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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARAN – UTP FACULDADE DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE CURSO DE MEDICINA VETERINRIA GAUBER LUEBKE FRANCISCO TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO RELATRIO DE ESTGIO CURRICULAR REVISO DE LITERATURA: INSTABILIDADE ATLANTOAXIAL EM CÃES CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA – UTP

FACULDADE DE CIENCIAS BIOLOGICAS E DA SAUDE

CURSO DE MEDICINA VETERINARIA

GAUBER LUEBKE FRANCISCO

TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO

RELATORIO DE ESTAGIO CURRICULAR

REVISAO DE LITERATURA: INSTABILIDADE

ATLANTOAXIAL EM CÃES

CURITIBA

2015

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GAUBER LUEBKE FRANCISCO

TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO

RELATORIO DE ESTAGIO CURRICULAR

REVISAO DE LITERATURA: INSTABILIDADE

ATLANTOAXIAL EM CÃES

Trabalho de conclusao

apresentado ao curso de Medicina

Veterinaria da Faculdade de

Ciencias Biologicas e da Saude

da Universidade Tuiuti do

Parana como requisito avaliativo

parcial do 10° semestre para

obtencao do grau de Medico

Veterinario

Orientador: Prof. Adjunto Milton

Mikio Morishin Filho

CURITIBA

2015

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Reitoria

Sr. Luiz Guilherme Rangel dos Santos

Pro-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pro-Reitoria Academica

Profa. Carmen Luiza da Silva

Pro-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pro- Reitoria de Pos-Graduacao, Pesquisa e Extensao

Profa. Carmen Luiza da Silva

Secretario Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Diretor da Faculdade de Ciencias Biologicas e da Saude

Prof. Joao Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinaria

Prof. Welington Hartmann

CAMPUS BARIGUI

Rua Sydnei A Rangel Santos 238 - Santo Inacio

CEP 82.010-330 – Curitiba - PR

FONE: (41) 3331-7700

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EPÍGRAFE

''A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados. ''

(Mahatma Gandhi)

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AGRADECIMENTOS

A Deus por conduzir o meu caminho, pela sabedoria, mostrando todos os dias

como minha fé me torna um ser humano melhor e permitir que tudo isso fosse

possível.

Meus pais aos quais eu devo minha vida, que eu amo incondicionalmente, por

toda a educação, por estarem presentes em todos os momentos possíveis da minha

existência, por acreditarem na escolha que eu fiz para a minha vida.

A Vanessa Menna Brusamolin pelo companheirismo e incentivo todos esses

anos juntos, pessoa que me fez acreditar num sonho que hoje estou conseguindo

concretizar.

A Universidade Tuiuti do Paraná, todos os professores, residentes e

funcionários que fizeram parte direta ou indiretamente nesse período da graduacao.

A toda equipe da Universidade de Rio Preto pela disponibilidade e

ensinamentos na reta final do curso.

Aos amigos que me levantam nos momentos de dificuldade e com quem

compartilho momentos únicos e especiais.

Ao meu professor orientador Milton Mikio Morishin Filho pela sua ajuda e

dedicacao na conclusao de mais essa etapa, na transmissao do seu conhecimento e ser

um dos profissionais responsáveis pela minha escolha pela área da cirurgia de

pequenos animais.

E por fim, ao Rabito meu cão falecido que sinto tanta falta, aos meus

companheiros de quatro patas Gandhi e Estrela, cães maravilhosos que me ensinam

sem palavras, mas com gestos; expressões, todos os dias que se nós tivéssemos um

pouco mais de carinho e amor com o próximo, esse mundo em que vivemos hoje seria

totalmente diferente.

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RESUMO

O estágio curricular foi realizado na UNIRP durante os meses de agosto à

outubro de 2015, no setor veterinário de pequenos animais. A instabilidade atlantoaxial

é uma afecção que acomete cães de raça de pequeno porte e ''toy'', geralmente

desenvolvem os sinais clínicos nos primeiros dois anos de idade, entre eles estão a

hiperestesia cervical, ataxia ou hiperreflexia nos quatro membros, tetraparesia ou

tetraplegia. Essa alteracao pode estar associada tanto de carater congenita, a

malformações vertebrais ou ligamentares, como traumática, fratura do dente do áxis,

laceração ou estiramento do ligamento atlantal transverso, com o risco de ocasionar

uma compressão medular espinhal. O diagnostico e baseado no historico, sinais

clínicos, neurologicos e auxílio dos exames de imagem. A instabilidade traumatica ou

congenita pode ser corrigida de forma conservativa ou cirurgica, sendo que pelo

método cirúrgico existem várias técnicas por acesso dorsal ou ventral, em que o

melhor tratamento a ser instituído vai depender de fatores como peso corporeo; idade;

alteracões do processo odontoide e complexidade dos sinais neurologicos. As tecnicas

cirurgicas ventrais apresentam relatos com maiores índices de sucesso e menores

recorrencias de recidivas, entanto, as complicacões observadas em todos os metodos

de estabilizacao indicam a necessidade de mais avancos.

Palavra-chave: subluxacao atlantoaxial, mielopatia cervical, estabilizacao cervical.

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ABSTRACT

The traineeship was accomplished in Unirp during the months of August to

October 2015, in the veterinary sector of small animals. The atlantoaxial instability is

an condition that affects small breed dogs and 'toy' generally develop clinical signs on

their first two years, among them are cervical hyperesthesia, ataxia and hyperreflexia

in all four limbs, tetraparesis or tetraplegia. This change can be associated such as the

congenital character, the vertebral or ligament malformations, as traumatic fracture

axis of the tooth, laceration or stretching of the transverse ligament atlantal, with the

risk of causing spinal cord compression. The diagnose is based on historical, clinical

signs, neurological and support imaging tests. The congenital or traumatic instability

can be corrected conservatively or by surgical procedure, through the surgical

procedure, there are various techniques for dorsal or ventral, which the best treatment

procedure will depend of factors such as body weight; age; changes in the odontoid

process and complexity of neurological signs. The ventral surgical techniques present

reports with higher success rates and lower recurrence of relapse, however,

complications had been observed in all stabilization methods indicate that is necessary

more advances.

Keywords: atlantoaxial subluxation, cervical myelopathy, cervical stabilization.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Recepção (A) e secretária com sala de espera (B) – Hospital

Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).................

16

Figura 2: Farmácia (A) e corredor de acesso aos ambulatórios (B) –

Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto

(2015)..............................................................................................

16

Figura 3: Ambulatorio (A) e área limpa seta azul, area suja seta vermelha

para limpeza, esterilizacao de materiais (B) – Hospital Halim

Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015)............................

16

Figura 4: Sala de emergencia, fluidoterapia, gatil (A) e a sala de radiologia

e ultrassonografia (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São

José do Rio Preto (2015).................................................................

17

Figura 5: Laboratorio de analises clínicas e hematologicas (A) e o

Laboratorio de microbiologia (B) – Hospital Halim Atique –

UNIRP - São José do Rio Preto

(2015)..............................................................................................

17

Figura 6: Sala de técnica cirúrgica (A) e a sala pre-cirurgica e odontologia

(B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto

(2015)..............................................................................................

17

Figura 7: Centro cirúrgico 1 (A) e Centro cirúrgico 2 (B) – Hospital Halim

Atique – UNIRP - São José do Rio Preto

(2015)..............................................................................................

18

Figura 8: Internamento (A) e Sala de reprodução (B) – Hospital Halim

Atique – UNIRP - São José do Rio Preto

(2015)..............................................................................................

18

Figura 9: Internamento para doenças infectocontagiosas: Cinomose (A) e

Parvovirose (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do

Rio Preto

(2015)..............................................................................................

18

Figura 10: Solário (A) e Local de paramentação (B) – Hospital Halim Atique

– UNIRP - São José do Rio Preto (2015)........................................

19

Figura 11: Anatomia óssea normal do Atlas (C1) de cão................................. 26

Figura 12: Anatomia óssea normal do Áxis (C2) de cão.................................. 27

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Figura 13: Anatomia normal da articulação atlantoaxial em cão, vista

dorsoventral. A – Ligamento transverso, B – Processo

odontóide.........................................................................................

27

Figura 14: Vista lateral de uma amostra do osso atlantoaxial com uma janela

de lâmina removida, para a demonstração esquemática dos

ligamentos que unem o occipúcio, o atlas e o áxis em cães

normais............................................................................................

28

Figura 15: Mecanismo suspensor da cabeça de cao. O triângulo negro

representa o ponto de apoio em torno do qual uma forca

declinante sobre a cabeca e contrabalancada pela tensao exercida

sobre o ligamento nucal, unido ao axis. Esta situacao e conhecida

como efeito arco de corda................................................................

28

Figura 16: Na radiografia em perfil (A), cão normal com o pescoço em

flexão. Observe a distância entre a lâmina dorsal de C1 e a

espinha dorsal de C2 (seta). (B) mesma projeção só que agora em

um cão com instabilidade, o espaço observado é diagnóstico de

instabilidade atlantoaxial.................................................................

32

Figura 17: Reconstrução em três dimensões por TC de um Yorkshire Terrier

com instabilidade atlantoaxial.........................................................

33

Figura 18: Uma imagem por RM em plano sagital modo T2, do cerebro; C1;

C2, sendo possível visualizar uma compressao ventral da medula

espinhal cervical pelo dente do áxis e uma hiperintensidade da

medula espinhal condizente com edema/inflamação......................

34

Figura 19: Um Yorkshire Terrier de 5 meses de idade com subluxação

atlantoaxial, demonstrando o prolongamento do suporte rígido

desde o canto dos olhos até região medial do tórax........................

36

Figura 20: Sequência (A-D) da técnica dorsal com cerclagem......................... 39

Figura 21: Pino cruzado, vista dorsal da articulacao atlantoaxial: Os fios de

Kirschner são direcionados na metade caudal das asas do atlas.....

40

Figura 22: Sequência da técnica de BTAA Kishigami: A – perfuração dos

orifícios, B – passagem do fio de aço, C – implante, D – vista

dorsoventral e lateral da finalização da técnica...............................

41

Figura 23: Parafusos inseridos cranialmente e caudalmente no corpo do áxis,

servindo de apoio para os fios , que são torcidos em torno da

cabeça dos parafusos e tracionados caudoventralmente..................

42

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Figura 24: Parafusos com efeito lag transarticular podem ser inseridos na

articulacao atlantoaxial, direcionados medialmente para a

incisura alar......................................................................................

43

Figura 25: Demonstrando a insercao dos pinos lisos em modelo de osso (A)

aspecto ventral e (B) face lateral de C1 e C2. N˚ 1 e 2: pinos

transarticulares, n˚ 3: pino inserido na superfície da articulacao

atlantoaxial, n˚ 4 e 5: pinos no pedículo de C1, n˚ 6 e 7: pinos no

corpo vertebral caudal de C2, n˚ 8 e 9: pinos adicionais em C2.....

44

Figura 26: Multiplos parafusos corticais com pinos ligados por fios a base

das cabecas dos parafusos para estabilizacao atlantoaxial..............

45

Figura 27: Parafusos corticais com suas cabeças e porção rosqueada

expostas no atlas e áxis, pasasagem de fios de Kirschner

transarticulares e moldar PMMA sobre as extremidades expostas

dos parafusos...................................................................................

46

Figura 28: Radiografia pós-operatória com a fixação por placa bloqueada de

titânio em formato borboleta........................................................

47

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Distribuição da casuística do total de casos acompanhados

separados por gênero e espécie...........................................................

21

Quadro 2: Distribuição da casuística do centro cirúrgico, com o número de

procedimentos realizados no período do

estágio.................................................................................................

21

Quadro 3: Distribuição da casuística de consultas novas acompanhadas no

ambulatório separados por

especialidade.......................................................................................

22

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BTAA Kishigami – Banda de tensão atlantoaxial de Kishigami

C1 – Primeira vértebra cervical (Atlas)

C1-C5 – Região cervical que compreende as primeiras cinco vértebras cervicais

C2 – Segunda vértebra cervical (Áxis)

DDIV – Doença do disco intervertebral

et al – Do latim et alii, que significa ''e outros''

IAA – Instabilidade atlantoaxial

kg – Quilograma

mg/kg – Miligrama por quilograma

mm – Milímetro

PMMA – Polimetilmetacrilato (Cimento ósseo)

RM – Ressonância magnética

SID – Do latim semel in die, que significa ''uma vez ao dia''

TC – Tomografia computadorizada

T12-T13 – Espaço intervertebral entre a décima segunda e décima terceira vértebra

torácica

TID – Do latim ter in die, que significa ''três vezes ao dia''

Unirp – Universidade de Rio Preto

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SUMÁRIO

1. INTRODUCAO ......................................................................................................... 14

2. DESCRICAO DA UNIDADE CONCEDENTE – HOSPITAL HALIM ATIQUE -

UNIRP ........................................................................................................................... 15

3. DESCRICAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ......................................... 19

3.1. CASUÍSTICA ..................................................................................................... 20

4. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 25

4.1 ANATOMOFISIOPATOGENIA DA ARTICULAÇÃO ATLANTOAXIAL ... 25

4.2 ETIOLOGIA ........................................................................................................ 29

4.3 EPIDEMIOLOGIA .............................................................................................. 30

4.4 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................. 30

4.5 DIAGNÓSTICO .................................................................................................. 31

4.6 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................... 34

4.7 TRATAMENTO .................................................................................................. 34

4.7.1 Tratamento conservativo ............................................................................... 35

4.7.2 Tratamento cirúrgico ..................................................................................... 36

4.7.2.1 Estabilização dorsal ................................................................................ 37

4.7.2.1.1 Cerclagem atlantoaxial .................................................................... 38

4.7.2.1.2 Técnica do ligamento nucal ............................................................. 39

4.7.2.1.3 Pino cruzado dorsal.......................................................................... 40

4.7.2.1.4 Banda de tensão atlantoaxial de Kishigami ..................................... 40

4.7.2.2 Estabilização ventral ............................................................................... 41

4.7.2.2.1 Pinos ou parafusos com efeito lag transarticular ............................. 43

4.7.2.2.2 Pinos e cimento ósseo ...................................................................... 43

4.7.2.2.3 Parafusos e cimento ósseo ............................................................... 45

4.7.2.2.4 Placa e parafusos .............................................................................. 46

4.8 COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS ...................................................................... 47

4.9 CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS .................................................................... 48

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4.10 PROGNÓSTICO ................................................................................................ 49

5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 51

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1. INTRODUCAO

O relatorio tem o objetivo de apresentar ao leitor as atividades desenvolvidas

pelo academico Gauber Luebke Francisco durante o período do estagio curricular

supervisionado, realizado no Hospital Veterinário Halim Atique pertencente ao Centro

Universitario de Rio Preto (UNIRP), no período de 3 de agosto a 14 de outubro de

2015. Sendo monitorado pelo professor Dr. Victor Rossetto, professor de clínica

cirurgica; uns dos responsaveis pelo servico de cirurgia de pequenos animais e sob

orientação academica do professor Msc. Milton Mikio Morishin Filho, totalizando 408

horas de atividade.

A decisao em realizar esta etapa do curso na UNIRP, foi baseada na estrutura

oferecida pelo Hospital Veterinario Universitario da UNIRP, que concilia educacao,

alta casuística, pesquisa e interligacao dos setores do hospital veterinario sendo

possível agregar valor a qualidade na prestacao de servico.

Permitiu o aperfeicoamento na pratica, realizando consultas encaminhadas pela

triagem para a área de clínica cirúrgica ou liberadas pela clínica médica, através da

anamnese e exame físico dos pacientes, juntamente com os residentes e professores

para a correta abordagem dos exames necessários e obtenção dos diagnósticos

diferenciais, diagnóstico definitivo e muitas vezes a necessidade de se estimar um

prognostico conforme a gravidade do caso. Discuti os casos, auxiliando na

interpretacao dos exames e elaboracao do plano de tratamento adequado, assim como

nas prescrições junto aos residentes, e os cuidados de enfermagem dos pacientes

internados. Foi realizado o auxílio de cirurgias de cães e gatos. Em alguns casos, foi

permitido a realização do procedimento cirúrgico sob supervisão, onde foi possível

treinar conhecimentos adquiridos durante a graduação e aprender novos.

Neste trabalho também consta a casuística do setor de clínica cirurgica de

pequenos animais, assim como uma revisao bibliografica abordando instabilidade

atlantoaxial em cães, desde a sua incidência, etiopatogenia, sinais clínicos, diagnóstico

e as formas de tratamento tanto antigas como principalmente as mais recentes

relatadas.

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2. DESCRICAO DA UNIDADE CONCEDENTE – HOSPITAL HALIM

ATIQUE - UNIRP

O estagio foi realizado no Hospital Halim Atique pertencente ao Centro

Universitário de Rio Preto – UNIRP, localizado no bairro Boa Vista - Sao Jose do Rio

Preto/SP, Rua Yvete Gabriel Atique, 45.

O Hospital oferece atendimento para caes e gatos. O Hospital Halim Atique

possui as areas de clínica medica, clínica cirurgica, anestesiologia, diagnostico por

imagem, reproducao animal, laboratorio de microbiologia e patologia clínica. O

atendimento ocorre durante todos os dias da semana 24 horas. As consultas são

realizadas por ordem de chegada, tanto as consultas novas como os retornos.

A estrutura e composta por uma recepcao e secretária com sala de espera

(Figura 1), farmácia e corredor de acesso aos ambulatórios (Figura 2), quatro

ambulatorios e uma área limpa e área suja para limpeza, esterilização de materiais

(Figura 3), sala de emergencia, fluidoterapia, gatil e a sala de radiologia e

ultrassonografia (Figura 4), laboratorio de analises clínicas e hematologicas e o

laboratorio de microbiologia (Figura 5), sala de técnica cirúrgica e a sala pre-cirurgica

e odontologia (Figura 6), centro cirúrgico 1 e centro cirúrgico 2 (Figura 7), .

internamento e sala de reprodução (Figura 8). Existe também em uma parte isolada o

internamento para doencas infectocontagiosas como cinomose e parvovirose (Figura

9), um solário e local de paramentação (Figura 10).

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Figura 1. Recepção (A) e secretária com sala de espera (B) – Hospital Halim Atique –

UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 2. Farmácia (A) e corredor de acesso aos ambulatórios (B) – Hospital Halim

Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 3. Ambulatorio (A) e área limpa seta azul, area suja seta vermelha para limpeza,

esterilizacao de materiais (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio

Preto (2015).

A B

A B

A B

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Figura 4. Sala de emergencia, fluidoterapia, gatil (A) e a sala de radiologia e

ultrassonografia (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 5. Laboratorio de analises clínicas e hematologicas (A) e o Laboratorio de

microbiologia (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 6. Sala de técnica cirúrgica (A) e a sala pre-cirurgica e odontologia (B) –

Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

A B

A B

A B

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Figura 7. Centro cirúrgico 1 (A) e Centro cirúrgico 2 (B) – Hospital Halim Atique –

UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 8. Internamento (A) e Sala de reprodução (B) – Hospital Halim Atique –

UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

Figura 9. Internamento para doenças infectocontagiosas: Cinomose (A) e Parvovirose

(B) – Hospital Halim Atique – UNIRP - São José do Rio Preto (2015).

A B

A B

A B

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Figura 10. Solário (A) e Local de paramentação (B) – Hospital Halim Atique – UNIRP

- São José do Rio Preto (2015).

3. DESCRICAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

No dia 3 de agosto de 2015 foi iniciado o estágio curricular no Hospital Halim

Atique. No período da manhã o professor Victor Rossetto apresentou todo o hospital e

no mesmo período já se iniciou as atividades acompanhando um dos residentes da

cirurgia, mostrando como funcionava a rotina do local. Havia o controle do horário de

entrada e saída do estágio em livro ponto, onde constava além da assinatura do

estagiário, a assinatura do professor responsável pelo setor. Às 8:00 horas da manhã

todos se dirigiam para o internamento e eram feitas as reavaliações dos pacientes

internados (monitoramento dos parâmetros), medicações, manejo de feridas e demais

procedimentos necessários (coleta de sangue, canulação, fluidoterapia, aferição de

glicemia, aferição da pressão arterial, preparação da alimentação, higiene dos

pacientes, das baias e gaiolas, sondagem uretral) sob acompanhamento dos residentes

e professores. Às 16:00 horas da tarde eram repetidos novamente, nesse caso, so

haveria participacao se nao estivesse em cirurgia ou consulta. Durante o período de

estagio, pude desenvolver atividades relacionadas ao setor de cirurgia de pequenos

animais, como atendimento de consultas novas e retornos (reavaliação e retirada de

pontos), exames físicos e específicos, procedimentos ambulatoriais, discussão dos

casos, acompanhamento do paciente e aos exames ultrassonográficos e radiográficos,

assim como participação nas emergências. Nas cirurgias, participação na preparação

dos pacientes na sala pré-cirúrgica e monitoramento até o centro cirúrgico. Eram feitas

A B

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escalas para a instrumentação e auxílio dos residentes e professores. Na maioria dos

procedimentos, principalmente nos ortopédicos e neurológicos, eram discutidos

anteriormente a abordagem cirurgica e terapeutica com os estagiarios. Nas ocasiões em

que estava na equipe cirúrgica, os professores e residentes passavam seus

conhecimentos e muitas vezes nos deixavam à vontade e estimulavam a realizar

pequenos procedimentos, mas de grande aprendizado prático, como incisões e suturas,

retiradas de implantes (pinos intramedulares), colocação fios de Kirschner, pinos de

Steinmann, pinos de Schanz, fios de cerclagem e parafusos bloqueados.

A partir do mês de setembro com a chegada de um maior numero de estagiarios

do setor, foi elaborado uma escala, em que alternava entre uma semana no atendimento

das consultas; emergências e uma semana na preparação de pacientes, auxílio nas

cirurgias e radiografias pós-operatórias.

3.1. CASUÍSTICA

Foram acompanhados 164 casos durante o período de estágio, sendo que desses

77 eram consultas novas, 51 retornos e 36 pacientes submetidos a cirurgia. Sendo 156

cães (88 machos e 68 fêmeas) e 8 gatos (7 machos e 1 fêmea)(Quadro 1).

No centro cirúrgico dos 36 pacientes acompanhados, 32 eram da espécie canina

(17 machos e 15 fêmeas) e 4 felina (3 machos e 1 fêmea). Dentre os animais

submetidos a procedimentos cirúrgicos, 6 foram submetidos a dois tipos de

procedimentos distintos concomitantemente, contabilizando 42 procedimentos

cirúrgicos (Quadro 2).

No ambulatório das 77 consultas novas, 75 eram cães (45 machos e 30 fêmeas)

e 2 gatos (todos machos). Essas consultas estão separadas por especialidades (Quadro

3).

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Quadro 1. Distribuição da casuística do total de casos acompanhados separados por

gênero e espécie.

ESPÉCIE GÊNERO TOTAL

MACHO FÊMEA

CANINO 88 68 156

FELINO 7 1 8

TOTAL 95 69 164

Quadro 2. Distribuição da casuística do centro cirúrgico, com o número de

procedimentos realizados no período do estágio.

CIRURGIA PROCEDIMENTO CIRÚRGICO N˚ de

CASOS

ORTOPÉDICA 13

Osteossíntese de rádio e ulna 2

Estabilização da disjunção sacroilíaca 2

Amputação de membro pélvico 1

Osteossíntese de úmero 1

Osteossíntese de tíbia e fíbula 1

Osteossíntese de tíbia 1

Colocefalectomia 1

Osteossíntese de mandíbula 1

Osteossíntese de ílio 1

Estabilização da luxação escapuloumeral 1

Retirada de pino intramedular de metacarpo 1

GENITO-URINÁRIO 9

Cistotomia

Cesárea

Orquiectomia

Cistorrafia

3

3

2

1

ONCOLÓGICA 8

Biópsia incisional

Biópsia excisional

Mastectomia

Nodulectomia

4

2

1

1

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OFTALMOLÓGICA 3

Enucleação 3

CAVIDADE

ABDOMINAL

2

Correção de eventração

Herniorrafia umbilical

1

1

RECONSTRUTIVA 1

Retalho de fáscia muscular 1

DIGESTÓRIO 1

Herniorrafia perineal 1

NEUROLÓGICA 1

Hemilaminectomia T12-T13 + Fenestração 1

DERMATOLÓGICA 1

Correção de fístula cutânea 1

ODONTOLÓGICA 1

Excisão de pré-molar + Flap 1

RESPIRATÓRIO 1

Toracocentese 1

OTOLÓGICA 1

Ablação vertical do canal auditivo 1

TOTAL 42

Quadro 3. Distribuição da casuística de consultas novas acompanhadas no ambulatório

separados por especialidade.

ESPECIALIDADE N˚ DE CASOS

ORTOPEDIA 24

Claudicação/Tratamento conservativo

Fratura de rádio e ulna

Displasia coxofemoral

Fratura de mandíbula

Fratura de metacarpo

Luxação de patela

Fratura de fêmur

Fratura de seio nasal

Disjunção da sínfise mandibular

Doença articular degenerativa

Fratura isquiática

Fratura ilíaca

Ruptura do ligamento cruzado cranial

4

3

3

2

2

2

2

1

1

1

1

1

1

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NEUROLOGIA 13

Trauma crânio encefálico 5

Doença do disco intervertebral

Epilepsia

Síndrome vestibular

Lesão encefálica

4

2

1

1

OFTALMOLOGIA 7

Ceratoconjuntivite seca 4

Úlcera de córnea 2

Entrópio 1

ONCOLOGIA 6

Neoplasia mamária 2

Linfoma 1

Tumor venéreo transmissível 1

Melanoma 1

Osteossarcoma 1

REPRODUÇÃO E UROLOGIA 5

Piometra 3

Glomerulonefrite 1

Doença renal crônica 1

GASTROENTEROLOGIA 4

Envenenamento 1

Esofagite 1

Prolapso retal 1

Corpo estranho 1

INFECTOCONTAGIOSA 4

Erliquiose 3

Cinomose 1

CIRURGIA GERAL 4

Manejo de feridas 4

DERMATOLOGIA 4

Biópsia cutânea 1

Paroníquia 1

Queimadura 1

Dermatite atópica 1

PNEUMOLOGIA 3

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Afogamento 1

Edema pulmonar 1

Colapso de traquéia 1

OTORRINOLARINGOLOGIA 2

Hiperplasia do conduto auditivo 1

Otite 1

ENDOCRINOLOGIA 1

Hiperadrenocorticismo 1

TOTAL 77

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4. REVISÃO DE LITERATURA

Geary (1967) descreveu a afecção da instabilidade atlantoaxial (IAA) pela

primeira vez em cão, já tendo relatos em outras espécies.

Os sinais clínicos podem variar de acordo com o grau de luxacao. De uma

rigidez e dor cervical ate alteracões relacionadas ao neurônio motor superior (C1-C5).

Os sinais podem surgir lentamente ao longo de varios meses, ou podem ocorrer de

forma aguda (BRAUND, 1986).

Segundo Shires (2007) o traumatismo grave da medula espinhal, em

decorrencia da luxacao atlantoaxial, podera resultar na morte, em decorrencia de

paralisia respiratoria.

Como o aspecto clínico da subluxacao atlantoaxial pode assemelhar-se ao de

outras mielopatias cervicais. O diagnostico e confirmado com base nos achados

radiográficos (LECOUTEUR & CHILD, 1997), juntamente com o histórico desse

paciente.

4.1 ANATOMOFISIOPATOGENIA DA ARTICULAÇÃO ATLANTOAXIAL

A anatomia da coluna cervical tem uma variação importante, principalmente das

vértebras Atlas (C1) – Áxis (C2)(Figura 11 e 12)(KÖNIG & LIEBICH, 2011., SEIM

III, 2008). Estas duas vértebras se articulam entre si, a chamada articulação

atlantoaxial, normalmente, estão unidas por ligamentos; processo odontóide e a

cápsula articular (LORIGADOS, STERMAN & PINTO, 2004). Essa articulacao

permite o movimento rotacional da cabeça sobre a coluna vertebral (CERDA-

GONZALEZ & DEWEY, 2010., SHIRES, 2007). O processo odontóide, uma projeção

óssea do aspecto cranial do corpo do áxis, é firmemente seguro contra o assoalho do

atlas pelo ligamento transverso, mantendo o seu alinhamento entre elas e a integridade

do canal vertebral (TAYLOR, 2010). O ligamento transverso cruza a face dorsal do

processo odontóide (Figura 13)(LECOUTEUR & CHILD, 1997). O ligamento apical

permite a aderencia do processo odontoide a porcao ventral do forame magno, ja a sua

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aderencia aos côndilos occipitais e feita pelos ligamentos alares bilaterais. Essa

conexão ligamentosa ventral recebe a suplementação do ligamento atlantoaxial dorsal

resistente, situado entre o arco dorsal do atlas e a espinha craniodorsal do áxis (Figura

14)(SHIRES, 2007).

Figura 11. Anatomia óssea normal do Atlas (C1) de cão.

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Figura 12. Anatomia óssea normal do Áxis (C2) de cão.

Figura 13. Anatomia normal da articulação atlantoaxial em cão, vista dorsoventral. A –

Ligamento transverso, B – Processo odontóide.

Fonte: Adaptado de LORIGADOS, STERMAN & PINTO, 2004.

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Figura 14. Vista lateral de uma amostra da articulação atlantoaxial com uma janela de

lâmina removida, para a demonstração esquemática dos ligamentos que unem o

occipital, o atlas e o áxis em cães normais.

Fonte: SHIRES, 2007.

Num paciente normal, a porção cervical da coluna vertebral atua como um

guindaste de construção, enquanto o ligamento nucal age como o cabo, e a articulacao

atlantoaxial representa o ponto de apoio para todas as forças declinantes aplicadas

sobre a cabeça (Figura 15)(SHIRES, 2007).

Figura 15. Mecanismo suspensor da cabeça de cão. O triângulo negro representa o

ponto de apoio em torno do qual uma forca declinante sobre a cabeca e

contrabalancada pela tensao exercida sobre o ligamento nucal, unido ao axis. Esta

situacao e conhecida como efeito arco de corda.

Fonte: SHIRES, 2007.

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A articulação atlantoccipital e atlantoaxial estão em constante sintonia, quando

ocorre a movimentacao da cabeca. Segundo Shires (2007), se a cabeca e forcada

ventralmente, a articulacao atlantoccipital vai alcancar o nível maximo da sua flexao e

por consequencia a articulacao atlantoaxial ficara sob tensao. No caso dessa

ventroflexão ultrapassar o seu limite, ocasionará uma secção ou estiramento do

ligamento atlantoaxial dorsal, os ligamentos alares, apical ou transversal, fratura de

estruturas como o processo odontóide, processo espinhoso ou o corpo cranial do áxis,

ou ocorrer combinações entre esses eventos.

4.2 ETIOLOGIA

A instabilidade atlantoaxial ou subluxação atlantoaxial e luxação atlantoaxial

como também é conhecida (SEIM III, 2008), é uma alteração que pode estar associada

tanto de caráter congênita, seja pela agenesia, a malformação do processo odontóide;

do axis ou a malformacao da estrutura ligamentar da articulação atlantoaxial

(MCCARTHY, LEWIS & HOSGOOD, 1995) como traumática, fratura do dente do

áxis, laceração ou estiramento do ligamento atlantal transverso (LORENZ &

KORNEGAY, 2006), mas independentemente do fator causador, pode ocasionar uma

compressão medular espinhal (MOREAU, 2000) e surgimento de alterações

neurológicas como resultado.

O processo odontóide está propenso ao desenvolvimento defeituoso em animais

de racas miniatura, devido as aberracões ocorrentes durante a oclusao da placa fisaria

de crescimento. Nos casos em que ocorra uma fusão precoce, parcial, ou a não

ocorrência de fusão das placas de crescimento do processo odontóide poderá ocasionar

o desvio, hipoplasia, ou aplasia desta estrutura (SHIRES, 2007). De acordo com Colter

(1996) com a ausência desse processo, o ligamento transverso não tem um ponto de

inserção para auxiliar a contenção do áxis. Ainda se houver apenas uma má formacao

do dente, ou não possuindo fixações ligamentares, todas as tensões exercidas pela

ventroflexão da cabeça deverão ser suportadas pelo ligamento atlantoaxial dorsal

(SHIRES, 2007). O atlas de um cão adulto se desenvolve a partir de três elementos

ósseos, e o áxis de sete (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010., WESTWORTH &

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STURGES, 2010), qualquer processo anormal (malformacao) que ocorra durante esse

desenvolvimento, pode gerar uma instabilidade. Segundo Taylor (2010) isso promove

danos repetidos a medula espinhal e sinais lentamente progressivos de compressao

medular cervical cranial.

Em um estudo retrospectivo entre (2003-2008), Beckmann et al. (2010)

constatou que a principal causa de instabilidade dentre os 14 cães diagnosticados, foi a

agenesia do processo odontóide do áxis com 71,4%. Apesar de descrito por Shires

(2007) em que não ocorra predisposição sexual, outros estudos observaram que as

fêmeas são mais acometidas (LORIGADOS et al, 2004., BECKMANN et al, 2010).

4.3 EPIDEMIOLOGIA

Os cães de raças de pequeno porte e raças ''toy'' são os principais acometidos

(DENNY, GIBBS & WATERMAN, 1988., CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010),

como Poodles, Chihuahuas, Yorkshires Terrier, Lulus da Pomerânia, Teckels miniatura,

Pequineses (TAYLOR, 2010), mas cães de médio e grande porte também já foram

diagnosticados (SHIRES, 2007).

Os cães afetados geralmente desenvolvem os sinais clínicos nos primeiros dois

anos de vida (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010), sendo com menos de um ano

de vida os mais frequentes (DENNY, GIBBS & WATERMAN, 1988., BEAVER et al,

2000).

4.4 SINAIS CLÍNICOS

A instabilidade atlantoaxial pode causar lesao medular em qualquer idade

(AIKAWA, SHIBATA & FUJITA, 2013). Ao exame neurologico, serao vistos

alteracões compatíveis com mielopatia de segmento medular cervical C1-C5, dor

cervical, ataxia ou hiperreflexia em membros torácicos e pélvicos, tetraparesia ou

tetraplegia são um dos variados sinais que podem ocorrer. As alterações neurológicas

podem iniciar de forma aguda ou crônica, e evolução intermitente ou progressiva

(CHRISMAN, 1985., THOMAS, 2000., WESTWORTH & STURGES, 2010), sendo

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que lesões neurológicas medulares podem ser assimétricas, e geralmente os sinais

apresentam-se piores nos membros pélvicos (PLATT & DA COSTA, 2012).

Pode ocorrer alterações de nervos cranianos se houver lesões concomitantes na

medula oblonga e ainda presença de Síndrome de Horner, mas rara (PLATT & DA

COSTA, 2012).

Apesar de ampla, não obrigatoriamente a subluxação atlantoaxial vai

desenvolver alguns desses sinais (SHIRES, 2007), tudo vai depender do grau de

concussão ou compressao a medula espinhal (PLATT & DA COSTA, 2012). Outro

fator que pode contribuir para o retardo desses sinais seria devido alguns cães terem

um suporte vertebral adequado de outras estruturas fibrosas e musculares, que assim

evitariam a subluxação (LORENZ & KORNEGAY, 2006), mas ao paciente receber um

mínimo trauma, ja poderia ser o suficiente para resultar em uma subluxacao do

processo odontoide do axis, compressao medular e alteração neurológica (HAVIG et

al, 2005).

Beckmann et al. (2010) concluiu que o sinal neurológico principal encontrado

foi a hiperestesia cervical.

4.5 DIAGNÓSTICO

Utilizando o historico juntamente com os sinais clínicos e neurologicos, ja se

consegue realizar um diagnostico presuntivo, que deve ser confirmado atraves de

exames de imagem (SHIRES, 2007). Uma radiografia preliminar na projeção lateral

em ventroflexão do pescoço (Figura 16) sem anestesia permite o diagnóstico de

instabilidade atlantoaxial com subluxação significativa (SEIM III, 2008). Contrariando

isso Sharp & Wheeler (2005) recomendam não flexionar o pescoço de um paciente

com suspeita de subluxação atlantoaxial, evitando agravar os sinais neurológicos.

Se consegue uma melhor visualização do processo odontóide na projeção

dorsoventral, pois não ocorre sobreposição do processo transverso do atlas (CERDA-

GONZALEZ & DEWEY, 2010., SHIRES, 2007., WESTWORTH & STURGES 2010;

SHARP & WHELLER, 2005). O posicionamento das projeções radiográficas é menos

traumático se o paciente for anestesiado, mas vale ressaltar que nesses casos todos os

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reflexos que poderiam ofertar alguma proteção a região estão ausentes, assim os

cuidados com a manipulação excessiva e a falta deles pode resultar no agravamento do

quadro, devido ao trauma iatrogênico ocorrido (SHIRES, 2007).

Anormalidades verificadas nas projeções dos exames radiográficos de

instabilidade atlantoaxial incluem alinhamento atlantoaxial anormal, processo

odontóide deformado; não unido ou fraturado, atlas hipoplásico e espaço atlantoaxial

aumentado (DENNY & BUTTERWORTH, 2006).

Muitas vezes, as radiografias nao sao suficientes para diagnosticar uma

alteracao atlantoaxial, e nao avaliam o grau de compressao neural, necessitando assim

de imagens adicionais para determinar se outros disturbios encefalicos estao presentes

(CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010). Os riscos relacionados a mielografia, como

convulsões, parada respiratoria, sequela neurologica o colocam como um exame sem

indicacao, apesar de evidenciar a compressao medular (CERDA-GONZALEZ &

DEWEY, 2010., SHARP & WHEELER, 2005).

Figura 16. Na radiografia em perfil (A), cão normal com o pescoço em flexão.

Observe a distância entre a lâmina dorsal de C1 e a processo espinhoso de C2 (seta).

(B) mesma projeção só que agora em um cão com instabilidade, o espaço observado é

diagnóstico de instabilidade atlantoaxial.

Fonte: SEIM III, 2008.

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De acordo com Westworth & Sturges (2010) a tomografia computadorizada é

uma ferramenta importante quando se fala de exame de imagem para estruturas ósseas,

servindo para o planejamento prévio das cirurgias (Figura 17). Para descartar ou

confirmar outros diagnósticos diferenciais no mesmo local, quando múltiplas

anomalias congênitas e afecções concomitantes estão presentes como DDIV.

Figura 17. Reconstrução em três dimensões por TC de um Yorkshire Terrier com

instabilidade atlantoaxial.

Fonte: WESTWORTH & STURGES, 2010.

A ressonância magnética pode ser muito útil para o diagnótisco de subluxação

atlantoaxial (Figura 18), principalmente para os pacientes que apresentam sinais

clínicos compatíveis com doenca do encefalo e tronco encefalico, cervicalgia e

mielopatias (WESTWORTH & STURGES, 2010). Alem de identificar afeccões

parenquimais, como seringohidromielia, edema, hemorragia, mielomalácia ou

ligamentares atlantoaxiais (MIDDLETON, HILLMAN & TRICHEL et al, 2012).

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Figura 18. Uma imagem por RM em plano sagital modo T2, do cerebro; C1; C2, sendo

possível visualizar uma compressao ventral da medula espinhal cervical pelo dente do

áxis e uma hiperintensidade da medula espinhal condizente com edema/inflamação.

Fonte: WESTWORTH & STURGES, 2010.

4.6 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Como os sinais se assemelham com outras doenças e alterações que acometem a

região cervical uma gama de diagnósticos diferenciais devem estar relacionadas como

possíveis diagnósticos. As de maior probabilidade são as afecções inflamatórias e

infecciosas do sistema nervoso central como meningoencefalites, meningomielites e

meningoencefalomielites (PLATT & DA COSTA, 2012., SHARP & WHEELER,

2005., WESTWORTH & STURGES, 2010). Outras que podem ocorrer são as fraturas

cervicais, discoespondilite, DDIV, seringohidromielia e neoplasias (SHARP &

WHEELER, 2005., WESTWORTH & STURGES, 2010).

4.7 TRATAMENTO

A instabilidade traumática ou congênita pode ser corrigida de forma

conservativa ou cirurgica (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010., SHIRES,

2007.,WESTWORTH & STURGES, 2010), e a sua indicacao vai depender de cada

caso, de acordo com a evolucao, comportamento do paciente, as alteracões e a

gravidade dos sinais.

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4.7.1 Tratamento conservativo

A conduta nao-cirurgica tem indicacao para os caes que tem o início agudo dos

sinais clínicos e que nao tem antecedentes de doenca neurologica, caes jovens com

osso imaturo nos quais a fixacao cirurgica pode nao proporcionar estabilidade

adequada, caso haja restrições financeiras (HAVIG et al, 2005), processo odontóide

normal radiograficamente (PLATT & DA COSTA, 2012).

O objetivo e imobilizar a articulacao atlantoaxial e tentar promover um fusao

articular seja por fibrose, ou através do calo ósseo nos casos associados a fratura

(CERDA-GONZALEZ; DEWEY, 2010, PLATT; DA COSTA, 2012).

Para a manutenção da cabeça e pescoço em extensão uma órtese cervical é

utilizada, composta por material de tala acolchoado (SEIM III, 2008). A bandagem

deve atender desde o limite caudal a mandíbula ate os ombros e regiao do processo

xifóide (HAVIG et al, 2005). A imobilizacao ideal pode nao ser alcancada, devido a

condição afetar na maioria pacientes jovens de raças pequenas ou toy, muitas vezes

necessitando o prolongamento do suporte rígido desde o canto dos olhos até região

medial do tórax (Figura 19). Complicacões com o uso da tala sao relatadas como a

instabilidade permanecente, migração da tala, úlcera de córnea, escaras de decúbito,

dermatite, hipertermia, comprometimento respiratorio, anorexia, otite externa e

acumulo de alimentos entre a tala e mandíbula (PLATT & DA COSTA, 2012). O

tratamento medicamentoso consiste em analgesicos, antiinflamatorios não esteroidais,

restrição de espaço e órtese cervical durante 6 a 8 semanas (CERDA-GONZALEZ &

DEWEY, 2010., PLATT & DA COSTA, 2012., SHARP & WHEELER., 2005.,

WESTWORTH & STURGES, 2010).

Cães com tratamento conservativo, que apresentavam duração média de sinais

clínicos menor ou igual há trinta dias, obtiveram 62% de sucesso segundo um trabalho

de Havig et al, (2005). Sem considerar esse fator, aplicando o tratamento conservativo

como única opção as taxas de sucesso variam entre 50% a 63% (CERDA-

GONZALEZ & DEWEY, 2010).

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Figura 19 . Um Yorkshire Terrier de 5 meses de idade com subluxação atlantoaxial,

demonstrando o prolongamento do suporte rígido desde o canto dos olhos até região

medial do tórax.

Fonte: PLATT & DA COSTA, 2012.

4.7.2 Tratamento cirúrgico

A correção cirúrgica da instabilidade atlantoaxial está indicada quando houver

história crônica de sinais clínicos (mais de 30 dias), recidivado ou se o tratamento não-

cirúrgico falhar, e ainda nos pacientes com maturidade óssea capaz de sustentar

implantes cirurgicos (SEIM III, 2008). Tambem e recomendado tanto para cronicidade

progressiva como para agudização grave dos sinais (CERDA-GONZALEZ &

DEWEY, 2010., SHARP & WHEELER, 2005., SHIRES, 2007).

A cirurgia tem por objetivo a redução de subluxação atlantoaxial,

descompressao da medula espinhal e das raízes nervosas e estabilizacao da articulacao

atlantoaxial (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010., SEIM III, 2008). As tecnicas

utilizadas para a descompressao e estabilizacao estao incluídas em duas categorias,

acesso dorsal e ventral (SEIM III, 2008., SHARP & WHEELER, 2005., SHIRES,

2007).

Segundo Seim III (2008), tres fatores aumentam a probabilidade de sucesso da

conduta cirurgica, se o paciente tiver menos de 2 anos de idade; duracao dos sinais

clínicos for superior a 30 dias e em casos que o animal for ambulatório no pré-

operatório.

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Realizando uma hemilaminectomia do áxis, é possível descomprimir a medula

espinhal pelo acesso dorsal, como consequência pode comprometer o sucesso das

estabilizações dorsais, e ao remover o processo odontoide, tambem e possível essa

descompressao, pelo acesso ventral, sendo prejudicial a porcao cranial do axis. A

reducao anatômica e estabilizacao eficiente ja propiciam uma descompressao

satisfatoria, portanto essas tecnicas diretas quase sempre são inutilizadas. (SHIRES,

2007).

É indicado estabilização cirúrgica imediata para todos os casos em que haja as

luxacões atlantoaxiais e na maioria das fraturas (LORENZ & KORNEGAY, 2006).

Para Platt & Da Costa (2012) todos os cães com subluxação atlantoaxial estão

recomendados passar pelo tratamento cirúrgico para diminuir as chances de recidiva e

possibilitar uma junção permanente.

4.7.2.1 Estabilização dorsal

Como descrito por Platt & Da Costa (2012) a fixação dorsal e a eleicao para

caes com peso corporeo menor que 2 kg, que estejam impossibilitados do uso de

implantes metalicos ventrais ou ainda que fixacao ventral falhar inicialmente.

A taxa de falhas é de 39 % a 46 % em procedimentos dorsais (DENNY, GIBBS

& WATERMAN, 1988., MCCARTHY, LEWIS & HOSGOOD, 1995). Essa

abordagem tem como grande desvantagem a sua incapacidade para alcancar fusao

articular diretamente, e no caso de falha do implante uma nova luxacao da articulacao

atlantoaxial seria mais propensa do que com os procedimentos ventrais (CERDA-

GONZALEZ & DEWEY, 2010). A explicação de não acontecer essa fusão, se deve ao

fato das técnicas dorsais utilizadas não suportarem os movimentos em outras direções

que os da flexão, resultando em movimentação contínua da articulação, o que pode

ocasionar falha do material de fixação e recorrência dos sinais clínicos (PLATT &

DA COSTA, 2012).

Como desvantagens adicionais estão inclusas um aumento do risco de trauma

medular durante a colocação do implante, incluindo danos a vertebra; como fratura do

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arco do atlas no pos-operatorio e realinhamento inadequado da articulacao atlantoaxial

(CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010).

4.7.2.1.1 Cerclagem atlantoaxial

Como nessa técnica (Figura 20) é necessário realizar uma dobra do fio para o

sentido craniocaudal ao axis, neste momento ocorre o risco de trauma iatrogenico a

medula espinhal acompanhada a manipulacao necessaria do implante (PLATT & DA

COSTA, 2012., SEIM III, 2008). Pujol et al. (2010) relata que em procedimentos

dorsais, em especial os que utilizam fio ortopedico ou nao metalico, tem esse mesmo

risco de causar algum dano iatrogenico a medula espinhal. A colocacao de cerclagem

dorsal tem uma elevada proporcao de falhar, e uma alternativa seria um reforco com

cimento ósseo (SHARP & WHEELER, 2005).

Complicacões pos-operatorias podem ocorrer, como colapso ou laceracao ossea

devido ao arco dorsal do atlas e o processo espinhoso do axis apresentarem pouca

forca e resistencia, se tratando de caes jovens de raca toy (SEIM III, 2008). Uma

alternativa proposta seria a utilizacao de fio nao absorvível multifilamentar ou parte do

ligamento nucal ao inves do fio de aco. Pequena movimentacao de forma contínua na

articulacao atlantoaxial pode gerar deiscencia por estresse no fio, e vir a gerar algum

dano a medula pela sua acomodacao impropria (JEFFERY, 1995).

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Figura 20. Sequência (A-D) da técnica dorsal com cerclagem.

Fonte: PLATT & DA COSTA, 2012.

4.7.2.1.2 Técnica do ligamento nucal

Lecourter et al (1980) foi quem relatou essa técnica para estabilizacao da

subluxação atlantoaxial usando o ligamento nucal para fixar o processo espinhoso do

áxis ao arco dorsal do atlas. Ela preconiza eliminar as possíveis pressões sobre a

medula espinhal, promovendo a reducao e imobilizacao da articulacao. Um empecilho

no seu uso é o diâmetro do ligamento nucal em algumas racas pequenas, sendo de

difícil manipulacao e ocorrências de falhas por deiscência das suturas desse ligamento.

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4.7.2.1.3 Pino cruzado dorsal

A utilização do pino cruzado dorsal (Figura 21) é uma técnica mais estável do

que a cerclagem dorsal, não oferece o risco de trauma a medula espinhal como essa

outra, e uma opção em caso de fracasso a outro método de fixação. Um ponto contra é

que ela depende do processo espinhoso do áxis, sendo de maior fragilidade (SHARP &

WHEELER, 2005).

Figura 21. Pino cruzado, vista dorsal da articulacao atlantoaxial: Os fios de Kirschner

são direcionados na metade caudal das asas do atlas.

Fonte: PLATT & DA COSTA, 2012.

4.7.2.1.4 Banda de tensão atlantoaxial de Kishigami

Embora a banda de tensão atlantoaxial de Kishigami (BTAA Kishigami) tenha

sido descrita primeiramente há 31 anos (KISHIGAMI, 1984). Segundo Pujol et al.

(2010) ela só foi disponibilizada comercialmente recentemente, tendo como vantagem,

diminuir o risco de danificar à medula espinhal, pois ela se adere no espaço epidural,

sem a necessidade de atravessar o arco do atlas.

Como complicacões da tecnica, foram observados insercao inadequada do

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implante e dos fios de cerclagem, gerando instabilidade (KISHIGAMI, 1984).

A perfuração dos orifícios, passagem do fio de aço, o implante, finalização do

procedimento estão vistos em sequência na imagem (Figura 22).

Figura 22. Sequência da técnica de BTAA Kishigami: A – perfuração dos orifícios, B –

passagem do fio de aço, C – implante, D – vista dorsoventral e lateral da finalização da

técnica.

Fonte: (A, B, C) PUJOL et al, 2010; (D) PLATT & DA COSTA, 2012.

4.7.2.2 Estabilização ventral

As técnicas de abordagem ventral são indicadas em cães com mais de 2 kg, que

tenham fraturas atlantoaxiais, desvio do dente do áxis dorsalmente e nos quais a

tentativa de fixação dorsal falhar. Cuidados devem ser tomadas para evitar danos a

estruturas vitais, como o nervo laríngeo recorrente e do suprimento vascular para a

glândula tireóide (PLATT & DA COSTA, 2012). De acordo com Platt & Da Costa

A B

C D

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(2012) incentivar fusao da articulacao, e o principal objetivo a longo prazo da fixacao;

um auxílio com enxertos autógenos de osso esponjoso a partir do úmero pode ser

realizado.

Platt et al. (2004) descreveram uma técnica que promove a proteção da medula

espinhal de impactos repetidos, enquanto os implantes são inseridos (Figura 23).

As complicacões associadas ao acesso ventral incluem paralisia de laríngea,

comprometimento respiratorio no pos-operatorio imediato, trauma medular

(compressao ou lesao iatrogenica), fixacao instavel (CERDA-GONZALEZ &

DEWEY, 2010., SEIM III, 2008), disfagia secundária à massa de PMMA (SEIM III,

2008), mucocele, lesão da traquéia e síndrome de Horner (CERDA-GONZALEZ &

DEWEY, 2010).

Foram relatadas taxas de sucesso de 91% por metodos de fixacao ventral da

articulacao atlantoaxial (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010).

Figura 23. Parafusos inseridos cranialmente e caudalmente no corpo do áxis, servindo

de apoio para os fios, que são torcidos em torno da cabeça dos parafusos e tracionados

caudoventralmente.

Fonte: PLATT et al., 2004.

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4.7.2.2.1 Pinos ou parafusos com efeito lag transarticular

Implantes bilaterais (Figura 24) são direcionados através da articulação

atlantoaxial (PLATT & DA COSTA, 2012). Principais complicacões da tecnica estao

na colocacao dos parafusos devido a restricao do acesso para perfuracao dos orifícios e

tendencia em fissura ossea, ou no caso dos pinos, a sua migracao (JEFFERY, 1995).

Quando a fixação é realizada apenas por parafusos com efeito lag

principalmente em cão com osso imaturo, pode ocasionar danos iatrogênicos das

vértebras, comprometendo a fusao da articulacao atlantoaxial (REVÉS et al, 2013).

Segundo Platt & Da Costa (2012) as falhas com a técnica de fixação transarticular

estão em 30%.

Figura 24. Parafusos com efeito lag transarticular podem ser inseridos na articulacao

atlantoaxial, direcionados medialmente para a incisura alar.

Fonte: PLATT & DA COSTA, 2012.

4.7.2.2.2 Pinos e cimento ósseo

Fixação com fios de Kirschner ou pinos lisos são incorporados com cimento

ósseo em C1 e C2 ventralmente (SHARP & WHEELER, 2005., PLATT & DA

COSTA, 2012).

Com a modificação da técnica Aikawa et al. (2013), utilizando normalmente 6 a

8 pinos de rosca positiva (Figura 25) associando ao cimento ósseo, obtiveram um

excelente resultado dos 49 cães submetidos a ela, 46 melhoraram neurologicamente.

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Apesar da alta prevalência de pinos quebrados, principalmente os pinos

transarticulares, os quais sofrem maior tensão, nenhum dos cães onde os pinos

quebraram tiveram recorrência dos sinais clínicos, sugerindo que a articulação

atlantoaxial ainda estava estavel apos essas quebras parciais. As vantagens dessa

modificacao estao em permitir uma colocacao de pinos para uma variedade de

malformacões vertebrais, e menor quantidade de PMMA na reducao das complicacões

associadas aos implantes. Sharp & Wheeler (2004) alertam para os cuidados aos

tecidos moles, devido ao calor gerado pela polimerização desse cimento ósseo. E que

os pinos rosqueados geram maior estabilidade em longo prazo comparado aos pinos

lisos.

Em um outro estudo com a técnica de pinos e PMMA convencional no

tratamento de 9 caes com instabilidade atlantoaxial, foram considerados resultados

satisfatorios em 8 deles, em que a dor cervical foi reduzida ou eliminada sem

observação de sinais neurológicos residuais relevantes (SCHULZ et al, 1997).

Figura 25. Demonstrando a insercao dos pinos lisos em modelo de osso (A) aspecto

ventral e (B) face lateral de C1 e C2. N˚ 1 e 2: pinos transarticulares, n˚ 3: pino

inserido na superfície da articulacao atlantoaxial, n˚ 4 e 5: pinos no pedículo de C1, n˚

6 e 7: pinos no corpo vertebral caudal de C2, n˚ 8 e 9: pinos adicionais em C2.

Fonte: AIKAWA et al, 2013.

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4.7.2.2.3 Parafusos e cimento ósseo

Parafusos de osso cortical podem ser fixados no aspecto medial de cada asa do

atlas (PLATT & DA COSTA, 2012).

Sanders et al. (2004) utilizou uma técnica envolvendo pinos, parafusos, fio

ortopédico e PMMA, envolto com o cimento ósseo (Figura 26) em 12 cães. A taxa de

sucesso desse trabalho foi de 92%. Uma desvantagem é que se um ou mais parafusos

migrarem, principalmente do atlas, a qualidade da estabilidade do implante é abalada.

Neste mesmo ano foi publicado um trabalho por Platt et al. (2004), com uma

variação na localização e quantidade dos parafusos e pinos (Figura 27). Foi alcançado

resultado satisfatorio em 16 dos 19 caes estudados no trabalho. Complicacões dessa

técnica são a migração e fratura dos pinos, devido provavelmente a movimentação

residual de flexão exercida sobre o pino, sugestivo de falha da fusão articular. A

vantagem seria a diminuição no potencial de falha completa, devido à fixação

transarticular e periarticular, mantendo assim a estabilidade em casos de um dos

métodos falhar (PLATT et al. 2004).

Figura 26. Múltiplos parafusos corticais com pinos ligados por fios à base das cabecas

dos parafusos para estabilizacao atlantoaxial.

Fonte: Sanders et al, 2004.

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Figura 27. Parafusos corticais com suas cabeças e porção rosqueada expostas no atlas e

áxis, pasasagem de fios de Kirschner transarticulares e moldar PMMA sobre as

extremidades expostas dos parafusos.

Fonte: PLATT et al., 2004.

4.7.2.2.4 Placa e parafusos

É possível a aplicação de duas placas nos corpos ventrais do atlas e áxis para

correção de fraturas traumáticas em cães de grande porte. Nesses casos sao colocadas

duas placas pequenas (2 mm) ventralmente atraves da fratura. A colocacao dos

parafusos é complicada, pela restrição de espaço (SHIRES, 2007).

As placas já foram descritas para fixação ventral do atlas e áxis nos casos de

instabilidade atlantoaxial (SHIRES, 2007).

Dickomeit et al (2011) utilizou placas bloqueadas de titânio em formato

borboleta de 1,5 mm com cinco furos (Figura 28) em caes de raca toy. Obtiveram

100% de exito com reducao, estabilizacao e descompressao medular espinhal, com

melhora dos sinais neurológicos.

Nao sao vistas normalmente descricões com o uso de placas para correcao da

instabilidade atlantoaxial, e as falhas desse tipo de implante como perda da

estabilizacao, por afrouxamento do parafuso e da placa sao comuns. A vantagem dessa

tecnica e o uso da placa bloqueada, em que o sistema bloqueado permite que a cabeca

do parafuso fixe no buraco da placa, sendo biomecanicamente mais estavel. Como

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complicacões tem-se a presença de parte do parafuso no canal medular, lesao

iatrogenica da medula espinhal e uma possível nao uniao da articulacao atlantoaxial

(Dickomeit et al, 2011).

Figura 28. Radiografia pós-operatória com a fixação por placa bloqueada de titânio em

formato borboleta.

Fonte: Dickomeit et al, 2011.

4.8 COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS

A deterioracao neurologica e uma das principais complicacões devido a

manipulacao da articulacao, podendo lesionar a medula espinhal e lesões iatrogenicas

causadas pelas falhas de colocacao dos implantes (PLATT & DA COSTA, 2012).

Comprometimento respiratorio nas tecnicas ventrais devido ao risco de trauma

do nervo laríngeo recorrente (PLATT et al., 2004, PLATT & DA COSTA, 2012).

Obstrução da traquéia pelo implante e sua tração prolongada durante o procedimento

cirúrgico, são as causas de necrose ou tosse, ainda quadro de pneumonia aspirativa

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pós-operatório é relatado (PLATT & DA COSTA, 2012).

Falhas do implante como migração ou quebra são descritas tanto em técnicas

ventrais como dorsais, podendo resultar em desestabilização (SHARP & WHEELER,

2005). Fraturas ocorrem no áxis ou atlas devido a uma imaturidade óssea (PLATT et

al., 2004., HAVIG et al., 2005). Persistência da dor ou manutenção dos sinais

neurológicos, devido a descompressão medular espinhal inadequada ou falha da

estabilizacao (PLATT & DA COSTA, 2012).

Platt & Da costa (2012) observaram maior taxa de complicação na abordagem

dorsal por volta de 71% em relação às técnicas de fixação ventral 53%.

4.9 CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS

Seim III (2008) afirma que independente de ser usado acesso dorsal ou ventral,

todas as formas de fixação interna devem ser sustentadas com ortese cervical e

restricao de espaco. Ja para Platt et al. (2004) o uso do colar cervical nao e necessario

caso tenha sido feita uma boa estabilizacao interna.

É necessário acompanhamento através das avaliações radiográficas por um

período de 4 a 8 semanas de pós-operatório, para avaliacao dos implantes e formacao

de calo osseo (SHIRES, 2007). Monitorar o sistema respiratorio por dois a tres dias,

devido as problemas que já foram citados (PLATT & DA COSTA, 2012).

Analgesia com opióides pelo menos, nas primeiras 48 horas (PLATT et al.,

2004).

Um componente cervical rígido pode ser necessario no pos-operatório com a

finalidade de diminuir a movimentação e a tensão exercida pelos implantes (CERDA-

GONZALEZ & DEWEY, 2010). É recomendado o uso de colares peitorais ao invés

dos cervicais e devem ser modificados os planos de exercícios, evitando os de maior

impacto (PLATT & DA COSTA, 2012).

A fisioterapia é indicada para pacientes com déficits neurológicos promovendo

a recuperação gradativa dos tecidos neurológicos lesionados, prevenir atrofia da

musculatura por desuso, melhorar a função dos membros fracos e paralisados, o que,

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por sua vez, previne a contratura e fibrose do tecido mole (KNAP, ANN & SCHULZ,

2008).

4.10 PROGNÓSTICO

O prognostico vai depender do grau de comprometimento imposto a medula

espinhal (SHIRES, 2007), em pacientes jovens com um primeiro episódio e início

agudo dos sinais clínicos, e favoravel, independentemente da intensidade dos deficits

neurologicos apresentados, que sao tratados pelo metodo conservador. Em caso de

opcao cirurgica, seja acesso dorsal ou ventral, o prognostico vai depender do sucesso

ou falha do implante, favorável e desfavorável respectivamente (SEIM III, 2008).

O metodo conservativo e influenciado pelo tempo de duracao da doenca clínica,

caes com período superior a 30 dias apresentam um prognostico desfavoravel a esse

tratamento (WESTWORTH & STURGES, 2010., HAVIG et al. 2005).

Ja o tratamento cirurgico reune alguns fatores para serem correlacionados

positivamente, como a idade da apresentacao da instabilidade atlantoaxial ser menor

que 24 meses; duração dos sinais clínicos menor que 10 meses e o grau neurológico

anterior (CERDA-GONZALEZ & DEWEY, 2010., HAVIG et al. 2005).

Alguns trabalhos demonstraram melhores resultados utilizando as técnicas de

fusão ventral, como o de Denny et al. (1988), em que 8 de 13 pacientes tratados por

fixação dorsal melhoraram, comparados com 9 de 10 pela fusão ventral.

As taxas de sucesso considerando todas as técnicas cirúrgicas dorsais, tem uma

média de 61% (PLATT & DA COSTA, 2012), enquanto que as ventrais estão em 47 a

92% (WESTWORTH & STURGES, 2010).

Nos casos com problemas congênitos adicionais (por exemplo, hidrocefalia), o

prognóstico é reservado (DENNY & BUTTERWORTH, 2006).

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5. CONCLUSÕES

O estágio curricular findou um ciclo muito importante da minha vida

academica, possibilitou intensificar o aprendizado teórico de todos esses anos ao ser

colocado na prática, acompanhando uma rotina de empenho por professores e

residentes, integrados em diversos setores do hospital veterinário, principalmente

clínica cirúrgica,clínica médica, imaginologia.

Foram desenvolvidas multiplas atividades durante os dois meses e meio de

estagio, com uma grande casuística diaria, o trabalho em equipe foi essencial para a

distribuição e cumprimento dessas atividades da melhor forma, profissionalismo e

respeito, tanto com o cliente como o paciente que se fizeram presentes por todo esse

tempo e foram os que proporcionaram tudo isso.

Os maiores ganhos fora o conhecimento teórico-prático, foram em relação ao

amadurecimento pessoal e profissional, as lições para à vida, dedicação e o amor com

esses seres que tornam nossa profissão tão importante para o cenário brasileiro.

Pôde-se constatar a partir do trabalho realizado, que a instabilidade atlantoaxial

é uma importante causa de compressão medular cervical em cães, principalmente nas

raças pequenas e “toy”, com menos de um ano de idade. Sendo responsavel por

disfunção neurológica variada. A maioria dos casos são de caráter congênito e o seu

diagnóstico deve estar baseado na sintomatologia clínica mais os recursos de imagem.

O tratamento conservativo é uma ótima opção para pacientes com início agudo dos

sinais, déficits neurológicos mínimos, dente do áxis radiograficamente normal,

pacientes muito jovens e nos casos em que houver restrição financeira dos

responsáveis. A intervenção cirúrgica deve ser indicada aos pacientes com doença

crônica ou recorrentes, nos casos em que o tratamento conservador falhou e nos cães

que já atingiram maturidade vertebral.

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