionárias não violam o direito à vida, muito pelo contrário, contribuem

para dignificar a vida humana. "A utilização de células-tronco embrionárias para pesquisa e,

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após o seu resultado consolidado, o seu aproveitamento em tratamentos voltados à

recuperação da saúde, não agridem a dignidade humana constitucionalmente assegurada."

Ela citou que estudos científicos indicam que as pesquisas com células-tronco

embrionárias, que podem gerar qualquer tecido humano, não podem ser substituídas por

outras linhas de pesquisas, como as realizadas com células-tronco adultas, e que o descarte

dessas células não implantadas no útero somente gera "lixo genético"43

.

Ricardo Lewandowski

O ministro julgou a ação parcialmente procedente, votando de forma favorável às

pesquisas com as células-tronco. No entanto, restringiu a realização das pesquisas a diversas

condicionantes, conferindo aos dispositivos questionados na lei interpretação conforme a

Constituição Federal44

.

Eros Grau

Na linha dos ministros Menezes Direito e Ricardo Lewandowski, o ministro Eros

Grau votou pela constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança, com três ressalvas.

Primeiro, que se crie um comitê central no Ministério da Saúde para controlar as pesquisas.

Segundo, que sejam fertilizados apenas quatro óvulos por ciclo e, finalmente, que a obtenção

de células-tronco embrionárias seja realizada a partir de óvulos fecundados inviáveis, ou sem

danificar os viáveis45

.

Joaquim Barbosa

Ao acompanhar integralmente o voto do relator pela improcedência da ação, o

ministro Joaquim Barbosa ressaltou que a permissão para a pesquisa com células

embrionárias prevista na Lei de Biossegurança não recai em inconstitucionalidade. Ele

exemplificou que, em países como Espanha, Bélgica e Suíça, esse tipo de pesquisa é

permitida com restrições semelhantes às já previstas na lei brasileira, como a obrigatoriedade

de que os estudos atendam ao bem comum, que os embriões utilizados sejam inviáveis à vida

e provenientes de processos de fertilização in vitro e que haja um consentimento expresso dos

genitores para o uso dos embriões nas pesquisas. Para Joaquim Barbosa, a proibição das

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pesquisas com células embrionárias, nos termos da lei, "significa fechar os olhos para o

desenvolvimento científico e os benefícios que dele podem advir"46

.

Cezar Peluso

O ministro Cezar Peluso proferiu voto favorável às pesquisas com células-tronco

embrionárias. Para ele, essas pesquisas não ofendem o direito à vida, porque os embriões

congelados não equivalem a pessoas. Ele chamou atenção para a importância de que essas

pesquisas sejam rigorosamente fiscalizadas e ressaltou a necessidade de o Congresso Nacional

aprovar instrumentos legais para tanto47

.

Marco Aurélio

Ele acompanhou integralmente o voto do relator. Considerou que o artigo 5º da Lei

de Biossegurança, impugnado na ADI, "está em harmonia com a Constituição Federal,

notadamente com os artigos 1º e 5º e com o princípio da razoabilidade". O artigo 1º

estabelece, em seu inciso III, o direito fundamental da dignidade da pessoa humana e o artigo

5º, caput, prevê a inviolabilidade do direito à vida. Ele também advertiu para o risco de o STF

assumir o papel de legislador, ao propor restrições a uma lei que, segundo ele, foi aprovada

com apoio de 96% dos senadores e 85% dos deputados federais, o que sinaliza a sua

"razoabilidade".

O ministro observou que não há, quanto ao início da vida, baliza que não seja

simplesmente opinativa, historiando conceitos, sempre discordantes, desde a Antiguidade até

os dias de hoje. Para ele, "o início da vida não pressupõe só a fecundação, mas a viabilidade

da gravidez, da gestação humana". Chegou a observar que, "dizer que a Constituição protege

a vida uterina, já é discutível, quando se considera o aborto terapêutico ou o aborto de filho

gerado com violência". E concluiu que "a possibilidade jurídica depende do nascimento com

vida". Por fim, disse que jogar no lixo embriões descartados para a reprodução humana seria

um gesto de egoísmo e uma grande cegueira, quando eles podem ser usados para curar

doenças.

Celso de Mello

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O ministro acompanhou o relator pela improcedência da ação. De acordo com ele, o

Estado não pode ser influenciado pela religião. "O luminoso voto proferido pelo eminente

ministro Carlos Britto permitirá a esses milhões de brasileiros, que hoje sofrem e que hoje se

acham postos à margem da vida, o exercício concreto de um direito básico e inalienável que é

o direito à busca da felicidade e também o direito de viver com dignidade, direito de que

ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado"48

.

Gilmar Mendes

Para o ministro, o artigo 5º da Lei de Biossegurança é constitucional, mas ele

defendeu que a Corte deixasse expresso em sua decisão a ressalva da necessidade de controle

das pesquisas por um Comitê Central de Ética e Pesquisa vinculado ao Ministério da Saúde.

Gilmar Mendes também disse que o Decreto 5.591/2005, que regulamenta a Lei de

Biossegurança, não supre essa lacuna, ao não criar de forma expressa as atribuições de um

legítimo comitê central de ética para controlar as pesquisas com células de embriões

humanos49

.

Após, analisarmos a votação dos ministros, o fato é que em algum momento as vezes

nos identificamos, as vez discordamos da opinião de cada um deles.

Podemos dizer que há quem discorde de que o artigo 5° da Lei nº 11.105/2005

proteja a vida, mas o faz impondo alguns limites anteriormente já mencionados no voto de

alguns ministros. Essa proteção, um tanto quanto relativa, tem sua aplicação também

relativizada na Constituição Federal, vez que permite o aborto terapêutico e o aborto

resultante de opção legal após estupro.

Assim, reiteramos, o que fazer com embriões excedentes não utilizados na

inseminação artificial e que não resultarão em nascimento, a não ser utilizá-los num fim

maior, de toda coletividade, qual seja a de um progresso da humanidade, cuja conseqüência é

o bem-estar de todos os seres humanos.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei de Biossegurança foi promulgada no Brasil em 24 de março de 2005, com a

finalidade de estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que

envolvam organismos geneticamente modificados- OGM e seus derivados, criando o

Conselho Nacional Biossegurança- CNBS, reestruturando a Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança- CTNBio e dispondo sobre “ a Política Nacional de Biossegurança- PNB”,

dentre outras providências.

Como já mencionado anteriormente, o que mais nos interessa na mencionada lei são

seus artigos 5º e 6º, que se referem a legalização das pesquisas com células-tronco

embrionárias, suas restrições e a proibição da clonagem terapêutica.

Analisamos também separadamente, diferentes teorias sobre o início da vida, para

tentarmos compreender melhor as opiniões da população sobre o determinado tema, e também

os diversos pensamento religiosos, pensamentos estes de suma importância para nossa

sociedade, e que mesmo as vezes não sendo aceito devem ser inteiramente respeitados.

Também obtivemos informações a respeito da legalização dessas pesquisas em

outras partes do mundo, conhecendo também por fim o entendimento do Supremo Tribunal

Federal.

É estranho como ao estudarmos profundamente este tema podemos oscilar nossas

opiniões tantas vezes, e no final mesmo que concordando com a lei sempre temos algumas

restrições, assim como alguns ministros do STF, que ao dar o seu voto, julgando parcialmente

procedente a ação de inconstitucionalidade, uma vez que, concordam com a lei, mais acham

que deve ser feita algumas alterações, sendo este o pensamento por exemplo dos ministros

Carlos Alberto Menezes Direito, Ricardo Lewandowski e Eros Grau.

Temos que ser sensatos e admitir que os artigos 5º e 6º da Lei de Biossegurança,

foram bem formulados, tiveram um bom propósito ao querer dar um melhor destino aos

embriões inviáveis, fazendo as restrições necessárias para que essas pesquisas não se

transformassem em uma busca desenfreada não só pela cura de muitos ( que é sua principal

finalidade), mais também a busca de poder e reconhecimento profissional de alguns, uma vez

que ao fazer essas restrições o legislador se preocupa em evitar uma produção de embriões

para esse fim.

Vale ressaltar que não entendemos a realização dessas pesquisas como uma prática

que fere nosso ordenamento jurídico, não podendo ser considerado o embrião fora do útero

60

materno um embrião com vida, uma vez que não introduzido em seu ambiente natural ele

jamais poderá se desenvolver.

Ao mesmo tempo consideramos que todas as restrições feitas no artigos 5º e 6º da

Lei 11.105/2005, são válidas e devem ser fiscalizados sua aplicação rigorosamente, uma vez

que concordamos com a realização dessas pesquisas apenas com embriões inviáveis aqueles

que deverão ser descartados, os embriões viáveis devem ser protegidos ao máximo, pois

mesmo ainda não tendo adquirido “vida”, eles tem potencial para isso.

Devemos lembrar que ao doarem seus óvulos e espermas para as clínicas de

fertilização as pessoas esperam ajudar aqueles que não podem ter filhos, a idéia inicial dessa

doação é proporcionar aqueles que por alguma deficiência não podem gerar sem ajuda da

ciência seus filhos de forma natural, o amor fraternal, a emoção , enfim uma segunda chance

para que com ajuda necessária possam gerar os filhos tão sonhados.

Essa idéia inicial acima mencionada deve ser preservada ao máximo, e o número de

embriões congelados abandonados em clínicas devem ser evitados.

De qualquer forma é justo que para aqueles embriões que já não tem mais

possibilidade de gerar vida dentro do útero materno, seja dado também uma nova

oportunidade de gerar vida de outra maneira. Se essas pesquisas prometem tantas curas para

doenças graves devemos dar a esses embriões a chance de servir como fonte de salvação de

vida para aqueles que tanto necessitam.

Importante salientar que apoiamos as pesquisas nos termos da lei, não somos a favor

da manipulação de embriões para esse fim, nem da clonagem, por mais benefícios que os

cientistas aleguem que essas práticas possam trazer, consideramos que tudo na vida tem um

limite, e a ciência também deve ter o seu.

Não estamos preparados para lidar com esses tipos de procedimento, no futuro esses

embriões manipulados e a clonagem, não serviriam mais como uma causa nobre para salvar

vidas, mais sim a produção e desenvolvimento desenfreados que visariam mais a obtenção de

dinheiro e poder de muitos.

Além do mais a vida deve ser preservada ao máximo, um embrião mesmo que não

introduzido no útero materno ainda tem capacidade de um dia se tornar vida, por tanto

enquanto ele for viável não deve ser utilizado para outro fim, se não para o qual ele foi

gerado.

No desenvolver deste trabalho, chegamos ao fim acreditando que a lei de

biossegurança veio com um bom intuito, intuito este destinado a dar um melhor destino aos

embriões abandonados nas clinicas de fertilização.

61

Só é importante que as pessoas, principalmente aquelas que necessitam tanto dessas

pesquisas consigam ver que esta é uma lei de caráter temporário, uma vez que só poderão ser

utilizados os embriões com mais de 3 anos congelados, ou aqueles que da data da publicação

já estavam congelados após completarem três anos.

Assim devemos saber que um dia o estoque desses embriões acabarão e com eles

teoricamente as pesquisas também. Mesmo que seja uma realidade triste devemos saber até

onde podemos ir.

Devendo sempre termos a consciência que liberar a manipulação de embriões e a

clonagem seria um erro sem volta para a humanidade.

63

REFERÊNCIAS

BENTO, Luiz Antônio. Bioética e pesquisa em seres humanos. Paulinas: São Paulo, 2011.

DOCUMENTOS DA CNBB. Ética: Pessoa e Sociedade 3.ed, Paulinas, São Paulo 1993.

Documentos da CNBB

CORDOBA, Juan Vicente. A Bioética: Uma Opção Pela Vida.ed.CNBB, Bogotá 2008.

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bandida/32440/>. Acesso em 06 de agosto de 2012.

http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1863/1773. Acesso em

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Disponível em: <HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula-tronco >. Acesso em 20 abr.

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Disponível em: <HTTP://claudia.abril.com.br/materia/celulas-tronco-uma-discussao-que-

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Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Clonagem>. Acesso em 23 nov. 2012.

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d77836171>. Acesso em 26 set. 2012.

Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,vaticano-vai-financiar-pesquisas-

de-celulas-tronco-adultas,542140,0.htm>. Acesso em 31 out. 2012.

Disponível em:

<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080530125838692&mode=print>.

Acesso em 23 nov. 2012.

BRASIL.Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Estabelece normas de segurança e

mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente

modificados-OGM. Brasília: Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-

2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 20 set. 2012.

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