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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ DENILSE APARECIDA FERREIRA CAMARGO SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL DE 2002 CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DENILSE APARECIDA FERREIRA CAMARGO

SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE

DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL DE 2002

CURITIBA

2014

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DENILSE APARECIDA FERREIRA CAMARGO

SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE

DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL DE 2002

Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas

CURITIBA

2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

DENILSE APARECIDA FERREIRA CAMARGO

A SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE

DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL DE 2002

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de _____________________ de 2014.

Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

___________________________________ Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

_____________________________________ Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas

_____________________________________ Prof.

_____________________________________ Prof.

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AGRADECIMENTOS

Na conclusão de mais esta etapa vitoriosa da minha vida, quero agradecer

em primeiro lugar a Deus, pela força, coragem e determinação, que me foram

conferidos nos momentos mais difíceis durante toda esta caminhada de minha vida.

Aos meus pais, Claudino e Maria Neuza, por cada incentivo e orientação,

pelas orações em meu favor, pela preocupação, por moldarem meu caráter e pela

confiança creditada, dedico o que há de melhor em mim.

Ao meu esposo Almir, um anjo que surgiu na minha vida e conquistou um

lugar especial no meu coração, por você tenho profunda admiração, carinho e

respeito. Obrigada por me ajudar em todos os momentos que precisei, terá pra

sempre minha eterna gratidão.

Ao meu orientador, professor Marcelo Nogueira Artigas, digno de respeito e

admiração, agradeço a atenção e comprometimento durante a execução e

conclusão não só do presente trabalho como também do curso, onde com

humildade e sabedoria, não mediu esforços para transmitir o conhecimento, sendo

sempre muito acessível e paciente.

Por fim, agradeço aos demais familiares, amigos, colegas, professores, e a

todos que de alguma maneira contribuíram de forma direta e indireta para a

execução desse trabalho.

Meus sinceros agradecimentos!

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"Não tenho metas ou objetivos a alcançar. Tenho

princípios e na companhia deles, nem me pergunto aonde

vou chegar."

Carlos Augusto Ayres De Freitas Britto

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RESUMO

O presente trabalho tem por escopo demonstrar a nova posição do cônjuge e do

companheiro sobrevivente no Direito Sucessório com o advento do novo Código

Civil de 2002, trazendo comparações com o antigo Código Civil e legislações

anteriores. Com o novo Código Civil em vigor pode se afirmar que foi modificado

profundamente a ordem de vocação hereditária, fazendo com que o cônjuge

sobrevivente passasse de herdeiro facultativo como era denominado no Diploma

Legal anterior para tomar a posição de herdeiro necessário com direito a metade dos

bens da herança, constituindo a legítima. Podemos considerar que a concorrência

do cônjuge sobrevivente com os descendentes vai depender do regime de bens

adotados pelo casal. A pesquisa envolve também a sucessão do companheiro no

novo Código Civil de 2002 abordando as condições seguintes: a concorrência do

companheiro com os filhos comuns, a concorrência com descendentes só do autor

da herança, a concorrência com outros parentes sucessíveis, direito a totalidade da

herança quando não houver parentes sucessíveis.

Palavras-chave: Herança. Sucessão. Cônjuge e companheiro sobrevivente. Concorrência.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 07

2. CONSIDERAÇÕES E CONCEITO ACERCA DA SUCESSÃO LEGÍTIMA ...... 08

3. SUCESSÃO DO CONJUGE E DO COMPANHEIRO DE ACORDO COM O

CÓDIGO CIVIL DE 1916 .................................................................................. 10

4. SUCESSÃO DO CONJUGE E DO COMPANHEIRO DE ACORDO COM O

CÓDIGO CIVIL DE 2002 ................................................................................... 13

5. DA CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE .............................................................. 16

5.1 DA CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES ................................................ 16

5.2 DA CONCORRÊNCIA COM ASCENDENTES .................................................. 17

5.3 DA SUCESSÃO POR INTEIRO NA FALTA DE DESCENDENTES E

ASCENDENTES ................................................................................................ 18

6. DAS EXCEÇÕES DA DIVISÃO DA LEGÍTIMA ................................................ 21

6.1 REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS .......................................... 21

6.2 REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS .............................................................. 23

6.3 REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS ............................................... 24

7. DA CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO .................................................... 27

7.1 CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO COM OS FILHOS COMUNS ............ 28

7.2 CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES SÓ DO AUTOR DA HERANÇA ... 28

7.3 CONCORRÊNCIA COM OUTROS PARENTES SUCESSÍVEIS....................... 30

7.4 DIREITO A TOTALIDADE DA HERANÇA QUANDO NÃO HOUVER PARENTES

SUCESSÍVEIS ................................................................................................... 31

8. BREVE ABORDAGEM SOBRE A CONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO

DO COMPANHEIRO ......................................................................................... 34

9. CONCLUSÃO..................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 39

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1 INTRODUÇÃO

A sucessão é considerada aberta no instante em que morre alguém, fazendo

nascer o direito hereditário e aberta a sucessão transmite-se, desde logo, aos

herdeiros legítimos e testamentários a herança do de cujus.

Como ensina o professor e doutor Eduardo de Oliveira Leite, a sucessão tem

a faculdade de transmitir o patrimônio para um novo titular de forma a garantir a

preservação da propriedade na pessoa dos herdeiros. Transmite-se a propriedade e

“todos os direitos, pretensões, ações e exceções”. (LEITE, Eduardo de Oliveira.

2013 p.32).

No presente trabalho vamos fazer uma breve discussão acerca da sucessão

do cônjuge, herdeiro legítimo necessário, que ocupa a terceira classe da ordem da

sucessão hereditária concorrendo com descendentes e ascendentes, mas vale

ressaltar que vai depender do regime de bens do casamento, como dispõe o artigo

1829 do Código Civil. No sistema anterior era considerado herdeiro facultativo.

De outro lado analisar o artigo 1790 do Código Civil que regula que o

companheiro ou a companheira participará da sucessão do outro, quanto aos bens

adquiridos na vigência da união estável, em quais condições e a concorrência,

observando também que o companheiro não é herdeiro legítimo necessário.

O Código Civil elenca as condições do companheiro ou companheira

participar da sucessão do outro em seu artigo 1790 in verbis:

Art. 1.790 - A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I - se concorrer com filhos comuns terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III - se concorrer com outros parentes sucessíveis terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Será feita uma breve abordagem sobre o direito sucessório a qual se faz

necessária para que se possa melhor compreender a posição ocupada pelo cônjuge

e pelo companheiro sobrevivente fazendo uma breve comparação no atual Código

Civil.

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2 CONSIDERAÇÕES E CONCEITO ACERCA DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

Sucessão legítima é determinada pela lei, quando o de cujus morre sem

deixar testamento. Os herdeiros são designados pela lei, observando a ordem de

vocação hereditária prevista no artigo 1829 do Código Civil.

Os herdeiros designados no artigo 1829 do Código Civil são os seguintes:

Art. 1829 – A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.1640, parágrafo único);ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais.

Mário Roberto Carvalho de Faria leciona que:

Essa ordem de vocação hereditária foi estabelecida pelo legislador fundada na teoria da “vontade presumida” do autor da herança, pois existe a presunção de que o desejo do de cujus seria deixar seus bens aos descendentes, ascendentes, ambos em concorrência com o cônjuge. Em terceiro lugar o cônjuge, seguindo-se os colaterais até o 4ºgrau e inexistindo quaisquer dessas pessoas a herança caberá ao Município, ao Distrito Federal ou a União. (FARIA, Mário Roberto Carvalho de. 2004 p.89).

Neste sentido Eduardo de Oliveira Leite ensina que:

“Sucessão legítima é resultante da lei. Ocorre sempre que o autor da herança morre sem deixar disposição de última vontade; diz-se sucessão ab intestato (artigo 1788). A sucessão legítima prevalece em todos os casos e sobre todos os bens, quando não há testamento. Nesse sentido é que se diz que ela é residual. A sucessão ab intestato repousa sobre a vontade presumida do de cujus e sobre sua eventual afeição, daí se dizer que se trata de um testamento presumido”. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013, p. 34).

Podemos conceituar então a sucessão legítima como a transmissão dos bens

de uma pessoa a outra em virtude de lei. Se o de cujus não fez testamento, por força

da lei, seu patrimônio irá a seus descendentes, ascendentes, cônjuge e na falta

destes aos colaterais até o quarto grau. A transmissão da herança aos sucessores

se efetua sem manifestação de última vontade do de cujus, mas decorre da lei.

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O mestre Clóvis Beviláqua nos dá o seguinte conceito de sucessão legitima:

“Sucessão legítima é a deferida por determinação da lei, em atenção ao vínculo familiar ou, na falta deste, ao vínculo político, existente entre a pessoa do sucedendo e a do sucessor”. (BEVILAQUA, Clóvis. 1978 p. 65).

Ainda sobre o conceito Bevilaqua ressalta que:

O desenvolvimento moral do indivíduo, a consolidação da família e o acréscimo da riqueza social encontra-se na sucessão legítima. Por isso a moral e a política interrogam a psicologia para conhecer os meios mais eficazes de promover-lhe o aperfeiçoamento. A lei, distribuindo o patrimônio do finado a seus descendentes, ascendentes, cônjuge e colaterais, não fazia mais do que traduzir a vontade do de cujus. Há nesse caso uma presunção, e, pois, quando o indivíduo, afastando os parentes, aos quais deveriam ligar os laços de afeição, deixasse seus bens a estranhos cumpria irrecusavelmente, ao direito retrair-se, para que a vontade se desenvolvesse em liberdade. A sucessão legítima é um fomento dos sentimentos de dignidade, pelo nobre dever que é o de trabalhar pelo bem estar da família; é um fator de consolidação da sociedade doméstica, pelo sentimento de solidariedade que desenvolve entre os seus membros; é propulsor econômico e escola de moral prática. (BEVILAQUA, Clóvis. 1978 p. 66- 69).

Para Carlos Maximiliano legítima ou reserva, é a porção dos bens do espólio

que a lei manda caber, obrigatoriamente e de pleno direito aos parentes em linha

direta, denominados de herdeiros necessários, forçados, legitimários ou

reservatários. (MAXIMILIANO, Carlos. 1964 p.17).

Nos ensinamentos de Silvio Rodrigues legítima é a sucessão procedida de

acordo com a lei e deferida àquelas pessoas que por serem ligadas ao de cujus por

laços de parentesco ou matrimônio, presumivelmente seriam por ele beneficiados se

houvesse manifestado sua última vontade. (RODRIGUES, Silvio. 1967 p. 26).

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3 SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO DE ACORDO COM O

CÓDIGO CIVIL DE 1916

Na última fase do direito romano da codificação justinianéia foi reconhecido

à mulher o direito a sucessão do marido e na falta de descendentes o direito a

recolher a quarta parte em propriedade e em usufruto.

O direito anterior ao Código Civil de 1916 o cônjuge herdava em quarto

lugar na ordem de vocação hereditária, colocado depois dos colaterais. Tal situação

durou até o advento da Lei nº 1.839, de 31 de dezembro de 1907, chamada “Lei de

Feliciano Pena”, essa lei chamou o cônjuge em terceiro lugar, antes dos colaterais.

Em sua vigência, como o cônjuge era considerado herdeiro facultativo,

poderia o autor da herança dispor de sua meação sem restrições, podendo privar o

cônjuge da herança através de testamento.

O Código Civil de 1.916 manteve-o (artigo 1.611), atribuindo à herança do de

cujus, sob duplo pressuposto: ausência de descendentes e ascendentes; não

estarem os cônjuges legalmente separados. Os descendentes e ascendentes

excluíam o cônjuge no sistema daquele código.

Havendo situado o cônjuge sobrevivente na terceira classe dos herdeiros

legítimos, após os descendentes e ascendentes o Código Civil de 1.916

condicionava sua vocação a que, ao tempo do óbito não estivesse dissolvida a

sociedade conjugal (artigo 1.611, caput).

Na sucessão regida por aquele diploma era claro que o chamamento do

cônjuge somente não ocorria se ao tempo do óbito, já estivesse decretada a

separação do casal. Para esse efeito não bastava a separação de fato nem a

separação de corpos era necessário a separação judicial e deveria estar

homologada regularmente, ou passada em julgado a sentença se litigiosa, só assim

eram considerados legalmente separados os cônjuges.

O cônjuge poderia ser herdeiro único na falta de descendentes e

ascendentes, herdando desta maneira qualquer que fosse o regime de bens,

recebendo a herança em propriedade. No caso de herdeiro concorrente

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estabelecidos em leis especiais, o cônjuge sobrevivente herdava em concorrência

com outros sucessores, se o de cujus não houvesse deixado testamento.

A lei 883, de 21 de outubro de 1949 permitiu o reconhecimento dos filhos

extramatrimoniais, bem como os efeitos sucessórios. A perfilhação havida fora do

casamento não trazia a consequência de excluir o cônjuge sobrevivente do rol de

herdeiros a não ser que houvesse testamento. Com relação aos filhos legítimos ou

legitimados a lei nº 4.121, de 27 de agosto de 1962 (Estatuto da mulher casada)

modificou o esquema sucessório do cônjuge com a nova redação do artigo 1.611 do

Código Civil, que institui modalidade de sucessão em usufruto, inovando no regime

do código.

O usufruto limitava-se à quarta parte dos bens da herança se concorresse

com filhos do casal ou filhos do de cujus, se não houvesse descendentes, mas

houvesse ascendentes as quotas incidiriam sobre a metade dos bens.

A sucessão de usufruto começa com a morte de um dos cônjuges e o seu

fim ocorreria em caso de morte, deserdação, indignidade, ou por qualquer das

causas gerais extintivas do usufruto.

Com a intenção de amparar o cônjuge sobrevivente contra a eventualidade

de ser privado de moradia o artigo 1.611 do Código Civil de 1.916 foi alterado pala

lei nº 4.121/62, para lhe atribuir o direito real de habitação, tendo como objeto o

imóvel destinado à residência da família. (PEREIRA, Caio Mário da Silva. 2009 p

117/118/121).

Com referência ao companheiro o Código Civil de 1.916 tratava do

concubinato para restringir os direitos da concubina privá-la de doações ou deixa

testamentária, tratando exclusivamente dos seus efeitos negativos.

Com o passar dos tempos a legislação e a jurisprudência passaram tratar

melhor a relação concubinária, conferindo o direito à indenização decorrente de

morte do concubino em acidente de trabalho, em favor da companheira, direitos

previdenciários e a possibilidade de adição ao seu do sobrenome do companheiro.

Com a grande evolução a lei (6.015/73, artigo 57,§§ 2º e 3º) e a jurisprudência

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permitiram a partilha de bens adquiridos com o esforço comum durante a

convivência (Súmula 380 do STF).

A constituição federal de 1988 outorgou à relação concubinária especial

proteção do Estado (artigo 226, § 3º), onde muito se debateu a respeito da norma

constitucional, sobre os direitos decorrentes da união estável e sua qualificação

como entidade familiar.

Vale ressaltar os apontamentos de Francisco José Cahali, e Giselda Maria

Fernandes Novaes Hironaka:

Sobre direito sucessório a Lei 8.971/94, em seu artigo 2º, veio instituir que um dos conviventes participará da sucessão do outro nas seguintes condições: o companheiro ou companheira terá direito ao usufruto de quarta parte dos bens do falecido, enquanto não constituir nova união, se houver filhos; enquanto não constituir nova união, ao usufruto da metade dos bens do falecido se não houver filhos, mesmo que sobrevivam os ascendentes e na falta de descendentes e ascendentes terá direito a totalidade dos bens, assumindo posição similar a do cônjuge, em terceiro lugar na preferência sucessória. O companheiro sobrevivente não era herdeiro necessário, podendo ser privado da qualidade de sucessor por disposição testamentária. Sobre o usufruto e o direito real de habitação o legislador não fez referências porque o companheiro ou companheira teriam ambas as vantagens. A Constituição Federal prevendo a necessidade de facilitar-se a conversão da união estável em casamento no artigo 226, § 3º impede o legislador de outorgar aos companheiros mais benefícios a união estável. (CAHALI, Francisco José / HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. 2003 p. 223 - 225).

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4 SUCESSÃO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO DE ACORDO COM O

CÓDIGO CIVIL DE 2002

Como já enfatizamos segundo o Código Civil de 2002 o cônjuge foi colocado

na posição de herdeiro necessário concorrendo com descendentes e ascendentes

do de cujus. Aos herdeiros necessários pertence, de pleno direito a metade dos

bens da herança denominada legítima. Quando se trata de cônjuge herdeiro vale a

pena ressaltar que herança não se confunde com meação.

A herança é a transmissão do patrimônio (bens, direitos e obrigações) de uma

pessoa falecida a seus sucessores legais.

Meação corresponde à metade dos bens adquiridos durante a vigência do

casamento. Assim, havendo meação, além desta caberá ao sobrevivente, à metade

da herança, dependendo da situação que constitui a porção legítima. (VENOSA,

Silvio de Salvo. 2008 p.128).

Ao cônjuge foi atribuído posição mais favorável porque, além de ser herdeiro

necessário, poderá também ser herdeiro concorrente, com descendentes e

ascendentes dependendo do regime de bens na forma do artigo 1829, incisos I e II

do Código Civil.

Assim a primeira classe de sucessores legítimos em regra passa a compor-

se, dos descendentes e do cônjuge; a segunda classe dos ascendentes e do

cônjuge e em seguida a nova lei chama o viúvo ou a viúva a receber integralmente a

herança na falta de descendentes e ascendentes. (PEREIRA, Caio Mário da Silva.

2009 p.128).

O Artigo 1829 do Código Civil prevê a ordem de vocação hereditária da

sucessão legítima, in verbis:

Art. 1829. A sucessão legitima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais.

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Eduardo de Oliveira Leite leciona que:

“No inciso I, segunda parte do artigo 1829, o legislador abre exceções, na concorrência com descendentes, decorrentes do regime de bens (comunhão universal, comunhão parcial e separação de bens), partindo do pressuposto de que quem é meeiro não deve ser herdeiro. Assim sendo, como veremos em seguida, nas três hipóteses excepcionadas pelo legislador no inciso I do artigo 1829 materializam-se as seguintes possibilidades: 1) O cônjuge é meeiro, sem ser herdeiro = regime da comunhão universal

de bens; 2) O cônjuge é meeiro (aquestos), sem ser herdeiro = regime de

separação de bens; 3) O cônjuge é meeiro e herdeiro = regime da comunhão parcial de bens”.

(LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.121).

Veremos adiante detalhadamente as três hipóteses mencionadas.

Com relação à companheira ou companheiro o mais moderno diploma trata

em seu artigo 1790 do Código Civil e em apenas um único dispositivo o direito

sucessório do companheiro ou companheira afirmando que participará da sucessão

do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, e

entre as disposições gerais, fora da ordem de vocação hereditária.

O companheiro (a) não recebe o mesmo tratamento do cônjuge

sobrevivente, que tem maior participação na herança e foi incluído no rol dos

herdeiros necessários, ao lado dos descendentes e ascendentes. (GONÇALVES,

Carlos Roberto. 2009 p. 171).

Dispõe, com efeito, o artigo 1790 do Código Civil, in verbis:

Art. 1790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-à a metade do que couber a cada um daqueles; III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a 1\3 (um terço) da herança; IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito a totalidade da herança.

Neste sentido, explica Carlos Roberto Gonçalves:

O dispositivo restringe o direito do companheiro aos bens que tenham sido adquiridos onerosamente na vigência da união estável; faz distinção entre a concorrência do companheiro com filhos comuns ou só do falecido; prevê o direito apenas à metade do que couber aos que descenderem somente do

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autor da herança e estabelece um terço na concorrência com herdeiros de outras classes que não os descendentes do falecido; não beneficia o companheiro com quinhão mínimo na concorrência com os demais herdeiros nem o inclui no rol dos herdeiros necessários; concorre com um terço também com os colaterais e só é chamado a recolher a totalidade da herança na falta destes. O cônjuge, porém, prefere aos parentes da linha transversal, com exclusividade. (GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009 p. 171).

A concorrência se dará justamente nos bens a respeito dos quais o

companheiro já é meeiro. Sendo assim, se o falecido não tiver adquirido nenhum

bem na constância da união estável, ainda que tenha deixado valioso patrimônio

formado anteriormente, o companheiro sobrevivente nada herdará, sejam quais

forem os herdeiros eventualmente existentes.

Bem adquirido com recursos proveniente da venda de um bem particular não

faz parte do acervo hereditário do companheiro aplicando-se por analogia o artigo

1.659, inciso I do Código Civil que ao tratar do regime da comunhão parcial de bens,

aplicável a união estável na ausência de pacto, estabelece que: “Excluem-se da

comunhão os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na

constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar”.

(GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009 p. 173).

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5 DA CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE

O novo Código Civil representa o ponto de chegada de uma grande

evolução do cônjuge no direito sucessório, além de afirmar textualmente a qualidade

de herdeiro necessário, assegurando-lhe, com isso, a legítima. O cônjuge passou a

ser situação destacada, no que diz respeito à ordem de vocação hereditária,

permitindo-lhe receber a propriedade, não como mero usufruto, em concorrência

com descendentes e ascendentes, mas, depende do regime de bens de casamento

do casal (artigo 1.829, I do Código Civil).

5.1 DA CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES

Como previsto no artigo 1.829, inciso I, do Código Civil de 2002 o cônjuge

concorre à divisão da legítima em igualdade com os descendentes.

Sobre o tema, o professor doutor Eduardo de Oliveira Leite aduz que:

Os descendentes do mesmo grau herdam em iguais condições, independente da ocorrência ou não de casamento. O artigo 227, parágrafo 6º da Constituição Federal proibiu o tratamento discriminatório em relação à filiação, ou seja, filhos adotivos, legítimos, ilegítimos, legitimados, naturais, adulterinos e incestuosos, dispondo que terão os mesmos direitos e qualificações, condições de igualdade e situação, não podendo mais haver discriminação entre eles, sendo todos iguais perante a lei. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p. 118).

O legislador situa os descendentes em primeiro lugar na ordem dos

herdeiros legítimos, na sua ausência quem herdará é a classe subsequente, nesse

caso os ascendentes em concorrência com o cônjuge.

Vale ressaltar que o cônjuge concorre na primeira e na segunda classe,

considerado também herdeiro necessário com direito à legítima. (LEAL, Adriano

José e SILVEIRA, Carlos Alberto de Arruda. 2005 p. 38).

O cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do sucedido, filhos,

netos, bisnetos, trinetos. Na linha reta os parentes de primeiro grau tem preferência

em relação aos de segundo grau e assim sucessivamente, o quinhão do cônjuge

será igual aos dos demais herdeiros, mas se também for ascendente dos herdeiros

não poderá receber menos do que a quarta parte da herança, caso o cônjuge

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sobrevivente não seja pai ou mãe, avô ou avó dos herdeiros, tal limite não será

observado.

Em sua obra, o professor Paulo Nader (2009, p. 142) faz a seguinte

explanação:

Se entre os descendentes do de cujus houver apenas alguns herdeiros que também o sejam do cônjuge sobrevivente, embora não haja expressa previsão legal, o entendimento é que o limite da quarta parte da herança não se impõe. É o que se depreende do texto do artigo 1.832: “... não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer”. Não sendo ascendente de todos os herdeiros, não deverá se beneficiar do mínimo legal. A matéria, todavia, é polêmica, havendo, além desta posição, uma opinião oposta, que atribui ao cônjuge à quota mínima, e uma outra que preconiza a adoção de proporção matemática na apuração da cota. De qualquer forma, o critério adotado não poderá contrariar o preceito do art. 1834, que garante a igualdade de direitos sucessórios aos descendentes da mesma classe. A igualdade de quinhões a que se refere o art.1.832 é a existência entre o cônjuge e os descendentes que herdarem por direito próprio. Não haverá igualdade se a morte de um dos descendentes antecedeu a do autor da herança, deixando filhos. Neste caso, estes representarão o pai ou a mãe na sucessão e o quinhão que caberia àquele será partilhado entre seus filhos. Se o de cujus deixou dois filhos, a herança será dividida em três partes, uma delas para o cônjuge. Caso tenha deixado quatro ou mais filhos, o cônjuge herdará um quarto do patrimônio, devendo o restante ser dividido igualmente entre os demais sucessores. De acordo com este critério, verifica-se que o legislador situou o cônjuge em condições mais favoráveis do que os descendentes. (NADER, Paulo. 2009 p. 142).

Como se observará a seguir, nem sempre o cônjuge concorrerá com os

descendentes, pois na segunda parte do inciso I do artigo 1.829, o legislador abre

exceções na concorrência com descendentes decorrentes do regime de bens do

casamento.

5.2 DA CONCORRÊNCIA COM ASCENDENTES

Ascendentes são os pais, avós, bisavós, trisavós do autor da herança.

Não havendo herdeiros descendentes, serão chamados a sucessão os

ascendentes em concorrência com o cônjuge.

Neste sentido, o Código Civil prevê, em seu artigo 1.836, caput que:

Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.

Sobre o tema, destaca Eduardo de Oliveira Leite:

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O legislador não fez qualquer restrição quanto ao regime de bens do inciso I do artigo 1.829 do Código Civil. Qualquer que seja o regime de bens adotados pelos cônjuges ocorrerá à concorrência sucessória entre o viúvo e a viúva e os ascendentes do de cujus. A regra é o princípio da proximidade: o parente de grau mais próximo exclui o mais remoto, (artigo 1,836 parágrafo 1º do Código Civil), mas não se admite o direito de representação (artigo 1.852 do Código Civil). (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.127). Art. 1.836 § 1º. Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na ascendente.

Conforme menciona Silvio de Salvo Venosa, o cônjuge concorrerá com os

ascendentes de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 1.837 do Código

Civil, in verbis:

Art. 1837. Concorrendo com ascendentes em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.

Concorrendo o cônjuge com sogro e sogra, receberá um terço da herança

que será dividida em partes iguais. Se concorrer com apenas o sogro ou com a

sogra, ou com os pais destes, será sempre assegurada a metade da herança ao

supérstite. (VENOSA, Silvio de Salvo. 2008 p. 133).

Para Mário Roberto Carvalho de Faria, a sucessão dos ascendentes,

quando os herdeiros são os pais, não se dá ao casal, mas a cada um deles: pai e

mãe. Os pais herdam por direito próprio e, sendo o regime matrimonial diverso da

comunhão universal de bens, é recomendável que na partilha se evite o condomínio

nos bens da herança. (FARIA, Mário Roberto Carvalho de. 2004 p. 115).

5.3 DA SUCESSÃO POR INTEIRO NA FALTA DE DESCENDENTES E

ASCENDENTES

Na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por

inteiro ao cônjuge sobrevivente (artigo 1838 do Código Civil), que ocupa sozinho a

terceira classe da ordem da sucessão hereditária, ou seja, herdará a totalidade dos

bens, independente do regime de bens do casamento.

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O cônjuge sobrevivente é chamado a recolher a totalidade da herança, se ao

tempo da morte do outro, não estava dissolvida a sociedade conjugal, excluindo, por

conseguinte, os herdeiros colaterais (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.128).

Há casos em que o cônjuge não é chamado à sucessão legítima, somente é

reconhecido o direito sucessório ao cônjuge supérstite, porém, “se, ao tempo da

morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há

mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara

impossível sem culpa do sobrevivente” (artigo 1830 do Código Civil).

Se o casal está separado judicialmente, se, ao tempo da morte do outro, já

se encontrava dissolvida à sociedade conjugal, não há razão para que o cônjuge

sobrevivente seja chamado à sucessão legítima. Se o casal estava divorciado, quer

se trate de divórcio por conversão ou divórcio direto, não só a sociedade conjugal se

encontra dissolvida, como extinto o próprio vínculo matrimonial.

A segunda parte do artigo 1.830 representa uma inovação, afastando o

cônjuge da sucessão se, na época em que o outro faleceu, o casal estava separado

de fato há mais de dois anos.

Conforme menciona Silvio Rodrigues:

Ainda que o casal estivesse separado há mais de dois anos quando ocorreu o óbito do hereditando, poderá o cônjuge sobrevivente ser chamado à sucessão se provar que a convivência conjugal se tornara impossível sem culpa dele, isto é, que o responsável pela separação de fato foi o do de cujus. (RODRIGUES, Sílvio. 2003 p.115).

Ainda, vale ressaltar os apontamentos de Carlos Roberto Gonçalves:

A interpretação do artigo 1.830 do Código Civil revela que, se a culpa foi exclusiva do finado, ou se não houve culpa de ninguém (tendo havido, neste caso, mero acordo, tácito ou expresso, de separação de fato do casal, sem imputação de culpa a qualquer dos cônjuges), o consorte sobrevivente, mesmo separado de fato, participará da sucessão, concorrendo nas duas primeiras ordens de vocação hereditária, ou amealhando a totalidade do acervo, se a vocação chegar até a terceira ordem sucessória. Será o cônjuge supérstite, todavia, afastado da sucessão caso se comprove que a culpa pela separação foi exclusivamente dele, ou ainda se ficar demonstrada a culpa concorrente, imputável a ambos os membros do casal separado de fato há mais de dois anos. (GONÇALVES, Carlos Roberto 2009. p. 164).

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Ainda sobre o tema Carlos Roberto Gonçalves ensina que:

“Existindo a separação por mais de dois anos, poderá o cônjuge se habilitar a sucessão, devendo, no entanto ser provado que a separação não se deu por sua culpa, prova que compete aos herdeiros. Ao cônjuge apenas deve demonstrar que é casado, pois todas as vezes que o legislador permitiu a exclusão de herdeiros, seja por indignidade ou deserdação, impôs aos interessados na herança de propor a ação competente para o afastamento, daí cabe aos parentes interessados na sucessão propor a ação”. (GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009, p. 165).

Para Silvio de Salvo Venosa:

Ao direito real de habitação fará jus o cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único desta natureza a inventariar e sem prejuízo de sua participação na herança (artigo 1.831do Código Civil). Esse direito real de habitação se acresce a sua participação na herança sob a modalidade de propriedade (VENOSA, Silvio de Salvo. 2008 p. 133).

O direito real de habitação visa preservar as condições de vida do cônjuge

sobrevivo, evitando que fique privado de sua moradia.

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6 DAS EXCEÇÕES DA DIVISÃO DA LEGÍTIMA

O professor doutor Eduardo de Oliveira Leite em seus comentários, ensina

que o cônjuge que possui como regime de bens o da comunhão universal, não

configura a possibilidade de ser herdeiro porque já é meeiro. (LEITE, Eduardo de

Oliveira. 2013 p. 121).

Seria injusto com os demais herdeiros, vez que o cônjuge já

economicamente amparado tivesse direito à concorrência, pois são realidades

distintas, e que por isso mesmo merecem tratamento dicotômico, não tendo que se

falar em herdeiro quando se tratar de cônjuge sobrevivente, com direito a meação.

Por isso que o regime de bens adquirido pelos cônjuges é de extrema

importância na sucessão, vez que é a partir dele que se vai verificar se o cônjuge

sobrevivente tem ou não direito a concorrer com os descendentes. Logo partindo do

pressuposto de que, quem é meeiro não deve ser herdeiro, entra-se nas exceções

arroladas no artigo 1.829 inciso I.

6.1 REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS

“No regime de comunhão universal de bens importa a comunicação de todos

os bens presentes e futuros dos cônjuges, e suas dívidas passivas” - artigo 1.667 do

Código Civil.

Exemplificando:

Antes do Casamento Depois do Casamento

Bens Particulares

Bens Particulares

Bens Comuns

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Cada um dos cônjuges tem direito a metade dos bens, com exclusão dos

bens incomunicáveis previstos no artigo 1.668, do código civil, in verbis:

Art. 1.668. São excluídos da comunhão: I – os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; II – os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; IV – as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; V – os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

Os bens referidos nos incisos V a VII do artigo 1.659 são bens particulares, de

uso pessoal e profissional, proventos de trabalho, montepios, pensões, bens doados

ou herdados, entre outros.

Conforme o artigo 1.829, inciso I do Código Civil, o cônjuge sobrevivente não

concorrerá com os descendentes se for casado com o falecido no regime da

comunhão universal de bens.

No regime da comunhão universal de bens, há bens particulares

residualmente. No entanto o artigo 1.829, I exclui da sucessão concorrente o regime

da comunhão universal, o que inclui tanto os bens comuns quanto os bens

particulares. São bens particulares, que também não são objeto de sucessão

concorrente, os salários e proventos de aposentadoria, bens de uso pessoal e

profissional, dívidas anteriores ao casamento, salvo se revertidas em proveito

comum, bens doados ou herdados por um dos cônjuges com cláusula de

incomunicabilidade.

A lei exclui os bens particulares do de cujus da sucessão do cônjuge

sobrevivente em concorrência com os filhos para que seja justa a repartição dos

bens. (LOBO, Paulo. 2003 p. 133).

Considerando que a metade do patrimônio já pertence ao cônjuge

sobrevivente no regime da comunhão universal de bens, aduz com toda perspicácia

o professor doutor Eduardo de Oliveira Leite a esse respeito:

“Sendo o cônjuge meeiro (ou seja, já tendo a metade do patrimônio), não há nenhuma razão para ser herdeiro; caso contrário, ganharia duas vezes, e a lei não quer que isso ocorra”. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.121).

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Neste sentido o doutrinador Silvio de Salvo Venosa leciona que:

Na comunhão universal somos todos tentados a afirmar que se esvai o intuito protetivo do legislador, porque a mulher tem a metade dos bens da sociedade conjugal, em propriedade. O usufruto se mostraria como um plus injustificável e um ponto de discórdia com os demais herdeiros. (VENOSA, Silvio de Salvo. 2002 p.106).

No que tange ao direito sucessório do cônjuge sobrevivente não cabe a ele

ser herdeiro pelo fato de já ser meeiro, bem como demonstrado anteriormente seria

injusto com os descendentes, uma vez que já economicamente amparado pela lei.

6.2 REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS

O regime da separação de bens é aquele em que cada um dos cônjuges tem

a exclusiva responsabilidade pela conservação e administração de seus bens

presentes e futuros, responsabilizando-se também pelas dívidas anteriores e

posteriores ao casamento. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2005, p. 361).

Exemplificando:

Antes do Casamento Depois do Casamento

Bens Particulares

Bens Particulares

No regime da separação de bens, cada cônjuge tem seus patrimônios

particulares e separados independente de sua origem. O novo Código Civil de 2002

estabelece que o cônjuge pode alienar seus bens particulares sem a autorização do

outro, já o código de 1916 admitia somente para os bens móveis.(LOBO, Paulo.

2013 p.136).

Os bens adquiridos antes ou depois do casamento não se comunicam, não

entram em comunhão nem em vida, e nem após a morte. Neste sentido dispõe

Eduardo de Oliveira Leite:

Bens Particulares

Bens Particulares

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“No regime da separação não há patrimônio comum. O cônjuge sobrevivente não tem direito à meação do outro, porque o regime repudia a divisão do que nunca foi comum. Além do mais, desde o momento em que a sumula 377 do STF pôs fim a polêmica da comunicabilidade dos bens aquestos no regime de separação legal dos bens (artigo 1.641do CC/2002), não há que se falar em concorrência com os demais herdeiros”. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p. 122). Súmula 377 do STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

Considerando a súmula 377 do STF embora o cônjuge sobrevivente não

concorra com os filhos, também não é herdeiro, mas pode pleitear a meação dos

aquestos, ou seja, os bens adquiridos com o esforço do casal na constância do

casamento. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p. 123).

Paulo Lobo salienta que o cônjuge casado mediante separação de bens, não

tem direito à meação do outro nem a concorrência sucessória, respeitando o regime

de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte. Nas hipóteses de

separação convencional de bens o cônjuge sobrevivente não será admitido como

herdeiro necessário.

6.3 REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS

No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao

casal, na constância do casamento, a titulo oneroso, ou seja, a ocorrência da

sociedade conjugal não anula a individualidade e autonomia dos cônjuges em

relação ao patrimônio. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2005 p. 326).

Exemplificando:

Antes do Casamento Depois do Casamento

Bens Particulares

Bens Particulares

Bens Particulares

Bens Particulares

Bens Comuns Adquiridos na Constância do

Casamento

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O código civil prevê em seu artigo 1.659, os bens que se excluem da

comunhão parcial: “Os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe

sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-

rogados em seu lugar; os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes

a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; as obrigações anteriores

ao casamento; as obrigações provenientes de atos ilícitos; bens de uso pessoal e

profissional; os proventos de trabalho pessoal; pensões, meios-soldos, montepios e

outras rendas semelhantes”.

Entram na categoria da incomunicabilidade os bens móveis ou imóveis cuja aquisição seja anterior ao casamento, artigo 1.661 do código civil. Assim um imóvel adquirido a prestação, antes do casamento, e pago pelo cônjuge adquirente, após o casamento continua pertencendo a ele como bem particular. Da mesma forma um bem móvel, quando não se puder provar que foi adquirido em data anterior ao casamento, presume-se adquirido na constância do casamento, artigo 1.662 do código civil. Por isso os bens móveis de valor vultoso com os respectivos valores têm sido inseridos no pacto antenupcial. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2005, p. 330).

O cônjuge supérstite casado pelo regime da comunhão parcial de bens

concorre com os descendentes quando o de cujus deixar bens particulares.

Por não ter o legislador especificado se o direito à herança incide somente

sobre os bens particulares, entende-se que o cônjuge herdará tanto os bens

particulares quanto os aquestos. Competirá ao cônjuge comprovar a existência de

bens particulares quando o falecido deixar bens de valores irrisórios em nome de

seu consorte para que possa participar da herança.

O fato de o cônjuge participar da herança como herdeiro concorrente não o

privará da meação nos bens, que decorre do regime de bens matrimonial. (FARIA,

Mario Roberto Carvalho de. 2004 p.94).

Há divergências na doutrina e maior dificuldade interpretativa do artigo

1.829, I do Código Civil, quanto ao casamento sob o regime de comunhão parcial de

bens, in verbis:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.

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O ilustre Professor, Doutor Eduardo de Oliveira Leite ensina a esse respeito

que:

No regime da comunhão parcial de bens, o legislador cria duas hipóteses de incidência da regra de concorrência. Primeira hipótese (regra geral) dispõe que o cônjuge sobrevivente não concorre com os demais descendentes, porque já meeiro (nos aquestos) quando o autor da herança não houver deixado bens particulares. Como os aquestos são divisíveis, o cônjuge já estaria garantido via meação. Segunda hipótese, se o autor da herança houver deixado bens particulares (a contrario sensu a da regra geral), conclui-se que o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.124).

Citado por Silvio de Salvo Venosa, o autor Eduardo de Oliveira Leite conclui:

“Na realidade, ao executar os três regimes de bens (comunhão universal de bens, comunhão parcial de bens, e separação obrigatória de bens) o legislador só abriu possibilidade, efetivamente, do cônjuge sobrevivente concorrer como herdeiro necessário, com os descendentes, quando o autor da herança houver deixado bens particulares, no regime da comunhão parcial de bens, pois, nos demais casos, o cônjuge será meeiro ou simplesmente tomará sua massa de bens particulares”. (VENOSA, Silvio de Salvo. 2008 p.130).

Euclides de Oliveira, citado por Silvio de Salvo Venosa no mesmo sentido se

posiciona:

“Mais adequado e harmônico, portanto, entender que a concorrência hereditária do cônjuge com descendentes ocorre apenas quando, no casamento sob o regime de comunhão parcial, houver bens particulares, porque sobre estes, então sim, é que incidirá o direito sucessório concorrente, da mesma forma que se dá no regime da separação convencional de bens”. (VENOSA, Silvio de Salvo. 2008 p.130)

Existe corrente doutrinária que entende que o direito do cônjuge se limita a

concorrer relativamente aos bens particulares, enquanto para outros se estende a

totalidade do patrimônio.

Como no regime da comunhão parcial o cônjuge sobrevivo dispõe de sua

meação, não seria plausível que, além de concorrer nos bens particulares, também

adquirisse uma cota na meação deixada pelo de cujus. Tal interpretação não se

harmoniza com o critério adotado em relação ao regime de comunhão universal de

bens, que exclui o direito a concorrência com os descendentes.

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7 DA CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO

Na segunda metade do século XX, a evolução da família constituída fora do

casamento foi um dos aspectos marcantes no direito de família. A carta magna de

1916 era de franca hostilidade com relação às famílias extramatrimoniais, que pouco

a pouco vieram ganhando amparo e reconhecimento até a constituição de 1998 que

proclama que as uniões estáveis entre o homem e a mulher estão sob a proteção do

Estado, devendo a lei facilitar-lhe a conversão em casamento.

Outros passos marcantes dados pelo legislador nacional com as Leis nº

8.917 de 29 de dezembro de 1994 e 9.278 de 10 de maio de 1996 que regula no

artigo 226 § 3º da Constituição Federal o direito dos companheiros.

A Lei nº 8.917/94 com o complemento da lei nº 9.278/96 praticamente

equiparou a união estável e o casamento. Ao companheiro foram conferidos direitos

hereditários similares ao do cônjuge supérstite.

O Código Civil de 2002, nos artigos 1.723 a 1.726, regula a união estável

indicando os elementos que caracterizam os impedimentos para sua constituição, os

deveres e o regime das relações patrimoniais entre os companheiros.

O Código Civil tratou satisfatoriamente das conquistas e avanços prevendo

outras situações e explica Silvio Rodrigues:

Ao regular o direito sucessório entre companheiros em vez de fazer adaptações que a doutrina já propugnava, especialmente nos pontos em que o companheiro sobrevivente ficava numa situação mais vantajosa do que a viúva ou o viúvo, o Código Civil coloca os partícipes de união estável, na sucessão hereditária, numa posição de extrema inferioridade, comparada com o novo status sucessório dos cônjuges. (RODRIGUES, Silvio. 2003 p. 116/117).

O caput do artigo 1.790 do Código Civil dispõe que “a companheira ou o

companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos

onerosamente na vigência da união estável”. Com isso pode-se chegar a uma

conclusão de que o direito sucessório do companheiro se limita aos bens que

tenham adquiridos onerosamente na vigência da união estável.

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7.1 CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO COM OS FILHOS COMUNS

De acordo com o inciso I do artigo 1.790, se o companheiro sobrevivente

“concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for

atribuída ao filho”.

Nesta hipótese o companheiro sobrevivente herdará em igualdade de

condições com os descendentes do casal, relativamente apenas aos bens

adquiridos na constância do vínculo e a título oneroso.

Neste diapasão, leciona Eduardo de Oliveira Leite:

Na união estável aplicam-se as relações patrimoniais entre os companheiros, o regime da comunhão parcial de bens. Desta forma o companheiro sobrevivente, embora seja meeiro será também herdeiro concorrendo com filhos comuns, e assim sendo, a “quota” prevista no artigo 1.790 do Código Civil, em concorrência com os filhos comuns, é igual ao percentual que caberá a cada filho no momento da partilha da herança. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p.44).

Nesse sentido, imperioso ressaltar os apontamentos feitos por Mário

Roberto Carvalho de Faria:

Se a companheira concorrer com filhos comuns tem direito a um quinhão igual ao de cada filho. Sendo três filhos, divide-se a herança em quatro partes. Uma parte para cada filho e uma para a companheira. Herdam todos por cabeça, dividindo-se a herança em tantas partes quantos forem os herdeiros. Se forem cinco filhos, cada um receberá 1/6 e a companheira 1/6. Parece-nos que, só nesse caso de concorrência do companheiro sobrevivente com filhos comuns, divide-se a herança igualmente entre todos. Caso um dos filhos seja pré-morto, aplicam-se as regras do direito de representação. Os representantes herdarão a parte que caberia ao herdeiro representado (pré-morto). (FARIA, Mario Roberto Carvalho de. 2004 p.150).

Paulo Lobo destaca que, a sucessão concorrente em relação aos filhos se

dá sobre a totalidade da herança e não sobre os bens particulares como ocorre com

o cônjuge sobrevivente em determinados regimes de bens. Assim confere ao

companheiro uma vantagem superior em relação ao cônjuge, pois a quota do

companheiro terá como referência a totalidade do patrimônio (bens particulares e os

bens adquiridos na constância do vínculo). (LOBO, Paulo. 2013 p. 147).

7.2 CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES SÓ DO AUTOR DA HERANÇA

O mencionado inciso II do artigo 1.790 do Código Civil estipula que, se o

companheiro “concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe à a

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metade do que couber a cada um daqueles”, ou seja, metade do que couber ao

descendente nos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, como

prevê o caput do artigo 1.790.

A partilha se faz na proporção de dois para um, entregando-se ao

companheiro sobrevivente uma parte da herança e, a cada um dos descendentes, o

dobro do que a ele couber.

O inciso repete a distinção entre descendentes exclusivos, só do autor da

herança, e descendentes comuns, havidos da união entre o companheiro e o autor

da herança, tal qual previsto para o cônjuge no artigo 1.832 do Código Civil.

Quando houver filhos de híbrida origem, tal critério acarreta dificuldades para

o cálculo das quotas hereditárias, ou seja, quando alguns herdeiros forem

descendentes só do autor da herança com terceira pessoa e outros filhos comuns

havidos com o companheiro. Só não haverá esse problema quando houver filhos

apenas de uma ou de outra dessas origens, pois nesses casos, bastará dar ao

companheiro quinhão igual ao do descendente comum e apenas metade do quinhão

devido ao filho exclusivo. (GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009, p. 175).

Neste sentido, Carlos Roberto Gonçalves explica:

Como a lei não prevê solução para a hipótese em que os filhos têm origem híbrida, se entrechocam três correntes antagônicas. Uma delas vislumbra a possibilidade de partilhamento da herança considerando todos os filhos como se fossem comuns, para atribuir ao companheiro quota igual á que lhes for destinada. Outra restringe a quota do companheiro à metade do que àqueles couber. Uma terceira, por fim, propõe a realização de um cálculo proporcional do que caberia ao companheiro, considerando-se quota igualitária com relação aos filhos havidos em comum, e só metade do que coubesse aos demais. Embora a questão seja polêmica, e malgrado respeitáveis opiniões em contrário, a melhor solução, se houver descendentes comuns e descendentes unilaterais do de cujus, é efetuar a divisão igualitária dos quinhões hereditários, incluindo o companheiro ou a companheira, afastando destarte o direito dos descendentes unilaterais de receberem o dobro do que couber ao companheiro sobrevivo. (GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009 p. 175).

Neste caso, a sucessão concorrente converte tanto o cônjuge como o

companheiro em herdeiros necessários, pois, o companheiro concorre com qualquer

herdeiro do falecido, do descendente ao colateral. (LOBO, Paulo. 2013 p. 148).

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7.3 CONCORRÊNCIA COM OUTROS PARENTES SUCESSÍVEIS

O inciso III do artigo 1.790 do Código Civil preceitua que se o companheiro

sobrevivente “concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a 1/3(um terço)

da herança”, inclui-se aí os descendentes, ascendentes e colaterais até o 4º grau.

Nesse caso, a companheira sobrevivente faz jus a 1/3(um terço) da herança, sendo

os restantes 2/3(dois terços) divididos entre todos os demais herdeiros. (FARIA,

Mário Roberto Carvalho de. 2004 p.152).

O percentual incide apenas sobre o objeto da partilha, que é a herança, na

qual não se inclui a meação do companheiro sobrevivo. Em caso de testamento o

percentual do companheiro não incidirá sobre os bens deixados por ato de vontade

do sucedido, respeitada a parte legítima dos herdeiros necessários.

O professor Carlos Roberto Gonçalves, nas palavras do professor e doutor

Eduardo de Oliveira Leite, salienta que:

Agiria melhor o legislador, todavia, se atribuísse ao companheiro sobrevivo a metade do patrimônio deixado pelo falecido, e não apenas um terço, considerando-se o fato de ter sido adotado, como regra, o regime da comunhão parcial de bens, bem como a circunstância de ter ele vivido toda uma existência ao lado do de cujus, enquanto os outros parentes sucessíveis em nada contribuíram na formação do aludido patrimônio.(GONÇALVES,Carlos Roberto . 2009 p.176).

No caso dos genitores morrerem antes dos filhos, serão convocados para a

sucessão os avós paternos e os avós maternos. Supondo que os quatro avós sejam

vivos, tocará a eles a divisão dos 2/3(dois terços) do acervo, onde cada um receberá

1/6(um sexto) da totalidade da herança, uma vez que o artigo 1.790, inciso III

continua a determinar que o companheiro sobrevivente herde apenas a quantia fixa

de 1/3 (um terço) do acervo sucessível.

Se apenas um dos avós estiver em condições de representar uma das

linhas e se na outra linha ambos os avós puderem representá-la na sucessão, cada

uma das linhas receberá um terço do acervo hereditário, tocando a outra terça parte

ao companheiro sobrevivente. Na linha onde apenas um dos avós é vivo, receberá a

terça parte da herança, na outra linha a cada avô será entregue uma sexta parte do

monte. (GONÇALVES, Carlos Roberto. 2009 p. 176)

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Neste diapasão, leciona Silvio Rodrigues:

Não vejo razão alguma para que o companheiro sobrevivente concorra e apenas com relação à parte da herança que for representada por bens adquiridos onerosamente durante a união estável com os colaterais do de cujus. Nada justifica colocar-se o companheiro sobrevivente numa posição tão acanhada e bisonha na sucessão da pessoa com quem viveu pública, contínua e duradouramente, constituindo uma família,que merece tanto reconhecimento e apreço, e que é tão digna quanto a família fundada no casamento.O correto, como já fazia a Lei nº8.971/94, art.2º,III, teria sido colocar o companheiro sobrevivente à frente dos colaterais, na sucessão do de cujus. (RODRIGUES, Silvio. 2003 p. 119).

Como destacado pelo ilustre professor, doutor Eduardo de Oliveira Leite,

numa primeira abordagem o inciso é justificável, pois o companheiro contribuiu para

a aquisição do patrimônio, mas o inquestionável retrocesso se refere a “um terço da

herança” uma vez que na união estável a regra a ser aplicada é a do regime da

comunhão parcial de bens tendo o direito a metade do patrimônio e não somente a

um terço. (LEITE, Eduardo de Oliveira. 2013 p. 45).

7.4 DIREITO A TOTALIDADE DA HERANÇA QUANDO NÃO HOUVER PARENTES

SUCESSÍVEIS

O teor do inciso IV do artigo 1.790 prescreve que, “não havendo parentes

sucessíveis, o companheiro terá direito a totalidade da herança”, ou seja, os bens

adquiridos onerosamente na vigência da união estável, que são aqueles bens

autorizados em conformidade com o estabelecido no caput do artigo 1.790 do

Código Civil.

No artigo 1.844 do Código Civil veremos que não havendo cônjuge,

companheiro ou colaterais sucessíveis ou tendo estes renunciado à herança, os

bens são devolvidos ao Município, Distrito Federal ou União, na circunscrição onde

se situe. (FARIA, Mario Roberto Carvalho. 2004 p. 153).

O legislador no novo Código Civil não atribuiu ao companheiro sobrevivente,

como concedeu aos cônjuges o direito real de habitação sobre o imóvel destinado a

residência da família, a legislação anterior conferia esse direito.

Conforme ressalta Silvio Rodrigues o direito real de habitação, relativamente

ao imóvel destinado a residência da família, foi previsto em lei especial (Lei nº

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9.278/96, artigo 7º, parágrafo único), e como esse benefício não é incompatível com

qualquer artigo do novo Código Civil, uma corrente poderá argumentar que ele não

foi revogado e subsiste. Poderá surgir opinião afirmando que o citado artigo foi

revogado pelo Código Civil, por ter este, no artigo 1.790, regulado inteiramente a

sucessão entre companheiros, e, portanto, não houve omissão quanto ao aludido

direito real de habitação, mas silêncio do legislador. (RODRIGUES, Silvio. 2003

p.119).

Aos companheiros o legislador propiciou com essa irreparável omissão a

possibilidade da falta, inclusive de um teto para residir após o falecimento de seu

companheiro, podendo ficar no total desamparo.

Analisaremos os votos e fundamentos dos magistrados integrantes da

Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR. NULIDADE POR OFENSA À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. INOCORRÊNCIA. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL PARTILHADO EM FAVOR DOS HERDEIROS (AGRAVADOS). POSSE DA AGRAVANTE DECORRENTE DO EXERCÍCIO DO DIREITO REAL DE HABITAÇÃO (CC, ART. 1.831 E LEI 9.278/96, ART. 7º). REGIME DE BENS. IRRELEVÂNCIA. RECURSO PROVIDO. O direito real de habitação se estende ao companheiro sobrevivente (Lei 9.278/96, art. 7º, parágrafo único), sendo irrelevante perquirir sobre o regime de bens aplicável à partilha (CC, art. 1831). Sendo legítimo o exercício da posse, mostra-se descabida a concessão de liminar de reintegração. (Acórdão nº 998815-8, Relator (a): MÁRIO HELTON JORGE, Data de Julgamento: 31/07/2013). "O Código Civil, no art. 1831, reconhece expressamente o direito real de habitação aos cônjuges, mas não faz qualquer referência aos companheiros. Pois bem, malgrado o silêncio do Estatuto Civil a respeito do direito real de habilitação do companheiro, é de se concluir pela sua efetiva existência, em razão da incidência do Parágrafo Único do art. 7º da Lei nº 9.278/96, que não foi revogado pela superveniência da Lei Civil, conforme entende majoritariamente a doutrina brasileira”.

Já decidiu os Ministros do Supremo Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL. SUCESSÃO. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE. POSSIBILIDADE. VIGÊNCIA DO ART. 7° DA LEI N. 9.278/96. RECURSO IMPROVIDO. 1. Direito real de habitação. Aplicação ao companheiro sobrevivente. Ausência de disciplina no Código Civil. Silêncio não eloquente. Princípio da especialidade. Vigência do art. 7° da Lei n. 9.278/96. (REsp n. 1.220.838/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe 27/06/2012).

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2. O instituto do direito real de habitação possui por escopo garantir o direito fundamental à moradia constitucionalmente protegido (art. 6º, caput, da CRFB). Observância, ademais, ao postulado da dignidade da pessoa humana (art. art. 1º, III, da CRFB). 3. A disciplina geral promovida pelo Código Civil acerca do regime sucessório dos companheiros não revogou as disposições constantes da Lei 9.278/96 nas questões em que verificada a compatibilidade. A legislação especial, ao conferir direito real de habitação ao companheiro sobrevivente, subsiste diante da omissão do Código Civil em disciplinar tal direito àqueles que convivem em união estável.Prevalência do princípio da especialidade. (REsp 1156744/MG, Rel. Min. MARCO BUZZI, 4ª TURMA, julgado em 09/10/2012).

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8 BREVE ABORDAGEM SOBRE A INCONSTITUCIONALIDADE DA SUCESSÃO DO COMPANHEIRO

Paulo Lobo declara inconstitucional o tratamento diferenciado do

companheiro sobrevivente no Código Civil e explica que:

“O tratamento discriminatório entre cônjuges e companheiros pode ser acolhido no âmbito da discricionariedade da lei infraconstitucional ou é incompatível com a constituição, incorrendo em inconstitucionalidade”. (LOBO, Paulo. 2013 p.150)

E continua com fundamento na Constituição Federal de 1988, com o

argumento de que a constituição adota o principio da igualdade de direitos e que as

pessoas são livres para constituírem as entidades familiares por ela garantidas.

No estado Democrático, as pessoas são diferentes entre si, mas são iguais

em direitos. O tratamento legal diferenciado entre as entidades familiares repercute

diretamente na desigualdade de atribuições de direitos, como ocorre com o direito

sucessório dos companheiros atribuídos pelo artigo 1.790 do Código Civil,

comparado com os direitos sucessórios do cônjuge. (LOBO, Paulo. 2003 p. 150).

Ainda sobre o tema o autor continua indagando que

Não há razão constitucional, lógica ou ética para tal discrime, em relação aos direitos sucessórios das pessoas, que tiveram a liberdade de escolha assegurada pala Constituição Federal e não podem sofrer restrições de seus direitos em razão dessa escolha. Não há fundamento constitucional para a desigualdade de direitos entre dois casais, com famílias constituídas e filhos, pelo fato de um ter escolhido o casamento e o outro, a união estável. Essa é uma desigualdade que a constituição não acolhe, tornando com esta incompatível a norma infraconstitucional que a estabelece. (LOBO, Paulo 2013 p.150).

Silvio Rodrigues faz uma crítica nos seguintes termos:

Nada justifica colocar-se o companheiro sobrevivente numa posição tão acanhada e bisonha na sucessão da pessoa com quem viveu pública, contínua e duradouramente, constituindo uma família, que merece tanto reconhecimento e apreço, e que é tão digna quanto a família fundada no casamento (...). Em suma, o Código Civil regulou o direito sucessório dos companheiros com enorme redução, com dureza imensa, de forma tão encolhida, tímida e estrita, que se apresenta em completo divórcio com as aspirações sociais, as expectativas da comunidade jurídica e com o desenvolvimento de nosso direito sobre a questão. Não tenho dúvida em dizer que o artigo 1.790 terá vida muito breve, isto se não for alterado durante a vacatio legis do Código. (RODRIGUES, Silvio. 2003 p.119).

Francisco José Cahali e Giselda Maria Fernandes Novaes Hinoraka fazem

uma reflexão sobre a falta de previsão e efeitos jurídicos da união estável: “pior a

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inclusão do direito sucessório de forma aleijada, como promovida pelo novo Código

Civil, pois, embora traga o companheiro sobrevivente à primeira classe de

preferência para receber uma parte da herança, na falta de descendentes e

ascendentes, a nova lei força caminho na contra mão da evolução doutrinária,

legislativa e jurisprudencial elaborada a luz da Constituição Federal de 1988. E a

inferioridade a que foi reduzido o direito sucessório decorrente da união estável ao

ser comparada a previsão com o novo status do cônjuge na condição de herdeiro,

houve um reprovável retrocesso, privando os partícipes da união estável de várias

conquistas alcançadas com muito esforço pela sociedade”. (CAHALI, Francisco José

e HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. 2003 p.228).

Segundo Paulo Lobo as desigualdades do direito sucessório torna inviável a

interpretação em conformidade com a Constituição Federal, nomeadamente com os

princípios da igualdade, liberdade e não discriminação. O artigo 1.790 do Código

Civil em matéria de aquisição de direitos reduz os direitos sucessórios dos

companheiros conferidos pela lei nº 8.917, de 1994. (LOBO, Paulo 2013 p. 151).

“Os bens particulares estão incluídos para o cônjuge e excluídos para o companheiro, para o qual o dispositivo reserva apenas os adquiridos onerosamente; o reconhecimento explícito do cônjuge como herdeiro necessário e a omissão em relação ao companheiro; e ordem de vocação hereditária, pois o cônjuge vem em terceiro lugar após as classes dos descendentes e ascendentes e o companheiro após todos os herdeiros colaterais até o quarto grau; a sucessão concorrente, pois são dispares as quotas atribuídas ao cônjuge e ao companheiro quando concorrerem com descendentes e ascendentes e distintas as bases de cálculo sobre a herança, participando o cônjuge sobre os bens particulares em determinados regimes de bens e o companheiro sobre a totalidade da herança,mas a este não assegurando o direito daqueles à quota mínima de um quarto; os direitos a herança dos filhos do de cujus que variam em razão de ser o genitor sobrevivente cônjuge ou companheiro”. (LOBO, Paulo. 2013 p 152).

Considerando o artigo 1.790 do Código Civil inconstitucional quanto aos

direitos e tratamentos diferenciados do companheiro em relação ao cônjuge, a luz

dos princípios constitucionais há uma possibilidade de em breve o artigo 1.790

tornar-se inconstitucional.

Em se tratando de inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, o

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, se posicionou da seguinte maneira:

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APELAÇÃO CÍVEL. INVENTÁRIO. UNIÃO ESTÁVEL. ARTIGO 1790, II, DO CÓDIGO CIVIL. CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO COM O DESCENDENTE DA AUTORA DA HERANÇA. TRATAMENTO DESIGUAL EM RELAÇÃO AO DIREITO SUCESSÓRIO DO CÔNJUGE. OFENSA AO ART. 226, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO DA REGRA DO ART. 1829, I, DO CÓDIGO CIVIL. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 7°, DA LEI N° 9.278/96. 1. O art. 1790, II, do Código Civil é incompatível com o art. 226, § 3º, da Constituição Federal, uma vez que promove tratamento desigual entre o direito sucessório do companheiro e o do cônjuge. 2. Afastada a incidência do art. 1790, II, do Código Civil em razão da incompatibilidade com a Constituição Federal, impõe-se a aplicação da regra destinada ao cônjuge sobrevivente, prevista no artigo 1829, inciso I, do Código Civil, excluindo-se o companheiro meeiro da divisão da legítima, porque, na hipótese dos autos, a autora da herança não deixou bens particulares. 2. Não havendo prova de que o convivente constituiu nova união estável, impõe-se a manutenção da sentença que lhe conferiu o direito real de habitação, com amparo no art. 7°, da Lei n° 9.278/96. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível n.º 837.796-4, Relator (a): VILMA RÉGIA RAMOS DE REZENDE, Data de Julgamento: 08/02/2012).

Os Desembargadores integrantes do Órgão Especial do Tribunal de Justiça

do Estado do Paraná, por maioria de votos, acordam em julgar procedente o

incidente de declaração de inconstitucionalidade do artigo 1.790, III, do Código Civil.

INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. SUCESSÃO DA COMPANHEIRA. ARTIGO 1.790, III, DO CÓDIGO CIVIL. INQUINADA AFRONTA AO ARTIGO 226, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE CONFERE TRATAMENTO PARITÁRIO AO INSTITUTO DA UNIÃO ESTÁVEL EM RELAÇÃO AO CASAMENTO. NECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO DO COLENDO ÓRGÃO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE DE LEI INFRACONSTITUCIONAL DISCIPLINAR DE FORMA DIVERSA O DIREITO SUCESSÓRIO DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. ELEVAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL AO "STATUS" DE ENTIDADE FAMILIAR. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. CONHECIMENTO DO INCIDENTE, DECLARADO PROCEDENTE. 1. Inconstitucionalidade do artigo 1.790, III, do Código Civil por afronta ao princípio da igualdade, já que o artigo 226, § 3º, da Constituição Federal conferiu tratamentos similares aos institutos da união estável e do casamento, ambos abrangidos pelo conceito de entidade familiar e ensejadores de proteção estatal. 2. A distinção relativa aos direitos sucessórios dos companheiros viola frontalmente o princípio da igualdade material, uma vez que confere tratamento desigual àqueles que, casados ou não, mantiveram relação de afeto e companheirismo durante certo período de tempo, tendo contribuído diretamente para o desenvolvimento econômico da entidade familiar. (Acórdão nº 536589-9/01, Relator: SÉRGIO ARENHART, Data de Julgamento: 04/12/2009).

Neste diapasão, em 2013 o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o relator

Ministro Luis Felipe Salomão por unanimidade de votos, suscitou Arguição de

inconstitucionalidade à Corte Especial:

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RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. REGIME SUCESSÓRIO. ART. 1.790, CAPUT, DO CÓDIGO CIVIL. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. Preenchidos os requisitos legais e regimentais, cabível o incidente de inconstitucionalidade do art. 1.790, caput, do Código Civil, diante do intenso debate doutrinário e jurisprudencial acerca da matéria. (2011/0266816-9 DF, Relator: LUIS FELIPE SALOMÃO, Data do Julgamento: 11/06/2013).

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9 CONCLUSÃO

O Código Civil de 2002 trouxe alterações significativas, principalmente no

que concerne à sucessão do cônjuge e do companheiro, oferecendo, de maneira

geral, um avanço doutrinário, jurisprudencial e legislativo.

No direito anterior ao Código Civil de 1916 o cônjuge herdava em quarto

lugar na ordem de vocação hereditária, colocado depois dos colaterais. Com o

advento da lei de “Feliciano Pena”, lei nº 1.839/1907 o cônjuge ficou em terceiro

lugar, antes dos colaterais e era considerado herdeiro facultativo.

Com o Código Civil de 2002 o cônjuge foi colocado na posição de herdeiro

necessário concorrendo com descendentes e ascendentes do de cujus, porém, essa

concorrência vai depender do regime de bens do casamento na forma do artigo

1829, incisos I e II do Código Civil.

Já com referência ao companheiro o Código Civil de 1.916 tratava do

concubinato para restringir os direitos da concubina e privá-las de doações ou deixa

testamentária. Com o passar dos tempos à lei (6.015/73, artigo 57,§§ 2º e 3º) e a

jurisprudência permitiram a partilha de bens adquiridos com o esforço comum

durante a convivência (Súmula 380 do STF).

O novo diploma trouxe em seu artigo 1790, o direito sucessório do

companheiro ou companheira afirmando que participará da sucessão do outro

quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, e entre as

disposições gerais, fora da ordem de vocação hereditária.

O artigo nos trouxe distinções entre a concorrência da companheira ou

companheiro, com os filhos comuns; a concorrência com descendentes só do autor

da herança e a concorrência com outros parentes sucessíveis e na falta destes o

direito a totalidade da herança.

Os doutrinadores consideram o artigo 1.790 do Código Civil inconstitucional

quanto aos direitos e tratamentos diferenciados do companheiro em relação ao

cônjuge, a luz dos princípios constitucionais há uma possibilidade de em breve o

artigo 1.790 tornar-se inconstitucional.

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REFERÊNCIAS

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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito das Sucessões - 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. (Coleção direito civil; v. 7).

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões. 2º. ed. São Paulo: Atlas, 2002. – (Coleção direito civil; v. 7).