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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ · e a rotina de um Tecnólogo de Alimentos dentro de uma indústria de alimentos. ... doméstico e industrial estão descritas nas Tabela

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CAMPO MOURÃO

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR LOHANA PICOLO CARREIRA DE MATOS

AILEY TANAMATI

Autorizo para encaminhamento à banca examinadora,

________________________________________ Assinatura do Professor Orientador

Campo Mourão

2013

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RESUMO

Este relatório tem por finalidade apresentar as atividades desenvolvidas durante o

estágio obrigatório curricular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná,

realizado na empresa COAMO – Agroindustrial Cooperativa. O estágio ocorreu entre

o período de setembro à dezembro de 2011. Durante o estágio foram executadas

atividades relacionadas ao controle de qualidade da farinha de trigo. Todas as

análises foram realizadas no laboratório de trigo da COAMO que visam o controle de

qualidade da farinha de trigo bem como destinar o produto ao seu fim desejado,

estando assim dentro dos padrões estabelecidos. O estágio proporcionou a vivência

e a rotina de um Tecnólogo de Alimentos dentro de uma indústria de alimentos.

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1. INTRODUÇÃO

A qualidade de farinha de trigo é definida, de modo geral, como a capacidade

de produzir uniformemente um produto final atrativo, a um custo competitivo, sob as

condições impostas pela sua unidade processadora (PIZZINATTO, 1999, p. 3).

A qualidade de processamento é influenciada pela cor do grão (pode afetar a

cor da farinha e a cor do miolo do pão), pela textura do grão (irá afetar o teor de

água que será adicionado ao grão na moagem, o teor de amido danificado, a

produção de gás na fermentação e a absorção de água) e pela força do glúten

(relacionado a tolerância à mistura, retenção de gás na fermentação e textura dos

produtos finais – como pão, massa cozida e biscoitos) (MIRANDA, 2008).

Para a indústria o trigo ideal é aquele que produz farinha adequada para cada

produto final, com consistência a cada lote. Para o consumidor final, é aquele com o

qual são elaborados produtos finais com características organolépticas adequadas

(sabor, aroma, cor, etc.), a preço acessível e/ou características diferenciadas. Para

os sanitaristas, o trigo de qualidade deve ser livre de micotoxinas e de resíduos de

pesticidas, e outras substâncias que possam causar danos à saúde humana

(MIRANDA, 2008).

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2. DESCRIÇÃO DO LOCAL

A COAMO é uma cooperativa que possui 115 unidades em 63 municípios dos

estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, sendo a maior

cooperativa agroindustrial da América Latina. A sede da COAMO localiza-se na

cidade de Campo Mourão-PR (COAMO, 2012).

O estágio foi realizado no Laboratório de Trigo instalado no Parque Industrial

de Campo Mourão-PR, que também constitui outros laboratórios como Laboratório

de Café, Microbiológico e Físico-químico. Contém plantas agroindustriais como

torrefação de café, extração e refinaria de óleo de soja e fiação de algodão.

No seu parque industrial são produzidos os Alimentos Coamo: margarinas

Coamo e Primê, e óleo refinado de soja, farinha de trigo, gordura vegetal e café

torrado, moído e à vácuo com a marca Coamo, além das commodities farelo e óleo

degomado de soja (COAMO, 2012).

As atividades do estágio ficaram concentradas no Laboratório de trigo, que

realiza análises de controle de qualidade físico químico do trigo e farinha de trigo.

As amostras de farinha de trigo, identificadas como farinha da produção, eram

oriundas do processo de moagem do trigo são feitas por um moinho terceirizado

localizado no Município de Mamborê – PR, que envia diariamente amostras da

produção para o Laboratório de trigo para análises reológicas.

O laboratório de trigo realiza análises provenientes do moinho terceirizado

que envia amostras de farinha da produção e também realiza análises do trigo

provenientes de entrepostos das safras anuais que são enviados pelas várias

unidades da COAMO do estado do Paraná.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Trigo

O trigo é um produto de origem asiática que apresenta ampla importância

comercial, além de ser utilizado como matéria prima para a fabricação de uma

extensa gama de produtos alimentícios industrializados (CORRÊA et al, 2005, p.39).

O trigo é uma gramínea, um cereal fasciculado, de fruto oval pertencente à

família Poácea do gênero Triticum, possuindo diversas espécies. O tipo de maior

interesse comercial é o Triticum aestivum (trigo comum) utilizado na panificação,

produção de bolos, biscoitos, massas e produtos de confeitaria. O tipo Triticum

durum é mais utilizada no preparo de massas alimentícias (RIBEIRO, 2009, p. 15).

Há de se destacar que existem inúmeras variedades de trigo que diferem

entre si especialmente pela tenacidade do grão, potencial de extração de farinhas,

pelo teor de proteínas, pelas características do glúten, pela capacidade de absorção

de água e pela atividade enzimática. Estas diferenças apontam para a melhor

utilização do trigo e de suas farinhas (ZARDO, 2010, p. 13 e 14).

O trigo é a segunda cultura de grãos, a nível mundial em produção, sendo sua

importância advinda da sua utilização como principal fonte energética na

alimentação da população de muitos países (RIBEIRO, 2009, p. 13).

A importância econômica do trigo deriva da capacidade do glúten formar

filmes elástico-extensíveis, com elevado poder de absorção de água. Isto

naturalmente impõe o uso do trigo em massas, pães, biscoitos e bolos (ZARDO,

2010, p. 13).

Os maiores produtores de trigo são: União Europeia (20%), China (18%),

Índia (12%), Estados Unidos (9%) e Rússia (8%), sendo que os EUA, e o Canadá se

destacaram como o primeiro e segundo maiores exportadores mundiais em 2007. A

Argentina participou em torno de 9% nas exportações internacionais e é considerado

o maior fornecedor de trigo para o Brasil. A produção brasileira corresponde a menos

de 1% da produção mundial, mas o consumo, em torno de 2%, torna o país um

grande importador do grão, com 6,4% do total importado no mundo (RIBEIRO, 2009,

p. 13).

O cultivo no Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, com

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manejo adequado mostra que o trigo pode ser produzido com sucesso, em termos

de qualidade e produtividade, mesmo em regiões mais quentes (ZARDO, 2010, p.

13).

A qualidade do grão de trigo pode ser definida como o resultado da interação

que a cultura sofre no campo e está relacionado com as condições de solo, do clima,

da incidência de pragas e moléstias, do manejo da cultura e tipo de cultivar

semeado. Também é influenciada pelas operações de colheita, secagem,

armazenamento (RIBEIRO, 2009, p. 18).

A moagem e a industrialização (escolha dos tipos de equipamentos

industriais, dos métodos de elaboração dos produtos finais, dos tipos de produtos a

serem fabricados, do tempo de prateleira, etc.) influenciam sobremaneira na

expressão da qualidade tecnológica, classificando esse cereal como de baixa, média

ou alta qualidade (RIBEIRO, 2009, p. 18).

O condicionamento à moagem divide-se em duas etapas: a limpeza, onde são

retiradas desde sujidades leves como pó e palha, até grandes corpos estranhos, e a

umidificação que confere ao trigo após devido repouso, a umidade adequada para

melhor extração de farinha, em termos qualitativos e quantitativos (ZARDO, 2010, p.

18).

Períodos curtos de repouso, do grão de trigo, prejudicam a separação da

casca do endosperma, enquanto períodos muito longos podem desencadear a

germinação da semente e o desenvolvimento de microrganismos. Níveis corretos de

umidade do trigo, de 14%, tornam a casca menos quebradiça e deixam a região

amilácea mais macia (ZARDO, 2010, p. 19).

3.2. Farinha de trigo

A farinha de trigo é o produto elaborado com grãos de trigo (Triticum aestivum

L) ou outras espécies de trigo do gênero Triticum, ou combinações por meio de

trituração ou moagem e outras tecnologias ou processos. Dentre as características

físico-químicas e sensoriais a farinha de trigo deve ser suave ao tato, de cor natural,

sem sabores estranhos de ranço, mofo, acidez, amargura ou doçura. Deve

apresentar aparência uniforme, sem pontos negros, livre de qualquer defeito, de

insetos vivos ou mortos, corpos estranhos e cheiros anormais. Sua composição

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consiste principalmente de amido (70-75%), proteína (10-12%), polissacarídeos

amiláceos (2-3%) e lipídeo (2%) componente presente em menor quantidade

(RIBEIRO, 2009, p. 24).

A Farinha de trigo será classificada em grupos e tipos.

Grupo Doméstico são as farinhas destinadas ao uso doméstico; classificadas

em três tipos: tipo 1, tipo 2, e integral.

Grupo Industrial são farinhas destinadas ao uso industrial; é classificada como

tipo único (INMETRO, 2013, p.2).

A Tabela 1 apresenta as características físico-químicas da farinha de uso

doméstico e industrial estão descritas nas Tabela 1 e Tabela 2, respectivamente.

Tabela 1. Parâmetros físico-químicos das farinhas de uso doméstico Tipos

Parâmetros Tipo 1 Tipo 2 Integral

Granulometria (%) 95 95 -

Malha da peneira (μm) 250 250 -

Proteína (%) 7,5 7,51 – 0,8 8

Ácidos graxos (mg 50 50 100

KOH/100g produto)

Umidade (%) 15 15 15

Fonte: INMETRO, 2013.

Tabela 2. Características físico-químicas de uso industrial

Parâmetros GRUPO ÚNICO

Cinzas bs (%) < 2,5

Granulometria (%) 95

Malha da peneira (μm) 250

Proteína (%) < 8

Ácidos graxos (mg 100

KOH/100g produto)

Umidade (%) 15

Fonte: INMETRO, 2013.

3.3. Controle de qualidade físico-químico da farinha de trigo

A qualidade da farinha de trigo é definida por diversas características que

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assumem diferentes significados dependendo da designação de uso ou tipo de

produto. Estas características podem ser divididas em químicas, enzimáticas e

físicas ou reológicas (RIBEIRO, 2009, p. 24).

Dentre os principais componentes de qualidade da farinha, podem ser citados

a umidade, cinzas, quantidade e qualidade do glúten, o número de queda e a cor,

estas características são dependentes do grão de trigo utilizado, bem como da

qualidade geral do processo industrial de sua obtenção (ZARDO, 2010, p. 25).

Dada a grande diversidade de farinhas de trigo, é necessária a utilização de

vários métodos para determinar as características de umidade, acidez, cinzas,

proteína, número de queda, teor e força de glúten, absorção de água, propriedades

de mistura, capacidade elástica e extensível da massa e volume de pão. Os

métodos mais utilizados são os relacionados com as características reológicas da

massa, a partir de sistemas simples de mistura de água e farinha. (RIBEIRO, 2009,

p. 25).

3.3.1. Umidificação dos grãos

Níveis corretos de umidade do trigo à moagem favorecem a separação e a

pulverização do endosperma por tornar a casca menos quebradiça e a região

amilácea mais tenra. Sem a correta umidificação, a moagem do trigo resultará em

farinhas altamente contaminadas por fragmentos de cascas, com alto percentual de

cinzas, cor escura e baixo nível tecnológico. Antes de ser umidificado, o grão está

com uma baixa umidade, em torno de 12%. A umidade é elevada em torno de 15%

para que a água fique uniforme e equilibradamente distribuída no grão. O trigo fica

armazenado por um período mínimo de 12 a 18 horas, tempo necessário para que a

água fique uniforme e equilibradamente distribuída pelo grão (GRANOTEC, 2012).

3.3.2. Moagem experimental

A moagem pode ser caracterizada em duas etapas distintas: etapa de quebra

ou ruptura do grão de trigo em cilindros estriados e a etapa de classificação e

redução, que juntas têm a finalidade de separar o endosperma do farelo e do

gérmen. Estas operações são realizadas sucessivamente, de acordo com o

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diagrama de moagem em número suficiente de canais de separação de passagens

ou farinhas, objetivando extrair a quase totalidade do endosperma amiláceo,

preservando o valor qualitativo e quantitativo da farinha (RIBEIRO, 2009, p.23).

3.3.3. Teor de umidade da farinha de trigo

Umidade é o percentual de água livre encontrada na amostra do produto em

seu estado original (GRANOTEC, 2012).

O conteúdo de umidade de farinha tem importância econômica direta, por ser

inversamente proporcional à quantidade de matéria seca. Além disso, durante a

estocagem, a umidade é o principal fator que governa a conservação mantendo a

qualidade da farinha (PIZZINATTO, 1999, p. 4).

A umidade da farinha deve estar em torno de 13%. Farinhas com umidade

acima de 14% têm tendência de formar grumos. A umidade do produto deve ser

regulada pelas Boas Práticas de Fabricação não podendo exceder a 15% (ZARDO,

2010, p. 42).

3.3.4. Alveografia

Este teste simula o comportamento da massa na fermentação. As

características visco elásticas da farinha de trigo podem ser avaliadas por diferentes

parâmetros da alveografia. A energia de deformação da massa ou força de glúten

(W) representa o trabalho de deformação da massa e indica a qualidade panificativa

da farinha, este teste corresponde ao trabalho mecânico necessário para expandir a

bolha até a ruptura, expressa em 10-4 J. A tenacidade (P) mede a sobre pressão

máxima exercida na expansão da massa, e corresponde a uma medida da

capacidade de absorção de água da farinha. A extensibilidade da massa (L) é usada

para predizer o volume do pão, juntamente com o teor de proteína e representa a

capacidade de extensão da massa, sem que ela se rompa. Um alto grau de

extensibilidade está associado a um baixo rendimento de farinha. A relação

tenacidade/extensibilidade (P/L) expressa o equilíbrio da massa (MÓDENES, SILVA,

TRIGUEROS, 2009, p.509).

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3.3.5 Farinografia

A farinografia é um dos mais completos e sensíveis testes comumente usados

no mundo para a avaliação da qualidade de mistura da massa de farinha de trigo.

Alguns parâmetros determinados pela farinografia são absorção de água (ABS),

tempo de desenvolvimento da massa (TDM), estabilidade (EST) e índice de

tolerância à mistura (ITM). Os resultados dos parâmetros são usados na formulação

para estimar a quantidade de água requerida para fazer a massa de pão, avaliar os

efeitos dos ingredientes em propriedades de mistura, avaliar as exigências de

mistura da farinha e verificar a uniformidade da farinha. Esses resultados são úteis

para prever as características da textura do produto (RIBEIRO, 2009, p.26).

- Absorção de água: A absorção de água é definida como a quantidade de água

requerida para que a massa atinja a consistência ótima de 500 U. F.(unidades

farinográficas) no ponto máximo. A absorção de água deverá ser corrigida para a

base de 14 % de umidade.

- Tempo de desenvolvimento: O tempo de desenvolvimento é o tempo, em minutos,

requerido para que a curva atinja o ponto máximo a partir do início da adição da

água. Ocasionalmente, 2 picos podem ser observados. Neste caso, o segundo pico

deve ser tomado como ponto de desenvolvimento da massa.

- Estabilidade: A estabilidade é o intervalo de tempo, em minutos, no qual o topo da

banda permanece acima da linha de 500 U.F. Corresponde à diferença entre tempo

de saída e tempo de chegada.

- Índice de tolerância à mistura: É a diferença de consistência da massa (em U.F.)

entre o topo da banda no ponto máximo e o topo da banda 5 min. Após o ponto

máximo ter sido atingido. Quanto maior o Índice de tolerância à mistura, menor é a

tolerância da farinha a mistura (PIZZINATTO, 1999, p. 38 e 39).

3.3.6. Determinação de Glúten

O glúten é constituído pelas frações hidratadas de gliadinas e gluteninas e

pelo resíduo proteico. As gliadinas conferem extensibilidade e as gluteninas e o

resíduo proteico, elasticidade a massa. O glúten é formado quando a farinha de trigo

é misturada à água sofre a ação de um trabalho mecânico à medida que a água

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começa a interagir com as proteínas insolúveis da farinha de trigo (glutenina e

gliadina). As gliadinas são proteínas de cadeia simples, extremamente pegajosas,

responsáveis pela consistência e viscosidade da massa, apresentando pouca

resistência à extensão. As gluteninas, por sua vez, apresentam cadeias ramificadas,

sendo responsáveis pela extensibilidade da massa (RIBEIRO, 2009, p.17).

3.3.7. Falling Number

As principais enzimas presentes na farinha são a α-amilase e a β-amilase que

são produzidas pelo próprio vegetal. Sua quantidade varia em função da variedade

do trigo, da fase da colheita, das condições climáticas e, é especialmente acrescida

durante o processo de germinação do trigo. Observa-se maior aumento da atividade

da α-amilase porque esta potencializa o efeito da β-amilase que é uma enzima de

ação mais limitada. A α-amilase hidrolisa o amido presente na farinha de trigo,

transformando assim a amilose e a amilopectina em dextrinas que serão

posteriormente hidrolisadas pela β-amilase em moléculas de maltose (ZARDO,

2010, p.36).

3.3.8. Teor de Cinzas

O teor de cinzas é um importante parâmetro da qualidade e de eficiência do

processo de moagem, sendo considerado um indicativo do grau de extração de

farinha de trigo. Quando se trabalha com o mesmo trigo e nas mesmas condições,

quanto maior o grau de extração, maior o teor de cinzas. Elevados teores de cinzas

em farinhas indica alta extração com inclusão de farelo, o que é indesejável devido

ao fato de propiciar uma cor mais escura, cocção inferior e interferir na continuidade

da rede do glúten. Farinhas com baixos teores de cinza apresentam melhor

absorção de água, bem como qualidade geral de panificação (RIBEIRO, 2009, p.49).

Na farinha de trigo tipo 1, o teor máximo de cinzas que pode ser encontrado é

0,80%; Na farinha de trigo tipo 2, o teor máximo de cinzas que pode ser encontrado

é 1,40%; Na farinha de trigo integral, o teor máximo de cinzas que pode ser

encontrado é 2,50%; Nas farinhas de trigo do grupo industrial, o teor de cinzas pode

ser de até 2,5% (INMETRO, 2013, p.2 e 3)

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4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As amostras de farinha da produção eram submetidas às análises: umidade,

glúten, falling number, alveografia, farinografia, cinzas e cor.

As amostras de trigo das safras anuais recebidas no laboratório vinham em

embalagens plásticas e apresentavam uma etiqueta com a identificação, que além

da origem, continha informações sobre o teor de umidade e o tipo de impureza.

Essas eram transformadas em farinhas, acondicionadas em polietileno,

armazenadas a temperatura ambiente até a realização das posteriores análises.

Antes da moagem experimental era feita uma correção da umidade dos grãos de

trigo e após de 12 a 18 horas de descanso o trigo é moído e a farinha submetida as

mesmas análises da farinha da produção, que encontram-se descritas nos itens a

seguir.

4.1. Umidificação dos grãos

Primeiramente, os grãos eram submetidos à limpeza manual e em seguida

era realizada a umidificação, que confere ao trigo, após devido repouso, a umidade

ideal, em torno de 14%, para otimizar a relação extração X qualidade da farinha.

Para o cálculo da quantidade de água a ser adicionada na amostra usa-se a

Equação 1. Na figura 1, está o misturador usado para a agitação dos grãos após a

adição de água.

(1)

Após a amostra ser umidificada, deve descansar de 12 a 18 horas para que a

água fique uniforme e de forma equilibrada distribuída pelo grão.

Volume água (ml) = 100 - umidade do grão – 1x peso da amostra

100 – umidade desejada

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Figura 1: Misturador. Fonte: Granotec, 2012.

4.2. Moagem Experimental

A moagem do trigo efetua-se de dentro para fora do grão, ocorrendo a partir

da quebra do grão que, com a sua porção interna exposta, tem o endosperma

raspado sucessivamente. Esse procedimento é realizado no Moinho de trigo

mostrado na Figura 2 (GRANOTEC, 2012).

Cálculo da extração feito após a moagem, de acordo com a Equação 2.

(2)

Após a moagem é necessário aguardar um período para o repouso/rearranjo

da farinha de trigo para posterior início das análises, este tempo é de no mínimo 2

horas (2 a 12 horas). Sem esse tempo a farinha de trigo poderá apresentar

resultados reológicos errôneos (GRANOTEC, 2012).

Extração da farinha % = peso final X 100

Peso inicial

16

Figura 2: Moinho de trigo. Fonte: Granotec, 2012.

4.3. Teor de Umidade

Há vários métodos para determinação de umidade. A mais usada é o método

indireto por refletância de radiação do espectro infravermelho (Figura 3), pois é um

processo rápido e simples. Nesse método, refletem no sensor o teor de umidade em

porcentagem (GRANOTEC, 2012).

Segundo a Portaria Nº 354 de 18/07/96, legislação da ANVISA o teor de

umidade do produto deverá ser regulado pelas Boas Práticas de Fabricação não

podendo exceder de 15,0 % m/m (massa/massa).

Figura 3: Medidor de Umidade por Infravermelho. Fonte: Gehaka, 2012.

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4.4. Colorimetria

Para análise dos resultados, os parâmetros obtidos no colorímetro são

claridade (L*), que varia de 0 a 100, onde o 0 é o preto total e o 100 é o branco total,

tendência da cor para a tonalidade vermelhas (a*+), tendência a cor para a

tonalidade verde (a*-), tendência da cor para a tonalidade amarela (b*+) e a

tendência da cor para a tonalidade azul é observada com o parâmetro (b*-). (PAULY,

et al 2010, p. 3 e 4).

A legislação brasileira estabelece que a farinha de trigo deve apresentar cor

branca, com tons leves de amarelo, marrom ou cinza, conforme o trigo de origem.

Por outro lado, a cor dependerá também do tempo de armazenamento, que tem

influência sobre a qualidade tecnológica da farinha, e que poderá resultar em

modificações dos seus parâmetros nutricionais e sensoriais (BRASIL, 2005).

O colorímetro (Figura 4) é o equipamento mais utilizado para realizar análise

de cor, que tem por objetivo avaliar a cor dos produtos traduzindo essa cor em

números.

Figura 4: Colorímetro Konica Minolta. Fonte: ITISE, 2012.

4.5. Alveografia

A Alveografia é um teste reológico usado em vários países para a

determinação de características qualitativas da farinha através dos parâmetros força

de glúten (W x 10ˉ4 J), relação entre elasticidade e extensibilidade ou tenacidade

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(P/L) e Índice de Elasticidade (IE). A expressão força de glúten normalmente é

utilizada para designar a maior ou menor capacidade de uma farinha sofrer

tratamento mecânico ao ser misturada com água (RIBEIRO, 2009, p.26).

A farinha de trigo pode ser classificada em média, quando apresenta valores

de W menor que 200; em média forte, quando os valores de W variarem entre 201 a

300 e de fortes com W de 301 a 400. A farinha com valores de P/L menores do que

0,60 pode ser considerada como possuindo glúten extensível; de 0,61 a 1,20 de

glúten balanceado, e maior do que 1,21 de glúten tenaz (RIBEIRO, 2009, p.57).

O Alveógrafo utilizado está representado na Figura 5.

Figura 5: Alveógrafo. Fonte: Granotec, 2012.

4.6. Farinografia

O farinógrafo é, essencialmente, um misturador de massa que mede e

registra o torque produzido pela resistência da massa à mistura (PIZZINATTO, 1999,

p. 34).

A Figura 7 mostra o gráfico obtido após realizada a análise:

19

Figura 7: Gráfico obtido após a análise. Fonte: Granotec, 2012.

O equipamento utilizado é o Farinógrafo Brabender é mostrado na Figura 8

abaixo.

Figura 8: Farinógrafo Brabender.

4.7. Determinação de Glúten

O glúten úmido é obtido com a lavagem do trigo moído ou farinha de trigo pelo

Glutomatic. Depois ele é centrifugado sob condições padronizadas. O teor de glúten

é obtido após essa centrifugação, que é realizada para retirar o excesso de água e

também para o cálculo do glúten index. O total de glúten úmido é expresso em

percentual e o glúten index é expresso através da relação entre o glúten que ficou

20

retido e o glúten que passou através da peneira durante a centrífuga. O glúten seco

será obtido após a secagem úmido sob condições específicas (PERTEN, 2012).

A Figura 9 mostra os passos para determinação do glúten.

Figura 9: Passos para determinação de glúten. Fonte: PERTEN, 2012.

a) Primeiramente é pesado 10g de amostra.

b) É colocado 4,8ml de solução salina.

c) Coloca-se a mistura no Glúten Index equipamento para a lavagem

mecânica.

d) Realizada a lavagem, o equipamento emite um som. Logo retira-se a

amostra.

e) Após ser retirada a amostra, esta é encaminhada para a centrífuga.

f) Realizada a centrifugação, o equipamento emite um som. Logo retira-se a

amostra e anota o peso.

g) Por fim, a amostra é levada ao Glutork onde é realizado o glúten seco e

pesada após terminado.

A Figura 10 mostra os equipamentos para a determinação do glúten.

a b c d

e f g

21

Figura 10: Equipamentos para determinação do glúten. Fonte: Granotec, 2012.

a) Glúten Index: Equipamento para a realização da lavagem mecânica na

amostra.

b) Glutork: Equipamento para a realização do glúten seco.

c) Centrífuga: Equipamento que realiza a centrifugação da amostra para

obtenção do glúten úmido.

4.8. Falling Number

O teste realizado no falling number fundamenta-se na rápida gelatinização do

amido presente numa suspensão aquosa de farinha, quando submetido a tratamento

térmico em banho-maria fervente e na subsequente liquefação do gel formado pela

ação da alfa-amilase presente na amostra. Portanto, a atividade da alfa-amilase é

determinada usando o amido da própria amostra como substrato (PIZZINATTO,

1999, p. 18).

O método (figura 11) baseia-se na capacidade das enzimas amilolíticas,

presentes no trigo, em liquefazer uma suspensão de amido gelatinizado. Quanto

maior a concentração de enzimas maior é o efeito sobre o amido e, portanto, menos

será sua viscosidade. Esta viscosidade é medida pelo tempo que uma haste

consegue passar através desta suspensão, medida em segundos, lido diretamente

no aparelho (RIBEIRO, 2009, p.31 e 32).

a

b

c

22

Figura 11: Passos do método para análise. Fonte: PERTEN, 2012.

a) Para as análises de farinha integral, primeiramente deve-se moer uma

pequena amostra de trigo integral. A partir disso, todas as farinhas terão o

mesmo procedimento, ou seja, tirar a umidade da amostra para saber a

quantidade que se deve pesar.

b) Com a umidade pronta, há uma tabela que se encontra os valores para

pesar a amostra.

c) Depois de pesada a amostra é adicionado 25 ml de água destilada,

colocados em um tubo de ensaio do equipamento.

d) Esta amostra é agitada manualmente e tira-se o excesso das bordas do

tubo para colocar no equipamento.

e) Colocada a amostra no equipamento, este começa a medir a quantidade

de α-amilase presente na amostra.

f) Resultado de α-amilase na amostra.

A Figura 12 mostra o equipamento Falling Number.

a b c d

e f

23

Figura 12: Falling Number. Fonte: PERTEN, 2012.

O excesso de α-amilase pode levar à produção de pães avermelhados

e murchos. A falta desta enzima, porém, pode acarretar na cor pálida de pães e com

pouco volume, levando a uma deficiência na fermentação, o intumescimento do

amido e a uma umidade não desejada da massa (Figura 13) (ZARDO, 2010, p.36).

De acordo com Pizzinatto (1999), recomenda-se o valor de falling

number entre 200 e 300 segundos para a farinha de trigo destinada à panificação.

Figura 13: Influência da atividade da alfa-amilase. Fonte: PERTEN, 2012.

Como pode-se observar na figura acima, a atividade da α-amilase pode

interferir nas características visuais e sensoriais, no produto de panificação. Quando

se obtém um valor de falling number muito baixo (62), os pães não irá crescer,

24

mesmo com a fermentação consequentemente os pães ficarão com textura ruim

(emborrachado), e apresentam furos (buracos no produto final), porém quando se

obtém um falling number muito alto (400), afetará as características do produto final,

esse pão não irá crescer, interferindo na textura. Um falling number bom seria, um

valor intermediário (± 250), assim, o pão terá características sensoriais e visuais

ótima, e ajudará no processo de fermentação, obtendo-se no final um pão grande e

macio.

4.9. Teor de cinzas

O teor de cinzas representa o percentual de matéria mineral presente no

produto. Estes minerais encontrados nas farinhas são os óxidos, sulfatos, fosfatos,

silicatos e cloretos (ZARDO, 2010, p.38).

Para realizar a análise das cinzas, deve-se pesar 2 gramas da amostra em

cadinhos, que suportam alta temperatura, utilizando para pesagem uma balança

analítica, após a pesagem levar na mufla por 600ºC por 2 horas, este tempo e

temperatura, é o necessário para que, os nutrientes e a farinha sejam incinerados,

restando apenas no cadinho os sais minerais presentes na farinha.

O equipamento utilizado é o forno Mufla, representado na Figura 14.

Figura 14: Forno Mufla. Fonte: Brastec, 2012.

Para calcular os resultados de cinzas utiliza-se as seguintes fórmulas

(Equação 3, 4 e 5):

25

(3)

(4)

(5)

Base Úmida = Peso final – peso inicial X 100 Peso da amostra

100 – umidade = x

Base Seca = (100/x) X Base Úmida

26

5. CONCLUSÃO

As atividades desenvolvidas durante o estágio supervisionado proporcionaram

um conhecimento técnico para a realização de algumas análises físico-químicas no

trigo e na farinha de trigo. Foi possível verificar a importância do trabalho realizado

no laboratório, para a obtenção de um produto de qualidade.

A empresa realiza essas análises de controle de qualidade do trigo e das

farinhas de trigo, para evitar perdas e, ainda, tem a preocupação de obter um

alimento seguro para os consumidores.

27

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1996. Regulamento de normas técnicas referente à farinha de trigo. Diário Oficial

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