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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MARIANE FRANÇA PROTEÇÃO JURÍDICA DOS ANIMAIS CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MARIANE FRANÇA

PROTEÇÃO JURÍDICA DOS ANIMAIS

CURITIBA

2012

MARIANE FRANÇA

PROTEÇÃO JURÍDICA DOS ANIMAIS

Trabalho de Conclusão de Curso de Direito apresentado a Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Dr. Friedmann Wendpap

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

MARIANE FRANÇA

PROTEÇÃO JURÍDICA DOS ANIMAIS

Essa monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba,______de________________________________de 2012.

____________________________________________

Bacharelado em Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Professor Dr. Friedmann Wendpap

Universidade Tuiuti do Paraná

Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Faculdade de Ciências Jurídicas

Agradeço

Agradecer a Deus, pois forças teriam me faltado se não fosse minha fé e

sua presença constante em minha vida, não permitidindo que eu

desistisse.

Aos meus pais, Jalmir e Rosana, que com a paciência costumeira e todo

o apoio nas horas de dificuldade nessa caminhada longa mas vitoriosa.

Agradeço a minha pequena Isabella, que sem dúvida é um dos grandes

motivos para eu querer conquistar o que há de melhor.

Aos meus amigos irmãos, que foram compreensivos com algumas

ausencias e acreditaram que eu conseguiria ( Milena, Rafael, Danielle,

Pamela, Taline, Neto).

Aos que mesmo longe, sempre foram meu porto seguro, uma segunda mãe de

coração dada por Deus, querida Eliane e Luana.

Ao meu digníssimo orientador, que muito me ajudou com sua vasta àrea

de conhecimento e mesmo com toda a intelectualidade que possui,

conseguiu me passar informações de forma objetiva e didáticas .

"Nossa tarefa deveria ser nos

libertarmos ... aumentando o

nosso círculo de compaixão para

envolver todas as criaturas

viventes, toda a natureza e sua

beleza."

- Albert Einstein (fisico, Nobel

1921

Resumo

A Natureza, junto a todos os seus componentes, são protegidos pela

Constituição Federal, leis estaduais, decretos, entre outros meios de prevenção

e fiscalização. Ocorre que na prática, muita falha existe, resta saber se por

parte dos orgãos fiscalizadores ou pelas leis até então existentes.

A preocupação mundial sempre foi com os direitos humanos, portanto, tais

direitos estão muito bem assistidos, sendo agora, a hora certa de cuidar

daqueles seres que por certo, foram esquecidos até então, os seres que

julgamos inferiores por não raciocinar.

Sumário

1 I NTRODUÇÃO.........................................................................................5 Capitulo I 2 Animais como forma de subsistência humana..........................................6 2.1 Animais no ponto de vista religioso...........................................................7 2.1.1 Visão filosófico..........................................................................................9 2.1.2 Visão cientifico........................................................................................11 2.4 Antropocentrismo e biocentrismo(animais como sujeitos de direitos).....14 Capítulo II 3 Tratamento dos animais e movimentos em sua defesa..........................16 3.1 Discussões contemporâneas sobre o tratamento e uso de animais........18 3.1.1 A vivissecção...........................................................................................20 Capítulo III 4 Normas de Direito Internacional relativas à proteção dos animais..........22 4.1 Declaração Universal dos Direitos dos animais 1978.............................23 4.2 Legislação brasileira de proteção aos animais........................................25 4.3 Código Penal e Lei 9099/99....................................................................30 Capítulo IV 5 Que direitos?...........................................................................................31 6 CONCLUSÃO.........................................................................................35 REFERENCIA

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1 INTRODUÇÃO

Com a realização desse trabalho, visa-se atingir as pessoas com as quais

convivem com animais, as pessoas que gostam e as que não gostam, a

questão tratada pelo trabalho é sobre proteção jurídica dos animais. A

conscientização que os seres racionais devem ter em relação aos seres

irracionais.

Varias linhas de doutrinadores discutem á respeito da proteção dos animais,

entre tantas, destaca-se uma delas, a que afirma que os animais podem ser

tratados como sujeitos de direito, afirmando que a diferença entre seres

humanos e animais consiste na formação intelectual e cultural, mas que a

origem de ambos vem do mesmo lugar.

Tendencialmente o mundo moderno deixou um pouco de lado a importância

de preservar e cuidar não só da natureza, mas dos seres que nela habitam e

que são bases para sua manutenção, seres esses intitulados animais não

humanos.

Leis, convenções e decretos a respeito da proteção dos animais foram criados

e são constantemente debatidas, acontece que na pratica e na fiscalização,

panos quentes são jogados sobre questões relacionadas à proteção dos

biossistema.

No tocante a essa proteção supracitada, e a possibilidade de se aprofundar

nesse tema que seria as formas de proteger os animais dos próprios

encarregados de lhes protegerem, mas que muitas vezes não o fazem entre

outros assuntos referentes aos direitos dos animais, esse estudo será feito de

forma ampla, através de outros trabalhos (teses e artigos), de pesquisas em

sites confiáveis que falem com seriedade, por meio de autores conceituados da

atualidade, tais como a autora Danielle Tetu Rodrigues.

Os projetos de leis que surgem no Brasil todo e até mesmo os que são de

outros países, as leis especiais e a Constituição Federal, serão usados como

base para a elaboração e aperfeiçoamento do trabalho de conclusão de curso.

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2 Animais como forma de subsistência humana

O ser humano, desde os tempos primórdios, utilizava determinadas espécies

de animais, para sua subsistência, na principal forma de alimentos, tais como

aves e caças em que a carne os ajudava a sobreviver, fornecendo-lhe energia

e outras substancias que o corpo humano necessita, sendo a caça, uma das

primeiras formas de subsistência do homem.

Vindo, por conseguinte o animal sendo utilizado para locomoção, surgindo

após, quando o homem descobriu o poder de domesticar determinados

animais, tais como bois, cavalos, entre outros. A forma de comercialização dos

animais também merece destaque, junto a ela, vem à utilização dos mesmos

para utilidade própria.

Assim sendo, as espécies foram organizadas de forma hierárquicas, de forma

de vida, na qual o chamado homo sapiens, levou uma boa vantagem nessa

classificação, ocupando o posto mais alto da pirâmide hierárquica, em razão do

seu desenvolvimento mental e intelectual, de forma a se distinguir dos outros

animais não humanos.

Nos dias atuais, inadmissível seria pensar que não existe mais essa

correlação, pois em cidades do interior do país, as pessoas vivem através

daquilo que plantam e criam, e utilizam de animais para auxilio laboral e como

uma forma de locomoção e, até mesmo nas ruas movimentadas das grandes

capitais a presença de cavalos puxando carroças para que o dono do material

recolhido (lixo apto à reciclagem) tenha maior facilidade de se locomover e não

precise arcar com todo aquele peso, o x da questão, não é discutir se isso é

certo ou não, inevitavelmente o homem se favorecerá dos benefícios que os

animais podem lhe oferecer. O que importa no momento é, a forma como isso

é feito, se um cavalo ao puxar uma carroça para os carrinheiros, não está

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sofrendo maus tratos, se ainda tem disposição e idade hábil para tal função e

também se receber os tratamentos necessários e básicos, como alimentação,

descanso e água.

2.1 Visão Religiosa

A religião, em suas inúmeras vertentes, trazem diferenciados conceitos e

diferentes formar de ver os animais, umas pregam a sua insignificância perante

o ser humano, sendo meros instrumentos dado por Deus, para que o homem,

soberano na terra, se faça valer de suas utilidades, usando, para sacrifícios

(método pouco usado nos dias atuais), oferendas, etc.

“as religiões acompanhada dos pensadores embutiram a ideia de que a natureza e os animais deviam servir ao homem, a permitir-se a inserção do principio da exaustão, em que é normal explorar tudo até acabar, dai a habitual apropriação provada dos animais pelo homem. Para uso próprio ou para a comercialização.”

Um ponto de vista interessante, seria o dos indianos, que tratam a vaca por

exemplo, como um animal sagrado, ficando restrito a utilizarem de sua carne,

considerada um animal que os trazem o leite, uma das principais fontes de

vida.

O vegetarianismo tem sua origem na tradição filosófica indiana, que chega ao Ocidente na doutrina pitagórica. Nas raízes indianas e pitagóricas do vegetarianismo são ligadas a noção de pureza e contaminação, não correspondendo com a visão de respeito aos animais. Mahavira, fundador histórico do Jainismo, era vegetariano rigoroso, tal como os seus seguidores. Siddartha Gautama, o Buda, era vegetariano e não permita que os seus discípulos consumissem carne. Da mesma forma, Asoka, o imperador budista, recomendou o vegetarianismo e proibiu o sacrifício de animais.

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A igreja Católica trás consigo a ideia de que intercessores ajudam a cuidar de

certas causas, coisas, pessoas e até mesmo animais, um Santo que faz esse

“trabalho” é São Francisco de Assis:

Dia 4 de outubro é comemorado o dia de São Francisco de Assis, o protetor dos animais e padroeiro da ecologia. Nascido na Umbria (perto de Assis), Itália, em 1182, seu nome era Francisco Bernardone. Filho de um rico comerciante de tecidos teve uma adolescência fútil, porém, com o decorrer do tempo, foi sentindo desinteresse pela vida mundana. Ao longo dos séculos, São Francisco foi admirado por seu voto de pobreza, humildade, liberdade religiosa, além de grande bondade com todos os seres vivos, em especial os animais. Não existiu homem que fosse estranho ao seu coração: Leproso, bandoleiros, nobres ou plebeus; todos eram seus irmãos. Mas ainda, ninguém como ele irmanou-se de tanto com o universo: foi irmão do sol, da água, das estrelas e dos animais. Francisco de Assis foi canonizado em 1228 e seu culto é associado à “proteção dos animais”.

Para a religião Umbanda, a visão e ideia em relação à utilização de animais, é

que ao contrário do que se pensam os desconhecedores dessa doutrina

religiosa, pregam o amor universal e a prática da caridade, suas oferendas são

feitas de outras formas que não, envolvendo sacrifício de animais:

A Umbanda não recorre aos sacrifícios de animais para assentamentos vibratórios dos Orixás e nem realiza ritos de iniciação para fortalecer o tônus mediúnico com sangue. Não tem nessa prática legítima de outros cultos, um dos seus recursos de oferta às divindades. A fé é o principal fundamento religioso da Umbanda - assim como em outras religiões. Suas oferendas se diferenciam das demais por serem isentas de sacrifícios de animais pelo fato de preconizarem o amor universal e, acima de tudo, o exercício da caridade como reverência e troca energética junto aos Orixás e aos seus enviados, os guias espirituais. É incompatível ceifar uma vida e fazer a caridade, que é a essência do praticar amoroso que norteia a Umbanda do Espaço. Toda oferenda deve ser um mecanismo estimulador do respeito e união religiosa com o Divino, daí com os espíritos da natureza e dos animais - almas grupo-, que um dia encarnarão no ciclo nominal, assim como já fostes animal encarnado em outras épocas.

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2.2 Visão filosófica Faz jus, uma breve citação, da autora de um artigo, para Daniele Gomer:

“Ao longo da história, poucos foram os autores que enveredaram pelo campo de defesa aos animais, essa discussão, que é mais moral do que jurídica, ficou para os filósofos que muitos veem contribuindo para uma nova percepção do direito e do que é direito.”

Como toda faca possuem dois gumes, não seria diferente a forma de pensar,

dos grandes filosofas na historia do mundo, uns seguem uma vertente de

defesa dos animais, outros optaram pela ideia de hierarquia humana

indiscutível.

A questão começou a criar corpo, por volta do século XX, surgindo os

primeiros passos em relação aos direitos dos animais, mas já no século VI A.C,

alguns filósofos como Pitágoras, falava sobre o respeito empregado ou que

deveria ser empregado aos animais, o mesmo acreditava na “transmigração de

almas”.

Outro filosofo, foi Aristóteles, que no século IV A.C, usou o seguinte

argumento “os animais estavam distante dos humanos na grande corrente do

Ser ou escala natural. Pois predomina a irracionalidade, concluindo assim, que

os animais não teriam interesse próprio, existindo apenas para beneficio dos

seres humanos”. Ora, para os defensores dos animais, a mera irracionalidade

(comparada ao ser humano, tendo em vista estudos que comprovam uso de

uma pequena parte da razão de alguns animais), não justifica a quebra do

dever de proteger a parte mais fraca do sistema, muito pelo contrário, esse

seria um dos maiores motivos, em virtude da nossa vantagem, seres humanos,

em relação aos animais, o uso de tal mecanismo, a racionalidade nos difere e

nos faz responsáveis por aqueles que não as possui no total ou na integral.

Ao prosseguir, na evolução dos pensamentos dos filósofos, temos como base

positiva ao estudo, o filósofo Rousseau, com o argumento voltado para rebater

a ideia de outro filósofo, que a seguir será citado, mas por hora, falaremos da

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visão auxiliadora dos defensores, que é a de Rousseau, “os seres humanos

são animais, embora ninguém se exima de intelecto e liberdade. Entretanto,

como animais são seres sencientes, eles deveriam participar também do direito

natural e que o homem é responsável no cumprimento de alguns deveres

deles, especificamente, um tem o direito de não ser desnecessariamente

maltratado pelo outro”.

O termo empregado por Rousseau “um tem o direito de não ser

DESNECESSARIAMENTE maltratado pelo outro” cai muito bem para mais um

questionamento, impossível de não ser feito, por mais defensores de animais,

deve respeitar a ótica da necessidade e utilidade da vida real, pois ora, a carne

bovina, por exemplo, é algo indispensável para a mesa de muitas famílias (abre

exceção para os vegetarianos), ou seja, matar esses animais para consumo

necessário é uma coisa bem diferente de usá-los para diversão, que seria a

farra do boi.

Voltando aos filósofos, Rousseau, ao nos presentear com essa linha de

pensamento, o fez para rebater a ideia de René Descartes, que dizia, “os

animais não possuem alma, logo não pensam e não sentem dor, sendo assim,

os maus-tratos não são errados”.

Ao afirmar que os animais não possuem alma, o filósofo se contradiz, pois nos

seres humanos somos do gênero animais, com o diferencial da espécie e da

grande definidora da cadeia hierárquica que é a racionalidade, ou seja, somos

animais irracionais, então, nós animais que fazemos uso da razão, também não

possuímos alma?

Ao responder Descartes, Voltaire usou a seguinte linha de pensamento

(brilhante, diga-se de passagem), em seu Dicionário Filosófico:

"Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra de tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e

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conhecimento. Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosada nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines a natureza tão impertinente contradição."

2.3 Visão cientifica

Ao iniciar essa parte do estudo sobre a ciência relacionada aos animais,

vamos de encontro com os nomes da época que representavam a ciência, eles

defendiam como já era de se esperar, pois se hoje em dia a conscientização já

é algo de notável raridade, antigamente por sua vez, ela nem existia. Deixando

de lado as argumentações iniciais, pois ao se verificar por um ponto amplo e

não emocional, devido a esses estudos, grandes descobertas e grandes feitos

que ajudassem no avanço de inúmeras curas e tratamentos médicos, foram de

muita valia. Porém, naquela época era totalmente justificável esse tipo de

conduta, pois não possuíam outras formas de realizarem estudos, que não

essa, mas nos dias atuais, não é admissível tal pensamento, pois a própria

ciência oferece muitas outras formas, e em muitos outros casos, esse

procedimento se torna desnecessário.

O reconhecimento de que os animais podiam sentir dor e também possuíam o

sofrimento como carga emocional, a inteligência, a forma de se comunicarem

entre si e até mesmo, um certo raciocínio desempenhado por eles, foi algo que

fez com que os estudos contemporâneos deixassem de lado certos preceitos e

levassem a fundo esse estudo, é um legado que os primeiro pensadores

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humanistas, que distinguiram a responsabilidade pela preservação do bem

próprio à vida de seres vivos vulneráveis aos interesses humanos.

Os conhecedores da época afirmavam:

Hipócrates (450 A.C) já relacionava o aspecto de órgãos humanos doentes com o de

animais, com finalidade claramente didática. Os anatomistas Alcmaeon (500 A.C), Herophilus (330 – 250 A.C) e Erasistratus (305 – 240 A.C) realizavam vivissecções animais com o objetivo de observar estruturas e formular hipóteses sobre o funcionamento associado às mesmas. Posteriormente, Galeno (129 – 210 D.C.), em Roma, foi talvez o primeiro a realizar vivissecção com objetivos experimentais, ou seja, de testar variáveis de alterações provocadas nos animais (RAYMUNDO et al., 1997).

Os movimentos que deram inicio à proteção dos animais, foram os de 1822,

nessa empreitada quem deu o passo inicial foi à Inglaterra, ao apresentar

normas contra crueldades que se tinha como o objeto de proteção os animais,

sendo acompanhada pela Alemanha, que trazia normas gerais editadas, em

1838. Exatos dez anos após, veio à Itália, impondo normas específicas contra

maus tratos aos animais. Em 1911, a Inglaterra, foi quem tomou iniciativa,

dessa vez sobre a ideia de averiguar a proteção dos animais, contra os atos

humanos.

Plutarco e Porfírio, em suas teses, defendiam em suas teses, a capacidade

dos animais de raciocinar, Ovídio e Sêneca, defendia a sensibilidade existente,

essas teses foram caladas ao longo da história da filosofia ocidental, até o

momento do autor Humphry Primatt, traze-las à tona em sua tese de

doutorado, teses essas apresentadas por ele, das quais, vários artigos

destacam três delas, de relevante importância, que seriam elas:

[1] A ética tradicional traça a linha divisória para definir a comunidade moral com base em critérios que levam em conta a configuração biológica dos seres, não os interesses comuns a eles.A racionalidade foi escolhida como parâmetro para definir quem é digno de respeito moral.

[2] A igualdade moral não pode ser alcançada enquanto interesses semelhantes continuam a ser discriminados por causa da diferença na configuração física entre animais de diferentes espécies

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[3] A distinção e superiodade que a razão e o reconhecimento conferem aos humanos desaparece assim que as habilidades são usadas para ofender, maltratar, torturar e desprezar aqueles que não as possuem. Quanto maior o grau de inteligencia e a rapidez de raciocínio, maior a responsabilidade pelos desdobramentos das próprias açõe sobre a vida e o bem- estar alheio

.

O reconhecimento de que os animais podiam sentir dor e também possuíam o

sofrimento como carga emocional, a inteligência, a forma de se comunicarem

entre si e até mesmo, um certo raciocínio desempenhado por eles, foi algo que

fez com que os estudos contemporâneos deixassem de lado certos preceitos e

levassem a fundo esse estudo, é um legado que os primeiro pensadores

humanistas, que distinguiram a responsabilidade pela preservação do bem

próprio à vida de seres vivos vulneráveis aos interesses humanos.

2.4 Antropocentrismo e biocentrismo (animais como sujeitos de direitos)

Faz de inicio, a diferenciação ente as duas vertentes, antropocentrismo de

biocentrismo. Pelo ponto de vista direto, retirou-se ambas as definições, a de

antropocentrismo do dicionário, abordadas: antropocentrismo (antropo- +

centrismo) s. m. Sistema filosófico que considera o homem como o centro do universo.

E a do biocentrismo, não vem definida pelo dicionário, e sim por autores

defensores desse segmento que seria o oposto do antropocentrismo, nos

seguintes termos, de que a natureza é a titular dos direitos.

Ao fazer uma comparação entre ambas as definições, se tem a seguinte

conclusão, de que o biocentrismo foi uma forma de se contrapor ao

antropocentrismo, seria seu antônimo. O antropocentrismo é a concepção de

que a humanidade seria o foco da existência. As tendências antropocêntricas

defendem a responsabilidade do ser humano para com a natureza, enquanto

as biocênticas, os deveres dele diante da natureza.

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O ordenamento jurídico tem seu segmento antropocêntrico, está hábil a

proteger os animais como sujeitos de direito, ainda que pequena, pode se notar

a conscientização das pessoas, na necessidade de atribuir o respeito

necessário aos seres vivos de diferentes espécies, só porque não possuem

razão, não quer dizer que não possuam outros sentidos, tais como percepções,

sensações e até mesmo, porque não dizer inteligência. Aos que relutam contra

essa linha de pensamento, resta nos pensar, que de que serve a racionalidade

humana se ela esta totalmente ligada e concentrada a ideia de lucro acima de

todas as coisas. O uso da razão pode e deve ser empregado com um intuito

maior, que ser utilizado para beneficio exclusivo apenas, e passar a ser

destinada em prol dos outros que não a possuem.

Para RODRIGUES:

Se a genialidade humana não consegue imputar os reais valores da vida de todos os seres vivos indiscriminadamente aos indivíduos, se faz necessária a intervenção do Direito como meio coercitivo a impor normas de ações e condutas humanas que não agridam os animais e os valorizem de sujeitos de direitos. Não se trata de menosprezar o Direito vigente, sequer pretende discutir se os propósitos biocentricos superarão ou não o antropocentrismo... Apela-se ao direito regulador do comportamento do homem a fim enfocar sua responsabilidade como ultimo possível triunfo em favor dos animais.

A mesma autora citada anteriormente prega a ideia de que o que se pretende

não é reformar o direito para que essa proteção seja empregada, muito pelo

contrário, esse mesmo direito, tem competência o suficiente para proteger de

todas as formas e circunstancias os animais, restando, portanto, deixar um

pouco de lado, a visão do homem como centro das questões e preocupações,

não esquecendo, que junto ao ser humano, existem outros seres carentes de

proteção.

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3. Tratamento dos animais ao longo da história e os movimentos em sua

defesa

Para SÉGUIN:

Um grupo quando se sente ameaçado, tende a organizar-se em defesa de interesse comum, surgindo lideranças e movimentos como consequência da necessidade. Timidamente as associações naturais foram se constituindo, cuidando focalmente dos problemas plurais, pois haveria menos represália.

Segundo RODRIGUES:

O primeiro relato conhecido em prol da defesa dos animais advém dos tempos Greco-romanos. Alguns textos dessa época, como de Plutarco e Porfírio, defendiam que os animais tinham capacidade racional e de Ovídio e Sêneca defendiam que os animais possuíam capacidade de sentir dor. Assim sendo, desde os tempos acima já se reconheciam a capacidade de sentir dor e sofrer, de se comunicar (linguagem dos animais), raciocinar e a inteligência dos animais, capacidades estas que, hoje, já não mais levantam dúvidas.

Em grande destaque, cita-se Humphry Primatt, quem em 1776, deu inicio a

intensa luta em proteção aos animais, o mesmo, se baseou nas teses dos

filósofos acima citados pela autora Daniele. Humprhy alegava em sua tese a

seguinte linha de argumentação “a igualdade não conseguiria ser alcançada

enquanto esse critério, de configuração biológica, continuasse a ser utilizado,

pois agia mais como uma forma de discriminação do que de igualdade, pois

diferia os animais pela sua configuração física.” Em suma, pode-se entender

que o autor queria chegar onde com essa afirmativa? Simples é a resposta,

seguindo a sua linha de pensamento, chegamos ao propósito, que seria a de

que o homem é um animal, como todos os outros animais, independente de

sua forma e que se levarem em conta os interesses em comum, afinal tanto o

animal humano quanto o animal não humano, são capazes de sentir dor e de

sofrer. Devendo deixar a forma biológica de lado, e estudar pelo âmbito dos

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interesses comuns entre ambas às espécies, e não deixar que os interesses

próprios fossem opressores dos direitos dos não humanos, levando em conta a

formação biológica distinta e superior do ser humano. Feria a exigência de

imparcialidade como definição de um principio de moral.

Outro filósofo merecedor de destaque é o autor Peter Singer, Australiano filho

de Judeus, encontra-se no quadro dos dez intelectuais mais influentes da

Austrália. Considera que o fundamental em filosofia moral não está em

determinar se um ser tem a capacidade de raciocinar ou falar, mas

simplesmente a capacidade de sofrer.

Peter Singer é muitas vezes considerado o precursor do movimento de libertação animal, ou o "pai do movimento de direitos animais." Ironicamente, Singer não reconhece direitos animais em seus trabalhos. Essa fama, entretanto, se deve à popularidade de seu livro Animal Liberation (Libertação Animal) publicado em 1973, no qual ele propõe o princípio de

igualdade de consideração, às vezes confundido com um direito.

Em seu livro, Libertação animal, considerado como um marco no movimento

em defesa dos animais propõe o principio de igualdade de consideração, que

para ele não se confunde com um direito. Expõe em seu livro atrocidades

sofridas pelos animais- não humanos, retirando a cortina que separava o

público leigo de tais acontecimentos, na maioria das vezes, propondo uma

mudança para tal realidade predominante. No entanto, “Singer não vê motivos

para animais serem considerados sujeitos de direito. É neste ponto que nasce

a polêmica em torno de Singer, pois o mesmo pensamento também vale para

certos humanos, como bebês, portadores de deficiência e comatosos, motivo

pelo qual Singer tem sido acusado de eugenista por grupos de defesa de

direitos humanos.”.

O filósofo se preocupa com o sofrimento dos seres vivos, em específico dos

animais, apesar de não defender o direito dos animais, a preocupação com o

sofrimento deles também é compartilhado com os que pregam a ideia de que

os mesmos são possuidores de direitos. Ele não vê problemas em os animais

serem explorados, em decorrência que questões étnicas e culturais, desde

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que, citando novamente sua linha de raciocínio, os animais não sofram com

essa exploração.

Singer considera, assim como Jeremy Bentham, que o fundamental em filosofia moral não está em determinar se um ser tem a capacidade de raciocinar ou falar, mas simplesmente a capacidade de sofrer. Assim, a capacidade de sentir dor é condição suficiente para que um ser seja levado em consideração em questões morais. Nesses termos, desconsiderar alguns animais apenas por causa de sua espécie é uma forma de discriminação, conhecida como especismo (termo cunhado em 1970 pelo psicólogo e filósofo britânico Richard D. Ryder). Singer está preocupado sobretudo com a redução do sofrimento dos animais.

3.1 discussões contemporâneas sobre o tratamento e uso de animais

O ambientalismo moderno como movimento social, vem dar sinais em plena

década de 60 alcançando o inicio dos anos 70, que segundo o autor LEITE

“derivado do aumento da base social como decorrência da ampliação e

surgimento de novos grupos de pressão (p. 341)”, podendo ainda introduzir,

segundo o mesmo autor, mais uma fase a esse ambientalismo, que estaria

ligada” ao ressurgimento da preocupação com todas as coisas ‘verdes‘

(p.341)”. Resta frisar, que esse ponto verde, pode ser entendido como a

natureza abrangida em todos os seus componentes, incluindo nesse rol

portanto, os animais.

Para finalizar o então referenciado autor, segue o mesmo:

Assim o moderno ambientalismo, tem como ponto essencial a continuidade de muitas ideias, variáveis tanto no tempo quanto no espaço, e é composto por um público atento, solidário e mais geral.

Ao acompanhar uma audiência, no juizado especial criminal, na cidade de

Curitiba, referente a uma contravenção penal, por questões ambientais, para

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ser mais especifica, maus tratos a cães, partindo de uma empresa, que os usa

como forma de locação, para fazerem a guarda de galpões e empresas.

A autora da ação, que aqui não será citada, denunciou o dono da empresa,

apresentando fotos retratando maus tratos, o cão amarrado, com fezes em

grande quantidade próxima a ele, agua de tempos e sem comida. Acontece

que o MP considerou o caso improprio para ser denunciado, pois não

apresentava laudo da policia ambiental ou de algum profissional veterinário,

comprando os maus tratos do cão.

O noticiado se comprometeu e disse que aquele era um caso isolado, ocorre

que o mesmo, possui mais de 47 denuncias, sendo elas, todas arquivadas ou

feitas transações penais, vale ressaltar, que esse empresário já foi figura

ilustrada no jornal de circulação municipal, relatando seu descaso ao trato de

seus animais.

Ora, essa atitude do MP, apesar de ter sido a de arquivar o caso, poderia ter

sido diferente, isso é fato, mas a cultura nacional, não se adaptou ainda e nem

se conscientizou totalmente, da importância de proteger os “entes” da natureza.

Ao verificar as jurisprudências existentes, pode se observar a seguinte

colocação, a dificuldade em relação às provas, a insuficiência probatória é algo

recorrente nos argumentos usados pelo órgão julgador. Como já dito

anteriormente, a falta de pericias e pareceres de órgãos responsáveis por isso,

como a policial ambiental e médicos veterinário, eis uma prova concreta:

TJRS - Recurso Crime RC 71003597960 RS (TJRS)

Data de Publicação: 24/04/2012

Ementa: APELAÇÃO CRIME. MAUS TRATOS A ANIMAIS. ART. 32 DA LEI 9.605 /98. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. Falecem provas suficientes e seguras acerca da ocorrência do delito de maus tratos a animais, impondo-se, assim, a absolvição do réu, tudo em atenção ao princípio da prevalência de seu interesse in dubio pro reo. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO DO MP. (Recurso Crime Nº 71003597960, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em 23/04/2012).

Encontrado em: APELAÇÃO CRIME. MAUS TRATOS A ANIMAIS. ART. 32 DA LEI 9.605

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/98. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. Falecem provas suficientes e seguras acerca da ocorrência do delito de maus tratos a animais, impondo-se, assim, a absolvição.

Uma linha pensamento seguida por alguns pensadores, é a do sofrimento,

como já foi acima citado, pelo autor Peter Singer, em que o mesmo não

questiona a simples exploração e uso dos animais para auxiliarem o trabalho

ou o ser humano em si, com a única ressalva de que, havendo sofrimento para

o animal não humano, o trabalho desempenhado pelo mesmo, deixa de ser

aceitável.

Singer não vê problemas éticos na exploração animal, desde que os animais envolvidos não sofram ou, mesmo que sofram, se o benefício resultante dessa exploração for significativo. Isso serve especialmente para animais não humanos que, segundo Singer, não teriam um interesse em ter uma vida continuada (como os humanos têm).

Normalmente um defensor dos direitos dos animais, alegaria que estes seres

não devem ser explorados em nenhuma hipótese “pois os interesses

resultantes de sua natureza como seres sencientes lhe conferem um direito

que serve como uma barreira contra as arbitrariedades que poderiam ser

impostas em benefício de outros.”.

3.1.1 A vivissecção

Vamos iniciar a discussão de um fato muito polémico entre estudiosos da

ciência médica e experimental e os defensores dos animais, que é a

vivissecção de animais, para o ponta pé inicial, vamos recordar do que se trata

esse procedimento:

16

[...] toda operação feita em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos em nome da ciência e da pesquisa, macabros registros de experiências com animais praticados nos laboratórios, nas salas de aula, nas fazendas industriais ou mesmo na clandestinidade, revelam os ilimitados graus da estupidez humana. (LEITÃO, 2008, p. 01).

A Lei de Crimes Ambientais, de 1998, em seu art. 32, descreve penas de

detenção mais multa para quem praticar ato de abuso e maus tratos em

animais de qualquer espécie, incorrendo nas mesmas penas quem realiza

experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou

científicos, quando existirem recursos alternativos.

Na Lei no 6.638, que é a atual lei de vivissecção, trás em seu inciso V, que a

vivissecção não será permitida em estabelecimentos de ensino de primeiro e

segundo graus. Ademais, a vivissecção, no Brasil, é “tolerada quando não

existirem métodos substitutivos, só podendo ser realizada em instituições de

ensino superior" (LEITÃO, 2008, p. 01).

Leitão (2008, p. 02) nos remete a verdade que todos os anos muitos dos

produtos médicos que foram testados em animais, por fim vem sendo

considerados ineficazes, pelo simples e obvio fato de que o ser humano e os

animais, apesar das semelhanças morfológicas, reagem de modos diversos em

relação a uma mesma substância, em razão da realidade orgânica diversa, em

outras palavras, para ser mais específico, o que funciona no corpo de um

animal pode ou não ter a mesma eficácia no ser humano.

[...] a tragédia da Talidomida, nos anos cinquenta e sessenta, demonstrou o malefício que pode advir da falsa segurança que a experimentação animal atribui a uma substância: milhares de crianças nasceram com deformações congênitas nos membros depois que suas mães, na gravidez, ingeriram medicamentos para enjoo feito com esse produto, embora tenham sido testados em camundongos durante três anos. Um terço dos doentes renais que necessitam de diálise destruiu sua função hepática tomando analgésicos tidos como seguros porque testados em animais. Os clorofluorcarbonetos - CFC, que foram considerados confiáveis após terem sido testados em animais causaram o perigoso buraco na camada de ozônio sobre a Antártida (LEITÃO, 2008, p.1).

Continuando com as palavras de LEITÃO:

17

[...] despeito da visão do problema sob o ponto de vista ético, moral e científico, aonde se chega à conclusão de que experimentos com animais vivos em laboratórios são inúteis e desnecessários, não trazendo nenhum benefício ao ser humano, pelo contrário, constituindo verdadeiro perigo à vida humana, há de ser visto também sob a ótica jurídica, posto que a matéria está disciplinada de forma clara e explícita.

4. Normas de Direito Internacional de proteção aos animais

Neste âmbito internacional, os animais domésticos, os silvestres, exóticos ou

migratórios, constituem bem de grande valor jurídico, devendo este ser

protegido. Entre algumas normas internacionais referentes à proteção dos

animais, vale ressaltar algumas de uma significável importância: A convenção

sobre o comércio internacional de espécies da fauna e flora selvagem em

perigo de extinção (Decreto n. 92.446, de 7-3-86); a convenção da

biodiversidade; A Declaração Universal dos Direitos dos Animais

(Considerando que todos os animais têm direitos e que o desconhecimento ou

o desprezo desses direitos, tem levado e continua a levar o homem a cometer

crimes contra a natureza e contra os animais); Declaração sobre ética

experimental, entre outras declarações e tratados de grande valia.

Os movimentos que deram inicio à proteção dos animais, foram os de 1822,

nessa empreitada quem deu o passo inicial foi à Inglaterra, ao apresentar

normas contra crueldades que se tinha como o objeto de proteção os animais,

sendo acompanhada pela Alemanha, que trazia normas gerais editadas, em

1838. Exatos dez anos após, veio à Itália, impondo normas específicas contra

maus tratos aos animais. Em 1911, a Inglaterra, foi quem tomou iniciativa,

dessa vez sobre a idéia de averiguar a proteção dos animais, contra os atos

humanos.

18

A preservação do ambiente natural vem sendo muito bem observada e

pensada pela comunidade econômica europeia, restando claro essa afirmativa,

através das seguintes atitudes: Diretiva 79/409/ CEE, de 2-4-79, que dispõe

sobre a conservação dos pássaros selvagens; Diretiva 92/43/CEE, de 21-05-

92, que dispões sobre a conservação dos habitats naturais; Regulamento/CEE

338/97, que regulamenta a importação e exportação de animais selvagens.

4.1 Declaração Universal dos Direitos dos animais, 1978.

Em 1978, um dos projetos que merecem um destaque em especial, é o da

Declaração dos Direitos Universais dos Animais:

Proclama-se o seguinte Artigo 1º Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência. Artigo 2º 1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado. 2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais 3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. Artigo 3º 1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia. Artigo 4º 1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir. 2. toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito. Artigo 5º 1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie. 2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito. Artigo 6º 1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.

19

2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Artigo 7º Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso. Artigo 8º 1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação. 2. As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas. Artigo 9º Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor. Artigo 10º 1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem. 2. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. Artigo 11º Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida. Artigo 12º 1. Todo o ato que implique a morte de grande um número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie. 2. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio. Artigo 13º 1. O animal morto deve de ser tratado com respeito. 2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal. Artigo 14º 1. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental. 2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

Após se deparar com essa declaração e todo seu teor, percebe-se que leis e

preocupação por parte dos legisladores existem, o problema muitas vezes

(quem sabe até na maioria) é a falta de compromisso por parte dos signatários,

a cultura da soberania humana sobre todas outras espécies, ainda é muito forte

em muitos países, se não dizer até, predominante.

O preambulo dessa declaração expõe essa preocupação com o descaso, por

parte de muitos, para com os membros da natureza, vem de forma a tornar tal

ato, ainda mais admirável:

20

Preâmbulo: Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza; Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros; Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante; Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais,

Em 1978, essa declaração foi apresentada sendo ela, um dos maiores feitos

em prol dos animais, na época e pode-se dizer, até os dias atuais, a

Declaração Universal dos Diretos dos Animais, têm por signatários, diversos

países, entre eles, o Brasil também faz parte desses membros, muito embora,

não tenha ratificado até a presente data.

Foi proclamada pela UNESCO em 27-01-1978, sendo exposta em Bruxelas,

sendo pioneira em novas formas de aplicação dos direitos dos animais,

reconhecendo o valor da vida de todos os membros da natureza, seres vivos,

de forma igualitária, sendo a proposta principal do feito, a reeducação da

conduta humana, para que a mesma se adapte ao respeito e a dignidade, que

devem ser empregados ao tratamento dos animais.

Segundo Dias, em suas palavras positivas “esse documento é um convite

para o homem renunciar à sua atual conduta de exploração dos animais e,

progressivamente, ao seu modo de vida e ao antropocentrismo, para ir de

encontro ao biocentrismo. Por essa razão, representa uma etapa importante na

história da evolução do homem”.

21

4.2 Legislação brasileira de proteção aos animais

Analise feita de forma evolutiva, fundada no livro da Doutora Deniele Tettu:

No Brasil, pode se falar em proteção jurídica aos animais e tentativa de impor

limites ao poder do homem em relação aos mesmos, em 1924, pelo decreto

que proibiu as rinhas galo e canário, corridas de bovinos, dispondo sobre o

funcionamento desses estabelecimentos de distração do ser humano (Decreto

16.950).

Logo após, surge outro decreto de estima importância, que foi instituído na

época da ditadura do presidente Getúlio Vargas, o mesmo decreto, permace

parcialmente em vigor, ainda nos dias atuais. Em suma, seu objetivo era

reforçar a proteção jurídica, através de vários dispositivos legais próprios,

trazendo a nova visão de um status a quo dos animais como sujeitos de direito,

mostra-se pelo fato de o Ministério Público, assisti-lo em juízo, na qualidade de

seu substituto legal. Seus dispositivos são taxativos, trazendo inúmeras

condutas omissivas (Decreto 24.645, de 1934).

A prática de condutas cruéis é tipificada em 1941, continua em vigência esse

decreto, mais conhecido como Lei das contravenções penais, lei essa que

complementou o decreto-lei (Decreto 3.668, art. 64).

No ano de 1967, para ser mais exata no mês de Fevereiro desse mesmo ano,

o código de pesca, passou a cuidar dos animais aquáticos e a regulamentar a

atividade da pesca.

A lei federal 5.197, essa conhecida como código de caça, que deixou de

considerar essas práticas como contravenções penais e passou a conhecê-las

como modalidades de crime, alterando, portanto a lei 7.653 de 1988, abolindo a

concessão de fiança para esses crimes.

22

Os animais que residem em condomínios de apartamentos, por óbvio,

abrangem e passam por cima das convenções condominiais que tentam proibir

animais nesses locais, que seria a lei federal 4.591 de 1964, em seu art. 19

junto a alguns dispositivos do código civil de 1916.

Em seguida, a lei de vivissecção passa a vigorar, como já disposta

anteriormente.

Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, lei 6.938 de 1981, trazendo a

responsabilidade pelo dano, no âmbito civil e administrativo pelos danos

ambientais causados, definindo também a fauna como meio ambiente e

disciplinou a ação governamental. Logo após, disciplinou a ação civil pública,

regido pela lei 7.347 de 1985.

Para RODRIGUES:

No Brasil, a principal lei de proteção aos animais continua sendo a Constituição Federal, mas cada Estado brasileiro é livre para criar mecanismos de ajustes desta proteção, adequando a sua realidade social. Não se pode deixar de citar que, no Brasil, a primeira lei federal que visava proteger os animais foi editada no Governo de Getúlio Vargas, no decreto 24645/34 que ainda está em vigor e que declara em seu artigo 1º. que “todos os animais existentes no País são tutelados pelo Estado”, conferindo aos animais não humanos a garantia de serem protegidos pelo Estado Maior.

A Constituição Federal de 88, tendo como um dos focos, ao efetivar o

exercício sádio do bem meio ambiente, elencou uma variedade de obrigações

para o poder Público, arroladas no artigo 225, contendo incisos do I ao VII. Os

animais, independente de serem ou não da fauna, foram nesse momento,

protegidos pela força constitucional, pois os princípios constitucionais regem as

situações.

Em um artigo, Daniele Gomes diz:

A mesma preocupou-se em proteger no capitulo VI – Do Meio Ambiente, o direito animal de não ser submetido a tratamento cruel. E para defesa desse direito designou o representante do Ministério Público como porta-voz daqueles que não podem se manifestar juridicamente. Porém, percebe-se que a preocupação

23

do legislador pátrio era com relação à proteção contra a extinção da fauna e da flora, como também com a preservação de um sistema ecologicamente equilibrado. É uma preocupação voltada para o animal humano, o homem em si e não propriamente com os animais, pois os legisladores não conseguem vislumbrar direitos que não sejam voltados para o próprio homem. A proteção garantida aos animais, na Carta Magna, mascara a real intenção dessa proteção, embora, muitos defensores dos direitos dos animais tenham dela se utilizando para impetrar ações e por meio de decisões judiciais garantirem a alguns animais o direito de não ser usado ou manipulado de forma cruel, podemos citar como exemplos o uso de animais em circo, as rinhas de galo, farra do boi, entre outros. Percebe-se que, embora o objeto de proteção real seja o homem e não o animal, de alguma forma esta positivação tem contribuído, ainda que seja tímida, com a preservação e bem-estar animal. E que, ainda é o mais forte e amplo objeto de proteção e garantia aos animais.

Frisa-se que outra lei, também federal de grande importância para a defesa

dos animais é 9605/98, “Lei dos Crimes Ambientais”.

Pode-se afirmar que existem Constituições Estaduais que se quer fazem

menção ao banimento de tratamento cruel aos animais, em anexo, Ceará e

Pará, nem no capitulo que se refere ao Meio Ambiente, ou aos princípios

fundamentais ou em qualquer outro capitulo do instrumento, não foram

encontradas referencias ao banimento deste tratamento não humanitário aos

animais. Destaque, o fato de não contemplar a proteção aos animais deixa

estas Constituições aptas de controle de constitucionalidade, devendo assim,

entidades de proteção aos animais impetrar ADIN para sanar a omissão, como

foi feita na Constituição Estadual da Bahia,

Estados como o Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e

São Paulo, são exemplos na conscientização e preocupação com o bem-estar

dos animais, esquecendo de colocar a ideia de meio ambiente ecologicamente

equilibrado em único plano e isolada, incluindo nesse grau de importância, com

as reais condições a que estes animais vivem e são tratados, o

reconhecimento de que estes animais não humanos sentem dor e que não

devem ser tratados de forma cruel já é um passo a conquistas de mais direitos.

24

O Estado do Paraná, através da lei 14037/2003 que introduziu o código de

defesa dos animais, de uma forma digamos que incompleta, pode ser

considera em tese, uma reprodução do texto do Rio Grande do Sul, esse por

sua vez, primeiro Estado brasileiro a editar um código de proteção aos animais,

lei 11915/2003 que visa harmonizar o desenvolvimento socioeconômico com a

preservação ambiental, mesmo que esse feito não seja diretamente voltado

aos interesses de direitos à vida dos animais e de sua condição e interesses

naturais, como sentir dor ou sofrer, não deixa de ser um grande passo e uma

importante iniciativa, pois a sua intenção de não submetê-los a crueldade por

conta dos fins econômicos tem grande valia.

No ano de 2005, o Estado de São Paulo criou o seu código de proteção,

tendo por base o projeto de lei do deputado Ricardo Trípoli que antes de entrar

no mérito tratou de classificar as espécies animais em silvestres, exóticos,

domésticos, domesticados, de criadouros e filantrópicos. Para cada um deles

assegurou direitos relativos à sua condição.

No estado do Rio de Janeiro foram as famosas “brigas de galo” que foram

analisadas por meio de ADIN e, as mesmas consideradas inconstitucionais,

como também em Santa Catarina a “farra do boi”, dentre outras. Vale destacar

que em 2002 o Estado de Goiás, instituiu uma lei ordinária de proteção à fauna

silvestre onde estabeleceu em seu artigo 1º “Os animais da fauna silvestre, nos

limites do Estado de Goiás, em qualquer fase do seu desenvolvimento, bem

como os seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são de propriedade do

Poder Público e sua proteção dar-se-á na forma da lei”.

Nota-se que esta lei, institui o papel, ao Estado de proprietário, fazendo o

mesmo, responsável pela fauna e os animais que nela habitam, com o intuito

de preservar o meio ambiente, pensando futuramente, nas gerações seguintes.

4.3 Código Penal e Lei 9099/95

25

Dá-se inicio, como uma citação, mas de grande concordância com o assunto

a seguir debatido, expõe o autor SÉGUIN:

Os crimes ambientais, de acordo com os princípios da Obrigatoriedade da Intervenção Estatal e da Indisponibilidade, são objeto de ação penal pública Incondicionada, que é aquela que independe de qualquer ato para ser iniciada, bastando que a autoridade tenha conhecimento do fato (p. 198).

Infelizmente o código penal brasileiro, deixa a desejar, em se tratando de

normas que buscam regulares e reprimir os abusos cometidos contra a

natureza e os animais. Antes da promulgação da Lei dos Crimes Ambientais,

existia grande dificuldade ao se impor sanções, devido ao grande número de

lacunas na lei, ou seja, a ausência de leis que regulassem essa proteção.

Tal código passou a disciplinar questões atinentes à proteção dos animais,

quando disciplinou em relação aos maus tratos, crueldade e prevenção contra

esses crimes. Por sorte, não pode o direito penal renunciar a essa proteção,

pois se assim o fizesse, estaria desprotegendo os bens jurídicos universais e

por consequência, não estaria protegendo a humanidade.

Segundo a autora Danielle “o direito penal passou a responder de forma

diferente, aplicando o princípio da proporcionalidade, sempre que ocorrerem

divergências entre interesses tuteláveis, em determinado caso concreto,

atuando sobre o processo cautela, e não mais sobre a pena privativa de

liberdade”.

A lei dos crimes ambientais, devido ao fato de possuir natureza penal-

processual, disciplinou alternativas à pena restritiva de liberdade, para os casos

em que o infrator recuperar o dano ou pagar o seu crédito para com a

sociedade, ou seja, isso nos remete que para os crimes de menos potencial

ofensivo, será aplicada a LEI 9099/95.

26

A lei dos juizados especiais cíveis e criminais, trás a possibilidade de que

haja a chamada transação penal ou a suspensão condicional do processo em

casos qualificados. O autor Fernando Laerte Levai, dispõe:

“Apesar de boas intenções do legislador, a maioria das nossas leis parecem não intimidar aqueles que maltratam animais. Com o advento da lei 9.099/95 (juizado especial criminal) a situação piorou ainda mais. Isso porque toda e qualquer crueldade contra os bichos – excluídas as hipótese de aplicação da Lei de proteção à fauna – é agora considerada infração de pequeno potencial ofensivo, punível quase sempre com irrisórios cinco dias-multa. Uma vez satisfeita à pretensão pecuniária o contraventor, seja lá o que tenha feito, continua primário e de bons antecedentes.”

5. Que direitos?

Os animais não humanos, no ordenamento jurídico, em se tratando

especificamente do Brasil, são considerados coisas, isto quer dizer que estão

disciplinados como propriedade dos humanos e que estes podem usar, gozar e

dispor, inclusive doá-los e vendê-los. Resta observar no entanto, fortes indícios

de um sentimento de superioridade extremado, partindo do ser homem, ideia

esta, implantada pelo catolicismo, no período em que compartilhavam a ideia

de “imagem e semelhança de Deus” inclusive outorgando-lhe o domínio sobre

os peixes do mar, as aves do céu e de todos os animais que rastejam sobre a

terra. “Como seres sencientes com essa característica de serem propriedade

de outros indivíduos, sua condição é comparável à de um escravo humano sob

o sistema socioeconômico da escravidão.”

Duas correntes vão ser citadas, outras inúmeras existentes, mas as de melhor

aprofundamento e melhor entendimento foram as abaixo citadas. Ao longo de

pesquisas e estudos a respeito desse tema em questão, que são o “bem-

estarismo” e o “abolicionismo”. Duas correntes que visam proteger os animais

27

de toda espécie de maus-tratos e opressão. A primeira corrente a ser levantada

é a do:

“bem-estarismo”, corrente defendida por Bentham, Linzey, entre outros. Com o objetivo de libertar os animais do tratamento desumano e cruel a que eram submetidos, lutavam para que fossem criadas leis “bem-estaristas” que visassem proibir o “sofrimento desnecessário” e que promovessem um “tratamento humanitário” aos animais. Percebe-se que os animais, para esta teoria, continuam a ser visto e tratados como coisas, propriedade dos humanos e por este dado, permanecendo à mercê da vontade e do juízo de valor que seu dono possui do que seja “sofrimento desnecessário” e “tratamento humanitário”. Há de notar que o “bem-estarismo” nada mais é do que uma reprodução dos pensamentos da teoria moral do bem-estar animal, mas com ânimo jurídico. Pois, se revestem de juridicidade ao ser promovida, estas ideias, às leis. E este movimento, que começou no século XIX, continua por influenciar, até hoje, os sistemas jurídicos, inclusive o brasileiro, o que será tratado no capitulo da Constituição Federal.

A segunda e talvez a mais importante corrente que defende o direito dos

animais seja, a corrente.

“abolicionista”, como o próprio nome já diz, abolição, libertação, deixar livre os animais para que possam desfrutar de sua liberdade e natureza. O objetivo desta corrente é libertar os animais da condição de escravo, de propriedade, de objeto e de submissão ao desejo e vontade do homem. É uma corrente ousada, pois para os seus seguidores não basta “minimizar o sofrimento”, é preciso “oferecer e assegurar justiça” para todos os animais, abolindo o poder do animal humano sobre os animais não humanos, acabar com o instituto da propriedade dada ao homem em virtude de uma superioridade baseada em fatores biológicos e por fim, garantir aos animais direitos de autonomia prática, direitos de não ser morto, aprisionado, expropriado e forçados a viver de forma não apropriada a sua espécie.

Para esta corrente, a única forma de abolir a escravidão que os animais são

submetidos é reconhecendo-lhes direitos constitucionais na medida e

proporção que são reconhecidos aos humanos como, direito de não ser usado

como fim, direito de ir e vir, direito a vida e assim por diante.

28

A propósito, é notório saber, que os responsáveis em tutelar esses direitos,

segundo o autor FIORILLO, é Competência material: a proteção do meio

ambiente está adaptada a competência material comum, ou seja, proteção

ambiental fica adstrita a normas que conferem deveres aos entes federados e

não simplesmente faculdades. ( FIORILLO, p. 131)

Competência legislativa: a Constituição Federal de 1988 atribuiu competência

legislativa sobre assuntos do meio ambiente à União, aos Estados e ao Distrito

Federal, conforme dispõe o art. 24, V, VI, VII comp. legislativa concorrente. A

comp. aos municípios é atribuída pelo art. 30, ii q é a comp. legislativa

suplementar. (FIORILLO, p 131)

6. CONCLUSÃO

Um dos objetivos traçados, foi expor a realidade que muitos desconhecem,

em que o descaso muitas vezes predomina, a ignorância e o egocentrismo por

vez, faz questões simples, como a conscientização, ficarem de lado. Por óbvio

que a simples conscientização não ajuda o suficiente, mas certamente é o

marco inicial para que a realidade antropocêntrica comece a mudar, dando

espaço ao biocentrismo, afinal, o homem assim como os seres que vivem no

ecossistema, dependem uns dos outros, para uma harmonia absoluta.

Pensa o autor NALINI:

A inclinação intuitiva à proteção da natureza conduzirá ao estudo, e este à participação. A cadeia casual será nutrida pela consciência ética. Esta já não se satisfará se não vier a ser partilhada. A contaminação ética deve ser o motor de retroalimentação do sistema. (Nalini, 2001)

29

Ao dar o primeiro passo e perceber que o equilíbrio e o bem estra social

dependem da natureza e seus componentes, o segundo passo, necessário ao

homem, é tomar providencias para prevenir, que abusos e descasos como os

relatados diariamente, sejam extirpados, e que essas medidas de prevenção,

sejam enérgicas para serem eficazes.

Dando continuidade a trajetória a ser caminhada, para uma de fato, evolução

na conscientização e prevenção, há que se falar em sanções menos caridosas,

como as já existentes, para que na falta de cumprimento do dever de cuidar e

acima de tudo não maltratar, para também, os casos em que descumpridas as

leis existentes, o infrator perceba que não sairá impune e que ao cometer

novamente crimes contra qualquer membro do biossistema, será reincidente.

Ao estudar a fundo as leis municipais, estaduais, e a Constituição Federal,

percebe-se que, o que falta no Brasil não são leis, mas sim medidas que

assegurem que as mesmas sejam respeitadas e na falta desse respeito à

impunidade não impere.

Muito receio tem o judiciário de punir questões atinentes a maus tratos, pois o

próprio legislador, deixou grande vácuo, sendo que poderia ter ido mais adiante

ao quesito prevenção, pois ao punir as pequenas infrações estaria evitando, de

certa forma, que maiores atrocidades fossem realizadas.

Atos cometidos contra animais, maus tratos, abandono, exploração

excessiva, são denominados contravenções penais, matéria essa disciplinada

pelos Juizados Especiais Criminais, e que na grande maioria, trará para o

infrator, no máximo um arquivamento do “processo” ou uma transação penal,

que em pouco, depois de cumprido o acordo estipulado pelo Ministério Público,

se extinguirá e nada acontece, para o caso em que descumprido o acordo,

ocorre uma suspensão condicional do processo, que de outra via, nada o

acontecerá também.

Ao decorrer do trabalho, em se fazendo pesquisas, muito se questionou,

como por exemplo, por que defender animais, sendo uma parcela da

população, a massa excluída, crianças e adultos, estão necessitando tanto de

30

um olhar mais cauteloso. Não há que se discutir, todos precisam de um olhar

mais atento, necessitam de cuidados, pessoas à margem da sociedade,

excluídas da realidade de uma minoria. Essas pessoas, por mais que pequena,

possuem voz, conseguem se comunicar com as outras, pedir ajuda se assim o

desejarem, os animais não possuem esse meio de comunicação com os seres

humanos, sofrem calados.

Para a denominada “massa”, programas sociais são desenvolvidos, assistentes

sociais, ONG’S, planos governamentais trabalham em função de uma melhoria

de vida, se não o fazem na realidade, é outra história, mas existem. E em

defesa dos animais, existe algum programa ou projetos de conscientização?

Não existe, o que há, atualmente é um grande número de defensores, pessoas

que lutam para que esses direitos sejam reconhecidos, grandes nomes, diga-

se de passagem.

Pela visão do autor Édis Milaré

Há mais de três décadas, nos países do primeiro mundo, a deteriorização da qualidade de vida, tanto no meio urbano quanto no meio rural, colocou o problema da conservação ambiental como fato político, extravasando-os das consciências mais sensíveis e fluindo para os meios de comunicação de massa (Milaré, 2008, p. 109).

Resta, portanto, supor que todo esse sentimento de superioridade e essa

relação hierárquica que se tem com os animais, são por fim, fruto da cultura do

país, diga-se de passagem, do planeta. Para finalizar, a citação necessária é

do autor SANTOS ”Do ponto de vista axiológico, o homem faz a cultura, faz

suas escolhas, mediante a valoração dos fatos, situações e objetos com os

quais está relacionado.” (p. 35). Fato esse, que culturalmente pode ser

mudado, basta que essa cultura seja repensada e , de acordo com o século em

que vivemos, seja reformada.

31

Referencias:

AUXILIADOR,em questões práticas. Disponível

em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Umbanda#Sacrif.C3.ADcio_ritual_de_animais. Acesso em: 29 de

Agosto, as 20:30, no ano de 2012.

BLOG de grupo de estudo sobre o direito dos animais. Filósofos da Libertação Animais.

Disponívels em:http://direitosanimaisunicamp.blogspot.com.br/2009/12/filosofos-sobre-direitos-

animais-peter_17.html . Acesso em: 12 de Agosto de 2012.

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