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DANIELA JIENTARA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas.
CURITIBA
2013
TERMO DE APROVAÇÃO
DANIELA JIENTARA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Bacharel em Direito, no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, ____ de ________________ de 2013.
Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: Marcelo Nogueira Artigas
Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Jurídicas
Prof. Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Jurídicas
Prof. Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Jurídicas
DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS
O presente trabalho primeiramente é
dedicado à Deus, por me amparar diante de
todas as dificuldades passadas ao longo de
todos esse anos.
Agradeço ao meus pais, Luciana e Daniel,
exemplo de vida e pilar da minha formação
como ser humano, pela dedicação e pelo
apoio nos momentos de dificuldades, por
acreditarem em mim todas as vezes em que
me deixei abater. Dedico ao meu filho
Bernardo por ter me ensinado o significado
do que é amar incondicionalmente, e pelos
momentos em que estive ausente para que
hoje pudesse estar concretizando mais essa
jornada.
A todos vocês minha eterna gratidão.
“LUTA. Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça"
(EDUARDO COUTURE)
RESUMO A presente monografia tem como objetivo realizar uma singela análise sobre a responsabilidade civil do advogado. Será abordado primeiramente sobre a responsabilidade civil em um breve relato histórico, bem como o conceito de responsabilidade civil, ademais será abordado sobre responsabilidade civil objetiva e subjetiva. Será dissertado sobre a responsabilidade civil do advogado, no que concerne a sociedade de advogados, diante das inúmeras reclamações que atualmente a mesma vem sofrendo, diante das dificuldades de se responsabilizar os profissionais. A profissão jurídica requer ética do profissional em todos os âmbitos em que o mesmo atue. A relevância que há entre a atividade da advocacia e o Código de Defesa do Consumidor, e das obrigações do advogado nas atividades de meio e de resultado. Um dos temas atuais que vem tendo importante relevância na atividade da advocacia é a perda de uma chance, diante dos problemas e incertezas dos resultados das decisões judiciais, do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o efeito danoso, bem como a invalidade de cláusulas que excluem a responsabilidade civil do advogado. Todavia, mesmo diante de todas as incertezas que uma demanda traz, é obrigação do advogado agir sempre de forma técnica, utilizando de todos os meios para que possa obter sucesso nas demandas, bem como obedecendo ao sigilo profissional, sendo lhe de direito a sua inviolabilidade. Por sua vez, por mais que o advogado aja com todos os pressupostos necessários para a obtenção do que ora lhe foi contratado, pode ocorrer algumas situações, nas quais o mesmo não poderá ser responsabilizado pelo seu insucesso, sendo elas: caso fortuito ou de força maior, culpa de terceiros ou inexistência de dano. Palavra chave: responsabilidade civil; advogado
SUMÁRIO
INTRODUÇÂO ............................................................................................................ 7
CAPÍTULO I RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................. 10
1.1 BREVE NOTÍCIA HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..................... 10
1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................. 13
1.3 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA ........................................................ 15
1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO .................. 16
CAPÍTULO II DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO .......................... 19
2.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL ............................................................ 19
2. 2 DA SOCIEDADE DE ADVOGADOS ........................................................... 23
2.3 DA ÉTICA NA PROFISSÃO JURÍDICA............................................................ 25
2.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO E O CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR .................................................................................... 27
2.5 DA OBRIGAÇÃO DE MEIO E DE RESULTADO DA ATIVIDADE
ADVOCATÍCIA .......................................................................................................... 31
CATÍTULO III DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DE UMA
CHANCE ................................................................................................................... 35
3.1 HISTÓRICO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE .............................. 35
3.2 DA PERDA DE UMA CHANCE ........................................................................ 36
3.3 O PROBLEMA DA INCERTEZA DO RESULTADO DA DECISÃO
JUDICIAL .................................................................................................................. 37
34 DO NEXO DE CAUSALIDADE ........................................................................ 39
3.5 DA INVALIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL DE EXCLUSÃO DA
RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................................................... 40
CAPÍTULO IV DA POSTURA DO ADVOGADO COMO PROFISSIONAL ............... 42
4.1 DO SIGILO PROFISSIONAL ............................................................................ 42
4.2 DA INVIOLABILIDADE DO ADVOGADO.......................................................... 43
CAPÍTULO V DAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO
ADVOGADO ............................................................................................................. 44
5.1 INEXISTÊNCIA DE DANO ................................................................................ 44
5.2 DA INEXISTENCIA DE NEXO CAUSAL ........................................................... 44
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 46
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 48
7
INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil é um dos temas de direito civil que atualmente vem
sendo extremamente discutido, por possuir uma imensa abrangência diante do seu
conceito, bem como de quem deve ser responsabilizado pelo dano causado a outrem.
No presente estudo será realizado uma análise da responsabilidade civil direcionada à
atividade da advocacia.
A Constituição da Republica Federativa do Brasil, em seu artigo 133, dispõe
que o advogado é um profissional indispensável à administração da justiça. Diante da
imensa gama de profissionais da advocacia é exigido uma postura do profissional a
qual vem disciplinada pela lei 8.906, de 04 de julho de 1994, Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil.
O profissional da advocacia deve agir com zelo e ética em todos os atos por ele
praticados, sejam eles contratuais ou extracontratuais, agindo o profissional em
desacordo com certos parâmetros, bem como na prática negativa de tais condutas, o
mesmo será responsabilizado pelos atos assim praticados.
A responsabilidade civil do advogado poderá ser derivada tanto de atos
judiciais, como também de atos extrajudiciais, em ambos os casos o profissional deve
respeitar os parâmetros técnicos exigidos pela profissão, realizando todas as
diligências necessárias. O advogado na maioria das vezes exerce uma obrigação de
meio, ou seja, o mesmo não tem obrigação de obter êxito nas demandas.
Na esfera extrajudicial, ao elaborar um parecer, contrato, ato constitutivo, etc,
sua obrigação é de resultado. Já na esfera judicial, a obrigação do advogado é uma
obrigação de meio, uma vez que não há como garantir a certeza do resultado da
demanda.
Este trabalho abordará os aspectos gerais da responsabilidade civil, desde o
histórico da responsabilidade civil, bem como o seu conceito e posteriormente será
dissertado sobre a responsabilidade civil subjetiva e objetiva. A regra é ser subjetiva,
sendo necessária a comprovação de culpa ou dolo, porém em alguns casos sua
responsabilidade será objetiva, conforme será abordado em uma simples análise.
Diante do tema da responsabilidade civil do advogado, não se pode deixar de
discuti- frente ao Código de Defesa do Consumidor, uma vez que o advogado realiza a
prestação de serviços devendo dessa forma se responsabilizar por seus atos.
8
Outra questão extremamente relevante, está direcionada à responsabilidade
civil das sociedades de advogados, diante da imensa dificuldade que se encontravam
os clientes em realizar a responsabilização dos que agiam de forma negativa ao que
fora contratado, bem como a ética na profissão jurídica, já que o advogado sendo um
profissional essencial à administração da justiça, deve obedecer o Código de Ética e
Disciplina do advogado, utilizando todos os meios técnicos para a obtenção do êxito
nas ações em que atuem como advogado.
Outro tema extremamente relevante diante da relação referente à
responsabilidade civil do advogado é a perda de uma chance, uma vez que as
demandas judiciais contra advogados pela perda de prazo, por exemplo, apresentasse
cada dia mais numerosa, pelo visível mal desempenho do profissional, principalmente
no que concerne à perda de prazo. A responsabilidade do advogado pela perda de
uma chance, apresenta características distintas das demais responsabilidades, para
que se possa fazer uma distinção no que envolve perdas e danos. Com relação à
perda de uma chance algumas dificuldades são encontradas, uma vez que no exercício
da advocacia, não se tem como saber qual seria a decisão do órgão jurisdicional, que
por falha do advogado, perdeu a chance de ver sua pretensão examinada ou
reexaminada.
Ressaltando-se que o advogado também tem a inviolabilidade de seus atos e
manifestações, bem como tem o dever do sigilo profissional. As informações passadas
pelo cliente ao advogado, ou as que chegaram ao seu conhecimento por motivo
profissional, constituem-se como sigilo profissional, sendo este inerente a sua
profissão, não podendo o mesmo ser quebrado, salvo por motivos inerentes ao Código
de Ética e Disciplina.
Diante das excludentes da responsabilidade civil do advogado, um dos
pressupostos básicos da responsabilidade civil é o dano, uma vez que sem tal
pressuposto não há que se falar no dever de indenizar, diante de casos fortuitos ou de
força maior, não há como se imputar responsabilidade a ninguém, uma vez que os
fatos não podem ser evitados.
As cláusulas de não indenizar não são proibidas em nosso ordenamento
jurídico, salvo em alguns casos específicos da lei, tais como as relações de consumo.
A cláusula de não indenizar é contratual, derivando a mesma da autonomia da vontade,
9
ou seja as partes no contrato entabulado, acordam, em haver uma certa limitação ou
mesmo uma excludente de indenização.
10
CAPÍTULO I – RESPONSABILIDADE CIVIL
1.1 BREVE NOTÍCIA HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Mesmo tendo um contato direto com a cultura ocidental, da qual fazemos parte,
não há como não encontramos nossas raízes históricas e o ponto de partida para
muitas respostas no Direito Romano. Dentre as diversas respostas, também
encontramos diversos apontamentos referentes ao tema Responsabilidade Civil.
Nas primeiras organizações da sociedade, até mesmo nas civilizações pré-
romanas, o instituto da responsabilidade civil está presente na concepção de vingança
privada, sendo esta uma reação pessoal por um mal sofrido.
É dessa visão do delito que parte o próprio Direito Romano, que torna tal manifestação natural e espontânea como premissa para, regulando-a, intervir na sociedade para permiti-la ou excluí-la quando sem justificativa. Trata-se da Pena de Talião, da qual se encontram traços na Lei das XII Tábuas1.
Destaca-se que o Direito Romano não manifestava uma preocupação teórica
de sistematização dos institutos, uma vez que a elaboração dos mesmos era realizada
pelo trabalho dos romanistas, por meio do desenvolvimento das decisões dos juízes e
dos pretores, os quais realizavam pronunciamentos dos jurisconsultos e constituições
imperiais.
Todavia, na própria Lei das XII Tábuas havia uma evolução dos institutos ao
permitir a possibilidade de composição entre a vítima e o ofensor, dessa maneira
evitando que fosse aplicada a Pena de Talião. Dessa maneira se evitava que o ofensor
sofresse a perda de um de seus membros, mesmo se houvesse provocado a perda em
outrem, abrindo-se para uma solução transacional, onde o autor do dano pagaria à
vítima, dinheiro ou outros bens, a título de pena.
Ainda com o mesmo fundamento normativo, observa ALVINO LIMA:
1 “Remontando à Lex XII Tabularum, lá se encontram vestígios de vingança privada, marcada todavia pela
intervenção do poder público, no propósito de discipliná-la de uma certa forma: Tabula VIII, lei 2ª., onde se lê: si membrumrupsit, ni cum eopacit, talio est ( Girard, textes de Droit Romain, p. 17). Nesta fase de vindicta não se podia cogitar a idéia de culpa, dada a relevância do fato mesmo de vingar (Alvino Lima, Culpa e Risco, 2. Ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.21). Nesta fase, nenhuma diferença existe entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal ( Malaurie e Aynés, loc. Cit.)” ( Caio Mário da Silva Pereira, Responsabilidade Civil, 9.ed., de Janeiro: Forense, 2001, p.2). Gagliano, Pablo Stolze, Pamplona, Rodolfo Filho, in ob. Cit., p. 52).
11
Este período sucede o da composição tarifada, imposto pela Lei das XII Tábuas, que fixava, em casos concretos, o valor da pena a ser paga pelo ofensor. É a reação contra a vingança privada, que é assim abolida e substituída pela composição obrigatória. Embora subsista o sistema delito privado, nota-se, entretanto, a influência da inteligência social, compreendendo-se que a regulamentação dos conflitos não é somente uma questão entre particulares. A Lei das XII Tábuas, que determinou o quantum para a composição obrigatória, regulava casos concretos, sem princípio geral fixador da responsabilidade civil. A actio de reputissarciendi, que alguns afirmam que consagrava um princípio de generalização da responsabilidade civil, é considerada, hoje, como não contendo tal preceito (Lei das XII Tábuas – Tábuas VIII, Lei 5 ª )2.
Entretanto um marco na evolução histórica da Responsabilidade Civil é a
edição da Lex Aquilia, sua importância foi tão grande que deu nome a nova designação
da responsabilidade civil delitual ou extracontratual.
A chamada Lex Aquilia, tinha como objetivo assegurar o castigo que a pessoa que causasse dano a outra obrigando-a a reparar os prejuízos de decorrentes e, também, num plano mais severo, punir o escravo que causasse danos aos cidadãos ou ao gado de outro, fazendo-o reparar o mal causado com sanções também mais severas em virtude da divisão de castas3.
“Constituída de três partes, sem haver revogado totalmente a legislação
anterior, sua grande virtude é propugnar pela substituição das multas fixas por uma
pena proporcional ao dano causado 4”.
Com efeito, regulava ela o damnum injuria datum, consistindo na destruição ou
até mesmo na deterioração da coisa alheia por um fato ativo que tivesse atingido coisa
corpórea ou incorpórea, sem justificativa legal. Entretanto, mesmo a finalidade sendo
limitada ao dono da coisa lesada, com a influência da jurisprudência o pretor concedeu
extensões, a partir da qual foi construída uma doutrina romana efetiva referente à
responsabilidade extracontratual.
Sintetizando essa visão da Responsabilidade Civil no Direito da Antiguidade,
ensina Alvino Lima:
2Alvino Lima, ob. Cit., p. 21.
3Doni Junior, Geraldo, ob. Cit., p. 25.
4“ A Lei Aquília não se limitou a especificar melhor os atos ilícitos, mas substituiu as penas fixas, editadas por certas
leis anteriores, pela reparação pecuniária do dano causado, tendo em vista o valor da coisa durante os 30 dias anteriores ao delito e atendendo, a princípio, ao valor venal; mais tarde, estendeu-se o dano ao valor relativo, por influência da jurisprudência, de sorte que a reparação podia ser superior ao dano realmente sofrido, se a coisa diminuísse de valor, no caso prefixado” ( Alvino Lima, ob. Cit., p. 22-23).
12
Partimos, como diz Ihering, do período em que o sentimento de paixão predomina no direito; a reação violenta perde de vista a culpabilidade, para alcançar tão somente a satisfação do dano e infligir um castigo ao autor do ato lesivo. Pena e reparação se confundem; responsabilidade penal e civil não se distinguem. A evolução operou-se, consequentemente, no sentido de se introduzir o elemento subjetivo da culpa e diferenciar a responsabilidade civil da penal. E muito embora não tivesse conseguido o direito romano libertar-se inteiramente da ideia da pena, no fixar da responsabilidade aquiliana, a verdade é a que a ideia de delito privado, engendrando uma visão penal, viu o domínio de sua aplicação diminuir, à vista da admissão, cada vez mais crescente, de obrigações delituais, criando uma ação mista ou simplesmente reipersecutória. A função da pena transformou-se, tendo por fim indenizar, como inspirada na função primitiva da vingança; o caráter penal da ação da lei Aquília, no direito clássico, não passa de uma sobrevivência 5.
Conforme cita Silva filho: “Sucedendo a penalização do corpo surge a
composição entre o autor da ofensa na mesma proporção da ofensa e o lesado,
mediante a prestação de uma poena, pagamento de uma certa importância em dinheiro 6”.
Como cita Artur Marques da Silva Filho:
O dano, segundo a Doutrina, a princípio escapa ao âmbito do Direito. Antes, vigorava a vingança coletiva, que evoluindo passou à privada, na qual preponderava a idéia de reparação do mal pelo mal. Na Lei das XII Tábuas ainda se encontram vestígios do direito à retaliação 7.
A responsabilidade civil se assenta por meio da teoria clássica, tendo a mesma
três pressupostos, sendo o dano, a culpa do autor do dano, e a relação de causalidade
entre o fato culposo e o mesmo dano.
Observa-se que a inserção da culpa se deu como um elemento básico da
responsabilidade civil aquiliana, como um elemento para a substituição do direito
primitivo, abstraindo a ideia de pena para reparação do dano sofrido. Foi incorporada
na idade moderna, no Código Civil de Napoleão, que influenciou diversas legislações,
até mesmo o Código Civil brasileiro de 1916.
Todavia, a teoria clássica da culpa não satisfez todas as necessidades da
sociedade, uma vez que haviam diversos casos concretos, nos quais os danos
ocorriam sem que se pudesse ter a comprovação do elemento anímico. Diante disso
5Alvino Lima, Ob. Cit., p.26-27.
6 Silva Filho, Arthur Marques. Ob.cit., p.27. In Doni Junior.Geraldo. P. 25.
7 Silva Filho, Artur Marques. In Responsabilidade Civil por Fato do Produto ou Serviço ( Responsabilidade Civil por
Danos aos Consumidores), obra coordenada por Carlos Alberto Bittar. São Paulo: Saraiva, p.27. In Doni Junior. Geraldo. Ob.cit. p. 23.
13
“começou a se vislumbrar na jurisprudência novas soluções”8, dentre elas a ampliação
do conceito de culpa e até mesmo o acolhimento de novas teorias.
Diante das considerações históricas, descreve Alvino Lima:
O movimento inovador se levanta contra a obra secular; a luta se desencadeia tenazmente e sem tréguas; Ripert proclama Saleilles e Josserand os ‘síndicos da massa falida da culpa’, e, a despeito das afirmações de que a teoria do risco desfaleceu no ardor de seu ataque, seus defensores persistem na tarefa, e as necessidades econômicas e sociais da vida moderna intensa obrigam o legislador a abrir brechas na concepção da teoria clássica da responsabilidade. Ambas, porém, continuarão a substituir, como forças paralelas, convergindo para um mesmo fim, sem que jamais, talvez, se possam exterminar ou se confundir, fundamentando, neste ou naquele caso a imperiosa necessidade de ressarcir o dano, na proteção dos direitos lesados 9.
1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
A expressão responsabilidade remete a vários significados, podendo ser
sinônima de diligência ou cuidado, podendo até mesmo revelar uma obrigação pelos
atos praticados.
Enfatiza Adauto de Almeida Tomaszewski:
Imputar a responsabilidade a alguém, é considerar-lhes responsável por alguma coisa, fazendo-o responder pelas consequências de uma conduta contrária ao dever, sendo responsável aquele indivíduo que podia e devia ter agido de outro modo10.
Parafrasendo Paul Duez, Stoco afirma que “o termo responsabilidade civil [...]
se não for cuidadosamente conceituado, poderá prestar-se a ambiguidades, em razão
da pobreza sobre muitos aspectos, do vocábulo jurídico”11.
Várias são as concepções doutrinárias quando se trata da responsabilidade
civil, uma vez que o tema pode ter várias significações. Tendo dois pólos em relação à
responsabilidade civil, sendo um objetivo, diante de um risco proporcionado e outro
subjetivo, onde se culpa o agente que causa o dano.
Segundo os ensinamentos de Maria Helena Diniz:
8 Pablo StolzeGagliano, Rodolgo Pamplona Filho, ob. Cit., p. 54.
9Alvino Lima, ob. Cit., p.54-55.
10 Separação, Violência e Danos Morais – A Tutela da Personalidade dos Filhos. São Paulo: Paulista Jur, 2004, p.
245. In Stoco Rui. Ob. Cit., p. 132. 11
La responsabilité de lapuissance publique em dehorsducontrat, 1927, v 1, p.269. In Stoco Rui. Ob. Cit., p. 137.
14
A responsabilidade civil é aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. (2009, p.35)
Nesta esteira também assevera Aguiar Dias, quanto à responsabilidade civil:
Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da responsabilidade. Isso talvez dificulte o problema de fixar o seu conceito, que varia tanto como os aspectos que pode abranger, conforme as teorias filosófico- jurídicas.12
Podendo até mesmo ser conduzida como uma ideia de obrigação.
Para César Fiuza “releva, então, um dever, um compromisso, uma sanção,
uma imposição decorrente de algum ato ou fato”13.
Portanto a responsabilidade civil, não está apenas ligada a resultados da vida
jurídica, mas primeiramente se liga aos domínios da vida social. Sendo resultante da
ação do homem, onde se expressa, diante de seus deveres e obrigações.
Para o doutrinador Sergio Cavalieri Filho:
Para atingir esse ideal de conduta, a ordem jurídica estabelece regras e impõe limites, que, conforme a natureza do direito a que correspondem, podem ser positivos, de dar ou fazer, como negativos, de não fazer ou tolerar alguma coisa. Fala-se até, segundo sua narrativa, em um dever geral de não prejudicar ninguém, expresso pelo Direito Romano através da máxima neminemlaedere.14.
Derivando a palavra responsabilidade do latim respondere. Sendo a obrigação
de alguém se responsabilizar por atos danosos praticados e que todavia causaram
dano a outrem.
Outrossim, Giorgio Giorgi conceituou a responsabilidade civil como a
“obrigação de reparar mediante indenização quase sempre pecuniária o dano que o
nosso fato ilícito causou a outrem”. (Teoria dele obbligazioni, v.5 n. 143, p. 224).
Sergio Cavalieri Filho pontificou que:
A responsabilidade civil é uma espécie de estuário onde deságuam todos os rios do Direito: público e privado, material e processual; é uma abóbada que
12
Da Responsabilidade Civil. 6 ed., 1979, v 1, p.1 e 3. In StocoRui. Ob. Cit., p.137. 13
Para uma releitura da teoria geral da responsabilidade civil. Revista Synthesis, TRT da 2ª Região, n 42, p.32, 2006. In Stoco Rui. Ob. Cit., p.132 14
Programa de Responsabilidade Civil.9.ed. São Paulo: Ed Atlas, 2010, p.1. In StocoRui.Ob. Cit., p.137.
15
enfeixa todas as áreas jurídicas, uma vez que tudo acaba em responsabilidade
15.
1.3 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
A responsabilidade subjetiva está diretamente ligada à ideia de culpa, neste
caso a culpabilidade do causador é o ponto de partida de sua responsabilidade, dessa
forma “ninguém pode merecer censurar juízo de reprovação sem que tenha faltado
com o dever de cautela em seu agir”.16 Sendo este um pressuposto da
responsabilidade civil subjetiva.
O Código Civil em seu artigo 186, manteve a culpa como sendo um
pressuposto para caracterizar a responsabilidade subjetiva.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Por conseguinte a palavra culpa é empregada em um sentido abrangente, latu
sensu, não indicando apenas a culpa strictu sensu, mais também o dolo.
Para Sílvio Rodrigues a responsabilidade subjetiva é constatada quando, “se
inspira na ideia de culpa [...] a responsabilidade do agente causador do dano só se
configura se agiu culposamente ou dolosamente”. (2008, p.11).
Sendo a responsabilidade civil subjetiva derivada de um ato ilícito, a mesma
tem alguns pressupostos, tais como: elemento formal, sendo este a violação de um
dever jurídico por um conduta voluntária; um elemento subjetivo podendo ser tanto o
dolo quanto a culpa; e o elemento causal-material, sendo o dano e a relação de
causalidade. Os três pressupostos descritos acima, foram apresentados pela doutrina
francesa, como sendo os pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, os mesmos
são identificados em uma simples análise do artigo 186 do Código Civil.
a)conduta culposa do agente, o que fica patente pela expressão “ aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia”; b) nexo causal, que vem expresso no verbo causar; e
c)dano, revelado nas expressões “violar direito ou causar dano a outrem”17.
15
Responsabilidade civil no novo Código Civil. Revista da EMERJ. Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v.6, n.24,p.30-47,2003. In Stoco Rui. Ob. Cit., p. 133. 16
Filho, Sergio Cavalieri.op.cit., p. 17. 17
Filho, Sergio Cavalieri. Op. Cit., p. 19.
16
Dessa forma toda vez que alguém culposamente viola direito de outrem lhe
causando dano, está praticando ato ilícito, tendo como dever indenizar aquele que foi
acometido de tal dano, conforme dispõe o artigo 927 do Código Civil.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Na visão de Caio Mário da Silva Pereira, a culpa é o principal fundamento da
responsabilidade civil, como se depreende de seus ensinamentos:
O fundamento maior da responsabilidade civil está na culpa. É o fato comprovado que se mostrou está insuficiente para coibir toda gama os danos ressarcíeis; mais é fato igualmente comprovado que, na sua grande maioria, os atos lesivos são causados pela conduta antijurídica do agente, por negligência ou por imperícia. Aceitando, embora, que a responsabilidade civil se construiu tradicionalmente sobre o conceito de culpa, o jurista moderno convenceu se de que esta não satisfaz, deixando a vítima o ônus da prova de que o ofensor procedeu antijuridicamente, a deficiência dos meios, a desigualdade de fortuna, a própria organização social acabam por deixar larga cópia de danos descobertos e sem indenização. A evolução da responsabilidade civil gravita em torno da necessidade de socorrer a vítima, o que tem levado a doutrina e a jurisprudência a marchar adiante dos códigos, cujos princípios constritores entravam o desenvolvimento e a boa aplicação da justiça. Foi preciso recorrer a outros meios técnicos, e aceitar, vencendo para isto resistências quotidianas, que em muitos casos o dano é reparável sem fundamento de culpa. (2009, p.486).
1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO
A investigação de requisitos objetivos de imputação de responsabilidade para
que se pudesse se substituir a culpa como o centro, para se responsabilizar, teve seu
marco inicial com a obra de Raymond Saleilles, Les acidentes de travailetla
responsabilitécivile. O autor da referida obra propôs que o princípio da imputabilidade
pudesse ser substituído por um princípio de simples causalidade, sendo este uma
avaliação do comportamento daquele que causou o dano.
A mesma linha de raciocínio foi seguida por Saleilles e Josserand, segundo os
quais a culpa tornou-se o objeto do que já foi referido como “o mais intenso dos
ataques doutrinários que talvez se tenha registrado na evolução de um instituto
jurídico”18.
18
Alvino Lima, Culpa e Risco, cit., p. 43. In Schreiber Anderson.Ob. Cit., p. 19.
17
Outrossim, grande parte dos autores filiam-se à ideia de que a
responsabilidade objetiva seria fundada na teoria do risco. Diante de tantos debates
sobre o tema, a responsabilidade objetiva passou a ser adotada em quase todos os
ordenamentos jurídicos, através de leis especiais, sendo aplicadas em setores
específicos, relacionados às diversas crises da sociedade, no que concerne o campo
da responsabilidade civil.
No Brasil, muito embora houvesse resquícios da responsabilidade civil objetiva
no Código Civil de 1916, a responsabilidade civil efetivamente ingressou em nosso
ordenamento por meio de diplomas especiais, tais como a Lei de Estradas de Ferro
(Decreto n 2.681/12)19.
Para Sílvio Rodrigues, na responsabilidade objetiva “a atitude culposa ou dolosa
do agente causador do dano é de menor relevância, pois desde que exista relação de
causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever
de indenizar”. (2008, p.11).
A teoria do risco deriva da responsabilidade civil objetiva, sendo referente a
riscos que determinadas atividades que o homem exerce podem impor à sociedade,
podendo as referidas atividades exercidas causar dano a outrem, devendo aquele que
causar dano de risco iminente suportar os danos que estão sujeitos a praticar.
No que concerne à responsabilidade diante da atividade de risco, a mesma
está disposta no ordenamento jurídico em seu artigo 927 do Código Civil, que prevê
uma proteção para a sociedade de determinadas atividades, dessa maneira gerou uma
proteção para as vítimas que sofreram tal dano.
Outrossim, dependendo de que modo ocorra o dano, não há como se mensurar
a culpabilidade do agente, nestes casos o que se pode fazer é se presumir uma
responsabilidade, sendo as mesmas independentes de quaisquer questões subjetivas
no que concerne ao agente danoso.
Neste sentido dispõe Maria Helena Diniz:
19
Esclarece Maria Celina Bodin de Moraes, Problemas em torno da cláusula geral de responsabilidade objetiva ( no prelo): “No Brasil, diante do expressivo e constante aumento da utilização dos transportes ferroviários, e do correspondente incremento no número de acidentes, deparou-se o legislador com a necessidade de regulamentar a responsabilidade do transporte ferroviário. E o fez com base na responsabilidade objetiva, optando por retirar das costas da vítima os prejuízos por ela sofridos, independentemente da culpa. Em 1912, foi promulgado o Decreto n 2.681, o qual abria exceção ao princípio da culpa, forjando-se inteiramente no âmbito do risco criado ao viajante, embora o legislador tenha então mantido a expressão ‘culpa presumida’.” In Schreiber Anderson. Novos
Paradigmas da Responsabilidade Civil. Ob.Cit., p. 20.
18
[...] o agente deverá ressarcir o prejuízo causado, mesmo que isento de culpa, porque sua responsabilidade é imposta por lei independentemente de culpa e mesmo sem necessidade de apelo ao recurso d presunção. O dever ressarcitório, estabelecido por lei, ocorre sempre que se positivar a autoria de um fato lesivo, sem necessidade de indagar, se contrariou ou não norma predeterminada, ou melhor, se houve ou não um erro de conduta [...] não há que se falar em imputabilidade de conduta, tal responsabilidade só terá cabimento no casos expressamente previstos em lei. A responsabilidade objetiva funda-se num princípio de equidade existente desde o direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens delas resultantes[...] ( 2009, p.52)
Na visão de Carlos Alberto Bittar:
Na concepção objetiva, a par e sensíveis rupturas em alguns dos princípios expostos, outros foram edificados em substituição, constituindo sistema próprio de informação, a saber: a) a paulatina coletivização da ideia de responsabilidade, como a “socialização dos riscos”, mediante cobertura por meio de seguro obrigatório, como já existe na área de veículos automotores; b) a limitação da responsabilidade a níveis certos, por lei, como na de transporte aéreo, ou por meio de contrato, com contrato definido etc.; c) o princípio da responsabilidade pelo simples exercício da atividade econômica perigosa, em que se não cogita de ilícitos; d) o princípio da responsabilidade por risco, em que se não cuida da subjetividade do agente (substituídas, pois, com os dois últimos, os da prática de ilícito e o da culpa, componentes da teoria subjetiva). Assim, a responsabilidade recai sobre empresas exploradoras de atividades consideradas perigosas, fundada no risco danoso (ou seja, pelo simples implemento do nexo causal, sem qualquer cogitação de subjetividade). Responde o patrimônio da empresa, que, pode, no entanto, reaver do causador, dentro da teoria da pessoa jurídica, o valor expedido, desde que culpado pelo evento20.
20
Bittar Carlos Alberto, Responsabilidade Civil teoria e prática., p. 51-52.
19
CAPÍTULO II – DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO
2.1 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
Atividade profissional se dá sobre diversas atribuições, encargos e até mesmo
serviços desempenhados pela pessoa, ou seja é um conjunto de atos praticados por
um sujeito, diante do exercício profissional que esteja prestando.
O exercício da advocacia é o instrumento pelo qual se realiza a defesa dos
direitos das pessoas, tanto de seus bens como de seus interesses, o mesmo nasceu
no terceiro milênio antes de Cristo, na Suméria.
Na França, bem como em outras legislações que adotam o regime contratual,
observou-se que o mandato judicial não encerra feições puramente contratuais.
Ele é confiado a um oficial púbico, a quem a lei impõem, independentemente mesmo da vontade das partes, certos pareceres legais. O primeiro desses deveres é não recusar seus serviços ao cliente que lhe pede para representa-lo em juízo. A simples recusa de contratar poderia constituir, pois, para o advogado, um princípio de responsabilidade [...]21
No Brasil teve seu marco inicial, sendo reconhecida como profissão no início da
criação dos cursos jurídicos em 11 de agosto de 1827, quando foram criados os cursos
jurídicos de Olinda, e de São Paulo, amparados pela referida lei. Sendo a OAB criada
em 1930 por meio do artigo 17 do Dec. 19.408.
Para José de Aguiar Dias:
O advogado responde contratualmente perante seus clientes. Nem seria possível negar o contrato existente entre ambos como autêntico exemplo de mandato. Tanto que é indiferentemente chamado mandatário ou procurador judicial. Suas obrigações, de modo geral, consistem em defender as partes em juízo e dar-lhes conselhos profissionais22.
No que concerne à recusa de contratar, em seu ordenamento jurídico, adota-se
o entendimento de que os advogados sem dúvida nenhuma podem recusar o mandato,
não tendo que de maneira alguma expor os motivos pelos quais houve a recusa, uma
vez que em nossa organização se respeita a liberdade profissional. O mandato é um
contrato consensual, não-solene, intuitu personae, sendo em regra gratuito e unilateral
21
Savatier, ob.cit, t.2º, nº835,p.456. In Dias, José de Aguiar, p., 410. 22
Dias, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Ob. Cit., p. 410.
20
O termo mandato vem do latim mandatu, sendo a autorização ou a procuração
que alguém transmite a outrem para que possa em seu nome atuar ou praticar certos
atos.
A responsabilidade civil do advogado não pode ser confundida apenas como
um pequeno esquecimento referente as suas obrigações, uma vez que o advogado é
um autêntico operador do Direito
Para Rui Stoco, o advogado:
É, em verdade, um prestador de serviços. Mas um prestador especial, peculiar e indispensável, que se diferencia de todos os outros em razão da atividade que exerce e da álea que a envolve e determina. Atua na condição de profissional liberal23.
No que concerne à responsabilidade civil do advogado, não restam dúvidas
sobre o seu caráter contratual.
Maria Helena Diniz “entende, todavia, que, apesar de ser um múnus público, o
mandato judicial apresenta feição contratual, por decorrer de uma obrigação de meio,
exceto, nos casos em que presta assistência judiciária (Lei 8.906/94, art 34, XII) 24”.
Por conseguinte o exercício da atividade advocatícia é oriunda de um contrato
preexistente entre o advogado e o cliente, portanto o advogado deve seguir uma série
de parâmetros condizentes ao bom exercício da advocacia. O mandato pode ser
realizado com uma condição pública ou particular, podendo também ser realizado na
forma verbal. Os poderes podem ser conferidos de forma gerais ou especiais, podendo
ser para fins diretamente negociais, denominadas de ad negocia, outrora para fins
judiciais, denominada, ad judicia.
A título de informação é importante lembrar que no direito francês, “o mandato
implicava para um mandatário a obrigação de obedecer ao mandante de lhe prestar
contas, colocando-o, portanto numa posição subordinada e sujeito a fiscalização”25.
O mandato é o contrato pelo qual uma pessoa recebe poderes de outra para
que em seu nome possa praticar atos de seu interesse. Conforme dispõe o artigo 653
do Código Civil Brasileiro.
23
Stoco, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 565. 24
Diniz, Maria Helena.ob.cit. In Doni Junior. Geraldo, p.51 25
Doni Junior, Geraldo. Responsabilidade civildo advogado e a Ética no exercício profissional, p.52.
21
Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato.
As obrigações do mandatário podem se resumir de duas maneiras, execução
do mandato e prestação de contas, sendo as mesmas tratadas nos artigos 667 e 668
do Código Civil Brasileiro.
Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja.
Para Rudolf Von Lhring, “aquele que abraça uma profissão determinada por
proclama esse fato, publicamente, que está apto e pronto para executar todos os
serviços que ela comporta. Põe os seus serviços à disposição do público: dá a todos o
direito de lhos irem solicitar”26.
Algumas das obrigações do mandatário estão dispostas nos artigos 667 a 674
do Código Civil. Sendo dever do representante, empregar todas as diligências
necessárias a boa execução do mantado, sendo obrigado a indenizar qualquer dano
causado em razão de sua culpa ou aquele a quem substabeleceu, sem o
consentimento expresso do cliente, poderes quais deveria ser exercido pessoalmente.
Ademais, responderá ainda mesmos atos ocorridos pela substituto em decorrência de
caso fortuito, com exceção dos casos em que o caso teria ocorrido, mesmo que não
houvesse substabelecimento.
Outrossim, mesmo no caso em que há poderes para substabelecer, somente
serão imputáveis ao mandatário, os dano que o substabelecido causou, se o mesmo
tiver agido com culpa, na escolha deste ou nas informações prestadas ao mesmo.
Caso tenha havido uma proibição expressa na procuração de substabelecer, os atos
realizados pelo mandante não obrigam necessariamente o mandante, salvo nos casos
em que há ratificação expressa, retroagindo ao momento do ato. No caso de omissão
da procuração com relação ao substabelecimento, o procurador será devidamente o
responsável, se o substabelecido haja culposamente em seus atos.
26
Cf. Ruy A. Sodré, Ética Profissional p. 117. In ob, cit. Nader Paulo. Curso de Direito Civil, Responsabilidade civil, v7, p, 422.
22
Maria Helena Diniz,( 1993, p. 37) apresenta alguma situações em que o
mandatário é responsabilizado civilmente:
Não execução do mandato de acordo com as instruções recebidas, conforme estabelecido no Art. 673 do CC, verbis : “O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário, com ele celebrar negócio jurídico exorbitante do mandato, não tem ação contra o mandatário, salvo se este lhe prometeu ratificação do mandante ou se responsabilizou pessoalmente”; Não enviar ao mandante as somas recebidas em função do mandato ou não depositá-las em nome do mandante (CC, Art. 670 – “Pelas somas que devia entregar ao mandante ou recebeu para despesa, mas empregou em proveito seu, pagará o mandatário juros, desde o momento em que abusou”); * Não prestar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato por qualquer título que seja (CC, art. 668 – “O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja”
O mandado pode ser extinto pela revogação ou pela renúncia, na forma em
que a Lei determina. Estabelece o §3º do art. 5º, Lei nº. 8.906, de 4 de julho de 1994:
“O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias seguintes à
notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído antes do
término desse prazo”.
Por conseguinte, mesmo o advogado tendo diversas obrigações com relação
ao seu cliente, o mesmo deve deixar claro que ele contrata o patrocínio das causas em
que o mandante é o autor ou o réu, não obriga-se o advogado a outorgar nas causas
futuras do cliente.
Todavia, não é apenas o mandatário que possui obrigações a serem
devidamente cumpridas, o mandante também deve agir respeitando certos parâmetros,
as mesmas são divididas em dois grupos, sendo em relação ao mandatário e em
relação a terceiros com quem tratar este.
Com relação ao mandatário, deve seguir a remuneração que foi ajustada entre
ambos, não havendo estipulação neste sentido, deverá pagar conforme os usos do
lugar ou na forma em que foi arbitrada. De qualquer modo o mandante deve fornecer a
importância necessária para que o mandato possa ser executado, podendo até mesmo
o mandatário deixar de praticar certos atos que dependam do cumprimento anterior do
mandante.
Para Larenz:
Cabe, ainda, ao mandante ressarcir o mandatário os prejuízos sofridos no cumprimento do mandato, ainda que acidentais, ou devidos ao fortuito, desde
23
que para o evento não haja ocorrido a culpa do próprio mandatário, ou excesso de poderes. Se o mandato for gratuito, recrudesce este dever, em atenção a que, se o comissário empregar seu tempo e seu trabalho em benefício do representado, que com isto se beneficia, não deve suportar maiores sacrifícios, e justo será que a ideia de indenização seja então abrangente, compreendendo todas as consequências danosas que derivam do mandato27.
No período desempenhado anteriormente ao mandato, à responsabilidade do
advogado pode se dar por uma omissão diante das providências preliminares
necessárias, estas destinadas aos direitos do cliente.
No caso da aceitação da causa, o advogado deve realizar todas as diligências
com todo zelo e atenção, fornecendo todas as informações necessárias ao cliente
sobre o andamento do feito, promovendo tudo o que está ao seu alcance, para que o
desfecho final seja lhe favorável.
Como toda relação jurídica, o mandato tem seus efeitos cessados nos casos em
que a lei determina, conforme dispõe o artigo 682 do Código Civil brasileiro. A extinção
do mandato pode se dar de três formas.
Segundo Espínola:
[...] a vontade das partes, o acontecimento natural, o fato jurídico. São eles: a revogação, a renúncia, a morte, a mudança de estado, a terminação do prazo, a conclusão do negócio. Os autores costumam ainda lembrar outras extintivas, que são de caráter geral, como a impossibilidade do objeto, a nulidade do contrato, a resolução por inadimplemento, a verificação de condição resolutiva 28.
2.2 DA SOCIEDADE DE ADVOGADOS Quando o assunto é a sociedade de advogados o tema trás as transformações
diretas que existem na relação entre cliente e advogado, ou seja, profissional-cliente.
Todavia quando o assunto é a atividade advocatícia, as transformações afetaram
diretamente a abordagem realizada da responsabilidade civil, uma vez que quando os
advogados estão reunidos por meio de sociedades, a dificuldade em se realizar uma
responsabilidade individual ficou mais difícil.
O demasiado crescimento das sociedades não teve apenas como objetivo
principal o dinheiro fácil, a crescente estrutura das sociedades contribuiu para que
27
Larenz,ob.cit., pág.353. In Caio Mário da Silva Pereira.ob.cit., p. 349. 28
Espínola, contratos nominados, n 166, nota 68; De Page, Traité, vol,v, n 453; Serpa Lopes, Curso, n 579. In. Caio Mário da Silva Pereira Ob. Cit., p. 352.
24
houvesse um crescimento do país em uma economia mundial, onde se exigiam
respostas para o crescente problema, sendo eles cada vez mais complexos, quando o
assunto era o ingresso de novos concorrentes no mercado, sendo identificados como
ameaças, tornando-se assim inevitável a realização de soluções para os diversos
problemas ocasionados pelas concorrências do mercado.
A partir de então, os advogados passaram a se submeter à regulamentação do
registro junto à Ordem dos advogados, sendo ali depositados os seus atos
constitutivos, e passando a prática por meio de uma advocacia mais moderna e por
sua vez também mais competitiva.
Todavia, as queixas realizadas por clientes começaram a ser corriqueiras, tais
como os atendimentos, ora realizados por um profissional, ora realizados por outro
profissional, a utilização desmedida de estagiários, para realizaram as atividades que
são condizentes com a atividade de profissionais habilitados para realizarem tais
procedimentos, as dificuldades em gerir o grande número de advogados, os quais na
maioria das vezes não tem interesses comuns, acarretando diversos danos aos
clientes.
Diante disso surge a pergunta de como os participantes de uma sociedade
poderiam ser preservados, diante de um ato praticado por apenas um advogado, tal
como preconiza o artigo 14 parágrafo 4 do Código de Defesa do Consumidor.
Neste sentido, a Apelação Cível 2002.001.26481, julgado em 25/3/2003, Relator o desembargador Fernando Cabral, o TJRJ assim ementada“ Responsabilidade civil. Contrato de prestação de serviços advocatícios. Sociedade civil constituída para este fim. Relação de consumo. Fato do serviço. Responde a empresa ré, objetivamente, pelos danos causados ao consumidor dos serviços, se estes não lhe são prestados com a eficiência e a segurança que deles se deveria esperar. Ato ilícito perpetrado por integrante do escritório de advocacia, a quem os poderes outorgados pelo cliente foram substabelecidos. Dever jurídico de reparar o prejuízo. Responsabilidade civil objetiva da sociedade, cabendo-lhes a prova da existência de alguma excludente, em seu prol. Ação culposa que, ademais, resta evidente. O dano moral, nos ilícitos contratuais, são devidos apenas quando extrapolam o âmbito do descumprimento do contrato e atingem direitos personalíssimos do lesado. Se, deferida a intervenção de terceiro, não providencia o denunciante a citação que declara a perda do direito. Ademais, tratando-se de ação que versa sobre a relação de consumo, descabe a denunciação, facultando-se ao réu exercer o regresso em ação autônoma. Desprovimento do agravo retido, interpostos pelos réus, negando-se provimento a ambas as apelações”29.
29
José de Aguiar Dias. Da responsabilidade civil., p. 431-432
25
2.3 DA ÉTICA NA PROFISSÃO JURÍDICA
O advogado é um profissional essencial à administração da justiça, para tanto
deve agir de forma ética, respondendo pelos atos que pratica.
Tratadista do porte de José Renato Nalini30, e Ruy de Azevedo Sobré31,
entendem que todas as profissões reclamam um proceder ético, porém, na atividade jurídica essa importância aumenta e, citando Carlo Lega, argumentam que “homem das leis examina o torto e o direito do cidadão no mundo social em que opera; é, a um tempo, homem de estudo e homem público, persuasivo e psicólogo, orador e escritor. A sua ação defensiva e a sua conduta incidem profundamente sobre o contexto social em que atua”. É nas ciências jurídicas que as normas dos deveres morais se põem com larga nitidez.
As normas profissionais que os operadores do direito estão sujeitos, baseiam-
se em leis, na moral e na tradição. Tendo o exercício da advocacia caráter de ordem
pública, uma vez que a atividade da advocacia tem como finalidade o exercício no
interesse do direito e da justiça. Devendo o profissional que exerce tal função zelar e
precaver-se de todos os meios legais para a defesa de seu cliente.
Em um momento de transformação, em especial do último século, a
Deontologia Forense, ou, Jurídica, surge de um complexo de regras e princípios, com a
intenção de disciplinar as carreiras de cunho jurídico, disciplinando normas éticas e de
comportamentos que devem ser observados e seguidos pelos operadores do direito.
Para Manuel Santaella López, da Universidade de Madri:
A deontologia jurídica há de compreender e sistematizar, inspirada em uma ética profissional, status dos distintos profissionais e seus deveres específicos que dimanam das disposições legais e das regulamentações deontológicas aplicadas à luz dos critérios e valores previamente decantados pela ética profissional. Por isso, há que se distinguir os princípios deontológicos de caráter universal (probidade, desinteresse e decoro) e os que resultam vinculados a cada profissão jurídica em particular: a imparcialidade do juiz, a liberdade do exercício profissional da advocacia, a promoção da justiça e a legalidade cujo desenvolvimento corresponde ao Ministério Público32.
Pelos princípios fundamentais da deontologia forense, o advogado se escora
em dois pilares, sendo eles a ciência e a consciência, o profissional deve agir segundo
30
Nalini, José Renato. ÉticaGeral e Profissional. 1999. Ob.cit. In DoniJúnior, Geraldo. Responsabilidade Civil do advogado e a ética no exercício da profissão. Ob. Cit., p. 79. 31
Sodré, Ruy de Azevedo. A Ética Profissional e o Estatuto do Advogado, 1975. Ob. cit., In Dono Júnior, Geraldo. Responsabilidade do advogado e a ética no exercício profissional. Ob. cit., p. 79. 32
Manuel SantaellaLópes. In Doni Júnior, Geraldo. Ob. cit., p. 80.
26
a ciência e a sua consciência. Significando a ciência, o conhecer do que é certo,
correto em suas causas. Para o Professor Miguel Reale, “nada mais é que um estudo
normativo com a finalidade prática de aferir e garantir as formas de relacionamento
social, sob o prisma de sua licitude ou ilicitude”33.
Outrossim, o conhecimento técnico é exigido de todo profissional que necessita
de uma formação acadêmica bem de conhecimento suficiente para que possa
desempenhar de forma eficiente, para que possam estar a par de todos os avanços
que influenciem na área em que atuem.
Todavia, o conhecimento técnico não é suficiente para resolver a problemática
no que diz respeito à moral do profissional, não sendo o conhecimento técnico requisito
absoluto, uma vez que uma consciência sem qualquer orientação faz com que o
indivíduo aja de forma equivocada, já que o homem é próspero a falhar.
A consciência é um objeto que se aperfeiçoa de forma contínua, como
exercícios regulares, como uma consequência de que cada um deve construir a sua
própria consciência, não podendo ser transferida essa missão a outrem, já que o
homem tem o dever de se educar e instruir o seu juízo moral.
É dever do advogado estar atualizado para que aplique o seu conhecimento
conforme lei, aperfeiçoando-se para que exerça de forma correta a defesa da ordem
jurídica e da Constituição. Porém, jamais deve esquecer e abandonar a sua própria
consciência, esta vem sempre acima de tudo, uma vez que vem periodicamente sendo
completada pelos princípios da responsabilidade profissional do direito, devendo agir
sempre em conformidade com tais princípios, com o devido zelo nas atividades
realizadas, probidade, dignidade, moralidade, e tendo honra profissional.
A conduta ilibada de um operador do direito não deve ser vista como uma
anormalidade, mas sim como uma obrigação a ser seguida pelo advogado, que não
deverá ter medo de agir em defesa dos direitos e prerrogativas profissionais, zelando
por sua reputação, mesmo não estando no exercício profissional.
O advogado deve partir do pressuposto de que o Direito é um meio de
amenizar as desigualdades existentes para que se encontre uma solução justa, onde a
lei é o instrumento pelo qual se garanta a igualdade a todos, conforme o Código de
Ética e Disciplina da OAB, artigo 3º.
33
Realle, Miguel, Citado no Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. In Doni Júnior, Geraldo. Ob. cit., p. 81.
27
“Pasquier, em uma carta a seu filho, quando se inscreveu na Ordem dos
Advogados, dizia: A missão do advogado é persuadir. O advogado deve ter em vista
persuadir os juízes e estes persuadem-se mais facilmente pela palavra de quem
tenham na conta de homem de bem”34.
2.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO E O CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR
Na constatação de Robert Alexy, “os direitos humanos só podem desenvolver
seu pleno vigor quando garantidos por normas de direito positivo, isto é, transformados
em direito positivo” (Curso de Direito o Consumidor, 3 edição, Miragem, Bruno, p. 41).
O Direito do consumidor não surgiu apenas como princípio fundamental que
garantiu direitos aos consumidores, mas também surgiu como um sistema de caráter
normativo que garantiu uma proteção estabelecida pela Constituição. Criou-se um novo
microssistema como referência a direitos e deveres, que concerne a relação de
consumo, aproximando assim suas proposições normativas dos fatos da vida que
regulam as relações e consumo.
O Código de Defesa do Consumidor, surgiu de uma expressa determinação
constitucional, artigo 48º do ADCT. A característica do CDC, tem sua localização na
Constituição de 1988, no artigo 5º,inciso XXXII, que determina expressamente: “O
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.
Um dos principais princípios do Direito do Consumidor, é o Princípio da
Vulnerabilidade, cabe ressaltar que este é um princípio básico, que fundamenta a
existência do direito do consumidor, em seu artigo 4, inciso I, do CDC, estabelece entre
os princípios informadores da Política Nacional das relações de consumo o
“reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de trabalho”.
Justificando-se a existência de um direito que reconhecesse a vulnerabilidade do
consumidor nas relações de consumo, determinando-se assim um direito que
exercesse uma proteção à parte vulnerável nas relações de consumo, qual seja o
consumidor.
Na sociedade atual encontramos um gritante desequilíbrio entre dois agentes
econômicos, consumidor e fornecedor, e nas relações que se estabelecem entre
34
Pasquier( 1529-1615), jurisconsulto e historiador, celebrizou na defesa da Universidade contra os jesuítas; advogado-geral no Tribunal de Contas, foi deputado nos segundos estados de Blois convocados em 1576 por Luís XII. Citado por Maurice Garçon, in ob. cit., p. 10. In. Doni Júnior. Ob. Cit., p. 87.
28
ambos. A partir do reconhecimento do presente desequilíbrio nas relações de
consumo, fundamenta-se a existência de regras especiais que devem ser seguidas, ou
seja, uma lei ratione persoane, de proteção do sujeito mais fraco da relação de
consumo.
Por conseguinte o Princípio da boa-fé, também se encontra como um dos
princípios basilares do direito do consumidor, o dispositivo legal referente a boa-fé, esta
prevista no artigo 4º, inciso III, do CDC.
Dentre as mais variadas medidas protetivas que o Código de Defesa do
Consumidor estabeleceu, uma das mais importantes está na relação jurídica do
contrato de consumo, uma vez que esta assume um papel preponderante nas relações
de consumo. O ato de consumir se traduz basicamente em um contrato de consumo
estabelecido entre o fornecedor e o consumidor, tendo este contrato papel importante
para disciplinar e regular juridicamente as relações de consumo, tendo em vista uma
proteção ao consumidor.
O princípio da autonomia da vontade, é fundada em uma autonomia racional,
dessa forma disserta Bruno Miragem:
Neste sentido, a autonomia da vontade, nos contratos, preconiza e de certo modo, assegurada pelo CDC, é antes de tudo um exercício de razão, em face da opção de celebrar ou não o contrato, com igualdade de ter a adequada e plena informação sobre todas as questões relativas ao mesmo, desde seus pressupostos, riscos da contratação, assim como uma maior proteção quando à execução de seus termos. O CDC, portanto, representa um novo regime das relações contratuais, porquanto ao lado dos princípios clássicos do direito dos contratos, como a liberdade contratual, a força obrigatória do vínculo por força da vontade (pacta sunt servanda) e o princípio liberal que estabelecia na vontade dos contratantes a única fonte obrigatória, e rejeita qualquer espécie de intervenção estatal, surge uma nova concepção social, principiológia e renovada do fenômeno contratual sustentada na proteção dos interesses úteis e legítimos dos contratantes35.
Outrossim, o CDC não traz apenas ressalvas no que concerne a
responsabilidade diante do produto, como também disciplinou uma responsabilidade
com relação as relações do consumo. A responsabilidade dos profissionais liberais por
fato do serviço também encontram-se disciplinadas no CDC, tratando-se de serviços
realizados por profissionais quando disponíveis no mercado, conforme disposto no
artigo 2 e 3 do CDC.
35
Miragem Bruno. Curso de Direito do Consumidor, p.,191.
29
Todavia, quando o assunto é referente à responsabilidade dos profissionais
liberais, o legislador optou por apartá-la da regra geral, ou seja, a responsabilidade
objetiva, prevista para os fornecedores, disciplinando para os profissionais liberais a
responsabilidade subjetiva. Sendo o artigo 14º parágrafo 4º, do CDC, a exceção à
responsabilidade objetiva do CDC, ao dispor que: “A responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante verificação de culpa”.
Em regra as prestações realizadas por profissionais liberais são de caráter
personalíssimo, ligando-se o profissional liberal a duas condições básicas, sendo a
primeira referente a espécie de atividade exercida, e segundo o modo como é exercida.
Um dos traços marcantes com relação a atividade do profissional liberal é a ausência
de subordinação, bem como a realização de serviços com conhecimentos técnicos e
especializados.
Segundo Paulo Luiz Netto Lobo, o conceito de profissionais liberais abrange,
“a) as profissões regulamentadas, ou não, por lei; b) que exigem graduação
universitária ou apenas formação técnica; e c) reconhecidas socialmente, mesmo sem
exigência de formação escolar”.
Neste sentido, a atividade do profissional liberal está diretamente ligada a
qualidades especificas do profissional, sendo esta uma garantia de segurança e
adequação do mesmo, vinculando-se diretamente ao seu desempenho pessoal, ou
seja, o profissional deve agir com prudência bem como de acordo com os
conhecimentos técnicos que o mesmo possui.
Tendo o profissional liberal que seguir alguns requisitos, os mesmos também
servem de parâmetro para que se possa fazer uma razoável verificação da culpa como
requisito de responsabilidade, em razão da natureza e do modo como os serviços são
prestados, sendo os requisitos diretamente ligados ao desempenho pessoal do
profissional.
Observa-se que a verificação de culpa do profissional liberal, está diretamente
ligada à responsabilidade pelo fato do serviço, sendo a violação do dever de segurança
e integridade do consumidor. Cabe mencionar que as relações entre consumidores e
profissionais liberais se estabelece por meio de um contrato de prestação de serviço,
podendo no contrato ser estabelecida a obrigação a ser realizada, sendo de meio ou de
resultado.
30
Por conseguinte algumas questões no que tange a responsabilidade dos
profissionais liberais por fato do serviço devem ser analisadas, primeiramente no que
diz respeito ao modo de descumprimento do dever de segurança e a caracterização do
defeito da prestação do serviço, uma vez que o profissional liberal poderá ser
responsabilizado por não ter prestado informações claras e adequadas ao seu cliente.
Portanto, sendo a responsabilidade do profissional liberal eminentemente pessoal,
sendo de natureza subjetiva, exigindo-se a verificação de culpa.
No que tange a indenização por perdas e danos referentes à má prestação do
serviço, a indenização sempre será admitida quando houverem prejuízos não apenas
materiais como também morais que possam ser ressarcíveis, sendo esta uma medida
de reparação, que faz jus aquele que sofreu o dano.
Dispõe o artigo 20 parágrafo 2 do CDC: “São impróprios os serviços que se
mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperavam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares da prestabilidade”.
São de livre escolha do consumidor algumas medidas previstas em lei, sendo
elas: reexecução do serviço, restituição imediata da quantia paga, abatimento do preço,
perdas e danos.
Mesmo tendo o profissional liberal que agir corretamente e nos ditames da lei,
cabe ao cliente agir com a mesma boa fé bem como contribuindo com o que for
necessário para que os serviços possam ser prestados da melhor maneira possível,
dessa maneira o Código de Defesa do Consumidor, também dispôs causas
excludentes de culpa, como dispõe o artigo 12 inciso III, não sendo responsabilizado,
quando a culpa for exclusiva do consumidor ou de terceiro. Dependendo tal
responsabilização de prova a ser produzida.
RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOCACIA. PERDA DO PRAZO PARA CONTESTAR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS FORMULADA PELO CLIENTE EM FACE DO PATRONO. PREJUÍZO MATERIAL PLENAMENTE INDIVIDUALIZADO NA INICIAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS. JULGAMENTO EXTRA PETITA RECONHECIDO. 1. A teoria da perda de uma chance (perte d'une chance) visa à responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. Nesse passo, a perda de uma chance - desde que essa seja razoável, séria e real, e não somente fluida ou hipotética - é considerada uma lesão às justas expectativas frustradas do indivíduo, que, ao perseguir uma posição jurídica mais vantajosa, teve o curso normal dos acontecimentos interrompido por ato ilícito de terceiro. 2. Em caso de responsabilidade de
31
profissionais da advocacia por condutas apontadas como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico. Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa. 3. Assim, a pretensão à indenização por danos materiais individualizados e bem definidos na inicial, possui causa de pedir totalmente diversa daquela admitida no acórdão recorrido, de modo que há julgamento extra petita se o autor deduz pedido certo de indenização por danos materiais absolutamente identificados na inicial e o acórdão, com base na teoria da "perda de uma chance", condena o réu ao pagamento de indenização por danos morais. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido. (REsp 1190180/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 22/11/2010)
2.5 DA OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO DA ATIVIDADE ADVOCATÍCIA
A obrigação de meio decorre daquela em que o profissional não assume nem
garante um determinado resultado final.
Outrossim, a obrigação de resultado, é aquela em que se exige que o objetivo
seja realmente alcançado. Na presente obrigação o profissional deve executar
realizando suas tarefas para que atinja um determinado objetivo final, sendo este
objetivo realmente atingido com a obrigação satisfeita. Na presente obrigação se tem a
presunção de culpa, uma vez que o profissional deve atingir o que foi contratado,
sendo assim, se por diversas as circunstâncias o profissional não atingir a obrigação
que foi assumida, o não cumprimento de determinada atividade lhe é atribuída culpa
diretamente, não sendo necessária a devida comprovação que o profissional tenha
agido com negligência, imperícia ou imprudência.
O advogado na sua própria essência tem responsabilidade contratual,
exercendo dessa maneira uma atividade de meio, ou seja não tem como obrigação a
obtenção do sucesso nas ações em que atua, devendo concentrar todos os seus
esforços para que tenha um bom desempenho profissional.
Neste sentido ensina Rui Stoco:
Significa que o advogado se obriga a empregar todo o cuidado e diligência necessários e cuidar da causa com zelo e atenção, acompanhando o andamento da causa, peticionando quando necessário ou exigido e acompanhando e cumprindo prazos processuais. Significa, também, que sua obrigação é de meio, ou seja, quando o profissional assume prestar um serviço ao qual dedicará sua atenção, cuidado e diligência
32
exigido pelas circunstâncias, de acordo com seu título, com os recursos que dispõem, e com o desenvolvimento atual da ciência, sem se comprometer com a obtenção de resultado certo36.
Cavalieri Filho ensina que, “se firmar contrato com o cliente, assume obrigação
de meio e não de resultado, já que não se compromete a ganha-lá, nem a absolver o
acusado” e assevera ainda que, “a obrigação é de defende-lo com o máximo de
atenção, diligência técnica, sem qualquer responsabilidade pelo sucesso ou insucesso
da causa”37.
Serpa Lopes conceitua:
A responsabilidade do advogado se assemelha à do médico, pois não assume ele a obrigação de sair vitorioso da causa. São obrigações de meio as decorrentes do exercício da advocacia38.
Diante de todos os percalços que um processo pode trazer, não há como se
prever qual será a decisão final tomada na demanda, muito menos poderá haver o
comprometimento no que concerne ao seu resultado. Neste sentido Fábio Ulhoa
comenta:
É necessariamente de meio a obrigação profissional do advogado. Quando atua na advocacia contenciosa, não tem como comprometer-se a obter o resultado da demanda favorável ao cliente. Por maior que seja a tendência do julgamento num sentido, não há garantia absoluta de vitória em nenhuma contenta judicial. Se o advogado constituído, também não tem obrigação de resultado: caso seu parecer não prevaleça, ele não pode ser responsabilizado. Obriga-se na verdade, a empenhar se na defesa do juízo dos interesses de seus clientes ou no estudo aprofundado da questão que lhe é submetida39.
As obrigações contratuais oriundas das obrigações contratuais dos advogados,
consistem de uma forma geral, em defender as partes em juízo, defendendo seus
clientes da melhor forma possível, não podendo ser imputado ao advogado o seu
resultado final. Sendo inerente à atividade da advocacia, representar o seu cliente em
juízo. Outrossim determinadas tarefas, tais como, pareceres jurídicos, elaboração de
minuta de escritura pública, denotam uma responsabilidade de se garantir um
resultado final. Portanto, o profissional que aceita realizar determinadas tarefas se
36
Stoco, Rui, 2007, p. 499. 37
Cavalieri Filho, 2012, p. 431. 38
Serpa Lopes. 2000, p. 261. 39
Fabio Ulhoa, 2010, p. 340.
33
compromete a obter o seu resultado final, uma vez que as referidas atividades
dependem inteiramente da competência do profissional.
Silvio de Salvo Venosa ensina que:
No entanto, existem áreas de atuação da advocacia que, em princípio, são caracterizadas como a obrigação de resultado, característica de sua atuação extrajudicial. Na elaboração de um contrato ou de uma escritura, o advogado compromete-se em tese, a ultimar o resultado. A matéria, porém, suscita dúvidas e o caso concreto definirá eventual falha funcional do advogado que resulte em dever de indenizar. Em síntese, o advogado deve responde por erros de fato e de direito cometidos por desempenho do mandato. O exame da gravidade dependerá do caso sob exame40.
Na mesma linha de raciocínio disserta Rui Stoco:
Quando este profissional tem atuação extrajudicial, ou seja, fora o juízo, como jurisconsulto, parecerista, conselheiro ou contratado para tarefa certa, como a redação de um contrato, de um estatuto ou ato constitutivo, de providenciar o registro público desses documentos, então estará assumindo uma obrigação de resultado, pois o contrato objetivou esta finalidade. Evidente que ao produzir um parecer não esta assumindo a obrigação de que seu trabalho intelectual deverá conduzir ao sucesso da ação judicial, onde será apresentado. Tem obrigação de resultado na medida em que lhe foi encomendado um estudo jurídico e esse deve ser apresentado tal como a encomenda e no dia aprazado. Nessas hipóteses e como execução a não obtenção do resultado, por erro indesculpável, caracterizara o inadimplemento contratual, e nascerá à obrigação de reparar se prejuízo efetivo ocorrer 41.
Com relação às obrigações contratuais judiciais, assevera Carlos Roberto Gonçalves:
Suas obrigações contratuais, de modo geral, consistem em defender as partes em Juízo, dar-lhes conselhos profissionais. O que lhes cumpre é representar o cliente em Juízo, defendendo pela melhor forma possível os interesses que lhes confiou. Se as obrigações de meio são executadas proficientemente, não se lhe pode imputar nenhuma responsabilidade pelo insucesso da causa. (1988, p. 126)
Neste sentido:
RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DEFICIENTE. DANOS MORAIS E MATERIAIS. EXIGÊNCIA DE PROVA DE DOLO OU CULPA, ESTA GRAVE E INESCUSÁVEL A JUSTIFICAR RESPONSABILIZAÇÃO. ENCARGO PROBATÓRIO TRANSFERIDO AO PRESTADOR DE SERVIÇO. CDC. INVERSÃO QUE SE DÁ OPE JUDICIS E NÃO OPE LEGIS. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. A obrigação do profissional do direito é de meio e não de resultado, dependendo a responsabilidade civil da verificação de culpa (art. 159, do CC de 1916, e art.
40
Silvio de Salvo Venosa, 2009, p. 258. 41
Stoco, Rui, 2007, p. 500.
34
14, § 4º, do CDC). E o encargo de demonstrar que não agiu com culpa, desvencilhando-se da confiança que lhe foi depositada, é do prestador do serviço. Dilação probatória que se faz necessária. Sentença desconstituída. Preliminar acolhida, com desconstituição da sentença. Apelo prejudicado. (Apelação Cível Nº 70018280180, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 28/08/2008).
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR – ADVOGADO – RESPONSABILIDADE CIVIL – OBRIGAÇAO DE MEIO – AÇÃO JUDICIAL JULGADA IMPROCEDENTE – INEXISTÊNCIA DE CULPA – TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE – PRESSUPOSTOS INEXISTENTES - DEVER DE INDENIZAR AFASTADO – I. De acordo com os arts. 14 parágrafo 14, do Código de Defesa do Consumidor e 186 do Código Civil, a responsabilidade civil do advogado esta jungida à teoria subjetiva da culpa e subordina-se aos parâmetros das obrigações de meio. II. Dentre as obrigações do advogado não se inclui o compromisso de êxito da demanda ajuizada, circunscrevendo-se à prestação de serviços mediante conduta tenaz e diligente. III. A responsabilidade civil do advogado pelo insucesso da ação judicial intentada só pode ser reconhecida quando cabalmente demonstrada a culpa e seu liame de causalidade com o estado sucumbencial. IV. A denominada “teoria da perda de uma chance”, de inspiração francesa, empresta suporte jurídico para indenizações em caso de frustação de demandas judiciais devido ao desleixo profissional de advogados lenientes, contanto que estejam configuradas, de modo preciso, a serenidade da probabilidade os ganhos e sua relação de causalidade direta com os atos desidiosos. V. À luz da “teoria da perda de uma chance”, que elastece os contornos dos lucros cessantes, o atendimento do pleito indenizatório está adstrito não apenas a comprovação de que os serviços advocatícios deixaram de ser prestados segundo parâmetros razoáveis de qualidade. Exige também a comprovação e que o autor da demanda efetivamente titularizava os direitos pleiteados e que a repulsa judicial derivou das faltas técnicas atribuídas aos serviços advocatícios. VI. Recurso conhecido e desprovido. (TJDFT – APC 200040111230184 – 6 T. Cív. -. Rel. Des. James Eduardo Oliveira – DJU 26.07.2007, p. 118)
Portanto conclui-se, a obrigação do advogado em regra geral, é uma obrigação
de meio. Porém no tocante à atividade extrajudicial, deverá ser realizada uma análise
de caso a caso, para que a partir da análise do caso concreto possa ser imputada uma
obrigação ao profissional que desempenhou a obrigação.
35
CAPÍTULO III – DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE
3.1 HISTÓRICO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE
Os estudos referentes ao assunto da Teoria da Perda de uma Chance, se deu
na Itália, em meados do ano de 1940, com Giovanni Pacchioni, professor da
Universitádi Milano, em sua obra DiritoCivile Italiano.
Diante de vários estudos referentes á presente teoria, mesmo que se
reconhecesse que houveram alguns prejuízos decorrentes da perda, não seria
passível de indenização, uma vez que não há como se admitir uma indenização por
algo que efetivamente não aconteceu. Adriano de Cupis, autor italiano, na época
professor de direito civil da Universitádi Perugia, publicou em 1966, II Danno: Teoria
Della ResponsabilitáCiville, reconheceu que esta seria possível de indenização, pela
possibilidade da perda de uma chance. O referido entendimento foi contrário a de
diversos doutrinadores da época, que não reconheciam a teoria da perda de uma
chance, como sendo aplicável.
Diante da importância da obra de Adriano Cupis, Sergio Savi escreve:
Adriano de Cupis foi, portanto, um dos autores mais importantes para a consolidação da teoria da responsabilidade por perda de uma chance no Direito Italiano. Reconheceu a existência de um dano autônomo consistente na chance perdida, inseriu a perda da chance no conceito de dano emergente e limitou o reconhecimento de indenizações às chances sérias e reais42.
Portanto a teoria da perda de uma chance recebeu uma importante
contribuição dos juristas italianos, e diante de diversas discordâncias entre eles,
acabaram por se renderem ao entendimento de Adriano Cupis e Marurízio Bocchiola,
aceitando-a como um dano emergente, bem como reconhecendo que a teoria da
perda de uma chance deve ser devidamente reparada, uma vez que se trata de um
dano real, sendo passível dessa forma de indenização.
Savi dispõe que:
Após o importante trabalho de aperfeiçoamento de conceitos feitos pela doutrina, mormente com as contribuições de Adriano Cupis e Maurizio Bocchiola, a jurisprudência italiana, também influenciada por diversas decisões francesas favoráveis à aplicação da teoria da responsabilidade civil por perda e uma chance, passou a analisar estes casos com maior atenção.
42
Savi, Sergio, 2006, p. 12.
36
Não obstante isso, somente em 19 de novembro de 1983, sete anos após a publicação do artigo Bocchiola, é que foi julgado pela corte dicassazione o primeiro caso (leading case) favorável à indenização pela perda da chance43.
3.2 DA PERDA DE UMA CHANCE
A responsabilidade civil impõe uma obrigação de indenizar, sempre quando
houver uma dano também denominado como prejuízo.
Salienta Antônio Lindberg C. Montenegro, que o verdadeiro fundamento da
responsabilidade civil está na “quebra do equilíbrio econômico- jurídico provocado pelo
dano”.
Portanto para que se estabeleça a responsabilidade civil é imperioso que
primeiramente esteja configurado um dano e que este seja advindo de um ato ilícito ou
de uma situação de risco prevista em lei, devendo haver um nexo causal entre ambos.
Para Sérgio Novais Dias:
A responsabilidade civil do advogado na perda de uma chance apresenta dificuldades em todos os três pressupostos: na configuração do ato ilícito, ou seja, na violação pelo advogado de um dever preexistente, na constatação da existência de prejuízo, e, sobretudo no reconhecimento do nexo de causalidade entre a ilicitude e o dano44.
A responsabilidade do advogado pela perda de uma chance, apresenta
características distintas das demais responsabilidades. Com relação à perda de uma
chance algumas dificuldades são encontradas, uma vez que no exercício da advocacia,
não se tem como saber qual seria a decisão do órgão jurisdicional, que por falha do
advogado, perdeu-se a chance de ver sua pretensão examinada ou reexaminada,
quando se trata da perda de prazo para se interpor um recurso, o mesmo não será
apreciado pela instancia ad quem, de tal maneira que nunca se saberá o resultado do
julgamento, não havendo outra oportunidade para recorrer diante da perda do prazo.
Diante do descrito acima, pode-se ter uma base mínima para tratar o presente
tema.
Segundo Sérgio Novais:
43
Savi, Sérgio, 2006, p. 25. 44
Dias, Sérgio Novais. Responsabilidade civil o advogado na perda de uma chance, p. 29.
37
Percebe-se que as posições extremas de responsabilidade do advogado, a não ser em casos de certeza no não-acolhimento da pretensão, ou e irresponsabilidade, a não ser nas hipóteses de certeza do acolhimento da pretensão, não atendem aos anseios de justiça. É certo que o advogado que agiu com culpa, provocando essa situação de não apreciação da pretensão pelo judiciário, deve ser responsabilizado pela sua omissão. Contudo, a apreciação do nexo de causalidade e da extensão do dano deve sempre ocorrer, para que o advogado não seja chamado a pagar a indenização de um dano, que muito provavelmente não causou. Seria promover o enriquecimento sem causa do cliente, em detrimento do advogado 45.
Outrossim, cabe à parte autora realizar a demonstração em juízo de que o
advogado se omitiu de praticar o ato que lhe competia, dessa maneira causando a
perda de uma chance de se obter o reexame judicial de sua pretensão, para haver a
reforma da decisão, tendo em vista que isso lhe causou o dano.
Deve o cliente demonstrar o insucesso parcial ou total de sua pretensão, pelo
advogado ter deixado de recorrer em alguns pontos que eram necessários e
fundamentais em que o recurso fosse cabível. Quando se trata da omissão diante de
provas a serem produzidas no processo, essenciais ao acolhimento da pretensão, cabe
ao cliente demonstrar que o pedido foi realizado pelo mesmo, inclusive tendo sido
pedido na petição inicial, porém não foram as devidas provas juntadas pelo
esquecimento do advogado. Se as provas foram devidamente juntadas, porém foram
indeferidas, cabe mais uma vez a parte autora provar que o advogado deixou de
recorrer as decisões dessa decisão, quando poderia tê-lo feito.
3.3 O PROBLEMA DA INCERTEZA DO RESULTADO DA DECISÃO JUDICIAL
Karl Larenz conceitua que, é impossível prever, com absoluta certeza em todos
os casos, o resultado de um julgamento, porque o ato de julgar envolve juízo de valor e
há sempre “a irredutível margem e livre apreciação por parte do juiz”46.
A incerteza nas ações judiciais está intimamente ligada à interpretação da lei,
uma vez que a mesma não apresenta uma única interpretação, o que o advogado faz é
se pautar por uma margem do que considera mais razoável, todavia isso não quer dizer
que judiciais são absolutamente incertas, não podendo se fazer qualquer juízo de
probabilidade do resultado da decisão que não ocorreu, na perda de uma chance.
Para Karl Larenz:
45
Dias, Sérgio Novais, p. 46. 46
Karl Larenz. Metodologia da ciência do ireito, tradução de José Lamengo, Lisboa, 1983, Fundação Calouste Gulbenkian, pg 353.
38
O juiz não pode permitir-se um tal non liquet, ele está, ao contrário do cientista, sob uma obrigação de resolver. Tem que chegar a uma resolução do caso que lhe foi submetido e, por isso, tem que decidir-se a julgar de um ou de outro modo a situação do facto que lhe foi submetida. Tem que se aceitar o inevitável risco de insegurança para a jurisprudência em tais casos. É suficiente que o juiz tenha esgotado todos os meios de concretização de que dispõe, com ajuda de reflexões jurídicas, e que, nesses termos, a sua resolução surja como “plausível”. O jurista denomina a palavra ‘plausível’ uma resolução quando pelo menos haja bons argumentos que apontem tanto o sentido da sua correção, como em sentido oposto. Que ele se contenha frequentemente com a mera ‘plausividade’ de uma resolução, quando o leigo espera ‘correção’ comprovável, é algo que assenta o caráter inevitável a irredutibilidade de margens de livre apreciação e na obrigação de decidir que impede sobre o juiz... Que ao juiz resta, de quando em vez, pessoal do que é correcto vem a decidir, parece, contudo, um ‘resíduo incomodo’ só a quem seja capaz de acreditar na racionalização sem resquícios de todos os fenômenos a vida e, com isso, no afastamento definitivo da personalidade criadora47.
Diante da dificuldade em se prever a resolução das questões judiciais, a
jurisprudência é um ponto importantíssimo, principalmente se no caso concreto
houverem divergências na interpretação da lei.
Salienta Sérgio Novais Dias:
A realidade é que, em casos de interpretação legal em que o tribunal superior ou o Supremo Tribunal Federal sumularam o entendimento, a probabilidade é que o julgamento se faça no mesmo sentido da súmula. Mesmo porque, se assim não ocorresse no tribunal de segunda instância, a parte vencida recorreria e obteria na terceira instância a reforma do julgado para adequá-lo à súmula. Há casos, porém, em que se constata que o entendimento sumulado está superado pela jurisprudência, situação na qual o resultado mais provável do julgamento é aquele que está em sintonia com a jurisprudência superada48.
Todavia, o tema responsabilidade civil do advogado pela perda de uma chance
não vem encontrando soluções satisfatórias, uma vez que o material é escasso, como
já exposto é impossível saber qual seria a decisão prolatada, já que há diversas
interpretações de uma mesma lei. Todavia, não se pode negar que existindo uma
previsão legal para interpor recurso e sendo ele cabível no caso, o cliente tem todo o
direito de ver sua decisão reformada, porém nos casos em que não é plausível se
interpor recurso, que o mesmo é improvável, não se pode cogitar uma responsabilidade
do advogado pela perda de uma chance, portanto não há nexo de causalidade entre o
dano e a ausência de interposição de recurso.
47
Karl Larenz, op.cit., págs. 353/355. In Dias, Sergio Novais. Ob. cit., p., 47. 48
Dias, Sérgio Novais, p., 49.
39
Para Nelson Nery Júnior, o dano que se pode cogitar é pela, “perda do direito
de ver a causa julgada na instância superior”. Nestes casos não havendo probabilidade
de sucesso na interposição de recurso, o dano ocasionado só pode ser visto de forma
extrapatrimonial, o chamado dano moral. Nelson Nery Júnior aduz que,“nosso
subjetivismo nos coloca naturalmente contra decisão desfavorável, de sorte que o
sentimento psicológico do ser humano faz com que tenha reação imediata à sentença
desfavorável, impedindo-o a pretender, no mínimo, novo julgamento sobre a mesma
questão”49.
Tratando do tema da perda de uma chance, Serpa Lopes aduz que:
Tem-se entendido pela admissibilidade do ressarcimento em tais casos, quando a possibilidade de obter lucro ou evitar prejuízo era muito fundada, isto é, quando mais do que a possibilidade havia numa probabilidade suficiente, é de se admitir que o responsável indenize essa frustração. Tal indenização, porém, se refere à própria chance, que o juiz apreciará in concreto, e não ao lucro ou perda que é sempre problemática na sua realização50.
3.4 DO NEXO DE CAUSALIDADE
Nas ações de responsabilidade civil por dano extrapatrimonial, o ônus a prova
da existência de nexo de causalidade na maioria as vezes é do autor, porém nos casos
de responsabilidade civil diante de inadimplemento contratual, o ônus recai sobre o
devedor, neste ponto salienta Pontes de Miranda:
No plano das relações contratuais, o devedor, acusado de inadimplemento, ou de retardamento, ou de adimplemento ruim, tem de provar que adimpliu, que prestou no momento próprio, ou que o adimplemento foi bom, e não ruim, ou que houve impossibilidade de prestar, supervenientemente ao negócio jurídico. No plano das relações extranegociais, ou tem o ônus e prova a pessoa que se diz credor de indenização, ou, excepcionalmente, a lei o deu ao demandado contra a alegação o demandante51.
A presente inversão do ônus da prova, para que o cliente prove todas as
alegações expostas contra o advogado, esta disposta no artigo 333 do Código de
Processo Civil, incumbindo ao autor a prova dos fatos constitutivos do seu direito e ao
49
Nelson Nery Junior., Princípios Fundamentais, Teoria Geral dos Recursos., p. 35. In Sérgio Novais Dias. Ob. Cit., 52. 50
Dias, Sérgio Novais., p. 54. 51
Pontes de Miranda, op. Cit., tomo 54, pág. 211. In Sérgio Novais Dias., p. 69.
40
réu dos fatos extintivos, modificativos e impeditivos do direito do autor. Quando se trata
da responsabilidade civil por um dano contratual, o fato constitutivo do cliente é o
contrato, ou seja a obrigação nele prevista, bem como os danos sofridos, já que o que
se espera de um contrato é que as obrigações sejam devidamente cumpridas, sendo o
inadimplemento, considerado como extraordinário.
Nas ações de responsabilidade civil, as partes discutem qual teria sido a
provável decisão, que por derradeiro deixou de ser ajuizada ou até mesmo do recurso
que deixou de ser interposto.
3.5 DA INVALIDADE DA CLÁUSULA CONTRATUAL DE EXCLUSÃO DA
RESPONSABILIDADE CIVIL
Segundo Sérgio Novais Dias, “é inválido ajuste firmado entre advogado e seu
cliente isentando o advogado de responsabilidade civil na prestação dos seus serviços,
em qualquer das suas nuances, inclusive na hipótese da perda de uma chance”52.
A presente conclusão decorre da disposição contida no artigo 51 do Código de
Defesa do Consumidor, em seu inciso I, que estabelece:
Art 51- São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos ou serviços que: I- Impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vício de qualquer natureza dos produtos ou serviços ou impliquem renúncia de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor-pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis.
Portanto, é apenas em situações justificáveis, quando se trata de cliente
pessoa jurídica, que poderá haver cláusula contratual que limite a responsabilidade civil
do advogado.
Situação justificável para a limitação da responsabilidade civil poderá ocorrer quando o advogado aquiesce numa redução o valor dos honorários que pretende cobrar do cliente em troca da limitação de sua responsabilidade. É claro que, na composição do valor dos honorários que o advogado cobra, existe uma parte que corresponde ao risco que ele expõe seu patrimônio, que é tanto mais elevado quanto mais alto seja o interesse econômico em jogo. Um advogado que assume uma causa de maior importância deve gastar mais para ter uma estrutura melhor no seu escritório, como advogados assistentes de melhor nível, com secretárias de gabarito, tudo para melhor administrar a condução dos processos, evitando ou minimizando os riscos de falhas e erros. Para fazer face a essas despesas, tem de cobrar valor mais elevado, proporcionalmente aos interesses as causas sob seu patrocínio 53.
52
Dias, Sérgio Novais, p., 87. 53
Dias, Sérgio Novais, p.,87.
41
Portanto nestes casos se admite a limitação da responsabilidade civil do
advogado perante o cliente pessoa jurídica, não se tratando de uma exclusão de sua
responsabilidade.
42
CAPÍTULO IV – DA POSTURA DO ADVOGADO COMO PROFISSIONAL
4.1 DO SIGILO PROFISSIONAL
O segredo profissional é uma imposição de ordem pública, sendo o advogado,
como qualquer outro profissional, responsável por suas infrações.
Calamandrei ensina que:
Visto que o advogado é obrigado ao segredo profissional, e que não pode, para não trair a verdade, trair a defesa, deve calar-se a tempo de encontrar no silêncio o meio de conciliar o seu dever de lealdade para com o juiz com o seu dever de advogado para com o cliente54.
O segredo profissional do advogado decorre de um direito do mesmo poder se
recusar a depor como testemunha em processo que tenha atuado ou que possa atuar,
diante de fato relacionado com a pessoa que é ou foi seu cliente.
Mesmo havendo autorização expressa de seu constituinte, para que o mesmo
possa depor ou até mesmo prestar esclarecimento, o advogado pode negar-se a
prestar qualquer informação sobre o fato, prevalecendo dessa forma o seu sigilo
profissional, conforme determina o artigo 7, XIX, da Lei 8.906/94.
Outrossim, o Código de Ética e Disciplina do advogado em seu capítulo III, que
dispõe sobre o sigilo profissional determina que:
Art.25: O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu respeito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao interesse a causa. Art. 26: O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento judicial, sobre o que saiba em razão do seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha sido advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte. Art.27: As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites da necessidade da defesa, desde que autorizado pelo constituinte. Parágrafo único: Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares entre advogado e cliente, as quais não podem ser relevadas a terceiros.
54
Calamandrei. Ob. cit., p.67. É essa observação que lhe inspira a ideia de propor que à velha definição do advogado – vir bônus dicendiperitus – se acrescente a fórmula vir bônus tacendiperitus. In José Dias de Aguiar. Da responsabilidade Civil., p. 435.
43
As informações passadas pelo cliente ao advogado, ou as que chegaram ao
seu conhecimento por motivo profissional, constituem-se como sigilo profissional,
sendo este inerente a sua profissão, não podendo o mesmo ser quebrado, salvo por
motivos inerentes ao Código de Ética e Disciplina.
Na lição de Paulo Luiz Netto Lôbo, o dever de segredo:
Entende-se às confidências do cliente, às do adversário, às dos colegas, às que resultam de entrevistas para conciliar ou negociar, às de terceiras pessoas, feitas ao advogado em razão de sua profissão e, também, aos colaboradores e empregados 55.
4.2 DA INVIOLABILIDADE DO ADVOGADO
O advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites da lei e
enquanto no exercício da profissão. Este princípio está previsto em nossa constituição
no artigo 133, constituído como garantia fundamental para o desempenho do advogado
e por consequência da verdade e da justiça.
O exercício da advocacia exige a liberdade responsável do advogado, com o
intuito de que se possa valer das instâncias julgadoras, bem como de todos os meios
legais. Para o desempenho de suas funções, o advogado goza da necessária
imunidade. O advogado bem como o seu cliente, não praticam os delitos de injúria ou
difamação por ofensas realizadas em juízo.
Nélson Hungria preleciona:
A cláusula ‘na discussão da causa’ quer dizer que a alegação injuriosa ou difamatória dever ter um nexo lógico, ainda que remoto, com o objeto do litígio ou controvérsia. Assim, se um dos patronos, no correr da audiência, por mero ódio pessoal ou animosidade estranha ao debate da causa, chama o outro, por exemplo, de ‘cretino’, não se eximirá á sanção penal pelo crime de injúria56.
55
Paulo Luiz Netto Lôbo. Op. Cit., p. 54. In Paulo Nader Curso de Direito Civil. Responsabilidade Civil vol.7. p., 422. 56
Nelson Hungria. Op.cit., vol6, comentários ao art 142 do Código Penal, p. 118. In Paulo Nader., p., 424.
44
CAPÍTULO V – DAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ADVOGADO
5.1 INEXISTÊNCIA DE DANO
Um dos pressupostos básicos da responsabilidade civil é o dano, uma vez que
sem tal pressuposto não há que se falar no dever de indenizar. Fabio Ulhoa dispõe que
“ mesmo que o ato demandado tenha sido ilícito ou sua atividade tenha exposto direitos
do demandante a consideráveis riscos, se não houver o dano, não se cria qualquer
vínculo obrigacional”57.
Diante disso, não há como se caracterizar uma conduta imputável ao
advogado, diante do cliente, não há o que se falar em responsabilidade do advogado,
ou seja não há como o responsabilizar.
Neste sentido é claro o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná:
RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE ADVOCACIA. PERDA DE UMA CHANCE. NECESSIDADE DA PROVA, PELO AUTOR DA DEMANDA, DA PROBABILIDADE DE SUCESSO NO PROCESSO NÃO INICIADO PELOS ADVOGADOS.PROVA NÃO PRODUZIDA. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO PROVIDAS. (TJPR – 10 C.CÍVEL – AC 839912-6 – Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba – Rel.: Albino Jacomel Guerios – Unânime – J. 12.04.2012)
Diante do explicitado acima, fica claro que por mais que a demanda não tenha
sido iniciada, pelos advogados demandados, não há como responsabilizar o advogado,
cabendo ao autor fazer prova de que diante do seu direito perdido o mesmo suportou
algum dano, sendo assim está uma as excludentes da responsabilidade civil do
advogado.
5.2 DA INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL
Por mais que exista um conduta danosa na prática realizada é primordial que
exista um nexo de causalidade entre a conduta e o dano causado. O dano pode estar
relacionado a três hipóteses: culpa exclusiva da vítima; culpa de terceiro e o caso
fortuito ou de força maior.
57
Ulho, Fabio, 2010, p. 398.
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Neste sentido Fábio Ulhoa aduz que:
A norma descritiva dos fatos ensejadores da responsabilidade civil como causa do dano algum fato ou atividade o devedor. Somente se constitui o vínculo obrigacional se cumprido este requisito, portanto. Quer dizer, quando o dano sofrido pelo demandante não foi causado pelo demandado, não há direito a indenização. O atropelado deve ser indenizado pelo motorista do veículo apenas quando a causa, do acidente for impútavel a este último. Se o atropelamento ocorreu por culpa da própria vítima (desatenta ao atravessar a rua fora da faixa), de terceiro (que deu um tiro no pneu do carro, desgovernando-o), ou por fortuito (motorista jovem e saudável sofreu fulminante ataque cardíaco enquanto dirigia), não há relação de causalidade entre o dano do demandante e a conduta o demandado58.
No ponto de vista de Romualdo Baptista dos Santos, há culpa exclusiva da
vítima quando, “ficar demonstrado que o evento danoso teve como causa adequada à
conduta da própria vítima, desaparece essa ligação entre o dano e a conduta daquela
outra pessoa, desaparece o nexo de causalidade.”59
Outrossim quando o assunto é referente à culpa de fato por terceiros, “uma vez
demonstrado que o evento danoso se atribui a terceira pessoa, que não a vítima nem o
agente aparente, desaparece o nexo de causalidade” (2008,p.52).
Diante de casos fortuitos ou de força maior, não há como se imputar uma
responsabilidade a ninguém, uma vez que os fatos não podem ser evitados. Neste
sentido Fábio Ulhoa Coelho aduz que:
O fortuito natural ou humano é sempre excludente de responsabilidade civil subjetiva, porque descaracteriza a relação de causalidade entre o dano o credor e a conduta culposa do devedor [...] quando objetiva a responsabilidade, porém apenas fortuito natural descaracteriza a relação de causalidade60.
58
Coelho, Fábio Ulho, 2010,p.400. 59
Baptista, Romualdo, 2008, p. 51. 60
Coelho, Fábio Ulhoa, 2010,p.403.
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CONCLUSÃO
A responsabilidade civil é um tema extremamente importante, uma vez que a
partir de um dever de responsabilidade, aquele que causa dano a outrem, seja ele de
ordem material ou moral, deve ser responsabilizado pelos prejuízos que causar.
Algumas dessas condutas são inevitáveis, sendo as mesmas oriundas do
comportamento humano, portanto devendo as mesmas serem devidamente reguladas.
A reparação dos danos causados surgiu de uma longa evolução histórica, onde
primeiramente era caracterizada a responsabilidade do chamado “olho por olho e dente
por dente”, passando depois de uma lenta evolução a ser responsabilizado pelos danos
causados por meio de outras medidas, tal como a reparação pecuniária. Os
pressupostos da responsabilidade civil, são a ação ou omissão do agente, a culpa e a
relação de causalidade, bem como o dano suportado pela vítima, para que assim
possa se verificar o dever de indenizar.
O profissional que devidamente habilitado para exercer a atividade da
advocacia, tem a todo momento os olhos atentos para as condutas por ele realizadas,
visto que o advogado deve elevar sua categoria como profissional, uma vez que sua
presença é imprescindível para a justiça. Exige-se um vasto conhecimento técnico para
que atue sempre em conformidade com o que ora determina a lei, bem como o
entendimento dos Tribunais Superiores, motivo pelo qual o advogado deve sempre
estar atualizado a toda e qualquer modificação da lei, bem como atendo aos prazos.
Diante do exposto, ressalta-se que este vem a ser uma das grandes
reclamações que advém dos clientes, a perda de prazos, e assim a perda de uma
chance de ter sua causa revista ou reexaminada. Bem como as freqüentes dificuldades
em se responsabilizar os advogados que pertencem a sociedades, que muitas vezes
como já descrito neste trabalho, não tem os mesmos interesses das sociedades da
qual fazem parte.
Ademais o advogado é um profissional essencial á administração da justiça,
conforme dispõe Constituição da República Federativa do Brasil, tendo um importante
papel de realizar a busca pela justiça social, fortalecendo o Estado Democrático de
Direito motivo pelo qual deve cumprir com seus deveres, e em caso de negativa, estará
exposto às sanções disciplinares do Código de Ética dos Advogados, bem como na
reparação dos danos que vier a causar por displicência, negligência ou desídia,
47
referente a sua conduta como profissional, devendo agir sempre em prol dos interesses
de seus clientes, bem como resguardando todas as informações que ora lhe foram
repassadas, tendo ainda o advogado a inviolabilidade profissional de seus atos e
manifestações em juízo.
48
REFERÊNCIAS
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