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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Karina Cristiane Cuman A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Karina Cristiane Cuman

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA

APLICAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

CURITIBA

2011

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Karina Cristiane Cuman

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA

APLICAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado aoCurso de Direito da Faculdade de CiênciasJurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, comorequisito parcial para a obtenção do grau deBacharel em Direito.Orientador: Felipe Alcure

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Karina Cristiane Cuman

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SUA

APLICAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em

Direito no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de de 2011.

______________________________________

Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________

Orientador: Prof. Felipe Alcure

______________________________________

______________________________________

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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo apresentar um breve estudo a respeito da Desconsideração daPersonalidade Jurídica e seu emprego no Direito do Trabalho. Para tanto, procurou-se primeiramenterealizar um breve análise acerca do instituto da pessoa jurídica, sua finalidade e seu papel no universodas relações civis. Em seguida, passou-se ao estudo da teoria da desconsideração da personalidadejurídica propriamente dita, sua origem, seus requisitos, e sua previsão na Constituição Federal, noCódigo de Defesa do Consumidor, no Direito Civil e, finalmente, no Direito do Trabalho, no qual ela éutilizada como mais uma forma de assegurar os direitos dos trabalhadores em face de eventuaisfraudes e abuso de direito realizadas pelos empregadores de sociedades empresariais.

Palavras-chave: Desconsideração da Personalidade Jurídica; Aplicação da Disregard Doctrine; Direito

do Trabalho.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................6

2 TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO .............. ....................................8

2.1 PESSOAS JURÍDICAS ...........................................................................................8

2.2 A SOCIEDADE EMPRESÁRIA ...........................................................................10

2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS QUANTO À

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS ..............13

3 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ....... ....................17

3.1 TEORIA DA DISREGARD DOCTRINE ..............................................................19

3.2 CASO SOLOMON VS SALOMON & CO ...........................................................21

3.3 HIPÓTESES FÁTICAS DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURIDICA ....................................................................................................................23

3.3.1 Fraude ..................................................................................................................23

3.3.2 Abuso de direito ..................................................................................................25

3.4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA FALÊNCIA

.......................................................................................................................................27

3.5 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA ...........31

3.6 A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PJ E SUA INCIDÊNCIA NO

SISTEMA LEGAL BRASILEIRO ..............................................................................33

3.6.1 Na Constituição de 88 .........................................................................................34

3.6.2 No Direito do Consumo ......................................................................................35

3.6.3 No Direito Civil ...................................................................................................37

3.6.4 No Direito do Trabalho .......................................................................................40

4 A APLICAÇÃO E A PREVISÃO DO INSTUTO DA DESCONSIDE RAÇÃO

DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO DIREITO DO TRABALHO

.......................................................................................................................................42

4.1 PREVISÃO NA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO E A

NATUREZA PROTECIONISTA DO DIREITO DO TRABALHO ...........................42

4.2. RISCOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA ..........................................................48

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4.3 ASPECTOS PROCESSUAIS DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA NO DIREITO DO TRABALHO ............................51

4.3.1 Momento adequado de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica ..........................................................................................................................54

4.3.2 Discricionariedade do magistrado em relação à aplicação ou não da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica ...................................................................58

4.3.3 Elementos de prova .............................................................................................61

4.4 LIMITE DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS E ADMINISTRADORES

.......................................................................................................................................64

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................68

REFERÊNCIAS .........................................................................................................70

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa aborda a teoria da desconsideração da personalidade

jurídica e sua incidência no campo do Direito do Trabalho.

Para tanto, necessária a introdução em alguns tópicos relacionados à Teoria

Geral do Direito Societário, tais como o conceito de pessoa jurídica; a personalização

da sociedade empresária; as formas de responsabilidade dos sócios pelas obrigações

sociais.

Antigamente, os comerciantes singulares ou empresários individuais exerciam

suas atividades mercantis em nome próprio.

O exercício do comércio, porém, exigia como exige nos dias de hoje, uma

enorme soma de valores e recursos, o que impulsionou os comerciantes a trabalharem

de forma cooperada, surgindo assim a sociedade comercial.

A personalização das sociedades comerciais como pessoa jurídica, torna-a

civilmente capaz de exercer direitos e contrair obrigações e patrimonialmente

independente , assumindo personalidade distinta das pessoas físicas dos respectivos

sócios cujos patrimônios.

Porém, com o avanço das relações comerciais, alguns mecanismos foram

criados com a finalidade ilícita de alguns sócios de acobertarem-se na autonomia

patrimonial da pessoa jurídica com o intuito de praticar atos abusivos ou fraudulentos

em proveito próprio e em detrimento dos diretos de terceiros.

Tal conduta exigiu a intervenção do Judiciário para reparar e prevenir

situações em que a proteção ao patrimônio da pessoa jurídica fosse manipulada de

forma irregular pelos sócios.

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Assim, doutrina e jurisprudência debruçaram-se para elaborar as hipóteses em

que seria cabível a intervenção no patrimônio individual dos sócios pelas obrigações

contraídas pela pessoa jurídica ou formal. Surge aí a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica, tratada na presente pesquisa.

Como será visto, o primeiro diploma legal a explicitamente consagrar a tese da

desconsideração no ordenamento jurídico brasileiro foi o Código de Defesa do

Consumidor, impondo a responsabilização pessoal dos sócios nos casos em que se

configure o uso irregular ou abusivo da pessoa jurídica com prejuízos ao consumidor.

Posteriormente, outras áreas como o Direito de Família e o Direito do Trabalho

também se apropriaram de tal instituto.

No último Capítulo desta pesquisa trataremos da aplicação da desconsideração

da personalidade jurídica em especial na seara trabalhista, campo em que a teoria foi

pioneiramente proclamada no no art. 2º, §2º da CLT e que guarda enorme guarida,

sobretudo pela natureza protecionista do direito do trabalho e a desvinculação do

empregador da pessoa física ou jurídica do empregador.

A desconsideração da pessoa jurídica no Direito Trabalho é uma ferramenta

empregada visando a satisfação do credito trabalhista nas hipóteses de abuso de

direito, excesso de poder, violação da lei ou do contrato e, principalmente, quando o

empregador, pessoa jurídica, não tenha patrimônio para saldar suas dívidas.

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2. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO

2.1 PESSOAS JURÍDICAS

Podemos compreender a personalização jurídica como um recurso, uma ficção

jurídica criada pelo Direito para viabilizar certos sujeitos a praticarem determinados

atos jurídicos em sociedade. Vale dizer, é um expediente do Direito destinado a

simplificar a disciplina de determinadas relações entre os homens em sociedade.

Portanto, pessoa é espécie do gênero sujeito de direito, que representa tudo ao

que a ordem jurídica atribui a aptidão de ser titular de direito ou devedor de prestação,

o que inclui determinadas entidades despersonalizadas. 1

Mais uma vez, o que distingue os sujeitos de direito personalizados e

despersonalizados é o regime jurídico a que ele está submetido. O sujeito de direito

despersonalizado (como a massa falida, condomínio horizontal, nascituro, espólio,

etc.) apenas podem praticar atos explicitamente autorizados pelo Direito. Já as pessoas

que detêm personalidade jurídica, sejam físicas ou jurídicas, podem praticar todos os

atos jurídicos expressamente não proibidos em lei. Para esta regra existem três

exceções: pessoas jurídicas não podem praticar atos típicos de pessoas físicas, tais

como casamento ou adoção, mesmo que o ordenamento jurídico deixe de vedar

expressamente tal situação; sujeitos de direito despersonalizados podem praticar atos

jurídicos relativos à sua essência mesmo que o ordenamento jurídico não faça previsão

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expressa; e o Estado, apesar de configurar como pessoa jurídica, sempre precisará de

previsão legal para praticar atos jurídicos, pelo fato de se submeter ao princípio da

legalidade.2

Existem dois grupos de pessoas jurídicas, distintas, essencialmente, pelo

regime jurídico a qual encontram-se submetidas: as de Direito Público (União,

Estados, Municípios, Distrito Federal, Territórios e Autarquias); e as de Direito

Privado; sendo que aquelas gozam de uma posição jurídica diferenciada por estarem

ligadas ao interesse público. Já as pessoas jurídicas de direito privado são reguladas

por um regime jurídico isonômico, sem valoração diferenciada de interesses.3

Assim, pessoas jurídicas de direito público ocupam uma posição privilegiada

em relação às pessoas jurídicas de direito privado, uma vez que estas relacionam-se

entre si em pé de igualdade.4

O grupo das pessoas jurídicas de direito privado subdivide-se em: estatais,

constituídas por capital social proveniente majoritariamente do poder público, como as

sociedades de economia mista e as empresas públicas; e não-estatais, como a

fundação, a associação e as sociedades. Esta última, por sua vez, distingue-se das

demais por sua finalidade essencialmente negocial, e divide-se em sociedade simples

ou empresária.5

1 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 112.2 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 113.3 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 109 – 110.4 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 110.

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2.2 A SOCIEDADE EMPRESÁRIA

A pessoa jurídica empresária é aquela que exerce atividade econômica sob a

forma de empresa. As sociedades simples e empresárias diferenciam-se pela maneira

de exploração de seu objeto. Assim, se uma sociedade exerce atividade econômica

organizada para a produção ou circulação de bens ou serviço, será empresária. Caso

contrário, ou se dedicando à atividade econômica civil, será simples. Podemos dizer,

portanto, que a sociedade simples explora seu objeto social sem empresarialidade (sem

organização produtiva). Já a sociedade empresarial explora empresariamente o seu

objeto social. Duas hipóteses excepcionam-se a esta regra: a sociedade anônima em

comandita por ações, que será sempre empresária, conforme disposição do parágrafo

único do artigo 982 do Código Civil e do parágrafo primeiro do artigo 2º da Lei de

Sociedades Anônimas; e as cooperativas, que serão sempre sociedade simples,

independentemente de qualquer outra característica, conforme disposição também do

parágrafo único do artigo 982 do Código Civil.6

Portanto, o enquadramento de uma sociedade no regime jurídico empresarial

depende, essencialmente, do modo de exploração do seu objeto negocial; assim sendo,

nem todas as espécies de pessoas jurídicas que empreendem atividade de natureza

empresarial podem ser cotadas como sociedades empresárias; assim como existem

sociedades que, independentemente de seu objeto, sempre serão consideradas como

empresárias.7

5 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 110.6 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 111.7 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 109.

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Isto posto, Fábio Ulhoa Coelho conceitua a sociedade empresária como “(...) a

pessoa jurídica de direito privado não-estatal, que explora empresarialmente seu objeto

social ou a forma de sociedade por ações.”8

Marcelo M. Bertoldi e Marcio Carla Pereira Ribeiro também distinguem as

sociedades empresárias e civis considerando a organização da atividade econômica

exercida. A partir de tal premissa, conceituam as sociedades empresárias como

“organizações econômicas, dotadas de personalidade jurídica e patrimônio próprio,

constituídas ordinariamente por mais de uma pessoa, que têm como objetivo a

produção ou a troca de bens ou serviços com fins lucrativos.”9

A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado tem início com a

inscrição de seu ato constitutivo no respectivo registro. A sociedade empresária possui

seu registro particular, que é o Registro Público de Empresas Mercantis, do qual são

encarregadas as Justas Comerciais.10

Como já visto, a pessoa jurídica é sujeito de direito personalizado, tendo plena

capacidade para “(...) praticar todo e qualquer negócio jurídico em relação ao qual

inexista proibição expressa.”11

Assim, a sociedade empresária, enquanto pessoa jurídica, possui uma

personalidade distinta da dos seus sócios e com eles não se confunde; são

independentes. De acordo com Fábio Ulhoa Coelho, três são as consequências

advindas da personalização das sociedades empresárias: 1) titularidade negocial, que

8 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 111.9 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 146.10 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 393.

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surge do fato de a sociedade empresária desempenhar negócios jurídicos, configurando

como parte; 2) titularidade processual, que aparece quando a sociedade empresária

demanda ou é demandada em juízo, como titular de direito autônomo; e 3)

responsabilidade patrimonial, ou seja, a sociedade empresária configura como sujeito

de direito personalizado autônomo e responde com seu patrimônio pelas obrigações

que eventualmente assumir.12

Rubens Requião adiciona a este rol, uma quarta conseqüência, que é a

possibilidade de a sociedade modificar sua estrutura econômica ou jurídica.13

As pessoas jurídicas, dentre elas a sociedade empresária, podem, também,

configurar como sujeitos ativos de delito penal, através de disposição da Lei nº

9605/1998, que protege o meio ambiente.14

Somente a título de curiosidade, a personalização da sociedade empresária é

extinta através de um processo de dissolução, que abrange: a dissolução em sentido

estrito, ou seja, o ato de desfazimento da constituição da sociedade; a liquidação,

através da qual se verifica o ativo e paga-se o passivo; e a partilha, na qual os sócios

compartilham do acervo da sociedade. Ressalta-se que a personalidade jurídica da

sociedade empresária apenas se extingue através de um processo judicial ou

extrajudicial.15

11 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 112 – 113.12 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 113 – 114.13 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 395.14 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 396.15 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 114 – 115.

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2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS QUANTO À

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS

De acordo com Fábio Ulhoa Coelho, as sociedades empresárias podem ser

classificadas através de diferentes critérios. Segundo o autor, os mais importantes são:

aquele que leva em consideração a responsabilidade dos sócios pelas obrigações

sociais; aquele que se refere ao regime de constituição e dissolução da sociedade; e

aquele que diz respeito às condições para alienação da participação societária.16

Na presente pesquisa nos interessa abordar a classificação com relação à

responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais.

A empresa pode assumir a forma societária que mais lhe convir, sendo que, de

acordo com a forma escolhida é que será determinada a maneira de dividir seu capital

social, a responsabilidade dos sócios e a maneira como será administrada.17

Excetuando as sociedades em comum (irregular ou de fato), que não possuem

personalidade jurídica por não ter inscrito seu ato constitutivo no órgão competente _

situação que autoriza a responsabilização direta de seus sócios_ 18 em regra, os sócios

não respondem pelas obrigações da sociedade empresária. Tal situação decorre do

princípio da autonomia patrimonial desta sociedade. Portanto, se a sociedade for

solvente, o patrimônio particular de seus sócios não pode ser atingido pela dívida

social; a sociedade deverá responder de forma ilimitada por suas obrigações. Mesmo

no caso da falência, apenas depois de totalmente exaurido o capital social é que haverá

16 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 115.17 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 51.

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a possibilidade de os sócios serem responsabilizados, devendo-se, entretanto,

observarem-se diversos requisitos.19

A responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade empresária é

sempre subsidiária, conforme o disposto no art. 1024 do Código Civil de 2002 e art.

596 do Código de Processo Civil. Ou seja, os sócios somente serão chamados para

responder com seu patrimônio particular se o patrimônio social não for suficiente para

quitar todas as obrigações.20 Mas entre os sócios, a depender da modalidade societária,

poderá existir responsabilidade solidária. Tal responsabilidade, entretanto, pode ser

limitada ou ilimitada. Será ilimitada quando o patrimônio da sociedade empresária for

insuficiente para quitar suas dívidas e os credores puderem satisfazer seus créditos

enquanto suportarem os patrimônios particulares dos sócios, que respondem

ilimitadamente pelas obrigações sociais. Será limitada quando, na mesma situação, os

credores apenas puderem alcançar os patrimônios dos sócios até determinado limite,

determinado pelo total de capital não integralizado; devendo suportar a perda do

restante.21

O sócio com responsabilidade ilimitada configura como solidário aos demais

da mesma categoria, respondendo de forma igualitária pelas obrigações da sociedade.22

18 DINIZ, Maria Helena. Lições de direito emrpesarial. São Pulo: Saraiva, 2011. p. 44 – 45.19 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 116.20 MARTINS, Franz. Curso de direito comercial: empresa comercial, empresários individuais,microempresas, sociedades comerciais, fundo de comércio. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 206.21 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 117.22 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 447.

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Assim, de acordo com a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais,

as sociedades empresárias podem ser classificadas em: 1) ilimitadas, na qual os sócios

respondem de forma ilimitada pelas obrigações sociais, configurando a sociedade em

nome coletivo; 2) mista, na qual alguns sócios possuem responsabilidade ilimitada e

outros possuem responsabilidade limitada, podendo configurar as sociedades em

comandita simples e as sociedades em comandita por ações; e 3) limitada, na qual

todos os sócios respondem limitadamente, configurando a sociedade limitada e a

sociedade anônima.23

Na sociedade em comandita simples, o sócio comanditado responde de forma

ilimitada pelas obrigações sociais e o sócio comanditário responde de forma limitada

por tais obrigações. Na sociedade em comandita por ações, os sócios diretores

respondem de forma ilimitada e os demais acionistas respondem de forma limitada

pelas obrigações sociais.24

Os sócios da sociedade limitada e os sócios comanditários da sociedade em

comandita simples respondem até o limite do total do capital não-integralizado; e os

sócios da sociedade anônima e os acionistas não diretores da sociedade em comandita

por ações respondem até o limite do valor não-integralizado da parcela do capital

social que eles subscreveram.25

Os sócios que ingressam em uma sociedade devem subscrever parte do parte

do capital social desta sociedade. O capital social será considerado completamente

23 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 117 – 118.24 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 117 – 118.25 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 118.

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integralizado no momento em que todos os sócios quitarem suas contribuições para a

formação da sociedade.

Assim, nesta hipótese, os sócios respondem até o limite do valor do que falta

integralizar no capital social da sociedade. Partindo deste pressuposto, mesmo que um

determinado sócio tenha integralizado completamente o que lhe cabe e outro sócio

ainda não o tenha feito com relação à sua parcela, aquele pode ser responsabilizado

pelas obrigações sociais dentro do limite da quantia ainda não integralizada por este.

Obviamente, depois poderá o primeiro sócio ressarcir-se de tal valor em regresso ao

sócio inadimplente.26

Diferentemente, os sócios acionistas da sociedade anônima e os sócios da

sociedade em comandita por ações respondem apenas pela parcela que subscreveram e

ainda não integralizaram. Assim, tais acionistas nunca serão responsabilizados pela

não-integralização atribuída a outro acionista.27

Ressalta-se que, caso o capital social já estiver completamente integralizado,

os credores da sociedade não poderão atingir o patrimônio particular dos sócios com

responsabilidade limitada, suportando, dessa forma, o prejuízo.28

Expostas tais considerações, passemos ao estudo da desconsideração da pessoa

jurídica, suas hipóteses de cabimento e sua previsão no ordenamento jurídico

brasileiro.

26 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 119.27 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 119.28 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 119

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3 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Conforme afirmado anteriormente, a personalização jurídica representa uma

forma utilizada pelo direito nas relações humanas para autorizar certos sujeitos de

direito a praticarem determinados atos e fatos jurídicos.29

Levando isso em consideração, Suzy Elizabeth Cavalcante Koury entende que

a pessoa jurídica advém de uma criação legal, real no mundo jurídico, ou seja, ela

resulta de um ato de personificação que apenas o ordenamento jurídico pode

autorizar.30

A pessoa jurídica possui autonomia patrimonial, situação que faz com que ela

se diferencie de seus membros e figure como sujeito autônomo de direitos e

obrigações. Porém, esta situação pode ensejar a ocorrência de fraudes.31

Para coibir tais situações, foi criada a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica. Através desta teoria, o Poder Judiciário pode ignorar a

autonomia patrimonial da pessoa jurídica toda vez que ela for utilizada com objetivos

fraudulentos. Isso permite a responsabilização direta, pessoal e ilimitada do sócio em

relação a uma obrigação que, inicialmente, caberia à sociedade.32

29 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 112.30 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 8.31 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 126.32 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 126.

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Através da teoria da desconsideração de personalidade jurídica é possível que

os credores atinjam o patrimônio pessoal dos sócios que fazem mau uso da sociedade

com a finalidade de causar prejuízos a terceiros.33

A priori, para que seja possível efetuar a desconsideração da personalidade

jurídica faz-se necessária a ocorrência de fraude na separação patrimonial, pois que a

simples insolvência da sociedade não é suficiente para tal. A prova da fraude incumbe

ao credor, sob pena de ter que arcar com a os prejuízos.34

Assim, a desconsideração da personalidade jurídica figura como instrumento

de coibição da má utilização da pessoa jurídica.35

A desconsideração da personalidade jurídica, entretanto, não atinge o ato

constitutivo e nem os demais atos praticados. Apenas a separação patrimonial em

relação aos sócios é que não terá efeito algum na decisão judicial relativa ao ato

específico objeto da fraude. Assim, a teoria da desconsideração resguarda a empresa,

que não é necessariamente alcançada pelo ato fraudulento.36

Neste sentido, afirma a autoria Elisabeth Cristina Campos Martins de Freitas:

É imprescindível salientar que a desconsideração da personalidade jurídicanão objetiva de forma alguma anular a personalidade jurídica. Sua meta éunicamente desconsiderar no caso concreto, restritamente, a pessoa jurídica,no que diz respeito às pessoas ou bens utilizados para o cometimento deirregularidades. Ocorre, na realidade, uma hipótese de declaração deineficácia especial da personalidade jurídica apenas para certos efeitos,continuando, entretanto, a funcionar normalmente no que tange aos demais

33 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 150.34 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 127.35 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 127.36 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 127.

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fins propostos que sejam considerados lícitos. Não há, portanto, de formaalguma, nulidade da pessoa jurídica.37

Na legislação, a desconsideração da personalidade jurídica é encontrada no

artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor; no artigo 18 da Lei Antitruste; no

artigo 4º da Lei 9605/1998; no artigo 50 do Código Civil, etc.38

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica teve origem na

disregard doctrine, que será resumidamente exposta adiante.

3.1 TEORIA DA DISREGARD DOCTRINE

A teoria da disregard doctrine ou a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica surge no século XIX, quando doutrina e a jurisprudência

passaram a se preocupar de forma mais incisiva com o desvio de finalidade da pessoa

jurídica, buscando assim meios capazes de reprimi-la.39

De acordo com Koury, a função do instituto da personalidade jurídica tem por

objetivo limitar os riscos empresariais, pois sua existência é considerada como

diferente da existência de seus membros.

Tal função tem por finalidade instigar o desenvolvimento das atividades

econômicas e contribuir para o desenvolvimento social. Frisa Koury que esta função

37 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 59.38 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2009. p. 128.39 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 63.

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não é ilegítima, apesar de poder se tornar ilegítima em determinadas situações, quando

sua utilização for contrária às suas finalidades.40

A utilização do instituto da personalidade jurídica com objetivos contrários às

suas finalidades e aos princípios jurídicos obriga que o ordenamento jurídico crie uma

auto defesa. Uma forma que o ordenamento encontrou de defender-se de tal situação

foi a chamada desconsideração da personalidade jurídica.41

Assim, a disregard doctrine surge como recurso que o ordenamento jurídico

tem à sua disposição para se defender contra a utilização indireta das sociedades

comerciais. Ela emana de um desvio de função da pessoa jurídica, que pode ser

desejado, ou não, pelas partes.42

A disregard doctrine objetiva “(...) penetrar no âmago da sociedade,

superando ou desconsiderando a personalidade jurídica, para atingir e vincular a

responsabilidade do sócio.” 43

O campo de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica é

bastante vasto, pois ela é utilizada em todo o ordenamento jurídico que preveja a

personalidade jurídica da sociedade distinta da personalidade dos membros que a

compõem.44

De acordo com Koury, a Disregard Doctrine é utilizada claramente em duas

situações: para evitar a ocorrência de simulações e fraudes; e para desconsiderar a

40 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 67.41 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 67 – 68.42 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 69 e 74.43 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 390.44 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 79.

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personalidade jurídica nas demais situações que, se assim não fosse, não teriam

solução justa, como ocorre em casos de responsabilidade conjunta dos grupos de

empresas.45

3.2 CASO SOLOMON VS SALOMON & CO

Rubens Requião sustenta que a disregard doctrine teve origem com o caso

inglês Solomon vs Solomon & Co. O empresário Solomon construiu uma company em

conjunto com seis membros de sua família. Ele cedeu seu fundo de comércio a esta

company e recebeu vinte mil ações representativas de sua contribuição, enquanto que

os demais membros receberam somente uma ação para a integração do valor da

incorporação do fundo de comércio na sociedade fundada. Entretanto, logo a

sociedade não pôde satisfazer suas obrigações, não deixando nada para os credores

quirografários. O liquidante, então, argüiu que a atividade da company era a atividade

de Solomon, que se utilizou de fraude para limitar sua responsabilidade e, por isso,

deveria ser condenado a pagar os débitos da sociedade. Tanto o juízo de primeira

instância quanto a Corte concordaram com a tese do liquidante, considerando que

Solomon era, na realidade, o efetivo proprietário do comércio e que a company era sua

entidade fiduciária.46

45 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 85 – 86.46 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 390 – 391.

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O que era realmente verdadeiro, pois que Solomon era, ao mesmo tempo,

sócio e credor da sociedade comercial, tendo abusado da pessoa jurídica ao transferir o

fundo de comércio para a sociedade, com o objetivo de se tornar o seu maior credor.47

Este caso levou à primeira aplicação de um novo entendimento, no sentido de

desconsiderar a personalidade jurídica que revestia a Solomon & Co.48

O entendimento, entretanto, foi reformado pela Casa dos Lordes. Mas a tese

das instâncias inferiores teve tal repercussão que originou a doutrina da disregard

doctrine.49

Koury, em sua obra, aponta dois aspectos que afirma serem inverídicos a

respeito do caso Solomon v. Solomon & Co. O primeiro refere-se à sua qualificação,

pois que a referida autora sustenta não ter sido este o leading case da disregard

doctrine, pois que ele foi julgado em 1897, ou seja, oitenta e oito anos após a primeira

manifestação da justiça americana. Portanto, tal caso apenas pode ser considerado

como leading case no direito inglês.50

O segundo aspecto, sustentado por Koury, diz respeito ao fato de que, embora

o juiz de primeiro grau da Corte de Apelação tenha desconsiderado a personalidade

jurídica da companhia criada por Solomon e seis pessoas de sua família, considerando-

a como extensão da atividade pessoal dele, que continuava figurando como verdadeiro

47 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 233.48 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 390 – 391.49 RUBENS, Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 391.50 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 64.

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proprietário do estabelecimento que falsamente transferira à sociedade, tal decisão foi

reformadad pela House of Lords.51

De fato, em 1809, o juiz norte americano Marshall conheceu uma causa entre

o Bank of United States e Deveaux, em que era suscitada questão relacionada com as

Cortes Federais. Portanto, sem discorrer a respeito do mérito da questão, verifica-se

que já em 1809 as Cortes norte americanas trabalhavam no sentido de revelar a

carapaça das sociedades e alcançar as características dos sócios individuais.52

3.3 HIPÓTESES FÁTICAS DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURIDICA

Tanto a fraude quanto o uso abusivo do direito utilizados como artifícios com

a finalidade de prejudicar terceiros, inseridos em uma legalidade apenas presumida,

são hipóteses que autorizam a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica.53

Tais hipóteses serão brevemente analisadas a seguir.

3.3.1 Fraude

51 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 64.52 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 57 – 58.53 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de bens dos sócios: obrigações mercantis, tributárias,trabalhistas: da desconsideração da personalidade jurídica (doutrina e jurisprudência). 6. ed. ver., atual.e ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 195.

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A autora Elizabeth Cristina Campos Martins Freitas esclarece que a fraude

consiste em uma manobra produzida por determinada pessoa com a finalidade de

causar prejuízos a terceiros. Existe, portanto, a intenção, ou consciência desta, de

desviar a situação para levar terceiras pessoas a enganos geradores de prejuízos.54

A principal característica da fraude é, portanto, a intenção deliberada e

consciente de produzir danos aos credores. São requisitos da fraude: a má-fé e a

intenção de causar prejuízos a terceiras pessoas. O critério crucial para utilização da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica precisa estar localizado no fato

que tenha sido usado de forma abusiva com o objetivo de fraudar a legislação.55

Portanto, se não for verificada a intenção de se utilizar da figura da pessoa

jurídica em fraudar a lei, não se pode falar em desconhecimento da pessoa jurídica

para esta hipótese. Somente quando for verificado o intuito de fugir da incidência da

obrigação contratual é que pode ser acolhido o desconhecimento da pessoa jurídica.56

No Brasil, separar o sócio da sociedade tem sido uma tarefa difícil para

solucionar problemas simples diante dos remédios oferecidos pelo Direito Civil.

Assim, pode-se afirmar que, embora via de regra não seja hipótese de aplicação da

Disregard Doctrine, existe a necessidade de aplicar a desconsideração da

personalidade jurídica nos casos de simulação e fraude à lei originados da utilização

do esquema da pessoa jurídica. Portanto, na maioria das vezes, para que se verifique a

54 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 223.55 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 58.56 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 57 – 58.

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ocorrência de fraude ou simulação, é necessário superar a forma da pessoa jurídica

para que se possa visualizar a real substância das coisas, uma vez que se faz

imperativo preservar o direito das pessoas prejudicadas por tais práticas.57

3.3.2 Abuso de direito

Outra hipótese de cabimento da desconsideração da personalidade jurídica é a

ocorrência de abuso de direito.58

O abuso de direito encontra-se previsto, de forma expressa, no Código Civil de

2002, que dispõe o seguinte em seu artigo 187: “Também comete ato ilícito o titular de

um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim

econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” O referido artigo, porém,

não esclarece os limites do abuso de direito capaz de autorizar a desconsideração da

personalidade jurídica.59

De acordo com a autora Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas,

existem dois posicionamentos doutrinários a respeito da teoria do abuso de direito. O

primeiro é o subjetivo, para o qual apenas ocorre abuso de direito quando houver

possibilidade de identificar a intenção ou a consciência de causar o prejuízo. O

segundo é o objetivo, para o qual ocorre abuso de direito quando o direito for exercido

de forma antagônica às suas finalidades sociais e econômicas, independentemente da

57 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 84 – 85.58 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 224.

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vontade do agente. A referida autora afirma que o abuso de direito é melhor analisado

em face do segundo posicionamento, que faz alusão ao bem-estar da coletividade.60

De qualquer maneira, o posicionamento dominante é no sentido de que o

abuso de direito “(...) reflete prática que foge à normalidade, à regularidade com

intenção de causar prejuízo a outrem.” 61 Por isso é que o segundo entendimento

parece o mais correto, pois será verificado o abuso de direito quando a pessoa jurídica

for utilizada como meio para se atingirem objetivos opostos aos defendidos pelo

legislador.62

O abuso de direito dentro do ambiente da sociedade comercial caracteriza-se,

de acordo com Amador Paes de Almeida, quando, por exemplo, um dos sócios

ultrapassa as fronteiras diretivas, abusando do poder que lhe é entregue na gestão dos

negócios. Pode ocorrer, também, como forma de abuso de direito dentro da sociedade,

transgressões ao contrato social ou ao estatuto.63

Portanto, ocorre o abuso de direito quando os sócios objetivam utilizar a

sociedade para livrarem-se da incidência normal de norma legal ou cláusula contratual

que, de alguma maneira, seja-lhes desfavorável. É o que ocorre, por exemplo, quando

determinados sócios alienam seu negócio a terceiro, com cláusula de não concorrência

59 CAMILLO, Carlos Eduardo. [et. al]. Direito de empresas. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais,2008. p. 162.60 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 225.61 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 225.62 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 227.63 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de bens dos sócios: obrigações mercantis, tributárias,trabalhistas: da desconsideração da personalidade jurídica (doutrina e jurisprudência). 6. ed. ver., atual.e ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 189.

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em certo período de tempo e espaço. Com o objetivo de lograr a obrigação assumida

sem transgredir o contrato, criam uma nova pessoa jurídica que possui o fim único de

infringir o contrato anteriormente assinado. Trata-se de situação semelhante ao caso

Solomon vs Solomon & Co.64

O que precisa ser frisado é que, presentes os requisitos para a aplicação da

desconsideração da personalidade jurídica, é necessário quebrar a carapaça corporativa

que oculta atitudes ilícitas para que seja possível a responsabilização pessoa dos

sócios. Não há razão admissível que possa ser sustentada para desobedecer aos limites

antecipadamente estabelecidos pelo ordenamento jurídico. O radical afastamento entre

a sociedade e os sócios apenas pode tutelar os que honrem suas obrigações, que

acatem o que foi acordado.65

Portanto, a principal conseqüência do abuso de direito cometido através da

utilização indevida da figura da pessoa jurídica versa a respeito da desconsideração da

personalidade jurídica.66

3.4 DESCONSIDERAÇÕES DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA FALÊNCIA

Os Tribunais pátrios têm aplicado a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica no processo falimentar, com o objetivo de estender as

conseqüências da quebra aos sócios, pessoas naturais ou jurídicas, sempre que reste

64 CAMILLO, Carlos Eduardo. [et. al]. Direito de empresas. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais,2008. p. 162.65 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 233.

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comprovado, dentre outros, atos fraudulentos e desvios de bens com a finalidade de

prejudicar os credores. Os sócios atingidos por tal extensão devem ser devidamente

intimados, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal,

estabelecido no artigo 5º, LIV e LV da Constituição Federal.67

Em decisão proferida por maioria no REsp 211.619-SP, publicado no DJ de

23.04.2001, julgado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, o Ministro

Carlos Alberto Menezes, proferiu as seguintes palavras a respeito da extensão dos

efeitos da falência de certa empresa a outras do mesmo grupo empresarial: 68

(...) busca-se tanto a proteção dos sócios gerentes quanto a proteção deterceiros que com ela se relacionem ou que de qualquer forma sofram osefeitos de seu atuar. E mais do que isso, a desconsideração destina-se aoaperfeiçoamento do próprio instituto da despersonalização, pois determina aeficácia de seu ato constitutivo, preservando a validade e existência de todosos demais atos que não se relacionam com o desvio de finalidade,protegendo, assim, a própria existência da pessoa jurídica. (...) No caso dosautos, como bem ponderou o Eminente Relator: ‘a decisão de primeiro grauexplicitou longamente a promiscuidade de negócios entre as empresas, aspráticas maliciosas, tendentes a fraudar credores. A exposição é minuciosa,constato especialmente das fls. 98 e seguintes, e a ela me reporto. Dela severifica que, constituindo as empresas um só grupo econômico, com amesma direção, os negócios eram conduzidos tendo em vista os interessesdesse e não os de cada uma das diversas sociedades. A separação era apenasformal’.

É lícito, portanto, ao juízo falimentar utilizar a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica da empresa falida para estender os efeitos da falência a outros.69

66 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e no novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 232.67 PAIVA, Luiz Fernando Valente de. (coord). Direito falimentar e a nova lei de falências erecuperação de empresas. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 391.68 PAIVA, Luiz Fernando Valente de. (coord). Direito falimentar e a nova lei de falências erecuperação de empresas. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 388 – 389.69 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: falência e recuperação de empresas. 3. ed. v.4. São Paulo: Atlas, 2009. p. 384.

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29

Em outro julgado, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no REsp

63.652-SP, j. 13.06.2000, por unanimidade de votos, proferiu decisão utilizando a

teoria da desconsideração da personalidade jurídica no processo falimentar. De acordo

com o relatório, a operação comercial que originou o crédito que lastreou o pedido de

quebra aconteceu quatro dias antes de um dos sócios retirar-se da sociedade devedora.

Aproximadamente um mês depois, o referido sócio formou outra sociedade, utilizando

o mesmo objeto social da primeira. Esta segunda sociedade foi instituída sob a forma

de sociedade civil, mas, na verdade, configurava-se como uma sociedade comercial

semelhante à primeira, que simplesmente desapareceu, escondendo-se sob o véu da

sociedade recém criada. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi

acertadamente aplicada neste caso, pois que se tratava de uma trama criada com o

claro objetivo de fraudar credores.70

A desconsideração da personalidade jurídica na falência, entretanto, não pode

servir de instrumento para a verificação da responsabilidade dos sócios, pois para tal

existe previsão expressa na lei falimentar. Deve-se tomar o devido cuidado para não se

confundir as situações.71

Ressalta-se que não é exclusividade do juízo falimentar desconsiderar a

personalidade jurídica da falida, podendo os juízes individuais fazê-lo com relação às

relações jurídicas que apreciarem, desde que presentes os requisitos jurídicos para

tal.72

70 PAIVA, Luiz Fernando Valente de. (coord). Direito falimentar e a nova lei de falências erecuperação de empresas. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 389 – 391.71 PAIVA, Luiz Fernando Valente de. (coord). Direito falimentar e a nova lei de falências erecuperação de empresas. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 392 – 393.72 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: falência e recuperação de empresas. 3. ed. v.4. São Paulo: Atlas, 2009. p. 384.

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30

O artigo 18 da Lei nº 8.884/1994 (Lei Antitruste) autoriza a utilização da

teoria da desconsideração da pessoa jurídica na falência:

A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômicapoderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito,excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutosou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houverfalência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoajurídica provocados por má administração.

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor também possui previsão, em

seu artigo 28, a respeito da utilização da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica no caso de falência:

O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contratosocial. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídicaprovocados por má administração.

A Lei nº 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a

falência do empresário e da sociedade empresária, autoriza a desconsideração da

personalidade jurídica no seu artigo 82:

A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, doscontroladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nasrespectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência,independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiênciapara cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto noCódigo de Processo Civil.

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31

3.5 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Tanto a pessoa jurídica quanto os sócios poderão responder por uso abusivo,

simulado ou fraudulento da sociedade. Esta responsabilidade se dá de forma direta ou

inversa, podendo ser alcançados os bens sociais, no que diz respeito à

responsabilização do sócio; ou os bens do cônjuge empresário, no caso do Direito de

Família, momento em que ocorrerá a responsabilização referente aos bens

matrimoniais. Esta última hipótese traz a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica de forma inversa.73

A utilização da desconsideração da personalidade jurídica de forma inversa,

do mesmo modo que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica tradicional,

não tem como objetivo a invalidação da personalidade jurídica, mas somente a

asseveração da impotência para determinado ato, sendo que aquela possui os mesmos

pressupostos e requisitos desta (ocorrência de fraude, simulação ou abuso na utilização

da personalidade jurídica por parte dos sócios).

É ampla a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no Direito

de Família, especialmente quanto se verifica que o cônjuge ou convivente empresário

se oculta sob o véu da sociedade empresarial nas ações de separação judicial ou de

dissolução de união estável. Sob o esqueleto da personalidade jurídica são

encontradas, muitas vezes, diversas fraudes relacionadas tanto à partilha matrimonial

quanto à obrigação alimentar. Portanto, a teoria da desconsideração da personalidade

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jurídica pode ser aplicada em tais situações, pois que ela é utilizada sempre que há

abuso da pessoa jurídica com o objetivo de escapar da incidência da lei ou de

obrigações contratuais.74

Assim, no compromisso alimentar ou da união estável deve ser dissolvida a

higidez da separação entre pessoa jurídica e pessoa física. Quando um devedor de

pensão alimentícia se utiliza da sociedade como carapaça para cometer fraudulenta

insolvência alimentar e transfere seus bens pessoais para a sociedade, ou simula sua

retirada desta, objetiva causar prejuízos ao seu alimentado. Neste caso, a ação judicial

deve impedir tais atos, de forma a desconsiderar a personalidade jurídica adotada para

fraudar a obrigação alimentar.75

Nestas hipóteses, a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica faz com que os atos do sócio sejam imputados à sociedade, de modo que

possam ser atingidos os bens desviados para o interior dela.76

Nada mais certo do que atribuir à sociedade que distorce seu objeto social a

titularidade passiva da obrigação alimentar do sócio que se esconde atrás dela. Dessa

forma, sucede a empresa, que utiliza a fraude e o abuso, na obrigação de pagar

prestações mensais de alimentos, quando ocorrer a trama objetivando prejudicar

credor.77

73 FILGUEIRAS, Isaura Meira Cartaxo. Desconsideração inversa da personalidade jurídica. In.:Revista Jus Vigilantibus, jul. 2007. Disponível em: < http://jusvi.com/artigos/26439> Acessado em: 3jun. 2011.74 MADALENO, Rolf Hanssen. Direito de família em pauta. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2004. p. 135.75 MADALENO, Rolf Hanssen. Direito de família em pauta. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2004. p. 136.76 MADALENO, Rolf Hanssen. Direito de família em pauta. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2004. p. 140.77 MADALENO, Rolf Hanssen. Direito de família em pauta. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2004. p. 141.

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Portanto, quando acontece de um dos sócios da sociedade empresária desviar

bens pessoais para a empresa que controla com o objetivo de não partilhá-los com seu

cônjuge no caso de separação ou divórcio pode ser aplicada a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica de forma inversa. Na desconsideração

regular, o sócio é responsabilizado por dívida formalmente atribuída à sociedade.

Entretanto, na modalidade inversa, a personalidade jurídica é desconsiderada para

responsabilizá-la por obrigação do sócio. Tal situação é bastante utilizada no Direito

de Família.78

Finalmente, a desconsideração inversa apenas deve ser utilizada se restar

comprovada a transferência de bens do patrimônio particular do sócio controlador-

devedor para a pessoa jurídica.79

3.6 A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA E SUA

INCIDÊNCIA NO SISTEMA LEGAL BRASILEIRO

Desde a efetiva elaboração de um discurso, por Rubens Requião, em 1969,

tratando do assunto da desconsideração da personalidade jurídica em conferência

organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, tanto a

doutrina quanto a jurisprudência brasileira têm trabalhado no sentido de alargar a

aplicação da referida teoria. Na atualidade, poucos são os livros nacionais editados

78 CAMILLO, Carlos Eduardo. [et. al]. Direito de empresas. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais,2008. p. 163.79 TJ/SP; 16ª Vara Cível; j. 05.08.2008. Relator: Desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças.

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sobre este assunto. Embora seja um tema um tanto recente no Brasil, a legislação

brasileira já estabelece algumas disposições sobre o assunto.80

Assim, adiante será brevemente mencionada a análise da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica sob o aspecto da Constituição Federal de

1988, do Direito de Consumo, do Direito Civil e do Direito do Trabalho.

A presente pesquisa restringe-se a respeito destes mencionados diplomas

legais, apesar de existirem outros dispositivos legais no ordenamento pátrio relativos à

aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Ressalta-se,

entretanto, que a área que possui o maior número de dispositivos de aplicação da teoria

da desconsideração da personalidade jurídica é a do Direito do Trabalho.81

3.6.1 Na Constituição de 1988

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica na Constituição Federal

de 1988 possui enorme ligação com a proteção que esta Carta dispensa às relações de

consumo. Consagrada a proteção às relações consumeiristas na Constituição Federal

de 1988, a desconsideração da personalidade jurídica representa uma das diversas

formas previstas para assegurar e efetivar tal amparo.82

Dessa forma, conforme afirma a jurista Elizabeth Cristina Campos Martins de

Freitas, o exame da teoria da desconsideração da personalidade jurídica relativamente

80 BOTTAN, Antônio Carlos. A desconsideração da personalidade jurídica: disregard doctrine. In.:Novos Estudos Jurídicos, n. 9. ano v, setembro 1999. p. 63.81 BOTTAN, Antônio Carlos. A desconsideração da personalidade jurídica: disregard doctrine. In.:Novos Estudos Jurídicos, n. 9. ano v, setembro 1999. p. 63.

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à Constituição Federal deve ser realizada através das “referências que nossa Carta

Magna faz sobre o Direito do Consumidor, e isso ocorre especialmente no Título VII –

Da ordem econômica e financeira – Capítulo I – Dos Princípios Gerais da Atividade

Econômica – Constituição Federal, arts. 170, V, e 5º, XXII, da Constituição

Federal.”83

3.6.2 No Direito do Consumo

O Código de Defesa do Consumidor foi o primeiro diploma legal brasileiro a

tratar da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. O referido Código

estabelece, em seu artigo 28, o seguinte:84

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedadequando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso depoder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contratosocial. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídicaprovocados por má administração.§ 1° (Vetado).§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedadescontroladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentesdeste código.§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelasobrigações decorrentes deste código.§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que suapersonalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízoscausados aos consumidores.

82 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 102.83 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 102.84 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 151.

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Através do mencionado dispositivo legal, as relações consumeiristas do direito

brasileiro passam a adotar expressamente a teoria da desconsideração da personalidade

jurídica.85

No entanto, a doutrina tece críticas ao artigo 28 do Código de Defesa do

Consumidor. Sustenta a doutrina que o abuso de direito, referido no artigo, tem relação

com a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, mas as referências ao

excesso de poder, à infração da lei, ao fato ou ato ilícito, ou à violação dos estatutos ou

do contrato social, à falência, ao estado de insolvência e à má administração são causas

relativas à responsabilização direta do administrador ou sócio, não havendo a

necessidade de ser desconsiderada a personalidade jurídica para serem apuradas.86

Dessa forma, a única situação na qual a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica de fato é utilizada é na ocorrência de abuso de direito, pois os

demais casos previstos no artigo em análise são qualificados como de responsabilidade

direta daquele que, por exemplo, transgride a lei ou gere mal a sociedade.87

No que diz respeito ao parágrafo 5º do artigo 28 do Código de Defesa do

Consumidor, ele deve ser interpretado em concordância tanto com o enunciado da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica quando com o caput do artigo,

pois tal dispositivo deve ser aplicado apenas àquelas condutas do fornecedor que

eventualmente contrariem as normas protetoras das relações de consumo.88

85 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 151.86 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 151.87 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 143.88 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 152.

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De acordo com Osmar Oliveira Silva, no caput do artigo 28 do Código de

Defesa do Consumidor, o legislador fez previsão das hipóteses para a aplicação da

desconsideração da personalidade jurídica, sendo que no § 5º ressaltou que mesmo não

ocorrendo nenhuma das hipóteses previstas no caput, “mas que, por exemplo, por um

mero defeito no produto, encontre o consumidor um obstáculo constituído pela

separação patrimonial para ter reparado seu dano, poderá, também, o juiz declarar a

desconsideração da personalidade jurídica que autoriza a expropriação dos bens do

sócio da empresa fornecedora.” 89

Ademais, na opinião da doutrinadora Elizabeth Cristina Campos Martins de

Freitas, “o Código de Defesa do Consumidor poderia contemplar sanções mais rígidas

para as hipóteses referentes à desconsideração da personalidade jurídica, até mesmo

com a prisão civil por ato atentatório à dignidade da justiça.” No entendimento da

referida doutrinadora, esta prisão “serviria como medida coercitiva para obrigar o

autor do ilícito a reparar o prejuízo”, sem detrimento das perdas e danos que

eventualmente poderão ser pleiteadas pelo consumidor.90

3.6.3 No Direito Civil

89 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 144.90 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 167.

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No Direito Civil, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi

recepcionada com o Código Civil de 2002. Tal recepção originou uma aplicação da

referida teoria a todas as relações jurídicas indistintamente.91

Esta teoria é referida no artigo 50 do Código Civil de 2002, que dispõe o

seguinte:

Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio definalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimentoda parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejamestendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoajurídica.

Após a revisão pela qual passou o Código Civil, observa-se que o fundamento

principal da desconsideração da personalidade jurídica, no Direito Civil, não foi

modificado, eis que a aplicação do referido dispositivo legal não leva à extinção da

pessoa jurídica, mas estendendo as conseqüências de certas obrigações aos sócios e

administradores, de forma a ocorrer somente uma suspensão episódica da autonomia

da pessoa jurídica.92

O artigo 50 do Código Civil “reflete com fidelidade e precisão o espírito da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica.”93

Restou estabelecido no artigo 50 do Código Civil que a desconsideração da

personalidade jurídica se efetiva somente de forma episódica e com relação a certas

91 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 152.92 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 263.93 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 146.

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obrigações, sem que haja a extinção da sociedade. O objetivo de tal previsão é a

coibição daqueles atos responsáveis pelo desvirtuamento da finalidade da pessoa

jurídica, deixando que os demais negócios e atos tenham seu desenvolvimento natural.

Isso ocorre pelo fato de que a finalidade maior para a aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica situa-se no ressarcimento dos prejuízos

sofridos pelo jurisdicionado, sendo que a extinção da pessoa jurídica em nada

contribuiria para o alcance de tal objetivo.94

O artigo 50 do Código Civil, portanto, apesar de não fazer referência explícita

à teoria da desconsideração da personalidade jurídica, foi capaz de consagrá-la, de

acordo com seus princípios basilares. Os casos de aplicação do dispositivo foram

ampliados e o conceito de abuso de personalidade foi esboçado de acordo com as

concepções de desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Dessa forma, tanto o

desvio de finalidade stricto sensu, quanto a confusão patrimonial dão ensejo à

aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. A finalidade a qual o

artigo em análise faz referência não é relativa somente àquela existente nos estatutos

sociais, mas também aos objetivos sociais da pessoa jurídica que determinam a própria

personalização desta. E este fim social encontra disposto nos artigos 5º, XXIII e 170,

III da Constituição Federal (função social da propriedade).95

94 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 272.95 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 271-272.

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A previsão do desvio de finalidade e da confusão patrimonial facilitaram a

demonstração das hipóteses autorizadoras da aplicação da desconsideração da pessoa

jurídica pela parte interessada.96

3.6.4 No Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho, que possui o pro operário como um dos princípios

fundamentais, com o objetivo de compensar a inferioridade econômica do trabalhador

através da concessão da superioridade jurídica, não poderia afastar a aplicação da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica, de modo a permitir a indevida

utilização da personalidade jurídica por empresas que se agrupam com o intuito de

prejudicar os direitos de seus empregados.97

O Direito do Trabalho não possui norma específica que estabeleça a aplicação

da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Parte da doutrina expõe que a

referida teoria é aplicada no ramo trabalhista tendo em vista o disposto no artigo 2º, §

2º da Consolidação das Leis do Trabalho.

Há, também, previsão da teoria da desconsideração da personalidade jurídica

no artigo 3º, §2º da Lei nº 5889/1973, que estatui normas reguladoras do trabalho

rural.

96 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 146.97 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 166.

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Feita esta exposição, no capítulo seguinte será analisada, mais detalhadamente,

a aplicabilidade do instituto da desconsideração da personalidade jurídica no Direito

do Trabalho.

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4 A PREVISÃO E A APLICAÇÃO DO INSTUTO DA DESCONSIDE RAÇÃO

DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO DIREITO DO TRABALHO

4.1 PREVISÃO NA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO E A

NATUREZA PROTECIONISTA DO DIREITO DO TRABALHO

Os direitos dos trabalhadores, previstos e garantidos no artigo 7º da

Constituição Federal, jamais podem ser prejudicados pela blindagem patrimonial que

decorre da personificação das sociedades comerciais, mesmo porque o empregador,

seja ele pessoa física ou jurídica, apenas alcança seu êxito negocial através do trabalho

desenvolvido pelo empregado, que deve receber uma contraprestação denominada

salário.98

O Direito do Trabalho carece de regra específica que autorize a utilização da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Entretanto, o parágrafo único do

artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho permite que as normas de direito

comum sejam aplicadas subsidiariamente ao Direito do Trabalho desde que presentes

dois requisitos: inexistência de norma específica e harmoniosidade com os princípios

trabalhistas.99

Conforme exposto, inexiste norma específica a respeito da aplicação da teoria

da desconsideração da personalidade jurídica no Direito do Trabalho, restando,

98 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 136.

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portanto, preenchido o primeiro requisito. Além disso, o Direito Trabalhista é

orientado, fundamentalmente, através do princípio da tutela do trabalhador. Dessa

forma, a possibilidade de os bens dos sócios da empresa serem atingidos alarga as

garantias de recebimento do crédito trabalhista, sendo, consequentemente, tal

possibilidade benéfica ao trabalhador. Ademais, a aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica encontra respaldo no princípio da

alteridade, segundo o qual os riscos da atividade desenvolvida devem ser arcados pelas

pessoas que auferem os lucros desta, sendo vedada a transferência de tal risco ao

trabalhador.100

Os referidos pressupostos e princípios justificam a aplicação subsidiária do

direito comum ao Direito do Trabalho no que diz respeito à teoria da desconsideração

da personalidade jurídica. Dentro desta aplicação subsidiária, encontram-se dois

diplomas legais que podem ser utilizados: o Código Civil ou o Código de Defesa do

Consumidor.101

Carina Rodrigues Bicalho, Procuradora do Ministério Público do Trabalho,

defende que a melhor aplicação ao Direito Trabalhista, é a do Código de Defesa do

Consumidor, pois ele

(...) estabelece norma de tutela ao hipossuficiente assemelhando-se aoobjetivo de tutela do direito do trabalho essa similitude de finalidade tutelar

99 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 41.100 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 42.101 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 42.

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das normas do consumidor e trabalhistas justifica a aplicação danormatização mais ampla do direito do consumidor em detrimento doCódigo Civil, que apresenta hipóteses mais restritas da teoria em exame,posto que assegurará garantia mais ampla aos créditos trabalhistas. Osprincípios juslaborais chamam à aplicação, pois, o § 5º do art. 28 do CDC e,sendo este uma cláusula aberta, permite seja preenchido pelos princípios evalores da sociedade no momento de sua aplicação. (...) o direito do trabalhopode e deve atribuir aspectos peculiares aos institutos que utiliza dos outrosramos da ciência do direito, em razão da natureza do crédito que é fadado adefender. Por isto, frise-se, para o direito do trabalho, em razão do princípiosque o informam, a norma aberta do § 5º do art. 28 do CDC deve serinterpretada tal como está redigida: sempre que a autonomia patrimonial forobstáculo à satisfação do crédito trabalhista está autorizada adesconsideração da personalidade jurídica.102

Conforme afirmado no capítulo anterior, parte da doutrina expõe que a teoria

da desconsideração da personalidade jurídica é aplicada no ramo trabalhista tendo em

vista o disposto no artigo 2º, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, que

estabelece o seguinte:

Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ouadministração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou dequalquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação deemprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma dassubordinadas.

A Consolidação das Leis do Trabalho, através do referido dispositivo legal, ao

considerar como uma única entidade econômica a junção de empresas sob a mesma

administração, está permitindo o emprego da teoria da desconsideração da

102 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 42-44.

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personalidade jurídica, pois ignora e adentra o véu que encobre a individualização de

tais empresas.103

A determinação do parágrafo 2º do artigo 2º da Consolidação das Leis do

Trabalho decorre dos princípios informadores do Direito do Trabalho, “que

consideram o trabalhador, e com razão, sempre a parte hipossuficiente na relação

jurídica entre empregador-empregado.”104

Além disso, no Direito do Trabalho, tanto o abuso e a fraude à lei quanto a

mera probabilidade de dano à satisfação plena dos direitos dos trabalhadores acarretam

a desconsideração da personalidade jurídica, posto que obstáculo algum é admitido

perante o cumprimento dos direitos dos empregados.105

Portanto, a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica

no Direito do Trabalho objetiva proibir que a personalidade jurídica da empresa

contratante seja utilizada de forma abusiva para disfarçar a verdadeira vinculação do

empregado com o grupo de empresas.106

Osmar Vieira da Silva afirma que na verdade, o dispositivo em comento não

retrata um caso de desconsideração da personalidade jurídica, mas sim um “exemplo

clássico de responsabilidade solidária, em que pese a teoria também pode ser aplicada

no Direito do Trabalho pelos seus próprios e peculiares fundamentos.”107 A

solidariedade entre empresas tem o objetivo de resguardar o empregado de arquear

103 GARCIA, Gabriela Helou. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. In.:Revistas Unifacs – Revista do Curso de Direito da Unifacs ISSN 1808-4435, v. 102, 2008.104 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 135.105 GARCIA, Gabriela Helou. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. In.:Revistas Unifacs – Revista do Curso de Direito da Unifacs ISSN 1808-4435, v. 102, 2008.106 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 170.

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com a casual insolvência do seu empregador original, arcando a empresa controladora

ou controlada com todos as obrigações da empresa insolvente, independentemente de a

insolvência ser ocasionada por fraude ou não.108

Dessa forma, como a unidade de interesses e a desconfiguração da

independência do grupo de empresas pode ostentar diferentes formas, caberá ao

julgador, por meio da análise dos fatos, fazer a aplicação do referido dispositivo

legal.109

Justamente no sentido de traçar a limitação da responsabilidade, recentemente

o TST editou a Orientação Jurisprudencial 411 (26/10/2010) que considera inexistente

a responsabilidade solidária do sucessor pelos débitos trabalhistas de empresa

pertencente a grupo econômico, mas não adquirida: 110

Sucessão Trabalhista. Aquisição de empresa pertencente a grupo econômico.Responsabilidade solidária do sucessor por débitos trabalhistas de empresanão adquirida. Inexistência. O sucessor não responde solidariamente pordébitos trabalhistas de empresa não adquirida, integrante do mesmo grupoeconômico da empresa sucedida, quando, à época, a empresa devedora erasolvente ou idônea economicamente, ressalvada a hipótese de má-fé oufraude na sucessão.

Talvez procurando garantir maior segurança jurídica às partes, evitando que

não ocorressem surpresas ou para impedir que fosse chamada à relação processual uma

empresa que não tivesse tomado parte nos atos praticados contrariamente ao

107 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 136.108 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 136.109 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 169.110 MARTINS, Melchíades Rodrigues, Armando Casimiro Costa e Irany Ferrari. CLT-LTR. São Paulo,LTR, 2011. p. 949.

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ordenamento jurídico, o Tribunal Superior do Trabalho havia editado a Súmula 205,

que estabelecia o seguinte:111

Grupo econômico. Solidariedade. O responsável solidário, integrante dogrupo econômico, que não participou da relação processual como reclamadoe que, portanto, não consta no título executivo judicial como devedor, nãopode ser sujeito passivo na execução.

A referida súmula mostrava-se de grande valia para todas aquelas empresas em

cuja reclamatória trabalhista não tivesse sido formada uma relação litisconsorcial

passiva quando da composição do título executivo judicial. Isso prejudicava a

aplicação do §2º do artigo 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, e servia até

mesmo de “paradigma para contestar a aplicação da teoria da desconsideração após a

fase cognitiva em todas as demais áreas do direito.” 112

Felizmente, a referida súmula foi cancelada e agora esta questão é decidida

levando-se em consideração tanto o disposto no artigo 422 do Código Civil, que

referendou o princípio da boa-fé nos contratos, quanto o artigo 50 do mesmo código,

que permite que o juiz intervenha no processo, mediante solicitação da parte ou do

Ministério Público, para que as conseqüências de determinadas obrigações alcancem

os bens particulares dos sócios da pessoa jurídica.

De qualquer forma, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica é

amplamente aplicada no Direito do Trabalho, sendo que a decorrência fundamental e

mais importante desta aplicação, é que a referida teoria seja interpretada e aplicada no

sentido de atender às suas finalidades, levando-se sempre em consideração seu campo

111 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 136-137.

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de atuação, qual seja, o do Direito do Trabalho, que procura resguardar direitos

específicos.113

4.2. RISCOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

O doutrinador João Casillo efetua uma observação interessante a respeito da

desconsideração da personalidade jurídica e os riscos da atividade econômica. Para o

referido autor, em certos casos, a insolvência da sociedade reclamada não provém de

ato fraudulento realizado com a finalidade de prejudicar os trabalhadores, mas sim do

próprio risco intrínseco à atividade comercial desenvolvida, não havendo necessidade

de se falar em desconsideração da personalidade jurídica.114

Dessa forma, em algumas situações o que ocorre não são casos de

desconsideração da personalidade jurídica, mas sim uma interpretação que qualifica o

crédito trabalhista como um tipo especial, privilegiado, em relação aos demais.115

Assim, faz-se necessária muita cautela na aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica, para que sua utilização não comprometa a

atividade comercial desenvolvida, que se sustenta no empreendedorismo efetivado

112 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 137.113 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 168.114 CASILLO, João. Desconsideração da pessoa jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 528, ou.1979, p. 24-41. In: SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectosprocessuais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 135.115 SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Riode Janeiro: Renovar, 2002. p. 135.

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através da formação de sociedades limitadas e anônimas, as mais utilizadas no

Brasil.116

Oportuno mencionar o entendimento do Professor Marlon Tomazette, para

quem o artigo 2º, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho não trata de

desconsideração da personalidade jurídica, mas sim de solidariedade. Afirma o

Professor que o referido dispositivo excepciona a autonomia advinda da constituição

de grupos empresariais, de forma a determinar a solidariedade das diversas empresas

que fazem parte do grupo, sem mencionar a respeito do abuso ou da fraude.117

Dessa forma, na hipótese avençada no referido artigo, não se discute a

utilização da pessoa jurídica, mas se resguarda, de forma direta, o empregado,

assegurando-lhe uma responsabilidade solidária das várias empresas que fazem parte

do grupo, independentemente de fraude ou abuso. A personalidade jurídica não é

eliminada nem mesmo momentaneamente, apenas são estendidos os riscos da

atividade econômica.118

Entretanto, não obstante às opiniões expostas, em nenhum momento os riscos

da atividade comercial podem incidir sobre os empregados, devendo permanecer

unicamente a cargo do empresário, que por sua natureza, é quem objetiva o lucro e se

beneficia da força de trabalho proporcionada pela mão-de-obra do trabalhador

116 ARAUJO, Juliana Cristina Busnardo Augusto de. A desconsideração da personalidade jurídica: apolêmica sobre a necessidade da prova. In.: âmbito JurídicoI, Rio Grande, n. 81, 2010. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8484.Acessado em 1 jul. 2011.117 TOMAZETTE, Marlon. Desconsideração da personalidade jurídica no Código Civil. In: ÂmbitoJurídico, Rio Grande, 27, 31/03/2006. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1032> Acessado em 29 jun.2011.118 TOMAZETTE, Marlon. Desconsideração da personalidade jurídica no Código Civil. In: ÂmbitoJurídico, Rio Grande, 27, 31/03/2006. Disponível em: <http://www.ambito-

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contratado. Neste sentido, destaca-se a seguinte decisão do Tribunal Regional do

Trabalho da 15ª Região:

PENHORA SOBRE BENS DE SÓCIO - DESCONSIDERAÇÃO DAPERSONALIDADE JURÍDICA. Esgotadas as possibilidades de localizaçãode bens em nome da pessoa jurídica, a penhora recai sobre os bens dossócios, porquanto o direito do trabalho, regido pela filosofia de proteção aohipossuficiente, não permite que os riscos da atividade econômica sejamtransferidos para o empregado. Justifica-se esse procedimento pelofenômeno da desconsideração da pessoa jurídica, nos casos em que aempresa não oferece condições de solvabilidade de seus compromissos,permitindo que o sócio seja responsabilizado pela satisfação dos débitos,tendo em vista as obrigações pessoalmente assumidas em nome dasociedade, posto ter sido este quem auferiu real proveito. (TRT 15ª Região,Agravo de Petição, Acórdão nº 0044087-2004, Rel. Nildemar da SilvaRamos, Publicação: 19/11/2004).

Assim, na relação entre empregado (hipossuficiente) e empregador (detentor

do poder econômico), é insuficiente uma contraprestação pecuniária em troca de mão-

de-obra, pois a responsabilidade sobre o negócio deve cair, de forma exclusiva, sobre o

empreendedor. Portanto, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica pode

ser aplicada, sim, com base nos riscos da exploração de determinada atividade

econômica, apresentando-se como mais uma garantia para a parte hipossuficiente da

relação trabalhista, pois o empregador deve sempre responder pelos riscos da atividade

econômica que escolhe desenvolver 119

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1032> Acessado em 29 jun.2011.119 CALIENDO, Paulo; ANDRADE, Fabio Siebeneichler de. A aplicação do instituto dadesconsideração da personalidade jurídica no direito do trabalho. In.: _____. Série pensando o direito:desconsideração da personalidade jurídica, n. 29, 2010. p. 41.

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4.3 ASPECTOS PROCESSUAIS DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA NO DIREITO DO TRABALHO

No Direito Processual do Trabalho não existem regras específicas no que diz

respeito ao procedimento de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica. Dessa forma, faz-se necessário tanto que o intérprete da norma processual

trabalhista, à luz dos princípios que a sustentam, proponha soluções120, e que o douto

saber do juiz do processo indique as regras adequadas que assegurem os direitos

fundamentais da pessoa jurídica e seus integrantes.121

Assim, Carina Rodrigues Bicalho ensina que, inicialmente, é necessário

verificar se o sócio possui legitimidade para ocupar o pólo passivo do processo de

conhecimento. Existe a possibilidade de a demanda, na aplicação da desconsideração

da personalidade jurídica, incidir diretamente sobre os direitos dos sócios, tornando-os,

consequentemente, titulares de interesses contrários à pretensão inicial, o que lhes

confere legitimidade para a causa oportunizando-lhes desde logo o contraditório e a

ampla defesa. Se os sócios participarem do processo de conhecimento, constarão no

título judicial como devedores passivos subsidiários, sendo que o artigo 596 do Código

de Processo Civil expressamente afere-lhes o benefício de ordem.122

José Luiz Souto Maior afirma que a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica no processo do trabalho não pode sofrer influência das regras

120 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 44.121 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 19. ed. Rio de Janeiro:Lúmen Júris, 2008. p. 908.

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inerentes ao Direito Comercial com relação à limitação da responsabilidade. A

possibilidade de alcance dos bens dos sócios não modifica a legitimidade passiva da

execução, que continua sendo a pessoa jurídica e não o sócio cujos bens foram

limitados para assegurar a execução do débito contraído pela pessoa jurídica. Dessa

forma, conforme o referido autor, diz-se que o sócio não configura como sujeito

passivo da obrigação, somente os seus bens é que podem ser alcançados pelo

descumprimento da obrigação assumida pela pessoa jurídica.123

A responsabilidade subsidiária configura-se com a formação do grupo de

empresas, que decorre de convenção em que diversas sociedades, devendo uma dela

assumir o controle, comprometem-se a unir recursos e esforços com a finalidade de

alcançar certos objetivos, podendo esta convenção, inclusive, subordinar o interesse de

uma sociedade ao interesse da outra ou ao interesse do grupo. A responsabilidade

subsidiária, portanto, contém a ideia de reforço.124

Em decorrência da responsabilidade subsidiária, o trabalhador necessita

obedecer a uma ordem de preferência para demandar que a obrigação seja cumprida.

Faz-se extremamente importante evidenciar a inadimplência do devedor principal para

tornar legítima a exigibilidade em relação ao devedor subsidiário, sendo que a este

devedor subsidiário a legislação faculta seja evocado o benefício de ordem, de forma a

122 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 44.123 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Teoria geral da execução forçada. In.: NORRIS, Roberto [coord.].Execução trabalista: visão atual. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 47.124 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 181.

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nomear os bens sociais que se encontrarem livres e desimpedidos tantos quantos sejam

necessários para satisfazer o débito na mesma comarca.125

Dessa forma, o sócio da pessoa jurídica empregadora configura parte legítima

para atuar no pólo passivo da demanda de conhecimento, respondendo de forma

subsidiária quando a personalidade jurídica se apresentar como obstáculo à satisfação

do crédito advindo da relação de trabalho. Porém, a responsabilidade executória dos

bens do sócio, no processo trabalhista, por meio de penhora imediata no processo de

execução, com fundamento no inciso II do artigo 592 do Código de Processo Civil,

combinado com o parágrafo § 5º do artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor,

mostra-se completamente possível, e não depende da participação deste sócio no

processo cognitivo.126

Os devedores subsidiários necessitam ser corretamente identificados para que

possam ser acionados caso o devedor principal não honre com sua obrigação. Dessa

forma, os devedores subsidiários sucedem o devedor principal no ressarcimento dos

prejuízos sofridos pelo trabalhador. Importante ressaltar que o devedor principal figura

como originário, devendo ser cobrado primeiro e, apenas se ele não cumprir com suas

obrigações é que deverá ser estabelecida a relação jurídico-processual contra o

devedor subsidiário, que figurará como legitimado passivo.127

125 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 45.126 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 46.127 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 181.

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Com relação ao instrumento processual de defesa do sócio no momento da

execução, há que se analisar se o sócio participou, ou não, como parte no processo de

conhecimento. A qualidade de parte é adquirida através da demanda, depois de

ocorrida a citação válida, através da sucessão e através da intervenção voluntária. Caso

o sócio não tenha feito parte do processo de conhecimento e não sendo necessária sua

inserção no pólo passivo da execução, já que configura como responsável secundário,

não adquire a característica de parte. Consequentemente, o instrumento processual

apropriado para se discutir a respeito da penhora de bens decorrentes de débitos sociais

são os embargos de terceiro, através dos quais é possível aventar a respeito das

seguintes questões: qualidade de sócio, natureza da responsabilidade, eventual retirada

da sociedade, etc. Entretanto, caso o sócio tenha feito parte do processo de

conhecimento ou tenha sido citado para figurar no pólo passivo da execução antes de

ocorrer a penhora de seus bens, adquirirá, por meio da citação válida, a qualidade de

parte, sendo idônea, neste caso, a interposição de embargos do devedor.128

4.3.1 Momento adequado de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica

128 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 53.

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Apesar de toda a fundamentação apresentada, fornecida pelo ordenamento

jurídico pátrio, ainda restam diversas dúvidas a respeito do momento processual

adequado para a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.129

Fábio Ulhoa Coelho defende que a desconsideração da personalidade jurídica

não pode ser decidida pelo magistrado através de simples despacho proferido em

processo de execução. Afirma o referido autor, que na desconsideração da

personalidade jurídica é necessário ocorrer uma dilação probatória através de

adequado meio processual.130

Osmar Vieira Silva afirma que a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica prescinde de sentença judicial condenatória, determinada no

processo cognitivo, no qual o sócio ou o administrador da sociedade configure como

parte ou litisconsorte.131

Gilberto Gomes Bruschi é de opinião de que a aplicação da desconsideração

da personalidade jurídica deve ocorrer no processo de execução, sem que seja

necessária a interposição de outra ação para atingir esta finalidade específica.132

Entretanto, os tribunais pátrios vêm decidindo, de forma majoritária, no

sentido de que não há necessidade de intentar processo autônomo de conhecimento

129 REIS, Eliete das Neves. Momento processual da desconsideração da personalidade jurídica dapessoa jurídica. In.: Buscalegis. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewPDFInterstitial/24809/24372>Acessado em 22 jun. 2011.130 COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Comercial. v. 2. São Paulo: Saraiva, 1999. p.55.131 SILVA, Osmar Vieira. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. Rio deJaneiro: Renovar, 2002. p. 204.132 BRUSCHI, Gilberto Gomes. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica.São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. p. 91.

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para ver decretada a desconsideração da personalidade jurídica, aceitando que ela

ocorra de forma incidental no bojo da execução.133

O Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Castro Filho, no julgamento do

Recurso Especial nº 228357/SP, já reconheceu a desnecessidade de se interpor ação

específica para obter a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica:

Falência. Extensão dos seus efeitos às empresas coligadas. Teoria dadesconsideração da personalidade jurídica. Possibilidade. Requerimento.Síndico. Desnecessidade. Ação autônoma. Precedentes da segunda seçãodesta corte. I - O síndico da massa falida, respaldado pela Lei de Falências epela Lei n.º 6.024/74, pode pedir ao juiz, com base na teoria dadesconsideração da personalidade jurídica, que estenda os efeitos da falênciaàs sociedades do mesmo grupo, sempre que houver evidências de suautilização com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros. II -A providência prescinde de ação autônoma. Verificados os pressupostos eafastada a personificação societária, os terceiros alcançados poderãointerpor, perante o juízo falimentar, todos os recursos cabíveis na defesa deseus direitos e interesses. Recurso especial provido. (STJ, REsp nº228357/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Castro Filho, Julgamento:09/12/2003, Publicação: DJ 02/02/2004, p. 332) (grifos nossos)

Neste mesmo sentido também já havia decidido a Ministra do Superior Tribunal

de Justiça, Nancy Andrighi, ao julgar, em 2002, o Recurso Especial nº 332763/SP:

(...) A aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídicadispensa a propositura de ação autônoma para tal. Verificados ospressupostos de sua incidência, poderá o Juiz, incidentemente no próprioprocesso de execução (singular ou coletiva), levantar o véu da personalidadejurídica para que o ato de expropriação atinja terceiros envolvidos, de formaa impedir a concretização de fraude à lei ou contra terceiros. (STJ, REsp nº332763/SP, Terceira Turma, Rel Min. Nancy Andrighi, Julgamento:30/04/2002, Publicação: DJ 24/06/2002, p. 297).

No referido acórdão, a ilustre relatora Ministra Nancy Andrighi afirma que

133 GARCIA, Gabriela Helou. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. In.:

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Primeiro, deve-se observar que a aplicação da teoria da desconsideração dapersonalidade jurídica dispensa a propositura de ação autônoma para tal.Este entendimento exsurge da própria lógica conceitual inerente àformulação da Doctrine of Disregard of Legal Entity. Verificados ospressupostos de sua incidência (uso abusivo da personificação societária parafraudar a lei ou prejudicar terceiros, (...) poderá o Juiz, incidentemente nopróprio processo de execução (singular ou coletiva, como in casu), levantaro véu da personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja os bensdos demais sujeitos de direito envolvidos.

Dessa forma, via de regra, não é exigida a interposição de ação de

conhecimento com fim específico para requerer a aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica, desde que respeitados os princípios

constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. Apesar

disso, o Tribunal Superior do Trabalho não possui entendimento uniforme a respeito

do momento de aplicação da teoria, conforme se observa dos seguintes julgados:134

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO.TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.A teoria da desconsideração da personalidade jurídica tem aplicação noDireito do Trabalho sempre que não houver patrimônio da sociedade,quando ocorrer dissolução ou extinção irregular ou quando os bens nãoforem localizados, respondendo os sócios de forma pessoal e ilimitada, afim de que não se frustre a aplicação da lei e os efeitos do comandojudicial executório. Por outro lado, para que o reclamado se beneficiasse dodisposto no art. 10 do Decreto 3.708/19, era necessário que comprovasse queo outro sócio excedeu do mandato ou que praticou atos com violação decontrato ou da lei, o que não é o caso. Agravo de Instrumento a que se negaprovimento. (TST, Agravo de Instrumento em Recurso de Revista nª 22289-2002-900-09-00, Quinta Turma, Publicação: DJ 14/11/2003) (grifos nossos)

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – SÓCIO COTISTA - TEORIA DADESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA - ENCERRAMENTODAS ATIVIDADES DA SOCIEDADE SEM QUITAÇÃO DO PASSIVOLABORAL. Em sede de Direito do Trabalho, em que créditos trabalhistasnão podem ficar a descoberto, vem-se abrindo uma exceção ao princípio da

Revistas Unifacs – Revista do Curso de Direito da Unifacs ISSN 1808-4435, v. 102, 2008.134 GÓIS, Jean-Claude Berttrand de. Perfil evolutivo da desconsideração da personalidade jurídica noBrasil. In.: Revista da Esmese, n. 11,p. 87-101. 2008. p. 95.

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responsabilidade limitada do sócio, ao se aplicar a teoria da desconsideraçãoda personalidade jurídica (“disregard of legal entity”) para que o empregadopossa, verificando a insuficiência do patrimônio societário, sujeitar àexecução os bens dos sócios individualmente considerados, porém solidáriae ilimitadamente, até o pagamento integral dos créditos dos empregados,visando impedir a consumação de fraudes e abusos de direito cometidos pelasociedade. (TST, 545348-1999, Rel. Min. Ronaldo José Lopes Leal,Publicação: 27/03/2001) (grifos nossos)

Não viola os incisos II, XXXV, XXXVI, LIV e LVII do art. 5º daConstituição Federal a decisão que desconsidera a personalidade jurídica desociedade por cotas de responsabilidade limitada, ao constatar a insuficiênciado patrimônio societário e, concomitantemente, a dissolução irregular dasociedade, decorrente de o sócio afastar-se apenas formalmente do quadrosocietário, no afã de eximir-se do pagamento de débitos. A responsabilidadepatrimonial da sociedade pelas dívidas trabalhistas que contrair não exclui,excepcionalmente, a responsabilidade patrimonial pessoal do sócio, solidáriae ilimitadamente, por dívida da sociedade, em caso de violação à lei, fraude,falência, estado de insolvência ou, ainda, encerramento ou inatividade dapessoa jurídica provocados por má administração. Incidência do art. 592, II,do CPC, conjugado com o art. 10 do Decreto nº 3.7008, de 1919, bem assimo art. 28 da Lei nº 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor). (TST,727179-2001, Rel. Min. João Oreste Dalazen, Publicação: 13/11/2001)

Vê-se que, embora não exista uniformidade de entendimento quanto ao

momento de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no

âmbito do Superior Tribunal do Trabalho, destacam-se os posicionamentos que

decidiram a respeito da desconsideração tanto em casos de dissolução irregular da

sociedade, quanto nos casos em que não são localizados bens suficientes para arcar

com a dívida.

4.3.2 Discricionariedade do Magistrado em relação à aplicação ou não da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica

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A discricionariedade confere ao aplicador da lei uma certa liberdade de opção

quanto à conveniência, oportunidade e conteúdo das decisões.135 A conveniência se

refere à conjectura que orienta o julgador; e a oportunidade diz respeito ao momento

em que a atividade do julgador deve ser produzida.136

Portanto, nas palavras de José dos Santos Carvalho Filho, o poder

discricionário configura uma “(...) prerrogativa concedida aos agentes administrativos

de elegerem, entre as várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e

oportunidade para o interesse público.”137

Apesar de o poder discricionário permitir ao agente uma determinada margem

de escolha, esta não pode infringir as normas que regulamentam a matéria, muito

menos relegar ao descaso o bem social.138

Discricionariedade é diferente de arbitrariedade. Dentro da legalidade, o ato

discricionário não é arbitrário e nem ilimitado. O poder discricionário confere uma

margem de apreciação subjetiva ao magistrado. Entretanto, todos os magistrados estão

submetidos ao princípio da legalidade. Dessa forma, mesmo que o ato discricionário

envolva uma análise subjetiva, ele deve obedecer aos limites legais.139

Portanto, mesmo que a lei confira uma certa margem de escolha ao julgador,

este deverá sempre pautar-se na finalidade estabelecida pela lei. Assim, a

135 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 35. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.p. 120.136 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 8. ed. rev., ampl. e atual.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 34.137 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 8. ed. rev., ampl. e atual.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 33 – 34.138 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 249.

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desconsideração da personalidade jurídica deve ser aplicada tendo em vista esta

finalidade.

Este é o ensinamento da jurista Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas:

(...) para se responder ao questionamento acerca da possibilidade ou não de omagistrado deixar de desconsiderar a personalidade jurídica, mesmo estandopresentes e provados pela parte interessada todos os pressupostos legais, faz-se necessário recorrer à lei. Dessa forma, será nos Códigos de Defesa doConsumidor e de Processo Civil (...) que as respostas serão encontradas.140

Dessa forma, o juiz, como órgão integrante do Poder Judiciário, não pode

fazer uso de sua discricionariedade (oportunidade e conveniência) para empregar a

desconsideração da personalidade jurídica, pois existem critérios legais e subjetivos

que necessitam ser observados. Dentro do processo, o magistrado não atua por meio de

sua conveniência e oportunidade. Ele atua em conformidade com a lei, e a ele é

assegurado realizar aquilo o que a lei determina. Portanto, somente quando restarem

verificados as condição previstas na lei é que o juiz tem a obrigação, e não o poder, de

utilizar a desconsideração da personalidade jurídica.141

Neste mesmo sentido afirma o doutrinador Luiz Antonio Rizzatto Nunes:

No processo civil, como é sabido, o juiz não age com discricionariedade(que é medida pela conveniência e oportunidade da decisão). Age sempredentro da estrita legalidade, fundando suas decisões em bases objetivas (...)

139 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 249-250.140 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 250.141 OLIVEIRA, Miguel Augusto Machado de. A descosideração da personalidade jurídica. São Paulo,2004. Disponível em: < http://www.mog.adv.br/artigo.php?artigo_id=3> Acessado em: 30 jun. 2011.

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Logo, o juiz não tem o poder, mas o dever de desconsiderar a personalidadejurídica sempre que estiverem presentes os requisitos legais.142

Portanto, é uma obrigação do magistrado determinar a desconsideração da

personalidade jurídica se todos os requisitos legais restarem preenchidos no caso

concreto.

4.3.3 Elementos de prova

A atividade do magistrado compreende a análise das provas e o julgamento da

ação com o objetivo de entendê-la procedente ou improcedente, de forma a aplicar o

direito ao caso concreto.143

O Código de Processo Civil estabelece, em relação à repartição do ônus da

prova conforme a natureza dos fatos, que cabe ao autor o ônus de provar os fatos

constitutivos de seu direito, e ao réu o ônus de provar os fatos extintivos, modificativos

e impeditivos do direito do autor.144

Com relação à necessidade ou não da prova para a desconsideração da

personalidade jurídica, Superior Tribunal de Justiça possui um acórdão paradigma.145

Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. ShoppingCenter de Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais.

142 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. SãoPaulo: Saraiva, 2005. p. 353.143 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 250.144 FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica:análise à luz do código de defesa do consumidor e do novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p. 258.145 ARAUJO, Juliana Cristina Busnardo Augusto de. A desconsideração da personalidade jurídica: apolêmica sobre a necessidade da prova. In.: âmbito JurídicoI, Rio Grande, n. 81, 2010. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8484.Acessado em 1 jul. 2011.

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Ministério Público. Legitimidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração.Teoria maior e teoria menor. Limite de responsabilização dos sócios. Códigode Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao ressarcimento deprejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º. - Considerada a proteçãodo consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incumbindo aoMinistério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dosinteresses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministeriallegitimidade para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos deconsumidores, decorrentes de origem comum. - A teoria maior dadesconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode seraplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente parao cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova deinsolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva dadesconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoriaobjetiva da desconsideração). - A teoria menor da desconsideração, acolhidaem nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidore no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoajurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente daexistência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. - Para a teoriamenor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode sersuportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelossócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem condutaadministrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz deidentificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ouadministradores da pessoa jurídica. - A aplicação da teoria menor dadesconsideração às relações de consumo está calcada na exegese autônomado § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não sesubordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigoindicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica,obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. -Recursos especiais não conhecidos. (STJ, Recurso Especial nº 279.273-SP,Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgamento: 04.12.2003,Publicação: DJ 29.03.2004)

Neste Acórdão, a Ministra Nancy Andrighi refere-se às teorias maior e menor

da desconsideração da personalidade jurídica.

Através da teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, o

afastamento momentâneo da personalidade jurídica e da autonomia patrimonial das

pessoas jurídicas depende da comprobação da manipulação abusiva ou fraudulenta da

pessoa jurídica por parte de seus sócios. Dessa forma, o magistrado apenas pode

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utilizar a teoria da desconsideração da personalidade jurídica se esta personalidade for

utilizada de maneira indevida.146

Portanto, de acordo com o entendimento da ilustre Ministra, a teoria maior da

desconsideração da personalidade jurídica não pode ser utilizada perante a simples

demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente. É exigido, além disso, a prova do

desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.147

De acordo com a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica, o

fundamento da desconsideração situa-se no simples desatendimento de crédito

constituído diante da sociedade, em razão da insolvabilidade ou falência desta.148

Para que haja a incidência da teoria menor da desconsideração jurídica, é

suficiente provar que a pessoa jurídica está insolvente para arcar com o pagamento de

seus débitos, independentemente de existir desvio de finalidade ou confusão

patrimonial.149

Para a teoria menor, o risco empresarial inerente às atividades comerciais não

pode ser transferido para o terceiro contratado. O risco deve ser suportado pelos sócios

ou administradores da pessoa jurídica, mesmo que estes demonstrem conduta

administrativa honrada, ou seja, ainda que não haja existência de qualquer prova

146 SOUZA, Ludmilla Ferreira Mendes de. Aplicação da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no Direito do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2731, 23 dez. 2010. Disponívelem: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/18099>. Acesso em: 2 jul. 2011.147 STJ, Recurso Especial nº 279.273-SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgamento:04.12.2003, Publicação: DJ 29.03.2004148 SOUZA, Ludmilla Ferreira Mendes de. Aplicação da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no Direito do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2731, 23 dez. 2010. Disponívelem: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/18099>. Acesso em: 2 jul. 2011.149 STJ, Recurso Especial nº 279.273-SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgamento:04.12.2003, Publicação: DJ 29.03.2004

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idônea a identificar uma atitude culposa ou dolosa dos sócios ou administradores da

pessoa jurídica.150

Dessa forma, se a pessoa jurídica não tiver patrimônio para honrar suas

obrigações, mas seus os sócios os possuírem, estes devem, independentemente de

abuso ou fraude, arcar com a responsabilidade dos débitos sociais. Nessa hipótese, o

único requisito para que deve se fazer presente para utilizar a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica é de que o direito creditício oponível à

sociedade tenha uma natureza negocial.151

4.4 LIMITES DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS E ADMINISTRADORES

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica consente que seja

relativizada a autonomia patrimonial conferida pelo direito aos sócios e à sociedade.

Concretizada a desconsideração da personalidade jurídica, são expostos os bens de

todos os sócios, sendo que o credor trabalhista pode acionar qualquer um deles de

forma indistinta.152

Para Carina Rodrigues Bicalho, o proveito econômico do trabalho é um valor

que serve de limite à extensa responsabilidade executória advinda da aplicação da

teoria da desconsideração da responsabilidade jurídica. Dessa forma, são atingidos os

bens dos sócios que se beneficiaram tanto direta quanto indiretamente do trabalho do

150 STJ, Recurso Especial nº 279.273-SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Julgamento:04.12.2003, Publicação: DJ 29.03.2004151 SOUZA, Ludmilla Ferreira Mendes de. Aplicação da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no Direito do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2731, 23 dez. 2010. Disponívelem: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/18099>. Acesso em: 2 jul. 2011.

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exeqüente. Levando isso em consideração, via de regra, são responsáveis todos aqueles

que configuravam como sócios à época em que o trabalho foi prestado e, também, os

sócios que entraram na sociedade mesmo depois de rescindido o vínculo empregatício,

pois, estes, de forma indireta, receberam os benefícios do trabalho prestado para a

sociedade.153

A responsabilidade do sócio que se retira da sociedade será de dois anos,

contados a partir do dia em que ocorrer a averbação da alteração do contrato social.

Faz-se necessária a averbação para tornar o ato conhecido por terceiros. O sócio

retirante possui todos os seus direitos preservados, entretanto, no que diz respeito a

terceiros, não pode produzir efeitos se estes não tiverem conhecimento do ato, de

forma que o sócio retirante, juntamente com o novo sócio, deverá responder, de forma

solidária, pelas obrigações sociais.154

O sócio minoritário e o sócio que se retira da sociedade, caso responsabilizados

e prejudicados, devem entrar com ação de regresso contra os demais sócios.

O administrador não sócio permanecerá vinculado à sociedade por um prazo de

três anos, contados do dia em que for apresentado, aos sócios, “o balanço referente ao

exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral

152 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 50.153 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 50.154 NAHAS, Thereza Cristina. Desconsideração da personalidade jurídica: reflexos civis eempresariais nas relações de trabalho. São Paulo: Atlas, 2004. p. 184.

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que dela deva tomar conhecimento”, conforme dispõe o artigo 206, §3º, VII “b” do

Código Civil.155

Conforme afirmado no início desta pesquisa, nas sociedades limitadas todos os

sócios respondem com bens particulares, porém de forma subsidiária, pelas dívidas

trabalhistas da sociedade. A responsabilidade entre os sócios, por sua vez, é solidária.

Os créditos trabalhistas não se sujeitam à limitação através da qual a responsabilidade

dos sócios se encerra no limite do montante do capital social. E isto decorre da

incompatibilidade entre tal limitação e a natureza dos créditos trabalhistas, que não

podem ser prejudicados enquanto os sócios, que se beneficiaram da força do trabalho

dos empregados, livram seus bens da execução com a escusa legal de separação

patrimonial.156

No que diz respeito às sociedades anônimas, os responsáveis são os gestores.

Na execução trabalhista, a responsabilidade dos gestores configura-se pela satisfação

subsidiária das obrigações sociais. A ideia de responsabilização pessoal dos bens pelas

dívidas sociais estimula, de certa forma, os gestores a conduzirem com êxito sua

administração, de forma a evitar levar a sociedade à insolvência perante seus

empregados.157

A sociedade anônima admite um distanciamento do acionista, de forma que ele

acabe não fazendo parte dos órgãos da administração, dos rumos da sociedade. Tal

155 NAHAS, Thereza Cristina. Desconsideração da personalidade jurídica: reflexos civis eempresariais nas relações de trabalho. São Paulo: Atlas, 2004. p. 183.156 ROMITA, Arion Sayão. Revista LTr, v. 45, n. 9, p. 1041/1042. In.: BICALHO, Carina Rodrigues.Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho:aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. BeloHorizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 52.157 ROMITA, Arion Sayão. Revista LTr, v. 45, n. 9, p. 1041/1042. In.: BICALHO, Carina Rodrigues.Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho:

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afastamento explica porque os bens dos acionistas não são alcançados em razão da

desconsideração, de forma que a responsabilidade patrimonial fica limitada aos bens

dos gestores.158

aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. BeloHorizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 52.158 BICALHO, Carina Rodrigues. Aplicação sui generis da teoria da desconsideração da personalidadejurídica no processo do trabalho: aspectos materiais e processuais. In.: Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte, v. 39, n. 69, p. 37-55, jan./jun.2004. p. 52.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viu-se que as sociedades empresárias foram criadas com uma finalidade

negocial. E visando facilitar suas relações comerciais no âmbito social, esta ganhou

autonomia civil e patrimonial por meio da personalização. Desta forma, enquanto

pessoa jurídica, as sociedades empresárias adquiriram capacidade de contrair

obrigações e tornaram-se titular de direitos. O mais significativo avanço, no campo das

relações comerciais, foi a separação patrimonial do capital e bens da sociedade

empresária e de seus sócios, o que fomentou as relações comerciais na medida em que

tal distinção trouxe mais segurança jurídica e econômica aos sócios.

Entretanto, na prática, a autonomia patrimonial das sociedades empresárias foi

utilizada de forma desvirtuada no intuito de lesar credores ou terceiros. Para coibir

esta prática, foi criada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, por meio

da qual o Poder Judiciário pode ignorar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica

toda vez que ela for utilizada com objetivos fraudulentos. Esta manobra consente a

responsabilização direta, pessoal e ilimitada do sócio em relação a uma obrigação que,

inicialmente, caberia à sociedade.

Para ocorrer a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, é

necessário que haja a ocorrência de fraude na separação patrimonial ou abuso de

direito, ambos utilizados como artifícios com a finalidade de prejudicar terceiros.

A legislação pátria estabelece algumas disposições sobre o assunto, como na

Constituição Federal de 1988, no Código de Defesa do Consumidor, no Código Civil,

e no Direito do Trabalho.

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No Direito do Trabalho tanto o abuso e a fraude à lei quanto a mera

probabilidade de dano à satisfação plena dos direitos dos trabalhadores possibilitam a

aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, posto que obstáculo algum é

admitido perante o cumprimento dos direitos dos empregados, parte hipossuficiente da

relação trabalhista.

Neste aspecto, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica

representou uma importante conquista dentro da seara de direitos e garantias voltadas

ao trabalhador, na medida em que autoriza, de forma célere e eficaz, a busca da plena

satisfação dos créditos de natureza trabalhista, pois os direitos dos trabalhadores,

previstos e garantidos no artigo 7º da Constituição Federal, jamais podem ser inibidos

pela personificação das sociedades comerciais.

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